Você está na página 1de 237

Tópicos de Matemática Elementar: geometria euclidiana plana

Copyright © 2012 Antonio Caminha Muniz Neto


Direitos reservados pela Sociedade Brasileira de Matemática
Tópicos de
Coleção Professor de Matemática Maten1ática Elen1entar
Comitê Editorial
Abdênago Alves de Barros
Volume 2
Abramo Hefez (Editor-Chefe)
Djairo Guedes de Figueiredo Geometria Euclidiana Plana
José Alberto Cuminato
Roberto Imbuzeiro Oliveira
Sílvia Regina Costa Lopes Antonio Caminha Muniz Neto
Assessor Editorial
Tiago Costa Rocha

Capa
Pablo Diego Regino

Sociedade Brasileira de Matemática


Presidente: Hilário Alencar
Vice-Presidente: Marcelo Viana
Primeiro Secretário: Vanderley Horita
Segundo Secretário: Ronaldo Garcia
Terceiro Secretário: Marcela Souza
Tesoureiro: Ádan Corcho

Distribuição e vendas
Sociedade Brasileira de Matemática \
\
Estrada Dona Castorina, 110 Sala 109 - Jardim Botânico \
22460-320 Rio de Janeiro RJ \
\
Telefones: (21) 2529-5073 / 2529-5095 \
http://www.sbm.org.br / email:lojavirtual@sbm.org.br 'P
\
\
ISBN 978-85-85818-84-5 \
\
\

e 12, \

MUNIZ NETO, Antonio Caminha.


Tópicos de Matemática Elementar: geometria euclidiana plana/ Caminha
MunizNeto. 2ª edição
-2.ed. -- Rio de Janeiro: SBM, 2013. 2013
v.2 ;464 p. (Coleção Professor de Matemática; 25)
Rio de Janeiro
ISBN 978-85-85818-84-5

.!SBM
1. Conceitos Geométricos Básicos. 2. Congruência de Triângulos.
3. Lugares Geométricos. 4. Proporcionalidade e semelhança.
1. Título.
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
1••
o!IIJ SBM
0
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA �;�

Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias - E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P. Q. Carneiro
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C� Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Media Vol. 4 - Exercicios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha Para meus estudantes
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
Sumário

Prefácio VII

Prefácio XV

1 Conceitos Geométricos Básicos 1


1.1 Introdução . 2
1.2 Ângulos 10
1.3 Polígonos 19

2 Congruência de Triângulos 27
2.1 Os casos LAL, ALA e LLL . 27
2.2 Aplicações de congruência 36
2.3 Paralelismo ........ 45
2.4 A desigualdade triangular 58
2.5 Quadriláteros notáveis 64

3 Lugares Geométricos 89
3.1 Lugares geométricos básicos 89
[li
1:
;1
1

i:
4 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto V

3.2 Pontos notáveis de um triângulo . . 98 9 Sugestões e Soluções 373


3.3 Tangência e ângulos no círculo . . . 105
Referências 437
3.4 Círculos associados a um triângulo 124
3.5 Quadriláteros inscritíveis e circunscritíveis 136

4 Proporcionalidade e Semelhança 147


4.1 O teorema de Thales ... 148
4.2 Semelhança de triângulos . . . 158
4.3 Algumas aplicações . . . . . . 174
4.4 Colinearidade e concorrência . 187
4.5 O teorema das cordas e potência de ponto 201

5 Áreas de figuras Planas 221


5.1 Áreas de polígonos . . ......... 221
5.2 Aplicações . . . . . . . ......... 230
5.3 A área e o comprimento de um círculo 245

6 O Método Cartesiano 259


6.1 O plano Cartesiano ...... 259
6.2 Retas no plano Cartesiano .. 274
6,3 Círculos no plano Cartesiano . 283

7 Trigonometria e Geometria 295


7.1 Arcos trigonométricos . . . 295
7.2 Algumas identidades úteis 313
7.3 As leis dos senos e dos cossenos 319
7.4 A desigualdade de Ptolomeu 337

1i I
8 Vetores no Plano 345
i I 8.1 Vetores geométricos . ....... 345
I'
:i
i i 8.2 Vetores no plano Cartesiano .. :·,.. 354
8.3 O produto escalar de dois vetores 362
Il,,i

Prefácio

Esta coleção evoluiu a partir de sessões de treinamento para olim-


píadas de Matemática, por mim ministradas para alunos e professores
do Ensino Médio, várias vezes ao longo dos anos de 1992 a 2003 e,
mais recentemente, como orientador do Programa de Iniciação Cien-
tífica para os premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (OBMEP) e do Projeto Amílcar Cabral de coopera-
ção educacional entre Brasil e Cabo Verde.
Idealmente, planejei o texto como uma mistura entre uma ini-
ciação suave e essencialmente autocontida ao fascinante mundo das
competições de Matemátia, além de uma bibliografia auxiliar aos es-
tudantes e professores do secundário interessados em aprofundar seus
conhecimentos matemáticos. Resumidamente, seu propósito primor-
dial é apresentar ao leitor uma abordagem de quase todos os conteú-
dos geralmente constantes dos currículos do secundário, e que seja ao
mesmo tempo concisa, não excessivamente tersa, logicamente estrutu-
rada e mais aprofundada que a usual.
Na estruturação dos livros, me ative à máxima do eminente ma-
temático húngaro-americano George Pólya, ·que dizia não se poder
VIII Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto IX

fazer Matemática sern sujar as mãos. Assim sendo, ern vários pontos ausentes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Nurna
deixei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos terceira etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos ern estudo da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes,
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes a trigonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são uti-
casos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais lizados tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) rnaneira(s)
se encontram marcados corn * e cuja análise e solução considero parte quanto para deduzir novos resultados.
integrante e essencial do texto. Colecionei ainda, ern cada seção, ou- De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
tros tantos problemas, cuidadosamente escolhidos na direção de exer- aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
citar os resultados principais elencados ao longo da discussão, bern aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferen-
corno estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, cial e integral e análise rnaternática, os quais se fazem necessários
ao passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões · ern certos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicial-
ou soluções completas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto vee- mente, das noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as
rnenternente o leitor a debruçar-se sobre o maior número possível deles noções de gráfico, rnonotonicidade e extremos de funções, bern corno
por tempo suficiente para, ainda que não os resolva todos, pássar a exarninarnos o problema da determinação de funções definidas irn-
apreciá-los corno corpo de conhecimento adquirido. plicitarnente por relações algébricas. Na continuação, o conceito de
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con- função contínua é apresentado, prirneirarnente de forma intuitiva e,
junto dos números reais e de álgebra elementar, no intuito de munir o ern seguida, axiomática, sendo demonstrados os principais resulta-
leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos dos pertinentes. Ern especial, utilizamos este conceito para estudar
volumes subsequentes. Após começar corn urna discussão não axiomá- a convexidade de gráficos - culminando corn a demonstração da de-
tica das propriedades rnais elementares dos números reais, são aborda- sigualdade de J. Jensen - e o problema da definição rigorosa da área
dos, ern seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações, sob o gráfico de urna função contínua e positiva - que, por sua vez,
sequências elementares, indução rnaternática e números binomiais; o possibilita a apresentação de urna construção adequada das funções
texto finda corn a discussão de várias desigualdades algébricas impor- logaritmo natural e exponencial. O volume três termina corn urna dis-
tantes, notadarnente aquela entre as médias aritmética e geométrica, cussão das propriedades rnais elementares de derivadas e do teorema
bern corno as desigualdades de Cauchy, de Chebyshev e de Abel. fundamental do cálculo, os quais são rnais urna vez aplicados ao es-
Dedicamos o segundo volume a urna iniciação do leitor à geometria tudo de desigualdades, ern especial da desigualdade entre as médias
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando de potências.
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida ern que o O volume quatro é devotado à análise combinatória. Corneçarnos
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente, revisando as técnicas rnais elementares de contagem, enfatizando as
demonstrações - ganha importância, principalmente corn a discussão construções de bijeções e argumentos recursivos corno estratégias bási-
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir cas. Na continuação, apresentamos urn apanhado de métodos de
desse ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente contagem urn tanto rnais sofisticados, corno o princípio da inclusão
'/'!
1

X Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto XI

exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de dois quadrados. O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é
equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos. o calibre dos exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar do texto, boa parte dos quais oriundos de variadas competições ao
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas redor do mundo.
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria cor-
problema da existência de uma configuração especial no universo das respondente usualmente estudada no secundário, vários são os tópicos
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas não padrão abordados aqui. Dentre outros, destacamos inicialmente
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos"-, um céle- a utilização de números complexos e polinômios como ferramentas de
i'
jl bre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes associ- contagem e a apresentação quase completa de uma das mais simples
/!
ados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória que · demonstrações do teorema fundamental da álgebra. A seguir, estu-
discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bási- damos o famoso teorema de I. Newton sobre polinômios simétricos e
cos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos as igualmente famosas desigualdades de Newton, as quais estendem a
importantes: a caracterização da existência de caµiinhos Eulerianos, desigualdade entre as médias aritmética e geométrica. O próximo tema
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotuladas e o teo- concerne os aspectos básicos da teoria de interpolação de polinômios,
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos quando dispensamos especial atenção aos polinômios interpoladores
em um grafo. de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez, são utilizados para resolver
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos sistemas lineares de Vandermonde sem o recurso à álgebra linear, os
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se quais, a seu turno, possibilitam o estudo de uma classe particular de
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema sequências recorrentes lineares. O livro termina com o estudo das pro-
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da des- priedades de fatoração de polinômios com coeficientes inteiros, racio-
cida de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de nais ou pertencentes ao conjunto das classes de congruência relativas
soluções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos tam- a algum módulo primo, seguido do estudo do conceito de número al-
bém a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno gébrico. Há, aqui, dois pontos culminantes: por um lado, uma prova
para a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, cons- mais simples do fechamento do conjunto dos números algébricos em
truindo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria relação às operações aritméticas básicas; por outro, o emprego de
mais geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro polinômios ciclotômicos para provar um caso particular do teorema
apresenta formalmente o conceito de congruência de números em re- de Dirichlet sobre primos em progressões aritméticas.
lação a um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
usualmente constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, in- tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
cluindo raízes primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
de caracterização dos inteiros que podem ser escritos como soma de mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
XII Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
XIII
Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar
leram partes do texto final e ofereceram várias sugestões. Os pareceris-
Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada tas indicados pela SBM opinaram decisivamente para que os livros
Cearense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de certamente resultassem melhores que a versão inicial por mim sub-
jovens cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais metida. O presidente da SBM, professor Hilário Alencar da Silva o
Matemática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, An- antigo editor-chefe da SBM, professor Roberto Imbuzeiro de Oliveira '
tônio Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a
bem como o novo editor-chefe, professor Abramo Hefez, foram sempre'
suas aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática extremamente solícitos e atenciosos comigo ao longo de todo O pro-
e posteriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso
cesso de edição. O sr. Tiago Rocha, assistente editorial da SBM, foi
mundo das competições de Matemática e influenciou definitivamente
de fundamental importância em todo o processo, tendo contribuído
minha escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de em muito para a formato gráfico final da obra.
ex-alunos contribuíram muito para o formato final de boa parte do
Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, An-
material aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente a
tonio Caminha Muniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha Muniz
João Luiz de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Cas-
e à minha esposa Mónica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais'
tro, Marcelo Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França Jr.,
me fizeram compreender a importância do conhecimento desde a mais
Marcelo Cruz de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alen- tenra idade, sem nunca terem medido esforços para que eu e meus
car Araripe Falcão, Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis,
irmãos desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brin-
Daniel Pinheiro Sobreira, Antônia Taline de Souza Mendonça, Car-
dou-me com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu
los Augusto David Ribeiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo
ânimo e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas.
Alexandrino Nogueira e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas Esta coleção de livros também é dedicada a eles.
professores teceram comentários pertinentes, os quais foram incorpo-
rados ao texto de uma ou outra maneira; agradeço, em especial, a
Fláudio José Gonçalves, Francisco José da Silva Jr., Onofre Cam-
pos da Silva Farias, Emanuel Augusto de Souza Carneiro, Marcelo FORTALEZA, JANEIRO de 2012
Mendes de Oliveira Samuel Barbosa Feitosa e Francisco Bruno de
' .
Lima Holanda. Os professores João Lucas Barbosa e Hélio Barros
deram-me a conclusão de parte destas notas como alvo a perseguir Antonio Caminha M. Neto
ao me convidarem a participar do Projeto Amílcar Cabral de treina-
mento dos professores de Matemática da República do Cabo Verde.
Meus colegas do Departamento de Matemática da Universidade Fede-
ral do Ceará, Abdênago Alves de Barros, José Othon Dantas Lopes,
José Robério Rogério e Fernanda Esther Camillo Camargo, bem como
meu orientando de iniciação científica Itamar Sales de Oliveira Filho,
XIV Tópicos de Matemática Elementar 2

Prefácio à 2ª edição

Para a segunda edição fiz uma extensa revisão do texto e dos pro-
blemas propostos, corrigindo várias imprecisões de língua portuguesa
e de Matemática. Diferentemente da primeira edição, nesta segunda
edição as sugestões e soluções aos problemas propostos foram cole-
cionadas em um capítulo separado (o capítulo 9, para este volume);
adicionalmente, apresentei sugestões ou soluções a praticamente todos
os problemas do livro e, notadamente, a todos aqueles com algum grau
apreciável de dificuldade. Especificamente para este volume, a seção
5.3 foi consideravelmente ampliada, com vistas a definir e calcular de
maneira mais adequada a circunferência de um círculo.
Gostaria de agradecer à comunidade matemática brasileira, em
geral, e a todos os leitores que me enviaram sugestões ou correções,
em particular, o excelente acolhimento da primeira edição desta obra.

FORTALEZA, JANEIRO de 2013


Tópicos de Matemática Elementar 2
XVI

CAPÍTULO 1

Conceitos Geométricos Básicos

;1
i1,
I'

,,1

1j

1.1i i
1 1 Este livro é devotado ao estudo da Geometria Euclidiana, assim
ij
1, adjetivada após a famosa obra Elementos ([8]), de Euclides de Alexan-
i11l dria1.
il
:1 Pautaremos nossa discussão, o mais possível, pelo utilização do mé-
!I todo lógico-dedutivo, sem ter, no entanto, a preocupação de listar um
conjunto exaustivo de post1Jlados a partir dos quais possamos cons-
truir axiomaticamente2 a geometria. Para o cumprimento de um tal
1 Euclides de Alexandria, matemático grego dos séculos IV e III a.C. e um dos
mais importantes da antiguidade. A maior de todas as contribuições de Euclides à
Matemática, bem como à ciência em geral, foi o tratado Elementos, obra na qual
expôs sistematicamente os conhecimentos de Geometria de seu tempo - doravante
rotulada como Euclidiana. A importância dos Elementos se deve ao fato deste ser
o primeiro livro em que se considera um corpo de conhecimento matemático como
parte de um sistema lógico-dedutivo bem definido.
2 Um axioma ou postulado é uma propriedade imposta como verdadeira. A

utilização do método axiomático é uma das características fundamentais da


Matemática como ciência.
2 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 3

prescindem de definições formais. Assumiremos, ainda, que toda reta


é um conjunto de (pelo menos dois) pontos3 .

r s
B


A

Figura 1.1: Euclides de Alexandria, matemático


grego dos séculos IV e III a.C. e um dos mais im- Figura 1.2: pontos e retas no plano.
portantes da antiguidade. A maior de todas as con-
tribuições de Euclides à Matemática, bem como à
ciência em geral, foi o tratado Elementos, obra na Na figura 1.2, temos os pontos A e B e as retas r e s (em geral,
qual expôs, sistematicamente, os conhecimentos de denotaremos pontos por letras latinas maiúsculas e retas por letras
Geometria Plana de seu tempo - doravante rotulada latinas minúsculas). Grosso modo, podemos dizer que a Geometria
como Euclidiana -, alguns dos quais frutos de seu Euclidiana Plana estuda propriedades relativas aos pontos e retas de
próprio trabalho. A importância dos Elementos se um plano.
deve ao fato deste ser a primeira obra em que se con- A discussão a seguir servirá de base para o desenvolvimento da teo-
sidera um corpo de conhecimento matemático como ria. Ao longo da mesma, as afirmações enunciadas sem demonstrações
parte de um sistema lógico dedutivo bem definido. deverão ser tomadas como axiomas.
Dados, no plano, um ponto P e uma reta r, só há duas possibi-
lidades: ou o ponto P pertence à reta r ou não; no primeiro caso,
programa, referimos o leitor a [3]. Para além do que apresentaremos escrevemos P E r (lê-se P pertence a r) e, no segundo, escrevemos
aqui, sugerimos as referências [1], [6], [10], [11], [15], [16], [17] ou [18]. P €/:. r (lê-se P não pertence ar). Na figura 1.3, temos A E r e B €/:. r.
Apresentamos, neste capítulo, os conceitos e resultados mais bási- Neste momento, é natural nos perguntarmos sobre quantas retas
cos envolvidos na construção da Geometria Euclidiana em um plano. podem ser traçadas por dois pontos dados. Assumiremos que podemos
traçar exatamente uma tal reta. Em resumo, por dois pontos distin'."
tos A e B do plano, podemos traçar uma única reta (cf. figura 1.4).
1.1 Introdução Nesse caso, sendo r a reta determinada por tais pontos, denotamos,
+-----+
O leitor certamente tem uma boa ideia, a partir da experiência alternativamente, r = AB.
diária, do que vem a ser um ponto, uma reta ou um plano. Portanto, 3 Implicitamente, assumimos também que o plano contém todos os pontos e que
vamos assumir essas noções como conceitos primitivos, i.e., tais que há pelo menos três pontos não situados em uma mesma reta.
11, 1
i I f

4 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 5

a porção da reta r situada de A a B. Escrevemos AB para denotar o


comprimento do segmento AB (que, a menos que se diga o contrário,
será medido em centímetros). Para decidir se dois segmentos dados no
plano são iguais (i.e., se têm comprimentos iguais) ou, caso contrário,
qual deles é o maior, podemos usar um compasso, transportando um
Figura 1.3: posições relativas de ponto e reta. dos segmentos para a reta determinada pelo outro:

Exemplo 1.1. 4 Com o uso de um compasso, transporte o segmento


<-------->
AB para a reta CD e decida se AB > CD ou vice-versa.

Solução.

Figura 1.4: dois pontos determinam uma única reta.

Um ponto A, situado sobre uma reta r, a divide em dois pedaços,


I
A

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.


quais sejam, as semirretas de origem A. Escolhendo pontos B e C
sobre r, um em cada um de tais pedaços, podemos denotar as semir- 1. Centre o compasso em A e fixe a outra extremidade do mesmo
_, -->
retas de origem A por AB e AC. Na figura 1.5, mostramos a porção emB.
-->
da reta r correspondente à semirreta AB (a porção correspondente à 2. Mantendo a abertura calibrada no item 1., centre o compasso
-->
semirreta AC foi apagada). em C e marque, com a outra extremidade do mesmo, um ponto
-->
E sobre a semirreta CD, tal que CE = AB.
B
4 Esseé o primeiro de uma série de exemplos que objetivam desenvolver no leitor
A~r
uma relativa habilidade no manuseio da régua e do compasso. Em cada um de tais
exemplos, apresentamos uma sequência de passos que, uma vez seguida, executa
--> a construção correspondente. Após ler com atenção cada um de tais exemplos,
Figura 1.5: semirreta AB de origem A. sugerimos ao leitor que execute, ele mesmo, a construção discutida. Observamos,
por fim, que uma construção geométrica não constitui prova de uma propriedade
geométrica, uma vez que, necessariamente, envolve escolhas particulares e erros de
Dados pontos distintos A e B sobre uma reta r, o segmento AB é precisão.
1,
i[il
l
1

!
I[

11···1
,:1
,::.

: Antonio Caminha M. Neto 7


"i '
i' Tópicos de Matemática Elementar 2
1
1
'
6
Uma última observação sobre segmentos: dados os pontos A e B
3. Compare os comprimentos dos segmentos AB = CE e CD. no plano, definimos a distância d(A, B) entre os mesmos como o

• comprimento AB do segmento AB:


d(A,B) = AB.
Também podemos usar um compasso para adicionar segm~ntos
e para multiplicar um segmento por um natural, conforme ensma o Além de pontos, retas, semirretas e segmentos, círculos serão obje-
tos de grande importância em nosso estudo de qeometria Euclidiana
próximo exemplo.
plana. Precisamente, dados um ponto O e um real r > O (que deve ser
Exemplo 1.2. Dad~s, no plano, os segmentos AB e CD ~orno abaixo, pensado como o comprimento de um segmento), o círculo de centro
construa com régua e compasso segmentos EF e GH, tais que EF - O e raio r é o conjunto dos pontos P do plano que estão à distância
AB+ CD e GH = 3AB. r de O, i.e., tais que OP = r:

Solução.
c o
B

lA D
Figura 1. 6: o círculo de centro O e raio r.

DESCRIÇÃO DOS PASSOS. De uma maneira mais concreta, o círculo de centro O e raio r é
1. Com o auxílio de uma régua, trace uma reta r. a curva plana obtida quando posicionamos a ponta de um compasso
no ponto O e fixamos sua abertura como igual ao comprimento r. O
Marque sobre a reta r um ponto X e, em seguida, transporte o complemento de um círculo no plano consiste de duas regiões, uma
2. segmento AB para r' obtendo um segmento EX' tal que EX - limitada, que denominamos seu interior e a outra ilimitada, denomi-
AB. nada o exterior do círculo. Alternativamente, o interior do círculo de
centro O e raio ré o conjunto dos pontos P do plano cuja distância ao
3. Transporte o segmento CD parar' a partir do ponto X' obtendo
centro O é menor que r, i.e., tais que OP < r (figura 1.7); analoga-
um ponto F, tal que XF = CD e X E EF.
mente, o exterior do círculo é o conjunto dos pontos P do plano cuja
Perfaça uma cadeia análoga de passos para construir um seg- distância ao centro O é maior que r, i.e., tais que O P > r.
4. mento G H como pedido (observe que 3 AB = AB + AB + AB) · Via de regra, denotaremos círculos por letras gregas maiúsculas.
Por exemplo, denotamos o círculo da figura 1.8 a seguir por r (lê-se

; i''
8 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 9

Ainda em relação à figura 1.8, o leitor deve ter notado que uma
porção do círculo r aparece em negrito. Tal porção corresponde a um
i: arco de círculo, i.e., a uma porção de um círculo delimitada por dois
de seus pontos. Note que há uma certa ambiguidade nessa definição,
devido ao fato de que dois pontos sobre um círculo determinam dois
arcos. Em geral, resolveremos essa situação nos referindo ao arco
Figura 1. 7: interior do círculo de centro O e raio r. menor ou ao arco maior CD. Desse modo, diremos que a porção
,-..

do círculo r em negrito na figura 1.8 é o arco menor CD. Outra


possibilidade é escolhermos mais um ponto sobre o arco a que dese-
gama), e podemos mesmo escrever f(O; r), caso queiramos enfatizar jamos nos referir, denotando o arco com o auxílio 3esse ponto extra;
que o centro de r é O e o raio é r. na figura 1.8,yor exemplo, poderíamos escrever CP D para denotar o
Dado um círculo r de centro O e raio r (figura 1.8), também de-. arco maior CD.
nominamos raio do mesmo a todo segmento que une o centro O a
um de seus pontos; por exemplo, O A, O B e O P são raios do círculo Exemplo 1.3. Construa com um compasso o círculo de centro O e
r. Uma corda de r é um segmento que une dois pontos quaisquer passando pelo ponto A. Em seguida, marque sobre o mesmo todos os
do círculo; um diâmetro der é uma corda que passa por seu centro. possíveis pontos B para os quais a corda AB tenha o comprimento l
Nas notações da figura 1.8, AB e CD são cordas de r, sendo AB dado.
um diâmetro. Todo diâmetro de um círculo o divide em duas partes
iguais, denominadas semicírculos; reciprocamente, se uma corda de Solução.
um círculo o divide em duas partes iguais, então tal corda deve, ne-
cessariamente, ser um diâmetro do círculo.
• A

D r o•
B
o
1----,-----1 A

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

Figura 1.8: elementos de um círculo. 1. Centre o compasso em O e fixe sua abertura de O a A. Em


seguida, trace o círculo pedido.

i' ::
10 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 11

2. Trace, de maneira análoga, o círculo de centro A e raio igual a Definição 1.4. Uma região R do plano é convexa quando, para todos
l. os pontos A, B E R, tivermos AB e R. Caso contrário, diremos que
R é uma região não convexa.
3. As possíveis posições do ponto B são os pontos de interseção dos
dois círculos traçados.


Problemas - Seção 1.1
Figura 1.9: regiões convexa (esq.) e não convexa (dir.).
1. Sejam A, B, C e D pontos sobre uma reta r. Quantas são as
semirretas contidas na reta r e tendo por origem um de tais
pontos? De acordo com a definição acima, para uma região R ser não con-
vexa basta que existam pontos A, B E R tais que pelo menos um
2. Os pontos A, B e C estão todos situados sobre uma mesma reta
ponto do segmento AB não pertença a R.
r, com CE AB. Se AB = lücm e AC= 4BC, calcule AC.
Uma reta r de um plano o divide em duas regiões convexas, os
3. Sejam A, B, C e D pontos de uma reta r, tais que D E AC, semiplanos delimitados por r. Dados pontos A e B, um em cada um
-------> - --
BE DC e AC= BD. Prove que AB
--
=
--
CD. dos semiplanos em que r divide o plano, tem-se sempre AB n r -=!=- 0
(figura 1.10).
4. Sobre uma reta r estão marcados três pontos A, B e C, tais
que B está entre A e C, AB = 3cm e AC= 5, 5cm. Usando
somente um compasso, marque sobre rum ponto D entre A e
B, tal que AD= BC.
A-------- -------- B
5. Marque no plano, com o auxílio de uma régua e compasso, três
pontos A, B e C tais que AB = 5cm, AC = 6cm e BC = 4cm.
r

1.2 Ângulos
Figura 1.10: semiplanos determinados por uma reta.
Comecemos esta seção com nossa primeira definição formal, que
encontrará utilidade em outras situações.
12 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 13
---> --->
Definição 1.5. Dadas, no plano, duas semirretas OA e OB, um
---> --->
ângulo (ou região angular) de vértice O e lados O A e O B é uma
---> --->
das duas regiões do plano limitadas pelas semirretas O A e O B.

Figura 1.12: grau como unidade de medida de ângulos.

A
LX'OY' o qual podemos dizer também medir 1º? Para responder essa
pergunta, considere a figura 1.13. Nela, temos dois círculos r e I; de
Figura 1.11: regiões angulares no'plano '

Um ângulo pode ser convexo ou não convexo; na figura acima, o


ângulo da esquerda é convexo, ao passo que o da direita é não con-
__, --->
vexo. Denotamos um ângulo de lados OA e OB escrevendo LAOB;
o contexto deixará claro se estamos nos referindo ao ângulo convexo
ou ao não convexo.
Nosso objetivo, agora, é associar a todo ângulo uma medida da
região do plano que ele ocupa. Para tanto (figura 1.12), divida um
círculo r de centro O em 360 arcos iguais e tome pontos X e Y,
extremos de um desses 360 arcos iguais. Dizemos que a medida do Figura 1.13: boa definição da noção de grau.
ângulo LX OY é de 1 grau, denotado 1º, e escrevemos
XÔY = 1º.
mesmo centro O, e dois pontos A, BE r. Sejam A' e B' os pontos de
- --->
Há um pequeno problema com a definição de grau dada acima. interseção das semirretas OA e OB com I;. Assumimos como axioma
Como podemos saber que ela não depende do círculo escolhido? De que a fração de r que o ~rco menor AÊ representa é igual à fração
outro modo, como podemos saber se, dividindo outro círculo I; (lê- de I; que o arco menor A' B' representa. Portanto, se, na definição de
se sigma), de centro O, em 360 partes iguais, obteremos um ângulo grau, tivéssemos tomado um círculo I;, de raio diferente do raio der
1'
'
r
;t:c
i;
";.-.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 15
14
iii. Muitas vezes usamos, por economia de notação, letras gregas
mas com mesmo centro O, teríamos um mesmo ângulo representando
minúsculas 1;._ara denotar medidas de ângulos5 ; por exemplo, es-
a medida de 1º.
crevemos AO B = () (lê-se téta) para significar que a medida do
A partir da definição de grau, é imediato que um círculo com-
ângulo LAO B é () graus.
pleto corresponde a 360º. Por outro lado, dado um ângulo LAO B,
permanece a pergunta de como podemos medi-lo. Para responder à Exemplo 1. 7. Com o auxílio de um compasso, construa um ângulo
mesma, fazemos a seguinte construção: traçamos um círculo qualquer de vértice O', com um lado situado sobre a retare igual ao ângulo a
r, de centro O, e marcamos os pontos A' e B' em que r intersecta dado. ·
---+ ---+
os lados O A e O B de LAO B (figura 1.14); em seguida, vemos qual
Solução.
fração do comprimento total de r o arco A' B' representa. A medida
AÔ B do ângulo LAO B será essa fração de 360º. Por exemplo, se o r


Os passos a seguir serão justificados quando estudarmos o caso
LLL de congruência de triângulos, na seção 2.1.
Figura 1.14: medindo o ângulo LAOB.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
,-..

comprimento do arco A' B' for i do comprimento total de r, então a 1. Trace um arco de círculo de raio arbitrário R, centrado no vér-
tice do ângulo dado, marcando pontos X e Y sobre os lados do
medida de LAO B será
mesmo.
AÔB = !6 · 360º = 60º.
2. Trace outro arco de círculo de raio R, centrado em O', marcando
Observações 1.6. Y' como um dos pontos de interseção do mesmo com a reta r.
1. Diremos que dois ângulos são iguais se suas medidas forem 3. Marque o ponto X' de interseção do círculo de raio R e centro
iguais. O' com o círculo de raio XY e centro Y'.
ii. A fim de evitar confusões, usaremos sistematicamente notações 5A exceção é a letra 1r (lê-se pi); por razões que ficarão claras posteriormente,
reservamos outro uso para tal letra.
diferentes para um ângulo e para sua medida em graus.
16 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 17

4. O ângulo LX'O'Y' mede a. são as medidas de dois ângulos complementares, então a + f3 = 90º.
Observamos, anteriormente, que todo diâmetro de uma círculo o Ainda nesse caso, diremos que a é o complemento de f3 e vice-versa.

- -
divide em duas partes iguais. Assim, se tivermos um ângulo LAO B tal
que OA e OB sejam semirretas opostas (i.e., A, O e B estejam sobre
uma mesma reta, com O E AB), então AÔB = 180º (figura 1.15).
Por exemplo, dois ângulos medindo 25º e 65º são complementares,
uma vez que 25º + 65º = 90º; por outro lado, o complemento de um
ângulo de 30º é um ângulo de medida igual a 90º - 30º = 60º.
A primeira proposição de Geometria Euclidiana plana que vamos
180º provar fornece uma condição suficiente para a igualdade de dois ân-
B _ _ __._C\____.._ _ _ A gulos. Contudo, antes de enunciá-la precisamos da seguinte
o Definição 1.8. Dois ângulos LAOB e LCOD (de mesmo vértice O)
Figura 1.15: ângulo de 180º. são opostos pelo vértice (abreviamos OPV) se seus lados forem
semirretas opostas.

Raras vezes utilizaremos ângulos maiores que 180º. Assim, no


D A
que segue, quando escrevermos LAOB, estaremos nos referindo, a
menos que se diga o contrário, ao ângulo convexo LAO B, i.e., ao
ângulo LAOB tal que Oº < AÔB ~ 180º. Diremos (figura 1.16) que
um ângulo LAO B é agudo quando Oº < AÔ B < 90º, reto quando
AÔB = 90º e obtuso quando 90º < AÔB < 180º. Observe, na e B
(figura 1.16), a notação especial utilizada para ângulos retos.
Figura 1.17: ângulos opostos pelo vértice.
B
B
B

: ! 1 i

O k A O
b A o
(} > 90º
A
Os ângulos 00B ~LCOD da figura 1.17 são OPV, uma vez que
as semirretas O A e OC, bem como as semirretas
respectivamente opostas.

Proposição 1.9. Dois ângulos OPV são iguais.


e OI) são
'
OE

Figura 1.16: ângulos agudo (esq.), reto (centro) e obtuso (dir.).


Prova. Vamos nos referir à figura 1.17. Como OE
e OI) são semir-
retas opostas, segue que a + 'Y = 180º. Analogamente, f3 + 'Y = 180º.
É, por vezes, útil ter um nome especial associado a dois ângulos Portanto,
cuja soma das medidas seja igual a 90º; diremos, doravante, que dois a = 180º - 'Y = /3.
ângulos com tal propriedade são complementares. Assim, se a e /3

18 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 19

Problemas - Seção 1.2 8. Construa, com régua e compasso, um ângulo cuja medida seja
igual à soma das medidas dos ângulos LAO B e A' O' B' da figura
1. Se a interseção de duas regiões convexas de um plano não. for o abaixo:
conjunto vazio, prove que ela também é uma região convexa.

2. Calcule a medida do ângulo que, somado ao triplo de seu com- B

L
plemento, dá 210º como resultado.

3. Calcule as medidas de dois ângulos complementares, sabendo


que O complemento do dobro de um deles é igual à terça parte O A
do outro.

4. Os ângulos a e f3 são OPV e suas medidas em graus são expressas 9. Sobre um círculo de centro O marcamos três pontos A, B e C,
por 9x-2 e 4x+8, respectivamente. Calcule, também em graus, tais que AB = BC = AC, onde os arcos a que nos referimos
a medida de a+ (3. são os arcos menores correspondentes. Calcule as medidas dos
ângulos LAOB, LBOC e LAOC.
5. * Se duas retas se intersectam, prove que um dos ângulos por
elas formados é igual a 90º se, e só se, os quatro ângulos o forem. 10. Calcule a medida de um ângulo agudo, sabendo que a mesma
excede a medida de seu complemento em 76º.
6. Na figura abaixo, o ângulo a mede a sexta parte do ângulo "(
mais a metade do ângulo /3. Calcule a medida de a. 11. Três semirretas de mesma origem O formam três ângulos que
cobrem todo o plano. Mostre que ao menos um desses ângulos
mede pelo menos 120º e ao menos um mede no máximo 120º.

1.3 Polígonos
Considere três pontos A, B e C no plano. Se C estiver sobre a reta
<-----+
AB, diremos que A, B e C são colineares; caso contrário, diremos
7. Cinco semirretas, de mesma origem O, formam cinco ângulos que A, B e C são não colineares (figura 1.18).
que cobrem todo o plano e têm medidas em graus proporcionais Três pontos não colineares formam um triângulo. Nesse caso, a
aos números 2, 3, 4, 5 e 6. Calcule a medida do maior de tais região triangular correspondente é região limitada do plano, delimi-
ângulos. tada pelos segmentos que unem os três pontos dois a dois. Sendo A,
20 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~-==
21

c• Podemos classificar triângulos de duas maneiras básicas: em re-


lação aos comprimentos de seus lados ou em relação às medidas de
seus ângulos; vejamos, por enquanto, como classificá-los em relação
A B r aos comprimentos de seus lados. Como todo triângulo tem três lados,
as únicas possibilidades para os comprimentos dos mesmos são que
Figura 1.18: três pontos não colineares.
haja pelo menos dois lados iguais ou que os três lados sejam diferentes
dois a dois. Assim, temos a definição a seguir.

B e C tais pontos, diremos que A, B e C são os vértices do triân- Definição 1.10. Um triângulo ABC é denominado:
gulo ABC. Mostramos, na figura 1.19, o triângulo ABC que tem por (a) Equilátero, se AB = AC= BC.
vértices os pontos A, B e C da figura 1.18.
(b) Isósceles, se ao menos dois dentre AB, AC, BC forem iguais.

c (c) Escaleno, se AB-:/= AC-:/= BC-:/= AB.

A_,,;,,,:e B

Figura 1.19: o triângulo ABC de vértices A, B e C. BbC B6C


Figura 1.20: triângulos equilátero (esq.), isósceles (centro), escaleno (dir.).
Ainda em relação a um triângulo genérico ABC, diremos que os
segmentos AB, AC e BC (ou seus comprimentos) são os lados do
Pela definição acima, todo triângulo equilátero é isósceles; no en-
triângulo; em geral, escreveremos AB = e, AC = b e BC = a para
denotar os comprimentos dos lados de um triângulo ABC (figura 1.19). tanto, a recíproca não é verdadeira (veja, por exemplo, o triângulo
A soma dos comprimentos dos lados do triângulo é seu perímetro, o ABC do centro na figura 1.20, para o qual temos claramente AB =
qual será, doravante, denotado por 2p; assim, p é o semiperímetro AC i- BC).
Quando ABC for um triângulo isósceles, tal que AB = AC, dire-
do triângulo. Nas notações da figura 1.19, temos
mos que o lado BC é a base do triângulo. Para triângulos equiláteros
. '
a+b+c podemos chamar um qualquer de seus lados de base, mas, nesse caso,
p= (1.1)
2 raramente usamos essa palavra, i.e., em geral reservamos a palavra
Os ângulos LA= LBAC, LB = LABC e LC = LACE (ou suas base para triângulos isósceles que não são equiláteros.
medidas  = BÂC, Ê = ABC e ê = AÔB) são os ângulos internos Um triângulo é um tipo particular de polígono convexo, conforme
do triângulo. a definição a seguir.
22 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
=-~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
23

Definição 1.11. Sejam n ~ 3 um natural e A1 , A 2, ... , An pontos dis-


tintos do plano. Dizemos que A 1A 2 ... An é um polígono (convexo)
<---->
se, para 1 ~ i ~ n, a reta AiAi+l não contém nenhum outro ponto
Ai, mas deixa todos eles em um mesmo semiplano, dentre os que ela ·
determina (aqui e no que segue, Ao= An, An+l = A1 e An+2 = A2).

Figura 1.22: a região poligonal correspondente ao polígono da figura 1.21.

vértices possui exatamente n ângulos internos. Na figura 1.21 mar-


camos os ângulos internos do polígono A 1 A 2 ... A5 . Um polígono con-
vexo A1A2 ... An possui exatamente dois ângulos externos em cada
um de seus vértices; no vértice A1 , por exemplo, tais ângulos são
Figura 1.21: um polígono convexo de cinco vértices (e lados). aquele formado pelo. lado A 1A 2 e pelo prolongamento do lado AnA1,
no sentido de An para A1 , bem como o ângulo oposto pelo vértice
a esse. (Na figura 1.23, marcamos os ângulos externos do polígono
Os pontos A1 , A 2 , ••• , An são os vértices do polígono; os seg- A 1 A 2 ..• Â5 no vértice A1.) Analogamente, definimos os ângulos ex-
mentos A1A2, A2A3, ... , An-1An, AnA1 (ou, por vezes, seus com- ternos de A1A2 ... An em cada um dos outros n-1 vértices restantes.
primentos) são os lados do polígono. Assim como com triângulos,
a soma dos comprimentos dos lados do polígono é o perímetro do
mesmo. A região poligonal correspondente ao polígono A 1A2 ... An
é a região limitada do plano, delimitada pelos segmentos A1A2, A2A3,
... , An-1An, AnA1 (para um exemplo, veja a figura 1.22).
Uma diagonal de um polígono é qualquer um dos segmentos AiAj
que não seja um lado do mesmo; por exemplo, o polígono A 1A2 ... Â5
da figura 1.21 possui exatamente cinco diagonais: A1A3, A1A4, A2A4,
A 2A5 e A3A 5 . · Provaremos, na proposição 1.12, que todo polígono
convexo com n lados possui exatamente n(n2- 3 ) diagonais (veja também
o problema 1, página 25).
Os ângulos convexos LAi-iÂiÂi+l (ou simplesmente LAi, 1 ~ i ~
n) são os ângulos internos do polígono. Assim, todo polígono de n
Tópicos de Matemática Elementar 2 { Antonio Caminha M. Neto
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 25
24
cada vértice do polígono, partem exatamente n - 3 diagonais. Isso nos
Em geral, dizemos que um polígono A1A2 ... An é um n-ágon~,
em referência a seu número n de lados (e de vértices). Contudo, sao daria um total de n(n - 3) diagonais (i.e., n - 3 diagonais para cada
um dos n vértices). Daria, porque cada diagonal AiA. foi contada
consagrados pelo uso os nomes quadrilátero para n = 4, pentágo~o • . J '
da maneira acima, duas vezes: uma quando contamos as diagonais
para n = 5, hexágono para n = 6, heptágono para n = 7, octo-
gono para n = 8 e decágon.o para n = 10. Ainda no que concerne que partem do vértice Ai e outra quando contamos as que partem
do vértice Ai. Portanto, para obter o número correto de diagonais
quantidades específicas de lados, é costume nomear os vértices de um
do p3olígono, devemos dividir por 2 o total n(n - 3), obtendo, então,
polígono com letras latinas maiúsculas distintas. Por exemplo, um
n(n; ) diagonais. •
quadrilátero será, em geral, denotado por ABC D e, nesse caso, sem-
pre suporemos, salvo menção explícita em contrário, que os lados do
mesmo são AB, BC, CD e DA. Observações análogas são válidas
para pentágonos, hexágonos etc. · •·
A proposição a seguir estabelece o número de diagonais de um[ Problemas - Seção 1.3
n-ágono convexo.
, . t t n(n-3) 1. Prove a fórmula para o número de diagonais de um polígono
Proposição 1.12. Todo n-ágono convexo possm exa amen e - 2- convexo (proposição 1.12) por indução sobre o número de lados
diagonais. do mesmo.
Prova. Se n = 3 não há nada a provar, uma vez que triângulos não~
2. A partir de um dos vértices de um polígono convexo podemos
têm diagonais e n(n2- 3) = O para n = 3. Suponha, pois, n 2'. 4J
traçar tantas diagonais quantas são as diagonais de um hexá-
Unindo O vértice A1 aos n - 1 vértices restantes A2, ... , An obtemos1 ; gono. Encontre o número de lados do polígono.
n - 1 segmentos; destes, dois são lados (A1A2 e A1An) e os n - 3f
restantes (A 1 A3 , ... , A 1An-i) são diagonais (figura 1.24). Como umf 3. Três polígonos convexos têm números de lados iguais a três natu-
rais consecutivos. Sabendo que a soma dos números de diagonais
An-1
dos polígonos é 133, calcule o número de lados do polígono com
maior número de diagonais.

Figura 1.24: diagonais de um n-ágono convexo partindo de A1.

raciocínio análogo é válido para qualquer outro vértice, segue que, de.
m
!ii
lf: '
'

'
]i!I
'

Tópicos de Matemática Elementar 2


:1: !
26

CAPÍTULO 2

Congruência de Triângulos

Este capítulo é devotado ao estudo de condições necessárias e sufi-


cientes para que dois triângulos possam ser considerados iguais, num
sentido a ser precisado. Discutimos, ainda, várias consequências inte-
ressantes de tais conjuntos de condições, notadamente o quinto axioma
de Euclides (também conhecido como o axioma das paralelas), a de:-
sigualdade triangular e os vários tipos de quadriláteros notáveis.

2.1 Os casos LAL, ALA e LLL


Consideremos, inicialmente, o exemplo a seguir.

Exemplo 2.1. Construa com régua e compasso um triângulo equi-


látero ABC de lados iguais a l.

Solução.
T!f

28 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 29

Assim, se dois triângulos ABC e A' B' C' forem congruentes, deve
existir uma correspondência entre os vértices de um e do outro, de
modo que os ângulos internos em vértices correspondentes sejam iguais,
bem como o sejam os lados opostos a vértices correspondentes. A
figura 2.1 mostra dois triângulos congruentes ABC e A'B'C', com a
correspondência de vértices
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
A+--+A'· B+--+B'·
' '
c-c'.
1. Marque um ponto arbitrário A no plano.
Para tais triângulos, temos então
2. Com a abertura do compasso igual a l, centre-o em A e construa
C'
o círculo de centro A e raio l.

3. Marque um ponto arbitrário B sobre tal círculo.

4. Com a abertura do compasso igual a l, centre-o em B e construa


A'z] B'
o círculo de centro B e raio l.
Figura 2.1: dois triângulos congruentes.
5. Denotando por C uma qualquer das interseções dos dois círculos
traçados, construímos um triângulo ABC, equilátero e de lado
l.
 = Â'. Ê = Ê'. ê = Ô'
• { ' '
AB = A' B'· AC = A'C'· BC = B'C' .
' '
No exemplo acima, construímos um triângulo tendo certas pro-
É imediato que a congruência de triângulos possui as duas pro-
priedades pré-estabelecidas (ser equilátero, com comprimento dos la- .•·
priedades interessantes a seguir 1 :
dos conhecido). Ao resolvê-lo, aceitamos implicitamente o fato de que
só havia, essencialmente, um triângulo satisfazendo as propriedades 1. Simetria: tanto faz dizermos que um triângulo ABC é con-
pedidas; de outro modo, qualquer outro triângulo que tivéssemos cons- gruente a um triângulo D E F quanto que D E F é congruente a
truído mereceria ser qualificado como igual ao triângulo construído, ABC, ou mesmo que ABC e DEF são congruentes. Isso porque,
uma vez que só diferiria desse por sua posição no plano. se pudermos mover ABC, sem deformá-lo, até fazê-lo coincidir
A discussão acima motiva a noção de igualdade para triângulos, 10 leitor com algum conhecimento prévio de Geometria Euclidiana notará que,
a qual recebe o nome especial de congruência: dizemos que dois no que segue, não listamos a propriedade reflexiva da congruência de triângulos.
triângulos são congruentes se for possível mover um deles no espaço, Nesse sentido, sempre que nos referirmos, em um certo contexto, a dois triângulos,
sem deformá-lo, até fazê-lo coincidir com o outro. ficará implícito que os mesmos são, necessariamente, distintos.

1
30 Tópicos de Matemática Elementar 2 31

com DEF, então certamente poderemos fazer o movimento con-


trário com DEF, até superpô-lo a ABC.

2. Transitividade: se ABC for congruente a DEF e DEF for


congruente a CHI, então ABC será congruente a CHI. Isso
porque podemos mover ABC até fazê-lo coincidir com CHI por
partes: primeiro, movemos ABC até que ele coincida com DEF
e, então, continuamos a movê-lo até que coincida com CHI.

Doravante, escreveremos 1. Marque um ponto C no plano e, em seguida, trace uma semirreta


----+
ex de origem e.
ABC A'B'C'
2. Transporte o ângulo dado para um ângulo X ÔY = "(, de vértice
----+
para denotar que os dois triângulos ABC e A' B'C' são corigruentes, C, determinando a semirreta CY de origem C.
com a correspondência de vértices
1 ----+ ----+
3. Sobre as semirretas CX e CY marque, respectivamente, os pon-
A +-----+ A'; B +-----+ B'; C +-----+ C'. 1 tos B e A tais que AC = b e BC = a.

I
Se~a:ter~ante ~ispormos d: crit~os part deci~ir se _dois triân-1
gu os a os sao ou nao congruen es. ais cn enos evenam ser os ~·

mais simples possíveis, a fim de facilitar a verificação da congruência. f Analisando os passos da construção acima notamos que, escolhendo
Esses critérios existem e são chamados casos de congruência de { outra posição para o vértice C e outra direção para os lados do ângulo
triângulos. :; L.X CY, a construção do triângulo ABC continuaria determinada pe-
No que segue, vamos estudar os vários casos de congruência de j§'.
;j
§!:
los dados do exemplo e obteríamos um triângulo que, intuitivamente,
triângulos sob um ponto de vista informal. Cada caso é precedido i gostaríamos de qualificar como congruente ao triângulo inicial. Essa
f
de um problema de construção com régua e compasso, cuja solução J discussão motiva nosso primeiro caso de congruência, conhecido como
motiva sua formalização. i
r~
o caso LAL.

Exemplo 2.2. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, Axioma 2.3 (LAL). Se dois lados de um triângulo e o ângulo for-
conhecidos BC = a, AC = b e ê = "(. mado por esses dois lados forem respectivamente iguais a dois lados
de outro triângulo e ao ângulo formado por esses dois lados, então os
Solução. dois triângulos são congruentes.
32 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 33

C' DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

1. Trace uma reta r e, sobre a mesma, marque pontos B e C tais


A'~ que BC= a.
B' ,,.._
2. Construa uma semirreta EX tal que CBX = {3.
Figura 2.2: o caso de congruência LAL. -->
3. No semiplano
,,.._
determinado porre X construa a semirreta CY
tal que BCY = 'Y.
--> -->
Em símbolos, o caso de congruência acima garante que, dados 4. Marque o ponto A como interseção das semirretas EX e CY.
triângulos ABC e A' B'C', temos:

AB = A'B'}

Aqui novamente, analisando os passos da construção acima, nota-
A~= 1'C' LAL ABC_ A'B'C',
mos que, escolhendo outra posição para o lado BC e mantendo BC =
A=A'
a, a construção do triângulo ABC continuaria determinada pelas me-
com a correspondência de vértices A +--+ A', B +--+ B', C +--+ C'. Em didas impostas aos ângulos LB e LC, de modo que obteríamos um
particular, segue, daí, que triângulo que gostaríamos de qualificar como congruente ao triângulo
inicial. Essa discussão motiva nosso segundo caso de congruência, o
caso ALA.

Consideremos, agora, o exemplo a seguir. Axioma 2.5 (ALA). Se dois ângulos de um triângulo e o lado com-
preendido entre esses dois ângulos forem respectivamente iguais a dois
Exemplo 2.4. Construa com régua e compasso o triângulo ABC,
ângulos de outro triângulo e ao lado compreendido entre esses dois
conhecidos BC = a, Ê = {3 e ê .:. . . "(.
ângulos, então os dois triângulos são congruentes.
Solução. C'

A'~
B'

vv
a
Figura 2.3: o caso de congruência ALA.

\
_i_
34 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 35

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A' B' C', temos: Uma vez mais, os passos da construção evidenciam que, com outro
posicionamento inicial para o lado BC (mantida, é claro, a condição
Â=Â' } BC = a), obteríamos um triângulo que gostaríamos de qualificar como
Ê = Í3' ALt, ABC= A'B'C', congruente ao triângulo inicial. Isto motiva, então, nosso terceiro caso
AB = A'B' de congruência, o caso LLL, enunciado a seguir.
com a correspondência de vértices A ~ A', B ~ B', C ~ C' · Em Axioma 2. 7 (LLL\ Se os três lados de um triângulo são, em alguma
particular, também devemos ter ordem, respectivamente congruentes aos três lados de outro triângulo,
então os dois triângulos são congruentes.
ê = ê', AC= A'C' e BC= B'C'.
C'
Examinemos, agora, o exemplo que motivará nosso terceiro câso
de congruência.
Exemplo 2.6. Construa com régua e compasso o triângl,llo ABC,
A'<] B'
conhecidos AB = e, AC = b e BC = a.
Figura 2.4: o caso de congruência LLL.
Solução.

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A' B'C', temos:

AB = A'B' }
BC= B'C' ~ ABC - A' B'C',
CA = C'A'
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
com a correspondência de vértices A ~ A', B ~ B', C ~ C'. Em
1. Trace uma retare, sobre a mesma, marque pontos B e C tais particular, também temos
que BC= a.
 = Â' Ê = Í3' e ê = ê'.
2. Trace os círculos de centro B e raio e e de centro C e raio b. '
Vale observar que os casos de congruência ALA e LLL decorrem
3. Marque o ponto A como um dos pontos de interseção dos círculos
do caso LAL no seguinte sentido: dados, no plano, dois triângulos
traçados no item anterior.
quaisquer, pode ser mostrado que a validade de um qualquer dos con-
• juntos de condições ALA ou LLL para os mesmos acarreta a validade
36 Tópicos de Matemática Elementar 2 rAntonio Caminha M. Neto
37

de uma condição do tipo LAL. No entanto, como tais deduções não aparecerão doravante com tanta frequência que o leitor deve se esforçar
implicariam em ganho substancial para o propósito destas notas, não por memorizá-las o quanto antes.
as apresentaremos aqui (para uma exposição, referimos o leitor a [3]).
Por fim, apresentaremos os dois últimos casos de congruência de triân- 2.8. Dado um ângulo LAOB, a bissetriz de LAOB é a
Definição --->
gulos no corolário 2.22 e no problema 1, página 54, mostrando como semirreta OC que o divide em dois ângulos iguais. Neste caso dizemos
---------+ '
tais casos podem ser deduzidos a partir dos casos ALA e LLL, estu- , ainda que OC bissecta LAO B. Assim,
dados acima.
OC bissecta LAO B {:::==} AÔC = BÔC.
Por fim, observamos que, uma vez estabelecida a congruência de
dois triângulos, sempre que não houver perigo de confusão omitiremos Assumiremos, aqui, que a bissetriz interna de um ângulo, caso
a correspondência entre seus vértices. Essa praxe será utilizada várias , exista, é única. O próximo exemplo ensina como construi-la.
vezes no restante dessas notas, de forma que exortamos o leitor, em
Exemplo 2.9. Construa com régua e compasso a bissetriz do ângulo
cada uma de tais oportunidades, a checar com cuidado a correspondên- LAOB dado abaixo.
cia apropriada entre os vértices envolvidos, para o bem da compreensão
Solução.
do texto.
B

Problemas - Seção 2.1


1. (a) Dê um exemplo mostrando dois triângulos congruentes para
os quais não seja possível mover rigidamente (i.e., sem de-
formar) um deles no plano até fazê-lo coincidir com o outro.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
(b) Em que diferem os dois triângulos congruentes do item (a)
que justifique não podermos fazer tal movimento no plano? 1. Centre o compasso em O e, com uma mesma abertura r marque
---> ---------+ '
pontos X E O A e Y E O B.
(c) Pata o exemplo do item (a), mostre como mover rigida-
mente um dos triângulos no espaço até fazê-lo coincidir com !
2. Fixe uma abertura s > XY e trace, dos círculos de raio s
o outro. e centros X e Y, arcos que se intersectem num ponto C. A
--->
semirreta OC é a bissetriz de LAO B.
2.2 Aplicações de congruência ' De fato, em relação aos triângulos X OC e Y OC construídos acima
---- -- '
temos OX = OY = r e XC = YC = s; uma vez que o lado OC
Colecionamos, nesta seção, algumas aplicações úteis dos casos de é comum aos dois triângulos, segue do caso de congruência LLL que
congruência de triângulos estudados na seção anterior. Tais aplicações XOC = YOC. Logo, XÔC = YÔC ou, ainda, AÔC = BÔC. •
Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto
:..:.:_~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 39
38

Em um triângulo ABC, a bissetriz interna relativa a BC (ou ao. De fato, em relação aos triângulos AXY e BXY, temos AX = BX
vértice A) é a porção AP da bissetriz do ângulo interno LA do triân- · e AY = BY; uma vez que o lado XY é comum aos dois triângulos,
segue do caso de congruência LLL que AXY - BXY. Portanto
gulo, desde A até o lado BC; o ponto P E BC é o pé da bissetriz ...-
........... .-... ........... '
interna relativa a BC. Analogamente, temos em ABC as bissetrizes• AXY = BXY ou, ainda, AXM = BXM. Agora, nos triângulos
internas relativas aos lados AC e AB (ou aos vértices B e C, res-. AXM e BXM, temos que AX = BX e AXM = BXM; mas, como
pectivamente), de modo que todo triângulo possui exatamente três o lado X M é comum aos mesmos, segue do caso LAL que AX M _
bissetrizes internas. Neste momento, é instrutivo o leitor desenhar um BXM. Logo, AM=BM. •
triângulo ABC, juntamente com a bissetriz interna relativa ao vértice·
A e o pé da bissetriz correspondente; a esse respeito, veja também o
Em um triângulo ABC, a mediana relativa ao lado BC (ou ao
problema 1, página 43.
vértice A) é o segmento que une o vértice A ao ponto médio do lado
Combinando os casos LLL e LAL podemos contruir também o
BC. Analogamente, temos em ABC medianas relativas aos lados
ponto médio de um segmento, i.e., o ponto que o divide em duas.
AC e AB (ou aos vértices B e C, respectivamente), de modo que
partes iguais. O próximo exemplo explica como construi-lo.
todo triângulo possui exatamente três medianas. Sugerimos ao leitor
Exemplo 2.10. Construa com régua e compasso o ponto médio do desenhar um triângulo ABC, juntamente com sua mediana relativa
segmento AB. ao vértice A e o ponto médio do lado correspondente; veja também O
problema 2, página 43.
Solução. Dadas duas retas r e s no plano, dizemos que r é perpendicular as,
que s é perpendicular a r ou, ainda, que r e s são perpendiculares
quando r e s tiverem um ponto em comum e formarem ângulos de 90º
nesse ponto (a esse respeito, veja o problema 5, página 18). Escreve-
~B mos r .ls para denotar que duas retas r e s são perpendiculares. O
A próximo exemplo mostra como usar os casos de congruência estudados
anteriormente para construir a reta perpendicular a uma reta dada e
passando por um ponto dado.

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.


Exemplo 2.11. Dados, no plano, uma retare um ponto A, construa
!
1. Fixe uma abertura r > AB e trace, dos círculos de raio r e. \ com régua e compasso uma reta 8 tal que r .ls e A E 8 .
centros A e B, arcos que se intersectem nos pontos X e Y.

2. O ponto M de interseção da reta XY com o segmento AB é o· Solução. Há dois casos a considerar:


ponto médio de AB. (a)
f~-
1
40 Tópicos de Matemática Elementar 2

A
f l
l
:.:A=n_t_o_n_i_o_C_a_m_in_h_a_M_._N_e_t_o_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __:::4.=1

De fato, temos ABA' ACA' por LLL e, daí, A'ÂB = A'ÂC. Mas,

J como A' ÂB + A' ÂC = 180º, segue que A' ÂB = A' ÂC = 90º .

Nas notações do exemplo anterior, se A tj. r, então o ponto de
interseção da reta s, perpendicular a r por A, é denominado o pé da
perpendicular baixada de A a r.

DESCRIÇÃO DOS PASSOS. Observação 2.12. Dados, no plano, um ponto A e uma reta r, é
1. Com o compasso centrado em A, descreva um arco de círculo;
possível mostrar que existe uma única reta s, perpendicular a r e
passando por A (a esse respeito, veja o problema 19, página 57).
que intersecte a reta r em dois pontos distintos B e C.
Dados, no plano, um ponto A e uma reta r, com A tj. r, a distância
2. Construa o ponto médio M de BC e faça s = AM.
do ponto A à reta r é definida como o comprimento do segmento AP,
De fato, em relação aos triângulos ABM e ACM, temos AB = AC onde Pé o pé da perpendicular baixada de A ar (cf. figura 2.5). De-
e B M = CM· como AM é lado de ambos os triângulos, segue do notando por d a distância de A a r, temos então d = AP. Provaremos
' ....-.... .....-.....
'

caso LLL que ABM - ACM e, daí, AME = AMC. Mas, como,
A
AME+ AMC = 180º, devemos ter, então, que AME = AMC = 90º
ou, ainda, AM ..ir.
d~
(b) p P' r

Figura 2.5: distância do ponto A à reta r.

na seção 2.4 (cf. corolário 2.24) que o comprimento do segmento AP


é menor que o comprimento de qualquer outro segmento unindo A a
DESCRIÇÃO DOS PASSOS. um ponto P' E r, com P' =/:- P; nas notações da figura 2.5, d< AP'.
Em um triângulo ABC, a altura relativa ao lado BC (ou ao vértice
1. Com o compasso centrado em A, descreva um semicírculo que,
A) é o segmento que une o vértice A ao pé da perpendicular baixada
intersecta a reta r nos pontos B e C. <--------->
de A à reta BC. Nesse caso, denominamos o pé da perpendicular
!
2. Trace, agora, círculos de raio r > BC e centros respectiva-: em questão de pé da altura relativa a BC. Analogamente, temos
mente em B e em C; sendo A' um dos pontos de interseção de" em ABC alturas relativas aos lados AC e AB (ou aos vértices B e
tais círculos, temos A' A..lr. C, respectivamente), de modo que todo triângulo possui exatamente
ITTllll:11

'(i'.iil'·:':
! 1

42 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 43

três alturas. A esta altura, sugerimos ao leitor desenhar um triângulo Problemas - Seção 2.2
ABC, juntamente com sua altura relativa ao vértice A e o pé da altura
correspondente; a esse respeito, veja também o problema 3, página 43. 1. Construa com régua e compasso as bissetrizes internas do triân-
Finalizamos essa seção estudando uma propriedade muito impor- gulo ABC da figura 2.7.
tante dos triângulos isósceles:
c
Proposição 2.13. Se ABC é um triângulo isósceles de base BC, :
.;,.. .;,..

então B = C.

Prova. A prova dessa proposição está embutida na justificativa que .·


demos para a construção do ponto médio de um segmento. Em todo ' A B
caso, vamos repeti-la.
Figura 2. 7: bissetrizes internas de um triângulo.

2. Construa com régua e compasso as medianas do triângulo ABC


da figura 2.8.

Figura 2.6: ABC isósceles '* Ê = ê.

Seja M o ponto médio do lado BC (figura 2.6). Como BM = ·


CM, AB = AC e AM é lado comum de AMB e AMC, segue do .
caso de congruência LLL que tais triângulos são congruentes. Logo, Figura 2.8: medianas de um triângulo.
AÊM=AÔM. •·

Corolário 2.14. Os ângulos internos de um triângulo equilátero são


todos iguais. 3. Construa com régua e compasso as alturas do triângulo ABC
da figura 2.9.
Prova. Basta observar que todos os lados de um triângulo equilátero\ Após os três problemas acima, vale a pena tecermos alguns co-
podem ser vistos como bases do mesmo, considerado como triângulo! mentários. Em primeiro lugar, é imediato, a partir das definições
isósceles. •. dadas, que as bissetrizes internas e as medianas de um triângulo
1.11.·

~ .
'1
. 44 Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
45
il
6. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo
os comprimentos AB = e, AC .:_ b e ma da mediana relativa a
BC.

7. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecidos


os comprimentos AB = e e f3a da bissetriz interna relativa ao
lado BC, bem como a medida L.BAC = a.
Figura 2.9: alturas de um triângulo.
8. * Se ABC é um triângulo isósceles de base BC, prove que a
bissetriz, a mediana e a altura relativas a BC coincidem.
estão sempre contidas no mesmo; isso não é necessariamente ·
verdadeiro para as alturas, conforme você pôde notar no úl-
9. * Sejam ABC um triângulo e P, Me H respectivamente os pés
da bissetriz interna, mediana e altura relativas ao lado BC. Se
timo problema acima. Por outro lado, você deve ter notado
P e H ou M e H coincidirem3 , prove que ABC é isósceles de
que, nas construções efetuadas nos três :problemas referidos, as·
base BC.
bissetrizes Ínternas do triângulo ABC passaram todas por um
mesmo ponto, o mesmo tendo ocorrido para as medianas e as 10. * Seja rum círculo de centro O e AB uma corda der. Se M é
alturas. Tais concorrências não são devidas aos triângulos ABC• um ponto sobre AB, prove que
escolhidos; de fato, provar que bissetrizes internas, medianas e 1
alturas de um triângulo qualquer sempre passam por um mesmo OM.lAB {:} AM = BM.
ponto será objeto da seção 3.2.

4. * Sejam dados, no plano, um ponto A e uma reta r, com A(/:. r. 2.3 Paralelismo
Dizemos que um ponto A' é o simétrico de A em relação à reta ,.
+------->
r quando AA' .lr e r passar pelo ponto médio do segmento AA'. Dadas duas retas no plano, temos somente duas possibilidades para
Mostre· como construir A' com régua e compasso2 . as mesmas: ou elas têm um ponto em comum ou não têm nenhum
ponto em comum; no primeiro caso, as retas são ditas concorrentes;
5. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecidos• no segundo, as retas são paralelas (figura 2.10).
os comprimentos AB = e, BC = a e ma da mediana relativa a '. Dados uma reta r e um ponto A não pertencente a r, gostaríamos
A. de estudar o problema de traçar, pelo ponto A, uma reta paralela à
reta r. Para tanto, precisamos do resultado auxiliar a seguir.
2 Para estudar sistematicamente reflexão como uma transformação geométrica
(cf. [15]), é necessário definirmos o simétrico A' de um ponto A em relação à reta 30 caso M = P será tratado no problema 19, página 122; veja também o
r quando A E r; nesse caso, pomos A' = A. problema 5, página 157.
1',!', 1
1
1,,'
!

Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 47


46

Exemplo 2.16. Construa com régua e compasso uma retas, paralela


à reta r e passando pelo ponto A.

Solução.
A
Figura 2.10: retas concorrentes (esq.) e paralelas (dir.). •

Lema 2.15. Em todo triângulo, a medida de cada ângulo externo é


maior que as medidas dos ângulos internos não adjacentes a ele.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
Prova. Seja ABC um triângulo qualquer e Mo ponto médio do lado. ,
---+

AC (figura 2.11). Prolongue a semirreta EM até o ponto B', tal que 1. Tome pontos C e X sobre a retare una A a C.
B M = M B', e considere os triângulos AB M e C B' M. Te~os AM =
CM, EM= B'M e AME= CMB' (ângulos OPV). Portanto, pelo 2. Construa um ângulo LCAY tal que CÂY = AêX e X e Y
<------+

caso LAL, temos AME - CMB' e, daí, B'ÔM = BÂM. Logo, estejam situados em semiplanos opostos em relação à reta AC.
<------+
XÔA > B'ÔA = B'ÔM = BÂM = BÂC. 3. A reta s = AY é paralela à reta r.

Analogamente, prova-se que X ê A > ABC. A fim de justificar a construção acima, suponha, por contradição
+------> '
que a reta AY intersecte a reta r em um ponto B (figura 2.12).
Analisemos o caso em que C E EX, sendo o outro caso totalmente
análogo.

X
Figura 2.11: a desigualdade do ângulo externo.
Figura 2.12: construção de uma paralela a uma reta por um ponto.

O exemplo abaixo mostra como fazer uma das construções co


régua e compasso mais importantes da Geometria Euclidiana, qu .• Por construção, teríamos
seja, a de uma reta paralela a uma reta dada, passando por um pont ·.
também dado. BÂC=YÂC=AÔX·
'
r.rl'.i'i. 111
1 1:
i 48 Tópicos de Matemática Elementar 2 • Antonio Caminha M. Neto 49

por outro lado, como LACX é ângulo externo do triângulo ABC,•


seguiria do lema anterior que

BÂC<AÔX,
..........
o que é uma contradição. Logo, as retas AY e r são paralelas. •

Se duas retas r e s forem paralelas, escreveremos r li s. Na Geome-'


Figura 2.13: Lobatchevsky
tria Euclidiana, não é possível deduzir, a partir de fatos mais básicos
assumidos como verdadeiros, que, por um ponto não pertencente a
uma reta dada, passa uma única reta paralela à mesma. Em seu
Assim é que, dados no plano uma reta r e um ponto A ·fj:. r, assumi-
livro Elementos, Euclides impôs a unicidade da reta paralela como ·
mos a unicidade da paralela como um postulado, conforme enunciado
um postulado, conhecido na literatura como o quinto postulado,
a seguir.
ou postulado das paralelas. Porém, para a grande maioria dos.
matemáticos que estudaram a obra de Euclides, tal postulado parecia Postulado 2.17. Dados, no plano, uma reta r e um ponto A f/:. r,
muito mais complexo que os quatro anteriores4 , o que os fez pensar,· existe uma única reta s, paralela a r e passando por A.
por vários séculos, que fosse possível deduzi-lo, como um teorema, a Uma construção da paralela a uma reta dada e passando por um
partir dos postulados anteriores. Porém, todas as tentativas de se de- ponto não pertencente à mesma, mais simples que aquela delineada
scobrir tal demonstração foram vãs. Então, ocorreu que, no início dn'. no exemplo 2.16, será vista na seção 2.5 (cf. exemplo 2.32).
século XIX, o matemático húngaro János Bolyai e o matemático russo De posse do quinto postulado, podemos enunciar e provar alguns
Nikolai Lobatchevsky mostraram, independentemente, que, de fato,. dos mais importantes resultados da Geometria Euclidiana. Para o
era necessário assumir a unicidade da paralela como um postulado. primeiro deles, suponha dadas, no plano, retas r, s e t, com t inter-
O que eles fizeram foi construir outro tipo de geometria, denominada sectando r e s nos pontos A e B, respectivamente (figura 2.14). Nas
Geometria Hiperbólica, na qual ainda são válidos os quatro primeiros. notações da figura 2.14, os ângulos a e f3 são ditos alternos internos,
postulados de Euclides, mas tal que, por um ponto fora de uma reta ao passo que os ângulos a e "( são chamados colaterais internos.
qualquer, é possível traçar infinitas retas paralelas à reta dada5 . De posse da nomenclatura acima, temos o seguinte critério para o
4 Quais
sejam: por dois pontos quaisquer podemos traçar uma única reta; todo paralelismo de duas retas.
segmento de reta pode ser prolongado em uma reta; dados um ponto e um segmento
Corolário 2.18. Nas notações da figura 2.14, temos
tendo tal ponto por extremidade, existe um círculo que tem centro no ponto dado
e raio igual ao segmento dado; todos os ângulos retos são iguais.
5 Para uma introdução elementar à Geometria Hiperbólica, bem como para
r li s <=}a= {3 <=}a+"( = 180º.

uma discussão sobre as inúmeras tentativas frustradas de se demonstrar o quinto· também o leitor a [2] ou [13] para a construção da Geometria Elíptica, na qual
postulado de Euclides, recomendamos ao leitor as referências [4] ou [13]. Referimos, duas retas quaisquer sempre se intersectam.
50 Tópicos de Matemática Elementar 2 ', Antonio Caminha M. Neto
=-~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
51

XBZS....Cy
Figura 2.15: soma dos ângulos internos de um triângulo.

Figura 2.14: ângulos alternos internos e colaterais internos. Prova. Pelo corolário 2.14, todo triângulo equilátero tem três ângulos
iguais. Mas, como a soma de tais ângulos é 180º, cada um deles deve
medir 60º. •
Prova. Inicialmente, note que, como /3 + 'Y = 180º, temos a = /3 {:}
a+ 'Y = 180º. Portanto, basta provarmos quer li s {:}a= /3. O resultado do corolário a seguir é conhecido na literatura como o
Já provamos, no exemplo 2.16, que a= /3 :* r li s, de modo que· teorema do ângulo externo.
basta provar a implicação contrária. Suponha, pois, quer 11 s. Então,
Corolário 2.21. Em todo triângulo, a medida de um ângulo externo
pelo quinto postulado, s é a única reta paralela a r e passando por B,
é igual à soma das medidas dos dois ângulos internos não adjacentes
de sorte que pode ser construída conforme prescrito no exemplo 2.16.
a ele.
Logo, segue da construção descrita naquele exemplo que a= /3. •
Outra consequência da discussão acima, ademais extremamente : Prova. Basta ver (figura 2.16) que AÔX = 180º - ê = Â + Ê, onde
relevante, é a constante do resultado a seguir. usamos a proposição 2.19 na última igualdade. •

Proposição 2.19. A soma dos ângulos internos de um triângulo é: A


igual a 180º.
<------>
Prova. Sejam ABC um triângulo qualquer e XY a reta paralela a
<-----+
BC e passando por A (figura 2.15). Pelo corolário 2.18, temos que X
B~
Ê = BÂX e ê = CÂY, de sorte que
Â+Ê+ê = Â+BÂX +CÂY = 180º. Figura 2.16: o teorema do angulo externo .

Corolário 2.20. Os ângulos de um triângulo equilátero são todos;



Vejamos, agora, como classificar triângulos quanto às medidas de
iguais a 60º. seus ângulos internos. Para tanto, note primeiro que a proposição 2.19
52 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 53

garante que todo triângulo tem no máximo um ângulo interno maior :' dados triângulos ABC e A' B' C', temos:
ou igual que 90º. De fato, se, em um triângulo ABC, tivéssemos
Â;::: 90º e Ê;::: 90º, viria que BC= B'C'}
Â
~
= Â'
~
~ ABC-A'B'C' '
 + Ê + ê >  + Ê ;::: 90º + 90º = 180º, B=B'

o que é um absurdo. Assim, um triângulo é acutângulo se todos com a correspondência de vértices A +-:+ A', B +--+ B' e C +--+ C'. Em
particular, também temos
os seus ângulos internos forem agudos, retângulo se tiver um ângulo 1 ,
reto e obtusângulo se tiver um ângulo obtuso (figura 2.17). ê = ê', AC= A'C' e AB = A'B'.
B c

~
A

A C B A

Figura 2.17: triângulos retângulo (esq.) e obtusângulo (dir.) em A.

Figura 2.18: o caso de congruencia LAAo


No caso de um triângulo retângulo, o lado oposto ao ângulo reto.
é a hipotenusa do mesmo, enquanto os outros dois lados são seus:,
catetos. Nas notações da figura 2.17, BC é a hipotenusa e AB e AC.
Prova. Basta observar que as condições  = Â' e Ê = Ê' fornecem
são os catetos. Teremos mais a dizer sobre triângulos retângulos na
seção 4.2. ê = 180º -Â-Ê = 180º -Â' -Ê' = ê'.
Terminamos esta seção estudando mais um conjunto de condições Portanto, para os triângulos em questão, temos que
suficientes para a congruência de dois triângulos, conjunto este co-;'
nhecido como o caso de congruência LAAo. O último conjunto d BC= B'C'; Ê = Ê'; ê = ê'.
condições suficientes para a congruência de dois triângulos será vist .
no problema 1, página 54.
Pelo caso ALA, tais triângulos são congruentes.

. O problema de construir um triângulo dados um htdo e dois ângulos



Corolário 2.22. Se dois ângulos de um triângulo e o lado opost' mternos, um deles oposto ao lado dado, será discutido na seção 2.5 (cf.
a um desses ângulos forem respectivamente iguais a dois ângulos d exemplo 2.34).
outro triângulo e ao lado oposto ao ângulo correspondente nesse outr .
triângulo, então os dois triângulos são congruentes. Em símbolos
54 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 55

Problemas - Seção 2.3

1. * Se dois triângulos retângulos são tais que a hipotenusa e um.


dos catetos do primeiro são respectivamente congruentes à hipo-,
tenusa e a um dos catetos do outro, prove que os triângulos são.
congruentes.

2. * ABC é um triângulo isósceles de base BC e D E AB, E E AC·


<-----> <----->
são pontos tais que DE li BC. Sendo F o ponto de interseção
7. Na figura abaixo, ser li s, prove que a+ {3 = 'Y·
dos segmentos CD e BE, mostre que B F = C F.

s
3. Seja ABC um triângulo isósceles de base BC. Prove que as
alturas, medianas e bissetrizes internas relativas aos lados AB e
AC têm comprimentos iguais.

4. Em um triângulo ABC temos  = 90º. Sendo P E AC o pé da


bissetriz interna relativa a B e sabendo que a distância de P ao ' r
lado BC é igual a 2cm, calcule o comprimento do segmento AP.
<-----> <----->
8. Na figura abaixo, temos AÊC = 20º, BÔD = 60º e DÊF = 25º.
5. Na figura abaixo, as retas AB e CD são paralelas. Sabendo que 1 <-----> <----->

as medidas dos ângulos LABC e LBC D são respectivamente \ Sabendo que as retas AB e EF são paralelas, calcule a medida
iguais a 3x - 20º e x + 40º, calcule o valor de x em graus. do ângulo CDE.

====\====: B

6. Na figura abaixo, prove quer li s {::} a = {3 (os ângulos a e /3


são denominados correspondentes). 9. Na figura abaixo, prove que a= DÂB + AÊC + BÔD.
56 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 57

B 13. * Se I é o ponto de interseção das bissetrizes internas traçadas


a partir dos vértices B e C de um triângulo ABC, prove que
BIC = 90º + JBÂC.
14. Em um triângulo ABC, sabemos que  é igual à oitava parte
A c da medida do ângulo obtuso formado pelas bissetrizes internas
dos vértices B e C. Calcule a medida do ângulo LA.
10. Calcule a soma dos ângulos nos vértices A, B, C, D e E da
estrela de cinco pontas da figura abaixo.
15. * Em um triângulo ABC, seja Ia o ponto de interseção das
bissetrizes externas relativas aos vértices B e C. Prove que
...... o 1 ..-.
c E BiaC = 90 - 2 BAC.

16. Um triângulo ABC é isósceles de base BC. Os pontos D sobre


BC e E sobre AC são tais que AD = AE e BÂD = 48º.
"'
Calcule CD E.

B 17. O triângulo ABC é isósceles de base BC. Os pontos D e F


A sobre o lado AB e E sobre o lado AC são tais que BC = CD =
DE= EF = F A. Calcule a medida do ângulo LBAC.
D 18. (Torneio das Cidades.) ABCDEF é um hexágono tal que as
diagonais AD, BE e C F passam todas por um mesmo ponto
11. * Dado um n-ágono convexo, faça os seguintes itens: M, que as divide ao meio. Prove que  + Ê + ê = 180º.

(a) Prove que o polígono pode ser particionado em n - 2 triân- 19. * Dados, no plano, uma reta r e um ponto A, prove que há
gulos, utilizando-se para tanto n - 3 diagonais que só se exatamente uma retas tal quer ..is e A E s.
intersectam em vértices do mesmo.
20. Em um triângulo ABC, isósceles de base BC, as alturas relativas
(b) Conclua que a soma dos ângulos internos do polígono é aos lados iguais medem 10cm cada.
180º(n - 2).
(a) Sendo P um ponto qualquer sobre a base BC, calcule a
(c) Conclua que a soma de seus ângulos externos (um por vér-1
soma das distâncias de P aos lados AB e AC.
tice) do polígono é 360º. <---->
(b) Sendo Q um ponto qualquer sobre a reta BC mas não
12. * Em um triângulo ABC,
seja Mo ponto médio do lado BC.! situado sobre a base BC, calcule a diferença das distâncias
<----> <---->
Se AM =!BC, mostre que BÂC = 90º. de Q às retas AB e AC.
58 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 59

21. No triângulo ABC, o ponto D E BC é o pé da bissetriz interna A


relativa a A. Prove que ADC - AD B = Ê - ê.

22. O triângulo ABC, isósceles de base BC, é tal que BÂC = 20º.
Marcamos pontos D E AC e E E AB tais que DÊC = 60º e:
. f:>cx
B C
EêB = 50º. Calcule BDE.
Figura 2.19: ordem dos lados e ângulos de um triângulo.
2.4 A desigualdade triangular
O objetivo principal desta breve seção é provar que, ern todo triân- Prova. Basta observar que, se  ~ 90º, então  é o maior ângulo de
gulo, os cornprirnentos dos lados guardam urna certa relação, descrita. ABC, de rnodo que BC é, pela proposição anterior, o maior lado. •
na proposição 2.26). Cornecernos estabelecendo urna relação entre os, Corolário 2.25. Sejam ABC e A' B'C' dois triângulos tais que AB =
cornprirnentos dos lados e as medidas dos ângulos a eles opostos, a 1
A'B' e AC= A'C'. Se BÂC < B'Â'C', então BC< B'C'.
qual tern interesse independente. <----->
Prova. Seja a o semiplano determinado por AC e que contém B.
Proposição 2.23. Se ABC é urn triângulo tal que Ê > ê, então
D D
AC> AB.
Prova. Corno Ê >
-----+
ê, podemos traçar (cf. figura 2.19) a semirreta
...-.. .......... ..-.
BX, intersectando o interior de ABC e tal que CBX = HB - C).
---->
Sendo P o ponto de interseção de BX corn o lado AC, segue do c
teorema do ângulo externo que
A c
..... ...... ..... 1 ..... ..... ..... 1 .-... .-... Figura 2.20: triângulos com um par de lados iguais e ângulos desiguais.
AP B = c BP+ BCP = 2(B - C) + c = 2(B + C).

Mas, corno AÊP = Ê- HB-ê) = !(Ê + ê), segue que o triângul; Se D é o ponto de a tal que DÂC = B'Â'C', então DAC _ B'A'C'
ABP é isósceles de base BP. Portanto, por LAL, de sorte que DC = B'C'. Basta, pois, mostrar que DC >
BC ou, pela proposição 2.23, que DÊC > BDC. Há dois casos a
considerar:

(a) A e D pertencem a urn rnesrno semiplano ern relação a BC (cf.


Corolário 2.24. Se ABC é urn triângulo tal que  ~ 90º, então BC
figura 2.20, à esquerda): então
seu maior lado. Ern particular, nurn triângulo retângulo a hipotenus ·
é o maior lado. DÊC > DÊA= BDA > BDC.
t..
íl)[TI
'!, 1
:!',
i
'
60 Tópicos de Matemática Elementar 2 . Antonio Caminha M. Neto 61

<------t

(b) A e D pertencem a semiplanos opostos ern relação a BC (cf. figura pela proposição 2.23 é suficiente rnostrarrnos que BDC < DÊC. Mas,
2.20, à direita): corno o triângulo ABD é isósceles de base BD, ternos •· desde que BDA = DÊA, basta observarmos que
----+

que AÊD < 90º. Portanto, sendo E o ponto de interseção de AB . BDC=BDA=DÊA<DÊA+AÊC=DÊC


corn CD, segue que

DÊC = DÊE + EÊC > DÊE = 180º -DÊA> 90º.



Sendo a, b e e os cornprirnentos dos lados de urn triângulo, segue
Mas, corno urn triângulo só pode ter urn ângulo obtuso, segue que da desigualdade triangular que
DÊC>BêD. • a < b + e, b < a + e, e < a + b.
A proposição a seguir é o resultado principal desta seção, sendo · Reciprocamente, dados segmentos cujos cornprirnentos a, b e e satisfa-
conhecida corno a desigualdade triangular. zem as desigualdades acima, não é difícil provar que é sempre possível
construirmos urn triângulo tendo tais segmentos corno lados.
Proposição 2.26. Ern todo triângulo, cada lado tern cornprirnento
Terrninarnos esta seção colecionando duas consequências interes-
menor que a sorna dos cornprirnentos dos outros dois lados ..
santes da desigualdade triangular.
Prova. Seja ABC urn triângulo tal que AB = e, AC = b e BC = a. Exemplo 2.27. Se Pé urn ponto situado no interior de urn triângulo
Mostremos que a < b+c, sendo a prova das demais desigualdades total- : ABC, então:
mente análoga. Marque (cf. figura 2.21) o ponto D sobre a semirreta.
----+ .
(a) PB+ PC< AB+ AC.
C A tal que A E CD e AD = AB.
(b) PA+ PB+ PC< AB + AC+ BC.
D
Prova. ----+
(a) Prolongue a semirreta BP até que a rnesrna encontre o lado AC
no ponto Q (cf. figura 2.22). Aplicando a desigualdade triangular
sucessivamente aos triângulos CPQ e ABQ, obtemos
PB+ PC < PB+ (PQ+ CQ) = BQ+ CQ
c < ( AB + AQ) + CQ = AB + AC.
(b) Argumentando de rnodo análogo à prova do itern (a), ternos P A+
Figura 2. 21: a desigualdade triangular. PB < AC+ BC e PA+ PC< AB+ BC. Sornando ordenadamente
essas duas desigualdades corn aquela do itern (a), obtemos
Urna vez que 2(PA+ PB +PC)< 2(AB +AC+ BC).
CD = AC+ AD = AC+ AB = b + e,

62 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 63

A

B c
Problemas - Seção 2.4
Figura 2.22: consequências da desigualdade triangular.
1. Se dois lados de um triângulo isósceles medem 38cm e 14cm,
calcule seu perímetro.
Exemplo 2.28. Na figura 2.23, construa com régua e compasso o
ponto P E r para o qual a soma P A+ P B seja a menor possível. 2. Encontre o intervalo de variação de x no conjunto dos reais,
Solução. Se A' é o simétrico de A em relação a r (cf. problema 4; . sabendo que os lados de um triângulo são expressos em cen-
página 44), afirmamos que o ponto P desejado é o ponto de interseção : tímetros por x + 10, 2x + 4 e 20 - 2x.
de A' B com r. Para provar este fato, seja Q outro ponto qualquer
3. Em um triângulo ABC, o lado AB tem por comprimento um
B número inteiro de centímetros. Calcule o maior valor possível

para AB, sabendo que AC= 27cm, BC= 16cm e que ê <
A Â<Ê .

4. Em um triângulo ABC, escolhemos aleatoriamente pontos P E
r BC, Q E AC e R E AB, todos diferentes dos vértices de
ABC. Prove que o perímetro do triângulo PQR é menor que o
perímetro do triângulo ABC.
Figura 2.23: menor percurso que toca uma reta.
5. Se a, b e e são os comprimentos dos lados de um triângulo, prove
que lb - cl < a.
de r. (Faça uma figura para acompanhar o raciocínio.) O fato de
A' ser o simétrico de A em relação a r garante que AQ = A'Q e, · 6. (Torneio das Cidades.) Se a, b, e são os comprimentos dos lados
analogamente, AP = A' P. (Prove isto!) Tais igualdades, juntamente·. de um triângulo, prove que a3 + b3 + 3abc > c3 .
com a desigualdade triangular, fornecem sucessivamente
7. Dado um quadrilátero convexo ABCD, prove que o ponto P do
A'P+ BP= A'B plano para o qual a soma P A+ P B + PC+ P D é mínima é o
< A'Q + BQ = AQ + BQ. ponto de concurso das diagonais de ABC D.
64 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 65

8. Seja n ~ 3 um inteiro dado. Prove que, em todo n-ágono vamos considerar aqui, os principais são, certamente, os paralelogra-
convexo, o comprimento de cada lado é menor que a soma dos mos, qualificados na definição a seguir.
comprimentos de n - 1 lados restantes.
Definição 2.29. Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se
9. Na figura abaixo, as semirretas r e s são perpendiculares. Cons- possuir lados opostos paralelos.
trua com régua e compasso os pontos B E r e C E s para os ·
quais a soma AB + BC+ CD seja a menor possível.

+------+ +------+ +------+ +-----+


D Figura 2.24: ABCD paralelogramo~ AB li CD e AD li BC .

No que segue, vamos enunciar várias maneiras equivalentes de de-


10. Seja ABC um triângulo retângulo em B e tal que AB > BC.·. finir paralelogramos. O leitor deve guardar tais resultados como pro-
Dado um ponto P no interior de ABC, prove que P A+ P B + priedades notáveis dessa classe de quadriláteros, a serem usadas opor-
PC< AB+ AC. tunamente.

11. * Seja ABC um triângulo equilátero de lado l. Se P e Q são. Proposição 2.30. Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se,
pontos situados respectivamente sobre AB e AC, distintos dos. e só se, seus ângulos opostos forem iguais.
vértices de ABC, prove que BQ + PQ + CP> 2l. Prova. Suponha, primeiro, que o quadrilátero convexo ABC D é um
+------+ +------+

12. (União Soviética). Em um país, certo dia, um avião partiu de· paralelogramo (figura 2.24). Então AD li BC e, como os ângulos
cada cidade com destino à cidade mais próxima. Se as distâncias ' LA e LB do paralelogramo são colaterais internos em relação à reta
+---+ .-.. .-... ...-. ...-.
entre as cidades são duas a duas distintas, prove que em nenhuma . AB, temos A + B = 180º. Analogamente, B + C = 180º e, daí,
cidade aterrissaram mais de cinco aviões. Â = 180º - Ê = ê. Do mesmo modo, Ê = D.
Reciprocamente, seja ABC D um quadrilátero convexo tal que  =
Ô e Ê = D (figura 2.25). Então Â+Ê = ê+D e, como Â+Ê+ê+D =
2. 5 Quadriláteros notáveis 360º (cf. problema 11, página 56), temos  + Ê = ê + D = 180º.
Iniciamos, nesta seção, o estudo sistemático da geometria dos qua- Analogamente,  + D = Ê + ê = 180º. Agora, como  + Ê = 180º, o
+------+ +------+ ...- ...-.

driláteros. Dentre os vários tipos particulares de quadriláteros que ' corolário 2.18 garante que AD li BC. Da mesma forma, B+C = 180º
I i

66 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 67


<-----+ <-----+
nos dá AB li CD, de maneira que ABCD tem lados opostos paralelos, e CDB são congruentes por LLL, donde segue que ADE= CÊD e
i.e., é um paralelogramo. AÊD = CDB. Mas tais igualdades, juntamente com o corolário 2.18,
+-----+ +----+ +----+ +-----+
acarretam em AD li BC e AB li CD. •

Figura 2.25: Â = ê e Ê = Í5 * ABCD paralelogramo.


·LSZº
A B

Figura 2.27: AB = CD e AD= BC* ABCD paralelogramo .

•• A proposição anterior nos permite apresentar uma construção sim-


Proposição 2.31. Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se, ·
e só se, seus pares de lados opostos forem iguais. ples da paralela a uma reta dada por um ponto fora da mesma, con-
forme ensina o exemplo a seguir.
Prova. Suponha, primeiro, que o quadrilátero convexo ABC D é um
Exemplo 2.32. Dados, no plano, uma reta r e um ponto A ~ r,
paralelogramo (figura 2.26). Então, já sabemos que  = ê. Por outro··
t---t +----+ .-... .-... '. construa com régua e compasso a reta paralela a r e passando por A.
lado, como AD li BC, temos ADE= CBD. Portanto, os triângulos•.
ABD e CDB são congruentes por LAAo e segue, daí, que AB = CD· Solução.
e AD= BC.
A

A
!SZº B
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
r

Figura 2.26: ABCD paralelogramo* AB = CD e AD= BC. 1. Com o compasso centrado em A, trace um círculo a, que inter-
secte a reta r nos pontos distintos B e C.
Reciprocamente, seja ABC D um quadrilátero convexo tal que 2. Ainda com o compasso centrado em A, trace o círculo f3 de raio
AB = CD e AD = BC (figura 2.27). Então, os triângulos ABD igual a BC.
68 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 69

3. Com o compasso centrado em C, trace o círculo I de raio igual 4. Trace por D a paralela a AB e por B a paralela a AD; em
ao raio de a. seguida, marque o ponto C de interseção das duas retas traçadas.

4. Marque o ponto D de interseção de f3 e 1 , situado no mesmo 5. ABC D é, claramente, um paralelogramo que satisfaz as condi-
semiplano que A em relação à reta r. ções do enunciado.

5. Pela proposição anterior, ABC D é um paralelogramo; portanto,


+------->

a reta AD é paralela à reta r. •


Exemplo 2.34. Construa o triângulo ABC, dados o comprimento a
• do lado BC e as medidas a e (3, respectivamente dos ângulos internos
ÂeÊ.
Os dois exemplos a seguir trazem aplicações úteis da construção
delineada no exemplo acima. Solução.

Exemplo 2.33. Construa com régua e compasso um paralelogramo,


conhecendo os comprimentos a e b de seus lados e o ângulo a entre ·
dois de seus lados.

Solução.

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

1. Trace uma reta r e marque, sobre a mesma, um segmento BC


de comprimento igual a a.

2. Construa um ângulo LCBX, de medida igual a (3.


DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
3. Construa o ângulo LBXY, de medida igual a a e tal que Y esteja
1. Trace uma reta r e marque sobre a mesma um segmento AB de situado no mesmo semiplano que Cem relação à reta EX.
comprimento igual a b. +------->
4. Trace, pelo ponto C, a paralela à reta XY; em seguida, marque
2. Construa um ângulo LBAX, de medida igual a a. A como o ponto de interseção dessa paralela com a reta B X.
----t

3. Marque, sobre a semirreta AX, o ponto D tal que AD = a.



70 Tópicos de Matemática Elementar 2, Antonio Caminha M. Neto 71

Voltando à discussão geral de paralelogramos, o resultado a seguir relativa ao vértice A (ou ao lado BC); analogamente, N P e MP são,
traz mais uma caracterização útil desses quadriláteros. respectivamente, as bases médias de ABC relativas aos vértices B e C
(ou aos lados AB e AC, também respectivamente). Por fim, o triân-
Proposição 2.35. Um quadrilátero convexo é um paralelogramo se,
e só se, suas diagonais se intersectam nos respectivos pontos médios. A

Prova. Primeiramente, seja ABC D um paralelogramo e M o ponto


+-----+ +-----+
de interseção de suas diagonais (figura 2.28). De AB li CD, segue que
BÂM = DÔM e AÊM = CDM. Como já sabemos que AB = CD/
segue que os triângulos AB M e CD M são congruentes por ALA. Logo;
AM= CM e BM= DM. p c
Figura 2.29: bases médias de um triângulo.

A
Jx!º B
gulo M N P (i.e., o triângulo que tem por lados as bases médias do
triângulo ABC) é o triângulo medial de ABC.
As propriedades de paralelogramos obtidas anteriormente nos per-
Figura 2.28: ABCD paralelogramo~ AM = CM e BM = DM. mitem provar, na proposição a seguir, um importante resultado sobre
as bases médias de um triângulo, conhecido como o teorema da base
média.
Reciprocamente (veja, ainda, a figura 2.28), seja ABCD um qu
drilátero tal que suas diagonais AC e BD se intersectam em M, Proposição 2.36. Seja ABC um triângulo qualquer. Se MN é a base
+-----+ +-----+
ponto médio de ambas. Então, MA= MC, MB = MD e AME-' média de ABC relativa a BC, então MN li BC. Reciprocamente, se
CMD (ângulos OPV), de modo que os triângulos ABM e CDM s- · pelo ponto médio M do lado AB traçarmos a paralela ao lado BC,
congruentes, por LAL. Analogamente, BCM e DAM também s- então tal reta intersecta o lado AC em seu ponto médio N. Ademais,
111: congruentes· por LAL. Tais congruências nos dão, respectivamente' em um qualquer dos casos acima, temos
i i,1
"11
1
AB = CD e BC = AD, o que já sabemos ser equivalente ao fato d
ABC D ser paralelogramo.

Para o que segue, definimos uma base média de um triângul .


como um segmento que une os pontos médios de dois de seus lados' Prova. Para a primeira parte, nas notações da figura 2.30, tome M'
-->

Assim, todo triângulo possui exatamente três bases médias. Nas noi sobre M N tal que M N = N M'. Como N é o ponto médio de AC
tações da figura 2.29, as bases médias do triângulo ABC são os seg 1 e ANM = CNM' (ângulos OPV), os triângulos AMN e CM'N são
mentos M N, N P e MP. Dizemos, ainda, que M N é a base média congruentes por LAL. Portanto, M'C = MA e M'ÔN MÂN,
72 Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto 73

+----> +---->

donde segue (via corolário 2.18) que M'C li AM. Assim,


f-----+, +--+ +------t +--+ +------+ +--+

li N
BM = AM = M'C e BM = AM M'C. P. •
Tendo dois lados opostos iguais e paralelos, o problema 1, página 85
garante que o quadrilátero M BCM' é um paralelogramo. Mas, como •
M
em todo paralelogramo os lados opostos são iguais e paralelos, temos ,
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
+----> +----> +---->
BCII MM'= MN e BC= MM'=2MN. +---->
1. Trace por M a reta r, paralela à reta N P.
+---->
A 2. Trace por Na retas, paralela à reta MP.
+---->
3. Trace por P a reta t, paralela à reta MN.

4. De acordo com a proposição anterior, temos s n t = {A}, r n t =


{B}erns={C}.
B

Figura 2.30: medida da base média de um triângulo.



Para o que segue, recorde que uma mediana de um triângulo é um
segmento que une um vértice do mesmo ao ponto médio do lado oposto
Reciprocamente, seja r a reta que passa pelo ponto médio M do a esse vértice. Evidentemente, todo triângulo possui, exatamente, três
+---->
lado AB e é paralela ao lado BC. Como M N também passa por Me é; medianas. Por outro lado, como aplicação do teorema da base média
paralela a BC, segue do quinto postulado de Euclides (postulado 2.17) e das propriedades de paralelogramos, mostraremos, na proposição a
+---->
que r coincide com M N; em particular, N E r. • seguir, que as medianas de um triângulo intersectam-se em um único
ponto, denominado o baricentro do triângulo.
O exemplo a seguir traz uma primeira aplicação do teorema da:
Proposição 2.38. Em todo triângulo, as três medianas passam por
base média.
um único ponto, o baricentro do triângulo. Ademais, o baricentro
Exemplo 2.37. Construa o triângulo ABC, conhecidas as posições divide cada mediana, a partir do vértice correspondente, na razão 2 : 1.
dos pontos médios M, N e P dos lados BC, C A e AB, respectiva-
Prova. Sejam N e P, respectivamente, os pontos médios dos lados
mente.
AC e AB, e seja BN n CP= {G1 } (figura 2.31). Sejam, ainda, S
Solução. e Tos pontos médios dos segmentos BG 1 e CG1 , respectivamente.
74 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 75

Observe, agora, que N P é base média de ABC relativa a BC e ST é seus pontos notáveis; os demais ( circuncentro, incentro e ortocentro)
base média de BCG 1 relativa a BC; logo, pelo teorema da base média, serão estudados na seção 3.2.
tanto N P quanto ST são paralelos a BC e têm comprimento igual à z' Conforme observamos anteriormente, o problema 1, página 85,
+-----> +----->
metade de BC. Portanto, NP = ST e NPII ST, de modo que, garante que um quadrilátero com dois lados opostos paralelos e iguais
novamente pelo problema 1, página 85, NPST é um paralelogramo. é um paralelogramo. Pode ocorrer, entretanto, que saibamos somente
Segue, pois, da proposição 2.35 que PG1 = G1T e NG1 = G1S. que dois lados opostos de um quadrilátero são paralelos, podendo
Mas, como BS = SG 1 e CT = TG 1, segue que BS = SG1 = G1N ou não ser iguais. Neste caso, dizemos que tal quadrilátero é um
e CT = TG 1 = G1P, igualdades que, por sua vez, fornecem BG1 = trapézio (figura 2.32). Assim, todo paralelogramo é, em particular,
2G1N e CG 1 = 2G1P. um trapézio, mas é fácil nos convencermos de que a recíproca não é
verdadeira.
A

;--~
D C

A B
+-----> +----->
B c Figura 2.32: um trapézio ABCD, com AB li CD.

Figura 2.31: as medianas e o baricentro.


Em todo trapézio, os dois lados sabidamente paralelos são suas
bases, sendo o maior (resp. menor) deles a base maior (resp. base
Agora, se M for o ponto médio de BC e G 2 for o ponto de interseção'.
menor); os outros dois lados (sobre os quais em princípio nada sabe-
das medianas AM e EN, concluímos, analogamente, que G 2 divide
mos, mas que podem também ser paralelos, caso o trapézio seja,
AM e EN na razão 2 : 1 a partir de cada vértice. Mas, daí, segue·
em particular, um paralelogramo) são os lados não paralelos6 do
que os pontos G 1 e G 2 são tais que BG 1 = 2 G1N e BG2 = 2 G2N; 1

trapézio. Nas notações da figura 2.32, AB e CD são as bases e BC e


isso implica, claramente, em G 1 _ G 2 . Por fim, chamando de G o:_
AD os lados não paralelos do trapézio ABCD.
ponto G 1 - G 2 , segue que AM, EN e CP concorrem em G e que
G divide cada uma das medianas na razão 2 : 1, a partir do vértice 6 Essa nomenclatura é bastante infeliz, uma vez que sugere que, ao conside-
correspondente. • ! rarmos um paralelogramo como trapézio, chamemos os outros dois lados de não
paralelos, violando assim a própria definição de paralelogramo! Entretanto, nos
ateremos a ela pelo fato de a mesma ser consagrada pelo uso. Na prática, tal
Doravante, salvo menção em contrário, denotaremos o baricentro convenção não resultará em confusão, uma vez que, o mais das vezes, os trapézios
de um triângulo ABC por G. O baricentro de um triângulo é um de' que consideraremos aqui não serão paralelogramos.
76 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 77

Ao lidarmos com problemas envolvendo construções geométricas '


em um trapézio ABCD, como o da figura 2.32, é frequentemente útil ·
observarmos (cf. figura 2.33) que, se E e F são os pontos sobre a reta I

<----+
AB tais que ADCE e BDCF são paralelogramos, então:

1. O triângulo BCE é tal que BE= AB - CD, CE= AD e


Bê E = ângulo entre as retas suportes dos lados não paralelos ,
AD e BC.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
ii. O triângulo ACF é tal que AF = AB + CD, CF = BD e 1. Inspirado pela figura 2.33, construa um triângulo ACF tal que
Aê F = ângulo entre as diagonais AC e BD. AC= d1 , CF = d2 e AêF = 135º.

2. Marque o ponto B sobre a semirreta AE, tal que AB = a .


. •i
D c <----+
3. Trace, por B, a reta r paralela à reta C F e, por C, a reta s
f 1
paralela à reta AF.
<----+

4. Marque D como o ponto de interseção das retas r e s.


A E F

Figura 2.33: paralelogramos associados ao trapézio ABCD.


••
Antes de prosseguir, precisamos de mais algumas convenções acerca
de trapézios, quais sejam: o segmento que une os pontos médios dos
lados não paralelos de um trapézio é a base média do mesmo, ao
Utilizaremos a discussão acima no exemplo a seguir. passo que o segmento que une os pontos médios das diagonais de um
trapézio é sua mediana de Euler 7 • A proposição a seguir nos en-
Exemplo 2.39. Construa um trapézio ABCD, de bases AB e CD, sina como calcular os comprimentos de tais segmentos em termos dos
sabendo que as diagonais AC e BD formam um ângulo de 135º uma · comprimentos das bases do trapézio.
com a outra e conhecendo os comprimentos AB = a, AC = d1 e Proposição 2.40. Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e
BD= d2. lados não paralelos AD e BC. Sejam, ainda, Me Nos pontos mé-
dios dos lados não paralelos AD e BC, respectivamente, e P e Q os
Solução. 7 Após Leonhard Euler, matemático suíço do século XVIII.
78 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 79

pontos médios das diagonais AC e BD, também respectivamente (cf. A fim de completar nosso estudo dos tipos particulares mais ele-
figura 2.34). Então: mentares de quadriláteros, vamos estudar, agora, retângulos e losan-
.......... .......... .......... gos. Um quadrilátero (convexo, como sempre) é um retângulo se
(a) M, N, P e Q são colineares e MN li AB, CD. todos os seus ângulos internos forem iguais. Como, pelo problema 11,
(b) MN = !(AB + CD) e PQ = !I AB- CDI. página 56, a soma dos ângulos internos de um quadrilátero é sempre
igual a 360º, segue que um quadrilátero é um retângulo se, e só se,
D b c todos os seus ângulos internos forem iguais a 90º. Um quadrilátero é
um losango se todos os seus lados forem iguais. A figura 2.35 mostra
exemplos de um retângulo e de um losango.
1
H
1,,

A a B

Figura 2.34: base média e mediana de Euler de um trapézio.


F

Figura 2.35: o retângulo ABCD e o losango EFGH.


Prova. Nas notações da figura 2.34, como MP é base média do triân-
.......... ..........
gulo DAC, segue da proposição 2.36 que MP li CD e MP =
t Por outro lado, como MQ é base média do triângulo ADE, a
+-----+- +-----+- ,·
Como os lados opostos de um retângulo são sempre paralelos (uma
vez que são ambos perpendiculares a um qualquer dos outros dois la-
proposição 2.36 também nos diz que MQ 11 AB e MQ =
.......... ..........
Mas,
..........
t dos), todo retângulo é um paralelogramo. Por outro lado, a proposição
como AB li CD, segue do quinto postulado de Euclides que MP= 2.31 garante que todo losango também é um paralelogramo.
MQ, i.e., M, P e Q são colineares. Ademais, A discussão acima permite definir a distância entre duas retas pa-
- - - - - a b a-b ralelas. Para tanto, observe, inicialmente, que se r e s são retas para-
PQ= MQ- MP= 2 - 2 = - 2- . lelas, então (cf. corolário 2.18) uma reta t é perpendicular ar se, e só
Agora, argumentando analogamente com as bases médias N Q e. se, for perpendicular a s.
.

NP dos triângulos CBD e ABC, respectivamente, concluímos que P; Definição 2.41. Se r e s são retas paralelas, a distância entre r e
Q e N são colineares e NQ = t
Portanto, segue do que fizemos acima_ s é o comprimento de qualquer segmento PQ tal que P E r, Q E s e
+-->
que PQl.r, s.
Para ver que a definição acima tem sentido, tome P, P' E r e sejam
.......... ..........
Q,Q' Estais que PQ, P'Q'l.r (cf. figura 2.36). Então, PQQ'P' é
80 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 81

um quadrilátero com quatro ângulos iguais a 90º, logo um retângulo. 3. Trace, por B e B', respectivamente as retas s e s', paralelas à
Portanto, PQ = P'Q'. reta r. As retas s e s' são as retas desejadas.

s Q Q' •

r
[ l
p P'
Voltando à discussão geral de retângulos e losangos, colecionamos
nas proposições 2.43 e 2.46 a seguir caracterizações úteis de tais qua-
driláteros.
Proposição 2.43. Um paralelogramo é um retângulo se, e só se, suas
diagonais tiverem comprimentos iguais.
Figura 2.36: distância entre duas paralelas.
Prova. Se ABCD é um retângulo de diagonais AC e BD (figura 2.35),
então DÂB = ADC = 90º e (por ABCD também ser paralelogramo)
Ainda em relação à definição anterior, o exemplo a seguir mostra : AB = DC. Mas, como os triângulos DAB e ADC partilham o lado
como construir as paralelas a uma reta r dada e situadas a lima dis- AD, os mesmos são congruentes por LAL. Em particular, AC= BD.
tância de r também dada. Reciprocamente, suponha que ABC D é um paralelogramo tal que
AC= BD (figura 2.37). Como também temos AB = DC, os triân-
Exemplo 2.42. Construa com régua e compasso as retas paralelas à ·

Q<(ª
reta r e situadas à distância d de r.

Solução.

A B

Figura 2.37: ABCD paralelogramo tal que AC= BD.


r
gulas D AB e ADC (que partilham o lado AD) são novamente con-
.i 1:111111
gruentes, agora por LLL. Logo, DÂB = ADC. Mas, uma vez que
.1111·111i!'
.J1il, .'::1, ABCD é um paralelogramo, temos D ÂB + ADC = 180º e, daí,
·11·111
DÂB = ADC = 90º. Analogamente, AÊC = DêB = 90º e ABCD
1

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.


é um retângulo. •
1. Marque um ponto A sobre r e construa, por A, a reta t..lr.
O corolário a seguir traz uma consequência extremamente útil da
2. Marque sobre t os pontos B e B' tais que AB = AB' = d. proposição anterior.
82 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 83

Corolário 2.44. A mediana relativa à hipotenusa de um triângulo


retângulo é igual à metade da mesma.

Prova. Seja ABC um triângulo retângulo em A (figura 2.38). Trace, mih


por B, a paralela a AC e, por C, a paralela a AB; seja, ainda, D o
ponto de interseção de tais retas. Como BÂC+AÊD = 180º e BÂC =

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

l. De acordo com o corolário anterior, temos BC= 2m. Construa,


c D
pois, um tal segmento BC e marque seu ponto médio M.

2. Trace (cf. exemplo 2.42) uma reta r, paralela à reta BC e


situada à distância h de r.

3. Obtenha as possíveis posições do vértice A como os pontos de


interseção da reta r com o círculo de centro M e raio m.

Figura 2.38: a mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo. •


Voltemo-nos, agora, à caracterização prometida dos losangos.

Proposição 2.46. Um paralelogramo é um losango se, e só se, tiver


90º, segue que AB D = 90º. Analogamente, AêD = 90º. . . e, como a .
soma dos ângulos de ABDC é 360º, segue, daí, que BDC = 90º. diagonais perpendiculares.
Portanto, o quadrilátero ABDC é um retângulo, donde AD= BC e Prova. Suponha, primeiro, que EFGH é um losango de diagonais
o ponto M de interseção de AD e BC é o ponto médio de ambos tais EG e FH (figura 2.35). Como EF = EH e GF = GH, os triângulos
segmentos. Logo, BC= AD= 2AM. • ' EFG e EHG são congruentes por LLL. Portanto, sendo Mo ponto
de interseção das diagonais EG e F H, temos
Exemplo 2.45. Construa um triângulo retângulo ABC, conhecendo
os comprimentos m e h, respectivamente da mediana e da altura rela- FÊM = FÊG = HÊG = HÊM.
tivas à hipotenusa BC.
Assim, EM é bissetriz do ângulo L.F EH do triângulo E F H, o qual
I· é isósceles de base FH, e o problema 8, página 45, garante que EM
+-----> +-----> +----->
Solução. também é altura relativa a F H. Logo, F H 1- EM= EG.
!
84 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 85

Reciprocamente, seja EFGH um paralelogramo de diagonais per- . Observação 2.47. Sejam To conjunto dos trapézios, P o conjunto
pendiculares EG e F H (figura 2.39). Como EG e F H se intersectam . dos paralelogramos, R o conjunto dos retângulos, .C o conjunto dos
no ponto médio M de ambas (pois EFGH é paralelogramo), segue losangos e Q o conjunto dos quadrados. Segue do que vimos nesta
que, no triângulo EHG, o segmento H M é mediana e altura relativa- seção que
mente ao lado EG. Portanto, pelo problema 9, página 45, temos que I Ru.CcPcT
{
EH= GH. Mas, como EH= FC e EF = GH, nada mais há a 1 Rn.C=Q
fazer. •
todas as inclusões sendo estritas.
H

Problemas - Seção 2.5


F
Figura 2.39: EGl.FH::::} EFGH losango.
1. * Se dois segmentos são iguais e paralelos, prove que suas extre-
midades são os vértices de um paralelogramo.

Há um último tipo de quadrilátero que desejamos estudar, o qua- 2. Seja ABC D um quadrilátero qualquer. Mostre que os pontos
drado. Um quadrilátero é um quadrado quando for simultanea- ' médios de seus lados são os vértices de um paralelogramo.
mente um retângulo e um losango (figura 2.40). Assim, quadrados :
3. Uma reta r passa pelo baricentro G de um triângulo ABC e
deixa o vértice A de um lado e os vértices B e C do outro.
Prove que a soma das distâncias de B e C à reta r é igual à
distância de A a r.
'!":,::
111)1111
l,.•:1il1

4. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo


;11111111!
Figura 2.40: o quadrado ABCD. os comprimentos a do lado BC, bem como os comprimentos ma
e mb, respectivamente das medianas relativas aos lados BC e
AC.
são quadriláteros de ângulos e lados iguais; ademais, suas diagonais
são também iguais e perpendiculares, se intersectam ao meio e for- 5. Prove que, em todo triângulo, a soma dos comprimentos das
mam ângulos de 45º com os lados do quadrilátero. (Prove esta última ! i
medianas é menor que do perímetro e maior que do perímetro
afirmação!) do triângulo.
86 Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto 87

6. (Inglaterra.) Considere um círculo de centro O e diâmetro AB. 15. (Torneio das Cidades.) Sejam ABCD um retângulo de diagonais
Prolongue uma corda qualquer AP até um ponto Q, tal que P AC e BD e M, N, P e Q pontos situados respectivamente sobre
seja o ponto médio de AQ. Se OQ n BP= {R}, calcule a razão. os lados AB, BC, CD e AD, todos distintos dos vértices do
entre os comprimentos dos segmentos RQ e RO. retângulo. Mostre que o perímetro do quadrilátero M N PQ é
maior ou igual que o dobro da diagonal do retângulo. Quando a
7. Seja ABCD um trapézio de bases AB = 7cm e CD= 3cm e
igualdade ocorre?
lados não paralelos AD e BC. Se  = 43º e Ê = 47º, calcule a;
distância entre os pontos médios das bases do trapézio. 16. * (Hungria.) Em um triângulo ABC, sejam Mo ponto médio
8. São dados no plano um paralelogramo ABC D, de diagonais AC do lado BC e P o pé da perpendicular baixada de B à bissetriz
e BD, e uma reta r não intersecta ABCD. Sabendo que as interna relativa ao vértice A. Prove que
distâncias dos pontos A, B e C à reta r são respectivamente ; - 1- -
iguais a 2, 3 e 6 centímetros, calcule a distância de D ar. PM= 2IAB- AGI.

9. As bases AB e CD de um trapézio têm comprimentos a e b,


respectivamente, com a > b. Se os lados não paralelos são AD e .
BC e L.BCD = 2L.DAB, prove que BC= a - b.
10. Seja ABCD um trapézio no qual o comprimento da base maior
AB é igual ao comprimento da base menor CD somado ao com- ·
primento do lado não paralelo BC. Se o ângulo em A medir 70º,,
calcule o ângulo e.

11. Construa com régua e compasso um trapézio, conhecidos os com-


primentos a e b de suas bases, e e e d de seus lados não paralelos. :.

12. * (OCM.) Um triângulo ABC é retângulo em A e tal que BC=··


2 AB. Calcule as medidas em graus de seus ângulos.
i illll[
111·11111]11,
13. Em um triângulo ABC, sejam Mo ponto médio do lado BC e
11i 11,i':::: Hb e Hc, respectivamente, os pés das alturas relativas a AC e :
AB. Prove que o triângulo M HbHc é isósceles.
j,
1
14. Sejam ABCD um quadrado de diagonais AC e BD e E um
ponto sobre o lado CD, tal que AE = AB + CE. Sendo F o
ponto médio do lado CD, prove que E ÂB = 2 · F ÂD.
i
1
88 Tópicos de Matemática Elementar 2

CAPÍTULO 3

Lugares Geométricos

O conceito de lugar geométrico, desenvolvido neste capítulo, re-


sulta essencial para uma compreensão mais profunda da abordagem
aqui desenvolvida da Geometria Euclidiana, usualmente conhecida
como o método sintético. De posse de tal noção, estaremos aptos
a discutir várias propriedades notáveis de triângulos e quadriláteros,
ressaltando-se, dentre elas, o problema de inscritibilidade dos mesmos
em círculos.

3.1 Lugares geométricos básicos


Começamos esta seção apresentando o conceito de lugar geométri-
co, na definição a seguir.
90 Tópicos de Matemáticà Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto 91

Definição 3.1. Dada uma propriedade P relativa a pontos do plano, , Para o próximo exemplo, dados os pontos A e B no plano, defini-
o lugar geométrico (abreviamos LG) dos pontos que possuem a pro- 1 mos a mediatriz do segmento AB como sendo a reta perpendicular
priedade P é o subconjunto [, do plano que satisfaz as duas condições '. a AB e que passa por seu ponto médio.
a seguir:
Exemplo 3.4. Construa, com régua e compasso, a mediatriz do seg-
(a) Todo ponto de [, possui a propriedade P. mento AB dado a seguir.

(b) Todo ponto do plano que possui a propriedade P pertence a C. : Solução.

Em outras palavras, [, é o LG da propriedade P se [, for constituído .


exatamente pelos pontos do plano que têm a propriedade P, nem mais
nem menos. No que segue, vamos estudar alguns lugares geométricos; A~B
elementares, assim como algumas aplicações dos mesmos.

Exemplo 3.2. Dados um real positivo r e um ponto O do plano, o'.


LG dos pontos do plano que estão à distância r do ponto O é o círculo;
de centro O e raio r: DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

AO= r ~ A E f(O;r). !
1. Com uma mesma abertura r > AB, trace os círculos de raio
r, centrados em A e em ,....__.
B; se X e Y são os pontos de interseção
de tais círculos, então XY é a mediatriz de AB.

De fato, sendo M o ponto de interseção dos segmentos XY e AB,


'

'
1

1
.,
vimos no exemplo 2.10 que M é o ponto médio de AB. Por outro
o lado, como o triângulo X AB é isósceles de base AB e X M é mediana
relativa à base, o problema 8, página 45, garante que X M também é
+----->
altura de X AB. Portanto, XY passa pelo ponto médio de AB e é
perpendicular a AB, logo coincide com a mediatriz de AB. •
Figura 3.1: círculo como LG.
A proposição a seguir caracteriza a mediatriz de um segmento como
LG.

Exemplo 3.3. Conforme vimos no exemplo 2.42, o LG dos pontos doC Proposição 3.5. Dados os pontos A e B no plano, a mediatriz do
plano, situados à distância d de uma reta ré a união das retas ses', segmento AB é o LG dos pontos do plano que equidistam de A e de
paralelas a r e situadas, cada uma, à distância d de r. B.
.r, 11,:,:·1.(
1;
i
I·"
il
.i

1 92 Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto 93


1

Prova. Sejam M o ponto médio e m a mediatriz de AB (figura 3.2).· O papel da bissetriz de um ângulo como LG está essencialmente
Se P E m, então, no triângulo P AB, P M é mediana e altura e, daí,: contido na proposição a seguir.
o problema 9, página 45, garante que o triângulo PAB é isósceles de
baseAB. Logo, PA= PB. Proposição 3.6. Seja LAO B um ângulo dado. Se P é um ponto do
mesmo, então
------> ------>
d(P, AO) = d(P, BO) ~ P E (bissetriz de LAOB).

B Prova. Suponha, primeiro, que P pertence à bissetriz de LAOB


(figura 3.4) e sejam M e N, respectivamente, os pés das perpendicu-
.......... +---->
A lares baixadas de P às retas AO e BO. Os triângulos OMP e ONP
são congruentes por LAAo, uma vez que MÔP = NÔP, OMP =
ONP = 90º e OP é lado comum aos mesmos. Daí, PM = PN, ou
+----> <------>
seja, d(P, AO) = d(P, BO).
Figura 3.2: P E (mediatriz de AB) =} PA = PB.

A
Reciprocamente, seja P um ponto no plano tal que
(figura 3.3). Então, o triângulo PAB é isósceles de base AB, donde. o
segue que a mediana e a altura relativas a AB coincidem. Mas/
como a mediana de P AB relativa a AB é o segmento P M, segue
que P M .lAB, o que é o mesmo que dizer que PM é a mediatriz d~
AB. ------> ------>
Figura 3.4: P E (bissetriz de L'.'.AOB) =} d(P, AO) = d(P, BO).
p

I illlllll Reciprocamente, seja P um ponto no interior do ângulo LAOB,


B
:,il ,.Ji'
1 1!''''
tal que P M = P N, onde M e N são os pés das perpendiculares bai-
,Ili:'l 1'1:1 11'11 ,____. +---->

A xadas de P respectivamente às retas AO e BO. Então, os triângulos


MOP e NOP são novamente congruentes, agora pelo caso CH (haja
vista termos O P como hipotenusa comum e P M = P N - veja o pro-
Figura 3.3: PA = PB =} P E (mediatriz de AB).
blema 1, página 54). Mas aí, MÔP = NÔP, de forma que P pertence
à bissetriz de LAO B. •

'.l
, rl
:·' il

94 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 95

Exemplo 3.7. Dadas, no plano, retas r e s, concorrentes em O, vimos, determinado problema, cumpre examinarmos as propriedades
na proposição anterior, que um ponto P do plano equidista de r e s' geométricas da situação em estudo com bastante cuidado, ten-
se, e só se, P estiver sobre uma das retas que bissectam os ângulos tando identificar, em cada caso, dois LGs aos quais o ponto
formados por r e s (em negrito, na figura 3.5). Assim, o LG dos i pertença. Devendo pertencer simultaneamente a dois LGs, o
pontos do plano que equidistam de duas retas concorrentes é a união . ponto fica determinado pelas interseções dos mesmos.
das bissetrizes dos ângulos formados por tais retas.
Vejamos, em um exemplo simples, como funciona a execução do
programa acima.
r
Exemplo 3.8. Construa, com régua e compasso, um círculo passando
pelos pontos A e B e tendo seu centro sobre a reta r.

Prova.
s A

•B
Figura 3.5: as bissetrizes de duas retas concorrentes como LG.

Após termos estudado os LG's mais básicos, vale a pena discor-


rermos um pouco sobre o problema geral da construção com régua ,
e compasso de urna figura geométrica satisfazendo certas condições. DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
De outro modo, o tratamento padrão para um tal problema consiste, :
basicamente, na execução dos dois passos seguintes: 1. Supondo o problema resolvido, queremos um círculo como o da
figura a seguir:
1. Supor o problema resolvido: construímos um esboço da figura .
possuidora das propriedades desejadas, identificando na mesma . A
os dados do problema e os elementos que possam nos levar à
solução.

2. Construir os pontos-chave para a solução: um ponto-chave é o


todo ponto que, uma vez construído, torna imediatas as constru-
ções subsequentes necessárias e, em última análise, a solução do
problema em questão. Para construir o(s) ponto(s)-chave de um
1 (i!
1

96 Tópicos de Matemática Elementar 2 , Antonio Caminha M. Neto 97

2. Nosso ponto-chave será o centro O do círculo, uma vez que, , 6. Construa, com régua e compasso, o triângulo ABC, conhecidos
encontrada sua posição, bastará centrarmos o compasso nele, . os comprimentos AB = e, BC = a e ha da altura baixada a
com abertura O A, a fim de construir o círculo pedido. A fim , partir de A.
de construir O, precisamos de dois LG's aos quais O pertença.
Um deles é a própria reta r, pois é pedido que O pertença ar; 7. Construa o triângulo ABC conhecendo as retas concorrentes r
por outro lado, como OA e OB são raios, temos OA = OB e, e s, suportes dos lados AB e AC, respectivamente, e os compri-
assim, O também deve pertencer à mediatriz do segmento AB, · mentos hb e hc das alturas respectivamente relativas aos vértices
que, por conseguinte, é nosso segundo LG. B eC.

Feita a análise acima, resta construir a mediatriz do segmento AB, ·• 8. São dados, no plano, uma reta r, um ponto A (j. r e dois segmen-
obter sua interseção O com a reta r e, em seguida, traçar o círculo , tos, de comprimentos a e b. Construa, com régua e compasso,
solução, que é aquele de centro O e raio O A = O B. • , todos os pontos B do plano tais que AB = a e d( B, r) = b. Sob
que condições sobre a e b há solução?

9. Construa com régua e compasso um triângulo ABC, conhecidos


os comprimentos a do lado BC, ha da altura relativa a A e hb
Problemas - Seção 3.1 da altura relativa a B.
1

1
1. Construa um círculo de raio dado r, que passe por dois pontos 10. São dados no plano uma reta r e um ponto A, com A (j. r. O
dados A e B. Sob que condições há solução? ponto B varia em r. Encontre, com justificativa, o LG descrito
2. Identifique e construa, com régua e compasso, o LG do vértice ·' pelo ponto médio do segmento AB.
A de um segmento AB, conhecida a posição do vértice B e o 11. Em uma folha de papel está desenhado um círculo a, mas seu
comprimento e de AB.
centro não está marcado. Mostre como obter a posição do mesmo
3. Construa com régua e compasso um triângulo ABC, conhecidos com régua e compasso.
os comprimentos e do lado AB, a do lado BC e a medida a do
12. Temos no plano do papel um círculo r, de centro O, e uma
ângulo LBAC.
reta r que não intersecta r. Identifique e construa, com régua
4. Identifique o LG do vértice A do triângulo ABC, conhecidas as e compasso, o LG dos pontos médios das cordas de r que são
posições dos vértices B e C e o comprimento ma da mediana paralelas à reta r.
relativa ao lado BC.
13. Construa o triângulo ABC, conhecendo o semiperímetro p do
5. Identifique e construa com régua e compasso o LG dos pontos mesmo e as medidas /3 e "/ dos ângulos LB e LC, respectiva-
do plano equidistantes de duas retas paralelas dadas r e s. mente.
1

1 1
98 Tópicos de Matemática Elementar 2, Antonio Caminha M. Neto 99

14. (Holanda.) É dado no plano um segmento AB e um ponto P A


sobre ele. De um mesmo lado da reta AB, construímos os triân- ·
gulos retângulos isósceles APQ e BP R, de hipotenusas AP e t
BP, respectivamente. Em seguida, marcamos o ponto médio
M do segmento Q R. Encontre o LG descrito pelo ponto M, à
medida que P varia sobre o segmento AB.
B 1
1
c
r'
3.2 Pontos notáveis de um triângulo
Figura 3.6: o circuncentro de um triângulo.
Nesta seção, aplicamos o conceito de lugar geométrica para estudar.·•.
mais alguns pontos notáveis de um triângulo, quais sejam, o circuncen-,: B
tro, o ortocentro e o incentro. Lembre-se, ainda, de que já definimos e:
estudamos as propriedades do baricentro na proposição 2.38.

Proposição 3.9. Em todo triângulo, as mediatrizes dos lados passam


todas por um mesmo ponto, o circuncentro do mesmo.
A c
'1.

Prova. Sejam ABC um triângulo qualquer, r, se t, respectivamente,· DESCRIÇÃO DOS PASSOS.


as mediatrizes dos lados BC, CA e AB, e O o ponto de interseção das
retas r e s (figura 3.6). 1. Trace as mediatrizes dos segmentos AB e AC.
Pela caracterização da mediatriz de um segmento como LG, temos
2. O circuncentro de ABC é o ponto de interseção das mesmas.
OB = OC (pois O E r) e OC = OA (pois O E s). Portanto,
O B = O A e segue, novamente da caracterização da mediatriz como :
LG, que O E t. •
• Como corolário da discussão acima, podemos estudar o problema
da concorrência das alturas de um triângulo. Note primeiro que, caso
o triângulo seja obtusângulo (figura 3.7), as alturas que não partem
Exemplo 3.10. Construa, com régua e compasso, o circuncentro do .
do vértice do ângulo obtuso são exteriores ao mesmo.
triângulo ABC dado na figura abaixo.
Proposição 3.11. Em todo triângulo, as três alturas se intersectam
Solução. em um só ponto, o ortocentro do triângulo.
Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto 101
100

Figura 3.9: ortocentro de um triângulo acutângulo.


Figura 3.7: alturas de um triângulo obtusângulo.

Por outro lado, a altura relativa a BC também é perpendicular a


<----> <---->

Prova. Seja ABC um triângulo qualquer. Há três casos a considerar:'. NP, já que BC e N P são paralelas. Do mesmo modo, as alturas re-
lativas a AC e AB são respectivamente perpendiculares a MP e MN.
(a) ABC é retângulo (figura 3.8): suponhamos, .sem perda dé generali~ Segue que as alturas do triângulo ABC são as mediatrizes dos lados
dade, que BÂC = 90º. Então, A é o pé das alturas relativas aos lados, do triângulo MNP. Mas já provamos que as mediatrizes dos lados
AB e AC. Como a altura relativa ao lado BC passa (por definição); de um triângulo são concorrentes, de modo que as alturas de ABC
por A, segue que as alturas de ABC concorrem em A. devem ser concorrentes.

c (e) ABC é obtusângulo: a prova é totalmente análoga à do caso (b) .



Coletamos, no corolário a seguir, uma consequência interessante
B
da demonstração acima. Para o enunciado do mesmo, recorde (cf.
A
discussão à página 71) que o triângulo medial de um triângulo ABC
é aquele que tem por vértices os pontos médios dos lados de ABC.
Figura 3.8: ortocentro de um triângulo retângulo.
Corolário 3.12. O circuncentro de um triângulo é o ortocentro de
(b) ABC é acutângulo (figura 3.9): trace, respectivamente por A, B seu triângulo medial.
C, retas r, se t paralelas a BC, CA e AB (também respectivamente),;,
Prova. Nas notações do item (b) na prova acima, ABC é o triângulo
e sejam rns = {P}, snt = {M}, tnr = {N}. Então, os quadriláteros,
medial do triângulo M N P e as mediatrizes dos lados de M N P são
ABCN e ABMC são paralelogramos, de sorte que CN = AB = CM
as alturas de ABC; portanto, o circuncentro de M N P coincide com
e, daí, C é o ponto médio de M N. Analogamente, B é o ponto médi'
' o ortocentro de ABC. Os demais casos são totalmente análogos. •
de MP e A o ponto médio de NP.
rr
r,

102 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 103

Exemplo 3.13. Construa, com régua e compasso, o ortocentro d A


triângulo ABC dado a seguir.

Solução.
A

c B c
Figura 3.10: incentro de um triângulo.
B

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.


Exemplo 3.15. Construa, com régua e compasso, o incentro do triân-
gulo ABC dado a seguir.
1. Trace a reta r, perpendicular a BC e passando pelo-vértice A
Solução.
+----->
2. Trace a retas, perpendicular a AC e passando pelo vértice B: A
3. O ortocentro de ABC é o ponto de interseção das retas r e s.
c
Examinemos, por fim, o ponto de concurso das bissetrizes intern
B
Proposição 3.14. As bissetrizes internas de todo triângulo concorre
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
em um único ponto, o incentro do triângulo.

ill'''i,li Prova. Sejam r, s e t, respectivamente, as bissetrizes internas d


-
1. Trace a semirreta AX, bissetriz interna de ABC relativa ao
l 1·11111
'%:111
vértice A.
ângulos LA, LB e LC do triângulo ABC (figura 3.10) e I o ponto d
''11111111;
,111i1:.,1

11111·1111·11:1:
1
11
interseção das retas r e s. Como I E r, ~ e da caracterização d
bissetrizes como LG, dada à proposição 3.6, que I equidista dos lad
-
2. Trace a semirreta BY, bissetriz interna de ABC relativa ao
1i1i l : 1!1m
vértice B.
AB e AC de ABC. Analogamente, I E s garante que I equidist
AX
dos lados AB e BC. Portanto, I equidista de AC e BC e, usan .•
novamente a referida caracterização das bissetrizes, concluímos que e -
3. O incentro de ABC é o ponto de interseção das semirretas
BY.
pertence à bissetriz do ângulo LC, ou seja, à reta t.
concorrem em I.

r
i\
1·.1r11
1

1
i

104 Tópicos de Matemática Elementar , Antonio Caminha M. Neto 105


1 '

!
Terminamos esta seção com uma observação notacional impo: 3.3 Tangência e ângulos no círculo
tante: via de regra, ao estudarmos a geometria de um triângulo AB .
:i
salvo menção em contrário denotaremos por G seu baricentro, por Comecemos esta seção estudando uma das mais importantes noções
i
''
: !
'!
seu ortocentro, por I seu incentro e por O seu circuncentro. da Geometria Euclidiana, qual seja, a de reta e círculos tangentes.
I j
Dizemos que um círculo r e uma reta r são tangentes ou ainda
'
que a reta r é tangente ao círculo r, se r e r tiverem exatamente '
um ponto P em comum. Nesse caso, P é denominado o ponto de
Problemas - Seção 3.2 tangência de r e r.
A proposição a seguir ensina como construir uma reta tangente a
1. De um triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices B. um círculo dado e passando por um ponto do mesmo.
C e do circuncentro O. Explique porque a posição do vértice '
não fica determinada. Proposição 3.16. Sejam rum círculo de centro O e Pum ponto de
<---->
r. Se t é a reta que passa por P e é perpendicular a OP, então t é
2. De um triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices· tangente a r.
e Cedo incentro J. Construa, com régua e compasso, o vérti,
A. Prova. Seja R o raio der. Se Q =/=Pé JUtro ponto de t (figura 3.11),
temos QO > PO = R, uma vez que Q PO = 90º é o maior ângulo do
3. De um triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices B
triângulo O PQ. Portanto, Q ~ r e, assim, P é o único ponto comum
C e do ortocentro H. Construa, com régua e compasso, o vérti ate ar. •
A.

4. Numa folha de papel estão desenhadas duas retas concorrent,


r e s. Ocorre que, devido ao tamanho da folha, o ponto de inte:
seção deres não pode ser marcado no papel. Seja Pum pon'
no papel, tal que as perpendiculares baixadas de P respectiv
mente às retas r e s intersectem as retas s e r (também respec'
vamente) em pontos situados na folha do desenho. Mostre co o
construir, com régua e compasso, uma reta t, passando por P
concorrente simultaneamente com r e s.

5. Seja ABC um triângulo de ortocentro H, incentro I e circunce,


tro O. Mostre que ABC é equilátero se, e só se, dois quaisqu; Figura 3.11: círculo e reta tangentes.
dos pontos H, I e O coincidirem.
106 Tópicos de Matemática Elementar·· 107

O próximo exemplo exercita a construção explicitada na demon J:xemplo 3.18. Se A, B, C e D são pontos sobre um círculo r, tais
tração acima. · que 08 ângulos centrais LAOB e LCOD são iguais, então AB = CD.
Exemplo 3.17. Nas notações da figura abaixo, construa, com rég:
Prova. Su~nha (cf. figura 3.12) que AÔB = CÔD < 180º (o caso
e compasso, uma reta r, tangente ar em P. · AÔB = COD > 180º pode ser tratado de modo análogo). Como
Solução.

o• A...,:;.---.......,,.,

D ,----=::::::::...i
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
Figura 3.12: cordas de ângulos centrais iguais.
1. Trace a reta OP.

2. Construa, pelo ponto P, a reta r, perpendicular a OP.


AO= CO, BO = DO e AÔB = CÔD, os triângulos AOB e COD
são congruentes por LAL, de sorte que AB = CD. •
Não é difícil provar (cf. problema 1, página 120) que a reta t
Outra importante classe de ângulos em um círculo é aquela for-
gente a um círculo r por um ponto P do mesmo é única. Por out,
mada pelos ângulos inscritos. Por definição, um ângulo inscrito num
lado se P for exterior ao círculo, provaremos na proposição 3.26 q.
' círculo é um ângulo cujo vértice é um ponto do círculo e cujos lados
há exatamente duas retas tangentes a r e passando por P. _
são duas cordas do mesmo. A proposição, conhecida como o teorema
Voltemo-nos, agora, ao estudo de certos ângulos em um círcul
do ângulo inscrito a seguir nos ensina a calcular sua medida.
Dado, no plano, um círculo r de centro O, um ângulo central e
r é um ângulo de vértice O e tendo dois raios O A e O B por lad : Proposição 3.19. Se AB e AC são cordas de um círculo de centro O,
Em geral, tal ângulo central será denotado por LAO B e o conte • então a medida do ângulo inscrito LBAC é igual à metade da medida
tornará claro a qual dos dois ângulos LAO B estamos nos referind do ângulo central LBOC correspondente.
Por definição, a medida do ângulo central LAO B é igual à medi
do arco A~B correspondente. O exemplo a seguir mostra que ângul · Prova. Consideremos três casos separadamente:
centrais iguais subentendem cordas também iguais.
~
'
'
'

i '
108 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 109

(a) O ângulo LBAC contém o centro O em seu interior (figura 3.13,


como os triângulos O AC e O AB são isósceles, de bases respectiv ,
mente AC e AB, temos OÂC = OÔA = a e OÂB = OÊA = (3'
digamos. Segue, pois, que BÂC = a+ /3 e, pelo teorema do ânguf
A ....,,:=----~---....r. A'
externo (corolário 2.21), que CÔA' = 2a e BÔA' = 2/3. Daí, o
BÔC = BÔA' + CÔA' = 2(a + /3) = 2BÂC.

Figura 3.14: ângulo inscrito quando o centro não pertence ao mesmo.

Dados um círculo r de centro O e uma corda AB de r, um caso


particular importante da proposição anterior é aquele em que AB é
um diâmetro de r (figura 3.15). Sendo P um ponto der distinto de
A e de B, segue da, referida proposição que
~ 1
APB = 2 · 180º = 90º.

Figura 3.13: ângulo inscrito quando o centro pertence ao mesmo.

(b) O ângulo LBAC não contém o centro O (figura 3.14):


mais, temos O AC e O AB isósceles de bases AC e AB. Ademais A4<'-------~B
sendo OÂC . OÔA = a e OÂB = OÊA = /3, temos BÂC = /3-a e
o
novamente pelo teorema do ângulo externo, CÔA' = 2a e BÔA' = 2l
Logo,
BÔC = BÔA' - CÔA' = 2(/3 - a) = 2BÂC.
Figura 3.15: ângulo inscrito em um semicírculo.
(c) O centro O está sobre um dos lados de LBAC:
caso é análoga àquela dos dois casos anteriores e será deixada comâ O caso limite de um ângulo inscrito é aquele de um ângulo de
exercício para o leitor. segmento (figura 3.16): seu vértice é um ponto do círculo e seus
~'
1

110 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 111

lados são um uma corda e o outro a tangente ao círculo no vértice do


ângulo. A proposição a seguir mostra que podemos calcular a medida'.
de ângulos de segmento de maneira análoga ao cálculo das medidas de
ângulos inscritos.

Figura 3.17: medida de um ângulo ex-cêntrico interior.

Figura 3.16: medida de um ângulo de segmento. A proposição a seguir ensina como calcular medidas de ângulos ex-
cêntricos. A esse respeito, veja também o problema 16, página 122.

Proposição 3.21. Sejam AB e CD duas cordas de um círculo, cujas


Proposição 3.20. Nas notações da figura 3.16, a medida do ângul'
retas suportes se intersectam em um ponto E.
de segmento LBAC é igual à metade do ângulo central LAOB cor;
respondente. (a) Se E for interior ao círculo, então a medida do ângulo ex-cêntrico
+---> <-----+ ...... interior LAEC é igual à média aritmética das medidas dos arcos
Prova. Seja BÂC = a. Como ACl_AO, temos ABO .--... .--...
AC e BD subentendidos.
90º - a e, daí,
(b) Se E for exterior ao círculo, então a medida do ângulo ex-cêntrico
BÔA = 180º - 2(90º - a) = 2a = 2BÂC.
exterior LAEC é igual ao módulo da semidiferença das medidas
.--... .--...
dos arcos BD e AC subentendidos.

Outra maneira útil de generalizarmos ângulos inscritos é consider Prova.


ângulos ex-cêntricos mas, nesse caso, há dois tipos distintos, quai (a) Basta aplicar sucessivamente o teorema do ângulo externo (coro-
sejam, os interiores e os exteriores. Um ângulo ex-cêntrico interio: lário 2.21) e o resultado da proposição 3.19:
(figura 3.17) é um ângulo formado por duas cordas de um círculo que se. ...- ...-. ...- 1 , .-. . 1 .,--..
intersectam no interior do mesmo; um ângulo ex-cêntrico exterior ,, AEC = ADC +BAD = 2 AC+ 2 BD.
um ângulo formado por duas cordas de um círculo que se intersectam
no exterior do mesmo. (b) Exercício.

íl
'
' ! 1
·_.',1·
1
_;·<'

112 Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto 113

Exemplo 3.22. Sejam A, B, C e D pontos sobre um círculo r, tais pontos A e B em comum. Tais arcos são os arcos capazes de a em
que as cordas AC e BD se intersectam no interior de r. Se ~ N, P relação a AB.
e Q denotam, respectivamente, os pontos médios dos arcos AB (que, Prova. Primeiramente, analisemos o caso Oº < a < 90º. Seja (cf.
.---.. .---.. <---+ ~

não contém C), BC (que não contém D), CD (que não contém A) e, figura 3.18) P (/:. AB tal que APB = a. Se P' é o simétrico de P em
,,....._ <---+ <---+ <---+ <---->
I i AD (que não contém B), prove que MP 1- N Q. relação à reta AB (cf. problema 4, página 44), então AB é a mediatriz
de PP' e, daí, AP . AP' e BP= BP'. Portanto, os triângulos ABP
Prova. Nas notações do enunciado e da figura abaixo, sejam e ABP' são congruentes por LLL, de sorte que AP' B = APB = a .
.---.. .---.. ,,....._
2a,
,,....._
BC= 2(3, CD=
.---..
2')' e AD= 28. Então a+ (3 + 'Y + 8 = 180º e: Analogamente, AP' B = a acarreta AP B = a, de forma que, para
M N = a + f3 e PQ = 'Y + 8. Portanto, sendo E o ponto de concurso p

~
de MP e NQ, temos
~ 1 .---.. .---.. 1
MEN = 2( MN + PQ) = 2((a + (3) + ('Y + 8)) = 90º.

P'
Figura 3.18: APB = AP'B.

estudar o LG pedido, podemos nos restringir somente aos pontos P


'
1./11"1!
1
1 •• ,,, M situados em um dos semiplanos que a reta AB determina. Doravante,
<---->
D suporemos que tal semiplano é aquele situado acima da reta AB (cf.
figura 3.19).
Em tal semiplano, seja O o ponto tal que AO B é um triângulo
Q isósceles de base AB, com AÔB = 2a (note que Oº < 2a < 180º no
caso que estamos considerando). Sendo OA = OE= R, seja r o arco
de círculo, de centro O e raio R, situado acima da reta AB. Sendo P
A proposição a seguir estabelece a existência e explica como cons- um ponto qualquer de r, temos pelo teorema do ângulo inscrito que
truir um importante lugar geométrico, o arco capaz de um ângulo''. ~ 1 ~
dado. APB= -AOB=a
2 '
Proposição 3.23. Dados um segmento AB e um ângulo a, com Oº<· de modo que P pertence ao LG procurado.
a < 180º, o LG dos pontos P do plano tais que AP B = a é a reunião Seja, agora, P' um ponto do semiplano superior, tal que P' (/:. r;
de dois arcos de círculo, simétricos em relação à reta AB e tendo os•• mostremos que P' não pertence ao LG desejado. Sendo R a região

1 '
L
114 Tópicos de Matemática Elementar
Antonio Caminha M. Neto 115

A O B

Figura 3.20: arco capaz (superior) de 90° sobre AB.

Figura 3.19: arco capaz (superior) de a sobre AB. A prova ·da proposição anterior também ensina como construir os
arcos capazes de um ângulo a sobre AB, quando Oº < a :::; 90º:
se a = 90º, temos somente de construir o círculo de diâmetro AB.
limitada do plano, delimitada por r e AB, há duas possibilidades: Suponha, pois Oº < a < 90º. Nas notações da prova da referida
P' E R ou P f/:. R U r. Analisemos o caso em que P' E R, sendo a proposição, como OÂB = OÊA, temos
i
!I análise do outro caso totalmente análoga. Nas notações da figura 3.19;;
. li ~ ~ 1 ~ 1
Ili segue do teorema do ângulo externo e da discussão do parágrafo an- OAB =OBA= 2(180º - AOB) = 2(180º - 2a) = 90º - a;
,·1111
· :,.11
terior que
.assim, obtemos o centro O do arco capaz superior como sendo a inter-
].:!Ili:,, AP'B = APB + PÂP' > APB = a,
seção das semirretas que partem de A e de B, estão situadas em tal
de sorte que P' não pertence ao LG procurado. semiplano e formam ângulos de 90º - a com o segmento AB. Obser-
Voltemo-nos, agora, ao caso em que a = 90º, observando inF vamos, por fim, que o caso 90º < a < 180º pode ser tratado de modo
cialmente que, como no caso anterior, um argumento de simetria re:. análogo (cf. problema 17, página 122).
f--+ :1

duz o problema aos pontos do semiplano situado acima da reta AB., Exemplo 3.24. Construa com régua e compasso o arco capaz superior
Agora, a discussão do parágrafo imediatamente posterior à prova da;; de a sobre AB.
proposição 3.19 garante que todo ponto do semicírculo de diâmetro AB:
situado no semiplano superior pertence ao LG em questão (figura 3.20). Prova.

~
Reciprocamente, se P é um ponto do semiplano superior, tal que!
APB = 90º, e O é o ponto médio de AB, então o corolário 2.44 garante\
!
que PO = AB = AO. Assim, P pertence ao semicírculo de centro;
O e diâmetro AB.
Por fim, para o caso 90º < a < 180º, remetemos o leitor ao pro-· A B
blema 17, página 122. 1
116 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 117

DESCRIÇÃO DOS PASSOS. 1. Trace a mediatriz do segmento AB e marque seu ponto O' de
interseção com o arco capaz dado.
1. De acordo com a discussão acima, construa, no semiplano supe- :
---+ ---+ .-.. .......
rior, as semirretas AX e BY tais que BAX = ABY = 90º -a. 2. Use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que o arco de
centro O' e raio O A = O B, contido no mesmo semiplano que o
2. Marque o centro O do arco capaz pedido como o ponto de inter-· arco dado é o arco pedido.
--> -->
seção das semirretas AX e BY.

• Dentre outros problemas interessantes, podemos usar arcos capazes
para examinar o problema de traçar as tangentes a um círculo por um
O próximo exemplo mostra que há uma relação simples (e, con-
forme veremos nos problemas desta seção, útil) entre os arcos capazes· ponto exterior ao mesmo, conforme ensina nosso próximo resultado.
de um ângulo e de sua metade. Proposição 3.26. Dados, no plano, um círculo r e um ponto P ex-
Exemplo 3.25. A figura abaixo mostra um dos arcos capazes do terior ao mesmo, há exatamente duas retas tangentes a r e passando
ângulo a sobre o segmento AB. Construa, com régua e compasso, o'. por P.
arco capaz de !a sobre AB, correspondente ao arco capaz dado. Prova. Sejam O o centro do círculo dado e A e B os pontos de inter-
seção do mesmo com aquele de diâmetro OP (figura 3.21). Pelas
Solução.
discussões anteriores, os semicírculos superior e inferior do círculo
traçado podem ser vistos como os arcos capazes de 90º sobre OP
........... .-. ~ +---4

e, daí, OAP = OBP = 90º. Portanto, OA..lAP e OB..lBP, de sorte


<------> <------>
que, pela proposição 3.17, as retas AP e BP são tangentes ao círculo
dado.

\
\
\
\
\ p
• -~------ ...
o o

A B

Figura 3.21: tangentes a um círculo por um ponto exterior.


DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
Tópicos de Matemática Elementar ú\_ntonio Caminha M. Neto 119
118

Reciprocamente, se r é uma reta passando por P e tangente a A proposição a seguir estabelece duas propriedades bastante úteis
+----->
das tangentes traçadas a um círculo a partir de um ponto exterior ao
círculo dado em X, digamos, então O X 1- XP, ou, o que é o mesmo
OXP = 90º. Logo, X pertence a um dos arcos capazes de 90º sobr mesmo.
i : OP, i.e., X pertence ao círculo de diâmetro OP. Mas aí, X está sobr. Proposição 3.28. Sejam r um círculo de centro O e P um ponto
+-----> +----->
a interseção do círculo dado com aquele de diâmetro O P e, portanto
exterior ao mesmo. Se A, B E r são tais que P A e P B são tangentes
X=AouX=B. a f (figura 3.22), então:
Conforme ensina o próximo exemplo, a demonstração da proposiç-
(a) PA = PB.
acima pode ser facilmente formatada em passos que, uma vez execu:.
+---->
tados, fornecem a construção, com régua e compasso, das tangentes (b) PO é a mediatriz de AB.
um círculo dado, passando por um ponto também dado e exterior
+---->
mesmo. (c) PO é a bissetriz dos ângulos LAO B e LAP B.
+----> +----->
Exemplo 3.27. Nas notações da figura a seguir, construa, com régu (d) P01-AB.
i\l!
I!!
e compasso, as retas tangentes a r e passando por P.
. 'li' _____ A
!11
Prova.

• .P
o
B
i I
r
Figura 3.22: propriedades das tangentes por um ponto exterior.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

1. Marque o ponto médio M do segmento O P.


Prova. Como O A = O B e P ÂO = P BO = 90º, os triângulos
2. Trace o círculo"/, de centro Me raio OM = MP. PO A e PO B são congruentes, pelo caso especial CH de congruência
de triângulos ~tângul~ (cf. p!oblema___1, página 54); em particular,
3. Marque os pontos A e B, de interseção dos círculos "( e f; as PA = PB, APO = BPO e AOP = BOP.

.,
+-----> +----->

tangentes pedidas são as retas AP e BP. Agora, como P e O equidistam de A e de B, segue da proposição 3.5
<------+ +---+ +---+
que PO é a mediatriz do segmento AB. Logo, PO J_ AB. •
120 Tópicos de Matemática Elementar · .Antonio Caminha M. Neto 121
Problemas - Seção 3.3 • tangentes se tiverem um único ponto comum; nesse úl-
timo caso, os círculos são tangentes exteriormente se
1. * Dados no plano um círculo r e um ponto P sobre o mesm. tiverem interiores disjuntos e tangentes interiormente
mostre que a reta tangente a r em P é única. caso contrário.

2. São dados, no plano, uma retare um ponto A E r. 7. * Dados círculos f1(01; R1) e f 2 (02 ; R2 ), prove que f 1 e r 2 são:
e construa, com régua e compasso, o LG dos pontos do plan
que são centros dos círculos tangentes à reta r no ponto A. (a) exteriores se, e só se, 0 1 0 2 > R 1 + R 2 .
(b) tangentes exteriormente se, e só se, 0 1 0 2 = R 1 + R 2 .
3. São dados, no plano, retas concorrentes r e s e um ponto P E 'líl
(c) secantes se, e só se, JR1 - R 2 1 < 0 10 2 < R1 + R 2 .
Construa, com régua e compasso, os círculos tangentes a r e .
sendo P o ponto de tangência com a reta r. (d) tangentes interiormente se, e só se, 0 10 2 = IR1 - R 2 1.
(e) interiores se, e só se, 0 10 2 < IR1 - R 2 1.
4. São dados, no plano, um segmento de comprimento R e u ,
reta r. Identifique e construa, com régua e compasso, o LG do 8. São dados, no plano, um círculo r de centro O e um ponto A E r.
pontos do plano que são centros dos círculos de raio R, tangent · Identifique e construa, com régua e compasso, o LG dos centros
à reta r. dos círculos tangentes a r em A.

5. Temos, no plano, duas retas concorrentes r e s. 9. São dados, no plano, um círculo r, de centro O e raio R, e um
R > O, construa todos os círculos de raio R, tangentes simu: segmento de comprimento r. Identifique e construa, com régua
taneamente a r e a s. e compasso, o LG dos centros dos círculos de raio r e tangentes
a r. Em que medida o LG em questão depende dos valores R e
6. Sejam a, b e e três retas dadas no plano, com a li b e e concorrent r?
com a e b. Construa, com régua e compasso, os círculos tangent ·
a a, b e e. 10. São dados, no plano, um círculo r e pontos A, P e Q, tais que
P, Q E r e os segmentos AP e AQ tangenciam r e medem 5cm
Para os problemas 7 a 9 a seguir, dizemos que dois círculos s- .· cada. Escolhemos pontos B E AP e C E AQ tais que BC
também tangencia r. Calcule os possíveis valores do perímetro
• exteriores se não tiverem pontos comuns e tiverem inter do triângulo ABC.
ores disjuntos;
• interiores se não tiverem pontos comuns mas o interior 11. Sejam ABCD um quadrado de lado a e r o círculo de centro A
um deles contiver o outro; e raio a. Marcamos pontos Me N, respectivamente sobre BC
e CD, tais que M N tangencia r. Quais os possíveis valores do
• secantes se tiverem dois pontos em comum; ângulo MÂN?
122 Tópicos de Matemática Elementar 2: Antonio Caminha M. Neto 123

12. As retas ressão concorrentes em A e tangentes a um círculo r,:


+------->
20. * Construa um quadrado ABC D, conhecendo o comprimento
de centro O. Pontos P E r e Q E s são tais que PQ tangencia: l de seus lados e as posições dos pontos M, N e P, situados
r e deixa A e O em semiplanos opostos. Se P ÂQ = 30º, calcule. respectivamente sobre os lados AB, AD e sobre a diagonal AC.
~

POQ.
21. De um triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices B
13. Dois círculos r e E se intersectam em dois pontos distintos A e. e C, a medida a do ângulo LBAC e o semiplano /3, dentre os
+------->

B. Escolhemos X E r e Y E E tais que A E XY. Prove que a; determinados pela reta BC, no qual está situado o vértice A.
medida do ângulo LX BY independe da direção da reta XY. Quando A descreve o arco capaz de a sobre BC, situado no
semiplano /3, encontre o LG descrito pelo incentro Ide ABC.
14. As cordas AB e CD de um círculo r são perpendiculares em E,.
um ponto situado no interior do círculo. A reta perpendicular'
22. * São dados, no plano, dois círculos exteriores re E. Construa,
com régua e compasso, todas as retas tangentes simultaneamente
a AC por E intersecta o segmento BD em F. Prove que F é o
ponto médio de BD.
ar e E.
·1'111ii 23. * Dois círculos f 1(01; R1) e f2(0 2; R 2 ) são secantes, intersectan-
1,I
ll!I 15. Sejam A, ,..___
B e C,..___ pontos
,..___
sobre um círculo r, tais que os arcos;
do-se nos pontos A e B. Dado um segmento de comprimento l,
·l'l.i.l
"' menores AB, AC e BC medem todos 120º. Se Pé um ponto; explique como traçar, com régua e compasso, uma reta passando
de r situado no arco menor BC, prove que P A = P B + PC. · por A (dita secante aos círculos), intersectando r 1 e r 2 respec-
tivamente em X e em Y (com X, Y =IA), e tal que XY = l.
16. Prove o item (b) da proposição 3.21. Verifique, ainda, que as, Explique sob que condições há solução.
fórmulas para o cálculo das medidas de ângulos ex-cêntricos per-
manecem válidas quando um dos lados do mesmo contiver uma( 24. Dois círculos f1(01; R1) e f 2(02; R2 ) são secantes, intersectando-
corda do círculo e o outro for tangente ao círculo. se nos pontos A e B. Explique como traçar com régua e com-
passo a secante aos círculos, passando por A e tendo compri-
17. * Analise a construção dos arcos capazes de um ângulo a sobre'. mento máximo.
o segmento AB, quando 90º < a < 180º.
25. Temos, desenhado no plano, um triângulo ABC. Dado um
18. Construa o triângulo ABC, conhecendo os comprimentos a do 1 segmento de comprimento a, construa, com régua e compasso,
lado BC, ha da altura relativa a BC e a medida a do ângulo; um triângulo equilátero M N P, de lado a e tal que A E N P,
LA. BEMPeCE MN.

19. * Sejam ABC um triângulo e P e M, respectivamente, os pés; 26. Temos, desenhado no plano, um triângulo ABC. Construa, com
da bissetriz interna e da mediana relativas ao lado BC. Se P e,, régua e compasso, um triângulo equilátero M N P, tendo o maior
M coincidirem, prove que ABC é isósceles de base BC. lado possível e tal que A E NP, BE MP e CE MN.
124 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 125

27. De um triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices B


C e a medida a do ângulo LA. Conhecendo a soma l dos com~
primentos dos lados AB e AC, construa com régua e compass
a posição do vértice A.

O resultado do problema a seguir é conhecido como o teorem


da corda quebrada, sendo devido a Arquimedes.

28. São dados um círculo r e pontos A, B e C sobre o mesmo,


,--...
tai
que AB > AC. Marcamos o ponto médio M do arco BC qu'
contém A, bem como o ponto N, pé da perpendicular baixad ·
de M ao segmento AB. Prove que BN = AN + AC. Figura 3.23: circuncentro e círculo circunscrito a um triângulo.

3.4 Círculos associados a um triângulo interseção das mesmas, isto é, com o circuncentro O de ABC. Por
fim, o raio do círculo, sendo a distância de O aos vértices, é igual a
De posse dos conceitos de arco capaz e tangência de reta e círculo'' R •
nesta seção enveredamos pelo estudo de alguns círculos notáveis
sociados a um triângulo. Começamos mostrando que todo triângul. Proposição 3.30. Se ABC é um triângulo de circuncentro O, então
admite um único círculo que passa por seus vértices. O está no interior (resp. sobre um lado, no exterior) de ABC se, e só
se, ABC for acutângulo (resp. retângulo, obtusângulo).
Proposição 3.29. Todo triângulo admite um único círculo passand,
por seus vértices. Tal círculo é dito circunscrito ao triângulo e se~
Prova. Sejam r o círculo circunscrito a ABC e M o ponto médio de
centro é o circuncentro do mesmo.
BC. Há três casos a considerar:
Prova. Seja ABC um triângulo de circuncentro O (figura 3.23). Com,.
O é o ponto de interseção das mediatrizes dos lados do triângulo, temo (a) O está no interior de ABC (figura 3.24): no triângulo AOB, temos
O A = O B = OC. Denotando por R tal· distância comum, segue qu AÔB = 2AÔB. Por outro lado, Oº < AÔB < 180º, de modo que
o círculo de centro O e raio R passa por A, B, C. Existe, portanto; 2Aê B < 180º ou, ainda, Aê B < 90º. Analogamente, AÊC < 90º e
um círculo passando pelos vértices de ABC. BÂC < 90º, de forma que ABC é acutângulo.
Reciprocamente, o centro de um círculo que passe pelos vérticefl
de ABC deve equidistar dos mesmos. Portanto, o centro pertence às; (b) O está sobre um lado de ABC (figura 3.25): suponha, sem perda
mediatrizes dos lados de ABC, de forma que coincide com o ponto dei de generalidade, que O E BC. Nesse caso, BC é diâmetro der e O é

!I
:li
'
~
1
1'
1

126 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 127

B o c

Figura 3.24: O está no interior de ABC. Figura 3.25: O está sobre um lado de ABC.

o ponto médio de BC, de maneira que Prova. Nas notações da figura 3.24, temos que OM é a mediana
relativa à base AB do triângulo isósceles AOB. Portanto, o problema
~ 1 ~ = -180
1
BAC = -BXC o
= 90º . 8, página 45, garante que OM também é bissetriz interna de LAOB.
2 2
Daí,

(c) O está no exterior de ABC (figura 3.26):


AÔM = BÔM = ~AÔB = AÔB,
suponha, sem perda de gener~dade, que O e A estão em, semip2_anos onde utilizamos o teorema do ângulo inscrito na última igualdade. •
opostos em relação à reta BC. Como a medida do arco BXC é,:
Também é relevante o fato de que todo triângulo admite quatro
claramente maior que 180º, temos
círculos tangentes a seus lados. O próximo resultado apresenta o mais
~ 1 ~ 1 importante de tais círculos.
BAC = -BXC > -180º = 90º,
2 2
Proposição 3.32. Todo triângulo admite um único círculo contido
e ABC é obtusângulo em A. no mesmo e tangente a seus lados. Tal círculo é dito inscrito no
triângulo e seu centro é o incentro do triângulo.
A seguir, colecionamos uma elaboração útil da discussão do caso ;
(a) da proposição anterior. Prova. Seja I o incentro de um triângulo ABC (figura 3.27). Como
I é o ponto de interseção das bissetrizes internas de ABC, temos
Corolário 3.31. Seja ABC um triângulo acut~gulo de::ircunce~ro que I equidista dos lados de ABC. Sendo r tal distância comum
O. Se M é o ponto médio do lado AB, então AOM =BOM= ACB. aos lados, segue que o círculo de centro I e raio r está contido em
r
!,.
!.'.
l,i
128 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto

B
129

A
1

c
o

X
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
Figura 3.26: O está no exterior de ABC.
1. Para o círculo inscrito, comece construindo o incentro Ide ABC.

1!lll:I 2. Em seguida, trace a reta r que passa por I e é perpendicular ao


ABC e tangencia seus lados. A unicidade do círculo inscrito pode'.
iilllili: lado BC.
l!f
íl':111
.illi!.il
;1· A 3. Se M for o ponto de interseção da reta r com o lado BC, então
o círculo inscrito é aquele de centro I e raio IM.
,1111 11r.,;i,;

4. Quando ao círculo circunscrito, construa, inicialmente, o circun-


centro O de ABC.

5. O círculo circunscrito é aquele de centro O e raio OA.

Figura 3.27: círculo inscrito em um triângulo.



Conforme antecipamos há pouco, há outros três círculos notáveis
ser estabelecida mediante um argumento análogo ao da unicidade do associados a todo triângulo, os círculos ex-inscritos aos lados do triân-
círculo circunscrito, sendo deixada ao leitor. •, gulo. O próximo resultado garante a justeza dessa afirmação.

Exemplo 3.33. Construa, com régua e compasso, os círculos inscrito Proposição 3.34. Em todo triângulo ABC, existe um único cír-
e circunscrito ao triângulo ABC, dado a seguir. culo tangente ao lado BC e aos prolongamentos dos lados AB e AC.
Tal círculo é o círculo ex-inscrito ao lado BC e seu centro é o ex-
Solução. incentro de ABC relativo a BC (ou ao vértice A).
130 Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto 131

Prova. Sejam (cf. figura 3.28) resas bissetrizes externas dos vértices ii. Todo triângulo ABC admite exatamente três círculos ex-inscri-
B e C do triângulo ABC e Ia seu ponto de interseção (o leitor pode: tos; consoante as notações estabelecidas no item i., denotamos
checar sem dificuldade que as porções das retas r e s situadas na região , os centros e raios dos círculos ex-inscritos a AC e AB respecti-
angular L.BAC formam ângulos agudos com o lado BC, de forma que, vamente por h, Ice rb, rc.
r e s realmente concorrem em tal região angular). Como Ia E r e ré,
bissetriz do ângulo externo em B, segue que Uma elaboração útil da prova da proposição acima é o conteúdo
<----> <---->
do corolário a seguir.
d(Ia, BC) = d(Ia, AB).
<----> '
Corolário 3.36. Em todo triângulo, a bissetriz interna relativa a um
Do mesmo modo, uma vez que Ia E s, concluímos que d(Ia, BC) ===' vértice concorre com as bissetrizes externas relativas aos outros dois
<----> .
d(Ia, AC). Denotando por ra a distância comum de Ia às retas su~ vértices no ex-incentro.
portes dos lados de ABC, segue que o círculo de centro Ia e raio ra;
Prova. Nas notações da prova da proposição anterior, estabelecemos
tangencia BC e os prolongamentos de AB e AC. Por fim, deixamos. +-----+ +-----> -+---4 +----+-
que d(Ia, AB) = d(Ia, BC) e d(Ia, AC) = d(Ia, BC). Portanto,
+----+ ..........
d(Ia, AB) = d(Ia, AC)

e, daí, a proposição 3.6 garante que Ia pertence à bissetriz do ângulo


L.BAC. •
Conforme ensina a proposição a seguir, os pontos de tangência dos
círculos inscrito e ex-inscritos a um triângulo com seus lados delimitam
A c vários segmentos notáveis, cujos comprimentos podem ser facilmente
calculados em termos dos comprimentos dos lados do triângulo.

Figura 3.28: o círculo ex-inscrito ao lado BC do triângulo ABC. , Proposição 3.37. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, BC=
a, CA = b e semiperímetro p (figura 3.29). Sejam D, E e F os
ao leitor a tarefa de estabelecer a unicidade de um tal círculo. pontos onde o círculo inscrito em ABC tangencia os lados BC, CA
e AB, respectivamente, e suponha, ainda, que o círculo ex-incrito
Observações 3.35. a BC tangencia tal lado em M e os prolongamentos de AC e AB
i. Em geral, dado um triângulo ABC, denotaremos sistematica- respectivamente em N e P. Então:
mente o centro e o raio do círculo circunscrito respectivamente
(a) BD= BF=p-b, CD= CE=p-c, AF= AE=p-a.
por O e R, do círculo inscrito respectivamente por I e r, e do
círculo ex-inscrito a BC respectivamente por Ia era. (b) AN = AP = p.
132 Tópicos de Matemática Elementar 2; Antonio Caminha M. Neto 133

(c) EM= BP=p-c, CM= CN=p-b. (b) Sendo AN = AP = u e utilizando novamente o item (a) da
proposição 3.28, temos
(d) EN= FP = a.
2u AN + AP = (AC+ CN) + ( AB + BP)
(e) O ponto médio de BC também é o ponto médio de D M. (AC+ AB)+(CN+ BP)
(b+c)+(CM+ EM)
Prova.
b + é+ BC = a + b + e = 2p,
(a) Com o auxílio do item (a) da proposição 3.28, denotemos AE =.
AF = x, BD = BF = y e CD = CE = z. Obtemos, assim, o' de modo que u = p.
sistema
x+y=c (e) Como em (b), temos EM= BP e CM= CN. Por outro lado,
{ y+z=a .
z+x=b BP= AP- AB = p- e e CN = AN - AC= p- b.

Somando membro a membro as equações do mesmo, obtemos x+ y + (d) Façamos a prova de que EN= a, sendo a prova de que FP = a
z = 2p e, daí, totalmente análoga:
EN= AN - AE = p - (p - a) = a.
x = (x+y+z)-(y+z) =p-a.
(e) Basta provar que CM= BD, o que já fizemos acima. •
Analogamente, y = p - b e z = p - e.
Conforme o leitor constatará, os cálculos da proposição acima serão
úteis para a resolução de muitos problemas, valendo mesmo a pena
memorizar pelo menos os resultados dos itens (a), (b), (d) e (e). Ob-
serve, ainda, que os itens (c), (d) e (e) são decorrências praticamente
imediatas dos itens (a) e (b).
Terminemos esta seção apresentando um resultado que fornece ou-
tra relação importante entre o incentro e os ex-incentros de um triân-
gulo.
Proposição 3.38. Sejam ABC um triângulo qualquer, I seu incentro,
E C N Ia seu ex-incentro relativo a BC e Mo ponto onde o círculo circuns-
A
crito a ABC intersecta o segmento Ila (cf. figura 3.30). Então, M é
o ponto médio do arco BC que não contém A e
Figura 3.29: alguns segmentos notáveis do triângulo ABC.
ME= MC= MI= Mla.
rr.,
Antonio Caminha M. Neto 135
134 Tópicos de Matemática Elementar 2:

Problemas - Seção 3.4

1. Construa o triângulo ABC, conhecendo os cornprirnentos do raio


R do círculo circunscrito e a e b dos lados BC e AC, respectiva-
mente.

2. Sejam ABC urn triângulo qualquer e Me N, respectivamente, os


pontos onde as bissetrizes interna e externa relativas ao vértice
A intersectam o círculo circunscrito a ABC. Prove que M N é
Figura 3.30: incentro, ex-incentro e ponto médio do arco correspondente.,
urn diâmetro desse círculo.

3. Sejam ABC urn triângulo qualquer e M, N e P os pontos onde


,;11:1
Prova. Corno MÂB MÂC = !Ã, segue do teorema do ângulo as bissetrizes internas de ABC, relativas respectivamente aos
inscrito que os arcos MB e M
C que não contêm A são iguais e;: vértices A, B e C, intersectam o círculo circunscrito ao triângulo
portanto, M é seu ponto médio. Corno arcos. iguais subentendem; (corn M =1- A, N =I B e P =I C). Prove que o incentro de ABC
cordas iguais, ternos MB___ MC.~gora, n~varne~te pelo teorema d' é o ortocentro de M N P.
ângulo inscrito, ternos BMI =EMA= BCA = C e
4. Sejam a, b e e três retas do plano, duas a duas concorrentes e não
...- ...- 1- ...-
IÊM !BC+ CEM= 2B + CAM passando as três por urn rnesrno ponto. Construa, corn régua e
compasso, os pontos do plano equidistantes de a, b e e.
1---- 1 ----
-B + -A.
2 2 5. * Seja ABC urn triângulo de ortocentro H e circuncentro O.
Portanto, Prove que a bissetriz interna relativa ao lado BC tarnbérn bis-
secta o ângulo L.H AO.
BIM 180º -IÊM -BMI
1 ---- 1 ---- ---- 6. * Prove que, ern todo triângulo, o simétricos do ortocentro ern
180º - -B - -A - C
2 2
...- ...- ...- 1- 1- ...- relação às retas suportes dos lados do triângulo estão situados
A+B+C-2B- 2 A-C sobre o círculo circunscrito ao rnesrno.
1 ---- 1 ---- ----
- -B+-A=IBM, 7. De urn triângulo ABC, conhecemos as posições dos vértices B e
2 2
C, a medida a do ângulo L.BAC e o semiplano /3, dos deterrni-
de rnodo que o triângulo IBM é isósceles de base I B. Assim, nados pela reta BC, ao qual pertence o vértice A. Quando A
BM= CM. descreve o arco capaz de a sobre BC, situado no semiplano /3,
Deixamos corno exercício para o leitor provar a igualdade qual a curva descrita pelo ortocentro H de ABC?
M Jª; o argumento é análogo ao executado acima.
136 Tópicos de Matemática Elementar/
137

8. De um triângulo ABC conhecemos as posições dos vértices B ·


C, a medida a do ângulo LBAC e o semiplano {3, dos determ
<----->
nadas pela reta BC, ao qual pertence o vértice A. Quando ·
descreve o arco capaz de a sobre BC, situado no semiplano
qual a curva descrita pelo ex-incentro Ia relativo a BC? c
9. Seja ABC um triângulo retângulo em A e H o pé da altuf D
relativa à hipotenusa BC. Sejam, ainda, /1 e /2 os incentro
dos triângulos ABH e ACH. Prove que A é o ex-incentro d Figura 3.31: um quadrilátero não inscritível.
triângulo / 1H h relativo ao lado /1/2.

111:11
10. Construa o quadrado ABC D, conhecendo as posições de quat .· um quadrilátero é inscritível se existir um círculo passando por seus
pontos M, N, P e Q, situados respectivamente sobre os lad9 vértices.
!il:lill
1

AB, BC, CD e DA. A partir da unicidade do círculo circunscrito a um triângulo, é


imediato que, se um quadrilátero for inscritível, então o círculo que
11. (OIM.) Em um triângulo ABC, marcamos os pontos Q e R, , pa.ssa por seus vértices é único; doravante, tal círculo será denominado
tangência do lado BC respectivamente com o círculo inscrit o círculo circunscrito ao quadrilátero.
em ABC e ex-inscrito a ABC em relação ao lado BC. Se Pi Podemos mostrar (cf. problema 7, página 145) que um quadrilátero
o pé da perpendicular baixada de B à bissetriz interna de AB é inscritível se, e só se, as mediatrizes de seus lados se intersectarem em
relativa ao vértice A, mostre que QPR = 90º. •· um único ponto, o circuncentro do quadrilátero. Porém, nas aplicações
que temos em mente, a caracterização dos quadriláteros inscritíveis
12. Construa o triângulo ABC, conhecidos os comprimentos p
dada a seguir mostra-se, em geral, bem mais útil:
seu semiperímetro, a do lado BC e rª do círculo ex-inscrito
lado BC. Proposição 3.39. Um quadrilátero convexo ABCD, de lados AB,
BC, CD e DA, é inscritível se, e só se, uma qualquer das condições a
·. seguir for satisfeita:
3.5 Quadriláteros inscritíveis e
(a) DÂB + BÔD = 180º.
tíveis (b) BÂC = BDC.
Contrariamente aos triângulos, nem todo quadrilátero (convexd Prova. Suponhamos, inicialmente, que ABCD seja inscritível (cf.
admite um círculo passando por seus vértices. Para ver isso, ba.sti figura 3.32.) Então, pelo teorema do ângulo inscrito, temos BÂC =
tomarmos um triângulo AB D e um ponto C não pertencente ao círcm BDCe
.-. .-. 1,.--.. 1---
circunscrito a ABD (cf. figura 3.31). Por outro lado, dizemos q DAB + BCD = - BCD + - BAD = 180º.
2 2
if
136 Tópicos de Matemática Elementar.
137

8. De um triângulo ABC conhecemos as posições dos vértices Bi


C, a medida a do ângulo L.BAC e o semiplano (3, dos deter
+---->
nados pela reta BC, ao qual pertence o vértice A. Quando,
descreve o arco capaz de a sobre BC, situado no semiplano ,·
qual a curva descrita pelo ex-incentro Ia relativo a BC? c
9. Seja ABC um triângulo retângulo em A e H o pé da alt D
relativa à hipotenusa BC. Sejam, ainda, 11 e 12 os incentr
dos triângulos AB H e AC H. Prove que A é o ex-incentro Figura 3.31: um quadrilátero não inscritível.
triângulo IiH h relativo ao lado I1I2.

10. Construa o quadrado ABCD, conhecendo as posições de quat um quadrilátero é inscritível se existir um círculo passando por seus
pontos M, N, P e Q, situados respectivamente sobre os lad: ·. vértices.
,'Jllilll
AB, BC, CD e DA. A partir da unicidade do círculo circunscrito a um triângulo, é
imediato que, se um quadrilátero for inscritível, então o círculo que
11. (OIM.) Em um triângulo ABC, marcamos os pontos Q e R, r passa por seus vértices é único; doravante, tal círculo será denominado
tangência do lado BC respectivamente com o círculo inseri, · . o círculo circunscrito ao quadrilátero.
em ABC e ex-inscrito a ABC em relação ao lado BC. Se P Podemos mostrar (cf. problema 7, página 145) que um quadrilátero
o pé da perpendicular baixada de B __à bissetriz interna de A~ Ír é inscritível se, e só se, as mediatrizes de seus lados se intersectarem em
relativa ao vértice A, mostre que Q PR = 90º. ; um único ponto, o circuncentro do quadrilátero. Porém, nas aplicações
'.\que temos em mente, a caracterização dos quadriláteros inscritíveis
12. Construa o triângulo ABC, conhecidos os comprimentos p ,
i:dada a seguir mostra-se, em geral, bem mais útil:
seu semiperímetro, a do lado BC e rª do círculo ex-inscrito •
lado BC. f Proposição 3.39. Um quadrilátero convexo ABCD, de lados AB,
f BC, CD e DA, é inscritível se, e só se, uma qualquer das condições a
~eguir for satisfeita:
3.5 Quadriláteros inscritíveis e ,(a) DÂB + BÔD = 180º.
tíveis (b) BÂC = BDC.
Contrariamente aos triângulos, nem todo quadrilátero (convex; ,Prova. Suponhamos, inicialmente, que ABCD seja inscritível (cf.
admite um círculo passando por seus vértices. Para ver isso, bas 1 :;figura 3.32.) Então, pelo teorema do ângulo inscrito, temos BÂC =
tomarmos um triângulo AB D e um ponto C não pertencente ao círc , fBDCe
circunscrito a ABD (cf. figura 3.31). Por outro lado, dizemos q -- .-. 1--... 1--...
DAB+BCD = 2 BCD+ 2 BAD = 180º.
i I
r' '

138 Tópicos de Matemática Elementar / Antonio Caminha M. Neto 139

c
B

B Figura 3.34: BÂC + BDC = 180º => ABCD inscritível.

Figura 3.32: ABCD inscritível=> DÂB + BÔD = 180º e BÂC = BDC.


DÂB + BÊD = 180º = DÂB + BÔD
~
~ ~

Reciprocamente (figura 3.33), suponhamos primeiro que BAC : : : , e, daí, BED = BCD. Mas, aplicando o teorema do ângulo externo
,111:li!III
D ao triângulo CDE, obtemos uma contradição. •

No que segue, apresentamos duas aplicações importantes da propo-


sição acima. Para a primeira delas, precisamos da seguinte nomencla-
c tura: dado um triângulo não retângulo ABC, dizemos que o triângulo
A formado pelos pés de suas alturas é o triângulo órtico de ABC (cf
figura 3.35).
B
A
Figura 3.33: BÂC = BDC => ABCD inscritível.

BDC. Como ABCD é convexo e os vértices de ABCD estão nomeaj:


dos consecutivamente, segue que A e D estão
<--+
situados em um mesmo;;',
semiplano, dos determinados pela reta BC. Sendo () o valor comum;;
dos ângulos B ÂC e B DC, temos que A e D estão ambos situados i
sobre o arco capaz de() sobre BC, situado em tal semiplano. Logo, oI
círculo que contém tal arco capaz circunscreve ABC D. Figura 3.35: o triângulo órtico HaHbHc de ABC.
Suponhamos, agora, que DÂB + BÔD = 180º (cf. figura 3.34) 0
consideremos o círculo a, circunscrito ao triângulo BAD. Se C ~ a,
<--+
seja BC na = {E}, com E# B, C. (Na figura 3.34, esboçamos Proposição 3.40. Em todo triângulo acutângulo, o ortocentro coin-
caso em que C pertence ao interior de a.) Pelo item (a), temos cide com o incentro do triângulo órtico.
140 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 141

Prova. Vamos nos referir à figura 3.35. Como H HaB + H HcB :::::, proposição 3.41 (Simson-Wallace). Dados um triângulo ABC e um
90º+90º = 180º, segue da proposição 3.39 que o quadrilátero H HaBHc ponto P não situado sobre as retas suportes de seus lados, o triângulo
é inscritível. Portanto, novamente por aquela proposição, temos pedal de P em relação a ABC é degenerado se, e só se, P estiver sobre
O círculo circunscrito a ABC.

Prova. A fim de que P esteja situado sobre o círculo circunscrito a


Por outro lado, temos analogamente que H HaC + H fibc = 180º e, ABC, a única possibilidade é que P esteja situado em uma das regiões
daí, HHaC Hb também é inscritível. Portanto, temos também angulares LBAC, LABC ou LEGA mas seja exterior ao triângulo
ABC. Analogamente, a fim de que o triângulo pedal de P em relação
a ABC possa ser degenerado, P deve ser exterior ao triângulo ABC
e estar situado em uma de tais regiões angulares. Portanto, podemos,
o argumento acima provou que H HaHc = H HaHb, i.e., que o; sem perda de generalidade, supor que P é exterior ao triângulo ABC
segmento H Ha é a bissetriz interna do ângulo LHcHaHb do triângulcf e está situado na região angular LABC (cf. figura 3.36).
órtico. Analogamente, H Hb e H Hc são bissetrizes dos outros dois;
ângulos do triângulo órtico, de maneira que H (o ortocentro de ABC)i
é também o incentro de HaHbHc. I'

Nossa segunda aplicação diz respeito à seguinte situação: dados,(


no plano, um triângulo ABC e um ponto P não situado sobre quaV; \
\
quer das retas suportes dos lados de ABC, marcamos os pontos D, \
\
E e F, pés das perpendiculares baixadas de P às retas suportes dos, \
\
lados BC, CA e AB, respectivamente. O triângulo DEF assim obtido: \
\
\
é o triângulo pedal de P em relação a ABC. Por exemplo, o triân-; \
\
gulo órtico de um triângulo (cf. figura 3.35) é o triângulo pedal do \
\
ortocentro do triângulo. \
O resultado a seguir, conhecido como o teorema de Simson-< B n, e
Wallace 1 , explica quando o triângulo pedal de um ponto é degenerado \
\
\
(i.e., quando D, E e F são colineares). Observamos, ainda, que tal;, Figura 3.36: a reta de Simsoll-Wallace.
resultado será de importância fundamental para o material da seção 't
1Áf
7.4 (cf. teorema 7.33). 11
Sejam respectivamente D, E e F os pés das perpendiculares baixa-
1 Após os matemáticos escoceses dos séculos XVIII e XIX Robert Simson das de P às retas suportes dos lados BC, AC e AB. Podemos também
William Wallace. supor, sem perda de generalidade, que D e E estão sobre os lados BC
142 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 143

e AC, respectivamente, mas que F está sobre o prolongamento do lad


AB. Como PFA = PÊA = 90º, o quadrilátero PFAE é inscritível}
Analogamente, o quadrilátero P EDC também é inscritível. Segue1:
daí, que

APC - DPF = DPC - FPA = DÊC- FÊA, B NC

i.e., Figura 3.37: ABCD circunscritível =} somas iguais dos lados opostos.

APC = DPF {:} DÊC = FÊA {:} D, E e F são colineares.


Prova. Suponha, primeiro, que ABC D seja circunscritível, e sejam
Por fim, calculando a soma dos ângulos do quadrilátero BCP F, M, N, P e Q, respectivamente, os pontos de tangência dos lados AB,
obtemos D PF = 180º - AÊC, de modo que BC, CD e DA com o círculo inscrito em ABCD (cf. figura 3.37).
Então, aplicando várias vezes o item (a) da proposição 3.28, obte-
APC = D P F {:} APC + ABC = 180º {:} ABC P é inscritível. mos
AB + cD = ( AM + M B) + ( c p + p D)
= AQ+ BN+ CN+ DQ
Nas notações da discussão acima, quando P estiver sobre o círculq = (AQ+ DQ) + (BN + CN)
circunscrito a ABC diremos que a reta que passa pelos pontos D, E;
= AD+ BC.
e Fé a reta de Simson-Wallace de P relativa a ABC.
Voltando à discussão do parágrafo inicial desta seção, , Reciprocamente, suponhamos que AB + CD = AD + BC e que
mos agora que nem todo quadrilátero convexo possui um círculo tan1i. ABCD não é circunscritível. Se O é o ponto de interseção das bis-
gente a todos os seus lados (o leitor pode construir um exemplo facil-i setrizes dos ângulos internos LDAB e LABC de ABCD, então, pela
mente). Quando tal ocorrer, diremos que o quadrilátero é circuns-1 proposição 3.6, O é o centro de um círculo que tangencia os lados AD,
critível e que o círculo tangente a seus lados é o círculo inscritoi. AB e BC de ABCD (cf. figura 3.38). Como estamos supondo que
no quadrilátero. O teorema a seguir, conhecido como o teorema de:, ABCD não é inscritível, concluímos que tal círculo não é tangente ao
Pitot 2 , dá uma caracterização útil dos quadriláteros circunscritíveis. ;' lado CD de ABCD. -----+
Seja E o ponto sobre a semirreta AD tal que CE tangencia o
Teorema 3.42 (Pitot). Um quadrilátero convexo ABCD, de lados; círculo da figura 3.38 (nesta, estamos considerando o caso em que E
AB, BC, CD e D A, é circunscritível se, e só se, está situado entre A e D; o outro caso é totalmente análogo). Pela
2 Após Henri Pitot, engenheiro francês do século XVII.
AB+ CD= AD+ BC.

1 '
144 Tópicos de Matemática Elementar 2 , Antonio Caminha M. Neto 145

3. Considere, no plano, quatro retas que se intersectam duas a duas


e tais que não há três passando por um mesmo ponto. Prove
B c que os círculos. circunscritos aos quatro triângulos que tais retas
determinam passam todos por um mesmo ponto.
Figura 3.38: somas iguais dos lados opostos ::::} ABC D circunscritível.
4. ABCD é um quadrilátero inscrito em um círculo r, de diâmetro
BD. Sejam M E r tal que M -=/:- A e AM1-BD, e N o pé da
primeira parte acima, segue que <----->
,,·:1,111,i perpendicular baixada de A a BD. Se a paralela à reta AC por
AB+ CE= AE+ BC. N intersecta CD em P e BC em Q, prove que o quadrilátero
CP M Q é um retângulo.
Mas, como AB + CD = AD + BC por hipótese,· obtemos então

CD- CE= AD- AE= DE 5. Dado um triângulo ABC com círculo circunscrito r, sejam Pum
ponto situado sobre o arco AC de r que não contém o vértice B
ou, ainda, CD = CE + E D. Por fim, tal igualdade contradiz a e D o pé da perpendicular baixada de P à reta suporte do lado
<----->
desigualdade triangular no triângulo CD E. • BC. Se Q-=/:- Pé o outro ponto de interseção da reta DP coin o
círculo r e r denota a reta de Simson-Wallace de P em relação
<----->
a ABC, prove quer li AQ.

Problemas - Seção 3.5 6. Sejam ABC um triângulo com círculo circunscrito r, e P e P'
pontos situados sobre o arco AC de r que não contém o ponto B.
1. Sobre cada lado do triângulo acutângulo ABC, construímos um Se r e r' denotam, respectivamente, as retas de Simson-Wallace
círculo tendo o referido lado por diâmetro. Prove que tais círcu- ' de P e P' em relação a ABC, prove que o ângulo entre r e r' é
los se intersectam dois a dois em seis pontos, três dos quais são '
igual à metade da medida do arco PP' de r que não contém o
os pés das alturas de ABC.
vértice A.
2. * Sejam ABC um triângulo acutângulo de circuncentro O e Ha,
Hb e Hc os pés das alturas respectivamente relativas aos lados 7. * Um polígono convexo é inscritível se existir um círculo pas-
BC, CA e AB. Prove que: sando por seus vértices, dito o círculo circunscrito ao polí-
117
,·)''

146 Tópicos de Matemática Elementar 2 ,

gono 3 . Prove que um polígono. convexo é inscritível se, e só se,


as mediatrizes de seus lados concorrem em um único ponto.

8. Seja ABC D um quadrilátero circunscritível. Mostre que os cír- ·'


culos inscritos nos triângulos ABC e AC D têm, com a diagonal '
AC, um mesmo ponto em comum.

9. * Um polígono convexo é circunscritível se existir um círculo '. CAPÍTULO 4


tangente a seus lados, o qual é denominado um círculo inscrito
no polígono. Prove que um polígono convexo é circunscritível se,
e só se, as bissetrizes de seus ângulos internos passarem todas ,
por um mesmo ponto. Nesse caso, conclua que há um único
círculo inscrito no polígono.
Proporcionalidade e Semelhança
10. Sejam ABC D um quadrilátero inscritível e E o ponto de en-
contro das diagonais do mesmo. Sejam, ainda, M, N, P e Q
os pés das perpendiculares baixadas de E aos lados AB, BC,
CD e D A, respectivamente. Prove que o quadrilátero M N PQ ,
é circunscritível.

11. Se um hexágono convexo A1A2A3 ... A6 é circunscritível, prove I


que Este capítulo desenvolve um conjunto de ferramentas que nos per-
mitirão iniciar o estudo sistemático dos aspectos métricos da Geome-
A1A2 + A3A4 + AsA6 = A2A3 + A4As + A5A1. tria Euclidiana plana; grosso modo, o problema central subjacente,
como veremos, é aquele de comparar razões de comprimentos de seg-
12. (IMO.) Sobre um círculo r são dados três pontos distintos A, B mentos.
e C. Mostre como construir, com régua e compasso, um quarto •. Dentre várias aplicações importantes e interessantes aqui reunidas,
ponto D sobre r, tal que o quadrilátero convexo ABCD seja ressaltamos os teoremas de Thales e de Pitágoras, os quais se reve-
circunscritível. larão quase imprescindíveis doravante. Apresentamos, também, uma
série de resultados clássicos, como por exemplo o estudo do círculo
de Apolônio e os teoremas de concorrência e colinearidade de Ceva
e Menelaus, os problemas clássicos sobre tangências de círculos, re-
3 Tal círculo é, claramente, único, uma vez que circunscreve todo triângulo
solvidos por Ptolomeu, e alguns dos muitos teoremas de Euler sobre
formado por três dos vértices do polígono.
a geometria de triângulos.
'
i '
148 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 149

4.1 O teorema de Thales tais que


AX= XB= BY= YZ= ZC
Consideremos a seguinte situação: temos, no plano, retas paralelas
r, s e t (cf. figura 4.1). Traçamos, em seguida, retas u e u', a primeira (cf. figura 4.1). Se traçarmos por X, Y e Z paralelas às retas r, s e
t, as quais intersectam u' respectivamente em X', Y' e Z', então mais
três aplicações do teorema da base média de um trapézio garantem
que

e, daí,
AB 2 A'B' 2
--=-=}----
BC 3 B'C' - 3·
Prosseguindo com tal raciocínio, suponha, agora, que fosse AB =
m ~T E - . _ BC
n' com m, n E n. ntao, uma pequena mod1ficaçao do argumento
acima (dividindo, inicialmente, AB e BC em m e em n partes iguais,
respectivamente) garantiria que ;;~; = r;:, de sorte que
AB m A 1B 1 m
-- = - ::::} - - . - -
u u' BC n B'C' - n.
De outra forma, concluímos que a relação
Figura 4.1: paralelas cortadas por transversais.
AB A'B'
BC B'C'
intersectando r, s e t respectivamente nos pontos A, B e C, e a segunda é válida sempre que o primeiro (ou o segundo) membro for um número
intersectando r, s e t respectivamente em A', B' e C'. racional. A pergunta natural nesse momento é a seguinte: a igualdade
Se tivermos AB = BC (o que parece não ser o caso na figura das razões acima se mantém quando um dos membros da mesma for
acima referida), então, pelo teorema da base média de um trapézio um número irracional? A resposta é sim, e, para entender o porquê
(proposição 2.40), teremos que A'B' = B'C'. De outra forma, já disso, utilizaremos o problema 1.5.2 cio volume 1.
sabemos que Suponha que
AB A1B 1 AB
-= = 1 ::::} = 1 1 = 1. BC =x,
BC BC
com x irracional. Escolha (pelo problema a que nos referimos) uma
Suponha, agora, que ~~ seja um número racional, digamos j, para
sequência (an)n:::,:1 de racionais positivos, tal que
exemplificar. Dividamos, então, os segmentos AB e BC respectiva-
1
mente em duas e três partes iguais, obtendo pontos X, Y e Z em u, X< an < x+-,
n
i.
rr,
150 Tópicos de Matemática Elementar 2: · .Antonio Caminha M. Neto 151
1
1

para todo n E N. Em seguida, marque (cf. figura 4.2) o ponto Cn E u; Observe, agora, que as desigualdades do primeiro membro acima
tal que garantem que, à medida em que n aumenta, os pontos Cn aproximam-
AB se mais e mais do ponto C. Mas, como tn li t, segue então que os
==an.
BCn pontos C~ aproximam-se mais e mais do ponto C', de maneira que a
Seja tn a reta paralela às retas r, s e t traçada por Cn e C~ o pontq - A' B' · · · d - A' B'
razao B'C!,,, aproxima-se mais e mais a razao B'C'. Abreviamos isso
onde tn intersecta u'. Como an E (Q, um argumento análogo ao anterio~; escrevendo
garante que
- - ---t - - quando n --+ +oo.
A'B' B'C'n B'C'
==an.
B'C'n Por outro lado, utilizando notação análoga à da linha acima, podemos
De outra forma, obtivemos que claramente inferir, a partir das desigualdades do segundo membro de
AB 1 A'B' 1 (4.1), que
x<=<x+-=}x<=<x+- A'B' AB
BCn n B'C~ n
B'C' ---t BC quando n --+ +oo.
ou, ainda, n
A'B' AB
(Le-se B'C!,,, tende a ---t BC quando n tende a +oo.) Utilizando, agora,
A

C' o fato (intuitivamente óbvio, e que será justificado rigorosamente no


"'[7_ - - - - - - tn volume 3) de que uma sequência de reais não pode aproximar-se simul-
n t
taneamente de dois reais distintos quando n--+ +oo, somos forçados
a concluir que
AB A'B'
BC= B'C'.
A discussão acima provou um dos resultados fundamentais da Geo-
' metria Euclidiana plana, conhecido como o teorema de Thales 1 o
qual enunciamos formalmente a seguir: '
Proposição 4.1 (Thales). Sejam r, s, t retas paralelas. Escolhemos
pontos A, A' E r, B, B' E s e C, C' E t, de modo que A, B, C e
u u' A', B', C' sejam dois ternos de pontos colineares. Então

Figura 4.2: razão ~~ irracional.

Colecionamos, nos exemplos a seguir, duas aplicações interessantes


AB AB AB 1 AB A' B' AB 1 do teorema de Thales.
-= < = < -=+-=}-= < =·<-=+-. 1Após
BC BCn BC n BC B'C~ BC n Thales de Mileto, matemático grego do século VII a.C.
' .
152 Tópicos de Matemática Elementar 1 Antonio Caminha M. Neto 153


Para o próximo exemplo, dados reais positivos a, b e e, dizemos que
O real positivo x é a quarta proporcional de a, b e e (nessa ordem)
se
a e
b X
Figura 4.3: Thales de Mileto, rnaternático e filósofo Caso a, b e e sejam os comprimentos de três segmentos, diremos tam-
do século VII a. C. e o primeiro da antiguidade clás- bém que um segmento de comprimento x dado como acima é a quarta
sica grega. proporcional dos segmentos de comprimentos a, b e e (nessa ordem).

Exemplo 4.3. Construa, com régua .e compasso, a quarta propor-


cional dos segmentos dados abaixo.
Exemplo 4.2. Com o uso de régua e compasso divida o segment'
AB, dado a seguir, em cinco partes iguais. Solução.
Solução.
A B

DESCRIÇÃO DOS PASSOS. DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

1. Trace, pelo ponto A, uma reta arbitrária r. 1. Trace duas retas r e s, concorrentes no ponto A.
2. Marque sobre r pontos C0 = A, C1, C2, C3, 2. Marque sobre a reta r os segmentos AB e BC tais que AB = a e
para O ::; i ::; 4, os comprimentos CiCi+i sejam todos iguais. BC = e; marque sobre a reta s o segmento AD, tal que AD = b.
+---+
+---+
3. Para 1 ::; i ::; 4, trace a paralela à reta C 5 B passando por Ci· 3. Trace, pelo ponto C, a paralela à reta BD, a qual intersecta a
4. Se Di é a interseção de tal paralela com o segmento AB, então reta s no ponto E. Pelo teorema de Thales, temos D E = !!f.
a,
conforme desejado.
o teorema de Thales garante que os pontos D1, D2, D3 e Di
dividem AB em cinco partes iguais.

154 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 155

Tão importante quanto o teorema de Thales, conforme enunciado O resultado a seguir é uma importante aplicação do teorema de
acima, é sua recíproca parcial a seguir, também devida a Thales de , Thales, sendo conhecido na literatura como o teorema da Bissetriz.
Mileto.
Proposição 4.5. Seja ABC um triângulo tal que AB -=I= AC.
Corolário 4.4. Sejam dados, no plano, retas r, s e pontos A, A' E r, :
<-------> <----> AB A' B'
B,B'Es,com ABn A'B'={C}. Se BC= B'C'entaor s.
- li (a) Se P é o pé da bissetriz interna e Q é o pé da bissetriz externa
relativas ao lado BC, então
Prova. Suponha que B E AC (cf. figura 4.4 - os demais casos são '.
análogos). Trace, pelo ponto B, a reta s' li r e marque o ponto B" '.
como a interseção de s' com o segmento A' C. Pelo teorema de Thales, '

(b) Sendo AB = c, AC= b e BC= a, temos

BP=...!!,f_ BQ -- __J!f._
lb-cl
{ b+c
PC= -2:Q_
b+c·
Qc -- lb-cl'
ab

u u' Q B p c
Figura 4.4: recíproca do teorema de Thales. Figura 4.5: o teorema da Bissetriz.

temos AB = A' B" , de maneira que nossas hipóteses fornecem


BC B"C Prova. O item (b) segue imediatamente de (a): sendo BP = x e
A'B' A'B" PC = y, temos x + y = a e, pelo item (a), :!!. = f Resolvendo o
B'C = B"C. . d y
sistema e equações
Agora, segue do problema 2, página 157, que B' = B" ou, o que é o
mesmo, s = s'. Logo, s li r. •

i '
156 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 157

obtemos x = .2:f... e y = bab • As demais fórmulas do item (b) são Problemas - Seção 4.1
b+c +e
provadas de modo análogo. _ _
1. As retas r, s e t são paralelas, com s entre r e t. As transver-
Quanto ao item (a), mostremos que ~~ = deixando a prova !~, sais u e v determinam, sobre r, s, t, pontos A, B, C e A', B', C',
(análoga) da igualdade ~~ = !~
a cargo do leitor (cf. problema 4, respectivamente, tais que AB = x + 2, BC= 2y, A' B' = y e
página 157). B'C' = (x - 10)/2. Sabendo que x + y = 18, calcule AB.
Suponha (cf. figura 4.6) que AB < AC (o caso AB > AC pode
ser tratado de modo análogo). Trace, pelo ponto B, a paralela à reta 2. * Sejam P 1 e P 2 pontos no interior de um segmento AB, tais que
<------+
AQ e marque seu ponto de interseção B' com o lado AC do triângulo.
+---t +---t ---+
Como QA li BB' e AQ é bissetriz de LBAX, obtemos

X Prove que os pontos Pi e P2 coincidem.

3. Dados segmentos de comprimentos a e b, dizemos que um seg-


mento de comprimento x é a terceira proporcional de a e b
(nessa ordem) se
a b
Q B b X
Mostre como construir, com régua e compasso, um segmento de
Figura 4.6: prova do teorema da bissetriz. tal comprimento x.

4. * Complete a prova do teorema da bissetriz .


..-. ' = BAQ
...-. .-... ...-..,
= QAX = BB A.
ABB 5. * Sejam ABC um triângulo e P e M respectivamente os pés da
bissetriz interna e da mediana relativas ao lado BC. Se P e M
Portanto o triângulo AB B' é isósceles de base B B', de maneira que
' <------+ coincidirem, prove que ABC é isósceles de base BC.
B' A= BA. Agora, aplicando o teorema de Thales às paralelas QA e
<------+ <------+ +---t

BB', intersectadas pelas retas QC e AC, obtemos 6. Em um triângulo ABC, seja P o pé da bissetriz interna relativa
a BC. Construa o triângulo com régua e compasso, conhecendo
BQ AB' BA os comprimentos P B, PC e AB.
QC AC AC.
7. Em um triângulo ABC, sejam P o pé da bissetriz interna rela-
• tiva ao vértice A. Marcamos, respectivamente sobre AB e AC,
pontos Me N tais que BM = BP e CN = CP. Prove que
MNIIBC.
158 Tópicos de Matemática Elementar 2 , Antonio Caminha M. Neto 159

8. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo· Â = Â', Ê = Ê', ê=ê 1 e existe k > O tal que
os comprimentos ma, mb e me das medianas de ABC, respecti- ·
AB _ BC_ AC -k
vamente relativas aos lados BC, AC e AB.
A' B' - B' C' - A' C' - .
Tal real positivo k é denominado a razão de semelhança entre os
4.2 Semelhança de triângulos triângulos ABC e A' B' C', nessa ordem (observe que a razão de seme-
Nesta seção, estudamos o conceito de semelhança de triângulos, o '
lhança entre os triângulos A' B'C' e ABC, nessa ordem, é f;).
Escrevemos ABC rv A' B'C' para denotar que os triângulos ABC
qual generaliza a noção de congruência de triângulos e se revelará de
e A' B' C' são semelhantes, com a correspondência de vértices A +--+ A',
fundamental importância para tudo o que segue.
B B', c +--+ c'.
+--+
Dizemos que dois triângulos são semelhantes quando existir uma :
Se ABC rv A'B'C' na razão (de semelhança) k, é possível provar
correspondência biunívoca entre os vértices de um e outro triângulo, ·
que k é também a razão entre os comprimentos de dois segmentos cor-
de modo que os ângulos em vértices correspondentes sejam iguais e a 1
respondentes quaisquer dos triângulos ABC e A' B' C' (nessa ordem);
razão entre os comprimentos de lados correspondentes seja sempre a ,
por exemplo, nas notações da figura 4.7, sendo M o ponto médio de
mesma (cf. figura 4. 7).
BC e M' o ponto médio de B' C', temos
A C'
bA MA _ a/2 _ a -k
M'A' - a'/2 - a' -
k~ A'~ª'
(a esse respeito, veja também o problema 3, página 168).
B ka' C e B' As três proposições a seguir estabelecem as condições suficientes
usuais para que dois triângulos sejam semelhantes. Por tal razão,
elas são conhecidas na literatura como os casos de semelhança de
1

1, 1
Figura 4.7: dois triângulos semelhantes.
triângulos usuais. Como suas demonstrações são consequências rela-
tivamente simples da recíproca do teorema de Thales, faremos a prova
Fisicamente, .dois triângulos são semelhantes se pudermos dilatar do primeiro deles, deixando as demonstrações dos dois demais como
e/ou girar e/ou refletir e/ou transladar um deles, obtendo o outro ao exercícios para o leitor (cf. problema 1, página 168).
final de tais operações 2 . O resultado da proposição a seguir é conhecido como o caso LLL
Na figura 4.7, os triângulos ABC e A' B'C' são semelhantes, com de semelhança de triângulos.
a correspondência de vértices A +--+ A', B +--+ B', C +--+ C'. Assim,
Proposição 4.6. Sejam ABC e A' B'C' triângulos no plano, tais que
2 Tal ponto de vista pode ser tornado preciso por meio do estudo de transfor-
mações geométricas, mas não as abordaremos aqui. Todavia, sugerimos ao leitor BC AC
interessado a maravilhosa coleção do professor I. M. Yaglom [15], [16], [17] e [18]. B'C' A 1C 1 •
160 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 161

Então ABC rv A'B'C', com a correspondência de vértices A+--+ A', de maneira que AC"= t·
AC= A 1C 1 •
B +--+ B', C +--+ C'. Em particular, Â = Â', Ê = Ê' e Ô= Ô'. Trace, agora, a paralela ao lado AB passando por C", a qual in-
tersecta o lado BC no ponto D. Então, o quadrilátero B" C" D B é
A C' um paralelogramo, de sorte que, novamente pelo teorema de Thales,

b/1 temos
IJiicii BD
k~ A'~ª' BC BC
B ka' C e B' Logo, B"C" = t·
BC= B'C'.
A discussão acima mostrou que

Figura 4.8: o caso de semelhança LLL. AB" = A' B' AC"= A 1C 1 e B"C" = B 1C 1
' '
i.e., que os triângulos AB"C" e A' B'C' são congruentes, pelo caso LLL
de congruência. Portanto, temos
Prova. Sendo k o valor comum das razões do enunçiado, temos 'AB =
k · A' B', BC= k · B'C' e AC= k · A 1C 1 • Suponha, sem perda de Ê = AÊC = AÊ"C" = A' Ê'C' = Ê',
generalidade, k > 1 e marque (cf. figura 4.9) o ponto B" E AB tal ·•
que AB" = A' B'. e, analogamente, Â = Â' e ê = Ô'.

O critério para a semelhança de dois triângulos constante da pró-
A
xima proposição é conhecido como o caso LAL de semelhança.

Proposição 4.7. Sejam ABC e A'B'C' triângulos no plano, tais que

AB = BC = k e Ê = Ê'.
B D c A'B' B'C'
Então, ABC rv A' B' C', com a correspondência de vértices A +--+ A',
Figura 4.9: prova do caso de semelhança LLL. B +--+ B', C +--+ C'. Em particular, Â = Â', Ô= Ô' e _:,~, = k.

Por fim, a proposição a seguir apresenta o caso AA de semelhança


Sendo C" a interseção, com o lado AC, da reta que passa por B" de triângulos.
e é paralela ao lado BC, segue do teorema de Thales que
Proposição 4.8. Sejam ABC e A' B'C' triângulos no plano, tais que
AB" 1
AB k' Â=Â' e Ê=Ê'.
162 Tópicos de Matemática Elementar 2 '. Antonio Caminha M. Neto 163

A C' (b) ax = b2 e ay = c2 .

B
k~
ka' C
A'{Ja'
e B'
(c) ª2 = b2

(d) xy=h2 .
+ c2.

Prova.
Figura 4.10: o caso de semelhança LAL. (a) e (b). Como AHB = CÂB e AÊH = CÊA (cf. figura 4.12), os
triângulos BAH e BCA são semelhantes pelo caso AA, com a corres-
pondência de vértices A +-+ C, H +-+ A, B +-+ B. Assim,
Então, ABC "' A' B' C', com a correspondência de vértices A +-+ A',
B +-+ B', C +-+ C'. Em particular, BH AH
AB
e -=
AC
ou, ainda,
y e h e
e a e b a
A C'

L
A relação ax = b2 é provada de maneira análoga.

A'~
B C B' c

Figura 4.11: o caso de semelhança AA. b

Como corolário dos casos de semelhança acima, estabelecemos, na A e B


proposição a seguir, as relações métricas em triângulos retângu-
Figura 4.12: relações métricas num triângulo retângulo.
los.

Proposição 4.9. Seja ABC um triângulo retângulo em A, com cate-


(c) Somando membro a membro as duas relações do item (b), obtemos
tos AB = e, AC = b e hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura
a igualdade a( x + y) = b2 + c2 . Mas, uma vez que x + y = a, nada
relativa à hipotenusa, CH = x, BH = y e AH= h, temos:
mais há a fazer.
(a) ah= bc.
164 Tópicos de Matemática Elementar 165

(d) Multiplicando membro a membro as duas relações do item (b),. A

&
obtemos a 2 • xy = (bc) 2 ou, ainda, '

xy= (~)' =h2 ,


B Mf! C
2
onde utilizamos o item (a) na última igualdade acima.
Figura 4.14: alturas de um triângulo equilátero.
Como já mencionamos à seção 1.4 do volume 1, o item (c) d ,
proposição acima é o conteúdo do famoso teorema de Pitágoras:;
Apresentamos, no que segue, algumas consequências importantes d'· Prova. Sejam ABC um triângulo equilátero de lado a e Mo ponto
mesmo, a primeira das quais já foi utilizada na seção acima referida. , médio do lado BC (cf. figura 4.14). O problema 8 da página 45),
Corolário 4.10. As diagonais de um quadrado de lado a medem a../2:'. garante que AM J_BC. Portanto, aplicando o teorema de Pitágoras
· . ao triângulo ACM, obtemos
Prova. Se ABC D é um quadrado de lado a e. diagonais AC e B ,
(cf. figura 4.13), então o triângulo ABC é retângulo e isósceles. Daí;.
o teorema de Pitágoras fornece AM2 = AC2 - CM2 = ª2 - (~)2
2
= 3a2
4 '

AC = V AB 2 + BC2 = .Ja 2 + a 2 = a../2. e segue o resultado.



D C
O próximo exemplo utiliza o item (d) da proposição 4.9 para re-

A
[Z}a B
solver geometricamente uma equação do segundo grau de raízes posi-
tivas.

Exemplo 4.12. Dados segmentos de comprimentos se p, tais que s >


Figura 4.13: diagonal de um quadrado em função de seu lado.
2p, construa, com régua e compasso, segmentos cujos comprimentos
sejam iguais às raízes da equação x 2 - sx + p 2 = O.

Corolário 4.11. As alturas de um triângulo equilátero de lado 1{


medem ªf.
.Antonio Caminha M. Neto 167
166 Tópicos de Matemática Elementar 2 ,

Prova. Seja H o pé da altura relativa a BC. Há dois casos essencial-


mente distintos:

(a) B E CH (cf. figura 4.15): neste caso, aplicando o teorema de


Pitágoras ao triângulo AHC, obtemos
s
2 --2 --2 2 2
b = AH + C H > C H 2: BC = a2 = b2 + c2
e, daí, O 2: c2 , o que é um absurdo.
A

DESCRIÇÃO DOS PASSOS.

1. Trace uma retare marque, sobre a mesma, pontos B e C tais que


BC= s. Em seguida, construa um semicírculo r de diâmetro:
~c
H B

BC. Figura 4.15: recíproca do teorema de Pitágoras - caso (a)

2. Trace a reta r', paralela à reta r e à distância p de r,


intersecta r nos pontos A e· A' (uma vez que p < ! ).
(b) H E BC (cf. figura 4.16): sejam AH = h, M o ponto médio
3. Agora, a discussão que sucede a prova da proposição 3.19 garante' de BC e BH = x. Podemos supor, sem perda de generalidade, que
que o triângulo ABC é retângulo em A.
A
4. Se H é o pé da perpendicular baixada de A a BC, então BH +
CH =se o item (d) da proposição 4.9 garante que BH · CH =
p 2 . Logo, pela proposição 2.13 do volume 1, os comprimento
BH e CH são as raízes da equação do segundo grau do enunch
ado.
B H M c
Figura 4.16: recíproca do teorema de Pitágoras - caso (b)

Terminamos esta seção estabelecendo uma recíproca do teorem ·,


de Pitágoras (a esse respeito, veja também a proposição 7.24). H E BM. Aplicando o teorema de Pitágoras aos triângulos AHC e
'
AHB, obtemos
1
1, Proposição 4.13. Seja ABC um triângulo tal que AB = e, BC=
e AC = b. Se a2 = b2 + c2, então ABC é retângulo em A. a2 = b2 +c2 = (AH 2 + CH 2 ) + (AH 2 + BH 2 ) = 2h2 + (a-x) 2 +x2 ,
1
1 1
,,
"
Tópicos de Matemática Elementar 2, ,Antonio Caminha M. Neto 169
168

donde h2 = ax - x 2 . Mas aí, aplicando o teorema de Pitágoras ao, 4. * O triângulo ABC é retângulo em A e o ponto P E BC é o pé
da bissetriz interna do ângulo L.BAC. Calcule a distância de P
triângulo AH M, obtemos
ao lado AC em função de AB = e e AC = b.
AM2 AH2 + HM 2 = h2 + (BM - BH) 2
2 ª2
= (ax - x 2 ) + (~ - x
)
=4, 5. Seja ABC um triângulo retângulo em A e tal que AB = 1. A
bissetriz do ângulo L.BAC intersecta o lado BC em D. Sabendo
de sorte que AM =%=!BC. Portanto, M equidista dos vértices de que a reta r, que passa por D e é perpendicular a AD, intersecta
ABC, e a proposição 3.30 garante que ABC é retângulo em A. 1 o lado AC em seu ponto médio, calcule o comprimento do lado
AC.

6. Seja ABCD um paralelogramo de diagonais AC e BD e lados


Problemas - Seção 4.2 AB = lücm, AD= 24cm. Sejam, ainda, E e F respectivamente
1. * Prove que os conjuntos de condições elencados em cada uma 1
os pés das perpendiculares baixadas desde A aos lados BC e CD.
das Proposições 4. 7 e 4.8 são realmente suficientes para garantit Sabendo que AF = 20cm, calcule o comprimento de AE.
a semelhança dos triângulos ABC e A' B' C'.
7. Dois círculos, de raios r < R, são tangentes exteriormente em
2. Na figura abaixo, os três quadriláteros mostrados são quadrados P. Sabendo que tais círculos também tangenciam os lados de
e os pontos X, Y e Z são colineares. Calcule, em centímetros, a
um ângulo de vértice A, calcule AP em termos de r e R.
medida do lado do quadrado menor, sabendo que os outros dois
quadrados têm lados medindo 4cm e 6cm. 8. Seja ABC um triângulo tal que BC = a, AC = b e AB = e,
X e M, N e P pontos respectivamente sobre AB, BC e AC, tais
que AMN P é um losango.
1____,li-------,h z (a) Calcule, em termos de a, b e e, o comprimento do lado do
losango.
(b) Mostre como construir com régua e compasso a posição do
3. * Sejam ABC e A' B'C' triângulos semelhantes, com razão de ponto M.
semelhança k. Sejam, ainda, ma e m~, ha e h~, f3a e f3~ respec-
tivamente os comprimentos das medianas, alturas e bissetrizes, 9. Seja ABC um triângulo equilátero de lado a e M o ponto médio
<------>
internas relativas a A e A', também respectivamente. Prove que de AB. Escolhemos um ponto D sobre a reta BC, com C entre
ma _ ha _ f3a _ k B e D, de modo que CD = %· Se AC n DM = {E}, calcule
m'a - h'a - {3'a - · AE em função de a.
170 Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto 171

10. Ern urn trapézio ABCD de bases AB = a e CD= b, os lados ; '.,\ 16. As retas r e s são tangentes ao círculo circunscrito ao triângulo
não paralelos são AD e BC. Pelo ponto de concurso P das : acutângulo ABC respectivamente ern B e ern C. Sendo D, E e
diagonais de ABC D, traçamos o segmento M N paralelos às F os pés das perpendiculares baixadas de A respectivamente a
bases, corn ME AD e N E BC. Prove que Pé o ponto médio BC e às retas r e s, prove que
de MN e que MN é igual à média harmónica de a e b, i.e.,
prove que M N = ;:t. -2
AD =
- -
AE· AF.

11. * Sobre o lado BC de urn triângulo ABC rnarcarnos urn ponto 17. No retângulo ABCD, de lados AB = 4rn e BC = 3rn rnar-
Z. Ern seguida, traçamos por B e C respectivamente as retas r
'
carnos sobre a diagonal AC o ponto M tal que D M ..lAC. Cal-
<---+ <---+ <---+
e s, ambas paralelas a AZ. Se ACn r = {X} e ABn s = {Y}, cule o cornprirnento do segmento AM
prove que
18. Seja ABC urn triângulo retângulo de catetos b e e e altura h
1 1 1
-=+===. relativa à hipotenusa. Prove que
BX CY AZ

12. Ern urn trapézio ABCD, de bases ABe CD e lados não paralelos
AD e BC, seja M o ponto médio da base CD. O segmento
AM intersecta a diagonal BD ern F. Traçamos por F a reta r, · 19. * Dados reais positivos a e b, considere, no plano, urn segmento
paralela às bases. Se r intersecta os segmentos AD, AC e BC AB de cornprirnento a + b e urn ponto H sobre o rnesrno tal
~- -~ '
respectivamente ern E, G e H, prove que EF = FG = GH. que AH= a e BH = b. Tr.ace urn semicírculo de diâmetro AB
e, ern seguida, marque o ponto C, obtido corno a interseção de
. 1.
13. * (OCM.)Seja ABC urn triângulo tal que AB = e, AC= b e tal semicírculo corn a reta perpendicular a AB e passando pelo
BC= a. Se AÊC = 2AÔB, mostre que b2 = c(a + e). ponto H.

(a) Mostre que CH = v'a,b.


14. (OCM.) Urn triângulo ABC é tal que AÔB = 2BÂC e AC= •
2 BC. Mostre que tal triângulo é retângulo. (b) Conclua que a desigualdade (7.6) do volume 1 é essencial-
mente equivalente à desigualdade triangular no triângulo
15. * (OCS - adaptado.) Sejam r(O; R) o círculo circunscrito a (possivelmente degenerado) C H O, onde O é o ponto mé-
urn triângulo ABC e Ha o pé da altura de ABC relativa ao dio de AB.
lado BC. Sé A' é o simétrico de A ern relação a O, prove que
AA'C rv ABHa. Conclua, a partir daí, que se AB = e, AC= b ·' · 20. * Dados, no plano, segmentos de cornprirnentos a e b, construa
corn régua e compasso urn segmento de cornprirnento v'a,b.
e AHa = ha, então
bc 21. Sejam M, N e P pontos respectivamente sobre os lados BC
ha = 2R. '
CA e AB de urn triângulo equilátero ABC de lado a, tais que
172 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 173

EM = C N = AP = i. Mostre que o triângulo M N P também e t é lm. O triângulo ABC é equilátero e tem um vértice sobre
é equilátero e que seus lados são perpendiculares aos lados de cada uma das retas r, s, t. Calcule o comprimento de seu lado.
ABC.
29. (OCM.) Duas torres, uma com 30m de altura e a outra com 40m
22. Dados segmentos de comprimentos a, b e e, construa com régua de altura, estão situadas a 50m uma da outra. Entre ambas as
v
e compasso um segmento de comprimento a 2 + b2 - c2 , ad- torres há uma fonte, para a qual dois passarinhos partem, em um
mitindo que a expressão sob o sinal da raiz seja positiva. mesmo instante e com velocidades iguais, do alto de cada torre.
Sabendo que os passarinhos chegam à fonte simultaneamente,
23. Seja ABC D um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos
calcule a distância da fonte à base da torre mais baixa.
AD e BC, retângulo em A. Sabendo que AB e CD medem,
respectivamente, 12cm e 4cm, e que ABCD é circunscritível, ·
30. Se os comprimentos de dois dos lados de um triângulo são 7 e
calcule as distâncias dos vértices B e C ao centro do círculo
5\1'2, e se o ângulo compreendido entre tais lados mede 135º,
inscrito em ABCD.
calcule o comprimento do terceiro lado.
24. A hipotenusa BC de um triângulo retângulo ABC é dividida
31. Dado um ponto P no interior de um retângulo ABCD, de dia-
em quatro segmentos congruentes pelos pontos D, E e F. Se
~- -~2 gonais AC e BD, prove que AP2 + CP 2 = BP 2 + DP 2 •
BC = 20cm, calcule, em centímetros, o valor da soma AD +
AE 2 + AF2 .
32. ABCD é um quadrado de lado 10 e Pé um ponto sobre seu
25. Identifique e construa, com régua e compasso, o LG dos pontos círculo circunscrito. Calcule os possíveis valores da soma P A 2 +
médios das cordas de comprimento l de um círculo r(O; R) dado. PB 2 + PC 2 + PD 2 •

26. · Sejam r um círculo de centro O e raio R no plano. Prove que . 33. Se as diagonais de um quadrilátero são perpendiculares, prove
o LG dos pontos do plano a partir dos quais podemos traçar que as somas dos quadrados dos comprimentos dos pares de lados
tangentes de comprimento l a r é o círculo de centro O e raio opostos são iguais.
JR2 + l2.
34. Considere, no plano, uma reta s e dois círculos de raios R e r,
11:,:: 27. (OCM.) Um pedestre, situado a 25m de um edifício, o visualiza situados em um mesmo semiplano dos que s determina, e tan-
li::
t,, sob um certo ângulo. Em seguida, ele se afasta mais 50m do ' gentes a s e exteriormente entre si. Considere um terceiro cír-
edifício e nota que, ao assim fazer, o novo ângulo de visualização · culo, tangente exteriormente aos dois primeiros e também tan-
é exatamente a metade do anterior. Calcule a altura do edifício. . gente as. Sendo x o raio desse terceiro círculo, prove que

28. (OCM.) As retas r, s e t são paralelas, estando s entre r e t, de 1 1 1


tal modo que a distância entre r e s é 3m e a distância entre s .
-
vx=../R
- +v1r·
-
174 Tópicos de Matemática Elementar 2; Antonio Caminha M. Neto 175

35. Sejas a reta numerada e a um dos semiplanos, dentre os que si;


determina. Para cada n E Z, trace o círculo de raio !,
contido.
em a e tangente a s em n. Em seguida, sendo r 1 e r 2 dois
círculos já traçados e tangentes exteriormente, trace todos os.
círculos tangentes a s e a r 1 e r 2 . Repetindo essa operação\
recursivamente, prove que o conjunto dos pontos de tangência Q c
de tais círculos com s está contido no conjunto Q dos números \
racionais 3 .

Figura 4.17: recíproca do teorema da Bissetriz.


4.3 Algumas aplicações
Esta seção coleciona algumas aplicações interessantes de seme- · vértice) e PÔV = QÔA. Portanto, pelo caso AA, temos BUP,...., BAQ
lhanças de triângulos, pagando um merecido tributo aos materp.áticos · e PCV ,...., QCA, de maneira que
Apolônio de Perga, Claudius Ptolomeu e Leonhard Euler. BP PU PV
Nosso primeiro resultado estabelece uma recíproca do teorema da! AQ.
BQ QA
Bissetriz. Para o enunciado do mesmo, recorde que, em todo triân-
gulo, as bissetrizes interna e externa relativas a um mesmo vértice são· Mas, como !~ = ~g por hipótese, as relações de semelhança acima
perpendiculares. nos dão

Proposição 4.14. Seja ABC um triângulo e P e Q pontos sobre a


reta BC, com P E BC e Q tj. BC. Se
quer dizer, PU = PV. · Agora, de AP l_AQ e UV li AQ temos
PÂQ = 90º e BP= BQ UV l_ AP, de sorte que AP é mediana e altura do triângulo AUV.
PC QC' Logo, o problema 8, página 45, garante que AP também é bissetriz de
então AP é a bissetriz interna e AQ é a bissetriz externa de LBAC. L'.'.UAV e, daí, de LBAC.
Por fim, como a bissetriz externa relativa a A é perpendicular à
Prova. Trace, pelo ponto P, a paralela a AQ, e sejam U e V seus interna, temos que AQ é bissetriz externa de LBAC. •
+--------> +-------->
pontos de interseção com AB e AC, respectivamente (cf. figura 4.17).
O corolário 2.18 garante que BUP = BÂQ e PVC = QÂC; por outro Estamos, agora, em condições de enunciar e provar o teorema a
lado, UÊ P = AÊQ (pois os ângulos correspondentes são opostos pelo seguir, devido a Apolônio de Perga.

3 Podeser provado que o conjunto dos pontos de tangência assim obtidos coin- Teorema 4.15 (Apolônio). Dados um real positivo k i=- 1 e pontos
cide com Q. Referimos o leitor a [14] para uma discussão sobre esse ponto. B e C no plano, o LG dos pontos A do plano tais que AB = k · AC
176 Tópicos de Matemática Elementar 177

de ABC, traçadas a partir de A. Segue do teorema da Bissetriz que

BP' BQ' BA
====-==k
P'C Q'C AC

e novamente pelo problema 2, página 157, obtemos P' = P e Q' = Q.


' ~
Mas, como P' AQ' = 90º, segue que A pertence ao círculo de diâmetro
Figura 4.18: Apolônio de Perga, matemático grego
do século III a.C. Apolônio deu grandes contribuições
PQ.
Reciprocamente, se A =/=- P, Q é um ponto sobre o círculo de diâ-
à Geometria Euclidiana, notadamente ao estudo das
- <--------> ~ _ º BP _ BQ _
cônicas. metro PQ, entao A(/:. BC e PAQ - 90. Como PC - QC - k,
segue da proposição anterior que, no triângulo ABC, AP é bissetriz
interna e AQ bissetriz externa. Portanto, novamente pelo teorema da
é o círculo com diâmetro PQ, onde P E BC e Q E Bissetriz, temos
pontos tais que
BP BQ
- = =-= =k.
PC QC
de sorte que A pertence ao lugar geométrico desejado.

O lugar geométrico descrito no enunciado do teorema anterior é co-
nhecido na literatura como o círculo de Apolônio relativo a (B, C),
na razão k =f=. 1. Em particular, observe que os círculos de Apolônio
B Q relativos a (B, C) e (C, B), ambos na razão k =/=- 1, são distintos. Para
uma outra prova do resultado anterior, referimos o leitor ao problema
5, página 288.
O exemplo a seguir ensina como construir facilmente o círculo de
Apolônio relativo a um par ordenado de pontos dados, numa razão
Figura 4.19: círculo de Apolônio sobre BC na razão k.
k =!=- 1 também dada.

Exemplo 4.16. Nas notações da figura abaixo, construa o círculo de


Prova. Se A=/=- P, Q é um ponto tal que AB = k· AC, então uma fácil Apolônio relativo a (B, C), na razão j.
variante d~roblema 2, página 157, garante que A(/:. BC. Sejam, pois
P', Q' E BC respectivamente os pés das bissetrizes interna e externa Solução.
178 Tópicos de Matemática Elementar 2 ·
Antonio Caminha M. Neto 179

B c

Figura 4.20: Cláudio Ptolomeu, matemático e as-


trônomo grego do século II d.C., deu grandes con-
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
tribuições à Geometria Euclidiana. Ptolomeu é mais
<-----+ conhecido por seus trabalhos como astrônomo, prin-
1. Trace retas paralelas r e s, ambas diferentes de BC e tais que
cipalmente por haver proposto a (equivocada) Teoria
BE r e CE s.
Geocêntrica, segundo a qual a Terra ocupava o centro
do Universo. Tal teoria foi aceita como um dogma
2. Fixe um segmento arbitrário, de comprimento u, e marque. sobre
pela Igreja Católica por cerca de 1400 anos, tendo
r um ponto X tal que EX = 2u e sobre s os pontos Y e Z tais
sido a responsável pelo julgamento de Galileu Galilei
que CY = C Z = 3u; nomeie Y e Z de tal forma que X e Y
no Tribunal da Santa Inquisição.
estejam em um mesmo semiplano, daqueles determinados pela
<-----+
reta BC.
Teorema 4.17 (Ptolomeu). Se ABCD é um quadrilátero inscritível
3. Marque os pontos P e Q como as interseções da reta
de diagonais AC e BD, então
i I as retas X Z e XY, respectivamente.

4. Pelo caso AA, temos as semelhanças de triângulos XBP ZCP r-..J

e XQB YQC. Por outro lado, a partir delas, obtemos


r-..J
Prova. Marque o ponto P sobre a diagonal BD, tal que PÔD
BP 2 BQ 2 AÔB (cf. figura 4.21). Como BÂC = BDC = ! BC, os triângulos
PC 3 e QC 3' ABC e DPC são semelhantes por AA e, daí,

de sorte que o LG procurado é o círculo de diâmetro PQ.

Analogamente, também são semelhantes os triângulos ADC e BPC,


Nossa próxima aplicação de semelhanças é um famoso teorema de maneira que
sobre quadriláteros inscritíveis, devido a Cláudio Ptolomeu.
180 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 181

B D

c
A
Figura 4.21: o teorema de Ptolomeu.
Figura 4.22: um corolário útil do teorema de Ptolomeu.

Agora, as duas relações obtidas acima nos dão


Faremos uma aplicação interessante do teorema de Ptolomeu na
AD·BC AB-GJ5 seção 5.2 (cf. teorema 5.13). Por outro lado, uma generalização do
BD= BP+ PD= AC + AC ,
mesmo será apresentada na seção 7.4 (cf. teorema 7.33).
como desejado.

Colecionamos, no corolário a seguir, uma consequência interessante
Dando prosseguimento, prestamos um justo tributo à genialidade
de Leonhard Euler, apresentando dois belos teoremas seus (para um
terceiro, veja o teorema 4.31 da próxima seção).
do teorema de Ptolomeu (a esse respeito, veja também o problema 15,
página 122). Teorema 4.19 (Euler). Se O, G e H são respectivamente o circun-
centro, o baricentro e o ortocentro de um triângulo ABC, então:
Corolário 4.18. Se ABC é um triângulo equilátero e Pé um ponto
qualquer sobre o arco menor B~C de seu círculo circunscrito, então (a) AH= 20M, onde M é o ponto médio de BC.
PB+ PC= PA. (b) H, G e O são colineares, com G E HO e HG = 2 GO.

Prova. Aplicando o teorema de Ptolomeu ao quadrilátero P B AC da Prova.


figura 4.22, obtemos (a) Se N é o ponto médio de AC (cf. figura 4.24), então o teorema
da base média nos dá MN li AB e MN = !AB. Portanto, OMN =
AB. PC+ AC· PB = AP · BC. HÂB e ONM = HÊA, de sorte que os triângulos OMN e HAB são
semelhantes e, daí,
Em seguida, cancelando os comprimentos iguais AB =AC= BC,
obtemos o resultado desejado.
• 1
-
2
182 Tópicos de Matemática Elementar:, 183

B M c
Figura 4.23: o suiço Leonhard Euler, que viveu do
+------>
século XVIII, é até hoje considerado o matemático Figura 4.24: a reta de Euler HO de ABC.
que mais publicou trabalhos relevantes. Suas con-
tribuições variam, impressionantemente, da Geo-
metria à Combinatória, passando pela Teoria dos ao triângulo medial, passa pelos pontos médios dos segmentos que
Números e Física. Em cada uma dessas áreas do unem os vértices do triângulo ao ortocentro e tem raio igual à metade
conhecimento há pelo menos um celebrado teorema do raio do círculo circunscrito ao triângulo.
de Euler.
Prova. Sejam ABC um triângulo com circuncentro O e ortocentro
<H, tal que M é o ponto médio de BC, A' é o ponto médio de AH
(b) Se G' é o ponto de interseção dos segmentos AM e H O, ent .
+------+ +------+ ----- 'e Ré o raio do círculo circunscrito a ABC (cf. figura 4.25). Como
O G' M = HG'A. Também, como OM li AH, segue que OMG' ~AA' 11 OM e (pelo teorema anterior) AA1 = OM, o problema 1,
HÂG'. Portanto, os triângulos MOG',...., AHG' por AA e, daí, ipágina 85, garante que o quadrilátero AA' MO é um paralelogramo.
OG' MG' OM 1 •. Portanto, A' M = AO = R.
HG' = AC' = AH = 2'
onde utilizamos o item (a) na última igualdade acima. Segue daí e
proposição 2.38 que G e G' são pontos do segmento AM, tais que
AC' AC
MG' - MG.
Portanto, pelo problema 2, página 157, devemos ter G = G'.
+------+
B c
Nas notações do resultado anterior, dizemos que H O é a reta d
Euler e H O é a mediana de Euler do triângulo ABC.
Teorema 4.20 (Euler). Em todo triângulo, o circuncentro do triâ ,·
gulo órtico coincide com o ponto médio da mediana de Euler. Ad · Figura 4.25: o círculo de Euler de ABC.
mais o círculo circunscrito ao triângulo órtico é também circunscrito
' .
184 Tópicos de Matemática Elementar 2 :, Antonio Caminha M. Neto 185

Por outro lado, como A' H li QM e (também pelo teorema ante- Problemas - Seção 4.3
rior) A' H = OM, segue novamente do problema 1, página 85, que o;
quadrilátero A' H MO é um paralelogramo. Portanto, suas diagonais 1. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo
cortam-se ao meio, de forma que, sendo O' o ponto médio de H O, ~ as posições dos vértices B e C e do pé da bissetriz interna relativa
concluímos que O' também é médio de A' M. Assim, a A, bem como o comprimento b do lado AC.

- 1- R 2. De um triângulo ABC conhecemos as posições dos vértices B e


O'A' = O'M = -A'M = -.
2 2 C e do pé da bissetriz interna relativa ao vértice A, bem como
Seja, agora, Ha o pé da altura relativa a BC. Como em todo o comprimento l de tal bissetriz. Explique como obter a posição
triângulo retângulo a mediana relativa à hipotenusa é igual à metade: do vértice A.
da mesma, no triângulo A' HaM temos 3. Construa o triângulo ABC, conhecidos o comprimento a do lado
-- 1- R BC, o comprimento ma da mediana relativa a BC e sabendo que
O'Ha = -A'M = -.
2 2 AB = !AC.
Em particular, o círculo de centro O' e raio igual a ~ passa por A', M . 4. * Seja k =!= 1 um real positivo.Prove que o círculo de Apolônio
e Ha. Por fim, como o mesmo argumento é válido para os outros seis relativo a (B, C) e na razão k tem raio igual a lk 2~ 11 · BC.
pontos em questão, nada mais há a fazer. •
5. (Romênia.) ABCD é um quadrilátero de diagonais AC e BD,
O círculo descrito no resultado anterior é conhecido na literatura·:
inscrito em um círculo r. Mostre que existe P E r tal que
como o círculo de Euler, ou círculo dos nove pontos do triângulo
PA+ PC= PB+ PD.
1'
ABC.
6. * Seja ABC um triângulo cujos ângulos internos são menores
que 120º. Construa, exteriormente a ABC, triângulos equi-
láteros BCD, AGE e ABF (os quais são conhecidos como os
Triângulos N apoleônicos4 de ABC). Prove que:

(a) Os círculos circunscritos aos triângulos BCD, AGE e ABF


passam por um mesmo ponto P, denominado o Ponto de
Fermat 5 de ABC.
4 Algumas fontes atribuem a descoberta dos fatos listados nos itens (a) e (b)
deste problema ao imperador francês Napoleão Bonaparte, ao passo que outras
sugerem que tal autoria é improcedente.
5 Após Pierre S. de Fermat, matemático francês do século XVII.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 187
186

(b) APF = FPB = BPD = DPC = CPE = EPA = 60º. 4.4 Colinearidade e concorrência
(c) AD=BE=CF=PA+PB+PC. Nesta seção, apresentamos dois teoremas clássicos de colinearidade
e concorrência, bem como algumas aplicações importantes dos mes-
7. São dados urn natural n e urn círculo f de raio 1. Se AB é urn mos. Para tanto, adotaremos, aqui, as seguintes convenções:
diâmetro de r, prove que existem pontos C1, ... , Cn E r tais
que ACi, BCi E Q, para 1 ~ i ~ n. i. dados pontos distintos X e Y no plano, XY denota o segmento
ordinário que une X e Y, orientado de X para Y. Em particu-
8. (IMO _ adaptado.) Dado n EN, mostre que existem urn _círc~lo lar, escrevemos XY = -Y X como lembrete de que os segmentos
f e pontos A 1 , ... , An E r tais que AiAj EN, para 1 ~ i < J::::; orientados XY e Y X têm orientações distintas.
n.
ii. dados pontos colineares X, Y e Z, denotamos
9. (Brasil.) Ern urn paralelogramo ABCD, de diagonais AC e BD,
denotamos por H o ortocentro do triângulo ABD e por O o XY se XY e Y Z têm orientações iguais
circuncentro do triângulo BC D. Prove que os pontos H, O e C ~~ = {
-~~'
se XY e Y Z têm orientações distintas
são colineares. YZ'

10. Construa corn régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo De posse das notações acima, podemos enunciar e provar nosso
as posições do circuncentro O, do ortocentro H e do ponto médio primeiro resultado, devido ao matemático grego dos séculos I e II
M do lado BC. da era Cristã Menelaus de Alexandria, sendo conhecido na literatura
corno o teorema de Menelaus.
11. Ern urn triângulo não equilátero ABC, de ortocentro H e circun-
centro O, prove que a mediatriz do segmento H O e a bissetriz Teorema 4.21 (Menelaus). Seja ABC um triângulo e A', B' e C' pon-
interna relativa ao lado BC intersectam-se sobre o círculo cir- tos sobre as retas suportes dos lados BC, C A e AB, respectivamente,
cunscrito ao triângulo AHO. todos distintos dos vértices de ABC. Então:
BA' CE' AC'
12. Ern urn quadrilátero inscritível ABCD, de diagonais AC e BD, .. A'C . B' A . C' B = - l
(4.2)
sejam H 1 e H 2 os ortocentros dos triâng~s AC-f!..} BCD, res-
pectivamente. Prove que o segmento H1H2 li AB e H1H2 = . se, e só se, os pontos A', B' e C' forem colineares.
AB.

13. (Estados Unidos.) Ern urn triângulo ABC de ortocentro H e .


-
Prova. Inicialmente, suponha (cf. figura 4.26) que A' E CE\ BC,
B' E AC, C' E AB e que os pontos A', B' e C' são colineares (os
circuncentro O, ternos AO = AH. Calcule as possíveis medidas ·. <-------+
demais casos são totalmente análogos). Marque o ponto P E A' B',
do ângulo BÂC.
···.j

Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 189


188

A Exemplo 4.22. Seja ABC um triângulo tal que AB #- AC. Se D é


o pé da bissetriz externa relativa a A e E e F são os pés das bissetrizes
internas relativas a B e C, prove que os pontos D, E e F são colineares.

Prova. Suponhamos, sem perda de generalidade, que AB < AC,

A'
e de sorte que o vértice B está situado no interior do segmento CD
(cf.figura 4.27).
Figura 4.26: o teorema de Menelaus.
A

tal que BP li AC. Então, A' BP "' A'C B' e P BC' "' B' AC', de sorte}
que •
BA' BP AC' AB' D B C
A'C = - CB' e C'B = BP.
Figura 4.27: colinearidade dos pés de certas bissetrizes.
Logo,
-BA' . -CB' .· -AC' = - -BP CB' AB'
= . - = . - = = -1.
A'C B'A C'B CB' B'A BP Pelo teorema de Menelaus, basta mostrarmos que
Reciprocamente, sejam A', B' e C' pontos situados sobre as ret AF BD CE
suportes dos lados BC, CA e AB, respectivamente, todos distint F B . DC . EA = -l.
dos vértices de ABC e tais que a relação (4.2) seja válida. Marque
<---> <---> Mas, pelo teorema da Bissetriz, ternos
ponto de interseção B" das retas A'C' e AC. Como A', B" e C' s-
colineares, a primeira parte acima garante que AF AC BD CE
FB CE' DC -
AC, e EA
BA' CB" AC'
-·-·-=-1. de sorte que, multiplicando ordenadamente as três expressões acima,
A'C B"A C'B
obtemos a igualdade desejada. •
- , CB' CB".
Comparando essa relaçao com (4.2), conclmmos que B' A B" A,
partir daí, e com o auxílio do problema 2, página 157, é fácil conclui. Corno aplicação adicional do teorema de Menelaus provamos, a
seguir, um famoso teorema de Girard Desargues, matemático francês
que B' = B". Logo, A', B' e C' são colineares.
do século XVII, considerado o fundador da Geometria Projetiva.
A título de ilustração do uso do teorema de Menelaus, considerem ·.-
Teorema 4.23 (Desargues). Se ABC e A' B'C' são triângulos tais que
+--+ +----+ . +----+ +----+ +----+ +----+
o seguinte exemplo.
ABn A'B' = {Z}, BCn B'C' = {X} e ACn A'C' = {Y}, então X,
190 Tópicos de Matemática Elementar 2 : Antonio Caminha M. Neto 191
<--t <--t <--t

Y e Z são colineares se, e só se, AA', BB' e CC' são concorrentes ou · o


paralelas6 .

Prova. Suponha, inicialmente, que X, Y e Z são colineares (cf. figura


<--t <--t +--+
4.28). A fim de mostrarmos que as retas AA', BB' e CC' são con-
+--+ <--->
correntes ou paralelas, é suficiente supor que AA' e BB' concorrem ·.
<--->
em um ponto O, mostrando, em seguida, que O E CC', i.e., que O, C
e C' são colineares. Para tanto, aplicaremos o teorema de Menelaus
ao triângulo AA'Y, mostrando que
YC' A'O AC
-·-·-=-1. y
C'A' OA CY X
Para o que falta, aplicando o teorema de Menelaus aos triângulos
ZAA', YZA e YZA', obtemos
ZB' A'O AB YZ ZB AC
B' A' . O A . BZ = - l, XZ BA CY-·-·-=-1

e
YC' A'B' ZX
-·-·-=-1.
C'A' B'Z XY
Multiplicando membro a membro as três relações acima e levando em}
conta que
YX ZX AB ZB ZB' A'B' B'
-·-=-· =-·-=1
XZ XY BZ, BA B'A' B'Z '
Figura 4.28: o teorema de Desargues.
6 Nojargão das .artes visuais, se os pontos X, Y e Z forem colineares, diz-se.;
que os triângulos ABC e A' B' C' estão em perspectiva a partir de uma reta:)
(a reta dos pontos X, Y e Z), a qual é, então, denominada o horizonte; por'.
+----> <----+ <---+
outro lado, se as retas AA', BB' e CC' forem concorrentes ou paralelas, diz-se obtemos (4.3).
que ABC e A' B' C' estão em perspectiva a partir de um ponto, qual seja:) A demonstração da afirmação recíproca é análoga e será deixada
+-----+ +-----+ ~ ',,if.
o ponto de concurso das retas AA', BB' e CC' (então denominado o ponto\ como exercício para o leitor (cf. problema 1, página 198). •
de fuga), caso estas sejam concorrentes, ou o ponto do infinito na direção de.,
+----> <----+ <----+
AA', BB' e CC', caso estas sejam paralelas. Assim, em palavras o teorema de} À sequência, apresentamos o análogo do teorema de Menelaus para
Desargues afirma que, no plano, dois triângulos estão em perspectiva a partir dÚ a concorrência das retas que unem cada vértice de um triângulo a um
uma reta se, e só se, estiverem em perspectiva a partir de um ponto. ponto situado sobre a reta suporte do lado oposto. Tal resultado é
"'l
!

192 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 193

devido ao matemático italiano dos séculos XVII e XVIII e


Ceva, sendo conhecido como o teorema de Ceva. CB' CB' CA- B'A CA CQ
= - - = ---=--- = - - -1 = - - -1
B'A B'A B'A B'A B'P .
Teorema 4.24 (Ceva). Dados um triângulo ABC e pontos A', B' e.; Portanto,
C' situados respectivamente sobre as retas suportes dos lados BC, CA
e AB, temos que
BA' CB' AC'
-·-·-=1
A'C B'A C'B
e basta mostrarmos que a última expressão acima é igual a 1, i.e., que
se, e só se, as retas AA', BB' e CC' forem concorrentes ou paralelas.
1 1 1
--=-+-
C' B'P AR CQ.
Mas isso é exatamente o que diz o problema 11 da página 170.
Por fim, deixamos como exercício para o leitor (cf. problema 2,
<--------> +------> +------>
página 198) a tarefa de mostrar que, se AA', BB' e CC' forem para-
lelas, então (4.4) também é válida.
+------>
Reciprocamente, suponha válida a relação (4.4) e marque B" E AC
+------> +------> +------>

tal que as retas AA', BB" e CC' sejam concorrentes ou paralelas.


Segue da primeira parte acima que
B c A'
BA' CB' AC'
Figura 4.29: o teorema de Ceva. A'C. B'A. C'B = l,

relação que, coligida com (4.4), fornece ~~ = ~!!~. A partir daí, e


Prova. Suponhà, inicialmente (cf. figura 4.29), que os pontos A' E/ " invocando novamente o auxílio do problema 2, página 157, concluímos
+------> +------> +------>
----+ ---+ +---+, +---+ .,/
. d'iat amente que B' = B " . Logo, AA,, BB' e CC' sao
1me - concorrentes
BC\ BC, B' E AC e C' E BA \AB são tais que as retas AA', BB'
f---), 'i ou paralelas. •
e CC' concorrem em um ponto P (os demais casos são totalmente;
. f---), +------+ f----t +-----+ ~

análogos). Marque os pontos Q E AA' e R E CC' tais que CQ, AR Ili'.; +--t
Para uma outra prova do teorema de Ceva no caso em que as retas
+------+1---4 .
f----t .\,

BP. Então, BPA' rv CQA', ARC' rv BPC' e CB'P rv CAR, de sorte[ AA', BB' e CC' são concorrentes, veja o problema 17, página 229.
i

que Por ora, mostremos que ele nos permite dar uma prova alternativa
BA' BP AC' AR da concorrência das medianas, bissetrizes internas e alturas de um
A'C CQ' C'B BP triângulo.
194 Tópicos de Matemática Elementar 195

Exemplo 4.25. Seja ABC um triângulo qualquer. Utilize o teorem~ urn triângulo a qualquer segmento (ou à reta ou semirreta correspon-
de Ceva para provar que as medianas, as bissetrizes internas e as retas'. dente) que une um vértice do triângulo a um ponto sobre a reta suporte
suportes das alturas de ABC são concorrentes. do lado oposto a tal vértice; por exemplo, medianas, bissetrizes (in-
ternas ou externas) e alturas de um triângulo são todas exemplos de
Prova. Se Ma, Mb e Me são, respectivamente, os pontos médios do .
cevianas do referido triângulo.
lados BC, AC e AB de ABC, é imediato que = <j}j = !~e
= 1; 'i-r~li Duas cevianas AP e AP' de um triângulo ABC (cf. figura 4.30)
~~~~ . <----t ..........

BMa CMb AMc _ l são ditas isogonais (em relação a A) se as retas AP e AP' forem
MaC. MbA. McB - . sirnétricas em relação à reta suporte da bissetriz interna AQ relativa
Portanto, pelo teorema de Ceva, AMa, BMb e CMc concorrem em um}: aA, i.e., se, e só se, PÂQ = P'ÂQ.
único ponto.
Para o restante da prova, sejam AB = e, AC = b e BC = a. A
,'

Sejam Pa, Pb e Pc, respectivamente, os pés das bissetrizes internas·


relativas a BC, AC e AB. O teorema da Bissetriz (cf. proposição 4.5}
garante que APc = Q BPa = E e CPb = !! de forrria que
PcB a' PaC b PbA e'

APc B Pa C A b e a B p Q P' c
- .- .- = - . - . - = 1.
PcB PaC AA a b e
Figura 4.30: cevianas isogonais.
Assim, novamente pelo teorema de Ceva, APa, BPb e CPc concorrerri/
em um único ponto.
Por fim, para a concorrência das alturas de ABC, consideremos. É imediato que, para toda ceviana AP de um triângulo ABC,
somente o caso em que ABC é acutângulo, deixando os demais casos\'. existe uma única ceviana AP' de ABC tal que AP e AP' são isogonais.
como exercício para o leitor (cf. problema 3, página 198). Sejam, pois,{ Nesse caso, diremos também que AP' (resp. AP) é a ceviana isogonal
Ha, Hb e Hc, respectivamente, os pés das alturas relativas a A, B e C/· a AP (resp. AP'). O lema a seguir estabelece uma caracterização útil
O problema 2, página 144, garante que AHbHc ,...., ABC, de sorte que da isogonalidade de duas cevianas.
AHc = AC= Q. analogamente BHa =.E.e CHb =!!e daí
HbA AB e' ' HcB a HaC b ' ' Lema 4.26. Nas notações da figura 4.31, se D e E (resp. F e G) são
+---+
AHc BHa CHb AHc BHa CHb b e a os pés das perpendiculares baixadas de P (resp. Q) às retas AB e
-·--·-=--·--·--=-·-·-=1 +--;

HcB HaC. HbA HbA HcB HaC e a b . AC, então

PD QG
AP e AQ são isogonais {:::} - = = = .
A seguir, apresentamos uma bela aplicação do teorema de Ceva. ,. PE QF
Para o enunciado da mesma, convencionamos chamar de ceviana de .
Tópicos de Matemática Elementar 197
196
+----+ +----+ +----+
A prova. Mostremos que, se AA', BE' e CC' são concorrentes, então
........... +----+ +----+
AA", BE" e CC" são concorrentes ou paralelas (para o caso restante,
veja o problema 7, página 199. Para tanto, sejam P o ponto de con-
<--> <-----> +----+

curso de AA', BE' e CC', ex, y e z, respectivamente, as distâncias


+----+ <-----> +----+
de P às retas BC, AC e AB (cf. figura 4.32).

B c A A

Figura 4.31: critério para isogonalidade.

Prova. Nas notações da figura 4.31, observe, inicialmente, que o B c B c


quadriláteros AD P E e AFQG são inscritíveis (uma vez que c~<_!_a u
Figura 4.32: concorrência das cevianas isogonais.
deles tem dois ângulos opostos iguais a 90º), de sorte que DPE
GQF = 180º - BÂC. Portanto, aplicando sucessivamente os caso +----+ +----+
LAL e AA de semelhança de triângulos, concluímos que É suficiente mostrar que, se BE" e CC" forem concorrentes em
+----+

PD QG _.. _ _.. _ · Q, então AA" também passará por Q. Para tanto, sejam u, v e w,
<-----> +----+ +----+
- = = - = {:} DPE rv GQF {:} DEP = GFQ. respectivamente, as distâncias de Q às retas BC, AC e AB. Como
PE QF +---+ +----+ +----+ +---+
BB', BE" e CC', CC" são pares de cevianas isogonais, segue do lema
Mas, utilizando novamente o fato de os quadriláteros AD P E e AFQ
serem inscritíveis, concluímos que a última igualdade acima se verific X V z u
e
se, e só se, DÂP __.:. GÂQ; por sua vez, essa última igualdade equival y u X w
--> ---+
ao fato de AP e AQ serem isogonais em relação a A. u V
z V z X
-=-·-==-·-=-
Podemos, finalmente, enunciar e provar a consequência desejad X y w u
y w'
do teorema de Ceva, a qual estabelece a concorrência das cevian novamente pelo lema anterior, os pontos P e Q estão
isogonais a três cevianas concorrentes dadas. :situados sobre cevianas isogonais em relação a A. Mas, como P E AA',
{, +----+

Teorema 4.27. Sejam AA', BE' e CC' cevianas de um triângul concluímos que Q E AA". •
+--+

ABC com isogonais AA", BE" e CC", respectivamente. Então, AA', Nas notações do enunciado do teorema anterior, se P (resp. Q) é
+----+ ' +---+ +----+ +----+ +--+
BE' e CC' são concorrentes ou paralelas se, e só se, AA", BE" e CC" o ponto de concurso das cevianas AA', BE' e CC' (resp. AA", BE" e
são concorrentes ou paralelas. CC"), dizemos que os pontos P e Q são conjugados isogonais ou,
.Antonio Caminha M. Neto 199
198 Tópicos de Matemática Elementar ,

(a) Se P e Q são conjugados harmônicos em relação a B e


ainda, que P (resp. Q) é o ponto conjugado isogonal de Q (resp. p. 1
C, então exatamente um dos pontos P e Q está sobre o
em relação a ABC. Para um exemplo relevante de pontos conjugad
segmento BC.
isogonais, veja o problema 8, página 200; outro exemplo interessant~ <--->

será discutido no final da seção 5.2. (b) Para todo ponto P E BC, com P =f=. B, C, existe um único
<--->
ponto Q E BC, tal que Q =f=. B, C e P e Q são conjugados
harmônicos em relação a B e C. (Graças a esse item, dize-
mos que Q (resp. P) é o ponto conjugado harmônico de
Problemas - Seção 4.4 P (resp. de Q) em relação a B e C.)
1. * Complete a demonstração do teorema de Desargues. Mai (c) Em um triângulo ABC, se P é o pé da bissetriz interna e
precisamente, mostre que, se ABC e A' B' C' são triângulos tai Q o pé da bissetriz externa relativas a A, então P e Q são
+---------+ +--------+ +---------+ ~ +---------+ +---------+
que ABnA'B' = {Z}, BCnB'C' = {X}e ACnA'C' = {Y}, conjugados harmônicos em relação a B e C.
+-----> +-----> +----->
se as retas AA', BB' e CC' são concorrentes ou paralelas, enÇ (d) Dado um triângulo ABC, sejam P, Q e R pontos situados
<---> <---> <--->
os pontos X, Y e Z são colineares. respectivamente sobre as retas BC, CA e AB, todos dife-
rentes dos vértices de ABC. Se P' é o conjugado harmônico
2. * Complete a prova do teorema de Ceva, mostrando que se A', B' ~ P em relação a B e C, prove que as retas .AP, BQ e
e C' são pontos situados respectivamente sobre as retas<--->
suportes
.........
C R são concorrentes se, e só se, os pontos P', Q e R são
dos lados BC, CA e AB de ABC, tais que as retas AA', BB'
<---> colineares.
e CC' são paralelas, então
5. Prove que, em todo triângulo, as cevianas que unem cada vértice
BA' CB' AC'
-·-·-=1 ao ponto de tangência do círculo inscrito com o lado oposto são
A'C B'A C'B .
concorrentes. O ponto de concurso das mesmas é denominado o
3. * Complete a análise da última parte do exemplo 4.25, mostrando: Ponto de Gergonne7 do triângulo ABC.
que, se ABC é um triângulo retângulo ou obtusângulo, então
6. Prove que, em todo triângulo, as cevianas que unem cada vértice
as retas suportes das alturas de ABC concorrem em um único.
ao ponto de tangência do círculo ex-inscrito ao lado oposto com -
ponto. tal lado são concorrentes. O ponto de concurso das mesmas é
denominado o Ponto de Nagel8 do triângulo ABC.
4. * Dizemos que os pontos P e Q, situados sobre a reta
distintos de B e de C, são conjugados harmônicos em relação 7. * Complete a prova do teorema 4.27.Mais precisamente, mostre
aBeCse que, se AA', BB' e CC' são cevianas paralelas de um triângulo
BP BQ
PC -Qc· 7 Após o matemático francês do século XIX Joseph Gergonne.
8 Após o matemático alemão do século XIX Christian Heinrich von Nagel.
A esse respeito, faça os seguintes itens:
200 Tópicos de Matemática Elementar
Antonio Caminha M. Neto
201
ABC, com isogonais AA", BE" e CC", respectivamente, ent-
13. Em um triângulo escaleno ABC, traçamos a altura AH
AA", BE" e CC" são concorrentes ou paralelas. seguida b · a e, em
' aixamos as perpendiculares H D H E .
, +-------; +-------;a e a respectiva-
+-------;

8. * Se H e O denotam, respectivamente, o ortocentro e o circun mente as retas AB e AC (D E AB e E E AC)· .


, em segmda,
centro de um triângulo não equilátero ABC, prove que H e marcamos o ponto p de interseção das retas DÊ e A t. BC
são pontos conjugados isogonais. das alturas relativas aos vértices B e C d ABC . ~ar ir
. e , constrmmos
de maneira análoga, os. pontos Q E Ãê R A-B M '
9. * Generalize o problema anterior, mostrando o seguinte resul' e E . ostre que
os pontos P, Q e R são colineares.
tado: dados um triângulo ABC e um ponto P em seu interior,
se Q e R são os pés das perpendiculares baixadas de P aos lad
AB e AC, então a ceviana conjugada isogonal à semirreta A O teorema das cordas e potência . de
é a semirreta que parte de A e é perpendicular à reta QR.
ponto
10. Sejam ABC um triângulo e A' e A", B' e B", C' e C" par
de pontos situados, respectivamente, sobre as retas suportes d AAs_ duas proposições a seguir encerram outra importante conse-
lados BC, CA e AB, tais que os pontos médios dos segment quenc1a elementar dos casos de semelhança de t . 1 A

- nangu os estudados
A' A", B' B", C' C" coincidem com os pontos médios dos lados na seçao 4.2, sendo conhecidas conjuntamente na literatura
teorema das cordas. ' ' como o
triângulo ABC. Se AA', BE' e CC' forem concorrentes (res
A', B' e C' forem colineares), prove que AA", BE" e CC" t
bém são concorrentes (resp. A", B" e C" são colineares). B
'
' '\
11. Prove o teorema de Pappus9 : são dados dois ternos de pont \
<-----> <-----> <-->
\
colineares A, B, C e A', B', C'. Se AB' n A'B = {F}, AC'; 1
~ +-----'+ ~ ci,1< 1
A'C = {E} e BC' n B'C = {D}, então os pontos D, E e F s~ I

colineares. D

12. (Estados Unidos.) Seja ABC um triângulo escaleno e r, se t


A ', ............ ____ .,,,,.

tangentes ao círculo circunscrito a ABC respectivamente em ·


B e C. Se P, Q e R denotam os pontos de interseção de r, s Figura 4.33: o teorema das cordas.
<-----> <-----> <---->
respectivamente com as retas BC, AC e AB, prove que P,.
e R são colineares.
9 Após Pappus de Alexandria, matemático grego do século IV.
Se A, B, C, D e P são pontos distintos do plano,
202 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
203
- -
tais que AB n CD= {P}, então

P A · P B = PC · P D {::} o quadrilátero de vértices


A, B, C e D é inscritível.
p
Prova. Suponha, inicialmente, que o quadrilátero de vértices A, B,
C e D é inscritível, com círculo circunscrito r. Em princípio, temos
de considerar separadamente os casos em que P está no interior ou no
exterior do círculo delimitado por r; entretanto, uma vez que a análise
do segundo caso é totalmente análoga à do primeiro, consideraremos.
somente este (cf. figura 4.33). Figura 4.34: caso limite do teorema das cordas.
'Irace os segmentos AD e BC. Pelo teorema do ângulo inscrito,·
temos AÊC = ADC ou, ainda, PÊC = ADP. Como BPC = APD
(pois são ângulos OPV), segue do caso de semelhança AA que PBC"' (c~m A= B, caso P seja exterior ao círculo delimitado porre a reta
PDA. Daí, temos;~=;~ e, portanto, PA · PB = PC· PD. . seJa tangente ar em A), então
Reciprocamente, se P A· P B = PC· P D, então ;~ = ;~. Mas
como BPC = APD, segue do caso de semelhança LAL que PBC (4.5)
P DA e, daí, P ÊC = ADP. Mas isso é o mesmo que AÊC = ADC
e a proposição 3.39 garante que ABC D é inscritível.

O resultado a seguir pode ser visto como um caso limite do anterior,


de maneira que deixaremos sua demonstração como exercício para
leitor (cf. problema 1, página 215). r
Proposição 4.29. Se A, B, C e P são pontos distintos no plano, co
-2 .

-
·+---+ - -
.r ·,1
BE AP e C (/:. AB, então PA · PB = PC se, e só se, o círculo qu
passa pelos pontos A, B e C for tangente à reta PC em C (cf. figur
D
4.34).
Figura 4.35: calculando P A · P B em função de PO e R.
Para uso futuro, colecionamos a seguinte consequência important
do teorema das cordas.

Corolário 4.30. São dados no plano um círculo r( O; R) e um pont , Prova. Consideremos somente o caso em que p é interior ao d"
P (/:. r. Se uma reta que passa por P intersecta r nos pontos A e ·ar. d ISCO
· e imita O por r (cf. figura 4.35), sendo o caso em que Pé exterior a
204 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto
205

tal disco totalmente análogo. Trace por P o diâmetro CD de r, com Agora, sendo X e Y respectivamente os pés das perpendiculares tra-
p E OC. Então, PC= R - OP e PD = R + OP, de sorte que o çadas de O e Ia BP e AC, segue do fato de BOP ser isósceles e do
teorema das cordas fornece teorema do ângulo inscrito que
p A. p B = -PC . -p D = (R - -OP) (R + -OP) = R 2 - - 2
OP . ..... 1 ...... ...... ...... ......
BOX = 2BOP = BAP =PAC= IAY.

Como ambos os triângulos BOX e IAY têm um ângulo de 90º, segue


De posse do resultado acima, podemos apresentar mais um belo do caso AA que BOX rv IAY. Portanto, ~;=~~ou, ainda,
resultado de L. Euler, colecionado no seguinte
Teorema 4.31 (Euler). Um círculo"/, de raio recentro I, é interior (4.7)
a um círculo r de raio R e centro O. Se A E r e AB e AC são as Mas, como BO = R, IY = r e BX = ! BP, segue de (4.6) e
cordas de r tangentes a 'Y, então 'Y é o círculo inscrito no triângulo (4.7) que
ABC se, e só se, 2 -2 - - IP
R -OI =AI·IP=2Rr·=
oJ2 = R(R- 2r). BP'
de maneira que

OJ2 = R2 - 2Rr {:} BP= IP.

Por fim, a proposição 3.38 garante que a última igualdade acima ocorre
i'
se, e só se, I for o incentro do triângulo ABC. •

A seguir, listamos dois corolários importantes do resultado acima,


o primeiro dos quais é imediato.

Corolário 4.32. Se r e R denotam, respectivamente, os raios dos


círculos inscrito e circunscrito a um triângulo ABC, então R 2'.: 2r,
p
ocorrendo a igualdade se, e só se, ABC for equilátero.
Figura 4.36: cálculo da distância OI. Nosso segundo corolário é o caso particular de um famoso teorema
de J. V. Poncelet 10 sobre cônicas.

P rova. Se p é O ponto de interseção do prolongamento da bissetri


. Corolário 4.33 (Poncelet). Sejam 'Y e r, respectivamente, os círculos
AI de LBAC com r (cf. figura 4.36), segue do corolário anterior q j inscrito e circunscrito a um triângulo ABC. Se A' -f. A, B, C é outro
ponto de r, e A'B' e A' C' são as cordas de r tangentes a 'Y, então 'Y é
AI . IP = R2 - OJ2. (4. o círculo inscrito no triângulo A' B'C' (cf. figura 4.37).
206 Tópicos de Matemática Elementar 2 ; Antonio Caminha M. Neto 207

B' Teorema 4.34. Se r 1 e r 2 são círculos não concêntricos, então o


LG dos pontos P do plano tais que Potr 1 ( P) = Potr2 ( P) é uma reta
perpendicular à reta que une os centros de r 1 e r 2 (a reta e, na figura
4.38).

A' r
p e

C'
Figura 4.37: o teorema de Poncelet.

Prova. Se 'Y(J; r) e r(O; R), então o fato de "( ser o cJrculo2inscrito\


em ABC garante, pelo teorema de Euler 4.31, que OI = R - 2Rr.
De posse dessa igualdade, aplicando novamente o referido teorema aoJ;
Figura 4.38: o eixo radical de dois círculos.
1 •
triângulo A' B' C', concluímos que B' C' tangencia "(, conforme dese:.f
I'"''
i-, '
jado.
Voltando ao desenvolvimento geral da teoria, motivados pelo cer1
rolário 4.30, definimos a potência do ponto P em relação ao círculo,
r( O; R) como sendo o número real Potr 1 ( P) = Potr2 ( P) {::} P0 12 - Ri = P022 - R~
-2 2 --2 --2 2 2 (4.9)
Potr(P) = OP - R . {::} P0 1 - P02 = R 1 - R 2,
Assim, Potr(P) = O se, e só se, P E r, Potr(P) > O se, e só se, P i.e., se, e só se, a diferença dos quadrados das distâncias de P aos
for exterior ao disco delimitado por r e Potr (P) < O se, e só se, P for pontos 0 1 e 0 2, respectivamente, for constante e igual a R~ - R~.
interior a tal disco. Observe também que Potr(P) 2 -R2, ocorrendó Para concluir, basta aplicar o resultado da proposição 6.8. •
a igualdade se, e só se, P = O.
Precisamos, agora, do seguinte resultado, cuja prova será parcial Nas notações do enunciado do teorema anterior, o LG descrito no
mente postergada para a seção 6.2 (cf. proposição 6.8). mesmo é denominado o eixo radical 11 de r 1 e r 2. O exemplo a seguir
10 Após Jean Victor Poncelet, matemático francês do século XIX. 11 Cabe, aqui, uma palavra quanto à terminologia. Apesar de a nomenclatura
I'

208 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 209

explica como construí-lo, com régua e compasso, quando os círculos e


em questão têm pontos em comum.
Exemplo 4.35. Se P for um ponto exterior ao disco delimitado por
um círculo r(O; R) e T for o ponto de tangência de uma das retas
tangentes ar e passando por P, segue do corolário 4.30 que
--2 2 -2
Potr(P) = PO - R = PT . (4.10)
Há três casos a considerar:

(a) r 1 e r 2 são círculos tangentes exteriormente: o eixo radical de r 1


e r 2 é a tangente comum e, mostrada na figura 4.39. De fato, uma
Figura 4.39: eixo radical e de dois círculos tangentes exteriormente.
vez que para todo ponto P E e, que não o ponto de tangência T com
os círculos, segue de (4.10) que
--2
PotrJP) = PT = Potr2 (P).
p
(b) r 1 e r 2 são círculos tangentes interiormente: o eixo radical de r 1
e r 2 é a tangente comum e, mostrada na figura 4.40. Realmente, para
todo ponto P E e que não o ponto de tangência T com os círculos,
ainda segue de (4.10) que T
--2
Potr 1 ( P) = PT = Potr2 ( P).
(c) r 1 e r 2 são dois círculos secantes, se intersectando nos pontos A e
+------>
B: o eixo radical de r 1 e r 2 é a reta e= AB da figura 4.41., uma vez Figura 4.40: eixo radical e de dois círculos tangentes interiormente.
que para todo ponto P E e \ AB, temos
Potr 1 (P) = P A· P B = Potr2 (P).
Para mostrar como construir, com régua e compasso, o eixo radical
eixo radical estar consagrada pelo uso, ela provém de uma tradução equivocada de dois círculos não concêntricos exteriores ou interiores, precisamos
. . '
do Inglês radical axis. De fato, como (nas notações da prova do teorema 4.34) pnmeiramente, da seguinte consequência do teorema 4.34.
P E e se, e só se,J P01 2 +mJ = P02 2 + R~, seria mais natural chamarmos e
de eixo dos radicais ou eixo das raízes. Por sua vez, tal nomenclatura alternativa Corolário 4.36. Se r1, r2 e r 3 são três círculos com centros não
estaria em maior consonância com o significado matemático da expressão inglesa colineares, então existe um único ponto P no plano tal que
radical axis. Para outra motivação geométrica para as nomenclaturas alternativas
aludidas acima, sugerimos ao leitor o problema 8, página 270. Potr 1 ( P) = Potr2 ( P) = Potr3 ( P).
,,

210 Tópicos de Matemática Elementar 2 ,


Antonio Caminha M. Neto 211

e prova. Para 1 :::;; i < j :::;; 3, seja eij o eixo radical de ri e ri (cf.
figura 4.42). Se Pé o ponto de interseção de e 12 e e 23, segue de P E e 12
que Potr 1 ( P) = Potr 2 ( P) e de P E e23 que Potr2 ( P) = Potr3 ( P).
Portanto, por transitividade temos Potr 1 ( P) = Potr3 ( P), de sorte


que P E e13 .
Nas notações do corolário acima, o ponto cuja existência é garan-

tida por ele é denominado o centro radical dos círculos r 1 , r 2 e r 3 .
Conforme antecipamos anteriormente, a noção de centro radical nos
permite construir o eixo radical de dois círculos exteriores, conforme
descrito no próximo exemplo.

Figura 4.41: eixo radical e de dois círculos secantes. Exemplo 4.37. Construa, com régua e compasso, o eixo radical dois
dois círculos r1 e r2 da figura 4.43.
Solução. Trace um círculo auxiliar
<---+
r 3 de centro 0 3 , secante a ambos
f 1 e r 2 e tal que 0 3 €/:. 0 1 0 2 . Em seguida, parai = 1, 2 trace o eixo
radical ei3 de ri e r3, obtendo O centro radical p de r1, r2 e r3 como
a interseção das retas e 13 e e23 . Por fim, o eixo radical desejado é a
<---+
I reta que passa por P e é perpendicular à reta 0 1 0 2 . •

Deixamos ao leitor a tarefa de verificar que a construção, com


régua e compasso, do eixo radical de dois círculos interiores e não
concêntricos pode ser levada a cabo de maneira totalmente análoga à
• construção descrita no exemplo acima. Para uma outra construção do
eixo radical de dois círculos exteriores, veja o problema 9, página 216.
\
\ Como segunda aplicação da noção de centro radical, discutimos,
\
\
\
nos exemplos a seguir, duas construções geométricas clássicas, devi-
das a C. Ptolomeu, envolvendo a tangência de círculos. Observamos,
ainda, que os problemas subjacentes a tais construções são coletiva-
Figura 4.42: o centro radical de três círculos de centros não colineares. mente conhecidos como o problema de tangência de Ptolomeu.
A solução do primeiro exemplo se resume, em última análise, a
uma pequena modificação do argumento apresentado na solução do
exemplo anterior.
'1 '
1 1
1 !
212 Tópicos de Matemática Elementar 2 .Antonio Caminha M. Neto 213

Figura 4.43: construindo o eixo radical de dois círculos exteriores.

Exemplo 4.38. São dados, no plano, um círculo r e dois pontos A {3


e B exteriores ao disco delimitado por r. Construa, com régua e
l'ii Figura 4.44: círculo tangente a r e passando por A e B.
compasso, todas os círculos a, tangentes ar e passando por A e B.

Solução. Nas notações da figura 4.44, trace um círculo auxiliar {3,.


passando por A e B e secante a r. Em seguida, trace o eixo radical e de Exemplo 4.39. São dados dois círculos exteriores f 1 e r 2 e um ponto
f-----+ .; ',I
A, exterior a ambos f 1 e r 2 . Construa com régua e compasso todos
r e {3, e marque o ponto de interseção P das retas e e AB. E imediato
os círculos r, passando por A e simultaneamente tangentes a r 1 e r 2 .
que P é o centro radical dos círculos a, {3 e r, de sorte que P está
sobre o eixo radical t der e a. Mas, como r e a devem ser tangentes, Solução. Supondo o problema resolvido, sejam P e Q os pontos de
sabemos que t é uma tangente comum a ambos; portanto, invocando .· tangência der com r 1 e r 2 , respectivamente (cf. figura 4.45. Sejam,
a construção delineada na proposição 3.26, podemos construir t como . <---+ <---+
ainda, C a interseção das retas 0 1 0 2 e PQ, e B a interseção de r
sendo uma das retas tangentes a r e passando por P (em geral, há · <---+
com a reta AC. Sendo O o centro de r, temos
duas possíveis retas t, uma das quais é mostrada na figura 4.44). Por,
fim, sendo T o ponto de tangência entre t e r, só nos resta construir ·
a como sendo igual ao círculo que passa por A, B e T. •
+------> <---+
A seguir, examinamos o o problema da construção dos círculos tan- , de maneira que OP li 0 2 R. Em particular, é imediato verificar, a
gentes a dois outros círculos dados e passando por um ponto também partir daí, que C coincide com o ponto de concurso das tangentes
<---+ <---+ <---+
dado. · externas a f 1 e r 2 com a reta 0 1 0 2 e, portanto, que RU li PS.
214 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 215

A Portanto, mais uma aplicação do teorema das cordas garante que o


quadrilátero ST BA também é inscritível.
De posse da análise acima, e uma vez que as posições dos pontos A,
S e T são conhecidas e o ponto C pode ser facilmente construído (cf.
problema 22, página 123), podemos construir B como sendo igual ao
,B +--------->
ponto de interseção da reta AC com o círculo circunscrito ao triângulo
''
'' BTA. Por outro lado, uma vez obtido o ponto B, o problema em
'' questão se reduz àquele discutido no exemplo 4.38.
'' Nesse ponto, o leitor atento deve ter observado que sua intuição
''
s sugeriria a existência de quatro círculos distintos, passando pelo ponto
A e tangentes a f 1 e f 2, mas a solução acima só encontrou dois deles
(de fato, após construirmos o ponto B, a solução do exemplo 4.38
fornece dois possíveis círculos r, tais que r 1 e r 2 são interiores a um
deles e exteriores ao outro). Os outros dois círculos-solução r surgem
ao considerarmos a possibilidade de que um dentre r 1 e r 2 seja interior
a r e o outro seja exterior; nesse caso, uma pequena modificação do
argumento apresentado acima resolve o problema da mesma forma,
Figura 4.45: círculo tangente a r1 e r2 e passando por A.
i.e., reduzindo-o ao problema da construção de um círculo que passa
por dois pontos e tangencia um círculo dado. Para mais detalhes, veja
Agora afirmamos que o quadrilátero P STQ é inscritível. De fato, o problema 16, página 218.


' <------+ <------+
O paralelismo entre as retas RU e PS, juntamente com a inscritibili-
dade do quadrilátero TQ RU, fornecem

SPQ = URC =.180º - PRU = 180º - QRU = QTU = 180º -QTS,

de sorte que S PQ + QT S = 180º. Problemas - Seção 4.5


Agora, aplicando o teorema das cordas aos quadriláteros inscrití-
veis PSTQ e PQBA, obtemos sucessivamente 1. * Prove a proposição 4.29.
CS· CT= CP· CQ e CP· CQ= CA· CE 2. AB é uma corda de um círculo r de centro O, medindo 8cm.
Marcamos sobre AB um ponto C, situado a 3cm de B. O raio
e, a partir dái, de r passando por O e C intersecta r em D, com CD = lcm.
Calcule a medida do raio de r.
Tópicos de Matemática Elementar_ 2 . Antonio Caminha M. Neto 217
216

3. Em um triângulo ABC, AB = 8cm. Sendo M o ponto médio de 10. Em um círculo r são dadas cordas AB e CD, tais que CD passa
AB, calcule os possíveis valores de BC de modo que o círculo · pelo ponto médio M de AB. Seja~ o círculo de diâmetro CD
<--------+ <--------+ ---
circunscrito ao triângulo AMC tangencie o lado BC. e E E~ tal que ME1-CD. Prove que AEB = 90º.

4. Duas cordas AB e CD de um círculo são perpendiculares e se·- 11. (Estados Unidos.) Em um triângulo acutângulo ABC, a reta
intersectam no ponto E, situado no interior do círculo e tal que suporte da altura relativa a AC intersecta o círculo de diâmetro
AE = 2, EB = 6, DE= 3. Calcule o diâmetro do círculo. AC em Me N. -A reta suporte da altura relativa a AB intersecta
o círculo de diâmetro AB em P e Q. Prove que os pontos M,
· 5. Seja ABC um triângulo isósceles de base BC= a e ha o com- N, P e Q são concíclicos.
primento da altura relativa à base. Sendo R o raio do círculo ·
circunscrito a ABC, mostre que 12. Sejam dados um real k > 1 e pontos distintos B e C. Seja, ainda,
r o círculo de Apolônio relativo a (B, C), na razão k. Se O é o
ª2 + 4h2 centro de r e X, Y E r são tais que B, X e Y são colineares,
R= 8h
prove que o quadrilátero de vértices C, O, X e Y é inscritível.

6. Use O teorema das cordas para dar outra prova do teorema de·
13. Em um triângulo ABC, sejam D, E e F, respectivamente, os pés
Pitágoras. das bissetrizes internas baixadas desde A, B e C. Sabendo que
EDF = 90º, encontre os possíveis valores do ângulo LBAC.
7. São dados uma retare pontos A, B, P E r, com P (/:. AB.
um círculo variável r passa por A e B, construa, com régua e
:1:: "1i 14. (BMO.) Uma reta que passa pelo incentro Ido triângulo ABC
compasso, 0 LG dos pontos de contato das tangentes traçadas a_
intersecta seu círculo circunscrito em F e G e seu círculo inscrito
r a partir de P. em D e E, com D E EF. Ser denota o raio do círculo inscrito,
prove que D F · EG 2: r 2 e explique quando ocorre a igualdadade.
8. São dados uma reta r e pontos A e B, num mesmo semiplano
dos determinados por r. Construa, com régua e compasso, todos
15. (Polônia.) .As bissetrizes internas dos ângulos LA, LB e LC de
os círculos passando por A e B e tangentes à reta r.
um triângulo ABC intersectam os lados opostos nos pontos D, E
e F, respectivamente, e o círculo circunscrito a ABC novamente
9. Dados dois círculos exteriores r 1 e r 2 , sejam r e s duas tangentes·
nos pontos K, L e M, também respectivamente. Prove que
comuns aos mesmos, e A1 e A2 (resp. B1 e B2) os pontos de.
tangência der (resp. de s) com r 1 e r 2 , respectivamente. Se P'
AD BE CF
e Q são os pontos médios dos segme~s A1A2 e B1B2, também'. -=+-=+=>9,
DK EL FM -
respectivamente, mostre que a reta PQ é o eixo radical de r1 e ·
ocorrendo a igualdade se, e só se, ABC for equilátero.
r2.
1 '

1
218 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
219
16. * Complete a discussão do exemplo 4.39, construindo todos os simétrica ao eixo rad · 1 d r r _
ica e 1 e 2 em relaçao ao ponto médio
círculos a tangentes a r 1 e r 2 e passando pelo ponto A, tais que do segmento formado por seus centros.
exatamente um dentre f 1 e r 2 seja interior a a.
21. Sejam a o círculo circunscrito ao triângulo ABC M
17. Imite a discussão do exemplo 4.39 e do problema anterior para , . ~ e o ponto
med10 do arco BC de a que não contém o vértice A. Um cír-
construir todos os círculos que passam por A e tangenciam r 1 e ·.
culo /3, passando por A e M, intersecta o lado AC em E e o
r 2 , no caso em que A e r 2 são ambos interiores a r 1 . prolongamento do lado AB em F. Se AM n BC = {D}
que 0 t D E ' prove
~ Apon os , e F são colineares se, e só se, os incentros
Para o próximo problema, recorde (cf. discussão que antecede dos tnangulos ABC e AEF coincidirem.
a proposição 3.41) que, dados um triângulo ABC e um ponto •
P =f=. A, B, C, o triângulo pedal de P em relação a ABC é o triân-
gulo (possivelmente degenerado) formado pelos pés das perpen-
diculares baixadas de P às retas suportes dos lados de ABC.

18. Sejam dados um triângulo ABC e dois pontos P e Q em seu·


l'ii,''
interior. Se P e Q são conjugados isogonais, prove que os vértices
dos triângulos pedais correspondentes formam um hexágono ins- ;
critível, tal que o centro de seu círculo circunscrito é o ponto
médio do segmento PQ. Tal círculo é denominado o círculo.
pedal de {P, Q} em relação a ABC 12 .

19. (China.) Sejam ABCD um paralelogramo e E e F pontos da.


diagonal BD, tais que existe um círculo a que passa por E e F
e é tangente às retas BC e CD. Prove que existe um círculo
+----+ +----+ '
1 .. que passa por E e F e é tangente às retas AB e AD.
1

20. Sejam r 1 e r 2 dois círculos não concêntricos do plano. Prove


que o LG dos pontos do plano que são centros de círculos qu ·
intersectam r 1 e r 2 segundo diâmetros dos mesmos é a ret' ·
12 0 leitor atento deve ter observado que, de acordo com o problema
página 200, se H e O são respectivamente o ortocentro e o circuncentro de
triângulo ABC, então o círculo pedal de { H, O} em relação a ABC é exatamen
o círculo dos nove pontos de Euler.
Tópicos de Matemática Elementar 2
220

CAPÍTULO 5

Áreas de figuras Planas

Intuitivamente, a área de uma região no plano é um número po-


sitivo que associamos à mesma e que serve para quantificar o espaço
por ela ocupado. Referimos o leitor ao excelente livro de E. Moise [13)
para uma prova de que é realmente possível associar a cada polígono do
plano uma área tal que os postulados 1. a 4. a seguir sejam satisfeitos.
Nosso propósito neste capítulo é, primordialmente, operacionalizar
o cálculo de áreas, obtendo, a partir daí, algumas aplicações interes-
santes. Entretanto, os problemas da definição e do cálculo efetivo de
. li
áreas serão retomados no volume 3, quando desenvolvermos os rudi-
mentos do Cálculo Diferencial e Integral.

5.1 Áreas de polígonos


Para que um conceito qualquer de área para polígonos tenha utili-
dade, postulamos que as seguintes propriedades (intuitivamente <lese-
222 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 223

jáveis) sejam válidas: Portanto,


1. Polígonos congruentes1 têrn áreas iguais. A!!:!.=
n
m2
n2
= (m)2
n
2. Se urn polígono convexo é particionado ern urn número finito A discussão acima sugere que a área de urn quadrado de lado l
de outros polígonos convexos (i.e., se o polígono é a união de deve ser igual a l 2 . Para confirmar tal suposição, argurnentarnos de
urn número finito de outros polígonos convexos, tais que dois maneira análoga à prova do teorema de Thales: para k E N, tornamos
quaisquer deles partilham somente urn vértice ou urna aresta), números racionais xk e Yk tais que
então a área do polígono maior é a sorna das áreas dos polígonos
menores.

3. Se urn polígono (maior) contém outro (menor) ern seu interior,


então a área do polígono maior é maior que a área do polígono Em seguida, construímos quadrados de lados xk e Yk, o primeiro con-
menor. tido no quadrado dado e o segundo o contendo. Corno já sabemos
calcular áreas de quadrados de lado racional, o postulado 3. acima
4. A área de urn quadrado de lado lcrn é igual a lcrn2 . garante que a área Az do quadrado de lado l deve satisfazer as de-
sigualdades
Valendo os postulados 1. a 4. acima, particione urn quadrado de
lado n E N ern n 2 quadrados de lados 1 cada. Denotando a área do x~ < Az < yi.
quadrado maior por An, devemos ter An igual à sorna das áreas desses Mas, corno x% < l 2 < yi, concluímos que ambos os números A1 e l 2
n 2 quadrados de lado 1, de maneira que devem pertencer ao intervalo (x%, yi), de maneira que
An = n2.

Considere, agora, urn quadrado de lado 7;;, corn m, n EN, e área


A!!:!.. Arranje n 2 cópias do rnesrno, empilhando n quadrados de lado ~· .
i po; fila, ern n filas, formando assim urn quadrado de lado 7;; · n = m.
Tal quadrado maior terá, corno já sabemos, área m 2 ; por outro lado,
i ~' corno ele está particionado ern n 2 quadrados, cada urn dos quais de
Tendo de satisfazer a desigualdade acima para todo k E N, urn argu-
lado mn' sua área é igual à sorna das áreas desses n 2 quadrados, i.e.,
mento análogo ao do problema 1.5.1 do volume 1 garante que IA1-l 2 I =
m 2 = n 2 · A!!:!.. O, i.e.,
n

1 Apesar
Az = l2.
de não termos definido formalmente a noção de congruência para polí-
gonos, a ideia é a mesma que para triângulos: um deles pode ser deslocado no Resurnirnos a discussão acima na proposição a seguir.
espaço, sem deformá-lo, até coincidir com o outro. Observe que dois quadrados
quaisquer de mesmo lado são congruentes (justifique essa afirmação!). Proposição 5.1. Urn quadrado de lado l tern área l 2 .
i,:

224 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 225

b Proposição 5.2. Um retângulo de lados a e b tem área ab.


Calculemos a área de um paralelogramo como corolário da dis-
cussão acima. Para tanto, fixado um lado do paralelogramo, o qual
chamaremos de base, diremos que a distância entre ele e seu lado
paralelo é a altura do paralelogramo (relativa à base fixada).
Proposição 5.3. A área de um paralelogramo de base a e altura h é
Figura 5.1: áreas de um quadrado e de um retângulo. igual a ah.
Prova. Sejam ABCD um paralelogramo de diagonais AC e BD (cf.
Um argumento análogo ao acima permite provar que um retângulo figura 5.2), e E e F respectivamente os pés das perpendiculares bai-
de lados a e b tem área igual a ab (cf. figura 5.1): começamos com xadas de D e C à reta AB. Ademais, suponha, sem perda de gene-
um retângulo de lados m, n E N, particionando-o em mn quadrados ralidade, que E E AB. É imediato verificar que os triângulos AD E e
de lado 1 para mostrar que sua área é mn. Em seguida, tomamos um
e,
11
retângulo de lados mi
n1
e mn22 , com m1, m 2, n1, n2 EN, com n1n2 cópias
do mesmo, montamos um retângulo de lados m 1 e m2. Somando áreas
iguais, concluímos que a área do retângulo dado originalmente é igual
a
A E

n 1n 2 n 1 n2 Figura 5.2: área de um paralelogramo.


Por fim, tomamos um retângulo de lados a e b reais positivos, e, para
k E N, racionais xk, Yk, uk, vk tais que Xk < a < Yk, uk < b < vk e BC F são congruentes pelo caso CH, de modo que AE = B F e (pelo
Yk - xk, vk - Uk < t- Sendo A a área do retângulo de lados a e b, postulado 1.) A(ADE) = A(BCF). Então, temos
um argumento análogo ao feito para quadrados garante que A e ab
pertencem ambos ao intervalo (ukxk, ykvk) e, daí, para todo k E N, A(ABCD) A(ADE) + A(BEDC)
A(BCF) + A(BEDC)
IA - abl < VkYk - UkXk = ( Vk - uk)Yk + uk(Yk - xk) A(CDEF).
1 1 ·
< A;(Yk + uk) < k ((Yk - xk) + 2xk + (vk - uk) + 2uk) Por outro lado, CDEF é um retângulo de altura h e base

< i (~ + 2a + 2b) .

Também como antes, a validade da desigualdade acima para todo Portanto, segue da proposição 5.3 que A(ABCD) = A(EFCD)
k E N garante que A = ab, fato que resumimos no seguinte resultado. ah. •
226 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 227

De posse da fórmula para o cálculo da área de paralelogramos, do mesmo, traçadas a partir de um de seus vértices, o particionam em
podemos obter facilmente uma fórmula para a área de triângulos, me-. , triângulos, basta calcular a área de cada um desses triângulos com a
diante o artifício discutido na proposição a seguir. ajuda da proposição anterior, somando os resultados obtidos.
Terminamos esta seção estabelecendo, para uso futuro, a seguinte
Proposição 5.4. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC== b
convenção: se dois polígonos tiverem áreas iguais, diremos que são
e BC = a, e alturas ha, hb e hc, respectivamente relativas aos lados
equivalentes. Por exemplo, de acordo com a proposição 5.3, um
a, b e e. Então,
paralelogramo de base a e altura h é equivalente a um retângulo de
A(ABC) = aha = bhb = chc. lados a eh.
2 2 2
Em particular, aha = bhb = chc.

Prova. Seja S = A(ABC) e D a interseção da paralela a BC por A Problemas - Seção 5.1


+-----t

com a paralela a AB por C (cf. figura 5.3). Então ABC CD A por


1. ABCD é um retângulo de lados AB = 32m e BC = 20m. Os

B
í1?<7D C
pontos E e F são, respectivamente, os pontos médios dos lados
AB e AD. Calcule a área do quadrilátero AECF.

2. No paralelogramo ABCD, de diagonais AC e BD, marcamos o


+-----t +-----t

ponto E, sobre o lado AD, tal que BE1- AD. Se BE= 5cm,
BC= 12cm e AE = 4cm, calcule a área do triângulo ECD.
Figura 5.3: área de um triângulo.
3. Seja ABCD um quadrado de lado 1, E o ponto médio de BC
ALA (uma vez que BÂC = DêA, AC é lado comum e Bê A= DÂC), e F o de CD. Sendo G o ponto de interseção de D E e AF,
de sorte que A(ABC) = A(CDA) pelo postulado 1.. Mas, como' Calcule a área do triângulo DFG.
ABCD é um paralelogramo de base a e altura ha, segue da proposição,
4. * Se ABC é um triângulo equilátero com lados de comprimento
anterior que
a, prove que:
2S = A(ABC) + A(CDA) = A(ABCD) = aha. (a) as alturas de ABC medem ªf.
Portanto, A(ABC) = S = !aha, e as outras duas igualdades podem, (b) A(ABC) = ª 2 f.
ser obtidas de modo análogo. • .·
5. Seja ABCD um quadrado de lado lcm e E um ponto no interior
De posse do material discutido até aqui, calcular áreas de polígonos de ABCD, tal que o triângulo ABE seja equilátero. Calcule a
convexos é, em princípio, uma tarefa fácil: uma vez que as diagonais , área do triângulo BC E.
228 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 229

6. ABCD é um quadrado de lado lcm e AEF um triângulo equi- 13. São dados no plano dois quadrados de lado lcm, tais que o centro
látero com E E BC e F E CD. Calcule a área de AEF. de um deles coincide com um dos vértices do outro. Calcule os
' possíveis valores da área da porção do plano comum aos dois
7. Seja ABC um triângulo equilátero. quadrados.
(a) Mostre, mediante o cálculo de áreas, que as três alturas de 14. Sejam ABC um triângulo e ABDE e ACFG paralelogramos
ABC têm comprimentos iguais. construídos exteriormente a ABC e com interiores disjuntos. Se-
+---> +----->
(b) Prove que a soma das distâncias de um ponto escolhido jam, ainda, H o ponto de interseção das retas DE e FG e BCI J
<------+ +----->
no interior de ABC a seus lados independe da posição do um paralelogramo tal que CI = AH e CJ li AH. Prove que
ponto e é igual ao comprimento das alturas de ABC.
A(ABDE) + A(ACFG) = A(BCI J).
8. * Generalize o item (b) do problema anterior, mostrando que, se
15. Cada diagonal de um quadrilátero convexo o divide em dois
P é um ponto no interior de um polígono regular A1A2 ... An,
triângulos de mesma área. Prove que o quadrilátero é um para-
então a soma das distâncias de P às retas suportes dos lados de
lelogramo.
A1 A2 ... An independe da posição de P.
16. (OIM - adaptado.)
9. O triângulo ABC tem lados a, b, e. As alturas correspondentes
a tais lados são respectivamente iguais a ha, hb, hc. Se a+ ha = (a) Se dois triângulos têm alturas iguais, prove que a razão
b + hb = e+ hc, prove que ABC é equilátero. entre suas áreas é igual à razão entre os comprimentos das
bases correspondentes às alturas iguais.
10. (OBM.) Seja ABC um triângulo retângulo de área lm2 . Calcule
(b) Sejam ABC um triângulo e D, E e F pontos respectiva-
a área do triângulo A' B' C', onde A' é o simétrico de A em relação
<---+ <---+ mente sobre BC, CA e AB, tais que os segmentos AD, BE
a BC, B' é o simétrico de Bem relação a AC e C' é o simétrico
<------+ e CF são concorrentes em P. Sabe-se que A(BDP) = 40,
de C em relação a AB. A(CDP) = 30, A(CEP) = 35, A(AFP) = 84. Calcule a
I'"
área de ABC.
11. Dado um triângulo qualquer ABC, prove que o triângulo for-
ij,
mado pelos pontos médios dos lados de ABC tem área igual a 17. Neste problema, damos uma prova parcial do teorema de Ceva
flíi
'I

"
i da área de ABC. 4.24, por meio de um argumento que utiliza a noção de área de
!)'11':!
um triângulo. Para tanto, sejam dados um triângulo ABC e ',;I

12. Sejam ABC D um quadrilátero qualquer e M, N, P e Q, res-


•1,:1

pontos A', B' e C', situados respectivamente sobre as retas su-


pectivamente, os pontos médios dos lados AB, BC, CD e DA.
portes dos lados BC, CA e AB e distintos dos vértices de ABC.
Prove que
Suponha, ademais, que as retas AA', BE' e CC' concorram em
A(MNPQ) = ~A(ABCD).
um ponto P
Antonio Caminha M. Neto 231
230 Tópicos de Matemática Elementar 2

(a) Use um argumento envolvendo áreas de triângulos para con- .


· A'B _ A(ABP) ·

c1mr que A'C - A(ACP). O corolário anterior pode ser usado para transformar um polígono
· · ( ) BA' CB' AC' 1· em outro equivalente, com menor número de lados. Vejamos como
(b) Conclua, a partu do item a , que A'C · B' A · 0 , B =
fazer isso no exemplo seguinte.
18. (OIM.) Seja Pum polígono convexo circunscritível. Uma reta r
divide P em dois polígonos de mesma área e mesmo perímetro.• Exemplo 5.6. Em relação à figura abaixo, construa com régua e
<---->
Mostre que r passa pelo centro do círculo inscrito em P. compasso o ponto E E BC tal que A(ABE) = A(ABCD).

19. (IMO.) Em um quadrilátero convexo de área 32cm2 , a soma·· Solução.


dos comprimentos de dois lados opostos e uma diagonal é 16cm.
Calcule todos os comprimentos possíveis da outra diagonal.

5.2 Aplicações
B c
Uma consequência imediata da proposição 5.4 é o critério a seguir
para equivalência de triângulos.
DESCRIÇÃO DOS PASSOS.
··.,,I
Corolário 5.5. Sejam ABC e A' BC triângulos tais que AA' li +------->
1. Trace, pelo ponto D, a reta r, paralela à reta AC.
Então A(ABC) = A(A' BC).
+-------> <-------> <---->
Prova. Sendo d a distância entre as retas BC e AA' (cf. figura 5.4), 2. Marque o ponto E de interseção der com a reta BC.
temos que d é o comprimento das alturas de ABC e A' BC relativas
3. Pelo corolário anterior, temos A(ACD) = A(ACE); logo,
ao lado BC. Portanto,
A A' A(ABE) = A(ABC) + A(ACE)
,,l"I

iil
= A(ABC) + A(ACD)
'ti'11
= A(ABCD)
11111i

Figura 5.4: critério para equivalência de triângulos.



Outra consequência interessante do corolário 5.5 é a possibilidade
de provar o teorema de Pitágoras através do cálculo de áreas, conforme
atesta o próximo exemplo.
A(ABC) =!BC· d= A(A'BC).
2
232 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 233
Exemplo 5. 7. Seja ABC um triângulo retângulo em A, com catetos G
AB = e, AC = b e hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura
relativa à hipotenusa, CH = m, EH = n e AH =
mediante o cálculo de áreas, as relações métricas

(a) ah= bc. F


D
(b) c2 = an e b2 = am.
1
(c) a2 = b2 + c2. e

(a) Basta ver que ambos ah e bc medem o dobro da área de ABC. De


fato, E

1- - ah 1- - bc
A(ABC) = AH= 2 e A(ABC)
2 BC · = 2 AC · AB = 2 . b

(b) Construa, exteriormente a ABC, os quadrados' ABDE, BCFG


--+
ACJK (cf. figura 5.5) e seja I o ponto de interseção da semirreta AH K
+-----> +-----> . J
com FG. Como AI li BG, segue do corolário 5.5 que
Figura 5.5: o teorema de Pitágoras pelo cálculo de áreas.
1 - - - an
A(BGA) = A(BGH) = 2 BG · EH= 2 .
Por outro lado, como BD = AB, BC = BG e DÊC = 90º + Ê::;:, por outro lado, raciocinando de maneira análoga, obtemos
AÊG, os triângulos BCD e BGA são congruentes por LAL. Portanto,;
+-----> +----->
A(BCD) = A(BGA) = ª;
(1). Mas, uma vez que AC li BD, apli: b2 = A(ACJK) - 2A(ACJ) = 2A(BCJ)
cando novamente o corolário 5.5 obtemos A(BCD) = A(ABD) = ~ = 2A(FCA) = 2A(FCH) = A(FCHI),
(II). Segue, pois, de (1) e (II) que c2 = an. Provar que b2 = am
1~11i análogo.
b2 + c2 = A(BGIH) + A(FCHI) = A(BCFG) = a 2.
(e) Decerto que poderíamos agir como na prova do item (c) da propo-:
sição 4.9, somando membro a membro as duas relações do item (b). A fórmula para a área de um triângulo também nos dá uma ma-
Alternativamente, o argumento da prova de (b) garante que neira de calcular áreas de trapézios. Para tanto, convencionamos
chamar de altura de um trapézio à distância entre as retas suportes
c2 = A(ABDE) = 2A(ABD) = 2A(BGH)-:-- A(BGIH); ·• de suas bases.
Tópicos de Matemática Elementar 2 · . Antonio Caminha M. Neto 235
234
D
Proposição 5.8. Se ABC D é um trapézio de bases AB = a, CD = b :
e altura h, então
A(ABCD) = (a~ b)h.

Prova. Suponha, sem perda de generalidade, que a > b (cf. figura 5.6). B
Se E E AB for tal que AE = b, então o quadrilátero AEC D tem dois Figura 5.7: área de um losango.
b

A seguir, mostramos que a razão entre as áreas de dois triângulos


semelhantes é igual ao quadrado da razão de semelhança.
B
b E a-b
Proposição 5.10. Sejam ABC e A' B'C' dois triângulos semelhantes.
Figura 5.6: área de um trapézio. Sendo k a razão de semelhança de ABC para A' B' C', temos

A(ABC) 2

lados paralelos e iguais, de modo que é um paralelogramo. A(A' B'C') = k .


BE=a-b, temos
Prova. Sejam BC = a, B'C' = a' e h e h' as alturas de ABC e
.•. i A(ABCD) A(AECD) + A(EBC) A'B'C', respectivamente relativas a BC e B'C' (cf. figura 5.8). Como
i
(a - b)h (a+ b)h
bh+ 2 = 2 .
A'

Corolário 5.9. Se ABCD é um losango de diagonais AC e BD, então B'~C'


1- - a a'
A(ABCD) = 2 AC· BD.

Prova. Nas notações da figura 5.7, temos Figura 5.8: áreas de triângulos semelhantes.

A(ABCD) A(ABC) + A(ACD)


1- - 1- - a= ka' e (pelo problema 3, página 168) h = kh', segue que
-AC· BM +-AC· DM
2 2 A(ABC) ah ka' · kh' 2
1- - A(A' B'C') = a'h' = a'h' = k ·
-AC· BD.
2

r
1
236 Tópicos de Matemática Elementar · Antonio Caminha M. Neto 237
1 '

!
Exemplo 5.11. Em relação à figura abaixo, construa com régua . Proposição 5.12. Seja ABC um triângulo de lados BC= a, AC=
compasso pontos D E AB e E E AC tais que DE li BC e A(ADE)::::: b, AB = e e semiperímetro p. Se r e rª denotam, respectivamente, os
A(DBCE). raios dos círculos inscrito em ABC e ex-inscrito a BC, então
Solução. A(ABC) = pr = (p- a)ra. (5.2)
A
Prova. Sejam I o incentro e Ia o ex-incentro de ABC relativo a BC
(cf. figura 5.9). Uma vez que as alturas dos triângulos AIB, AIC e

B c

Supondo o problema resolvido, temos A(ADE) = !A(ABC). Po·


outro lado, como ADE"' ABC, a proposição anterior garante que

A(ADE) 1
A(ABC) y12·
Basta, agora, executar as construções descritas a seguir:
A c
! :

DESCRIÇÃO DOS PASSOS. Figura 5.9: fórmulas para a área de um triângulo.


1. Trace o semicírculo r de diâmetro AC e exterior a ABC.
BIC, respectivamente relativas aos lados AB, AC e BC, são todas
2. Sendo Mo ponto médio de AC, marque P E r tal que P M l_AC. iguais a r, temos
O teorema de Pitágoras, aplicado ao triângulo APC, garante qu ·
- 1-
AP = v'2AC.
A(ABC) A(AIB) + A(AIC) + A(BIC)
cr br ar
3. Por fim, obtenha E como a interseção de AC com o círculo de 2+2+2 =pr;
centro A e raio AP. por outro lado, uma vez que as alturas de A(AiaB), A(AiaC) e
A(BiaC), respectivamente relativas aos lados AB, AC e BC, são to-
das iguais a r a, temos
Terminamos esta seção apresentando algumas aplicações interes-,:
santes da fórmula para a área de triângulos, utilizada em conjunção
com outros resultados estudados anteriormente.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 239
238

• 1fC = a, AC= b e AB = e, e observando que OM = x, ON = y e


GP= z, obtemos, pelo teorema de Ptolomeu, as igualdades
Estamos, agora, em condições de provar outro corolário importante e a b
do teorema de Ptolomeu, conhecido na literatura como o teorema de
x·-+z·-=R·-
2 2 2'
Carnot 2 . b a e
X. 2 + y. 2 = R. 2' (5.3)
Teorema 5.13 (Carnot). Se ABC é um triângulo acutângulo de cir- " . e b a
y. 2 + z. 2 = R. 2·
cuncentro O, ex, y e z denotam as distâncias de O aos lados BC, AC
e AB, respectivamente, então Por outro lado como os triângulos O BC, OCA e O AB particionam
o triângulo ABC, temos
x+y+z = R+r,
A(ABC) = xa yb zc
2+2+2.
onde r e R denotam, também respectivamente, os raios dos círculos
Agora, denotando por p o semiperímetro de ABC, sabemos da propo-
inscrito e circunscrito a ABC.
sição anterior que A(ABC) = pr; por sua vez, substituindo tal relação
Prova. Sejam M, N e P, respectivamente, os pontos médios dos lados na última igualdade acima, obtemos
BC, AC e AB, de modo que OM1-BC, ON1-CA e OP1-AB (cf. xa yb zc
figura 5.10). Os quadriláteros BMOP, CNOM e APON, tendo, 2+ 2 + 2 =pr.
Por fim, somando membro a membro tal com aquelas em (5.3),
A obtemos
(x+y+z)p= (R+r)p,
a partir de onde segue o teorema de Carnot.

Para uma generalização do teorema de Carnot a triângulos ob-
tusângulos, veja o problema 16, página 244.
B M c Para nossa última aplicação necessitamos de uma definição preli-
minar. Nesse ponto, o leitor pode achar útil relembrar o conteúdo do
Figura 5.10: distâncias do circuncentro aos lados. teorema 4.27. lli
li
Definição 5.14. As simedianas de um triângulo são as cevianas iso-
cada um, dois ângulos opostos retos, são todos inscritíveis. Denotando gonais a suas medianas. Seu ponto de concurso é o ponto simediano
ou de Lemoine 3 do triângulo.
2 Após Lazare Carnot, matemático francês dos séculos XVIII e XIX, o primeiro
3 Após Émile Lemoine, matemático francês do século XIX.
a utilizar sistematicamente segmentos orientados em geometria.
240 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 241

O ponto de Lemoine de um triângulo possui muitas propriedades O resultado final desta seção caracteriza o ponto de Lemoine como
interessantes, sendo a mais fundamental de todas aquela colecionada a única solução do problema de minimização da soma dos quadrados
no próximo resultado. das distâncias de um ponto de um triângulo às retas suportes de seus
lados.
Proposição 5.15. Seja Pum ponto no interior de um triângulo ABC.
Se x e y denotam as distâncias de P aos lados AB e AC, respectiva- Teorema 5.16. A soma dos quadrados das distâncias de um ponto
mente, então de um triângulo às retas suportes de seus lados é mínima se, e só se,
- X AB tal ponto for o ponto simediano do triângulo.
AP é simediana {::} - = -=.
y AC
Prova. Seja P um ponto no interior do triângulo ABC e x, y e
A z as distâncias de P respectivamente aos lados BC, AC e AB (cf.
figura 5.12). Queremos mostrar que a soma x 2 + y 2 + z 2 é mínima se,
e só se, P for o ponto simediano de ABC.

B c
Figura 5.11: propriedade fundamental do ponto de Lemoine.

B c
Prova. Seja Ma o ponto médio de BC. Nas notações da figura 5.11,
Figura 5.12: o ponto simediano como ponto de mínimo.
o lema 4.26 garante que AP é simediana se, e só se, :E.y = !!.u . Para
terminar, observe que, sendo h o comprimento da altura de ABC
relativa a BC, temos Para tanto, sejam BC a, AC b e AB e. Denotando
S = A(ABC), temos
1-- 1--
A(ABMa) = 2 BMa · h = 2 CMa · h = A(ACMa); S = A(ABP) + A(BCP) + A(CAP) = ax + by + cz
portanto, 2
··~".
e, daí, 28 = ax + by + cz. Portanto, aplicando a desigualdade de
'

1~ 1~
2 AB. u = A(ABMa) = A(ACMa) = 2 AC. v Cauchy (cf. teorema 7.14 do volume 1), obtemos
,
e, da1, uv = AB
AC'
• (x 2 + y 2 + z2 )(a 2 + b2 + c2 ) 2:: (ax + by + cz) 2 = 48 2 ,
242 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 243

de sorte que (b) Calcule a razão entre as áreas dos triângulos ABC e DEF.
2 2 2 432
x + y + z 2::. a2 + b2 + c2 5. (Torneio das Cidades.) Em um hexágono convexo ABCDEF,
Agora, a condição de igualdade na desigualdade de Cauchy garante temos AB li CF, CD 11 BE e EF li AD. Prove que as áreas dos
que haverá igualdade na desigualdade acima se, e só se, tivermos triângulos AGE e BDF são iguais.
X y Z
6. O trapézio ABCD, de bases AB e CD e lados não paralelos AD
a b e
e BC, é retângulo em A. Se BC= CD= 13cm e AB = 18cm,
Por sua vez, de acordo com a proposição anterior, sabemos que as calcule a altura e a área do trapézio, assim como a distância do
+--->
relações acima são satisfeitas se, e só se, P for o ponto simediano de
vértice A à reta BC.
ABC. •
7. (Torneio das Cidades.) Para quais inteiros positivos n é possível
particionar um triângulo equilátero de lado n em trapézios de
lados medindo 1, 1, 1 e 2?
Problemas - Seção 5.2 .
8. ABCD é um trapézio de bases BC e AD e lados não paralelos
1. Construa, com régua e compasso, um triângulo de área igual à AB e CD. Seja E o ponto médio do lado CD e suponha que a
área de um quadrado dado. área do triângulo AEB seja igual a 360 cm2. Calcule a área do
trapézio.
2. (Hungria.) Sejam ABCD um paralelogramo e EFG um triân-
gulo cujos vértices estão situados sobre os lados de ABC D. 9. Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos
Prove que AD e BC. Se as diagonais de ABCD se intersectam em E, prove
A(ABCD) 2::. 2A(EFG). que
J A(ABCD) = J A(ABE) + J A(CDE).
3. (Argentina.) 'frês formigas, inicialmente situadas em três dos
vértices de um retângulo, se movem uma por vez e de acordo com . 10. Por um ponto P no interior de um triângulo ABC traçamos retas
a seguinte regra: quando uma formiga se move, ela se desloca . paralelas aos lados de ABC. Tais retas particionam ABC em
na direção paralela à formada pelas outras duas formigas. É · três triângulos e três paralelogramos. Se as áreas dos triângulos
possível que em algum instante as formigas estejam situadas nos são iguais a lcm2, 4cm2 e 9cm2, calcule a área de ABC.
pontos médios do retângulo original?
11. Seja ABC um triângulo de semiperímetro p, T o raio de seu
4. Seja ABC um triângulo qualquer. círculo inscrito e Ta, Tb e Te os raios de seus círculos ex-inscritos.
Prove que
(a) Prove que com as medianas de ABC podemos formar um 1 1 1 1
- =-+-+-.
triângulo D E F. T Ta Tb Te
r,
i

244 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 245

12. Prove que as simedianas de um triângulo acutângulo passam de concurso das bissetrizes dos ângulos L.AOB, L.BOC, L.COD
pelos pontos médios dos lados de seu triângulo órtico. e L.DOA com os lados AB, BC, CD e DA. Sejam, ainda,
.......... +--->
P o ponto de interseção das retas K L e M N e Q o ponto
13. Prove que o ponto simediano de um triângulo retângulo é o ponto <--------> ..........
de interseção das retas K N e M L. Encontre todos os valores
médio da altura relativa à hipotenusa.
k = ~~ para os quais o quadrilátero ABC D e o triângulo POQ
14. Se Pé um ponto sobre o lado BC de um triângulo ABC, mostre têm áreas iguais.
que AP é a simediana relativa a BC se, e só se,

BP AB2
CP - AC2 .

15. (OIM.) Seja ABC um triângulo de incentro I e baricentro G, tal


<--------> +--->
que 2 BC= AC+ AB. Prove que IG li BC. 5.3 A área e o comprimento de um círculo
16. * Generalize o teorema de Carnot para triângulos obtusângu-
los. Mais precisamente, mostre que, se ABC é um triângulo
obtusângulo em A e x, y e z são respectivamente as distâncias Vamos terminar este capítulo estudando como definir e calcular a
do circuncentro O de ABC aos lados BC, AC e AB, então área da região do plano delimitada por um círculo (à qual nos referire-
mos, doravante, simplesmente como a área de um círculo), assim como
-x+y+z = R+r, sua circunferência (i.e., seu comprimento). Para tanto, precisamos
onde r e R denotam, respectivamente, os raios dos círculos ins- apresentar mais alguns fatos sobre polígonos.
crito e circunscrito a ABC. Dizemos que um polígono é regular se todos os seus lados e todos
17. ABC DE é um pentágono inscrito em (i.e., com todos os seus vér- os seus ângulos internos tiverem medidas iguais. Em particular, segue
tices sobre) um círculo. Particionamos ABCDE em três triân- do problema 11, página 56, que, em um polígono regular de n lados,
gulos, por meio de diagonais que só se intersectam em vértices. cada ângulo interno deve medir 180º~n- 2). Observe que os polígonos
Prove que, independentemente da maneira pela qual efetuemos · regulares de três e quatro lados são, respectivamente, os triângulos
tal partição, a soma dos raios dos círculos inscritos nos três triân- equiláteros e os quadrados.
gulos que a compõem é sempre a mesma.
Para construir um polígono regular de n lados, divida um círculo
18. (Bulgária.) O trapézio ABCD tem bases AB > CD e lados de centro O em n arcos iguais, obtendo os pontos A 1 , A2 , ... , An (cf.
não paralelos BC e AD; as diagonais AC e BD se intersectam figura 5.13, para o caso n = 7). Como arcos iguais subentendem
no ponto O. Sejam K, L, Me N, respectivamente, os pontos cordas iguais, o polígono A1 A2 ... An tem n lados iguais. Por outro
r
i.

Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 247


246

A2A3 e

A2Â101 = A1Â201 = A3Â20 2 = A 2Â30 2 = goº(n - 2),


n
temos 01A1A2 - 02A2A3 por ALA; em particular, A 20 1 = A 20 2 e,
daí, 01 = 02. Argumentando analogamente para cada terno de ângu-
los consecutivos do polígono, concluímos que as bissetrizes internas de
todos os ângulos do mesmo passam por um só ponto O, e o resultado
do problema 9, página 146, garante que A1A2 ... An é circunscritível
(observe que o argumento acima tambêm é válido para n = 3, bas-
tando trocar os ângulos LA2A 1An e LA2A 3A 4 respectivamente por
Figura 5.13: construindo polígonos regulares.
LA2A1A3 e LA2A3A1).
Se O é o centro do círculo inscrito em A1A2 ... An, a discussão
lado, pelo teorema do ângulo inscrito, temos do parágrafo anterior mostrou que, para 1 ::::; i ::::; n, temos A10 =
A20 = · · · = AnO. Portanto, o círculo de centro O e raio igual a essa
,,... 1 ,..._ 1 ,..._
A 1A 2A3 = -A1AnA3 = -(360º - A1A2A3) distância comum circunscreve o polígono. Resumimos essa discussão
2 2
1 ,,.._ ,,.._ com a proposição a seguir.
= -(360º - A10A2 -A20A3)
2 Proposição 5.17. Todo polígono regular é inscritível e circunscritível,
360º) e os círculos inscrito e circunscrito têm um mesmo centro.
= 21 ( 360º - 2 . -----;-
Seja r( O; 1) um círculo fixado, de raio 1. Para naturais m, n ~ 3,
180º (n - 2)
considere polígonos regulares Pn e Qm, respectivamente com n e m
n
lados, sendo P n inscrito e Qm circunscrito a r. Então, Pn está contido
e, analogamente, no interior de Qm e, escrevendo A(Pn) e A(Qm) para denotar suas
,,... 180º(n - 2) áreas, segue do postulado 3, no início deste capítulo, que
AiA+1AH2 = ,
n
para 2 ::::; i ::::; n (aqui, convencionamos que An+l = A1 e An+2 =
A proposição 1.17 do volume 1 garante, então, que
A 2). Portanto, todos os ângulos de A1A 2 ... An também são iguais, de
maneira que A1A 2 ... An é um polígono regular de n lados. sup{A(Pn); Pn é inscrito em r}::::; inf{A(Qm); Qm é circunscrito ar}.
Considere, agora, um polígono regular qualquer A1A2 ... An, com Gostaríamos de mostrar que os dois números acima são iguais e,
n ~ 4, e trace as bissetrizes dos ângulos internos LA2A1An, LA1A2A3 em seguida, definir a área de r por
e LA2A 3A 4 . Seja 0 1 o ponto de interseção das duas primeiras bis-
setrizes e 0 2 o ponto de interseção das duas últimas. Como A1A2 = A(r) = sup{A(Pn); Pn está inscrito em r} (5.4)

•l
248 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 249

(ou, oqueseriaomesmo, A(r) = inf{A(Qm); Qm é circunscrito ar}).


Para tanto, suponha que mostramos, para k ~ 3, a desigualdade

A(Q2k) - A(P2k) < (43)k-3 e, (5.5)

onde e = A(Q8 ) - A(Ps) é a diferença entre as áreas dos octógonos


circunscrito e inscrito em r. Então, o resultado do problema 11 da
seção 6.2 do volume 1 fornece

o
e a igualdade desejada (5.4) segue de uma variante óbvia da proposição
Figura 5.14: cálculo de .Ó.n,
1.18 do volume 1.
Precisamos, pois, estimar a diferença entre as áreas dos polígonos
regulares de 2k lados, circunscrito e inscrito em r. Comecemos ob-
lado de Q2n é o segmento EiHi na figura 5.14), de tal sorte que
tendo uma estimativa ligeiramente mais geral.
n n
Considere os polígonos regulares Pn = A1A2 ... An, inscrito em
r, e Qn = B 1B 2 ... Bn, circunscrito a r, posicionados de tal forma
~2n L (A(AiDiEi) + A(DiAi+lHi))
i=l
= 2 L A(AiDiEi)
i=l
s s
que, para 1 i n, o vértice A seja o ponto de tangência do lado n

BiBi+ 1 com r (cf. figura 5.14; novamente aqui, convencionamos que L AiDi · EiFi
i=l
= nl2nb2n, (5.7)
Bn+l = B 1). Sejam ln= AiAi+ 1 o lado de Pn, Cio ponto de interseção
dos segmentos AiAi+ 1 e OBi+l e bn = CiBi+l (tal distância independe onde ~ é o ponto médio de AiDi. Precisamos, agora, do seguinte
s s
do natural 1 i n escolhido, graças à congruência dos triângulos resultado auxiliar.
isósceles OAiAi+I)- A diferença ~n = A(Qn) - A(Pn) é dada por
Lema 5.18. Seja ABC um triângulo retângulo em B. Se Pé o pé da
bissetriz interna relativa a BC, então BP< BC. !
Prova. Se Q é o pé da perpendicular baixada de P à hipotenusa AC,
segue da caracterização da bissetriz como LG que
Seja, agora, Di o ponto de interseção do segmento OBi+l com r,
e Ei a interseção de AiBi+ 1 com a mediatriz de AiDi. É imediato
verificar que AiDi é um lado de P 2n e que Ei é um vértice de Q2n (um , - 1-
e, dai, PB < 2 BC.

r

250 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 251

Para continuar, note que o teorema do ângulo inscrito nos dá como desejado.
(figura 5.14) Conforme antecipamos alguns parágrafos atrás, a discussão acima
nos permite enunciar a definição a seguir.

Definição 5.19. Definimos o número real 1r como a área de um círculo


(verifique esta última igualdade). Assim, AiDi é bissetriz interna do de raio 1.
triângulo retângulo AiCiBi+ 1 relativa ao cateto CiBi+I· Portanto,
segue da caracterização da bissetriz como LG e do lema anterior que A partir da definição acima, um argumento simples (cf. problema
3, página 257) mostra que a área de um círculo de raio Ré dada por
-- 1 bn
b2n = EiFi = FiGi < CiDi < 2 CiBi+1 = 2 . (5.8) 7rR2.

Por outro lado, a fim de obtermos aproximações numéricas para


Por outro lado, para n 2:: 8 temos o valor de 1r, utilizamo-nos do argumento apresentado acima, o qual
provou a boa definição da área de um círculo: tomamos um círculo
r, de raio 1, e consideramos quadrados ABCD e EFGH, o primeiro
inscrito e o segundo circunscrito ar (cf. figura 5.15). É imediato que
de sorte que
-- ln
CiBi+1 ~ Ai+ICi = AiCi = 2 .
Portanto, aplicando sucessivamente a desigualdade triangular, o lema
5.18 e a última desigualdade acima ao triângulo AiCiDi, obtemos (no-
vamente para n 2:: 8)
- - - - - - ln 1 ln 1 ln 3ln
l 2n = AiDi < AiCi + nni < 2 + 2 CiBi+l ~ 2 + 2.2 = 4·
F
Finalmente, segue de (5.6), (5.7) e (5.8) que Figura 5.15: aproximações para 71".

3ln bn 3
.Ó2n = nl2nb2n < n · 4 · 2 = 4.Ón
EF = 2 e, pelo teorema de Pitágoras, AB = J2, de maneira que
para n 2:: 8.
""'·1:i Estamos, por fim, em condições de provar (5.5): segue da desigual- 2 = A(ABCD) < 1r < A(EFGH) = 4.
dade acima e da fórmula para produtos telescópicos que
Podemos refinar o argumento acima com o auxílio dos problemas 4
e 5, página 257, bem como seus análogos para polígonos regulares
circunscritos a r, obtendo, assim, aproximações numéricas melhores
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 253
252

para 1r. Para referências futuras, o valor aproximado de 1r, com cinco Suponha, agora, que a= 360º · x, com x irracional. Pelo problema
casas decimais corretas, é 3 da seção 1.5 do volume 1, podemos tomar racionais O < r 1 < r 2 <
· · · < x, tais que sup{r1, r2, ... } = x. Seja Bn E AÊ o ponto tal
1r "' 3,14159.
que AÔBn = an, onde a~= 360º · rn. Então o setor circular AÔBn
Observamos, ainda, que 1r é um número irracionat1 e referimos o está contido no setor AO B, mas a discrepância entre os ângulos de
leitor ao problema 14 da seção 6.4 do volume 3 para uma prova deste tais setores é cada vez menor, à medida que n aumenta. Portanto,
fato. estendendo da maneira na~ral o postulado 3 do início deste capí-
Dados um círculo r, de centro O e raio R, e um arco AB de
~
r, tu~, definimos a área de AO B como o supremo das áreas dos setores
definimos o setor circular AO B como a porção de r formada pela AOBn· Mas, pelo que fizemos acima, temos
união dos raios OC, tais que C E AB. Se AÔB = a, dizemos que
AO B é um setor de ângulo a. A seguir, definiremos a área do setor
AO B, mostrando que e, daí,
~ a
A(AOB) = - · 1rR2
360°
se a for o ângulo do setor.
Se a= 360º. m, com m,n E Nem < n, definimos a área do Considerando novamente um círculo r, de raio R, terminemos este
n
capítulo definindo e calculando seu comprimento ou circunferên-
setor AÔ B como sendo igual ao supremo das áreas dos polígonos
cia, o qual será definido como o único real positivo R(r) que satisfaz
A1A2 ... AkmAkm+lO, onde k EN e A1A2 ... Akn é um polígono regu-
a seguinte condição: para todos os polígonos regulares P e Q, com P
lar de kn lados, inscrito em retal que A1 = A, Akm+l = B. Então
inscrito em r e Q circunscrito a r, temos
A(A1A2 ... AkmAkm+lO) :E::i A(AiOAH1)
A(A1A2 ... Akn-lAkn) - :E::~1 A(AiOAH1) R(P) ::; .e(r) ::; .e( Q), (5.9)
km· A(A 10A2) m
onde R(P) denota o perímetro do polígono P.
kn · A(A10A2) n
A seguir, mostraremos que R(r) está bem definido e que
Uma vez que os cálculos acima são válidos para todo k EN, segue que

''I'" Para intuirmos o porquê desse valor, considere outro círculo, de mesmo
40número 1r é de fato transcendente, i.e., não pode ser obtido como raiz de
um polinômio não nulo de coeficientes racionais. Entretanto, uma prova desse fato
centro que r e de raio R + i,
onde n E N. Para n suficientemente
grande, nossa intuição geométrica sugere ser razoável supor que uma
foge ao escopo dessas notas e pode ser encontrada em [7]. Teremos mais a dizer
sobre números transcendentes no Capítulo 8 do volume 6. boa aproximação para a área da região situada entre os dois círculos
254 Tópicos de Matemática Elementar 2 . Antonio Caminha M. Neto 255

Mas, nas notações da figura 5.14, temos


n
A(Pn) = ~A(OAiAi+1) = ilnan,
i=l

de sorte que

ou, ainda,

f(f)
Aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo retângulo OAiCi, obte-
Figura 5.16: o comprimento de um círculo de raio R.
mos

(pintada de cinza, na figura 5.16) seja a área de um retângulo de base


f(f) e altura ~- Assim,
e, daí,
2
f(f) ·;,1 ~ 1r ( R +-;;_1 )· - 1rR2

ou, ainda,
1 Portanto,
f(f) "'21rR + -.
n
Admitindo também ser razoável supor que a aproximação acima é (5.10)
tanto melhor quanto maior for o natural n, devemos ter f (r) = 21r R.
De um ponto de vista mais formal, para mostrar que a definição Agora, segue do problema 4, página 257, que
(5.9) faz sentido e calcular rigorosamente R(r), consideremos nova-
mente um polígono regular Pn = A1 A2 ... An inscrito em f(O; R) (cf.
figura 5.14). Sejam ln o comprimento dos lados de Pn e (invocando
novamente a congruência dos triângulos isósceles OAiAi+I) an a dis-
tância de O às retas suportes dos lados de Pn·
l~n = 11 + ( R- ~ ) ' = 11 + ( 4 ( R+ JR' -4))'
Se f'(O; an), as inclusões r' e Pn e r fornecem as desigualdades
1ra~ < A(Pn) < 1rR2 . C+J~-1r
256 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 257

Se n = 6, então os triângulos OAiAi+ 1 são todos equiláteros, de sorte 2. Dois polígonos regulares de vinte lados têm lados de comprimen-
que l6 = R. Se n ?: 6, segue do corolário 2.25 que ln :::; l6 = R e, daí, tos 5cm e 12cm. Calcule o comprimento do lado de um outro
polígono regular de vinte lados, sabendo que sua área é igual à
2 soma das áreas dos dois polígonos dados.
l~n = l; + l; ( ln ) < l; + l; = 5l; < 9l; .
4 16 R+ V R2 _ z} 4 16 16 16
3. * Prove que a área de um círculo de raio R é 1rR 2 .
Os cálculos acima fornecem, para k ?: 4 inteiro,
4. * Seja ln o lado do polígono regular de n lados inscrito em um

l2 k =
l2 k
ls · - = ls · II
k l
-- 2i 3
< ls · II - =
k (3)
-
k- 3 3l8
ls < - ,
círculo de raio R. Prove que
ls . l 2j-1 4 . 4 k
J=4 J=4
2R2 - l~n = RJ4R2 - l~.
onde utilizamos novamente o resultado do problema 11 da seção 6.2
do volume 1 na última desigualdade. De posse da desigualdade acima Em seguida, use a relação acima para calcular l 8 e l 16 .
e fazendo n = 2k em (5.10), concluímos que
5. * Seja ln o lado do polígono regular de n lados Pn, inscrito em
um círculo de raio R. Prove que

Segue, daí, que A(Pn ) = nln J4R2 - l2n'


4
supi:(Pn) = 21rR.
Por fim, argumentando de modo análogo (cf. problema 6, página 6. * Complete o argumento para a boa definição da circunferência
257), obtemos de um círculo, provando (5.11).
inf R( Qn) = 21r R, (5.11)
conforme queríamos demonstrar. 7. Sejam A, B e C pontos colineares, com B E AC, e r, r 1 e
r 2 semicírculos de diâmetros respectivamente iguais a AC, AB
e BC, situados em um mesmo semiplano dos determinados pela
..........
reta AC. A reta r, perpendicular a AC e passando por B,
Problemas - Seção 5.3 intersecta r em D. Sendo S a área da porção de r que é exterior
BD 2
1. * Sejam P e Q dois polígonos regulares de n lados, cujos lados a f 1 e r 2 , calcule a razão s'"·
medem, respectivamente, li e l2 • Prove que
8. Seja ABC um triângulo retângulo em A. Os semicírculos f 1
A(P) = (~) 2 e f 2 , tendo respectivamente AB e AC por diâmetros, não têm
A(Q) l2 pontos em comum com o interior de ABC. Sendo r o círculo
258 Tópicos de Matemática Elementar 2 i

circunscrito a ABC, prove que a soma das áreas das porções de


r 1 e r 2 que são exteriores a r é igual à área de ABC5 •

9. Se r é o círculo circunscrito a um triângulo ABC, prove que a


área de ABC é menor que metade da área der.

10. * Sejam dados um círculo r, de centro O e raio R, e um arco


CAPÍTULO 6
AÊ der, tal que AÔB =a. Parafraseie os passos da discussão
que definiu e calculou a área,----.de setores circulares para definir e
calcular o comprimento de AB, mostrando que
""" a
.e( AB) = 3600 · 21r R.
O Método Cartesiano
11. Duas rodas dentadas, uma de raio R e outra de raio 4R, giram
acopladas, formando uma única engrenagem.' Se a roda den-
tada menor dá 1000 voltas em uma hora, quantas voltas a roda
dentada maior dá em meia hora?
f'
1,·
12. É curioso que 1r "' v'2 + v3; de fato, com cinco casas decimais
corretas, temos v'2 + vÍ3 ~ 3,14626 e, assim, 1r"' v'2 + vÍ3 com Este capítulo é devotado ao estudo da Geometria Euclidiana Plana
erro menor que O, 01. Utilize essa informação para retificar um mediante a utilização do método analítico ou Cartesiano 1 , em contra-
círculo de raio R com erro menor que O, 01. De outra forma, posição ao método sintético, que dominou a exposição até aqui, e do
dado um círculo de raio R, construa com régua e compasso um método trigonométrico, objeto do capítulo 7.
segmento de comprimento aproximadamente igual a 21r R, com
erro menor que O, 01.
6.1 O plano Cartesiano
Trace em um plano duas retas perpendiculares x e y, que se inter-
sectam no ponto O. Considere, em seguida, x e y como cópias de ffi.,
1É bastante comum os autores se referirem ao método analítico pelo uso da
expressão Geometria Analítica. Contudo, nestas notas evitaremos tal expressão
porções de r 1 e r 2 são conhecidas como as lúnulas de Hipócrates, em
5 Tais
sistematicamente, para enfatizar que o objeto de estudo neste capítulo é, tão so-
homenagem ao matemático e astrônomo grego Hipócrates de Chios, do século V mente, um novo conjunto de métodos que serão utilizados no estudo dos problemas
a.e .. de Geometria Euclidiana Plana.
:!,'
. 260 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 261
11

!
escolhendo uma mesma unidade de medida para ambas e fazendo O em um único ponto A do plano. Portanto, dar um ponto A no plano
corresponder a O em ambas. Ficam, assim, determinadas sobre cada é o mesmo que dar suas projeções ortogonais Ax e Ay sobre as retas
uma de tais retas duas semirretas, uma positiva e outra negativa, com · x e y, respectivamente.
a convenção de que, em cada uma delas, a semirreta positiva é in- Por outro lado, uma vez que as retas x e y estão sendo consideradas
dicada por meio de uma pequena seta (na figura 6.1 supusemos, por como cópias de JR., às projeções Ax e Ay do ponto A sobre x e y corres-
comodidade, que x é horizontal e y é vertical em relação ao plano do pondem números reais XA e YA, respectivamente, os quais determinam
desenho). As retas x e y dividem o plano em quatro regiões (angu- completamente o ponto A (haja vista XA e YA determinarem os pon-
lares), cada uma das quais determinada pelos semieixos das retas x e y tos Ax e Ay)· Nesse caso, convencionamos escrever A = (xA, YA) ou,
que a delimitam. Denominamos tais regiões de quadrantes, os quais ainda, A(xA, YA)- À guisa de exemplo, marcamos os pontos A(-3, 2),
são numerados de 1 a 4, conforme a convenção de eixos da figura 6.1; B(2, 1), C(-4, -3/4) e D(l, -V2) na figura 6.2.
em particular, o ponto A marcado na mesma se encontra no segundo .
quadrante.
y
A(-3, 2)
r----------
1
1
y 1
AI 1 B(2, 1)
---~----------
1
1
1
------,
1
1 1 1
1
1
I Q X
: 2º Quad. 1º Quad. 1

1
C(-4, -3/4)
"-------------- 1
1
Ax1 O X __ .J
1 3º Quad. 4º Quad. D(l, -V2)
1

Figura 6.2: alguns pontos no plano Cartesiano

Figura 6 .1: construção do plano Cartesiano


Em geral, fixadas em um plano retas x e y perpendiculares em O,
e escolhidas em cada uma delas uma semirreta positiva de origem O,
Dado um ponto qualquer no plano (A, por exemplo), trace por dizemos que o plano está munido de um sistema de coordenadas
A uma reta perpendicular à reta x e outra perpendicular à reta y, Cartesiano2 xOy ou, ainda, que o plano Euclidiano tornou-se em um
as quais intersectam tais retas respectivamente nos pontos Ax e Ay· plano Cartesiano. Para um ponto A(xA, YA) do mesmo, dizemos
Reciprocamente, escolhidos arbitrariamente sobre x e y pontos Ax e que XA e YA são as coordenadas Cartesianas do ponto A. Nesse
Ay, as perpendiculares traçadas a x por Ax e a y por Ay intersectam-se 2 Após René Descartes, matemático e filósofo francês do século XVII.
262 Tópicos de Matemática Elementar ·•· 263

'termos das coordenadas dos pontos A e B, bem como da razão em


que o ponto P divide o segmento AB.

'Proposição 6.1. São dados um real t E (O, 1) e os pontos A(xA, YA)


, e B(xB, YB)- Se P(xp, YP) é o ponto sobre o segmento AB tal que
. íf.P = t · AB, então
Figura 6.3: René Descartes, matemático e filósofo Xp = (1 - t)xA + txB e YP = (1- t)yA + tyB. (6.1)
francês. Descartes é considerado o criador do método
analítico, por ter sido quem primeiro utilizou sistema Provemos que Xp = (1 - t)xA + txB, sendo a prova da ou-
de coordenadas Cartesianos na análise de problemas . tra relação do enunciado totalmente análoga. Se x A = x B, então o
de Geometria Euclidiana Plana. Em Filosofia, sua , segmento AB é vertical e, daí,
obra se destacou, principalmente, pelo tratado Dis-
curso sobre o Método.

Se XA =I XB, suponha, sem perda de generalidade, que XA < XB (o


contexto, o número real XA é a coordenada-X ou a abscissa de A, ·. caso XA > XB é análogo). Sendo A', P' e B' as projeções ortogonais
passo que o real YA é a coordenada-y ou a ordenada3 do ponto zrespectivamente de A, P e B sobre o eixo das abscissas (cf. figura 6.4),
As retas x e y são respectivamente denominadas eixo-x ou eixo d segue do teorema de Thales (cf. proposição 4.1) que
abscissas e eixo-y ou eixo das ordenadas do sistema Cartesiano e
questão. Em particular, os pontos situados sobre os eixos x e y tê
y
. coordenadas Cartesianas respectivamente da forma (x 0 , O) e (O, y0
o ponto O, que representa O em ambos os eixos, tem, no sistem1
Cartesiano sob consideração, ambas as coordenadas iguais a zero.
Doravante, sempre que nos referirmos às coordenadas de um o
mais pontos do plano, salvo menção explícita em contrário suporem
fixado no plano um sistema de coordenadas Cartesiano xOy. A' O P' B' X

Nosso primeiro resultado dá fórmulas para o cálculo das coord


nadas de um ponto P que, situado sobre um segmento AB, o divida e
dois segmentos cujos comprimentos estejam, entre si, numa certa raz
dada. Evidentemente, pretendemos que tais fórmulas sejam dadas e
3 Não confundir ordenada com coordenada; a ordenada de um ponto é uma Figura 6.4: dividindo um segmento numa certa razão.
suas coordenadas.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 265
264

A'P' AP Conforme ilustrado pelo exemplo a seguir, o uso precípuo do méto-


==-==t. do Cartesiano é seu emprego na dedução de resultados de Geometria
A'B' AB
Euclidiana Plana que, ainda que acessíveis pelo método sintético, têm
Mas, como A'(xA, O), P'(xp, O) e B'(xB, O), com P' E A' B' (posto que'
abordagem analítica mais elementar.
P E AB) temos A' P' = Xp - XA e P' B' = XB - Xp. Substituindo tais .
igualdades na relação acima, obtemos Exemplo 6.4. Mostremos, com o uso do método analítico, que, em
todo triângulo, as medianas concorrem no baricentro do triângulo e
_x_p_-_x_A = t
que o mesmo divide cada mediana, a partir do vértice correspondente,
XB-XA
na razão 2 : 1.
ou, o que é o mesmo, Xp - XA = t(xB - XA)· Logo, Para tanto, seja ABC um triângulo qualquer, M o ponto médio
do lado BC e G o ponto sobre a mediana AM tal que AG = 2 GM.
Xp = XA + t(xB - XA) = (1 - t)xA + txB, - - 2--
Entao, AG = 3 AM e segue de (6.2) (com t = j) e do corolário 6.2
como queríamos mostrar. que

Para uma generalização importante da proposição anterior, ·veja o G= (1-~)A+~M=!A+~(A+B) =A+B+C (6.3)
3 3 3 3 2 3.
problema 8, página 282. Por ora, isolemos um caso particular relevante
Cálculos análogos com as demais medianas mostram que todas elas
de tal proposição.
passam por esse mesmo ponto.
Corolário 6.2. Dados pontos A e B no plano,
No que segue, deduzimos uma fórmula extremamente útil para O
ponto médio M do segmento AB são as médias aritméticas das coor-_,
cálculo da distância entre dois pontos do plano em função de suas
denadas respectivas de A e de B. Mais precisamente, se A(xA, YA) e
coordenadas.
B(x B, YB ) , então M (xA+xB
2 '
YA+YB)
2 .
. -- 1- Proposição 6.5. Para pontos A(xA, YA) e B(xB, YB) do plano, temos
Prova. Sendo M o ponto médio de AB, temos AM = 2 AB.
!
tanto, basta fazer t = em (6.1) para obter as coordenadas do ponto AB = J(xA - xB) 2 + (YA - YB) 2 . (6.4)
M. Temos de considerar quatro casos separadamente: x A :::; x B
Observação 6.3. Nas notações da proposição 6.1, é sugestivo escreve . e YA :::; YB; XA :::; XB e YA > YB; XA > XB e YA :::; YB; XA > XB e
YA > YB· Contudo, uma vez que a análise de cada um de tais casos é
P = (1 - t)A + tB essencialmente equivalente à dos demais, concentrar-nos-emos no caso
XA S XB e YA S YB (cf. figura 6.5). Por simplicidade de notação, seja
como abreviação das duas relações em (6.1). Em particular, abrevi'"
~(a, b) e B(c, d), de maneira que a:::; e e b:::; d. Se a= e (possibilidade
amos as coordenadas do ponto médio M do segmento AB escrevendO a esquerda na figura 6.5), então temos claramente
M = AtB. Doravante, faremos uso de tal abreviação sempre que'
necessário.
AB = d- b = jb- dj = Jo2 + (b- d)2 = J(a - c)2 + (b- d)2.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 267
266

A(a, b)
y B(c, d)
1
B(c, d)
B(c, d) T 1
1
1 1
1
1 A(a, b) ------ ~ e (e, b)
A(a, b) ~
X
o
Figura 6.6: exemplo 2.28 via o método analítico.

Figura 6.5: distância entre dois pontos no plano Cartesiano


Prova. Cons~deremos um sistema Cartesiano no plano, tal quer cor-
responda ao eixo das abscissas e em relação ao qual tenhamos A(a, b) e
Como o caso b = d é análogo, suporemos, então, que a < b e e < d B(c, d). Sendo P(x, O), mostremos, inicialmente, que existe um único
(possibilidade à direita na figura 6.5). Trace, por A, uma paralela ao valor de x para o qual
eixo das abscissas e, por B, uma paralela ao eixo das ordenadas, e
·1_··· ,
1 marque o ponto C de interseção das mesmas. Como C tem a mesma AP + BP = J (a - x )2 + b2 + J (x _ e)2 + d2
,r·
1:-·. ordenada que A e a mesma abscissa que B, temos C(c, b). Ademais,;
1 ,., como os eixos Cartesianos são perpendiculares, o triângulo ABC ~· seja mínimo. Para tanto, aplicando a desigualdade do corolário 7.17
retângulo em C. Portanto, pelo teorema de Pitágoras e pelos doi · do volume 1 com n = 2, obtemos
casos acima, temos AP + BP J (a - x )2 + b2 + J (x - e)2 + d2
AB 2 = AC2 + BC2 = (e - a)2 + (d - b) 2 = (a - c)2 + (d- d)2, > J((a-x)+(x-c))2+(b+d)2
como queríamos provar. J(a-c) 2 +(b+d)2
Utilizemos a fórmula (6.4), juntamente com o corolário 7.17 d AB'
'
volume 1, para analisar o exemplo 2.28 com o auxílio do métod
onde B' (e, -d) denota o simétrico de B em relação a r. Mas, uma vez
analítico. .• ~ue BP= B' P, a igualdade ocorre se, e só se, AP + B' p = AB'
Exemplo 6.6. Nas notações da figura 6.6, existe um único pont , se, A , p e B' forem colineares.
•· 1·e·, se, e so •'
P E r para o qual AP + BP tem comprimento<---->mínimo. Adernai
tal ponto é obtido como a interseção das retas AB' e r, onde B' é · . O próximo exemplo utiliza a fórmula da distância entre dois pontos
. para examinar o problema da existência, no plano Cartesiano, de triân-
simétrico de B em relação à reta r.
268 Tópicos de Matemática Elementar , 269

1 1
gulos equiláteros com vértices de coordenadas inteiras. Ainda em r ·. :· prova, Escolha um sistema Cartesiano tal que A(O, O) e B(a, O). Se
1 '
lação ao mesmo, um belo teorema de H. Minkowski 4 ( cf. problema 1 p(x, y), então a fórmula para a distância entre dois pontos garante
página 371) garante que os quadrados são os únicos polígonos reg
lares do plano Cartesiano que podem ter todos os seus vértices
coordenadas inteiras.
Exemplo 6.1. Existem, no plano Cartesiano, pontos A, B e C de e
ordenadas inteiras e que sejam os vértices de um triângulo equilátero. Mas isso é o mesmo que dizer que P pertence à reta vertical (logo,
+----+

Justifique sua resposta! · perpendicular à reta AB) formada pelos pontos de abscissa igual a
ok2 •
2a ·
Solução. A resposta é não! De fato, supondo que tais pontos existi i
sem, digamos A(xA, YA), B(xB, YB) e C(xc, Yc), com XA, YA, XB, YB
xc, Yc E Z, teríamos, de acordo com o problema 9, página 270, qu
A(ABC) = 7;, para algum m EN.
Por outro lado, aplicando o resultado do problema 4, página Problemas - Seção 6.1
concluímos que
1. * Dados números reais a e b, prove que os pontos (a, b) e (-a, -b)
2 · y'3 = [(xB - XA )2 + (YB - YA )2] y'3 , do plano Cartesiano são simétricos em relação à origem.
A(ABC) = -
AB 4 4
de maneira que, pela primeira parte, teríamos 2. * Dado um sistema Cartesiano xOy, considere um outro sistema
Cartesiano x' O' y', onde o novo eixo das abscissas é a reta y = y0
v'3 = 2m do sistema antigo e o novo eixo das ordenadas é a reta x = x 0
(xB - XA) 2 + (YB - YA) 2 E (Q,
do sistema antigo. Se um ponto A do plano tinha coordenadas
uma contradição. (x, y) no sistema antigo, prove que suas coordenadas no sistema
Finalizamos esta seção utilizando a fórmula para a distância entr~ novo são (x', y'), com x' = x - Xo e y' = y - Yo·
dois pontos para analisar um lugar geométrico que generaliza a noç- , 3. No plano Cartesiano, seja P = (!, v'2). Se A e B são pontos de
de mediatriz de um segmento (a qual corresponde, nas notações d coordenadas inteiras, prove que AP -=/:- BP. Conclua, a partir
proposição a seguir, ao caso k = O) e que completa a prova do teo-, daí, que, dado n E N, existe um disco contendo exatamente n
rema 4.34. pontos de coordenadas inteiras em seu interior.
Proposição 6.8. Dados um número real k e pontos distintos A e H'..
. - 2 --2 2 ,, 4. Mostre que, no plano Cartesiano, há infinitos polígonos regula-
no plano, o LG dos pontos P do plano tais que AP - BP = k e
<-------+ res, de números de lados dois a dois distintos e tais que cada um
uma reta perpendicular à reta AB.
deles contém exatamente 2012 pontos de coordenadas inteiras
4 Após Hermann Minkowski, matemático alemão do século XIX. em seu interior.
270 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 271

5. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC = b, BC = a. 10. * Nas notações do problema anterior, prove que se A, B e C
Se ma é o comprimento da mediana relativa ao lado BC, prove forem pontos de coordenadas inteiras, tais que A(ABC) = !,
que então ABC não contém outros pontos de coordenadas inteiras
sobre seus lados nem em seu interior.

6. * Se ABCD é um quadrilátero convexo de diagonais AC e BD '


e M e N são respectivamente os pontos médios de tais diagonais, Para os dois problemas a seguir, precisamos generalizar a noção
dizemos que o segmento M N é a mediana de Euler de ABC D. de polígono, dá seguinte forma: dizemos que P = A 1 A 2 ... An,
Prove o teorema da Mediana de Euler: nas notações acima n ~ 3, é um polígono simples de n lados se as seguintes
' condições forem satisfeitas (com a convenção de que Ao = An e
2 2
AB 2 + BC2 + CD 2 + DA 2 = AC2 + BD + 4MN •
An+l = A1):
7. (Romênia.) Dados m, n > 1 inteiros, sejam A1, A 2 , ... , An e B1, (a) os pontos A1 , A 2 , •.. , An são dois a dois distintos.
B 2 , ••. , Bm pontos do plano, tais que AiBj = v'í+}. Prove
que todos os pontos Ai são colineares, todos os pontos B1 são (b) os segmentos AiAi+ 1 e AiAi+l se intersectam se, e só se,
colineares, e que as duas retas que os contêm são perpendicula- li - JI :::; 1.
res. (c) para 1 ~ i :=:; n, os pontos Ai-l, A e A+ 1 não são colinea-
res.
8. * Dados, no plano, círculos r e :E, dizemos que r intersecta~
segundo um diâmetro ser n :E= {A, B}, com AB diâmetro de·
Assumiremos, sem demonstração, que P divide o plano em duas
:E. Sejam dados dois círculos não concêntricos r 1 e r 2 . Prove
regiões, exatamente uma das quais é limitada5 ; por sua vez, tal
que o LG dos pontos do plano que são centros de círculos que
região limitada é denominada o interior de P. Para 1 <
- i <
-
n' o
intersectam r 1 e r 2 segundo diâmetros é a reta simétrica do eixo
ângulo interno de P no vértice Ai como o ângulo LAi-IAiAi+l,
radical de r 1 e .r 2 em relação ao ponto médio do segmento que -----> ----->

de vértice Ai, lados AiAi- l e AiAi+l e que intersecta o interior


une os centros dos círculos dados.
de P.
9. * No plano Cartesiano, seja A 1 A 2 A 3 um triângulo com vértices
Ai(xi, Yi), para 1 :=:; i :=:; 3. Mostre que 11. * O propósito deste problema, dentre outros, é mostrar que, se P
é um polígono simples de n lados, então P pode ser particionado
1 3
A(A1A2A3) I)xiYi+l - Xi+1Yi) em n - 2 triângulos por meio de diagonais que só se intersectam
= 2 em vértices de P. Para tanto, faça os seguintes itens:
i=l
Conclua, a partir daí, que todo triângulo do plano Cartesiano, 5 Esse
resultado está além do escopo destas notas, sendo conhecido como o
com vértices de coordenadas inteiras, tem área maior ou igual a teorema da curva de Jordan, em homenagem ao matemático francês do século
1 XIX Camille Jordan.

272 Tópicos de Matemática Elementar .Antonio Caminha M. Neto 273

(a) Fixe um sistema Cartesiano tal que nenhum lado de P sej · ABC não contém outros pontos de coordenadas inteiras sobre
paralelo ao eixo das ordenadas. Mostre que P admite u seus lados nem em seu interior, então A(ABC) = t
Nesse caso,
único ponto de abscissa máxima, o qual é um de seus vér..; diremos que ABC é um triângulo fundamental no plano Carte-
tices. siano. Faça, então, os seguintes itens:
(b) Doravante, sejam A o vértice de P cuja existência é garan
tida pelo item (a), e B e C os vértices de P adjacentes a i (a) Mostre que todo triângulo com vértices de coordenadas in-
teiras pode ser particionado em triângulos fundamentais.
Se BC e P, escreva P = ABC U P'; em seguida, apliqu.
uma hipótese de indução adequada a P' para concluir (b) Para os demais itens, seja P um polígono simples no plano
resultado. Cartesiano, com vértices de coordenadas inteiras. Conclua,
(c) Se BC (j._ P, mostre que no interior de ABC existe u a partir do problema 11, que P pode ser particionado em
vértice D de P de abscissa máxima. Conclua que AD um número finito de triângulos fundamentais.
ABC. (c) Suponha que P está particionado em k triângulos funda-
(d) Cortando P ao longo de AD, mostre que obtemos um mentais, de sorte que a soma dos ângulos desses k triângulos
partição P = P' U P", tal que P' e P" têm menos lados qu é igual a 180ºk. Se P tem n lados e I e B são definidos
P. Por fim, aplique uma hipótese de indução adequada como acima, mostre que a soma dos ângulos dos k triângu-
P' e P" para concluir o resultado também neste caso. los fundamentais em que P está particionado é, por outro
lado, igual a
Por fim, use o resultado aludido no enunciado para mostrar qu
a soma dos ângulos internos de Pé igual a 180º(n - 2). 180º(n - 2) + 180º(B - n) + 360º I.
12. O propósito deste problema é provar a famosa fórmula
Pick6 : se P é um polígono simples no plano Cartesiano, com (d) Conclua, a partir de (c), que k = 21 + B - 2. Em seguida,
vértices de coordenadas inteiras, então use o fato de que a área de todo triângulo fundamental é !
para demonstrar a fórmula de Pick.
B
A(P) = I +2 - 1,
13. (IMO.) Prove que, para todo inteiro n > 2, existe no plano um
onde I e B denotam, respectivamente, os números de pontos: conjunto de n pontos satisfazendo as duas condições a seguir:
de coordenadas inteiras no interior e sobre os lados de P. Para'
tanto, assumiremos sem demonstração a validade (também de-· (a) A distância entre dois quaisquer deles é um número irracio-
vido a G. Pick) da recíproca do problema 10, qual seja, que se A, nal.
B e C são pontos de coordenadas inteiras, tais que o triângulo (b) Cada três deles são não colineares e determinam um triân-
6 Após Georg A. Pick, matemático austríaco do século XIX. gulo de área racional.
274 Tópicos de Matemática Elementar 2
Antonio Caminha M. Neto 275
6.2 Retas no plano Cartesiano
e sua recíproca garantem que
Como frisado anteriormente, em tudo o que segue, supomos fixado
(x, y) E r {:} OA2 + AB 2 = OB 2
um plano e um sistema Cartesiano de coordenadas no mesmo. Estu-
damos, a partir de agora, o problema de como representar retas do {:} (a2 + b2 ) + [(x - a) 2 + (y - b)2] = x2 + y 2
plano em um tal sistema; nesse sentido, temos o seguinte resultado {:} ax + by - (a 2 + b2 ) = O,
fundamental.
com (graças a O (j. r) a -=/:- O ou b -=/:- O. Segue que r é o conjunto das
Teorema 6.9. Toda reta do plano Cartesiano pode ser vista como o soluções (x, y) da equação ax + by +e= O, com e= -(a2 + b2).
conjunto dos pontos (x, y) do mesmo que satisfazem uma equação da Suponhamos, agora, que O E r (cf. figura 6.8) e, sobre a reta
forma perpendicular ar traçada por O, marque um ponto qualquer A(a, b).
ax+by+ e= O, (6.5) Como n~primeiro caso, um ponto B(x, y) do plano está sobre r se, e
só se, AO B = 90º. Portanto, novamente pelo teorema de Pitágoras e
onde a, b e e são números reais tais que a -=/:- O ou b -=/:- O. sua recíproca, temos
Prova. Seja O a origem e r uma reta do plano Cartes1ano. Suponha,
inicialmente, que O (j. r. Se A( a, b) é o pé da perpendicular baixada y

r
r
Figura 6.8: reta do plano Cartesiano passando pela origem.

Figura 6.7: reta do plano Cartesiano não passando pela origem.

(x, y) E r {:} OA 2 + OB 2 = AB 2
de O ar (cf. figura 6.7),} imediato que um ponto B(x, y) do plano
{:} (a 2 + b2 ) + (x 2 + y 2 ) = [(x - a) 2 + (y - b)2]
está sobre r se, e só se, OAB = 90º. Portanto, o teorema de Pitágoras
{:} ax + by = O,
276 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
277

com (graças a A tf:. r) a # O ou b # O. Segue que r é o conjunto das


soluções (x, y) da equação ax + by + e = O, com e= O. •

Nas notações do teorema anterior, dizemos que (6.5) é a equação


da reta r, o que indicamos escrevendo

r: {ax + by +e= O}.


X
Observação 6.10. Para todo real k # O, também é lícito dizermos
que
(ka)x + (kb)y + (kc) = O r

é a equação da reta r; de fato, não é difícil verificar que toda equação


Figura 6.9: toda equação linear em x e y representa uma reta.
da reta r é dessa forma.

Doravante, utilizaremos tal observação sem maiores comentários.


1 )

passando por (O, O) e (a, b), então s tem equação -bx + ay = O. Seja r
Corolário 6.11. Ser é a reta do plano Cartesiano com equação ax+ que passa por (xo, Yo) e é perpendicular as, digamos no ponto (ka, kb)
by + e = Oe s é a reta perpendicular. a r e passando pela origem, então (cf. figura 6.9). Pelo corolário anterior, r tem equação da forma
s tem equação -bx + ay = O. (ka)x + (kb)y +d= O, para algum e' E JR, ou, ainda, ax + by + c11 = O,
Prova. De acordo com o teorema anterior, a reta s tem equação da
onde eli = -,:; e,
e'( como .../.. O, temos que (O, O) tf:. r, de sorte que k # O).
Mas, como (xo, Yo) E r, temos ax0 +by0 +c11 = Oe segue do que fizemos
forma cx+dy = O, para certos e, d E JR, não ambos nulos. Porém, como acima que
r tem equação ax+by+c = O, segue da prova do teorema anterior que
eli = -ax0 - by0 = e.
(a, b) E s. Portanto, ca + db = O e, pela observação acima, podemos .·
tomar e = -b, d = a.

Provemos, agora, a recíproca do teorema 6.9.


• Assim, a equação da reta ré ax + by +e= O.

Para o que segue, observe que uma reta ax + by + e = O é vertical



no sistema Cartesiano escolhido se, e só se, b = O. Portanto, se uma
Corolário 6.12. Se a, b e e são reais tais que a# O ou b # O, então o
reta r de equação ax + by + e = O não for vertical, então podemos
conjunto-solução da. equação ax + by + e = O representa uma reta no .
plano Cartesiano.
escrever sua equação equivalentemente como y = -l x - i
ou, mais
sucintamente (escrevendo a no lugar de -l e b no lugar de -f),
Prova. Suponhamos que e # O, sendo a análise do caso e = O to-·
y = ax + b.
talmente análoga. Escolha uma solução arbitrária x = xo, y = Yo da
equação ax+by+c = O, de maneira que ax 0 +by0 +c = O. Ses é a reta'
De posse do comentário acima, o próximo resultado apresenta a
278 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
279

condição necessária e suficiente usual para o paralelismo de duas retas comparando as equaçoes - y = -ãx
1
e y = aI x+c para t, concluímos que
em termos de suas equações. a equação de t tem a forma y = a' x + e se , e só se , e = O e a' = - la'

1.e., se, e so, se, aa I . - 1. •
Proposição 6.13. Duas retas não verticais r e s são paralelas se, e
só se, têm equações da forma y = ax + b e y = ax + b', para certos
Vejamos, em um exemplo, como aplicar os resultados das proposi-
números reais a, b e b', com b =1- b'. ções 6.13 e 6.14.
Prova. Suponha, inicialmente, que r li s, e que r tem equação y =
ax+b ou, o que é o mesmo, ax-y+b = O. Pelo corolário 6.11, a reta t, Exemplo 6.15. São dados no plano Cartesiano a reta r, de equação
de equação x + ay = O é perpendicular ar. Mas, como r li s, também 2x - 3y + v'2 = O, e o ponto A (2, -1). Encontre as equações das retas
temos s1-t e, daí, mais uma aplicação do corolário 6.11 garante que s s e t, passando por A e tais que s li r e t1-r.
tem equação da forma ax - y + b' = O, para algum b' E R
Reciprocamente, se r e s têm equações da forma y = ax + b e
Solução. Como r tem equação y = jx+ f,
segue das proposições 6.13
e 6.14 que as equações de s e t são, respectivamente, das formas
y = ax + b', com b =f. b', então é imediato que o sistema de equações
y = jx + e e y = -!x + d, onde e, d E R são tais que A E s, t.
y=ax+b Substituindo as coordenadas de A nas equações de s e t, obtemos
{
I'',
y=ax+b' e= -f e d= 2. •

não possui soluções, de sorte que r li s ( a esse respeito, veja também A seguir, damos mais um exemplo da utilização do método analítico
o problema 5). • em Geometria Euclidiana, no espírito do exemplo 6.4.
Terminamos nosso estudo de retas derivando a condição necessária Exemplo 6.16. Provemos analiticamente que, em todo triângulo, as
e suficiente usual para o perpendicularismo de duas retas em termos três alturas concorrem em um único ponto.
de suas equações em um certo sistema Cartesiano. Concentramo-nos
somente no caso não trivial em que nenhuma das retas em questão é Prova. Seja ABC o triângulo, suposto, sem perda de generalidade,
vertical ou horizontal em relação ao dito sistema. não-retângulo. Escolha um sistema Cartesiano no qual A(O, a), B(b, O)
e C(c, O), com b, e =1- O e b =1- e (cf. figura 6.10). Uma das alturas de
Proposição 6.14. Duas retas não verticais r e s, de equações respec-
ABC é a reta {x = O}. Para obter a equação das outras duas alturas,
tivamente y = ax + b e y = a' x + b', são perpendiculares se, e só se,
precisamos da equação das retas suportes dos lados AB e AC, para o
aa' = -1.
quê nos valemos do resultado do problema 6:
Prova. Sabemos, pelo corolário 6.11, que a reta t, de equação x+ay =
O, (ou, equivalentemente, y = -~x) é perpendicular a r. Por outro
lado, como r 1-s {::} t li s, segue da proposição anterior quer 1-s se, e só
+--+ +--+
se, a equação de t é da forma y = a' x + e, para algum e E R Por fim, ou, ainda, AB: {y = -%x + a} e AC: {y = -~x + a}.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 281
280

Problemas - Seção 6.2


y
A(O, a) 1. * Dados números reais a e b, prove que os pontos A(a, b) e B(b, a)
do plano Cartesiano são simétricos em relação à bissetriz dos
quadrantes ímpares.

2. * São dados os pontos A(a, b), B(c, d) e a reta vertical r, formada


C(c, O) X pelo conjunto dos pontos de abscissa x 0 . Prove que A e B são
B(b, O)
simétricos em relação a r se, e somente se, b = d e x 0 = ª!e.
3. * São dados os pontos A(a, b), B(c, d) e a reta horizontal r,
formada pelo conjunto dos pontos de ordenada y = y0 . Prove
Figura 6.10: o ortocentro de um triângulo. que A e B são simétricos em relação a r se, e somente se, a = e
e Yo = b;d.
Sendo r e s, respectivamente, as retas suportes dàs alturas de ABC
4. * Num sistema Cartesiano de origem O, temos pontos A(a, b) e
B ~tais que A está no primeiro quadrante e B no segundo. Se
que passam por B e C, segue da proposição 6.14 que
AOB = 90º e OA = OE, prove que B(-b, a).
r: { y = ~x + /3} e s: { y = ~x + ,'}, 5. * Interprete geometricamente os resultados da aplicação do mé-
todo do escalonamento (cf. seção 3.1 do volume 1) ao sistema
onde /3, "/E~ são tais que B E r e CE s. Substituindo as coordenadas; · de equações
de B e de C nas equações das retas r e s, respectivamente, obtemos ax+by=e
{
(./ · bc d , ex+ dy = f ·
/J = "/ = - a e, ai,
Mais precisamente, mostre que o sistema acima é possível deter-
r : { ay = ex - bc} e s : { ay = bx - bc}. minado, possível indeterminado ou impossível, conforme as retas
de equações ax + by = e e ex + dy = f sejam respectivamente
Por fim, a solução do sistema concorrentes, paralelas ou coincidentes (i.e., iguais).
l.lI.·
lj
{
ay = ex - bc 6. * No plano Cartesiano, mostre que a equação da reta que passa
'11' ay = bx - bc pelos pontos (xo, O) e (O, y0 ), com x 0 , y0 # O, é ~
xo
+ Yo.JL = 1.
nos dá as coordenadas do ponto H de interseção das retas r e s; mas, 7. Sejam a, b e e reais dados, sendo e> O. Calcule a área da região
como b # e, é imediato do sistema acima que x = O, i.e., o ponto H . do plano delimitada pelos pares (x, y) de números reais tais que
também pertence à altura de ABC que passa por A. • lx - ai + IY - bl = e.
282 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 283

8. * Dados, no plano Cartesiano, os pontos A e B, seja Pt = (1- Círculos no plano Cartesiano


t)A + tB, com t E R
Podemos examinar círculos do ponto de vista analítico como apli-
(a) Prove que Pt E AB e que para todo P E AB existe u cação direta da fórniula (6.4). Para tanto, lembre-se de que o círculo
único t E IR tal que P = Pt. f( C; R) do plano é definido como o conjunto dos pontos A do plano
(b) Discuta a posição do ponto Pt sobre a reta AB em função cuja distância ao centro C é igual a R.
dos valores de t.
y
A descrição acima dos pontos da reta AB é denominada a e-
+---+
quação paramétrica de AB, com parâmetro t.

9. * São dados, no plano Cartesiano, um triângulo ABC e ponto


<-----+
+---+
P, Q e R, situados respectivamente sobre as retas BC, CA C(xo, Yo)
+---+
AB e todos diferentes dos vértices de ABC . De acordo ·com o o X

resultado do problema anterior, podemos escrever

P=(l-s)B+sC, Q=(l-t)C+tA e R=(l-u)A+uB,:


(6.6):
para certos s, t, u E IR. Prove as seguintes versões analíticas dos Figura 6.11: a equação de um círculo no plano Cartesiano.
teoremas de Ceva e Menelaus (cf. teoremas 4.21 e 4.24):

(a) As retas AP, BQ e CR são concorrentes se, e só se, Fixado no plano um sistema de coordenadas Cartesiano como na
figura 6.11, sejam C(xo, Yo) e A(x, y) um ponto qualquer. Segue de
stu = (1 - s)(l - t)(l - u). (6.4) que
(b) Os pontos P, Q e R são colineares se, e só se, A E r {:} -
AC = R {:} AC
-2
= R2
stu = -(1 - s)(l - t)(l - u). {:} (x - xo) 2 + (y - y 0 ) 2 = R2
{:} x 2 + y 2 - 2xox - 2yoy + (x6 + Y6 - R2 ) = O.
10. Dados pontos distintos B e C, sejam P e Q pontos situados sobre
+---+
a reta BC, distintos de B e de C e tais que P = (1-s)B+sC e ', Dizemos, então, que
Q = ( 1 - t) B + tC. Prove que P e Q são conjugados harmônicos
em relação a B e C (cf. problema 4, página 198) se, e só se, x2 + y 2 - 2xox - 2YoY + (x~ + Y6 - R2 ) = O (6.7)
i +f= 2· ? é a equação do círculo de centro C e raio R.
284 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 285

2+b2
Reciprocamente, será que toda equação da forma • ~ - e= O: uma solução qualquer A(x, y) da equação deve
satisfazer
x 2 + y 2 + ax + by + e = O, (6.8)
( X - ( -i)) + (y - (-;))
2 2 - 0,
tem como solução, no plano Cartesiano, o conjunto dos pontos de um
e já sabemos que a única possibilidade nesse caso é x - -%,
círculo? Veremos que, salvo nos casos em que tal equação não possuir
solução alguma ou possuir no máximo uma solução (x, y), a resposta
y= -! , i.e. A _ C. Portanto, o conjunto de pontos procurado
tem um único elemento.
é sim! Para tanto, comecemos completando quadrados em x 2 + ax e
y 2 + by, obtendo • ª 2 !b2 - e > O: os pontos A procurados são aqueles tais que

x 2 + y 2 + ax + by + e =
- v~2
AC=
+b2
-e,

( x2 + 2 . ~x + : 2) + (y2 + 2.
b
2x b2)
+4 + (e- 4
ª2
- 4b2)
4
i.e., o conjunto-solução de (6.8) é o círculo de centro C (-i, -!)

(x+~) + y+2
2 ( b) 2 ( ª2
+ c-4-4 ·
b2) . e raio R = Jª 1b
2 2
- e.
A discussão acima provou o resultado a seguir.

Portanto, (6.8) equivale à equação Teorema 6.17. No plano Cartesiano, a equação


x 2 + y 2 + ax + by + e = O
l',r'·
i (x - H) )' + (y- (-D)' - a': b2 - e. representa o conjunto vazio, um conjunto com um único elemento
1b
ou um círculo, conforme ª 2 2 - e seja negativo, nulo ou positivo,
Sendo C (-%, -! ),
segue daí e da fórmula (6 .4) para a distância entre respectivamente. Ademais, no último caso o centro do círculo é o
dois pontos que o conjunto dos pontos A(x, y) do plano Cartesiano ponto (-%, -~) e seu raio é Jª 1b
2 2
- e.
que satisfazem (6.8) coincide com o conjunto Caso nos seja dada uma equação da forma (6.8), a prova que cons-
truímos para o teorema acima é o procedimento a ser seguido a fim de
-2 ª2 +b2 }
{ A; AC = 4 -e . descobrir se a mesma representa um conjunto vazio, unitário ou um
círculo, bem como para achar o centro e o raio do círculo, se for o caso.
Há, então, três possibilidades: De outra maneira, é totalmente desaconselhável decorar as fórmulas
expostas no teorema, tanto porque podemos eventualmente esquecê-
t
• ª 2 2 - e < O: nesse caso, é imediato que não há ponto A tal que las, quanto porque o exercício de reconstrução da prova é, em casos
-2
AC = ~ 2+b2 .
- e, de sorte que o conJunto de pont os procurado e, particulares, bastante simples: basta completar quadrados! Vejamos
vazio. um exemplo.
286 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 287

Exemplo 6.18. Identifique geometricamente o conjunto dos pontos


(x, y) do plano Cartesiano que satisfazem a equação x 2 + y 2 - 2x + y
., , ,. -- -- 'A...,,..
A ---- ......
6y + 5 = O. / / ' '
'
/
/
'
Prova. Basta escrevermos sucessivamente ''
x 2 + y 2 - 2x + 6y + 5 (x 2 - 2x + 1) + (y 2 + 6y + 32 ) - 5
(x - 1) 2 + (y + 3) 2 - 5 B M C(b, O) X

para concluir que o conjunto de pontos procurado é

{(x, y); (x - 1) 2 + (y - (-3)) 2 = v'52 },


Figura 6.12: mediana relativa à base de um triângulo isósceles.
i.e., o círculo de centro (1, -3) e raio J5.
O próximo exemplo ilustra novamente o papel do.método analítico

na análise de problemas da Geometria Euclidiana Plana. equação do resultado. Chegamos, assim, à igualdade -2bx + b2 = O
e, daí, a x = t Isso já é suficiente para provar o resultado desejado:
Exemplo 6.19. ABC é um triângulo isósceles, de lados iguais AC e !,
como A e M têm abscissas iguais a estão ambos situados sobre uma
AB. Se M é o ponto médio da base BC, prove analiticamente que reta vertical, logo perpendicular ao eixo das abscissas e, portanto, ao
AMj_BC. lado BC. •

Prova. Sejam AB = AC= a e BC= b. Escolha um sistema Carte-


siano no qual B(O, O), C(b, O) e A esteja situado no primeiro quadrante
(cf. figura 6.12). Pelo corolário 6.2, temos M (!, ü). Por outro lado,
uma vez que AB = a, o vértice A pertence ao círculo de centro B Problemas - Seção 6.3
e raio a; analogamente, A está sobre o círculo de centro C e raio a,
sendo mesmo individualizado por essas duas condições. l. Em um plano Cartesiano, ABC é o triângulo com vértices A(O, O),
Portanto, as coordenadas de A formam a única solução (x, y), com B(2, 1) e C(l, 5). Encontre as coordenadas do ponto P do plano,
y > O, do sistema formado pelas equações dos círculos acima, i.e., tal que a soma dos quadrados das distâncias de P aos vértices
de ABC seja a menor possível, e calcule o valor mínimo da soma
x2 + y2 = ª2 correspondente.
{
(x _ b)2 + y2 = a2 ·
2. * No plano Cartesiano, sejam r o círculo de equação x 2 + y 2 = 1
Para resolvê-lo, comece desenvolvendo o primeiro membro da segunda e r a reta de equação ax + by = e, onde a e b são constantes
equação e, em seguida, subtraindo membro a membro a primeira não nulas dadas e e é uma variável. Dentre todas as retas r que
288 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 289

intersectam r, encontre aquela tal que o valor de e é o maior de focos Fi e F2 e eixo maior 2a, i.e., o lugar geométrico dos
possível. Em seguida, use o resultado assim obtido para dar pontos do plano tais que
outra prova da desigualdade de Cauchy (cf. teorema 7.14 do
volume 1) para n = 2.
PFi + PF2 = 2a (6.9)
(cf. figura 6.13). Para tanto, faça os seguintes itens:
3. Dados, no plano, um círculo r e um ponto A, exterior ao disco
delimitado por r, mostre como traçar, pelo ponto A, uma reta r
que intersecte r em dois pontos B e P, tais que P seja o ponto y
médio do segmento AB. Discuta sob que condições há solução.

4. Dados um real positivo k e pontos distintos A e B no plano,


-2 --2
encontre o LG dos pontos P do plano tais que AP + BP = k2 •
-- ---
5. Dê uma outra prova do teorema 4.15, utilizando o método Carte- o X

siano.

6. Se R denota o raio do círculo circunscrito ao triângulo ABC, de


circuncentro O e baricentro G, prove que

OG2 = R 2 - !(AB2 + BC2 + CA2 ).


g
Figura 6.13: elipse de focos Fi e F2 e eixo maior 2a.
O objetivo dos três problemas a seguir é estudar elipses, hipér-
boles e parábolas. Tais curvas são exemplos de seções cônicas, o
nome cônicas vindo do fato de que as mesmas podem ser obtidas (a) Escolha um sistema Cartesiano tendo por origem o ponto
como interseções de um cone de revolução com planos em certas médio O do segmento Fi F2 e tal que Fi (-e, O) e F 2 ( e, O),
posições específica. Observamos que a definição e o estabele- onde 2c = F 1 F 2 é a distância focal. Prove que, em um
cimento das principais propriedades das seções cônicas (assim tal sistema, a elipse em questão coincide com o conjunto
como o próprio nome cônicas) é devido a Apolônio de Perga7 • dos pontos (x, y) do plano Cartesiano tais que
7. * Fixados um real positivo a e dois pontos F 1 e F 2 ho plano, tais x2 y2
(6.10)
que 2a > FiF2 , o objetivo deste problema é estudar a elipse a2 + b2 = 1,

7 Sugerimos ao leitor [1] para um estudo mais aprofundado da geometria das onde b = v'a 2 - c2 . A equação acima é denominada a
seções cônicas. forma canônica da elipse.
290 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 291

(b) Prove que a elipse acima descrita é simétrica em relação à


<-------->
reta FiF2 , à mediatriz do segmento F 1 F 2 e ao ponto médio y d
de FiF2 . Graças a esse resultado, dizemos que O é o centro
da elipse ou, ainda, que a elipse é uma cônica central.
Po(xo, y)
(c) Prove que a elipse acima passa pelos pontos A 1 (-a, O),
A 2 (a, O), B 1 (0, -b) e B 2 (0, b), estando inteiramente contida
no retângulo de lados paralelos aos eixos coordenados e o A X

passando por A1 , A 2 , B 1 e B 2 (por tal razão, os segmen-


tos A 1 A 2 e B 1 B 2 são respectivamente denominados de eixo
maior e eixo menor da elipse (6.10)).

8. * Generalizando o problema anterior, sejam dados um ponto F e


p
uma reta d, tais que F €/:. d. Para E > O também dado, definimos
a cônica de foco F, diretriz d e excentricidade E como a
.r:'
Figura 6.14: cônica de foco F, diretriz d e excentricidade E•
curva formada pelos pontos P do plano tais que

PF = E· dist(P; d), (6.11)


é
onde dist(P; d) denota a distância de P à reta d. O parâmetro
da cônica é a distância p de F a d.

(a) Escolha um sistema Cartesiano tal que F(c, O) e d: {x =


Para os itens restantes, suponha E =f. 1.
xo}, com Xo > e, de maneira que p = x 0 - e (veja a
figura 6.14, onde, por conveniência, tomamos e > O e es- (c) Escolhendo a = - t::~t:-;c e substituindo p = x 0 - e, conclua
boçamos parte de uma cônica para facilitar a compreensão que a equação acima se torna
do leitor). Prove que um ponto P(x, y) do plano Carte-
siano (desenhado, por conveniência, à esquerda de d na (6.12)
figura 6.14) pertence à cônica em questão se, e só se,

(d) Mostre que, no novo sistema Cartesiano sob consideração,


temos
(b) Transladando o eixo das ordenadas da posição atual para a
posição da reta x = a, prove que a nova equação da cônica
292 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 293

(e) Mostre que (6.12) pode ser também escrita como (a) Prove que o conjunto dos pontos (x, y) do plano Cartesiano
tais que y = ax 2 + bx + e é uma parábola e obtenha as
x2 y2 coordenadas de seu foco F e sua diretriz d.
----2 ± ----~2 = 1,
(i1~ 1)
2 (~) (b) Uma tangente à parábola do item (a) traçada a partir do
ponto P(x0 , y 0 ) sobre a mesma é uma reta r que intersecta
a parábola somente em P. Mostre que tal reta é única e,
com os sinais + ou - escolhidos conforme seja respectiva-·
sendo y = mx + n sua equação, obtenha m e n em função
mente O < E < 1 ou E > 1.
de a,b,c,x 0 e y0 .
(f) Denotando a = 11 ~:\ 1, b = ~ e verificando, separada- (c) Nas notações acima, prove que o simétrico do foco da pará-
E ll-E21
mente, os casos O < E < 1 e E > 1, conclua que a =i= b = c2
2 2 bola em relação à tangente r pertence à diretriz da mesma.
onde e = L~2 é a nova abscissa do ponto F.
2 ''
·. .
11. (OBM.) Fixada uma parábola no plano, traçamos três retas tan-
(g) Por fim, mostre que a equação da cônica em questão assume gentes à mesma, as quais formam um triângulo ABC. Prove que
uma das formas o círculo circunscrito a tal triângulo sempre passa pelo foco da
x2 y2
parábola.
a2 ± b2 = 1,

com os sinais + ou - escolhidos conforme seja respectiva- ' 12. (Espanha.) Sejam p e q números reais tais que p 2 > q # O.
mente O< E< 1 (elipses) ou E> 1 (hipérboles). A equação Suponha que o gráfico da parábola y = x 2 + 2px + q intersecta
(6.13) é a forma canônica de uma cônica de excentrici- o eixo das abscissas nos pontos A(x 1 , O), B(x 2 , O). Seja, ainda,
C(O, q). Mostre que, independentemente dos valores de p e q,
dade E# 1.
o círculo circunscrito ao triângulo ABC sempre passa por um
t:
9. Prove que a excentricidade da elipse :~ + = 1 mede seu achata- . mesmo ponto.
menta na direção y ou, equivalentemente, seu alongamento na.
direção x. . Mais precisamente prove que, fixado o eixo maior
A1A2 , quando E se aproxima de 1 (por valores menores que 1)
a elipse fica cada vez mais parecida com o segmento A 1 A2 , ao . .
passo que, quando E se aproxima de O, a elipse fica cada vez mais,
"parecida"com o círculo de diâmetro A1A 2 .

10. * Nas notações do problema 8, se E = 1 temos a parábola de


foco F e diretriz d. Dados a, b, e E :IR: tais que a # O, faça os
seguintes itens:
294 Tópicos de Matemática Elementar 2

CAPÍTULO 7

Trigonometria e Geometria

Apresentamos, neste capítulo, os rudimentos da Trigonometria,


tendo em vista o desenvolvimento de aplicações da mesma à Geome-
tria Euclidiana Plana. Assim como no capítulo anterior, tencionamos
desenvolver ferramentas de cálculo que permitam abordar problemas
de geometria métrica para os quais os métodos desenvolvidos até
aqui não sejam suficientes. O emprego de um tal conjunto de ferra-
mentas a problemas geométricos é usualmente denominado o método
trigonométrico.

7.1 Arcos trigonométricos


No plano Cartesiano, o ciclo trigonométrico é o círculo r da
figura 7.1, centrado na origem 0(0, O), com raio 1 e comprimento 21r.
296 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 297

y métrico a partir de A.

B • - 21r radianos correspondem a 360º medidos no sentido horário


a partir de A.

Mais geralmente, sendo () a medida em graus e e a medida em radianos


A' A X de um mesmo arco, com e > O, segue do problema 10, página 258, que
o
() e
360 21rº (7.1)

Vejamos alguns exemplos de aplicação da fórmula acima.


B'
Exemplo 7.2. Marque sobre o ciclo trigonométrico as extremidades
finais dos arcos de 21r /3, -21r /3, 1r / 4 e 1r radianos.
Figura 7.1: o ciclo trigonométrico.
Solução. O arco de 21r /3 radianos é o arco AP tal que l( A,.....P) = 21r /3,
medido a partir de A no sentido trigonométrico. Sendo () a medida
Dado um número real e, medimos sobre r, a partir de A, um arco em graus correspondente a um tal arco, temos que
de comprimento lei, no sentido anti-:horário se e > O e no sentido.
horário se e ,...._< O. Sendo P a extremidade final desse arco, dizemos () 27í /3
que o arco AP (de comprimento possivelmente maior que 21r) mede e 360 21r
radianos. e, daí,()= 120º. Marcamos o ponto,...._P na figura 7.2. O arco de -21r/3
,...._

Observação 7.1. Vale frisar que radiano não é uma unidade de me- radianos é o arco AP' tal que l( AP') = 21r /3, medido a partir de A
dida. É simplesmente um nome que utilizamos para nos referirmos a no sentido horário. Assim, é imediato que P' é o simétrico de p em
comprimentos de arcos marcados sobre o ciclo trigonométrico. relação ao eixo das abscissas.
Como 1r é metade de 21r, o arco de 1r radianos é na figura anterior
Sobre r, convencionamos que o sentido trigonométrico (de per..'. ,...._ ' '
, o arco AA', medido no sentido anti-horário. Por fim, se (3 é a medida
curso) é o sentido anff-horário. Assim, o arco de 21r radianos sobre
em graus do arco de 1r / 4 radianos, então
é o arco que dá uma volta em r no sentido trigonométrico, retornando
ao ponto A. Por outro lado, o arco de -21r radianos em ré o arco qu (3 1r/4
dá uma volta em r no sentido horário, retornando também ao ponto. 360 21r
A. Assim, temos as correspondências fundamentais a seguir:
e, daí, (3 = 45º. Como o arco é positivo, seu ponto final é o ponto p
• 21r radianos correspondem a 360º medidos no sentido trigono- da figura 7.3. •
298 Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto
299

y y

+1r/4
A' A X
A' A
o o
X

B'

Figura 7.2: arcos de ±21r /3 radianos.


Figura 7.3: arco de 1r/4 radianos.

Exemplo 7.3. Calcule em radianos os seguintes arcos, dados em,


graus: 30º, 60º, 90º, 135º, 150º, 240º, 270º, 300º.
De agora em diante, mediremos arcos preferencialmente em radi-

Solução. Aplicando (7.1) aos ângulos dados em graus, .•. anos, fazendo a conversão para graus sempre que necessário.
valores correspondentes em radianos: Estamos finalmente em condições de definir o seno, o cosseno e a
() 30º 60º 90º 135º 150º 240º 270º 300º ' tangente de um arco e, dado em radianos, números estes coletivamente
e 7í /6 7í /3 7í /2 31r/4 51r/6 41r/3 31r/2 51r/3 ,. conhecidos como os arcos trigonométricos de e. --....
Para tanto, tome
· o ponto P sobre o ciclo trigonométrico r tal que AP = e (lembre-se
de que, para marcar P, medimos o comprimento /e/ sobre r a partir
Exemplo 7 .4 . .Calcule em graus os seguintes arcos, dados em radi .· de A, no sentido anti-horário se e > O e no sentido horário se e < O).
anos: 1r/9, 71r/2, l81r, ll1r/5. 'Definição 7.5. Para e E JR, definimos o seno e o cosseno de e
2:
Solução. Escrevendo (7.1) como()= ·360, e aplicando aos arcos e:
(radianos), abreviados respectivamente sen e e cose, por (cf. figura
. 7.4):
radianos do enunciado, obtemos os valores correspondentes em grau~
colecionados na tabela abaixo: cose = abscissa de P; sen e = ordenada de P.
e 7í /9 71r/2 l81r l11r /5 A maior ordenada de um ponto der é a de B(O, 1), igual a 1, ao
() 20º 630º 3240º 396º passo que a menor ordenada é a de B'(O, -1), igual a -1. Analoga-
r
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 301
300

para todo k E Z.
y
A proposição a seguir é conhecida como a relação fundamental
B da trigonometria.

Proposição 7.6. Para todo e E IR, temos

o X sen 2 e + cos2 e = 1. (7.4)

Prova. Seja AP = e (cf. figura 7.5). Como P(cosc,senc) e 0(0 O)


segue da fórmula (6.4) e de AP = 1 que '

B' J(cosc- 0) 2 + (senc- 0)2 = 1.

Figura 7.4: seno e cosseno de um arco.


Mas essa é, precisamente, a relação do enunciado.

y
B
mente, a maior abscissa de um ponto der é a de A(l, O), igual a 1; a\
menor abscissa é a de A' (-1, O), igual a -1. Portanto,
-1:Ssenc:Sl.
{
-1 :S cose :S 1
0(0, O)
Reciprocamente, fixado um real a E [-1, 1], a reta paralela ao eixo.
das abscissas traçada pelo ponto (O, a) intersectar em pelo menos um:
ponto P; sendo P(senc,cosc), é imediato que senc = a. Em outr
palavras, todo número real no intervalo [-1, 1] é o seno (e, analoga: B'
mente, o cosseno) de algum arco. .
Para k E Z, é imediato que a extremidade final de um arco de 2k'
Figura 7.5: a relação fundamental da trigonometria.
radianos coincide com o ponto A de r. Mais geralmente, fixado e E R:
a extremidade final de um arco de comprimento e+ 2k1r coincide co ·
aquela de um arco de comprimento simplesmente igual a e, de maneir
; Exemplo 7 · 7 · O seno e o cosseno de um ângulo nos permitem descre-
que . v~r as equações paramétricas de um círculo. Mais precisamente, 0
sen (e + 2k1r) = sen e
{ · circulo r de centro (x 0 , y0 ) e raio R tem equação (x - xo )2 + (y -yo )2 =
1
cos(c + 2k1r) =cose
I.
,1 i
302 Tópicos de Matemática Elementar . , ;\ntonio Caminha M. Neto 303

R 2 (cf. figura 7.6). Um ponto genérico P(x, y) sobre o mesmo pod que seja completada uma volta inteira para O :S t < 1, escrevendo
ser pensado como uma partícula que percorre o círculo no sentido anti x == x 0 + Rcos21r(t-to) e y = Yo + Rsen21r(t-to).
horário, digamos a partir de A(x0 + R, Yo). Desde que P(x, y) E r se,
e E IR é tal que cose =/=- O, a tangente de e,
abreviada tg e, por
serre
y tge= - - .
cose
P(xo + Rcost, Yo + Rsent)
Nas notações da figura 7.4, observe que cose = O exatamente
~

A quando a extremidade final P do arco AP = e coincidir com B ou


B'. Por outro lado, é imediato que tal ocorre precisamente quando
X
e == i + 2k1r ou e = 3; + 2k1r, para algum k E Z. Isso é o mesmo que
dizer que e = i + k1r, para algum k E Z. Assim:
o
tg e está definida se, e só se, e =/=- i + k1r para todo k E Z.
Nos dois exemplos a seguir, calculamos os arcos trigonométricos de

Figura 7.6: equações paramétricas do círculo. 3 e 47í rad"ianos.


Exemplo 7.9. Calculemos o seno, o cosseno e a tangente de i radi-


e só se, anos (equivalente a 60º). Para tanto, marquemos no ciclo trigonomé-
~

trico r o arco AP = i. O triângulo O AP é isósceles de base AP e


(
X -
R
Xo) 2
+ (y -R Yo) 2
=
l, ângulo AÔP = 60º, logo equilátero. Sendo Mo ponto médio de BC,
podemos escrever, para um tal P sobre r, temos cosi = OM = !e, pelo corolário 4.11, sen i = PM = '{;.
Portanto, tg 37r -- v3/2 - /e,
112 - v 3.
x - xo y -yo
R = cost, R = sent,

com O :S t :S 21r (aqui, a variável t - o parâmetro - é pensada como o


tempo) e, daí,

x = Xo + Rcost, y = y0 + Rsent.

Quando conveniente, podemos pedir que o movimento se dê â Figura 7. 7: seno, cosseno e tangente de l
partir do ponto Q(xo + Rcost0 ,y0 + Rsent0 ) sobre r, escrevendo
x = Xo + Rcos(t-to) e y = Yo + Rsen (t- t 0 ); podemos, ainda, exigir
304 Tópicos de Matemática Elementar 2. Antonio Caminha M. Neto 305

Exemplo 7.10. Analogamente ao exemplo anterior, a fim de calcular Proposição 7.11. Nas notações da figura 7.9, se AP = e é um arco
o seno, o cosseno e a tangente de i (equivalente em graus a 45º), do primeiro ou terceiro quadrantes, então tg e = AP'; se AP = e é
marque sobre o primeiro quadrante do ciclo trigonométrico r o ponto
,..... um arco do segundo ou quarto quadrantes, então tg e = - AP'.
P tal que AP = 45º (cf. figura 7.8), e seja Q o pé da perpendicular
Prova. Façamos a prova no caso em que e é um arco do segundo
baixada de P a O A. Como o triângulo O PQ é retângulo isósceles de
quadrante (a prova nos demais casos é completamente análoga). Seja
P" o pé da perpendicular baixada de P ao eixo das abscissas. Pela
semelhança dos triângulos PP" O e P' AO, temos
PP" P'A
P"O AO.

o 1 Q Mas, como PP"= sen e, P"O = - cose e AO = 1, ao efetuar essas


v2 substituições na igualdade acima, obtemos
Figura 7.8: seno, cosseno e tangente de l - PP"· AO
P'A = = -tgc
P'A '

hipotenusa OP = 1, o teorema de Pitágoras fornece


que é precisamente a relação do enunciado.

Uma consequência imediata da proposição acima é o fato de que de



7r - 1 7r - 1 dois arcos diferem por um múltiplo inteiro de 1r, então suas tangentes
sen- = PQ = - e cos 4 = OQ = v2.
4 v'2 são iguais. Em símbolos, tg (1r + e) está definida se, e só se, tg e
também estiver; nesse caso, temos ainda
I/\12 -- 1.
L ogo, tg 47r -- 1/v2
tg (1r + e) = tg e. (7.5)

Voltando à discussão geral, se AP = e, com ~ < e < 1r ( cf. Para o que segue, estabelecemos a seguinte convenção: dado um
figura 7.4), então P está na porção der situada no segundo quadrante ' ângulo (), com Oº ~ () ~ 360º, definimos o seno, o cosseno e a tangente
do plano Cartesiano, de maneira que a abscissa de P é negativa e sua de () como sendo respectivamente iguais ao seno, o cosseno e a tangente
ordenada é positiva. Portanto, do arco correspondente a () em radianos, i.e., do arco e = 21r · 3: 0 . Por
exemplo, para () = 20º, o arco correspondente é e = ~ radianos. Assim,
senc
cose < O, sen e > O e tg e = -- < O. temos, por definição, que
cose
7r 7r 7r
sen 20º = sen 9 , cos 20º = cos 9 e tg 20º = tg 9 .
A esse respeito, veja também o problema 2, página 311.
A tangente de um arco de e radianos tem uma interpretação geo- A proposição a seguir encerra um importante corolário do resultado
métrica bastante útil, explicitada na proposição a seguir. anterior.
306 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 307

y y
x=l
B

y = ax

A' A X

P" O

P'
B'

Figura 7.10: coeficiente angular de uma reta.


Figura 7.9: interpretação geométrica da tangente.

cionamos no exemplo a seguir uma aplicação importante da noção de


Proposição 7.12. Dada, no plano Cartesiano, uma reta não vertical
' coeficiente angular.
de equação y = ax + b, o número real a =/=- O é igual à tangente •
do ângulo trigonométrico que o eixo das abscissas forma com a reta. Exemplo 7 .13. Em um certo sistema Cartesiano, temos um ponto
Mais precisamente, nas notações da figura 7.10, temos a= tg a. (x 0 , y0 ) e um ângulo a tal que Oº <a< 180º. Encontre a equação da
reta que passa pelo ponto dado e forma ângulo trigonométrico a com
Prova. Na figura 7.10, o círculo representa o ciclo trigonométrico. o eixo das abscissas.
Pela Proposição 6.13, a reta paralela à reta y = ax + b e passando pela
origem tem equação y = ax. Como o ângulo trigonométrico que o eixo Prova. Se a = 90º, então a reta é vertical, logo tem equação x = x 0 .
das abscissas forma com tal reta também é a, segue da proposição Se a =/=- 90º (cf. figura 7 .11), podemos supor que sua equação é da
anterior (e das convenções acima) que a tg a é igual à ordenada do forma y = ax + b, para certos a, b E R Pela proposição 7.12, temos
ponto comum às retas de equações y = ax ex= 1 da figura 7.10. Para a = tg a. Por outro lado, como o ponto (x 0 , y0 ) pertence à reta,
tal ponto comum, temos x = 1 e y = a · 1 = a, de sorte que tg a = a, devemos ter
como desejado. • Yo = axo + b = ( tg a )x0 + b
e, daí, b = y0 - ( tga)x 0 . Portanto, a equação da reta é
Graças à proposição acima, se uma reta não vertical tem equação
y = ax + b, dizemos que a é o coeficiente angular da reta. Cole- y = ( tga)x + Yo - ( tga)xo.
308 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 309

y y

B
y=ax+b

X
A' A X

Figura 7.11: reta com coeficiente angular e ponto prescritos.


Figura 7.12: seno e cosseno de arcos opostos.

sentidos contrários (um no sentido trigonométrico e o outro no sentido


Nas notações do exemplo acima, vale frisar que é costume escrever horário), é imediato que P e Q são pontos simétricos em relação ao eixo
a equação obtida para a reta em questão na forma das abscissas. Portanto, P e Q têm abscissas iguais mas ordenadas

.
y-yo opostas. Mas, como P(cos e, senc) e Q(cos(-c), sen (-e)), segue então
-=---- = tg Q.
que cose = cos( -e) (abscissas iguais) e sen e = -sen (-e) (ordenadas
x-xo
~~~-
Finalizemos essa discussão inicial sobre arcos trigonométricos rela-
cionando o seno, cosseno e tangente de arcos que guardam certas re- Proposição 7.15. Para todo e E lR temos
lações simples entre si.
sen (~ - e) = cose e cos (~ - e) = senc. (7.8)
Proposição 7 .14. Para todo e E lR temos

(7.7) Prova. Pela proposição anterior, basta mostrar que sen (e - ~) =


sen (-e) = -sen e e cos(-c) =cose.
- cose e cos (e - ~) = sen e. Para tanto, argumentemos também como
Prova. Considere, no ciclo trigonométrico, as extremidades finais P na prova anterior: considere,
,...__
no ciclo
,...__
trigonométrico, as extremidades
,...__ ,...__
e Q dos arcos AP = e e AQ = -e (a figura 7.12 ilustra o caso finais P e Q dos arcos AP = e e AQ =e-~ (novamente, ilustramos
~ < e < 1r; os demais são totalmente análogos). Como os arcos o caso ~ < e< 1r na figura 7.13, e deixamos a verificação dos demais
de e e -e radianos têm comprimentos iguais mas são marcados em - totalmente análogos - ao leitor).
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 311
310

Exemplo 7.17. De posse do resultado da proposição acima, é ime-


1
y
1' diato calcular os arcos trigonométricos de Í. De fato, desde que
! t
2 - 6 - 3 , emos
1í 'lí_'lí

'1T
sen- = cos- = -
'1T 1 '1T '1T
cos - = sen - = -
v'3 e
6 3 2' 6 3 2
A'
o
Problemas - Seção 7.1
B' 1. Marque, sobre o ciclo trigonométrico da figura 7.14, os extremos
dos arcos de 7r/3, 37r/4, 37r/2, -71", -271"/3, -371"/2, -471"/3 e
-571" /2 radianos.
Figura 7.13: seno e cosseno de arcos complementares.
y
Como OP = OQ e QÔP = 90º, o problema 4, página 281, garante B
que, se Q(x 0 , y0 ), então P(-Yo, xo)- Mas, como
P(cose,sene) e Q (cos(e- ~),sen(e- ~)),

devemos ter
A' A X

o
- cose = sen ( e - ~) e sen e . cos ( e - ~) ,

conforme desejado. •
Corolário 7.16, Para todo e E Ili temos B'
sen ('7r - e)= serre e cos(7r - e)= -cose. (7.9)
Prova. Provemos a fórmula para o seno (a dedução da fórmula pàra Figura 7.14: mais alguns arcos trigonométricos
o cosseno é completamente análoga). Escrevendo 7r - e=~ - (e - ~)
~·· e aplicando sucessivamente (7.8), (7.7) e (7.8), obtemos
2. * Marque, no ciclo trigonométrico da figura 7.15, os sinais do
sen (7r - e)= cos (e - ~) = cos (~ - e) = serre. seno, cosseno e tangente de acordo com o quadrante do plano

• Cartesiano.
Tópicos de Matemática Elementar 2 ·. Antonio Caminha M. Neto 313
312
y equações x 2 + y 2 = a 2 e x 2 + y 2 = b2 . Trace pela origem O
B um raio de tais círculos formando um ângulo trigonométrico
f3 com o eixo das abscissas e suponha que tal raio intersecta
os círculos diretores acima respectivamente em S e Q. Se
P(x, y) é o ponto obtido como a interseção da paralela por
A' A X
Q ao eixo das abscissas com a paralela por S ao eixo das
o ordenadas, prove que P pertence à elipse (note que o pro-
cesso acima permite construirmos - com régua e compasso
- tantos pontos da elipse quanto queiramos).
B'
7.2 Algumas identidades úteis
Figura 7.15: sinais do seno, cosseno e tangente de um ângulo
Continuamos nossa introdução à trigonometria deduzindo, nesta
seção, algumas fórmulas bastante úteis, a começar pelas fórmulas de
adição de arcos, coletadas na proposição a seguir.
3. Calcule o seno, o cosseno e a tangente (se existir) dos arcos de
1r, -1r/2, 41r, 71r/2 e -31r/2 radianos. Proposição 7.18. Para a, b E IR, temos:
(a) cos(a±b) = cosacosb=r=senasenb.
4. Calcule o seno, o cosseno e a tangente de 21r/3, 31r/4, 51r/6,
71r/6, 41r/3, 51r/4, 51r/3, 31r/2, 71r/4. (b) sen (a± b) = sen acos b ± cosasen b.

5. Dada a elipse de equação :~ + ' 1 (veja o problema 7, (c) tg (a± b) = 1t~::;;gbb, sempre que tg a, tg b e tg (a± b) estiverem
. página 288), faça os seguintes itens: definidos .
. Prova. Mostremos, inicialmente, a fórmula para cos(a+b). Suponha,
(a) Se (x, y) é um ponto sobre a mesma, prove que existe um
sem perda de generalidade, a, b > O e marque, sobre o ciclo trigono-
único () E [0,21r) para o qual x = acosO, y = asenO,
métrico r, os pontos P, Q e R tais que A~P = a, A~Q = -b e AR=
e reciprocamente. As equações x = a cos (), y = a sen O,
a+b (cf. figura 7.16). Então P(cosa,sena), Q(cos(-b),sen(-b)) =
() E [O, 21r), são as equações paramétricas da elipse, e
(cosb,-senb) e R(cos(a+b),sen(a+b)).
podemos interpretá-las como uma descrição da trajetória
de uma partícula que parte no instante () = O do ponto A, .Como os arcos AR e QP (medidos no sentido anti-horário) são
percorre a elipse no sentido anti-horário e volta ao ponto A ambos iguais a a + b radianos, as cordas subentendidas AR e PQ têm
comprimentos iguais. Portanto, as igualdades
no instante () = 21r.
-2
(b) Defina os círculos diretores da elipse como os círculos de AR = (1 - cos(a + b)) 2 + sen 2 (a + b)
314 Tópicos de Matemática Elementar 2 · ; Antonio Caminha M. Neto 315

B sen (a + b) - cos ( i - b)
a-

cos ( i - a) cos b + sen ( i - a) sen b


sen a cos b + cos a sen b;
o
A' A
adernais, uma dedução análoga nos permite obter a fórmula para
sen (a - b) (veja o problema 1, página 318). Por fim,

tg (a + b) = sen (a + b) sen a cos b + sen b cos a


B'
cos(a + b) cosacosb- senasenb
cosalcos b (sena cos b + sen b cosa)
Figura 7.16: fórmulas de adição de arcos. cos}cosb(cosacosb- senasenb)
sena+ senb tga + tgb
cosa cosb
1 _ sena senb 1- tgatgb'
e cosa cosb
PQ 2 = (cosa - cos b) 2 +(sena+ sen b)2 valendo também aqui uma dedução análoga para tg (a - b) (cf. pro-
nos dão blema 1, página 318). •

(1- cos(a + b)) 2 + sen 2 (a + b) = (cosa - cosb) 2 +(sena+ senb)2; As fórmulas do corolário a seguir são frequentemente denominadas
fórmulas de arcos duplos.
desenvolvendo ambos os rnernbros dessa relação e observando as igual-
dades cos2 a+sen 2 a = 1, cos2 b+sen 2 b = 1 e cos 2 (a+b)+sen 2 (a+b) = Corolário 7.19. Para todo real a, temos:
1, obtemos
(a) cos 2a = cos 2 a - sen 2 a.
-2 cos(a + b) = -2 cos acos b + 2 sena sen b,
(b) sen 2a = 2sen a cosa.
conforme desejado.
Quanto às demais fórmulas, veja que (c) tg 2a = 1 ~~~~ª, sempre que tg a e tg 2a estiverem definidas.

cos(a - b) cos(a + (-b)) =cosa cos(-b) - senasen (-b) Prova. Basta fazer b = a nas fórmulas com sinal+ da proposição 7.18 .
cos a cos b + sen a sen b •
316 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 317

Exemplo 7.20. Uma aplicação computacional clássica das fórmulas Finalizamos nosso estudo de trigonometria deduzindo as fórmulas
de adição de arcos é o cálculo dos arcos trigonométricos de 75º. Para de transformação em produto, conforme ensina a seguinte
tanto, veja que 75º = 30º + 45º, de maneira que
Proposição 7.22. Para todos os a, b E II, temos:
cos 75º cos(30º + 45º) = cos 30º cos 45º - sen 30ºsen 45º
(a) sen a ± sen b = 2 sen ( a~b) cos ( ~) .
v'3 v'2 1 v'2 v'6 - v'2
-·---·-=
2 2 2 2 4 (b) cos a + cos b = 2 cos ( ª!b) cos ( ª;b) .
Como aplicação das fórmulas de adição de arcos, temos o seguinte (c) cos a - cos b = - 2 sen ( ª!b) sen ( ª;b) .
resultado útil.
(d) t g a ± t g b = sen (a±b) .
cosacosb
Proposição 7.21. Sejam a e b reais positivos fixados e () um real
variável. Então Prova. Façamos a dedução das fórmulas de transformação em pro-
lacosO + bsenOI::::; va 2 + b2. duto para sena + sen b e tg a + tg b, sendo a dedução das demais
totalmente análogas (cf. problema 10, página 319).
Prova. Escrevamos
Fazendo x = ª!b e y = ª;b, temos a = x + y e b = x - y, de
a cos () + bsen () = va + b
2 2 (
J a2ª+ b2 cos () + Va2b+ b2 sen o) . maneira que

sena+ senb sen (x + y) + sen (x - y)


Agora, fazendo Xo = va~+b2 e Yo = va:+b2' temos x5
+ Y5 = 1, i.e., (sen x cos y + sen y cos x) + (sen x cos y - sen y cos x)
(x 0 , y0 ) pertence ao primeiro quadrante do ciclo trigonométrico. Por-
2senxcosy,
tanto, existe a E (O, 1r /2) tal que
'';,

1.,
":1,,., a b conforme desejado.
cos a = x 0 = e sena = Yo = .
J a2 + b2 J a2 + b2 Para o que falta, basta ver que

Segue, então, que . sen a sen b sen a cos b + sen b cos a


tga + tgb = -- + -- = ---------
cos a cos b cos a cos b
a cos () + bsen () = va 2 + b2 ( cosa cos () + sen asen O)
(7.10)
sen(a + b)
= va 2 + b2 cos(O - a) cosacosb ·

e, a partir de I cos(O - a)I ::::; 1, obtemos •


lacosO + bsenOI = va 2 + b2 I cos(O - a)I :S Va 2 + b2.


318 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 319

Problemas - Seção 7.2 8. Resolva a equação tg x = A quando A = vf3 e A = 1.

1. * Prove as fórmulas da proposição 7.18 para os desenvolvimentos 9. Calcule sen (x - y) em função de a = sen x + sen y e b = cos x +
de sen (a - b) e tg (a - b). cosy, sabendo que ab =J. O.

2. * Calcule o seno, o cosseno e a tangente de 15º. 10. Obtenha as demais fórmulas de transformação em produto lis-
tadas na proposição 7.22.
3. * Para a E IR, prove que
11. Prove que, para todo x real, tem-se cos(cosx) > O.
2cos2 a -1
cos2a = { 12. Prove que, para todo x real, tem-se cos(senx) > sen(cosx).
1- 2sen 2 a

4. Use as fórmulas do corolário 7.19 e do problema anterior para


13. * Dados a, b E IR, com b =J. 2k7í para todo k E Z, prove que
calcular o seno, o cosseno e a tangente de um ângulo de 22º30'. n sen (a+ nb) sen (n+l)b
L sen (a + kb) = 2 b 2
5. * Em cada um dos casos a seguir, resolva as equações dadas para k=O sen 2
xER e
n cos (a + nb) sen (n+l)b
(a) senx = O. I:cos(a+kb)= 2 b 2
k=O sen 2
(b) cosx = o.
(c) tgx=O. 14. * Para k EN, conclua, a partir do problema anterior, que
6. * Dado a E IR resolva, em cada um dos casos a seguir, as n 2k7í n 2k7í
I:sen-- = I:cos-- = O.
equações dadas para x E R k=I
n k=l
n

(a) sen x =sena.


7.3 As leis dos senos e dos cossenos
(b) COS X= COS Q.

(c) tgx = tga. O propósito principal desta seção é viabilizar a utilidade geométrica
dos arcos trigonométricos. Comecemos explicando como os mesmos
7. * Em cada um dos casos a seguir, resolva as equações dadas para podem ser relacionados de maneira simples à geometria de triângulos
x E IR, quando A = -! , A = :{}- e A = -1: retângulos.
Sendo () ainda como acima, i.e., de medida Oº < () < 90º, o arco
(a) senx = A.
correspondente e é tal que O < e < ~, de maneira que sen () > O,
(b) cosx = A. cos () > O e tg () > O. Consideremos um triângulo ABC, retângulo
320 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 321

em A e tal que AÊC = e (cf. figura 7.17). Usando o ponto B como Em resumo, para um triângulo ABC, retângulo em A e tal que
----+
origem, considere o sistema Cartesiano tal que a semirreta AB seja O ; AÊC = e, temos:
semieixo positivo das abscissas e o lado AC do triângulo fique situado " cateto oposto a e e cateto adjacente a e
no primeiro quadrante. Em seguida, trace o círculo de centro B e raio sen e = , cos =
hipotenusa hipotenusa '
1 e marque sua interseção P com a hipotenusa BC de ABC (ou seu (7.11)
tg e = cateto oposto a e .
prolongamento). Sendo Q o pé da perpendicular baixada de P ao eixo cateto adjacente a e
das abscissas, é claro que BPQ rv BCA. Portanto,
Exemplo 7.23. Se ABC é um triângulo retângulo em A e M é o
y
c ponto médio do cateto AC, prove que
,.._ 1
tgMBC < 1o·
- 2v2

Prova. Sejam AB = e, AC= 2b, MÊA = a e MÊC = (3.


, X B
B Q A
e

r;,,, A b M b c
I"
,'i''
'···
'l.

1,,,, A partir de
tg a + tg (3
tg (a+ (3) =
1'
1, Figura 7.17: seno, cosseno e tangente em um triângulo retângulo. ,
1- tga · tg{3
obtemos
2b !?.e + tg{3
e 1 - !?.e • tg (3

e, daí, tg (3 = 2b}:c 2 • Mas, como 2b2 + c2 ~ 2y2bc, segue que


Mas, como bc bc
tg{3- < --
PQ = serre, e QB = cose, - 2b2 + c2 - 2y2bc

as relações acima nos dão



AC AB AC A fórmula (7.12) a seguir generaliza o teorema de Pitágoras para
-==serre, BC =cose, AB = tg e. triângulos retângulos e é conhecida como a lei dos cossenos.
BC
1 1 !

322 Tópicos de Matemática Elementar 2 . Antonio Caminha M. Neto 323

Proposição 7.24. Se ABC é um triângulo de lados AB = e, AC=== b •· (b)  = 90º: neste caso, cos  = O e segue do teorema de Pitágoras
e BC= a, então (cf. figura 7.19) que
a 2 = b2 + c2 - 2bccosÂ.
a2 = b2 + c2 = b2 + c2 - 2bc cos Â.
Prova. Seja H o pé da altura relativa ao lado AC e h seu compri-
mento. Consideremos separadamente os casos  < 90º,  = 90º e
A
 > 90º:

(a) Â < 90º: neste caso (cf. figura 7.18), os pontos H e Cestão numa
+---->
mesma semirreta dentre as determinadas sobre AC pelo vértice A, e
(7.11) nos dá
B a c
AH= e cos e h = csenÂ.
Figura 7.19: a lei dos cossenos: o caso  = 90º.
Por outro lado, aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo BCH,
A
(c) Â > 90º: neste caso (cf. figura 7.20), o vértice A pertence ao
segmento CH. Como BÂH = 180º -Â, aplicando (7.11) ao triângulo
BHA e utilizando (7.9), obtemos

AH= e cos(180º - Â) = -ecos  e h = csen (180º -Â) = csenÂ.

Aplicando novamente o teorema de Pitágoras ao triângulo BCH e


B a c prosseguindo como em (a), obtemos
Figura 7.18: a lei dos cossenos: o caso  < 90º.
a2 h2 + C H 2 = h2 + (b + AH) 2
(csenÂ) 2 + (b- e cosÂ) 2
obtemos
b2 + c2 - 2bc cos Â.
ª2 h2 + CH 2 = h2 + (b - AH) 2
(csenÂ) 2 + (b- e cosÂ) 2 •
b2 + c2 (sen 2  + cos2 Â) - 2bc cos No que segue, colecionamos três consequências importantes da lei
b2 + c2 - 2bc cosÂ, dos cossenos.

onde, na última igualdade, utilizamos a relação fundamental (7.4). Corolário 7.25. Se ABC é um triângulo de lados AB = e, AC= b
e BC = a, com a > b > e, então:
324 Tópicos de Matemática Elementar ' .Antonio Caminha M. Neto 325

H proposição 7.26. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC=


b, BC = a. Se Pé um ponto sobre o lado BC, tal que BP = x,
cfJ5 = y e AP = z, então

B a c (7.13)

Prova. Se APC O, então APB = 180º - () (cf. figura 7.21).


Figura 7.20: a lei dos cossenos: caso  > 90°.
Aplicando a lei dos cossenos ao triângulo APC para calcular AC = b,

A
(a) ABC é retângulo (em A) {::} a2 = b2 + c2 .

(b) ABC é acutângulo {::} a2 < b2 + c2 .


(c) ABC é obtusângulo (em A) {::} a2 > b2 + c2 .
Prova. Já provamos o item (a) na seção 4.2. Para provar (b), segue
B X p y c
da lei dos cossenos que
a
a2 < b2 + c2 {::} b2 + c2 - 2bccos A< b2 + c2
Figura 7.21: a relação de Stewart.
{::} - 2bc cos A < O {::} cos A > O
{::} Â < 90º.
obtemos
Por outro lado, a > b > e implica em  > Ê > ê, de modo que ABC: b2 = z 2 + y2 - 2yzcose.
é acutângulo. Por fim,
Por outro lado, usando que cos(180º - O) __:_ - cose e aplicando a lei
· dos cossenos ao triângulo AP B para calcular AB = e, obtemos
a2 > b2 + c2 {::} b2 + c2 - 2bc cos A > b2 + c2
{::} -2bccos A> O{::} cos A< O z 2 + x 2 - 2xz cos(180º - e)
~

{::} A> 90º. z 2 + x 2 + 2xzcose.

Isolando cose nas duas relações acima e igualando os resultados, che-


gamos à relação
A fórmula (7.13) a seguir é conhecida como a relação de Stewart. z2 + y2 _ b2 c2 _ z2 _ x2

2yz 2xz
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 327
326

ou, ainda, a

Podemos reescrever a relação acima como

após o quê um fácil agrupamento de termos nos dá

(x + y)z 2 + xy(x + y) = b2 x + c2 y.
Por fim, substituindo x +y = a chegamos ao resultado desejado. •

O resultado a seguir já apareceu no problema 5, página 270. Figura 7.22: a lei dos senos.
Corolário 7 .27. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC = b,
BC = a. Se ma é o comprimento da mediana relativa ao lado BC,
Prova. Seja ABC um triângulo como no enunciado, com AB = e,
então AC = b e BC = a (cf. figura 7.22). Supondo ABC acutângulo (a
a 2 + 4m~ = 2(b2 + c2). (7.14)
consideração dos demais casos é totalmente análoga), provaremos que
Prova. Fazendo, na relação de Stewart (veja a figura 7.21), z = ma sen  = 2~ (as igualdades sen Ê = 2~ e sen ê = 2~ também podem
e x = y = %, obtemos ser provadas de modo análogo).
Seja O o centro do círculo r, circunscrito a ABC, e A' o simétrico
2 de B em relação a O. Então A' E r, de modo que o teorema do
a + e2 · 2
b2 · 2 2 + ma2)
a = a ((ª)
ângulo inscrito nos dá BÂ'C = BÂC = Â. Por outro lado, como BA'
ou, ainda, é diâmetro de r, temos A' ê B = 90º. Então, no triângulo retângulo
b2 + c2 ª2 2 BA'C, temos
2 = 4+ma,
~ , BC a
~i
11;, conforme procurado. • senA = senBA C = =
BA'
=- .
2R
A outra relação fundamental para nossos propósitos é a lei dos
senos, fórmula (7.15) a seguir.

O corolário a seguir é, muito provavelmente, a mais importante
Proposição 7.28. Se Ré o raio do círculo circunscrito a um triângulo consequência da lei dos senos. A fórmula dada pela primeira igualdade
de lados a, b e e, então ern (7.16) é conhecida como a fórmula do seno para a área de um
a b e triângulo.
- - = - - = - - = 2R. (7.15)
sen A sen B sen C
I!

Tópicos de Matemática Elementar 2 · · Antonio Caminha M. Neto 329


328

Corolário 7 .29. Se ABC é um triângulo de lados AB = e, AC = b e Outra expressão muito útil para a área de um triângulo é a fór-
BC = a, ângulos internos Â, Ê, ê e raio do círculo circunscrito igual mula de Herão, devida ao matemático grego Herão de Alexandria,
do século I d.C., e objeto da proposição a seguir.
a R, então
1 abc
A(ABC) (7.16) Proposição 7.30. Se ABC é um triângulo de lados a, b e e e semi-
= 2bcsenA = 4R.
.! perímetro p, então
Prova. Suponha que ABC é acutângulo (a demonstração nos demais
casos é inteiramente análoga) e sejam Hb o pé da altura relativa ao A(ABC) = Jp(p - a)(p - b)(p - e). (7.17)
lado AC e hb seu comprimento (cf. figura 7.23). Então, no triângulo
Prova. Aplicando sucessivamente a fórmula do seno para a área de
A ABC, a relação fundamental da trigonometria e a lei dos cossenos,
obtemos

16A(ABC) 2 4b2c2sen 2Â = 4b2c2(1 - cos2 Â)

4b'c' { 1- C' +~-ª') l


B c Então, utilizando sucessivas vezes a fórmula para a fatoração de uma
diferença de quadrados, obtemos
Figura 7.23: fórmulas para a área de um triângulo.
16A(ABC) 2 4b2c2 (1- b2 + c2 - ª2) (1 + _b2_+_c2_-_a_2)
2bc 2bc
retângulo ABHb, temos (2bc - (b2 + c2) + a 2) (2bc + (b2 + c2) - a 2)
,...
senA =-=- =-'-
BHb hb (a2 - (b- c)2) ((b + c)2 - a2 )
AB e (a - (b - e)) (a+ (b - e)) ((b + e) - a) ((b +e)+ a)
ou, ainda, hb = e sen Â. Segue, daí, que 2(p - b) · 2(p - e)· 2(p - a)· 2p
1 1 ,.._ 16p(p - a)(p - b)(p - e).
A(ABC) = 2bhb = 2bc sen A.

Por fim, para obter a outra fórmula em (7.16), basta aplicar a lei: •
Como aplicação da fórmula de Herão, no exemplo a seguir resolve-
dos senos à primeira fórmula:
' mos o problema isoperimétrico para triângulos.
1 ,.._ 1 a abc
A(ABC) = 2bcsenA = 2bc · 2R = 4R· · Exemplo 7.31. Mostre que, dentre todos os triângulos com um mesmo
perímetro, o de maior área é o equilátero.
'I
330 Tópicos de Matemática Elementar 2'. Antonio Caminha M. Neto 331

Prova. Sejam p o perímetro (conhecido), A a área e a, b e e os com- 5. * Para um polígono regular de n lados inscrito em um círculo
primentos dos lados do triângulo em questão. Utilizando a fórmula de de raio R, sejam ln e an respectivamente os comprimentos dos
Ilerão em conjunção com a desigualdade entre as médias aritmética · lados e as distâncias do centro do círculo circunscrito aos lados
e geométrica para três números reais positivos (cf. exemplo 7.7 do· . do polígono (dizemos que an é o apótema do polígono). Calcule
volume 1), obtemos ln e an para n = 3, 4, 6 e 8.

A2 ) ((p-a)+(p-b)+(p-c)) 3 p3 6. No interior de um polígono regular de n lados de comprimento


p = (p - a) (p - b) (p - e ~ 3 - 27'
l, estão situados n círculos, todos de raio r, cada uma tangente
a dois círculos vizinhos e a dois lados consecutivos do polígono.
ocorrendo a igualdade se, e só se, p - a= p - b = p - e, i.e., se, e só
Calcule, em função de l e de n, o valor de r.
se, o triângulo for equilátero. •
7. * Faça os itens a seguir:
(a) Nas notações do problema 7, prove que lia= R ( v;- 1 ).

Problemas - Seção 7.3 (b) Calcule l 5 em função de R.

1. Seja ABCD um quadrado de lado 1 e E um ponto sobre o lado (c) Prove que existe um triângulo de lados l 5 , l 6 e lia e que tal
CD, tal que AE = AB + CE. Sendo F o ponto médio do lado triângulo é necessariamente retângulo.
CD, prove que EÂB = 2 · FÂD.
8. * Use o problema anterior para mostrar que cos 36º = 1+4v'5.

2. Duas retas paralelas r e s distam 5cm uma da outra.


elas está marcado um ponto P, que dista lcm de r. Pontos A · 9. (Eslovênia.) Os três mosqueteiros, Athos, Porthos e Aramis, dis-
e B são escolhidos respectivamente sobre r e s, de modo que cutiram certo dia numa taverna. Após a briga, cada um seguiu
LAP B = 90º. Calcule o comprimento de AP para que a área seu caminho, em direções que formavam 120º uma com a ou-
de AP B seja a maior possível. tra. Suas velocidades eram lOkm/h, 20km/h e 40km/h, res-
pectivamente. Prove que, em qualquer instante após a briga,
3. (OCM.) ABC é um triângulo retângulo em A e tal que AB = 1, as posições dos três mosqueteiros formavam os vértices de um
AC= 3. Pontos D e E são marcados sobre o lado AC, tais que triângulo retângulo.
AD= DE= EC. Prove que ADE+ AÊB = 45º.
10. (OIM.) ABC é um triângulo equilátero de lado f. O ponto P em
4. (OCM.) De um triângulo ABC conhecemos as medidas b e e seu interior é tal que P A, P B e PC são os lados de um triângulo
dos lados AC e AB, respectivamente. Sabendo que AB mede retângulo de ângulos agudos iguais a 30º e 60º, do qual P A é o
y'b2 + c2 + bc, calcule a medida, em graus, do ângulo LACB. comprimento da hipotenusa. Calcule P A.
332 Tópicos de Matemática Elementar 2:: Antonio Caminha M. Neto 333

11. Um hexágono convexo tem três lados consecutivos medindo a e 18. Construa com régua e compasso o triângulo ABC, conhecendo
os outros três medindo b. Sabendo que tal hexágono está inscrito os comprimentos b do lado AC, e do lado AB e sabendo que a
em um círculo de raio r, pede-se: mediana relativa ao lado BC divide o ângulo LBAC em dois
ângulos tais que a medida de um é o dobro da medida do outro.
(a) Calcular r em função de a e b.
19. Um triângulo ABC é tal que AB = 13cm, AC= 14cm e BC=
(b) Calcular a área do hexágono em função de a e b.
15cm. Um semicírculo de raio R tem seu centro O sobre o lado
12. Prove a fórmula para o cálculo da mediana de Euler de um BC e tangencia os lados AB e AC do triângulo. Calcule o valor
quadrilátero convexo (cf. problema 6, página 270) a partir de do raio R.
(7.14). 20. Seja ABC um triângulo de lados 4cm, 5cm e 6cm. Escolhemos
13. Prove que, em todo paralelogramo, a soma dos quadrados dos • um ponto D sobre um dos lados de ABC e, em seguida, baixa-
lados é igual à soma dos quadrados das diagonais e, em seguida, mos perpendiculares D P e DQ aos outros dois lados de ABC.
use esse fato para deduzir a fórmula (7.14) para o comprimento·.·. Calcule o menor comprimento possível do segmento PQ.
de uma mediana de um triângulo. 21. * (IMO - adaptado.) Se ABC é um triângulo de lados a, b e e,
prove a desigualdade de Weitzenbõck 1 :
14. Traçamos o círculo r de centro O circunscrito a um triângulo ·
ABC, retângulo A e de catetos 3cm e 4cm. Encontre o raio do
círculo :E de centro O', tangente aos catetos de ABC e interior- A(ABC) :S ~ (a 2 + b2 + c2 ),
mente ar.
11 com igualdade se, e só se, ABC for equilátero.
15. Os lados de um triângulo ABC medem a, b e e. Sendo p o
22. Dados um polígono regular A 1 A 2 ..• A 2n e um ponto qualquer P
semiperímetro do triângulo e R o raio do círculo circunscrito,
do plano, prove que
prove que
...... .-.. ...- p
senA + senB + senC = R.

16. (OCM.) Seja ABC um triângulo tal que AÊC = 2AÔB. Mostre
que b2 = c(a + e). 23. (Polônia.) Seja ABC um triângulo, r seu círculo circunscrito e
D o ponto médio do arco BC de r que não contém o vértice
17. Os lados de um triângulo estão em progressão aritmética, o lado
A. Se K e L são respectivamente os pés das perpendiculares
intermediário medindo I!. Sabendo que o ângulo maior excede o +------>

menor em 90º, calcule a razão entre os comprimentos do maior baixadas de B e C à reta AD, prove que B K + C L ::::; AD.
e do menor dos lados do triângulo. 1Após Roland Weitzenbõck, matemático austríaco do século XX.
Tópicos de Matemática Elementar 2 · Antonio Caminha M. Neto 335
334

24. (OIM.) A partir de um triângulo ABC, construímos um hexá- . 29. Em um quadrilátero convexo ABCD, seja E o ponto de inter-
gono convexo A 1A 2B 1B 2C 1C2 do seguinte modo: seção das diagonais AC e BD. Se A(ABE) = 8 1 , A(CDE) = 8 2
e A(ABCD) = 8, prove que
(a) A E BB2, CC1 , BE AA1, CC2 e CE AA2, BB1.
(b) AB2 = AC1 = BC, BA 1 = BC2 = AC e CA2 = CB 1 ==
AB. Discuta quando ocorre a igualdade.
Prove que
30. Sejam ABCD um quadrilátero convexo inscritível e M um ponto
sobre o lado CD, tal que o perímetro e a área do triângulo ADM
e do quadrilátero ABCM são iguais. Prove que ABCD tem dois
25. Prove o teorema de Arquimedes (cf. problema 28, página 124) lados de comprimentos iguais.
com o auxílio da teoria desenvolvida neste capítulo até aqui:
31. (Bielorrússia.) Seja ABCD um trapézio de área 18cm2 e soma
seja ABC um triângulo tal que ·AB > AC. Sobre o círculo
das diagonais 12cm. Mostre que as diagonais são perpendicula-
circunscrito a ABC marcamos o ponto médio M do arco BC
res e iguais.
que contém o vértice A. Se N é ó pé da perpendicular baixada
desde Mao segmento AB, então EN= AN + AC. 32. Seja ABC D um quadrilátero inscritível de lados a, b, e, d. Prove
a fórmula de Bramagupta2 para a área de ABCD:
26. Seja ABC um triângulo tal que AB = e, AC= b e BÂC = 2a.
Sendo P o pé da bissetriz interna relativa ao vértice A, prove A(ABCD) = J(p - a)(p - b)(p - c)(p - d).
que
AP = 2bccosa.
33. Prove o teorema de Hiparco3 : seja ABCD um quadrilátero
b+c
convexo de lados AB = a, BC = b, CD = e, DA = d, e
27. (Canadá.) Seja ABC um triângulo tal que os lados BC e AC diagonais AC= x e BD= y. Se ABCD for inscritível, então
medem respectivamente a e b. Sabendo que a área desse triân-
gulo é dada por Ha
2 + b2 ), calcule a medida do ângulo LACB. x ad+bc
y ab+ cd·
28. * Seja ABCD um quadrilátero convexo de diagonais AC e BD,
que formam entre si um ângulo a. Mostre que 34. (IMO.) Construa, com régua e compasso, um quadrilátero ins-
1- - critível ABC D, conhecidos os comprimentos a, b, e e d dos lados
A(ABCD) = 2 AC· BD sena. AB, BC, CD e DA, respectivamente.
A fórmula acima é a fórmula do seno para a área de um 2 Após Bramagupta, matemático e astrônomo indu do século VII d.C ..
3 Após Hiparco de Nicéia, matemático e astrônomo grego do século II d.C ..
quadrilátero.
336 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 337

35. (Rússia). Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC= b e


BC = a, e medianas relativas a AB, AC e BC de comprimentos - -
esteja sobre o círculo circunscrito a ABC; em seguida, defina
N E BI e P E CJ de forma análoga.
respectivamente iguais a me, mb e ma· Se Ré o raio do círculo
circunscrito a ABC, prove que (a) Prove que A(A 1 B 1 C 1 ) = (4R + r)p, onde r e R denotam
respectivamente os raios dos círculos inscrito e circunscrito
ª2 + b2 ª2 + c2 b2 + c2 a ABC, e p denota o semiperímetro de tal triângulo.
--- + + :::; 6R,
2mc 2mb 2ma
(b) Conclua que A(A 1 B 1 C 1 ) ~ 9 · A(ABC), com igualdade se,
ocorrendo a igualdade se, e só se, ABC for equilátero. e só se, ABC for equilátero.

36. (União Soviética.) Dado um polígono convexo no plano, pode-


mos traçar uma reta que o divida em exatamente dois outros 7.4 A desigualdade de Ptolomeu
polígonos convexos, escolher um de tais polígonos, emborcá-lo e
colá-lo de volta ao primeiro, ao longo do corte inicial. Pergunta- Para o que segue, relembremos a discussão no parágrafo anterior
se: existe uma sequência finita de tais operações que transforme ao teorema de Simson-Wallace (cf. proposição 3.41): dados no plano
um quadrado em um triângulo? um triângulo ABC e um ponto P não situado sobre qualquer das retas
suportes dos lados de ABC, o triângulo pedal de P em relação a
37. * São dados um triângulo ABC e cevianas AP, BQ e CR, com ABC é o triângulo que tem por vértices os pés das perpendiculares
P E BC, Q E AC e R E AB. Se BÂP = a, CÂP = a', baixadas de P às retas suportes dos lados de ABC.
CÊQ = (3, AÊQ = /3', AÔR = 'Y e BÔR = "/, AB = e, prove A proposição mencionada acima garante que o triângulo D E F é
que ,,.._ degenerado se, e só se, P pertence ao círculo circunscrito a ABC. Em
BP sena· senC todo caso, a proposição a seguir nos ensina a calcular os comprimentos
PC sena'· senÊ dos lados de DEF.
(valendo relações análogas para as razões em que Q divide AC
e R divide AB). A partir daí, deduza a seguinte versão trigano- . Proposição 7.32. São dados no plano um triângulo ABC e um ponto
métrica do teorema de Ceva: P, não situado sobre qualquer das retas suportes dos lados de ABC.
..........
Se DEF é o triângulo pedal de P em relação a ABC, com D E BC,
, __,._ sen a . sen f3 . sen "( = l. .......... ..........
AP, BQ e CR concorrem E E AC e F E AB, então
sen a' sen /3'
'<"",'
sen 1'

Por fim, use tal versão trigonométrica para dar uma prova alter- DE= PC· senê, EF = PA· sen e FD = PB · senÊ. (7.18)
nativa do teorema 4.27.
Prova. Há três casos essencialmente distintos a considerar: P está

-
38. Seja ABC um triângulo acutângulo de incentro J. Marque o
ponto A1 E AI tal que A 1 -=/=- A e o ponto médio M de AA1
no interior do triângulo ABC; P está na região angular LABC mas
é exterior ao triângulo; P está na região angular oposta pelo vértice
338 Tópicos de Matemâtica Elementar 2
Antonio Caminha M. Neto
339
em relação à região angular L.ABC. Analisemos o primeiro caso (cf.
figura 3.36), sendo a análise dos demais casos essencialmente a mesma. Teorema 7.33. Se ABCD é um quadrilátero convexo de diagonais
AC e BD, então

(7.19)
ocorrendo a igualdade se e só se ABCD for inscritível.

Prova. Sejam novamente X, Y e Z os pés das perpendiculares baixa-


das de D respectivamente às retas suportes dos segmentos BC, AC e
AB (cf. figura 7.25). Como na prova do teorema de Simson-Wallace,
podemos supor, sem perda de generalidade, que X e Y estão sobre
os segmentos BC e AC, respectivamente, mas que Z está sobre o
prolongamento do lado AB.

Figura 7.24: lados de triângulos pedais.

Basta mostrarmos que D E = PC · sen ê (as de_T-ais igua!._dades .


podem ser obtidas de maneira análoga). Como P~C = P_DC =. ·
90º 0 quadrilátero P EDC é inscritível e seu círculo circunscrito tem
diâ~etro PC. Portanto, aplicando a lei dos senos ao triângulo DEC,
obtemos
DE
--~-= PC.
senECD
Mas, como L.ECD = LACE = L.C, obtemos o resultado desejado.
•. ',
B X c
Figura 7.25: generalizando o teorema de Ptolomeu .
Com o auxílio da proposição acima e do teorema de Simson-Wallace .
(cf. proposição 3.41), podemos generalizar o teorema de.Ptolomeu 4.17 Segue da proposição 7.32 que
conforme descrito a seguir.
X~= CD;
senC
340 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 341

por outro lado, a lei dos senos aplicada ao triângulo ABC fornece

AB~ =2R,
senC
onde R é o raio do círculo circunscrito a ABC. Portanto, temos, a
partir das duas relações acima, que
Figura 7.26: Jakob Steiner, matemático suiço do
- - ~ CD·AB
XY = CD · sen C = século XIX. Steiner contribuiu em muito para o de-
2R
senvolvimento da geometria projetiva e inversiva,
Analogamente, obtemos tendo estudado, dentre outros problemas, aquele
que ficou conhecido como o das cadeias de Steiner.
AD-BC Um exemplo de cadeia de Steiner é o logotipo da
YZ=--2R--
Olimpíada Brasileira de Matemática, o qual pode ser
Por fim que, pelo teorema 3.41, temos visto em www.obm.org.br ou no clássico [6].

ABC D inscritível {::} X, Y e Z colineares


{::} XY + Y Z = X Z. Para o enunciado do resultado a seguir, recorde-se de que (cf. pro-
blema 6, página 185), se ABC é um triângulo cujos ângulos internos
Como, em qualquer caso, temos pela desigualdade triangular que XY + são todos menores que 120º, seu ponto de Fermat é o único ponto P
Y Z ~ X Z, segue das expressões acima obtidas para XY, X Z e Y Z no interior de ABC tal que
que
AB·CD AD-BC AC-Bl5 APB = APC = BPC = 120º.
2R + 2R ~ 2R '
com igualdade se, e só se, ABCD for inscritível. • Teorema 7.34 (Steiner). Se ABC é um triângulo cujos ângulos inter-
nos são todos menores que 120º, então o ponto de Fermat de ABC é
Dado no plano um triângulo ABC, o problema de Steiner4
para o único ponto do plano que resolve o problema de Steiner para ABC.
ABC pede encontrar o(s) ponto(s) P em seu interior tal(is) que a soma
Prova. Observemos, inicialmente, que a construção do problema 6,
página 185 (cf. figura 7.27), garante que, se P é o ponto de inter-
seção dos círculos circunscritos aos triângulos equiláteros ACE, BC D
seja a menor possível. No que segue, utilizamos a versão geral do e ABF, então
teorema de Ptolomeu para resolver tal problema para uma certa classe
de triângulos. (7.20)

4 Após Jakob Steiner, matemático suíço do século XIX.


342 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 343

Por fim, basta usar a desigualdade triangular e (7.20):

e o ponto solução do problema de Steiner existe e é o ponto de Fermat


F P do triângulo ABC. •

Problemas - Seção 7.4

1. (Vietnã.) Encontre o menor valor possível para a expressão

J(x + 1) 2 + (y - 1) 2 + J(x - 1)2 + (y + 1)2+

+J(x + 2) 2 + (y + 2)2,
D quando x e y variam no conjunto dos números reais.

Figura 7.27: o problema de Steiner.

Por outro lado, se Q -=/=- P for outro ponto interior a ABC, então
Q não pode estar sobre os três círculos mencionados acima (senão Q
coincidiria com P). Suponha, sem perda de generalidade, que Q não
está sobre o círcl).lo circunscrito a BC D. Então, a desigualdade de
Ptolomeu (7.19) aplicada ao quadrilátero QBDC (que não é inscrití-
vel) nos dá

Mas, como BC= BD= CD, segue que

BQ+ CQ> DQ.


344 Tópicos de Matemática Elementar 2 :,

CAPÍTULO 8

Vetores no Plano

Este capítulo final é dedicado ao estudo sistemático de vetores no


plano, bem como à apresentação de algumas aplicações dos mesmos à
geometria. Tentamos enfatizar o uso de vetores como sendo, ao mesmo
tempo, alternativo e complementar aos métodos sintético e Cartesiano
e, nesse sentido, o leitor verá que vários resultados difíceis, obtidos
anteriormente por um de tais métodos, serão reobtidos aqui, mais
facilmente, por meio do uso de vetores. Particularmente, chamamos
a atenção do leitor para a variedade de usos do conceito de produto
escalar de dois vetores, apresentado na seção 8.3.

8.1 Vetores geométricos


Um vetor geométrico, ou simplesmente um vetor, no plano é
um segmento orientado, i.e., um segmento tal que, dentre suas extre-
midades, uma é a inicial e a outra é a final (cf. figura 8.1). Dizemos,
346 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 347

ainda, que vetores são segmentos munidos de um sentido (de percurso). llvll = AB (cf. figura 8.2).
Para o que segue, é útil estender as definições acima e considerar
um ponto qualquer do plano também como um vetor, denominado o
vetor nulo e denotado O (veja que tal convenção equivale a conside-
rarmos um ponto como um segmento de comprimento zero). Assim,
IIOII = O. Um vetor não nulo é um vetor v tal que v =J O.
Dado um vetor não nulo v, definimos a direção de v como sendo
o conjunto das retas (paralelas) que contêm seus representantes. Em
particular, dois vetores v e w têm mesma direção (cf. figura 8.2)
-----+ -----+

y se, escolhidos representantes AB e CD respectivamente para v e w,


<------+ <------+
tivermos AB li CD.
Figura 8.1: Vetores no plano.

Representamos vetores em geral por letras latinas minúsculas em c~


negrito. Se um vetor v (cf. figura 8.1) tem extremidades inicial A e D
--- --->
final B escrevemos também v AB. Observe que os vetores AB e
= A
' --->
ii são distintos: apesar de terem as mesmas extremidades, BA tem
sentido contrário ao de AB. -- B
Em que pese sua definição, o conceito de igualdade para vetores é
mais frouxo que o conceito geral de igualdade de segmentos: dizemos Figura 8.2: Módulo e direção de vetores.
-----+ -----+
que dois vetores v = AB e w = CD são iguais se o quadrilátero
ACDB (com vértices percorridos nessa ordem)~ um R.?'ralelogramo
Uma das grandes vantagens de trabalharmos com vetores é a pos-
(cf. figura 8.1). Nesse caso, dizemos ainda que AB e CD ~o rep~-
sibilidade de realizar com eles operações semelhantes à adição e à sub-
sentantes do mesmo vetor e escrevemos v = w ou, ainda, AB = CD.
tração de números reais. Especificamente, dados vetores não nulos v
Um mesmo vetor tem uma infinidade de representantes: dado um ve- -----+ -----+
e w (cf. figura 8.3), escolha representantes v = AB e w = BC (i.e.,
tor v = AB e fixado um ponto arbitrário X, se Y é o ponto tal que
-----+ tais que a extremidade final de v coincida com a extremidade inicial
AXYB é um paralelogramo, então XY é outro representante de v. -----+
de w) e defina a soma deve w como o vetor v + w = AC. Defina
O módulo do vetor v denotado llvl I é o comprimento de um
' -----+ também v + O = v para todo vetor v (nulo ou não).
qualquer de seus representantes. Por exemplo, se v = AB, então Se os vetores v e w têm direções distintas (como é o caso na
348 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 349

D Marque sucessivamente os pontos D e E, tais que O AD B e O D EC

e
A
F
A
B w

Figura 8.3: Adição de vetores.

Figura 8.4: Associatividade da adição de vetores.


figura 8.3), também podemos calcular sua soma util~ndo a regra
----->
do paralelogramo: escolhemos um representante AD para w (de sejam paralelogramos. Então O D = a+ b e segue, daí, que
mesma extremidade inicial que v) e observamos que a soma v + w é -----> ------> ------>
----->
o vetor-diagonal AC do paralelogramo ABCD. (a+ b) + c = OD + OC = O E.
É imediato verificar (cf. problema 1) que a adição de vetores está
Marque, agora, o ponto F, tal que
___,
OBFC também seja um para-
bem definida, i.e., que a soma v + w dos vetores v e w independe dos
lelogramo. Então, por um lado, OF = b + c; por outro, segue do
representantes escolhidos para os vetores-parcela v e w. Ademais, a
fato de ODEC e OBFC serem paralelogramos que os segmentos BF
regra do paralelogramo deixa claro que a adição de vetores é comu-
e D E são ambos paralelos e iguais aos segmento OC. Portanto, o
tativa, i.e., que
quadrilátero DEF B também é um paralelogramo, uma vez que seus
v+w=w+v,
lados D E e B F são iguais e paralelos. Em particular, como vetores
para todos os vetores v e w. temos
Outra propriedade importante da adição de vetores é sua associa- FE= BD= OA,
tividade, estabelecida na proposição a seguir.
onde utilizamos, na última igualdade, o fato de O AD B também ser um
------> ------>
Proposição 8.1. Dados vetores a, b e c, temos paralelogramo. Assim, OA = FÉ, de maneira que OAEF também é
um paralelogramo. Mas isso nos dá
a+ (b+c) = (a+ b) +c.

Prova. Suponha, por conveniência, que já escolhemos representantes a+(b+c) = OA+ OF= OE.
---> -----> ------>
para a, b e c da forma a= OA, b = OE e c = OC (cf. figura 8.4).

350 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 351

Uma segunda operação útil com vetores é a multiplicação por (a) (k1k2)v = k1(k2v).
escalar (no contexto de operações com vetores, em geral nos referire-
(b) (k1 + k2)v = (k1v) + (k2v).
mos a um número real como um escalar). Assim, dados um vetor v
e um escalar k, definimos o produto de v pelo escalar k ou, simples- (c) k(v + w) = (kv1 ) + (kv2 ).
mente, o produto por escalar kv, da seguinte maneira: se k = O ou
De posse da operação de multiplicação de um vetor por um escalar,
v = O, então kv = O; se k =/:. O e v =/:. O, então kv (veja a figura 8.5
podemos definir a diferença v - w dos vetores v e w como a soma
para um exemplo) é o único vetor satisfazendo as seguintes condições:
de v com o oposto de w:
(i) kv tem a mesma direção de v.
V -W =V+ (-w). (8.1)
(ii) llkvll = lkl · llvll- Em particular, é imediato que v - v = O.
(iii) kv tem o mesmo sentido de v se k > O, e o sentido contrário se Uma vez que a diferença entre dois vetores é definida como um caso
k < o. particular da adição, não deve se constituir surpresa que possamos
obtê-la geometricamente com o auxílio da regra do paralelogramo (cf.
Dizemos também que kv é um múltiplo escalar de v. Quando k = ----> ---->
figura 8.6): se o paralelogramo ABCD é tal que AB = v e BC= w,
-1, o vetor -v é denominado o oposto do vetor v. ---->
então o vetor diagonal AC (com origem A) representa v + w, ao passo
---->
que o vetor-diagonal DB representa v - w.

c
A

B
Figura 8.5: Os vetores v e -!v.

A operação de multiplicação por escalar goza das propriedades Figura 8.6: Diferença entre dois vetores.
listadas na proposição a seguir, cuja demonstração deixamos a cargo
do leitor (cf. problema 3).

Proposição 8.2. Dados escalares k, k1 e k2 e vetores v, v 1 e v 2 , temos:


352 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 353

Problemas - Seção 8.1 8. (França.) Seja A1 A2 ... An um polígono regular de n lados.

1. * Dados vetores
------> ------>
não nulos v e w, escolha representantes AB
------>
- ' (a) Se n for par, mostre que, para todo ponto P do plano,
A' B' para v e AC, A' C' para w. Se D e D' são os pontos tais que
existe uma escolha de sinais + e - que torna verdadeira a
os quadriláteros ACD B e A' C' D' B' são paralelogramos, prove ,
--t ------> igualdade
que AD= A'D'.

2. * Prove que dois vetores não nulos e de mesma direção podem ± P A1 ± P A2 ± · · · ± P An = O.


ser vistos um como um múltiplo escalar do outro. Mais precisa-
mente, dados v, w =J. O vetores de mesma direção, prove que (b) Se n for ímpar, mostre que há somente um número finito

{
v = ii: i' w, se v e w têm mesmo sentido
1
1
de pontos P do plano para os quais a igualdade acima seja
verdadeira para alguma escolha de sinais + e - .
v = - ii: i' w, se v e w têm sentidos contrários
1
1

3. * Prove a proposição 8.2. 9. Seja A1 A 2 ... A 2n um polígono simples no plano (cf. discussão
que precede o problema 11, página 271) e, para 1 ~ i ~ 2n, seja
4. * São
--t
dados no plano pontos distintos O, A, B e C, tais que
--t Mi o ponto médio do lado AiAi+l (com A 2n+I = A 1 ). Fixado um
AC = k · AB, para um certo k E IR. Prove que ponto B 1 do plano, para 2 ~ i ~ 2n + 1 defina o ponto Bi como
------> --t ------> o simétrico de Bi-I em relação a Mi-l· Prove que B 2n+l = B 1 .
OC = (1 - k) OA + k OB.

5. Dado um quadrilátero ABCD, sejam M, N, P e Q os pontos · 10. (União Soviética.) Quando cada lado de um quadrilátero con-
médios dos lados AB, BC, CD e AD, respectivamente. vexo ABC D é prolongado de seu próprio comprimento, obtemos
que o quadrilátero M N PQ é um paralelogramo. um novo quadrilátero A' B' C' D', tal que B é o ponto médio de
AA', C é o ponto médio de BB', D é o ponto médio de CC' e A
6. * Seja ABC um triângulo de circuncentro O e ortocentro H. o de DD'. Mostre como reobter o quadrilátero ABCD a partir
Prove que do quadrilátero A' B' C' D'.
OH= OA+ OB+ OC.

7. * Seja ABC um triângulo de circuncentro O e incentro J. 11. Seja PiP2 P3 P4 P5 um pentágono convexo no plano e, para 1 ~
AB = e, AC = b e BC = a, prove que i ~ 5, seja Qi o ponto de interseção dos segmentos que unem
os pontos médios dos lados opostos de Pi+IPi+ 2 Pi+ 3 Pi+4 (com
OI= aOA+bOB +coe_ ~+5 = Pi para 1 ~ i ~ 5). Prove que existe um ponto O no
a+b+c plano tal que O E PiQi e O Pi = 4 OQi, para 1 ~ i ~ 5.
354 Tópicos de Matemática Elementar z; Antonio Caminha M. Neto 355

8.2 Vetores no plano Cartesiano O lema acima assegura em particular que, fixado um sistema Carte-
siano xOy no plano, todo vetor v do rnesrno admite um único repre-
Se rnunirrnos o plano de urn sistema Cartesiano, é útil entender a ---+ ---+
sentante da forma OV (cf. figura 8.8). De fato, se v = AB, com
relação entre o mesmo e as operações acima definidas para vetores. A ---+ -

chave para tal entendimento é o resultado auxiliar a seguir. A(xA, YA) e B(xB, YB), então o lerna garante que AB = OV, com
---+
V(xB - XA, YB - YA); de outro rnodo, v = OV. Por outro lado, se
- ---+
Lema 8.3. Se A(xA, YA), B(xB, YB), C(xc, Yc) e D(xn, Yn) em um OVi. = 0"'2, para certos Vi(x1, Y1) e "'2(x2, Y2), então novamente o
dado sistema Cartesiano, então lema garante que

XB - XA = XD - Xc (x1 - O, Y1 - O)= (x2 - O, Y2 - O),


AB
---+
=CD{::}
- {
(8.2)
YB - YA = Yn - Yc i.e., Vi = "'2. Portanto, ao utilizarmos vetores há uma enorme van-
- ---+
Prova. Sabemos que AB = CD se, e só se, o quadrilátero ABDC,
y
com os vértices percorridos nessa ordem, for urn paralelogramo: Mas
sabemos que tal ocorre se, e só se, as diagonais ÁD e BC têm um
rnesrno ponto médio M (cf. figura 8.7). Por outro lado, segue do

Figura 8.8: Representando vetores em planos Cartesianos.


B

Figura 8.7: Igualdade de vetores em coordenadas. tagem na escolha de urn sistema Cartesiano no plano: urna vez fixado
um tal sistema, todo vetor passa a admitir urn representante canônico,
, ' 6 .2 que t al ocorre se, e so, se, -A+D cuja extremidade inicial coincide corn a origem do sistema Cartesiano
coro1ano 2- -_ -B+C ·
2 - , 1.e., se, e so, se, ---+
em questão. Nesse sentido, se v = OV, com V(x, y), convencionamos
denotar
XA + xv = XB + xc e YA + Yn = YB + Yc·
V= (x,y).

• As vantagens de tal notação se tornarão claras no que segue .


356 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 357

Proposição 8.4. Se, em um certo sistema Cartesiano, temos v


(x 1, Y1) e w = (x2, y2), então
=== ·

A proposição acima tem uma consequência interessante e útil, que
(a) v+w=(x1+x2,Y1+Y2)· exploramos no que segue. Fixado no plano um sistema Cartesiano,
denotamos
(b) v - w = (x1 - x2, Y1 - Y2). i = (1, O) e j = (O, 1), (8.3)
(c) kv = (kx1, ky1). e dizemos que os vetores i e j formam (nessa ordem) a base canônica
Prova. do sistema Cartesiano em questão. Fixado então um vetor v = (x, y),
(a) Denote por O a origem do sistema Cartesiano em questão e sejam segue da proposição acima que
------>
V(x 1, y1), W(x 2, y2). Sendo v + w = OA, com A(a, b), temos v = (x, O)+ (O, y) = x(l, O)+ y(O, 1) =xi+ yj.
----t ----t ----t ---t

VA = OA ~ OV = (v + w) -v = w = OW Em resumo, todo vetor pode ser escrito como uma soma de múltiplos
e, daí, o lema 8.3 garante que a - X1 = X2 - O e b - Y1 = Y2 - O, Por- dos vetores da base canônica, sendo os coeficientes as coordenadas da
----+

tanto, temos A(x 1+x2, y1+Y2), logo v+w = OA · (x1 +x2, Y1 +Y2). extremidade do representante canônico do vetor. Sendo v = (x, y), a
fórmula
(b) A prova deste item é análoga à do item (a) e será deixada como V= xi+ yj (8.4)
exercício para o leitor. é denominada a fórmula de expansão ortonormal de v na base
canônica.
(c) Analisemos o caso k > O (o caso k :S O é análogo). Suponha, Do ponto de vista de vetores, há duas maneiras básicas de repre-
ainda, que x 1, y1 -=j=. O (os casos x 1 = O ou Y1 = O também podem ser sentarmos retas, a primeira delas explorada no exemplo a seguir (para
------> ------>
tratados de modo análogo a esse), e sejam v = OV e kv = OA, com a segunda, veja o exemplo 8.10).
A(a, b). Como k > O, é claro que a e x 1 (e, do mesmo modo, b e Y1)
Exemplo 8.5. A proposição anterior nos permite descrever uma reta
têm um mesmo sinal. Sendo Vx(x1, O), Vy(O, Y1), Ax(a, O) e Ay(O, b),
parametricamente, i.e., como a trajetória de uma partícula em
temos imediatamente as semelhanças de triângulo AAxO rv VVxO e
movimento sobre a mesma. Para tanto, fixe um sistema Cartesiano
AAyO rv VVyO; da primeira dessas semelhanças, obtemos
de origem O, um ponto P(x 0 , y0 ) sobre a retare um vetor v = (a, b)
lal _ OAx _ OA _ k paralelo à mesma. À medida em que o parâmetro t varia no conjunto
lx11 - OVx - OV - dos reais, o axioma 1.8 do volume 1 garante que a extremidade do
------>

e, daí, lal = klx 11. Mas, como a e x 1 têm um mesmo sinal, segue que representante canônico do vetor p + tv, onde p = O P, percorre todos
a = kx 1. Analogamente, b = ky1 e, assim, · os pontos der. Portanto, os pontos der são os pontos (x, y) da forma
------>
kv = OA = (a, b) = (kx1, ky1). x = xo + ta e y = Yo + tb,
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 359
358

Por fim, o que falta segue imediatamente do problema 14, página 319 .
y

Problemas - Seção 8.2


X

l. * Em um sistema Cartesiano de origem O, sejam A e B pontos


r
tais que O A = O B e o menor ângulo trigonométrico pelo qual
------> ------>
devemos girar o vetor O A para fazê-lo coincidir com o vetor O B
------> ------>

Figura 8.9: representação paramétrica de uma reta. é igual a +90º. Se OA =ai+ bj, mostre que OB = -bi + aj.

2. Seja ADE um triângulo retângulo em D, tal que AE = 2AD.


Construa, exteriormente a tal triângulo, os quadrados ABCD,
para algum t E R, e as igualdades acima são denominadas as equaçõe~i
DEFG e AEIJ. Em seguida, construa o quadrado BJKL sem
paramétricas.
pontos interiores em comum com os demais quadrados já cons-
Terminemos esta seção calculando uma soma de vetores que nos truídos. Prove que os pontos C, G e L são colineares e calcule a
será útil várias vezes no que segue. razão entre os comprimentos dos segmentos CG e GL.

Proposição 8.6. Se A 1A 2 ••. An é um polígono regular de centro 0 1


------> Para o que segue precisamos da seguinte notação: para () E R,
então I:~=l OAi = O. denotamos por
eo = (cos())i + (sen())j
Prova. Suponha, sem perda de generalidade, que o raio do círculo
circunscrito ao polígono é igual a 1, e escolha um sistema Cartesian~ o vetor unitário que parte da origem de um sistema Cartesiano
de coordenadas tal que A1 (1,0). Uma vez que A1ÔAk = 2:(k-l), e forma um ângulo trigonométrico de () radianos com o semieixo
temos positivo das abscissas (cf. figura 8.10).
____, ( 2(k - l)1r 2(k - l)1r)
O Ak = cos , sen ,
· n n 3. * Generalize o problema 1, fazendo os dois itens a seguir:
e basta mostrarmos que
(a) Seu = ai+ bj, com a,b E R, e a E [0,21r) é tal que
~ 2(k - l)1r ~ 2(k - l)1r _ O cosa= ,./a~+b2 e sena= v'a~+b2 , prove que a é o único real
~cos = ~cos - . no intervalo [O, 21r) tal que u = llullea.
k=l n k=I n
Tópicos de Matemática Elementar i A,ntonio Caminha M. Neto 361
360

no plano Cartesiano, onde a, b, e, d, e e f são constantes reais


y dadas, com ao menos uma dentre a, b e e diferente de zero. Para
tanto, faça os seguintes itens:

(a) Seja x'O'y' o sistema Cartesiano obtido a partir de xOy


por translação de eixos, tal que a nova origem O' tem co-
ordenadas (x 0 , y0 ) no sistema xOy. Se ac - b2 # O, use o
o X
problema 2 para mostrar que existem únicos tais x 0 e y0
para os quais a equação de C no sistema x' Oy' tem a forma

a'(x')2 + 2b'x'y' + c'(y') 2 + f' = O.

Figura 8.10: o vetor unitário e9. (b) Suponha, doravante, que C seja a curva-solução de uma
equação geral do segundo grau da forma

(b) Se v = ci + dj é o vetor obtido de u pela rotação trig · ax 2 + 2bxy + cy 2 + f = O.


nométrica de ângulo O, então llul 1= llvll e v = llvllea+e·
Conclua, a partir daí, que Mostre que C é simétrica em relação a O, razão pela qual
dizemos que se trata de uma curva central.
e = a cos (} - b sen (} e d = a sen (} + b cos (}.
(c) Seja, agora, x'Oy' o sistema Cartesiano obtido a partir de
4. * Sejam xOy e x' Oy' sistemas Cartesianos de coordenadas coni xOy pela rotação do semieixo positivo das abscissas do sis-
mesma origem O, tais que o semieixo positivo das abscissas do tema xOy do ângulo trigonométrico (}. Se a # e, use o
sistema x' Oy' faz um ângulo trigonométrico de (} radianos com, problema anterior para mostrar que (} pode ser escolhido
o semieixo positivo das abscissas do sistema xOy. Se um ponf: de tal forma que, no sistema x' Oy', a equação que define a
P do plano tem coordenadas (x 0 , Yo) no sistema xOy e (x~, y~) curva C tenha a forma
no sistema x' Oy', prove que
a'(x') 2 + c'(y') 2 + f' = O.
x~ = x 0 cos (} + y0 sen (} e y~ = -xo sen (} + Yo cos O.
(d) Use o resultado dos itens anteriores para mostrar que, se
5. O propósito desse problema é obter uma classificação parcial das, a curva-solução de (8.5) for central, então ela é o conjunto
curvas-solução C da equação geral de segundo grau vazio, a união de duas retas distintas, uma única reta, uma
elipse ou uma hipérbole.
ax 2 + 2bxy + cy 2 + dx + ey + f = O
362 Tópicos de Matemática Elementar ·}\ntonio Caminha M. Neto 363

6. (Romênia.) Particionamos o plano em hexágonos regulares


interiores disjuntos e lados iguais a 1. Prove que não exis y
um quadrado cujos vértices sejam também vértices desses hex V
gonos.

7. Neste problema, apresentamos uma prova alternativa para o pr


blema 6, página 185, desta feita utilizando vetores. Para tanto
X
nas notações do referido problema, faça os seguintes itens:

(a) Seja P o ponto de Fermat do triangulo ABC, fixe um si w


---t --+
tema Cartesiano de origem P e sejam PA = xea, PB
-----+

ye 13 e PC = ze-y, com a, /3, "f E [O, 27r). Use o problema Figura 8.11: ângulo entre dois vetores.
para obter
---t

P D = ze'Y + yef3+f - ze-y+fi, De posse da definição de ângulo entre vetores não nulos, estamos
em condições de estudar a mais importante dentre as operações com
-----+ ---->.
bem como para obter expressões análogas para P E e P F vetores, o produto escalar de dois vetores.
(b) Use o fato de la - /31 = 1/3 - 11 = 2; e la - 'YI = 4; par. . Definição 8.7. O produto escalar dos vetores não nulos v e w é o
concluir que os pontos A, P e D são colineares e AD : , escalar (v, w) dado por
x+y+z.
(v, w) = llvll · llwll cosO(v, w). (8.6)

8.3 O produto escalar de dois vetores Estendemos a definição acima a vetores nulos pondo (v, w) = O
caso v = O ou w = O.
Dados vetores não nulos v e w no plano, com representantes canôn'
-----> ----->
cos v = OV e w = OW, definimos o ângulo entre v e w como d • Observações 8.8.
ângulo Oº ~ () ~ 180º tal que()= VÔW (cf. figura 8.11). Um poucq
i) Em Física, é mais comum denotar por v · w o produto escalar
de geometria Euclidiana permite verificar prontamente que o ângulo"
dos vetores v e w. No entanto, nestas notas daremos preferência
entre os vetores v e w não depende do sistema Cartesiano escolhidoe{
à notação (v, w), mais comum em Matemática.
(veja o problema 1). ,,
Por fim, dizemos que dois vetores não nulos v e w são ortogonais ii) Chamamos a atenção do leitor para não confundir produto por
se O(v, w) = 90º. Nesse caso, denotamos vj_w, escalar com produto escalar. Em que pese a semelhança entre
364 Tópicos de Matemática Elementar Antonio Caminha M. Neto 365

os nomes, no primeiro caso operamos um escalar com um vetor, • Se k < O, então kv tem mesma direção mas sentido contrário ao
obtendo outro vetor por resultado, ao passo que, no segundo de v, de maneira que O(kv, w) = 1r - O(v, w) (cf. problema 2).
caso, operamos dois vetores, obtendo um escalar por resultado. Portanto, cosO(kv, w) = -cosO(v, w) e segue da definição de
produto escalar que
A proposição a seguir reúne algumas consequências imediatas da . .
definição de produto escalar. . (kv, w) llkvll · llwll cos(kv, w)
lkl · llvll · llwll(-cos(v,w))
Proposição 8.9. Para todos os vetores v, w e todo escalar k, temos:
k(v, w).
(a) (v, v) = llvll2.
(d) Como v, w =/= O, temos (v, w) = O se, e só se, cosO(v, w) = O.
(b) (v, w) = (w, v). Mas, como Oº~ O(v, w) ~ 180º, segue que cosO(v, w) = O se, e só se,
(c) (kv, w) = k(v, w). B(v, w) = 90º, ou, o que é o mesmo, v_lw. •

(d) Se v e w são não nulos, então v_lw-{::} (v, w) = O. O exemplo a seguir já evidencia a força da noção de produto escalar
de dois vetores.
Prova. Note, inicialmente, que (a), (b) e (c) são imediatos caso v = o,•
w = O ou k = O. Suponha, pois, que v, w =/= O e k = O. Exemplo 8.10. A operação de produto escalar trivializa a obtenção
da equação de uma reta, conquanto conheçamos um de seus pontos
(a) Faça w = v na definição de produto escalar, e um vetor perpendicular à mesma. Para entender porque, suponha
O(v, w) = O. que v = (a, b) é perpendicular à retare que P(x 0 , y0 ) é um ponto de
r (cf. figura 8.12). Sendo Q(x, y) um ponto qualquer do plano, temos
(b) Basta notar que O(v, w) = O(w, v) e usar novamente a definição.
Q E r -{::} v_l PQ-{::} (a, b)l_(x - xo, y - Yo)
(c) Analisemos separadamente os casos k > O e k < O: -{::} a(x - xo) + b(y - Yo) = O

• Se k > O, então kv tem mesma direção e sentido que v, de:;


-{::} ax + by - (ax 0 + byo) = O.
maneira que O(kv, w) = O(v, w). Portanto, pela definição de.
. Por fim, frisamos que também é possível reobter os demais resultados
produto escalar, temos
: da seção 6.2 com o auxílio de vetores (veja o problema 3).
(kv, w) - llkvll · llwll cos(kv, w)
Outro corolário imediato da definição de produto escalar é a de-
lkl · llvll · llwll cos(v, w) •. sigualdade a seguir, também conhecida como a desigualdade de
k(v, w). Cauchy.
366 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 367

7.14 do volume 1), assim como para outros propósitos, precisamos da


proposição a seguir, a qual estabelece a expressão do produto escalar
em coordenadas.
Proposição 8.12. Se os vetores v e w têm representantes canônicos
v = (xi, Y1) e w = (x 2, y 2) num certo sistema Cartesiano, então

X (8.8)

Prova. Sendo O a origem do sistema Cartesiano e v = OV,


w = OW
r (cf. figura 8.13), a lei dos cossenos (7.12) aplicada ao triângulo OVW
nos dá
Figura 8.12: equação da reta via produto escalar.
!'
y
V
Proposição 8.11. Para todos os vetores não nulos' v e w, temos

l(v, w)I ~ llvll · lwll, (8.7)

ocorrendo a igualdade se, e só se, v = kw para algum escalar k > O.


X

Prova. Como I cosO(v, w)I ~ 1, com igualdade se, e só se, O(v, w) =


O, temos w
l(v, w)I llvll · llwll · IcosO(v, w)I
< llvll · llwll, Figura 8.13: O produto escalar em coordenadas.

com igualdade se, e só se, O(v, w) = O. Resta então mostrar que --2 - 2 --2 ---
O(v, w) = O se, e só se, a condição dada no enunciado para a igualdade VW = OV + OW -20VOWcosO
for satisfeita. e, daí,
Se existe um escalar k > O tal que v = kw, então é imediato
que O(v, w) = O. Reciprocamente, se O(v, w) = O, então segue do 2(v, w) 2llvll · llwll cosO = 20V OW cosO
problema 2 que v = 1111:1111w, e basta tomar k = 1111: 1111 > O. • ov2 + ow2 - vw 2
A fim de compreendermos a relação entre a versão acima da de- (x~ + yf) + (x~ + y~) - [(x1 - x2) 2 + (Y1 - Y2)2]
sigualdade de Cauchy e a versão já conhecida da mesma (cf. teorema 2(x1x2 + Y1Y2).
368 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 369

Prova. Se a, b e e denotam os vetores em questão, então a condição


do enunciado garante que
Corolário 8.13. Para todos os vetores vi, v 2 , w, temos:
a+ b+c = O. (8.10)

Seja k > Oo módulo comum dos vetores, e a, f3 e"( respectivamente


Prova. Escolha um sistema Cartesiano xOy no plano e suponha que, os ângulos entre a e b, b e e e e e a, como na figura 8.14. Fazendo
nesse sistema, os representantes canônicos de vi, v 2 e w são Vi ::::::
(xi, Yi), v 2 = (x 2, y 2) e w = (a, b). Pelas proposições 8.4 e 8.12, temos

((xi+ X2, Yi + Y2), (a, b))


a
(xi+ x2)a + (Yi + Y2)b
(xia + Yib) + (x2a + Y2b)
(vi, w) + (v2, w).
Figura 8.14: vetores de mesmo módulo e com soma nula.

Podemos dar, agora, a interpretação geométrica prometida da de- o produto escalar de a com ambos os membros de (8.10), obtemos
sigualdade de Cauchy ordinária: sendo v = (xi, Yi) e w = (x2, Y2) sucessivamente
os representantes canônicos de v e w num sistema Cartesiano fixado, ,
então a proposição 8.12 garante que a desigualdade de Cauchy (8.7) é O a·(a+b+c)
precisamente llall2 +a· b +a· e
k2 + llall · llbll cos/3 + llall · llcll cos,y
k2 + k2 cos a + k2 cos "(
Mas isso é exatàmente o que diz o teorema 7.14 do volume 1 no caso.· e, daí, cos a+cos 'Y = -1. Analogamente, fazendo o produto escalar de
n=2. b com ambos os membros de (8.10), obtemos k2 cos a+k 2+k2 cos f3 = O
Terminamos esta seção exibindo uma aplicação interessante da fór- e, daí, a cosa + cos f3 = -1. Também analogamente, concluímos que
mula (8.8), a qual estabelece uma recíproca parcial da proposição 8.6. cos f3 + cos "( = -1 e temos, então, o sistema de equações
Exemplo 8.14. Se a soma de três vetores, todos de mesmo módulo, cosa+ cos,y = -1
é igual a zero, prove que os ângulos entre os mesmos são todos iguais { cos a + cos f3 = -1
a 120º. cos f3 + cos 'Y = -1
370 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 371

Mas tal sistema é linear nas variáveis cos a, cos /3, cos "(, e um cálculo 7. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC= b e BC= a.
imediato permite concluir que sua única solução é cosa = cos /3 == Sejam, ainda, H o ortocentro, O o circuncentro e R o raio do
cOS"( = -t Portanto, pelo problema 7, página 318, cada um dentre círculo circunscrito a ABC. Use o resultado do problema 6,
a, /3 e"! é igual a 120º ou 240º; mas, como a+ /3 + "( = 360º, a única página 352, juntamente com a definição de produto escalar de
possibilidade é ser a = /3 = "( = 120º. • vetores, para mostrar que

8. Seja ABC um triângulo de lados AB = e, AC = b e BC = a.


Problemas - Seção 8.3 Sejam, ainda, I o incentro, O o circuncentro e r e R respec-
tivamente os raios dos círculos inscrito e circunscrito a ABC.
1. * Prove que a definição do ângulo entre dois vetores independe Use o resultado do problema 7, página 352, juntamente com a
do sistema Cartesiano escolhido. definição de produto escalar de vetores, para mostrar que

~I 2. * Dados vetores não nulos v e w, relacione os ângulos O(v, w) e -2


OI =
2
R -2Rr.
~·> 0(-v, w).
9. (BMO.) Em um triângulo ABC, O é o circuncentro, D é o ponto
3. Prove, utilizando vetores, o corolário 6.11 e as proposições 6.13
médio de AB e E é o baricentro de ACD. Prove que as retas
e 6.14. <---> <---> - -
OE e CD são perpendiculares se, e só se, AB = AC.
4. Dada uma reta r : {ax + by + e = O} e um ponto P(xo, y0 )
não pertencente a r, prove que a distância de P a r pode ser
10. * O propósito deste problema é provar o seguinte teorema de H.
Minkowski: para 2 < n =f=. 4, não existe, no plano Cartesiano,
calculada pela seguinte fórmula:
um polígono regular de n lados e tendo vértices de coordenadas
. ) _ laxo + byo + cl inteiras. Para tanto, faça os seguintes itens:
d (P,r - Va2 +b2 .
(a) Conclua, a partir do exemplo 6.7, que, no plano Cartesiano,
5. Considere no plano um polígono regular A 1 A 2 ... An de centro não existe um hexágono regular com vértices de coorde-
O e um círculo· r, também de centro O. Para P E r, mostre que nadas inteiras.
L~=l P Ai 2 independe da posição de P. (b) Adapte o argumento da solução do exemplo 6.7, em con-
junção com o resultado do problema 8, página 331, para
6. Use vetores para dar uma outra demonstração para o problema. mostrar que, no plano Cartesiano, não existe um pentá-
22, página 333. gono regular com vértices de coordenadas inteiras.
372
Tópicos de Matemática Elementar ;

(c) Sejam n > 6 inteiro e Po = A1A2 ... An um polígono regular


com vértices de coordenadas inteiras e lado l. Sejam O a;
-
origem do sistema Cartesiano e~= AiAi+1 para 1 Si::; n,
-
(com An+I = A 1 ). Se A~ for tal que OA~ =~'mostre que·,
P 1 = A~ A; ... A~ também é um polígono regular de n lados,
com vértices de coordenadas inteiras e lado l' = 2l sen ~.
CAPÍTULO 9
(d) Itere a construção do item anterior, obtendo uma sequência
(Pkh?.o de polígonos regulares no plano Cartesiano, todos ·
com vértices de coordenadas inteiras e tal que, sendo lk O
lado de Pk, tenhamos lk = (2 sen ~)kl0 , para todo k 2: O.
(e) Obtenha, a partir do item anterior, uma contradição. Sugestões e Soluções

Seção 1.2
11. s~ a, (3 e 'Y são as medidas dos ângulos em questão, então a+f3+'Y =
360º. Supondo a :S (3 :S 'Y, conclua que a :S 120º :S 'Y ·

Seção 1.3
1. Para O passo de indução, considere um polígono A1A2 · · · AkAk+I,
de k + 1 lados. A diagonal A 1Ak o divide em dois polígonos: o
triângulo AiAkAk+l e o polígono de k lados A1A2 ... Ak· Observe,
·
agora, que as diagonais · d e A 1 A 2 · · · A k A k+I são de. um dentre
. três
tipos: (a) AiAk; (b) diagonais de A 1A2 ... Ak; (c) diagonais AiA~+I,
para 2 <_ i·_
< k - 1. Some os totais de diagonais de cada . um dos tipos
(a), (b) e (c), utilizando a hipótese de indução para o tipo (b).
374 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 375

3. Algebrize o problema, i.e., denote por n, n + 1 e n + 2 os números de 8. Se M é o ponto médio do lado BC, mostramos na proposição 2.13
lados dos polígonos e, em seguida, utilize o re~ultado da proposição que os triângulos ABM e ACM são congruentes por LLL. Conclua,
1.12 para montar uma equação de segundo grau na incógnita n. daí, que AM é bissetriz de LBAC e que BMA = CMA. Por fim,
use o fato de BMA + CMA = 180° para concluir que AM é altura.

9. Se P e H coincidirem, mostre que ABP = ACP por ALA; se Me


Seção 2.1 H coincidirem, use LAL em vez de ALA.
l. Para o item (a), considere triângulos escalenos ABC e A' BC no plano,
10. Uma vez que OA = OB, é suficiente combinar os resultados dos dois
tais que AB = A' B e AC = A'C. A razão da impossibilidade de problemas anteriores.
mover (no plano) um deles até fazê-lo coincidir com o outro é o fato
de que eles têm orientações distintas.

Seção 2.3
Seção 2.2 l. Comece analisando o triângulo isósceles construído justapondo os
l. Siga os passos da construção descrita no exemplo 2.9. catetos iguais dos dois triângulos retângulos sob consideração; em
seguida, aplique o resultado do problema 8, página 45.
2. Siga os passos da construção descrita no exemplo 2.10.
2. Comece mostrando que ADE isósceles de base DE e, daí, que BD=
3. Siga os passos da construção descrita no exemplo 2.11.
CE. Conclua que os triângulos DBC e ECB são congruentes por
4. Comece construindo a reta perpendicular a r e passando por A. LAL e, daí, que DÔB = EÊC.
1
:1
'
5. Comece construindo o triângulo ABM, onde M é o ponto médio do 3. Consideremos o caso das medianas relativas aos lados AB e AC (a
lado BC. análise dos outros dois casos é totalmente análoga). Sendo Mb e Me
---> os pontos médios dos lados AC e AB, respectivamente, mostre que
6. No triângulo ABC, sejam Mo ponto médio do lado BC e A' E AM
os triângulos BCMb e CBMc são congruentes por LAL.
tal que A' M = AM. Mostre que A' MC = AM B e, em seguida, use
esta conclusão para construir o triângulo AA'C. Construa, agora, o 4. Sendo E o pé da perpendicular baixada de P ao lado BC, mostre que

-
ponto médio M de AA' e obtenha o vértice B como o ponto sobre
C M tal que BM = CM.
os triângulos BAP e BEP são congruentes por LAAo.

6. Trace, pelo vértice do ângulo de medida 'Y, a paralela às retas r e s.


7. Divida o ângulo a em duas partes iguais (com o auxílio da construção Em seguida, aplique o corolário 2.18.
da bissetriz) e, em seguida, construa o triângulo AB P, onde P é o
7. Adapte a sugestão do problema anterior ao presente caso.
- -
pé da bissetriz interna de ABC relativa ao lado BC. Em seguida,
~
obtenha o vértice C como a interseção de BP com AX, onde BAX = -
8. Trace BD e aplique o teorema do ângulo externo aos triângulos ABD
a. eACD.
376 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 377

9. Sejam X o ponto de interseção de AB e CD e Y o ponto de interseção 19. Para o item (a), trace por B a reta r paralela a AC. Sendo Q e R,
de AE e CD. Aplique o teorema do ângulo externo aos triângulos respectivamente, os pés das perpendiculares baixadas de P às retas r
<----->
BCXeDEY. e AC, mostre primeiro que a soma pedida é igual a QR.

10. Use (a) e a proposição 2.19 para provar (b) e, em seguida, (b) para 20. Faça BÂD = CÂD = a. Em seguida, use o teorema do ângulo
provar (c). externo para calcular ADC e ADB em termos de a, Ê e ê.

11. Use o fato de que os triângulos ABM e ACM são ambos isósceles 21. Trace DG li BC, com G E AB, e marque, em seguida, o ponto F de
para concluir que AÊM = BÂM = a e AÔM = CÂM = /3. Em interseção de CG com BD. Calcule BÊC e conclua, com o auxílio
seguida, some os ângulos de ABC. do problema 2 desta seção, que BE = BC= BF. Conclua, daí,
que EFG = 40º = EêF. Por fim, use tais fatos para mostrar que os
12. Faça Ê = 2/3, ê = 2')'. Em seguida, use a propos1çao 2.19 para ·
triângulos EGD e EF D são congruentes.
calcular BIC e BÂC em termos de /3 e '"Y·

13. Use o resultado do problema anterior.

14. Adapte a sugestão do penúltimo problema ao caso em questão. Seção 2.4


15. Faça Ê = ê = a e CDE = O. Em seguida, use o teorema do ângulo 1. Use a desigualdade triangular para mostrar que o terceiro lado não
externo para calcular AD E e AÊ D em termos de a e (). Por fim, use pode medir 14cm.
o fato de ADE= AÊD.
2. Adapte a sugestão dada ao problema anterior.
16. Denote  = a. Em seguida, use a proposição 2.13 e o teorema do
ângulo externo várias vezes para calcular os ângulos dos triângulos 3. Use a desigualdade triangular, em conjunção com o resultado da
AEF, DEF, CDE e BCD em termos de a. Por fim, aplique a proposição 2.23.
proposição 2.19 ao triângulo ABC.
4. Aplique a desigualdade triangular aos triângulos AQR, BPR e CPQ.
17. Mostre que os pares de triângulos AM B e D ME, AMF e D M C, Em seguida, some ordenadamente as desigualdades assim obtidas.
BCM e EMF são congruentes. Em seguida, use tais congruências
para mostrar que  = D, Ê = Ê e ê = F. Por fim, aplique o 6. Fatore a 3 + b3 e use que a + b > e duas vezes.
resultado do problema 11 desta seção.
7. Aplique a desigualdade triangular aos triângulos PAC e PBD.
18. Considere separadamente os casos A(/:. r e A E r. Para o caso A(/:. r,
suponha que haja duas retas distintas s e t, ambas perpendiculares 8. Argumente por indução sobre n 2'.: 3. O caso inicial é fornecido pela
a r e passando por A. Sendo B e C, respectivamente, os pontos desigualdade triangular. Para o passo de indução, seja dado um polí-
de interseção das retas s e t com r, calcule a soma dos ângulos do gono convexo A1A2 ... AkAk+l, com k 2'.: 3; aplique a hipótese de
triângulo ABC para chegar a uma contradição. indução a A1A2 ... Ak e a desigualdade triangular a A1AkAk+l·
r
1

1
378 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 379

9. Se A' e D' denotam, respectivamente, os simétricos dos pontos A e D é suficiente mostrarmos que AP = 2 MQ. Para tanto, marque os
com respeito às retas r e s, sejam B e C as interseções de A' D' com r pontos R e S, tais que Ré o ponto médio de AC e Sopé da per-
e s, também respectivamente. Se B' E r e C' E s são tais que B' f= B pendicular baixada de R à reta r; em seguida, use a proposição 2.38
ou C' =/= C, argumente de maneira análoga à solução do exemplo 2.28 para mostrar que os triângulos RSC e MQC são congruentes.
para concluir que AB + BC+ CD < AB' + B'C' + C'D. Para
tanto, utilize o resultado do problema anterior. 4. Sejam Mo ponto médio do lado BC e G o baricentro de ABC. A
proposição 2.38 e o exemplo 2.6 garantem que podemos construir o
10. Trace, por P, o segmento QR paralelo a BC, com Q E AB e R E AC.
triângulo BCM. A partir daí, é imediato obtermos o vértice C. Por
Em seguida, use a proposição 2.23 e a desigualdade triangular para ------>
fim, marque sobre MC o ponto A, tal que CE AM e AC= 2CM.
provar que AP < AR e BP+ PC< BQ + QR+ CR.

11. Sejam B' o simétrico de B em relação a AC e C' o simétrico de C 5. Sejam C o baricentro e Ma e Mb os pontos médios dos lados BC e
em relação a AB'. Se P' é o simétrico de P em relação a AC, temos AC, respectivamente. Sejam, ainda, AB = e, AC= b e BC= a.
PQ = P'Q e CP= CP'= C'P', de sorte que Para a primeira parte, aplique item (b) do exemplo 2.27, juntamente
com a proposição 2.38. Para a segunda, comece aplicando a desigual-
dade triangular ao triângulo MaCMb, juntamente com a proposição
2.38, pra concluir que j(ma + mb) > ~; em seguida, argumente de
12. Se, na cidade A, aterrissaram aviões provenientes das cidades B e C,
modo análogo para concluir que j (mb + me) > ~ e j (ma + me) > ~.
use a proposição 2.23 para concluir que BÂC > 60°. Em seguida,
Somando membro a membro essas três desigualdades, obtemos a de-
use este fato para mostrar, por contradição, que não podemos ter seis
sigualdade desejada.
aviões aterrissando em uma mesma cidade.
6. Observe que Ré o baricentro do triângulo AQB e aplique a proposição
2.38.
Seção 2.5
7. Sejam Me Nos pontos médios de CD e AB, respectivamente. Trace
1. Sejam AB e CD os segmentos, nomeados de tal forma que o qua- por M as paralelas aos lados não paralelos e marque os pontos P
drilátero em questão seja ABCD. Se AC n BD= {M}, mostre que e Q, de interseção de tais retas com AB. Supondo, sem perda de
<----> <---->
os triângulos ABM e CDM são congruentes. Em seguida, aplique a generalidade, que MP li AD, conclua que APMD e BCM.9_ são
proposição 2.35. paralelogramos. Em seguida, use esse fato para mostrar que MMQ =
90°, calcular PQ e mostrar que M N é a mediana relativa à hipotenusa
2. Use o teorema da base média quatro vezes, para concluir que o qua-
do triângulo P M Q. Por fim, aplique o corolário 2.44.
drilátero que tem por vértices os pontos médios dos lados de ABCD
tem pares de lados opostos iguais.
8. Sendo M o ponto de interseção das diagonais de ABC D, use o teo-
3. Sejam M o ponto médio de BC e P e Q os pés da perpendiculares rema da base média de trapézios duas vezes, para mostrar que a soma
baixadas de A e M à reta r, respectivamente. Pela proposição 2.40, das distâncias de A e C a r é igual à soma distâncias de B e D a r.
380 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 381

---+
9. 'Irace CE li AD, com E E AB. Em seguida, conclua que o quadrilá- interseção do lado AC com a semirreta BP; mostre que Pé o ponto
tero AECD é um paralelogramo e use esse fato para mostrar que O médio de BQ e, em seguida, aplique o teorema da base média ao
triângulo BCE é isósceles de base CE. triângulo BQC.

10. Marque o ponto E sobre AB, tal que BE= BC. Em seguida, mostre
que o quadrilátero AEC D é um paralelogramo.
Seção 3.1
11. Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não paralelos
BC e AD, tais que AB = a, BC= b, BC= e e AD= d. 'Irace , l. O centro do círculo desejado deve distar r do ponto A e pertencer à
por C, a paralela ao lado AD e suponha que tal reta intersecta a base mediatriz do segmento AB. Mostre que há uma solução se AB = 2r
AB em E. Em seguida construa o triângulo EBC com o auxílio do e duas soluções se AB < 2r.
exemplo 2.6.
3. Uma vez construído um segmento AB de comprimento e, o vértice C
<------->
12. Se M é o ponto médio de BC, use o corolário 2.44 para concluir que deve pertencer ao círculo de centro B e raio a e à reta AX, tal que
o triângulo ABM é equilátero. BÂX=a.

13. Aplique o corolário 2.44 aos triângulos BCHc e BCHb. 6. Uma vez construído o lado BC, o vértice A é obtido como a interseção
da paralela a BÔ, situada à distância ha da mesma, com o círculo de
14. Marque os pontos G e H, sendo G o médio de BC e H o ponto de
---+ ---+ centro B e raio e.
interseção das semirretas EG e AB. Estabeleça a congruência dos
triângulos BGH e CGE e, em seguida, use a condição do enunciado 8. Os eventuais pontos B pertencem, claramente, a dois lugares ge-
para concluir que o triângulo AEH é isósceles de base EH. Por ométricos: o círculo de centro A e raio a e o LG dos pontos do plano
fim, aplique o resultado do problema 8, página 8, juntamente com a que estão à distância b da reta r (cf. exemplo 3.3).
congruência entre os triângulos ABG e ADF.
9. Comece traçando uma reta r (que será a reta suporte do lado AC)
15. Construa, sucessivamente, retângulos BC D' A' e CD' A" B', tais que e marcando, sobre a mesma, um ponto C. Em seguida, obtenha o
A' B = AB e B'C = BC. Em seguida, sejam Q' e Q" os simétricos vértice B do triângulo como a interseção de dois lugares geométricos:
<----> <---->
o círculo de centro C e raio a, bem como a união das paralelas à reta
de Q em relação às retas AB e BC, respectivamente, de sorte que
<---->
r, situadas à distância hb de r.
Q' E AD e Q" E A' D'; sejam, ainda, P' o simétrico de P em relação
<-------> <------->
a BC e R o simétrico de Q" em relação a CD', de sorte que P' E 10. Se B 1 e B 2 são dois pontos distintos sobre a reta r e M1 e M2 são,
CD' e R E A" D'. Mostre que o perímetro de M N PQ é igual a respectivamente, os pontos médios dos segmentos AB1 e AB2, en-
Q'M + MN + NP' + P'R e que AQ' = A"R. Por fim, use o tão M 1M 2 é base média do triângulo AM1M2. Aplique, agora, a
resultado do problema 8, página 8. proposição 2.36, juntamente com o resultado do problema anterior.

16. Suponha AB < AC (o caso AB = AC é trivial e o caso AB > AC 11. Use o resultado do problema 10, página 45, juntamente com a propo-
é totalmente análogo ao caso sob consideração). Seja Q o ponto de sição 3.5.
382 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 383

12. Use o resultado do problema 10, página 45. Seção 3.3


<--------;

13. Supondo o problema resolvido, marque, sobre a reta BC e exterior- l. Seja s uma reta que passa por P, distinta da tangente t construída
mente ao lado BC, os pontos B' e C' tais que B E B'C, CE BC' na proposição 3.16. Sejam O o centro der e a a medida do ângulo
e BB' = e, CC' = b. Então, B'C' = 2p e, pelo teorema do ângulo agudo formado pelas retas se t. Marque o ponto Q E s, situado no
externo, AÊ'C =~e AÔ'B = Í· mesmo semiplano que O em relação a t e tal que PÔQ = 2a. Mostre
14. Comece mostrando que, em um triângulo retângulo e isósceles, a al- que Q E f.
tura relativa à hipotenusa mede metade da hipotenusa. Em seguida, 2. Supondo o problema resolvido, seja O o centro de um dos círculos
use o teorema da base média de um trapézio para mostrar que a <--------;

<--------; pedidos. Então AQJ_r em A, de forma que O pertence à reta s,


distância de M à reta AB é constante.
perpendicular à reta r em A.

3. Supondo o problema resolvido, seja O o centro de um dos círculos


pedidos. Pelo problema anterior, O pertence à reta perpendicular a
Seção 3.2
r por P. Por outro lado, como O equidista der e de s, ele também
2. Marque o vértice A como a interseção de dois lugares geométricos: pertence à bissetriz de um dos ângulos formados por tais retas. Há
------t -... -.. ------t
a semirreta BX, tal que XBI = !BC, e a semirreta CY, tal que duas soluções.
YÔI=IÔB.
4. Observe que, se O é o centro de um tal círculo, então a distância de
3. Marque o vértice A como a interseção de dois lugares geométricos: a O a r é igual a R.
<--------;

perpendicular à reta BC passando por H e a perpendicular à reta


<--------; 5. Supondo o problema resolvido, se O é o centro de um dos círculos
B H passando por C. pedidos, então O pertence à bissetriz de um dos ângulos formados
4. Sendo A o ponto de interseção der e s, veja o ponto P como orto- por tais retas e está à distância R de r. Há quatro soluções.
centro de um triângulo que tem A como um de seus vértices.
6. Supondo o problema resolvido, se O é o centro de um dos círculos
5. Para a recíproca, suponha, inicialmente, que H e I coincidem. Se Ha pedidos, então O equidista de a e de b, bem como pertence à bissetriz
é o pé da altura relativa a BC, observe que Ha E BC; a soma dos ân- de um dos ângulos formados por a e e. Há duas soluções.
gulos de ABHa fornece, então, !Ã+Ê = 90º; mostre, analogamente,
7. Observe, inicialmente, que P E f 1 n f 2 se, e só se, P01 :S: R1 e
! !
 + ê = 90º e Ê + ê = 90º, de forma que  = Ê = ê = 60°.
<--------; <---+ P02 ::;: R2; nesse caso, use a desigualdade triangular para concluir
Suponha, agora, que H e O coincidem. Use as relações AQJ_ BC que \R1-R2\ ::;: 0102::;: R1 + R2. Analise, agora, cada um dos itens
<--------;

e BO = CO para concluir que AO é mediatriz de BC, de sorte separadamente.


que AB = AC; conclua, analogamente, que AB = BC. Por <--------;

fim, suponha que I e O coincidem. Então AI = BI, de sorte que 8. Seja r' um círculo de centro O' e raio R'. Se O' E AO \ {A} e
!Ã = !B; mostre, analogamente, que !Ã = !ê. R' = AO', mostre que r' tangencia r em A.
384 Tópicos de Matemática Elementar 2 · .Antonio Caminha M. Neto 385

9. Se r' tem centro O' e raio r e tangencia r, então, pelo problema 7 19. Se  = a, veja o vértice A como a interseção de dois arcos capazes de
página 121, temos -
00'-
= R ± r. '
~ construídos respectivamente sobre BM e CM. Em seguida, use a
2'
<-,--------> igualdade BM = CM para concluir que AB = AC.
10. Sendo R o ponto de tangência de BC e r, temos BR B]5 e
CR = CQ. Conclua, a partir daí, que o perímetro de ABC é igual a 20. Use o fato de que M ÂP = N ÂP = 45° para obter A como a inter-
AP+ AQ. seção de dois arcos capazes de 45º, respectivamente sobre MP e N P.
--+ --+ - --
Em seguida, marque B E AM e D E AN, tais que AB = AD = l.
11. Sendo P o ponto de tangência, temos, pela proposição 3.28, que
MÂP = !BÂP e NÂP = !DÂP. 21. Use o resultado do problema 13, página 57.
12. Sendo B, C e R, respectivamente, os pontos de tangência das retas 22. Inicialmente, observe que há quatro tangentes comuns aos dois cír-
+----+ +----+ +----+ ......
AP, AQ e PQ com r, temos, pela proposição 3.28, que POR== culos, as quais se dividem em dois tipos: duas tangentes, ditas ex-
!BÔR e QÔR = !CÔR. Use, agora, o fato de que a soma dos ternas, que deixam os dois círculos em um mesmo semiplano e duas
ângulos do quadrilátero ABOC é igual a 360º. outras, ditas internas, que os deixam em dois semiplanos opostos.
Analisemos a construção de uma tangente que deixa os círculos em
13. Observe, inicialmente, que XÊY = 180º-BXY-BYX. Em seguida,
um mesmo semiplano (para as tangentes do outro tipo, adapte a cons-
use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que as medidas dos
<-,--------> trução acima descrita). Sejam ruma tal tangente, O e O' os centros
ângulos LAXB e LAYB independem da direção da reta XY.
e R e R' os raios der e ~' respectivamente, e Te T' os pontos de
14. Use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que os triângulos DEF tangência de r com r e ~' também respectivamente; supondo, sem
e BEF são ambos isósceles. perda de generalidade, que R > R', trace a reta s, paralela a r e
passando por O' e marque o ponto S de interseção do raio OT com
15. Se O é o ponto sobre AP, tal que PQ = BP, mostre que o triângulo s. O triângulo OO'S é retângulo em S e tal que OS = R - R';
BPQ é equilátero e, daí, que AQB = 120º. Em seguida, use as construa-o para obter o ponto S e, em seguida, marque a interseção
--+
hipóteses, juntamente com os fatos já deduzidos e o teorema do ângulo T da semirreta OS com r; por fim, trace a tangente desejada r como
inscrito, para mostrar que os triângulos ABQ e CBP são congruentes a paralela à reta s passando pelo ponto T.
por LAAo.
23. Supondo o problema resolvido, sejam M e N, respectivamente, os
16. Em ambos os casos, adapte o argumento da prova do item (a) da
proposição 3.21.
pontos médios dos segmentos AX e AY, de forma que MN = !-
Construa, então, um triângulo 0102P, retângulo em P e tal que
17. Mostre que o centro de cada um de tais arcos é o simétrico do centro 0 1P li MN. Mostre que haverá solução se, e só se, 0102 ~ t
de cada um dos arcos de 180° - a sobre AB.
24. Analise a solução do problema anterior.
18. Após marcar um segmento BC de comprimento a, obtenha o vértice
25. Inicialmente, considere os arcos capazes de 120°, construídos sobre
A como a interseção de dois lugares geométricos: os arcos capazes de os lados e exteriormente ao triângulo ABC. Em seguida, aplique a
<---------->
a sobre BC e as paralelas à reta BC, situadas à distância ha. construção do problema 23, página 123.
386 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 387

+-------+ +---->
26. Analise as soluções dos dois problemas anteriores, procurando adaptá- Como H Ha1- BC, basta mostrarmos que, sendo P o outro ponto
+-------+
las à condição de comprimento máximo possível para o lado de ABC. de interseção da reta AH com o círculo circunscrito a ABC, tem-se

-
27. Supondo o problema resolvido, seja A' o ponto sobre a semirreta BA,
HHa = HaP. Para tanto, use o teorema do ângulo inscrito para
estabelecer a congruência dos triângulos BHaP e BHaH por ALA.
tal que BA' = l. Mostre, com o auxílio do teorema do ângulo externo,
que BÂ'C = ~- Agora, construa A' como a interseção de dois lugares 7. Seja a' o arco do círculo circunscrito a ABC que é complementar a a.
geométricos: o círculo de centro B e raio l, juntamente com os arcos Use o resultado do problema anterior para mostrar que H percorre o
capazes de ~ sobre BC. Por fim, A é a interseção de A' B com a arco de círculo simétrico a a' em relação a BC.
mediatriz do segmento A'C.
- -- --
28. Marque o ponto A' E BA \ AB, tal que AA' = AC. Em seguida,
~ 1 ~
8. Use o resultado do problema 15, página 57 para mostrar que Ia des-
creve um dos arcos capazes de 90º - ~ sobre BC.
use o teorema do ângulo externo para mostrar que BA'C = 2 BAC.
9. Comece mostrando que AH é a bissetriz do ângulo L.IiH h; em se-
Agora, use a solução do exemplo 3.25 para mostrar que o círculo de
guida, mostre que IiÂI2 = 90º - !IiHI2 e aplique o resultado do
centro M e raio M B = M C passa pelo ponto A'. Por fim, use este
+----> +----> -- -- problema anterior.
fato, juntamente com MN1-A'B, para concluir,que BN = A'N.
10. Adapte a sugestão dada para o problema 20, página 123, utilizando o
resultado da proposição 3.38 para obter dois pontos sobre a diagonal
AC, por exemplo.
Seção 3.4
11. Sendo Mo ponto médio do lado BC, use o resultado do problema 16,
2. Use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que M ÂN = 90º. página 87, para calcular PM em função de AB = e e AC= b; em se-
guida, calcule QR em função de a e b com o auxílio da proposição 3.37
3. Mostre que AM1-NP, calculando o ângulo ex-cêntrico interior for- e use o resultado do problema 12, página 56.
mado por tais segmentos.
12. Nas notações da figura 3.29, observe que o triângulo ANIa é retângulo
4. Sendo ABC o triângulo formado pelos pontos de interseção das retas em N e tal que AN = p, N Ia = ra; portanto, podemos construí-lo.
dadas, mostre que os pontos desejados são o incentro e os ex-incentros Após executar tal construção, trace o círculo ex-inscrito ao lado BC
de ABC. (o qual tem centro Ia e raio ra), bem como a outra tangente ao mesmo
passando por A. Note, agora, que podemos marcar sobre AN o ponto
5. Consideremos o caso em que ABC é acutângulo, sendo os demais ca-
de tangência E do círculo inscrito em ABC com o lado AC, uma vez
sos totalmente análogos. Temos OÂC = !(180º -AÔC) = !(180º -
que EN= a. Após fazê-lo, marque o incentro Ide ABC, como a
2Ê) = 90º - Ê = BÂH. Agora, sendo I o incentro de ABC, temos
interseção de Ala com a reta perpendicular a AN e passando por
HÂI = BÂI - BÂH = CÂI - OÂC = OÂI.
E. Por fim, trace o círculo inscrito em ABC (o qual tem centro I e
6. Sejam ABC um triângulo acutângulo (a prova nos demais casos raio I E) e uma das tangentes comuns internas aos círculos inscrito e
é análoga), H seu ortocentro e Ha o pé da altura relativa a A. ex-inscrito (cf. problema 22, página 123), obtendo os pontos B e C.
388 Tópicos de Matemática Elementar 2 7 Antonio Caminha M. Neto 389

Seção 3.5 9. Suponha, inicialmente, que exista um círculo r, de centro O e tan-


gente aos lados do polígono. Se A é um vértice do polígono e B e C
o círculo de diâmetro AB e P é seu ponto de interseção com a -·-·º·'
1. Se r é<---t . . são os pés das perpendiculares baixadas de O aos lados adjacentes a
reta BC, use o teorema do ângulo inscrito para mostrar que APC :::
A, mostre que às triângulos OAB e OAC são congruentes, de forma
90º. que BÂO = CÂO. Para a recíproca, argumente de modo análogo.
2. Para o item (a), comece mostrando que o quadrilátero BCHbHc é 10. Use o fato de os quadriláteros EPCN, ABCD e PEQD serem ins-
inscritível; em seguida, conclua que HbÍicC = HbÊC e, daí, que ~ ~

critíveis para mostrar que N P E = QP E; argumente analogamente


AÍicHb = HbêB. Para (b), use (a), juntamente com o fato de que para os demais vértices de M N PQ e use, em seguida, o resultado do
HcÂO = BÂO = 90º - !·AÔB = 90º -AêB. problema anterior.
3. Sejam A, B, C, D, E e F os seis pontos de interseção das quatro. 11. Argumente de modo análogo à primeira parte da demonstração do
retas dadas, tais que A, B e C são colineares, E E BF, D E AF e teorema de Pitot.
E E CD. Se P # A é o ponto de interseção dos círculos circunscri-
tos aos triângulos ACD e ABF, basta mostrar que P pertence aos 12. Sejam AB = a, BC = b. Supondo o problema resolvido, marque D
círculos circunscritos aos triângulos BCE e DEF. Para tanto, use a sobre o arco AC der que não contém B e sejam CD= x e AD= y.
inscritibilidade dos quadriláteros ACPD e PBAF para concluir que Inicialmente, mostre que podemos supor a # b, digamos a < b, de
PêE = PÂD = PÂF = PÊF = PÊE. sorte que devemos ter x - y = b - a > O. Se E E CD for tal que
CE = b - a, então E pertence ao círculo de centro C e raio b - a; use
4. Note, inicialmente, que BÔD = 90º. Agora, mostre sucessivamente
o fato de ADE ser isósceles e ABCD ser inscritível para mostrar que
que MÊQ = MNQ e MNBQ é inscritível; conclua, a partir daí,
que M NB = 90º. Em seguida, mostre sucessivamente que M DP =
E também pertence a um dos arcos capazes de 180º - AÊC sobre !
AC.
MNP e MDNP é inscritível; conclua, então, que MPD = 90°.
5. Se E é o pé da perpendicular baixada de P à reta suporte do lado
AC, mostre que PQA = PÔA = PÔE = PDE. Seção 4.1
6. Use o resultado do problema anterior para reduzir o problema ao 1. Aplique o teorema de Thales.
cálculo do ângulo QÂQ', onde Q e Q' são os pontos de r, obtidos
como naquele problema. 2. Faça AB = a, APi = x e AP2 = y; em seguida, analise a igualdade
acima à luz dessas notações.
7. Comece supondo que o polígono é inscritível; nesse caso, argumente
como na prova da proposição 3.9 para concluir que as mediatrizes dos 3. Adapte os passos de construção do exemplo 4.3.
lados do polígono concorrem em um único ponto. 4. Seja P o pé da bissetriz interna relativa a BC. Trace, pelo ponto
<---t

8. Use o teorema de Pitot e os cálculos da Proposição 3.37 para concluir B, a paralela à reta AP e marque seu ponto de interseção B' com a
<---t

pela coincidência dos pontos de tangência dos dois círculos com a reta AC. Prossiga, a partir daí, de maneira análoga ao argumento
diagonal AC. apresentado no texto.
390 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto
391

5. Verifique que o argumento da prova do teorema da Bissetriz, delineado por LAL e, conclua, a partir daí que ma = k Argum t d .
, ' m~ · en e e maneira
na sugestão ao problema anterior, permanece válido no presente caso. analoga para os pares de triângulos ABPa, A' B' p~ e ABHa, A' B' H~
para estabelecer as duas outras razões.
6. Use o teorema da Bissetriz e a construção da quarta proporcional
para construir um segmento de comprimento AC. 4. Se Q E AB é tal que PQl_AB, então AQ = PQ e PQB"' CAB.

7. Use o teorema da Bissetriz para mostrar que ~ = ~~. Em seguida, 5. Sejam~ e Y~espectivamente, os pontós de interseção de r com as
aplique a recíproca do teorema de Thales. retas AB e AC. Use o resultado do problema anterior, juntamente
com o fato de que o triângulo X AY é retângulo e isósceles.
8. Sejam G o baricentro e Ma, Mb e Me os pontos médios dos lados
BC, AC e AB, respectivamente. Marque o ponto P E GMa, tal - 6. Comece mostrando que F AD,....., EAB.
que GMa = MaP· Como as diagonais de GCPB se intersectam·
nos respectivos pontos médios, o quadrilátero GC P B é um paralelo- 7. Sejam O e O' os centros dos círculos dados e p e P' os pontos de
gramo, de sorte que BP = GC. Agora, a proposição 2.38 garante t_angência dos mesmos com um dos lados do ângulo em questão. Uti-
2 ~- 2 ~- 2
que GP= 3 ma, GB = 3 mb e BP= 3 mc. Aplicando uma cons- lize a semelhança
. entre os triângulos AO P e AO'P' para calcular o
comprimento pedido.
trução análoga à do exemplo 4.2, podemos construir segmentos de
comprimentos jma, jmb e jmc. Em seguida, com o auxílio do exem-
8. Para o item (a), use~ semelhança CNP"' CBA. Para O item (b),
plo 2.6, podemos construir o triângulo BCP. A partir daí, marcamos
---> ---> ~se o fato de que as diagonais de um losango bissectam seus ângulos
A E PC tal que G seja o ponto médio de AP, e CE BMa tal que mternos.
Ma seja o ponto médio de BC.
9. 'frace, por C, a paralela àABe marque seu ponto F de interseção
com DE. Use, em seguida, que CFD"' BMD e CFE"' AME.

Seção 4.2 10. Sejam h e H, respectivamente, as alturas dos trapézios MNCD


e ABCD. Se MP = x, use as semelhanças MPD "' ABD e
l. Em cada um desses casos, adapte os argumentos da prova da propO:' MP A "' DC A, juntamente com o resultado do problema 3 para
sição 4.6. obter, res~:ctivamente, ~ = J} e '& = H1/. Conclua, a partir daí,
que x = a+b · Por fim, argumente de maneira análoga para calcular
2. Sejam r a reta horizontal e A o ponto de interseção da perpendicul NP.
ar traçada por X com a paralela ar traçada por Y. Sejam, aind.
B o ponto de. interseção da perpendicular a r traçada por Y com . 11. Aplique o problema anterior ao trapézio BCYX.
paralela a r traçada por Z. Use a semelhança entre os triângul
12. Para concluir que EF = FC, use a semelhança AEG "' ADC
XAY e YBZ para calcular o comprimento pedido.
juntamente com o resultado do problema 3. De posse dessa igualdade'
3. Sejam Ma e M~, respectivamente, os pontos médios dos lados BC ;ost~e que, para concluir q~e FC = GH, é suficiente provar qu~
B'C'. Mostre que os triângulos ABMa e A' B' M~ são semelhant G - F H. Para tanto, seJam H e h, respectivamente, as alturas
'
1 '

390 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto


391

5. Verifique que o argumento da prova do teorema da Bissetriz, delineado por LAL e, conclua, a partir daí, que:r = k. Argumente de maneira
na sugestão ao problema anterior, permanece válido no presente caso. análoga para os pares de triângulos ABPa, A' B' P~ e ABHa, A' B' H'
para estabelecer as duas outras razões. ª
6. Use o teorema da Bissetriz e a construção da quarta proporcional
para construir um segmento de comprimento AC. 4. Se Q E AB é tal que PQ.l_AB, então AQ = PQ e PQB,...., CAB.
. t nz
7. Use o teorema d a B1sse . para mos t rar que BM
AB = CN
AC . E m segm"da,
5. Sejam~ e Y~espectivamente, os pontós de interseção der com as
aplique a recíproca do teorema de Thales.
retas AB e AC. Use o resultado do problema anterior, juntamente
com o fato de que o triângulo X AY é retângulo e isósceles.
8. Sejam G o baricentro e Ma, Mb e Me os pontos médios dos lados
BC, AC e AB, respectivamente. Marque o ponto P E GMa, tal - 6. Comece mostrando que F AD ,...., EAB.
que G Ma = MaP. Como as diagonais de GC P B se intersectam ·
nos respectivos pontos médios, o quadrilátero GC P B é um paralelo- 7. Sejam O e O' os centros dos círculos dados e P e P' os pontos de
gramo, de sorte que BP = GC. Agora, a proposição 2.38 garante tangência dos mesmos com um dos lados do ângulo em questão. Uti-
-- 2 -- 2 -- 2
que GP = 3 ma, GB = 3 mb e BP = 3 mc. Aplicando um_a cons- lize a semelhança entre os triângulos AO P e AO' P' para calcular O
trução análoga à do exemplo 4.2, podemos construir segmentos de comprimento pedido.
comprimentos jma, jmb e jmc. Em seguida, com o auxílio do exem-
8. Para o item (a), use a semelhança CNP,...., CBA. Para O item (b),
-
A E PG tal que G seja o ponto médio de AP, e CE BMa tal que -
plo 2.6, podemos construir o triângulo BGP. A partir daí, marcamos
use o fato de que as diagonais de um losango bissectam seus ângulos
internos.
Ma seja o ponto médio de BC.
9. 'Irace, por C, a paralela à AB
e marque seu ponto F de interseção
com DE. Use, em seguida, que CFD,...., BMD e CFE,...., AME.

Seção 4.2 10. Sejam h e H, respectivamente, as alturas dos trapézios MNCD


e ABCD. Se MP = x, use as semelhanças MPD ,...., ABD e
1. Em cada um desses casos, adapte os argumentos da prova da propo- MP A ,...., DC A, juntamente com o resultado do problema 3, para
sição 4.6. obter, ~es~:ctivamente, ~ = j} e '& = Hi/. Conclua, a partir daí,
que x - a+b · Por fim, argumente de maneira análoga para calcular
2. Sejam r a reta horizontal e A o ponto de interseção da perpendicular NP.
a r traçada por X com a paralela a r traçada por Y. Sejam, ainda,
B o ponto de interseção da perpendicular a r traçada por Y com a 11. Aplique o problema anterior ao trapézio BCYX.
paralela a r traçada por Z. Use a semelhança entre os triângulos
X AY e Y B Z para calcular o comprimento pedido. 12. Para concluir que EF = FG, use a semelhança AEG ,...., ADC
.
Juntamente com o resultado do problema 3. De posse dessa igualdade,
'
3. Sejam Ma e M~, respectivamente, os pontos médios dos lados BC e mostre que, para concluir que FG = GH, é suficiente provar que
B' C'. Mostre que os triângulos AB Ma e A' B' M~ são semelhantes EG = F H. Para tanto, sejam H e h, respectivamente, as alturas
392 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 393

dos trapézios ABCD e ABHE. Agora, use os pares de semelhanças 23. Ser é o raio do círculo inscrito em ABCD e l = BC, então AD= 2r
AEG "' ADC e BHF "' BCD, juntamente com o resultado do
----h--
e, pelo teorema de Pitot, 2r + l = 16. Por outro lado, se E é o pé
problema 3, para obter EG = FH = H · CD. da perpendicular baixada de C à base AB, então o fato de ABCD
ser retângulo em A garante que CÊB = 90° e, daí, o teorema de
13. Se D é o pé da bissetriz interna traçada a partir de B, mostre que
Pitágoras fornece (2r ) 2 + 8 2 = l 2 . Resolva o sistema de equações
ABC"' ADB.
formado por essas duas relações para obter os valores de r e l. Em
14. Use o resultado do problema anterior, juntamente com a recíproca do seguida, denote por O o centro do círculo inscrito ern ABCD e observe
teorema de Pitágoras. que OÔB + OÊC = }DÔB +}ABC= 90º, de sorte que OBC é
retângulo em O. Aplique, então, as relações métricas em triângulos
15. Os triângulos AA'C e ABHa são semelhantes por AA, uma vez que retângulos para calcular OB e OC.
AÂ'C = AÊHa, pelo teorema do ângulo inscrito.
,, 24. Suponha, sern perda de generalidade, que BD DE EF
'N
16. Pela proposição 3.20, temos AÊD = AÔF e AÔD = AÊE. Conclua, FC= 5crn. Agora, sendo AB = x e AC= y, o teorema de Pitá-
.ff a partir daí, que ABD "' ACF e ACD "' ABE por AA. Por fim, goras fornece x 2 + y 2 = 400. Por outro lado, sendo respectivamente
deduza a relação do enunciado a partir de tais semelhanças. P o pé da perpendicular baixada de D ao lado AB, use semelhança
de triângulos para concluir que BP = ! e DP = ã,
de sorte que,
17. Use relações métricas em triângulos retângulos. novamente pelo teorema de Pitágoras, AD = (3f )2 + (~ )2. Racioci-
2

18. Use as relações métricas ern triângulos retângulos. nando de maneira análoga, obtenha expressões para AE 2 e AF2 em
função de x e de y e, por firn, calcule a soma AD 2 + AE 2 + AF 2 com
19. Para o item (a), use as relações métricas em triângulos retângulos. o auxílio das expressões assim obtidas e da relação x2 + y 2 = 400.

20. Use o resultado do item (a) do problema anterior. 25. Evidentemente, o problema só tem sentido para l ::::;: 2R e, se l = 2R, o
LG pedido se resume ao centro O do círculo. Suponha, pois, l < 2R.
21. Verifique que os triângulos BMP, CNM e APN são congruentes Sendo AB uma corda de comprimento l e M seu ponto médio, segue
por LAL, de forma que M N P é equilátero. Agora, sendo Ma o ponto do fato de o triângulo AOB ser isósceles de base AB que OM ..lAB.
médio do lado BC, mostre que BMP"' BMaA por LAL, de sorte
que PMB == AMaB = 90°.
Portanto, pelo teorema de Pitágoras temos O M = V
R2 - ( )2 e,4
denotando tal comprimento por r, segue que M pertence ao círculo
22. Se x = v'a2 + b2 e y = v'a2 + b2 - c2 , ternos y = v'x 2 - c2 . Por outro de centro O e raio r. Reciprocamente, não é difícil revertermos os
passos da análise acima para concluir que todo ponto de tal círculo é
lado, pelo teorema de Pitágoras x é o comprimento da hipotenusa
ponto médio de uma corda de r(O; R), de comprimento l.
de um triânguio retângulo cujos catetos medem a e b, ao passo que
y é o comprimento de um dos catetos de um triângulo retângulo 26. Sendo P urn tal ponto e PT urna das tangentes a r traçadas a partir
cuja hipotenusa mede x e o outro cateto rnede e. É, pois, suficiente de P, temos pelo teorema de Pitágoras que P0 2 = PT 2 + T(j2 =
construir esses dois triângulos retângulos, o que pode ser feito sem l 2 + R 2. Portanto, P pertence ao círculo de centro O e raio v' R2 + l2.
dificuldades. Reciprocamente, reverta os passos do argumento acima para mostrar
394 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 395

que todo, por todo ponto de tal círculo, podemos traçar tangentes de
Pitágoras quatro vezes, mostre que AP2 + CP 2 = BP2 + DP 2 =
comprimento la r(O; R).
" _____.,:·
ªi + br + ª§ + bl
27. Sejam A o topo e B a base do edíficio, _:ssim como C~e D as posições
32. Se P está sobre o arco menor AD, segue do teorema do ângulo externo
inicial e final do pedestre. Sejam ACB = a e ADB = l Pelo
teorema do ângulo externo, temos DÂC = AÔB - ADB = ~' de que APC = BP D = 90º. Portanto, pelo teorema de Pitágoras, temos
-2 -2 -2 -2 --2
sorte que o triângulo AC D é isósceles de base AD. Portanto, AC == P A + PC = AC = 200 e, analogamente, P B + P D = 200.
CD = 50 e, aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo ABC, 33. Aplique o teorema de Pitágoras aos quatro triângulos retângulos nos
obtemos AB = J50 2 - 252 = 25v3. quais o quadrilátero fica particionado quando traçamos suas diago-
nais.
28. Suponha, sem perda de generalidade, que A E r, B E s e C E t, e
sejam D e E, respectivamente, os pés das perpendiculares baixadas
34. Sejam 01, 02 e 03, respectivamente, os centros dos círculos de raios
de A e B à reta t. Agora, sendo AB = AC = BC = l, temos
R, r e x. Para 1 ::::; i ::::; 3, seja Ai o pé da perpendicular traçada de
C E = ~ ' CD= Jl2 -16 e DE= Jl2-9. Por outro lado,
A à retas. Use o teorema de Pitágoras para concluir que A1A2 =
não é difícil verificar que D E CE, de sorte q u e ~ = Jl2 _-16+
J(R + x)2 - (R- x)2 = 2vfix e, analogamente, A1A3 = 2vífir,
JI2=9. Resolvendo tal equação, encontramos o valor de l. A2A3 = 2..{rx. Em seguida, use o fato de que A1A3 = A1A2 + A2A3
29. Como os passarinhos têm velocidades iguais, partem no mesmo ins- para obter a relação do enunciado.
tante e chegam juntos, concluímos que a fonte equidista dos topos
35. Use o resultado do problema anterior.
das duas torres. Denotando por d tal distância comum, segue que
as distâncias da fonte às bases das torres são iguais a J d2 - 900 e
J d2 - 1600. Portanto, J d 2 - 900 + J d 2 - 1600 = 50 e, resolvendo
tal equação, encontramos o valor de d, bem como o valor desejado, Seção 4.3
qual seja, J d2 - 900.
1. Seja P E BC o pé da bissetriz interna relativa a A. Comece constru-
30. Seja ABC o triângulo em questão, com AB = 5\1'2, BC = 7 e
AÊC = 135º. Sendo H o pé da altura traçada a partir de A, temos indo o ponto Q E Êiê\BC, tal que g~ =!~-para uma construção
AÊH = 45º, de sorte que ABH é um triângulo retângulo e isósceles. fácil de Q, revise os passos de construção elencados no exemplo 4.16.
Aplicando ao mesmo o teorema de Pitágoras, obtemos AH = BH = Em seguida, obtenha o vértice A como a interseção do círculo de
5. Por fim, aplicando novamente o teorema de Pitágoras, desta feita diâmetro PQ com o círculo de centro C e raio b.
ao triângulo AHC, obtemos AC= 13.
2. Esse problema é uma pequena variação do problema anterior.
31. As paralelas aos lados de ABCD, passando por P, particionam ABCD
3. Marque, sobre uma reta r, pontos B e C tais que BC = a. Em
em quatro retângulos, R 1 , R 2 , R3 e R4. Nomeie tais retângulos de
seguida, obtenha o vértice A como a interseção de dois lugares ge-
tal forma que R 1 e R 2 só têm o vértice P em comum, e sejam a1 e
i .i
b1 os lados de R 1 e a 2 e b2 os lados de R2. Aplicando o teorema de
ométricos: o círculo de Apolônio relativo a (B, C), na razão e ot
círculo de centro no ponto médio de BC e raio ma.
i I Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 397
1 396
<----->
1
4. O raio pedido é igual a PQ, onde P E BC e Q E BC \ BC são 10. O teorema 4.19 permite marcar, sucessivamente, as posições do bari-
tais que BP = !!!l = k. Use tais relações para calcular BP e BQ centro G e do vértice A de ABC. Uma vez feito isso, os pontos B e
PC QC C são obtidos como as interseções do círculo de centro O e raio AO
em função de k e BC; em seguida, observe que PQ = BQ ± BP, <----->
com a reta que passa por M e é perpendicular à reta O M.
conforme seja O < k < 1 ou k > 1.

5. Sejam AB = a, BC = b, CD = e e AD = d. Suponha, sem perda 11. Seja P o ponto em que a bissetriz interna relativa ao lado BC inter-
de generalidade, que a + d 2: b + e e e + d 2: a + b; use o teorema secta o círculo circunscrito ao triângulo AHO. O teorema do ângulo
de Ptolomeu para mostrar que ~m ponto P como pede o enunciado inscrito garante que HÂP = HÔP e OÂP = OHP. Por outro lado,
pode ser encontrado no arco AD que não contém B, e que P é a segue do problema 5, página 135, que HÂP = OÂP de sorte que
~ ~ '
interseção de r com o círculo de Apolônio relativo a (A, C), tal que HOP = OHP. Portanto, HP = OP e, assim, P pertence à media-
AP = a+d-p onde p = AC.
triz do segmento H O.
CP c+p-b' '
<-----> <----->
6. Para os itens (a) e (b), use o teorema do ângulo inscrito para concluir 12. Inicialmente, observe que AH1 li BH2. Agora, o teorema 4.19 fornece
que, se P i- B é o ponto de interseção dos círculos circunscritos AH1 = BH2 = 2 OM, onde O é o centro do círculo circunscrito a
aos triângulos BCD e ABF, então BPD = DPC = 60° e APF = ABCD e M é o ponto médio do lado CD. Portanto, o problema 1,
F P B = 60º. Conclua, então, que APC = 120° - de forma que P página 85, garante que o quadrilátero AH1H2B é um paralelogramo.
também pertence ao círculo circunscrito a AC E - e que A, P, D e
C, P, F são ternos de pontos colineares. Para o item (c), use os 13. Seja Mo ponto médio de BC. Como AO = CO e (pelo teorema 4.19)
resultados dos itens (a) e (b), juntamente com o corolário 4.18. AH= 20M, temos CO = 20M. Use, agora, o resultado do pro-
blema 12, página 86.
7. Use a identidade ( 2
~:+$)
+ ( 1;~2 ) 2
= 1, juntamente com a recíproca
do teorema de Pitágoras.

8. Usando a construção do problema anterior, juntamente com o teo- Seção 4.4


rema de Ptolomeu, mostre que podemos obter um círculo r' e pontos
A~, A~, ... , A~ E r', tais que A~A~ é um diâmetro der' e A~A.i E Q,
para 1 ::; i < j ::; n. Sendo O o centro e R o raio de r', seja r o círculo
1. Pelo teorema de Menelaus, é suficiente mostrar que
<--+ <----->
J~ ·f ~ ·f~ = -1.
<--+
----->
Para tanto, suponha que as retas AA', BB' e CC' concorrem em O
de centro O e raio kR. Para 1 ::; i::; n, seja A E OA~ o ponto tal que <--+ <--------> <-------->

O Ai = k O A~, de sorte que Ai E r. Mostre que podemos escolher k (o caso em que AA', BB' e CC' são paralelas é mais simples) e
de forma tal que AiAj EN, para 1 ::; i < j ::; n. aplique o teorema de Menelaus aos triângulos BB' Z (com o terno de
pontos colineares A, A', O), AA'Y (com o terno de pontos colineares
9. Se O' é o circuncentro de ABD e Me M' são os pontos médios dos C, C', O) e CC'X (com o terno de pontos colineares B, B', O).
lados BC e AD, respectivamente, use o teorema 4.19 para concluir
que BH = 20'M' = 20M. Em seguida, observe que BC= 2MC 2. Use as semelhanças de triângulos BB'C "'A' AC, BCC'"' BA' A e
para concluir que os triângulos BHC e MOC são semelhantes. BB' A"' C'CA.
398 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 399

3. O caso em que ABC é retângulo é imediato. Para o caso em que ABC


11. Inicialmente, suponha que AB' n BC' = {X}, AB' n A'C = {Y}
é obtusângulo, adapte a discussão do caso em que ABC é acutângulo, <-----+ <----+

observando que exatamente duas alturas de ABC são exteriores ao e A'C n BC' = {Z}; aplique o teorema de Menelaus ao triângulo
mesmo. XY Z, em relação a .eada um dos ternos de pontos colineares a seguir:
A, C, E; B', C, D; A', B, F; A, B, C; A', B', C'. Considere, agora,
+----> <----+
4. Para o item (d), aplique os teoremas de Ceva e Menelaus. os casos em que ao menos um dentre os pares de retas AB' e BC',
+----+ t------t +------+ +-----+

5. Use o teorema de Ceva, em conjunção com o item (a) da proposição AB' e A'C, A'C e BC' seja formado por retas paralelas.
3.37.
12. Suponha, sem perda de generalidade, que AB < BC < AC, de
- - ---->
6. Use o teorema de Ceva, em conjunção com o item (c) da proposição modo que P E CB \ BC, Q E CA \ AC e R E AB \ AB. Pelo
3.37. teorema de Menelaus, é suficiente provar que ~~ = -1. Para i~ ·gj ·
<--------> <-------->
tanto, observe que, pela proposição 3.20, temos P AB ,.._, PC A. Daí,
7. É suficiente mostrar que, se AA" e CC" concorrem num ponto P, BP AP AB d · BP (AB)2 p fi t
<--------> AP =CP= AC' e maneira que PC= - AC . or m, argumen e

-
então P E BB". Para tanto suponha, sem perda de generalidade,
que A' E BC e B' E CA \ AC, de sorte que C' E. BA \ A~cis - de maneira análoga para obter CQ = -(BC)2 e AR = -(Ac)2
QA AB

13. Suponha ABC acutângulo (os demais casos são totalmente análogos).
RB BC '

= a, a isogonalidade de AA' e
-
demais casos são análogos). Se B ÂA"

+---->
- ~
AA" garante que CAA' = a, ao passo que o paralelismo de AA
- -
Aplicando o teorema de Menelaus ao triângulo ABC, em relação ao
terno d~ pontos colineares D, E, P, obtemos ~~ = -1. i~ · · i~
e CC', juntamente com a isogonalidade de CC' ~ CC", ~rnece
Agora, as semelhanças de triângulos CEHa ,.._, CHaA e AEHa ,.._,
C"ÔB = AÔC' = CÂA' = a. Portanto, temos BCP = BCC" = --2 --2
AHaC, fornecem as igualdades CE= c_:ê e AE = A_:ê , de forma
a= BÂA" = BÂP, de sorte que o quadrilátero BACP é inscritível;
_ CH 2 A 1 AD _ AHa 2 A
segue então que P ÊC = P ÂC. Por fim, tal igualdade, em con- que CE
EA - ª 2 . na ogamente, temos DB - . gora, argu- 2
AHa BHa
' ' ---+ ---+ +----+
junção com a isogonalidade de AA' e AA" e o paralelismo de -1A' mente de maneira análoga em relação aos outros dois lados de ABC.
Por fim, multiplicando as relações assim obtidas, chegamos à igual-
eBB' nos dá PÊC = A"ÂC = A'ÂB = AÊB'. Segue que
' ' <-------->
BB' e
dade i~ ·gj ·
~~ = -1, a qual garante, novamente pelo teorema de
BP são isogonais em relação a B, de maneira que P E B B". Menelaus, a colinearidade dos pontos P, Q e R.
8. Aplique três vezes o resultado do problema 5, página 135.
<--------> - <-->
9. Se P' E QR é tal que AP' J_ QR, use o fato de que o quadrilát~
Seção 4.5
AQP Ré inscritível para mostrar, diretamente, que as semirretas AP
e AP'formam ângulos iguais com a bissetriz interna de ABC relativa 1. Examine, quanto à semelhança, os triângulos P BC e PC A.
a A, bem como estão situadas em semiplanos opostos em relação à
reta suporte de tal bissetriz. 2. Sendo E a outra extremidade do diâmetro de r que passa por D,
aplique o teorema das cordas às cordas AB e DE. Alternativamente,
10. Aplique os teoremas de Ceva e Menelaus. aplique (4.5), com C no lugar de P.
400 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 401

3. Aplique o teorema das cordas.


11. Inicialmente, mostre que ambos os círculos passam pelo pé Ha da
4. Comece utilizando o teorema das cordas para calcular CE. Em se- altura de ABC relativa a BC. Em seguida, mostre que os pares de
guida, sejam O o centro do círculo e F e G os pés das perpendiculares cordas M N e AHa do círculo de diâmetro AC, assim como os pares
baixadas de O a AB e CD, respectivamente; calcule sucessivamente de cordas PQ e AHa do círculo de diâmetro AB, intersectam-se no
O F, OG e O E, este último com o auxílio do teorema de Pitágoras. ortocentro H de ABC. Aplique o teorema das cordas a cada um de
Por fim, aplique (4.5) para calcular o raio do círculo. tais pares de cordas para concluir que MH · NH = PH · QH. Por
fim, mais uma aplicação do teorema das cordas garante que M, N,
5. Sendo D a outra extremidade do diâmetro do círculo circunscrito que P e Q são concíclicos.
'
1 ' passa por A, aplique o teorema das cordas às cordas AD e BC.
12. Suponha, sem perda de generalidade, que X E BY. Pela proposição
6. Seja ABC um triângulo retânguo em A. Trace o círculo de centro
4.28, basta provar que BC · BO = BX · BY. Para tanto, sejam
C e raio AC, e sejam D e E os pontos de interseção de tal círculo ---->
P E BC e Q E BC\ BC, tais que PQ é diâmetro de r; use o fato de
com BC. Agora, aplique a versão do teorema das cordas constante
que BP· BQ = BX · BY, juntamente com o resultado do problema
da proposição 4.29.
4, página 185, para obter a igualdade desejada.
7. Sendo Tum desses pontos de contato, use o teoretna das cordas para
calcular PT em termos de P A e P B. 13. Sendo N o pé da bissetriz externa relativa ao vértice C, segue do
exemplo 4.22 que os pontos N, E e D são colineares. Portanto, ambos
8. Sejam O o centro do círculo desejado, T seu ponto de tangência com C e D pertencem ao círculo de Apolônio relativo a (A, B), na razão
a retares a reta perpendicular ar passando por T. Uma vez cons- :~. Sendo M o centro de tal círculo, segue do problema anterior
truído o ponto T, podemos obter O como a interseção de s com a
que o quadrilátero AMCD é inscritível, de sorte que CMD = !Ã
mediatriz do segmento AT. Para o que falta, há dois casos a conside-
e DMA = ê. Por fim, use o teorema do ângulo externo para obter
rar: (i) ÃÊ li r: nesse caso, T coincide com o ponto de interseção der MÔF = MFC = !ê
+ Ê e some os ângulos do triângulo isósceles
<--------> +--->
com a mediatriz de AB; (ii) AB lY r: sendo P a interseção de AB e r, M C F para encontrar  = 120º.
-2 - --
segue do teorema das cordas que PT = P A· P B; use, agora o pro-
blema 20, página 171, para construir um segmento de comprimento 14. Se PQ é o diâmetro do círculo circunscrito contendo os pontos I e O,
PT e, portanto, para construir T. aplique o teorema das cordas às cordas FG e PQ, juntamente com o
resultado do teorema de Euler 4.31, para mostrar que
!
9. Use o fato de P A1 = A1A2 = P A2 para concluir que P pertence
ao eixo radical de r 1 e r 2 ; em seguida, argumente analogamente em DF · EG +r(DF+ EG) +r 2 = 2Rr,
relação a Q.
onde R é o raio do círculo circunscrito a ABC. Em seguida, use
10. Como CD é um diâmetro de ~' o triângulo CDE é retângulo em
que FG :S 2R para concluir que DF + EG :S 2(R - r); a partir
E; portanto, as relações métricas em triângulos retângulos fornecem
daí, obtenha a desigualdade desejada. É, agora, imediato verificar
ME 2 = CM. DM. Agora, aplique o teorema das cordas às cordas
que a igualdade ocorre se, e só se, FG for um diâmetro do círculo
AB e CD der para concluir que AM = BM = EM. circunscrito a ABC.
402 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 403

<---------+ +-------->
15. Se AB = e, AC= b e BC= a, aplique o teoremas da Bissetriz e o interseção de AP e M N, conclua, a partir daí, que os quadriláteros
-- -- a 2 bc 'd
teorema das cordas para obter AD· DK = (b+c)2; em segm a, use LRPN e PRMK são inscritíveis. Use este fato, juntamente com o
a semelhança de triângulos ABD,...., AKC para obter AD· AK = bc teorema das cordas, para mostrar que AM · AK = AL · AN e, por-
e, a partir daí, tanto, que o quadrilátero LM K N também é inscritível. Por fim, note
que o centro do círculo circunscrito a tal quadrilátero é a interseção
--2 -- -- a 2 bc
AD = bc - AD · DK = bc - (b + c) 2 das mediatrizes dos segmentos LM e KN, coincidindo, então, com o
ponto médio do segmento PQ. Argumente analogamente com os pés
e das perpendiculares baixadas de P e Q ao lado BC.
AD 1ITJ2
DK - AD·DK +--------> <------->
19. Se P e Q denotam os pontos de tangência de a com BC e CD, e R
+--------> <------> <---------+
Por fim, conclua, a partir dos cálculos acima, que é suficiente estabe- e S denotam as interseções de PQ respectivamente com AB e AD,
lecermos a desigualdade mostre que AR = AS. Sendo O a interseção das perpendiculares
+--------> <------>
traçadas, a partir de R e S, respectivamente às retas AB e AD,
mostre que OR = OS. Por fim, se f3 é o círculo de centro O e raio
OR = OS, mostre que os pontos B e D estão sobre o eixo radical
com igualdade se, e só se, a = b = e. Por sua vez, prove tal desigual- dos círculos a e (3, de maneira que E, F E (3.
dade aplicando, apropriadamente, a desigualdade entre as médias a-
ritmética e geométrica. 20. Parai= 1, 2, sejam ri(Oi; ~). Seja, ainda, P o centro de um círculo
que intersecta ri segundo um diâmetro AiBi do mesmo, parai= 1, 2.
16. Se r 1 for o círculo interior a a, seja P (resp. Q) o ponto de tangência -- -- --2 --2
Use o fato de que P A1 = P A2 para concluir que P01 - P02 =
de a e r 1 (resp. a e r 2 ); sejam, ainda, Se Tos pontos de interseção do
R~ - Rr Em seguida, compare tal relação com (4.9) para concluir
segmento 0 10 2 respectivamente com I'1 e I'2, C o pont~e interseção
que P pertence à reta simétrica ao eixo radical de r 1 e r 2 em relação
dos segmentos PQ e ST, B a outra interse~o da~ta AC com a e R
ao ponto médio do segmento 01 02.
e U as outras interseções das semirretas PQ e ST com r 2. Adapte
os argumentos do exemplo 4.39 para mostrar, sucessivamente, que: 21. Suponha, inicialmente, que D, E e F são colineares. Então, apli-
PS \ RT; o quadrilátero p SQU é inscritível; AC . c B = se . cu; cando o teorema das cordas aos círculos circunscritos aos triângulos
O quadrilátero ASBU é inscritível. Por fim, construa o ponto B ABC e AEF, em relação aos pares de cordas AM e BC, AM e EF,
<----t

como a outra interseção da reta AC com o círculo circunscrito ao concluímos que BD· CD = ED · EF. Portanto, novamente pelo
triângulo ASU, reduzindo uma vez mais o problema àquele discutido teorema das cordas, o quadrilátero BFCE é inscritível. Mas, como
no exemplo 4.38. M pertence às mediatrizes dos segmentos BC e EF, segue que M é o
centro do círculo circunscrito a tal quadrilátero; em particular, temos
18. Sejam K e L (resp. Me N) os pés das perpendiculares baixadas de BM = F M. A coincidência dos incentros dos triângulos ABC e
p (resp. Q) aos lados AB e AC, respectivamente. De acordo com AEF segue, agora, da proposição 3.38. Por fim, para estabelecer a
<----t <---------+
o problema 9, página 200, temos AP1- M N. Sendo R o ponto de afirmação recíproca, basta reverter os passos do argumento acima.
1.

Antonio Caminha M. Neto 405


404 Tópicos de Matemática Elementar 2

f,
9. Denotando por 8 a área de ABC, ternos ha = 2 hb = 2 e hc = 2 f f.
Seção 5.1 f
Portanto, a+ha = b+hb = c+hc se, e só se, a+ 2 = b+ 2 = e+ 2 f f.
3. Comece utilizando a congruência dos triângulos ADF e DCE para
f f
Agora, a+ 2 = b + 2 equivale a (a - b)(28 - ab) = O ou, ainda, a

concluir que DêF = 90º. Ern seguida, aplique as relações métricas


f f
a= b ou ab = 28; analogamente, a+ 2 = e+ 2 se, e só se, a= e ou
ac = 28. Se e =/= a, b, então ac = 28 = bc, de sorte que a = b. Então,
ern triângulos retângulos - cf. proposição 4.9 - para calcular DG e
;e = 8 = ª~ª, de forma que e = ha e, daí, ABC é retângulo ern B;
GF. portanto, b = AC > BC = a, o que é urna contradição.
4. Para O itern (a), aplique o teorema de Pitágoras ao triângulo ABM,
10. Podemos supor, sern perda de generalidade, que ABC é retângulo ern
onde M é o ponto médio de BC.
A. Corno BB' e CC' se intersectam ern seus respectivos pontos rné-
+----4- ~ ~ +----+-
5. Pelo itern (a) do problema anterior, a altura de CDE( ern ~l)ação ao dios, BCB'C' é urn paralelogramo. Corno AA' l_ BC e B'C'
,____ ,____
li BC,
lado CD rnede 1 - {;, de sorte que A(CDE) = 1- Pelo ! -f · ternos AA' l_ ,____.
B' C'. Marque os pontos H e H', respectivamente de in-
itern (b) do problema anterior, ternos A(ABE) = vJ. Mostre, agora, terseção de AA' com BC e B'C'. Urna vez que ABC = A' BC =
que AED = BEC. AB'C', ternos A'H' = A'H + AH+ AH' = 3AH. Portanto,

6. Inicialmente, mostre que ABE = ADF. Agora, faça BE= x para


!
A(A' B'C') = B'C' · A'H' =~BC· AH= 3A(ABC) = 3rn 2 .

c c
obter E = F = 1- x; ern seguida, aplique o teorema de Pitágoras 11. Sejam M, N e P, respectivamente, os pontos médios dos lados BC,
aos triângulos ABE e CEF para obter Vl + x 2 = AE = EF = AC e AB. Use o teorema da base média para concluir que os triân-
(1 _ x)v'2. A partir daí, calcule x e aplique o resultado do problema gulos ANP, BMP, CMN e MNP são congruentes. Ern seguida,
4. aplique o postulado 1 do cálculo de áreas.

7. Para O itern (a), sendo a o cornprirnento do lado e 8 o valor )da área 12. Analisemos o caso ern que ABCD é convexo, deixando o caso ern
f.
de ABC, conclua que suas alturas rnedern 2 Para o itern (b , sejam que ABCD é não convexo a cargo do leitor. Pela sugestão dada ao
p urn ponto no interior de ABC e x, y e z, respectivamente, as problema anterior, ternos que A(DPQ) = }A(ACD) e A(BMN) =
distâncias de p aos lados BC, AC e AB. A igualdade A(ABC) = }A(ABC); portanto,
A(BCP) + A(ACP) + A(ABP) nos dá x + y + z = 2 f. 1 1 1
- a A 1 A 2 · · · A n, seJ· arn O o centro ' l o cornprirnento do A(DPQ) + A(BMN) = 4A(ACD) + 4A(ABC) = 4A(ABCD).
8. E rn re1açao
lado e a a distância cornurn de O aos lados. Seja, ainda, Ci o pé da
+-----> • Conclua, analogamente, que A(AMQ) + A(CNP) = }A(ABCD) e,
perpendicular baixada de P à reta AiAi+l (An+l = A1). A partir
ern seguida, calcule A(MN PQ) corno a diferença entre as áreas de
das igualdades ABCD e da união dos triângulos AMQ, BMN, CNP e DPQ.

t
i=l
A(OAiAi+ 1)
n
= A(A1A2 ... An) = ~ A(PAiAi+1),
i=l
13. Sejam ABCD e OMNP os dois quadrados, sendo O o centro de
ABCD. Observe, inicialmente, que OC = !
AB-v'2 = {} < 1 =
O M. Há, agora, dois casos essencialmente distintos a considerar:
obtemos n · 2la = "'n
L..,i=l
1.PCi
2 e, dai,, pc1 + PC2 + ... + PCn = na.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 407
406

(i) OM intersecta BC em um ponto Q -1- B, C: então OP inter- 17 Para a primeira parte, segue do item (a) do problema anterior que
secta CD em um ponto R -1- C, D, e a porção do plano comum aos
BA' _ A(ABA') A(BP A')
dois quadrados é o quadrilátero OQC R. Agora, é imediato verifi-
A'C - A(ACA') = A(CPA')"
car que DÔR = CÔQ e, daí, que OQC = ORD por ALA. Por-
tanto, A(OQCR) = A(OQC) + A(OCR) = A(ODR) + A(OCR) = Utilize, agora, o resultado do problema 1.1.1 do volume 1.
A(OCD) = iA(ABCD) = i· (ii) OM passa por C: então OP passa
18. Sejam P = A1A2 ... , An, r a reta em questão, r(O; R) o círculo
por D e, de saída, a porção comum aos dois quadrados é o triângulo
inscrito em P e d a distância de O a r. Suponha, ademais, que r
OCD. intersecta A1A2 em X e AiAi+l em Y, e sejam XA2 + A 2A 3 + .. · +
+---+ AY = Y Ai+I + Ai+1Âi+2+ · ·+ AnA1 + A1X = a. Por fim, suponha
14. Sejam K, L, Me N, respectivamente, os pontos de interseção de BJ e que O E Y Ai+1Ai+2 ... AnA1X. Então,
~ t------+ t------+ ..
DE, CI e FG, AH e BC, AH e IJ. E imediato que BDK = AEH
e CFL = AGH e, daí, A(ABDE) = A(ABKH) e A(ACFG) = A(XA2 ... AY) = A(XA2 ... AiYO) - A(XOY)
A(ACLH). Agora, observe que os paralelogramos ABKH e MBJN = A(XOA2) + A(A20A3) + · · · + A(AiOY)
têm bases AH e M N iguais e alturas correspondentes a tais ~ases -A(XOY)
também iguais, de sorte que A(ABKH) = A(MBJN); analoga- R- -- -- d-
mente, A(ACLG) = A(MCIN). Portanto, temos A(ABDE) + = 2 (XA2 + A2A3 + · · · + AiY) - 2 XY
A(ACFG) = A(ABKH)+A(ACLH) = A(MBJN)+A(MCIN) = 1 -
= 2(aR-dXY)
A(BCIJ).
e, analogamente,
15. Sejam ABCD um quadrilátero convexo de diagonais AC e BD con-
correntes em O. Sejam, ainda, P e Q, respectivamente, os pés das per- A(Y Ai+1Ai+2 ... AnA1X) = A(Y Ai+1Ai+2 ... AnA1XO) + A(XOY)
pendiculares baixadas dos vértices B e D à diagonal AC. A condição 1 -
= 2(aR + dXY).
A(ABC) = A(ACD) fornece a igualdade BP = DQ. Mas, como
BOP,....., DOQ por AA, temos ~g
= ~~ = 1, de maneira que O é o Portanto, A(XA2 ... AY) = A(Y Ai+1Ai+2 ... AnA1X) se, e só se,
ponto médio de BD. Analogamente, a condição A(ABD) = A(CBD) aR-dXY = aR + dXY, i.e., se, e só se, d= O. Mas isso é o mesmo
<-------->
garante que O é o ponto médio de AC. Portanto, como as diagonais que pedir que O E XY = r.
de ABCD intersectam-se em seus respectivos pontos médios, ABCD
é um paralelogramo. 19. Seja ABCD o quadrilátero, AC a diagonal e AB = a, CD = b,
AC = d, de sorte que a+ b + d = 16. Se h1 e h 2 denotam respectiva-
mente as alturas dos triângulos ABC e AC D relativas a AC , então
16. Para o item (b), faça A(BFP) = x e A(AEP) = y. Segue de (a) que
A(ABD) _ BD _ A(BPD) d 84+x+40 - 40 C 1 de d(h1 + h2) = 64; por outro lado, pela desigualdade entre as médias
A(ACD) - CD - A(CPD), e sorte que y+35+3o - 30· onc ua,
temos d(h1 + h2) ::S d(a + b) ::S !(d+ a+ b) 2 .
maneira análoga, que ~~~bt~~ = 8x4 e, em seguida, resolva o sistema
de equações assim obtido.
r
1

408 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 409

Seção 5.2 5. Veja que A(ABC) = A(ABF), A(CDE) = A(BCD) e A(AEF) =


A(DEF).
1. Sendo a e h, respectivamente, os comprimentos da base e da altura
6. Denotando por E o pé da perpendicular baixada de C a AB, temos
do triângulo, e l o comprimento do lado do quadrado, devemos ter
z2 = ª; . Basta, portanto, construir o segmento de comprimento
CE = 5cm; aplique o teorema de Pitágoras ao triângulo BC E para
obter CE= 12cm e, a partir daí, A(ABCD) = 186cm2 • ~a o que
z = ~ ' o que pode ser feito com o auxílio do problema 19, página
171. falta, denotando por x a distância do vértice A à reta BC, temos
186 = A(ABCD) = A(ACD) + A(ABC) = 78 + 1~x, de sorte que
2. Suponha, sem perda de generalidade, que AC e BD são as diagonais x = 12cm.
de ABCD. Há três casos essencialmente distintos a considerar: (i) 7. Em um tal trapézio ABCD, de bases AB e C e lados não paralelos
E E AB e F, G E BC: então A(EFG) ~ A(ABC) = !A(ABCD); AD e BC devemos ter AB = 2 e CD= 1 (ou vice-versa) e AD=
(ii) E E AD e F, G E BC: então A(EFG) ~ A(EBC) = A(ABC) = ' <-------->
BC = 1. Sendo E o pé da perpendicular baixada de D a AB,
!A(ABCD); (iii) E E AB, F E BC e G E CD: sendo H :._!:,, respec-
temos AE = ! e, pelo teorema de Pitágoras, DE= {}. Portanto,
tivamente, as interseções de EG e AD com a paralela a AB traçada A(ABCD) = !(2+ 1) {f = 3 -{3. Agora, segue do problema 4, página
por F, temos pelo caso (ii) que A(EFG) = A(EFU) + A(HFG) ~ • 1 a -n 24v13
227, que a área d e um tnangu1o eqm"l't
•A
a ero d e 1a d o n e, 1gua -.
!A(ABFL) + !A(LFCD) = !A(ABCD).
Portanto, para que seja possível particionar um triângulo equilátero
de lado n em trapézios de lados medindo 1, 1, 1 e 2, o quociente
3. O movimento permitido às formigas mantém a área do triângulo que
entre suas áreas, ; 2 , deve ser um inteiro; assim, 3 deve dividir n. Por
tem por vértices suas posições. Por outro lado, a Ãjrea do triângulo
li fim, para ver que tal condição também é suficiente, seja n = 3k, com
,1
que tem por vértices as posições iniciais das formigas é o dobro da
k E N, e particione o triângulo equilátero de lado n em triângulos
1

il: área do triângulo que tem por vértices os pontos médios de três dos
1, equiláteros de lado 3. Em seguida, tome um desses triângulos de lado
li lados do retângulo.
3, digamos ABC, e marque seu centro O, juntamente com os pontos
,,:'f
4. Para o item (a), sejam N e P, respectivamente, os pontos médios A' E BC, B' E AC e C' E AB tais que A'C = B'A = C'B = 2; os
dos lados AC e AB. Use o teorema da base média para concluir trapézios A'CB'O, B'AC'O e C'BA'O têm lados de comprimentos 1,
que a altura de ANM relativa a M N é igual à metade da altura de 1, 1 e 2 e particionam ABC.
ABC relativa a BC; em seguida, mostre que A(AMN) = }A(ABC). <--------> <-------->
8. Sendo F o ponto de interseção de AD e BE, temos BCE= FDE
Para o item (b), sejam G o baricentro de ABC e Mo ponto médio
----> por ALA, de ~orte que E é o ponto médio de BF. Portanto, ABF
do lado BC. Marque, sobre AM, o ponto D tal que M é o ponto tem o dobro da área de ABE e segue que
médio de DG. Então conclua, sucessivamente, que BDCG é um
A(ABCD) = A(ABED) + A(BCE) = A(ABED) + A(DEF)
paralelogramo e que C DG é um triângulo cujos lados medem j dos
comprimentos das medianas de ABC. Por fim, mostre diretamente = A(ABF) = 2A(ABE) = 720cm 2 .
que A(CDG) = A(BCG) = }A(ABC) e invoque o resultado da Alternativamente, sejam AD = a, BC = b e h o comprimento da
proposição 5.10 para concluir que A(CDG) = !A(DEF). altura de ABC D. Denotando por G o ponto médio de AB, segue que
410 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 411

os triângulos BEG e AEC têm altura ~ em relação a EG, de sorte 12. Sendo ABC o triângulo e Ha, Hb e Hc os pés das alturas baixadas
que a partir de A, B e C, respectivamente, mostre que AHbHc rv ABC
1- h 1- h e, portanto, que a mediana de AHbHc relativa ao lado HbHc é a
A(ABE) = A(AEG) + A(BEG) = 2 EC · 2 + 2 EG · 2 simediana de ABC relativa ao lado BC.
= EC _1!_ = (a+ b)h = !A(ABCD). 13. Adapte parcialmente o argumento delineado na sugestão ao problema
2 4 2
anterior, observando que, em todo triângulo retângulo, a altura rela-
9. Sejam a e b, respectivamente, os comprimentos das bases AB e CD tiva à hipotenusa é a simediana relativa à mesma.
e h o comprimento da altura de ABCD. Sejam, ainda, h1 e h2,
respectivamente, os comprimentos das alturas dos triângulos ABE e
14. Sejam AB
f------t f------t
= e, AC= b ex e y as distâncias de P respectivamente
CD E em relação aos lados AB e CD, tambÃ@m respectivamente. a AB e AC. A proposição 5.15 garante que AP é simediana se, e só
Então h 1 + h 2 = h e, pela semelhança ABE rv CDE, temos ~~ = i, se, ~ = ~- Agora, observe que
de sorte que h1 = aª!b e h2 = a~b· Portanto, BP A(ABP) ex
a2 h b2 h CP A(ACP) by'
J A(ABE) + J A(CDE) = 2 + b)
(a + 2 + b)
(a relação que fornece a caracterização desejada.

= J
(a~ b)h = J A(ABCD). 15. Pelas propriedades do baricentro, a distância de G a BC é um terço
da altura relativa a A. Use, agora, a igualdade ª2h = pr para concluir
10. Sejam D, E, F, G, H e I os pontos em que as paralelas aos lados que tal distância coincide com aquela de Ia BC.
de ABC, traçadas por P, intersectam os lados de ABC, com C E
16. Adapte a prova da versão do teorema de Carnot apresentada no texto
BC, H E BC, E E AC, I E AE, F E AB e D E BF. Como
ao caso sob consideração.
BHPD e CEPG são paralelogramos, temos DP = BH e EP =
CC. Portanto, pela proposição 5.10, temos 17. Aplique o teorema de Carnot e sua generalização, estabelecida no
BH FC CC DP FC EP problema anterior, a cada um dos três triângulos em que ABCDE
l -BC+BC+BC-BC+BC+BC ficou particionado.
f------t f------t
A(DFP) A(GHP) A(EIP) 18. Sendo AD n BC = {T}, aplique o teorema de Desargues 4.23 aos
A(ABC) + A(ABC) + A(ABC) pares de triângulos DMN e KLB, CLM e AKN para mostrar que
t-----+ t-----+ t-----+ t-----+
1 2 3 QT li AB e PT fl
AB, de sorte que os pontos P, Q e T são colineares.
--;::===+
J A(ABC) J A(ABC) J A(ABC) '
+
Em seguida, use semelhança de triângulos para mostrar que, sendo h
f------t

de sorte que A(ABC) = 36cm2 . a altura do trapézio e h' a distância do ponto O à reta PQ, temos
h' = / 2h!1; conclua, também usando semelhanças, que
11. Segue da proposição 5.12 que r: P;ª.
= Utilizando esse mesmo resul-
tado, escreva as relações análogas envolvendo rb e re e, em seguida, QT = AB(k · 00 + AO) e PT= AB(k · CO + !!!._)
some as três igualdades obtidas. (k- l)(AO + BO) (k- l)(AO + BO)'
412 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 413

de sorte que PQ = t~f. 8. Seja O o ponto médio da hipotenusa BC de ABC ou, o que é o
mesmo, o centro der. Sejam, ainda AÔB = a, de sorte que AÔC =
180º - a, e AB = 2R1, AC = 2R2 e BC = 2R. A área da porção
de I'1 exterior a ABC é igual a !1rRr - ( 3tfo 1rR2 -A(AOB)),
0 •
Seção 5.3 ao passo que a área da porção de I'2 exterior a ABC é igual a
1. Sejam P = A1A2 ... An, Q = A~A; ... A~ e O e O', respectivamente, !1rR~ - (1~iº0-;;-ª · 1rR2 -A(AOC)). Portanto, a soma das áreas de
os centros de P e Q. Aplique o resultado da proposição 5.10 a cada tais porções de r 1 e r 2 vale
um dos pares de triângulos O AAi+l e O' A~ A~+l' com a convenção 1 1
de que An+I = A1 e A~+l = A~. 2 · 1r(Ri + R~) - 2 · 1rR2 + A(AOB) + A(AOC) = A(ABC),

2. Sendo lo comprimento do lado do polígono desejado, aplique o resul- uma vez que, pelo teorema de Pitágoras, Ri + R~ = R2.
tado do problema anterior para concluir que i
+ I'{)- = 1. 9. Se ABC for retângulo ou obtusângulo, então nada há a fazer, uma
3. Sendo PR e QR polígonos regulares de mesmo número de lados, o vez que ABC está contido em um semicírculo de r. Se ABC for
primeiro inscrito e o segundo circunscrito a um, círculo r de raio R, acutângulo, de ortocentro H, sejam A', B' e C', respectivamente, os
--+ --+ --+

temos A(PR) :S A(r) :'.S A(QR) e A(P1) :'.S 1r :'.S A(Q1). Aplique, outros pontos de interseção das semirretas AH BH e CH com r·
' '
agora, o resultado do problema 1 para concluir que A(PR) = A(Pi)R2 o resultado do problema 6, página 135, garante que
e A(QR) = A(Q1)R2 . A(I') > A(AC'BA'CB'A)
4. Nas notações da figura 5.14, obtemos = (A(ABH) + A(ABC')) + (A(ACH) + A(ACB'))
+ (A(BCH) + A(BCA'))
= 2A(ABH) + 2A(ACH) + 2A(BCH) = 2A(ABC).

10. Se a= 360º ·~'com m, n EN em< n, defina o comprimento de AB


como sendo igual ao supremo dos comprimentos das linhas poligonais
O resto segue daí, juntamente com o fato de que l4 = R../2. A1A2 ... AkmAkm+l, onde k EN e A1A2 ... Akn é um polígono regu-
lar de kn lados, inscrito em retal que A 1 = A, Akm+l = B. Mostre
6. Siga passos análogos aos da discussão que levou a (5.10). que
f(A1A2 · .. AkmAkm+I) m
7. Sejam R, R 1 e R 2 os raios der, I'1 e I'2, respectivamente. Segue de f(A1A2 · · · Akn-IAkn) - -;;:;:
-
AC= -AB+ -BC que R = R1 +R2 e, daí, que S = ~(R2 -R1 2
-R22) = e conclua, a partir daí e com o auxílio da discussão que mostrou a
1rR1R2. Por outro lado, como ADC = 90º, as relações métricas em
--2 - - boa definição do comprimento de um círculo, que .e( AB) = r;: . 21r R.
triângulos retângulos fornecem BD = AB · BC= 4R1R2, de sorte
-2 Se a= 360º · x, com x irracional, use o resultado do problema 3 da
que Bf = ~- seção 1.5 do volume 1 para garantir a existência de racionais O <
414 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 415

r1 < r2 < · · · < x, tais que sup{r1, r2, ... } = x. Em seguida, defina 5. Suponha, sem perda de generalidade, que A(O, y), B(x 1 , O) e C(x2, O),
~

de sorte que, pela fórmula da distância entre dois pontos, AB =


o comprimento de AB como o supremo dos comprimentos dos arcos
ABn, onde Bn E A~B e AÔBn = an, tal que an = 360º · rn. Por fim
Jxr + Y2, AC= VX§ + y 2 e BC= lx1 - x2I- Em seguida, obtenha
~ ' as coordenadas do ponto médio Ma de BC e aplique a fórmula da
conclua que .e( AB) = x · 21r R. distância entre dois pontos mais uma vez para calcular ma= AMa.
11. Em uma hora, o ponto de contato das duas rodas dentadas percorreu 6. Aplique a fórmula do problema anterior aos triângulos BDM, ABC
uma distância igual a 1000 · 21r R = 20001r R, o que corresponde a e ACD. Em seguida, combine adequadamente as fórmulas assim
2g~?;f = 250 voltas da roda dentada maior. Portanto, em meia hora
obtidas.
a roda dentada maior girou !·
250 = 125 vezes.
7. Fixados 1 ~ j < k ~ m, temos AiBj 2 - AiBk 2 = j - k, para 1 ~ i ~
12. Comece calculando a soma dos comprimentos dos lados do triângulo n. Portanto, pela proposição 6.8, os pontos A1, A 2, ... , An pertencem
equilátero e do quadrado inscritos num círculo de raio R. t-------;

a uma reta r, perpendicular à reta BjBk. Mas, como os índices j e


k do argumento acima foram escolhidos arbitrariamente, segue que
os pontos B1, B2, ... , Bm pertencem a uma retas, perpendicular à
reta r.
Seção 6.1
8. Sejam ri(Oi;Ri), parai= 1,2, e O o centro de um círculo de raio
3. Se A(a, b) e B(c, d) são pontos distintos, tais que AP = BP, use
a fórmula da a distância entre dois pontos para concluir que (a -
R, que intersecta f1 e I'2 segundo diâmetros. Mostre que oo?
=
2 2 2
R - R; e conclua, a partir daí, que 001 - 002 = R§ - RI. Em
e) (a+ e - j)+b2-d2 = 2(b-d)v'2. Agora, supondo que a, b, e, d E Z,
seguida, use o resultado da proposição 6.8 para concluir que o LG
use a irracionalidade de v'2 para concluir que b = d e, então, que t-------;

procurado é uma reta perpendicular à reta 0 10 2, e examine a prova


a = e. Para o que falta, observe que um círculo de centro P e raio
do teorema 4.34 para concluir que tal reta é a simétrica do eixo radical
suficientemente pequeno não conterá ponto algum de coordenadas in-
de I'1 e f2 em relação ao ponto médio do segmento 0 10 2.
teiras em seu interior; em seguida, use a primeira parte do argumento
acima para concluir que, ao aumentarmos progressivamente o raio de 9. Construa um retângulo ABCD, de lados paralelos aos eixos coorde-
um tal círculo, os pontos de coordenadas inteiras entrarão um a um nados e tendo os pontos A1, A2 e A 3 sobre seus lados. Em seguida,
no disco correspondente. calcule a área de A1A2A3 como a diferença entre a área de ABCD e
a soma das áreas de três triângulos retângulos, de lados paralelos aos
4. De acordo com o problema anterior, existe um círculo r(O;R) no
eixos.
plano que passa por exatamente um ponto de coordenadas inteiras
e contém exatamente 2012 pontos de coordenadas inteiras em seu 10. Argumente por contradição, utilizando o resultado do problema an-
interior. Se P é o ponto de coordenadas inteiras no interior de r tal terior.
que r = O P é o maior possível, mostre que existem infinitos polígonos
regulares centrados em O, de números de lados dois a dois distintos 12. Para o item (c), observe inicialmente que a soma dos ângulos dos
e contidos na coroa circular de centro O e raios r e R. triângulos fundamentais nos quais P fica particionado é igual à soma
Antonio Caminha M. Neto 417
Tópicos de Matemática Elementar 2
416
consiste em um quadrado de centro (a, b), diagonais paralelas aos
das contribuições relativas aos vértices de P, aos B - n pontos de
eixos coordenados e lado de comprimento cv'2.
coordenadas inteiras sobre os lados de P e que não são vértices, bem
como aos I pontos de coordenadas inteiras situados no interior de 8. Elabore um pouco mais a discussão da prova da proposição 6.1.
p. Em seguida, note que, para cada um de tais tipos de pontos, as
somas de tais contribuições são respectivamente iguais à medida de 9. Para o item (b) - a prova do item (a) é análoga - suponha, inicial-
mente, P, Q e R colineares; então, pelo problema anterior, existe
um ângulo interno, a 180° e a 360°.
u E lR tal que R = (1 - u)P + uQ. Substitua, nessa igualdade, as
13. Mostre que os pontos Ak(k, k2 ), para 1 < k < n, satisfazem as expressões (6.6) para P, Q e R e analise a igualdade assim obtida
condições do enunciado. Reciprocamen~ suponha que a igualdade do item (b) é satisfeita
e seja R' E AB o ponto tal que P, Q e R' são colineares com
R' = (1 - u')A + u'B. Segue de (b) e da primeira parte acima,que
Seção 6.2 u'
--=-
(1-s)(l-t) u
l. A bissetriz dos quadrantes ímpares é a reta de equação Y = x. A
1- u' st 1-u
reta que passa pelos pontos A e B tem equaçÃlo + Y = x a+ b, de e, daí, u = u' ou, ainda, R = R'.
sorte que é perpendicular à bissetriz dos quadrantes ímpares, a qual
intersecta no ponto C ( ªt, ªt) . Por fim, é imediato verificar que
10. Use as descrições paramétricas de Pede Q para escrever a condição
BP_ BQ
PC - -QC'
AC= BC.
4. Uma possibilidade é utilizar o método sintético para obter as co~e-
nadas de B. Alternativamente, observe que a equação da reta OA é
<-----+
Seção 6.3
y = ~x, de sorte que a equação da reta OB é y = -%x. Em seguida,
impondo que OB = OA, obtemos x = ±b e, daí, Y = =J=a. Mas, 1. Se P(x, y), mostre que o problema em questão equivale a minimizar-
como B pertence ao segundo quadrante, a única possibilidade é que mos f(x) + g(y), para certas funções de segundo grau f e g. Em
X= -b, y = a. seguida, aplique a teoria elementar de máximos e mínimos de funções
5. Aplique os resultados das proposições 6.13 e 6.14, bem como a obser- quadráticas (cf., por exemplo, a proposição 1.25 do volume 3.

vação 6.10. 2. Quando o valor de e for o maior possível, a reta r será tangente ao
6. Como xo, y0 =/:- O, tal reta não passa pelá origem. Portanto, a obser- círculo r, de forma que o sistema de equações
vação 6.10 (com k = -1) garante que podemos escrever sua equação
ax+by=c
na forma ax+by-1 = O. Agora, impondo sucessivamente que (xo,O) {
x2+y2=1
e (O, y 0 ) pertençam à reta, obtemos a= ; 0 e b = ;0 •
terá um único par ordenado solução. Por outro lado, substituindo
7. Considere separadamente os casos x 2 a e y 2 b, x 2 a e Y < b,
x -- -ª-
c-by -
na segunda equaçao, obtemos a equação de segundo grau
x < a e y 2 b, x < a e y < b para concluir que a região em questão
418 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 419

(a2 + b2)y2 - 2bey + (e2 - a2) = O, e o sistema acima terá soluções se, garante que
e só se, 4b2e2 - 4(a2 + b2)(e2 - a 2 ) ~ O. Tal condição, por sua vez,
equivale a lei :S J a2 + b2, de forma que o maior valor possível para
ffl + ffl = 2a Ç'?
e é e= Ja2 + b2. Para o que falta, observe que, sendo (xo,Yo) um Ç'? J(x + e) 2 + y 2 + J(x - e) 2 + y 2 = 2a
ponto comum qualquer der e r, eu= kxo, v = kyo, temos Ç'? J(x + e) 2 + y 2 = 2a - J(x - e)2 + y2
==} (x + e) 2 + y 2 = [2a - J(x - e)2 + y2] 2
Ç'? (x + e) 2 + y 2 = 4a2 - 4aJ(x - e)2 + y2 + (x - e) 2 + y 2
Ç'? aJ(x - e)2 + y2 = ª2 - ex
uma vez que x5 + Y5 = 1. * a2[(x - e)2 + y2] = (a2 - ex)2
Ç'? (a2 _ e2)x2 + a2y2 = a2(a2 _ e2)
3. Fixe um sistema Cartesiano tal que r( O; R) e A( a, O), com 0(0, O) Ç'? b2x2 + a2y2 = a2b2
e a > R. Em seguida, mostre que a equação da reta r em um tal x2 y2
sistema tem a forma y = m(x - a), para um certo m E Ill, e imponha Ç'? a2 + b2 = 1.
que as soluções do sistema formado pelas equações de r e r sejam
Concluímos, assim, que todo ponto P que satisfaz a relação P F 1 +
B(xo, yo) e P(x1, y1), com xo +a= 2x1 e Yo = 2y1.
P F2 = 2a está sobre a elipse ~ + ' = 1.
Reciprocamente, ao tomarmos um ponto P(x, y) sobre tal elipse, con-
4. Adapte a demonstração da proposição 6.8 ao presente caso para con- cluiremos que P F1 + P F2 = 2a se formos capazes de mostrar que,
cluir que o LG procurado é o conjunto vazio, caso kv'2 < AB, o ponto na implica (como já sabemos!) lxl :S a, de maneira que a 2 - ex ~
médio do segmento AB, caso kv'2 = AB, ou o círculo de centro no a2 - ea = a(a - e) > O. Portanto,
1
ponto médio de AB e raio 2 y 2k2
f -
-2 ln -
AB , caso kv 2 > AB.
a2[(x - e) 2 + y2] = (a 2 - ex) 2 Ç'? aJ(x - e) 2 + y2 = la 2 - exl

5. Nas notações do enunciado daquele resultado, escolha um sistema


* aJ(x - e)2 + y2 = a2 - ex,

Cartesiano de tal forma que B(O, O) e C(a, O). Em seguida, faça e conseguimos transformar a segunda implicação em equivalência. A
A(x, y) e escreva a condição AB = k · AC em coordenadas. fim de garantir que a primeira implicação é uma equivalência, note
inicialmente que a igualdade (x + e) 2 + y2 = [2a - J(x _ e)2 + y2]2
é equivalente a
6. Escolha um sistema Cartesiano em relação ao qual tenhamos 0(0, O),
A(x1,Y1), B(x2,Y2) e C(x3,y3), de sorte que x; + Yt = R 2 para J(x + e) 2 + y2 = l2a - J(x - e)2 + y2j.
1 :S i :S 3. Em seguida, usando o exemplo 6.4, escreva as coordenadas
de G e calcule ambos os membros da igualdade desejada. Portanto, se mostrarmos que, estando P( x, y) sobre a elipse ~ + ~ =
1, tem-se 2a - J(x - e) 2 + y 2 ~ O, seguirá da

7. Para o item (a), a fórmula (6.4) para a distância entre dois pontos J(x + e) 2 + y 2 = 2a - J(x - e)2 + y2,
420 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 421

conforme desejado. Para o que falta, desde que J(x - c)2 + y2 é a


y d: {x = xo}
distância do ponto P sobre a elipse ao foco F 2, temos J(x - c)2 + y2
menor ou igual que o diâmetro do círculo diretor maior, i.e., 2a.
Po
Para o item (b), como (6.13) permanece inalterada ao trocarmos x
por -x ou y por -y, o problema 2, página 281, garante que a cônica
é simétrica em relação à reta y = O, a qual é a mediatriz de F 1F 2, o V X

relação à reta x = -
e o problema 3, página 281, garante que a cônica é simétrica em

-
O, a qual coincide com F1F2. Por fim, sendo
simétrica em relação à reta FiF2 e à sua mediatriz, a cônica deve
necessariamente também ser simétrica em relação ao ponto médio de
F1F2 (alternativamente, basta argumentar como acima, aplicando O p
resultado do problema 1 da página 269).
Figura 9.1: parábola de foco F('Y, O) e parâmetro p.
8. Para o item (b), utilize o resultado do problema 2, página 269.

9. Analise a equação do item (e) do problema anterior, correspondente


ao caso de uma elipse (i.e., com o sinal+ entre as parcelas do primeiro Trocando os papéis dos eixos x e y em (9.1) - o que equivale a uma
membro. mudança de sistema de coordenadas - obtemos a equação

1 2 p
10. Para o item (a), observe que a equação do item (a) do problema 8, y = - - X + -+"(
2p 2
com 'Y no lugar de e, se reduz a 2(xo - "f)X + y 2 = x5 -
'Y2 ou, ainda,
a para a parábola, tal que o foco é F(O, 'Y) e a diretriz é a reta d : {y =
1
X= y2 + -XQ + 'Y
- Xo}. Invertendo O sentido positivo no eixo-y, O que equivale a trocar
2(xo-'Y) 2 ·
y por -y na equação acima, obtemos para a parábola em questão a
Lembrando que p = xo - 'Y é o parâmetro da parábola, e escrevendo equação
xo + 'Y = p + 2"(, a equação acima para a parábola se torna 1 2 p
(9.2)
y = 2p X - 2 - "('
(9.1) para a qual o foco é F(O, -"() e a diretriz é a reta d : {y = -xo}. A
situação é agora a da figura 9.2. Por fim, transladando o eixo-y para
A figura 9.1 esboça a parábola de foco F('Y, O), com 'Y > O, e parâmetro a posição da reta x = a, obtemos um novo sistema Cartesiano, tal
p a partir de sua definição, i.e., como o conjunto dos pontos P do plano que as novas coordenadas (x', y') relacionam-se com as antigas por
que equidistam do foco F e da diretriz d. meio das fórmulas x' = x - a, y' = y (cf. o resultado do problema
Antonio Caminha M. Neto 423
422 Tópicos de Matemática Elementar 2

x = x 0 como única solução, de forma que xo = - b2:" ou, ainda,


2, página 269). O foco é agora F(-a, --y), mas a diretriz continua
m = 2ax 0 + b. Em seguida, use o fato de que Yo = mxo + n para
sendo a reta d: {y = -xo}-
obter n = Yo - mxo = e - ax5.

x=a{:}x1 =0 11. Use o item (c) do problema anterior para provar que os pés das per-
y
pendiculares baixadas do foco da parábola às tangentes são colineares;
em seguida, aplique o teorema de Simson-Wallace.

12. Sendo O a origem do sistema Cartesiano subjacente, aplique o teo-


rema das cordas para encontrar o ponto D(O, y) tal que OA · OB =

X
OC· OD.

Seção 7.1
- - - - - - - - 1 - - - ~ - - - - d: {y = -xo}
2. A tabela a seguir explicita os sinais requeridos:

lºQ 2ºQ 3ºQ 4ºQ


Figura 9.2: a parábola após uma permuta de eixos. sen >0 >0 <0 <0
cos >0 <0 <0 >0
tg >0 >0 <0 <0
Nesse novo sistema, a equação da parábola é obtida de (9.2) trocando
x por x' + a. Como o nome da variável é irrelevante, escreveremos, 5. A partir de ~2 + µy2 = 1, temos em part1cu .
ª2 <
1ar que x2 _
1 ou, am
. d a,

por simplicidade de notação, x +ano lugar de x em (9.2), de modo \~ \ :S 1. Mas, então, existe a E [O, 21r) tal que ~ = cosa ou, ainda,
a obter a equação x = a cosa. Substituindo x = a cosa na equação da elipse, obtemos

y2 (a cos a ) 2 2
y = 2-(x+a) 2 -(E+-y) (9.3) b2 = 1 - a2 = sen a,
2p 2

2~ x +~X+
2 ( ;; - ~- ')') . de modo que y = ±b sena. Se y = b sena, podemos tomar (} = a.
Se y = bsen (-a), segue de cos(-a) = cosa e sen (-a) = -sena
Basta, agora, resolver, parap, a e 'Y, o sistema formado pelas equações que x = acos(-a) e y = bsen (-a), e podemos tomar(}= -a. Para
a -_ l
2p'
b-°' _a2 P
- P e e - 2p - 2 - 'Y·
mostrarmos que tal ângulo é único, suponha que tenhamos também
(}' E [O, 21r) tal que x = a cos (}', y = a sen (}'. Então cos (} = cos (}',
Para o item (b), impondo que o sistema formado pelas equações y =
sen (} = sen (}' e, como (}, (}' E [O, 21r), sabemos que isso implica ser
ax 2 + bx + e e y = mx + n tenha o ponto (xo, Yo) como única solução,
conclua que a equação de segundo grau ax 2 + bx + e = mx + n tem (} = (}'. O que falta é imediato.
424 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 425

y da proposição 7.22. Por exemplo,

sen x = sen a {:} sen x - sen a = O

{:} 2 sen ( x ; ª) cos ( x ; ª) = o.


7. Em cada um dos itens pedidos, escreva A como um seno ou um
cosseno, conforme o caso, e aplique os resultados do problema an-
A(a, O) terior.

8. Adapte, ao caso presente, a sugestão dada ao problema anterior.

9. Pela relação fundamental da trigonometria, é suficiente calcularmos


cos(x - y). Para tanto, observe que

b2 + a 2 = 2 + 2 sen x sen y + 2 cos x cos y = 2 + 2 cos ( x - y).

Figura 9.3: equações paramétricas da elipse. 10. Para a fórmula que falta em (a), escreva sen a-sen b = sen a+sen (-b)
e aplique a fórmula de transformação de uma soma de dois senos
em produto; argumente analogamente para deduzir a fórmula para
Seção 7.2 tg a - tg b. Quanto às fórmulas do item (b), escreva cosa ± cos b =
sen (; - a) ± sen (; - b) e, em seguida, aplique as fórmulas do item
1. Desenvolva sen (a - b) = sen (a+ (-b)) com o auxílio da parte já
(a).
demonstrada do item (b) da proposição 7.18. Argumente analoga- 11. Use o fato de que - ; < cos x < ; e, em seguida, aplique o resultado
mente para tg (a - b). do problema 2, página 311.

2. Escreva 15º = 45° - 30º e use as fórmulas da proposição 7.18. Alter- 12. Comece escrevendo sen (cos x) = cos (; - cos x) . Em seguida, trans-
nativamente, escreva faça a= 15° no corolário 7.19. forme a diferença cos(sen x) - sen (cos x) em produto e argumente
como na sugestão ao problema anterior.
3. Aplique a relação fundamental da trigonometria ao item (a) do coro-
13. Para a primeira fórmula, multiplique o primeiro membro por - 2 sen ~,
lário 7.19.
desfaça o produto - 2 sen ~ sen (a + kb) e use a fórmula para somas
telescópicas. Para a segunda igualdade, use o fato de que cos x =
4. Observe que 45º = 2 · 22º30'.
sen (; - x).

6. Use os resultados do problema anterior, em conjunção com aqueles 14. Faça a = O e b = 2; nas fórmulas do problema anterior.
426 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 427

Seção 7.3 ângulos de 36º, 72° e 72°.

1. Sendo G o pé da perpendicular baixada de de E a AB, aplique o 8. Aplique a lei dos cossenos a um triângulo de lados Z10 , R e R.
teorema de Pitágoras ao triângulo AEG para calcular CE em função
do lado do quadrado. Em seguida, calcule tg EÂG, tg DÂF e use a 9. Aplique a lei dos cossenos aos três triângulos formados pelas posições
fórmula para a tangente do arco duplo para concluir o que se pede. da taverna e de dois dos três mosqueteiros, no instante t após a briga,
para calcular, em função de t, as distâncias entre dois quaisquer dos
2. Denote por () o ângulo agudo que AP faz com a reta r, e calcule três mosqueteiros. Em seguida, aplique a recíproca do teorema de
sucessivamente AP, BP e a área de ABP em termos der. Pitágoras para concluir o que se pede.
3. Mostre que tg (ADB + AÊB) = 1 usando a fórmula para a tangente 10. Tome o ponto D tal que ABCD seja um paralelogramo, considere Q
da soma; você vai precisar calcular o comprimento da hipotenusa e
no interior de AC D tal que APQ seja equilátero. Prove que QC =
da altura relativa à mesma. P B e, daí, que QPC = 60° ou 30°; aplique a lei dos cossenos ao
4. Aplique a lei dos cossenos para calcular a em função de b, e e AÔB; em triângulo APC.
seguida, compare a expressão assim obtida com aquela do enunciado.
11. Comece considerando o hexágono, inscrito no mesmo círculo, mas
5. Sejam O o centro do polígono, A e B dois vértices consecutivos do com lados consecutivos a, b, a, b, a, b. Mostre que tal hexágono
mesmo e M o ponto médio de AB. Como AO B é isósceles de base tem área igual à do hexágono original, e que seus ângulos internos ·
AB, temos AÔM = 1!:n e OM..lAB; portanto, ln= 2AM = 2Rsen1!:n medem 120°. Em seguida, aplique a lei dos cossenos e o resultado do
e an = O M = R cos ~. Basta, agora, fazer n sucessivamente igual a problema 5, página 331 para o cálculo de l3.
3, 4, 6 e 8, substituindo, em cada caso, os valores já calculados para
12. Aplique a fórmula para o comprimento da mediana a cada um dos
i
o seno e o cosseno.de í, i, e i, respectivamente.
triângulos BDM, ABC e ACD.
6. Sejam O o centro do polígono, A e B dois vértices consecutivos do
13. A primeira parte segue do problema anterior; quanto à segunda, cons-
mesmo e Mo ponto médio de AB. Sejam, ainda, A' e B' os centros
trua inicialmente, a partir de um triângulo dado ABC, um paralelo-
dos dois círculos, dentre os n traçados, que têm seus centros respec-
gramos ABDC tal que AD é igual ao dobro da mediana relativa ao
tivamente situados sobre OA e OB, e M' a interseção de OM com
lado BC.
A'B'. Então OM'..lA'B', A'M' = r e OM' = an-r, onde an denota
o apótema do polígono (cf. problema anterior). Utilize trignome-
tria no triângulo retângulo A' O M' para calcular r em função de an
e do ângulo A' ÔM' = ~; em seguida, utilize trignometria no triân-
onde D -
14. Aplique a relação de Stewart ao triângulo AOD e ao segmento 00',
i- A é a interseção de AO' com r.
gulo retângulo AO M para calcular an em função de l e do ângulo 15. Aplique a lei dos senos a cada paracela do primeiro membro.
AÔM=1!:n·
16. Aplique a lei dos senos a ABC, juntamente com a fórmula para o
7. Aplique o resultado do problema 13, página 170, juntamente com a seno do arco duplo, para calcular cos AêB em termos de a, b e e; em
lei dos cossenos, a um triângulo de lados R, lio e lio - e, obviamente, seguida, substitua o resultado na lei dos cossenos.
428 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 429

17. Sejam r a razão da PA em a, f3 e 'Y as medidas dos ângulos opostos no sentido anti-horário, temos PÔA 2k =a+ (k~l)1r. Portanto, segue
aos lados de comprimentos l - r, l e l + r, respectivamente, de sorte da Lei dos Cossenos que
que a< f3 < 'Y· Então 'Y =a+ 90° e, uma vez que a+ f3 +"! = 180º,
obtemos f3 = 90° - 2a. Agora, segue da lei dos senos que A2kP2 = A2k0 2 + OP2 - 2A2kO · OPcos (a+ (k ~ l)1r)
l-r
sena sen (90° - 2a)
l+r
sen (90º + a)
= R 2 + OP2 -2R· OPcos ( a+ (k ~ l)1r).
ou, ainda, Analogamente, A2k-1P 2 = R 2 + OP2 - 2R · OPcos (kn1r - a), de
l-r l+r sorte que
=---
sena cos(2a) cosa
Por fim, considere as igualdades acima como um sistema de equações
em r e a para concluir a análise do problema. se, e só se,

18. Tome o ponto D tal que ABDC seja um paralelogramo e aplique a


lei dos senos ao triângulo ADC, juntamente com a fórmula para o
t, 008 ( <> + (k -;, l ),c) = t, COB ( ~ ~ <>) ·
seno de um arco duplo. Por fim, para estabelecer esta igualdade, aplique o resultado do pro-
blema 13, página 319.
19. Calcule a área do triângulo com o auxílio da fórmula de Herão; em
seguida, adapte a ideia da prova da proposição 5.12 para concluir que 23. Se AC= b, AB = e, BC= a e BD= CD= t, aplique o teorema
1
tal área vale 2 R. de Ptolomeu ao quadrilátero ABDC para obter (e+ b)t = a· AD.
Use, então, a lei dos senos para obter, a partir daí, que
20. Considere separadamente os casos D E AB, D E AC e D E BC;
para cada um deles, aplique a lei dos senos ao triângulo DPQ. BK + CL = t(senÊ + senÔ) =AD· sen ~ AD.

21. Se AB = e, AC= b e BC= a, use a fórmula do seno para a área 24. Se AB = e, AC= b e BC= a, use o corolário 7.29 e a lei dos senos
para mostrar que A(AB2C1) = 1R e
3
de um triângulo e a lei dos cossenos para mostrar que a desigualdade
desejada equivale à desigualdade 2 ~

A(BA A C) = (b + e) sen A _ abc = _.!!.._(b 2 b 2)


12 2 4R 4R +c+c,
a 2 + b2 ~ ab( V3 sen ê + cos Ô).
onde R é o raio do círculo circunscrito a ABC. Após encontrar fór-
Em seguida, aplique a desigualdade entre as médias, juntamente com mulas análogas para as demais áreas-parcela, some-as para obter
a fórmula (7.10). A( A1A2B1B2C1C2) = 1R((a 2 +b2 +e2)(a+b+c) +4abc).
4
22. Seja O o centro e R o raio do círculo circunscrito ao polígono. Su- Por fim, aplique a desigualdade entre as médias aritmética e ge-
ponha, sem perda de generalidade, que P pertence à região angular ométrica, uma vez mais em conjunção com o corolário 7.29, para
LA10A2. Se PÔA2 = a, então, percorrendo o perímetro do polígono concluir o resultado.
430 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 431

25. Sendo () = ABM, mostre inicialmente que()= ê - B; em seguida,


calcule AN, BN e AC em função de MN = x, AB = e e dos ângu- A
los envolvidos, usando a lei dos senos e a trigonometria em triângulos
retângulos.

26. Aplique a fórmula (7.16) à igualdade A(ABC) = A(ABP)+A(ACP).


e e M x D
27. Aplique a fórmula do seno para a área de um triângulo, juntamente
com a desigualdade entre as médias para dois números.
i

28. Sendo M o ponto de encontro das diagonais de ABCD, temos 31. Use a fórmula do problema 28, juntamente com a desigualdade entre
as médias aritmética e geométrica para dois números.
A(ABCD) = A(ABM) + A(BCM) + A(CDM) + A(DAM);
32. Aplicando a lei dos cossenos aos triângulos ABC e CDA para o cál-
agora, aplique a fórmula do seno para a área de cada um dos quatro culo de AC, obtenha uma expressão para o cosseno de ABC em
triângulos do segundo membro. função de a, b, e e d; em seguida, calcule, a partir daí, o seno de ABC
e a área de ABCD como A(ABC) + A(CDA).
29. Aplique as fórmulas do seno para 8, 81 e 82 para transformar a
desigualdade em questão numa desigualdade envolvendo os compri- 33. Sendo a = BÂD e f3 = ABC, use a lei dos senos para provar que
mentos de AE, BE, CE e DE; em seguida, use a desigualdade entre ~ = !:~~. Utilizando a forma do seno para a área de um triângulo,
as médias para dois números. calcule a área de ABCD de duas maneiras distintas para mostrar que
(ad + bc)sena = (ab + cd)senf3.
30. Se()= L.ADC, então L.ABC = 1r - () e, daí,
34. Aplique os teoremas de Ptolomeu e Hiparco para calcular os com-
A(ADM) = A(ABCM) => A(ABCD) = 2A(ADM) primentos das diagonais de ABCD em termos de a, b, e e d. Em
=> (x + c)ysen () + absen (1r - ()) seguida, construa com régua e compasso segmentos tendo os compri-
= 2xysen() mentos calculados.

=> xy = cy + ab. 35. Sejam Mo ponto médio do lado BC e A1 =/=Ao ponto em que AM -
intersecta o círculo circunscrito a ABC. Se MA1 = x, use o teorema
Por outro lado, a igualdade dos perímetros nos dá x + y = a + b + e. das cordas e o fato de AA1 :S 2R para concluir quem~+ 4~ª :S 2R.
Portanto, segue de (9.4) que Por fim, use a fórmula para o comprimento de ma para concluir que
b2+c2 < 2R.
2ma -
xy + y 2 = (x + y)y =(a+ b)y + cy =(a+ b)y + xy- ab,
36. Se tal fosse possível, o quadrado inicial e o triângulo final teriam
e, daí, y 2 - by = ay - ab ou, ainda, (y - a)(y - b) = O. Logo, y = a mesmos perímetro e área; analise a viabilidade dessa possibilidade à
ou y = b. luz do exemplo 7.31.
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 433
432
---+ --+ --+ ---+
37. Para a primeira parte, aplique a lei dos senos aos triângulos ABP 4. Escreva a condição do enunciado como OC- OA = k( OB- OA) e
~ ~ '
ACP e ABC, observando que sen APB = sen APC. desenvolva.

38. Para o item (b), use (a) e o teorema 4.31. Para (a), comece mostrando 5. Fixe um ponto O do plano e use o resultado do problema anterior
---+ ---+ ---+ ---+ ---+
que, se H e O denotam, respectivamente, o ortocentro e o circuncentro
<------+ <----->
para escrever NM = OM - ON = !( OA- OC). Conclua, então,
---+ ---+
de ABC e se H1 é o simétrico de Hem relação a O, então A1H11- AH, que NM= PQ.
-f---+ ~ ~ +--+
B 1H11- BH e C1H11- CH. Em seguida, se AA' é diâmetro do círculo
circunscrito a ABC, use o teorema da Mediana de Euler e a seme- 6. Sendo Mo ponto médio de BC, use o fato de AH li OM e AH=
-- ---+ ---+
lhança AOM ,. ._, AA'A 1 para concluir que A1H1 = 2(R + x), onde 2 O M (cf. teorema 4.19) para concluir que AH = 2 O M. Em seguida,
- - ---+
x é a distância de O ao lado BC. Calcule B1H1 e C1H1 de forma escreva AH = OH - O A e aplique o resultado do problema 4 para
---+ ---+ -
análoga, mostrando, em seguida, que concluir que OM = !( OB + OC).

A(A1B1C1) = A(A1B1H1) + A(A1C1H1) + A(B1C1H1) 7. Se P é o pé da bissetriz interna relativa a BC, use o teorema da
---+ ----t

= 2R2 (sen + senÊ + senê) Bissetriz Interna para concluir que BP = b~c BC. Em seguida,
---+ ---+
+ 2(xysen ê + xzsenÊ + yzsenÂ)' = b01!!~0C 01?
1 + 2R((x + y)sen ê + (x + z)sen Ê + (y + z)sen Â).
aplique o resultado do problema 4 para obter
-
1

1
Finalmente, aplique a lei dos senos e o teorema de Carnot para con-
-
Por fim, repita o argumento acima para obter sucessivamente AI =
a!t~c AP e, por fim, a fórmula do enunciado.
cluir o resultado desejado.
8. Sendo O o centro do polígono, escreva P A = OA - OP e use o
---+ ---+
fato de que OA1 + · · · + OAn = O.
---+ -
= OAi, mi= OMi e bi =
Seção 7.4
-
9. Fixado um ponto O do plano, sejam 3i
OBi· Mostre que
1. No plano Cartesiano, se A(-1,1), B(l,-1), C(-2,-2) e P(x,y),
então ABC é isósceles e queremos minimizar AP + BP+ CP. Para
tanto, use o teorema de Steiner para calcular as coordenadas de P e, em seguida, some o primeiro e o último membros da igualdade acima
em seguida, o valor mínimo da expressão do enunciado. para 1 ~ i ~ 2n, a fim de obter o resultado desejado.
---+ -
10. Fixado arbitrariamente um ponto O do plano, sejam OA = a, OA' =
- ---+
a' e analogamente para OB, OB', etc. Use o problema 4 para obter
Seção 8.1
2b - a = a', 2c - b = b', 2d - e = e' e 2a - d = d'. Por fim,
2. Escreva v = kw e, em seguida, tome módulos em ambos os membros encare essas quatro igualdades como um sistema linear de equações
dessa igualdade para obter lkl = ii': i'
1 •
1
que, uma vez resolvido, fornece a em função de a' b', e' e d'.
434 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 435

11. Use argumentos semelhantes aos dos problemas anteriores para con- Seção 8.3
cluir que QiQi+l = -}PiPi+I, para 1 :Si :S 5.
4. Escolha um ponto arbitrário Q(x, y) sobre r, tome um vetor unitário
----+
v normal ar e calcule o produto escalar PQ. v de duas maneiras
distintas.
Seção 8.2
1. Use o resultado do problema 4, página 281.
- -
5. Sendo OP = p e OAi =~para 1::::; i::::; n, mostre que
n n n
2. Podemos supor, sem perda de generalidade, que AD= 1. Escol~ndo L li~ -
i=l
Pll 2 = L
i=l
llaill 2 - 2p · L
i=l
~ + nllPll 2.
a origem de um sistema Cartesiano em D, temos então que DC
----+
=
-i e DG = -y'3j. Aplique várias vezes o resultado do problema Em seguida, aplique o resultado da proposição 8.6.
----+ .
anterior para mostrar que DL = -(1 + v'3)i + 3j. Por fim, obtenha 6. Se O é o centro e R é o raio do círculo circunscrito ao polígono
----+ ----+
e compare as expressões para os vetores GC e G L em termos dos A1A2 ... A2n, temos
n n n
vetores canônicos i e j.
L A2kP 2 = I:IIA~ll = I:IIOP- o~kll 2
2
----+
4. Use o problema anterior, observando que, se OQ é obtido de OP
-
k=l k=l k=l
n
pela rotação de ângulo trigonométrico -(}, então as coordenadas de
P no sistema x' Oy' coincidem com as coordenadas de Q no sistema = I:rn i5P11 2 + 11 o~k11 2 - 2( i5P, o~k)
k=l
xOy. n

5. Para o item (c), mostre que a rotação de coordenadas sugerida leva C a


= n( OP2 + R 2 ) - 2( OP, L o~k)
k=l
uma equação no sistema x'Oy' da forma a'(x')2+2bx'y' +c'(y')2+ f' =
O, com 2b' = 2bcos 2() - (a - c)sen W; mostre que tal equação admite
uma solução () quando a i= e. Para (d), analise separadamente os
casos a' d = O, a' e' < O e a' d > O, levando o sinal de f' em conta em
-
uma vez que I:~=l OA2k = Opela proposição 8.6 (já que A 2A 4 ... A 2n
é um polígono regular). Analogamente, obtemos E~=l A2k_ 1p 2 =
cada um de tais casos. n(OP 2 +R2 ).
6. Escolha um sistema Cartesiano tendo como origem o centro O de um
dos hexágonos, e tal que um dos vértices do mesmo, digamos A, seja
-
7. Faça o produto escalar de OH por si mesmo para obter
--2 ---+ ---+ ---+ ----+ ---+ ---+
o ponto (1, O). Mostre que o conjunto dos vértices dos hexágonos é OH = (OA+ OB+ OC, OA+ OB+ OC).
----+
o conjunto dos pontos P do plano tais que OP = ai + bei, com Em seguida, calcule cada um dos nove produtos do segundo membro
a, b E Z. Suponha, agora, que existe um quadrado PiP2P3P4 com·
----+
ac~ma. P~a exemplificar, sendo AêB = ê, note inicialmente que
todos os Pi 's da forma acima; conclua que P2P3 é obtido a partir AO B = 2C e, portanto,
de P~2 pela rotação trigonométrica de ± ~ e aplique o resultado do• ·
problema 1 para chegar a uma contradição.
--
2(0A, OB) 20A · 0Bcos2ê = 2R2(1- 2sen 2ê)
2 ~
2R - (2Rsen C) 2 = 2R2 - a2.
436
Tópicos de Matemática Elementar 2

8. Escreva a+ b + c = 2p e use o problema 7, juntamente com a lei dos


senos e as fórmulas (5.2) e (7.16), para concluir que
--+ --t ---+ ----+
4p2 II Oill 2 = llaOA + bOB + cOCll 2
R 2 (a 2 + b2 + c2 ) + 2abR2 (1 - 2sen 2 Ô) +
+2acR2 (1 - 2sen 2 Ê) + 2bcR2 (1- 2sen 2 Â)
= R 2 ( a + b + e) 2
-ab(2Rsen ê) 2 - ac(2Rsen Ê) 2 - bc(2Rsen Â) 2 Referências Bibliográficas
4p2 R 2 - abc(a + b +e)= 4p2 R 2 - 2pabc
= 4p2 (R2 - 2Rr).

9. Mostre, com o auxílio das leis dos senos e cossenos, que

CD· OE= (-Bê+~BÃ). (-sõ+~BÃ+~Bê) [1] AKOPYAN, A. V. e ZASLAVSKY A. A. (2007). Geometry of


Conics. American Mathematical Society.
= !(b2 - c2),
6
[2] DE BARROS, A. A. e ANDRADE, P. F. DE A. (2009).
onde b = AC e c = AB. Introdução à Geometria Projetiva. Sociedade Brasileira de
Matemática.
10. Para o item (e), faça q = 2sen ~ e observe que O< q < 1, uma vez
que n > 6. Agora, use o resultado do problema 11 da seção 6.2 do [3] BARBOSA, J. L. M. (2004). Geometria Euclidiana Plana. Socie-
volume 1 para obter lk = qklo < q+/!(f-q) e, daí, que lk < 1 para dade Brasileira de Matemática.
k > q(i°-~l). Por fim, observe que a distância entre dois pontos de
coordenadas inteiras é sempre maior ou igual a 1, de forma que a [4] BARBOSA, J. L. M. (1995). Geometria Hiperbólica. Instituto Na-
discussão acima nos dá uma contradição. cional de Matemática Pura e Aplicada.

[5] CAMINHA, A. (2012). Temas de Matemática Elementar, Volume


1. Números Reais. Sociedade Brasileira de Matemática.

[6] COXETER, H. S. M. e GREITZER, S. L. (1967). Geometry Re-


visited. The Mathematical Association of America.

[7] DE FIGUEIREDO, D. G. (2002). Números Irracionais e Trans-


cendentes. Sociedade Brasileira de Matemática.
438 Tópicos de Matemática Elementar 2

[8] HEATH, T. L. (1956). The Thirteen Books of Euclid's Elements.


Dover.

[9] HONSBERGER, R. (1976). Mathematical Gems II. The Mathe-


matical Association of America.

[10] HONSBERGER, R. (1995). Episodes in Nineteenth and Twenti-


Índice Remissivo
eth Century Euclidean Geometry. The Mathematical Association
of America.

[11] JOHNSON, R. (2007). Advanced Euclidean Geometry. Dover.

[12] LIMA, E. L. (1997). Medida e Forma em Geometria. Sociedade


Brasileira de Matemática.
Área inscrito, 107
[13] MOISE, E. E. (1963). Elementary Geometry from an Advanced de triângulos semelhantes, 235 inscrito, teorema do, 107
Standpoint. Addison-Wesley. de um círculo,. 251 interno de um polígono, 22, 271
de um paralelogramo, 225 obtuso, 16
[14] J. Roberts. (1977). Elementary Number Theory: a Problem Ori- de um quadrado, 223 reto, 16
ented Approach. The MIT Press. de um retângulo, 225 teorema do, 51
de um trapézio, 234 vértice de um, 12
[15] YAGLOM, 1. M. (1962). Geometric Transformations I. The
de um triângulo, 226 Ângulos
Mathematical Association of America.
fórmula do seno para a, 327 alternos internos, 49
[16] YAGLOM, 1. M. (1968). Geometric Transformations II. The postulados para, 221 colaterais internos, 49
Mathematical Association of America. Ângulo, 12 complementares, 16
agudo, 16 correspondentes, 54
[17] YAGLOM, 1. M. (1973). Geometric Transformations III. The
bissetriz de um, 37 iguais, 14
Mathematical Association of America.
central, 106 internos de um triângulo, 20
[18) YAGLOM, 1. M. e SHENITZER, A. (2009). Geometric Transfor- central, medida de um, 106 opostos pelo vértice, 17
mations IV. The Mathematical Association of America. complemento de um, 17
de segmento, 109 Abscissa, 262
ex-cêntrico exterior, 110 Altura
ex-cêntrico interior, 110 de um paralelogramo, 225
externo de um polígono, 23 de um trapézio, 233
440 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 441

de um triângulo, 41 como LG, 93 pedal, 218 trigonométrico, 336


de um triângulo equilátero, 164 de um ângulo, 37 raio de um, 7, 8 Ceviana, 194
pé da, 41 interna de um triângulo, 38 Círculos Cevianas
Apótema de um polígono regular, interna, pé da, 38 exteriores, 120 isogonais, 195
331 teorema da, 155 interiores, 120 Circuncentro de um triângulo, 98
Apolônio Bolyai, János, 48 secantes, 120 Circunferência de um círculo, 253
círculo de, 177 Bramagupta, fórmula de, 335 tangentes, 121 Coeficiente
de Perga, 175 tangentes exteriormente, 121 angular, 306
Aproximação de 1r, 252 Círculo, 7 tangentes interiormente, 121 Complemento de um ângulo, 17
Arco arco de, 9 Cônica, 290 Completamento de quadrados, 284 ·
capaz, 113 centro de um, 7 central, 290 Comprimento de um círculo, 253
de círculo, 9 circunferência de um, 253 centro de uma, 290 Conceitos primitivos, 2
maior, 9 circunscrito a um polígono, 145 diretriz de uma, 290 Congruência
menor, 9 circunscrito a um quadrilátero, excentricidade de uma, 290 caso ALA de, 33
Arcos 137 foco de uma, 290 caso CH de, 54
fórmula de adição de, 313 circunscrito a um triângulo, 124 forma canônica de uma, 292 caso LAAo de, 52
trigonométricos, 299 como LG, 90 parâmetro de uma, 290 caso LAL de, 31
Arquimedes, 124 comprimento de um, 253 Cônicas, 176 caso LLL de, 35
teorema de, 124, 334 corda de um, 8 seções, 288 casos de, 30
axioma, 1 de Apolônio, 177 Canônica de triângulos, 28
de Euler, 184 base, 357 simetria da, 29
Baricentro diâmetro de um, 8 Carnot transitividade da, 30
de um triângulo, 73, 265 dos nove pontos, 184 Lazare, 238 Conjugado
Base equação do, 283 teorema de, 238 harmônico, 199
de um paralelogramo, 225 equações paramétricas do, 301 Catetos, 52 isogonal, 198
média de um trapézio, 77 ex-inscrito a um triângulo, 129 Cauchy, desigualdade de, 365 Conjugados
média de um triângulo, 70 exterior de um, 7 Centro harmônicos, 198
média, teorema da, 71 inscrito em um polígono, 146 de um círculo, 7 isogonais, 197
maior de um trapézio, 75 inscrito em um quadrilátero, Centro radical, 211 Conjugados harmônicos, 282
menor de um trapézio, 75 142 Ceva Coordenadas Cartesianas, 261
Bases de um trapézio, 75 inscrito em um triângulo, 127 Giovanni, 192 Corda de um círculo, 8
Bissetriz interior de um, 7 teorema de, 192, 282, 336 Cosseno
442 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 443

de arcos complementares, 309 focos de uma, 289 de Herão, 329 Interior


de arcos simétricos, 308 forma canônica, 289 de Pick, 272 de um polígono, 271
de arcos suplementares, 310 Eplise de transformação em produto,
de um arco, 299 círculos diretores da, 312 317 Jordan
Equação do arco duplo, 315 Camille, 271
Decágono, 24
da reta, 276 do seno para a área, 327, 334 teorema da curva de, 271
Desargues
Girard, 189 do círculo, 283 Fermat
Lei
teorema de, 189 paramétrica da reta, 282, 358 Pierre Simon de, 185
dos cossenos, 321
Desigualdade Equivalência Ponto de, 185
dos senos, 326
de Cauchy, 365 de polígonos, 231 ponto de, 341
Lemoine
de Weitzenbõck, 333 de triângulos, 230
Geometria ponto de, 239
triangular, 60 Escalar, 350
Euclidiana, 1 LG, 90
Diâmetro produto, 363
Euclidiana plana, 3 bissetriz como, 93
de um círculo, 8 produto por, 350
Hiperbólica, 48 círculo como, 90
Diagonal Euclides, 48
Gergonne mediatriz como, 91
de um quadrado, 164 de Alexandria, 1, 2
Joseph, 199 Lobatchevsky, Nikolai, 48, 49
Direção, 347 Elementos de, 1
Ponto de, 199 Losango, 79
Distância Euclidiana, geometria, 1
Grau, 12 área de um, 234
de ponto a reta, 41 Euler
de um trapézio, 234
entre dois pontos, 7 círculo de, 184 Heptágono, 24 Lugar geométrico, 90
entre paralelas, 79 Leonhard, 181, 182 Herão, fórmula de, 329
mediana de, 77, 182, 270 Hexágono, 24 Média
Eixo reta de, 182 Hipócrates harmônica de dois segmentos,
das abscissas, 262 teorema da Mediana de, 270 170
de Chios, 258
das ordenadas, 262 teorema da mediana de, 181 Método
Eixo radical, 207 lúnulas de, 258
Ex-incentro de um triângulo, 129 Hiparco analítico, 259
Elipse, 288
de Nicéia, 335 axiomático, 1
distância focal da, 289 Fórmula Cartesiano, 259
eixo maior da, 290 teorema de, 335
da distância entre dois pontos, sintético, 89
Hipotenusa, 52
eixo maior de uma, 289 265 trigonométrico, 295
eixo menor da, 290 Horizonte, 190
de adição de arcos, 313 Mediana
equações paramétricas da, 312 de Bramagupta, 335 Incentro, 102 de Euler, 182, 270
444 Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 445

de Euler de um trapézio, 77 área de um, 225 regular, apótema de um, 331 problema
de um triângulo, 39 altura de um, 225 simples, 271 de Steiner, 340
Mediatriz base de um, 225 Polígonos equivalentes, 227 de tangência de Ptolomeu, 211
como LG, 91 Pedal Poncelet isoperimétrico, 329
de um segmento, 91 círculo, 218 Jean Victor, 205 Produto escalar
Menelaus triângulo, 218 teorema de, 205 em coordenadas, 367
de Alexandria, 187 Pentágono, 24 Ponto, 2 Ptolomeu
teorema de, 187, 282 Perímetro conjugado harmônico, 199 Cláudio, 179
Minkowski de um polígono, 22 conjugado isogonal, 198 generalizado, teorema de, 338
Hermann, 268, 371 de um triângulo, 20 de Fermat, 185, 341 problema de tangência de, 211
teorema de, 371 Perpendicular, pé da, 41 de fuga, 190 teorema de, 179
Pi, 251 de Gergonne, 199
Número Quadrado, 84
Pick de Lemoine, 239
transcendente, 252 área de um, 223
fórmula de, 272 de Nagel, 199
Nagel diagonal de um, 164
Georg A., 272 do infinito, 190
Ponto de, 199 , . Quadrantes 260
Pitágoras med10 de um segmento, 38 Q d '
Nagel, Christian H. von, 199 . , . 1 _ ua rilátero, 24
teorema de, 164, 266 s1metnco em re açao a uma reta,
44 círculo circunscrito a um, 137
Octógono, 24 Pitot
circunscritível, 142
Ordenada, 262 Henri, 143 simediano, 239
inscritível, 137
Ortocentro de um triângulo, 99 teorema de, 142 Ponto-chave, 94
Quarta proporcional, 153
Plano, 2 Pontos
Pé Cartesiano, 261 colineares, 19 Radiano, 296
da altura, 41 Polígono conjugados harmônicos, 198 Radianos, conversão para, 297
da bissetriz interna, 38 ângulo externo de um, 23 conjugados isogonais, 197 Radical
da perpendicular, 41 ângulo interno de um, 22, 271 não colineares, 19 eixo, 207, 211
Pappus circunscritível, 146 Posições relativas de ponto e reta, Raio
de Alexandria, 200 convexo, 22 3 de um, 7
teorema de, 200 diagonal de um, 22 postulado, 1 de um círculo, 8
Parábola inscritível, 145 das paralelas, 48 Razão de semelhança, 159
parâmetro da, 420 interior de um, 271 quinto, 48 Região
Parâmetro, 282, 302 perímetro de um, 22 Potência angular, 12
Paralelogramo, 65 regular, 245 de ponto, 206 convexa, 11
Tópicos de Matemática Elementar 2 Antonio Caminha M. Neto 447
446

caso LAL de, 161 da Bissetriz, 155 lados não paralelos de um, 75
não convexa, 11
caso LLL de, 159 da corda quebrada, 124 Triângulo, 19
poligonal, 22
de triângulos, casos de, 159 da curva de Jordan, 271 área de um, 226
triangular, 19
razão de, 159 da mediana de Euler, 181, 270 órtico, 139
Regra do paralelogramo, 348
Semicírculos, 8 das cordas, 201 ângulos internos de um, 20
Relação
de Arquimedes, 124 acutângulo, 52
de Stewart, 324 Semiplano, 11
de Carnot, 238 altura de um, 41
fundamental da trigonometria, Semirreta, 4
de Ceva, 192, 282, 336 baricentro de um, 73, 265
301 Seno
de arcos complementares, 309 de Desargues, 189 base média de um, 70
Retângulo, 79
de arcos simétricos, 308 de Hiparco, 335 bissetriz interna de um, 38
área de um, 225
de arcos suplementares, 310 de Menelaus, 187, 282 círculo circunscrito a um 124
Reta, 2 '
de Minkowski, 371 círculo ex-inscrito a um, 129
concorrentes, 45 de um arco, 299
de Pappus, 200 círculo inscrito em um, 127
de Euler, 182 Setor
de Pitágoras, 164 circuncentro de um, 98
de Simson-Wallace, 142 circular, 252
de Ptolomeu, 179 equilátero, 21
determinação da, 3 Bimediana, 239
de Ptolomeu generalizado, 338 equilátero, altura de um, 164
equação paramétrica da, 282 Simson-Wallace
de Simson-Wallace, 140 escaleno, 21
secante, 123 reta de, 142
de Thales, 151 ex-incentro de um, 129
tangente a um círculo, 105 teorema de, 140
do ângulo externo, 51 incentro de um, 102
Retas Sistema
do ângulo inscrito, 107 isósceles, 21
paralelas, 45 Cartesiano, 261
Terceira proporcional, 157 lados de um, 20
perpendiculares, 39 Steiner
Thales medial, 71
Jakob, 340, 341
de Mileto, 151, 152 mediana de um, 39
Segmento, 4 problema de, 340
teorema de, 151 ortocentro de um, 99
ângulo de, 109 Stewart, relação de, 324
Transcendente, número, 252 pedal, 140, 218, 337
mediatriz de um, 91
Tangência Trapézio, 75 perímetro de um, 20
orientado, 187
entre reta e círculo, 105 área de um, 234 pontos notáveis de um, 75, 98
ponto médio de um, 38
ponto de, 105 altura de um, 233 retângulo, 52
Segmentos
Tangente base média de um, 77 retângulo, catetos de um, 52
iguais, 5
de um arco, 303 base maior de um, 75 retângulo, hipotenusa de um,
transporte de, 5
Teorema base menor de um, 75 52
Semelhança
da base média, 71 bases de um, 75 vértice de um, 20
caso AA de, 161
448 Tópicos de Matemática Elementar 2

Triângulos associatividade da adição de, .!ISBM


casos de semelhança de, 159 348
congruentes, 28 comutatividade da adição de,
em perspectiva a partir de um (continuação dos títulos publicados)
348
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 6 - Polinômios - A. Caminha
ponto, 190 de mesma direção, 347 Treze Viagens pelo Mundo da Matemática - C. Correia de Sa e J. Rocha (editores)
em perspectiva a partir de uma diferença de, 351
reta, 190 iguais, 346 COLEÇÃO PROFMAT .
isósceles, base de um, 21 ortogonais, 362 Introdução à Álgebra Linear - A. Refez e C.S. Fernandez
!"
Napoleônicos, 185 produto escalar de dois, 363 Tópicos de Teoria dos Números - C. G. Moreira, F. E Brochero e N. C. Saldanha
retângulos, relações métricas soma de, 347 Tópicos de Historia de Matemática - T. Roque e J. Basco Pitombeira
em, 162 Polinômios e Equações Algébricas - A. Refez e M.L. Villela

semelhantes, 158 Weitzenbock Recursos Computacionais no Ensino de Matemática - V. Giraldo, P. Caetano e F.


Mattos
'!
semelhantes, área de, 235 desigualdade de, 333
Temas e Problemas Elementares - E. Lages Lima, P. C. Pinto Carvalho, E. Wagner
Trignométrico, ciclo, 295 Roland, 333 e A. C. Morgado
Números e Funções Reais - E. Lages Lima
Trigonometria, relação fundamen-
tal da, 301 COLEÇÃO INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Números Irracionais e Transcendentes - D. G. de Figueiredo


Vértice
Números Racionais e Irracionais - Ivan Niven
de um ângulo, 12
de um polígono, 22 COLEÇÃO TEXTOS UNIVERSITÁRIOS
de um triângulo, 20 Introdução à Computação Algébrica com o Maple - L. N. de Andrade
Vetor, 345 Elementos de Aritmética - A. Refez
extremidade final de um, 345 Métodos Matemáticos para a Engenharia - E. C. de Oliveira e M. Tygel
extremidade inicial de um, 345 Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies - M. P. do Carmo
Matemática Discreta - L. Lovász, J. Pelikán e K. Vesztergombi
geométrico, 345
Álgebra Linear: Um segundo Curso - R. P. Bueno
múltiplo escalar de um, 350 Introdução às Funções de uma Variável Complexa - C. S. Fernandez e N. C.
multiplicação por escalar, 350 Bernardes Jr.
não nulo, 347 Elementos de Topologia Geral - E. L. Lima
A Construção dos Números - J. Ferreira
nulo, 347
Introdução à Geometria Projetiva - A. Barros e P. Andrade
oposto, 350 Análise Vetorial Clássica - F. Acker
Vetores Funções, Limites e Continuidade - P. Ribemboim
ângulo entre dois, 362 Fundamentos de Análise Funcional - D. Pellegrino, E. Teixeira e G. Botelho
.!SBM
(continuação dos títulos publicados)
Fundamentos de Análise Funcional - D. Pellegrino, E. Teixeira e G. Botelho

COLEÇÃO MATEMÁTICA APLICADA


Introdução à lnferência Estatística - H. Bolfarine e M. Sandoval

COLEÇÃO OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA


Olimpíadas Brasileiras de Matemática, la a 8a - E. Mega, R. Watanabe
Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9a a 16a - C. Moreira, E. Motta,
E. Tengan, L. Amâncio, N. C. Saldanha e P. Rodrigues
21 Aulas de Matemática Olímpica - C. Y. Shine

h

Você também pode gostar