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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Curso de Pós-Graduação

FLÁVIO HADLICH

As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo
de 1959 a 1962.

São Paulo
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Pós-Graduação

FLÁVIO HADLICH

As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de
1959 a 1962.

Dissertação de mestrado apresentada ao


Curso de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.

Área de concentração: Projeto de Arquitetura

Orientador: Prof. Dr. Adilson Costa Macedo

São Paulo
2009
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.

E-MAIL: flaviohadlich@terra.com.br

Hadlich, Flávio
H129d As escolas do IPESP: projetos de edifícios escolares
produzidos para o Instituto de Previdência do Estado de
São Paulo de 1959 a 1962. / Flávio Hadlich. --São Paulo,
2009.
163 p. : il.

Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Projeto


de Arquitetura) - FAUUSP.
Orientador: Adilson Costa Macedo

1.Escolas – Arquitetura – São Paulo (SP) 2.Escolas -


Projetos I.Título

CDU 727.1(816.11)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Pós-Graduação

FLÁVIO HADLICH

As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de
1959 a 1962.

Dissertação de mestrado apresentada ao


Curso de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.

Área de concentração: Projeto de Arquitetura

Aprovada em _____ / ______ / _______

___________________________________
Orientador: Prof. Dr. Adilson Costa Macedo

___________________________________

___________________________________

 
Agradecimentos

Ao meu orientador, Adilson Costa Macedo, pelo sempre presente apoio desde as
primeiras idéias desta dissertação.

Aos dirigentes da FDE, que gentilmente disponibilizaram seu arquivo técnico.

A todos os colegas da FDE, principalmente a Avany de Francisco Ferreira e Mirela


Geiger de Mello que tão generosamente me acolheram na equipe e pelo exemplo da
incansável busca pela melhor arquitetura para as escolas públicas.

Ao mestre e amigo Antenor Bertarelli, que tornou possível meus primeiros contatos
com a arquitetura escolar e com quem muito aprendi sobre projeto de arquitetura.

Ao amigo Ivanir Reis Neves Abreu pela inspiração e entusiasmo.

Ao eng. Anthero Vieira Machado pela entrevista e, principalmente, pelo depoimento


de vida.

Ao arq. Julio Roberto Katinsky pela entrevista concedida.

Ao arq. Celso Monteiro Lamparelli.

A arq. Helena Ayoub Silva.

A todos os arquitetos prestadores de serviço da FDE que de forma direta ou indireta


contribuíram para este trabalho e para minha contínua formação de arquiteto.

A Mirian por sua paciência, compreensão e colaboração neste trabalho.

Ao Jun, que nasceu com este trabalho.

 
Resumo
HADLICH, Flávio. As escolas do Ipesp: projetos de edifícios escolares
produzidos para o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de 1959 a
1962. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo. p. 163, 2009.

Esta dissertação teve por objetivo realizar uma análise dos projetos escolares
encomendados pelo Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP) junto
aos escritórios paulistas de arquitetura durante a vigência do Plano de Ação do
então governador do Estado, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto. Foram
realizados levantamentos dos projetos selecionados, caracterizando
construtivamente a produção em estudo e comparando com as diretrizes de projeto
elaboradas pelo Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE) criado pelo
governo do Estado para o planejamento da rede escolar. Também foram analisados
os fatores que possibilitaram uma nova forma de elaboração de projetos para obras
públicas – até então realizados por funcionários públicos – através de contratos com
os escritórios de arquitetura, e sua repercussão junto à classe arquitetônica. Para o
melhor entendimento e verificação da diversidade de projetos elaborados, foram
criados grupos com projetos selecionados por similaridade conceitual através de
critérios embasados na espacialidade e forma das edificações. Esses grupos foram
representados por esquemas gráficos que sintetizaram as suas características mais
expressivas. Por fim, considerações foram feitas sobre as realizações do Plano de
Ação, a produção da arquitetura escolar do Ipesp e sua repercussão na arquitetura
escolar paulista posterior.

Palavras-chave: arquitetura escolar; arquitetura paulista; Ipesp; Plano de Ação.

 
Abstract
HADLICH, Flavio. Ipesp schools: school buildings projects produced for the
Social Welfare Institute from the state of Sao Paulo from 1959 to 1962.
Mastership dissertation. Post-degree course of the college of Architecture and
Urbanism of Sao Paulo University. Sao Paulo, Pages 163, 2009

This dissertation had as objective effectuate an analysis of the school projects


ordered by the Social Welfare Institute of Sao Paulo (IPESP) and the architecture
offices from Sao Paulo during the period of the Plano de Ação, created by the former
state governor Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto. Surveys of the selected
projects have been effectuated characterizing the production in study and comparing
to the same directives elaborated by the state of Sao Paulo School Construction
Fund (FECE) created by the state government to the planning of the school system.
Factors that made possible a new project elaboration way to the public works have
also been analyzed, up to that time realized by the government employees, through
contracts with architecture offices and its repercussion among the architecture class.
For the best understanding and verification of the diversity of elaborated projects,
groups have been created with projects selected by conceptual similarity through
criteria based on the spatiality and the shape of the constructions.  These groups
have been represented by graphical sketches that synthesized its characteristics.
Finally, considerations have been made about the realizations of the Plano de Ação,
the production of the Ipesp’s school architecture and its repercussion of the further
school architecture of Sao Paulo.

KEY WORDS: School architecture, Architecture of Sao Paulo, Ipesp, Plano de Ação.

 
Lista de Abreviações

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas;

CEFAM Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério;

CONESP Construções Escolares do Estado de São Paulo;

DOP Departamento de Obras Públicas do Estado de São Paulo. Também é


abreviação do Departamento de Obras Públicas da Prefeitura do
Município de São Paulo;

EE Escola Estadual;

EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental;

EMEI Escola Municipal de Ensino Infantil;

FAU-USP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo;

FECE Fundo de Construções Escolares do Estado de São Paulo;

FDE Fundação para o Desenvolvimento de Educação;

IAB/SP Instituto de Arquitetos do Brasil / Departamento de São Paulo;

IPESP Instituto de Previdência do Estado de São Paulo;

PAGE Plano de Ação do Governo do Estado de São Paulo, elaborado pelo


governo de Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto;

SPPREV São Paulo Previdência.

 
Lista de Ilustrações

Figura 01 – Implantação, pavimento térreo, corte e elevação da EE Governador Armando de Salles


Oliveira em Sete Barras, projeto de 1961 de autoria do arquiteto João Clodomiro B. de Abreu
(Ferreira e Mello, 2006). ___________________________________________________________ 29
Figura 02A – Implantação e pavimento térreo da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em
1963 (Arquivo Técnico FDE). _______________________________________________________ 30
Figura 02B – Conjunto de fotos da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em 1963 (Arquivo
Técnico FDE). ___________________________________________________________________ 31
Figura 03 – Implantação e pavimento térreo da EE Vereador Elisiário Pinto de Morais em Salesópolis,
projeto sem data identificada de autoria do Arquiteto João Xavier (Ferreira e Mello, 2006). _______ 32
Figura 04A – Implantação e pavimento térreo da EE Antonio Perciliano Gaudêncio em Nhandeara,
construída em 1963 (Arquivo Técnico FDE). ___________________________________________ 33
Figura 04B – Conjunto de fotos da EE Antonio Perciliano Gaudêncio em Nhandeara, construída em
1963 (Arquivo Técnico FDE). _______________________________________________________ 34
Figura 05A – Implantação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Ferreira e Mello, 2006). ______________________________ 58
Figura 05B – Implantação, elevações e detalhes da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE). ________________ 59
Figura 05C – Planta e elevação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE)._____________________________ 60
Figura 05D – Planta, cortes e elevações da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto
de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE). ______________________ 61
Figura 05E – Conjunto de fotos da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE)._____________________________ 62
Figura 06 – Implantação, pavimento térreo, cortes e elevações da EE Dr. Morato de Oliveira em
Suzano, projeto de 1961 de autoria do arquiteto Abelardo de Souza (Ferreira e Mello, 2006). _____ 63
Figura 07 – Implantação, corte e elevação da EE João Portugal em Tanabi, sem data identificada, de
autoria dos arquitetos Salvador Cândia e Fernando Arantes (Ferreira e Mello, 2006). ___________ 64
Figura 08A – Implantação e plantas da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006). __________________________________ 65
Figura 08B – Cortes e Elevações da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006). __________________________________ 66
Figura 08C – Conjunto de fotos da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado pelo
arquiteto Salvador Cândia (Arquivo técnico FDE). _______________________________________ 67
Figura 09A – Implantação, plantas, corte e elevação da EE Adamastor de Carvalho em Santo André,
projeto de 1962 elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira
e Mello, 2006). __________________________________________________________________ 68
Figura 09B – Conjunto de fotos da EE Adamastor de Carvalho em Santo André, projeto de 1962
elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP). 69
Figura 10A: Implantação e pavimento térreo da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de
autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira e Mello, 2006). ___ 78

 
Figura 10B: Cortes e fachada do projeto original da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de
1959 de autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).
______________________________________________________________________________ 78
Figura 10C: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP). ______________ 79
Figura 10D: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE). ______________ 80
Figura 11A: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente,
projeto de 1962 do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Ferreira e Mello, 2006). _______________ 81
Figura 11B: Conjunto de fotos da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente, projeto de 1962 do
arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Arquivo Técnico FDE). _______________________________ 82
Figura 12A: Implantação e plantas da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006). ___________________________ 83
Figura 12B: Cortes e elevações da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006). ___________________________ 84
Figura 13A: Grupo 01, características principais, esquemas em planta (croquis do autor). ________ 85
Figura 13B: Grupo 01, características principais, esquemas em corte (croquis do autor). _________ 86
Figura 13C: Grupo 01, características principais, esquemas em corte - continuação (croquis do autor).
______________________________________________________________________________ 87
Figura 14: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Coronel Silvestre de Lima em Barretos,
projeto de 1960 de autoria dos arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Rubin (Ferreira e Mello, 2006).
______________________________________________________________________________ 91
Figura 15A: Implantação, plantas e elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (Ferreira e Mello, 2006). ______________ 92
Figura 15B: Projeto original com implantação, plantas e cortes da EE Professor Sebastião Teixeira
Pinto em Tupã, projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE). __ 93
Figura 15C: Projeto original com elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE). _______________ 94
Figura 15D: Conjunto de fotos da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE)._______________________________ 95
Figura 16: Implantação, planta, corte e elevação da EMEF Amador Franco da Silveira em Dracena,
projeto de 1961 de autoria do arquiteto Hiroko Kawauchi (Ferreira e Mello, 2006). ______________ 96
Figura 17A: Grupo 02, características principais, esquemas em planta (croquis do autor). ________ 97
Figura 17B: Grupo 02, características principais, esquemas em corte (croquis do autor). _________ 98
Figura 18: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Professora Ana Maria Segura em
Cosmorama ,projeto sem data identificada, de autoria do arquiteto Hélio Penteado (Ferreira e Mello,
2006) _________________________________________________________________________ 103
Figura 19A: Implantação, plantas e cortes da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962
de autoria do arquiteto Majer Botkowski (Ferreira e Mello, 2006) ___________________________ 104
Figura 19B: Conjunto de fotos da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962 de autoria
do arquiteto Majer Botkowski (Arquivo Técnico FDE) ____________________________________ 105
Figura 20: Implantação, plantas e cortes da EE Professor Ângelo Vaqueiro em São Caetano do Sul,
projeto elaborado em 1963 por Candido Malta Campos Filho (Ferreira e Mello, 2006) __________ 106

 
Figura 21: Grupo 03, características principais, esquemas em planta e corte (croquis do autor). __ 107
Figura 22: Implantação, plantas cortes e elevações da EE Prof. Bruno Pieroni em Sertãozinho, projeto
se, data identificada de autoria do arquiteto Carlo Benvenuto Fongaro (Ferreira e Mello, 2006). __ 112
Figura 23A: Pavimento térreo do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (Arquivo técnico
FDE). _________________________________________________________________________ 113
Figura 23B: Cortes e detalhes do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico
FDE). _________________________________________________________________________ 114
Figura 23C: Elevações do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem
data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE). _ 115
Figura 23D: Conjunto de fotos da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem data
identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE). _____ 116
Figura 24: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Professor Raymundo Pismel em Santo
Anastácio, projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Benvenuto Fongaro (Ferreira e
Mello, 2006) ___________________________________________________________________ 117 

Nota: figuras obtidas em Ferreira e Mello (2006) apresentam escala gráfica


aproximada de 1:750 para plantas e 1:500 para cortes e elevações. Demais figuras,
caso não indicado, são apresentadas sem escala.

 
Lista de Tabelas

Tabela 01: População nos Anos de Levantamento Censitário. Município e Região Metropolitana de
São Paulo, Estado de São Paulo e Brasil – 1872 a 2000. _________________________________ 16
Tabela 02: Linha do tempo do governo federal, do Estado de São Paulo e do Município de São Paulo.
______________________________________________________________________________ 18
Tabela 03: Áreas de terreno. _______________________________________________________ 43
Tabela 04: Áreas de terrenos de prédios para grupos escolares construídos entre 1959 e 1963
(FECE, 1963, p.105). _____________________________________________________________ 44
Tabela 05: Média de áreas ocupadas e construídas e seus extremos. _______________________ 45
Tabela 06: Média de TO, CA e seus extremos. _________________________________________ 45
Tabela 07: Relação área construída / salas de aula e seus extremos. ________________________ 45
Tabela 08: Orientação solar de salas de aula voltadas somente para uma face. ________________ 46
Tabela 09: Orientação solar de salas de aula voltadas para mais de uma face. ________________ 46
Tabela 10: Número de pavimentos. __________________________________________________ 47
Tabela 11: Formato das salas de aula. ________________________________________________ 48
Tabela 12: Número de salas de aula. _________________________________________________ 48
Tabela 13: Programas adotados na elaboração de projetos para grupos escolares (FECE,1963,p.107)
______________________________________________________________________________ 49
Tabela 14: Esquemas de circulação. _________________________________________________ 50
Tabela 15: Tipos de cobertura. ______________________________________________________ 51
Tabela 16: Número de blocos. ______________________________________________________ 52
Tabela 17: Projetos construídos. ____________________________________________________ 52
Tabela 18: Simetria do projeto. ______________________________________________________ 52
Tabela 19: Salas do pré-primário. ____________________________________________________ 54
Tabela 20: Ambientes complementares. _______________________________________________ 55
Tabela 21: Listagem de escolas classificadas no Grupo 01 - Rigidez formal e valorização do espaço
interno. ________________________________________________________________________ 77
Tabela 22: Listagem de escolas classificadas no Grupo 02 - Projetos com tratamento formal
diferenciado e galpão integrado. _____________________________________________________ 90
Tabela 23: Listagem de escolas classificadas no Grupo 03 - Projetos com tratamento formal
diferenciado sem galpão integrado. _________________________________________________ 101
Tabela 24: Listagem de escolas classificadas no Grupo 04 - Projetos convencionais sem galpão
integrado. _____________________________________________________________________ 110
Tabela 25A: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 01. _______________ 130
Tabela 25B: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 02. _______________ 137

 
Sumário

Introdução. ________________________________________________________ 12

1. A escolha do Ipesp para viabilização de obras públicas. _________________ 16

2. O Fece e o planejamento da rede escolar. ____________________________ 20

A questão educacional na vigência do Page. ________________________________ 23

3. O método de trabalho do Ipesp para atendimento ao Plano de Ação. _______ 25

4. Uma nova forma de elaboração de projetos. __________________________ 35

5. As escolas projetadas para o Ipesp. _________________________________ 40

6. Análise dos projetos. _____________________________________________ 70

Grupo 1: Rigidez formal e valorização do espaço interno. ______________________ 73

Grupo 2: Projetos com tratamento formal diferenciado e galpão integrado. ________ 87

Grupo 3: Projetos com tratamento formal diferenciado sem galpão integrado. ______ 99

Grupo 4: Projetos convencionais sem galpão integrado. ______________________ 108

Considerações finais._______________________________________________ 118

Referências bibliográficas. ___________________________________________ 123

Bibliografia consultada. _____________________________________________ 125

Levantamento estatístico das escolas objeto de estudo: planilhas. ___________ 129

ANEXO A: Entrevistas. _____________________________________________ 143

Anthero Vieira Machado. ______________________________________________ 143

Julio Roberto Katinsky. ________________________________________________ 153

 
12

Introdução.

A história da arquitetura escolar pública paulista nos mostra a ocorrência de uma


evolução na concepção do edifício escolar em saltos temporais. Iniciados na
primeira república, conjuntos de prédios escolares foram construídos, muitas vezes
com longos intervalos de tempo entre eles. Atualmente, questões políticas deixam
de ditar exclusivamente o ritmo das construções escolares e passamos a ter
legislação específica e planejamento como condições técnicas que mantém
constante a construção de escolas, facilitando o surgimento de novas expressões
arquitetônicas. Podemos considerar que as escolas em estrutura pré-fabricada de
concreto a partir deste século já se enquadram nesta condição.

As escolas estaduais construídas pelo Instituto de Previdência do Estado de São


Paulo (IPESP) durante a gestão do governador Carlos Alberto Alves de Carvalho
Pinto, de 1959 a 1962, particularmente os projetos contratados junto aos arquitetos e
escritórios paulistas de arquitetura, compõem um desses conjuntos, sendo esses
projetos o objeto de estudo da presente dissertação de mestrado. Conforme Artigas
(1970, p.13), “Assim foi projetado, em tempo relativamente curto, um conjunto
apreciável de escolas, e a sociedade tomou conhecimento da existência dessa
reserva técnica que são os quadros da arquitetura paulista.”

As escolas projetadas pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos


Cascaldi para o Ipesp tem sido o centro das atenções para muitos autores quando
do estudo das escolas desenvolvidas na década de 1960, chegando ao ponto de
ignorar a vasta e diversificada produção arquitetônica das escolas produzidas para o
Ipesp e até mesmo a atuação deste Instituto como contratante dos arquitetos e
como entidade construtora, como vemos em Buffa e Pinto (2002). O estudo desta
produção com enfoque no projeto arquitetônico é o que esta pesquisa pretende
investigar, evidentemente sem deixar de considerar os projetos de Artigas e
Cascaldi como referenciais deste conjunto, como veremos no decorrer deste
trabalho.

Recentemente, alguns autores desenvolveram trabalhos sobre as escolas


projetadas para o Ipesp que em muito contribuíram para o desenvolvimento desta
dissertação. Primeiramente Ferreira e Mello (2006) lançam o que as próprias autoras

 
13

denominam como “catálogo” de projetos das escolas desenvolvidas nas décadas de


50 e 60 no Estado de São Paulo, contendo de forma sucinta porém esclarecedora,
diversos projetos desenvolvidos nessas duas importantes décadas. Neste volume,
além de texto das próprias organizadoras temos os textos de Julio Roberto Katinsky,
Janice Theodoro da Silva, Guilherme Wisnik e Ignácio de Loyola Brandão.

Posteriormente, Alves (2008) defende sua tese de doutorado justamente sobre a


arquitetura escolar paulista de 1959 a 1962, despendendo grandes esforços na
catalogação e busca de informações precisas e referências dos projetos concebidos
nesta época para o Ipesp, realizando sua pesquisa dentro da área de concentração
“fundamentos e história da arquitetura e urbanismo” do curso de pós-graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

A escolha deste objeto de estudo foi motivada em função de este pesquisador


trabalhar na Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) órgão
responsável pela construção e manutenção da rede escolar do Estado de São
Paulo, composta atualmente de cerca de 5.300 prédios1 incluindo os edifícios
escolares em estudo que, freqüentemente, passam pelo Departamento de Projetos,
onde atuo, para o desenvolvimento de soluções diversas como ampliações,
reformas e acessibilidade. Esta dissertação pretende servir como material de
consulta para os demais funcionários e prestadores de serviço da FDE quando da
necessidade de intervenções em edifícios construídos pelo Ipesp, subsidiando os
arquitetos em suas decisões de projeto.

A dissertação foi organizada da seguinte forma:

No Capítulo 1 – A escolha do Ipesp para viabilização de obras públicas – é


descrito a partir de que momento da história o Ipesp passa a ser uma opção para a
construção de escolas para o governo do Estado, os motivos que levam a escolha
de um instituto de previdência para tal tarefa e os mecanismos que viabilizaram esta
opção. A partir de tais esclarecimentos fez-se necessário verificar a área de atuação
do Ipesp e sua função dentro do Plano de Ação do Governo do Estado (PAGE)
elaborado pelo governo Carvalho Pinto.

                                                            
1
Fonte: FDE. Conforme Ferreira e Mello (2006) a rede de escolas públicas era de aproximadamente
7.000 prédios até 2006, porém cerca de 25% foi recentemente municipalizada.

 
14

O Capítulo 2 – O Fece e o planejamento da rede escolar – trata da criação do


Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE) órgão que será responsável pelo
planejamento da rede estadual de ensino e que irá atuar concomitantemente ao
Ipesp e ao Departamento de Obras Públicas do Estado de São Paulo (DOP).
Capítulo esclarecedor das distintas atividades do Fece, DOP e Ipesp no atendimento
ao Page. A relação da arquitetura promovida pelo Ipesp e a pedagogia vigente
também é tratada neste capítulo.

Já o Capitulo 3 – O método de trabalho do Ipesp para atendimento ao Plano de


Ação – mostra a sistematização de trabalho do Instituto criado em função da imensa
quantidade de obras a serem executadas para atendimento ao Plano de Ação, não
só para os edifícios escolares mas também para outros edifícios públicos como
fóruns, cadeias e delegacias. É comentado neste capítulo a repetição de projetos
existentes em outros terrenos que ocorriam mesmo tendo como premissa a
elaboração de projetos exclusivos para cada terreno através de contratos com os
arquitetos paulistas.

Essa contratação dos arquitetos paulistas é justamente do que trata o Capítulo 4 –


Uma nova forma de elaboração de projetos – visto que esta prática tornava-se
inédita até então perante os órgãos do governo que sempre tiveram seus edifícios
projetados por arquitetos fucionários públicos. São discutidas as diversas correntes
de opinião perante os arquitetos paulistas, verificável nas Atas de Reunião do
Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB/SP) onde
inclusive ocorrem entendimentos com a equipe de planejamento do Page,
diretamente junto ao seu coordenador: Plínio Soares de Arruda Sampaio, pistas de
uma provável influência para a criação do Fece.

O Capítulo 5 – As escolas projetadas para o Ipesp – inicia com a delimitação das


escolas objeto de estudo para um posterior levantamento estatístico das mesmas a
partir de elementos construtivos relevantes para a caracterização deste grupo,
realizando um comparativo com as orientações e diretrizes para projeto
desenvolvidas inicialmente pelo grupo de planejamento do Page e posteriormente
pelo Fece. Esta caracterização serve de subsidio para o Capítulo 6 – Análise dos
projetos – onde são agrupadas escolas de características semelhantes a partir de
critérios objetivos de volumetria e espacialidade interna. São formados 4 grupos

 
15

distintos de escolas, mostrando a diversidade de projetos desenvolvidos neste


período de 4 anos. Neste capítulo também são comentadas duas classificações
realizadas anteriormente por Wisnik (2006) e Alves (2008) a título de comparação de
critérios.

Por fim, temos as considerações finais onde tecemos comentários sobre esta rica
produção arquitetônica e as influências desses projetos na arquitetura escolar
paulista posterior. Foram desenvolvidas e inseridas ao final deste trabalho tabelas
resultantes do levantamento de características construtivas e espaciais dos 160
projetos estudados, conforme comentado na descrição do capítulo 5.

Duas entrevistas foram realizadas, anexas a esta dissertação, uma com o arquiteto
Júlio Roberto Katinsky, um dos arquitetos contratados pelo Ipesp juntamente com o
arquiteto Abraão Sanovicz para o desenvolvimento de projetos, e a outra entrevista
com o engenheiro Anthero Vieira Machado2, chefe do departamento de engenharia
do Ipesp, responsável pela execução do Plano de Ação. São entrevistas que
ajudaram a indicar caminhos para o desenvolvimento da pesquisa e a transmitir o
espírito de trabalho e otimismo para a classe arquitetônica que permeou o governo
de Carvalho Pinto.

Esta pesquisa tem sua apresentação formatada em atendimento as orientações das


normas específicas para apresentação de dissertações e teses, elaboradas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (FARIA, CUNHA e FELIPE,
2007).

                                                            
2
Anthero Vieira Machado formou-se engenheiro pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba,
em 1955. Torna-se funcionário do Ipesp em 1957 no governo de Jânio Quadros, onde trabalha até
sua aposentadoria.

 
16

1. A escolha do Ipesp para viabilização de obras públicas.

A procura, pelo Governo do Estado de São Paulo, de um órgão capaz de ter


agilidade e verba suficientes para a construção de um enorme número de escolas
tem suas origens na demanda por salas de aula. Demanda crescente,
principalmente nas décadas de 50 e 60, conforme tabela 01, abaixo:

Tabela 01: População nos Anos de Levantamento Censitário. Município e Região Metropolitana de
São Paulo, Estado de São Paulo e Brasil – 1872 a 2000.

Analisando as taxas de crescimento populacional nas décadas de 50 e 60,


verificamos altos índices para o município, região metropolitana e Estado de São
Paulo, com destaque para o crescimento populacional na região metropolitana
paulista. Esse crescimento é historicamente justificado pela migração da população
dos estados nordestinos para São Paulo, estado que passava por um amplo
processo de industrialização e crescimento econômico nesse período.

A escola é um dos alvos desse crescimento, como vemos em texto elaborado pelo
Fece em 1963:

 
17

As décadas anteriores haviam registrado acentuada expansão demográfica, particularmente nas


áreas urbanas do Estado. Desenvolvera-se o estilo de vida peculiar à moderna sociedade
urbana e industrial em alguns núcleos populacionais mais importantes, com reflexos mais ou
menos intensos em todo o seu território. As transformações econômicas, sociais e culturais em
curso durante esse período, passaram a exigir da escola uma participação decisiva no
ajustamento de setores cada vez mais amplos da população às novas condições de vida.

A época é caracterizada pela expansão da procura de oportunidades educacionais em todos os


níveis de ensino. O crescimento da procura acrescenta à clientela potencial da escola, em todos
os graus, extensos contingentes de setores desfavorecidos da sociedade. Essas camadas, que
até a pouco tempo não encontravam acesso às oportunidades educacionais, orientaram para o
ensino público – aberto e gratuito – as suas expectativas de atendimento. Assiste-se, então, ao
desenvolvimento de reivindicações educacionais, em todo o Estado de São Paulo. A
administração pública no ensino foi submetida a pressões da população e de certos setores da
elite intelectual – particularmente educadores – no sentido de estender o ensino primário a todos
os indivíduos e de promover a expansão das oportunidades nos demais níveis do sistema
escolar. (FECE, 1963, p. 5)

O Ipesp é um órgão criado em 1935 através da Constituição Estadual, com a


finalidade inicial de amparar o servidor público e seus dependentes 3. Em cerca de
20 anos de existência, o compromisso com o pagamento de aposentadorias era
ainda muito baixo, prevalecendo apenas as contribuições dos servidores, portanto, o
Ipesp possuía em 1957 muita verba disponível.

Jânio da Silva Quadros, então governador do Estado (ver Tabela 02), vislumbrando
a possibilidade de utilizar tanto a verba do Instituto quanto sua equipe técnica,
complementa o decreto organizador do Ipesp4 e elabora o Decreto nr. 27.167 de 04
de janeiro de 1957 que inclui mais uma possibilidade de aplicação de suas receitas:

[..] aquisição ou construção de imóveis em terrenos do Instituto, para locação ao Estado ou a


terceiro.

[..] a locação, que será atualizada em cada período de 5 (cinco) anos, deve corresponder aos
juros de 11% (onze por cento), ao ano, no mínimo, sobre o valor do imóvel. Após um período
de locação superior a 5 (cinco) anos, poderá o locatário, sendo o Estado ou suas autarquias,
adquirir o imóvel, pelo seu valor atual, e mais os juros previstos neste parágrafo, capitalizados
em cada 6 (seis) meses, a partir do início da locação. (DECRETO NR. 27.167 DE 04/01/57).

                                                            
3
Até a presente data o Ipesp encontra-se em processo de extinção. A Lei Complementar nr. 1010 de
01/06/07 criou a São Paulo Previdência (SPPREV), órgão que, entre outras atribuições, irá substituir
o Ipesp. A mesma lei determina o prazo de 24 meses para a implantação definitiva da SPPREV
através de suporte do Ipesp, sendo este último extinto findo este prazo, em 01/06/09. Todo o
patrimônio do Ipesp será transferido para a SPPREV.
4
O Decreto nr. 12.762 de 18 de junho de 1942 dispõem sobre a organização geral do Ipesp.

 
18

Tabela 02: Linha do tempo do governo federal, do Estado de São Paulo e do Município de São Paulo.

É então que a partir de 19575 o Ipesp inicia a construção de escolas para o Estado.
De 1957 a fevereiro de 1959, final do governo de Jânio Quadros, o Ipesp constrói 75
prédios escolares (FECE-1973, p.16)6.

Carvalho Pinto, secretário da fazenda do governo de Jânio Quadros, é eleito


governador em 1959 e não só continua a utilizar o Ipesp como entidade construtora
do governo do Estado como potencializa esta tarefa, passando ao Instituto a
atribuição de executar as obras previstas no Plano de Ação, que incluíam escolas,
cadeias, delegacias, unidades sanitárias, fóruns, entre outros tipos de edificações,
como vemos abaixo:

Há, por isso, que fazer investimentos rentáveis com as disponibilidades financeiras. E o
Instituto os faz, adquirindo títulos da dívida publica, concedendo financiamentos para a casa
própria e construindo obras públicas, no interior, para locação ao Estado (MENSAGEM, 1961).

Como citado acima, o Ipesp fica responsável pelas obras fora da capital. Na cidade
de São Paulo o Ipesp constrói somente em terrenos já pertencentes ao Instituto. O
Departamento de Obras Públicas do Estado de São Paulo (DOP), até então o órgão
oficial do Estado para construção e manutenção dos edifícios públicos é quem
constrói na capital durante o exercício de Carvalho Pinto, além de alguns casos
isolados de escolas no interior.

Nas entrevistas realizadas e presentes no final deste volume, obtivemos


informações de que o DOP foi “substituído” pelo Ipesp para a execução das obras
                                                            
5
Existem informações sobre edifícios escolares construídos pelo Ipesp com data anterior a 1957,
porém, estamos tratando somente dos dados das escolas construídas a partir desta data, por ser
coerente com a aplicação do Decreto 27.167 de 04/01/57 e com as informações contidas no relatório
elaborado pelo Fece em 1963
6
Alves (2008), em sua tese de doutorado, já alertava sobre incoerências de dados do relatório para
com levantamentos realizados no próprio Ipesp. Soma-se a isso outro número, de 100 escolas,
conforme dados da FDE.

 
19

do Page principalmente por ser um órgão “lento e burocrático” (KATINSKY, 2007)


(MACHADO, 2007). Na verdade, o DOP e o Ipesp realizaram um trabalho em
paralelo, principalmente quando verificamos que foram construídas pelo DOP 221
escolas no período de 1959 a 19627, muito mais do que as 73 escolas construídas
pelo mesmo órgão no governo anterior, de Jânio Quadros8 de 1955 a 1958.

                                                            
7
Fonte: FDE.
8
Fonte: FDE.

 
20

2. O Fece e o planejamento da rede escolar.

A expansão demográfica no Estado de São Paulo, somada à falta de planejamento,


gerou uma situação difícil, em 1958, quanto às condições de atendimento da
demanda, principalmente com relação ao ensino primário, conforme vemos a seguir:

Na realidade, conseguiu-se estender o ensino primário fundamental comum a maior parte da


população escolarizável do curso, nas áreas urbanas e suburbanas do Estado. Porém não se
deu a esse setor do ensino as condições materiais necessárias à sua expansão. O aumento da
capacidade da oferta de vagas só foi conseguido pelo emprego sistemático de medidas de
emergência. Entre elas, encontram-se as seguintes: redução do período diário de aula, a fim de
aumentar o número de turnos de funcionamento da escola e dobrar ou mesmo triplicar o
número de classes; a instalação de novas unidades escolares em barracões de madeira; a
instalação de classes em salas ou dependências diversas de prédios situados mais ou menos
próximos às escolas existentes; a adaptação de locais diversos do prédio da escola, como
corredores, bibliotecas, sala dos professores, diretorias e mesmo depósitos, para salas
destinadas a instalação de novas classes. Procurou-se também utilizar o máximo espaço das
salas, que acabaram superlotadas com elevados totais de alunos (FECE, 1963, p. 06).

Caracterizado o problema do ensino primário – 1ª a 4ª séries –, o Plano de Ação


determina como a falta de condições físicas nas escolas pode ser resolvida:

a) Construção e equipamento de unidades escolares, num total de 683 salas, para atender,
aproximadamente, 55.000 alunos que, no presente momento, freqüentam aulas em galpões ou
salas inadequadas.

b) Construção e equipamento de unidades escolares, num total de 2.298 salas, para reter, na
escola, durante quatro horas, os alunos que, atualmente, permanecem nela apenas duas horas
e meia ou três horas diárias: o total de alunos beneficiados será de, aproximadamente,
500.000, incluindo classes de emergência que funcionam em grupos escolares que seriam
transformados em classes comuns (PAGE, 159, p.68).

O mesmo Plano de Ação prevê, como planejamento, a criação de novas unidades


escolares, evitando falta de vagas nos quatro anos seguintes: “O segundo objetivo
fixado, complementar ao primeiro, será atingido mediante criação de novas unidades
escolares, com aproximadamente 4.095 salas [..]” (PAGE, 1959, p. 68).

Quanto ao ensino secundário – 5ª a 8ª séries – e normal – para a formação de


professores –, o Plano de Ação verifica que a rede existente está ociosa, porém
desprovida de prédios próprios, instalando-se na maioria dos casos em edifícios de
grupos escolares no período noturno9, gerando uma série de problemas
                                                            
9
O Plano de Ação cita o número de 421 escolas de ensino secundário e normal existentes até 1958,
sendo 98 na capital e 323 no interior.

 
21

administrativos e pedagógicos (PAGE, 1959, p.69). Dessa forma, o PAGE


estabelece que:

Esta situação conduz a se formular o seguinte objetivo: instalar, convenientemente, todas as


unidades de ensino secundário e normal em funcionamento. Para isso prevê o Plano a
construção de 166 prédios para Ginásios, Colégios e Escolas Normais [..] (PAGE, 1959, p. 70).

Sabendo das condições da rede escolar estadual até 1958 e das providências para
sanar seus problemas, Carvalho Pinto prevê a criação, no Plano de Ação, do Fundo
Estadual de Construções Escolares (Fece) para “atender a construção, ampliação e
equipamento de prédios destinados a escolas de ensino público primário e médio do
Estado” (LEI 5.444, de 17/11/59, art. 3º, item 1-a). A criação do Fece é uma exceção
dentro da política de realizações imediatas do governador, apesar de que como se
tratava de um novo órgão, sua estruturação não iria impor lentidão a órgãos como
Ipesp e DOP que atuavam intensamente e independentemente do Fece até sua
criação. Conforme descrito no Page:

O Plano de Ação do Governo, sobretudo em sua primeira etapa, visa a ativação e execução de
obras a serem levadas a efeito com os meios existentes. Todo planejamento que quiser
antepor à sua realização uma reorganização administrativa de base, isto é, der predominância
a modificações nas atividades-meio, tende a perder seu objetivo fundamental de por em ação
as atividades-fim (PAGE, 1959, p. 23).

As atividades do Fece só serão iniciadas após a publicação do Decreto nr. 36.799,


de 21 de junho de 1960, que regulamenta o Fundo. O decreto determina como
atividades do Fece:

I- Manter atualizadas as necessidades da rede escolar;

II- Elaborar, para apreciação do Secretário de Estado dos Negócios da Educação, os


programas periódicos de construções, acompanhados dos estudos das prioridades;

III- Determinar, para cada programa periódico, os dados básicos de cada obra a ser
construída;

IV- Estudar normas para escolha e localização de áreas de terrenos para as construções,
com assistência técnica do órgão construtor;

V- Acompanhar, junto ao órgão construtor, a elaboração dos projetos e especificações,


bem como a execução das obras, manifestando-se pelo seu recebimento definitivo
(DECRETO nr. 36.799 de 21/06/60, art. 2º).

São, basicamente, atividades de planejamento, que exigiam pleno conhecimento da


rede existente para subsidiar a elaboração dos programas periódicos. Interessante
notar que, apesar da participação em todo o processo de construção das escolas,
desde o estudo de demanda até o recebimento da obra, o Fece não participa como
entidade construtora, ficando somente o Ipesp e o DOP com essa função no governo

 
22

Carvalho Pinto. Durante o Plano de Ação o Fece equipava as obras entregues pelo
Ipesp e DOP e financiava as obras construídas pelo DOP.

Vale a pena atentar para os dados cronológicos. O Fece passa a funcionar após 1
ano e meio da posse de Carvalho Pinto. Nesse período, e até mesmo num período
maior do que este, considerando que o Fece precisou de tempo para realizar um
levantamento da rede escolar existente para iniciar qualquer tipo de planejamento,
Ipesp e DOP construíam intensamente, coordenados diretamente pela equipe de
planejamento do Page, afinal essas entidades construtoras não tinham atribuição
para definir os locais para a construção das obras nem o número de salas de aula
necessárias para cada uma delas. Tal informação é confirmada por Machado (2007)
quando, em sua entrevista, cita que a equipe do Ipesp realizava reuniões com o
grupo de planejamento do governo no “Palácio”, e também informa que o Fece era
consultado para informações técnicas e diretrizes para os projetos.

No governo seguinte o Ipesp deixa ser utilizado como entidade construtora e o Fece
passa também a construir escolas ao lado do DOP, tendo somente a partir de 1968
apresentado números expressivos de novos edifícios construídos. Aliás, o governo
de Adhemar Pereira de Barros (1963 – 1967) reduziu drasticamente a quantidade de
obras para ampliação da rede escolar no Estado.

Apesar disso, o Fece foi mantido mesmo com as variações do cenário político
estadual e federal, centralizando todas as atividades relativas à construção escolar a
partir de 1966 (FERREIRA E MELLO, 2006, p.19), sendo sucedido por Construções
Escolares do Estado de São Paulo – CONESP – em 1976 e posteriormente pela
Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE – em 1987, consolidando
finalmente o planejamento para a rede escolar, que perdura até os dias atuais.

Anteriormente ao Fece temos duas iniciativas importantes, porém descontinuadas,


com objetivos de atendimento a demanda e planejamento da rede escolar, ocorridas
no município de São Paulo. Em 1936 foi elaborado um programa para construção de
40 novos prédios, iniciando-se com uma série de 15. Logo em 1937, o programa foi
interrompido devido ao golpe de Estado. Posteriormente temos no 2º Convênio

 
23

Escolar10 uma nova iniciativa planejada para minimizar a demanda por salas de aula.
O objetivo inicial era a construção de 100 edifícios escolares no município de São
Paulo no período de 1949 a 1954. No total foram construídos 68 edifícios. O método
de trabalho da equipe do 2º Convênio Escolar para o planejamento da rede foi
utilizado como referência para os trabalhos do Fundo, conforme citado no relatório
Fece de 1963.

Três pontos fundamentais nortearam os trabalhos do Fundo: as características da


rede de escolas existentes, os objetivos do Plano de Ação e os recursos financeiros
disponíveis. Confirmando as necessidades indicadas no Page, o Fece verifica que
as maiores demandas ocorriam nos centros urbanos, tanto da capital quando das
cidades do interior, especificamente no atendimento ao ensino primário.

A questão educacional na vigência do Page.


 

Após uma saudável relação entre arquitetos e educadores verificada na Comissão


Executiva do 2º Convênio Escolar, tendo Anísio Teixeira respondendo pelas
questões pedagógicas e o arquiteto Hélio Duarte representando a equipe de
arquitetos, ambos à procura da elaboração de espaços para educação que
atendessem aos preceitos da Escola Nova11, não observamos mais uma relação tão
estreita nem subsídios concretos aos arquitetos para a elaboração de seus projetos,
proveniente de profissionais ligados à área de educação, na arquitetura escolar
paulista.

As propostas pedagógicas verificadas na época do 2º Convênio Escolar foram


mantidas durante a vigência do Page:

                                                            
10
O 2º Convênio Escolar foi um convênio firmado entre o município de São Paulo e o Governo do
Estado, celebrado em 28/12/49 e findo em 1954, ficando o município responsável pelos projetos e
construção das escolas e o Estado pelo funcionamento e manutenção das mesmas.
11
No Brasil, as idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923).
No Século XX, vários educadores se destacaram, especialmente após a divulgação do Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Podemos mencionar Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio
Teixeira (1900-1971) como grandes humanistas e nomes importantes deste capítulo da história
pedagógica.
Essencialmente, a Escola Nova preconizou que as escolas deixassem de ser meros locais de
transmissão de conhecimento e tornar-se pequenas comunidades. A escola deveria se adaptar aos
alunos e valorizar os trabalhos em equipe e extra-classe.

 
24

Em 1959 veio a público o Manifesto dos Educadores mais uma vez convocados que, invocando
as idéias do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, centralizou e organizou a
campanha pela educação pública.
Como em 32, o Manifesto de 59 foi redigido por Fernando Azevedo. Educadores, intelectuais
liberais, liberais progressistas, socialistas, comunistas, nacionalistas, deram sustentação ao
Manifesto. O documento não se preocupou com questões didático-pedagógicas, admitindo
como válidas as diretrizes “escolanovistas” de 32. Tratou de questões gerais de política
educacional. O Manifesto de 59 era favorável a existência das redes pública e particular de
ensino, mas propunha que as verbas do Estado fossem aplicadas somente na rede pública e
que as escolas particulares se submetessem à fiscalização oficial (SILVA, 1998, p.94).

Verificando o Manifesto dos Educadores de 1959, nenhuma inovação pedagógica foi


proposta. O próprio Plano de Ação é omisso nas questões pedagógicas,
compreensível pela ausência de profissionais desta área na equipe técnica
responsável por sua elaboração.

O Fece, em balanço das realizações do governo Carvalho Pinto na área


educacional, assume a falta de entrosamento entre esses profissionais: “Tem sido
praticamente nulo o diálogo entre arquitetos e educadores, ignorando estes últimos,
quase que totalmente a função dos primeiros no processo de concepção de um
prédio escolar” (FECE, 1963, p.103). De certa forma, o Fece, no mesmo documento,
apresenta dados que justificariam a ausência de discussões pedagógicas face ao
que seria o mais importante como meta para o Page: o atendimento à demanda
através da construção de salas de aula.

As escolas construídas pelo 2º Convênio Escolar serviram como subsidio ao Fece


para definição de critérios construtivos como áreas de salas de aula, tamanho de
terrenos e outras questões técnicas, embasando diretrizes para os projetos e os
programas arquitetônicos, transmitindo de certa forma os mesmos parâmetros
educacionais preconizados por Anísio Teixeira e aplicados naquelas escolas.

De qualquer forma, a ausência de diretrizes especificamente ligadas às questões


pedagógicas e de qualquer tipo de suporte oferecido por profissionais desta área,
contribuiu para a relativa liberdade que os arquitetos possuíam na elaboração dos
projetos encomendados pelo Ipesp (Machado, 2007). O resultado é uma grande
diversidade de projetos de escola e, dentro disto, uma inovação nos espaços
construídos, como veremos quando da análise dos projetos.

 
25

3. O método de trabalho do Ipesp para atendimento ao Plano de Ação.

Os órgãos envolvidos para atendimento ao Plano de Ação quanto à questão


educacional se resumiam ao Fece, Ipesp e DOP. Ao Fece cabia a responsabilidade
do planejamento, definição dos procedimentos necessários em toda a cadeia de
atividades para a ampliação da rede, além de custear as obras construídas pelo
DOP. Cabia também ao Fece equipar todas as obras novas.

O DOP continuava como órgão construtor do Estado, concentrando suas atividades


no município de São Paulo, recebendo as orientações e verba do Fece para
execução das obras escolares, após a criação do Fundo.

Quanto ao Ipesp, sua responsabilidade no atendimento ao Page, no tocante às


obras a serem realizadas no interior do Estado, era enorme, visto o volume de obras
previsto não só para escolas como para os demais edifícios públicos. É importante
deixar claro que não cabia ao Ipesp qualquer tipo de planejamento da rede escolar,
de total responsabilidade do Fece, e anterior a este, à equipe de planejamento do
PAGE. As atividades do Ipesp no processo se iniciavam com a doação do terreno
das prefeituras para o Instituto. A princípio, a região escolhida para o terreno era
previamente definida pelas equipes de planejamento.

No caso, técnicos do Ipesp realizavam vistoria prévia no terreno para verificar sua
viabilidade técnica para posteriormente aceitar o mesmo. Caso o terreno
apresentasse problemas como existência de brejo ou declividade acentuada, era
solicitada outra opção de terreno (MACHADO, 2007). A partir deste ponto, o Ipesp
detinha todas as atividades necessárias até a conclusão das obras.

Estando o terreno em nome do Ipesp, realizava-se a contratação de um escritório de


arquitetura para elaboração dos projetos executivos completos, com exceção das
fundações que ficavam a cargo das construtoras. Creditava-se a este método uma
grande agilidade no processo, visto que num único contrato eram realizados todos
os projetos, prontos para concorrência de obras. O projeto de fundações era deixado
para as construtoras pois o tempo previsto para realização de sondagens era muito
grande, o que tornaria o processo mais demorado.

 
26

Os projetos eram desenvolvidos pelos escritórios e analisados pelos técnicos do


Ipesp, que solicitavam as revisões necessárias. Conforme entrevistas, as
solicitações principais eram quanto ao atendimento do número de salas de aula,
informação previamente definida pelo grupo de planejamento do Page ou pelo Fece
em função da demanda, e a realização de um projeto que tornasse mínima a
manutenção do edifício escolar. Este último item teve grande destaque na entrevista
com o Eng. Anthero Vieira Machado, chefe do departamento de engenharia do Ipesp
que cuidava exclusivamente do atendimento ao Plano de Ação. Esta orientação
também está presente nas diretrizes do Fece:

Máxima atenção é solicitada para o grave problema da manutenção, conservação e limpeza do


prédio, jardins e recreios. São inúmeras as dificuldades com que lutam os administradores
escolares nesse setor (FECE, 1963, p. 111).

Com a finalização dos projetos era realizado orçamento12 e concorrência de obras. A


obra executada pela empresa vencedora era fiscalizada pelos técnicos do Ipesp,
que autorizavam pagamentos e recebiam as obras concluídas para entrega à
Secretaria da Educação para ocupação e uso.

O processo descrito, desde a doação do terreno até a entrega da obra, nem sempre
ocorria dessa forma. Exceções existiram e são verificáveis não só nas entrevistas
realizadas como na análise dos projetos. São inúmeros os projetos realizados e não
executados e também são vários os projetos que foram re-implantados em outros
terrenos.

Um fato implica no outro, ou seja, na impossibilidade de implantar um projeto


elaborado ou em elaboração, conforme entrevistas, segundo motivos políticos como
extrema urgência para o início das obras e inauguração da escola, utilizava-se
projetos já elaborados que melhor se adequavam nesse novo terreno.

No livro “Arquitetura Escolar Paulista – anos 50 e 60” (FERREIRA e MELLO, 2006) a


relação de 160 projetos elaborados para o Ipesp apresenta 18 projetos não
construídos. Conforme entrevistas, tal prática não era freqüente, porém,
considerando que Alves (2008) indica em sua tese de doutorado 237 edifícios
construídos seguindo projetos contratados pelo Ipesp e que existem divergências
entre fontes de dados diferentes quanto ao número total de escolas construídas pelo
                                                            
12
Conforme entrevista com Machado (2007), o custo das obras era estimado por metro quadrado.

 
27

Instituto, não é possível determinar com precisão a quantidade de repetições de


projetos. O relatório do Fece, de 1963, informa que o Plano de Ação construiu 5.573
salas de aula no interior, incluindo ensino primário e secundário. Dividindo pela
média de salas de aula dos projetos estudados, temos aproximadamente 602
escolas. Outra fonte de dados, proveniente da FDE, fornece o número de 374
escolas construídas pelo Ipesp, considerando as escolas inauguradas a partir de
1959 até 1964, o que incluiria obras iniciadas no governo de Jânio Quadros e outras
iniciadas por Carvalho Pinto, porém inauguradas na gestão de Adhemar de Barros.

Como exemplo, temos a EE Governador Armando de Salles Oliveira em Sete Barras


(figura 01), projeto de 1961 de autoria do arquiteto João Clodomiro B. de Abreu.
Trata-se de uma escola pequena, térrea, de 06 salas de aula comuns e 01 sala de
aula para o pré-primário, sendo esta sala e demais ambientes a ela relacionados
claramente isolados do restante da escola. Este projeto foi re-implantado na EE
Irmãos Ismael (figuras 02A e 02B) em Onda Verde em 1963. Não foram encontrados
os projetos originais desta re-implantação, portanto a planta apresentada –
levantamento topográfico e cadastral de 2006 – mostra as alterações e
complementações realizadas na escola, como a construção de quadra coberta,
bloco isolado de zeladoria e refeitório e salas de aula construídas junto ao edifício
original, estes últimos descaracterizando muito o projeto.

Os projetos de escolas pequenas e em nível são as que mais foram repetidas.


Assim como no exemplo anterior, temos a EE Vereador Elisiário Pinto de Morais
(figura 03) em Salesópolis, projeto sem data identificada de autoria do Arquiteto
João Xavier. Da mesma forma que a escola de Sete Barras, apresenta 06 salas de
aula e uma sala de aula para o pré-primário, também isolada juntamente com seus
ambientes afins. O projeto desta escola foi re-implantado na EE Antonio Perciliano
Gaudêncio (figuras 04A e 04B) em Nhandeara, construída em 1963. Também não
foram encontradas as plantas desta escola, sendo apresentada planta cadastral de
2006, mostrando as alterações do projeto original como a ampliação do conjunto de
salas de aula e a construção de quadra coberta muito próximo ao edifício.

Nota-se que a re-implantação do projeto de Salesópolis, apesar do terreno de


Nhandeara apresentar formato parecido, favorecendo a implantação do mesmo,
muito se perdeu ao não realizar um projeto específico.

 
28

Primeiramente, o terreno de Nhandeara possui certa declividade, exigindo ajustes


em fundações e, provavelmente, a criação de muros de arrimo para manter toda a
escola em nível, como podemos ver nas fotos da figura 04B, pois a re-implantação
implica em não alterar o projeto original do prédio. Além disso, o projeto concebido
para Salesópolis previu junto ao bloco administrativo uma grande empena que
extrapola os limites do bloco, formando ao mesmo tempo um muro de divisa para a
rua e criando nele um acesso administrativo.

Na re-implantação de Nhandeara esta empena ficou distante da divisa, internamente


ao terreno, verificável nas fotos da figura 04B, inclusive com acesso administrativo
por outro lado, tornando assim injustificável a construção de empena tão grande.
Esses desajustes do projeto existente ao terreno demonstram os inconvenientes das
re-implantações em detrimento aos projetos contratados junto à iniciativa privada,
tratados nos próximos capítulos.

 
29

Figura 01 – Implantação, pavimento térreo, corte e elevação da EE Governador Armando de Salles


Oliveira em Sete Barras, projeto de 1961 de autoria do arquiteto João Clodomiro B. de Abreu
(Ferreira e Mello, 2006).

 
30

Figura 02A – Implantação e pavimento térreo da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em
1963 (Arquivo Técnico FDE).

 
31

Figura 02B – Conjunto de fotos da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em 1963 (Arquivo
Técnico FDE).

 
32

Figura 03 – Implantação e pavimento térreo da EE Vereador Elisiário Pinto de Morais em Salesópolis,


projeto sem data identificada de autoria do Arquiteto João Xavier (Ferreira e Mello, 2006).

 
33

Figura 04A – Implantação e pavimento térreo da EE Antonio Perciliano Gaudêncio em Nhandeara,


construída em 1963 (Arquivo Técnico FDE).

 
34

Figura 04B – Conjunto de fotos da EE Antonio Perciliano Gaudêncio em Nhandeara, construída em


1963 (Arquivo Técnico FDE).

 
35

4. Uma nova forma de elaboração de projetos.

Até o início do governo Carvalho Pinto, a rede escolar era composta por projetos
elaborados por funcionários ligados aos órgãos do governo, como o DOP e as
equipes do Convênio Escolar, com destaque para o 2º Convênio, com a presença do
Arquiteto Hélio Duarte e demais arquitetos membros da equipe.

Não há dúvidas de que o salto quantitativo na elaboração de projetos e construção


das escolas não poderia ser absorvido pelos quadros dos órgãos públicos
existentes, mesmo com a contratação de mais funcionários para o Ipesp13 e para o
DOP. Como citado anteriormente, o governo já sabia que não teria tempo suficiente
para realizar as “atividades-meio”, ou seja, reestruturar os órgãos existentes para
que fossem capazes de atender ao previsto em obras no Plano de Ação sem perder
de vista os objetivos do Page, suas “atividades-fim”.

Verificando a autoria dos projetos presentes no livro “Arquitetura Escolar Paulista –


anos 50 e 60”, computamos 94 arquitetos realizando projetos para o Ipesp, somente
para as escolas. Considerando que Alves (2008) em sua pesquisa encontra outros
projetos contratados a arquitetos ou escritórios de arquitetura que não constam em
Ferreira e Mello (2006), como o arquiteto Oswaldo Bratke, podemos considerar que
são cerca de 100 arquitetos contratados pelo Ipesp realizando projetos de escolas
nesse período, incluindo tanto arquitetos experientes quanto recém formados.

Trata-se de uma mudança completa da forma de elaboração de projetos de edifícios


públicos, coincidindo também com uma mudança da forma de como o Estado passa
a tratar os arquitetos paulistas a partir da mudança de governo. O arquiteto Luis Saia
relata com detalhes em artigo elaborado para o jornal Diário de São Paulo, no início
do ano de 1959, como era a relação entre o governo de São Paulo, anterior a
Carvalho Pinto, e os arquitetos paulistas.

                                                            
13
Conforme entrevista com o Eng. Anthero Vieira Machado, em anexo, o IPESP montou uma equipe
de 30 a 40 funcionários exclusivamente para atendimento ao Plano de Acão.

 
36

Tendo havido, em 1952, um novo concurso para o Paço Municipal, e não tendo sido
classificado nenhum projeto em primeiro lugar, o prefeito Armando de Arruda Pereira resolveu
nomear uma equipe que, sob a direção de [Oscar] Niemeyer, se responsabilizou pelo projeto
do Paço Municipal para São Paulo. A orientação subseqüente da prefeitura de São Paulo,
governada por Jânio Quadros, não foi particularmente favorável nem à realização dessa
iniciativa necessária nem, em geral, na prefeitura e no governo do Estado, à arquitetura. Nesse
longo período, que se encaminha para cinco anos, os arquitetos paulistas foram praticamente
desconhecidos, senão atingidos e frontalmente contrariados (como o caso vital dos projetos-
tipo para fóruns, cadeias e edifícios escolares), pelos poderes públicos sediados em São
Paulo. Perseguição imerecida, pois que os arquitetos paulistas já deram mostras cabais da sua
vivacidade criadora e competência, inclusive em concursos realizados fora de São Paulo, como
o da Estação Ferroviária da Pampulha, do Paço Municipal de Campinas, de Brasília, do Palácio
da Justiça de Porto Alegre, oportunidades em que as equipes de arquitetos paulistas
levantaram prêmios confirmatórios de seu inegável valor.

Projetos volumosos e importantes, como os cinemas de Rino Levi, sedes de clubes como a do
Paulistano, elaborada por uma equipe da qual participaram os arquitetos Abelardo [de Souza],
[Zenon] Lotufo, Helio [Penteado] e [Roberto] Aflalo (sujeita agora a um remanejamento parcial
por via de um concurso recentemente realizado), ou do estádio do São Paulo Futebol Clube, do
arquiteto [João Batista Vilanova] Artigas, ou dos diversos projetos de estádios do arquiteto
Ícaro de Castro Mello e edifícios de [Oswaldo] Bratke, Rino Levi, Artigas, etc., delataram um
nível profissional em nada condizente com a atitude governamental paulista em relação aos
seus arquitetos. (SAIA, 1959, p.119).

Apesar da falta de interesse do governo de São Paulo pelos quadros da arquitetura


paulista, a arquitetura brasileira gozava de prestígio internacional, principalmente
devido aos projetos de Brasília.

Indícios nos mostram que a ligação dos arquitetos paulistas com o Ipesp é realizada
através de Plínio de Arruda Sampaio14, coordenador do grupo de planejamento do
Plano de Ação, verificável em duas ocasiões: em ata do Instituto de Arquitetos do
Brasil, Departamento de São Paulo (IAB/SP) e em entrevista concedida a arquiteta
Maria Tereza Regina Leme de Barros Cordido, publicada em sua dissertação de
mestrado.

Na ata de Assembléia Geral Extraordinária do IAB/SP, datada de 20/08/1959, em


certo momento temos a informação de que:

[..] o arquiteto Luis Saia relatou a entrevista mantida com o Dr. Plínio de Arruda Sampaio,
coordenador da equipe que elaborou o Plano de Ação do Governo e que aceitou o convite

                                                            
14
Plínio Soares de Arruda Sampaio nasceu em São Paulo em 1930. Formou-se bacharel em Direito
pela USP em 1954 e obteve o título de mestre pela Universidade de Cornell, Estados Unidos, em
1975. Em 1958, assumiu a subchefia da Casa Civil do Governo Carvalho Pinto, onde coordenou o
Plano de Ação do Governo do Estado de São Paulo (1958-1962). Funcionário da FAO - Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, entre 1965 e 1974, foi também professor do
Departamento de Economia da FGV e da PUC, de São Paulo. Deputado federal por três mandatos
(1962, 1984 e 1986), Plínio Sampaio foi candidato a governador do Estado de São Paulo pelo Partido
dos Trabalhadores em 1990. É professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas). É especialista na questão fundiária no Brasil, tendo trabalhado por 30 anos
na FAO (órgão da ONU voltado para a agricultura e a alimentação) (Fonte: sítio Histórias do Poder).

 
37

deste departamento do IAB para uma palestra e debates amplos, no próximo dia 31, nesta
sede. O arquiteto Leo Ribeiro de Moraes ressalta a importância dessa palestra e recomenda
que se faça ampla divulgação através de circulares e principalmente pela imprensa (IAB/SP,
1959).

Não há registros da palestra citada, porém fica claro que Sampaio era a ponte entre
o Page, e conseqüentemente o Ipesp e os arquitetos paulistas.

Isso é confirmado em entrevista com Sampaio presente da dissertação de mestrado


de Cordido (2007), onde verificamos que o coordenador do Page, à frente de um
grupo de planejamento multidisciplinar, era sensível às observações dos arquitetos
deste grupo, que eram Celso Monteiro Lamparelli, Francisco Whitaker Ferreira e
Domingos Theodoro de Azevedo Netto. Em certo momento da entrevista, Sampaio
comenta sobre a utilização de projetos padrão e a opinião dos arquitetos do grupo
de planejamento sobre isso:

Quer dizer, e aí, como eu andava com os arquitetos, eles chegavam para mim e diziam: - Olha,
Plínio, isso é uma irracionalidade. O que gasta pra preencher o terreno ou tirar o terreno, você
gasta num bom projeto que rompe esse modelo; aproveita o terreno e com qualidade muito
melhor, em sóis melhores, a insolação é bem feita. Bom, eu não era um sujeito inculto, eu
entendia e dizia “sem dúvida, como que é isso?”.

Aí que eu fiquei sabendo que era um padrão. “Não, não, vamos mudar esse negócio, pode
mudar” (SAMPAIO, 2007 in CORDIDO, 2007, p. 306).

Na ata da Assembléia Geral Extraordinária do IAB-SP, de 08/09/1959, temos os


registros da opinião dos arquitetos e os debates realizados perante as contratações
realizadas pelo Ipesp para elaboração dos projetos. Na verdade, verificamos duas
correntes de opinião.

João Batista Vilanova Artigas, Jorge Wilheim e Rubens Carneiro Vianna são
arquitetos que aparecem na ata defendendo a atitude tomada pelo Ipesp quanto à
contratação dos arquitetos paulistas para elaboração dos projetos necessários ao
Page, mesmo sob “contratos irregulares e em desacordo com a Tabela Básica do
Instituto” (IAB/SP, 1959), justificando esta atitude pela falta de estrutura em seus
órgãos oficiais. Esses mesmos arquitetos vêem também nessa atitude do Ipesp uma
oportunidade para o reconhecimento do arquiteto como profissional, sendo esta “a
primeira vez que o arquiteto passa a existir para o Estado como profissional por
meio de contratos de projeto e fiscalização de obras”, reconhecendo que “cada obra
precisa de ter um arquiteto como autor” (IAB/SP, 1959).

 
38

Por outro lado Rui Gama, Luiz Carlos Costa, Francisco Ferreira e Joaquim Guedes
são arquitetos que, nesta assembléia, apresentam-se preocupados com a situação
do desprestígio dos arquitetos funcionários públicos e da falta de organismos de
planejamento de caráter permanente no Estado, concluindo que a atitude do Ipesp
na contratação de escritórios de arquitetura andava na contra-mão de uma
reestruturação da equipe técnica dos órgãos do governo.

Todo esse debate ocorre pouco antes da promulgação da Lei no. 5.444 de
17/11/1959, que dispõe sobre as medidas de caráter financeiro relativas ao Plano de
Ação, prevendo a criação não só do Fece como de outros fundos. Não sabemos até
que ponto a discussão realizada na ata da assembléia de setembro repercutiu no
grupo de planejamento do Page – ou até mesmo os entendimentos com Sampaio –
visto que, nessa mesma assembléia foi decidido que:

A Assembléia autoriza a Diretoria do IAB a promover junto aos órgãos do governo os


entendimentos necessários para ampliar cada vez mais as medidas que vêem sendo tomadas
no sentido de, empregando o esforço criado dos arquitetos paulistas nas obras públicas,
comunicar-lhes o significado cultural da arquitetura brasileira e encarecer a necessidade do
governo se aparelhar de uma equipe de técnicos capazes de levar a bom termo o
planejamento de suas obras. (IAB/SP, 1959).

O resultado da assembléia demonstrava para o governo a preocupação do instituto


com o planejamento das obras públicas, em detrimento à questão das contratações.

A necessidade de criação do Fece pode ter sido reforçada pela classe arquitetônica,
porém tem suas origens no momento histórico internacional pela qual passava a
educação. Em 1958 o secretário da educação do governo de Carvalho Pinto
participou em Washington de um congresso em que a Aliança para o Progresso15
afirmava que a educação era prioritária e que estava disposta a financiar a
construção de prédios. Para isso, os governos deveriam estar preparados, e no caso
de São Paulo, deveria haver uma nova forma de administração, justificando a
criação de um fundo para receber os investimentos internacionais (LAMPARELLI,
2001 in CALDEIRA, 2005). Assim como o Fece, o Fundo de Construção da Cidade

                                                            
15
A Aliança para o Progresso foi um órgão criado pelos Estados Unidos para ajudar e acelerar o
desenvolvimento econômico e social na América Latina. A reunião em Washington em 1958, citada
por Lamparelli, pode ter sido a respeito de necessárias atitudes preliminares por parte dos governos
latino-americanos que permitissem uma posterior ajuda financeira, visto que a Aliança para o
Progresso foi oficialmente criada em agosto de 1961, no governo do então presidente americano
John Fitzgerald Kennedy, posteriormente ao Plano de Ação e a criação do FECE.

 
39

Universitária “Armando de Salles Oliveira” foi criado com os mesmos objetivos:


iniciar um processo de planejamento e criar condições de receber ajuda financeira
internacional.

A forma de trabalho do Fece referente às questões de projeto arquitetônico será


discutida no próximo capítulo, juntamente com a definição e levantamento das
escolas objeto de estudo.

 
40

5. As escolas projetadas para o Ipesp.


 

As escolas selecionadas para o levantamento estatístico realizado neste capítulo e


sua posterior análise no capítulo seguinte são aquelas que tiveram seus projetos
encomendados pelo Ipesp junto aos arquitetos e escritórios de arquitetura paulistas,
durante a vigência do Plano de Ação. São desconsideradas as repetições realizadas
pelos próprios técnicos do Ipesp, conforme já exemplificado.

Ferreira e Mello (2006) publicam seu levantamento totalizando 163 projetos,


incluindo mesmo aqueles que não foram construídos. Apenas 3 projetos desse
levantamento não possuem autor identificado. Alves (2008), por sua vez, realiza
levantamento paralelo, chegando ao número de “237 edifícios construídos segundo
projetos contratados pelo Ipesp” (ALVES, 2008, p.179). Os 74 projetos que não
fazem parte da publicação de Ferreira e Mello (2006) foram encontrados parte no
arquivo técnico da FDE e parte nos arquivos do Ipesp, porém muitas vezes a partir
de carimbos de folhas de outras áreas técnicas como projetos estruturais ou
somente a partir de contratos de prestação de serviços junto aos arquitetos e até
mesmo em autorizações de pagamento, no caso dos registros do Ipesp.

Entendemos que não caberia mais uma investigação desses projetos, uma vez que
o tempo dispensado poderia prejudicar o bom andamento dos trabalhos, fugindo do
objetivo que é a análise dos mesmos. Dessa forma, o presente trabalho adotou
como objeto de estudo os projetos publicados por Ferreira e Mello (2006), excluindo
os três projetos sem autoria identificada resultando, portanto, em 160 projetos.
Consideramos um número expressivo e suficiente para a realização de um
levantamento estatístico e posterior análise, considerando que os demais projetos
tenderiam a apresentar características semelhantes.

Algumas definições se fazem necessárias de esclarecimento antes do levantamento


e análise dos projetos. Os edifícios escolares objeto de estudo, em sua grande
maioria, eram Grupos Escolares, ou seja, escolas projetadas para crianças de 1ª a
4ª séries do ensino primário, compatível com as mesmas séries do atual Ensino
Fundamental. A definição de Grupo Escolar (GE) remonta das primeiras escolas

 
41

projetadas no Estado. Quando da existência de diversas escolas, ou salas de aula


próximas, geralmente multisseriadas16, funcionando precariamente num certo bairro
ou localidade, a implantação do Grupo Escolar teria a função de “agrupar” e
substituir todas essas instalações. Os Grupos Escolares são os mais citados em
toda a literatura pertinente pois a grande demanda de salas de aula era justamente
para a faixa etária que os grupos atendiam.

As escolas projetadas como Ginásios atenderiam as turmas de 1ª a 4ª series do


ensino secundário, compatíveis com a 5ª a 8ª séries do atual Ensino Fundamental.
Além disso, havia os Colégios, com atendimento para 1ª a 3ª séries, compatível com
as mesmas séries do atual Ensino Médio e as Escolas Normais, específicas para
formação de professores.

Existia uma preocupação, pelo menos no Grupo de Planejamento do governo e


Fece, em instalar as séries das diferentes faixas etárias (primário, secundário e
colegial) em prédios específicos.

Também no ensino secundário a administração pública recorreu a medidas de emergência


para ampliar a capacidade da rede oficial de escolas. No município da Capital, onde o emprego
de soluções de emergência se faz em maior escala, 70 entre os 84 estabelecimentos de ensino
secundário instalados em 1960, funcionavam à noite, ocupando a título precário, prédios de
grupos escolares estaduais. (FECE,1963,p. 8)

A precariedade era visível nas instalações, pois o mobiliário dos grupos escolares
era específico para crianças do primário, com mesas e cadeiras pequenas demais
para os alunos do ensino secundário. Além disso, a super-utilização dos edifícios
destinados aos grupos escolares com dois a três turnos diurnos para o primário mais
sua ocupação para aulas à noite para as turmas do ginásio gerava desgaste
prematuro de suas instalações, requerendo freqüentes reformas. Essa clara
distinção entre ensino primário e ginasial, inclusive quanto às suas instalações é
alterada em 1971 pela Lei federal 5692, unificando o ensino primário e ginasial no
chamado Primeiro Grau de Ensino, posteriormente renomeado para Ensino
Fundamental. Essa unificação também refletiu nos edifícios escolares, que tiveram
que se adaptar para receber crianças de 1ª a 8ª séries.

                                                            
16
Salas de aula ou classes multisseriadas eram aquelas onde alunos de séries diferentes estudavam
juntos e com o mesmo professor.

 
42

Para o levantamento e análise dos projetos foram consideradas as nomenclaturas e


definições atuais dos edifícios visto a dificuldade em encontrar nomes originais das
escolas na época de elaboração dos projetos e pela possibilidade de facilitar futuras
consultas a esta pesquisa. Além das usuais mudanças de nome, as escolas estão
distribuídas em EE (Escola Estadual), EMEF (Escola Municipal de Ensino
Fundamental), EMEI (Escola Municipal de Ensino Infantil) e CEFAM (Centro
Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério).

O levantamento estatístico realizado a seguir levou em conta informações que


traçam o perfil das escolas projetadas e que possibilitam diversas considerações.
Primeiramente um comparativo dos critérios de projeto elaborados pelo grupo de
planejamento do governo e Fece com os dados obtidos demonstra o rigor no
atendimento às premissas de projeto, seguidas – ou não – pelos arquitetos. Em
segundo lugar, esse levantamento exibe dados que possibilitam verificar as
condições que permitiram o surgimento dos diversos tipos de prédios escolares
projetados neste período e que este trabalho dividiu por grupos, conforme capítulo 6.

Algumas informações foram desconsideradas do levantamento por diversas razões,


como a impossibilidade de obtenção de informações a partir do material disponível,
dificuldade de sistematização em virtude da ampla gama de informações, presença
constante de algum elemento construtivo ou dado que torna inútil seu levantamento
ou por simplesmente não contribuir para o objetivo do mesmo, que é a análise dos
projetos, realizada principalmente a partir de aspectos formais e espaciais.

Os revestimentos indicados em projetos e verificados nas escolas são um exemplo.


Considerando que um dos critérios para projeto era minimizar a manutenção e
reduzir custo de obra, nos casos onde é possível verificar a indicação em projeto,
freqüentemente nos deparamos com materiais aplicados em sua forma bruta, como
concreto aparente pintado e tijolos aparentes, além de alvenaria revestida e pintada
e barra impermeável de azulejos nas áreas molhadas. Em pisos, verifica-se os
cerâmicos, cimentados ou de madeira, neste último caso em salas de aula.

Quanto a solução estrutural a predominância é, sem dúvida, do concreto armado,


utilizado desde em soluções singelas, de pequenos vãos de vigas, até em grandes
vãos com parte dos projetos em pórticos estruturais. Mesmo com a superestrutura
em concreto, a estrutura de cobertura é diversa, com a presença de laje ou estrutura

 
43

de madeira, cujo levantamento foi contemplado por apresentar forte influência na


volumetria final da edificação. Existem alguns projetos em estrutura metálica, porém
são exceções, como a EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de
1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (figuras 05A, 05B, 5C, 5D e 5E).

Os critérios para levantamento estatístico e classificação das escolas objeto de


estudo e os resultados obtidos foram os seguintes:

1. Área do terreno.
As informações sobre área dos terrenos das escolas em estudo são material de
subsídio para justificar outras características das edificações, como verticalidade,
esquema de circulação e ocupação no terreno em número de blocos (ver tabela 03).

Como exemplo temos, na figura 06, projeto da EE Dr. Morato de Oliveira, em


Suzano, desenvolvido em 1961 pelo arquiteto Abelardo de Souza. O terreno da
escola tem 5.400,00m², muito próximo à média geral dos terrenos oferecidos ao
Ipesp para a construção de escolas. Apesar de apresentar programa com 10 salas
de aula, incluindo duas salas do pré-primário (maior que a média geral, conforme
tabela 09), blocos espalhados pelo terreno e ser uma escola térrea, ainda
verificamos áreas ociosas na implantação.

Tabela 03: Áreas de terreno.

Maior terreno Menor terreno Média geral

Área 20.000,00m2 1.470m2 5.532,20m2

O Fece também realizou levantamento estatístico, no final do Plano de Ação, dos


terrenos de prédios de escolas novas construídas entre 1959 e 1963, calculado com
base em duas amostras de 100 unidades cada uma respectivamente para o interior
e para a capital (FECE, 1963, p.104), conforme tabela 04. Apesar de adotar outro
critério de agrupamento, por freqüências, verificamos que as informações não são
muito diferentes das encontradas na tabela 03. O Grupo de Planejamento do
Governo determinou que o tamanho dos terrenos devesse ser de 35 a 45m2 por
sala de aula, critério adotado também pelo Fece.

 
44

Tabela 04: Áreas de terrenos de prédios para grupos escolares construídos entre 1959 e 1963
(FECE, 1963, p.105).

2. Área ocupada e construída.


O resultado do levantamento da área ocupada e construída dos projetos objeto de
estudo encontra-se na tabela 05. Verifica-se que a relação média da área construída
por numero de salas de aula (tabela 07) é de 157,19m2, valor acima do indicado pelo
Fece, que determinava 149,00m2 por sala de aula para prédios com 7 salas de aula,
142,00m2 por sala de aula para prédios com 12 salas de aula e 139,00m2 por sala
de aula para prédios com 18 salas de aula (FECE, 1963. p.106). Além disso, a
amplitude dos resultados é grande, de 69,20m2 até 347,73m2 por sala de aula,
conforme tabela 07, demonstrando a grande variedade dos projetos em análise. No
levantamento realizado, as salas do pré-primário foram consideradas na totalização
de salas de aula por escola.

 
45

A relação das áreas ocupadas e construídas com o terreno (tabela 6) nos fornece as
taxas de ocupação (TO) e os coeficientes de aproveitamento (CA). Os baixos
valores apresentados e a semelhança de resultados entre os índices –
aproximadamente 0,3, ou 30% - demonstram a generosidade dos terrenos com
relação ao programa arquitetônico e a horizontalidade das edificações, visto que as
taxas de ocupação e os coeficientes de aproveitamento são muito parecidos. Assim
como na relação de áreas por sala, temos grande variação em TO e CA.

Tabela 05: Média de áreas ocupadas e construídas e seus extremos.

Área Área Área Área Área Área


ocupada ocupada ocupada construída construída construída
menor máxima média menor maior média

2
Área (m ) 594,50 5.216,00 1.367,03 602,00 5.995,25 1.631,17

Tabela 06: Média de TO, CA e seus extremos.

TO menor TO máximo TO médio CA menor CA maior CA médio

Resultado 0,08 0,58 0,27 0,09 0,74 0,32

Tabela 07: Relação área construída / salas de aula e seus extremos.

menor maior média

2
Área (m ) 69,20 347,73 157,19

 
46

3. Orientação das salas de aula.


O resultado deste levantamento é confrontante com as premissas de períodos
anteriores como nas escolas da década de 30 e do 2º Convênio Escolar, com
relação à procura da face leste, do sol “higienizador” que tinha como maior tarefa
evitar a infecção e propagação de doenças como a Tuberculose. Neste caso parece
que novos conceitos foram introduzidos, principalmente por se tratar de projetos
elaborados para regiões de altas temperaturas, aparecendo a face sul como a de
maior incidência nos projetos, conforme tabelas 08 e 09. Outros motivos justificam a
procura da face sul, como vemos em texto sobre a EE Conselheiro Crispiniano em
Guarulhos, projeto de 1960 de João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi:

As salas de aula olham para o sul a fim de manter uma iluminação constante. Por outro lado,
elas estão dispostas de forma a não sofrerem influência da natural agitação do pátio da frente,
onde os alunos farão ginástica e jogos diversos (ARTIGAS; CASCALDI, 1962, p.156).

É justamente nas décadas de 50 e 60 que a Tuberculose e outras doenças passam


a ser tratadas com remédios específicos, tornando obsoletos os grandes sanatórios
e hospitais construídos exclusivamente para seu tratamento e deixando mais flexível
as possibilidades de insolação nas edificações, incluindo as das salas de aula.

A figura 06, citada acima, também tem como característica as salas de aula voltadas
para a face sul.

Tabela 08: Orientação solar de salas de aula voltadas somente para uma face.

Norte Sul Leste Oeste Nordeste Noroeste Sudeste Sudoeste

Nr. 10 31 24 6 7 6 24 18
(6,25%) (19,38%) (15%) (3,75%) (4,38%) (3,75%) (15%) (11,25%)

Tabela 09: Orientação solar de salas de aula voltadas para mais de uma face.

L/O N/S/L N/S/L/O NE/SO N/S S/O SE/NE SE/NO SE/SO

Nr 4 1 1 2 14 1 1 1 2

(2,5%) (0,63%) (0,63%) (1,25%) (8,75%) (0,63%) (0,63%) (0,63%) (1,25%)

OBS: nas tabelas 08 e 096, sete escolas não apresentaram informações de orientação solar

 
47

4. Número de pavimentos.
A verticalidade das edificações tem relação direta com a área do terreno e número
de salas de aula. Dois terços das escolas avaliadas são térreas conforme dados da
tabela 10, justificável principalmente pelas áreas de terreno proporcionalmente
grandes com relação a área construída das escolas.

Não foram encontradas, para os projetos, recomendações de qualquer tipo quanto a


verticalidade das escolas, sendo muito provável que este fator fosse de livre escolha
dos arquitetos, conforme Machado (2007). Na verdade, essa livre escolha esteve
sempre condicionada às demais informações para projeto como topografia, relação
área construída / área do terreno entre outros.

Tabela 10: Número de pavimentos.

Térreo 2 pavimentos 3 pavimentos

Quantidade 99 (61,88%) 54 (33,75%) 7 (4,38%)

5. Formato das salas de aula.


Os projetos de escolas elaboradas para o Ipesp encontram-se num período de
transição entre os edifícios com salas de aula de formato retangular adotadas desde
as escolas da 1ª República, com os caixilhos sempre num dos lados maiores, e o
período posterior, onde a sala de aula passa a ter formato quadrado como padrão a
partir do momento em que o Fece passa a atuar como entidade construtora, em
1966, em torno de 7,00m x 7,00m, utilizado até os dias atuais.

Como diretriz para os arquitetos contratados pelo Ipesp, as salas de aula deveriam
ser projetadas com 6,00 x 8,00m ou 7,00 x 7,00m, neste último caso sendo
obrigatória a utilização de iluminação bi-lateral (FECE, 1963, p.106). A tabela 11
apresenta a quantidade de projetos para cada tipo de sala de aula com
predominância das salas retangulares e, na figura 06 citada acima, temos uma
exceção à regra: salas de aula retangulares, porém com o lado menor com caixilhos.
Não foram encontrados os projetos originais para maiores investigações, porém
acreditamos que, pelos menos, ocorre a iluminação bi-lateral conforme definido pelo
Grupo de Planejamento do governo e reiterado pelo Fece.

 
48

Tabela 11: Formato das salas de aula.

Retangular (6x8) Quadrada (7x7)

Quantidade 119 (74,38%) 41 (25,62%)

6. Número de salas de aula.


A amplitude do número de salas de aula nos projetos estudados é enorme: escolas
de 5 a 23 salas de aula, conforme tabela 12, e uma média de 9,25 salas de aula por
escola. Não foram somadas as salas de aula para o pré-primário, que são objeto de
levantamento e análise específicos.

O Grupo de Planejamento do governo elaborou programas para os projetos dos


grupos escolares, considerando 3 capacidades: 6, 10 e 16 salas de aula e variações
para esses três grupos, com 4, 8 e 12 salas de aula, nesses casos prevendo a
possibilidade de ampliação da escola, conforme tabela 13.

Existe, portanto, uma diferença do limite máximo de salas de aula. A maior escola
analisada é o CEFAM Santa Fé do Sul em Mauá com 23 salas de aula, projeto de
1960 de autoria do arquiteto Maurício Tuck Schneider. Com este, temos um total de
07 projetos (4,38%) com número de salas de aula acima do limite máximo
estabelecido em programa.

Tabela 12: Número de salas de aula.

Maior Menor Média

Quantidade 23 5 9,25

 
49

Tabela 13: Programas adotados na elaboração de projetos para grupos escolares (FECE,1963,p.107)

 
50

7. Esquema de circulação X salas de aula.


As opções de circulação das salas de aula, primeiramente com as portas das salas
abrindo para corredores laterais ou como segunda hipótese, com circulações em
corredores centrais a conjuntos de salas em ambos os lados, não tem regra definida
pelo Grupo de Planejamento do governo ou pelo Fece. A única recomendação do
Fece nesse sentido é que se evitasse abrir as portas de salas de aula diretamente
para o recreio coberto.

De qualquer forma, é mínima a porcentagem de projetos com corredor central


compartilhado por conjuntos de salas de aula em ambos os lados. Isto reflete a já
verificada generosidade de área de terreno que possibilita situações diversas para
as edificações. O esquema sala x circulação x sala é um recurso de economia de
área construída e em casos de terrenos pequenos que resultam na verticalização
dos prédios.

A tabela 14 mostra as porcentagens de cada esquema de circulação e a Figura 06,


citada acima, mostra-se como exemplo de escola com a opção típica de sala x
circulação.

Tabela 14: Esquemas de circulação.

salaXcirculação salaXcirculaçãoXsala dois tipos

Quantidade 146 (91,25%) 12 (7,5%) 02 (1,25%)

8. Tipo de cobertura.
A partir dos levantamentos anteriores sobre a verticalidade das edificações em
estudo, que concluíram que a quase totalidade dos prédios é térrea ou de dois
pavimentos, é fato que essa resultante horizontalidade requer proporcionalmente
uma área de cobertura igual ou ao menos metade da área edificada e, portanto,
torna-se importante para levantamento estatístico quanto às soluções técnicas
empregadas.

Além disso, a presença ou ausência da cobertura nas fachadas é marcante na


volumetria geral das edificações, auxiliando na classificação formal das mesmas.
Sob esse enfoque, os projetos foram divididos em telhado convencional, geralmente

 
51

em telhas de barro com duas ou quatro águas simétricas e seus tradicionais


detalhes de cumeeira e beiral, telhado embutido, que a princípio pode ter as
características dos telhados convencionais, porém embutidos em platibandas e
empenas, não visíveis ao olhar dos usuários, minimizando visualmente elementos
construtivos na volumetria final das edificações, jogo de telhados, neste caso
utilizando a cobertura em situações inusitadas como panos de cobertura
sobrepostos, acompanhando desníveis internos das edificações ou simplesmente
aplicada de forma a gerar uma volumetria final diferenciada e laje impermeabilizada,
plana ou inclinada, nesse caso minimizando a interferência da cobertura à
volumetria final das edificações, a não ser pelo tratamento dado às platibandas.

O resultado desse levantamento, representado na tabela 15, mostra que o


pragmatismo das soluções está em 35% dos projetos que apresentaram telhado
convencional. Os outros 3 grupos somam 65% dos projetos. Verificamos que havia,
portanto, uma tendência dos arquitetos contratados em propor um tratamento formal
diferenciado em seus projetos, o que vai de encontro com as informações obtidas na
entrevista com Machado (2007), a respeito da grande liberdade projetual dos
escritórios contratados pelo Ipesp.

A figura 06, que exemplifica diversas características construtivas já descritas neste


capítulo, foi classificada como projeto de telhado convencional.

Tabela 15: Tipos de cobertura.

Telhado Telhado Jogo de Laje


convencional embutido telhados impermeabilizada

Quantidade 56 (35%) 44 (27,50%) 27 (16,88%) 26 (16,25%)

9. Número de blocos.
Foram definidas como blocos as diversas edificações de uma escola espalhadas
pelo terreno, volumes claramente independentes, interligados por passagens
cobertas. A tabela 16 mostra a estatística obtida neste levantamento, sendo a
maioria das escolas elaboradas com um ou dois blocos. Foi levantado projeto de até
6 blocos, caso único verificado no projeto da EE João Portugal em Tanabi, sem data

 
52

identificada, de autoria dos arquitetos Salvador Cândia e Fernando Arantes (figura


07).

Tabela 16: Número de blocos.

Bloco único 2 blocos 3 blocos 4 blocos 5 blocos 6 blocos

Quantidade 40 63 34 18 4 1
(25%) (39,38%) (24,25%) (11,25%) (2,5%) (0,63%)

10. Se o projeto foi construído ou não.


A substituição de projetos elaborados através de contratos com escritórios de
arquitetura por re-implantações de projetos existentes foi exemplificada no capítulo
3, sobre os métodos de trabalho do Ipesp. A tabela 17 mostra as porcentagens de
projetos construídos. Apenas 11,25% dos projetos não foram construídos o que,
conforme entrevista com Machado (2007), representavam exceções.

Tabela 17: Projetos construídos.

Construídos Não construídos

Quantidade 142 (88,75%) 18 (11,25%)

11. Simetria do projeto.


Foi realizado um levantamento sobre a simetria em planta dos projetos estudados,
sobre sua simples presença ou ausência, considerando todo o conjunto edificado.
Interessante notar a volta da simetria, mesmo em poucos projetos, após sua maciça
ocorrência nos prédios construídos na 1ª República. A tabela 18 apresenta o
resultado do levantamento estatístico.

Tabela 18: Simetria do projeto.

Simétrico Não simétrico

Quantidade 19 (11,88%) 141 (88,12%)

 
53

12. Presença das salas do pré-primário;


A presença de salas de aula para o pré-primário e os ambientes relacionados às
mesmas são uma constante nos programas arquitetônicos elaborados pelo Grupo
de Planejamento do governo, reiterados pelo Fece, conforme tabela 13.

O resultado da presença dessas salas de aula nos projetos estudados mostra outra
realidade. 33% dos projetos não apresentam dependência alguma com relação ao
pré-primário, parecendo que as informações de Machado (2007), em sua entrevista,
estão corretas, porém divergentes dos programas arquitetônicos da época, quando
cita que algumas prefeituras pleiteavam salas para o pré-primário, sendo previstas
em projeto após autorização do Grupo de Planejamento do governo.

Outra questão a considerar é que dentre os 160 projetos estudados, parte dos
mesmos não são grupos escolares, que contemplariam alunos com faixa etária mais
próxima ao daqueles do pré-primário. No levantamento realizado por Alves (2008),
verificamos que, das escolas em estudo, 19 foram concebidas como ginásios, – a
maior parte – colégios ou escolas normais e verificamos que nesses casos nenhuma
dessas escolas apresenta ambientes para o pré-primário. Em outros 19 projetos não
foi possível identificar o nível de atendimento. Os 122 projetos restantes foram
concebidos como grupo escolares.

O Fece, em suas Diretrizes para Projetos, também orienta sobre as dependências


do pré-primário. Acreditamos que essas diretrizes tenham sido elaboradas pelo Fece
sem antecedentes no Grupo de Planejamento do governo, pois as mesmas são
seguidas em apenas parte dos projetos e, mesmo assim, somente parte das
recomendações, como o tamanho das salas de aula.

11. As salas do curso pré-primário deverão ter o mesmo tamanho das do curso primário. Os
alunos daquele deverão dispor de entrada, área livre, galpão e sanitários independentes. O
curso pré-primário, entretanto, não deverá ser totalmente isolado do conjunto do Grupo
Escolar; seus alunos e os do curso primário são atendidos pelo mesmo dentista, médico ou
educadora sanitária; seus professores se utilizam da mesma sala de professores do curso
primário; a administração de todo o conjunto é uma só. (FECE,1963,p.110-111)

A tabela 19 apresenta o resultado do levantamento realizado.

 
54

Tabela 19: Salas do pré-primário.

Com salas de pré-primário Sem salas de pré-primário

Quantidade 107 (66,88%) 53 (33,12%)

13. Ambientes complementares;


No item número de salas de aula foram realizados comentários sobre o programa
arquitetônico dos projetos, especificamente sobre as próprias salas de aula que,
dependendo da quantidade, requeriam áreas e ambientes específicos das demais
dependências da escola, como verificado na tabela 13.

Denominamos ambientes complementares aqueles que complementam as


atividades didáticas, de vivência, de serviços ou que prestam algum serviço ligado
a saúde pública, sendo todos listados abaixo. Os ambientes citados são aqueles
que foram encontrados nos projetos estudados.

Ambientes ligados ao setor pedagógico:


- Biblioteca;
- Laboratório;
- Trabalhos manuais;
- Sala Ambiente;
- Sala de desenho.
Ambientes ligados ao setor de vivência:
- Palco;
- Grêmio;
- Quadra coberta;
- Quadra descoberta;
- Anfiteatro;
- Auditório;
Ambientes ligados a saúde pública:
- Sala do médico;

 
55

- Gabinete dentário;
- Sala do educador sanitário;
- Sala de exame biométrico.
Ambiente ligado ao programa de serviços:
- Zeladoria.

O Fece demonstra claramente que a construção das salas de aula era o mais
importante, ficando as dependências não imprescindíveis para o funcionamento da
unidade escolar a serem construídas em outro momento (FECE,1963,p.16).
Mesmo assim, alguns ambientes são considerados imprescindíveis e constam dos
programas por ele desenvolvidos, como a biblioteca e os ambientes ligados à
saúde pública: gabinete dentário, gabinete médico e educador sanitário.

O levantamento dos ambientes complementares tem seu resultado expresso na


tabela 20. Foram encontrados muitos ambientes que não constam do programa
arquitetônico da tabela 13, elaborado pelo Grupo de Planejamento do governo e
adotado pelo Fece.

Tabela 20: Ambientes complementares.


biométrico
Trabalhos

anfiteatro

ambiente
zeladoria

desenho
auditório
manuais

Sala de
coberta
Quadra

Quadra

Exame
desc.

Sala

Quantidade 07 17 09 06 13 03 05 03 03

4,38% 10,63% 5,63% 3,75% 8,13% 1,88% 3,13% 1,88% 1,88%


laboratório
biblioteca

educador
sanitário
dentista
médico

cantina

grêmio
palco

Quantidade 122 59 150 132 21 53 15 18

76,25% 36,88% 93,75% 82,50% 13,13% 33,13% 9,38% 11,25%

Para que a tabela 20 não ficasse extensa demais, os ambientes que aparecem
apenas uma vez não fazem parte da mesma, e são listados abaixo:

 
56

- Museu Pedagógico, na EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961


elaborado pelo arquiteto Salvador Cândia (figuras 08A, 08B e 08C).

- Sala de ciências, economia doméstica, sala de artes, artes industriais, laboratório


de física, laboratório de química e laboratório de biologia, todos na EE Adamastor de
Carvalho – originalmente denominado Ginásio de Utinga – em Santo André, projeto
de 1962 elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
(figuras 09A e 09B).

Tanto o projeto de Candia, como o de Artigas e Cascaldi são de grandes dimensões


– 16 e 21 salas de aula respectivamente – possivelmente justificando ambientes não
presentes nos programas arquitetônicos vigentes17. No projeto de Candia, além do
Museu Pedagógico citado acima, temos quadra coberta, anfiteatro, laboratórios,
entre outros ambientes. Na entrevista com Machado (2007), o mesmo relata que os
arquitetos contratados tinham grande liberdade projetual, inclusive quanto ao
programa arquitetônico, o que concordamos em parte, pois via de regra os
programas eram seguidos, conforme levantamento presente na tabela 20. Pressões
políticas das prefeituras para angariar ambientes específicos como quadras cobertas
e laboratórios junto ao Ipesp e ao governo do Estado poderiam muito bem ocorrer
(MACHADO, 2007), justificando também esses desvios dos programas vigentes,
apesar do governo Carvalho Pinto e toda a sistematização do Page ser
eminentemente técnica.

A respeito da biblioteca, mesmo sendo um ambiente imprescindível para o Fece e


constante em todos os programas arquitetônicos por ele adotados, o mesmo não é
presente na totalidade dos projetos das escolas levantadas (76,25%). O gabinete
dentário, por exemplo está presente em 93,75% das escolas, mais que a biblioteca.
É provável que isso se deva à forma com que o ambiente biblioteca era entendido,
conforme consta nas Diretrizes de Projetos do Fece:

8. A Biblioteca nos cursos primários funciona principalmente como local para guarda de livros e
como Biblioteca Circulante (emprestando livros). Nunca, toda uma classe vai à biblioteca para
ler. Esta pode, portanto, funcionar num pequeno “hall”, que sirva igualmente para exposição de

                                                            
17
O projeto da EE Adamastor de Carvalho foi concebido como ginásio, portanto seu programa não se
encaixa dentro daqueles elaborados pelo Fece para os grupos escolares. Não encontramos registros
de programas arquitetônicos elaborados especificamente para ginásios, colégios ou escolas normais
dentro do período em estudo.

 
57

trabalhos de alunos e onde haja um recanto com armários destinados à guarda de livros e
espaço para algum mobiliário. (FECE,1963,p.110).

Da forma como o espaço da Biblioteca poderia ser elaborado, entendemos que


muitos arquitetos podem ter destinado locais de pequenas dimensões até mesmo
com função de exposição de trabalhos de alunos ou outras funções, parecendo não
existir este ambiente. O texto acima é coerente com as áreas definidas pelos
programas arquitetônicos presentes na tabela 13, destinando de 10 a 25m2 de área
para a Biblioteca, numa demonstração de pouca importância em se tratando de
áreas entre 20 a 50% de uma sala de aula.

 
58

Figura 05A – Implantação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Ferreira e Mello, 2006).

 
59

Figura 05B – Implantação, elevações e detalhes da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).

 
60

 
Figura 05C – Planta e elevação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).

 
61

 
Figura 05D – Planta, cortes e elevações da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto
de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).

 
62

Figura 05E – Conjunto de fotos da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).

 
63

Figura 06 – Implantação, pavimento térreo, cortes e elevações da EE Dr. Morato de Oliveira em


Suzano, projeto de 1961 de autoria do arquiteto Abelardo de Souza (Ferreira e Mello, 2006).

 
64

Figura 07 – Implantação, corte e elevação da EE João Portugal em Tanabi, sem data identificada, de
autoria dos arquitetos Salvador Cândia e Fernando Arantes (Ferreira e Mello, 2006).

 
65

Figura 08A – Implantação e plantas da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006).

 
66

Figura 08B – Cortes e Elevações da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006).

 
67

Figura 08C – Conjunto de fotos da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado pelo
arquiteto Salvador Cândia (Arquivo técnico FDE).

 
68

Figura 09A – Implantação, plantas, corte e elevação da EE Adamastor de Carvalho em Santo André,
projeto de 1962 elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira
e Mello, 2006).

 
69

Figura 09B – Conjunto de fotos da EE Adamastor de Carvalho em Santo André, projeto de 1962
elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP).

 
70

6. Análise dos projetos.

Preliminarmente à análise dos projetos selecionados, foi realizada uma pesquisa


sobre estudos existentes a respeito das escolas do Ipesp.

Wisnik (2006) em seu texto “O programa escolar e a formação da “escola paulista18”


“comenta:

Por outro lado, como dissemos, apesar da falta de homogeneidade geral, é de dentro da
produção do Ipesp que surge uma linha forte para a arquitetura brasileira subseqüente, a partir
das escolas projetadas por Artigas entre 1959 e 1960 (WISNIK, 2006 in FERREIRA E MELLO,
2006, p.65).

Ainda conforme Wisnik (2006), verificamos que o mesmo também apresenta, numa
rápida análise dos projetos, uma classificação das escolas objeto de estudo, sendo
as características dos grupos ressaltadas pelo autor e brevemente descritas abaixo:

1. Grupos de escolas semelhantes aos do 2º Convênio Escolar;


2. Grupos de escolas feitas “com materiais e desenhos muito singelos –
alvenaria de tijolos, tesouras de madeira e telhas de barro, com pavilhões
lineares, em forma de “L” ou de “U”” (WISNIK, 2006 in FERREIRA E MELLO,
2006, p.65);
3. Projetos com soluções de notável arrojo técnico e espacial, como as
estruturas porticadas;
4. Projetos que se colocam em linha de continuidade com as escolas de Artigas;
5. Projetos com volumes térreos e cobertura inclinada criando mezanino corrido;
6. Projetos com solução variante do partido que resultam das escolas de Artigas,
construções em dois níveis abertas a uma faixa central contínua com pé-
direito duplo;

                                                            
18
A produção arquitetônica que se enquadra na chamada “escola paulista”, realizada em São Paulo a
partir da década de 60 tem, grosso modo, como características construtivas, volumétricas e espaciais
aquelas descritas no grupo 1 deste capítulo, composto por projetos pertencentes a essa linha
arquitetônica. A origem da “escola paulista” é composta por diversos fatores: o caráter de
continuidade à linha carioca, estar ligada a cursos de arquitetura com origens na engenharia e não
nas belas-artes como no Rio de Janeiro, estar presente no Estado de São Paulo, maior pólo industrial
do país, numa constante busca de novas soluções tecnológicas e de industrialização na construção
civil inserido numa política nacional-desenvolvimentista da época e estar ligado politicamente a ações
de esquerda (SEGAWA, 1998).

 
71

Alves (2008) faz, em sua tese de doutorado, análise com enfoque diferente daquele
de Wisnik, creditando importância aos materiais empregados, porte das escolas e
período de elaboração entre outros, como vemos abaixo19:

1. Projetos de arquitetura moderna e tradição construtiva. Projetos que


apresentam “preocupação com as implicações culturais no campo da
construção de uma arquitetura nacional e/ou popular, até a opção pela
utilização a mais correta dos materiais e mão de obra disponíveis” (ALVES,
2008, p.200);

2. Projetos de arquitetura moderna e pragmatismo. Projetos elaborados pelos


arquitetos Oswaldo Bratke, Plinio Croce e Roberto Aflalo, que colocam em
primeiro lugar o atendimento aos condicionantes estabelecidos no programa
de necessidades e as possibilidades técnicas locais e em segundo plano o
caráter autoral do projeto de arquitetura, seus desígnios ligados à concepção
de mundo e suas perspectivas pessoais;

3. Vilanova Artigas e os projetos iniciais. Alves não define um “grupo”


propriamente dito, mas explicita a grande diferença entre os primeiros
projetos elaborados no início do governo Carvalho Pinto para o Ipesp
indicando os projetos de Vilanova Artigas como diferenciais nesta primeira
fase, influenciando muitos arquitetos nos projetos elaborados posteriormente;

4. Paulo Mendes da Rocha e Joaquim Guedes. O autor cita esses dois


arquitetos como representantes de uma produção única, influenciada por
Artigas, porém diferenciada dos demais arquitetos;

5. Edifícios de grande porte: Alves avalia os edifícios de grande porte como


pertencentes a um grupo diferenciado, por apresentarem soluções mais
complexas quanto à organização do programa arquitetônico, sistema
estrutural e relação com a cidade.

João Batista Vilanova Artigas é citado tanto por Wisnik (2006) como por Alves (2008)
como autor de escolas diferenciadas. Seu nome encabeça grupos em ambos os
                                                            
19
Os grupos descritos sobre o doutorado de André Augusto de Almeida Alves são uma interpretação
própria daquele material, visto que a classificação contida naquele trabalho apresenta maiores
divisões como “educação e arquitetura” e “arquitetura e educação” entre outras informações.

 
72

autores e ainda é citado como influência para outros grupos. É inegável a


importância de Artigas no presente objeto de estudo.

Segawa (1998) sintetiza não só a presença e influência de Artigas no cenário


arquitetônico paulista como, de uma forma indireta, comenta sobre as diversas
“arquiteturas” geradas a partir de soluções diversas para as mesmas preocupações
da época. É possível considerar que as “vertentes” citadas por Segawa são
espelhadas nos grupos descritos neste capítulo.

Vilanova Artigas era um personagem carismático, professor eloqüente e articulado, militante de


esquerda: perfil que lhe granjeou admiração, seguidores e vasta influência, como detratores e
adversários. Mas não se pode creditar a ele a solitária tarefa de formulação de uma linguagem
desenvolvida em São Paulo. À maneira da linha carioca, a linha paulista também foi um
conjunto de vertentes não formalmente em acordo entre si, unitário, mas, examinadas em seus
fundamentos, derivadas de uma saudável dialética entre as duas escolas de arquitetura (USP e
Mackenzie), um ativo departamento regional do Instituto de Arquitetos e profissionais
independentes, respeitados por suas realizações, em torno de preocupações concernentes à
maioria. Grosso modo, cada vertente poderia ser distinguida como uma resposta possível a
essas questões comuns. A identidade paulista, portanto, não se encontra somente na
similaridade formal que obras de alguns arquitetos podem compartilhar, mas de pressupostos
iniciais comuns que geraram respostas distintas. (SEGAWA, 1998,p.148).

A influência de Artigas por sua ativa presença acadêmica e nos órgãos de classe é
também citada nas entrevistas presentes no final deste volume. Machado (2007)
comenta que o Ipesp preferiu contratar inicialmente os profissionais que eles
consideravam como os melhores do mercado, pois ainda não tinham clareza do tipo
de produto que o Instituto deveria receber através das contratações. Artigas foi um
desses profissionais, tendo um projeto construído já em 1959, a EE Jon Teodoresco
em Itanhaém, conhecida na época como Ginásio de Itanhaem.

Artigas também implanta e difunde a chamada arquitetura “brutalista paulista” nas


escolas do Estado de São Paulo, uma vez que a arquitetura moderna já se via
consolidada desde os projetos elaborados pela Comissão Executiva do 2º Convênio
Escolar.

A austeridade e o respeito no uso de materiais à vista (tidos como acabamentos em si), a


preocupação por um funcionalismo não necessariamente mecanicista, foram evidências
formais que, associadas às obras de Vilanova Artigas e seu grupo, geraram a alcunha de
“Brutalismo Paulista” ao trabalho dos arquitetos de São Paulo (SEGAWA, 1998,p.150).

A ausência de revestimento nas estruturas de concreto aparente despontou como


solução perfeita para as escolas do Ipesp, uma vez que a mesma representava
menor custo e facilidade de manutenção (MACHADO, 2007), sendo este segundo
item tecnicamente contestável. Novamente o Ginásio de Itanhaem é pioneiro nesse

 
73

tipo de arquitetura, considerando que o projeto, de cunho moderno, foi concebido


totalmente em concreto aparente, solução também utilizada nos demais projetos de
Artigas e Cascaldi para o Ipesp. No caso do projeto de Itanhaem, o mesmo previa
que o concreto fosse pintado de branco.

Para a análise e classificação propostas neste trabalho entendemos que alguns


critérios não colaboram para a análise dos projetos e dessa forma não foram
considerados determinantes para as classificações como relação com o entorno, já
que a maioria das escolas foi construída em locais de baixa ocupação e pouca infra-
estrutura e utilização de materiais e técnicas locais, visto que inúmeros fatores
relativos à execução das obras colaboram para particularizar os projetos nesse
sentido.

Dessa forma, o método de classificação adotado leva em conta dois aspectos


fundamentais: a espacialidade interna e o tratamento formal, e é embasado pelos
dados estatísticos levantados, apresentados no capítulo anterior.

Abaixo estão relacionados 4 grupos de projetos, selecionados pelos critérios acima


citados. Para cada grupo, além de exemplos de projetos representados por plantas,
cortes e elevações, são apresentados desenhos esquemáticos em planta e corte
que procuram sintetizar as características fundamentais de cada grupo, numa
tentativa de facilitar o reconhecimento do grupo a que cada projeto pertence.

Grupo 1: Rigidez formal e valorização do espaço interno.


Os projetos desse grupo adotam sempre o bloco único, que abriga todo o programa
funcional. Além disso, sempre fazem com que o galpão, ou recreio coberto e, em
alguns casos também o recreio descoberto, seja o centro das atenções, buscando
sempre algum tipo de integração. São escolas que permitem “ver a todos” e “ser
visto por todos”.

É uma arquitetura “introspectiva”. Apesar de esses espaços internos apresentarem


seus acessos a áreas externas ao bloco conciso, é clara a preocupação com a
ambientação interna e com a sensação de amplitude, tanto que a relação de
proximidade das salas de aula com o galpão é física em escolas de porte menor e
visual nas escolas de programa mais complexo. Enfim, não importa a topografia do
terreno ou o tamanho do programa, os objetivos dos projetos deste grupo são muito

 
74

claros, a ponto de contrariar as Diretrizes para Projetos elaboradas pelo Fece: “5.
Nenhuma sala de aula ou dependência administrativa deverá abrir para o galpão.”
(FECE,1963,p.110).

Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi foram os pioneiros na elaboração desse tipo de


arquitetura em seu projeto para a EE Jon Teodoresco em Itanhaem em 1959 (figuras
10A, 10B, 10C e 10D). Uma escola pequena, com apenas 05 salas de aula,
laboratório, biblioteca e sala de trabalhos manuais. Apresenta-se em bloco único
com estrutura em pórticos, pilares trapezoidais, laje impermeabilizada e vigas
vencendo grandes vãos. Para iluminação e ventilação dos sanitários de alunos que
se encontram no meio do bloco, foi criado trecho descoberto entre pórticos que
acaba por setorizar a área administrativa da área de recreação.

É possível verificar a preocupação com o conforto térmico a partir de detalhes de


projeto que indicam materiais isolantes e forro. Além disso, os grandes beirais
resultantes do formato dos pilares sombreiam os ambientes das fachadas que
possuem caixilhos. As salas de aula estão dispostas na face sul como a maioria das
escolas estudadas.

Artigas e Cascaldi previram acesso único através da fachada oeste, criando


pequeno desnível entre a área pedagógica – salas de aula – e a área administrativa,
separando as entradas de alunos e administrativa sem a necessidade de barreiras
físicas, mantendo internamente a amplitude visual. Neste mesmo acesso foi
executada uma composição em cerâmica vitrificada denominada “Painel Anchieta”,
de autoria do artista Francisco Brennand, recuado da empena oeste e visto por
todos que entram na escola.

Recentemente a EE Jon Teorodesco passou por uma reforma que resgatou muito
de suas características originais, porém ainda se mantém elementos
descaracterizadores do projeto como a construção de ambientes realizada no
recreio coberto e os diversos fechamentos do perímetro da edificação. Verificamos
no conjunto de fotos da escola, numa comparação de fotos da obra recém
inaugurada com as atuais, que originalmente existia forro liso formado pela camada
de concreto – ou estuque – inferior da laje nervurada que compõe a cobertura.
Atualmente esta camada inferior não existe mais, provavelmente pelo

 
75

apodrecimento e ataque de fungos e cupins às formas presentes no caixão perdido


da estrutura.

Outro elemento que felizmente não é visível nesta escola por não ser original ao
projeto é a cobertura em telhas metálicas instalada sobre laje de concreto,
originalmente prevista para ser impermeabilizada. A quase totalidade de escolas
com solução original em laje impermeabilizada tiveram o mesmo destino porém em
alguns casos a presença da cobertura em telhas denota grande descaracterização
dos edifícios. Alves (2008), em pesquisa aos registros de obras do Ipesp, encontrou
diversos casos onde, logo após a inauguração das escolas com cobertura em laje
impermeabilizada, ocorrem problemas de vazamentos generalizados, denunciados
pelos diretores das escolas, que solicitavam solução. Aparentemente os problemas
eram sempre executivos.

A EE Conselheiro Crispiniano em Guarulhos, projeto de 1960, e a EE Adamastor de


Carvalho em Santo André20, projeto de 1962 (figuras 09A e 09B), são as outras duas
escolas elaboradas por Artigas e Cascaldi para o Ipesp. A primeira com 11 e a
segunda com 21 salas de aula e ambientes não encontrados em nenhuma outra
escola estudada neste trabalho como laboratórios diversos, artes industriais,
ciências, comércio, economia doméstica e artes. Essas duas escolas, de porte muito
maior que o projeto de Itanhaem, apresentam a mesma preocupação fundamental,
que cria a unidade projetual dessas escolas e das demais deste grupo: o volume
único e a integração dos espaços internos.

O projeto da EE Prof. Jon Teorodesco de Itanhaém, de 1959, foi provavelmente a


grande referência projetual para outros arquitetos que também elaboravam projetos
de escolas para o Ipesp. Essa é uma conclusão baseada nas datas dos projetos,
pois nenhum outro projeto deste grupo foi realizado antes de 1960. Além disso,
verificamos que alguns arquitetos que inicialmente realizaram projetos com
características muitos distintas em seus primeiros trabalhos para o Ipesp, como
Abraão Sanovics, Fábio Penteado e Maurício Tuck Schneider posteriormente
passaram a adotar os mesmos princípios de projeto.
                                                            
20
O projeto da EE Adamastor de Carvalho foi inicialmente desenvolvido em 1962 para o Ipesp, sob o
nome de Ginásio de Utinga. O projeto foi modificado substancialmente pelos autores por solicitação
do contratante, sendo construído somente em 1968. Estamos analisando neste trabalho a primeira
versão do projeto elaborado por Artigas e Cascaldi para o Ipesp.

 
76

Outro exemplo de escola para estudo mais detalhado é a EMEF Farid Salomão em
Ribeirão Corrente, projeto de 1962 de autoria do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti
(figuras 11A e 11B). Pequeno como o projeto de Itanhaem de Artigas e Cascaldi,
esta escola possui apenas 05 salas de aula. Apresenta a mesma solução de bloco
único retangular tendo o galpão integrado com circulações, de fácil acesso a partir
das salas de aula.

O arquiteto criou uma área descoberta dentro do volume rígido, solucionando a


necessidade de iluminação e ventilação dos sanitários e também para as circulações
adjacentes. A diferença para o projeto de Artigas e Cascaldi, além de manter toda a
escola no mesmo nível, é a utilização de estrutura de concreto armado, neste caso,
com pilares de formato regular e vigas vencendo 8,00m nos dois eixos. Além disso o
arquiteto fez uma exceção à regra e tratou a sala do pré-primário como não fazendo
parte do corpo principal, numa construção mais baixa e fora do bloco maior.
Verificamos nas fotos (figura 11B) que esta construção foi executada de forma
diferente do indicado em projeto, com solução em cobertura com declividade
acentuada, apresentando um destaque indesejável, muito maior do que o previsto.

Apesar da estrutura convencional e de telhados embutidos, o projeto apresenta


características modernas presentes na ausência completa de elementos construtivos
além de pilares e platibanda de concreto que contorna toda a edificação, unificando
formalmente todo o bloco.

Como exemplo de escola de grande porte, temos a EE Oswaldo Samuel Massei em


São Caetano do Sul, projetada em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (figuras 12A
e 12B). Possui 16 salas de aula em dois pavimentos, e não chegou a ser construída.

Novamente temos o bloco único e retangular contendo todo o programa


arquitetônico, com área interna descoberta para iluminação e ventilação dos
sanitários e da área interna da escola como um todo, assim como na escola de
Itanhaem de Artigas e Cascaldi e a escola de Ribeirão Corrente, de Ivan de Freitas
Cavalcanti.

Fábio Penteado adotou solução em dois pavimentos em meio nível, adotando


rampas para a circulação vertical. Cria um vazio interno deixando o galpão com pé
direito duplo, visível a partir da circulação de todas as salas de aula e iluminado pela

 
77

cobertura. Apresenta cobertura em laje impermeabilizada inclinada e estrutura em


pórticos, com pilares de formato irregular. Como resultado, as empenas laterais
apresentam um desenho também irregular e inusitado, conseqüência das opções
estruturais e de opções técnicas como a utilização de gárgulas junto às empenas,
com caixas verticais cilíndricas para captação das águas pluviais, trabalhadas de
forma a compor com a plasticidade final da edificação.

Fazem parte deste grupo 20 projetos de escolas elaborados por 15 escritórios de


arquitetura, conforme tabela 21. As figuras 13A, 13B e 13C representam
graficamente em plantas e cortes esquemáticos os conceitos deste grupo.

Tabela 21: Listagem de escolas classificadas no Grupo 01 - Rigidez formal e valorização do espaço
interno.

Escola autor data municipio


EMEB Pedro de Oliveira Abelardo de Souza 1962 Jundiaí
EE Dona Luiza Macuco Abrahão Sanovicz 1962 Santos
EE Profa. Laurinda Vieira Pinto Alfredo S. Paesani 1961 Ibiúna
EE Dom Barreto Alfredo S. Paesani 1962 Campinas
EE Prof. Aggeo Pereira do
Eduardo Corona ? Sorocaba
Amaral
São Caetano do
EE Oswaldo Samuel Massei Fábio M. Penteado 1962
Sul
EE Profa. Leonor Guimarães Helio Penteado 1962 Piquete
EE Prof. Carlos Augusto de
Israel Sancovski 1962 Piedade
Camargo
EMEF Farid Salomão Ivan de Freitas Cavalcanti 1962 Ribeirão Corrente
EE Prof. Suetônio Bittencourt
João Clodomiro B. de Abreu 1962 Santos
Júnior
EMEF Prof. Arnaldo Rossi José Maria Gandolfi 1961 Pedreira
EE Profa. Philomena Cardoso
Maurício Tuck Schneider 1961 Guarujá
de Oliveira
EMEF Profa. Julieta Trindade
Maurício Tuck Schneider 1961 Taquarituba
Evangelista
EE Profa. Suely Antunes de Paulo A. Mendes da Rocha e João São José dos
1961
Mello Eduardo de Gennaro Campos
Paulo A. Mendes da Rocha e João
EE Prof. Antônio Vilela Júnior 1960 Campinas
Eduardo de Gennaro
EE Prof. Jon Teodoresco Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi 1959 Itanhaem
EE Conselheiro Crispiniano Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi 1960 Guarulhos
EE Prof. Adamastor de
Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi 1962 Santo André
Carvalho
EE Comendador Brasílio
Oswaldo Corrêa Gonçalves 1962 Suzano
Machado Neto
EE Profa. Amália Valentina
Telesforo Cristofani - Rinópolis
Marsiglia Rino

 
78

Figura 10A: Implantação e pavimento térreo da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de
autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira e Mello, 2006).

Figura 10B: Cortes e fachada do projeto original da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de
1959 de autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).

 
79

Figura 10C: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP).

 
80

Fachada Leste

Fachada Oeste Fachada Sul

Galpão Acesso alunos e administrativo

Figura 10D: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).

 
81

Figura 11A: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente,
projeto de 1962 do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Ferreira e Mello, 2006).

 
82

Figura 11B: Conjunto de fotos da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente, projeto de 1962 do
arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Arquivo Técnico FDE).

 
83

Figura 12A: Implantação e plantas da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006).

 
84

Figura 12B: Cortes e elevações da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006).

 
85

Figura 13A: Grupo 01, características principais, esquemas em planta (croquis do autor).

 
86

Figura 13B: Grupo 01, características principais, esquemas em corte (croquis do autor).

 
87

Figura 13C: Grupo 01, características principais, esquemas em corte - continuação (croquis do autor).

Grupo 2: Projetos com tratamento formal diferenciado e galpão integrado.


Os projetos deste grupo se diferem do grupo anterior por não apresentarem a
preocupação latente em desenvolver um volume único para todo o programa, porém
mantém como pré-requisito o galpão integrado ou espaços de recreação que
tenham continuidade física e/ou visual com os setores pedagógicos, criando uma
unidade no conjunto escolar.

São projetos que apresentam soluções formais variadas como telhados em uma
água ou com panos de cobertura de tamanhos diversos, laje impermeabilizada e até
mesmo cobertura em duas águas, porém sempre apresentando uma busca por
formas geométricas simples e claramente definidas. Os telhados embutidos, redução
do número de águas nas coberturas e tratamentos diferenciados quando da
existência de beirais estão presentes nesses projetos.

 
88

Em planta a distribuição do programa resulta em formas sempre próximas ao “H” e


ao “T”, conseqüência da divisão da escola em dois blocos unidos geralmente pelo
galpão, localizado na região central. Já em corte, esses edifícios não se diferem
tanto do grupo anterior a não ser pelo fato da maior variedade de tipos de cobertura.
São extensões e declividades diversas de panos de cobertura contra a preferência,
porém não exclusividade, da laje impermeabilizada do grupo anterior.

A EE Coronel Silvestre de Lima em Barretos, projeto de 1960 de autoria dos


arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Rubin é uma das escolas deste grupo com
planta em forma de “H” (figura 14).

Esta escola é de porte médio, com 12 salas de aula e duas salas para pré-primário.
O galpão é central e visível por quase toda a escola. Os ambientes centrais junto ao
galpão, com cobertura em laje sob o telhado e baixa altura, demonstra a
preocupação em minimizar barreiras visuais, procurando enxergar toda a escola,
principalmente a partir do pavimento superior.

Quanto a organização em planta, verificamos clara separação das atividades do pré-


primário do restante da escola, com acessos e sanitários independentes e
compartilhando cozinha e área administrativa, conforme orientações das diretrizes
de projeto do Fece.

Solução similar é adotada na EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,


projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (figuras 15A, 15B, 15C e
15D). Também com planta em forma de “H”, esta escola tem menos ambientes na
região central, junto ao galpão do que a escola acima citada. Além disso esses
ambientes são posicionados de forma a atrapalhar o menos possível a amplitude
visual da escola que ocorre da mesma forma, mesmo com o galpão a meio nível dos
setores pedagógicos e administrativos. Nesta escola as dependências do pré-
primário também atendem às diretrizes do Fece, com sanitários e pátio exclusivos.

Grostein acomodou a escola no terreno, criando solução em meio nível nos blocos
opostos ao galpão, evitando assim grande movimento de terra. A cobertura em
telhas onduladas de fibrocimento também acompanha esta declividade do terreno,
resultando em pé-direito maior na região do recreio coberto. As duas águas que

 
89

compõem a cobertura são os elementos que ajudam a manter certa unidade aos
dois blocos conectados pelo galpão.

Diferentemente das anteriores, a EMEF Amador Franco da Silveira em Dracena,


projeto de 1961 de autoria do arquiteto Hiroko Kawauchi (figura 16), uma escola de
porte pequeno com 06 salas de aula e uma sala para o pré-primário, apresenta
planta em forma de “T”, novamente com o galpão central e todos os ambientes em
nível.

A setorização é clara entre os ambientes pedagógicos, de vivência e administrativos,


além de separar fisicamente os ambientes para o pré-primário. Mesmo assim a
integração de todas essas áreas com o galpão ocorre de forma muito simples.

Um diferencial deste projeto é a cobertura. São quatro linhas de duas águas


moduladas conforme a estrutura da edificação, criando três linhas de calhas
internas. Apesar da cobertura em duas águas representar uma solução tradicional, a
utilização da mesma na seqüência apresentada torna a proposta inusitada.

Fazem parte deste grupo 21 projetos de escolas elaborados por 19 escritórios de


arquitetura, conforme tabela 22. As figuras 17A e 17B representam graficamente em
plantas e cortes esquemáticos os conceitos deste grupo.

 
90

Tabela 22: Listagem de escolas classificadas no Grupo 02 - Projetos com tratamento formal
diferenciado e galpão integrado.

Escola autor data municipio


EE Coronel Silvestre de Lima Alberto Rubens Botti e Marc Rubin 1960 Barretos
EMEF Índio Poti Alfredo S. Paesani 1961 Araçatuba
EE Prof. Sebastião Teixeira Pinto Arnoldo Grostein 1960 Tupã
EE Padre João Batista de Aquino Cândido Malta Campos Filho 1961 Agudos
EE Dr. Washington Luiz Pereira
David Araújo Benedito Ottoni 1961 Arujá
de Souza
EE Antônio Fontana Heitor Ferreira de Souza 1961 Cândido Mota
Helio Penteado/Joaquim Guedes/J.
EE Prof. Fenízio Marchini 1959 Itapira
Caetano de Mello
EE Governador Armando de
João Clodomiro B. de Abreu 1961 Sete Barras
Salles Oliveira
EMEF Amador Franco da Silveira João Francisco Hiroko Kawauch 1961 Dracena
EE Antônio Marin Cruz João Xavier ? Marinópolis
EE Prof. Bernardino Querido Joaquim Guedes 1962 Taubaté
São Caetano do
EE Anacleto Campanella Jorge Wilheim ?
Sul
São Bernardo do
EE Professor Amadeu Oliverio Jorge Zalszupin 1961
Campo
EE Profa. Helena Pavanelli Porto Julio Jose Franco Neves 1961 Tupã
EE Profa. Lydia Yvone Gomes Abrahão Sanovicz e Julio Roberto
1962 Garça
Marques Katinsky
EMEF Profa. Maria do Carmo de
R. M. Arquitetos ? Lucélia
Mendes Mendonça
Boa Esperança do
EMEF Profa. Ana da Cunha Viana Rubens Gouvêa Carneiro Viana 1961
Sul
EMEF Carlos bueno de Toledo Slioma Selter 1961 Rancharia
EMEF Prof. Tibério Justo da Silva Slioma Selter 1962 São Roque
Grupo Escolar José Bonifácio do
Ubyrajara Gonçalves Gilioli 1961 Alvilândia
Couto
EMEI Gália Ubyrajara Gonçalves Gilioli ? Gália

 
91

Figura 14: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Coronel Silvestre de Lima em Barretos,
projeto de 1960 de autoria dos arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Rubin (Ferreira e Mello, 2006).

 
92

Figura 15A: Implantação, plantas e elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (Ferreira e Mello, 2006).

 
93

Figura 15B: Projeto original com implantação, plantas e cortes da EE Professor Sebastião Teixeira
Pinto em Tupã, projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).

 
94

Figura 15C: Projeto original com elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).

 
95

   
   

Figura 15D: Conjunto de fotos da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).

 
96

Figura 16: Implantação, planta, corte e elevação da EMEF Amador Franco da Silveira em Dracena,
projeto de 1961 de autoria do arquiteto Hiroko Kawauchi (Ferreira e Mello, 2006).

 
97

Figura 17A: Grupo 02, características principais, esquemas em planta (croquis do autor).

 
98

Figura 17B: Grupo 02, características principais, esquemas em corte (croquis do autor).

 
99

Grupo 3: Projetos com tratamento formal diferenciado sem galpão integrado.


Neste grupo foram incluídas escolas onde é perceptível a busca formal de
características volumétricas modernas, verificável na presença de telhados
embutidos e platibandas ou aplicando panos de cobertura de forma diferenciada,
assim como no grupo 2, porém não há uma integração física ou visual das áreas de
recreação com as áreas pedagógicas como naquele grupo. Algumas características
dos projetos fazem com que a setorização das áreas administrativa, de vivência (que
inclui o galpão) e pedagógica sejam inevitáveis.

Uma parcela dos projetos deste grupo tem dois pavimentos, com escadas de acesso
ao pavimento superior e sem vazios que possibilitem a integração visual entre os
pavimentos. Temos então pavimentos estanques.

Como exemplo, temos a EMEF Professora Ana Maria Segura em Cosmorama,


projeto sem data identificada, de autoria do arquiteto Hélio Penteado (figura 18). A
maior parte da escola é em dois pavimentos e uma pequena parte é térrea,
continuando o pavimento superior, resultante do desnível do terreno.

A declividade do terreno teve influência na escolha e definição dos acessos. O


acesso administrativo é realizado diretamente no pavimento superior através de uma
passarela. O acesso de alunos ocorre pelo recreio coberto e o pré-primário tem
outro acesso, exclusivo.

O pavimento inferior abrange toda a parte de vivência, com galpão, sanitários,


cozinha e outros ambientes como educador sanitário e gabinete dentário. O superior
contempla as salas de aula, administração, biblioteca e alguns ambientes de apoio.
As duas salas do pré-primario ficam em edificação totalmente isolada do prédio
principal, ligada por uma passagem coberta, contrariando as orientações do Fece
para que fosse mantida certa integração desses ambientes com o restante do
programa.

Apesar do isolamento da área de recreação, a mesma recebeu tratamento


privilegiado, tendo área proporcionalmente grande com relação ao porte da escola,
além da continuidade com grandes pátios descobertos. O sistema estrutural com
grandes vãos e poucos pilares também contribui para a amplitude visual do galpão.

 
100

Outra parcela deste grupo apresenta como solução diversos blocos no terreno
conectados por circulações cobertas. Os blocos geralmente têm funções únicas
como bloco de salas de aula, bloco administrativo, bloco do galpão e vivência.

A EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962 de autoria do arquiteto


Majer Botkowski (figuras 19A e 19B) representa claramente esta setorização. Foram
distribuídos no terreno 4 blocos distintos: um para os ambientes administrativos, um
para galpão e demais ambientes de vivência, um para as salas de aula e o último
para os ambientes relacionados ao pré-primário.

O tratamento para cada bloco foi distinto. O de salas de aula tem dois pavimentos,
abrigando 16 salas de aula. Os blocos administrativo e do pré-primário são térreos e
de formas regulares. Já o bloco de vivência, apesar de térreo, tem sua estrutura e
cobertura em forma de arco, tirando partido desta solução para aumentar o pé-
direito do galpão – também rebaixado em relação às áreas externas.

É notável neste projeto o tratamento dado à circulação coberta que liga todos os
blocos, criando também um eixo de ligação entre acessos opostos ao terreno.

Temos também alguns casos de projetos de configuração muito linear,


impossibilitando integração entre as áreas da escola. Alguns projetos apresentam
esta solução propositalmente – ou sem motivo aparente –, outros devido à
configuração do terreno. A EE Professor Ângelo Vaqueiro em São Caetano do Sul,
projeto elaborado em 1963, de autoria do arquiteto Candido Malta Campos Filho
(figura 20) está inserido num desses terrenos lineares.

É uma escola de médio porte, com 12 salas de aula e duas salas para pré-primário
em dois pavimentos. Tem configuração linear, setorizando as áreas pedagógicas,
administrativa e de vivência. Tem acesso direto da rua em nível dos alunos ao
galpão – independentes para alunos do pré-primário com relação aos demais – e por
escada para a administração que está no pavimento superior. A área administrativa
é a única que tem a visibilidade do galpão, devido à sua proximidade e por estar
acima do mesmo. O arquiteto teve a preocupação de posicionar a altura da
cobertura do galpão de modo que possibilitasse para os ambientes da administração
janelas internas – para visualização do galpão – e externas – para iluminação e
ventilação.

 
101

Nesta escola os ambientes referentes ao pré-primário atendem de forma integral as


diretrizes do Fece, estando dentro do volume principal da escola, porém setorizados.

Este grupo contempla 63 projetos elaborados por 40 escritórios de arquitetura. É a


maioria dos projetos estudados, conforme tabela 20.

A figura 21 representa graficamente, em plantas e cortes esquemáticos, as


características principais deste grupo e a tabela 23 apresenta a listagem de escolas,
classificadas.

Tabela 23: Listagem de escolas classificadas no Grupo 03 - Projetos com tratamento formal
diferenciado sem galpão integrado.

Escola autor data municipio


EE Joaquim Rodrigues
Abelardo de Souza 1962 Bauru
Madureira
EE Monsenhor Jeronymo Gallo Abelardo Gomes de Abreu 1961 Piracicaba
Abrahão Sanovicz e Julio Roberto
EE Saturnino Antônio Rosa 1961 Embaúba
Katinsky
Abrahão Sanovicz e Julio Roberto
EE Prof. Yukie Takemoto Scafi 1960 Flórida Paulista
Katinsky
EE Prof. Milton de Tolosa Adolpho Rúbio Morales 1961 Campinas
EE Profa. Amália Pimentel Adolpho Rúbio Morales 1961 Franca
EE Profa. Eugênia Vilhena de
Adolpho Rúbio Morales 1962 Ribeirão Preto
Moraes
EE Dr. Epaminondas Ferreira
Alberto Andrade 1962 Itararé
Lobo
EE João Clímaco de Camargo
Alberto Rubens Botti 1961 Sorocaba
Pires
EE Prof. Hildebrando Martins Arthur Fajardo Netto, Dacio Ottoni e
1960 Silveiras
Sodero Eduardo de Almeida
Autuori, Roberto Monteiro e Marco
EE Profa. Olívia Bianco ? Piracicaba
Zuccon
EE Prof. Ângelo Vaqueiro Cândido Malta Campos Filho 1963 São Caetano do Sul
EE Prof. Wladimir Rodrigues de
David Araújo Benedito Ottoni 1962 Barretos
Arruda
EE Arnollfo Azevedo David Araújo Benedito Ottoni ? Lorena
EE Prof. Antonio de Mello Djalma de Macedo Soares e Júlio
1961 Piracicaba
Cotrim Ferraz Braga Jr.
EE Thomaz Ribeiro de Lima Eduardo Corona 1959 Caraguatatuba
EE Gustavo Fernando
Eduardo Corona 1960 Bebedouro
Kuhlmann
EMEF Dona Sinhazinha Eduardo Kneese de Mello 1959 Mogi Mirim
EMEF Prof. Regina Olinda
Eduardo Kneese de Mello 1959 Reginópolis
Martins Ferro
EE Holambra II Elisário da Cunha Bahiana ? Paranapanema
EMEF Profa. Ana Maria Segura Helio Penteado ? Cosmorama
São José do Rio
EE Cardeal Leme Ícaro de Castro Mello 1961
Preto
EE Aprigio de Oliveira Ícaro de Castro Mello 1961 Mogi das Cruzes
EMEF Professora Annita São Bernardo do
Ícaro de Castro Mello 1961
Magrini Guedes Campo
EE José Ambrósio dos Santos Israel Galman 1960 Oscar Bressane

 
102

Escola autor data municipio


EE Profa. Marietta Ferraz de
João Clodomiro B. de Abreu 1960 Presidente Prudente
Assumpção
EE Guido Segalho Jorge Zalszupin 1961 Campinas
EE Francisco Marques Pinto Jorge Zalszupin 1960 Nova Granada
EE Prof. Rene Rodrigues de
Jorge Zalszupin ? Guarujá
Moraes
EE Prof. Celso Antônio José Pinto ? Cajati
EE Carlos Bernardes Staut José Silvestre V. Egreja ? Ribeirão dos Índios
EE Prof. Antônio Adolfo Lobbe Kurt Hollander ? São Carlos
EE Profa. Maria Conceição
Kurt Hollander ? Aparecida
Pires do Rio
EE Prof. Pedro Fernandes de
Luiz Fernando de Moraes Rêgo ? Porto Feliz
Camargo
EE Dr. Carlos Garcia Majer Botkowski 1962 Santo André
EMEF Barão Jacareí Majer Botkowski ? Jacareí
EE Profa. Maria do Carmo Lelis Majer Botkowski ? Araçatuba
EMEF Profa. Dalila da Silva
Majer Botkowski ? Bocaina
Afonso
EE Prof. Anísio Carneiro Majer Botkowski ? Tupã
EE Major Hermógenes Marcelo de Breyne Silveira ? Cruzeiro
EE Profa. Anésia Martins São João da Boa
Mario Giraldes Zócchio ?
Mattos Vista
EE Profa. Therezinha Sartori Maurício Tuck Schneider 1960 Mauá
Nestor Lindemberg / Paulo B.
Diretoria de Ensino ? Barretos
Magalhães
EE Prof. Genésio de Assis Nestor Lindemberg 1961 Araçatuba
EE Prof. Walter Scheppis Oswaldo Corrêa Gonçalves 1960 Guarujá
EE 17 de Setembro Plínio Croce e Roberto Aflalo 1961 Pompéia
EE Cultura e Liberdade Plínio Croce e Roberto Aflalo 1960 Pompéia
EE Profa. Benedita Arruda Plínio Croce e Roberto Aflalo 1961 Jundiaí
EMEF Capitão Neves R. M. Arquitetos ? Neves Paulista
EMEF Doutor Nehif Antônio R. M. Arquitetos 1961 Guará
EMEF Prefeito Waldomiro
R. M. Arquitetos 1961 Sagres
Sampaio de Souza
EMEF Barão Piratininga R. Ortemblad Filho 1961 São Roque
EMEF Profa. Coraly de Souza
R. Ortemblad Filho 1961 Salto Grande
Freire
EE Humberto Turner Roberto G. M. Gontier ? Cruzeiro
EE Profa. Arlina Caçapava de Romeu Thomé da Silva/Ronaldo
1962 Santo André
Mello Masotti Gontijo
Romeu Thomé da Silva/Ronaldo
EE Dr. José Manoel Lobo 1961 Votuporanga
Masotti Gontijo
EE Prof. Epaminondas de
Rosa Grena Kliass 1962 São Roque
Oliveira
EE Monsenhor Bicudo Salvador Cândia 1961 Marília
EE Profa. Esmeralda Soares
Salvador Cândia 1961 Ourinhos
Ferraz
CEFAM Santa Fé do Sul Ubirajara Ribeiro e Zenon Lotufo 1960 Santa Fé do Sul
EE Paulo Mendes Silva Vasco Antônio Venchiaruth 1958 Jundiaí
EE Monsenhor Martins Victor Reif 1961 Rio Claro
EE Francisco da Silveira
Victor Reif ? Amparo
Franco

 
103

Figura 18: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Professora Ana Maria Segura em
Cosmorama ,projeto sem data identificada, de autoria do arquiteto Hélio Penteado (Ferreira e Mello,
2006)

 
104

Figura 19A: Implantação, plantas e cortes da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962
de autoria do arquiteto Majer Botkowski (Ferreira e Mello, 2006)

 
105

 
Figura 19B: Conjunto de fotos da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962 de autoria
do arquiteto Majer Botkowski (Arquivo Técnico FDE)

 
106

Figura 20: Implantação, plantas e cortes da EE Professor Ângelo Vaqueiro em São Caetano do Sul,
projeto elaborado em 1963 por Candido Malta Campos Filho (Ferreira e Mello, 2006)

 
107

Figura 21: Grupo 03, características principais, esquemas em planta e corte (croquis do autor).

 
108

Grupo 4: Projetos convencionais sem galpão integrado.


Este grupo, diferentemente de todos os outros, utiliza os elementos construtivos que
formam a volumetria dos edifícios sem uma preocupação em alterar sua estética
convencional, mantendo, por exemplo, a utilização de cobertura em telhas
cerâmicas de formato regular – 2 águas iguais ou quatro águas – com beirais em
todos os lados com ou sem calha, mesmo em dois pavimentos, além de, como no
grupo anterior, não apresentar a integração dos diversos setores da escola,
mantendo-os isolados, salvo algumas exceções. Em todos os grupos a solução da
cobertura é o fator de maior influência na volumetria final da edificação, visto que a
mesma tem área proporcionalmente grande com relação à área construída total das
escolas, resultante da opção por edifícios térreos ou de dois pavimentos na maioria
dos casos.

Cerca de 80% das escolas deste grupo apresenta dois ou mais blocos isolados,
conectados por passagens cobertas, contribuindo para a separação das áreas
pedagógica, administrativa e de vivência.

Esse aparente pragmatismo na questão formal também é notado nas soluções


estruturais. Os vãos entre pilares são sempre pequenos e a estrutura de cobertura é,
via de regra, em tesouras de madeira.

Por tudo isso este grupo não apresenta uma unidade em suas características como
vemos claramente nos demais grupos. Dessa forma não desenvolvemos desenhos
esquemáticos para transmitir o conceito que norteou o projeto dessas escolas. Na
verdade formou-se um grupo por exclusão, com uma variedade grande de
distribuição em planta do programa arquitetônico.

A EE Prof. Bruno Pieroni em Sertãozinho sem data identificada, de autoria do


arquiteto Carlo Benvenuto Fongaro (figura 22), é um dos projetos deste grupo. A
escola é térrea, apresenta 4 blocos separando as áreas de vivência, pedagógica e
administrativa, isolando também o pré-primário e com cobertura em telhas cerâmicas
em duas águas, convencional e aparente.

Os acessos são independentes para os alunos do primário, que o compartilham com


o pessoal administrativo, e para os alunos do pré-primário. Este projeto atende às

 
109

diretrizes do Fece quanto à disposição dos ambientes do pré-primário, apenas


isolando em demasia as salas de aula, porém compartilhando a cozinha exatamente
como indicado nas diretrizes, com o ambiente apresentando balcão para lados
opostos para atendimento aos dois níveis de ensino.

Devido à quantidade de blocos a escola fica espalhada pelo terreno sem


necessariamente se apropriar dos espaços residuais entre os mesmos.

Da mesma forma que a escola de Sertãozinho, a EMEF Professor Lauro Rocha, em


Mirassol, projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto
Cerqueira Lemos (figuras 23A, 23B e 23C), apresenta as mesmas características
formais, cobertura em tesouras de madeira e telhas cerâmicas parte em duas águas
e parte em quatro águas num bloco único com grande área descoberta central.

Num primeiro momento, esta escola parece pertencer ao grupo 02 devido as suas
características em planta, quanto a circulações centrais e galpão alinhado e contínuo
a elas, porém, o tratamento da região central não procura uma integração entre os
blocos, sendo indicado em projeto apenas um jardim. A ligação com o galpão
também não é franca, pois o mesmo apresenta desnível com relação às circulações.
Dessa forma, podemos considerar que o projeto é composto por 4 blocos a formar
um quadrado. As fotos da região central da escola (figura 23C) demonstram essa
condição.

Como exemplo de escola com dois pavimentos, temos a EE Professor Raymundo


Pismel em Santo Anastácio, projeto sem data identificada, também de autoria do
arquiteto Carlos Benvenuto Fongaro (figura 24). São quatro blocos interligados,
sendo um deles em dois pavimentos, separando as atividades da escola. A
cobertura é convencional, em telhas de barro aparente com duas águas, mesmo
para a cobertura do bloco de dois pavimentos.

A escola possui acessos independentes para alunos, administração e pré-primário.


O programa para o pré-primário atende as diretrizes do Fece e está localizado em
bloco exclusivo, ligado aos demais por passagem coberta.

Este grupo contempla 56 projetos elaborados por 36 escritórios de arquitetura,


listados na tabela 24.

 
110

Tabela 24: Listagem de escolas classificadas no Grupo 04 - Projetos convencionais sem galpão
integrado.

Escola autor data municipio


Presidente
EE Alfredo Marcondes Cabral Abelardo de Souza 1960
Venceslau
Águas de São
EE Angelo Franzin Abelardo de Souza 1961
Pedro
EE Dr. Morato de Oliveira Abelardo de Souza 1961 Suzano
EMEF Ermírio Firmino Pollon Abelardo Gomes de Abreu 1959 Lucrécia
EE Prof. Nestor Martins Lino Abelardo Gomes de Abreu 1960 Limeira
EE David Carneiro Ewbank Alberto Andrade e Marcos Tomanik 1961 Franca
EE Severino Moreira Barbosa Alberto Andrade ? Cachoeira Paulista
EE/EMEF Prof. Lourenço L.
Ary de Queiroz Barros ? Maracaí
Carneiro
EE Prof. Bruno Pieroni Carlo Benvenuto Fongaro ? Sertãozinho
EE Padre Fidelis Carlo Benvenuto Fongaro ? Tanabi
EE Prof. Raymundo Pismel Carlo Benvenuto Fongaro ? Santo Anastácio
EMEF Prof. Lauro Rocha Carlos Alberto Cerqueira Lemos ? Mirassol
Carlos Barjas Millan e Galiano Santo Antônio de
EE Santo Antônio 1959
Cimpaglia Posse
EMEF Prefeito Francisco Xavier Carlos Barjas Millan e Galiano
1959 Jaguariúna
Santiago Cimpaglia
EMEF Prof. Victor Padilha Eduardo Corona 1961 Sud Menucci
EE Expedicionário Diogo Garcia
Fábio M. Penteado 1959 Alto Alegre
Martins
EMEF Dona Miloca Fernando Arantes 1960 Rancharia
EE Padre Francisco de Salles
Fernando Arantes 1961 Araraquara
Colturato
EMEF Dona Izaura da Silva
Fernando Arantes 1959 Itapira
Vieira
EE Eliseu Alves Teixeira Gastão Rachou Júnior 1959 Pedregulho
EE Abel Augusto Fragata Hernani Russo ? Marília
EE Profa. Elisa dos Santos Hernani Russo ? Apiaí
EE José Antonio de Castilho Hernani Russo ? Nova Castilho
Hirohiko Sawao/José Pinto/Renato
EE Orminda Guimarães Cotrim ? Pitangueiras
Nunes
EE Padre Cesare Toppino Hiroko Kawauchi 1960 Lavínia
EE General Porphyrio da Paz Hoover Américo Sampaio ? Paulínia
EE Bairro Santo Antônio da
Israel Galman ? Pirajuí
Estiva
EE João Bernardi Jerônimo Esteves Bonilha 1960 Monte Castelo
EE José Firpo João Clodomiro B. de Abreu ? Lucélia
EMEF Profa. Sônia Ibanhes Presidente
João Francisco de Andrade 1961
Soares Bernardes
EE Profa. Justina de Oliveira
João Francisco de Andrade 1962 Ourinhos
Gonçalves
EMEF Azílio Antônio do Prado João Walter Toscano 1960 General Salgado
EMEF João Veiga Martins João Xavier 1960 Juquiá
EE Prof. Elisário Pinto de Morais João Xavier ? Salesópolis
EE Profa. Maria do Carmo
João Xavier ? Atibaia
Barbosa
EE Prof. Reynaldo Galvão Jon Vergareche Maitrejean ? Paraguaçu Paulista
EE Senhora Aparecida Jon Vergareche Maitrejean ? Jaboticabal
EE Prof. Antônio Gomes de
Jorge Wilheim ? Marília
Oliveira
José Alfredo Cardia Galrão/Julio José Vargem Grande do
EE Gilberto Giraldi 1959
Franco Neves Sul

 
111

Escola autor data municipio


EE Profa. Ignêz Alves de
Luis Pessoa Ostiz 1961 Ocauçu
Rezende Silva
EE Professor Renato Angelini Luis Pessoa Ostiz 1961 Torre de Pedra
EE Antônio Alves Cavalheiro Maurício Tuck Schneider 1959 Engenheiro Coelho
Rio Grande da
EE Cassiano Ricardo Nestor Lindemberg 1960
Serra
EE Prof. Fernando Gomes de
Nestor Lindemberg 1961 Araçatuba
Castro
EE Quinzinho de Barros Ney Marcondes 1961 Sorocaba
EE Prof. Manoel da Costa Neves Plínio Croce e Roberto Aflalo 1959 Rio das Pedras
São José do Rio
EMEF Prof. Oscar Arantes Pires R. Ortemblad Filho 1960
Preto
São José do Rio
EE Victor Britto Bastos R. Ortemblad Filho 1961
Preto
EMEF Profa. Maria Pires de
Roberto Goulart Tibau 1961 Óleo
Moura
EMEF Profa. Anna Maria
Roger Henri Weiler 1961 Andradina
Marinho Nunes
EE Profa. Uzenir Coelho Zeitune Roger Henri Weiler ? Votuporanga
EE Dr. Felício Laurito Roger Henri Weiler ? Ribeirão Pires
EE Dona Marcelina Maria da
Roger Henri Weiler ? Mauá
Silva Oliveira
EE Antônio Caio Rubens de Camargo de Monteiro 1961 São Vicente
EE João Portugal Salvador Cândia e Fernando Arantes ? Tanabi
EMEF Antônio Giovani Lanzi Zila Tabasco ? Mogi Guaçu
 

 
112

Figura 22: Implantação, plantas cortes e elevações da EE Prof. Bruno Pieroni em Sertãozinho, projeto
se, data identificada de autoria do arquiteto Carlo Benvenuto Fongaro (Ferreira e Mello, 2006).

 
113

Figura 23A: Pavimento térreo do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (Arquivo técnico
FDE).

 
114

Figura 23B: Cortes e detalhes do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico
FDE).

 
115

Figura 23C: Elevações do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem
data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE).

 
116

 
Figura 23D: Conjunto de fotos da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem data
identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE).

 
117

Figura 24: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Professor Raymundo Pismel em Santo
Anastácio, projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Benvenuto Fongaro (Ferreira e
Mello, 2006)

 
118

Considerações finais.

A gestão do governador Carvalho Pinto foi, sem sombra de dúvidas, um


impressionante avanço para as condições econômicas, sociais e culturais no Estado
de São Paulo. Conforme arquiteto Celso Monteiro Lamparelli, integrante do grupo de
planejamento do Plano de Ação, em entrevista concedida a Caldeira (2005):

[...]Então, esse período de 59, o Estado de São Paulo, até 63, foi a grande transformação do
governo do Estado, que passou de sua fase política clientelista para uma sistemática de
planejamento que não negava a política mas conduzia a escolha. Para você ter uma idéia,
todas as semanas o governador e sua equipe recebiam os políticos: um dia os deputados,
outro dia os prefeitos, outro dia etc., e ele não dava nada pra eles sem passar pelo Plano de
Ação. Então o cara chegava e falava “Doutor, eu preciso de uma ponte. Eu quero que o senhor
faça um matadouro”. E ele [o governador] falava “O senhor quer ser padrinho de alguma coisa,
não é? Então o senhor volta à tarde que eu digo o que é.” E um bilhetinho lá para nós: “O que
falta em Jundiaí? O que falta em Pirituba?” Aí nós falávamos: “Está programado uma escola,
um hospital, um acesso rodoviário”. Porque cobria tudo. Aí o governador recebia depois os
deputados e falava: “Muito bem, qual que você quer?” Aí você ouvia toda a pressão política às
decisões, pelo menos a alguma racionalidade das decisões, que aquilo não era necessário. Por
que? Porque nós tínhamos entrado em um governo onde se construía ponte onde não tinha
estrada, no tempo do Jânio Quadros. Nós encontramos ponte que não tinha estrada nem para
chegar nem uma estrada para sair. (LAMPARELLI, 2001 in CALDEIRA, 2005, p. 178).

A introdução de um planejamento estratégico e transparente, através do Page, a


criação e fortalecimento de instituições governamentais de caráter permanente, a
valorização da classe arquitetônica através das contratações dos escritórios e
também pela presença dos mesmos nos órgãos governamentais, a busca no
atendimento às metas estabelecidas pelo próprio Page quanto às melhorias
econômico-sociais no Estado através da expansão agrícola e industrial,
investimentos em infra-estrutura e na melhoria das condições do homem (PAGE,
1959, p.43) resultou, entre outras coisas, num volumoso montante de obras que
aqueceu a economia paulista e valorizou as profissões ligadas a construção civil.

A conjuntura política voltada para o crescimento econômico, somada à presença da


figura de Plínio de Arruda Sampaio, jovem político aberto à modernidade e à opinião
dos arquitetos de seu grupo de planejamento e dos representantes das instituições
de classe, notadamente o IAB/SP, e ainda, a presença do arquiteto Vilanova Artigas
e diversos profissionais recém-formados alinhados sob os mesmos ideais
arquitetônicos, somaram fatores que criaram uma situação única em termos de

 
119

possibilidades para a experimentação de uma nova forma de projetar edifícios


escolares.

O governo de Carvalho Pinto adota a técnica como preponderante às questões


políticas ou a chamada “barganha política”, que se reflete em seus órgãos e que se
verifica também no Ipesp. A diversidade de projetos é tamanha que podemos
concluir muitas coisas a respeito. A forma democrática e isenta na contratação dos
profissionais, a autonomia que os mesmos dispunham para a elaboração de seus
projetos, além do volume de trabalho encomendado a esses profissionais demonstra
uma confiança ímpar junto à classe arquitetônica.

Esta confiança foi aproveitada por Artigas, como vemos em texto de Silva (2006):

O elemento que diferencia as escolas projetadas por Vilanova Artigas daquelas do Convênio
Escolar é a capacidade do projeto em revolucionar a própria idéia de escola, como um edifício
com função estrita voltada para a educação. Artigas partiu de outra premissa buscando um
outro conceito, no qual a escola é parte orgânica, elemento integrador e ativo da comunidade.
Essa proposta não tem sua origem no ideário da Escola Nova, de raiz humanista, mas numa
crítica de base marxista que diz respeito à conformação da sociedade brasileira, da qual a
escola é parte. Essa é, a nosso ver, a raiz do desentendimento entre, por um lado pedagogos,
professores e profissionais da educação, que queriam apenas educar bem, e, por outro lado,
alguns arquitetos, que pretendiam contribuir para uma transformação estrutural da sociedade.

Nesse sentido, Vilanova Artigas concebe um outro princípio ordenador, que dissolve a idéia de
divisão entre espaço de circulação, de lazer e de aula, construindo um espaço organicamente
integrado onde diversas atividades podiam e podem ser realizadas concomitantemente.
(SILVA, 2006)

As escolas de Artigas são consideradas por Ferrata (2008) como uma nova forma de
organização das distintas funções que as escolas do 2º Convênio Escolar haviam
separado em blocos distribuídos pelo terreno, como o galpão, bloco administrativo e
de salas de aula, agora juntos sob a mesma cobertura (FERRATA, 2008, p.43), com
o cuidado de criar espaços integrados e com áreas de circulação e de recreio
coberto, como citado por Silva (2006).

Esse cuidado com os espaços internos, como já comentado em capítulo sobre os


grupos de projetos elaborados para o Ipesp, somado à rigidez formal, é o diferencial
dos projetos de Artigas e dos arquitetos da “escola paulista”, porém essas
características não suprimem outras relações, como comentado pelo arquiteto Paulo
Mendes da Rocha (1970):

Muito já se falou sobre o caráter introvertido desses projetos da “escola paulista”, como que a
afirmar uma voluntária recusa da cidade em nome da constituição de um espaço urbano
recriado, como um “laboratório” interno. Mas não podemos esquecer a generosa implantação
desses edifícios, que fazem o piso do entorno fluir “naturalmente” para dentro dos seus

 
120

espaços, sem portas nem entradas hierarquicamente definidas, incorporando a cidade quase
que imperceptivelmente nesses lugares de excelência. Pode-se dizer, assim, que é um partido
decididamente urbanístico que define tais projetos. (ROCHA, 1970,p.35)

Sem dúvida, a ausência de portas – na maioria dos casos são grandes vãos
estruturais que formam os acessos aos prédios – e a forma de implantação, fazem
com que os edifícios sejam convidativos aos usuários, porém o tratamento formal
dos mesmos não deixa de apresentar um caráter de monumentalidade, mesmo
quando se trata de edificações térreas, pois o bloco único e as características da
“escola paulista”, inseridas nas cidades interioranas na década de 60 apresentam-se
como algo inusitado.

Apesar dessa clara distinção das obras da “escola paulista” em seus locais de
implantação, as mesmas foram bem recebidas, tanto pelos prefeitos que enviaram
cartas de agradecimento ao governo do Estado pelos “belíssimos exemplares
arquitetônicos” construídos em suas cidades, como pela população, que passa a
construir edifícios imitando a arquitetura dos prédios governamentais (CORDIDO,
2007). Enfim, a arquitetura paulista adquire a função de levar, junto com os avanços
econômicos e sociais, a presença da modernidade a todo o Estado.

A arquitetura promovida pela “escola paulista” continuou presente nas escolas


estaduais mesmo após o término das atividades do Ipesp, através dos projetos
contratados pelo Fece a partir de 1966. Ferrata (2008) apresenta alguns exemplares
como a EE Gofredo Teixeira da Silva Telles em São Bernardo do Campo, projeto de
1967 de autoria dos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e Eduardo de Gennaro, a
EE Presidente Roosevelt no bairro da Liberdade em São Paulo, projeto de 1968 de
autoria dos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e Horácio Hirsch e a EE Euclides
Deslandes em São Bernardo do Campo, projeto de 1967 de autoria dos arquitetos
Decio Tozzi e Luis Carlos Ramos. Os projetos elaborados pelo Fece tem áreas e
ambientes generosos, com vestiários, laboratórios e grandes áreas de vivência, e
até mesmo com uma modulação estrutural para as salas de aula maior do que se
praticava, com 8,00 x 8,00m.

Pouco se fala a respeito das escolas que não se encaixam na classificação de


“escola paulista”, não pertencentes ao grupo 01 descrito neste trabalho e que são a
maioria dos projetos elaborados para o Ipesp. Na verdade são escolas que não
apresentam uma inovação quanto a espacialidade interna das edificações. Parte em

 
121

busca de um tratamento formal de características modernas, e parte simplesmente


continuando uma tradição construtiva, numa postura pragmática. É justamente esse
tipo de arquitetura que vai dominar o cenário escolar paulista nas décadas de 70, 80
e 90.

O Fece passa a se chamar CONESP em 1976 e dá inicio a um processo de


expansão da rede escolar nunca antes visto, com a implantação maciça de projetos
padronizados e os chamados “projetos componíveis”, ou seja, todos os ambientes
que compõem uma escola são desenvolvidos separadamente para serem unidos
conforme a necessidade, compondo assim uma escola nova em função das
características do terreno e do programa arquitetônico. Apesar da padronização de
projetos, componentes construtivos, serviços e ambientes, a CONESP continua
contratando os arquitetos paulistas para a elaboração dos projetos objetivando a
ampliação da rede escolar, porém dentro das características de projeto citadas.

Em 1987 a CONESP passa a se chamar FDE, e a meta continua sendo o


atendimento à demanda, com a construção de escolas em massa. Aos poucos
porém, parece-nos que a proximidade da equivalência entre número de salas de
aula construídas e demanda de alunos fez ressurgir a possibilidade de projetos
melhor elaborados para os terrenos específicos em detrimento aos projetos
padrozinados. A publicação “Escolas Estaduais de 1º Grau – Projetos Arquitetônicos
96/97” (FDE, 1997) apresenta 75 projetos elaborados especificamente para cada
terreno entre 1995 e 1997.

Em 2003 novamente temos uma união de fatores favoráveis ao desenvolvimento da


arquitetura paulista. O governo de Geraldo Alckmin mostrou-se disposto a permitir a
criação de novos tipos de escola, desta vez introduzindo a quadra coberta para
dentro do edifício escolar. Essa solução foi resultante da falta de áreas de terreno
suficientes e da necessidade de espaços esportivos para a escola e comunidade. A
aplicação de sistemas estruturais pré-fabricados de concreto e metálicos,
objetivando rapidez de obra e maior qualidade construtiva, embasou esta solução.

Estas condições resultaram na volta de projetos de escolas que retomam a


qualidade espacial interna das edificações como nos edifícios dos arquitetos da
“escola paulista”, desenvolvidos inicialmente para o Ipesp, desta vez tendo a quadra
esportiva como elemento integrador. Numa rápida análise, verificamos que os

 
122

seguintes projetos desta recente produção fazem parte deste grupo: EE Conjunto
Habitacional Campinas F1 em Campinas, de autoria do escritório MMBB, a EE
Fazenda Boa Vista em Campinas, de autoria do arquiteto Tito Lívio Frascino, a EE
Jardim Bela Vista II em Mogi das Cruzes, de autoria do arquiteto Marcos Acayaba, a
EE Bairro Pimentas VII em Guarulhos, de autoria do escritório Projeto Paulista de
Arquitetura, a EE Bairro Tupi em Itapetininga, de autoria do escritório MMBB, a EE
Conjunto Habitacional Itapevi “E” em Itapevi, de autoria dos arquitetos Cícero Ferraz
e Fábio Mosaner, a EE Condomínio Residencial Village II em Itaquaquecetuba, de
autoria do escritório Centro Arquitetura, a EE Padre Augusto Sane em Jaú, de
autoria do escritório Panizza Arquitetos, a EE Parque Residencial Porto Bello / Vila
Real em Porto Ferreira, de autoria do escritório Nave Arquitetos Associados, a EE
Chácara Santa Maria em São Paulo, de autoria do escritório MMBB, a EE Jardim
São Luis em São Paulo, de autoria do escritório Zanettini Arquitetura e a EE Bairro
Aparecidinha em Sorocaba, de autoria do escritório Centro Arquitetura.

Cerca de 30 anos depois de lançado o conceito de escola preconizado por Artigas,


vemos novamente a busca dessa espacialidade, verificada nesses 12 projetos
citados, elaborados num período de 02 a 03 anos.

 
123

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TEIXEIRA, Anísio, Educar não é privilégio. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1957.
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São Paulo, FAUUSP, Dissertação de Mestrado, 2003.
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ZEIN, Ruth Verde. Depoimentos. Revista AU – Arquitetura e Urbanismo nr. 17, pág.
54, São Paulo, 1988.

 
129

Levantamento estatístico das escolas objeto de estudo: planilhas.

Os levantamentos realizados nos projetos objeto de estudos foram compilados em


planilhas relacionadas nas tabelas abaixo.

A planilha constante na tabela 25A apresenta informações sobre o atual nome da


escola, autoria, data do projeto, local da construção, área do terreno, área ocupada,
taxa de ocupação, área construída, coeficiente de aproveitamento, orientação solar
das salas de aula, número de pavimentos, formato das salas de aula em planta,
número de salas de aula, esquema de circulação das salas de aula, o tipo de
cobertura e o número de blocos construídos.

A planilha constante na tabela 25B é continuação da anterior, repetindo os dados


sobre nome da escola, autoria, data e local do projeto. As demais informações são a
respeito da simetria dos projetos, se os mesmos foram construídos e sobre o
programa arquitetônico, listando os ambientes pertencentes a cada escola.

Nas duas tabelas apresentadas a ordem de classificação se dá por autor do projeto.

 
130

Tabela 25A: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 01.

 
131

 
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Tabela 25B: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 02.

 
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143

ANEXO A: Entrevistas.

Anthero Vieira Machado.


Novembro de 2007 – São Paulo / SP

(Flávio Hadlich) Sr. Anthero, quando o senhor entrou no Ipesp?

(Anthero Vieira Machado) Eu entrei no Ipesp em março de 1957 através do Jânio Quadros.

(FH) Ele era governador na época.

(AM) Sim, e ele foi a pessoa que começou as construções no interior. Ele fazia cadeias,
postos de saúde, fóruns, delegacias e escolas. Dessa forma, foi o Jânio que começou com
isso.

(FH) E porque ele escolheu o Ipesp para fazer esses projetos e obras?

(AM) Na verdade ele começou com os projetos padrão do DPO. O DOP tinha projetos
padrão, e ele os utilizava com as obras sob responsabilidade do Ipesp. O Ipesp é um órgão
criado em 1939 e era responsável pela pensão estadual. Então em 1957 o Ipesp tinha
menos de 20 anos e ele tinha pouco compromisso de pensão e muito dinheiro. E o Estado
não tinha dinheiro. Isso foi uma manobra inteligentíssima do Jânio. Então o que ele fez, ele
pegou o dinheiro do Ipesp e construiu todas essas obras. Agora, todos os terrenos foram
doados ao Ipesp. Os terrenos são do Ipesp, e com o compromisso, em contrato, de que
quando terminadas as obras, o Estado iria as adquirir. Tanto é que os Fóruns, ou seja, a
secretaria da justiça, se não me engano, adquiriu todos os fóruns.

(FH) E quem doava os terrenos?

(AM) As prefeituras doavam o terreno ao Ipesp e o Ipesp financiava a obra.

(FH) E como o Estado iria comprar essas obras?

 
144

(AM) O Estado compraria as obras à vista, porém não foi feito isso. Pelo menos até quando
eu saí do Ipesp somente a secretaria da justiça, da segurança e parte das obras da
secretaria da educação foram pagas. Muitas obras ainda eram do Ipesp.

Quando fundaram o Ipesp, o funcionário público pagaria 6% para ter a pensão, e o Estado
também deveria recolher 6%. Só que o Estado não recolhia esse valor. A secretaria da
fazenda descontava na folha de pagamento, mas não recolhia esse valor. Ela ficava com o
dinheiro e não repassava ao Ipesp.

Bem, aí houve a eleição e o Carvalho Pinto foi candidato do Jânio. Ele era secretário da
fazenda do Jânio. Aí o Carvalho Pinto foi eleito e elaborou o Plano de Ação, e nós
executamos. Daí nós começamos com os arquitetos. Porque você sabe que já naquela
época para você fazer uma licitação de obra tem que desenvolver o projeto completo. O que
até hoje não se faz.

Então o Paulo Seixas, eu e outras pessoas no Ipesp falamos com o superintendente do


Ipesp, que naquela época era o Dr. Francisco Morato, que era muito amigo da gente, e ele
gostou da idéia, pois não só você contratando fora o projeto era mais rápido como ele era
completo.

Aí nós tivemos os primeiros contatos com o IAB, conhecemos diversos arquitetos, tivemos
diversas reuniões e elaboramos em conjunto uma fórmula de remuneração dos projetos que
era diferente daquela do IAB, onde todos concordaram.

Nós fornecíamos ao superintendente do Ipesp de 3 a 5 nomes de arquitetos de notório


saber, de conhecimento público, e o superintendente escolhia um para fazer cada projeto.
Naquela época o Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Oswaldo
Corrêa Gonçalves, aquela turma toda a gente tinha muito contato e a coisa foi e, no interior,
onde as pessoas nunca ouviram falar em arquiteto, não conheciam nada, começaram a ver
aquelas obras do Artigas, Pedro Paulo e tantos outros, as pessoas começaram a gostar e foi
uma coisa maravilhosa.

Nós exigíamos que os arquitetos fossem ao local.

(FH) Essa definição de chamar diversos arquitetos ocorreu devido ao volume de obras.

(AM) Sim, devido ao volume de obras, para você ter o projeto rápido e executar o Plano de
Ação, pois o plano dizia várias coisas e tínhamos que executar rapidamente.

(FH) Voltando um pouco atrás, porque não foi decidido na época que o DOP fizesse as
obras, mesmo com a verba do Ipesp?

 
145

(AM) Porque o DOP era muito lento. A burocracia era muito grande. E o Ipesp não tinha
isso. O Ipesp montou um esquema exclusivo para isso. Na verdade o Ipesp já tinha um
departamento de engenharia, pois o Ipesp financiava casa própria, etc, mas o grupo não era
muito grande, tinham umas 8 pessoas. A partir da utilização do Ipesp para realização das
obras com o Jânio e, depois para execução do Plano de Ação foram admitidos mais
engenheiros, totalizando cerca de 30 a 40 pessoas para fiscalizar os projetos e obras.

(FH) Os funcionários do Ipesp também iam até as obras?

(AM) Sim, os funcionários contratavam os arquitetos, eles faziam os primeiros esboços, a


gente examinava e solicitava algumas alterações necessárias. Os arquitetos tinham muita
liberdade no projeto.

(FH) Havia algum programa arquitetônico?

(AM) Havia um programa mínimo. Era informado verbalmente. O número de salas de aula já
vinha definido pela secretaria da educação.

(FH) Daí o programa era completado com administração, etc...

(AM) Sim, o arquiteto tinha que fazer isso.

(FH) É possível verificar nas obras das escolas do Ipesp que existem projetos de todos os
tipos. Alguns mais arrojados para a época, no caso as escolas todas em concreto, laje de
cobertura e às vezes com soluções estruturais inesperadas, mas também soluções mais
simples, com telhado de madeira e telhas de barro em duas águas. Como eram recebidas
essas propostas de projeto pelo Ipesp?

(AM) O arquiteto tinha liberdade total. Nesse aspecto nós não mexíamos em nada. A pessoa
aparecia com o projeto arrojado e nós só discutíamos sobre a execução, materiais e
facilidade de manutenção. O que nós exigíamos era o número de salas de aula e a futura
ampliação, se possível. A parte administrativa era a critério deles, a parte esportiva também.
Veja os projetos do Ícaro, que projetou espaços esportivos belíssimos.

(FH) Como era o trâmite dos projetos desde a solicitação até a conclusão da obra?

 
146

(AM) O primeiro ato era a doação do terreno, mas antes da doação o pessoal da engenharia
tinha que realizar uma vistoria no terreno, para ver se não havia um brejo ou coisa do tipo. O
terreno poderia ser aceito ou não. Em caso positivo, o processo era encaminhado ao
departamento jurídico para efetivar a doação. Depois de efetiva a doação, o departamento
de engenharia iniciava a contratação do escritório e elaboração dos projetos.

Agora, depois de o Ipesp ter uma quantidade grande de projetos, que era um volume
grande, a gente tentava fazer algumas adaptações de projetos prontos. Era raro, mas às
vezes o terreno era muito semelhante, então pegávamos alguns projetos prontos, às vezes
fazendo algumas adaptações, por vezes devido à urgência da prefeitura. Quando eram
projetos desenvolvidos pelos arquitetos contratados nós conversávamos com eles para
saber se permitiriam a repetição. Se não me engano no contrato havia uma cláusula que
permitia a repetição dos projetos. Mas mesmo assim foram muito poucos os casos.

Quanto ao processo de projeto, nós passávamos a lista de alguns arquitetos para o


superintendente, ele escolhia um deles, nós chamávamos o arquitetos, estipulávamos o
prazo, solicitávamos a ida ao local antes de elaborar o projeto, o arquiteto elaborava um
ante projeto, trazia para aprovação e o projeto era discutido conosco.

(FH) Havia arquitetos e engenheiros na equipe do Ipesp.

(AM) Havia mais arquitetos que engenheiros.

(FH) Era um processo bem dinâmico. Quantas obras foram construídas?

(AM) Nós construímos 1.400 obras no governo Jânio e Carvalho Pinto, incluindo escolas,
fóruns, delegacias e tudo mais. Nós trabalhávamos muito. Para você ter uma idéia, na
época as estradas eram muito ruins e o Carvalho Pinto financiou um Volkswagen para cada
funcionário poder realizar as vistorias pelo Estado. Ele financiou e nós pagamos em cinco
anos a juros baixos. Fui eu que comecei a realizar os cálculos de quilometragem entre as
cidades. Era impressionante como esse processo funcionava, ainda mais que nossa relação
era direta com o superintendente, diminuindo a burocracia.

(FH) Havia alguém da área de pedagogia? A secretaria da educação participava do


processo de projeto?

(AM) Não, eles pegavam o prédio pronto. Eles nem faziam o muro da escola, então o Ipesp
fazia muro em todas as escolas. A escola já fornecia o programa mínimo que eles

 
147

precisavam, e nós entregávamos sempre mais do que eles pediam, com áreas maiores,
mais janelas. Os projetos eram mais elásticos.

(FH) Pois é, isso é verificado na diversidade de projetos.

(AM) Por causa disso, o arquiteto tinha total liberdade.

(FH) E o custo da obra, não havia uma preocupação sobre isso?

(AM) Não, era por metro quadrado. Havia uma preocupação por materiais de fácil
manutenção, o que resultava em acabamentos baratos de piso, parede, etc.

(FH) Havia alguma orientação para utilização de materiais e mão de obra local?

(AM) Não. A gente contratava no começo essas obras com a prefeitura. Depois disso nós
começamos a contratar direto para facilitar. Na verdade, se a prefeitura possuía um
departamento de engenharia, a obra ficava com a prefeitura. Prefeituras muito pequenas,
sem estrutura para realizar as obras o Ipesp contratava as obras.

(FH) O Ipesp cuidava de tudo então.

(AM) Sim, o Ipesp fazia tudo. Havia o departamento jurídico que trabalhava junto ao nosso
departamento. Nessa época começaram diversas construtoras. O Romeu Chap Chap, por
exemplo, trabalhava comigo no Ipesp. Algumas pessoas trabalhavam no Ipesp e depois
saíram para fazer as obras.

(FH) Então os comentários dos projetos eram mais sobre os acabamentos....

(AM) A preocupação, se é que se pode dar esse nome, é que a manutenção fosse a menor
possível. Se você tivesse que gastar mais para garantir uma manutenção propensa a zero, a
gente deixava. Por isso que você vê muita coisa em concreto aparente. Inclusive diversos
fóruns com vidros a prova de balas, ou seja, com muita segurança.

 
148

(FH) E o pessoal do Plano de Ação, o Plínio de Arruda Sampaio, Celso Monteiro


Lamparelli...

(AM) Isso foi quando começou. Eu fui apresentado ao Plínio quando começou o plano. Nós
fizemos um contato no palácio do governo, e depois tivemos mais uns três ou quatro
contatos para a coisa engrenar. Mas depois, a coisa começou a andar tão bem que não
havia mais necessidade de reuniões. Esse negócio da engenharia ter contato direto com
superintendente do Ipesp foi muito bom, pois ele era uma pessoa fantástica. Ele não tinha
burocracia. Ele resolvia tudo na hora. Ele ajudou a financiar os automóveis para os
funcionários poderem viajar. Nós viajávamos por muitos lugares e acabávamos conhecendo
muita gente.

(FH) Em 1960 também estava sendo criado o Fece. Como era a relação do Ipesp com o
Fece?

(AM) A relação era muito pequena. Nós entrávamos em contato quando havia alguma
dúvida em relação a problemas da escola. Por exemplo, surgiu uma dúvida de como poderia
ser feito o quadro negro, se poderia ser feito cimentado, qual a cor. Se era melhor fazer a
janela baixa ou mais alta para a criança não distrair.

(FH) De posse dessas informações vocês aplicavam em todos os projetos.

(AM) De certa forma essas informações viravam diretrizes, mas não era nada muito rígido.
Isso é que era maravilhoso. Não era como nas repartições.

(FH) O Fece tinha esse tipo de informação, mas quais eram as atividades que eles
desenvolviam? O papel do Fece não era substituir as atividades do Ipesp?

(AM) O Fece construía também. O Fece depois tomou o lugar do Ipesp. Com a entrada dos
novos governos, como o IPESP realizou muitas obras, muito bem feitas, gerou muito ciúme
ao DOP. Ficou uma bronca danada porque o Jânio esvaziou o DOP. E o DOP é o órgão do
Estado. O IPESP não era o órgão responsável por isso tudo, foi tudo por causa do dinheiro
e da agilidade. O DOP demorava muito, eles faziam os projetos, orçavam, havia muita
burocracia.

 
149

Depois o Fece começou a construir. No momento que terminou o governo Carvalho Pinto,
toda a equipe do Ipesp foi colocada de canto, eu inclusive. Essas coisas de mudança de
governo.

(FH) Depois do governo Carvalho Pinto veio o golpe de 64.

(AM) Isso. Entrou o Adhemar de Barros. Eu fiquei muito tempo indo até o Ipesp e ficava
ganhando sem fazer nada. Isso era muito comum antigamente, quando alguém não se
encaixava no esquema previsto pelo governo essa pessoa era encostada. O próprio diretor
do Ipesp, quando começou o governo Carvalho Pinto, não concordou com esse esquema
todo e foi afastado do cargo.

(FH) Mas se o Ipesp parou em 64, quem é que continuou a fazer as coisas?

(AM) Não se fez mais. Parou totalmente. O novo governador que entrou, a primeira coisa
que ele fez foi parar tudo. O DOP pegou todos os projetos que estavam com a gente. O
Adhemar voltou tudo para o DOP.

(FH) Na verdade, nesse período de 59 a 63 o Fece também fez algumas obras.

(AM) Já estava, que eu saiba estava. Mas acredito que era pouca coisa. A impressão que
eu tenho é que o Fece tinha muito contato com a superintendência e nós, quando tínhamos
dúvidas sobre alguma coisa entrávamos em contato por telefone.

(FH) Qual foi o número de escolas realizadas pelo Ipesp?

(AM) Antes de me aposentar eu fiz um levantamento. Fale com a Cláudia do Ipesp que ela
tem o levantamento de tudo.

(FH) Entre os funcionários do Ipesp havia conversas sobre projetos que mais se
destacavam, outros que não eram tão bons....

(AM) É claro que a decisão da contratação de um ou outro ficava sempre entre o


Superintendente, eu e o Paulo Seixas e de qualquer maneira não permitíamos que

 
150

houvesse qualquer tipo de favorecimento, mesmo sabendo que os projetos de uns eram
melhores do que de outros. Havia arquitetos fantásticos, mas outros que não eram tão bons.
Mas o que importa é que toda a equipe do Ipsep e os arquitetos contratados tinham um
objetivo único, que era o atendimento ao Plano de Ação e foi por isso que, no final, podemos
dizer que foi feito um grande trabalho.

(FH) Mais em detalhes, como era a organização de cargos do Ipesp?

(AM) Havia o superintendente, que era o Dr. Francisco Morato que, a priori, prestava contas
ao diretor geral, porém, fizeram uma portaria autorizando o superintendente a tratar direto
com o setor de engenharia. Daí vinha o Paulo Seixas que era o Diretor da Engenharia. Eu
era o chefe do departamento que tratava diretamente da execução do Plano de Ação,
porque no Ipesp havia departamentos que cuidavam da construção de casa própria, etc.

No departamento havia cerca de 35 pessoas entre engenheiros e arquitetos e, além disso


havia o pessoal de apoio, expediente, organização dos processos, etc. Na verdade, quando
começava a obra começava o sistema de pagamento. Para liberar as prestações nós
tínhamos que fazer as vistorias e autorizar o pagamento, tanto para a prefeitura quanto para
as construtoras. Como tinham muitas obras em andamento cada um ia pra um lado. Então a
gente sempre tinha que fazer um esquema de passar em várias obras próximas, pois as
estradas eram muito ruins.

(FH) Os projetos de fundações não eram desenvolvidos por vocês?

(AM) Como a gente não tinha sondagem do terreno e ia demorar muito para conseguir esse
material, os projetos eram desenvolvidos do respaldo para cima. O próprio orçamento era
feito assim, do respaldo para cima. E a fundação a gente fazia a parte porque dependia
muito do terreno. A escola de Itanhaem do Artigas, como exemplo, tinha um problema no
terreno, que era meio movediço, daí fizemos uma concorrência para o prédio todo, nesse
caso não foi dado para construtora. A escola de Guarulhos de Artigas também foi assim.

A construtora fazia a sondagem e apresentava o projeto de fundações para nós, para


análise.

(FH) No livro das obras do Ipesp21 vemos muitos obras que tiveram seu projeto desenvolvido
mas foram construídas com outros projetos.

                                                            
21
 FERREIRA, Avany de Francisco; MELLO, Mirela Geiger de (organização). Arquitetura escolar paulista – anos 
1950 e 1960. São Paulo, Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2006. 

 
151

(AM) Dependia da urgência. Quando havia pressão política por parte das prefeituras não
tínhamos muita escolha. Escolhíamos o projeto mais adequado e o implantávamos.

(FH) Falando na questão política, as obras eram bem distribuídas ou alguns prefeitos
conseguiam escolas para seus municípios através de acordos políticos? Pergunto isso, pois
parece que na época do Governo Carvalho Pinto a escolha de cidades para as novas
escolas era uma decisão mais técnica.

(AM) Não sei bem sobre isso, mas com certeza as decisões técnicas prevaleciam, dentro do
possível.

(FH) Em 1959 vocês tinham uma idéia sobre os projetos a serem desenvolvidos. Em 1963
os conceitos dos projetos haviam mudado em função da produção dos arquitetos?

(AM) Os primeiros contatos foram com os melhores, Artigas, etc. Então, a gente começou
com alta qualidade e nós aprendemos com eles. Daí pra frente a gente procurava aplicar o
que era bom com os demais contratados, por que engenharia é bom senso e isso a gente
procurava ter sempre.

(FH) O contato com o IAB partiu de vocês mesmo, porque vocês achavam que lá iam
encontrar o que precisavam, que eram os escritórios?

(AM) Sim, fomos exatamente na fonte, que para nós era o IAB. E os escritórios faziam os
projetos completos e coordenavam tudo, o que era mais fácil para fiscalizar. Nós fazíamos o
que até hoje não se faz, porque o pessoal faz contratação sem projeto.

(FH) Não foi pensado em pré-fabricação na época? Afinal, queriam que as obras fossem
rápidas.

(AM) Naquela época nem se falava nisso. Apareceu uma única vez um arquiteto de Minas
Gerais propondo fazer em pré-fabricado, mas não havia muita gente no mercado que fazia
isso. Nós também não conhecíamos muito sobre isso.

(FH) O Ipesp cuidava da manutenção de prédios também?

 
152

(AM) Não, quem fazia a manutenção era o DOP, após a entrega da obra pelo Ipesp.

(FH) O Ipesp só fazia obra no interior, não?

(AM) Não, fazíamos também na capital. Por exemplo, fizemos uma escola no Tucuruvi, na
época do Governo Carvalho Pinto, na rua Carvalho Pinto, inclusive. O projeto foi do
Oswaldo Corrêa Gonçalves. Era a maior escola da época, com vinte salas de aula. Teve
também no Caxingui, km 11 da rodovia Raposo Tavares. Lá tem duas escolas que nós
fizemos, mas da época do DOP, no governo Jânio.

O terreno desta escola no Tucuruvi era do Ipesp. O município de São Paulo nunca doou
terreno para o Ipesp, portanto as obras construídas pelo Ipesp em São Paulo teriam que ser
em terrenos do próprio Ipesp, o que justifica menos obras na capital. De qualquer forma o
Ipesp construía em todos os municípios, inclusive na capital.

Mesmo o DOP, ele continuava na ativa. O governo do Jânio e Carvalho Pinto tirou do DOP a
responsabilidade do Plano de Ação, mas acredito que eles continuaram a construir,
provavelmente numa escala muito menor.

(FH) Verifiquei que algumas escolas tinham quadra coberta, verdadeiros ginásios de
esporte, mas a maioria não tinha. Isso não fazia parte do programa mínimo para as escolas?

(AM) Não, a construção de quadra junto com a escola tinha que vir por solicitação superior.
Nesse caso nós não tínhamos autonomia para decidir. Além disso, o terreno tinha que ser
grande para viabilizar a quadra.

(FH) E quanto às salas de pré-primário que verificamos na maioria das escolas?

(AM) Nesse caso era diferente. Essas salas não faziam parte da solicitação do governo,
mas o que acontecia é que, quando iniciávamos o processo na engenharia, contratando o
arquiteto, etc., os prefeitos ficavam sabendo e iam conversar com a gente. E o que muitos
pediam eram as salas de pré-primário. Eram uma ou duas salas com um pátio exclusivo,
sempre isolado do restante da escola. Esse tipo de solicitação dos prefeitos nós estávamos
autorizados a atender. Isso é que era maravilhoso nesses projetos, a flexibilidade de área e
programa permitia fazer muito além do previsto.

 
153

Julio Roberto Katinsky.


Agosto de 2007 – São Paulo / SP

(Flávio Hadlich) No texto da Janice22 eu achei uma bibliografia e, consultando na FAU, eu


descobri que o Ipesp tinha feito escolas desde 1957, um pouco antes do que geralmente se
fala que é 1959, mas não foi num volume como aconteceu em 1959.

(Júlio Roberto Katinsky) Desde o início o Carvalho Pinto retirou as obras do Estado do DOP.

(FH) Mas eu acredito que isso foi em função de verba, o Ipesp era um órgão que tinha muito
dinheiro para investir.

(JK) Não, porque o dinheiro era do Estado. Agora veja só, o que se fazia de errado no DOP
que também chocava, eles pegavam projeto e aplicavam em terrenos às vezes que não
tinham possibilidades.

(FH) Como projetos padrão?

(JK) É quase que projeto padrão. Era uma coisa que estava sempre na cabeça dos
dirigentes do DOP. Então quando eu mesmo fui visitar uma dessas escolas, passei pelo
caminho e vi uma escola com as portas de entrada a 2 metros de altura, quer dizer, absoluta
ausência de uma qualificação técnica para construir inclusive, entende? O DOP tinha ai
esse defeito muito chato que era o desprezo pelo projeto. Os arquitetos do DOP sofriam
horrores para tentar impor um mínimo de ordem naquele escritório. E isso de fato existia. Os
mestres de obra, as firmas empreiteiras e construtoras é que mandavam. No Ipesp não. O
Ipesp inverte o processo. O projeto que é importante, e pega os arquitetos de calça curta.

(FH) Tem um depoimento do Abrahão Sanovics que conta que o Juscelino Kubitschek, em
conversa com o Carvalho Pinto falou: “Olha, use seus profissionais para você ter uma boa
arquitetura, nos prédios públicos”, mas eu não sei se foi uma coisa tão simples assim, de
uma conversa.

                                                            
22
 SILVA, Janice Theodoro da. A construção da cidadania e da escola nas décadas de 1950 e 1960 in FERREIRA, 
Avany de Francisco; MELLO, Mirela Geiger de (organização). Arquitetura escolar paulista – anos 1950 e 1960. 
São Paulo, Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2006. 

 
154

(JK) O que pesou muito no Carvalho Pinto, indiscutivelmente, foi o êxito internacional da
arquitetura brasileira. Isso pesou mesmo.

(FH) Brasília.

(JK) Brasília naquele instante, em 1957, todo mundo ficou estupefato, pelos projetos
fundamentais de Brasília, um deles é o Congresso que naquele instante em 1957 era uma
maquete, e tem um artigo do Pierluigi Nervi na revista Casabella encomendada pelo Rogers,
porque o Rogers se tornou inimigo figadal do Oscar Niemeyer. Então ele pega e pede pro
Nervi comentar o projeto do Senado e da Câmara. Eles estavam acostumados que muita
coisa dos projetos brasileiros eram só projetos e não aconteciam na realidade. Então o Nervi
faz ironias grosseiras a respeito da possibilidade dos prédios ficarem de pé e disse inclusive
que os engenheiros brasileiros estão devendo para ele que tem 40 anos de experiência de
construção como é que aquilo ia ficar de pé. Porque para ele aquilo não ia ficar de pé. Só
que ele não sabia, porque não existia comunicação instantânea como estamos
acostumados. A comunicação acontecia com “cabograma”. Então as notícias importantes
eram: “O príncipe de Gales caiu do cavalo”, só essas bobagens. Ele não sabia que o prédio
estava pronto. O Pierluigi Nervi ficou tão furioso que rompeu com o Rogers e nunca mais
falou com ele, pois ele havia passado por um papel ridículo no mundo. A Casabella era uma
revista consumida desde São Paulo até Moscou. Era a única revista com penetração na
União Soviética, então ele fez um fiasco mundial. Depois o Nervi tentou amenizar a situação
com outros artigos sobre o Niemeyer.

(FH) Essa quantidade de escolas exige uma grande quantidade de arquitetos.

(JK) E nós não estávamos preparados para a escala de obra nem para os recursos técnicos
que existiam na época. Os arquitetos paulistas faziam casas. A maior parte fazia residências
e para particulares, que você levava 8 meses para fazer, então não havia uma
sistematização de projeto. Eu me lembro que professores nossos nos procuraram para
saber como é que fazia memorial, e a gente não tinha vergonha de perguntar, porque essa é
a vantagem dos jovens, a gente ia atrás e perguntava e a figura importante, por incrível que
pareça, era o Oswaldo Bratke, que era um homem que havia construído vários prédios. Ele
era o arquiteto que mais metros quadrados tinha construído no centro. E ele então tinha
esse know how, de como desenvolver um projeto que poderia ser levado para obra sem a
presença do arquiteto.

 
155

(FH) Engraçado que ele não fez escolas para o Ipesp.23

(JK) Ele fez obras na Politécnica e, em minha opinião, muito ruins. Fora de escala. Ele era
bom para fazer prédio de apartamento e residências, mas fora disso ele se perdia. Também
não tinha a visão dos arquitetos brasileiros maiores, como o Lucio Costa, que pensava em
termos de Lê Corbusier, prédios públicos. Lê Corbusier fez quantas casas na vida? Não tem
15, 20 que foram construídas. Ele tem muitos projetos, mas construídos tem poucos. A
maior parte das obras dele são obras públicas. E isso faz uma diferença gigantesca. Quem
era mais próximo dos arquitetos modernos apesar de não ser muito bem visto, era o
Piacentinni, que fez o prédio do Matarazzo. É um prédio que o pessoal não percebe, mas
ele amplia a Praça do Patriarca. Quer dizer, ele pegou e deixou todo um patamar, uma
espécie de esplanada que remete para a Praça do Patriarca.

(FH) Houve uma campanha dos arquitetos junto ao Ipesp para que esses profissionais
fossem contratados? Como isso aconteceu? O Artigas tinha algum contato com o pessoal
do Ipesp ou do Plano de Ação batalhando pelos arquitetos?

(JK) Não, imagina! O Artigas não existia naquele tempo perante o governo do Estado. Eu
me lembro que o Estadão fez a maior gozação do Carvalho Pinto, porque ele foi na
inauguração da escola de Guarulhos e chamou o Artigas de engenheiro. O Estadão fez
questão de chamar atenção sobre isso. "Ele não sabe nem o que é arquiteto". O pessoal do
estadão era muito mais qualificado. Eles tinham nível mais alto porque viviam na França.
Então sabiam o que eram as coisas. Eles odiavam o Oscar Niemeyer por razões
ideológicas. Eu me lembro de uma fotografia que o estadão publicou quando o Jânio caiu,
então foram retiradas umas floreiras que a Dona Helô tinha posto na varanda do Palácio da
Alvorada. Então o comentário do Estadão foi: "O edifício volta à sua forma anterior". Quer
dizer, eles gozavam o provincianismo paulista o tempo todo. E havia sim o provincianismo
paulista.

Agora, o Artigas aparece depois, por causa do ginásio de Itanhaem, da escola de Guarulhos
e de um Fórum que ele fez no interior. Todo mundo ficou chocado lá no Ipesp porque ele,
por conta própria, foi à cidade, convenceu o prefeito de que o terreno que ele tinha dado não
prestava e trocou de terreno para fazer o projeto. Aí eles começaram a exigir que a gente
fosse vistoriar o terreno. Até então ninguém pedia isso. Foi por isso que nós fizemos a
burrada de acreditar na planta e fazer o prédio ao contrário quando estávamos projetando
para o Ipesp, entendeu?

É impressionante como todos os institutos de pesquisa que tínhamos, que era uma coisa
enorme, a República fez uma série. A República fez a escola Politécnica, fez o Instituto
Agronômico de Campinas, fez o Horto Florestal, fez o Oscar Freire, Faculdade de Medicina.
Tudo isso foi na primeira República. O pessoal era provinciano, continuava provinciano,
                                                            
23
Verificou-se posteriormente que o arquiteto Oswaldo Bratke realizou um projeto de escola através
de contrato com o IPESP.

 
156

entendeu, isso fica patente nesse texto do Moura Campos24 que eu indiquei na minha
bibliografia. E ainda hoje há um provincianismo paulista.

(FH) Se não houve uma campanha para chamar os arquitetos, como que o Ipesp chamou
esse pessoal todo?

(JK) Bom, eu acho que eles chamaram os arquitetos em função dessa realidade nova que
foi a projeção internacional da arquitetura brasileira e de Brasília. A própria especulação
imobiliária sofreu o impacto de Brasília naquela época. Prédio de apartamento com garagem
e jardim se dissemina nesses anos.

(FH) Então eles estavam tentando ir na mesma linha?

(JK) Exatamente. A própria idéia de um Plano de Ação é típica do getulísmo.

(FH) E como é que funcionava, o pessoal do Ipesp indicava os arquitetos?

(JK) Era tudo por indicação. Nós pegávamos projeto porque tínhamos ganhado o concurso
de Londrina e um arquiteto professor nosso chegou no Ipesp e assoprou o nosso nome.

(FH) Um chamava o outro então.

(JK) Tanto que, veja que os arquitetos chamados são em grande parte professores da FAU.
E também os remanescentes do Convênio Escolar. Por causa disso foi uma coisa
inteiramente nova. O Hélio Duarte foi um homem que, num certo sentido, ele e sua equipe
institucionalizaram a atividade do arquiteto e depois eles vão trabalhar para o SESI25. A
continuação do convênio é muito mais no SESI; agora qual é o defeito, o Hélio Duarte
começa a se afastar do Anísio Teixeira e a linguagem dele começa a ser tecnocrática. Ele
abandona a partir de 57/58 as posições do Anísio Teixeira. Sobre isso eu fiz uma ironia na
homenagem que ele fez para o Anísio Teixeira, falando da experiência da Bahia e pula
direto para a escola parque de Brasília, quando tinha toda a experiência do Convênio
Escolar, que ele apaga da valorização do Anísio. Isso daí é uma coisa inaceitável, porque o
                                                            
24
  MOURA  CAMPOS,  Cândido.  (organizador).  Novos  prédios  para  grupo  escolar.  São  Paulo,  Secretaria  da 
Educação, 1936. 
25
 SESI – Serviço Social da Indústria. 

 
157

Hélio Duarte era do Partido Comunista e brigou com eles, então ele se apóia no pessoal
mais conservador da Politécnica.

(FH) Agora, no Convênio era uma coisa muito além não é, o Anísio Teixeira, os arquitetos,
eles montavam os programas, provavelmente entre si. Era uma escala menor também. No
caso do Ipesp, quando chamavam um escritório, como acontecia?

(JK) O programa já estava feito. Tudo pronto.

(FH) E esse programa vinha do Ipesp?

(JK) Vinha do Ipesp.

(FH) Então alguém do Ipesp tinha consciência das necessidades da escola.

(JK) Isso eu acho que não era coisa do Ipesp, era coisa do pessoal do Plano, era ligado ao
Movimento Humanista. Aí isso você tem que investigar bem, a relação entre os grupos do
Plano de Ação do Carvalho Pinto e o movimento humanista do Lebret, que era muito
hostilizado pelos comunistas.

(FH) O professor Celso Monteiro Lamparelli fazia parte desse grupo. Agora, a respeito das
escolas dessa época, temos com salas de dois tipos de configuração, 6x8 e 7x7, com
estrutura de madeira, concreto.... temos escolas de tudo quanto é tipo.....

(JK) Aí houve uma orientação muito ruim do Ipesp que era de procurar valorizar os recursos
locais, mas depois perceberam que isso não era bom.

(FH) No começo então era assim?

(JK) Isso foi uma desgraça porque ficou caro. Eles perceberam que era uma besteira porque
os materiais locais eram de difícil produção, não atendiam, e aí você tinha que transportar
tijolo, em vez de fazer a estrutura de concreto, tinha que transportar tijolo através de
estradas muito precárias. Esse negócio de estradas asfaltadas é posterior, quando a

 
158

Petrobrás começou a produzir asfalto em grande quantidade. A maior parte das estradas
paulistas naquela época era tudo de terra.

(FH) Mas não era por isso que eles queriam material do local?

(JK) Sim, mas a produção local era insignificante.

(FH) E eles queriam agilidade.

(JK) Eles queriam rapidez também. Esse é o problema político que existia. Existem duas
questões nesse problema de rapidez. Um era um processo que até hoje o governo brasileiro
usa que é a capitalização através do trabalho, a exploração sobre o trabalho. Então quanto
mais curto o tempo entre iniciar e entregar a obra, você faz com que o capital de giro seja
menos tempo imobilizado. E isso era muito importante. Isso sempre foi assim porque o país
não tem capital. Mesmo hoje que o Brasil progrediu muito você vê que o Brasil está vivendo
de investimento estrangeiro. O tempo todo o pessoal está querendo investimento
estrangeiro porque não tem capital. E isso vai pesar nessa idéia dos prazos políticos. Não
tem prazo político, é conversa. É um processo cruel, mas é um processo que a China usa,
todo o mundo usa, que é capitalizar através do trabalho, através de não pagar o trabalho.

(FH) Então é por isso que algumas escolas em 59 têm telhado com estrutura de madeira,
alvenaria, etc. e as últimas passam a ser inteiramente em concreto.

(JK) Exatamente. Ficava barato, mais vantajoso, melhor. Eu tenho impressão que as
escolas que nós fizemos, eu e o Abrahão, acho que não deve existir mais nenhuma. Porque
eram precaríssimas. Estrutura de madeira, treliças de madeira. Até tinha um engenheiro,
japonesinho, que projetava essas estruturas de madeira para todo o mundo.

(FH) Mas algumas escolas desde o começo já foram em concreto, como a escola de
Itanhaem, de 1959.

(JK) Mas quem é que ia discutir com o Artigas? Os caras que fiscalizavam a obra foram
alunos dele na FAU. O Artigas não era um nome forte fora do ambiente profissional, mas
dentro era respeitadíssimo. Era um homem que tinha feito o Louveira. O Louveira foi um
prédio que foi repetido às pampas pela cidade. Aqui em Higienópolis tem dois prédios do
Franz Heep que é o próprio Louveira, um prédio em frente ao outro. Está aí. Então isso tem
de montão na cidade de São Paulo. Ele foi muito copiado. O Louveira foi muito copiado.

 
159

Ainda que ele seja um aperfeiçoamento do prédio do Vital Brasil. Ele é que teve a grande
sacada. Ele fez um prédio na frente e o outro atrás e abriu uma rua, que tem certa graça até
os dias de hoje. Nessa rua até certo tempo atrás tinha um bar com mesas na calçada. Coisa
raríssima na época em São Paulo. Café você tomava no botequim, num bar vagabundo
naquelas máquinas de coador. Então o Artigas tinha o Louveira e o estádio do São Paulo.
Ele tinha muito prestígio entre os profissionais, mas fora disso não.

Agora, ele chega lá no Ipesp e diz que quer fazer a escola em concreto, também o fórum ele
fez em concreto. Também o Paulo fez o fórum de Avaré porque ele tinha ganhado um
grande prêmio em São Paulo com o estádio do Clube Paulistano, que foi apelidado de “belo
Antonio”, porque faltaram 60cm para ser homologado e não tinha fechamento, era aberto.
Assim não serve, porque o vento pode mudar a direção da bola. Então ele não pode ser
usado para competições olímpicas.

(FH) Então podemos considerar que o Artigas era o “carro chefe” por ter aberto para os
outros arquitetos fazerem a arquitetura moderna que é o que eles queriam.

(JK) Ah sim, todo mundo queria, mas não podia.

(FH) Tem uma escola do Abrahão, de 62, mais no final desse processo, que parece muito
com o prédio da FAU, do Artigas. Os pilares são muito parecidos. É uma escola em Santos.

(JK) Essa escola foi muito criticada. Todo mundo disse que ele chupou o Artigas.

(FH) Bem, a respeito do processo, os projetos eram todos entregues no Ipesp para serem
avaliados.

(JK) Tinha uma equipe que fazia a verificação e eles pediam todas as alterações. “Aqui falta
um telefone, aqui falta uma tomada”. O Carlos Cascaldi ficava muito bravo: “Imagina, esses
moleques aí ficam examinando os nossos projetos”. Eu me lembro uma vez que nós dois
estávamos no elevador e ele estava “soltando fumaça” porque recebeu o projeto para fazer
essas alterações, que eram feitas com muito respeito. Aí ele disse: “Bom, pelo menos não
vou votar nesse governo”. Eu virei para ele e disse assim: “Não interessa se você vai votar
ou não no governo, esse projeto seu vai dar no mínimo 100 votos para o governo atual”.
Quer dizer, a mentalidade nossa era muito elitista. Quer dizer, no fundo é aquela história,
nós todos somos iguais, mas tem uns que são um pouco mais iguais que os outros.

 
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(FH) Pelo que eu sei vocês forneciam os projetos completos menos as fundações, que
ficavam a cargo da construtora.

(JK) É, mas não havia muito problema de fundação porque os prédios raramente eram
pesados, de muitos andares. Eram prédios leves. Nunca houve grandes problemas de
fundação, a não ser as obras do Artigas que eram mais pesadas com toda aquela estrutura
de concreto.

(FH) Como na escola de Itanhaem, que tiveram problemas depois.

(JK) Pois é, deu problema em Itanhaem e outras obras porque também a mecânica dos
solos estava sendo implantada naquela época. Tanto que a barragem de Pampulha,
justamente em 56 se não me engano, rodou. Foi feito todo um estudo pelo IPT, nesse
estudo participou o Milton Vargas, etc. e tal, só que pegava muito mais um dos maiores
escritórios de engenharia da época que era o Eng. Novais. Ele que fez o primeiro estudo. Aí,
em cima desse estudo eles não verificaram mais nada, simplesmente ampliaram e
construíram a barragem. Está tudo registrado num texto meu que ainda é inédito, não foi
publicado, porque eu fiz um estudo sobre o Milton Vargas, aí então fiquei sabendo que a
barragem do Novais tinha 9 metros e fizeram com 17. Quer dizer, depois que arrebentou
tudo verificaram vários erros de construção. Porque barragem de terra é uma barragem
muito precária. Barragem de concreto já acontece isso, imagina barragem de terra. A água
atravessa a barragem.

(FH) Então tinham funcionários do Ipesp que, a princípio estavam fazendo esse papel a
mando do governo, porque o Ipesp não tinha nada a ver com escolas. Agora, o Fece
também estava sendo criado.

(JK) Sim, logo depois.

(FH) Sim, mas eles não chegaram a trabalhar em conjunto.

(JK) Acredito que o Fece acabou trabalhando de novo com o DOP. Sim porque o DOP
nunca saiu totalmente. E depois o DOP é retomado em épocas posteriores, e o Laudo Natel
também vai fazer obra fora do DOP. O Laudo Natel fez muitas obras, principalmente
telefônicas. Nós participamos também disso aí, desses projetos de telefônicas.

(FH) Porque o Fece começa a planejar....

 
161

(JK) A Clementina de Ambrósio pode falar sobre isso. Ela trabalhou lá nessa época.

(FH) E o Fece foi assumir as obras bem depois.

(JK) Depois da ditadura.

(FH) Sim, creio que depois de acabar o dinheiro do Ipesp, porque o Ipesp vira o “faz tudo”
da época. Delegacias, postos de saúde, escolas. No próprio Plano de Ação se dizia que o
dinheiro investido pelo Ipesp seria pago pelo governo como um financiamento, e nunca foi
pago.

(JK) Aliás, como é hábito do governo brasileiro, promete que paga e não paga. Então,
recentemente o Lembo quis pedir empréstimo para a FAPESP. O pessoal nem quis saber.
Tanto que, rigorosamente, não existe déficit na previdência, isso é conversa. É só todo
mundo pagar o que deve que acaba todo o déficit. Essa é uma das canalhices brasileiras,
quer dizer, vamos tirar o dinheiro dos aposentados porque são os que menos podem
reclamar. Mas hoje em dia a coisa não é tão fácil como no passado. No passado existiam os
IAPI’s todos.

(FH) Agora, não existia só o Artigas como “carro chefe”, tinham outros, como o Arq. Jorge
Zalszupin, que até o senhor trabalhou com ele.

(JK) Eu trabalhei, mas o Jorge não teve importância nenhuma.

(FH) Sim, mas as obras dele que constam no Ipesp tem uma característica moderna, todas
elas.

(JK) Eu não trabalhei com o Jorge nesse período. Você tem que procurar uma pessoa
chamada Gugliota, não sei se está vivo, ou conversar com o próprio Jorge. Ele pode dar
informações. O Jorge é uma pessoa muito séria, sempre teve uma postura muito modesta
como arquiteto. Ele gostava muito de arquitetura, mas ele nunca foi muito prestigiado, era
muito mais prestigiado o Jorge Whilheim. E no entanto, a meu ver, o Jorge era muito melhor
que o Jorge Whilheim. Isso não é exagero, acho que o Jorge Whilheim como arquiteto
nunca se destacou. O Jorge Zalszupin se destacou como artista, como arquiteto.

 
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(FH) Sim os projetos dele para o Ipesp são muito bonitos, vãos enormes, desde as primeiras
obras.

(JK) Também tem isso, ele não precisava do Ipesp. Ele era casado com uma mulher muito
rica e tinha boas relações com a sociedade paulista, portanto tinha muito trabalho. Por isso
que eu fui trabalhar com ele. Ele tinha muito trabalho e eu aprendi muito lá no escritório
dele, porque ele era muito cuidadoso, ele projetava e construía. Depois ele passou só a
projetar, creio que aí ele começou a fazer essas obras para o Ipesp. Na época que eu
estava lá ele tinha muita obra. Ele conhecia arquitetura, sabia bastante, A gente também
desenhava muito móvel. Foi lá que eu desenhei muita coisa.

(FH) Além do programa pronto, existia alguma orientação, por exemplo, salas de aula
voltadas para norte ou sul, ou ficava isso por conta do escritório mesmo?

(JK) Havia uma tendência a virar as salas de aula para o sol. Porque o sol era o grande
sanitarista. E ao mesmo tempo você tinha que fazer essa proteção, que era aceito, essa
proteção era feita para não ficar dependendo da cortina. Já se considerava cortina um
processo negativo. Uma coisa que acumulava sujeira e pó. E também não se voltava a
escola para o sul porque era um dogma, virar para o sul é ruim porque não bate sol e ainda
recebe o vento que vem da Argentina, do Pólo Sul. Pode reparar que isso também é
comentado pelos intelectuais paulistas, os poetas paulistas falam do vento sul como um
vento negativo. Dois ventos são negativos em São Paulo, um é o noroeste que dá
enxaqueca e o outro é o sul que dá resfriado, gripe, pneumonia e assim por diante. Então
essa coisa era mais ou menos recusada. E a outra coisa era que a ditadura da insolação era
total, quer dizer, isso vem do Alexandre Albuquerque, daqueles estudos de higiene da
construção, que a tuberculose tem que ser combatida com o sol basicamente. E isso foi
abandonado depois de 74, que teve um efeito ruinoso, porque hoje você vira para onde você
quiser.

Teve um cliente que me fez correr com um projeto de uma casa porque ele não queria ficar
mais um inverno num prédio que estava solto no terreno, quer dizer, não era um problema
de ser obrigado, o prédio estava solto e voltado para o sul, recebendo o ar frio das represas
que ficavam ali na serra do mar com toda aquela umidade. O homem estava desesperado
para sair daquele apartamento.

(FH) Eu perguntei justamente sobre isso, pois estou fazendo uma análise crítica em termos
de projeto em cada escola e estou chegando à conclusão de que a maioria das salas de
aula são voltadas para o sul. Por isso eu achei que existisse alguma orientação nesse
sentido, porque eu imagino que no interior do Estado o calor é muito forte. Ribeirão Preto,
litoral... então eu imaginava que existisse algo assim.

 
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(JK) Isso aí talvez você tenha razão, pode ter havido uma orientação de não voltar para o
norte por causa do problema do calor. Conforme você vai saindo da cidade a altitude vai
caindo então as temperaturas são sempre mais altas. Por exemplo, Itú que é só 500 metros
de altitude do mar já se recomendava tomar muito cuidado com a insolação por causa disso.
Sobre o programa talvez o Celso possa dar alguma informação, pois isso partia do grupo
ideológico do Plano de Ação.

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