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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: TEORIA POLÍTICA
PROFESSORES: ELIANA TAVARES DOS REIS E IGOR GASTAL GRILL
ALUNA: LORENA SANTOS MENDES

RELATÓRIO DE AULAS MÓDULO 2 (24/03/2021 – 14/04/2021

Em "Modelos de Jogo", o autor Elias Norbert busca propor uma reflexão para uma questão da
sociologia difícil de ser respondida (Norbert, 1980, pág.79): definir o que é a "sociedade"
com base no aspecto da interdependência e complexidade de relações que ocorrem com os
indivíduos membros da sociedade.
Segundo ele, essa análise não pode ser feita baseada em conceitos deterministas como, por
exemplo, o atomismo e o holismo, devido justamente à complexidade das ações e ligações
presentes nas sociedades. Para ele, a aplicação de métodos das "ciências físicas", que também
estudam os seres humanos, como a biologia e a psicologia, acabam por não considerar as
estruturas da sociedade e suas influências nas ações individuais ao focar apenas no estudo dos
componentes ou nesse caso, as pessoas de maneira isolada e individual. Nas palavras do
mesmo: "Torna-se necessário não só explorar uma unidade compósita em termos de suas
partes componentes, como também explorar o modo como esses componentes individuais se
ligam uns aos outros, de modo a formarem uma unidade". (Norbert,1980, pág. 78)
Diante disto, o autor propõe de maneira metafórica os "modelos de jogo" para ajudar a
entender e a responder a sua questão de início. Como primeiro modelo, a competição
primária, ele cita a disputa de forças inerente entre os indivíduos, situação básica que ocorre
quando indivíduos ou grupos entram em contato uns com outros.(Norbert,1980, pág. 80)
Aqui, o conceito de força não está relacionado a força física, mas sim a poder. No conceito
deste, é tido como "elemento das relações humanas; que pode ser bipolar ou multipolar; que
possui valores e funções recíprocas (interdependência funcional) e definição relacional e
processual", conforme visto na aula. Na análise de Norbert, após um período de tempo um
equilíbrio de força ou poder estável ou instável pode ser alcançado, de acordo com
circunstâncias pessoais e sociais.
Na competição primária não há regras e as dinâmicas entre os grupos são determinadas por
uma relação de interdependência funcional, ou seja cada grupo age com base no que supõe
que o outro grupo irá executar e vice versa, como num jogo de xadrez no exemplo do autor.
Já os modelos de processo possuem regras em suas competições e servem para exemplificar o
que Norbert expôs “a teia de relações humanas muda quando muda a distribuição do poder”.
Sendo assim, no primeiro "nível”, o jogo entre duas pessoas, ele nos dá dois exemplos:1-
jogo entre duas pessoas com concentração alta de poder de uma delas, o que proporciona o
controle dos movimentos do adversário e sobre o próprio jogo;2- jogo com certo equilíbrio de
poder entre os dois adversários ,o que deixa as configurações mutáveis do jogo em aberto.
Ainda neste primeiro nível há os jogos com muitas pessoas, como por exemplo, os "jogos
controlados por um jogador que joga com vários outros e os controla; e um jogador que joga
com um grupo de jogadores.”
Por último, são apresentados os jogos com muitos indivíduos e vários níveis. A partir daqui
os conceitos vão ficando mais mesclados à medida que os níveis representam ligações
interdependentes da sociedade. Nessa formulação, o autor indica que o maior número de
jogadores diminui a oportunidade de jogar individualmente, tornando os jogadores um todo
para o jogo em níveis mais especializados. Ele dá dois exemplos desse modelo, o primeiro é o
tipo oligárquico; onde o grupo é mais desigual e só os representantes jogam, estes bem
posicionados e influenciando as configurações do jogo. E o segundo de tipo democrático
,onde o poder é mais equilibrado e portanto ,menos desigual, porém ainda assim possui um
grupo de nível maior, sendo bastante complexas as relações entre os de nível alto e baixo
justamente pelas "jogadas" de um influenciarem as ações do outro dentro da "teia
entrelaçada" de tensões, conflitos e dependência mútua(Norbert,1980,pág 99)deste jogo que é
a sociedade.

No texto de Bernard Manin, “As metamorfoses do governo representativo", é feito um estudo


sobre as formas de regência que o sistema democrático adotou durante seu desenvolvimento e
sua ligação com o surgimento dos partidos políticos de massa, além de elucidar a questão
atual da crise no sistema representativo da democracia.
O autor sustenta que essa "crise" é resultado da emergência de um novo tipo de governo
representativo, onde tendências atuais de estratégias de comunicação e domínio dos veículos
de massa entre os candidatos representantes de partidos é fator definitivo da chegada ao poder
e o enfraquecimento da identificação partidária entre o eleitorado fragiliza os princípios da
democracia.
Para discorrer sobre esses princípios, Bernard apresenta as modificações que os governos
representativos sofreram ao longo da sua história, ligado diretamente ao sufrágio universal, e
apresenta quatro pontos onde vai abordar seus três tipos (melhor representado no quadro feito
por ele no final do texto).
Os princípios apontados por ele no texto e debatidos na aula são: "1- os representantes são
eleitos pelos governados; 2- os representantes conservam uma independência parcial diante
das preferências dos eleitores; 3- a opinião pública sobre assuntos políticos pode se
manifestar independentemente do controle do governo; 4- as decisões políticas são tomadas
após debate".
No primeiro princípio ele aponta uma característica básica dos governos representativos, a
eleição periódica de seus representantes, destacando que o poder destes é legitimado pelo
povo, o que difere de formas de governo como o absolutismo. Porém, isso não exatamente
significa que “o povo governa a si mesmo’’, pois ainda há “diferença de status e função entre
o povo e o governo”. (Manin, 1995)
Outro ponto importante ainda neste princípio é que embora o eleitorado possa escolher seus
representantes, isso não necessariamente indica que o representante eleito seja semelhante ao
povo que o escolheu. Nas palavras do autor "[...] um sistema eletivo não cria uma identidade
entre os que governam e os que são governados".
O princípio três também é um fator de diferença em relação a governos absolutistas e
elementar no funcionamento da democracia; a liberdade da população em opinar
politicamente. Mas segundo ele, requer dois elementos: o acesso à informação política, ou
seja, acompanhar as ações dos governantes e a liberdade de opinião. Para esta última ele
exemplifica ao citar a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, documento que
visava garantir o direito à liberdade de expressão.
Sobre os três tipos de governo representativos aqui mostrados, é feito um levantamento
histórico para abordar o surgimento, as características e as mudanças que cada um sofreu.
Mas como o próprio autor diz no começo do texto, esses modelos podem coexistir e se fundir
em um contexto real. (Manin,1995)
O primeiro, a democracia parlamentar, em resumo prevaleceu na Inglaterra e funcionava com
base na confiança que o eleitorado tinha em representantes com traços considerados notáveis
para um político, como a personalidade e o prestígio social. Na democracia de partido o
principal ponto é o governo de partidos de massa e suas questões políticas de representação.
Por último, o governo representativo da democracia do público, mostra uma complexa
questão da política onde ele sustenta seu argumento da crise moderna vivida pelas
democracias, onde o jogo político é cada vez mais instável diante dos representados e
representantes devido ao marketing em torno das campanhas e dos partidos.
Este texto é um exercício de reflexão importante para entender os acontecimentos atuais da
política e da debilidade da democracia.

"O campo político" de Pierre Bourdieu é um ensaio analítico sobre o universo da política e
suas nuances, mas como pontuado por Philippe Fritsch no texto, é um exercício de "pensar a
política não politicamente, mas sim sociologicamente."
Bourdieu confirma isso ao falar sobre o método comparativo da sociologia, o qual neste
trabalho foi muito útil para entender a concepção do então campo do título ao relacioná-lo
com outros campos.
O conceito de campo nesse contexto, segundo ele, é “um campo é um microcosmo autônomo
no interior do macrocosmo social” (Bourdieu, 2011, pág. 195), como um país perante o
globo.
As principais características presentes em geral nesses espaços são o desenvolvimento de
lógica própria de funcionamento e a especificidade e autonomização, com construção de
regras e princípios para cada um deles. Assim, o campo político conta com esses elementos
além de suas próprias particularidades.
Para melhor exemplificar, Bourdieu o compara com o campo religioso. Ambos exigem uma
conversão para admissão de novos membros, sendo que esta é imposta de maneira implícita e
o não adequamento a esta norma resulta em exclusão do grupo ou fracasso diante dele.
(Bourdieu, 2011, pág. 195)
Aqui o conceito de illusio visto na aula pode ser associado. Esse conceito diz respeito à
divergência de significado entre pessoas que fazem parte de um campo específico e pessoas
que estão fora, onde para estas últimas o que é vivido dentro destes domínios é uma ilusão,
mas no caso das primeiras é algo cheio de sentido e importância e por isso é dado tal valor
para evitar a exclusão e o fracasso.
Outro aspecto de semelhança entre esses dois campos citado pelo autor é a separação entre os
profissionais e os profanos, ou clérigos e leigos, separado o microcosmo do exterior da
massa. (Bourdieu, 2011, pág. 195)
Bourdieu indica que o campo político não existiu sempre, e que mudanças históricas em
processos relacionados à política foram norteando até chegar às condições que conhecemos
hoje. O autor faz uma contraposição aos autores neomaquiavelicos ao abordar sobre a questão
do que diferencia os profissionais dos profanos. Para ele, a questão da desigualdade social nas
oportunidades de acesso à esfera política é o fator que colabora para o afastamento dos
indivíduos desses espaços e não a concepção neomaquiavelica de que existem dominadores e
dominados por natureza.
O autor aborda um ponto interessante, o jogo político particular que acontece entre os
membros desse campo. As relações fechadas que ocorrem devido a autonomia dos grupos
implicam em "jogadas" para o interesse do próprio grupo. Entretanto, devido a sua natureza
social, os representantes não podem se isolar completamente e deixar de dá "prestar contas"
com seus representados. Os campos evidentemente estão ligados às instituições.
Este texto de Pierre Bourdieu é exato no que se propõe a fazer, um estudo das muitas
configurações da esfera política, que para os "leigos" de fora parece ser intrincado e caótico.

REFERÊNCIAS:

NORBERT, Elias. Modelos de jogo. Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70,1999.


MANIN, Bernard. As metamorfoses do governo representativo. In: Revista Brasileira de
Ciências Sociais. São Paulo, 1995.
BOURDIEU, Pierre. O campo político. In: Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília,
DF, n.5, 2011.

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