Você está na página 1de 28

CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL EM CRIANÇAS

Autora: Marcia Regina Fantoni Torres

Graduada em Medicina e Especialista em Pediatria pela Universidade Federal de Minas Gerais,


Especialista em Gastroenterologia pela Sociedade Brasileira de Pediatria, Mestre em Medicina
(Medicina Tropical) pela Universidade Federal de Minas Gerais, Doutorado em Medicina
(Gastroenterologia) pela Universidade Federal de Minas Gerais, Pós-doutorado na área de
Imunologia Intestinal, com ênfase em doenças inflamatórias crônicas do intestino. University of
North Carolina em Chapel Hill (UNC-CH), Chapel Hill e North Carolina State University (NSCU),
Raleigh, North Carolina, EUA, Professor Visitante- Alergia e Imunologia - Departamento de Pediatria -
Duke University, Duhran, Carolina do Norte, EUA, Professor Visitante no Center for Eosinophilic
Disorders, Cincinnati Children´s Hospital, Cincinnati, Ohio, EUA; Membro da Gastroenterologia
Pediátrica Hospital das Clínicas/UFMG.

Março de 2018
 SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 3

2. PREVALÊNCIA............................................................................................................................................... 3

3. CONCEITO .................................................................................................................................................... 3

4. FATORES DE RISCO E CICLO VICIOSO PARA CF ............................................................................................ 5

5. PATOGÊNESE ............................................................................................................................................... 6

6. DIAGNÓSTICOS ............................................................................................................................................ 7

6.1 História clínica .................................................................................................................................... 7


6.2 Exame físico ...................................................................................................................................... 9
6.3 Exames complementares ................................................................................................................... 9

7. TRATAMENTO ............................................................................................................................................ 10

7.1 Tratamento não farmacológico ....................................................................................................... 10


7.2 Tratamento farmacológico .............................................................................................................. 14
7.3 Novas terapias – lubiprostona, linaclotida e prucaloprida .............................................................. 17
7.4 Probióticos ....................................................................................................................................... 17

8. PROGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO .................................................................................................... 17

9. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................. 18

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................. 23
 1. INTRODUÇÃO

Constipação é uma condição comum tanto na população pediátrica como nos adultos, que
acarreta sérios prejuízos para o indivíduo, sua família e os sistemas de saúde. Na perspectiva de
saúde pública, está associada a custos consideráveis no que se refere ao diagnóstico e ao
tratamento. Considera-se que o número de casos de constipação funcional (CF) diagnosticados
representa a "ponta do iceberg", uma vez que elevado número de casos permanece não
detectado1. Soma-se a todos esses fatores a dificuldade do pediatra em diagnosticar a CF2-4.
Ressalta-se que o diagnóstico e manuseio precoces da CF estão associados a melhor prognóstico.

 2. PREVALÊNCIA

A prevalência de CF vem aumentando na população pediátrica e varia entre 0,7 e 29,6% (média
de 16%) e está estimada em 10% nos Estados Unidos 5 e entre 0,7 a 15% na Europa 5-7. No Brasil,
esses valores também variam (14,7 a 38,4%) 8-10. Tais variações podem ser explicadas pelos
diferentes hábitos culturais, genética, entre outros; mas principalmente pela heterogeneidade
na definição de constipação em diferentes estudos epidemiológicos e na raridade de estudos
randomizados controlados. Diversos métodos de avaliação da consistência das fezes não
resultaram em diferença na prevalência do CF 11. Assim, em decorrência da alta prevalência, a CF
é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo, mas há necessidade de estudos
de larga escala sobre sua prevalência em crianças. O custo do tratamento de crianças com CF é
alto6,12, sendo responsável por cerca de 8 milhões de consultas anualmente nos EUA 13. Não há
dados precisos no Brasil.

A constipação é a principal queixa em 3 a 5% das consultas pediátricas e em mais de 25% das


consultas em gastroenterologia pediátrica14. A CF é mais prevalente em meninos (3 a 6:1), sendo
que essa relação vai se invertendo gradativamente na adolescência, sendo mais comum em
mulheres adultas15.

 3. CONCEITO

Historicamente, há dificuldade em se obter consenso sobre a definição de CF não apenas em


crianças, mas também em adultos2,16,17. Os estudos epidemiológicos usam uma variedade de
definições, obscurecendo o real quadro epidemiológico da CF5,6,14,18.

Os critérios de Roma para doenças funcionais do trato gastrintestinal, incluindo a constipação,


foram propostos em 1994 e desde então foram realizadas quatro atualizações, sendo o Critério

3
de Roma IV publicado recentemente 2,16,19. Desde a primeira publicação, entende-se que a
definição de CF deve idealmente basear-se nos “critérios de Roma”. No entanto, observam-se
baixas aceitação e utilização desses critérios entre os clínicos. Em estudo recente, van Tilburg et
al. (2013)17 mostraram que pediatras gastroenterologistas trabalhando em dois centros nos EUA
tinham entendimento insuficiente e utilizavam pouco o Roma III. Outras pesquisas revelaram
que aproximadamente 80% dos pediatras gerais não tinham conhecimento sobre o critério de
Roma III20, sendo esse percentual de 60% na Arábia Saudita 21 e 70% no Brasil3. O Quadro 1
mostra os critérios de Roma IV para CF para crianças e adolescentes2. Os primeiros estudos
sobre os critérios de Roma IV foram publicados recentemente, mostrando que eles se tornaram
mais abrangentes para o diagnóstico e diferenciação das condições funcionais do trato
gastrintestinal em crianças 22.

O diagnóstico e, consequentemente, o tratamento de CF, no nosso meio, constituem-se em um


grande problema, e um dos objetivos desta revisão é alertar os pediatras sobre a importância do
diagnóstico precoce para a prevenção dos casos graves e de difícil tratamento, encaminhados, na
maioria das vezes, tardiamente ao especialista.

Segundo os critérios de Roma IV, a CF é caracterizada por movimentos intestinais infrequentes,


fezes duras e/ou grossas (que muitas vezes obstruem o vaso sanitário), evacuação dolorosa,
esforço evacuatório, incontinência fecal (escape fecal e/ou encoprese) e frequentemente
acompanhada por dor abdominal2. Estabelece-se um ciclo vicioso que precisará ser interrompido
durante a abordagem terapêutica (Figura 1)23. Esses sintomas podem ter impacto significativo
sobre o bem-estar de uma criança e sua qualidade de vida relacionada à saúde 24.

Queremos chamar atenção para alguns distúrbios funcionais gastrintestinais (DFGI) relacionados à
defecação, comuns na infância, como a disquesia infantil e incontinência fecal funcional não
retentiva, conforme definidos pelos critérios de Roma IV para DFGI2,17,19. A sintomatologia varia
desde chorar antes da passagem de fezes moles ou defecação infrequente até problemas graves
com impactação fecal e perda involuntária de fezes na roupa íntima2,14. Quando se comparam os
critérios de Roma para CF e outro DFGI, como a síndrome do colón irritável, quando esta se
manifesta com constipação, observa-se que há sobreposição de sintomas, dificultando ainda mais
o diagnóstico2.

Significativa proporção de crianças com CF sofre também de desajustamento psicológico


(hostilidade e agressão, baixa autoestima, instabilidade emocional)25. Esse perfil psicológico é
secundário à natureza crônica da CF14. A adesão ao tratamento da constipação é baixa26. Quando a
CF não responde após três meses de tratamento convencional, denomina-se “constipação
intratável” (ou de difícil tratamento)14.

4
Quadro 1. Critérios de Roma IV para diagnóstico de CF em crianças e adolescentes2,16

Deve incluir duas ou mais das seguintes ocorrências, pelo menos uma vez por semana, por no
mínimo 1 mês, e com critérios insuficientes para um diagnóstico de síndrome do intestino irritável:

▪ ≤ 2 evacuações no vaso sanitário por semana, em criança ≥4 anos de idade;


▪ um episódio de incontinência fecal por semana, pelo menos;
▪ história de postura retentiva ou retenção excessiva de fezes;
▪ história de evacuações dolorosas ou duras;
▪ presença de grande massa fecal no reto;
▪ história de fezes de grande diâmetro que podem obstruir o vaso sanitário;
▪ “Após avaliação médica adequada, os sintomas não podem ser atribuídos a outra
condição médica"

 4. FATORES DE RISCO E CICLO VICIOSO PARA CF

Há vários fatores de risco14,23,25,27-,29 para o desenvolvimento da CF, como pode ser observado na
Figura 1.

1. Estresse psicológico/ distúrbios de comportamento: história de evacuação dolorosa; estilo


educacional inadequado; problemas em casa ou na escola, irmão(s) com problemas de saúde;
separação dos pais; morte na família; o fato de não morar com os pais; maus-tratos; abuso
físico, emocional (negligência, deprivação) e/ou sexual; espectro autista; déficit de atenção e
hiperatividade.
2. Estilo de vida: muito tempo sentado fazendo dever de casa, assistindo à TV, no computador
ou celular; muitas atividades fora de casa sem ter rotina certa para “hora” e “local” para
evacuar (a criança adia a evacuação); viagens; a não disponibilidade de banheiro; baixa
atividade esportiva (<2 horas/dia); ir para creche com idade inferior a 24 meses.
3. Treinamento de esfíncteres inadequado: coerção, posição inadequada para evacuar; técnica e
vaso sanitário inadequados; fobia ou recusa para realizar a toalete; baixo nível
socioeconômico e ir para creche ou outros ambientes comunitários, na ausência dos pais,
antes de 24 meses de vida.
4. Problemas dietéticos: desmame antes dos seis meses; mudanças ou ausência de rotina
alimentar; ingestão de fibras e fluidos abaixo do previsto para idade; alergia à proteína do
leite de vaca (LV) ou excesso de ingestão do LV para a idade; ausência de refeições regulares
com os pais; obesidade.
5. Predisposição familiar para CF: mães e irmãos com CF, em que pese a não identificação de
genes ou mutações específicos na CF; alterações da motilidade gastrintestinal.

5
Figura 1. Fatores de risco5,14,25,27-29 e ciclo vicioso da CF, modificado de Torres et al.23

Escape fecal
Baixa auto-estima
Retenção voluntária Evacuação dolorosa
(Postura retentiva) Fatores de risco (Fezes calibrosas, fissuras)
• Eventos estressantes
• Alterações da dieta
• Mudança no estilo de vida
• Treinamento esfincteriano inadequado
• Predisposição familiar

Estase fecal prolongada


Megareto/Megacólon
Sensibilidade retal Reabsorção de fluidos

 Consistência e/ou Calibre 



FECALOMA

 5. PATOGÊNESE

Em aproximadamente 95% das crianças com constipação, nenhuma causa orgânica pode ser
identificada. Essas crianças sofrem de CF. Nos demais casos, a constipação tem causa orgânica,
como transtorno metabólico ou endócrino, anomalias anorretais, doenças neuromusculares ou
doença de Hirschsprung9,14,23, que não serão discutidas aqui.

A fisiopatologia do CF ainda está incompleta, mas é provável que seja multifatorial. Geralmente, o
mecanismo desencadeador da CF é a evacuação dolorosa de fezes duras e calibrosas precipitada
pela presença de fatores de risco (Figura 1)14,25,27,28, o que desencadeia a retenção voluntária de
fezes pela criança e o medo de evacuar5,23,29. Essas crianças respondem ao desejo de defecar
contraindo o esfíncter anal externo, músculos glúteos e perineais e até membros inferiores, na
tentativa de reter fezes.

A retenção de fezes leva à estase fecal prolongada no reto, absorção de líquidos e fezes com
6
consistência progressivamente endurecida. À medida que o ciclo se repete, fezes mais duras e em
maior volume são acumuladas no reto (fecaloma) (Figura 1). Somente quando a criança não
consegue segurar mais as fezes, ela evacua com dor, causada pelo maior volume e consistência
das fezes, além da própria "manobra de retenção". Assim, um ciclo vicioso se estabelece (Figura1).

A "manobra de retenção de fezes" ou “postura de retenção” é típica, mas pouco reconhecida por
pais e pediatras, e pode manifestar-se com todas ou algumas das características descritas a seguir:
a criança fica na ponta dos pés, segurando as pernas e nádegas rigidamente, e muitas vezes
balança o corpo para frente e para trás, segurando ou se escondendo atrás ou debaixo de um
mobiliário, grita e apresenta sudorese e face “vermelha” decorrentes da força contrária
(retentiva). Esse quadro é reconhecido pelos pais, erroneamente, como uma tentativa de defecar,
quando na verdade a criança está realmente tentando evitar a evacuação.

Em resposta ao desejo, as crianças se recusam a sentar no vaso sanitário e evacuam na roupa


íntima ou fralda, em idades em que já poderiam estar treinadas29. Quando os pais procuram ajuda
médica, muitas das crianças já regrediram no seu desenvolvimento, ou seja, voltaram a usar
fraldas, enquanto outros nem chegaram a adquirir o controle esfincteriano e nunca se sentaram
no vaso sanitário, mesmo em idades avançadas, como 5-7 anos.

Devido à estase progressiva de fezes, o reto torna-se dilatado e redundante; a sensibilidade retal e
a eficácia das contrações dos músculos retais diminuem, levando à impactação fecal. Com o
tempo, esse comportamento de retenção torna-se uma reação automática, ou seja, eles não
percebem. Em cerca de 30% dos casos, as fezes líquidas do cólon proximal podem,
periodicamente, escapar pelo reto, involuntariamente, dando origem à incontinência fecal ou
escape fecal (anteriormente denominado soiling)14,23. Às vezes essa incontinência fecal é
confundida ou mesmo tratada como diarreia, tanto pelos pais como pelos pediatras, devido à
frequência aumentada dessas “evacuações líquidas”. Baseando-se nessa sequência de eventos
crônicos, é fácil concluir que o tratamento vai depender da quebra desse “ciclo vicioso” e do
restabelecimento da normalidade; a duração do tratamento é proporcional ao tempo decorrido
desde o início dos sintomas até o início do tratamento adequado.

 6. DIAGNÓSTICO

Avaliação da constipação da infância consiste principalmente em uma história médica e exame


físico completos. Na maioria dos casos, investigações adicionais não são necessárias12,14.

6.1 História clínica

O histórico deve concentrar-se nos hábitos intestinais da criança, de acordo com os critérios de
Roma IV (Quadro 1)2,16,19. As perguntas devem abordar a frequência de defecação, o número de
7
episódios e o momento da incontinência fecal, a consistência das fezes30, o comportamento de
retenção, evacuação dolorosa e sangue nas fezes devido à fissura anal. Deve-se perguntar se as
fezes da criança obstruem o vaso sanitário ou se são muito calibrosas, mesmo que evacue
diariamente. Um diário do hábito intestinal é muito útil para coletar informações mais confiáveis,
pois muitas vezes os pais não sabem informar ou a criança não sabe relatar23.

A Escala de Forma de Fezes de Bristol (EFFB) (Bristol Stool Form Scale – BSFS)31, ou simplesmente
Escala de Bristol modificada para crianças mBSFS-C32, validada e traduzida para o português (EBFF-
T)33, deve ser usada rotineiramente no consultório do pediatra para definir a consistência das
fezes (Figura 2). A escala modificada (M-BSFS)34 é um instrumento disponível na Internet que
atualmente é usado por alguns profissionais e empresas farmacêuticas para caracterizar fezes em
crianças, mas nenhuma validação está disponível. A M-BSFS usa as mesmas imagens do BSFS, com
diferentes descrições: tipo 1 como "fezes de coelho", 2 como "grão de uvas", 3 como "milho em
espiga", 4 como "salsicha", 5 como "nuggets de frango", 6 como "mingau" e 7 como "molho". Na
Escala de Bristol, idealmente, as fezes normais devem ser do tipo 4 (variando entre 3 e 5). Um
paciente com fezes predominantemente do tipo 1 e 2 é considerado constipado. Por outro lado,
os tipos 6 e 7 são considerados fezes diarreicas.

Estudo prospectivo, observacional, caso-controle mostrou que a forma das fezes, avaliada pela
Escala de Bristol, em vez de frequência de fezes, correlaciona-se com o tempo de trânsito total do
intestino em crianças constipadas e não constipadas30, o que está de acordo com a experiência de
follow-up de 10 anos da autora (a ser publicado). No entanto, ainda se discute o uso da Escala de
Bristol por crianças. Observou-se que existe pouca concordância entre os relatos sobre a
consistência das fezes de pais de lactentes e pré-escolares11. Saps et al. (2013)35 demonstraram
que os instrumentos de avaliação de fezes disponíveis e amplamente utilizados não são fáceis de
serem utilizados em crianças. Esses autores sugerem que o uso de um instrumento de avaliação
de fezes tridimensional deve ser investigado.

Além disso, é necessário buscar informações sobre a coexistência de dor abdominal, alterações no
apetite/peso, náuseas e/ou vômitos e outros sintomas associados, assim como sobre a história
alimentar e história familiar9,14. Atenção especial deve ser dada aos problemas psicossociais e
eventos de vida, pois muitas vezes o início dos sintomas coincide com o divórcio dos pais ou o
nascimento de um irmão mais novo, por exemplo24,26. Detalhes sobre o início dos sintomas,
duração dos mesmos e fatores precipitantes, manobras de retenção, época da eliminação do
primeiro mecônio, fissuras durante a infância9,14 devem ser investigados. É importante obter
informações sobre o treinamento para ir ao banheiro: idade e técnica, tanto em casa como na
escola, uso do vaso sanitário27,29. Buscar histórico de alimentação, tratamentos anteriores ou uso
de outros medicamentos que possam contribuir para piora do quadro 9,23.

Para discussão sobre possíveis causas orgânicas subjacentes e sintomas de alarme, sugere-se a
leitura das recomendações baseadas em evidências publicadas pela Sociedade Norte-Americana
de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (NASPGHAN) e pela Sociedade Europeia
de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN)14.

8
6.2 Exame físico

Além de proporcionar a avaliação do peso e da estatura, o exame físico (EF) deve enfatizar o
exame do abdome, regiões perianal, retal e lombossacra, além do exame neurológico.

O exame abdominal centra-se principalmente na detecção de grande massa fecal palpável, que
pode não ser detectada por examinadores pouco experientes ou se o paciente não coopera, é
obeso ou evacuou recentemente (deve-se perguntar sempre quando foi a última evacuação).
Durante a inspeção perianal, procuram-se anormalidades anatômicas (sinais indiretos de espinha
bífida ou outras malformações: fenda, mecha de cabelo ou desvio da fissura glútea), presença de
fezes, escoriações, fissuras, cicatrizes e eritema.

O exame retal digital fornece informações valiosas sobre a massa fecal retal, sensação anorretal e
tônus esfincteriano23,36,37. Se a história e o EF são clássicos, adia-se a realização do toque retal,
especialmente naquele paciente já muito manipulado nessa região (pelo uso de enemas ou
supositórios e, em alguns casos, devido a abuso) ou naquele que se nega a ser examinado. No
entanto, o toque retal realizado em salas de emergência auxilia o diagnóstico diferencial de outras
causas de dor abdominal e diminui o número de exames de imagens solicitados 14,38. História ou
existência de fissuras, escoriações e hematomas ou diante de um comportamento anormal (como
expressão de medo extremo) durante o EF leva a suspeitar de abuso sexual14.

6.3 Exames complementares

Os testes laboratoriais padrão não são necessários para manuseio da CF. Testes radiológicos,
embora ainda frequentemente solicitados, são insatisfatórios. Outros exames são indicados em
casos graves de difícil controle ou para diagnóstico diferencial, mas não de rotina, e, portanto,
ultrapassam o âmbito desta revisão9,14,37.

9
 7. TRATAMENTO

7.1 Tratamento não farmacológico

7.1.1 Educação: a educação e a desmistificação sobre a constipação são os primeiros passos e, talvez, os
mais importantes para boa adesão ao tratamento da CF14,23. É importante uma abordagem repetitiva, não
acusatória aos pais ou a criança, por parte do médico, utilizando diagramas para mostrar a impactação
fecal, aumento retal, insensibilidade e incontinência de transbordamento para que os pais e a criança (de
acordo com a idade) possam entender o que está acontecendo e a lógica das várias etapas do
tratamento39. A criança geralmente sente-se culpada ou envergonhada devido aos episódios de
incontinência fecal, por isso é importante explicar para ela e também para os pais como e por que esses
“escapes” fecais ocorrem e como ela se ”acostumou” ao odor das próprias fezes, apesar de despertar
repulsa e episódios de bullying por parte daqueles com quem convive. Para aumentar ainda mais a adesão,
deve ser informado aos pais que o tempo de tratamento é geralmente prolongado, diminuindo a ansiedade
e cobrança por parte destes23.

7.1.2 Treinamento do uso de banheiro, sistema de recompensa e diário das evacuações:


deve-se ressaltar que o treinamento para o uso do toalete não faz parte da abordagem inicial, e somente
deve ser iniciado quando a criança já adquiriu hábito intestinal regular e interrompeu as manobras de
retenção, pois a pergunta mais frequente dos pais é: “Quando a criança deixará de usar fraldas e/ou de
sujar roupas?” No momento adequado, uma criança acima de quatro anos de idade poderá ser introduzida
em um programa de treinamento que a estimule a sentar no vaso sanitário, por cinco minutos, após cada
refeição ou pelo menos as principais39. Tal medida visa aproveitar o desejo de evacuar, devido ao reflexo
gastrocólico9. É importante enfatizar que os pais não devem forçar, castigar pelo insucesso ou deixar a
criança sentada no vaso até que ela evacue.

A importância de uma postura relaxada e adequada durante a defecação deve ser explicada aos
familiares23.

10
Figura 2. Escala de Bristol para forma das fezes (EBFF)31, modificada para crianças32, traduzida e validada para o português33 e na linguagem infantil34
(todas com acesso livre na Internet)

Escala de Bristol para Forma das Fezes (EBFF) [Bristol Stool Form Scale - BSFCa]

MBSFS-Cc
Caracteristica das fezes BSFSa 31 mBSFS-Cb 32 34
EBFF-Td 33
**

Separate hard lumps, like Separate hard lumps, like Pequenas bolas duras, separadas como
Tipo 1 Rabbit droppings
nuts (hard to pass) nuts (hard to pass) coquinhos (difícil para sair)

Sausage-shaped but Sausage-shaped but Formato de linguiça encaroçada, com pequenas


Tipo 2 Bunch of grapes
lumpy lumpy bolinhas grudadas
Like a sausage but with Formato de linguiça com rachaduras na
Tipo 3 Excluded* Corn on cob
cracks on its surface superfície
Like a sausage or snake, Like a sausage or snake, Alongada, com formato de salsicha ou cobra;
Tipo 4 Sausage
smooth and soft smooth and soft lisa e macia
Soft blobs with clear-cut Pedaços macios e separados, com bordas bem
Tipo 5 Excluded* Chicken Nuggets
edges (passed easily) definidas (fáceis de sair)
Fluffy pieces with ragged Fluffy pieces with ragged
Tipo 6 Porridge Massa pastosa e fofa com bordas irregulares
edges, a mushy stool edges, a mushy stool
Watery, no solid pieces;
Tipo 7 Watery, no solid pieces; Gravy Totalmente líquida, sem pedaços sólidos
entirely liquid

a d
Bristol Stool Form Scale (BSFC) Escala de Bristol para Forma das Fezes – traduzida (EBFF-T)
b
mBSFS-C Modified Bristol Stool Form Scale for Children * Excluded - retirado pelos autores para facilitar avaliação
c
MBSFS-C – Modified Bristol Stool Scale for Children ** Acesso livre na Internet

11
Poucos pais e até mesmo médicos sabem qual a postura fisiológica para evacuar, válida para
crianças e adultos: os pés devem ficar apoiados (com a ajuda de um banquinho ou um assento
próprio - reduzido para crianças - com apoio para os pés), propiciando um ângulo adequado
entre as pernas e abdome e, assim, propiciar uso correto dos músculos envolvidos na defecação,
diminuindo o esforço evacuatório e facilitando a eliminação das fezes (Figura 3 e Figura 3a).

A partir do momento em que a criança passa a evacuar algumas vezes no vaso, torna-se
confiante e, assim, pode-se tentar instituir um sistema de pequenas recompensas (adesivos, por
exemplo; mas nunca presentes ou brinquedos), por atingir objetivos predeterminados, para
motivá-la ao treinamento23,39. O reforço deve ser sempre positivo, com observações tais como
“parabéns, você conseguiu e pode conseguir outras vezes!” ou “você vai conseguir numa
próxima vez, estamos aqui para ajudar você!”; “estou orgulhoso(a) de você”!

Um diário de evacuações ajuda a objetivar o padrão intestinal de crianças com CF e é também


uma maneira de a criança participar e visualizar seus resultados, devendo ser mantido por longo
período23. Deve conter informações sobre o número de evacuações e escapes por dia, local
(vaso ou outros), consistência (tipos 1 a 7 da escala de Bristol - oferecer aos pais a escala), dose
dos laxantes utilizados e espaço para observações como dor abdominal, manobras de retenção e
resultados positivos, por exemplo. Além de ajudar na motivação da criança, o diário é uma
ferramenta fundamental para o médico e a família avaliarem o tratamento, além de ajudar a
estabelecer o sistema de recompensas.

12
Figura 3. Desenho esquemático mostrando a posição adequada para evacuar, usando o apoio para
os pés

Reproduzido com permissão de Ray Addison, enfermeira consultora em disfunção da bexiga e do intestino. Wendy
Ness, especialista em enfermagem colorretal. Produzido como um serviço à profissão médica pela Norgine
Pharmaceuticals Ltd.

7.1.3 Fibra dietética, fluidos, atividade física, terapia comportamental e biofeedback

Fibra dietética: a necessidade normal de fibra alimentar varia com a idade da criança; naquelas
com mais de dois anos de idade, recomenda-se a ingestão mínima de fibra dietética com base no
seguinte cálculo: ‘idade + 5 g’ 40. Ingestão de fibras abaixo dos limites normais está associada à
CF41. As evidências atuais não recomendam o uso de suplementos de fibra em crianças com CF
com ingestão de fibra alimentar suficiente14.

Fluidos: tal como acontece com a fibra, a necessidade de fluidos varia com a idade 42. Existem
poucos estudos sobre a relação entre consumo de líquidos e CF. Recente revisão mostrou que
existem evidências epidemiológicas que indicam associação entre menos consumo de líquidos e
CF14. Mas a ingestão extra de líquidos não é recomendada para crianças com CF 14.

Atividade física: grande estudo prospectivo demonstrou que a atividade física está associada a
baixo risco de CF na fase pré-escolar43. No entanto, não foram realizados estudos randomizados
sobre o efeito do aumento da atividade física na CF em crianças menores14.

13
Terapia comportamental: problemas comportamentais ocorrem em um terço dos pacientes com
CF25,44, da mesma forma que acontecem em outras doenças crônicas, que interferem na
socialização e autoestima da criança. Ainda se observa a prática de abordagem emocional como
única ou primeira opção terapêutica para CF. Estudos mostraram que a terapia comportamental
não proporcionou vantagem sobre o tratamento convencional com laxantes14,45. Essa terapia deve
ser indicada e tem papel importante em casos selecionados.

Treinamento por biofeedback: aproximadamente 50% das crianças com CF têm dinâmica de
defecação anormal14. O biofeedback emprega estímulos de reforço e, portanto, visa conseguir
uma sensação evacuatória reconhecível pelo paciente com uma resposta adequada em crianças
com CF. O objetivo em longo prazo é ensinar às crianças a reconhecer a sensação evacuatória por
elas mesmas. As evidências atuais não apoiam o uso do treinamento de biofeedback
rotineiramente para o tratamento da CF14. Na experiência pessoal, o biofeedback poderia ser
utilizado em casos selecionados de CF grave e de difícil tratamento, em crianças acima de seis
anos de idade, com bom resultado.

7.2 Tratamento farmacológico

O tratamento farmacológico para CF consiste no uso de laxantes e envolve três etapas:


desimpactação, tratamento de manutenção e “desmame”. As opções terapêuticas e as doses
recomendadas são discutidas a seguir e resumidas na Tabela 114,23,37.

7.2.1 Princípios do tratamento farmacológico

7.2.1.1 Desimpactação: a impactação fecal é definida como a evidência de massa fecal no abdome
por meio da palpação ou no reto, por meio do toque retal, e está presente em aproximadamente
50% das crianças com CF. A remoção dessa massa fecal (desimpactação) é fundamental para o
sucesso do tratamento. As opções para a desimpactação consistem em enemas (via retal) ou no
uso de polietilenoglicol sem eletrólitos (PEG S/E), por via oral, em dose elevada (1 a 1,5 g/kg/dia),
uma vez ao dia, durante três a seis dias, dependendo do tamanho do fecaloma (máximo de seis
dias)14. O PEG S/E é a droga de primeira escolha, por ser menos invasiva14,23 (Tabela 1 e 2).

7.2.1.2 Manutenção: após a desimpactação bem-sucedida (idealmente determinada ao EF), a


terapia de manutenção deve ser iniciada consecutivamente para evitar acumulação de fezes. O
objetivo do tratamento de manutenção é reduzir a consistência das fezes (fezes do tipo 4 ou 5 na
escala de Bristol ou com consistência de pasta de dente), facilitando a defecação mais frequente
(uma a duas vezes ao dia), sem dor e diminuindo gradativamente a possibilidade de retenção
fecal. Para isso, utiliza-se o PEG S/E como o laxante oral de primeira escolha (14,46), na dosagem de
0,2 a 1,0 g/kg/dia, oferecido uma vez ao dia, diluído em água, suco ou leite (nunca misturado na
comida). Outras opções terapêuticas são discutidas a seguir. O tratamento deve ser avaliado após
duas a três semanas após seu início, para verificar adesão e se a dose do PEG S/E está adequada23.
Posteriormente, a dose é reavaliada com a ajuda do diário e sempre mantendo o objetivo

14
mencionado. O tratamento de manutenção deve ser individualizado, de acordo com a gravidade,
idade, tempo de duração da CF, entre outros parâmetros, até que sejam alcançados os seguintes
objetivos: treinamento parcial ou total, continência, ausência de comportamento retentivo e do
medo. Dependendo do caso, a redução é feita gradativamente a cada dois a três meses.

7.2.1.3 Desmame: pode-se tentar suspender a medicação após seis a 12 meses de tratamento em
aproximadamente 50% das crianças com CF leve a moderada46. A fim de evitar recaída, a redução
deve ser bem gradual, evitando-se interrupção abrupta47. O desmame pode ser considerado
quando a criança tem frequência média de defecação de três vezes ou mais por semana, ausência
de manobras de retenção, uso apropriado do vaso e treinamento completo e não preencher
qualquer outro critério de Roma IV14. Em casos graves e dependendo da idade da criança, o
desmame pode demorar dois a cinco anos.

7.2.2 Laxantes

7.2.2.1 Laxantes osmóticos: o uso de laxantes osmóticos é o primeiro passo no tratamento


farmacológico do CF14. Estes são mal-absorvidos pela parede intestinal, o que leva ao acúmulo
intraluminal de partículas hiperosmolares, estimulando a retenção de água no lúmen intestinal,
amolecendo as fezes e aumentando a peristalse a partir da distensão intestinal. Além disso, alguns
laxantes osmóticos aumentam a peristalse devido à diminuição do pH intraluminal47. Os mais
frequentemente utilizados são discutidos a seguir.

Polietilenoglicol sem eletrólitos (PEG S/E ou PEG): o PEG é o laxante osmótico de primeira escolha
em crianças com CF14. É um polímero linear no qual as moléculas de água são retidas por meio de
conexões de hidrogênio, causando aumento do volume do líquido intraluminal. Não é
metabolizado e minimamente (<1%) absorvido no intestino48. Diferentes tipos de PEG foram
desenvolvidos – PEG 3350 e PEG 4000, com pesos moleculares de 3.350 e 4.000 g/mol,
respectivamente. Não há formulação pronta do PEG S/E no Brasil, sendo necessário que farmácia
de manipulação prepare sachês individuais com a dose diária prescrita. O PEG demonstrou ser
mais eficaz no aumento da frequência de fezes (três vezes por semana) do que o placebo,
lactulose ou hidróxido de magnésio no tratamento da CF49. O uso de PEG é eficaz e seguro, mesmo
em crianças pequenas (idade < 2 anos)14,50-52. O efeito de PEG ocorre geralmente dentro de um a
dois dias. Quando a impactação fecal não foi tratada, esse efeito pode demorar três a cinco dias. É
bem tolerado, pois é insípido e inodoro, o que aumenta a adesão ao tratamento. O PEG tem boa
relação custo-benefício, o que deve ser considerado no nosso meio, já que o serviço público não
fornece os laxativos utilizados no tratamento da CF de crianças. Os efeitos colaterais são pouco
frequentes e incluem incontinência fecal (especialmente durante a desimpactação), flatulência,
dor abdominal, náuseas e distensão abdominal23,51. Em pacientes predispostos a desequilíbrio
hidroeletrolítico (por ex., insuficiência hepática ou renal ou em uso de diuréticos) devem-se
considerar exames laboratoriais prévios47.

Lactulose e Lactitol: a lactulose e o lactitol são derivados sintéticos da lactose. O efeito de ambos
é normalmente observado dentro de alguns dias. Os efeitos colaterais são geralmente leves e
15
incluem flatulência, dor abdominal e distensão abdominal47. O uso crônico pode levar a distúrbios
hidroeletrolíticos47. No nosso meio, o fator limitante pode ser o custo, especialmente nos casos
mais graves, quando há necessidade de dose mais alta. Há escassa evidência que apoia o seu uso
na prática clínica, embora seja frequentemente prescrita para crianças com CF. A lactulose é
considerada segura para todas as idades e recomendada quando o PEG não está disponível 14,47,48.

Hidróxido de magnésio (Leite de Magnésia - LMg): o antiácido hidróxido de magnésio (também


referido como "Leite de Magnésia", na sua forma de suspensão) atua duas a oito horas após o uso.
Quando o efeito do PEG sobre a frequência de fezes foi comparado com o LMg em crianças com
CF, demonstrou-se que o melhor resultado do PEG foi estatisticamente significante14,47. Os efeitos
colaterais do LMg incluem diarreia, hipotensão, fraqueza e letargia. É contraindicado na
insuficiência renal grave.

7.2.2.2 Laxantes estimulantes: os laxantes estimulantes são considerados de segunda linha no


tratamento de pacientes pediátricos com CF14. São de uso transitório (“terapia de resgate”), nos
casos muito graves, associados aos laxantes osmóticos. Atuam diretamente sobre a mucosa
intestinal, aumentam a motilidade intestinal e/ou a secreção de água e eletrólitos. Eles são
considerados seguros e eficazes, embora não se encontre na literatura registro nesse sentido 14,53.
Não há apresentações para crianças menores em nosso meio e, portanto, são pouco utilizados.

Difenilmetanos: os difenilmetanos incluem bisacodil e picossulfato de sódio, ambos não


absorvíveis53. O bisacodil pode ser administrado por via oral ou retal, mas não dispomos dos
supositórios no Brasil. O efeito laxante do bisacodil oral geralmente ocorre dentro de seis a oito
horas; portanto, recomenda-se administrar o bisacodil oral à noite. O picossulfato de sódio está
disponível apenas por via oral; o tempo de ação assemelha-se ao do bisacodil oral. Os efeitos
secundários mais frequentes incluem dor abdominal, náuseas e diarreia.

Antraquinonas: o sene contém uma variedade de antraquinonas e é metabolizado em seu


metabolito farmacologicamente ativo por bactérias intestinais53. Os efeitos colaterais incluem dor
abdominal, náusea, diarreia e flatulência. Só deve ser usado em crianças com idade acima de dois
anos, pelo risco potencial de causar erupções cutâneas graves, bolhas e descamação da pele 54. É
mais utilizado que o bisacodil na “terapia de resgate”23, mas é pouco prescrito no nosso meio, pois
além da ausência de formulações para crianças, a maior parte das que existem contém
associações de laxativos e, portanto, inadequadas também para uso em crianças.

7.2.2.3 Laxantes lubrificantes: os laxantes lubrificantes são uma classe dos que amolecem ou
lubrificam as fezes.

Óleo mineral: o óleo mineral (OM) ou parafina líquida é um derivado do petróleo. Não é absorvido
pelos intestinos. Pode ser administrado por via oral ou retal; o efeito laxativo oral geralmente
ocorre dentro de um a dois dias Há vários estudos comparando o OM com outros laxantes, mas a
qualidade das evidências é baixa e as diferenças não foram muito significativas 55-57. O OM é

16
considerado eficaz no tratamento da CF em crianças55. No entanto, o óleo pode vazar pelo ânus,
causando irritação ou prurido na pele, desconforto e sensação de “escape”, que contribui
negativamente para a autoestima do paciente, além de manchar roupas íntimas23. O OM,
provavelmente, em doses muito altas pode reduzir a absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e
K)14, embora raramente seja relevante. Houve relatos incidentais de efeitos colaterais graves,
como granulomas após absorção e pneumonia lipoide após aspiração, sendo, assim,
contraindicado em crianças menores de três anos55 e em pacientes neurológicos e/ou com
distúrbios de deglutição.

7.2.2.4 Enema ou clister: enemas são fluidos administrados por via retal que contêm agentes
quimicamente ativos que influenciam a motilidade intestinal ou exercem efeito osmótico ou a
combinação de ambos. O efeito do enema é normalmente observado poucos minutos após a sua
administração. A solução glicerinada a 12% tem baixo custo, é a mais utilizada no nosso meio para
desimpactação retal (quando o paciente não tem acesso ao PEG oral), na dose de 10 a 20 mL/kg
(máximo de 500 mL) por vez, uma vez ao dia, por um a sete dias, dependendo do tamanho da
massa fecal (Tabela 2)14,23,36,37. Quando não se consegue eliminar o fecaloma, pode-se recorrer ao
clister retal com OM ou glicerina líquida e, a seguir, realizar nova série do clister citado na Tabela
2. Em raras ocasiões recorre-se ao esvaziamento manual do fecaloma, sob anestesia geral. Não se
recomendam enemas de fosfato, magnésio ou soluções hipotônicas (água). O PEG S/E oral e os
enemas têm sido igualmente eficazes na desimpactação retal, mas recomenda-se o PEG devido à
natureza invasiva dos enemas14.

7.3 Novas terapias – lubiprostona, linaclotida e prucaloprida

São fármacos relativamente novos, eficazes em adultos58,59,60,61. Contudo, os dados sobre a


eficácia desses agentes no tratamento da CF na criança são escassos ou inexistentes.

7.4 Probióticos

Sabe-se que o número de células bacterianas, dentro e sobre o corpo humano, supera o de células
humanas62. A descoberta do microbioma humano propiciou a formação de conceitos inovadores
que podem alterar significativamente a forma como tratamos a doença e promovemos a saúde no
futuro62. A relação exata entre as alterações da microbiota do intestino e CF não é completamente
compreendida. Até o momento, estudos sobre o uso de probióticos ou simbióticos no tratamento
da CF não demonstraram evidências suficientes para apoiar seu uso14,63.

 8. PROGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO

Representativa proporção de crianças com CF pode ser tratada eficazmente com os agentes
terapêuticos que estão atualmente disponíveis. Um algoritmo de tratamento publicado nas
17
recomendações do ESPGHAN e NASPGHAN por Tabbers et al.14, simplificado pela autora, é
mostrado na Figura 4. Pijpers et al.46 realizaram revisão sistemática dos estudos de seguimento
prospectivo sobre o prognóstico do CF. Embora as pesquisas sejam amplamente heterogêneas,
concluiu-se que, entre seis e 12 meses, aproximadamente 50% das crianças com CF recuperaram o
hábito intestinal normal e permaneceram sem laxantes; 10% estavam livres de sintomas, mas em
uso de medicação; e 40% mantiveram-se sintomáticos, apesar do uso de laxantes46. Após período
de seguimento de cinco a 10 anos, 56,0% ± 11,3% das crianças não estavam mais usando laxantes.

Nos centros terciários, esses números são semelhantes: 50% das crianças encaminhadas ao
gastroenterologista pediátrico recuperaram-se após cinco anos, a maioria já sem o uso de
laxantes. E após 10 anos, 80% das crianças recuperaram-se14. No entanto, no grupo restante, os
sintomas podem persistir na adolescência ou até mesmo na idade adulta, apesar do tratamento
laxante64.

Enfatiza-se a identificação precoce dos sintomas da CF, que geralmente iniciam-se nos primeiros
dois anos de vida65, uma vez que o tempo decorrido entre o começo dos sintomas e a primeira
consulta com o gastroenterologista pediatra está negativamente relacionado à recuperação14.

Em crianças com constipação grave e intratável, que não respondem ao tratamento farmacológico
intensivo, recomenda-se encaminhamento para um centro especializado. Raramente, o manejo
cirúrgico pode ser indicado, apenas como último recurso de tratamento 66.

Os recentes progressos no diagnóstico e tratamento da CF podem influenciar a forma como


lidaremos com os distúrbios da defecação pediátrica no futuro próximo 67.

 9. CONCLUSÕES

A CF na criança é um problema comum de saúde em todo o mundo. O diagnóstico baseia-se na


história clínica, incluindo os critérios de Roma IV, e no exame físico. Propedêutica adicional é
necessária apenas em situações em que o diagnóstico não é claro e para descartar uma doença
subjacente. O tratamento não farmacológico envolve educação, desmistificação, programa de
higiene com sistema de recompensa e diário intestinal. O tratamento farmacológico com laxantes
é utilizado na desimpactação, no tratamento de manutenção, até, eventualmente, na fase de
desmame da medicação. O PEG S/E é o laxante de primeira escolha tanto para a desimpactação
(dose elevada: 1 a 1,5 g/kg/dia), como para tratamento de manutenção (0,2 a 1,0 g/kg/dia). Se o
PEG não estiver disponível ou se não for tolerado, recomenda-se a lactulose. O hidróxido de
magnésio ou o óleo mineral podem ser considerados como laxantes de segunda linha e os laxantes
estimulantes (bisacodil, sene, picossulfato de sódio) usados para tratamento adicional quando os
laxantes osmóticos forem insuficientes. O tempo do tratamento de manutenção varia com a
gravidade e adesão ao mesmo e é seguido por redução progressiva até a suspensão. O prognóstico
da CF em longo prazo, especialmente para casos mais graves, é reservado, mesmo se aplicadas
intervenções terapêuticas adequadas e precoces.
18
Tabela 1. Laxativos: dose e efeitos colaterais14 – modificada36; traduzida e adaptada por Torres, Melo & Vilar23

Laxantes (Uso oral)


Mecanismo
de ação
Tipo 1. Dose Efeitos colaterais Observações

1-3 mL/kg/dia,
em 1 a 3 doses Amolece as fezes e diminui absorção de água. Mais
Pneumonia lipoídica,
palatável se oferecido frio.
possível interferência na
Óleo Mineral * Contraindicado:
absorção de vitaminas
< 3 anos de idade; pacientes com Perda anal de óleo: indica dose alta ou necessidade
lipossolúveis.
déficit neurológico ou distúrbio de de desimpactação.
deglutição
Polímero linear, no qual as moléculas de água são
Lubrificantes PEG sem eletrólitos
0,2-1,0 g/kg/dia, Náusea, distensão retidas por meio de conexões de hidrogênio,
(PEG S/E)* abdominal, cólicas, causando aumento do volume do líquido
em 1 dose
(Para uso prolongado)
vômitos (pouco intraluminal.
frequentes).
PEG sem Não é metabolizado e é minimamente absorvido no
1-1,5 g/Kg por 3 a 6 dias, intestino (<1%).
eletrólitos
(máximo), em 1 a 2 doses/dia Dissolver em água, suco ou leite. Não misturar com
(Para desimpactação)
alimentos sólidos.
7m a 18 anos: 1-3 mL/kg/dia Bem tolerada em longo prazo.
ou 1-2 g/Kg/dia, Flatulência, cólicas
Lactulose * abdominais;
em 1 a 2 doses Dissacarídeo sintético.

Custo elevado.
Altas doses, quando usada
1–6 anos: 0,5-1 g/kg/dia na encefalopatia hepática:
Osmóticos 6-12 anos:10-30 g/dia
Lactitol* hipernatremia.
12-18 anos: 20-60 g/dia,
em 2 a 3 doses 
Baixo custo; pode ser oferecido no suco de frutas:

 maçã, ameixa preta.
1-3 mL/kg/dia, Indicação:< 1 ano idade
Sorbitol ** Mesmo que a lactulose
em 1 a 2 doses

19
Mal-absorvidos pela parede intestinal levando a
acúmulo intraluminal de partículas hiperosmolares,
que estimula a retenção de água no lúmen
Lactentes < 1 ano:
intestinal, amolecendo as fezes e aumentando a
suscetíveis à
peristalse.
Hidróxido de intoxicação por magnésio.
1-3 mL/kg/dia,
magnésio
em 1 a 2 doses Usar com cautela na insuficiência renal.
(Leite de Magnésia - Superdosagem pode levar
(melhor oferecer à noite e “gelado”)
LMg) * a hipermagnesemia,
Baixo custo.
hipofosfatemia e
hipocalcemia secundária.
Manter na geladeira: melhor aceitação.
Pode ser oferecido puro ou misturado ao leite de
vaca, por exemplo.
3-10 anos: 5 mg/dia
Atuam diretamente sobre a mucosa intestinal,
Bisacodil >10 anos: 5-10 mg/dia,
Dor abdominal, náuseas e aumentam a motilidade intestinal e/ou a secreção
em 1 dose, a noite
diarreia de água e eletrólitos.
1 m - 4 anos: 2,5-10 mg/dia
Picossulfato de
4-18 anos: 2,5-20 mg/dia,
sódio Uso transitório: na terapia de resgate.
em 1 dose
Estimulantes
2-6 anos: 2,5-5 mg/dia
Melanosis Coli desaparece com a interrupção do
6-12 anos: 7,5-10 mg/dia Melanosis Coli, hepatite,
Sene** tratamento.
>12 anos: 15-20 mg/dia, osteoartropatia
Indicado em pacientes com constipação após
[Formulação líquida: 8,8 mg/5 hipertrófica, neuropatia
(Senna) intervenção cirúrgica anorretal.
mL]**
Uso transitório: na terapia de resgate.
em 1 a 2 doses

*Ajustar a dose com o objetivo de apresentar uma a duas evacuações pastosas ou do tipo 4 ou 5 da Escala de Bristol por dia.
**Apresentação não disponível no nosso meio.
PEG: Polietileno glicol.

20
Tabela 2. Enemas: dose e efeitos colaterais14, modificada36; traduzida e adaptada por Torres, Melo & Vilar23

Enemas (uso retal)


Mecanismo
Tipo Dose Efeitos colaterais Observações
de ação
Reservar uso para grandes fecalomas e
Solução 10-20 mL/kg/dose
atendimento em urgências.
glicerinada 1 dose por dia, por 1 a 7 dias
Risco de trauma Usar na mesma temperatura do corpo. Não
(SG) a 12%
mecânico do reto; dor misturar outro medicamento. Usar com
(glicerina 120
abdominal e vômitos. precaução em pacientes em risco de
mg/mL)
hipervolemia, insuficiência cardíaca ou
distúrbio renal. Não utilizar em pacientes
desidratados.
Contraindicado em pacientes imunodeprimidos
Lubrificantes
(risco de lesão da mucosa e invasão
bacteriana), apendicite, obstrução intestinal,
hemorragia retal não diagnosticada e lesões
intestinais.


Óleo Mineral 2-11 anos: 20-60 mL/dose
Aplicar imediatamente antes da solução
> 11 anos: 60-150 mL/dose
glicerinada a 12%, para facilitar retirada de
1 dose por dia.
fecalomas grandes e pétreos.
>1 a 18 anos: 2,5 mL/kg/1 dose Risco de trauma
máximo-133 mL/dose mecânico do reto; dor
Fosfato de
RN < 1 kg: 5 mL abdominal e vômitos;
Osmóticos sódio Uso restrito: casos graves.
> 1 kg: 10 mL hipocalemia, com tetania
1 m-1 ano: 6 mL/kg hiperfosfatemia grave
(1 a 2 doses por dia) até a morte.

21
Figura 4. Algoritmo para abordagem da CF – recomendações adaptadas e traduzidas do algoritmo
do ESPGHAN e NASPGHAN14

• História clínica • Constipação funcional


• Exame físico

SIM

• Desimpactação • Impactação fecal

• Terapia de manutenção
NÃO

NÃO
EFETIVOS • Terapia de manutenção:
Dieta, laxativos e treinamento
de toalete
• Reavaliar
• Ajustar doses EFETIVOS
• Mudar/associar medicação

NÃO •“Desmame”
EFETIVOS • Follow-up

• T4, TSH, Ca, P, Pb


• Sorologia para doença celíaca
• Hirschsprung?: manometria anorretal e/ou biópsia retal
• Considerar RM da coluna lombossacra

RM – Ressonância magnética.

22
 REFERÊNCIAS

1. Schuster BJ, Schuster BC, Short H, Paul SP. Childhood constipation: recognition, management
and the role of the nurse. Br J Nurs. 2016; 25(22):1231-42.

2. Hyams JS, Di Lorenzo C, Saps M, Shulman RJ, Staiano A, van Tilburg M. Functional disorders:
children and adolescents. Gastroenterology. 2016; 150:1456-68.

3. Torres MR, Melo MC, Purcino FA, Maia JC, Aliani NA, Rocha HC. Knowledge and practices of
pediatricians regarding functional constipation in the state of Minas Gerais, Brazil. J Pediatr
Gastroenterol Nutr. 2015; 61:74-9.

4. Vieira MC, Negrelle ICK, Webber KU, Gosdal M, Truppel SK, Kusma SZ. Conhecimento do
pediatra sobre o manejo da constipação intestinal functional. Rev Paul Pediatr. 2016;
34(4):425-31.

5. Mugie SM, Benninga MA, Di Lorenzo C. Epidemiology of constipation in children and adults: a
systematic review. Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2011; 25:3-18. 


6. van Den Berg MM, Benninga MA, Di Lorenzo C. Epidemiology of childhood constipation: a
systematic review. Am J Gastroenterol. 2006; 101:2401-09. 


7. Boronat, AC, Ferreira-Maia, AP, Matijasevich, A, Wang, Y-P. Epidemiology of functional


gastrointestinal disorders in children and adolescents: a systematic review. World J
Gastroenterol. 2017, 23(21):3915-27.

8. Oliveira JN, Tahan S, Goshima S, Fagundes-Neto U, De Morais, MB. Prevalência de constipação


em adolescentes matriculados em escolas de São José dos Campos, SP, e em seus pais. Arq
Gastroenterol. 2006; 43(1):50-54.

9. Motta ME, Silva GA. Constipacão crônica. In: Lopez FA, Campos Júnior D, editors. Tratado de
pediatria. São Paulo: Manole; 2010, p. 983-93.

10. Del Ciampo IR, Galvão LC, Del Ciampo LA, Fernandes MI. Prevalência de constipação
intestinal crônica em crianças atendidas em unidade básica de saúde. J Pediatr (Rio J).
2002; 78(6):497-502.

11. Koppen IJN, Velasco-Benitez CA, Benninga MA, Di Lorenzo C, Saps M. Using the Bristol Stool
Scale and parental report of stool consistency as part of the Rome III Criteria for functional
constipation in infants and toddlers. J Pediatr. 2016; 177:44-8.

23
12. Chogle A, Saps M. Yield and cost of perfoming screening tests for constipation in children. Can
J Gastroenterol. 2013; 27:e35-e38.

13. Choung RS, Shah ND, Chitkara D, Branda ME, van Tilburg MA, Whitehead WE, et al. Direct
medical costs of constipation from childhood to early adulthood: a population-based birth
cohort study. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2011; 52:47-54.

14. Tabbers MM, DiLorenzo C, Berger MY, Faure C, Langendam MW, Nurko S, et al. Evaluation
and treatment of functional constipation in infants and children: evidence-based
recommendations from ESPGHAN and NASPGHAN. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014;
58:258-74.

15. Lewis ML, Palsson OS, Whitehead WE, van Tilburg, MA. Prevalence of Functional
Gastrointestinal Disorders in children and adolescents. J Pediatr. 2016; 177:39-43.e3.

16. Drossman, DA. Functional Gastrointestinal disorders: history, pathophysiology, clinical


features and Rome IV. Gastroenterology. 2016, 150(6):1262-1279.e2.

17. van Tilburg MA, Squires M, Blois-Martin N, Leiby A, Langseder A. Test of the child/adolescente
Rome III criteria: agreement with physician diagnosis and daily symptoms. Neurogastroenterol
Motil. 2013; 25:302-e246.

18. Rajindrajith S, Devanarayana NM, Crispus Perera BJ, Benninga MA. Childhood constipation as
an emerging public health problem. World J Gastroenterol. 2016; 22(30):6864-75.

19. Koppen IJ, Nurko S, Saps M, Di Lorenzo C, Benninga MA. The pediatric Rome IV criteria: what's
new? Expert Rev Gastroenterol Hepatol. 2017; 11(3):193-201.

20. Lea R, Hopkins V, Hastleton J, Houghton LA, Whorwell PJ. Diagnostic criteria for irritable bowel
syndrome: utility and applicability on clinical practice. Digestion. 2004; 70:210-13.

21. Hasosah M, Telmesani A, Al-Binali A, Sarkhi A, Algnhamdi S, Alquair K, et al. Knowledge and
practices styles of pediatricians in Saudi Arabia regarding childhood constipation. J Pediatr
Gastroenterol Nutr. 2013; 57:85-92.

22. Zeevenhooven J, Koppen IJN, Benninga MA. The new Rome IV criteria for functional
gastrointestinal disorders in infants and toddlers. J Pediatr Gastroenterol Hepatol Nutr. 2017;
20(1):1-13.

23. Torres MRF, Melo MCB, Vilar EG. Constipação intestinal. In: Leão E, Corrêa EJ, Vianna MB,
Mota JAC, Vasconcellos MC. Pediatria ambulatorial. Belo Horizonte: Coopmed, 5. ed., 2013; p.
529-42.

24
24. Belsey J, Greenfielf S, Candy D, Geraint M. Systematic review: impact of constipation on
quality of life in adults and children. Aliment Pharmacol Ther. 2010; 31:938-49.

25. Ranasinghe N, Devanarayana NM, Benninga MA, van Dijk M, Rajindrajith S. Psychological
maladjustment and quality of life in adolescents with constipation. Arch Dis Child. 2017;
102(3):268-273.

26. Steiner SA, Torres MR, Penna FJ, Gazzinelli BF, Corradi CG, Costa AS, et al. Chronic functional
constipation in children: adherence and factors associated with drug treatment. J Pediatr
Gastroenterol Nutr. 2014; 58(5):598-602.

27. Park M, Bang YG, Cho KY. Risk factors for functional constipation in young children attending
daycare centers. J Korean Med Sci, 2016; 31(8):1262-5.

28. Olaru C, Diaconescu S, Trandafir L, Gimiga N, Stefanescu G, Ciubotariu G, et al. Some risk
factors of chronic functional constipation identified in a pediatric population sample from
Romania. Gastroenterol Res Pract. 2016; Article ID 3989721, 8 p.

29. Wagner C, Niemczyk J, von Gontard A. Toilet phobia and toilet refusal in children. Klin Padiatr.
2017; 229(1):27-31.

30. Russo M, Martinelli M, Sciorio E, Botta C, Miele E, Vallone G, et al. Stool consistency, but not
frequency, correlates with total gastrointestinal transit time in children. J Pediatr. 2013;
162:1188-92.

31. Lewis SJ, Heaton KW. Stool form scale as a useful guide to intestinal transit time. Scand J
Gastroenterol. 1997; 32: 920-4.

32. Lane MM, Czyzewski, DI, Chumpitazi BP, Shulman RJ. Reliability and validity of a modified
Bristol Stool Form Scale for children. J Pediatric. 2011; 159(3):437-441e1.

33. Martinez AP; Azevedo, GR. The Bristol Stool Form Scale: its translation to Portuguese, cultural
adaptation and validation. Rev Latino-Am Enfermagem (Internet) 2012;
20(3):[7telas].http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000300021.

34. Modified Bristol Stool Form Scale. Modified Bristol Stool Form Scale. Disponível em: http:
//www.childhoodconstipation.com/gfx/bristolstool.jpg. Acesso em: 10/6/2017.

35. Saps M, Nichols-Vinueza D, Dhroove G, Adams P, Chogle A. Assessment of commonly used


pediatric stool scales: A pilot study. Revista de Gastroenterología de México. 2013;
78(3):151-8.

25
36. Koppen, IJN, Laureen A. Lammers, LA, Benninga, MA, Tabbers MM. Management of functional
constipation in children: therapy in practice. Pediatr Drugs. 2015, 17:349-60.

37. NICE Clinical Guidelines, No. 99. Constipation in children and young people. Diagnosis and
management of idiopathic childhood constipation in primary and secondary care. In: National
Collaborating Centre for Women's and Children's Health (UK), London: RCOG 2010; p. 1-249.

38. Benninga MA, Tabbers MM, van Rijn RR. How to use a plain abdominal radiograph in children
with functional defecation disorders. Arch Dis Child Educ Pract Ed. 2016; 101(4):187-93.

39. van der Plas RN, Benninga MA, Taminiau JA, Büller HA. Treatment of defecation problems
in children: role of education, desmystification and toilet training. Eur J Pediatr . 1997;
156:698-92.

40. Dwyer JT. Dietary fibers for children: how much? Pediatrics. 1995; 156:689-92.

41. Morais MB, Vítolo MR, Aguirre AN, Fagundes-Neto U. Measurement of low dietary fiber
intake as a risk factor for chronic constipation in children. J Pediatric Gastroenterol Nutr.
1999; 29:132-5.

42. European Food Safety Authority. Scientific opinion on dietary reference values for water. EFSA
J. 2010; 8(3):1459.

43. Driessen LM, Kiefte-de-Jong JC, Wijtzes A, de Vries SI, Jaddoe VWV, Hoffman A, et al.
Preschool physical activity and functional constipation: the Generation R Study. J Pediatr
Gastroent Nutr. 2013; 57:768-74.

44. van Dijk M, Benninga MA, Grootenhuis MA, Last DF. Prevalence and associated clinical
characteristics of behavioral problems in constipated children. Pediatrics. 2010; 125:e309-17.

45. van Dijk M, Bongers MEJ, de Vries G-J, Grootenhuis MA, Last DF, Benninga MA. Behavioral
therapy for childhood constipation: a randomized, controlled trial. Pediatrics. 2008;
121:e1334-41.

46. Pijpers MAM, Bongers MEJ, Benninga MA, Berger MY. Functional constipation in children: a
systematic review on prognosis and predictive factors. J Pediatr Gastrenterol Nutr. 2010;
50:256-68.

47. Gordon M, Naidoo K, Akobeng AK, Thomas AG. Cochrane Review: Osmotic and stimulant
laxatives for the management of childhood constipation (Review). Evid Based Child Health.
2013; 8(1):57-109.

26
48. Brady CE, DiPalma JA, Morawski SG, Santa Ana CA, Fordtran JS. Urinary excretion of
polyethylene glycol 3350 and sulfate after gut lavage with a polyethylene glycol electrolyte
lavage solution. Gastroenterology. 1986; 90:1914-8.


49. Lee-Robichaud H, Thomas K, Morgan J, Nelson RL. Lactulose versus polyethylene glycol for
chronic constipation. Cochrane Database Syst Rev. 2010; (7):CD007570.


50. Loening-Baucke V. Polyethylene glycol without electrolytes for children with constipation and
encopresis. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2002; 34:372-7.


51. Gomes PB, Melo MC, Duarte MA, Torres MR, Xavier AT. Polyethylene glycol in the treatment
of chronic functional constipation in children. Rev Paul Pediatr. 2011; 29:245-50.

52. Llerena E, Varea Calderón V, Pujol Muncunill G, Hernandez Hernandez K, Sosa Giraldo FJ,
Suarez Fuentes T, et al. [Comparison of the effectiveness and safety of polyethylene glycol
with and without electrolytes in the treatment of chronic constipation]. An Pediatr (Barc).
2016; 85(1):34-40.

53. Price KJ, Elliott TM. What is the role of stimulant laxatives in the management of childhood
constipation and soiling? Cochrane Database Syst Rev. 2001; (3):CD002040.


54. Spiller HA, Winter ML, Weber JA, Krenzelok EP, Anderson DL, Ryan ML. Skin breakdown and
blisters from senna-containing laxatives in young children. Ann Pharmacother. 2003; 37:636-9.

55. Sharif F, Crushell E, O’Driscoll K, Bourke B. Liquid paraffin: a reappraisal of its role in the
treatment of constipation. Arch Dis Child. 2001; 85:121-4.

56. Urganci N, Akyildiz B, Polat TB. A comparative study: the efficacy of liquid paraffin and
lactulose in management of chronic functional constipation. Pediatr Int. 2005; 47:15-9.

57. Farahmand F. A randomised trial of liquid paraffin versus lactulose in the treatment of chronic
functional constipation in children. Acta Med Iran. 2007; 45:183-8.

58. Ford AC, Suares NC. Effect of laxatives and pharmacological therapies in chronic idiopathic
constipation: systematic review and meta-analysis. Gut. 2011; 60:209-18.

59. Hyman PE, Di Lorenzo C, Prestridge LL, Youssef NN, Ueno R. Lubiprostone for the treatment of
functional constipation in children. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014; 58:283-91.

60. Diederen K, Mugie SM, Benninga MA. Efficacy and safety of prucalopride in adults and
children with chronic constipation. Expert Opin Pharmacother. 2015; 16:407-16.

27
61. Winter HS, Di Lorenzo C, Benninga MA, Gilger MA, Kearns GL, Hyman PE, et al. Oral
prucalopride in children with functional constipation. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2013;
57:197-203.

62. Turnbaugh PJ, Ley RE, Hamady M, Fraser-Liggett CM, Knight R, Gordon JI. The human
microbiome project. Nature. 2007; 449:804-10.


63. Koppen IJ, Benninga MA, Tabbers MM. Is there a role for pre-, pro- and symbiotics in the
treatment of functional constipation in children? A systematic review. J Pediatr Gastroenterol
Nutr. 2016; 63 Suppl 1:S27-35.

64. Michaud L, Lamblin M-D, Mairesse S, Turck D, Gottrand F. Outcome of functional constipation
in childhood: a 10-year follow-up study. Clin Pediatr (Phila). 2009; 48:26-31.

65. Malowitz S1, Green M, Karpinski A, Rosenberg A, Hyman PE. Age of onset of functional
constipation. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2016; 62(4):600-2.

66. Koppen IJ, Kuizenga-Wessel S, Lu PL, Benninga MA, Di Lorenzo C, Lane VA, et al. Surgical
decision-making in the management of children with intractable functional constipation:
What are we doing and are we doing it right? J Pediatr Surg. 2016; 51(10):1607-12.

67. Koppen IJ, Di Lorenzo C, Saps M, Dinning PG, Yacob D, Levitt MA, et al. Childhood
constipation: finally something is moving! Expert Rev Gastroenterol Hepatol. 2016;
10(1):141-55.

28

Você também pode gostar