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RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia de Poder. 1 ed.

São Paulo: Editora Ática


S.A., 1980. v. 29, cap. 3, p. 51-60. Pour une géographie du pouvoir. Maria Cecília
França. ISBN 10:8508042906.

NYE, Joseph S. O que é poder nos assuntos globais? In: NYE, Joseph S. O futuro
do poder. 1. ed. [S.I]: Benvirá, 2012. cap. 1, p. 23-48. The Future of Power. Magda
Lopes. ISBN 9788564065291.

CARVALHO, Bianca Vick

Claude Raffestin, geógrafo suíço, em sua obra "Pour une geographie du


pouvoir" (Por uma Geografia do Poder), escrita em 1980, busca debater importantes
conceitos e definições geográficas. Joseph Nye, cientista político norte-americano,
em sua obra "The Future of Power", escrita em 2011, estuda de maneira
aprofundada as relações de poder no contexto internacional. O capítulo 3 da obra de
Raffestin e o capítulo 1 da obra de Nye buscam responder, de diferentes
perspectivas, o seguinte questionamento: O que é poder?

No início do pensamento de Raffestin, a ideia de poder contida na obra


rompeu com alguns dogmas de grandes partidos de direita e de esquerda, o que
chocou alguns setores políticos. A novidade é a ideia básica de que toda relação é
uma relação de poder. Segundo o autor, não há noção de poder a priori, ou seja, o
poder não é bom nem mau: apenas existe em todas as relações estabelecidas.
Estas relações ocorrem pois sempre utilizam dois vetores: energia e informação. O
autor traz também uma distinção entre o poder (com letra minúscula) e o Poder (com
letra maiúscula), sendo o primeiro distribuído a todos e consubstancial a todas as
relações e o segundo institucional e resultado das organizações de poder, sendo
segundo o autor “visível, maciço e identificável” (pág. 52). As Instituições,
relacionadas diretamente com o Poder, são reflexos do que a sociedade se constitui.
Esse tópico, distinguindo as duas formas da escrita, não foi abordado no primeiro
capítulo da obra de Joseph Nye.

A teoria de Nye começa debatendo sobre a definição do conceito de poder. O


autor critica e apresenta falhas em algumas definições, como a "fórmula para o
poder", por exemplo; e coloca em pauta definições mais assertivas e claras, como o
âmbito e escopo do poder, que determinam quem e quais tópicos estão envolvidos
nas relações. Logo, para analisar o poder de determinada ação, é necessário
entender o contexto que ela se insere. Um pouco mais adiante em seu raciocínio,
cita o "poder brando" e o "poder duro". O primeiro relaciona-se com a influência,
segundo o autor "é a capacidade de afetar outros utilizando meios cooptativos de [...]
persuasão e produção de atração positiva para a obtenção de resultados preferidos"
(pág. 44). Já o segundo, está relacionado com recursos associados a fatores
tangíveis como força e dinheiro. É desenvolvido por Nye, durante o capítulo, o termo
"poder inteligente", que é definido como "a capacidade de combinar recursos de
poder duro e brando em estratégias efetivas" (pág. 46).

Raffestin, em sua obra, destaca os chamados "Trunfos do Poder", presentes


em todas as nações. Cita 3 elementos: população, território e recursos. Citando o
autor " a população está na origem de todo o poder. Nela residem as capacidades
virtuais de transformação; ela constitui o elemento dinâmico de onde procede a
ação. [...] O território é a cena do poder e o lugar de todas as relações [...] Os
recursos, enfim, determinam os horizontes possíveis da ação. Os recursos
condicionam o alcance da ação." (pág. 58). Joseph Nye, também em sua teoria
comentando sobre os mecanismos das nações, adiciona, além dos 3 elementos
citados por Raffestin, solidez econômica, força militar e estabilidade social como
fatores de destaque. Cita, como outra forma de utilizar o “poder inteligente”, a
conversão desses trunfos, chamados pelo autor de recursos, em estratégias que
produzam os resultados buscados pela nação. Portanto, conclui-se que apenas
quando devidamente aproveitados os trunfos tornam-se fonte direta de poder. Com
isso, a abordagem de Nye torna-se mais complexa e atual, quando relacionada à
conjuntura mundial.

Outro tema discutido em ambas as obras se relaciona ao “campo do poder”.


Na obra de Raffestin, o autor diz “que há uma infinidade de campos de poder num
sistema social em razão da multiplicidade de relações possíveis.” (pág 64). Cita, no
entanto, dois exemplos: a troca ou comunicação simétrica ou dissimétrica. No
primeiro caso, “a relação pode ser benéfica para os dois, isto é, traduzir-se por um
ganho equivalente ou não [..] ou pode ser negativa para os dois, ou seja, traduzir-se
por custos (pág 62). Na segunda situação, há uma dissimetria que pode ser absoluta
ou relativa. É absoluta quando um agente registra um ganho e outro uma perda, e é
relativa quando um agente registra uma perda maior que om outro, mas ambos
saem perdendo. Na obra de Joseph Nye, são citadas três faces para o poder: na
Primeira Face, um ator usa de ameaças ou recompensas para mudar a ação do
outro (o ator afetado tem consciência da relação e sente o efeito exercido pelo
opressor); na Segunda Face, um ator controla as agendas das ações de maneira
que limita as escolhas e estratégias do outro (o ator afetado pode ou não estar
ciente desse poder exercido sobre ele); na Terceira Face, um ator ajuda a criar e
moldar as crenças, percepções e preferências básicas do outro (o ator afetado não
tem consciência ou entendimento sobre essa ação exercida sobre ele).

Logo, pode-se concluir que ambas as obras apresentam debates concisos e


pautas aprofundadas no que se relaciona aos conceitos de poder. Sendo o capítulo
de Joseph Nye mais focado no poder em sua forma política, é possível observar
maior número de exemplos das últimas décadas voltados para o contexto
internacional. A obra de Raffestin, por outro lado, constrói discussões sobre o
conceito de poder nas relações cotidianas e sociais em geral. Por isso, as duas
obras apresentam grande importância para estudos acadêmicos e para a construção
de um pensamento crítico sobre a temática.

RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. 1 ed. São Paulo, editora Ática,
1993. Cap 3, p. 51-64.

NYE, Joseph. O que é poder nos assuntos globais? In: Nye, Joseph S. O Futuro do
Poder. 1 ed. [S.I]: Benvirá, 2012, cap 1, p. 23-48.

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