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Manual de Hermenêutica e Interpretação Do Texto Jurídico
Manual de Hermenêutica e Interpretação Do Texto Jurídico
1º Ano
Créditos (CFE): 5
i
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e
contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónico, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).
Beira - Moçambique
Telefone: +25823323501
Cel: +258823055839; +258820481230.
ii
Fax: +25823324215
E-mail: isced@isced.ac.mz www.isced.ac.mz
Agradecimentos
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância Coordenação do Programa de
Licenciaturas e o autor que elaborou o presente manual, Mestrando Fernando Chicumule,
agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:
Elaborado por:
Docente: Fernando Manuel Samuel Safo Chicumule
Mestrando em Línguas, Literaturas e Culturas pela Universidade de Aveiro
Especializado em Língua Portuguesa e Literaturas de Expressão Portuguesa pela Universidade de Aveiro
Licenciado em Língua e Cultura Portuguesa pela Universidade de Lisboa
Bacharel em Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Pedagógica de Maputo
Docente do Instituto Superior de Ciências e Ensino a Distância
iii
Índice
Visão geral Error! Bookmark not defined.
Bem-vindo à Hermenêutica do Texto Jurídico .................. Error! Bookmark not defined.
Objectivos da cadeira......................................................... Error! Bookmark not defined.
Quem deveria estudar este módulo .................................. Error! Bookmark not defined.
Como está estruturado este módulo? ............................... Error! Bookmark not defined.
Ícones de actividade .......................................................... Error! Bookmark not defined.
Habilidades de estudo ....................................................... Error! Bookmark not defined.
Precisa de apoio? ............................................................... Error! Bookmark not defined.
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................. Error! Bookmark not defined.
Avaliação ............................................................................ Error! Bookmark not defined.
Unidade 2: Hermenêutica geral e a crítica da razão histórica Error! Bookmark not defined.
Introdução Error! Bookmark not defined.
Sumário ....................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ..................................................................................... Error! Bookmark not defined.
iv
Sumário ....................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ..................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Unidade 10: Teoria contemporânea do direito: Tópica, de ViehwegError! Bookmark not defined.
Introdução Error! Bookmark not defined.
Sumário ....................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ..................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Unidade 11: Teoria contemporânea do direito: Nova Retórica, de Perelman.Error! Bookmark not defined.
Introdução Error! Bookmark not defined.
Sumário ....................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ..................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Unidade 12: Teoria da argumentação em Alexy – teoria normativaError! Bookmark not defined.
Introdução Error! Bookmark not defined.
Sumário ....................................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ..................................................................................... Error! Bookmark not defined.
v
Visão geral
Bem-vindo à Hermenêutica do Texto Jurídico
A disciplina Hermenêutica do Texto Jurídico surge nesta
época como Módulo Único, no âmbito do Curso de Licenciatura em
Direito do ISCED, no segundo semestre deste ano académico.
Neste módulo, abordaremos, por um lado, a Hermenêutica
Jurídica – estudo das hermenêuticas clássica e geral, teorias e críticas - ;
por outro, a Argumentação Jurídica – estudo do impacto da
argumentação e da retórica no Direito e das teorias contemporâneas de
Direito e de argumentação.
Em suma, esta disciplina pretende desenvolver a capacidade de
análise crítica com base nos conhecimentos fundamentais sobre teoria
do direito, argumentação jurídica e hermenêutica contemporânea,
numa perspectiva multidisciplinar, de maneira que ela possa ser
utilizada para resolver os problemas teórico-práticos.
Objectivos do curso
Quando terminar o estudo de Hermenêutica do Texto Jurídico – 1º
Ano, será capaz de:
1
Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram
actualizar-se e consolidar os seus conhecimentos nesta disciplina,
esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se
inscrever. Mas poderão adquirir o manual.
Páginas introdutórias
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Para isso, recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.
3
Comentários e sugestões
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones
nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.
Habilidades de estudo
O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender
a aprender. Aprender aprende-se.
5
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho
intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o
rendimento da aprendizagem. Já que o estudante tem o hábito de
acumular um elevado volume de trabalho, em termos de estudos,
em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos,
perde sequência lógica; por fim, ao perceber que estuda tanto mas
não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se
achar injustamente incapaz!
7
Tarefas (avaliação e auto-
avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios,
actividades e auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser
entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas
devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais
seguintes.
Avaliação
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à
distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do
1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.
9
Unidade 1
Hermenêutica clássica
Introdução
Objectivos
1. Hermenêutica
11
dizeres de Carlos Maximiliano, tem por finalidade a sistematização dos
processos aplicáveis com o intuito de delimitar o sentido e o alcance das
expressões de Direito (MAXIMILIANO, 1993, p. 01)
13
vigência), ressaltando-se o papel preponderante dos aspectos
estruturais em que a norma ocorre e as técnicas apropriadas e sua
captação (método sociológico) (FERRAZ JR., 2003, p.267)
15
sistemática procura compatibilizar as partes entre si e as partes com o
todo, é a interpretação do todo pelas partes e das partes pelo todo”
(MAGALHÃES FILHO, 2009, p. 42).
Exercício 1
1. Que entende por hermenêutica?
2. Qual é o objecto de estudo da Hermenêutica Jurídica?
3. Distinga a doutrina subjectivista da doutrina objectivista no
campo da ciência jurídica.
4. Aborde a necessidade e a importância da Hermenêutica
Jurídico-Clássica.
5. Qual é o impacto do método gramatical na interpretação
jurídica?
6. Comente a seguinte afirmação de Miguel Reale, 2006, p. 304:
Ao nosso ver, princípios gerais de direito são
enunciações normativas de valor genérico, que
condicionam e orientam a compreensão de
ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e
integração, quer para a elaboração de novas normas.
17
1. Define hermenêutica.
Auto-avaliação 2. Que é hermenêutica jurídica?
3. Em que consiste a doutrina objectivista no campo
jurídico?
4. Interprete a doutrina subjectivista na pesrspectiva da
ciência jurídica.
5. Relacione Hermenêutica Jurídica com a Clássica.
6. Qual é a essência do método sistemático?
Unidade 2
HG – Hermenêutica Geral;
19
Hermenêutica geral e a crítica da razão
histórica
Origem do termo
O termo "hermenêutica" provém do verbo grego
"hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar",
"esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é
"tornada compreensível" ou "levada à compreensão".
21
Compreensão comparativa: Apoia-se numa multiplicidade
de conhecimentos objectivos, gramaticais e históricos,
deduzindo o sentido a partir do enunciado.
Compreensão divinatória: Significa uma espécie de
adivinha imediata ou apreensão imediata do sentido de um
texto.
Explicação e compreensão
Segundo Wilhelm Dilthey, estes dois métodos estariam opostos
entre si: explicação (próprio das ciências naturais) e compreensão
(próprio das ciências do espírito ou ciências humanas):
23
Paul Ricoeur visa superar esta dicotomia. Para ele,
compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso
do texto. Isto supõe que o texto seja aberto. Ler é apropriar-se do
sentido do texto. De um lado não há reflexão sem meditação
sobre os signos; do outro, não há explicação sem a compreensão
do mundo e de si mesmo.
25
Crítica da Razão Pura, contendo uma reflexão sobre a
possibilidade de todo conhecimento, dando uma resposta aos
empiristas, especialmente David Hume, que foi uma de suas
inspirações (Kant disse "Hume acordou-me dos meus sonhos
dogmáticos"), e aos racionalistas alemães, Leibniz e Wolff.
Exercício 2
1. Que entende por hermenêutica geral?
2. “A linguagem é o modo do pensamento se tornar efectivo. Pois,
não há pensamento sem discurso. (...) Ninguém pode pensar sem
palavras.”(Hermeneutik und Kritik, 77)
27
7. Relacione a hermenêutica geral da crítica da razão histórica.
29
o que limita a actividade do hermeneuta e a de r eco nh ec er
qu e as c ondiç õe s de possibilidade do c onhe cime nt o
e st ão n o hermeneuta, devendo este actualizar e adequar o
sentido da norma jurídica. Logo, o presente estudo situa-se
no campo teórico da teoria hermenêutica, entendida como
uma epistemologia do acto de interpretação e relaciona-se, ainda,
com a teoria do conhecimento. Pro põe -se, então,
e st abe le ce r limite s a o a cto d e interpret ação do
D ire ito pro cu ra ndo, assim, a construção de um conceito de
objectividade à luz da teoria de Emilio Betti.
OR - Objectividade Real
31
de Miranda (2005), qual a elasticidade da interpretação
jurídica, em e spe cial da interpret ação da n orma
jurídica. No d esen volviment o de sua teo ria
tridimensional, Reale (2003, p. 127) já ressaltava a limitação do
intérprete frente à norma jurídica,
33
prática praticada no intuito de realizar uma finalidade ou um
valor.
35
A cristalização desses valores pelas normas jurídicas faz com
que haja uma dialéctica necessária entre o intérprete (do ponto de vista
de sua espiritualidade subjectiva) e a norma (vista como a
condensação dos valores sociais).
37
Ligando a ideia de objectividade à ideia de axiologia
jurídica percebemos que esta concepção de objectividade
relaciona-se com o estabelecimento de um acordo sobre algo.
39
materialista que incide sobre as semelhanças exteriores das
individualizações da mente.” Com base kantiana, observa-se
que na realização do processo d o en tend er, a co nsciên cia
co mo o processo sinté tico da categoria a priori é
estritamente vinculada à comunicabilidade ind ividual, p oré m,
o pro cesso d o ent end er se efe ct iva pe la universalidade
da comunicação, a qual implica numa noção de espírito (auto-
consciência) que transcende tanto o objecto quanto os sujeitos
individuais comunicáveis entre si. A comunicação entre os
homens estabelece-se pela fala. Se considerarmos o acto da fala
como uma actividade mediadora, a totalidade da linguagem surge
como uma realidade viva na formulação linguística de
experiências interiores. Nesse sentido, a linguagem concretiza-
se no discurso como pensamento e tomada de posições. Por s u a
vez o discurso transforma a linguagem em presença
v i v a d e n t r o d e u m a comunidade. Partindo das considerações
acima, podemos concluir que o discurso e a compreensão, para
Betti, só são possíveis num contexto de comunicação em que
dois sujeitos participam em igualdade de condições, para que
o pretendido e o percebido possam ser quase coincidentes.
Assim, forma-se a ideia de comunidade de falantes que
permitirá, na teoria de Betti, alcançar a formulação do conceito de
objectividade. As formas representativas são-nos legadas por
meio físico, sem o qual não seriam perceptíveis pelos sentidos.
Todavia, essas formas transcendem seu meio físico enquanto
são reconhecíveis como uma estrutura de um valor. Esse
reconhecimento dá-se por uma outra génese que é capaz de
reconhecer o cosmo de valor daquele espírito objectivado na
forma (BETTI, 1990a).
41
configuração de um totalitarismo.Entendemos que a
estrutura do pensamento positivista de Bobbio, com relação
a positivismo forte ou moderado enquanto ideologia pode ser
utilizada para construir um conceito de objectividade.
Acreditamos, assim, que o conceito de objectividade pode ser
entendido de várias formas, dentre elas, uma forte e uma
moderada. Se pensarmos que o Direito se estrutura por meio
da racionalização normativa de determinados valores, e que a
interpretação jurídica tem por objecto a proposição jurídica que
representa algum valor, podemos afirmar que a hermenêutica
jurídica busca, através da interpretação, o sentido de um
valor. A teoria dos valores, então, será de muita utilidade para o
desenvolvimento da ideia de objectividade. O próprio Betti,
detentor de um carácter humanista, explicitado na sua obra,
correlacionava a ideia de objectividade à ideia de valor jurídico. Na
relação entre objectividade e valores deve levar-se em
consideração a historicidade do homem. A objectividade dos
valores não pode ser pensada distante do tempo e da história,
porém, deve ser vinculada ao espírito vivente e pensante por
uma unidade por razão de que a consciência guia a conduta
deste por uma própria lei de autonomia conforme a experiência
do mundo objectivo que se encontra diante dele. A
interpretação, como processo de compreensão, não é algo de
belo-facto, tendo em vista que necessita da inteligência para uma
interior elaboração reconstrutiva do valor objectivado na forma
significativa. Tal reconstrução encontra, na linguagem, a
instrumentalização necessária para o estabelecimento de uma
correlação e uma correspondência entre a forma
representativa e o desenvolvimento do pensamento (BETTI,
1990a).
No plano da História, os valores possuem
objectividade, porque, por mais que o homem atinja resultados
e realize obras de ciência ou de arte, de bem e de beleza, jamais
tais obras c h e g a r ã o a e x a u r i r a p o s s i b i l i d a d e
dos valores, que representam sempre uma abertura
para novas determinações d o gênio inventivo e
criador. Trata-se, porém, de u m a objetividade
relativa, sob o prisma ontológico, pois os valores não existem em
si e de per si, mas em relação aos homens, com referência a um
sujeito.
43
marco teórico adoptado. No Direito não é possível
estabelecer uma prioridade do objecto (norma) sobre o sujeito
(intérprete). Mesmo porque a norma está impregnada de
valores que são considerados em função do sujeito
defende Afonso (1999, p. 60)
O Dire ito , como tod a ciê ncia po sit iva, imp lica
u ma at itude realista, enquanto analisa factos do
comportamento humano e até mesmo enquanto estuda
normas, que são apreciadas pela Dogmática Jurídica com um “já
dado”, algo posto senão imposto à interpretação e à
sistematização do jurista como tal. Tal concepção leva em
consideração a forma significativa na qual a norma está
exteriorizada (objectividade real), bem como os valores que tal
norma abriga (objectividade ideal). Desta forma, a
objectividade que Betti propõe na sua obra leva em
consideraçãoo carácter gnoseológico, no qual se encontra a
possibilidade do conhecimento, mas parte de um carácter ôntico a
priori que implica em limites ao intérprete, sem, contudo,
condicioná-lo. É o que se apreende da lição de Reale (2002a,
p. 109).
45
Ora, alguns pensadores contemporâneos sustentam
que na realidade há também um a priori material: que há um a
priori ôntico, e não apenas um a priori gnoseológico, ou mais
claramente, que, se a realidade fosse em si determinada não
haveria possibilidadede ser captada pelo espírito, o qual não pode ser
concebido como produtor de objectos, ex nihilo, a partir do
nada. Alcançamos, assim, uma ideia de objectividade respeitando
a construção da forma significativa tanto em relação à sua
linguagem quanto em relação à sua finalidade. Isto nos permite
dizer que não podemos atribuir qualquer sentido às normas
jurídicas, objecto de nossa interpretação.
47
co mo relação ent re pe ssoas (sujeit os) e objectos,
percebendo-se agora na relação entre pessoas (actores
sociais) e proposições. Daí que, pelo processo interpretativo,
o jurista cria o sentido que mais convém a seus interesses
teórico e político. Nesse contexto, sentidos contraditórios podem,
não obstante, ser verdadeiros. Em outras palavras, o
significado da lei é heterônomo. Ele vem de fora e é atribuído
pelo intérprete. Contudo, não acreditamos que o intérprete
possa atribuir significado à norma, qualificando, assim, o sentido
de heterônomo. Se isso fosse possível, o sentido seria algo
totalmente determinado pelo sujeito e independente da
norma. Inadmissível tal posicionamento, por desconsiderar
que a norma é uma objectivação de outra mente ou, nos
dizeres de Betti, de outro espírito. Ao discordar do
pensamento de Betti, Streck fá-lo, no nosso entendimento, de
forma equivocada quanto aos fundamentos. Assim, é a crítica
de Streck (2004a, p. 110) à Betti.
49
tudo é possível, e quem não ouve direito o que o outro
realmente está a dizer acabará por não conseguir integrar o mal-
entendido nas suas próprias e variadas expectativas de sentido.
51
A vida histórica da tradição consiste na sua dependência a
apropriações e interpretações sempre novas. Uma interpretação
correta “em si” seria um ideal desprovido de pensamento, que
desconhece a essência da tradição. Toda interpretação deve
acomodar-se à situação hermenêutica a que pertence.
Sumário
A teoria hermenêutica de Betti tem sido objecto de estudo
de várias ciências. Por ser uma Teoria Geral da Interpretação, ela
interessa a diversos campos de conhecimento. Todavia, sua
53
importância para a ciência do Direito ganha destaque.
Inicialmente, porque Betti é, por formação, jurista. Isto significa
que ao elaborar uma Teoria Geral da Interpretação, Betti
precisou sair de seu campo de conhecimento específico e
adentrar outras ciências para erguer sua grandiosa obra. A
publicação da Teoria da interpretação da Lei e do Acto Jurídico, na
qual Betti propôs sistematizar a interpretação para o
importante ramo do Direito Privado, fez com que aquele
jurista ganhasse destaque dentro do Direito. Com a Teoria Geral
da Interpretação, Betti coloca-se num outro plano diante do
carácter de universalidade de sua obra. Apesar de Betti
(1990a) dizer expressamente que não pretende vincular seu
pensamento a um sistema filosófico, ou seja, que deseje
estabelecer uma teoria voltada para a ciência, a importância de
seu pensamento é elevada ao status de uma filosofia (REALE,
1992).
Exercícios 3
1. Distinga a objectividade real (OR) da objectividade
ideal (OI).
2. A teoria hermenêutica de Betti tem sido objecto de estudo
de várias ciências.
a. Fundamenta a afirmação citada.
55
4. Qual é o êxito epistemológico da teoria de Betti?
Unidade 4
Hermenêutica em Gadamer
Introdução
Hans-Georg Gadamer foi um importante filósofo alemão
do século XX. Não obstante tenha também se dedicado ao estudo
da história da filosofia e dos pensadores gregos, marcou
profundamente o pensamento ocidental com sua obra-prima
Verdade e Método, publicada pela primeira vez em 1960, na qual o
autor desenvolve uma hermenêutica filosófica.
Influenciado pelos estudos de Martin Heidegger, de quem
foi aluno e assistente na Philipps-Universität Marburg, trouxe a
historicidade para suas reflexões. Conforme explica Stein, “se o
tempo é o horizonte de toda compreensão, todas as teorias devem
converter-se inelutavelmente em formações históricas, e isso
afetara o núcleo da razão”.
57
HH-GG – Hermenêutica de Hans-Georg Gadamer;
HF – Hermenêutica Filosófica;
Terminologia G – Gadamer.
59
de autoridade. A história deve produzir um conhecimento livre,
desinteressado e objectivo.”
61
romântica, para a qual se trata de “um dado histórico ao modo da
natureza”.
O círculo hermenêutico
63
cultural. Não há o conhecimento da “coisa em si”, mas sua
mediação com a tradição e com os preconceitos do autor.
65
processo de compreensão que se coloca em discussão a
legitimidade dos juízos prévios.
67
crença no método retira a validade de qualquer preconceito
questionável. De acordo com essa concepção, sempre que houver
dúvida ou margem para incertezas, deve-se imediatamente deixá-
lo de lado. O mal-entendido precisa ser substituído por outro juízo
“correcto”, sujeito à verificação objectiva por parte de qualquer
indivíduo. Percebe-se, assim, uma ausência de pensar sobre a
própria historicidade da consciência histórica.
69
em constituição, ou seja, de seu ser e da historicidade que se
revelou na coisa segundo as tradições a ele inerentes”.
A experiência hermenêutica
71
preconceitos, o autor continua ainda preso à tradição metafísica,
além de seu método resultar em algo interminável.
73
própria finitude humana e das limitações. A referência a Ésquilo é
bastante ilustrativa: “aprender com o sofrer”, ou seja, de forma
dolorosa, o homem torna-se ciente da sua separação da divindade
e da temporalidade de sua existência.
75
“Desde meados do século XX, as reflexões da hermenêutica
filosófica acentuaram a existência de uma co-relação circular
entre interpretação e aplicação, de tal forma que a prioridade
lógica tem sido substituída pela ideia de que existe uma
complementaridade circular entre interpretação abstrata e
aplicação concreta, pois essas duas actividades fazem parte de
um mesmo processo de compreensão. Nesse ponto, fica
especialmente caracterizada a distinção entre a linearidade dos
discursos científicos e a circularidade dos discursos
hermenêuticos”.
Considerações finais
77
De acordo com Stein,
Sumário
A presente unidade apresenta uma abordagem da
hermenêutica de Hans-Georg Gadamer, elaborada especialmente
na segunda parte da obra Verdade e Método. Diante da
consciência da finitude e da historicidade do ser humano, o autor
desenvolve uma teoria de “intenção filosófica”, cujo foco é a
forma como se dá a compreensão, sem imposição de qualquer
método. Neste estudo, são abordados: a reabilitação dos
preconceitos como condição da compreensão; o círculo
hermenêutico; a história efeitual e sua consciência; a experiência
hermenêutica e o problema da aplicação.
Exercício 4
1. Como Gadamer analisa os preconceitos como condição da
compreensão?
2. Aborde o círculo hermenêutico de Gadamer partindo do já
desenvolvido por Heidegger – “o movimento de sentido do
compreender e do interpretar” – tido como estrutura
ontológica da compreensão.
3. Qual é o significado da distância temporal, segundo
Gadamer?
4. Segundo Gadamer, “uma hermenêutica adequada à coisa
em questão deve mostrar na própria compreensão a
realidade da história”.
a. Partindo da afirmação do autor em estudo,
fundamente a consciência da história efeitual.
5. Apresente a reflexão de Gadamer sobre a experiência
hermenêutica, sem perder de vista os posicionamentos de
Husserl, Bacon e Aristóteles.
6. “...em toda compreensão, produz-se uma aplicação, de
modo que aquele que compreende, está ele mesmo dentro
do sentido do compreendido. Ele forma parte da mesma
coisa que compreende”.
a. Fundamente a premissa supracitada de Gadamer,
no contexto do problema hermenêutico da
aplicação.
79
1. Analise os preconceitos da compreensão em Gadamer.
Auto-avaliação 2. Partindo de Heidegger à Gadamer, debruce-se sobre
estrutura ontológica da compreensão.
3. Segundo Gadamer, que é consciência da história efeitual?
4. Aproxime a reflexão de Gadamer com os posicionamentos
de Husserl, Bacon e Aristóteles.
5. Distinga a compreensão da aplicação, no contexto do
hermenêutico de Gadamer.
Unidade 5
Hermenêutica fenomenológica de
Ricoeur
Introdução
Nesta unidade 05, vamos descrever hermenêutica
fenomenológica de Ricoeur.
Terminologia
Percurso bio-bibliográfico de
Paul Ricoeur
Paul Ricœur nasceu numa família protestante. Em 1936,
licenciado em filosofia, criou a revista Être, inspirada nos preceitos
de Karl Barth, teólogo cristão suíço. Em 1939, servindo como
oficial de reserva, Ricœur foi preso pelos nazistas e enviado ao
campo de Groß Born e depois a Arnswalde, na Pomerânia,
atualmente Polônia.
81
Suas obras importantes são: A filosofia da vontade
(primeira parte: O voluntário e o involuntário, 1950; segunda
parte: Finitude e culpa, 1960, em dois volumes: O homem falível e
A simbólica do mal). De 1969 é O conflito das interpretações. Em
1975 apareceu A metáfora viva.
83
partir de uma mensagem escondida sob a superfície, ou para se
tornar ciente dela. Um representante desta teoria é Gadamer. A
segunda é "subversiva", e tenta mostrar que, adequadamente
compreendidos, os textos e as acções humanas não são tão
inócuos quanto parecem, podendo antes reflectir impulsos
ocultos, interesses de classe, etc. Os representantes desta
tendência são Nietzsche, Freud, Foucault. Há afinidades entre
estes e os chamados hermeneutas críticos, representados por Apel
e Habermas, que dão continuidade à tradição de crítica das
ideologias, tradição que remonta, via Marx, ao século XVIII. O
objectivo desta abordagem é criticar as condições sociais, políticas
e culturais existentes usando interpretações que são ao mesmo
tempo desmistificações.
Sumário
A fenomenologia é um movimento radicalmente oposto ao
positivismo, porque se centra na experiência intuitiva capaz de
apreender o mundo exterior e porque abala a crença mantida pelo
homem comum de que os objectos existiam independentemente
de nós mesmos nesse suposto mundo que nos seria estranho. Foi
graças a Husserl que a fenomenologia se transformou numa
disciplina que se ocupa do estudo dos fenómenos puros, como
estudo descritivo de tudo quanto se revela no campo da
consciência transcendental. Husserl afirma que, ao nível da
consciência, podemos ter a certeza sobre a forma como
apreendemos os fenómenos em si mesmos, ilusórios ou reais,
mesmo que não exista evidência sobre a existência independente
das coisas. Toda a consciência é consciência de alguma coisa, isto
é, não há consciência sem um objecto de referência, porque um
pensamento está sempre “voltado para” algum objecto. O mundo
exterior fica assim reduzido àquilo que se forma na nossa
consciência, às realidades que constituem os puros fenómenos,
num processo a que Husserl chama a redução fenomenológica. Se
não pode existir um acto de pensamento consciente sem um
objecto de referência, também não pode existir um objecto sem
existir também um sujeito capaz de o interpretar e apreender. O
que ficar de fora desta correlação fundamental deve ser excluído
porque não está “imanente” à consciência e porque não é real —
os fenómenos são reais enquanto parte do mundo que a nossa
consciência concebe. Isto significa que os fenómenos só existem
porque os compreendemos, na exacta medida em que lhes
conseguimos atribuir um significado. Esta perspectiva coloca o
objecto da filosofia na "experiência vivida" do sujeito, em vez de
concepções metafísicas que escapariam ao trabalho da
consciência e às quais não seria possível atribuir uma
intencionalidade.
Exercício 5
1. O que é que se pretende dizer quando alguém
(jurista/hermeneuta) fala / escreve?
2. Quando alguém ou jurista diz mais do que efectivamente
diz?
3. O que é compreender um discurso jurídico quando tal
discurso é um texto normativo ou uma obra de arte?
4. Como decifrar um discurso escrito?
5. Explique a compreensão vs interpretação em PR.
6. Comente a hermenêutica fenomenológica de Ricoeur, em
atenção a outros autores que o circundam.
85
1. Que é a fenomenologia?
Auto-avaliação 2. Distinga “dizer” do “falar” ou “escrever”.
3. Reflicta sobre o além do discurso dito.
4. Quais são as finalidades da compreensão e da explicação
de um discurso jurídico?
5. Quais são os limites da compreensão vs interpretação num
discurso jurídico?
Unidade 6
Objectivos
HCA - Hermenêutica Crítica em Apel
Terminologia
Karl-Otto Apel
Karl-Otto Apel (Düsseldorf, 15 de Março de 1922) é um
filósofo alemão e Professor Emérito da Johann Wolfgang Goethe-
Universität de Frankfurt am Main .
87
(Verstehen) e explicação (Erklärung), contidos na hermenêutica de
Wilhelm Dilthey e na sociologia interpretativa de Max Weber, com
base numa concepção transcendental- pragmática de linguagem,
inspirada em Charles Peirce. Essa concepção do mundo da vida
tornar-se-ia um elemento da Teoria da Acção Comunicativa e do
discurso ético, que Apel a princípio desenvolveu com seu amigo e
colaborador Jürgen Habermas.
Exercício 6
1. Que entende por Hermenêutica Crítica?
2. Qual é o percurso bio-bibliográfico de Karl-Otto Apel?
3. Quem são os hermeneutas que Apel se inspirava?
4. O que fundamentalmente a teoria de Apel é criticada?
5. Em que aspectos Habermas e Apel divergem?
6. Analise a Hermenêutica Crítica em Apel.
1. Define Hermenêutica Crítica.
Auto-avaliação 2. Apresente a biografia de Karl-Otto Apel.
3. Aponte o nome de um hermeneuta que Apel estive na base da
sua inspiração.
4. Em que consiste a teoria de Apel?
5. Quem é o opositor de Apel, na hermenêutica jurídica?
Unidade 7
Hermenêutica contemporânea em
Dworkin: Hard Cases, princípios, políticas
públicas, regras e discricionariedade fraca
Introdução
A sétima unidade aborda hermenêutica contemporânea
em Dworkin: Hard Cases, princípios, políticas públicas, regras e
discricionariedade fraca.
89
padrões determinados, para que a previsibilidade e justiça da
resposta seja alcançada.
91
Nesse livro ele já começa a esboçar uma teoria conceitual
alternativa. A primeira distinção elaborada por Dworkin versa
sobre os direitos políticos, que podem ser direitos preferenciais
(prevalecem contra decisões tomadas pela sociedade); e direitos
institucionais mais específicos “que podem ser identificados como
uma espécie particular de um direito político, isto é, um direito
institucional a uma decisão de um tribunal na sua função
judicante” (DWORKIN, 2002, XV).
93
36). Dworkin já havia definido este conceito em Uma Questão de
Princípio. Esses argumentos de política justificam decisões
políticas, que fomentam algum objectivo colectivo (2002, p. 129).
95
Essa importância maior é dada com a resolução das antinomias
aparentes, estudadas por BOBBIO (1999), em Teoria do
Ordenamento Jurídico.
97
Analisando o conceito de regra de reconhecimento de
Hart, desenvolvido no seu livro O Conceito de Direito (2001),
Dworkin denuncia a inconsistência deste modelo para a integração
entre princípios e regras. Para ele os positivistas sempre lêem os
princípios e políticas como regras, lêem como se fossem padrões
tentando ser regras (DWORKIN, 2002, p. 62). Para ele também não
é correcto trabalhar com o conceito de válido ou não válido com
os princípios, uma vez que esse é apenas apropriado para as
regras, renunciando aí a abrangência dos princípios pela regra de
reconhecimento. (DWORKIN, 2002, p. 66) O autor conclui que não
é possível adaptar a versão de Hart do positivismo, modificando
sua regra de reconhecimento para incluir princípios (DWORKIN,
2002, p. 69).
99
Um caso será difícil quando um juiz, na sua análise
preliminar, não encontrar uma interpretação que se sobreponha a
outra, entre duas ou mais interpretações de uma lei ou de um
julgado (DWORKIN, 2003, p. 306). Uma lei só será considerada
obscura quando existirem bons argumentos para mais de uma
interpretação em confronto (DWORKIN, 2003, p. 421).
101
Hércules levará em conta os argumentos de princípio que o
embasaram.
Mas, uma vez que Hércules será levado a aceitar a tese dos
direitos, sua interpretação das decisões judiciais será diferente de
sua interpretação das leis num aspecto importante. Quando
interpreta as leis, ele atribui à linguagem jurídica, como vimos,
argumentos de princípio ou de política que fornecem a melhor
justificação dessa linguagem à luz das responsabilidades do poder
legislativo. A sua argumentação continua a ser um argumento de
princípio. Ele usa a política para determinar que direitos já foram
criados pelo Legislativo. Mas, quando interpreta as decisões
judiciais, atribuirá à linguagem relevante apenas argumentos de
princípio, pois a tese dos direitos sustenta que somente tais
argumentos correspondem à responsabilidade do tribunal em que
foram promulgadas (DWORKIN, 2002, p.173).
Sumário
Analisa o princípio da integridade desenvolvido por
Dworkin, como teoria da interpretação construtiva do Direito.
Unidade 8
103
Conhecer os conceitos Direito, argumentação e retórica;
Distingui-los.
Objectivos
Argumentação
A teoria da argumentação, ou simplesmente
argumentação, é o estudo interdisciplinar de como conclusões
podem ser alcançadas através do raciocínio lógico; ou seja,
argumentar é afirmar algo, seguramente ou não, baseado em
premissas. Isso inclui as artes e as ciências do debate civil, o
diálogo e a persuasão. Engloba o estudo das regras de inferência,
da lógica e das regras de procedimento, tanto em cenários
artificiais quanto no mundo real. A argumentação inclui o debate e
a negociação, das quais possuem interesse em alcançar
conclusões mutuamente aceitáveis. Também engloba o diálogo
erístico, o ramo do debate social em que a vitória sobre um
oponente é o objectivo principal. Esta arte e ciência é com
frequência o meio por qual algumas pessoas protegem suas
crenças ou seus interesses num diálogo racional, em linguagem
comum, e durante o processo de defender suas ideias. A
Argumentação é usada na advocacia, por exemplo em tribunais,
para provar ou refutar a validade de certos tipos de evidências.
Além disso, estudiosos da teoria da argumentação estudam as
razões post hoc (após o acto concluído) mediante as quais um
indivíduo pode justificar decisões que originalmente poderiam ter
sido realizadas de forma irracional.
105
Desde a antiguidade, a argumentação tem sido objecto de
interesse de todas as áreas em que se pratica a arte de falar e
escrever de forma persuasiva.
107
Argumentação e os fundamentos do
conhecimento
Tipos de argumentação
Argumentação Jurídica
109
Argumentação Científica
Aspectos psicológicos
Teorias
Campos de estudo da argumentação
111
para corporações, comunidades científicas e conflitos, campanhas
políticas, e tradições intelectuais. Na forma de agir de um
sociólogo, etnógrafo, antropólogo, observador participante e
jornalista; os teóricos de campo reúnem e relatam discursos
humanos do mundo real, reunindo estudos de caso que podem,
eventualmente, ser combinados para produzir explicações de todo
o contexto sobre os processos de argumentação. Esta não é uma
busca de alguma linguagem mestre ou teoria mestre abrangendo
todas as especificidades da actividade humana. Teóricos de campo
são agnósticos sobre a possibilidade de uma única teoria
grandiosa e cépticos sobre a utilidade de tal teoria. A busca deles
é uma missão mais modesta, procurando as teorias de "alcance
médio" que podem permitir generalizações sobre as famílias dos
discursos.
Componentes do argumento
113
"refutação" podem não ser necessários em alguns argumentos.
Quando proposto pela primeira vez, este layout de argumentação
baseia-se em argumentos legais e destinados a ser utilizados para
analisar a racionalidade dos argumentos normalmente
encontrados na sala de audiências, na verdade, Toulmin não
percebeu que este esquema seria aplicável ao campo da retórica e
comunicação até que as suas obras foram introduzidas como
retóricas por Wayne Brockriede e Douglas Ehninger. Só depois, ele
publicou Introduction to Reasoning (1979) onde as aplicações
retóricas deste layout foram mencionadas.
Retórica
A retórica apela à audiência em três frentes: logos, pathos
e ethos. A elaboração do discurso e sua exposição exigem atenção
a cinco dimensões que se complementam (os cinco cânones ou
momentos da retórica): inventio ou invenção, a escolha dos
conteúdos do discurso; dispositio ou disposição, organização dos
conteúdos num todo estruturado; elocutio ou elocução, a
expressão adequada dos conteúdos; memoria, a memorização do
discurso e pronuntiatio ou acção, sobre a declamação do discurso,
onde a modulação da voz e gestos devem estar em consonância
com o conteúdo (este 5º momento nem sempre é considerado).
Os Sofistas
115
da antiguidade, surgiu das tribunas jurídicas; Tísias, por exemplo, é
tido como autor de diversas defesas jurídicas defendidas por
outras personalidades gregas (uma das funções primárias de um
sofista). A Retórica foi popularizada a partir do século V a.C. por
mestres peripatéticos (itinerantes) conhecidos como "sofistas". Os
mais conhecidos destes foram Protágoras (481-420 A.C.), Górgias
(483-376 A.C.), e Isócrates (436-338 A.C.).
117
Retórica em testamentos
Sumário
Direito é uma palavra polissémica: (1) sistema de normas de
conduta criado e imposto por um conjunto de instituições para
regular as relações sociais; (2) faculdade concedida a uma pessoa
para mover a ordem jurídica a favor de seus interesses; (3) ramo
das ciências sociais que estuda o sistema de normas que regulam
as relações sociais.
119
A retórica é uma ciência (no sentido de um estudo
estruturado) e uma arte (no sentido de uma prática assente numa
experiência, com uma técnica).
Exercício 8
1. Quais são as várias acepções do termo “direito”?
2. Qual é a estrutura interna da argumentação?
3. Distingue a argumentação científica da jurídica.
4. Relacione direito, argumentação e retórica.
5. Que infuência têm os sofistas na argumentação jurídica?
6. Diferencie retórica da oratura.
7. Aborde as componentes do argumento, baseando-se num caso
prático jurídico.
1. Define Direito.
Auto-avaliação 2. Que entende por Argumentação?
Introdução
Esta unidade 09 traz para reflexão as teorias discursivas
contemporâneas.
121
epistemologia, da análise da democracia nas sociedades sob o
capitalismo avançado, do Estado de direito num contexto de
evolução social e da política contemporânea, particularmente na
Alemanha.
Pensamento
Max Horkheimer (na frente, à esquerda), Theodor Adorno (na frente, à direita) e Jürgen Habermas
no fundo, à direita, em Heidelberg, 1965.
123
É conhecido o diagnóstico habermasiano da colonização do
mundo da vida pelo sistema e a crescente instrumentalização
desencadeada pela modernidade, sobretudo com o surgimento do
direito positivo, que reserva o debate normativo aos técnicos e
especialistas. Contudo, desde a década de 1990, mudou sua
perspectiva acerca do direito, considerando-o mediador entre o
mundo da vida e o sistema.
125
como orientação para o entendimento mútuo. Nesse novo
âmbito, os actores procuram harmonizar seus interesses e planos
de acção, através de um processo de discussão, buscando um
consenso. Nota-se que, embora os dois tipos de orientação
possuam a marca da racionalidade humana, a grande diferença é
que, na acção estratégica a definição da finalidade não abre
espaço para ouvir os argumentos dos outros, enquanto no agir
comunicativo há um espaço de diálogo, em que se pensa em
conjunto sobre quais devem ser os melhores objectivos a serem
buscados por um grupo social. O entendimento mútuo, provindo
do agir comunicativo, será um importante facilitador da
coordenação de acções, e servirá de base para a defesa da
democracia no cenário político, com a crítica da repressão,
censura e de outras medidas que não propiciam o diálogo dentro
da sociedade.
Sumário
Abordar as teorias discursivas contemporâneas é inevitável
incontornar Jürgen Habermas, um filósofo e sociólogo alemão,
inserido na tradição da teoria crítica e do pragmatismo. Ele era
conhecido por suas teorias sobre a racionalidade comunicativa e a
esfera pública, sendo considerado como um dos mais importantes
intelectuais contemporâneos.
Unidade 10
127
A referida obra foi publicada em 1953 e representa
verdadeiro marco na história do pensamento jurídico, porquanto
delineia uma nova forma de pensar a ciência do Direito,
recuperando a tópica nos anos 50 do Século XX.
129
modo: o problema, através de uma reformulação adequada, é
trazido para dentro de um conjunto de deduções, previamente
dado, mais ou menos explícito e mais ou menos abrangente, a
partir do qual se infere uma resposta. Se a este conjunto de
deduções chamamos sistema, então podemos dizer que, de um
modo mais breve, que, para encontrar uma solução, problema se
ordena dentro de sistema. (1979, p. 34)
131
A tópica seria um instrumento dotado de inúmeras
fraquezas, obscuro e cuja fundamentação baseia-se no argumento
enganoso de que o sistema jurídico repeliria aqueles problemas
que não se adequassem à sua gama de soluções.
133
Assim, apesar das críticas e dos conceitos vagos e
ambíguos, o pensamento tópico proposto por Viehweg contribuiu
para a evolução do Direito Contemporâneo, destacando o papel
do discurso na interpretação e aplicação do direito, de modo a
repercutir no estudo das teorias da argumentação jurídica e nas
técnicas decisórias.
Exercício 10
1. Aborde a teoria contemporânea do direito: Tópica, de
Viehweg.
2. O que entende por tópica?
3. Em que se separa a teoria contemporânea da clássica?
4. Discorre sobre a tópica como uma técnica de pensamento.
5. Em que se baseia a argumentação tópica?
6. Apresente algumas críticas ao pensamento tópico de Viehweg.
7. A teoria de Habermas consubstancia a prática jurídica?
1. Define tópica.
Auto-avaliação
2. Qual é a teoria contemporânea do direito?
135
ou menos aceites. O embate retórico contra a certeza e contra a
objectividade fez-se projectar como teoria do aproximado, do
inconcluso, do relativo. [...] Não se espera convencer através de
um argumento específico em qualquer debate gerado pela vida
quotidiana ou jurídica, a práxis dos falantes revela que o
argumentador não sabe ao certo qual dos seus argumentos –
perante o auditório ou o juiz- pesará mais. Então ele busca a
quantidade, a diversidade e espera, desta forma, ser mais
persuasivo.[3]
137
Ainda sobre a possibilidade de se ter um auditório
heterogêneo, assevera Bernard Meyer que:
139
Dessa forma, para garantir o sucesso do empreendimento
argumentativo, deve o orador buscar conhecer as especificidades
de cada auditório, pois a verdade deixa de ser condicionada às
condições de sua emissão, passando a agregar-se ao desempenho
do orador perante àqueles a quem se pretende convencer.
“Um rei vê passar um boi que deve ser sacrificado. Sente piedade
dele e ordena que o substituam por um carneiro Confessa que isso
aconteceu porque via o boi e não via o carneiro.”
141
A proposta da Nova Retórica de PERELMAN é reformular o
pensamento jurídico contemporâneo desvinculando-o do
pensamento positivista e demonstrar que o aplicador das leis ao
proferir sua decisão não pode ater-se simplesmente à literalidade
da norma, devendo pensar nos fatos como situações que podem
ser valoradas (juízo de valor).
143
espaço de atuação do Direito, agora desvinculado do poder
político.
Sumário
Perelman chega à conclusão de que a argumentação é um
dos instrumentos para chegar a um acordo sobre os valores e sua
aplicação. Destaca a importância de se ter argumentos baseados
no real, pois estes, possuindo uma formação objectiva, serão
dificilmente rejeitados pelos interlocutores do orador.
Exercício 11
1. Em que circunstancia surge a Teoria da Argumentação?
2. Qual é o objecto da retórica, segundo PERELMAN?
3. Qual é a proposta da Nova Retórica de PERELMAN?
4. Comente a seguinte frase: “toda argumentação é relativa ao
auditório”.
5. Explique a seguinte frase: O direito exige fundamentação e não
demonstração.
6. Analise a Teoria contemporânea do direito: Nova Retórica, de
Perelman.
145
1. O que entende por Teoria da Argumentação?
Auto-avaliação 2. Delimite o objecto da retórica, segundo PERELMAN.
3. Em que consiste a proposta da Nova Retórica de PERELMAN.
4. Que é argumentação?
5. Distinga a fundamentação da demonstração.
6. Descreva a nova teoria e os valores de Perelman.
147
argumentação, composta por uma série de regras que definem o
procedimento que uma argumentação deve seguir para ser
considerada racional. Tais regras deveriam ser aplicáveis não
apenas aos discursos jurídicos, mas a todos os discursos práticos,
servindo como parâmetro para a aferição de sua racionalidade.
Assim, a teoria de Alexy segue uma estrutura tipicamente
kantiana: ele pressupõe que existe algo como uma faculdade
universal chamada racionalidade, busca deduzir dessa
racionalidade algumas regras que teriam validade a priori e, com
isso, pretende que essas regras tenham validade objectiva e
universal.
149
ligada à justificação apresentada para cada enunciado, e é
complementada pelas exigências habermasianas de igualdade, no
sentido de que todas as pessoas devem ter direito a participar do
discurso, apresentando suas razões e estando livres de coerções
externas ao próprio discurso.
151
precisaria dar um passo para além das concepções tópico-
retóricas. Não obstante, é justamente nesse ponto que Alexy
menos oferece novas perspectivas, recuperando inclusive alguns
cânones de interpretação que já estavam bastante combalidos,
como a ideia de que devem ter precedência os argumentos que
respeitam a vontade do legislador histórico.
153
residual é tratada de uma maneira reflexiva, o que talvez a torne
tão leve quanto possível. Já em Alexy, o conteúdo axiológico é
muito maior, pois na passagem para o que ele chama de
justificação externa das premissas, ele integra todos os padrões
tradicionais do discurso interno do direito como elementos
relevantes para a definição da racionalidade de uma
argumentação, o que implica uma espécie de legitimação acrítica
da dogmática hermenêutica tradicional.
Sumário
Assim foi que, na teoria de Alexy, os desenvolvimentos da
pragmática universal terminaram abrindo caminho a um
conservadorismo racionalista. Mesmo que ele diga expressamente
que seu interesse na teoria do discurso envolve manter aberta a
possibilidade de um diálogo democrático, o estabelecimento de
regras constitutivas de um discurso racional e, especialmente, o
modo como Alexy validou os cânones tradicionais como critérios
de interpretação racional terminou conduzindo a uma espécie de
refundamentação das tradições semânticas dominantes. Com isso,
tais desenvolvimentos deixaram claro que a ligação entre
pragmática universal e discurso ideal pode conduzir ao resultado
oposto ao pretendido por Habermas: em vez de deixar aberto o
espaço da crítica e da transformação, ela pode terminar por criar
novos lugares fixos e novos processos acríticos de legitimação, em
que a técnica e a ciência assumem o papel de ideologia.
Exercício 12
1. Comente a seguinte afirmação de Miguel Reale, 2006, p. 304:
Ao nosso ver, princípios gerais de direito são enunciações
normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a
compreensão de ordenamento jurídico, quer para a sua
aplicação e integração, quer para a elaboração de novas
normas.
2. Aborde a Teoria contemporânea e normativa de Alexy.
3. Relacione a hermenêutica geral da crítica da razão histórica.
4. Como a teoria de Emilio Betti se embasa como uma
objectividade na hermenêutica jurídica?
5. “...em toda compreensão, produz-se uma aplicação, de modo
que aquele que compreende, está ele mesmo dentro do sentido
do compreendido. Ele forma parte da mesma coisa que
compreende”.
a. Fundamente a premissa supracitada de Gadamer, no
contexto do problema hermenêutico da aplicação.
6. Comente a hermenêutica fenomenológica de Ricoeur, em
atenção a outros autores que o circundam.
7. Analise a Hermenêutica Crítica em Apel.
8. Aborde as componentes do argumento, baseando-se num caso
prático jurídico.
9. Descreva as repercussões do princípio da integridade no
Direito.
10. Relaciene as teorias de Habermas com o Direito.
155
1. Que entende por Teoria contemporânea e normativa de
Auto-avaliação Alexy.
2. Que é hermenêutica geral?
3. Em que consiste a teoria de Emilio Betti?
4. Que defende Gadamer, no contexto do problema
hermenêutico da aplicação?
5. Qual é a hermenêutica fenomenológica de Ricoeur?
6. Qual é a essência da Hermenêutica Crítica em Apel?
7. Quais são as componentes do argumento?
8. Em que consiste o princípio da integridade no Direito?
9. Enuncie as teorias de Habermas com o Direito.
10. O que entende por uma teoria normativa?
Referências bibliográficas de Hermenêutica do Texto Jurídico
157
15. MONTEIRO, Cláudia Servilha. Teoria da Argumentação
Jurídica e Nova Retórica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2006.
16. NEVES, Castanheira. O actual problema metodológico da
interpretação jurídica. Coimbra: Coimbra Editora, 2003.