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Transtornos Gastrointestinais Funcionais:


Critérios de Roma IV – lactentes, escolares e
adolescentes
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Transtornos Gastrointestinais Funcionais: Critérios de Roma IV – lactentes, escolares e adolescentes

Transtornos Gastrointestinais Funcionais: Critérios de Roma


IV – lactentes, escolares e adolescentes
Isabela T. Mazzei e Ulysses Fagundes Neto

Introdução

Em geral, admite-se que o modelo biomédico da prática clínica baseia-se na teoria de que
os sintomas são, potencialmente, causados por enfermidades orgânicas, as quais, por sua
vez, são de!nidas como anormalidades anatômicas, in"amatórias, neoplásicas e/ou
bioquímicas. Por esta razão, a responsabilidade do clínico traduz-se na busca do
diagnóstico e, quando possível, proporcionar a cura para determinados sinais e/ou
sintomas apresentados pelos pacientes. Entretanto, no caso desta pesquisa resultar
infrutífera, o diagnóstico proposto passa a ser um transtorno funcional. De qualquer
forma, este tipo de abordagem, durante muito tempo, foi desprovido de um critério
universalmente consensuado, o que caracterizava uma lacuna que necessitava ser
devidamente preenchida, era, portanto, recomendável estabelecer uma validação
apropriada. Para tal !m, em 1989, um grupo de investigadores se reuniram em Roma, e
desenvolveram um consenso para auxiliar no diagnóstico dos transtornos gastrointestinais
funcionais (TGF) para os indivíduos adultos.
:
Os objetivos dos critérios de Roma foram desenvolver um sistema de classi!cação
baseado em sintomas, estabelecer critérios diagnósticos para pesquisa e assistência, fazer
uma revisão sistemática rigorosa da literatura com respeito a essas condições e,
!nalmente, validar e/ou modi!car esses critérios de acordo com um processo baseado em
evidências.

Os critérios para crianças e adolescentes, entretanto, somente foram discutidos em 1997,


e foram publicados em 1999 sob a denominação de critérios Roma II. Estes critérios

forneceram um guia de conduta baseado em sintomas por meio do qual crianças em idade
escolar e adolescentes portadores de um TGF podem ter o diagnóstico estabelecido. As
experiências baseadas em evidências nestes últimos 10 anos forneceram a base para a
maioria das recomendações para o advendo dos critérios de Roma IV. Para aqueles
transtornos que ainda apresentam uma falta de dados cientí!cos, o comitê utilizou a
experiência clínica e o devido consenso entre os membros do respectivo comitê.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image.jpeg)A descrição dos TGFs Roma IV
estão apresentados na Tabela 1. Os
critérios de Roma III enfatizavam que os
sintomas deveriam apresentar uma “não
evidencia” de enfermidade orgânica. No
Roma IV a frase, “não evidência de um
processo in"amatório, anatômico,
metabólico ou neoplásico, para explicar os
sintomas apresentados por um
determinado paciente”, foi suprimida dos
critérios diagnósticos. Ao invés disto, foi
incluída a frase “após criteriosa avaliação
médica, os sintomas não podem ser
atribuídos a qualquer outra condição
médica”. Esta alteração permite dar a devida validade, para se estabelecer um diagnóstico
de TGF em um determinado paciente, mesmo na ausência de uma investigação laboratorial
especí!ca. Além disso, vale enfatizar que um determinado transtorno funcional pode
coexistir associado a uma outra condição médica, e, da mesma forma diferentes TGFs
frequentemente estão presentes em um mesmo paciente.

Descrição dos Transtornos Funcionais Gastrointestinais

1. Náuseas e Vômitos funcionais


1A– Síndrome dos Vômitos Cíclicos (SVC)

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
1.jpeg)Os dados conhecidos sugerem
:
que a prevalência da SVC varia de 0,2%
a 1%, a idade mediana dos sintomas
varia dos 3,5 aos 7 anos, porém a SVC
também pode ocorrer desde os
primeiros anos de vida até a idade
adulta, sendo que 46% dos sintomas se
iniciam aos 3 anos de idade ou mesmo antes. No quadro abaixo estão discriminados os
critérios diagnósticos da SVC.

Na avaliação clínica há uma alta probabilidade da existência de enfermidades


neurometabólicas associadas com essa síndrome particularmente nas crianças que
apresentam os sintomas da SVC em idades precoces da vida. Por esta razão, testes
metabólicos devem ser realizados durante os episódios de vômitos e antes da
administração de "uidos intravenosos para maximizar a detecção das potenciais
anormalidades. O uso crônico de cannabis pode estar associado com episódios repetidos
de vômitos intensos, náuseas e dores abdominais, e deve ser levada em consideração essas
possibilidades em pacientes adolescentes.

O tratamento recomendado para crianças menores de 5 anos é a ciproheptadina e para os


maiores de 5 anos a amitriptilina. Um tratamento de segunda linha inclui a pro!laxia com
propranolol. Tratamento abortivo pode ser tentado com hidratação e ondansetrona.

1B- Náusea Funcional e Vômito Funcional

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
2.jpeg)Não existem dados disponíveis na
literatura para a prevalência destas
síndromes, isoladas ou conjuntamente. No
quadro abaixo estão discriminados os
critérios diagnósticos desta síndrome.

Alguns pacientes com esses transtornos


também apresentam sintomas autonômicos,
tais como: transpiração, tonturas, palidez e
taquicardia. A síndrome da taquicardia
postural ortostática pode incluir náusea e
vômitos como parte deste complexo
sintomatológico, e deve ser diferenciado da
náusea funcional e do vômito funcional.
Algumas crianças somente apresentam náusea pela manhã e observam que quando elas
“dormem tarde”, ou seja, ultrapassam o horário usual de dormir, é quando elas deveriam
apresentar náusea, mas isto, na realidade, não ocorre.

A náusea funcional e o vômito funcional devem ser consideradas entidades distintas, mas,
pacientes que sofrem de náusea crônica frequentemente relatam episódios leves de
:
vômitos com frequência variada. A presença de vômitos intensos associados à náusea
representa uma situação diferente na qual devem-se excluir enfermidades do sistema
nervoso central, anormalidades anatômicas do trato digestivo (por exemplo, malrotação),
gastroparesia e pseudo obstrução intestinal. A avaliação psicológica está indicada neste
grupo de pacientes.

Não há dados disponíveis para o tratamento isolado da náusea funcional e/ou do vômito
funcional, porém, há indicação de intervenção da saúde mental naqueles pacientes que
apresentam comorbidades psicológicas evidentes.

1C- Síndrome da Ruminação

Ruminação é a regurgitação do conteúdo recém deglutido seguida da re-mastigação e


nova deglutição ou não. Apesar de ser um sintoma funcional, é um transtorno psiquiátrico
causado principalmente por privação social. A ruminação pode ocorrer em qualquer idade,
porém, adolescentes do sexo feminino parecem ser de maior risco para apresentar este
transtorno.

No Quadro 3 abaixo estão descritos os critérios diagnósticos da Síndrome da Ruminação.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image-3.jpeg)

O ato da ruminação é causado por um


aumento da pressão intragástrica
devido à contração dos músculos
abdominais e está associado com a
abertura do esfíncter esofágico
inferior, o que causa o retorno do
conteúdo gástrico para o esôfago. A
motilidade de jejum e pós-prandial usualmente estão normais. Tem sido reconhecido que
quando ocorre aumento da pressão abdominal, a junção gastroesofágica é deslocada para
o tórax, e, esta alteração anatômica, mais do que o relaxamento do esfíncter esofágico
inferior, é o que explica o mecanismo voluntário da regurgitação presente nesta síndrome.

Geralmente um evento de"agrador ocorre antes da instalação dos sintomas de ruminação.


A intercorrência de um processo infeccioso pode causar vômitos e náuseas, os quais
podem não desaparecer após a infecção ter sido curada. Em outras ocasiões, um evento
psicossocial traumático pode ser identi!cado com o início dos sintomas. Distúrbios
psiquiátricos podem incluir depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo,
estresse pós-traumático, transtorno comportamental e transtorno de dé!cit de atenção-
hiperatividade.
:
Regurgitação repetitiva, desprovida de esforço acompanhada de reingestão e/ou o ato de
cuspir o alimento no prazo de alguns minutos após ter iniciado a alimentação, de!ne a
ruminação. Outras queixas comuns incluem dor abdominal, "atulência, náusea, queimação
retroesternal, e vários sintomas somáticos tais como, cefaleia, tontura e di!culdades do
sono. O diagnóstico diferencial inclui re"uxo gastroesofágico, gastroparesia, acalasia,
bulimia nervosa e outras enfermidades funcionais ou anatômicas do estômago e do
intestino delgado, mas em nenhuma destas entidades a regurgitação ocorre
imediatamente após a alimentação.

Para se alcançar um tratamento bem-sucedido a profunda compreensão da síndrome da


ruminação, bem como uma evidente motivação para superá-la, são necessários. Um
exitoso modelo terapêutico deve ser composto pela abordagem interdisciplinar
envolvendo psicólogo, gastroenterologo e nutrólogo.

1D- Aerofagia

A aerofagia ao que tudo indica é particularmente comum em pacientes com de!ciência


neurocognitiva. Quando a ingestão de ar é excessiva o gás preenche o lúmen
gastrointestinal, resultando em eructações excessivas, distensão abdominal, eliminação de
"atus e dor, presumivelmente como consequência da distensão luminal. É importante
assinalar que a distensão abdominal reduz ou desaparece durante o sono.

No Quadro 4 abaixo estão descritos os critérios diagnósticos da Aerofagia.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image-4.jpeg)

A aerofagia pode ser confundida com


gastroparesia ou outros transtornos
de motilidade, tal como, a pseudo-
obstrução intestinal crônica. Pode ser
realizado o teste do Hidrogênio no ar
expirado para excluir distúrbio de
absorção e/ou sobrecrescimento
bacteriano no intestino delgado.

Quanto ao tratamento até o presente momento não há um guia de conduta bem


estabelecido e deve-se levar em consideração uma terapia de suporte emocional e
comportamental. Além disso, deve-se explicar a existência dos sintomas, comer devagar e
evitar o uso de goma de mascar.

2. Regurgitação do Lactente

A regurgitação se caracteriza pelo retorno involuntário do alimento previamente


deglutido para a boca ou para o meio externo, e que não deve ser confundido com vômito.
:
Vômito é de!nido como um re"exo do sistema nervoso central que envolve a musculatura
autonômica e esquelética, no qual o conteúdo do estômago é expelido para a boca em um
movimento coordenado de intestino delgado, estômago, esôfago e diafragma.

Quando a regurgitação causa ou contribui para alguma lesão ou in"amação, tais como:
esofagite, apnéia, hiperreatividade da via aérea, aspiração pulmonar, di!culdade de
deglutição ou dé!cit ponderal, caracteriza-se a Doença do Re"uxo Gastroesofágico.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
5.jpeg)No Quadro 5 abaixo estão
discriminados os critérios diagnósticos
da Regurgitação.

3. Cólica do Lactente

A cólica do lactente se caracteriza por choro inconsolável, prolongado, após a alimentação,


distensão abdominal, "atulência, "exão das pernas, sintomas que não são
necessariamente indicativos de dor ou doença, pois menos de 10% são de causa orgânica.

O diagnóstico pode ser suspeitado em lactentes de até 4-5 meses de idade sem sinais de
alteração do sistema nervoso central ou do desenvolvimento, com exame físico normal e
bom ganho pôndero-estatural.

No Quadro 6 abaixo estão discriminados os critérios diagnósticos da Cólica do Lactente.


(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
6.jpeg)

O tratamento deve-se basear no


embalo rítmico e massagem na região
abdominal em ambiente calmo. Caso
não ocorra resolução dos sintomas
após 48 horas de tratamento deve-se
pensar em alergia alimentar.

4. Transtornos da Dor Abdominal Funcional


A Tabela 2, apresenta os aspectos de potencial alarme nas crianças portadoras de dor
abdominal crônica

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
7.jpeg)

4A- Dispepsia Funcional (DF)


:
A Dispepsia Funcional (DF) é um
transtorno heterogêneo comumente
associado a diferentes distúrbios
!siopatológicos de base com padrões
sintomáticos especí!cos. Neste grupo,
estão incluídas anormalidades da função
gástrica motora, hipersensibilidade
visceral devido a sensibilização central ou
periférica. Tem sido demonstrado uma
acomodação gástrica prejudicada,
determinada pela diminuição da capacidade de relaxamento do estômago, em resposta ao
alimento.

No Quadro 7 abaixo, estão discriminados os critérios diagnósticos para DF.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-8.jpeg)

Quanto ao tratamento, alguns alimentos


podem agravar os sintomas, tais como: cafeína,
pimenta e gordura, e agentes anti-
in"amatórios não esteroides, os quais devem
ser evitados. Fatores psicológicos que podem
contribuir para a intensidade dos problemas,
devem ser levados em consideração. O uso de
medicamentos, tais como, bloqueadores de
ácido associados a antagonistas dos
receptores de histamina e inibidores da bomba
de próton, podem ser indicados quando a dor
for o sintoma predominante. Náusea,
"atulência e saciedade precoce são mais
difíceis de serem tratados, e nestas circunstâncias pro-cinéticos, tais como a domperidona,
podem ser indicados.

4B- Síndrome do Intestino Irritável (SII)

A SII é considerada um transtorno do


eixo cérebro/trato digestivo. Os
sintomas, quer sejam diarreia ou
constipação com dor intensa e estresse
psicossocial, em um determinado
paciente, re"etem quais componentes
do eixo cérebro/trato digestivo estão
afetados e qual a intensidade desde (https://www.igastroped.com.br/wp-
problema. A hipersensibilidade visceral content/uploads/2018/12/word-image-9.jpeg)
:
pode estar relacionada com o nível de Figura 1- Fisiopatologia dos transtornos da dor
estresse da criança (ansiedade, abdominal funcional. A hiperalgia visceral levando a
depressão, impulsividade e incapacitação é demonstrada como o desfecho !nal dos
fatores de sensibilidade clínica que estão superpostos a
irritabilidade). Tem sido demonstrado
antecedentes genéticos, os quais predispõem aos eventos
um aumento das citocinas pro-
precoces na vida.
in"amatórias na mucosa digestiva, e
este aumento pode ser induzido como
consequência de um episódio de
gastroenterite infecciosa aguda (SII pós-infecciosa). Alterações do microbioma intestinal
tem sido demonstrada, embora não esteja claro se estas alterações são a causa ou o
resultado da SII e seu sintomas. Têm sido observados aumento dos auto-relatos de
estresse, ansiedade, depressão e problemas emocionais pelos próprios pacientes com SII
(Figura 1).

No Quadro 8 abaixo estão descritos os critérios diagnósticos da SII.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image-10.jpeg)

A obtenção de uma histórica clínica


cuidadosa e a realização do exame
físico criterioso podem sugerir uma
diferenciação diagnóstica com a CF,
quando a manifestação clínica
exuberante é constipação. Por outro
lado, no caso de uma possível SII com
diarreia, deve-se dar particular
atenção para o diagnóstico diferencial
com infecção, doença celíaca, má absorção dos carboidratos e doença in"amatória
intestinal. Deve-se levar em consideração que quanto maior o número de sinais de alarme
presentes, maior será a possibilidade da existência de uma enfermidade orgânica (Tabela
2).

Quanto ao tratamento, tem sido sugerido com e!cácia uma dieta de eliminação que reduz
a ingestão de oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e pólios fermentáveis.
Tratamento comportamental também pode ser recomendado para os pacientes com SII e
o foco primário deste tratamento deve ser voltado para desenvolver uma habilidade de
otimização para superar os sintomas.

4C- Enxaqueca Abdominal (EA)

A EA, a SVC e a enxaqueca tradicional compartilham o mesmo mecanismo !siopatológico,


sendo da mesma forma episódica, auto-limitada e estereotípica, apresentando intervalos
livres de sintomas entre as crises. Crianças portadoras de EA e enxaqueca tradicional
relatam os mesmos mecanismos de"agradores (por exemplo: estresse, fadiga e viagem),
:
associados a sintomas tais como, anorexia, náuseas e vômitos, bem como a fatores de
alívio, a saber, repouso e sono. Um aumento da atividade de amino-ácidos excitadores foi
encontrado em pacientes portadores da enxaqueca tradicional, o que possivelmente
explica a e!cácia do uso de certos medicamentos que aumentam a concentração sérica do
ácido gama-aminobutírico.

No Quadro 9 abaixo encontram-se discriminados os critérios diagnósticos da EA.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
11.jpeg)

A associação de sintomas prodrômicos


inespecí!cos, tais como, alterações do
comportamento e do humor (14%),
fotofobia e sintomas vasos motores
similares a aqueles vivenciados pelas
crianças com enxaqueca tradicional, e uma
história de alivio dos sintomas com drogas
anti-enxaqueca dão suporte ao diagnostico.
A avaliação pode requerer a exclusão de
determinadas enfermidades, quando os
sintomas episódicos são intensos, tais como,
obstrução intermitente do intestino
delgado ou urológica, pancreatite recorrente, enfermidade do trato biliar, febre familiar
do Mediterrâneo, transtornos metabólicos, tais como, por!ria e transtornos psiquiátricos.

O tratamento deve ser determinado pela frequência, intensidade e o impacto dos


episódios de EA sobre a vida diária da criança e da família. O uso oral de pizotifen uma
droga com efeitos anti-serotonina e anti-histamina tem produzido benefício pro!lático. O
uso pro!lático com drogas, tais como, amitriptilina, propranolol e ciproheptadina tem sido
exitoso.

4D- Dor abdominal funcional inespecí!ca (DAFI)

Estudos separando a DAFI da SII


sugerem que estas crianças, em geral,
não apresentam hipersensibilidade
retal, em contraste com as crianças
portadoras da SII. Tem sido descrito
que os pacientes portadores de DAFI
apresentam ritmo de contração antral
e esvaziamento gástrico mais lentos
quando ingerem alimentos líquidos em
comparação com controles sadios, mas
(https://www.igastroped.com.br/wp-
o signi!cado clínico deste achado não
:
está totalmente de!nido. Há content/uploads/2018/12/word-image-12.jpeg)
evidências de associação entre Figura 2 – A abordagem de qualquer episódio de dor
estresse psicológico e dor abdominal abdominal sofrido por uma criança pode ter impacto
crônica em crianças e adolescentes. signi!cativo na sua habilidade de superação do problema
Dor abdominal crônica está associada e acomodar a dor, e, consequentemente sua função
com eventos estressantes da vida, normal e seu desenvolvimento. Na presença de fatores
divórcio dos pais, hospitalização, de risco ou quando fatores de proteção são menos
bullying e abuso sexual. A maneira pela e!cazes, a criança pode desenvolver uma resposta de má
adaptação que leva a um estado de dor crônica.
qual a criança e seus pais enfrentam a
dor, in"uência o desfecho da DAFI
(Figura 2).

No Quadro 10 abaixo estão descriminados os critérios diagnósticos da DAFI.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image-13.jpeg)

As crianças portadoras da DAFI


frequentemente relatam sintomas
somáticos inespecí!cos e extra
intestinais que necessariamente não
requerem investigação laboratorial ou
radiológica. Na Tabela 2, estão
apresentados os sinais de alarme que
sugerem uma investigação diagnóstica adicional. Com relação ao tratamento a citalopran
mostrou-se com uma tendência efetiva em ensaios clínicos realizados. A terapia
comportamental cognitiva tem proporcionado benefício de curto e longo prazo para os
pacientes portadores de DAFI.

5. Transtornos Funcionais da Evacuação

5A- Constipação Funcional (CF)

Uma revisão sistemática comprovou que a prevalência média e a mediana da CF em


crianças é de 14% e 12%, respectivamente. O pico da incidência da constipação ocorre por
ocasião do treinamento es!ncteriano, não há diferenças entre os sexos, e está
demonstrado que os meninos com constipação apresentam taxas mais elevadas de
incontinência fecal do que as meninas.

Em virtude da retenção das fezes, a mucosa colônica absorve a água e as fezes


remanescentes tornam-se progressivamente mais difíceis de serem eliminadas. Este
processo acarreta um ciclo vicioso de retenção de fezes no qual o reto torna-se
elevadamente distendido, resultando em um "uxo fecal incontinente (escape fecal), perda
:
da sensação fecal e por !m, perda da urgência para evacuar. O aumento do acúmulo fecal
no reto também provoca uma diminuição da motilidade intestinal a montante, acarretando
anorexia, distensão abdominal e dor.

No Quadro 11 abaixo, estão descritos os critérios diagnósticos da CF.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-
image-14.jpeg)

O diagnóstico da CF baseia-se na
história clínica e no exame físico,
sinais de alarme dos sintomas devem
ser utilizados para identi!car uma
doença de base responsável pela
constipação (Tabela 3). Caso apenas
um critério de Roma estiver presente
e o diagnóstico de CF mostrar-se
incerto, um exame de toque retal é
recomendado para con!rmar o
diagnóstico e excluir alguma outra condição médica. Não há uma razão especial para a
realização rotineira de raio-x abdominal para o diagnóstico da CF. Teste rotineiro para a
alergia à proteína do leite de vaca não é recomendado naquelas crianças com constipação,
e que não apresentam sintomas de alarme. Testes laboratoriais para pesquisa de
hipotireoidismo, doença celíaca e hipercalcemia não são recomendáveis nas crianças com
constipação, na ausência de sintomas de alarme. A principal indicação para a realização da
manometria anorretal, na investigação da constipação intratável, refere-se à avaliação da
presença do re"exo do inibidor anorretal. A biópsia retal é o padrão ouro para o
diagnóstico da Doença de Hirshsprung. Enema de bário não deve ser utilizado como uma
ferramenta inicial na avaliação diagnóstica da CF.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
15.jpeg)

Quanto ao tratamento, uma revisão


sistemática demonstrou que somente
50% das crianças referidas a um centro
terciário de atenção, e acompanhadas de
6 a 12 meses, se curaram e foram
desmamadas do uso de laxativos com
sucesso. Educação é tão importante
quanto a terapia medicamentosa e deve
incluir aconselhamento familiar para
reconhecer o comportamento de
:
retenção e também para fazer uso de
intervenções comportamentais, tais
como: o uso rotineiro do vaso sanitário e sistema de recompensa quando as evacuações
são exitosas. Uma dieta contendo concentração normal de !bras e ingestão normal de
líquidos é recomendada, enquanto que a complementação com pré ou pro-bióticos não
parece oferecer vantagens para o paciente.

A abordagem farmacológica compreende duas etapas, a saber: 1- desimpactação retal ou


oral para aquelas crianças que apresentam impactação fecal; e 2- terapia de manutenção
para prevenir reacúmulo de fezes utilizando uma variedade de agentes laxantes.
Polietileno glicol deve ser considerado a primeira linha terapêutica, muito embora, a
lactulose também possua e!cácia signi!cativa.

5B-Incontinência Fecal Não Retentora (IFNR)

Pacientes que apresentam IFNR apresentam frequência de evacuação e parâmetros de


motilidade colônica e anorretal normais, o que diferencia essa condição da CF. Os tempos
de trânsito colônico total e segmentar mostram-se signi!cantemente prolongados nas
crianças portadoras de CF, em comparação com aquelas portadoras de IFNR. O diagnóstico
da IFNR deve-se basear nos sintomas clínicos, tais como, frequência de defecação normal e
ausência de massa palpável no abdome ou reto, em combinação com trânsito intestinal
normal, comprovado em estudos realizados com marcadores especí!cos. A IFNR pode ser
uma manifestação de distúrbios emocionais na criança em idade escolar e representa uma
ação impulsiva desencadeada por uma mágoa inconsciente. A IFNR também tem sido
descrita como resultado de abuso sexual na infância.

No Quadro 12 abaixo, estão descritos os critérios diagnósticos da IFNR.

(https://www.igastroped.com.br/wp-
content/uploads/2018/12/word-image-
16.jpeg)

Em geral, as crianças portadoras de


IFNR apresentam uma evacuação
completa do conteúdo colônico, não
apenas um escape fecal, em contraste
com aquela manifestação veri!cada nas crianças com CF. A investigação deve ser realizada
para avaliar a possível história de coexistência de constipação notando-se o padrão das
fezes (tamanho, consistência, retenção), idade de início, tipo e quantidade de material
evacuado, história dietética, medicações, sintomas urinários coexistentes, comorbidade
psicossocial e fatores estressantes, familiares e pessoal. O exame físico deve focalizar os
parâmetros de crescimento, exame abdominal, exame retal e um profundo exame
neurológico.
:
Quanto ao tratamento, os pais devem compreender que distúrbios psicológicos,
di!culdades de aprendizado, e problemas comportamentais, usualmente representam
fatores signi!cativos contribuidores para os sintomas da defecação. As vítimas de abuso
sexual devem ser identi!cadas e referidas a aconselhamento apropriado. A abordagem
mais exitosa no manejo da IFNR envolve a terapia comportamental. O uso rotineiro do
treinamento para evacuar, associado à premiação e à diminuição da fobia ao vaso sanitário
contribui para diminuir o estresse, restaura hábitos intestinais normais e restabelece o
auto respeito. Um estudo de seguimento de longo prazo demostrou que após dois anos de
tratamento intensivo e comportamental somente 29% das crianças encontravam-se
completamente livres da incontinência fecal. Aos 18 anos de idade, 15% dos adolescentes
portadores da IFRN ainda apresentavam o transtorno. Nenhum fator prognóstico de
sucesso foi identi!cado.

Conclusões

Os membros do comitê fazem algumas recomendações para a necessidade de serem


realizadas pesquisas comuns que se aplicam a todas os TGFs, os quais incluem:

1. Estudos epidemiológicos com diferentes culturas;


2. História natural;
3. Estudos da !siopatologia, como por exemplo o microbioma e o eixo cérebro-trato
digestivo;
4. Inclusão precoce das crianças em ensaios clínicos terapêuticos com medicamentos
emergentes.

05/12/2018 / Artigos (https://www.igastroped.com.br/category/artigos/)

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Uma abordagem multidisciplinar em lactentes com sintomas similares à


Doença do Re!uxo Gastroesofágico: um novo paradigma
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Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto A renomada revista JPGN ...

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