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Pensar Com Método-1
Pensar Com Método-1
Susana Durão
Isadora Lins França
(Orgs.)
Capa e diagramação
Martín Rodríguez
Imagem de Capa
María Elvira Díaz-Benítez
Revisão
Brena O’Dwyer
Conselho Editorial
Alberto Giordano (UNR-Argentina) | Ana Cecilia Olmos (USP)
Elena Palmero González (UFRJ) | Gustavo Silveira Ribeiro (UFMG)
Jaime Arocha (UNAL-Colômbia) | Jeffrey Cedeño (PUJ-Bogotá)
Juan Pablo Villalobos (Escritor-México) | Luiz Fernando Dias Duarte (MN/UFRJ)
Maria Filomena Gregori (Unicamp) | Mônica Menezes (UFBA)
Este livro foi financiado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) de la
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
[2018]
Papéis Selvagens
papeisselvagens@gmail.com
papeisselvagens.com
Sumário
Susana Durão
Isadora Lins França
Bárbara Castro
Introdução
1
A ideia de tendência autorreflexiva nas ciências humanas, em geral, está presente
no artigo de apresentação da edição brasileira de “A experiência etnográfica:
antropologia e literatura no século XX”, de James Clifford, escrita por José Reginaldo
dos Santos Gonçalves. Esta ideia está presente no artigo de Leonardo Castro sobre
autoria, autoridade e etnografia, no qual traduz tal tendência ou voga reflexiva como
algo que “se faz acompanhar de uma ampla proliferação de adjetivos: “hermenêutica”,
“dialógica”, “desconstrutiva” e, last but not least, “pós-moderna” (…) [e que pode
ser pensada] como um desenvolvimento do tipo de antropologia “interpretativa”
que Geertz popularizou no início da década de 70” (Castro, 2000, p. 54). A virada
hermenêutica ou linguística, prioriza o significado e tem larga inspiração no pós-
estruturalismo francês.
Decifrando o mundo social pelo caleidoscópio | 17
2
Debate este exaustivamente enfrentado na Antropologia e com o qual a Sociologia
e a Ciência Política têm tanto a aprender. Como bem resumiu Taniele Rui, em sua
Tese de Doutorado, “Nós antropólogos sabemos que em nossa ciência muita tinta já
foi gasta para mostrar que os “dados” não existem em separado da forma subjetiva
e interpessoal com que o pesquisador os acessa” (Rui, 2012, p. 12).
18 | Pensar com método
3
Basta pensar que a posição teórico-metodológica na qual se inspira este artigo se
alimenta de perspectivas construídas desde o momento histórico em que outros/
as sujeitos/as sociais emergem, se posicionam na cena pública e reivindicam voz
e identidade próprios/as. A reivindicação da heterogeneidade e da pluralidade
ganham força tanto pelo contexto das guerras anti-coloniais quanto pela organização
política de grupos feministas, negro e étnica e nacionalmente orientados. Agradeço
ao/à(s) parecerista(s) por essa indicação.
20 | Pensar com método
4
Vide o clássico debate interno ao campo de estudos de trabalho. O conceito de
trabalho foi repensado após forte e extensivo debate realizado pelas feministas.
Elas disputavam a maneira como o trabalho era pensado: a partir de um espaço
específico, nomeado como produtivo e majoritariamente ocupado pelos homens
(até então). Ainda hoje a articulação entre os trabalhos produtivos e reprodutivos
ou a reflexão sobre este último é organizada principalmente dentro do campo de
estudos que se nomeia como “trabalho e gênero”.
5
Vide o debate organizado pelas feministas negras, que apontam para a invisibilidade
da questão racial dentro do feminismo hegemônico e nos trabalhos acadêmicos que
se filiam a uma perspectiva feminista e/ou de gênero.
Decifrando o mundo social pelo caleidoscópio | 21
fazer ciência estava sendo mal realizada, mas que ela era reformável.
Bastaria eliminar a visão androcêntrica nela contida que seria
possível desvendar a realidade social. Essa perspectiva defendia a
ideia de que a objetividade é possível na ciência e que, ao transcender
o gênero, conseguimos encontrar a verdade da realidade social.
Harding apontou diversos problemas relacionados a essa postura
epistemológica: 1) a identidade social do pesquisador se torna
irrelevante para a coleta e análise dos dados; 2) o androcentrismo
fica isolado na seleção do problema e não na metodologia escolhida;
3) o foco principal da questão, a generalização das experiências, é
deixado de lado.
Essa saída é estruturada a partir do argumento lógico segundo
o qual a ciência integra e é integrante dos sistemas de valores da
cultura. Logo, ao eliminar o androcentrismo que a contagiava, era
possível chegar a diferentes proposições. Cabe aqui, acrescentar
a pergunta: se o método também vem desse contexto, como seria
possível eliminar dele os sistemas de valores que contém e como
evitar que nossas interpretações do mundo social sejam deturpadas
pelas escolhas metodológicas que realizamos?
Partindo do pressuposto de que o mundo social é instável
e incoerente, Harding (1993) defende que precisamos aceitar a
instabilidade das categorias analíticas e esquemas teóricos para
construir novas reflexões. Não devemos nem refutar a “má ciência”
nem isolar a produção de conhecimentos feministas. Não devemos
nem nos ancorar em uma perspectiva totalmente objetivista nem em
uma totalmente relativista.
É preciso organizar o que ela nomeia de teoria de sistemas
múltiplos: o feminismo precisa andar junto, ao lado, de outras
epistemologias, de maneira a ampliar os saberes que são produzidos
sobre um mesmo tema. É preciso, também, mudar nossa perspectiva
sobre a ciência, pensando-a como artesanato e não como indústria de
massa ou como máquina de produção de resultados. Para a autora,
é preciso compreender que a ciência é resultado de um trabalho, de
um processo e não de uma capacidade inata de um intelectual ou,
acrescentaria, ato contínuo mecânico de uma metodologia que foi
por ele internalizada e naturalizada.
O que Harding parece nos propor é que mantenhamos um pé
em cada canoa, buscando, ao mesmo tempo, mudar a visão da ciência
hegemônica e construir uma proposta alternativa a ela. Assim,
22 | Pensar com método
6
Basta pensar, por um lado, no debate sobre a autoridade e autoria na etnografia,
acima citado, ou as constantes disputas daquilo que inclui (ou é excluído) na
modelagem e no desenho estatístico de outro.
24 | Pensar com método
7
O estudo de caso de Madeleine Akrich (2000) sobre o uso do gerador em Paris e
no Senegal é exemplar. A rede construída no Senegal superou a ausência de Estado
e construiu um novo conceito de cidadania, pois era por meio das contas de luz que
os senegaleses mostravam que pertenciam a uma terra (apesar dela não ser nem
propriedade deles, nem do Estado). Nesse caso, houve uma modificação das relações
sociais por meio da implementação de uma tecnologia. Além disso, a tecnologia
moralizou o uso dos consumidores. Após algum tempo da instalação dos geradores,
no Senegal, a companhia elétrica percebeu que o número de casas registradas caía –
o que traduzia um aumento de ligações irregulares ao gerador. Para evitar que isso
acontecesse, eles estabeleceram um teto máximo de consumo que, se alcançado,
derrubava o gerador. Para evitar os roubos, criaram uma tecnologia que fazia o
controle moral do uso da tecnologia. Com isso, Akrich (2000) mostra que não é só a
política o que define a produção dos artefactos. Eles têm sim, força política, mas essa
não é a única relação que os define. Os atores também precisam ser convencidos de
seu uso.
8
A diferença nos focos dos estudos que investigam tecnologia a partir de uma
perspectiva sociológica são as diferentes tradições às quais pertencem. Bijker
e Law (2000) elencam três: 1) teoria dos sistemas, que descreve a forma como a
tecnologia foi construída; 2) a teoria ator-rede, que destaca que os elementos
presentes na rede são, ao mesmo tempo, constituídos e moldados por aquelas
redes; 3) o construtivismo, que argumenta que o conhecimento é uma construção
social, mais do que um espelho da natureza. Eles entendem que o conhecimento e a
prática técnica são um processo de negociação e construção social, dirigidos pelos
interesses dos atores envolvidos.
Decifrando o mundo social pelo caleidoscópio | 25
9
O artigo não pretende esgotar todas as ordens de diferenças apontadas pela
bibliografia, mas mapear os pontos que parecem ser consensuais e que apontam
para uma análise mais substantiva das diferentes abordagens. Fugindo desse escopo,
Gunter (2006), por exemplo, destaca outra diferença que propõe como central
(embora problemática): o uso de instrumentos padronizados de pesquisa nas
técnicas quantitativas, em contraste com a maleabilidade das técnicas qualitativas.
10
Essa observação nos leva a pensar, por exemplo, na aplicação dos questionários
de usos do tempo pelo IBGE. Em um de seus desdobramentos, as pesquisadoras
envolvidas no projeto propuseram a aplicação de um diário, no qual as mulheres
entrevistadas deveriam anotar, diariamente, as tarefas que realizavam. Poder-
se-ia questionar, seguindo a perspectiva de Gunter, que a despeito do esforço de
incluir um contexto mais complexo ao criar uma técnica de mensuração mais
refinada, a ausência de interação do pesquisador com os participantes da pesquisa o
ausentaria da possibilidade de uma “reflexão contínua”, característica que seria mais
própria (apesar de não exclusiva) do método qualitativo. No entanto, ao comprar a
dicotomia quanti e quali, Gunter parece reificar a visão do método quantitativo que
Cano (2012), como veremos, busca rejeitar: a de que essa separação não se sustenta.
A elaboração do diário no questionário de usos do tempo só foi possível graças
ao acúmulo de pesquisas qualitativa realizadas coletivamente por pesquisadoras
que se dedicaram a pensar na articulação entre trabalho pago e não pago. Foi esse
28 | Pensar com método
12
Cano (2012) parte do binômio clássico “explicação versus compreensão” para
compreender quais são os pressupostos racionais que se articulam mais comumente
com as técnicas quantitativa e qualitativas. Interessa destacar que Gunter (2006)
rechaça essa separação: “... a ciência do ser humano e da sua vida mental consiste em
um esforço concomitante de explicar e compreender. Mais enfaticamente, explicação
e compreensão dependem uma da outra, são impossíveis uma sem a outra” (Gunter,
2006, p. 207).
13
Para conhecer o debate na Antropologia, recomenda-se: Mitchel, J. Clyde. 1987.
“A questão da quantificação na antropologia social”. In: Feldman-Bianco, Bela.
Antropologia nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Global.
30 | Pensar com método
14
Localizado no campo das Ciências Sociais aplicadas à saúde, Serapioni traz uma
série de exemplos, desde o seu campo de pesquisa, de como esse programa que
busca unir métodos quanti e quali acessam o objeto de pesquisa de maneiras
diferentes justamente porque buscam responder a diferentes perguntas. O caso da
pesquisa de Castro & Bronfman (1997), por ele citado, é exemplar. Ao investigar a
mortalidade infantil, é possível acessá-la apenas de um nível estatístico, cruzando
as taxas de mortalidade com dados sociodemográficos e socioeconômicos. No
entanto, uma pesquisa do tipo qualitativo ajudaria a complexificar os achados da
pesquisa quantitativa, compreendendo quais são as características das famílias e de
suas redes de apoio que impedem a mortalidade infantil. Nesse sentido, ao mesmo
tempo em que a pesquisa quantitativa oferece ferramentas para a construção de
políticas públicas para a população em geral, auxilia o Estado na produção de ações
mais específicas, para as quais as estratégias gerais não davam conta de alcançar
(Serapioni, 2000, p.189).
32 | Pensar com método
Considerações finais
Referências bibliográficas
Como escrever um artigo acadêmico
Alvaro Bianchi
Daniela Mussi
Estilo
1
Evidentemente essa objetividade pode ser questionada e frequentemente o foi nas
ciências humanas. Por detrás de uma linguagem acadêmica que tende ao ascetismo
ocultam-se relações de poder. Quem escreve precisa refletir, portanto, sobre suas
próprias práticas científicas, fazer opções a partir delas e ser capaz de justificá-las.
40 | Pensar com método
Estrutura
Pré-texto
Título
Autoria
A definição do autor/a de um artigo deixou de ser um
problema banal com o advento da atividade coletiva de pesquisa no
século XX. Em algumas áreas do conhecimento, como a filosofia, um
artigo frequentemente é assinado por uma única pessoa. Em outras,
como na medicina ou na física, a autoria pode ser compartilhada
por várias e em alguns casos dezenas ou centenas de cientistas.
O recordista é, provavelmente, um artigo publicado em 2015 na
Physical Review Letters sobre a medida da massa do bóson de Higgs
e que reuniu 5.154 coautores/as. Exageros são comuns e por isso
revistas acadêmicas, associações profissionais e universidades têm
procurado estabelecer regulamentos a respeito. Aqui, opta-se por
uma definição enxuta, a qual tem a vantagem de evitar problemas:
um/a autor/a é alguém que teve um papel importante na produção
do texto, participou ativamente da conceituação ou do design da
pesquisa que deu origem ao artigo, na coleta e análise dos dados,
na preparação do manuscrito e se responsabiliza pelo texto final,
sendo capaz de explicá-lo e defendê-lo perante uma comunidade de
especialistas (ver a respeito Endersby, 1996; Fine & Kurdek, 1993;
Osborne & Holland, 2009).
Outro aspecto importante da autoria é a assinatura. Quem
escreve deve estar ciente de que o nome que escolher para assinar
Como escrever um artigo acadêmico | 43
Resumo e palavras-chave
Texto
Introdução
Introdução
• Apresentação do tópico.
• Justificativa da pesquisa.
• Problemas que guiaram a investigação.
• Revisão sucinta da literatura.
• Hipóteses tratadas.
• Sumário das seções do artigo.
Materiais e métodos
Materiais e métodos
• Materiais: descrição do objeto da pesquisa, das
amostras, do tempo e do espaço selecionado, das fontes,
das teorias, etc.
• Métodos: descrição do desenho da pesquisa,
das formas de obtenção e organização dos dados, das
abordagens, das técnicas e das ferramentas utilizadas, dos
testes feitos, etc.
Resultados
Resultados
• Avaliação (teste) das hipóteses.
• Apresentação de maneira clara o novo
conhecimento produzido pela pesquisa.
• Tabelas, gráficos e figuras.
Discussão
Adaptando o modelo
Revisão bibliográfica
Elementos pós-textuais
Referências bibliográficas
Edição
por alguém que não está envolvido/as diretamente com ele pode
ajudar. Não é necessário que esses leitores e leitoras participem di-
retamente do processo da pesquisa ou da escrita de um artigo, nem
que sejam necessariamente especialistas no tema. Basta que sejam
atentos/as, tenham uma visão abrangente das ciências sociais e
se dediquem a ler o trabalho alheio com o mesmo afinco com que
leem o próprio texto. Uma relação de confiança entre quem escreve
e quem lê as versões preliminares é, entretanto, essencial.
A criação de práticas de trabalho coletivo é um processo difí-
cil. Nas instituições acadêmicas predominam muitas vezes relações
de trabalho marcadas por uma cordialidade superficial, pela compe-
tição e pelo individualismo. Às vezes há pouco espaço para a crítica
e a troca livre de ideias, o que impede a formação de um ambiente
aberto ao diálogo construtivo. Quando esta relação de reciprocida-
de se estabelece, ao contrário, as atividades de pesquisa e de escrita
ganham contornos novos, se convertem em um diálogo permanente
que ultrapassa o artigo e se deslocam no tempo, promovendo o des-
envolvimento acadêmico e científico, além de tornar a vida universi-
tária muito mais agradável.
Referências bibliográficas
Frederico de Almeida
Introdução
Conclusões
Referências bibliográficas
Sociais”. In: Sobre a Teoria das Ciências Sociais. São Paulo: Editora Moraes.
____. 1991b. “O Sentido da Neutralidade Axiológica nas Ciências
Sociais Sociológicas e Econômicas”. In: Sobre a Teoria das Ciências Sociais.
São Paulo: Editora Moraes, pp. 75-132.
____. 1999. Economia e Sociedade. Brasília: Editora Universidade de
Brasília.
Yanow, D. 2003. “Interpretive Empirical Political Science: what
makes this not a subfield of qualitiative methods”. Qualitative Methods, v. 1,
n. 2, pp. 9-13.
____. 2006a. “Thinking Interpretively: Philosophical Presuppositions
and the Human Sciences”. In: Yanow, D. & Schwartz-Shea, P. (org.),
Interpretation and Method: Empirical Research and the Interpretive Turn.
Armonk: M.E. Sharpe.
____. 2006b. “Niether Rigorous Nor Objective? Interrogating Criteria
for Knowledge Claims in Interpretive Science”. In: Yanow, D. & Schwartz-
Shea, P. (org.), Interpretation and Method: Empirical Research and the
Interpretive Turn. Armonk: M.E. Sharpe.
____. 2006c. “How Built Spaces Mean: A Semiotics of Space”. In:
Yanow, D. & Schwartz-Shea, P. (org.), Interpretation and Method: Empirical
Research and the Interpretive Turn. Armonk: M.E. Sharpe.
____. 2015. “Making sense of policy practices: interpretation and
meaning”. In: Fischer, F. et all. (org.), Handbook of critical policy studies.
Cheltenham: Edward Elgar, pp. 401-421.
____; Schwartz-Shea, P. 2006. “Introduction”. In: Yanow, D. &
Schwartz-Shea, P. (org.), Interpretation and Method: Empirical Research
and the Interpretive Turn. Armonk: M.E. Sharpe.
Introdução aos fundamentos da análise demográfica
e dinâmica populacional
1
Tradução livre do espanhol para o português realizada pela autora.
88 | Pensar com método
- Quantos são?
- Quem/como são?
- Onde vivem? De onde vêm? Para onde vão?
Logo:
Demografia é o estudo do tamanho, da distribuição territorial e da
composição de uma população, das mudanças e dos componentes
de tais mudanças; estes últimos podem ser identificados como
natalidade, mortalidade, movimentos territoriais (migração) e
mobilidade social (mudança de status) (Hauser & Duncan apud
Patarra, 1991, p. 10).
Onde:
Pt é a população em um ano t;
P(t+1) é a população no ano t+1, ou seja, no ano seguinte a t;
N(t, t+1) é o número de nascimentos ocorridos no período t a t+1;
O(t, t+1) é o número de óbitos ocorridos no período t a t+1;
I(t,t+1) é o número de pessoas que imigraram, ou seja, que chegaram
na área geográfica considerada no período t a t+1;
E(t,t+1) é o número de pessoas que emigraram, ou seja, que partiram
da área geográfica considerada no período t a t+1.
2
Na elaboração dessa listagem de eixos temáticos tratados pela disciplina, levou-
se em conta eventos e publicações organizados por associações profissionais:
1) Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP); Associação Latino-
Americana de População (ALAP); Population Association of America (PAA) e
International Union for the Scientific Study of Population (IUSSP).
90 | Pensar com método
P2011=190.755.799+2.861.868 -1.136.947+0
P2011=192.480.720
Fonte: Divisão de Estatística das Nações Unidas, <data.un.org>. Acesso em: 19 ago. 2018.
Introdução aos fundamentos da análise demográfica | 93
94 | Pensar com método
Fonte: World Prison Brief, Institute for Criminal Policy Research. <http://www.prisonstudies.org> Acesso em: 21 ago. 2018.
Introdução aos fundamentos da análise demográfica | 95
96 | Pensar com método
0,051076
Log (1 + rg) = = 0,005108
10
Pf = P0 * e r * t
Pf
Ln
Po
r=
t
Sendo que Ln é a notação de logaritmo natural ou neperiano,
aquele de base 2,718282. Calculando a taxa de crescimento
exponencial para o Brasil entre 2000 e 2010, temos:
190.755.799
Ln
169.590.693 Ln (1,1248) 0,11760
r= = =
10 10 10
r = 0,01176 ou 1,18%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de população total dos censos 2000 e 2010.
𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 𝑛𝑛𝑛𝑛 á𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎
𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 = 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 𝑑𝑑𝑑𝑑 á𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎
* 1000
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre
Mortalidade – SIM, para óbitos. IBGE – censo demográfico 2010, para população dos Estados.
Tabela 8. Cálculo da taxa bruta de mortalidade de Rondônia e Santa Catarina em
2010, ajustada segundo a distribuição etária de Rondônia em 2010
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre
Introdução aos fundamentos da análise demográfica | 111
Mortalidade – SIM, para óbitos. IBGE – censo demográfico 2010, para população dos Estados.
Tabela 9. Cálculo da taxa bruta de mortalidade de Rondônia e Santa Catarina em 2010,
ajustada segundo a distribuição etária de Santa Catarina em 2010
112 | Pensar com método
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre
Mortalidade – SIM, para óbitos. IBGE – censo demográfico 2010, para população dos Estados.
Introdução aos fundamentos da análise demográfica | 113
3
Demopaedia – Enciclopédia de Demografia – Dicionário Demográfico Multilíngue.
Acessível em: http://www.demopaedia.org/ Acesso em: 18 fev. 2018.
Introdução aos fundamentos da análise demográfica | 115
Referências bibliográficas
4
Ver “Demographic Manuals” no setor de publicações do “Department of
Economic and Social Affairs/Population Division” do site em inglês das Nações
Unidas: disponível em: http://www.un.org/en/development/desa/population/
publications/manual/index.shtml Acesso em: 12 fev. 2017.
116 | Pensar com método
Iara Beleli
Larissa Pelúcio
Argonautas digitais
1
A pesquisa de Daniela Araújo Silva (2001-2004) sobre transtornos alimentares, a
partir do ponto de vistas de jovens mulheres e adolescentes, é um exemplo desse tipo
de investigação. Silva valeu-se de sites, páginas pessoais, grupos de discussão on-line
e blogs para levantar dados e interagir com aquelas pessoas. Referimo-nos a esta
pesquisa não só pela questão do segredo ser central para as colaboradoras, mas pela
forma como a autora aborda a questão metodológica. Ao assumir que estava diante
de uma desafiante novidade, Silva enfatizou os fundamentos e as justificativas de
suas escolhas em um território sobre o qual pairavam suspeitas quanto à veracidade
não exatamente do conteúdo disponibilizado online, mas da identidade das pessoas
que ali estavam, interagiam e sobre o que diziam de si. Ana Maria Nicolaci-da-
Costa (2002) discute a forma como a grande mídia repercutia pesquisas de caráter
científico (o que, na visão da autora não era garantia de veracidade ou de rigor
metodológico) sobre os perigos contidos na Internet, centrados desde o vício por
jogos (vídeo games) até encontros fatídicos com psicopatas, passando por golpes
de toda ordem, inclusive amorosos, de pessoas que se faziam passar por quem não
eram a fim de ludibriar incautos/as. A generalização dessas percepções fizera com
que, nos primeiros anos deste século, algumas/alguns pesquisadoras/es tardassem
a justificar o valor científico dos dados levantados em trabalhos de campo nos quais
a Internet e suas plataformas eram locus centrais.
Aperte play para iniciar | 119
2
Carolina Parreiras Silva (2008) e Larissa Pelúcio (2009) valeram-se das chamadas
“Comunidades” do Orkut em suas pesquisas. A primeira centrou-se na comunidade
“Eles perguntam/Eles respondem”, voltada para homens jovens que tinham interesse
amoroso/sexual em outros homens. Silva buscou entender como as relações on-
line moldavam e pautavam formas de se constituir subjetiva e corporalmente a
sexualidade. Para tanto, a pesquisadora seguiu os fios que a levaram do on para
o off-line, de forma a interagir nos fóruns de discussão da comunidade, além de
participar dos “Orkontros”, encontros off-line organizados dentro da comunidade
entre seus membros. Pelúcio, de forma inédita, criou a “Comunidade” “Homens
que Gostam de Travestis”, o que lhe possibilitou entrar em contato com homens
que buscavam se relacionar sexual e/ou amorosamente com travestis. Em ambas
as pesquisas, os contatos via “Comunidades” derivaram não só em etnografias em
modelos mais clássicos - espaços físicos específicos -, mas em redes digitais que
levaram as pesquisadoras a seguir os sujeitos por outras plataformas digitais.
3
A dicotomia online/off-line ainda aparece nas análises de Dornelles como
realidades apartadas. Ainda que o autor ressalte que os aspectos territoriais, no
sentido material, influam na maneira como usuárias/os interagem nas salas de
bate-papos digitais, Dornelles trata-os como mundos diferentes, até mesmo pelo
momento em que realizava a pesquisa.
4
Para uma discussão acurada e apresentação dos programas citados, ver Leitão e
Gomes (2012) e Guimarães Júnior (2004).
5
Writing Culture (1986) organizado por George Marcus e James Clifford. Na primeira
parte do livro as trajetórias pessoais de Paul Rabinow e de George Marcus deixam
ver suas insatisfações políticas e metodológicas com o fazer antropológico. Esse
debate, do final da década de 1960, aponta para a new sensitivity, gestada a partir
de novas formas de entender o poder e a política - uma nova suscetibilidade para
criticar paradigmas (e criar outros), políticas e projetos científicos, que nasce em um
120 | Pensar com método
humanas nos levou a dar ênfase àquelas mais próximas dos nossos próprios temas
de pesquisa. Desde já nos desculpamos por possíveis omissões.
7
As tecnologias de comunicação digital, que segundo David Miller e Hearth Horst
(2015) foram desenvolvidas ou podem ser convertidas para códigos binários,
proporcionaram novas formas de constituirmos relações mediadas.
8
Nascida sob a égide da Guerra Fria como resultado de um projeto da ARPA (Agência
de Projetos de Pesquisa Avançada), divisão do Departamento de Defesa dos Estados
Unidos. A então chamada ARPANET tinha como objetivo materializar um sistema de
comunicação que não fosse vulnerável a ataques nucleares, por isso formaria uma
rede sem centros de controle. Ela se iniciou conectando algumas universidades
da costa oeste do país: Universidade da Califórnia em Los Angeles, Universidade
da Califórnia em Santa Barbara, Universidade de Stanford e uma universidade do
Estado de Utah (Miskolci, 2017, p. 7).
122 | Pensar com método
9
Naquele contexto, os movimentos identitários não tinham propriamente um
valor essencialista ou de não-conexão com pautas macrossociais, tratava-se de
movimentos cujas demandas estavam centradas questões de gênero, sexualidade e
raça, até então secundarizadas no interior do movimento operário.
Aperte play para iniciar | 123
10
Usamos aqui a versão em português - A vida no Ecrã - publicada em 1997.
11
Turkle escreveu em um outro momento, bastante inaugural, mas chamou atenção
para a dimensão da conexão e da interatividade, ressaltando, no entanto, que
os contatos digitais não suprimiriam o desejo do contato face a face. Mais tarde,
Dominique Wolton (2000), para quem a questão técnica se subsume às questões
políticas, alertava, por outro lado, sobre o risco da sociedade da informação se
transformar na “sociedade do mesmo”, ao favorecer a ligação entre os que defendem
as mesmas causas. Em nossas timelines “viciadas”, por onde circulam notícias
de diferentes meios de comunicação, os mesmos comentários são repetidos à
exaustão, e certamente abrem um debate mais potente sobre quaisquer questões,
124 | Pensar com método
mas a pergunta é se, e como, essa capilarização se estende para o social, de forma
que argumentos e contra-argumentos colocados em cena levem a reflexões que
propiciem mudanças sociais.
12
Dados divulgados em 2015, em pesquisa realizada pela União Internacional
das Telecomunicações, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU),
registra 3,2 bilhões de usuários de Internet no mundo. Destes, a maior parte esta em
países em desenvolvimento (http://www.broadbandcommission.org/Documents/
reports/bb-annualreport2015.pdf. Acesso em: 20 out. 2016).
13
O fluxo entre on e off-line conectaram demandas por reconhecimento à agenda
política nacional de forma que podemos afirmar que o pessoal nunca foi tão político,
mas também nos instiga a ideia de Bila Sorj (2016) de que o político tem se tornado
pessoal. Seja nas rusgas familiares provocadas por postagens de teor político e/ou
partidários em páginas pessoais do Facebook ou, como mostra Pelúcio (2018) na
“politização do romance”, quando usuárias/os de aplicativos para relacionamentos
guiam suas escolhas por julgamentos prévios de seus/suas pretendentes, acionando
Aperte play para iniciar | 125
16
Referimo-nos ao conceito de mais-valia, de Karl Marx, que mostra como no sistema
capitalista o lucro vem da extração de tempo de trabalho não pago ao trabalhador.
A mais-valia absoluta vem desse tempo de trabalho dilatado e não remunerado, da
intensificação das atividades laborais no mesmo tempo de trabalho. A associação a
este conceito deriva da observação em nossas pesquisas empíricas, ao percebermos
como nossos/as interlocutores/as se sentiam constantemente pressionados
a atender demandas que chegavam por meio das mídias digitais: ansiedade
em responder ou obter respostas; sensação de que nunca cumpriam a agenda;
aborrecimentos por verem online alguns comentários feitos em suas páginas
pessoais, entre outras emoções consideradas exaustivas, talvez a mais conhecida
esteja na sensação de não ser querido/a porque não teve muitas “curtidas” em um
post.
17
Dados recentes mostram que ¼ da população acessa a rede diariamente
(Secretaria de Comunicação Social, 2015).
18
Ainda de acordo com Ramos (2015), as pesquisas na Internet privilegiam os fluxos
entre on e off-line, enquanto aquelas da internet, nos leva a pensar em diálogos com
os agentes maquínicos que compõem o universo online, uma vez que a forma como
trabalham os algoritimos traçam combinações que são articuladas por agentes
não-humanos. Observar a forma como sites, perfis e algoritimos operam nos leva a
observações concentradas no on-line, mais do que no fluxo on/off line.
Aperte play para iniciar | 127
19
Para uma discussão sobre patologização e o pânico social sobre os usos e relações
estabelecidas pela Internet ver Nicolaci-da-Costa (2002).
20
Um dos exemplos cabais é campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República
em 2018. Não é o caso de discutir este evento ainda em andamento quando
finalizamos este artigo, mas o candidato privilegiou as redes sociais e, mesmo com
Aperte play para iniciar | 129
pouquíssimos contatos face a face com seus apoiadores, alcançou altos números nas
pesquisas de intenção de voto.
130 | Pensar com método
21
Por exemplo, a transformação do nome do site Orkut em um verbo e em adjetivo
(orkutizado, orkutizou) estava impregnada de julgamentos morais e estéticos que
eram, ao fim e ao cabo, formas de transferir para o digital/virtual as divisões de
classe que historicamente marcam a sociedade brasileira.
Aperte play para iniciar | 131
22
Às pesquisas já citadas sobre adolescentes classificadas pelo discurso médico
como bulímicas, mas que se percebiam como pessoas altamente disciplinadas
frente a oferta de alimentos do presente (Silva, 2004) e o compartilhamento das
angústias de homens que desejam/amam crianças (Oliveira, 2009), acrescentamos
outras: sobre o desejo sexual entre parceiros do mesmo sexo (Zago, 2009; Milkolci,
2013); aventuras masculinas que flertam com infidelidade conjugal (Pelúcio, 2015);
etnografia sobre homens que se vestem de mulheres, autodenominados cross-
dressers (Vencato, 2013); a emergência de novas identidades de gênero, como os
“transhomens” que compuseram a pesquisa de Simone Ávila, a qual se valeu de
criação de um blog para iniciar os contatos com seus interlocutores (Ávila, 2014).
23
Eva Illouz refere-se ao processo comunicacional na Internet, sobretudo na
interlocução no campo dos afetos e da busca de parcerias amorosas e sexuais, como
um exercício de escrita que exige grande esforço reflexivo e sintético para falar de
si para o outro.
132 | Pensar com método
24
Ver as Coletâneas Digital Anthropology (Horts & Miller, 2012) e Digital Sociology
(Orton-Johson, & Prior, 2013), que reúnem um significativo número de artigos.
Aperte play para iniciar | 133
25
Na pesquisa de Alessandro Oliveira (op. cit., nota 4) na comunidade do Orkut
sobre pedofilia, os homens que se identificavam como boy-lovers acreditavam
viver seus desejos em segredo e expressavam que ali eram mais autênticos do que
em suas vidas fora da tela. Isso não evitou que a Comunidade fosse eliminada por
ordem judicial e que muitos deles, incluindo o próprio pesquisador, tivessem o IP
do Servidor (identidade de seus computadores pessoais) rastreadas, exigindo um
grande esforço do pesquisador para seguir com seu trabalho acadêmico e driblar
questões morais e legais.
134 | Pensar com método
26
O Messenger, programa de comunicação instantânea criado pela Microsoft em
1999, permitia a troca de mensagens de texto e, posteriormente, de voz e imagem
por meio de câmera. Em 2013 a empresa anunciou a descontinuidade do programa.
Aperte play para iniciar | 135
27
Em 2006, durante a realização de pesquisa de campo no doutorado, Larissa Pelúcio
publicou o artigo “Três Casamentos e Algumas Reflexões: notas sobre conjugalidade
envolvendo travestis que se prostituem”. Um dos colaboradores era uma espécie
de liderança dos autointitulados t-lovers, clientes de profissionais do sexo travestis,
que passaram a se organizar por meios digitais e, posteriormente, em encontros
presenciais. Este t-lover insistiu para que seu nickname, apelido nos meios digitais,
fosse mantido e não mudado pela pesquisadora. Naquele momento, era importante
para ele aparecer diante de seus pares em um texto acadêmico defendendo e
assumindo seu direito de amar uma travesti e viver com ela. Anos depois, quando
os encontros não existiam mais e as dinâmicas de sociabilidade online se diluíram,
o colaborador casou-se com uma mulher de quem escondeu seu passado. Por
descuido, certa feita, deixou o computador de mesa ligado, e em um dos arquivos
abertos estava a foto de uma travesti assinada com a logomarca que levava seu
nickname. Como fotógrafo oficial dos encontros presenciais, os chamados Dia T, ele
imprimia digitalmente essa marca em todas as fotos. A esposa, talvez já desconfiada
de algo, colocou no Google aquele nome, a palavra travesti e não tardou a encontrar
o artigo referido, no qual, pelas descrições feitas tornou-se fácil identificá-lo.
Aperte play para iniciar | 137
Dilton do Couto Júnior (2017) optou por omitir todo e qualquer dado
que pudesse facilitar a identificação do grupo do Facebook no qual
seus/suas interlocutores/as interagiam, uma vez que muitos tinham
aquele espaço como local confessional, do segredo.
O segredo permeou muitas pesquisas citadas neste artigo.
Muitas vezes os/as pesquisadores/as aqui mencionadas/os tiveram
que negociar seus segredos, a fim de entrar e/ou permanecer em
campo. Humanizar-se frente aos/às colaboradores/as tem sido um
recurso clássico de pesquisa etnográficas, possível de ser alcançado
também nas interações online. Negociar fronteiras entre confiança,
intimidades, segredos e profissionalismo é exercício exigente, mas
necessário. A confiança tem sido instrumento ético-metodológico
mobilizado em grande parte dos estudos aqui elencados. Por meios
digitais ainda podemos e devemos pactuar princípios e compromissos
que levem colaboradores/as a se sentirem protegidos. O desafio é
pensar formas de também nos resguardarmos, uma vez que, como
mencionado, muitas vezes oferecemos o link para nosso currículo
Lattes, a fim de atestar a veracidade de nosso trabalho e, até mesmo,
provar nossa identidade de cientistas. Aceitamos colaboradores/
as como “amigos” no Facebook, seguidores no Instagram ou
Twitter, dando acesso a uma gama vasta de informações pessoais.
Paradoxalmente, as mesmas informações que podem nos humanizar
e construir confiança.
Mesmo sem nos darmos conta, vale o alerta de Bumachar
(2011, p. 93): “a escolha das tecnologias [para a comunicação] não
apenas revela o idioma do controle, mas também expressa o das
emoções”. A sincronicidade experimentada com as comunicações
via WhatsApp, por exemplo, é distinta daquela que conhecíamos
via telefone fixo e mesmo por celulares. Há mais controle individual
em relação ao tempo para visualizações de mensagens e respostas,
além das ferramentas oferecidas pelo aplicativo, entre elas, impedir
que as pessoas de sua lista de contatos saibam se determinado/a
usuário/a está ou não online, o horário do último acesso e mesmo
se, de fato, visualizaram a mensagem.28 A interface da plataforma,
28
Em novembro de 2014 o WhatsApp passou a sinalizar com dois sinais de “check”
azuis. Um sinal apenas, em cinza, indica que a mensagem foi enviada; dois na
mesma cor sinaliza sua entrega ao destinatário. Maximiano Marentes et all (2016)
discutem a ansiedade e o desassossego gerados por essas visualizações e a espera
que o envio confirmado causa em jovens casais portenhos (vivendo em Buenos
138 | Pensar com método
29
“Na abordagem multimétodo, os métodos quantitativos e qualitativos não devem
ser vistos em oposição, ou pensados como uma questão de números versus palavras,
ou, ainda, um debate sobre o que pode ou não pode ser quantificado, mas sim a
partir da produção de diferentes níveis e tipos de explicação, enfocando diferenças
em termos de quão precisas, explícitas e amplas as comparações e as explicações
podem ser na Sociologia” (Oliveira apud Silva, 2017, p. 20).
30
Lampião de Esquina foi um dos tabloides pioneiros voltados para o segmento
de homens que se reconheciam como homossexuais. Fundando em 1978, deixou
de circular em 1981. Com sede na cidade na cidade do Rio de Janeiro, alcançou
distribuição nacional.
31
Aplicativo para busca de parceiros, criando categorias baseadas em marcadores
sociais da diferença.
140 | Pensar com método
Referências bibliográficas
aviagemdosargonautas. blogs.sapo.pt/479132.html].
Leitão, Débora K. & Gomes, Laura G. 2012. “Estar e não estar lá, eis a
questão: pesquisa etnográfica no Second Life”. Cronos – Revista do Programa
de Pós-Graduação da UFRN, v. 12, n. 2.
Lewgoy, Bernardo. 2009. “A invenção da (ciber)cultura:
virtualização, aura e práticas etnográficas pós-tradicionais no ciberespaço”.
Civitas, v. 9, n. 2, Porto Alegre, mai./ago., pp. 185-196.
Lévy, Pierre. 2009. Cibercultura. São Paulo: Editora 34.
Lins, Beatriz. A. 2017. ““Não existe privacidade 100% na internet”: leis,
direitos, mulheres e sexo nos debates jurídicos e legislativos sobre exposição
íntima via internet ou “pornografia de vingança””. V ENADIR no GT. 07 - Mulheres,
criminalização e violência, ago.
Nicolaci-Da-Costa, Ana Maria. 2002. “Internet: a negatividade do
discurso da mídia versus a positividade da experiência pessoal. À qual dar
crédito?”. Estud. psicol. v. 7, n. 1, Natal, jan., pp. 25-35.
Marx, Karl. 1988. O Capital: crítica da economia política – o processo
de produção de capital. Livro Primeiro. Volume I. 3 ed. Tomo 1. São Paulo:
Nova Cultural.
Melo, Késia Maria Maximiano. 2016. “Consciência, news e glamour”:
A internet como espaço alternativo de sociabilidade e ativismo entre pessoas
trans. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista.
Marentes, Maximiliano; Palumbo, Mariana & Boy, Martín. 2016.
“Me clavó el visto: los jóvenes y las esperas en el amor a partir de las nuevas
tecnologias”. Astrolabio – Nueva Época, n. 17, pp. 307-330.
MIiskolci, Richard. 2017. Desejos Digitais - uma análise sociológica
da busca por parceiros online. Belo Horizonte: Autêntica.
__________. 2013. “Machos e Brothers: uma etnografia sobre o armário
em relações homoeróticas masculinas criadas on-line”. Revista de Estudos
Feministas, v. 21, n. 1, Florianópolis, abr., pp. 301-324.
Orton-Johson, Kate & Prior, Nick. 2013. Digital Sociology: critical
perspectives. London: Palgrave MacMillan.
Peirano, Mariza. 1992. “A Favor da Etnografia”. Série Antropologia
130, Fundação Universidade de Brasília.
_________. 2008. “Etnografia, ou a teoria vivida”. PontoUrbe, ano 2,
versão 2.0, fev.
Pelúcio, Larissa. 2018. “Amor em tempos de aplicativos -
Masculinidades heterossexuais e a negociações de afetos na nova economia
do desejo”. Tese de Livre-docência, Universidade Estadual Paulista.
___________. 2015. “Narrativas infiéis: notas metodológicas e afetivas
Aperte play para iniciar | 143
Aldair Rodrigues
Introdução
Este ensaio tem por objetivo desenvolver uma reflexão
crítica sobre o ensino de História na era digital com ênfase nas
transformações que as tecnologias de informação e comunicação
(TICs)2 provocam nos processos de produção e transmissão do
conhecimento no contexto contemporâneo. Serão destacadas as
dimensões sociais, culturais e políticas relacionadas à popularização
dos dispositivos tecnológicos digitais e as contradições que lhes são
subjacentes.
As reflexões que seguem estão ligadas à minha experiência
como professor das disciplinas do departamento de História da
UNICAMP direcionadas para formação inicial (HH690 Estágio
Supervisionado em História - graduação) e continuada de
professores (ME204 - Produção de Material Didático e o Universo
Virtual - do programa de mestrado profissional em História) e aos
debates ocorridos por ocasião das semanas de ensino de História,
organizadas pelos nossos alunos em 2017 e em 2018.3 O intenso
intercâmbio com os estudantes de graduação e com os professores
do mestrado profissional foi fundamental neste exercício de pensar
sobre questões contemporâneas tangentes ao ensino de História.
1
Sou grato aos amigos e colegas pelas leituras críticas e sugestões: Lucilene
Reginaldo, Vinícius Lustoza, Diego Pereira e Raquel Gomes.
2
Sobre o processo de definição desta terminologia e uma extensa lista de indicações
bibliográficas acerca do tema, consultar: Bertoldo & Mill, 2018.
3
A programação dos eventos pode ser encontrada nos seguintes websites:
https://www.ifch.unicamp.br/ifch/noticias-eventos/graduacao/i-semana-ensino-
historia-unicamp (2017) e https://www.ifch.unicamp.br/ifch/noticias-eventos/
departamento-historia/ii-semana-ensino-historia-ensino-historia-quem-quem
(2018).
146 | Pensar com método
Humanidades digitais
Nas Ciências Humanas, a importância assumida pelas novas
formas de armazenamento, acesso, produção e representação
dos conteúdos e do conhecimento no meio digital tem sido objeto
de estudos no campo denominado Humanidades Digitais. O qual
abarca projetos que, de alguma forma, utilizam a tecnologia e, para
sua execução, demandam uma relação interdisciplinar com outras
áreas do conhecimento até então tendencialmente apartadas dos
profissionais das Humanidades, mormente a computação.4
Um dos principais eixos de definição das Humanidades
Digitais prende-se ao desmantelamento de uma suposta neutralidade
do suporte de registro da textualidade e da informação em geral.
Segundo Burdick et all, a longa estabilidade do impresso, que
remonta a meados do século XV (quando houve a invenção da prensa
de tipos móveis por Johannes Gutenberg na Alemanha), impediu
que profissionais da área das Ciências Humanas percebessem
criticamente a materialidade de suas práticas envolvendo o processo
de inscrição da informação nos suportes. No contexto digital, as
“transformações na materialidade da informação e nas tecnologias de
mídias comunicacionais nos permitem perceber que os meios não são
neutros, mas parte do processo de criação de significados” (Burdick,
2012, p. 83). Neste cenário, as novas ferramentas, técnicas e mídias
que permeiam o trabalho dos profissionais de Humanas passaram a
demandar a inter-relação de saberes específicos, englobando, além
da computação, áreas como design gráfico, estatística, engenharia de
dados etc.
Dentro das Humanidades digitais, uma das dimensões que
mais tocam a área de História diz respeito aos desafios enfrentados,
junto aos profissionais da arquivística, na digitalização de diversos
e amplos conjuntos documentais do passado até então preservados
em bibliotecas, arquivos e museus. Além da digitalização, todo
o processo de preservação do patrimônio digital demanda
cuidados específicos em razão da alta obsolescência dos aparatos
tecnológicos, repositórios e mídias de armazenamento, servidores e
4
Riande, 2018; Burdick, 2012; Alves, 2016; Cohen, 2008; Soares, F.; Rovai, M.;
Carvalho, B. & Porto Junior, F. G. R. 2017; Luchesi, 2012. Começa a emergir nos
últimos anos uma abordagem crítica em relação ao tema. Por exemplo: Hui Kyong
Chun; Grusin; Jagoda & Raley, 2016.
O ensino de história na era digital | 147
5
Sobre esta questão, consultar: Innarelli, Humberto Celeste. 2015. Gestão da
preservação de documentos arquivísticos digitais: proposta de um modelo conceitual.
São Paulo: ECA/USP. A respeito da definição de patrimônio digital e herança
digital, ver: Dodebei, Vera. 2008. “Patrimônio digital virtual: herança, documento
e informação”. Trabalho apresentado na 26ª Reunião Brasileira de Antropologia,
realizada entre os dias 01 e 04 de junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil; Alker, Zoe
& Donaldson, Christopher. 2018. “Digital Heritage”. Journal of Victorian Culture,
Volume 23, Issue 2, 27 April, pp. 220–221, https://doi.org/10.1093/jvcult/
vcy019; UNESCO, ‘Charter on the Preservation of Digital Heritage’ (13 out. 2003)
http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=17721&URL_DO=DO_TOPIC&URL_
SECTION=201.html.
148 | Pensar com método
6
Pierre Lévy defini que “Um hipertexto é uma matriz de textos potenciais, sendo
que alguns deles vão se realizar sob o efeito da interação com um usuário.” Lévy,
Pierre. 1999. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34.
O ensino de história na era digital | 149
7
Segundo Lévy, “Os dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializaram
o texto. Fizeram emergir um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade
definível.” Lévy, Pierre. 1999. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34.
8
Chartier destaca, por exemplo, o impacto que a passagem da leitura dos rolos de
pergaminhos para os livros em códex, na Idade Média, representou para as práticas
de leitura reflexiva, pois passou a permitr simultaneamente a anotação e a reflexão.
Chartier, Roger. 1999. A aventura do Livro do leitor ao navegador: conversações com
Jean Lebrun. São Paulo: Editora da Unesp, Imprensa Oficial.
150 | Pensar com método
9
Consultar também: Pescador, Cristina M. 2010. “Tecnologias digitais e ações de
aprendizagem dos nativos digitais”. V-CINFE - Congresso Internacional de Filosofia e
Educação, UCS; Silva, Patrícia Konder Lins e. 2014. “O mundo dos nativos digitais”.
Biblioteca viva. Texto parcial da palestra apresentada durante o 7º Seminário
Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias.
O ensino de história na era digital | 151
10
Prensky, Marc. 2001. “Digital natives, digital immigrants”. On the Horizon, NCB
University Press, vol. 9, n. 5, Oct., pp. 1-6. Outras abordagens críticas sobre a
definição “nativos digitais” podem ser encontradas em: Bayne, Sian & Ross, Jean.
2011. “‘Digital Native’ and ‘Digital Immigrant’ Discourses”. In: Land R. & Bayne
S. (eds.), Digital Difference. Educational Futures Rethinking Theory and Practice,
vol 50. pp. 159-171. Flávia Vieira, em sua experiência de desenvolvimento de
um aplicativo voltado para alunos de escola pública da periferia de Indaiatuba
discutirem o tema da cidadania, elaborou uma interessante reflexão sobre as
relações entre texto e imagem na percepção dos alunos que participaram do
processo de construção do dispositivo. Cf. Vieira, Flávia. 2018. Ensino de História,
construção de identidades políticas e práticas cidadãs: resistências e desafios na
contemporaneidade. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas.
11
Por exemplo: Koutropoulos, Apostolos. 2011. “Digital Natives: Ten Years After”.
Journal of Online Learning and Teaching, Vol. 7, No. 4, December, pp. 525-538.
152 | Pensar com método
12
The fallacy of the digital natives: http://www.ecdl.org/digitalnativefallacy.
O ensino de história na era digital | 153
13
Sorj, Bernardo & Guedes, Luís Eduardo. 2005. “Exclusão digital: problemas
conceituais, evidências empíricas e políticas públicas”. Novos estudos - CEBRAP,
São Paulo, n. 72, pp. 101-117, jul.; Grossi, Márcia Gorett Ribeiro; Costa, José Wilson
da & Santos, Ademir José dos. 2013. “A exclusão digital: o reflexo da desigualdade
social no Brasil”. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente, SP, v. 24, n.
2, pp. 68-85, mai./ago.; Oliveira, Maria Lívia Pacheco de & Pinho Neto, Júlio Afonso
Sá de. 2016. “Brecha digital e o acesso à informação: projetos de inclusão digital”.
Humanidades Digitales: Construcciones locales en contextos globales. Asociación
Argentina de Humanidades Digitales, Buenos Aires; Santos, Edvalter Souza. 2006.
Desigualdade social e inclusão digital no Brasil. Tese de Doutorado, Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
14
Por exemplo: Kenski, Vani Moreira. 2007. Educação e tecnologias: O novo ritmo da
informação. Campinas: Papirus.
O ensino de história na era digital | 155
15
https://www.al.sp.gov.br/norma/?id=74333
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2017/lei-16567-
16
06.11.2017.html
17
http://www.slate.com/articles/life/the_history_of_american_slavery/2015/06/
animated_interactive_of_the_history_of_the_atlantic_slave_trade.html
156 | Pensar com método
Fonte: Slate.19
Fonte: Slate.20
20
http://www.slate.com/articles/life/the_history_of_american_slavery/2015/06/
animated_interactive_of_the_history_of_the_atlantic_slave_trade.html
158 | Pensar com método
21
Sobre narrativa digital, consultar: Andrade, Rafael Reis de. 2018. História,
Narrativa e Netflix: a construção simbólica na era digital. Dissertação de Mestrado,
Universidade Estadual de Campinas.
22
Sobre a coleção, consultar o link: https://www.cecult.ifch.unicamp.br/
publicacoes/colecao-histori-illustrada
O ensino de história na era digital | 159
Cunha, Maria Clementina Pereira. 2016. Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de
Janeiro, 1890-1930. Campinas: Editora da UNICAMP, p. 52.
23
Aqui igualmente a ideia de raça é central. Essencializa-se pessoas de origem
africana, projetando a ideia de que deveria haver uma solidariedade “natural” entre
elas na escravidão. Além deste fator, é importante lembrar que estes temas não são
tabus na historiografia profissional. Desde a década de 1980 abundam trabalhos
que analisam a posse de cativos por indivíduos libertos, porém são situados no
quadro mais amplo do funcionamento da escravidão. Trata-se sempre, como alerta
Ricardo Pirola, de uma minoria dos proprietários quando se considera os cerca de
5,5 milhões de africanos trazidos para o Brasil. Já no discurso revisionista populista
esse dado ganha um peso desproporcional na explicação da escravidão, deslocando
o foco de outros fatores. Pirola, Ricardo. 2017. “Cotas raciais: disputas políticas e
apropriações do passado”. Calourada - Gradução em História 2017. IFCH-UNICAMP.
22 mar.
164 | Pensar com método
24
Sobre escravidão na África, consultar: Lovejoy, Paul E. 2002. A escravidão na
África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira;
Thornton, John. 2004. A África e os africanos na formação do mundo Atlântico
1400-1800. Rio de Janeiro: Elsevier; Meillassoux, Claude. 1995. Antropologia da
escravidão: o ventre de ferro e dinheiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; Thorton, John.
1983. The Kingdom of Kongo: civil war and transition, 1641-1718. Madison, Wis.:
University of Wisconsin Press; Stellwell, Sean. 2014. Slavery and slaving in African
History. Cambridge: University Press; Gareth, Austin. 2017. “Slavery in Africa”. In:
Eltis, David; Engermen, Stanley; Drescher, Seymour & Richardson, David (eds.), The
Cambridge World History of Slavery. Cambridge University Press, vol. 4.
25
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm. Sobre uma
avaliação da aplicação da lei, ver: Janz, Caroline & Cerri, Luis Fernando. 2018. “Treze
anos após a lei nº 10.639/03: o que os estudantes sabem sobre a história da África?”.
Afro-Ásia, 57, pp. 187-211.
O ensino de história na era digital | 165
26
No caso da ditadura civil-militar, consultar: Genari, Elton Rigotto. 2018.
Revisionismo, memória e ensino de história da ditadura civil-militar. Dissertação de
Mestrado, Universidade Estadual de Campinas.
166 | Pensar com método
27
Olavo de Carvalho. 2001. “Extrema direita e extrema burrice”, O Globo, 8 dez.
http://www.olavodecarvalho.org/extrema-direita-e-extrema-burrice/.
28
O ambiente digital permiti a edição e replicação (ctrl + c/ ctrl + v) rápida de
conteúdos, tensionando o paradigma contemporâneo em torno das ideias de autoria.
29
Costa, Camilla. 2017. “O nazismo era um movimento de esquerda ou de direita?”,
BBC Brasil, 7. https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39809236; 2018.
“Grupos de direita no Brasil contestam embaixada alemã sobre nazismo”, Folha de
São Paulo, 16 set.. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/
grupos-de-direita-no-brasil-contestam-embaixada-alema-sobre-nazismo.
shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha
30
https://twitter.com/Alemanha_BR/status/1037303279724781568
31
Brasileiros criam debate que não existe na Alemanha. Deutsche Welle, 17 de
setembro de 2018. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/brasileiros-criam-
debate-que-n%C3%A3o-existe-na-alemanha/a-45531446
O ensino de história na era digital | 167
32
2016. Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação (org.), A ideologia do
movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso. São Paulo:
Ação Educativa. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/wp-content/
uploads/2017/05/escolasempartido_miolo.pdf; Frigotto, Gaudêncio (org.). 2017.
Escola “sem” partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio
de Janeiro: UERJ, LPP; Professores da Faculdade de Educação da USP comentam o
projeto Escola sem Partido: http://www4.fe.usp.br/escola-sem-partido.
168 | Pensar com método
33
Sobre as relações entre redes sociais e professores, embora não trate
especificamente dos desafios enfrentados pelos professores de História, consultar:
Bueno, Maysa De Oliveira Brum. 2014. Cultura digital e redes sociais: Incerteza e
ousadia na formação de professores. Tese de Doutorado, Universidade Católica Dom
Bosco.
34
Acesso em: 17 set. 2018, Facebook.
O ensino de história na era digital | 169
35
Bittencourt, Circe. 1990. Livro didático e conhecimento histórico: uma História do
saber escolar. São Paulo: Loyola; _____. 1988. Pátria, civilização e trabalho. O ensino
de história nas escolas paulistas (1917-1939). São Paulo: s/e.; _____. 2001. O saber
histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto; Fonseca, Thaís Nívia de Lima. 2004.
História e Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica; Karnal, Leandro (org.).
2003. A História na sala de aula: conceitos, práticas, propostas. São Paulo: Contexto;
Mattos, Ilmar Rohloff de (org.). 1998. Histórias do ensino de História do Brasil. Rio de
Janeiro: Access; Monteiro, Ana Maria. 2007. Professores de História: entre saberes e
práticas. Rio de Janeiro: Mauad; Nadai, Elza. 1993. “O ensino de História no Brasil:
Trajetória e perspectivas”. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 13, n. 25/26,
pp. 163-174, set. 92/ago.93; Napolitano, M. 2006. “A História depois do papel”. In:
Pinsky, Carla (org.), Fontes Históricas. São Paulo: Contexto.
170 | Pensar com método
na memorização.36
Acreditamos que o ensino contemporâneo de História deve
ser articulado com uma reflexão crítica das diferentes dimensões
dos processos históricos e contribuir para a formação de um aluno
pesquisador que saiba navegar no excesso de informações oferecido
pela Internet. Ao buscar uma palavra no Google o estudante se
depara com uma quantidade de páginas, links e hiperlinks que
tendem ao infinito. Desta forma, é superado o paradigma anterior
em que a cultura escolar tinha como estratégia a gestão da escassez
dos conteúdos registrados em poucos recursos mediados pela
escola ou um conjunto limitado de material didático, tais como
dicionários e enciclopédias. Em síntese, os projetos pedagógicos e
as ferramentas didáticas que permitem a viabilização dos processos
de aprendizagem devem ser orientadas para práticas que promovam
o “aprender a aprender”.37 Algumas questões podem auxiliar nestas
reflexões quando um aluno acessa conteúdos na Internet:
36
Fonseca, 2003. Consultar também: Quaresma, Thatianne Ponce; Nakashima,
Rosária Helena Ruiz & Feitosa, Lourdes Madalena Gazarini Conde. 2015. “Recursos
digitais do portal do professor no ensino de História”. Mimesis, Bauru, v. 36, n. 1,
pp. 57-102; Barros, Daniela Melaré Vieira & Brighenti, Maria José Lourenção. 2004.
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metamorfose do aprender na sociedade da informação”. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n.
2, pp. 7-15, mai./ago.; Murguia, Eduardo Ismael & Ribeiro, Raimundo Donato do
Prado. 2001. “Memória, História e Novas Tecnologias”. Impulso, Piracicaba, v.12,
n.28, pp. 175-183.
37
Marilda Behrens defende que “O desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do
ensinar para optar pelos caminhos que levam ao aprender. Na realidade, torna-se
essencial que professores e alunos estejam num permanente processo de aprender
a aprender.” Behrens, Marilda. 2000. “Projetos de aprendizagem colaborativa num
paradigma emergente”. In: Moran, José Manuel; Masetto, Marcos T. & Behrens,
Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus,
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O ensino de história na era digital | 171
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O ensino de história na era digital | 173
Taniele Rui
1
Para reter o argumento do texto acerca das relações financiadores-pesquisadores,
optei aqui por não identificá-la nominalmente.
2
Durante a primeira quinzena de setembro de 2015, cursei, como fellow, o Summer
Program in Social Science, Inequalities and Differences, coordenado por Didier Fassin.
Quero destacar aqui a parceria com Susana Durão nesse período, figura central na
composição do argumento que apresento.
178 | Pensar com método
3
Publicações diversas sobre a área podem ser lidas em Rui (2012, 2013, 2014a,
2014b, 2014c, 2015a, 2015b, 2016).
4
No centro dos efeitos da “guerra às drogas” (superencarceramento, mitigação
de garantias processuais, criação e eleição do ‘traficante’ como inimigo a ser
combatido, operações violentas em bairros pobres e toda espécie de violação de
direitos), países latino-americanos vêm liderando um movimento internacional de
políticas alternativas sobre drogas, das quais a mais significativa é a pressão por
reformas nas convenções internacionais. A partir de chamado dos países latino-
americanos, em abril de 2016 ocorreu a United Nations General Assembly Special
Session (UNGASS) on drugs. Da perspectiva da Fundação, considera-se, portanto, que
a América Latina está bem posicionada para influenciar outras nações do Sul Global.
Estima-se que em 2016 ela tenha investido cerca de U$ 34 milhões em projetos
parceiros na região.
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 179
***
5
O psicólogo Bruce Alexander é conhecido por, no final dos anos 1980, romper com
a “old theory” sobre dependência química. Seu conhecido experimento, Rat Park,
tratou de retirar os ratos de laboratório das tradicionais “Skinner Box” e transferi-
los para um espaço aberto, com mais variedade de entretenimento (o Rat Park).
Vários experimentos compararam o consumo de drogas dos ratos no Rat Park com
o dos ratos em confinamento solitário. Em todos eles, os ratos em confinamento
consumiram muitíssimo mais drogas. Cf: http://www.brucekalexander.com/
articles-speeches/rat-park/148-addiction-the-view-from-rat-park e http://www.
stuartmcmillen.com/comics_en/rat-park/, último acesso em 25 abr. 2016. O
neurocientista Carl Hart ficou mais conhecido a partir do seu recente livro High Price
(Hart, 2014), um livro de memórias e divulgação dos seus experimentos científicos.
Dentre eles, o oferecimento de doses de crack e metanfetamina em laboratório a
usuários considerados compulsivos. Tais doses, com o tempo, eram intercambiadas
por valores financeiros que variavam de 5 a 20 dólares (em dinheiro ou em voucher
para compras). Ele notou que, quando as doses eram altas, as pessoas continuavam
usando a droga; quando as doses diminuíam, elas escolhiam a recompensa e quando
a recompensa era de 20 dólares, quase todas a preferiam às drogas. Experimentos
que mostrariam que, quando possuíam alternativas ao crack e à metanfetamina,
as pessoas faziam escolhas econômicas e racionais. Cf, por exemplo: http://www.
nytimes.com/2013/09/17/science/the-rational-choices-of-crack-addicts.html,
último acesso em 25 abr. 2016.
180 | Pensar com método
6
Para Ong e Collier (2005, p. 11), global phenomena “have a distinctive capacity
for decontextualization and recontextualization, abstractability and movement
across diverse social and cultural situations and spheres of life. Global forms are able
to assimilate themselves to new environments, to code heterogeneous contexts and
objects in terms that are amenable to control and valuation. At the same time the
conditions of possibility of this movement are complex. Global forms are limited or
delimited by specific technical infrastructures, administrative apparatuses, or value
regimes, not by the vagaries of a social or cultural field”.
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 181
7
Reflito com mais detalhes sobre essa operação em Rui (2013). Recomendo
também o artigo opinativo de Teixeira e Matsuda (2012) e os trabalhos de mestrado
de Carvalhido (2014) e Magalhães (2015, 2017).
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 183
8
Detalhes dessa negociação podem ser assistidos a partir dessa entrevista: https://
www.youtube.com/watch?v=aKJwHbK8bKM, visualização em 21 jan. 2016.
184 | Pensar com método
Pesquisadores e financiadores
9
Para fazer uma comparação, cerca de um ano depois, a prefeitura de São Paulo
lançou edital de pesquisa próprio exigindo produtos parecidos com os que
apresentamos, pagando, em troca, quatro vezes o valor ofertado que recebemos:
400 mil reais (algo em torno de 110 mil dólares).
186 | Pensar com método
10
Utilizo-me aqui da noção de Rancière, para quem “o desentendimento não é o
conflito entre aquele que diz branco e aquele que diz preto. É o conflito entre aquele
que diz branco e aquele que diz branco, mas não entende a mesma coisa, ou não
entende de modo nenhum que o outro diz a mesma coisa com o nome de brancura”
(...) “o desentendimento não diz respeito apenas às palavras. Incide geralmente
sobre a própria situação dos que falam. (...) As estruturas de desentendimento são
aquelas em que a discussão de um argumento remete ao litígio acerca do objeto da
discussão e sobre a condição daqueles que o constituem como objeto” (Rancière,
1996, pp. 11-12)
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 187
Descontextualização e recontextualização
11
Cf., nesse sentido, Adorno et all (2013a; 2013b), Frúgoli Jr. (2012), Frúgoli Jr. &
Spagiari (2010), Raupp & Adorno (2011), Gomes & Adorno (2011), Rui (2012).
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 189
12
Para ações de ONGS, entidades e igrejas atuantes no local, Cf. Spaggiari et all
(2012) e Fromm (2014).
Destaco algumas: Canonico (2015), Menezes (2016), Calil (2015), Alves (2017),
13
14
Cf. http://www.endhomelessness.org/pages/housing. Acesso em: 07 dez. 2016.
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 191
15
Cabe esclarecer que não me parece correto tratar distintas ações políticas
(oferta de direitos e repressão) como uma contradição. Ao contrário, as ideias de
ambiguidade e ambivalência parecem mais rentáveis analiticamente, uma vez que
permitem pensar como a injunção entre direito e repressão, de um lado, evoca a
heterogeneidade das ações públicas e do Estado contemporâneos voltadas a sujeitos
precarizados; de outro, revela, no caso das políticas sobre drogas, os entraves de
ações políticas consideradas progressistas diante do marco proibicionista vigente,
pois não se pode ignorar que o DBA opera no limite da polarização entre usuários e
traficantes, destinando cuidado aos primeiros e não medindo esforços para reprimir
os segundos. Assim, não se trata de um paradoxo político, mas, antes, de uma
composição ambígua de agentes e ações bastante heterogêneos que conformam
e são conformados por distintas populações, diversas práticas de governo e,
igualmente, diferentes valores morais do Estado.
Sobre a instrumentalização mútua: pesquisadores e financiadores | 193
Considerações finais
Referências bibliográficas
Susana Durão
Metodologias intimistas
Interlocutores privilegiados
Violências em campo
Violências íntimas
Conclusão
Referências bibliográficas
O trabalho universitário talvez poucas vezes tenha sido tão bem retra-
tado quanto no “campus novel” Stoner, de John Williams; nele, somos
apresentados à trajetória de vida do protagonista que dá título à obra,
desde suas origens humildes até o final de sua jornada de muitos anos
como um acadêmico de literatura, passando pelas vicissitudes do coti-
diano institucional, da docência e da pesquisa. Buscamos homenagear
esse personagem no título de nossa coleção devotada a contemplar o
trabalho acadêmico realizado com integridade e excelência - a tese,
a dissertação, a coletânea de ensaios - em suas variadas dimensões.
Títulos publicados
(Des)Prazer da norma
Everton Rangel, Camila Fernandes, Fátima Lima (Orgs.)