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FLÁVIO HADLICH
As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo
de 1959 a 1962.
São Paulo
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Pós-Graduação
FLÁVIO HADLICH
As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de
1959 a 1962.
São Paulo
2009
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL: flaviohadlich@terra.com.br
Hadlich, Flávio
H129d As escolas do IPESP: projetos de edifícios escolares
produzidos para o Instituto de Previdência do Estado de
São Paulo de 1959 a 1962. / Flávio Hadlich. --São Paulo,
2009.
163 p. : il.
CDU 727.1(816.11)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Pós-Graduação
FLÁVIO HADLICH
As escolas do Ipesp:
projetos de edifícios escolares produzidos para o
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de
1959 a 1962.
___________________________________
Orientador: Prof. Dr. Adilson Costa Macedo
___________________________________
___________________________________
Agradecimentos
Ao meu orientador, Adilson Costa Macedo, pelo sempre presente apoio desde as
primeiras idéias desta dissertação.
Ao mestre e amigo Antenor Bertarelli, que tornou possível meus primeiros contatos
com a arquitetura escolar e com quem muito aprendi sobre projeto de arquitetura.
Resumo
HADLICH, Flávio. As escolas do Ipesp: projetos de edifícios escolares
produzidos para o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo de 1959 a
1962. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo. p. 163, 2009.
Esta dissertação teve por objetivo realizar uma análise dos projetos escolares
encomendados pelo Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP) junto
aos escritórios paulistas de arquitetura durante a vigência do Plano de Ação do
então governador do Estado, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto. Foram
realizados levantamentos dos projetos selecionados, caracterizando
construtivamente a produção em estudo e comparando com as diretrizes de projeto
elaboradas pelo Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE) criado pelo
governo do Estado para o planejamento da rede escolar. Também foram analisados
os fatores que possibilitaram uma nova forma de elaboração de projetos para obras
públicas – até então realizados por funcionários públicos – através de contratos com
os escritórios de arquitetura, e sua repercussão junto à classe arquitetônica. Para o
melhor entendimento e verificação da diversidade de projetos elaborados, foram
criados grupos com projetos selecionados por similaridade conceitual através de
critérios embasados na espacialidade e forma das edificações. Esses grupos foram
representados por esquemas gráficos que sintetizaram as suas características mais
expressivas. Por fim, considerações foram feitas sobre as realizações do Plano de
Ação, a produção da arquitetura escolar do Ipesp e sua repercussão na arquitetura
escolar paulista posterior.
Abstract
HADLICH, Flavio. Ipesp schools: school buildings projects produced for the
Social Welfare Institute from the state of Sao Paulo from 1959 to 1962.
Mastership dissertation. Post-degree course of the college of Architecture and
Urbanism of Sao Paulo University. Sao Paulo, Pages 163, 2009
KEY WORDS: School architecture, Architecture of Sao Paulo, Ipesp, Plano de Ação.
Lista de Abreviações
EE Escola Estadual;
Lista de Ilustrações
Figura 10B: Cortes e fachada do projeto original da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de
1959 de autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).
______________________________________________________________________________ 78
Figura 10C: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP). ______________ 79
Figura 10D: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE). ______________ 80
Figura 11A: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente,
projeto de 1962 do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Ferreira e Mello, 2006). _______________ 81
Figura 11B: Conjunto de fotos da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente, projeto de 1962 do
arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Arquivo Técnico FDE). _______________________________ 82
Figura 12A: Implantação e plantas da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006). ___________________________ 83
Figura 12B: Cortes e elevações da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006). ___________________________ 84
Figura 13A: Grupo 01, características principais, esquemas em planta (croquis do autor). ________ 85
Figura 13B: Grupo 01, características principais, esquemas em corte (croquis do autor). _________ 86
Figura 13C: Grupo 01, características principais, esquemas em corte - continuação (croquis do autor).
______________________________________________________________________________ 87
Figura 14: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Coronel Silvestre de Lima em Barretos,
projeto de 1960 de autoria dos arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Rubin (Ferreira e Mello, 2006).
______________________________________________________________________________ 91
Figura 15A: Implantação, plantas e elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (Ferreira e Mello, 2006). ______________ 92
Figura 15B: Projeto original com implantação, plantas e cortes da EE Professor Sebastião Teixeira
Pinto em Tupã, projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE). __ 93
Figura 15C: Projeto original com elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE). _______________ 94
Figura 15D: Conjunto de fotos da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE)._______________________________ 95
Figura 16: Implantação, planta, corte e elevação da EMEF Amador Franco da Silveira em Dracena,
projeto de 1961 de autoria do arquiteto Hiroko Kawauchi (Ferreira e Mello, 2006). ______________ 96
Figura 17A: Grupo 02, características principais, esquemas em planta (croquis do autor). ________ 97
Figura 17B: Grupo 02, características principais, esquemas em corte (croquis do autor). _________ 98
Figura 18: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Professora Ana Maria Segura em
Cosmorama ,projeto sem data identificada, de autoria do arquiteto Hélio Penteado (Ferreira e Mello,
2006) _________________________________________________________________________ 103
Figura 19A: Implantação, plantas e cortes da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962
de autoria do arquiteto Majer Botkowski (Ferreira e Mello, 2006) ___________________________ 104
Figura 19B: Conjunto de fotos da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962 de autoria
do arquiteto Majer Botkowski (Arquivo Técnico FDE) ____________________________________ 105
Figura 20: Implantação, plantas e cortes da EE Professor Ângelo Vaqueiro em São Caetano do Sul,
projeto elaborado em 1963 por Candido Malta Campos Filho (Ferreira e Mello, 2006) __________ 106
Figura 21: Grupo 03, características principais, esquemas em planta e corte (croquis do autor). __ 107
Figura 22: Implantação, plantas cortes e elevações da EE Prof. Bruno Pieroni em Sertãozinho, projeto
se, data identificada de autoria do arquiteto Carlo Benvenuto Fongaro (Ferreira e Mello, 2006). __ 112
Figura 23A: Pavimento térreo do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (Arquivo técnico
FDE). _________________________________________________________________________ 113
Figura 23B: Cortes e detalhes do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico
FDE). _________________________________________________________________________ 114
Figura 23C: Elevações do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem
data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE). _ 115
Figura 23D: Conjunto de fotos da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem data
identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE). _____ 116
Figura 24: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Professor Raymundo Pismel em Santo
Anastácio, projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Benvenuto Fongaro (Ferreira e
Mello, 2006) ___________________________________________________________________ 117
Lista de Tabelas
Tabela 01: População nos Anos de Levantamento Censitário. Município e Região Metropolitana de
São Paulo, Estado de São Paulo e Brasil – 1872 a 2000. _________________________________ 16
Tabela 02: Linha do tempo do governo federal, do Estado de São Paulo e do Município de São Paulo.
______________________________________________________________________________ 18
Tabela 03: Áreas de terreno. _______________________________________________________ 43
Tabela 04: Áreas de terrenos de prédios para grupos escolares construídos entre 1959 e 1963
(FECE, 1963, p.105). _____________________________________________________________ 44
Tabela 05: Média de áreas ocupadas e construídas e seus extremos. _______________________ 45
Tabela 06: Média de TO, CA e seus extremos. _________________________________________ 45
Tabela 07: Relação área construída / salas de aula e seus extremos. ________________________ 45
Tabela 08: Orientação solar de salas de aula voltadas somente para uma face. ________________ 46
Tabela 09: Orientação solar de salas de aula voltadas para mais de uma face. ________________ 46
Tabela 10: Número de pavimentos. __________________________________________________ 47
Tabela 11: Formato das salas de aula. ________________________________________________ 48
Tabela 12: Número de salas de aula. _________________________________________________ 48
Tabela 13: Programas adotados na elaboração de projetos para grupos escolares (FECE,1963,p.107)
______________________________________________________________________________ 49
Tabela 14: Esquemas de circulação. _________________________________________________ 50
Tabela 15: Tipos de cobertura. ______________________________________________________ 51
Tabela 16: Número de blocos. ______________________________________________________ 52
Tabela 17: Projetos construídos. ____________________________________________________ 52
Tabela 18: Simetria do projeto. ______________________________________________________ 52
Tabela 19: Salas do pré-primário. ____________________________________________________ 54
Tabela 20: Ambientes complementares. _______________________________________________ 55
Tabela 21: Listagem de escolas classificadas no Grupo 01 - Rigidez formal e valorização do espaço
interno. ________________________________________________________________________ 77
Tabela 22: Listagem de escolas classificadas no Grupo 02 - Projetos com tratamento formal
diferenciado e galpão integrado. _____________________________________________________ 90
Tabela 23: Listagem de escolas classificadas no Grupo 03 - Projetos com tratamento formal
diferenciado sem galpão integrado. _________________________________________________ 101
Tabela 24: Listagem de escolas classificadas no Grupo 04 - Projetos convencionais sem galpão
integrado. _____________________________________________________________________ 110
Tabela 25A: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 01. _______________ 130
Tabela 25B: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 02. _______________ 137
Sumário
Introdução. ________________________________________________________ 12
Grupo 3: Projetos com tratamento formal diferenciado sem galpão integrado. ______ 99
12
Introdução.
13
1
Fonte: FDE. Conforme Ferreira e Mello (2006) a rede de escolas públicas era de aproximadamente
7.000 prédios até 2006, porém cerca de 25% foi recentemente municipalizada.
14
15
Por fim, temos as considerações finais onde tecemos comentários sobre esta rica
produção arquitetônica e as influências desses projetos na arquitetura escolar
paulista posterior. Foram desenvolvidas e inseridas ao final deste trabalho tabelas
resultantes do levantamento de características construtivas e espaciais dos 160
projetos estudados, conforme comentado na descrição do capítulo 5.
Duas entrevistas foram realizadas, anexas a esta dissertação, uma com o arquiteto
Júlio Roberto Katinsky, um dos arquitetos contratados pelo Ipesp juntamente com o
arquiteto Abraão Sanovicz para o desenvolvimento de projetos, e a outra entrevista
com o engenheiro Anthero Vieira Machado2, chefe do departamento de engenharia
do Ipesp, responsável pela execução do Plano de Ação. São entrevistas que
ajudaram a indicar caminhos para o desenvolvimento da pesquisa e a transmitir o
espírito de trabalho e otimismo para a classe arquitetônica que permeou o governo
de Carvalho Pinto.
2
Anthero Vieira Machado formou-se engenheiro pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba,
em 1955. Torna-se funcionário do Ipesp em 1957 no governo de Jânio Quadros, onde trabalha até
sua aposentadoria.
16
Tabela 01: População nos Anos de Levantamento Censitário. Município e Região Metropolitana de
São Paulo, Estado de São Paulo e Brasil – 1872 a 2000.
A escola é um dos alvos desse crescimento, como vemos em texto elaborado pelo
Fece em 1963:
17
Jânio da Silva Quadros, então governador do Estado (ver Tabela 02), vislumbrando
a possibilidade de utilizar tanto a verba do Instituto quanto sua equipe técnica,
complementa o decreto organizador do Ipesp4 e elabora o Decreto nr. 27.167 de 04
de janeiro de 1957 que inclui mais uma possibilidade de aplicação de suas receitas:
[..] a locação, que será atualizada em cada período de 5 (cinco) anos, deve corresponder aos
juros de 11% (onze por cento), ao ano, no mínimo, sobre o valor do imóvel. Após um período
de locação superior a 5 (cinco) anos, poderá o locatário, sendo o Estado ou suas autarquias,
adquirir o imóvel, pelo seu valor atual, e mais os juros previstos neste parágrafo, capitalizados
em cada 6 (seis) meses, a partir do início da locação. (DECRETO NR. 27.167 DE 04/01/57).
3
Até a presente data o Ipesp encontra-se em processo de extinção. A Lei Complementar nr. 1010 de
01/06/07 criou a São Paulo Previdência (SPPREV), órgão que, entre outras atribuições, irá substituir
o Ipesp. A mesma lei determina o prazo de 24 meses para a implantação definitiva da SPPREV
através de suporte do Ipesp, sendo este último extinto findo este prazo, em 01/06/09. Todo o
patrimônio do Ipesp será transferido para a SPPREV.
4
O Decreto nr. 12.762 de 18 de junho de 1942 dispõem sobre a organização geral do Ipesp.
18
Tabela 02: Linha do tempo do governo federal, do Estado de São Paulo e do Município de São Paulo.
É então que a partir de 19575 o Ipesp inicia a construção de escolas para o Estado.
De 1957 a fevereiro de 1959, final do governo de Jânio Quadros, o Ipesp constrói 75
prédios escolares (FECE-1973, p.16)6.
Há, por isso, que fazer investimentos rentáveis com as disponibilidades financeiras. E o
Instituto os faz, adquirindo títulos da dívida publica, concedendo financiamentos para a casa
própria e construindo obras públicas, no interior, para locação ao Estado (MENSAGEM, 1961).
Como citado acima, o Ipesp fica responsável pelas obras fora da capital. Na cidade
de São Paulo o Ipesp constrói somente em terrenos já pertencentes ao Instituto. O
Departamento de Obras Públicas do Estado de São Paulo (DOP), até então o órgão
oficial do Estado para construção e manutenção dos edifícios públicos é quem
constrói na capital durante o exercício de Carvalho Pinto, além de alguns casos
isolados de escolas no interior.
19
7
Fonte: FDE.
8
Fonte: FDE.
20
a) Construção e equipamento de unidades escolares, num total de 683 salas, para atender,
aproximadamente, 55.000 alunos que, no presente momento, freqüentam aulas em galpões ou
salas inadequadas.
b) Construção e equipamento de unidades escolares, num total de 2.298 salas, para reter, na
escola, durante quatro horas, os alunos que, atualmente, permanecem nela apenas duas horas
e meia ou três horas diárias: o total de alunos beneficiados será de, aproximadamente,
500.000, incluindo classes de emergência que funcionam em grupos escolares que seriam
transformados em classes comuns (PAGE, 159, p.68).
21
Sabendo das condições da rede escolar estadual até 1958 e das providências para
sanar seus problemas, Carvalho Pinto prevê a criação, no Plano de Ação, do Fundo
Estadual de Construções Escolares (Fece) para “atender a construção, ampliação e
equipamento de prédios destinados a escolas de ensino público primário e médio do
Estado” (LEI 5.444, de 17/11/59, art. 3º, item 1-a). A criação do Fece é uma exceção
dentro da política de realizações imediatas do governador, apesar de que como se
tratava de um novo órgão, sua estruturação não iria impor lentidão a órgãos como
Ipesp e DOP que atuavam intensamente e independentemente do Fece até sua
criação. Conforme descrito no Page:
O Plano de Ação do Governo, sobretudo em sua primeira etapa, visa a ativação e execução de
obras a serem levadas a efeito com os meios existentes. Todo planejamento que quiser
antepor à sua realização uma reorganização administrativa de base, isto é, der predominância
a modificações nas atividades-meio, tende a perder seu objetivo fundamental de por em ação
as atividades-fim (PAGE, 1959, p. 23).
III- Determinar, para cada programa periódico, os dados básicos de cada obra a ser
construída;
IV- Estudar normas para escolha e localização de áreas de terrenos para as construções,
com assistência técnica do órgão construtor;
22
Carvalho Pinto. Durante o Plano de Ação o Fece equipava as obras entregues pelo
Ipesp e DOP e financiava as obras construídas pelo DOP.
Vale a pena atentar para os dados cronológicos. O Fece passa a funcionar após 1
ano e meio da posse de Carvalho Pinto. Nesse período, e até mesmo num período
maior do que este, considerando que o Fece precisou de tempo para realizar um
levantamento da rede escolar existente para iniciar qualquer tipo de planejamento,
Ipesp e DOP construíam intensamente, coordenados diretamente pela equipe de
planejamento do Page, afinal essas entidades construtoras não tinham atribuição
para definir os locais para a construção das obras nem o número de salas de aula
necessárias para cada uma delas. Tal informação é confirmada por Machado (2007)
quando, em sua entrevista, cita que a equipe do Ipesp realizava reuniões com o
grupo de planejamento do governo no “Palácio”, e também informa que o Fece era
consultado para informações técnicas e diretrizes para os projetos.
No governo seguinte o Ipesp deixa ser utilizado como entidade construtora e o Fece
passa também a construir escolas ao lado do DOP, tendo somente a partir de 1968
apresentado números expressivos de novos edifícios construídos. Aliás, o governo
de Adhemar Pereira de Barros (1963 – 1967) reduziu drasticamente a quantidade de
obras para ampliação da rede escolar no Estado.
Apesar disso, o Fece foi mantido mesmo com as variações do cenário político
estadual e federal, centralizando todas as atividades relativas à construção escolar a
partir de 1966 (FERREIRA E MELLO, 2006, p.19), sendo sucedido por Construções
Escolares do Estado de São Paulo – CONESP – em 1976 e posteriormente pela
Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE – em 1987, consolidando
finalmente o planejamento para a rede escolar, que perdura até os dias atuais.
23
Escolar10 uma nova iniciativa planejada para minimizar a demanda por salas de aula.
O objetivo inicial era a construção de 100 edifícios escolares no município de São
Paulo no período de 1949 a 1954. No total foram construídos 68 edifícios. O método
de trabalho da equipe do 2º Convênio Escolar para o planejamento da rede foi
utilizado como referência para os trabalhos do Fundo, conforme citado no relatório
Fece de 1963.
10
O 2º Convênio Escolar foi um convênio firmado entre o município de São Paulo e o Governo do
Estado, celebrado em 28/12/49 e findo em 1954, ficando o município responsável pelos projetos e
construção das escolas e o Estado pelo funcionamento e manutenção das mesmas.
11
No Brasil, as idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923).
No Século XX, vários educadores se destacaram, especialmente após a divulgação do Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Podemos mencionar Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio
Teixeira (1900-1971) como grandes humanistas e nomes importantes deste capítulo da história
pedagógica.
Essencialmente, a Escola Nova preconizou que as escolas deixassem de ser meros locais de
transmissão de conhecimento e tornar-se pequenas comunidades. A escola deveria se adaptar aos
alunos e valorizar os trabalhos em equipe e extra-classe.
24
Em 1959 veio a público o Manifesto dos Educadores mais uma vez convocados que, invocando
as idéias do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, centralizou e organizou a
campanha pela educação pública.
Como em 32, o Manifesto de 59 foi redigido por Fernando Azevedo. Educadores, intelectuais
liberais, liberais progressistas, socialistas, comunistas, nacionalistas, deram sustentação ao
Manifesto. O documento não se preocupou com questões didático-pedagógicas, admitindo
como válidas as diretrizes “escolanovistas” de 32. Tratou de questões gerais de política
educacional. O Manifesto de 59 era favorável a existência das redes pública e particular de
ensino, mas propunha que as verbas do Estado fossem aplicadas somente na rede pública e
que as escolas particulares se submetessem à fiscalização oficial (SILVA, 1998, p.94).
25
No caso, técnicos do Ipesp realizavam vistoria prévia no terreno para verificar sua
viabilidade técnica para posteriormente aceitar o mesmo. Caso o terreno
apresentasse problemas como existência de brejo ou declividade acentuada, era
solicitada outra opção de terreno (MACHADO, 2007). A partir deste ponto, o Ipesp
detinha todas as atividades necessárias até a conclusão das obras.
26
O processo descrito, desde a doação do terreno até a entrega da obra, nem sempre
ocorria dessa forma. Exceções existiram e são verificáveis não só nas entrevistas
realizadas como na análise dos projetos. São inúmeros os projetos realizados e não
executados e também são vários os projetos que foram re-implantados em outros
terrenos.
27
28
29
30
Figura 02A – Implantação e pavimento térreo da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em
1963 (Arquivo Técnico FDE).
31
Figura 02B – Conjunto de fotos da EE Irmãos Ismael em Onda Verde, construída em 1963 (Arquivo
Técnico FDE).
32
33
34
35
Até o início do governo Carvalho Pinto, a rede escolar era composta por projetos
elaborados por funcionários ligados aos órgãos do governo, como o DOP e as
equipes do Convênio Escolar, com destaque para o 2º Convênio, com a presença do
Arquiteto Hélio Duarte e demais arquitetos membros da equipe.
13
Conforme entrevista com o Eng. Anthero Vieira Machado, em anexo, o IPESP montou uma equipe
de 30 a 40 funcionários exclusivamente para atendimento ao Plano de Acão.
36
Tendo havido, em 1952, um novo concurso para o Paço Municipal, e não tendo sido
classificado nenhum projeto em primeiro lugar, o prefeito Armando de Arruda Pereira resolveu
nomear uma equipe que, sob a direção de [Oscar] Niemeyer, se responsabilizou pelo projeto
do Paço Municipal para São Paulo. A orientação subseqüente da prefeitura de São Paulo,
governada por Jânio Quadros, não foi particularmente favorável nem à realização dessa
iniciativa necessária nem, em geral, na prefeitura e no governo do Estado, à arquitetura. Nesse
longo período, que se encaminha para cinco anos, os arquitetos paulistas foram praticamente
desconhecidos, senão atingidos e frontalmente contrariados (como o caso vital dos projetos-
tipo para fóruns, cadeias e edifícios escolares), pelos poderes públicos sediados em São
Paulo. Perseguição imerecida, pois que os arquitetos paulistas já deram mostras cabais da sua
vivacidade criadora e competência, inclusive em concursos realizados fora de São Paulo, como
o da Estação Ferroviária da Pampulha, do Paço Municipal de Campinas, de Brasília, do Palácio
da Justiça de Porto Alegre, oportunidades em que as equipes de arquitetos paulistas
levantaram prêmios confirmatórios de seu inegável valor.
Projetos volumosos e importantes, como os cinemas de Rino Levi, sedes de clubes como a do
Paulistano, elaborada por uma equipe da qual participaram os arquitetos Abelardo [de Souza],
[Zenon] Lotufo, Helio [Penteado] e [Roberto] Aflalo (sujeita agora a um remanejamento parcial
por via de um concurso recentemente realizado), ou do estádio do São Paulo Futebol Clube, do
arquiteto [João Batista Vilanova] Artigas, ou dos diversos projetos de estádios do arquiteto
Ícaro de Castro Mello e edifícios de [Oswaldo] Bratke, Rino Levi, Artigas, etc., delataram um
nível profissional em nada condizente com a atitude governamental paulista em relação aos
seus arquitetos. (SAIA, 1959, p.119).
Indícios nos mostram que a ligação dos arquitetos paulistas com o Ipesp é realizada
através de Plínio de Arruda Sampaio14, coordenador do grupo de planejamento do
Plano de Ação, verificável em duas ocasiões: em ata do Instituto de Arquitetos do
Brasil, Departamento de São Paulo (IAB/SP) e em entrevista concedida a arquiteta
Maria Tereza Regina Leme de Barros Cordido, publicada em sua dissertação de
mestrado.
[..] o arquiteto Luis Saia relatou a entrevista mantida com o Dr. Plínio de Arruda Sampaio,
coordenador da equipe que elaborou o Plano de Ação do Governo e que aceitou o convite
14
Plínio Soares de Arruda Sampaio nasceu em São Paulo em 1930. Formou-se bacharel em Direito
pela USP em 1954 e obteve o título de mestre pela Universidade de Cornell, Estados Unidos, em
1975. Em 1958, assumiu a subchefia da Casa Civil do Governo Carvalho Pinto, onde coordenou o
Plano de Ação do Governo do Estado de São Paulo (1958-1962). Funcionário da FAO - Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, entre 1965 e 1974, foi também professor do
Departamento de Economia da FGV e da PUC, de São Paulo. Deputado federal por três mandatos
(1962, 1984 e 1986), Plínio Sampaio foi candidato a governador do Estado de São Paulo pelo Partido
dos Trabalhadores em 1990. É professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas). É especialista na questão fundiária no Brasil, tendo trabalhado por 30 anos
na FAO (órgão da ONU voltado para a agricultura e a alimentação) (Fonte: sítio Histórias do Poder).
37
deste departamento do IAB para uma palestra e debates amplos, no próximo dia 31, nesta
sede. O arquiteto Leo Ribeiro de Moraes ressalta a importância dessa palestra e recomenda
que se faça ampla divulgação através de circulares e principalmente pela imprensa (IAB/SP,
1959).
Não há registros da palestra citada, porém fica claro que Sampaio era a ponte entre
o Page, e conseqüentemente o Ipesp e os arquitetos paulistas.
Quer dizer, e aí, como eu andava com os arquitetos, eles chegavam para mim e diziam: - Olha,
Plínio, isso é uma irracionalidade. O que gasta pra preencher o terreno ou tirar o terreno, você
gasta num bom projeto que rompe esse modelo; aproveita o terreno e com qualidade muito
melhor, em sóis melhores, a insolação é bem feita. Bom, eu não era um sujeito inculto, eu
entendia e dizia “sem dúvida, como que é isso?”.
Aí que eu fiquei sabendo que era um padrão. “Não, não, vamos mudar esse negócio, pode
mudar” (SAMPAIO, 2007 in CORDIDO, 2007, p. 306).
João Batista Vilanova Artigas, Jorge Wilheim e Rubens Carneiro Vianna são
arquitetos que aparecem na ata defendendo a atitude tomada pelo Ipesp quanto à
contratação dos arquitetos paulistas para elaboração dos projetos necessários ao
Page, mesmo sob “contratos irregulares e em desacordo com a Tabela Básica do
Instituto” (IAB/SP, 1959), justificando esta atitude pela falta de estrutura em seus
órgãos oficiais. Esses mesmos arquitetos vêem também nessa atitude do Ipesp uma
oportunidade para o reconhecimento do arquiteto como profissional, sendo esta “a
primeira vez que o arquiteto passa a existir para o Estado como profissional por
meio de contratos de projeto e fiscalização de obras”, reconhecendo que “cada obra
precisa de ter um arquiteto como autor” (IAB/SP, 1959).
38
Por outro lado Rui Gama, Luiz Carlos Costa, Francisco Ferreira e Joaquim Guedes
são arquitetos que, nesta assembléia, apresentam-se preocupados com a situação
do desprestígio dos arquitetos funcionários públicos e da falta de organismos de
planejamento de caráter permanente no Estado, concluindo que a atitude do Ipesp
na contratação de escritórios de arquitetura andava na contra-mão de uma
reestruturação da equipe técnica dos órgãos do governo.
Todo esse debate ocorre pouco antes da promulgação da Lei no. 5.444 de
17/11/1959, que dispõe sobre as medidas de caráter financeiro relativas ao Plano de
Ação, prevendo a criação não só do Fece como de outros fundos. Não sabemos até
que ponto a discussão realizada na ata da assembléia de setembro repercutiu no
grupo de planejamento do Page – ou até mesmo os entendimentos com Sampaio –
visto que, nessa mesma assembléia foi decidido que:
A necessidade de criação do Fece pode ter sido reforçada pela classe arquitetônica,
porém tem suas origens no momento histórico internacional pela qual passava a
educação. Em 1958 o secretário da educação do governo de Carvalho Pinto
participou em Washington de um congresso em que a Aliança para o Progresso15
afirmava que a educação era prioritária e que estava disposta a financiar a
construção de prédios. Para isso, os governos deveriam estar preparados, e no caso
de São Paulo, deveria haver uma nova forma de administração, justificando a
criação de um fundo para receber os investimentos internacionais (LAMPARELLI,
2001 in CALDEIRA, 2005). Assim como o Fece, o Fundo de Construção da Cidade
15
A Aliança para o Progresso foi um órgão criado pelos Estados Unidos para ajudar e acelerar o
desenvolvimento econômico e social na América Latina. A reunião em Washington em 1958, citada
por Lamparelli, pode ter sido a respeito de necessárias atitudes preliminares por parte dos governos
latino-americanos que permitissem uma posterior ajuda financeira, visto que a Aliança para o
Progresso foi oficialmente criada em agosto de 1961, no governo do então presidente americano
John Fitzgerald Kennedy, posteriormente ao Plano de Ação e a criação do FECE.
39
40
Entendemos que não caberia mais uma investigação desses projetos, uma vez que
o tempo dispensado poderia prejudicar o bom andamento dos trabalhos, fugindo do
objetivo que é a análise dos mesmos. Dessa forma, o presente trabalho adotou
como objeto de estudo os projetos publicados por Ferreira e Mello (2006), excluindo
os três projetos sem autoria identificada resultando, portanto, em 160 projetos.
Consideramos um número expressivo e suficiente para a realização de um
levantamento estatístico e posterior análise, considerando que os demais projetos
tenderiam a apresentar características semelhantes.
41
A precariedade era visível nas instalações, pois o mobiliário dos grupos escolares
era específico para crianças do primário, com mesas e cadeiras pequenas demais
para os alunos do ensino secundário. Além disso, a super-utilização dos edifícios
destinados aos grupos escolares com dois a três turnos diurnos para o primário mais
sua ocupação para aulas à noite para as turmas do ginásio gerava desgaste
prematuro de suas instalações, requerendo freqüentes reformas. Essa clara
distinção entre ensino primário e ginasial, inclusive quanto às suas instalações é
alterada em 1971 pela Lei federal 5692, unificando o ensino primário e ginasial no
chamado Primeiro Grau de Ensino, posteriormente renomeado para Ensino
Fundamental. Essa unificação também refletiu nos edifícios escolares, que tiveram
que se adaptar para receber crianças de 1ª a 8ª séries.
16
Salas de aula ou classes multisseriadas eram aquelas onde alunos de séries diferentes estudavam
juntos e com o mesmo professor.
42
43
1. Área do terreno.
As informações sobre área dos terrenos das escolas em estudo são material de
subsídio para justificar outras características das edificações, como verticalidade,
esquema de circulação e ocupação no terreno em número de blocos (ver tabela 03).
44
Tabela 04: Áreas de terrenos de prédios para grupos escolares construídos entre 1959 e 1963
(FECE, 1963, p.105).
45
A relação das áreas ocupadas e construídas com o terreno (tabela 6) nos fornece as
taxas de ocupação (TO) e os coeficientes de aproveitamento (CA). Os baixos
valores apresentados e a semelhança de resultados entre os índices –
aproximadamente 0,3, ou 30% - demonstram a generosidade dos terrenos com
relação ao programa arquitetônico e a horizontalidade das edificações, visto que as
taxas de ocupação e os coeficientes de aproveitamento são muito parecidos. Assim
como na relação de áreas por sala, temos grande variação em TO e CA.
2
Área (m ) 594,50 5.216,00 1.367,03 602,00 5.995,25 1.631,17
2
Área (m ) 69,20 347,73 157,19
46
As salas de aula olham para o sul a fim de manter uma iluminação constante. Por outro lado,
elas estão dispostas de forma a não sofrerem influência da natural agitação do pátio da frente,
onde os alunos farão ginástica e jogos diversos (ARTIGAS; CASCALDI, 1962, p.156).
A figura 06, citada acima, também tem como característica as salas de aula voltadas
para a face sul.
Tabela 08: Orientação solar de salas de aula voltadas somente para uma face.
Nr. 10 31 24 6 7 6 24 18
(6,25%) (19,38%) (15%) (3,75%) (4,38%) (3,75%) (15%) (11,25%)
Tabela 09: Orientação solar de salas de aula voltadas para mais de uma face.
Nr 4 1 1 2 14 1 1 1 2
OBS: nas tabelas 08 e 096, sete escolas não apresentaram informações de orientação solar
47
4. Número de pavimentos.
A verticalidade das edificações tem relação direta com a área do terreno e número
de salas de aula. Dois terços das escolas avaliadas são térreas conforme dados da
tabela 10, justificável principalmente pelas áreas de terreno proporcionalmente
grandes com relação a área construída das escolas.
Como diretriz para os arquitetos contratados pelo Ipesp, as salas de aula deveriam
ser projetadas com 6,00 x 8,00m ou 7,00 x 7,00m, neste último caso sendo
obrigatória a utilização de iluminação bi-lateral (FECE, 1963, p.106). A tabela 11
apresenta a quantidade de projetos para cada tipo de sala de aula com
predominância das salas retangulares e, na figura 06 citada acima, temos uma
exceção à regra: salas de aula retangulares, porém com o lado menor com caixilhos.
Não foram encontrados os projetos originais para maiores investigações, porém
acreditamos que, pelos menos, ocorre a iluminação bi-lateral conforme definido pelo
Grupo de Planejamento do governo e reiterado pelo Fece.
48
Existe, portanto, uma diferença do limite máximo de salas de aula. A maior escola
analisada é o CEFAM Santa Fé do Sul em Mauá com 23 salas de aula, projeto de
1960 de autoria do arquiteto Maurício Tuck Schneider. Com este, temos um total de
07 projetos (4,38%) com número de salas de aula acima do limite máximo
estabelecido em programa.
Quantidade 23 5 9,25
49
Tabela 13: Programas adotados na elaboração de projetos para grupos escolares (FECE,1963,p.107)
50
8. Tipo de cobertura.
A partir dos levantamentos anteriores sobre a verticalidade das edificações em
estudo, que concluíram que a quase totalidade dos prédios é térrea ou de dois
pavimentos, é fato que essa resultante horizontalidade requer proporcionalmente
uma área de cobertura igual ou ao menos metade da área edificada e, portanto,
torna-se importante para levantamento estatístico quanto às soluções técnicas
empregadas.
51
9. Número de blocos.
Foram definidas como blocos as diversas edificações de uma escola espalhadas
pelo terreno, volumes claramente independentes, interligados por passagens
cobertas. A tabela 16 mostra a estatística obtida neste levantamento, sendo a
maioria das escolas elaboradas com um ou dois blocos. Foi levantado projeto de até
6 blocos, caso único verificado no projeto da EE João Portugal em Tanabi, sem data
52
Quantidade 40 63 34 18 4 1
(25%) (39,38%) (24,25%) (11,25%) (2,5%) (0,63%)
53
O resultado da presença dessas salas de aula nos projetos estudados mostra outra
realidade. 33% dos projetos não apresentam dependência alguma com relação ao
pré-primário, parecendo que as informações de Machado (2007), em sua entrevista,
estão corretas, porém divergentes dos programas arquitetônicos da época, quando
cita que algumas prefeituras pleiteavam salas para o pré-primário, sendo previstas
em projeto após autorização do Grupo de Planejamento do governo.
Outra questão a considerar é que dentre os 160 projetos estudados, parte dos
mesmos não são grupos escolares, que contemplariam alunos com faixa etária mais
próxima ao daqueles do pré-primário. No levantamento realizado por Alves (2008),
verificamos que, das escolas em estudo, 19 foram concebidas como ginásios, – a
maior parte – colégios ou escolas normais e verificamos que nesses casos nenhuma
dessas escolas apresenta ambientes para o pré-primário. Em outros 19 projetos não
foi possível identificar o nível de atendimento. Os 122 projetos restantes foram
concebidos como grupo escolares.
11. As salas do curso pré-primário deverão ter o mesmo tamanho das do curso primário. Os
alunos daquele deverão dispor de entrada, área livre, galpão e sanitários independentes. O
curso pré-primário, entretanto, não deverá ser totalmente isolado do conjunto do Grupo
Escolar; seus alunos e os do curso primário são atendidos pelo mesmo dentista, médico ou
educadora sanitária; seus professores se utilizam da mesma sala de professores do curso
primário; a administração de todo o conjunto é uma só. (FECE,1963,p.110-111)
54
55
- Gabinete dentário;
- Sala do educador sanitário;
- Sala de exame biométrico.
Ambiente ligado ao programa de serviços:
- Zeladoria.
O Fece demonstra claramente que a construção das salas de aula era o mais
importante, ficando as dependências não imprescindíveis para o funcionamento da
unidade escolar a serem construídas em outro momento (FECE,1963,p.16).
Mesmo assim, alguns ambientes são considerados imprescindíveis e constam dos
programas por ele desenvolvidos, como a biblioteca e os ambientes ligados à
saúde pública: gabinete dentário, gabinete médico e educador sanitário.
anfiteatro
ambiente
zeladoria
desenho
auditório
manuais
Sala de
coberta
Quadra
Quadra
Exame
desc.
Sala
Quantidade 07 17 09 06 13 03 05 03 03
educador
sanitário
dentista
médico
cantina
grêmio
palco
Para que a tabela 20 não ficasse extensa demais, os ambientes que aparecem
apenas uma vez não fazem parte da mesma, e são listados abaixo:
56
8. A Biblioteca nos cursos primários funciona principalmente como local para guarda de livros e
como Biblioteca Circulante (emprestando livros). Nunca, toda uma classe vai à biblioteca para
ler. Esta pode, portanto, funcionar num pequeno “hall”, que sirva igualmente para exposição de
17
O projeto da EE Adamastor de Carvalho foi concebido como ginásio, portanto seu programa não se
encaixa dentro daqueles elaborados pelo Fece para os grupos escolares. Não encontramos registros
de programas arquitetônicos elaborados especificamente para ginásios, colégios ou escolas normais
dentro do período em estudo.
57
trabalhos de alunos e onde haja um recanto com armários destinados à guarda de livros e
espaço para algum mobiliário. (FECE,1963,p.110).
58
Figura 05A – Implantação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Ferreira e Mello, 2006).
59
Figura 05B – Implantação, elevações e detalhes da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).
60
Figura 05C – Planta e elevação da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).
61
Figura 05D – Planta, cortes e elevações da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto
de 1960 de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).
62
Figura 05E – Conjunto de fotos da EE Francisco Marques Pinto, em Nova Granada, projeto de 1960
de autoria do arquiteto Jorge Salszupin (Arquivo técnico FDE).
63
64
Figura 07 – Implantação, corte e elevação da EE João Portugal em Tanabi, sem data identificada, de
autoria dos arquitetos Salvador Cândia e Fernando Arantes (Ferreira e Mello, 2006).
65
Figura 08A – Implantação e plantas da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006).
66
Figura 08B – Cortes e Elevações da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado
pelo arquiteto Salvador Cândia (Ferreira e Mello, 2006).
67
Figura 08C – Conjunto de fotos da EE Monsenhor Bicudo em Marília, projeto de 1961, elaborado pelo
arquiteto Salvador Cândia (Arquivo técnico FDE).
68
Figura 09A – Implantação, plantas, corte e elevação da EE Adamastor de Carvalho em Santo André,
projeto de 1962 elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira
e Mello, 2006).
69
Figura 09B – Conjunto de fotos da EE Adamastor de Carvalho em Santo André, projeto de 1962
elaborado pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP).
70
Por outro lado, como dissemos, apesar da falta de homogeneidade geral, é de dentro da
produção do Ipesp que surge uma linha forte para a arquitetura brasileira subseqüente, a partir
das escolas projetadas por Artigas entre 1959 e 1960 (WISNIK, 2006 in FERREIRA E MELLO,
2006, p.65).
Ainda conforme Wisnik (2006), verificamos que o mesmo também apresenta, numa
rápida análise dos projetos, uma classificação das escolas objeto de estudo, sendo
as características dos grupos ressaltadas pelo autor e brevemente descritas abaixo:
18
A produção arquitetônica que se enquadra na chamada “escola paulista”, realizada em São Paulo a
partir da década de 60 tem, grosso modo, como características construtivas, volumétricas e espaciais
aquelas descritas no grupo 1 deste capítulo, composto por projetos pertencentes a essa linha
arquitetônica. A origem da “escola paulista” é composta por diversos fatores: o caráter de
continuidade à linha carioca, estar ligada a cursos de arquitetura com origens na engenharia e não
nas belas-artes como no Rio de Janeiro, estar presente no Estado de São Paulo, maior pólo industrial
do país, numa constante busca de novas soluções tecnológicas e de industrialização na construção
civil inserido numa política nacional-desenvolvimentista da época e estar ligado politicamente a ações
de esquerda (SEGAWA, 1998).
71
Alves (2008) faz, em sua tese de doutorado, análise com enfoque diferente daquele
de Wisnik, creditando importância aos materiais empregados, porte das escolas e
período de elaboração entre outros, como vemos abaixo19:
João Batista Vilanova Artigas é citado tanto por Wisnik (2006) como por Alves (2008)
como autor de escolas diferenciadas. Seu nome encabeça grupos em ambos os
19
Os grupos descritos sobre o doutorado de André Augusto de Almeida Alves são uma interpretação
própria daquele material, visto que a classificação contida naquele trabalho apresenta maiores
divisões como “educação e arquitetura” e “arquitetura e educação” entre outras informações.
72
A influência de Artigas por sua ativa presença acadêmica e nos órgãos de classe é
também citada nas entrevistas presentes no final deste volume. Machado (2007)
comenta que o Ipesp preferiu contratar inicialmente os profissionais que eles
consideravam como os melhores do mercado, pois ainda não tinham clareza do tipo
de produto que o Instituto deveria receber através das contratações. Artigas foi um
desses profissionais, tendo um projeto construído já em 1959, a EE Jon Teodoresco
em Itanhaém, conhecida na época como Ginásio de Itanhaem.
73
74
claros, a ponto de contrariar as Diretrizes para Projetos elaboradas pelo Fece: “5.
Nenhuma sala de aula ou dependência administrativa deverá abrir para o galpão.”
(FECE,1963,p.110).
Recentemente a EE Jon Teorodesco passou por uma reforma que resgatou muito
de suas características originais, porém ainda se mantém elementos
descaracterizadores do projeto como a construção de ambientes realizada no
recreio coberto e os diversos fechamentos do perímetro da edificação. Verificamos
no conjunto de fotos da escola, numa comparação de fotos da obra recém
inaugurada com as atuais, que originalmente existia forro liso formado pela camada
de concreto – ou estuque – inferior da laje nervurada que compõe a cobertura.
Atualmente esta camada inferior não existe mais, provavelmente pelo
75
Outro elemento que felizmente não é visível nesta escola por não ser original ao
projeto é a cobertura em telhas metálicas instalada sobre laje de concreto,
originalmente prevista para ser impermeabilizada. A quase totalidade de escolas
com solução original em laje impermeabilizada tiveram o mesmo destino porém em
alguns casos a presença da cobertura em telhas denota grande descaracterização
dos edifícios. Alves (2008), em pesquisa aos registros de obras do Ipesp, encontrou
diversos casos onde, logo após a inauguração das escolas com cobertura em laje
impermeabilizada, ocorrem problemas de vazamentos generalizados, denunciados
pelos diretores das escolas, que solicitavam solução. Aparentemente os problemas
eram sempre executivos.
76
Outro exemplo de escola para estudo mais detalhado é a EMEF Farid Salomão em
Ribeirão Corrente, projeto de 1962 de autoria do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti
(figuras 11A e 11B). Pequeno como o projeto de Itanhaem de Artigas e Cascaldi,
esta escola possui apenas 05 salas de aula. Apresenta a mesma solução de bloco
único retangular tendo o galpão integrado com circulações, de fácil acesso a partir
das salas de aula.
77
Tabela 21: Listagem de escolas classificadas no Grupo 01 - Rigidez formal e valorização do espaço
interno.
78
Figura 10A: Implantação e pavimento térreo da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de
autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Ferreira e Mello, 2006).
Figura 10B: Cortes e fachada do projeto original da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de
1959 de autoria dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).
79
Figura 10C: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Biblioteca FAU-USP).
80
Fachada Leste
Figura 10D: Conjunto de fotos da EE Jon Teodoresco em Itanhaem, projeto de 1959 de autoria dos
arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (arquivo técnico FDE).
81
Figura 11A: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente,
projeto de 1962 do arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Ferreira e Mello, 2006).
82
Figura 11B: Conjunto de fotos da EMEF Farid Salomão em Ribeirão Corrente, projeto de 1962 do
arquiteto Ivan de Freitas Cavalcanti (Arquivo Técnico FDE).
83
Figura 12A: Implantação e plantas da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006).
84
Figura 12B: Cortes e elevações da EE Oswaldo Samuel Massei em São Caetano do Sul, projetada
em 1962 pelo arquiteto Fábio Penteado (Ferreira e Mello, 2006).
85
Figura 13A: Grupo 01, características principais, esquemas em planta (croquis do autor).
86
Figura 13B: Grupo 01, características principais, esquemas em corte (croquis do autor).
87
Figura 13C: Grupo 01, características principais, esquemas em corte - continuação (croquis do autor).
São projetos que apresentam soluções formais variadas como telhados em uma
água ou com panos de cobertura de tamanhos diversos, laje impermeabilizada e até
mesmo cobertura em duas águas, porém sempre apresentando uma busca por
formas geométricas simples e claramente definidas. Os telhados embutidos, redução
do número de águas nas coberturas e tratamentos diferenciados quando da
existência de beirais estão presentes nesses projetos.
88
Esta escola é de porte médio, com 12 salas de aula e duas salas para pré-primário.
O galpão é central e visível por quase toda a escola. Os ambientes centrais junto ao
galpão, com cobertura em laje sob o telhado e baixa altura, demonstra a
preocupação em minimizar barreiras visuais, procurando enxergar toda a escola,
principalmente a partir do pavimento superior.
Grostein acomodou a escola no terreno, criando solução em meio nível nos blocos
opostos ao galpão, evitando assim grande movimento de terra. A cobertura em
telhas onduladas de fibrocimento também acompanha esta declividade do terreno,
resultando em pé-direito maior na região do recreio coberto. As duas águas que
89
compõem a cobertura são os elementos que ajudam a manter certa unidade aos
dois blocos conectados pelo galpão.
90
Tabela 22: Listagem de escolas classificadas no Grupo 02 - Projetos com tratamento formal
diferenciado e galpão integrado.
91
Figura 14: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Coronel Silvestre de Lima em Barretos,
projeto de 1960 de autoria dos arquitetos Alberto Rubens Botti e Marc Rubin (Ferreira e Mello, 2006).
92
Figura 15A: Implantação, plantas e elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (Ferreira e Mello, 2006).
93
Figura 15B: Projeto original com implantação, plantas e cortes da EE Professor Sebastião Teixeira
Pinto em Tupã, projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).
94
Figura 15C: Projeto original com elevações da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã,
projeto de 1960 de autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).
95
Figura 15D: Conjunto de fotos da EE Professor Sebastião Teixeira Pinto em Tupã, projeto de 1960 de
autoria do arquiteto Arnaldo Grostein (arquivo técnico FDE).
96
Figura 16: Implantação, planta, corte e elevação da EMEF Amador Franco da Silveira em Dracena,
projeto de 1961 de autoria do arquiteto Hiroko Kawauchi (Ferreira e Mello, 2006).
97
Figura 17A: Grupo 02, características principais, esquemas em planta (croquis do autor).
98
Figura 17B: Grupo 02, características principais, esquemas em corte (croquis do autor).
99
Uma parcela dos projetos deste grupo tem dois pavimentos, com escadas de acesso
ao pavimento superior e sem vazios que possibilitem a integração visual entre os
pavimentos. Temos então pavimentos estanques.
100
Outra parcela deste grupo apresenta como solução diversos blocos no terreno
conectados por circulações cobertas. Os blocos geralmente têm funções únicas
como bloco de salas de aula, bloco administrativo, bloco do galpão e vivência.
O tratamento para cada bloco foi distinto. O de salas de aula tem dois pavimentos,
abrigando 16 salas de aula. Os blocos administrativo e do pré-primário são térreos e
de formas regulares. Já o bloco de vivência, apesar de térreo, tem sua estrutura e
cobertura em forma de arco, tirando partido desta solução para aumentar o pé-
direito do galpão – também rebaixado em relação às áreas externas.
É notável neste projeto o tratamento dado à circulação coberta que liga todos os
blocos, criando também um eixo de ligação entre acessos opostos ao terreno.
É uma escola de médio porte, com 12 salas de aula e duas salas para pré-primário
em dois pavimentos. Tem configuração linear, setorizando as áreas pedagógicas,
administrativa e de vivência. Tem acesso direto da rua em nível dos alunos ao
galpão – independentes para alunos do pré-primário com relação aos demais – e por
escada para a administração que está no pavimento superior. A área administrativa
é a única que tem a visibilidade do galpão, devido à sua proximidade e por estar
acima do mesmo. O arquiteto teve a preocupação de posicionar a altura da
cobertura do galpão de modo que possibilitasse para os ambientes da administração
janelas internas – para visualização do galpão – e externas – para iluminação e
ventilação.
101
Tabela 23: Listagem de escolas classificadas no Grupo 03 - Projetos com tratamento formal
diferenciado sem galpão integrado.
102
103
Figura 18: Implantação, plantas, cortes e elevações da EMEF Professora Ana Maria Segura em
Cosmorama ,projeto sem data identificada, de autoria do arquiteto Hélio Penteado (Ferreira e Mello,
2006)
104
Figura 19A: Implantação, plantas e cortes da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962
de autoria do arquiteto Majer Botkowski (Ferreira e Mello, 2006)
105
Figura 19B: Conjunto de fotos da EE Dr. Carlos Garcia em Santo André, projeto de 1962 de autoria
do arquiteto Majer Botkowski (Arquivo Técnico FDE)
106
Figura 20: Implantação, plantas e cortes da EE Professor Ângelo Vaqueiro em São Caetano do Sul,
projeto elaborado em 1963 por Candido Malta Campos Filho (Ferreira e Mello, 2006)
107
Figura 21: Grupo 03, características principais, esquemas em planta e corte (croquis do autor).
108
Cerca de 80% das escolas deste grupo apresenta dois ou mais blocos isolados,
conectados por passagens cobertas, contribuindo para a separação das áreas
pedagógica, administrativa e de vivência.
Por tudo isso este grupo não apresenta uma unidade em suas características como
vemos claramente nos demais grupos. Dessa forma não desenvolvemos desenhos
esquemáticos para transmitir o conceito que norteou o projeto dessas escolas. Na
verdade formou-se um grupo por exclusão, com uma variedade grande de
distribuição em planta do programa arquitetônico.
109
Num primeiro momento, esta escola parece pertencer ao grupo 02 devido as suas
características em planta, quanto a circulações centrais e galpão alinhado e contínuo
a elas, porém, o tratamento da região central não procura uma integração entre os
blocos, sendo indicado em projeto apenas um jardim. A ligação com o galpão
também não é franca, pois o mesmo apresenta desnível com relação às circulações.
Dessa forma, podemos considerar que o projeto é composto por 4 blocos a formar
um quadrado. As fotos da região central da escola (figura 23C) demonstram essa
condição.
110
Tabela 24: Listagem de escolas classificadas no Grupo 04 - Projetos convencionais sem galpão
integrado.
111
112
Figura 22: Implantação, plantas cortes e elevações da EE Prof. Bruno Pieroni em Sertãozinho, projeto
se, data identificada de autoria do arquiteto Carlo Benvenuto Fongaro (Ferreira e Mello, 2006).
113
Figura 23A: Pavimento térreo do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (Arquivo técnico
FDE).
114
Figura 23B: Cortes e detalhes do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol,
projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico
FDE).
115
Figura 23C: Elevações do projeto original da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem
data identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE).
116
Figura 23D: Conjunto de fotos da EMEF Professor Lauro Rocha, em Mirassol, projeto sem data
identificada de autoria do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (arquivo técnico FDE).
117
Figura 24: Implantação, plantas, cortes e elevações da EE Professor Raymundo Pismel em Santo
Anastácio, projeto sem data identificada de autoria do arquiteto Carlos Benvenuto Fongaro (Ferreira e
Mello, 2006)
118
Considerações finais.
[...]Então, esse período de 59, o Estado de São Paulo, até 63, foi a grande transformação do
governo do Estado, que passou de sua fase política clientelista para uma sistemática de
planejamento que não negava a política mas conduzia a escolha. Para você ter uma idéia,
todas as semanas o governador e sua equipe recebiam os políticos: um dia os deputados,
outro dia os prefeitos, outro dia etc., e ele não dava nada pra eles sem passar pelo Plano de
Ação. Então o cara chegava e falava “Doutor, eu preciso de uma ponte. Eu quero que o senhor
faça um matadouro”. E ele [o governador] falava “O senhor quer ser padrinho de alguma coisa,
não é? Então o senhor volta à tarde que eu digo o que é.” E um bilhetinho lá para nós: “O que
falta em Jundiaí? O que falta em Pirituba?” Aí nós falávamos: “Está programado uma escola,
um hospital, um acesso rodoviário”. Porque cobria tudo. Aí o governador recebia depois os
deputados e falava: “Muito bem, qual que você quer?” Aí você ouvia toda a pressão política às
decisões, pelo menos a alguma racionalidade das decisões, que aquilo não era necessário. Por
que? Porque nós tínhamos entrado em um governo onde se construía ponte onde não tinha
estrada, no tempo do Jânio Quadros. Nós encontramos ponte que não tinha estrada nem para
chegar nem uma estrada para sair. (LAMPARELLI, 2001 in CALDEIRA, 2005, p. 178).
119
Esta confiança foi aproveitada por Artigas, como vemos em texto de Silva (2006):
O elemento que diferencia as escolas projetadas por Vilanova Artigas daquelas do Convênio
Escolar é a capacidade do projeto em revolucionar a própria idéia de escola, como um edifício
com função estrita voltada para a educação. Artigas partiu de outra premissa buscando um
outro conceito, no qual a escola é parte orgânica, elemento integrador e ativo da comunidade.
Essa proposta não tem sua origem no ideário da Escola Nova, de raiz humanista, mas numa
crítica de base marxista que diz respeito à conformação da sociedade brasileira, da qual a
escola é parte. Essa é, a nosso ver, a raiz do desentendimento entre, por um lado pedagogos,
professores e profissionais da educação, que queriam apenas educar bem, e, por outro lado,
alguns arquitetos, que pretendiam contribuir para uma transformação estrutural da sociedade.
Nesse sentido, Vilanova Artigas concebe um outro princípio ordenador, que dissolve a idéia de
divisão entre espaço de circulação, de lazer e de aula, construindo um espaço organicamente
integrado onde diversas atividades podiam e podem ser realizadas concomitantemente.
(SILVA, 2006)
As escolas de Artigas são consideradas por Ferrata (2008) como uma nova forma de
organização das distintas funções que as escolas do 2º Convênio Escolar haviam
separado em blocos distribuídos pelo terreno, como o galpão, bloco administrativo e
de salas de aula, agora juntos sob a mesma cobertura (FERRATA, 2008, p.43), com
o cuidado de criar espaços integrados e com áreas de circulação e de recreio
coberto, como citado por Silva (2006).
Muito já se falou sobre o caráter introvertido desses projetos da “escola paulista”, como que a
afirmar uma voluntária recusa da cidade em nome da constituição de um espaço urbano
recriado, como um “laboratório” interno. Mas não podemos esquecer a generosa implantação
desses edifícios, que fazem o piso do entorno fluir “naturalmente” para dentro dos seus
120
espaços, sem portas nem entradas hierarquicamente definidas, incorporando a cidade quase
que imperceptivelmente nesses lugares de excelência. Pode-se dizer, assim, que é um partido
decididamente urbanístico que define tais projetos. (ROCHA, 1970,p.35)
Sem dúvida, a ausência de portas – na maioria dos casos são grandes vãos
estruturais que formam os acessos aos prédios – e a forma de implantação, fazem
com que os edifícios sejam convidativos aos usuários, porém o tratamento formal
dos mesmos não deixa de apresentar um caráter de monumentalidade, mesmo
quando se trata de edificações térreas, pois o bloco único e as características da
“escola paulista”, inseridas nas cidades interioranas na década de 60 apresentam-se
como algo inusitado.
Apesar dessa clara distinção das obras da “escola paulista” em seus locais de
implantação, as mesmas foram bem recebidas, tanto pelos prefeitos que enviaram
cartas de agradecimento ao governo do Estado pelos “belíssimos exemplares
arquitetônicos” construídos em suas cidades, como pela população, que passa a
construir edifícios imitando a arquitetura dos prédios governamentais (CORDIDO,
2007). Enfim, a arquitetura paulista adquire a função de levar, junto com os avanços
econômicos e sociais, a presença da modernidade a todo o Estado.
121
122
seguintes projetos desta recente produção fazem parte deste grupo: EE Conjunto
Habitacional Campinas F1 em Campinas, de autoria do escritório MMBB, a EE
Fazenda Boa Vista em Campinas, de autoria do arquiteto Tito Lívio Frascino, a EE
Jardim Bela Vista II em Mogi das Cruzes, de autoria do arquiteto Marcos Acayaba, a
EE Bairro Pimentas VII em Guarulhos, de autoria do escritório Projeto Paulista de
Arquitetura, a EE Bairro Tupi em Itapetininga, de autoria do escritório MMBB, a EE
Conjunto Habitacional Itapevi “E” em Itapevi, de autoria dos arquitetos Cícero Ferraz
e Fábio Mosaner, a EE Condomínio Residencial Village II em Itaquaquecetuba, de
autoria do escritório Centro Arquitetura, a EE Padre Augusto Sane em Jaú, de
autoria do escritório Panizza Arquitetos, a EE Parque Residencial Porto Bello / Vila
Real em Porto Ferreira, de autoria do escritório Nave Arquitetos Associados, a EE
Chácara Santa Maria em São Paulo, de autoria do escritório MMBB, a EE Jardim
São Luis em São Paulo, de autoria do escritório Zanettini Arquitetura e a EE Bairro
Aparecidinha em Sorocaba, de autoria do escritório Centro Arquitetura.
123
Referências bibliográficas.
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125
Bibliografia consultada.
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128
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Tabela 25A: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 01.
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Tabela 25B: Levantamento de dados das escolas objeto de estudo – parte 02.
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ANEXO A: Entrevistas.
(Anthero Vieira Machado) Eu entrei no Ipesp em março de 1957 através do Jânio Quadros.
(AM) Sim, e ele foi a pessoa que começou as construções no interior. Ele fazia cadeias,
postos de saúde, fóruns, delegacias e escolas. Dessa forma, foi o Jânio que começou com
isso.
(FH) E porque ele escolheu o Ipesp para fazer esses projetos e obras?
(AM) Na verdade ele começou com os projetos padrão do DPO. O DOP tinha projetos
padrão, e ele os utilizava com as obras sob responsabilidade do Ipesp. O Ipesp é um órgão
criado em 1939 e era responsável pela pensão estadual. Então em 1957 o Ipesp tinha
menos de 20 anos e ele tinha pouco compromisso de pensão e muito dinheiro. E o Estado
não tinha dinheiro. Isso foi uma manobra inteligentíssima do Jânio. Então o que ele fez, ele
pegou o dinheiro do Ipesp e construiu todas essas obras. Agora, todos os terrenos foram
doados ao Ipesp. Os terrenos são do Ipesp, e com o compromisso, em contrato, de que
quando terminadas as obras, o Estado iria as adquirir. Tanto é que os Fóruns, ou seja, a
secretaria da justiça, se não me engano, adquiriu todos os fóruns.
144
(AM) O Estado compraria as obras à vista, porém não foi feito isso. Pelo menos até quando
eu saí do Ipesp somente a secretaria da justiça, da segurança e parte das obras da
secretaria da educação foram pagas. Muitas obras ainda eram do Ipesp.
Quando fundaram o Ipesp, o funcionário público pagaria 6% para ter a pensão, e o Estado
também deveria recolher 6%. Só que o Estado não recolhia esse valor. A secretaria da
fazenda descontava na folha de pagamento, mas não recolhia esse valor. Ela ficava com o
dinheiro e não repassava ao Ipesp.
Bem, aí houve a eleição e o Carvalho Pinto foi candidato do Jânio. Ele era secretário da
fazenda do Jânio. Aí o Carvalho Pinto foi eleito e elaborou o Plano de Ação, e nós
executamos. Daí nós começamos com os arquitetos. Porque você sabe que já naquela
época para você fazer uma licitação de obra tem que desenvolver o projeto completo. O que
até hoje não se faz.
Aí nós tivemos os primeiros contatos com o IAB, conhecemos diversos arquitetos, tivemos
diversas reuniões e elaboramos em conjunto uma fórmula de remuneração dos projetos que
era diferente daquela do IAB, onde todos concordaram.
(FH) Essa definição de chamar diversos arquitetos ocorreu devido ao volume de obras.
(AM) Sim, devido ao volume de obras, para você ter o projeto rápido e executar o Plano de
Ação, pois o plano dizia várias coisas e tínhamos que executar rapidamente.
(FH) Voltando um pouco atrás, porque não foi decidido na época que o DOP fizesse as
obras, mesmo com a verba do Ipesp?
145
(AM) Porque o DOP era muito lento. A burocracia era muito grande. E o Ipesp não tinha
isso. O Ipesp montou um esquema exclusivo para isso. Na verdade o Ipesp já tinha um
departamento de engenharia, pois o Ipesp financiava casa própria, etc, mas o grupo não era
muito grande, tinham umas 8 pessoas. A partir da utilização do Ipesp para realização das
obras com o Jânio e, depois para execução do Plano de Ação foram admitidos mais
engenheiros, totalizando cerca de 30 a 40 pessoas para fiscalizar os projetos e obras.
(AM) Havia um programa mínimo. Era informado verbalmente. O número de salas de aula já
vinha definido pela secretaria da educação.
(FH) É possível verificar nas obras das escolas do Ipesp que existem projetos de todos os
tipos. Alguns mais arrojados para a época, no caso as escolas todas em concreto, laje de
cobertura e às vezes com soluções estruturais inesperadas, mas também soluções mais
simples, com telhado de madeira e telhas de barro em duas águas. Como eram recebidas
essas propostas de projeto pelo Ipesp?
(AM) O arquiteto tinha liberdade total. Nesse aspecto nós não mexíamos em nada. A pessoa
aparecia com o projeto arrojado e nós só discutíamos sobre a execução, materiais e
facilidade de manutenção. O que nós exigíamos era o número de salas de aula e a futura
ampliação, se possível. A parte administrativa era a critério deles, a parte esportiva também.
Veja os projetos do Ícaro, que projetou espaços esportivos belíssimos.
(FH) Como era o trâmite dos projetos desde a solicitação até a conclusão da obra?
146
(AM) O primeiro ato era a doação do terreno, mas antes da doação o pessoal da engenharia
tinha que realizar uma vistoria no terreno, para ver se não havia um brejo ou coisa do tipo. O
terreno poderia ser aceito ou não. Em caso positivo, o processo era encaminhado ao
departamento jurídico para efetivar a doação. Depois de efetiva a doação, o departamento
de engenharia iniciava a contratação do escritório e elaboração dos projetos.
Agora, depois de o Ipesp ter uma quantidade grande de projetos, que era um volume
grande, a gente tentava fazer algumas adaptações de projetos prontos. Era raro, mas às
vezes o terreno era muito semelhante, então pegávamos alguns projetos prontos, às vezes
fazendo algumas adaptações, por vezes devido à urgência da prefeitura. Quando eram
projetos desenvolvidos pelos arquitetos contratados nós conversávamos com eles para
saber se permitiriam a repetição. Se não me engano no contrato havia uma cláusula que
permitia a repetição dos projetos. Mas mesmo assim foram muito poucos os casos.
(AM) Nós construímos 1.400 obras no governo Jânio e Carvalho Pinto, incluindo escolas,
fóruns, delegacias e tudo mais. Nós trabalhávamos muito. Para você ter uma idéia, na
época as estradas eram muito ruins e o Carvalho Pinto financiou um Volkswagen para cada
funcionário poder realizar as vistorias pelo Estado. Ele financiou e nós pagamos em cinco
anos a juros baixos. Fui eu que comecei a realizar os cálculos de quilometragem entre as
cidades. Era impressionante como esse processo funcionava, ainda mais que nossa relação
era direta com o superintendente, diminuindo a burocracia.
(AM) Não, eles pegavam o prédio pronto. Eles nem faziam o muro da escola, então o Ipesp
fazia muro em todas as escolas. A escola já fornecia o programa mínimo que eles
147
precisavam, e nós entregávamos sempre mais do que eles pediam, com áreas maiores,
mais janelas. Os projetos eram mais elásticos.
(AM) Não, era por metro quadrado. Havia uma preocupação por materiais de fácil
manutenção, o que resultava em acabamentos baratos de piso, parede, etc.
(FH) Havia alguma orientação para utilização de materiais e mão de obra local?
(AM) Não. A gente contratava no começo essas obras com a prefeitura. Depois disso nós
começamos a contratar direto para facilitar. Na verdade, se a prefeitura possuía um
departamento de engenharia, a obra ficava com a prefeitura. Prefeituras muito pequenas,
sem estrutura para realizar as obras o Ipesp contratava as obras.
(AM) Sim, o Ipesp fazia tudo. Havia o departamento jurídico que trabalhava junto ao nosso
departamento. Nessa época começaram diversas construtoras. O Romeu Chap Chap, por
exemplo, trabalhava comigo no Ipesp. Algumas pessoas trabalhavam no Ipesp e depois
saíram para fazer as obras.
(AM) A preocupação, se é que se pode dar esse nome, é que a manutenção fosse a menor
possível. Se você tivesse que gastar mais para garantir uma manutenção propensa a zero, a
gente deixava. Por isso que você vê muita coisa em concreto aparente. Inclusive diversos
fóruns com vidros a prova de balas, ou seja, com muita segurança.
148
(AM) Isso foi quando começou. Eu fui apresentado ao Plínio quando começou o plano. Nós
fizemos um contato no palácio do governo, e depois tivemos mais uns três ou quatro
contatos para a coisa engrenar. Mas depois, a coisa começou a andar tão bem que não
havia mais necessidade de reuniões. Esse negócio da engenharia ter contato direto com
superintendente do Ipesp foi muito bom, pois ele era uma pessoa fantástica. Ele não tinha
burocracia. Ele resolvia tudo na hora. Ele ajudou a financiar os automóveis para os
funcionários poderem viajar. Nós viajávamos por muitos lugares e acabávamos conhecendo
muita gente.
(FH) Em 1960 também estava sendo criado o Fece. Como era a relação do Ipesp com o
Fece?
(AM) A relação era muito pequena. Nós entrávamos em contato quando havia alguma
dúvida em relação a problemas da escola. Por exemplo, surgiu uma dúvida de como poderia
ser feito o quadro negro, se poderia ser feito cimentado, qual a cor. Se era melhor fazer a
janela baixa ou mais alta para a criança não distrair.
(AM) De certa forma essas informações viravam diretrizes, mas não era nada muito rígido.
Isso é que era maravilhoso. Não era como nas repartições.
(FH) O Fece tinha esse tipo de informação, mas quais eram as atividades que eles
desenvolviam? O papel do Fece não era substituir as atividades do Ipesp?
(AM) O Fece construía também. O Fece depois tomou o lugar do Ipesp. Com a entrada dos
novos governos, como o IPESP realizou muitas obras, muito bem feitas, gerou muito ciúme
ao DOP. Ficou uma bronca danada porque o Jânio esvaziou o DOP. E o DOP é o órgão do
Estado. O IPESP não era o órgão responsável por isso tudo, foi tudo por causa do dinheiro
e da agilidade. O DOP demorava muito, eles faziam os projetos, orçavam, havia muita
burocracia.
149
Depois o Fece começou a construir. No momento que terminou o governo Carvalho Pinto,
toda a equipe do Ipesp foi colocada de canto, eu inclusive. Essas coisas de mudança de
governo.
(AM) Isso. Entrou o Adhemar de Barros. Eu fiquei muito tempo indo até o Ipesp e ficava
ganhando sem fazer nada. Isso era muito comum antigamente, quando alguém não se
encaixava no esquema previsto pelo governo essa pessoa era encostada. O próprio diretor
do Ipesp, quando começou o governo Carvalho Pinto, não concordou com esse esquema
todo e foi afastado do cargo.
(FH) Mas se o Ipesp parou em 64, quem é que continuou a fazer as coisas?
(AM) Não se fez mais. Parou totalmente. O novo governador que entrou, a primeira coisa
que ele fez foi parar tudo. O DOP pegou todos os projetos que estavam com a gente. O
Adhemar voltou tudo para o DOP.
(AM) Já estava, que eu saiba estava. Mas acredito que era pouca coisa. A impressão que
eu tenho é que o Fece tinha muito contato com a superintendência e nós, quando tínhamos
dúvidas sobre alguma coisa entrávamos em contato por telefone.
(AM) Antes de me aposentar eu fiz um levantamento. Fale com a Cláudia do Ipesp que ela
tem o levantamento de tudo.
(FH) Entre os funcionários do Ipesp havia conversas sobre projetos que mais se
destacavam, outros que não eram tão bons....
150
houvesse qualquer tipo de favorecimento, mesmo sabendo que os projetos de uns eram
melhores do que de outros. Havia arquitetos fantásticos, mas outros que não eram tão bons.
Mas o que importa é que toda a equipe do Ipsep e os arquitetos contratados tinham um
objetivo único, que era o atendimento ao Plano de Ação e foi por isso que, no final, podemos
dizer que foi feito um grande trabalho.
(AM) Havia o superintendente, que era o Dr. Francisco Morato que, a priori, prestava contas
ao diretor geral, porém, fizeram uma portaria autorizando o superintendente a tratar direto
com o setor de engenharia. Daí vinha o Paulo Seixas que era o Diretor da Engenharia. Eu
era o chefe do departamento que tratava diretamente da execução do Plano de Ação,
porque no Ipesp havia departamentos que cuidavam da construção de casa própria, etc.
(AM) Como a gente não tinha sondagem do terreno e ia demorar muito para conseguir esse
material, os projetos eram desenvolvidos do respaldo para cima. O próprio orçamento era
feito assim, do respaldo para cima. E a fundação a gente fazia a parte porque dependia
muito do terreno. A escola de Itanhaem do Artigas, como exemplo, tinha um problema no
terreno, que era meio movediço, daí fizemos uma concorrência para o prédio todo, nesse
caso não foi dado para construtora. A escola de Guarulhos de Artigas também foi assim.
(FH) No livro das obras do Ipesp21 vemos muitos obras que tiveram seu projeto desenvolvido
mas foram construídas com outros projetos.
21
FERREIRA, Avany de Francisco; MELLO, Mirela Geiger de (organização). Arquitetura escolar paulista – anos
1950 e 1960. São Paulo, Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2006.
151
(AM) Dependia da urgência. Quando havia pressão política por parte das prefeituras não
tínhamos muita escolha. Escolhíamos o projeto mais adequado e o implantávamos.
(FH) Falando na questão política, as obras eram bem distribuídas ou alguns prefeitos
conseguiam escolas para seus municípios através de acordos políticos? Pergunto isso, pois
parece que na época do Governo Carvalho Pinto a escolha de cidades para as novas
escolas era uma decisão mais técnica.
(AM) Não sei bem sobre isso, mas com certeza as decisões técnicas prevaleciam, dentro do
possível.
(FH) Em 1959 vocês tinham uma idéia sobre os projetos a serem desenvolvidos. Em 1963
os conceitos dos projetos haviam mudado em função da produção dos arquitetos?
(AM) Os primeiros contatos foram com os melhores, Artigas, etc. Então, a gente começou
com alta qualidade e nós aprendemos com eles. Daí pra frente a gente procurava aplicar o
que era bom com os demais contratados, por que engenharia é bom senso e isso a gente
procurava ter sempre.
(FH) O contato com o IAB partiu de vocês mesmo, porque vocês achavam que lá iam
encontrar o que precisavam, que eram os escritórios?
(AM) Sim, fomos exatamente na fonte, que para nós era o IAB. E os escritórios faziam os
projetos completos e coordenavam tudo, o que era mais fácil para fiscalizar. Nós fazíamos o
que até hoje não se faz, porque o pessoal faz contratação sem projeto.
(FH) Não foi pensado em pré-fabricação na época? Afinal, queriam que as obras fossem
rápidas.
(AM) Naquela época nem se falava nisso. Apareceu uma única vez um arquiteto de Minas
Gerais propondo fazer em pré-fabricado, mas não havia muita gente no mercado que fazia
isso. Nós também não conhecíamos muito sobre isso.
152
(AM) Não, quem fazia a manutenção era o DOP, após a entrega da obra pelo Ipesp.
(AM) Não, fazíamos também na capital. Por exemplo, fizemos uma escola no Tucuruvi, na
época do Governo Carvalho Pinto, na rua Carvalho Pinto, inclusive. O projeto foi do
Oswaldo Corrêa Gonçalves. Era a maior escola da época, com vinte salas de aula. Teve
também no Caxingui, km 11 da rodovia Raposo Tavares. Lá tem duas escolas que nós
fizemos, mas da época do DOP, no governo Jânio.
O terreno desta escola no Tucuruvi era do Ipesp. O município de São Paulo nunca doou
terreno para o Ipesp, portanto as obras construídas pelo Ipesp em São Paulo teriam que ser
em terrenos do próprio Ipesp, o que justifica menos obras na capital. De qualquer forma o
Ipesp construía em todos os municípios, inclusive na capital.
Mesmo o DOP, ele continuava na ativa. O governo do Jânio e Carvalho Pinto tirou do DOP a
responsabilidade do Plano de Ação, mas acredito que eles continuaram a construir,
provavelmente numa escala muito menor.
(FH) Verifiquei que algumas escolas tinham quadra coberta, verdadeiros ginásios de
esporte, mas a maioria não tinha. Isso não fazia parte do programa mínimo para as escolas?
(AM) Não, a construção de quadra junto com a escola tinha que vir por solicitação superior.
Nesse caso nós não tínhamos autonomia para decidir. Além disso, o terreno tinha que ser
grande para viabilizar a quadra.
(AM) Nesse caso era diferente. Essas salas não faziam parte da solicitação do governo,
mas o que acontecia é que, quando iniciávamos o processo na engenharia, contratando o
arquiteto, etc., os prefeitos ficavam sabendo e iam conversar com a gente. E o que muitos
pediam eram as salas de pré-primário. Eram uma ou duas salas com um pátio exclusivo,
sempre isolado do restante da escola. Esse tipo de solicitação dos prefeitos nós estávamos
autorizados a atender. Isso é que era maravilhoso nesses projetos, a flexibilidade de área e
programa permitia fazer muito além do previsto.
153
(Júlio Roberto Katinsky) Desde o início o Carvalho Pinto retirou as obras do Estado do DOP.
(FH) Mas eu acredito que isso foi em função de verba, o Ipesp era um órgão que tinha muito
dinheiro para investir.
(JK) Não, porque o dinheiro era do Estado. Agora veja só, o que se fazia de errado no DOP
que também chocava, eles pegavam projeto e aplicavam em terrenos às vezes que não
tinham possibilidades.
(JK) É quase que projeto padrão. Era uma coisa que estava sempre na cabeça dos
dirigentes do DOP. Então quando eu mesmo fui visitar uma dessas escolas, passei pelo
caminho e vi uma escola com as portas de entrada a 2 metros de altura, quer dizer, absoluta
ausência de uma qualificação técnica para construir inclusive, entende? O DOP tinha ai
esse defeito muito chato que era o desprezo pelo projeto. Os arquitetos do DOP sofriam
horrores para tentar impor um mínimo de ordem naquele escritório. E isso de fato existia. Os
mestres de obra, as firmas empreiteiras e construtoras é que mandavam. No Ipesp não. O
Ipesp inverte o processo. O projeto que é importante, e pega os arquitetos de calça curta.
(FH) Tem um depoimento do Abrahão Sanovics que conta que o Juscelino Kubitschek, em
conversa com o Carvalho Pinto falou: “Olha, use seus profissionais para você ter uma boa
arquitetura, nos prédios públicos”, mas eu não sei se foi uma coisa tão simples assim, de
uma conversa.
22
SILVA, Janice Theodoro da. A construção da cidadania e da escola nas décadas de 1950 e 1960 in FERREIRA,
Avany de Francisco; MELLO, Mirela Geiger de (organização). Arquitetura escolar paulista – anos 1950 e 1960.
São Paulo, Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2006.
154
(JK) O que pesou muito no Carvalho Pinto, indiscutivelmente, foi o êxito internacional da
arquitetura brasileira. Isso pesou mesmo.
(FH) Brasília.
(JK) Brasília naquele instante, em 1957, todo mundo ficou estupefato, pelos projetos
fundamentais de Brasília, um deles é o Congresso que naquele instante em 1957 era uma
maquete, e tem um artigo do Pierluigi Nervi na revista Casabella encomendada pelo Rogers,
porque o Rogers se tornou inimigo figadal do Oscar Niemeyer. Então ele pega e pede pro
Nervi comentar o projeto do Senado e da Câmara. Eles estavam acostumados que muita
coisa dos projetos brasileiros eram só projetos e não aconteciam na realidade. Então o Nervi
faz ironias grosseiras a respeito da possibilidade dos prédios ficarem de pé e disse inclusive
que os engenheiros brasileiros estão devendo para ele que tem 40 anos de experiência de
construção como é que aquilo ia ficar de pé. Porque para ele aquilo não ia ficar de pé. Só
que ele não sabia, porque não existia comunicação instantânea como estamos
acostumados. A comunicação acontecia com “cabograma”. Então as notícias importantes
eram: “O príncipe de Gales caiu do cavalo”, só essas bobagens. Ele não sabia que o prédio
estava pronto. O Pierluigi Nervi ficou tão furioso que rompeu com o Rogers e nunca mais
falou com ele, pois ele havia passado por um papel ridículo no mundo. A Casabella era uma
revista consumida desde São Paulo até Moscou. Era a única revista com penetração na
União Soviética, então ele fez um fiasco mundial. Depois o Nervi tentou amenizar a situação
com outros artigos sobre o Niemeyer.
(JK) E nós não estávamos preparados para a escala de obra nem para os recursos técnicos
que existiam na época. Os arquitetos paulistas faziam casas. A maior parte fazia residências
e para particulares, que você levava 8 meses para fazer, então não havia uma
sistematização de projeto. Eu me lembro que professores nossos nos procuraram para
saber como é que fazia memorial, e a gente não tinha vergonha de perguntar, porque essa é
a vantagem dos jovens, a gente ia atrás e perguntava e a figura importante, por incrível que
pareça, era o Oswaldo Bratke, que era um homem que havia construído vários prédios. Ele
era o arquiteto que mais metros quadrados tinha construído no centro. E ele então tinha
esse know how, de como desenvolver um projeto que poderia ser levado para obra sem a
presença do arquiteto.
155
(JK) Ele fez obras na Politécnica e, em minha opinião, muito ruins. Fora de escala. Ele era
bom para fazer prédio de apartamento e residências, mas fora disso ele se perdia. Também
não tinha a visão dos arquitetos brasileiros maiores, como o Lucio Costa, que pensava em
termos de Lê Corbusier, prédios públicos. Lê Corbusier fez quantas casas na vida? Não tem
15, 20 que foram construídas. Ele tem muitos projetos, mas construídos tem poucos. A
maior parte das obras dele são obras públicas. E isso faz uma diferença gigantesca. Quem
era mais próximo dos arquitetos modernos apesar de não ser muito bem visto, era o
Piacentinni, que fez o prédio do Matarazzo. É um prédio que o pessoal não percebe, mas
ele amplia a Praça do Patriarca. Quer dizer, ele pegou e deixou todo um patamar, uma
espécie de esplanada que remete para a Praça do Patriarca.
(FH) Houve uma campanha dos arquitetos junto ao Ipesp para que esses profissionais
fossem contratados? Como isso aconteceu? O Artigas tinha algum contato com o pessoal
do Ipesp ou do Plano de Ação batalhando pelos arquitetos?
(JK) Não, imagina! O Artigas não existia naquele tempo perante o governo do Estado. Eu
me lembro que o Estadão fez a maior gozação do Carvalho Pinto, porque ele foi na
inauguração da escola de Guarulhos e chamou o Artigas de engenheiro. O Estadão fez
questão de chamar atenção sobre isso. "Ele não sabe nem o que é arquiteto". O pessoal do
estadão era muito mais qualificado. Eles tinham nível mais alto porque viviam na França.
Então sabiam o que eram as coisas. Eles odiavam o Oscar Niemeyer por razões
ideológicas. Eu me lembro de uma fotografia que o estadão publicou quando o Jânio caiu,
então foram retiradas umas floreiras que a Dona Helô tinha posto na varanda do Palácio da
Alvorada. Então o comentário do Estadão foi: "O edifício volta à sua forma anterior". Quer
dizer, eles gozavam o provincianismo paulista o tempo todo. E havia sim o provincianismo
paulista.
Agora, o Artigas aparece depois, por causa do ginásio de Itanhaem, da escola de Guarulhos
e de um Fórum que ele fez no interior. Todo mundo ficou chocado lá no Ipesp porque ele,
por conta própria, foi à cidade, convenceu o prefeito de que o terreno que ele tinha dado não
prestava e trocou de terreno para fazer o projeto. Aí eles começaram a exigir que a gente
fosse vistoriar o terreno. Até então ninguém pedia isso. Foi por isso que nós fizemos a
burrada de acreditar na planta e fazer o prédio ao contrário quando estávamos projetando
para o Ipesp, entendeu?
É impressionante como todos os institutos de pesquisa que tínhamos, que era uma coisa
enorme, a República fez uma série. A República fez a escola Politécnica, fez o Instituto
Agronômico de Campinas, fez o Horto Florestal, fez o Oscar Freire, Faculdade de Medicina.
Tudo isso foi na primeira República. O pessoal era provinciano, continuava provinciano,
23
Verificou-se posteriormente que o arquiteto Oswaldo Bratke realizou um projeto de escola através
de contrato com o IPESP.
156
entendeu, isso fica patente nesse texto do Moura Campos24 que eu indiquei na minha
bibliografia. E ainda hoje há um provincianismo paulista.
(FH) Se não houve uma campanha para chamar os arquitetos, como que o Ipesp chamou
esse pessoal todo?
(JK) Bom, eu acho que eles chamaram os arquitetos em função dessa realidade nova que
foi a projeção internacional da arquitetura brasileira e de Brasília. A própria especulação
imobiliária sofreu o impacto de Brasília naquela época. Prédio de apartamento com garagem
e jardim se dissemina nesses anos.
(JK) Era tudo por indicação. Nós pegávamos projeto porque tínhamos ganhado o concurso
de Londrina e um arquiteto professor nosso chegou no Ipesp e assoprou o nosso nome.
(JK) Tanto que, veja que os arquitetos chamados são em grande parte professores da FAU.
E também os remanescentes do Convênio Escolar. Por causa disso foi uma coisa
inteiramente nova. O Hélio Duarte foi um homem que, num certo sentido, ele e sua equipe
institucionalizaram a atividade do arquiteto e depois eles vão trabalhar para o SESI25. A
continuação do convênio é muito mais no SESI; agora qual é o defeito, o Hélio Duarte
começa a se afastar do Anísio Teixeira e a linguagem dele começa a ser tecnocrática. Ele
abandona a partir de 57/58 as posições do Anísio Teixeira. Sobre isso eu fiz uma ironia na
homenagem que ele fez para o Anísio Teixeira, falando da experiência da Bahia e pula
direto para a escola parque de Brasília, quando tinha toda a experiência do Convênio
Escolar, que ele apaga da valorização do Anísio. Isso daí é uma coisa inaceitável, porque o
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MOURA CAMPOS, Cândido. (organizador). Novos prédios para grupo escolar. São Paulo, Secretaria da
Educação, 1936.
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SESI – Serviço Social da Indústria.
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Hélio Duarte era do Partido Comunista e brigou com eles, então ele se apóia no pessoal
mais conservador da Politécnica.
(FH) Agora, no Convênio era uma coisa muito além não é, o Anísio Teixeira, os arquitetos,
eles montavam os programas, provavelmente entre si. Era uma escala menor também. No
caso do Ipesp, quando chamavam um escritório, como acontecia?
(JK) Isso eu acho que não era coisa do Ipesp, era coisa do pessoal do Plano, era ligado ao
Movimento Humanista. Aí isso você tem que investigar bem, a relação entre os grupos do
Plano de Ação do Carvalho Pinto e o movimento humanista do Lebret, que era muito
hostilizado pelos comunistas.
(FH) O professor Celso Monteiro Lamparelli fazia parte desse grupo. Agora, a respeito das
escolas dessa época, temos com salas de dois tipos de configuração, 6x8 e 7x7, com
estrutura de madeira, concreto.... temos escolas de tudo quanto é tipo.....
(JK) Aí houve uma orientação muito ruim do Ipesp que era de procurar valorizar os recursos
locais, mas depois perceberam que isso não era bom.
(JK) Isso foi uma desgraça porque ficou caro. Eles perceberam que era uma besteira porque
os materiais locais eram de difícil produção, não atendiam, e aí você tinha que transportar
tijolo, em vez de fazer a estrutura de concreto, tinha que transportar tijolo através de
estradas muito precárias. Esse negócio de estradas asfaltadas é posterior, quando a
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Petrobrás começou a produzir asfalto em grande quantidade. A maior parte das estradas
paulistas naquela época era tudo de terra.
(FH) Mas não era por isso que eles queriam material do local?
(JK) Eles queriam rapidez também. Esse é o problema político que existia. Existem duas
questões nesse problema de rapidez. Um era um processo que até hoje o governo brasileiro
usa que é a capitalização através do trabalho, a exploração sobre o trabalho. Então quanto
mais curto o tempo entre iniciar e entregar a obra, você faz com que o capital de giro seja
menos tempo imobilizado. E isso era muito importante. Isso sempre foi assim porque o país
não tem capital. Mesmo hoje que o Brasil progrediu muito você vê que o Brasil está vivendo
de investimento estrangeiro. O tempo todo o pessoal está querendo investimento
estrangeiro porque não tem capital. E isso vai pesar nessa idéia dos prazos políticos. Não
tem prazo político, é conversa. É um processo cruel, mas é um processo que a China usa,
todo o mundo usa, que é capitalizar através do trabalho, através de não pagar o trabalho.
(FH) Então é por isso que algumas escolas em 59 têm telhado com estrutura de madeira,
alvenaria, etc. e as últimas passam a ser inteiramente em concreto.
(JK) Exatamente. Ficava barato, mais vantajoso, melhor. Eu tenho impressão que as
escolas que nós fizemos, eu e o Abrahão, acho que não deve existir mais nenhuma. Porque
eram precaríssimas. Estrutura de madeira, treliças de madeira. Até tinha um engenheiro,
japonesinho, que projetava essas estruturas de madeira para todo o mundo.
(FH) Mas algumas escolas desde o começo já foram em concreto, como a escola de
Itanhaem, de 1959.
(JK) Mas quem é que ia discutir com o Artigas? Os caras que fiscalizavam a obra foram
alunos dele na FAU. O Artigas não era um nome forte fora do ambiente profissional, mas
dentro era respeitadíssimo. Era um homem que tinha feito o Louveira. O Louveira foi um
prédio que foi repetido às pampas pela cidade. Aqui em Higienópolis tem dois prédios do
Franz Heep que é o próprio Louveira, um prédio em frente ao outro. Está aí. Então isso tem
de montão na cidade de São Paulo. Ele foi muito copiado. O Louveira foi muito copiado.
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Ainda que ele seja um aperfeiçoamento do prédio do Vital Brasil. Ele é que teve a grande
sacada. Ele fez um prédio na frente e o outro atrás e abriu uma rua, que tem certa graça até
os dias de hoje. Nessa rua até certo tempo atrás tinha um bar com mesas na calçada. Coisa
raríssima na época em São Paulo. Café você tomava no botequim, num bar vagabundo
naquelas máquinas de coador. Então o Artigas tinha o Louveira e o estádio do São Paulo.
Ele tinha muito prestígio entre os profissionais, mas fora disso não.
Agora, ele chega lá no Ipesp e diz que quer fazer a escola em concreto, também o fórum ele
fez em concreto. Também o Paulo fez o fórum de Avaré porque ele tinha ganhado um
grande prêmio em São Paulo com o estádio do Clube Paulistano, que foi apelidado de “belo
Antonio”, porque faltaram 60cm para ser homologado e não tinha fechamento, era aberto.
Assim não serve, porque o vento pode mudar a direção da bola. Então ele não pode ser
usado para competições olímpicas.
(FH) Então podemos considerar que o Artigas era o “carro chefe” por ter aberto para os
outros arquitetos fazerem a arquitetura moderna que é o que eles queriam.
(FH) Tem uma escola do Abrahão, de 62, mais no final desse processo, que parece muito
com o prédio da FAU, do Artigas. Os pilares são muito parecidos. É uma escola em Santos.
(JK) Essa escola foi muito criticada. Todo mundo disse que ele chupou o Artigas.
(FH) Bem, a respeito do processo, os projetos eram todos entregues no Ipesp para serem
avaliados.
(JK) Tinha uma equipe que fazia a verificação e eles pediam todas as alterações. “Aqui falta
um telefone, aqui falta uma tomada”. O Carlos Cascaldi ficava muito bravo: “Imagina, esses
moleques aí ficam examinando os nossos projetos”. Eu me lembro uma vez que nós dois
estávamos no elevador e ele estava “soltando fumaça” porque recebeu o projeto para fazer
essas alterações, que eram feitas com muito respeito. Aí ele disse: “Bom, pelo menos não
vou votar nesse governo”. Eu virei para ele e disse assim: “Não interessa se você vai votar
ou não no governo, esse projeto seu vai dar no mínimo 100 votos para o governo atual”.
Quer dizer, a mentalidade nossa era muito elitista. Quer dizer, no fundo é aquela história,
nós todos somos iguais, mas tem uns que são um pouco mais iguais que os outros.
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(FH) Pelo que eu sei vocês forneciam os projetos completos menos as fundações, que
ficavam a cargo da construtora.
(JK) É, mas não havia muito problema de fundação porque os prédios raramente eram
pesados, de muitos andares. Eram prédios leves. Nunca houve grandes problemas de
fundação, a não ser as obras do Artigas que eram mais pesadas com toda aquela estrutura
de concreto.
(JK) Pois é, deu problema em Itanhaem e outras obras porque também a mecânica dos
solos estava sendo implantada naquela época. Tanto que a barragem de Pampulha,
justamente em 56 se não me engano, rodou. Foi feito todo um estudo pelo IPT, nesse
estudo participou o Milton Vargas, etc. e tal, só que pegava muito mais um dos maiores
escritórios de engenharia da época que era o Eng. Novais. Ele que fez o primeiro estudo. Aí,
em cima desse estudo eles não verificaram mais nada, simplesmente ampliaram e
construíram a barragem. Está tudo registrado num texto meu que ainda é inédito, não foi
publicado, porque eu fiz um estudo sobre o Milton Vargas, aí então fiquei sabendo que a
barragem do Novais tinha 9 metros e fizeram com 17. Quer dizer, depois que arrebentou
tudo verificaram vários erros de construção. Porque barragem de terra é uma barragem
muito precária. Barragem de concreto já acontece isso, imagina barragem de terra. A água
atravessa a barragem.
(FH) Então tinham funcionários do Ipesp que, a princípio estavam fazendo esse papel a
mando do governo, porque o Ipesp não tinha nada a ver com escolas. Agora, o Fece
também estava sendo criado.
(JK) Acredito que o Fece acabou trabalhando de novo com o DOP. Sim porque o DOP
nunca saiu totalmente. E depois o DOP é retomado em épocas posteriores, e o Laudo Natel
também vai fazer obra fora do DOP. O Laudo Natel fez muitas obras, principalmente
telefônicas. Nós participamos também disso aí, desses projetos de telefônicas.
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(JK) A Clementina de Ambrósio pode falar sobre isso. Ela trabalhou lá nessa época.
(FH) Sim, creio que depois de acabar o dinheiro do Ipesp, porque o Ipesp vira o “faz tudo”
da época. Delegacias, postos de saúde, escolas. No próprio Plano de Ação se dizia que o
dinheiro investido pelo Ipesp seria pago pelo governo como um financiamento, e nunca foi
pago.
(JK) Aliás, como é hábito do governo brasileiro, promete que paga e não paga. Então,
recentemente o Lembo quis pedir empréstimo para a FAPESP. O pessoal nem quis saber.
Tanto que, rigorosamente, não existe déficit na previdência, isso é conversa. É só todo
mundo pagar o que deve que acaba todo o déficit. Essa é uma das canalhices brasileiras,
quer dizer, vamos tirar o dinheiro dos aposentados porque são os que menos podem
reclamar. Mas hoje em dia a coisa não é tão fácil como no passado. No passado existiam os
IAPI’s todos.
(FH) Agora, não existia só o Artigas como “carro chefe”, tinham outros, como o Arq. Jorge
Zalszupin, que até o senhor trabalhou com ele.
(FH) Sim, mas as obras dele que constam no Ipesp tem uma característica moderna, todas
elas.
(JK) Eu não trabalhei com o Jorge nesse período. Você tem que procurar uma pessoa
chamada Gugliota, não sei se está vivo, ou conversar com o próprio Jorge. Ele pode dar
informações. O Jorge é uma pessoa muito séria, sempre teve uma postura muito modesta
como arquiteto. Ele gostava muito de arquitetura, mas ele nunca foi muito prestigiado, era
muito mais prestigiado o Jorge Whilheim. E no entanto, a meu ver, o Jorge era muito melhor
que o Jorge Whilheim. Isso não é exagero, acho que o Jorge Whilheim como arquiteto
nunca se destacou. O Jorge Zalszupin se destacou como artista, como arquiteto.
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(FH) Sim os projetos dele para o Ipesp são muito bonitos, vãos enormes, desde as primeiras
obras.
(JK) Também tem isso, ele não precisava do Ipesp. Ele era casado com uma mulher muito
rica e tinha boas relações com a sociedade paulista, portanto tinha muito trabalho. Por isso
que eu fui trabalhar com ele. Ele tinha muito trabalho e eu aprendi muito lá no escritório
dele, porque ele era muito cuidadoso, ele projetava e construía. Depois ele passou só a
projetar, creio que aí ele começou a fazer essas obras para o Ipesp. Na época que eu
estava lá ele tinha muita obra. Ele conhecia arquitetura, sabia bastante, A gente também
desenhava muito móvel. Foi lá que eu desenhei muita coisa.
(FH) Além do programa pronto, existia alguma orientação, por exemplo, salas de aula
voltadas para norte ou sul, ou ficava isso por conta do escritório mesmo?
(JK) Havia uma tendência a virar as salas de aula para o sol. Porque o sol era o grande
sanitarista. E ao mesmo tempo você tinha que fazer essa proteção, que era aceito, essa
proteção era feita para não ficar dependendo da cortina. Já se considerava cortina um
processo negativo. Uma coisa que acumulava sujeira e pó. E também não se voltava a
escola para o sul porque era um dogma, virar para o sul é ruim porque não bate sol e ainda
recebe o vento que vem da Argentina, do Pólo Sul. Pode reparar que isso também é
comentado pelos intelectuais paulistas, os poetas paulistas falam do vento sul como um
vento negativo. Dois ventos são negativos em São Paulo, um é o noroeste que dá
enxaqueca e o outro é o sul que dá resfriado, gripe, pneumonia e assim por diante. Então
essa coisa era mais ou menos recusada. E a outra coisa era que a ditadura da insolação era
total, quer dizer, isso vem do Alexandre Albuquerque, daqueles estudos de higiene da
construção, que a tuberculose tem que ser combatida com o sol basicamente. E isso foi
abandonado depois de 74, que teve um efeito ruinoso, porque hoje você vira para onde você
quiser.
Teve um cliente que me fez correr com um projeto de uma casa porque ele não queria ficar
mais um inverno num prédio que estava solto no terreno, quer dizer, não era um problema
de ser obrigado, o prédio estava solto e voltado para o sul, recebendo o ar frio das represas
que ficavam ali na serra do mar com toda aquela umidade. O homem estava desesperado
para sair daquele apartamento.
(FH) Eu perguntei justamente sobre isso, pois estou fazendo uma análise crítica em termos
de projeto em cada escola e estou chegando à conclusão de que a maioria das salas de
aula são voltadas para o sul. Por isso eu achei que existisse alguma orientação nesse
sentido, porque eu imagino que no interior do Estado o calor é muito forte. Ribeirão Preto,
litoral... então eu imaginava que existisse algo assim.
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(JK) Isso aí talvez você tenha razão, pode ter havido uma orientação de não voltar para o
norte por causa do problema do calor. Conforme você vai saindo da cidade a altitude vai
caindo então as temperaturas são sempre mais altas. Por exemplo, Itú que é só 500 metros
de altitude do mar já se recomendava tomar muito cuidado com a insolação por causa disso.
Sobre o programa talvez o Celso possa dar alguma informação, pois isso partia do grupo
ideológico do Plano de Ação.