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Marcelo Viana (/colunas/marceloviana/)

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do


Institut de France.

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A álgebra, ciência das letras


François Viète foi o responsável pela consolidação do uso das letras na matemática

12.out.2021 às 16h07
Atualizado: 12.out.2021 às 16h49


EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/10/13/)

Volta e meia, fascinado com o poder e o mistério da matemática


(https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/matematica/) que ele ainda não sabe, o meu filho me

pede para lhe ensinar algum tópico mais avançado: raiz quadrada, equação de
segundo grau etc. Um dia destes, o pedido foi “a álgebra”, que para ele significa
“aquele truque de fazer contas com letras para descobrir o número”.

A matemática costuma ser chamada “a ciência dos números”, e não deixa de


ser irônico que uma de suas maiores descobertas tenha sido como é
importante substituir números por letras. Esse avanço foi fruto de gerações,
mas tornou-se concreto com o trabalho do matemático e advogado francês
François Viète (1540–1603).

A palavra "álgebra" teve origem no título do livro “al-kitab al-mukhtasar fi hisab


al-jabr wa-l-muqabala” (Livro compêndio sobre cálculo por restauração e
balanceamento), escrito entre 813 e 833 pelo matemático e astrônomo
muçulmano Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, o mesmo cujo nome nos deu
"algoritmo" e "algarismo".
O uso de letras na matemática é um avanço fruto de gerações, mas principalmente graças ao
trabalho do matemático e advogado François Viète
- Alex Pylypenko/Flickr

"Al-jabr" refere-se à operação de transportar uma quantidade negativa de um


lado da equação para o outro, onde ela se torna positiva (restauração). Já “wa-l-
muqabala” é a passagem de uma quantidade positiva para o outro lado da
equação, onde ela passa a ser negativa (balanceamento)

A palavra "al-jabr" significa "junção de partes quebradas" e foi levada pelos


árabes para a Península Ibérica: até hoje, em regiões da Espanha e de Portugal
um algebrista é uma pessoa que conserta ossos, uma espécie de ortopedista
informal. O volume 2 do Dom Quixote menciona “um algebrista, com quem se
curou o desgraçado Sansão”.

O trabalho de al-Khwarizmi foi traduzido para o latim por volta de 1140, mas o
tradutor, Robert of Chester, se limitou a latinizar o título árabe: “Liber algebrae
et almucabala”. Viète não gostava da palavra "álgebra", por não ter sentido nas
línguas europeias: propôs "arte analítica", mas não pegou. Por volta de 1600,
álgebra já tinha adquirido o sentido muito mais amplo de estudo das equações. ​
De então para cá, o escopo da álgebra se alargou de maneira espetacular,
especialmente a partir do século 19, tornando-se cada vez mais abstrato. Em
1849, o matemático e lógico britânico Augustus de Morgan (1806–1871) já
defendia que o objeto de estudo da álgebra são os símbolos e os modos como
eles se combinam, sem que os respectivos significados tenham qualquer
importância.

Falaremos na semana que vem da contribuição de Viète para esse estado de


coisas.

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