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Junguiana

v.38-2, p.139-154

‘A Queda do Céu’: reflexões junguianas


sobre o alerta xamânico de Davi Kopenawa

Zara Lyrio*

Resumo Palavras-chave
Neste artigo serão apresentadas algumas nou arquétipo psicóide, em que a relação cor- “A Queda do
considerações junguianas sobre a narrativa et- po-mente-mundo encontra-se em ressonância e Céu”, Davi
nográfica intitulada “A Queda do Céu”, buscan- em íntima relação de interdependência. Sendo Kopenawa,
cultura
do demonstrar, por meio de uma análise com- assim, o objetivo central deste trabalho é elab-
Yanomami,
parativo-reflexiva, perspectivas em comum entre orar um diálogo entre o pensar mítico e a teoria
interdependência,
a visão do xamã Yanomami, Davi Kopenawa e as junguiana, no sentido de observar de que modo anima mundi,
ideias do Psiquiatra suíço, Carl Gustav Jung. Para ambas perspectivas apontam conexões intrínse- psicóide,
tal, será necessário apresentar alguns princípi- cas entre natureza e cultura. ■ cultura-natureza.
os da crítica indígena sobre o modo de relação
das sociedades tecnológicas com a natureza -
marcada pela exploração dos recursos naturais
e desrespeito à cultura indígena. Refletir sobre
os pontos em comum entre esta visão nativa,
descrita na obra em questão e a Psicologia Com-
plexa, sobretudo pelo viés ao qual Jung denomi-

* Doutoranda em História e Filosofia da Psicologia na Univer-


sidade Federal de Juiz de Fora. Mestre e Ciências da Religião
pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista em
Ciência da Religião - UFJF, Especialista em Psicologia Junguia-
na – IBMR. Pós Graduada em Interdisciplinaridade entre Edu-
cação, Ecologia e Espiritualidade – ITF. Membro analista Socie-
dade Brasileira de Psicologia Junguiana (SBPA – IAAP). Editora
Assistente e Membro do Conselho Editorial Revista Junguiana.
E-mail: <zaralyrio@ircn.org.br>

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‘A Queda do Céu’: reflexões junguianas sobre o alerta xamânico de Davi Kopenawa

1. Introdução segundo um saber originário distinto do civiliza-


“A Queda do Céu” é um livro que nasce para cional e da descrição do colonizador. Apresenta
ser testemunho da cultura de um povo, um ma- uma análise xamânica etnográfica, num recorte
nifesto xamânico e um grito de alerta vindo do crítico da economia política da natureza sobre
coração da Amazônia. Tem como fonte os relatos aqueles aos quais denomina “o povo da merca-
recolhidos na língua nativa do xamã Yanomami, doria”2. Para Davi Kopenawa, este adjetivo está
Davi Kopenawa, pelo etnólogo Bruce Albert. ligado à civilização ocidental, que valoriza o lu-
Trata-se da biografia deste líder ativista in- cro pelo capital econômico (bens de consumo)
dígena em suas reflexões frente ao contato pre- em detrimento ao valor humano. Deturpando o
dador de sua tribo com os brancos na década de sentido subjetivo das relações, subverte o lugar
1960. Relata por meio de sua experiência pessoal, dos sujeitos de tal forma que, os mesmos tor-
não raro dramática, a memória do desenrolar des- nam-se meios, meras “ferramentas” com a fina-
ta interferência. Grupos de garimpeiros, estradei- lidade do enriquecimento material.
ros e missionários – e sua malha de epidemias, Ao longo do texto observa-se a articulação do
violência e destruição, sem considerar o respeito conhecimento sobre os costumes de uma cultu-
à sua cultura – invadem a floresta explorando seu ra; a declaração política de saberes tradicionais
território em busca dos bens e serviços naturais. e uma visão cosmológica e espiritual do mundo,
Descreve a vocação xamânica de Davi Kope- quase suprimida na sociedade atual. O que re-
nawa, fruto da riqueza de um saber cosmológi- sulta dessa descrição e análise é a mensagem,
co, oriundo de suas vivências nativas próximas em tom profético, de que: “quando a Amazônia
à natureza, aos pajés e xamãs de sua tribo; jun- sucumbir à devastação desenfreada e o último
tamente com uso de substâncias consideradas xamã morrer, o céu cairá sobre todos e será o fim
“plantas de poder”, desde a infância até sua ini- do mundo” (ALBERT, KOPENAWA, 2010, p. 489).
ciação na fase adulta. Narra uma das principais Explicando o mito em outros termos:
tônicas de seu protagonista, Davi Kopenawa, a
defesa apaixonada pelo direito à existência de A floresta está viva. Só vai morrer se os
um povo nativo, que, ao longo dos anos, tem brancos insistirem em destruí-la. Se con-
sido devorado por uma máquina civilizacional seguirem, os rios vão desaparecer debai-
incomensuravelmente devastadora do ponto de xo da terra, o chão vai se desfazer, as ár-
vista tecnológico. vores vão murchar e as pedras vão rachar
Afigura-se ainda como uma antropologia re- de calor. A terra ressecada ficará vazia e
versa1, espelhando uma elucidação do mundo, silenciosa. Os espíritos xapiri, que des-
cem da montanha para brincar na flores-
1
De Roy Wagner, citado por Viveiros de Castro (2010, p. 25),
no prefácio do livro “A Queda do Céu”. “Que se aplicaria bas-
tante bem ao ‘ecologismo xamânico’ de Kopenawa” (CASTRO, 2
“Todas as mercadorias dos brancos jamais serão suficientes
2009, p. 61). Está ligada à ideia sobre o “reconhecimento em troca de todas as árvores, frutos, animais e peixes. As ár-
etnográfico dos procedimentos que institui um tratamento vores queimadas, de seu solo ressequido e de suas águas em-
simétrico, na acepção de Bruno Latour (1994), e, por isso, tra- porcalhadas. Nada disso jamais poderá ressarcir o valor dos ja-
balha para superar o grande divisor “nós/eles” de forma ou- carés mortos e dos queixadas desaparecidos [...] Nada é forte
sada. Sua ousadia refere-se ao fato de propor não que “todos o bastante para restituir o valor da floresta doente. Nenhuma
somos nativos”, mas que “todos somos antropólogos” e, por- mercadoria poderá comprar todos os Yanomami devorados
tanto, a etnografia que praticamos deve estar aberta à criativi- pelas fumaças da epidemia. Nenhum dinheiro poderá devolver
dade daqueles que estudamos” (BENITES, 2007, p.123). aos espíritos o valor de seus pais mortos” (p. 355).

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ta em seus espelhos, fugirão para muito civilizados – napë (forasteiro, inimigo) (ALBERT,
longe. Seus pais, os xamãs, não poderão KOPENAWA, 2010).
mais chamá-los e fazê-los dançar para Os povos Yanomami formam uma sociedade
nos proteger. Não serão capazes de es- de caçadores-agricultores da floresta tropical do
pantar as fumaças de epidemia que nos Norte da Amazônia. Constituindo um contíguo
devoram. Não conseguirão mais conter os cultural e linguístico complexo de, minimamente,
malefícios, que transformarão a floresta quatro subsistemas adjacentes que falam línguas
num caos. Então morreremos, um atrás do da própria família (Yanomae, Yanõmami, Sanima
outro, tanto os brancos quanto nós. Todos e Ninam). A extensão territorial que ocupam, co-
os xamãs vão acabar morrendo. Quando bre, aproximadamente, 192.000 km², situados em
não houver mais nenhum deles vivo para ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela, na
sustentar o céu, ele vai desabar (p. 6). região do interflúvio Orinoco - Amazonas (afluen-
tes da margem direita do rio Branco e esquerda do
Tal mito apoia uma visão cultural da qual rio Negro). Em 2010, a população total dos Yano-
Davi Kopenawa é representante e indica que a mami estava avaliada em cerca de 26.000 mem-
sustentabilidade da vida na terra está direta- bros (ALBERT, KOPENAWA, 2010).
mente conectada com a preservação da floresta Seu contato com a sociedade urbana é rela-
e está intrinsecamente ligada à vida de seus ha- tivamente recente, entre os anos de 1910 e 1940
bitantes originários. Uma vez que, “enquanto os (ALBERT, MILIKEN, 2009). Inicialmente, deu-se
xamãs ainda estiverem vivos, eles poderão evi- de maneira acidental, eram encontros esporá-
tar a queda do céu, mesmo que ele fique muito dicos e os primeiros aos quais contataram eram
doente” (ALBERT, KOPENAWA, 2010, p. 489). “coletores de produtos da floresta como, pia-
Segundo essa compreensão, os xamãs “afas- çaba, militares de expedição de delimitação de
tam as coisas perigosas” (ALBERT, KOPENAWA, fronteiras, sertanistas do Serviço de Proteção ao
2010) a fim de defender os habitantes da flores- Índio – SPI ou viajantes” (p. 14).
ta, mas não só, “trabalham em defesa dos bran- Entretanto, a partir daquele momento e nos
cos que vivem sob o mesmo céu” (p. 492), de anos seguintes, o registro nos programas do go-
modo que, por essa visão, mesmo que não per- verno e missões de evangelização demonstra
cebamos, esta conexão xamã-floresta-sustenta- que diversos acontecimentos subsequentes não
bilidade, intervém a todos e, mesmo nos centros se mostraram nada favoráveis ao convívio pacífi-
urbanos, permanece indelével. co entre os indígenas e os brancos. É importante
Como obra literária, “A Queda do Céu” é uma considerar, sobretudo a violência física direta,
narrativa elaborada a quatro mãos e está dentre indiscriminada. “Estimulada não só pela cobi-
as mais significativas contribuições à pesquisa ça, que o ouro em grandes quantidades sempre
dos povos amazônicos. É o encontro “entrebio- provocou ao longo da história, mas também pela
gráfico” e o resultado do trabalho, amizade e presença de inúmeros prostíbulos na área Yano-
observação que durou por volta de 30 anos en- mami, nos quais o consumo de álcool era muito
tre Davi Kopenawa e Bruce Albert (2010), combi- elevado” (LEONARDI, 2000, p. 84). A chegada
nando a história de um projeto político que fez das estradas e do garimpo ocasionaram, além
convergir os caminhos de um pensador indígena dos danos à natureza, um grande massacre mo-
com os ideais de um antropólogo. Ambos com ral e físico que custou a vida de mais de mil e
uma longa e dolorosa bagagem no empenho duzentos Yanomamis.
conjunto em defender os Yanomami das mais
diversas violências a que vêm sendo submeti- Os índios conviveram com isso durante
dos desde os primeiros contatos com os ditos anos, e essa convivência alterou hábitos

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ancestrais e deixou sequelas. Logo no iní- Bruce Albert, por sua vez, nascido no Marro-
cio da invasão garimpeira, em agosto de cos em 1952, torna-se doutor em Antropologia
1987, quatro índios do Paapiú “foram as- pela Universidade de Paris e diretor de pesqui-
sassinados a bala e seus corpos esquar- sa do Institut de Recherche pour le Développe-
tejados pelos garimpeiros”. Em 1994, o Lí- ment (IRD) - Paris. Trabalha desde 1975 como
der indígena Davi Kopenawa denunciava defensor dos direitos e da cultura dos Yanoma-
à ONU a ação de garimpeiros, afirmando mi no Brasil. É cofundador da organização não
que esses estavam prostituindo as mu- governamental, criada em 1978, denominada
lheres, espalhando doenças, fomentan- Comissão pela Criação do Parque Yanomami
do brigas entre grupos Yanomamis com (CCPY), por meio da qual auxiliou Davi na bata-
distribuição de arma e cachaça. Muitas lha para obter do governo brasileiro o reconhe-
índias foram estupradas por garimpeiros, cimento legal do direito de ocupação exclusiva
nas roças onde trabalhavam. Houve caso do atual território.
de estupro e assassinato de mãe e filha Esta cooperação e interação revelou-se em
na mesma roça [...] Por onde passou a Pe- uma notável força político-simbólica na qual,
rimetral [...] Nessas beiras de estrada al- para o imaginário coletivo, a Amazônia tornou-se
gumas índias eram seduzidas por brancos um ícone da crise ecológica planetária. A partir
em troca de miçangas (p. 84). da publicação deste livro, coparticipações com
pesquisadores do Instituto Socioambiental Hu-
Davi Kopenawa, que havia nascido em 19563, tukara (ISA) e a Associação Yanomami (HAY) têm
cresce vivenciando tamanha violência contra promulgado diversos projetos de publicação de
seu povo e, já no início da juventude, engaja-se intelectuais Yanomami a respeito de múltiplos
em uma luta incansável contra a destruição de temas, dentre eles, alimentação, plantas medici-
sua tribo e da floresta. A partir de então, tornou- nais, história, xamanismo, mitologia, etc. Inicia-
-se o principal porta-voz da causa Yanomami, no tivas deste tipo estão multiplicando-se em todo
Brasil e no mundo. Visitou, ao longo dos anos o Brasil, e não somente no campo da escrita,
80 e 90, diversos países da Europa e os Estados como também nas artes plásticas e nas músicas
Unidos (EUA), onde é conceituado como um dos autóctones.
mais expoentes defensores da Amazônia e de
seus habitantes iniciais. Em 1988, ganhou o Glo- 2. O diálogo Eu-Outro e a Alma do
bal 500 Award do Programa das Nações Unidas Mundo
para o Meio Ambiente (UNEP) e, em 1989, o Ri-
ght Livelihood Award, classificado como prêmio Não possuímos nosso Eu. Ele sopra de
Nobel alternativo. Em 1999, recebeu a condeco- fora sobre nós, foge de nós por muito
ração da Ordem do Rio Branco, pelo Presidente tempo, e nos retorna em um suspiro (HO-
da República Brasileira, Fernando Henrique Car- FMANNSTHAL apud, BORTEN, 2001, p. 5).
doso. Em 2008, recebeu a menção honrosa es-
pecial do conceituado Prêmio Bartolomé de Las Jung observou atentamente a história do
Casas, conferido pelo governo espanhol, por sua desenvolvimento psíquico humano e demons-
ação em defesa dos direitos dos povos autócto- trou em vários momentos de sua obra que a
nes das Américas. adaptação ao meio ambiente e os avanços do
conhecimento científico e tecnológico exigiram
o fortalecimento do estado de consciência ra-
3
Próximo à fronteira com a Venezuela, no norte do Estado do cional, discriminativo e, consequentemente,
Amazonas, na floresta tropical de Piemonte do alto Rio Tooto-
tobi, em Marakana. um estranhamento em relação à aura mágica da

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“représentation collective”4. Termo originalmen- Esse tipo de reflexão não deve ser consi-
te descrito por Lévy-Bruhl e utilizado por Jung derado um sentimentalismo superficial.
para designar certas representações gerais pró- A questão das relações humanas e da co-
prias do pensar nos sistemas originais, além da nexão interior é urgente em nossa socie-
dinâmica e desenvolvimento da psique. dade, dada a atomização dos homens,
O modus operandi vigente dos indivíduos que se amontoam uns sobre os outros
que habitam as sociedades não indígenas é e cujas relações pessoais se movem na
marcado por uma maior tendência ao afasta- desconfiança disseminada [...] A falta
mento do contato da consciência com os aspec- de compreensão gerada pelas projeções
tos instintivos. Contudo, de acordo com a visão compromete justamente o amor pelos
junguiana, o inconsciente não é apenas um re- outros homens [...] Onde acaba o amor,
positório de aspectos rechaçados segundo o in- tem início o poder, a violência e o terror.
teresse adaptativo da consciência. A percepção [...] Não pretendemos aqui apelar para
simbólica faz parte da psique como um todo e é um idealismo mas somente transmitir
uma importante função anímica que compensa uma consciência da situação psicológica
e amplia a atitude racional da consciência. Des- (par. 580).
se modo, “quanto mais capazes formos de nos
afastar do inconsciente por um funcionamento Segundo a teoria junguiana, a defesa contra
dirigido, maior a possibilidade de surgir uma o relacionamento com a própria interioridade
forte contraposição, a qual, quando irrompe, acontece pelo medo da perda do falso ideal de
pode ter consequências desagradáveis” (JUNG, controle do eu em relação às forças do incons-
1993, par. 139). ciente. Contudo, o que perde-se em essência é o
Em “Civilização em Transição”, Jung (1993) relacionamento com a própria alma, a fonte mais
aponta a necessidade do autoconhecimento valiosa de sentido existencial.
e o quanto a influência do diálogo com os pró- Dessa forma, pelo temor de submergir no
prios instintos torna mais clara a consciência do relacionamento com a própria natureza instinti-
lugar e da responsabilidade dos indivíduos no va, os seres humanos perderam o contato com
mundo. À medida em que, “o que é perfeito não a psique profunda - nos dois aspectos, enquan-
necessita dos outros” (par. 579), quanto maior o to forças internas instintivas e enquanto anima
reconhecimento dos aspectos inconscientes da mundi. “Aquele lampejo de alma especial, aque-
personalidade, maior a integração das próprias la imagem seminal que se apresenta em cada
imperfeições. Por conseguinte, maior transfor- coisa por meio de sua forma visível [...] Não ape-
mação nas atitudes, no sentido da modéstia, nas animais e plantas almados, como na visão
da percepção sobre a finitude, sobre a imper- romântica, mas a alma que é dada em cada coi-
manência, sobre a auto insignificância e sobre a sa” (HILLMAN, 1993, p. 14).
percepção da importância da interdependência. O que vale dizer que, para Jung, nossas raí-
zes inconscientes estão mergulhadas e esten-
dem-se para toda a natureza. Nós estamos na
psique e não ela em nós. Pela concepção da
4
A esse respeito, vale citar algumas considerações de Jung:
“Não podemos admitir que todo animal recém-nascido adqui- ideia de que a alma do mundo é um todo or-
ra e desenvolva individualmente seus instintos, da mesma for- gânico, um sistema vivo, unitário, não dual, em
ma que não podemos acreditar que as pessoas inventem ou
produzam, a cada novo nascimento, seus comportamentos e que cada ser individual está mergulhado, que
reações tipicamente humanos. Exatamente como os instintos,
também os modelos coletivos de pensar da mente humana,
permeia e anima toda a vida. “Quando aceita-
são inatos e herdados e, dependendo das circunstâncias, fun- mos este ponto de vista temos que supor que a
cionam em toda parte mais ou menos de modo igual” (JUNG,
2013, par. 539). vida é realmente um “continuum” e destinado

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a ser como é, isto é, toda uma tessitura na qual com a natureza. Tal atitude realizaria uma das
as coisas vivem com ou por meio uma da outra” grandes aspirações contemporâneas, em termos
(JUNG, 1976, par. 180). individuais e coletivos.
Sem essa experiência de sentido desse
“continuum”, o indivíduo torna-se isolado e O arquétipo da alteridade é o arquétipo
não percebe o princípio autorregulador natural, que propicia à consciência o encontro
presente na interconexão intrínseca da existên- dialético com os opostos, através do
cia. Sentindo-se só, relaciona-se com o mun- qual a elaboração simbólica pode alcan-
do externo numa comunicação empobrecida çar sua capacidade plena. Dialética aqui
e unilateral, visando somente autossatisfação significa que os polos de todas as polari-
imediata. Acarretando resultados catastróficos dades podem se relacionar em oposição,
contra a sustentabilidade da própria vida: de- mas também em harmonia, dependendo
vastação desenfreada dos recursos naturais, do contexto. Trata-se da relação de um
desmatamento extensivo, extinção de diversas encontro pleno entre o Ego e o Outro, no
espécies, poluição, pandemias, fome e escas- qual os símbolos podem ser elaborados
sez de alimentos, etc. até o máximo de seu potencial metafó-
Então, vazio de sentido, busca nos bens de
rico, e portanto necessitam a extensão
consumo material aplacar a angústia que a falta
plena da elaboração simbólica permitida
dessa comunicação com as energias do incons-
pelo princípio de sincronicidade (BYING-
ciente provoca. Por esse caminho, na medida em
TON, 2002, p. 26).
que o ser humano “conseguiu dominar a natu-
reza, mais lhe subiu o orgulho de seu saber e
Davi Kopenawa traz em sua narrativa, por um
poder, e mais profundo o seu desprezo por tudo
lado, o exemplo desse olhar imaginativo quando
que é apenas casual e natural, isto é, pelos da-
evidencia a experiência original indígena de co-
dos irracionais, inclusive a própria psique objeti-
nexão mítica-afetiva com o mundo natural e com
va” (JUNG, 1993, par. 562).
a vida, afirmando em muitos trechos o quanto
Em termos alquímicos, sem a alma não há
“amam a floresta e a querem tanto defender”
“vinculum”. Ela é o próprio Eros e, segundo
(ALBERT, KOPENAWA, 2010, p. 468). Por outro
Jung, é sua função “unir o que o Logos sepa-
rou” (JUNG, 1993, par. 132). Tanto no sentido lado, faz uma crítica sobre como os sujeitos ur-
interno, quanto externo, com os outros seres banos encontram-se desconectados da natureza
na natureza. É justamente a respeito dessa an- e o quanto este afastamento embota as forças
títese entre amor e poder que Davi Kopenawa criativas da psique. Numa entrevista a F. Watson,
está nos chamando a atenção - do amor à flo- em 1992, publicada nesta obra, nos chama a
resta, do amor à natureza; do não domínio, so- atenção para um pensar imaginativo: “acho que
breposição ou desrespeito em relação a ela e vocês deveriam sonhar com a terra, pois ela tem
seus mistérios. coração e respira” (p. 468).
De acordo com Jung, para que este vínculo Por seu turno, Jung (1997) diz que sem o laço
realize-se de maneira equilibrada, é necessário de amor, os elementos não se ligam e não se
que o mesmo seja vivenciado de maneira dialé- transformam. É preciso deixar-se tocar pela ex-
tica, isto é, no respeito à diversidade próprio às periência desse pensar simbólico. Em visita à
relações de horizontalidade nas quais os opos- tribo dos índios Pueblo, registra uma conversa
tos estejam considerados. Tanto no âmbito in- em que um deles lhe diz sobre o “pensar com a
dividual, dos sujeitos consigo mesmos, quanto barriga” ou com a cabeça, que eles “pensavam
na esfera coletiva, isto é, dos sujeitos entre si e com a barriga”. E diziam mais: “só um doido é

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que pensa, só ele tem pensamentos na cabeça. nas inteiras, com base essencialmente na mais
Nós não pensamos” (JUNG, 1975, p. 219). arrogante falta de discernimento.
Por esta e tantas outras pesquisas e reflexões, Ailton Krenak, pensador indígena crítico da
Jung compreendeu o que ocorre na dinâmica do modernidade, diz que esse estado atual “jogou
pensar exclusivamente racional das civilizações essa gente do campo e da floresta para viver
tecnológicas contemporâneas: a perda da alma, em favelas e periferias, para virar mão de obra
isto é, a perda desse pensar mítico-imaginativo em centros urbanos. Essas pessoas foram ar-
e, consequentemente, a incapacidade de ouvir e rancadas de seus coletivos, de seus lugares de
integrar a voz profunda do não-eu psíquico pro- origem, e jogadas nesse liquidificador chamado
jetados simbolicamente nos elementos da natu- humanidade” (KRENAK, 2020, p. 9). Valores e ra-
reza. Pois, “são essas projeções que fazem do zões de vida de comunidades tradicionais foram
feiticeiro mana, e são elas que fazem com que e continuam sendo indefinidamente negados.
os animais, árvores e até pedras possam falar, Por fim, “a promessa da riqueza e da fraternida-
e exigem – precisamente porque são partes da de, torna-se concretamente a indigência, o de-
alma – obediência absoluta do indivíduo” (JUNG, senraizamento, o abandono, e isto não a título
1993, par. 138). provisório, mas de maneira cada vez mais defini-
Segundo Jung, este modo de pensar mágico tiva” (LATOUCHE, 1996, p. 78).
dos povos autóctones, “não é mais lógico nem O vazio pela perda de sentido de vida dos
mais ilógico” (JUNG, 1993, par. 107) do que o grandes centros urbanos chegou também à
nosso, o que mudam são os pressupostos. Entre mata, uma vez que “destituídos de sua riqueza –
aqueles e a natureza, ainda não há a “separa- a sua identidade cultural e seu território – os ín-
ção” produzida pela cultura, como é o caso das dios viraram pedintes” (GAMBINI, 2000, p.149).
civilizações tecnológicas contemporâneas. Os guerreiros caçadores da floresta de ontem,
são os alcoolistas, deprimidos e mendicantes
O pensamento dos xamãs se estende de hoje, nas metrópoles ou nas extensas fazen-
por toda parte, debaixo da terra e das das de gado, soja, etc. Latifúndios, muitos de-
águas, para além do céu e nas regiões les adquiridos por meio de demarcações ilegais,
mais distantes da floresta e além dela. tornam-se a promessa de habitação e alimento
Eles conhecem as inumeráveis palavras para centenas de indígenas, mas, na realidade,
desses lugares e as de todos os seres do os dominam e escravizam.
primeiro tempo [...] A mente dos grandes Consequentemente, “a perda da identida-
homens brancos, ao contrário, contém de cultural implica o fim de um grupo: alguns
apenas traçado das palavras emaranha- poucos indivíduos podem sobreviver, mas sua
das para as quais olham sem parar em existência vegetativa já não tem mais nenhum
suas peles de papel (ALBERTO, KOPE- traço de força, orgulho, criatividade ou vonta-
NAWA, 2010, p. 468). de” (p. 146). Sendo assim, a “destruição de
culturas autóctones em decorrência de con-
Vê-se assim que não é muito difícil perceber quista, colonização ou contato tem sido um
o efeito da perda desse vínculo e do sentido dos tópicos centrais dos estudos etnológicos
existencial nas grandes cidades nos dias atuais, das últimas décadas” (Idem), estudos estes
desde quando a máxima progredir foi declara- nos quais inclui-se “A Queda do Céu” (ALBER-
da como pedra angular na atualidade: a coloni- TO, KOPENAWA, 2010).
zação, a erradicação de costumes tradicionais, Entendemos ser necessário à civilização
ligados ao cultivo da terra como um ser vivo, contemporânea desenvolver o olhar inclusivo
o escárnio a crenças e obras de nações indíge- e mesmo generoso, no qual traga de volta a

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anima mundi para as relações dos seres hu- senvolver a dinâmica de funcionamento regida
manos consigo mesmo e o cosmo. Que reflita pelo arquétipo do fraterno5, tanto no âmbito in-
a imagem do espelho índio, isto é, o olhar para dividual, quanto coletivo. É a ideia do como se
o todo, em que a alteridade tenha garantido instaurasse um novo modo de estar no mundo,
o seu lugar de pertencimento. De maneira que a partir desse “‘impacto do irmão’, mais profun-
os símbolos, o cotidiano, a natureza base para damente, mais precisamente, na experiência de
viver à todas as formas de vida, sejam o refle- assimilação e apreciação da diversidade. A pri-
xo do Si-Mesmo. Para que enfim, o amor pelo meira e fundadora experiência da semelhança
mundo se desenvolva na sua manifestação na diferença, instaurada pela entrada em cena
mais ampla e includente. do irmão” (BARCELLOS, 2006, p. 142).
Ademais, pela leitura que fazemos da teoria Nesse sentido, relações assimétricas, hie-
de Jung, compreendemos que está em conso- rarquizadas, em que um dos lados tem o su-
nância com seus postulados afirmar que, ne- posto saber, poder e, o outro, inferiorizado,
cessitamos integrar o olhar indígena e permi- submete-se por sentir-se impróprio, inferior ou
tir ecoar em nós seu gesto original: “trocamos inadequado, sejam transformadas em diálogos
bens entre nós generosamente para estender mais equalizados. De acordo com uma pers-
nossa amizade. Se não fosse assim, seríamos pectiva horizontal do dar e do receber, mútuos,
como os brancos, que maltratam uns aos outros compartilhado. Em que ambos são atendidos e
sem parar por causa das suas mercadorias” desenvolvem-se.
(ALBERT, KOPENAWA, 2010, p. 414). O que para
a crítica intelectual parece um olhar ingênuo, Esse Outro-irmão de que estou falando
romântico ou idealizado, na verdade revela-se — o semelhante que não é igual, mas é
a mais alta e sofisticada maneira de tornar sus- um par (e serão, mais tarde, os pares,
tentável a vida. os muitos Outros) — é um outro que,
precisamente, divide comigo a mesma
Num tempo marcado pelo crescimen- origem. Aqueles, ou aquilo (enquanto
to dos etnocentrismos, xenofobismos princípios), que paternalizam e materna-
e fundamentalismos, a provocação do lizam esse outro, são os mesmos que pa-
diálogo e da acolhida ao outro urge com ternalizam e maternalizam a mim. E, no
um significado único. Diálogo e hospita- entanto, ele é diferente. Não seria essa,
lidade são expressões que se interagem para a alma, uma iniciação à diversidade
e complementam. Diante do quadro atu- em sua forma mais próxima? Essa inicia-
al, marcado pelo apelo da interligação, há ção desdobra-se, acredito, nos compro-
que ampliar as malhas dessa acolhida, missos entre os pares, o acordo entre os
envolvendo não apenas os humanos, mas irmãos, o pacto civilizatório; ou seja, tal-
abrindo o leque para a dimensão mais vez naquilo a que chamamos ética (BAR-
ampla de toda a criação. O ser humano CELLOS, 2006, p. 142-43).
está relacionado, está vinculado na rede
maior que tece o universo. Habitar a Ter-
ra ganha, assim, um significado novo, de
inserção do humano no mundo da vida
5
“Fraternidade: fraternidades [...] Comunidades, thiasos. Laços
de sangue, pactos de sangue [...] No dicionário, fraternidade,
(TEIXEIRA, 2017, p. 1). substantivo feminino, tem os sentidos de 1. parentesco de ir-
mãos, irmandade; 2. amor ao próximo, fraternização; 3. união
ou convivência como de irmãos (grifo meu). Fraterno, ou fra-
É urgente, cada vez mais é nítida a irreme- ternal, o adjetivo, traz o sentido de afetuoso, ou seja, cheio
de afetos. Fraterno: irmão, amigo, sócio, associado, 'mano',
diável necessidade de evocar, encontrar e de- camarada, colega, semelhante.” (BARCELLOS, 2006, p. 137).

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Sem a vivência, a integração dessa dinâmi- força natural, responsável por todos os fenôme-
ca não há familiaridade, diálogo, troca. Pois a nos da vida e da psique” (JUNG, 1985a, par. 393).
mesma permite o encontro com o semelhante e Psique e matéria “se encontram permanen-
o diverso. São as relações que em seu aspecto temente em contato entre si, e em última análi-
positivo, têm o potencial de propiciar reparação se, se assentam em fatores irrepresentáveis [...]
de traumas, de desenvolver a maturidade, que Encerradas em um e só mesmo mundo” (JUNG,
fazem o indivíduo sair de sua pequena circunfe- 1985a, par. 418), de acordo com ideia de unus
rência e espraiar-se no mundo, dialogando com mundus. Dessa forma, “há, não só a possibilida-
a natureza de forma equânime: “há muita coi- de, mas até mesmo uma certa probabilidade de
sa que me preenche: plantas, animais, nuvens, que matéria e psique sejam dois aspectos dife-
o dia e a noite, e o eterno que há no homem. rentes de uma só e mesma coisa” (JUNG, 1985a
Quanto mais acentua a incerteza em relação a par. 418). Portanto, a esta correspondência entre
mim mesmo, mais aumenta meu sentimento de a psique e a matéria, expressa numa conexão es-
parentesco com todas as coisas” (JUNG, 1975, sencialmente desconhecida, mas passível de ex-
p. 310). Nisso reside a saúde tanto individual, periência, Jung denominou arquétipo psicóide.
quanto coletiva, precisamente porque quanto Na visão Yanomami, essa unidade psicofísi-
mais o sujeito isola-se do mundo, mais infecun- ca não é conceitual, mas projetada no cotidiano,
do ele se torna. Como um explorador incansável nos elementos da natureza.
dos fenômenos psíquicos, Jung compreendeu,
neste sentido que a alma não encerra-se em si Somos guiados pelos caminhos de espe-
mesma, mas estende-se no mundo. “Ela apenas lhos brilhantes dos xapiri, imagens dos
cintila aqui e acolá6, cada vez que é despertada ancestrais animais yarori que se transfor-
por acontecimentos exteriores e interiores, ins- maram no primeiro tempo [...] e que tra-
tintos e emoções” (JUNG, 1998, par. 79). balham como auxiliares dos xamãs. Que
Por conseguinte, Jung observou que há um se espalham pela floresta e se estendem
padrão de funcionamento anímico psicóide, ou até os confins da terra, onde moram os
seja, que há um entrelaçar recíproco entre ma- brancos e estão plantadas as árvores de
téria e psique, consequentemente sincronísti- onde os xapiri obtêm seus infinitos cantos
co, que integra todos os fenômenos. Constatou e cujos “troncos são cobertos de lábios
que a “psique não é individual, mas deriva da que se movem sem parar, uns em cima
nação, da coletividade, até mesmo da huma- dos outros” (ALBERT, KOPENAWA, 2010,
nidade. De alguma forma somos parte de uma p. 314).
psique única e abrangente, de um homem sin-
gular e imenso – usando as palavras de SWE- Por essa perspectiva mítica: o mundo - como
DENBORG” (JUNG, 1993, par. 175). Em outros floresta fecunda, transbordante de vida; a ter-
termos, pode-se dizer que, “não é a alma que ra - como um ser que “tem coração e respira”;
está em nós, mas nós que estamos na alma, e o corpo - sua “pele social”, que se relaciona
com a amplitude de sua ontologia do esse in externamente, como afirmou o xamã Orowam7:
anima” (BARCELLOS, 2006, p. 99). “O jaguar é meu parente verdadeiro. Meu corpo
Para Jung, há na psique individual uma fun- verdadeiro é jaguar. Há pelos em meu corpo ver-
ção especial a desempenhar no universo. Pa- dadeiro” (VILAÇA, 2000, p. 62).
radoxalmente, à medida em que o indivíduo
interioriza-se, mais ele aproxima-se do todo.
Percebeu também que “a alma do mundo é uma
7
Tribo Wari’, localizada no norte do Estado de Rondônia.

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Assim como na constituição das relações vistas de fato, tanto no modo de ser, quanto de
de consubstancialidade, a comensalida- estar no mundo: o modus operandi atual nas
de é fundamental na definição do xamã grandes cidades que compreende aceleração
como membro de determinada espécie, como meio de eficiência, cada vez mais vincu-
de modo que um xamã pode “trocar” de lada à produção capitalista. “Com o avanço do
espécie se passar a acompanhar outros capitalismo, foram criados os instrumentos de
animais, o que significa que, além de deixar viver e de fazer morrer: quando o indiví-
andar ao lado desses animais, vai co- duo para de produzir, passa a ser uma despe-
mer como eles e junto com eles (VILAÇA, sa. Ou você produz as condições para se man-
2000, p. 63). ter vivo ou produz as condições para morrer”
(KRENAK, 2020, p. 8).
Dessa forma, tanto na teoria de Jung, a res- É crucial que um diálogo ético seja instituído
peito dos processos psicofísicos, quanto para como um princípio na relação natureza e cultu-
o indígena em sua relação com o meio, há uma ra, porque é fundamental desenvolver propostas
correspondência entre natureza e psique. Não dentro de uma dinâmica que contemple a frater-
há, para a visão de Davi Kopenawa, distinção en- nidade, dentro de um pensar ético-planetário
tre ele e o mundo, sua “ontologia é integralmen- no qual os meios devem estar em acordo com
te relacional, na qual as substâncias não são a os fins. Em que a justiça e a equidade venham
realidade última” (CASTRO, 2004, p. 244). fazer parte das diretrizes básicas dos projetos
Jung que vê a cisão entre natureza e cultura sócio-político-científicos, cujo objetivo seja a
como alienante e fonte da crise de sentido hu- sustentabilidade da vida na Terra a longo prazo,
mano. Por entender que, “o mundo, tanto por considerando as futuras gerações. Precisamos
fora como por dentro é sustentado por bases encontrar um modo de transformar a história:
transcendentais, algo tão certo quanto a nossa “o medo de uma destruição planetária poderia
própria existência” (JUNG, 1989, par. 442). Em- nos salvar do pior, mas essa ameaça continuará
bora, segundo ele, seja “dificílimo para a nossa pairando como uma nuvem sinistra sobre a nos-
consciência construir os modelos intelectuais sa existência, caso não encontremos uma ponte
que deveriam ilustrar a “coisa em si” de nossas capaz de superar a cisão psíquica e política do
percepções. Nossas hipóteses são incertas e ta- mundo” (JUNG, 1993, par. 575).
teantes” (JUNG, 1989, par. 442). Mesmo assim, É imprescindível observar e fazer um autoexa-
ele insiste que, me sobre até que ponto estamos nos relacionan-
do com base na percepção da interdependência
Enquanto não compreendermos seus de todas as coisas. Notamos, em algum instante,
pressupostos, ele continuará sendo um que há um balé cósmico no qual a humanidade
enigma para nós, enigma difícil de solu- está inserida e mantém-se em ressonância con-
cionar, mas que se tornará relativamente tínua com a natureza, com o todo?
fácil a partir do momento em que chegar- O que emitimos na relação com o mundo
mos a compreendê-lo. Poderíamos dizer reverbera de volta, refletindo, sobretudo, no
isto também desta maneira: o primitivo diálogo com a psique objetiva, com as raízes
deixa de ser um enigma para nós desde instintivas arquetípicas. Ou seja, nossas ações
que conheçamos nossos próprios pressu- e omissões refletem nesse “processo psicóide”
postos (JUNG, 1993, par. 112). (JUNG, par. 367), tanto o meio interfere na psi-
que, quanto a psique interfere no meio, como
Dentro desse campo reflexivo, algumas pro- já disse Jung no texto “Alma e Terra”, do volu-
posições atuais precisam urgentemente ser re- me “Civilização em Transição” (1993). Ademais,

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a voz da consciência é apenas um dos cantos, nossas casas e de nossas roças abando-
um dos falares e um dos sons e manifestações. nadas. Irão morrer também eles, esma-
Há outras linguagens no universo que precisam gados pela queda do céu. Não vai restar
ser integradas para que a vida possa seguir em mais nada. Assim é. Enquanto existirem
busca da plenitude. Esta é uma meta e, é justa- os xamãs vivos, eles conseguirão conter
mente essa a ideia: a integração dos opostos. a queda do céu [...] O que os brancos cha-
Assim, há uma reciprocidade entre as pers- mam de futuro, para nós é um céu prote-
pectivas trazidas neste texto: por um lado, Davi gido das fumaças de epidemia xawara8
Kopenawa e o xamã, que em seu conjunto de e amarrado com firmeza acima de nós!
crenças, veem-se na pele do jaguar, numa apre- (ALBERT, KOPENAWA, 2010, p. 494).
ensão da realidade que estabelece-se como
mito. Por outro, Jung, que em suas pesquisas so-
bre os processos psíquicos e as manifestações 3. Considerações finais
míticas, observa acerca da “conexão cruzada Esta obra, por sua importância dentro do
significativa” (JUNG, 1985b, par. 827) e afirma, cenário atual, torna profundamente complexa e
através do arquétipo psicóide, que psique e na- limitada a tarefa de falar sobre ela, pois há diver-
tureza são unidades psicofísicas. Numa lingua- sos saberes que entrelaçam o tema. Ao mesmo
gem direta, Jung, em entrevista à Hull e MaGuire tempo, percebe-se que importa registrar e multi-
(1982, p. 119), afirma: “precisamos projetar-nos plicar esta fala de Davi Kopenawa a quem souber
nas coisas que nos cercam. O meu eu não está ouvir, sobre o olhar do índio em direção à socie-
confinado no meu corpo. Estende-se a todas as dade contemporânea; a respeito do mundo; da
coisas que fiz e todas as coisas à minha volta.” alma do mundo e sobre o futuro, como reflexo
Está dito neste texto que há um alerta vindo do agora.
dos habitantes da floresta, como também vindo Podemos ver que Jung compreendeu e deu
da natureza instintiva do humano, ambos po- status de valor terapêutico ao pensamento mítico-
dem ser interpretados simbolicamente, como -simbólico. Um exemplo disto é o diálogo possível
vindos do inconsciente, da alma do mundo. Es- de sua teoria com a narrativa de Davi Kopenawa.
tão expressos nos sinais ambientais, sociais e Como se vê, indubitavelmente, seus argumentos
psíquicos. Sua importância demonstramos ser ultrapassam ao largo um conhecimento estrita-
confirmada pelo pensamento de Jung. Contudo, mente acadêmico-científico do assunto. Aliás,
como Diz Davi Kopenawa, “os brancos continu- este é um dos atributos da força de suas ideias, a
am ignorando nossas palavras [...] [pois] acham vivência interior naquilo que comunicou.
que são mentiras” (ALBERT, KOPENAWA, 2010, Certa vez, em entrevista à McGuire e Hull
p. 486-94). Quem sabe, a Psicologia Complexa (1982) sobre o tema “O Homem e Seu Meio Am-
possa auxiliar-nos a compreender esta lingua- biente”, Jung trouxe uma fala simples e funda-
gem e perceber sua gravidade a tempo. mental àqueles que desejam compreender sua
A imagem está constelada. De que maneira visão a respeito da relação humano-natureza:
vamos tratá-la?
Todos nós precisamos de alimento para
Se destruírem a floresta, o céu vai quebrar a psique, é impossível encontrar esse ali-
de novo e vai cair na terra [...] Mas eles mento nas habitações urbanas, sem uma
não têm medo de desaparecer, porque única mancha de verde ou árvore em flor;
são muitos. Contudo se nós deixarmos de necessitamos de um relacionamento com
existir na floresta, jamais poderão viver a natureza; precisamos projetar-nos nas
nela; nunca poderão ocupar os rastros de coisas que nos cercam; o meu eu não está

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confinado no corpo; estende-se a todas caráter lancinante, tem sua raiz na complexida-
as coisas que fiz e a todas as coisas à mi- de em conciliar a antítese natureza e cultura. Põe
nha volta, sem estas coisas não seria eu em cheque o lugar e o sentido da vida humana
mesmo, não seria um ser humano. Tudo na Terra. Questiona sobre como dialogamos com
que me rodeia é parte de mim (p. 189). cada fenômeno, com cada espécie e conosco.
Aliás, de tempos em tempos, apura se estamos
Considerando tudo o que foi dito até aqui, de fato dialogando ou impondo à natureza que
a partir da teoria de Jung, podemos afirmar que ela satisfaça nossos desejos egóicos.
a visão de Davi Kopenawa diverge ao longe da É justamente nesse ponto de crise que re-
compreensão antropocêntrica unilateral, na qual side um perigo inevitável: a ilusão de que se
o ser humano é o centro do universo. Podemos possa controlar os fenômenos naturais a fim de
dizer em síntese que ambos indicam o despertar que sejam sanados os problemas, tais como a
de um novo sentido existencial, por uma percep- fome, a escassez de alimentos, a superpopula-
ção sensível sobre a natureza, pelo encantamen- ção, as epidemias, pois não se deve esquecer
to que percebe a interligação da psique com a que, “por mais que joguemos fora a natureza
Terra e o Cosmo, fazendo nascer “este sentimen- por meio da força, ela sempre retorna” (JUNG,
to [que] suscita a beleza e a verdade, cria a arte 1993, par. 514). Evidências disso podem ser
e a ciência. Se alguém não conhece este senti- percebidas nos fenômenos naturais coletivos,
mento ou não pode experimentar o espanto ou seja por meio das catástrofes ambientais ou por
a surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se via de surtos pandêmicos.
cegaram” (EINSTEIN, 1981, p. 12). Contudo, como Thomas Berry, historiador
Assim, fica a mensagem: a necessária cons- cultural e eco-teólogo, citado em “O Tao da Li-
trução de uma nova linguagem, uma percepção bertação” comenta, “não nos faltam energias
menos racional e exclusivamente analítica, no dinâmicas que possam criar um futuro. Vivemos
sentido cartesiano do termo, que isola a parte num mar de energias que vai além de nossa
do todo. Se esquecendo que a dinâmica da vida compreensão. Hoje nós nos apoderamos delas
faz-se pela soma das partes em funcionamento. pela dominação, mas é necessário aprender
São os sistemas integrados e não suas partes que devemos invocá-las” (BERRY apud BOFF,
isoladas que nos fazem compreender o sentido HATHAWAY, 2012, p. 11). Tanto interna, quanto
e o para que da existência. externamente, a propulsão das forças ctônicas
Além disso, como consequência e condição (originais, criadoras) da vida é indomável e, por
sine qua non de seus princípios, esta visão in- isso, a única maneira de evitar a queda do céu
tegradora da vida, tanto proposta pela visão é prosseguir com o trabalho xamânico, ou seja,
indígena, quanto pela interpretação junguiana colocar-se a serviço do Si-mesmo.
da mesma, nos chama a atenção, por fim, para No entanto, o trabalho reside no âmbito pes-
o compromisso coletivo de renovação ético-po- soal, por meio do relacionamento pessoal com a
lítica, bem como, para o renascimento do valor Sombra, por meio de acessar os conteúdos afe-
simbólico da sacralidade da Terra e da vida, des- tivos de grande carga emocional, ligados à his-
de a sua mais ínfima manifestação aos grandes tória individual. Integrando esse Outro estranho
fenômenos universais. em nós para que possamos receber e reconhecer
A humanidade atravessa no momento atual a integridade do outro do mundo. Ampliar assim
conflitos sem precedentes na história da civili- a personalidade e facilitar com que a consciên-
zação. Tal desordem tem demonstrado que as cia possa comunicar-se com as energias profun-
sociedades percebem-se mais interdependentes das da psique objetiva, da qual manifestam-se
e frágeis. O colapso global enfrentado hoje, em os símbolos universais. No caso dos xamãs, es-

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tes estão em contato direto com essas energias teríamos descoberto um ponto de apoio” (JUNG,
plasmadas na natureza. Um exemplo dessas é o 1993, par. 575).
que Davi Kopenawa denomina, “xapiris - espíri- Essa tal atitude religiosa que torna possível
tos da floresta” (ALBERT, KOPENAWA, 2010). a experiência de unidade, “de comunhão de
Já é tempo de nos reconhecermos como uni- sentido” (JUNG, 2003, p. 227). O despontar de
dades intrínsecas de um todo maior, do planeta uma unidade universal, na qual as polaridades
Terra, do Sistema Solar, do universo. Reveren- se conciliam. Amansando o conflito inexorável
ciarmos a majestade do céu estrelado, a imen- entre humano e natureza, sujeito e objeto, indi-
sa complexidade e biodiversidade da natureza. vidual e coletivo, pessoal e suprapessoal.
Está no presente a oportunidade de seguirmos Porque, “Segundo opinião antiga, a palavra
o fio de Ariadne que nos faz sair da escuridão religio provém de religere [...] significa ‘conside-
do labirinto, individualista, da razão petrificada, rar ou observar cuidadosamente’. Esta derivação
quando unilateral e encontrar um sentido para dá a religio a correta base empírica, isto é, a con-
viver mais completos, em comunidade. dução religiosa da vida” (JUNG, 2003, p. 227).
A natureza, sempre apta a ensinar, por meio Que torna possível reconhecer a si mesmo, re-
da lição de respeito e harmonia com sua bio- conectar-se consigo ao olhar para a psique,
diversidade, une e reúne todas as coisas em ao mesmo tempo em que contempla o lumen
arranjos criativos de modo que não estejam naturae que há dentro de todas as coisas vivas.
desconectadas, mas interligadas entre si, for- Compreende, por meio da observação que, o que
mando uma imensa teia dinâmica, de harmô- o lhe acontece interna e externamente faz parte
nica sinfonia. Nós fazemos parte desta nature- do mesmo tecido simbólico.
za. Que possamos despertar-nos para desejar Assim, diante do que foi visto, refletimos que
aprender com ela. é preciso desenvolver o imaginar da comensa-
Este testemunho de Davi Kopenawa, bem lidade, da inclusão, da comunhão e da interde-
como as ideias de Jung a respeito da relação dos pendência. Tal qual o xamã que “come com o ja-
sujeitos com a natureza dizem respeito à dimen- guar”, tornarmo-nos companheiros dos próprios
são profunda e integral da Ecologia Humana, instintos. É preciso nos deixar tocar pela própria
que convida ao novo paradigma civilizacional, dor e pela dor do mundo. Seja no cuidado com a
complexo e interdependente, integrador, imper- própria alma ou quando olhamos para o mundo.
manente. Promove a reconexão com a comuni- Reimaginar a coniunctio e o sentido do encontro
dade de vida da qual a visão antropocêntrica exi- com a alteridade, redespertar a dimensão cura-
lou-nos. Desperta a reverência e devoção diante dora para que, enfim, possamos nos perguntar:
do mistério de todas as coisas. Sinaliza que, de que maneira eu posso contribuir para que o
“se adquiríssemos uma consciência igualmen- xamã sustente o céu? ■
te planetária de que toda separação repousa
sobre a cisão psíquica entre os opostos, então Recebido em: 13/09/2020 Revisão em: 05/12/2020

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Abstract
‘The Falling Sky’: Jungian reflections on the shamanic alert by Davi Kopenawa
This study brings some Jungian consider- respect for indigenous culture, reflecting on the
ations on the ethnographic narrative entitled similarities between this native view, described
“The Falling Sky” that will be presented seeking in this study and in Complex Psychology, mainly
to demonstrate through a comparative-reflec- due to the bias Jung called the psychoid arche-
tive analysis of similarities between the views of type, in which the body-mind-world relationship
the Yanomami shaman, Davi Kopenawa and the is in resonance and in an intimate interdepen-
ideas of the Swiss Psychiatrist, Carl Gustav Jung. dent relationship. Thus, the main objective of this
To this end, it is necessary to present some points study is to elaborate a dialogue between original
of indigenous criticism about the way in which thinking and Jungian thinking, in the sense of ob-
technological societies relate to nature - marked serving how both perspectives point to intrinsic
by the exploitation of natural resources and dis- connections between nature and culture. ■

Keywords: “The Falling Sky”, Davi Kopenawa, Yanomami culture, interdependence, anima mundi, psychoid,
culture-nature.

Resumen
‘La caída del cielo’: reflexiones junguianas sobre la alerta chamánica por
Davi Kopenawa
En este artículo se presentarán algunas cultura indígena. Reflexionar sobre los puntos
consideraciones junguianas sobre la narrativa en común entre esta visión nativa, descrita en la
etnográfica titulada “La caída del cielo”, bus- obra en cuestión y la Psicología Compleja, espe-
cando demostrar a través de un análisis compar- cialmente debido al sesgo que Jung denominó
ativo-reflexivo perspectivas en común entre la arquetipo psicoide, en el que la relación cuer-
visión del chamán Yanomami, Davi Kopenawa y po-mente-mundo está en resonancia y en una ín-
las ideas del psiquiatra suizo Carl Gustav Jung. tima relación de interdependencia. Por lo tanto,
Para ello, será necesario presentar algunos prin- el principal objetivo de este trabajo es elaborar
cipios de la crítica indígena sobre la forma en un diálogo entre el pensamiento mítico y la teoría
que las sociedades tecnológicas se relacionan junguiana, con el fin de observar cómo ambas
con la naturaleza, marcada por la explotación de perspectivas apuntan a conexiones intrínsecas
los recursos naturales y la falta de respeto a la entre naturaleza y cultura. ■

Palabras clave: “La caída del cielo”, Davi Kopenawa, cultura Yanomami, interdependencia, anima mundo,
psicoide, cultura-naturaleza.

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