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Unidade 2 - Ficha de Compreensao Da Leitura 1
Unidade 2 - Ficha de Compreensao Da Leitura 1
Artigo de opinião
Leia o texto que se segue e responda ao questionário apresentado.
CRIADOS DE QUARTO
A máxima segundo a qual ninguém é um herói para o seu criado de quarto aplica-se com toda a pro-
priedade na relação entre os portugueses e o país onde nasceram. Somos desconfiados quanto a Portugal,
céticos, maledicentes, intriguistas, não é fácil a um português elogiar Portugal, e eu sofro também dessa
inibição. Conhecemos o país demasiado bem, de muito perto, há muitos anos, sabemos os defeitos todos,
5 as vergonhas, portamo-nos como velhos cônjuges que deixaram de ter interesse ou mistério um para o
outro.
E, no entanto, ciclotímicos, somos capazes de grandes euforias e de grandes depressões, súbitas e às
vezes inesperadas, amamos e odiamos isto com uma volatilidade perigosa. Enquanto habitantes de um país
exíguo, entendemos que é no estrangeiro, no vasto mundo, que provamos aquilo que valemos. E seguimos
10 com atenção as provas desportivas em que nos saímos bem, os nossos atletas famosos, os prémios de
literatura ou cinema, o reconhecimento dos arquitetos, o sucesso dos músicos, os atores portugueses que
vingaram em Hollywood, bem como todo e qualquer «lusodescendente» ganhador que nos acrescente,
por osmose, alguma segurança e algum prestígio.
Isto não é fácil de perceber. Mas nós percebemo-nos mal. Um país antiquíssimo, com unidade territo-
15 rial, linguística, cultural, não devia estar, como nós sempre estamos, a interrogar a nossa identidade. Temos
uma «hiperidentidade», como escreveu um dos nossos principais pensadores, mas sendo «híper» é também
frágil, e não arrogante. Daí que o patriotismo vá e venha, as pessoas sofisticadas consideram-no pouco sofisti-
cado, e toda a gente percebe que os nossos grandes motivos de orgulho enquanto nação aconteceram
há quinhentos anos, facto tão inegável quanto inegavelmente melancólico.
20 Por isso, perante um estrangeiro, tendemos a elogiar Portugal, por aquilo que ele tem de melhor inde-
pendentemente das nossas virtudes ou da nossa intervenção. As praias, o clima, a luz, as serras são o maior
triunfo português. Depois, timidamente, começaremos a falar de castelos ou gastronomia, com medo que
nos comparem com alguém, com o vizinho do lado, por exemplo, bem mais faustoso. Em última análise,
citamos a nossa «simpatia». A nossa simplicidade, cordialidade, afabilidade.
25 Características que praticamos mais notoriamente com os estrangeiros do que uns com os outros,
diga-se de passagem. Até porque é a vossa opinião que define a nossa autoestima.
PEDRO MEXIA, Portugal vale a pena, Lisboa, Oficina do Livro, 2012, pp. 234-235.
1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.10, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. A máxima apresentada no primeiro período do texto permite corroborar a ideia de que os
portugueses
(A) conhecem bem o seu país, elogiando-o frequentemente.
(B) não conhecem verdadeiramente o seu país, apesar de o criticarem frequentemente.
(C) conhecem muito bem o seu país e costumam criticá-lo.
(D) são incapazes de encontrar defeitos no seu país, devido à relação afetiva que mantêm com o
país onde nasceram.