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Ele é Como Rheya

Autor(es): coly-unnie

Sinopse
É o começo do primeiro dia de aula depois das férias de verão quando Jeon Jeongguk sente que o ano letivo de 1983 será
como qualquer outro. Ou seja: comum e muito chato. O que depois de alguns minutos ele descobre ser um completo engano,
já que um garoto mestiço aparece, pela primeira vez, na mesma escola que a sua. E de comum e chato, o novato Park Jimin,
não tinha absolutamente nada.

Mas mesmo assim, para Jeongguk, o mais incomum em tudo aquilo era a ligação que, em sua cabeça, havia entre sua
querida Rheya e Park Jimin.

Aviso Legal
Os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a pessoas reais e nenhuma das situações e personalidades
aqui encontradas refletem a realidade, tratando-se esta obra, de uma ficção. Os eventuais personagens originais desta
história são de minha propriedade intelectual. História sem fins lucrativos, feita apenas de fã para fã sem o objetivo de
difamar ou violar as imagens dos artistas.

Índice
1 - Ele é como uma Tangerina
2 - Ele é como um Gêmeo
3 - Ele é como Daphne Blake
4 - Ele é como um Invisível
5 - Ele é como Yoongi
6 - Ele é como uma Figura Sagrada
7 - Ele é como Us And Them
8 - Ele é como uma Criança
9 - Ele é como Panqueca de Mirtilo
10 - Ele é como uma Maçã do Amor
11 - Ele é como Escutar uma Música Boa
12 - Ele é como uma Florzinha
13 - Ele é como o Sol
14 - Ele é como um Filme cheio de cor
15 - Ele é como um Gatinho
16 - Ele é como uma Cereja
17 - Ele é como Daisy
18 - Ele é como um Anjinho da guarda
19 - Ele é como o Amor Mais Puro
20 - Ele é como uma Viola Lilás
21 - Ele é como um Sonho
22 - Jimin é Como Rheya
23 - Ele é como Meu Coração
24 - Ele é como o Universo
25 - Ele é como as Estrelas
26 - Ele é como um Beijo
27 - Ele é como um Coelhinho
28 - Ele é como Chocolate
29 - Ele é como um Livro físico de "Ele é Como Rheya"
30 - Ele é como um Presente
31 - Ele é como o Amor da minha vida
1. Ele é como uma Tangerina

Notas do Autor
Oie gente! Cheguei com os avisos de Ele é Como Rheya... tudo bom? Hihi

Primeiro vou me apresentar.... Oi! Meu nome é Nicoly, escrevo há dois anos e iniciei essa fanfic no começo de 2018. Vim
deixar uns avisos por aqui antes de vocês lerem a minha história.

AVISOS:

1. Gêneros da fanfic: FLUFFY, Romance, Primeiro amor, Yaoi, LGBT, Ficção Adolescente, Família, Comédia, Colegial,
Universo alternativo e Música.

2. Avisos: Bullying.

3. NÃO tem cenas de sexo, smut, lemon, pornografia, etc. Jimin e Jungkook têm apenas 15 e 14 anos.

4. Se passa em 1983!

5. Ele é Como Rheya tem uma tag no Twitter. Caso vocês queira falar da fanfic por lá, a tag é: #PuxaPuxaPuxa e o meu
user lá é @/gatodacoraline

6. Logo vocês saberão O QUE É Rheya e, aliás, cada capítulo será narrado por o Jimin ou pelo Jungkook, e vez ou outra
pode ser outro dos meninos, veremos~

PLAYLIST:

Lá embaixo sempre terá o link de TODAS as playlists e mixtapes que eu mencionarei aqui em "Ele é Como Rheya"! Além
dos personagens que tem suas próprias playlists, como o Jungkook, o Tae, o Rheya... digo, o Jimin e outros!

MINHAS NOTAS:

Por fim, eu estou passando aqui pra deixar bem claro que EECR (Ele é Como Rheya) NÃO é uma adaptação do livro
Eleanor & Park. Eu tive esse plot enquanto lia o livro e usei ele como inspiração pra escrever essa história, mas os
acontecimentos e a personalidade dos personagens não tem ligação com o livro. NÃO se passa no mesmo universo. O
Jimin não é filho da Eleanor e do Park.

Muita gente fica esperando que os acontecimentos da minha história sejam iguais aos do livro. Não vai acontecer, está
bem? Isso NÃO é uma adaptação. Os acontecimentos não são iguais... eu só me inspirei na hora de fazer o meu Jimin
ruivinho e o busão amarelo da escola... mas só isso. A década de 80 de EECR é mais inspirada no Brasil!! Eu conversei
muito com meus tios e tias sobre isso, queria fazer algo com a essência da adolescência deles! Entendem? Eu apenas
espero que entendam isso, está bem?

Sendo assim, é isso que tenho pra falar! Espero que tenha uma boa leitura... e não esqueça de comentar e votar se gostar.
Muito obrigada por dar uma chance à minha história.

Mil beijinhos e boa leitura!

JUNGKOOK

Era dia vinte e dois de fevereiro. Muita chuva, muito vento e uma vontade inexistente de se levantar e viver.

Está tudo tão triste e gelado e eu, sinceramente, não sei dizer qual é o motivo, se é por estar chovendo ou se é por
conta de motivos sentimentais. Tipo, puxa! As férias acabaram. É o segundo mês do ano, o fim da felicidade e o começo de
um inferno monótono: colégio.

Ônibus escolar, colegas de classe, comida ruim, professores melancólicos... Sabe, essas coisas. Nada atraente aos
olhos dos seres humanos.

Choraminguei de manhã para minha mãe porque não queria ir, inventei que todo mundo iria faltar, o que era mentira,
mas o desânimo faz você fazer coisas podres. E ela jogou o famoso "você não é todo mundo", colocou a mochila em minhas
costas e me enfiou dentro do carro para ir pra escola. Ah. Que droga. Super faço parte do "todo mundo" quando o assunto é
odiar a escola.

Na maioria das vezes, não tem nada para fazer lá. Pelo menos para mim não. Aprendo tão rápido que fico entediado,
e não, não estou me vangloriando por ser esperto, longe disso. Talvez se eu fosse um pouquinho burro, as bolinhas de papel
parariam de voar em minha nuca sempre que meu melhor amigo saísse do meu lado.

Amém, melhor amigo.

Até o sétimo ano do fundamental, não fiz amigos na escola. Na maior parte do tempo vago, eu ficava com meus livros
de ficção adolescente ou as revistas de Rock Internacional que a minha vizinha, Hyuna, me vendia (e ainda vende) por duas
notas de cinco. Eu adoro a Hyuna. Ela me empresta seus discos e livros, grava fitas com músicas e artistas que eu peço, e
sempre, sempre sabe qual é a música que toca na rádio A Daily. Até se for uma banda de garagem. Embora me chame de
pirralhinho às vezes, gosto muito dela.

Mas, enfim. Meu melhor amigo, como foi que nos conhecemos: o sétimo ano.

Ele chegou no meio do ano, o novato gigante que havia repetido, não um ou dois, e sim, quatro anos no ensino
fundamental, veio a ser estranhamente meu melhor amigo.

Kim Seokjin, o menino mais esquisito que já conheci.

Quando Jin se matriculou no ano retrasado, um rumor ao seu respeito surgiu e fora espalhado tão rápido quanto
uma aeronave X-15 da Força Aérea dos EUA decola. Foi depois que ele contou para uma garota da nossa sala que o motivo
dele ser grande, era, obviamente, a sua idade.

E ela, sem se importar, contou isso para todo mundo.

Então, ninguém mais quis se aproximar dele pelo mesmo ser repetente. Há milhares de coisas para inventar sobre um
aluno repetente. "Ele deve ter um filho", "Ele vende drogas", "Ele foi expulso de outras escolas" e por aí vai. Isso assusta
qualquer morador da nossa cidade, digo, acho que qualquer coisa assusta alguém daqui. É uma das cidades mais simples
do país, então tudo fora do comum é motivo de alarde. Mas sabe, eu não liguei ou evitei Jin. Quer dizer, eu sou muito fácil,
porque deixei que ele se aproximasse facilmente e não me arrependo disso.

Ainda me lembro de quando ele se sentou ao meu lado, logo depois dos rumores, e pediu um pedaço da minha maçã.
O lado bom das amizades é que elas sempre começam de forma constrangedora. Na verdade, isso não é nada bom,
esquece.

Bom, então, eu dei a maçã inteira para ele, sem hesitar, porque não gosto de maçã, mas costumo comer contragosto
porque minha mãe sempre coloca na minha mochila, e eu sou mole demais para jogar a maçã que ela escolheu
pacientemente no mercado, lavou de manhã e colocou na minha mochila, no lixo. Aí, ele comeu e ficou ao meu lado. Em
silêncio. No outro dia, ele chegou e comeu de novo. E depois, trocamos nossos lanches. Eu comia a laranja e o sanduíche
dele e ele comia minha maçã e os biscoitos de nozes. Ah, e dividíamos a minha caixinha de suco de pêssego, porque a mãe
dele não o deixava beber nada enquanto comia, então, ele bebia escondido comigo. Costumávamos lanchar quietos,
trocando alguns ois, mas somente isso. Só que, seguidamente, alguns assuntos foram surgindo. Falávamos sobre
quadrinhos, bandas, filmes, mas o que deu carga real a nossa amizade, fora nosso ódio mútuo pelo The Doobie Brothers. A
raiva une as pessoas e agora eu e ele somos melhores amigos.

Minha prima, presidente do conselho estudantil, odiava nossa amizade por causa dos boatos. Vivia me chamando
para o canto, os vão entre os armários, quando eu e Seokjin andávamos com os ombros esbarrando nos corredores.
Encurralava-me e me dava bronca como se fosse alguém importante em minha vida. Uma grande piada. Não gosto da minha
prima, por isso não parei de andar com Jin, e mesmo se eu gostasse dela, não pararia.

Nunca liguei para boatos ou reputações.

Tenho uma mania que gosto muito, que é simplesmente não ouvir nada que os outros adolescentes falam. Porque é
assim que a escola funciona: é como naquela brincadeira que você sussurra algo como "O macaco ama sua mãe e seu
amigo, e é por isso que ele é feliz!" para a primeira pessoa da roda e quando passa por todas as outras e chega na última, sai
algo como "O amigo do macaco fodeu a mãe dele de quatro e, meu, que se dane, o mundo vai acabar em 2000 mesmo!" e
todo mundo dá risada embora tenham plena consciência de que no início a frase não era assim.

Tudo é editado para, simplesmente, entreter o público. Mesmo que vá ferrar com a vida e sentimentos de alguém,
ninguém se importa e isso é tóxico. Eu não gosto e nunca farei parte do público. Acho que me odiaria profundamente se o
fizesse.

A realidade era que Jin havia vindo do Japão. Ficou quatro anos se estabilizando no nosso país, aprendendo o básico
do básico e precisando de um pouco mais de tempo que o necessário para aprender tudo que tinha que aprender. Não por
preguiça ou falta de, sei lá, professores, e sim por culpa de um problema que ele tem. DDA.

Jin me contou sobre isso quando bebemos cervejas pela primeira vez, no verão de 82, em uma ponte perto do lago da
rua 311. Ele me olhou, falou sobre tudo o que ele era e sobre tudo o que aconteceu e eu fiquei quieto, enquanto ele sorria e
mexia a boca amargamente. Seokjin arremessou a garrafa no chão, tirou a roupa de baixo que nem um maluco e eu não falei
nada até ele ir até a ponta da ponte para começar a chorar. Fiquei meio embasbacado. Mas estava bêbado e via tudo com
clareza e muita positividade, e a única coisa que me restou fazer fora o imitar. Tirei a roupa de baixo, quebrei a garrafa e
gritei também, e então, ele parou de chorar e gritou comigo. Assim que ficamos roucos de tanto berrar, surpreendentemente
rimos e pulamos no lago, felizes. Aquilo significou alguma coisa, mesmo que aparente ser loucura de idiotas, era como se
estivéssemos cuspindo algo podre que acolhíamos dentro de nós. Eu fiquei tão leve depois. E ele também.

Ao almoçarmos no Sr. Jing, mais tarde, eu sorri para Jin, mesmo que não fosse muito de sorrir. Agi como se seu DDA
não fosse nada, porque para mim, realmente não era. Ele era legal. E meu único amigo. Então, eu disse que estava tudo
bem e balancei ombros. Desde então, não falamos mais sobre isso e ele parece mais tranquilo e feliz quando está ao meu
lado. Que bom.

Neste exato momento, estou olhando para o indivíduo, quase um ano depois do acontecimento à cima. Jin já está na
escola, sentado no banquinho perto da entrada, quando eu apareço, descendo do carro da minha mãe após me despedir
devidamente dela. Corri que nem um louco para chegar até ele, como se estivesse vendo um famoso. Sempre faço isso.
— Oh, Jeongguk! — Ele gritou, levando as mãos ao alto e balançando a cabeça como se me louvasse. Ri de seu jeito
idiota e da forma que chamava atenção, me sentando ao seu lado apressadamente.

Sabe, eu amo o Jin.

Na maior parte do tempo, estamos brigando por coisas bobas, como a comida. Ele rouba a minha e eu o dou um
murro na nuca, e então isso dói muito e a gente começa a gritar no refeitório, até que a orientadora mande nós dois calarmos
a boca, e aí obedecemos. Depois, a gente esquece, eu perco a fome, ele come a minha comida e começamos a falar sobre o
XTC e Do What You Do, porque é definitivamente a melhor música do White Music. E XTC é a banda-menos-favorita-que-
suportamos, então é muita esquisitice da nossa parte.

Apesar de ser grande e comilão, meu amigo é muito legal. Ele fala como um galã de novela e é mais alto do que todo
mundo do nono ano.

— Por que você não me ligou ontem? Puxa, achei que sua mãe fosse nos levar — reclamei, me aconchegando.

— Só me lembrei tarde da noite, e você sabe, sem ligações depois das onze. Ela se atrasou, então não passamos na
sua casa. Amanhã ela nos leva, tá? E depois... — lentamente apontou pros ônibus que tinham acabado de chegar.
— Ônibus... — lamentou, como se tentasse ser cuidadoso. Somente o olhei. — Mas me perdoa, ok?

Hum...

Bom. Eu já disse que sou fácil, não disse? Por isso, simplesmente suspirei e sorri, o dando um abraço de lado, com
saudade. A última vez que o vi fora na semana retrasada, no fliperama. Viajei com meus pais para a casa dos meus avós e
apenas conversamos por ligações dali em diante. Quase duas horas todos os dias. Falaríamos por mais tempo se meu pai
não precisasse usar o telefone para assuntos do trabalho, o que de acordo com a minha mãe, é a coisa mais importante
depois das ligações com a vovó e minha irmã.

— Você trouxe alguma revista? — perguntou entediado, espiando minha mochila.

— Não, mas eu trouxe bolo. — Entreguei o pedaço do bolo de aniversário do meu pai, que foi ontem, para Jin. —
Mamãe me obrigou a guardar um para você. Ela até fez uma fatia sem amendoim — falei, rindo da forma a qual ele abriu o
pote e meteu a mão no bolo, muito alegre (ele é alérgico a amendoim).

— Eu amo a sua mãe! — disse e comecei a sorrir. Aquela foi a sua deixa para ficar em silêncio, de bochechas cheias.
Comendo, é claro.

A escola não é tão ruim quando Seokjin está comigo. Esse tipo de pensamento me faz sorrir internamente.

Os ônibus começaram a chegar depois disso. Quando eu vi o do meu bairro chegando, logo me atentei à quem iria
descer dele, em busca de saber se, neste ano, alguém do ano passado saiu. E logo vi quando todos começaram a descer,
um por um...

Percebi que a Eryn não estava e nem o Mijug. Creio que mudaram de escola. Desviei o olhar para Minji quando ela
desceu, e não sei se ela estava com sono ou chorando pela cor dos seus olhos.

Pelo jeito, nada mudou ou vai mudar neste ano.

Soltei um muxoxo e me abriguei no banco, esperando o sinal tocar, examinando as mesmas pessoas descendo muito
lentamente na mesma ordem que desciam nos últimos anos.

Sabe, eu gostaria de escutar música, mas estava preocupado pois as pilhas estavam prestes a acabar, e só vou
ganhar minha mesada semana que vem. Posso ficar sem ouvir música até lá e isso é apavorante. Por isso decidi me distrair.
Comecei a falar para Jin sobre a blusa de um motorista que passou pela gente. É de um seriado horrível!

Depois de rirmos, Jin me disse que o motorista do nosso ônibus é o mesmo que tivemos no ano passado. Eu fiquei
meio triste. Sinto falta do Sihyuk, o motorista do ano retrasado. Ele não deixava que fizessem baderna ou bullying dentro do
ônibus, era baixinho e gordo, mas sabia como botar medo nos brutamontes. Costumava deixar eu sentar lá na frente com ele
quando mexiam comigo. É porque sou muito focado nos estudos. Puxa.

O desse ano, Sooman, que entrou no ano passado, é muito sério e quieto. Ele fala como um daqueles personagens
dos desenhos sem cores: "Ahn, sentem-sen por favorn", deixando tudo mais triste do que já é.

Nossa senhora, que saco.

Eu estava distraído pensando nisso, então quando vi algo acontecendo de um jeito diferente, me surpreendi.

Porque dessa vez, o pessoal idiota do meu ônibus não foi direto para a parte de trás da escola fumar cigarros. Eles
pararam na frente do ônibus, logo após descerem, com sorrisos maldosos, como se estivessem planejando fazer alguma
coisa ruim.

Eu olhei pra eles, e pro nosso ônibus, até perceber que nem todos tinham descido.

O silêncio foi substituído por cochichos e risadinhas, e tive de esticar o pescoço para enxergar o motivo. Mais
especificamente, o garoto. Um garoto, novo.

Diferente de tudo que já vi em minha vida.


Eu me surpreendi. O garoto desceu do ônibus sozinho, logo depois do Yoongi, e se curvou para o motorista no
volante. Uau. Ele era como um personagem de desenho, tão... tão, hã, tão meio 2D. Parecia-se com um pinguim também.
Ou um passarinho. A boca dele era como a de um pintinho.

Mas essa não era a parte mais avassaladora. Ele era diferente.

Definitivamente diferente. O novato tinha cabelo ruivo. Ruivo! Da cor de uma tangerina. A única cabeça clara no meio
de todo mundo.

É tão novo.

Era um ruivo bem alaranjado, tão chamativo que fiquei boquiaberto. Como ele pode ser ruivo? É tão... diferente.

Mas sabe, ele não me parecia bem. Parecia um gato amedrontado. Tinha o cabelo muito liso, mais liso do que o das
garotas, e óculos redondos no rosto. Também usava um suéter que aparentava ser muito macio, mas era cor azul bebê, e
todo mundo parou de usar suéteres-azuis-bebês depois do quarto ano. Estamos no nono.

O garoto não tinha uma mochila nas costas, então carregava tudo contra o peito, o que o fazia parecer mais medroso
do que já aparentava ser com aquelas bochechas saltadas. Era bochechudo, bicudo e tinha pernas grossas, como se fossem
dois presuntinhos. É sério. Parecia presunto enrolado, era igual presunto. Na verdade, ele era todo cheinho.

— Bruxo ruivo! — gritou Minna, parada lá.

Agora eu entendi. Foi por isso que eles não foram fumar lá atrás.

Queriam perturbar o menino novo.

Conforme o novato passava, fixado no chão, os apelidos para pessoas que usam óculos, são ruivas — admito que é a
primeira vez que escuto estes — e que estão acima do peso começavam. Ele rodeou as pessoas, e ninguém abria espaço
para si. Ouvi Byun dizer que estava com medo de que o cabelo ruivo o queimasse assim que ele tentou passar por ele. Isso
causou muitos risos.

Fiquei em silêncio quando ele conseguiu uma brecha e passou direto por mim e pelo Jin. Ele só queria entrar na
escola, mas todo mundo estava olhando para ele.

Kim, percebendo o ruivo perto da gente, falou bem alto:

— Esconde esse bolo, Jin hyung, ou o gorducho vai comer! — E todos caíram na risada.

Jin lançou um olhar feio para ele e voltou a comer o bolo. Senti-me mal, mas não podia fazer nada. Ou me atacariam
também.

Depois disso, ele abaixou ainda mais a cabeça, e eu queria muito que ele soubesse que isso fazia suas bochechas
pesarem e seu bico ficar ainda maior, e que aquela sua cabeça laranja chamava mais atenção ainda. A raiz era muito ruiva. E
essa pose, alimentaria toda essa gente do mal.

Mas eu não consegui dizer nada.

No entanto... todos viram quando Yoongi apareceu novamente e, pegando no braço do ruivo, apontou para a porta da
escola, como se lhe dissesse que era ali a entrada.

Yoongi estava envolvido no casacão preto e mirando o ruivo. Até tirou um dos fones para ajudá-lo. Mas assim que o
menino novo entendeu, ele saiu de perto e seguiu seu caminho, silencioso como sempre.

O menino novo se apressou e passou pelas portas da escola, agora, sozinho.

Então, o gordinho apenas sumiu da minha visão.

Ele é definitivamente como uma tangerina.

Notas finais
G O R D I N H O N Ã O É X I N G A M E N T O !!!

o que acharam? os capítulos estão e serão bem curtinhos, digo, eu acho!

comentem se quiserem antes que eu pire e exclua bjus

NOTA: oi gente! tudo bom? mil desculpas, eu tenho CERTEZA que metade aqui achava que era att perdao! mas por favor
leiam o aviso!

estou passando pra avisar que o capítulo um e o comecinho do capítulo dois tiveram mudanças!

eu tirei a primeira cena da aparição do jimin, narrado pelo jk, do ônibus. eu não mudei a narração: mudei o cenário! isso
porque eu já estava cansada das pessoas acharam que eecr é uma adaptação al livro eleanor e park! eu nunca me sentia
confortável com aquela cena, porque ficou muito semelhante a do livro e isso é culpa minha mesmo. por isso eu mudei
porque quero me sentir melhor com essa história... assim eu até tenho mais inspiração para continuar.
espero que entendam de verdade, porque eu não estava confortável! e isso me deixava ansiosa... a narração está a
mesma, vocês podem checar lá no capítulo um! e isso não afeta a história, então não é necessário reler!

espero que entendam... e me digam o que acharam se lerem! sei que muita gente amava o fato deles estarem no ônibus!
mas não vai afetar em nada! enfim... o importante é escrever a história até o final, né? e agora eu sinto que vou conseguir
isso muito mais do que antes!

obrigada.

2. Ele é como um Gêmeo

Notas do Autor
OLÁAAA como esperado, voltei rapidinho e CARAMBA QUANTOS FAVS MANO, 100 só com um capítulo TT eu tô achando
surreal e muito lindo aff eu fiquei tão animada que escrevi bastante <3 hihihi eu li todos os comentários e meu Deus eu fico
simplesmente cheia de amor quando vocês me chamam de coly, nick, nicoly SEI LÁ porque eu sinto que vocês são
próximos assim, e é o melhor sentimento do mundo

E AGORA 'ELE É COMO RHEYA' TEM UMA PLAYLIST! link nas notas finais <3

beijinhos e boa leitura~

NOTA: esse capítulo foi editado (explicação nas notas finais do capítulo 1)

JIMIN

Certamente, sinto falta da vovó.

Nunca é fácil lidar com uma perda. Muito menos quando essa perda envolve tudo o que você conhece e gosta. Estou
perdido e tonto no meio de todas essas pessoas, e gostaria, de verdade, de conseguir respirar normalmente. Mas eu não
consigo.

Porque, bom. Eu estou em um ônibus escolar pela primeira vez na minha vida. E a experiência não me foi nem um
pouco boa.

Sério. Fui atacado por falas maldosas assim que subi no ônibus. Ninguém me dirigiu um palavra amigável, e eu não
achei um lugar para me sentar... até porque ninguém queria sentar perto de mim. Eu pensei que teria que ir em pé e comecei
a ficar ansioso, mas... um menino diferente ofereceu o assento ao lado do seu e eu aceitei sem pensar duas vezes.

Desde então, eu estou aqui, do seu lado, esperando o ônibus chegar na escola.

Tentei formar até quatro frases em minha cabeça. Coisas comuns que pessoas comuns diziam para outras pessoas
comuns quando queriam socializar, mas caramba, eu não fui capaz de dizer nem mesmo uma. O rapaz não tirava os olhos
da janela e eu definitivamente não queria atrapalhar seu, hã, ritual importante e silencioso. Ele parecia tão focado. Mais ou
menos, porque consigo ouvir a música em seus fones daqui, e ela é barulhenta.

Muito barulhenta.

Gostaria de poder ouvir música também. Mas não tenho nenhum aparelho para isso. Minha mãe em casa, só escuta
música escocesa e coreana, e esse é o pior tipo de música que existe. Eu juro que é como tortura aos ouvidos.

Mas enfim... Não lembro de estar no meio de tantas pessoas da minha idade como agora. De vez em quando eu via
umas ou outras no mercadinho que costumava ir com minha vó, e minhas primas por parte de pai, eram minhas amigas
também, e são todas nascidas no mesmo ano que eu. Menos Jinji. Ela é dois anos mais velha.

Cresci sendo criado por minha avó paterna e minha mãe me visitava quase todos os dias para me pôr para dormir e
almoçar comigo. Às vezes me levava para comer em lanchonetes e sorveterias, mas isso só acontecia em datas especiais e
finais de semana. Antes do meu pai morrer, eu morava com ele e minha mãe, só que eu tinha, tipo, quatro anos de idade,
então não lembro de nada.

Meu pai era coreano e minha mãe é escocesa.

Após a morte do papai, mamãe não conseguiu dar conta de mim direito. Soube que eles tinham um amor intenso,
capaz de desabar tudo. Acho bonito e triste. Foi por isso que eu fui morar com a vó e outras seis primas. E isso é tudo que eu
sei.

No meio do ano passado, minha avó faleceu e com isso, tudo desandou. Além de ter perdido ela que era, além de
avó, minha melhor amiga, tive de lidar sozinho com a primeira e única drástica mudança da minha vida: a de sair da casa a
qual cresci e vivi a vida inteira, para morar com minha mãe (que aparentemente não sabe nada sobre cuidar de outra
pessoa). Tem vezes que ela parece louca. De verdade. Louquinha.

Além do mais, tem mais esse fato problemático de que eu cresci estudando em casa a vida inteira e não sei como é a
escola. Minha vó não era formada em nada, mas me ensinava muito bem e fiquei super acostumado com isso. Ela dizia que
era melhor assim e eu concordo plenamente. É o primeiro dia de aula e ainda no ônibus sinto que é o pior de todos. É
assustador.

Assim que o ônibus estacionou, fiquei parado e em silêncio no meu lugar. Decidi que esperar todos saírem para me
levantar e descer era a melhor opção para não ser atacado.

Sinto que serei empurrado se for na frente, e de verdade, acho que eles enfiariam uma agulha no meu pescoço por
pura diversão. Já me chamaram de feiticeiro, bruxo e obra do demônio mais de três vezes desde que subi e, meu Deus, o
que é que tem de tão errado comigo a ponto de eu parecer com essas coisas? Caramba!

Talvez fosse por isso que minha vó me privava tanto de ver pessoas que não fossem da família. Para me proteger
desse tipo de coisa.

Soltei um muxoxo pelo pensamento.

O último menino que passou tocou meu cabelo, fez um barulhinho de dor e engoliu o dedo com a boca, fazendo uma
careta ao dizer que eu o queimei. Depois desceu aos risos com suas amigas. Assim, só eu e o rapaz bonzinho ficamos.

Não entendi a graça.

— Hum-hum — resmungou.

Dei um salto, me sentindo bobo por me esquecer do rapaz. O rapaz bonzinho do meu lado, que resmungou. Eu
bloqueei a passagem dele com meu corpo enorme e ao menos me dei conta, ai, meu Deus. Ele parece impaciente e a culpa
é minha.

Levantei-me rapidamente e me curvei, pedindo perdão assim que notei que ele estava com os ouvidos livres. Ele se
levantou e caminhou, sem olhar diretamente para mim. Sem dizer nada também. Segui-o, já que éramos os últimos no
veículo. O motorista me olhou estranho e falou algo em seu rádio assim que desci, mas eu não dei muita atenção. Apenas
me curvei para ele em agradecimento.

Quando eu cheguei na escola, foi pior do que eu pensei. Todos do ônibus estavam ali ainda, e continuaram falando
coisas maldosas pra mim. Eu me senti perdido, principalmente porque não sabia pra onde ficava a entrada, então me
esbarrava em todo mundo. E praticamente todos me fechavam.

Ouvi um comentário sobre como sou gordo e abaixei a cabeça totalmente. Quase me assustei quando tocaram o meu
braço, mas... ao perceber que era o mesmo menino que me deu lugar no ônibus, não me preocupei.

Ele apontou para duas portas. E depois, apenas foi embora...

Pensei. Logo eu entendi que, ali, era a entrada. Então eu fui o mais rápido possível para lá. E os nossos caminhos se
tornarem diferentes.

E bem, aqui dentro as coisas parecem piorarem (por mais incrível que isso pareça).

Olha, eu sabia que era largo. Mais gorducho. Mais fofo. Eu via os rapazes sarados nas novelas de televisão e convivia
com primas magrinhas, então é óbvio que tinha consciência de que meu corpo estava mais bolucho que o normal. Só que
agora que entrei no meio de todas essas pessoas, é como se o fato que já era real, se tornasse um fato muito importante e
chamativo. Porque, uau. O contraste do corpo deles com o meu me fazem parecer maior ainda.

Nunca me senti tão... enorme. E diferente. Pois todos eles têm cabelo preto e todos eles se viraram no corredor para
me olhar.

É minha primeira vez dentro de uma escola, então não estou entendendo nada. Nadica de nada. Tem armários,
escadas, e pessoas... Os garotos são tão finos, altos e branquinhos, que se parecem com folhas de papel cortadas direitinho
na beirinha. E nossa, como são parecidos... E iguais. Caramba.

Era como se eu fosse um milho de pipoca (GORDO) no meio de inúmeros grãos de feijão preto.

É o único exemplo que consegui pensar, me desculpe.

Comecei a me sentir mais apavorado ainda e precisava, de verdade (era uma questão de vida ou desmaio, porque eu
sentia que iria desmaiar de verdade se continuasse ali), de uma fuga. Só queria me esconder de todos aqueles olhos
raivosos cheios de curiosidade, e a oportunidade veio lindamente.

Ofeguei aliviado ao ver a porta do banheiro masculino. Olhei para os lados, para baixo e apertei os passos para entrar,
pensando que seria melhor se eu me escondesse lá até o primeiro sinal bater. Desse jeito, aquela galera toda sumiria e eu
ficaria mais confortável para me informar por aí sem sentir que era uma espécie de alienígena laranja. Mas antes que eu
pudesse entrar no toalete, um homem robusto se colocou em minha frente e eu bati de frente com seu corpo. Ele era tão
grande e duro, que só de eu ter esbarrado nele, caí para trás como se houvesse sido arremessado. Os quatro cadernos e o
livro, que não é da escola, que eu segurava, foram ao chão e deslizaram no piso, assim como os meus óculos.

Respirei acelerado, com medo do homem a cima. Levantei o olhar e esperava ver um brutamonte com desejo de
enfiar uma agulha em meu pescoço e sede de sangue no olhar.

Mas por incrível que pareça, não vi nada.

— Você. Na minha sala. Agora.

Brutamontes têm sala?

Pisquei diversas vezes. Que sala? Na sala de quem? Quem é ele? Engoli toda saliva restante em minha boca, com
medo do que pudesse vir a seguir.

Balancei-me curioso ao que vi meu óculos deslizarem para perto de mim. Olhei para o lado e vi uma figura pálida
trajada com somente preto se mover. Deduzi que fora ele quem chutou. Coloquei o óculos e percebi que havia sido o garoto
bonzinho que deixou eu sentar ao seu lado no ônibus. Ele me ajudou. Ufa. Parece que não está bravo comigo.

Por fim, levantei o olhar para o homem parrudo, percebendo só agora como todos ficaram em silêncio após sua
chegada. Forcei a vista e pude ler, em seu peito esquerdo, o nome “Diretor Yoon-Soek” costurado e perceber que ele usava
terno.

Percebi também que havia sido chamado para a sala do diretor.

No meu primeiro dia de aula.

— Meleca — praguejei baixinho.

Fiquei de joelhos e recolhi meus cadernos e meu livro, aliviado por o último estar intacto. Quando fiquei de pé, olhei
para o diretor, com medo. Ele somente acenou com a cabeça e saiu andando. Presumi que era para segui-lo, então o fiz.
Alguns alunos fizeram caretas para mim no caminho. E dois garotos que pareciam gêmeos foram os únicos no corredor que
não olharam para mim como se fossem me atacar ou xingar a qualquer momento.

Pensei seriamente em agradecê-los por isso mais tarde.

Quando cheguei na sala do diretor, com ele, ele mandou eu entrar primeiro e me sentar. Sentei-me em uma poltrona
que parecia um sofázinho e o diretor suspirou cansado por isso.

— Essa é a minha cadeira.

Levantei-me com pressa e me curvei, gritando um pedido de desculpas. Minha voz saiu fina. Puxei o ar, dei a volta e
sentei em outra cadeira, e desse modo, ele veio e sentou na sua atrás da mesa.

Meu Deus, eu só faço idiotice.

— Qual é o seu nome, rapazinho? — “Rapazinho”?

Que careta.

— Hã, é Jimin, senhor — respondi.

— Hum. — Estreitou os olhos. — Qual é o número do telefone dos seus pais, Jimin? — perguntou, abrindo o caderno
pequeno que tinha no centro de sua mesa.

— Minha mãe não tem telefone — respondi, baixinho.

— E o seu pai? — Desviou o olhar das folhas para mim.

— Ele morreu.

A sala ficou silenciosa. Percebi que tinha um relógio na mesa fazendo barulho. Mas não pude o ouvir por muito tempo
porque o Senhor Diretor não demorou para preencher a sala com o tom de sua voz.

— Sabe onde sua mãe trabalha, Jimin? — perguntou, depois de um longo suspiro cansado. Confirmei com a cabeça.

— No Sool Bibimbap.

Ele pressionou os dedos na testa e passou mais páginas. Puxou o telefone cinza do canto da mesa e digitou alguns
números.

— Ela está trabalhando agora? — perguntou, erguendo os olhos frios em minha direção. Ele parecia triste e bravo.

— Sim.

— Como ela se chama, Jimin?


— Leonor — respondi e ele franziu o nariz, estranhando. Pigarreei. — Hã… Park Leonor — falei novamente, mais
baixinho.

Ele forçou a vista em minha direção. Abaixei o olhar.

Respirei fundo. Depois de um momento, o diretor começou a falar no telefone. Disse para a mamãe vir até a escola
imediatamente. Comecei a pensar no porquê de eu estar na diretoria e se eu estava encrencado de verdade. Talvez eu tenha
me atrasado ou vim no turno errado. Quem sabe.

Eu sabia que não daria certo vir a escola. Que coisa. Não queria estar aqui, quer dizer, eu nem deveria estar. Minha
mãe me matriculou por não ter condições de pagar estudos em casa para mim e também porque, de acordo com ela, eu devo
aprender a conviver com a sociedade. “Imediatamente!”. Parece que ela se esqueceu de que eu não sei absolutamente nada
sobre a sociedade e também, não aprendi muito sobre ela hoje. Pelo menos coisas boas, não.

É como ser jogado em uma espécie de ala com todos os vilões de desenhos que passam às 23h.

É assim que a sociedade se parece.

Depois de trinta minutos de silêncio e barulho de relógio, minha mãe chegou. Quando ela entrou na sala, com o
uniforme de trabalho, me senti um pouco melhor por ter, agora, dois milhos de pipoca em uma sala com apenas um grão de
feijão.

— O que aconteceu? — perguntou minha mãe, vindo até mim e apoiando a mão em meu ombro. Como estava com o
cabelo preso, os fios quase-vermelhos em sua nuca cacheada eram notáveis. E muito bonitos.

Mamãe é muito mais bonita do que eu jamais irei ser. Ela tem olhos redondos verdes, cabelos cacheados e sardas
marcando todo o rosto. É alta e muito esbelta.

O diretor, antes de dizer qualquer coisa, pediu-me para esperar lá fora. Olhei para minha mãe e ela acariciou minha
cabeça antes de falar que era para eu ir.

Saí da sala do diretor e parei no corredor. Sentei-me no banco ao lado da porta, ficando sozinho até ambos acabarem
o papo. O sinal tocou. O vento balançou as árvores do lado de fora da janela e eu vi o tempo passar no relógio pendurado na
parede, que não fazia barulho. Senti-me nervoso por conseguir ouvir a voz da minha mãe, abafada, lá dentro. Ela tinha um
tom raivoso e falava toda enrolada. Ai meu Deus. Comecei a suar frio por pensar que estava encrencado de verdade.

Seguidamente, ouvi a voz triste do diretor clamar por desculpas. Quer dizer, não era um tom triste, mas a voz dele,
em si, é triste.

Assim, me assustei quando minha mãe abriu a porta com força e fechou os dedos em meu braço, com ira.

— Vamos embora! — gritou ela.

O diretor parou no corredor e nos observou. Olhei para ele enquanto minha mãe me arrastava, furiosa, até a saída da
escola. Vi um dos gêmeos no bebedouro enorme perto dos lanches, enchendo uma espécie de copo amarelo no lado verde
da torneira.

Eu olhei para ele.

Ele olhou para mim.

Quase sibilei um obrigado por ele não ter me olhado com nojo mais cedo. Essa ideia carente de agradecer ainda
estava na minha cabeça, mas fiquei com vergonha demais para isso. E ele desviou o olhar muito rápido, então, sem chance.

Que droga.

Minha mãe me carregou daquele jeito bruto até o estacionamento. Soltou-me só quando estávamos longe o suficiente
do prédio, e cobrindo os olhos, ela gritou.

— Grosna si kato salata!

Não faço a mínima ideia do que ela possa ter acabado de falar.

Encostei-me na árvore e a vi bufar. Bufar muito. E tirar a tranca da bicicleta lilás e bufar mais. Bufou e deu algumas
voltas em torno da bicicleta, como se tentasse se acalmar. Seu rosto estava vermelho de aborrecimento e o cabelo
arrepiado. Fiquei assistindo ela, com medo de perguntar o que havia acontecido lá dentro.

Até que ela parou e colocou o capacete florido, que estava na cestinha, em minha cabeça.

Sossegou e suspirou.

— Ok… — Inspirou e expirou. Pisquei os olhos, mirando-a com dúvida. Ela parecia doida. — Está bem. Ok. — Olhou-
me. — Pode subir na garupa, Jimin. Vou te deixar em casa — falou baixinho e aparentemente calma. Engoli em seco.

Subi na garupa como ela mandou e, com medo, perguntei:

— Estou encrencado?
Minha mãe parou de prender os fios em sua cabeça, me olhando. Suspirou.

Segurei os cadernos com mais força

— Não. Não está, Jimin. — E então, prendeu o rabinho.

O que aconteceu de errado então?

Essa foi a pergunta que eu tive a chance de fazer o caminho inteiro, e mesmo assim, não fiz.

Não porque não quis. E sim porque não estou acostumado com isso. Entende? Não sei como é estar com a minha
mãe. Sempre convivi com ela, mas não era assim, não definitivamente, não fixamente. Existem coisas que eu contaria
detalhe-por-detalhe para a minha vó que, para a mamãe, não daria uma mísera palinha. E isso dói. Dói em momentos em que
hesito, em momentos como esse.

Sinto-me verdadeiramente só.

Mamãe pedalou com força até nosso bairro, e o jeito que sua nuca avermelhou pelo esforço, mexeu comigo. O
caminho era longo. E meu peso deve estar sendo muito na garupa para ela. E isso só me deixou mais mal ainda.

Chegamos no bairro, atravessamos nosso jardim e por fim entramos em nossa casa. É simples e bonitinha. Minha avó
gostava de dizer que minha mãe morava em uma casa de boneca, e nossa, ela tem razão: é igualzinha a uma. Toda
decorada e pequena.

Deixei os cadernos na mesa de centro e ouvia minha mãe, lá da cozinha, dizendo que por hoje eu poderia assistir
televisão, ler e dormir mais um pouquinho.

— Vou esquentar seu almoço e voltar para o trabalho — disse ela, aparecendo do balcão, com o cabelo solto. —
Descanse mais um pouco hoje, okay? Quando eu voltar, conversaremos. — Começou a prender o cabelo de novo.

Observei-a. E suspirei.

— Tá bom.

Em menos de quinze minutos, ela esquentou o almoço, deixou um beijo em meu cabelo e voltou para o trabalho.

Li o dia inteiro.

Passei o fim de tarde saltitando de animação pelos acontecimentos recentes dentro do meu novo livro e fiquei super
agitado. Amo tanto ler que às vezes fico doido, que nem a mamãe. Mas quando comi uns biscoitos, me acalmei.

Perto das oito, imaginei que minha mãe chegaria duas vezes mais cansada do trabalho por culpa do fuzuê que causei,
e por isso arrumei a casa para ela. A louça estava pequena e os banheiros lavados, então não foi tão difícil assim. Subi as
escadas, tomei um banho quentinho e me deitei na banheira.

Apertei minha barriga saliente e resmunguei para ela desaparecer. Fechei os olhos e cantarolei.

— Oh, Deuses das barrigas redondas e moles. Aceitem a minha como sacrifício sagrado aos céus e a tomem! —
Engrossei a voz.

Como sempre, não deu certo.

Aff. O que me restou foi me vestir e ficar vendo televisão mesmo. Meninos sarados na novela das nove.Quanto de
arroz será que eles comem por dia?

***

Cochilei no sofá e acordei com o som da porta da frente sendo aberta. Olhei automaticamente para o relógio e,
considerando que é quase dez e meia da noite, é minha mãe que chegou. Finalmente.

Corri para a dar um abraço, como sempre faço e me deparei com diversas sacolas de mercado com ela. Peguei tudo
de suas mãos e fiz questão de levá-las até a cozinha para ela. Mamãe me seguiu, resmungando cansada e sorridente.

— Sabe, eu estava pensando, e se pedirmos uma pizza hoje? — sugeriu, atrás de mim.

Hum, ferrou.

— Eu quero! — Sorri, me esforçando.

Ela sorriu também.

Esperei ela sair de casa (para ligar do orelhão para a pizzaria) e soltei um suspiro, nervoso. Ai, Deus. Não que pizza
me deixe nervoso, mas é que pedir uma aqui em casa é, tipo, sinônimo de notícia ruim. Tipo, sério. Ela só pede pizza em
ocasiões assim. Da última vez que pediu pizza, foi para contar que eu iria começar a estudar.

Quando ela entrou, escondi meu nervosismo atrás do copo de suco que eu tomava. Ela me olhou, mais sorridente
agora.
— Jimin, eu vou subir para tomar banho e me trocar agora. Pedi uma doce também — falava enquanto andava, com
outras sacolas em mãos dessa vez. Colocou todas no balcão e me animei involuntariamente ao espiar e descobrir de onde
elas vieram. Eram bolsas da papelaria. — Vou tomar banho e isso daqui é para você. Só abra quando eu sair, tá bom? Não
esquece de me chamar quando a pizza chegar.

— Tá bem! — falei, um pouquinho mais alto e animado que o normal. Ela riu e saiu do cômodo.

Não esperei mais nenhum segundo depois que mamãe sumiu nas escadas. Abri as sacolas e quase gritei, tamanha a
felicidade por ver todas aquelas canetas coloridas e, de quebra, dois livros do Gabriel José García Márquez. Aaaaaaaah! Eu
queria tanto eles, meu Deus do céu, ai caramba. Amém, mamãe.

Quando vi, já estava me sentando (nem sei se era na bancada ou na mesa, a emoção era muita) e abrindo Cem Anos
de Solidão.

O entregador chegou e buzinou. Gritei o nome da mamãe do andar de baixo, pois já estava no segundo capítulo de
Cem Anos de Solidão, e não queria parar a leitura para ir lá em cima de jeito nenhum. Mamãe desceu e nem a olhei, fixado
nas letras e viciado no cheiro bom do papel.

Por Deus, espero que eu possa viver em meio aos livros para sempre.

— Vejo que gostou muito, hum? — Ouvi minha mãe e fiz um esforço para tirar os olhos do livro e olhá-la, segurando
duas caixas de pizza.

Meu estômago roncou antecipadamente.

— Muito! — Sorri, lambendo os lábios de fome. — Obrigado, mãe, de verdade. — Abracei o livro contra o peito,
fazendo cena. Mamãe deu risadinha de mim. — Vou arrumar a mesa para a senhora. — E me levantei da banqueta,
correndo pela cozinha.

— Não, querido, pode deixar! Vamos comer na sala. Que tal? Vai passar Sesame Street às 23:30. — Parei no meio da
cozinha, com os copos de vidro em mãos.

— Ai mãe, eu não gosto mais de Sesame Street... — resmunguei, colocando ambos no balcão. Sesame Street é tão
para criancinha. — Você tá, hã, tão presa em 79 — brinquei, balançando a cabeça. Mamãe riu.

— Tá bom então, garotão. E que tal Get Smart? — Arregalei os olhos e a olhei. — Vai repassar hoje, daqui a
exatamente… — Pôs os olhos pressionados no relógio na cozinha. — Seis minutos.

— Mãe? Jura? Podemos mesmo?! — Fechei a geladeira, com a jarra de limonada em mãos. Mamãe sorriu e afirmou
com a cabeça. — Meu Deus, sim, é claro. Vamos. Eu quero! — Corri para a bancada com os copos, enchendo ambos
rapidamente com a bebida.

— Muito bem, então. Espero você com as limonadas lá no sofá. — Ela cantarolou a última palavra, saindo com a pizza
e eu quase gritei, de novo.

Minha mãe nunca me deixa assistir Get Smart. E juro que é o seriado que mais quero assistir, até agora.

Peguei os pratos, a limonada e corri para a sala. Enquanto assistia ao seriado e comia pizza ao lado da minha mãe, fui
capaz de esquecer de qualquer coisa que assombrava minha mente no momento. E por incrível que seja, não recebi
nenhuma notícia ruim. Foi só divertido. Tanta paz que adormeci no terceiro episódio e não fazia ideia de como tudo
aconteceria dali em diante.

Somente esperava não ter que voltar para a escola novamente.

Notas finais
Link da playlist: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

espero que tenham gostado~ beijinhos e até o próximo sz sz

3. Ele é como Daphne Blake

Notas do Autor
oiiiiii

OBRIGADA POR TODOS OS FAVORITOS ToT amo vocês caralho

boa leitura
tchauuuuuuuuuu

JIMIN

A minha mãe me subordinou e eu juro que não deu para resistir.

Eu penteava os cabelos em frente ao espelho do quarto e me perguntava se aquela era, de fato, uma boa oferta.

Vejam bem: eu ganhei roupas novas, mais, seis livros da autora Agatha Christie, mais, uma promessa de que assim
que eu completasse um mês inteiro indo para a aula eu ganharia um aparelho de escutar música, mais, outra promessa de
que poderia trazer Menino para morar com a gente na semana que vem e, mais, comprar uma caminha para ele. E, ainda por
cima, passaria a ganhar mesada. Mesada, tipo, dinheiro.

Eu precisava de dinheiro para comprar mais livros. Por isso não tive escolha a não ser a de aceitar.

Com muito esforço, acordei às seis da manhã naquela segunda-feira. Duas semanas depois do meu primeiro dia de
aula, eu estava finalmente me arrumando para ir a escola novamente.

Minha mãe bateu na porta do meu quarto e a falei para entrar. Eu estava amarrando o cadarço do tênis quando ela se
aproximou, com minha mochila nova, horário das aulas e livros da escola em mãos. Coisas que com o passar dos últimos
dias, o colégio forneceu à nós, como um pedido desesperado de desculpas.

Acontece que aquela baderna na escola fora fruto de uma possível suspensão que eu receberia por causa da cor do
meu cabelo. E não, não estou brincando. Foi isso que aconteceu mesmo. Embora eu tenha pensado por um momento que
ser ruivo fosse proibido em escolas, minha mãe me explicou que na verdade não era. Proibido era pintar o cabelo. E o diretor
pensou que eu tinha pintado o meu e me mandou para a diretoria, como se eu fosse um rebelde ou sei lá o quê.

Leonor disse que poderia processá-lo por isso, pois por um segundo, o diretor sugeriu que eu tingisse o cabelo de
preto para, abre aspas, não causar alarde e tirar a atenção dos outros alunos das aulas,fecha aspas. Minha mãe
enlouqueceu de raiva por isso e acabamos saindo da escola daquele jeito apressado e furioso.

Após o ocorrido, o Senhor Diretor não parou de ligar para o trabalho da minha mãe, implorando para que ela o
perdoasse e não levasse o caso a justiça. Ofereceu aulas extras gratuitas e um cartão ilimitado para o almoço. Minha mãe
aceitou tudo e ainda exigiu mais algumas coisas. Acho que no fim, fomos nós quem acabamos ganhando, mesmo que eu
estar voltando para aquela escola agora seja, provavelmente, uma derrota.

— Tudo bem? — Ela indagou, deixando meus pertences na cama. Organizei os materiais na mochila, não me
esquecendo de, é claro, levar um livro para ler também.

— Sim. — respondi, pegando meu óculos no criado mudo.

Coloquei-o em meu rosto, sorrindo para mamãe logo depois, meio trêmulo nos movimentos.

Morrendo de medo de ir para o ônibus, obviamente.

— Quando você chegar, é só ir até a sala da orientadora Lee. É lá que ela vai te conhecer, falar sobre as regras e
suspender sua primeira aula para que conheça a escola. — explicou com um sorriso, acariciando meus cabelos. — E é um
aluno que vai te mostrar tudo. Ela que vai escolher, então vai ficar tudo bem. Aposto que conhece os bonzinhos.

Ri, sem ânimo.

— Duvido muito que existam bonzinhos lá. — balbuciei. — É que eles são uns chatos, mãe. Sério mesmo.

Mamãe soltou um suspiro cansado. Talvez não estivesse preparada para ouvir tudo aquilo saindo da minha boca tão
cedo e tão de repente.

Mas era a verdade e ela precisava saber.

— Você não pode saber, Jimin. Nem foi em todas as aulas.

— Mas eu peguei o ônibus com os alunos e é com eles que vou conviver. — retruquei.

Ela me olhou, meio repreensiva. Minha mãe não gostava de negatividade, mas eu não podia evitar.

— Não tem um que seja legal, Jimin? — indagou, tirando os dedos da minha cabeça para olhar dentro dos meus
olhos.

— Não. — respondi, sem demora.

— Para e pensa um pouco, filho. — continuou com aquele olhar intenso. — Não tem um?

Parei. E pensei.

Não demorou muito para eu me lembrar que, na verdade, havia um.


Só um.

— Um só. Ele me ignorou e é super quieto. — sussurrei, lembrando-me vagamente do rapaz que deixou que eu
sentasse do seu lado no primeiro dia. No ônibus.

— Mas isso é ótimo, Jimin. — ela se levantou, checando as horas no relógio em seu pulso. Depois, voltou a me olhar.
— Se tem ao menos um legal, você deve tentar se aproximar. Nem todo mundo é de todo o mal, mesmo que pareça.
Entende? — e abaixou a mão novamente, acarinhando meu couro cabeludo.

A observei desanimado, formando uma espécie fraca de sorriso em minha boca ao balançar a cabeça.

— Entendo, mãe... — soltei, em um muxoxo.

— Muito bem. Agora vamos, faltam vinte minutos para o ônibus passar e tenho que ir. — deu um beijo no meu rosto.
— Boa aula pra você. Te vejo à noite.

— Bom trabalho, até mais tarde. — eu disse, me sentindo um pouco nervoso quando ela se virou para sair do meu
quarto. Em um impulso, gritei. — Mãe!

Ela parou e me olhou.

— Sim, Jimin?

Sorri, suspirando.

— Eu te amo.

Mamãe sorriu uma última vez antes de dizer, aparentemente feliz:

— Eu também, querido.

***

— A ruivinha voltou!

Fora a recepção que recebi quando dei meus primeiros passos no corredor do ônibus escolar.

Como no primeiro dia, eu não fazia ideia de que lugar me enfiar. Nenhum deles parecia querer chegar pra lá e me dar
um espacinho para sentar. E a única coisa que pensei em fazer, fora ficar parado no início do corredor e ir em pé o trajeto
inteiro até a escola.

— Aí, aí, Minna! Acho que seu absorvente vazou na cabeça dele!

— Cala a boca, idiota!

Levantei a cabeça. Assisti a cena da garota, que acho que é Minna, batendo no idiota que acha que sangue é laranja.
As pessoas riram como sempre riam quando ele dizia algo. Vale ressaltar que, de todos, ele é o que mais fala asneiras para
mim, desde a última vez até agora. Ele era alto e parecia bem mais velho do que a gente.

Sinceramente, é patético ele estar dentro desse ônibus.

— Garoto, você precisa se sentar. — o motorista avisou.

— É, garoto, você precisa se sentar! — o idiota gigante repetiu as falas, lá de trás, novamente.

Pressionei os dentes na boca com mais força.

— Ache um lugar vago e se sente. — o motorista repetiu, batendo no vidro da porta do corredor para chamar minha
atenção.

Meu plano, como sempre, foi por água abaixo. E acho meio triste o fato de eu sequer estar surpreso.

Puxei o ar com força e ergui a cabeça. Parece que todo mundo está me olhando. Alguns com sorrisos maliciosos,
outros com pena. E mais alguns sem expressão, como se esperassem tediosamente para ver o que iria acontecer.

Caminhei, lentamente, por todo o corredor. Para não cair com a movimentação do ônibus, apertei os bancos ao lado
com bastante força, respirando cada vez mais intensamente para chegar no fundão do ônibus. De cabeça baixa, reparei no
chão no sujo. E nos sapatos vermelhos das meninas. Vi figurinhas gastas do The Who pregadas na lateral dos acolchoados.
Mas, novamente, não vi ninguém tentando me ajudar com minha falta de sorte.

Estava quase no final do ônibus de novo. Eu ergui a cabeça, olhando para o idiota.Juro que olhei nos olhos dele.
Notei como ele era diferente, meio selvagem demais para sua idade. Muitos piercings na orelha e uma tatuagem na mão
direita: uma língua para fora de uma boca extremamente vermelha.

— Senta.

A cordinha da minha mochila foi puxada.


Me virei, um pouco assustado por pensar, por um segundo, que fariam algo com minha bolsa. Era nova e muito bem
cuidada, então não pude evitar me assustar.

Porém fiquei aliviado ao notar que quem pegara não era de todo o mal.

— Senta. — disse de novo, no mesmo tom e da mesma forma que a última vez. — Pode sentar.

Voltei para trás e coloquei a mochila em frente ao meu corpo, a abraçando. Agachei as pernas, tendo cuidado para me
sentar ao lado do garoto de novo.

Fiquei mais afastado do que da última vez que sentamos juntos.

— Baitolas. — o idiota disse sarcasticamente.

Tentei não me ofender, porque não fazia ideia do que "baitola" significava.

Olhando de canto para o menino ao meu lado, pude perceber que ele não estava nem um pouco diferente. Tirando os
fones que não estavam mais pendurados no pescoço e enfiados dentro dos ouvidos, ele estava normal. Com os braços
cruzados, a pele branca, o casaco preto, a calça preta, a touca preta, o cabelo preto...

Mas ele tinha alguma coisa de diferente. Fiquei o analisando discretamente, tentando descobrir o que era. Tudo
estava perfeitamente igual, a não ser… a não ser… hum, a não ser por…

Os sapatos.

Sim. Os allstars surrados tinham sumido para dar lugar à botas extremamente legais (pretas também). É isso que tem
de diferente.

E as botas eram definitivamente legais.

Eu nem sabia que gostava de botas. Aquelas eram muito bonitas. Estavam limpinhas e brilhantes. Eram estilosas
demais. Ele também era estiloso. Mesmo que parecesse um floco de neve coberto de molho de soja, ainda sim, era estiloso.

— Eu gostei das suas botas. — falei, sem me segurar.

Deixei minha voz sair baixa o suficiente para que só ele escutasse. E em resposta, ele não se virou para mim, mas
agradeceu, com a voz mais macia do que antes.

— Valeu.

Aquele foi o valeu mais empolgante da história dos valeus que eu já havia recebido na vida.

Quer dizer, ele não estava empolgado nem nada, mas na minha cabeça, foi empolgante.

— Ei, você prefere ser o primeiro a descer ou o último? — pergunto, com força de vontade.

Ele franze o cenho para a janela, ainda sem me olhar.

— Como assim? — responde, embaçando o vidro com o hálito quente.

— Quando o ônibus chega na escola. — expliquei.

Ele permaneceu quieto, mas agora, olhou para mim.

Acabo de perceber que os olhos e sobrancelhas dele também são pretos.

— O último. — respondeu.

Antes que ele se virasse novamente, olhei fundo em seus olhos e perguntei:

— Como você se chama?

— Yoongi. — respondeu, como se não fosse nada. E provavelmente não era grande coisa.

Mas para mim, o cara legal finalmente tinha nome.

— Aaah… — soltei, com um sorriso mínimo. — O meu é Jimin.

Yoongi balançou a cabeça e voltou a olhar para a janela. Foi extremamente legal ficar do lado dele em silêncio agora.

Assim que o motorista estacionou, fiquei parado com Yoongi até todos os alunos descerem. E dessa vez, ninguém
tocou no meu cabelo ou coisa assim, mas um garoto gritou no pé da minha orelha e prendi um grito na garganta com o susto.
Por pouco não me humilhei.

Olhei em volta e ao perceber que todo mundo havia saído, me levantei. Esperei Yoongi se levantar e ir em frente e o
segui ao descer as escadas, até nossos caminhos se tornarem diferentes novamente e eu ficar sozinho no meio dos
adolescentes.

Mas tinha algo diferente dessa vez.


As faxineiras foram as primeiras — acenaram para mim nos corredores perto dos banheiros. Os segundos foram os
professores — tocaram os meus ombros e me desejaram um bom dia. E até o diretor, perto de sua sala, sorriu para mim. Um
sorriso forçado, incerto e vago. Mais ainda sim um sorriso.

Cumprimentei eles e fui simpático também. De uma coisa eu sabia: havia um dedo da minha mãe naquela gentileza
toda. Ou quem sabe do diretor. Ele deve ter temido muito a possibilidade da minha mãe ferrar com ele e a escola dele. O que
é no mínimo estranho, porque ele nunca parece feliz por estar aqui.

Subi os degraus do primeiro corredor, seguindo diretamente para a sala da orientadora. Vi muitas máquinas de comida
no caminho e estava ansioso para gastar o dinheiro do cartão em Push Pops de melancia.

O sinal tocou e eu me esgueirei entre dois armários por causa da movimentação louca dos alunos. Devo ter ficado
mais de seis minutos lá, esmagado na parede enquanto eles esbarravam uns nos outros, correndo para suas respectivas
salas. Soltei todo o ar quando ficou mais vazio e consegui voltar a andar.

Passei por salas cheias de alunos e, curioso como sou, não conseguia segurar a vontade de olhar. Coloquei a cabeça
para dentro de umas três salas, só para checar se eram mesmo todos iguais.

Para minha infelicidade: eram sim.

Iguaizinhos.

Por fim, cheguei na sala da orientadora. Batuquei a porta duas vezes e ela foi aberta por uma mulher.

Ela estava com três cigarrinhos de chocolate entre os dedos e sorriu para mim quando me viu.

— Eu…

— Sim, você. Eu sei, Jimin. — ela me interrompeu e fiquei pouco surpreso por ela saber meu nome. — Pode entrar.
— me deu espaço. Confirmei com a cabeça, tímido.

— Obrigado.

Andei pela sala e, dessa vez, me sentei na cadeira de frente para a mesa. E não a de trás da mesa. A orientadora veio
logo depois, com os cigarrinhos de chocolate dentro da boca agora. Acabei de perceber que tem uma caixa deles no meio da
mesa dela agora.

— Oh, desculpa. — ela se ajeitou na cadeira, debruçando o tronco sobre a mesa para estender a mão para mim. —
Sou Sayuri. Lee Sayuri. — apertei a mão dela, me sentindo um pouco mais leve depois de ver como ela era desajeitada.

De certa forma, eu me senti melhor.

— Sou Park Jimin. — sorri, calmo.

— Certo. — ela pegou a caixinha de cigarrinhos de chocolate e estendeu para mim. — Quer um cigarrinho?

— Não, não, muito obrigado. — neguei por educação.

— Pode pegar. É ao leite. — piscou um dos olhos para mim, balançando a caixinha na minha direção. — Vale a pena!
É uma delicinha.

“Delicinha”. Não me aguentei e dei uma risada.

— Valeu. — falei aos risos, aceitando.

Peguei um cigarrinho e mordi, de fato, era bem gostosinho. Deixei na língua para que derretesse, chocolate é mais
gostoso assim.

— Então, Jimin, pelo que sei, hoje é seu primeiro dia. E creio que você deve ter percebido que todos os funcionários
do colégio te conhecem agora. — falou, sem papas na língua e me vi certamente surpreso. Ela não tentou esconder o fato de
mim. — Permita-me lhe dizer: é obra do diretor. — ela encaixou a mão ao lado da boca, como se fosse um segredo e, de
novo, me senti mais confortável com o jeito divertido dela de ser.

— Minha mãe assustou ele… — eu disse, rindo baixinho com ela.

— Tudo bem, isso não é problema. Ele está sendo cauteloso, mas pense pelo lado bom, pode ser? Agora você pode
pedir o que quiser aqui. — riu mais um pouquinho, pegando o penúltimo cigarrinho da caixinha e dando-me o outro. Aceitei de
imediato.

— Pode ser. — comi o chocolate.

— Acho que sabe que eu vou escolher um aluno para te apresentar o colégio. — afirmei. — E que você vai faltar a
primeira aula hoje por isso. — afirmei, de novo. — Ótimo, que bom. Eu vou escolher um que eu particularmente adoro, Jimin.
— disse, se virando para a estante. Abriu o primeiro livro que viu e depois sorriu.

— Por que você o adora? — perguntei, e sem deixá-la responder, perguntei de novo: — É porque acha que ele é
bonzinho?
— Eu não acho que ele é bonzinho. Ele é bonzinho. — respondeu, sorridente. Soltei um riso, meio debochado.

Quando percebi que o fiz, tampei a boca e me levantei.

— Me desculpe por isso, senhora Lee. — abaixei a cabeça. — Não queria te desrespeitar.

— Tudo bem, querido, se sente. — ela sorriu e eu ergui a cabeça, respirando fundo e finalmente me sentei. — Eu sei o
que está pensando, Jimin. E acredite, não é assim.

— Não é assim, o quê?

— Você sabe. — permaneceu com o sorrisinho. — Que não há pessoas legais, eu sei, eu sei. A maioria é bem chata.
— eu afirmei, levemente amuado. — Não tem problema. Eu conheço um bonzinho.

Apertei os olhos.

— Não acha que ele seja bonzinho só perto de você? — indaguei, inseguro.

Sayuri negou e sorriu de novo.

— Acredite, Jimin. Ele é bonzinho.

JUNGKOOK

Às vezes gostaria de ir para Skartaris e não voltar nunca mais.

De verdade. Eu andaria em cima de dinossauros e dormiria o dia inteiro. Lá, literalmente, não têm noite. E há muitas
coisas para fazer. Tem feiticeiros, magia, criaturas fantásticas e um sol que nunca se põe. O tempo lá é diferente, então eu
morreria mais cedo.

Morrer mais cedo...

— Eu seria a Mariah. — Jin apontou para a citada, na revista. — Na versão masculina. Um cientista russo.

— Eu provavelmente seria o Maciste. — eu falei, meio para baixo. — Pegaria uma espada e acharia demais. Mas aí,
descobriria que é amaldiçoada.

— Acho que você já é o Maciste. — murmurou, alto o suficiente para eu escutar.

— Por quê?

— Porque tá com raiva e sede de sangue.

O fitei, me sentindo ofendido. Mas não dei bola, bufei e virei o rosto. Aparentemente, é verdade. Estou com sede de
sangue e raiva e não queria bater papo no momento, que se dane. É um dia ruim demais para isso.

War chegou na loja de discos do centro ontem à noite e eu não consegui comprar porque, de acordo com a vendedora
nova, o álbum tem músicas “explícitas” demais para a minha idade.

Cara, eu tenho 14 anos e quero morrer.

— Não sei por que colocaram uma droga de coroa para trabalhar na loja de discos — eu reclamei amuado, voltando a
falar para Seokjin. — Não é legal. Ela não sabe que hoje em dia nós precisamos de música para viver.

— É verdade.

— É uma idiota. Uma besta. — juntei as sobrancelhas, carrancudo. — Tomara que demitam ela.

— Sim, tomara.

Olhei para Jin, percebendo que ele sequer me dava atenção. Continuava lendo a nova edição de Guerreiro e só
concordava. É o pior melhor amigo que existe.

Bati com a cabeça na mesa novamente e implorei silenciosamente para Jesus. Me dê o War. Por favor. O War, senhor
pai do céu. Só quero o War. E um novo melhor amigo.

Mas o War não veio, então fiz um barulho esquisito de derrota e sofrimento. É uma desgraça. Acordei às cinco para
pegar um ônibus cheio de adultos fedorentos só para chegar lá e não conseguir comprar o novo álbum do U2. Puxa, eu
acompanho eles desde Boy. É um absurdo eu não conseguir comprar o meu. Juntei dinheiro para isso por duas semanas.

Novamente: eu tenho 14 anos e quero morrer.

— Bom dia, classe.

O professor entrou na sala e ninguém o respondeu, a não ser as garotas lá na frente e o cadeirante (lá na frente
também). Continuei de cabeça baixa enquanto ele falava e falava sobre a prova, semana que vem.
Duas semanas de aula e já teremos prova.

Pelo amor de Deus, que irritante.

— Jeongguk. — Jin me cutucou e virei os olhos para ele. — Jeongguk, ei.

Não respondi, mas levantei a cabeça para olhar meu melhor amigo sem-coração. Ergui a sobrancelha, como quem diz
“fala logo”, mas ele não respondeu. E só agora percebi a orientadora na porta da sala e todos os alunos da
turma me olhando.

Endireitei minha postura imediatamente, podendo ver a senhorita Lee olhar para mim, com o sorriso empolgado de
sempre. Ela entrou na sala e falou com o professor, que sinalizou para que eu me levantasse, e assim o fiz. A Sayuri
chamou-me para perto com acenos de mão, indicando que era para eu segui-la.

Confirmei com a cabeça e saí de sala com ela. Não cheguei a pensar que estava encrencado, porque a senhorita Lee
era legal demais para dar notícias ruins.

— Jeongguk, bom dia. — me apertou o ombro, enquanto eu a seguia.

No sexto ano, Sayuri ainda era maior que eu, mas agora já passei ela na altura. Não que eu seja super alto ou coisa
assim. Ela mesma é baixinha.

— Bom dia, tia. — eu disse, com um sorriso. Embora fosse falta de respeito para os professores serem chamados de
tio ou tia, Sayuri gostava e deixava, então eu me sentia melhor com ela.

Era a única pessoa legal naquela escola.

— Desculpa por te tirar da sala de aula tão cedo, mas eu preciso de você para algo. — disse ela, enquanto subíamos
as escadas. Acabo de notar que estamos indo em direção a sala dela. — É uma coisa que só você pode fazer. Aliás, pode
me mostrar seu cronograma de aulas?

— Cronograma? — pergunto. Nunca ouvi essa palavra antes.

— Aquela tabela de horários, das suas aulas. — soltei um “ah”, e assenti, abrindo a mochila para pegar. — O seu
ônibus, para cá, é o 222?

— É sim. — entreguei o papel, já meio amassado, à Sayuri. Ela o checou enquanto o comparava com outra folha
segurada por sua mão esquerda. — Hum, é, por que você precisa de mim, senhorita Lee? — indaguei, formalmente agora.

Paramos em frente a porta fechada de sua sala e Sayuri parecia concentrada na tabela de horários. Também estava
contando baixinho “1, 2, 3, 4”, comparando as folhas.

Fiquei confuso com o sorriso que ela lançou para os papéis.

— Quero que você apresente a escola para um aluno novo.

Aquilo me deixou surpreso. E meio pé-atrás.

— Ah.

Droga, droga, droga.

Droga. Não vale a pena me colocar para falar e socializar com as pessoas. Tampouco com alunos novos. Mesmo que
eles sejam novatos, podem ficar cruéis de repente e me fazerem de capacho. Isso acontece muito. Eu lembro que Jonna
apresentou o colégio para um garoto no ano passado e ele perseguiu ela até o fim do ano letivo.

Meu Deus.

Sayuri estava errada achando que eu poderia fazer uma coisa daquelas.

— Ah, tia, eu acho que não é uma boa ideia... — eu comecei, suplicante. — Por que não pede à Jieun? Ela é bem
melhor com essas coisas.

Não há chances de alguém perseguir a Jieun. Ela é bonita e legal demais para isso.

Por que não ela?

— Ora, não seja bobo, você é ótimo. — ela falou, colocando a mão na maçaneta.

Meu coração bateu mais forte.

— Mas eu não conheço a escola muito bem. — desculpei e ela riu.

— Eu sei que você conhece, querido. — a orientadora sorriu.Puxa. — Não se preocupe, Jeongguk. Está tudo bem.
Não estou te empurrando para uma armadilha, acredite. — Sayuri disse e eu fiquei meio balançado.

Ela parecia ler mentes às vezes, porque eu me sentia, literalmente, em uma armadilha.
— Mas… — antes que pudesse terminar, ela voltou.

— É uma pessoa bem boazinha, tudo bem? Prometo.

A mirei com o olhar, com sua mão ainda segurando a maçaneta. Engoli em seco, confiando nela, como sempre, ao
afirmar com a cabeça, pronto para fazer o que ela pedira.

— Tudo bem. — eu disse.

Ela acariciou meu couro cabeludo uma vez antes de entrarmos na sala dela. Eu de cabeça baixa e ela alegre.

— Ótimo. — ouvi Sayuri e a porta se fechou. Me encostei na madeira. — Então, Jeongguk, eu gostaria que você
conhecesse o Jimin. Ele entrou para nossa escola há duas semanas, mas só vai começar a estudar agora. — assenti,
sentindo os apertos dela em meu ombro. Um pedido silencioso para que eu erguesse a cabeça.

E assim que obedeci, fiquei boquiaberto por vê-lo ali novamente.

O menino com as pernas de presuntinho.

Não pensei que ele fosse voltar para a escola novamente. Depois do primeiro dia, ele não voltou mais. Por duas
semanas. E pensei que seria assim pelo resto do ano.

Há alguns alunos que desistem no primeiro dia e fiquei surpreso por, hã,Jimin não ser um deles.

Eu não estava no ônibus da escola hoje de manhã. Meu pai me deu carona por causa do atraso, então não vi Jimin
no ônibus. Se é que ele veio de ônibus. Mas não pensei que veria ele novamente, pelo menos não tão cedo.

— Jimin, esse é o Jeongguk. Ele estuda aqui desde o jardim de infância. E como vocês terão as mesmas aulas
praticamente todos os dias da semana, achei que seria bom que ele te apresentasse a escola. — Sayuri continuou, mas eu
ainda estava olhando para Jimin.

Nossa, ele é tão ruivo.

— Oi. — Jimin disse, finalmente tirando os olhos da mesa e olhando para mim. Ele parecia hesitante também.

Andei um pouco para frente. Era estranho falar com ele.

— Oi. — eu disse, apertando sua mão que me parecia macia demais e pequena demais.

Ele parece a Daphne Blake.

Jimin puxou a mão de mim e olhou para baixo muito depressa.

— Ótimo! Muito bem, então por que vocês não vão em frente? — sugeriu a senhorita Lee. — Estejam de volta em
menos de cinquenta minutos, ok? Podem comer algo se quiserem, o Jimin precisa aprender a usar o cartão da escola.

Nós dois confirmamos com a cabeça.

— Você não vem com a gente? — Jimin perguntou à Sayuri, e só agora percebi que ele estava tão nervoso com
aquilo quanto eu.

Na verdade, ele parece estar morrendo de medo.

— Tenho coisas para fazer por aqui, Jimin. Tudo bem por você? — perguntou, mas Jimin não respondeu. Só
confirmou com a cabeça — Tudo bem, Jeongguk? — repetiu a orientadora, para mim. Vi seu rosto e apenas concordei. Ela
parecia tão esperançosa que eu não tentei negar nada. — Assim que eu gosto. Podem ir. Vejo vocês daqui a pouco.

Notas finais
Link da playlist: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

gente eh a daphne do scooby doo tá uisbdhaejwbfka esse desenho existe desde os anos 60 XD <3

espero que tenham gostado~ beijinhos e até o next sz sz

4. Ele é como um Invisível

Notas do Autor
YAAA 200 FAVORITOS eut ô muito agradecida obrigada minhas crias obrigada de verdade eu amo essa fic e amo vcs eh
isto
aliás eu tenho uma pergunta importante, vocês podem ler as notas finais e me responderem, por favor?? obrigadinha
anjinhos!

beijos e boa leitura!

JUNGKOOK

Eu não tentei dizer nada enquanto saía da sala da orientadora. E Jimin não parecia disposto a tentar dizer muita
coisa também.

A gente caminhou por um tempo no completo silêncio. Eu nem conseguia falar com ele, tampouco olhar para ele. Eu
estava dum lado do corredor e Jimin do outro, agindo como se eu fosse uma espécie de ameaça. Como se algo de ruim
pudesse acontecer a qualquer momento comigo por perto. E eu me sentia do mesmo jeito, com ele.

A turma do quinto ano foi liberada para a quadra e Jimin estava na frente da sala quando eles começaram a
sair. Apressados e atrapalhados, trombando no corpo do Jimin como se ele nem estivesse ali. Ele recuou alguns passos e
andou-correndo até o meu lado do corredor, ficando atrás de mim, como se eu fosse uma espécie de escudo ou algo assim.

Fiquei parado até todos eles saírem. Eles olhavam para o menino atrás de mim, curiosos. Eu também olharia se fosse
eles. Afinal, era Jimin.

Jimin e a cabeça laranja dele.

Quando todos eles foram embora, Jimin voltou a andar para longe. Mas diferente de antes, ele ficou no meio do
corredor agora, um pouco mais perto de mim.

O.k.

— Jimin. — comecei, sem saber como falar com ele direito. Jimin me olhou e eu cocei a cabeça, me sentindo
estranho. — Você prefere começar por onde?

Ele balançou os ombros.

— Você que sabe. — olhou adiante.

— Bom... hã, é nessa sala que estudamos a maior parte do tempo. Temos aula de matemática, estudos sociais e arte
aqui. — apontei para a porta da classe que estava antes de ser chamado pela orientadora. Vi Jin fazendo anotações.

Jimin colocou-se em frente ao meu corpo para ver a sala por dentro. Aquilo chamou atenção do professor e uma parte
da turma, mas não o suficiente para causar alarde.

— Temos um professor para cada matéria? — indagou, saindo de perto da porta. Voltamos a andar.

— Sim, para quase todas. A professora de leitura dá aula de arte também.

— Temos aula de leitura? — perguntou. Notei certa empolgação na voz dele.

— Sim. — afirmei ao que dobramos outro corredor. Olhei para Jimin.

— Bacana... — sorriu minimamente. Percebi que na verdade era fácil olhar para Jimin, porque ele nunca estava
olhando para mim. — Quantas matérias temos?

— Oito. Língua coreana, língua inglesa, matemática, estudos sociais, ciência, educação física, arte e leitura. E tem as
aulas avançadas também.

— De quê?

— De todas as matérias. E tem aulas extras, mas você só faz se quiser. Tipo línguas estrangeiras, atletismo… As
aulas avançadas são assim também. Você só faz se quiser.

— Quantas aulas avançadas podemos fazer? — ele parecia um pouco mais confortável em fazer perguntas agora.
Acho que é porque eu respondo rápido.

— Quatro. Mas alguns alunos pagam para poder fazer mais.

Ele parou e olhou para mim pela primeira vez.

— Isso é ilegal? — pressionou os lábios. — Tipo, suborno?

Suborno. Suborno.

Eu ri um pouco. Era uma pergunta engraçada.

— Que eu saiba, não. — respondi, ainda aos risinhos.


Jimin voltou a olhar para frente em silêncio. Fiquei rindo baixo por um tempo, mas parei, com medo da possibilidade
de ele se sentir humilhado. Só que o ouvi dar uma risadinha também, então me senti melhor. Mais confortável igualmente.

— As aulas avançadas… elas nos fazem ficar por mais tempo na escola? — voltou com as perguntas, enquanto
parávamos em frente à uma vitrine de troféus da escola.

— Na verdade, não. Só quem têm aulas extras. — eu disse, observando Jimin pelo reflexo do vidro.

— E as pessoas que não fazem aulas avançadas? Ficam aqui atoa? — ele virou a cabeça para mim.

— Sim. Na maioria das vezes ficam no refeitório esperando. O ônibus da escola só sai quando as aulas avançadas
terminam, e a maioria precisa do ônibus para ir para casa, então esperam. — olhei para ele também. Olhei de verdade.

Jimin... tinha sardas nas bochechas. Sardas clarinhas.

— Ah, isso é legal. — afirmou, voltando a olhar os troféus. — Os professores são legais? — perguntou, um pouco
baixinho.

— Até que são. — respondi, passando por ele. Ele voltou a me seguir. — Mas a maioria é deprimido.

— Deprimido?

— É. Super melancólicos e bravos, não ligam para muita coisa. Mas tem uns legais também. — contei, sincero. — É
muita sorte você ter entrado esse ano. No ano passado e retrasado, só tivemos professores homens. E eles eram muito
tristes e severos.

— Sério? — Ele se aproximou.

— Aham. — eu respondi, me aproximando também. — As professoras são mais cuidadosas, e esse ano temos quatro
delas.

— Uau, isso é bom.

— Sim. — disse e de repente estávamos no laboratório de ciências. — Ah, a professora de leitura é uma das mais
legais, se quer saber.

Jimin olhou para mim. E tem cílios super grandes.

— De verdade? — perguntou animado.

Acabo de perceber que ele gosta mesmo de leitura.

— De verdade. — eu disse, e não sabia se o sorriso dele era para mim ou para a informação. Mas eu acabei sorrindo
de volta.

Ele quebrou o olhar, voltando o rosto para o laboratório de ciência.

— Legal... — falou baixinho.

Estamos em frente a sala. Ninguém está dando aula no momento, por isso passei por Jimin, abri a porta e entrei. E
ele me seguiu mais uma vez.

— Aqui é a sala de ciência. — eu disse, olhando em volta. — E na sala ao lado, temos aula de língua coreana e
inglesa.

— Língua inglesa é uma matéria obrigatória? — afirmei com a cabeça. — E quais são as línguas estrangeiras? Das
aulas extras.

— Há muitas. Japonês, chinês, tailandês, francês… alemão… hã… — pensei por um tempo. Puxa. — Só consigo me
lembrar dessas. — sorri amarelo.

— Tudo bem, eu não me interessei por elas — disse, rindo um pouco.

Saímos daquela sala com um caminhado mais leve. Jimin deixava as mãos balançarem no ar agora, o que não fazia
antes — ele as escondia atrás do corpo e dentro dos bolsos. E eu, bem, eu havia parado de coçar a cabeça de nervoso e
estava mais perto, o que era grande coisa para mim. De verdade.

É difícil não ficar nervoso quando se é eu.

— Podemos ver a sala de leitura agora? — Jimin indagou depois de alguns passos.

— Podemos, mas é no outro prédio. Você se importa? — olhei-o.

Estávamos um do lado do outro e nos olhando. Parece até que somos amigos.

— Não, e você?

— Não. Vamos lá. — respondi, sorrindo (de novo) quando ele sorriu. É automático.
Saímos pelo pátio e andamos pelo jardim que leva o primeiro prédio da escola até o segundo prédio da escola. Tinha
muitas flores no caminho e Jimin parecia gostar de cada uma delas. Algumas abelhas cercaram seu corpo e ele nem ficou
com medo, até ergueu o mindinho para uma delas, que pousou ali. Era chocante. Como assim abelhas pousam em dedos?
Como assim abelhas são simpáticas? Se eu estivesse no lugar dele, teria tremelicado de nervoso e corrido para longe.

Na verdade, eu já havia me afastado dele por medo das abelhas voarem em mim.

Quero dizer que ele parece aquelas princesas que cantam e um monte de bichos vai para perto, mas acho que achar
ele parecido com a Daphne já foi o suficiente por hoje.

Chegamos no segundo prédio. Era silencioso e calmo por causa das aulas extras, o que era bom demais. Passamos
por várias salas cheias de alunos concentrados e subimos as escadas para o segundo andar, entrando juntos no corredor da
sala de leitura.

Quando chegamos nela, ela estava vazia.

— Aqui... temos aula de leitura. — eu falei, parando em frente a porta.

Iria abri-la, mas Jimin passou por mim e a abriu primeiro, adentrando a sala imediatamente.

Puxa. Ele definitivamente gosta de Leitura.

Fiquei olhando para ele, me sentindo um pouco ansioso. Por algum motivo, estava esperando uma reação feliz de
Jimin. Estou sendo estranho, eu sei. Mas é como se eu estivesse mostrando meu filme favorito para uma pessoa e reparando
na reação dela em cada cena legal, porque queria ver se ela sentiria o mesmo impacto que senti ao ver pela primeira vez. E
se a agradaria como me agradou.

O que é muita esquisitice, porque eu nem gosto das aulas de leitura.

Jimin foi até as janelas. Algumas folhas ultrapassavam o vidro quando aberta, formando uma sombra natural nos dias
de sol. Acho que é minha parte favorita da aula de leitura. Jimin dedilhou as folhas, como se apreciasse muito a natureza.
Não tem como não pensar que ele parece um ser-encantado quando faz isso.

Me encostei na porta enquanto ele fuçava na sala inteira. Abriu os armários e começou a vasculhar os livros. Lia a
parte interna da capa, depois fechava, guardava e então pegava outro. Fez isso muitas vezes e parecia não querer parar. Fui
até uma das carteiras, cansado de esperar, me sentando. Jimin levantou, atravessando a sala até uma estante, começando a
fazer seu procedimento curioso ali também.

Olhando assim para Jimin, ele não me parece tão grande. Ele parecia muito pequeno, mas com alguns lugarezinhos
grandes. Tipo as bochechas, as mãos, as pernas... Quando ele ficou na ponta dos pés para pegar um conto no topo da
prateleira, a camiseta subiu e percebi a cintura cheinha também. Com toda a certeza não é enorme. Dá pra ver a clavícula
dele quando ele abaixa a cabeça, e o peito é reto. Ele só é cheinho. Que exagero chamá-lo de rolha de poço. Se bem que
ninguém deve ser chamado de rolha de poço, mesmo quando é gigante. Que coisa mais idiota.

— Você gosta ler? — perguntou, voltando a posição comum. Ele é super desligado para não perceber que sua
camiseta sobe quando se estica.

— Hum, não muito. Ou sim. Gibis conta? — pergunto com um sorriso leve.

— Sim. Toda leitura é uma leitura, e é importante. — ele respondeu. Parei de sorrir, pois esperava uma resposta
diferente dele e aquilo me deixou desconcertado.

Eu jurava que ele falaria algo parecido com o que minha irmã diz nessas situações. Quando ela vê as pilhas de
revistas em quadrinhos no meu quarto, começa a dar pitaco sobre aquilo servir somente para encher minha cabeça de
bobagem irrelevante. Até tentei ler O Sol É Para Todos pra ver se ela calava a boca, mas parei na décima segunda página e
nunca mais continuei.

Dá muito sono.

— Ah. — eu suspirei, e ele ainda olhava para mim com o livro O Apanhador No Campo De Centeio nas mãos. —
Então... eu acho que gosto de ler.

— Legal! — respondeu e abaixou o rosto para o livro de novo. E eu fiquei ali olhando para ele. E pensando nele.

Jimin parece tão... inteligente e legal.

— Jung… Jungkook? — chamou, como perguntasse se é assim mesmo que se fala o meu nome.

Jimin marcou o livro e o escondeu no cantinho da estante enquanto eu o olhava. Ainda estou sentado na carteira,
esperando.

— Hum? — eu resmunguei, não de forma rude. Só mostrando que ele podia falar.

Jimin se virou para mim, com um brilho no olhar.

— Aqui tem Push Pop de melancia?

JIMIN
Jeongguk e eu conhecemos o resto do segundo prédio e depois fomos até o refeitório para comprar os Push Pops. Eu
me sentia estranho perto dele, mas não desconfortável. Ele era quietinho e tinha cara de garoto engraçado, mas tímido. Não
era do mau. Com certeza não era do mau. Percebi isso no momento em que ele começou a coçar o cabelo sem parar, e não
conseguiu levantar a cabeça na sala da orientadora. Mas eu só abaixei a guarda um pouco depois. Estar com alguém da
minha idade ainda era assustador para mim.

Usei o cartão com sua ajuda e compramos quatro Push Pops. Dois de melancia para mim e um de cereja e um duo,
que era de tangerina com banana, para Jungkook. Ele que escolheu. Eu ofereci para pagar quando peguei os meus, porque
não queria parecer mal-educado, além de que queria que ele comesse comigo também. Me sentiria menos gordo assim...

Ai tá bom. Admito que a última parte é mais por uma birra minha. Porque em nenhum momento Jungkook me fez
sentir gordo, diferente de metade dos alunos, que olham para mim como se eu fosse o garoto de 15 anos mais gordo do país.

Que baboseira.

Nos sentamos no pátio para abrir os doces. Rasguei a embalagem com facilidade, já Jeongguk não, o que foi um
pouco engraçado. Eu estendi a palma para que ele me desse. E ele me deu e eu o abri, o entregando logo depois.

— Obrigado. — disse, empurrando para cima e colocando o pirulito na boca.

— Não foi nada. — eu disse, fazendo o mesmo. Hummmm.

Ficamos chupando o doce sem fazer ideia do que dizer, embora eu tivesse algo para perguntar para ele. Algo pessoal.
Uma dúvida que tive desde o momento que ele entrou na sala.

E é claro que era sobre o gêmeo dele.

O irmão dele, quero dizer. Eu tinha certeza de que Jeongguk era o rapaz que eu vi no bebedouro no primeiro dia, e
tinha certeza também de que ele havia um gêmeo. Ou quase certeza, porque muitos grupinhos de alunos parecem gêmeos
por aqui. Não estou brincando. Acho que chega a ser ofensivo pensar assim.

Eu não sabia como perguntar, mas queria perguntar. Bem, eu havia conseguido fazer pelo menos uma pergunta
pessoal para ele o que era um grande avanço, embora eu seja bem pra frente com perguntas. Não com todo mundo, é claro,
mas com quem eu acho que é do bem. Tipo o Yoongi e a orientadora. E sinceramente, eu estou achando Jeongguk muito
legal até agora. Ele não me apressou e nem nada, e nem revirou os olhos pra mim. Não tem nada demais em perguntar.

Certo?

— Eu posso te fazer uma pergunta? — perguntei, já fazendo uma pergunta.

— Pode. — ele respondeu, virando o rosto para mim.

Os olhos dele eram tão grandes que o faziam parecer curioso. Como se ele os abrisse de propósito, com uma
expressão duvidosa. Não sei se ele é sempre assim ou se foi literalmente por causa da minha pergunta.

Era uma expressão bem legal.

— Você tem um irmão gêmeo? — pergunto.

E me arrependo logo depois.

Ele fez a careta mais confusa que eu já havia visto na minha vida.

— Hã… não? Não. — pressiona os lábios, olhando fundo nos meus olhos. — Por quê? Viu um clone meu por aí? —
ele riu no final da pergunta. Percebi que estava tentando ser engraçado.

— Não, não! É que… — virei o rosto para frente, me sentindo besta.É claro que não eram gêmeos, idiota! — Eu te vi
com um rapaz, achei vocês muito parecidos e pensei que eram irmãos. N-não necessariamente gêmeos, talvez irmãos… —
me expliquei, e não sei se gaguejei pelo constrangimento ou pelo açúcar pinicando minha garganta. Talvez os dois.

Jeongguk negou com a cabeça e eu ri nervoso. Nem estava olhando para ele, o via de esguelha.

— Deve ser o meu amigo, Jin. A mãe dele também nos acha parecido às vezes, acho que é porque passamos muito
tempo juntos. Mas ele é bem mais bonito do que eu...

Eu acho Jungkook muito mais bonito que seu não-gêmeo.

Mas é claro que não vou falar isso para ele.

— Eu olhei bem rápido na hora, devo ter me confundido... — eu falei, o que era verdade. Estava sendo arrastado
(psicologicamente) pelo diretor, afinal.

— Sim.

Jeongguk mordeu o pirulito, o que achei ofensivo, porque a melhor parte era acabar com ele sem morder. Mas não
falei nada e continuamos em silêncio. Desgrudei a camisa do meu corpo para não marcar a dobrinha da minha barriga e
Jeongguk olhou para mim na mesma hora. Eu quase derreti de constrangimento, mas Jeongguk felizmente não pareceu
notar, pois a expressão permaneceu a mesma.

— Posso te fazer uma pergunta também? — perguntou, já fazendo uma pergunta.

— Mas você já está fazendo. — eu disse, sem me segurar. Até sorri.

Ele deu uma risadinha, parecendo entender a minha quase-piada.

— Pode fazer sim. — eu respondi logo depois, para não confundi-lo.

— Você não pinta o cabelo, não é? — questionou, tão naturalmente e tranquilo que nem parecia mais o Jeongguk que
coça a cabeça sem parar. Acho que a pergunta absurda sobre ele possivelmente ter um gêmeo o soltou. — É que eu achei
que sim no primeiro dia, mas agora acho que não.

— Por que acha que não agora?

— Ah... você tem sardas cor-de-pele e sobrancelhas ruivas. Então…

Minha pele formigou. Eu pensava que não dava para notar minhas sardas.

— Ah... é. Eu sou assim naturalmente. A minha cabeça é assim originalmente. — eu disse, com um ar engraçado e
meio nervoso. Era divertido ser tão raro e diferente, embora meio difícil.

— Ah sim. — sorriu. — Posso fazer mais uma pergunta?

— Pode fazer quantas perguntas quiser. — eu falei pois Jeongguk realmente podia. Gosto de conversar.

— Aquela moça de cabelo cacheado era, hum, sua mãe?

— Sim.

— E quantos anos você tem? — Jeongguk mudou o assunto.

— Quinze. E você?

— Catorze. — Me fala e então suspira languidamente. — Puxa, você parece bem mais novo do que isso! Pensei que
fosse um aluno avançado ou algo parecido.

— O quê? Sem chance! Nem sou tão inteligente assim — falei, o que, em linhas gerais, não era verdade. Me
considero muito inteligente, mas não tenho certeza se admitir isso em voz alta seria legal. — Eu também achei que você
fosse mais novo do que isso.

— Eu pareço mais novo? — perguntou Jeongguk, como se não esperasse por aquilo.

— Parece!

— Por quê?

— Porque seu rosto é delicado.

De repente, a escola começou a gritar. Parecia uma sirene de tão alto e estridente. Apertei as mãos contra os ouvidos,
fechando os olhos e gemendo de frustração até o barulho acabar. Aquilo era tão alto que doía...

— A… a primeira aula terminou. É o sinal... — Jeongguk me explicou, me olhando meio perdido. Talvez minha reação
de dor tenha o deixado assim.

— É muito alto! — falei, respirando fundo. — Desculpa. Temos que ir agora?

— Temos... para a sala da orientadora. — ficou de pé.

— Ah. Tudo bem. — eu me levantei, indo contra minhas próprias crenças ao morder o pirulito.

Jeongguk virou-se e começou a andar na minha frente. Seguimos para a sala da orientadora sem falar muita coisa,
mas não foi desconfortável. Então tudo bem.

— Nem se atrasaram! Como foi? — a senhora Lee perguntou assim que abriu a porta. Parecia animada em receber
uma resposta.

— Foi bom...

— É. Conhecemos tudo a tempo. — respondeu Jeongguk.

— Que bom! Fico feliz de verdade. — ela tocou nossas cabeças, carinhosa. Acabo de perceber que tanto eu quanto
Jeongguk somos mais altos do que ela. Temos quase o mesmo tamanho. — Preciso que faça mais um favor e acompanhe o
Jimin até a sala agora também, Jeongguk.

— Tá bom — Jeongguk respondeu.


— Agora vão, vão que a próxima aula já começou e não quero que se atrasem e se prejudiquem. Depois conversamos
mais! — e Sayuri nos deu tapinhas nos ombros, no intuito de nos colocar para fora de sua sala. Entendemos rápido o que ela
quis dizer e fomos para fora.

***

Acho que a escola é certamente uma droga.

Uma droga com algumas qualidades. Tipo o professor de matemática, que depois de me colocar para falar meu nome
lá na frente, fez um trocadilho com o significado de Park Ji-Min.

— Park Jimin, então. Imagino que você deve ter sabedoria para aprender rápido e ser inteligente. HÁ-HÁ-HÁ! — riu
histericamente de seu próprio comentário, enquanto a turma me olhara em silêncio. — Sente-se, Jimin.

Tive aula de matemática e história antes de outro grito — sinal — tocar e todo mundo sair correndo para fora da sala.
Acho que é a hora do almoço, mas nem morto saio dessa sala. Embora esteja faminto, não sinto que consigo comer na frente
de todas as pessoas que estarão possivelmente no refeitório. Por isso não mexi um dedo.

Se querem saber, Jeongguk não falou comigo depois de entrarmos na sala. Nós acenamos um para o outro uma vez
e depois não aconteceu mais nada. Jeongguk ficou em sua carteira e não falou com ninguém que não fosse seu não-gêmeo
a aula inteira.

Jeongguk era curioso e muito diferente de mim. Era como se fosse invisível aos olhos alheios. As pessoas pareciam
não notar sua presença na maior parte do tempo, inclusive os professores, que quando faziam a lista de presença,
precisavam perguntar quem era Jeongguk para marcá-lo em suas agendas. Quando Jeongguk foi ao banheiro, as meninas
disseram que ele havia faltado para a chamada do professor de história. O seu não-gêmeo teve que cortar a conversa a
afirmar que Jeongguk estava na escola, pois ninguém havia o percebido nas aulas anteriores. E isso duas vezes em menos
de três horas.

Sinceramente não entendo. Eu vejo Jeongguk e para mim ele é extremamente chamativo. Do jeito bom. Como me
sentei um pouco atrás, e na fileira ao lado da janela, conseguia vê-lo perfeitamente. Não sei como as pessoas não
conseguem notar alguém como ele…

Passei o tempo lendo Little Women e de repente os alunos voltaram para a sala, todos com a boca vermelha e as
bochechas inchadas, o que me faz chegar a conclusão que teve uma espécie de festival de comida apimentada no refeitório.
Seria uma delícia estar lá.

Fiquei chateado quando alguns idiotas do ônibus passaram para dentro também, mas em compensação, Yoongi
apareceu. Acenei fracamente para ele e ele fez o mesmo, indo em direção a última carteira da sala.

Nas próximas duas aulas, minha cabeça doeu e meus olhos vacilaram de sono. Nunca ouvi tanta coisa de uma vez só
e a vontade de dormir era incontrolável. Mas me senti muito ligado quando minha nuca foi atingida por uma bolinha de papel
que, desamassada, havia um desenho de um — aparentemente — dinossauro gordo com um GORDOZILLA!!!, ao lado, o
que me deixou constrangido. Embora eu não houvesse entendido bulhufas sobre aquilo, fiquei chateado de certa forma.

Depois, mais uma bolinha veio. E outra. E teve uma que acertou meu olho, causando risos em alguns alunos, e
depois daquilo percebi que já era demais para mim.

Pedi para ir ao banheiro na aula de geografia e descobri que na verdade isso não se pede e eu posso, simplesmente,
sair de sala quando bem entender. Uma informação valiosa para quem fora metralhado por bolinhas de papel e quase
morreu de tédio ouvindo sobre um tema que estudou há muito tempo. Parece que estou realmente avançado como Jeongguk
falou, porque já vi tudo isso com minha avó.

Fui parar em um parquinho depois da minha caminhada despreocupada. Me sentei no balanço, e é como se estivesse
em uma cena de livro onde o personagem se sente solitário. E com toda a razão. Talvez eu devesse visitar minhas primas
essa semana porque solidão nunca é uma coisa boa… Não quero morrer mais cedo por essa causa.

Fiquei sozinho por um tempo, pensando na possibilidade de não vir de ônibus para a escola. Se eu pudesse, não viria
a escola. O que há de bom em ficar numa sala aprendendo nada? Só aprendendo a ser xingado de Gordozilla? E que diabos
de xingamento é esse? Caraca.

Espero que esses xingamentos não cheguem no meu coração, pois por agora, não consigo levar nada disso a sério.
Não acho que seja uma brincadeira da parte deles, mas também não acho que é como eles definitivamente pensam. Não
tem como uma pessoa ser tão podre ao ponto de ficar desconfortável com uma pessoa só porque ela é gorda... O quão triste
ela seria para tal?

Começo a fazer barulinhos com a boca e me balanço um pouco. Falta só alguns minutos para às 16h e enfrentar o
ônibus novamente vai ser difícil. Ainda mais porque o Idiota (vou chamá-lo assim já que não sei o seu nome) vai estar lá. Ele
me odeia. Parece que matei sua família na vida passada porque, na boa, não é possível que ele me odeie tanto sem
motivo…

Bom, eu espero que não.

— Here comes the sun… Mm... tchuru, tchuru… — olhei ao lado. Um garoto. — Here comes the sun, and I say… It's
all right…
Acompanhei com o olhar o rapaz batucando o vendo. E depois saiu cantando. Estava com um aparelho auditivo, se
não me engano, e mexendo na orelha enquanto cantava, vez baixo, vez alto, vez baixo, vez alto… Não entendi nada. Mas
fiquei tentando lembrar de onde eu conhecia aquela música. Não me é estranha…

Mais tarde, voltei para a sala para pegar meus materiais e duas garotas disseram Até Amanhã para mim, o que me fez
sentir mais para cima. Por outro lado, gritaram no meu ouvido novamente e eu, tristemente, fiquei para baixo de novo.

Antes de subir no ônibus, 222, que foi um dos primeiros a chegar, Yoongi veio para perto de mim.

— E aí? — ele acenou com a cabeça.

— Oi! — eu sorri para ele e subimos juntos no ônibus. — Posso me sentar com você de novo? — pergunto quando
chegamos no meio do corredor.

— Pode. Pode se sentar aqui amanhã também, e nos outros dias… — Yoongi murmurou, meio tímido, eu acho. A
maneira a qual ele não olhava para mim por muito tempo me fazia pensar que ele era assim.

— Uau, que bom! — eu disse, me sentando ao seu lado quando ele se sentou. — Arranjar um lugar é sempre um
pesadelo...

— Sei disso — disse e olhou para mim.

— Também passou por isso? — pergunto, me aproximando mais dele.

— Nos primeiros dias é sempre assim. — Yoongi olha para outro lado novamente. — Hum… pode considerar esse
lugar seu também agora. Não me importo de dividir.

Soltei um suspiro.

Finalmente. Ele é legal.

— Obrigado, Yoongi... vai ser mais fácil vir para a aula agora. — comecei a sorrir e ele, como sempre, só afirmou com
a cabeça e olhou para a janela.

Balancei os pés o caminho todo e olhei em volta umas vezes. Percebi que Jeongguk estava sentado bem ao meu
lado, literalmente ao meu lado, no outro canto do corredor e eu quase gritei por não tê-lo visto entrar antes. Ele estava lendo
um Gibi de cabeça abaixada e fiquei... olhando para ele.

Não acredito que só o notei agora. Por algum motivo, fiquei decepcionado comigo mesmo. Embora não houvesse
levantado a cabeça antes para poder ver ele ou qualquer pessoa entrando que não fosse Yoongi, não queria não ver
Jeongguk. Não queria que ele fosse invisível... Não para mim.

Jeongguk me notou o olhando, mas fingiu que não, começando a coçar a nuca e então a cabeça depois. Por que ficou
nervoso? Verdade, ele ficou super estranho e constrangido depois que voltamos para a sala da orientadora. Não sei porquê,
mas não perdi a oportunidade de, quando o motorista parou no meu ponto, sussurrar para ele antes de descer:

— Até amanhã, Jeongguk.

Ele pareceu surpreso com isso, mas acenou e sibilou um Até Amanhã também. Eu me despedi de Yoongi em alto e
bom tom, e ele acenou também. Desci — ignorando uns comentários do Idiota sobre eu ser covarde demais para voltar no
dia seguinte — com a cabeça em uma coisa.

Eu viraria amigo de Yoongi o quanto antes e tentaria mesmo ficar na escola. E não morrer de solidão. E,
principalmente, não deixaria Jeongguk se tornar invisível para mim.

Jamais.

Notas finais
link da playlist: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

quem será que eh o beatlemaníaco do here comes the sun (tchuru tchuru)? dêem seus palpites suhsuhus

bem, a pergunta é: vocês gostariam se eu fizesse um capítulo sendo narrado pelos outros membros? tipo, o yoongi e pá,
porque eu queria muito! se puderem responder no twitter (pra eu ter uma noção de %) agradeceria muito~ aqui o link:
https://twitter.com/gatodacoraline/status/991143199094792192

gente, eu me sinto muito invisível na minha escola, e às vezes isso dói. muitos professores que eu gosto simplesmente
esquecem de mim de um momento para o outro e fico chateada, então vou aflorar esse meu lado no jeongguk porque amo
muito fazer isso <3

beijinhos e até o próximooo, vejo vocês nos comentários <3


5. Ele é como Yoongi

Notas do Autor
OIIII capítulo curtinho desse nenê porque logo tem outro <33333

aliás, eu queria bater um papinho com vocês e esclarecer umas coisas... sobre a tal de rheya: não é algo muito sério. na
verdade, essa fanfic é um romancezinho bem nenê que eu sempre quis fazer. onde os personagens se descobrem de forma
calma e natural, fofa e... com pequenas atitudes. sabe? 'rheya' não é lá muito importante. e nem é uma coisa tão
surpreendente assim, ou séria. desculpa se decepcionei vocês e os fiz achar que seria algo mais misterioso e sério :(

mas, enfim! beijinhos e boa leitura e mANOW olha esse desenho lindo que a lizy fez do nosso jiminzinho no primeiro dia de
aula TT LINDO DEMAIS! apaixonada estou e chorando muito, aliás. eu amo meu jiminzinho. amo esse desenho. amo essa
fic, amo vcs tô emocionada

<3

JIMIN

Essas são as dicas de um garoto que completou um mês na escola e já tem muitas técnicas de sobrevivência:

1. Não deixe de comer na escola. Mas também não vá ao refeitório. Saia da sala vinte minutos antes do horário do
almoço, lanche algo em um lugar aconchegante (o meu favorito ainda é o parquinho abandonado), e volte para a sala dez
minutos depois. Sem atraso. Até dá para tirar uma sonequinha enquanto todo mundo está almoçando. Só não prolongue a
soneca e mate todas as aulas dormindo, sabe... é claro que eu não fiz isso, não, não mesmo… Mas, na boa. Fica atento.

2. Na hora de escolher suas matérias avançadas, dê uma olhada nos alunos que estarão na sua turma antes. E não
escolha inglês. Porque inglês é uma porcaria (foi mal a boca suja). E muita gente babaca escolhe inglês. Indico que você
escolha uma matéria que você gosta e três onde pessoas que você acha que são legais estão. As minhas três foram arte,
língua coreana e história, pois Yoongi está em duas dessas. E as meninas que são legais em arte. E faço história
com Jeongguk também. Escolhi leitura como a que eu gosto e tive sorte pois Micha a faz também. Ela é uma das garotas
boazinhas. Aliás, muita gente não usa mais a expressão “boazinha”, então, ela é maneira. É isso aí.

3. Ignore os comentários nos corredores. Quando te chamarem de garotinha ou sei lá, gordo, finja que não é com
você. E não abaixe a cabeça. Minha mãe que me disse isso: Fica de cabeça erguida. Então, sempre que me falam algo eu
ignoro de cabeça erguida. Me dá um ar de superioridade e não fico tão, tão chateado. E quando você percebe, os
xingamentos vão diminuindo. Não param, mas diminuem consideravelmente.

4. Não pegue o uniforme de educação física de jeito nenhum. A minha turma está sem professor de educação física e
essa matéria é dividida entre duas turmas e duas avaliações. A que você faz no papel, e a que você faz na quadra. Na
maioria das vezes minha turma não faz nenhuma delas, mas quem tem uniforme costuma ter de ir para a quadra fazer umas
atividades que valem ponto. E quem não faz a atividade, tem que estudar e fazer trabalhos no papel, tipo eu. Então, sempre
que te levarem para a secretaria para pegar o uniforme dessa aula, dê o fora. A não ser que você goste da ideia de ser
esmagado por bolas e usar um shortinho, fuja. Eu fujo porque pra mim simplesmente não dá.

5. Não se segure na hora de tentar fazer amizades, porque você pode se arrepender muito depois. Eu me arrependi
demais na primeira semana. Existem momentos perfeitos para você fazer perguntas perfeitas para pessoas que poderiam ser
amigos perfeitos, e não deixe a sua timidez tirar isso de você. Não guardo mais essa comigo porque consegui falar bastante
na segunda semana de aula, mas pode ser que seja mais difícil para outras pessoas, então essa é a minha dica.

6. Seja feliz quando completar trinta e dois dias de escola e você poder ganhar tudo que sua mãe lhe prometeu.

Tipo eu, neste exato momento.

É domingo. Meu cabelo está cheiroso e bonito porque acabei de sair da casa da minha tia e as primas cuidaram dele
como sempre gostam de fazer. Passei o final de semana lá e contei as histórias da escola para elas. E elas marcaram um dia
para matar o Idiota (não de verdade, mas foi engraçado pensar nisso acontecendo) por mexer comigo. Eu sou o bebê delas.
Pfft.

Minhas primas ainda são as mesmas e eu também. Estou feliz por não nos estranharmos depois de tanto tempo sem
contato direto. Foi como nos velhos tempos, nossa tia nos fez um assado de queijo cottage bom demais e eu me lembrei da
vovó. Mas não me senti triste. Porque era bom lembrar dela em momentos felizes.

Estou com Menino no colo, a mochila nas costas e os passos apertados para chegar logo em casa. Menino é pesado
e peludo, e dormiu o trajeto inteiro como um bebê, o que é no mínimo surpreendente se levarmos em consideração o fato
de que viemos em um ônibus barulhento. Ele é muito folgado e tranquilo, e pensar nisso me dá esperanças de que ele vá,
facilmente, se adaptar a sua nova casa. A nossa casa.

Ah, é! Menino é um gato, mas especificamente, meu gato. Ele tem três anos e é laranja como o Garfield, mas é muito
mais bonito que ele. Seu nome confunde muitas pessoas e acho que essa é a parte mais divertida dele, a história de como
aconteceu é muito legal e boa de se contar, embora seja bem simples.

Foi em um dia muito frio de dezembro. Nevava e eu e minhas primas ficamos a tarde inteira jogando jogos de
tabuleiro na sala de estar, sem poder abrir janelas, e nem sair por causa do frio excessivo. E foi quando Menino deu sinal de
vida. Miou várias vezes e muito, muito alto. Ficamos desesperados porque sabíamos que ele estava na garagem fria.
Pedimos para a vovó nos ajudar a pegá-lo e depois de muito esforço e choramingos, conseguimos a permissão dela.

Nos agasalhamos e atravessamos a neve para resgatá-lo, mas não foi tão fácil assim. Todos nós começamos a fazer
barulhinhos e chamá-lo para fora, mas ele estava enfiado lá dentro do carro e não queria sair de jeito nenhum. Foi quando
minha vó foi até ele e começou a chamar “Menino, menino… vem cá, meu menino. Não tenha medo...” e o gatinho foi para as
mãos dela de primeira. Como se ela fosse seu porto-seguro. E ele realmente era um menino. Nunca vou me esquecer desse
momento.

Eu e minhas primas ficamos tentando decidir um nome por uma semana inteira. Até que o tempo passou e o nome
Menino pegou, então, decidimos deixar desse jeito. Era engraçado quando uma visita nos perguntava qual era o nome do
bichano e falávamos “Menino!”, porque por um momento, todos eles ficavam confusos com a resposta.

Acho que o nome dele é o mais bonito do mundo. Tipo,Menino. É melhor que Floco de neve ou Pipoco. É
diferente. Tem um ar maneiro que nenhum nome de gato irá ter.

Chegando em casa, deixo Menino deitado na poltrona da sala e paro por um momento para olhá-lo. Ele está se
espreguiçando e isso é tão fofo. Menino é mais dorminhoco que qualquer outro gato, mas não acho que isso seja ruim, pra
falar a verdade, é meio que melhor assim.

Subi as escadas para achar minha mãe e, como esperado, ela ainda está dormindo. No quarto dela. Tipo, sério. Às
quatro da tarde. Ainda dormindo. É sempre assim. Eu nem fico surpreso.

Abri a porta devagarzinho e andei até sua cama. Me inclinei para abraçá-la porque sentia muita saudade. Faz tempo
que fico longe da minha mãe por tanto tempo e voltar para casa é gratificante. E olha que foi só um final de semana.

Ela se remexeu e depois me abraçou de volta, não demorando para me reconhecer ali e saber que eu havia voltado.

— Você voltou? — não sei se era uma pergunta ou uma afirmação, mas ela estava com sono, então não vou
questionar.

— Voltei… O Menino veio comigo. — eu disse me sentando na cama dela.

Eu amo a cama da minha mãe. É super alta e cheia de travesseiros, e super espaçosa. Às vezes sinto vontade de
dormir com ela. Mas já sou velho demais para isso.

— Hum, cadê ele? — perguntou, já prendendo o cabelo cacheado e bagunçado.

— Tá lá embaixo, dormindo. — dou um sorriso.

— Esse gato só sabe dormir. — dá uma risadinha, colocando os pés para fora da cama. Estalou todos os ossos numa
espreguiçada só. — Como foi na casa da sua tia?

— Foi bom! Comemos pra caramba e jogamos até tarde. Ji está indo muito bem na escola. E as meninas cuidaram do
meu cabelo. — apontei para a minha cabeça, a fazendo bagunçar meu cabelo com as mãos.

— Super macio! — deu risada.

Mexi nos lençóis de sua cama, rindo e me sentindo envergonhado por querer aquilo. Sabe? A promessa. Estava
sem graça em pedir dinheiro para ela assim, do nada. Mas eu queria muito um walkman pra ouvir música. Sim, eu até
aprendi o nome do aparelho de escutar música esses dias. Quase todo mundo têm um. E Yoongi me falou um pouco sobre,
chegando a estranhar o fato de eu não saber nada sobre o assunto.

Quando ela andou pelo quarto, cobrindo o corpo com o sobretudo-de-pijama, continuei de cabeça baixa. Me
perguntava se ela não estava contando os dias como eu, mas não podia vacilar. Ela prometeu e eu cumpri, é agora ou
nunca.

É agora.

— Mãe.

— Oi. — ela levantou a cabeça para mim.

— Então. — fiz uma pausa. — Então... agora há pouco eu estava olhando o calendário da cozinha e acabei
percebendo que já faz trinta e dois dias que eu vou para a escola. — mentira. Eu não olhei o calendário. — Completou trinta e
dois dias na última sexta-feira, sem contar com os sábados e domingos do mês e, mamãe, eu estava pensando... você pode
me contar agora quanto eu vou ganhar de mesada? — apertei um dedo sobre o outro. Que nervoso. — Ah... eu também
estava pensando se... eu posso ir agora até aquela lojinha de eletrônicos aqui perto pra comprar meu walkman, que é o
aparelho de música que eu quero… — abaixei a voz. — E eu também lembrei... sabe... da caminha do Menino. A gente ainda
não comprou... Demoramos muito para trazer ele para cá, já que o combinado era ele vir na segunda semana de aula e já é a
quinta semana, mas não tem problema, eu só estou falando por falar mesmo...

Parei de falar e quis me fundir com o colchão dela. Nunca falei tanta coisa em um tempo tão curto quanto esse.Que
vergonha. É como se todo o sangue do meu corpo se concentrasse apenas no meu rosto.

Apertei os dedos na minha calça e fechei os olhos de constrangimento. Minha mãe começou a rir baixinho de mim.
Levantei os olhos e a vi mexer em sua bolsa, tirando algumas boas notas de lá. Meus olhos brilharam quando ela veio até
mim com o dinheiro.

— Creio que é o suficiente para comprar o walkman que eu te prometi. Divirta-se e, na volta, traga dois galões de leite,
porque a gente tá sem e... sobre a caminha do Menino, nós podemos ver isso em um outro dia, tudo bem? Ainda vou decidir
o valor da sua mesada e na semana que vem eu te darei, combinando? — afirmei com a cabeça duas vezes.

Leonor sorriu, e pude ver um sentimento diferente em sua feição. Era um pouco emocionante para mim. Era…

— Estou morrendo de orgulho de você, Jimin. Você deixa a mãe muito feliz indo para a escola todos os dias... —
disse e eu alarguei meu sorriso feliz. — Agora vai, e vê se compra um walkman colorido porque o cinza é muito sem graça.
Entendeu? E não esquece do leite! — me deu uns tapinhas no braço, me apressando com um sorriso.

Peguei o dinheiro em suas mãos e saltei do colchão para lhe abraçar. Estava arrepiado de animação.

— Obrigado, mãe! Te amo!

Ela tentou falar um Eu Te Amo, mas eu estava tão ansioso para ter meu walkman que saí correndo. Desci as escadas
em disparada. Vesti o casaco, calcei os sapatos e saí pela porta com passos apressados.

— Não esqueça do leite! — gritou lá de cima, mas não respondi pois estava longe demais.

***

Meu walkman é lindo.

Falta pouco tempo para meu horário de ir para o ponto do ônibus bater e estou aproveitando os últimos minutos para
colar adesivos no meu novo aparelho de música. Tenho uma cartela com algumas margaridas que combinam com o
walkman, já que ele é amarelo. Também colei um adesivo do Garfield para me lembrar de Menino sempre que olhá-lo. E um
biju azul de uma nuvem de glitter fazendo biquinho. Ficou fofo demais. Estou apaixonado por um walkman.

Foi muito legal ir na loja de eletrônicos ontem. O moço me mostrou todos os walkmans que tinha e eu comprei o mais
caro. E ainda sobrou dinheiro para comprar o fone! E com o fone, eu levava uma fita k7 já gravada com músicas. Escolhi
uma coletânea chamada “As Melhores Internacionais” com dez músicas. O moço me mostrou como que usava o aparelho e
me deu algumas dicas.

Na volta para casa, eu já estava escutando as músicas.

De todas elas, a que eu mais gostei foi a número dez. Boys Don’t Cry, de uma banda que atende por The Cure. Até
então, eu nunca havia escutado uma música tão boa. Ela faz com que eu me arrependa de não ter escolhido inglês como
uma das minhas matérias avançadas... Eu faria de tudo para saber o que ele fala em cada segundo dessa música.

Mas em termos gerais, essa coletânea é bem aleatória. A primeira música é horrível, mas minha mãe gostou, a
segunda é mais ou menos, e a terceira parece uma música de roça. Mas não quer dizer que seja ruim. Bom, não é tão ruim.

Pra falar a verdade, eu não gostei de quase nenhuma. Só da número dez. E talvez a número seis, e a número sete
(que é muito estranha, mas quando fica agitada fica muito boa). Mas tirando essas duas, não acho que sejam as melhores. A
única “melhor” dali é a número dez. Sério.

Me levantei e coloquei comida e água para o Menino. Depois fiz um sanduíche, porque estou cansado de comer
salgadinho na escola, e não acho que isso seja saudável. Guardei tudo na mochila e fui para o ponto de ônibus.

Ajeitei as coisas na minha mochila quando cheguei. Fiquei girando para ficar tonto até que o busão virasse a esquina.
E quando ele virou, fiquei cambaleando um pouco e quase caí na calçada e fui atropelado, mas me mantive firme. Às vezes
acho que poderia morrer somente por causa das minhas brincadeiras de criança… mas eu meio que sou metade criança.
Não é atoa que ainda sinto vontade de dormir na cama da minha mãe. Aff. Malditos quinze anos!

Subi as escadinhas e cumprimentei o motorista com um aceno leve, porque mesmo que ele não me respondesse
nunca, eu não conseguia simplesmente o ignorar. Ele também é uma pessoa, afinal.

Depois segui rapidamente antes que ele tomasse partida novamente, pois não queria cair. Me sentei do lado do
Yoongi, ele se virou para mim e deu o seu sorriso. “Seu sorriso” porque Yoongi não sorri totalmente, ele só curva os lábios
sutilmente. Mas não tem problema. É apenas o seu jeito próprio de sorrir.

— E aí? — balançou a cabeça e eu já comecei a abrir a mochila, animado para o mostrar minha novidade.

— Oi! Como foi o seu fim de semana? — indaguei, me perdendo um pouco com o fone que embolou todo com a
espiral dos cadernos.

— Foi bem. — franziu o nariz que notei estar um pouco vermelho. — Mas a rinite atacou. — disse com uma voz
fraquinha.

— Ah, poxa, tadinho... você já tá melhor?


— Já. Eu só preciso tomar café para melhorar. — disse ele.Não estou surpreso.

Para Yoongi, tudo pode melhorar com café. Sei o que digo. Já somos amigos agora, sei dessas coisas.

— Ótimo! Eu te pago um café quando chegarmos, então. — sorri livremente e ele aumentou seu próprio-jeito-de-
sorrir.

— Valeu, Jimin.

Desisti de pegar o walkman porque o fone estava conectado à ele e muito embrulhado. Mas tirei a fita do aparelho e a
ergui, o fazendo esbugalhar os olhos. É notável como música deixa Yoongi animado.

— Eu comprei meu walkman. — falei, e ele sorriu.

Minha amizade com Yoongi tem fluido cada vez mais. Eu sempre demonstro muito carinho por ele. E interesse. Só
falta eu vestir uma camisa que carrega a frase: POR FAVOR SEJA MEU MELHOR AMIGO, MIN YOONGI. Porque é tipo isso
mesmo. Quando percebi que ele era do tipo tímido, e não do tipo metido, eu peguei um livro com a minha professora de
leitura que falava sobre um rapaz do ensino médio que não conseguia fazer amigos. Era pequeninho, menos de 200
páginas, e muito divertido. Mostrava a dificuldade que alguns tinham em fazer amizade. E demonstrar coisas.

Então, eu demonstro em dobro por ele!

Muitas vezes fiquei triste ao chegar sozinho numa conclusão de que Yoongi não gostava e que eu o estava
incomodando. Mas era melhor tentar algo e ser rejeitado do que não tentar nada e ficar em meio termo para sempre. Pelo
menos eu acho que seja assim, para mim.

E não era preciso muito para fazê-lo falar. Era só pegar uma fita com músicas e…

— Cara, eu odeio Eurythmics! É muito ruim! — ele exclamou, apontando para a música número um. Abri um sorriso
pois também achei horrível.

— Né?! Detestei. — disse, enquanto ele lia os outros números varado. — Olha, eu gostei dessa. — apontei para a
número dez.

— Que bom, The Cure é uma ótima banda! — disse, abaixando o tom de voz. Metade do ônibus tava olhando pra
gente agora. — É suave.

— Sim… — sorri.

Mas então Yoongi virou a cara pra mim e abriu um sorriso super maligno. Sério, era maligno. Não o maligno do tipo
eu-vou-praticar-bullying-com-você. E sim o tipo eu-vou-acabar-com-a-sua-vida-de-um-jeito-muito-bom.

Acho que preciso parar de ficar criando coisas-ligadas-assim.

— Depois da aula, eu vou te dar uma fita muito boa. — disse ele, ao que o ônibus já se aproximava da escola. Passou
rápido. — Você vai gostar, sério.

— É suave? — indaguei, já que a música número dez é a única música que eu aparentemente gosto e falei à ele que
gosto. Então, pensei que se basearia nesse meu único gosto.

— Não. — respondeu. Depois riu menos maligno, mas ainda maligno. — É bem melhor que isso.

— Impossível. — retruquei, rápido. Nada poderia ser melhor que a música dez.

O ônibus parou.

— É possível! Te juro. — ele disse ao que os alunos começavam a sair.

Gritaram no meu ouvido, mas dessa vez eu nem me assustei.

— Au! — murmurei, quando deram um tapa na minha nuca. O Idiota sorriu para mim ao ver minha reação. Fiz uma
careta pra ele e desviei o olhar para Yoongi depois, sem demonstrar fraqueza. Não vou deixá-lo acabar com um dia bom. —
Ainda acho impossível. — sorri.

— Vamos ver então.

Levantei do banco ao mesmo tempo que os dois do outro lado do corredor, e acabei trombando com Jeongguk, que
segurou meu braço antes que eu caísse para trás e esmagasse Yoongi. Olhei para ele e ri, querendo ser amigável.

— Obrigado. E bom dia. — eu disse e ele sorriu, mas parecia muito pensativo.

— Bom dia...

O não-gêmeo — que eu irei parar de chamar de não-gêmeo e começarei a chamar de Seokjin, pois descobri que esse
é o seu nome por causa das inúmeras chamadas dos inúmeros professores — balançou a cabeça para mim, em um
cumprimento silencioso. Eu balancei do mesmo jeito, embora não entendesse que tipo de Olá era aquele.

Yoongi levantou também e eu fui junto consigo na frente dos outros dois. Eles também costumam descer por último
junto da garota lá na frente. Somos o clube dos que descem por último.

— Mas que tipo de música é? — perguntei para Yoongi, quando já estávamos perto da lanchonete. Íamos pegar o
café dele.

— Heavy metal. — falou enquanto seu café fumegante vinha. Percebi Jeongguk e Seokjin atrás dele, comprando
balas.

Por algum motivo, Jeongguk parecia inquieto.

— Que que isso? — indaguei, confuso. Tipo, heavy metal. Nunca ouvi isso. — É tipo o quê?

— É rock, só que melhor.

Jeongguk olhou para mim. Deu para perceber que ele olhou sem ter de o olhar de volta. A cabeça dele virou
completamente para o nosso lado.

— Hum. Gostei! — sorri enquanto o sinal tocava e íamos em direção nossa sala. Ele ficou em silêncio por causa do
café que estava bebendo.

— Jimin…

Fora Jeongguk que me chamou. Eu parei no lugar e esperei que ele me alcançasse, o que demorou menos de três
segundos. Seokjin estava ocupado colocando três pirulitos na boca de uma vez.

— Hey. — comecei a caminhar novamente, com ele em minha cola e Yoongi um pouco na frente sem perceber que eu
estava afastado.

Yoongi ama café. Deixa ele meio desligado. E ele toma todo dia aqui na escola, pelo menos duas vezes. Mas às
vezes as mãos dele ficam meio trêmulas pela quantidade exagerada da bebida.

— Me desculpa. Mas eu ouvi a conversa de vocês, aqui e no ônibus. Me desculpa. — disse, parecendo realmente
constrangido. Quase ri. Não tinha problema. — Mas, hm, ei, você tem escutado o quê?

— Eu comecei a escutar música agora. E, The Cure. Eu escutei outras coisas, mas apenas The Cure me agradou de
verdade.

Ele mordeu o lábio superior para tentar reprimir um sorrisão. Mas eu percebi isso.Ahá.

— Eu amo essa banda… — disse baixinho e deixou-se sorrir, tampando a boca com a mão por isso.

— Eu acho que amo também, mesmo que não tenha escutado muito do som deles... só pude escutar uma, e é
maravilhosa.

— Qual?

— Boys don’t cry.

— Boa! — sorriu alegre, e eu percebi que Jeongguk era como Yoongi.

Ele ama música. Não só escuta de vez em quando, sabe? Ele se anima com isso e significa muita coisa pra si. É tipo
os livros para mim.

— Eu ainda vou escutar bastante coisa deles e te contar sobre. — eu disse, enquanto ele apertava os dedos das
mãos um nos outros. Ele parecia uma criancinha animada. Só faltava mexer os punhos em frente ao corpo e saltitar.

— Sim, me conte! Eu realmente amo o som desses caras. É demais. — disse, e agora Yoongi parou para o
alcançarmos.

— Eu vou contar, pode deixar. — sorri mais uma vez para Jeongguk, enquanto Yoongi dava uns giros no meio do
pátio. — Já acabou? — perguntei a Min, que parecia tentar achar algo.

— Sim! Não tinha uma lixeira aqui?!

Ele começou a girar de novo. E eu ri muito. É tão engraçado como ele muda depois de tomar café.

— Me dá, eu jogo fora para você. — disse, pegando o copinho de isopor do coitado. Agora estávamos um pouquinho
mais a frente da outra dupla (Jungkook e Seokjin), que conversava.

— Valeu, Jimin. — balançou a cabeça. — Sobre o que vocês estavam falando?

— Eu e o Jungkook? — ele assentiu com a cabeça. — Ah! Sobre o The Cure. Ele disse que o som é demais, e eu vou
escutar mais.

— Ah, bom. — sorriu. — The Cure é bem maneirinho, mas eu vou logo te falando que, sério. Sério. Não tem nada
melhor do que heavy metal, Jimin. Você vai ver. Sério.

Ri um pouco e afirmei com a cabeça.


— Se você diz, eu acredito. — finalmente joguei o copinho sujo no lixo.

Tenho essa primeira aula apenas com Yoongi. É uma das únicas aulas que eu não tenho com Jungkook, mas vou
atrás dele depois para saber mais sobre o The Cure. Eu e Yoongi dobramos o corredor para ir à sala e eu me virei para ver
se os outros dois ainda estavam atrás da gente.

Mas somente o que eu vi, fora Jeongguk indo para a direção oposta e olhando as costas de Yoongi com uma cara de
quem estava engolindo algo muito ruim. Tipo, algo ruim de engolir, que você não quer engolir.

Mas, depois ele viu que eu estava olhando meio confuso e desviou rapidamente.O que aconteceu? Decidi que o
perguntaria sobre mais tarde.

Notas finais
Link de “As Melhores Internacionais”: https://www.youtube.com/playlist?list=PLofL2XqsAj6R4phrT0DRg6Ue3xA0_R8et
essas músicas não são muito importantes >< mas se vocês quiserem ir vendo pelos números pra saber qual que o Jimin
gostou, qual odiou... pode ser divertido :3

e sim. ele odeia sweet dreams. SHOOK serase nosso menino Jimin não gosta de pop eletrônica?? XD

ah e gente perdoa eu por não responder os comentários? por favorzinho? :(( mentira, nao me perdoem, eu não mereço. eu
sou um lixo. eu leio tudo mas nunca sei como responder corretamente??? eu sou estranha... sabe o que eu queria fazer?
queria que vocês não comentassem aqui e simplesmente me mandassem audios no whatsapp porque mANO seria bem
melhor :((( eu poderia ouvir a voz de vocês TT e responder direitinho TT mas como isso não é lá muito comum, deixarei aqui
o meu curiouscat: https://curiouscat.me/inbox eu respondo lá hihihi e prometo tentar e começar a responder aqui também.
sério! vou planejar algo pra conseguir responder vocês TT <3

e se vocês quiserem meu número pra mandar o tal de áudio, podem pedir, viu? eu passo ;) <33

beijinhos e até a próxima!

link da playlist: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

6. Ele é como uma Figura Sagrada

Notas do Autor
OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

quem morreu com fake love levanta a mao *literalmente o mundo inteiro levanta a mão* (talvez eu esteja meio atrasada pra
falar isso mas eu ainda to morrendo com todo esse comeback. bangtan pq me matou?)

BOA LEITURA EU AMO DEMAIS ESSE CAPITULO ADEUS BOA NOITE AMEM JOY DIVISION

JUNGKOOK

HEAVY METAL É MELHOR DO QUE ROCK?!

— ELE É MALUCO?! — bati com o punho na mesa. Depois mordi o lábio, aquilo doeu.

— Por que você tá tão grilado com isso?! — Seokjin puxou meu sanduíche da minha mão, impaciente.

— Ei! Eu não acabei de comer! — eu tentei pegar o lanche de volta, mas Jin me deu uma cotovelada. E ela doeu pra
caramba.

Levantei o punho e acertei um soco em seu pescoço, o fazendo gritar e começar a me bater pra valer. Brigamos até a
orientadora Nyn mandar a gente parar, lá do outro lado do refeitório, ameaçando também nos levar para a diretoria. E é claro
que nós paramos, inconformados.

— Engole isso também. Saco. — falei de boca cheia após dar uma última mordida no meu sanduba.

— Tá. — ele pegou, mordeu, e mastigou com pressa, como de costume. Deu bons goles no suquinho de caixinha e
suspirou. — Agora eu preciso entender direito essa sua revolta, Jeongguk, é… é porque você tá obcecado pelo The Cure?
Ou… é porque você não gosta do Yoongi?

— Por que eu não gostaria do Yoongi? — indaguei, o olhando quase confuso.


Jin deu de ombros e puxou o lábio. Batucou os dedos na mesa e fez cara de quem iria fazer besteira. Eu podia sentir
isso.

— Não sei… sei lá, sabe. Talvez seja porque ele tirou uma nota maior que a sua em biologia, não sei...

Ah não. Agora ele foi longe demais.

Larguei meu lanche, peguei minha mochila e levantei.

— Quer saber? Não fala mais comigo, Seokjin. — arremessei o salgadinho nele e afastei-me. Jin me chamou mais
umas vezes, mas eu estava chateado demais para tentar o dar ouvidos.

Tipo, puxa, quem liga pro fato do Yoongi ter tirado uma nota maior que a minha em biologia? Eu não ligo! É tão infantil
ligar para esse tipo de coisa, são só… notas. Não acredito que Jin me acusou de uma coisa dessas. Traidor insensível.

Ah, mas de qualquer forma, eu já havia acabado de comer mesmo. E também tinha algo para pegar no meu
armário que fica lá no fim do mundo do prédio (para o lado oposto do da sala que eu vou ter de ir após o sinal e, inclusive, é
bem abandonado e assustador). Que seja, Seokjin que fique só.

Soltei um muxoxo ao dobrar o primeiro corredor. Não sei porquê me importo com essas coisas... ficar bravo com esse
lance sobre música é bem idiota, se eu pensar direito. Eu devo ser mesmo infantil, mas, caramba, simplesmente não pude
evitar ficar irritado… porque Yoongi meio que desprezou meu gênero musical favorito para falar que o dele é melhor. E falou
que The Cure era "maneirinho". E sim, eu também sei que Yoongi não sabia que era uma banda que eu gostava, tampouco
viu que eu estava o ouvindo, mas… isso não se faz. Pelo menos eu acho que não...

Bem, em compensação, agora eu sei que Jimin tem bom gosto para música.

Ainda estou tentando entender o que ele quis dizer com “eu comecei a escutar música agora”. Ele deveria estar
falando sobre usar o walkman, talvez… sei que não o usou antes, pelo menos não na escola. Sou um bom observador, não
apenas de Jimin, e sim… de todo mundo. E o Jimin nunca usou um walkman aqui antes. Ele parece ter mais interesse em
livros do que em qualquer outra coisa, sério, às vezes ele até lê no ônibus. Não sei como não fica enjoado.

E, sabe, o Jimin é tão estranho. Por algum motivo desconhecido, ele continua sendo legal comigo. Ele me
cumprimenta, pergunta por mim, acena quando me vê… ele fala comigo todos os dias, e eu não sei porquê. Sério, não
consigo entender. Não estou reclamando e nem acho isso ruim, é só... é um pouco estranho. Mas não é como se eu não
gostasse. É bom estar com Jimin, ele é diferente, parece que nada é difícil para ele, sabe… sei lá. Ele meio que exala
positividade e é amigável de forma natural. Jimin tem um olhar amigável. É praticamente aconchegante.

Balancei a cabeça para pensar em outra coisa. Desci o próximo lance de escadas e enfim estava no corredor certo.
Fui até o fim, me pus de frente para meu armário, peguei no cadeado, e girei a senha, que é composta por quatro números (a
data do ano da formação do Joy Division porque eu amo demais a música desses caras), e destranquei. Como pensei, há
algumas fitas aqui.

Reuni todas que pude em minha frente. Ok, tem ao todo seis fitas (é eu tenho bastante delas) que estavam
enumeradas e resumidas com uns desenhos meio toscos que eu fiz. Mas, infelizmente, nenhuma das fitas tinham The Cure o
bastante para eu dar a Jimin.

Mas mesmo assim, eu queria emprestar uma fita para ele. Eu não queria que ele virasse um metaleiro… nada contra,
mas heavy metal… sei lá, não combina com ele. Não que eu esteja querendo definir o gosto musical dele, não! Longe disso,
mas… se ele curte Boys Don’t Cry, é certo que heavy metal não é lá a melhor escolha de gênero musical para apresentar à
ele agora. Não mesmo…

Pensei em dar a fita número 13 à ele, porque tinha muitos artistas bons e semelhantes ao The Cure. Se bem que Pink
Floyd não combina muito… mas New Order, com certeza… ah. É difícil.

— Jeongguk!

Tá, eu estaria mentindo se dissesse que não tomei um baita susto com o chamado repentino no corredor deserto e
assustador. Meus ombros tremeram e eu me virei com tudo, quase acertando a mão do indivíduo, que era Jimin, que
segurava o que parecia ser um livro de capa cor-de-rosa. Ele se assustou com o meu susto, dando alguns passos para trás e
seguidamente rindo um pouquinho da cena de nós nos assustando um com o outro.

— Jimin! Oi. Desculpa, eu pensei que estivesse sozinho… — eu disse, meio encabulado.

— Ah eu cheguei do nada, não foi? Desculpa também. — disse e depois olhou em volta. — Eu nunca vejo ninguém
por aqui. Por que você tá aqui? — indagou e tentou olhar dentro do meu armário. Jimin é claramente curioso.

— Eu estava vendo umas fitas… — eu disse, dando espaço para ele olhar. — Já que a gente vai ter história junto mais
tarde, pensei em pegar uma para te emprestar de uma vez.

— Sério?! — se aproximou mais, animado.

— É! Mas infelizmente não tem nenhuma do The Cure aqui… — eu disse e agora estávamos meio que esmagados na
frente da abertura do meu armário pois queríamos ver o interior ao mesmo tempo. Eu estava vendo a lista de música da fita
13 ao que ele olhava as outras. — Hum, mas eu posso te emprestar a outra que eu acho que tem o ritmo bem calminho…
meio semelhante ao do The Cure…
— Eu quero! Muito… — disse e virou-se para mim no decorrer da última palavra. E ele estava tão perto que eu pude
sentir o cheiro de iogurte de morango vindo dele. — Eu posso pegar meu walkman e você pode me mostrar agora. Que tal?

— O quê? A fita? — perguntei, já pegando a fita 13 e dando mais uma olhada.

— É! Ainda tem uns minutos antes do sinal tocar… — disse, dando uma olhada meio torta pro relógio do corredor.
Que cheiro de morango, meu Deus. — Eu não sei qual fita você quer me emprestar, mas eu tô muito ansioso pra ouvir mais
alguma coisa que eu goste, sabe, eu amei tanto a música número dez que eu preciso de mais músicas que eu goste para
ouvir, então eu quero muito ouvir outras músicas e amar elas.... — ele disse rápido e empolgado, e até apertou os olhos
pequenos. Me pergunto o que é a música número dez. — Mas… sei lá, a gente pode começar a ouvir junto agora e depois
você deixa comigo para eu terminar. — murmurou e olhou para mim novamente.

Por não conhecer ele muito bem, foi estranho estar tão perto, então eu me afastei quase um passo, mas nem tanto. A
ideia de escutarmos a fita agora era bem legal, porque eu amo muito as músicas da fita 13, e eu ia ficar muito feliz se ele
gostasse também. Puxa, ia ser demais...

Meu Deus, pode ser constrangedor por não nos conhecermos muito bem. Mas eu...

— Tudo bem, eu quero. — eu disse, é.

Isso o fez sorrir e sair de perto do armário, o qual eu fechei com cautela após pegar a fita.

— Legal! Tem um parquinho meio abandonado ali atrás, a gente pode ir pra lá. — disse Jimin, olhando o relógio com
mais atenção. — Ainda tem tempo antes da próxima aula.

— Sim, tudo bem. Eu te espero lá enquanto você pega o walkman e os fones. — eu disse, olhando o relógio também.

— Beleza! Já volto, até lá! — disse e saiu andando apressado do nada. Eu cheguei a rir da correria dele.Ele tem
pernas curtas.

Me escorei no armário e li a lista de músicas novamente. De fato era uma coletânea muito boa. Era melancólica, ou
seja, era boa.

A guardei no bolso do meu casaco e fui atrás do parquinho abandonado. Saí pelas portas do prédio da escola e
caminhei em busca deste. Estava ventando bastante desde que amanheceu, mas não estava muito frio, então não me
incomodei. Assim que avistei o parquinho, me aproximei dele, me sentando no primeiro balanço que vi.

Não demorou muito para Jimin chegar, ainda apressado e agora com as bochechas vermelhas, provavelmente porque
correu, o que me fez rir antes de olhá-lo com mais atenção, quando ele se sentou no balanço ao lado do meu. Ele não disse
nada enquanto me entregava o walkman dele. E tenho que dizer que aquela coisa era, literalmente, praticamente, uma
réplica do Jimin.

Tipo, sério. Era amarelo e todo bonitinho. Não tinha sequer um arranhão, e os adesivos eram brilhantes, e tinha até
um do Garfield. Depois de ver o dele o meu parece super sem graça... é fofo.

Tirei a fita antiga e coloquei nas mãos de Jimin, colocando a minha logo depois. Eu também havia tirado o papel com
a lista das músicas da fita 13, segurando-o nas mãos.

Me assustei levemente quando Jimin colocou o fone na minha cabeça, com tanto cuidado e leveza que eu só notei
quando estavam, literalmente, sobre meus ouvidos. O olhei, confuso.

— O quê…

— Eu não pensei nisso, mas... como podemos dividir o fone? — indagou e depois entortou o lábio. Isso me fez rir um
pouco porque até eu me esqueci do detalhe.

— Aqui, é melhor assim. — eu disse tirando o fone da minha cabeça e colocando na dele, o conectando ao walkman
logo depois. — Se você virar esse lado, eu consigo escutar. Mas vou ter que deixar bem alto. — expliquei ao que ele virava
um dos lados e fazia as correntes do balanço fazerem barulho ao aproximar-se de mim.

— Tudo bem. Quer tentar? — indagou. Afirmei com a cabeça enquanto mexia no aparelho e dava play na primeira
música.

Certamente, dava para ouvir. O fone é alto naturalmente, virado e no silêncio daquela parte da escola então… é como
uma música baixinha. Mas tem volume o suficiente para eu conseguir curtir a música com ele.

— E aí? — perguntou, com os olhos levemente fechados.

— Consigo escutar… — eu disse e fiz as correntes do balanço fazerem barulho novamente ao me aproximar ainda
mais dele. Posso ouvir a bateria da primeira música.

— Wow, isso é bom… — disse e fechou os olhos de vez. Sua reação foi engraçadinha o suficiente para me fazer
sorrir. — Nossa, Jeongguk, nossa... que música boa… qual é o nome dela?

— Aqui. — puxei o papel, apontando para o nome da primeira música.

— Love will tear us apart… — disse e a forma como o inglês dele é me fez sorrir. — É perfeito…
— É sim.

Fechei as mãos em torno da corrente e pendi a cabeça para o lado, o observando. Ele fecha os olhos quando está
escutando música. É um costume tão diferente...

— O que quer dizer? — ele abriu os olhos. — Digo, o nome da música… você sabe? Eu não tenho ideia do que possa
significar.

— O amor vai nos destruir. — eu disse e ele pareceu extremamente surpreso com a minha fala.Ah. — Ah! O nome, o
nome… da música. Entendeu? É isso que significa. — eu esclareci, rindo nervoso.

— Ah tá! Espera. É sério? — ele voltou os olhos para a folha.

— Sim.

— Nossa… — Jimin passou a mão pela corrente e alcançou o walkman, no meu colo, aumentando o volume. Depois,
soltou um muxoxo. — Isso é tão triste… — fez um biquinho e, automaticamente, eu fiz um também.

— Eu sei...

É triste porque ele não viu a tradução da letra ainda. E as teorias sobre ela. É de fazer chorar de verdade.

A gente ficou em silêncio o resto da música. O vento balançou as árvores e Jimin puxou o lábio inferior de,
aparentemente, frio. Pensei em dizer alguma coisa sobre isso, mas ele parecia tão envolvido na hora que a terceira música
começou a tocar que eu me silenciei. Ele parecia cativado demais para ser interrompido.

— Ei, Jeongguk... escuta… — ele começou, chamando minha atenção. Olhei nos olhos dele quando ele os abriu. —
Hoje, mais cedo, lá no corredor… sei lá, você parecia meio bravo, e…

— Eu? — indaguei, meio confuso, o interrompendo.

— Sim, quer dizer, parecia chateado… com o Yoongi, entende? — explicou. E eu fiquei todo encabulado ao ver que
ele percebeu uma coisa dessas. — Eu fiquei curioso… está tudo bem?

— Sim! Com certeza, tá tudo bem, é só que… — desviei o olhar para a grama e pensei seriamente em mentir. Em
dizer que ele se enganou. — É que… — voltei a olhar para ele.

E no momento em que encontrei os olhos dele, vi que eu definitivamente não podia mentir.

Nem mesmo se eu quisesse.

— O quê? — perguntou em um tom baixinho. Mas eu fiquei quieto.

Puxa, olhar para um par de olhos tão sinceros ao som de Pink Floyd me deixou praticamente retardado.

— Eu escutei a conversa de vocês. Mais ainda. Desculpa… — definitivamente, devo parecer um retardado para ele.
Já é a terceira vez que eu admito isso só hoje. — Eu fiquei chateado, eu acho… porque gosto muito de rock, e The Cure, e
ouvi-lo dizer que era só maneirinho… e que heavy metal era muito melhor, me deixou meio irritado…

— Ah… — prendeu a respiração. — Ah, sim… — olhou para mim. E começou a fazer cara de mãe.

Ai meu Deus.

Ele franziu e elevou as sobrancelhas ruivas, olhando tão intensamente nos meus olhos que eu podia jurar que iria
explodir. Preciso dizer que isso é como ser encarado por uma figura sagrada, tipo, sei lá, o senhor Jesus Cristo… você
simplesmente não consegue mentir ou ser desonesto. Não dá.

— M-mas, tudo bem… — eu disse, afastando meu balanço do dele. — Foi uma coisa do momento.

— Sim, eu entendo. E já passou? — questionou, visivelmente preocupado.

— Já! Com certeza já. Não se preocupe. — eu respondi, o que é quase uma verdade. Pensando bem, depois que me
sentei aqui, eu nem pensei mais nesse lance.

Ele soltou um suspiro bem pesado. Depois deu uma risadinha.

— Ainda bem! Eu gosto tanto de vocês dois, eu ficaria muito triste se ficassem bravos um com o outro ou algo do
tipo... — disse ele, naturalmente e animado.

Puxa, ele gosta (tanto) de mim? É quase surreal que eu esteja fazendo amigos.

— Bem, eu não estou bravo com ele, então não precisa se preocupar. — eu disse.

— Ainda bem! E… — parou de falar. A música do Pink Floyd acabou. E outra começou. — Nossa… — ele sorriu e as
bochechas ruborizaram. Ele é tão branquinho que eu consigo ver detalhadamente sempre que acontece. — Olha essa
música!

— O que tem? — perguntei, rindo um pouco da empolgação alheia.


— Ela é perfeita! — ele disse, com os olhos brilhando.

— Quer saber o que o nome significa? — perguntei, rindo baixinho quando ele afirmou e sorriu, balançando-se de
leve. Tive de me balançar também para o walkman não voar longe.

— Com certeza! — respondeu, olhando para mim em expectativa. Eu sabia de có a letra inteira daquela música, o
nome dela e até em que mês, dia e ano fora lançada.

Talvez, só talvez, eu seja loucamente apaixonado por ela.

— Canção romântica da era espacial. — eu respondi.

E Jimin sorriu tanto que os olhos dele sumiram. Sério, sumiram. Eu nunca vi os olhos dele ficarem tão apertados
quanto agora.

— Eu não sei você, mas, eu preciso balançar ao som dessa música. — ele disse. E começou a impulsionar o corpo
para frente e para trás.

Comecei a rir quando ele riu e me balancei junto, agarrado ao seu walkman. Nós íamos ao ar na mesma intensidade.
E na mesma velocidade também. Com certeza era incrível se balançar ao som de Space age love song. E com certeza eu
precisava o fazer também.

No refrão da música, o sinal tocou lá dentro da escola. E eu estava dando tanta risada com o lance de pernas que o
Jimin fazia quando balançava que me fiz de bobo e não disse nada sobre ir para a aula no momento. Ele parecia saber
também que deveríamos levantar dali e ir para a aula, mas, como eu, preferiu não dizer nada sobre isso.

E continuamos nos balançando pelos próximos minutos. O sinal parou de tocar e nós não fomos para a sala.
Estávamos matando aula. E agíamos como se nada estivesse acontecendo.

E continuamos agindo normalmente nos próximos minutos.

— Ei, você sabe por que ninguém vem à esse parque? — Jimin perguntou, após um tempo parado, com a bochecha
esmagada contra a corrente. Para você ter uma noção, os pés dele quase não tocavam ao chão quando ele ficava daquele
jeito.

Estava flutuando com a ajuda do balanço.

— Acho que é porque tem um maior e bem mais novo lá na frente. E tem muitos outros brinquedos nele. — eu disse.
— E esse parquinho que estamos não é público, eu acho que é propriedade escolar. O lá da frente não. Ele é aberto.

— Ah, entendi… — soltou baixinho. — Ninguém nunca vem aqui... mas o parquinho está inteirinho. A tinta do
escorregador nem está descascando.

— Pois é… — eu murmurei. — Você passa muito tempo aqui? — perguntei, curioso. Ele deu de ombros e confirmou
com a cabeça.

— Todos os dias. — respondeu. — Eu não sei se você percebeu, mas eu não almoço no refeitório…

— Sim, eu percebi. — eu disse, e isso fez ele abrir os olhos novamente. Jimin sorriu levemente para mim.

— Obrigado por perceber. — e sorriu um pouco mais. Me senti tímido, mas quando ele fechou os olhos novamente, eu
me estabilizei. — Eu costumo sair antes do horário do almoço para comer aqui. Mas hoje eu me aventurei para ir até a sala
de leitura e saí com todos os outros alunos.

— O que foi fazer lá?

— Pegar um livro… é para um trabalho da aula avançada. — disse ele, enquanto a fita trocava de faixa novamente. —
Aí percebi que até no intervalo isso aqui fica meio vazio… por isso me surpreendi com você naquela parte do corredor. É
sempre tão vazio lá.

— É… o meu armário sempre ficou por lá, é junto com os armários não ocupados, então é bem abandonado mesmo.

Jimin sorriu e abriu os olhos.

— O meu armário é lá também. — ele disse e riu contido. Acabei rindo também. — Eu descobri hoje como que fecha
ele, e tal…

— Espero que você não seja como eu, porque eu encho o meu armário de tralha. É uma bagunça. — eu disse, o
fazendo rir mais melodioso que antes. — Acho que ainda tem coisas do ano retrasado lá.

— É sério?!

— É! Eu nem precisei esvaziar antes das férias do ano passado e retrasado, essa escola me detesta, cara.
Eles nunca colocaram meu armário em um lugar decente! — Jimin riu mais e eu acabei rindo alto também. De certa forma, a
desgraça é engraçada. — Mas pelo menos você está no fim do mundo comigo, agora... — eu disse e me balancei um pouco,
olhando para meus sapatos na grama.

— Sim… — disse. E quando eu o olhei, percebi que fechou os olhos novamente. Acho que Jimin faz isso sempre que
a música o agrada. — Jeongguk… — resmunguei para que ele dissesse. — Essa música é muito boa também. — ele
suspirou. Ainda estou olhando para o rosto dele. — Parece que elas foram feitas para mim.

— Mesmo?

— Mesmo... — Jimin abriu seus olhos. Legal, estou o encarando novamente. — Nossa, Jeongguk… você tem um
gosto maravilhoso.

Ah. Uauuuuuuuuuu.

Dei uma risadinha nervosa. E virei o rosto para frente, apertando o walkman amarelo dele entre os dedos. Aquilo que
ele disse me deixou com vergonha. Eu estava envergonhado de verdade e nem sabia ao certo o porquê.

— Obrigado por me mostrar elas. É sério, eu fico muito feliz... — ele permaneceu falando. Pigarreei e o fitei
novamente, feliz por ele ter voltado a fechar os olhos.

— Tudo bem, eu gosto muito delas, você… você gostar, é legal, eu fico muito feliz também. — eu disse, meio
encabulado. É provável que elogiar minhas bandas favoritas é meu ponto fraco. — Jimin…

— Sim?

— Sobre o almoço… — comecei, pensando brevemente nas coisas que ele me disse. — Você deveria lanchar no
refeitório. Não é tão ruim assim, aqueles boçais do ônibus costumam ficar no teatro.

— Teatro?

— É, eles tem um clube… É meio esquisito. — eu disse e fiz uma careta. Jimin riu. — Não é tão ruim ficar no
refeitório. Se você quiser se sentar comigo e com o Seokjin da próxima vez… — abaixei o olhar quando ele abriu os olhos.

— Eu posso?

— Pode. Com certeza… — eu voltei a olhá-lo.

— Seria muito legal. — ele se inclinou e seus pés firmaram no chão. — Eu vou, então...

— Bacana...

Jimin ficou de pé e eu também. Pensei que ele iria falar sobre entrar e esperar o próximo sinal lá dentro, mas na
verdade ele foi na direção da árvore que tinha sobre a gangorra. E eu fui junto por ainda estar com seu walkman.

— Você… — comecei, mas parei. Isso porque Jimin acaba de se sentar na grama e parece completamente
desnorteado. — A música que te deixou assim? — perguntei, rindo um bocado. Ele me olhou e pressionou os lábios,
afirmando com a cabeça.

— Deu vontade de deitar e me esfregar numa montanha de neve. — disse, e realmente se deitou. Eu me sentei no
chão, ao seu lado. — Mas só tem grama por agora. Droga!

Ri baixinho. Era o efeito música. Quem não se dá mal por essa causa? Exatamente. Ninguém.

Eu sabia que aquela era a última música da fita, então me deitei também. E o volume ficou mais alto porque
estávamos mais próximos. Me permiti fechar os olhos enquanto o vento batia em nós dois. Foi uma sensação boa.

Quando a música terminou, Jimin tirou os fones cuidadosamente e suspirou. Depois ele começou a rir, se erguendo,
sentando ao meu lado e olhando para mim, deitado. E riu muito.

— Não me julga, foi você que deitou primeiro. — eu disse, rindo também e cobrindo a boca por isso.

— Não estou te julgando! É que isso é muito legal. — disse e depois cessou as risadas, soltando suspiros de riso. —
Acho que estou feliz.

Eu também me sinto feliz. Mas uma folha ressecada caiu no meu rosto e a gente começou a rir de novo, então eu não
disse isso.

A fita tem quase quarenta minutos, então o horário para a próxima aula estava próximo. Nós nos levantamos e
entramos no prédio da escola e mal posso acreditar que matamos aula juntos. A gente meio que só se cumprimenta no dia-a-
dia e agora parecemos super amigos. Talvez sejamos super amigos. Ele até pagou um chocolate quente para mim, e
comemos biscoitinho doce no banco do lado da sala de aula que nós iríamos entrar depois do toque do próximo sinal. Não
lembro qual foi a última vez que eu matei aula e me diverti tanto assim. A gente até fez um campeonato de guerra de
polegares.

A mão dele continua tão macia quanto era no dia em que tivemos um aperto de mão.

Quando o sinal tocou novamente e entramos na sala, eu pareci voltar para uma realidade que eu estava
(praticamente) desacostumado. Jimin foi para o lado das carteiras oposto que o meu e fez dupla com o Yoongi lá atrás,
enquanto eu ia até Seokjin e me sentava com ele. Eu estava rindo tanto lá fora com Jimin que quando parei as minhas
bochechas começaram a doer um pouco. Meu rosto estava morninho, até.

— Ei. Jungkook, você ainda está bravo comigo? — eu ouvi Seokjin perguntar, quase encabulado. Acabei de lembrar
que nós tivemos uma briguinha.

Eu nem lembro mais qual foi o motivo de tal.

— Não… relaxa. — respondi. E comecei a rir quando ele me puxou para esfregar o punho na minha cabeça, dizendo
que esse era o seu Jungkook.

E eu me diverti na medida do possível com Jin — porque estávamos em uma sala de aula e a diversão é limitada
nessas ocasiões — durante a aula de geografia. Mas depois, senti que estava traindo o meu melhor amigo de forma indireta.
Porque enquanto o tempo passava, eu só conseguia pensar na aula avançada de história que teria mais tarde… porque
Seokjin não está nela, e nem Yoongi… e isso significa que eu vou poder fazer dupla com Jimin.

E eu fiquei muito ansioso por isso. Tanto que removi o papel da lista de músicas da fita 13 — que Jimin
aparentemente esqueceu comigo, junto com seu fone e walkman, já que ambos ainda estão no bolso da frente do meu
casacão — e amassei, fazendo outro em outra folha, mais limpo. E para que Jimin não precisasse morrer de curiosidade
sobre os nomes, eu os traduzi também.

FITA 13 — de: JJK.

1. Love will tear us apart (O amor vai nos destruir), do Joy Division.

2. The Him (O Ele), do New Order.

3. October (Outubro), do U2.

4. Us and them (Nós e eles), do Pink Floyd.

5. Space age love song (Canção romântica da era espacial), do A Flock of Seagulls.

6. Age of consent (Maioridade), do New Order.

7. Venus, do Television.

8. Atmosphere (Atmosfera), do Joy Division.

Notas finais
o nome do capítulo por pouco foi "ele é como jesus cristo" KKKKKKKKKKKKKJJJ

Aqui está a fita 13. pra quem quiser escutar:


spotify: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/1bHpPYeqzsnTyKs92GGjJY?si=_yUpRawEQw-ylBl8f7LMlQ
youtube: https://www.youtube.com/playlist?list=PLofL2XqsAj6RnsjCZoSNWZ5awe4Vk8TJL

e não, não eh referência a os 13 porques KKKKKKKKK eh referência a data de aniversário do jiminzinho <3 só aqui entre
nós, porque o jungkook (ainda) não sabe que dia o ruivinho faz aniversário ekekekeke então é meio que coincidência

detalhe: os fones, manoooo nao tinha como eles dividirem os fones. n eh tipo o nosso de hj em dia. pesquisem "fones de
ouvido anos 80" e vcs vao ver que aquilo ali nao dá pra compartilhar muito bem KSJDKSJ mas dá pra virar pelo menos iti >
< eu perguntei sobre esse assunto à minha mãe, então tá aprovado hein

e, ei! vem interagir e me xingar (de amor)! entrem para o meu grupo de leitores! aqui está o link:
https://chat.whatsapp.com/GJKNpvxPHW23IrVVu8oPHk <3

e eh isto. beijocas e até a próxima!

link da playlist: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

7. Ele é como Us And Them

Notas do Autor
É SÁBADO MEUS CONSAGRADOS (???)

eai boa leitura um beijo e um queijo e um tapa na bunda eh isso aê paz (???)
aliás, tenho que avisar vcs: a fic não tem sido betada. então se verem errinhos, já sabem, hm???

ATENÇÃO: o final desse capítulo foi COMPLETAMENTE EDITADO. essa parte, na minha opinião, estava muito mal escrita,
além de que, na afobação de querer atualizar (e animação para isso também), eu só postei, esquecendo-me de detalhar
com mais cuidado os sentimentos do Jimin, e principalmente, de valorizar a escrita. Tava uma merda, perdão! Espero que
entendam. Não mudei muita coisa, só detalhei melhor, com mais intensidade. E é isso!

JIMIN

É fascinante.

Eu juro que é incrível, pra valer. É como fechar os olhos enquanto está num balanço e poder jurar que está voando,
mesmo quando, na verdade, não está.

É exatamente assim que se parece.

Faz um tempo que Jungkook me emprestou a fita dele, e honestamente? Eu não quero devolvê-la nunca mais.

No mesmo dia em que ele me emprestou a dele, Yoongi me emprestou a sua também, com músicas loucas de tão
barulhentas e agitadas. Quando começou a primeira canção da fita do Min, achei que não fosse gostar, mas sabe que é
curioso o fato de eu ter achado tudo muito bom também? Acho que sou aberto para todos os gêneros musicais.

Mas, eu sei lá. Embora eu tenha gostado da fita do Yoongi — as minhas faixas favoritas foram a 1, 4, 6, 8 (que eu já
havia escutado antes!) e 11, apesar de ter gostado de praticamente todas — eu a devolvi, se não me engano, três dias
depois para ele, pois sabia que não iria sentir muita falta. Suas músicas ficaram na minha cabeça por um tempão, mas, nada
que se compare com a fita de Jeongguk.

Na boa, eu juro, juro que é como ouvir a mim mesmo. É confuso, é muito confuso, mas eu juro que é dessa
maneira. É perfeito. É perfeito.

E é treze. O número da fita, ou melhor, o nome dela étreze. Por acaso, eu nasci dia treze de outubro, olha só! É muito
para a minha cabeça que acredita em destino — essas músicas foram destinadas à mim, é a única explicação, fim. E olha
que eu só fui ligar o nome treze à minha data de aniversário depois de uns quatro dias ouvindo a fita direto. Pois é, louco,
não?!

Sempre que encontro Jeongguk na escola, eu sinto que posso cair morto de vergonha. Eu não sei como ele não me
cobra para devolver algo tão bom quanto a 13. Ele simplesmente nunca toca no assunto dela estar comigo, ainda que
pergunte sobre o que ando achando das músicas. Eu acho que ele sabe que eu gostei muito. Às vezes parece que Jeongguk
sabe de tudo. Só de olhar nos olhos dele, é como… não sei, como se ele tivesse a resposta para tudo e, ao mesmo tempo,
não tivesse. Ele é simplesmente demais.

E falando em ele ser demais, Jeongguk também desenha e, na boa,é demais! Esses dias tirei o papel da fita — por
curiosidade, apenas — e desdobrado e no outro lado da folha, há um desenho feito a lápis, bem fraquinho, do planeta
saturno (eu acho que é saturno, espero que seja saturno) completamente aos pedaços, com flores saindo do seu interior. É
como se as flores tivessem deixado-o aos pedaços. E sabe, eu fiquei impressionado. É tão, tão lindo. E parece ter algum
significado tão… legal.

Queria muito poder saber o que aquela arte fala. Um dia irei tomar coragem e perguntá-lo. Mas, como a fita, não quero
devolver o desenho. É o tipo de coisa que me sinto completo por estar a salvo em meu quarto. Mas eu não sou nenhum
ladrão, então logo entrarei no assunto sobre a 13 estar comigo e o desenho, o que, honestamente, vai me deixar meio pra
baixo caso ele deseje ambos de volta. Porém, se for assim, não há nada que eu possa fazer. E eu entendo isso. Nem tudo da
vida é do jeito que a gente quer. E tudo bem mesmo assim.

Mas, é. Trocando totalmente de foco, faz alguns dias que Yoongi perguntou qual era a minha banda favorita, e eu
simplesmente não soube o que responder. Apenas disse que iria pensar nisso nessa semana e lhe diria na sexta-feira (hoje).

E, bem, eu pensei.

No entanto, não sei se é a escolha certa. Afinal, como posso escolher uma banda favorita se só escutei uma música
de todas elas? É meio incerto. Mas dizem que paixão à primeira vista é real, e eu acho que banda favorita à primeira canção
é tão real quanto. E quer saber? Eu já tenho uma resposta para Yoongi e uma banda favorita incrível.

Que, com toda a certeza, são os Pink Floyd.

Juro que poderia morrer só de falar o nome deles, eu estou tremendamente apaixonado. O mais incrível é que, na
primeira vez que ouvi uma música deles, eu gostei, mas não tanto assim. Foi só depois de ouvir uma segunda, terceira,
quarta, quinta vez, que eu descobri que ela era a minha vida.

Estou falando dessa faixa por um motivo só, que é o de que eu estou a escutando agora e ela é como… tudo. É como
fechar meus olhos em um balanço e sentir que estou voando. É como ficar dormente, quente, em uma ventania forte,
embaixo de uma árvore, é… absolutamente tudo. É como deixar saturno aos pedaços por florescer dentro dele. É como
despencar de sobre a lua e cair no espaço somente para dançar com as estrelas. É como ignorar totalmente as leis da
gravidade.

Não consigo escutar ela sem querer fechar meus olhos e sonhar em qualquer uma dessas e outras mil coisas
malucas. É insanamente maravilhoso.

“The old man died”

E a música acaba sem, definitivamente, acabar.

Tiro o fone e suspiro completamente entorpecido. Olho para o teto e respiro fundo.

Simplesmente perfeito.

Me sentei no colchão para conseguir olhar o relógio e perceber que minha mãe provavelmente já levantou e, pelo dia,
provavelmente já preparou algo para o café, ou pelo menos pôs a mesa. Hora de acordar para o mundo real.

Hoje é sexta-feira, e a minha aula começa um pouco mais tarde, acaba igualmente. Eu entro às 9h e saio às 18:35h. A
minha mãe odeia essa parte da sexta, não gosta que eu chegue quando já está escurecendo, mas acho que não posso fazer
nada sobre isso.

Ela só está em casa agora porque não trabalha nas sextas. É um dia ótimo porque, caramba, é tomar café com minha
mãe e acordar um pouquinho mais tarde. É tão maravilhoso quanto Pink Floy-

Ok. Eu preciso dar uma pausa nessa vida de fã de música. Como Yoongi e Jungkook conseguem?Uhh.

Saí da cama, calçando os chinelos para não sujar minhas meias claras. Fui ao banheiro lavar o rosto para acordar
mais rápido, e escovar os dentes, e fazer tudo que se faz depois de levantar.

Saí do quarto e desci as escadas pensando se eu gosto do nome ‘Pink Floyd’ porque minha cor favorita é rosa, ou se
rosa é minha cor favorita porque gosto do nome ‘Pink Floyd’. Fica aí a questão. E, é, eu sei que pink é rosa. As cores e
números são a única coisa em inglês que eu sei o significado.

Senti o cheirinho bom de geléia de jabuticaba vindo da cozinha. Sabendo que Eleanor teria feito agora há pouco e o
creme estaria quentinho, acelerei meus passos, faminto e muito, muito animado. Nunca vou aceitar o fato de que geléia é o
tipo de coisa que se come frio. Quente é definitivamente melhor.

Cheguei na sala, vendo que a mesa já estava posta, junto com Leonor, que comia e escrevia algo no jornal. Ela com
certeza está fazendo palavras cruzadas.

— Ei, bom dia. — digo, me aproximando. Só então ela notou que eu estava ali, sorrindo minimamente.

— Eu já ia parar aqui para subir e te acordar. — disse ela, enquanto eu pegava uma caneca e ia até a
geladeira. Afinal, o iogurte não está na mesa. — Dormiu bem? E, relativo ao gelo, o que pode ser?

— Quantas letras?

— Sete.

— Hum… — pensei, abrindo a garrafa de iogurte. — Talvez… glacial?

— Errm… gla… ci… É! Isso, perfeito! Obrigada, Jimin! — exclamou ela, preenchendo os quadradinhos e balançando
os ombros numa balançada da vitória.

Ri.

— Não foi nada e, sim, eu dormi bem. — respondi, enchendo a caneca com o leite rosa.

Voltei a mesa, me sentando para comer. Ajudei minha mãe com as palavras cruzadas, me divertindo. Adoro como
pareço conhecer mais palavras e sinônimos que ela. Talvez seja, como minha mãe mesmo disse, porque eu leio muitos
livros, e acabo aprendendo palavras novas. Certeza de que é exatamente isso.

Comi algumas torradas com a geleia caseira e apetitosa (e quente,uhu), e sem que Leonor visse, comi ela pura
também — abençoada sejam as palavras cruzadas por distraírem-a. Tinha uma tigelinha com algumas jabuticabas, que
provavelmente sobraram. Peguei umas três e brinquei de jogá-las para cima e pegar com a boca. Consegui capturar duas,
mas a terceira bateu no meu nariz e caiu direto na minha caneca de iogurte.

— Vixi— murmurei para a frutinha que agora ficara coberta de rosa. Vi que Leonor assistia a cena.

— Isso que dá brincar com comida. — relembrou ela. Mas depois pegou um biscoitinho de gergelim, jogou para cima e
pegou com a boca, piscando para mim num claro aviso de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Peguei as últimas duas frutinhas, vendo-as juntas em minhas mãos e abrindo um sorriso meio engraçado por pensar,
por um segundo, que elas eram iguaizinhas aos olhos de um certo alguém. Fiquei pensando por um tempinho, não demorei
muito para ver que eram semelhantes aos olhos de Jeongguk.

Redondinhas, brilhantes e bem pretinhas.

Dei uma risada meio embargada, mexendo-as nas minhas mãos. Pensando bem, não tem ninguém com olhos assim,
como os de Jungkook. Eu vivo pensando que todo mundo no colégio é muito semelhante, mas não é verdade. Tipo o
Jeongguk. Ele tem os olhos mais redondinhos da escola inteira. É incomparável em relação a todos os outros.

Pensando bem... ele é exatamente como a música do Pink Floyd. Você só percebe depois de repeti-la por uma, duas,
três; muitas vezes. Jeongguk é assim. De primeira ele parece igual, mas quando você passa um tempo com ele, vê que ele é
completamente diferente. É único. Como Us and Them.

Mas é claro que eu nunca vou falar isso para ele.

Dei de ombros e comi as jabuticabas, me deliciando com o gosto docinho.

— Jimin, Jimin! — mamãe chamou, quando eu coloquei o dedinho no leite para pegar a jabuticaba flutuante e rosa. —
Gestão e administração, sete letras.

— Governo! — falei, na lata.

— Isso!

***

— Pink Floyd.

Acabo de responder Yoongi que, aparentemente, não faz ideia do que estou falando. Tirou o nariz da beirinha do copo
de isopor — ele estava cheirando o café. Pois é, estranho, eu sei — e me olhou, confuso.

— Hum, é… saúde, Deus te crie. — brincou. Ri, mas revirei os olhos.

— Não, é sério! A minha banda favorita, no caso, é Pink Floyd. — falei mais uma vez, e sorri animado.

Ele pensou por um tempo e depois fez um biquinho.

— Mas não tem Pink Floyd na fita que eu te emprestei…

Ah meu Deus, é mesmo.

— Ah tá! É, bom, então acho que é New Order.

Ele riu um pouco, provavelmente por causa da minha forma de pronunciar o inglês. Ele sempre ri.

— Niu Ownder? — imitou-me e franzi o cenho, fazendo careta pra ele, que começou a rir de prontidão. Eu não disse?

A cada dia que passa, Yoongi fica ainda mais sarcástico que o comum. Acho que é a intimidade da amizade que o faz
me gozar sem se importar, mas não o culpo, já que, agora, eu também estou o tratando com mais liberdade e falando sobre
coisas mais íntimas e esquisitas, sem medo nenhum dele me julgar. E ao invés de somente sentar no meu lugar sem
reclamar, já estou começando a exigir o lado da janela algumas vezes na ida e vinda do ônibus. E também o dou uns
beliscões quando ele dorme na sala — tem umas matérias que ele precisa prestar atenção ou vai ficar de nota vermelha, não
posso dar-lhe o luxo de dormir — e também, ele pega meu cartão pra comprar café sem que eu veja, já que o contei, esses
dias aí, que o dinheiro nele é infinito. E que não sou eu e minha mãe quem o banca por causa da arruaça Leonor vs. Diretor
no começo das aulas (que eu também contei para ele sobre). Era uma das coisas que eu tinha vergonha de revelar para
alguém, mas ele riu muito da história e adorou, então, é. Yoongi é incrível.

Foi natural como fomos, ao poucos, nos soltando. Não tento agradá-lo, só tento ser eu mesmo, assim como ele faz. E
é perfeito desse jeito.

— Tá, tá bom, mas não tem New Order na minha fita também. — disse depois de rir e guardar na minha mochila o…
meu cartão?! Ele pegou de novo!

— Você é um ninja?! — perguntei, o fazendo rir e fazer uma pose atrapalhada, como se respondesse estilosamente:
sim, eu sou. — Eu sabia! É por isso que você só usa preto, huh?

— Me pegou. — disse e rimos, à caminho da sala. — Mas, Jimin, quando eu perguntei da sua banda favorita, era da
fita que eu te emprestei! Não de todas do mundo.

— Ah… — soltei em um suspiro compreensivo. — Espera um pouco, deixa eu pensar… — passei a lembrar das
músicas da fita do Yoongi. — Já sei! Joana Jett.

— O quê? É Joan Jett! E ela é uma artista solo! — disse e começou a rir da minha reação de surpresa.

— Ai, tá, então... Acho que Queen. — eu falei e, felizmente, ele não riu da minha cara. — Gostei muito daquela
música com o pianinho… bem melancólica, sabe? — toquei um piano invisível para dar vida a melancolia, mas acabou sendo
apenas engraçado.

— Sei perfeitamente. — deu um sorrisinho. — Gosto mais do Sex Pistols, e do Kiss… mas amo Queen também, ótima
escolha.

— Obrigado. — eu disse, sorrindo enquanto nos dirigíamos para a sala.

Entrar na classe é sempre confuso para mim. Eu vejo Jeongguk conversando com Seokjin e não sei se devo o
cumprimentar ou não — na maioria das vezes, não, porque não quero interrompê-los.

Mas mesmo que minha carteira fique mais afastada da sua, em algum momento durante a aula, Jeongguksempre
olha tudo a sua volta, parando sempre que me encontra. Então eu aceno, e ele acena também, e é o nosso Oi meio
constrangido. Depois ele desvia o olhar e para de olhar tudo.

Eu não sei se olhar a sala inteira é um costume seu ou se ele procura por mim. Hum... seria legal se a segunda
suposição fosse a certa.

Falando nisso, acabo de me sentar e olho para a mesa de Jeongguk, percebendo que ele já está olhando para mim.
Abro um sorriso e aceno para ele, que acena de volta e sorri, mas Seokjin o olhou e depois olhou para mim. Morri de
vergonha por não conhecê-lo e desviei rapidamente o rosto para Yoongi, que desfrutava do seu café puro de olhos fechados.

Apenas comecei a chupar os doce-de-leite em sachê que tinham na minha mochila até a professora chegar.

As horas passaram como se fossem mínimos segundos. O clima estava muito gostoso, a sala permaneceu silenciosa
e o frio não estava tão ruim por causa do sol fraco que atravessava as janelas e esquentava nossas carteiras e peles
suavemente. Por pouco, eu teria dormido. Na última aula antes do intervalo, o professor passou um dever em dupla, que fiz
com Yoongi, o qual quase não conseguimos finalizar a tempo. Fomos os últimos a entregar. Isso porque brincamos de nome-
lugar-objeto nos primeiros trinta minutos da aula. A culpa não é minha se eu precisava virar o jogo!

Nah. Eu perdi mesmo assim.

Quando o sinal do horário do almoço tocou, eu e Yoongi nos levantamos e caminhamos com preguiça rumo ao
refeitório. Depois do que o Jungkook me disse sobre almoçar lá, no dia seguinte, eu me arrisquei. Lanchei no mesmo horário
que todo mundo e igualmente no mesmo lugar.

Mas não foi exatamente como Jeongguk falou. No fim, acabou que eu almocei com Yoongi, ao invés de me sentar
com Seokjin e Jungkook, como o último me disse para fazer. Mas, mais tarde, no mesmo dia, eu disse pra Jungkook que,
qualquer dia desses, seria legal se pudéssemos almoçar todos juntos. Ele disse que seria divertido, mas não sentamos
juntos, mesmo assim.

E como na sala, quando o vejo no refeitório, eu dou um sorriso e aceno como posso. Acho que tudo bem se for
sempre assim.

Eu e Yoongi adentramos o local e nos sentamos na nossa mesa. Hoje trouxemos o almoço de casa, então não
precisaríamos ficar na fila o que, para mim, é ótimo. Sempre deixo passarem na minha frente sem perceber, e por isso acabo
sendo um dos últimos a comer e chegar na sala. Talvez eu precise de mais garra...

Já comendo, eu e Yoongi trocamos algumas ideias idiotas e demos risada das mesmas. Troquei meu pacote de
biscoito de baunilha pela tangerina cheirosa dele. O mesmo disse que era bizarro o fato de eu engolir as sementes de todas
as frutas que eu comia, e eu apenas ri e rebati, dizendo que era bizarro ele tomar tanto café assim. E então, demos de
ombros e trocamos de assunto.

Sugando o último gominho da tangerina, me vejo tenso aonotá-lo entrar pelas portas extensas do local. Solto um
suspiro encabulado por, pela primeira vez, estar assistindo todos os trogloditas do ônibus adentrarem o refeitório, aos risos
que sei que são debochados e, com certeza, nada engraçados.

Jeongguk olha para mim no mesmo momento em que os vê, e sei que está tão surpreso quanto eu. Quis sinalizar
para o mesmo, dizer que está tudo bem, ou só acalmá-lo mesmo, porque Jeongguk parecia muito mais assustado com
aquela repentina aparição do que eu.

Mas antes que eu pensasse em o fazer, Yoongi empurrou seu cotovelo contra meu braço, discretamente, chamando a
minha atenção. Olho para ele e depois vejo um sinal seu (ele arqueou a sobrancelha direita). Era um aviso claro: o idiota
está vindo na nossa direção. Exatamente na nossa.

Soltei um resmungo nervoso de frustração. Por que logo com a gente? O dia estava tão bom.

Saco.

Quando o brutamontes estava perto o suficiente, tentei agir como se absolutamente nada estivesse acontecendo.

— Ei, ruivinha. — e ele me chama. Continuei mastigando a tangerina, o ignorando e acabando por receber um
empurrão no ombro por causa disso. — Ei, ruivinha. Não veio de saia hoje, huh?

​Notei o corpo de Yoongi ficando tenso. Mas como eu, ele ficara totalmente indiferente.

— Você fez o trabalho de hoje? — pergunto à Yoongi, mesmo que não houvesse trabalho nenhum.

Ele entende de primeira que só estou inventando um assunto "longo" o suficiente para ignorar a terceira — e
indesejada — presença. E então, entra no meu jogo.

— Qual deles? O de leitura? — Yoongi sugou o refrigerante pelo canudinho.

— Sim, esse mesmo. Fui dormir tarde e acabei esquecendo de fazer. Posso copiar o seu? — deixei-me sorrir,
embaraçado.
Escutamos o riso imoral alheio e de prontidão ignoramos.

— Claro, mas muda algumas palavras ou...

Antes que Yoongi terminasse, minha caixinha de suco, já vazia, foi jogada longe de um jeito tão rápido e violento,
que nos surpreendemos. Nossos olhos se arregalaram e de imediato nos olhamos.

Engoli a saliva restante em minha boca e puxei o ar fortemente, ainda mirando os olhos de Yoongi. Uma pontinha de
medo teimosa surgira bem no meio do meu peito, fazendo meu coração bater mais forte que o necessário.

Precisei de alguns segundos para retomar o ar pelo susto.

— Eu... — comecei, perdido. Pisquei lentamente, tentando pôr a cabeça no lugar. — Hã... é, sim. Eu troco algumas
palavras sim, mas… e aquela parte de pegar um diálogo do livro-o? — assim que gaguejei, coloquei a mão na boca, dando
uma, duas, três tossidas falsas. Claramente disfarçando (ou tentando disfarçar) minha voz trêmula.

Na boa... eu já passei da fase de ficar nervoso com certos comentários maldosos e pensava que, talvez, apenas eles
fossem me acontecer durante a minha vida escolar. Talvez uns tapas na nuca antes de descer do ônibus aqui, umas
bolinhas de papel ali, uns gritos para me assustar lá, mas nada além disso.

Foi o que eu pensei, o que desejei, mas de repente esse cara está aqui. No meio do refeitório, me cutucando com
insistência e socando as coisas da minha mesa para longe, insistindo que eu o dê atenção e recue. Nenhum professor ou
motorista está por perto para o repreender. É completamente diferente.

É aterrorizador.

— Hã... — Yoongi suspirou, dando um sorriso nervoso. — Pensando bem, eu copiei dois diálogos. Deixo um para
você.

— Faria… isso? — engoli em seco.

— Claro, só quê…

Ele. O idiota pegou na minha bochecha.

Caramba.

Minhas pálpebras palpitaram e meus olhos, focados no rosto de Yoongi, arderam levemente. Silenciei-me junto com
este e, em choque, eu tremi. Demorei um pouco para entender que aquilo realmente estava acontecendo. Que ele tinha
apertado a minha pele. Que ele ainda apertava-a, com violência, obrigando minhas mãos a suarem, o coração a latejar com
desespero e minha bochecha pinicar, pela ardência do beliscão. Assustado, recuei levemente, mas ele não soltou, fazendo-
me gemer baixinho pela dor. Aqueles dedos estavam impregnados no meu rosto e era tudo muito assustador.

Logo meu corpo passava a demonstrar reações diante a violência, o medo. Talvez por nunca terem me tocado com a
intenção de machucar, eu tenha... paralisado ali. Minha cabeça deu pane, e não soube o que fazer. Não me lembro de me
ferir ou sentir dor por causa de outra pessoa que não fosse eu mesmo. Distraído como eu sou, vivo me machucando por aí.

Mas ninguém, jamais, violentou-me antes. É a primeira vez que algo assim acontece. E eu não sei o que fazer...

Por Deus, eu só quero a minha mãe, as minhas primas, a minha avó.

Pude sentir meus dedos tremerem e por reflexo, apertei o tecido da minha calça, tentando disfarçar ou simplesmente
acordar e fazer alguma coisa. Só que, não aceitando meu silêncio, o indivíduo colocou mais pressão nos dedos em minha
pele. Tanta, tanta pressão, que meus olhos lacrimejaram, doloridos.

— Não vai me responder, hã? Eu perguntei porquê você não tá usando saia hoje, bichinha. — o idiota me fez dar
leves solavancos para frente e para trás, agressivo com minha pele doída.

— E-eu não sei do que você está falando, mas você deveria parar de pensar que eu uso saias. É um pouco estranho.
— levantei o olhar, tentando olhar em seus olhos, distraidamente.

O mesmo fechou minimamente a expressão para mim, mas o sorriso nervoso permaneceu. Até que senti Yoongi pegar
em sua mão e resmungar, ao meu lado.

— Solta ele, cara.

O idiota riu novamente — que... que ódio, o que tinha de tão engraçado? — e levantou a outra mão, dando um tapa na
cabeça do meu amigo.

O tapa fez barulho o suficiente para grande parte do refeitório se silenciar para observar aquela cena horrenda.

— Fica na sua, aberração. — disse e depois pegou a latinha de refrigerante do Min, jogando o objeto barulhento
contra o chão do refeitório, sujando-o com o líquido.

Então, literalmente, todo mundo se silenciou para olhar a cena.

Fiquei quieto e revirei os olhos, num ato muito nervoso e, de certa forma, nojo. Eu tive nojo, nojo da atitude dele. E de
todo mundo que parecia se divertir com algo como aquilo.
Era nojento.

Ouvi Minna, do ônibus igualmente, dizer algo para me insultar, mas não prestei atenção o suficiente para entender.
Apenas sabia que agora ela também estava ali, para piorar toda a situação.

— Ya, eu vi que garotinhos do seu tipo usam saia, ruivinha. — voltou a falar, mais alto, provavelmente querendo que o
restante das pessoas ouvissem. — Você dança também?

— Mas... do que você está falando? — perguntei, confuso, quase choramingando.

— Admite, rolha de poço, você dança? — e então eu fechei os olhos com força, completamente farto daquilo.

Juntava as sobrancelhas, confuso. Não sabia como responder, não sabia o que fazer para me livrar daquela situação.
Era mentira, eu não dançava, nunca dancei, o que eu deveria dizer? O que faria isso parar?

Pensei, pensei, e pensei. Meus olhos, ardendo, fitaram minhas mãos, apertando ainda meus jeans. Não conseguia
ligar os pontos por causa do volume quase surreal que meu coração estava fazendo dentro da minha cabeça. Eu só queria
entender. Saber de onde diabos ele tirou essa ideia sobre saia e dança...

A não ser que ele... não. Meu Deus. Ele não iria tão longe...

Iria?

Ainda de cabeça baixa, abri mais meus olhos apertados, e então, fora como se tudo tivesse se silenciado apenas para
uma confusão de questionamentos e suposições começarem. É óbvio, só podia ser aquilo. Era exatamente sobre aquilo que
ele estava falando. Surpreendentemente. Minha nossa.

Estava falando sobre a minha “meia” origem. Sobre a cultura da mamãe, a cultura escocesa.

Continuei chocado, não conseguindo pensar muito bem com todas aquelas pessoas olhando fixamente para o meu
rosto junto com aquela dor imensa na gordurinha da minha bochecha. Não me lembro de ter dito para alguém que sou
meio escocês. Eu disse que era "assim" naturalmente para Jungkook, mas nada além disso. E eu confio nele, e acredito que,
mesmo se ele soubesse de outras coisas, não sairia falando por aí para os outros. E... eu nunca disse para ninguém que
minha mãe era escocesa. E que, bem, eu meio que era também.

Então, como ele… será que ele... descobriu sozinho?

Fora como se eu houvesse colocado os pés sobre o chão só de pensar na ideia. Meu rosto ardeu de incredulidade e,
principalmente, raiva. Muita raiva. Meu coração acelerara por motivos diferentes e me senti totalmente indignado, injustiçado
e, principalmente, perseguido com tudo aquilo.

Ele foi atrás de informações somente para me... me humilhar. Como ele pôde?

Por que ele faz isso?

Mordisquei o lábio e semicerrei os olhos. Apertei os punhos nas coxas e respirei fundo, irado, olhando para cima.

— Você realmente foi tão longe só para saber algo assim sobre mim? — eu perguntei, irritadiço.

Embora não tenha gritado, todo mundo a nossa volta pareceu me escutar perfeitamente. Eu sentia raiva, surpresa, dor
e tristeza. Tristeza por ser tão odiado a esse ponto. Raiva por sentir que não merecia aquilo. Surpresa por ele ser... tão...
tão... tão vazio ao ponto de precisar ser imbecil comigo para se sentir... bem?

Ele se sentia bem me maltratando?

Ofeguei com a possibilidade. Me senti triste por mim e principalmente... por ele. Por ele ser assim. Mas não podia
vacilar. Eu ajeitei o óculos em meu rosto. Alguns cochichos surgiram. Pus meus pés no chão e levantei-me, agora, olhando
nos olhos dele.

— Se eu fosse você — ele apertou mais minha pele. Soltei um gemido doloroso automaticamente. — Eu me sentaria.

— Pensei que você diria que usaria saia. — murmurei, dolorido.

Mesmo que eu tenha falado baixinho, algumas pessoas riram da minha fala. Bem, eu tentei entender, mas senti que
não tinha graça nenhuma.

— Senta, bichona. Ou eu vou te encher de porrada.

— Não falei por mal… eu só tô um pouco surpreso. — eu disse, agora mais firme. — Digo, eu nunca tinha dito para
alguém sobre minha descendência, embora muita gente saiba que eu sou "meio-a-meio". Ninguém sabia que eu tinha uma
origem meio escocesa, é que é meio curioso você saber disso. Você teve que mexer em uns papéis escondidos na
secretaria, ou tirou suas próprias conclusões? Não sei qual dos dois seria mais surpreendente. — disse, tentando não elevar
muito minha voz. Me senti cheio de todos aqueles sussurros. — É muito legal da sua parte se informar antes ao invés de só
me xingar de qualquer coisa.

Vi meninas na mesa de trás me olhando com sorrisos sarcásticos. Era uma cena tremendamente ruim. Não era
admirável, não era legal, mas mesmo assim... todo mundo sorria.
O que há de errado com todas essas pessoas?

— Não sei do que você tá falando. — ele praticamente rosnou. Voou até saliva no meu rosto.

Ewww.

Passei o dedo nela, limpando minha pele e soltando um resmungo de nojo imperceptível.

— Você ter pesquisado sobre a cultura e tradições também... — continuei, olhando fundo nos seus olhos. — Você teve
que ler algum livro pra saber tanto assim sobre o país?! Muita gente confunde a cultura da saia xadrezinha da Escócia,
acham que é da Holanda. Como você as diferenciou?! Você deve ser ótimo em muitas matérias...

Foi quando as risadas começaram para valer. Ao meu lado, pude ouvir a risada sarcástica de Yoongi. Não queria, de
forma alguma, humilhar ele, ou me humilhar, ou tornar uma situação como aquela em comédia, como naquele momento, se
tornou. Sabia que estava me defendendo da maneira correta e dizendo tudo que eu sentia, de forma honesta, para ele. Em
como eu desprezei sua atitude. Sua perseguição.

Eu estava quase decepcionado, o que não tem sentindo nenhum. Mas não vou julgar meus sentimentos.

Quando as risadas não cessaram, minha bochecha foi torcida, me fazendo soltar um som alto de dor. E então ele a
puxou com força até soltar, arranhando e queimando minha pele de uma maneira que a deixou totalmente dormente. E
gritando, irado de raiva, ele me empurrou pelo ombro, fazendo minha cintura bater contra a mesa antes de afastar-se de
mim.

— VOCÊ VAI MORRER!

Em um segundo, toda a comida na minha mesa e de Yoongi foi parar no chão, nos fazendo sair de perto desta
imediatamente. A situação não podia ser mais engraçada para as pessoas que se acabavam em gargalhadas insignificantes,
todas perseguindo o idiota com o olhar, que fora passando por muitas dessas outras mesas para jogar o almoço de muitas
dessas outras pessoas no chão, também.

Ele saiu em disparada do refeitório. Minna, que olhou com raiva para mim, cuspiu no meio da mesa em que
estávamos, jogando a bandeja com o almoço da escola em minha direção. A tigela de aveia quase atingiu minha camiseta,
mas recuando, eu desviei. E como o outro, ela rapidamente foi embora.

Foi embora. Eu encerrei isso.

Acabou. Acabou.

— Aahhh...

Soltei um suspiro longo de alívio, adrenalina, dor e, em certas partes, cansaço. Me senti um pouco triste ao abaixar a
cabeça, entorpecido pelo misto de sensações... mas não chorei. Consegui não chorar, pelo menos. Senti os joelhos de
Yoongi tocarem os meus.

Demorei um tempo para levantar a cabeça e fitá-lo, mas quando o fiz, tive de sorrir, já que ele também sorria. Mesmo
que eu não sentisse vontade nenhuma de o fazer.

Jieun, uma colega de classe, se aproximou da mesa também. Carregava uma latinha de refri gelado, pressionando a
bebida contra minha pele sem hesitar. Fechei os olhos de prazer pela forma a qual o frio amenizou minha dor, me sentindo
muito mais calmo após beber a água da garrafinha que Yoongi, logo em seguida, também me deu.

A sensação, por dentro, era a de que eu havia acabado de chorar muito. E aquilo era tão bizarro, que não consegui
sorrir mais. Mesmo quando os dois perto de mim parecessem super felizes com toda a arruaça.

— Você foi demais, Jimin! Ele realmente fez as coisas que você disse, você pegou ele no flagra! — Jieun quem disse,
animada.

— Ahn, é... — ri, meio entorpecido.

— Não tá feliz? — Yoongi indagou, ainda sorridente, como a outra. — Você enfrentou ele.

— É… — eu sorri minimamente, tentando me livrar da melancolia. — Você viu? Ele pesquisou mesmo sobre a
cultura... — eu ri nervosamente. — Ele nem retrucou...

— Pois é, que choque! — Jieun respondeu.

— É. Que choque. — Yoongi disse, praticamente caçoando a gíria da outra, que mal percebeu. Jieun também deu um
sorrisinho, ainda segurando a latinha contra o machucado.

Demorou para tudo se acalmar. Os alunos custaram para parar de olhar para mim e também para parar de rir. O
diretor chegou a aparecer, olhando em volta e indo até as cozinheiras. Saiu posteriormente, sem olhar para ninguém, muito
menos para mim.

Talvez dessa vez eu fique, de fato, encrencado.

Não muito depois, o sinal do fim do intervalo tocou. As pessoas se levantaram preguiçosamente, diferente de Jieun,
que pontual como é, se apressou. Ela deixou o refrigerante para mim, me dando um canudo para beber depois — sim, ela
me deu, dizendo que fora pela coragem. Legal!

Yoongi não tem aula comigo agora, então pedi para ele ir na frente e, sem muita enrolação, o mesmo foi. Isso claro,
depois de me dar tapinhas nos ombros e dizer que eu era super descolado. Eu ri daquilo e dei batidinhas na cabeça dele,
bem onde ele levou o tapa, e ele riu da ousadia, devolvendo as batidinhas na minha bochecha. E então, foi na frente.

Deixei a latinha na mesa. O refeitório já estava quase vazio quando eu peguei, tudo que estava na minha mesa com
Yoongi, no chão, levando para a lixeira depois. As faxineiras que chegaram me fitaram confusas, e apenas me curvei para
elas, me sentindo culpado. A bagunça extra era, em certa parte, culpa minha também. Poxa.

Soltando um muxoxo, me sentindo sozinho naquele sentimento que não era alegria, ou orgulho, ou coragem, eu saí
do refeitório, bebendo o refri pelo canudinho preguiçosamente.

Minha bochecha latejava enquanto eu caminhava aos suspiros, intercalando entre beber a coca cola e colocá-la na
minha bochecha. Decidi que iria no banheiro ver o estrago. Fiquei perdido nos devaneios estranhos sobre a cena no
refeitório, procurando motivos para me sentir eufórico por meu ato descolado.

Nada veio.

Parei no lugar, estranhando o barulho das borrachinhas de tênis, batendo repetidas vezes contra o chão, vindo de
algum lugar. Curioso, eu olhei para trás, me surpreendendo por um momento.

Era Jungkook.

Vindo na minha direção mais rápido que um foguete.

Notas finais
ATENÇÃO²: o final desse capítulo foi COMPLETAMENTE EDITADO. essa parte, na minha opinião, estava muito mal
escrita, além de que, na afobação de querer atualizar (e animação para isso também), eu só postei, esquecendo-me de
detalhar com mais cuidado os sentimentos do Jimin, e principalmente, de valorizar a escrita. Tava uma merda, perdão!
Espero que entendam. Não mudei muita coisa, só detalhei melhor, com mais intensidade. E é isso!

eu juro que a fic tá entrando em uma fase legal agora ok??? n me matem

Mixtape do Yoongi: https://www.youtube.com/playlist?list=PLofL2XqsAj6Q7lpPqfwxP5J8JnvRxIFZb pra quem quiser ir ver os


numerozinhos e ver quais músicas Jimin curtiu... rçrçrç

E EH ISTO!

entrem no grupo de leitores da fanfic! aqui: https://chat.whatsapp.com/GJKNpvxPHW23IrVVu8oPHk <3

e eh isto. beijocas e ateeeeeeeeeeeeee

link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

8. Ele é como uma Criança

Notas do Autor
oi, meus bens, como vocês estão?

eu tenho uns avisos importantes, por favor, leiam para aproveitarem melhor a leitura:

1. o final do capítulo anterior foi COMPLETAMENTE EDITADO. aquela parte, na minha opinião, estava muito mal escrita,
além de que, na afobação de querer atualizar (e animação para isso também), eu só postei, esquecendo-me de detalhar
com mais cuidado os sentimentos do Jimin, e principalmente, de valorizar a escrita. Tava uma merda, perdão! Espero que
entendam. Não mudei muita coisa, só detalhei melhor, com mais intensidade. E é isso!

2. EECR acaba de ganhar 500 favoritos, e tão rápido <3333 eu tô muito UWU DOIDA vocês são incríveis, obrigada por isso
meus anjos <3

3. a imagem desse capítulo é o desenho do jeongguk que o jimin citou antes. sz

e é isso, obrigada por betar julinha, você me salvou meu anjo! <33333333 iti, agora boa leitura meus amores~

JIMIN
Eu nunca tinha atravessado o pátio por meio das flores do jardim. A oportunidade não tinha se apresentado e, se
tivesse, teria parecido uma má ideia. Mas eu estava tentando, a todo custo, aproveitar aquela presença ali. E por um motivo
esquisito, eu confiava muito nele para não aceitar a ideia sem sentido.

A situação não era lá muito comum.

— Estamos chegando? — pergunto ao rapaz, afinal, a ventania não me deixa ver muita coisa e o chuvisco embaçou
completamente o meu óculos.

Ainda posso minimamente ver quando Jeongguk vira para mim, balançando a cabeça em afirmativa.

— Sim. Vai por mim, é muito mais rápido por aqui, e é melhor que ninguém nos veja indo para esse prédio.

— Por que não podemos ir na enfermaria do nosso? — indago, quase cansado. Deslizo os pés sobre a grama
molhada e quase caio.

— Aqui. — Ele ergue a mão em minha direção, e sem pensar duas vezes, eu a seguro. — Eu te explico quando
chegarmos lá. Desculpa por isso.

Balanço a cabeça em negação, mostrando um meio sorriso. Quando ele me pede desculpa, não consigo ficar
impaciente ou duvidoso.

— Tudo bem. Vamos de uma vez.

Prendo meus dedos aos seus e o caminho encurta consideravelmente quando decido seguir seus passos. Com
certeza seria mais rápido se fôssemos assim desde o começo.

Logo estávamos subindo as escadinhas do prédio 3 e, é, eu nunca vim aqui antes. É onde fica a quadra e o auditório.
É um prédio grande e silencioso. Chego a ficar surpreso quando noto que o silêncio reina aqui, dado que o prédio 1 é o mais
barulhento de todos, até quando todos estão em aula.

De alguma forma, aquilo me acalma.

Estava quente do lado de dentro. Na verdade, o aquecedor estava tão forte que as vidraças ficaram embaçadas. Os
cheiros predominantes eram de desinfetante de chão e perfume de cozinha, havia um toque de ordem ali.

— Eu estava pensando bem e percebi que não te mostrei quase nada no seu primeiro dia. Você mal conheceu todos
os prédios — disse Jungkook, ao meu lado, passando a mão no cabelo liso onduladinho.

— Você mostrou o necessário. — Sorrio minimamente. — Aqui é vazio. Estamos aqui para você me mostrar o resto da
escola?

— Não, não. Estamos aqui porque não tem ninguém — explicou, depois deu um sorrisinho. — Só tem os clubes aqui,
e as salas dos cursinhos. Ou seja, só usam esse prédio nos finais de semana e, vez ou outra, à noite, para organizar algumas
coisas.

— Uau! E nós podemos ficar aqui?

— Bem, você acha que eu faria você atravessar o jardim se pudéssemos?

Olho para Jungkook e sorrio abertamente consigo. Chocante.

— Ok. Isso é muito legal — eu disse, risonho. Jeongguk é tão surpreendente. — Mas você ainda não respondeu
nenhuma das minhas perguntas… — relembrei, fitando-o.

É claro que o questionei. Não é como se alguém viesse correndo como um louco na minha direção todos os dias,
então eu fiquei muito curioso. Mas ele disse-me que explicaria depois.

E é claro que eu cobrei.

— Então... — Pareceu pensativo, passando a caminhar. O segui de imediato. — Primeiro… eu estava correndo muito
porque pensei que você estava encrencado.

— Encrencado?

— É! Talvez na sala da orientadora, ou do diretor, ou com aquele idiota. Pensei que seria bom se uma terceira pessoa
dissesse o que realmente aconteceu. Ou ajudasse. Eu não queria que você se desse mal. — Coçou a nuca
atrapalhadamente. — O que é um pouco irônico vindo de mim…

— Como assim?

Ele deu de ombros, parando de falar. Alcancei-o com passos mais firmes, ficando ao seu lado.

— Nada demais. — Olhou para mim. — E sobre estarmos aqui, também tenho quase certeza de que a enfermaria do
nosso prédio está cheia.
— Por quê?

— Teve uma partida de queimada antes do intervalo, normalmente enche quando jogam queimada — respondeu e fiz
uma careta, podendo sentir a dor dos jogadores.

— Pobrezinhos...

Jeongguk confirmou com a cabeça, mas deu outro sorrisinho.

— E também… aqui é muito silencioso e calmo — disse, bem baixinho. — Eu pensei e achei que talvez você
precisasse de calma agora...

Balancei a cabeça, formando um pequeno sorriso feliz.

— Acho que eu só precisava de uma boa companhia.

Acho que Jeongguk estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas apenas se encolheu, constrangido com a minha
fala. Então continuamos andando lado a lado, silenciosos.

Nossos ombros se esbarraram algumas vezes durante a caminhada preguiçosa. Em alguma hora, eu removi o
moletom de meu corpo, encalorado. Pensei que logo Jungkook faria o mesmo, mas ele não fez.

Devaneio sobre algumas coisas sem importância. Como o fato de eu nunca ter visto Jeongguk sem esses casacos
enormes que ele usa (até quando está calor). São sempre escuros, sem estampa e gigantescos. Fazem um contraste
engraçadinho com o jeans e tênis surrados. Além do cabelo penteadinho que nunca fica bagunçado, mas às vezes ondula
levemente. Como agora. Sua franja está fazendo uma curvinha para o lado, cobrindo parte das sobrancelhas. Isso deixa o
rosto de Jeongguk muito bonito.

Às vezes me pergunto por que não estou com Jungkook, tipo, 24 horas por dia. A presença dele me faz tão bem.
Agora, principalmente. Ele não poderia ter aparecido em uma hora melhor. Com ele por perto, tenho outras coisas para
pensar que não sejam minhas dúvidas sobre como me sinto em relação ao que aconteceu no refeitório, e isso me acalma.

Não gosto de pensar demais quando estou magoado e confuso. Nunca consigo ser positivo nesses momentos. E não
me sinto mal quando ele está aqui. Acho que não há algo mais importante que um amigo nos momentos ruins, ainda mais se
ele não está falando sobre coisas que te perturbam. Não sei se ele não é curioso ou se apenas entendeu que eu não quero
falar sobre o que aconteceu, mas agradeço verdadeiramente sua companhia.

Me lembrar da sua corrida irada em minha direção me deixa com uma sensação engraçada. Ele estava ofegante, com
os cabelos sedosos bagunçados e os olhos grandes ainda mais grandes, arregalados. Pareceu muito aliviado por me
encontrar. Tanto que não parou de me chamar e correr até estar bem perto de mim.

A ideia de eu estar encrencado ou sofrendo nas mãos dos idiotas o assustou pra valer, se eu pensar bem no seu
estado anterior. Ele veio atrás de mim, e matou aula apenas por isso. Dá para acreditar? Eu sabia que éramos amigos, mas
não que ele se importava tanto assim.

A sensação continua, e continua…

— Jimin… — ele chamou, sem virar o rosto para o lado. Murmuro para que ele continue. — Hum… não é por nada,
mas... por que você está me olhando assim?

— Hã? Assim como? — perguntei, desentendido.

— Olhando muito — disse e deu uma risada nervosa e travada. — Estou com medo de perguntar se tem algo sujo no
meu rosto, e ter, e esse algo ser nojento.

Quase ri.

— Não tem nada no seu rosto. Eu só estou olhando para você — eu disse. E depois percebi como soou
constrangedor. — Mas, mas... vou parar. Parei.

Tornei meus olhos para frente. Seria estranho demais o fato de eu não saber que estava o olhando tão fixamente
assim? Porque eu não sabia.

Eu nem sei por que faço. É inevitável.

Depois de subirmos um pequeno lance de escadas, chegamos numa porta branca que percebi ser da enfermaria.
Estava completamente vazia, com a única janela aberta e cortinas dançando pelo temporal.

— Ai, droga… — disse Jungkook, apressando-se.

Ele correu até a janela e a fechou com um pouco de dificuldade. A porta atrás de mim se bateu violentamente por
causa da ventania e nós dois saltamos pelo susto. Depois rimos baixinho.

— Esse prédio está inteirinho. — Eu observei, andando pelo cômodo. — As paredes sequer estão descascando!

— É mesmo — disse ele. Depois olhou para uma plaquinha pregada na parede. — Hum...

Olhei para a plaquinha também. Era, basicamente, um aviso sobre os dias da semana e horários dos enfermeiros
naquela enfermaria em especial.

— Vixi… — eu murmurei após perceber que temos nenhum enfermeiro até quarta-feira que vem. O último horário hoje
foi de manhã. Deve ser por isso que a sala está aberta.

— Pelo jeito não vai ter nenhum funcionário por aqui. — Ele dedilha a plaquinha.

— É...

Me viro para voltar a explorar o lugar, pois sei que estou com vontade de olhar para Jeongguk novamente. Agora que
sei que ele percebe quando faço isso, vou evitar totalmente. Não quero que ele ache que sou estranho.

Suspirei com calma, abrindo uma das cortinas da maca. Escuto Jeongguk dizer, atrás de mim:

— Mas, errm… eu posso fazer o curativo. Se você não se importar, é claro.

Apoiei as mãos na cama, sentando-me no colchão com calma. Levantei a cabeça, mostrando um meio sorriso para o
garoto hesitante e de olhos preocupados, afirmando com um aceno.

— Não me importo... obrigado.

Sei que estou tentando parar, mas não consigo deixar de ficar o encarando de novo. É que me sinto bobo enquanto o
assisto andar pela enfermaria. Ele tem pressa e cuidado, é uma mistura rara. Normalmente pressa apenas bate com
desastre.

Mas Jeongguk é diferente.

O mesmo pega uma pomada e um paninho úmido. Pensei que não precisava de tanto, embora doesse bastante,
somente uma esfregada com água gelada melhoraria, não? Bom, eu não sei e não me importo. Estou aqui e quero confiar em
Jeongguk.

Seria bom não pensar em outra coisa que não fosse ele agora.

Jungkook acendeu a luz fraquinha e finalmente veio até mim.

— Vai doer? — pergunto, vendo sua mão chegar perto do machucado ardente. Estava acompanhado da toalhinha e,
mesmo assim, fiquei com medo de ele pôr pressão demais.

— Nah… vai ser bem rápido — respondeu, colocando a outra mão em meu ombro.Que mão gelada.

— Hnm. Ai...

Reclamei baixinho quando senti Jungkook tocar o tecido no meu machucado. Fiz a maior careta, recuando
involuntariamente ao toque doloroso.

Ele não disse nada, mas a gente se olhou. Por um segundo, só isso.

Mas, por fim, Jungkook o pôs no meu rosto novamente, umedecendo o lenço morninho vez ou outra em um pequeno
copo que, até então, eu não havia notado. Foi fazendo isso até minha bochecha estar quentinha e molhada. Cheguei a parar
de sentir dor, até.

A pomada que ele usou era totalmente transparente. Quase como pasta de dente de menta. Não ardia, só tinha um
cheiro doce enjoativo de remédio de criança.

Apertei os dedos no lençol e ergui o queixo, deixando o rosto em uma posição melhor para que Jeongguk faça o que
está fazendo por mim. Chego a fechar os olhos porque, embora Jungkook seja muito cuidadoso, ainda dói.

Mas de certa forma, a maneira a qual os dedos deles deslizam por minha pele me acalmam. E dessa vez, eu não
penso em absolutamente nada.

JUNGKOOK

Ele tem uma constelação de sardas no rosto que lembra Serpente (na bochecha esquerda) e Pégaso (na bochecha
direita).

Espero que ele não perceba que estou fazendo isso de propósito. Seria muito vergonhoso. Mas não posso evitar. É a
primeira vez que eu vejo sardas assim. Parece irreal, e é muito precioso para mim.

Puxa, são pensamentos muito vergonhosos.

Mas ainda sim, eu não posso evitar.

Quando deixo o creme de lado e passo a montar o curativo, tento decifrar os olhos fechados e postura de Jimin; afinal,
ele está triste ou não?

Desde que o encontrei, ele parece perdido, mas diferente. Em um segundo, ele estava normal. Mas agora há pouco
estava triste e perdido novamente. E atualmente parece completamente neutro.

É confuso para mim tentar fazer isso. Sinto vontade de agradá-lo e gosto do tempo que passamos juntos rindo. Já faz
um tempo que ficamos sozinhos assim, e é um sentimento caloroso, embora meio constrangedor.

Eu acho que gosto.

Uma coisa que eu não compreendo é, com certeza, a minha vontade de dedurar o Kim por ter feito o que fez com
Jimin. Porque no sétimo ano, Kim me perseguiu o tempo todo, e nunca tive coragem de contar para alguém sobre o que
acontecia, mesmo que me deixasse tão frustrado e triste comigo mesmo.

E agora, de repente, tenho coragem de fazê-lo por causa de outra pessoa. Não sou assim, e isso me surpreende.

Contudo, tento pensar que estou somente me tornando um rapaz melhor.

Coloquei o band-aid com florzinhas — era o único que tinha — sobre o curativo. Sorri pequeno e imperceptível, porque
era um contraste… fofo. E meio que coisas assim me fazem sorrir, então…

Jimin abriu os olhos repentinamente, então eu me afastei em um solavanco engraçado. Sorri nervoso e comecei a
guardar as coisas apressadamente.

O ouvi suspirar, com um risinho.

— Essa pomada formiga um pouco. Tipo, faz bolhinhas — disse ele.

— Verdade. — Me aproximei da maca, surpreendendo-me quando ele colocou os pés para cima e deitou
completamente.

Jimin abriu um sorriso.

— Obrigado, Jungkook — murmurou. Então, sorriu ainda mais. — Me sinto bem melhor agora.

Sem saber o que dizer, eu indaguei:

— V-você quer um refrigerante?

Jimin olhou para o teto, rolando os olhos como se pensasse.

— Talvez algo quente…

— Algo quente, então! O quê? — perguntei de novo.

— Hã… café?

— Sim, café, ok! Eu já volto. Fica aqui. — Eu o olhei uma última vez.

Então, saí da enfermaria.

***

— Eu bati!

— O quê? — O olhei, chocado.

— Bati! Vamos. Conte os pontos.

Franzi o cenho, olhando suas cartas baixadas. Mordi o lábio quando, ao ver que apenas com uma canastra de ás,
Jimin já havia me vencido. E ele ainda tinha outra real, e uma suja.

Eu, miseravelmente, só possuo uma real.

— Não acredito… — Fiz um biquinho. — Com a de ás, mil pontos, a real e a suja… mil e seiscentos.

— E quantos pontos você tem? — perguntou, sorrindo orgulhoso.

Suspirei, olhando consigo para minhas cartas baixadas.

— Só quinhentos.

Jimin empinou o nariz e começou a brincar com as sobrancelhas. Gostaria de ficar bravo por perder, pela primeira vez,
no Buraco para alguém que não fosse meu pai. Mas não consigo. Acabo sorrindo para ele, porque não consigo me irritar. As
maçãs do seu rosto ficam super marcadinhas quando ele faz isso.

— Você foi massacrado, Jeongguk. Perdão. — Sorriu, juntando as cartas. — E obrigado. — Levantou a mão direita,
acenando para o nada.

Não posso evitar e dou risada de seu jeito brincalhão. Chega a ser curioso ele ser tão bom. Costumam dizer que é um
jogo de adulto, e eu apenas conhecia por causa do meu pai. E Jimin era tão bom. Ele provavelmente massacraria todos os
meus tios em uma partida.
— Você é muito bom, tenho que admitir. — Sorri pequeno. — Como?

— Como o quê?

— Como você ficou tão bom?

Ele continuou embaralhando as cartas com calma e firmeza, meio pensativo por um momento.

— Joguei muito com minha avó — disse, por fim, com um sorrisinho.

— Woah, que incrível — eu digo, ainda chocado com todas as canastras que ele obteve.

Outro sinal tocou. Tampamos os ouvidos de susto e, quando parou, acabamos por rir.

— Quantos sinais tocou desde o intervalo? — Jimin perguntou, separando as cartas.

— Dois — eu disse, e depois arregalei os olhos. — Nossa, perdemos duas aulas!

— Contando com essa, três! — ele diz, e está sorrindo.

Mesmo que eu esteja matando tantas aulas pela primeira vez, me vejo sorrindo também.

— Quatro com a próxima! — eu disse.

Seu sorriso alargou, como se gostasse da ideia de matar mais outra aula depois dessa. Chegou a dar pequenas
risadinhas, dividindo as cartas com calma.

— Você é tão surpreendente, Jeonggukie — diz. Depois tampa a boca. — Oh. Desculpa.

Hã? Hã...

— O quê? Por quê? — Dou uma risada nervosa. Não sei o que mais canta na minha cabeça, se é o “surpreendente”
ou o “Jeonggukie”.

Jeonggukie…. surpreendente…. Jeonggukie… é surpreendente...

— Por quê, o quê?

— Por que “desculpa”?

— Eu te chamei intimamente, mas foi no impulso. — Riu, parecendo envergonhado. — Eu não vou fazer mais.

Jeonggukie…

— Pode fazer mais! — exclamei, dando risadas nervosas.

Ai meu Deus do céu, que constrangedor.

— Tá bom! — Ele ri também. — Você ainda quer jogar Buraco ou podemos jogar outro?

— Hum… — Eu pensei, rodando o copo vazio o qual bebi café há, hum, mais ou menos uma hora atrás. — Quero
lanchar.

Jimin sorriu.

— Também quero. O que vamos lanchar? — indagou.

Sorri, pois sabia perfeitamente.

— Vamos comer waffles.

***

— Jeonggukie, esses waffles são horríveis.

Estamos comendo os waffles da máquina de comida. São de caixinha. São uma droga.

— Eu sei, desculpa. Eu pensei que eles iriam fritar porque é sexta-feira… — murmurei, meio incerto. — Tá parecendo
que não tem ninguém aqui — falei, visto que tudo está limpo e nenhum funcionário ou professor deu as caras desde que
chegamos. Nem as tias do pátio.

— Verdade — disse, mordendo o waffle ruim. — Queria um sanduíche. — Fantasiou, mastigando com desgosto.

— Hum… — Gemi. Que fome. — Com queijo derretido — digo, mordendo o waffle horrendo.

— É, e frango…

— E tomate…
— E mostarda…

— Não, não, não. Jimin, mostarda não. — Faço uma careta.

— Que bom que você não gosta. Mais sanduíche imaginário para mim. — Sorri, acabando seu waffle. Começo a rir,
porque é a fala perfeita.

Jimin é incrível.

***

— B!

— Baleia!

— Bode!

— Bo… Bi… Be...? — Fez careta. — Ai, ai, ai, ai, meu Deus.

— Dez segundos!

— Espera!

— Sete, seis, cinco..

— Boi!

— Bisonte! — eu rebato, rapidamente.

— EU DESISTO!

Jimin joga os papéis para cima. Dou risada enquanto ele faz um drama sem fim. Mas minhas gargalhadas só tendem
a continuar quando ele fecha os olhos e deita sobre a mesa, com o corpo reto, ambas as mãos sobre o peito esquerdo e a
língua cobrindo o lábio inferior.

— O que é isso? — Começo a rir muito. Jimin deitado como um cadáver numa mesa de professor é a melhor coisa
que eu já vi.

— Estou morto. Causa da morte? Uma perda cruel de dignidade — ele diz, dramático. Então começa a rir.

Estamos na sala, matando a quarta aula consecutiva. Estamos jogando adedanha há quase meia hora. Ele perdeu
todas as rodadas.

— Vem aqui. Vamos no teatro — eu peço, inconscientemente segurando seu pulso.

Isso criou uma tensão esquisita na palma da minha mão.

— Vamos! — Ele revive, saltando da mesa.

Mas quando solto seu pulso, Jimin, sem aparentemente notar (ou ligar), pega em minha mão e começa a andar na
minha frente.

— Você não sabe onde fica. Por que está me guiando? — pergunto, tentando me livrar da tensão. Malditos nervos
esquisitos.

— Quero brincar de cobra-cega, mas sem ser cego e sem girar. Você só precisa me falar que direção seguir.

— Entendido. Direita!

***

— Já apresentou alguma coisa no teatro?

Jimin me pergunta, enquanto iluminamos o palco que tem no total de zero pessoas.

— Sim, foi horrível — eu digo, enquanto ele remexe a máquina e faz das cortinas uma discoteca. Pfft.

— Sério? — pergunta e eu confirmo. — Me conta?

— Conto. — eu respondo, rindo um pouco da lembrança. — Foi uma peça da escola.

— E que personagem você fez?

Olho para Jimin. E então sua cabeça. E dou uma risada envergonhada.

— A laranja gigante.

Começo a rir mais, e Jimin me acompanha porque entende o motivo dos risos. Então ele bagunça os cabelos e para
de mexer nos holofotes.
— Ok, por que diabos havia uma laranja gigante numa peça da escola? — ele perguntou, sentando-se no assento
mais próximo.

Desci um degrau, me sentando na cadeira em frente a sua. Porém, virei o corpo totalmente para ele.

— Você deveria fazer essa pergunta para a minha professora do quarto ano. — Eu sorrio. — Era sobre a importância
das frutas. Foi ruim demais, Jimin, eu vomitei.

— Vomitou? — se exaltou, sorrindo engraçado.

— Sim! Muito! Eu odiava laranja. A fantasia estava com um cheiro azedo muito ruim. — Ele fez uma careta, mas
ainda estava aos sorrisos. — Foi tão insuportável que eu vomitei no palco e no cabelo de uma moça do assento da frente.
Ela quase me fez ser expulso da escola.

— Por você ter vomitado?

— Por eu ter rido dela cheia de vômito, logo depois — afirmei.

Jimin riu comigo e me deu tapas leves no braço. Ele se remexia todo quando estava rindo.

— Jeonggukie, você é… inexplicável!

Não respondo nada, porque tampo a boca, fingindo ainda rir, mas, na verdade estou me sentindo feliz.

É o melhor dia que já tive na escola.

***

— Qual foi a coisa mais estranha que você já fez?

Jimin quem perguntou. Mas, eu rebati.

— Qual foi a coisa mais estranha que você já fez? — eu repito. Jimin ri.

Estamos sentados no meio do palco. Jimin me faz sentir como uma criança, mas de um jeito melhor. Jogamos tantos
jogos e fizemos tanta bagunça que é quase nostálgico. Estamos de pernas cruzadas e nossas mãos estão sobre meu joelho.
As minhas palmas estão viradas para cima e, as costas das suas, estão descansando nelas.

Estávamos brincando, mas a risada ficou tão forte que Jimin começou achiar. Foi fofo, de novo. Mas quando ele disse
que tinha bronquite, eu fiquei preocupado. Mas, ele estava chiando e só escutando para saber como isso te distrai da
preocupação porque, puxa, é adorável.

Mas Jimin não ficou sem ar, nem nada. Ele fez o barulhinho fofo com a garganta e voltou ao normal, então disse que
aquilo não acontecia consigo há muito tempo — rir até “chiar”. E começou a sorrir. Então, fiquei olhando para ele sem parar.
Nossas mãos ficaram paradas na posição inicial do jogo. E não quis desfazê-la de jeito nenhum.

Os nervos ainda estão atacando.

— Estudar em casa até os quinze anos — ele disse. — Foi a coisa mais estranha que já fiz.

Franzi o cenho.

— Como assim? Esse ano é o seu primeiro ano em uma escola? — perguntei, surpreso.

— É. — Riu. — É…

Ele morde os lábios internamente e me vejo nervoso. Não quero que ele se sinta desconfortável.

— Que ultraje! Você fez mais amigos em quatro meses do que eu em nove anos.

Jimin ri de minha fala e inclina o corpo para frente.

— Desculpe-me por ser tão sociável.

— Desculpo. — Eu sorrio, então paramos de rir. — Como tudo isso tem sido?

Jimin pensa, e pensa. Depois suspira, dando de ombros.

— É diferente. Os outros são muito diferentes. Mas também é bom, eu gosto das pessoas e das aulas, embora já
tenha visto essas matérias há um tempo.

— De certa forma você é um aluno avançado, Jimin — eu falei e ele sorriu pequeno.

— É… acho que sim. — Olhou para nossas mãos. — Eu gosto, mas às vezes assusta um pouco. Entende? — Olhou
para mim. Pisco um par de vezes e confirmo com a cabeça. — Mas, mesmo assim, eu... me sinto feliz por estar aqui.

— Também me sinto feliz por você estar aqui — digo, sem me segurar.

Jimin mexeu os dedos. Então, colocou suas mãos sob as minhas, suspirando pesadamente.
— Mas, e você? Qual foi a coisa mais estranha que você já fez, Jeonggukie?

— Hum… são tantas. — Pensei. — Mas acho que a mais estranha é essa. Quando eu tinha dez anos, eu escrevia
teoremas baseados em sentimentos e atitudes humanas.

— Teoremas?

— Sim, era filosofia, Jimin. Era bizarro porque eu era muito novo e tudo era muito complexo. — Dei risada. — Mas,
também, já fiquei uma hora, vinte e três minutos, e quatro segundos, ah, sim, eu marquei no cronômetro. — Ele riu de mim.
Continuei. — Passei esse tempo repetindo a palavra caçarola em frente ao espelho para ela perder o sentido e fiquei o natal
inteiro rindo da minha vó quando ela falava sobre a caçarola italiana que ela preparou.

— Isso é muito estranho. — Jimin riu muito. — Eu falo sozinho às vezes.

— Eu converso com meu cachorro.

— Eu converso com meu gato.

— Já pediu conselhos para seu gato?!

— Já! Já pediu conselhos para seu cachorro?!

— Já!

Instantaneamente, erguermos as mãos e batemos uma na outra.

— Esquisitice! — ele fala. E começa a rir.

Outro sinal toca. Jimin e eu estamos rindo tanto que não nos importamos.

Mas foi quando nos silenciamos que, puxa, eu lembrei de uma coisa.

Ai meu Deus.

— Jimin, é o último sinal! O ônibus!

Ele para de rir na hora, arregalando seus olhos.

— MEU DEUS!

Me levanto apressado, puxando-o pela mão.

— Vamos, se corrermos ainda consigo buscar as fitas no armário que quero te emprestar.

Ele segura minha mão. E corremos com fúria para a saída do teatro.

— Você ainda quer me emprestar fitas? — ele pergunta. Franzi o cenho, rindo.

— Sim. Muito!

— Por quê?

— Porque você gosta delas! — eu digo. Estamos quase no fim dos corredores.

— Mas, mas… Eu não te devolvi a última!

— Não me importo! — ah, é. Estamos gritando porque estamos, literalmente, correndo.

Esquisitice!

— Sério? — Ele começa a rir enquanto corre. Tem um chuvisco chato na parte externa do prédio e Jimin se esconde
atrás de mim por isso. — Tudo bem, então. Mas agora, avante! Eu preciso pegar meu casaco também.

Rio, quase desacreditado.

— Não acredito que você disse avante. — Fico rindo. Ele me dá um soquinho nas costelas.

— Avante, vamos!

Ainda estou segurando sua mão quando atravessamos o jardim. Os primeiros ônibus já chegaram, mas, felizmente, o
nosso ainda não apareceu.

Com uma corrida estranha, nós alcançamos a entrada lateral do nosso prédio. Sacudimos os corpos, meio úmidos
pela chuva e começamos a andar apressados até o nosso corredor deserto, desviando dos alunos que saíam com felicidade
das salas de aula.

Penso comigo mesmo e decidi perguntar, enfim, para Jimin o que acaba de me deixar bastante curioso.

— Jimin, por que você não devolveu minha fita?


Eu não havia parado para pensar nisso antes porque, bem, eu pensei que ele houvesse esquecido ou ainda estivesse
ouvindo as músicas. Mas ele aparentemente tem consciência de que ainda não me entregou, e muito bem.

E, por que não, então?

Ele não respondeu nada. Pensei que ele não falaria, mas, quando chegamos no corredor calmo, ele ofegou cansado e
começou a se explicar.

— Porque eu gostei muito… do desenho também. — ele disse, ainda aos suspiros. — É a coisa mais preciosa que eu
já tive.

Engulo em seco. Eu não sabia que tinha ido com um desenho.

— Sério? — eu pergunto, enquanto paro em frente ao meu armário. Jimin também foi até o dele, que fica a uns seis
armários de distância do meu.

— Sério! — diz, do outro lado. — Eu devolvi a do Yoongi bem rápido, mas não consegui me desfazer da sua… me
desculpa!

Ele tirou o casaco do armário com força, fechando-o e vindo até mim. Por um momento pensei que ele fosse me
abraçar, porque estava com o maior beicinho. E isso era engraçado.

E eu só consigo pensar em duas coisas, primeiro:

"Há há há há, ele não consegue se desfazer das minhas músicas, mas das suas, Yoongi, ele se livrou bem
rápido, há há há!"

E segundo:

"Minha fita é a coisa mais preciosa que ele já teve."

Balanço a cabeça, ciente do quanto a primeira coisa é ridícula.

Então, fico pensando na segunda. Porque não é ridícula, é maravilhosa. Eu amo fazer fitas. Mesmo que seja solitário,
eu me orgulho muito delas. Gosto de fazer coletâneas. E ele gostou de uma delas.

Puxa.

— Pode ficar… — eu disse, ainda sobre a fita. Abri meu armário e recolhi todas as que estavam ali (quatro fitas). —
Escuta essas. E se enjoar de uma, me devolve que eu regravo.

— Jura? — ele perguntou, pegando-as. Sorri, confirmando.

— Juro. — Ele sorriu. — Qual música você mais gostou?

— Us and Them do Pink Floyd. — Então ele faz os meus nervos agitarem, como se eu houvesse tomado café demais.

O engraçado é que eu quase não tomei café hoje.

— Você gosta de Pink Floyd. — Não era uma pergunta, mas uma afirmação para mim mesmo.

— Pois é.

Estou vendo suas bochechas ficando rosas e de repente tenho certeza de que as minhas também estão. E isso é
estranho. Mas não quero pensar, agora, se é estranho ou não.

— Perfeito — digo.

Então, fecho o armário, enquanto nós corremos para a sala de aula. Jimin pega seus materiais esquecidos. Eu pego
os meus, e então corremos até o estacionamento. Avistamos nosso ônibus, o qual só falta uma pessoa para subir e,
posteriormente, ir embora.

Quando a gente sobe, meu rosto permanece quente, como se estivesse com a bochecha colada à geladeira por muito
tempo. Jimin me olha enquanto caminhamos e, quando vejo Seokjin me olhar e arregalar os olhos, provavelmente confuso
com meu sumiço anterior, eu apenas consigo fitar Jimin, que já se sentou e é alvo das perguntas de Yoongi.

Por um momento, desejei que pudéssemos nos sentar junto.

Eu o deixaria ir na janela todos os dias.

Ainda acho que isso é muito estranho.

Mas como antes, por agora, eu não quero saber se é estranho ou não.
Notas finais
hihi

admito que queria colocar o nome do capítulo de "ele é como uma laranja gigante" mas depois eu fiquei KKJJJJ??? e não
coloquei aff

ei, obrigada por ler a fanfic e por tudo. até a próxima att, eu amo vocês meus tchuquinhos <3

E EH ISTO!

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


e me mandem perguntas pelo curious cat: https://curiouscat.me/nickunnie
link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

9. Ele é como Panqueca de Mirtilo

Notas do Autor
olha eu aqui

TE AMO LETICIAZINHA OBRIGADA POR ME AGUENTAR E BETAR MAIS SOULMATES QUE NOS DUAS SO NOS
DUAS

a. ok. não tenho mais nada a dizer aqui além de OBRIGADA PORRA PELOS QUASE 600 FAVORITOS O TRAILER DE
EECR LOGO VEM AÍ GALEURE

boa leitura~

JUNGKOOK

Que os anjos me ajudem porque acho que estou ficando seriamente louco.

— Jeongguk?

Passamos pela loja de eletrônicos, e então, a padaria. Por um segundo, um sorriso manteve-se em meus lábios.
Agora só faltam duas quadras para ele subir.

— Ei, Jeongguk?

— Oi — respondi, levemente distraído.

— Tudo bem? Você está diferente. — Senti sua mão acatar meu ombro, balançando-o. O olhei.

— Diferente? Não. — Sorri nervoso, encarando sua feição curiosa.

— Diferente, sim — ele falou, dando uma risadinha. — É segunda-feira e você está feliz. Aconteceu alguma coisa?

Hum...

— Ah, nada demais! É só que eu não consigo me controlar de tão ansioso que estou para ver Jimin e falar com Jimin
porque quero fazer bagunça com Jimin e ouvir música com Jimin, a última sexta-feira foi a mais legal de todas, Jimin é a
pessoa mais legal que já conheci depois de você! — eu disse.

Mentira.

É claro que eu não disse isso. Só estava imaginando como seria colocar tudo para fora em voz alta. E, embora seja
toda a minha verdade, não é uma das mais adequadas e comuns, ainda mais para admitir a Seokjin.

Portanto, pigarreei e dei um sorriso esquisito.

— Hã, não aconteceu nada. Eu só comi chocolate de manhã, então fiquei de bom humor — eu menti, notando que
agora falta apenas uma quadra para Jimin subir.

— Hmmm. Ok, então — ele falou, dando risada. — Tem chiclete aí?

— Sim. — Peguei o pacotinho na minha mochila, pondo em sua mão. — Toma.


— Valeu.

Seguidamente, eu respirei fundo e me encostei no banco do ônibus. Assisti discretamente alguns dos alunos se
acomodarem e não pude evitar morder os lábios em antecipação por estarmos cada vez mais perto de seu ponto.

Mas, então, passamos pela cerejeira e...

E…

— Hã.

Mas… O quê?

— Por que não paramos no ponto do Jimin? Sooman o deixou para trás? — perguntei, exaltado.

— O quê?

— O Jimin, sabe? Ele não subiu… — murmurei, olhando para a poltrona de Yoongi, ao lado da minha.

— Quem é Jimin?

— O ruivo! — exclamei.

Percebi a movimentação ao meu lado. Yoongi me olhou como se eu tivesse acabado de dizer alguma coisa
absolutamente estúpida, o que é claro que eu fiz.

Deixo de olhá-lo, com o rosto queimando de vergonha.

— Eu acho que ele faltou. — Jin voltou a falar.

— Será? Ele pode estar doente... — retruquei.

— Talvez.

— Ou foi mais cedo, de carro.

— Talvez.

— Ou só aproveitou para dormir mais.

— Talvez.

Olhei para Seokjin. Ele está lendo e me ignorando de novo!

Hunf. Pior melhor amigo que existe.

— É. Talvez.

Após alguns minutos, chegamos na escola. No terceiro tempo, eu descobri que nenhuma das suposições estavam
corretas. Jimin não compareceu a nenhuma aula e não obtemos nenhum aviso ou ocorrência que indicasse que ele estava
doente ou algo do gênero.

Na última aula, perdi todos os resquícios de esperanças que me restavam. Infelizmente e aparentemente, Jimin não ia
mesmo aparecer.

E, puxa. Eu me senti vazio, de certa forma. Não era nada acolhedor sem ele...

Eu olhei algumas vezes para meu caderno, o desenho e então a escrita.Não vai ser dessa vez.

Guardei tudo no último sinal e fui em direção aos corredores, subindo no ônibus com Seokjin quando o mesmo
chegou.

Está tudo bem. Amanhã ele vem.

***

Cedo de dia, me vi escutando música no ônibus porque, daquela vez, eu não queria estar apto a ouvir — sem querer
— a conversa de ninguém.

Para ser sincero, eu murchei completamente quando passamos, novamente, direto pelo ponto de Jimin. E embora eu
fique mais ou menos feliz nas terças, por ter aula de inglês avançado, naquela em especial, eu só queria me fundir com a
música e sumir para todo o sempre.

Que sentimento infeliz.

— Tudo bem? — Seokjin indagou, pegando algo em sua mochila.

— Sim — respondi, baixinho.


Eu não podia escutar a voz dele, e nem a minha, mas conseguia fazer leitura labial. Por isso fui capaz de o responder.

Jin pegou uma barrinha de chocolate no bolso da frente de sua mochila e, contra o que pensei que iria acontecer, ele
a me deu.

— Fica feliz. Vou comprar um disco pra você no sábado. — Jin sorriu.

E apesar de estar estranhamente magoado, eu sempre serei grato por ter Seokjin em minha fatídica vida. Por isso,
abri um sorriso alegre e tombei a cabeça para o lado deixando, só por um segundo, meu rosto descansar em seu ombro.

— Obrigado.

***

Depois de perder as esperanças na terça-feira, não pensei que ficaria extremamente agitado por, na quarta (hoje),
não ver Jimin em lugar nenhum depois da segunda aula.

No intervalo, eu disse a Seokjin que iria comprar salgadinhos. Nos corredores, desviei meu caminho para a sala de
aula.

Avistei o representante sentado, comendo com outras duas pessoas e, timidamente, me aproximei.

— Ei, oi — eu murmurei.

Eles pararam com a conversa e me olharam. Estudo com Jeonghan desde o primário, mas nunca conversamos. Por
acaso, ele é o representante.

— Oi, Jeongguk. Precisa de alguma coisa? — ele perguntou, levantando-se e vindo até mim.

— É… sim. — Suspirei, sorrindo pelo mesmo ter se levantado. Ele é um cara legal. — Sabe o Jimin, o ruivo da nossa
turma? — Ele confirmou com a cabeça. — Então... você sabe por que ele tem faltado tanto?

— Na verdade, não. O Yoongi me perguntou também, mas não chegaram a me falar nada sobre isso, então eu não
sei — falou, com um sorriso pequeno. — Aconselho você a esperar até semana que vem para ver se ele aparece.

— Semana que vem?! — Soltei um muxoxo, ansioso.

— É… — murmurou. — Ou, você pode perguntar ao diretor. Talvez ele saiba de alguma coisa.

Sorri. Ótima ideia.

— Eu vou perguntar, então. — Suspirei. — Obrigado, Jeonghan.

— Sem problemas. — E então, eu saí da sala.

Apressei meus passos em direção a sala do diretor. Vi Seokjin comprando algo na máquina de doces e o chamei para
ir comigo — lê-se: o arrastei para ir comigo.

Chegando lá, me deparei com Yoongi saindo da sala do Sr. Yoon-Soek, com uma carranca enorme.

— O que estamos fazendo aqui? — Jin me perguntou, enquanto eu apressava os passos para falar com o diretor
antes que o mesmo fechasse a porta.

— Só vou perguntar uma coisa — respondi, passando por Yoongi, que não saíra do lugar. — Diretor? Senhor. — Parei
em frente a porta, olhando para o homem alto-não-tão-alto.

Ele massageou as têmporas e soltou um suspiro impaciente, olhando para mim.

— Sim, Jeongguk. Precisa de alguma coisa? — perguntou.

— Na verdade, preciso sim. O senhor sabe por que Park Jimin tem faltado tanto?

Novamente, ele suspirou. O diretor nunca está de bom humor...

— O velho não vai abrir a matraca. — Ouvi Yoongi dizer, bem baixinho.

O diretor, aparentemente, não o escutou.

— Ai, ai. Eu sei sim, Jeongguk. Mas não posso compartilhar informações pessoais dos alunos com outros alunos —
disse, já começando a fechar sua porta. — Voltem para a sala de aula.

E então, fechou a porta na nossa cara.

Olhei para Yoongi. E então, para Seokjin.

— Podemos ir? — meu melhor amigo perguntou.

— Sim… — respondi, baixinho, me aproximando do mesmo.


Mas parei ao ouvir Yoongi pigarrear.

— Você não deveria ficar chamando o Jimin de ruivo por aí — ele disse.

Me virei para o mesmo e franzi o nariz.

— E você não deveria ficar falando por aí que heavy metal é melhor que rock.

Fora a vez dele franzir o nariz — e o cenho.

— O quê? Eu digo porque é melhor, pirralho.

— Pirralho? Você não é mais velho do que eu!

— Eu sou, sim! Todo mundo sabe que você é o único com catorze anos na sala.

Ai cacetada.

— Ah. — Eu engoli em seco. — Eu… hã, que seja. — Me virei, pronto para sair dali. — Eu... eu não me refiro a Jimin
como ruivo de forma negativa.

— Como é?

— Ele é ruivo, e isso chama a atenção. Mas eu não o chamo assim para ofendê-lo — falei, olhando-lhe.

— Ah. — Agora, ele que engoliu em seco. — Tá. Tá bom. Mas heavy metal é melhor que rock mesmo assim.

— Não é!

— Pelo amor de Deus!

Nós dois olhamos para Seokjin, que assistia a quase-discussão com uma feição desacreditada.

— O que foi? — perguntei, ao mesmo tempo que Yoongi.

Já Jin, não disse nada.

Ele riu.

— Vocês são idiotas?! — Riu mais. — Heavy metalé rock. Fala sério.

Ai meu Deus, é verdade.

Olhei para Yoongi. Ele abaixou a cabeça e suas orelhas ficaram vermelhas, provavelmente, constrangido pela
vergonha que estávamos passando.

Meu rosto ardeu igualmente.

— Ah... que seja. Tchau, então — Yoongi disse, então, saindo de perto de nós dois, enquanto Jin começava a rir.

Suspirei, constrangido.

— Você se mete em cada uma, Jeongguk — disse, ainda aos risos. Sorri nervoso e o dei um soquinho no braço.

— Cala a boca — eu disse, rindo baixinho da minha própria desgraça.

Pelo jeito, terei que esperar até semana que vem, mesmo.

***

Eu não vou esperar até semana que vem, mesmo!

Já é quinta-feira, Deus! Por que ele não está vindo para a escola? Puxa. Se eu pelo menos soubesse o número de
telefone da casa dele…

Ainda estou indeciso sobre o que fazer, mas, tenho certeza de que tem uma pessoa nessa escola que pode me contar
tudo que o diretor não quer que eu saiba.

Exatamente. A orientadora.

— Quer lanchar antes de ir para casa? — Seokjin me perguntou, enquanto guardávamos o material.

— Quero! Mas tenho que pegar uma coisa primeiro. Me espera lá na frente?

— Sim. Vai rápido! — disse ele. Sorri e acenei, caminhando, agora, para a sala da senhorita Sayuri.

Subi algumas escadas e virei alguns corredores. Sei que não deveria me exaltar tanto por causa de um amigo,
mas... é inevitável. Porque quero muito falar com ele. E porque sinto que estou perdendo tanta coisa ao não estar com Jimin.
É uma sensação tão absurda e esquisita. Mas até arrisco dizer que sinto falta de estar com ele.
O que é estranho porque eu quase nunca sinto saudade! Chega a ser patético.

Eu balancei a cabeça e suspirei calmo, caminhando mais rápido. Logo não demorou para eu estar em frente a porta
dela, batucando a madeira ansiosamente.

— Oh. — A mulher sorriu ao abrir e me ver. Sorri também, pois a adorava. — Jeongguk! Quanto tempo, querido.
Precisa de alguma coisa?

— Boa tarde! Eu preciso sim… — eu disse, um pouco envergonhado.

— Claro! Tudo que quiser. Entre, entre. — Ela gesticulou com as mãos, fazendo-me adentrar sua sala de imediato. —
Sente-se.

— Sim. — Me sentei, pondo as mãos sobre minha calça, apertando o tecido nervosamente. Esperei ela se sentar
também para começar a falar. — Então, é que eu… queria que você me dissesse o porquê de Park Jimin não estar vindo
para a escola. Você sabe? — eu disse, da forma mais direta e sincera possível.

Ela deu um pequeno sorriso e colocou ambas as mãos entrelaçadas sobre a mesa, me olhando.

— Sabe que não posso te dar informações pessoais de outro aluno, certo? — ela falou, me fazendo soltar um suspiro.

— Mas…! — Me exaltei. Ela ergueu uma das sobrancelhas, me analisando com dúvida. — Mas… — Pigarreei,
voltando a postura normal. — Já faz uma semana que ele não vem…

— Humm. — Ela pegou papel e caneta.

— E eu queria muito falar com ele, mas não tenho o número de telefone da casa e nem sei o endereço para fazer uma
visita.

— Humm. — Começou a anotar algo.

— Ele não sabe a data das provas também, se ninguém avisá-lo, ele pode ficar de recuperação. E se ele passar as
férias aqui? Puxa.

— Humm.

— O representante de turma também não sabe de nada, e…

Parei de falar assim que ela pôs uma folha em minha frente, com um número de telefone ao lado do logo do Sool
Bibimbap, junto do nome “Leonor”.

A fitei, esperando uma explicação.

— Esse é o número do trabalho da mãe de Park Jimin. O nome dela é Leonor. Se você quiser ligar para ela e
perguntar sobre Jimin, acho que tudo bem — disse, encostando-se na cadeira. — Contanto que, é claro, você não diga a
ninguém sobre isso.

Peguei o papelzinho e sorri, olhando-a.

— Não contarei! — falei, fechando a boca e o zíper imaginário sobre ela, jogando fora posteriormente. — Obrigado! —
Me levantei, me curvando para a moça. — Até logo! — eu disse, já saindo da sala.

— Tchau! — A ouvi dizer, com uma risadinha fraca.

Saí correndo pelos corredores, repetindo “Sool Bibimbap, Sool Bibimbap, Sool Bibimbap” mentalmente, perguntando-
me se a comida lá era gostosa e se eu poderia ver Jimin amanhã de manhã.

Ahhhh! Me sinto tão animado.

— Jeongguk! Quase que eu subo no ônibus e te deixo para trás! — Jin disse, já nas escadinhas.

Cheguei perto dele e subi, ainda ofegante.

— Desculpa! — Ri contido, indo na frente para me sentar na janela. Respirei fundo, porque queria chegar em casa
logo e ligar para o restaurante.

— Pelo menos eu comprei o lanche — ele disse, já se sentando e abrindo a mochila, tirando um pacote de biscoito de
lá e mais um refrigerante.

— Oba. — Eu sorri e começamos a comer, brigando pelo menos umas duas vezes pela comida durante o trajeto.

Já em meu ponto, fui rápido em me despedir de Seokjin com nosso toque especial e correr ônibus afora.

Andei por mais uma quadra e cheguei em meu gramado, avistando Lippy dormindo com uma preguiça palpável e
Hyuna na varanda dela, ficando de pé para acenar para mim.

— Jeongguk! Chegou uma edição nova! — avisou, ainda balançando as mãos, com uma revista de rock internacional
em uma delas.
Tentação. Tentação.

— Daqui a pouco eu vou aí pegar! — eu gritei, acenando de volta. Ela fez um sinal de positivo com o polegar e voltou
a se sentar no balanço, abrindo a revista.

Subi as escadinhas e abri a porta com calma, chamando Lippy para entrar também. Vi meu pai na bancada da
cozinha, fazendo alguma coisa.

— Teve um bom dia? — ele perguntou, concentrado em sabe-se lá o que estava fazendo.

— Sim, um dia muito bom — eu disse, correndo para as escadas. — Estou em casa! — gritei para que minha mãe
escutasse, embora eu não saiba onde ela está.

Fui direto para meu quarto, que é uma bagunça sem fim. Pulei as pilhas de roupas no chão e usei o telefone do meu
quarto, discando o telefone do restaurante rapidamente, já ensaiando minhas falas mentalmente.

Estava tão afobado que, quando uma moça atendeu, eu travei completamente.

— Olá, aqui é do Sool Bibimbap. O que deseja? — ela perguntou do outro lado da linha, bem calma.

Engoli em seco, sentindo o rosto arder de vergonha.

— A-alô. Eu poderia falar com a funcionária de vocês, a...Lonor? — indaguei, enrolando o dedo no fio do telefone.

— Você quis dizer Leonor? — perguntou e franzi o cenho.

— Sim. Não foi o que eu disse? — perguntei.

— Não, o senhor disse Lonor— disse a moça, me fazendo conter um grito de frustração. Que vergonha, por Deus. —
Mas sinto em lhe informar que a Leonor já saiu, senhor.

— Como assim? — Franzi o cenho.

— O turno dela acabou, por hoje.

— E que horas começa o turno dela amanhã?

— Hum… normalmente ela não trabalha nas sextas, mas… — Ela parou por um momento. Pude ouvir um
murmurinho de fundo e logo a atendente voltou a falar. — Mas… aparentemente, amanhã ela vem. O turno dela começa às
oito e meia, senhor.

— Da manhã?

— Sim

— Ah… — Suspirei. Droga, oito horas já é quase horário de aula… — Tudo bem. Obrigado.

— Se o senhor quiser, eu posso te passar o contato da casa dela— sugeriu a moça. — É urgente?

— É sim! Eu sou amigo do filho dela. É muito urgente — eu disse, meio afobado. — Seria ótimo, obrigado.

— Claro. Só um minuto.

Esperei a moça dizer-me o número de telefone e o anotei em minha perna, com a caneta que estava sobre o criado
mudo. Agradeci à ela e seguidamente desliguei.

— Jeongguk, eu preciso usar o telefone! — Ouvi minha mãe gritar, lá de baixo.

Parei de discar o número da casa de Jimin e respirei fundo, pondo o telefone no gancho novamente.

— Pronto!

— E não use o telefone até arrumar seu quarto!

— Mas, mãe…! — gritei de volta, olhando a bagunça.

Se for pra arrumar tudo isso antes, eu vou acabar não ligando para Jimin nunca.

— Você me ouviu! — E, mais uma vez, ela gritou.

Eu suspirei bravo e me levantei com tudo. Comecei a enfiar quase todas as coisas desnecessárias — que eu não faço
ideia do porquê tenho — embaixo da cama e troquei os discos de lugar. Demorou uma eternidade para organizar tudo de
novo, além de colocar toda a roupa da semana pra lavar. E ainda tive que aspirar a droga do carpete. Que saco!

Quando me sentei na cama arrumada, ofegando de cansaço e pronto para ligar para Jimin, minha mãe entrou no
quarto, de novo.

Ela o analisou. E então, olhou para mim.


— Jeon Jungkook, você ainda não tomou banho? — Me fitou com fúria. — E você está sentado na cama sujo depois
de um dia longo de escola?

Engoli em seco, me levantando.

— Err, eu, hã… — Suspirei. — Eu já estava indo… tomar banho... — murmurei, pegando a toalha em cima da cadeira.

— Eu acho bom — disse. — Depois desça para jantar, sim? — Suavizou a expressão facial.

— Claro, mãe…

Ela sorriu e logo saiu do quarto. Respirei fundo e fui para o banheiro.

Até às nove da noite, eu não tive descanso. Quando saí do quarto, meu pai me mandou colocar um pijama. Então, tive
que jantar antes de usar o telefone. Então, minha irmã nos ligou e tive que esperar ela e minha mãe acabarem a conversa
para conseguir ligar para Jimin. Mas, aí, minha mãe pediu-me para secar e guardar a louça. Então eu fiz e, depois, ela pediu
para eu colocar água e ração para Lippy. E depois disso tudo, me mandou trancar todas as portas e janelas.

E quando finalmente me sentei na cama, já discando o telefone do Park, ela entrou no meu quarto e disparou:

— Para quem você vai ligar? São quase dez horas da noite!

Eu quis explodir ali mesmo.

— Mas… — Soltei um muxoxo, já desistindo. — Puxa, mãe, a senhora não me deixou ligar em nenhum momento
desde que cheguei da escola!

— Ora, a culpa não é minha se você deixa bagunça acumulada para arrumar em um só dia — diz, vendo-me
chateado. — Mas deixe para ligar amanhã de manhã, ouviu? — Ela me olhou.

— Tá. — Desliguei o telefone, emburrado. — Boa noite. — Me deitei, cobrindo o corpo até a cabeça.

Eu planejava ficar de mal com ela por semanas. Mas não consegui. Afinal, ela veio me dar um beijinho e perguntou se
eu iria tomar sorvete.

Às vezes é impossível resistir.

Depois de descer para a sobremesa, eu escovei os dentes, desejei boa noite à ambos e trouxe Lippy para dormir
comigo em meu quarto. Desliguei todas as luzes e suspirei baixinho, esfregando os pés gelados no pelo macio do pequeno,
que recebia isso como o carinho mais gostoso de todos. E, de certa forma, era mesmo.

Ofeguei, fiz um exercício de respiração e fechei os olhos. Peguei no sono rapidamente... provavelmente porque queria
muito falar com Jimin no dia seguinte.

***

— B-bom dia…

Meu plano foi por água abaixo.

Quer dizer, são sete horas da manhã. Eu deveria estar tomando banho para ir para a escola. Mas a primeira coisa que
fiz ao abrir os olhos fora pegar o telefone e ligar para a casa de Jimin, com a voz rouca e tudo.

Ainda bem que ele não pode me ver agora, porque estou uma bagunça de tão descabelado.

— Bom dia. Quem fala? — perguntou a mulher do outro lado.

Estranhamente, não era uma voz jovem. Arrisco dizer que parecia uma idosa. Quando vi a mãe de Jimin, ela não me
parecia idosa. Será que é a vó dele?

Pigarreei e respirei fundo.

— Hã… é o Jungkook, um amigo da escola do Jimin. Ele está aí? Eu queria muito falar com ele — pedi. — Juro que
não vai demorar.

— Claro, querido. Só me dê um minuto — pediu ela.

— Com certeza! Muito obrigado — eu disse, e então, ela sumiu.

Passei o tempo fazendo Lippy morder o dedo do meu pé, brincando. Pude ouvir o despertador no quarto dos meus
pais e me levantei para trancar a porta. Se eles verem que ainda não saí da cama, vou ganhar um cascudo.

Quando voltei, já podia ouvir a voz de Jimin no fundo da ligação. Ele estava falando com a moça que atendeu-me.

Me senti iluminado em um segundo. Puxa, realmente senti saudades.

— Alô? — O ouvi falar, com a voz bem rouca.


Ai meu Deus.

— Oi, Jimin — eu disse, um pouco envergonhado.

— Jungkookie?! — perguntou, então, um pouco mais animado. — Ei! Oi!

— Oi! — Ri um pouco, ainda meio desafinado. — Desculpa por ligar cedo assim. Espero não ter te acordado...

— Nah, relaxa. Eu já estava acordado, só não saí da cama. Mas você me fez ir até a casa da vizinha só de pijama—
disse, rindo baixinho com a outra voz no fundo.

— Como assim? — Ri também, sem entender.

— É que não temos telefone em casa, então minha mãe pediu para a senhora Bong disponibilizar o dela para ligações
urgentes. É a segunda vez que recebemos uma. — Ele riu. — Mas… eu estava com saudades.

— Eu também! — retruquei, afobado. Engoli em seco e, antes que ficasse constrangido demais, continuei. — Por que
parou de ir para a escola?

— Ah, isso… eu fui suspenso por duas semanas. — disse, me fazendo arregalar os olhos.

— Como assim? Que meleca. Por quê? — saí perguntando, vendo Lippy levantar as orelhinhas, atento a palavra
“meleca”.

— Ah, uma coisa estranha. Escolas têm uma política meio sem sentido, não é? Mas tudo bem.— Ele riu, mas era
claro que estava chateado. — Você deve ter percebido que aquele garoto também foi suspenso.

— Que garoto?

— O que apertou minha bochecha no refeitório. O diretor suspendeu nós dois— sussurrou. — Ele tem ido para a
escola?

Parei e pensei por um mísero segundo. O Kim faltou a semana inteira e eu não percebi isso.

O que Jimin está fazendo comigo?

— Ah… ele não está indo, também. É verdade — murmurei, levemente constrangido. — Puxa, que saco.

— É… a minha mãe trabalha o dia inteiro, então é muito chato ficar aqui. Eu já li todos os livros que tenho.— Soltou
um longo suspiro cansado. — Eu poderia morrer de tédio se não fosse por suas fitas— disse, respirando fundo. Os nervos,
agora na ponta das minhas orelhas. — Queria poder ver você — disse. Depois pigarreou. — O Yoongi também.

Fiz um biquinho.

— Também… — eu disse. — Bom… eu posso te visitar, se você quiser.

— Sério?! Eu adoraria!

— Sério?

— Sério! Muito! — disse. — Você pode vir hoje?

— Hoje?

— É!

Dei um quase pulo na cama, verdadeiramente extasiado.

— Posso! — afirmei, sem nem mesmo pensar.

Porque mesmo se eu não puder, eu ainda quero.

— Legal!

— Tá, então acho que vou matar aula — eu disse e ri, percebendo que era loucura.

— Espera, sério? Ah não, espera, eu não quero te prejudicar — falou, mas dava para ver que ele estava se forçando a
dizer aquilo.

Sorri, dando de ombros.

— Não vai não — murmurei, já olhando para os discos que poderia levar para mostrar para ele. — Que horas eu
posso…

— Agora! — exclamou, animado. — Q-quer dizer, daqui a uma hora.

— Pode ser nove horas?

— Sim!
— Tá bom! Me fala onde fica.

— Tá, hum… sabe aquela cerejeira enorme que o ônibus esbarra sempre que vira na rua do meu ponto? Então, é
naquela rua. Segue duas quadras que você vai entrar na minha vizinhança. Eu vou te esperar na varanda, então você
provavelmente vai me ver…

— Tá bem! Eu conheço bem esse lugar.

— Ah, que bom. — Ele riu. — Tá bom! Te vejo daqui a pouco?

— Sim! Daqui a pouco — eu disse, ouvindo as batidas na porta do meu quarto. — Tenho que desligar agora. Tchau.

— Tchau! — disse ele, ainda risonho como eu.

E então, desligamos.

Coloquei o telefone no gancho e corri para abrir a porta, dando de cara com meu pai.

Engoli em seco e com o sorriso mais falso existente, eu disse:

— Bom dia!

— Bom dia — disse. — Faz o café hoje?

— Faço!

Ele riu de novo, claramente estranhando tamanha animação.

— Hã… Ok. — E então saiu do quarto.

Fechei a porta. Ri de nervoso e olhei para meu cachorro, que me julgava com o olhar.

— Se conhecesse ele, você entenderia — eu disse, apontando para Lippy. — Ele é literalmente como as panquecas
de mirtilo que eu te dou no café da manhã sem que o pai veja.

O cachorro levantou as orelhas, atento a palavra "panqueca".

Já eu me apressei para planejar tudo. Separei a roupa que iria usar e arrumei a cama. Depois peguei alguns discos e
escondi debaixo do edredom, porque levaria tudo e mais um pouco comigo.

Ok. O plano estava feito.

Meus pais saem ambos para trabalhar às oito e, normalmente, eu saio dez minutos depois para ir pro ponto. Eu vou,
facilmente, me arrumar como todos os dias normais, comer, me despedir deles e, então, pegar minha bicicleta às oito e meia
para ir até a casa de Jimin.

Perfeito.

— Tenha um bom dia, querido. — Minha mãe me deu um beijinho na cabeça, enquanto eu lia um gibi pequeno.

Banho tomado, confere.

Café feito e tomado, confere.

Cabelo penteado, confere.

Sem desconfianças da mãe, confere.

— Até mais tarde. — Meu pai disse, logo depois, bagunçando meu cabelo.

Cabelo penteado, não-confere.

Sem desconfianças do pai, confere.

— Tenham um bom dia — eu disse, totalmente neutro.

Os mesmos saíram logo depois e eu sorri, travesso.

Me levantei. Guardei as coisas. Coloquei comida para Lippy e dei um beijinho em sua cabeça.

Saí de casa agitado porque, finalmente, poderia ver Park Jimin.

Notas finais
reclamações surtos e amores por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

POR FAVOR GENTE ME MANDEM AUDIOS NO WHATSAPP AO INVÉS DE COMENTÁRIOS AQUI NO SPIRIT! AAAAAA!
eu tenho muita dificuldade para responder comentários aqui, ficaria muito nhonhonho se vocês me mandassem audios ou
mensagens no whats pra eu responder falando com minha voz de bosta. eu amo mandar áudios <3 por favorzinho???
obrigada. se quiserem meu número, mandem mensagem que eu passo!!!

chat da fic 'ele é como rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

obrigada e até o próximo domingo!

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


e link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

<3

10. Ele é como uma Maçã do Amor

Notas do Autor
OIIII GENTEEEE

era pra eu ter atualizado ontem MAS eu fui para uma festa e quando cheguei tava tarde demais pra postar. então eu vim
atualizar hoje uhuuu <33333

gente e olha a capa desse capitulo é um desenho do @httpseokj do jungkook de laranja gigante EU TÔ MUITO SOFT! dê
muito amor ao desenho porque esse nene merece <33333 TT

e agora, sem mais delongas BOA LEITURA!

ps: não está betado.

JIMIN

— Por favor, Menino. Vamos! — peço mais uma vez, remexendo-o no chão. — Eu sei que você gosta de dormir na
porta, mas eu preciso dela hoje!

Coloquei a mão sob o peludo gordinho, o acolhendo em meu abraço e levando-o até a poltrona mais próxima. Isso até
ele se levantar e correr para a porta novamente, deitando-se lá preguiçosamente.

— Você não tem modos mesmo. — Dei risada, o desistindo e deixando-o ali.

Joguei as almofadas para todos os lados e tentei mudar as coisas de lugar. Mas minha casa é maravilhosa e não tem
como deixar melhor. Ah, e não é modéstia a parte. É só o orgulho que sinto da minha mãe por ter decorado o lugar tão bem.
Às vezes acho que ela pode ser decoradora e artesã profissional de tão bonito que tudo é.

Chequei a geladeira só para ver se teria algo gostoso para comer mais tarde. Depois, fui até meu quarto me trocar e o
ajeitar, descendo as escadas e indo diretamente para a varanda, tendo de desviar do gato dorminhoco cuidadosamente.

Já eram nove e dez quando, sentado na escadinha de minha varanda, vi Jungkook surgir da esquina, em sua bicicleta
vermelha, pedalando suavemente pela rua da vizinhança.

Pude sentir as maçãs do rosto queimando por pura animação. Me levantei de supetão, descendo as escadinhas com
pressa e correndo até a calçada. O vi sorrir quando me avistou e, acenando loucamente, Jungkook atravessou a rua com
sua bicicleta. Seu rosto também estava rubro e ele fez mais uma curva antes de se aproximar, subindo minha calçada ainda
sobre a bike e descendo do banco com a mesma em movimento.

Descolado.

— Oi!

— Oi!

Falamos ao mesmo tempo. Rimos igualmente.

— Ei… até que eu não demorei muito para chegar — Jungkook disse, segurando a bike pelos guidões.

— Verdade, verdade — eu disse, nervoso. — Meu gato estava dormindo na porta, então não fiquei aqui fora por muito
tempo... — falei, fazendo-o rir por um momento. — Vem cá. É melhor guardarmos sua bicicleta lá atrás.

— Tá bem.
Caminhamos juntos até os fundos, num completo silêncio. Minhas mãos estavam suando e meu rosto ardendo. E
logo, Jeongguk encostou sua bicicleta na cerca e olhou curioso para o pequeno “jardim” perto da janela da minha cozinha.

— Oh… — Ele se aproximou das flores.

— É, eu... estou tentando fazê-las crescerem antes do aniversário da minha mãe — falei, as olhando consigo.

— São flores? — ele perguntou. Me abaixei junto de si para vê-las melhor.

— Sim. Aqui. — Toquei sutilmente a pétala miúda de uma delas. — É uma orquídea.

— E essa uma margarida — ele completou, tocando a outra. Eu pediria para ele ser cuidadoso com as mesmas, mas
Jeongguk parecia ter mais carinho com as plantinhas do que eu.

— Sim, isso mesmo. Ah. E esse é o capim limão. — Apontei para o mesmo que mais igualava-se a mato e, por algum
motivo, nós rimos disso. — Demora para crescer, mas quando cresce, não para mais.

— O que se faz com capim limão? — ele perguntou, me fitando de soslaio.

— Chá! Fica muito gostoso — respondi. — Vamos entrar, eu faço uma caneca para você. — Me levantei, junto dele.

— Ok... — Sorriu, me seguindo casa a dentro.

JUNGKOOK

É tudo bonito demais.

A casa de Jimin é a mais frufru que eu já estive em toda a minha vida. As paredes são bem pintadas, as cercas retas e
branquinhas, e o jardim do vizinho tem flores que ultrapassam a madeira, dando um ar ainda mais mágico e amoroso ao
lugar.

E quando subimos a varanda e Jimin abriu a porta, meio acanhado, me deparei com um interior ainda mais fofinho. O
assisti carregar um bicho felpudo laranja — que acredito ser seu gato — para longe da porta e, seguidamente, fechá-la
quando eu entrei.

— Vem cá, me dá sua mochila — ele pediu e eu, sem negar, lhe dei ela. — Que pesada! O que você trouxe?

— Discos, e fitas. E… — Antes que eu terminasse, ele estalou os dedos no ar, dizendo:

— Lembrei, Jeonggukie! Esqueci de te dizer por telefone, mas, eu fiz umas observações sobre o que suas músicas
me fazem sentir. Fiz de todas! E de todas as fitas. — Jimin sorriu grande, deixando cuidadosamente minha mochila sobre a
poltrona.

O ardor invadiu minhas bochechas e não parou até chegar em minhas orelhas.Música e Jimin é uma coisa que
combina tanto.

— Ah, s-sim… — eu confirmei, meio embaraçado.

— Pode se sentar aí. Eu vou buscar e então faço o chá. — Sorriu ainda mais.

— Ok... — Sorri também, o vendo subir as escadas apressadamente.

Preciso dizer que a roupa que ele está usando é adorável. Quer dizer, é uma jardineira com um moletom cor de rosa
por baixo! Além das meias coloridas, cada peça diferente: uma rosa e outra laranja. Puxa! Eu prefiro mil vezes esse estilo às
roupas que ele usa na escola...

Caminhei calmamente até a mesa e senti algo entrelaçar-se entre minhas pernas. Olhei para baixo e me deparei com
o gato felpudo, envolvendo um dos meus tornozelos com o rabo.

— Ei. Chispa — eu murmurei, desviando dele para chegar até a cadeira mais próxima.

Me sentei. Bufei. O gato fincou as garras na minha calça, sem definitivamente me arranhar. Mas começou a puxar as
patinhas, e depois agarrá-las novamente, parecendo massagear-me de forma peculiar.

— Sai, bichano. — Balancei a perna, fazendo-o sair, miando engraçado.

Juntei as mãos sobre a mesa e franzi o cenho com o peso repentino em meu colo. Abaixei o olhar, me deparando,
agora, com o gato nas minhas pernas.

— Ei! — O balancei.

Ele não se importou, se esparramou ainda mais em minhas coxas e começou a ronronar.Fala sério, ele vai dormir!
Puxa, eu sequer gosto de gatos…

Suspirei e deixei minhas mãos sobre a mesa novamente. Até ele se remexer e eu ser obrigado a fitá-lo novamente. A
janela da sala refletiu uma luz natural sobre o pelo alheio e eu acabei por ficar intrigado com a coloração laranja do mesmo.
Me lembrou muito, muito os cabelos de Jimin…

E eu não sou um monstro ou uma pessoa do mal, então é óbvio que não gosto de gatos por um motivo plausível.
Nesse caso, a minha irmã teve um que me arranhava todo. Ele era arisco e feioso, além de soltar muito pelo. A minha sorte é
que ela o levou junto consigo quando se mudou para a capital, então nunca mais tive de ver o diabo em forma de gato.

— Você é um folgado... — sussurrei, mordendo o lábio. Não posso negar que o pelo dele é lindo.

Toquei com calma o pequeno, ainda receoso do mesmo fazer alguma coisa. Ele não me mordeu ou arranhou, então,
engoli em seco uma última vez antes de afagar o pescocinho alheio, acabando por sorrir quando ele virou a cabeça e se
espreguiçou, aparentando gostar muito daquilo.

Choque. É um gato bonzinho…

Deve ser metade cachorro.

— Desculpa, Kookie. Ele é muito atrevido...

Kookie…

Olhei para trás e vi Jimin se aproximar com um caderninho em mãos. Minhas bochechas ficaram cada vez mais
aquecidas. Talvez pelo apelido, talvez pelo gatinho, eu não sei…

— Não tem problema... ele é muito amoroso. — Continuei o acariciando enquanto Jimin sentava-se na cadeira ao meu
lado.

— Ele é sim. Nunca mordeu ou arranhou alguém — disse, aparentemente orgulhoso. — É o meu amorzinho…

Curvei meus lábios para o lado, um sorriso engraçado. Olhei para Jimin enquanto o mesmo já olhava para mim. Por
algum motivo, ser olhado por ele sempre me deixa com uma sensação esquisita.

— Ah, é! Eu tinha essa agenda para fazer anotações da escola. Mas acabou que não usei para nada. — Jimin abriu o
caderninho decorado com adesivos, colocando-o na minha frente. — Escrevi sobre todas as suas músicas.

— Puxa… — Sorri maravilhado, puxando o objeto para perto.

— Vou fazer o chá. Já volto! — avisou, correndo para a cozinha.

Tenho quase certeza de que ele está envergonhado. E isso é, honestamente, muito fofo.

Quando abri a caderneta, não pude deixar de notar como a letra de Jimin é bonita. Além dos desenhos fofos, carinhas
e corações, que me faziam borbulhar num pensamento inusitado de que ele seria ótimo escrevendo cartas de amor.

Puxa.

O tempo pareceu parar quando comecei a ler o que ele achava de cada música que tanto amo. Era tudo tão… tão
bem detalhado e bem escrito. Não pude deixar de pressupor que ele seria um ótimo escritor. Tudo era tão…

Tão eu.

Eu conseguia me identificar com cada observação que Jimin fazia. Cada sentimento. Os nervos descontrolados na
palma da minha mão, repentinamente, afloraram em minha barriga.

Eu poderia vomitar de nervoso a qualquer momento.

— Você gosta de mel?

Levantei o olhar, esfregando os dedos nos olhos ao notar que o rubor foi tanto que eu lacrimejei. Jimin tinha um
sorrisinho nos lábios, como se não me julgasse por tamanha emoção.

— A-acho que sim… — respondi, observando a caneca fumegante em minha frente. Jimin voltou a se sentar na minha
frente, com uma colher e pote de mel em mãos.

— Então eu vou adoçar. — Jimin sorriu, mergulhando a colher no mel e levando ao meu chá novamente. Quando o
vapor chegou ao rosto do mesmo, seu nariz ficou rubro, tanto quando suas bochechas.

A palpitação... na minha barriga.

Assim que ele empurrou a xícara para pertinho de mim, fechei o seu caderno e bebi um gole. Era gostoso, tinha gosto
de mel e… alguma coisa que eu não sei o que é.

Deve ser, huh, capim limão.

— Gostou?

— Gostei.

Sorrimos e começamos a tomar o chá em silêncio. O gato ficou de pé em meu colo e subiu em cima da mesa, fazendo
Jimin rir e eu também. Ele atravessou a mesma e começou a esfregar o focinho docemente na bochecha de Jimin, que lhe
fez um carinho.

Acho que esse é o lugar mais acolhedor e adorável o qual já estive...

— Como ele se chama? — perguntei, tendo em mente que o bichano era macho.

— Menino — respondeu.

— Menino?! — Ri, desacreditado.

— É! — Ele riu também, dando mais um gole no chá ao que o gato descia, pulando para seu colo.

— É o nome mais original que existe.

Jimin mostrou um sorriso gigante. E eu também.

E de pensar que era para eu estar fazendo anotações de história agora…

— Me desculpe, mas eu te interrompi naquela hora. Você trouxe discos, huh? É por isso que sua mochila está toda
quadrada!

— Ah, sim! É verdade, eles são bem grandes… — respondi após dar mais uma golada. O chá é realmente delicioso.
— Espera, eu vou te mostrar. Fica aqui.

Corri até a mochila, a pegando e abrindo. Busquei os três vinis cuidadosamente guardados, voltando à mesa.

— O quê… — Ele se levantou, empolgado ao ver os belos álbuns que eu tinha em mãos. — São…?

— São todos os álbuns do Pink Floyd que eu tenho. Esse é do meu pai, mas acho que ele não vai perceber que eu
peguei. — Apontei para o The Wall ao que Jimin olhava as artes com um brilho sem igual no olhar.

— Como cada um se chama? — Ele apontou para eles, sorridente.

— Esse é o The Wall. — Mostrei. — Esse é o Dark Side of the Moon. É o que tem a sua música.

— Minha música?

— Us and Them.

Jimin mordeu o lábio inferior avantajado. E pensando bem, eu nunca notei o quão rechonchudo são os lábios dele.

— Essa música é sua na verdade, Jeonggukie... — ele disse, e depois riu.

Não entendi nada. Mas sorri.

— E… esse é o Wish You Were Here. — Lambi os lábios, sentindo o gosto do mel. — É o meu favorito. — Segurei o
último, vendo-o olhá-lo com curiosidade.

— Minha mãe tem um toca disco no quarto dela — disse, bebendo o resto do chá em uma golada. Fiz o mesmo. —
Vem. — Segurou minha mão, abraçando um dos discos enquanto eu pegava aos outros dois.

A mão macia e quentinha...

— Certo.

Nós subimos as escadas com pressa. Quer dizer, ele foi na minha frente, cheio de empolgação enquanto eu só podia
olhar para o rasgo emendado no bolso de baixo da jardineira dele. A costura era uma estrelinha amarela.

Por Deus, isso é tão… tão… Puxa.

Com meu rosto queimando de constrangimento, nós chegamos no segundo andar. Jimin abriu uma das portas e,
então, estávamos no quarto de sua mãe. Era pequeno e muito bem arrumado, contudo, não ficamos no mesmo por muito
tempo, já que Jimin pegou o toca discos e, com muito cuidado, o trouxe para o corredor.

— Aquela é a porta do meu quarto. Abre para mim, por favor — pediu, e logo eu o fiz, dando espaço para ele entrar
primeiro. — Ggukie. — Ai meu Deus, agora ele está me chamando de Ggukie também. — Que horas você precisa voltar para
casa?

— Perto das seis e meia… da tarde — respondi, percebendo que, nossa!

Era o dia inteiro com Jimin. Literalmente.

— A minha mãe chega às oito. Então, você pode ficar aqui até a hora que quiser — murmurou, ajeitando o aparelho
em cima de sua cômoda. Ainda não entrei em seu quarto. — Ela normalmente não trabalha nas sextas-feiras. Mas teve que
faltar na segunda, já que a escola ligou e a chamou para conversar. Eu precisei ficar em casa por causa disso, mas tudo
bem.

— Tudo bem? — indaguei, confuso. Até porque não estava nada bem nisso estar acontecendo consigo.
Ele sorriu e afirmou com a cabeça, olhando para mim.

— Sim. Porque agora você está aqui comigo. — Voltou a mexer na vitrola. — Então, tudo bem.

Eu estou completamente sem palavras para qualquer coisa.

Fiquei em um transe divertido depois disso. Quer dizer, meu corpo parece leve, então é divertido. Apenas sei que ele
me puxou para dentro do quarto e encostou a porta, mexendo nos álbuns de forma atenciosa. Costumo odiar quando tocam
nos meus vinis, mas Jimin parecia saber exatamente como eles eram especiais para mim. Por isso era tão cuidadoso.

Puxa. Puxa. Puxa.

— Pode me dizer? — Jimin perguntou, tirando-me do meu devaneio esquisito.

Pisquei um par de vezes, completamente confuso.

— Te dizer o quê?

— O que significa. Quer dizer, o nome desses discos… — disse, olhando para os mesmos sobre a cama. — A
tradução…

— Ah! Sim, sim. — Me aproximei, os segurando. — Esse se chama “O Muro”. E esse “O lado negro da lua”, ou o lado
escuro, eu não sei ao certo qual a tradução… — murmurei, pegando o outro.

Jimin se sentou na cama e eu também. Afaguei o álbum em minhas mãos e olhei nos olhos de Jimin, podendo ver
nitidamente as sardas clarinhas em suas bochechas por causa dos raios de sol atravessando a janela.

— Queria que você estivesse aqui.

Ele piscou um par de vezes e franziu o cenho, com o nariz ruborizado.

— O… o quê? — Riu, nervoso.

— O nome… o nome desse é “Queria que estivesse aqui” — eu disse.

— Que eu…?

— Eu queria que você estivesse aqui.

— Queria…? — Seus olhos estavam chamativos naquele momento.

— Queria que você estivesse aqui.

Ele sorriu de maneira extravagante. E então, andou até a vitrola, com exatamente este disco em mãos.

— Com certeza quero esse. — Colocou-o no toca disco e, imediatamente, o som da primeira faixa de WYAH
começou.

Sorri pequeno enquanto Jimin fechava as cortinas, impedindo o sol de iluminar sua cama — e nós — vindo para esta
logo depois, sentando-se ao meu lado.

— Jimin, seria legal você saber que Pink Floyd tem uma maneira peculiar de fazer discos e músicas — eu falei,
enquanto a melodia que não era lá música começou a tocar. — É meio… hum… psicodélico.

— Psicodélico?

Comecei a mexer as mãos no ar, sem saber o que dizer. Como eu poderia falar para ele que o público do Pink Floyd
eram…? Sabe....?

Quer dizer, só estou repetindo o que está na revista!

— Espera aqui. — Me levantei, saindo do quarto para ir até o andar de baixo novamente, em busca da minha mochila.

Me apressei. Peguei a mochila. Subi. E quase tropecei no gato, mas fui esperto e desviei.

Quando voltei, os instrumentos já estavam presentes na música e preenchiam o cômodo maravilhosamente. Jimin
estava diferente, as pernas esticadas, somente os pés para fora da cama e as mãos apoiadas no colchão, um pouco atrás do
quadril, lhe dando um ar realmente despojado para o momento. Além dos olhos fechados e franja longe da testa.

Humm…

Encostei a porta do quarto novamente e caminhei lentamente até a cama dele. Aproveitei que estava estabilizado
emocionalmente para olhar em volta.

As paredes eram pintadas de um rosa salmão suave, as estantes de madeira muito bem arrumadas, cheias de livros.
O piso também era completamente diferente do meu, todo amadeirado e bonito.

Era o tipo de casa que você poderia facilmente encontrar ao ir em uma floresta encantada. Com certeza era esse tipo
de moradia.

Havia uma escrivaninha com mais livros e, organizadas em um canto, estavam as minhas fitas. Um criado mudo
decorava o lado da cama de solteiro, com um abajur simples sobre ele. Além da porta para o banheiro. Uma suíte, então.

Voltei a olhar para a cama e Jimin sobre ela. A mesma era macia e quentinha — talvez porque pegou sol e o cobertor
decorativo fosse fofinho. Não sei.

Sentei-me bem ao lado dos pés cobertos e pequenos de Jimin, reprimindo uma vontade de beliscar um dos dedos
dele.

Às vezes eu tenho vontades esquisitas, admito.

— As músicas começam maravilhosamente. — O ouvi dizer, como se não precisasse abrir seus olhos para saber que
eu estava exatamente ali. — E elas… nunca terminam.

Demonstrei um sorriso, afirmando com a cabeça.

— As músicas não têm um fim porque elas seguem a faixa posterior. Quer dizer, no álbum — eu disse, vendo-o se
aproximar de mim, ficando na ponta da cama também. — O álbum é como uma música de uma hora inteira. Mas dividem os
minutos em títulos. Olha só. — Peguei o outro vinil. — Us and Them é basicamente uma parte dos quarenta minutos do
disco. Por isso a música parece ser cortada quando na fita, porque não tem a continuação da próxima, entende? — Jimin
afirmou com a cabeça, atencioso. — É por isso que muita gente diz que Pink Floyd não é artista para fita. Mas eu coloco
mesmo assim. É um vácuo, mas vale a pena.

Jimin tocou o álbum também, praticamente cobrindo minha mão com a sua.

— Isso é incrível. — Pude ouvi-lo, bem perto. — Eu poderia te ouvir falar sobre música o dia inteiro.

Ai, ai, ai. Minha cara.

— Eu, eu, eu… poderia falar sobre música o dia inteiro, também — respondi, nervosamente. — Mas, ei! Aqui. — Abri a
mochila, puxando cuidadosamente uma das minhas revistas. — Olha. — Folheei as páginas, parando na que falava sobre o
Pink Floyd.

Se eu estava fugindo da sensação esquisitona mostrando a revista?

Com certeza.

— Olha só! Que bacana. — Ele a olhou. — Eu quero ler. Vou ler para nós dois em voz alta. Pode ser? — Assenti com
a cabeça, entregando-a inteiramente para ele. — Certo… “Pink Floyd com certeza é umas das maiores bandas da indústria
fonográfica. Eles levam a música a um novo patamar de representação artística.” — Jimin sorriu, virando o rosto para mim. —
Fonográfica.

— O que tem?

Riu rouco, olhando novamente para a revista.

— Eu amo essa palavra — disse. Também ri, o achando adorável. — Então… “Tudo aconteceu em 1965. Roger
Waters, Richard Wright e Nick Mason resolveram iniciar uma banda.”

Preciso dizer que minha barriga contraiu umas seis vezes só por ouvir-lhe dizer todos aqueles nomes estrangeiros.
Senti vontade de sorrir e ficava vermelho, porque nunca vi uma pronúncia tão bonita ao mesmo tempo que tão, tão errada.

Eu realmente não faço ideia do que está acontecendo comigo.

— “Syd Barret se juntou ao grupo e deu o nome de The Pink Floyd Sound em homenagem os ídolos do blues, Pink
Anderson e Floyd Council.” — Virou a página, concentrado. — “Conforme se apresentavam, eles iam ganhando muitos fãs,
chegando a fazer até três shows por dia em Londres, até chegar ao ponto de se tornar a maior banda londrina do cenário
underground”… Uau! — Sorriu.

Comecei a me sentir constrangido com a parte a qual Jimin estava chegando.

— Você realmente gosta deles, não é? — indaguei, lambendo os lábios. Ainda tenho gosto de mel.

— Sim! Olha! Vai falar dos… — Deixou de sorrir. Seu rosto ficou vermelho. — Dos… fãs… — E então, seus olhos
pequenos arregalaram-se. — “O público da banda era diferenciado. Atingiram a galera que estava cansada de ouvir Beatles e
músicas curtas. Gostavam de músicas mais longas que combinassem com o efeito do... LSD” — Jimin me olhou. — Então, é
música para…?

— Aham.

— Deus. — Voltou a olhar para revista. — “Podemos dizer que o som do Pink Floyd é feito para se ouvir chapado de
ácido.” — Jimin olhou para mim de novo. — Nossa!

— É.

— Caramba!
— Eu sei.

— É realmente psicodélico! — Riu, olhando as fotos. — E um pouco bobo.

Por essa eu não esperava.

— Bobo...? Por quê? — perguntei, confuso.

Ele deu de ombros, fechando a revista.

— Quer dizer, escutar música sob o efeito de drogas… isso não tira toda a graça? Eu gostaria de estar bem lúcido se
fosse escutar algo tão bom assim — disse Jimin. — Você não concorda?

Balancei a cabeça em afirmativa, as bochechas fervendo.

— Com certeza.

Park Jimin é definitivamente tudo. Menos comum.

— Legal. — Sorri. — Mas... Jeonggukie, como você conhece tantas bandas e músicas? — Jimin perguntou, alisando o
tecido de seu jeans. — Quer dizer, é que vi tantas diferentes nas suas fitas. Fiquei curioso... você gosta desde muito novo?

— Ah, sim! É. Eu ganhei o meu primeiro disco com seis anos, e depois que aprendi a gravar fitas, nunca mais parei.
Meu pai sempre gostou muito, então, meio que puxei isso dele.

— De que artista foi o seu primeiro disco?

— David Bowie — respondi, brevemente constrangido por alguém querer saber tanta coisa sobre mim.

Jimin estalou os dedos no ar, sorrindo.

— Tinha uma fita só com músicas desse artista. Eu gostei muito. — Ele parecia feliz em dizer isso. — Tem uma que
me deixou maravilhado. Soul Love.

Por que sentimos tanta satisfação quando alguém ama tanto uma música quanto nós?

Puxa.

— Amor da Alma. É o que o nome significa… — eu disse.

Jimin assobiou baixinho e suspirou.

— Por que as melhores músicas são sobre o amor? — perguntou, mais para o universo do que para mim.

Dei de ombros, pois realmente não fazia ideia.

— Eu não sei. Deve ser bom sentir amor — pressupus.

Jimin me olhou, com as pálpebras levemente pressionadas.

— Você não sente amor? — perguntou.

— Hum… eu acho que não. Quer dizer, não sei.

— Não pode ser. É claro que sente amor. — Jimin sorriu. — Amor não precisa ser necessariamente romântico,
Ggukie.

— Hum…

— Espera! É óbvio que você sente amor. Porque você é carinhoso e gentil. —Minhas orelhas devem estar rosas. —
Não tem como uma pessoa amorosa não ter sentido amor. — terminou.

Sou amoroso?

Eu...

Puxa, Jimin me faz sentir tão…

Ah.

— E... o que é amor? — Continuei o olhando, ansiando ouvi-lo dizer cada vez mais.

Ele pôs o indicador sobre a boca, pensativo. E então… sorriu.

— Acho que amor é tudo que nos faz sentir que é satisfatório estar vivo.

Mordi o lábio superior, tentando reprimir o enorme sorriso.

— Então, acho que posso dizer que sinto amor — eu disse, com o coração palpitando de maneira diferente.
Sinto amor neste exato momento.

Jimin apenas sorriu, colocando as mãos sobre a barriga e deitando as costas na cama.

— Eu também.

Meio tímido, me aconcheguei em seu colchão também. A introdução do álbum tinha treze minutos de duração, então
ficaríamos bastante tempo ali até o disco terminar. Jimin voltou a fechar seus olhos em algum momento e eu me aproveitei
disso para encará-lo sem pudor.

— Jeongguk…?

Ele chamou, mas não abriu os olhos, tampouco moveu-se.

— Sim? — murmurei.

— Como o seu pai é? Quer dizer... você disse que puxou o amor por música dele. Como? — perguntou, lentamente.

— Ah… ele já foi gerente de uma loja de discos. A do centro, inclusive, só existe por causa dele — contei, dando de
ombros. — Foi ele que trouxe a música internacional para esse canto do país, por assim dizer.

— Ele deve ser demais...

— É… ele é. — Sorri. — Mas faz anos que ele deixou isso de lado. Não era o que ele queria fazer de verdade, sabe?
— Jimin assentiu. — Agora a loja de discos é de um outro cara que contrata idosas que acham que é preciso idade para
amar música. — Bufei. — Mas… eu ficava muito tempo naquela loja quando era mais novo. Não é surpresa eu ter gostado
tanto.

— É. — Quando o olhei, notei que este já não estava de olhos fechados, e sim, atento à mim. — Isso é muito legal.

— É… eu acho. A minha mãe não é lá muito fã dessa minha paixão. — Ri. — Uma vez ela me disse que solidão é
pretensão de quem fica escondido fazendo fita.

— De verdade?

— Sim! E bem, até que faz sentido. Eu passo mais tempo sozinho gravando fita do que com colegas… Eu sei lá. —
Dei de ombros. — Nunca gostei de estar com as pessoas. Talvez seja solidão mesmo.

Jimin fez um bico pensativo, ainda com os olhos sobre mim.

— Mas solidão é um tédio — disse, mirando o teto. — E é ruim. Se você se sentia confortável ficando sozinho, acho
que não pode ser considerado solidão...

— É, eu me sentia bem.

— Então! Não é solidão. — Sorriu, voltando a me olhar. — Mas, ei! Aposto que você gosta de companhia também.

— Talvez. — Dei um sorrisinho.

Já Jimin riu e respirou fundo, encarando o teto seguidamente.

— Bem… eu espero que você goste da minha.

E então, ele fechou seus olhos mais uma vez.

— Eu gosto muito da sua companhia.

— Também amo a sua companhia.

— E eu amo a sua — repeti, sem me segurar.

Os lábios alheios se curvaram de forma bela, as sardas sob as pele avermelhada. Suspirei.

Eu nunca notei, mas Jimin é… ele é… hum? Como dizer? Ele é…

Acho que ele é lindo.

— Alguém já reprimiu você? — perguntou repentinamente.

Franzi o cenho, duvidoso.

— Como assim?

— Ah, sei lá. Sabe… quando não querem que você seja do jeito que você é e tal.

— Ah. Sei. Já sim. — Suspirei. — A minha irmã sempre me reprimiu muito.

— Jura? — Abriu os olhos, visivelmente surpreso.


— Juro. Ainda bem que ela foi embora por causa da faculdade — murmurei. — Ela me detestava...

— Poxa… eu sinto muito. — Ele soltou um muxoxo, olhando em meus olhos.

— Também sinto. Mas não tem problema. — Sorri fraco. — E você?

— Eu?

— É. Já te reprimiram também?

Jimin retornou o olhar para o teto do quarto e ofegou um pouquinho.

— Me reprimem na escola — sussurrou. — E em casa.

— Sua mãe…?

— Não, não! A minha mãe nunca me fez mal. —Eu suspirei, aliviado. — Mas… o irmão do meu pai, na época em que
eu morava com a minha avó, me reprimia muito. — Ele voltou a olhar para mim, contando tudo calmamente.

— Puxa, mas… por quê? Se você quiser contar… — falei.

Jimin deu de ombros.

— Tudo bem. É que ele sempre quis ter minha guarda… porque era apegado ao meu pai, sabe? E não gostava de
como eu estava sendo criado na casa da minha avó — falou ele, mantendo o contato visual. — Queria que eu morasse na
capital com ele, e tal. E que eu praticasse esportes… mas eu não gosto de esportes.

— Entendo…

— E eu sempre fui apaixonado por leitura... ele não gostava nem um pouco disso. Nunca vou me esquecer do dia em
que ele disse para a vovó que ela estava me criando como se eu fosse... uma menina. Foi terrivelmente marcante. — Seu
semblante tornou-se triste.

Percebendo que o assunto entre nós estava ficando, pela primeira vez, ligeiramente íntimo, me deitei em sua cama
também. Com os pés, tirei meus tênis surrados, deixando-os cair no chão do quarto.

Lado a lado, nós olhamos para o teto do seu quarto e respiramos fundo.

— O que ele quis dizer com isso? — indaguei, percebendo a movimentação de suas mãos.Ele tirou o óculos.

— Ah… — Suspirou. — Eu também não entendi na época. Mas fui atrás de respostas. E basicamente, ele foi um
bobalhão. Disse aquilo porque ela não era severa comigo. E me permitia ser amoroso e gostar das coisas que eu gostava.
Ela não reprimia...

Então, é por isso que você é assim...

Tão incrivelmente singular...

— Entendo… — sussurrei, calmo. — E ele largou do seu pé?

— Largou, sim. Ainda bem. — Sorriu. — Foi para a capital e não voltou nunca mais.

— A minha irmã também. — Sorri diabolicamente, e então, nós começamos a dar risada.

O silêncio se tornou confortável após a conversa pessoal. A música era intensa e o sentimento também.

Sentimos o colchão afundar brevemente e, então, Menino estava ali conosco. Ele miou manhosamente e deitou-se no
meio dos nossos corpos, preguiçoso.

Levantei minha mão para acariciar-lhe os pelos. Os acordes do violão de Wish You Were Here estavam prestes a
começar. Toquei o bichano, sem olhar, e senti a palma de Jimin cobrir calmamente a minha. Ele a afastou rapidamente e eu
também, provavelmente porque decidimos acarinhá-lo ao mesmo tempo e isso nos assustou.

Eu respirei fundo, virando meu rosto em sua direção para rir da reação engraçada. Mas acabou que fiquei todo
embaraçado. Pois Jimin virou o rosto também. E nós ficamos cara-a-cara.

É provável que meu estômago exploda a qualquer mísero momento.

Jimin, por outro lado, permanecia com um sorrisinho nos lábios e os olhos nos meus.Só os olhos. Não havia lentes. E
era a primeira vez que eu mirava diretamente os olhos castanhos que ficaram minimamente menores, e muito, muito
fofinhos.

A aproximação me assustava de uma maneira surreal. Mas não quis me afastar. Até porque, em um transe peculiar,
Jimin respirou fundo e fechou os olhos, atento a melodia da música.

Nunca estive tão perto de alguém a ponto de sua respiração tocar meu rosto.

E eu não me proibi de vê-lo com atenção. Eu vi tudo. Tudo. Sua pele que parecia tão macia. A testa com certas
pintinhas. A espinha discreta sob a franja, as poucas sardas decorando as bochechas, quase inexistentes de tão clarinhas. As
sobrancelhas bagunçadas, porém alinhadas, ruivas e simples… Era tudo tão natural.

“Do you think you can tell?”

Tão… tão ele.

Meus olhos desceram hesitantes para seu lábio superior. Algo dentro de mim avisava que sua boca era a parte mais
íntima de seu rosto e, tentado a negar, pensei em fitá-la. Mas antes que eu o fizesse, Jimin abriu seus olhos. E morrendo de
vergonha, subi meu olhar novamente, fazendo contato visual.

O mesmo me encarou, pensativo. O nariz ainda repleto de rubor.

Jimin suspirou baixo antes de falar.

— Você… — Engoliu em seco. — Você se importa se minha mão ficar tocando a sua? — perguntou, num sussurro
baixo e discreto.

Encabulado, voltei a embaraçar meus dedos no pelo do gato laranja. Logo a palma macia de Jimin descansava sobre
a minha. E o mais estranho era que, puxa… Nós ainda estávamos olhando nos olhos um do outro.

— N-não me importo… — eu respondi, dando um sorriso calmo, porém, nervoso.

Jimin olhou para baixo, mais especificamente para o gatinho. O lábio ergueu levemente, mostrando os dentes
desalinhados da frente em um pequeno sorriso.

E então, ele fechou os olhos novamente.

Minha mão ficou dura como pedra: não pude fazer carinho no gato. Os dedinhos de Jimin mergulhavam no pelo de
forma suave, fazendo um cafuné em Menino e, certamente, em minha mão também. Pegava na ponta das minhas unhas, às
vezes em minha mão toda. E era gostoso demais.

Embora eu não estivesse muito acostumado com qualquer demonstração de afeto, eu não estranhei o contato
suficientemente para desgostar dele. Quer dizer, foi estranho comparar Jimin a todos que eu conhecia para tentar, mesmo
que minimamente, entender o que estava acontecendo ali.

Pensei em Seokjin. Apesar de todos os anos como melhores amigos, Seokjin nunca tocou minha mão. Assim como
nós não nos deitamos na mesma cama e mantemos contato visual dessa maneira. E eu nunca tornei seus traços familiares
os observando. Era um tipo diferente de amigo.

E que tipo de amigo Jimin era, então?

Pensei em Hyuna. Ela é uma garota, mas nunca segurou minha mão. E eu nunca olhei por tanto tempo para o rosto
dela. Eu nunca quis. Era um tipo diferente de amiga, semelhante a Seokjin.

Mas por que nada era semelhante a Jimin?

A verdade é que eu estava tentando encontrar, nas minhas memórias mais distantes, o dia em que minha mão
recebeu esse tipo de atenção. E perceber que aquela era a primeira vez me deixou demasiadamente confuso. Tanto que me
senti agoniado.

As coisas deveriam ser desse jeito?

— Essa música é maravilhosa… — ele disse. Não sei se o mesmo ainda está de olhos fechados porque, em algum
momento durante toda a calmaria, eu fechei os meus também. Era tão relaxante que eu poderia adormecer. — Queria dizer
que ela é como alguma coisa… mas ela é inexplicavelmente única.

Sorri, contido.

— Eu sei...

Assim como você.

JIMIN

Quando abri meus olhos, já eram meio dia e meia.

De forma chocante, peguei no sono enquanto escutava o disco com Jungkook. E quando abri os olhos, ele estava
dormindo igualmente, abraçado a Menino que deve ter se enfiado sobre seu conforto sem que nós víssemos. Fofo.

O sol já não estava mais no céu como às dez da manhã — hora em que subimos para escutar música —, as nuvens o
cobriram e o tempo lá fora era acinzentado. Tenho quase certeza de que logo vai começar a chover.

Bocejei preguiçoso, espreguiçando os braços. Me sentei sobre a cama, fitando a vitrola reproduzindo outra vez.
Pobrezinha, deve ter tocado sem parar…
Olhei para Jungkook novamente. Mais especificamente, para o pé dele. Os tênis estavam jogados no chão e, sobre a
cama, os dedos dos pés encolhidos enquanto ele ressonava baixinho. De certa forma, é a primeira vez que um amigo dorme
na minha casa.

Olhei para o casaco dele mais uma vez e fiz um biquinho. Quer dizer, estava calor quando ele chegou, e mesmo
assim ele não o tirou. Eu me pergunto o porquê de ele nunca dar um brechinha para eu vê-lo mais intimamente…

Desci da cama e caminhei até o toca disco, desligando-o. Quando voltei para a mesma, Jeongguk já estava
despertando, meio desnorteado.

Ou eu pensei que estava. Pois ele só abriu os olhos, trocou de posição e apertou mais o gato, encolhendo as pernas,
voltando a dormir.

Imagino que ele deve estar cansado da sua rotina escolar. Afinal, temos aulas de oito horas várias vezes na semana…
é mesmo muito cansativo. E Jeongguk nunca não está na escola. E ele nunca não está acordado. Quer dizer, eu durmo
praticamente todos os dias dentro daquele lugar, é difícil segurar… mas ele não.

Fiz um biquinho ao perceber o quanto ele era dedicado. Depois suspirei, risonho, porque Jungkook ficava realmente
muito fofinho deitado daquele jeito na minha cama e com meu gato. Me sinto radiante por tê-lo aqui...

Ajeitei a meia em meu pé, coloquei o óculos e finalmente saí de fininho no quarto.

Desci as escadas coçando minha barriguinha saliente. Fui até minha geladeira e procurei algo para nós comermos,
quase choramingando ao notar que não tinha almoço e, infelizmente, eu não sabia cozinhar quase nada…

— Jiminnie…

Encostei a geladeira e vi Jeonggukie no final da escada. A cozinha e a sala são divididas apenas por um balcão,
então, era possível vê-lo.

Ele finalmente me chamou de Jiminnie.

— Ei, Kookie… está com fome? — perguntei, me aproximando do mesmo.

— Errm, me desculpa por ter dormido, você ficou aqui sozinho o tempo todo? Desculpa. Não queria ter vindo aqui e
dormido — desviou o assunto, coçando a nuca com o rosto completamente vermelho.

Eu acho que nunca vi Jeongguk ficar corado tantas vezes no mesmo dia como hoje. É como uma maçã do amor.

— Eu também dormi, Ggukie, acabei de acordar agora. Olha. — Tirei meu óculos novamente. — Meus olhos estão
inchadinhos.

Ele riu baixo enquanto se aproximava, tentando ver algo em meus olhos.

— Mas seus olhos já são inchados naturalmente — retrucou. Eu ri e coloquei o óculos novamente.

— Verdade. Mas eu dormi, sim! Acho que primeiro que você. — Voltei a abrir a geladeira. — Mas você não me
respondeu. Está com fome?

— Um pouco… — murmurou, espiando a geladeira também.

— Não sei o que podemos comer… tem coisa para fazer o almoço. Mas eu não sei cozinhar. — Soltei um muxoxo. —
Acho que teremos que almoçar um sanduíche.

— Hum… — Ponderou brevemente. — Se você tiver macarrão, eu posso fazer alguma coisa pra gente.

Me apoiei na porta da geladeira, o olhando surpreso.

— Macarrão?

— É. Tem ovo, molho, legumes… eu posso fazer o nosso almoço — disse.

— Você sabe cozinhar? — indaguei, surpreso.

— É… acho que sim. — Sorriu, tímido.

— Ótimo! — Também sorri. — Pegue tudo que você vai precisar. Deixe-me ver se tem macarrão, então…

Após Jeongguk colocar muitas das coisas da geladeira no balcão da pia, busquei o pacote de macarrão e fiz o que ele
me pediu para fazer. Ele arregaçou as mangas do casaco e começou a preparar tudo devidamente, com muito cuidado e
perfeição. Vê-lo cozinhando na minha casa me deixou balançado de uma maneira deliciosa e, embora seja meio diferente,
gostei muito da sensação.

Só eu e os céus sabem o quão solitário minha semana foi. Porque, apesar de eu ter sido acostumado com essa rotina
antes das aulas começarem, logo depois, eu já não a queria mais. Gostava de estar na escola por causa das poucas
pessoas que estavam nela. Como Jungkook, Yoongi, alguns dos professores… e mesmo que seja cansativo às vezes, gosto
verdadeiramente de não estar sozinho.
Soltei um pequeno suspiro ao desejar que Jungkook possa ficar comigo na próxima semana também.

***

Ele cozinha, surpreendente, melhor do que a minha própria mãe.

— Esse é o último — falou ele, me passando mais uma louça lavada, a qual eu sequei e guardei devidamente.

Nós ficamos na cozinha por um tempo. Falamos sobre seu cachorro Lippy e de como Jeongguk o teve. Contei a
história do nome de Menino e almoçamos quase toda a comida que preparamos. Sobrou um pouco da comida e eu a guardei
na geladeira, lá embaixo, para que Leonor não veja e desconfie que alguém além de mim esteve aqui.

Sei que ela não se importaria de eu receber um amigo, mas, Jeongguk estámatando aula. Então para a segurança
dele, é melhor eu manter isso em segredo.

Jungkook secou suas mãos com um pano de prato. Limpamos a louça juntos, ele lavou, e eu sequei. Quando olhei
para o relógio, me surpreendi ao notar que já passavam das duas horas da tarde. Poxa, o tempo passa rápido…

Depois, entupidos de comida, eu e Jeongguk nos jogamos no meu sofá. Ele ficou com preguiça, mas, com muito
esforço, subiu as escadas para pegar sua mochila em meu quarto. Se sentou ao meu lado e abriu os gibis, lendo junto
comigo. Me contou curiosidades sobre o universo de cada uma das HQs. E se empolgou muito com isso.

Conversamos muito, por assim dizer. Sempre que Jeongguk ficava perto demais, ele me olhava de uma maneira
diferente que o comum. Até então eu não havia percebido, mas, ele mantinha um contato visual muito complexo. Ele não
olhava em meus olhos, somente, e sim o rosto inteiro.

Além de ficar vermelho com facilidade, Jungkook era realmente atencioso aos detalhes.

Às quatro da tarde, nós fomos até a televisão e colocamos o filme que ele trouxe em fita. Nos sentamos lado a lado e
assistimos em silêncio. Era um filme fofo sobre um garoto e um E.T. que, honestamente, me assustou muito nos primeiros
momentos, mas depois de um tempo, ganhou meu coração: eu gostei muito dele. Era fofo de verdade.

Senti o ombro de Jungkook tocar suavemente o meu. Quando olhei para o lado, sua cabeça despencou da almofada e
veio parar em meu ombro. Novamente, ele havia cochilado; dormindo com as bochechas coradas e a boca entreaberta,
expondo os dentinhos avantajados que há tempos eu notei.

Senti o cheirinho de shampoo de seu cabelo bem pertinho e acabei por encostar a cabeça na sua também. Uma coisa
que eu gostava pra valer em Jeongguk, era a maneira a qual ele sempre me deixava ter contato consigo. Ele encostava em
mim. E me deixava segurar sua mão...

E eu me sentia tão dependente de estar assim que, de certa forma, ele acabava por se tornar a pessoa que eu mais
gostava estar junto.

Eu realmente gosto muito dele.

***

Depois de muitas desculpas por ter dormido novamente, eu calcei os meus tênis e, junto de Jungkook, fui até a
esquina para que ele fosse embora.

— E então, se você quiser conversar, me liga… — ele continuava dizendo, segurando a bicicleta enquanto andava ao
meu lado.

— Sim… — eu disse, com um biquinho pois realmente não queria que ele fosse embora.

Droga. Eu oficialmente odeio às cinco horas da tarde.

Quando paramos em frente a cerejeira, eu ergui minha mão em direção a do Jungkook, que a apertou de maneira
atrapalhada. Nós rimos constrangidos de absolutamente nada. Provavelmente da sensação divertida que a tensão entre nós
causava e possuía.

— Então… — sussurrei.

— Então… — ele sussurrou, também. Ainda não soltamos as mãos.

Suspirei baixinho, sem medo dele me achar estranho ou carente ao perguntar:

— Você pode me visitar novamente? Logo? — Olhei em seus olhos.

— Posso! Claro que sim — respondeu, sem hesitar. — Acho que seria incrível se fôssemos a loja de vinis qualquer
dia.

— Eu também... — Sorri, remexendo o polegar sobre os dedos dele, num carinho singelo quase imperceptível. — Eu
gostei muito de hoje.

— Eu também... queria poder ficar até às oito — disse. — Não queria ter dormido.

— Não tem problema…


— Não, é que… eu queria ter ficado mais tempo conversando com você. Eu…. eu… — Mordeu o lábio. — Eu estava
muito ansioso para encontrar você.

— Eu também estava…

— Da próxima vez, não me deixe dormir… — Apertou mais minha mão. — Eu não quero dormir,quero ficar com você.

Ai, por Deus…

— Tudo bem. Quando você vir de novo, vamos fazer de tudo, menos dormir. — Sorri. — Então…

— É… — Ele soltou sua mão da minha. Então, sorriu. — Até logo. Obrigado por hoje. — Levou a outra mão ao guidão.

— Obrigado também… Até logo. — Acenei. — Ah! A sua mochila. — Coloquei a mesma em seu braço. Ele riu
surpreso quando a coloquei em suas costas, perfeitamente. — Até logo, Jeonggukie.

— Até, Jiminnie. — E então ele sorriu, mais uma vez, de uma maneira que covinhas surgiram magicamente em suas
bochechas. Fiquei derretido, admito.

Acenamos um para o outro e, então, Jeongguk subiu em sua bicicleta e foi embora. Fiquei parado ali até que ele
sumisse de minha visão e, com um sorriso, olhei para a palma da minha mão.

Ela ainda está formigando por sua causa.

Notas finais
jk: puxa puxa puxa
eu: PUXAR OQ GAROTO????

maçã do amor, panqueca de mirtilo... ou jikook ta apaixonado nessa fic ou com fome qqq uwu

obrigada por lerem e até o próximo <33

reclamações, surtos e amores por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

chat da fic 'ele é como rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


e link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

<3333

11. Ele é como Escutar uma Música Boa

Notas do Autor
ai gente tô com preguiça de dizer alguma coisa, mas enfim, boa leitura sz

JUNGKOOK

— Então, você está me dizendo que faltou suas aulas favoritas para veruma pessoa?

Jin caminhava ao meu lado. Me olhava com certa surpresa e, por isso, acabei por engolir em seco, levemente
envergonhado.

— Sim… — Funguei de frio.

— Foi para ver uma garota? — perguntou, animado.

— Não…

— Melhor do que isso?

Dei um sorrisinho pequeno. Apertei mais o vinil e o embrulho fez um barulho engraçado.

— Sim…
Seokjin começou a se balançar. Dei risada, notando como meus vizinhos estavam nos observando. Não é para
menos, ele sempre chama atenção quando vem aqui, principalmente a da Hyuna — que, inclusive, está nos espionando
agora, de sua varanda.

— Então, você foi ver duas garotas? — ele perguntou novamente.

— Não, Jin! Você só pensa em garotas, meu Deus… — Revirei meus olhos.

— Tá bom, tá bom, eu só estava brincando! — Ajeitou o cabelo e acabo de perceber que ele notou que Hyuna está
nos olhando. Mais especificamente, lhe olhando. — O que pode ser melhor que isso? Se disser que matou sua primeira aula
para ficar em casa lendo uma revistinha em quadrinhos, eu vou te bater.

Neguei com a cabeça. Nós atravessamos o gramado e sentamos, ambos na escadinha da varanda. Mamãe e papai
ainda não chegaram, então não preciso me preocupar com a possível aparição de ambos.

Respirei fundo. E dei um sorriso.

— Eu fui ver o Jimin… — sussurrei.

Jin não demonstrou nenhuma reação. Na verdade, ele parecia completamente confuso.

— Hã? Quem é Jimin?

Ah.

— Ai, Jin! — Ergui o disco e bati com ele na sua cabeça. — O ruivo, puxa!

Percebi que falei alto demais. Lippy até notou que eu estava de volta e correu para fora, pulando em cima de mim e
lambendo toda a minha cara.

— Ah, o ruivo! — Jin disse, lembrando-se. Lippy pulou nele seguidamente, e o lambeu também. — Ah… uh… espera,
Lippy! — Jin acalmou o cachorro em suas mãos, colocando a mão em sua barriguinha. A acariciou.

Lippy ama Seokjin. Para ser mais específico, toda a minha família ama ele.

Deixe-me explicar o porquê de ele estar aqui, agora. Já faz um tempo que marcamos do mesmo dormir aqui em casa
no sábado — hoje. Então, mais cedo, às duas da tarde, fui presenteado com sua presença em minha porta, com dois
ingressos para o cinema em mãos e uma mochila com roupas. Nós assistimos “As Loucuras de Jerry Lewis” e, para falar a
verdade, o filme é bem ruim. Mas o passeio no centro foi ótimo! Adoro ir no cinema com Seokjin, porque ele sempre faz umas
vozes engraçadas e grita no meio do filme, e ninguém nunca percebe que é ele quem está fazendo estardalhaço. É arriscado
e divertido demais.

Eu quase havia me esquecido desse detalhe, mas, ele também planejou comprar um disco para mim. Quando
chegamos na loja, ele pediu-me para ficar do lado de fora, e quando voltou, o disco estava embrulhado. Só posso abrir em
casa, sozinho. No caso, amanhã, quando ele for embora.

Estou bem ansioso para abri-lo, mas respeitarei as regras da surpresa. Talvez eu até goste de surpresas…

— Então, você matou aula para ver o ruivo… Jimin? — ele perguntou. Assenti. — Você está muito próximo desse
Jimin, aí…

— E o que tem? — indaguei, vendo-o franzir o nariz bonito.

Fiquei com medo dele dizer algo como, sei lá… que era estranho como Jimin e eu ficamos próximos no quarto, de
mãos dadas. Ou que era estranho eu emprestar as minhas preciosas fitas para ele. Ou que eu não devia ter dormido apoiado
nele como uma criancinha, ou que...

Ah, é mesmo. Seokjin nem mesmo estava lá.

— O que tem é que, se você me trocar por ele, eu vou te jogar em um rio e ficar com seu cachorro e todas as suas
coisas! — alertou, e acabei por rir, completamente surpreendido por seu possível ciúme.

— Se quer saber, eu gosto mais de você do que de qualquer pessoa — digo, e dou um abraço rápido quase
imperceptível em seu braço. Ele ri e Lippy lambe seu rosto de novo.

— Acho bom! — Fez um biquinho. Lippy lambeu o biquinho dele. Dei risada e o empurrei, começando uma guerra de
empurrões e tapas estranhos entre nós, com o cachorro latindo e nos dando mordidas falsas que não doem.

Eu amo ele.

Não muito mais tarde, meus pais chegaram. Estavam no mercado, e com a minha ajuda e a ajuda de Jin, levamos as
compras para dentro. Entramos quando escureceu. As coisas de Jin já estavam guardadas em meu quarto, e prometi contar
a ele sobre Jimin mais tarde.

Sabe, pensar no começo da minha amizade com Jin e a maneira que meus pais reagiram ao saber que ele era
praticamente quatro anos mais velho do que eu me faz rir um pouco. Pois minha mãe ficou preocupada, meu pai meio
desconfiado, e minha irmã, bem… ela se juntava com minha prima e as duas me acusavam de tudo quanto é coisa.
Mas quando Seokjin foi lá em casa pela primeira vez, com dezesseis, e eu com treze, eles o adoraram demais. E era
óbvio que a diferença de idade não atrapalhava na maneira a qual nos dávamos bem… a mãe de Seokjin diz que sou maduro
demais para minha idade, e minha mãe concorda com isso. E é meio estranho, porque não tenho nada de maduro. Nem
Seokjin.

Mas, bem, é sempre bom não contrariar.

Depois de um jantar cheio de conversas e piadas, eu e Seokjin ficamos para arrumar a cozinha para a mamãe. Meu
pai foi o último a subir para dormir, e nos desejou boa noite antes de ir, assim como minha mãe, minutos antes.

E é óbvio que, depois de arrumar tudo, nós comemos mais.

Na verdade, Jin fez uma receita dele — que não é bem uma receita, é uma gororoba — a qual ele, basicamente, joga
biscoito no sorvete e cobre com caramelo. Mistura tudo no pote e deixa tudo super grudento e doce.

E, obviamente, é delicioso.

— Ya, você ainda não me disse todos os detalhes… — Ele começou o assunto repentinamente, ainda devorando o
sorvete.

Estamos ambos sobre a bancada. Comendo.

— Sobre...? — perguntei, dando uma colherada cheia e levando a boca.

— O Jimin — ele disse. — Ele é mesmo legal? Ele é todo quietinho e diferente. E se dá bem com as garotas.

Fiz uma careta para a última parte.

— Elas gostam dele como amigo — eu disse.

— Mas foi isso que eu quis dizer — falou, erguendo uma das sobrancelhas.

Engoli em seco. É claro que foi isso que ele quis dizer...

— Erm… eu gosto de estar com ele porque ele não sabe muito sobre música. Mas gosta de todas que eu mostro pra
ele. E adora saber mais e mais... — eu fiz um resumo do resumo sobre o porquê gosto de Jimin.

— Você deve ficar animado... — ele disse, rindo. — Você ama falar sobre música.

— É… — Sorri, tímido.

— Ainda me lembro do dia em que você entrou em uma conversa super séria e profunda com aquele vendedor de
camisetas de bandas. — Deu risada. — Foi engraçado! Você sabia mais do que ele.

— É… — Ri. — Ele era bem burro, na verdade.

Demos risada juntos e nos lembramos mais do tal dia. Jin não perguntou mais sobre Jimin, mas pediu-me para avisá-
lo sempre que eu fosse matar aula, pois ele ficou bem preocupado. Concordei e acabamos de comer todo o sorvete.

— Jeongguk?

— Hum?

— Obrigado por ter a mesma idade mental que eu.

***

É domingo. Estou em meu quarto, dando suspiros pois Seokjin foi embora e eu sinto a falta dele.

Sua mãe veio o buscar às oito da noite, mas quando começou a conversar com a minha, não parou mais! São dez
horas agora e eu já sinto saudade do meu melhor amigo… mas estou feliz, porque agora posso abrir o álbum que ele me
deu.

Já de banho tomado e pijama, organizo todas as minhas coisas na mochila, para a aula de amanhã. Enfim, vou até o
disco e começo a desembrulhá-lo. Abri com cuidado e guardei o papel de presente lilás embaixo da cama, dando um sorriso
ao segurar o vinil nas mãos, totalmente visível para mim.

É um álbum de uma banda chamada The Police. Eu não conheço muitas músicas dela, mas, Jin adora essa banda, e
eu amo todas as bandas que Jin ama. Então... é óbvio que ela é boa.

Quando escuto os passos da minha mãe, chegando perto do quarto, escondo o disco sob o travesseiro
rapidamente. Sei que se ela me ver com um disco novo, à essa hora da noite, ela vai guardá-lo em seu quarto para que eu
vá dormir.

Porque eu sempre escuto meus discos novos de madrugada. E ela não gosta muito disso, não.

— Ei… — Sorri, e está de camisola e na porta do quarto. — Boa noite, querido.


— Boa noite, mãe. — Sorrio. Ela me mandou um beijinho no ar e saiu do quarto sem mais delongas. Exatamente dois
minutos depois, meu pai veio e fez o mesmo e as luzes se apagaram.

Acendi o abajur e abri o disco com cuidado. Sorri animado, pois tinha uma parte com a foto dos integrantes da banda,
e atrás, a letra das músicas. Vou poder traduzir algumas!

Fiquei quieto, esperando por longos minutos. Já que a vitrola fica lá embaixo, não posso sair do quarto agora, ou
provavelmente vou acordar eles... minha mãe vai me dar um tabefe se me ver acordado.

Passei o tempo relendo vários volumes de um gibi. Senti sono, mas não quis dormir. Quando deu meia noite e doze
no relógio, me levantei e abri a porta de meu quarto, silencioso, levando comigo o disco, um caderno e um lápis com uma
borracha no topo.

Desci as escadas com calma, acabando por segurar Lippy no colo para que ele não faça nenhum barulho, já que ele
acabou de aparecer aqui, abanando o rabo por eu estar acordado e batendo as patinhas e unhas no chão.

Fui até a sala de estar e deixei a luz bem baixinha. Peguei a vitrola e abaixei seu volume, introduzindo o disco e me
deixando levar pela maravilhosa primeira melodia.

Em algum momento em meio a todas as músicas, Lippy apareceu novamente e deitou-se sobre minhas pernas. O
usei de apoio para anotar o nome das músicas que gostei e que quero passar para a fita. Minhas bochechas avermelharam
enquanto eu lia a letra de algumas, mas eu não sei o porquê.

A faixa seis estava no meio e ela era, com certeza, a minha favorita até o momento. Tentei traduzi-la, mas tinha
algumas palavras diferentes que eu não entendia muito bem, então desisti. Por fim, somente fechei os olhos e relaxei,
deixando o sono vir, mas não tomar conta de mim.

Contudo, assim que a faixa número 7. Every Breath you Take, tocou, eu não consegui relaxar. Não mais.

Me senti extremamente agitado. Me arrepiei levemente e me sentei completamente. Meu coração começou a acelerar,
exatamente como ele acelera quando escuto uma música que acho tão boa.

Peguei rapidamente a capa e comecei a acompanhar a letra junto com a música. Mordi o lábio inferior e, depois do
refrão, comecei a traduzir.

Mas depois de traduzir a primeira frase, senti meu coração acelerar ainda mais. Por algum motivo, o som do baixo, tão
perto de mim, naquela música que eu julgava ser a melhor, fez meu cérebro pensar rapidamente nele. Pensar... Em Jimin.

Por algum motivo, tive certeza, naquele momento, de que ele amaria essa música tanto quanto eu.

Mordi o lábio com mais força e virei a página, do outro lado. Comecei a passear o lápis na folha, formando uma flor
bem simples, cheia de curvas e texturas, deixando-a feita rapidamente. Contudo, estranhamente, meus olhos se fecharam e
eu pensei no rosto de Jimin. Na verdade, não era tão estranho, porque o som da vitrola está me fazendo pensar nele e em
seu quarto desde que o disco começou a girar, e girar, e girar...

How my poor heart aches

With every step you take

Quando percebi, seu olhar já estava em meus dedos, na ponta do lápis. Comecei a desenhar, e desenhar, e de
repente a música havia terminado, mas eu não queria parar. Apaguei várias vezes, e continuei, até que encaixei o rosto de
Jimin com a flor e suas sobrancelhas estavam escuras por causa do lápis. Seus cabelos bagunçados, ondulados, repartidos
ao meio e sua testa amostra. Sem o óculos, eternizando o exato momento em que vi seus olhos sem pudor. Tão pequenos, e
tão… tão…

Eu não sei, eu não sei…

Meu coração está duplamente acelerado, porque Jimin me deixa assim. Exatamente como a música me deixa... ele é
exatamente como isso.

Puxa...

Quando percebi, estava colocando coisas extras no desenho. Já era quase duas horas da manhã... O disco estava
tocando novamente e Lippy roncava levemente.

Minhas orelhas ficaram vermelhas. Me peguei pensando se não era estranho demais estar desenhando-o no meio da
noite, ou se ficar inspirado para desenhá-lo tão repentinamente não é um erro ou uma coisa estranha de se fazer e... sentir.
Não quis dar atenção ao pensamento, pois não queria ficar magoado ou me reprimir. Quero ser como Jimin. Quero nunca
mais me reprimir.

Percebi que estive enganado o tempo todo, pois Jimin não tinha somente Pégaso na bochecha direita. Tinha Câncer
igualmente. E é verdadeiramente bonito.

***
De manhã, acordei com preguiça. E agora eu nem me lembro mais de ter saído da cama.

Admito que não fiz muitas coisas ao levantar. Só tomei um banho rápido, comi e escovei os dentes. Agora estou
sentado, adicionando mais coisas no desenho, cheio de detalhes imperceptíveis em Jimin que eu, eu, notava. Usei a caneta
também, e acho que nunca desenhei algo tão bonito. Os pontos ficaram incrivelmente bons…

Quando meus pais saíram e deu a hora de ir embora, me peguei olhando para o desenho e, pela janela, vi minha
bicicleta. Bati o pé no chão, e respirei fundo… Respirei fundo, respirei fundo…

Não, é melhor não…

Fechei o caderno e guardei-o na fronha do travesseiro, para que ninguém veja. Desci as escadas calmamente e
tropecei em Lippy, que estava estirado no fim dela. Pedi mil desculpas para ele e segui até a porta de casa após colocar mais
comida para Lippy, sem muita vontade.

Mas, quando eu estava com o molho de chaves em mão, pronto para sair e trancar a porta, escutei o telefone tocando.
Parei no lugar.

Dei um suspiro. Bufei e dei meia volta, andando até a mesinha no canto do cômodo. Atendi.

— Alô…? — murmurei, desanimado e preguiçoso.

— Jeonggukie!

Arregalei meus olhos, surpreso.

— Jimin? — perguntei, mas já sabia que era ele.

— Sim! Oi… bom dia… — disse, agora mais baixinho. — Desculpe por ligar tão em cima da hora, e tão cedo, eu não
quis atrapalhar…

— Não! Tudo bem, sem problema! — Dou um sorriso, pois estou feliz demais por estar escutando a voz dele agora.

De repente, dois dias sem vê-lo pareceram uma eternidade.

— Então… — ele começou, e deu risada. — Eu estava pensando… e se a gente se ver na quinta?

— Na quinta? — Sorri. — Sim, claro… — eu afirmei, sem nem mesmo pensar se eu tenho alguma aula importante na
quinta ou coisa do topo.

Na verdade, eu nem mesmo hesitei. Ou pensei. Só confirmei.Eu estou ficando doido.

— É que pensei em te chamar antes, mas minha mãe sai mais tarde na terça e volta mais cedo na quarta. Hoje ela
está em casa… — ele disse, e só consigo prestar atenção em sua voz e em como ela está rouca e melodiosa.

— Sim, vamos… podemos sair. Ir na loja de discos…

— Sim! Eu ia sugerir isso. — Riu. — Você pode me apresentar a loja...

— Sim… — eu disse. Ouvi Jimin dar um riso, calmo.

Nós ficamos em silêncio, por um tempo. Acho que não temos nada para conversar sobre, mas queremos ouvir a voz
um do outro mesmo assim.

— Então... — ele disse, enfim. — Na quinta?

— Sim, na quinta… — Olhei para o relógio. Falta dez minutos para meu ônibus passar. — Mas, Jimin, você… você
pode me ligar outras vezes?

— Te ligar?

— É… para conversarmos, não sei, eu meio que…

— Também sinto saudades. — Ele completou. Como ele...? — Hehe... que horas eu posso te ligar?

— D-de manhã, depois das oito — eu disse, sentindo o rosto inteiro arder.

Puxa, ele me deixa com tanta vergonha...

— Tá bem, amanhã eu vou te ligar!

Dei um sorriso, sentindo que poderia explodir a qualquer momento. Por que ele está sempre fazendo isso comigo?

— Tá bem, até amanhã, Jiminnie! — eu disse.

— Até, Jeongguk!

Eu esperei ele desligar. Mas ele não desligou e, por um minuto inteiro, fiquei somente escutando sua respiração,
como se ele estivesse suspirando em meu ouvido neste exato momento.
Puxa...

— Jeongguk...? — ele chamou.

Meu rosto ficou quente, porque ele estava sussurrando.

— Sim?

— Eu adoro você — disse rapidamente. — Tchau!

E ele desligou.

Retornei a ligação, digitando os números com velocidade. Quando ele atendeu, tudo em mim estava arrepiado.

— Oi...? — ele atendeu.

— Eu também te adoro, tchau!

E eu desliguei.

Notas finais
obrigada por lerem e até o nexxtttt <33

reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

chat da fic 'ele é como rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

<3333

12. Ele é como uma Florzinha

Notas do Autor
OLÁAAA boa leitura, beijo beijo beijo <3

JIMIN

— Eu deixei seu almoço na geladeira e comprei iogurte pra você lanchar mais tarde. Às oito estou de volta, ouviu? —
mamãe dizia, passando apressada por mim. O cheiro do perfume dela ficou no ar e me senti maravilhado, porque era
realmente muito bom. — Tenha um bom dia, meu Jimin.

Senti minhas bochechas arderem por ela ter-me chamado de seu. Pode ser que seja bobo, mas... coisas assim
mexem comigo, pois ainda estou me acostumando a estar sempre com ela. E confirmar comigo mesmo que está ficando
cada vez melhor, me deixa feliz. É.

Mas ela ainda me parece meio doidinha.

Sorri para Leonor e confirmei com a cabeça. Vi-a passar as mãos no cabelo chamativo e me senti feliz por ter uma
mãe tão bonita. Isso quer dizer que sou bonito também. Às vezes ela parecia uma adolescente de tão jovem.

— Você também, mãe. — Me levantei e acompanhei-a até a porta. — Tchau!

— Tchau! — Ela me deu um beijinho na testa e saiu de casa, correndo, provavelmente porque iria de ônibus hoje e
não podia se atrasar.

Fechei a porta novamente e sorri, quase hesitante. Senti Menino envolver minha perna com o rabo. Olhei para baixo e
fiz carinho em seu corpinho com meu pé, olhando para a parede e respirando fundo.

O.k.

Caminhei até a cozinha e me aproximei do calendário. Suspirei e me senti, mesmo que bobalhão, muito feliz por ver e
ter certeza de que é quinta-feira.
É hoje. É realmente quinta-feira. Eu pensei que não chegaria nunca.

Subi as escadas com pressa, com um sorriso no rosto, enquanto o felino me seguia, ronronando fofinho. Quando
entrei no banheiro do meu quarto e o deixei para fora, ele começou a arranhar a porta e miar. Então fiz um bico e abri,
deixando-o ficar no meu banheiro comigo.

Tirei a roupa com pressa e liguei o chuveiro, indo para debaixo da água bem rapidinho. Me desequilibrei levemente,
por causa da banheira, mas me segurei e não caí. Menino parou de se lamber para olhar a cena e acabei por rir,
constrangido.

— Eu estou bem!

Ele pulou em cima da pia e deitou-se, me ignorando totalmente. Menino é muito carente para ficar sozinho. Não que
isso seja um problema… é só um detalhe.

Deixei a água quentinha cobrir meu corpo e fiquei agitado por me sentir tão animado. Enquanto me ensaboo, meus
olhos ficam ainda mais inchados porque, na boa, estou tão animado! Acho que eu já disse isso. Bem, não importa, estou
duplamente animado! Não sei dizer se é porque vou sair pela primeira vez com um amigo, ou se é porque vou sair pela
primeira vez com Jeongguk. Às vezes — como agora — eu me pergunto se tem alguma diferença. Se tiver, acho que não tem
tanta importância...

Jeongguk. Meus olhos ainda estão pequenos e tenho que esfregá-los com muita força para tudo ficar visível, apesar
de eu só conseguir enxergar mesmo, mesmo, com o meu óculos. Jeongguk. Lavei o cabelo com cuidado e senti as orelhas
ficarem quentes que nem a água, porque senti saudade. Jeongguk... Não faz nem uma semana, mas é como se fosse uma
eternidade, e isso é tão estranho. De se pensar e acontecer... Não sei! É que me sinto tão feliz por estar prestes a ver
Jeonggukie. Tenho pensado tanto em vê-lo novamente que me peguei sonhando com isso muitas e muitas vezes. São
sonhos estranhos e meio irracionais, mas acho que é o jeito que estou inconscientemente lidando com a vontade tão grande
que tenho de estar com ele.

Uma vez li isso em um livro, então acho que eu estou certo.

— Não é estranho? — pergunto a Menino. — Eu espero que não seja… eu não acho estranho, mas talvez ele ache se
souber. — Me viro para o gato, e ele está olhando para mim. Dou um sorriso pequeno. — Não quero parecer estranho, mas
realmente quero muito, muito ver ele…

Suspirei baixinho. O meu Menino voltou a fechar os olhos.

Ah... Jeongguk. Estou pensando seriamente em pedir um telefone de aniversário, porque ir até a casa da vizinha
todos os dias bem cedinho só para falar com Jeongguk está sendo um pouco cansativo. Mesmo que seja tão bom poder
conversar. Eu poderia ligar para ele assim que acordasse e falar com ele na cama se eu tivesse um telefone… poxa. Eu
queria muito isso.

Ontem Jeongguk prometeu aparecer aqui às nove, e eu acho que ainda são oito horas — eu não consegui enxergar o
relógio porque ainda não coloquei o óculos, mas é, mamãe sai às oito, então deve ser mais ou menos isso mesmo...

— Não, Menino! É sujo! — gritei, vendo Menino desperto tentando enfiar o focinho dentro do vaso. Às vezes ele
parece um cachorro.

Desliguei o chuveiro e espichei a água em minhas mãos nele. Ele saiu de perto do vaso e se escondeu atrás do cesto.
Ri.

— Foi para o seu próprio bem — eu disse enquanto secava meu corpo.

Saí do banheiro nu, e me peguei pensando no quanto seria bom ficar sem roupa para todo o sempre. Assobiei
calmamente enquanto abria o armário e começava a me vestir. Só uma blusa de mangas cumpridas listrada entre azul e
branco e uma calça jeans que não está tão desgastada. Minha mãe vai me matar se descobrir, mas é, eu calcei o par de
tênis branco e limpo. Bom, tenho certeza de que vale o risco.

Desci as escadas enquanto limpava as lentes com o tecido da minha blusa, fazendo uma meia careta quando senti
meu estômago roncar repentinamente. Fiquei tão empolgado que nem mesmo me lembrei de comer…

Enquanto eu ia até a cozinha e abria a geladeira, lembrei-me do sonho que tive na noite passada. Ri, pois sempre é
assim. Não me lembro ao acordar, mas depois de um tempo, o sonho está na minha cabeça como se eu nunca houvesse o
esquecido.

Pensando bem, eu não sei ao certo o que aconteceu, mas tenho consciência de que Jeongguk estava lá. Nós
estávamos na escola e tinha algo muito ruim acontecendo, então, nós dois fugimos.

De qualquer forma… só me deixou com mais vontade de vê-lo novamente.

Estava descascando uma tangerina, com a mesa de café posta — e que eu ainda não havia tocado — quando o
relógio denunciou que eram nove horas. Terminei de descascar a fruta e comecei a comê-la, sem ser tão rápido, mas
tomando também cuidado para não ser tão devagar. Mas… não é como se houvesse adiantado.

Porque quando terminei a fruta e comecei a colocar o iogurte na caneca, ouvi o barulho da bicicleta e da corrente.
Aquela corrente. E quando eu me levantei, percebi alguém subindo os breves degraus da minha varanda. Em um impulso
animado, dei um sorriso grande.
É ele. É Jeongguk!

Corri até a porta. Quando a abri, a mão de Jungkook estava no ar, o punho cerrado, e os olhos surpresos ao me ver.

Sei que ele estava prestes a bater na porta. Mas eu fui mais rápido, e a abri.

Comecei a sorrir ainda mais.

Jeongguk estava vestido de uma maneira a qual eu jamais vi antes. Pelo menos não no corpo dele. Ele não estava de
preto, e sim de branco e amarelo. Vestia uma camiseta branca que quase não ficava visível por conta da jaqueta folgada e
cheinha amarela que ele trajava. Era tão bonita e combinava tanto com ele que eu senti meu sorriso crescer.

No final das contas, Jeongguk não combinava com cores escuras e sombrias. Ele combinava com o amarelo do sol. E
isso era realmente muito bom.

— Err… oi. — Percebi que estava quieto, sorrindo e o olhando como um esquisito. Caramba, devo estar sendo muito
estranho! — Bom dia… — ele disse, novamente.

Balancei a cabeça, acordando para a realidade.

— Bom dia! — Eu abro mais a porta, silenciosamente pedindo para que ele entre. Quando ele passa por ela, noto
também seu allstar azul. — Você chegou bem rápido!

— É, eu meio que saí mais cedo, porque… estava entediado — ele disse. Fechei a porta enquanto ele tirava a
mochila das costas. — Ei… — Ele se abaixou, e acabo de perceber que está falando com Menino, que começou a miar
quando ele apareceu. E ronronou ao ser acariciado.

Mordi a bochecha internamente, pois estava me sentindo meio constrangido. Então coloquei as mãos atrás do corpo.
Como se isso fosse aliviar…

— Ainda vou tomar café… — eu disse, mexendo os pés involuntariamente. — Tem bolo… você quer um pedaço?

Ele se levantou e parecia tão estranho quanto eu. Algo nas bochechas vermelhas dele denunciava isso.

— Sim… eu comi muito cedo hoje.

— Então, você toma café comigo. — Sorrio. — O que você quer beber? — Caminhei até a mesa.

— Não precisa…

— Tem café, chá e iogurte. — Ignorei sua negação-por-educação e ele deu risada.

— Pode… pode ser chá.

Ele se sentou na cadeira que estava na frente da minha enquanto eu pegava uma caneca para si. Comecei a ferver a
água e lavar as folhas do capim limão. Quando voltei a mesa, eu estava com um pratinho para si em mãos e um sorriso nos
lábios, porque agora me sinto muito mais confortável e feliz por Jungkook estar aqui.

— Se você não tratar minha casa como se ela também fosse sua, eu vou ficar magoado… — eu disse, ao perceber
que ele não havia movido um dedo. Tem muita coisa gostosa na mesa e ele ainda não comeu nada! Estava somente olhando
em volta, e suas bochechas estão quase vermelhas.

Jeongguk me olhou. E deu mais um de seus sorrisos que faz seu rosto se encher de curvinhas.

— Eu só estou esperando você — ele rebateu, mas ainda estava sorrindo.

Fiz um biquinho, porque foi fofo da parte dele.

— Hum… então eu acho que não tem problema.

Jeongguk riu. E eu também. Voltei rapidamente para a cozinha. Coloquei o chá na caneca e depois o mel, voltando
para a mesa, ainda mexendo a colher.

Me sentei e coloquei a caneca em sua frente. Despejei mais iogurte na minha e comecei a fazer um sanduíche
enquanto Jeongguk pegava o bolo, meio tímido, mas ainda sim estava o pegando. Portanto, me senti feliz.

Eu quero que ele se sinta à vontade aqui em casa…. Tanto que quase não cabe em mim.

Sua presença é tão empolgante que eu me pergunto quando é queeu vou me sentir normal com ele aqui...

— O Yoongi me perguntou sobre você ontem — Jeongguk disse, repentinamente.

Senti meu coração apertar.

— Jura?

— Sim. — Balançou a cabeça. — Ele pensou que você tinha saído… mas eu disse a verdade para ele. Ele ficou muito
feliz em saber que você estará de volta na próxima semana.
— Ah... — murmurei, fechando meu sanduíche. Sinto falta de Yoongi, e pensar nisso agora me deixou… um pouco
triste. Queria muito poder falar com ele de alguma forma. — Poxa… eu queria poder falar com ele — confessei, vendo-o
pressionar os lábios e afirmar com a cabeça.

Isso é tão injusto...

— Pelo menos… — Jeon deu um pequeno sorriso. — Pelo menos você vai voltar na próxima semana. E tudo vai ficar
bem.

Ouvir aquelas palavras de Jeongguk fez meu coração acalmar-se consideravelmente. De certa forma, vê-lo sendo
positivo me deixava mais feliz que o comum.

Por isso, terminei por me livrar da melancolia e dar um sorriso feliz, mexendo a cabeça. No fim, ele tem razão.É
mesmo.

— Sim… — eu disse. — Você tem razão, Ggukie… obrigado.

Ele balançou a cabeça, como quem dizia que não era nada. Apenas deixei o sorriso nos lábios e continuei comendo.
Ficamos em silêncio por um tempo, mas não demorou muito para ele ser completamente quebrado. Começamos a falar de
coisas completamente aleatórias e engraçadas.

A cada minuto que se passava, eu ficava mais animado com a ideia de ir ao centro com Jungkook. Sei que vai ser
incrível, ainda mais porque o centro "da cidade" meio que não fica na nossa cidade. Nós precisaríamos praticamente viajar
por quase uma hora inteira de ônibus para chegar lá, e isso me deixa eufórico. Cheio de expectativa e felicidade. Poxa… hoje
o dia provavelmente vai ser o melhor! O melhor de todos.

Quando nós acabamos de comer, Jeongguk fez questão de me ajudar a arrumar as coisas. Eu escovei os dentes bem
rapidinho, no andar de baixo, e peguei todo o meu dinheirinho guardado no quarto. Coloquei no bolso e desci com alegria,
saltando os degraus. Menino observava tudo com as orelhas para trás, e provavelmente é porque está com sono e estamos
fazendo muito barulho pro seu gosto.

Me despedi do gatinho dando um beijo em suas orelhas. Jeongguk e eu saímos juntos de casa. Tranquei a porta e
fechei as janelas, do lado de fora, e fui com Jeongguk até os fundos para guardarmos sua bicicleta. O céu estava feio e cinza,
então peguei o guarda-chuva amarelo da mamãe na varanda, carregando-o comigo e Jeongguk levava sua mochila nas
costas. Nós caminhamos juntos, quintal afora, e ficamos na companhia um do outro pelas ruas geladas e calmas. Dava para
notar no jeito o qual ele falava comigo, sobre tudo, que estava tão empolgado quanto eu. E essa maneira de reciprocidade
me deixava... vibrante. Sentia vontade de abraçá-lo e pedir para que ficasse para sempre.

Mas é claro que eu não fiz isso…

Percebi que aquela era a primeira vez que Jeongguk fazia algo considerado “errado” igualmente. Nós estávamos
saindo juntos, escondidos dos nossos pais, para viajar para praticamente uma outra cidade e… caramba, por que não
estávamos com medo? Ou receio? Eu realmente não sentia nada negativo. Só conseguia me sentir eufórico e…
extremamente animado. Parecia que estava prestes a regressar para um outro mundo. E pensar que era com
Jeongguk deixava tudo muito melhor.

Quando nós chegamos no ponto de ônibus, já estava começando a chuviscar um pouco. Nós nos escondemos sob o
telhado improvisado e demos uma risada engraçada, porque vimos um homem escorregar do outro lado da rua ao mesmo
tempo.

— Tadinho — eu disse, ainda rindo.

— Como ele conseguiu escorregar no cimento? — ele falar isso só me fez rir mais. Os adultos presentes ficaram
incomodados com nossa bagunça, mas não nos importamos. Rimos sem pudor.

Não muito tempo depois, nós vimos o ônibus grande e azul se aproximar. Quando ele parou, fiquei impressionado
pela quantidade de pessoas que começaram a saltar para fora pela porta de trás e do meio, e pelas que correram para a da
frente. Meio que entendi que deveríamos entrar pela da frente igualmente, então olhei para Jungkook para irmos de uma vez.

Contudo, diferente do que pensei, Jeon não se apressou. Ele apenas segurou meu braço e me puxou levemente.
Deixei ele me guiar enquanto nos aproximávamos das portas de trás. Fiquei surpreso. Nós devemos entrar por aqui?

Pensei em questioná-lo, mas nunca andei nesses ônibus com três portas, então não sei se é diferente. Portanto,
somente o segui, sem me preocupar. Mesmo com o ônibus cheio, nós conseguimos dois assentos, nos últimos bancos do
busão. Jeongguk me disse para sentar na janela e fiquei feliz, porque é bem mais divertido ficar na janela.

Quando nos aconchegamos, enfim, dei um suspiro calmo. Mas quando vi que todos os outros passavam pela roleta,
acabei por ficar curioso e confuso. Espera...

Não deveríamos estar passando por lá também?

— Jungkook? — chamei, vendo-o virar a cabeça para mim. — Não deveríamos ter entrado por lá? — resolvi
perguntar. Apontei para as pessoas no início do ônibus.

Jeongguk as olhou. E deu de ombros.

— Eu acho que sim, mas eu sempre entro por trás e pago só depois — ele disse. — Não deve ter problema.
— Não?

— Eu acho que não. — Deu um sorriso torto e sem graça. Ah, agora eu entendi...

Ele também não faz ideia. Pfft. Dei risada, pois aquilo tinha o deixado muito fofo.

— Então tá — eu falei, por fim.

Quando o ônibus acelerou, nós dois demos um solavanco engraçado. Rimos baixinho e eu abri a janela do meu lado.
Fiz alguns comentários sobre como o interior era grande e extenso, e também sobre como tinha tantos adultos ali. Jeongguk
me contou que teve muito medo quando andou sozinho nesse ônibus pela primeira vez, mas que no fim, não tinha nenhum
mistério. Fique feliz, porque saber disso através dele e com ele me é muito melhor do que saber sozinho.

Depois de um tempo, comecei a olhar para a janela. O vento frio vinha com algumas gotas de água que molhavam
meu rosto, mas eu não me importei. Meu nariz estava ficando gelado, mas de certa forma, o ombro de Jeongguk estar
tocando o meu me deixava calmo e aquecido. E ter esse sentimento me faz pensar no quão quente pode ser dentro do
casaco dele.

Minhas bochechas formigaram. Por dentro do casaco dele...

Olhei para Jeongguk, e me surpreendi ao vê-lo com a mochila sobre seu colo. Estava apoiando o caderno nela e com
uma lapiseira entre os dedos, escrevendo cuidadosamente. Espiei o que ele estava fazendo, ajeitando meu óculo com
gotinhas de água e me deparando com várias fórmulas de matemática.

— Está estudando? — eu perguntei, vendo como sua letra era bonita. Os números eram lindinhos, e não tinha
nenhuma rasura. Tirei o óculos e comecei a secar as lentes.

— Só fazendo o dever de casa… — ele disse, fazendo a conta ao mesmo tempo que falava. Parecia muito fácil para
si. — Eu deveria ter feito ontem, mas não consegui...

— Por que não? — perguntei, levantando meu olhar para seu rosto.

O perfil de Jungkook era extremamente bonito. Seu nariz ficava arredondado.É um nariz tão fofo. Percebi suas
bochechas ficando tensas após minha pergunta, e antes que eu perguntasse o porquê, ele lambeu seus lábios finos e
balançou levemente a cabeça.

— Sei lá… — disse, simplesmente.

Não sei se ele está mentindo ou não, mas não me parece ser algo sério. Assim sendo, dei de ombros e assenti. Mas
olhar um pouquinho do rosto dele desse jeito me deixou um pouquinho... tentado. Quer dizer... não tentado, tentado. Eu só
queria olhar para ele.

Sei lá, eu gosto muito de fitar tudo em Jeongguk...

Inclinei minha cabeça, como se estivesse olhando para seu caderno. Só que, secretamente, eu estava com meus
olhos vidrados em seu rosto. Notar como seus detalhes eram tão diferentes de longe, ao mesmo tempo que tão iguais de
perto, me deixavam balançado. Sua beleza ficava mais complexa e delicada assim... tão de pertinho e intimamente...

Jeongguk piscou um par de vezes e pressionou seus lábios. Arregalei levemente meus olhos ao perceber covinhas se
formando em suas bochechas. Tão pequenas que eu tive de soltar um som surpreso, até mesmo engraçado, que fez ele me
olhar.

Eu já tinha percebido que Jungkook tinha covinhas antes, mas elas eram no meio das bochechas. Bem fundas e
amplas. E também muito fofas. Mas essas são tão discretas que eu mal vi uma delas. Na verdade, só surgiram quando ele
pressionou os lábios e os moveu, de um lado para o outro, e…

Ah... eu só fiquei agitado em notar elas tão de repente.

— Você tem covinhas... — eu disse, antes que ele dissesse ou perguntasse qualquer coisa.

Ele ficou um pouco vermelho nas maçãs do rosto. Assim que piscou os olhos, Jeongguk voltou a olhar para baixo
rapidamente. Começou a fazer os cálculos com mais pressa.

— E-eu meio que tenho… — disse, e dou um sorriso inusitado quando vejo suas orelhas ficando rubras. Suas reações
são tão… singulares e adoráveis.

Eu me senti agitado. Fiquei o observando, com um sorriso nos lábios e senti uma vontade engraçada. E
provavelmente estranha, mas que não deixava de me deixar agitado o bastante para…

— Posso tocar? — indaguei.

Pedir. Sim, eu pedi.

Jungkook me olhou, e eu me afastei um pouco. Estávamos muito pertinho, e embora eu goste, sei que ele pode ficar
constrangido…

Mas então, Jeon pendeu a cabeça para o lado. Ele estava claramente confuso.
— Tocar o quê?

Ergui minhas mãos. Levantei ambos os dedos indicadores. Dei um sorriso empolgado.

— Suas covinhas.

Ele fez uma expressão surpresa. E começou a ficar extremamente vermelho.

— É sério? — Me olhou. Estava tímido.

— É… — Dobrei meus dedinhos, sem querer abusar de toda a nossa intimidade. — É que é bonitinho…

Jeongguk fez uma expressão duvidosa. Seus olhinhos redondos ficaram brilhantes e caidinhos. E quando ele me
olhou novamente, terminei por me animar ao entender, por aquele olhar, que ele iria dizer...

— Você pode…

Dei um sorriso. Senti meus olhos ficarem apertados. Quando Jeongguk pressionou seus lábios, fazendo as covinhas
nas bochechas aparecerem propositalmente, meu estômago ficou todo gelado. Poxa, que fofinho! Me aproximei com muita
calma, com meus dedos bem próximos de sua pele. Toquei cada covinha. Afundei a pontinha dos dedos em suas bochechas,
e senti meu coração se remexer comovido, porque era mais adorável e bonito quando eu podia tocar. Tão macio, fundo, e
fofinho… Jungkook é tão…

— Você é tão fofo… — eu disse, bem baixinho.

Arrastei meu dedo para cima sutilmente, e senti a quentura da sua pele sob meu toque. Ele estava rubro e quente, e
por causa disso, minhas bochechas ficaram quentes também. E eu sabia que estava igualmente vermelho, mas… era tão
lindo. Eu não pude evitar. E não queria evitar...

Àquele ponto, Jeongguk já não estava mais olhando para mim. Estava olhando para baixo, com seu olhar tão fixo que
parecia estar dormindo. Ele moveu o lábio para o lado, e as covinhas pequenas apareceram, uma mais destacada que a
outra. Mordisquei meu lábio e desloquei a pontinha dos dedos até ambas. Com muito cuidado… porque não queria machucar
o rosto dele. Minhas unhas estão um pouco grandes… e a pele dele é muito macia…

Eu gosto de estar próximo de Jeongguk. Então quando nossos rostos estão tão perto, bem assim, eu me sinto
excepcionalmente bem. Seu rosto sempre fica todo rosa, mas isso só deixa tudo mais especial. É fofo como Jeongguk é
completamente fofo... Na boa, ele é tão… mas tão fofo... ele é tão delicado... parece uma florzinha.

Toquei ele novamente e pressionei as covinhas com muito carinho. Dei uma risadinha, porque era tão engraçadinho.
Jeongguk tem detalhes tão singulares… o rosto dele é extremamente característico e lindo.

Eu acho que ele é o garoto mais bonito que eu já vi.

Com esse pensamento, eu dei um sorriso maior e afastei meus dedos de seu rosto. Queria tocar mais dele, mas não
queria abusar de sua boa vontade. E eu estava tão agitado, em todos os lugares possíveis, que não queria ser estranho por
vontades que tenho.

Pus as mãos em meu colo e mordi ainda mais meus lábios. Eu gostei tanto de tocar em seu rosto.Isso está me
constrangindo agora também...

Eu percebi que ele também estava com muita vergonha, porque continuou com a cabeça baixa. Fiquei o olhando, e
esperei ele levantar o olhar. Toquei o indicador em seu braço, o chamando. Ele soltou um muxoxo, mas... Finalmente, ergueu
a cabeça, com os olhinhos de jabuticaba focados nos meus.

E por um tempão, nós dois apenas ficamos daquele jeito. Quietos. Foi tão diferente que eu dei uma risada, e agora
até meu pescoço está quente. No fim, devo estar tão vermelho quanto ele…

Jungkook também riu e nós ficamos rindo daquele jeito. Até que ele, que estava meio trêmulo e vermelho, abriu sua
mochila novamente, enquanto eu lhe observava curioso e nervoso. Ele tirou seu walkman de lá. Uma fita, e o fone.

— E-eu meio que peguei essa fita… não lembro se fui eu que fiz ou o meu pai, e não sei quais músicas tem, mas ela
estava na minha caixa de fitas favoritas… — ele disse, enquanto tirava a fita da caixinha. — Não tinha nome… então eu
coloquei, mas, enfim…

Ele plugou os fones na máquina, encaixando a mixtape seguidamente. Ele ergueu em minha direção.

— Você não vai…? — perguntei, meio que pegando o fone.

— Agora não, eu… — Ele desviou o olhar, não mantendo tanto o contato visual. — Me diga se ela é boa quando
terminar… você é quem mais confio para isso.

Meu rosto deve ter se iluminado em um segundo, pois rapidamente peguei o fone, encaixando-o em meus ouvidos e
balançando a cabeça em afirmativa. Li a fita antes que ela começasse a rodar. Junho de 1983.

Dei um sorriso.

— Então, eu vou ouvir… — eu disse.


Notei um sorriso discreto nos lábios de Jeongguk. Ele balançou a cabeça em afirmativa e abaixou a cabeça, voltando a
fazer os exercícios enquanto a fita começava. Aumentei o volume e encostei-me relaxadamente no banco. Fechei a janela
quando a chuva ficou mais forte e mais fria...

As músicas daquela mixtape eram muito lentas e calmas. Diferente de tudo que Jeonggukie me apresentou, mas…
ainda sim, muito boas. E gostosas. Tinha uma melodia romântica que me deixava arrepiado… e de certa forma, muito
quentinho. Tanto quanto Jeongguk, que parecia tão aconchegante ao meu lado que eu só queria poder deitar nele.

Eu provavelmente iria o esmagar, então não ousei fazer isso… mas que eu queria, eu não podia negar…

Respirei fundo. Fechei meus olhos pois a segunda música era muito boa e tenho certeza de que a conheço de alguma
novela. Me senti calmo… e mordi o lábio, me encostando levemente em Jeongguk. Tentando ser o mais discreto possível —
provavelmente falhando nisso. Apenas espero que ele não se incomode comigo…

É que ele é tão quentinho… quanto essa música.

JUNGKOOK

Estou ouvindo Roy Orbison do fone daqui. Bem daqui, e meu coração está tão inquieto que eu poderia me afundar no
banco e sair dele nunca mais. Nunca mais mesmo...

Jimin está tão perto. Estar perto dele me deixa tão diferente que eu me sinto todo… encabulado. Ele está sempre me
fazendo descobrir coisas novas, sensações estranhas, e… ele nunca para. Está sempre me deixando mais surpreso. E agora
não consigo parar de pensar se isso realmente está acontecendo. E se eu estou realmente reagindo assim…

Ele está sempre me fazendo sentir coisas mais intensas, e me deixando... puxa. E ficando perto… e me fazendo
senti-lo…

Eu poderia facilmente desmontar a qualquer segundo. Estou nervoso. Puxa…

Seu ombro está encostando no meu e a lateral de seu corpo também. Nossos joelhos estão se tocando e meu pé está
ao lado do seu. Seu rosto está perto. E seu cheiro está me fazendo morder os lábios sem parar. Ele cheira a tangerina,
shampoo e bala ao mesmo tempo.

Jimin é... completamente doce.

Meus dedos estavam levemente tesos, mas consegui escrever sem fazer muita bagunça. Quando terminei aqueles
cálculos, não quis me mexer. Porque não queria sair daquela posição… então eu fechei meu caderno e guardei-o na mochila
com muita cautela.

Respirei fundo, encostando a nuca no banco. Eu ainda podia sentir a sensação do seu toque em minhas bochechas e
isso me deixava… me deixava… me… eu não sei. Não sei se estou abalado ou agitado. Jimin dá atenção à lugares em mim
que ninguém jamais deu antes... e isso me deixa… me deixa...

Puxa.

Eu realmente não faço ideia do que fazer… porque embora seja confuso, de uma coisa eu sei. Eu gosto disso. Sei
que estou gostando disso, e isso me deixa nervoso...

Jimin deu um espirro. Dei um sorriso, porque o som era muito adorável. Jimin se ajeitou assim que fungou, e quando
ele abaixou sua mão, seu dedinho tocou o meu. Entreabri meus lábios, mas não proferi nada. Jimin não se moveu. E não
disse nada... mas não afastou sua mão da minha.

E eu… bem, eu queria que ele a deixasse ali. Perto.

Meus ombros ficaram meio que tensos, e eu olhei para os lados. Na verdade, estava meio que remexendo a cabeça, e
era bem estranho, mas… eu não sei, acho que pode ser um nervosinho. Puxa. Estou nervoso porque nossas mãos estão se
tocando novamente.

Não quero que esse contato termine… minha mão gosta disso.Por que estou falando da minha mão como se ela não
fizesse parte de mim? Não quero que elas fiquem longe uma da outra.Por que estou falando da mão de Jimin como se ela
não fizesse parte dele? Quero que possamos as tocar também…

Sussurrei baixinho, puxa, e continuei ouvindo a música de longe. Suspirei e formei um leve biquinho com os lábios,
quase que inconscientemente. Meus dedos estavam meio trêmulos. Mas eu fechei os meus olhos, e mexi o meu mindinho.

Ergui-o e enlacei ele ao de Jimin.

Ai meu Deus.

Espera, espera, puxa.

Será que foi errado fazer isso?

Foi bizarro?
Por favor, que não tenha sido bizarro ou errado, e se foi, que ele não estranhe-me demais…

Estava tocando Dream. E eu estava quase surtando.

— Jungkookie…

Quando Jimin sussurrou, eu me surpreendi. Quase afastei minha mão em um impulso, porque embora o tom de sua
voz fosse doce, eu estava… pilhado o bastante para pensar que ele estava me negando.

Mas antes que eu pudesse fazer isso, Jimin enroscou seu mindinho ao meu, e o apertou, cuidadosamente. Meu
coração bateu forte quando ele se aproximou mais e sua cabeça tocou a minha, com calma, e ele respirou fundo antes de…
dar uma risadinha baixa.

Pensei que ele fosse dizer alguma coisa. Mas ele, simplesmente, não disse mais nada. Minha boca se mexeu sozinha.
De repente, meus lábios cresceram e meu rosto deveria estar todo estranho, porque eu estava sorrindo muito. Coloquei a
mão em frente a boca, enquanto tentava disfarçar. As pessoas estavam de costas para nós e o rapaz ao meu lado lia um
jornal. Então… eu sorri mais, piscando lentamente.

Nossos mindinhos estão enlaçados…

Things never are as bad as they seem

So dream, dream dream

E eu não consigo mais parar de sorrir.

***

Parecia mágica. Mas quando o ônibus parou no nosso ponto, a chuva havia parado, e um sol, mesmo que fraco,
cobria os céus e iluminava as ruas. Dei um sorriso quando muitos se levantaram e começaram a descer. Me mexi levemente,
e Jimin que estava focado na janela, me olhou.

— Chegamos… — eu disse. Fazia uns cinquenta minutos que estávamos parados e com os dedos entrelaçados, e
mesmo assim, eu ainda me sentia nervoso.

Mas então, Jimin deu um sorriso. Depois, esticou os braços, se espreguiçando. Ri baixinho, estalando os meus dedos,
com o mindinho em especial bem quentinho. Espero que possamos fazer isso de novo quando voltarmos.

— Devemos pagar as passagens por onde? — indagou.

— Pode descer, eu pago... — eu falei. Jimin afirmou com a cabeça, carregando o guarda-chuva grande e descendo os
degraus.

Fui até o motorista e paguei nossas passagens. Depois rodei as roletas e corri até as portas do meio. Quando desci,
olhei em volta. Observei, ainda sorridente.

Olhei.

Olhei.

Espera...

Andei até as portas finais, e olhei em volta. Fiquei quase desesperado.

Afinal, tinha muitas pessoas e... meu Deus.

Onde está o Jimin?

Notas finais
cade oo jiminnnnnn onde eh que eeeelee estaaaa *musica do procurando nemo*

dividi o capítulo então não devo demorar pra att. espero que tenham gostado meus anjos! forças para nós amanhã...
beijinhos e até <3

covinha do jk: https://66.media.tumblr.com/2738ac70fcbfb9ecee251578ab45c16c/tumblr_otyzhaohVY1u3c9sjo1_500.gif

reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

trailer de 'ele é como rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

chat da fic 'ele é como rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv
uwu uwu uwu

13. Ele é como o Sol

Notas do Autor
CHEGUEI ATRASADA MAS CHEGUEI AEHOOOOO

olá aqui está uma bíblia

boa leitura~

JIMIN

— Não, senhor. Não sou maior de idade.

Eu acho que nunca vi tantos idosos assim antes. É engraçado e fofo, e também é estranho, porque todos eles estão
mexendo em mim ao mesmo tempo.

Ok. Tenho certeza de que é estranhamente engraçado.

— E o que é esse seu cabelo? — o mesmo senhor de antes indagou, completamente surpreso com minha aparência.
Engoli em seco.

— É meio que… O meu cabelo…?

— Você pintou sem a supervisão de seus pais? Rapazinho… — A senhora fez aquela cara de quem iria repreender.

— Não! Não, não, senhora, ele é assim mesmo. É de nascença — eu disse, fazendo todos se espantarem. — Minha
mãe é estrangeira e meu pai coreano, então eu meio que sou assim. Assim mesmo.

O senhorzinho afirmou com a cabeça, e as outras duas senhoras também. Depois sorriram.

— Que bom que és um bom garoto!

— Sim!

— Se é assim, por que não fica? Está muito frio lá fora!

— Verdade!

— Você vai almoçar com a gente? — Eles pareciam super ansiosos para isso.

Por isso, eu dei um sorriso meio triste. Poxa...

— Não, é… eu tenho que encontrar meu amigo... — eu disse, olhando para as portas do local.

Eu nem cheguei a entrar definitivamente no asilo e esses velhinhos me cercaram por causa da minha aparência. Já
faz um bom tempo e eu só consigo pensar em Jeongguk porque é claro que ele deve estar preocupado. Eu sumi do nada,
mas… Não pude evitar.

Foi uma emergência.

— Mas você volta um dia? — a velhinha perguntou, com as mãos enrugadas verdadeiramente ansiosas. Era adorável
e triste como todos eles pareciam ansiar por minha presença quando eu era, basicamente, um desconhecido.

Já ouvi histórias sobre asilo e velhinhos abandonados por suas famílias antes, e estar aqui me deixa todo balançado.
De certa forma, sei o que está acontecendo e sei como é triste. Não sei se perdoaria algum familiar meu se colocassem
minha vózinha no asilo. Felizmente, ela sempre viveu conosco, em casa.

— Se quiserem, eu posso voltar sim! — Dei um sorriso nervoso e tímido, vendo as senhoras ficarem felizes.

— Vou cozinhar para você! Você parece gostar de comer, está tão fortinho! — Ah, ela me chamou de gordo na língua
das avós.

— É, mas ainda precisa se alimentar mais! — a outra retrucou, e minhas bochechas arderam.
Eram iguaizinhas à minha vó. Amam engordar todo mundo.

— Se é assim, eu volto muito em breve!

Elas ficaram tão felizes com minha afirmação que senti meu coração apertar. Eram tão fofas, e os senhores estavam
tão quietinhos. Fiquei melancólico quando me despedi e saí pela porta.

Só pude me concentrar e me distrair quando lembrei de Jungkook e sua provável preocupação, já que sumi do nada…

Parece confuso. Mas é porque realmente é. Logo depois que eu desci do ônibus, me deparei com uma cena um tanto
quanto desesperadora e que, querendo ou não, não consegui ignorar de jeito nenhum.

Tinha um vovô de óculos escuros e bengala acenando para o nada e pedindo ajuda para chegar em um certo lugar.
Era cego. Quando me aproximei, perguntando se ele estava bem, ele começou a dizer para eu, pelo amor de Deus, o levar
de volta ao asilo, pois ele havia se perdido e precisava voltar. Me disse o nome do lugar e depois de perguntar à uma moça,
ela me disse que ficava logo do outro lado da rua. Aquele velhinho era provavelmente doidinho da cachola, mas eu o ajudei a
atravessar de imediato porque ele estava muito desesperado e choroso, além de tremer, então eu nem mesmo pude esperar
Jeongguk. Só o levei até ali e, depois de falar com a moça da recepção, descobri que não era a primeira vez que ele estava
fugindo. Sim, ele fugia, e depois não sabia exatamente para onde ir, então queria voltar. Mas nunca sabia como…

Fiquei com dó do senhor maluquinho, mas ele estava de volta, então no fim tudo ficou bem.

Foi quando os outros chegaram, alarmados comigo. Um senhor perguntou se eu já era maior de idade para violar
meus cabelos daquele jeito, e então foi uma interrogatório sem fim. No entanto, agora, eu pelo menos consegui sair com
segurança.

Só preciso voltar para Jungkook antes que ele fique preocupado demais.

— Olha, um cachorrinho!

Meu Deus.

Atravessei a rua com mais pressa e quase fui de encontro com uma bicicleta. Tive sorte dela não me atingir, e pedi
desculpa para o homem nela. Subi na calçada ofegante, mas em segurança.

Arregalei levemente os olhos ao sentir braços em torno do meu corpo, em um quase abraço por trás. Contudo, foi
curto o bastante para eu conseguir retribuir de alguma forma.

Quando olhei para trás, me senti mal por minha atitude repentina. Era Jeongguk que estava ali. E o rosto dele parecia
tão assustado, ao mesmo tempo que sofrido e magoado, que eu desejei poder me dar um soco.

— Jimin! Que susto! Você sumiu! — ele começou, bem alto. E agora está começando a chuviscar de novo. — Puxa...

— Me desculpe! — eu disse, bem alto também. Segurei seu braço e o puxei para baixo de uma árvore pois não queria
que pegássemos chuva.

— O que aconteceu? Você se perdeu? — ele indagou, e a maneira a qual está olhando para mim e os lugares em
meu corpo mostram o quanto ele está preocupado. Levanto os braços para mostrar que não me feri.

— Não! Fui ajudar um velhinho cego, e acabei sendo cercado por uns idosos, mas…

— Como assim? — Franziu o cenho.

Percebi como minha explicação foi breve e sem sentido.

Respirei fundo e comecei de novo:

— Quando eu desci do ônibus, vi um velhinho perto da faixa de pedestre. Ele era cego, e queria chegar no asilo
dele… É aquele. — Fiz um pequeno bico, apontando para o outro lado da rua. — Fui até lá para ajudá-lo a voltar. Aí uns
idosos vieram me ver e falar comigo, por causa do meu cabelo, então fiquei lá por um tempo. Me desculpe, não queria que
você ficasse assustado! Mas o velhinho estava tão desesperado… Eu não consegui não ajudá-lo. Pensei que seria mais
rápido, mas me atrasei. — Me senti mais calmo ao notar que, conforme eu me explicava, Jeongguk se acalmava. — Me
desculpa? Eu juro que não vou fazer de novo.

Jeongguk olhou para mim por um tempo, sem dizer nada. Mas depois respirou bem fundo.

Dei um sorriso quando ele ergueu o dedo mindinho, sabendo exatamente o que ele iria fazer naquele momento.

— Tudo bem… jura mesmo? — perguntou. Afirmei com a cabeça, levando meu dedo mindinho ao dele e apertando.

— Sim, eu juro. — Sorri grande.

— Legal… — Jungkook deu mais um sorriso pequeno, me olhando diferente. Afastou nossos dedos e pigarreou. —
Então… vamos? A loja não fica muito longe daqui.

— Uhum...

Nós nos olhamos. E começamos a andar.


Lado a lado, nos esgueiramos sob as árvores e telhados que surgiam pelas ruas para nos esconder da chuva —
mesmo que eu carregasse um guarda-chuva comigo. Afinal, era só um chuvisco mesmo.

O centro era realmente movimentado e tinha tantas pessoas... Dava um pouco de medo, até. Procurei ficar sempre
pertinho de Jungkook sempre. Acho que ficaria louco caso ficasse sozinho nesse lugar.

Logo aquela bagunça de pessoas não durou muito, pois entramos em uma avenida calma e silenciosa, e a sombra
que as árvores estavam fazendo sobre nós... Bem. Meio que deixavam Jeongguk charmosinho. Eu não sei dizer o porquê,
mas tem algo no jeito que o cabelo dele balança quando anda que me faz sentir… Estranho. É, estranho.

Fiquei andando, distraído com sua boa aparência e fixado nos detalhes de seu rosto. Dei um sorriso ao perceber suas
orelhas ficando repentinamente... vermelhas? Por que estão vermelhas?

Poxa. É tão fofo...

Não sei se ele percebeu que estou encarando, mas, honestamente, eu não me importo.

É que é tão tentador.

— Eu ainda não entendo por que você fica me olhando assim… — ele disse, de repente.

Olhei para meus próprios pés, dando uma risadinha.

— É porque gosto de olhar para você.

A minha resposta curta pareceu fazer sentido apenas na minha cabeça, porque Jungkook fez uma cara de quem está
surpreso e curioso ao mesmo tempo.

Era claro como ele não fazia ideia de que eu responderia algo como aquilo.

— Como assim gosta? — ele ainda perguntou.

— Eu gosto.

— Mas por quê?

— Seu rosto me deixa calmo.

— Eu não entendi.

Fiz um biquinho. Como assim ele não entendeu?

Ele é tão agradável que me sinto atraído, e preciso olhá-lo. Simples assim.

— Você não ouviu...? — eu perguntei.

— Eu ouvi, mas eu não entendi.

— Não entendeu o porquê gosto de olhar para você?

— Não! Isso eu entendi. Quer dizer, mais ou menos… — Mordiscou o lábio. — Eu só não entendi por que eu faço
você se sentir calmo...

Conforme ele falava, diferentes pontos em seu rosto ruborizavam. Principalmente a pontinha de seu nariz. Tão fofo…

— É que… Não sei. Espera. — Segurei em seu braço para podermos atravessar a rua. Quando chegamos na outra
calçada, não medi minhas palavras e admiti o que é, em todas as partes, uma grande verdade. — É porque você é muito
bonitinho.

Enfim, o soltei.

Dei alguns passos para trás para poder olhar para seu rosto, mas minha resposta com certeza não foiapropriada.

Bom, eu acho que não, já que Jeongguk está com o rosto todo rosa e os olhos grandes surpresos, como se esperasse
qualquer coisa vinda de mim, menos meu elogio espontâneo.

Se apenas chamando-o de bonitinho ele já ficou assim, imagine se um dia eu disser tudo de incrível que eu penso
sobre dele?

Eu vou matá-lo do coração.

Não que eu me importe. Já que... É tão fofo.

Ugh!

— Jungkook…? — eu chamei, dando um sorriso engraçado. Minha voz o fez olhar para baixo e levar a mão até a
nuca, começando a coçar aquele local rapidamente. — É… estamos perto da loja?

— Que loja? — ele indagou, rouco.


— A de discos…

Tomei um susto com a maneira que ele deu um tapa na própria testa, como se sentisse extremamente idiota por
esquecer.

— Ah, é! — gritou. Depois cobriu os lábios, e não sei se é errado achar isso muito fofo e engraçado. Eu nunca o vi tão
atrapalhado e nervoso antes. — Puxa, puxa, é… é… É mesmo, eu quase esqueci, desculpa, desculpa… — começou a
murmurar. — Puxa…

— Não precisa se desculpar.

Eu ainda estou risonho.

— Ah, tá, desculpa — disse. E então bateu mais uma vez na própria testa. — Ai…

— Sua testa ficou vermelha — eu falei, e ele começou a acariciá-la.

— Ah… — Fez um pequeno bico. — Eu fiquei nervoso…

Jeongguk voltou a coçar seus cabelos com vergonha. Eu não fazia ideia do motivo pelo qual ele ficou tão agitado,
mas espero que tenha sido por causa do elogio, porque… Eu não sei. Não sei se isso seria bom ou não, mas essa versão de
Jeongguk é extremamente fofa e eu… gosto?

É! Sim, eu gosto muito.

Sem me importar verdadeiramente com meus pensamentos, levei minha mão até o ombro alheio, apertando-o. Deixei
meu sorriso ficar ainda maior.

— Não tem problema. — Desci os dedos por seu braço, o segurando mais uma vez. Seus olhos estavam seguindo
minha mão, e honestamente, ele parecia estar em outro mundo. — É pra qual lado? Vamos…

Ele ficou em silêncio. Lhe vi engolir em seco e, atrapalhado, afirmar com a cabeça, pressionando seus lábios
bonitinhos.

— É pra lá... — disse, e gosto de como sua voz soa macia agora.

— Está bem.

Jeongguk ainda demorou uns segundinhos para voltar ao normal, mas logo retomou a postura e começou caminhar.
Fui ao seu enlaço o caminho todo, em silêncio, mas comentando algumas coisas simples durante o trajeto para que ele não
se sinta ainda mais nervoso. Fiquei feliz quando seu rosto voltou a tonalidade normal e os sorrisos deixaram de ficar
trêmulos.

Como diria ele mesmo: puxa…

De repente, ele parou de andar e ficou de frente para uma vitrine. Também parei e quase dei um grito ao notar que
estávamos, enfim, em frente a loja de discos.

Meu Deus, ela era muito linda.

— É aqui — disse, e eu quase não me segurei para gritar.

As vitrines tinham algumas vitrolas bonitas e o vidro estava muito limpo. Podia ver lá dentro e não conseguia esperar
mais para entrar. De jeito nenhum!

— Vamos entrar! — eu falei, animado, me virando para Jeongguk.

Ele sorriu e afirmou com a cabeça, ajeitando sua jaqueta bonita.

— Sim!

Então finalmente estávamos ali.

Quase não vi Jungkook depois que entramos. Uma senhora de idade nos recebeu, meio carrancuda, mas não é como
se eu me importasse. Apenas comecei a passear os olhos por todas as estantes e discos embrulhados, amando cada pôster
preso na parede e, inclusive, o som baixinho que tocava na loja. Não sei que música era, mas parecia bem antiga. Lembrava-
me as coisas que a vovó escutava.

Bem, que seja. Eu quero explorar!

— Vamos ver quais discos primeiro? — perguntei, me virando para Jungkook.

— Podemos ver os novos? Os que chegaram há pouco tempo! — disse, e afirmei com a cabeça, animado.

— Eu topo!

— Falem baixo, por favor — a moça do caixa pediu.


— Ah, desculpe… — murmurei.

Diferente de mim, Jungkook não pediu desculpas. Ele estava com uma carinha de bravo até que bem fofa, mas muito
irritada.

— Não devíamos ter que fazer silêncio, é uma loja de discos, não uma biblioteca — falou.

— Verdade… — eu disse, parando para pensar. — Fazer o quê? Ela é uma velha, então tem que ter paciência.

Um segundo depois, percebi que falei alto demais. A coroa virou a cara para nós.

Na verdade, ela me olhou, e não parecia nada feliz.

Ai meu Deus do céu.

— Só vamos, é lá em cima e fica bem longe dessa chata — Jungkook voltou a dizer, sem perceber a cena que
aconteceu ali. Deixei que ele me puxasse pela mão até as escadas, sentindo o olhar da velhota queimar em minhas costas.

Uhhh. Que medo.

Saltamos os degraus juntos e o segundo andar não estava tão vazio quanto o primeiro. Havia dois adultos e uma
moça, olhando tudo e conversando, felizes.

Antes que Jeongguk me mostrasse os discos novos, parei em frente à um, o pegando pois o achei muito bonito.

— Olha! Quem são esses? — perguntei, e Jeongguk parou sua caminhada, me olhando.

— Ah, são os Beatles — disse, e depois me olhou engraçado. — Você sabia, né?

— Não… — falei, olhando a capa. Eram quatro rapazes muito fofinhos. — Já ouvi falar em algum lugar, não sei
aonde, mas não conhecia eles de cara.

— Hum… — Jungkook fitou em minhas mãos. — Eu gosto deles, mas não escuto muito. Prefiro os álbuns do John
Lennon.

— Ah! Eu conheço ele, ele morreu! — falei.

Jeongguk fez uma cara engraçada para minha afirmação e logo deu risada. Ok, foi bem repentino dizer que ele
morreu, mas me lembro perfeitamente desse nome no noticiário há alguns anos. Minha avó ficou muito triste, e minha tia
também, então nunca me esqueci.

Não fazia ideia de que ele era músico. Pensei que fosse o rei da Inglaterra, ou sei lá o quê.

— É, infelizmente sim… — Jeongguk falou e eu coloquei o álbum no lugar. — Ele tomou um tiro.

— Coitadinho.

— É.

Esquecemos o assunto e continuamos andando.

Era cada capa de disco mais linda que a outra que eu não sabia direito para onde olhar! Avistei dois álbuns do Pink
Floyd, discos que Jungkook tinha, e fiquei todo balançado. Queria ter um vinil que preste em casa…

Ah, música é tão fascinante.

— Você quer ouvir alguma coisa, Jimin? — Jungkook perguntou de repente.

— Nós podemos?

— Sim. — Riu, provavelmente por causa da minha felicidade após sua afirmação. Ah, qual é! Eu poderia ouvir toda
aquela loja. — Vou pegar aquele dos Beatles. Ele não tá plastificado, então pode tirar da capa.

— Ok! — eu disse, vendo-o ir até o local de antes.

Heh. Eu adoro o jeito que ele anda.

— Vem aqui.

Não tardei em me aproximar, olhando curioso para os puffs que tinham ao lado de uma vitrola, com um fone plugado.

— Wow… — murmurei, enquanto Jeongguk ajustava o disco.

— Senta aí — disse, sorrindo. O fiz sem pensar duas vezes, aconchegando o bumbum em um puff e o guarda-chuva
no outro. — Um dia fiquei a tarde inteira ouvindo tudo por aqui… Eu nunca me canso.

Dei um sorriso, pois parecia realmente divertido ouvir música em um ambiente como esse por um dia inteiro. Ainda
mais se for com Jeongguk…
— Parece divertido — falei, pegando os fones quando ele me deu.

— É bem divertido — disse. — Escolhe um número de um a quatorze.

— Hum… — pensei brevemente. — Dez.

— Tá bem — disse, ajustando a vitrola. Oh, ele provavelmente vai colocar a faixa dez. — Vou atrás de um disco que
saiu há pouco tempo e já volto — avisou sorrindo. Afirmei com a cabeça, pegando a capa do álbum dos Beatles enquanto
isso.

— Tudo bem, mas volte logo. — Sorri.

Jungkook também sorriu e, sem mais delongas, saiu atrás de seu disco. Sem antes, é claro, fazer a vitrola começar a
deslizar, e girar, e girar...

Demorou um tempinho para começar a música, e enquanto isso, li o nome da faixa dez.“Baby It’s You”. Hum…

Deixei de encarar o disco, procurando Jeongguk com o olhar. A melodia começou, mas não prestei muita atenção,
pois estava atento ao jeito que ele mexia nos discos, explorando com cautela e calma. Às vezes gosto de olhar para as mãos
dele...

De certa forma, elas são tão bonitas...

O vi pegar um disco e analisá-lo, e a forma como franze as sobrancelhas de maneira crítica, mas sem parecer bravo,
o deixa tão maduro. Só concentrado. Não sei como ele consegue ter um jeitinho desses…

Um rapaz parou do seu lado e puxou assunto, apontando para o disco na mão dele. Jeongguk olhou para o cara e
conversou brevemente consigo, e depois riu, de um jeito que as ruguinhas apareceram do lado dos seus olhos. E os dentes
avantajados ficaram visíveis.

Meu Deus. Abracei o álbum dos Beatles e minhas bochechas arderam.

Sha la la la la la la

É tão lindinho...

Fui pego desprevenido quando Jeongguk olhou pra mim. Diminuiu um pouco o sorriso, mas ainda sorriu. Sacudiu o
disco na mão, como quem diz que achou o que estava procurando e juro que eu poderia derreter. Devo estar parecendo um
idiota, todo vermelho e agitado porque ele sorriu… Ele apenas sorriu…

Maldição, o sorriso dele é tão bonito.

Tentei agir normalmente quando ele começou a se aproximar, mas estava me sentindo estranho. Por que eu tive que
vê-lo sorrir ao som de uma música assim?

Droga, a culpa é toda dos Beatles…

— Você gostou? — Jeonggukie perguntou, enquanto eu tirava o fone.

— Sim, sim… — falei, rindo soprado. — É… Tocou duas. Gostei da número dez mesmo.

Jungkook sorriu de novo. Minha mente fez Sha la la la la la la.

— Vou ouvir depois, então — falou, se sentando no outro puff ao lado do meu. — Esse está plastificado, mas eu
queria dar uma olhada nele.

— Huh… — Olhei para o vinil em suas mãos, rindo baixinho. — Que moça engraçada.

— Não é? Demais! — Ele também riu. — É pra minha mãe. Meu pai disse que ela gosta, então vou comprar para dar
de aniversário para ela depois.

— Hmmm, quando é o aniversário dela?

— Semana que vem, na terça — disse. — Ela é bem brava quando quer, mas é muito legal também. Ela merece…

Ver Jeongguk falando de sua mãe me fez lembrar da minha, e por isso sorri. Espero que as flores cresçam até o dia
de seu aniversário…

— Espero que ela coma bolo de aniversário — falei para Jungkook. Ele assentiu.

— Eu também.

— Ei, Jungkookie?

— Hum?
— Como tem sido na escola? Me fala mais.

Decidi perguntar, pois não queria que ficássemos em silêncio de repente. Ele ficou pensativo por um momento, como
se tentasse reunir acontecimentos importantes dos últimos dias.

Não vou há duas semanas, mas parece que é uma eternidade. Sinto tanta saudade…

— Está normal, eu acho. Chato — disse. — As pessoas sentem sua falta.

— Sério? — perguntei, sorrindo com a possibilidade.

— Uhum. A Jieun e a Luna perguntaram por você duas vezes nessa semana — disse, e vejo algo diferente em seu
tom de voz ao dizer isso. — Elas gostam muito de você…

— Fazemos aula de leitura juntos, então meio que nos tornamos amigos — eu disse, me lembrando delas.

— Uhum…

— Se você ver elas amanhã, diga que sinto saudade — eu pedi, sorrindo.

Jungkook afirmou com a cabeça, e o jeito que sua boca está fechada e pressionada o faz parecer emburrado.

Antes que eu pudesse perguntar o porquê, ele se levantou, com o disco nas mãos.

— Vamos ver os vinis novos? — sugeriu, me fitando.

— Vamos… — Me levantei também, o seguindo.

Sinto um pouco do rastro do seu perfume no ar, e isso me faz sentir calmo e contente. Ele também cheira como uma
flor.

Nós caminhamos juntos até os discos novos e os olhamos com cautela.

Jeongguk está agindo um pouco estranho, eu admito... mas prefiro cogitar que é apenas algo da minha cabeça.

— Eu vou lá embaixo achar um do Bowie pra escutar agora — ele disse, de repente.

— Tá bom… — respondi, vendo-o andar na direção da escada. Desceu os degraus quase apressado, e termino por
fazer um biquinho, imaginando se ele está bem ou não.

Talvez ele apenas queira fazer um xixizinho.

Eu espero que seja isso mesmo...

— Procurando algo em especial, garoto?

Olhei para cima e dei de cara com um adulto. Ele estava vestindo uma camiseta com uns discos brilhantes, e talvez
trabalhe aqui. Provavelmente.

— Não sei ao certo, não estou com muito dinheiro… — confessei.

— O bom dos novos discos é exatamente esse: tem muitos artistas novos e muitos primeiros álbuns por aqui — disse
o moço, passeando os dedos pelos vinis, até tirar exatamente três de lá. — Eles são mais baratos, e é preciso dar uma
chance, mesmo sem ter escutado-os antes.

— É? — perguntei, pegando um azul bonitinho.

— Sim, sim. Este aí — se referiu ao que estava na minha mão —, é o Aztec Camera, e é o primeiro álbum deles. É
parecido com Talking Heads e Joy Division. Você curte?

Imediatamente minha mente me lembrou de Jeongguk, ainda no andar de baixo, quando ele disse o nome de ambas
as bandas.

Sei que Jungkook tem um amor descomunal pelo Joy Division, então, balanço a cabeça em afirmativa para o
atendente.

— Gosto muito. — Dei um sorrisinho.

— Então. É um vinil muito simples, mas as músicas são muito boas.

— Tem como eu escutar alguma delas? — perguntei, pois esse álbum está plastificado e não sei se posso ouvi-lo por
isso.

— A loja não nenhum permite que você abra esse sem comprar. Mas eu posso te mostrar uma palinha das músicas
que gravei em uma fita — ele disse, e sorri. — Tem um tocador de fitas ali nos fundos.

— Então eu quero, por favor!

O vendedor afirmou com a cabeça e apontou para o fundo do segundo andar, onde tinha umas estantes. Logo depois
saiu, dizendo ir buscar a fita, e eu fui até lá, animado.

Ele voltou bem rápido. Disse que iria atender outra pessoa. Coloquei a k7 no toca fitas e o fone, enquanto as músicas
tocavam.

E, bem, eu estaria mentindo se dissesse que não amei.

Era realmente muito bom! Alguma coisa na voz daquele cara me fez pensar em Jeongguk... Já tocaram três músicas e
todas elas são a cara dele.

São ótimas. Eu gosto da voz, do agudo, do suave… É tudo tão bom que me faz sentir assim.Pensando em Jeongguk.

Virei o disco e fitei o preço. Minha mesada iria embora, mas não, eu não ligo! Abracei o disco e tirei os fones, olhando
em volta até perceber que Jeongguk ainda não subiu e que o atendente ainda está ali.

O chamei com um gesto, sorrindo feliz.

— Eu vou querer esse! — falei, andando até ele. — Mas será que você pode…

Antes que eu terminasse, vi Jeongguk subindo as escadas, olhando para um vinil, e quase gritei com a ideia de ele me
ver com o disco que quero dar para ele.

De surpresa, é claro!

— Moço, olha… É surpresa. Pega aqui e depois eu vou lá embaixo pagar — eu falei, eufórico, entregando o disco
para o cara. — Ok?

— É, ok… — o homem disse, rindo um pouco da minha inquietação. Assim que viu Jungkook se aproximar de mim,
pareceu entender completamente o que eu quis dizer.

Então, enfim deu meia volta e foi para as escadas.

— Viu algo interessante? — Jeon perguntou, sem nada de estranho.

— Ah, sim, é… Mais ou menos. — Dei um sorriso, disfarçando super bem. — O que você tem aí? — troquei de
assunto, me encantando pelo sorrisinho que Ggukie deu quando levantou o vinil em sua mão.

— É o da canção do espaço. O nome do álbum é o nome dele, então vou me contentar em apenas te mostrar a arte
da capa — falou, enquanto eu ria baixinho, ao mesmo tempo que achava artístico como os tons de verde e azul combinavam
com os olhos do cantor. O cabelo dele era bonito também.

— Parece maravilhoso.

— E é! Ah — Jeongguk fez uma expressão divertida. — Escuta essa música.

— Qual? — Franzi o cenho, mas logo Jeon se aproximou e me puxou para um canto.

Conforme andávamos, a música ia ficando mais alta. Até chegarmos a parte de trás e ver que estavam tocando
música alta — não tão alta. Tinha dois caras e uma moça, jogados em outros puffs — que ficavam perto do toca fitas — e,
uau, me sinto intimidado porque são todos diferentes.

Mas gostei do fato da moça ter o cabelo vermelho, mesmo que dê para ver daqui que a raiz está crescendo escura.

— É Soft Cell — Jeongguk disse. — É meio que bom...

— Eu gostei — falei, sorrindo, enquanto nos aproximávamos sorrateiramente. — Você já escutou antes?

— Só li na revista sobre as músicas do primeiro álbum serem todas sobre um amor proibido — Jeongguk disse,
revezando entre me olhar e mexer nos outros discos com a mão desocupada. — Não sei se isso faz sentido…

— Acho que faz sim.

Não. Não fui eu que respondi Jeongguk, e sim o cara barbudo que estava junto com a moça descolada e o outro cara.

Eu me virei para olhá-lo, enquanto Jeon fazia o mesmo. O moço sorriu para nós e não era nem um pouco intimidador,
apesar dele ser parrudo. Era amigável e interessante.

— Acho que quando falamos de amor proibido lembramos dos anos 50, né — o outro cara disse, pensativo. — Eles
são da década de 70, deve ficar meio confuso. Ainda mais pra você, garoto.

— É que eu não consegui pegar o que tem de proibido nas letras... — Jeongguk disse, meio tímido, mas ainda sim
esperto e autoritário.

Eu não tenho um motivo, mas curto muito observar Jungkook conversar com outras pessoas.

— É meio confuso, mas essa revista deve ter visto aquela matéria sobre o integrante ser homossexual, então ligou à
amor proibido e fez um boato — disse o cara barbudo. Eu estou demorando um pouco para lembrar o que homossexual
significa. É uma palavra complicada. — Ya, tem algo mais proibido que isso?
— Eu não entendi. O que poderia ser esse amor proibido, exatamente? — Jeongguk perguntou, e tenho quase
certeza de que ele também está lento na parte do “homossexual”.

— Amor entre dois garotos, oras.

Foi a moça que respondeu.

Bum! Eu acabei de me lembrar o que significa.

Na boa, ouvir ela dizer amor entre dois garotos me fez sentir nervoso, quase desmascarado e exposto. Parece que
alguma atenção foi voltada à mim depois disso, apesar de, bem, nada demais ter acontecido.

Amor entre dois garotos…

Isso me soa tão familiar que fico um pouco entorpecido. E assustado.

— Amor romântico entre dois garotos é tenso — o cara que não era barbudo disse. — Você acha que eles têm um
caso? A dupla? — perguntou para seus amigos.

— Ai, eu acho que sim. Totalmente — a moça disse, e acabo por olhar de esguelha para Jeongguk.

Ele está apertando o disco do Bowie com um pouco de força. Eu acho que ele sentiu o mesmo nervosismo que eu.

Amor proibido. Amor entre dois garotos.

Proibido...

— Ei, eu… — Se virou, falando baixo. — Eu trouxe chocolate. Quer sentar nos puffs e comer?

— Uhum… — respondi, um pouco tímido. Honestamente, aquele pessoal pareceu nos esquecer quando começaram
outra conversa.

Logo levantei meu olhar para Jungkook. Como ele estava vindo em minha direção, me dei de cara com o rosto dele, e
olhar em seus olhos me deixou totalmente balançado. Meu estômago teve uma reação divertida, mas… Tensa.

Amor entre dois garotos. Mas é amor romântico.

Mordisquei o lábio, deixando que ele passe na minha frente. Não pensa nisso idiota. Xiu.

Comecei a segui-lo um segundo depois.

Nós fomos em silêncio até os assentos perto da vitrola e nos sentamos perto. O guarda-chuva continuava lá, e preciso
me lembrar de não o esquecer aqui. Nossas coxas estavam se tocando e ele deixou o fone virado para o lado que eu estava.
Acho que tanto para me escutar quanto para me deixar ouvir um pouquinho.

É engraçado como estamos sempre envolvidos junto com a música…

Ele pegou chocolate na sua mochila e me deu uma das barrinhas. Abrimos e começamos a comer, devagar.

Ele mordia tudo, que nem com o Push Pop, e fico levemente indignado porque a melhor parte é deixar derreter na
língua.

Hnf.

Não estava frio, muito menos quente, e a movimentação era pouca. Era confortável e gostoso, assim como o silêncio
que reinava entre nós. Mas é automático quando, depois de uns dez minutos, eu sentir falta da voz dele...

Eu gosto de como seu tom é suave. E baixinho. Queria que ele cantasse uma vez para saber como é, porque parece
perfeito na minha cabeça...

Mas ainda não estou pronto para pedir isso, então, me contenho com uma pergunta aleatória:

— Você sabe fazer alguma coisa? — indaguei.

Ele virou o rosto pra mim e, Deus, eu adoro vê-lo de perto.

Jimin, idiota.

— Tipo o quê? — perguntou.

— Tipo um hobby.

— Sei cozinhar — disse. — De verdade. Meio que aprendi com minha mãe, e com um programa de culinária. Quando
era pequeno e meu pai trabalhava longe, eu ganhava um terço a mais da mesada para fazer a marmita dele. Minha mãe tem
preguiça e sempre esquece.

— Por que você parou de fazer? — perguntei, gostando de como as palavras saíam de sua boca.

— Porque ele trabalha pertinho da mãe agora. Então eles saem para almoçar juntos sempre — disse, com um
sorrisinho.

— Ah sim… — concordei. — Por que se interessou em aprender? Sabe, a cozinhar.

Minha pergunta pareceu remeter Jeongguk, imediatamente, à uma lembrança estranha. Parece triste, já que no
mesmo segundo após me ouvir, ele abaixou seus olhos encantadores e fez um meio biquinho de lado.

— Eu não queria ser um inútil… — Enfim, respondeu.

Pressionei meus lábios. Sem que ele percebesse, arregalei meus olhos. De fato, eu estava surpreso. Como assim um
inútil?

— Mas…

— Eu não gosto muito de pensar nessa parte, Jiminnie — ele interrompeu, dando-me um sorriso acolhedor, ao mesmo
tempo que melancólico. — Mas, ei. Eu também sei tocar um pouco de gaita.

— Ah, é? — Sorri, porque é divertido imaginá-lo fazendo isso.

Eu poderia voltar no assunto e questioná-lo mais sobre o assunto delicado. Mas é claro que eu não vou fazer isso.

Ele não quer falar sobre, então vou ficar quietinho e estar aqui por ele, como ele esteve por mim, até que ele queira
conversar.

— É! Mas só Love me Do, dos Beatles — disse ele. — É difícil. Meus lábios doem…

Automaticamente, olhei para os lábios dele.

É incrível como ele é atraente.

— Ah, e também aprendi a tocar um pouco de violão. Mas desisti. Deu muitos calos nos meus dedos — continuou,
sem perceber minha fixação por sua boca. Temendo ser pego, voltei a olhar nos seus olhos. — Sei fazer bastante coisa, mas
a maioria não serve pra nada. — Pensou. — Mas e você?

— Eu? Hum… — Coloquei o indicador sobre o lábio inferior, tentando me lembrar. — Vish, me pegou de jeito. Acho
que sou bom em fazer redação, e em jogar palavras-cruzadas…

— Wow, eu sou péssimo nisso — disse, rindo engraçado quando ri também. — Você é realmente bom com as
palavras…

Ouvir isso dele acaba de me deixar extremamente tímido. Ri abobalhado.

— Ah, mas… — Suspirei, sorridente. — Também gosto de escrever. Mas é meio difícil construir histórias.

— Por quê?

— Porque sempre tenho uma ideia nova… — falei, pensando nos meus projetos abandonados. — Eu sempre escrevo
um ou dois capítulos, e então deixo intocado. E começo outra história. E por aí vai…

— Mas… — Ele fez uma feição duvidosa. — Mas isso é meio que bom. Você é criativo, então tem muitas ideias —
falou e, novamente, ouvir isso dele me deixa doidinho. — Talvez você possa ver todos as ideias depois e decidir qual é a
melhor, então só dar atenção à ela.

— Sim… Eu tento não me preocupar com isso, porque ainda sou novo. Aí eu posso deixar pra ter um processo lento,
sabe? Aí me sinto mais confortável e disposto — falei, aos suspiros. — Isso me faz lembrar de uma vez que escrevi no café
perto da casa da minha vó e deixei o caderno na mesa para ir ao banheiro. Quando voltei, haviam roubado a cartela de
figurinhas e a página em que eu estava escrevendo — falei, rindo da lembrança. — Até hoje acho que essa pessoa está
ganhando dinheiro as custas do meu enredo… — Fiz uma expressão observadora, fazendo a risada de Jeongguk soar.

— Ah! Deve estar mesmo!

— Aff. Sequestram meu enredo...

— Pensa pelo lado bom. Imagina se tivessem sequestrado você? Aí teriam todos os seus enredos.

— Deus do céu! Nem brinca com isso, eu morreria de medo...

Jeongguk riu mais, balançando sua cabeça ao confessar:

— Já tentaram me sequestrar quando eu era criança.

De imediato mexo a cabeça, surpreso.

— Já tentaram te sequestrar?!

— Já, muitas vezes — respondeu, e a naturalidade que sua fala tem me faz rir, incrédulo. — Eu não sei que tipo de
azar carrego nas costas, Jimin, mas eu já fui sequestrado uma vez, e quase sequestrado, duas vezes. Eu vivi demais pra só
14 anos.
Ele dá risada disso e, como sempre, a desgraça é engraçada. Termino por rir também, porque estou curioso.

— Meu Deus! Como assim? Me conta! — eu falei, e de tão animado que estou, me aproximei mais.

Agora nossas cinturas estão se tocando também.

— Então! Teve a primeira vez, no shopping. Eu fugi da minha irmã numa loja de roupas e encontrei um moço na
sessão de pijamas. Ele começou a puxar papo comigo e me lembro de ter o adorado naquela hora, e quando ele me
convidou pra lanchar consigo, eu fui — disse, e fiz uma careta, porque eu jamais teria ido. — Acabei na casa ele! Sério, eu
era tão burro. Ele me mandou dormir no quarto do segundo andar e não fez nada comigo, nem agiu estranho. Mas eu estava
sentindo falta da minha mãe. Não queria que ele ficasse triste, então planejei ir embora escondido.

— Ai meu Deus…

— É! Eu pulei a janela do segundo andar e escorreguei por uma árvore para chegar no quintal e foi quando o cara
surtou. Saiu de casa gritando para eu voltar e eu saí em disparada até a rua da frente. Pulei dentro da casa de um casal de
idosos, que me acolheram e ligaram para a polícia. Assim que cheguei naquela madrugada em casa, todo mundo estava
chorando e a vizinhança inteira foi parar no meu quintal — dizia, como se aquilo tivesse acontecido ontem mesmo. Tem
emoção na sua voz. — Além de toda aquelas viaturas. Fiquei mais assustado com isso do que com a correria daquele cara.
Minha mãe veio correndo me abraçar e parecia uma britadeira de tanto que tremia, puxa. Quase a matei do coração, e
muitas vezes. — Fez outro biquinho lindo, assim como todos sempre que usa o “puxa”.

Ou seja, sempre.

— E os quase sequestros?

— Bem, eles foram antes desse. Uma vez dei a mão para um cara porque eu queria o balão de gás que ele estava
carregando. Ele prometeu me dar se eu fosse consigo até um certo ponto. Eu acreditei e saí andando com ele, mas meu pai
viu e impediu. O cara saiu correndo do nada. Lembro de não entender o que havia acontecido, mas minha mãe ficou muito
aflita. — Suspirou. — Mesmo assim, eu só consegui pensar no balão flutuante que perdi...

Ri disso. Adorável...

— E o outro? — Eu apenas queria ouvi-lo falar.

— Ah, esse foi quando uma moça me chamou pra ir na casa dela. Eu entrei no carro dela. Ela acelerou, mas minha
mãe alcançou o veículo quando ela ficou presa no sinal. Nunca pensei que pudesse ser um sequestro, achei que ela só
queria um amigo. Minha mãe me tirou de lá a força.

— Você viveu demais, mesmo. — Ri baixinho. — Nada disso aconteceu comigo. Já quebrei o pé uma vez, mas nem
se compara a ser sequestrado.

— Heh… É estranho pensar nisso agora. Faz muito tempo — disse, sorridente.

— Talvez você seja um príncipe ou algo parecido, e todos te querem — falei, fazendo-o rir imediatamente.

Sabe, isso meio que explicaria o porquê de ele ser tão lindo.

— Acho que é só azar. Sou muito azarado — confessou. — Já quebrei vários ossos também… Ai. Gosto nem de
lembrar. — Seus ombros tremularam e eu dei um sorriso.

— Isso prova que você é invencível. — Coloquei a mão em sua nuca, fazendo um carinho singelo. — Tá aqui. Intacto.
— Subi os dedos para sua cabeça, descendo novamente, e então afagando.

O cabelo dele é tão macio…

— Eu acho que sim… — falou, aceitando o cafuné curto.

Eu sorri, desacreditado quando ele se levantou a cabeça, empurrando minha mão para seus cabelos. Dei risada e
acariciei mais, quando morrendo de tão querido que era.

Nós continuamos conversando até o final do disco. Eu não tirei minha mão da nuca quentinha e macia; e quando
Jeongguk deitou a cabeça, usou minha palma de travesseiro. Meus dedos ficaram quentinhos e dormiram, mas foi gostoso
como nunca antes.

Assim que ele se levantou e disse que ia pegar outro disco, eu me aproveitei para inventar que iria no banheiro e fui
direto para as escadas. Tenho quase certeza de que ele não viu quando peguei meu dinheiro e espero que sobre pelo menos
o dinheiro da passagem aqui, porque: sim. Eu vou gastar todo o meu dinheiro em um disco para Jungkook.

Quando cheguei no caixa, o moço não estava mais lá, e o vi atrás de outro balcão. Quando me viu por ali, veio até
mim e me entregou o disco, me informando certinho o local que eu deveria pagar. O agradeci com um sorriso, pois ele era
tão gentil. Eu amo atendentes gentis. Eles mudam o nosso dia.

A velha me olhou com sangue nos olhos e passou o meu disco com ódio. Fiquei bravo, principalmente porque não
queria que ela amassasse a embalagem, tampouco fosse rude comigo. Oras, eu sou um cliente! Ela deveria me tratar bem…

Enquanto ela fazia contas com o dinheiro que dei para ela, vi uma caixinha ao lado dos chaveiros que vendiam ali.
Estavam pedindo para avaliar a loja e dizer, também, no que eles podem melhorar para o lugar ficar 100% agradável.

Antes que ela visse, peguei o papel e a caneta ao lado e fiz uma reclamação sobre ela. Mais por causa de Jungkookie
do que por minha causa. Ele com certeza sente que a loja ficou pior depois dessa moça e, bom, não custa nada fazer uma
reclamação...

— Aqui. — Ela me deu o troco, e o disco. Acabei de anotar e dobrei, colocando dentro da caixinha.

— Obrigado. — Peguei o disco, sorrindo para ele. Não estava embrulhado, apenas plastificado, mas ainda sim era
muito lindo. E acho que fica melhor se eu dar sem embrulho. No aniversário dele eu embrulho o presente.

O moço que me atendeu não estava por perto, então eu fui até o balcão e pedi pra moça que estava ali guardá-lo pra
mim. Ela o fez sem questionar e a agradeci por isso.

Depois eu realmente fiquei com vontade de fazer xixi, então fui para o banheiro. Saí de lá com as mãos cheirando a
sabonete. Até o sabonete daqui é cheiroso...

Quando eu estava chegando perto das escadas, me surpreendi por ver Jeongguk no caixa. Ele estava fechando o
zíper da mochila antes de agradecer, sem esboçar um sorriso. Então, veio na direção das escadas e ficou com as bochechas
rubras quando me pegou o observando.

— Ei — ele chamou, dando um sorriso. — Comprei um chaveiro. — Mostrou o que parece ser a logo de uma banda
que eu não conheço.

— Que fofinho — falei, segurando no chaveiro. — A gente vai escutar mais alguma coisa?

— Você quer? — perguntou, olhando em volta. — Já faz quanto tempo que estamos aqui?

— Não sei — murmurei, olhando o relógio que fica lá em cima. Já faz um tempo que estamos aqui.Nos perdemos na
conversa. — Eu quero ouvir umas músicas daquele disco da vaca.

Jungkook riu de como eu falei. Mas logo balançou a cabeça, afirmando.

— O do Pink Floyd?

— Isso. — Dei um sorriso. — Depois a gente podia ir passear, né? — Ele afirmou.

— Vamos lá em cima — disse, e eu subi primeiro que ele. — Esse disco é enorme… Temos que escutar só algumas.

— Você conhece as melhores, certo? — Sorri, diminuindo os passos para ele ficar pertinho de mim. Ele confirmou
com a cabeça. — Vamos ouvir umas duas ou três. Depois saímos.

— Ok!

***

Fiz uma pose.

— Olha só. Eu fiquei muito estiloso.

Jeongguk, que está olhando os brincos ao meu lado, dá uma risada alta e fina quando me vê com o óculos gigante em
formato de estrela que acabei de colocar no rosto.

— Meu Deus! — Ele ri ainda mais e eu também. A risada dele é contagiante.

— Sou tão lindo que é engraçado — falei brincando, tirando o óculos.

Peguei o óculos em formato de coração, colocando no rosto e mexendo a cabeça no ritmo da música que está
tocando. Pelo espelho, percebi que Jeongguk estava me olhando com um sorriso, e isso me faz ficar todo quentinho por
dentro.

Até que esse óculos de coração é bem fofo.

Tirei-o do meu rosto e coloquei no de Jeongguk. Segurei suas mãos e o remexi, o fazendo se balançar no ritmo da
música também. Ele começou a rir, tímido, mas se soltou e se mexeu junto comigo, até a música acabar e começar outra
completamente diferente.

Andamos meio que dançando e se balançando até uma sessão apenas de chapéus e coloquei uma boina na cabeça.
Jeongguk colocou um chapéu de pescador e seu look ficou simplesmente sensacional. Óculos rosa e chapéu preto.

Extremamente conceitual!

Andamos até a outra sessão e coloquei um cachecol na sua nuca. Ele fez uma cara engraçada e ficou muito hilário
quando cobri-o até a boca. A esse ponto, só dava para ver parte do seu nariz. Ele parecia um bonequinho de tão
embrulhadinho.

Enrolei um cachecol no meu rosto de uma maneira que parecesse que estou com uma capa de super herói. Quando
me virei, Jeongguk me puxou por ele e foi engraçado como entrei na onda e saí girando para perto de seu corpo até estar
completamente livre.

Eu estava sorrindo tanto que não podia enxergar nada além de uma parte do rosto de Jungkook.

Em um impulso engraçado, eu segurei seus ombros e me aproximei até dar um beijo estalado na lateral de seu rosto,
tocando minha boca na sua pele quentinha e macia.

Jeongguk parou de rir.

Jeongguk ficou completamente chocado.

Foi rápido o bastante para ele ficar sem reação. A maneira que seu rosto ficou rosa, tão rápido e de repente, me fez rir
alto porque, caramba! É definitivamente a coisa mais adorável!

Por que tudo em Jeongguk precisa ser tão amável assim?

É injusto comigo!

— O quê?! Por que você fez isso?! Jimin! — ele saiu perguntando, bem alto. Notei alguém vindo atrás por trás dele,
mesmo dando risada.

— Não sei, mas a moça tá vindo pra cá e está realmente muito brava, é melhor a gente dar no pé — eu disse, com um
sorriso divertido. Tirei a boina e coloquei no lugar, tirando todos os acessórios de Jungkook da maneira mais rápida que
podia, já que ele estava petrificado. Mais lento que o normal. — Vamos!

— Por queeee…? — Ele ainda por cima gritou, estendendo, e isso me fez ter uma crise de riso enorme.Tão fofo!

Honestamente, eu queria vê-lo ter essa reação. Exatamente essa.

Corremos até a calçada e entramos rapidamente em outra loja. Era uma de móveis agora, e tinha bastante pessoas,
mas ninguém liga pra isso.

Continuei puxando Jeongguk até entrarmos completamente no local. Quando o soltei e me virei pra ele, ele estava
dando tapinhas nas próprias bochechas.

Eu mordi o lábio, doidinho por causa de sua fofura.

— Você estava muito fofinho, deu vontade — eu disse, enfim, em uma explicação curta.

— Puxa... — Ele parecia indignado, tímido e fofo ao mesmo tempo. Deu mais um tapinha na bochecha esquerda. —
Você é doidinho, Jiminnie… — Fez um biquinho.

Eu simplesmente adoro quando ele me chama de Jiminnie. E quando ele faz biquinho também.

— Eu sei. Agora vem cá. — Peguei em seu pulso de novo, mas sorrateiro, desci os dedos para sua palma. — Vamos
ver essas camas.

O puxei até o “quarto” e me joguei no colchão, dando um suspiro parcialmente cansado. Minhas coxas ficaram
quentes com nossa corrida.

Jungkook ficou parado, olhando por um tempo até tirar a mochila das costas e colocar em cima da cama. Se
rendendo, ele também se deitou ao meu lado.

Ficamos em silêncio. Suspirando e balançando os pés.

Jeongguk fez um barulhinho engraçado com a boca antes de falar, aleatoriamente:

— Está tocando California Dreamin’. — Observador, como sempre. — Isso me lembra o natal.

— Nunca ouvi essa música — falei. — É engraçado como todas as lojas tocam música, né?

— É. Eu acho que música é a graça que tem na vida.

— Você tem razão.

Ficamos por mais um tempo em silêncio.

— Pra qual escola você vai ano que vem? — ele perguntou, repentinamente.

— Não faço ideia. Minha mãe falou que o ensino médio lá é ruim. Talvez eu estude aqui no centro — disse,
vagamente. — Mas só se meus amigos vieram pra cá.

— Também acho que vou fazer o mesmo. — Senti sua movimentação, e soube que ele estava me olhando agora. —
Tá com fome?

— Sim. — Sorri, o olhando também.

— Acho que já sei onde podemos encontrar comida — ele disse, se levantando. Me levantei também e, dessa vez, fui
eu que peguei a mochila e coloquei nas costas. Jungkook me olhou e disse: — Me siga, sim?
— É claro que sim — respondi.

Nós dois ficamos parados.

Eu estava esperando ele começar a andar para segui-lo, mas ele ficou quieto.

Nem se mexeu.

Huh? Pfft.

É um pouco engraçado porque parece que Jungkook deu tilt.

Pressionei os lábios, me segurando para não rir, mas sua ação seguinte me fez parar no mesmo segundo. Jungkook
ergueu a mão, um pouco hesitante, até dar dois passos para trás somente para segurar a minha. Segurar a minha mão.

A sensação dos seus dedos cobrindo os meus me fez ficar quente. Olhei automaticamente para nossas mãos em
conjunto, com os lábios entreabertos. Eu estava surpreso. É a segunda vez que ele pega na minha mão hoje.

Quando ergui a cabeça novamente, ele já estava virado para o outro lado. Começou a andar, de mãos dadas comigo.

Agora sinto que estou derretendo. Tipo, pra valer.

Tipo, completamente.

Nós caminhamos até a área da cozinha e Jeongguk abriu uma geladeira. Ele fez um barulho engraçado de decepção.

— Péssimas notícias. Acabou toda a comida — ele falou, me fazendo dar risada.

— Droga! — Entrei no jogo. — E o que a gente faz agora?

— Não sei. — Colocou a outra mão no queixo, pensativo. — E se a gente comer waffles?

— Da última vez que você disse isso os waffles estavam horríveis — relembrei, o fazendo rir.

— É verdade. Mas dessa vez o waffle é gostoso, juro — disse, soltando minha mão para parar atrás do meu corpo,
começando a abrir a mochila.

A mochila…

Arregalei meus olhos ao notar uma coisa. Uma tremenda e estupenda coisa…

Eu esqueci o disco na loja.

Meu Deus!

— Jungkookie… — chamei, sortudo por ele não estar olhando pra minha cara agora. A loja de discos fica a duas
quadras daqui. — Eu… É… Onde vamos comer os waffles?

Apesar de tudo, eu ainda quero que seja uma surpresa.

— É bem aqui na frente, já comi lá e é muito bom! Sério — ele disse, voltando a ficar na minha frente. — É quentinho
lá dentro, e…

— Vai na frente? Eu vi chiclete de cereja agora há pouco e tava baratinho. Acho que vou lá comprar.

— Ah, eu vou com você, então.

— Não! É melhor você guardar um lugar bom pra gente lá, enquanto isso eu compro. — Sorri, temendo que ele
percebesse meu nervosismo. — Ok?

Jungkook continuou me encarando, e tenho certeza de que ele está questionando meus atos mentalmente.

Felizmente, não durou muito. Ele deu um suspiro calmo e afirmou com a cabeça, pegando na alça da mochila em
minhas costas.

— Deixa eu levar a mochila, então…

— Está bem, é... Tô com dinheiro aqui. — Mexi nos bolsos. — Te encontro lá na frente, então.

— Tá bom. Vamos juntos até a saída, quero te mostrar onde que é.

Eu assenti e comecei a seguir Jungkook de prontidão. Dessa vez, não seguramos as mãos. Mas ainda sim era bom
estar perto.

Chegando na calçada, Jeonggukie apontou para a loja que ficava do outro lado da rua e disse que ia me esperar para
pedir. Falei que voltaria rapidinho e esperei ele atravessar a rua e, seguidamente, entrar no estabelecimento para sair
andando rápido. Praticamente em disparada, rumo a loja de discos.
Senhor, como sou distraído!

Coitada das minhas coxas, estão duas vezes mais quentes agora. Quando cheguei no local, a velha parou no mesmo
momento em que iria dizer “Bem-vindo”.

Ela apenas me olhou. Me analisou. E então voltou aos seus afazeres.

Fiquei um tempo em frente a entrada, respirando fundo. Até que recuperei o fôlego e fui até o balcão, avistando a
moça.

— Ah, você voltou — ela disse, sorrindo. — Pensei que tivesse esquecido. Aqui. — Ela se apressou, já pegando o
disco e me entregando.

— Você tinha razão, eu esqueci mesmo. — Dei um sorriso sem graça e ela deu risada. — Muito obrigado mesmo,
moça.

— Sem problema. Lembre-se de voltar sempre — disse, acenando de maneira fofa. — Seu cabelo é demais. Me
lembra o Bowie na época do Aladdin Sane — comentou e me senti tímido, ao mesmo tempo que agradecido por isso.

— Ah… Muito obrigado. — Me curvei dessa vez. — Vou voltar sempre. — Ainda disse, porque estava um pouco sem
graça. — Tchau!

— Ei, espera! — Ela se abaixou. Começou a fuçar nas coisas no balcão, e me senti um idiota completo quando... —
Esse guarda-chuva aqui também é seu?

Meu Deus. Eu esqueci meu guarda-chuva também!

— Socorro... Sim, é meu. Ai. — Fiz um biquinho, o pegando. — Desculpa por isso. Muito obrigado, de novo.

— Não tem problema, garoto. Somos todos distraídos. — Sorriu. — Até logo.

— Até... Obrigado mais uma vez. — Sorri torto, acenando.

Caramba. Sério, por que eu sou assim?

Fala sério...

Dei meia volta e saí da loja. Abracei o disco e o guarda-chuva e suspirei, cansadíssimo. Eu queria ter dado o disco
para Jeonggukie na hora em que saíssemos da loja, mas mesmo que meio atrasado, eu vou dá-lo agora...

Caminhei lentamente o caminho de volta porque não queria ficar encalorado ou rubro demais pelo cansaço. Enfim,
cheguei na loja de móveis e esperei o sinal fechar para atravessar a rua. Olhei para os lados duas vezes e andei, chegando
logo na loja. Finalmente.

Subi os degraus calmamente, escondendo o disco atrás do meu corpo quando empurrei a porta. Jeonggukie estava
sentado de costas para a entrada, mordendo seus lábios continuamente enquanto fitava a vitrine, observando o lado de fora.
Dei um sorriso, ajeitando meus cabelos ruivos e apertando meus passos até chegar perto dele.

Deixei o disco em cima da mesa vazia atrás da nossa e, de fininho, coloquei minhas mãos sobre seus olhos.

Não esperei ele tentar adivinhar quem é, apenas puxei sua franja pra trás, o deixando descabelado e risonho. Logo ele
virou a cabeça em minha direção, com um sorriso enorme.

— Por que demorou tanto? Puxa — indagou, sem perceber o disco.

— Porque eu fui pegar isso.

Me virei. Segurei o disco embrulhado, o tirando da bolsa da loja e mostrando-lhe para Jungkook.

Ele ficou alguns segundos olhando, sem entender absolutamente nada.

— Comprou um disco? — Tombou a cabeça para o lado, curioso.

— Sim. — Dei a volta na mesa, me sentando. — Mas não é pra mim. É pra você.

Ergui o vinil para ele. Jeon não fez nenhuma expressão agitada ou surpresa para tal.

Ele ainda não tocou no disco. Está apenas olhando para ele. Para mim. E então franzindo o cenho.

Ele parecia… confuso?

— Espera… — Olhou para o disco. — Pra mim? Tipo, pra mim, mesmo?

— É! — Ri de sua incredulidade. — O cara da loja me disse que é o primeiro disco deles. É parecido com Joy Division
e eu sei que você gosta muito deles. Ah, a música é boa, e eu achei a sua cara.

— Jimin… — Pegou o disco, com muito calma.


— Você me apresentou muitas coisas e… Eu precisava te presentear. Não só por isso, mas por tudo — murmurei,
pressionando os lábios. — É que as últimas semanas tinham de tudo para serem horríveis. Mas não foram. Por causa de
você. E eu espero que a gente possa ficar junto meio que, sei lá, pra sempre. — Minhas bochechas arderam porque, de
repente, percebi que estou falando demais. — Ai, é… Desculpa se essa parte pareceu estranha, mas… Hum… — Cocei a
nuca. — Você entendeu, né? É pra você.

Dei a volta. Agarrei o guarda-chuva e me sentei em frente a ele, pegando o cardápio de imediato. Cobri minha cara
com o negócio porque estava morrendo de vergonha, honestamente...

Eu poderia explodir a qualquer momento.

O silêncio, contrário a minhas suposições, não durou muito. Me deixando surpreso, Jeongguk puxou o cardápio em
frente ao meu rosto para baixo, deixando meus olhos no alcance dos seus. Nós olhamos um para o outro, e seu rosto estava
corado, e... muito bonito.

Ele tocou minha mão suavemente.

— Obrigado… — murmurou, sorrindo com os dentes mordiscando o lábio inferior. — Eu amei a arte. Eu amo azul,
eu… Eu gostei muito. Vou escutar tudo hoje.

— Está bem. — Ele ainda está tocando minha palma.

— Jimin?

— Hm?

Ele olhou para nossas mãos. E então as soltou, diminuindo o sorriso para apenas um pequeno curvar de lábios.

— Não é estranho...

Ele apenas disse isso. Então, soltou minha mão e olhou o cardápio, com o sorrindo no rosto e o vinil em seu colo. Nós
não falamos mais nada além de discutir o nosso pedido. Pedimos dois pratos de waffles. Um com mel e morangos, e outro
com caramelo e manteiga.

Nós dividimos um café cremoso quente e ficamos conversando a tarde inteira sentados naquele café. Era um pouco
contagiante como ele colocava o mesmo canudo que eu entre os lábios, e me sinto meio sorrateiro por estar tão fixado nesse
detalhe sem que ele perceba.

Nós conversamos sobre tantas coisas e fomos pulando de um assunto pro outro tão rápido que, quando vimos, já ia
dar quatro horas. Precisávamos voltar.

Demos muitas risadas enquanto caminhávamos de volta para o ponto de ônibus. Era divertido porque quando ria
muito, eu não conseguia fazer nada além de bater no ombro dele. Ele tinha que segurar minhas mãos para eu parar e a
gente ficava completamente torto e balançado nos passos. Nos chacoalhamos como idiotas e brincamos de caminhar igual.
Isso até começar a chover e nós corremos para o ponto de ônibus como dois idiotas.

Pegamos o ônibus lotado. Nos encostamos na janela perto do no fundo e Jungkook ficou segurando a barra perto da
porta. Já eu fiquei me segurando nele. Estava tão apertado que nem tinha chance de cair. Provavelmente só esbarrar nas
pessoas.

E por mais que a situação tivesse de tudo para ser desagradável e ruim, era gostoso. Jungkook ficou sussurrando pra
mim algumas observações sobre as pessoas a nossa volta, me fazendo rir que nem um bobo. Além de que era bom ficar
agarradinho. Eu não nego…

Um momento longo após dar bastante risada, joguei minha cabeça para o lado e deitei em seu ombro. O cheiro dele
estava bom e seu braço, com a jaqueta fofinha, era muito bom de enlaçar.

Tenho a sensação de que eu nunca vou me esquecer desse dia.

Muito menos do cheiro de Jeongguk.

***

— Estamos atrasados!

Ok, ok, muita calma nessa hora.

— Eu sei, calma! Vem aqui, se não você vai se molhar! — Puxei Jungkook para perto, abrindo o guarda-chuva para
nos proteger. — Eu tenho uma capa de chuva pra você, vamos rapidinho lá em casa!

Nós estamos correndo pela minha rua, e está chovendo. Falta trinta minutos para dar o tempo combinado. O ônibus
atrasou, droga!

— Vai pegar a bicicleta que eu vou pegar a capa de chuva! — eu falei, jogando o guarda-chuva no quintal sem me
importar. Jeongguk afirmou com a cabeça e saiu correndo, se esgueirando sob o telhado para não se molhar.

Destranquei a porta e entrei em casa com tudo, correndo até o andar de cima e ignorando Menino por um momento.
Abri a gaveta e tirei de lá a minha capa de chuva amarela, descendo os degraus com pressa.
Quando passei pela porta, fui até a varanda e fiquei no degrau de cima ao que Jeongguk se aproximava. A franja dele
estava levemente molhada e fiquei próximo enquanto abria a capa e colocava em volta de seu corpo, cobrindo a mochila em
suas costas também. Estamos correndo contra o tempo e, bem, sou rápido em fechar botões. Fechei cada um deles e subi o
zíper, encaixando o capuz na sua cabeça e tirando o cabelo de seus olhos. O vestindo por completo.

Terminando isso, nós ficamos parados por um momento. Um trovão fez barulho enquanto olhávamos nos olhos um do
outro.

— Tchau, Ggukie — falei, um pouco ofegante.

— É… Tchau. — Ele não estava sorrindo, mas estava parado.

Parado no lugar, olhando para mim.

Ele deveria estar correndo.

Eu deveria estar entrando.

— Jimin... É… — Ele voltou a falar. — Você vai me ligar amanhã?

— Sim — respondi. Eu estava mais alto que ele por causa da varanda, e ainda não sei exatamente o que ele está
esperando pra ir embora.

Não sei o que eu estou esperando também. O que estamos esperando?

Mais um trovão.

Enquanto olho nos olhos de Jungkook, minha mente começa a sentir saudades dele.Droga. Não faz nem vinte e
quatro horas que estamos juntos, por que tem que ser assim? Por que ele tem que voltar para a casa dele? Por que tenho
que ficar na minha? Isso é tão injusto.

Estou com saudades dele. E ele ainda nem foi embora.

Sem pensar, abri meus braços e pedi, completamente encabulado e sem jeito:

— Jeonggukie… — Suspirei. — Me abraça.

Ele abriu os lábios, surpreso. Me fez sorrir quando também abriu os braços.Ele me abraçou. Apertar ele nos meus
braços, assim, faz ele parecer um pacote, porque a capa faz barulho. Mas ele é macio. E estou feliz, porque definitivamente é
melhor dar um abraço ao invés de apertar as mãos.

Suas mãos estão em torno das minhas costas e estou abraçando seu pescoço. Quando o céu clareia e a chuva fica
mais forte, nós dois nos afastamos.

Agora ele está com as bochechas vermelhas.

E eu estou sorrindo que nem um…

Que nem um Jimin.

— Tchau, Jimin!

— Tchau!

Ele correu até a bicicleta, a levantando e caminhando rápido até a calçada. Fiquei parado até ele subir nela e começar
a pedalar, me esgueirando todo para conseguir vê-lo por mais tempo.

No meio de toda chuva e tons escuros, Jeongguk é como osol com aquela capa de chuva amarela.

Eu fiquei olhando até ele desaparecer e me deixar com o sentimento profundo e incessante desaudade.

Notas finais
solzinnnnnhooooooooolallalala

reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

trailer de 'ele é como rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

chat da fic 'ele é como rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

uwu uwu uwu


14. Ele é como um Filme cheio de cor

Notas do Autor
OWWWEEEE quem atualiza fanfic às quatro horas da manhã? Isso mesmo >eu<

ATRASADA COMO SEMPRE, MAS AINDA TÁ VALENDO! Chegamos ao penúltimo dia do #colyweek <3 Ele é como rheya
para o dia seis!

Eu simplesmente amei esse capítulo, espero que vocês gostem de lê-lo também <33333 sem enrolação: boa leitura!

JUNGKOOK

Naquela segunda-feira, meu despertador me acordou às cinco da manhã. Lippy estava dormindo na porta do banheiro
enquanto eu escutava, deitado no carpete do quarto, a fita que fiz na noite passada.

Na verdade, eu não fiz, fiz. Somente passei todas as músicas do disco que Jimin me deu para a fita, porque queria
ouvir as músicas a todo momento, inclusive no ônibus e na escola.

Ai, ai... Puxa, Jimin...

Às vezes eu me pergunto como isso pode ser possível. Puxa, eu conheci Jimin esse ano e ele me deu um vinil de
uma banda que, baseado nas fitas que lhe emprestei, ele achou que eu gostaria. Então me deu de presente, mesmo que não
fosse meu aniversário, e quando escutei, tive certeza de que Aztec Camera já tinha um lugar reservado em meu coração.

Ele acertou em cheio. Isso me deixa muito surpreso...

Enquanto escutava a fita, me levantei e me deitei na cama novamente. Coloquei os pés na parede e fiquei de cabeça
para baixo, deixando o sangue se concentrar em meu cérebro.

De olhos fechados, eu não podia escutar nada em lugar algum que não fosse em meu fone de ouvido, sonolento com
a melodia de The Bugle Sounds Again. Eu acho que essa é definitivamente minha música favorita do disco. Ela me faz
sentir… Entorpecido.

Quando os acordes da seguinte faixa começaram, minha mente viajou para outra galáxia… Apertei os lençóis, prestes
a ficar com dor de cabeça quando, involuntariamente, pensei em Jimin.

Talvez seja bobo, ou até mesmo pretensioso dizer que pensar nele é involuntário. Acho que a palavra certa
seria automático, porque não importa qual música esteja tocando, eu estou sempre me lembrando e… Bem, deixando-me
pensar em Jimin.

Eu não conseguia mais. Eu não conseguia não pensar em Jimin.

Eu sorri pequeno enquanto os instrumentos preenchiam minha mente, porque hoje é segunda e eu vou ver Jimin no
colégio. E então, começarei a vê-lo todos os dias da semana…

De todas as formas, o fato de que ele está lá me faz querer frequentar o colégio. Não porque eu gosto das aulas ou
preciso passar de ano. Apenas porque Jimin estará lá.

Jimin vai estar lá… Hoje eu irei ver Jimin…

Meus dedos se fecharam ainda mais, o tecido pinicando minhas mãos. Agora minha cabeça inteira estava quente.
Quando abri os olhos, estava tontinho e via pontos flutuantes em meu quarto. Lippy me olhava com a cabeça tombada para o
lado, como se perguntasse se sou louco.

— Acho que sim — eu respondi, rindo, grogue de sono e tontura. —Mas é por causa dele.

Um segundo depois, minha mãe abriu a porta do quarto com tanta fúria que me assustei.

Ai meu Deus!

Deixei-me cair de cabeça no chão, despencando da cama.

Tirei os fones e chutei o walkman para debaixo da cama, ficando de pé. Cambaleei antes de dizer:

— Bom dia!

Minha mãe, ou… Pelo menos uma alucinação dela, me olhou com desconfiança e bravura.
— Você caiu da cama?

— Não! Eu só desci.

— Aham, sei! Deve ter dado pra ouvir o barulho da sua cabeça batendo no chão lá do vizinho!

Sutilmente, massageei minha cabeça. Acontece que, se minha mãe me pegasse escutando música antes de me
levantar, tomar banho, escovar os dentes e fazer essas coisas, ela me daria um cascudo! E eu ainda estava de cabeça para
baixo, ela detesta quando faço isso porque acha que eu vou morrer, ou sei lá o quê…

— Me desculpe, eu caí mesmo... — eu admiti, mordendo o lábio.

Ela me analisou, logo andando até mim para mexer nos meus cabelos, em busca de um machucado ou um galo.
Quando não encontrou nada além de cabelo, ela me soltou e voltou para a porta.

— Só tome cuidado, está bem? E vá tomar banho porque vou te deixar na escola hoje.

— Vai? — perguntei, dividido pois amava quando ela me levava para aula e, ao mesmo tempo, eu não queria que ela
me levasse hoje porque Jimin estaria no ônibus.

— Uhum.

Sabendo que ela estranharia se eu negasse, somente dei um sorriso.

— Tudo bem, já já eu desço — disse, enquanto Lippy rodeava ela porque claramente queria ser alimentado.

— Muito bem — ela disse. — E bom dia.

E enfim, minha mãe fechou a porta do quarto. Suspirei, aliviado por ela não ter percebido nada. Me abaixei e puxei
meu walkman pelos fones, checando se estava tudo bem com ele.

Felizmente, ele apenas desligou e ainda está em perfeitas condições. Logo o guardei em minha mochila e arrumei
meu material para só então ir para o chuveiro.

***

Cheguei atrasado na primeira aula. Minha mãe enrolou alguns minutos antes de sairmos de casa e, agora, eu não
consigo entrar na sala.

É sério. Não dá!

Eu morro de vergonha dessas coisas, não posso negar... É que, puxa, tem uma grande diferença entre entrar na
classe junto com todos os os outros e entrar na sala quando todos os alunos já estão dentro da sala. E pior… Eu sei que o
professor vai fazer piadinha sobre meu atraso. E todo o caminho que levarei da porta até minha carteira será acompanhado
pelos olhares dos outros...

Isso é muito assustador e, é. Eu não consigo entrar, não mesmo.

Não. Eu não vou nem tentar!

Logo bufei, dando meia volta, com os materiais nos braços e os passos sorrateiros. Felizmente a agente escolar que
fica no portão mal sabe quem eu sou, tampouco qual é a minha sala. Então, quando passo pelos portões de trás para ir para
o outro prédio, ela nem se importa.

Enquanto ando e olho em volta, me pego pensando no que aconteceu esse ano. Eu estou matando aula como se não
fosse nada e isso é, no mínimo, surpreendente para um garoto como eu. Se o meu Eu do ano passado visse isso, ele
pensaria que ficou louco... Eu costumava pensar que duas aulas já abaixavam a frequência escolar, mas eu acho que estava
enganado... Tenho quase certeza.

Enquanto andava pelos corredores do prédio dois, após adentrá-lo, olhando em volta, me peguei pensando no que
poderia fazer para passar o tempo. Seria melhor se Jimin estivesse aqui…

Avistei a biblioteca aberta e logo me apressei. Não tinha ninguém por lá e é provável que a bibliotecária tenha saído
para pegar café. Me esgueirei entre as estantes e comecei a pegar os livros, olhando-os com cautela.

Nenhum deles parecia interessante para mim e, para a falar a verdade, eu nem curto ler... Me sinto sonolento.

O cheiro das folhas era incrivelmente forte... Mas até que era bom.

Me peguei na sessão de livros estrangeiros e, curioso com alguns títulos, eu os abri. Via a contracapa, o carimbo da
escola, e então a ficha das pessoas que já haviam o pego.

Era divertido ver as datas, porque nossa escola foi fundada na década de 60, então pessoas que eram adolescentes
nos anos 70 haviam pego eles. Em 78, Martha levou A Sociedade dos Anéis para casa e entregou em uma semana. Em 81,
Leo o levou e entregou depois de dois meses.

Em 83, Jimin pegou-o e entregou apenas um dia depois.


Parei. E ergui as sobrancelhas.

Park Jimin: 06/04/1983 - 07/04/1983

Jimin… Jimin havia lido aquele livro em um dia, há alguns meses.

Deu um sorriso, passeando as mãos pelas folhas, imaginando-o tocar as páginas sutilmente enquanto lia.Minhas
bochechas queimaram.

Logo o fechei e coloquei no lugar, com a sensação tímida na pele.

Peguei outro livro, do mesmo autor. Quando o abri, o nome de Jimin estava lá também.

Andando até a outra estante, peguei o livro da autora Maria José Dupré."Éramos Seis".

Me surpreendendo por estar em uma categoria diferente, quando o abri, dei de cara com o nome de Jimin, mais uma
vez.

O último na ficha. Entregou o livro em dois dias!

A sensação foi engraçada, divertida. Logo puxei outro livro, de uma estante diferente, rindo incrédulo ao ler o nome de
Jimin de novo, céus! Na categoria romance, cada livro havia o nome de Jimin… Em todos eles...

Ele ama tanto ler... Ele passa tanto tempo lendo…

Meu coração estava batendo forte enquanto eu ria do fato de seu nome estar em todos os livros de ficção. Será que
existe ainda existe um livro que Jimin não tenha lido?

Pensando exatamente nisso, eu me dirigi a saída. A bibliotecária não me notou saindo, e eu acho que é melhor assim.

A próxima aula deve estar prestes a começar e ver Jimin, agora, é o que eu mais quero.

JIMIN

Eu odeio essa matéria, tipo, demais.

Eu poderia estar rolando na grama, tomando banho de banheira ou caçando minhocas. Com certeza seria mais
produtivo que isso...

Metade da sala está dormindo; inclusive Yoongi e o não-gêmeo de Jeongguk. Eu gostaria de dormir também, mas o
fato de que Jeongguk não está aqui agora não me deixa pregar o olho um segundo sequer...

Eu voltei hoje, e o fato de ele não estar no ônibus me deixou quebradiço (dramatizei, sim). Onde ele está?Sinto
saudades…

Na boa, eu pensei que voltar pra escola seria muito mais emocionante do que isso... Quando subi no ônibus e vi
Yoongi, meu coração quase explodiu de agitação e felicidade! Parecia que eu não via há décadas — sendo que eu mal vivi
uma década. Eu quis muito abraçá-lo, então não me reprimi. Seus olhos ficaram enormes quando ele me viu no corredor do
ônibus e ele até me deixou sentar na janela, sem eu precisar pedir! Foi chocante.

Quando o envolvi, rindo e lhe dando um abraço, percebi que o abraço dele era diferente do de Jeongguk.

Mais especificamente: todos os abraços são diferentes do abraço de Jungkook... Simplesmente... Não tem
comparação...

Estou apertando minha lapiseira e esmagando minha bochecha com a mão, imaginando o porquê... Por que ele não
veio?

Pelo menos o Idiota faltou também... Ele não estava no ônibus e não deu as caras até agora.Espero que depois disso
ele não venha me atormentar mais.

Suspirei, olhando para a carteira de Jeon mais uma vez. Voltar para a escola me fez perceber que eu não sentia falta
de nada disso. Não especificamente da escola, das aulas, e da rotina… Eu sentia falta das pessoas que estavam ali dentro.

O colégio, para mim, apenas era especial porque meus amigos estavam lá. Eu mal tive chance de falar com Jieun,
que está lá na frente, e só devo encontrar Micha depois do intervalo, mas estou feliz só porque estou com eles...

É até engraçado o fato de eu ter visto Jungkook há alguns dias e sentir mais falta dele do que de todos os outros...

Dei outro suspiro, amuado. Meu peito está acelerado com algum tipo de ansiedade nervosa que só vem quando
instantaneamente — ou propositalmente — penso em Jungkook. Isso é tortura, coração...

O sinal da segunda aula tocou e eu bufei baixinho, porque o professor que temos agora é umtroglodita. Eu não gosto
de falar assim dos mais velhos, e nem chamar pessoas aleatórias de idiotas trogloditas, mas… Esse professor nos lê a aula
inteira e, seguidamente, nos pede para comentar o assunto. Só que ele nunca aceita que temos opiniões diferentes! Então
todos estão sempre errados e ele certo.

É um saco. Droga.

Joguei a cabeça na mesa, percebendo que metade da sala acordou, mas a outra metade permaneceu dormindo.
Fiquei com a testa colada na mesa, com um biquinho entediado, me amaldiçoando por ter esquecido de trazer um livro
aleatório para ler hoje…

Quando escutei a voz do professor, levantei a cabeça e ajeitei a postura. Eu não gosto dele, mas acho que pessoas
que lecionam merecem um pouco de respeito, por mais bobas que sejam.

Mas, contrário ao que eu pensava, me surpreendi completamente. Porque quando olhei para o lado, Jungkook havia
magicamente aparecido em sua carteira.

Por Deus, parecia até que meu desejo havia sido realizado!

Enquanto ele sussurrava com seu colega, me vi sorrindo como um idiota por ele estar ali. Enlacei os pés sob a mesa,
suspirando balançado enquanto observava-lhe de costas. Seu cabelo sedoso se balançando enquanto ele se mexe…

Estou tão feliz por ele estar aqui... E, igualmente, detesto o fato de sua mesa não ficar ao lado da minha.

No mapa da sala, eu estou perto e ao mesmo tempo longe de Jeongguk. Me sento com Yoongi nas carteiras duplas
do meio, na quarta fileira. Já Jungkook e sua dupla ficam na terceira fileira, do meu lado esquerdo. Sua dupla sempre senta
na janela, e eu sempre me sento do lado esquerdo.

Ou seja, se eu me sentasse uma fileira à frente, eu estaria bem ao lado de Jungkook agora. E isso me deixa
doidinho! Eu deveria ter previsto isso no começo do ano, saco.

Enquanto obedecia as ordens do professor de abrir meu livro para acompanhá-lo na leitura, meus olhos continuavam a
sutilmente desviar para a silhueta de Jungkook. Ele escrevia algo com rapidez, enquanto revisava entre olhar para o
professor, seu caderno, e o caderno de seu amigo. Ele provavelmente está copiando alguma matéria…

Soltei um suspiro (sim, mais um). Yoongi despencou um pouco para o lado e, preocupado com seu conforto, levantei
seu rosto e coloquei o meu moletom sob ele, como um travesseiro macio e felpudo.

JUNGKOOK

Era um pouco difícil olhar para trás para ver Jimin quando o professor estava atento, lendo, e eu precisava pegar a
matéria tão rápido. Mas quando entrei na sala, eu não consegui cumprimentar Park porque ele estava… Bem, eu não sei. Eu
acho que ele estava dormindo, ou rezando, sei lá...

Devagarinho, tornei o rosto para trás. Olhei para Jimin por cima do meu ombro, sem segurar o suspiro ao notar que
ele está mexendo, ou… Acariciando o Yoongi, enquanto ele dorme, distraído suficientemente com ele para me notar.

Puxa vida...

Olhei para frente no mesmo segundo, voltando a copiar a matérias.

JIMIN

Não sei em que posição ficar para o ventilador bater em Yoongi, porque seu rosto está começando a ficar vermelho e,
por isso, tenho quase certeza de que ele está começando a sentir calor.

Depois de milésimas tentativas, constei que o ventilador não iria ventar nele e nem adiantava tentar. Hnf... No fim,
apenas tirei a franja de seu rosto, retornando meu olhar para o professor outra vez.

Para ser sincero... Eu só olhei para ele um segundinho,só. Nem tento me segurar quando o assunto é encarar
Jungkook. E o tempo está passando muito, muito devagar. Eu só quero que a aula termine para eu ir até sua mesa para
conversar um pouquinho.

Quero muito saber o que ele achou do disco do Aztec Camera. Eu espero que ele tenha gostado, ou achado
aceitável...

Comecei a rabiscar na folha do meu caderno. Na verdade, estava desenhando um milhão de corações, até eles
preencherem a folha inteira. Então, eu virava e começava a fazer mais corações, entediado que só…

A menina atrás de mim se levantou e andou até a lixeira da sala, que fica lá na frente, apenas para apontar seu lápis.
Enquanto ela passava entre as carteiras para chegar no nosso lugar, fiquei tentado com uma coisa.

Eu tive uma ideia.

Uh... E se eu…?
JUNGKOOK

— Eu coloquei seu nome no trabalho presencial… — disse Seokjin. — Era só uma folhinha, e ele não fez chamada,
então você não deve ganhar falta.

— Ainda bem… Obrigado — sussurrei também, o olhando. — Minha mãe atrasou muito hoje… Até pensei em te ligar,
mas você já deveria estar dentro do ônibus.

— Tudo bem — ele disse, baixinho.

— Amanhã é aniversário dela, aliás. Vou dizer que você disse parabéns e tudo de bom para ela, tá? — eu disse,
enquanto me empenhava em escrever e falar com ele ao mesmo.

— Tá… — Riu um pouco. — Eu quero bolo, ok?

— Ok, interesseiro.

— Faminto, você quis dizer.

— Faminto interesseiro, então.

— Assim está melhor.

Acabei por rir também, o mais silencioso possível. A sala fica muito quieta quando temos aula desse cara.

Mas, tirando minha atenção de meu dever, me surpreendi quando Jimin passou bem ao meu lado. O segui com o
olhar até ele chegar na lixeira e se abaixar, apontando o lápis dentro dela.

Apertei mais minha caneta, mordiscando a boca, porque Jimin fica muito bem quando usa essas camisetas brancas e
largas… Faz ele parecer muito miúdo e…

Fofo…

Quando ele se levantou, andando calmamente, eu levantei minha cabeça, olhando para seu rosto sem pudor. Ele já
estava olhando para mim e deu um sorrisinho quando, quase como um ninja, tirou um papel dobradinho do bolso de trás de
sua calça. Me surpreendi ainda mais quando ele o colocou em minha mesa, tão rápido que duvido que qualquer pessoa que
não seja eu e ele tenha percebido.

Ainda o segui com o olhar até ele se sentar, ajeitando as pernas gordinhas na cadeira.

Ele me olhou e sorriu mais uma vez, desviando o rosto para o livro.

Ansioso, não tardei em olhar para frente, agarrando o bilhetinho. Seokjin estava acompanhando a leitura chata do
professor quando abri o papel, sem conseguir segurar o sorriso ao lê-lo.

“Ei, ei, Kookie… bom dia… por que você chegou atrasado hoje? Fiquei preocupado quando não te vi no
ônibus… e triste também. Dormiu bem? O seu cabelo tá muito bonito hoje (o que isso tem a ver? Não sei, mas
quis falar, não me julgue).”

Logo peguei minha caneta, escrevendo logo embaixo…

“Bom dia, Jimin… Minha mãe me trouxe hoje e se atrasou um bocado. Então só cheguei para a segunda
aula. Você dormiu bem? Eu dormi bem, mas acordei cedo, então estou com sono… e ei, você ficou lelé? Meu
cabelo tá uma bagunça! O seu cabelo é que é tá sempre bonito (não te julgo se você não me julgar).”

Dobrei o bilhetinho. Olhei para o professor, e então, para trás. Ninguém parecia atento o suficiente para notar quando
estiquei o braço inteiro, rápido em deixar o bilhete sobre a mesa de Jimin.

Em seguida, fingi que estava lendo o livro com o professor também. Mas minhas mãos estavam inquietas, esperando
Jimin responder.

O professor se virou para escrever algo no quadro, tagarela como sempre, e Jimin nesse meio tempo, colocou o
recadinho em minha mesa.

O abri, rapidamente.

“Ai que bom que você dormiu bem e que foi só um atraso bobinho. E seu cabelo é lindo sempre, não seja
bobo… eu gosto quando ele fica bagunçado.”

Meu rosto estava vermelho, ardendo todinho.


Ele gosta quando meu cabelo fica bagunçado…

JIMIN

“Meu cabelo tá sempre bagunçado, então eu acho que sou um bobo e isso é bom sei lá, puxa. Sabe, estou
feliz por termos história avançada hoje, porque vamos poder fazer dupla.”

Sorri, extremamente feliz por esse fato, escrevendo a resposta:

“Sim! Aiiiiiii eu amo história, seria um saco sem você lá. Adoro fazer dupla com você.”

Eu simplesmente amava ver a letra de Jeongguk em contraste com a minha. Ele está escrevendo com uma caneta
azul tiffany, e fica fofinha perto da minha, que é laranja.

Jeongguk agarrou o bilhete em minha mão e nós nos olhamos por um segundo, rindo depois. O professor nos olhou,
mas, felizmente, já estávamos endireitados.

Eu disfarcei, tirando meu óculos e limpando-o na camiseta. O professor pigarreou e voltou a ler.

Dessa vez, fomos mais cautelosos. Jeongguk demorou um pouquinho e ficou escrevendo por muito mais tempo.
Quando ele me entregou, fiquei animado por ver tantas linhas.

“Eu odiava história no ano passado porque me dava realmente muito sono… Mas é legal estar com você
agora. O professor tá meio que de olho na gente, então é melhor sermos mais cuidadosos… vamos escrever
coisas longas, assim demoramos mais e ele não suspeita de nós dois... Tá, vou falar coisas aleatórias… primeiro,
a sua letra é muito bonitinha, eu adoro os pinguinhos que você coloca no i. Eu nem coloco pinguinho às vezes, e
nem gosto de escrever com letra cursiva, fica tudo embolado, mas a sua é tão linda. O J principalmente, e o H,
você escreve bem em todos os sentidos, sei lá… ah é mesmo, amanhã é aniversário da minha mãe né, e você
quer bolo? Eu vou trazer pro Jin, e então trago pra você também. Falando em adorar, eu estou completamente
viciado nas músicas do disco que você me deu… tipo, viciado mesmo! Eu gostei de todas, e fiz uma fita com o
vinyl todo, vou te emprestar. Falando em cabelo também, eu vi uma moça com o cabelo vermelho esses dias, aí
lembrei de você… ai, nossa! Eu bati a cabeça hoje de manhã e só parou de doer agora, sou muito bobo… mas tá,
olha, eu fiz um jogo de perguntas pra gente não ficar entediado. Marca com um X a resposta…”

Dei um sorriso, virando a página. Peguei minha caneta, pronto pra marcar:

“Tá bom, ó.

Você prefere de bolo de:

a) Laranja X

b) Baunilha

c) Chocolate

Você gosta mais de:

a) História

b) Inglês

c) Sociologia X

Você quer ir lá em casa qualquer dia desses para conhecer meu cachorro?

a) Sim XXXXXXX

b) Não

Você tem medo de filme de terror?

a) Sim

b) Não

c) Mais ou menos X”
Comecei a escrever embaixo, com o rosto vermelho por estarmos conversando assim. A sensação é a de que
estamos nos falando por cartas…

Sorri, escrevendo:

“Eu gosto da sua letra também, é tão fofinha e pequena… ei, eu quero bolo! Gosto de todo tipo de bolo,
mas de laranja é tão bom… eu curto os azedinhos, porque me deixa arrepiado. Eu estava prestes a perguntar
sobre o disco, que feliz que eu fiquei em saber que você gostou… eu só escutei umas músicas, então adoraria
escutar a fita do disco todo. Eu admito que tenho muito medo de cachorro, um deles me mordeu quando eu era
criança, mas eu sinto que o seu é um amorzinho. E filme de terror é um assunto complicado pra mim porque eu
nunca consigo ficar olhando na parte do susto, dá nervoso, fico meio tonto… mas eu assistiria se fosse com você!
E dê os parabéns pra sua mãe por mim, ela merece por ter criado você, serzinho… aiaiai. Sabe, assunto
totalmente aleatório agora, eu li um artigo sobre ostras no jornal e fiquei horrorizado. Você sabia que comem
ostras vivas? Eu vi fotos sobre o modo de preparo e senti que poderia vomitar, parecia viscoso, molengo e…
Parecia uma gosma. Pobrezinha, e ela ainda por cima está viva... Fiquei arrasado. E é engraçado você citar a
moça… Quando eu era bebê, eu era praticamente loiro, aí os dias passaram e eu fiquei ruivo, ruivo. No sol, os
cabelinhos da minha nuca ficam quase vermelho. O cabelo da minha mãe é uma mistura de laranja, loiro e
vermelho, e eu acho tão lindo...

Ah, é! Jogo de perguntas pra você também:

O que você quer ser quando crescer?

R:

Você gosta de assistir tevê? Qual é o seu filme favorito, tirando E.T?

R:

Eu gosto muito de você e estava com saudades, é recíproco?

R:

Tchauzinho.”

Dobrei a folha, com as bochechas vermelhas. Eu sou muito bobo e não seria capaz de perguntar a última coisa
olhando para os olhos dele. Ele me desmonta.

Fitei o professor. Quando ele deu uma brecha, coloquei o bilhetinho na mesa de Jeongguk.

Mesmo daqui, eu ainda posso ver suas orelhas ficando adoravelmente vermelhas enquanto ele lê.

JUNGKOOK

“O que você quer ser quando crescer?

R: Não sei, talvez veterinário, eu gosto de animais...

Você gosta de assistir tevê? Qual é o seu filme favorito, tirando E.T?

R: Rocky: Um Lutador. Eu até gosto, mas meus olhos doem se fico muito tempo na frente da televisão,
então não vejo novelas.

Eu gosto muito de você e estava com saudades, é recíproco?

R: Sim. Muito. Muito. Muito.”

Fiquei encarando o bilhetinho.

“Muitooooo.”

Pronto, perfeito. Logo continuei:

“Ostras parecem nojentas mesmo, eu não comeria nunca, nunquinha. Coitadinhas. Eu até que gosto de
filme de terror, mas os efeitos especiais sempre me deixam enojado, ainda mais quando tem muito sangue… eu
fico sem vontade nenhuma de comer. Lippy é muito agitado, mas ele é carinhoso, eu vou cuidar de você quando
você estiver perto dele. Ah, eu já vi o seu cabelo vermelho na nuca… é muito lindinho, Jimin…”
Fiquei fitando o bilhete, pensando se não exagerei. Talvez eu estivesse sendo abusado dizendo todas aquelas coisas
e, talvez, também, Jimin estranhasse meus elogios.

Mas pensar em como ele me elogia, também, me faz sentir que está tudo bem em dizeressas coisas. Mais
especificamente: em dizer qualquer coisa. E se for estranho, eu espero que ele não se importe. Porque eu estou apenas
dizendo a verdade...

Sem me importar, eu dobrei o papel. Esperei o momento certo e o passei para Jimin.

O resto da aula, nós conversamos daquele jeito. Ele me elogiou de volta. E eu o elogiei... Eu gostaria que pudéssemos
nos comunicar dessa maneira sempre que estivéssemos longe um do outro.

***

Quando a aula terminou, eu e Jimin tínhamos usados três folhas de caderno, frente e verso, para nossas conversas
por escrito.

Duas delas estavam comigo. Talvez fosse apropriado jogar fora, mas as guardei em minha mochila, porque queria tê-
las para rir das coisas que ele me disse quando sentisse... Falta.

Os alunos se levantaram para ir para o intervalo. Me levantei também, falando com Seokjin sobre o lanche enquanto
olhava para Jimin de esguelha, que estava cutucando Yoongi.

Huh, fofo.

— Eu tô com tanta fome que poderia comer um boi agora — Seokjin disse, tirando minha atenção do rapaz ruivo. — E
com tanto sono que poderia dormir em cima da mesa. Que aula chata, céus, não escutei uma palavra que saiu da boca
dele…

— Nem eu — eu admiti, suspirando. — Eu acho que vou comprar um chocolate quente e um pacotinho de biscoito
amanteigado…

— Eu vou é comer um hambúrguer — ele disse, batendo na barriga. Seu ato me fez rir e, bem, ele acabou rindo
também.

À esse ponto, nós já estávamos caminhando para saída. Ainda assim, eu olhava para Jimin. Ele levantou a cabeça e,
antes que eu saísse da sala, deu um sorriso e acenou. Acenei também, sorridente, porque… Bem, não é nenhum mistério
que o sorriso dele mexe comigo.

E, igualmente, me faz querer sorrir também.

JIMIN

— Depois do intervalo você vai pra onde mesmo? — perguntei para Yoongi, enquanto ele mordia seu sanduíche cheio
de salada.

— Hm… Para a aula de matemática. — Bebeu seu refrigerante. — Você vai pra onde?

— Para a aula de história avançada, mas é na sala de televisão…

— Provavelmente vão passar um filme... Boa sorte. Tente não dormir.

Fiz um biquinho, emburrado. Nunca que eu vou dormir, prefiro passar o tempo com Jungkook lá dentro!

Abri o pacotinho com castanha de caju que trouxe, colocando um canudo no meu copo com suco dekiwi. Em certa
parte do lanche, eu e Yoongi estávamos falando das provas que teriam na próxima semana e rindo de algumas piadas que
fazíamos sobre o professor que às vezes fala nada com nada e dá aulas ruins.

Isso é, até uma pessoa fazendo barulho entrar no refeitório, cortando nossa conversa e atraindo nossa atenção.

Eu entrei em estado de alerta, com as lembranças frescas daquele dia. Mas para a minha felicidade, não era o Idiota a
entrar. A confirmação de ele não ter vindo para a escola hoje me dá um pouco de alívio…

No entanto, a nova presença ali ainda chamava bastante atenção. Uma menina de cabelo curto, mais curto que o
meu, se sentou sozinha em uma mesa, sem se importar com o fato de que ela abriu as portas do refeitório com tudo. Ela era
magrelinha e vestia uma blusa de manga listrada por baixo da camiseta preta. Seus tênis estavam destruídos e o walkman
pendurado no bolso de trás parecia arranhado, mas eficiente. Hum…

De certa forma, eu gostei muito do estilo dela. Enquanto olhava em volta, percebi que ela era diferente de todas as
garotas. E isso era muito legal.

— Ei, quem é ela? — perguntei, cutucando Yoongi.

— É a Niuke… — disse, baixinho.

— Ni o quê?
— Niuke… Niuke Lee. — Estranhei a voz baixa e melodiosa de Yoon, então o olhei. — Ela vive matando aula, só
aparece às vezes, e…

Ele sugou o canudinho do refri. Apoiou o cotovelo na mesa e a mão na bochecha, parando de falar. Na verdade,
parece que ele travou...

— E…? — indaguei, olhando para ela também.

— Ela pulou a janela do segunda andar uma vez, e tinha cabelo verde no ano passado, mas aí foi suspensa… Esse
ano ela voltou assim… — Soltou um suspirozinho. Ergui as sobrancelhas ao notar sua expressão. Oh… — Ela é esquisitona,
e faz muita besteira.

Coloquei as mãos sobre os lábios. Não acredito!

As bochechas dele estão ficando vermelhas… seus olhos estão miúdos e ele está piscando lentamente.

— Oh meu Deus — eu disse, em voz alta. — Você gosta dela.

Seus olhos tornaram-se esbugalhados e ele cuspiu o canudo, finalizando toda sua áurea fofinha e apaixonada com
um ato exagerado de negação:

— Não gosto!

— Gosta sim! Estava com os olhos caidinhos enquanto dizia o quão esquisitona ela é!

— Mas eu, eu… — Ele apertou a latinha, ficando rosa de vergonha. — Você entendeu errado! Eu só admiro ela!

— Admira, é? — perguntei, rindo de suas mentiras.

— É! Ela está sempre ouvindo música, e chutou a cara de uma patricinha uma vez… — disse, como se este pudesse
ser o ato mais lindo que uma pessoa poderia ter. — Ela é tão punk.

Ri baixinho, olhando para a menina mais uma vez. Notei que seus olhos estão pintados de azul escuro e ela está
lendo enquanto come e escuta música. Ela está toda de preto e, quando olho para Yoongi e percebo que ele está do mesmo
jeitinho, começo a rir.

Na boa, tá na cara que foram feitos um para o outro.

— Você gosta dela. — Eu não me importei em repetir, mesmo que ele fosse...

— Pare com isso!

Continuei aos risos, achando fofo como ele lidava com sua paixãozinha. Eu sou um romancista nato! Detecto o amor
de longe… Yoongi não pode me enganar nem se ele quiser.

Continuamos falando momentaneamente sobre outras coisas, mas o olhar de Yoongi permaneceu fixo nela. Quando
ela terminou de comer, jogou suas coisas no lixo e foi em direção a saída. No caminho, uma menina jogou uma latinha de
refrigerante no chão bem na frente dela.

Primeiramente, pensei: poxa vida, também mexem com ela… Essa escola não tem jeito.

Mas, depois… pensei: MEU DEUS!

— É por isso… — Yoongi sorriu, mostrando as gengivas salientes enquanto eu ficava chocado. — É por isso que ela é
um arraso.

Eu ri, desacreditado, porque ver Niuke pegar a latinha no chão e jogar com força na comida da menina que a provocou
foi realmente incrível. O refeitório começou a gritar enquanto ela saía com fúria e Yoongi ria, se amarrando com a cena.

Realmente… Ela é chocante!

JUNGKOOK

— … Mas ela estava muito brava. Tipo, muito mesmo! E a culpa é sua por me dar aquela fita enorme. Eu não
consegui parar de ouvir — Seokjin dizia e eu ria, entupido de biscoito.

Estávamos sentados no pátio. Nós não fomos para o refeitório porque compramos nossos lanches e decidimos por
ficar aqui mesmo.

— Desculpa se meu gosto musical atrapalha sua vida pessoal — eu disse, com uma entonação sarcástica. Seokjin riu
enquanto me dava uma cotovelada.

— Convencido. — Mordeu o hambúrguer. — Hm, hm! Tenho que te contar uma coisa, eu tava no mercado esses dias
e…

Antes que terminássemos de falar, nós tomamos um baita susto.


Eu tirei meu copo do caminho, com os olhos levemente arregalados quando um rapaz desconhecido sentou em nossa
mesa.

Não. Não na cadeira. Ele sentou na mesa, mesmo.

Ele simplesmente se sentou ali, com um sorriso sugestivo enquanto nos interrompia sem se importar:

— E aí! — ele disse, bem alto. — Vocês gostam dos Beatles, né?

Olhei para Seokjin, que estava de boca cheia e uma expressão duvidosa. Engoli em seco.

— É… — murmurei, lambendo os lábios. — É, gostamos.

— Gostam de música, né? — Ele saltou, de volta ao chão, fazendo nossa mesa balançar. — Olhem aqui, visitem
nosso clube depois das aulas na terça, tá? É de música, e…

Antes que ele terminasse, um outro menino apareceu, ofegante. Ele olhou para nós, e depois olhou para o menino
doidinho.

— O que você tá fazendo? Você nem está com os folhetos! — disse o menino, carregando vários…Folhetos. —
Aposto que disse tudo errado!

— Não disse não! Quer dizer, mais ou menos… — O menino coçou a cabeça, e quando seus cabelos balançaram,
notei algo em sua orelha.

Ele é…?

— Deixe que eu fale — disse o menino dos folhetos, bufando. — Me desculpem. Como vocês se chamam?

— Hum, eu sou o Seokjin.

— Sou Jeongguk.

— Ah, então… Nós somos do clube de música e precisamos de mais participantes para podermos usar a sala. Eu sou
o Hoseok — Hoseok nos entregou um folheto. — E esse maníaco é oTaehyung…

— Corrigindo: beatlemaníaco!

Ri baixinho, gostando da dinâmica daqueles dois e da referência usada por Taehyung.

— Enfim, esse clube é muito importante para nós, mas quase ninguém participa. Só de vocês se inscreverem ajuda
muito. Nem precisa comparecer.

— E onde nos inscrevemos? — Jin indagou, olhando para eles.

Taehyung, que saltou em nossa mesa, tinha o estilo completamente diferente de Hoseok, que era seu amigo. O
cabelo dele era bagunçadinho e castanho, e a roupa toda colorida. Já Hoseok tinha os fios negros, bem penteados e as
roupas em tons de azul marinho e preto, além da calça caqui.

Parecem com personagens de quadrinhos e, novamente, eu adorei adinâmica de ambos.

— Aqui mesmo, ó — Hoseok disse, pegando a prancheta de Taehyung. — É só colocar o nome e a turma.

— Tudo bem… — Jin disse, escrevendo.

Percebi que Taehyung estava olhando para mim e abaixei a cabeça.

Um segundo depois, ele disse:

— Você vai assinar, né? — ele disse, cutucando o ouvido.

— Aham… — respondi, tímido.

— Sabe que se não assinar vai estar negando ajuda a um menininho surdo, né? — ele disse, em um tom mais alto.

Franzi as sobrancelhas, confuso ao que Hoseok revirava os olhos. Ele deu um soco no braço de Taehyung.

— Ele já disse que sim! — disse e depois pressionou os lábios. — Para de cutucar, você deve ter desajustado tudo!

— Ahm?!

Hoseok bufou. Ele fez uns movimentos estranhos que, logo depois, percebi que eram sinais.

Garotinho surdo… Ah!

Taehyung. O aparelho no ouvido dele…

— Obrigado, de verdade. Prometo cuidar para o Taehyung não irritar vocês se decidirem visitar o clube, ele adora
fazer piadinhas de mal gosto — disse Hoseok, depois de nós dois termos assinado.
— Tudo bem — Jin disse, rindo.

— Bom. Obrigado!

Hoseok deu uns tapinhas em Taehyung e os dois saíram andando, ainda brigando.

Quando estavam longe eu e Seokjin rimos de toda a situação.

— E depois você diz que nós somos loucos — ele falou, voltando a morder o sanduíche. Coloquei as coisas de volta
na mesa.

— Taehyung parecia ter saído de um programa dos anos 70 — falei.

— Né?! Mas eu gostei.

— Eu também!

— A gente pode visitar o clube qualquer terça.

— Sim.

Logo ele se lembrou da história do mercado. Quando ele começou a contar, meu intervalo foi resumido em risadas e
histórias divertidas sobre frutas. Nem pergunte.

***

Depois de comer, eu e Seokjin nos separamos. Ainda estou cheirando a canela por causa da bebida quente que
tomei.

Fiquei confuso quando, ao chegar na sala que tínhamos aula de história avançada, não encontrei ninguém. Por um
momento, pensei que havíamos sido liberados. Mas quando entrei na sala, tinha um recado no quadro dizendo que a aula
daquele dia seria na sala de vídeo, e que deveríamos esperar lá.

Assim, refiz meu caminho. Andei pelos corredores e subi as escadas.

A sala de vídeo era, basicamente, uma sala comum, mas com uma televisão.Nada demais além do fato de que está
nova em folha. Adentrei-a, feliz por ter apenas alguns alunos. Me sentei na penúltima carteira do meio, guardando o lugar de
Jimin.

A sala foi enchendo e as duplas se formando. Dei um sorriso animado, acenando quando Jimin entrou na sala com
um sorrisinho amarelo de quem havia se atrasado. Sua expressão ficou feliz quando, com pressa, ele veio até mim.

Se sentou do meu lado, ofegante.

— Por que está assim? — indaguei, com um sorrisinho.

Jimin ajeitou os cabelos ruivos, levemente vermelho ao dizer:

— Fui… Me inscrever… — ele pausou, respirando fundo. Abri minha mochila, pegando a garrafinha de água. — No
clube… De música…

Dei risada, me lembrando da dupla.

— Me inscrevi também — disse, entregando a garrafinha para ele.

Jimin deu goles pesados da água geladinha. Depois suspirou, aliviado.

— Eu sei. — Deu um sorriso, pressionando os lábios. — Eu vi seu nome lá.

Ri baixo, colocando a mão sobre a boca. Jimin riu também, olhando para mim.

— Então vamos nos ver lá, não é?

— Sim. — Ele deitou a cabeça nos braços, sobre a mesa. Ainda assim, olhava para mim. Seu óculos estava tortinho.
— Quanto mais a gente se ver, melhor.

Senti minhas mãos pinicarem. Meu estômago estava cheio de nervos e sensações estranhas, mas deliciosas.

— Você tem razão.

E antes que ele pudesse responder, nosso professor entrou na sala. Ele fechou a porta e pediu a atenção de todos
nós antes de explicar a atividade: iria passar um curta dos anos 50 e, seguidamente, deveríamos fazer uma redação sobre
como os dias de hoje eram diferentes; na visão do amor, das roupas, e etc. Era em dupla e Jimin sorriu, convencido ao dizer:

— Vamos sair mais cedo. Sou profissional quando o assunto é redação. — Endireitou o óculos no rosto, com o sorriso
travesso.

— Confio à você a minha nota nesse trabalho — disse, rindo. — Peça meu auxílio apenas se for necessário.
— Pode deixar, parceiro.

Enquanto o professor mexia no vídeo cassete, Jimin tirou balinhas azedas de limão, abacaxi e laranja, de saquinho,
de sua bolsa. Ele me ofereceu uma e peguei a de limão. Ficamos rindo das caretas por causa do gosto azedinho, mas logo
tivemos de ficar quietos, pois o curta começou.

Logo com a música de introdução, as legendas e o título do vídeo iluminaram nossa sala. Em preto e branco e com o
som ruinzinho, gostei de como o vídeo parecia retrô. O professor havia fechado as cortinas e apagado as luzes, então era
quase como estar no cinema.

"How Much Affection?"

Pressionei meus lábios, olhando para Jimin, que estava focado na tela.

Logo voltei a atenção para lá. Puxa, até a palavraafeição me faz pensar nele…

O curta começou com um casal típico. Os vestidos longos foram mostrados, os carros, e os diálogos. Jimin parecia
extremamente interessado no vídeo, olhando com cautela para a tela e lendo a legenda.

Miseravelmente… Eu não estava nada igual.

Eu só conseguia olhar para Jimin. Ele é como um filme, só que muito mais interessante.

E definitivamente cheio de cor.

JIMIN

Na tela, a moça abraçou sua mãe, choramingando cheia de frustração. Sem demora, ela começou a falar.

“Você se lembra do dia em que me disse que eu poderia ter sentimentos tão fortes por um garoto que eles poderiam
fazer ser difícil, para mim, decidir qual seria a melhor coisa a se fazer?”, ela indagou.

“Sim, eu me lembro… Por quê?”, sua mãe respondeu.

“Fora algo como isso nessa noite, com Jeff.”, a filha disse. “Essa noite… esse sentimento entre nós dois continuou
ficando cada vez mais forte, e mais forte…”, dizia aos suspiros.

Com o romance na tela, dei um sorriso pequeno e sonhador. Batuquei meus dedos inquietos na mesa, olhando
momentaneamente para a mão de Jungkook.

Cada vez mais forte… E mais forte…

Sem medo e sem hesitação… Arrastei minha mão pela mesa.

Olhei para Jeongguk, tentando observar sua reação. Para a minha surpresa, seus olhos já estavam focados em mim.
Miúdos e mansos… Senti meu rosto esquentar e algo em meu interior tentou me dizeralguma coisa.

Não me importando, arrastei minha mão até chegar na sua. Jeongguk virou a destra com sutileza, tão leve e lento nos
movimentos que eu sentia que estava em um filme. Naquele filme.

Ele virou sua mão, com a palma para cima. Ele estava dizendo, daquela forma, que eu poderia uni-la à minha.

Dei mais um sorriso, maravilhado com a sensação que Jeongguk me dava. Sem mais delongas, subi os dedos por
sua palma, encaixando meus dedos nos seus.

Eu e Jungkook ficamos de mãos dadas o tempo todo até o curta acabar. Eu desejei, por um momento, poder deitar
em seu ombro e abraçar seu braço… Ficar pertinho...

Ah, Jungkookie…

O tempo parecia passar tão rápido quando eu estava curtindo ele sua presença que era inacreditavelmente injusto.
Quando o professor fez alguns comentários, dizendo que após entregarmos, já poderíamos sair, todos começaram a fazer a
redação apressadamente.

Continuei segurando a mão de Jeongguk por alguns minutos antes de, contra minha vontade, me soltar dele. É
diferente quando minha mão está tocando a sua e quando está sozinha...

A diferença é tanta que ter uma mão parece extremamente sem graça quando não é para ela estar ao seu enlaço.

— Hm… Tem algo em mente? — ele perguntou.

Tímido, eu afirmei com a cabeça.

— Vou fazer o rascunho e você passa a limpo, pode ser?

— Sim…
— Está bem.

Escrever a redação, como de costume, não me fora nada difícil. Quando a terminei, talvez cinco minutos depois de
começá-la, passei o papel para Jeongguk. Fiquei o olhando o tempo inteiro enquanto ele passava a limpo.

Certa vez, toquei sua testa para tirar os cabelos castanhos de seus olhos. E sorri com satisfação quando percebi a
coloração nas maçãs de seu rosto. Quase como se eu mesmo estivesse o pintando de rosa...

Nós fomos a segunda dupla a entregar. Enquanto eu descia os degraus em direção ao pátio ao lado de Jungkook
depois de tanto tempo sem vir para a escola, notei uma coisa.

Jeongguk era, definitivamente, a minha parte favorita dela.

Notas finais
Curta que eles estavam vendo: https://m.youtube.com/watch?v=97H6H3zIekc

CARA EU AMO A PERSONAGEM QUE O YOONGI GOSTA, ELA É FODA DEMAIS!!! Sempre que ela entra minha mente
canta "I DONG GIVE A DAMN ABOUT MY BAD REPUTATION" PANANANANANA

Enfim, o Tae e o Hoseok apareceram XD agora só falta o Namjoon, hihihi~

O que acharam? Comentem!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

uwu uwu uwu bjuuuu

15. Ele é como um Gatinho

Notas do Autor
Olá meus piquituxos, bom dia! Feliz último dia de 2018 aaaaaaaa um feliz fim de ano pra vocês

E AAAAAAA OBRIGADA PELOS MIL FAVORITOS AAAA EU NÃO SEI SE JÁ AGRADECI POR ISSO, eu meio que surtei
no twitter e??? Gente! Muito obrigada, mil bebezinhos aqui TT choro demais, de emoção mesmo, fico toda felizinha em tê-
los aqui comigo muito obrigada!

Como vocês estão? Aaaaa finalmente cheguei aqui, com a última atualização de EECR do ano! Dividi o capítulo em duas
partes, uma do Jungkook e uma do Jimin, porque não queria que ele ficasse tão grande uwu eu espero que gostem de ler~
tenho que agradecer vocês por várias coisinhas, e avisar também, então nos vemos nas notas finais!

Boa leitura

JUNGKOOK

Às vezes eu tenho a sensação de que ainda sou um bebê.

E não é por nada não. Eu tenho mais motivos do que gostaria para sentir isso… sinto que sou um bebê principalmente
por causa de...

De...

— Ai...

Disso.

Eu ainda sinto medo de fazer exame de sangue.


A culpa não é minha se meu coração aperta sempre que eu vejo a agulha vindo na minha direção. Na maioria das
vezes, fico com o pé batendo no chão e o rosto suando frio enquanto a médica realiza sua sessão de tortura. E sempre,
sempre que saio de lá, tenho que me segurar, pois sinto vontade de sair correndo e gritando para todos os lados.
Simplesmente expulsando todo o nervosismo que tomou conta de mim enquanto ainda estava na sala do exame.

Puxa vida... É um horror. A sensação da agulha é simplesmente…Ugh. Horrível!

— A gente pode comer agora? — perguntei, amuado. A única coisa que me interessava depois daquele transtorno era
comer.

Comer muito. Bastante. Tô faminto.

— Não se saciou com o pirulito, garotão? — meu pai brincou, dirigindo com cautela.

Fiz uma careta. Realmente, sempre que eu fazia os exames anuais, ganhava um doce por me comportar bem, da
doutora. Como se eu ainda fosse uma criança. Uma vez a atendente me perguntou se eu tinha oito “aninhos”, e foi bem
constrangedor.

Eu realmente pareço tão novo assim?

— Não foi o suficiente… — eu disse, carrancudo. Ainda dói.

Estamos no carro: eu e meus pais. Faz um tempinho que saímos do médico e enquanto aperto o braço o qual tomei
injeção, eles riem baixo da situação, lá dos bancos da frente.

— O que você quer comer, então? — minha mãe me pergunta, e dou um suspiro baixo ao dizer:

— Qualquer coisa que tenha massa…

Ela deu um sorriso, acariciando minha cabeça antes de afirmar que, então, vamos ir para um rodízio. Pelo menos
isso…

— Tem um naquele Shopping de rua — meu pai disse, enquanto procuro o walkman na minha mochila.

Também tem esse detalhe. Meus pais trocaram a folga do domingo para terça-feira — que é hoje —, mas eu tenho
uma prova mais tarde, então eles vão me deixar na escola depois que almoçarmos juntos. Eu vou chegar mais tarde, de
novo.

— Ah, mas se formos lá, que seja pra comprar as roupas do Jungkook de uma vez — minha mãe disse.

— Ah, não — eu rebati, porque não quero comprar roupas.

Minha mãe me fitou, repreensiva. Ela sempre fica incomodada com a minha escolha de roupas. Os casacos, e os tons
escuros… Ela acha que eu fico melhor com cores vivas.

Não sei não.

— Já faz um tempo que você não compra roupas novas — ela disse.

— Mas… — Mordi o lábio, incomodado.

— Jungkook, eu já te disse um monte de vezes que você fica bem mais bonito sem esse amontoado de roupas. — Ela
se virou para me olhar, e o assunto em si me deixa tão constrangido que não posso evitar. Abaixo a cabeça. — Você já deu
uma engordadinha do começo do ano pra cá.

— Mãe! — exclamei, morrendo de vergonha.

— Vai que a gente acha uma jaqueta igual aquela que você gosta, hein? — Ela tentou me animar, ignorando meu
protesto anterior.

Me encolhi mais.

— Eu não quero.

Conectei o fone no walkman, colocando-o na cabeça. Ainda pude ouvir meu pai falando que também poderíamos
pesar e, puxa, se meu pai também concorda, já sei que está decidido. Não tem mais jeito de fugir.

Se os dois concordam, é porque vai acontecer. Chega até a ser um pouco triste, pra falar a verdade.

Eu realmente odeio a sensação de experimentar roupas, principalmente quando preciso ir para o provador. Não dá
pra saber se meus pais fazem isso pelo meu bem ou se eu realmente preciso de roupas novas — só tem uns míseros furos
nos meus casacos, puxa —, mas eu nunca gostei de nada disso, em nenhuma das hipóteses.

Não gosto de trocar de roupa e definitivamente detesto ter que ficar sem meus casacos quando alguém está por perto.
A sensação é estranha e ruim, e eu me sinto extremamente exposto. Não é nada legal.

Às vezes Seokjin diz que estou exagerando colocando tantos problemas assim em mim mesmo, mas é um pouco
difícil não fazê-lo quando passei tanto tempo ouvindo “Você anda passando fome?” de diversas pessoas diferentes. Eu tento
não deixar isso atrapalhar meu dia a dia, porque… Sei lá, algo nas lições que as HQs que eu leio carregam, me ajudam. A
mensagem através das falas dos heróis me dizem, de forma leal e fiel, que é completamente imbecil pensar em nós no "modo
exterior".

É engraçado pensar nisso, mas até que me sinto bem. O fato de um gibi, que poderia servir apenas para o
entretenimento, me trouxe tantos pensamentos bons, é muito feliz. Uma vez me fechei em meu quarto de vergonha e tristeza,
porque minha irmã e suas amigas estavam sendo muito malvadas comigo. Decidi naquela tarde que preferia dar atenção à
mim mesmo, mas não a minha aparência ou algo do gênero. Meu interior…

É um pouco difícil entender o que normalmente faço para me sentir bem, mas é muito básico, eu só gosto mais da
minha personalidade. Convivo bem comigo mesmo, e isso é bom. Eu só não gosto de ter que pensar nas outras coisas…

Como espelhos. E exposição.

— Juro que só vamos ver umas roupinhas básicas, tá? — minha mãe disse, enquanto saíamos do carro. — Depois
comemos, e você pode até pegar um moletom novo.

Ok, moletons me deixam um pouquinho mais animado.

— Mas tem que escolher três camisetas e uma bermuda — revelou as condições.

— Tá bom. — Eu aceitei elas. — Uma calça também?

— Só uma! — disse, e até que entendo.

Dá última vez eu só peguei calças. Sério. Calças.

— Tá bom. — Até que me sinto melhor agora.

Então, fomos caminhando até as lojas favoritas de ambos. E eu apenas acompanhei, pegando as camisetas mais
irônicas e largas que vi.

***

Por incrível que pareça, não foi tão ruim fazer compras.

As palavras da minha mãe sobre eu ter dado uma “engordadinha” se mantiveram na minha cabeça enquanto eu
escolhia as blusas. E quando as vesti, percebi que não tinha ficado tão ruim quanto eu pensava.

Ah, e eu consegui comprar dois moletons. E uma camiseta branca arroxeada gigantesca.

Minha mãe não deixou eu comprar outro par de all stars, então fiquei um pouco bravo. Isso até irmos comer e eu me
sentir maravilhado com tanta pizza, lasanha e macarrão em um só lugar. É o paraíso…

Agora estou sentado no banquinho que fica em frente a minha sala, porque já faz uns minutos que meus pais me
deixaram aqui, na escola, mais cedo que o necessário. Só estou esperando dar três e meia para entrar na sala. É até melhor
assim, porque ainda não olhei a matéria que vai cair na prova de hoje e, embora eu a saiba, tenho dessas de ficar com um
branco na hora da avaliação. Mas só quando não estudo.

E eu estou estudando agora, então está tudo bem.

No fim, o professor atual terminou a aula antes do horário, então, metade dos alunos saíram junto com ele. Continuei
sentado por um momento, de cabeça baixa. Até reunir minhas coisas e começar a guardá-las na mochila. Entrei na sala com
um pouco de pressa, colocando minhas coisas atrás da carteira do Jin.

Assim que me sentei, olhei em volta. Percebi que Seokjin e Jimin não estão aqui, então devem ter saído junto com
todos aqueles outros alunos. Eu estava distraído, então não vi...

Já faz uma semana — e um dia — desde que Jimin voltou pra escola, e eu ainda sinto falta dele quando vamos
embora pra casa. Por mais que minha atual vontade seja de me levantar daqui e ir atrás dele, eu não quero me atrasar para a
prova. Por mais descontrolado que meu interior fique com a ideia de estar com Jimin, eu acho que, por ora, é melhor eu ficar
aqui...

Comecei a escrever as observações sobre a matéria em um caderno, memorizando-as com o tempo.

Bom… Isso só até eu ouvir o nome de Jimin ser proferido, logo ao meu lado, por duas garotas.

— Jimin? — uma delas disse. — Sério? Eu sabia!

— Fala baixo!

Foi esquisito. Meu cérebro deu pane e a única coisa que meu corpo fez foi: levantar a minha cabeça, me fazer
esquecer da prova, e me obrigar a prestar atenção na conversa daquelas duas.

Olhei para o lado discretamente, vendo-as.

É Jieun. E Micha.
— Não vou fazer isso, Micha! — Jieun disse, comigo atento a sua conversa escandalosa de garota.

Elas estão sentadas na carteira ao lado da minha e falam alto o suficiente para eu entender, perfeitamente, todas as
suas palavras.

— Para de ser boba! — Micha rebateu. — Eu já desconfiava, você fica sentando perto dele quando o amigo dele sai e
fica olhando pra ele na aula de ciências!

— Sou tão óbvia assim?

— É!

— Mas… é inevitável, Micha. Ele é muito… — Jieun soltou suspiros. — Micha... Ele é apaixonado por livros, como eu.
Temos tudo em comum. Queremos ser escritores e ele é muito bonito...

— E legal!

— Sim… — Ai meu Deus. — Mas não fala nada disso pra ele!

Sim, puxa, Micha, não fala nada disso pra ele, puxa...

— Mas por que, bobona? Às vezes pergunto de você pra ele, nas aulas de leitura, e ele diz que você é legal.

— Não dá, não consigo!

— Consegue sim!

Meu coração está batendo com muita força agora e, diferente de todas as outras vezes que ele bateu assim por Jimin,
não é gostoso.

Não é muito bom, não.

O que Jieun não consegue, afinal?

— Eu acho que ele gosta de você!

Puxa…

Por que estou me sentindo tão mal com todas essas informações? Não pode ser.

Por que eu não quero que Jimin e Jieun…?

Estou sendo egoísta?

— Ele não gosta de mim! Ele nem percebe nada do que eu digo…

— Sai dessa!

Me encolhi na cadeira, um pouco nervoso. Na verdade, estou muito, muito nervoso, porque acabei de perceber que
elas estão falando de um gostar romântico, e Jimin está especialmente incluído nisso, junto com a Jieun.

E eu odeio o fato de meu estômago estar tão frio agora, evidenciando o quão desgostoso me sinto ao saber disso.

Estamos quase passando o meio do ano, então. Falta uma semana pra julho, então mais uma para as provas
terminarem e então as férias de duas semanas começarem, mas… Mas… Eu não pensei que alguém pudesse estar
gostando de Jimin desse jeito, porque se passou pouco tempo. Tudo bem que gostei do Jimin do meu jeito em poucos
semanas, mas é diferente! Jimin era amigável e se dava bem com as pessoas, principalmente com as garotas. Só os
repetentes que não gostavam dele. Mas o pessoal da sala sim. As meninas sim. Jieun sim. Eu não sei por que me sinto tão
decepcionado com a informação, e o fato de que é Jieun que o ama, me deixa com a sensação de… Perda.

Puxa, é a Jieun…

É Jieun, a linda, a inteligente, a popular que gosta de ler diversos livros, assim como Jimin. Eu não gosto de ler livros,
só gibis, e é claro que eu sou invisível aqui.

Puxa, ai não...

Soltei a lapiseira, sem forças para continuar estudando. Meu interior está todo apagado, e… A sensação é de que
alguma coisa explodiu em trezentos pedacinhos miseráveis aqui dentro. Mas nada explodiu. Ou será que explodiu?

Para com isso, Jeongguk.

É patético. É muito patético.

Tentei pensar em outra coisa, então minha mente passou para meu melhor amigo. Eu sei que Seokjin vive ficando
com várias garotas, e ele não me conta, mas eu percebo. Só que eu nunca me preocupei com a ideia de ele começar a
namorar. Tipo, não mesmo. Sei que ele vai ter que dividir o tempo comigo e com ela, mas não é como se fosse me esquecer.
Sei disso. Mas Jimin… o que será que ele faria?
Ele é tão romântico e bonito, é por isso que Jieun gosta dele…

Quem não se apaixonaria por ele, afinal?

Sou tão idiota. Eu deveria ter percebido antes. Quando Jiminnie começou a faltar, por sabe-se lá quem, Jieun ficou
sabendo que eu e ele somos amigos. Então ela veio até mim e disse “Me contaram que você sabe sobre o Jimin”, e estava
vermelha enquanto perguntava sobre ele. Ela é popular e bonita. E ela gosta do Jimin.

Puxa, puxa, nãooooo...

Acabou.

Acabou, acabou pra mim.

Me dando uma surra de realidade, o sinal da aula tocou. Elas pararam de falar também, indo para seus devidos
lugares.

Fiquei de cabeça baixa, com o rosto queimando de forma estranha, até meu melhor amigo — graças aos anjos —
aparecer pra tirar minha mente daquela enrascada.

— Ya, você chegou! — ele disse, se sentando em sua cadeira.

Normalmente sentamos um do lado do outro, mas como é dia de prova, não vai rolar.

— Cheguei… — Soltei em um muxoxo, me amaldiçoando por não conseguir agir normalmente.

Jin me olhou engraçado.

— Me deixa ver — pediu, logo achando que eu estava cabisbaixo por causa da agulha, e não por causa da perda.

Subi as mangas do meu casaco, que já estavam arregaçadas. Ele sorriu enquanto fitava o adesivo que cobria o lugar
o qual fui espetado.

— Doeu? — perguntou, querendo rir.

Ele sabia. É claro que sabia de tudo, inclusive que eu ia chegar mais tarde, e o porquê de eu chegar mais tarde.
Igualmente conhecia meu medo ridículo de agulhas.

— Doeu… — eu disse, enquanto Jin subia o dedo pelo meu pulso, até chegar na dobrinha do meu braço, ameaçando
cutucar o curativo. — Para!

— Tira esse negócio — disse, e neguei. Puxei meu braço.

— Não, idiota. Esse negócio tá segurando meu sangue aqui dentro — eu falei, fazendo-o rir mais.

— Que drama dos infernos.

— Eu fiquei tonto quando ela terminou, tá? — Suspirei. — Puxa vida…

Seokjin começou a rir, e terminei por me distrair com sua risada, rindo também.

Assim que ri, levantei a cabeça, olhando em direção a porta. No momento exato o qual Jimin passava por ela, com
Yoongi ao seu lado.

Parei de sorrir. Pressionei meus lábios.

Ele fica bem de moletom de lã…

Eu odeio ter perdido ele para a Jieun.

Antes que eu pensasse em desviar meu olhar derrotado, Jimin me olhou de volta. Então fitou algo fixo atrás de mim,
falando alguma coisa com Yoongi antes de vir praticamente correndo para perto.

Pegou seus materiais na sua mesa e, apressado, colocou-os na carteira atrás de mim.

Engoli em seco, pensando se deveria cumprimentá-lo ou não. Mas nem pude pensar na possibilidade por muito
tempo, já que Jimin me cutucou um segundinho depois.

Seokjin estava olhando pra frente, então não me segurei. Virei meu corpo e olhei para Jimin, me perdendo
imediatamente em todos seus detalhes.

O moletom que ele está usando é todo cinza e preto, mas com uma gola alta de só uma cor. O cabelo dele parece
menos liso que o comum hoje, mas continua… Continua bonito, como sempre...

Percebi que estava o olhando por muito tempo, e em total silêncio. O ouvi rir, provavelmente da minha reação quieta
e, arrisco dizer, hipnotizada.

Dei um sorriso estranho, rindo bem nervoso.


— Ei.

— Oi — eu respondi, com metade do corpo virado para o lado, focado nele.

— Você chegou tarde hoje — observou, me analisando com os olhos por um momento. — Tudo bem?

— Sim, eu só… Fui fazer exame de sangue — respondi, enquanto assistia-o desceraquele olhar para meus braços.

Quando percebi que ele estava procurando o curativo, ergui o braço certo, mostrando-lhe.

— Doeu muito? — perguntou, e… puxa vida.

Mil vezes puxa vida. A forma que sua voz soa é totalmente diferente da de Seokjin enquanto faz-me essa pergunta. Eu
sinto que poderia explodir em mais trezentos pedacinhos só por causa disso.

— Doeu… — eu respondi honestamente, engolindo a saliva que restava em minha boca.

Eu virei meu corpo, um pouco trêmulo enquanto me deixava aproximar.

Jimin fechou uma das mãos em meu pulso, me tocando com curiosidade. Meu peito, tão desacostumado com isso,
começou a me esquentar por completo. Jimin encostou os dedos de forma sutil em meu pulso, subindo-os até chegar no
curativo, o analisando.

A sensação que seus toques me dão é tão singular. Me deixam entorpecido de um jeito tão fora do comum...

— Eu odeio agulhas — Jimin está falando baixinho.

Sua unha curta tocou-me a pele, fazendo movimentos circulares em volta do adesivo.

Algo naquele toque me desmontou por inteiro, e não consegui controlar. Fiquei arrepiado… senti isso, senti os poros
dilatando, os pelinhos eriçando, um por um, tudo em mim reagindo a Jimin e sua forma de me tocar.

Me senti envergonhado, principalmente, porque ele está com as mãos em mim, e percebeu perfeitamente. Até
levantou o olhar, focando no meu rosto, e parece surpreso comigo também. Com meu arrepio. Suas bochechas rosaram e
sua boca fez uma curva muito bonita, revelando seu sorriso que respondia minhas reações.

Agora estou muito tímido, muito, muito, muito tímido mesmo. Tanto que curvei minha cabeça, cobrindo meus olhos
com minha franja. Estou com o coração pulsando de vergonha e muita vontade de me mexer. Não pude evitar começar a
bater o pé no chão continuamente.

Perceber que ele notou que eu estou arrepiado e, além disso, gostou, me deixa pifado. Puxa...

Estou arrepiado por causa dele.

Porque ele está me tocando.

— Tá melhor agora? — perguntou em um sussurro, circulando o curativo com o indicador, a unha me enviando
arrepios constantes e descontrolados.

Ai meu Deus, meu Deus, meu Deus, meu Deus...

— S-sim…

Estou praticamente dormente agora. Até minhas coxas ficaram arrepiadas…

Jimin deu mais um sorriso, rindo baixinho. Seus olhos se fecharam, e as bochechas estavam ficando ainda mais
rubras.

— Seus olhos estão enormes agora… — ele falou, ainda silencioso e ainda risonho. — Seu cabelo tá bagunçado.

Instantaneamente, lembrei-me do que ele colocou no bilhete que trocamos semana passada, sobre adorar meu cabelo
bagunçado. Eu. Vou. Morrer.

Quase me soquei, porque estou mesmo com os olhos arregalados, mas… Eu não percebi que fiz isso.

É que estou surpreso e minimamente assustado com todas suas ações e minhas reações.

Pisquei várias vezes, balançando minha cabeça. Fica normal, fica normal…

— E agora? — perguntei, querendo me dar um tapa porque minha voz saiu extremamente trêmula.

Jimin, sem parecer notar — ou não se importar —, respondeu:

— Agora tá... — ele começou, mas então parou. — Estou com medo de dizer.

— Ai meu Deus, eu tô horrível — concluí, e ele deu risada, negando com a cabeça.

— Não! Você nunca tá horrível — disse, e meu rosto está ardendo, porque estou fervendo. Borbulhando. — É porque
não quero dizer, já que vamos ter uma prova agora, e tal..
Franzi o cenho. O que isso quer dizer?

— Como assim? — perguntei.

— Não quero que se distraia.

O sorriso que está plantando em seus lábios agora me dá a sensação de que ele é o rapaz mais esperto e sorrateiro
que existe em todo o mundo.

— Jimin… — Afiei o olhar, o fitando com desconfiança. Ele riu mais.

— Vamos trocar de assunto! Depois da prova, vamos ao clube de música juntos? — me chamou.

— Sim, com certeza. Mas primeiro me diz — eu insisti. — Completa.

— Completar o quê?

— O que você disse. — Eu recolhi meu braço, juntando ambas minhas mãos na minha cadeira.

— Mas o que eu disse?

— Diz o que ia dizer, Jiminnie! — exclamei, com um bico.

Jimin continuou me olhando, e então mirou meu rosto, mas… Não meus olhos. Estava olhando pra mim, mas não fez
contato visual.

Seguidamente, ele deu mais um de seus sorrisos, tão calmo que fiquei estupefato.

Então, sem mais delongas, ele disse:

— Você estava muito fofo antes — disse. Fofo… — E agora que balançou os cabelos, e os olhos não estão mais
arregalados, você tá...

Parou. Cobriu os lábios com a mão, rindo, vermelho, como se estivesse sem graça.

Fofo...

Quando Jimin sorri assim, ele parece um gatinho. Não qualquer gatinho. Ele parece Menino, o único gato fofo e
amigável que já conheci em toda minha existência.

Dá vontade de fazer carinho nele...

— Estou...? — Se ele não completar, vou explodir.

Ou… Foi pelo menos o que eu pensei.

— Agora você tá muito lindo.

Mas, a verdade, é que eu explodi porque ele completou.

Jimin riu, soprado, deitando a cabeça na mesa, envergonhado demais para olhar pra mim.

E eu ainda estou processando.

— Tô ferrado — eu disse.

Sim, eu sei que estou tremendamente ferrado. Jimin tinha razão, não deveria ter dito, porque fiquei tão tímido e
perdido que tudo aqui deu pane.

Prova? Não sei. Agora eu tô muito lindo, você tá muito lindo, lindo, Jungkook, lindo, lindo…

O que vai cair? Qual questão marcar?

Não faço ideia, Jimin disse que estou muito lindo, lindo, e lindo..

Puxa...

— Foi mal — ele disse, com o rosto de cara com a mesa.

Só vejo sua nuca agora, e eu devo estar da cor dos fios vermelhos que ali se destacam.

De certa forma, me sinto igual a eles: vermelhos como fogo. Estou quente e meu coração bate tão forte, a vergonha
sobe do dedo mindinho do meu pé e vem até o último fio do meu cabelo bagunçado, que balancei, para ficar muito lindo,
como Jimin acabou de dizer que fiquei.

Quando ele ergueu a cabeça e olhou pra mim, deu mais uma risadinha, cobrindo o rosto com suas mãos elétricas.

Elétricas. Muito. Elas me dão choques sempre que me tocam, e eu fico tonto, tonto...
— Meu Deusssssss — prolongou, com a voz doce e risonha. — Você tá tão rosa, eu não devia ter falado nada!

— Diz que é mentira pra eu esquecer! — praticamente implorei.

— Mas não é mentira!

— Então acabou pra mim!

No mesmo momento, o professor entrou na sala, deixando a turma barulhenta silenciosa como a noite.

Meu coração não faz parte da turma e ele está fazendo um estrondo que me deixabesta.

— Tirem os cadernos e livros da mesa, está na hora da prova — ele diz.

Jimin me fita e dá outro sorriso assassino.

— Tenta esquecer, mesmo que seja verdade...

— É impossível — eu disse.

— Vai, por favorzinho... Você consegue.

Por favorzinho…

— Tá bom… eu vou tentar. — Por que eu me rendi assim?

Tão rápido. Tão… Fácil.

Eu não me arrependo.

Jimin sorriu, tocando minha mão por um segundo antes de começar a tirar os livros da mesa. Logo o professor falou
sobre olhar pra frente, então tive que virar para frente e, com os movimentos duros como os de um robô, começar a guardar
o material que não vai ser usado, deixando só a lapiseira e a caneta sobre minha mesa.

— Boa prova… — Ouvi Jimin sussurrar, atrás de mim.

Ele sabe que até seu sussurro me desconcentra?

Virei um pouquinho o rosto, pressionando os lábios. Só assenti, balançando a cabeça, encabulado, olhando-o de
esguelha antes de voltar para frente, mais uma vez.

O professor deu alguns avisos, mas não é como se eu tivesse prestado atenção. Depois ele colocou as provas na
nossa mesa, e deu um tempo para fazermos.

A prova estava na minha frente. E eu só pensava em Park.

Eu honestamente não sei o motivo, mas Jimin está sempre elogiando o que tento ignorar. Minha aparência. Ele já me
chamou de delicado, de fofo, de lindinho, e agora de lindo, eu não sei o que fazer…

O pior é que eu nem posso dizer, com toda a certeza, que ele está mentindo. Porque quando minha mãe diz que eu
sou bonito, sei que ela só diz porque é minha mãe, e mães precisam dizer isso às vezes.

Mas Jimin… Ele disse que sou delicado no dia em que nos conhecemos, como se fosse uma observação normal,
como se estivesse certo de que o que disse é verdade, sem drama, só um simples e sútil: você é delicado. Me lembro de
pensar nisso por dias, até chegar na conclusão de que ele foi sincero e que é estranho alguém me achar delicado. Agora,
sempre que ele diz essas coisas, consigo ver sinceridade em seus olhos, e isso me deixa intrigado e… Surpreso.

Até sua expressão muda. Hoje, me disse com as sobrancelhas erguidas. Jimin parece até galanteador, e não sei, de
verdade, o que fazer quanto à isso.

Meu rosto continuou vermelho, e minha alma começou a vibrar sob minha pele. Não dá, não consigo ficar quieto, algo
está explodindo, pela terceira vez só hoje, dentro de mim.

Jimin é um menino tão fascinante. Ele é tão legal, tão amoroso, tão honesto…

E Jimin… Jimin me acha bonito.

Uma vez Seokjin disse — brincando, acredito eu — que estou ficando muito gato, mas eu ri e mandei ele ir catar
coquinho. Já Jimin disse que estou lindo e fofo, e eu não consigo pensar em mais nada além disso, e também não quero que
ele não diga coisas assim sobre mim. Quero que Jimin continue. Não é constrangedor e idiota ouvir, como é com Seokjin e
minha mãe. É atraente, vergonhoso, mas uma vergonha que meu corpo não está acostumado. Eu fico feliz, no fim, e o
sentimento é de que eu preciso rolar na cama e me debater como uma criança, ou um peixe fora d'água. Que é o que eu sou.
Um peixe fora d’água, confuso, saltando, e me debatendo.

Mas não estou morrendo. Na verdade, me sinto mais vivo do que nunca.

Os minutos estão passando, e eu não quero ficar nervoso por receber um elogio de Jimin. Quero ficar feliz, e eu estou
feliz….
Me dei um peteleco, apertando a lapiseira antes de colocá-la em ação. Já estava fazendo a prova com a maior euforia
do mundo. Continuei sorrindo, todo quente, sempre me balançando quando lia alguma palavra que começava com J. Porque
eu logo pensava em Jimin, e aí…

“Você está muito lindo.”

Me remexi na cadeira. Depois arregalei os olhos, porque no silêncio da sala, Jimin que está atrás de mim, deu uma
risadinha.

Ai meu Deus ele percebeu, claro que percebeu. Ele sabe que me deixa maluquinho, e ele ri.

Apertei a caneta. E dei o maior sorriso… Também senti vontade de rir. Sim, quero rir.

Estranhamente, posso rir por duas horas seguidas agora. Ou só sorrir. Ou só ficar muito feliz.

E então, pronto. A prova está pronta, eu terminei. Ainda esvaziei a cabeça por uns segundinhos, analisando as
questões, percebendo que estou certo na maioria delas. Coloquei as mãos na mesa, saciando a vontade de me mexer ao
ficar de pé para começar a caminhar em direção a mesa do professor, no intuito de entregar minha prova e, só então,
continuar lembrando e relembrando dos sentimentos que Jimin coloca em meu peito.

Logo ouvi um barulho atrás de mim e o som dos passos. Fitando de esguelha… percebi que Jimin também está vindo
entregar sua prova. Junto comigo.

Tento não olhá-lo muito, porque sei que, se eu o fizer, posso tropeçar e cair de tão nervoso que ele me deixa.

Coloquei a prova sobre a mesa do professor. Um segundo depois, Jimin fez o mesmo.

E ainda perguntou:

— Quem terminou pode sair?

Agora, acabo de notar que a voz de Jimin parece ansiosa. Acabei por olhar para ele, vendo-lhe atento ao professor,
que olha para ele e para mim, como se nos analisasse, procurando ver se vamos aprontar alguma ou não.

Ele se rende. Acabei de perceber que fomos os primeiros a terminar.

— Sim. — E o professor permite.

Jimin sorriu. Ele passou por mim, rumo a porta, saindo. Eu fiquei perdido, porque ele parece, de certa forma,
charmoso hoje. É uma escolha estranha de palavra, mas é meio que assim, ele caminha charmoso. E ele é charmoso.

De repente, ouvi a voz dos Beatles na minha cabeça:

Go with him, Annaaa

Mas então, eu mudei:

Go with him, Jungkooook

Vá com ele, Jungkook.

Dei um sorriso trêmulo. Quando Jimin passou pela porta, olhando para mim, fiquei petrificado como um bobo. Meu
corpo deu uma pirada bem doida, mas eu sabia, ah como eu sabia, que queria ficar perto dele. Sem mais delongas, meus
pés acordaram e me moveram para a saída, loucos para me levarem até ele.

Isso é loucura. Acabei de sair do controle e não ligo. Puxa, puxa, puxa.

Estou até tropeçando nos meus próprios pés. E definitivamente, agora, acabei de ficar louquinho.

Saí da sala, fechando a porta. Jimin veio, quase magicamente, para meu lado. Estava sorridente, então eu, todo
embasbacado e desequilibrado, sorri também.

Acho que foi um sorriso torto, porque Jimin riu, soprado, me entorpecendo com sua voz doce como mel.

— Eu te avisei — disse, sorridente. — Você deveria ter esperado até o final da prova.

Demorei um tempo para entender. Até que sua voz me chamando de lindo voltou e eu peguei o sentido da coisa.

— E-eu não aprendo, mesmo, deveria ter te escutado... — admiti, risonho, gaguejante.

Ainda estou com aquele sorriso grande e Jimin também, amoroso, muito fofo.

— Percebi suas orelhas ficando vermelhas e sua nuca, e você estava se mexendo todinho. — ele observou. Mas eu
não esperava por aquilo. Jimin ergueu a mão macia, trazendo-a para perto de mim. — Mas não sei se isso é bom ou não...
Eu fiquei inerte. Sua mão, que sei que é macia e quente, estava vindo na direção do meu rosto.

Me senti ansioso.

Algo dentro de mim, pediu para Jimin, por favor, tocar meu rosto.

Me toque, me toque.

— Mas, agora você já sabe… — ele ainda disse, aproximando-se mais. — Eu estou sempre certo. Mas eu não sei se
é bom ou não.

— O quê? — Minha voz saiu fraca, ofegante.

Se eu pensei que já estava vibrante o suficiente, me enganei. Jimin ergueu o polegar, tocando o canto do meu lábio
superior.

Agora é pra valer.

Meu coração.

Me.

Deixou.

Surdo.

— Se é bom ou não você ter ficado vermelho e se mexendo! — disse, como se fosse óbvio, como se não tivesse
fazendo meus nervos pirarem.

É, bom, Jimin. É tudo tão bom.

— É bom!

Gritei, praticamente. Jimin riu, mas ainda está tocando minha boca.

— Fico feliz. Na boa, seu sorriso tá tortinho — disse, ainda tocando. Ele ergueu levemente meu lábio. Como se
deixasse meu sorriso certo. — Se bem que continua encantador.

Fofo. Delicado. Lindinho. Encantador.

Jimin sorriu, mas quando suspirei, movendo meus lábios, no automático, seu dedo escorregou.

Ele está me tocando no queixo agora. Mas eu não me importo, eu só quero que ele continue, porque nunca senti
essas coisas antes e ela são tão, mas tão boas, que eu poderia viver delas.

Jimin ainda está sorrindo, como se gostasse do jeito que reajo. Eu estou olhando para seus olhos, me olhando, e ele
parece tão curioso e tentado a alguma coisa…

Eu gostaria de saber o quê.

Contrário à isso, fiz um barulho estranho de surto. Meio que gemi, bravo e confuso, rugindo, e Jimin tirou a mão de
mim para cobrir seu riso, provavelmente achando engraçada a minha reação.

Eu não fiz de propósito, eu simplesmente fiz. Depois cobri o rosto, envergonhado.

Meu Deus, por que sou tão esquisito?!

Estou tão cansado e pulsante agora que, acho que quando chegar em casa, vou me desmanchar no carpete da sala e
ficar lá. Para sempre.

— Vem aqui — Jimin disse, com a voz num tom divertido e o rosto vermelho. Me segurou o pulso. — O Taehyung
disse para chegarmos cedo. Vamos logo pro clube.

— Que clube? — perguntei, confuso, porque nada parece real agora. Só Jimin e eu.

Ele deu risada, balançando a cabeça.

— O de música, Jungkook!

Ah…

Porcaria, sou muito burro!

— Verdade, verdade… — sussurrei.

Jimin, graças aos anjos, parou de olhar pra mim. Me peguei pensando em quem é Taehyung, e até me esqueci de que
hoje é terça-feira e todas essas coisas. Fiquei besta (mais uma vez, e mais ainda).

Mas antes que saíssemos do corredor da nossa sala, ouvimos uma movimentação. Na verdade, eu ouvi, porque
reconheci na hora aqueles passos: era Seokjin.

— Idiota, você nem me esperou! — ele ralhou, correndo para perto de nós dois.

Ah é verdade, eu deveria tê-lo esperado.

— Desculpa! — eu disse, enquanto Jimin soltava-me o pulso. Puxa… — Nós estávamos indo para o clube de música.

— Que clube de música? — indagou.

Ai, quero bater nele…

— Ai, Jin! O que a gente assinou, ou contribuiu, sei lá, na semana passada — relembrei. Ele fez um “aahhh”,
aparentemente se lembrando.

Jin, um segundo depois, olhou para Jimin. Eles se olharam.

— Quem é esse? — Jin perguntou.

Meu Deus, eu vou matar esse esquecido maluco!

— Eu sou o Jimin… — Jimin disse, se aproximando dele.

Ainda estou bravo por ele ter esquecido. Felizmente, Jin fez uma expressão de quem acabou de se lembrar,
apertando a mão de Jimin de repente.

— Ahhh, é! — ele diz. Enquanto as mãos dos dois se apertam, me pergunto se a palma de Jimin faz Jin se sentir fraco
também. — Aquele Jimin, não é?

Seokjin me olhou enquanto perguntou isso. Jimin também, curioso com o “aquele” intenso do meu melhor amigo.

— Sim… É aquele Jimin — respondo, enquanto soltam as mãos.

— Ya, Jungkook disse que você é muito legal — Jin falou, amigável, fazendo a atenção de Jimin se voltar pra ele.

Jimin sorriu.

— Sério? — perguntou.

— Sim!

Legal, estou ficando tímido novamente.

— Bacana! — Jimin continuou sorridente, me olhando, e olhando Jin, como se gostasse muito de estar ali.

Para ficar uma completa bagunça, Yoongi saiu da sala também. Ele veio em nossa direção igual Jin, mas diferente do
meu amigo, ele não fez questão de nos cumprimentar. Só foi até Jimin.

— Eu só quero café — disse, simplesmente. — Que prova dos infernos.

— Concordo — Jin murmurou.

Yoon o olhou por meio segundo antes de olhar para mim.

— E aí. — Balançou a cabeça pra gente, num cumprimento muito estranho.

Jin fez o mesmo. Eu só virei a cara, porque não sei cumprimentar as pessoas.

— Quer passar na lanchonete antes de ir ao clube de música? — Jimin perguntou.

— Ah, é mesmo… O clube de música — Yoongi deu um suspiro, parecendo aflito. — Tudo bem, pode ser —
respondeu, enfim. Jimin estava olhando pra ele.

Puxa. É errado pensar que prefiro quando estamos só eu e Jimin?

— Então vamos lá!

— Também quero chocolate quente, vamos com vocês — Jin disse e, meu Deus, desde quando ele é tão amigável
assim?

Senhor Deus.

— Tá bom…

— Então vamos todos juntos! — Jimin sorri, feliz com a ideia. Contrário a eu e Yoongi.

Ficamos calados de repente. Pelo menos nisso somos semelhantes.

— Tá.
— Uhum.

Essas confirmações mixurucas partiram de mim e Yoongi.

E enquanto nos íamos para a lanchonete, prontos para comer e ficarmos em uma situação constrangedora porque
claramente não estamos confortáveis — ou pelo menos eu e Min Yoongi não estamos —, me lembrei agora de quem é
Taehyung, o doidinho fã dos Beatles. Jimin fez meu cérebro dar pane.

E puxa… sabe o que é mais estranho nisso tudo?

É que eu adorei.

Notas finais
Tem dias que eu tô só o Yoongi qq

Então, pra quem só conseguia pensar coisa triste sobre os casacos do Jungkook, o caso está resolvido! Ele só é muito
magrelinho gente... algumas pessoas já esperavam por isso, fico feliz~

Primeiramente, fiz uma tag pra 'Ele é como Rheya' no twitter! Então, sempre que forem falar da fanfic lá (no twitter) usem a
tag #PuxaPuxaPuxa junto pra que eu veja o tweet de vocês uwu vamos encher a fific de amor

Segundamente (?) gostaria de agradecer vocês pelo ano maravilhoso! Eu postei essa fanfic logo depois de voltar a estudar,
após um longo tempo ficando somente em casa, e foi o melhor jeito de me inspirar e lidar bem com meus sentimentos.
Estar com vocês sempre me deixa bem e, ai ai, fico muito feliz por ter vocês~

Além disso, me perdoem por não responder os comentários... não estou ignorando vocês, eu leio cada um deles! Fico
empacada na hora de responder, porque quero responder a sua altura, e não consigo... me desculpem? Só queria que
vocês soubessem que sempre leio os comentários de vocês, todos, sem excessão! Meio que sou melhor para interagir no
grupo, ou no twitter, então me desculpem, e... obrigada

Falando sobre tudo isso, fiz playlists dos personagens há um tempinho! Vou divulgar aos pouquinhos, então...

Aqui está a playlist do Jungkook: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/4Zc2GrhfvZTn1B7HmVsnPD?


si=gjDWHkMkRsaWYVVs735IIw

E... é isso! Beijinhos e até mais!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Até o ano que vem~

16. Ele é como uma Cereja

Notas do Autor
Olá, boa tarde

Espero que todo mundo aqui esteja tendo umas férias gostosinhas. Obrigada pelos 1.5k de favoritos, vocês são demais!!!

Tenham uma boa leitura~

JIMIN

— E então ele… — Seokjin suspirou, se segurando muito para conseguir terminar a fala sem rir. — Ele disse que não
tinha sido ele, até inventou uma baboseira sobre ter sentido uma presença estranha! Cara, fiquei com tanto medo que o fiz
me dar as mãos. Começamos a rezar para que o espírito não tentasse nos matar!
— Ai, Jin… — Jeongguk tampou metade do rosto com as mãos, visivelmente envergonhado com o relato.

Já eu apenas presto atenção em seu amigo e sorrio, gostando da sensação de ouvir histórias sobre Jeongguk.

— Tem uma marca de tesoura na minha porta até hoje. O Jeongguk só foi confessar que foi ele um ano depois —
Seokjin terminou, dando risada, e não posso evitar rir também ao imaginar um Jeongguk mais novo inventando mentiras para
se safar de problemas.

Estávamos sentados na cantina, com Yoongi ao meu lado, e do outro Jeongguk e Seokjin, que contava uma história
muito engraçada que acontecera anos atrás.

Acontece que, em 82, eles marcaram de fazer um trabalho na casa do Jin, em um dia que faltou luz na cidade inteira.
De acordo com Seokjin, naquela época Jeongguk estava com uma mania horrível de girar a tesoura nos dedos, e ele girou
tanto, tanto no escuro, que ela acabou escapando de seus dedos e voando longe. Então, fez um barulho estranho e eles
ficaram assustados.

A mãe de Seokjin chegou com uma vela momentos depois e foi quando eles perceberam que a tesoura estava
fincada na porta do quarto (sim, na porta do quarto!!!), Seokjin já havia pedido para Jeongguk parar de girar a tesoura por aí,
já que isso poderia causar um acidente e tudo mais. Jeongguk ficou tão sem graça que jurou não ter sido ele, e não parou
por aí: ele inventou coisas para encobrir a mentira, disse que sentiu uma “presença estranha” e que tinha certeza de que
havia sido um espírito, e Jin — aparentemente — morre de medo disso. Então, acreditou na hora. Eles rezaram para o tal
espírito ir embora e, um ano depois, Jungkook confessou tudo.

Eu estava rindo tanto, ao mesmo tempo que me sentia culpado, porque Jeon estava com as bochechas vermelhas,
completamente envergonhado com a situação.

Mas é que é impossível não rir. Jungkook é tão fofo. Desde que Seokjin começou a contar a história, eu não consegui
parar de relacionar a imagem atual de Jungkook com uma mais antiga, mais nova, com ele mais baixinho e mais fofo do que
já é, enquanto mente sobre tesouras e fecha os olhos parar rezar por um espírito inexiste.

Isso é incrivelmente fofo!

Eu já disse, e não me canso de repetir que é injusto Jungkook ser tão fofo assim, eu não consigo me aguentar quieto.
Me sinto tão descontrolado e balançado. Se eu não rir, vou começar a estapear alguém, e por algum motivo, quero causar
uma boa impressão, já que Seokjin está aqui. Eu nunca fui de tentar causar impressões — ou pelo menos eu acho que não
—, mas Jin parece ser tão legal, e Jungkook gosta tanto dele que é quase impossível não querer impressioná-lo.

— Eu pedi desculpas, tá? — Jeongguk retrucou, um tempo depois, e não sei se está falando para mim ou para
Seokjin. É fofo de qualquer jeito.

— Eu sei, eu sei, mas continua sendo uma história engraçada — disse Seokjin, e eu afirmo com a cabeça, mantendo
o sorriso na boca.

Yoongi dá uma risada espontânea.

— Essa tesoura poderia ter pegado no olho de alguém! — diz, um pouco mais alto que o normal.

É, ele fica assim quando toma café.

— Mas não pegou! — Jungkook rebateu, com um biquinho fofo.

Afff. Ele é fofo demais da conta.

— Mas poderia! — Yoongi repete, e sua voz está tão engraçada que não posso evitar começar a rir. Jin ri também.

Jeongguk parece bravo, mas quando nossos olhares se cruzam, ele não se segura. Sua boca bicuda se abre em um
sorriso e ele termina por rir também. Então, viramos uma bagunça de risos.

Jin balança as mãos, como se pedisse para nos acalmarmos. Então, diz:

— Foi um papo muito bom, mas agora precisamos ir para o clube de música. — Ele lembra, reunindo os copos vazios
onde bebemos café, suco, e chocolate quente, pela mesa.

— É verdade! Acho que estamos atrasados — eu disse, pensativo, procurando algum relógio na parede para checar.

— Devemos estar mesmo. — Jin pondera brevemente. — Vou jogar isso aqui fora e então a gente vai — ele disse, se
referindo aos pacotinhos e copinhos, que agora são lixo.

Nós afirmamos com a cabeça, e no meio tempo em que Jungkook se levanta, e eu também, Yoongi agarra meu braço
e chega perto. Como se quisesse que apenas eu escutasse, ele sussurrou:

— Preciso conversar com você sobre uma coisa. — Sua voz está rouquinha e ele parece muito másculo agora.Huuh.
— Mas em particular.

Olho para ele de perto e balanço a cabeça, afirmando.

— Já volto — eu digo para Jeon, já que Jin não está mais perto, e sim lá do outro lado do refeitório.
É, estavam limpando aqui, então retiraram quase todas as lixeiras. Só nos deixaram sentar porque prometemos não
fazer bagunça — e não fizemos.

— Tudo bem… — Jeongguk afirma, enfim.

Meu coração fica apertado. Na boa, não quero ficar longe dele agora…

— Vem.

Mas então, Yoongi corta minha linha de pensamento e impede as vontades do meu coração de serem realizadas. Elas
se resumem em: ficar com Jeongguk, ficar com Jeongguk, só ficar com Jeon Jeongguk.

Conformado, apenas olho para Jeongguk enquanto meu amigo e eu andamos para longe, saindo do refeitório logo
depois.

Yoongi suspira quando estamos fora, se encostando no primeiro armário que apareceu. Eu apenas o acompanhei, lhe
observando, já que ele é meio imprevisível quando bebe muito café.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto de uma vez, já que estou me sentindo ansioso.

Por causa de Jeongguk. É claro que quero voltar pra lá.

— Sim! — Ele está falando alto e engraçado. — Aconteceu que eu estou quase ficando de recuperação em história —
explica, então, e sua voz soa um pouco quebradiça e desafinada, e essa mudança de tons é um pouco divertida de ver.
Seguro o riso de novo. — Eu preciso muito da sua ajuda para fazer o meu trabalho.

— É sobre o quê?

Yoongi fica em silêncio. Então dá um gemido frustrado.

— Eu me esqueci… — Fez uma careta de pura dor e sofrimento. — Mas eu preciso reunir fatos, contar histórias,
pegar livros na biblioteca, e você sabe que eu não funciono com toda essa besteira. Eu não vou conseguir sozinho.

Hmm. Ele pode funcionar se ele realmente quiser, mas é um preguiçoso, e eu entendo a sua preguiça.

— O trabalho é pra quando? — indaguei.

— Semana que vem. — Ok, esse é um prazo muito curto. — O Sr. Jun disse que não precisava ser muito elaborado,
mas ele é mentiroso! O prazo curto é pra ferrar a gente. Você me ajuda?

— Bom, eu amo história... — eu disse, pensativo. — Eu também adoro fazer pesquisas e ler livros… — Eu já sei que
vou ajudar, mas um pequeno suspense sempre é bem-vindo. — Ok, eu ajudo — digo, enfim.

Yoongi solta o ar pela boca, como se tivesse acabo de descobrir que está curado de uma doença fatal.

— Ótimo, ainda bem! — Sorriu aliviado, e também dou um sorriso por causa das suas gengivas salientes. — Quando
você tá livre?

— Basicamente todos os dias — digo, e ele ri um pouco.

— É, eu também. — Ri. — Então, pode ser sexta-feira? Depois das aulas?

— Pode ser!

Antigamente saíamos muito tarde na aula na sexta-feira, mas um professor se mudou. Então nós estamos saindo
mais cedo nesse período, e esse fato é basicamente perfeito para a ocasião. Uhu.

— Ok, então você vai lá em casa sexta — ele disse.

Quê.

Ah.

Opa.

Sem me segurar, dou um sorriso, já animado com a ideia. Vou para a casa de um amigo pela primeira vez na minha
vida!

Fico tão animado, que dou uma risadinha. Yoongi dá uma risada também e damos um toque de mão repentino.

— Então tá! — falei.

Yoongi ainda está sorrindo, mas logo retoma a fala:

— Ah, é, tem mais uma coisa: não vou ao clube de música. — Enfiou a mão dentro do bolso do casaco. — Vou passar
no meu armário e ver o tema do trabalho, depois vou na biblioteca pegar uns livros.

— É isso aí, esse é o espírito! — Banquei o positivo, porque adoro quando ele decide levar os estudos um pouquinho
mais a sério. Yoongi riu. — E vê se não esquece o tema dessa vez!

— Tá bom, tá bom! — Dá mais um sorrisinho, e começa a se afastar. — Tô indo. Até depois.

— Até! — Sorrio, acenando enquanto ele se afasta, agitado como sempre fica com a cafeína correndo pelo corpo.

Quando ele desaparece diante dos meus olhos, continuo sorrindo enquanto volto imediatamente para dentro da
cantina. Jungkook e Seokjin já estão vindo em minha direção, então eu decido apenas esperar paradinho até eles me
alcançarem.

— E Yoongi? — Jin perguntou.

— Foi fazer um trabalho importante. Ah, ele não vai no clube.

— Ah — Jin soltou um barulho engraçado, mas logo sua carranca sumiu e ele começou a falar de outra coisa.

É um papo aleatório entre ele e Jungkook, mas eles me incluem na conversa a todo momento enquanto andamos
juntos até o clube. Tem algo de diferente nisso tudo, porque ao invés de querer participar, sinto vontade de apenas observar
eles conversando. Ou quase isso...

É vontade de observar ele falando.

Tenho sido tão bizarro que, agora, gosto de ver Jeongguk falando com outras pessoas. Ultimamente, quando ele fala
comigo, fico confuso e tonto, porque eu quero observar ele por completo, mas não consigo, então sinto que não estou
aproveitando o momento... Acabo só ouvindo sua voz e me perdendo nela, por mais estranho que pareça e — provavelmente
— seja.

Jeongguk me transformou em um bizarro, e o legal é que eu gosto pra caramba disso.

Logo os dois começaram a falar de Kim Taehyung, e isso me distraiu dos pensamentos, já que dou até um sorrisosó
por lembrar dessa figura que é Kim Taehyung.

Taehyung foi super legal comigo, tipo, muito mesmo! Ainda me lembro de quando ele me abordou na semana
passada. Eu estava bebendo água depois do lanche, e Yoongi nem estava comigo. Tae estava muito animado em me
conhecer, e foi tão adorável e engraçado. O amigo dele quase não conseguiu segurar ele, porque ele pulou e pulou, e
começou a falar sobre meu cabelo, e que eu era mega legal, e fiquei todo amaciado com sua presença inusitada e
extremamente familiar.

Claramente, eu me senti muito familiarizado porque já conhecia Taehyung. Eu o vi caminhando por aí e cantarolando,
em um dia que agora é distante, mas eu nunca me esqueci. É memorável quando alguém feliz aparece quando estamos
tendo um momento difícil.

Quando ele me deu a prancheta para assinar meu nome, vi a caligrafia de Jeongguk, junto de seu nome, lá. Isso me
fez sentir tanta coisa… eu não demorei um segundo para assinar também, ainda mais feliz.

No fim, me lembro dessa sensação... de ver o nome de Jeongguk de maneira inusitada. E é claro que eu nem estou
mais pensando em Kim Taehyung.

Só em Jungkook, sempre em Jungkook...

Suspirei. Me perco tanto pensando nele tanto, tanto. Enquanto andamos, meus olhos ficam tão sonolentos ao olhar
para Jeon, como se quisessem se fechar e empurrar meu corpo para perto dele. Eu sinto que estou ficando maluco e, ao
mesmo tempo, irresponsável por causa de todos esses desejos...

Afinal, as vontades estão tão fortes... E se elas saírem do controle?

Tem tanta coisa que eu quero fazer... E se eu acabar fazendo?

Hm...

— Acho que é aqui.

Estou com uma cara pensativa.

E logo percebo que os não-gêmeos estão ambos me fitando, como se esperassem por alguma coisa.

— Ahm? — Faço essa espécie de ruído confuso.

Jin ri de mim.

— É aqui? — Apontou para a sala. Parei para ver a numeração na porta.

Eu realmente não faço ideia se é, mas mesmo assim, dou de ombros, porque estava pensando e fico lerdo quando
me tiram do meu meio de pensamentos.

— Ah. — Eu observo a sala. Realmente não faço ideia. — Temos que pagar pra ver.

Sem hesitar, dou duas batidinhas na porta. Dei dois passos para trás, esbarrando propositalmente em Jeongguk.Só
porque quero pedir desculpas baixinho e ouvi-lo dizer, tudo bem, baixinho também. Eu gosto quando a gente fala baixinho.

Mas então, a porta é aberta, e quem aparece, é o amigo de Taehyung, que não tive tempo de conhecer ou saber o
nome, mas sua aparência chama minha atenção.

É que ele é bonito. E parece surpreso com nossa aparição, porque as sobrancelhas estão erguidas e os lábios
levemente abertos.

— Uau. Vocês realmente apareceram — falou, e depois riu. O sorriso dele é indescritível. — Ou será que se
confundiram?

— Nós aparecemos mesmo, Hoseok. — Seokjin sorriu, e agora sei que o nome dele é Hoseok, que sorriu também.

Essa combinação de sorrisos é muito contagiante e poderosa.

— Sério? — Riu, e nós balançamos a cabeça, afirmando. — Entrem, então! Sejam bem-vindos ao clube de música!

Após sua frase de boas vindas, Hoseok se afastou da porta, a abrindo e dando espaço para nós entrarmos. Ele
parecia muito animado, com um sorriso feliz, nos cumprimentando ao que passávamos por ele.

Hoseok fechou a porta assim que estávamos dentro. Observei o lugar, percebendo as carteiras bagunçadas e
Taehyung, que está com fones de ouvido, sentado de costas para nós. Ele nem nos percebeu.

— Tê — Hoseok chamou, se aproximando e tocando o ombro dele. Taehyung o olhou, sem tirar os fones. — Tem
gente aqui.

Taehyung pareceu entender o que ele disse sem pausar sua música, virando a cabeça e olhando para nós. Ele nos
analisou e sorriu abertamente quando me viu, tirando os fones da cabeça.

— Ei, vocês! — Sorriu feliz, se aproximando em um salto.

Fiquei surpreso e feliz quando, depois de alguns passos saltitantes, Taehyung me deu abraço apertado. Depois ele
apertou a mão de Seokjin e de Jungkook, com um sorriso enorme.

Mas no fim, ele apenas me puxou para perto e me fez sentar ao lado dele em uma cadeira, como se eu fosse o seu
favorito. Hihi.

— Oi... — falei, sem graça.

É incrível como mal o conheço e gosto tanto dele quanto ele parece gostar de mim.

— Oi! — diz de volta, animado. — Eu não pensei que vocês fossem aparecer!

— Nem eu... — Hoseok diz.

— Ah, foi uma decisão repentina. — Jin ri, dizendo. Já Jungkook não diz nada.

— E não é que apareceram em uma boa hora? — Hoseok é quem fala, perto de nós, enquanto arruma algumas
cadeiras. — O diretor idiota está pensando em fechar quase todos clubes, porque acha que não servem pra nada. Ele disse
um lance aí sobre mandar um representante de classe para analisar nossas atividades e, bem, ver se o clube vale a pena.

— Ah... — Seokjin ponderou, se sentando na cadeira. — E quais são as atividades?

Hoseok parou por um momento, pensativo.

— Pra falar a verdade, não tem atividade nenhuma, mas agora que vocês estão aqui vamos ter que inventar algumas.

Sua fala nos faz rir, todos nós, até Jeongguk. Quando escuto o som da risada dele, olho em sua direção para ver seu
sorriso. Ele está sentado perto de Seokjin, e parece muito tímido, mas é tão querida a maneira que ele dá risada…

Ele olhou para mim também, e seu sorriso diminuiu, de um jeito sutil. Então ele abaixou a cabeça e começou a ficar
vermelho. Aposto que percebeu que eu estava olhando, então começou a pensar demais e ficou com vergonha.

Ele sempre pensa demais. Dá pra ver na maneira que ele age...

E, na boa, eu adoro quando ele fica vermelho.Demais.

— Então vocês não fazem nada? — Jin voltou a perguntar, abafando a sensação gostosa que a existência de
Jeongguk me dá, mas não sumindo com ela.

— É, às vezes jogamos cartas, mas como sempre foi só Taehyung e eu, a gente não tem nada fixo. Vocês vieram pra
ficar?

Jin balançou a cabeça, afirmando, e Jeongguk o faz junto. Quando Hoseok me olhou, também afirmei.

Taehyung deu um sorriso.

— Que bom! Vão nos ajudar a enganar o representante que vir, né? — Taehyung perguntou, muito animado.
— É, precisamos inventar algumas coisas para não suspenderem o nosso clube. — Hoseok fez uma careta ansiosa,
se sentando também. — Vocês precisam dizer como é estar no clube, e para o que ele serve também.

— E para o que ele serve? — perguntei.

Hoseok deu de ombros e Taehyung respondeu:

— Pra matar aula, né.

— Mas não podemos dizer isso — Hoseok retrucou, e dou uma risadinha. — Tem um piano aqui, vocês querem
aprender a tocar?

— Um piano? — Jin olhou em volta, procurando ele. Também faço isso.

Taehyung se balançou, apontando para trás.

— Aqui.

Olhei para trás e me surpreendi, porque realmente tem um piano aqui. Mas as teclas estão cobertas por essa espécie
de proteção que é de madeira e que eu não faço ideia de como se chama.

— A gente também lancha, e o Taehyung tem umas revistas internacionais muito legais, ele sabe de tudo sobre a vida
de uns artistas, podemos dizer que aprendemos sobre a música de hoje em dia e… é, sei lá, a cultura dos americanos —
Hoseok deu de ombros.

— Ainda bem que vocês apareceram. Tipo, sério. Estávamos desistindo do clube já — Taehyung disse, com a voz
mais grave do que antes. — Eu também canto! Vocês cantam, né?

— Só no chuveiro — respondi, porque é uma grande verdade.

— O Jeongguk traduz músicas o tempo todo — Jin diz, apontando para Jeongguk, que não disse nada até agora.

Toda a atenção é voltada para ele depois disso e ele abaixou a cabeça, constrangido.

— Tá aí uma coisa para dizer: praticamos o inglês com as músicas! — Hoseok dá essa ideia que, na minha opinião, é
brilhante.

— Pronto! Aulas de canto, piano, e inglês — Taehyung fala, sorridente. — Esse clube é um estouro, né?

Os meninos riem com sua fala, e eu não posso evitar sorrir, animado com a ideia de sermos todos amigos em um
clube tão legal.

Ficamos em silêncio por um tempo, rindo baixinho. Até que Hoseok se moveu, abrindo um dos armários e tirando um
toca-fitas de lá, que é um luxo.

Eu realmente nunca me deparei com um toca-fitas desse tamanho, assim, tão perto.

Eu vi um desses na loja, e ele é bem mais potente que o walkman, então não posso evitar arregalar os olhos por vê-lo
ali.

— Essa belezinha aqui foi providenciada pelo diretor — disse ele, feliz, enquanto exibe o toca-fitas. Logo o coloca em
cima da mesa, passando a mexer em sua mochila. Tira de lá uma fita. — Se bem que ele comprou pro clube de teatro, que é
um fracasso.

— Só tem gente do mal lá — Tae falou, com um sorriso ladino.

Hoseok coloca a fita no aparelho, e mexe nos botões.

— Bom, eles não mexem mais com a gente — Hoseok disse, rindo, como se lembrasse de uma história engraçada e
antiga. Taehyung deu um sorriso maligno e riu também.

Quero perguntar sobre, mas quando a música começa a tocar, fico muito surpreso e animado.

Que música é essa e por que ela é tão perfeita?!

— Ei, qual é o nome dessa música? — perguntei, endireitando minha postura.

— Hum… — Hoseok pegou a fita, forçando a vista para ler a letra. — Eu não sei falar em inglês e o nome dessa
banda é muito doido, então vou anotar pra você.

Assenti, esperando enquanto ele pegava papel e caneta. Depois veio até mim, colocando o papel em minha mão,
como se fosse um bilhete. Li rapidamente.

“Love My Way” da banda: The Psychedelic Furs

Dou um sorriso, porque realmente amei essa música. É um pouco diferente do que estou escutando ultimamente, mas
continua sendo tão bom… tem esse barulho que me faz querer bater meu pé no chão e balançar o corpo no meio da noite
como se eu fosse doido e adulto.

Guardo o papelzinho no bolso para não perder, e apenas curto a música, batendo meu pé no chão e me segurando
muito, muito mesmo para não fechar meus olhos. Eu sempre faço isso quando gosto da música. Mas eu admito que é um
pouco esquisito...

— E nós…

Antes que Hoseok completasse a frase, escutamos um barulho. Ele abaixou a música e Jin e Jeongguk pararam de
conversar, atentos ao que, aparentemente, são batidas na porta da sala.

Três batidas na porta, mais especificamente. Estamos quietos porque, de cara, sabemos que...

— É o representante! — Hoseok completa, sussurrando, abaixando a música ainda mais.

Taehyung se levantou e eu também. Hoseok ajeitou os cabelos — que já estão arrumados — e caminhou calmamente
até a porta. Enquanto isso, eu me sinto tenso e, ao olhar para os meninos, fico surpreso porque eles parecem tensos
também.

Pois é, parece que já estamos bem familiarizados com o clube…que nada dê de errado.

Hoseok olhou-nos mais uma vez antes de colocar sua mão na maçaneta. Ele abriu um sorriso quase forçado, mas
que continua brilhante como sempre e, enfim, abriu a porta, que revela para nós o representante de turma.

Mas… para a nossa surpresa, o representante é, na verdade, uma garota.

Uma garota… e ela é bonita.

Ficamos quietos, a observando. E ela nos observa de volta.

Ela pigarreia, parada na porta.

— Hm. Olá…? — ela diz, enquanto todos nós continuamos boquiabertos e nervosos.

Ou eles só estejam surpresos. Eu, pelo menos, me sinto nervoso, porque talvez ela possa acabar com o nosso clube.
Ah, e daí que eu entrei agora? Eu já sinto que esse clube é meio meu...

Hoseok tomou as rédeas da situação, parecendo ser o mais normal entre nós ao sorrir calmo, dando espaço para ela
entrar.

— Oi! Eu sou Jung Hoseok…

— E eu Kim Taehyung — o Tae diz, se aproximando dela.

— A gente fundou o clube juntos.

Ela deu um sorriso, e agora até ela parece nervosa.

— Tudo bem, é... eu só vim checar se está tudo certo com o clube de vocês — disse, e Hoseok fechou a porta após
ela entrar.

Quando caímos no silêncio novamente, a representante aproveitou para olhar em volta. Acredito que deve ser
assustador como estamos todos olhando para ela, surpresos.

Eu admito… ela é muito bonita.

— Só tem garotos nesse clube?

Sua pergunta quebra um pouco o gelo e nós damos risada.

— A Niuke aparece de vez em quando — Hoseok disse, se sentando novamente perto de Jin e Jungkook. —
Conhece?

Me sinto surpreso com essa informação, imediatamente me lembrando que Niuke é a garota que Yoongi gosta.Uhh,
então ela frequenta o clube?

A representante fez que sim com a cabeça, dando um suspiro, como se conhecesse Niuke até demais.

— É, ela é da minha sala. — Ri, ajeitando os cabelos sutilmente.

Fico a observando. Os cabelos dela são bem curtinhos, e muito bem alinhados, como se ela tivesse feito o corte no
melhor salão da cidade. Ela está de saia, sapatilha, e tudo mais. Parece até que ela saiu de um livro…

E quando ela passou por mim, e eu sussurrei um Oi, ela deu um meio sorriso que me fez perceber covinhas fundas
nas bochechas. Que são quase desproporcionais. Ela tem cheiro de garota, é doce, e é bom...

— Hm. Ah, é! Eu nem me apresentei. Meu nome éKim Namsoon. Mas me chamem de Nam, por favor, eu prefiro. —
A representante, enfim, se apresentou. Sua voz é melodiosa, fina e baixinha.

Um segundo depois, ela ajeitou a saia para se sentar a uma cadeira de distância de Hoseok, Jin e Jeongguk.

— Meu nome é Jimin — digo, me perguntando de onde ela saiu, porque eu nunca a vi pela escola.

Eu me lembraria dela.

— Eu sou o Seokjin — Jin diz, se levantando apenas para apertar a mão dela.

— Jungkook… — Jungkook diz, baixinho, sem se mover.

— É legal conhecer vocês — ela falou, com um sorriso. — Bom... E o que vocês fazem de bom por aqui?

— A gente tem aula de piano, com o Tae — Hoseok mentiu e parece nervoso.

— É! E às vezes umas quase-aulas de inglês, com ele, com a ajuda de músicas — Tae também mente, apontando
para Jeongguk, e parece nervoso do mesmo jeito.

Nam afirma com a cabeça, analisando os fundadores do clube.

— E escutamos músicas também! — Hoseok decide falar uma verdade dessa vez.

— Vocês fazem debates? — ela pergunta, alheia.

— É! Isso também — Taehyung respondeu, e agora parece muito nervoso mesmo.

— Sobre coisas importantes?

— Sim, tipo a música do John Lennon sobre paz — o Taehyung disse, como se tivesse sido a primeira coisa que o
veio na cabeça. Nam parece confusa de primeira. Logo ele trata de… explicar: — Imagine all the people... living for today...
ah, ah, aaah... — cantarolou.

Nam estalou os dedos no ar, como se lembrasse da música imediatamente.

— Ah, sei! Essa música é incrível.

— Eu sei! — Ele sorriu, animado. — Vem aqui, vou te ensinar ela no piano agora — Taehyung parece mais
confortável agora, mas ainda é um pouco estranho como ficamos quietos após uma garota bonita entrar na sala.

O único que está normal é Jeongguk, que é quieto sempre.

— Agora? — Nam perguntou, se levantando.

— Claro! Vem cá — Tae disse, abrindo o piano, batendo na cadeira do lado dele.

Nam assentiu, indo até ele e se sentando ao seu lado. Quando eles começaram a conversar, falando sobre assuntos
diferentes, usando palavras bonitas e tudo mais, o restante de nós… observou.

A gente suspirou também, como se pudéssemos, enfim, relaxar agora.

Felizmente, Nam está com Taehyung. Acho que esse é um sinal de que tudo vai ficar bem.

— Vou aumentar a música… — Hoseok falou, indo até o toca-fitas, fazendo a música soar novamente, mas agora é
uma diferente.

Na boa, eu adorei ela também. Essas músicas são muito animadas, me deixam em um modo muito bom.

Hoseok e Jin começaram a conversar e eu fiquei observando Tae mostrar técnicas para Nam.

Não por muito tempo, porque quando vi que Seokjin se levantou para ir até o armário, no fundo da sala, com Hoseok,
eu não perdi tempo. O lugar do lado de Jeongguk estava vago e é claro que eu apressei meus passos, ocupando ele.

Nossos joelhos se tocam instantaneamente e Jeongguk virou o rosto para mim. Deu um sorrisinho lindo.

— Clube maluco, não é? — falou, com a voz macia e baixinha.

— É, mas eu curti — falei, me segurando para não derreter, ou explodir, ou sei lá o quê. Jungkook me deixa maluco.
— Você curtiu?

— Sim... — respondeu.

Nós ficamos em silêncio. Só com os joelhos tocando-se e a sensação engraçada de que estamos meio, sei
lá. Excluídos.

— Ei, vocês. — Quase excluídos, quero dizer, porque um segundinho depois Hoseok nos chamou. — Vocês querem
jogar alguma coisa?

Jungkook não falou nada, então sou eu que pensei e igualmente respondi:
— Tem cartas aí?

— Que tipo de cartas?

— Pra jogar Buraco.

— Tem!

— Então eu quero!

Jungkook deu risada, me olhando indignado.

— Você quer me massacrar de novo? — perguntou e, ora essa, que pergunta besta.

A resposta é óbvia:

— Claro!

Jeongguk riu ainda mais. Hoseok veio até nós e nos deu as cartas. Nenhum deles vai jogar, então somos só eu e
Jungkook mais uma vez.

Eba.

— Você topa? — perguntei para ele, olhando as cartas.

Ele não hesitou em fazer que sim com a cabeça, com um sorriso pequenininho, mas muito fofo e significativo para
mim.

Nós nos levantamos daquelas cadeiras e fomos para o canto da sala. Organizamos uma mesa para separar-nos e
sentamos um de frente para o outro. Comecei a embaralhar as cartas, com uma nova música começando no toca-fitas.

— Você acha que foi bem na prova? — puxei assunto, fingindo estar concentrado em embaralhar as cartas.

— Acho que sim, eu me perdi no começo, mas depois consegui me concentrar.

A verdade é que eu só estou prestando atenção na sua voz.

Lembrar de algumas horinhas antes, quando começamos a fazer a prova, e como Jeongguk ficou tão envergonhado
me deixa maluquinho da cabeça. Ele ficou se mexendo o tempo todo, e só porque eu disse que ele era muito lindo. A sua
nuca ficou toda corada. Deu pra ver tudinho.

— Eu também me perdi no começo — falei, separando os jogos.

Jungkook franziu o cenho, e sua expressão é claramente de dúvida.

— Sério?

— Uhum.

— Mas por quê?

Ai, porque você é muito lindo e tal…

— Hmmm... — Fingi pensar. — Não sei, deve ser porque a gente tava conversando — respondo essa mentirinha que,
em linhas gerais, não é uma mentirinha.

Também foi por isso. Mas a verdade absoluta é muito mais direta e simples é: eu não consegui parar de pensar em
Jeongguk e seu rosto lindo por um segundo sequer.

Foi isso aí.

Mas é claro que eu não vou dizer isso, porque se eu continuar falando que ele é lindo, ele vai ficar doido de novo. Mais
do que ficou na hora da prova, talvez…

Se bem que não seria má ideia… ele fica tão fofo…

— Ah sim… — Jeon disse, com um sorriso calmo, encerrando o assunto.

E, como sempre, seu ato de sorrir me faz sorrir também. Assim que terminei a organização das cartas, nós dois
começamos a jogar Buraco.

Mas eu não deixo o silêncio reinar entre nós dois. Logo estou falando sobre outra coisa:

— Hoje de manhã minha mãe comprou bolo — disse. — Lembrei do bolo de aniversário da sua mãe. Ele era muito
mais gostoso.

Jungkook deu um sorriso. Quando a mãe dele fez aniversário, ele me perguntou se eu queria um pedaço de bolo, e eu
disse que sim. E no dia seguinte, ele trouxe!
Era delicioso…

— Jungkook! — Jin chamou, lá de trás. — Essa música que tá tocando é do Queen?

Ele estava se referindo a música que começou há um tempinho no toca-fitas. E nos interrompeu, mas tudo bem.

— Sim! — Jungkook respondeu, alto.

— Qual é o nome mesmo?

— Cool Cat.

Ah... ele falou em inglês.

— Tá bom!

Vou derreter aqui.

Jungkook voltou a olhar para as cartas. Enquanto fazia sua jogada, fiquei balançado, com a música soando pertinho
de nós. O cantor fazia Uhhhh o tempo todo, e eu mal conseguia me segurar com isso, porque combinava muito com a
sensação de olhar para o rosto de Jeongguk.

Ai ai...

— Então você gostou? — perguntou ele, jogando uma carta fora.

Demorei um pouco para saber sobre o que ele estava falando.Ah, é. O bolo.

— Sim, era perfeito e docinho — digo, aproveitando que ele está olhando para as cartas para olhar fixamente para seu
rosto. — Obrigado por me dar aquele pedaço.

— Não precisa agradecer, puxa… — disse ele, enquanto compro uma carta. — Você já tinha agradecido no dia.

— Ah, é mesmo… — Lembrei, rindo levemente nervoso. — É que estava muito bom mesmo. Quem foi que fez?

Jungkook sorriu mais, com as bochechas ficando cheinhas por causa do sorriso.

— Eu fiz…

Ah, ele fez.

Ai meu Deus.

Me lembro do bolo. Estava realmente delicioso. Me sinto idiota por não ter comido ele com mais cautela. Eu deveria
ter apreciado o gosto por mais minutos na minha língua, porque foi Jungkook que fez. Droga!

A comida de Jeongguk… preciso apreciar ela a cada segundo que está na minha boca.

— Sério mesmo? — perguntei, chocado. Ele fez um macarrão tão delicioso quando foi lá em casa também. Ele
também fez aquele bolo perfeito?

Caramba…

— Sim — disse, mantendo o sorriso no rosto. Suas bochechas estão ficando cor de rosa. — Eu não fazia bolo há
muito tempo, então pensei que tinha ficado horrível.

— Ficou perfeito! — eu disse, espontaneamente.

Jeonggukie deu de ombros e seu sorriso é muito fofo. Não paro de olhar para ele um segundo sequer, jogando uma
carta fora sem nem olhá-la, só para observar sua expressão.

— Até que não ficou tão ruim — Jeongguk disse, olhando para as cartas.

Ahh, Deus, quero tanto abraçar ele agora…

Continuamos jogando em silêncio, apenas murmurando coisas quando pegamos cartas boas. Estou demorando para
fazer uma canastra real e, provavelmente, é porque mal vi minhas cartas durante a partida. Estou muito ocupado e distraído
prestando atenção em Jeon Jungkook e sua existência alucinante (do jeito bom).

É difícil jogar corretamente porque eu só quero saber de olhar e olhar e olhar pra ele. O que é uma grande surpresa, já
que eu sempre jogo corretamente quando o assunto é Buraco.

Ah, mas e daí? Eu quero é ouvir a voz dele!

— Hm, esse casaco é novo? — perguntei, puxando assunto.

— Sim — Jeongguk respondeu, olhando suas cartas.

Só consigo olhar para ele, só ele. Não quero mais jogar, quero olhá-lo.
— É bonito… — eu disse, mexendo os pés no chão, inquieto. — Caiu muito bem em você…

Ai, o que estou fazendo? Se segura, Jimin, ele vai ficar envergonhado.

Xiuuu.

Jeongguk olhou em meus olhos. Isso, olhe pra mim.

Ele ficou encabulado, deu pra ver. Dei um sorriso. Ele devolveu com um sorriso também, trêmulo.

Em seguida, Jungkook voltou a fitar suas cartas, normalizando sua expressão aos poucos. Percebi que ele engoliu em
seco.

— Hm… Obrigado… — respondeu um tempinho depois.

Joguei sem olhar mais uma vez… quero tocar ele.

Continuamos jogando e mais uma outra música começou.

Em certo momento da partida, passei a tentar jogar apenas com uma mão, porque deixei a outra sobre a mesa,
espiando a sua, querendo que ele me desse uma brecha para darmos as mãos.

Ele continuou jogando com as duas, aparentemente alheio, sem perceber minhas intuições. Caramba…

— Oba — ele diz de repente, olhando suas cartas, com um belo sorriso.

Olha. Ele é tão gatinho. Eu não sei mais o que fazer da minha vida!!!

Joguei enquanto olhava para suas mãos.

Ele sorriu, jogando mais uma vez, organizando as cartas no colo. Seu cabelo caiu sobre os olhos e prestei atenção no
nariz dele. O nariz dele é lindo.

Ele levantou a cabeça e jogou de novo. Suas sobrancelhas são lindas.

Joguei. Ele jogou. Suas mãos são lindas, seus dedos são lindos, suas unhas são lindas…

Dessa vez, Jeongguk demorou mais tempo para jogar. Ele ficou pensativo enquanto olhava para suas cartas e, Deus,
que injusto, ele está mordendo sua boca. Sua boca é linda.

Não. É mais que isso. Sua boca é… algo que não consigo definir. Mas é linda…

Ultimamente tenho gostado tanto da sua boca.

Ele jogou a carta. Eu sequer vi o que ele jogou.

Joguei a minha, alheio, comprando, apertando os dedinhos do pé escondidos dentro do meu sapato.

— Você ainda não bateu? — ele perguntou, curioso.

Sei o motivo de ele estar curioso. Da outra vez que jogamos, eu venci ele bem mais rápido.

Mas agora ele me venceu. Só porque ele é ele.

Não consigo jogar com ele. Não consigo fazer nada, só quero dar umas (ou várias) olhadinhas nele...

— Ainda não… — eu disse, e fico surpreso por quase ter gaguejado na hora de pronunciar o “não”.

Jungkook também notou, me analisando momentaneamente. Só até jogar de novo.

— Então tá bom.

Depois da minha vez, Jungkook descansou a mão na mesa para pensar em sua próxima jogada. Mordi o lábio,
olhando para seus dedos longos, muito longos...

Olhei em volta para ver se estavam prestando atenção em nós dois. Quando percebi que todos estavam ocupados,
me empenhei em pegar na mão de Jungkook.

Mas antes que eu chegasse até sua pele, ele voltou a mão para suas cartas, sem perceber absolutamente nada do
que acabei de tentar fazer.

Seus olhos ainda estão focados no seu jogo.

Um segundo depois, sua risada fina cortou meus sentimento vago de indignação.

— Eu tô com um jogo muito bom, mas tô com medo. Você tem certeza de que ainda não bateu? — ele perguntou
para mim, logo depois de jogar mais uma carta.

Ri, olhando para ele.


— Você é fofo — falei aleatoriamente.

Foi a única coisa que se passou pela minha cabeça.

Jeongguk pareceu surpreso com minha confissão repentina. Puxei minha mão para as cartas novamente. Ai meu
Deus, enlouqueci.

— Quê?

Balancei a cabeça, rindo nervosamente enquanto jogo mais uma carta aleatória.

— Você é bobo! Se eu tivesse batido, eu já estaria comemorando! Sabe como é, né, eu sou bem metido às vezes! —
eu menti, rindo nervosamente.

Eu falei que ele é fofo do nada! Forças superiores, estou perdendo o controle aqui!

— Ah! Ah tá! — Riu, dando um suspiro, quase aliviado. — Sorte a minha.

Seu sorriso voltou. E com ele, eu começo a ficar lento, lento, lento…

Durante os próximos segundos, Jeongguk levantou os olhos de suas cartas, para mim, três vezes seguidas.

Depois ergueu uma das sobrancelhas, como se estivesse esperando eu fazer algo.

Eu o encarei de volta, arqueando uma única sobrancelha também, esperando ele fazer algo igualmente.

Jeongguk remexeu suas mãos e riu, aparentemente incrédulo.

— Você tem certeza de que não bateu?

— Tenho.

Jungkook deu um grande sorriso e então olhou para as suas cartas. Me pergunto o que ele está esperando para
jogar…

Isto é: até ele batê-las na mesa.

— Puxa! Então, eu bati!

Ele baixou suas cartas, todinhas, mostrando todas as canastras que formou durante sua partida. Perfeitas. Limpas. Só
uma suja.

Ai meu Deus, ele ganhou, ganhou de lavada!

— Wow! — gritei, olhando para meu jogo.

Eu não fiz nenhuma canastra! Não tenho nada para baixar aqui!

— Somando todas, tenho 500 pontos — disse ele, com um sorriso enorme. — E você?

Dei uma risada nervosa, mostrando minhas cartas para ele, derrotado, mas não realmente decepcionado ou surpreso
por isso.

— Zero — eu admito.

Ver seu sorriso faz meu orgulho de jogador profissional ir pro beleléu. Não me importo de perder, ora essa, olhe para
esse sorriso… não me importo com mais nada.

— Jura? Puxa! — Sua voz continuou agitada e feliz. Ele bateu palmas sozinho, e começou a fazer uma dancinha da
vitória, sentado na cadeira.

Outra música começou após isso, e ela combina tanto com o momento, porque é tão animada e feliz. Fiquei em
silêncio, vendo Jeon comemorar, sorrindo para a cena como um idiota. Porque Jungkook me deixa idiota. Muito idiota.

Na boa, o que minha vida se tornou para eu virar um idiota e adorar ser um?

Eu quero saltar nele.

— Você venceu mesmo, Jeonggukie — eu disse, sorrindo, e ele ainda está se mexendo.

— Isso é chocante! Ainda não me esqueci do jeito que você me massacrou das outras vezes...

Dou uma risadinha, porque vê-lo tão incrédulo deixa tudo mais adorável.

— É verdade, mas dessa vez você me massacrou do início ao fim — eu disse, e não posso evitar ficar tão atento a
sua mão, que acabou de descansar na mesa.

Olhei para ela. Ela está bem ali.


— Eu mereço um prêmio! — Jungkook falou, e ele parece muito alegre com a situação.

Mal paro pra olhar em volta dessa vez e, imediatamente, coloco minha mão sobre a sua.

E quando minha palma toca sua pele, tudo parece fazer sentido, enfim.

— Vou fazer qualquer coisa pra você, e comprar qualquer coisa também até o fim do dia — eu disse, alegre. — Esse
é o seu prêmio!

Jungkook ficou quieto muito de repente. Ele olhou para minha mão sobre a sua… eu ainda não segurei a dele, só
coloquei em cima, como se estivesse descansando-a ali.

Ele não respondeu, mas riu, completamente sem graça. Seu rosto está todo vermelho de agitação, e quando ele se
moveu, meu pé tocou-lhe embaixo da mesa.

Meu pé formigou com esse pequeno detalhe, só por ter entrado em contato consigo, tão de repente...

Eu não consegui me segurar. Quando vi, já tinha levantado meu calcanhar, guiando-o por baixo da mesa até ele
chegar no tênis de Jungkook.

Por fim, não consegui me segurar. Eu subi meu pé, fazendo carinho em seu tornozelo com ele, sem pensar duas
vezes em minha atitude.

Jeon ficou ainda mais quieto depois disso. E eu nem sei por que decidi fazer isso tão de repente.Eu só precisava
tocar ele, ainda mais, pois não está parecendo o suficiente. Do começo ao fim. Eu quero mais porque gosto tanto dele...

— H-hum… — Gaguejou.

Seu rosto está bem baixo agora. Posso vê-lo engolir em seco, e ele pressiona os lábios, fazendo as covinhas
aparecerem nas bochechas e seu nervosismo ficar claro como água.

Enquanto faço todas essas coisas e vejo Jeongguk reagir, fico embaraçado comigo mesmo. Porque penso:é errado
fazer isso? Tenho medo de estar o deixando desconfortável comigo por perto. Pensei nisso até hoje de manhã…

Mas… tem isso.

Tem o momento em que Jungkook levanta a cabeça pra mim e sua expressão está completamente satisfeita. Os
olhos dele ficam brilhantes, embora sejam sempre assim. As ruguinhas dele aparecem. Mas é de um jeito sutil, diferente de
quando ele sorri muito. As bochechas dele ficam rubras, mas é diferente de quando ficam quando ele parece estar com
calor. É uma coisa só dele.

Ele fica assim só nessas situações, só quando toco ele… Eu sempre acho tão bom.Ele parece gostar...

Foi exatamente por isso que perguntei para ele, mais cedo, se era bom ou não. E ele estava tão nervoso, mas quase
gritou ao dizer que era bom, sim!, e isso me deixou aliviado e duplamente agitado, porque agora que tenho 100% de certeza
de que ele gosta. Então eu quero continuar e fazer muito mais.

Sorri, sabendo que, claro... vai além desse fato, também. É algo que eu estou inconscientemente pedindo. Quando eu
levantei o meu pé, e quando movi minha mão para perto, eu percebi que já estava com vontade de tocá-lo desde que
começamos a jogar. Ou antes. Talvez, desde que fizemos contato visual. Porque Jeongguk me deixa tentado. É a única
palavra para definir o que sinto agora...

Ele me deixa com muitas vontades… Sendo a maior delas querer tocar nele e fazer muito, muito carinho. O que é
insuportável quando sai do controle, porque agora quero fazer carinho em tudo que ele tem. No tornozelo, no cabelo, no
rosto, nas mãos. Sorte a minha que gosto tanto de suas mãos, porque elas são o suficiente para eu ficar entorpecido, só de
entrar em contato… isso me deixa menos doido… ou mais. Não sei!

Em suas mãos, meus dedos estavam parados, mas agora estou acariciando sua pele com muito carinho. Meu
coração bate tão forte, como se dissesse que sim, isso, finalmente, eu queria tanto fazer um cafuné em Jungkook, desde que
vi ele essa manhã e todas as outras manhãs de todos os outros dias da semana…

E esse misto de sensações tão malucas cresce ainda mais quando, além do desejo de tocá-lo ser tão bem saciado,
eu vejo nas orelhas vermelhas de Jungkook que ele está gostando disso. Quando ele abaixou a cabeça e começou a bater o
pé no chão, tentando olhar pra mim, mas não conseguindo direito, deixou óbvio... isso mexe tanto com ele quanto mexe
comigo.

Isso me deixa tão… eu não sei. Parece que posso começar a flutuar por aí a qualquer momento, como um balão.

Tenho consciência de que esse momento tem tudo para ser estranho. Afinal, ficamos em silêncio de repente, minhas
bochechas estão queimando, meu coração batendo forte e meu estômago gelando de um jeito loucamente bom. E ele
também está todo vermelho. Mas não estou nem aí se é um momento estranho. Eu estou inquieto e quero gritar que a culpa
é toda do Jungkook…

Mas… se fosse para gritar, seria para agradecer Jeongguk e sua existência, porque gosto tanto disso, que a palavra
certa nem seria “culpa”. Talvez “graça”. Eu com certeza gritaria “É graças ao Jungkook!”.

Nam e Taehyung estão rindo de alguma coisa no piano, mas estão distraídos. Seokjin e Hoseok estão do outro lado
da sala, mas eu não me importo. Quando estou com Jeongguk, o mundo é totalmente outro. É diferente, eu sei que é.

— E-então… — Jeongguk começou a falar, de repente, e ainda estou fazendo carinho no tornozelo dele. — Então,
hm… puxa… hm…

Esse puxa… eu não faço ideia do porquê ele diz sempre puxa e não poxa, mas isso é tão ele, e é tão perfeito. Quando
ele diz puxa, minha mente repete: puxa, puxa, puxa…

Ele é tão fofo.

— Hm? — murmurei, pedindo para ele continuar.

Jungkook, ainda olhando para nossas mãos, deu um riso nervoso.

— Hm… a gente pode comprar uns doces na cantina e dividir, só entre nós dois, lá fora? — sugeriu, finalmente. — S-
sabe… meu prêmio...

Só depois dessa pergunta Jungkook olhou para mim. Só nós dois e doces.

— Então… comer lá fora? — eu perguntei.

Ele assentiu.

Em um movimento rápido, ele colocou a outra mão sobre a minha, fazendo um sanduíche de mãos.Minha canhota é o
recheio.

— Sim — respondeu verbalmente.

— Tá bom. Vamos? — É claro que não preciso pensar duas vezes nisso.

Eu quero estar com Jungkook. E só com ele. Aceitei na hora.

— Sim.

Ele respondeu, tão rápido quanto eu.

Essa semelhança me faz perceber… ou pelo menos me perguntar se Jeongguk está se sentindo tão estranho quanto
eu.

Eu espero que sim. Eu realmente espero que sim.

Nós dois ficamos parados, sem dizer nada. Eu queria que ele tivesse segurado minha mão assim antes, porque
poderíamos ter ficado por muito mais tempo desse jeitinho do que, agora, vamos ficar, já que vamos sair e tudo mais…

Essa é mais uma coisa que vive acontecendo entre nós dois. Eu quase sempre tenho a iniciativa de tocar Jungkook, e
embora isso seja bom, quando é ele que faz, eu fico muito mais derretido do que o usual...

Qual é, ele está segurando minha mão… será que podemos ficar mais um tempinho assim?

Como se o universo não ligasse para o que eu quero ou para o que eu sinto: uma coisa aconteceu. Essa coisa é o
som e a fita, que começou a dar problema bem do nosso lado, já que o toca fitas está pertinho da gente.

Todo mundo olhou pra ele, e quase olharam pra gente também, aos carinhos… Jungkook não moveu um dedinho, e
nem eu.

Isso é: até Hoseok saltar do lugar e gritar:

— Tira a fita, tira a fita!

Na mesma hora, Jeongguk entendeu o que estava acontecendo e se levantou rapidamente da cadeira, deixando só o
recheio do sanduíche. Não vou ficar chateado porque o valor da fita é realmente significativo.

Jeon correu até o som e removeu a fita do toca-fitas.

Soltamos um muxoxo em conjunto ao ver que, miseravelmente, a pobre fita já estava toda enrolada. Hoseok,
principalmente, estava decepcionado; ele veio resmungando de lá até cá, pegando a coitada na mão de Jungkook.

— Essa bagaça engoliu a fita toda! — disse, e é verdade, o rolo da fita saiu todinho da caixinha. Hoseok deu um
suspiro. — Eu deveria ter imaginado, o som tava chiando...

— Eu disse que essa fita aí ia enrolar toda — Tae disse lá do piano, e agora todo mundo já está meio distraído. Menos
Jin, que se aproximou.

— Você limpa esse toca fitas com o quê? — perguntou, apontando para o aparelho.

— Um paninho, ou cotonete — Hoseok respondeu, suspirando. — Essa coletânea é super boa, ai... que saco.

— Deixa eu colocar de volta aqui dentro. É melhor você limpar com o cotonete mesmo — Jin disse para ele, e eu
acabei me levantando também, enquanto eles começam a trabalhar na arrumação da fita embolada e o aparelho de
música aparentemente sujo.

Os dois começaram a conversar entre eles, e Jungkook e eu acabamos ficando de lado momentaneamente. Aí
percebo que Taehyung e Namsoon também estão no próprio mundinho deles, tocando piano.

Eu estava prestes a falar para Jeongguk para irmos. Ele se aproximou de mim e tirou todas as palavras da minha
boca:

— A gente pode ir agora?

Eu balancei a cabeça, animado e entorpecido.

— Eu ia sugerir isso — eu disse, me virando para ele. — Sim.Vamos agora.

Dito isso, nós nos encaramos e fomos lado a lado até a porta. Ninguém perguntou-nos para onde íamos, então não
nos importamos em apenas sair do clube, sem deixar explicações.

— Eu estava pensando — Jeongguk começou a falar assim que eu fechei a porta atrás de nós. — A gente podia ouvir
música e comer lá naquele parquinho, né?

No segundo que ouvi a palavra parquinho, me lembrei do lugarzinho que eu frequentava no começo das aulas. Às
vezes passo por lá quando preciso usar o banheiro, porque me dá nostalgia.

Mas… eu estaria mentindo se dissesse que prefiro como era antes, quando precisava ficar lá a todo momento. É
melhor agora que estou sempre com Yoongi. E com Jungkook. É muito melhor do que ficar tão solitário.

— Sim, é uma ótima ideia — eu disse, alheio aos pensamentos, olhando para Jeon. — Vamos ouvir no seu walkman?

— Sim, ele tá no meu armário... Vamos comprar os doces de uma vez e ir pra lá?

— Claro!

Ele assentiu com a cabeça, com uma expressão amigável. A lojinha na cantina fica pro lado oposto do parquinho e do
armário de Jeongguk, mas isso não parece incomodá-lo, e não me incomoda também. Nós só começamos a andar, perto um
do outro, até a cantina. Tenho sorte do meu cartão estar sempre comigo...

No caminho, encontramos algumas pessoas da nossa sala, sentadas por aí. A aula que tivemos foi a última do dia.
Mas ela também é a mais longa da semana. Temos no total de três aulas com esse professor, então é um tédio quando
terminamos a prova e podemos sair, porque o horário de aula ainda não acabou. Não podemos ir para casa, precisamos
esperar dentro da escola. Tééédio.

Sorte a nossa que, agora, temos um clube.

Olhei para o lado, observando Jeongguk caminhar, com as mãos no bolso de seu casaco.Sorte a minha que sempre
tenho Jeongguk.

Ele percebeu que estava sendo observado e deu risada. É legal que agora ele nem se importa mais, só fica com a
pontinha das orelhas rosa e continua andando, como se tentasse fingir que nada está acontecendo para não ficar tímido.

Adoro isso.

— Não vai perguntar por que estou te olhando dessa vez? — perguntei, de bobeira, porque sou muito espertalhão
nessas horas. Eu admito isso.

Jungkook riu, negando com a cabeça.

— É melhor não…

Ri.

— É?

Jeongguk afirmou com a cabeça, e antes que abrisse a boca para falar o porquê, nós fomos interrompidos por uma
figura feminina.

Literalmente. Viramos o corredor e demos de cara com a Micha.

Ela quase pulou quando me viu.

— Você tá aqui, então! — Micha exclamou, para mim.

— Sim…? — Eu ri, engraçado.

Micha é a garota mais legal que conheço (tirando minhas primas). Ela é engraçada e espontânea, diz coisas doidinhas
do nada e tem uma risada muito engraçada. Além de que o corte de cabelo no ombro dela é super fofo.

— Não diga nada. — Ela apontou pra mim, ignorando o meu “Sim” interrogativo anterior. Afinal, ela nos parou do
nada... — Só escute ela.
Antes que eu pergunte o que ela quis dizer com isso, Micha desviou de nós e saiu correndo, aos risos.

Um segundo depois, Jieun também apareceu na nossa frente, virando o mesmo corredor. Ouvi Micha rir, ainda
correndo, e Jeongguk fez um barulho estranho com a boca quando garota se aproximou de nós dois.

Quê? Na boa, são muitas informações de uma só vez! Não estou entendendo nada.

— Oi… — Jieun disse para mim, bem baixinho. Depois se virou na direção de Jeongguk. — Olá, Jungkook.

Jungkook continuou quieto. Então, suspirou… ele nem está olhando para mim.

— Oi — ele respondeu para ela, desanimado.

Na verdade... parece proposital o jeito que ele virou a cabeça para o outro lado, sem me deixar olhar para ele. Essa
atitude repentina me deixou ainda mais confuso...

E infeliz também. Não gosto quando ele vira o rosto assim…

— Hm, oi — eu disse para Jieun, um tempo depois, ainda olhando Jeongguk, de lado.

Quando me virei pra frente, vi uma coisa ainda mais esquisita do que esse Jungkook introvertido. Essa coisa esquisita
é a Jieun, que parece vermelha e tímida demais para o gosto do universo.

— Hm, é, eu queria muito te dizer uma coisa — disse, com a voz baixa. Na verdade, ela está falando muito baixo
ultimamente. Dificilmente é do feitio dela. Só quando estamos só nós dois ela fala assim. É sempre tão estranho. —
Podemos… falar? Quer dizer, fazer alguma coisa?

Hm…

— Agora? — perguntei.

— Sim, é meio importante — disse. — Não importante tipo uma emergência, sabe? Mas importante tipo uma coisa
diferente, para você, eu acho… a gente podia comer alguma coisa na cantina, ou ir na biblioteca, dar uma volta…

Fiz um biquinho, mexendo na minha camiseta.

— Bem… — eu falei, apertando meus dedinhos. — Não é uma emergência, né?

— Não…

— Então pode ser outro dia?

A verdade é que eu adoro a presença de Jieun. Na boa, ela é muito legal, e fala muito bem sobre livros comigo. Às
vezes parece que somos gêmeos de alma, porque gostamos de várias coisas, temos gostos e manias em comum, e ela é
muito simpática e gentil. Ela foi uma das meninas que sempre me disse Oi, Bom dia, e Tchau, desde o meu primeiro dia de
aula. Então é claro que possuo enorme carinho por ela.

Mas… quando ela e Micha apareceram, eu cheguei a me sentir culpado com o pensamento que tive. Porque eu
realmente não queria que elas falassem comigo, nem nada disso. Eu gostava mais quando era só eu e Jungkook, prestes a
comer doces, e ficar só nós dois, ouvindo música...

Isso é irresistível. Mesmo que fosse apenas ficar com Jungkook, já seria irresistível. Eu me sinto culpado por negar
Jieun com o que ela quer agora, e até fico curioso sobre o assunto, mas nada supera a vontade de adiar isso para ficar
somente com Jungkook.

Nada supera.

Jieun olhou para mim, e as bochechas estão muito vermelhas. Mas elas sempre estão assim, então não vejo
diferença.

Ela deu uma risada, coçando os cabelos longos e bem arrumados de maneira nervosa.

— Ahm, sim, tudo bem, então… — ela disse, enfim, sem insistir. Ufa!

— É que eu tenho algo muito importante pra fazer agora, sabe? — eu disse, puxando Jeongguk pelo braço, porque
quero que ele volte a olhar pra cá. — Com o Jungkook — completei.

— Ah, claro! — disse ela, sorrindo engraçado. — Tudo bem. Outro dia, então?

— Sim, Jieun. — Sorri, e ela ficou com uma expressão engraçada ao ver meu sorriso. — Até depois!

— A-até!

Ela sorriu de novo, coçou a cabeça, e saiu andando de um jeito extremamente divertido. Na verdade, ela está bem
engraçada hoje…

Dei uma risada soprada, soltando o braço de Jeon. Voltei a olhar pra ele, e ele ainda não virou o rosto totalmente para
mim, mas sua postura parece menos tensa agora.
Ah...

— O que foi? — indaguei, parando em sua frente para olhar seu rosto.

Ele está um pouco diferente. A bochecha direita está funda, porque ele está a mordendo por dentro, e está vermelho
só no nariz. Parece até que ele vai chorar...

Um segundo depois, Jeongguk olhou pra mim. E balançou a cabeça negativamente.

— Não foi nada… — disse. E respirou fundo. — Puxa…

Ele está mentindo. Alguma coisa aconteceu…

— Tem certeza?

— Tenho.

Suspirei. Se ele está mentindo, é porque não quer falar sobre isso. Portanto, não vou insistir no assunto — embora
esteja morrendo de curiosidade, já que ele ele ficou todo borocoxô de repente.

Jeon, seguidamente, parou de morder-se e ajeitou os cabelos, andando ao meu lado assim que voltei a caminhar.
Esse lado da escola é praticamente deserto à essa hora.

Esperei ele dizer alguma coisa, mas ele não disse.

Soltei um muxoxo. Agora quem está ficando borocoxô sou eu. Qual é... estávamos sendo espertinhos e ficando
vermelhos há uns minutinhos atrás… agora estamos tão calados.

Eu queria que Jieun e Micha não tivessem aparecido.

Já perto do destino, Jungkook segurou minha mão. Ele parou no lugar. E eu parei também.

Agora estou olhando seu rosto, esperando ele dizer alguma coisa. Jeongguk não parece mais amuado, só… confuso e
constrangido.

No fim, ele pigarreou, olhando para baixo, perguntando em um sussurro quase mudo:

— Por que você não foi com ela? — Assim que escutei-lhe, franzi o cenho. Ele ainda está olhando para o chão. — E o
que de muito importante você tem para fazer?

Ele ficou quieto. Fiquei quieto. Mas depois, só consegui dar uma risadinha. Como ele é bobo...

— Não fui com ela porque estou com você — eu disse, e é tão óbvio.

Apertei sua mão magrinha com mais força.

— M-mas é a Jieun.

— Isso importa? — O fitei. — Afinal, é você...

É você com quem vou ficar. Isso é especial.

— O que é muito importante?

Eu ri de novo, porque ele está tão tímido que é… bonitinho.

— Comer doce e escutar música com você — eu disse. — Só nós dois, lembra?

Ele resfolegou. Ficou em silêncio por mais um tempinho, mas depois sua aura se iluminou. Jungkook deu um
daqueles sorrisos significativos: todas as marquinhas voltaram a aparecer em seu rosto, os dentes avantajados chamaram
minha atenção, lindamente. Ele até começou a se remexer.

— Jimin. — Levantou a cabeça, finalmente olhando pra mim, com aquele sorriso brilhante. Estou quase vidrado de tão
bonito que é. — Você tá falando sério?

— Gguk. — Eu dei risada, o chamando por um apelido repentino, mas é fofo e parece lhe agradar pela maneira que
ele sorri mais. Segurei a mão dele com mais firmeza. — Claro que eu tô falando sério. Assim que elas apareceram fiquei
tenso. Estava com medo delas se convidarem.

— Eu também! — disse, e agora que ele está rindo de novo, toda minha felicidade voltou. — Puxa… desculpa. Eu
pensei que você ia me deixar pra ficar com ela.

Estranhamente, sua fala foi a coisa mais idiota e adorável que já lhe ouvi dizer. Ainda mais para mim mim… é tão
bobo. É como nos livros, quando um personagem parece tão pateta que chega a pensar que algo possível de acontecer
nunca vai, de fato, acontecer. É impossível eu deixar Jungkook pra ficar com alguém, e isso é óbvio.

Ele parece tão sincero ao achar o contrário, e eu… eu acho engraçadinho.


— Bocó — eu disse, rindo baixinho. — Ficou doido? Eu nunca vou deixar você pra ficar com ninguém.

A verdade precisa ser dita em voz alta. Eu o fiz.

— Sério? — perguntou.

— Sim.

— Sério mesmo?

— Claro que sim.

Jeongguk deu mais um sorriso que quase não cabe no rosto dele. Ele começou a mexer os ombros.

— Ainda bem… — Riu, e é um riso tão amável e alegre. — Puxa… ainda bem mesmo…

Dou mais uma risada, soltando a mão dele para dar um tapinha em seu braço.

— Vem — falei, apontando para a lojinha. — Vamos comprar doces.

Jeongguk é doidinho. Deve ser por isso que eu gosto tanto dele.

***

— Você se lembra do dia que gravou essa fita?

Fui eu que fiz essa pergunta. Diferente da última vez que ouvimos música juntos no walkman, nenhum de nós estava
com os fones plugados no ouvido. Apenas deixamos no volume mais alto e ficamos escutando a música vindo do fone. Como
o lugar estava silencioso, dava pra ouvir perfeitamente.

Eu estava com frio desde que o sol se foi. Não estava de noite, mas estava nublado. Eu e Jeon estávamos
aconchegados sob a árvore, com papéis de balas, chocolate, e doces em nossas mãos.

A gente até improvisou um lixinho. Usamos uma sacolinha para colocar as embalagens vazias, que estava embaixo
do walkman, para o vento não a levar ao soprar. A última coisa que queremos é sujar o lugar de lixo.

— Não sei — Jeongguk respondeu minha pergunta, fazendo uma pausa para comer a bala grudenta que acabou de
abrir. — Eu peguei uma que já estava no meu armário. Eu devo ter gravado ano passado, ou esse ano, eu não sei. Ou talvez
seja do meu pai. Essas músicas não são muito minha cara...

— Sei... — Lambi os lábios. — Como essas fitas vão parar no seu armário? — perguntei, porque da última vez ele me
deu todas que estavam lá.

Jeon fez um barulho pensativo, mastigando a bala.

— Eu sempre trago alguma para ouvir no ônibus, ou na sala de aula, quando termino alguma atividade e tenho que
esperar Seokjin terminar a dele para conversar — dizia ele, enquanto eu o ouvia atentamente. — Então eu enjôo da que eu
trouxe na maioria das vezes, então guardo no armário. Às vezes esqueço elas lá. Aí sempre tenho umas aqui para ouvir de
novo depois.

— Hmmm... — Pressionei os lábios, pegando mais um doce na sacola de papel. Um doce de caramelo e banana,
dessa vez. — Você deve ter uma quantidade enorme de fitas. Eu nunca gravei nenhuma… — eu disse, pensativo. — Eu vivo
das suas…

Isso era verdade. Ele me emprestou um bocado de fitas há um tempo e disse para eu devolver quando enjoasse, e
que ele iria gravar outras coisas e me emprestar de novo, se eu quisesse. Mas nunca consegui devolver nenhuma delas.

Eu ainda não enjoei de nenhuma. Estou sempre ouvindo de novo, de novo, e de novo…

— Quando você gravar uma, vai ver como é um saco — ele disse, dando risada. — Brincadeira. Odeio dizer que é um
saco, porque é como se a fita me escutasse e ficasse chateada comigo.

Dei risada.

— Isso é estranho... — eu disse.

— Eu sei! — Riu também. — Mas… é que dá um trabalhão. Mas também é muito legal. É tipo… ficar sozinho, mas
ocupado. Sabe? Você meio que fica com você, mas não é um tédio. É legal…

Eu balancei a cabeça positivamente. Jeon pegou um mini Push Pop de cereja.

— Acho que me sinto assim lendo — eu disse, o vendo abrir a embalagem. Eu sabia que a boca dele ia ficar toda
vermelha depois que ele acabasse com aquilo. — Mas eu viajo muito, fico pensando, pensando e pensando. E eu também
tenho medo de magoar os livros quando acho eles ruins… os autores também. Eu sempre tenho a sensação de que eles vão
sentir que não gostei de seus livros e vão ficar tristes.

— Viu? Você também faz essas coisas estranhas — disse ele, com um sorrisinho no rosto. Dei de ombros e sorri,
como se me entregasse. — Mas é bem legal, não é? — Olhou para mim, com um pequeno sorriso.
Essa concordância simples que sinto sempre que falo com Jungkook é simplesmente incrível. Me identifico tanto. É
muito calmo e relaxante...

— É… — Sorri.

Ele começou a comer seu doce. Depois de um tempo, ele já estava mordendo todo o pirulito, mas o de cereja é o que
mais tem corante, então ele ficou corado nos lábios mesmo assim.

Suspirei. Ai ai.

Me mexi no gramado, chegando para trás. Encostei as costas no tronco da árvore, tirando meu óculos para limpar a
lente na minha camiseta, relaxando.

Quando veio uma corrente fria no ar, eu estremeci. Mesmo com meu suéter, sinto frio desse vento gelado… sou bem
friorento.

Acabei fazendo um barulho com os dentes, o que fez Jeongguk olhar para mim de imediato.

— Tá com frio? — indagou. Fiquei minimamente surpreso por ele ter notado tão facilmente.

Eu sorri pequeno. Jeongguk chegou para trás, se encostando no tronco também, bem ao meu lado.

— Só um pouquinho, quando ventou — respondi, me aconchegando mais. Fui mais para o lado dele, até nossas
pernas estarem se encostando.

— Você quer entrar? — perguntou, me olhando com preocupação. E lábios vermelhos.

— Não. Eu quero ficar aqui — eu disse, enfiando a mão no saco de doces. Peguei dois chicletes horríveis. — Quer
tentar agora? — Mostrei os dois na palma da minha mão, olhando para Jungkook bem de pertinho.

Ele deu um sorriso travesso, pegando um dos chicletes na minha mão, sorridente.

— É claro que eu quero — disse.

Esse chiclete definitivamente é horrível. Ele tem uma mistura estranha, que arde, e arrepia, e faz a gente se contorcer,
e é a pior coisa do mundo.

Mas e daí? Vamos comer mesmo assim, porque é engraçado.

Enfim, nós abrimos os chicletes. Nos olhamos, com a goma de mascar nos dedos.

— No três — eu falei. — Um. Dois. Três.

Enfiamos na boca e ficamos observando as reações um do outro. Jeongguk foi o primeiro a morder e,
consequentemente, o primeiro a fazer uma careta de desgosto.

— Ewww!

Mordi também.

— Hmnnm!

Cobri meu rosto com as mãos, sentindo o amargo que vem dentro do chiclete começar a fazer espuma. Senti aquele
gosto horrível por baixo da língua, no céu da boca, e todo meu corpo ficou arrepiado. De um jeito nervoso e desconfortável.

Jungkook segurou meu braço e começou a rir enquanto mastigava mais rápido, e eu o fiz também, mas não aguentei e
comecei a rir demais. Jeongguk cuspiu o chiclete, quase gritando:

— Eca, eca, eca! — exclamou, pegando um chocolate, abrindo, e colocando metade na boca. — Meu Deus, ugh… —
sussurrou de boca cheia.

Tirei o chiclete da boca logo depois, fazendo uma careta, com os ombros tremelicando. Meus olhos até lacrimejaram,
fazendo um Jungkook risonho e vermelho me dar metade de seu chocolate.

Assim que mordi o chocolate e ele derreteu na minha boca, o gosto ruim amenizou, me fazendo gemer de alívio. Me
acalmei, e Jeongguk começou a dar risada enquanto eu dava vários suspiros, me encostando nele, muito risonho também.

— Nunca mais — disse ele, jogando o chiclete na sacolinha.

Joguei o meu também.

— Nunca mesmo.

Ficamos em silêncio, ainda aos risos. Assim que cansamos de rir, começamos a respirar em conjunto. Ofegantes, e
depois, apenas calmos. Só com a música de fundo, e o vento passando de vez em quando.

Outra música começou. Jeon riu.


— Essa fita com certeza é do meu pai — disse ele, provavelmente por causa da música que começou a tocar.

Era bem lenta… mas até que gostosa. Eu curti.

— Seu pai tem músicas boas também — eu disse, me lembrando do dia que ouvi a outra fita que, de acordo com
Jungkook, foi gravada por seu pai. — Eu gostei daquelas.

— Quais?

— Aquelas que tocaram no ônibus, quando estávamos indo para a loja de discos… — respondi, com um pouco de
saudade. Aquele dia foi perfeito. — Eram músicas calminhas e tão boas…

Percebi que minha voz estava saindo mais rouca que o normal. Provavelmente porque Jeon estava bem do meu lado
e, por isso, eu não precisava elevar meu tom como normalmente faço para conversar.

— Uhum… — murmurou.

Ficamos em silêncio, presenciando a música soar deliciosamente. Em certo momento, ouvi uma parte que gostei no
tom de voz da cantora. Então eu perguntei:

— Qual é o nome dessa música?

Jeongguk ergueu o braço, pegando o papel que anteriormente estava dentro da fita. Antes de colocar ela pra tocar,
ele tirou o papel da caixinha e deixou dobradinho debaixo do walkman.

Será que Jungkook já sabia que eu ia querer saber os nomes?

— “Love And Affection” — disse ele, lendo o papel. — Realmente é do meu pai, essa letra é dele...

— Ah… — eu disse, concordando. Assim que ele se encostou na árvore de novo, meu braço voltou a ficar quentinho,
entrando em contato com seu casaco. — O que significa? — perguntei, vendo o papel descansar em sua perna.

— “Amor e afeição” — respondeu, sem dificuldade nenhuma para traduzir.

Por algum motivo, eu sorri pelo nome da canção. Me encostei mais em Jungkook.

— Que bom... — eu disse, pensativo.

O corpo de Jungkook não estava tenso por eu ter me encostado nele. Mas ele parecia um pouco tímido.

— Bom...? Por quê? — perguntou.

Notei uma movimentação sutil. Ele também estava se encostando mais em mim, mas muito lentamente, como se não
quisesse que eu percebesse…

Sorri.

— É melhor do que aquela outra — falei, me lembrando do dia que ouvimos música aqui pela primeira vez. — “O
amor vai nos destruir” — falei.

Estamos tão perto que me sinto quentinho. Com nossos ombros tocando, os braços, as pernas, e os pés…

— Do Joy Division? — indagou, e sua voz está ficando bem baixinha.

— É, isso aí.

— Ah...

Depois que ele disse “Ah…”, eu percebi que gosto muito de sua voz. Não é como se eu não soubesse antes. Mas
agora pensei e, bem, eu gosto muito da voz dele… e a prova é como me sinto diferente ouvindo os suspiros que ele dá, e os
Ah que ele solta de repente. E quando ele fala palavras em inglês também. E quando diz meu nome...

Adoro, adoro, adoro sua voz.

— Eu gosto dessa banda — eu falei para ele, continuando a conversa sobre Joy Division. — Eu gostei de todas as
músicas que ouvi até agora. Mas… eu curto mais como soa “Amor e Afeição” do que como soa “O amor vai nos destruir”. —
Peguei cuidadosamente a folha na perna de Jeongguk. — Entende?

Jeongguk balançou a cabeça. Eu não vi. Só senti os cabelos dele balançando, duas vezes.

— Também… — disse.

Comecei a ler a coletânea. Quase não conseguia me concentrar, porque o som da respiração calma de Jeongguk me
parecia mais interessante. Quando ele lambia os lábios e mordia mais algum pedaço de doce, era mais interessante...

Jungkook existindo era mais interessante.

No entanto, eu suspirei e balancei a cabeça levemente. Tempos depois, me atentei a lista de música. A letra do Sr.
Jeon e de Jeongguk são parecidas, mas a de Jeongguk é mais bonita.

Percebi que Love And Affection é do mesmo artista que a música logo abaixo. Assim que notei, a música começou a
tocar.

— Jeongguk? — chamei, apontando para a música número oito. — E essa? O que significa?

Jeongguk se inclinou para frente e, eu juro por Deus, quando ele tentou ler o que estava na minha mão, eu senti todo
o seu cheiro. Cheiro de shampoo, de chocolate, e de outra coisa que já senti antes enquanto com Jeongguk… algo muito,
muito bom.

— “Eu gosto quando estamos juntos”.

Ele disse isso. Eu sabia que ele estava falando o nome da música, mas adorava quando coisas assim saíam da boca
dele.

— O quê? — perguntei, baixinho. Sua voz está tão perto.

Eu entendi o que ele disse, mas queria que ele falasse de novo.

— Eu gosto quando estamos juntos.

— Eu gosto…?

E de novo.

— Gosto quando estamos juntos.

— Você gosta...?

Só mais uma vez...

— Eu gosto quando estamos juntos.

Eu queria gravar uma fita só disso. De Jeongguk dizendo “Queria que você estivesse aqui” e “Gosto quando estamos
juntos”.

Não consegui segurar meu sorriso. Me sentia tão satisfeito e amaciado por dentro. Sentia as maçãs do rosto ficarem
quentes, os meus pés se remexeram automaticamente e a felicidade palpitar em meu coração, me dando o sentimento de
que hoje foi um dia muito feliz.

— Também gosto de como isso soa... — eu disse.

Eu sabia que se eu virasse o rosto, ia dar de cara com ele.Não queria que ele se afastasse por nada nesse mundo.
Nada mesmo.

No fim, percebi que eu não estava nem aí. Foi exatamente por isso virei o rosto para ele, no mesmo segundo.

Quando o fiz, pensei que me depararia com Jeon olhando para baixo, na direção da folha que estava em minha mão.
Tamanha a surpresa ao perceber que seus olhos não se moveram, que já estavam fixados em mim antes, em meu rosto…
Ele estava olhando para mim, estava me observando... Isso me fez sentir vivo em todas as partes do meu corpo.

Nas bochechas e no coração, principalmente...

Ele não disse nada, e eu não disse nada, e nós ficamos olhando um para o outro, tão intimamente. Porque estamos
tão perto...

Prendi a respiração, com medo de estragar aquele momento tão perfeito.Nossa. Nossa. Nossa.

Eu estava olhando para ele e podia ver todo o nervosismo subindo em sua expressão. O rosto de Jeongguk começou
a ficar mais vermelho a cada segundo que se passava, e ele nem piscou. Seus olhos permaneciam vidrados em mim, seus
ombros não se moveram e nem seu corpo...

Ele também prendeu sua respiração?

Outra música começou e a respiração dele atingiu meu rosto sutilmente. E com isso, todo o frio foi embora.

Igualmente, fica calor. Mas é um calor bom... um calor no estômago diferente, mas que já está acostumado a dar as
caras quando estou com ele. Só ele.

Jeon está petrificado, mas eu não. Eu não me seguro, começo a olhar para ele… olho seu rosto e tudo que ele possui
tão singularmente. Tudo. As sobrancelhas. A manchinha no rosto. A pintinha no nariz. E é tão insuportável porque estou
sempre com vontade de tocá-lo. Quero encostar, ver como é a sensação de colocar as mãos na sua pele…

Eu só... não me permito olhar para seus lábios vermelhos. Eu sinto que é perigoso demais. Eu não sei por quê.Mas é
perigoso, é muito perigoso.

Tentado, começo a respirar mais uma vez. Consequentemente, estou ofegando por ter prendido minha respiração por
tanto tempo. Jeongguk me deixa todo diferente...

Um pouco tímido, eu abaixei minha cabeça. Eu só abaixei minha cabeça. Eu não pensei que abaixar a cabeça seria
tão… incrível.

Não que ficar cabisbaixo seja incrível. Foi incrível porque Jeongguk fezaquilo. No exato momento em que inclinei meu
rosto, ele se curvou em minha direção. Eu senti seu cabelo em minha testa, os fios se arrastando por minhas bochechas. Até
que ele deixou sua testa pousar em meu ombro, bem pertinho do meu pescoço, que está coberto pelo meu moletom de lã…

Ele está… deitadinho no meu ombro...

— V-você me deixa tão nervoso… — murmurou trêmulo, com o rosto escondido em mim. Eu juro que meu corpo
entrou em pane. — Puxa, Jimin...

Meu coração começou a sair da estrada. Ele não estava batendo de um jeito normal. Estava loucamente anormal, e
começou a ficar cada vez mais maluco. Parecia que as batidas estavam altas demais, como quando a gente liga a TV de
noite e o volume está alto, e temos que diminuir correndo para não acordar ninguém.

A diferença é que o coração não me deixa diminuir o volume. Ele bate, bate e bate.Tum! Tum! Tum! Bem rápido e
bem alto. Pulsando em todo meu corpo, estou entregue, e acho que Jeongguk, com a testa e o nariz tocando meu ombro,
está o sentindo bater e se perguntando se eu não sou completamente maluco.

E eu sou! Eu sou, Jeongguk! Desculpa!

Minhas mãos estavam ficando suadas, mais suadas do que já ficaram em todos os meus quinze anos de vida. O pé
de Jeongguk estava quase em cima do meu, e eu me peguei pensando se ele podia ou não podia sentir que eu estava
apertando os dedinhos do meu pé de nervosismo. Sim? Não?

Minha mente girou, girou e girou. Sentir ele pertinho me deixou com tanta saudade. Fiquei comtanta saudade de
Jeongguk. Isso me fez suspirar, deitando minha cabeça na dele, e agora Jeongguk está com o rosto bem protegido por mim,
meu ombro, meu rosto e meus cabelos ruivos. O cheiro do seu shampoo está mais forte e sua pele está gostosamente
quente. Minha pele também está quente, então é como se pudéssemos abrigar qualquer um do frio em nosso enlaço.
Poderíamos colocar um filhotinho entre nós e protegê-lo do frio assim.

Ou um ovo que ainda não quebrou — não, eu não sei por que me veio a suposição na cabeça, eu só senti tanta coisa,
e uma delas foi que estamos tão quentinhos que poderíamos abrigar filhotes aqui, entre nós dois.

Sua voz trêmula me veio a cabeça, e deixei para pensar em filhotes em outro momento.Eu o deixo nervoso...

Meu coração ainda está pulsando de uma maneira que posso o sentir e o ouvir. Jeongguk está ofegante, e eu estou
ofegante, e uma onda nervosa sobe pelo meu corpo e eu fico ainda mais tonto. Como se tivesse comido uma comida
deliciosa e ficado com sono, com a sensação amorosa. Isso, é isso, essa sensação é amorosa. Estou sentindo isso.

Quando percebi, estava sorrindo muito. Muito. Me sinto tão feliz.

Eu não sabia se era um abraço, e não me importei com a possibilidade de não ser. Eu não me importo, eu quero tanto
abraçá-lo agora... eu faço isso em um segundo, ergo meus braços e o puxo ainda mais para mim, segurando seu corpo pelas
costas e pelos ombros.

Quando Jungkook ergueu seus braços e me abraçou em cima do quadril, eu me desequilibrei totalmente em minhas
emoções. Eu queria rolar pela grama enquanto abraçava ele.

Eu o abracei, eu o apertei, e ele me abraçou e me apertou na mesma intensidade, e sua voz até soou alta quando ele
suspirou bem forte. Eu o deixo nervoso. Eu respirei bem alto também.

Seu abraço é como um cobertor quentinho, mas muito melhor. Acho que não tem comparação, esse abraço é melhor
do que qualquer coisa que existe, até mantas quentinhas.

As palavras voltam como um abraço: v-você me deixa tão nervoso. Puxa. Puxa. Jimin.Minha mente se enche de: eu
deixo Jungkook nervoso. Ele deveria saber que me deixa tonto e fraco, não deveria? Deveria saber que estou com saudade
dele quando ele ainda está aqui. Eu sempre estou com saudade dele. Principalmente quando estamos perto.

Sei que vou ficar inquieto o resto do dia quando chegar em casa hoje. Porque vou me lembrar da sensação de
acariciar seu tornozelo. De tocar sua mão. De abraçar seu corpo. De sentir sua respiração no meu rosto. Vou sentir tanta
falta do seu rosto no meu ombro...

— Você me deixa… — eu disse. Minha voz está soando tão calma, e fina, e doce.O apertei mais. — Estou com
saudades de você…

Jeongguk me apertou mais também e nem ligo pro fato de que ele está sentindo todas as minhas gordurinhas agora.

— Mas estou aqui... — falou, abafando a voz em meu moletom.

— Eu sei...! — disse. — Mas daqui a duas horas não vai estar, e já estou morrendo de saudades de você…

É verdade. É verdade. Não quero que essas duas horas passem, quero ficar abraçado com ele até amanhã, até
depois de amanhã, até não aguentarmos mais e a saudade for embora…
Eu me pergunto... será que a saudade iria embora? Ou nós ficaríamos abraçados para sempre porque não tem
chance de eu não querer estar sendo abraçado por ele?

Eu não faço ideia, e acho que não me importo, porque abraçar ele aqui é o suficiente.

Jeongguk não respondeu e eu amaldiçoei todas as figuras sagradas que existem quando o sinal tocou lá da escola.
Isso resultou em meus braços saindo de Jungkook, e os braços de Jungkook saindo de mim, então nós dois chegando para
trás e nos afastando. A gente parou de se abraçar. Algumas pessoas passaram pela passagem do parquinho, perto de nós
dois. Não dava mais pra ouvir a música por causa da conversa de quem passava, e das risadas, e éramos invisíveis para
todos eles. Eles não nos olharam. Fiquei feliz quando eles foram embora.

Ficamos assim por um tempinho. Jeongguk não falava e eu não falava. A gente só respirava, perto, mas não tão perto
quanto antes…

As coisas voltaram ao comum quando ninguém mais apareceu. A música era escutada novamente.

Eu ia dizer alguma coisa, mas meu corpo estava com a sensação dormente e cansada, talvez por causa da
intensidade de tudo que senti quando o abracei, ou talvez porque fiquei triste por não estarmos mais abraçados… eu não sei,
eu não consegui falar mais nada.

Isso resultou em, surpreendentemente... Jeongguk falando primeiro.

— Jimin… — chamou.

Eu enfiei a mão no saco de doce, porque precisava ocupar minha boca com alguma coisa.

Eu olhei para ele. Ele é tão bonito.

Será que esse é um dos motivos pelo qual meu corpo está dormente agora?

— Oi...? — perguntei.

Ele está encostado no tronco da árvore. Peguei uma bala de abacaxi ruim. Mas coloquei na boca mesmo assim.

Eu prestei atenção em Jungkook, e só nele, um momento depois. Eu não quero ficar mais nervoso, ou chateado com o
universo por não estarmos mais abraçados. Eu só quero estar com ele. Não quero esses sentimentos ruins...

Ele balançou a cabeça de repente.

— Não tenho ideia do que dizer... mas não queria que ficássemos em silêncio.

Fiquei surpreso. E ri. Sua confissão é tão adorável que eu não consegui segurar meu riso, porque também não quero
que fiquemos em silêncio.

Depois eu me encostei no tronco da mesma maneira que ele, voltando para a posição inicial...

— Também não — eu disse. — Eu gosto quando a gente conversa.

— Eu também gosto! — disse, e posso perceber que ele ainda está nervoso. Mas se acalmando aos poucos… —
Hm… Jimin? — eu murmurei em resposta. — Posso te ligar quando chegar em casa hoje?

Dei um sorriso. Fitei seu rosto, tendo de virar completamente minha cabeça para isso.

— Pode… — Por favor, me ligue para sempre, sua voz fica linda no telefone.

— Então eu vou ligar... — diz, sorrindo tortinho de novo, com a boca toda vermelhinha.

Às vezes morro de curiosidade só de olhar para ela... ela parece uma cereja agora.Aquelas que ficam no topo do
bolo.

Na verdade, Jungkook inteiro parece uma cereja. Ele é doce e brilha.E ele fica vermelho às vezes.

Nós ficamos quietos, bem ali, até a fita terminar. Então decidimos que era a hora de voltar.

Fomos caminhando, batendo os ombros um no outro levemente, e terminando com os doces aos poucos.Desculpa,
dentes, quando eu chegar em casa vou tirar todo o resquício de açúcar de vocês.

Quando entramos na sala, do clube de música, estavam todos diferentes. A música não estava mais tocando,
Namsoon estava sentada no banquinho em frente ao piano e Hoseok e Taehyung dividiam uma cadeira, perto dela.

Estavam todos concentrados no piano. Seokjin também estava ali, olhando para eles tocando, e eles se viraram para
nós quando entramos.

Pensei que iam estranhar, mas Taehyung apenas mostrou um sorriso e disse:

— Nam aprendeu a tocar a primeira parte de Imagine! — disse ele. — E ela decidiu ficar com a gente.

— O clube precisa de uma garota — disse Nam, com um sorrisinho.


— Isso aí é verdade, mas você vai ficar porque gostou da gente, né? — Tae falou para ela.

Ela deu um sorrisinho feliz, e suas covinhas apareceram de novo.

— Pode ser que sim — disse ela, com as mãos no piano.

Eu olhei para Jeongguk, e ele sorriu. Nós nos aproximamos, e ficamos observando todos conversando. Taehyung
falava para ela sobre a concentração, e ela seguia ele, e eles tocavam as teclas juntos. Jin fazia comentários e parecia muito
bem introduzido junto com eles. Hoseok também falava.

Nós nos sentamos um pouco atrás deles, um do lado do outro, e ficamos observando. Eles riam e Nam ficava
frustrada quando errava, e Hoseok a acalmava dizendo tudo bem. Então Tae falava que ela estava indo bem. Em certo
momento, Jin se sentou também, então os quatro estavam espremidos em dois bancos.

Era divertido como todos pareciam já se conhecer há anos.

— Tá bom — Nam disse, suspirando nervosa. — Vou tentar.

Ela colocou as mãos. E começou a tocar, lentamente.

Enquanto a sala era preenchida com o som do piano, eu respirava fundo. Sentia que estava mais calmo em relação a
antes. Meu rosto não estava mais tão quente, e meu coração batia mais suavemente.

Descansei a mão na minha perna, sorrindo ao ver Nam e os meninos comemorando porque ela tocou a primeira parte
direitinho. Então ela começou a tocar de novo. E foi ainda melhor dessa vez.

Até eu conhecia aquela música. Fiquei batendo os dedos na perna por um momento, fechando meus olhos sutilmente,
porque o som do piano era maravilhoso...

Senti minha franja fazer cosquinha na minha testa. Então ergui minha mão, coçando sutilmente, e no mesmo momento
Jeongguk tocou minha coxa, bem onde estava minha mão.

Ele tirou a mão dali um segundo depois, rapidamente, como se tivesse acabado de fazer uma grande besteira.

— D-desculpa — disse, e sua voz está trêmula. — Foi mal...

Hoseok estava falando alto, então ninguém se virou para ver o que aconteceu.

Eu ri um pouco da reação de Jeon, tentando entender o que ele estava tentando fazer, e por que se arrependeu tanto.

— Agora toca você, Tae! — pediu Hoseok, animado. Ele se virou para nós dois, dizendo: — Vocês todos deveriam
ouvir Taehyung tocando e cantando. Ele é muuuuito bom!

Taehyung remexeu os ombros, e deu pra ver o sorriso dele quando ele se virou para Hoseok.

— Você tem razão, eu sou muito bom — disse, e sua confiança nos fez rir. — Eu vou tocar.

Então, todos estavam virados para frente novamente, fitando Taehyung. Ele respirou fundo. E começou a tocar.

Quando a música chegou em meus ouvidos, vi uma diferença notável entre ele e Nam. Ele tocava muito bem, com
mais sutileza, e a música se tornou ainda mais familiar para mim...

Assim que ele começou a cantar, eu percebi o que Jungkook tinha tentado fazer na hora que tocou minha coxa. E
enquanto me maravilhava com a voz de Taehyung, tão grave, me virei para Jungkook mais uma vez...

— Você ia segurar minha mão? — eu sussurrei, me inclinando levemente para que ele me ouvisse.

Jeon engoliu em seco, mas não hesitou em balançar a cabeça, afirmando.

Dei um sorriso. Ele vai segurar minha mão, então...

Sequei minha palma na calça para ter certeza de que ela não está mais suada. Lentamente, coloquei ela na perna de
Jeongguk, com a palma virada para cima, como se dissesse para ele: por favor, pegue minha mão...

— You may say I'm a dreamer… — Taehyung cantou.

Jeongguk tirou a mão dele de trás do corpo. Encaixou ela na minha, com os dedos deslizando entre os meus, até
estarem encaixados e juntos. Quentes. As palmas se abraçando. Como nossos abraços e nossos rostos.

— But I'm not the only one…

Os meninos começaram a balançar o corpo de um lado para o outro, como se estivessem em um show. Eu ergui o
polegar, afagando a mão macia de Jeongguk, até a música acabar, até nossas mãos suarem e eu perceber que, mesmo
assim, era bom estarmos de mãos dadas.

— And the world will live as one.

Meia hora depois, o sinal tocou. A aula de terça-feira havia terminado.


Notas finais
Playlist do clube de música: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/2Qz6IOFBOuZ1x6afOTKoLT?
si=Lpju7w38SPCd8f1YGu41lg

E aí? Alguém tem um palpite sobre quem é a Namsoon? Ela é essa lindinha aqui ó:
https://68.media.tumblr.com/49260a35a054cbff3a180fd0e73a4870/tumblr_onpp71KXAT1unltn5o3_540.gif XDD acho que
vocês já sabiam...

E esse foi o capítulo de hoje! Não se esqueçam de usar a tag #PuxaPuxaPuxa no twitter se forem falar de "Ele é como
Rheya" por lá! Eu vou estar vendo tudinho.

Até o próximo capítulo, beijinhos e abraços!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

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17. Ele é como Daisy

Notas do Autor
Olá, nenês!

Como vocês estão? Tiveram um bom carnaval, um bom sábado? Eu espero que sim, espero que estejam se cuidando
direitinho~

Cheguei com mais um capítulo quentinho e com muuuitas palavras tenho que dizer pra vocês que, muito provavelmente,
a maioria dos capítulos de EECR vai ser grande assim de agora em diante... juntei vários capítulos no roteiro e enfim...
espero que gostem dessa mudança!

Ah, é feliz aniversário pro Oliver e pra Julia~~ parabéns, hein! Espero que comam bolo de aniversário, viu? Vocês
merecem!

Boa leitura

JIMIN

"Elsie continuava se surpreendendo com as doces palavras daquele homem.

Ela sempre pensa que já se acostumou, mas continua ficando surpresa.

“Cante para mim”, pede o homem. “Está frio. E aqui só faz silêncio, Elsie. Eu gostaria de ouvir a sua voz.”

Os olhos azuis da moça, Elsie, brilhavam sempre que o homem lhe pedia para cantar.

“Eu cantarei novamente, Carter. Apenas porque, quando eu voltar para o meu país, aqui fará silêncio para sempre”,
oh, maldição. Carter odiava quando ela falava sobre voltar para seu país. “E também… a expressão que o senhor faz quando
canto amacia o meu ego.”

“Então suponho que goste de meus sorrisos”, o homem deduz, sorrindo galanteador.

A moça demonstra incredulidade. Depois, somente sorri.

“Como você é convencido”, ela comenta. “Eu vou cantar agora.”

…"

Hmmm...
Hm. Hmm. Hum.

Ai.

Ai ai.

— Isso está horrível.

É isso. Está horrível!

Carter e Elsie forma, sim, o casal mais fofo existente. Mas eu so uma vergonha!

É uma pena que eles tenham caído em minhas mãos amadoras e desajeitadas de escritor furreca.Ughh.

Por que eu ainda tento escrever romances antigos se eu nunca me dou bem com toda a formalidade que a época
carrega?! Eu não sei. De fato, não faço ideia.

— Aff.

Fechei o caderno de histórias mais uma vez, nem um pouco surpreso por ter desistido do meu enredo repentino.
Soltei vários suspiros enquanto escrevia, e agora que desisti, só consigo bufar, bravo comigo mesmo. Menino, que respirava
fundo no canto da cama, nem imaginava que seu dono estava em crise. Porque: sim, eu estava em crise!

Outra história abandonada. Ah…

Quando acordei hoje de manhã, tive uma ideia brilhante para um romance. Elsie e Carter. Elsie era uma moça que
estava visitando o país de Carter, e era uma escritora renomada. Carter era apenas o criado da dona da casa em que Elsie
estava hospedada. Eles se ajudaram de uma forma engraçada em certa noite. Depois ela viu seus desenhos, e ele ouviu-a
cantar, e então eles começaram a se encontrar para conversarem dos diversos tipos de arte… eu não tinha planejado o que
iria acontecer na maior parte da história, mas tinha cenas lindas em mente.

E, na boa, Elsie era tão linda. Enquanto escrevia e imaginava ela, meu coração ficava completamente amolecido.
Acho que se visse Elsie por aí, me apaixonaria por ela na certa. Ela tinha um cabelo loiro longo e olhos azuis lindos. Era
perfeita, extremamente bonita. Todos os meus personagens são lindos e doces, mas Elsie escrevia, então eu a amava um
pouco além do usual.

Assim como amava um pouco mais todas as outras escritoras de todas as minhas outras ideias para histórias.

— Desculpe — digo para minha linda Elsie, e para meu talentoso Carter, já que a história de amor de ambos não vai
passar daquela cena linda, carregada por uma escrita horrível.

Joguei o caderno na cama e balancei a cabeça. Mas que coisa, hnf…

Alguns segundos depois, meu relógio fez um barulho baixinho para avisar que faltava poucos minutos para oito horas.
Eu estava com muita preguiça e tão, tão animado com a ideia daquele livro, que me senti triste por ter que ir para a escola.
Mas tudo bem.

Dia de escola quer dizer dia de ver Jungkook.

É a primeira vez que penso em Jungkook hoje. Acabo sorrindo, com os olhos inchados de sono e, parcialmente,
euforia por ter pensado nele. É um pouquinho esquisito como sempre penso em Jungkook quando fico sem vontade de
levantar e ir pra escola...

Tipo… é meio que assim: tem um mini Jimin na minha mente que sempre diz:“Não tem problema faltar hoje, nós
fomos todos os outros dias de todas as outras semanas! Hoje eu posso ficar em casa e dormir!” e até que ele é bem
convincente e fofo. Mas, então, um outro Jimin aparece. Ele é enorme, saradão, poderoso, e grita bem alto: “VOCÊ É
BURRO?! JUNGKOOK VAI ESTAR LÁ!” e ele é super assustador e... laranja.

Ele arremessa imagens em mim, e elas são bem potentes. Tipo boladas em um jogo de queimada. Começa a atingir o
mini Jimin com Jungkook corado, covinhas do Jungkook, cabelo do Jungkook... sobrancelhas do Jungkook!

E… é. Eu sempre dou ouvidos ao Jimin saradão, porque ele tem razão, e ele faz o mini Jimin preguiçoso sumir em
um piscar de olhos. E eu gosto do Jimin saradão. é, eu gosto dele.

Afinal... eu estava com preguiça e, agora, estou me levantando feliz porque, claro, me lembrei que hoje é dia de
semana e vou ver Jeongguk.

Isso é perfeito. O Jimin saradão é o melhor.

Andei por meu quarto de fininho. Se Menino acordar, ele vai começar a ronronar e me seguir até o banheiro e eu não
posso dar carinho pra ele agora. Se eu der, vou me atrasar pra valer. E até que eu curto tomar banho sem ele encarando
minhas partes íntimas...

Quando encostei a porta do banheiro e ele não veio até mim, quase cantei Glória à Deus. Menino está num sono
pesado mesmo…

Eu me despi rapidinho e tive um banho bem gostoso. Minha pele amanheceu boa hoje e é dia de lavar meu cabelo,
então eu vou ficar com um cheirinho realmente muito bom até o fim do dia.
Quando saí do banheiro, Menino estava se espreguiçando na cama, demonstrando que acordou há pouco tempo. Me
vesti rapidinho e ajeitei a mochila de última hora, colocando-a nas costas. Peguei logo um par de meias limpas para sair pela
porta do quarto.

Menino veio até mim e miou. Miei de volta, o fazendo ronronar e se esfregar em mim. Sorri porque sabia que ele ia
descer comigo agora. Aww.

Ao que eu descia as escadas, com o cabelo molhado e penteado cheirando a creme, percebi que a casa está com
cheirinho de café. Cheguei no andar de baixo, deixei a mochila e a meia em cima do sofá — eu sempre deixo o sapato na
varanda e calço lá, porque é mais fácil e mais rápido — e fui até a mesa de café, onde Leonor permanece de pijama, lendo o
jornal.

O jeito que ela está sentada é engraçado.Pfft.

Parece um vovô.

— Bom dia, mãe — eu disse.

Minha mãe estava completamente focada nas palavras, mas quando ouviu minha voz, levantou a cabeça e sorriu.

— Bom dia, Jimin — respondeu. — Animado para hoje?

Ri baixinho, afirmando com a cabeça. Ela sabe que vou pra casa de Yoongi hoje pela primeira vez — até porque eu
tive que pedir para ir — e desde que combinamos, ela vem me perguntando se estou animado para tal dia.

Qual é? Estou tentando agir como se ir para a casa de um amigo fosse normal, mas quando ela fala assim eu fico
extremamente animado…

— Sim! — respondi.

Ela deu um sorrisinho e eu também. Leonor vai voltar de carona com sua amiga hoje e vai passar lá para me pegar
depois, já que agora ela já tem o número da casa de Yoongi e o endereço. Tudo certo…

Ainda sorrindo, dei a volta pela mesa, pegando a minha caneca que já estava bem ali. Leonor fechou o seu jornal e
deixou sobre a mesa, enquanto eu despejava o café que ela fez na minha caneca. Minha mãe faz um café delicioso. É uma
das únicas coisas deliciosas que ela sabe fazer — eu acho que isso foi maldoso, mas de qualquer forma, é verdade.

Enquanto procurava o açucareiro e o leite quente, senti que estava sendo observado. E realmente estava.

Minha mãe, no fim da mesa, estava olhando para mim com muita atenção. Mais atenção que o normal e até carregava
um sorrisinho nos lábios... ihh, tem coisa aí.

Dei uma risada nervosa, pegando o açúcar, porque esse olhar é um pouco diferente e ligeiramente desconfiado.

— O que foi? — Resolvi perguntar e perguntei.

Já Leonor riu, balançando sua cabeça.

— Você está ficando cada vez mais parecido com seu pai — disse, então, com um sorriso feliz.

Eu me senti um pouco encabulado, porque era meio estranho quando decidíamos falar do meu pai. Ou melhor...
era esquisito falar do meu pai.

Minha mãe parecia não ter muito problema com isso. Ela falava muito bem dele. Mas… normalmente, eu me sentia
tímido. Porque me sentia, de certa forma… hm… constrangido? Sim, muito constrangido.

Eu não conseguia complementar a conversa muito bem e tinha vergonha dela perceber que fico levemente nervoso.
Sei lá...

No entanto, eu coloquei as duas colheres de açúcar no café. Então, peguei o leite.

— Meu pai?

Ela assentiu, dando um risinho.

— É, você é quase uma cópia dele — disse ela. — Mas o seu nariz é mais bonito.

Ri disso, imaginando se meu pai se sentiu ofendido de algum lugar.

— Hum… — murmurei, com um pequeno sorriso.

Sem pudor, minha mãe continuou falando:

— Quando você era mais novo, era a cara da sua avó. Mas seus olhos foram se tornando diferentes com o tempo —
dizia ela. — É engraçado como você não parece nada comigo.

Eu ri, como se fosse brincadeira. Ah, qual é? É claro que pareço com ela!
— Mãe, eu não sei se você percebeu, mas somos idênticos! — eu disse em um tom divertido, misturando minha
bebida quente com uma colher após despejar o leite.

Ela negou, rindo do meu jeito espontâneo.

— Não, eu sei disso! Mas se você olhar para seu rosto e, então, olhar para o meu, vai ver que não tem nada meu aí —
disse ela. — É como se tivessem desenhado seu pai, e então, me colorido em você.

Isso... isso é verdade.

Eu ri. Sei que ela tem razão... mesmo que eu não saiba muito bem como meu pai é. Até quando vejo nas fotos.

É um pouco confuso.

— Espero que tenha dado algo bom... — Me referi a minha aparência.

Leonor riu, afirmando.

— É claro que deu.

Aumentei meu sorriso e me senti relaxado e bem. Então, comecei a preparar um sanduíche.

Queria aproveitar aquela manhã e conversar muito mais com minha mãe. Então, puxei assunto:

— Hoje de manhã, comecei a escrever outro livro — eu disse, então, feliz por ela estar prestando atenção em mim. —
Foi pro beleléu.

— Por quê? — indagou, risonha.

— Romance antigo demais pro meu cérebro — eu disse, fechando meu sanduba. — Sério, mãe… por que eu nunca
consigo continuar? Ou ter uma ideia que seja fácil de escrever?

— Talvez você esteja pensando demais ou planejando demais — disse ela.

— Não, eu quase nunca planejo alguma coisa. Eu escrevo o que vem na cabeça. Vira uma bagunça…

— Sei… — falou ela, pensativa. — Talvez seja melhor você parar de tentar escrever romances antigos.

Fiz um biquinho.

— Por quê?

— Porque você não esteve lá. De que forma você vai escrever sobre algo que não conhece? — Ela riu, bebericando
seu café puro.

— Não sei… mas eu li tanto, e é uma época tão romântica… — eu disse, pensando sobre isso.

Menino miou no canto da porta, cortando nossa conversa brevemente. Observei-o caminhar até a janela e saltar para
fora de casa. Provavelmente foi fazer seus números lá fora...

Quando voltei minha atenção para mamãe, ela continuou falando:

— Toda época é romântica, Jimin — disse. Ah... — Olha só. Vou te contar uma história… — Mordi meu sanduíche,
atento à ela, porque amo suas histórias. — Então. Uma vez eu tirei a nota mais alta da escola por causa de uma redação. Eu
tinha sua idade, mas não era tão inteligente quanto você. Como você acha que eu me saí tão bem naquela redação?

Olhei para ela. E pensei um pouco…

— Hm… — Pensei mais. — Não sei...

— É muito simples, Jimin. Foi porque eu sabia muito bem sobre o tópico — ela respondeu, enfim. — Eu conhecia e
praticamente vivia o tema da redação. Por isso me saí tão bem.

— Ah… — Eu já estava entendendo o que ela queria dizer.

— Só estou dizendo para você tentar escrever sobre você, sabe? — Sua voz tinha um tom compreensivo. — Coisas
que você sente, que acontecem em sua vida… algo seu. Sabe?

Dei mais um gole no meu café com leite. E assenti com a cabeça.

— Sei… — eu disse, suspirando. Estava me sentindo levemente determinado. — É uma pena… a Elsie vai ficar lá.
Intocada.

Mamãe riu de mim.

— Elsie, é? — perguntou, risonha. Aquele olhar... ela vai... — Ela é loira igual a Marilyn Monroe ou você decidiu parar
de colocá-la em todas as suas personagens femininas?

Minha mãe citar Marilyn me fez corar nas bochechas.


— Para… — eu pedi, envergonhado enquanto ela dava risada.

Acabei de perceber que Elsie era uma versão de Marilyn Monroe de cabelo comprido. Ai meu Deus!

Minha mãe riu mais, como se tivesse me descoberto. Ah, qual é?!

— Eu sabia!

E ela ria e ria. Às vezes ela roncava como um porquinho quando ria demais (tipo agora) e isso me fazia rir também,
mesmo quando eu estava sendo humilhado (tipo agora também). Droga!

Leonor adora me caçoar por causa disso. E com “isso”, me refiro a certo acontecimento constrangedor em minha pré-
adolescência, envolvendo beijos e Marilyn Monroe...

Eu tinha treze anos na época. Àquele ponto, eu já tinha assistido todos os filmes da Marilyn e, é claro: me apaixonei
perdidamente por ela. Então, certo dia, pedi dinheiro para a minha prima, e ela me deu, e eu fui sozinho até a banca que
ficava na praça perto da casa da nossa avó. Comprei uma edição especial de uma revista cheia de fotos da Marilyn Monroe.

E o que eu fiz? Sim, isso mesmo. Eu beijei a Marilyn Monroe de papel.

E o que aconteceu? Sim. Isso aí. A minha mãe me viu fazendo isso.

Desde então, ela está sempre me caçoando quando o assunto é a mulher mais linda do planeta terra, mais conhecida
como Marilyn Monroe. Isso é vergonhoso e, certamente, a minha vida é uma vergonha depois desse acontecimento... ai,
droga.

Já tem quase três anos e ela ainda se lembra disso! Snnf.

— Vou tentar criar uma protagonista de cabelo castanho — eu disse, enfim, após dar muita risada com ela da minha
miserável existência.

Mamãe coçou seu nariz, com o rosto vermelho de tanto rir.

— Eu apoio, filho. Vai sair um livro brilhante daí de dentro da sua cabeça — ela disse, me deixando surpreso porque,
de cara, pensei que ela iria me caçoar mais.

Dei um sorriso. Ah. Minha mãe está sempre me inspirando e me dando suporte quando o assunto são meus sonhos e
meus medos. Eu a agradeço muito por isso, porque é tão importante e especial para mim. É doce da parte dela, e...

— Ah! Mas cuidado para não escrever uma Marilyn Monroe de cabelo castanho, viu?! Há-há-há! — ela completou.

Depois riu.

Aghh!

— Mãe! — E eu rebati, constrangido.

Esquece tudo que eu disse sobre o suporte e a doçura, porque o resto do café da manhã foi resumido à isso e só isso!

Mas, contrário a forma que me aborreci, eu dei ouvidos ao que minha mãe disse anteriormente. E antes de sair de
casa, peguei meu caderno de ideias e coloquei na mochila… caso tenha alguma aula vaga hoje, posso me inspirar e escrever
sobre mim. Quem sabe...

E então, quando deu o horário, me despedi de Leonor e fui direto para o meu ponto de ônibus, esperando estar
minimamente bonito para ver Jeonggukie.

***

As aulas corriam com um pouquinho mais depressa nas sextas.

Eu sempre tenho essa sensação e não faço ideia do porquê. Cá estou eu, no refeitório, comendo meu lanche e
pensando comigo mesmo: quando e como foi que as primeiras aulas passaram tão rapidamente?

É um mistério… mas eu acho que entendo, até. As aulas foram peculiares. Tivemos duas provas e os professores
dividiram várias turmas em salas diferentes. Foi… uma experiência diferente, mas consegui tirar algo bom disso!

Eu até ri sozinho, porque esse lance de fazer provas me dá um sentimento engraçado. Não era bem assim que eu
fazia quando estudava com a minha avó, então é diferente. Nas primeiras provas que fiz na escola, precisei perguntar para
alguns professores sobre como exatamente se faz uma prova.

O resultado disso? A maioria pensou que eu estava fazendo uma piada!

Tudo bem. Eu supero...

Por causa de tudo isso, eu acabei perguntando sobre as provas para Yoongi, na semana passada — e, caramba, por
que não fiz isso de primeira? — e ele me contou tudo que eu precisava saber. Até suas táticas secretas para colar… não que
eu tenha as usado. Ainda não preciso delas.
Ainda. Quem sabe um dia, né?

Mas, alegremente, as provas de hoje foram tranquilas. E também um pouco chatinhas, porque fiquei separado de
Jeongguk naquela divisão doida dos alunos, sei lá.

Sei que é bobagem, mas... é um pouco desesperador apenas tê-lo visto no ônibus hoje. Qual é… só nos
cumprimentamos...

É quase como se fosse crime não ter uma conversa longa com Jeonguk sempre que me dou com ele. Conversar com
ele é muito, muito bom.

Já agora, estou sentado de um lado do refeitório, com Yoongi, e já faz uns cinco minutos que Jungkook apareceu com
Seokjin. Eles se sentaram no lugar de sempre, que fica longe do lugar de sempre que eu me sento com Yoongi. Quando ele
chegou, trocamos um olhar e acenamos, e nossa interação se resumiu a isso hoje.

Queria voltar para terça-feira quando senti ele bem pertinho de mim…Deus, eu só queria que pudesse acontecer
todos os dias.

Ai. Continuo comendo e olhando para Jungkook sem parar até agora. Ele está distraído e relaxado e ele fica lindo
assim… sinceramente, ele é bem lindo na maioria das vezes.

Ok. Ele é lindo sempre.

Minha verdadeira vontade era a de me sentar pertinho dele. Até cheguei a perguntar para Yoongi se não seria, sei lá,
legal sentar com os dois. Mas ele respondeu muito brevemente; “Talvez outro dia”, ele disse. Eu tenho quase certeza de que
essa é uma espécie de deixa pra eu saber que ele não quer.

Acho que Yoongi se sente um pouco desconfortável em situações assim, então é claro que eu não vou insistir, mesmo
que eu queria chegar perto de Jungkook sempre; por vários motivos diferentes. Para falar com ele, olhar para ele, tocar ele…

E, é claro… principalmente, para descobrir o que é que está acontecendo entre nós dois.

Depois daquela avalanche de sentimentos, eu só consigo pensar nisso. Uma coisa está acontecendo e ela é muito
grande e poderosa.

O que é exatamente...? Eu quero saber.

Digo… é um dia bom. Os dias têm sido muito bons, e nem um pouco confusos. Talvez um pouco confusos. Ou muito
confusos. Mas, por mais que tudo esteja tão bom e calmo, com todas essas coisas acontecendo dentro de mim, eu só
consigo pensar… o que está acontecendo dentro de Jungkook?

Ultimamente, tenho olhado para ele e me perguntado isso. Desde que nos abraçamos embaixo daquela árvore, há três
dias atrás, as coisas estão intensas dentro de mim. E muito, muito inquietas...

Muitas coisas acontecem inevitavelmente e eu não consigo controlar… é meio novo para mim não ter muito controle.
Quando penso que vou pegar no sono, sua voz me vem em mente e eu não consigo parar de me mexer. E então eu tenho
vontades gigantescas. Como amaciar o cabelo dele com minhas mãos… tocar a maçã do rosto dele. Cheirar o casaco dele.
E mais uma infinidade de coisas estranhas que, querendo ou não, morro de vontade de fazer. E é incrível como é sempre
com Jeongguk, e só ele…

Fico o vendo daqui, o tempo vai passando, a vida vai passando, e eu... Eu vivo sempre voando, sempre sonhando em
o tocar. Lá está ele, abrindo sua caixinha de suco com cautela e, então, me pergunto… o que se passa na cabeça de
Jeongguk quando ele olha para mim?

Será que ele sente alguma dessas coisas que eu sinto? Ou que tem alguma coisa acontecendo, meio assim, dentro
dele?

Essa curiosidade me faz ficar agitado. Sempre penso nisso, ainda mais quando estou sozinho, ou em silêncio, ou
olhando para ele. Me pego pensando em tudo sobre ele… como o que ele planeja fazer quando chegar em casa. E quando
eu chego em casa, me pego pensando em que lugar da casa dele ele está.

E então isso abre portas para outros mil pensamentos. Como imaginar a casa dele… eu sempre imagino uma casa
chique. Mas de forma estranha: pintada de amarela. E com florzinhas para todos os lados. E o cachorro dele é enorme e
amigável, um labrador com o pelo limpinho e uma coleira cor de rosa, fazendo todos dizerem: A-há! Não é um garotão, é
uma garotona! E então, alguém corrige: A-há! É um garoto mesmo, mas ele gosta de rosa!

Às vezes eu penso tanto nas coisas que crio diálogos estranhos — como esse — na minha cabeça. Sem
julgamentos...

Pensar na casa de Jeongguk, agora, já me leva a outro lugar e me faz perceber que, na boa… eu queria tanto
conhecê-la. Fico esperando ele me convidar e às vezes tenho vontade de me convidar. Mas acho que isso não seria lá muito
apropriado.

Será que a casa dele é mesmo amarela?

— Ei, Yoongi — chamei meu amigo, que está lendo a tabela de ingredientes da bebida que comprou. — Você desce
antes ou depois que o Jeongguk?
Yoongi parou de olhar a latinha por um momento, me dando atenção.

— Hã? — Ok, ele não entendeu.

— Sabe… quando você está indo embora. Quer dizer, no ônibus… quem desce primeiro. O Jeongguk ou você?

— Ah. O Jeongguk.

Hum…

Dou um suspiro. De qualquer forma, aposto que o ponto de ônibus fica longe da casa dele. Eu não vou poder ver
como é…

Yoongi parou de olhar para o seu refri, enfiando o canudinho lá dentro e bebendo. Provavelmente está tudo certo com
os ingredientes.

Já eu, apenas enfiei os dedos na tangerina, abrindo-a. Comecei a comê-la, engolindo uma semente atrás da outra e
me perguntando por que algumas pessoas acham tão bizarro fazer isso. É uma delícia.

***

— Vamos nos sentar?

Se eu tivesse chegado cinco minutinhos mais tarde, estaria verdadeiramente atrasado para a aula de leitura
avançada.

Estou até arfando de desespero… isso tudo porque decidi acompanhar Yoongi até a turma avançada dele, que é lá no
outro prédio. Pensei que seria coisa rápida. Mas não foi... bastou alguns segundinhos para eu ficar extremamente surpreso
com a hora. Saí correndo de lá, descendo as escadas rapidamente e me perguntando como que o tempo passa tão rápido de
uma hora para a outra.

Caramba…

Entrei na sala com cansaço e preguiça — mesmo que essa seja a minha aula favorita. É claro que, antes disso, eu
pedi desculpas a Srta. Moon, porque ela estava prestes a fechar a porta quando cheguei. Ela me perdoou, felizmente. Ufa...

Quando presto mais atenção, percebo que as carteiras estão organizadas em duplas, o que é um pouco incomum na
aula da professora Moon. Ela sempre nos coloca para sentar individualmente — só nos sentamos em dupla duas vezes.

E, nessas duas vezes, Jieun e Micha ficaram juntas. E eu, atrás delas.

Mas, após entrar, vi que Jieun estava sentada sozinha. Pensando bem, Micha não estava por aí hoje…

Ah, sim. Ela faltou.

Bom. Já que é assim… eu acho que não tem problema se eu me sentar com a Jieun por hoje. Logo caminhei até ela
e, quando perto, acenei brevemente.

— Posso me sentar aqui? — Me referia ao lugar vago ao seu lado.

Jieun levantou o olhar do seu caderno para mim. Os cabelos longos dela caem por todo seu ombro, e parecem bem
sedosos — já notei isso antes, mas ela parece uma moça de propaganda de shampoo para cabelo.

Ela pareceu ficar surpresa, o que é um pouco curioso. Só então tirou sua mochila da carteira vazia.

— Claro que sim — respondeu, com um sorriso.

Sorri sutilmente. Me sentei e deixei minha mochila em cima dos meus pés, pegando apenas o meu caderno e uma
caneta para colocar sobre minha mesa.

Enquanto a aula não começava, falei rapidamente com Jieun sobre algumas coisas, mas ela parecia um pouco
diferente. Provavelmente porque, em geral, nós conversamos em trio. Ela, eu e Micha. Talvez o fato de Micha não estar aqui
deixe as coisas um pouquinho estranhas.

Para mim, até que é bem normal. Mas tudo bem…

Quando a Srta. Moon começou a dar aula, me senti muito feliz, porque vamos ler em voz alta hoje. Na última aula de
leitura, ela pediu para anotarmos a nossa parte favorita de O Grande Gatsby no caderno e escrevermos uma redação sobre
essa parte. Logo iríamos ler sobre isso e entregar a redação na aula de hoje.

Por algum motivo, eu gosto muito de ver todo mundo lendo. Cada tom de voz é diferente, e tem quem gagueja, e
quem lê perfeitamente… isso é bem legal. Pelo menos eu acho que sim. Eu meio que curto essa diversidade...

Durante toda a primeira aula, nós comentamos sobre esse livro. Eu já tinha lido O Grande Gatsby antes, mas reli para
essa aula. Gosto da aula de leitura avançada porque não me sinto muito tímido para falar alto… meio que, aqui, somos todos
iguais.

Eu adoro isso. É bem confortável e aliviante.


Por fileiras, cada um foi lendo sua parte favorita do livro. Demos risada quando três pessoas gostaram da mesma
parte. A professora pensou que eles estavam colando um do outro e o mais engraçado de tudo foi ver que não. Cada um
tinha um motivo diferente para gostar de tal parte do livro.

Eu ri bastante disso.

Minutos se passaram lentamente... e logo já estava chegando minha vez. Assim que estavam em nossa fileira, eu e
Jieun decidimos brevemente que seria ela que leria primeiro.

Me atentei a ouvir a sua parte favorita assim que ela começou a ler:

— “Sempre que sentir vontade de criticar alguém, pense que nem todas as pessoas deste mundo tiveram as
vantagens que você teve” — ela leu, com cautela e suavidade. Jieun lê muito bem em voz alta. — Essa parte… eu não sei
porquê, senhorita Moon, mas ela me pegou de surpresa. Acho que por causa das coisas que pessoas que conheço fazem. E
eu vi de perto essas coisas acontecerem… — disse ela, com um ar que a fazia parecer… superior. Mas não de uma forma
intimidadora. Era… bem legal. — Não é tão dramático, mas eu acho que é como a vida deve ser.

Ela é muito inteligente.

— Entendo… — a professora concluiu, vendo Jieun assentir. — Sabe, concordo muito com você. Obrigada pela
participação.

A turma falou sobre isso por um momento. Jieun participou da conversa, e eu apenas fiquei olhando para ela.

Até que, enfim, era a minha vez.

Me ergui na cadeira, segurando meu caderno — apenas para interpretar já que, de certa forma, memorizei o que
anotei aqui, porque me marcou muito —, esperando a professora dizer que eu já posso ler para começar.

As pessoas ficaram em silêncio e, só então, eu comecei a ler a minha parte favorita.

— “De repente, percebi que não eram apenas as estrelas que ele contemplava naquela noite de junho em que o
avistei pela primeira vez. A partir desse momento, ele me pareceu muito mais vivo, subitamente livre daquele esplendor sem
objetivo" — Foi tudo o que eu disse. — Eu… gosto dessa parte. Em que percebem que Gatsby só comprou a casa porque
sabia que Daisy estaria do outro lado da baía. Eu acho que diz muito sobre quem somos.

A professora assentiu, com um sorriso, indagando:

— Sobre quem somos no quê, exatamente?

Não precisei de muito tempo para pensar e concluir:

— No amor e no desejo. Sempre que gostamos muito de uma coisa, fazemos de tudo para tê-la. Aposto que se
fôssemos Gatsby, compraríamos aquela casa também — eu disse. — Achei essa parte sincera… mesmo que tenha uma
dose de loucura. Carrega muita sinceridade. Por isso gostei tanto.

Quando terminei, voltei a me sentar. A professora me agradeceu pelo comentário e os alunos discutiram sobre o que
eu disse. Nós entramos em uma conversa sobre Gatsby e Daisy, que eu assisti e participei com prazer. O tempo passava
rápido quando tínhamos aquelas conversas...

Alguns minutos depois, a professora encerrou o assunto e começou a escrever no quadro um breve resumo sobre o
que teríamos em sua prova na semana que vem. Então, nos disse que, após as férias de duas semanas, iríamos ler livros de
Shakespeare e expandir nossa linguagem.

Enquanto copiava, senti Jieun tocar meu ombro brevemente.

Ergui os olhos da folha para olhá-la me perguntar o seguinte:

— Se você fosse o Gatsby, compraria uma casa por causa de Daisy?

É uma pergunta estranha e repentina.

— Não sei... — Pensei em Daisy e o quão desinteressante ela, em si, me parecia. — ADaisy em especial, não…

Logo depois que eu disse, me surpreendi com o pensamento que tive.

A Daisy... em especial… não...?

Senti que Jieun iria dizer mais alguma coisa, mas… o sinal tocou. A professora nos pediu para entregar a redação e,
em seguida, sair da sala.

Eu não demorei muito para jogar meu material na mochila. Diferente da Jieun, que ficou guardando tudo direitinho e
organizando. Ela sempre faz isso.

Eu olhei para a porta. Hoje é sexta…

— Você quer que eu te espere? — perguntei para ela, por educação.


— Não precisa…

Normalmente, eu ficaria por cavalheirismo. Mas... bem, é o último sinal. Hoje é sexta-feira, e meus últimos minutos
com Jeongguk antes do final de semana estão sendo contados a partir de agora.

Só nos demos bom dia. Isso é crime.

Então, não esperei por ela. Dei tchau com um aceno, já que não pegamos mais o mesmo ônibus, e me retirei.
Entreguei a redação e fui um dos primeiros a sair da sala.

Pendurei a outra alça da mochila em meu ombro, descendo as escadas com rapidez. Tinha outros alunos prestes a
sair de sala, mas eu fui mais rápido em correr prédio afora. Por pouco eu ficaria preso na multidão...

Se eu não me engano, Jungkook já deve ter saído da sala dele agora. Nas sextas, ele sempre tá de bobeira em
algum lugar, com Seokjin, porque saiu mais cedo da sua aula avançada de inglês. Eu sempre o vejo, mas fico esperando
Yoongi, então fico só lhe olhando de longe...

Ainda quero falar com ele hoje. Então, fui para a saída, onde ele provavelmente está, para lhe encontrar.

Meu coração sorriu. Finalmente…

Dei um sorriso quando o vi. Jeongguk estava de costas, caminhando sozinho, calmamente, até um dos bancos que
ficam perto da saída — e dos ônibus.

Ele se sentou ali. Sozinho. E eu não me canso de sentir que sou sortudo sempre que o lugar ao lado dele está vago.

Caminhei mais rapidamente até ele, respirando cheio de euforia. Dei uma risadinha quando vi que ele está
mordiscando o cantinho da boca, fazendo seu rosto fazer uma curvinha extremamente adorável para a esquerda. Awn... meu
Deus.

Meu coração está acelerado por algum motivo. Minha mente ainda estava vagando, mesmo que brevemente, na
pergunta de Jieun… tem alguma coisa nessa pergunta que ainda vai me fazer pensar muito...

Eu só não sei o quê.

Mas quando Jungkook deixou de mexer em sua mochila para, enfim, olhar em minha direção… bom, é claro que
depois disso não consegui pensar em mais nada.

Ele deu um sorriso sutil.

— Oi…

Foi ele quem disse, quando eu estava perto o suficiente para escutar.

Eu me sentei ao seu lado no banco. Olhei em volta...

Sei que é egoísta, mas estou temendo que Seokjin apareça. Porque quero que seja eu e Jungkook, agora.

Ele não apareceu... então eu dei mais um sorriso, me aproximando mais de Jeongguk.

— Ei. — Só então eu respondi, agora que estávamos pertinho, assim.

Não sei por que, mas, quando Jeongguk segura a mochila no colo, do jeito que está segurando agora, ele me parece
muito fofinho e pequeno.

Ficamos em silêncio. Às vezes temos dessas. Não falamos nada, só ficamos olhando um para o outro, para a rua, e
então um para o outro de novo...

É um pouquinho constrangedor, mas eu gosto disso, porque… carrega um nervosismo fraco e gostoso…

Ou será que só é gostoso porque é com Jeongguk? Hum, eu realmente não sei dizer.

— Hm… aula de leitura? — disse ele, e depois balançou a cabeça. — Quer dizer… teve aula de leitura agora, não é?
Foi legal?

Eu balancei a cabeça, afirmando, com um sorriso. Eu poderia rir de seu jeitinho atrapalhado, mas, à esse ponto, eu
não acho engraçadinho. Eu acho bonitinho…

Então eu não rio. Eu só dou um sorriso.

— Foi sim… — eu disse, sorridente.

Ele balançou o rosto e voltou a morder sua boca fininha.

— Tive aula de inglês avançado — disse. Eu sei. — Aí, o professor disse que estou em um nível muito alto. E quer
que eu faça uma prova para um curso. Diz que falta pouco para eu ser quase fluente…

Eu sorri, feliz e surpreso. E olhe lá que teve um dia que Jungkook disse que não sabe o inglês muito bem!
— Isso é incrível — eu disse e, apesar do meu tom não estar alto, eu estava muito empolgado e feliz por ele. — Eu
percebi que sua pronúncia é boa.

Eu não sabia nada de pronúncias em inglês, mas ele falava tão bem. Eu me embolava sempre que tentava, mas
Jungkook fazia parecer fácil, fácil.

— Eu acho que traduzir as músicas me ajudou a escrever melhor — disse ele. — Puxa… fiquei surpreso. Eu não
pensava que estava indo tão bem assim. Ele me pediu para ver uns filmes legendados, e tal… fiquei bem feliz.

— É engraçado você estar surpreso — eu disse, fazendo-lhe me olhar. — Eu não estou. Sempre pensei que você
fosse, tipo, super avançado, e tal…

— Hum… — Sorriu pequeno.

— Você é demais — digo, sem me segurar. — No inglês. E em outras coisas…

Tipo, existindo, e essas coisinhas bem básicas...

Jungkook deu um sorrisinho. Um sorrisinho bem inho mesmo… só os dentinhos da frente apareciam e as maçãs do
rosto ficaram gorduchas.

— Puxa… — Algo dentro de mim desmancha deliciosamente quando ele faz esse biquinho, pronunciandoPuxa. —
Obrigado… — disse, balançando a cabeça e os cabelos.

Dei um suspiro. Ai. Olhe para ele, ele é demais…

Minha mente se enche desse fato. Fico besta e o que sobra, é isso:

— Qual é a cor da sua casa?

É a única coisa que consigo pensar e, igualmente, perguntar.

Jungkook riu da minha pergunta. Aquela risada que tem ruído, e tudo mais, e me derrete mais devagarinho.

— Ahn… é meio que branca, e cinza, e preta… — disse ele, e eu dei um suspiro, porque agora minha imaginação vai
para outro lugar. Nada de casa amarela. — Por quê?

— Pra saber… — eu respondi. — E qual é a raça do seu cachorro? — perguntei.

Ele pensou.

— Não sei. Ele parece um Beagle… — disse, e então, eu pensei por um tempo. E percebi que não faço ideia do que é
um Beagle. — Mas eu acho que ele não é, não. Eu acho que é vira-lata, mas com manchinhas de Beagle.

Isso me faz dar risada. É fofo pensar nisso.

— Por que ele não seria um Beagle? — Sim, eu disse Beagle tudo errado.

Jungkook finge que não nota, mas seu sorrisinho está ali, mostrando que minha forma de pronunciar o fez quase rir.

— Sei lá. Ele é enorme…

Ri baixinho. Esse jeito dele de falar é engraçadinho…

— Entendi.

Voltamos ao silêncio. Enquanto fazia o ritual de olhar para ele, e então olhar em volta, vi Taehyung e Hoseok subindo
em um ônibus com a numeração diferente da nossa. Eles andam juntinhos, e sobem pulando, como se fossem donos do
pedaço.

É legal o fato de que, naquele ônibus, garotos como eles são os donos do pedaço…

Isso me faz lembrar que o Idiota não aparece desde que eu voltei. E também tem a Idiota, que até que aparece às
vezes. Mas ela não fica na sala por muito tempo, muito menos olha pra mim. Me pergunto se, agora, eles largaram do meu
pé de vez…

Estava tão distraído pensando nisso que fiquei um pouquinho surpreso… Ouvi um riso soprado de Jungkook,
acompanhado do seu dedinho tocando minha testa sutilmente.

Com ele, Jungkook afastou um pedacinho da minha franja do meu rosto.

Virei para ele. E ele ainda estava soltando risinhos.

— Seu cabelo tá diferente hoje — comentou, com as bochechas sutilmente vermelhas.

Ai, Deus.

— É que eu lavei hoje de manhã… — eu disse, e nem percebo que já estou sorrindo, e com os ombros… moles?
Tô meio molengo.

— Sua franja fez uma curvinha… — comentou. Ah, ele notou a minha franja…

Fico pensando nisso. O cabelo todo de Jeongguk faz curvinhas, e isso é tão precioso…

Eu gosto das curvinhas. Todas elas.

A dúvida sobre o que ele pensa, e o que ele sente, volta como um furacão…ele gosta das curvinhas? As minhas? Da
franjinha, pelo menos?

— Você gosta? — eu mal pensei quando, em tom alto, decidi perguntar.

Jungkook ficou surpreso. Sempre percebo quando ele tenta disfarçar sua surpresa. Mas... ele fica vermelho nas
bochechas, e dá para ver que ele engoliu a saliva na boca. Seu pescoço se mexe…

A mão dele já está em sua própria mochila novamente, apertando. Sinto falta dela no meu cabelo, e na minha testa.
Claro que sinto…

— U-uhum… — ele me respondeu, mais rápido do que eu esperava. — Eu gosto…

Ggukie já está olhando para as próprias mãos, com a cabeça baixa. Meu sorriso voltou a crescer.

Os fios da sua franja caem em seus olhos, e eu coloco a mão neles também. Chego a puxar eles para trás, bem
sutilmente, ajeitando com cuidado seu cabelo macio e gostoso.

— Também gosto da sua franja — disse, então, e isso soou um pouco engraçado. — Do seu cabelo...

O cabelo de Jungkook é castanho escuro. Eu pensei que fosse preto, bem preto, igual ao do Yoongi. Mas quando o
sol bate nele, ele fica castanho. E quando tá molhado, fica preto… é fofo. É uma mistura de cores adorável.

Jungkook deu um sorrisinho, e eu coloquei o indicador sob sua franja, tocando sua testa. E joguei lentamente pro lado.

Ele riu um pouco, nervosamente.

— P-preciso cortar o cabelo… — disse, então, balançando toda a cabeça para o cabelo sair do rosto.

Eu ri, porque ele parece um filhote molhado quando mexe a cabeça assim. Ele está todo vermelho e gaguejando,
mas… diferente das outras vezes, agora, ele ainda conversa comigo.

Tenho quase certeza de que se fosse há umas semanas atrás, ele gaguejaria e só diria uma palavra daqui a uns bons
minutos. Gosto dessa mudança… na verdade, gosto de tudo sobre ele.

— Também preciso cortar o meu. Mas o seu tá lindo assim.

— O seu também tá lindo... — rebateu, rapidamente, virando a cabeça para mim.

Isso me pega de surpresa. Nossa! Ele disse pra valer? Ele acha que está lindo?

— Está? — perguntei.

— Sim...

Ele não gaguejou e está olhando pra mim.

Isso me fez dar um sorriso. E dessa vez, quem abaixou a cabeça, um pouquinho, fora eu…

Ai. Estou ficando quente por dentro e por fora. E é bom...

A forma que ele me respondeu foi tão imediata e familiar. Me lembra a vez que ele me ligou de volta de repente só pra
dizer que me adora. E então desligou tão rápido quanto.

E essa lembrança também me lembra outra coisa. Quando ele ligou para mim depois da escola, nessa última terça-
feira, e não falamos de muitas coisas, mas continuamos na linha até sua mãe mandar ele desligar. E ele perguntou, no fim da
ligação…

“Você ainda está com saudades?”

Sua voz estava tão baixa. Eu fiquei pensando naquilo até dormir. Eu dormi tarde naquele dia…

Eu respondi...

“Um pouquinho.”

E então nos despedimos depois de um tempinho falando sobre nossas mães e o horário… mas o meu “pouquinho”,
era mentira. Eu estava com muita saudades dele...

Sempre, sempre vou estar.

Enquanto a gente volta a se olhar, bem aqui, eu me sinto curioso. Curioso sobre…uma atitude. Quero fazer alguma
coisa. Abraçar ele, e algo a mais… sei o que é, mas também não sei… está dentro da minha cabeça, mas não chega até
minha mente… fico só me perguntando o que tanto quero…

— Jungkook!

E, por enquanto, eu não vou descobrir.

Jin apareceu de repente. Ele cumprimentou nós dois e não demorou muito para se sentar e começar a falar com
Jungkook — ainda sim, me incluindo na conversa o quanto pode. Fiquei ouvindo eles falarem sobre esse final de semana em
que, aparentemente, Jeon vai para a casa de Jin, e acabei falando que estou indo para casa de Yoongi agora, ajudá-lo em
um trabalho.

— Você vai descer depois de mim, então — Jungkook disse, e parece um pouco confuso, como se não soubesse o
que sentir sobre isso.

Nem sei o que sinto… mas vou poder ver ele andando depois de descer, porque vou na janela e fico do lado das
portas. Pra mim é o suficiente…

— Sim — eu disse, sorrindo. — Seokjin, você desce depois ou antes do Yoongi?

— Depois! — Sorriu. — Ya, meu ponto é quase o último.

Ri baixinho.

— Parece legal...

Mesmo sem olhar, notei que Jungkook estava olhando para mim. Diminuí o sorriso e lambi os lábios, um pouquinho
nervoso.

Jungkook virou a cabeça pro outro lado, me deixando notar suas orelhas vermelhas…mais uma vontade estranha.
Queria morder elas.

Quase ri do pensamento, mas não deixei eles notarem, porque já bastava ser estranho mentalmente. Nós começamos
a falar de quem desce antes e depois em nosso ônibus. Logo Yoongi apareceu. Estava sonolento e se sentou do meu lado.
Ficamos meio espremidos, e prestei atenção quando meu amigo me disse que pegou mais um livro sobre a matéria do seu
trabalho.

Sendo fim de aula, não demorou muito para nosso ônibus chegar. E então, com ele, nós fomos separados. Seokjin e
Jungkook na frente, depois eu e Yoongi...

Eu meio que gosto disso, mas me pergunto se sempre vai ser assim.Eu com meu amigo, e Jungkook com o amigo
dele.

Talvez um dia possa ser nós quatro. Ou… mas especialmenteeu e ele…

Quem sabe um dia.

Nós nos acomodamos e, como dito, eu fui na janela. Jungkook também foi na janela, e ficamos mais afastados que o
normal.

Foi estranho passar pelo meu ponto e não descer, mas não dei risada disso. Engraçado mesmo foi ver Jeongguk
olhar para mim, com uma expressão fofinha, como se tivesse esquecido por um momento que não vou descer ali.

Eu levantei a cabeça, e nossos olhares se tocaram. Nem sei por que olhei, logo quando ele também estava olhando,
mas Yoongi estava abaixado pegando algo na mochila e Seokjin estava lendo e era o momento perfeito pra olhar para ele.

Ficamos nos olhando e não dissemos nada, e nem insinuamos com os lábios…mas assim é bom.

Até que Yoongi se ergueu e perguntou:

— Você gosta de que tipo de comida?

E, então, conversamos sobre o que vamos comer quando chegarmos em sua casa. E quando olhei de novo,
Jungkook já estava atento a sua janela.

Ver as pessoas descendo foi diferente com pontos positivos e legais. Como as ruas, diferentes e igualmente divertidas
de se passar dentro do ônibus. A parte mais intrigante disso tudo era perceber que quase não conheço o lugar que
atualmente vivo… me limito ao meu bairro e a escola.

Preciso explorar.

O ônibus parou e eu não tive mais tempo de pensar nisso, porque percebi uma movimentação ao meu lado e olhei
Jeon. Ele estava se levantando do seu banco. Ele vai descer agora.
Jin se virou para ele passar por si e fiquei olhando-o. Para Jeon, e sua postura, e a maneira que ele disse “Até” de um
jeito baixinho para Yoongi e eu antes de se encaminhar para as portas… Ah, poxa, ele já vai...

É fofo ouvi-lo se despedir da mesma maneira que me despeço quando desço do ônibus, como no dia em que nos
conhecemos…

É gostoso ver ele fazendo isso agora.

Dei um sorrisinho, suspirando sonhador enquanto seguia ele com o olhar. Seu cabelo e sua nuca pouco visível pelo
casaco me deixavam inspirado.

Assim que Jeon desceu, eu preguei os olhos na janela, vendo-lhe seguir seu caminho para casa, andando
calmamente pela calçada… ele caminha com uma postura incrível. Amo sua silhueta.

Sinceramente? Tenho vontade de sair daqui e segui-lo até sua casa.

Coloco a mão sobre o vidro sutilmente, percebendo-lhe começar a desaparecer da minha vista quando o ônibus voltou
a andar. Droga…

Subitamente, o vi coçar os cabelinhos da nuca e se virar um pouco antes de ir.Se eu não estivesse com meu óculos,
não lhe enxergaria olhar para mim naquele momento.

Foi perfeito. Céus…

Eu meio que... poderia passar a vida inteira com ele.

— Jimin?

Parei de mordiscar a boca e sorrir. Yoongi estava me chamando de novo, então virei o rosto para ele.

— Oi?

Ele deu uma risadinha da minha expressão. Depois, disse:

— Daqui a pouco é o meu ponto... — disse ele. — O que você estava olhando?

Dei de ombros. Apenas sorri, como se dissesse que não é nada demais, mesmo que seja.

Depois de mais um tempinho, meu amigo me cutucou e disse que o próximo ponto era o nosso. Enquanto entrávamos
naquela parte do bairro, percebi que sua vizinhança era minimamente diferente da minha. Tinha casas maiores e mais
luxuosas que minha rua… lá as coisas são mais simples, mas ainda sim bonitas.

Aqui as casas são todas em tons frios e dois andares largos… gente rica,huh.

— Aqui — Yoon disse quando o ônibus desacelerou consideravelmente. — Vamos.

Afirmei com a cabeça. Assim que o motorista parou, ele se levantou e eu fui logo atrás. Não me esqueci também de,
claro, me despedir de Seokjin. Ele também se despediu, com um sorrisinho divertido. Ele é bem legal...

Andando até o fim do corredor, eu e meu amigo finalmente descemos do ônibus, juntos, e as portas atrás de nós se
fecharam.

Só então eu percebi que estava em um lugar completamente desconhecido. E, ainda assim, era uma experiência
legal.

— Vem — disse ele.

Poderia ser assustador, até. Mas estar com Yoongi me deixava mais calmo e feliz, então estou alegre por estar aqui!

E, olha… pensando bem, até que Yoongi também parece um pouco diferente também. Eu estou um pouco surpreso
com tudo e sei lá, e ele está mais cuidadoso que o normal. Talvez ele também esteja animado como eu… eu espero.

Ele começou a caminhar suavemente pela calçada, e eu o seguia devidamente. Fiquei olhando para as casas bonitas
e enormes, me perguntando se a dele também era gigantesca como todas aquelas, ou se era pequena, ou se era ainda
maior…

Era uma casa mais luxuosa que a outra. Como isso é possível?! Ele é rico!

— Você é rico, é? — perguntei, em um tom brincalhão.

— Pfft. Até parece — ele diz, rindo. E então, para de andar, erguendo o indicador: —Essa é a minha casa.

Olhei para o lugar que ele estava apontando, ainda do outro lado da rua. E meu queixo quase caiu…

Era enorme. Realmente enorme, com várias janelas, e um quintal gigante, e… meu Deus!

— Quantos irmãos você tem?! — perguntei, incrédulo, porque… na boa, cabia gente demais naquela casa.
Não, casa não. É uma mansão!

— Nenhum — ele respondeu, com uma voz engraçada. — Antes de entrarmos em casa, você precisa tirar seus
sapatos. Vou chamar minha empregada Constanttine para recolher nossas mochilas e casacos, e ela vai pedir para a
cozinheira nos preparar um almoço!

Ele disse.

Hã.

Hã?

O quêeee?

Fiquei parado, olhando para ele. Então olhei para a casa. E olhei para ele de novo.

Yoongi estava sério. Mas quando arregalei ainda mais meus olhos pequenos, fitando-lhe, ele se desmanchou em um
riso. Que evoluiu para uma risada alta, acompanhada de sua mão cobrindo sua boca e seus ombros se mexendo
engraçadamente.

— Yoongi?! — chamei, sem entender nada.

— É claro que eu tô brincando! Sua cara tá hilária — disse ele, ainda risonho. Filho da mãe! — Minha casa é só na
esquina, eu não tenho empregada, não. E eu não sou rico. E por hoje, nosso cardápio se limita a comida congelada porque
minha mãe não cozinha.

Por algum motivo, me senti verdadeiramente aliviado por sua confissão. Dei um suspiro, e depois ri também, porque
realmente fiquei muito surpreso quando ele citou, sei lá, um cozinheiro e uma empregada. Isso aí parece coisa de filme.

— Ainda bem — eu disse, sorridente. Mas me parecia curioso a mãe dele não cozinhar.

Ainda demos mais risadas, que foram cessando aos poucos ao que voltávamos a andar. Com cautela, eu notei poucas
pessoas presentes naquela vizinhança. Até porque não tinha nenhuma lojinha por perto, só casas e mais casas. Apenas vi
alguns adultos molhando seus gramados e crianças na calçada, mas nada demais… é, parece cenário de filme.

— Ei — ele me chamou, me tirando das minhas distrações e observações. Estava parado na calçada. — É aqui.

Olhei para o lado, percebendo que estávamos na esquina. E, então, quando Yoongi abriu seu portão, continuei
surpreso com sua casa.

Ela não era tão enorme quanto aquela outra, mas ainda era grande e… extremamente…chique?

— Wow… — eu disse, olhando em volta enquanto entrávamos no quintal.

Seu portão se resumia a uma quase-cerquinha de madeira escura, muito brilhosa e bem cuidada, eu acho. O gramado
estava em perfeito estado e sua casa era em tons escuros.

Meu Deus, ele é rico.

Fiquei fitando tudo, curioso com a passagem para a parte de trás e as plantinhas simples e bem cuidadas. Cheguei a
ver algumas pedrinhas reunidas perto da varanda que dava para a porta da frente.

“Cogumela“ estava escrito em uma delas.

— Ah… — ele murmurou, vendo que eu estava olhando. — Era a minha coelhinha.

Oh…

— Caramba… — eu disse, vendo a outra pedrinha. — Ela viveu por oito anos?

Afinal, estava escrito ali “De 1973, até 1981”. Eu nem sabia que coelhos poderiam viver tanto…

— Sim — disse, e riu. — Eu ganhei quando tinha seis anos, ela viveu bastante… mas tem coelhos que vivem ainda
mais.

— Vi em algum lugar que eles viviam uns três anos… — eu disse, um pouco confuso sobre minhas memórias.

— Ah, é — ele murmurou. — Mas só os selvagens, porque eles vivem perigosamente, mas a minha não. Eu cuidava
da Cogumela direitinho.

Sua frase me surpreende um pouquinho. Acho que é uma das primeiras vezes que escuto Yoon falar de um jeito
adorável. Imaginar ele cuidando de uma coelhinha é muito fofo.

Dei um sorrisinho, deixando de olhar as pedrinhas.

— Tenho certeza de que sim — eu disse.

Ele balançou a cabeça, coçando a nuca levemente antes de continuar seguindo até a varanda. Lhe acompanhei.
Subimos os poucos degraus e paramos na porta da frente. Uma bela porta da frente, vale ressaltar... era toda marrom,
com aquela espécie chique de maçaneta.

Deve ter custado o salário da minha mãe vezes mil. Heh.

Yoongi tirou a chave da mochila e enfiou na fechadura. Logo ele abriu a porta e entrou dentro de sua casa, comigo
atrás de si.

— Bem-vindo… — disse, então.

Eu… bem. Eu fiquei ainda mais surpreso.

Que. Luxo.

— Yoongi — murmurei, olhando em volta. — Você disse que não era rico!

Eu realmente estava surpreso.

A casa dele era toda decorada, com quadros e cores combinando. Tinha uma lareira, sofás enormes e janelas com
cortinas bonitas. Estava incrivelmente limpa e bem organizada, e todos os móveis pareciam bem feitos e caros. Sério…
parecia uma casa de novela!

O chão era puro de madeira escura, como toda a decoração da casa: tons de cinza, marrom escuro e preto.Parecia a
casa de um vampiro.

Era a cara do Yoongi, meu Deus!

— Eu não sou rico — disse ele. — A minha mãe é que é.

Ok, ele me pegou de jeito.

— Você… — Dei risada. — Você é genial. E sorrateiro.

Yoongi deu um sorrisinho, movendo a cabeça como se dissesse “É, eu sou mesmo”.

Da mesma forma, eu encarei toda a decoração com surpresa e admiração. Yoon abriu as cortinas da sala, iluminando
o lugar e o deixando ainda mais bonito… wow. Que casa, hein…

— Quer deixar as coisas lá em cima enquanto eu esquento alguma comida grudenta? — ele perguntou, olhando para
mim, que ainda explorava todo o cômodo com devoção.

Ri. Comida grudenta.

— Sim, claro — eu disse, enquanto ele me dava sua mochila.

— Meu quarto é na segunda porta do corredor — disse ele. — Pode deixar em cima da minha cama. — Ele se referia
as mochilas.

— Tudo bem — eu afirmei, sorrindo.

Yoongi apontou para as escadas de maneira quase desleixada, exatamente do jeitinho que ele é. Eu apenas segui
para lá, vendo-lhe tomar seu caminho para o outro lado. Provavelmente é a cozinha…

Determinado a fazer o que ele me pediu, apenas subi as escadas e fui parar no segundo andar. Mas enquanto olhava
as paredes para descobrir qual era a segunda porta — tinha quatro portas ao todo, ele deveria ter me dito de qual lado era!
—, me deparei com fotos suas pregadas em quadros na parede. Ownt...

Uma em especial me fez dar um risinho. Era Yoongi com um sorriso gigante, mostrando sua gengiva saliente e os
dentes pequenos. Ele estava segurando um coelhinho… é a Cogumela, com certeza.

Ai. Tão fofo! Queria que Yoon fosse super fofinho assim hoje em dia. Eu ia apertar as bochechas dele até a
eternidade!

Além do mais, seu sorriso continua o mesmo, e isso é bem feliz. Yoongi tem alguns charmes e eu tenho certeza de
que seu sorriso é o maior deles. É bem bonito…

Eu ainda estava segurando as mochilas, e enquanto olhava a outra foto, ouvi o telefone tocar lá em baixo. Sem
querer, isso me fez parar no lugar, e eu tentei ouvir. A voz de Yoongi soou bem calma, falando com alguém sutilmente.

— Uhum… — ele dizia, e era um pouco difícil de entender. — Não tem problema. Já foi a semana inteira assim
mesmo — disse, e sua voz não estava carregada de muita emoção. Era exatamente como ele falava comigo, no primeiro dia
de aula. — Tá. Tchau.

E então o barulho do telefone se encontrando com o gancho. E depois silêncio total.

Hum… espero que não seja nada sério. De qualquer jeito, eu nem deveria ter parado para ouvir.

Tentando esquecer isso, abri a segunda porta do lado direito, o que foi uma bola fora, porque era a porta do banheiro.
— Hm… — Fui até o outro lado do corredor e abri a porta.

E, é...

Meu. Deus

Esse com certeza é o quarto do Yoongi!

Era o quarto mais… personalizado que eu já tinha visto. Não que tivesse esculturas, ou quadros, não, nada disso.
Mas era a cara dele! O quarto dele parecia ele. Sério mesmo.

As paredes estavam pintadas de preto, e a cama estava completamente bagunçada. Uma das paredes estava coberta
de pôsters e o armário longo tinha gavetas abertas e roupas penduradas, mostrando grande diferença entre seu quarto —
uma bagunça tremenda — e o resto da casa — lindamente organizada.

Vi uma pilha de discos, e mais um armário cheio deles. Tinha fones, e uma escrivaninha, e… era perfeito.

Esse quarto é o próprio Yoongi. Sério.

Dei uma risadinha, explorando um pouco. Fui até seus discos, olhando de relance, depois fui até a cama, sentando-
me nela. Colchão de mola. A vontade de pular é enorme!

Deixei as mochilas ali. O quarto de Yoongi tinha todo seu cheiro, e mais de perfume, e… bem era um cômodo bem
viril.

Dei um suspiro, enrolando um pouco ali dentro. Toquei meus olhos em cada canto, me deparando com uma prateleira
cheia de… copos personalizados?

Eram um pouco infantis, até. E não estavam bagunçados. Para falar a verdade, estavam um tanto quanto intocados…
não demorei para forçar a vista e ver que estão todos empoeirados.

Será que significa alguma coisa?

Balancei a cabeça. Me levantei e fui até a porta do quarto mais uma vez, pronto para sair… só dei mais olhada na
escrivaninha, porque tinha uma fita em cima dela. Olhei. Van Halen.

Ok. Eu estava prestes a sair — depois de xeretar o bastante — após vê-la.Mas...

Algo em especial, perto da porta, em uma pilha de gibis, chamou minha atenção…

Lá estava um disco que eu já tinha visto antes. Andei até ali, e me abaixei o pegando e analisando.

The Beatles.

Hum…

Ah.

— Ah!

Não pude evitar exclamar ao notar… é claro! Esse é o disco que ouvi na loja de discos, com a música doSha la la la
la…

Dei um sorrisinho, me lembrando da imagem de Jungkook conversando com os outros, naquele dia, e agindo tão
bonitinho. Ahh, que saudade!

Virei o disco para ver o nome da música que escutei naquele dia mais uma vez.

Digo, era o que eu queria. Ver o nome, tentar me lembrar… e talvez perguntar se Yoongi tinha alguma fita com ela
para me emprestar.

Mas, o que estava escrito ali, me surpreendeu. E não pude pensar em mais nada depois.

“Do seu amigo que não aguenta mais seus gostos metaleiros e suas caçoadas,

um pouco de amor e música de boa qualidade! Aproveite o melhor dos Beatles!

Com todo amor,

Taehyungie!”

Espera… Taehyungie? Seria o Tae?

Está assinado… 1982…


Ano passado?

Ué, mas… se Yoongi e ele se conheciam, por que Yoongi não se importou ou disse nada quando eu falei sobre o
clube e o Tae?

Será que…?

— Jimin?

Ah.

Olhei para trás. Dei de cara com Yoongi, na porta, olhando para mim com curiosidade.

Apertei o disco, um pouco envergonhado. E o fitei também…

Ai meu Deus, estou mexendo em suas coisas sem permissão.

— Yoongi... — eu murmurei, encabulado. — Desculpa, eu acabei dando uma olhadinha nos seus discos — eu disse,
ficando de pé, ainda segurando Os Beatles nas minhas mãos.

Ele balançou a cabeça, relaxado e distraído.

— Tudo bem, se não pudesse, eu não deixaria você entrar no meu quarto — disse ele, indo até a cadeira da
escrivaninha, se sentando. — Eu pensei em arrumar, até, mas aí eu estaria mostrando uma versão falsa do meu quarto e de
mim, e não seria legal. Sei lá.

Ele disse aquilo tudo com naturalidade, mas seus dedos estavam cutucando a fita do Van Halen um tanto quanto
rapidamente. Hmm.

Aff, meu amigo é um fofo.

— O seu quarto bagunçado é bem legal — eu disse, sinceramente, porque era. — Não seria tão legal assim se
estivesse arrumado.

Yoongi deu uma risadinha.

— Eu acho que sim… — Ele pousou os olhos no disco que eu segurava. E, por uma expressão surpresa, percebi que
ele só notou qual deles está em minhas mãos agora. — Ah… — ele soltou.

Olhei para o disco… e então olhei para ele.

O que foi esse Ah?

— Erm... — Eu pigarreei. — Peguei esse aqui naquela pilha… você e o Tae são amigos?

Yoongi ficou quieto. Estranhamente quieto, e desviou o olhar. Ele ficou cabisbaixo e respondeu mais rápido que o
esperado:

— Não.

Sua voz saiu comum e levemente fria… exatamente como estava quando ele falou no telefone, lá embaixo.

Dei um suspiro… andei até a cama dele e me sentei, ainda com o disco em mãos. Ele parecia hesitante naquela
resposta… então, perguntei novamente:

— Não mais…?

Yoon, ainda cabisbaixo, girou em sua cadeira de rodinhas, ficando de costas para mim.

— Algo assim — disse. — Ele me odeia agora.

Franzi o cenho, incrédulo e um pouco impulsivo ao perguntar:

— Por quê?

Ele deu de ombros, girando mais.

— Uma coisa aí.

Ok… ele não quer falar.

É um pouco lento meu raciocínio com amizades, mas com Yoongi, aprendi que algumas coisas não devemos falar, ou
forçar. Ele demonstra quando fica desconfortável, ou quando quer encerrar uma fala… ele tem seus feitios que, com o tempo,
aprendi os segundos significados que carregam. Talvez seja por isso que a gente se dê tão bem.

Mesmo que eu queira saber o porquê dessa possível briga, não posso ser um enxerido.

Então, ainda curioso, vou por outro lado:


— Hmm. Ele é bem animado — falo, ainda olhando os discos.

— Ele é — disse, dando uma risadinha. Oh… — Mas ele não era assim não... teve um dia que ele simplesmente
acordou desse jeito e ficou para sempre.

— Sério? — eu disse, prestando atenção.

— É… ele é diferente do Hobi. — Deu de ombros, como se não se importasse. — Deixa pra lá. Vamos comer.

Não me levantei para descer… apenas fiquei parado, ali.

O Hobi…?

— Hobi? — Franzi o cenho. — O Hoseok?

Me lembro de ouvir Tae o chamando assim… e de Hoseokie também.

— É.

Ele girou a cadeira mais uma vez. E já não estava mais rindo…

Ficamos em silêncio por uma quantidade considerável de tempo. Antes que ele quebrasse aquele silêncio, eu decidi
indagar, com cuidado e compreensão:

— Quer conversar sobre isso?

Yoongi parou de girar a cadeira aos poucos… até que ela estava parada, e ele também.

Ele deu um sorriso amuado.

— Não. — Olhou para mim. — Não por enquanto.

Os olhos dele… ele estava sendo sincero.

Isso está bom. Entendendo-lhe, eu dei um sorriso também, bem calmo.

Só então, deixei o disco sobre a cama. Me levantei e fui até ele calmamente, acariciando minha barriga .

— Qual a comida grudenta de hoje?

Ele olhou para mim e deu uma risada significativa depois de todo esse climão.

— Tem lasanha pra você, com um arroz com verduras sem gosto — disse ele, se levantando também. — Já eu vou
comer um espaguete estranho de cenoura, que ficou mole demais, e horroroso. Mas também vou querer arroz porque se não
eu morro de fome. Ah, tem batata e um molho igualmente horroroso, mas aceitável.

Eu ri. Pensando bem, Yoongi nunca come nada com carne...

— Hmm — murmurei, enquanto ele ia para a porta do quarto. — Parece deliciosa essa lasanha, ó.

— Com certeza. A possível falta de sabor, hummm… — ele entrou na brincadeira.

— Hummmm…

Chegando na escada, nós nos olhamos e demos risada da nossa própria palhaçada. Só depois descemos e
começamos a falar de outra coisa, como a Cogumela, Van Halen e o trabalho que iríamos fazer depois de almoçar.

Eu cheguei a pensar que estar na casa de Yoongi me daria um sentimento extremamente peculiar e diferente e,
confesso, estava morrendo de medo da mãe ou do pai dele serem bravos e, sei lá, brigarem comigo porque sou ruivo —
depois da escola eu não duvido de mais nada.

Mas enquanto comíamos aquele arroz maçudo sem gosto, percebi que estava muito confortável, mesmo que fosse
diferente aquele lugar tão luxuoso e decorado Eu até provei aquela espécie de almoço dele com, sei lá, cenoura, e até que
não era tão ruim. Mas estava todo molengo... blé.

Me perguntei se um dos pais dele iriam chegar, e esperei ele dizer. Mas ele não disse nada.

— Quer mais? — ele perguntou, se referindo a limonada que fez.

Era a única coisa fresca e, sim, estava gostosa.

— Não, valeu — eu disse, mas estava negando por educação.

Sei lá, né…

— Qual é? — Ele olhou bem fundo nos meus olhos, com as bochechas cheias de arroz. — Para com isso, você quer
ou não?

Hnf. Às vezes me esqueço que esse lance de negar ou falar por educação não é muito a praia de Yoongi.
— Quero.

Muito menos a minha.

Ele encheu meu copo de limonada e nós comemos mais. Na verdade, comemos tanto que ficamos com sono e
preguiça de fazer o trabalho… eu queria poder dormir, e Yoongi, aparentemente, também, porque seus olhos estavam
pesados e ele nem dizia nada.

Estávamos quase debruçados na mesa.

Alimentados e com sono…

— Yoon… — chamei. — O trabalho.

Ele piscou um par de vezes. E bocejou. Acabei bocejando junto.

— A gente podia fazer outro dia, sei lá — disse. Dei uma risada arrastada.

— Mas a gente já pegou os livros…

— Ah, é…

Continuamos em silêncio, banhados de preguiça…

— Deixa eu te perguntar uma coisa? — chamei ele, sem pensar direito. Não esperei ele responder e perguntei de uma
vez: — Quando você pensa demais na Niuke, você não consegue dormir?

Yoongi se agitou, se remexendo na cadeira.

— Quê?!

Ri da reação dele. Até parece que ele tomou um choque.

Dei risada, preguiçoso, enquanto via sua pele branquinha ficar toda vermelha.

— Ah, vai... — murmurei, sorridente e muito sorrateiro. — Não precisa negar, eu já sei de tudo.

— Não tem nada pra você saber!

— Aham… — Ri mais.

Yoongi bufou. Depois se debruçou na mesa de novo, tocando a testa nela.

— Por que você tá me perguntando isso? — murmurou, com a voz arrastada e a cara na mesa.

— Curiosidade… — Mentira.

Eu queria saber umas coisas… talvez ele goste tanto dela quanto eu gosto de Jungkook.

— Hmm — ele balbuciou, erguendo a cabeça. — Te respondo isso, mas você precisa responder uma coisa também.

Gostei da ideia, então levantei a cabeça também. Olhei nos olhos dele e afirmei com a cabeça.

— Pode perguntar.

— Você… — Ele franziu o cenho. — Você gosta da Jieun?

Ah.

— Gosto, ué.

Estou um pouco decepcionado, eu admito. Que pergunta mais sem graça…

— Gosta? — Ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Foi tão fácil dizer, assim?

Eu pressionei os lábios, pensativo... até que eu percebi.

Ahh... Yoongi acha que estou falando daquele tipo de gostar.

Pfft. Que bobinho.

— Ei, ei, espera aí. Eu gosto dela — eu falei, com um biquinho. — Mas só como amigo.Dããã...

Yoongi me encarou. Depois riu levemente.

— Ah, tá.

Ri também.
— Por que você achou que eu gostava dela desse jeito? — indaguei, confuso.

— Sei lá… às vezes você me faz essas perguntas nada a ver, e eu não entendo nunca — disse ele. — Mas aí pensei
que você pudesse gostar dela.

Eu pensei nas perguntas que fazia à Yoongi, e… bem. Eram todas simples, e eu realmente perguntava para saber se
nós sentimos igual em certas situações.

Como uma vez, quando perguntei se as bochechas dele ficavam latejando depois de ele ficar muito vermelho. E ele
perguntou de volta: “Por que diabos eu ficaria muito vermelho?”, e eu respondi: “Por causa da pessoa que você gosta, né” e
ele ficou confuso.

Também estou confuso, porque gostar de Jieun é impossível. Na boa, somos só amigos.

— Eu não gosto dela — eu disse. — Mas eu sei que você gosta da Niuke.

Ele bateu a cabeça na mesa de novo.

— Cala a boca.

Eu ri. E deitei a cabeça na mesa de novo também.

Ficamos nessa posição, levemente mortos, encerrando o assunto sobre garotas totalmente.

Fiquei um pouco intrigado por perceber que essas perguntas que faço são sempre relacionadas a Niuke. Mas é
porque quero saber se ela é como Jungkook… de certa forma...

Isso até que é um pouco estranho... espera aí.

Sem tempo para pensar nisso, escutei o telefone tocar lá na sala. Yoongi teve que se levantar para atender, e foi
resmungando daqui até lá. Dei risada disso.

Contudo, eu me sentia tão sonolento que nem pude ouvir o que ele estava dizendo dessa vez. Quase me arrastei
para fora da cadeira, pegando os pratos e as louças que usamos, indo até a pia para lavar… afinal, sou um rapaz educado.

Quando Yoongi voltou, ele pareceu um pouco ofendido com isso.

— Por que você tá lavando? — indagou, com as mãos na cintura. Sua voz ainda estava lenta. — Não precisa.

— É pra acordar… — eu disse, com a voz lenta também.

Yoongi ficou parado por um tempo, como se estivesse processando o que eu disse. Ou talvez processando o sentido
da vida…

Ele estalou os dedos no ar, de repente.

— Já sei. Vou fazer café.

Dei um sorriso, porque era uma ótima ideia.

— Graças a Deus — eu disse, risonho. — Posso tomar o meu com leite?

— Sim — disse ele, abrindo os armários e pegando pó de café. Foi até sua geladeira chique e enorme e pegou o leite.
— Vou fazer rápido enquanto você termina aí.

— Boa!

Só então, colocamos as mãos em obra e nos permitimos acordar. Adocei meu café e enchi com leite e ele encheu
uma caneca de café puro, sem nada. Ele disse para subirmos, e fomos tomar nossas bebidas lá em cima, abrindo os livros.

Fazer trabalhos sempre é cansativo, mas estar com Yoongi deu um toque feliz ao acontecimento. Nós nos sentamos
juntos, ficamos só de meia e eu comecei a lhe dar dicas sobre que trechos pegar e como pôr no trabalho. O ajudei a achar
alguns, mas a grande maioria, Yoongi achou sozinho e me perguntou se estava certo. Ele é mais inteligente do que pensa.

Demorou bastante para termos o rascunho do trabalho inteiro… ficamos muito tempo, trocando de lugar no quarto e
nos deitando de maneira diferente porque sempre cansávamos de uma posição e trocávamos para a outra.

Quando enfim terminamos, Yoongi me deu os rascunhos e eu li. Os tópicos estavam bons, corrigimos as palavras e
então só faltava passar a limpo.

O tempo até que passou rápido, mas a verdade é que foram quase duas horassó naquilo. E nem estava oficialmente
feito!

— Credo, que cansaço — ele disse, pegando a caneca em que bebeu café duas vezes. — Tô com preguiça de fazer
mais café.

— Ainda bem! Porque se você beber mais, vai ficar com uma tremedeira danada — eu disse, enquanto ele se sentava
na escrivaninha, com seus materiais.
— É verdade. Aff. — Bufou. — Depois disso eu só quero ir dormir... — disse ele, balançando os ombros.

Ele começou a estalar os ossos do corpo e eu fiquei quieto, ainda na cama. Até que ouvi um barulho lá fora e pensei
que pudesse ser aqui. Talvez sua mãe, ou seu pai.

Ainda estou curioso sobre isso, então pergunto:

— Sua mãe e seu pai chegam que horas?

Yoongi deu um suspiro em resposta.

Só aí percebi que não era lá muito simples…

Droga, Jimin. Maldita curiosidade...

— Hum… — resmungou, virando a cadeira giratória até estar de frente para mim. — Meu pai, nunca. Minha mãe
talvez apareça no domingo.

Arregalei os olhos. Nunca? Mas...

Domingo? Mas é daqui a dois dias…

O que isso significa? Ele foi muito direto e isso me pegou de surpresa.Mas eu não queria isso. Não queria que a
situação ficasse estranha, mesmo que eu tenha me sentido surpreso e triste. Eu não quero Yoongi fique desconfortável me
dizendo coisas íntimas assim… afinal, somos amigos.

Então, eu completei:

— Meu pai não volta nunca, também — disse, e às vezes é melancólico dizer isso… mesmo que eu não tenha
conhecido ele. — Mas… por que só no domingo?

Ele parecia mais confortável agora. Talvez por causa do que eu disse sobre meu pai.

— Porque ela só trabalha, e trabalha, e trabalha… às vezes ela volta e às vezes não — ele disse. — Por que o seu pai
não volta nunca?

— Ah… porque ele morreu faz muito tempo — eu respondi, simplesmente.

A sensação é de que entrou uma corrente fria no quarto depois da minha fala, até. Yoongi pareceu ficar realmente
surpreso, ao mesmo tempo que constrangido e triste.

— Sinto muito… — disse ele. — Me senti idiota. O meu pai ainda tá por aí.

Neguei com a cabeça, querendo que ele não se sentisse mal sobre isso, porque não precisava.

— Tudo bem, é passado, e eu não me sinto mais triste sobre isso — eu disse, sorrindo compreensivo. Yoongi
continuava pressionando seus lábios, envergonhado. — Mas sua mãe fica longe por todo esse tempo? Que droga…

— É… — sussurrou.

— E o seu pai?

Diferente do assunto sobre Taehyung e Hoseok, Yoongi não parecia desconfortável em falar sobre seus pais. Ele
parecia hesitante, mas com vontade de falar um pouco mais... a forma que ele desviava o olhar, mas não encerrava a
conversa, demonstrava isso.

Eu sei porque, no fim, já conheço Yoongi muito bem.

— Ele foi embora — disse ele. — Já faz um tempão. Mas ele fica me mandando aquilo sempre que eu faço
aniversário.

Yoongi apontou para a prateleira cheia de copos. Ah, então era isso.

— Ah sim — eu disse, olhando. — Entendi… — Voltei minha atenção para ele.

Ficamos sem falar nada por segundos que foram o suficiente para eu pensar em tudo que ele acabou de me dizer e
em como eu me sinto sobre isso. Estou nessa casa luxuosa, que parece boa de primeira, mas ela não é uma casa feliz.
Yoongi atende telefonemas às vezes, muito bravo… e tem aquela comida grudenta horrível.

É um pouco triste… e é um pouco solitário também.

— Yoon… — chamei de novo, olhando para ele. — Às vezes você podia, hum, sei lá, comer lá em casa depois da
escola… a minha mãe ainda tá aprendendo a cozinhar algo decente, mas é melhor que o arroz das verduras sem gosto que
você tem aqui.

Yoongi deixou de encarar as próprias mãos, olhando para mim também. Ele deu uma risadinha.

— Tudo bem — disse, sem hesitar. Isso me deixou surpreso e... feliz. — Acho que qualquer coisa é melhor que essa
comida grudenta.

— Realmente… — Eu ri também. — Mas... você entendeu, né? Você pode ir lá em casa sempre.

Yoongi ficou em silêncio por tempos, e fiquei com medo de ter dito algo de errado…

Mas no fim, ele apenas deu um sorrisinho.

Então, se virou para a escrivaninha de novo.

— Entendi.. — disse ele, e sua voz estava diferente do comum.

Ele... ele parecia feliz. Então fiquei feliz também, porque nunca me senti tão próximo de Yoongi quanto agora.

Ele terminou de beber o seu café, que já deveria estar meio ruim, porque ele fez um barulho de desgosto, me fazendo
rir de novo.

Sendo assim, Yoon olhou para mim de esguelha, perguntando:

— Quer ouvir música?

Sorri.

— Claro que sim!

E encerramos mais um assunto.

Yoongi sorriu e apontou para o armário no canto da parede.

— Tem um rádio ali que pega umas estações legais. Mas a melhor já tá configurada — disse ele, enquanto eu ia até lá
e abria o armário, me abaixando para pegar. — Esse aí… — disse, ao me ver tocar um rádio.

Peguei aquela espécie de rádio enorme… wow.

— Como que liga? — perguntei, colocando sobre a cômoda. Não tinha tomada e, sim. Ele tem um armário e mais uma
cômoda.

— Nesse botão com adesivo — disse ele, e logo eu cliquei. — É a pilha. Agora ajusta pra esquerda até a música estar
limpa… mas puxa as antenas antes.

Fiz o que ele pediu. Até que fui ajustando, ajustando, e… bum! Música.

— Wow — eu falei, rindo e aumentando o volume (a única coisa que sei fazer num rádio).

A música que estava tocando era boa e eu me sentia incrível por reconhecê-la de primeira. Não me lembro o nome,
mas era de uma banda das fitas de Jeongguk. Era muito boa.

— É muita sorte nossa alguma coisa pegar nesse fim de mundo — ele disse, mas estava sorridente, mesmo que esse
fim-de-mundo fosse o lugar que a gente vive. — E eles dizem o nome da música no final, e é bem rápido e enrolado, mas dá
pra entender, até… então se gostar de alguma coisa, fica atento.

Eu dei um sorrisinho e balancei a cabeça positivamente, ficando de bom humor enquanto a música soava.

— Sim, senhor — eu ainda disse, brincando. Ele riu. Eu fui caminhando até seus discos. — Yoon, posso ver seus
discos?

Chamá-lo de Yoon tão frequentemente tem sido um pouco diferente pra mim, porque inventei esse apelido há pouco
tempo. Mas Yoongi parece não se importar, então tudo bem.

Já em resposta a minha pergunta sobre os discos, meu amigo parou de escrever no papel para olhar para mim, sobre
seu ombro… até que respondeu:

— Pode... mas com cuidado, tá?

Afirmei com a cabeça, pensando que ele era igual ao Jungkook em relação à isso… ri baixinho.

— Pode deixar.

***

Quarenta minutos. Foi o tempo que Yoongi precisou para terminar de passar a limpo todo o seu trabalho de história.

Realmente foi um longo tempo fazendo apenas isso e até eu me cansei um pouco. Meu bumbum começou a doer de
ficar sentado no chão, vendo os vinis, então fui para a cama ler os gibis. Mas só até Yoongi acabar de passar a limpo, já que
ele logo me pediu para fazer a capa do trabalho para ele, e eu aceitei, porque amo fazer as capas!

Quando eu terminei e vi, Yoongi estava deitado na sua cama…

Eu chamei ele uma vez, para perguntar se a capa que fiz estava boa, mas ele já estava dormindo.
Sério. Ele está fazendo um barulho baixinho de ronco, e realmente capotou muito rápido… bem, até que não é uma
surpresa, já que quando topei fazer a capa, ele se levantou e se jogou na cama com tudo, soltando um super ruído de
cansaço. Eu estava certo em imaginar que não precisaria de muito tempo para ele cair no sono… hehe.

É até estranho, porque ele bebe, bebe, e bebe café e ainda assim dorme. Até na escola. Às vezes cafeína não surte
efeito nele nesse sentido.

Enfim. Estou aliviado por ter trago meu caderno de ideias, porque agora mesmo estou revisando e relendo o que
escrevi esse mês… todas as histórias têm o mesmo conceito e a mesma época, e talvez seja por isso que tudo está dando
errado. Preciso saber o que devo escrever antes de escrever…

Logo me lembro da minha mãe e seu sábio conselho. Escrever sobre algo que conheço...

Isso pode ser um pouco complicado, já que quero escrever romances…

Romances…

— Fiquem com as últimas duas músicas antes de fazermos uma pausa até à noite para os comerciais!— O carinha
do rádio disse, atrás de mim, me fazendo olhar para o aparelho de som. Dei uma risadinha. — Eu sei que vocês gostam
desse pop! Fiquem com os Beatles!

Um barulho fofo.

E então…

Sha la la la la…

— Ai meu Deus… — Eu dei uma risadinha, chocado, porque… realmente estava tocando essa música na rádio logo
depois de eu ter lembrado dela?

Eu sorri. Beatles… eles são ótimos!

Fiquei tão feliz e agitado em ouvir a música que acabei me encostando todo na cadeira giratória e aconchegante de
Yoongi… minha alma ficou flutuante e a sensação é toda macia. Tipo, macia. Parece que tudo está macio aqui dentro, e até
aqui fora…

Dei um sorrisinho, fechando meus olhos… não pude evitar me lembrar do rostinho de Jungkook no momento em que
ele balançou o disco para mim, naquele dia, e tudo estava fazendo Sha la la la la dentro de mim por causa do seu jeito… ai…
que coisa mais estranha!

Fico sorrindo aqui, e parece que estou flutuando na palavra estranho. É bem estranho… qual é? Vivi todo esse tempo
normalmente, e então descobri que Jeongguk existe e que ele é loucura. E é uma das pessoas que mais quero, o tempo
todo… eu nunca quis alguém, de fato.

É um pouco estranho ele ter esse efeito poderoso sobre mim… de me fazer ir para à escola só para vê-lo de longe e
sentir que valeu a pena. Como hoje.

Girei na cadeira, arrastando os pés com as meias pelo chão… ri de novo.

Não me importo de ser um pouco estranho se é tão bom… qualquer pequena coisa me deixa feliz por muito tempo, e
nem me deixa dormir direito. Deveria ser ruim, mas é bom… é bom demais pra eu me importar por ser estranho.

What can I do? Then it's true

Meu coração deu uma geladinha de susto, porque no mesmo momento me lembrei de Jeongguk e sua expressão
quando lhe entreguei o disco naquele dia.

“Não é estranho…”

Ele disse isso…

E ele tinha razão.

Não é estranho… se ele diz, é verdade, porque Jeongguk sempre é verdadeiro.

Jeongguk, Jeongguk…

Tento parar de pensar nele, porque sei o que vai acontecer se eu continuar. Mas não consigo! Meu coração começa a
bater fortemente, porque estou tão feliz em ter ele aqui, em minha vida, e em minha mente… ele não sabe, mas faz tanta
parte de mim e me deixa tão feliz que às vezes eu acho estranho. E até me assusto.

Sinto que vou sentir tanta saudade dele que não vou conseguir me controlar, e vou acabar querendo ligar para ele… o
problema é que não o avisei, então não posso o fazer, porque ele tem que atender, ou algo assim… e me ligar. Poxa, poxa,
caramba...
Estou tão eufórico e agitado, e tudo porque estou morrendo de saudades de Jeongguk. Isso tem acontecido muito…
chega um momento do dia, da noite, e às vezes até da meia-noite, em que não consigo parar de pensar nele e sinto muita
falta dele, e isso tira todo meu sossego e meu sono. Fico ansioso para vê-lo logo, e fico imaginando-lhe nos momentos mais
adoráveis… isso tira minha cabeça do mundo e eu vou para outro planeta. Um planeta na minha mente, em que só tem
Jeongguk e eu.

Estou sempre lá, nesse planeta, na minha cabeça. Eu vivo nesse planeta, mas o dono dele é Jeongguk.Ele é dono de
muitas coisas.

Abri meus olhos, suspirando, olhando para o teto… está tão bom aqui, e queria tanto que Jeongguk pudesse passar
pela porta desse quarto agora mesmo. Então eu iria sorrir e ficar tão agitado que não ia me segurar… pegaria na mão dele e
o pediria para me abraçar de novo. Ou eu mesmo faria isso.

Droga… eu queria voltar até hoje de manhã, faria mais coisas com ele se pudesse. Mas, mesmo sem tocar as mãos,
foi tão importante estar com ele hoje e falar daquelas coisas. Ele gosta da minha franja. Será que Jeongguk me acha bonito?

Balanço a cabeça e giro mais uma vez, mas estou tão agitado que isso resulta no meu cotovelo batendo no caderno
de ideias e quase caindo no chão. O peguei no ar.

Dei um suspiro, resmungando comigo mesmo sobre minha distração. Coloquei sobre a mesa de novo, olhando de
relance para a folha branca e… me surpreendendo.

“Escreva sobre o que

VOCÊ

sente!!!”

Ah, meu Deus… é verdade. Eu ia escrever sobre meus sentimentos. Eu escrevi isso hoje de manhã, na aula, antes
das provas.

Com tudo isso acontecendo dentro de mim e tanta saudade, é quase como se eu tivesse achado água em meio ao
deserto. Porque estou tão confuso e tão cheio de sentimentos, e cheio de saudades, e de vontades em relação à Jungkook
que não consigo nem pensar direito. Talvez eu tenha muitas coisas para escrever quando o assunto é ele, porque sempre,
sempre tenho mais a sentir e igualmente dizer sobre esse garoto…

Dou um sorrisinho. Eu deveria tentar? Sim… deveria. Faria como a mamãe disse: escreveria sobre algo que conheço
muito bem.

Sentimentos por Jungkook.

Decidido, pego a lapiseira de Yoongi e viro a página, sem contexto algum… começo a escrever.

Escrevo o que sinto.

“Sempre que eu olhava para ele, eu me enchia de algum sentimento grande que me fazia entrar em desespero e
felicidade. Talvez fosse o resultado de nunca ter sentido isso por alguém. Ou, quem sabe, o constante medo de ele não sentir
o mesmo. Pois, apesar de tudo, ainda quero que ele sinta alguma coisa.”

Sim… eu quero.

“Suas bochechas são lindas e uma das coisas mais lindas que já contemplei.

Ele está olhando para as estrelas brilhantes, e a luz da noite o deixa tão bonito. Seus cabelos balançam de um jeito
único e seus lábios brilham como o sol que preenchia o céu mais cedo, nesse dia que me é tão especial. Suas pintas
parecem únicas em todo o universo, e para mim, elas realmente são. Assim como seu sorriso, carregado dos seus dentes
únicos e que formam risadas tão melodiosas. Gosto até da cor dos seus olhos, e da forma que seus cílios se exibem quando
ele olha pra baixo. Tudo nele é tão bonito...”

Tão lindo.

O garoto mais lindo que já vi…

“Jungkook percebe que estou olhando para ele e dá uma risada sem graça, tímido como sempre. Vejo suas mãos se
moverem e seus lábios serem mordidos, dando lugar as suas covinhas fascinantes.

Ele tenta olhar para mim e não consegue, e isso me faz rir. Ele ri também, mexendo nas próprias mãos, e é tão claro
como ele está embaraçado. Ele tenta disfarçar, mas a coloração nele deixa óbvio.

Ele sempre fica cor de rosa.”

É tão fofo, tão adorável…

“Também fico cor de rosa. E às vezes, mais do que isso.

O efeito que ele causa em mim beira ao desesperador e ao insano.

Sempre que acordo de manhã e o sol entra pela minha janela, peço ao universo para que ele esteja lá. Lá na sala de
aula, mais tarde, porque se ele estiver lá… muitas coisas vão acontecer. Tê-lo lá significa que meu dia vai ser uma aventura
de significados que eu não vou esquecer por muito tempo. Porque qualquer mini interação que temos, mexe comigo como se
fosse absurda, e isso me faz tão bem… até o nervoso e a timidez. Tudo me faz sentir como se eu pudesse derreter no sol.
Eu me desmonto como um quebra cabeças por causa dele, e só ele pode me montar de novo.

Eu gosto dessa parte.”

Me lembro da árvore e de seu abraço…

“Enquanto tudo me preenche, olho para ele, agora, daqui dos meus olhos que limitam tudo que sinto.

Me encho desse sentimento. Está de noite, agora, e estamos embaixo de uma árvore no fim da vizinhança. Não tem
ninguém aqui e é tudo que eu precisava para olhar para ele de perto e notar cada detalhe do seu rosto. Estamos sentados, e
gosto tanto de fitá-lo. Ainda mais quando ele não percebe que estou fazendo isso… é como um segredo meu, sorrateiro e
especial. Um dia, quem sabe, eu posso contar tudo para ele. Tudo que ele quiser.

Seguro sua mão sem pudor, e faço-lhe me olhar. Ele sorri, um sorriso perfeito, e deita a cabeça no meu ombro.

Seu rosto está todo quente e sinto isso em meu pescoço...

“Jimin?” Jungkook me chama. “Sabe, você me deixa tão nervoso…”

Dou um sorriso, segurando sua nuca de cabelos castanhos escuros. Faço carinho, porque adoro isso.

“Você também me deixa nervoso” eu digo, então. “Adoro você.”

“Também adoro você…” sussurra, e sinto seu cheiro pelo ar. Ele se afasta um pouquinho e olha nos meus olhos.
“Sabe, Jimin, você parece um pouco cheio. De sentimentos.”

Eu…

O quê?

Parei de escrever.

Meu Deus, isso é muito estranho, mas está funcionando.

É que… sempre que escrevo, me transporto totalmente para o mundo dos meus personagens e chego a me esquecer
de quem sou, porque… de repente, tudo é sobre eles e seu universo. Isso é bom, e agora estou escrevendo Jungkook e… eu
estou nesse universo em que ele diz coisas que já me disse antes, mas de uma forma diferente.

Mexo minhas mãos, olhando para elas. Então era o que eu devia fazer no dia? Fazer carinho na sua nuca?

A nuca dele corou no dia que eu chamei ele de lindo… ela devia estar quentinha, e tão macia. Eu queria poder tocar.
Eu definitivamente devia ter feito carinho.

Dou um sorrisinho, mesmo que seja um pouco surpreendente. Meu Jungkook, desse universo em meu papel, acabou
de dizer que pareço cheio…

Eu sei do que ele está falando, mas foi espontânea sua fala. Então… não sei o que meu eu, personagem, deve
dizer…

Estou cheio… você sabe do quê, Jungkook?

“Cheio?” pergunto, em um tom risonho, o abraçando mais. “Como assim, Gguk?”

Jungkook dá uma risadinha, e me abraça mais também.

“Os sentimentos estão saindo pelos seus olhos, pelos seus lábios, pelas suas mãos…” ele me diz, me surpreendendo
com tantas observações. “Posso ver cada um deles, por isso me surpreendo e acho… que você está cheio deles.”

Olho para suas costas, descendo a mão da nuca até elas, fazendo carinho na sua jaqueta amarela cheinha.

“Você me conhece…” eu digo, e estou prestes a confessar algo surpreendente. “Você sabe o que são esses
sentimentos?”

Jungkook se afasta um pouco de mim, e ficamos perto como antes. Sem abraços.

Ele olha para o meu rosto, bem de perto. Estamos bem perto… e sinto perigo no ar.

“Acho que sei.” ele responde, então.

Ele…”

Espera.

Espera, espera, espera…

Por quê…?
Jungkook!!!

— Ai meu Deus, ele sabe! — eu coloquei a mão no rosto, desesperado com o fato do Jungkook fictício saber.

Não espera, não é só ele. Sou eu.

Ai meu Deus, eu sei!

Explodi inteiramente aqui dentro. Sério, houve uma explosão tremenda, e não estou surpreso por causa dela, mas um
pouco tonto. Cada coisa se junta na minha cabeça, desesperadamente, e fico tão confuso que não existe mais o rádio, a casa
de Yoongi, o trabalho, ou meu caderno de ideias. Existe Jungkook, só ele, e o que ele sabe…

E o que eu sei.

É tanta confusão que minha mente volta, espontaneamente, à pergunta de Jieun sobre Gatsby.

Eu compraria aquela casa, certo? Mas não por Daisy, em especial, por outra pessoa.

Eu sei, eu sei. Eu sei por quem compraria aquela casa.

É claro…

Eu compraria aquela casa para ver Jungkook.

E isso é óbvio e claro como água para mim.

Se estivesse naquela situação, eu faria tudo como Gatsby fez, porque Jungkook valia a pena. Eu chamaria a atenção
dele com festas, só porque gostaria muito de vê-lo.

Céus… mas Gatsby amava Daisy. Eu sei disso.

Se eu como Gatsby, que comprou aquela casa por sua amada, faria o mesmo que si… eu compraria a casa por
Jungkook?

Ele é meu amado?

Yoongi fazia um ruído peculiar enquanto dormia. Eu sabia que o rádio estava tocando música, mas não conseguia
ouvir os acordes. Simplesmente porque a minha mente ignorava tudo ao meu redor para dar ouvidos somente aos
pensamentos. Quase como se fosse um déjà vu longo...

Sinto as coisas se ligarem, como se dessem as mãos e finalmente se mostrassem... e eu juro que não sei o que isso
quer dizer. Ou se entendo o que quer dizer.

Gatsby sentia amor…

Sinto amor? É claro que sinto amor, sei disso, não sei?

Eu sei que amor se trata de tudo que me deixa feliz por estar aqui, nesse planeta complicado e inexplicavelmente
ruim. Tudo que me faz sentir que o mundo é bom, é amor… eu sei disso, me lembro de pensar nisso há muito tempo antes
de conhecer Jungkook.

Mas agora estou com o caderno de ideias aberto, fazendo a coisa que mais amo fazer… escrever. E o nome de
Jeongguk está bem aqui na minha frente, e eu estou narrando tudo. Percebi que, enquanto contava a história, eu desejava
que Jeon fizesse certa coisa. Aquela coisa que eu não sabia ao certo o que era, mas que sempre quis fazer, que estava me
dando curiosidade e vontades insaciáveis...

Eu sei o que é agora...

Sei, sei. Já sei. Eu…

Quero que Jeongguk… me dê um beijo?

Beijo...

Beijo!

Beijo?

Espera aí…

BEIJO?!

Beijo... citar um beijo dentro da minha cabeça envia um tilt para todo meu corpo. É coisa de doido! Nem vejo quando
jogo a caneta na escrivaninha de Yoongi e fecho meu caderno especial com imensa força. Afinal, foi uma descoberta e…Ai
meu Deus, o que diabos é isso, Park Jimin?!

Céus, céus… tímido, coloco as mãos em frente ao rosto, cobrindo minha boca. As vibrações e aquele calor sobem por
todo meu corpo e o sangue parece se concentrar na minha cabeça e apenas nela, pois ela esquenta e esquenta e é como se
fosse acender fogo e explodir. Jimin pra todo lado!

Oh, caramba. Mas é claro… o que eu estive pensando esse tempo todo?

Embaixo da árvore, e quando senti o cantinho da boca dele nos dedos, quando fiquei fixado… os lábios dele eram
perfeitos e perigosos porque eu queria beijá-los, eu sabia disso… foi por isso que descobri agora? Foi porque olhei tanto no
momento que o perigo se tornou real e então… eu descobri?

Tinha essa partezinha de mim que tinha uma vontade, e eu sabia e não sabia que era um beijo. Quero dar um beijo
nele… claro que quero. Quero dar um beijão nele.

Ai. Cobri meus olhos dessa vez…

Beijá-lo… eu nem sei fazer isso, e eu quero? Por quê? Ai meu Deus... As suas mãos são tão macias e seu cheiro é
tão gostoso. Como seria sentir a boca dele na minha?

Ela deve ser tão doce…

— No que estou pensando? — pergunto à mim mesmo, com as mãos quentes.

Balanço a cabeça. Não pensa nisso, idiota!

Tiro as mãos do rosto e inspiro fundo. Abro meus olhos e… olho para o caderno de ideias fechado.

Então solto todo o ar, bagunçando meus cabelos… pensando em Jungkook e desde que o conheci, e como ele é o
garoto mais lindo que já vi. E mais cativante… e como sempre o achei bonito, e quis segurar suas mãos…

É um pouco curioso… eu não tinha, antes, pensado no que poderia significar. Eu estava sempre só me deixando ir.
Eu sabia que significava alguma coisa — ou pelo menos pensava saber. E agora percebo que é como Gatsby. Quero
Jungkook como ele quer a Daisy. Jungkook é como Daisy... mas ele é perfeito.

Foi por isso que eu disse aquilo para Jieun de maneira tão natural. Foi automático, obviamente. Eu entendia, por isso
respondi tão rápido, mesmo sem saber, momentaneamente, o significado.

Daisy em especial, não. Mas… Jungkook, sim.

— Meu Deus — eu digo, sozinho.

E… por incrível que pareça, minha voz sai risonha ao dizer. Porque é…

Engraçado?

Dou mais uma risadinha. É engraçado. Não acredito nisso...

É só que… eu sempre estou sussurrando que gosto tanto, tanto de Jungkook. Mas nunca vi que gosto tanto dele
romanticamente. É uma grande verdade, e é surpreendente para mim. Minimamente surpreendente eu não ter percebido
antes que o gosto desse jeito.

Me sinto patético… logo eu, tão romântico. Deveria ser fácil perceber!

Que vergonha.

Essa onda de percepção cai em cima da minha cabeça e vários tópicos sobre esse amor me deixam animado.
Eufórico. Feliz. E então... Assustado.

Levemente assustado. É claro que é um pouco diferente… mas é todo amor romântico que já senti em minha vida.

Eu sei que sou garoto e ele é garoto, e isso não acontece muito. Se acontecesse, eu veria, como vejo meninos e
meninas por aí…

Esse fator faz alguma coisa nervosa surgir em meu peito. Essa coisa me faz pensar se tem algo de errado. Pois, por
agora, é apenas comigo. Eu não sei se Jungkook sente alguma coisa. Ele sente?

Poxa vida. Eu quero que ele sinta...

As bochechas dele ficam vermelhas e ele gagueja.Por favor, sinta alguma coisa também, Jeongguk.

Quando o rádio volta a tocar alguma coisa, tirando o lugar das propagandas, a minha mente se ilumina.

Não posso fazer isso comigo mesmo... É claro que não posso!

Não tem uma coisa errada… se tivesse, eu me sentiria muito mal. Não é?

É.

Sem perceber, estou com o cenho franzido e meu rosto não está mais quente. Me vejo pensativo, mas tenho certeza
de que não tem nada de errado nessa confusão de amores. Sei que são meninos e meninas por aí, mas…
O que eu posso fazer se eu, garoto, gosto tanto de Jungkook, garoto também?

Aconteceu porque é amor. Disso eu sei... nós não escolhemos por quem nos apaixonamos, sei disso. Se
escolhêssemos, Gatsby nunca estaria tão apaixonado por Daisy, porque ela é horrível.

Sim, Daisy é horrível. Só ela.

Jeongguk é perfeito.

Outra coisa que eu e Gatsby temos em diferente. Eu não sou como ele nesse quesito.

Eu, com certeza, escolheria me apaixonar por Jungkook.

Gostar dele não é estranho, eu sei que não é, e não vou pensar como se fosse. Pode ser meio diferente, mas eu já
sou muito diferente, e gosto de mim assim. Aprendi a gostar… não posso dar um pé atrás, isso seria cruel comigo mesmo.

Sei disso. E me sinto bem por saber...

E saber tudo isso é um baita alívio. É como se estivesse tudo escuro dentro da minha cabeça… então eu acendi a luz,
e percebi que, mesmo no escuro, tudo já estava lá. Todo meu amor e minhas vontades em relação a Jungkook… já existiam
desde muito tempo. Desde que fiquei fixado na sua boca. Quando dividimos aquele canudo, demos um beijo indireto, não foi?
Eu sabia que sim, por isso fiquei com as bochechas coradas até subirmos no ônibus.

Chego até a me lembrar do “Amor proibido, entre dois garotos”… dei risada, balançando a cabeça.

Besteira. Não é proibido… eu gosto tanto dele. O que estou sentindo é mais limpo e óbvio que qualquer coisa que já
senti antes. Não é proibido. É gostoso.

É maravilhoso, é por isso que sempre fico com saudades. É por isso que sua voz no telefone me dá arrepios e é por
isso que ele consegue me deixar vermelho como ninguém. É por isso que ele é tão interessante… é porque gosto dele
demais, mais do que gosto de um amigo. É um gostar especial e é mais do que já gostei de alguém em toda minha vida…

— Burro… — falei baixinho, para mim mesmo. — Burro. Como não percebeu antes?

Logo eu… pfft.

Chega um momento em que dou tanta risada que meus olhos se fecham e não tenho vontade de os abrir. Yoongi
continua dormindo, e eu continuo sentado na escrivaninha, com a sensação de que o mundo está diferente agora que sei que
estou me derretendo por pura paixão… e é pelo Jungkook..

Minhas bochechas estão quentes e começo a soltar vários suspiros apaixonados. Abro meu caderno novamente,
sutilmente… só para imaginar Jungkook de novo… só para escrever mais...

Começo a ler o que escrevi até agora… e pensar em Jungkook fazendo aquelas coisas, e imaginá-lo tão bem em
minha mente me faz sentir tão tímido. É como se ele estivesse bem aqui, juntinho de mim… me dizendo todas essas coisas.

Pego minha caneta. E escrevo mais...

“... Ele se aproxima mais um pouco, e dá uma risadinha, como se soubesse de todos os meus segredos.

Murmura com os lábios, livre, como se me pedisse para falar por mim.

E eu falo...

“Jungkook”, eu lhe chamo, olhando bem fundo em seus olhos. “Estou apaixonado por você…”

Jungkook olha para mim. Penso que ele vai ir embora, ou dizer que amá-lo é estranho, mas ele fica ali, e aperta sua
mão na minha.

Vejo a coloração surgir em suas bochechas, e subirem pelas orelhas, como se competissem entre si: quem irá corar
mais com minha confissão?

Ele está surpreso. E quando deixo minha mão cair sobre a sua, me surpreendo porque ele me puxa para perto.

“Jimin”, Jungkook chama, com um belo sorriso, exibindo todas as covinhas que causam fraqueza em mim. É como se
ele soubesse. “Também estou apaixonado por você… mas preciso ter certeza de que é real. De que é amor verdadeiro.”

Ele traz minhas mãos, ao seu enlaço, para perto dos lábios. E as beija.

“Eu sei o que é”, digo, porque realmente sei. “Quero beijar você...”

Jungkook sorri em resposta a minha fala. Ele sabe que sei de tudo que ele sabe e pensa. Nós somos iguais.

“Me beija” ele diz.

Quase somos um. É como se eu fosse ele e ele fosse eu…

Então, Jungkook segura minhas mãos com mais força. Fecho meus olhos e deixo meu rosto perto do seu.
Basta segundos para Jungkook se aproximar e tocar s-”

— O que você tá fazendo?

Ai meu Deus do céu!

Fecho o caderno com tanta força que a mesinha treme e Yoongi faz um barulho engraçado de susto. Eu também o
faço, porque estava tão submerso na escrita que não percebi ele parando de roncar, se levantando, e nem parando atrás de
mim. Que susto!

Socorro, ele está bem atrás de mim agora… Deus que me ajude.

Agarrei o caderno com força, já fechado, o apertando contra meu peito.

Virei para Yoongi lentamente.

Respiro fundo...

— N-nada! — Praticamente dou um grito em resposta.

O sangue em meu corpo deve estar fervendo e tenho quase certeza de que nunca fiquei tão quente assim antes.

Yoongi quase me viu escrevendo uma cena de amor entre eu e Jeongguk!

Ai meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.

— Você é tão estranho — ele disse, com os olhos arregalados de um jeito engraçado. — Mas que seja.Ahm… você
fez a capa?

Tremi um pouco, balançando a cabeça, tão travado quanto um boneco.

— Fiz — murmurei, constrangido, ainda segurando o caderno. — Já preguei ao trabalho…

Yoongi, para falar a verdade, nem deu bola pro fato de eu ter quase surtado, porque só pegou seu trabalho e deu um
longo suspiro.

— Graças aos céus — disse ele, respirando fundo e abraçando todo o material. — Ainda bem… não vou ficar na
escola por duas semanas!

Dou uma risadinha, mesmo que ainda nervoso… também estou feliz, ainda mais por vê-lo feliz.

Mas eu admito… é um pouco difícil me concentrar nesse universo, porque há um momento atrás, eu estava beijando
Jeongguk nos lábios em um mundo fictício.

Balancei minha cabeça, ainda envergonhado com isso e com a possibilidade de Yoongi ter visto algo. Só que, depois
disso, ele apenas me chamou para comer pipoca e ver televisão. Eu me distrai consideravelmente com isso e nem fiquei
mais vermelho…

Como já estava tarde, minha mãe poderia chegar a qualquer momento, então arrumamos tudo e eu levei minha
mochila comigo pro andar de baixo.

Ficamos vendo um programa engraçado juntos, dando risada a todo momento, nos entupindo de pipoca e café. Pior
foi quando Yoongi riu tanto de algo que falei que saiu café pelo nariz dele. Cara, foi muito engraçado!

Demos muita risada e ficamos conversando o tempo todo, até que escutamos a buzina do lado de fora e eu tive que
ver se era o carro da amiga da minha mãe. Quando percebi que era, voltei para pegar minhas coisas e me despedir de
Yoongi.

Para ser sincero, eu não tinha vontade alguma de ir embora, porque foi tão legal estar com ele. Foi um dia longo e
muito divertido, e sinto que depois de tudo que conversamos hoje, vamos ser amigos para sempre.

Eu realmente espero que sim...

— Até segunda-feira — ele disse, quando parou na porta.

Demos um toque de mão. Mas no final, ele fez um balançar muito engraçado, que me fez rir.

— Até… mas por que você tá dançando?

Yoongi riu, olhando para sua própria mão e depois a erguendo de novo.

— Pode ser o nosso toque de amigos — disse ele. — A gente bate assim, e depois gira.

Dei risada enquanto ele o fazia sozinho, parecendo um maluquinho. Então ergui minha mão e disse:

— Ok, vamos de novo.

Novamente, batemos as mãos… mas dessa vez, giramos juntos, e depois demos risadas disso.
— Agora sim… até segunda-feira — disse ele, e já estávamos no portão.

— Até. — Dei um sorriso. — Segunda você vai almoçar lá em casa, né?

Yoongi deu mais um sorriso pequeno e significativo. E confirmou.

— Sim — respondeu, me deixando animado.

— Ok! Então, tchau!

— Tchau!

Só depois disso, eu fui até o outro lado da rua e entrei no carro da amiga da minha mãe. Falei com as duas muito
brevemente, porque logo fiquei ocupado abaixando o vidro da janela e acenando para meu amigo; o vendo rir e acenar de
volta do outro lado da rua. Fizemos isso até o carro começar a andar e ir embora, e vi por último ele entrando em casa de
novo.

E enquanto minha mãe me perguntava sobre o dia, e se foi legal, eu me vi caindo em vários assuntos, porque estava
feliz por vários motivos diferentes.

Eu disse tudo que ela queria saber, e elas riram com a história do café e do nariz. Mas quando elas mesmas
começaram a conversar entre si, eu me distraí e me perdi em minha mente calorosa novamente.

Eu me envergonhei ao constar que estava mesmo escrevendo Jungkook me beijando há momentos antes… na boa.
Eu não me lembro de ter escrito tão rápido e tão bem assim antes… foi a cena perfeita.

— Desculpa, Gguk…

Pedi, bem baixinho. Eu estava escrevendo-lhe sem sua permissão e, embora eu tenha gostado, não vou fazer mais
isso...

Mesmo que seja muito bom.

As ruas foram passando pela janela e eu, mesmo que levemente envergonhado, continuei feliz. Afinal…Jeongguk
sempre estaria me beijando em minha mente.

E talvez um dia ele me beije de verdade também. O que me resta é saber...

Ele também sente amor por mim?

Notas finais
Jimin fanficando, meu conceito favorito

Ahh~~ eu tô muito felizinha por estar postando esse capítulo que fala bastante sobre o Yoongi, um diazinho depois do niver
dele... amo meu bebê! Ele tem uma playlist, pra quem quiser ouvir~ aqui:
https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/0ivmUq99RllDFGCzhfE8zZ?si=HV9MG3TyR_2jkicM_1GmCQ

Mas, então O que acharam? Estavam esperando esse suposto rolo entre Yoongi, Tae e Hobi? Hihi, me digam~ e obrigada
por lerem mais esse capítulo! Vocês são demais

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter! Até o próximo~

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

<3333

18. Ele é como um Anjinho da guarda

Notas do Autor
ATENÇÃO: pra quem não sabe e provavelmente estranhou, o nome da mãe do Jimin, Eleanor, mudou! Ela se chama
LEONOR agora, e eu vou dizer o motivo nas notas finais!!!
Bom. Agora... oi! Queria dizer que....... aaaAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

Ele é Como Rheya fez um ANINHOOOO

Ontem essa minha bebezinha fez um aninho, e é claro que eu não deixaria o dia passar em branco! Eu não iria atualizar
hoje, ia guardar pro próximo sábado, mas decidi chegar mais cedo em comemoração~ eu me sinto muito feliz por essa
princesinha estar crescendo tanto. Vocês fazem parte disso! E eu sou muito agradecida por todo apoio e amor que deram a
mim e a minha história durante esse ano… muito obrigada, meus amores!

Obrigada pela atenção e boa leitura :3 amo vocês

JUNGKOOK

Eu estou definitivamente nervoso e triste.

— Ela vem… terça-feira? — perguntei, tentando soar calmo e comum (mesmo que, de certa forma, eu esteja
praticamente surtando dentro da minha cabeça).

— Sim, querido — minha mãe respondeu, enquanto parava no sinal. É, agora eu estou bem triste. — Ela deve chegar
de madrugada, para falar a verdade. Ainda não sei se aquela amiga dela vem junto, mas se vier, já sabe, né?

Sim… eu já sei. Se a amiga dela vier, vão dormir no meu quarto, porque é maior e melhor para as duas; já eu, vou
para o antigo quarto da Juna.

Juna. A minha irmã mais velha.

— Sim, mãe… — eu falei.

E eu não gosto nem um pouco dela. Puxa...

Não é pra menos. Eu gostaria de dizer que esse desgosto que sinto por ela é só mais uma implicância que existe
entre irmãos, mas não é bem assim. Na verdade, não é nem um pouco assim. Até porque, antes de dormir, eu peço para o
universo fazer com que ela não possa chegar perto de mim nunca mais para que eu possa viver feliz. Feliz e longe dela para
todo, todo, tooodo o sempre.

Eu gostaria que isso pudesse acontecer, puxa... Eu queria de verdade.

Bom. Hoje é sábado, e ontem foi o último dia de aula antes das férias de duas semanas. Estou no carro com minha
mãe, e estamos passando pelo centro, porque vamos buscar meu pai antes de irmos para a reunião que vai ter na minha
escola. Pais e mestres, e boletins, e toda essa baboseira…

Só que uma coisa aconteceu também. E essa coisa vai destruir todas as minhas férias de duas semanas.Essa coisa
se chama Juna, que ficará quase uma semana, também, sem aula. Ela estará livre. E vai passar todo esse tempo em casa,
vindo lá da capital, de onde ela nunca deveria sair, já que é uma bruxa ambulante odiosa que adora me fazer sentir mal com
tudo que eu faço, até quando respiro e tiro 0,2 a menos em uma prova da escola.

Puxa. Só de pensar em vê-la, já fico gelado de um jeito ruim e desanimado para a vida. Isso é realmente muito
desgastante...

Veja bem, eu não gosto nem de pensar nela… como estou fazendo agora. Porque não gosto de me lembrar dela.
Ainda mais depois dos últimos anos que tivemos antes dela ir embora para estudar na capital…

Basicamente... a minha irmã me odeia muito.

E apesar de todo esse tempo, eu nunca cheguei a entender o porquê disso — embora eu tenha muitas suposições.

Ela me perseguiu a minha vida inteira. Colocava a culpa em mim quando eu ainda era pequeno demais para retrucar,
e seu passatempo favorito se baseia em bagunçar e estragar minhas coisas para me ver triste e enfurecido. Isso sempre me
deixou magoado, porque eu nunca consigo contar para os nossos pais que ela está me machucando e me deixando triste. A
única vez que cheguei a dedurar minha irmã, foi quando ela me trancou no sótão — eu fui fui parar lá porque ela disse que
brincaria comigo se eu entrasse lá primeiro. Eu acreditei, e fiquei muito feliz, porque naquela época eu ainda gostava dela e
queria que ela gostasse de mim também…

Mas no fim, ela fechou a porta assim que eu estava dentro, trancou e não voltou por muito tempo. Foi assustador e ela
não chegou a me tirar lá depois. Meu pai me encontrou depois de eu fazer muito estardalhaço, e eu coloquei a culpa nela
pela primeira vez...

Ela já implicava comigo antes, mas eu nunca a dedurava. Mesmo que pudesse o fazer, eu sempre…sempre sentia
que, se deixasse ela escapar, Juna se sentiria agradecida e começaria a ser amável comigo, como eu queria que ela fosse.

Isso nunca aconteceu. E agora eu me sinto melhor, porque aprendi a odiar ela também e isso deixa as coisas menos...
dolorosas. Mas ainda são difíceis.
Mas… puxa vida. Ela está vindo e sua amiga também. Por algum motivo, todas suas amigas também me odeiam,
desde que ela morava aqui. Elas pegam minhas coisas, brigam comigo, e são tão maldosas… por mais que eu tente, nunca
consigo fazer nada para inverter toda a situação. Meus pais ficam tão cansados quando brigamos que eu já desisti de contar
para eles… eu só não quero que eles fiquem tristes comigo ou incomodados porque estou reclamando dela.

Por que tem que ser tão difícil?

Eu tento evitar ela, mas… nunca dá. É ridículo como eu pensava que, quando ela fosse embora, pararia de ser assim
comigo e agiria como alguém que deveria ser minha família. Mas isso nunca aconteceu.

Eu me sinto covarde e fraco quando ela está perto de mim, porque sempre me lembro dos piores dias que tive com
ela e das piores coisas que ela já me disse, também. Às vezes ainda consigo me lembrar de quando ela me contou…
aquelas coisas.

Isso é muito triste. Puxa… odeio pensar nisso, porque sempre acho que estou bem, e que não me importo mais, mas
meu rosto fica vermelho de um jeito ruim. Minha mãe acaba sempre percebendo e me pergunta o que aconteceu, e eu odeio
como nunca consegui dizer nada pra ela ou para o meu pai.

Droga. Droga...

Suspirei… tudo bem, não é? Vai ficar tudo bem, porque depois ela vai embora. Não vou deixar minha mãe perceber
que estou tenso por causa disso…

Passei a mão pelo meu rosto várias vezes. Tudo bem. Tudo bem. Eu vou fazer de tudo para não me encabular com
esse assunto. Posso muito bem ficar trancado que nem da última vez que ela veio e só sair para comer e dormir na casa do
Jin. O quarto da Juna não tem banheiro, mas posso usar o de baixo, ou o da minha mãe, e assim ela e eu nunca vamos nos
encontrar, certo?

Certo. Puxa. Simples assim! De toda forma, ainda sei me esquivar muito bem dela e não vai ser isso que vai estragar
essas duas semanas.

Certo…?

Ah.

Minha mãe começou a acompanhar o rádio e eu a ouvir música no meu fone, e eu continuei pensando nisso, mesmo
que não queira pensar…

Bem… pelo menos Jimin me disse que irá aparecer na reunião com sua mãe. Isso significa que nos veremos.

Isso me anima verdadeiramente. E faz meu corpo ficar mais leve... e é nisso que tento pensar por todo o caminho até
o trabalho do meu pai e, seguidamente, a escola.

Jimin. E só Jimin.

JIMIN

— Mãe — chamei-a assim que notei que a moça se levantou e deixou o banco vago. Eu e Leonor éramos os únicos
de pé agora. — Ei, mãe, senta ali — chamei de novo, e ela finalmente percebeu.

Ela ainda olhou em volta para ver se alguém precisava se sentar. Quando percebeu que não, foi caminhando até o
assento e se sentou. Bem na minha frente, me fazendo dar um sorrisinho.

— Obrigada, filhote — disse, e esse apelido é fofo, então eu ri.

Um segundo depois, o ônibus fez uma curva muito doida, e eu tive que me agarrar na barra para não cair. Foi
incrivelmente constrangedor, e eu tomei um grande susto. Fiz um bico também, pois mamãe riu de mim. Mas depois eu ri
também, então tudo bem. Hehe.

Hoje é um dia legal. Na verdade, estou bem animado para hoje… na verdade (de novo), estou bem animado desde
ontem, e fico ainda mais hoje, porque adoro sair com Leonor.

Afinal… é sábado. Ontem eu tive oficialmente as duas últimas provas, e agora estou de férias!

Sim, são apenas duas semanas, mas ainda é tão legal… Yoongi foi bem em todas as provas, mais do que ele pensou
ser possível, e conseguiu passar em história com aquele trabalho que fizemos. Nenhum de nós teria que frequentar o colégio
durante esses quatorze dias, ficamos acima da média, e ai...

Férias de duas semanas! Eu adoro repetir isso. Vou dormir um montão.

Tipo, no começo, eu achei que não ficaria tão animado para isso. Porque é como se fosse um final de semana mais
longo, e isso significa menos Jungkook, e poxa… desde que descobri que quero ele daquele jeitinho, fiquei muito mais
doidinho por ele… o Jimin saradão nunca esteve tão forte.

Estou tão diferente... e até meio nervoso. Adoro ficar chamando ele de meu amorzinho mentalmente. Às vezes eu
sussurro “Meu amorzinho”, e ele não entende, e depois fica tipo“Quê?” e eu só rio e falo que não é nada, porque é fofo ver
ele confuso.

É sério mesmo. E essa nem é a parte mais maluca da coisa!

Na aula de história avançada dessa última segunda-feira, terminei o dever e precisei esperar o professor nos liberar
para conversar com Jeongguk. No tédio da situação, acabei passando maior parte dos minutos escrevendo e inventando
apelidos carinhosos que, quem sabe, um dia, eu possa usar. Para chamar o Jeongguk, é claro.

De todos eles, os que eu mais gostei foram: chuchuzinho e meu amorzinho. E o pior foi meu tudão.

Pfft. Sinceramente, nem sei como criei meu tudão, mas eu pensei em tudo, e pensei em tudinho, e pensei em tudão, e
aí coloquei na lista. É uma vergonha, eu confesso...

Mas, é. Então. Voltando para as férias: estou feliz porque provavelmente poderei sair com minhas primas, minha mãe,
meus amigos e Jeongguk durante elas. Estava pensando em chamar Jeongguk para sair primeiro, porque ele é quem mais
quero ver...

E: sim, eu vi ele ontem. Mas não é o suficiente!

Fiquei sorrindo pensando nele, e na carinha que ele faz quando está confuso, que nem vi quando o lugar do lado da
mamãe ficou vago. Ela me chamou com um sussurro e eu me virei, dando um sorrisinho distraído para, enfim, me sentar do
lado dela.

Fiquei olhando para a janela, pensando no dia de hoje… basicamente, Leonor e eu estamos indo juntos para uma
reunião de pais e mestres na escola. Minha presença não é necessária… mas ontem eu perguntei para Jungkook se ele viria
com seus pais, e ele disse que sim, porque sua mãe sempre o obriga a o fazer. É exatamente por isso que decidi vir com
minha mãe.

Ficarei sabendo minhas notas oficiais do primeiro e do segundo bimestre hoje, porque eles não revelam durante as
aulas. Só nos dizem se ficamos com nota azul ou não, e essas coisas… bem, eu fiquei com nota azul em todas, mas não sei
como está a minha média. Espero que esteja alta… hehe.

Também espero que minha mãe possa ver Jungkook hoje, porque aí ela já vai o conhecer quando ele for lá em casa
novamente. Eu espero que isso aconteça logo, logo…

Ai meu Deus. Droga! Lembrei de novo...

Deu ruim. Pensar em casa me faz me lembrar do que fiz hoje de manhã. Minhas bochechas doem.Não, não, não...

Dou tapinhas nelas. É normal, é normal, é normal… sou adolescente, sou adolescente, sou adolescente…

Ai, mas que droga. Agora lembrei de quando minha avó ficou sabendo que fiz e veio conversar comigo sobre isso!

Que vergonha, que vergonha!

Sem julgamentos! Mas eu tenho 15 anos e meu corpo, sabe... ele virou um completo maluco. Ele age por conta
própria e, aparentemente, cansou de ser apenas mais um corpo pacífico (se bem que disso ele cansou quando eu ainda
tinha uns, sei lá, 13 anos. Mas faz um tempo que ele resolveu ficar muito mais rebelde) e começou a ter manifestações
esquisitas de vida. Aquelas coisas hormonais SUPER DESNECESSÁRIAS que me fazem sentir, pelas próximas duas horas,
que todo mundo está me encarando e dando risadinhas, como se dissessem: “Eu sei o que você fez essa manhã,
safadinho…”

Como eu disse: que vergonha, que vergonha!

Faz um tempo que estou em um processo lento de tentar não sentir vergonha por causa disso, porque minha vó me
disse que é normal desde que me explicou sobre mamães, papais e bebês. E que não é vergonhoso, e nem nojento e, ai, foi
muito ruim falar disso com ela, e só de lembrar estou com mais vergonha ainda.

Leonor nunca me disse nada sobre esse assunto e eu dou graças ao nosso bom Deus por esse lindo fato. Eu odeio
me lembrar de coisas constrangedoras, porque não importa quanto tempo passe, é como se estivessem acontecendo
novamente. Ahhhh!

Isso aí me persegue de verdade quando eu faço. Às vezes, quando minha mãe fica séria demais, eu penso que ela
vai querer me falar sobre esse assunto, porque eu sei que, normalmente, são os pais que nos contam essas coisas e, na
boa: não! Por favor, comigo não!

Tenho quase certeza de que a vó falou para ela que eu sei antes de ir pro céu… ainda bem…

De qualquer forma… continuarei tentando não ter vergonha dessas coisas. A vida é estranha…

Quando chegamos no ponto perto da escola, fui obrigado a parar de pensar nisso.Ainda bem.

Nós descemos juntos e andamos duas quadras até chegar no meu colégio. Era divertido ir para a escola em um dia
que não tem aula, e com minha mãe… sei lá, é bem diferente.

Yoongi disse que não iria vir, então nem procurei ele com o olhar. Apenas quem vi, de longe, foi o representante da
minha turma, e Micha.
E, falando em Yoongi… ele foi comer lá em casa duas vezes essa semana. Nós tiramos o dia para ficar jogando e
assistindo tevê, e eu descobri, finalmente, que ele é vegetariano — ou vegano, eu não me lembro muito bem, essas palavras
me confundem.

Nós fomos até a banca comprar uma revista de receitas veganas/vegetarianas e fizemos um brócolis meio estranho,
com recheio, que até que ficou bem gostoso. Com certeza foi melhor que aquela comida borrachuda congelada da casa dele.

Fizemos coisas assim essa semana. Nos divertimos muito fazendo, e sempre dormimos um pouco depois de comer…
e aí acordamos para jogar cartas, ou ler revistas e assistir filmes de terror nojentos — que ele adora. Minha mãe conheceu
ele, e acha ele bem legal e “indiferente” (de acordo com ela, isso é um elogio).

Eu espero que ele passe bastante tempo lá em casa durante as férias também…

— Jimin — minha mãe me chamou. Nós entramos no primeiro prédio da escola, me tirando dos devaneios e
lembranças. — Onde que vai ter a reunião da sua sala mesmo?

Olhei em volta.

— Hum… — Coloquei o indicador no queixo, deveras pensativo.

Pensei. Pensei. Pensei...

E minha mãe balançou a cabeça, rindo de mim.

— Você não sabe, não é? — ela concluiu, como se não precisasse de nem um segundinho para descobrir que não sei
de nada.

E ela está certa. Eu não faço ideia.

Não prestei atenção nessa parte quando o orientador nos explicou, porque estava ocupado olhando para os
cabelinhos na nuca de Jungkook. Ops…

— Não… — Dei um sorriso amarelo, e minha mãe também sorriu, fazendo uma falsa cara de decepção depois. —
Mas… ah! — Sorri quando percebi Jieun do outro lado do corredor. Jieun sabe de tudo, então com certeza vai saber onde
que fica a reunião da nossa turma. — Já sei, mãe. Vem!

Peguei na mão de Leonor e comecei a puxá-la em direção à minha amiga Jieun. Algumas pessoas estão olhando pra
gente, e é muito feliz ter minha mãe do meu lado dentro dessa escola. Dois milhos de pipoca…

— Ok, ok, sabichão — ela disse, risonha, apressando o passo. Agora ao invés de puxá-la, só andamos lado a lado.

Quando chegamos perto o suficiente de Jieun, soltei a mão da minha mãe para acenar para minha amiga, assim que
ela olhou para mim. Ela deu um sorriso ao me ver, e logo depois fez uma expressão surpresa por causa da presença da
minha mãe.

Eu sei, eu sei. Ela é muito bonita.

— Bom dia, Jieun — eu disse, dando um sorriso.

— Oi… — ela murmurou, um pouco desnorteada, tentando olhar para mim e para minha mãe ao mesmo tempo. — O-
olá, senhora!

Ela se curvou. Minha mãe ficou surpresa, acabando por dar uma risadinha pelo ato da minha colega.

— Não precisa disso! — minha mãe exclamou, tocando o ombro dela. — Olá.

— Oi! — Jieun repetiu. E coçou a nuca.

Ficamos os três em silêncio. É, acabou de ficar constrangedor…

— Err, Jieun? — cortei o constrangimento imediatamente. — Você sabe em que sala vai ser a reunião da nossa
turma?

Jieun, agora erguida, fez que sim com a cabeça para mim. E então, apontou para a sala do outro lado do corredor, que
estava com a porta aberta.

— Naquela ali — disse ela. — A reunião ainda não começou, mas daqui a pouco os professores já devem começar…

Minha mãe afirmou com a cabeça e eu também.

— Obrigada — agradeceu, dando um sorrisinho. — Filho, vou lá. Se der ruim, você vai ver só.

Ri.

— Sim, senhora — disse firme, colocando a mão na testa como um solado.

Minha mãe deu risada e bagunçou meus cabelos, acenando brevemente para Jieun. Depois só foi caminhando
tranquilamente até a sala de aula, deixando apenas eu e Jieun aqui.
Um tempo depois, ouvi Jieun dizer, atrás de mim:

— Sua mãe é alta…

Olhei pra ela e ri, afirmando com a cabeça. Realmente… mamãe é bem alta.

— Espero que isso signifique que vou crescer mais — eu disse, a fazendo rir. — Sua mãe já está lá? — perguntei, me
encostando no armário, ao lado dela.

Jieun balançou a cabeça, negando, mexendo seus cabelos sedosos no ato.

— Meu pai que veio.

— Ah… — eu murmurei, olhando para as portas do prédio. Minha mente se apagou. — Entendi…

Jeongguk chegou.

O meu coração palpitou e eu senti minhas bochechas arderem completamente. Ah. Jeon havia chegado… estava
vindo em nossa direção, com uma mulher ao seu lado, e um homem do outro, que devem ser seus pais. Eles não parecem
muito com Jeongguk, só na cor de cabelo, mas eu nem me importo… ele tá tão bonitinho de cabelo molhado.

Os três estão conversando suavemente, e eu não consigo pensar em mais nada. Só quero olhar para Gguk.

Sua postura… as mãos em seus bolsos e a forma como o cabelo dele está escurinho é perfeita. Ele deve estar com
um cheiro de shampoo mais forte por causa dos fios úmidos, e o cabelo dele sempre exala um cheiro tão bom, e tão
gostoso…

Agora eu só consigo pensar que queria ser invisível para dar um cheiro nele sem que seus — possivelmente — pais
me percebam.

Me encostei mais e dei um sorrisinho, tentando ser decente, ou charmoso, ou sei lá o quê, já que Jeongguk virou a
cabeça para mim e Jieun. Ele acenou brevemente, e abaixou os olhos, e a mãe dele continuou falando e ele a ouvindo…

Ahh, vem cá logo!

Segundinhos depois, eles passaram por nós dois e foram juntos até a sala da reunião. O pai dele entrou primeiro, e a
mãe dele o deu um beijinho na testa, o que me fez ter inveja, porque eu bem que queria ter dado aquele beijinho em
Jungkook…

E então, a Sra. Jeon entrou na sala da reunião. Jungkook coçou os cabelos molhados enquanto se virava, finalmente,
para mim.

Ele caminhou para perto da gente, com um sorrisinho tímido. Eu sorri também, mas só até perceber que ele está
levemente... distante?

Ele está um pouco diferente.

— Ei — eu disse, quando ele já estava perto de nós dois.

— Oi, Jungkook — Jieun também cumprimentou ele.

— Oi… — ele murmurou, bem baixinho.

Hmm. Fiquei em silêncio, só encarando Jungkook por um tempo. Bem, ele está com uma postura diferente… está
meio pra baixo.

Ele com certeza não é assim normalmente.

Quis perguntar se algo tinha acontecido, mas… Jieun estava bem do nosso lado, e Jeongguk dificilmente fala quando
tem uma pessoa que ele não conhece por perto. Ele é tímido…

Eu suspirei, e pigarreei brevemente, olhando para os dois lados do corredor, enquanto Jeongguk continuava encolhido
dentro do seu casaco enorme. Quando o fitei de lado, e vi ele olhando para o chão, percebi de vez.

Ele está triste.

Maldição. Não quero ser indelicado com Jieun, nem deixá-la sozinha aqui, mas Jeongguk está triste e eu quero muito
saber se ele quer conversar… será que ele quer?

Enquanto me pegava pensativo e amuado com a situação, fiquei um pouco surpreso com Jieun quando ela, tão de
repente, nos disse:

— Hum… — sussurrou, brevemente, me fazendo olhá-la. — Depois vejo vocês… eu estava para encontrar a Micha no
pátio. Ela está lá com as irmãs dela.

Dei um suspiro. Depois, sorri.

Ainda me sinto meio mal por me sentir aliviado quando terceiros vão embora quando estou com Jungkook.Mas é
inevitável.

— Tudo bem — eu disse para ela. — Até mais.

— Até — ela murmurou, acenando .

Então, deu as costas e saiu andando para o outro lado do corredor.

Bastou apenas alguns segundos para ela estar longe o suficiente. Imediatamente, foquei meus olhos em Jeongguk,
que surpreendentemente já estava me fitando, encostado no armário.

Ele ainda está aflito, e sua postura permanece amuada. Mas é sempre gostoso quando Jungkook olha para mim...
então ainda me sinto feliz por ele estar bem aqui, na minha frente.

No fim, eu só quero que ele fique feliz.

Toquei seu braço sutilmente. Ainda olhando para ele, sussurrei bem baixinho, tentando ser o mais cuidadoso possível
ao perguntar:

— O que aconteceu?

Jungkook ergueu as sobrancelhas. Depois, pressionou os lábios lisinhos.

— Por que dessa pergunta? — murmurou, desviando o olhar do meu.

Ele não está bravo, embora suas palavras fizessem parecer isso. Jungkookie estava…amuado.

— Porque eu meio que percebi… você tá um pouco tristinho — eu disse, sinceramente. Passei meu polegar em seu
casaco, tocando seu braço com carinho. — Hum... quer conversar? — sussurrei, tentando soar doce e acolhedor. Mas eu
acho que não sou bom nisso, então foi um fracasso...

Já Jeon, ainda distante, fez um barulhinho com a boca. Eu afastei minha mão de si logo depois. É. Alguma coisa
aconteceu. Dá pra ver perfeitamente como ele está diferente. Eu espero que não seja nada muito ruim...

Nós ficamos quietos. Fora um longo tempo de puro silêncio de sua parte que me fez pensar, inicialmente, que
ficaríamos nisso. Eu não o culpo… sabe, tem algumas coisas que só a gente pode saber. Eu sou assim também, e…

— A gente pode ir lá nos balanços?

Surpreendentemente, foi o meu amorzinho que falou.

O Jungkook, eu quis dizer. Estou confuso, daqui a pouco vou acabar chamando-o assim sem querer...

Quando olhei para ele, notei que ainda estava olhando para os próprios sapatos. Estou surpreso, porque não pensei
que ele iria querer conversar... talvez apenas se distrair.

Afinal, às vezes Jungkook me conta algumas coisas breves, mas quando tento aprofundar, ele muda rapidamente de
assunto. Foram poucas as vezes, mas notei isso… eu noto muitas coisas sobre ele, para falar a verdade.

— Claro que sim — eu disse, com um sorriso amoroso.

Jungkook ergueu o rosto perfeitinho para mim, e afirmou de um jeito muito sereno e calmo. Me desencostei do armário
primeiro, e o vi fazer o mesmo depois de mim. Pensei que ele iria na minha frente, mas ele continuou parado, olhando para
mim, com aquele rostinho triste… ai meu coração.

Meu rosto ficou vermelho, então me virei e comecei a caminhar na sua frente. De repente fiquei com vontade de
alimentá-lo… será que é porque ele está triste? A cada dia fico mais estranho, meu Deus…

Enfim, nós passamos calmamente por todas as salas de aulas que estavam, aos poucos, se fechando para o começo
das reuniões. A escola estava bem vazia, com poucos alunos, e muito silenciosa, o que me dava uma sensação bem
gostosa. Meio que lembrei do dia que matamos aula no outro prédio… foi tão bom.

— Com a escola tão silenciosa assim, eu fico com um pouquinho de medo — Jeongguk disse, de repente, e sua voz
está um pouquinho mais animada agora. Ahh… — Eu lembrei daquele dia, quando a gente passou o tempo no prédio das
aulas extras.

— Meu Deus! — Eu ri, parando um pouquinho para ele me alcançar. — Eu pensei nisso bem agora.

— Sério?

— É — eu disse, sorridente. — Sinto falta daquele dia...

Jeongguk estava bem do meu lado agora, então eu conseguia olhá-lo, e ele também olhava para mim.

Ele abaixou um pouquinho a cabeça, fofo demais para a minha sanidade ao dizer,daquele jeitinho:

— Também…
Ai, ai, amorzinhooooo…

Nós saímos pelas portas de trás do prédio e durante todo esse percurso eu, lindamente, não explodi por causa desse
jeito dele. Foi quase.

Felizmente… ele pareceu não ter notado, nem agora, e nem durante os últimos dias, que eu estava cada vez mais
maluquinho por sua causa. Com cada vez mais saudade igualmente, já que sempre comprimia os assuntos das nossas
conversas de um jeito super esquisito. O melhor disso é que ele sempre corresponde. Ele é tão único que dói o meu
coraçãozinho.

Aff. Queria passar todos os dias das férias com ele...

Perdi tanto o foco pensando nisso que quase continuei andando na direção reta quando ele se virou para ir até o
parquinho. Eu suspirei, enquanto ele ia na frente, e tentava não morrer a cada um segundo que ele pisava no chão e o
cabelo dele se mexia, porque era simplesmente perfeito.

Jeongguk parou no lugar. E se virou para mim.

— O que foi? — indagou.

Ai meu Deus. Ele ouviu meus pensamentos, ou algo assim?

— O que foi o quê? — eu perguntei, parado no lugar, percebendo que gosto demais do seu rosto talvez pela milésima
vez só nessa semana.

Jungkook ficou parado, ainda. E deu uma risadinha.

— Você parou do nada, Jiminnie — ele disse, e foi só aí que percebi.

Parei de caminhar logo quando comecei a pensar no cabelo dele, e isso foi bem repentino e esquisito, uma vez que eu
estava bem do ladinho dele anteriormente.

Jimin, seu doido!

— Ah é, foi mal! Hah… — eu murmurei, meio encabulado.

Estou agindo estranho e não quero que ele perceba.

Por isso ri nervosamente, para ele não perceber, enquanto seguia em sua direção.

JUNGKOOK

Jimin parecia realmente muito estranho enquanto ria nervosamente e vinha em minha direção.

Não que eu me importe. Mas faz um tempinho que Jimin anda agindo assim, meio estranho. Mas não de um jeito ruim
— é difícil achar que ele age de um jeito ruim, ele nunca é ruim.

Mas… é engraçado. Ele fica meio bobo, e sua risada fica mais fina e baixa que o usual. Eu continuo agindo do mesmo
jeito, mas sempre que acontece, me pergunto o que está passando pela cabeça dele para ele estar todo assim de repente.

É meio… puxa, é meio estranho da minha parte também, pois eu meio que gosto disso.Honestamente, eu realmente
gosto disso. É que, sempre que Jimin mostra alguma coisa nova sobre ele, eu gosto muito, muito.Puxa vida, é Jimin, afinal.
É difícil não gostar de alguma coisa quando o assunto é ele...

É até um pouco contagiante olhar para ele enquanto nos sentamos no balanço, ao mesmo tempo, lado a lado. Constar
que ele realmente percebeu que eu estava triste só de olhar para mim me deixa um pouco emocionado, e nervoso, ao
mesmo tempo que feliz e agradecido. Nem sei como organizar meus sentimentos...

A verdade é que eu viro uma bagunça sem fim quando ele está aqui, perto de mim. Nem ligo para estar bagunçado,
porque… puxa, é claro que adoro. Pra valer.

Às vezes sinto que Jimin me conhece tão bem. Meus pais nem notaram, porque eu estava disfarçando muito bem,
creio eu… mas Jimin me olhou diferente assim que cheguei, e pareceu perceber de primeira. Até perguntou, em vez de
ignorar e fingir que nada está acontecendo (como todo mundo sempre faz).

Puxa… ele é realmente singular para mim.

Fico pensando nisso em silêncio, e ele fica em silêncio também, balançando suavemente os pés. Eu gosto quando ele
se senta assim, e seus pés não tocam o chão. É um pouco… é fofinho…

Eu poderia observá-lo para sempre, mas Jimin não parecia ter esquecido minha tristeza. Ele ficou quieto comigo por
todo esse tempo, mas, agora, acabou de me olhar e sua postura demonstra que ele vai perguntar alguma coisa.

— E aí…?

Ele murmurou. E parece mais calmo agora do que antes… mas suas bochechas estão ficando vermelhas.
Observei ele. Seus olhos me deixam completamente… puxa, é como um beco sem saída. Eu não consigo mentir
quando olho para ele. É como uma figura sagrada…

É um pouco estranho pensar em falar sobre minha irmã com alguém que não seja Seokjin. Eu sempre fico
envergonhado, e fiquei assim que pensei na possibilidade de contar para ele no caminho até aqui, mas… ao mesmo tempo
que sinto isso, fico magoado. Porque sempre quero contar coisas para o Jimin, mas tenho vergonha e medo… então eu corto.
Algumas coisas me magoam, e não quero que ele fique com pena de mim…

Às vezes eu fico um pouquinho nervoso com a possibilidade do que ele pode estar pensando quando olha pra mim
assim. Até quando ele apenas olha, ou fala… eu só queria saber no que ele está pensando nesses momentos. É um pouco
confuso…

Eu realmente espero que ele pense coisas boas sobre mim, mesmo que eu não seja nada bom...

JIMIN

Meu Deus do céu. Quando ele faz essa expressão facial pensativa, curvando a boca, a covinha surge só de um lado!

Tão bonito. Tão bonito. Por que ele faz isso comigo? Quando Jungkook fica pensativo, ele deixa o rosto cair
levemente pro lado e parece viajar em seus próprios pensamentos. Ele nem se importa de ficar olhando nos meus olhos,
sem desviar, e nem fica tímido… quem fica tímido sou eu, porque ele é tão lindo...

Minha cabeça já foi pra tanto lugar desde que ele ficou sério assim que não sei nem onde ela deveria estar agora. Só
sei que ele é tão lindo que me derrete, e que eu quero muito que ele diga o que está sentindo, porque ele parece farto disso
e… ele quer conversar. Eu quero muito ouvi-lo dizer.

Espero que ele confie em mim para isso… mas ele está tão quieto. Será que ele desistiu?

— A minha irmã vai voltar pra casa.

Não, ele não desistiu.

Eu ergui as sobrancelhas. Jeongguk virou o rosto para frente assim que disse, e se endireitou no balanço, segurando
as correntes com mais firmeza.

A irmã dele vai voltar pra casa. A irmã dele…

Procuro fundo em minhas memórias todas as falas sobre Jeon e sua irmã, e percebo que ele não é de falar muito
dela.

Mas… eu lembro de uma coisa em especial. Uma coisa que nunca esqueci, porque ouvi-lo dizer foi íntimo demais e…
bem, é óbvio que nunca esqueci por causa disso.

Me lembro do dia que Jeongguk foi lá em casa pela primeira vez e ouvimos música juntos. Começamos a conversar,
por algum motivo, sobre pessoas que reprimem, e ele acabou me contando que sua irmã era quem fazia isso consigo… só
que ela foi pra capital, ou algo assim… me lembro de ouvi-lo rir nessa parte, diabolicamente, e foi bem engraçado.

Agora eu entendi, então. A irmã dele vai voltar pra casa, então…e ela o reprimia. Eu entendi… é por isso que ele está
machucado.

Poxa...

— Ggukie… — murmurei, fitando-lhe olhar para frente. — Mas… que droga. Eu não conheço ela, mas eu sei que ela
te reprime. Sinto muito…

Jeongguk pareceu um pouco surpreso, inicialmente. Seus lábios entreabriram levemente.

— Você lembra… — ele sussurrou, e parece um pouco afetado. Apertou mais as correntes.Afirmei com a cabeça. —
Puxa… é verdade. É uma droga.

Eu fitei ele. E ficamos em silêncio… não sei o que dizer, porque o meu amorzinho parece tão triste…

Não conheço a irmã dele, mas de repente, sinto vontade de prendê-la na capital para ela não chegar perto dele nunca,
nunca mais… olha como ele está magoado. Droga...

Mas ficar bravo enquanto ele está triste não adianta. Ele parece ter tanto a dizer, e parece sentir tanto… Jeongguk
tem muitos sentimentos e isso é visível.

Nesses momentos, sinto que somos completamente iguais.

— Mas… — murmurei, me ajeitando um pouco. — O que você está sentindo? Fala um pouquinho… pra não guardar
tudo… — pedi.

Jeongguk inclinou o rosto, negando. Depois suspirou, e suas bochechas ficaram rubras de constrangimento quando
ele confessou:
— Hum… eu… ah, Jimin… — sussurrou. — É tão vergonhoso, mas ela me machuca muito, e eu não sei o que fazer…
a amiga dela também vem, e se for a amiga de sempre, ela vai me perseguir junto com ela e vai ser horrível. — Balançou os
pés, e está falando rápido e bem baixinho, quase como se quisesse que eu não escutasse suas dores. — Não é tipo, ela…
ela não é tipo irritante. Não é desse jeito, é muito ruim, eu bem que queria que fosse bobeira de irmão, mas não é, ela é…ela
é…

Eu inclinei minha cabeça, o ouvindo com toda atenção, com o coração doendo em o ver assim.

— Ela é cruel — eu completo por ele, e é como se eu tivesse dito exatamente o que ele queria.

Ele me olhou assim.

— Ela é cruel — repetiu, amuado. — R-resumindo… ela é cruel.

Jungkookie fechou os olhos levemente, encostando o rosto na corrente. Seus dedos estavam se mexendo sem parar,
e vi como ele estava nervoso. De fato… Jeongguk nunca me falou tanto sobre algo que o aflige assim. Foi profundo, rápido,
e doloroso para ele.

Mas, ainda sim… ele colocou para fora. E isso me deixa tão feliz… porque, embora envergonhado, ele parece bem
menos tenso do que antes.

Eu continuei em silêncio, pensando nisso, mas não queria que ele ficasse constrangido com algo tão bonito de se
fazer. Não devemos ter medo ou vergonha de desabafar… é muito importante.

Por isso, eu ergui minha mão, e coloquei no joelho dele, para que ele olhe para mim e abra seus olhos.

Ele ficou em silêncio, e demorou um pouco para o fazer… mas quando passei o polegar por sua calça, ainda em seu
joelho, ele finalmente me encarou.

Eu dei um sorriso sutil, puxando meu balanço para o lado com o pé, para ficar um pouco mais perto. Só então,
comecei a falar.

— E ela fica por quanto tempo? — murmurei, indagando.

— Uma semana — Jeongguk disse. E ofegou.

Hum…

— Essa de agora?

— Uhum…

Jeongguk não conseguiu sustentar meu olhar e acabou fitando o chão, cabisbaixo. Tirei minha mão de seu joelho
também.

Eu queria pensar em alguma coisa para tirá-lo dessa situação. Eu não quero que ele fique triste, porque sei como dói
ficar perto de alguém que te deixa tão desconfortável. Só de pensar em passar uma semana com o irmão do meu pai, que
me reprime tanto, já me sinto completamente atordoado… eu sei como ele se sente. E é muito ruim.

Suspirei baixinho, pensativo. Pensei em referências, e coisas aleatórias, procurando dentro da minha mente uma
solução. Para que Jeonggukie tenha uma semana feliz, mesmo com essa idiota perto dele… hum…

Ergui as sobrancelhas. Espera aí.

Eu já sei!

JUNGKOOK

É muito constrangedor ficar em silêncio depois de contar coisas tão frágeis e vergonhosas.

Pareço um bebê chorão, não é? Eu falei de um jeito tão estranho e idiota… puxa vida, ele deve estar pensando que
sou um coitadinho.

Que vergonha… que vergonha.

Eu…

— Jeonggukie.

Ele me chamou de repente. Eu ergui minha cabeça para vê-lo, mesmo que seja muito difícil fazê-lo agora.

Ele está com um sorrisinho sutil nos lábios, mesmo que eu seja um fracasso.Por quê?

— Hum… — murmurei, como se pedisse-lhe para continuar.

Jimin suspirou, ainda sorridente. E fitou a árvore que fica do outro lado do parquinho.
— Eu tive uma ideia… — disse ele, me olhando de novo, e seus olhos estavam tão carregados e… sinceros. — Eu sei
como você se sente… é muito ruim. Eu me pergunto se aguentaria caso tivesse que conviver com meu tio sempre. Você é
muito forte por aguentá-la… eu imagino que deve ser a pior coisa, porque vocês são irmãos. Os feriados, e as datas,
caramba… você deve estar sempre perto dela e isso deve ser horrível — ele diz, com a voz macia. E eu simplesmente sinto
como se fosse sair voando depois disso. — Eu sei que é complicado, mas… conversa comigo sempre que alguma coisa
acontecer, porque eu vou te ouvir sempre. Mas fica bem longe dela. Eu sei que às vezes não dá para evitar alguns
comentários e algumas mágoas. Então evita ela — disse ele, e eu continuei encarando ele, totalmente… perplexo. — Além
do mais, eu odeio ela, oficialmente odeio ela. Essa megera… aff.

Eu… eu…

— Puxa… — eu murmurei, e é como se fosse desmanchar aqui mesmo.

É tão estranho ele dizer tudo isso, e me olhar como se eu fosse tão forte e destemido. Eu estava com tanta vergonha
por me sentir assim e por me magoar, e nunca pensei que ele fosse dizer que sou forte por aguentá-la. Eu nunca pensei por
esse lado e, para ser honesto, para mim esse lado nem existia… eu só me sentia idiota e fraco, e frágil, e tudo de ruim.

Mas é tão mágico olhar nos olhos dele, ver as palavras saindo de sua boca e sentir toda sua verdade. Ele estava
sendo sincero… ele realmente acha isso.

Eu estou tão… puxa.

Fiquei embasbacado. Jimin ficou meio quieto, mas depois deu uma risada curta e nervosa, como se estivesse com
medo.

— Eu não deveria ter chamado ela de megera? — perguntou, de repente. Eu olhei para ele de novo.

Megera. Pfft.

— Claro que deveria — eu disse. E ele sorriu para mim. — Jimin… obrigado — falei, dando um sorriso também. É a
primeira vez que me sinto verdadeiramente feliz hoje. — Você tem razão… eu vou evitar ela. Vai ficar tudo bem.

Eu fiquei sorrindo. Jimin também estava sorrindo, e minhas bochechas estão um pouco quentes. Puxa, fiquei todo
vermelho de felicidade e alívio…

Mas, mais do que isso, eu fiquei extremamente elétrico. Jimin deu um sorriso maior ainda, e seus olhos sumiram em
um piscar de olhos. Os olhos dele estão sorrindo também…

— Isso é bem legal — ele disse, ainda sorridente, e meu coração está um pouco… fora de controle. Puxa, Jimin é
tão… ah… — Mas talvez não seja de todo mal. Quer dizer, evitar ela… sabe?

O olhei. Ahn… estou meio zonzo por causa do sorriso, então não sei se eu sei.

— Como assim? — perguntei, meio perdido.

Sim, ele parou de sorrir, mas essa imagem nunca vai sair da minha cabeça. É tipo ele sem óculos, é meio inesquecível
e poderoso.

Eu balancei minha cabeça enquanto Jimin sorria de um jeito meio fofo e pensativo. Ai… puxa…

— Quero dizer que, talvez, você possa fugir dela — ele disse, então. — Comigo! É claro. Quer dizer… é — disse ele,
se embolando um pouco. Ergui as sobrancelhas, surpreso. — Não fugir literalmente, mas tipo… ficar comigo, e aí não precisa
ficar em casa com ela. Sabe? — Ele olhou para frente. — Quando você falou de evitar ela, eu me lembrei de um personagem
meu… ele tinha um lugarzinho só dele, sempre ia pra lá quando ficava triste. É bem clichê, eu sei, mas… pensei que talvez
você possa vir e ficar comigo sempre que se sentir assim…

Ah.

Meu Deus.

Meu Deus.

Puxa…

Jimin riu nervosamente depois, e é um pouco surpreendente vê-lo ficar vermelho assim tão de repente. Sério. Eu
quem deveria estar vermelho, e eu acho que estou, porque ficou calor de repente, no rosto. Jimin começou a rir, e coçar os
cabelos ruivos brilhosos, e eu fiquei completamente encabulado. Tipo, puxa… ele disse que eu posso ir e ficar com ele…

Eu quero. Quero ficar com ele sempre que ficar triste, porque ele sempre me faz esquecer… às vezes, depois, é
quase como se a tristeza nunca tivesse existido. Sempre é assim. E sempre é tão bom…

E mesmo que ele esteja agindo estranho de novo, eu me sinto tão bem e confortável. Puxa… Jiminnie é tão doce, e
único…

Eu queria poder ficar aqui, com ele, para sempre. É o lugar mais confortável que existe.

— Jiminnie… — eu chamei, porque ele ainda está estranho e olhando pro outro lado. — Sim. Sim, eu quero ficar com
você sempre que ficar triste.
Depois que eu disse, percebi como saiu estranho e vergonhoso.

— S-sério? — Ele virou o rosto de repente, e o óculos até saiu do lugar, o que quase me fez rir, caso eu não estivesse
me agitando completamente por ele ter gaguejado.

É muito adorável quando ele gagueja. Quase nunca acontece, mas… puxa… a voz dele ficar bem fina e…docinha.

— Uhum… — eu afirmei, meio desnorteado por todas essas coisas, de só uma vez. — Não só quando estiver triste…
mas… você entendeu! E-eu quero… — Engoli em seco, porque quase disso que quero ficar com ele para sempre.

Não é mentira, mas… enfim. É. É.

— Que bom! — disse ele, e riu. — Talvez a gente possa até encontrar um lugarzinho especial, nosso. Aí seria o nosso
porto-seguro… mas só nosso.

— Isso seria tão legal… — eu disse, pensando na ideia.Algo só meu e dele… — Mas não tem lugarzinho especial
aqui.

— Hmm? — Franziu as sobrancelhas, confuso com o que eu disse.

— Quer dizer… nessa cidadezinha, não deve ter nada para ser nosso — eu disse, meio embolado. Responde rápido,
Jimin, aí eu não fico com vergonha.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Ora essa, sem pessimismo! Tem sim, é só procurar — disse ele. — Vamos fugir da sua irmã essa semana. Você
sabe… se estiver entediado em casa, aí você me liga, e a gente pode conversar sobre qualquer coisa. Vou fazer você
esquecer ela.

Eu sorri, meio vago. É claro que ele vai… ele já me fez esquecer dela agora.

E, puxa… eu quero ligar para ele sempre, na verdade.

Às vezes, antes de sair de casa, eu fico com muita vontade de ligar. Mas sei que ele vai ter que ir até a vizinha, só
para falar uns minutinhos comigo, e fico com vergonha de o fazer. Mas gosto tanto de falar com ele…

Eu mordi o lábio, meio ansioso para isso.

— Hoje… — eu sussurrei, olhando-lhe. — Hoje eu vou falar com minha mãe. E aí, eu te ligo, ou… você me liga?

— Eu posso te ligar! — ele disse, animado, e puxa, é incrível quando ele parece estar sentindo o que eu sinto. É
perfeito. — Ou você liga... quer dizer, vamos ver quem liga primeiro...

Eu sorri.

— Sim, vamos — eu disse, me encostando no balanço. — Fiquei até com vontade da minha irmã megera chegar logo
pra eu poder fugir dela.

Jimin olhou para mim, e riu, surpreso.

— Pfft. Você é inacreditável! — disse. Ergui as sobrancelhas. Sou inacreditável. — Também estou ansioso pra isso,
se quer saber.

— Pra ela chegar?

— Não. Para ficar só com você.

Ergui as sobrancelhas.

E… desmanchei em mais um outro sorriso.

Puxa vida… é isso aí. Ele quer ficar só comigo. Só comigo…

— Eu também… — eu disse, muito baixinho, porque estou começando a ficar com vergonha.

Mas Jimin pareceu não se importar, dando um sorriso praticamente audível; simplesmente rindo soprado, de maneira
discreta. Eu comecei a me balançar levemente, e Jimin também fez isso. Até que nós simplesmente ficamos ali, nos
balançando, como se fôssemos duas crianças. Eu queria que pudéssemos ser.

Embora eu esteja com um pouco de vergonha por causa do que dissemos e admitimos, fico muito feliz ao me
balançar e perceber que não vai ser tão ruim dessa vez… e não foi de brincadeira quando eu disse que estava ansioso para
minha irmã chegar e tudo acontecer. Porque definitivamente quero encontrar esse tal lugar, que vai ser só meu e só dele.
Isso vai ser incrível…

Eu mal posso esperar pelas férias de duas semanas.

Nós continuamos nos balançando por alguns minutos. Quando Jimin começou a parar, aos poucos, eu o fiz também.
Foi engraçado olhar para ele e ver que seu cabelo está meio bagunçado. O meu deve estar um ninho de passarinho, mas
não estou nem aí.

É estranho como fico nem aí quando estou com Jimin… de um jeito bom, pois me sinto relaxado e feliz, como se não
precisasse me preocupar com muitas coisas, porque ele não vai me julgar. Ele é bem confiável pra mim.

Mas… é estranho porque, ao mesmo tempo, também fico muito aí quando ele está por perto. É como se eu quisesse
ser eu mesmo, mas de um jeito melhorado e mais… impressionante?

Sim. Exatamente desse jeitinho.

Mesmo que eu estivesse pensando, Jimin acabou olhando pra mim também. Isso me fez sentir um pouco sensível,
porque parei de pensar. Os olhos dele são pequenos, então às vezes parecem afiados… e é muito bonito. Ainda mais porque
ele parecia um pouco pensativo e confiante. É demais. De verdade.

Fico um pouco egoísta quando penso muito nisso. Porque percebo que Jimin é perfeito e contemplar esse fato me faz
querer que ele fique só comigo, mesmo que seja absurdo. Puxa. Quando foi que eu me tornei assim? Eu só queria que fosse
normal querer ficar com alguém para todo o sempre.

Será que é?

—…

Eu franzi as sobrancelhas, olhando para ele.

— O quê? — perguntei, confuso, enquanto ele também olhava para mim, agora com um sorrisinho.

Jimin disse alguma coisa, mas foi muito baixinho, então não entendi.

— Eu só disse que vai ser legal — respondeu ele, mas… hum. O jeito que ele está sorrindo deixa óbvio que é mentira.
Jimin, Jimin... — Sabe de uma coisa? O final dessa minha história é demais. Achar e ter esse lugar vai ser muito bom pra
gente também, tenho certeza disso. — Jimin continuava sorridente.

O fitei com cautela, ainda curioso sobre si, porque ele parece saber perfeitamente o que está dizendo agora.

— Ah… — murmurei, um pouco perdido. Ele está com um olhar determinado. — Mas… o que acontece no final da
história?

Jimin dá um sorrisinho, que me parece nervoso e satisfeito ao mesmo tempo.Já sei. Ele queria que eu perguntasse
isso.

— O protagonista… — ele começou, com um sorrisinho. — Ele fica feliz, porque encontra alguém lá, e fica com esse
alguém, sabe? — ele começou a dizer, me olhando de um jeitinho bem diferente. É levemente intimidador e definitivamente
confuso. A-ahn? — Juntinhos, sabe? Eles se casam depois, se quer saber.

Hã?

— Ah, tá — eu disse, ainda olhando para ele e sua pose super diferente.

Ele está com a sobrancelha erguida e um sorriso enorme.Socorro.

— O que você acha disso, hum? — Piscou os olhos lentamente.Ai meu Deus, ele ficou intimidador de novo. —
Hum…?

Ajuda. Não sei o que dizer, porque esse seu olhar sugestivo faz parecer que ele está colocando expectativas em mim,
e embora ele fique perfeito piscando os olhos desse jeito… é diferente.

E por mais que eu deseje superar essas possíveis expectativas, eu não sei bem o que fazer… e a única coisa que sai
da minha boca, é:

— Bacana.

Bacana.

Jimin me fitou. E desfez sua expressão facial.

Suspirou… pensei ter dito algo de errado, ou ido muito mal, porque ele não estava mais olhando para mim.Puxa...

Eu balancei a cabeça, levemente, um pouco decepcionado comigo mesmo. Mas depois que ouvi Jimin, que só deu
uma risadinha, e finalmente ficou normal, eu lhe encarei novamente… o que é que está acontecendo?

Jiminnie me deu uma olhada. E depois riu mais.

Estou tão confuso que não consigo fechar os olhos direito…

— É. — Balançou um pouquinho seu corpo, no balanço, mas ficou de pé logo depois. — É bacana.

Olhei para ele, surpreso porque ele desceu do balanço. Eu também me levantaria, contudo, Jimin andou até o meu
balanço, e ficou bem na minha frente… o quê?

Eu não me movi, ainda confuso, mas muito surpreso ao sentir meu corpo entrar em estado de alerta logo que ergui
meu rosto. Porque Jimin está na perna minha frente, bem mais alto que eu, e olhá-lo assim me faz sentir bem nervoso.

Minhas bochechas arderam, com ele olhando para mim também. Eu fico envergonhado só porque ele olha pra mim.
Por que eu sou assim? Puxa…

— Gguk — murmurou ele, e eu apertei as mãos na corrente, porque quando ele me chama deGguk, eu sinto… coisas.
— Vou achar um lugar perfeito pra gente e vai ser uma semana muito feliz — disse ele, com a voz macia, mostrando-se
muito mais sagrado do que antes por estar assim, mais alto que eu. É como se ele fosse a voz da verdade, só ele.— Eu
prometo.

Jimin hyung ergueu a mão esquerda, e seu mindinho ficou pertinho do meu rosto. Ele promete.Ele promete de
dedinho.

Puxa...

Eu suspirei, começando a sorrir quando ergui meu mindinho também. Ainda estou nervoso, mas também estou muito
feliz… afinal, Jimin prometeu, e eu acredito muito nele. Na verdade, Jiminnie pode fazer a semana ser feliz só por existir…
puxa, ele é muito importante.

Quando ele será que ele se tornou tão especial assim pra mim? Tenho quase certeza de que ele sempre foi…

Puxa.

— Não pode quebrar a promessa — eu disse, amaciado por dentro quando ergui meu dedinho e prendi no dele. Jimin
deu um sorrisinho, e eu também. — Sério mesmo.

Fiquei olhando para ele. E Jimin ficou olhando para nossos dedinhos entrelaçados, por um longo tempo, quase
hipnotizado… ou perdidinho.

Eu vi suas bochechas começarem a ficar vermelhas, aos poucos, e embora tenha passado mais tempo que o
necessário, eu não soltei dele. Jimin, igualmente, ficou prolongando o contato, com os olhos ficando curtos conforme ele
sorria e ruborizava no rosto inteiro…

Puxa... Eu pensei que estava menos pensativo que antes, mas não tardei em começar a ficar tímido em todo o rosto,
involuntariamente. Senti meu nariz ficar quentinho, e depois minhas bochechas… um mais quente que o outro.

Eu só não sei se é por causa dos nossos dedos juntinhos, ou se é porque ele está desse jeito tão… tão...

Assim. Tão assim.

Acho que nunca vi Jimin tão lindo quanto ele está neste exato momento.

Ele está muito lindo, e sinto cheirinho de creme vindo dele. Não sei que tipo de creme é, mas não é de cabelo…
parece hidratante de loja de cosméticos. Mas muito mais natural e único do que isso… é cheiroso. E seu mindinho continua
tão macio quanto estava naquelas outras vezes, tão nervosas e gostosas como essa.

Meu coração começou a ficar barulhento, e não consegui impedi-lo de fazer cada vez mais algazarra, com tanta
adrenalina. Estou literalmente sentado em um balanço, não estou me balançando, mas mesmo assim, me sinto cheio de
adrenalina… eu fico diferente conforme ele continua parado e lindo assim. Eu nem devo estar lindo também, então agradeço
ao universo por ele estar olhando para nossa promessa e não para mim.

Afinal… meu pé começou a ficar inquieto, e eu acabei fitando o chão, tentando não fazer muito barulho no ato. Mesmo
que ele seja inevitável.

No entanto, Jimin ergueu o polegar de repente, e ficou mais rosa embaixo dos olhos rapidamente.Fiquei surpreso. Ele
deu um sorriso, e me senti íntimo; observador, porque percebi seu lábio superior tremendo bem devagarinho quando ele deu
uma risadinha… um suspiro risonho, na verdade.

Meu pé continuou batendo, e minha outra mão está apertando a corrente do balanço, porque, apesar de todas as
coisas, isso me deixa muito balançado.

Quer dizer, puxa… quando ele fica assim, eu me sinto diferente, e é tão… doido. Eu fico doido… simples assim, eu
endoido.

— Jeonggukie — chamou ele, de novo, em um sussurro que saiu mais doce que o comum.Minha mão latejou. —
Levanta o polegar… — pede espontaneamente.

Fiquei embasbacado. E não pensei duas vezes. Honestamente, eu nem sei se ouvi tudo que ele disse. estou tão
nervoso que estou pressionando meus lábios com força, e com os olhos arregalados, completamente sensível diante da
situação. Jimin… sussurrando… e sendo tão bonito, e tão próximo. ...

Estou quase explodindo. Puxa vida, é certo, eu realmente vou explodir!

O meu polegar estava erguido desde que ele disse a palavrapolegar. Fiquei assim, e ele olhou para mim, para o meu
polegar, e dividiu essa troca de olhares várias vezes. Estava tão silencioso em volta do parquinho que pensei que
pudéssemos ter sido os últimos seres humanos a restarem no planeta terra, mesmo que tão de repente.

Nem seria tão ruim caso estivesse acontecendo de verdade. Não sei mais no que estou pensando…

E agora, não sei o que estou sentindo. Porque vi, com meus próprios olhos, Jimin fechar os seus,tão pequenos, e
suas bochechas se tornaram mais vermelhas quando ele inclinou seu rosto cheio de constelações para perto de mim.

Eu prendi um grito na garganta. Porque ele continuou inclinando, e inclinando, e minhas pernas ficaram bambas, e
meus dedos dormentes e trêmulos, porque ele… ele está se inclinando, e aproximando.

Pensei que iria gritar. Mas, quando Jiminnie mexeu nossas mãos, que continuam com os dedos selados, e fez um
biquinho, eu descartei a possibilidade de gritar.

Não, espera. Eu não iria gritar. Eu iria desmanchar no gramado. E talvez virar uma macieira. Não sei. Só iria me
acabar, porque ele beijou meu polegar, e eu nunca senti algo tão macio assim antes... não quanto os lábios dele realizando
esse ato.

O estalinho fez meus ombros tremerem. E quando ele se afastou de novo… senti que estava no espaço.Puxa, puxa,
puxa! Ele beijou meu polegar! Ele beijou… ele…

Ele já tocou a boca em minha bochecha antes, mas foi tão rápido que… não senti direito. E agora eu senti tudo, e é
como se meu dedo tivesse criado vida, e minhas mãos também estão tão trêmulas, e parecem ter veias sensíveis, e
dormentes, é como se fossem desmaiar.

Meu Deus, o que é isso?! As minhas mãos vão oficialmente desmaiar!

— Aí — disse ele, de novo, e tocou seu polegar no meu polegar beijado.Beijado. O polegar vai desmaiar. — Acho que
é assim, não é? Uma promessa mais promessa que a outra…

Minhas orelhas estão pegando fogo. Meu pé já estava fazendo barulho enquanto batia continuamente no chão, e eu
fiquei mole, mole como queijo derretido, quando tive a ideia maluca de olhar para ele naquele momento.

Jimin. Olhei Jimin e suas bochechas ainda rubras, a boca que beijou meu polegar sendo escondida levemente e os
olhos brilhando, como se estivesse… feliz?!

Feliz.

Ele está feliz… puxa…

Jimin, Jimin...

Eu abaixei a cabeça de novo. Levei a mão trêmula, da corrente, pra minha nuca, e comecei a coçar de timidez.Meus
dois pés estavam batendo agora. E até parece que vai ter um terremoto — talvez já esteja tendo — porque é como se eu
estivesse voando, em movimentos circulares bem agora, porque estou tonto demais!

O que estou falando? Eu me perdi. Me perdi totalmente!

— Puxa… — eu disse isso, em voz alta, e foi sem querer. Mordi meu lábio com força.Estou tão nervoso. Tão nervoso.
— Jimin…

Estou tão nervoso, de novo. Puxa… como você consegue me deixar tão nervoso?

Como?

— O que foi? — Riu soprado, e é como se sua voz fosse sair saltitando por aí.

Puxa, Jimin… não sei o que foi. Mas desde quando ficar nervoso se tornou tão bom?

Você está deixando as coisas de cabeça pra baixo dentro de mim…

Quero olhar pra ele, mas não consigo, então desfaço os dedinhos. Mas antes que a mão dele se afaste, eu a seguro,
com muita mais força que a promessa... e pressiono muito. Com bastante força, porque não consigo dizer nada, e nem olhar
pra ele.

Mas eu quero que ele saiba o que eu sinto.Até quando nem eu sei.

Estou apertando muito, muito, mas isso estranhamente significa que é bom. Meus lábios estão trêmulos, se curvando
pra cima, como se eu fosse abrir o sorriso mais assustador do mundo a qualquer momento, porque o beijinho dele me deixou
cheio de felicidade. Puxa vida, Jimin… ele é como um anjinho da guarda, está sempre me deixando feliz, só de falar e fazer
alguma coisa. Eu me sinto protegido e abençoado. E nervoso.

Meu peito continua barulhento, e eu suspiro, afetado. Jimin aperta minha mão de volta, e fica ali… como se me
dissesse que não vai soltar. Que não vai sair, nem ir embora, e que entende que eu estar apertando é bom…

Puxa…

Tudo fica mais intenso quando a outra mão dele se ergue, e pousa no meio da minha cabeça. Eu não consegui
segurar o suspiro de satisfação, mesmo que trêmulo, quando ele começou a acariciar ali com tanto carinho. Deslizando a
palma do topo da minha cabeça até minha nuca, e voltando, e indo, e voltando… e provavelmente sentindo que estou quente
sempre que fazia isso.

Não me lembro nem se eu lavei o cabelo hoje, mas… espero que sim. Espera, meu cabelo ainda está úmido, eu lavei
sim. Então está cheiroso. Eu espero que ele ache meu cabelo cheiroso, porque é bom quando alguém é cheiroso.Ele é
cheiroso, e é muito bom.

Eu espero ser cheiroso e bom também.

Aos poucos, com aquele carinho tão contagiante e gostoso, minha cabeça começou a esvaziar e meu corpo relaxar.
Quase como se eu estivesse pegando no sono… sua palma enviava calma pra mim com todas aquelas carícias simples e
macias. Meu pé ficou quieto em algum momento, e o aperto em sua mão se tornou suave. Mas meu coração não. Ele não
parou de bater forte, porque seu polegar estava deslizando pelas costas da minha mão também, e isso me fazia sentir mais
vivo do que qualquer coisa.

Qualquer. Coisa.

— N-não foi nada! — eu respondi, depois, sem contexto algum porque, depois de tanto tempo, ele deve até ter se
esquecido que me perguntou.

Jimin não reagiu ao que eu disse. Só continuou me fazendo carinho, e eu queria que ele pudesse fazer isso para
sempre. Antes de eu dormir, e para me acordar, e sempre que ele quisesse… eu espero que ele queira fazer carinho em mim
também. Porque é perfeito. É perfeito.

— Tudo bem… — ele disse, com a voz rouca e um pouco falha. Jimin pigarreou.

Tudo bem. Tudo bem.

Ficamos em silêncio. Talvez ele pudesse ouvir meu coração, mas eu não me importei muito… só fiquei relaxado, com
a sensação de que nada pode dar errado nunca mais em toda minha vida, porque Jimin sempre me fazia sentir tanta paz…
talvez ele ache estranho se eu disser isso, então não vou dizer. Mas não ligo se é estranho ou não. Porque é perfeito. É
muito perfeito.

Puxa, já repeti tanto que é perfeito, mas é porque é. Não me importo de repetir, porque é perfeito…

Quero ficar aqui para sempre. Para sempre.

Jimin, que fazia um cafuné na minha cabeça, parou repentinamente sua mão em minha nuca. Quando ele começou a
fazer carinho ali, parecendo um pouco hesitante, a minha perna até voltou a tremer e meu pé a bater no chão. Porque era
muito bom, e meus braços já estavam começando a ficar sensíveis… eu vou ficar todo arrepiado, puxa, eu vou mesmo, já até
sei…

Fechei meus olhos. E dei um suspiro longo, porque Jimin se moveu, e soltou minha mão, mas ele não foi embora.
Não. Ele não se afastou, ou parou de fazer carinho. Ele só levou essa mão para as minhas costas, embaixo do capuz que
não cheguei a colocar na cabeça hoje, e apertou ali, me fazendo me inclinar para frente.

E eu abri meus olhos, então, porque percebi que estava sendo abraçado. Eu queria abraçar, queria muito abraçar,
porque quando a gente abraça, eu me sinto tão contente. E o ar fica agradável, até quando está chovendo...

Quando ele me abraçou naquele dia, depois de irmos na loja de disco, eu não esqueci da sensação até depois de
tomar banho. Não esqueci quando ele me abraçou embaixo da árvore. Nunca me esqueci. Ainda mais quando ele chega
perto, tipo agora. Puxa… eu amo abraçar, eu amo abraçar.

Eu costumava odiar abraços, porque eram muito apertados, e estranhos, e curtos demais… mas Jimin abraça
diferente. E eu amo quando ele me abraça diferente…

Por isso, ergui as minhas mãos, e abracei suas costas. Ofeguei quando coloquei o rosto na barriga dele para me
esconder, e ficar envergonhado, porque estamos nos abraçando. Não sei se meu abraço é bom, mas não me importo, puxa,
não me importo com mais nada. Porque estou abraçando ele, e ele é tão macio, e é como se eu estivesse começando a
evaporar. Dos pés, até a cabeça, em que ele estava fazendo carinho há segundos.Mas agora, está segurando minha nuca,
e minhas costas, e me abraçando de volta.

Fiquei quase fungando, porque o cheiro do suéter dele era tão bom e tão único. Eu acho que é o suéter que ele estava
usando no primeiro dia de aula, porque é um azul tão bonito. Eu não me importei com isso, só aconcheguei a cabeça ali, e
pensei no quanto ele era macio e fofinho, como um travesseiro que caiu do céu… puxa vida, é maluco como Jiminnie todo
parece ter caído do céu. É tão único. Tão, tão, único. Talvez ele realmente seja um anjo.

Meu coração começou a bater mais devagar, mas continuava intenso e forte. Jimin deu um suspiro macio, com a voz
soando lentamente, enquanto seus braços simplesmente rodeavam meu pescoço, e minha cabeça, porque ele se inclinou
muito mais, até meu rosto arrastar e ficar acolhido em seu peito e eu sentir a testa dele tocar meus cabelos. Ele encostou a
cabeça dele na minha. Estava me abraçando completamente… me perguntei se ele estava com saudades de mim.

Eu quase caí do balanço, porque meus pés não estavam mais firmes.Eu queria soltar, ou me jogar, só para sentir
tudo aquilo com mais intensidade. Porque quando esfreguei sutilmente o rosto nele, eu senti o coração dele batendo.Forte.
Forte que nem o meu. Talvez um pouco mais, ou completamente igual, mas estava batendo tão… tão forte.
Pensei que estava no céu, puxa… talvez eu esteja, porque quero ficar aqui para todo o sempre.

Sempre, sempre.

JIMIN

É mais do que eu toquei ele em tanto, tanto tempo.

Jeonggukie… era tão bom abraçar o corpo dele. Era tão bom sentir as mãos dele me tocando nas costas, e envolver
ele desse jeito, como se estivesse o guardando em meu abraço. É como se ele fosse todinho meu… eu queria guardar ele.
Queria guardar Jeonggukie e levá-lo para casa, porque adorava ele, muito, muito…

Nosso abraço estava meio torto, até. Mas era inexplicavelmente perfeito. Porque ele estava encostando no meu
corpo, com as mãos em volta de mim, e eu adorava sentir ele tão pertinho. Eu estava completamente inclinado para frente,
tocando sua cabeça com minha testa, sentindo todo seu cheiro gostoso e bom… eu queria poder viver nos cabelos dele. É
tão confortável, e tão bom, que não posso evitar ficar com o coração acelerado de satisfação. Meu rosto deve estar todo
vermelho, porque estou todo quente, e acariciando ele, e amo tanto isso… amo tocar ele. Amo estar abraçando ele de novo,
porque sempre sinto vontade, mas nunca sei se devo o fazer… mas ele está me correspondendo. Então eu vou abraçar ele
sempre, sempre…

Ele está tão quentinho que eu queria que nossas temperaturas e abraços não fossem a única coisa em comum… eu
amava abraçar ele. Eu queria que ele amasse também. Mais mais que isso… queria que ele me amasse também. E me
beijasse também, fosse no meu polegar, ou nas minhas bochechas… só queria que Jeongguk se sentisse como eu, porque,
assim, eu poderia abraçar e beijar ele para todo o sempre.

Nós ficamos daquele jeito por muito tempo… podíamos até ter perdido a hora, porque a reunião durava no máximo
quarenta minutos, de acordo com os professores… talvez nossas mães saiam juntas pelas portas do prédio e nos vejam
assim, e eu não me importaria de admitir que é a melhor coisa que me aconteceu. Porque é. Os abraços dele são a melhor
coisa que me aconteceu…

Mas… contrário à isso, depois de tanto tempo imerso naquele abraço mais longo que os abraços comuns, eu fiquei
levemente amuado quando senti as mãos de Jeongguk se soltando bem aos pouquinhos de mim. Também percebi que a
escola estava ficando mais barulhenta que antes, ainda lá dentro… eu estava certo. E me senti um bobo, idiota, sem sorte.
Porque logo depois de pensar que a reunião poderia ter acabado, isso aconteceu… realmente acabou…

Mordi o lábio levemente, o apertando com mais força que antes… só por um segundinho, porque sei que o abraço vai
acabar. Então quero que seja mais intenso nos últimos segundos.

Foi assim até o lugar ficar barulhento, e eu… muito chateado ao me afastar de Jeongguk.

Eu fiquei em pé, do jeito normal, então. Tirei minhas mãos dele, e dei um passo para trás, sentindo uma dorzinha leve
no peito que eu sabia que era saudades. Vou ficar com saudades dele, e já estou…

Jeonggukie ficou olhando para baixo, apertando a corrente do balanço por um tempinho… até que firmou os pés no
chão e olhou para mim. Depois, começou a morder o lábio inferior e a olhar em volta, como se não soubesse o que fazer, ou
se sentisse perdido por estarmos tão pertinho momentos antes.

Seu cabelo estava um pouco bagunçado… e ei deu um sorrisinho por isso, porque ele nem percebeu.

Estávamos tímidos, e eu nem sabia o que falar… só fiquei ali, mexendo o pé, um pouco nervoso, enquanto esperava
ele dizer alguma coisa ou perceber que, aparentemente, a reunião acabou, porque a escola ficou mais barulhenta.

E demorou… demorou um pouquinho, mas, ele acabou percebendo — depois de muito morder a boca atraente e
coçar a nuca macia.

— A-acho que a reunião acabou… — disse ele, e eu só queria abraçar ele de novo depois de ouvi-lo gaguejar de um
jeito tão fofinho.

Qual é… por que tem que ser tão difícil gostar de alguém tão lindo e perfeito quanto Jeon Jungkook?

— Também acho… — eu disse, e agora ele estava olhando para mim. Mas desviava depois. E voltava a olhar.Fofo,
fofo, fofo... — Vamos… ahn… entrar?

Parte de mim queria que não fizéssemos isso. Queria que simplesmente saíssemos correndo para um lugar distante,
onde nossos abraços nunca terminam.

Já Jeonggukie, demorou um pouquinho para responder… mas no fim, ele balançou sua cabeça, afirmando, bem lento
no ato de se levantar do balanço e ficar em pé. Lindo. Lindo demais.

Ele ficou do meu lado. E quando isso aconteceu, eu comecei a caminhar… fomos juntos, até estarmos fora do
parquinho. Voltamos ao piso, em silêncio. Era um silêncio nervoso e tímido. Mas era bom… muito bom, mesmo.

Fiquei um pouco surpreso quando percebi que ele parou de andar. Eu parei também, é claro, mas antes de me virar
pra ele, Jeonggukie segurou minha mão com força.
— J-Jiminnie… — começou ele, e eu me virei, quase me derretendo todinho por ele ter pegado a minha mão.Foi ele
que pegou. — Obrigado… de verdade.

Eu ergui as sobrancelhas, confuso. Obrigado? Pelo o quê?

— Como assim, Kookie? — eu indaguei, e ele não estava olhando para mim. Estava olhando para nossas mãos.

Sim, elas ficam lindas juntas... olhei também.

Jungkook continuou apertando levemente, e eu amo quando ele faz isso. Ainda mais quando dá um sorrisinho, tão
curto e doce, e diz, com calma e a voz amorosa:

— Obrigado por deixar tudo tão, tão feliz… — Sua voz saiu baixinha enquanto ele dizia isso. —Você sempre faz isso.

Eu senti meu coração se chacoalhar aqui dentro. Fiquei desnorteado, mesmo depois de Jungkook soltar minha mão
sutilmente, mesmo quando ele voltou a caminhar e eu fui atrás dele, completamente entorpecido por ele ter dito que deixo
tudo tão feliz.

E enquanto entrávamos na escola e víamos aqueles pais e professores para todos os lados, minha mente ficou nisso
e só nisso. Nele dizendo que deixo tudo tão feliz. E ainda podia sentir o rosto dele no meu peito. Eu não consegui parar de
pensar nisso… mesmo quando ele foi embora com seus pais, e encontrei minha mãe, que sorriu e me deu um abraço porque
minhas notas estavam super altas e os professores falaram bem de mim e do meu desempenho escolar — embora
precisasse ser menos distraído e dorminhoco, o que eu admito que é verdade.

Mas… nada disso importou de verdade, para mim. O meu dia foi especial mesmo porque eu estive com Jungkook.

Foi ele que me deixou feliz de verdade.

***

O resto do dia foi mais divertido que eu pensei depois de chegarmos em casa.

Eu disse para minha mãe que queria usar o telefone da vizinha mais tarde, e ela disse que eu poderia, mas só depois
de ajudá-la a arrumar a casa. Nós o fizemos ouvindo músicas do país dela — completamente horríveis, mas aceitáveis — e
fiquei todo suado depois de varrer, tirar pó, e lavar todas as partes da casa que eram minhas… passamos a tarde toda
fazendo isso, mas não foi muito estressante, porque Leonor estava de bom humor e eu também. Foi perfeito… e fiquei bobo
quando ela pregou o boletim na geladeira. Senti vontade de tirar notas ainda mais altas para deixá-la ainda mais orgulhosa e
feliz.

Quando chegou no meio da tarde e terminamos, eu tomei banho e vesti uma roupa de ficar em casa. Leonor disse que
iria cochilar e eu fui colocar a roupa que lavamos no varal. Só que… quando terminei, a vizinha me chamou, dizendo que
tinha uma ligação para mim. E é claro que eu saí correndo, animado, porque sabia que era Jungkook.

Nós passamos um tempo conversando, e ele me disse que sua mãe o liberou no total detrês dias para ele sair na
semana. Fiquei feliz, ao mesmo tempo que bravo porque queria que a mãe dele tivesse liberado sete dias para ele sair na
semana…

Já na outra semana, ele viajaria com os pais — felizmente sem a irmã megera — para a casa dos avós, que não é
muito longe. Marcamos o horário, os dias, e eu fiquei feliz quando ele se despediu depois de mim, mas não desligou. Nós
dois ficamos na linha, esperando o outro desligar, mas nenhum dos dois o fez…

Eu fiquei rindo baixinho e ele também. E aí o pai dele chamou ele, e ele continuou rindo quando disse“Agora sim.
Tchau, Jiminnie” e é simplesmente perfeito como ele fica fofo me chamando de Jiminnie. Ele sempre me chama de Jiminnie
agora, e eu amo muito, muito…

Mas, muito mais legal que isso, foi quando eu estava saindo da casa da vizinha, a senhora Bong, e ela me impediu.
Me disse que tinha uma coisa para mim. Meus olhos ficaram arregalados quando ela trouxe um telefone, um pouco
empoeirado, mas que chegou em minhas mãos com felicidade. Ela sorria, dizendo que ela não usava ele desde que a filha
dela saiu de casa e que eu poderia ficar com ele, porque sempre tinha bastante a conversar e que eu era um menino muito
doce, e merecia.

Eu… eu quase chorei. Porque um telefone custa bastante. E ela me deu um… eu a dei um abraço, e ela retribuiu, e
eu, novamente, quase chorei, porque a senhora Bong já era velhinha e me lembrava a vovó. Quando eu voltei para casa,
mamãe ficou chocada também, ainda mais porque tinha acabado de acordar do seu cochilo. Até foi lá, na casa da vizinha,
perguntar se ela tinha certeza disso! Foi engraçado…

E então, o resto do dia se baseou em eu e a mamãe instalando o telefone em casa e pedindo ajuda para um técnico.
Demorou um tempão, e nós improvisamos uma mesinha para ele, bem no cantinho da sala, e ele ficou bem bonito ali.
Mamãe e eu ficamos tão cansados que nos jogamos no sofá e não levantamos por um tempão… só quando ficamos com
fome, óbvio.

Foi muito divertido ver Leonor dizer que iria pedir uma pizza e, ao invés de usar o nosso lindo novo telefone, sair pela
porta de casa para ir pedir no Orelhão. Eu até me esqueci disso e não a avisei, só fui notar quando ela voltou. E nós demos
bastante risada, porque era novo demais ter um telefone…

Diferente das última vezes, não fiquei com medo de notícias ruins por termos pedido pizza. Uma vez que voltar para a
escola foi perfeito, eu amo comer pizza. Eu amo ter ido para escola depois daquele primeiro dia horrível, porque Jeongguk e
meus amigos fizeram os dias se tornarem perfeitos… e deliciosos.

Então, quando me deitei aquela noite, cansado de faxinar e instalar o telefone de casa, eu fui dormir pensando em
Jungkook e a próxima semana, em que encontraríamos o nosso, e só nosso lugar.

Isso foi o suficiente para eu dormir com a sensação amorosa e cheio de felicidade a noite inteira.

Notas finais
Oi de novo~ hoje as notas finais ficaram gigantes, mas elas são muito importantes! Por favor, leiam com atenção

Ok, vamos lá… primeiramente: por favor, não maliciem TUDO que o Jimin faz só porque, com esse capítulo, vocês
entenderam que ele não é inocente!

Sim, gente, ele sabe o que é sexo! Mas não é por isso que ele vai maliciar e sexualizar tudo quanto é coisa que ele sente
pelo Jungkook, e quando toca o Jungkook, né?! Poxa, vocês deveriam saber disso…
Afinal, não é só porque a gente sabe das coisas que é só isso que se passa pela nossa cabeça… ainda mais quando a
gente tá tão apaixonado por alguém. Amor é diferente de ter APENAS desejo sexual. Ainda mais quando é tão novo, como
é para nossos meninos de EECR.

Por favor, entendam! Ok?

E agora, vamos a explicação sobre o porquê Eleanor se tornou Leonor. Como vocês sabiam, aqui, a mamis do Jimin se
chamava Eleanor. Era uma referência ao livro Eleanor e Park, mas não deu muito certo. Muitos leitores acharam (e ainda
acham) que Eleanor & Park se passa no mesmo universo que EECR e que, sim, o Jimin é filho do casal daquele livro!

E tipo, gente... nãooooo! Eleanor & Park se passa em 1986, e EECR em 1983! Não tem sentido TT além de que o NOME, e
apenas o nome "Eleanor", era a referência. A mãe do Jimin não tem nenhum traço em comum com a personalidade da
Eleanor do livro.

Mas enfim... por mais que eu tenha explicado nas notas várias vezes que eu apenas me inspirei pra escrever essa história
enquanto lia o livro de Eleanor e Park, muita gente continuava ignorando e achando que os dois universos eram o mesmo.
Por isso eu estou oficialmente mudando o nome da personagem mãe do Jimin. Agora Eleanor, nessa fanfic, se chama
Leonor. Ok?! Se virem alguém perguntando nos comentários sobre essa mudança, ou em qualquer outro lugar, por favor,
expliquem sobre isso por mim~

Enfim... foi isso! Agora o Jiminzinho tem um telefoneee ele e o Kookie vão conversar bastante agora... uwu

Espero que tenham gostado do capítulo e, mais uma vez: muito obrigada por tudo! Pelos comentários, pelo carinho, por
lerem... vocês são incríveis! Obrigada

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Até a próxima~

19. Ele é como o Amor Mais Puro

Notas do Autor
Ei bonitas e bonitos~ como foi o domingo de páscoa de vocês? Bom? Espero que sim

Cheguei tardezinha pra uma att bem grande! Eu queria muuuito atualizar na páscoa, e acabou que me enrolei toda quando
meus pais disseram que iríamos viajar 17h aos invés de 22h... assim que cheguei em casa, vim aqui atualizar pra vocês
poderem ler esse capítulo ENORMEEE... espero que gostem

Bom dia pra quem está lendo de manhãzinha (ou boa tarde), e OIE pra quem vai ler agora de madrugs... att de EECR uma
da manhã SJDIJSIJD eufuieutava##

Enfim, não quero enrolar demais aqui, então... boa leitura


JUNGKOOK

— Lippy…! — me exaltei, praticamente bravo. — Você tá me distraindo, puxa! Eu só tenho um tempinho para terminar
isso antes da megera voltar, então fica quieto!

Foi tudo que eu gritei para ele. Lippy, meu cachorro que não parava de fazer estardalhaço — e me distrair —, parou de
latir por um segundo, atento à palavra “megera”.

Eu o fitei e usei dessa sua pausa repentina e silenciosa para continuar o que eu estava fazendo. Afinal, eu preciso
terminar isso o mais rápido possível, e Lippy estava me atrapalhando... eu perdia um tempão me perguntando se meu
cachorro era mais maluco do que eu, sério.

Eu não posso perder meu tempo agora, não mesmo, então fuirápido.

E por quê? Bem… é um pouco triste o que eu vou falar agora, mas:

É segunda-feira.

É. É segunda-feira, e além de ser segunda-feira, minha irmã está em minha casa. Ela chegou ontem à noite com sua
amiga — igualmente megera — e eu já estou me estressando completamente por causa das duas.

Fiquei muito indignado, porque a idiota simplesmente veio de surpresa! Mamãe me disse que ela viria na terça, mas...
bem, a idiota decidiu fazer uma surpresinha e apareceu ontem, no domingo.

Que raiva!

Sua chegada foi chata e constrangedora, como eu já sabia que seria. Jantamos juntos em família, eu fugi para o
quarto antes que uma espécie de oportunidade de ficar a sós com ela surgisse, e pude dormir feliz porque nem ousei olhar
para o rosto dela. Pensando bem, até que foi tudo meio ok, mas ainda me estressou.

Como o quarto da Juna estava todo empoeirado (eu tenho uma alergia muito forte), fiquei com meus pais na última
noite. Mas pela manhã, minha mãe e a Sr. Linn arrumaram o quarto da megera. Acabaram com a poeira, o que significa que
eu vou dormir no quarto cor-de-rosa da minha irmã de agora em diante. Puxa...

É um inferno.

A única notícia boa disso tudo é que, depois do café da manhã, minha mãe e as duas idiotas foram para o shopping
passear e fazer compras, e só eu e meu pai ficamos. Meu pai ficou para fazer o almoço, e eu, para pegar todas as coisas no
meu quarto que serão necessárias nos próximos dias. Desse jeito não preciso entrar aqui, com a presença de Juna, nunca
mais!

É exatamente por isso que estou sendo rápido e fazendo xiu pro meu cachorro. Porque tenho que pegar tudo antes
dela chegar… puxa, parece até um caso de vida ou morte. Mas é muito necessário… eu não posso deixar nada pessoal meu
aqui, ou Juna pode pegar e usar contra mim. E se ela visse meus desenhos? Ou minhas fitas?

Puxa… fico magoado só de pensar no que ela falaria sobre isso.

Enfim… eu deveria ter feito isso ontem, antes dela chegar, mas tive um começo de domingo muito bom, e acabei me
distraindo... até porque, tirando o fato de que ela chegou, Jimin me ligou no domingo à tarde… ontem, e o dia se tornou bom
por causa disso.

Ele me contou sobre seu telefone novo — uma longa história — e da conversa que teve com sua mãe sobre alguns
lugares na nossa cidade que pareciam interessantes. Jiminnie até chegou a perguntar para a vizinha sobre isso, e saber
disso me fez rir e ficar feliz, porque, afinal... ele realmente estava se importando com o nosso lugar.

Puxa...

Fiquei com vergonha de perguntar para minha mãe sobre os lugares da nossa cidade, porque minha irmã e sua amiga
estavam por perto, mas hoje tive a chance de falar com meu pai. Acabou que não descobri nada demais... mas ainda me
importo muito com o meu lugar com Jimin por aqui.

Meu pai disse que não conhecia muito da cidade, mas que eu deveria com certeza visitar a Praça Tulipa. Ele sempre
fala de como lá é lindo, muito bem cuidado, harmônico e seguro… mas fica bem longe daqui de casa, e não sei exatamente
se esse é o tipo de lugar que eu e Jimin estamos procurando para ser nosso.

De qualquer forma… esse é o lugar que eu tenho em mente para irmos visitar, e mesmo que não seja bom o bastante,
vai ser perfeito ir até lá com Jimin… afinal, somos nós, e sempre é tão bom quando somos nós...

Isso me faz lembrar das aulas avançadas que temos juntos, e como são boas.Como uma aula avançada pode ser
boa? Simples… quando somos nós, é boa.

E de pensar que, se não estivéssemos de férias, estaríamos assistindo à aula de história juntos agora. Puxa… é um
pouco bizarro sentir saudades da escola por esse motivo, eu fico até com vergonha...
Fico tão distraído pensando nisso que, por um momento, esqueço o que vim fazer no meu quarto. Logo lembrando, eu
fico de pé e deixo minha mochila cheia de roupas no corredor, para depois entrar no meu quarto novamente e pegar meus
melhores discos e fitas. Corredor. Peguei as HQs que Jimin pode, talvez, querer ler comigo.

Quando fui na casa do Jimin pela primeira vez, ele ficou curioso sobre os gibis que eu vivia lendo. Contei tudo sobre o
universo do Homem de Ferro para ele. Ele meio que gosta agora, então é claro que vou emprestar todos os meus quadrinhos
para ele, caso ele queira…

Só tenho medo dele gostar mais do Capitão América. Isso me doeria…hnf.

Com minhas fitas, discos, e quadrinhos pegos, eu saí do meu quarto. Voltei apenas para pegar as coisas do meu
banheiro, porque gosto de usar só as minhas coisas… ainda mais quando o assunto é shampoo. Eu comecei a usar esse
shampoo no começo do ano e nunca mais parei… acho que se pararem de fabricá-lo, eu vou morrer.

Enquanto saía do quarto com minhas coisas, percebi quealgo que escondo debaixo da cama estava ligeiramente
visível. Logo peguei-a, a papelada, e fui até o armário, as guardando lá embaixo da minha mochila e dos meus casacos…

Mesmo que eu os tenha feito há tanto tempo, ainda tenho um carinho por esses papéis. Então até parei pra ver se
estava tudo bem com eles… principalmente com a minha favorita.

Não fiquei tão nostálgico assim. Afinal, ouvi a porta da frente sendo aberta e várias vozes femininas repentinamente
presentes. Logo corri para fora do quarto, e arrastei minhas coisas para o quarto da Juna apressadamente.

A última coisa que vi antes de fechar a porta foi a amiga megera no começo da escada.Ufa!

Tranquei a porta e me joguei na cama cor-de-rosa. Suspirei. Não demorou muito para eu ter vontade de colocar os
fones de ouvidos, para ler meus quadrinhos, sem ouvir elas tagarelando. E eu fiz isso.

Ler fazia o tempo passar… e era tudo que eu queria. Que as horas fossem mais rápidas.

Só quero que amanhã chegue logo para eu poder pegar minha bicicleta e ir até Jimin.

JIMIN

Sinceramente?

Eu me sinto constrangido com o que me tornei.

E o que eu me tornei? Oh céus. Eu me tornei um bobo apaixonado descontrolado!

Na boa. Até pareço um protagonista de comédia romântica, agora. Estou experimentando um montão de combinações
de roupas, só porque quero estar… sei lá, bonitinho, para ver Jeonggukie amanhã.

É vergonhoso, eu admito… mas eu não faço ideia do que usar! Ainda não sei ao certo o que vamos fazer, nem se vai
estar muito calor, então fico cheio de dúvidas. Apenas o que sei é que vamos sair amanhã, quarta, e talvez sexta-feira.

Jeongguk me disse que sua mãe o deixou sair mais alguns dias durante a semana, mas como ele vai pra casa do Jin
no sábado, talvez ela não o deixe sair na sexta. Apenas espero que semana que vem ele possa me ligar, porque vou sentir
muita saudade...

Mas… é, eu ainda não faço ideia do que usar amanhã. Não sei se vou usar a jardineira que minha mãe trouxe, ou
uma bermuda. Só sei que vou usar minha blusa azul, porque ela é bonita e também é confortável… espero ficar bonitinho.

Sobre ficar bonitinho… estou me sentindo um pouco ansioso sobre isso. Meu cabelo estava muito grande nas últimas
semanas, e eu simplesmente decidi ir cortá-lo hoje de manhã.

Não está curto, curto, mas está meio diferente, então é um pouco assustador. Não acho que ficou feio, mas estou me
sentindo um pouco estranho. Só com o tempo vou saber se curti ou não…

No fim, experimentar várias roupas me deixou cansado e, pior… deixou o quarto todo bagunçado. Passei o resto da
noite guardando tudo de volta nas gavetas, deixando minhas duas opções — bermuda e jardineira — em cima da
escrivaninha. Melhor do que elas, só o par de meias que eu vou usar. Hehe.

Junto com elas, deixei a mochila também. Não tem muita coisa, apenas alguns chocolates e uma toalha. Jungkookie
ainda não sabe exatamente onde vamos amanhã, mas eu me organizei, e até tenho uma rota, que vamos fazer de bicicleta.
Minha mãe me ensinou tudo sobre o caminho, e eu estou extremamente animado para ir até lá com ele.

Acontece que, na nossa cidade, tem uma cachoeira. Ela fica perto da entrada da cidade, que não fica muito longe
daqui. Tem uma trilha que leva o pessoal para a cachoeira perto do estacionamento, mas o nosso lugar é diferente do que as
pessoas querem. Ou seja, eu e Jeongguk não vamos subir a trilha. Apenas vamos direto.

Err… é um pouco confuso, mas eu consegui entender — depois da minha mãe me explicar várias vezes.

Basicamente: eu e o Jungkook vamos fazer uma trilha diferente. Não é a trilha comum que leva as pessoas para topo
da cachoeira, onde tem praticamente uma piscina natural e aqueles escorregas super divertidos — ok, eu realmente amo
essa parte da cachoeira —, o caminho é outro. É o caminho que minha mãe me explicou. O caminho de baixo…
Leonor me disse que eu ia adorar. A água é baixinha e tem umas pedrinhas muito lindas… a água é cristalina e fica
correndo calmamente. Não é um lugar muito movimentado porque tem muitas árvores em volta, e por isso, eu soube que
seria perfeito. Seria só meu e de Jungkook.

Como fiquei confuso várias vezes, anotei tudo que Leonor me disse e guardei na mochila, caso nos perdêssemos. Eu
e Jungkook fizemos um esquema quando conversamos ontem pelo telefone, ele traria poucas coisas e levaríamos só uma
mochila, a minha.

E caramba… eu estou tão animado que não me aguento quieto!

Vai ser tão bom! Vamos levar fitas, comida, livros, e revistinhas… e passar o tempo juntos. O dia inteiro… só eu e ele.
Estou tão animado para isso, é como se fosse o dia perfeito para começar as férias.

Mal posso esperar para que amanhã chegue logo!

Quando acabei de organizar minhas coisas, desci para checar se ainda tinha os ingredientes para fazer os
sanduíches amanhã. Tudo certo. Os chocolates estavam na mochila e as caixinhas de suco no congelador… perfeito!

Eu ainda não me desacostumei do horário escolar, então já estou ficando com sono. Subi para o quarto de uma vez,
ansioso e animado para a manhã chegar logo.

Lavei meu rosto, escovei meus dentes e me joguei na cama para dormir logo depois. Estava fresquinho… hmm.

— Meow…

Hmmm.

— Ah… — resmunguei, sonolento. Mais um Miau. — Ah não. Qual é, eu estava ficando com sono…

Menino não se importou. Na verdade, ele nem ouviu, porque está miando na porta da frente, lá embaixo, pedindo para
entrar. Vê se pode… chegando em casa uma hora dessas!

Me levantei bufando da cama, e fui abrir a porta para ele, lá embaixo. As janelas estão fechadas, então ele ficou
trancado para fora...

Abri. Menino entrou e me seguiu pelas escadas, e nem consegui ficar bravo com ele, porque ele é super fofo. Ai ai…

Agora, sim… me deitei para dormir. Cobri meu corpo com o cobertor, e dei um sorrisinho, feliz demais, porque
amanhã está chegando. Amanhã… depois do almoço, Jungkookie vem pra cá, e vamos ficar juntos. Isso vai ser tão bom…
eu quero muito que chegue logo!

Fiquei pensando tanto que devo ter ficado mais uns trinta minutos acordado, só ponderando. Só depois disso fui
pegando no sono, bem aos pouquinhos, até só ouvir o barulho do ventilador e do ronronar do Menino.

Peguei no sono com um sorriso, porque sabia que amanhã seria perfeito.

***

No fim, eu gostei bastante das roupas que escolhi para o dia de hoje.

A bermuda foi minha decisão final, porque estava muito sol lá fora. Como Jeongguk chegaria depois do almoço,
comecei a me arrumar depois de acordar… e sim, eu estou acordando um pouco tarde ultimamente. Não dá pra controlar…

Enfim… por agora, eu estou preparando os sanduíches. Os embrulhando com cuidado, e colocando na mochila. Eu
tinha preparado bastante comida pra levar. Tinha suco, iogurte, amendoins e sanduíche. Ah é, também não posso me
esquecer dos chocolates… comprei bastante, porque Jungkook come muito chocolate, e bem rápido.

Esses dias vi ele roer uma barra inteirinha no intervalo… ele só saiu mordendo tudo. Fiquei deslumbrado.

Bem, até agora, não sei o que Jeongguk vai trazer, então deixei o bolso de trás da mochila para suas coisas. Depois
que terminei de fazer os sandubas e guardá-los, fui até o banheiro para lavar as mãos… passei creme nelas também, e
percebi que esse creme novo é muito cheiroso…

Ok. Enchi a mão de creme e comecei a passar nos pulsos e no pescoço, porque quero ficar bem cheiroso. Vai que
assim Jungkook me dá um cheiro?

Aproveitei para lavar as lentes do meu óculos também, e deixei-o secando em cima da bancada.

Escovei os dentes mais uma vez, só por precaução, mas enquanto estava enxaguando a boca, ouvi batidinhas
características na porta.

Jungkookie chegou.

Saí secando a boca, quase correndo para fora do banheiro. Até me esqueci de colocar o óculos, e nem me importei de
estar vendo tudo meio embaçado. Só fui até a porta, ajeitando minha blusa no caminho e meu cabelo também.

Respirei fundo, e abri a porta. Sorri.


Jungkook está usando lilás.

JUNGKOOK

Jimin cortou o cabelo.

Quando ele abriu a porta e eu olhei para seu rosto, foi a primeira coisa que percebi.Os cabelos estão mais curtos. E
ele não está usando o óculos…

Meu Deus, puxa...

Não posso negar… isso foi o suficiente para eu ficar sem fala, olhando para ele com os olhos arregalados, porque
nunca pensei que Jimin pudesse ficar ainda mais bonito.

Não sei dizer se ele está mais bonito, ou só bonito como sempre. Mas seu rosto está tão… cheio de luz, agora. Suas
expressões parecem maduras, e sua franja mais curta me deixa ver suas sobrancelhas ruivas. Posso vê-las, puxa…

Fiquei tão encantado que me perdi nas palavras. Nem dei um Oi.

Eu queria que Jimin nos tirasse dessa e falasse algo, mas… ele parecia perdido também. Ele está com essa blusa
larga, que tem um bolsinho azul turquesa no peito esquerdo… e ficou tão bonita nele. Ficou tão bonito assim.

Nós ficamos parados, nos olhando, como dois esquisitos… mas eu não me importei muito. Estava tentando falar, mas
não conseguia parar de pressionar os lábios, nervoso, porque estou me sentindo muito perdido agora. Ele está de bermuda
também. Eu não tinha visto ele assim antes.

Estou… perdido pra valer, mesmo.

Mas, de um jeito inesperado, nenhum de nós quebrou o silêncio constrangedor e a sequência de diversas encaradas
curiosas.

Quem fez isso foi Menino. Ele passou por nós, fazendoprr prr de um jeito muito engraçado e estranho. Aquilo foi um
miado? Eu não faço ideia, mas foi fofo… e me fez rir. Assim como fez Jimin rir, e a tensão se dissipou através das nossas
risadas.

Nós dois sorrimos, e eu comecei a coçar a nuca, levemente nervoso pela cena anterior. Jimin também coçou a lateral
do braço e deu um espaço na porta, para eu passar, enquanto finalmente dizia:

— Oi… hm, eu coloquei meu óculos para secar. Vou pegar. Quer colocar suas coisas na minha mochila? Tá lá no
sofá.

Eu afirmei com a cabeça, enquanto entrava, sem conseguir evitar a felicidade por estar ali dentro. Realmente gosto da
casa dele…

— Oi. Sim, vou colocar — eu disse, olhando pra baixo. Puxa, que vergonha. — Hnm, licença…

— Você sabe que a casa já é sua. — Ouvi Jimin dizer, perto de mim. — Já volto.

— Ok… — murmurei, quase sem forças, porque olhar para ele está me deixando bem fraco agora.

Ele está realmente muito bonito com esse corte de cabelo...

Engoli em seco, balançando a cabeça atrapalhadamente para tentar colocá-la no lugar. Andei até o sofá, onde Menino
estava sentado, se lambendo de um jeito muito explícito que me fez rir de novo. Jesus, que gato exibido…

Tirei as coisas que trouxe da minha mochila, e coloquei na dele. Eu trouxe os biscoitos que Jimin gosta de comprar na
cantina da escola, porque combinamos de comer lá no nosso lugar… e trouxe bolo também. Na verdade, eufiz bolo. É de
laranja, já que, quando trocamos bilhetinhos, ele disse que gosta mais desse sabor de bolo…

Tive que acordar muito cedo para conseguir usar a cozinha sem que meus pais, ou minha irmã e sua amiga,
interferissem, mas valeu a pena.

Quer dizer… vai valer a pena se ele gostar.

Também trouxe o relógio do meu pai, para ver as horas, já que disse que chegaria antes das seis para minha mãe.
Trouxe gibis e fitas, algumas com álbuns completos do Pink Floyd. Meu walkman, e o fone estourado que tinha lá em casa
também estavam comigo. Esse fone é bom para nós dois, porque toca muito alto… tanto que dói o ouvido. É perfeito pra
ocasião, porque sempre deixamos tocando no fone para ouvir baixinho…

Por último, eu trouxe um caderninho com as músicas que já traduzi. Reescrevi elas nesse caderninho ontem, pra ficar
bonitinho, porque antes estava uma bagunça. Espero que ele goste de ler...

Quando Jimin voltou, com o óculos no rosto, eu fechei sua mochila, já com as minhas coisas lá dentro. Ele também
reparou em Menino sendo ousado, e riu bastante disso… ri de novo, porque ficava ainda mais engraçado com a gente
presente.
— Ai meu Deus, Menino — Jimin resmungou, colocando a mão no rosto, nervoso. — Tenha modos… vou te matar.

Menino o ignorou completamente e continuou lambendo suas partes íntimas, tranquilo até demais para quem acabou
de ser ameaçado.

Se bem que nem eu teria medo dessa ameaça...

Jimin passou por ele e pegou a mochila, também segurando no meu braço.

— Ok. Vamos! Você vai adorar o lugar...

E já que Jimin disse, eu acredito totalmente.

Nós saímos de casa. Jimin passou pela porta primeiro e eu fui logo depois. Ele deixou a janela um pouco aberta, e
trancou a porta, escondendo a chave debaixo do vasinho de plantas que tinha ao lado.

Tentei me oferecer para levar a mochila, mas acabei desistindo no meio do caminho… Jimin fez um sinal para eu
esperar quando desci a varanda, e foi para os fundos.

Fiquei esperando ali, até que ele voltou… de mãos vazias e uma expressão facial de alguém que estava muito
decepcionado e envergonhado.

Mas…?

— Jeongguk… — ele chamou, antes mesmo de eu poder perguntar o que tinha de errado. — Então… a minha mãe foi
trabalhar de bicicleta, e eu esqueci completamente disso! Estou sem bicicleta.

O quê?

— Mas… — Franzi as sobrancelhas, porque não fazia ideia de que ele ia de bicicleta também.

Quer dizer… minha bicicleta tem uma garupa. E quando a gente falou por telefone, marcamos de ir de bicicleta, então
pensei que eu poderia carregá-lo. Eu até enchi a almofadinha que fica presa na garupa com mais espuma, pra ficar macio.
Puxa.

— Não tem problema — eu disse, então, sorrindo. — Eu tenho garupa, eu te levo…

Jimin olhou para mim e depois para minha bicicleta.

Ele negou com a cabeça.

— Não! Eu te levo… — ele disse, e foi até a minha bike, pegando no guidão.

Dei uma risadinha, porque esse jeito dele foi muito atrapalhado e diferente.

— Tem certeza? — eu perguntei, enquanto dava algumas batidinhas no banquinho da garupa. Peguei a mochila
também, com Jimin se desprendendo da alça. A coloquei nas minhas costas.

Olhei para ele, que já estava subindo na minha bicicleta. Puxa…

— Sim… — murmurou, e suas orelhas estão um pouco vermelhas. — Aliás… tem como abaixar esse banco?

Eu dei uma risadinha.

— Tem sim, Jiminnie — respondi, colocando as mãos sob o banco. Tirei a trava e abaixei um pouco. — Assim tá bom?
— perguntei, enquanto ele se sentava para ver.

Ele se remexeu, e depois fez que sim com a cabeça, se virando para sorrir para mim.

— Perfeito — disse ele, ainda. — Temos o mesmo tamanho, mas suas pernas são bem mais compridas que as
minhas… tenho mini perninhas.

Pfft. Mini perninhas…

Dei risada, e me sentei na garupa. É verdade, ele tem pernas bem curtas…

— É… — eu disse, ficando… nervoso.

Sabe... garupas. Da última vez que subi numa, caí muito feio.

Obviamente, era Seokjin que estava tentando me carregar. Não deu nem um pouco certo...

— Ok — ele disse, apertando os dedos no guidão, testando colocar os outros dedos no freio. — Ai meu Deus. Essa
bicicleta tem marcha?

— Mais ou menos. Eu estraguei ela ano passado e agora ela tá presa nessa marcha pra sempre — admiti.

Jimin deu uma risada que me aqueceu o peito.


— Ok… eu levava minhas primas pra ir na praça na garupa sempre, então não vai ter problema — ele disse, e estar
vendo apenas suas costas, agora, me faz sentir diferente. — Mas segura em mim… tá?

Segurar… nele?

Antes que eu perguntasse como, Jimin tirou um dos pés do chão e começou a pedalar lentamente.

Eu tinha certeza de que perderíamos o equilíbrio no exato momento em que tirei meus pés do chão, os apoiando,
mas... não. Jimin pegou o jeito assim que descemos da calçada e não perdeu o equilíbrio. Nossa...ele realmente leva jeito.

Acabei sorrindo, então, porque era a primeira vez que eu ia na garupa. E eu gostei da sensação.

— Jimin? — eu chamei, enquanto ele pedalava para um destino desconhecido por mim. — Nós vamos para onde?

Jimin parou a bicicleta por um momento, por causa do sinal aberto quando chegamos na avenida. Ele olhou para trás
e piscou um dos olhos, sussurrando como se fosse um segredo:

— Para o começo da cidade.

Eu não entendi ao certo, mas também não perguntei… nem tinha forças porque, puxa, ele piscou pra mim.

Balancei a cabeça, perdidinho. Quando voltamos a andar, Jimin foi mais rápido que antes. Como fomos pela ciclovia,
as árvores esconderam o sol e o ar ficou mais confortável. Jimin pedalava muito suavemente, e eu fiquei muito calmo… por
um momento, encostei o rosto nas costas dele, e percebi o quanto era confortável. Suas costas são bem macias…

Não consegui evitar, mesmo que estivesse com vergonha. Esperei ele parar a bicicleta mais uma vez e voltar a andar
para, timidamente, abraçar sua cintura.

Enlacei os braços em volta da sua barriga, e me segurei nele desse jeito, tocando o rosto nas suas costas também.
Ele todo é macio. Adoro encostar na barriga dele e sentir ela… é tão gostoso.

Fiquei com os olhos fechados, abraçando ele, respirando bem fundo, sentindo toda tensão dos últimos dias saírem
por meus poros, como se nada importasse, porque eu estava na garupa da bicicleta, abraçando Jimin e deixando-o me levar
para onde ele quisesse.

Puxa… senti vontade de pedi-lo para me levar para qualquer lugar para sempre.

Então, não falamos mais nada pelo resto do trajeto, e foi melhor assim, porque não fiquei com vergonha.

No entanto, logo saímos da ciclovia e o sol voltou. Parei para olhar em volta, e fiquei surpreso por estarmos em um
lugar totalmente diferente de antes.

Nem sei quanto tempo passou… fui parar em outro mundo quando lhe abracei. Puxa… sempre faço isso e nunca me
dou conta.

— Ggukie… você passou protetor solar? — ele perguntou, enquanto subíamos em outra calçada.Ei, espera...

Conheço esse lugar.

— Hmm… — murmurei, um pouco envergonhado ao constar que… — Eu esqueci… não passei.

Eu até trouxe ele. Coloquei na minha mochila pra passar depois, porque queria vir de uma vez, mas acabei deixando
lá na casa de Jimin.

— Ei… olha esse sol, você vai ficar torradinho — disse ele, como um sermão, e eu dei um sorrisinho. Ele fica bem fofo
falando assim. — Quando a gente parar, você passa, tá? Eu trouxe um.

Antes que eu confirmasse, Jimin começou a parar a bicicleta lentamente. Estávamos num estacionamento, com
bastante carros, e Jimin ainda foi pedalando comigo até o outro lado.

Quando ele parou totalmente, eu pulei da garupa, um pouco confuso.Agora eu sei onde estamos.

Estamos perto da cachoeira.

Já vim aqui com minha família antes várias vezes. Não sei se é o tipo de lugar que eu gosto…

Roupas de banho, e essas coisas… puxa.

— Jimin… — eu o chamei, um pouco encabulado, porque não quero cancelar esse dia. Realmente não quero. Mas só
de pensar na cachoeira, e em usar roupa de banho, fico todo nervoso e desconfortável.

— Hm? — ele indagou, encostando a bicicleta no poste cuidadosamente.

— É… nós não vamos para a cachoeira não, né? — eu perguntei, com medo de decepcioná-lo de alguma forma por…
sei lá, perguntar.

Jimin não respondeu de imediato, mas veio até mim com calma. Ele estava com um sorrisinho quando parou atrás de
mim, abrindo a mochila que estava nas minhas costas. Pegou algo.
— Claro que não — disse ele, tranquilamente, enquanto colocava o pote de protetor solar na minha mão. Depois
mexeu mais e tirou de lá a tranca da bicicleta. — Vamos, passe o protetor para não ficar queimado. Vou prender a bike e a
gente já pode ir.

Com sua confirmação de que não iríamos para a cachoeira, me senti mais tranquilo e feliz… passei o protetor na
palma, e depois esfreguei nos meus braços, no meu pescoço, e no meu rosto. Estou de calça e tênis, então não precisei
passar nas pernas…

Jimin voltou até a mochila enquanto eu esfregava calmamente o creme nas minhas bochechas. Depois começou a ler
baixinho, e quando terminei, o segui com o olhar.

Ele estava com uma folha pequena nas mãos, a lendo em silêncio… depois levantou sua cabeça, olhou em volta, e
deu um sorriso.

— Ok — disse ele, olhando para mim, e depois, para baixo. — Vem comigo, Gguk.

E, sem mais delongas, Jimin pegou na minha mão. E eu não pude evitar sorrir por causa disso, éclaro…

De mãos dadas, nós caminhamos. Já entrelaçamos as mãos várias vezes, mas eu não me acostumei. Ainda fico meio
nervoso, sempre olhando em volta, ou mexendo meu corpo de um jeito estranho, só porque me sinto tímido por estarmos de
mãos dadas. Será que ele se sente assim também? Ou já se acostumou?

Às vezes sinto muita vontade saber...

Me esqueci disso momentaneamente. Saímos do estacionamento e andamos pela calçada em seguida. Estávamos a
caminho da trilha, e eu demorei um pouco pra me importar com isso, porque me distrai com as pernas dele. Afinal, é a
primeira vez que as vejo.

Agora que ele está na minha frente, sem me ver, reparei mais… as pernas dele são tão branquinhas. São
presuntinhos mesmo, mas… parecem muito macias.

Elas me fazem sentir nervoso, assim como Jimin todo.

— Ei — ele chamou.

Tomei um baita susto, porque estava literalmente olhando para suas pernas. Sem ele ver, ainda por cima!

Levantei a cabeça, meio trêmulo, vendo-lhe me olhar de lado. Meu Deus, puxa, espero que ele não tenha percebido…

Apertei os passos e fiquei bem do seu lado, ainda segurando sua mão, disfarçando:

— E-ei… — eu respondi, encabulado.

Jimin não se importou muito com o fato de eu ter gaguejado. Ele só deu um meio sorriso e continuou:

— E sua irmã? — ele perguntou, então. — Ela chegou a te perturbar?

Subimos na calçada, e minha mão estava muito escorregadia por causa do protetor solar, mas Jimin continuou a
segurando.

— Hm, ainda não. Mas nunca se sabe… — eu falei, enquanto ele parecia atento às plaquinhas. Também fiquei atento
e não entendi. — Tem certeza de que a gente não vai pra cachoeira?

Eu não queria duvidar dele, mas estava confuso. Estamos fazendo o caminho para a cachoeira, afinal...

Fiquei confuso também porque, antes de responder, Jimin simplesmente virou o caminho da trilha pra cachoeira.

O sol se escondeu, novamente, entre as árvores, e eu fiquei esperando Jimin me responder.

— Não vamos não. Eu juro — ele disse, finalmente, dando-me um sorrisinho. — Não na cachoeira lá em cima. A
gente vai por… — Jimin olhou para o papel pausadamente. — Por aqui!

Ele apontou para a esquerda.

Quê?

— Espera aí… mas não tem trilha pra esse lado — eu disse, enquanto ele soltava sutilmente minha mão, para se
abaixar.

— Não tem uma trilha visível. Mas ainda tem um caminho… — ele disse, e parecia impressionado e empolgado. —
Olha… minha mãe me ensinou tudo sobre esse lugar. É pra esse lado mesmo, porque essas pedrinhas estão aqui.

Olhei para baixo e me agachei com ele. O vi tocar essas pedrinhas.

Elas estavam localizadas, lado a lado, levemente afastadas. Tinham mais algumas mais para frente, e eram bem
grandes, mas muito sutis por causa das plantinhas.

— É um caminho secreto? — eu perguntei para ele, que ainda tocava as pedrinhas, deslumbrado.
— Uhum! — Jimin sorriu mais, olhando pra mim. Depois ergueu as sobrancelhas, levemente surpreso. —Awn. Você
não espalhou direito, Kookie…

Olhei para ele também, sem entender o que ele disse.Awn? Ele aproximou a mão do meu rosto e esfregou o polegar
na minha bochecha, e depois no cantinho do meu nariz.

Ah, o protetor…

— Ah — eu suspirei, um pouco envergonhado, porque devo estar ridículo. — Nunca fui bom com isso...

Jimin deu um sorrisinho, e fiquei um pouco nervoso quando ele espalhou protetor no meu queixo também.

— Eu também não, mas eu passei na frente do espelho, então… — Jimin riu baixinho. — Pronto. Agora vamos.
Temos um longo caminho até o nosso lugar!

Nosso lugar.

Sorri.

— Sim!

Jimin ficou de pé novamente, e eu também. Ele voltou a olhar para o papel e seguimos em frente.

O vento estava fresquinho sob as árvores. Sempre que pisávamos, as folhas embaixo dos nossos pés faziam barulho.
Jimin fez algumas piadinhas aleatórias durante o caminho, e eu ri de todas elas, porque todas eram muito boas.

Depois de alguns minutos caminhando, Jimin fez um barulho exaltado de surpresa. Ele correu até a árvore mais
próxima e se abaixou, com um grande sorriso.

— Olha, Jeongguk! — disse ele, animado. — Uma borboleta tigre laranja. Talvez tenha mamão por aqui…

Franzi o cenho, completamente confuso.

— Mamão? — perguntei.

— É.

Eu olhei para onde Jimin estava olhando, e engoli em seco. Uma borboleta. Com antenas e patinhas…

Ai que horror…

— Por quê? — perguntei, disfarçando meu nojo.

— Porque o pé de mamão é a planta hospedeira dela — ele disse, enquanto eu tentava não me aproximar demais. —
Você gosta?

Engoli em seco, parando de encarar a borboleta, porque me dava muito nervoso.

— De... borboleta? — perguntei.

— Não — Jimin deu uma risadinha da minha pergunta, como se eu fosse um bobão.Puxa, eu sou mesmo. — De
mamão…

— Hum… — pensei um pouco no gosto do mamão. — Não muito.

A verdade é que eu não sou nem um pouco saudável. Dificilmente gosto de frutas e legumes…

— Ai, eu amo muito — ele murmurou, e eu apertei as alças da mochila, deveras nervoso quando a borboleta começou
a voar. Sorte a minha que ela foi para o outro lado. — Adoro comer as sementes. Faz muito bem pro organismo.

Olhei para sua silhueta enquanto ele ficava de pé. Pfft... Jimin é a única pessoa que faz parecer normal comer as
sementes das frutas. Eu já vi ele fazendo isso antes.

Eu murmurei distraidamente, confirmando com a cabeça. Pensei que Jimin continuaria a caminhada, mas ele ficou
parado, e ergueu as sobrancelhas ao olhar para o meu cabelo.

Fiquei até um pouco confuso quando ele parou totalmente, só para olhar.

— O que foi...? — perguntei, com medo do meu cabelo estar bagunçado demais dessa vez.

Jimin sorriu, se aproximando. Ele ficou na ponta dos pés e tocou minha cabeça momentaneamente. Mas quando se
afastou, eu…

Pensei que fosse morrer.

Fitei os dedos dele. Jimin ergueu aquele negócio, entre os indicador e o polegar… segurando… segurando... me
mostrando.

— Olha só! Tinha grilinho no seu cabelo — ele disse, sorridente. — Tá fazendo cri cri. É macho.
Eu tremi.

Não deu tempo de pensar, nem de correr para longe. Eu vi. E quando vi aquela coisa, meu corpo inteiro se arrepiou de
nervoso, embaixo da língua e na ponta do queixo, até.

Não consegui segurar e simplesmente...

— AHHH! — gritei, quase perdendo a voz de tão desesperado.

Que horror, que horror! Aquele negócio estava em mim!

Eu fiz um barulho enojado, morrendo de nervoso, me afastando de Jimin e aquela coisa horrível.Que esquisito! Qual
o sentido da vida desses insetos?! Eles parecem alienígenas minúsculos!

Puxa, puxa, puxa, tinha um alienígena no meu cabelo, meu Deus, que droga!

Comecei a me contorcer de nervoso, e Jimin ficou parado, me observando. Nem consegui olhar para ele, porque
aquele treco horroroso ainda deve estar em sua mão, e não quero vê-lo. Isso foi tão horrível!

Cara, parece uma barata comprida e verde...

Ewww!

— Jeongguk... — Jimin chamou, e sua voz saiu mais risonha do que deveria.

— Não ri! — eu respondi.

Era sério, puxa! Aquela coisa estava em cima de mim!

— Não tô rindo, juro! Sério, calma, ele nem tá pulando, você vai assustar ele... ele tem ouvidos… — disse, com a voz
engraçadinha.

— Esse negócio vai voar em mim!

— Vai nada, eu tô segurando ele, sério!

— Joga fora, joga fora! — supliquei, coçando os cabelos de nervoso e batendo em toda minha roupa, porque, sei lá,
vai que tem vários desses em mim?!

— Gguk… — Jimin riu mais um pouco, e eu pensei que ia desmaiar de nervoso. — Espera aí. Ó. Pronto, soltei ele, ele
foi embora… foi embora, viu?

Eu dei um suspiro longo, enquanto olhava cuidadosamente para Jimin e suas mãos... o treco não estava mais lá.
Puxa, ele foi embora mesmo?

E se...

— E se ele voltar voando?! — perguntei, morrendo de medo da possibilidade.

Estou com tanto medo… eu odeio insetos!

— Gguk… olha, o grilo não voa. Ele só traz sorte — Jimin disse, se aproximando e me tocando os braços. Olhei para
seu rosto. — Ele já foi, está bem?

Eu fiquei olhando para Jimin e suas bochechas rubras sem motivo, e comecei a respirar fundo.

Que vergonha…

— Grilo não voa? — ainda perguntei.

— Não.

— Então como ele veio parar na minha cabeça?

Jimin esfregou a lateral dos meus braços, num carinho calmo, que funcionou mais do que o esperado. Eu me acalmei
um pouco daquele susto.

— Ele saltou — disse ele. — Mas ele foi pro outro lado. Eu não sabia que você tinha medo de grilo, desculpa…

Suas bochechas ainda estavam vermelhas, e o cantinho do seu lábio estava se movendo para cima.Ele queria sorrir.

— Puxa… — Ofeguei, acalmando minha respiração. — Não é de grilo que eu tenho medo, não...

— É de gafanhoto? — perguntou, curioso, e suas mãos voltaram a acariciar meus braços arrepiados de nervoso.

— Não… — sussurrei. — É de inseto.

Jimin me fitou cuidadosamente. E então, assentiu com a cabeça.


— É bom saber disso — falou, descendo as mãos até meus pulsos.Pegou minha mão. — Eu sou doido por eles.
Quando eu era criança, pegava até barata pra criar…

Engoli em seco, nervoso só de escutar a palavrabarata e pegar juntas em uma frase. Uhh!

— Puxa, você é um maluco… — eu disse para ele, apertando sua mão. Jimin deu uma risadinha

— Você diz isso porque nunca viu uma barata albina… éfoférrima.

— Credo!

Jimin me jogou mais um riso, pressionando seus dedos nos meus. Balançou os cabelos ruivos, e me puxou
lentamente.

— Deixa pra lá… vamos seguir em frente!

Eu engoli em seco… apenas afirmei, encabulado, segurando sua mão com mais firmeza.Isso. Seguir em frente.
Puxa…

Eu ainda estava um pouco arrepiado, de nervoso, mas esqueci do grilo depois de um tempo…. Até porque o vento
estava vindo na direção dos nossos rostos. E sempre que ele vinha, o cheiro de creme incrivelmente gostoso, de Jimin,
chegava até mim.

Ele é realmente muito cheiroso. E seu cheiro me deixou calmo.

JIMIN

Eu queria gargalhar e abraçar Jungkook ao mesmo tempo.

Sério. O que foi aquilo?

Por que foi tão engraçado? E fofo?!

Eu realmente não sabia que Jeongguk tinha medo de insetos, então fiquei surpreso com sua reação. Só que… o
gritinho que ele deu foi tão fofo! Sua voz ficou fina e rouca… as minhas bochechas queimaram na hora.

Depois que demos as mãos para caminhar, ousei parar algumas vezes, com a desculpa de que pegaria algo na
mochila. A verdade é que eu estava checando se não tinha algum bichinho subindo nele de novo… afinal, eu não queria que
meu amorzinho se sentisse nervoso daquele jeito outra vez.

Caso aparecesse um miudinho de novo, eu o afastaria antes de Jungkook percebê-lo.Ainda bem que não cheguei a
dizer para ele que aqui é cheio de insetos.

Se eu pudesse, pararia pra ver cada um deles. Eu sou apaixonado nesses antenudos… eles são tão fofos e
fascinantes. Mas vou ter chance de vê-los uma outra hora, já que estou aqui com Jungkook hoje.

Era animador. Eu sentia que estávamos perto do nosso destino. Eu podia escutar o barulho suave da água caindo,
bem baixinho, mas audível... esse som me fez suspirar de satisfação.

Eu estava com um pouco de calor depois de pedalar e caminhar tanto seguidamente… só queria me molhar e
descansar para conversar com ele.

Ainda estava um pouco desnorteado, também, porque não conseguia parar de ficar quente. Estávamos de mãos
dadas de novo, e eu me sentia nervoso por causa disso. Acho que nunca caminhamos de mãos dadas por tanto tempo
assim… aqui está bem vazio, e mesmo assim, me sinto nervoso com o que Jeongguk pode sentir sobre isso. Afinal: será que
ele quer soltar? Como eu vou saber se ele quer soltar, já que eu estou segurando bem firme?

Era tão complicado que eu me perdia em pensamentos, confuso e duvidoso sobre isso.Ok. Se ele quiser soltar, ele
pode só afastar… é, é isso.

Eu me sentia mais nervoso porque estava mais apaixonado... Jungkookie estava um pouco diferente hoje. Ele sempre
usa aquelas calças jeans escuras e aqueles casacos gigantes, mas… embora ele ainda esteja de calça, ele está diferente.

O jeans que ele está usando é de um azul muito clarinho, e é bem larga e fofa. Eu nunca vi ele com essa cor de jeans
antes… faz ele parecer pequeno. Assim como a blusa que está vestindo, que é completamente larga, com as mangas
frouxas em seus braços… gosto do fato de ele não estar de casaco. Gosto dos pulsos dele, sei lá…

Parei de pensar em tantas coisas, porque o som da água foi ficando cada vez mais alto. Dei um grande sorriso e
apertei mais a mão de Jeongguk, acelerando o passo. Falta tão pouco!

Acabei soltando a mão de Jeongguk lentamente, apenas para tirar o papel da minha mãe do bolso novamente, e
constar que realmente… estamos aqui.

Bastou só alguns passos para chegarmos a beira. A água…

Nós chegamos.
— Jimin… — Jeongguk murmurou, atrás de mim, dando um suspiro melodioso. — Que lindo…

Ele tinha razão… era lindo.

Era mais bonito do que eu pensei. O lugar era exatamente como minha mãe disse, mas vê-lo era inexplicável.
Caminhamos por um longo tempo para chegar aqui e, com certeza, valeu a pena.

A água era rasinha, e continuava correndo. Quando nos aproximamos mais e olhamos para cima, conseguimos ver
toda a cachoeira, até bem lá longe, lá em cima, onde as pedras se fechavam quase suavemente. Tinha árvores para todos os
lados, principalmente onde estávamos.

A água era limpinha, e eu me aproximei de prontidão, me abaixando para mergulhar minha mão nela.

— Uii… — murmurei, de nervoso. — Tá super gelada!

Jeonggukie, que ainda estava parado meio atrás, se aproximou de mim. Se abaixou e mergulhou a mão na água
também.

Pude ouvir os dentes dele batendo uns nos outros, de frio, e dei uma risadinha por isso.

— Ainda bem que tá calor — ele murmurou, jogando o corpo para trás e, simplesmente, se sentando no chão. —
Puxa… é aqui, né?

— Hum? — fitei-o, ainda molhando minhas mãos na água gelada.

— O nosso lugar… — ele murmurou, quase timidamente em dizer aquelas palavras enquanto nos olhávamos. — É
aqui?

Eu continuei o fitando, com cuidado… a verdade é que eu poderia fazer isso para sempre. Ele estava tão bonito com
aquela cor, e aquele cabelo… estava um pouco suado, então parte do cabelo grudou na testa.

Tão lindo… parece um príncipe. Ou um anjo.

— Uhum — eu respondi, me sentando também. — É aqui… onde a água é baixinha, corre calmamente e tem
pedrinhas lindas… cheio de árvores em volta — disse em voz alta, olhando em volta. — Exatamente o lugar que Leonor me
descreveu.

— É perfeito — ele disse, então, e parecia surpreso com o desenrolar das coisas. — Como que não tem ninguém
aqui? Será que não vai chegar mais gente?

Eu dei uma risadinha de sua incredulidade, enquanto suspirava, levemente cansado. Jeonggukie é muito fofo…

— Acho que não — eu disse, olhando para ele. Respirei fundo. — Mesmo se não for só nosso… é nosso. Por agora,
é...

Jungkook continuou olhando em volta, e eu continuei olhando para ele. Ele surpreso com as árvores e a água suave, e
eu surpreso com a forma que ele existia.

Singular.

Ele tinha uma energia tão… boa. Me fazia sentir feliz, calmo e animado por estar perto de si. Além de que o cheiro
dele está tão bom. E seu rosto rubro de calor me deixa cheio de vontades…

— Gostei muito — ele disse, finalmente olhando para mim. Jungkook fica ainda mais bonito quando faz contato
visual. — Puxa… é lindo. Eu nem sei o que dizer.

Sorri para si, um pouco surpreso, porque percebi como ele parecia levemente emocionado.

— Ei… não precisa dizer nada — eu disse, então, erguendo a mão para tocar a parte de trás da sua cabeça. Fiz
carinho até sua nuca, com um sorriso trêmulo por ele ter fechado levemente os olhos por essa causa. — Você tá quente…

Jungkook ergueu a mão e tocou a meu braço com sua palma, suavemente.

— Você também.

Olhei para sua mão me tocando. Dei mais um sorriso trêmulo.

— Hum… — murmurei, um pouco nervoso. — Estamos com calor, então… vamos entrar? Pelo menos pra refrescar
um pouco…

Jeongguk deu um sorrisinho amuado, afastando sua mão. Ele negou com a cabeça.

— Não tenho roupa de banho...

Ri baixo por sua fala.

— Nem eu — retruquei, afastando minha mão de sua nuca também. Comecei a desamarrar os cadarços do meu tênis.
— Vamos só molhar os pés e ver qual ponto é mais fundo.
Jungkookie me fitou e deu um sorriso, como se minha sugestão tivesse sido perfeita. Eu sei. É aquela sensação de ter
as coisas que queremos e as que podemos fazer, com todos os limites carregados…

Acho que isso é algo que Jeongguk quer e que não ultrapassa seus limites.

— Tá bom! — ele disse, animado, começando a descalçar os pés.

Tenho certeza de que é. Não ultrapassa meus limites, também.

Quando tirei os meus sapatos e as meias, fiquei em pé, e esperei por Jungkook. Logo ele se levantou também,
olhando para mim.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, Jeongguk pegou na minha mão com uma pressaincrível.

Fiquei bobo por sua doçura.

Me virei para frente, com um sorriso teimoso no rosto, pisando na água fria. Mas parei antes de dar mais passos,
porque Jeongguk soltou-me a mão e parou.

— Espera aí — ele disse, atrapalhado, inclinando o tronco até o fim da sua calça. Puxou ela até metade das canelas,
dobrando cuidadosamente.

Quando endireitou a postura, ele segurou minha mão de novo, com o mesmo sorriso bobo que eu tinha nos lábios.
Quase me perdi naquele sorriso… por pura sorte, voltei a andar, amaciado, novamente, por seu jeito doce de ser… poxa,
amorzinho. Por que você é tão amável assim?

Que sacanagem com meu coraçãozinho...

— Ai. — Eu ouvi ele resmungar baixinho, com uma risada nervosa o acompanhando. — Que gelada…

Dei alguns passos, ainda segurando sua mão, até a água cobrir completamente meus calcanhares.

— Tá mesmo ge…

— Ai!

Jeongguk se mexeu de um jeito que toda a água nos pés espicharam. Tocaram meus joelhos, minha perna, e eu
fiquei confuso por ele ter se mexido que nem um maluquinho do nada.

— O que foi? — perguntei, me virando completamente pra ele, rindo antecipadamente.

— Senti algo no meu pé… — ele disse, com a voz nervosa, olhando para baixo.

Olhei para baixo também. Bem… tem várias folhas e pedrinhas por aqui, seguindo junto com a água, então…

Quis rir de novo. Ele é tão medroso.

— O que você acha que foi? — perguntei, dando um passo pra frente, segurando sua outra mão.

Agora estamos com as duas mãos entrelaçadas. Jungkookie acabou engolindo em seco, com as bochechas rubras
ficando ainda mais vermelhas, completamente caloroso aos meus olhos.

— Não sei… um peixinho? — ele disse, e eu tive a brilhante ideia de mexer meu pé no mesmo momento. Ele apertou
minhas mãos com força, se afastando um pouco. — Ai! Outro, agora!

Olhei para baixo de novo, junto com ele. Pfft… não acredito, Jeongguk.

— Gguk, foi só o meu pé — eu disse para ele, mexendo meus dedos embaixo da água.

— Foi? — Jeongguk franziu as sobrancelhas, confuso.

— Foi… — Dei mais uma risadinha, puxando ele para perto de mim por suas mãos. — Não fica longe…

A lateral do pé dele tocou o meu, levemente. Jungkook deu uma risada nervosa, apertando minha mão de volta, se
aproximando mais um pouco.

Ele estava tão fofo com aqueles olhinhos de jabuticaba arregalados. Eu me senti sorrateiro quando percebi que deixei
ele vermelho.

Me senti mais ainda quando aproveitei o fato de que ele estava olhando para mim para, cuidadosamente, subir meu
pé em cima do seu, tocando-lhe de maneira sutil.

Não pude evitar rir, adorando ter o dado um susto com isso, porque ele pulou de novo e fez mais um barulho nervoso
com a boca.

— F-foi o seu pé? — ele perguntou, me olhando.

Demorei um pouco para responder, porque estava rindo pra valer. Jeongguk franziu suas sobrancelhas bonitinhas,
vendo-me rir da sua reação, e entendeu que eu o dei um susto.

— Foi! — eu disse, enquanto ele fazia um biquinho incrivelmente…ai meu Deus, Jungkook é perfeito.

— Jimin! Que susto… — ele disse, mas acabou rindo junto comigo depois de um tempo.

— Desculpa… foi muito fofo — eu disse, fitando-lhe com carinho.

Jungkook, ainda com um sorrisinho, tentou dar um beliscão na minha mão. Mas no fim acabou apenas rindo e ficando
corado.

— Hnf...

Devo ter ficado corado também, porque me senti quentinho por dentro.

Ainda segurando suas mãos macias, puxei Jungkookie para o meio, sentindo a água alcançar metade das minhas
canelas. Estávamos no lugar mais fundo da água, pelo menos aqui, no nosso lugar.

— Aqui é mais fundo — eu disse, enquanto Jeongguk intercalava seus olhos bonitos entre nossas mãos, nossos pés,
e eu.

— Que geladinho… — ele disse, bem baixinho.

Dei um sorriso, querendo que ele chegasse ainda mais perto. O sol estava batendo na ponta do seu cabelo, o
deixando mais castanho que o usual, e era tão perfeito estar ali… com ele tão perto, e segurando minha mão. De repente,
eu... queria que pudéssemos nos beijar agora.

Queria poder ter certeza de que ele gostaria, caso eu o beijasse…

Fiquei o fitando desse jeito, um pouco flutuante, pensando se ele não havia pensado na possibilidade também. Me
sinto cheio de vontade, sempre… os lábios dele ficam mais rubros sempre que ele os umedece, e eu sempre quero beijar ele
quando faz isso. Na verdade, quero beijar ele sempre.

Fiquei silencioso tão de repente que fiquei com medo de Jungkook ficar sem graça, ou confuso com minha atitude.
Mas ele não ficou. Ele só continuou segurando minhas mãos, balançando o corpo de levinho, passeando seus pés pela água
gelada. Sua franjinha estava cobrindo seus olhos agora…

Eu estava feliz por aquele lugar ser meu e dele.

JUNGKOOK

Eu fiquei com muita vontade de abraçar Jimin de repente.

Na verdade… não foi tão de repente assim. Veio de um jeito esclarecedor. Eu já estava sentindo isso
inconscientemente.

Esse meu querer ficou mais forte quando chegamos aqui, e é claro que não fui capaz de ignorar.

Ainda mais porque percebi que ele realmente se importa comigo. Puxa, eu sei que isso é por ele também, mas,
inicialmente, a ideia de termos um lugar só nosso veio do meu desabafo. Veio após eu lhe contar o que me afligia. Contei que
ficaria triste por causa da minha irmã e Jimin foi tão cuidadoso, se empenhou tanto, e esse lugar é… tudo.

Meu coração estava batendo de um jeitinho diferente. Eu não estava morrendo de vergonha, mas também não estava
normal. Eu me sentia intenso, tentando abraçá-lo, ou ser abraçado, mas não sabia como fazê-lo.

Puxa… eu estou morrendo de vergonha de Jimin achar estranho. É normal dar um abraço do nada?

Não conseguia pensar em uma solução, então só ficava balançando os pés, porque senti que ele estava me
encarando. Quero que ele perceba e me abrace.

Suas mãos estão segurando as minhas e me sinto agradecido no exato momento em que ele decide fazer carinho
nelas, com os polegares.

Jimin sabe exatamente como fazer carinho na minha mão… às vezes sinto que Jimin pode me ler, porque ele sempre
faz o que eu gosto. Como ele consegue?

Ter minhas mãos agraciadas toda hora me era tão novo e tão doce também… ninguém nunca tinha pegado na minha
mão carinhosamente antes. Jimin sempre a segura e faz carinho agora.

Às vezes fico olhando para elas e me perguntando como elas sobrevivem a tudo isso.É tão bom.

Dei um passo para frente quando Jimin esticou seus braços, os abrindo, me puxando indiretamente para si por ainda
segurar minhas mãos. Eu ainda estava olhando pro chão, mordendo minha boca e fitando nossos pés juntinhos, esperando
um abraço. E pensando em como seus pés são fofinhos.

Jimin deu uma risadinha baixa. Fiquei confuso com ela, e ergui o rosto, só um pouquinho, para tentar entender. Ele
também estava olhando para baixo, com as bochechas rosadas, e acabei me sentindo contagiado.

Eu ri um pouco também.

— O que foi? — perguntei, com a voz divertida.

Jimin pressionou seus lábios gordinhos. Negou suavemente com a cabeça e riu mais, e por causa disso, sua voz saiu
bem rouquinha ao dizer:

— Somos um pouco engraçados. Sempre ficamos em silêncio de repente…

Eu pressionei meus lábios, desencadeando um riso também, por sua fala. Ele tem razão… isso sempre acontece com
a gente.

— É verdade — digo, um pouco encabulado. — Você acha estranho?

Jimin negou de prontidão, e voltou os olhos para mim.Ficamos perto.

— Não — murmurou. Perto . — Eu gosto.

Apertei os dedinhos do pé, me sentindo nervoso. Puxa…

— Eu também… — eu confirmei, porque também gosto, e quero que ele saiba disso.

Jiminnie olhou nos meus olhos, e agora, não era apenas meu coração que estava diferente. Eu me senti
completamente diferente…

Jimin pressionou os lábios várias vezes, e foi ficando cada vez vermelho. Eu sempre me sinto tão tímido com Jimin,
mas quando chegamos perto um do outro, eu nunca me afasto… eu nunca quero, mesmo que esteja ficando todo nervoso e
trêmulo.

Puxa...

O mais incrível era que eu praticamente não me senti nervoso daquela vez. Porque Jimin parecia muito mais nervoso
do que eu e, bem… isso era muito novo para mim. Me senti curioso.

Fiquei com os olhos bem abertos, tentando fazer contato visual, perto. Ainda sinto vontade de abraçá-lo, mas não
movi um dedo para fazê-lo. Só fiquei lhe observando desviar o olhar sutilmente e mordiscar os lábios, e queimar ainda mais
as bochechas.

Ele parecia tão encabulado. Puxa… ficava tão bonito assim também.

Senti seus dedos apertarem a pele das minhas mãos com intensidade. Respirei bem fundo quando ele deu um passo
à frente, soltando minhas mãos e enlaçando minhas costas com seus dedos quentinhos...

Puxa. Isso é bom.

Ele não me abraçou. Não totalmente… Jimin me surpreendeu quando fez um caminho diferente com seu rosto bonito
ao se aproximar.

Eu até fechei meus olhos quando percebi ele chegando ainda mais perto. Prendi minha respiração quando sua testa
tocou a minha de forma sensível e calma, porque era tão novo senti-lo tão perto. Meus dedos ficaram trêmulos sozinhos. E o
ar escapou, por mim, quando ele virou seu rosto quentinho, rubro, e tocou sua boca em mim…

Suspirei.

Eu senti… tanto. Senti que ela devia ficar ali para sempre, a sua boca. Seus lábios colaram-se lentamente em minha
bochecha, e eu não sabia que existia algo melhor que um abraço quente seu.

Naquele segundo, descobri que um beijo era ainda melhor.

Soltei mais ar pela boca quando Jimin se afastou, mais calmo ainda. Não abri meus olhos momento algum, e era
como se só a sensação da sua boca existisse em todo meu universo. Era como se todos os meus sentidos estivessem mais
apurados. Talvez realmente estejam.

— Puxa… — eu sussurrei, em um suspiro, ainda mais abalado no momento em que Jimin me apertou no meio do seu
abraço carinhoso.

Senti-o mover sua bochecha cuidadosamente contra a minha, e quase desmanchei com esse carinho.

Levei minhas mãos até seus ombros e os apertei, sentindo seu rosto tão pertinho do meu.

— Puxa… — eu soltei, de novo, sem perceber.

É tão bom… tão, tão bom…

Pensei que estava sujeito a derreter naquele momento. Meus braços deslizaram por cima de seus ombros quando ele
arrastou seu rosto deveras quente, tal como o meu, para meu ombro, me abraçando, enfim. O abracei de volta, apertando
suas costas e sentindo meu coração entrar em erupção…

Eu sei que é impossível… mas a sensação é essa, e éperfeita.

Apertei ele, e me senti agradecido de novo. Principalmente por ele estar me abraçando tão forte.

JIMIN

Eu estava praticamente tremendo de vergonha.

Não que eu me sentisse envergonhado de abraçá-lo, ou da situação. Eu tinha vergonha de mim mesmo…

Porque eu amarelei no último segundo.

Em meio ao seu abraço, eu escondi o rosto na união do seu pescoço com o ombro, fungando seu cheiro único, me
perguntando silenciosamente… como pude, em algum momento, pensar que conseguiria beijá-lo tão facilmente?

A verdade é que… eu continuei pensando em beijá-lo na boca durante todo o nosso momento silencioso peculiar.
Fiquei fitando Jungkook morder os lábios, apertar os dedos das minhas mãos, e mexer os pés na água, e pensei que talvez
eu pudesse lhe dar um beijo. Ele parecia tão confortável. Eu quis muito. Jeongguk parecia mais amoroso que o normal, se
aproximando de mim de uma maneira sutil, quase tímida… eu senti que podia o dar um beijo na boca naquele momento.

E quando tentei colocar em prática… bem, a minha cabeça explodiu!

Eu fiquei confuso com minhas mãos, então as soltei das suas… mas foi meio que sem querer. Eu só não sabia o que
pensar! Então tentei abraçá-lo, e quando fiquei perto e ele fechou seus olhos, meu corpo inteiro ficou tenso. E eu quase me
encolhi, me sentindo um idiota por ter desistido no último segundo… qual é? Qual é!

Poxa vida… era o momento perfeito.

Fui tão atrapalhado que acabei beijando sua bochecha e ficando louquinho por ela estar tão quentinha. Pensei em
tentar de novo, mas fiquei ainda mais nervoso, então toquei seu rosto com o meu e terminamos nesse abraço apertado.
Agora estamos aqui, abraçados, no meio da água… e eu amarelei na hora de lhe dar um beijo.

Simplesmente não acredito em como sou patético… droga! Eu sou um bobo, eu sou um zé ninguém!

Jungkook não pensou em me soltar, e nem eu dele, porque não sei se vou conseguir encará-lo depois de perceber
que sou um amarelão. Fala sério…

Eu estava pronto para me arrepender para sempre, mas minha cabeça viajou para outro lugar de repente. Jungkook
arrastou os dedos pelos meus ombros, e continuou o fazendo… ele estava fazendo carinho em mim.

Fechei meus olhos cuidadosamente, e se fosse um gato, com certeza começaria a ronronar de satisfação. Jeonggukie
dificilmente faz carinho em mim também… quando acontece, me sinto no céu.

— A gente… — ele começou, e pausou por um segundo. Senti ele engolir em seco. — A gente se abraça de repente,
também…

Eu dei uma risadinha, amando seu carinho. É verdade…

— Sim — eu disse, apertando mais seu abraço. — Eu gosto disso também.

— Eu também — ele rebateu, risonho, e me apertou mais .

Eu não queria que ficássemos com vergonha. E também não queria pensar em como fui covarde na hora de o dar um
beijinho, então arrastei meu pé para baixo do seu de novo.

Foi engraçado como, assim como todas as outras vezes, Jeonggukie caiu totalmente ao pular de nervoso por ter
sentindo meus dedinhos.

— Jimin, que susto! — ele disse, engraçadinho, e eu ri, fazendo de novo. —Que nervoso!

Jungkook se afastou um pouco, e eu dei risada, o seguindo com meus pézinhos, para assustá-lo. Ele começou a rir
comigo, e eu também, e começamos a brincar. Jungkook disse que eu era muito malvado, e jogou água em mim. Fiz isso
também, e não paramos mais, até ficarmos com as roupas completamente úmidas.

Jeonggukie se aproximou da ponta, e subiu sutilmente na pedra que tinha do oposto. Se sentou ali, dando um suspiro
cansado.

— Minha mãe vai me matar se eu chegar assim em casa — ele disse, risonho, sem parecer se importar
verdadeiramente com isso.

Peguei nossa mochila e fui até ele, atravessando pelas águas para me sentar do seu lado.

Quando sentei, enfim, dei um grande suspiro.


— Até lá você seca — eu disse para ele, vendo um pedaço das suas pernas molhadas.

— Eu espero que sim… — ele me disse, deitando-se repentinamente. Dei uma risadinha, olhando-lhe.

Abri a mochila somente para pegar a garrafa de água, porque estava morrendo de sede… depois de dar uns goles
generosos, a passei para Jungkook, e ele tomou deitado, o que lhe fez parecer um bebêzinho. Aww.

Quando Jeongguk terminou, deu um suspiro bem longo, como se sentisse tão cansado quanto eu. Provavelmente se
sente mesmo…

Eu fiquei olhando para sua silhueta, dali, de cima, enquanto me perguntava se tinha algum momento do dia em que
Jungkook não estava extremamente bonito. Sinceramente… parece impossível.

Quando Jungkook me percebeu o olhando fixamente, ele também devolveu o olhar.

Por algum motivo, eu fiquei mais nervoso que o usual, então disse algo aleatório:

— Vamos fazer alguma coisa?

Jungkook me fitou e assentiu com a cabeça, se sentando também. Sua pele parecia mais brilhante que o usual, então
fiquei meio hipnotizado.

— O que vamos fazer agora? — perguntou ele, enquanto fitava o local de onde viemos. Nossos tênis ficaram lá.

— Não sei… ouvir música? — eu sugeri e, bem, é óbvio que vamos ouvir música. — Posso ver o que você trouxe? —
indaguei.

Jeongguk balançou a cabeça, afirmando. Logo abri a mochila, checando o bolso de trás para pegar tudo que ele
trouxe.

Tinha algumas fitas, e algumas histórias em quadrinhos. Além do walkman e os fones…

Antes de ver tudo que havia ali dentro, me distraí completamente com a capa de um dos almanaques.

— Wow — eu disse, mostrando para ele. — Quem é esse aqui?

Jeongguk engoliu em seco, um pouco acanhado ao dizer:

— O Capitão América.

Hmmm…

— Vamos ler esse? — eu indaguei, abrindo a primeira página.Jeon confirmou. — É sobre o que, exatamente?

Jeongguk se aproximou de mim, e deu uma checada na capa.

— Essa edição é de maio — murmurou, cruzando as pernas, como um índio. — Quer saber mais sobre ele? — Afirmei
com a cabeça, também cruzando minhas pernas, atento ao que Jungkook tinha para me dizer. — Então… ele é um dos
super-heróis mais antigos.

— Quando ele surgiu?

— Há uns… quarenta anos atrás — Jungkook disse, pensativo. Eu confirmei, querendo ouvi-lo mais. — Então… o
nome dele é Steve. Então… basicamente, o Steve era um garoto muito doente, mas queria muito ajudar o país dele na
guerra. Só que ele era incapaz de ser um soldado comum por causa dos problemas de saúde, mas é claro que ele não
desistiu… ele queria tanto ajudar que acabou fazendo parte de uma coisa maluca, tipo… um experimento científico. O
"projeto supersoldado" — ele me explicava, perfeitamente.

Sabe… eu adoro isso. Um herói nunca me pareceu tão interessante… eu amo ver Jungkook explicando coisas que
ele conhece perfeitamente, tão cuidadosamente. É apaixonante.

— Hmm… e aí? — eu murmurei, querendo saber mais.

— Ah, aí, ele participou desse experimento. Teve essa radiação de raios que fez ele ficar super capaz. Tipo… ele
virou esse superatleta musculoso, forte, veloz e ágil, e conseguiu cumprir seu dever na guerra. Ele foi incrível — disse
Jungkook, com um sorrisinho.

— E depois?

Jeongguk desfez o sorrisinho. E riu um pouco.

— Ah, depois ele ficou congelado por uns anos — disse, como se fosse algo super normal.

— Meu Deus, coitado! Por quê?

— Ele caiu de um avião experimental no Atlântico Norte, nos últimos dias da guerra, e ficou congelado pelas últimas
décadas. Ele descongelou e virou um Vingador.
— Vingador? — indaguei. — E o que é um Vingador?

Jungkook deu um sorriso. Pegou as outras revistas em quadrinhos e começou a me contartudo sobre isso.

Passamos um tempo falando, e eu nunca pensei que ouvi-lo falar poderia ser tão bom quanto naquela tarde.
Jungkook me explicou cada ponto daquele universo de super-heróis, e disse que me emprestaria algumas edições do
Capitão América e do Homem de Ferro. Nunca pensei que me interessaria por revistas em quadrinhos… mas parecia bem
empolgante. Pelo menos com os relatos de Jeon, sim.

Enquanto líamos algumas edições juntos, percebi que o lugar que estávamos sentados era muito desconfortável. Por
causa disso, eu e Jungkook atravessamos a água mais uma vez, apenas para nos sentarmos do outro lado novamente.
Tinha folhas e alguns galhos caídos, mas as árvores deixavam o lugar bem mais fresquinho.

Logo eu peguei a toalha que trouxe, estendi, e nós nos sentamos ali.

Na escola, Jungkook tinha muita vergonha de ler em voz alta. Todas as vezes que ele apresentava algum trabalho
com o Jin, ele lia baixinho, ou ficava tremendo de nervoso, mas quando éramos só nós, era diferente. Pois Jungkook leu
algumas partes dos quadrinhos em voz alta, para mim, e eu fiquei surpreso em como ele lia bem. De certa forma, eu queria
que Jungkook lesse para mim sempre.

— E… — ele parou de falar, em certo momento, me olhando com certo constrangimento. — Hum… eu estou falando
demais?

Eu dei um sorrisinho manso, negando com a cabeça. Não estava.

— Não. Continua… — eu disse.

Jeongguk confirmou, e continuou lendo, e falando. E no fim, eu tive certeza de que estava interessado naqueles super-
heróis.

Em certo momento, eu perguntei algo bobo, meio aleatório, e fiz Jeongguk dar uma risadinha.

— Quando que o Batman aparece, hein?

Logo meu amorzinho explicava cuidadosamente que o Batman fazia parte de outro universo de heróis. E isso
desencadeou mais alguns minutos para conversar sobre mais heróis.

Eu até me deitei em certo momento, me apoiando no meu cotovelo, e Jungkook tentou fazer o mesmo umas três
vezes, mas em todas elas, desistiu porque não tinha muito espaço.

Minhas bochechas arderam um pouquinho quando, animado com o pensamento que tive, eu sugeri:

— Deita aqui — eu disse, afagando minha barriga gorda. — É bem macia…

Eu sou um bobo. Pensei que Jungkook acharia o mesmo, e estava pronto para vê-lo negar e rir.

Mas… acabei ficando surpreso quando Jungkook começou a se ajeitar em meio a toalha, rindo baixinho, mas não
negando. Ele se deitou, e apoiou a nuca na minha barriga, sendo muito cuidadoso na hora de fazer isso.

Meu coração ficou mole que nem maria mole.

Minha nossa…

— Hmm… — Eu olhei para ele, ali de cima, e senti que poderia morrer de amor. — É macia mesmo…

Ai meu Deus. Nunca amei tanto minhas gordurinhas antes.

Dei uma risadinha, feliz quando ele riu comigo também. Ele encolheu as pernas e pegou a revistinha de novo, para
lermos as últimas páginas juntos.

Tudo aquilo foi perfeito demais.

Eu me sentia excepcionalmente calmo… era como se nada de ruim no mundo existisse. Apenas eu, Jungkook, as
revistas em quadrinhos e o barulho dos passarinhos e da água correndo.

Aquilo podia ser definido como paz. Com certeza podia.

Quando terminamos aquela edição, Jeongguk deixou o quadrinho de lado para dar um suspiro longo, mas satisfeito.
Espero que ele esteja sentindo paz também.

Ficamos em silêncio por um tempinho, só respirando fundo e aproveitando o barulho que o lugar fazia.

Por um segundinho, vi um gafanhoto-folha tentar subir na nossa toalha, e dei um peteleco nele pra não assustar o
Jungkook.

No mesmo segundo que o bichinho voou longe, Jeon perguntou:

— Você tá com fome?


— Estou começando a ficar — eu respondi. — E você?

— Também… — ele disse, e puxou a mochila para perto, sem se levantar. — Hum… eu trouxe bolo.

— Bolo? — Logo abri bem meus olhos. — Bolo de quê?

— De laranja…

Eu me mexi um pouco, e isso fez Jungkook de mexer também. Ele acabou voltando a se sentar, para longe de mim e
minha barriga, e eu acabei fazendo o mesmo.

— Ai… — murmurei, amaciado por dentro. — Eu amo bolo de laranja. É o melhor bolo existente!

— Você gosta dos azedinhos… — ele concluiu, com a voz baixinha, e eu fiquei deveras surpreso.

Era exatamente a minha parte favorita do bolo.

— É… — eu disse, me aproximando um pouco mais, vendo-lhe pegar um pote dentro da mochila. — Como você
sabe?

— Você já me disse — ele disse, dando uma risadinha.Eu disse? Esqueci. — Nos bilhetinhos.

Pensei um pouco. Ahhh...

— Ai meu Deus, é verdade… eu esqueci completamente — eu falei, rindo, enquanto ele abria o pote. — Eu fiz
sanduíches… e tem suquinho. Deve estar gelado porque eu trouxe ele congelado, então derreteu.

— Eu quero — Jungkook disse. Eu comecei a pegar tudo na mochila. Ele deu uma risadinha. — Puxa, parece um
piquenique…

Eu ri um pouco, afetado, porque realmente se parecia com um…

— Então vamos comer bastante — eu lhe disse, com um sorriso. Abri o pote com os sanduíches, e lhe dei um dos
suquinhos. — Ei.

— Hm? — Gguk me fitou, furando sua caixinha de suco.

Furei a minha também, e a ergui para ele.

— Um brinde.

Jeonggukie olhou para minha pose e deu um belo sorriso… mas ergueu a caixinha dele e bateu na minha, dizendo:

— Um brinde.

Sorri. Um brinde ao nosso lugar…

Tomamos o suquinho juntos, e pegamos os sanduíches. Antes de morder o seu, Jungkook perguntou:

— Quer ouvir música?

Minha resposta era óbvia.

— Claro que sim!

E o nosso piquenique foi recheado por uma melodia gostosa.

E embora ele tenha trago fitas com músicas que eu ainda não havia escutado, pedi para ouvir primeiro a que tinha as
melhores músicas do Pink Floyd (de acordo com ele). Me senti um fã número #1 por conhecer quase todas elas.

O tempo parecia não ter importância naquela tarde. Jeongguk não parou pra olhar o relógio em momento algum, e nós
não nos preocupamos com nada disso. Ficamos conversando sobre as notas que tiramos, e rimos ao descobrir que tivemos
exatamente a mesma média em matemática e geografia. Conversar com ele era minha parte favorita.

Quando fui pegar os chocolates na mochila, já que ele disse que não queria comer bolo, me deparei com um
caderninho no bolso de trás. O peguei em minhas mãos e fiquei curioso ao perceber que ele não era meu.

— Ggukie — chamei, antes de abri-lo. — O que é isso?

Jungkook, tomando o resto do seu suquinho, ergueu as sobrancelhas, olhando para o caderno também.

— Ah. É meu caderninho de música. Quando eu traduzo alguma música, coloco aí.

Meus olhos duplicaram de tamanho.

Eu olhei para o caderno, e quase derreti ali mesmo. Será que ele traduziu Boys Don’t Cry? Ou Us and Them?
Caramba…

— Posso ver? — perguntei.


Jungkook deu um sorriso e fez que sim com a cabeça, mastigando seu último pedaço de sanduíche.

Antes de abrir o caderninho, eu abri minha mochila e finalmente peguei o chocolate.

Coloquei uma barra na mão dele e disse:

— Pra você.

Jungkook ergueu as sobrancelhas, segurando o chocolate com mais firmeza. Pensei que ele ia apenas abrir, e comer,
mas ele foi mais fofo do que isso.

Jeon deu um grande sorriso, com as bochechas ficando mais gordinhas, e apenas os dentes da frente apareceram
entre seus lábios.

— Puxa… — ele disse, logo depois, enfim abrindo a embalagem. — Era exatamente o que eu queria comer.
Obrigado...

Ele mordeu o chocolate, como sempre, bem ágil. Eu apenas sorri e balancei a cabeça, me sentindo feliz por ter lhe
trago chocolate. Nunca vou me esquecer do fato de que ele gosta muito.

Aproveitei para pegar um pedaço do bolo de laranja fofinho também, o mordendo bem rapidamente.

Nem deu tempo de eu pensar em abrir o caderninho e me distrair, porque meu pescoço ficou arrepiado e meu
estômago… bem, ele deve ter soltado fogos de artifício em resposta àquele pedaço generoso, delicioso, e incrivelmente
único de bolo.

— Meu Deus… — eu disse, quase de boca cheia, me sentindo agraciado. — Que delícia. Meu Deus. Meu Deus…

Jungkook, com os dentes no chocolate, me fitou risonho.

— Sério?

— Sim! Onde você comprou esse bolo? — perguntei, sem vergonha alguma ao pegar mais um pedaço daquele bolo
delicioso. O mordi.

Jungkook se balançou levemente, com aquele sorriso sutil e tímido de sempre.Lindo...

— Eu que fiz… — ele disse, e antes que eu pudesse explodir de satisfação, ele continuou: — Mas eu não tenho
certeza se ficou bom, puxa… eu só fiz bolo de laranja uma vez na vida.

Mordi mais uma vez. Meu rosto até esquentou de tão gostoso que estava.

— Eu tenho certeza por você — eu disse, pausando minha fala para mastigar. Engoli. — Está perfeito, é o melhor bolo
de laranja que eu já comi.

— Jura? — Ele parecia surpreso e tímido ao mesmo tempo.

— Sim, juro pela minha vida.

Jungkook mordeu o chocolate, com a pontinha dos lábios para cima.Suas bochechas estavam coradas.

— Puxa… — Ele coçou a nuca, então. —Obrigado.

E ele mordeu ainda mais chocolate, como se encher a boca de quadradinhos fosse lhe deixar menos envergonhado.
Só pude rir anasalado e abaixar minha cabeça, porque fiquei meio tímido também.

Não estou me entendendo ultimamente. Estou ficando mais envergonhado que o usual...deve ser porque estou
gostando cada vez mais dele.

Jungkook, ainda mordendo chocolate, aumentou o volume da música. E eu finalmente abri o caderninho de músicas.

Folheei a primeira página, e a primeira tradução que vi foi uma da banda The Police.

A olhei cuidadosamente, um pouco curioso após ler o primeiro verso:

“Você não vê que você pertence a mim?

Ah, como meu pobre coração dói... a cada passo seu

E a cada movimento que você fizer

A cada promessa que você quebrar

A cada sorriso que você der (fingir?)

A cada pedido que você fizer


Eu estarei te assistindo (observando/olhando)”

— Meu Deus… — eu disse, e Jungkook se atentou ao que eu estava lendo, também. — Que medo…

Eu ri um pouco, e Jeonggukie também.

— Também fiquei com medo — disse ele, parecendo um pouco nostálgico. — Puxa, quando eu comecei a traduzir,
estava achando ela tão bonitinha, mas quando vi o resto da letra no outro dia, achei meio… assustador.

— A música pelo menos é boa? — perguntei, passando para a outra página.

— Sim… muito. Eu tenho ela em uma dessas fitas, caso você queria escutá-la…

Eu afirmei com a cabeça, animado. Jeongguk logo tirou a fita do walkman, e foi procurar a outra na mochila, enquanto
eu lia a próxima música.

Dei um sorriso, porque me lembrava dela e… bem, eu a amava.

Space Age Love Song (canção romântica da era espacial)

“Eu vi seus olhos

E você me fez sorrir

Por pouco tempo

Eu estava me apaixonando

Eu vi seus olhos

E você tocou minha mente

Embora tenha demorado um tempo

Eu estava me apaixonando”

Me senti amoroso.

Só de ler essa música, e me lembrar dela, já posso sentir o vento no meu cabelo e a sensação daquela tarde na
escola. No balanço. Eu e Jungkook ainda nem nos conhecíamos, não tanto, e mesmo assim, eu já gostava tanto dele…

Eu estava me apaixonando. Com certeza já estava…

Próxima página.

All Out Of Love (completamente sem amor)

“Eu queria poder carregar seu sorriso no meu coração

Nas horas em que minha vida parecer tão triste

Me faria acreditar no que o futuro nos reserva

Pois no presente não dá pra saber, não dá…”

Caramba…

Aquilo era triste, mas… era tão lindo, também. Eu não conseguia não pensar em Jeongguk quando lia todas as
músicas que carregavam a palavra Amor. Elas sempre eram sobre ele e eu…

Quando virei a outra página, li algo que me deixou triste novamente.

Wish you were Here (queria que você estivesse aqui)

“Como eu queria… como eu queria que você estivesse aqui

Nós somos apenas duas almas perdidas nadando num aquário,


Ano após ano,

Correndo sobre o mesmo velho chão

O que nós encontramos? Os mesmos velhos medos

Eu queria que você estivesse aqui...”

No entanto, eu achei lindo de novo.

Me deitei levemente na toalha, ainda lendo, um pouco distraído, porque estava me sentindo melancólico com o que as
músicas diziam. Ao mesmo tempo, eu achava bonito...

Mas… ao mesmo tempo, era tão triste.

O amor pode ser triste às vezes...

Oh My Love (oh meu amor)

“Oh, meu amor, pela primeira vez na minha vida, meus olhos estão completamente abertos

Oh, meu amor, pela primeira vez na minha vida, meus olhos enxergam

Eu vejo o vento, oh, eu vejo as árvores

Tudo está claro em meu coração

Eu vejo as nuvens, oh, eu vejo o céu

Tudo está claro em nosso mundo”

Mas pode ser tão puro, também...

Eu estava tão distraído com as músicas e com a melancolia delas que, por um segundo, me esqueci que estava com
Jeongguk. E de pensar que ele é meu amor…

O amor é triste às vezes. Mas quando eu estou com ele me sinto tão, tão feliz… ele é como o amor puro.

Então, nosso amor é feliz.

Quando coloquei meus olhos no caderno novamente, me surpreendi pela movimentação repentina de Jeongguk. Ele
segurou meu braço levemente, o levantando, e fiquei um pouco confuso no começo com o que exatamente ele queria fazer.

Apenas até ele, silencioso até demais, se deitar calmamente, novamente, pedindo espaço para poder entrar no meio
dos meus braços e usar minha barriguinha de travesseiro novamente.

Quando percebi isso, meus lábios tremelicaram de nervoso e deamor. Eu mudei de posição, e o puxei pelo ombro,
fazendo-lhe deitar em mim de imediato.

— Desculpa… é que é muito confortável — ele disse, meio tímido, mas com um belo sorrisinho.

Eu sorri também, soltando o caderno por um segundo, apenas para acariciar seu rosto bem rápido.Seu fofo.

— Não pede desculpa. É confortável pra mim também — eu disse, e o cabelo dele estava tão macio que eu desviei
minha mão para ali. Comecei a afagá-lo.

Jungkook fez um barulhinho baixo de satisfação, e ficou em silêncio. Fechou os olhos vagarosamente, mordendo mais
chocolate. Ri baixinho de como o nariz dele franzia quando ele mastigava. Por que você é tão fofo?

Eu acabei parando de fazer carinho nele para pegar o caderninho de novo, mas antes que eu o alcançasse,
Jeonggukie o pegou.

Pensei que ele fosse me entregar, mas ele continuou o segurando, o abrindo.

— Eu... — Ele pareceu nervoso. — Foi mal... m-mas eu posso segurar pra você? — ele perguntou, baixinho.

Inicialmente, eu não entendi o porquê dele ele ter o feito, e nem por ele ter gaguejado.

Mas, depois…

Eu parei de fazer carinho nele para pegar o caderninho. Será que ele queria mais carinho?

Dei uma risadinha, bem discreta, mas que lhe fez corar nas bochechas. Voltei a mergulhar os dedos no seu cabelo, e
afirmei com a cabeça, também dizendo:

— Pode…

Jungkook deu um sorrisinho após ouvir meu sussurro, o abrindo. Tão fofo…

— Então… — ele sussurrou, folheando as páginas. — É... eu traduzi algumas das suas favoritas.

— Tipo Us and Them? — perguntei, me animando com a possível tradução dela.

— Sim… — Ele passou as páginas, chegando nela.

Antes que eu cogitasse ler, na mão dele, pensei em uma coisa ainda melhor.

E se Jungkook lesse para mim?

Senti meus olhos sorrirem com a ideia. Na boa… depois de ouvi-lo ler os quadrinhos, eu tinha certeza de que amava
ouvir sua voz, tão concentrada e melodiosa, fazendo uma leitura. Eu queria muito que ele lesse.

— Você pode ler?

Eu pedi.

Jungkook mexeu-se um pouquinho, movendo o lábio para o lado.

— Sério?

— Uhum… — murmurei. — Não precisa ler tudo. Só sua parte favorita…

Jungkookie ficou silencioso, pensando por alguns segundos. Mas não tardou em mexer sua cabeça levemente,
confirmando.

Quando ele começou a ler, me senti no paraíso.

— "Nós e eles… depois de tudo, somos apenas homens comuns" — murmurou, levemente.Fechei meus olhos.
— "Eu e você." — Eu sorri. — "Só Deus sabe que isso não era o que escolheríamos fazer…"

Suspirei, um pouco afetado. Quando abri os olhos para ler mais algumas partes, percebi que não falava de amor…
mas mesmo assim, ela era perfeita. E me fazia pensar em Jungkook, por causa da melodia…

— Sinto falta dessa música — eu disse, baixinho, enquanto ele voltava a folhear o caderno.

— Qual foi a última vez que você a escutou?

Eu ri.

— Ontem…

Jungkook riu também, e sua voz estava mais baixinha. Pensando bem… há quanto tempo será que já estamos aqui?

Bem, eu não ligo.

— Eu sou assim também — ele me disse, me fazendo prestar atenção em si. — É… eu traduzi Boys Don’t Cry
também. — Ele pulou algumas folhas, com cuidado, até chegar na música citada. Ah, céus, ele sabia exatamente minhas
músicas favoritas. — Você ainda quer que eu leia?

Dei um sorrisinho, intensificando meu carinho, porque estava muito feliz com aquele momento. Muito mesmo.

— Uhum… — Eu pisquei meus olhos, fitando sua letra impecável no papel. — Sua parte favorita.

Jungkookie não me negou, muito menos meu pedido. Ele leu:

— "Eu pediria desculpas se eu achasse que isso faria você mudar de ideia. Mas eu sei que dessa vez eu falei demais,
fui indelicado demais…eu tento rir disso tudo, escondendo as lágrimas em meus olhos, pois garotos não choram… garotos
não choram." — Ouvi-lo me fez sentir… tocado. É como se aquela música falasse até demais sobre mim.

Eu me distraí um pouco, pensando na tradução, e me lembrando momentaneamente do meu tio.Garotos não


choram…

— Que triste… — falei, um pouco distante de repente.

Jungkook sabia um pouco sobre meu tio e as coisas que eu falei sobre ele. Quando ele foi lá em casa pela primeira
vez, eu lhe disse como ele me reprimia. Essa música me lembrava ele, porque ele já me fez sentir assim… eu fico feliz por
ele não conseguir mais esse feitio.

Fiquei um pouco silencioso, e não sei se Jeongguk percebeu isso, porque ele começou a folhear as páginas. Pensei
que ele leria algo mais bonito, mas…

Do nada, ele começou a falar coisas sem sentido:


— "Eu sou o homem ovo" — disse, do nada.Quê? — "Eles são os homens ovos! Eu sou a morsa! Bo-bo-bom
trabalho!"— cantarolou a última parte.

Foi tão inesperado e esquisito que eu ri. Pfft… quê?

E quando Jungkook riu também, fazendo um barulho engraçado com a voz, não me segurei. Ri ainda mais!

— O que foi isso? — eu perguntei, completamente risonho e confuso.

Jungkook cantarolando “Eu sou o homem ovo” não sairia da minha cabeça nunca mais!

— É a música doida dos Beatles! — ele disse para mim, rindo. — Meu pai me pediu para entender ela um dia, mas eu
não entendi nada. Sério, “eu sou uma morsa”? Da onde saiu isso?

Sua voz indignada me fez rir mais, completamente aleatório à melancolia de antes.

— Será que o Tae entendeu essa música? — me perguntei, sabendo que Taehyung amava os Beatles.

Jungkook continuou rindo enquanto voltava mais algumas páginas.

— Vai saber. Espero que ele me explique, caso tenha entendido...

Ainda dei algumas risadinhas, acariciando-lhe a testa por alguns bons segundos, porque… estava feliz por ele ter me
tirado, mesmo que indiretamente, daqueles pensamentos e lembranças ruins.

Jungkook… você é a minha paz.

JUNGKOOK

Ler a tradução daquela música dos Beatles em voz alta foi uma das coisas maishumilhantes que eu já fiz em toda a
minha vida.

E eu simplesmente não me arrependo.

Não me importei… de certa forma, não pensei que ler a tradução de Boys Don’t Cry causaria algo ruim. Quando li meu
verso favorito, Jimin começou a suspirar de um jeito amuado. Eu percebi quando ele ficou triste, e não sabia ao certo o que
perguntar, ou fazer, para deixá-lo feliz. Mas eu queria muito que ele ficasse feliz…

Foi quando lembrei dessa música idiota. E não pensei duas vezes antes de lê-la.

Me senti feliz e esperto por ele ter ficado animado pelos próximos minutos, em que eu lia as outras traduções que ele
pedia, principalmente as das músicas que ele conhecia. Quando a música do The Police começou a tocar, falei para Jimin
que era música assustadora, e ele amou muito ela. Então, decidi emprestar aquela fita para ele também.

Passamos uma fita inteira só lendo as traduções e ponderando sobre elas. Tinha alguns desenhos perdidos em
alguns pedaços de folhas, e eu me senti amaciado quando Jimin os elogiava. Puxa… me pergunto se ele gostaria de ver os
desenhos que fiz dele.

Conforme conversávamos, nossas vozes iam ficando cada vez mais baixinhas. Era como se estivéssemos contando
segredos, até, porque não nos cansávamos de conversar. Era íntimo, e sempre que eu me lembrava que estávamos
completamente sozinhos, me sentia ainda mais feliz.

Em certo momento, nós deixamos o caderno de lado, e só ficamos conversando sobre música. Eu gostava da forma
que Jimin pensava. Eu gosto muito mesmo dele…

Jimin disse que ia pegar água, e eu saí de cima dele de novo, me sentando. Ele se sentou também, dando alguns
goles na água que trouxe. Fiquei o observando, guardando o caderninho de músicas de novo.

Mas… quando fui fechar o zíper, percebi que tinha um livro dentro da mochila também. Me senti curioso, então o
peguei, e li sua capa.

Love Story.

— Oh... — Jimin pareceu surpreso ao ver o livro na minha mão. — Estava na mochila?

Confirmei com a cabeça, confuso por ele achar isso incomum.

— Sim… — Abri ele. Livros…

— Ah... acho que esqueci aí.

Dei um meio sorriso, fitando a capa novamente.

Love Story...

— É sobre o quê? — perguntei, curioso.


— A história?

— Uhum…

Jimin deu um sorrisinho, soltando a água.

— É um romance sobre dois estudantes que se apaixonam e casam muito jovens — ele me disse, pensando um
pouco. — Tem o Oliver, que é estudante de direito em Harvard, super rico. Ele sempre estudava na biblioteca de uma
universidade feminina. Nessa biblioteca ele conheceu a Jennifer, que é o par romântico dele — ele me diz, não precisando
de muito esforço para se lembrar de todo o livro. — Ela é estudante de música… é muito lindo, porque na primeira conversa
deles, é meio difícil imaginar que um dia eles vão namorar, muito menos casar. Mas acontece...

Eu confirmei, gostando um pouco da história. Jimin se aproximou de mim, e perguntou:

— Você nunca leu um livro inteiro, não é?

— Não… — disse. — Mas como você sabe?

— O jeito que você sorriu quando me apresentou à escola, quando falei de livros… deu pra ver que você não tinha lido
nenhum até então — Jimin deu uma risadinha, que me fez sentir constrangido. — Às vezes me pergunto que tipo de livro
seria perfeito pra você ler…

Puxa…

— Quando te vejo lendo, também me pergunto isso… — eu murmurei, um pouco acanhado. — É que você parece
gostar tanto… parece valer muito a pena.

Jimin sorriu com os olhos.

— Você me vê lendo? — Parecia levemente surpreso.

— Vejo.

— Aonde?

— Na sala de aula.

Jimin abaixou a cabeça, sorrindo com os lábios também. Ele parecia feliz.

— E como você me vê lendo?

Eu franzi as sobrancelhas, confuso com sua pergunta...

Até que percebi que havia admitido algo… e mesmo que indiretamente e sem querer, Jimin haviaentendido muito
bem.

Acontece que eu me sento uma fileira na frente do Jimin em todas as aulas. Sempre que eu termino o dever, viro o
rosto e tento olhar para ele por cima do meu ombro, porque ele sempre está mais atrás. E é como eu o vejo lendo...

Puxa, eu gosto tanto dele que não dá para evitar… eu quero lhe olhar.

Mas… não teria como eu vê-lo lendo por acaso dentro da classe. Porque não tem muito sentido virar e ver-lhe sem
intenção quando ele fica atrás de mim em uma sala de aula.

Eu admiti que fico olhando para ele de propósito. Eu admiti… e ele percebeu.

Quando percebi, também, acabei ficando meio envergonhado. Abaixei a cabeça, olhando para minhas próprias mãos,
pensando se não era esquisito, ou assustador, como naquela música do The Police. Puxa…

Me perguntei o que ele pensava disso, e queria que ele dissesse.

Então, Jimin não se importou com o fato de eu não ter lhe respondido.

Jimin riu baixinho, e se aproximou um pouco na toalha, me surpreendendo ao tocar meu rosto com uma das suas
mãos quentes.

— Também olho pra você sempre… — ele disse, baixinho, e eu levantei meu rosto para olhá-lo. Tão perto, de novo…
espera, ele olha para mim? — Sabe, eu gosto até de ter ver brigando com Seokjin no refeitório.

Jimin deu uma risadinha, e eu ri também, gostando da sensação de sua palma na minha bochecha.

— Por quê…? — eu perguntei, meio perdido, porque ele está perto demais e eu gosto muito do cheiro da sua boca.

— É fofo quando você fica bravo.

Incrivelmente, não me senti ofendido. Eu só sorri…

E comigo sorrindo, Jimin me deu mais um beijo na bochecha repentino. Mais curto do que o de antes.Puxa…
Fiquei sem palavras por causa disso. Ainda mais quando Jimin somente se afastou, bebendo mais água, em silêncio,
sem se importar com o fato de que eu estava todo vermelho por sua causa.

Não vou me esquecer desses beijinhos. Eu senti muito intensamente...

— Hm… se você tem dificuldade para ler, eu posso ler uma parte desse livro pra você — ele me disse, depois de um
longo silêncio.

Eu me senti muito tentado.

Queria ouvi-lo lendo. E quando ele se deitou de novo, fiquei ainda mais tentado, feliz, porque poderia deitar pertinho
dele de novo. Puxa…

Por fim, não neguei ouvir-lhe ler. Eu me deitei, agora mais perto de sua cintura, e fiquei ouvindo-o narrar o primeiro
capítulo do livro inteiro. Minha boca estava com gosto de chocolate, o vento estava fresco, e a voz do Jimin massageava
meus ouvidos. Eu me senti tão, tão tranquilo, que comecei a sentir que poderia dormir…

Pensei que, não, eu não iria dormir não. Mas Jimin não colaborou quando virou a página, o apoiando em meu peito —
logo eu segurei o livro —, para só então começar a me fazer um cafuné.

Enquanto eu ouvia sua voz gostosa lendo e sentia aqueles dedos doces no meu cabelo, me permiti fechar os olhos.

Eu me arrependeria muito depois, mas naquele segundo, não me importei quando caí, mesmo que aos pouquinhos,
no sono, rodeado do Jimin.

Da voz do Jimin, do corpo do Jimin, e do carinho do Jimin…

***

A primeira coisa que vi quando abri meus olhos, foi o céu dividido entrelaranja e roxo.

Jimin estava em silêncio. Sua mão estava infiltrada nos meus cabelos, e sua respiração estava tão calma quando a
minha…

Foi quando percebi que eu realmente dormi.

— Jimin…?

E Jimin também.

Eu não sabia que horas eram, mas nada me parecia importante, porque aquela soneca fora perfeita… e aquele dia
também. Estava um pouco grogue pelo sono, então não sabia exatamente o que fazer, ou como levantar. Não tinha forças,
puxa… queria mesmo era que eu e Jimin pudéssemos viver para sempre no nosso lugar. Será que dá pra construir uma casa
aqui?

Contrário às minhas vontades, eu me ergui. Cocei meus cabelos bagunçados e fui até a mochila, ver as horas.Ok.
Ainda falta quarenta minutos pro horário combinado…

Bebi um pouco da água e comi o último pedaço de chocolate da barra que devorei hoje. Acabei dando um sorriso,
porque constar que Jimin trouxe chocolate pra mim ainda me deixa muito feliz… puxa.

De qualquer forma, infelizmente, não podíamos ficar juntinhos por muito tempo. Então eu engatinhei pela toalha, até
me aproximar o bastante dele para balançá-lo, e dizer, bem baixinho:

— Acorda, Jimin… — Tentei ser suave, porque… puxa, ele fica muito bonito dormindo. Parece um anjo. — A gente
tem que ir…

Pensei que ele tinha um sono pesado, ou algo assim… mas Jimin provou o contrário quando, suavemente, abriu seus
olhos bonitos, acordando rapidamente.

Ele me olhou. Olhou para o céu.

E fechou os olhos de novo.

— Ah… — eu murmurei, o balançando de novo. — Jiminnie, a gente tem que ir…

— Aonde? — murmurou, sonolento.

— Pra casa.

— Mas já estamos em casa...

Eu ri baixinho. Ele está tão grogue…

— Não estamos não… — eu falei, pegando em suas mãos. O puxei para ficar sentado. — Vamos?

Jimin abriu seus olhos mais uma vez, franzindo as sobrancelhas e resmungando alguma coisa. Fiquei esperando pra
ver se ele ia se deitar novamente, ou fechar seus olhos, mas como ele não fez isso, apenas lhe deixei acordar lentamente.
Me virei para alcançar meu tênis e comecei a calçar meus pés quando os peguei. Jimin continuou parado, sem falar
nada, mas ele estava acordado, então…

Fiquei um pouco risonho, achando divertido o modo como ele se levantou, deixou o óculos para atrás, e andou até a
água repentinamente.

Ele se abaixou, colocou as mãos na água, e jogou tudo no rosto, esfregando com força.Hum, então é assim que ele
acorda…

— Ah! — ele exclamou, ficando de pé novamente. Voltou para perto tremelicando. — Que friozinho!

Eu ri, acabando de amarrar o cadarço, ficando de pé. Comecei a recolher as coisas, feliz por Jimin estar “de volta”.

— O vento ficou mais frio também — eu disse, terminando de fechar o primeiro zíper. — Estamos um pouco
atrasados…

Jimin deu uma risadinha, vindo até mim. Seus cabelos estavam levemente molhados e…ele estava cheio de charme.

— Falta quanto tempo para dar a hora?

— Uns trinta e cinco minutos, agora…

— Hum… é melhor eu calçar o meu tênis lá na frente — Jimin disse, recolhendo a toalha após colocar o óculos no
rosto.. — Poxa... quando você estava pegando no sono, você começou a repetir “não me deixa dormir, não me deixa
dormir”... mas você estava tão dengoso e sonolento que eu deixei.

Eu o fitei, abaixando a cabeça, um pouco tímido. Puxa…

— Eu acho que eu já estava dormindo, porque não me lembro de pedir isso… — eu falei, sinceramente, e Jimin riu de
mim.

— Fofo...

E então, depois de dobrar a toalha, ele a guardou na mochila. A colocou nas costas, segurou os sapatos com uma
mão, e ficou de pé.

Foi praticamente automático como nós, ao mesmo tempo, estendemos a mão um para o outro.Seguramos.

— Vamos.

E nós fomos.

Caminhamos calmamente para longe do nosso lugar, e não me senti melancólico, porque tinha certeza de que
voltaríamos algum dia. Jimin e eu caminhamos mais rápido dessa vez, e estava praticamente escurecendo…

Não conversamos muito, mas me senti em contato com Jimin constantemente porque ele não parava de acariciar as
costas das minhas mãos com seus dedos, ainda de mãos dadas comigo. Fiquei todo doce por dentro…

Nosso trajeto tinha tudo para ser tranquilo, porque estávamos chegando perto do fim da trilha, mas… Jimin parou de
repente, e fez um ruído grosso de dor, levantando seu pé direito.

— Ui, ui… — ele reclamou. Por um momento, eu até me esqueci que ele estava descalço. — Ai, droga… acho que
pisei num marimbondo!

— Sério? — Eu ergui as sobrancelhas, preocupado, parando também para tentar ver seu pézinho.

Jimin afirmou, suspirando doloroso, enquanto mexia no pé. Fiquei preocupado de verdade, porque a sola ficou
vermelha rapidamente.

— A-ai… — ele choramingou, acariciando em volta. — Ah, cabeça dura… eu devia ter calçado os sapatos lá atrás,
mas fiquei com preguiça.

— Puxa… — sussurrei, segurando sua mão com mais firmeza. — Me dá a mochila, eu carrego pra você…

— Tá bem… — ele disse, aos suspiros, me entregando.

— Tudo bem? — perguntei.

— Sim, dói, mas já pisei em coisa pior — ele disse, com um sorriso meio torto. — Ui... vamos logo, estamos quase
chegando.

— Tem certeza, Jiminnie?

— Uhum...

Lhe encarei. Então, afirmei com a cabeça, um pouco amuado por ele ter machucado o pé.

Se eu pudesse, pisaria naquele marimbondo no lugar dele.


Jimin foi chiando baixinho de dor até chegarmos no fim da trilha. Disse que era mais fácil quando chegamos no
asfalto, e foi andando na pontinha do pé até chegarmos no estacionamento e, seguidamente, na minha bicicleta.

Quando parei em frente a ela, peguei a chave da tranca na mochila por Jimin. A destranquei, guardei-a, e disse:

— Eu te carrego agora.

Jimin fitou-me, e negou com a cabeça.

— Não, eu ainda consigo pedalar.

— Mas… não tem problema, eu te carrego.

— Não, deixa que eu te carrego.

— Mas você me carregou na ida, puxa.

— Mas é melhor eu te carregar de novo.

— Por quê?

— Porque eu sou muito pesado…

Olhei para Jimin. E me senti besta por ouvi-lo dizer aquilo.

Quer dizer… quando ele negou, antes de virmos, tão rapidamente, fiquei confuso e não consegui entender o porquê
de ele ter negado. Não passou pela minha cabeça que poderia ser algo como isso…

Puxa… ele é muito pesado? Não tem nada a ver. Eu já carreguei o Seokjin, a Hyuna, até o meu primo idiota…isso
não tem sentido, todo mundo é pesado.

— Mas eu consigo te carregar, puxa... — eu disse, um pouco encabulado.

Jimin desviou o olhar, e ele parecia um pouco constrangido.Eu fiquei constrangido também.

Mas eu não queria. Então tive um impulso.

Não sei o que me deu, mas… eu fiz uma coisa meio esquisita e inesperada.

Eu me aproximei de Jimin e me abaixei um pouco. Abracei a cintura dele, com o rosto colado em seu peito, e o ergui
no ar por alguns segundos, o surpreendendo.

Depois disso, coloquei ele cuidadosamente no chão, arrastando minhas mãos para cima, até chegar em suas costas
macias...

Naquele momento, eu tive certeza de que eu podia carregar Jimin, e que ele não deveria se preocupar, porque,
puxa… não tinha problema em ser pesado. E ele nem era tão pesado assim… eu realmente não quero que ele se sinta
constrangido sobre isso.

Por isso, com firmeza, eu lhe disse:

— Eu te carrego. Você não é pesado, não precisa se preocupar…

Jimin me fitou. Com lentidão, os resquícios de constrangimento fugiram de seu rosto e o que restou foi a surpresa.

Eu descolei minhas mãos dele lentamente, e me senti feliz quando ele deu um sorriso miúdo, abaixando a cabeça.
Suas bochechas começaram a rosar rapidamente.

Ele gostou, então? Puxa...

— Está bem… — disse, com a voz macia.

Eu sorri também. Amo sua voz macia.

Logo, nós guardamos seus sapatos dentro da mochila, e ele a colocou nas costas mais uma vez.

Virei a bicicleta cuidadosamente, e Jimin montou na garupa. Subi no banco — e subio banco também, porque ainda
estava baixinho — e depois segurei nos guidões, começando a pedalar para fora do estacionamento com calma.

E, como eu já esperava, Jimin não era muito pesado. Pelo menos não para mim.

Quando atravessamos os sinais, Jimin teve que me explicar um pouco o caminho, porque eu nunca tinha vindo para
cá de bicicleta antes. Ele me guiou e ficou perguntando se eu tinha certeza de que ele não estava pesando muito. Eu neguei
várias vezes, e perguntei se seu pé estava doendo muito igualmente… Jimin dizia que a dor estava suportável, e eu me senti
ainda mais amuado. De novo: queria que eu tivesse pisado naquele marimbondo, e não ele.

Nós chegamos perto da vizinhança, e então, não precisei mais de seu auxílio. Desviei das pedrinhas e dos quebra-
molas, porque não queria que a bicicleta tremesse demais, para não doer seu pé...
Quando parei no sinal, após a ciclovia, me senti muito… feliz, e realizado, quando Jimin abraçou minha cintura e
apoiou seu rosto nas minhas costas também. Naquele momento, desejei que Jimin se sentisse tão bem sendo carregado por
mim quanto eu me senti, sendo carregado por ele.

Minhas bochechas ficaram quentes quando suas mãos começaram a fazer carinho na minha barriga. Não senti
cócegas, mas senti um nervosinho muito intenso, que só me deixou mais quentinho e arrepiado do que antes.

Quando chegamos, primeiramente, na sua vizinhança, quis muito dar várias voltas pelas ruas só para prolongar
aquele momento. Eu sabia que não tínhamos tempo, e que eu chegaria atrasado em casa, mas ainda assim… quis fazê-lo.
Eu só não queria voltar para casa. Queria ficar com Jimin…

Mas, novamente… contrário às minhas vontades, eu apenas segui o caminho normal, a caminho da sua casa.

Então, nós infelizmente chegamos.

Parei a bicicleta o mais lentamente possível e, assim que Jimin se levantou, eu a larguei para segurar sua mão de
novo. Ele foi mancando levemente até a varanda, me segurando firme, e eu senti uma vontade incontrolável de cuidar dele e
do seu pézinho naquele momento. Puxa…

— Eu vou pegar suas coisas, tá? — ele disse, abrindo a porta de casa.

— Eu vou com você — eu afirmei, sem querer soltar sua mão.

Jimin deu um sorrisinho; as bochechas ainda vivas em um rosa muito bonito. Apenas seguiu em frente e me deixou
entrar consigo.

Nós fomos até o sofá novamente, e separamos nossas coisas. Deixei as fitas que ele disse que queria escutar, o bolo
e os biscoitos que comprei para ele em sua mesinha de centro.

Jimin disse que não precisava deixar tudo aquilo, mas eu neguei, contando:

— É que é seu, mesmo… — eu disse baixinho, enquanto olhava para ele, já sentado em seu sofá.

— É meu? — ele perguntou, um pouco confuso.

Eu assenti com a cabeça, tímido ao dizer:

— O bolo eu fiz pra você. E os biscoitos, comprei pra você também, porque você gosta… — eu disse, então,
finalmente terminando de separar nossas coisas.

Jimin mordeu o lábio, sorrindo mais.

— Obrigado, Jeonggukie… — sussurrou, bem baixinho. — Eu comprei chocolate pra você também... — Mexeu na
mochila, tirando mais duas barrinhas e dois bombons de lá. — É melhor levar tudo...

Eu sorri um pouquinho. Peguei o chocolate, sem negar, e guardei na minha mochila.

— Pronto...

Jimin deu outro sorriso carinhoso, estendendo sua mão para mim. Eu a segurei e me surpreendi quando ele me puxou
levemente desse jeito, para me abraçar.

— Eu te adoro.

Eu o abracei também, meio atrapalhado por causa da posição, com o estômagomaluco.

— Eu também te adoro…

Jimin me apertou, e eu simplesmente amei a forma a qual ele fez um carinho na minha nuca no meio do abraço.

Quando me afastei, colocando a minha mochila nas costas, Jimin disse:

— Eu te levo até a porta…

Neguei com a cabeça, empurrando os ombros dele para ele se aconchegar no sofá novamente.

— Não… o seu pé.

Jimin deu uma risadinha, sem tentar negar meus cuidados. Se aconchegou.

— Então… — Ele me tocou a mão novamente, sem deixar-me. — Me deixa…hm… te dar mais um beijo?

Minhas bochechas pegaram fogo. Mas eu não neguei, muito menos me afastei… apenas me aproximei, e cheguei
perto dele, com cautela.

Assim, Jimin chegou perto de mim, segurando minha nuca e me dando um beijo quente na bochecha.

Daquela vez, eu não consegui segurar o meu sorriso… isso fez Jimin me dar mais um outro beijo, agora na maçã do
meu rosto, doce demais para meu coração…
Puxa... agora eu quero ficar.

Quero que ele me beije sempre.

— Tchau… — ele disse, baixinho, perto de mim.

Ainda inclinado, eu olhei em seus olhos e disse, também:

— Tchau… — eu murmurei. — Você quer que eu tranque a porta?

— Não… só deixa a chave na fechadura, do lado de dentro.

— Está bem…

Eu me afastei novamente, mas antes que pudesse erguer minha mão para acenar, Jimin me chamoude novo, muito
de repente:

— Espera…! — Ele ergueu as costas do encosto, ainda sentado. — Jeongguk?

— Oi? — Me aproximei dele novamente, preocupado com o que poderia ser.

Mas… não era algo sério, relacionado ao seu pé.

Eu percebi assim que me aproximei.

Percebi assim que Jimin apenas segurou minha mão novamente, e me puxou para perto, pedindo:

— Pode me beijar também?

Senti que iria explodir.

A mão de Jimin continuava segurando a minha, e minha mente ficou distante por um tempo.Eu não neguei. E jamais
negaria. Por isso o beijei.

Meu coração bateu forte naquele segundo. Eu voltei a me inclinar na direção dele, um pouco atrapalhado quando virei
meu rosto para a direita e o dei um beijo na bochecha quente e macia. Um beijo tão, mas tão atrapalhado, que fez um estalo
alto até demais.

Fiquei com muita vergonha, então me afastei de imediato e, meio trêmulo, acenei com a destra:

— T-tchau! — murmurei, e meus lábios estavam sensíveis.

Jimin sorriu, e seus olhos estavam diferentes. Ele acenou também..

— Tchau!

E antes que eu gritasse alguma coisa, tão exaltado por todos aqueles toques, fui caminhando até sua porta. Vi Jimin
se virar e me acompanhar, e o olhei também até estar suficientemente longe, acenando uma última vez antes de deixar a
chave para dentro e fechar sua porta, saindo de sua casa.

Quando peguei minha bicicleta, e subi no banco, tive certeza.

Eu iria sonhar com a sensação inesquecível de beijá-lo essa noite.

JIMIN

Quando Jungkook fechou a porta, para ir embora, eu senti algo forte demais.

Sinceramente? Eu estava quase chorando… então Menino surgiu nas escadas, e veio até mim com muita calma,
como se soubesse que eu precisava contar para alguém.

Olhei para meu gato, então, com os olhos marejados por causa de todos os sentimentos.

E contei:

— Eu acho que amo ele.

Notas finais
Ai gente, não sei que foto colocar ou pensar para vocês pensarem no Jimin de cabelo curtinho... mas imaginem que antes a
franja dele estava chegando nos olhos, o cabelo tava bem grande, e agora está mais curtinho. Sabe? Espero que tenham
conseguido imaginar direitin... uwu

Feliz páscoa (atrasado) pra vocês, e bom feriado pra quem mora no RJ!
Espero que tenham gostado do capítulo... beijinhos

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Até maiss~

20. Ele é como uma Viola Lilás

Notas do Autor
Oie meus xêros! Estou aqui para uma atualização dupla bem grandinha! Capítulo 20 e 21 de uma vez só... por favor,
comentem nos dois, viu?

E... obrigada de novo por todo apoio e carinho. Obrigada por lerem minha história TT

Boa leitura... vejo vocês no próximo~

JIMIN

— Eu acho que amo ele.

Um segundo depois de confessar isso ao meu gato, eu comecei a chorar, tipo...de verdade.

Mas… dessa vez não foi só porque eu amo Jungkook, não. Foi dedor. Dor porque meu pé tá doendo muito e eu
segurei o choro o caminho inteiro. Argh...

Bichinho desgraçado...

Segurei meu pé para olhar o ferimento, chorando mais porque sei que vou ter que lavar ele agora e vai arder muito.

Me levantei do sofá mancando, tentando pensar que já fui picado em lugares piores, e que não é a pior coisa do
mundo. Do nada, dou um sorriso porque Jungkook me beijou.A pior coisa do mundo foi ser picado na nuca por uma abelha…
nada é pior do que aquilo, e se eu aguentei algo extremamente doloroso como o ferrão de uma abelha na nuca, posso lavar
meu pé com sabão sem morrer!

Ai… os lábios dele deveriam ter ficado mais tempo na minha bochecha!

Menino não miou nada, mas me seguiu até o banheiro para observar meu sofrimento. Minhas orelhas ardem por ter
sido tão ousado a ponto de pedir um beijo. Já meus olhos queimam porque meu pé está doendo muito... ah, eu fico
perdidinho desse jeito!

Coloquei o pé dentro da pia choramingando, pegando o sabonete líquido antes de despejar a água na picada. Pelo
menos arranquei o ferrão lá...

Oh, Deus. Doeu demais, doeu, doeu...

Fiquei mordendo o lábio de nervoso quando o sabonete tocou a ferida. Lavei com muita calma para não surtar,
tentando não tocar meu machucado, e saí com o pé pingando do banheiro. Queria que Jungkook estivesse aqui para me
carregar como um príncipe. Quase me esqueci de fechar a torneira, mas dei meia volta para fazer isso e continuei meu
caminho, ainda pensando no príncipe Jungkook.

Fui até a cozinha mancando, pegando a caixinha de remédio no armário das panelas. Peguei as coisas para fazer o
curativo, me sentando no chão para realizar tal atitude.

À esse ponto, já parei de chorar. Foram só umas lágrimas bobas (eu estava soluçando, mas vou relevar), já passou.
Agora meu rosto está molhado e eu estou fungando bastante, sentindo, então, Menino começar a se esfregar nas minhas
costas, provavelmente interessado no barulho que o plástico do rolo de gaze faz.
— Interesseiro… — eu disse, meio mal-humorado. — Não é comida!

Menino obviamente não entendeu e continuou se esfregando em mim... às vezes eu não entendo esse gato.Aí eu
lembro que ele não me entende também e fica tudo certo.

Depois que fiz isso, fiquei um pouco parado, aliviado porque a dor até que diminuiu um pouco… mas ainda tá doendo
pra caramba.

Quase xinguei agora. Não acredito que pisei num marimbondo no meu dia com o Jungkook… deve ser o universo
tirando uma com a minha cara!

Ou...

Ah. É. Até que estou sendo pessimista pela dor. A verdade é que o universo foi muito legal, porque só me deixou pisar
nesse treco no fim do nosso dia, e por isso não foi um estrago total...

Hum.

Ok, universo. Obrigado!

Depois de um tempo lamentando e suspirando, eu me levantei, pegando um pano de prato na mesa e embrulhando
gelo nele.

Fui mancando até a sala, me deitando no sofá e colocando o gelo no meu pé. Deu preguiça de ligar a tevê, então só
fiquei suspirando e me lamentando… até a hora de Leonor chegar em casa dar.

Estava pensando em Jungkook, e olhando pro nada, quando ela veio até mim, me perguntando o que aconteceu.

Eu dei risada, sem me tocar por um segundo que ela estava perguntando sobre o meu pé machucado.

— Foi o dia perfeito… — eu disse, olhando pro teto momentaneamente.

Leonor se sentou na poltrona, descalçando os pés.

— Entendi… mas e esse seu pé? — Ela o analisou. — O que aconteceu?

Foi quando, com muita calma, eu expliquei o ocorrido e o jeito que as coisas aconteceram quando cheguei naquele
lugar mais do que perfeito, e por um segundo, mamãe até esqueceu de que havia sido com Jungkook que eu tinha ido. Ela o
confundiu com Yoongi…

— Ai, mãe… não tem nada a ver! — eu disse, me sentando, pensando no meu amor e no meu amigo.

— O nome soa parecido — disse ela, me fazendo franzir o cenho. —Yoon… Jeon….

Ok, ela tem um ponto.

— Tá, mas… foi com o Jeongguk, tá? — eu encostei o pé no chão, meio que pisando no gelo. — Foi legal… lá é do
jeitinho que você me disse. Você ia com o meu pai?

Leonor deu um sorrisinho meio triste, olhando momentaneamente para o pote de bolo e os biscoitos na mesinha de
centro.

— Não — ela disse, pegando o pote. — A história de como cheguei lá não é muito feliz, então prefiro deixar pra outro
dia. — Fitei-a, um pouco curioso.

Então ela começou a comer o bolo... e eu quase morri de ciúme. Sorte a minha que ela só pegou um pedaço.

— Entendo — eu disse, depois de pegar um pedaço também. — Bom… foi bem legal lá hoje.

— Uhum — mamãe afirmou de boca cheia, batendo as mãos para expulsar os farelos. — Imagino que sim… quando
que esse Jungkook vem aqui pra eu conhecer ele, hein?

Eu dei um sorrisinho, tentando não demonstrar que “esse Jungkook” é praticamente o motivo pelo qual eu estou
sorrindo com uma picada de marimbondo embaixo do pé.

— Hum, espero que logo… — eu disse, um pouco sereno.

Leonor se levantou, recolhendo seus sapatos enquanto olhava para mim, concordando.

— Também. Gosto de conhecer seus amigos — ela disse, meio pensativa. — O Yoongi é bem esquisito, mas eu
gostei dele.

Franzi o cenho, um pouco ofendido.

— Ei, ele não é esquisito! — digo.

— Ora essa, foi um elogio — disse mamãe, com um sorrisinho. — Você também é esquisito.

Pensei por um momento.


É.

— Ah, tá bom então... — murmurei, por fim.

— Muito bem. Tá com fome? Acho que só vou fazer alguma coisa de noite...

— Não estou — eu disse para ela, que agora se dirigia para o começo das escadas. — Espera! Liga a tevê pra mim?

Minha mãe parou. Ela voltou e ligou a televisão, rindo um pouquinho quando eu dei um sorriso meigo, tentando não
parecer muito folgado.

— Vou subir, então. De noite eu faço macarrão…

— Uh, oba — eu disse, até sentindo um pouquinho de fome… macarrão é uma das coisas que minha mãefinalmente
sabe fazer. É gostoso.

Leonor deu mais um sorrisinho e se foi. Subiu as escadas para seu quarto, e eu fiquei ali, vendo televisão, pensando
em Jeongguk e em como ele olha pra mim… pra me ver lendo… ele fica me olhando.

Ele me beijou hoje… ele nem hesitou quando eu pedi, e se preocupou comigo o tempo todo depois que pisei naquele
marimbondo.

Ah, cara… eu realmente amo muito esse príncipe.

JUNGKOOK

Quando cheguei na minha rua, imediatamente entendi que não deveria entrar em casa.

— Droga… — eu murmurei, subindo minha calçada, notando que o carro da minha mãe não está na garagem.

Isso significa que ela e meu pai ainda não voltaram…droga!

Mamãe me avisou que iria fazer compras hoje, com meu pai, mas não pensei que eles chegariam tão tarde. Significa
que minha irmã está lá dentro com sua amiga, e sem minha mãe por perto. Entrar lá não seria nem um pouco legal…

É isso, não vou entrar.

Vou de fininho até os fundos e guardo minha bicicleta. Depois passo abaixado pelas janelas de casa, e no momento
em que escuto a voz da minha irmã, paraliso no gramado… é como se ela pudesse me ouvir.

Ai, puxa.

Fiquei parado.

— O que tá fazendo, esquisito?

Meus ombros tremelicaram de susto.

Estou embaixo da minha janela, ouvindo a voz da minha irmã. Do outro lado do gramado, depois dos arbustos, Hyuna
está me observando através da sua janela.

Casualmente, sua janela é bem na frente da minha, da sala. Então ela está olhando pra mim, e posso vê-la também…

Eu engoli em seco, com um sorriso torto, ainda abaixado.

Não falei nada, porque tive medo da minha irmã aparecer… então só apontei para cima sugestivamente, fazendo uma
careta logo depois.

Hyuna franziu as sobrancelhas e olhou para dentro da minha casa, depois para mim. Levantou as mãos e balançou a
cabeça, sibilando um “eu não entendi”.

Eu balancei os ombros também, dizendo com a boca, e com minhas mãos um “posso ficar na sua casa?” silencioso.

Ela deu de ombros, me chamando com a mão. E eu engatinhei do meu gramado para o seu, já que nossas casas são
divididas apenas por esses arbustos simples.

Quando cheguei no território seguro — a casa da Hyuna —, fiquei de pé.Puxa, essa foi por pouco. Suspirei tenso, e
olhei para trás para ver se as cortinas da janela da minha casa estavam fechadas.

Felizmente, estavam.

— E aí? O que você tava fazendo? — ela voltou a perguntar, me olhando de cima, pela janela.

Que humilhação…

— Fugindo da minha irmã — eu disse, honestamente.


— Credo. Sua irmã ainda existe?

— Infelizmente.

— Que droga.

— É.

— Sorte a sua que estou super livre pelos próximos vinte e cinco minutos — diz ela, com um tom animado que me diz
que… — Tenho novas revistas. Te encontro na varanda.

Isso. Que me diz que ela tem novas revistas! Eba.

Dei um grande sorriso, levantando meu polegar, esperando ela sumir da janela para caminhar até a parte da frente da
sua casa.

Bem... ela apareceu tão de repente e faz tanto tempo desde que nos falamos pela última vez que eu fiquei feliz.Afinal,
Hyuna é minha amiga. Minha única amiga garota, na verdade...

Somos vizinhos desde sempre. Quando éramos pequenos, costumávamos brincar juntos… sempre só nós dois,
porque éramos as únicas crianças da vizinhança, então não tínhamos mais ninguém.

Nos afastamos quando ela virou adolescente e eu continuei criança… no entanto, voltamos a nos falar quando eu
cresci um pouco e fiquei completamente viciado em música. Ela já era fissurada, no caso, então nos aproximamos um
bocado… Hyuna logo começou a me vender suas revistas de rock internacional, e às vezes, na hora de pagá-la,
conversávamos na sua varanda.

Ela sempre me chama de pirralho e de esquisito, mas eu não me importo… porque ela é muito legal, e eu gosto de
conversar com ela. É divertido.

A única parte chata disso tudo é que tenho a visto com menos frequência esse ano. Por ser seu último no ensino
médio, ela não tem muito tempo para mim, mas eu ainda gosto muito dela...

Às vezes eu gostaria que ela fosse minha irmã mais velha… e não a Juna.

Argh…

— E aí? — ela disse, então, quando abriu a porta de casa. Subi os degraus iniciais, me sentando no começo da sua
varanda, porque é onde ficamos. — Não sabia que a vaca tinha voltado… se eu soubesse, deixaria a janela aberta.

— Você sabe que eu ainda não consigo escalar janelas, certo? — indaguei, enquanto ela se sentava do meu lado,
com as revistas em mãos.

É… às vezes, no ano passado, eu fugia para a casa da Hyuna quando minha irmã vinha pra casa. Não que eu tenha
desabafado com ela sobre a Juna, eu não fiz isso com ninguém como fiz com o Jimin. Mas esse problema com a Juna vem
desde que eu era criança… e Hyuna sabe desde aquela época até agora.

Ela sabia que minha irmã era uma… vaca.

— Sei, mas é engraçado te ver tentar — ela me disse, rindo. Ora essa… — Te vi chegando… foi fazer o quê? —
Ergueu uma das sobrancelhas, repentinamente interessada na minha vida.

Dei risada, pegando a revista quando ela colocou no meu colo.

— Indo direto ao ponto: não, eu não estava com o Seokjin.

Hyuna tem tentado ser sutil sobre isso, mas eu percebo quando ela fica olhando pra mim com o Seokjin sempre que
ele vem aqui.

— Ai que saco — ela resmungou, colocando as mãos nas bochechas, emburrada. — Ele é tão lindo. Ele tem
namorada?

— Não dá pra saber… — eu disse, folheando a revista. — Ele é… complicado.

Complicado significa que ele sempre está com uma garota diferente e vive choramingando por causa delas.

— Tudo bem, eu já entendi — resmungou ela. — Mas, qual é? Vamos negociar… te dou essa revista se você passar o
meu número pra ele.

— Feito — falei, sem precisar de muito tempo para pensar.

O Jin também fica olhando pra ela, então todo mundo sai ganhando.

— Isso! — ela disse, em uma comemoração curta. — Ok… vamos mudar o assunto. Não é sempre que isso
acontece, mas eu estou curiosa sobre você.

Eu balancei a cabeça, um pouco distraído.


— O que quer saber? — perguntei.

— Se não saiu com o Seokjin… o que você foi fazer? — ela perguntou.

— Sair com o Jimin… — eu disse, então.

Aí percebi que Hyuna não faz ideia de quem Jimin é.

— Espera — ela murmurou, e eu a fitei. — Jimin?

— É… — eu disse. — Eu conheci ele esse ano.

— Jimin de quê?

— Park.

— Park Jimin? — Sua voz soou compreensiva. — Espera… acho que conheço!

Quê?

Ai meu Deus.

— Como? — me exaltei um pouco, deixando-a surpresa.

Hyuna deu uma risadinha, balançando a cabeça como quem me diz pararelaxar. Puxa...

— Fica frio aí… — ela disse, ainda rindo. — Eu estudo com a prima dele, só isso.

Ah…

— Ah tá — eu disse, aliviado e envergonhado... afinal, me exaltei atoa! Puxa...

Acho que fiquei com um pouco de medo… de certa forma, eu queria ser especial pro Jimin.Queria que fosse
recíproco. E quando Hyuna disse o nome dele, tão familiarizada, eu me senti estranho… um estranho que eu conheço muito
bem, porque é o mesmo de quando penso em Jimin e Jieun.

Eu sempre sinto isso e não gosto nem um pouco… afinal, a culpa desse sentimento é toda minha, então não tenho o
que fazer além de me culpar.

— É que o nome dele é bem familiar pra mim! Sabe, eu nunca tinha “conhecido” um Jimin antes, então ficou guardado
na minha cabeça… além de que a Jihyo fala muito, e fala muito dele, então grudou aqui. — Apontou para a própria cabeça.

— Jihyo? — eu murmurei, percebendo que esse nome não me é estranho. — Ah, espera… você não odiava ela?

Conversávamos bastante quando tínhamos chance… e me lembro de quatro nomes supremos: Jihyo, Jisang, Sungjae
e Myeon.

Hyuna odiava essas pessoas.

— É… — Hyuna fez uma meia careta, e eu ri dela. — Mas isso foi no primeiro ano, agora estamosOk. Fizemos um
trabalho juntas no último bimestre, e ela é do tipo tagarela, sabe? E ela tagarelou bastante sobre as irmãs e esse Jimin —
disse ela. — Ele parece legal com os relatos dela… é da sua turma?

— Sim — digo, um pouco curioso, porque Jimin não fala muito sobre suas primas.

É quase esquisito o fato de que existe um monte de coisas sobre Jimin que eu não conheço. Quero conversar sobre
essas coisas quando nos vermos novamente.

— Ele é bonitão?

Hum?

Juntei as sobrancelhas quando olhei para ela, processando sua pergunta sem-vergonha. Hnf! Dei-lhe um
empurrão com meu cotovelo, que não surtiu efeito, porque Hyuna é mais forte do que eu.

Grrr...

— Por que você é assim? — Ela riu da minha reação.

— Você só tem amigos bonitos… se ele for meu tipo, posso te oferecer outra revista, e aí você me dá o número dele!

Nem ferrando! Hyuna pode me dar um caminhão cheio de revistas, mas eu não passo, não. O número dele fica
comigo…

Jimin é muito bonito. Se a Hyuna o ver… vai querer o número dele, e ela se dá muito bem com meninos bonitos (e
meninos meio-bonitos também… meninos no geral, na verdade).

E, além do mais, eu só tenho o Seokjin de amigo, então é óbvio que para ela meus amigos são todos bonitões! Só
tenho ele, ué.
— Não. Pode parando. — Eu virei o rosto, sem querer olhá-la.

— Pfft… — Ela ri. — Dramático! Tá. Mas o que vocês foram fazer?

Beijar e ouvir música…

— Conhecer uma parte da cidade — eu digo e até que não é mentira. — E ouvir música.

— Ah — ela murmurou em concordância. — Entendi. Mas vê se não deixa o Seokjin de lado… chama ele pra sua
casa.

— Meu Deus, Hyuna. — Ri dela e suas intenções. — Talvez ele venha essa semana, ok?!

— Perfeito! — ela comemorou.

Dou um sorriso maligno.

— Talvez… se a próxima revista for de graça, também — digo, bem diabolicamente.

Seokjin vem de qualquer jeito, mas ela não precisa saber disso.Heh.

— Falso... porém, muito esperto. — Piscou um dos olhos. — Tá bom, fechado — ela disse, ficando de pé, olhando pro
outro lado da rua. Olhei também e vi o carro da minha mãe finalmente chegando. — Agora vê se sai daqui! Catarrento.

Eu ri, ficando de pé. Ergui a mão e fizemos um breve toque de despedida. Ela entrou em casa e eu desci os degraus,
indo para a minha de imediato.

Quando minha mãe no volante estacionou o carro, fui até sua porta. Eu tinha certeza de que eles precisavam de ajuda
para levar as compras lá pra dentro, então já me preparei.

— Chegou no horário, mocinho? — mamãe perguntou assim que saiu do carro.

— Sim, mãe — eu disse, levemente feliz quando ela me abraçou rapidamente. — Fiquei falando com a Hyuna até
vocês chegarem… tem problema?

— Problema algum — ela respondeu e fomos caminhando até o porta-malas. Assim que ela o abriu, comecei a pegar
algumas sacolas e fomos juntos até nossa casa, guardar as compras.

Depois voltamos, pegamos mais sacolas e guardamos, até todas as compras estarem na cozinha. Sendo assim,
também ajudei minha mãe a guardar as coisas nos armários e na geladeira.

Ela comprou gotas de chocolate. Eu quis fazer cookies pro Jimin.

***

— Jimin? — Minha mãe fez uma expressão engraçada, apertando os olhos como se tentasse se lembrar de quem
Jimin é. — Qual o sobrenome da mãe dele?

— Park — eu disse, pensando bem. — Eles moram longe… você não deve conhecer.

Estamos jantando. Minha mãe não obteve muitas informações quando me deixou sair com o Jimin. Eu só disse que
era um amigo da escola, só que ela costuma ser bem específica com coisas assim. Quer saber quem é, se a mãe dele está
de acordo, se é boa influência, má influência…

Sinceramente? Eu acho que ela só deixou eu sair com ele hoje de manhã porque eu falei uma meia-mentira. Eu disse
que iria passar a tarde com ele, lanchar e trocar almanaques, então ela deixou.

Se eu dissesse que nem sabia para onde eu ia ela com certeza ia me matar.

— Entendi — ela murmurou, depois de engolir sua comida.

Pensei que ela iria me questionar, mas ela não o fez. Fiquei feliz. Tem esse detalhe da minha mãe que eu gosto
muito... apesar dela ser desconfiada de tudo, quando eu cumpro meus horários e faço as coisas que tenho que fazer, ela não
fica em cima de mim. Ela só quer saber com quem estou e se estou seguro, e fico feliz quando ela confia em mim…

— Da próxima vez quero conhecer ele ou a mãe dele, tá bom? — ela falou.

Ah.

Balancei a cabeça, bebendo o resto do meu suco.

— Tá bom… — murmurei, um pouco constrangido.

Então, ela entrou na conversa com a outra parte da mesa: meu pai e as garotas. E eu fiquei pensando se não seria
constrangedor demais falar pro Jimin que minha mãe quer conhecer ele e a mãe dele…

Mas só assim para ela deixar eu continuar saindo com ele, então…
Quando terminei de comer, agradeci meus pais pela comida e lavei o que usei. Subi para meu atual quarto e fechei a
porta.

Abri a mochila em cima da cama e peguei os chocolates que Jimin comprou especialmente para mim, suspirando
enquanto me jogava no colchão. Eu estava um pouco preocupado, sinceramente... mordendo os quadradinhos, pensando
nele e em seu pé… talvez seja melhor trocarmos os dias dos nossos encontros, sabe, para que ele possa descansar…

Acho que posso adiar a vinda do Seokjin. Trocar os dias. Ao invés de ir pra casa dele no sábado, posso ir amanhã, e
sair com Jimin só no fim da semana. Assim seu pé melhora.

Suspirei baixinho. Puxa. Não consigo pensar em mais nada além de que é um saco não poder estar com Jimin
sempre… eu queria que ele estivesse aqui agora. Então ele me tocaria e eu me sentiria nas nuvens… exatamente como me
senti nessa tarde e em todas as outras que ficamos juntos.

Minhas bochechas queimaram. Essa cama da minha irmã é bem mais espaçosa que a minha, e eu nunca vou dizer
isso para ninguém, porque é muito vergonhoso, mas… eu queria muito que Jimin pudesse se deitar aqui, pertinho de mim, e
me abraçar. Seria bom. Eu gosto do abraço dele. Me sinto familiar… como se tivesse um lugar para ficar, um lugar só meu…
como se eu pertencesse à algum lugar. Algo meu... seu abraço.

É como se eu pertencesse à isso, à sua mão me fazendo carinho… puxa vida. Eu queria que ele sentisse isso
também, queria ter coragem para abraçar ele do jeito que ele me abraça e puxar ele do jeito que ele me puxa, quando
ficamos tão perto… assim, talvez, ele sentisse algo parecido com o que eu sinto.

Ai, caramba, eu estou sendo tão bobo pensando nessas coisas… é uma tremenda vergonha.

Mas... e daí? Eu me sinto tão bem… tanto que queria que ele se sentisse também. Queria que ele se sentisse familiar
enquanto eu o abraço.

Aquele beijo não sai da minha cabeça, honestamente… eu não sei o que estou fazendo da minha vida!Virando um
desmiolado, talvez. Mas eu fico pensando, e é tão curioso como sempre tem uma coisa diferente e mais calorosa para
descobrir. É que eu me lembro de quando seguramos a mão um do outro… quando entrelacei o dedinho no dele pela
primeira vez, senti que aquilo era perfeito… senti que era uma das melhores coisas existentes. Então ele me abraçou e eu
percebi que não tinha comparação, porque era tão aconchegante e gostoso. E cheiroso. O cheiro do Jimin me deixa tão
tímido e tonto que eu me perco…

Como quando ele me abraçou no meio da correnteza, hoje. Eu não senti nada além de um arrepio constante, tão
esquisito, porque vinha de dentro para fora, e de fora para dentro. Puxa. Quando ele tocou o rosto no meu, senti como se
fôssemos um só. Eu queria que pudéssemos ser, assim poderíamos ficar juntos para sempre...

Eu queria ficar com o Jimin para sempre.

Queria que ele me pedisse para beijá-lo, eu não consigo parar de pensar nisso. Desde que saí de lá, só consigo
pensar em várias formas de beijá-lo, melhores do que eu fiz. Se ele me pedisse, ou se eu tivesse coragem, beijaria-o mais
lentamente… para senti-lo e para ele me sentir. Será que eu levo jeito para isso? Porque ele leva. Muito.

Senti tanto dele quando ele me beijou… eu queria que ele me sentisse também. Eu queria muitas coisas quando o
assunto era o Jimin…

Fiquei um pouco amaciado e percebi que minhas pálpebras estavam quentes quando pisquei um par de vezes.
Toquei meu próprio rosto. Estou fervendo, puxa…

Eu até me assustaria, mas isso se tornou tão comum… queimar pensando no Jimin. Às vezes fico brincando com
minhas orelhas, sentindo elas pelando. Jimin, Jimin…

Fiquei um pouco amaciado quando ouvi música vindo do andar de baixo. Eles devem ter ido para a sala de estar
conversar, como fizeram ontem, e aquele não era exatamente meu tipo de música, mas eu queria escutá-la… então me
levantei e deixei a porta meio aberta.

Percebi que ainda estava sozinho no segundo andar, então fiquei mais tranquilo. Me deitei na cama novamente e
respirei fundo, podendo sentir que meu coração estava um pouco tenso, um tenso bom. Foi Jimin que deixou ele assim...

Kiss me once, then kiss me twice

Then kiss me once again…

Seria incrível se ele me pedisse isso. Se ele me dissesse para beijá-lo uma vez, então duas vezes, então de novo.

De repente, eu não conseguia parar de pensar nisso. Já estava pelando de timidez, mas era tão gostoso sentir tantas
coisas que eu nem dava bola. Puxa…

Quando eles começaram a falar alto demais lá embaixo, eu fui até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. Não
estava muito tarde, mas eu queria dormir logo… assim, poderia ligar pro Jimin pela manhã e perguntar se ele estava bem.
Por isso fui direto para o quarto, com o coração saltitando dentro do meu peito.

Lippy apareceu no meio da escada, abanando o rabo, e eu o chamei para o quarto. Ele ficava confuso quando ia para
o meu e não me encontrava, então eu sempre o buscava.

Quando entrei, apaguei as luzes e não pensei em dar boa noite para meus pais. Apenas abracei o travesseiro,
fazendo carinho no Lippy com meu pé — porque ele estava deitado no fim da cama — e comecei a pensar em como seria
quando nós fôssemos até o parque. Jimin perto das flores parecia um paraíso. Seria lindo desenhá-lo com várias flores como
cenário.

Pensando nisso, eu fechei meus olhos lentamente, com as bochechas mais vermelhas do que os cabelinhos na nuca
do Jimin.

JIMIN

O dia amanhece mais bonito quando você sonha que deu um beijo na pessoa que você gosta.

— Ai ai… — eu sussurrei, sozinho, descendo as escadas.

Ainda estou de pijama e não consigo parar de sorrir. Eu tive o melhor sonho do mundo.Que dia lindo...

Eu estava sozinho. Foi estranho acordar oito e meia sem o despertador… mamãe já tinha saído para trabalhar e eu
fiquei na cama por um tempão, tentando me lembrar de mais detalhes do sonho.

Agora estou descendo as escadas para comer algo sozinho, mancando um pouco por causa do meu pé, mas muito
bem com a dor e com o silêncio. Sorri quando abri a geladeira e vi que tinha iogurte. Eu amo iogurte.

Enquanto olhava para a geladeira, fiquei com vontade de comer panquecas.Pfft. Panquecas...

Quase tomei um susto quando Menino surgiu na cozinha, miando que só. Ele se esfregou tanto entre minhas
panturrilhas que quase caí ao andar… ainda mais com esse meu pé dolorido.

— Que que há, Menino? — perguntei, risonho. — Você já tá com fome?

Ele gritou um miado.

É, ele está com fome.

Antes de me alimentar, caminhei até o cantinho da cozinha, onde as tigelinhas do Menino estavam. Lavei as duas, e
as sequei, colocando água e ração para o meu bebê. Assim que coloquei elas no lugar, ele começou a comer e ficou
quietinho.

Ri baixinho, vendo as horas no relógio. Nove. Uhh.

Eu estava pensando em me sentar e comer um pão com geleia, já que não tem panqueca e eu definitivamente não
sei fazer, mas… antes que eu começasse a fazê-lo, o telefone tocou lá na sala, bem alto.

Larguei minha caneca em cima da pia e fui mancando até lá. Tirei o telefone do gancho e murmurei, meio rouco:

— Alô?

— Alô?

Eu pigarreei, surpreso. Era ele.

Era o Jungkookie me ligando logo pela manhã…

Eu nunca me esqueço de como esse sentimento é bom.

— Jungkookie. — Sorri, me encostando na parede. — Bom dia...

— Bom dia… — ele disse, baixinho. — Desculpa te ligar cedo… mas é o único horário que eu posso te ligar hoje, e eu
queria muito falar com você.

— Não tem problema, eu acordei agora — eu disse, com um sorriso. — Pode falar.

— É sobre os nossos encontros — disse ele, acredito que sem imaginar no quão quentinho eu ficava quando ele dizia
“nossos encontros”. — Sabe… eu estava preocupado por causa do seu pé. Como ele tá?

— Ele tá bem melhor.

— Mas ainda dói?

— Hum… — Pensei um pouquinho, vendo meu pé com o curativo. — É… dói.

— Então — ele murmurou. — É que eu estava pensando em trocarmos os dias. Ao invés de sairmos no meio da
semana, podemos sair no sábado… assim dá tempo pro seu pé ficar melhorzinho. — Ele finalizou.

Eu me senti feliz e também me senti amado. Aquilo seria perfeito, meu pé ainda estava doendo bastante e não dava
pra sair mancando. Eu nem tinha parado pra pensar naquilo, mas Jungkook foi cuidadoso o bastante ao pensar em mim e no
meu melhor.

Por isso me senti amado…

— Seria perfeito, Jungkookie — eu disse, meio melodioso, e não sei se ele percebeu que meu tom mudou. Ele
suspirou um pouco. — Bem pensado…

— Ainda bem! Eu fico feliz — disse todo cuidadoso. — Que bom, então…

— Sim…

— É…

Ele ficou em silêncio. Nós ficamos.

Fiquei um tempinho na linha, esperando Jungkook dizer alguma coisa. Quando ele demorou demais, eu acabei
tomando as rédeas da situação:

— Então... te vejo sábado? — perguntei, pensando no quanto seria chatinho passar tanto tempo sem vê-lo.

— Sim. Sábado — ele confirmou. — Hum… eu posso te ligar amanhã, ou depois, para marcarmos o horário e essas
coisas.

— Tudo bem. Eu posso atender qualquer hora depois das nove, eu acho — eu disse.

— Ok! Ok… — Sua voz saiu meio baixa. — Então… até mais.

— Até. — Eu mordisquei minha boca. — Eu te adoro, tá bom?

Não pude evitar relembrar. Queria que ele pensasse em mim depois de desligar...

Jeongguk deu um suspiro do outro lado, quase secreto de tão baixinho.Eu gosto quando ele suspira por algo que eu
disse.

— Tam… também — murmurou, pausadamente. Eu sorri. — Tchau, Jiminnie.

— Tchau.

Então, eu desliguei. Mas fiquei um tempo ali encostado na parede, suspirandocorações.

Logo fui para a minha cozinha fazer meu café da manhã, pensando demais nele em todos os momentos pelo resto do
meu dia.

Pela tarde, saí para regar e cuidar das minhas flores na parte de trás da casa. Além de pegar, também, um pouco de
capim-limão pra fazer um chá para mim.

Comecei a fazê-lo cuidadosamente, com as luvas, cuidando das flores bonitinhas. O aniversário da minha mãe é só
em agosto, e as flores já estão ficando grandinhas… talvez elas fiquem do tamanho certo antes do aniversário dela chegar.
Se isso acontecer, posso dar umas para o Jungkook.

Depois de fazê-lo, fui caminhando até a parte de frente da minha casa, com os pedaços da folha do capim-limão em
mãos. Vi a senhora Bong do outro lado da cerca e sorri para ela, assim como ela sorriu para mim.

— Boa tarde, Jimin — ela disse, e acabo de perceber que está regando suas plantinhas. — Já vai fazer um cházinho?

— Boa tarde! Vou sim — eu digo, parando um pouco. — E a senhora?

— Ah, só mais tarde, se não eu não faço mais nada… — ela disse, rindo um bocado, e acabei rindo também.

— Se a senhora quiser um pouquinho, eu posso cortar pra você. — Me referi ao capim-limão.

Ela negou, dando risada, apontando para a parte de trás da sua casa.

— Já tenho um mato gigantesco só dessas folhas — ela disse.

Eu afirmei com a cabeça, sorrindo e voltando a caminhar, tentando mancar menos para ela não ficar preocupada.

— Tudo bem! Tenha um bom dia, senhora Bong — digo, bem-humorado.

— Você também, querido! — ela responde, por fim.

Vou caminhando assim até a parte da frente da minha casa, mas paro no meio do caminho, antes de subir as escadas
da varanda. Tudo isso porque me deparei com algo… extremamente peculiar e surpreendente.

— Nossa... — eu digo, bem baixinho, porque ele parece meio receoso e pronto para fugir. — Da onde você saiu?
Você é lindo…

Tinha um gato extremamente peludo, e bem grande, todo preto, em cima do “murinho” da varanda da minha casa.
Não sei se seus olhos eram verdes ou amarelos, mas de qualquer forma, ele — ou ela — era realmente muito lindo — ou
linda.

Fiquei um pouquinho parado, olhando para ele, que estava atento também. Quando acabei de subir a varanda, ele
pulou pro outro lado e saiu correndo para bem longe. Ah, poxa...

Que gordinho… coitado, deve estar cheio de verme o bichinho.

Pensando nele, depois de entrar em casa e colocar a água pra ferver, peguei um pouco da comida do Menino e
coloquei no lugar em que o gatinho estava. Talvez eu consiga dar um remédio se ele aparecer aqui e comer essa comida...

Logo eu voltei para dentro e terminei de fazer meu chá. Tomei-o na sala, com os pés em cima do sofá e Menino
dormindo sobre eles, vendo a novela chatinha das cinco.

Um pouco mais tarde, Leonor me ligou do seu trabalho me perguntando se eu já tinha almoçado. Eu disse que não,
porque só tinha lanchado — lê-se: me entupi do bolo de laranja do Jungkook, os biscoitinhos e ainda mais iogurte — e
tomado meu cházinho. Logo ela perguntou se eu queria ir jantar lá, no Sool Bibimbap.

Eu disse que sim, porque estou morrendo de vontade de sair por ter ficado o dia inteiro em casa sozinho. Logo troquei
de roupa, calcei os sapatos, e deixei tudo fechado — exceto a janela pela qual Menino entra e sai.

Não demorei muito para perceber que foi uma má ideia sair, porque eu fui mancando até o ponto de ônibus. Todo
mundo ficou me encarando, mas eu tentei ignorar... afinal: fazer o quê? Ficar em casa é muito chato!

De qualquer forma, vou estar 100% para ver o Jungkookie...então não tem problema.

Eu consegui um lugar bom na janela. Chegando lá, jantei com minha mãe — que tinha acabado seu expediente — e
depois fiquei jogando Pac-Man até ela terminar a conversa com suas amigas.

Tinha um carinha muito engraçado contando piadas lá de dentro da cozinha, e eu ri de algumas delas. Gostei dele
porque ele me cumprimentou e disse que minha mãe falou que eu era um ótimo escritor. Ahh.

Depois disso, eu e a minha mãe tomamos um sorvete no caminho para o ônibus e fomos para casa lado a lado.

No fim da noite, recebi uma ligação do Yoongi e acabei chamando ele para vir aqui em casa amanhã. A gente ia tentar
fazer um bolo vegano de chocolate com os ingredientes que ele ia trazer. Fui dormir animado porque estava com saudades e
teria um dia legal...

Quando troquei o curativo, passando o remédio de novo, percebi que meu pé já estava melhorando.Acho que
amanhã já vou mancar bem menos...

Sendo assim, na quinta-feira, passei meu dia cozinhando com Min Yoongi. O bolo não ficou bom, mas também não
ficou ruim. Foi só tacar geleia que ficou comestível, pfft.

Nós fizemos outra maratona de filmes de terror, e nas partes em que eu fechava os olhos, Yoongi começava a rir
histericamente. Sério! Tinha um cérebro saindo de uma cabeça, eu estava completamente aterrorizado, e ele estava rindo
que nem um lunático!

Yoongi é doido, mas eu adoro ele.

Pela tarde, comemos muita pipoca e bebemos suco. Eu fiz chá pra ele e ele odiou, aliás, heh.

Foi divertido passar aquele tempo com ele. Yoongi era fissurado pelo Menino e isso era tão fofo! Sempre que o
Menino subia nele, Yoongi o puxava pro seu colo, e ficava abraçando, e eu morria de amores. Qual é? Era muito fofo ver meu
amigo que só vestia preto, branco e cinza, abraçando meu gatinho laranja.

Quando Leonor chegou, ela perguntou se já não estava muito tarde para Yoongi ir pra sua casa, o convidando para
ficar. Yoongi disse que sua mãe viria buscá-lo, e minha mãe disse para ele dormir aqui na próxima vez — eu espero que ele
durma mesmo!

Quando a mãe do Yoon chegou, fiquei surpreso, porque ela era muito bonita. Mas era bem mais velha que a minha
mãe.

Ela desceu do seu carro luxuoso para abraçar muito o Yoongi, e também conversou bastante com a minha mãe. Ela
tinha acabado de chegar de uma viagem, era uma mulher alta, magra, e com os cabelos curtinhos extremamente lisos. Seu
rosto era uma réplica do rosto do Yoon.

Quando eles foram embora, minha mãe e eu entramos para jantar e ver televisão. Ela disse que o nosso bolo ficou
horrível também.

— Que cruel, mãe! — eu disse, indignado.

— Depois daquele bolo de laranja, nenhum bolo parece bom de verdade — ela disse, limpando a boca.

E no fim, eu tive que concordar.

JUNGKOOK
Não foi a pior coisa que ela já me fez.

— Parece que é só isso que você ingere, mesmo — ela disse, com certo tom de deboche.

Eu até me assustei por não ter a visto chegando. Já estava tarde, afinal.Então eu pensei que ela já estava dormindo.

Eu tinha chegado durante a tarde da casa do Seokjin. Só havia descido para pegar um copo de água e me dei com a
minha irmã, com o olhar maldoso de sempre.

Eu não respondi. Já sabia que ela iria fazer piada sobre o meu corpo quando ela disse “ingere”.

— Eu vou dormir — eu disse só isso, mas minha voz saiu muito desafinada, talvez por eu estar com vontade de
chorar.

Talvez se eu visse ela chegando, eu… puxa...

— Que droga, hein, Jungkook? Aposto que as pessoas acham que minha mãe abusa de você porque você parece um
doente. Por que você não vai se tratar de uma vez? Você não cansa de ser um problema? — dizia.

Eu passei diretamente por ela, sem respondê-la quando pisei na escada. Mas ainda pude escutá-la, atrás de mim:

— Pirralho inútil.

E foi a última coisa que eu ouvi antes de me apressar e entrar dentro do quarto que, agora, eu durmo.

Eu coloquei a mão no meu peito.

Meus lábios começaram a tremer e eu não pude evitar. Eu chorei.

***

— Ela tem problema! Que raiva! — Seokjin falava, do outro lado da linha.

Eu afirmei com a cabeça, fungando discretamente.

— É…

Lippy estava no meu pé, me encarando com uma feição meio preocupada. Será que ele percebeu que eu chorei?

Jin continuou falando:

— Ela chega do nada e diz uma coisa dessas? Por quê? Você não fez nada!— disse ele. — Você não parece doente!
Não mesmo!

Eu me balancei do lado da mesinha, me sentindo um pouco melhor. Falar com meu melhor amigo sempre me fazia
bem, sempre mesmo…

— Uhum… — Fiz carinho no Lippy, me sentando no chão.

Puxa… não foi uma manhã muito boa.

Eu acordei me sentindo um pouco sozinho e bobo por ter chorado pela idiota da minha irmã. Acho que se eu tivesse
me preparado, teria ficado bem. Não foi a pior coisa que ela já disse pra mim, mas fiquei com raiva porque estava me
sentindo feliz, ia dormir empolgado, e então ela acabou com tudo isso… só com alguns comentários. Foi injusto.

É frustrante como ela pode fazer isso comigo tão facilmente.

Do outro lado da linha, Seokjin estava bufando. Eu meio que liguei pra ele quando percebi que estava sozinho em
casa, porque precisava muito contar pra alguém. Eu sempre conto tudo para ele, ou pelo menos tento…

Seokjin pigarreou.

— Sabe de uma coisa? Ela é traumatizada porque você é mais bonito. Com certeza é isso!— disse ele, convicto, e eu
meio que ri. — Cara, sua irmã… ela parece um alienígena, ela tem uma cabeça enorme! A cara dela é esquisita, a voz dela é
esquisita, e tudo isso em você é bom! Ela tem inveja porque você canta bem e porque sua cara é bonita, é isso!

Eu comecei a rir muito. A cabeça dela é enorme mesmo...

— Seokjin… — Eu ri.

Jin meio que riu também.

— Agora é sério — ele disse, pausadamente. — Ela realmente só chegou e disse tudo isso?

Eu suspirei pesadamente, meio chateado.

— Sim… — confirmei, meio triste. — É um inferno. Eu nunca sei o que fiz de errado. Ela só faz isso e sai, é como se
ela precisasse disso.
— Ela é uma traumatizada, maluca, doida, pirada, nojenta, doente! — disse ele, exclamando rápido até demais. Eu
voltei a sorrir. — Só não vou chamar ela de vagabunda porque não sou a favor dessa palavra… mas ela é tudo isso aí que eu
disse e um pouco mais.

Eu suspirei, afirmando. Já estava me sentindo melhor.

— Pelo menos ela vai embora depois de amanhã, né? — eu disse.

— Sim.

Nós ficamos em silêncio por um tempo. Eu me senti envergonhado, mas não consegui segurar aquela dúvida dentro
de mim ao questionar:

— Seokjin… — chamei, baixinho, constrangido. — Você tem certeza de que eu não pareço doente?

Eu sou magro demais? Pareço estar passando fome?

Eu sempre perguntava isso para ele e para mim mesmo. Eu achava, então parava de achar, mas quando ela dizia, eu
começava a achar de novo...

— Tenho certeza absoluta, Jungkook! Nem cogita pensar que o que ela disse é verdade!— ele falou. — Você tem
papinha, e sua cara fica vermelha fácil. Seu braço também é todo apertável, você é normal, não deixa essas coisas entrarem
na sua cabeça. Aposto que é mais inveja ainda porque seu metabolismo é rápido.

Eu movi minha mão, apertando a gordurinha escassa no meu pescoço.

— Puxa… se você estiver mentindo, nunca mais vou falar com você!

— Você sabe que eu não minto! Tanto que eu sempre digo que você tem um narigão— disse ele, e começou a rir. Eu
ri também, me sentindo bem melhor, mesmo que eu seja narigudo. — Ya, é sério. Para com isso, e da próxima vez chama
ela de cabeçuda. Te dou quatro discos se você chamar ela de cabeça de arromba navio.

— Eu não sou nem doido... — eu disse, risonho.

— Chama ela de cabeçassauro!

— Eu… não…! — Eu não conseguia parar de rir.

— Então deixa que eu chamo! Vou chegar dizendo “E aí sua marciana arromba navio”!

Eu me contorci um pouco, rindo muito.

— Você é doido!

— Sim, eu sou! Se eu ver essa cebola ambulante vou fazer uma palhaçada com ela, vai ser assim, ó, presta atenção
— ele começou, e eu já me preparei para ouvir ainda mais besteira. —Vou falar pra ela que tem um cara distribuindo
dinheiro em um beco. Aí ela vai me perguntar aonde… aí eu vou dizer que ela não vai conseguir pegar. Sabe por quê?

— Por quê? — Eu ri.

— Ela não vai conseguir passar pelo beco, porque as ruas são muito estreitas!— Ele começou a rir. — Marcianaaaa!

Eu me afoguei em outro riso. Eu nem tive tempo para me sentir maldoso, porque tudo que Jin dizia me fazia rir e me
sentir melhor, mais alegre e risonho. Eu nunca vou me cansar de dizer e sentir que ele é o melhor amigo que existe…

Quando meus pais chegaram, eu estava todo vermelho, ofegante e de bom humor. A minha irmã olhou pra mim,
desconfiada, e quando olhei para ela de volta brevemente, pensei em cabeçassauro.

Eu ri um pouco, ainda a olhando, e ela percebeu isso. Tampei a boca, tentando segurar, e virei a cara, risonho pra
caramba… fui andando para perto da minha mãe, assim ela não mexe comigo e eu não rio demais da cabeça dela.

Pfft. Cabeçassauro…

Eu já estava com a mente em outro lugar quando meus pais chegaram, porque eu precisava pedir algumas coisas
para eles. Seokjin fez parecer que ontem nem aconteceu. É mais fácil quando sei que posso contar com ele…

Logo andei até minha mãe, que estava na cozinha, tirando algumas compras da sacola, porque vai fazer peixe e
caldo, então teve que ir no mercado de novo. Comecei a ajudá-la.

— Mãe, só pra confirmar… eu vou sair com o meu amigo Jimin amanhã depois do almoço, tá?

Minha mãe ergueu uma sobrancelha ao me ouvir dizer isso, abrindo a geladeira.

— E cadê a mãe dele que ainda não conheci? — ela indagou.

Eu engoli em seco.

Putz grila, eu me esqueci totalmente...


— Ahn, você pode conhecer ela hoje… pode ser pelo telefone, né? — eu disse, percebendo quando meu pai chegou
na cozinha.

— Ah, é com o seu novo amigo que você vai lá na praça? — perguntou ele, me lembrando da praça cheia de flores.

— Sim, a gente queria conhecer!

— O Seokjin vai também? — mamãe perguntou.

— Ele vai estar ocupado, então não vai — eu digo. É mentira, mas sei que Seokjin concordaria com isso caso
soubesse como me sinto. — Você deixa mãe?

— Depende. Você deixa, pai? — ela olhou pro meu pai.

Meu pai olhou pra mim, como se estivesse pensando sigilosamente.

E então, sorriu.

— Eu deixo, mãe.

Minha mãe confirmou e meu pai parecia estar ali pra me ajudar. Ele é bem mais tranquilo que ela, e isso me fez
sorrir… puxa, ainda bem!

— Então quero falar com ela hoje, aí eu deixo. Pode ser por ligação. Vocês vão de ônibus?

— Sim — eu disse, animado. Comecei a sorrir e me mexer. — Hum, pai…?

— Sim?

Antes que eu continuasse, me senti meio... nervoso. Tudo porque minha irmã e sua amiga estavam ali, prestando
atenção.

Eu não deixei isso me abalar e continuei:

— Minha mesada acabou ontem, você pode me dar dinheiro? Aí semana eu fico sem…

Para minha surpresa, meu pai não respondeu de imediato.

A Juna…

— Credo, Jungkook, você não cansa de ficar só pedindo e pedindo? — Quando olhei para seu rosto, percebi como ela
parecia brava. — Eu teria vergonha de ficar pedindo dinheiro pros meus pais toda hora. Credo.

Eu senti um aperto.

Puxa... eu nem… nem pensei nisso, nem pensei no quanto poderia estar incomodando pedindo dinheiro. Eu nem fiz
uma tarefa grande essa semana para merecer...

Eu olhei para baixo, me sentindo um pouco mal. Me senti culpado…

Meus lábios tremeram de constrangimento e eu olhei pro meu pai com o intuito de me desculpar, mas ele não parecia
interessado nisso.

— Mocinha... você pedia muito mais que seu irmão, ainda mais na idade dele — ele disse, parecendo meio
incomodado. — Seu irmão está de férias, e o que decidimos dar ou não para ele é só da nossa conta, combinado?

Eu ergui as sobrancelhas, surpreso. Olhei para minha irmã…

Ela apertou as sobrancelhas e deu de ombros.

— Tá bom, mas ele é mimado pra caralh…

— Juna! — minha mãe interrompeu. — Olha a boca dentro dessa casa!

Juna balançou sua cabeça, com a feição incrédula.

— Credo, vocês dois — ela murmurou, rindo desacreditada. — Vocês sempre fazem isso, não posso falar nada pra
esse pirralho que vocês começam a gritar comigo!

— Tem uma diferença entre falar algo e ofender, e você sabe muito bem disso! — Minha mãe parecia brava de
verdade, e eu não estava gostando daquilo. Estava começando a ficar com vontade de chorar por fazê-los brigarem.

Eu não deveria fazer ninguém brigar por mim, ainda mais eles três… ainda mais por mim.

— Pai, desculpa — eu disse, com a voz meio trêmula. — N-não precisa, eu...

— Jungkook, você não disse, muito menos fez algo de errado para pedir desculpas — meu pai respondeu.

— A única coisa de errado que você fez foi ter parado logo aqui, né — Juna soltou, sarcástica, e eu apertei mais meus
olhos.

A minha mãe saiu de perto de mim para bater forte na mesa de casa, causando um estrondo alto.

Eu me afastei um pouco, me sentindo tão culpado com a briga que não cabia dentro de mim...

— Basta! Você já é adulta e ainda age como uma garotinha malcriada! Eu já disse que não quero você falando com o
Jungkook desse jeito! — ela exclamou, e Juna apertou os olhos e os punhos. Sua amiga observava tudo em silêncio.

— Mãe, desculpa… — eu disse também, e minha boca continuou tremendo.

— Você não deveria gostar mais dele do que de mim! — Ela gritou de volta, vermelha como nunca.

Me sinto culpado. Me sinto culpado, muito culpado.

— Por que você nunca entende?! Eu só quero que você respeite seu irmão! Ele nunca te dirigiu uma palavra maldosa
e não vou tolerar você o desrespeitando!

— Ele não é meu irmão!

— Sai agora, Juna. Já chega. Sobe, vai pra sala, mas sai agora desse cômodo — meu pai interferiu. — Não vamos
tolerar isso.

Juna apertou os olhos e gritou. Ela bateu na mesa, gritou um palavrão, e foi embora.

Ouvi seus passos pelo andar de cima e então ela bateu a porta. Sua amiga correu atrás dela.

E eu já estava chorando.

Eu odeio isso. Odeio isso, eu sei por que minha irmã me odeia… é porque eu não deveria estar aqui. É porque minha
mãe deveria ser só dela, eu só atrapalho tudo… ninguém brigaria se eu não estivesse aqui, mamãe não ficaria tensa, meu
pai não ficaria preocupado, eles não teriam que gastar dinheiro comigo, eu só atrapalho… só atrapalho.

Continuei chorando, assustado com a gritaria. Mamãe não demorou um segundo para se aproximar e me abraçar, me
escondendo em seu peito.

— Desculpa! — eu pedi de novo, sem conseguir conter, sem conseguir demonstrar o quão arrependido me sinto por
atrapalhar todo mundo. — D-desculpa...

Eu acabei abraçando ela mesmo assim… porque estava me sentindo perdido.

Meu pai e ela começaram a falar manso comigo, talvez por saberem como eu reagia àquelas brigas. Eu sempre
chorava. Eu sempre chorava quando eles levantavam a voz por minha causa, eu me sinto culpado, me sinto o pior filho que
eles poderiam ter. Me sinto… insuficiente e decepcionante.

Nós fomos para a sala de estar. Mamãe sentou de um lado, e meu pai do outro, e eles começaram a acariciar minha
cabeça e meus braços, sussurrando que estava tudo bem, que Juna no fim me amava, mas eu sabia que ela não me amava.
Ela nunca iria me amar.

— Ela é ciumenta, meu bem — mamãe dizia, enquanto eu fungava, sem derramar mais lágrimas, mas ainda
soluçando. — É só isso, ela tem ciúme de tudo. Não é só de ti, é das próprias amigas, é de tudo que é dela. É um mal da sua
irmã…

— Ela está estressada, sempre esteve, era o ensino médio, agora é a capital, o trabalho, a faculdade… — meu pai
completou. — Ela não é assim de verdade, meu filho. Ela descontou em você, assim como desconta em nós. Mas não é sua
culpa, sua irmã só precisa de um tempo, você entende isso?

Eu solucei, afirmando com a cabeça, trêmulo, tentando secar meu rosto e meu nariz.

— Desculpa p-por pedir dinheiro.. — eu disse, atrapalhado.

Ele negou, me acariciando a cabeça.

— Eu ia te dar sem você pedir… você ajudou a sua mãe a cozinhar ontem, lavou o banheiro quando a gente pediu.
Arrumou a cozinha segunda. Você fez por merecer — ele disse. — Filho, a Juna não pode te dizer o que você merece ou
não, muito menos o que você é e o que você não é. Ainda mais vindo da gente. Só eu, sua mãe, e você, podemos dizer
isso… entendido?

— Entendido… — eu murmurei, me sentindo parcialmente calmo.

— Não precisa chorar. Foi só uma discussão, já passou… — mamãe me acariciou as costas. — Você entende que
não fez nada de errado?

— Acho que... sim — eu disse, magoado e confuso.

Essas coisas sempre mexem comigo, porque eu sempre fico mais inseguro… mesmo que meus pais me aliviem e eu
fique bem, quando tem outra briga, sempre me sinto assim de novo. Sempre...
— Você precisa me prometer que vai parar de pensar que a culpa de toda briga aqui em casa é sua — ela disse-me.
— Promete pra mãe?

Eu sequei as lágrimas com mais convicção. E balancei a cabeça em positivo.

Tudo bem, minha mãe disse que não é culpa minha. Não é culpa minha…

Eu sei disso, mas não consigo sentir ao certo. Meu coração ainda está doendo…

— Prometo — eu disse, rouco.

— Muito bem — meu pai disse, e sorriu.

Mamãe fez o mesmo.

— Agora vai lavar o rosto e ligar pro seu amigo pra eu falar com a mãe dele. Esse foi nosso combinado, então você
pode ir, está bem?

— Está bem… — Respirei fundo.

— E o nosso foi: ajuda em casa, faça suas tarefas, que eu te deixo sair e te dou dinheiro, lembra?

— Lembro… — Funguei.

— Então, eu vou te dar dinheiro sim. E você pode sair amanhã — meu pai disse.

Eu assenti com a cabeça, me sentindo muito melhor. Meu pai bagunçou meus cabelos, tentando me animar,
anunciando:

— Abraço de três!

E então, nós nos abraçamos ao mesmo tempo. Puxa...

Depois que levantamos, respirei bem fundo enquanto ia pro banheiro, magoado e muito sentido… mas me sentia
melhor depois de chorar e ouvir meus pais. Tudo bem. Está tudo bem… meus pais sempre são sinceros, quando faço algo
certo eles dizem, quando é errado eles dizem também, então não tem problema.

Tudo bem… puxa vida. O dia está sendo difícil… eu só quero ver o Jimin logo.

Respirei fundo antes de lavar o rosto e assoar meu nariz vermelho. Quando passei pela cozinha para beber um copo
cheio de água, mamãe me acariciou a cabeça e me chamou de coelhinho. Eu sorri e então a melancolia se dissipou aos
poucos do meu interior.

Essas brigas sempre me dão um baita susto...

Infelizmente, demorou um pouco para eu ter certeza de que estava calmo. Fiquei o tempo todo sentado na cozinha,
vendo meus pais na pia preparando a comida, temendo ficar longe deles dois. Me sinto tão completo com meus pais. Eu
preciso deles. Eu sou grato por eles…

Depois de bons minutos, eu me senti verdadeiramente calmo. Senti saudades do Jimin, e só queria vê-lo amanhã…
me levantei da mesa num instante e fui até o telefone, discando então, o seu número, que já decorei faz tempo.

Chamou por alguns segundos, e então, foi atendido.

— Alô?

Eu estava todo pensativo e calmo... eu não esperava por isso, definitivamente não esperava por isso, e meu nariz
quase começou a escorrer de novo.

Afinal... não é o Jimin. Não foi ele que atendeu... foi uma mulher!

Foi a mãe dele...

— A-alô… — eu murmurei, nervoso.

— Quem fala?

— Eu sou o Jungkook — eu digo, coçando a nuca. — O Jimin…

— Ahhh — ela murmurou. — O Jeongguk? Finalmente, Jeongguk! Eu e o Jimin…

Então, ela foi interrompida. Não pude evitar sorrir ao ouvir a voz do Jimin no fundo da ligação tão de repente. Puxa…

Pressionei o telefone entre os dedos, podendo ouvi-lo repetir meu nome, como se fosse uma surpresa eu ter ligado, e
depois pediu pra falar comigo. Sua mãe não negou e quando eu ouvi a respiração dele no telefone, me senti… puxa, eu me
senti muito feliz.

— Jungkookie! — exclamou. — Meu pé tá melhor! Amanhã tá de pé, né? Você vem aqui depois do almoço, então?
Onde vamos? Você tá bem hoje?

Eu ri baixinho, me sentindo tão empolgado quanto ele, se não mais… apertei mais o telefone, sorrindo, e comecei a
falar:

— Oi, Jiminnie! — eu disse, amaciado. — Amanhã ainda tá de pé, e ainda bem que seu pé tá bem…

Nós rimos.

— Sim.

— E eu vou amanhã, mas não vou te falar o lugar! Estou bem agora, mas hoje foi meio… — murmurei, ficando tímido.
— Foi meio… hum… — Suspirei, duvidoso. — Foi meio difícil, eu acho.

Jimin soltou um muxoxo em sua casa, com a voz baixinha.

— Foi difícil…? — ele perguntou. — Como você está? Está se sentindo triste?

— Não... agora eu estou bem. E você, tá bem? — eu perguntei, temendo preocupá-lo. E eu meio que estava bem,
mesmo…

E se não estava, eu ia ficar, de qualquer forma.

— Certeza de que tá bem? — indagou.

— Certeza.

— Sendo assim, estou bem também.

Eu sorri ainda mais… me mexi um pouco, me encostando na parede enquanto a sensação de que meu corpo inteiro
estava quentinho me possuía. Como se eu estivesse apagado, e então… tudo está quente e cheio de luz, novamente.

É como conversar com meu melhor amigo e com meus pais. Mas a sensação é mais nervosa...

Mordisquei os lábios. Ah, é... puxa, eu ia falar da minha mãe, e me esqueci totalmente só por ouvi-lo.

— Ah, é! Jimin… — eu chamei, lembrando-me. — Eu liguei também porque minha mãe disse que só vai me deixar
sair amanhã se falar com a sua… desculpa.

Aquilo era um pouquinho vergonhoso, eu acho. Me senti um pouco infantil...

— Tudo bem! Minha mãe também queria… ela quer te conhecer também —ele disse, cheio de doçura no tom de voz.
Minhas bochechas avermelharam com a ideia da mãe dele querer me conhecer. — Vou chamar ela, então.

— Vou chamar a minha também.

— Mas depois não sai da linha… quero falar mais com você.

Sorri, mordendo os lábios. Balancei a cabeça.

— Eu também…

— Até depois… ô mãeeee!

Eu ri um pouquinho, deixando o celular na mesinha depois de ouvi-lo gritar. Fui caminhando animadamente até a
cozinha de casa, com um sorriso, chamando minha mãe também.

Logo ela secou as mãos no pano de prato e foi caminhando para a sala. Fiquei sentado do outro lado, no sofá,
observando-a conversar com a mãe do Jimin.

Foi breve e simples, mas eu gostei de escutar. Minha mãe parecia estar gostando dela — ou pelo menos achando-a
aceitável — e isso era um alívio tremendo.

Quando elas estavam terminando de falar, percebi que minha mãe já tinha cedido e me senti muito feliz. Não deixei-a
desligar para falar mais um pouco com Jimin, e então ela apenas saiu, depois de fazer um sinal positivo com o polegar.

Por mais alguns minutos antes do jantar ficar pronto, fiquei conversando com Jimin pelo telefone. Falamos sobre os
últimos dias, sobre seu pé, sobre seu gato e até sobre o Yoongi e o Jin. Não tinha lá muito assunto no momento, mas sempre
estendíamos as palavras, acho que só para manter o contato mesmo… pelo menos, comigo, era assim. Eu só queria que a
conversa durasse mais.

Depois que minha mãe me chamou pro jantar, nós desligamos. Minha irmã não quis descer para comer, então comi
apenas com meus pais e não é mistério algum que eu prefiro as coisas desse jeito.

Depois que terminamos, me ofereci para lavar a louça e meus pais aceitaram de bom grado. Fiquei cantarolando
enquanto os ouvia conversar lá na sala, ensaboando e enxaguando, e quando terminei, subi correndo para o quarto, apenas
para me planejar para o dia de amanhã.
Mas… quando abri a porta do quarto da minha irmã, verdadeiramente distraído, acabei me surpreendendo com Lippy,
que apareceu tão de repente.

A cama da minha irmã, onde durmo com Lippy, fica bem do lado da porta… é diferente da cama do meu quarto, que
fica afastada. Eu me esqueci da mania do Lippy de subir em cima da cama para alcançar quem aparece com um salto. Ele
sempre faz isso comigo, mas nunca me alcança porque estou sempre atento e porque minha cama fica longe da porta.

Só que… dessa vez a cama estava perto. E eu não estava nem um pouco atento.

Basicamente: meu cachorro veio voando na minha cara!

Acabei abrindo meus braços para pegar ele, no desespero, e até que deu.

Mas teve um probleminha...

— Ai!

No caso, esse problema foi a patinha dele, que acertou minha bochecha, bem embaixo do meu olho esquerdo. Ele
estava tão afobado por estar no colo, e já faz um tempo desde que cortei as unhas dele, então resultou num arranhão bem
dolorido.

Dei um gemidinho de dor, com Lippy fazendo aquele chorinho de quem está carente. Ele odeia ficar sozinho dentro do
quarto fechado, mesmo por pouco tempo… outra burrice minha. Porque quando desci, depois dos meus pais chegarem, ele
ainda estava dormindo, mas eu devia ter deixado a porta aberta… puxa.

Coloquei ele no chão. Toquei o lugar que Lippy arranhou e estava ardendo um pouco. Fui até o banheiro
rapidamente e olhei no espelho, me surpreendendo ao ver o meio-estrago.

Estava vermelhinho e inchado embaixo do meu olho esquerdo. Tinha um filete de sangue marcando um rastro pelo
arranhão, e eu fiquei meio borocoxô, pegando um pedaço de papel e o molhando para passar naquele lugarzinho do meu
rosto. Puxa… está ardendo…

Lippy apareceu na porta do banheiro segundos depois, me observando. Eu fiz um biquinho, olhando para suas
orelhinhas.

— Não foi nada, tá bom? — eu disse baixinho, passando a parte seca do papel no machucado.

Falar e olhá-lo ao mesmo tempo lhe fez balançar o rabinho. Puxa vida, ele é tão fofo, eu nunca conseguiria ficar bravo
com ele...

Como o machucado estava ardendo, eu voltei a molhá-lo, fazendo uma meia careta. Da última vez que Lippy me
arranhou no rosto, ficou marcado um tempão…

Abri o armário do banheiro, com os remédios, e procurei um band-aid. Já nem lembro qual foi a última vez que usei
um, mas é melhor eu colocar antes que minha mãe veja e brigue comigo por deixar o machucado “exposto”. Ela meio que
tem umas paranoias quanto à isso.

Achei uma caixinha com dois. Fala sério. Era azul escuro, com estrelinhas em um tom mais claro… vou ficar
parecendo uma criança.

Quando coloquei o curativo, fechei a torneira e joguei o papel no lixo. Então, me abaixei e abracei Lippy.

— Te amo, não foi culpa sua.

E então, desci junto com ele. Espero que minha mãe não cisme em passar remédio nesse machucado.

***

É, eu acabei tendo que passar uma pomada no machucado.

Sério… ardeu mais, mas minha mãe ficou maluca quando viu que ficou vermelho. Ela passou em cima do
machucado, ontem de noite e agora estou aqui, com a pomada no rosto pela segunda vez e o band-aid de estrelinhas o
cobrindo enquanto olho pras minhas coisas e me pergunto o que eu deveria vestir hoje.

Afinal, o almoço está quase pronto e já já vou ver o Jimin…

Eu já tomei banho, no caso, e estou sentado no carpete só com a minha calça, porque não faço ideia se o dia vai ficar
mais quente. É até sem sentido como isso aconteceu, mas… surpreendentemente, hoje amanheceu mais frio. O céu está
meio nublado e o vento geladinho, mas todos os outros dias da semana estavam quentes, então não sei se vai ficar calor de
novo mais tarde.

Peguei meu par de allstar azul embaixo da cama e fui procurar meias no amontoado de roupas que eu trouxe pra cá.
Depois disso, voltei mais uma vez até as minhas blusas, pensando nelas por mais um tempão.

Tá bem… se ficar calor, eu posso subir as mangas. Mas se ficar frio, vou precisar levar um casaco.

Ok. Peguei a minha blusa amarela e a vesti de uma vez.


Essa blusa é uma das minhas favoritas. Quase nunca a uso porque tenho medo dela ficar desgastada, mas ela é
tão… grande. E amarela. As mangas são compridas e ela é muito confortável, então, assim que a coloquei, senti que fiz a
escolha certa.

Depois disso, passei as mãos no meu cabelo molhado, esperando que ele não ficasse tão doido depois.Se bem que
o Jimin acha ele legal assim…

Bom, que fique do jeito que der!

Calcei os meus sapatos, esperando sair de casa logo depois de comer. Puxa, estou bem ansioso… quero saber se o
lugar é bonito, se Jimin vai gostar, e se ele vai me beijar de novo hoje. Eu quero muito, quero que ele peça para eu o fazer
também…

Instantes depois, eu saí do meu quarto, deixando a mochila pronta em cima da cama. Fiquei na sala esperando o
almoço ficar pronto e não deixei Lippy se esfregar em mim porque ele estava fedorentinho. Mas fiz carinho nele de qualquer
forma, porque o amo…

Quando minha mãe chamou-nos para almoçar, passei no banheiro apenas para lavar as mãos. Estavam todos na
mesa quando eu cheguei, e acabei me sentando do lado do meu pai, em silêncio.

Pelo jeito, eles se resolveram na noite passada, mesmo. Eu não vi porque fui dormir, mas quando acordei, eles
estavam normais, então concluí isso.

Almocei lentamente, me segurando muito para não engolir toda a comida e sair correndo pela porta…aah, quero ver
as flores com o Jimin logo!

No fim, acabei comendo duas vezes, porque estava muito bom. Meu pai me chamou de guloso, e eu só ri, porque ele
me cutucou na barriga logo depois.

Quando terminei, me levantei da mesa e deixei o prato e os talheres na pia, dizendo:

— Vou só escovar os dentes e sair, tá bom? — eu disse, secando as mãos na calça.

— Mas já? Eu comprei sorvete — meu pai disse, erguendo uma das sobrancelhas.

— Eu tomo sorvete lá!

Sorri. Meu pai afirmou e minha mãe deu um sorriso apreensivo, o que foi um pouco estranho, mas não questionei.

— Antes de sair, volta aqui na cozinha, tudo bem? — mamãe me pediu.

Eu ergui a sobrancelha, mas fiquei em silêncio. Balancei a cabeça afirmando e fui para o andar de cima rapidamente.

Depois de escovar os dentes e pegar minha mochila, fui direto para a cozinha, pensando comigo mesmo se minha
mãe não queria um beijo. Ela sempre fala algo como “cadê meu beijo?” antes que eu saia pra fazer alguma coisa, então
talvez tenha pedido para eu voltar por causa disso.

Quando cheguei na cozinha, ficando na sua frente, a mesa ficou... silenciosa.

Já eu fiquei completamente perdido.

— Mãe…? — chamei-a, confuso.

Mamãe balançou a cabeça e mexeu as mãos, dizendo:

— Sua irmã queria dizer uma coisa antes de você sair — disse ela, apontando para Juna do outro lado da mesa.

Ai não.

— Não precisa, mãe... — eu falei, completamente nervoso.

— Precisa sim, Jungkook. — Mamãe me fitou, e com aquele olhar eu fiquei em silêncio. Ela olhou pra minha irmã. —
Juna.

Juna ficou quieta por um tempo. Eu engoli em seco. Ela moveu a língua dentro da boca, impaciente, mas disse, com a
maior má vontade existente:

— Desculpa por ontem.

Eu desviei o olhar.

Aham. Tá bom.

— Tá. — Eu nem a olhei. — Posso ir agora, mãe?

Eu vi como minha mãe não estava satisfeita com aquilo, mas também não parecia disposta a tentar alguma outra
coisa. Fiquei aliviado por isso.
Então, ela só deu seu sorriso bonito, e fez que sim com a cabeça para mim.

— Não esquece do meu beijo! — ela disse, antes de eu me mover. Viu?

Então eu sorri também e a beijei na bochecha antes de me despedir e sair correndo pra porta da frente, pronto para
me encontrar com o Jimin.

Peguei minha bicicleta na parte de trás da casa e montei nela, passando a pedalar cuidadosamente pelas calçadas,
primeiramente, e logo depois pelas ruas. Eu sorri enquanto o vento batia no meu cabelo, porque senti saudades, e porque
estávamos prestes a ver um monte de flores juntos.

Eu mal podia esperar.

Logo eu estava virando a esquina da rua da sua casa, olhando sutilmente para os carros para atravessar a rua com
cuidado. Quando já estava perto, fui apertando o freio, parando aos poucos até estar em frente à sua casa.

Desci da bicicleta com maestria, colocando meus pés no chão e mantendo as mãos no guidão. Fiz o caminho que
sempre fazia e perceber que já estou ficando acostumado a vir pra casa do Jimin me deixou meio balançado. Porém muito,
muito feliz…

Fiz um caminho calmo até a varanda, encostando a bicicleta antes de respirar fundo, me preparando mentalmente…
sempre que nos vemos pela primeira vez, ficamos um pouco esquisitos, e Jimin fica mais silencioso que o normal. Isso não é
ruim, mas me deixa muito nervoso e tímido…

Respirei fundo e subi as escadinhas da sua casa, parando antes de bater na porta. Coloquei a mão na cabeça e
comecei a tentar ajeitar o meu cabelo. Depois passei as mãos na blusa, no rosto, na calça, e chequei se meus sapatos
estavam certos, então comecei a ajeitar meu cabelo de novo, penteando com os dedos, mas ele já estava meio seco então
não deu muito certo...

Comecei a dar tapas nas minhas bochechas. Puxa. Puxa… vou vê-lo agora. Estou bonito? Por favor, que eu esteja
pelo menos aceitável.

Fiquei meio confuso enquanto ajeitava meu cabelo pela terceira vez e, puxa, da última vez também fiquei um tempo
aqui, parado, tentando me ajeitar… enfiei os dedos no cabelo novamente, até que…

Até que…

Olhei lentamente paro o lado, vendo a janela da casa.

Percebi que ele estava com a cabeça para fora, me encarando, curioso.

Ah.

— Ah — sussurrei, tirando as mãos do cabelo, o olhando de volta, com as bochechas pegando fogo.

Era o Menino.

Ah… há há há.

O gato estava me encarando pela janela, como se eu fosse completamente doido…há há.

Ah...

Quanto tempo demora pros gatos esquecerem as coisas que veem?

Não tive tempo pra pensar nisso por muito tempo. Eu estava quase explodindo de vergonha quando ouvi a voz do
Jimin muito alta do lado de dentro da sua casa. Temi que ele viesse até aqui e desse de cara comigo parado na sua varanda,
então bati na porta logo, bem rápido.

Eu estava tão envergonhado com o fato de ter sido pego pelo gato que quase comecei a gritar o nome do Jimin.
Preciso vê-lo, aí vou esquecer desse constrangimento, certo? Certo?! Ahhhh!

Parei de bater e coloquei as mãos atrás do corpo, mexendo minha cabeça. Pude ouvir os passos do Jimin e eu sabia
que eram seus por causa do barulho. Ele sempre vinha fazendo um soar peculiar, correndo, dava pra escutar direitinho por
causa da madeira… puxa. Ele corria para abrir sua porta para mim.

Antes que eu começasse a sorrir e me sentir quente e especial, a porta foi aberta por Jimin.

Eu dei de cara com seus olhos bonitos.

— Jungkook... — Jimin sorriu ao proferir meu nome. — Eu sabia que era você! Oi.

Eu me balancei um pouco, meio tímido.

— Oi…

Jimin se ajeitou. Ele olhou pra minha camisa e depois pro meu rosto. Comecei a sorrir porque ele também estava
sorrindo, e porque ele estava lindo...
— Você fica tão… — começou a dizer, mas...

Antes que terminasse, uma outra figura surgiu. Nesse caso, uma moça realmente alta, com os cabelos cheios e um
rosto de adolescente.

Era a sua mãe.

Eu me lembro dela ainda. Do primeiro dia de aula, por causa dos cachos… quando as meninas se produzem,
normalmente deixam o cabelo igual o da mãe do Jimin. Mas naquele dia, foi a primeira vez eu eu vi uma estrangeira ruiva e
com cabelos tão cheios… além do fato dela estar puxando o Jimin, que também me olhou naquela hora, então eu não
esqueci, não mesmo.

Eu a fitei com um nervosismo tremendo. Eu nem consegui dizer nada, muito menos sorrir… ainda mais porque ela
disse primeiro, atropelando eu e o Jimin ao mesmo tempo:

— Oi!

Eu pisquei um par de vezes.

Me balancei um pouco quando ergui a mão, mostrando minha palma ao responder:

— O-olá! — disse, com um pouco de vergonha. Ok, com muita vergonha. — Eu sou o Jungkook!

Desviei o olhar para Jimin por meio segundo, percebendo que ele estava me encarando.

Por que ele está ficando vermelho logo agora?

— Olá Jungkook, eu sou a mãe do Jimin! — disse ela, e tenho quase certeza de que está me imitando. — Mas o meu
nome é Leonor.

Me lembrei da última vez que tentei pronunciar o nome dela e deu tudo errado. Então nem abri a boca.

— Mãe, eu já tô pronto, então só vou ok? — Jimin disse de repente. O vi puxar um suéter branco, e então encaixar o
sapato cuidadosamente no pé, saindo pela porta.

— Ok, ok, apressadinho. — Sua mãe riu, e eu dei espaço para Jimin ficar do meu lado. — Jungkook, sua mãe marcou
um horário comigo. Por mim vocês voltavam antes das nove, ou oito, mas ela achou melhor antes de escurecer. Então, já
sabem.

Eu confirmei com a cabeça, ciente disso, e Jimin fez o mesmo.

— Ok, mãe! — Jimin disse.

— Tá com o dinheiro aí?

Jimin deu dois tapinhas na própria bunda, mais especificamente, onde estavam os bolsos de trás da sua…

Jardineira. Jardineira! A tensão foi tanta que só percebi que ele está usando uma agora. Uma… jardineira…

Puxa...

— Está tudo aqui! — disse o Jimin, enquanto eu encarava sua roupa extremamente bonita.

— E essa mochila aí, Jungkook? — Sua mãe falou comigo dessa vez, então endireitei a postura e virei pra frente. —
Não está pesada?

— Não, não! — eu disse, como um robô. — São só algumas coisas caso chova, está leve.

— Está bem. — Leonor sorriu, me fitando com certa graça. — Já sabem onde fica o ponto de ônibus, o ônibus, e
essas coisas, né?

— Sim — eu e Jimin respondemos em uníssono.

— Okay, okay... — Leonor deu uma risadinha. — Ok, então. Bom passeio para os dois.

Nós dois balançamos a cabeça, e eu continuava completamente tonto e constrangido. Puxa, eu realmente não sabia
como agir...

Quando Jimin se virou e começou a descer as escadinhas, eu apenas o segui, um pouco cauteloso, ajeitando a
mochila nas minhas costas. Quando olhei pra trás, já na calçada, a mãe do Jimin ainda estava na porta, nos observando.

Olhei pra frente de novo, imediatamente, me perdendo um pouco. Comecei a coçar os cabelos, olhando para Jimin, de
lado, e me sentindo ainda mais nervoso…

Nós ficamos em silêncio, primeiramente, mas eu usei desse detalhe para o encarar. É que eu não consegui evitar…
porque ele estava tão bonito. Sua camiseta listrada entre azul e laranja, com as mangas médias, e sua jardineira jeans... era
diferente daquela que ele usou da última vez. Era mais bonita.
Seus tênis eram da mesma cor que os meus.Puxa…

Seu cabelo estava ainda mais bonito do que da última vez. Eu fiquei distraído com sua aparência, com seu jeitinho de
andar, e tudo sobre ele... até perceber que seus passos estavam parando lentamente, até paralisarem. Eu fiz o mesmo.

Jimin se moveu, ficando na minha frente, olhando pra mim, e eu me perdi completamente nos seus olhos quando o
olhei também.

Jimin nunca se cansava de me deixar perdido.

JIMIN

Eu quero ser abraçado por Jungkook e sua blusa amarela gigante.

Tipo… imediatamente!

Sério. Ele parece um solzinho ambulante caminhando do meu lado, me deixando quente nesse friozinho que balança
nossos cabelos… a vontade de saltar em seus braços e abraçá-lo nunca foi tão grande. Com essas mangas cumpridas, essa
calça, essa cor tão viva o rodeando… todas essas coisas estão deixando-o mais encantador do que ele já é. Poxa. É tão
injusto...

Desde que saímos, não consigo tirar isso e um pouco mais da minha cabeça. Estou meio a meio. Quente, apaixonado
— há, mas isso eu sempre estou —, mas também com o peito apertado e… é, muito apaixonado também.

Para ser sincero, foi exatamente por isso que eu parei… pelo “meio” em que estou com o peito apertado. Tudo porque
tinha um band-aid decorando a pele branquinha da bochecha dele, e eu não conseguia parar de me perguntar... como ele se
machucou?

Será que dói? Poxa, o meu coração aperta…

Eu coloquei as mãos dentro do meu macacão, pressionando os lábios. Tê-lo me olhando também me deixa meio
lerdo…

— Gguk… o que foi isso no seu rosto? — perguntei, cuidadoso.

Jungkook não entendeu de primeira, mas logo piscou os olhinhos grandes, percebendo do que se tratava.

— Ah, isso? — perguntou ele, apontando para o curativo. — Lippy meio que me deu um soco na cara ontem de noite.

— Quê?! — Me assustei um pouquinho.

Ele riu.

— Espera... não foi bem assim! Não foi nada demais, foi sem querer. Ele só estava brincando, tadinho — explicou,
coçando sua nuca. — Deixou um arranhão, então tive que colocar esse curativo.

Eu suspirei, entendendo, então. Já perdi a conta das vezes que Menino ficou doido e me mordeu, ou me arranhou,
sem motivo algum, então eu entendo… sério, eu entendi!

Mas continuei me sentindo um pouco estranho.

Meu coração estava apertado, e eu não conseguia deixar de ficar preocupado.

Eu não acho Jungkook indefeso, mas vê-lo machucado, mesmo que só um pouquinho, me dá tanta vontade de cuidar
dele. Ou de fazer um carinho…

Como ele não se virou, ou trocou de assunto, eu levei minha mão cautelosamente até sua bochecha. Passei muito
sutilmente o polegar pelo curativo, perguntando:

— Não está doendo?

Jungkook ergueu as sobrancelhas, mas não se afastou nem um pouquinho.

— Não… — disse, meio baixinho. Sua pele é tão macia. — E seu pé?

Olhei também e dei de ombros.

— Quase curado. Não dói mais. — Afastei minha mão lentamente, dando um sorrisinho.

Jungkook balançou sua cabeça, e acabei de perceber que deixei o clima um pouco intenso por ter o tocado… quando
voltei a fitá-lo, vendo-o sem jeito, não consegui achar ruim. Porque eu também fico sem jeito, e isso me faz sentir que ele e eu
sentimos igual.

Jungkook deu uma risadinha repentina. Eu sabia que ele estava achando nosso silêncio engraçado, e isso me fez dar
um grande sorriso. Eu também ri.
— Ei… — ele chamou, olhando nos meus olhos. — Oi de novo.

— Oi… — Eu sorri. — Foi estranho te atender com a minha mãe em casa.

— Foi estranho ser atendido por você com sua mãe em casa. — Jeongguk completou, coçando sua nuca. — Você
acha que fui muito esquisito?

Eu balancei a cabeça, negando, me aproximando um pouco.

— Não mesmo — eu disse. Jungkook sorri. — Ei, Gguk?

— Hm?

— Oi de novo…

Eu murmurei. E então, o dei um abraço, passando os braços por baixo dos seus, envolvendo suas costas e enfiando
meu rosto no seu ombro macio e cheiroso.

Eu nem liguei pro fato de ter um moço varrendo a calçada do outro lado da rua ou da possibilidade de ficarmos ainda
mais tímidos depois disso, porque sempre é tão bom abraçar o Jungkook. É o abraço mais gostoso que existe…

Jeon me abraçou por cima dos ombros, me deixando sentir o aroma dos seus cabelos levemente úmidos. Ele me
apertou, suficientemente para me fazer abrir o maior sorriso existente…

— Oi, Jiminnie…

Eu fechei meus olhos brevemente, escondido no seu abraço. Meu sorriso cresceu e acabei encostando meu rosto na
sua pele, sentindo a textura da sua blusa amarela e do seu pescoço, tão gostoso e quentinho...

Quando nos afastamos depois de alguns segundos, ficamos parados, apenas olhando um para o outro. Jeongguk
tirou lentamente suas mãos de mim e eu tirei as minhas, dele.

Ele parecia encabulado com seu rosto todo vermelho, mas eu continuei o encarando, com um sorriso sutil nos meus
lábios, que acabou duplicando de tamanho quando ele questionou:

— Você está pronto?

Meus olhos me deixaram ceguinho da vida. Eu afirmei espontaneamente.

— Com certeza!

Jungkook sorriu lindamente, ajeitando a mochila nas suas costas. Ele balançou sua cabeça, se virou e começou a
caminhar. E é claro que eu o segui de prontidão. Fomos juntinhos até o ponto de ônibus mais próximo, sem falar muito, mas
nunca que isso seria uma coisa ruim.

Eu fiquei olhando pra ele, suas roupas, e ele ficou fazendo o mesmo. Ele sempre me pegava no pulo. E eu sempre
pegava ele, também.

A gente dava risada, parava, mas logo fazia de novo. Somos louquinhos mesmo…

Eu coloquei as mãos nos meus bolsos novamente, só pra não ter um impulso doido e pegar na sua… não que eu não
queria pegar nelas, é claro que eu quero! Mas acho que poderiam achar estranho e isso não seria legal.

Quando ficarmos sozinhos… com certeza…

Chegando no ponto de ônibus, nós nos encostamos em um cantinho e suspiramos em conjunto. Era maravilhoso o
fato de ser sábado à tarde. Não tinha muita gente esperando o ônibus, e a ideia de pegá-lo vazio era simplesmente
maravilhosa.

Quando Jungkook olhou para o outro lado, eu comecei a olhá-lo novamente, muito tentado… quando eu for dormir, só
vou conseguir pensar na carinha que ele fez quando falou com a minha mãe… sério! Foi tão fofo. Ele ficou extremamente
nervoso… será que era porque é a minha mãe?

Por favor, universo, que um dia Jungkook chame minha mãe de sogra..

— Olha! — Jeon mexeu as mãos. — É o nosso!

Eu estava tão encolhido e sorrindo, o encarando, que demorei um tempo pra entender. Só fui me tocar quando
Jungkookie olhou para mim e caminhou para o canto da calçada, fazendo sinal pro motorista parar posteriormente.

Eu fui logo atrás dele, atento, enquanto mais duas pessoas se juntavam a nós. Quando o busão foi parando, pude
perceber como estava vazio lá dentro.

— Acho que dessa vez é melhor entrar pela frente — disse ele, e eu assenti com a cabeça.

— Também acho — falei, enquanto íamos para as portas da frente. — Então.. hmmm, ônibus para o terminal, huh? O
que você tá aprontando?
Jeongguk, que estava na minha frente, prestes a subir no ônibus, deu um sorriso. Ele balançou sua cabeça, todo
tímido.

— Não é nada demais… — ele disse, e deixou as moças passarem na nossa frente. — Você vai ter que esperar pra
ver. Mas sem expectativas, ok?

Eu dei risada, confirmando com a cabeça. A verdade é que se Jungkook me levasse numa loja de salgadinhos, eu já
ia amar. Amar muito. E amar ele, ainda mais.

Nós subimos, pagamos nossas passagens e passamos pela roleta juntos. O busão começou a andar e tivemos que
nos segurar por isso, até rimos… era gostoso ter esses momentos com o Jungkook. Ele deixava um ônibus divertido e
bonito.

Os assentos estavam em sua maioria vazios, então sentamos nos mais altos. Apesar de ter chegado primeiro,
Jeongguk perguntou se eu queria ir na janela, e eu não pude evitar aceitar… ah, ah, eu amo ele, eu amo ele.

Quando nos aconchegamos, Jungkook colocou a mochila sobre seu colo e respirou bem fundo. Eu dei um sorrisinho,
colocando minhas mãos sobre meus joelhos, com a cabeça totalmente virada pra ele… quase não consigo me segurar, e
acabo dizendo o que não consegui na porta da minha casa, bem diretamente:

— Você fica incrível de amarelo.

Jeongguk se virou para mim, com aquela expressão surpresa de sempre… eu sorri.

— Sério? — Ele piscou um par de vezes, olhando pro próprio corpo.

— Sim… — digo, olhando também. — Combina muito com você.

Jeon ficou em silêncio por um tempinho, mas voltou a me fitar com um sorriso muito bonito no rosto… ele é lindo,
lindo demais. É bom demais pra ser real, certo?

— Obrigado… — disse, pigarreando. — Hum. Eu… acho que você fica incrível de jardineira.

Ok… por essa eu não esperava.

— Sério? — indaguei, vendo-lhe balançar a cabeça positivamente, olhando pra baixo logo depois.Timidez…

Dei um sorriso, me sentindo mais bonito do que antes. Arrumei meu cabelo curtinho com os dedos e me ajeitei no
banco, agradecendo baixinho pelo elogio do mesmo jeito.

Compartilhamos mais um silêncio envergonhado. Por todo esse tempo, eu fiquei pensando em algum assunto para
puxar. Estou me sentindo muito tímido hoje… talvez seja porque nos beijamos várias vezes na terça-feira… tipo, eu dei uns
cinco beijos nele! Wow…

Agora sempre que olho para ele, me lembro de como fiquei desesperado, pedindo para beijá-lo. Igualmente me
lembro de como ele chegou perto sem hesitar e deixou… uau, uau, uau.

Eu não consigo parar de pensar nisso. Nunca vou conseguir parar…

Me lembrei de uma coisa, então, parei de pensar em beijos para curti-lo um pouquinho… afinal, pensar em seus beijos
é algo que eu faço sozinho! Portanto, eu disse:

— Minha mãe ficou com um pouco de vergonha quando conversou com a sua — eu disse, fazendo-o me olhar.

— Ficou? — ele perguntou, e eu ri, afirmando.

— Sim. Acho que é novo pra ela, sabe? É a primeira vez que ela fala com a mãe de um… — Eu parei por um
momento. — Quer dizer… ela ficou assim falando com a mãe do Yoongi também, meio envergonhada. Com a sua também…
ela meio que se sente pirralha no meio das mães.

Eu disse muito naturalmente, mas… eu quase completei a primeira frase dizendo “fala com a mãe de umamigo meu”.
Caramba!

Eu não queria me referir a Jungkook como apenas um amigo… tudo bem que ele é. Mas dói um tiquinho admitir, por
isso prefiro dizer que Jungkook é o meu Jungkook, porque temos uma coisa diferente, mas ainda não posso dizer que ele é
meu namorado, então ele é meu amorzinho, o garoto que amo, e também…

Espera, eu me perdi muito agora…

Resumindo! Eu não quero falar por aí que ele é meu amigo, porque pra mim, ele é muito mais do que isso.

— Puxa… eu acho que é porque sua mãe é muito nova. Mas a minha gostou da sua, se quer saber — ele me contou,
me fazendo sorrir. — Disse que ela tem um jeitinho diferente de falar, mas achou ela muito legal.

— Jura? — eu perguntei, aliviado pela minha mãe.

— Sim! — ele disse. — A minha mãe é meio estranha nos julgamentos dela, mas ela sempre acerta. Seria engraçado
se vocês se encontrassem. — Jungkook deu risada. — Sabe, minha mãe tem uma mania muito doida de analisar e definir se
alguém é boa ou má influência. Ela faz isso até com animais.

— Vixi… — Eu ri baixinho. — E você acha que eu sou boa ou má?

— Boa, é claro! — ele afirmou, como se fosse óbvio.

— Hmm… certeza? — brinquei um pouquinho. — E se ela soubesse que eu te fiz matar várias aulas? E que foi
comigo que você fugiu pro centro da cidade num dia de aula? Ela não ia gostar nem um pouquinho.

Cruzei meus braços, um pouco risonho. Jungkook olhou para mim, com aqueles olhos lindos, e acabou balançando a
cabeça, como se soubesse que estou brincando ou até mesmo se perguntando se estou sendo sério. É um mistério.

— Você é bom — disse ele, e desviou o olhar. — Você me faz bem…

Eu dei um sorriso enorme, vendo Jungkook praticamente sumir entre minhas pálpebras.Eu o faço bem…

— Você também me faz bem — eu digo, então. — Muito.

O ônibus parou. Estava tocando música do lado de fora e um casal tinha acabado de subir, mal nos notando, se
sentando lá na frente. Jungkook acabou cruzando seus braços também, agindo diferente.

Só que, quando ele olhou para mim, com aquele cabelo cheio de curvas e brilhoso, eu quase desmanchei. Eu não
esperei ele falar quando disse, um pouco sorrateiro e… agitado:

— Você é lindo. — Continuei o fitando, sem sorrir muito.

Jungkook ergueu as sobrancelhas... ele definitivamente não esperava por essa.

— Sério? — Olhou para frente, sua voz saindo mais fina do que o usual.

Ah, bobinho. Assim posso ver você ficando rubro...

— Claro que sim — eu disse, rindo. — Sempre que eu te elogio, você fica“sério?” — imitei sua voz, o fazendo se
voltar a mim, me dando um tapinha que não doeu nada.

— Mas é que… — Parou, ouvindo meus risinhos. — Você sempre fala do nada!

Coloquei a mão na frente dos lábios, rindo demais, amando sua doçura.Ele é tão fofo.

— Mas é que eu digo quando dá coragem! — eu digo, ficando tímido também.

— Você quase me mata quando diz essas coisas. — Suspirou.

— Mas você disse que gosta, por isso eu digo — eu falei. — Se você não gostasse, eu ia só pensar nisso. Tipo
"Jungkook é lindo, lindo, lindo..."

Jungkookie se remexeu no banco, derrotado, e acabei rindo mais quando ele me deu outro tapa, com as bochechas
queimando em um vermelho muito vivo.

Ele suspirou, e eu ri mais.

— Não sei o que dizer, porque eu gosto mesmo… — murmurou, muito constrangido.

Ahh...

— Eu também, eu adoro — digo, convicto. — Adoro porque é verdade. Você é muito lindo...

Jungkook engoliu em seco, sem me olhar por muito tempo.

— Eu quase perguntei “sério?”... — admitiu, com as bochechas inchadinhas e a voz praticamente quebrada.

Eu dei risada, me sentindo manhoso. Ele é bom demais pra ser real… não posso tirar meus olhos dele. Parece um
sonho. Vai que ele some?

Dei um riso melodioso, pensando nisso. Abracei seu braço com o meu, aproveitando a brechinha que ele me deu para
me encostar em seu corpo, deitando a cabeça no seu ombro… ah, perfeito.

Ele é real, mas continua sendo um sonho.

Jungkookie se ajeitou um pouco, me deixando ficar daquele jeito delicioso que eu tanto amo. Sorri, bem quentinho, e
afaguei seu braço macio.

— Sempre é sério… — eu disse. — Eu juro por Us and Them.

Os ombros de Jungkook tremeram quando ele deu uma risadinha. Eu ri também, porque o momento era tão, tão
confortável…

— Eu acredito agora... — sussurrou.


Eu mordi minha boca. O ombro dele era tão confortável que eu não conseguia parar de sorrir, muito menos
esquentar…

Pela viagem, fiquei sentindo Jungkook bem perto, apertando seu braço sempre que algo gostoso se passava pela
minha cabeça. Quando ele olhou para o lado, seu queixo tocou o topo da minha cabeça, e eu me senti tão acolhido… ainda
mais quando ele não se moveu mais. Tudo isso é perfeito.

O ônibus passou por pontos vazios depois disso, então eu fiquei pertinho, fazendo carinho no seu braço com ternura,
porque sei que ele gosta de carinho…

Sabe, eu queria que Jungkook pudesse sentir o quanto eu amo ele só com meus toques.Ou talvez não.

Será que se ele descobrisse, acharia assustador?

— O que você fez nos últimos dias? — ele perguntou, de repente, e sua voz soou muito leve perto da minha orelha.

— Fiquei em casa… sozinho e com o Yoongi também — murmurei, me lembrando. — Também saí sozinho. Mas a
gente falou disso ontem no telefone. — Rimos baixinho. — E você?

— Fui dormir na casa do Seokjin, só… depois fiquei em casa também — ele disse, e me esfreguei em seu ombro ao
balançar a cabeça. — Minha irmã vai embora amanhã bem cedo, então estou bem aliviado…

Eu dei um sorrisinho, aliviado também. Até que me lembrei de uma coisinha que ele me disse por telefone, ontem,
sobre seu dia ter sido meio difícil...

Meu coração apertava quando pensava nele passando por algo difícil, ou ficando tristinho. Eu até me culpava por me
sentir assim às vezes, porque não deveria ficar tão preocupado assim… Jungkook era tão forte e sábio. Mas eu não podia
evitar…

Ele é indiretamente meu bebê, poxa.

— Jungkookie… e ontem? — pergunto, sutilmente. — Tudo bem se não quiser falar nada...

O ônibus parou novamente e uma pessoa subiu. Ela se sentou lá na frente e não nos dirigiu o olhar, então nem pensei
em me afastar ou algo do tipo.

— Ah… — ele murmurou. — Tipo… não foi nada demais. Só o de sempre — disse ele, com muita cautela. Ele sempre
parecia tímido.

— Mas você ficou triste?

Eu levantei a cabeça ao indagar, precisando fitá-lo para conversar. Sabe, eu não queria invadir o espaço dele sem
perceber…

Jungkookie encarou os próprios dedos em seu colo. Ele acabou balançando com a cabeça, confirmando.Sim, ele
ficou triste.

Eu fiz um biquinho. Poxa. Ele ficou triste. Aposto que foi a irmã idiota…

Eu ergui minha mão, tocando sua cabeça. Comecei a massagear seu cabelo, pegando em sua mão com a minha
livre, apertando com cuidado.

Eu ia falar, mas Jungkook me interrompeu, completando:

— Eu fiquei triste, mas não estou triste — disse ele, fechando seus olhinhos.

— Eu entendo… — Desci minha mão para sua nuca, acarinhando. — Acho que é impossível não ficar triste às
vezes…

Ele confirmou, relaxado. Parei de afagá-lo para abraçá-lo de lado, o puxando para perto.

Jungkook somente tombou, deslizando para o meu lado até deitar a cabeça no meu ombro, pertinho do meu pescoço.

Fiz carinho no seu braço magrinho, esfregando minha bochecha nos seus cabelos. Gguk suspirou, e por algum
motivo, sinto que seus olhos estão fechados agora.

— Mas… — A sua voz baixou bastante, até se tornar praticamente muda. — Os abraços compensam… — sussurrou,
praticamente dengoso.

Eu sorri.

Os abraços compensam.

O apertei mais em meus braços.

— Sim — eu falei. — Os abraços compensam…

Pelo fim do caminho, ficamos daquele jeitinho gostoso nos bancos. Quando o ônibus se aproximou do terminal e as
pessoas começaram a se levantar, Jeon se afastou de mim e segurou sua mochila com mais firmeza, completamente quieto
e rubro nas bochechas.

Ele não parecia constrangido, só… um pouco quietinho. Quando ele sorriu para mim antes de descermos, não me
preocupei com mais nada nesse mundo. Só o segui e desci do busão.

Nós descemos no terminal e fomos para o lado oposto para pegarmos outro ônibus. Eu nunca vim pro terminal sem
minha mãe, já faz um tempo que estive aqui, então fiquei com uma sensação engraçadinha… heh.

O nosso ônibus chegou mais rápido do que eu pensei. Eu não sabia que era o nosso até Jungkook começar a se
mexer e apontar para ele de um jeito muito engraçado — e fofo. Logo fomos correndo para perto e subimos rapidamente.

***

— O meu pai me falou só um pouco sobre esse lugar... — ele dizia, caminhando na minha frente. — Não foi o
suficiente para eu ter certeza de que é um lugar perfeito, mas… me pareceu convincente.

O céu estava mais cinza do que antes quando eu e Jungkook chegamos no nosso destino.

Com os passos largos, no mesmo ritmo que os seus, eu ri baixinho. Tudo porque ele estava todo preocupado com
esse suposto lugar, me pedindo para não colocar expectativas, e… pfft.

Qual é? Será que ele não entende que eu amaria visitar até mesmo o super-mercado com ele?

— Eu tô ficando doidinho… me dá umas dicas, vai! Tá perto? — eu indaguei, percebendo quando ele diminuiu os
passos para ficar do meu lado.

— Sim, tá perto. — Sorriu.

— E… você já veio aqui antes?

— Não, mas eu conheço pessoas que vieram.

— Hmm, e você acha que é um lugar legal?

— Sim, parece bonito, mas não está no nível do nosso lugar...

Eu remexi os meus ombros, ficando besta com sua fala. Nosso lugar, nosso lugar…

— Então tá bom — eu digo, parando quando ele parou. Estávamos esperando o sinal fechar. — Pode definir o lugar
com uma palavra?

Jungkook deu uma risadinha, enchendo seu rosto de ruguinhas bonitas. Coitado, não deve aguentar mais minhas
perguntas… mas fazer o que se sou curioso? Vou continuar perguntando!

— Posso, mas só se prometer não perguntar mais nada até chegarmos — ele me disse, virando o rosto belo para
mim, com uma carinha de quem queria dar risada.

Ora essa…

Sem respondê-lo totalmente, eu mexi minha cabeça em uma confirmação muda.Sim, eu prometo.

Jeongguk me olhou cuidadosamente. Ele não me respondeu de prontidão, mas fez algo que mexeu com meu coração
fraquinho por si…

Jungkook ergueu o dedo mindinho e colocou perto do meu, esperando que eu prometesse de verdade. Acabei rindo
novamente, tanto pela sua desconfiança quanto pelo amor que eu estava sentindo… ele é fofinho quando age assim, eu fico
perdido demais!

Mas é claro que, no fim, eu não neguei lhe prometer algo. Eu enlacei meu dedo ao seu, prometendo com minha alma
daquela forma. Eu prometo, Jungkook.

Dei um sorriso. Jeon, por outro lado, não se moveu. Ele não soltou nossos mindinhos, por isso o olhei… e percebi que
ele parecia estar… esperando?

Antes que eu chegasse a alguma conclusão, meu amor separou os nossos mindinhos rapidamente. Ele se virou de
costas, parecendo um pouco constrangido, e eu só pude ficar ainda mais curioso… o que é que aconteceu aqui?

Jungkookie não disse mais nada quando o sinal fechou. Ele disse com um aceno para atravessarmos a rua, e assim
fizemos, juntinhos, comigo completamente atento ao seu comportamento engraçadinho.

No que que ele está pensando?

— Flores.

Foi a primeira coisa que ele disse quando chegamos do outro lado da rua.

— Hã?
— Flores — repetiu. — É a palavra que eu uso para definir o lugar… — disse, coçando a bochecha com o indicador.
Está vermelhinho… — Hum… vem! Já estamos quase lá.

Pressionei meus lábios, com um sorriso extremamente contagiado pelo seu jeitinho. Balancei minha cabeça
positivamente, animado.

Flores, hm?

Fiquei pensando em flores pelo resto do nosso caminho até o suposto lugar, me perdendo várias vezes em
suposições e teorias. Até cheguei a pensar que Jungkook iria pedir minha mão.

Afinal, são flores, sabe…

Tão distraído com isso, não notei quando passamos por um lugarzinho mais movimentado na calçada. Igualmente não
percebi, quando atravessamos, que tinha algo lindo bem na minha frente…

Eu só fui voltar para a realidade quando abri bem os meus olhos e percebi o lugar incrivelmente bonito que eu estava.
Flores. Flores…

Nós atravessamos juntos novamente e Jungkookie nem viu o sorriso que colocou no meu rosto sem perceber. Meus
olhos quase se fecharam, e minhas mãos formigaram de saudade das suas, porque eu me senti muito feliz quando vi a
entrada para uma praça enorme, com as cercas sutis pintadas de verde escuro e árvores enormes na entrada.

“Praça Tulipa, um mar de flores”.

Meu coração se agitou quando chegamos mais perto da entrada. Um mar de flores…

— É meio que… é. — Jungkook deu uma risada levemente constrangida na minha frente. — Foi como eu disse.
Flores... é a primeira vez que venho aqui também, então… eu… enfim, o que você achou?

Eu e ele paramos na entrada. Eu sorri, enamorado numa árvore cheia de flores e nas pétalas que caíam dela,
cobrindo parte da calçada. Quando voltei a olhar para o Jeon, que parecia focado na minha reação, não pude evitar sorrir
ainda mais.

Mais. Tipo, muito mais. Eu vi ele desaparecer novamente pelo meu sorriso quando disse, alegre:

— É um mar de flores! — eu disse, balançando meus cabelos ao me remexer. — Eu achei perfeito!

Eu alcancei seu pulso com o restante da visão que eu tinha. Apertei o tecido da sua manga, fitando-lhe no rosto assim
que meu sorriso diminuiu.

Jeongguk também estava sorrindo… muito, e eu senti que aquele era um dos momentos mais especiais que eu ele já
tivemos.

— Puxa... — Suspirou, tremendamente aliviado. — Então, vamos entrar?

Eu afirmei animadamente, pronto para ver uma imensidão de flores.

Sendo assim, Jeon e eu fomos para a entrada. Era tão bonita! Tinha até folhetos pendurados na plaquinha da entrada,
o qual pegamos imediatamente.

— Você lê? — eu indaguei, dando licença para uma mulher que entrara logo depois da gente.

— Leio. — Jungkook me lançou um sorriso fofinho, segurando seu folheto. — Não tem nada demais, Jiminnie… só um
mapinha do lugar e a história da praça.

— Mas lê mesmo assim… — peço, amaciado e com a voz um pouco pidona. — Você lê muito bem.

Jungkookie não formou uma expressão surpresa para meu elogio, mas crispou os lábios com um nervosismo notável.
Foi fofo e eu quase ri, só por notar coisas tão íntimas que ele faz… só por estar perto, eu noto tudo.

Ele encarou o folheto e começou a ler, sem negar meu pedido manso. Paramos num cantinho e não sei se prestei
mais atenção na história da praça ou na sua boca se mexendo enquanto ele lia. Ai ai.

— Já o mapa… hm… tem dois caminhos e uma fonte. Não é muito grande, mas tem uma variação de flores
enorme — ele disse assim que terminou sua leitura.

— Isso já é perfeito — eu digo, chegando pertinho para ver o mapa também. — Eles foram muito espertos colocando
todas essas tulipas no começo… faz jus ao nome.

— Faz mesmo — Jungkook disse, olhando. — Eu não sei muito de flores, mas adoro elas…

— Você tem uma favorita? — perguntei, já pensando em presenteá-lo com um buquê cheio das suas flores favoritas.

Sério, eu queria poder dar à Jungkook tudo que ele gosta…

— Sei que é diferente, mas… eu gosto da viola — ele me contou, com um semblante tímido. — É que minha mãe vive
ganhando flores. Quase sempre são rosas, mas teve uma vez que ela recebeu violas e elas eram tão lindas...
— Elas são lindas mesmo. Eu gosto da viola lilás — digo, complementando a informação.

— Isso! Eram lilás. Todas elas — disse ele, com outro sorriso pequenino. — Eu achei elas lindas. Nunca me esqueci.

Mordisquei minha boca. Fala sério, eu vou o dar um caminhão de violas…

— Você tem um bom gosto, Ggukie — eu disse, o fitando com amor. — Elas são lindas… combinam com você.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Sério?

Por pouco dei risada. "Sério?"

— Sim… — sussurrei, sorridente. Eu ainda estava olhando pra ele. — Os girassóis também combinam muito — eu
disse, pensativo. Ah, os girassóis...

Jungkook deu um sorriso bonito, juntando as mãos na frente do corpo. Ele confirmou, como se quisesse demonstrar
que me ouviu. Estava sem jeito...

Eu fiquei olhando para seu rosto, contemplando sua existência, e acabei dando um passo meio repentino, até mesmo
para mim, para perto. Só porque quero olhá-lo. Quero olhar para o menino que gosto bem de pertinho…

Jeongguk me fitou de volta por um segundo, e quando me viu sorrindo, sorriu também. Quando pressionei os lábios
de um jeito engraçado, os olhos dele duplicaram de tamanho e, ao invés de ficar tímido, ele mudou completamente o rumo
das coisas.

O sorrisinho continuou nos seus lábios. Ele levantou a mão e veio com indicador até minha pele, me tocando no rosto,
bem em cima da minha boca.

— Sua covinha deu as caras — ele me disse, a tocando.

Ai…

É isso aí, covinha, nós somos um time!

— Pensei que não dava pra notar direito — eu disse, fazendo ambas sumirem ao falar. Jungkook afastou a mão
cuidadosamente. — Elas aparecem muito aleatoriamente! Ainda mais quando eu faço isso...

Pressionei minha boca mais uma vez, num sorriso incomodado. Jungkook riu baixo, confirmando com a cabeça,
vendo-as brotarem na minha pele.

— Eu já tinha percebido antes, mas não disse nada — ele falou, voltando a apertar o folheto. — Mas quando você
sorri, sempre aparece…

Eu fiquei pensativo. Quando eu sorrio.

— Mas aonde? Aqui?

Toquei minha própria bochecha, tendo-lhe me encarando de novo. Eu sei exatamente onde elas ficam, mas eu queria
tanto que Jungkook me mostrasse…

Ele prestou atenção em mim com seus olhos escurinhos. Jeon não parecia querer negar, embora suas bochechas já
estivessem vermelhas de novo… por causa disso, fiquei cheio de sentimentos docinhos quando ele ergueu a mão e tocou
meu rosto.

Mesmo que tenha sido tão leve e calculado, eu senti algumas partes do meu corpo se arrepiarem.

Jungkook estava bem perto do meu rosto, mas não estava olhando para mim… seus olhos estavam focados na minha
bochecha enquanto ele a tocava tão cuidadosamente.

— Aparece uma aqui… — Deslizou a pontinha do dedo perto da minha boca, desenhando o caminho que minha
covinha faz quando surge. — E uma… — Olhou nos meus olhos. — Uma aqui.

Ele acariciou meu rosto com o dedão… não por querer, ele só estava mostrando onde a outra covinha aparece. Mas,
mesmo assim, eu me senti tão… tão...

Tão caidinho por ele...

Muito mais quando ele pareceu fazer grande caso dos seus toques — assim como eu. Olhando nos meus olhos,
Jeongguk não pôde evitar ficar com o rosto todo vermelho e as expressões meio travadas e tímidas… ele ofegou duas vezes
antes de afastar sua mão. Talvez eu esteja o intimidando com esse meu olhar… estou em silêncio o olhando nos olhos!
Imagino que ele deve estar morrendo de vergonha, uma vez que sempre fica assim quando eu o encaro demais… será que
ele percebe que falta só um pouquinho para sair coraçõezinhos dos meus olhos sempre que lhe olho?

Eu me senti bem sorrateiro naquele segundinho. Eu não era bobo, sabia exatamente onde minhas covinhas estavam.
Mas amei quando ele me tocou e praticamente desenhou um caminho para ela com seus dedos gelados.
No fim, abaixei minha cabeça, deixando meu sorriso crescer também. Dei um passo meio torto em sua direção,
tocando seu braço, dizendo:

— Vamos ver suas flores favoritas, então.

Jeongguk não negou… ele me seguiu pela praça bonita e ficou do meu lado, de primeira, em silêncio. Mas logo
começou a conversar sobre qualquer coisa que vinha a sua cabeça, e eu fiz o mesmo, porque amava conversar com ele. Eu
amava ele.

Nós fomos andando, olhando o verdadeiro mar de flores. Em certo ponto, perto das flores amarelas, Jungkook me
perguntou algo:

— E qual é a sua flor favorita?

Eu dei um sorriso pequeno, olhando para Jungkook e, então, as flores atrás do cercadinho.

— O girassol — eu digo. — Eu amo ele.

JUNGKOOK

Puxa...

Olhei para o Jimin e seus cabelos ruivos, colorindo minha visão, com todos aqueles girassóis atrás de si…

Os girassóis. Ele ama girassóis… é a sua flor favorita. Mas, caramba… ele disse que eu pareço com um, e que
combina comigo… puxa.

Isso significa que sou seu favorito?

— Eu gosto porque eles são simples, mas tão bonitinhos — dizia Jimin, enquanto olhava pros girassóis do outro lado.
Eu olhei para eles também. — É difícil escolher só uma flor. Elas são tão bonitas e delicadas… tem tantas espécies delas no
mundo, e são todas tão, tão lindas. Eu fico surpreso com essas coisas.

— Com as flores? — pergunto, me aproximando.

Jimin faz um barulhinho com a boca, quase como um riso soprado e pensativo.

— Com a beleza das coisas… — responde.

Prendi minha respiração.

Puxa. Quando Jimin fala desse jeito, tão reflexivo e manso, meu corpo parece sair do chão… é como se eu estivesse
flutuando por aí.

Suspirei completamente afetado. Acabei me virando para olhá-lo novamente. Jimin ainda estava namorando as flores
com os olhos e ficava muito bonito assim.

Naquele momento, eu me perguntei se Jimin sabia que ele era como elas. Ele era incrivelmente bonito, delicado, e
tão, tão lindo… exatamente como todas aquelas flores que ele gosta.

Mas diferente delas, só existe um Jimin. E ela não está em todos os lugares do mundo, está apenas aqui… e tão
perto de mim.

Isso fez meu coração palpitar. Puxa… eu me dei conta de que realmente gosto do Jimin, novamente. Sinto que tenho
sorte por ter conhecido ele…

Agora estou refletindo também.

Eu estou sempre refletindo sobre o Jimin. É estranho não entender o porquê…

— Você quer visitar a fonte? — Jimin perguntou, virando seu rosto para mim.

Eu estava um tanto quanto reflexivo, então demorei para formar uma expressão. Jimin percebeu isso, fazendo uma
carinha bem fofa até…

— Sim, eu quero… — eu respondi, dando um sorriso, voltando para o mundo.

Apertei o folheto, olhando para as letrinhas. Sim, estou aqui agora, e não entender algumas coisas não significa que
eu não posso gostar delas… porque eu gosto disso, e gosto muito.

— Então tá.

Quando Jimin começou a caminhar bem na minha frente, me senti extremamente bem de novo. Vê-lo e segui-lo nesse
lugar tão sereno e bonito, me deixa com a sensação de que a vida é muito boa. Que o mundo é bom. É acolhedor e…
amoroso. Eu sinto amor quando estamos juntos.
Fitei o chão. Nossos tênis da mesma cor, caminhando juntos, para o mesmo lugar. Dei um sorriso meio bobo… puxa
vida. Será que vamos ficar sempre juntos?

Jimin, você chegou faz pouco tempo, mas já chegou fazendo uma baita de uma bagunça…

Será que podemos ficar sempre juntos?

Meu sorriso cresceu um pouquinho. Sou tão estranho pensando nisso tão de repente, puxa… não quero que esse dia
acabe nunca. Gosto de sentir essas coisas...

Me senti tão imerso nos meus pensamentos esperançosos, sorrindo como um bobo, que nem vi quando Jimin
diminuiu seus passos e seus pés ficaram do lado dos meus. Ainda estávamos andando quando ele perguntou, com o tom
risonho e curioso:

— O que foi?

Eu olhei para ele, sentindo essas pequenas sensações se tornarem mais fortes. Quando eu olho pro seu rosto, tudo
fica mais intenso… puxa. Ele é tão lindo. Lindo como todas as flores. Principalmente como a viola.

Não qualquer uma. Uma viola lilás... que é a mais bonita.

— O que foi o quê? — perguntei, de volta.

Jimin deu uma risadinha, franzindo o nariz, meio emburrado. Ele me deu um empurrão leve, batendo seus ombros nos
meus.

— Isso! — Apontou para meu rosto brevemente. — Você estava rindo...

— Eu não estava rindo, só sorrindo — eu disse, olhando pros nossos pés novamente.

— E por quê? — Ouvi sua voz, tão doce e calminha.

Continuei andando, pensativo. Meu sorriso ainda estava preso nos meus lábios… puxa, Jimin. Como eu posso
explicar?

Acho que nem tem como...

— Não sei — eu respondi, sinceramente. — Mas eu me senti muito feliz…

Não consigo explicar nem para ele, nem para mim mesmo. Sentir tudo isso é confuso…

— Não sabe por que está feliz? — ele perguntou, com outro sorriso muito lindo.

— Não. — Respondi, sorrindo também.

Jimin sorriu. Ele passeou sua mão direita pelo meu ombro, até arrastá-la até meu peito.

Ele tocou meu coração. Dessa vez com as mãos, mesmo...

— Será que é porque estamos juntos?

Eu parei no lugar. Nossos passos já estavam super lentos, mas depois dessa… meus pés simplesmente pararam.

Jimin estava com um sorriso gigante. Covinhas e bochechas vermelhas… eu arqueei as sobrancelhas sem ao menos
perceber, mas… é que ele foi direto demais. Nem eu esperava por essa. Eu até me esqueci de como anda, porque ele está
me tocando o peito, ainda por cima...

Eu engoli em seco, um pouco encabulado. Muito encabulado, na verdade. Quando será que vou parar de ficar assim
perto dele?

Meu coração já perdeu o jeito aqui dentro, puxa...

É claro que estou feliz porque estamos juntos, mas… estava pensando em uma causa maior e mais complexa. Como:
por que estou feliz por estarmos juntos? Em que parte disso me sinto feliz, e por quê? O que estou sentindoexatamente? Por
que estou sentindo, exatamente?

Estava me perdendo em questões insignificantes… afinal, eu apenas estou feliz porque estamos juntos. Não preciso
de mil e um motivos e explicações para isso… não é?

Puxa…

Acabei me sentindo meio besta. Por isso, abaixei meus olhos, assistindo sua mão sobre meu coração. Se Jimin puder
senti-lo, provavelmente vai achar que estou morrendo...

Fiquei com muita vergonha, então fechei meus olhos com força, murmurando a resposta de uma forma
completamente desafinada e tímida:

— S-sim… — sussurro.
Jimin passa a mão no meu peito, fazendo um carinho singelo. Engulo em seco, demorando um pouco para conseguir
olhá-lo nos olhos… coloquei minha mão no meu peito também, percebendo que dava para sentir as batidas do meu coração
perfeitamente. Ele sabe. Ele sentiu, puxa…

Minhas bochechas explodiram de calor. Apertei meus olhos por alguns segundos enquanto subia, muito
vagarosamente, meus olhos até seu rosto. Estamos parados num canto da praça acariciando meu coração… isso é tão
esquisito! Mas parece tão natural e bom também.

Por que eu sinto que isso nunca vai sair da minha cabeça?

Jimin deu um riso muito melodioso, se mexendo um pouco. Ele começou a fazer carinho mais rápido, massageando
meu peito.

— Desculpa, você ficou todo tenso... — pediu, com o tom engraçadinho, e eu acabei rindo de nervoso, também.

Até que era meio engraçado mesmo.

— Fiquei mesmo… — eu disse, fazendo carinho em mim mesmo. Nossas mãos esbarraram várias vezes e, nesses
momentos, eu me sentia cheio de calor.

Viver é muito bom, mesmo…

— Que tal a gente só ir até a fonte? — ele sugeriu, abandonando-me assim que colocou ambas suas mãos nos
bolsos.

Engolindo toda a saliva restante em minha boca, eu confirmei com a cabeça. Ainda estava esfregando a mão no meu
próprio peito, sem perceber, então parei imediatamente. Jimin riu baixinho.

— Tudo bem, mas… foi você que me perguntou por que eu estava rindo — eu digo, o acusando de brincadeira.

Jimin coloca as mãos sobre os lábios, como se estivesse extremamente ofendido.

— Cadê as provas? Vou te processar por calúnia — disse ele, e eu acabei rindo mais. — Tudo bem… vamos para a
fonte antes que eu fique tenso também.

Eu quase disse que não seria má ideia caso ele ficasse tenso, mas parei no meio do caminho...

— Sim, vamos fazer isso. — Foi o que eu consegui dizer.

— Vamos.

E então nós voltamos a andar. E eu só consegui pensar no quanto eu queria que aquele dia não terminasse nunca.

Notas finais
Continuação do datezinho no próximo capítulo, hihi...

Espero que tenham gostado do capítulo... não vou falar muito aqui porque tô mortaaa de tanto revisar aaaaa XD vejo vocês
no 21!

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Atééeeeee!!

21. Ele é como um Sonho

Notas do Autor
Oioioi de novo <3333

Boa leitura~
JUNGKOOK

Aparentemente, todas as pessoas presentes naquela praça estavam perto da fonte.

Era uma fonte dos desejos… tinha crianças roubando moedas, crianças jogando moedas, pessoas sentadas na
beirada e pessoas molhando as mãos nela. Eu até perdi a vontade de fazer um desejo pela bagunça tremenda, e Jimin até
comentou como estava cheio… e depois, disse que seria engraçado caso uma pessoa caísse ali dentro sem querer.

Quando imaginei isso, acabei rindo bem alto. Jimin riu também, mas provavelmente da minha risada fina e
desengonçada… puxa.

Nós exploramos o lugar, mas tinha tanta muvuca que fomos fazer o outro caminho. Tinha uma barraquinha de algodão
doce e Jimin saiu correndo pra comprar um…

Ou, pelo menos, foi o que eu pensei, até ver que ele acabou comprando dois. Um pra mim, e um para ele...

Eu aceitei com um sorriso feliz. Me sentia especial quando ele pensava em mim… como quando me comprou um
disco e me trouxe chocolates. Era bom porque eu pensava muito nele também.

Nós nos sentamos num banquinho perto das orquídeas, um tanto quanto isolados. Isso porque ninguém parava
naquela praça. As pessoas só caminhavam, passando direto, enquanto nós dois estávamos parados. A gente encarava elas
e comia algodão doce, observando as flores como se elas fossem o desenho mais legal que passa na tevê.

Mais engraçado do que isso, foi eu acabar com meu algodão doce muito rapidamente, sem ao menos perceber.
Quando olhei para o Jimin, o dele não estava nem na metade. Me senti constrangido, ao mesmo tempo que ri um pouco…

Jimin não entendeu de primeira a minha risada, mas quando viu meus olhos fixos no seu algodão doce e, em seguida,
meu palito completamente vazio, ele riu também.

— Você enfiou tudo na boca, foi? — ele indagou, tirando pedacinho por pedacinho do seu, ingerindo bem aos
pouquinhos.

— Mais ou menos isso… — eu digo, fazendo-o rir. — Qual é a graça? Desmancha na boca… você enche e tenta
mastigar, aí do nada tudo some! É mais legal assim.

Jimin deu mais risada, balançando sua mão de um lado para o outro. Ele tirou um pedacinho do seu algodão cor de
rosa, colocando pertinho da minha boca.

— Pega um pouquinho e só deixa derreter — disse ele, me oferecendo. — Sem tentar mastigar… sério, Ggukie! Você
é a primeira pessoa que eu conheço que tentar morder um algodão doce...

Eu pisquei meus olhos, sorrindo, vendo-o rir.

No fim, eu abri minha boca para aceitar sua oferta. Quando Jimin percebeu, aproximou mais o pedacinho do doce para
perto dos meus lábios. Eu não mordi quando coloquei dentro da boca, mas fechei meus lábios… e mas acabou ficando um
pouquinho estranho, porque toquei a boca na pontinha dos dedos dele… e tanto ele quanto eu reagimos a isso.

Ele juntou as sobrancelhas sutilmente e afastou a mão de uma forma mais lenta que o usual. Já eu, praticamente
esqueci do fato de que tinha algodão doce na boca. Só fiquei pensando que o beijei… de uma forma muito estranha e
diferente, mas ainda sim… eu toquei nele com os lábios. Isso é um beijo, não é?

Jimin ficou olhando pro algodão doce um tempão, sem se mexer direito. Já eu, fiquei olhando pra ele… sem me mexer
direito também. Será que eu sujei ele de... saliva?

Ai meu Deus. Isso foi nojento?!

Contrariando meus pensamentos, Jimin fez uma espécie de biquinho com os lábios, pegando algodão doce com a
mesma mão que me deu. Ele colocou na boca, agindo normalmente… puxa…

— Não foi mais gostoso assim? — ele indagou, olhando-me nos olhos.

Quê?

— O quê? — Franzi o cenho.

Jimin deu uma risadinha, voltando a comer o algodão doce no mesmo ritmo de antes. Suas bochechas ainda estavam
rosas…

— O algodão doce. Não foi mais legal deixar derreter devagarzinho? — murmurou, colocando mais do docinho na
boca.

Eu pensei por um segundo, movendo minha língua. Hmm…

— Não — eu respondi, honestamente. Jimin riu, pressionando os olhinhos. — Morder é bem mais legal.
Jimin fez uma careta e, surpreendentemente, me mostrou a língua, como se estivesse emburrado com a minha
resposta. Isso me fez rir de verdade, e ele acabou rindo também, até porque não estava emburrado de verdade… mas foi tão
engraçado.

No fim, ele nem se importou com aquela cena. Eu respirei fundo e tentei esquecê-la naquele momento também, mas
sabia que tudo voltaria à tona hoje de noite.

Puxa. Nós ficamos rindo por um tempo, até Jimin puxar outro assunto, aleatoriamente:

— É engraçado olhar pra eles e perceber que somos diferentes… afinal estamos sentados na pracinha comendo
algodão doce — Jimin disse, de repente, fitando um ponto fixo. Virei o rosto. — Você acha vamos fazer coisas assim algum
dia? — perguntou, apontando com a cabeça para o outro lado da praça.

Na verdade, eu demorei um pouco para entender. Até que vi que, do lado de fora da praça, tinha alguns adolescentes
encostados na grade. Fumando e bebendo.

— Hummm — eu murmurei, meio pensativo. — Talvez…? Eu espero que não.

— Hm… — Ele parecia pensativo. Eu o fitei, rindo um pouco.

— Você acha impossível? — perguntei, atento às suas expressões.

— Não, mas… é um pouco curioso. Talvez eu faça se eu achar divertido, não dá pra saber — disse ele, vagamente. —
Eu nunca tive contato com isso, sabe, experimentando. Mas são duas coisas tão fedorentas, meio nojentas... é um pouco
engraçado pensar que eu posso curtir de alguma forma. — Ele coçou os cabelos ruivos com a mão limpa. — Não é super
estranho? Teve uma época da minha vida em que eu só sabia falar que era ruim, mas depois comecei a pensar… por que as
pessoas fazem isso? Aí cheguei na conclusão de que deve ser legal, de certa forma. Mas ainda acho meio errado, mas, fazer
o quê? É meio confuso...

Eu sorri, concordando, porque é exatamente assim que as coisas acontecem.

— É muito confuso mesmo... mas se te conforta, é mesmo nojento — eu disse, me lembrando de algumas coisas. —
A cerveja, no caso… o cigarro eu não sei.

Jimin virou a cabeça para mim numa velocidade incrível. Seu cabelo até bagunçou.

— Espera. Como sabe sobre a cerveja? — Ergueu uma das sobrancelhas, interessado.

Ah. Opa.

— Ah… — Eu levantei minha mão, coçando minha nuca. — Eu meio que já bebi. — Levantei o dedo indicador. — Só
uma vez.

Jimin colocou a mão na boca, como se isso fosse um grande segredo. Ele até se aproximou… pfft.

— Ihh… por quê? — indagou, erguendo as sobrancelhas com curiosidade.

Eu ri da sua reação, brincando com o palito do meu algodão doce. Dei de ombros.

— Não sei! Eu estava com o Seokjin, então ele decidiu beber, aí eu quis também pra saber como era. Foi no ano
passado — eu disse, me lembrando daquele dia marcante. — O gosto é ruim, tipo, ruim mesmo... do tipo que dá ânsia na
hora de engolir.

— Você vomitou? — ele perguntou, risonho.

— Não… na verdade, eu bebi bastante, até ficar meioalto — murmurei, me sentindo um pouco rebelde em contar isso
pra alguém.

Jimin riu, sem me julgar por isso. Ele me deu duas cotoveladas, perguntando mais uma coisa:

— E foi divertido?

Pensei por um breve momento… é.

— Foi bem divertido, na verdade — eu disse, e ele fez uma meia careta que parecia animada e amedrontada ao
mesmo tempo. — Só depois! E quando descia, ficava queimando aqui na barriga. — Toquei minha própria barriga. — Acho
que só foi divertido porque foi diferente.

— Talvez — ele murmurou, risonho. — Tá vendo? Eu sabia que era divertido. Se não fosse, ninguém ia fazer.

— Eu acho que sim — eu disse, risonho. — Mas ainda é meio nojento.

— É mesmo. — Jimin ainda estava dando risinhos.

Nós ficamos ali por mais um tempo, apenas assim, sorrindo. Até que ele jogou seu palitinho na lixeira e se levantou,
comigo fazendo o mesmo logo depois.

Joguei o palitinho no lixo, e então, o olhei.


— Vamos andar mais? Ainda não achamos as violas.

Eu sorri. Sim. Claro que sim...

— Vamos...

Nossos pés voltaram a se mover, lado a lado. Tinha tanta gente… eu nem pensei em segurar as mãos dele por isso.
De certa forma, eu sinto que… não deveria.

Isso é um saco. Um saco…

Mas não é como se essa parte sugasse todas as coisas boas da nossa caminhada e das falas do Jimin. Ele apontava
para algumas flores, dizia o nome delas, e eu só conseguia prestar atenção e contemplar sua sabedoria… sabe, depois de
tanto tempo, ainda acho que Jimin é um ser encantado. Sempre sabendo sobre a natureza, e amando os bichinhos… ele é…
surreal…

Estávamos em uma beirada e, enquanto eu olhava para Jimin, uma moça cheia de cachorrinhos surgiu. Eu acabei me
distraindo com os latidos, e Jimin meio que...

Err. Jimin não se distraiu com eles. Ele só se afastou completamente, encolhendo seu corpo de um jeito
definitivamente estranho para quem acabou de ver cachorrinhos de madame.

Foi quando eu me lembrei… ele tem medo.

Essa é mais uma coisa que eu me lembro perfeitamente… sabe, Jimin me disse nos bilhetinhos que tinha medo de
cachorros também. Só que eu pensei que fosse um medo de alguém que não tem contato com eles e os acha brutos, mas
pela forma que ele se encolheu, não é nada disso.

É medo mesmo?

Puxa… sendo ou não, vê-lo assim me fez tirar os pés do chão de imediato. Eu mal vi quando me movi rapidamente
para perto dele. Seus olhos chegaram a crescer intensamente quando os cachorrinhos passaram do nosso lado, fazendo-o
segurar nos meus braços, se escondendo atrás de mim imediatamente.

A moça, que devia estar passeando com os cachorros de outras pessoas, passou direto por nós dois. Eu me
aproximei mais alguns passos, até Jimin ficar suficientemente escondido comigo… puxa vida, eu não queria que ele sentisse
medo. Eu quase levantei meus braços e o abracei, mas perdi a coragem de repente…

Quando a moça sumiu, Jimin proferiu:

— Os pequenininhos são os mais bravos… — murmurou, apertando minha camiseta.— E tem os maiores dentes.

Eu o olhei, rindo um pouco porque… meu Deus, eram cachorrinhos de madame! Estavam com roupinhas até.

Eu diria que é estranho, mas não é. Eu sei disso porque tenho medo de…grilo.

Enfim…

Eu me aproximei, sem me sentir muito tímido dessa vez. Estávamos pertinho e eu me senti mais alegre do que
constrangido, mesmo que uma pontinha do meu coração estivesse tensa por vê-lo temer um cachorrinho. Puxa...

— Jimin… você tem medo mesmo? — eu perguntei, com cuidado.

Eu tentei abraçar ele de novo. De verdade, eu tentei, mas… parei minhas mãos no meio do caminho e acabei
somente acariciando seus braços macios, percebendo como eles estão geladinhos assim que encontrei-os com minha mão.

— Tenho muito. Demais — ele disse, rindo um pouquinho também, embora parecesse levemente envergonhado.

Eu esfreguei minhas mãos em seus braços… quando olhei para seu rosto novamente, fiquei meio perdido, porque ele
estava com aquela expressão de novo. Os olhos quase brilhando e um semblante tão… tão…?

Ele parece aflito...

— Por quê? Aqueles eram comportadinhos — eu disse, sem parar de esquentá-lo com meu carinho.

Jimin se mexeu um pouco, tomando uma postura diferente. Para falar a verdade, ele fico meio diferente quando eu
comecei a acariciá-lo, mas eu não me importo… afinal, ele parece gostar disso, puxa… suas bochechas estão
completamente coradas.

Eu gosto do fato dele gostar.

— Eu sei disso… — disse baixinho. — Mas é que um me mordeu feio demais quando eu era pequeno, sangrou e
doeu bastante. Na verdade, eu aposto que ele tirou um pedaço da minha perna.

— Sério? — indaguei, surpreso.

— Sim... — Choramingou. — Tem uma marquinha, até...


Eu me surpreendi com isso. Puxa... fui precipitado ao pensar que ele tinha um medo sem fundamento de cachorros, o
seu medo é de verdade.

— Como isso aconteceu? — perguntei, desacelerando meu carinho, mas sem parar de o fazer.

— Hm… foi na casa do vizinho. Ele tinha um vira-lata gigante muito bravo que ficava preso, mas eu acabei chegando
perto pra pegar a bola que a gente estava usando pra jogar queimada — disse ele e, por algum motivo, eu comecei a
acariciá-lo com mais intensidade. — Ele pulou em cima de mim e eu nem vi direito o que aconteceu depois, só chorei…

Essas… essas coisas são difíceis de ouvir.

Puxa. Estou me sentindo estranho demais agora… como se eu pudesse explodir de preocupação e melancolia por
saber que algo assim aconteceu com ele. Foi tão esquisito começar a pensar que eu queria estar lá para ser mordido no
lugar dele.

É que ele devia ser tão pequenininho…

— Quando você conhecer o Lippy, vai perder o medo — eu disse, então. — Ele é muito amoroso. Você vai gostar
dele… — E ele ia mesmo.

Quando Jimin for lá em casa, vou ter cuidado para que o Lippy não pule nele de empolgação.

Quando Jimin for lá, vou cuidar de tudo para que seja perfeito.

Jimin confirmou com a cabeça bem lentamente depois de ouvir minha fala, e estar pertinho assim, falando baixo, me
deixou com uma sensação de… vontade. É como se eu pudesse sair falando com manha por aí, agora… puxa.

Acho que eu quero abraçá-lo.

— Tudo bem — Jimin disse, dando uma risadinha. — Esses sustos me pegam de jeito. Mas se você diz que eu vou
perder o medo, então eu acredito em você.

Dei uma risadinha, que diminuiu para um sorriso, porque Jimin….ah, Jimin. Ele praticamente amoleceu o corpo dele,
se encostando em mim como quem está cansado por causa do susto. Puxa…

Eu apenas o abracei, sentindo sua testa no meu ombro repentinamente. Isso é tão bom, era disso que eu sentia
saudades… do seu abraço.

Mexi meu corpo um tanto, o balançando junto comigo por causa dos meus braços lhe enlaçando tão cuidadosamente.
Puxa, eu não pensei que abraçar Jimin podia ser tão bom quanto tê-lo me abraçando… é uma sensação tão boa. É quase
tão gostoso quanto sentir que pertenço à seu abraço.

Abraçá-lo me faz sentir que ele é um... tesouro. Dois mais valiosos existentes… e ainda assim, é familiar.

Puxa, que difícil… por que tudo sobre Jimin tem que ser tão bom? Eu não me canso de ficar perdido e confuso. Eu
não deveria ficar de saco cheio disso? Ou me sentir intimidado? Mas eu só consigo sentir que é gostoso… puxa.

Eu realmente não faço ideia do que está acontecendo. Seja lá o que o universo está tramando, eu espero que seja
algo certo, porque sentir isso é muito bom mesmo...

Para ouvir sua voz novamente, contei algo para Jimin, ainda o abraçando:

— Quando eu fui na sua casa pela primeira vez, eu fiquei um pouco incomodado com o Menino. Mandei ele sair de
perto várias vezes... — disse, fazendo-o rir baixinho. — Minha irmã tinha um gato malvado e eu odiava ele, muito… mas o
Menino me fez perder esse ódio por gatos e agora eu gosto muito deles, então eu espero que seja assim com você e com o
Lippy.

Jimin se afastou um pouquinho do meu enlaço, me fitando cautelosamente, como se assistisse minhas expressões
faciais. Minhas mãos ainda estavam em suas costas, mesmo que tenhamos parado de nos abraçar.

— Então, eu te fiz parar de odiar gatos… — Jimin sussurrou, pensativo e com um sorriso animado.Parece que ele se
recuperou. — E você vai me fazer parar de ter medo de cachorrinhos. É isso?

Eu sorri, confirmando.

— Sim, é isso. Quer dizer, eu espero...

Jimin deu mais uma risadinha que fez seu corpo se mexer de um jeito tão, tão fofo… acabei afastando minhas mãos
de si, somente o assistindo rir e ser muito, muito único para o universo.

Puxa, eu realmente estou pensando em coisas melosas hoje.

— Sabe qual é o nome disso? — Ele fez uma falsa cara pensativa, me fazendo rir de imediato. Ele vai falar alguma
coisa engraçada? — Destino.

Eu ergui ambas minhas sobrancelhas. Seu sorriso me contagiou e acabei sorrindo também, mas… a verdade é que a
palavra destino mexeu um pouco comigo. Puxa… destino?
Destino.

— Destino? — indaguei, risonho.

— Sim. Você e eu somos a mesma pessoa, com medos iguais, mas com motivos diferentes, e estamos ajudando um
ao outro… — dizia ele, voltando ao seu momento de reflexão. Pfft. — Sendo assim, é destino.

Eu confirmei com a cabeça. Ok. Destino.

— Destino, então — eu disse. Percebi algo passando na curvinha para as outras flores e acabei perguntando,
cuidadoso: — Quer pipoca?

Jimin olhou para trás, vendo o carrinho. Ele apontou para ele e fez uma cara de quem tinha uma ótima teoria da
conspiração, e eu ri em antecipação.

— Sim, eu quero pipoca, eu estava pensando em pipoca, você sabia? — questionou, sorridente. — Viu? Eu queria
pipoca. A pipoca apareceu. Destino.

Dei mais uma risada engraçada. Ele é tão maluquinho...

Minhas mãos formigaram com seu sorriso de quem quase não se levava a sério. Nós ficamos rindo baixinho e, por
algum motivo, eu tive uma atitude diferente das outras quando ele começou a rir da minha risada. Percebi que ele queria me
fazer rir quando falou da pipoca, assim como percebi que seu nariz é muito, mas muito bonitinho… o meu é gigante, mas o
dele parece com o nariz de um bebê. É pequenininho e perfeito.

Eu fiquei meio de cara quando, tão de repente, consegui subir minha mão. Toquei a pontinha do seu nariz,
brevemente, e ri logo depois.

— Vou comprar pipoca, então — eu disse, por fim, me dando conta do que fiz.

Eu caminhei sozinho até o carinha da pipoca. Eu não vi a cara que Jimin fez quando eu fiz aquilo, porque desviei o
olhar logo depois, mas espero que ele não tenha se incomodado…

Eu pedi duas pipocas para o moço. Enquanto elas estouravam, só consegui ficar pensando no quanto seu nariz era
macio.

JIMIN

É oficial: eu não consigo parar de pensar em casamento.

Jungkook é… perfeito. Não perfeito na medida das outras pessoas, muito menos nas definições que elas têm, mas eu
acho ele perfeito. Com todas as falhinhas…

Eu estava vermelho, esfregando meus próprios braços enquanto sorria, todo abobalhado. Ele tocou a ponta do meu
nariz e me apertou quando eu estava com medo… foi tão gostoso. Adoro quando ele mantém contato comigo… é perfeito.

Fiquei o paquerando de longe enquanto ele comprava a pipoca, olhando para todo o seu corpo e, então, o seu rosto
lindo. Jungkook estava de costas para mim, e quando ele se inclinou para pagar o moço, sua blusa ficou mais folgadinha e
ele pareceu muito pequeno. Ele é um gato, um gatinho, eu só queria poder apertar os ombros dele e encher ele de
beijinhos…

Viu? Eu tô ficando oficialmente maluco!

Mas mesmo que eu diga isso, quando Jungkook se aproximou novamente, eu não consegui dizer nada, muito menos
fazer. Somente sorri, completamente envergonhado e rubro de vontades e amores, pegando a pipoca que ele comprou pra
mim.

— Eu vi uma sorveteria do outro lado da rua, se você quiser, a gente pode ir lá tomar milkshake — disse ele, distraído,
enquanto eu pegava a pipoca.

— Se você quiser, eu quero — eu digo, sorrindo.

— Eu quero se você quiser também.

— Então eu quero.

— Eu também.

Jungkookie e eu nos olhamos. E então começamos a rir. É incrível como nunca paramos de rir como dois idiotas…

Fomos caminhando até o portão da praça comendo pipoca. Eu estava me sentindo um pouco preocupado porque o
céu estava começando a ficar muito cinza e, embora não estivesse frio, podia cair uma chuva de verão muito forte. Mas eu
não queria ir embora antes do horário…

Percebi Jungkook olhando para o céu também, bem do meu lado, mas ele também não disse nada. Ele só continuou
comendo sua pipoquinha.
Quando chegamos na sorveteria, esperamos nossa vez e pedimos dois milkshakes. Tinha muitos sabores diferentes,
mas eu pedi de flocos e Jungkook pediu de torta alemã (quem é que teve a ideia de fazer milkshake com sabor de torta?).

Quando pegamos nossos milkshakes, a pipoca já havia acabado. A gente acabou se sentando na única mesa restante
da sorveteria, bem lá atrás. Por causa da música que estava tocando, ficamos. E terminamos ali, bebendo milkshake e
ouvindo música…

Os bancos da mesa da sorveteria eram acolchoados e cumpridos, mas eu fiquei um pouco incomodado quando
percebi que Jeonggukie e eu nos sentamos um de frente para o outro. Qual é! Agora que estamos aqui, eu quero ficar bem
pertinho dele…

Não hesitei em fazer isso, até porque estou meio doidinho hoje… fiquei de pé e passei para o seu lado, fazendo-o me
dar espaço para me sentar pertinho de si.

Jungkookie parou de sugar sua bebida de torta por um segundo para me olhar, sem perceber que a pontinha dos seus
lábios estava suja de milkshake.

— O seu é bom? — ele perguntou, falando do milkshake.

— Eu achei bom. Quer provar? — Ergui uma das sobrancelhas, colocando o copo perto dele.

Pensei besteira sem querer. Tipo “Jungkook, hey... me beija, aí você pode provar direitinho”…

— Quero.

Jungkookie abaixou a cabeça e sugou o canudinho da minha bebida. Há-há. Quem sabe um dia…

Com um sorrisinho, eu fiz carinho nos seus cabelos enquanto ele provava a minha bebida. Isso, fique de barriga cheia.

Quando terminou, Jungkookie fez um ruído com a boca úmida, como se estivesse avaliando o gosto. Depois que eu ri
baixinho, ele deu um sorriso satisfeito, levantando o polegar. Minha bebida está oficialmente aprovada.

Então, sem dizer mais nada, Jungkook apontou o canudo do seu milkshake para mim. Eu entendi rapidinho que era
para prová-la, e eu o fiz. Inclinando minha cabeça, capturei a pontinha do canudinho com a boca, sugando sua bebida de
torta, saboreando cuidadosamente...

Fui pego de surpresa, até, quando Jungkookie colocou a mão na minha cabeça, acariciando meus cabelos enquanto
eu bebia o líquido geladinho. Ele até deu uma risadinha enquanto fazia isso…

Quando me afastei, lambendo meus próprios lábios, ele voltou sua mão para seu copo de milkshake. Eu ergui uma
sobrancelha e fingi ficar ofendido ao finalmente perceber que ele estava imitando meus atos quando me fez um cafuné.

— Está me imitando, senhorzinho? — eu perguntei.

Jungkook riu um pouco alto, provavelmente do “senhorzinho”. Sim, eu esqueci a palavra “mocinho” por exatamente
três segundos, mas, e daí?

— Sim… — ele disse, lambendo a própria boca.

Começou a tocar uma música muito suave. Tão suave que me impediu de continuar o teatrinho de quem está bravo…
eu simplesmente relaxei o corpo, encostando no estofado do sofázinho, suspirando melodioso.

Oh, my love… my darling...

Fechei os olhos, suspirando. Qual é… é sério, quem colocou essa música?!

Eu surpreendentemente conhecia ela. Não sei se vi em alguma novela, ou se minhas tias a escutam, mas eu conheço
ela, e ela me dá algumas sensações românticas… muitas sensações, na verdade.

— Você gosta? — Eu ouvi Jungkook perguntar.

Abri meus olhos, assistindo seu rosto bonito. Olhando para seus olhos.

— Gosto… — eu disse. — Você conhece?

— Uhum. É um clássico… minha mãe adora — ele disse, dando um sorrisinho. Bebi mais do meu milkshake. — Ahn...
eu posso te fazer uma pergunta?

— Claro que sim. — Eu sorrio, com meus olhos bem abertos dessa vez.

— Hum… — Ele mexeu no seu canudo, parecendo um pouco tímido. — Você sempre fecha os olhos quando começa
uma música que você gosta — observou, me tendo um pouquinho surpreso.

Então ele nota quando eu faço isso?

— Sim… — eu disse, e minha voz saiu estranhamente mansa.


Jeongguk percebeu, parando de mexer no canudo. Ele pressionou os lábios.

— No que você pensa quando fecha os olhos? — enfim, perguntou.

No que eu penso?

Eu penso em você.

Eu lhe olhei… estava sentindo algo diferente. Meus olhos pareciam um pouco cansados, mas eu não estava cansado.
Ele percebeu, sabe? Essas coisas mexem com meu coração, mexem muito. Parece que minhas pálpebras estão pegando
fogo...

Eu deixei meu milkshake em cima da mesa, olhando para baixo logo depois. Arrastei minha mão até a sua, a
segurando.

— Dessa vez eu estava pensando em você… — eu admiti, fitando seus dedos.

Eu não vi a reação dele porque não levantei minha cabeça. Eu apenas juntei minha outra mão ao enlaço, segurando a
sua mão com as minhas. Deslizei meus dedos pela sua pele, só para demonstrar que lhe gosto muito, muito…

Nós ficamos assim, um pouco quietos, só respirando e ouvindo música. Eu gosto muito de ouvir sua voz, mas quando
ficamos assim, não é nem um pouco ruim. Acho que gosto da existência do Jungkook por si só… ele é sempre tão precioso.
Quando está dormindo, falando, rindo, ou completamente quieto… ainda é ele. Então eu gosto demais.

Jeonggukie deslizou seu milkshake para cima da mesa, e eu quase me distrai com isso. Pensei que o copo fosse cair,
mas ele só cambaleou, e por estar tão focado, não vi quando Jungkook afastou a mão dele da minha.

Na verdade, ele se afastou completamente de mim. Pensei que ele estava recuando. Até que abriu seus braços, como
se fosse um pássaro e, surpreendentemente, me deu um abraço enorme.

Um abraço gigante…

Eu fiquei surpreso de verdade com isso. Eu senti o corpo dele, seus braços em volta de mim, em um super abraço de
urso que me cobria quase inteiro. Ele me abraçou. Meu solzinho me abraçou…

Meus braços estavam por baixo dos seus, então mal consegui retribuir. Estava apenas sentindo seu cheiro para todo o
lado. O meu cérebro recebeu uma carga tão alta de adrenalina e satisfação que eu ri um pouco, simplesmente porque fui
abraçado. Por ele. Dei bug.

Eu balancei meu rosto, me virando um pouco, sentindo seu peito contra minha bochecha. Jungkookie praticamente
abraçou meu pescoço, me puxando, e eu podia sentir seu queixo na minha cabeça… ele até desceu as mãos para o fim da
minha nuca, apertando um pouco. Posso sentir seus dedos tremendo.

Por que você está tão nervoso? Você pode me abraçar sempre. Seu abraço é perfeito, Jeongguk...

Eu ri de novo. Não porque era engraçado, eu só estava sorrindo alto…

— Por quê? — eu sussurrei, sem saber ao certo o que estava perguntando.

Por que você me abraçou? Por que eu te amo tanto? Por que você é tão especial para mim?

Quando ele se mexeu, minhas bochechas ficaram contra seu peito.

Jungkookie…

— Não sei… — ele disse, com a voz toda trêmula. — Puxa...

Eu apertei meus dedos contra minha palma, sorrindo. Que seja…

Ele não sabia, mas… eu estava ouvindo. Estava ouvindo seu coração, e ele estava tão acelerado, tão intenso.Fui eu
que fiz isso com esse coração?

— Posso ouvir seu coração… — e eu falei, amoroso, sem conseguir me segurar.

O meu também começou a apertar. E então, pulsar como um maluco…

Ninguém nunca fez tanto barulho no meu coração.

Jungkookie afrouxou o aperto, e quando pensei que ele fosse me soltar, me puxou mais. Até eu me aproximar
completamente e suas mãos descerem, chegando no início das minhas costas. Meu rosto foi parar em seu ombro.

Eu deitei minha cabeça ali.

— Agora não pode mais... — ele disse, ofegante, como se quisesse esconder seu coraçãozinho de mim.

Não esconda. Eu vou cuidar direitinho dele, Jungkookie...

Dei um sorriso gigante. Meu rosto estava pegando fogo, porque eu ainda podia sentir, sem que ele soubesse.
— Que saco… — eu reclamei, conseguindo erguer meus braços para apertá-lo de volta, me alojando em seu abraço.

— O quê? — ele indagou, como se sentisse inseguro de repente.

Ele começou a me soltar, até, mas eu apertei mais. Balancei minha cabeça, misturando nossos cabelos daquela
forma...

— É cansativo ser tão bom te abraçar e não poder fazer isso toda hora… — digo, sinceramente.

Me escondi mais em seu ombro, me enrolando naquele contato. Pra falar a verdade, a blusa dele desceu um pouco
pelo seu ombro, então quando deitei a bochecha ali, toquei sua pele diretamente com a minha. Macia como um travesseiro…
mas muito mais gostosa de sentir.

— Eu… eu também acho — diz ele, atrapalhado. E nós ficamos assim…

Não tinha ninguém ali, mas eu queria que todo mundo pudesse sentir o nosso amor. Queria que a única garçonete
que passou pela nossa mesa, pudesse sentir o que eu estava sentindo. Queria que ela sentisse como eu estou amando pela
primeira vez na minha vida…

Quando eu e Jungkookie nos afastamos, nós ficamos embaraçados por um tempão. Eu segurei suas mãos com força,
apertando seus dedinhos ao pedir:

— Me abraça mais vezes… — eu disse. — Por favorzinho. Eu gosto muito disso...

Nós não prestamos atenção quando começou a chover lá fora. Eu continuei apertando seu indicador, seu anelar, seu
mindinho, massageando-o.

— Eu vou te abraçar… — ele sussurrou, praticamente fraquinho.

Eu lambi meus lábios, sorrindo. Ah, que seja. Que seja…

Eu estou sentindo tanta coisa, estou quase explodindo. Estou transbordando, e tenho medo dos meus sentimentos
fugirem de mim desse jeito… eles não cabem mais aqui dentro, eu preciso dizer, preciso dizer alguma coisa, eu preciso...

É que, Jungkookie, em você encontrei o mais louco tipo de amor...

Isso parece um sonho. É tudo de bom..

Jeon estava vermelho no nariz, me olhando todo zen. O universo em seus olhos estava manso e doce…

Ofeguei.

— Jeongguk, eu gosto muito de você — eu disse, de repente. Franzi as sobrancelhas. — Preciso te dizer um monte
de coisas.

— Por favor, diz… — ele pede, chegando perto.

— Você é lindo, você é muito lindo… — eu disse, um pouco perdido. — Você é o garoto mais lindo que eu já vi, eu não
faço ideia de como você conseguiu vir tão lindo pro mesmo mundo que eu. Quando a gente fala no telefone, fico me
perguntando se um dia vamos poder nos falar o tempo todo, porque eu nunca me canso de falar com você, nem de estar
perto de você. — Abaixei minha cabeça. — Eu não quero parecer estranho, mas eu me sinto tão bem com você, você
consegue perceber? — Meus lábios tremelicaram. — O seu cheiro é muito bom também...

Jeongguk parecia ter absorvido tudo com muita intensidade, também. Eu não sabia se estava imaginando, mas ele
parecia tão cheio, também…

— Jimin… — sussurrou. Jungkook colocou ambas as mãos em seu colo. Eu coloquei as minhas por cima delas, as
apertando. — Eu vou olhar pras minhas mãos. Só para… puxa… — Ele engoliu em seco, com a voz embolada. — Eu não sei
se deveria sentir isso, mas tudo parece mais fácil quando estamos juntos… nada dói tanto e eu não entendo isso. Você é
muito único para mim. — Ele parecia verdadeiramente aflito. — Agora está tudo mais forte, e aqui… — Ele tocou o próprio
coração. Eu senti algo diferente no seu olhar. — Aqui virou uma bagunça. Puxa…

Eu estava me sentindo infinito. Eu estava em utopia ouvindo-o falar, porque acabei constatando que Jungkook, além
de estar me dizendo todos seus sentimentos, sentia tanto quanto eu. Ele sentia. Ele sentia…

— Então você está sentindo essas coisas junto comigo? — sussurro, apertando seus dedos. Minhas bochechas
estavam pegando fogo.

Jeon confirmou, e quando segurou minha mão de volta, eu senti que tinha outro tipo decasa...

— Eu estou… — disse, desviando o olhar. Jungkook está pegando fogo também. — Você acha que está tudo bem?

Eu sorri, balançando a cabeça. Sim, está tudo bem.

— Tudo bem. — Eu acarinhei sua mão. Olhei para baixo, vendo nossos pés juntinhos. — Seu jeito combina com o
meu…

Ele olhou também.


— Sim…

Quando olhei para meu amor novamente, me sentindo extremamente feliz, pude ver seu sorriso também. Ele está
sentindo amor? Está se sentindo feliz?

Assim que ele olhou nos meus olhos, eu tive certeza.

Sim. Ele está sentindo isso.

Depois disso, foi como se eu e Jungkook não precisássemos falar mais nada. Nós tomamos o resto do milkshake,
quase quente, e saímos juntos da loja. A chuva estava mais fraquinha, mas ele tirou da sua mochila, tanto o suéter que eu
trouxe — e acabei pondo na sua mochila — quanto a minha capa amarela. Eu até me esqueci de que estava com ele, e a
coloquei de imediato. A dele era transparente, e nós saímos de capa de chuva para a praça cheia de flores novamente.

Foi amor em sua forma mais pura quando começamos a rir de tudo que tinha na nossa frente.Eu me afoguei no som
da sua risada. O rubor não saiu das bochechas do Jungkook momento algum, ele só sabia sorrir pra qualquer coisa que ele
visse na rua, e eu nunca o vi tão relaxado e tranquilo antes. Era tão bem ver ele sendo ele. Estava leve, pulando nas poças
que se formaram quando a chuva estava mais forte… a chuva que caiu quando estávamos falando de sentimentos dentro de
uma lanchonete.

Nós passamos por dentro do parque, andando bem perto, e eu aproveitei a situação da capa me camuflando para
abraçar seu braço quentinho. Nós ficamos andando juntos pelo parque, agora, mais vazio. Tudo porque o céu chorou mais
cedo.

Já nós dois, só conseguimos sorrir. Ainda mais quando achamos o mar de violas.

Elas estavam mais afastadas, então tivemos que pisar na grama para chegarmos perto delas, sem chegar perto das
flores, é claro. Quando me abaixei na frente delas, no entanto, apontei para todas e disse, melodioso e íntimo:

— Um dia... — comecei, vendo-o se abaixar também. Ele olhou para mim. —Eu vou te dar um monte delas.

Jungkook, dessa vez, não ficou surpreso. Ele só sorriu, enchendo seu rosto de belas ruguinhas e covinhas
maravilhosas.

Fiquei surpreso quando ele abriu os braços e avançou em mim numa velocidade incrível, sem aviso prévio. Eu mal vi
quando caí para o lado, com ele me abraçando do mesmo jeito que na lanchonete, mas agora completamente deitado em
cima de mim, já que não consegui me equilibrar.

Capotamos na grama. E de tudo que ele podia dizer, Jeongguk escolheu a melhor palavra existente:

— Puxa...!

E me apertou. E o apertei.

Eu suspirei risonho, e ele fez o mesmo, mas não se moveu. Ficamos deitados na grama molhada, nos abraçando
como se não houvesse amanhã, como se o lugar fosse perfeito… até porque não foi o lugar que fez o abraço ser perfeito. E
sim o abraço que fez o lugar ser perfeito.

Jungkook não ligou, e tenho certeza de que ele sabe que eu não ligo também.Vamos nos abraçar na grama molhada,
então…

Ou não.

— Guris? — alguém chamou. — Tudo bem aí? Vocês não estão brigando, estão?

Jungkook se apoiou nas mãos assim que ouviu, se afastando de mim. Tinha uma mão sua em cada lado do meu
rosto, e ele se apoiava nos joelhos também, por cima de mim.

Nós dois estávamos sendo questionados por uma espécie de guardinha.

Meu amorzinho acabou ficando sem fala, e nós dois só encaramos o moço, daquele mesmo jeito. Eu engoli em seco,
dizendo:

— Não, senhor… — eu disse, por baixo do Jungkook, extremamente vermelho.

A gente só tá… se amando…

O cara fez uma careta, balançando a cabeça, como se estivesse farto de adolescentes bagunceiros.

— Por favor, saiam do chão.

Foi o que ele disse. Ele não brigou com a gente, mas se afastou com uma cara muito feia. Longe disso estragar o
nosso momento tão atrapalhado e especial… assim que o guardinha sumiu da nossa visão, Jungkook e eu começamos a rir
com muita euforia.

Muito mesmo. Quase caímos no gramado de novo.

Jungkook ficou de pé primeiro do que eu e me estendeu a mão. Eu a segurei, e ele a puxou com bastante força.
No que isso resultou? Sim. Em mais um abraço.

Nós saímos da praça quando a chuva ficou ainda mais forte. Tivemos que ir correndo para o ponto, e como se
estivesse se desculpando conosco, o universo fez com que nosso ônibus chegasse na mesma hora que a gente. Nós
acabamos subindo pela parte de trás, porque ele já estava de saída, e Jungkook quase escorregou na entrada.

Eu o segurei com um braço, e acabei quase caindo com ele, mas nos equilibramos. E rimos muito mais disso.

Nós nos sentamos nos assentos do meio, porque agora, a maioria estava ocupado também. Insisti para que ele fosse
na janela, e ele aceitou depois de perguntar se eu tinha certeza umas três vezes. Tão precioso…

Depois de tirarmos nossas capas de chuva, com a pontinha das nossas franjas molhadas, nós ficamos vendo as
gotículas de água batendo na janela do ônibus.

Eu acabei dizendo, meio incomodado:

— Aqui tá tão abafado… — eu disse.

Jungkook fungou um pouco e fez uma careta.

— Tá mesmo… — ele disse.

Eu fiz um biquinho, deitando minha cabeça no seu ombro. Me ajeitei no banco e virei o rosto, tocando minha boca na
pontinha do seu ombro.

— Vou respirar você… — eu murmurei, um pouco manhoso.

Jeongguk virou a cabeça momentaneamente, tocando parte do seu rosto no meu cabelo.

— Está bem… — ele sussurrou.

E então, eu fiquei apoiado em seu ombro, sentindo o cheiro gostoso da sua camiseta. Jeonggukie ficou mexendo os
dedos em cima do próprio joelho, enquanto a chuva ficava mais forte lá fora.

Arrastei minha mãozinha até a sua. Jungkook parou de mexê-la, virando a palma para cima, como sempre fazia na
aula de história. Eu coloquei a minha por cima da sua, e antes que ele fechasse seus dedos, em meio aos meus, eu disse:

— Sua mão é bem maior que a minha… — eu disse, sussurrando, percebendo isso.

Jeongguk suspirou contente. Quando ele segurou minha mão com as suas, juntando nossas palmas, a diferença de
tamanho ficou clara como a água.

Ele riu embolado, com a voz rouquinha.

— É mesmo… — ele disse. — Seu pé também é menor do que o meu.

— É.

— Mas a sua mão é mais. Ela é bonitinha... — Ele segurou meu dedo anelar, o acariciando de repente. Eu fiz um
bico. — É fofinho...

Eu me senti completamente embaraçado. Minha risada nervosa saiu engraçada porque nunca pensei que fosse
gostar tanto de ter um dedo elogiado.

Jungkook riu. Nós rimos, e eu fiquei bobo...

— É... eu sou pequeno. — Eu ri um pouco, derrotado. O que me resta é aceitar que sou pequeno. — Será que você
vai ficar mais alto do que eu? — murmurei, pensativo, olhando para seu rosto apenas com os olhos.

Não movi minha cabeça, ainda apoiado em seu ombro. Jungkook se virou um tiquinho para mim, e sua bochecha
tocou minha testa, quase me abraçando. Poxa, que gostoso…

— Talvez… — ele sussurrou, risonho. Ele está pelando.

Você é um sonho, Jeon...

— Acho que não tem problema se acontecer… — eu sussurrei, voltando a fitar nossas mãos, sentindo, por fim, seu
rosto apoiado na minha cabeça.

Jeongguk se mexeu levemente, o que eu levei como uma confirmação muda. Coloquei minha mão sobre a sua
novamente, tendo em mente que ela a acha bonitinha, entrelaçando nossos dedos…

Quando a gente fica pertinho, não precisamos falar.

A gente só… sente.

E por todo o caminho, foi assim. Eu senti Jungkook mais do que nunca.
JUNGKOOK

Talvez essa seja a coisa mais gostosa que eu já senti em toda a minha vida.

Só talvez… puxa…

Enquanto olhava pela janela do ônibus, sentindo Jimin pertinho de mim, segurando minha mão, eu… eu me senti
assim. Eu me senti tão contente, tão transparente, tão… vivo.

O meu corpo tinha reações diferentes quando eu estava com Jimin, e elas eram tão intensas. Eu me arrepiava, ficava
quente, meus olhos ficavam pesados e eu não conseguia parar de morder minha boca. Além do mais, meu coração… bem,
ele saía da caixinha.

Eu nunca me senti assim antes. Será que ele pode ficar comigo, assim, para sempre?

Comecei a morder meus lábios, a mexer meus dedinhos do pé dentro do sapato, a me perguntar se Jimin tinha noção
do quão único ele era pra mim. Eu disse. Eu sei que eu disse, mas ele sabe mesmo? Puxa…

Eu deveria ter dito mais, mas somente aquilo foi o suficiente para eu me sentir mais leve do que nunca.Mais leve para
abraçar. Para senti-lo, porque hoje descobri que não estou sozinho nessa… nós estamos sentindo igual.Estamos juntos
nessa loucura, não estamos?

Então eu faço Jimin se sentir assim? Eu…?

Puxa...

Jimin se esfregou contra meu ombro lentamente, suspirando calminho. Ele começou um carinho gostoso, deslizando
seu polegar pelo meu. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas… puxa. Puxa…

Quando o ônibus começou a chegar no terminal, eu sussurrei para colocarmos as capas novamente. Jimin confirmou
com a cabeça e se afastou sem muita vontade. A vestimos lentamente e a chuva estava ficando cada vez mais forte lá fora.
Tenho certeza de que minha mãe vai ficar doidinha de preocupação…

Ah… mas tudo bem. Se ela soubesse o quão bem estou me sentindo, ela apoiaria as chuvas, até.

Depois de tudo isso, o nosso caminho de volta pra casa continuou sendo sereno e carinhoso. Pegamos o ônibus para
sua casa, nos sentamos juntos de novo, e ficamos de mãos dadas. Teve um momento em que os dedos do Jimin passaram
por cima dos meus, e eu o afaguei de volta, mesmo que trêmulo. Então, ele deixou com que eu fizesse carinho nele,
sozinho…

Quando eu me virava sutilmente, podia ver como seus olhos estavam transbordando doçura. Ele gostava quando eu o
abraçava, quando fazia carinho, quando ficava perto… era surpreendente ele gostar disso, gostar tanto quanto eu gosto.

Era surpreendente. Sentimos igual.

Eu realmente sou ele. E ele sou eu...

Dessa vez, não tiramos nossas capas de chuva, mas não é como se elas fossem servir para alguma coisa. Quando
descemos no nosso ponto, estava relampejando e ventando muito. Nós saímos correndo pela calçada, mas bastou uma
quadra para ficarmos completamente encharcados! Tipo, sério...

Eu não queria rir, mas foi impossível segurar quando um vento veio, incrivelmente forte, e puxou o capuz do Jimin
com tudo. Ele se desequilibrou um pouco e riu nervosamente — por que estamos rindo? — dizendo:

— Socorro, Jungkook! Fiquei cego!

Eu corri para mais perto dele, olhando para seu rosto. As lentes dos óculos estão completamente molhadas.

— Estamos quase lá! — eu disse, com meu cabelo pingando na testa. O do Jimin não estava diferente. — Vem!

Segurei sua mão. Começamos a andar rápido, ainda na calçada, chegando cada vez mais perto da sua casa. Quando
a avistei, quase gritei de alívio.

— Chegando? — perguntou.

— Chegando! — respondi.

Com mais alguns passos largos, eu e Jimin finalmente fomos parar no seu gramado. Fomos correndo até a varanda,
subindo os degraus atrapalhadamente, e começamos a bater na porta em conjunto.

Jimin gritou:

— Ô mãaae! Socorroooo! — E batia e batia e batia.

Eu deveria achar isso engraçado?


Porque eu achei. E muito!

Portanto, felizmente, ouvimos a movimentação do lado de dentro da casa. E então, Leonor apareceu. Ela estava com
duas toalhas secas na mão, como se estivesse esperando por nós dois exatamente do jeito que estamos.

— Ai, Deus! Eu sabia que vocês iam chegar aqui ensopados! — ela disse, nos puxando para dentro. Fechou a porta e
eu me senti em uma sauna, completamente confortável naquela casa quentinha.

Jimin tirou o óculos e a capa de chuva, e eu fiz o mesmo, aceitando quando sua mãe me deu uma toalha. Meus
dentes estavam batendo, puxa...

Depois dessa confusão, nós tiramos os nossos sapatos e fomos para o andar de cima. Jimin estava com a roupa
grudada no corpo e sua meia encharcada fazia um barulhinho engraçado quando passava pelo chão, e se eu não estivesse
morrendo de frio, com certeza daria risada.

— Eu vou tomar banho no quarto da minha mãe e você toma aqui — ele disse, se abaixando em frente a sua gaveta.
Eu consegui perceber uma dobrinha na sua barriga, pela blusa colada em seu corpo, e minhas bochechas queimaram por
isso...

Jimin tirou, da gaveta, uma blusa de moletom azul e uma calça preta.

Ele ficou em silêncio, um pouco pensativo de repente, e paralisou...

JIMIN

Ai meu Deus...

Eu deveria emprestar uma cueca pra ele?

JUNGKOOK

Antes que eu perguntasse se estava tudo certo, Jimin abriu outra gaveta e tirou de lá um pijama. Ele se levantou, com
as bochechas vermelhas, parecendo um pouco constrangido quando me deu a calça e a blusa de moletom.

— Ggukie, vai rapidinho pra não ficar resfriado. Essas roupas não são muito bonitas, mas são bem macias — disse
ele, enquanto eu as segurava. Ele correu até a outra cômoda, e voltou, me dando outra toalha. — Aqui, uma toalha seca!

Eu segurei tudo nas minhas mãos, confirmando, enquanto ele me mostrava o seu banheiro.

Mas antes que eu entrasse nele, Jimin me interrompeu:

— Espera aí! Deixa eu ver se tá tudo certo aqui.

E então, ele entrou no banheiro sozinho. Ouvi alguns barulhos estranhos, e então, sua figura surgiu novamente.Pfft…

Eu estava rindo quando Jimin balançou sua cabeça positivamente, afirmando que… sim. Estava tudo certo ali.

Antes de entrar no banheiro, eu observei Jimin pegar aquela peça de pijama e sair do quarto, me deixando sozinho.
Eu organizei as roupas que ele me emprestou em cima da pia, e fui fechar a porta do banheiro, mas…

— Miau.

Ah não.

Menino tinha passado direto para dentro do banheiro. Eu nem tinha visto que ele estava no quarto antes, puxa!

— Ei, eu vou tomar banho! — eu disse, pegando ele pela barriga.

Ele miou um pouco, se remexendo quando eu o coloquei pra fora. Fechei a porta e suspirei. Até me esqueci da cena
de hoje de manhã… puxa…

Meu braço molhado ficou infestado de pelo de gato, mas eu não me importei, tirando a minha blusa rapidamente.

Mas… antes que eu tirasse a minha calça, comecei a ouvir um barulho estranho vindo da porta. Espera.Estavam
batendo?

Não… parecia outra coisa. Era como se alguém estivesse passando… a mão, pela porta.

Engoli em seco, cobrindo meu corpo com a toalha. Abri a porta e…

— Miau.

Eu não acredito.

Foi apenas um breve momento, mas eu pude ver que o Menino estava arranhando a porta antes. Ele colocou as
patinhas no chão, e passou pela brechinha da porta rapidamente.

Agh, gato esperto!

Soltei a toalha para pegar ele de novo, abrindo a porta com tudo e o expulsando novamente. Fechei-a, tranquei, e
ignorei suas arranhadas e seus miados. Tirei o resto da minha roupa e finalmente consegui tomar o meu banho quentinho…

***

A minha mãe tinha ligado.

Atualmente, estou sentado na cama do Jimin, com suas roupas confortáveis e macias caindo maravilhosamente bem
em meu corpo. Eu tinha sorte pelo band-aid ser a prova da água, mas mal podia esperar para trocá-lo. Meu cabelo estava
com o cheirinho do seu shampoo, e a chuva continuava forte do lado de fora… já estava escuro, até.

Jimin estava no andar de baixo, falando com sua mãe, e eu fiquei aconchegado na sua cama, o esperando... sentindo
seu cheiro para todo lado. Até em mim mesmo…

Alguns segundos depois, Jimin ressurgiu na porta. Ele a encostou levemente e veio caminhando para perto, não se
importando nem um pouco com o fato de eu estar vendo o seu pijama fofinho.

Puxa… ele fica bem até de pijama.

— Gguk — ele chamou, apoiando as mãos na cama no momento em que subiu nela, se sentando, perto de mim. —
Minha mãe falou com a sua e ela está vindo pra te buscar… aparentemente, vamos ter que deixar sua bicicleta aqui por hoje.

— Tudo bem… — eu disse, esperando por isso mesmo. — Eu não esperava que chovesse logo hoje… os dias
estavam tão ensolarados essa semana.

— Não é? Que injustiça — ele disse, puxando seu cobertor para cobrir, tanto os meus pés, quanto os seus. — Deve
ser o céu chorando de alegria porque sua irmã megera vai embora.

Jimin disse aquilo tão repentinamente que eu engasguei, rindo, muito surpreso.Essa foi a fala perfeita.

— Exatamente — eu disse, começando a me sentir… ansioso.

Digo… puxa. Era estranho porque eu estava ciente de que aqueles eram meu últimos minutos perto dele nas férias.
Segunda-feira eu ia viajar, e só voltava no domingo que vem. Eu só o veria quando as aulas voltassem, e isso ia demorar
tanto…

Tanto… eu quero aproveitar esses minutos. Esses últimos minutinhos…

Fiquei olhando para Jimin, como sempre, esperando que ele percebesse que eu queria fazer alguma coisa.E,
igualmente, queria que ele fizesse por mim. Queria que Jimin entendesse que eu quero dar aqueles beijos de novo… para
matar a saudade.

A saudade que já estou sentindo.

Eu fiquei olhando para ele por tanto tempo. Jimin ainda estava fitando a janela quando eu respirei fundo, mordendo
meus lábios, pegando na sua mão…

Meu rosto estava ardendo de vergonha. Mas eu o olhei, em silêncio, segurando-lhe a palma, ansioso.

Jimin me olhou de volta e acabou fazendo um semblante surpreso. Eu apertei-lhe mais. Apertei sua mãozinha, e me
mexi um pouco, olhando fundo nos seus olhos…

Mas eu não disse nada.

— Jungkookie…

Jimin estava olhando bem nos meus olhos.

Eu engoli em seco, levando minha outra mão para meu pescoço, o pressionando de nervosismo. Jimin riu... e por
incrível que pareça, esse riso me aliviou tremendamente. Assim, e vi que ele tinha percebido.

Ele percebeu que eu queria um beijo.

Jimin puxou minha outra mão, segurando ambas com as suas. Eu olhei para baixo, lambendo a boca, engolindo em
seco, mexendo minhas bochechas sem querer, porque lhe senti ficar cada vez mais perto...

Fechei meus olhos cuidadosamente quando a pontinha do seu nariz tocou minha bochecha e, demoradamente, sua
boca me tocou ali também. Ele beijou-me cuidadosamente, agraciando a maçã do meu rosto… puxa…

Eu dei um sorrisinho, satisfeito, ainda mais quando Jimin se sentou perto de mim para me dar mais um beijo.Eu me
senti abençoado quando ele soltou as minhas mãos e segurou meu rosto.

Eu fechei os olhos suavemente quando ele se aproximou e deu um beijo na ponta do me nariz. Foi tão curto, macio, e
quente que eu pensei ter alucinado…
— Isso é por você ter cutucado o meu mais cedo… — Jiminnie disse, pertinho de mim.

Tão pertinho de mim.

— Jiminnie… — sussurrei, me sentindo incrível quando consegui aproximar meu rosto do seu e beijá-lo também,
colando os lábios pertinho do seu queixo…

As bochechas dele pegaram fogo assim que eu me afastei. Ele deu um suspiro melodioso.

— Me beija de novo… — pediu.

Eu pressionei meus olhos mais um pouco, e o beijei de novo, no mesmo lugar. Jimin acariciou a ponta da minha
orelha, e me deu um beijo no canto do olho. Eu coloquei a mão em sua nuca, apertei seus cabelos ruivos e o dei um beijo na
bochecha cheia de constelações…

O meu estômago estava frio como o polo norte, e meu rosto quente como o fogo, mas eu me sentia… tão bem e tão
relaxado. Aqueles beijos estavam me fazendo flutuar. O barulhinho que sua boca fazia quando ele me beijava era tão bom. O
suspiro baixinho que ele dava quando eu o beijava era tão gostoso. O carinho que ele fazia no meu cabelo e na minha nuca
era inexplicavelmente encantador... me enrolar naquelas sensações gostosas me dava a sensação de que eu estava tão
vivo. Estou vivo, meu coração está batendo mais forte do que nunca...

Eu me senti extremamente decepcionado quando aquela série de beijinhos teve seu fim. Os lábios dele estavam
tocando o cantinho da minha bochecha quando eu ouvi a buzina característica do carro da minha mãe, do lado de fora, e
sibilei tristemente:

— É a minha mãe...

A minha voz saiu mais manhosa do que eu pensei ser possível. Puxa…

— Uhum… — Jimin se afastou um pouco. Sua voz está soando como a minha. — Tudo bem… suas roupas estão aí?

— Sim… — eu disse, puxando a sacola que estava no chão, embaixo dos meus pés.

Jimin encarou o chão, confirmando com a cabeça. Ele se afastou lentamente, ficando de pé.

— Então… vamos lá?

Eu fiquei de pé também, sem ao menos perceber o quão tensas minhas pernas parecem.Eu podia desmanchar.
Provavelmente vou desmanchar quando chegar em casa, puxa…

Nós fomos caminhando muito lentamente até a porta do seu quarto. Quando chegamos perto, Jimin parou e se virou
para mim…

Vai demorar. Só vamos nos ver quando as aulas voltarem.

Eu me virei para ele também. Puxa… ele é tão, tão bonito…

Eu fiquei lhe olhando por alguns segundos, e quando ele deu um passo mais para perto, minha cabeça girou e girou.
Meu coração fez barulho. Eu senti que Jimin iria me beijar de novo, mas eu senti tanta saudade sua que o beijei também…

Isso resultou numa confusão quando nossos rostos chegaram perto. Jimin virou seu rosto lentamente, e eu acabei
fechando meus olhos quando fiz um biquinho, e nos beijamos…

Mas essa confusão terminou com o canto da nossas bocas relando sutilmente.

Sutilmente. Mas o suficiente para eu…

Eu…

Jimin se afastou com os olhos surpresos. Eu abri os meus também, respirando fundo, tão perto dele…

Eu ofeguei um pouco…

Nós quase nos…

Puxa…

Puxa.

Puxa...

Eu não fazia ideia do que fazer. Minha boca tremeu e eu praticamente gritei:

— T-tchau! — Soei completamente desesperado, enquanto saía pela porta do seu quarto.

Jimin se moveu, atrás de mim. Sua voz estava desengonçada também:

— Por que está me dando tchau se vou até lá embaixo com você? — ele perguntou.
Eu ri. Ri nervoso, ri quente…

— Não sei… — eu sussurrei, parando no início da escada.

Jimin veio saltitando atrás de mim, e diferente de antes, agora ele estava sorrindo muito.

Ele apoiou as mãos nos meus ombros e beijou minha nuca, muito sorrateiro. Sussurrou, como se quisesse que eu não
parasse de pensar nele nunca:

— Tchauzinho…

E eu não parei.

***

Quando cheguei em casa, fui diretamente pro meu quarto…morrer.

Eu fiquei travado a viagem inteira, de carro, com a minha mãe. Meus dedos formigavam e meu corpo se arrepiava
involuntariamente... e tudo me fazia pensar nos últimos momentos. Nele. Em Jimin. Jimin, Jimin, JImin...

Fui pro meu quarto morrer, oficialmente. Morrer de satisfação, expectativas e muita confusão. Caramba, Jiminnie...

Me joguei na minha cama, abraçando meu travesseiro e suspirando nervoso. Mexi meus pés e fiz um barulho
esquisito, afundando meu rosto na fronha, sem me aguentar.

Ele me deu um beijinho na nuca, ele me beijou… ele chegou perto e beijou o canto da minha boca. Ele quase me
beijou! Jimin chegou tão perto de mim...

Era oficial…

Eu estava meio morto.

Eu dormi sem jantar naquela noite. Eu não lembro se sonhei, se tive um pesadelo, ou se levantei no meio da noite
para ir no banheiro. Eu dormi com as roupas dele e senti seu cheiro assim que acordei…

Pela manhã, tive a sensação deliciosa de ver minha irmã indo embora. Meu cabelo estava uma bagunça que só por
eu ter dormido com ele molhado, mas não me resfriei. Eu fiquei ouvindo músicas, brincando com meu cachorro, olhando para
o céu, e tendo provavelmente o domingo mais delicioso da minha vida.

Eu só não conseguia parar de pensar no… no Jimin.

Quando meus pais chegaram e nós fomos jantar, eu consegui fugir dessa parte da minha mente. Mas então, tudo
ficou tão estranho aqui dentro… conforme a noite chegava, eu começava a sentir isso cada vez mais, como se não pudesse
mais esperar, como se não pudesse escapar. Eu não podia…

Quando ficou tarde da noite e meus pais me deram boa noite, eu fui tomar um banho quente no meu banheiro. Eu me
senti esquisito por colocar a blusa de moletom que Jimin me emprestou ontem, só porque queria sentir o seu cheiro… mas
eu não pude evitar.

Assim como foi impossível evitar ficar pensando, por muito tempo, deitado na minha cama, nas coisas que eu estava
sentindo...

Eu fiquei pensando nele sem parar… porque percebi uma coisa. Percebi que tinha um sentimento familiar quando eu
saía com o Jimin. Quando estou prestes a vê-lo, penso em abraços, beijos, e em dar as mãos. Em deitar perto dele, e senti-lo
perto de mim, em poder fungar o cheiro do seu cabelo ruivo… esse tipo de relação.

Puxa. Não sei se Jimin e eu somos amigos…

Quer dizer, eu sei do que amizade se trata, e não se trata disso… sei que Jimin é meu amigo. Mas não sei se ele é
apenas isso…

Esse sentimento é tão novo. E um pouco assustador. Não quero pensar que é estranho, porque é tão, tão bom…
puxa. É a coisa mais leve que já senti, mesmo que me deixe todo nervoso durante a noite, é um nervoso tão bom. Quero
ele e querer ele é bom, porque ele gosta de mim também… eu nunca senti tanta reciprocidade antes.

Abracei meu travesseiro, completamente encabulado. Meu coração se apertou um pouco… não posso deixar esse
sentimento sair de dentro de mim. Não posso dividi-lo com ninguém que não o entenda porque isso vai estragar tudo. Não
quero que ninguém estrague isso…

Sinto um pouco de medo de ficar triste demais. Tenho medo disso acabar, puxa... de repente, sinto medo de tudo isso.
Assim como tive medo dos meus pais me deixarem algum dia… e do Seokjin encontrar outro melhor amigo. Senti medo
do Jimin não sentir tanto… até senti medo dele abraçar Yoongi e beijá-lo como ele me beija.

Tive medo dessa relação que para mim é tão singular e especial, ser só mais uma coisa para ele…

Mas é claro que isso é impossível, né?

Puxa...
Pressionei a fronha do travesseiro. Não sei. Parece idiota e ilógico pensar assim… talvez a gente possa conversar
sobre isso… quero saber essas coisas. Quero muito.

Eu estava me sentindo inquieto, então fui ver que horas eram.Meia noite e onze. Jimin já estava dormindo, será?

Não quero ser inconveniente, nem idiota… talvez eu esteja sendo os dois no momento exato em que saio da minha
cama e vou silenciosamente para perto da porta. Ok. Se tudo estiver apagado, eu faço isso. Se não, eu eu não faço.

Abri a porta, leve, olhando para fora.

Eu definitivamente sou idiota. Está tudo apagado e as portas estão fechadas. É sinal verde para fazer o que eu estou
prestes a fazer…

Minha mãe me mataria se soubesse. Então vou ser cuidadoso.

Desci as escadas cautelosamente, e Lippy deve estar dormindo muito pesado para não ter me escutado. Quando
cheguei no andar de baixo, me deparei com ele dormindo no sofá, todo esticado, e dei uma risada baixinha por isso.

No relógio marcava meia noite e vinte e três quando eu caminhei até a sala de estar. Me sentei no chão, do lado do
telefone, e digitei o número que memorizei com o tempo.

O número do Jimin.

Eu estava ligando para ele depois da meia noite.

JIMIN

Yoongi é pior do que eu nessas promessas de virar a noite.

Eu ri. Meu amigo estava dormindo na minha casa pela primeira vez… foi de improviso! Meio que sua mãe foi embora
hoje de manhã, então ele me ligou na hora do almoço e perguntou se a gente podia fazer alguma coisa. Eu disse que sim,
então ele veio e ficamos em casa conversando. Depois dormimos, e depois assistimos outro filme de terror.

Dessa vez, ele ficou para dormir aqui mesmo. Nós até combinamos de virar a noite vendo filmes, e embora eu
sentisse que não ia conseguir, estava pronto para tentar…

Só que, quando saí do banho, me deparei com Yoongi dormindo. E nem cama que eu fiz para ele, ele estava!

Estava no chão. Pfft...

Eu só fui pegar o lençol e os cobertores no quarto da minha mãe, para forrar sua cama, que ele adormeceu… muito
fraco! Heh.

Quando eu chamei ele para se deitar na cama, ele nem se mexeu. Então eu rolei seu corpo até o colchãozinho, e o
cobri, porque não quero que ele fique resfriado. Quando terminei de fazer isso, suspirei um pouco. No fim, eu ainda estava
empolgado por ser a primeira vez que um amigo dorme na minha casa.

Suspirei, sorridente... então, senti um pouco de sede.

Passei no meu banheiro para escovar os dentes antes, e só então, saí do meu quarto. Fechei a porta lentamente
porque estava ventando muito, e não queria correr o risco dela bater e acordar a mamãe e o meu amigo.

Logo, desci as escadas sonolento, e até com um pouco de fome. Mas não vou comer… comer de noite me deixa
enjoado.

Peguei um copo de água na cozinha, e o bebi ali. Então enchi de novo para levar para meu quarto, mas algo me
impediu.

Mais especificamente: o telefone, na sala, me impediu.

O toque era realmente alto, e eu fiquei desesperado por um segundo, correndo com tudo para perto dele. Podia
acordar todo mundo, meu Deus! Quem poderia estar ligando a essa hora? Isso nunca aconteceu antes…

Será que é trote?

Andei até o telefone e o puxei do gancho rapidamente, o colocando no ouvido.

— É trote? — eu perguntei primeiramente, ofegante.

Do outro lado, teve um breve silêncio. Eu ouvi um suspiro risonho, e imediatamente reconheci aquela voz.

— Não.

Meu coração tomou um baita susto. Era o Jungkook!

Ou será que eu estava imaginando coisas? Ai meu Deus, enlouqueci?


Beijar deixa a gente maluco mesmo...

Eu fiquei todo nervoso e tenso, quase como se ele estivesse aqui. Está tudo escuro e silencioso e todo mundo está
dormindo… e Jeongguk está no telefone.

Comigo.

— Jeonggukie? — eu chamei, deixando o copo de água na mesinha.

— Oi — murmurou, levemente. — Que vergonha. Desculpa por ligar tão tarde. Espero não ter acordado ninguém.

Eu dei um sorrisinho, me encostando na parede. É ele...

— Não acordou — eu disse, um pouco arrepiado em ouvir a voz dele tão pertinho, tão de noite…tão de repente. — Só
eu estava acordado, felizmente.

— Ahh ainda bem — ele falou, e suspirou. — Não é nenhuma emergência, eu só queria… conversar, eu acho.

— Tudo bem. — Eu sorri, perdendo o sono imediatamente. — Estou surpreso… tipo, por ouvir sua voz tão tarde da
noite. Não sei por quê… — Eu ri e Jungkook também.

— Eu acho que também estou… eu nem pensei direito antes de ligar. Eu já estava na cama, e do nada saí do quarto
para ligar pra você.

Pensei que ele deveria estar de pijama agora e isso me fez sorrir, porque é muito fofo.

— Por que ligou exatamente? — perguntei, tocando o fio do telefone com o dedo, um pouco ansioso.Será que é para
falar do nosso beijo?

Jungkook ficou em silêncio por bastante tempo… eu apenas sabia que ele ainda estava na linha por causa do som de
sua respiração que, céus… me deixava doidinho.

Queria que ele estivesse pertinho de mim agora.

— Não sei — ele respondeu, então, depois de tanto suspense. — Eu só… eu queria te perguntar um monte de coisas,
mas fiquei com vergonha. Uma parte de mim tinha certeza de que você não ia atender.

— Eu sempre vou atender seus telefonemas, Kookie...

Jeongguk suspirou melodioso.

— Puxa…

Eu suspirei, todo macio por dentro.

— Ah, Gguk… pode perguntar, é sério — eu falei, com um sorriso, porque sua voz fica adorável assim. — É meia
noite… e eu perdi o sono. Podemos ter uma longa conversa, porque aqui em casa já está todo mundo dormindo.

— Aqui também.

— Então. — Comecei a enrolar o fio do telefone com os dedos, ansioso e amoroso. — Se você ficar com vergonha
depois de falar, eu posso esquecer. Você pode perguntar qualquer coisa.

Jeongguk deve ter parado para pensar novamente.

— De verdade?

— De verdade — murmurei. — Vou pegar uma cadeira... espera um pouco?

— Ah, sim, claro...

Deixei o telefone virado para cima, sobre a mesinha. Fui até a cozinha e peguei uma das cadeiras, a levando até
aquela parede, me sentando depois que a ajustei naquele espaço.

Peguei o telefone de novo, o escutando.

— Oi — sussurrei.

— Oi — sussurrou também. — Jiminnie, eu… e-eu… — Ofegou um pouquinho. — Se eu te perguntar uma coisa
meio… idiota... você responde?

— Sim...

— Hum… — Ele parecia nervoso. — Você… você fica com outra pessoa do mesmo jeito que fica comigo?

Me confundi um pouco.

— Como assim?
— Sabe… ficando… do jeito que a gente fica — ele disse baixinho. — Abraçando, e beijando… — explicou, e me fez
suspirar por pensar em seu abraço e seu beijo agora.

Eu fiquei bem quietinho, pensando sobre isso. Pensando no que dizer.

— Hmmm — murmurei.

Jungkook, no entanto, ficou extremamente tímido:

— Puxa. Que idiota, foi uma pergunta idiota, desculpa… não tem nada a ver eu querer saber isso, é só da sua conta,
fui muito bobo em perguntar-

— Calma! — eu o interrompi, rindo. — Não foi idiota. Você só perguntou… e eu disse que você podia perguntar
qualquer coisa.

— A-ah, é…

— Mas… — Eu ri, me sentindo tímido. — Você quer saber se eu fico de chamego com outras pessoas?

— Tipo, é... mas não é nada demais, eu só fiquei pensando— ele disse, rápido e atrapalhado.

Eu ri um pouquinho. Ele não sabe mentir.

— Claro que não fico — eu disse. — Eu só fico assim com você. Só sinto vontade de ficar assim com você, na
verdade… você sabe que eu gosto muito de você...

Fui sincero. Minhas bochechas queimaram por isso.

— Jimin — ele chamou. — Eu… eu fico feliz porque só fico assim com você também, e eu…— Respirou bem fundo.
— É que eu não consigo parar de pensar em você…

Meu pescoço ficou arrepiado.

— Jeongguk... — Eu suspirei seu nome.

— Isso f-foi estranho? — perguntou ele.

— Não — eu respondi, imediatamente. — Não. Eu também não consigo parar de pensar em você, Jungkook...

Me arrepiei mais um pouco, sentindo uma intensidade inigualável nas batidas do meu coração. Eu sentia que algo ia
acontecer, porque estávamos dizendo coisas no telefone muito tarde, sozinhos, e… Jungkook parecia hesitante, mas muito
duvidoso.

Eu queria ouvir tudo que ele tinha para me dizer.

— É um pouco… assustador — ele disse. — Eu nunca senti isso antes… e agora eu vou pensar ainda mais, porque
você disse que só gosta de ficar assim comigo. Nossa, nossa...

— Eu apenas disse a verdade — eu falei, sorrindo. — Eu nunca senti vontade de fazer essas coisas, mas quando
você está perto de mim… quero te tocar. Sempre que a gente conversa, quero te tocar...

— Eu sempre fico esperando você me tocar… eu fico te olhando, esperando você perceber que eu quero…

— Ontem… — sussurrei, pensando. — Ontem quando você olhou pra mim daquele jeito, você estava esperando?

Jungkook pigarreou do outro lado. Eu podia imaginá-lo engolindo em seco.

— Sim… ah, puxa vida. — Suspirou, melodioso. — Eu não sei exatamente por que liguei, mas quando comecei a
pensar em você, não consegui dormir, e a ideia de não ser especial para você do jeito que você é especial para mim me
deixou triste. — Mordisquei meu lábio, ouvindo-o dizer tanto sobre si. —Eu fiquei com medo de estar sozinho nessa...
mesmo que eu sinta que não estou.

Eu mal podia acreditar que Jeongguk estava dizendo aquelas coisas para mim.

É claro que eu me sentia do mesmo jeito. Eu tinha sentimentos que não conhecia, que só conheci porque Jungkook
me mostrou eles. Ele era tão único para mim, não tinha ninguém como ele, ele era o meu amor…

— Jungkookie… — Suspirei um pouco, e acho que, se ele estivesse aqui agora, eu não hesitaria em beijá-lo na boca.
— Eu preciso te contar… que eu sinto muitas coisas e só sinto com você, é tão diferente… mas é tão bom — eu disse. — Eu
não fazia ideia de que essas coisas existiam antes de conhecer você, tem coisas que eu só sinto por você, e por causa de
você, e você significa tanto para mim que é assustador.

— Foi por isso que liguei, porque sinto t-também… — gaguejou. — Não sei como vou olhar para você depois de dizer
isso, mas... — Ele chegou mais perto do telefone, aumentando o som da sua respiração. —Eu gosto muito de você. Quando
você me beija eu… eu sinto tanta coisa diferente… — sussurrou.

Eu vou enlouquecer.
— Eu também, Ggukie. Eu gosto de você de um jeito que eu não gosto de mais ninguém. — Suspirei um pouco,
mordendo minha boca. — Algumas coisas que eu sinto são só suas porque só sinto por você, e com você…

— Às vezes eu penso que não gostaria que alguém que não fosse você segurasse minhas mãos…— ele disse, de
repente. — É como se elas fossem só minhas e só suas… eu quero que só você pegue elas. Eu quero que só você me
toque...

Ai meu deus.

Ai meu Deus…

Eu encostei a cabeça na parede, sentindo que iria desmanchar. Meu coração não estava pra brincadeira...

— Ai meu Deus, Jungkook, eu não vou conseguir dormir hoje… você vai me deixar maluco...

Jungkook deu uma risadinha trêmula, adorável… por que não podemos nos ver bem agora?

— Eu não sei se me sinto culpado por isso. — Riu baixinho.

Ora essa… queria ficar bravo, mas gosto dessa sua possível ousadia.

— Você me paga, Jungkookie… — eu disse.

Nós continuamos rindo um pouquinho, até ficarmos finalmente quietos.

— Jimin. — Eu amo quando você diz meu nome. — Eu acho que não vou ter coragem de dizer isso outra hora,
então… eu… e-eu não sei me expressar direito às vezes, mas eu… eu gosto muito de você, eu gosto do jeito que você
pensa, do jeito que você é, eu não me lembro de um dia não ter gostado de qualquer coisa sobre você. — Eu… vou morrer.
— Eu sei que é repentino, mas… mas depois de ontem, não consigo parar de pensar nisso. Eu só precisava dizer que gosto
de tudo sobre você.

Meu Deus...

— Jungkook — eu chamei, sem conseguir me controlar quando disse, firmemente: — Você vai se ver comigo. Você
vai ver só. Eu vou te beijar quantas vezes eu quiser quando te ver… e vou te sufocar no meu abraço. V-você vai ver só...

A minha garganta estava embolada. Jungkook deu uma risada quase alta, a abaixando logo depois, muito surpreso
pelo o que eu disse. Eu não podia acreditar que ele estava me dizendo aquelas coisas. Talvez ele ficasse mais falante e
ousado durante a madrugada, eu não fazia ideia, mas estava me deixando maluco. Doidinho. Doidinho mesmo, e eu fiquei
tão tímido…

— Isso não é exatamente ruim… — ele disse, então.

Nós rimos. Eu fiquei encostando meus pés um no outro, no chão, quando pensei em uma coisa.

— Jungkookie — eu chamei. — Eu também quero te perguntar uma coisa… eu posso?

— Claro que sim.

Eu senti meu coração bater mais fortinho. Será que eu deveria… eu deveria…?

— Hum… — Fechei meus olhos com força. — Ontem… a gente… — Mordi os lábios. — A gente quase se beijou na
boca ontem… — Eu tremi por falar em voz alta.

Jungkook ficou muito quieto do outro lado da linha. Ele devia estar muito perto do telefone, porque eu podia ouvir sua
respiração falhando e tremendo. Ele estava nervoso.

— E-eu sei… — ele sussurrou.

Apertei meus dedinhos.

— Se a gente se beijasse na boca… você acharia ruim? — eu perguntei. — Você acha que… queodiaria?

Eu encolhi minhas pernas sobre a cadeira. Fiquei escutando atentamente o que Jungkook tinha para dizer, mas não
esperava por aquilo. Pensei que ele não sabia… pensei que ele não fosse falar. Até pensei que ele fosse desligar, mas não
pensei que ele poderia ser tão direto, como se precisasse responder aquilo antes de se perder nas infinitas respostas que
existiam para a minha pergunta.

Ele disse:

— Não. — A voz dele ficou diferente. Fina. — Nunca. Jiminnie, não, nunca...

Eu... sorri.

Queria poder dizer mais um monte de coisas, mas não consegui, e não acho que conseguiria tão facilmente depois de
sentir tanto. Tanto, tanto...

Eu suspirei. Apertei o telefone, e respondi:


— Eu também não, Ggukie… — Suspirei. — Eu também não.

Notas finais
Eu só vou dizer uma coisa....

IRRAAAAAAA!

Espero que tenham gostado dos capítulos de hoje, tchauuuuu~

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Até maiss~

22. Jimin é Como Rheya

Notas do Autor
Oioi meus cheirinhos <3333

Como vocês estão? Entraram de férias? Já voltaram as aulas? Estão curtindo bastante? Eu espero que sim... hihi

Bem, eu tenho uma novidade sobre EECR e vou deixar ela lá nas notas finais~ muito obrigada pelos dois mil favoritos!!!
Vocês são demais, sofroh

Boa leitura

JUNGKOOK

“Você é o garoto mais lindo que eu já vi, eu não faço ideia de como você conseguiu vir tão lindo pro mesmo mundo
que eu.”

Pisquei meus olhos lentamente.

“A gente quase se beijou na boca ontem…”

Soltei o ar pelos lábios. Quase não abri os olhos dessa vez. Até meu hálito ficou quente. Meu rosto está…dormente.

“Eu gosto de você de um jeito que eu não gosto de mais ninguém.”

— Ahhhhh…. — Tampei meus olhos, pulsando de timidez. — Para, para…

“Quando você olhou pra mim daquele jeito, você estava esperando?”

Puxa… ai meu Deus.

— Calma… — Tentei respirar fundo, colocando a mão sobre meu coração. — Eu acho que vou morrer.

Lippy, do outro lado do quarto, olhou para mim, atento à palavra “morrer”.

“Eu também não consigo parar de pensar em você, Jungkook…”

Qual é… qual é?! Não pode ser. Por quê? Por quê?!

Eu me levantei da minha cama, ofegante e muito pensativo. Ficar doido e ser atacado por essas informações virou
rotina depois daquela ligação. Sempre que olho para algum lugar, minha mente começa a me sabotar com um: “A gente
quase beijou na boca ontem”.
— Ai ai ai ai ai— eu endoidei, mordendo meus dedos. — Lippy! Nós… somos meninos — eu sussurrei, ficando
maluco.

Lippy nem ligou. Deve ser porque eu também não ligo.

— Ai ai ai, Lippy… — eu choraminguei, nervoso.

Eu acho que não seria exagero dizer que eu estou enlouquecendo por causa dessas coisas.

Puxa. Seria pouco. Na verdade, eu não sei… qual é o mais intenso? Enlouquecer ou surtar? Porque se for surtar,
então estou surtando. Sério! Puxa, nossa, caramba, puxa...

Deve até parecer que é algo recente para eu estar assim. Parece que essas coisas aconteceram agora, e que estou
processando as informações depois de uma hora, mas… não é isso! É bem mais doido, porque eu estou assim por causa
daquele dia e daquelas confissões depois de uma semana.

Uma semana!

Faz uma semana que eu falei pro Jimin que não seria ruim beijá-lo na boca!

Puxa... faz uma semana que eu percebi que todas as músicas que me faziam pensar nele, falam de sentimentos
intensos e amorosos. Faz uma semana, também, que eu percebi que todos os compositores das músicas que escuto sabem
exatamente como eu estou me sentindo sobre ele. Ele. Ele. Ele.

E também, faz uma semana desde que eu fiquei em transe, muito doido, super lelé… porque quando terminamos
aquela ligação, eu fui dormir, simplesmente. Eu dormi… puxa, eu caí no sono e só percebi que tudo estava diferente
quando acordei.

Ou seja: enlouqueci.

Sério, como eu pude dormir? Eu deveria estar meio que dormindo antes de ligar… porque, sério? Como eu poderia
dormir depois de dizer todas aquelas palavras? E admitir tantas coisas? E ouvir ele admitir também?! Puxa, eu enlouqueci
pra valer...

Fiquei tão grilado com isso que até perguntei pra minha mãe se tenho costume de ficar doido quando estou com
sono, mas ela disse que não. Sério?! Se eu não fiquei doido, como foi que eu consegui dizer todas aquelas coisas? Puxa, eu
não esperava por algo assim de mim mesmo...

O que será que o Jimin pensou?

Ele deve ter pensado algo como “Jungkook ficou maluco”, mas depois… ele disse… que não acharia ruim. Então ele
me acha maluco, mas mesmo assim ele me beijaria?

Espera.

Ele me beijaria.

Eu esqueci desse fato por um segundo e meio e agora é como se eu estivesse sabendo pela primeira vez.

Ah.

Ah!

Me joguei no carpete, ficando completamente imóvel. Como um cadáver.

— Ai meu Deus, Lippy… — eu reclamei de novo. — Isso não deve ser normal, Lippy...

Olhei para o teto, derretendo nas bochechas. E depois comecei a esfregar o meu rosto, com as mãos, mas à esse
ponto até a palma das minhas mãos está quente.

Eu tô… eu não sei! Eu tô cheio dessas coisas! Eu vou explodir!

Puxa… como eu vou falar com o Jimin depois disso tudo? Puxa...

Deitei de bruços. Fui me arrastando até minha cama, entrando debaixo dela. E fiquei lá por um bom tempo, crispando
os lábios e tentando pensar em alguma coisa que me deixe menos nervoso, mas não adiantou nem um pouco porque eu só
consigo pensar no Jimin… puxa.

Jimin me beijando.

Na boca.

— E-eu tô frito… — murmurei, sozinho, tão perdido. Simplesmente fadado a explodir!

Puxa… olha. Hoje é domingo. Amanhã, as aulas voltam. Eu voltei de viagem ontem de manhã e meu melhor amigo
veio passar o dia comigo.

Pois é, o Seokjin está lá embaixo. Meus pais saíram por algum motivo que eu já não me lembro, então Jin está na
varanda, muito provavelmente beijando a Hyuna. Eu subi quando ambos me deram o sinal para deixá-los sozinhos e agora
estou no meu quarto, sem coragem para descer porque meu coração apertou quando vi meu melhor amigo flertando com a
minha vizinha.

Apertou porque eu senti saudades. Eu senti saudades do Jimin…

É um pouco insano viver sabendo que eu gosto dele assim. Foi tudo tão óbvio, mas eu nem me dei conta. Jimin não é
um tipo diferente de amigo... eu sou um burro por não me tocar antes...

Digo… quem é que se deita em uma cama espaçosa e pensa “Nossa, queria que meu amigo se deitasse e fizesse
carinho em mim aqui”? Exatamente: ninguém! E eu pensava assim antes da ligação! Pensava que o Jimin era só um
amigo… um amigo diferente.

Mas é claro que ele é mais do que isso.

Então… eu estou em pânico. Porque gostar dele não é simplesmente gostar. É uma série de questionamentos,
porque eu não sou uma garota, e o Jimin também não é uma. O que significa que nada disso é supostamente normal. Puxa...

É a coisa mais diferente que já aconteceu comigo. Eu deixei tantas coisas pra lá dentro de mim, logo outras surgiram,
e eu nem percebi que algo grande estava acontecendo. Eu estava… sem perceber… me apaixonando. Por um menino.

Eu abri os meus olhos novamente.

Puxa. Eu simplesmente odeio pensar demais.

Quer dizer… não gosto de pensar nisso em uma visão tão ampla. Puxa… eu odeio ser assim, odeio que aquela parte
dentro de mim esteja ganhando tanta vida agora...

Aquela parte que tomava forma quando eu via as bochechas do Jimin ficando rosas e sentia as minhas da mesma
maneira. Eu pensava, brevemente, que era estranho. Então eu ignorava e dizia para mim mesmo que não me importava se
era estranho ou não.

Só que, agora, eu não consigo parar de pensar nesse “estranho”, porque está tudo tão, tãocerto. Eu ainda me sinto
daquele jeito também, não quero pensar que é estranho sentir algo tão bom. Sentir paixão sem perceber, ignorando esse
“estranho” para somente sentir foi tão bom. Por que não pode continuar assim?

Eu pensei tanto nisso depois de fantasiar Jimin me beijando na boca, logo depois da ligação. Eu percebi como
poderia ser diferente… pensei, principalmente, em como ninguém nunca me falou sobre isso. Eu nunca ouvi, com todas as
palavras, que a possibilidade de ser um garoto e não gostar de uma garota existia. Talvez seja por isso que eu não percebi o
que eu estava sentindo… as chances não existiam porque eu nunca tinha ouvido falar em algo assim. Em amor entre dois
garotos.

Não amor proibido, ou amor doentio… só amor.

Espera. Então isso é amor? Que loucura...

Mas, pois é. Como eu deveria saber? Puxa...

Nada disso importa porque, no fim, continua sendo doloroso pensar no “estranho”. Esse “estranho” que deixa claro
que se um dia as pessoas me verem beijando o Jimin, vão dizer que é nojento. Que é coisa suja… ah, é. Disso eu sei. Sobre
isso eu ouvi.

Apesar dos meus pais quase nunca falarem sobre isso, tem uma coisa que sempre ficou na minha cabeça. Antes
mesmo d’eu conhecer o Jimin, aconteceu uma coisa aqui em casa...

Eu tinha onze. Estava passando uma matéria sobre o Freddie Mercury na televisão e eles disseram a palavra
homossexual várias vezes. Então, o meu pai disse “credo”.

Por algum motivo, isso nunca saiu da minha cabeça. Talvez por eu ter ficado curioso, ou por não compreender,
mas aconteceu. Ficou.

Eu não sabia o que era homossexual ainda. Eu só fiquei sabendo porque a Hyuna me contou. Todas as revistas
estavam falando disso, da entrevista que o vocalista do Queen deu deixando a entender que é homossexual. Tudo
estampava a palavra “homossexual”. Era algo que as pessoas falavam, que julgavam. Era polêmico. Não era como admitir
que está com uma nova namorada. Era admitir que é homossexual.

E apesar de eu nunca ter achado isso interessante, acabei procurando na minha pilha de revistas a entrevista e a
parte em que falaram do Freddie. E o que as pessoas achavam dele e dessa coisa homossexual.

Só… só tinha coisas ruins.

Homossexual parece ser algo tão… tão sujo. Todos eles dizem na revista que é algo carnal e do demônio. E que
quem é homossexual vai pro inferno, e que não vai ser diferente com o Freddie. Disseram que ele só ficou assim por causa
da fama. Até disseram que ele estava doente e possuído…

De alguma forma, isso é pesado. Puxa, ninguém disse que é amor… mas eu já ouvi tantas músicas sobre o amor. E o
que sinto parece isso. Parece amor. Quer dizer que não é homossexual quando é amor? Só é homossexual quando é carnal?
Então, como se chama quando é amor? Puxa vida... ninguém falou disso, parece até que não existe. Pelo menos não
para as outras pessoas, pois ninguém acha normal...

— E de alguma forma… — Suspirei. — Nada disso entra na minha cabeça.

Porque Jimin cheira tão bem.

É muito ruim perder a cabeça assim por alguém. Digo… como eu vou saber que é amor se nenhuma daquelas
pessoas disse que o vocalista do Queen sente amor?

Puxa. Como eu sei que estou errado? Eu não sinto que devo parar. Não se parece comigo, e é bobagem pensar
assim. Eu não me identifico com o que falam sobre o vocalista do Queen, mas é o máximo de informação que eu tive sobre
beijar um menino sendo um menino. Eu não me identifico com absolutamente nada sobre aqueles comentários carnais,
porque nada parece tão imenso quanto sentir tanta coisa por Jimin.

No entanto, do mesmo jeito que eu não me identifico com isso, eu também não me identifico com várias coisas sobre
mim. São definições. Mesmo que eu não goste delas, eu ainda sou assim, puxa...

As pessoas me condenam, de um jeito ou de outro, por ser CDF, magricela, quieto e excluído… mas eu continuo
sendo tudo isso. Eu simplesmente sou assim. Não que eu ache que eu sou… homossexual. Até porque eu nem sei de
verdade o que é ser um homossexual. É, tipo, gostar de todos os homens? Ser viciado em homens? Ou é… ser apaixonado
por vários homens?

Eu... não estou apaixonado por vários homens. E eu definitivamente nunca gostei de um homem. Eu só quero beijar o
Jimin. Eu só quis beijar ele a minha vida inteira. Então eu posso ser um pouquinho homossexual, já que ele é homem… puxa,
que complicado.

— Lippy — eu chamei. — Você acha que eu sou um homossexual?

Lippy não respondeu, mas se mexeu, sobre a cama.

— Se eu for… é pior do que ser magricela e CDF, não é? — eu perguntei, sentindo medo.

Lippy, que estava sobre a cama, pulou até o chão. Ele veio choramingando, pedindo por carinho e eu o abracei, ainda
sob a cama.

Caramba. Essa questão parece ser tão imensa. Mas eu nem estou pensando direito… eu não quero pensar, mas na
maioria das vezes, acabo pensando. Por favor, eu não quero pensar nisso… porque não quero sentir que isso tudo é
estranho. Porque é tão, tão bom…

Jimin é tão bom… puxa...

Escondi o rosto no pelo do meu cachorro. Eu ainda me sinto tão mal sobre isso...

Será que, de alguma forma, eu sou uma exceção? De alguma forma eu sinto amor, embora ninguém ache isso?

Será que meu pai diria credo para mim? Com certeza não, certo? Ele entenderia que não é carnal ou... por fama. Ele
entenderia que é tudo como no pop dos Beatles. Ele me entenderia, com certeza...

Mas... e se ninguém mais entender?

Fechei os olhos. Ouvi os passos pesados, os resmungos, e então a porta do meu quarto foi aberta.

— Jungkook, ya! — gritou ele. — Ela me deu um pé na bunda! Eu sou tão lindo, mas ninguém quer namorar comigo...
fala sério! Aff... ela disse que eu beijo bem, mas não tem tempo para romances. Ya. Doeu! Meus lábios foram usados…

Seokjin parou de falar.

— Espera. Jeongguk?

Eu pensei brevemente se deveria dar sinal de vida ou não.Afinal, eu ainda estou embaixo da cama.

Em um segundo, os pés do Seokjin foram substituídos por seus joelhos, no carpete. E eu tomei um susto por ele me
achar tão rápido, abaixando o rosto e me vendo numa situação comprometedora: escondido debaixo da cama.

Apertei meus olhos, suspirando quente.

— Bem que eu achei esquisito o rabo do Lippy estar balançando logo embaixo da cama... — comentou ele, franzino.
— Tá bravo comigo porque te deixei de lado pra ficar com ela?

— Não… — falei, mas foi tão baixinho que ele não escutou e continuou falando:

— Foi rapidinho! E você disse que tudo bem, olha lá, olha só… — ele resmungou.

Eu neguei com a cabeça, como se dissesse que está tudo bem. De alguma forma, eu ainda estou todo tenso…

Puxa. Eu queria tanto saber o que meu melhor amigo achava de homossexual...
Será que ele também vai entender?

Sem coragem, então, eu só disse:

— Sinto muito que ela tenha usado seus lábios — sussurrei, me escondendo mais no Lippy.

Ele fez uma meia careta.

— Obrigado. Mas o que tá rolando? — Neguei com a cabeça. — E nem vem dizer que não é nada. Você tá mais
esquisito que o normal hoje. Aconteceu alguma coisa na casa dos seus avós?

— Eu não sou esquisito! — Protestei.

— Ah, você é sim! Fica olhando pro nada e… — Arregalou os olhos e fez uma curva com os lábios, aparentemente
me imitando. — Parece até que seu cérebro congelou.

Eu juntei as sobrancelhas. Talvez eu seja mesmo esquisito, mas… puxa.

— Meu cérebro não congelou… — eu disse, e meu coração está acelerando de novo. —Derreteu.

Seokjin balançou a cabeça.

— Derreteu, é? — Eu assenti, observando-o chegar mais perto. — Sai daí. Quero saber o que aconteceu.

— Não… — resmunguei, me virando de costas para ele, arrastando Lippy comigo.

Seokjin, esperto como é, não deixou barato. Ele começou a assobiar e chamar meu cachorro continuamente, e é
óbvio que o Lippy se rendeu e começou a se remexer todo. Até friamente sair do meu enlaço para ir até o Jin, me deixando
sozinho embaixo da cama. Argh.

Traidor…

Depois disso, Seokjin me puxou pela gola da camiseta, até eu desistir e sair da minha toca. Eu me arrastei pelo
carpete, rolando, e depois fiquei deitado no chão, agora sem ser debaixo da cama.

Olhei para o teto momentaneamente, mas logo o rosto do Seokjin ocupou a minha visão, carregando um semblante
extremamente curioso.

Encarei ele por alguns segundos. Homossexual. Bom, se eu for, é muito esquisito, porque Seokjin é realmente bonito,
mas beijá-lo não me parece nada bom... na verdade, se ele tentasse, eu ia ficar muito bravo. Não que eu ache que ele vai
tentar, mas agora sempre penso em meninos e meninas me beijando, e nada parece bom, só o Jimin parece bom.

Sem perceber meus pensamentos (graças à Deus) Seokjin fez uma pergunta definitivamente constrangedora:

— Sua tia te viu pelado de novo?

— Quê? Não! Credo! — Eu me ergui, sentando no chão rapidamente. — Foi só uma vez, que horror! Nem brinca com
isso… — eu resmunguei, mexendo a cabeça para me livrar do constrangimento e da lembrança.

— Ora essa… o que você quer que eu pense? Você tá super maluco — ele disse, cruzando seus braços. Eu baguncei
meus cabelos. — Alguma coisa aconteceu que eu sei.

Dei um longo suspiro. Seokjin continuou me encarando e, para falar a verdade, eu queria muito conversar com ele
sobre isso. Mas eu tinha medo porque nunca falamos disso. Já falamos de várias coisas, mas não sei se quero compartilhar
algo como isso, algo do tipo homossexual. Sei lá.

Eu continuei pensando por um tempo, inspirando e expirando. Até desviei os olhos por alguns segundos, procurando
dentro da minha cabeça uma saída para essa conversa… apesar de eu querer conversar sobre isso, eu sinto que não devo.
Que não posso.

Hum....

Puxa vida. Talvez se eu distorcer um pouco dê para conversar…?

— Jin — murmurei, pensativo. — E se eu te disser que aconteceu uma coisa comigo que parece não ter acontecido
com mais ninguém?

Jin se sentou sobre o carpete. Eu virei a cabeça para ele.

— Tipo o quê?

— Tipo… uma coisa que aconteceu comigo. Mas que ninguém me disse que podia acontecer — eu expliquei,
ofegante. — Uma coisa que eu nem sabia que existia.

— Hum… — ele murmurou. — Sei lá… não tô pegando a sua linha de raciocínio.

— Puxa… — Suspirei alto, coçando minha nuca. — É que eu tô sentindo uma coisa e não conheço ninguém que
tenha sentido isso para conversar e tentar entender o que tá acontecendo. Então não sei o que fazer.
— Hmmm… uma coisa muito específica mesmo?

— Eu acho que sim… pelo menos é o que parece — eu disse, meio perdido. — É tipo… espera, eu vou criar uma
situação — eu falei, me ajeitando, e ele até se interessou mais pelas minhas falas. — Assim. Eu gosto de… laranjas.

— Você odeia laranjas.

Repensei.

— Ok… então, eu gosto de tangerinas — eu disse, gesticulando com as mãos. — Todo mundo acha que pessoas que
gostam de tangerinas são idiotas e que elas vão ter dor de barriga.

— Ninguém acha isso — ele falou, rindo brevemente.

— Ei! Eu estou criando uma situação, lembra? — resmunguei, percebendo que ele estava me caçoando. — Ah, deixa!

— Não! Espera, eu só tô brincando. Continua, vai, continua… — ele suplicou, se aproximando e me dando uns tapas.

Eu demorei um pouco para me recompor. Fiquei com um bico enorme, emburrado até demais. Puxa, acho que estou
sensível…

Respirei fundo.

— Tá… olha… e se for comum as pessoas gostarem de tangerina porque a cor dela é laranja? — eu indaguei. — Mas
aí, tem eu. E se eu gostar da tangerina porque é doce?

Seokjin me encarou.

— Cara, não tô entendendo nada. — Ele se ajeitou no chão, parecendo confuso.

— Eu… — murmurei, bagunçando meus cabelos. — Ok… esquece a tangerina. Tenta imaginar isso. — Eu fiquei em
pé. — Imagine que eu sinto que sou legal, mas ninguém acredita nisso. Imagine que todos que dizem que são legais, como
eu, são… de alguma forma… banalizados, pelos outros. — Eu suspirei.

— Hummm — ele murmurou, parecendo entender.

— Tipo… — Eu continuei. — Como eu posso saber que eu não sou banal? Qual é a prova que eu tenho de que as
pessoas não estão certas sobre mim se todos dizem que, por eu me sentir legal, eu sou banal?Como eu sei que não sou
banal?

Eu olhei para ele. Seokjin estava me olhando nos olhos, pensativo, mas não parecia levar a questão de uma forma tão
pesada quanto eu.

Ele finalmente entendeu?

— É sério que é isso que tá te deixando doido?

Ele perguntou. Eu assenti.

— Sim, é sim.

— Putz, você jura?

— Juro! Puxa, Seokjin… — Me sentei na cama, cruzando os braços. — Isso é sério, tá bom?

Eu suspirei. Meu melhor amigo me observou por um tempo e, por fim, sentou-se ao meu lado na cama.

— Bom… — murmurou. — Você não acha que a maior prova que você tem é justamente o jeito que você sente que é
legal? — ele indagou. — Quer dizer… é tipo falarem que sua roupa preferida é ridícula, né? Não importa! O que importa, de
verdade, é se sentir bonito usando suas roupas favoritas.

Eu o ouvi atentamente, pensativo. Puxa... é realmente tão simples assim?

— Então a prova de que o que eu sinto é verdade… — recapitulei, lentamente, tocando meu peito. — É como eu me
sinto sobre mim? E não como as outras pessoas se sentem sobre mim e sobre o que eu estou sentindo?

Seokjin deu uma risada, parecendo meio ofendido até.

— É sério que você tá me perguntando algo tão bobo? — questionou-me, risonho. — É exatamente isso! Credo, você
vai parar de ler gibi porque algumas velhinhas dizem que é coisa do demônio? Não! Você gosta de gibi e não sente o
demônio lendo, ué. — Ele me deu um tapa na cabeça, espontâneo, me acordando para a realidade. Me acordando para a
verdade. — Doido…

Eu fiquei um pouco pensativo, olhando para as minhas próprias mãos. Eu riria, mas… estava meio embasbacado.

Porque, puxa vida… eu não tinha pensado por esse lado. Na verdade, eu não tinha pensado por lado nenhum, porque
estava me sentindo estranho… ao mesmo tempo, me sentia amuado, porque odiava me sentir estranho. Eu queria parar de
sentir.
E de certa forma, com as palavras do Seokjin, eu parei.

Parei de sentir o “estranho”.

— Você acha isso mesmo? — perguntei, depois de um longo tempo em silêncio, olhando para ele.

Jin me deu um outro tapa, agora nos ombros.

— Óbvio!

Pensei. Por que sinto que vou chorar um pouco?

— Puxa… — eu sussurrei, escondendo meu rosto porque estou ainda mais vermelho. — Hum… tudo bem. Acho que
acho isso também.

Senti ele se mover na cama. Pensei que ele fosse me dar mais um tapa, mas Jin acabou só encostando no meu
ombro, um pouco carinhoso até… e isso definitivamente quase nunca acontece.

— Você não quer falar de verdade, né? — indagou.

Balancei a cabeça, negando, porque eu com certeza não quero falar a verdade.Já estou todo sensível assim, imagina
falando a verdade?

Ele tirou a mão do meu ombro depois disso, então concluí que estava chateado… puxa.

— Foi mal… não é você, sou eu — eu disse, olhando para ele, um pouco amuado.

Isto é: até eu perceber o que eu disse e como eu disse.

“Não é você, sou eu.”

Bastaram alguns segundos em silêncio, mantendo contato visual, para cairmos completamente na gargalhada.

— Ok, chega por hoje! — Ele se levantou, mexendo os braços. — Vai, só te perdoo se você fizer uns cookies.

— Agora?!

— Óbvio!

Me levantei, dando um suspiro derrotado, embora estivesse me sentindo muito bem agora.

— Tá legal… — murmurei, com um biquinho, perdendo a vontade de chorar. Por ora.

Então, eu e meu melhor amigo saímos do quarto, agindo como se nenhuma conversa sentimental tivesse acontecido.

Quando chegamos no andar de baixo, Seokjin ficou no sofá vendo televisão abraçado com o Lippy e eu fiquei fazendo
a massa dos biscoitos, pensando em suas palavras e em como eu me sentia.

Puxa... É fácil pensar assim, mas como será colocar em prática?

Nesse meu pensamento, enquanto eu estava colocando os biscoitos na forma, minha mãe e meu pai chegaram,
falando até demais e extremamente animados. Tinha a ver com o trabalho do papai, ou algo assim, mas eu só fui prestar
atenção neles quando eles vieram até mim perguntar o que eu estava fazendo.

Depois disso, Seokjin veio para a cozinha e conversou brevemente comigo e com meus pais. Minha mãe disse que
podíamos subir que ela vigiava os cookies, então fomos passar o tempo no meu quarto.

Pensei que íamos jogar alguma coisa ou até mesmo sair, mas Seokjin começou o papo sobre meninas e não parou
mais. Puxa, ele listou todas as garotas que partiram seu coração — Deus, são muitas — até hoje, reclamando e se
lamentando e… fala sério! Que chatice.

Parecia um pouco engraçado, até.... e eu até que prestei atenção no começo, mas depois, acabei me lembrando de
uma coisa. Uma coisa que me fez parar de prestar atenção nele e… puxa, viajar completamente.

Eu me lembrei dela.

Quando o Seokjin disse que sempre se rende à elas, tudo veio à tona.

Ele se rende às meninas. Mas não passa disso.

Por incrível que pareça, apenas essa palavra levou minha mente para um lugar muito importante… uma lembrança
tão antiga que me faz perceber o que sinto por Jimin perfeitamente.

Seokjin se rende.

Render.

Arregalei os olhos, e minha mente se iluminou ainda mais.


Espera aí…

O Jimin é como…

— Meninos! — Eu me remexi levemente. — Ficou pronto!

Eu senti minhas mãos gelarem de nervosismo. Assim que ouviu minha mãe, Seokjin se levantou, animado e
provavelmente faminto. Ele até olhou para mim, como se esperasse eu fazer o mesmo, mas… puxa, eu fiquei tão
entorpecido por ter me lembrado dela que não me mexi por um tempo.

Seokjin parou de se mexer também e me olhou ainda mais intensamente.

— O… o quê? — perguntei, me sentindo perdido por vê-lo me encarar com tanta confusão no olhar.

Jin balançou a cabeça, como se estivesse cansado da minha loucura.Puxa.

— Os biscoitos, Jungkook! — Ele me deu um tapinha na cabeça. — Sério, o que tá acontecendo com você?

Eu o fitei. E me senti completamente perdido, mas quente, quando percebi que, agora, sei o que está acontecendo
comigo.

É isso. É...

Rheya.

Rheya está acontecendo comigo.

Fiquei em pé, pisando lentamente no chão. Minhas orelhas estão pegando fogo.

— Não é nada… puxa — eu menti, com os lábios tremelicando de ansiedade. — V-vamos…

— Você tá bem?

— Eu… sim, eu tô, puxa — murmurei, completamente tímido. Até parece que ele vai perceber o que está acontecendo
só por me olhar. — Vamos comer cookies…

Seokjin ainda ficou um tempo me encarando, desconfiado. Mas no fim, ele desistiu… e só me acompanhou até o
andar de baixo. Ainda bem porque, por agora, eu só consigo pensar nele e nela.

Em Jimin e em Rheya.

***

Por volta de oito e meia, a mãe do Seokjin veio buscá-lo.

Depois que ele foi embora, eu voltei pro meu quarto na velocidade da luz… eu estava extremamente pensativo
porque, querendo ou não, eu precisava esclarecer as coisas dentro da minha mente! Eu não esperei nem um segundo para
fechar a porta e ir em busca dos papéis, no fundo do armário, mexendo em todos eles até achar ela.

Em um envelope separado, no papel desgastado, estava ela. Com cinco folhas diferentes, grampeadas, mais a capa
por cima.

Rheya.

Eu abri a pasta, e peguei o papel. Meus dedos tremelicaram, porque apesar de ser minha favorita, fazia muito tempo
desde que eu não a segurava.

Rheya. Eu a escrevi com onze anos. Eu estava vendo meus pais se abraçando, lendo revistas que falavam sobre as
atuais músicas de amor, e tive a ideia para fazer ela. Ela foi a última e a minha favorita.

Quando eu era mais novo, eu fazia teoremas baseados em atitudes e sentimentos humanos.

Eu fiz sobre a tristeza e a inveja, porque… bem, eu vivia com sentimentos assim, então escrevia muito, tentando
entender e teorizar sobre isso. Porque, puxa… eu queria muito saber como evitar sentimentos negativos, então tentava
entendê-los. No entanto, com o tempo, percebi que é impossível, mas fazer os teoremas me ajudaram muito.

O da tristeza se chamava Mait. O que significava, com as respectivas letras…

M. mágoa e medo;

A. ansiedade e amargura;

I. insegurança e isolação;

T. terror e tristeza.
Um teorema sobre a tristeza e os sentimentos que mais prevaleciam quando ela me dominava.

Bom, é… parece bem doido. Na verdade, é bem doido, mas… eu reunia tudo que eu mais sentia e colocava em
fileiras. Combinava elas, e então, formava uma palavra. E esse era o nome dos meus teoremas, por mais sem nexo que
pareça ser. Fazia sentido para mim. E isso era tudo que me importava.

Quando eu fiz o da raiva, ele só tinha duas letras. Me lembro de escrever sobre ele o tempo todo, porque sentia muita
raiva, assim como muita tristeza. Eu comecei a fazê-los depois de ouvir coisas que eu não estava preparado para ouvir e
saber de coisas que fui obrigado a saber. Coisas que minha irmã me contou para me deixar magoado, e… conseguiu. Então
eu só me sentia assim. Com raiva e tristeza.

Naqueles dias, minha mãe acabou achando o que eu escrevi e ficou muito preocupada comigo e com meus
sentimentos negativos… ela se sentou comigo, perguntou o porquê eu me sentia assim, eu contei algumas coisas, ocultei
outras, e acabei chorando… como sempre…

Então ela disse que era inteligente e muito legal, mas pediu-me para fazer uma teoria sobre um sentimento bom e
atitudes boas. Foi quando pensei em amor. E perguntei a ela que tipo de amor eu deveria retratar no meu novo teorema…

Antes que ela respondesse, a minha resposta veio diante de uma atitude. Que foi quando meu pai chegou do
trabalho. Ele subiu as escadas com um buquê de rosas e disse que lembrou da minha mãe quando as viu. E eu fiquei um
pouco curioso, até mesmo sentimental, quando percebi como minha mãe ficava tímida com o homem que era casada há
anos… e então, eu viajei ainda mais. E decidi que queria escrever sobre amor romântico.

Eu nunca tinha sentido nada do tipo e não sabia por onde começar, então reli as pequenas partes dos gibis que
mostravam os heróis e suas namoradas. Foi quando vi como eles se sacrificavam por elas, se rendiam, então fiz minha
primeira palavra. Redenção.

Em uma música melancólica dos anos 60, ouvi o cantor sussurrar como tinha receio de se apaixonar, porque era tão
louco e tão intenso que o assustava. Receio.

Em seguida, eu ouvi minha mãe contar, pela milésima vez, como meu pai e ela se conheceram e como o amor
aconteceu de repente. Repentino.

Eu tinha minha primeira fase, minha primeira letra sobre o teorema sobre o amor. R. Redenção. Receio. Repentino.

Eu tinha o meu primeiro parágrafo sobre a teoria do amor.

Puxa... me lembrar disso me deixa tão nostálgico e arrepiado. Eu me sentei na cadeira da escrivaninha. Encarei o
papel em minhas mãos… eles estavam grampeados, com minha letra de anos atrás, que mal mudou. Meus teoremas
estavam guardados ali…

E foi quando eu percebi que já tinha passado pela primeira frase.E talvez, até mesmo por todas as fases sobre o
amor. Sobre Rheya.

Com Jimin… só com ele.

Foi por isso que me lembrei de Rheya hoje. Quando Jin falou sobre se render tantas vezes, eu senti no meu peito,
senti que também tinha me rendido por alguém. Foi por isso que pensei em amor.

Mas eu nunca tinha parado para pensar que… eu me rendi. Eu me rendi tanto sem perceber, quer dizer… Jimin ao
menos tentou. Eu sempre tive medo de matar aulas, sempre frequentava todas elas porque temia que os professores
passassem algo super importante do nada. Então, Jimin aparece e eu simplesmente me rendo… e mato mais aulas em um
ano do que na minha vida inteira.

Eu não matei apenas umas aulas. Eu matei a escola! Deixei de ir para ir pro centro da cidade, que fica a uma hora
daqui, e… ele nem pediu! Ou insistiu! Eu só quis. Porque era com ele… e eu sempre sinto vontade de fazer essas coisas
com ele, sempre quero me arriscar, me aventurar. E ele sempre diz coisas tão perfeitas… e falas tão engraçadas. Ele usa
expressões tão singelas. Tão… tão ele, tão só ele, só Jimin…

Ele é único.

Quando o Seokjin falou sobre redenção, eu pensei na minha favorita. Na minha melhor teoria, que tinha cinco letras,
cinco fases… cinco coisas.

Puxa. Eu ainda me lembro de cada parte. Eu me afundei tanto no começo quando encontrei o Jimin… pela primeira
letra, pela primeira, a fase do receio, da redenção e do repentino.

Eu senti tanto receio no começo. Me lembro de vê-lo subir no ônibus e, apesar de me sentir impressionado, não senti
nada intenso. E quando ele sumiu, eu esqueci. Mas ele voltou, e nós tivemos que andar pela escola sozinhos… e ele falava
coisas tão incomuns. Tão só suas… e tinha um jeito receptivo diferente. Jimin queria me conhecer. Ele não se importava com
o fato de eu escutar sua conversa sobre música com outra pessoa, ele apenas me convidava para participar! Ele sempre me
incluía. Ele era tão bom que eu ficava receoso. Tinha receio porque era estranho alguém ser tão ele, tão diferente, e tão
especial…

Foi tão de repente. Eu não vi acontecendo, não vi quando quis dedurar um valentão que eu sempre temi, oKim.
Aquele cara me perseguiu por anos, desde que eu era mais novo. Ele sempre me empurrava, me estapeava, me chamava
de nerd sem noção e eu sempre pensei que nunca o deduraria, sempre escondi porque, puxa, eu podia conviver com aquilo.
Eu não precisava fazer nada sobre, ou pioraria, eu sabia disso.

Mas então, do nada… eu me perdi. Eu me rendi. Eu saí correndo quando vi o Kim machucar o Jimin no meio do
refeitório. Eu fui tão covarde por mim, mas não queria que nada acontecesse ao Jimin, eu quis ir até o diretor e falar tudo que
o Kim faz e já fez naquela escola, porque não queria que ele perturbasse o Jimin nunca mais.

Eu nunca vou me esquecer do que senti quando vi o sorriso do Jimin sumir quando o Kim chegou no refeitório. Nunca
vou me esquecer do olhar dele, e da expressão que ele fez quando aquele troglodita o machucou.

Foi repentino como me rendi. Eu tive receio, mas ainda sim, me rendi, porque estava sentindo tantas coisas. Eu senti
que precisava conhecer Jimin, porque ele mudou toda a rota do meu ano. Ele mudou o ano letivo monótono que eu pensei
que teria, eu estava enganado. Porque não sabia que Jimin era como Rheya.

Logo eu fui para a fase dois. H. Só duas palavras: histérico e… hiperventilação.

Foram as palavras mais esquisitas e eu nunca pensei que pudesse fazer tanto sentido. Mas aconteceu, e agora eu
sei, eu fiquei histérico. E eu hiperventilei.

Quando começamos a nos aproximar, eu percebi que estava tão… tão agarrado, tão feliz com o que estava
acontecendo. E quando senti, sem ao menos perceber, o quão especial era, eu me perdi no jeito do Jimin. Eu me perdi nas
perguntas confusas que ele me fazia, na forma que ele me olhava e em como ele colocava a mão dele em cima da minha tão
de repente. Quando sentia até mesmo seu pé acarinhando meu calcanhar, ou suas mãos se enterrando no meu cabelo, a
boca dele me tocando... eu ficava histérico. Eu ficava cheio disso. Tão agitado por dentro que poderia simplesmente explodir.
Puxa. Puxa. Eu fiquei histérico sem perceber...

Puxa, e quando Jimin olhava nos meus olhos e murmurava umhmmm pensativo, esperando algo de mim, eu
começava a suar na nuca de puro nervosismo. Eu queria impressioná-lo. Quando eu tocava ele depois de um longo tempo
de questionamentos mentais sobre atitudes apropriadas e confusão, eu ficava tão quente de vergonha. Quando eu toquei seu
mindinho pela primeira vez, eu pirei! Quando ele me chamou de muito lindo, de lindinho, de delicado… eu simplesmente
gritava sem querer, eu ficava histérico, meu coração batia rápido e eu suava. Porque Jimin mexia comigo. Tanto, tanto...

Teve tantos sinais. Teve tanto dele mexendo comigo, tive tanto disso… eu fiquei histérico, eu hiperventilei.Isso ainda
acontece. Eu vou viver a segunda fase pra sempre.

Então, vamos à terceira fase sobre o amor… o parágrafo que eu mais gostei.E. Contendo as palavras: essência,
exceção, emoção e êxtase.

Isso… isso é tudo que eu estou vivendo agora, não é?

Puxa... eu sempre sinto a essência dele sem perceber. Quando estou escutando uma música e espontaneamente a
traduzo, me lembro dele automaticamente quando a letra é amorosa e bonita. Porque todas as músicas de amor, de repente,
são sobre ele. E quando a melodia flui tão bem, eu sinto tanto, tanto sua essência…sinto Jimin.

Sinto ele quando uso o casaco dele sem ele saber, só para dormir, só por querer; só porsentir.

Quando estou no carro e vejo alguém ruivo, penso nele… penso nele quando fico vermelho e me lembro dos fios do
seu cabelo. Quando como chocolate. Quando alguém fala a palavra tangerina, quando meu pai cita o Pink Floyd. Quando eu
vejo um gato na rua e me lembro dele e do Menino… ou quando o sol nasce, só nasce, e eu penso em seu walkman
amarelo. Existem tantas outras coisas que são sobre ele para mim… all-star azuis, flores, chá, bolo de laranja, óculos de
grau, iogurte, cheiro de creme, blusas listradas, balanços, doces… livros, livros e mais livros. Telefones também, puxa...
telefones! E até mesmo o céu azul e a chuva.

Tudo tem sua essência, assustadoramente… tudo que eu gosto. Talvez eu só goste dessas coisas porque elas me
lembram ele.

E é tudo tão… único, quando é sobre ele. Eu não gosto de abraços longos, não gosto de falar de sentimentos
vergonhosos, não gosto de emprestar minhas fitas, nem de mostrar meus desenhos… mas Jimin é uma exceção. Eu amo
quando ele me abraça, amo quando ele segura minha mão e amo quando ele olha fundo nos meus olhos, querendo saber o
que estou sentindo. Amo quando ele me beija, apesar de nunca ter sido beijado por alguém… ele é uma exceção a tudo isso.
Ele simplesmente é uma exceção.

E tem tanta emoção quando é com ele… tudo é tão excitante e novo. Andar de ônibus é quase maluco quando estou
com o Jimin… tomar milkshake consigo foi a coisa mais intensa que eu já fiz na minha vida. Escutar música com o Jimin é
simplesmente loucura. É emocionante… até mesmo quando ele diz meu nome é emocionante. Ele me deixa emotivo sem
perceber. Ele mal sabe o que está fazendo comigo… ou será que ele sabe?

E tudo sobre Jimin me deixa tão extasiado.Seus beijos parecem dormir a minha pele. Seu carinho, seu cheiro, seus
braços, suas mãos, a maciez do seu corpo... a forma como sua barriga é gostosa. Ou como seu corpo parece tão perfeito
quando eu olho sem perceber. Por quê? Por que isso acontece? Puxa… Jimin é puro êxtase.

É por isso que ele é como Rheya.

Quando cheguei na penúltima fase, eu precisei me levantar. Meus lábios estavam tremelicando e eu quase
choramingava de nervoso e animação. Eu estava pegando fogo enquanto procurava meu caderninho antigo, e então, pegava
ainda mais fogo ao achá-lo.

Folheei eles mil vezes, procurando o que eu queria, até encontrar.

A penúltima fase sobre o amor é uma música.

Um música dos anos setenta que meu pai cantava para a minha mãe, que ele dizia que era pra ela, e eu ouvia aquilo
e sentia tanto amor. Então eu pensei que, bem, amar depois de tudo é simplesmente como a música do Elton John.

A fase com a letra Y. Your Song, do Elton John.

Eu me sentei na cama, apertando os dedinhos do pé. Naquele caderno antigo, estava a tradução da música
completa que meu pai fez para mim ao perceber que eu estava curioso sobre a música. Confuso sobre seu amor
incondicional pela minha mãe… Your Song.

A letra era sobre amor… e só amor mesmo.

“É um pouquinho engraçado este sentimento aqui dentro

Eu não sou do tipo que consegue disfarçar sentimentos

Não tenho muito dinheiro, mas, cara, se eu tivesse, eu compraria uma casa bem grande pra gente morar

Eu sei que não é muito, mas é o melhor que posso fazer

Meu presente é minha canção e essa aqui é para você

E você pode contar pra todo mundo que esta é sua canção

Pode ser bem simples, mas agora que está pronta, eu espero que você não se importe

Espero que você não se importe que eu expresse em palavras como a vida é maravilhosa com você nesse mundo

O sol foi tão gentil enquanto eu escrevia esta canção

É por pessoas como você que ele continua a brilhar”

Puxa.

Puxa, puxa, puxa…

Jimin, eu… eu….

Eu vou chegar até isso com você?

Eu vou chegar até a fase de Your Song?

Puxa…

Eu olhei para a última fase. A. Amor incondicional. Amor eterno. Amor. Amor. Amor.

R. redenção, receio, repentino;

H. hiperventilação, histérico;

E. essência, exceção, emoção e êxtase;

Y. Your Song, do Elton John;

A. amor incondicional, eterno… e só amor.

Amor. Amor. Rheya é amor. Rheya é meu teorema sobre o amor. E Jimin é… é como Rheya...

Ele é como Rheya.

Suspiro. Puxa… a última fase. Amor eterno. Eu me pergunto… tem como isso ser eterno?

Eu gostaria que fosse… se sempre for tão bom assim, eu… eu quero muito, puxa vida...

A minha cabeça ficou meio… leve, depois de tudo isso. Meu coração estava tão… tão intenso. Mas minha cabeça
parecia tão, tão leve… como se eu precisasse disso para saber que é verdade, que meus sentimentos não são uma
bagunça. Talvez eu ainda esteja na terceira fase. Talvez eu esteja chegando na quarta. Eu não sei, mas todos os
sentimentos parecem tão familiares, tão bons, tão… tão bonitos.

Puxa… nunca pensei que seria assim. Sempre fiquei vendo o Seokjin falando de amor e pensava que não era pra
mim, que eu não queria ser o tipo de garoto adolescente que só pensa em namoro… eu sempre pensei que fosse estúpido.
Nunca parecia, sei lá… interessante. Eu nunca conseguia me imaginar com uma garota.

Então… agora… eu percebo que gosto tanto disso. Que é tão bom. Porque diferente do Seokjin e seu coração partido
por tantas meninas, Jimin… Jimin diz que sou único para ele. E ele é tão, tão sincero… ele sempre fala que também me
adora quando eu admito. Às vezes ele fala isso primeiro.

É recíproco… por mais incrível que pareça.

Será que é por isso que é tão bom?

Eu fiquei balançado. Eu nem pensei em trocar de roupa ou destrancar o quarto. Eu continuei olhando para as luzes
acesas, desviando para a janela posteriormente, vendo o céu estrelado, deitado na minha cama. Até que meu coração ficou
mais calmo, a temperatura do meu corpo voltou ao normal e eu consegui respirar calmamente. Com a minha descoberta em
mente.

Porque, apesar de ser loucura, de ser tão novo e assustador… eu me sinto bem.Por sentir. Por saber o que eu sinto…
afinal, o que eu sinto é a maior prova de que tudo isso é verdade. Certo?

Puxa...

Quando eu peguei no sono e acordei com o despertador, de manhã, depois de duas semanas sem ir para a escola, eu
fiquei ansioso. Fui tomar banho com os dedos das mãos extremamente nervosos e tesos, escovei os dentes e me olhei no
espelho por muito tempo. Eu abri a caixa no meu quarto com as minhas fitas e achei a que tinha a música do Elton John.
Tomei café com meus, com a cabeça em outro mundo, e fui correndo para o ponto de ônibus assim que deu o horário.

Eu deixei Seokjin sentar na janela, ouvi música, e não parei, até mesmo quando chegamos nacerejeira. Eu passei as
músicas da fita, meio atrapalhado, mas cheguei até a que eu queria. Your Song, do Elton John.

Eu aumentei até o último volume. A ardência começou no meio das minhas bochechas e aumentou
consideravelmente quando o ônibus parou. Comecei a bater o pé continuamente no chão no momento em que as portas se
abriram, e meu coração não parecia querer ficar no meu peito quando viu Park Jimin subir no ônibus.

Meu coração. Eu senti que ele podia escapar do meu peito quando Jimin olhou para mim, no início do corredor. Ele
estava com os fones de ouvido, assim como eu. Ele me olhou nos olhos e já estava vermelho primeiramente… eu percebi
que, se meu coração estivesse nas minhas mãos agora, eu não conseguiria segurá-lo.

Ele iria fugir. Ele ia até o Jimin…

Puxa...

Comecei a coçar a nuca e meus cabelos extremamente compridos e bagunçados quando Jimin se sentou no seu
lugar. Eu fiquei olhando pra ele discretamente o tempo todo, até chegarmos na escola e sermos os últimos a descer, com
nossos amigos.

E quando pisamos na nossa escola, Jimin parou no lugar por um segundo. Nós nos olhamos ao mesmo tempo, e ele
estava sério, mas… foi só por um segundo.

Ele passou a mão nos cabelos sutilmente, olhou para baixo, e depois para mim.

Quando ele deu aquele seu sorriso, que só poderia ser seu sorriso, eu pude sentir. Do mindinho do meu pé, passando
pela minha barriga e chegando até meu último fio de cabelo.

Jimin, definitivamente é como o meu teorema sobre o amor.

Jimin é como Rheya.

Notas finais
Finalmente, o que é Rheya foi revelado!

"— Mas, e você? Qual foi a coisa mais estranha que você já fez, Jeonggukie?

— Hum... são tantas. — Pensei. — Mas acho que a mais estranha é essa. Quando eu tinha dez anos, eu escrevia teoremas
baseados em sentimentos e atitudes humanas.

— Teoremas?

— Sim, era filosofia, Jimin. Era bizarro porque eu era muito novo e tudo era muito complexo." - Ele é como Rheya, capítulo
OITO.

Há-há! XDDD
Sei lá, eu disse que não era nada demais, lembra? Então... basicamente é um teorema sobre o amor que o Jungkookie fez
quando era mais novinho. E agora, ele percebeu que o Jimin é exatamente como esse teorema... Jimin é como Rheya!

O que acharam disso? Me deixem saber!!

Ah, e o aviso é: criei perfis no twitter dos personagens de EECR! Esses perfis não fazem parte da história, mas eu queria
dar um mimo pros meus leitores e, bem, muitos deles queriam um twitter... então, se vocês quiserem seguir, os @s dos
personagens são:
@ jiminfloyd @ ggukiepurple @ yoonwillrock @ jinonfilm

Não se esqueçam de usar #PuxaPuxaPuxa se forem falar de EECR no twitter!

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas):https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline


+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

Até mais, amores~

23. Ele é como Meu Coração

Notas do Autor
Oi gente... desculpem a demora! Esse capítulo tá curtinho com acontecimentos fofos que eu dividi entre ele e o próximo,
que vai ficar bem maior!!

De qualquer forma... espero que gostem! Boa leitura <33

JIMIN

O amor é como um conceito.

Sabe… nós vemos tantas coisas sobre o amor que ele pode ser considerado um conceito. Na verdade, ele é
considerado um conceito. Tem tantas músicas, livros, álbuns, filmes e novelas que contém o gênero romance. E romance é
um tipo de amor.

Essas artes, músicas, novelas, livros e álbuns, são completamente recheadas de situações distintas sobre o amor. É
como se cada um desses artistas quisesse compartilhar com o mundo a sua experiência sobre o amor. Sobre amar alguém
de uma forma romântica e intensa, como muitos jamais amaram…

Eu acho isso tão fascinante. Me faz querer fazer o mesmo de alguma forma. É o que eu mais quero a tempos... quero
escrever um livro sobre amor, escrever sobre o que eu estou sentindo agora...

Eu quero tanto isso. E fico ainda mais inspirado quando o sinal do intervalo finalmente toca.

Porque eu sei que agora vou conseguir falar com ele. Porque, depois da primeira e segunda aula, eu não consegui
parar de pensar que eu ele estamos no mesmo cômodo depois de admitirmos que queremos nos beijar.

Tipo… uau!

Queremos nos beijar.

E sabemos disso.

É até insano como só isso me importou nos últimos dias. Quer dizer... qual é?Olhe pra mim! É claro que eu não me
concentrei nas palavras do professor, muito menos me importei com o fato de que as aulas voltaram hoje. A única coisa que
se passava pela minha cabeça era isso: Jungkook quer me beijar.

Isso me é tão importante e grande que não sobrou nenhum espacinho no meu cérebro bobo. Só tem Jungkook pra
todo lado. E é como o paraíso… Ai ai…

É certo que, antes, ele já ocupava minha mente. Mas sejamos sinceros... Tem uma grande diferença entre querer
beijar alguém e saber que esse alguém quer lhe beijar também. Tipo… fala sério! A única coisa que se passa pela minha
cabeça depois dessa informação é se Jeongguk já pensou as mesmas coisas que eu.

Me pergunto se ele já fechou os olhos durante a noite e pressionou os lábios um no outro, ansiando sentir, nem que
quase nada, como seria dar um beijo na boca de quem gosta…

Eu me perguntei se Jeongguk já havia olhado para minha boca e pensando em tocá-la. Se ele imaginava isso o tempo
todo, se escutava músicas de amor e pensava em mim, como eu pensava nele, porque… nossa. Nossa!

A nossa conversa, ela… ela deixou isso tão claro, tão óbvio e vivo. Admitimos que sentíamos as mesmas coisas, que
queríamos as mesmas coisas, então, se é assim… será que ele já fez algumas dessas coisas?

Será que já viu duas pessoas se beijando aleatoriamente e pensou em mim e ele na mesma situação?

Porque eu… eu só consigo fazer isso. Ainda mais ultimamente. É até ruim porque, ontem, na tevê, dois protagonistas
deram um beijo horrível. E eu fiquei chateado pela minha mente idiota ter imaginado eu e meu amorzinho beijando tão feio
assim…

Tipo… ok. Eu nunca beijei. Mas isso não quer dizer que vou fazer feio, certo?

Céus.

É tão… é inevitável pensar em todas essas coisas. Eu odeio pensar na possibilidade de dar beijos ruins, então acabo
fugindo para um lugar delicioso na minha mente para parar de pensar nisso... eu vou para aquele lado. Aquele que já citei…

O nosso encontro.

Quero chamar Jeongguk para ir a um encontro comigo, e (finalmente!) dizer com todas as letras que é um encontro.

Um encontro. Amoroso. Apaixonado. Nós vamos sair apaixonadamente, sem ser como amigos ou garotos que não
entendem as coisas que estão sentindo. Vamos sair como dois garotos que querem se beijar...

Ai, ai...

Isso me parece tão bom. Tão bom que nem parece verdade… e, se eu já estava cheio de pensamentos sobre ele
antes, agora é algo muito mais sério. Eu mal consigo parar de fitá-lo!

Ficar namorando sua nuca com os olhos havia se tornado a minha primeira aula do segundo semestre, e eu nem
liguei para o fato de que Jungkook passou todo aquele tempo olhando para seu livro didático, prestando atenção na aula e
fazendo anotações. Eu só queria olhar para ele.

Porque… poxa, é tão bom gostar de alguém e poder estar no mesmo lugar que ele. Até quando não está
conversando, sua existência por perto, sei lá… só isso é gostoso e feliz para mim. Eu me sinto tão feliz que mal posso
segurar meu coração… Fico esfregando as mãos, com as bochechas ardendo de tão quentes e os lábios tremendo, com
vontade de sorrir. Eu quero sorrir pra sempre...

É até estranho pensar no quanto quero sorrir agora, na escola, mas Jungkook faz isso comigo inevitavelmente.

E é ainda mais estranho, porque hoje eu não recebi notícias muito agradáveis ao chegar na escola. Como, por
exemplo... o Idiota voltou para a escola. E ele se sentou atrás de mim.

Sério. Que saco! Ele ficou batendo a caneta na própria mesa a aula inteira, no entanto, não me dirigiu a palavra. Só
que é como se ele quisesse que eu o escutasse… o Idiota queria que eu ficasse pensando, o tempo todo, que ele está bem
aqui. Atrás de mim.

Pois é...

Ele se deu mal.

Porque eu só pensei em Jeongguk e em corações flutuantes a aula inteira.

Dessa forma, não restou nenhum sentimento ruim, como o medo. Só amor. E o beijo.

Sabe, pensei nisso (de novo e de novo)... afinal, como posso fazer para o beijo acontecer o mais rápido possível? O
que eu devo fazer para ser um beijinho bom? Meus lábios são macios? Eu deveria tocar o rosto dele, ou os cabelos? Devo
beijar sua boca de repente ou ir aos pouquinhos?

Tantas, tantas opções…

Eu só queria beijá-lo logo.

E queria beijar muito. Tanto que a tensão no começo da aula foi substituída com essas auto-perguntas sobre
bitoquinhas. Eu falo sério quando digo que só pensei em Jeongguk… e falo sério quando digo, também, que esqueci do
Idiota facilmente. A minha mente não estava com ele, sabe? Ela estava com as sensações que o amor me causa... foi até
difícil porque fiquei sentindo que, a qualquer momento, meu corpo iria ter uma reação maluca e me tirar da cadeira da escola.
E é claro que essa carga de energia tão grande era direcionada a somente, e unicamente, Jeongguk. Eu senti que sairia
voando até sua carteira apenas para abraçá-lo e enchê-lo de beijos…
Porque… é sério. Deixei-me repetir pela quinquagésima vez em menos de vinte e quatro horas:

Jeongguk também quer me beijar.

Jeongguk. Também. Quer. Me. Beijar.

E isso é tudo que importa, por agora.

Apoiei o rosto em minha mão, sem me mover ao que vi Jeonggukie se levantar e começar a sair da sala de aula, ao
lado do seu amigo, como sempre. Percebi que ele parecia nervoso, porque seus punhos estavam cerrados e os ombros
sutilmente erguidos… fofinho.

Antes de passar pela porta, ele se virou momentaneamente para mim.

Eu estava louco para manter um contato visual intenso, como fizemos no estacionamento e no ônibus, mais cedo,
mas… Jungkookie só fitou-me por alguns segundinhos e, com o rosto todo rosa, saiu da sala.

Pfft…

Ele está andando estranho. Será que é porque ele está tímido? Ah, é um verdadeiro docinho...

Fico pensando nisso e rindo baixinho. Como não há quase ninguém na sala eu, enfim, faço o que sempre devo fazer
antes do intervalo, oficialmente parando de pensar e rir sozinho…

— Acorda, Yoongi… — digo.

Isso mesmo, é o que eu sempre faço. Acordar o meu amigo.

Yoongi está dormindo na carteira ao lado da minha e eu me levanto só para fazer cócegas na sua nuca. Não demorou
muito para ele começar a acordar aos poucos e, sério, ele precisa parar de dormir durante as aulas (sim, estou dizendo isso
quando também durmo nelas).

— Hum… — ele resmungou, a voz muito grossa por causa do sono.

— Uau, você está parecendo um homem agora — eu disse, risonho.

Yoongi, com os olhos inchados, me encarou, franzino.

— É o quê? — Perguntou.

— Você parece um homem.

— Você sabe que eu sou um homem, certo? — Ele questionou, se arrastando para fora da carteira.

Pfft. Ele ainda é um garoto, e não um homem...

— Sim, sim. — Eu ri. — Tá na hora do intervalo, você trouxe algo pra comer?

— Não… — resmungou, suspirando. — Acho que quero um café e aqueles biscoitinhos de leite que tem na cantina.

Pensei brevemente.

— Hein? Mas você come coisas com leite? — Indaguei, fazendo-o revirar os olhos.

— Ai, Jimin, eu já disse que sou vegetariano, e não vegano!

— Qual é a diferença mesmo? — perguntei.

— Veganos não comem nada de origem animal, vegetarianos não comem carne. Eu não como carne! E também não
tomo leite ou como ovos, mas eu como coisas que tem leite e ovos, e… ah, você entendeu! — Ri.

Ele ficou bravinho.

— Tá, tá… agora entendi — eu disse, sorrindo de canto. É que ele fica fofinho bravo… — Então vamos lá, Sr.
Vegano?

Yoongi resmungou alto, chamando a atenção das poucas garotas na sala:

— Vegetariano!

Dei mais uma risada. Certo, certo, agora eu vou me lembrar...

Depois disso, nós encerramos os assuntos sobre animais e apenas fomos caminhando lado a lado até a cantina.
Yoongi pediu seu cafézinho preto com os biscoitos e eu peguei um sanduíche natural e um suco de maracujá. Acabei
esquecendo meu lanche em casa hoje, então tive que comprar… é difícil lembrar das coisas depois de ficar tanto tempo sem
ir pra escola.

Nós fomos caminhando até o refeitório e nos sentamos no lugar de sempre. Procurei meu amorzinho com os olhos, e
quando o achei, fiquei lhe paquerando sem que ele notasse o tempo inteiro…
O hambúrguer que ele tá comendo é maior do que a mão dele.

Mas ele é tão bonitinho…

Foi tão fofo quando ele percebeu que eu estava olhando pra ele. Suas bochechas estavam cheias do lanche e quando
nossos olhares se encontraram, ele arregalou os olhos, como se tivesse sido pego no flagra.

Eu ri pra ele. Ele ficou vermelho e tentou rir também, mas sua boca estava cheia demais então ele só balançou a
cabeça de um jeito que pode ser considerado estranho, mas eu já estou acostumado com esse seu jeitinho, então só sorri
mais.

Passei praticamente todo o resto do tempo do intervalo para conversar com Yoongi sobre as aulas e o que iríamos
comer hoje ao chegar na minha casa — sim, ele iria pra minha casa hoje — e depois rimos um pouco, fazendo piada sobre o
Idiota e o professor de língua coreana.

Mas nada disso importou quando, faltando cinco minutos para o fim do intervalo, Jungkookie se levantou da sua
mesa.

Sem Seokjin.

Ele se levantou sozinho...

Me atentei. Jungkook disse alguma coisa para seu amigo e simplesmente saiu do refeitório. Sozinho… e vermelho.

Ai meu Deus.

— Yoongi, já volto! — Eu avisei, sem conseguir pensar direito.

Talvez eu esteja sendo extremamente impulsivo agora, mas… mas…!

Eu só… precisava aproveitar essa chance.

— Onde você vai? — ele indagou, vendo-me levantar.

— Comprar uma coisa! Já volto. — Continuei de olho em Jungkook até suas costas sumirem pelas portas do
refeitório.

Saí bem rápido logo em seguida, deixando Yoon sem fala. Dei passos bem apressados até chegar nas portas do
refeitório, dando um sorriso quando percebi que Jungkookie ainda estava no mesmo corredor que eu.

Comecei a andar rapidamente até ele, ansiando chegar mais perto, ansiando estar com ele o mais rápido possível e…

— Ei, Jiminnie!

E alguém me chamou.

Parei no lugar e me virei para trás, fitando o lugar o qual escutei meu nome ser proferido. Ergui minhas sobrancelhas
lentamente até perceber que era Taehyung, sozinho, sorrindo e correndo até mim.

— Tae… — murmurei, vendo-o chegar perto.

Olhei para trás, tentando ver Jeongguk mais uma vez, mas…ele já tinha sumido.

Hum…

— Eu estava pensando em você agorinha e então te vejo! Que chocante, né? — Ele deu um grande sorriso e, meu
descontentamento por não ter alcançado Jungkook foi completamente substituído por um sentimento bom. Afinal, Tae é tão
legal... — Sabe de uma coisa? Tenho notícias sobre o clube e preciso que repasse pros meninos! Ou me diga onde eles
estão, que aí eu repasso!

— Tá bem! — falei, acompanhando seus passos quando ele abraçou meu braço e começou a caminhar.

É a primeira vez que ando assim com um garoto que não seja o Jungkook…

— Então… ferrou total! — Ele deu uma risada engraçada. — O diretor selecionou uns clubes para apresentar numa
coisa aí, né, sei lá, um evento, sabe? — Começou a balançar a cabeça. — Aí a Namsoon, tadinha, foi completamente
enganada pela gente naquele dia! E indicou o nosso clube, dizendo que era super bom e tal.

— Humm, e… o que tem?

— O que tem é que vamos ter que fazer uma apresentação no final do ano! — Disse ele, parando no meio do
corredor só pra me sacudir. — Precisamos preparar alguma coisa, sério!

— Espera… — Parei. — Apresentar, tipo…

— Tipo, apresentar de verdade! No teatro! — Ele resmungou. — Na hora que a Nam me disse eu, pfft, pensei que
era impossível, né? Mas aí ela disse que íamos ganhar pontos. Pontos. Pontos pra entrar na escola lá…
— Que “escola lá”?

— Aquela do centro! Que é só pros inteligentes, sabe? Então! A gente tem que fazer porque vai ajudar a Niuke a
passar de ano e o Hobi a entrar na escola, ok?

Espera.

Muita informação para poucos segundos...

— Espera aí, mas... que escola do centro?

— A escola boa… sabe, tem aquela pública e a que só entram pessoas que fazem a prova e passam. O colégio VILL.

Humm… Vill, Vill...

Ah!

— Ahhh… o Violet sei lá o quê, né? — Indaguei.

— Isso! Mas pelo amor de Deus, fala a sigla porque o nome completo eu não sei! — Disse ele, risonho. Ri também.

— Minha prima estuda lá — eu disse, pensando em Jihyo. — Mas, são quantos pontos…?

— Ah, sei lá! Mas não é só por isso que é importante. É porque se não apresentarmos, vamos levar falta por todas as
aulas que não frequentamos por “estar no clube” — ele disse, fazendo aspas com os dedos. — Cara! São muitas aulas! Eu e
o Hoseokie inventamos que tinha duas vezes na semana e, sério, precisamos apresentar ou vamos estar lascados. Ainda
mais porque às vezes o Hoseokie dá um de turista, sei lá, né? Mas sério, vai rolar, então avisa aos meninos para irem pro
clube de música depois da aula, urgente!

— Ok, então… eu aviso eles! — Sorri, olhando para ele.

Taehyung parou de andar e, de repente, me observou. Observei ele também, estranhando seu silêncio e sua parada
repentina.

Ele deu um sorrisinho de lado.

— Você tá mais bonito do que da última vez que eu te vi — ele disse, do nada.Admito que fiquei um pouco sem
graça... — Mas e aí? Ignorando o desespero atual... o que você estava fazendo fora do refeitório na hora do lanche?

— Ahn… nada demais, eu estava indo no banheiro — eu disse, meio tímido.

O olhar dele às vezes me deixa um pouco tímido. E seus elogios também...

— Que banheiro? — Ele perguntou.

— O banheiro.

— Mas não é pro outro lado?

Ah.

Dei uma risada nervosa.

— É… é pro outro lado, que bobice minha… há-há-há! — Cocei minha nuca, nervosamente.

Por que estou nervoso? Estou com medo de que ele perceba algo sobre Jungkook?

— E aquele que saiu antes de você era o Jungkook?

Ai.

— É-é! Era… — eu falei, me perguntando por que estou com tanto medo dele perceber algo.

Não que eu queira esconder… eu só não posso evitar me sentir tão nervoso porque ninguém além de mim sabe o
quanto eu amo Jungkook.

Yoongi nunca desconfiou, nem a mamãe, então é como se eu tivesse sido pego no flagra por algo que eu nem sabia
que estava escondendo.

Minhas bochechas queimaram.

Taehyung ficou em silêncio por mais alguns segundos, só me fitando e abraçando meu braço. Acabei desviando o
olhar, com medo dele falar alguma besteira… mas não.

Ele só deu uma risadinha muito amigável e pediu, alegremente:

— Legal. Me passa seu número?

O olhei novamente, aliviado.


— É… passo! — Eu disse, sorridente.

— Certo! Eu sinto que temos muitas coisas pra conversar, então vou te ligar hoje à noite, pode ser?

— Pode! — Sorri novamente, me sentindo curioso sobre as coisas que temos para conversar.

Taehyung sorriu de novo e, então, me deu um abraço apertado, apertando minhas costas carinhosamente.

— Tá bom! No clube, ou na saída, eu passo e pego com você — ele disse, se afastando. — Tchau, tchau, Jiminnie! —
Acenou.

— Tchau…! — eu disse, acenando também.

Vi Taehyung sair caminhando animadamente e então virar o corredor. Fiquei com um sorrisinho no rosto porque,
apesar da tensão anterior, falar com Taehyung sempre é muito bom… Ele é muito afetuoso. Acho que gosto disso porque
também sou.

Dou um suspiro risonho. De qualquer forma, não faço ideia de onde Jungkookie está agora, então, somente volto para
o refeitório.

JUNGKOOK

Talvez eu estivesse esperando ele aparecer.

Eu não sei, na verdade. É que... antes de virar o corredor, eu realmente senti que ele estava me seguindo. Pensei que
poderíamos passar um tempo juntos sozinhos, mas acho que me enganei…

Puxa.

Não é como se eu tivesse saído do refeitório para ele me seguir. É claro que não, tipo, puxa! Eu só fui comprar outro
refrigerante e um doce, então eu não estava… querendo que ele me seguisse.

Talvez um pouquinho, mas...

Ah.

Droga. Eu estou tão nervoso… é patético.

Ver Jimin no estacionamento, sem falar com ele, foi tão bom e calmo depois de tudo que aconteceu dentro de mim
ontem. Mas agora… puxa, agora, a cada minuto que passa, percebo que estou no mesmo lugar que Jimin. E que talvez
possa acontecer alguma coisa se ficarmos sozinhos, ou… talvez ele me mate indiretamente se chegar perto de mim e tentar
me dar um beijo na boca.

Eu não sei beijar na boca!

Caramba. Ele vai odiar, mas vai ser bonzinho e fingir que gostou pra não me deixar triste, tenho certeza disso...

Que humilhante... que vergonha. É tão bobo, mas eu realmente não sei o que faria se ele tentasse me beijar. Pensei
nisso a aula inteira… até fiquei escrevendo baboseiras no caderno, como letras de músicas… só que isso não funcionou.
Não mesmo. Eu não consegui me distrair. Só pensei em Jimin enquanto fingia assistir a aula…

Eu senti que ele estava me olhando da sua carteira também, e isso me deixou tão nervoso… eu nem consegui olhar
de volta… só fiquei trêmulo e vermelho.

Ele sempre me deixa assim.

— Obrigado… — eu disse quando a tiazinha da cantina me deu uma sacolinha com meu refri e meu doce.

Acabei me lembrando da cena no refeitório e…

Droga!

Saí dali respirando fundo, bebendo o refresco com uma sensação de vergonha tremenda... caramba, Jiminnie estava
me olhando enquanto eu me lambuzava todo de molho de hambúrguer!

Puxa.

Ele deve me achar um crianção sem jeito… é difícil entender por que ele sorriu pra mim depois. Realmente, Jiminnie é
indecifrável… principalmente por gostar de mim. E sorrir pra mim. Puxa…

Entrei no refeitório novamente com um beicinho incontrolável, mas o desfiz quando vi Jiminnie e Yoongi sentados na
minha mesa, com o Seokjin.

Fiquei um tempo processando essa informação e então, um pouco tímido, me aproximei de todos eles.

Puxa... como Yoongi havia se sentado ao lado do Jin, tive que dar a volta para me sentar do lado de Jimin e,
consequentemente, me senti nervoso por isso…

Ele foi o primeiro a me notar e deu mais um sorriso bonito para mim. Tentei sorrir de volta, mas acho que só entortei a
boca de nervoso. Aigh...

Terrível, Jungkook...

Quando me sentei ao seu lado, Jimin falou meu nome pessoalmente pela primeira vez em uma semana… e eu sei
que parece que isso não é nada demais, mas, puxa. Apenas ouvi-lo proferir um “Ei, Jeongguk!” fez todos os cabelinhos da
minha nuca se arrepiarem, quase como se ele estivesse... a beijando.

Meu estômago ficou geladinho. Provavelmente de saudade… puxa…

Balancei a cabeça, tentando colocá-la no lugar e agir normalmente, prestando atenção na conversa deles três.
Jiminnie começou a explicar algo sobre o clube de música animadamente e pensei que estava prestando atenção, até
perceber que não. Minha cabeça parecia um pouco nublada… puxa. Foi quase como se os meninos não estivessem ali,
falando alto, no refeitório. Foi diferente. Minha mente se silenciou completamente enquanto eu olhava para ele, bem do meu
lado, pertinho, depois de tanto tempo… e eu sei que uma semana não é muito, puxa. Mas eu sinto tantas saudades dele que
chega a ser assustador…

Então, eu senti que deveria valorizar os momentos que tínhamos juntos.Os meus olhos simplesmente se atentaram a
cada detalhe seu, e como sempre, eu me perdi. Me perdi em como sua boca se movia enquanto ele falava, me perdi no quão
linda era a pontinha do seu lábio superior, que ficava gordinha sempre que ele fazia um biquinho a cada palavra… minhas
bochechas queimavam e eu sorria, muito feliz, sempre que Jiminnie dava risada de alguma besteira que Jin havia falado.

Puxa… me perguntei como seria olhar para ele enquanto escuto How Deep Is Your Love, do Bee Gees. Ou Love Of
My Life, do Queen. Ou qualquer música sobre um amor intenso, porque amo lhe olhar. Amo seu rosto. Por que será? É só um
rosto. Ou melhor, é o rosto do Jiminnie...

Por que é tão bom olhar para ele, mesmo quando ele não está me dando atenção ou olhando para mim?

Puxa... O ser-humano não é supostamente egoísta e sempre quer as coisas que ele gosta só para ele? Então, por
que eu amo ver ele dando um sorriso tão grande e rindo com os meninos? Por que eu gosto tanto dele, mesmo assim?

Puxa…

Eu faria de tudo para observar a existência dele ao som de There's Always me, do Elvis.

— O que você acha, Jeonggukie? — De repente, Jimin virou o rosto para mim.

As maçãs do seu rosto estavam gordinhas por causa do seu sorriso. E ele estava tão bonito…

As sensações dentro do meu corpo, de gostar tanto dele a ponto de não ser egoísta me encheram. E tudo que saiu,
foi...

— Eu acho lindo... — sussurrei.

Suas sobrancelhas se ergueram de surpresa. Seus lábios abriram um sorriso lento e bonito… seus dentes finalmente
aparecendo. Suas bochechas enfim rosando, puxa, Jiminnie…

Tudo fica tão diferente com você aqui.

— Também acho lindo! — Jin exclamou, por fim, e é como se ele não estivesse ali antes de dizer isso.

Espera.

O que é que Jimin me perguntou?

Olhei para Seokjin e depois Yoongi, estranhando o fato deles não terem estranhado minha fala. Acho que ela se
encaixou perfeitamente no assunto… ainda bem...

Depois disso, eu não disse mais nada pra eles. Até tentei prestar atenção na conversa, mordiscando minha boca de
nervosismo e os olhando, mas… era difícil. Porque, puxa vida, Jimin me tira do planeta Terra às vezes…

— Então, acho que resolvemos… — Jiminnie disse, com um belo sorriso. — Amanhã a gente conversa mais no clube
de música!

— Boa sorte pra vocês. — Yoongi deu uma risada sarcástica.

— Ya, você deveria estar lá também! — Jin falou para ele.

E a conversa foi sumindo novamente. Eu pressionei meus lábios e timidamente me virei para Jimin, desejando olhá-lo
de novo… desejando que ele nublasse minha mente cada vez mais…

Encontrei seus olhos fixos em mim.

Jiminnie estava com o cotovelo sobre a mesa e a bochecha descansando sobre sua mão elétrica. E ele estava me
olhando, simplesmente me olhando...
Puxa. Parece que nunca vou me acostumar com a sensação de olhar para Jimin e perceber que ele já está olhando
para mim…

Suspiro. Minhas bochechas ficaram quentes e eu abaixei a cabeça, envergonhado, mas foi tão bom quando Jimin
arrastou sua mão sob a mesa, cuidadosamente tocando a minha, sem ninguém ver. Ninguém pôde ver o quanto nós nos
gostamos… isso é algo só meu e dele. É como se fosse uma das únicas coisas no mundo inteiro que só eu e ele temos. Isso.
Isso.

Meu coração acelerou e me atrapalhei na hora de segurar sua mão de volta, mas não desisti. A segurei e entrelacei
nossos dedos cuidadosamente, assim como já fizemos um dia no ônibus, na sala, em todo lugar…

E é maravilhoso da mesma forma.

Ele fez carinho no meu polegar com o seu. E é claro que eu fiquei todo arrepiado…

Talvez seja até melhor.

Pensei no quanto aquilo era bom e, antes que conseguisse voltar a olhá-lo nos olhos, o sinal do fim do intervalo tocou.
Minha pele vibrou porque eu sabia que, agora, nós teríamos uma aula juntos. Que só eu e ele frequentávamos… isso, isso.

Jiminnie soltou minha mão lentamente e se levantou. Também me levantei e falei mais ou menos com os meninos, me
perdendo um pouco porque Jimin tocou meu ombro duas vezes e é óbvio que qualquer coisa que ele faz me deixa
completamente lento…

Aah...

— Até mais tarde… — eu disse à Jin e Yoongi, que viraram o corredor juntos, deixando-me sozinho com Jiminnie no
meio da multidão de alunos.

Jimin e eu não nos olhamos, mas começamos a caminhar juntos na direção do corredor que tinham nossos armários.
Ele fez alguns comentários sobre o professor novo de geografia e demos algumas risadinhas tímidas e nervosas. Parece que
não somos mais os mesmos, estamos com muita vergonha, como se tivesse acontecido algo constrangedor… puxa…

Eu fiz um ruído esquisito, de surpresa, quando Jimin tocou meu rosto. Eu estava atrás da porta do meu armário,
pegando o material de história e a mochila — já que vamos embora depois dessa aula — e ele me surpreendeu com esse
carinho.

— Você tá tão bonitinho… — ele disse, então.

Jimin estava bem do meu lado, atrás da porta do armário também e ele tinha feito um carinho breve na maçã do meu
rosto, com o nó dos dedos. O quê. O quê…?

— P-por quê? — Eu só consegui dizer isso, ficando vermelho depois de ter feito aquele barulho estranho de vergonha.

Jiminnie riu.

— Suas bochechas estão inchadinhas… isso faz seus olhos ficarem ainda mais bonitos — ele continuou falando.

Ele deslizou a pontinha do indicador pela minha bochecha.

Ele deu uma risadinha.

— A-ah…

E eu não consegui dizer absolutamente nada.

Mas… eu acho que ele já se acostumou com isso, porque não reclamou, só me esperou pegar tudo para irmos juntos
para a sala de aula. Caminhamos em silêncio. Eu estava tão feliz por causa do seu elogio… só conseguia pensar em como
eu estava bonito... e que tinha algo nos meus olhos que Jimin gostava… ah.

Fiquei tentando reprimir um sorriso, mas não consegui, porque até mesmo caminhar ao seu lado me deixa feliz. E isso
é engraçado. Acho que realmente estou com saudades, puxa…

Quando chegamos na sala para a aula avançada de história, meu coraçãomurchou. Isso porque as carteiras não
estavam organizadas em duplas. O que quer dizer que eu e Jiminnie não iremos sentar um do lado do outro.

Puxa vida…

Jimin pareceu ter ficado um pouco frustrado também, mas escondeu isso com um sorriso e uma pergunta:

— Onde você quer se sentar? — Me fitou, parando no começo da sala ainda vazia (sempre chegamos cedo demais).

— Ahm… — Minhas bochechas queimaram. — Perto de você. — Olhei para ele...

Por que sinto que meus olhos estão brilhando?

— Ora essa, Ggukie… — Sua voz saiu melodiosa, baixinha e doce. Eu agradeci ao universo por ninguém estar por
perto porque, puxa, puxa vida… eu consegui ouvir perfeitamente. — É claro que vai ser perto de mim. Você acha que eu vou
te deixar em paz agora? — Ele começou a sorrir, sorrateiro, mas suas bochechas estavam ficando cada vez mais vermelhas.

Me lembrei da nossa conversa no telefone...

— N-não sei… — Ri sem graça quando ele pegou na cordinha da minha mochila, me puxando para perto.

Ele começou a caminhar para o fundo da sala… e eu só o segui.

— Já que você quer ficar perto de mim… hummm, vamos ver… — Continuei o seguindo. — Que tal você sentar aqui,
e eu aqui?

Ele apontou para as últimas carteiras, no canto, perto da janela. Eu assenti e, assim, nós o fizemos. Jimin se sentou
atrás de mim e eu em sua frente…

Assim que ajeitei minhas coisas em cima da mesa, me virei para Jimin. Ele estava me olhando daquele jeito diferente
de sempre e é claro que eu fiquei sem palavras…

— Você acha que o professor é outro? — Ele perguntou.

Fiquei um pouco perdido com a pergunta.

— Como assim?

— O de história… você acha que trocaram esse professor também? Por causa das carteiras separadas, e tal… o Sr.
Linn nunca separou nossas carteiras antes.

Ah, é. Pensando bem, é verdade…

— Acho que sim… — eu disse, coçando a pontinha do meu nariz. — Hum…espero que seja um bom professor.

— Eu também… — Jimin disse e eu olhei nos olhos dele pela primeira vez desde que entramos na sala.

Seus olhos… castanhos como chocolate. Tão bonitos e puxadinhos…

Ele também estava olhando nos meus olhos. Pensei que Jiminnie fosse tocar meu rosto de novo, mas, antes que ele
o fizesse, uma turma de garotas chegou na sala.

Uma delas, quando nos viu, disse:

— Tá aí uma combinação bizarra! A baleia e o nerd! — Elas riram. — Terminou com o repetente super-protetor pra
namorar com o balofo, foi? Bichinhas.

Minna. Ah...

Eu sabia que ela estava se dirigindo à mim e Seokjin ao falar “namoradinho super-protetor”. Tudo porque ele sempre
me protegeu muito desses comentários maldosos. Tanto que, quando viramos amigos, essas pessoas pararam de mexer
comigo por sua causa, já que ele era mais velho e bom de briga.

Só que… às vezes, quando estou sozinho, esses comentários acabam acontecendo de novo.

Não que eu ligue pra isso. Eu só fiquei muito angustiado por elas terem chamado Jiminnie daquela forma...baleia.

Idiotas… idiotas.

Jimin se retraiu um pouco depois de ouvi-las. Ele não abaixou a cabeça ou fez uma cara triste, pelo menos não na
frente das garotas que, depois de rirem, apenas se sentaram e ficaram conversando entre elas.

Jimin afastou cuidadosamente as mãos da mesa e disse, bem baixinho:

— Meninas bobas…

Eu olhei em seus olhos, mas ele já não me olhava mais.Puxa. Jimin agora estava fitando a janela, quieto, então eu só
balancei a cabeça em afirmativo.

Sabe... eu queria tanto dizer que ele era lindo… e que não devia se ofender com as coisas idiotas que as meninas
falam. Mas eu não consegui falar em voz alta. Me senti mal por isso, então acabei abaixando a cabeça, triste por quase
nunca ter coragem pra nada… puxa.

Queria saber me expressar melhor...

— Você ficou triste com o que elas disseram? — Sua voz soou de repente.

Levantei os olhos na direção dos seus, os encontrando. Jimin parecia preocupado e angustiado e,puxa, eu nem
percebi ele me olhando depois de tudo…

— Eu…

Antes que eu conseguisse terminar, a nova professora de história entrou na sala.


— Jimin, eu… — Tentei de novo.

Eu quis dizer para Jimin que estava tudo bem, porque odiava ver ele tristinho, mas novamente, não consegui. Porque
a professora nos mandou virar para frente imediatamente…

E assim, eu o fiz, amuado por não podermos mais conversar.

Puxa. Fiz um beicinho e, claro, não consegui me concentrar nem um pouco na aula. A professora era velha e
rabugenta e fez os funcionários trazerem a televisão reserva para a sala, já que outra turma estava na sala de tevê. Ficamos
copiando matéria por um tempo e, depois, ela explicou um pouco.

Eu não consegui absorver a matéria. Só consegui olhar para meus dedos sujos de tinta de caneta, e lamentar o fato
de que pessoas que não importam são extremamente capazes de machucar a gente.

Puxa vida. Será que Jimin estava triste?

Será que estava angustiado?

Eu queria olhar para ele. Mas a professora era tão, tão atenta e brava que eu mal consegui me mexer. Até que as
luzes se apagaram e um vídeo de muita má qualidade começou a ser passado na televisão. Era sobre uma guerra que
tínhamos estudado no ano passado, mas ninguém avisou a professora.

Essa foi a deixa pra professora se sentar e metade da sala pegar no sono… principalmente quem estava sentado mais
no fundo, assim como eu e Jimin.

Eu suspirei, cansado.

Até que...

— Ah… — Suspirei, surpreso ao ver que Jimin havia se erguido para colocar um papelzinho em cima da minha mesa.

Eu o abri imediatamente. Minhas bochechas queimaram e eu não consegui segurar meu sorriso...

“Você é o nerd mais fofo que existe."

Eu…?

— Jimin… — sussurrei, bem baixinho, dando uma risadinha.

Virei o papel, lendo o verso.

“Não fica magoado pelo o que elas dizem. Você é a pessoa mais divertida e interessante que eu já
conheci.”

Ele…

Puxa.

Jimin… Jimin ficou angustiado daquela forma porque pensou que eu me senti ofendido com o que elas disseram sobre
mim…?

Ele ficou triste por essa causa?

Puxa...

Peguei minha caneta, escrevendo rapidamente…

“Eu não fiquei triste por causa disso… pensei que você tivesse ficado triste. Por isso fiquei triste. Não ligo
de ser nerd. Ainda mais depois de você me dizer isso.”

Esperei alguns segundos, e então, passei o bilhetinho por baixo da mesa. Jiminnie percebeu e o pegou.

Ouvi um suspiro saindo pelos seus lábios e, não muito depois, ele cutucou minha mão pela lateral da mesa. Peguei o
bilhete, abri e li.

“Não fica triste, eu não fiquei triste… eu sou um balofo mesmo. Não ligo se elas acham que meu corpo é
feio.”

Hum...

Puxa vida. Como alguém pode achar o corpo do Jimin feio…?


Puxa. Como alguém pode achar qualquer coisa sobre ele feia? Ele é tão bonito… de todas as formas...

Suspirei, hesitante… então, peguei a caneta e escrevi:

“Que bom que você não ficou triste...”

Minhas bochechas ficaram quentes. E eu respirei fundo. Não. Não é só isso que eu quero dizer…

Ofeguei. Droga… preciso dizer. Pelo menos por um bilhete, pelo menos uma vez, preciso dizer isso…

Completei o bilhete, ofegando e escrevendo meio torto, até, ao confessar...

“O seu corpo não é feio. Ele é tão bonito. Eu gosto dele. Ele é muito bonito. É o corpo mais lindo. É
perfeito.”

Soltei a caneta e dobrei o bilhete, respirando fundo.

Eu não reli o que escrevi. Sabia que desistiria de entregar se o fizesse. Eu não queria soar como um pervertido ou ser
vergonhoso e bobo, mas, que seja… eu só estava sendo sincero, puxa...

Que seja.

Antes que eu pensasse demais, apenas entreguei o bilhete. Juntei as mãos na frente do corpo, batendo o pé no chão
de puro nervosismo assim que Jimin o pegou.

Puxa. Puxa. Que ele não ache ridículo, que ele não ache ridículo, que ele não ache ridículo…!

Esperei. Esperei…

E, segundos depois, Jiminnie deu uma risadinha extremamente amável e melodiosa. Aquela risadinha que parece que
estamos soluçando, até… puxa. Que fofo, que fofo...

Uma risadinha. Isso significa que ele gostou? Então não foi ridículo? Nem pervertido?

Um sorriso cresceu em meu rosto com a possibilidade. Fiquei esperando Jimin me devolver o bilhetinho com uma
resposta nos próximos segundos, mas não. Ele não o fez…

Diferente disso, Jiminnie sussurrou meu nome bem baixinho. Eu, imediatamente, olhei em volta para ver se alguém
poderia ter o escutado. Mas todos a nossa volta estavam dormindo. E a tevê, lá na frente da sala, estava alta.

Meus lábios tremelicaram com seu sussurro. Tremelicaram ainda mais quando Jimin deslizou a mão para dentro da
manga da minha camiseta, muito de repente, apertando a gordurinha embaixo do meu braço com seus dedos macios.

O… o quê?

Pfft.

— Ai… — eu murmurei, rindo um pouco. — Por que você fez isso? — sussurrei, sentindo cócegas quando ele
arrastou a mão para os meus ombros.

— Porque você é fofo… — Jimin sussurrou de volta, me fazendo sorrir e abaixar a cabeça. — Você é muito fofo. Eu
gosto tanto de você…

Eu sou fofo…

Ele gosta muito de mim...

Novamente, olhei em volta, com um pouco de medo de alguém ver a minha cara de bobo, ou Minna dizer que somos
bichinhas mais uma vez. Mas ela e suas amigas estavam mais lá pra frente. E todos estavam dormindo.

Uma explosão aconteceu na televisão. E em mim, também…

Porque Jimin, sem nenhum aviso prévio, beijou a minha nuca.

Na sala de aula.

— J-Jimin… — sussurrei, colocando a mão sobre ela ao sentir os arrepios virem com tudo por causa da sua boca. —
Puxa…

Meus ombros tremelicaram por conta do arrepio. Senti uma de suas suas mãos subirem até meu cabelo, os dedos se
infiltrando em meus fios, me acarinhando amorosamente. Fiquei ainda mais arrepiado com isso, sentindo o rosto inteiro
arder… ofegando de puro nervosismo e satisfação.

Prendi a respiração quando ouvi o barulho baixinho dos pés da sua cadeira se arrastando para trás. Ele estava se
erguendo e se aproximando de novo…

Jiminnie… Jiminnie beijou minha mão sobre minha nuca, e sentir sua respiração e seu cheiro tão pertinho, tão
espontaneamente, me fez abrir um sorriso enorme. Eu estava quase rindo porque Jimin ficou maluco!

E ele tá me beijando.

Puxa...

— Jeonggukie… você me deixa doidinho… — ele disse, pertinho da minha orelha.

Meu pescoço inteiro esquentou. Eu suspirei baixinho, quase gritando de nervoso e felicidade, sei lá, sei lá! Jiminnie
está me fazendo um cafuné… me beijou... Jimin disse que sou fofo e que gosta de mim.

Jimin, Jimin, Jimin…

Eu ri.

Ri baixinho, sorrindo tanto que meus olhos quase se fecharam. Puxa… estou tão bobo, tão bobo e doido agora!

Cobri meu rosto com minhas mãos, ouvindo Jimin rir atrás de mim também. Quis me virar para ele e ver seus olhos
bonitos enquanto ele ria. Quis ver seu rosto bonito. Quis o beijar. Quis fugir com ele.

Quis tudo, naquela aula de história.

Quis Jimin.

Pela próxima hora, o vídeo continuou rodando e rodando. Eu não prestei atenção em nada… só pude ouvir o meu
coração, forte e intenso, e piscar os olhos com lentidão, suspirando de satisfação sempre que os dedos de Jimin deslizavam
com tanta maestria pelo meu couro cabeludo. Puxa. Puxa…

Estou apaixonado. Estou tão apaixonado. Minhas bochechas estão pegando fogo, meu coração está tão alegre, estou
tão feliz e arrepiado…

Puxa…

Quando os alunos começaram a acordar, perto do fim da aula, Jiminnie parou com o cafuné. Ele ajeitou a mochila na
união da parte traseira da minha cadeira com a beirada da sua mesa, de uma forma que ela escondesse o que nós fizemos
depois…

Ah.

Eu abaixei minha mão esquerda, ao lado do meu corpo, e Jiminnie a alcançou por baixo da sua mesa. Nós
entrelaçamos nossos dedos embaixo das nossas mesas, sem que ninguém percebesse. E ele continuou me causando
arrepios sempre que deslizava sorrateiramente os dígitos quentinhos pelo meio da minha palma, me fazendo até mesmo
tremelicar na cadeira. Puxa...

Eu estava sentindo uma felicidade inigualável. Dentro da escola. Na aula de história… puxa, Jimin.

Puxa… Jiminnie…

Você também me deixa doidinho.

E eu também gosto muito de você.

JIMIN

Depois da aula de história, foi difícil andar ao lado de Jungkook sem querer segurar ele em meus braços e virá-lo para
beijá-lo no meio de todos os outros alunos.

Ele estava quietinho do meu lado, apenas olhando para baixo enquanto me seguia até o clube de música. Quando eu
disse da nossa situaçã, ele pareceu completamente confuso e, bem, foi fácil entender que ele não tinha escutado nada sobre
o que falamos no refeitório. Ele estava viajando…

Será que foi por minha causa?

Ahhh! Eu adoraria se fosse...

Quando chegamos ao clube, Seokjin já estava na porta. Ele falou animadamente com Jungkookie e eu quis rir, e
depois morrer de amores, quando percebi que voz de Jeongguk não estava normal.

Ele estava falando fino, manso e… cheio de doçura. Era como se ele estivesse prestes a cair no sono e isso me fazia
sentir tantas vontades… ah, como ele é fofo…

— Isso vai ser tipo uma reunião? — Seokjin perguntou para mim, após trocar algumas palavras com meu amorzinho.
— Uhum. Mas acho que é rápido! O Tae quer falar tudo com detalhes, eu acho…

— Hmmm! Entendi. Muito interessante — Seokjin disse, e sua voz é tão engraçada que às vezes não sei dizer se ele
está brincando ou falando sério.

Ficamos conversando um pouco em frente ao clube e, não muito depois, Taehyung e Hoseok chegaram juntos. Eles
usaram a chave para abrir a porta e nós entramos juntos na nossa sala, nos sentando posteriormente.

Foi bem rápido. Taehyung explicou para os outros o que eu já sabia e deu algumas ideias de apresentações, e tanto
Hoseok, quanto Seokjin, fizeram sugestões. Já eu e Jungkook só ficamos em silêncio, olhando pro nada e… não sei ele,
mas eu, estou pensando em como dar um beijo na boquinha dele ainda hoje...

Fala sério… ele merece um beijinho…

Fiquei tão distraído com isso, imaginando beijos apaixonados, que não entendi quando, de repente, Seokjin, Hoseok e
Taehyung se levantaram e simplesmente caminharam até a porta do clube.

Mas…

Acabou a reunião?

E tá tocando música?

Espera.

Quando ligaram o toca-fitas?

— Tae…! — chamei-o, indo até ele, completamente perdido.

Taehyung se virou para mim e deu um grande sorriso.

— Ah, Jimin! Fica aqui. Nós vamos falar com o diretor sobre os aparelhos que precisamos para a nossa apresentação
— ele disse.

É...

Eu realmente não faço ideia do que ele está falando.

— Eu… — Pensei um pouco.

Taehyung logo saiu com Seokjin, então, perguntei para Hoseok:

— Hoseok, como posso ajudar?

— Ficando aqui! — ele disse, com seu sorriso de sempre, acabando de guardar suas coisas e ajeitar a mochila na
carteira vaga no nosso clube.

— Tem certeza? Eu... — Antes que eu terminasse, Hoseok me explicou:

— É que você tem que esperar a Namsoon aqui, sabe? Ela nunca entra direto, então você precisa abrir pra ela — ele
disse, enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro, com um sorrisinho nos lábios. — Pode ser?

Eu engoli em seco... mas não neguei. Na verdade, eu confirmei sem pensar duas vezes.

— Pode ser… — eu disse, dando um sorrisinho.

— Tá bom, valeu! — Hoseok sorriu e começou a sair. — E se a fita embolar, tira ela bem rápido!

— C-certo! — eu disse.

Ele sorriu. E sem falar mais nada, saiu, fechando a porta na minha frente e deixando eu Jungkookie sozinhos no clube
de música.

JUNGKOOK

Meu coração não estava pra brincadeira.

Jimin parecia meio lento… ou era eu que estava assim. Era inevitável pra mim…puxa. Eu mordia a boca como um
doido e espremendo os dedinhos do meu pé dentro do meu allstar a cada segundo que eu via ele ali, na minha frente, perto
de mim, completamente sozinho comigo.

Minha mente estava me deixando maluco… porque eu só conseguia pensar que Jimin sempre faz alguma coisa. Ele
quem me beijou nas bochechas primeiro, quem segurou minha mão, acariciou meu rosto, meus cabelos, e… e…

E se ele me beijar na boca agora?

Engoli em seco.
Justine do The Archies, estava tocando o refrão pela segunda vez quando Jiminnie se virou. Eu pensei em desviar os
olhos, mas não o fiz porque ele não olhou-me… ele estava de cabeça baixa, com um sorriso trêmulo nos lábios cheinhos.
Lábios cheinhos… lábios, lábios do Jimin…

Fiquei um pouquinho tonto.

— Caramba… realmente vamos nos apresentar, hein? — Ele disse, dando uma risada nervosa, e é como se o ar
estivesse mais pesado.

Eu estava nervoso. E Jimin parecia nervoso também.

— É-é… — gaguejei, balançando a cabeça nervosamente.

Jimin caminhou para perto. Ele sentou lentamente na cadeira do meu lado e, puxa, puxa vida... é como se
sentíssemos que tudo à nossa volta estivesse nos repetindo somente uma coisa:

“Vocês admitiram que se beijariam e agora está tudo diferente.”

Meu rosto pegou fogo. Eu podia sentir que estava fervendo, mexendo nas minhas próprias mãos sem parar para
tentar me distrair. Massageava meus dedos, apertava minha palma, suspirava e fazia de novo...

— É… o fim das suas férias foi legal? — Ele indagou, me fazendo escutar sua voz bem de pertinho.

Estremeci.

— Foi, foi, uhum… — respondi, balançando os ombros sem querer. — E das suas?

— Foi também — ele disse, dando um longo suspiro, como se retomasse suas forças. — Sabe, fiquei com saudades
de você… queria que pudéssemos ter saído mais.

Meus lábios tremeram. Se eu não me segurasse, daria um sorriso assustador.

— E-eu… também… — eu disse, olhando para os meus sapatos.Não consigo olhar pra ele.

— Mas agora podemos sair quase sempre, não é? — Ele indagou, e eu ouvi o ranger da cadeira quando ela a
aproximou da minha. Minha coxa se arrepiou quando a sua encostou a minha, mostrando o quão perto ele estava.

Eu afirmei.

— Sim, é… — eu sussurrei, mas a última parte quase não saiu. — É… — repeti, audivelmente.

Jiminnie ficou em silêncio por alguns segundos. Dessa forma, fiquei encarando o tênis dele e como os cadarços
estavam amarrados desreguladamente, me perguntando como as pessoas, nos filmes de amor, não tem um piripaque
quando estão em situações como essa.

Puxa, acho que vou morrer…

Pressionei os lábios. Como se não se importasse com meus devaneios — e não deve, já que não pode ouvi-los (puxa,
como sou bobo) —, Jiminnie deu uma risadinha baixa.

Ele tocou seus ombros nos meus.

— Você… você pode olhar pra mim? — ele perguntou.

E eu me senti um idiota.

Um tremendo idiota.

Eu quase não tinha olhado em seus olhos depois que saímos da sala. Eu costumava olhar para Jimin toda hora, então
é claro que estou sendo um completo maluco não o fazendo agora… estou diferente. Mas está tudo tão diferente dentro de
mim, porque… puxa. Nós queremos nos beijar e eu elogiei seu corpo...

Puxa.

Levantar a cabeça e olhar para ele era tão difícil. Eu nunca me senti tão tímido assim antes...

Só que, ao mesmo tempo, eu não quis ser um completo esquisito. Porque gosto dele, muito, muito… sabe,Jimin é
como Rheya. E eu não quero que ele saia correndo porque estou agindo como um completo maluco.

Não posso assustar ele, não quero perdê-lo, ele… ele é importante pra mim.

Puxa…

Eu lambi meus lábios com nervosismo. Levantei a cabeça lentamente e a virei, com cuidado, para o lado, encontrando
o par de olhos castanhos de Jimin no segundo seguinte.

Naquele pequeno segundo, pude ver como ele estava bonito. Como sempre. Suas sobrancelhas estavam
arrumadinhas e tinha um sorriso miúdo nos seus lábios, os olhos me encarando de uma maneira suave e… puxa… puxa...

Puxa.

Uma maneira romântica.

— D-desculpa… — sussurrei, de nervoso, e nem sei o porquê.

Eu não queria, mas, um segundo depois, eu já estava olhando para baixo de novo, com meus olhos quase fechados.

Puxa vida…

— Tudo bem… — ele disse, com carinho, o cheiro de tutti-frutti vindo da sua boca. — Você… você está bem?

Me senti constrangido.

— S-sim, por quê? — Perguntei.

— Você tá diferente… — comentou, parecendo pensativo. Pisquei um par de vezes, com as pálpebras queimando. —
E não tá olhando pra mim.

— Não é nada… — eu disse, me sentindo bobo.

Jiminnie se aproximou um pouco mais. Seu cabelo ruivo e cheiroso tocou minha testa.

— Sério mesmo? — Perguntou, e dessa vez parecia um pouco receoso.

Puxa.

Eu estou o preocupando?

— É… — Mordi o cantinho da boca sem pensar. — Não. Não é sério, eu tô… — comecei. Vai. Admite. Admite… —Eu
tô m-muito nervoso...

Admiti.

E só então, percebi como soei completamente ridículo.

Céus. Que Jimin comece a ser bonzinho a partir de agora e não me dê um fora por ser um bobo completo...

JIMIN

Meu Deus.

Eu não sei o que é isso. Mas com certeza pode ser chamado deparaíso…

Meu coração parecia estar saltitando de alegria — bem rapidamente. Eu estava vermelho e não conseguia parar de
sorrir um mísero segundo sequer. Encostando nos ombros dele indiretamente e o vendo de pertinho, ouvindo sua respiração
descompassada…

Eu estava bem feliz. Porque quando ele disse, eu percebi…

Era por minha causa.

Quando me sentei ao seu lado e tentei conversar, Jungkookie começou a ficar meio trêmulo. Seus ombros subiam e
desciam com seus suspiros ofegantes, ele parecia completamente desequilibrado. Até seu pescoço tinha ficado cor de
rosa…

Eu fiquei me perguntando se ele estava arrependido da nossa última ligação, ou de ter elogiado meu corpo e, por
isso, não conseguia mais me encarar. Mas quando ele tentou me fitar e eu vi como seus olhos pareciam diferentes,
brilhantes, mas trêmulos e tímidos… eu percebi.

E com ele me dizendo que estava definitivamente nervoso, eu percebi, mesmo.

Jungkookie estava assim por minha causa.

E apesar de ele parecer estar a beira de deslizar por essa cadeira e se jogar no chão de tanta timidez, eu fiquei me
sentindo bobo. Muito bobo por perceber como mexia com Jungkookie, o garoto que tanto mexe comigo também…

Eu encarei seu pescoço e subi os olhos para sua orelha vermelhinha. O imaginei com o telefone contra ela, dizendo
para mim, bem baixinho… “Eu não odiaria se fosse um beijo na boca”.

Mordi meus lábios.


— Tudo bem.

— F-foi mal — ele pediu.

— Por que diz isso?

— É que… puxa… — Suspirou.

Eu encarei seus detalhes singulares e lindos. Ergui minha mão direita e, amorosamente, toquei a pontinha da orelha
de Jungkook com o indicador, deslizando-o lentamente até o lóbulo gordinho e macio.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, Jungkook reagiu imediatamente. Seus ombros tremelicaram e ele encolheu o
pescoço, soltando um ruído baixinho.

Pisquei um par de vezes.

Sorri.

— O que é? — Eu perguntei, ainda sorrindo, chegando mais perto, segurando cuidadosamente a cartilagem da sua
orelha entre meu polegar e meu indicador, fazendo uma massagem.

Jeongguk deu uma risadinha nervoso, ainda tremelicando.

— É que dá um nervosinho… — ele disse, então. Eu ri.

— Mas é ruim?

Ele negou com a cabeça, me fazendo parar de acarinhá-lo.

— Não é — disse ele.

Suas bochechas eram puro fogo.

Eu comecei a morder minha boca. Ai. Ai. Olhar para ele aqui, aqui tão pertinho, sozinho, sabendo que ele não nega a
ideia de me deixar lhe dar um beijinho…

Meu Deus. Meu Deus. Quero muito dar um beijo nele…

No entanto, antes que eu fizesse qualquer coisa, Jungkookie segurou minha mão, que estava em cima da minha
perna, silenciado meus pensamentos.

Ele a apertou. Seus dedos estavam quentes como uma xícara de chá…

Eu abri meus lábios para dizer alguma coisa. Mas antes de eu fazer isso, de novo, Jeongguk simplesmente deitou o
rosto embaixo do meu queixo. E como se não fosse o suficiente, ele soltou minha mão para me puxar, com ambas, meus
ombros, no abraço mais manhoso e atrapalhado que eu já vi em toda minha vida…

Eu tentei abraçar ele de volta, mas me atrapalhei um pouco, até só pousar as mãos no finalzinho das suas costas.

— M-me desculpa por estar agindo estranho… — ele disse de novo, e pude sentir seu peito tremendo.

Na verdade, tocando-o em meus braços, eu podia senti-lotremendo.

Não só o peito… ele todo.

— Ggukie… — sussurrei, afagando sua cabeça com meu queixo. — Não tem problema... — falei.

— E-eu tô agindo estranho e odeio quando agem estranho comigo, eu me sinto mal e esquisito, mas não consigo não
agir estranho agora, me desculpa, puxa vida… — disse, rápido até demais.

Eu sorri. Meus olhos se fecharam.

Bobinho…

— Não ligo se você agir estranho — eu disse, quentinho por dentro.

— Não?

— Hum-hum. — Neguei, murmurando.

Jeongguk soltou um suspiro longo e nervoso, pressionando os dedos nos meus ombros. Ele ainda estava trêmulo…

Sabe… eu sempre percebi o quão tímido Jungkook era. Em algumas vezes ele fica mais calmo e relaxado, como
quando pega no sono ou andamos de ônibus juntos, mas em outras, ele se silencia e não consegue me olhar nos olhos
direito. E apesar dele ter me dito uma vez que não é algo ruim, eu… eu gosto quando ele se acalma. Gosto quando ele fica
quentinho e calminho…

Dei mais um sorrisinho. Eu queria acalmá-lo…


Pensei em algo.

— Sabe, Jeongguk — eu chamei, dando um sorrisinho. — Às vezes eu penso em coisas estranhas… sabe, ao invés
de agir estranho, penso estranho.

Jungkook parou de tremer levemente, como se ficasse preso no que eu acabei dizer. Isso.

Peguei sua atenção…!

— Sério? — Indagou, interessado.

Aumentei meu sorriso.

— É… é bem estranho — eu disse, o sentindo se encostar ainda mais em mim. — Tem um pensamento engraçado…
com você. Quer saber qual é?

— Quero… — respondeu, antes de mais nada.

Eu respirei fundo… certo.

Vou contar.

— Sabe… teve uma vez que comi um pastel antes de vir pra aula — eu falei. — Aí te vi, e você ficou com as orelhas
vermelhas. — Eu fiz um biquinho. — Aí pensei “Eu quero morder as orelhas do Jungkook como se fossem pastel”.

Eu disse.

Um segundo depois, Jungkook se afastou do abraço e olhou para mim.

E antes que eu me arrependesse, um sorriso imenso cobriu seu rosto e ele… ele deu risada.

Uma linda, desafinada, e alegre risada.

Na boa? Eu nunca fiquei tão feliz por ser doidinho em toda a minha vida.

— Puxa, isso é… é muito engraçado… — ele disse, com a voz desafinada.

— É estranho, né?

— É!

— Então… você não precisa mais se sentir culpado por agir estranho, tá bom? — Eu perguntei, lhe olhando com
atenção e carinho. Toquei minha têmpora com o indicador. — Meus pensamentos sempre vão superar sua estranheza… —
eu disse, fazendo uma voz assustadora.

Jungkookie continuou rindo mais um pouquinho, balançando a cabeça depois de um tempo como se finalmente
entendesse.

— Tá bom… — Passou a mão sobre os olhos. — Vou manter isso em mente…

— É bom que mantenha, senhorzinho.

Seu sorriso ficou ainda maior e eu tenho certeza que com “senhorzinho” ele lembrou da sorveteria e das nossas
confissões.

Ele comprimiu os lábios e ficou com as bochechas vermelhas.

— Sabe de uma coisa? Eu ficaria com medo dessa sua frase. Mas como é você, eu só consigo achar engraçado…

— Que frase?

— Essa de que seus pensamentos superam minha estranheza… — Coçou os olhos. — Eu achei divertido.

“Divertido.”

Fofinho…

— Pois pense bem. Posso estar pensando em te sequestrar e roubar seu cachorro, olha lá… — continuei com as
minhas gracinhas, querendo deixá-lo cada vez mais confortável.

— Você tem medo de cachorro, Jiminnie… — Ele riu.

— Será que eu tenho mesmo? — Arregalei meus olhos, sussurrando: — Será que meu nome realmente é “Jiminnie”?

Jeonggukie se acabou de rir. Eu tentei continuar sério, mas acabei rindo também porque, fala sério, a risada dele é
tudo de bom...

— Você é tão bobo, puxa… — Ele coçou o canto dos olhos. — Eu também penso algumas coisas estranhas.
— Tipo o quê? — Indaguei, curioso e animado.

— Não posso dizer!

— Ah, qual é? Eu te disse! — Insisti, chegando mais perto. — Vai… se contar uma, conto outra.

Jungkook diminuiu seu sorrisinho. Ele me analisou com os olhos, como se visualizasse minha proposta valiosa sobre
revelar segredos e pensamentos esquisitos…

E ele curtiu. Porque disse:

— Quando te vi pela primeira vez, pensei… — Parou. Riu. —Não. Deixa…

— Fala! Vai… — Cheguei mais perto, tocando meu peito em seu ombro. — Foi alguma coisa ruim?

— Depende do ponto de vista… — Deu um sorrisinho.

— O meu é muito positivo! Vai. Fala.

Jungkookie continuou sorrindo, como se estivesse pronto para rir a qualquer momento. Acho que ele está tão
distraído pensando e se divertindo que não percebeu, nem se intimidou por eu estar tão próximo a ele.

— Eu… eu pensei que você era como uma tangerina — ele disse. Depois cobriu o rosto. — Por causa do seu
cabelo…! — Riu baixinho, de vergonha. — Puxa, sei que é bobo, mas na hora parecia ter feito tanto sentido!

Eu sorri.

Simplesmente sorri para a confissão fofa de Jeongguk.

— Uma tangerina? — Eu dei risada, fazendo-o me olhar novamente. — Ok, eu gosto de tangerinas, então vou
relevar…

Jeonggukie sorriu.

— Muito obrigado, Jiminnie… — Ele sorriu.

Então… eu me senti agitado.

De repente, me dei conta que estávamos confortáveis e completamente sozinhos em uma sala. O meu coração
palpitou, como se perguntasse ao universo se aquela era a hora certa para nosso primeiro beijo… e mesmo se não fosse, eu
senti que poderia fazê-lo. Por isso comecei a me aproximar lentamente de Jeonggukie…

Ele demorou um pouco para entender o que eu estava fazendo e acabou arregalando os olhos quando perceber.
Suas bochechas queimaram em um vermelho forte e intenso, e ele acabou mexendo o rosto, me fazendo recuar um pouco e
depois…

Rir.

Como sempre, ri das suas reações doidinhas.

— Puxa! — ele disse, alto. Depois, arregalou os olhos e começou a se mexercompletamente. — Não entenda errado!
E-eu não me virei porque não queria, eu só, puxa, não consegui, p-puxa, deu algo de errado... puxa, me mexi no automático,
puxa vida… — ele gaguejou e tremulou, falando extremamente rápido.

Demorei alguns segundos para entender suas palavras e… ah. Acabei ficando encantado.

Jungkook é tão tímido. Mas ele ainda quer ficar comigo... é por isso que ele sempre explica o que está sentindo. Ele
é... caramba.

Jungkookie é meu amor. Meu amorzinho. Ele é tão precioso...

Percebendo seu nervosismo, eu pensei em uma coisa espontânea. Me concentrei nisso por alguns segundos, e...
sim.

Só... sim.

— Tudo bem, Ggukie… — eu disse, risonho, acariciando seu ombro. — Jeongguk?

Jeongguk parou de sussurrar incontáveis “puxas” ao me ouvir. Ele me encarou e eu, cuidadosamente, o dei um
beijinho embaixo do olho.

Depois, encostei minha bochecha na sua, carinhoso, ouvindo seu suspiro trêmulo por causa disso. Ele estava tão
quente e tímido... extamente como meu coração. E eu disse, como um sussurro, para que ele entendesse meus sentimentos
a respeito do nosso beijo…

— Se você quiser, pode dar o primeiro beijo… — disse eu. — Assim você não vai se sentir nervoso sempre que eu
chegar perto... porque só você vai saber quando for acontecer...
Jungkook levou a mão quentinha até minha nuca. Me apertou ali cuidadosamente, lamuriando:

— E-eu não consigo fazer isso… — sussurrou, abaixando a cabeça. Ele deitou a testa em meu ombro. — Puxa,
Jimin... faz isso…

Juntei as sobrancelhas.

— Fazer o quê?

Jungkookie engoliu em seco.

— Dê o nosso primeiro... b-beijo… — sussurrou, quase perdendo a voz por estar gaguejando. — M-me… me b-beija
primeiro… tá bom?

Ai meu Deus.

“Me dê nosso primeiro beijo.”

Eu…?

Minhas mãos formigaram. Eu quis segurar o rosto de Jungkook naquele segundo, levantar seus olhos até os meus e
ter seu rosto como minha última visão antes de pressionar as pálpebras e tocá-lo com os lábios, finalmente beijando quem
tanto amo… e...

— Tae?

Nós dois nos afastamos de imediato.

Namsoon!

Ahhhhhhhhhhh!

Que difícil!

Suspirei. Ao escutar sua voz feminina, eu me levantei rapidamente da minha cadeira, indo abrir a porta para ela, como
os meninos pediram, dando graças aos céus por ela não ter saído entrando e pegado eu e Jungkook quase tendo um
colapso nervoso conjunto por causa de um beijo. Ai ai...

O tempo passou devagar, depois disso. Eu e Jungkook ficamos em silêncio pelo resto do dia... Digo, nós
conversamos com os meninos e a Nam, mas no fim, não conversamos entre nós. O que me fez sentir uma tremenda falta da
sua voz trêmula e desengonçada…

Jungkookie é tão fofo que me dói o coração.

E posso garantir…

Vou dar nosso primeiro beijo.

Notas finais
Tô com muito sono... boa noite!

24. Ele é como o Universo

Notas do Autor
Boa noite, anjinhos!

Vou deixar pra falar mais nas notas finais, então, boa leitura~~

JIMIN

Minhas bochechas clamaram por ajuda assim que eu cheguei em casa.

Na boa… acho que elas não me aguentam mais! Estão doendo e ardendo porque eu simplesmente não consigo parar
de sorrir, desde que a aula de história acabou, que saí da escola, que peguei o ônibus, que desci dele... eu estou
"só sorrisos" e nada consegue me fazer parar de sorrir cada vez mais.
E por quê?

Porque Jungkook me levou à utopia hoje.

E é impossível não sorrir em utopia.

Poxa… fala sério! Acho que estou em utopia até agora. E é tão, tão bom, que sinto que amo Jeongguk ainda mais.
Acho que o amo de uma forma muito mais intensa que o normal, tipo amor de almas gêmeas ou noivos. Tipo… realmente
amor, mesmo.

É que ele é simplesmente surreal. Sério, como Jungkookie conseguiu me levar a um estado de felicidade tão intenso
em plena segunda-feira, na escola e logo depois de ter sido chamado de baleia por meninas que me odeiam?Como?!

É um mistério, mas… eu não me importo. Eu não poderia estar mais feliz que isso.

Apesar de não ter conseguido dar um beijo em sua boca, Gguk tornou o dia inteirinho especial ao segurar minha mão
por baixo da mesa, me fazendo sentir aquela felicidade surgindo em meu peito e se alastrando por todo meu coração.Por
causa do calor e do toque de sua mão macia, tudo se transformou em magia. Jeongguk consegue fazer tudo isso sem ao
menos perceber, e ainda por cima disse aquilo no refeitório...

“Eu acho lindo”.

Ahh.

Será que ele estava falando da apresentação? Ele parecia tão distraído. Eu percebi que Jungkook estava olhando
para mim o tempo todo, e até tentei agir de um jeitinho fofo, só porque ele estava prestando atenção em mim, mas não
consegui. Só que… ele olhou nos meus olhos e disse a palavra lindo. Isso me fez explodir por dentro.

Na boa… lindo. Lindo. Ele olhou nos meus olhos e disselindo.

Isso é tão, tão fofo e romântico. Eu fico até confuso. Afinal, como consigo agir normalmente quando tudo entre nós
está tão diferente? Queremos nos beijar e agora, Jeongguk me disse algo tão… tão… tão perfeito! Tão… Jeon Jungkook.

Eu estou sorrindo que nem um bobo porque os acontecimentos circulam pela minha cabeça como lembranças
abençoadas. Jungkook elogiou meu corpo! Ele disse que é bonito, que tenho um corpo bonito, e isso me fez virar de ponta
cabeça... aqui, dentro do meu peito, e dentro do meu cérebro, eu senti amor. Senti amor com todo meu ser.

Acho até que dei tilt dentro da sala de aula…

Por incrível que pareça, eu nunca pensei que Jungkookie poderia fazer um elogio assim, ainda mais tão
espontaneamente. Eu acho que nem sabia que queria tanto que ele me elogiasse até ele o fazer...

Eu sempre penso no quanto Jungkookie é extremamente bonito. Lindo. Perfeito. A pessoa mais linda que eu já
conheci em todos os meus quinze anos de vida... Eu amo seus olhos, seu cabelo, e até suas sobrancelhas. Mas nunca
pensei em como me sentiria com ele me elogiando, mesmo que aos pouquinhos, mesmo que indiretamente e de uma
maneira atrapalhada… por isso eu entrei em pane. Mexeu tanto comigo! Me deixou louquinho…

Fiquei fora de órbita o resto do dia, até quando passei meu telefone para o Taehyung, depois da reunião do clube de
música. Não consegui prestar atenção, também, em nenhuma palavra que saía da boca do Yoongi no estacionamento. Tudo
era sobre Jungkookie e como ele me via dentro da cabeça dele. Sou bonito? Sou bonito aos olhos dele?

— Ai ai… — Suspirei, tirando os sapatos e deixando perto da porta. Menino apareceu miando. — Oi, Menino. O
Yoongi não veio hoje.

Ah, é. Yoongi deveria estar aqui também, mas sua mãe apareceu de surpresa lá na escola e ele decidiu ir para casa
com ela. Assim, ele deve vir aqui em qualquer outro dia que ela não esteja na cidade...

Meu Menino passou entre minhas pernas, ronronando e eu fui com ele até a cozinha, enchendo seu pote de ração e
trocando sua água, rindo baixinho quando ele começou a comer desesperadamente. Até parece que passa fome!

— Comilão.

Antes de guardar o saco de ração, saí de casa mais uma vez, apenas de meias. Fui até o canto da minha varanda e
enchi a vasilha que tem ficado ali, junto com um cobertor velho e outro potinho com água. É para aquele gatinho preto,
felpudo e gordinho que encontrei durante o recesso de duas semanas. Ele tem nos visitado bastante desde a última vez que
o alimentei e apesar de não vê-lo, já o gosto muito...

Mamãe chegou a ver ele duas vezes depois daquele dia, então montamos um cantinho para ele. O cobertor sempre
fica infestado de pelo preto, e as vasilhas esvaziam toda hora, por isso sabemos que ele continua vindo. O único problema é
que ele nunca dá as caras quando estamos por perto…

Pensando nele, enchi seu potinho de ração, depois peguei o pote de água e entrei em casa para trocá-la. O que me
surpreendeu fora sair, e então, me dar de cara com o gatinho preto. Poxa!

Ele apareceu do nada!

Ele já estava olhando para mim quando o notei, perto do pote de ração, mais gordinho do que da última vez que o vi.
Fiquei parado, o fitando, mas logo me mexi. Me aproximei lentamente, segurando sua água com firmeza e chamando:

— Pspsps… — sussurrei. — Vem cá, vem. Vem cá, neném…

Me aproximei mais um pouco e meu coração acelerou quando elenão fugiu. Quando me abaixei, colocando a água no
lugar, o gatinho não se afastou. Ele ficou um tempo parado, me analisando e analisando as vasilhas, até caminhar
lentamente até o potinho de água, cheirando e começando a beber.

— Bom garoto... — eu disse, me aproximando mais.

Ele estava tão concentrado em beber água que não ligou pra minha aproximação. Por isso comecei a acariciá-lo com
carinho, pertinho do rabo, atrás das orelhas, até ele começar a ronronar. Fofinho!

Fiquei um tempo com o gatinho, até ele se esfregar na minha mão e ir comer. Quando ele ficou satisfeito, eu voltei
para dentro de casa, pensando em contar para mamãe que fiz carinho no pretinho assim que ela chegar.

Peguei minhas coisas na sala de novo e comecei a subir os degraus para o meu quarto, mas, antes de chegar lá, o
telefone tocou.

— Opa.

Deixei minhas coisas no meio da escada e saí correndo. Quando atendi, ouvi:

— Alô? É da casa do Jimin?

Era o Taehyung.

— Oi, Tae! — eu disse. — É, é sim.

— Jiminnie! Tudo bem? — ele deu uma risadinha. — Cheguei agora e pensei em te ligar pra te contar uma coisa
incrível. Podia esperar até amanhã, né? Mas não consegui! Então. Antes de sair da escola, a Namsoon me contou que vai ter
um programa super legal na escola no fim do mês de agosto, aí queria te falar antes porque você é especial, é claro.

Tae fala tantas coisas, tão rápido, que eu fico perdidinho.

— Espera… sim, eu tô bem! E você? — eu disse. — E que tipo de programa? Tipo uma festa?

— Tipo, não! É bem melhor! — ele disse, animado. — Vai ter um acampamento!

— Um acampamento?

— É! Vão contar pros alunos nessa sexta-feira, aí vão elaborar as autorizações e tudo mais!— ele disse. — Por que a
gente não fala mais disso depois da escola, amanhã, na minha casa?

Espera.

O quê?

— Espera aí. Amanhã? — eu perguntei, um pouco perdido. — Na sua casa? Sério mesmo?

— Sim! Eu adoro chamar meus amigos pra vir aqui em casa, ainda mais depois da escola, porque é quando eu fico
sozinho — ele explicou, cuidadoso. — Você acha uma boa?

Sorri pequeno porque, sim… é claro que eu acho uma boa! É demais. Adoro ir na casa do Yoongi e pensar em ir,
também, na casa do Tae, me faz sentir que estou fazendo mais um melhor amigo.

— Claro!

Taehyung parecia estar sorrindo do outro lado da linha quando disse que sua mãe poderia me deixar em casa depois,
e que se a minha quisesse, era só ligar para sua casa depois das oito para confirmar tudo. Eu concordei e depois de algumas
palavras trocadas, nós apenas desligamos.

Fiquei ainda mais feliz depois de falar com ele. Fui para meu quarto sorridente, guardando minhas coisas com
animação, até que, enquanto pegava uma roupa de ficar em casa, me deparei com a capa de chuva amarela que emprestei
para Jungkookie no dia que fomos para o centro juntos.

— Awn… — Suspirei.

Foi engraçado como minha mente voou de Taehyung e sua casa, para Jungkook e sua fofura de repente.

Seu rostinho molhado de chuva, e como nos abraçamos pela primeira vez naquele dia… fora tudo de bom. Poxa, é
difícil parar de pensar nele, tanto que fui tomar banho pensando em sua fofura e no dia de hoje (mais uma vez). Uma coisa
engraçada até chegou a passar pela minha cabeça enquanto eu ensaboava os ombros: afinal... se Jeonggukie já consegue
ser um fofo escrevendo bilhetinhos no escuro, imagina como ele seria um amor ditando seus votos?

Tipo… em um casamento.

No nosso casamento.
Cara. Cara… imagina só.

Jungkookie em um terninho. Com alianças, e tudo mais... falando um monte de melosidades adoráveis, só pra mim, e
passando o resto da vida juntinho comigo…

Ah…!

Tenho certeza de que é cedo demais para pensar nisso, mas não posso evitar.Enquanto Jungkook existir, vou me
imaginar casando com ele.

JUNGKOOK

“This is where I want to be,

Here, with you so close to me

Until the final flicker of life's amber”

— “Esse é o lugar onde quero estar, aqui, com você tão perto de mim. Até o final dos nossos dias”…— repeti,
escrevendo no caderno. Respirei fundo. — Puxa…

Tem sido difícil estudar inglês por causa dele.

Jimin… puxa, Jimin. Jimin insiste em ficar na minha cabeça sempre que pode. Tenho o costume de, pelo menos duas
ou três vezes por semana, tocar uma fita aleatória para tentar traduzir as músicas apenas ouvindo elas. Mas é difícil quando
são músicas de amor. Eu acabo pensando em dedicar elas ao Jimin, ou escutá-las com ele, e isso sempre toma toda a
minha atenção.

Não consigo estudar. Não consigo parar de pensar nele em cada uma dessas músicas e isso me arrepia todo, puxa…
eu não consigo manter o foco.

É que já sinto a falta dele.

Pensar em Jimin é como uma coisa perigosa. Tem sido assim ultimamente... às vezes, é como pensar em algo que
me constrange muito, como um mico que paguei há muito tempo, porque as reações que tenho involuntariamente são as
mesmas! Meu corpo se contorce e eu fico ofegante, tentando escapar da imagem de seus olhos, dom som de suas palavras,
e do fato de que Jimin sempre é paciente comigo… mas esses fatos, essas imagens e lembranças me seguem o tempo
todo! Fico cor de rosa.

E é assim... eu não consigo controlar minha timidez. Eu carrego comigo essa grande agonia, de pensar em Jimin toda
hora do dia, até quando estamos juntos. Por isso é tão… puxa, é tão difícil!Porque nada esconde essa minha timidez! E
sempre que Jimin percebe, ele tenta aliviá-la.

“Se você quiser, pode dar o primeiro beijo. Assim você não vai se sentir nervoso quando chegar perto, porque só você
vai saber.”

Puxa...

Jimin é tão doce e cuidadoso que eu… eu não consigo parar de pensar nele. Minhas bochechas ficam ardendo tanto
que eu fico todo molenga…

Tipo… Jiminnie. Jiminnie me beijando na sala de aula hoje. Só de lembrar, minha nuca se arrepia, como se ele
estivesse aqui agora, me beijando como beijou mais cedo...

— Puxa… — Suspiro, vendo a hora. Eu deveria estar estudando.

Mas com ele na minha cabeça, não dá...

Me debrucei sobre a escrivaninha, passando a música pelo toca fitas, ficando sonolento por causa do rubor nas
bochechas. Depois, me sentei ereto, balancei o rosto, e comecei a traduzir mais. Mas é claro que, com o meu azar, começou
outra música de amor depois de Here Comes The Moon do George Harrison. Uma música que me faz pensar muito em
Jimin...

Blue velvet, do Bobby Vinton.

— Puxa… — Suspirei baixinho, bagunçando meus cabelos. — Eu gosto muito de você, mas sai da minha cabeça! —
Bati na minha própria cabeça. — Sai só um pouquinho… — choraminguei.

Ele não saiu.

Ele nunca sai da minha cabeça.

Fiquei um tempo fitando o papel e minha caligrafia. Desistente, me levantei da cadeira e fui direto para cama, me
deitando com o rosto quente e o coração pesado. Pensamentos sobre Jimin dançavam pela minha cabeça sem parar. Essa
música me lembra tanto ele que é impossível não lembrar, sabe... o cantor fala da moça que ele ama, que veste veludo azul.
Eu penso tanto em Jimin ao som dela que que já memorizei…

Bocejei um pouco.

— “Ela vestia veludo azul… mais azul que o veludo, era a noite. Mais macio que o cetim, era a luz das estrelas…” —
sussurrei baixinho, abraçando meu travesseiro. — “Mais quente que Maio, eram seus suspiros carinhosos…”

Suspiro, fechando meus olhos, e minhas bochechas ardem mais. Pensar em Jiminnie me chamando deGgukie bem
baixinho me deixou completamente dormente.

Por que sua voz tem que soar tão bem? Puxa… é difícil demais...

Me sinto em paz pensando nos olhos dele, enquanto ele sorri, enquanto fica vermelho… enquanto me olha… é tão
gostoso que vou ficando sonolento… de amor...

Puxa… essa música me lembra Jimin por causa do azul. Jiminnie usou um suéter azul no primeiro dia de aula, assim
como quando beijou meu polegar no parquinho… só consigo pensar nele com essa roupa quando escuto essa música.
Penso nele e seus cabelos ruivos em uma imensidão de azul, enquanto a melodia soa… ao mesmo tempo que ele sorri… e
diz meu nome sem parar…

— Jeonggukie, Ggukie, Jungkookie… — ele diz. Quando me viro na cama e abro meus olhos, Jiminnie está deitado do
meu lado e Moon River, do Andy Williams, começa a tocar. — Por que você está abraçando um travesseiro? — ele pergunta,
rindo.

Seus cabelos estão grandes, como no dia que matamos aula juntos pela primeira vez. E ele está com o suéter azul.

— Não sei… — eu disse, me sentindo um pouco aéreo.

Jimin sorri.

— É por que você está com saudades de mim?— ele se aproxima um pouco.

Eu pressionei os lábios, balançando a cabeça, afirmando.

— É… — eu admiti.

Jiminnie se sentou na minha cama, e eu fiz o mesmo. Ele tocou meu nariz com a pontinha do dedo, rindo.

— Se eu te beijar, vai passar?

Sinto sua mão na pontinha da minha orelha, e sorrio sem parar. É bom. É calmo.

— Vai… — eu respondi, sem hesitar.

— Você quer? — De repente, percebi que ele não está usando óculos.

— Puxa… eu quero…

Jiminnie sorriu mais. Ele colocou a mão no topo da minha cabeça, fez um carinho, e a arrastou até minha bochecha.
Fiquei olhando para a boca dele, fechei meus olhos e me aproximei com tudo, querendo beijá-lo primeiro, e amando
quando...

— Ai!

Eu caí da cama.

E no caminho, bati a pontinha da minha sobrancelha na quina da minha mesinha de cabeceira, o que doeu muito.

— Ji… Jimin?! — eu chamei, sem entender o porquê logo depois.

Minha cabeça doeu. E eu percebi, com a sobrancelha sangrando, e jogado no carpete do meu quarto, que Jimin e sua
presença não haviam passado de um sonho.

Um sonho.

Quando foi que eu dormi?

Eu inspirei fundo, ainda atordoado com o fato de ter dormido sem perceber. Quando meu coração estava se
acalmando, o toca-fitas soou alto:

— HELP! I NEED SOMEBODY!

Help, dos Beatles.

A música perfeita para tomar um tremendo susto logo no começo.

— Ah! — eu me levantei com tudo, sem querer batendo o dedinho na gaveta da mesinha de cabeceira (essa idiota!) e
me encolhendo logo depois. — Aaaaaaiiii…
Apertei minha mão, sentindo meu mindinho latejar junto com minha sobrancelha. Não muito depois, minha pele
começou a arder e a sangrar um tantinho. E como se tudo pudesse piorar, minha mãe abriu a porta do meu quarto no mesmo
momento.

— Jungkook, te chamei para jantar, você… — Seus olhos se arregalaram quando ela me viu. —Criança!

Minha mãe correndo até mim desesperada e me apertando as bochechas ao som dos Beatles, foi a parte mais cômica
da minha segunda-feira. Sangrando, eu percebi que, além de bagunçar minha mente, Jiminnie também bagunça a mim. Sem
nem tentar! Puxa...

Depois de me fazer inúmeras perguntas, mamãe me levou para o banheiro e fez um curativo na minha sobrancelha,
dizendo a todo momento que vou acabar morrendo antes dos vinte por causa desse meu jeito desastrado. Meu pai ficou
rindo, na porta, a chamando de exagerada. Apesar dos pesares, foi uma situação engraçada...

Depois de fazer o curativo, nós fomos jantar. Ao sentarmos na mesa, meu pai puxou assunto:

— Jungkook, eu e sua mãe… — Eles se olharam. — Faz um tempo que estamos para te contar que eu… eu fui
promovido! — ele contou, cuidadoso, enquanto eu pegava um pouco de arroz. Sorri ao ouvir isso (afinal, ser promovido era
bom). — Vou ganhar quase o dobro do meu salário e vou ter muitos benefícios na empresa.

— Que legal, pai... — eu disse, sorrindo. — Você foi promovido a quê?

Meu pai parou de falar por um segundo. Ele e a mamãe se entreolharam mais uma vez.

— Então, querido… seu pai quis dizer que ele foi… transferido — mamãe sorriu, acolhedora. — Ele vai trabalhar na
capital.

Eu arregalei os olhos.

Espera.

Espera, espera…

— O quê… — Eu soltei os talheres. — V-vamos nos mudar?

— Não, não. Só eu vou, filho. — Meu pai segurou minha mão. — Eu vou ficar lá de segunda à sexta, mas volto nos
finais de semana. Vou começar em setembro.

— Que dia de setembro? — perguntei, com o coração apertado.

— Na segunda semana. — Ele sorriu. — O que você acha?

Meu coração acelerou. Eu não sabia ao certo o que responder porque… puxa, eu não me sentia bem com essa
novidade. Eu não queria ficar tanto tempo longe do meu pai. Estou acostumado a jantar com ele todos os dias, a tomar o café
da tarde e… sempre saímos juntos.

É esquisito pensar que ele vai ficar longe por tanto tempo a partir de agora.

— Eu… — Percebi que a atenção deles estavam em mim. — Eu acho legal. É-é legal… — Sorri, um pouco distraído
com a dorzinha no meu peito.

— Ainda temos um mês, então não precisa se preocupar — ele falou, com firmeza. — Além do mais, podemos nos
mudar para lá no futuro. Caso sua mãe se interesse em alguma empresa localizada lá, ou você goste de algum colégio,
sabe, a capital é cheia de oportunidades...

— E-eu gosto daqui… — falei, pensando no Jin e no Jimin.

— Sabemos disso, querido. Estou muito envolvida com o meu trabalho aqui, então esses planos são muito distantes…
— mamãe disse.

— Sim — meu pai confirmou.

— Talvez seu pai não goste de trabalhar lá, então volte a trabalhar aqui. A diferença de cidade pequena para grande é
enorme. O que importa é ficarmos todos bem. Por isso ainda não sabemos, certo? Mas todas as nossas escolhas serão
feitas com a sua participação, então não precisa se preocupar — mamãe estendeu a mão na mesa, acariciando a minha.

— T-tudo bem… — eu disse, respirando fundo. — É que… eu realmente gosto daqui.

— Tudo bem, filho. Nós também gostamos. — Meu pai abriu um sorriso. — Talvez eu não aguente nem uma semana
lá e volte! Ouvi dizer que as pessoas na capital são rudes demais!

Eu e minha mãe rimos do comentário e depois comentamos coisas que ouvimos sobre a capital. Eu fiquei menos
tenso quando comecei a comer, junto deles, e no fim do jantar, meu pai me abraçou.

— Saiba que, como seus pais, nós nunca faríamos algo para te deixar infeliz, Jungkook. — Ele acariciou minha
cabeça. — Mas... nós também sabemos quando a infelicidade é passageira.
Eu ouvi atentamente. Logo, o abracei de volta, sentindo um pouco de saudade. E apesar de não ter entendido muito
bem a última parte, apenas assenti. Porque confiava no meu pai… confiava com todo o meu ser.

E sentiria muita falta dele.

JIMIN

Ai. Meu. Deus.

Eu saí correndo pela casa, subindo as escadas rapidamente enquanto segurava aquilo apenas com a ponta dos
dedos. Era inevitável fazer uma careta porque, céus, eu nunca pensei que passaria por isso com ela! Era constrangedor!
Mas, mais do que constrangedor, era intrigante e eu com certeza precisava de explicações.

Por isso, abri a porta do quarto da minha mãe com tudo.

Leonor, deitada na cama e pronta para dormir, me olhou confusa. Mas só até ver o que eu estava segurando.

Seus olhos se arregalaram enquanto eu dizia:

— Mamãe, de quem é isso?! — indaguei, me sentindo extremamente desconfortável enquanto balançava aquela
cueca desconhecida por mim, que encontrei enquanto pendurava as roupas recém-lavadas.

Leonor se sentou na cama de supetão.

— É uma cueca! — ela falou.

— Eu não perguntei o que é! Perguntei de quem é!

Ela deu uma risada nervosa.

— É sua, é claro!

— Não é, mãe! É maior do que eu, e eu sou gordo! — eu coloquei a cueca do lado da minha cintura, comparando os
tamanhos. — De quem é esse negócio?!

— É sua, Jimin! Quer saber, deve ter esticado porque coloquei a roupa pra centrifugar duas vezes! — Ela se levantou,
vindo até mim, e o que ela disse nem tem sentido! Leonor puxou a peça de roupa íntima da minha mão. — Bobo, de quem
poderia ser?!

— Não sei! De quem poderia ser?!

Leonor caminhou até sua cômoda, enfiou a cueca ali dentro e fechou a gaveta com força.

Fiquei a encarando, esperando ela dizer alguma coisa sobre a cueca. Mas ela não disse nada.

Pelo menos não sobre isso.

— Jimin?

Eu vi ela se virar para mim.

— O quê? — perguntei, atento.

Descabelada e de pijama, mamãe, com a voz fria, indagou:

— Por que você só está pendurando a roupa agora?

Eu fechei a boca. Engoli em seco.

— É… eu… — Mordi o lábio.

— Eu não tinha pedido para você pendurar assim que chegasse da escola? — Ela se aproximou, com passos lentos.

— É… — Seu olhar me assustou um pouquinho. Abaixei a cabeça quando ela tocou meu ombro com firmeza. —
Ahm… é, é mesmo. E-eu vou terminar de pendurar.

— Muito bem. Vai.

E ela me empurrou para fora do quarto. Quando Leonor fechou a porta, me dei conta de que ela estava desviando do
assunto principal — e muito bem, porque na hora de dar bronca, ela assustava muito!

Mas mamãe não me engana. Aquela cueca era amarela e eu não tenho cueca amarela porque elas são horríveis. Não
é minha, não é mesmo...

De quem é aquela cueca?

***
Pela manhã, minha mãe não disse nada sobre o suposto dono da roupa íntima amarela.

Isso fez com que nosso café da manhã fosse esquisito... tanto que quase não nos falamos. Eu me sentia tímido
sempre que nossos olhares se encontravam. Quando eu terminei de comer e subi para me arrumar, minha mãe desejou que
eu tivesse um bom dia na casa do meu amigo — é, ela deixou eu ir. Eu apenas balancei a cabeça, confirmando e seguindo
meu caminho para o quarto.

Enquanto me lavava para a escola, fiquei pensando na possibilidade daquilo ser de algum namorado da minha mãe,
e... Sinceramente? Era muito esquisito pensar nela saindo com alguém.

Sabe, Leonor sempre foi muito neutra quanto a isso. Quando assistimos novela juntos, ela nunca diz nada sobre os
galãs. Minhas tias sempre gritavam quando eles apareciam e mamãe só ria delas e das cenas clichês. Quando somos só nós
dois, eu até comento sobre o quão bonitas as atrizes são… mas ela nunca faz o mesmo com os atores. Por isso pensei que
ela não ligava para romance, ou pelo menos não sentisse vontade de viver mais um.

— Por que ela não me contaria? Ela não confia em mim? — me perguntei, baixinho, um pouco magoado. Poxa...

Eu gostaria que Leonor confiasse em mim.

Quando saí do banheiro, me arrumei rapidamente por causa do horário. E, é claro… me perfumei.

Há um detalhe sobre perfumes que eu gosto muito. Sempre que eu passo um pouco, minha mente voa para uma
lembrança doce que me deixa com uma sensação gostosa no peito. Vovó…

Vovó e sua doce teoria sobre perfumes e amor!

Dona Park, minha avó, costumava dizer que a única coisa que lembramos em relação ao nosso primeiro amor, é o
cheiro. Ela, por exemplo, não sabia mais o nome do primeiro menino que amou, mas lembrava perfeitamente do cheirinho
que a blusa dele tinha. "Lavanda com tangerina!". Por isso ela dizia que se perfumar na hora de ver o broto era mais
importante que qualquer coisa!

Desde que comecei a gostar de Jeonggukie, penso em suas doces palavras. Portanto, me perfumo com muito
carinho...

Penso sobre isso em frente ao espelho e sorrio, com os cabelos bem penteados. Por hoje ter clube de música, posso
ficar de chameguinho com Jungkookie, e eu acho essa coisa dos cheiros tão amável que não posso evitar querer ficar
sempre bem perfumado para abraçar meu amorzinho e misturar nossos cheiros — afinal, ele cheira tão bem também!

— Pronto. — Sorri.

Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas, pronto para ir para a escola. Minha mãe já tinha saído para o
trabalho, então somente tranquei tudo e fui para o ponto.

O ônibus virou a esquina quando eu estava colocando meus fones de ouvido. Ainda queria pensar sobre minha mãe e
aquela história romântica dos cheiros, por isso decidi escutar música no caminho ao invés de jogar conversa fora.

Subi as escadinhas do busão, e me curvei para o motorista, entrando e me sentando com Yoongi logo depois —
dando uma olhadinha em Jungkookie antes, é claro. Ele estava lindo, lindo, lindo de tudo e…

Com um curativo?

Jeonggukie também estava com os fones de ouvido, então decidi perguntar o que tinha acontecido com sua
sobrancelha mais tarde. Espero que não tenha sido nada muito doloroso...

Chegando na escola, as aulas foram as mesmas de sempre. Meio chatas, meio legais, meio… meiotudo.

Durante o exercício de matemática, Seokjin e Jungkook começaram a discutir baixinho, como sempre faziam em certa
parte do dia. E como eu já havia terminado as minhas continhas, parei para ver qual era o motivo dessa vez.

— Não vou te dar nada não! — Seokjin o empurrava. — Desiste. Sai, sai.

Ergui minha postura, tentando ver o que Jin não queria compartilhar com Jungkookie.

— Você é o pior melhor amigo que existe no mundo inteiro! — meu amor disse, afastando sua mesa da de Seokjin.

— Diz isso pro John Lennon!

— Até ele é melhor do que você!

— Nhe nhe nhe nhe… — Seokjin fez uma careta, se balançando e imitando-o.

Vi Jungkookie fechar a cara e, apressadamente, colocar os fones de ouvido. Quando ele voltou a escrever em seu
caderno, emburrado, percebi que Seokjin estava comendo chocolate, tão emburrado quanto.

Então… eles brigaram por causa de chocolate?

Oh…
Fiquei observando como Jeonggukie escrevia, concentrado e afastado de Jin. Ele queria comer chocolate? Por isso
ficou tão chateado?

— Awn… — sussurrei, o fitando.

Jungkookie quer chocolate. Poxa…

Eu vou dar chocolate para ele.

Quando o sinal para o intervalo tocou, depois de alguns minutos, o professor deu um breve aviso sobre a lista de
exercícios e nos liberou. Jungkook foi um dos primeiros a sair da sala, marchando, bravo, para longe e é claro, sem Seokjin.

No segundo seguinte, peguei meu cartão na mochila e me levantei apressadamente.

— Yoongi, eu vou comprar umas coisas! — eu falei para meu amigo que, normalmente, espera a sala esvaziar para
sair.

Não deu tempo dele dizer nada porque logo eu peguei meu cartão ilimitado e me levantei apressado, passando por
todos, inclusive Seokjin, para fora da sala de aula.

Saí no meio da multidão para chegar na cantina antes de uma fila gigante ser formada. Quando cheguei, tinha duas
garotas na minha frente, o que me fez suspirar aliviado por não estar muito cheio.

— Bom dia… — eu disse, quando chegou minha vez. — Que chocolates vocês têm?

A funcionária apontou para as caixas no canto da cantina.

— Tem de amendoim, de biscoito, de morango, meio a meio, M&M's, cremoso… ah, tem chocolate branco também. —
Ela ia me mostrando as caixinhas. — Qual você vai querer?

Dei um sorriso.

— Todos.

A moça pareceu um pouco surpresa com minha resposta. No entanto, quando eu peguei o cartão da escola, ela não
protestou, apenas começou a colocar as barras em uma sacolinha, fazendo as contas na calculadora. Pedi para ela adicionar
algumas trufas também. Quando ela terminou, eu paguei direitinho, agradeci e fui embora. Agora só preciso achar
Jeonggukie com minha bolsinha da felicidade: chocolates.

Saí pela escola, espiando o refeitório, e não encontrando Jungkookie. Se ele não está aqui, só pode estar no
parquinho… ou no pátio.

Passei pelo pátio primeiramente, e quando não o encontrei, fui para o corredor-fim-do-mundo, que tinha nossos
preciosos armários e o caminho para o parque abandonado. Quando desci as escadas, forçando a vista, me surpreendi por
vê-lo ali.

Kook estava mexendo em seu armário.

Ele parecia concentrado e ainda muito irritado, sem notar minha presença. Cheguei de fininho e, quando estava perto
o suficiente, espontaneamente brinquei:

— Você está preso em nome da lei! — disse, em tom alto.

Mas é claro que foi uma grande besteira da minha parte.

— Ah!

Jeongguk se assustou.

Para ser mais específico: Jeongguk tentou fechar a porta do armário muito rápido por causa do susto, mas sua
cabeça estava no caminho, então ele só bateu com a porta de aço na própria cabeça.

O barulho foi extremamente alto, mas não mais que meu desespero.

— Jeonggukie! — eu disse, me aproximando para vê-lo melhor. — Meu Deus, desculpa!

Ele se afastou do armário e apesar de não estar sangrando, a lateral do seu rosto está vermelhinha, com uma marca
perfeita da lateral da porta.

— Jiminnie… você me deu um susto… — ele disse, um pouco ofegante e também tonto.

— Tadinho… me desculpa, me desculpa... — eu disse, segurando seu rosto bem vermelhinho na parte que levou uma
bofetada.

Esfreguei uma mão contra a outra, esquentando minhas palmas antes de colocá-las sobre sobre sua pele. Ficou
vermelho mesmo! Ô dó...

Jeongguk parece não ter processado tudo muito bem ainda, então só me olha serenamente enquanto repito o
processo de aquecer minhas mãos e pressionar, cuidadosamente, a lateral de seu rosto.

— Eu não te vi chegando — ele disse, de repente. — Tudo bem, Jimin, não dói muito…

— Mentira. — eu disse, fazendo um biquinho, porque deve ter doído muito sim.

Ele balançou a cabeça negativamente, abaixando seus olhinhos doces.

— É sério… puxa. — Sorri amavelmente para mim. — Por que eu estou preso? — pergunta e, por um momento, não
sei do que ele está falando.

Quando me lembro, dou um sorriso, mesmo que esteja me sentindo culpado por assustá-lo.

— Por roubar meu coraçãozinho. Por que mais seria?

Jungkook fica vermelho nas bochechas, e já vi isso acontecendo tantas vezes que já sei exatamente o que ele vai
dizer:

— P-puxa… — diz. Depois, acerta-me o ombro com um tapinha que não dói nada. — O… o que está fazendo aqui?

— Procurando você. — eu disse. — É que eu meio que vi você e o Seokjin brigando...

Ele fez um biquinho.

— É que ele… ele não divide as coisas comigo! — reclamou. — Eu sempre divido as coisas com ele, mas às vezes
ele é um idiota.

— Humm… — escutei atentamente.

— E eu não trouxe nada hoje pra comprar um lanche. Não queria ir com ele no refeitório porque, puxa… ele me
irritou! — Nota mental: Jeonggukie fica fofo irritado. — Então… bem, eu ia passar o tempo escutando música.

— Ia?

Ele suspirou um pouco, enfim, fechando seu armário.

— É… bom. Me desculpa por falar tantas coisas de repente… eu só fiquei cheio disso… — ele falou, suspirando e
ajeitando os cabelos bagunçados.

Eu neguei com a cabeça, porque Jungkook podia falar tudo que ele quisesse pra mim.

— Que isso… você sabe que pode me dizer qualquer coisa — eu disse, tocando sua sobrancelha com muito cuidado.
— Mas me conta… o que aconteceu dessa vez?

Jungkook não entendeu minha pergunta de primeira. Até se lembrar, espontaneamente, do curativo em sua
sobrancelha.

— Ah… eu caí da cama e bati aqui... — Apontou para a sobrancelha. — … na quina da minha mesinha de cabeceira.
— Deixei de tocá-lo, apenas fitando-o. — Aí ficou um cortezinho. Mas não dói muito, não.

— Tem certeza? — Olhei em seus olhos, e ele assentiu.

— Tenho… — Sorriu pequenininho. — Essas machucados só doem na hora… sabe? — ele acariciou seu rosto
também, onde o armário bateu.

Ai. Meu amorzinho…

— Sim. Me desculpa de novo… — eu disse, com o coração apertado.

— Tudo bem, é sério. — Ele dá um sorriso amável. — Eu… e-eu gostei quando vi que era você… mesmo levando
esse tabefe.

Ele ri baixo e eu também. Assim eu me sinto tão especial...

— Bobinho… — eu digo, o dando um empurrão que não é nada forte. — Certo… então, vem comigo. Vamos pedir
alguma coisa na cantina, assim você vai estar bem alimentado na hora de fazer as pazes com o Jin — eu disse, segurando
sua mão.

Sem querer, a sacolinha de chocolates bateu levemente em sua perna quando eu o fiz. Logo me lembrei que tinha
comprado um monte só para ele...

— Tudo bem… — ele disse, sem perceber os docinhos, apertando minha mão de volta. — Como sabe que vamos
fazer as pazes? E… ah, é... e-eu não estou com dinheiro para lanchar na cantina...

Eu voltei a fitá-lo.

— Vocês sempre fazem… — respondo, soltando sua mão. — Eu tenho dinheiro aqui. Ou esqueceu do meu super-
cartão-ilimitado?
Ergui o cartão, fazendo uma pose. Jungkookie apenas riu de mim, confirmando, porque ele também sabe da história
do cartão.

— Tudo bem, então... depois eu te pago, pode ser?

— Nem pensar! É por minha conta… quer dizer, pela conta do diretor. E com esse calor, vamos pedir uma bebida
bem gelada e o que você quiser comer.

— Mas...

— Sem protestar ou eu vou roubar seu cachorro!

Ele riu.

— Tá bom! Então... pode ser cachorro-quente?

Sorri.

— Com certeza! — Jungkook sorriu também.

Nós ficamos esperando o outro começar a caminhar em direção a cantina. Jeongguk me olhava com certa
expectativa, e eu, o olhava com um pouco de nervosismo.

Os chocolates…

— Mas antes… — eu sussurrei, pegando sua mão de novo, olhando em volta. — Vem comigo.

Segurei seus dedos com mais firmeza, o puxando. Jungkookie não protestou quando o levei até a escada longa que
dá caminho para as turmas do oitavo ano, mas quando, ao invés de subi-la, dei a volta e o puxei para debaixo dos degraus,
sua reação foi outra.

Jeongguk fez um ruído surpreso, um tanto quanto alto.

— J-Jimin… — ele sussurrou, muito baixinho, logo depois.

Não percebendo o que se passava na cabeça dele, eu apenas o trouxe comigo até a parte mais isolada da nossa
escola: embaixo da escada.

Tinha algumas carteiras quebradas guardadas por ali e eu passei por elas com Jungkookie ao meu enlaço, até
ficarmos bem escondidos naquele lugarzinho secreto.

Segurei a sacola com mais força e, enfim, olhei para Jeonggukie, me surpreendendo ao perceber seu estado.

Jeongguk está completamente rosa.

Fiquei surpreso. Principalmente por ter sido do nada. Jungkookie estava uma mistura de rosa, com laranja, com
vermelho... para falar a verdade, o rosto de Jeongguk parecia um verdadeiro pêssego naquele momento. E ele não parecia
disposto a olhar para mim tão cedo.

Eu parei no lugar, notando mais uma dezena de detalhes a respeito do seu nervosismo repentino. Como seu corpo,
que estava tremelicando, e seus dedos, se mexendo sem parar, e também sua cabeça... completamente inclinada para baixo.

Foi quando me dei conta de que Jungkook achava que eu tinha o levado ali para beijar.

Beijar na boca.

Ai meu Deus.

— G-Gguk! — eu chamei, ficando envergonhado e ansioso para acabar com aquele mal entendido. — Eu… eu vi que
você e o Seokjin estavam brigando por causa de chocolate, e que você ficou sem! E que ficou chateado. Então… então eu…
— Olhei para a sacolinha na minha mão, a empurrando contra o peito de Jungkook. — Eu comprei chocolate para você.

Ofeguei. Jungkook, primeiramente, ficou sem reação. Demorou um pouco para ele se mexer e, finalmente, olhar para
mim, segurando a sacolinha com chocolate. Coloquei minhas mãos atrás do corpo após isso.

Esperei ele dizer alguma coisa, mas Jungkook ficou em completo silêncio. Apenas piscou os olhos, atordoado e
confuso e, assim como quando eu o dei um disco de presente, Jungkook não entendeu.

Ou pelo menos pareceu não entender.

— Espera. Sério? Qual desses? — perguntou, os olhos se arregalando quando viu todos aqueles chocolates.

— Todos.

— Todos?! — indagou com os olhos duplicando de tamanho.

— Sim… — Me balanço um pouco.


— Por quê? — indagou de novo. — Espera. Todos o quê? Todos os chocolates? — pergunta extremamente rápido.

Eu sorri pequeno. Ah, qual é... pra que ser tão lindinho assim, garoto? Já disse que é injusto!

— Kookie… — Eu hesitei um pouco, o olhando. Mas, sem delongas, ergui minha mão. — São todos pra você. —
Toquei sua bochecha sutilmente, com a pontinha dos dedos. — O porquê? Bom… é que gosto muito de você… e quero te
dar chocolates...

Seus lábios delicados se abriram lentamente. Ele ainda estava olhando para a variedade de chocolates na bolsa.
Todo o rubor foi cessando aos poucos, até ficaram presentes apenas em suas lindas maçãs do rosto.

Jeongguk pressionou os lábios. Então, sorriu…

Aquele belo sorriso de sempre. Seu, e só seu, sorriso…

— Jiminnie… — ele sussurrou baixinho e percebi seus olhos vagando pela minha camiseta, pescoço, queixo… até
chegar em meus olhos. — Você é doidinho… aqui tem muito chocolate!

— Eu não sabia qual era o seu favorito porque você sempre come um sabor diferente, então peguei tudinho! — eu
disse, sorrindo porque ele não parece nervoso com minha mão em seu rosto e eu gosto muito disso.

Amo quando ele parece calmo e confortável.

— Isso é porque eu gosto de todos! — ele disse, sorridente que só, mexendo nos chocolates. — Puxa… você
comprou trufas também…

— Você gosta? — eu arrastei meus dedos até sua orelha e, em seguida, toquei sua nuca quentinha.

Quando fiz carinho ali, massageando seu cabelo macio, Jeonggukie deu uma risadinha manhosa, encolhendo o
pescoço.

— Puxa, eu gosto muito, Jiminnie… — Seu sorriso cresce até sua pele ficar cheia de ruguinhas. Eu intensifiquei o
carinho e ele riu mais uma vez. — Estou sentindo aquele nervosinho de novo — ele me conta, sem parar de sorrir. Até seus
olhos estão sorrindo.

E que olhos. Ele está olhando nos meus sem medo agora. Seu sorriso é enorme e, apesar de estar vermelho, meu
bem parece tão feliz e confortável agora… é tão amoroso e bonito. Não posso evitar sorrir muito, muito mesmo, porque essa
é a minha versão favorita de Jeon Jeongguk.

Como eu o amo.

— Amo seu sorriso, Jeonggukie… — eu disse, e minha voz sai um pouco diferente por conta de tudo que estou
sentindo agora.

Jeonggukie não diz nada. Ele aperta os olhos e, espontaneamente, se aproxima e meabraça.

Seus braços chegam até mim, passando por cima dos meus ombros com muito carinho. Já os meus, vão em direção
às suas costas magrinhas. O aperto, e ele me aperta de volta, deixando-me sentir seu cheiro bom com tudo que tenho. O
cheiro do meu primeiro amor.

O cheiro que jamais vou esquecer.

Faço carinho nele, sobre seu casaco macio e sinto cosquinha quando ele acaricia o meio das minhas costas de volta,
mas é tão gostoso também que, no fim, somente sorrio e aprecio o que eu poderia facilmente fazer por toda a minha vida:
abraçar Jeon Jungkook.

Ficamos assim por um tempo, mas ele está tão cheiroso que fico tentado. Não consigo me segurar e acabo me
mexendo todo, enfiando meu rosto na união de seu ombro com o pescoço, que é extremamente caloroso.

Cheiro e suspiro ali, melodiosamente, porque, sinceramente… ele cheira a flores. É tão bom...

— Ain… — ele murmura, risonho. Soa tão engraçado e fofinho que dou um sorriso. — O que você tá fazendo?

Dou uma risadinha em sua pele e ele se arrepia todinho. Cheiro mais seu perfume e sinto, com muito mais carinho, a
maciez de sua derme.

— Cheirando seu cangote — respondo, manhoso. — Sentindo seu cheirinho bom… — completo, mais baixinho, o
apertando mais.

Jeongguk fica em silêncio por um tempinho, passando as mãos abertas pelos meus ombros, em um carinho tão bom
que poderia ser facilmente confundido com uma massagem. É o paraíso… eu amo seu carinho…

Então, ele me surpreende. Penso de verdade que Jungkook vai encerrar nosso abraço quando começa a se mexer,
até demais, em meus braços. Mas não é o que acontece. Muito pelo contrário…

Jeongguk me aperta mais e abaixa sua cabeça, se grudando em mim como um coalinha. Quando ele toca meu ombro
com a pontinha do nariz, bem pertinho, sinto que vou explodir.
Eu não estava preparado!

— E-ei! — eu digo, mas de repente, solto uma risada abafada quando ele arrasta o nariz pelo meu ombro até chegar
em meu pescoço, fungando minha pele diretamente. — Faz cócegas… — digo, começando a rir, porque minha barriga ficou
fria e meu coração aceleradíssimo. — Ai. Eu vou morrer... Que que você tá fazendo, Jungkookie? — perguntei, porque nem
tive tempo de entender essa enxurrada de chameguinhos e sentimentos.

Sério, eu não estava preparado...

— S-sentindo seu cheirinho bom… também... — ele responde, a vozinha abafada no meu cangote.

É tão gostoso que fico perdidinho e risonho... bobo que só.

— Você gosta do meu cheiro? — perguntei, com o coração acelerando.

Jungkook balança a cabeça, ainda pertinho da minha pele, esfregando os cabelos cheirosos em mim.

— Gosto… é muito cheiroso… puxa... — diz.

De novo… eu não estava preparado!

— Você vai me matar… — eu digo. É tão gozado o som que ele faz enquanto me dá um cheirinho que eu fico rindo
manso, sem parar. — Kookie... parece até que somos cachorrinhos nos cheirando assim. — Ele ri da minha fala, bem
pertinho da minha orelha. — Jungkookie é o meu filhotinho… — completo, fazendo carinho no topo de sua cabeça, meio
atrapalhado, até.

Ele ri e fica mais um tempo pertinho de mim, até que afasta o rosto lentamente. Jungkook está com um sorriso bonito
nos lábios e nos olhos, que me dão a sensação de que vou derreter que nem um sorvete, direto no chão, bem rápido...

Na boa… estou todo molinho agora.

— Foi você que me cheirou primeiro... — ele disse, sorrindo de lado, lindo, tudo de bom.

Olho para ele, com as bochechas vermelhas e os olhos brilhando. Jeongguk está tão lindo…

— Puxa… — eu digo, quase sem fôlego.

Jeonggukie, então, percebe a forma a qual estou namorando cada um de seus traços com meus olhos agora. Por
isso, ele abaixa sua cabeça, ficando ainda mais vermelho. Meu fofinho...

Meu filhotinho...

— Vem... — digo, endireitando minha postura e me desfazendo desse abraço especial. Logo em seguida, seguro sua
mão quentinha. — Vamos lanchar antes que o sinal toque… certo?

Meu amorzinho balança a cabeça positivamente.

— C-certo… — Sorri.

Jeongguk segura minha mão de volta, com muita firmeza, até sairmos dali juntos. Apesar de termos que afastá-las
depois, eu continuo me sentindo em contato com Jeongguk o tempo todo.

Esse é o efeito que ele tem sobre mim. Meu verdadeiro amor...

Meu filhotinho.

***

Pelo resto do dia, fiquei pensando em Jungkook cheirando meu cangote e dizendo, com todas as letrinhas, que eu
sou cheiroso.

Céus... foi um ato tão intenso e espontâneo de sua parte! Tanto que às vezes eu ainda posso senti-lo pertinho de
mim... quando me recordo do momento, do seu narizinho perto da minha pele, eu sinto, mais uma vez, aquele arrepio no
pescoço e aquele frio na barriga. Resultado: fiquei viajando e rindo sozinho na aula…

Durante ela, eu também percebi que Jungkook estava olhando para mim por cima de seu ombro. Eu sorria para ele e
sentia um frio na espinha quando ele sorria de volta… sabe, era tão eletrizante quando ele demorava para virar para frente e
apenas me paquerava demoradamente! Tão amável quando nos olhávamos por mais tempo que o normal… derretendo,
eternamente, eu estou…

— Onde você se se enfiou no intervalo? — Yoongi me perguntou em certa parte da aula de língua coreana.

No cangote do Jungkookie.

— Eu fui comprar comida na cantina, mas tinha uma fila enorme… desculpa te deixar sozinho — digo. Yoongi apenas
balança a cabeça.

— Tudo bem… foi diferente. O Seokjin lanchou comigo — ele me contou e, realmente, é diferente.
— Foi legal? — perguntei.

— Aham… mas, se liga, você ainda me deixou. Imperdoável. — Fez uma carranca. — Trate de comprar um café pra
mim antes de ir pro seu clube de música!

Ergui as sobrancelhas. Ah, é. O clube, a casa de Taehyung… tudo isso…

Tinha me esquecido completamente… hehe...

— Pode deixar — falei, rindo. — Não vou voltar no nosso ônibus hoje, aliás… — avisei.

— Por quê? — indagou.

Pressionei meus lábios, aflito, sem saber como Yoongi reagiria a isso:

— Vou na casa do Taehyung — digo, sincero, olhando em seus olhos.

Yoongi parece um pouco surpreso, mas seus olhos transmitem outra coisa. Algo como medo e…

Tristeza?

— Ah, sim… — Se virou para seu caderno. — Tá bom… — E volta a copiar a matéria.

Fiquei o fitando, um pouco pensativo e curioso. Será que enfim descobrirei o que aconteceu entre eles dois?

Poxa. Eu espero que sim…

Suspirando, voltei a segurar minha caneta com firmeza. Quando levantei os olhos para o quadro, percebi Jungkook
me olhando de novo.

Awn...

O olhei de volta. Sem me segurar, dei um sorriso e uma piscadinha. Eu nunca pisquei pra ninguém antes — só
jogando Detetive — então, não faço ideia se isso foi fofo ou esquisito da minha parte! Mas de uma coisa eu sei…

Gostei de fazer isso.

Esperei Jungkook reagir, mas ele só piscou umas três vezes, arregalando seus olhos e se virando rapidamente. Dei
uma risadinha quando, se entregando completamente, Kookie deixou-me ver sua nuca ficando cada vez mais vermelhinha.
Fofinho… eu me saí bem, então?

Depois disso, ele não me olhou mais... mas quando a aula terminou, Jeongguk se levantou e deixou uma folha
dobradinha sobre minha mesa, saindo de perto antes que eu pudesse desdobrá-la e vê-la.

Quando abri, com ele longe, não pude evitar sorrir:

“Não pisque pra mim na sala de novo.

Por favor.

Eu quase morri.”

Embaixo da mensagem, havia um desenho: um garoto jogado no chão, sorrindo, com vários corações flutuando sobre
seu corpo. Uma flecha do amor estava fincada bem no seu peito.

— Bobo… — digo, quando vejo que há uma setinha que aponta para o bonequinho apaixonado, escrito“Esse sou
eu... puxa”. Jungkookie, Jungkookie… — Bobo!

— O quê? — Yoongi se vira pra mim, mas, apressadamente, fecho o papelzinho e o guardo no meu caderno.

— Não é nada… — digo, o fitando com as bochechas vermelhas. — Vamos comprar seu café.

Ele dá de ombros e guarda suas coisas calmamente, assentindo e vindo comigo em seguida.

Depois de tomar um café com Yoongi, o acompanhei até o laboratório de química e segui meu caminho para o clube
de música seguidamente. Quando cheguei, abri a porta com calma e me deparei com Hoseok, Taehyung e… uma menina?

Passei para dentro, um pouco tímido porque não a conhecia. Ela estava de costas para mim, com fones e lendo,
assim como Hoseok, então apenas Taehyung me percebeu chegando, olhando-me e sorrindo alegre logo depois.

— Jiminnie! — ele disse, se levantando e vindo até mim.

— Oi, Tae — eu disse, sorrindo e recebendo um abraço caloroso seu.

— Tô tão animado pra você ir lá em casa hoje! — ele se afastou de mim brevemente, segurando minha mão. — Ah, é!
Essa aqui é a Niuke! — Taehyung chamou, alto, tirando os fones da cabeça dela. — Niuke, esse é o Jiminnie.

Quando ela se virou, olhando para mim, me lembrei perfeitamente de quem ela é. Niuke.

A menina que o Yoongi gosta.

— Olá… — eu disse, sorrindo sem graça porque ela está me olhando de um jeitinho diferente.

Não que ela esteja fazendo uma careta ou qualquer expressão do tipo, mas… é um semblante diferente e curioso.
Uma de suas sobrancelhas está arqueada e seus lábios estão curvados para o lado, me analisando.

Mas, então, ela apenas sorriu — com os olhos estreitos, como se me conhecesse de algum lugar — enfim parando de
fazer aquela cara.

— E aí. — Ela mexeu a cabeça num cumprimento mudo.

Enquanto ela fazia isso, percebi que seu cabelo está maior do que da última vez que a vi.

— Oi, Jimin! — Hoseok, que antes estava distraído, me cumprimentou com um belo sorriso. — Cadê o resto?

— Oi, Hoseok! Acho que estão chegando.

— Legal! Hoje vamos discutir nossa apresentação. A Niuke até trouxe a guitarra dela! — Hoseok disse, muito
animado, e Niuke fez um gesto de Rock com os dedos, parecendo animada também. — Quando o resto do pessoal chegar,
vamos decidir que música tocar.

— Espero que seja uma do Sex Pistols! — Niuke disse e imediatamente me lembrei do Yoongi.

Yoongi e ela gostam da mesma banda. Uhhh… coisas de casal.

— Que seja algo dos Beatles! — Taehyung rebateu.

— Que seja algo do Electric Light Orchestra! — Hoseok também rebateu.

Então, os três olharam para mim, esperando. Um pouco tímido, sorri e rebati:

— Que seja algo… — sussurrei e então, fiquei confiante. — Que seja algo do Pink Floyd!

E os preparativos para nossa apresentação começaram.

Quando Seokjin e Jungkook chegaram, eles já tinham feito as pazes. Namsoon apareceu depois e estava muito
animada, mas não trocou nem uma palavra com Niuke — assim como Niuke, com ela.

Nós nos sentamos no chão em uma roda gigante, e fiquei entre Jungkook e Taehyung. Foi divertido quando
começamos a discutir tanto qual música apresentaríamos, que tivemos que fazer um sorteio. Cada um de nós escreveu uma
música em um papel e entregou pra Namsoon sortear.

Ela sacudiu as mãos e Hoseok pegou o papel sorteado, lendo em voz alta:

— I Want You Back, do The Jackson 5! — ele disse e, na mesma hora, Seokjin se levantou, comemorando.

— Uhuuul! — exclamou ele, balançando os braços e fazendo todo mundo rir. — É a minha música!

— Nossa, eu tinha colocado uma dos Jackson 5 também! — Namsoon disse, ficando de pé também e fazendo um
cumprimento de mão com ele.

Jin, sorrindo galanteador, logo disse para ela:

— É por isso que você é tão bonita: tem um gosto musical bom.

Pensei que isso causaria impacto nela, mas... não. Nam só riu e saiu andando para o outro canto da sala — a cara do
Jin sendo ignorado foi imperdível.

— Jiminnie… eu acho que você vai amar essa música. É a sua cara — Jungkookie disse, chegando pertinho de mim
de repente. — Isso se você já não amar… ela é bem famosa!

Me virei para ele e sorri, dizendo:

— Se você diz, eu tenho certeza que a amo. — Pisquei meus olhos lentamente.

Jeonggukie sorriu também, me olhando com cuidado para, depois, olhar para frente. Quando fiz o mesmo, dei de cara
com Niuke olhando para mim e para ele com um sorrisinho estranho.

Mas o quê…

— Jiminnie! Você vai ficar comigo no palco — Tae disse, puxando minhas mãos para segurá-las. Deixei Niuke de lado
para fitá-lo. — Nós podemos cantar juntos!

— Tae, eu sou um péssimo cantor!


— Eu duvido! Sua voz é tão macia e gostosa — elogiou, tão de repente que minhas bochechas queimaram.

— A-ah… — Abaixei o olhar, fazendo-o rir.

— Bobinho! Vem, vou te mostrar como é o ritmo dela no piano! — E ele se levantou, me puxando consigo para o
piano.

Dei uma olhadinha para Jungkook e sorri. Ele prensou os lábios, com as bochechas vermelhas ainda, e sorriu de
volta.

Depois disso, foi uma bagunça que só. Nós ficamos tocando, brincando, rindo e jogando jogos divertidos. Até jogamos
Detetive — logo hoje, que irônico, não? — e sempre que eu era o Assassino e piscava para o Jeonggukie, ele ficava
vermelho, o que era bem fofinho...

E a gente morria de rir quando Seokjin era o Assassino ou o Detetive, também, porque suas orelhas ficavam
vermelhas de nervoso e isso o entregava completamente! Por causa delas, Jin ficou com o capuz na cabeça e conseguiu ser
um bom Assassino nas próximas partidas.

Niuke e Namsoon ficaram trocando farpas o tempo todo, também.

— Você está preso em nome da lei! — disse Namsoon, para Hoseok, que bufou e riu, porque perdeu.

— Droga! — disse ele, fazendo todos rirem, menos Niuke, que comentou:

— Punindo as pessoas como sempre, né, Namsoon?

Nam, não gostando disso, se virou para ela e questionou com o cenho franzido:

— O que quer dizer com isso, hein?

E elas começaram...

— Vai se fazer de besta, é?

— Não.

— Então você sabe o que quero dizer.

— Quer saber? Acho que sei sim — Namsoon disse.

— Ah, é?

— É. Você admira como eu puno alguém que, claramente, está fazendo algo errado. Hoseok era o Assassino e eu a
Detetive, fiz o meu dever, como sempre faço. Muito obrigada por observar bem.

E Niuke ficava quieta, com uma cara raivosa, e eu e os meninos ficávamos meio tímidos. Mas só até sortearmos e
jogarmos de novo, aliviando o clima tenso. Garotas são assustadoras...

Quando o horário de ir embora estava chegando, nós nos juntamos para arrumar a sala. Por acaso, eu e Niuke
ficamos juntando as cartas juntos e, como o ótimo amigo que sou, promovi Yoongi para ela:

— Sabe, eu tenho um amigo que ama o Sex Pistols também.

Ela me fitou, arqueando uma sobrancelha, parecendo atenta.

— É? — Sorriu de lado.

— Sim.

— Qual o nome dele? — perguntou, guardando as cartas do baralho na caixinha.

— Min Yoongi — eu disse.

Ela parou e pensou um pouco. Depois, fez uma careta.

— O arregão? — perguntou.

E eu?

Eu fiquei sem reação.

— Arregão…?

— É. Taehyung já me falou dele.

Franzi o cenho, confuso. Quando guardei as cartas, ela deu de ombros e saiu bocejando, sem me explicar nada…

Céus… arregão? O que você fez, hein, Yoongi?


— Jiminnie? — Jeonggukie, de repente, apareceu, com a mochila nas costas. — Tudo bem? Você parece
preocupado.

Dei um sorrisinho porque, apenas vê-lo, já me faz ficar animado e distraído.

— Tudo sim… é só um soninho.

— Ah, sim… puxa. — Ele coçou a nuca. — Seokjin está falando com os meninos e eu ia na frente. Quer ir comigo?

— Sim! Mas hoje vou embora com o Tae, então só vou te acompanhar até lá fora...

Jungkookie pareceu surpreso com a informação. Seus olhos ficaram maiores e ele, novamente, pressionou os lábios,
balançando a cabeça.

— Tá… — disse, por fim.

— Só vou pegar minha mochila — eu disse, sorrindo, e ele confirmou, ainda travado.

Peguei minha mochila e disse para Taehyung que estaria lá fora o esperando, então, apenas saí com Jeongguk —
percebendo olhares da Niuke mais uma vez.

No caminho para o estacionamento, eu e Jungkookie conversamos brevemente. Depois, compartilhamos um silêncio


gostoso, trocando olhares e sorrisos.

— Tchau… — eu disse, quando vimos Seokjin e o pessoal se aproximando.

— Tchau, Jiminnie… — Ele deu um sorriso grande, e é claro que morri de vontade de beijá-lo. — Obrigado pelos
chocolates de novo…

Balancei a cabeça, ficando vermelho porque agradecimentos me deixam assim.

— Você merece. — O pessoal já estava perto. —Eu te adoro.

Sussurrei. Jungkookie sorriu, vermelhinho, e sussurrou de volta:

— Eu também.

Nós tivemos que nos separar logo depois. Seokjin e ele foram para o outro lado do estacionamento e o ônibus do Tae
e do Hoseok chegou primeiro, então nem tive tempo de procurar Yoongi para me despedir… mas, sem pensar muito, apenas
segui com eles com um sorriso feliz e amoroso — tanto pelo clube, quanto pelo meu amorzinho. Ai ai…

— Jiminnie, você pode ir na janela! — Tae disse, assim que subimos no busão e sentamos na poltrona dos fundos
(uhh galera do fundão).

Foi engraçado quando, após eu sentar, Taehyung sentou do meu lado e Hoseok do lado dele, ficando os três
espremidinhos no banco que normalmente é para dois.

No caminho, percebi que o ônibus deles tem menos pessoas e é muito mais tranquilo. Descobri, também, que Niuke
vai para a aula de bicicleta e nós acabamos conversando sobre Namsoon e ela.

Curioso como eu sou, perguntei o que havia acontecido para elas se odiarem tanto.

— É que elas já foram muito amigas! Mas, sabe… Niuke é uma delinquente e Namsoon um exemplo para a escola.
Não deu muito certo… — Hobi começou.

— É, é! Niuke guarda mágoa porque Namsoon não pôde encobri-la quando ela pichou uma besteira no muro da
escola. Aí ela diz que Nam é má amiga e que só liga pra reputação dela.

— Puts… — eu murmurei, pensativo.

E eles contaram mais um monte de fofocas. Foram tantas que eu fiquei confuso, sentindo-me em uma novela por
conta da dose extra de drama. Mas admito que foi bem divertido...

— Depois a gente fala mais! É aqui que eu vou descer hoje — Hoseok disse, se levantando e dando um grande
abraço de urso em nós dois. — Sayōnara!

Eu e Taehyung rimos, acenando quando ele se foi.

— Hoseokie é maluquinho… — Tae disse, o fitando, com uma voz macia.

Eu assenti. Continuamos nossa viagem e, não muito tempo depois, finalmente descemos do ônibus.

— Minha casa é pertinho, tá? — ele falou, olhando para mim.

— Tá! — E nos calamos.

Então, passou um tempinho.


E nós continuamos quietos…

Hum...

Eu sei que o silêncio é normal. Mas… sei lá, somos nós. Sempre falamos um monte no clube de música e nos damos
super bem… pensei que teríamos mil e uma coisas para falar sobre, mas desde que descemos do ônibus, o assunto não
fluiu muito bem. E até que Taehyung está normal, sorrindo para mim e caminhando alegremente pela calçada, como se não
sentisse o que estou sentindo sobre esse silêncio (possivelmente estranho).

— Você gosta de frango, né? — ele perguntou de repente, me olhando, ainda sorridente.

Sorri de volta, me sentindo sem graça ao balançar a cabeça positivamente.

— Certo! Minha mãe não está em casa ainda e minha avó só chega mais tarde, então eu pedi pra minha vizinha fazer
frango frito pra gente! Aí vamos passar lá pra pegar, ok?

Sorri.

— Ok!

E essa foi a deixa para o silêncio reinar entre nós até chegarmos em sua casa.

Quando Taehyung repentinamente parou, eu me atentei as casas a nossa volta. Eram todas bonitinhas e pequenas,
com apenas um andar, quintais muito bem cuidados e varandas fofinhas…

Taehyung, então, disse que iria pegar a comida e entrou na casa da sua — provavelmente — vizinha, pelo portão que
fazia um barulho engraçado, me deixando sozinho por um tempo.

Caminhei um pouco mais para a frente, vendo a casa amarela e marrom que poderia ser sua casa. Então, dei a volta e
fui até a casa do outro lado, que era uma mistura de branco com cinza, meio incerta e desgastada.

Fiquei ali por mais uns minutinhos e pensei um pouco. Tipo… eu, Yoongi e Taehyung, quase sempre ficamos
sozinhos em casa. E eu realmente não sei se isso é bom, se é ruim, ou se é normal, mas… é curioso.

Acho que deu para perceber que estou entediado e perdido, certo?

Ah.

— Jiminnie. — Escutei o barulho do portãozinho de novo, me virando para Taehyung, que carregava uma bandeja
com um paninho embaixo. — Vamos? Minha casa é pra cá, hehe.

— Ah, sim! Claro… — eu disse, me apressando para acompanhá-lo. — Quer que eu segure? — perguntei, já
aprontando minhas mãos.

— Nah, não precisa, é bem aqui… — disse ele, já atravessando o seu jardim. No caso, sua casa é a amarela com
marrom. — Só abre a porta pra mim, hehe.

— Tá bom… — Dei uma risadinha, e nem sei o porquê. Estou tímido? — Cadê a chave?

— Ah, é! Tá aqui — ele disse, se virando de costas para mim.

— Espera… aonde? — perguntei, meio hesitante.

— No bolsinho menor!

Ah. Ufa. Pensei que teria que enfiar a mão no bolso da calça dele… isso seria estranho…

Que maluquice! Por que fiquei tímido do nada? Aff...

Remexi minha cabeça, pegando, enfim, a chave no bolsinho. Abri a porta da sua casa com facilidade, dando espaço
para ele entrar posteriormente.

Entrei também e fechei a porta. Imediatamente percebi que sua casa era tão bonitinha por fora, quanto por dentro.
Wow… É uma bela casa!

Tinha artesanato, sofás coloridos, e várias plantinhas perto da janela. O ambiente me fez lembrar da casa da vovó e
eu acabei sorrindo, um pouco melancólico com esse fato, mas não me perdi tanto nos pensamentos. Apenas continuei
seguindo Taehyung pela sua casa, até chegarmos em sua cozinha, que era americana e bem piquitita.

— Vou esquentar arroz pra gente — ele disse, feliz. — Isso se o Hoseok não tiver comido tudo ontem…

Hoseokie…

— Como assim? — indaguei, me perguntando se ele morava aqui. — Ele estava aqui?

— Ah, ele meio que sempre está aqui! É. O Hoseokie é meu quase vizinho e basicamente come aqui, tipo, o tempo
todo! — ele disse, começando a ajeitar as coisas para esquentar a comida. — Ele é guloso demais. E espaçoso! Nem sei se
ele arrumou a cama dele hoje de manhã, então se meu quarto estiver uma bagunça, é tudo culpa dele, tá?
Ai, meu Deus. Muita informação para poucos segundinhos!

— Espera aí! Agora fiquei curioso… Hoseok dorme aqui também? — perguntei, me sentindo um pouco mais
confortável por termos arranjado um assunto.

— Ah, é! Nem te contei sobre o Hobi! — ele deixou as coisas no fogo e veio até mim. — Primeiro, tira essa mochila
das costas — ele pediu, pegando na alça da minha mochila e a jogando em uma das cadeiras que tinha em torno da mesa
pequena de sua cozinha. — E me fala que não vai contar nada do que eu te disser aqui pra ninguém!

Olhei em seus olhos e, depois, notei sua mão grande perto da minha. Ele levantou seu mindinho, apontando para o
meu, e foi inevitável não sorrir para sua atitude… adoro promessas de mindinhos! São as mais verdadeiras que existem.

Por isso, ri baixinho e levantei meu mindinho. Nós o entrelaçamos e quando os separamos, Tae deu uma risada
engraçada e alta.

— Cara! Seu mindinho é muito pequeno… — ele comentou e eu acabei rindo de mim mesmo também.

Sim, meus dedos são pequenos, mas perto da mão dele, minhas mãozinhas ficam maisinhas que o usual.

— Às vezes me pergunto se realmente tem um osso nisso aqui — eu disse, dobrando meu mindinho, fazendo ele rir
ainda mais.

— Você é tão divertido! — Taehyung disse e foi tão repentino que não pude evitar sentir minhas bochechas
esquentarem. De novo. Ele é bem legal… — Vem! Senta aqui. Vou te contar sobre o Hoseokie. Você é super confiável.

Taehyung segurou minhas mãos pequenas e me puxou até uma das cadeiras. Assim que me sentei, ele me
acompanhou, sentando-se na minha frente logo depois.

Um pouco tímido, eu acabei falando, também:

— Você também é muito divertido, Tae...

Taehyung deu um grande sorriso e fez um gesto com a cabeça, parecendo levemente tímido também.

— Então... vamos começar pelo começo — ele disse. — Bom. O Hoseokie sempre morou aqui, quase do lado da
minha casa. Infelizmente, a mãe dele morreu muito cedo. Minha avó conhecia muito bem a família dele, então percebeu
quando o pai do Hoseokie começou a ficar deprimido e ansioso demais… sabe como é, né? O triste é que o Hobi ainda era
bem bebezinho nessa época — ele falava bem rápido. — Mas ele sempre estava tristinho e seu pai brigava muito com ele.
Deixava minha avó triste demais! E eu também. Porque ele era muito fofinho — disse. — Mas se ele fosse feioso eu também
ficaria triste.

— Sei — eu disse, dando uma risada pelo seu jeitinho.

— Hehe, ok… então. Depois disso, minha vó começou a visitar eles o tempo todo, confortando o pai do Hobi até ele
ceder. Ele procurou um terapeuta e foi tratar a tristeza sem fim dele… e com ele tão distante, o Hoseok precisou de mais
atenção do que seu pai poderia proporcionar. Então, ele começou a frequentar aqui em casa, tipo, muito. A gente virou amigo
rapidinho… — Tae deu um sorrisinho, como se… como se houvesse alguma coisa oculta naquela história. — O pai dele está
melhor, mas ele fica muito tempo fora trabalhando, e como Hoseokie se acostumou com a nossa casa, ele sempre está aqui.
Mamãe adora ele, então se ele não aparece aqui pelo menos uma vez por dia, ela vai procurar ele! Hehe, fico até com
ciúmes...

Dei um sorrisinho, absorvendo essas informações. Parecia legal ser tão próximo assim de alguém e eu gostei
imensamente de ouvi-lo falar e de saber que ele e Hoseok se dão tão bem. Essa amizade é tão verdadeira, com uma história
tão bonita.

Poxa, isso é tão legal…

— Parece legal, Tae... — eu disse, com um sorrisinho. — A amizade de vocês é tão bonita e verdadeira!

Taehyung pareceu surpreso com a última parte. Até deu uma risadinha um pouco sem graça, desviando o olhar por
um segundo.

— É. — Ele sorriu. — Mas, Jiminnie, como é na sua casa? É divertido?

— Hum… é bem calmo, pra falar a verdade — eu disse, pensativo. — Eu queria passar tanto tempo assim com
alguém… desde que me mudei para a casa da minha mãe, fico muito sozinho, porque ela trabalha o dia inteiro! Só tenho meu
gatinho, e às vezes minha vizinha me prende em umas conversas aleatórias quando chego da escola — eu disse, pensando
na senhora Bong.

— Queria ter um gatinho, mas minha avó tem pavor! Acredita? — Nós rimos um pouco. — Com quem você morava
antes da sua mãe?

— Com minha avó! E minhas seis primas. Era bem divertido… — eu disse, pensando em como a casa era barulhenta
e cheia. — Mas minha avó… bem, ela se foi ano passado, então todo mundo se mudou… — eu disse, um pouco sem graça.

Tae ficou um pouco sem fala.


— Jimin… poxa. Isso parece bem difícil. E você começou a estudar só esse ano, não é? Foram tantas mudanças…

Eu tinha contado para ele sobre isso na primeira vez que nos vimos e ele perguntou “Como nunca te vi antes?”. Mas
como fazia tempo, pensei que ele não se lembrava. Nossa...

— Hum… sim… — eu disse, me sentindo um pouco… tocado?

Não sei. Mas é que eu dificilmente falo disso, e ele ver minha situação com tanta compaixão me deixou meio besta.

— Mas… sua mãe pelo menos é legal, né? — ele perguntou, voltando a sorrir.

— Sim! Bastante. Ela é bem jovem e divertida… — eu disse, pensando em Leonor. — No começo foi esquisito, mas
agora eu me adaptei a todas as mudanças.

— Isso me parece bom! — ele disse, sorrindo. — Ah, espera aí! Quero saber sobre como suas primas são, mas
primeiro vamos comer!

— Certo! — eu disse, sorrindo e me sentindo muito mais confortável, agora.

Nos próximos minutos, Taehyung serviu arroz, frango frito e molho para a gente. Também tinha refrigerante e, além da
comida estar muito gostosa, a conversa estava muito boa também. Conversamos sobre minhas primas, sobre sua avó, sobre
minha avó, e sobre o meu conhecimento a respeito dos Beatles — ele ficou chocado com o fato de eu não saber quase nada
sobre eles. Ele até me explicou que eles já apareceram nas novelas e eu finalmente percebi que os conhecia pelo menos um
pouquinho.

Demos risada quando falamos que a professora de história nova era uma megera ao mesmo tempo. Fiquei feliz
durante todo aquele almoço...

— Ah, é… e eu não quero que a gente não fale disso, então vou te contar o porquê eu ando sempre com isso.

Taehyung, então, apontou para o aparelho auditivo em seu ouvido.

— Hum… — Demonstrei que estava ouvindo, bebendo um pouco do meu refri.

— Sabe, quando eu nasci, todo mundo pensava que eu era surdo. Eu não escutava quase nada, e pra falar a
verdade, sem isso aqui, eu ainda não escuto. — Ele apontou para seu aparelho auditivo. — Mas quando fui ficando um
pouquinho mais velho, minha avó e minha mãe perceberam que alguns estrondos altos me assustavam. Isso só ficou claro
quando meu primo estourou um balão de festa bem do lado da minha cabeça e eu dei um grito pelo susto — ele disse,
parecendo ter contado aquela história muitas vezes… a conhecia perfeitamente. — Aí teve as consultas e mais consultas e
descobrimos que eu meio que escuto um pouquinho. Sorte a minha… — Ele deu um sorriso. — Quando não estou com o
aparelho auditivo, sinto um chiado muito alto de… nada. Tipo o barulho do mar em uma conchinha, sabe? Só que bem mais
alto — ele me contou. — Então, agora tenho a minha audição biônica. Mas às vezes me sinto desconfortável com o aparelho
auditivo e simplesmente o tiro… por isso o Hoseokie fala através de sinais comigo do nada. Meio que desajusto ele sem
querer… e às vezes e não consigo escutar quase nada, ou só tiro ele… mas agradeço muito por essa tecnologia! Imagina
não poder escutar música? Poxa, fico bem aliviado.

Dei um sorriso.

Taehyung era… extraordinário.

Diferente de todas as coisas as quais conversamos, dessa vez, Tae foi calmo e lento. Ele parecia confortável e
orgulhoso de tudo que passou e superou. Eu fiquei tão feliz por poder saber dessas coisas sobre ele… me fez sentir que
somos amigos de verdade, agora.

— Taehyungie… isso é tão bom. Ainda bem que você pode escutar música! — eu disse, sorrindo. — Sabe, acho que
vou aprender a língua de sinais só pra falar com você!

Taehyung sorriu abertamente.

— Isso seria demais, Jiminnie! — ele exclamou.

Eu sorri bastante também. E depois, começamos a falar sobre seu aparelho auditivo, linguagens de sinais e mais um
monte de coisas que me faziam sentir que Taehyung era muito humano… e, apesar de tudo, um garoto muito forte.

Demonstrei empatia e compaixão à sua história também. E nós nos divertimos por um tempão, só conversando.

Um pouco depois, Tae segurou minha mão com firmeza e me levou até seu quarto. Fiquei surpreso com o tanto de
pôsteres, discos, cartazes, e… tudo, que havia sobre os Beatles ali. Uau…

Como ele mesmo diz várias vezes: um verdadeiro Beatlemaníaco!

— Como eu te disse… sou muito fã deles! Mas um fã inteligente, né? — ele contou. — Minha mãe e minha avó já
foram em um show deles! Mas eu ainda era muito bebezão. Aff. Queria poder ter visto os Beatles ao-vivo, antes deles
virarem esses crianções de quarenta anos… e cadáveres... — Suspirou, se sentando em sua cama de solteiro.

Era engraçado como ele criticava e gostava deles ao mesmo tempo.

— Tem uma música deles que eu amo… — eu disse, me sentando ao seu lado.
— Qual?! — Se animou.

— Baby It’s you! — eu disse, sorrindo e ele riu do meu inglês. Ri também. — Essa música… ah! Ela é tão boa...

— Eu amo! Esses primeiros álbuns são… ah! São meu ponto fraco — Tae disse, tirando os sapatos e ficando só de
meias. Fiz o mesmo. — Sabe, acho que Please Please Me é o meu favorito para desestressar… melhor álbum de todos! —
ele sorria tanto e falava tantas coisas felizes que seu rosto tinha ficado todo corado.

O meu deve estar assim também.

— É engraçado pensar que eu não reconheci os Beatles de primeira… — eu disse, me lembrando da loja de discos. —
Eu só me lembrava do… — Pensei um pouco. — John…

— Sabe que ainda tô chocado com isso também? Tipo… são os Beatles!

— Hehe… quando eu era pequeno, minhas tias não escutavam muitas bandas. Elas gostam dos clássicos e das
músicas da minha avó… então eu só conhecia um pouquinho deles das novelas, mas nem lembrava! Só me dei conta
quando você disse. — Eu me lembrei da minha infância.

— Acho que entendo isso… tipo, querendo ou não, você estava vivendo em uma bolha por não ir pra escola! E nessa
bolha não tinha Beatles… então não acho que seja esquisito você não conhecer… — Ele deu um sorriso, compreensivo. Eu
confirmei. — Como conheceu essa música, então?

Através do amor da minha vida.

Sorri.

— Através do Jungkook. — Eu disse, me segurando. — Na verdade, acho que ele me apresentou quase tudo sobre
música… — Dei um sorrisinho, colocando os pés na cama, abraçando meus joelhos. — Yoongi também me apresentou
alguns artistas…

Taehyung parou.

O sorriso se desprendeu de seu rosto.

— Yoongi? — ele indagou. — Yoongi…?

— Min Yoongi — eu disse, me sentindo… nervoso? — É… ele é da minha turma, somos muito amigos.

Taehyung pareceu um pouco surpreso e incomodado com isso. Ele até virou um pouco para o outro lado e, bom... foi
inevitável como minha mente trouxe todas as informações que eu tenho sobre isso à tona.

Sabe… o primeiro dia que fui na casa do Yoon. Como ele se sentiu sobre Taehyung… e disse que ele o odiava. E
agora, Niuke.

O que pode ter acontecido entre eles? Os dois são tão legais. Não consigo imaginar por que eles não são mais
amigos...

— Eu… eu já fui amigo dele — ele disse. — Mas acabou.

Pressionei os lábios. Acabou...

— Por… por que, Tae? — perguntei, me arrependendo ao perceber que… bem… eu poderia estar sendo invasivo. —
Não precisa responder se não quiser, o Yoon também não quis conversar sobre isso…

— Então ele falou de mim? — perguntou.

— Na verdade, eu meio que descobri… mas… — Parei. — Hum… desculpa se esse assunto te deixou desconfortável.
Não precisamos conversar sobre isso...

— Não, tudo bem… — ele disse, abraçando seus joelhos. — Acho que tudo bem se eu te contar o que aconteceu.

O quê?

— Sério? — perguntei, surpreso, porque definitivamente não esperava por essa.

Pensei que ele fosse se sentir mal. Como Yoongi… mas ele parecia bem em falar disso, diferente do meu outro
amigo.

— Sério. — Ele deu um sorriso pequeno. — Bem… como posso te dizer? Ah... — Suspirou. — O Yoongi meio que me
abandonou quando eu mais precisava dele.

Uau...

— Como assim? — Franzi o cenho.

Tae fechou seus olhos. Ele engoliu em seco e suspirou demoradamente. Talvez não esteja tudo tão bem em falar
disso…

Pensei que ele fosse desistir da conversa e, bom, por mim tudo bem. Eu não queria que fosse desconfortável… poxa.

Mas, contrário aos meus pensamentos, Taehyung começou a me contar:

— Hum… eu acho que você não deve saber disso, mas eu já fui muito perseguido na nossa escola — ele disse. —
Principalmente do ano passado pra trás. Eu era bem diferente do que sou hoje em dia… era bem tímido e só me soltava com
o Hoseokie e com o Yoongi. As garotas e aqueles babacas da escola achavam que eu tinha jeito de “viadinho” — Fez aspas
com o dedo. — Ah. Danem-se eles. Eu não ligo mais, mas na época era difícil… bem difícil, sabe? — Olhou nos meus olhos.

Confirmei com a cabeça.

— Sim… — eu disse, pensando.

— Então… mas isso ficou um pouco feio em novembro do ano passado. Eu meio que me senti tão, tão humilhado,
que respondi um deles… isso resultou em todos se juntando contra mim e me enchendo de porrada — ele falou, me
deixando um pouco assustado. — Foi quando percebi que Yoongi não era meu amigo. — Ele me olhou nos olhos. Me
surpreendi porque praticamente tinha esquecido que isso era sobre o Yoon… — Sabe, Jimin. Se você visse cinco caras
gigantes me batendo, o que você faria? — Pensei.

Caras gigantes… Não precisei de muito tempo para saber exatamente o que responder:

— Tentaria ajudar! É claro… — eu disse, me sentindo um pouco angustiado por isso ter acontecido com o Tae.

— Exatamente! Você sim é meu amigo — ele disse. — Eu… eu nunca vou me esquecer daquele dia. — Ele desviou o
olhar. — Sabe, Jimin… naquele dia, enquanto os caras me batiam, eu vi o Yoongi no meio da multidão… — Me fitou. — Ele
estava com medo, dava pra ver no rosto dele… eu estava sentindo tanta dor que comecei a chamar por ele, queria que ele
me ajudasse, mas ele… — Fechou os olhos. — Ele nem saiu do lugar. — Bufou. — Quando os caras perceberam que era
ele quem eu estava chamando, o Yoongi simplesmente… ele simplesmente foi embora! Saiu correndo, e não voltou…
caramba. Eu fiquei tão triste, porque éramos muito amigos. Não pensei que ele seria tão covarde, tão mal, tão ruim comigo…
por que ele não me ajudou? — Taehyung parecia realmente chateado.

E eu? Eu estava… surpreso.

E um pouco curioso.

Eu não queria tomar decisões precipitadas, mas… fiquei chateado com Yoongi pelo Tae. Mas eu não sabia a história
do meu amigo, então, como eu poderia culpá-lo?

Apesar de não entender como ele poderia deixar alguém como Taehyung na mão, não sabia o que tinha acontecido
para ele ter o feito. Será que ele só foi um covarde?

Ah, Yoongi…

— Tae… eu sinto muito mesmo — eu disse, tocando seu joelho com ternura. — Não consigo imaginar como isso deve
ter sido difícil pra você.

— Hum… tudo bem — ele disse, baixinho. — Quando o Yoongi foi embora, eu fiquei feliz, porque percebi outra
coisa… — Ele começou a sorrir. — Diferente dele, Hoseok entrou no meio da briga com tudo. Ele começou a empurrar os
caras, e mal conseguia, mas não desistiu. Hobi conseguiu apanhar ainda mais do que eu por tentar tanto… — Ele falava com
certo brilho no olhar. — Eu nunca vou me esquecer de como ele se jogou em cima de mim quando estavam me chutando…
eu disse para ele ir embora, mas ele disse que não iria. Que doía mais quando eu levava os chutes do que quando ele
levava os chutes. — Suas bochechas ficaram vermelhas. — Naquele dia eu entendi que o Hoseokie era para minha vida
toda. Então, acho que valeu a pena…

Taehyung deu um pequeno sorriso. Ele escondeu seu rosto no meio dos joelhos e tudo que ele parecia estar sentindo
e falando me deixou bem.

Acho que Taehyung sentiu muito amor naquele dia.

— Isso é bem legal… — Eu sorri. — Não sabia que o Hoseok era tão corajoso.

— Ele é! — Levantou o rosto, sorrindo. — Ele também é bom com desenhos, sabe lidar bem com as pessoas, ele é
demais… quero que vocês virem muito amigos logo!

Sorri.

— Também quero — eu disse, sorrindo feliz.

Taehyung sorriu de novo. Sentou com as pernas cruzadas e suspirou de uma forma lenta e longa, como se falar disso
tivesse sido a melhor coisa que ele poderia ter feito hoje.

Ficamos em silêncio por um tempo, só respirando e pensando. Eu aproveitei dessa pausa confortável para processar
as informações mais uma vez...

Sabe, eu conheço Yoongi muito bem. Ele é um garoto que demonstra pouco às vezes, mas que tem um lado doce
muito profundo. Ele só se esconde demais… talvez pela sua personalidade introvertida, eu não sei, mas eu não posso culpá-
lo e julgá-lo pelo o que aconteceu. Eu gostaria de saber o que ele sentiu e por que fez isso com o Tae… tenho certeza de que
deve ter um motivo, um medo, um pensamento ruim que o fez vacilar. Afinal, ele é humano.

Espero que um dia ele divida isso comigo.

— Jiminnie… — Tae chamou, de repente. O fitei. — Você já viveu um momento tão bom que fez você sentir que
nunca estaria sozinho? Como se a pessoa estivesse ali no momento perfeito. Como se ela fosse a única pessoa que poderia
estar ali por você…

Meu coração palpitou.

Alguém único, para estar aqui por mim…

— Sim… — eu disse, sorrindo um pouco. — Tem alguém que esteve comigo de uma forma muito doce.

— Sério? — ele indagou, com a voz suave. — E como foi?

Eu não hesitei em responder.

— Foi muito bom… — eu disse. — Sabe… teve uma vez que um babaca me machucou na frente de todo mundo. —
Me lembrei daquela cena no refeitório. — Ele me humilhou e me deixou triste… eu consegui dar a volta por cima, mas não
me senti bem com isso, sabe? E esse alguém foi o único a perceber isso. Ele foi único… — eu disse. — Ele fez um curativo
no meu rosto… e me fez esquecer tudo de ruim com alguns jogos de carta e adedanha… — Eu sorri, com as bochechas
queimando de saudade. — Poxa… e teve uma vez que me senti tão sozinho. Eu perguntei se ele queria me visitar, ele disse
que sim. E apareceu em uma hora… e nunca tinha ido na minha casa antes! — Sorri ainda mais, com as mãos tremelicando.
— Também teve uma vez em que eu estava me culpando… me sentindo triste por pensar em pessoas que já me fizeram
lamentar o meu jeito de ser. E Jungkook cantou uma coisa tão engraçada…! Ele me fez rir tanto que eu esqueci que estava
chateado… — Completei, sentimental. — É como se ele fosse um presente… do universo… de Deus… um presente muito
bom...

Enquanto contava todos esses meus sentimentos, não olhei para Taehyung. Somente olhei para minhas mãos e sorri,
tanto que meus olhos se fecharam. Meu rosto estava pegando fogo e minha barriga estava tremendo, gelando, seguindo o
ritmo do meu coração. Foi como me lembrar, vividamente, de Jungkook em meu quarto. Me fez ferver de saudades e
gratidão por poder estar vivendo um amor tão, tão bom.

Mas...

Após acalmar meu coração agitado, fitei Taehyung. Olhei para seu rosto, me perguntando qual poderia ter sido sua
reação sobre isso e…

Ele estava cor de rosa.

E com os olhos muito arregalados.

— Jiminnie… — ele chamou, erguendo as sobrancelhas.

— O quê? — perguntei, hesitante, com medo de ter deixado alguma informaçãoimportante passar sem querer.

Taehyung me encarou. Sorriu e, então, somente negou com a cabeça.

— Eu… eu só queria dizer que somos mais parecidos do que você pensa. E que estou muito feliz por você ter vindo
aqui hoje e compartilhado tantos sentimentos comigo… — disse com muito carinho. — Isso me fez um bem danado...

Não tardei em sorrir também, porque… qual é? Taehyung era tão legal. Eu me sentia muito confortável perto dele. Era
quase surreal.

— Eu também estou muito feliz, Tae… — Sorri. — Espero que a gente possa fazer isso mais vezes! — falei,
alegremente.

— Eu também... — ele exclamou, com seu sorriso em formato de caixinha. — Eu também, Jiminnie… — ele tocou
minha bochecha com o indicador, rindo comigo.

Depois disso, o resto do dia na casa do Taehyung foi ótimo. Ele me mostrou outras partes da sua casa, incluindo a
mini horta da sua avó e o piano no quarto de sua mãe. Conversamos sobre música e ele me emprestou uma fita com
músicas diversas dos Beatles, e uma mixtape chamada “para ouvir apaixonado”. Foi bem divertido…

Quando estava escurecendo, a mãe do Taehyung chegou. Ela era muito divertida e sociável, e me fez muitas
perguntas engraçadas, além de falar do mesmo jeitinho que o Tae… eu me senti tão bem. Ela me levou até minha casa e
Tae também foi, e a conversa entre nós três fora tão engraçada e leve que eu fiquei cheio de euforia! Eu realmente quero
manter uma amizade de longa data com ele...

Quando chegamos em casa, me despedi dela e do Tae. Mas antes de descer do carro, Tae me deu um abraço
apertado e disse, bem baixinho, para só eu escutar:

— Se um dia você quiser me contar, eu vou adorar saber.


Eu fiquei surpreso.

De primeira, não entendi sobre o que ele estava falando. Mas bastou alguns minutos na rua, observando seu carro ir
embora, para saber. E para perceber, também, o que eu fiz…

Quando falei da pessoa que era única para mim… sem querer deixei escapar o nome de Jungkook! E Taehyung
percebeu.

Fiquei um pouco desnorteado com isso, com o fato dele possivelmentesaber. Até tentei esquecer isso enquanto
entrava, falava com minha mãe — que estava menos esquisita — e fazia carinho no Menino, mas, quando tomei meu banho
para dormir, voltei a pensar nisso. E também pensei em como Taehyung disse que tínhamos muito mais em comum do que
eu pensava.

E se eles for como eu e Jungkook?

Eu não tinha parado para pensar nisso. Quando me toquei, um sorriso surgiu em meus lábios e eu decidi que, um dia,
tomaria coragem para esclarecer esses sentimentos com Taehyung. Porque Jungkookie era único…. para mim, ele era como
Hoseok era, para Taehyung.

Jeongguk era a pessoa da minha vida. Era incrível, bonito, divertido... Jeongguk era tudo. Era infinito, assim como o
universo.

E eu adoraria ficar com ele para todo o sempre.

***

Eu e Jungkook não nos beijamos na semana seguinte.

Também não saímos sozinhos — apesar de termos ligado um para o outro depois da escola na quinta e na sexta —,
mas damos nossas mãos carinhosamente sempre que há uma brechinha.

Meu coração batia forte quando eu percebia que Jeonggukie estava ficando cada vez mais confortável perto de mim.
E, o observando com todo o carinho que meu coração tinha, eu percebi umas coisas e igualmente mudei minha mentalidade
sobre o nosso beijo.

Tipo, na boa… é claro que eu ainda quero o beijar com todo o meu serzinho! E isso me faz resmungar pela casa
quando me pego pensando em como seus lábios são delicados e — céus — aparentemente macios, doces e… tudinho de
bom. Mas ficou diferente nesses últimos dias… ainda mais quando eu percebi que Jeongguk ficava nervoso como nunca
quando achava que eu iria o dar uma beijoca. Meu bebê...

Eu gostava quando ele ficava nervoso. Quando ele tremia, gaguejava, eu ficava completamente bobinho porque… era
fofo. E além de fofo, eu sabia… tinha em mente suas doces palavras sobre como era bom quando ele ficava daquele jeito.
Tudo sobre Jeonggukie era extraordinariamente bom, bonito e gostoso de sentir, e às vezes era difícil segurar minhas
vontades quanto a ele por causa dos sentimentos que ele, sem perceber, deu a mim.

Amar Jeon Jungkookie significava viver cheio de vontades e pensamentos românticos.

E era perfeito.

Mas… apesar de gostar tanto do seu jeitinho tímido, eu amava infinitamente mais quando Jeongguk ficava calmo.
Simplesmente... calmo.

Só Deus sabe o quanto meu coração bate forte quando ele olha nos meus olhos e fala comigo tão suavemente,
demonstrando o quão confortável ele está se sentindo perto de mim. Isso é perfeito… me faz sentir que Jeongguk poderia,
um dia, me mostrar cada parte sua sem hesitar...

Eu fiquei pensando nisso sem parar. Foi quando me dei conta de que, antes, eu só queria beijar ele o mais rápido
possível. E agora… bem. Agora eu quero mais do que isso. Mais do que um beijo desesperado e nervoso… eu quero
Jeonggukie.

Quero de verdade.

Quero Jeonggukie olhando nos meus olhos e me beijando… se sentindo calmo, bem calminho, com a voz suave
como quando ele fica com sono. Eu esperaria uma eternidade por isso, por Jungkook. Ele simplesmente vale a pena...

Por isso, eu parei de tentar beijá-lo a cada segundo que a escola — e o mundo — nos dava uma brechinha. Eu decidi
que, por ora, só faria carinho em seu rostinho e em seus dedos, esperando o momento certo para chegar mais perto… e,
céus, apenas isso era tão bom, tão bom. Jungkookie sempre sorria quando eu lhe dava carinho, e fazia tanto sentido que eu
me perguntava se não era essa minha missão aqui na terra: fazer carinho em Jungkook.

Como eu o amava.

E as minha atitudes lentas não passaram despercebidas por ele… eu senti isso. Senti que ele estava se acalmando
aos pouquinhos já que, conforme os dias foram passando, Jeonggukie deixou, lentamente, de ficar extremamente nervoso e
trêmulo com a minha presença. Muito pelo contrário… ele parecia cada vez mais confortável comigo por perto, sempre
sorrindo e olhando para mim, como se permitisse fazer isso… era como se ele fosse o meu pedacinho do paraíso na terra.
Jungkook era… tudo.
Quando nos falamos no telefone a sexta-feira, após ficarmos sabendo sobre o acampamento — que, aliás, todos nós
vamos! — eu o chamei para ir ao nosso lugar, passar o tempo, mas ele já havia feito planos com Seokjin.

Eu, sem nem pensar, divaguei em voz alta um dos meus desejos bobinhos:

— Será que um dia você vai ser todinho meu?

Um segundo depois, percebi como aquilo soou meio possessivo e estranho (céus, não era sério, apenas uma
gracinha!). Mas Jungkook só riu baixinho.

Uma risada meio tremida e engasgada, mas… doce demais.

— T-todinho? — ele sussurrou, gaguejando e rindo.

Eu senti que iria explodir.

— Caramba, Ggukie... — eu sussurrei também. — Que fofo…

— O quê?

— Você falando “todinho”... — eu senti minhas bochechas arderem. — Eu poderia ouvir você falando isso por toda a
eternidade.

Jungkook suspirou perto do telefone. Eu queria poder estar com ele.

— To… — Eu pude ouvir ele lambendo os lábios. — T-todinho. Todinho? Puxa…

Eu me encolhi contra o telefone. Leonor estava no andar de cima, mas se ela não estivesse em casa, eu
simplesmente gritaria.

Eu te amo, eu te amo, eu te amo…

— Eu te adoro… — eu ri baixinho, cobrindo meus olhos com a mão. — Te adoro… — sussurrei.

Pude ouvir a voz da mãe dele no fundo da ligação e, alguns segundos depois, Jungkookie sussurrou:

— A-até segunda-feira. — ele grudou os lábios no telefone. — Também te adoro.

E desligou.

Foi difícil pra mim depois disso. Eu pensei nele falando “Todinho” o final de semana inteiro e não consegui parar de
sorrir. Até fiquei imaginando o que teria acontecido se eu tivesse dito…

— Eu te amo… — eu murmurava, sozinho no quarto. — Eu te amo, Jungkookie… — Pensava em suas bochechas


vermelhas. — Te amo, te amo, te amo…

Foi tão intenso que eu fiquei me perguntando quando sabemos que amamos alguém. Eu não sabia o que era preciso
para amar alguém, mas por algum motivo, sentia que amava Jungkook com todo meu coração… era tão confuso só sentir e
não entender.

Pensei tanto nisso que perguntei para Yoongi — que eu ainda converso normalmente, apesar de pensar sempre no
que ele fez com Tae — como sabemos que é amor, e ele me respondeu isso:

— Sei lá. — Naquele momento ele parecia distraído, como se minha pergunta fosse boba demais para merecer sua
atenção. — Tipo, imagina se você ainda gostaria da pessoa se ela perdesse todos os dentes, ou fosse azul. Se sim, acho que
é amor.

Eu pensei por alguns segundos e, bem, parecia simples demais. Se fosse assim, eu com certeza amava Jungkook.
Mesmo se ele fosse banguela e todo azul… eu gostaria de ficar pertinho dele...

— Só isso? — indaguei.

— Imagina ela fedendo também.

— Mais o quê?

— Um terceiro mamilo — ele disse, me fitando.

Depois disso, eu acabei rindo. E ele também.

— Certo, você com certeza esclareceu minhas dúvidas, muito obrigado! — eu disse, debochado, deixando o assunto
de lado enquanto ele ria audivelmente.

— De nada!

E apesar das risadas, pensei muito em amar depois.

Ainda mais quando ele estava por perto. Quando o via de longe, ou, quando ele conversava comigo… ou só estava
por perto. Eu só conseguia pensar em amor, o conceito de amar… de dizer que ama alguém.

É que… sinto tantas coisas. E estou sentindo tantas a mais agora. É assustador às vezes… mas eu sinto tanto, tanto.
É tão forte e bom… é por isso que dizem que o amor é perigoso? Por ser tão forte e bom?

Há uma euforia tão única quando estou perto dele… eu me sinto feliz em outros momentos da minha vida, é claro que
me sinto, muitos dos meus dias são felizes. Mas quando estou com ele, esse feliz se torna tão diferente do usual… tem tanta
adrenalina e rubor nas bochechas! E eu fico todo gelado por causa da intensidade...

Quando eu descobri a história de amor da minha mãe Leonor e do meu paiEuijin, fiquei um pouco assustado, eu
admito… ainda não estava imerso em romances para entender como o amor podia ser doloroso. Me lembro de, naquela
época, chegar na conclusão de que amar não fazia bem, já que a mamãe ficou tão triste quando meu pai morreu.

Mas agora é diferente.

Enquanto sentava atrás do Jungkookie nas aulas de história durante o mês de julho e agosto e sentia seu cheiro bom,
eu me perguntava… qual seria a graça da vida se não tivesse amor? Todo tipo de amor. Eu era tão bobo por pensar que não
deveria sentir amor... imagina não amar por medo do que pode acontecer depois?

Sabe, se eu o amo mesmo… não vou ficar me reprimindo. Jungkook é tão amoroso comigo que sinto fielmente que
ele não me machucaria de propósito, jamais, então porque eu não deveria dar toda essa parte do meu coração para ele, já
que ele me faz tão bem?

Eu estava de olhos fechados enquanto pensava em tudo isso. É um pouco estranho pensar nessas coisas sempre,
mas a cada dia que se passa, a cada momento que temos, mais eu sinto amor por ele. É um sentimento tão limpo e puro, e
me faz bem. Eu não vou me reprimir. Vou sentir essas coisas boas.

Eu quero amar, afinal… não quero abrir mão disso, não. Eu não tenho medo… contanto que eu não esteja sozinho,
não tenho medo.

Eu espero que Jungkook me deixe amá-lo.

***

Duas semanas depois, na sexta-feira, a lista dos dias do acampamentos e alunos autorizados saiu.

Ah, é! Eu mal falei do acampamento, mas ele vai acontecer em dois finais de semana: dia 20 e 21 de agosto, e dia 27
e 28 de agosto também — o primeiro final de semana é daqui a uma semana! Os ônibus para lá saem sexta de tarde, então
são quase três dias.

É um acampamento-não-tão-acampamento, já que vamos ficar em chalés, mas parece muito divertido! Vamos pra
cidade vizinha, terá um lago, gincanas, atividades… basicamente, um presente para os alunos e a escola, que está
completando 20 anos de idade (estou aqui há só um ano, mas já me sinto super orgulhoso).

— Poxa, não vamos no mesmo dia! — Taehyung disse para mim, vendo que vai na semana que vem.

Estávamos todos reunidos, no intervalo, vendo as datas. No dia 20 e 21, iriam Niuke, Namsoon, Hoseok e Taehyung.
No dia 27 e 28 de agosto, iremos eu, Yoongi, Seokjin, e Jungkookie… isso!

— Jimin! — Eu olhei para o lado e me deparei com Jieun. — Vamos no mesmo dia. — Ela sorriu.

— Demais! — Sorri também, porque ela é muito legal.

Jogamos conversa fora e, quando a fome bateu, seguimos nosso caminho para o refeitório. Yoongi tinha faltado hoje,
por isso fiquei com Tae, Hobi, Niuke, Jungkookie e Seokjin.

Nós nos sentamos em uma mesa grande e lanchamos, sorridentes e animados com o acampamento. Jungkookie
sentou do meu lado e estava com um potinho na mão desde que saiu da sala, meio quietinho, mas sempre me respondendo
quando eu falava com ele.

Quando todos estavam distraídos, ele chegou pertinho de mim e colocou o pote no meu colo.

— É bolo de laranja… — ele disse, baixinho, para mim.

Meu sorriso cresceu. Ah, é… também tem isso acontecendo.

Eu e Jungkookie temos nos presenteando muito nas últimas semanas. Às vezes compro doce para ele, e ele me
devolve um mimo, dias depois, como bolos e biscoitos. Era um doce e eu até sentia que éramos namorados…

— Obrigado, Ggukie… — sussurrei, o fitando com amor. — Você é demais.

Jeonggukie sorriu de volta, vermelho, e trocamos um olhar rápido. Até que ele disse, baixinho:

— Eu também gravei uma nova fita — sussurrou. — Deixei no meu armário… vamos nos encontrar lá depois?

— Sim… — eu disse. — Podemos ouvir juntos no parquinho. — Sorri ladino.

— Matar aula? — ele indagou e é claro que eu assenti. — Tá bom! — Sorriu, feliz com isso.
— Antes, eu vou guardar o bolo na minha mochila… você deveria ter me dado antes de eu lanchar! Agora vou ter que
comer depois — eu disse, com um biquinho, lhe dando um tapinha. Jungkook riu.

— Desculpa, puxa… — Continuou sorrindo.

Ai. Esse fofinho!

Após meu coração falhar algumas batidas, decidi colocar nosso plano em ação. Como faltava menos de cinco minutos
para o intervalo acabar, decidi ir na frente para guardar o bolo e depois encontrá-lo no armário. Expliquei para todos que ia
para a sala antes e me despedi, dizendo baixinho para Jungkookie:

— Me encontra no seu armário.

Quando me afastei dele, após ele confirmar, peguei Niuke nos olhando daquele jeito de novo — agora, acompanhada
de Taehyung.

Ora essa…

— Até mais tarde, gente — eu disse, sorrindo e acenando.

— Até, Jiminnie!

— Até!

— Te vejo depois, Minnie!

Sorri para eles e, risonho, saí do refeitório, imensamente grato pelos amigos que tenho.

Fui até a sala e guardei o bolo na mochila, cuidadosamente a fechando e deixando-a sobre a mesa. No mesmo
momento, o sinal tocou, então me apressei em pegar minha escova de dentes e a pasta para ir o banheiro, escovar meus
dentinhos.

Depois de fazê-lo, guardei ambas as coisas no bolso da frente do meu casaco já que, obviamente, não posso voltar
para a sala e deixá-las lá. Ainda enrolei um pouquinho ajeitando o cabelo e me vendo no espelho, afinal, vou encontrar meu
amorzinho…

Quando estava completamente pronto, eu saí do banheiro e segui meu rumo — rumo ao Jeonggukie, hehe.

Por ter ido ao banheiro, acabei ficando muito afastado do corredor, então decidi cortar caminho passando por fora da
escola. Dei um sorrisinho, caminhando pela área aberta com calma, me sentindo feliz.

Mas algo, então, me fez parar no lugar.

Mais especificamente: antes de entrar no prédio, escutei um barulho esquisito no meio dos arbustos perto da escola.E
curioso como sou, é claro que tive que parar para olhar.

Quando vi, com meus próprios olhos, o que estava acontecendo, fiquei um pouco…surpreso.

Era… o Idiota. O Idiota, fumando um cigarro. Dentro da escola, o que é muito, muito errado.

Caramba!

Eu fiquei tão entorpecido com a cena que fiquei ali, parado, sem saber o que fazer. Porque, enquanto ele bufava a
fumaça, tossindo um tanto, eu me perguntei se dedurar era a escolha certa. Afinal, eu não gosto dele e seria ótimo não vê-lo
mais (sério)! Mas também… ah. Vai saber como uma expulsão ou suspensão pode afetar na vida dele, não é? Ele ainda é
uma pessoa e...

Ah.

Ele me viu.

Divagando como um idiota, me esqueci da (real) questão aqui:

Kim, Idiota, não deveria saber que eu o vi fumando na escola.

E, bom… ele está parado, olhando para mim bem agora.

— Meleca… — Engoli em seco, vendo seu semblante se tornar irritado a cada suspiro que eu dava.

Me dei mal!

Minha mente borbulhou um pouco e comecei a me afastar, pensando em formas de escapar dessa situação horrível
e, provavelmente, muito violenta. Pensa, Jimin, pensa, pensa...

Bom. Eu não pensei muito. Na verdade, não deu tempo de pensar em nada quando ele começou a se aproximar, com
muita raiva e os punhos cerrados. Por isso, eu só fiz o que deveria fazer desde o começo:

Saí correndo como um maluco.


— Volta aqui, …! — Ouvi ele me xingar de um palavrão, mas eu já estava correndo para dentro do prédio da escola
como um foguete.

Essa droga de curiosidade ainda vai me matar!

Meus tênis arranhavam o chão a cada pisada que eu dava para longe do Idiota, que não desistiu e correu atrás de
mim mesmo assim. E, caramba, como eu estava frito! Porque ele é rápido como um lobo e eu sou lento como uma lebre!

— Droga, droga, droga! — reclamo, virando um corredor, descobrindo, no segundo seguinte, que esse foi meu maior
erro.

Porque, como se já não estivesse encrencado o bastante, mais uma coisa terrível aconteceu (cacetada!). Essa coisa
terrível é o meu cartão ilimitado para a cantina, que com a minha curva apressada, saiu voando do meu bolso e caiu
diretamente no chão, me fazendo parar repentinamente.

E eu sei… eu sei! Eu sei que não deveria parar por causa do meu cartão e, com certeza, não o faria se não estivesse
completamente exaltado, nervoso e ofegante! A melhor escolha seria deixá-lo para trás e pegá-lo depois, mas no desespero
do momento, eu apenas parei.

Bastaram apenas alguns míseros segundos para o Kim, Idiota, chegar até mim e me agarrar bruscamente pelo
colarinho da minha camiseta, me batendo no armário com tanta força que meu óculos tremeram em meu rosto.

— Eu mandei você parar, bichona! — E esse é o cumprimento dele.

Segurei seu braço, que me agarrava e, com medo, gritei:

— Me solta!

— Estava pensando em me dedurar para o diretor, seu filho da… — ele chamou minha mãe de uma coisa muito feia.
— Não mexe comigo, rolha de poço!

Fiquei indignado com a última parte.

— Eu não mexo com você! — eu rebati porque, sério, eu nem saberia da existência dele se ele não me perturbasse!
— Me deixa em paz! — pedi, tentando empurrar ele, mas sou fraco demais, então ele nem saiu do lugar.

Mas não desisti. Continuei me debatendo, com medo dele quebrar meu óculos ou rasgar a minha preciosa camiseta, e
com toda essa minha afobação, o Idiota acabou segurando os meus dois pulsos, os prendendo ao lado da minha cabeça
com violência.

— Me deixa em paz você, saco de banha! — Ele grita de novo.— Me deixa em paz!

Ele solta uma das minhas mãos, batendo no armário atrás de mim, me assustando. E eu só consigo me perguntar o
porquê, céus. Eu nunca fiz nada com ele! Nada! Eu ao menos olho para ele!

Quis falar tudo isso, mas por medo, não consegui. Apenas fiquei quieto, abaixando a cabeça, pensando sigilosamente
no que fazer. Ele continuou bufando, perto de mim, fedendo a cigarro. Minha única esperança era de alguém chegar e ver o
que estava acontecendo e, céus... me ajudar! Não importo de ser suspenso de novo, só não quero que ele quebre nada
meu…

Eu fecho meus olhos com força. Como isso me deixa bravo! Porque eu nunca fiz nada contra ele. Nunca o tratei mal,
nunca o diminuí, mas ele faz isso comigo desde meu primeiro dia. Sempre me persegue, me ofende… por que ele tem que
ser assim? Por que ele tem que me odiar pelo simples fato de eu ser eu?

Eu costumo não pensar nisso, mas em um momento como esse, eu não consigo o ignorar. Porque, com essa
violência, eu me lembrei do dia em que ele tentou me humilhar no refeitório, machucando-me o rosto. Eu me senti mal com
isso por dias. Quando ele sumiu por semanas, eu acabei me esquecendo dele porque, sinceramente, eu não preciso de
lembranças ruins! Mas depois das férias, ele voltou. Voltou me xingando no ônibus, me olhando torto, se sentando sempre
que pode atrás de mim… voltou me odiando desse jeito problemático que eu não entendo, tentando reprimir tudo que eu sou
sempre.

E eu não entendo. Não entendo como ele não vê o quão triste ele é por ter essas atitudes.

Meu rosto esquentou de raiva e frustração. Eu sabia que não era páreo para ele, sou incapaz de bater em alguém,
não sinto vontade, mas eu estava começando a ficar tão irritado e enojado. Por isso, só por isso, eu não hesitei em levantar
minha cabeça, o fitando com o cenho franzido e os olhos afiados, tentando demonstrar o quanto eu desrespeitava e
desprezava todo seu ódio por mim apenas com isso.

Eu encarei ele. Eu estava tão brabo… tanto que…

Tanto que eu não percebi que ele não estava mais vermelho de raiva.

O Idiota estava em silêncio, me olhando… demoradamente.

Mas ele não estava olhando nos meus olhos.

Espera...
Espera aí.

Ei, ei, ei… isso tá ficando muito estranho!

— Me deixa em paz… — ele sussurrou, o tom de voz diferente.

Meu âmago ficou surpreso, porque ele estava olhando para a minha… minha boca. Mas, hein?!

O quêeee?!

No segundo seguinte, ele olhou nos meus olhos e, por um momento, por um segundo, eu vi algo diferente ali. E eu
até cogitei que aquilo era apenas coisa da minha cabeça nos meus breves segundos de pânico, mas ele confirmou tudo que
eu achava quando tentou tocar meu rosto de maneira suave com a outra mão. Foi quando percebi que era sério, e
percebendo isso, eu senti... ânsia...

Senti nojo.

Bastou um segundo para eu ver que ele estava planejando se aproximar, sorrateiramente, do meu rosto.

E bastou menos do que isso para eu levantar minha mão e acertar um tapa forte em seu rosto.

Eu bati nele.

Eu realmente fiz isso.

Bati no Idiota e continuei ofegando indignado depois de fazê-lo, porque ele deixou claro que iria me beijar, ou pelo
menos, tocar em mim. E apesar de eu não entender o que está acontecendo, ele ainda tentou.

Ele parecia tão chocado com minha atitude quanto eu. Ainda com o rosto virado e minha palma marcada em sua
bochecha, Kim arregalou os olhos. Quando ele começou a virar o rosto para mim, retomando aos poucos aquela feição
furiosa, eu tive certeza que estava ferrado.

Ou, pelo menos, estaria, caso o alarme de incêndio não tivesse começado a tocar de repente e certo alguém não
estivesse vindo correndo até nós dois no segundo seguinte.

Era Jungkook.

Vindo na minha direção mais rápido que um foguete!

JUNGKOOK

Eu não pensei direito.

Se todo mundo que me conhece respondesse um questionário sobre essa situação, daria para saber que eu não
estou com a cabeça no lugar. Puxa, ficaria claro como a água que eu não sou o tipo de pessoa que faz coisas como essa! E
até minha mãe, se me visse agora, não me reconheceria. Ela, inclusive, juraria que sou apenas um garoto desmiolado que se
parece com seu filho!

Eu poderia tentar explicar o que fiz com todas as palavras, mas a adrenalina não deixaria. Eu só sei que…puxa, eu
estava procurando Jimin pelos corredores, preocupado porque ele estava demorando muito para chegar, e de repente, ouvi
gritos estranhos. E é claro que eu segui o som, me perguntando se ele estava bem ou não.

Foi quando eu virei aquele corredor.

Eu senti tudo em mim entrar em pânico ao presenciar Jimin acertar o maior valentão da escola no rosto.

Por isso, eu não pensei direito. Por isso fiz o que eu fiz. E eu sabia que teria muitos problemas depois, tanto quanto
sabia que meus pais ficariam chateados comigo, mas eu não consegui pensar, muito menos me segurar, porque era Jimin ali
e eu sabia muito bem o quanto Kim poderia machucar ele.

Foi por isso que, com o meu próprio walkman, acertei o vidro do alarme de incêndio, o quebrando e,
desesperadamente, acionando-o.

Foi quando a sirene começou a tocar e a escola encher de água. Eu segurei meu walkman com bastante força e
comecei a correr na direção deles dois, como um maluco! Maluco por Jimin. Até fechei meus olhos no processo, morrendo de
medo por dentro, mas sem hesitar um segundo sequer. Por não querer que nada acontecesse à Jimin, eu fui e empurrei o
Kim com toda a força do meu corpo, fazendo ele tropeçar para longe de Jimin e cair no chão

Meu braço doeu a beça, e eu abri e arregalei meus olhos após perceber o que eu fiz.

Meu Deus.

Eu empurrei o maior valentão da escola!

— Jeonggukie! — Olhei para Jimin, percebendo sua surpresa e seus olhos tensos quando ele olhou para mim.
Me aproximei. Segurei sua mão com força e comecei a correr, gritando:

— Vamos sair daqui!

E nós saímos.

Não apenas nós. Os alunos começaram a sair das salas de aula, assustados e apressados, porque o alarme de
incêndio tocou pela primeira vez em muito tempo.

Foi quando percebi o problemão que causei.

Eu estava tenso nos ombros e com o estômago gelado de nervoso, mas já não estava tão desesperado. Porque
quando Jimin e eu paramos, nos escondendo dentro de uma sala vazia, ele estava bem.

Ele estava bem… e, puxa, essa era a coisa mais importante naquela situação maluca.

— Ggukie! — Jimin exclamou de novo, enquanto ofegava junto comigo. — Por que nos trouxe pra cá? Temos que sair
da escola! Tem um incêndio!

Eu neguei com a cabeça, com meus cabelos levemente úmidos.

— Não tem… — Ofeguei.

— Não tem?

— Não… — eu bufei, tentando retomar meu fôlego. O cabelo dele também estava molhado.

— Como assim? Como sabe? Nós temos que sair daqui… — ele segurou minha mão com força, segurando a
maçaneta da porta da sala. — Já devem ter controlado o fogo, mas precisamos sair mesmo assim.

— Não tem fogo, Jiminnie… foi um alarme falso — eu disse, sem saber como dizer que fui eu quem toquei o alarme de
incêndio.

Foi por sua causa, mas… eu não queria dizer isso, puxa vida, eu nem queria contar que fui eu! Não parecia certo.
Seria como colocar parte da culpa desse caos nele quando fiz tudo sozinho...

— Como você sabe?

— Alguém me disse…

— Como? Nós estávamos juntos quando o alarme tocou… — Olhou nos meus olhos.

— Eu…

Somos interrompidos pela porta se abrindo rapidamente por um professor. Ele nos olha, um pouco exaltado, e diz:

— Saiam da escola imediatamente!

Depois disso, não tivemos tempo para falar. Jiminnie e eu corremos para fora da sala e pelos corredores junto com
outros alunos e funcionários da escola.

Puxa. Que... que problemão!

Do lado de fora, todos estavam molhados, seguindo fila para fora do colégio pelo portão de emergência. Jimin segurou
minha mão com força quando nos enfiamos no meio da multidão, e como se já não fosse o bastante, quando finalmente
conseguimos sair da escola, uma ambulância chegou, acompanhada de um caminhão gigantesco de bombeiros, e todos eles
correram para dentro do colégio.

— Ai meu Deus do céu... — choraminguei.

— Espero que esteja todo mundo bem… — Jimin disse, me segurando com bastante força.

Eu engoli em seco. Naquele momento, vendo o caos que causei por amor, tive certeza de que deveria adicionar a
letra M, de Maluquice, ao teorema Rheya.

Porque… olha só! Olha esse caos, essa confusão, esse desespero! Eu causei isso.

Eu, realmente, causei isso.

— Puxa vida… — praguejei baixinho.

E, agora, não tinha mais volta.

***

Uma hora depois, todos os alunos estavam no pátio do segundo prédio da escola — o que não está molhado —
esperando ansiosamente por uma liberação para ir para casa, já que o diretor exigiu que ninguém fosse embora antes do
horário até descobrirem quem acionou o alarme de incêndio.
Na multidão de pessoas espalhadas pelo pátio, Jimin e eu encontramos Seokjin, que estava completamente seco por
não estar presente no primeiro prédio quando toda aquela água caiu.

Nós nos sentamos do lado dele, no chão, assim como a maioria dos alunos estavam.

Seokjin perguntou se estava tudo bem e eu não consegui respondê-lo por estar completamente tonto com o que fiz.
Fiquei em silêncio o tempo todo, pensativo, sem saber o que fazer porque... puxa vida, eu estou com medo, muito medo... e
não me sinto corajoso o suficiente para ir até a diretoria confessar que fui eu que causei um problemão para o colégio. Eu
estou com medo de tudo.

O que eu faço?

Jimin ficou conversando com Seokjin, mas, depois de um tempo, começou a olhar para mim com atenção.

— Gguk… você está bem? — ele perguntou, acariciando meu ombro. Primeiramente, me assustei com o toque, mas
quando me dei conta que era seu, relaxei.. — Ficou muito assustado?

Meus lábios tremelicaram. Sim. Eu fiquei e ainda estou tremendamente assustado.

— S-sim… — Balancei a cabeça. Jimin intensificou o carinho em meus ombros e deu um sorriso pequeno e muito
carinhoso.

— Já passou… — ele murmurou e, puxa… como eu queria que fosse verdade.

Como eu queria que já tivesse passado.

Nós continuamos ali. Jimin e Jin conversando e eu, sozinho, roendo as unhas de nervosismo, tentando tomar coragem
para me levantar e ir até a diretoria dizer que fui eu. Fui eu! E se eu confessar, vai ser melhor, não é? É melhor confessar do
que ser descoberto! Preciso me confessar, certo? Certo? Certo?

Certo?

— Jimin?

Meus pensamentos se silenciaram.

Tanto eu, quanto Jimin e Seokjin, levantamos a cabeça para o chamado repentino. EraSayuri, a orientadora da
escola, que se aproximou tão sorrateiramente que não a vimos chegando.

— Sim? — Jimin ajeitou a postura, atento a ela.

Sayuri apenas pressionou os lábios e balançou a cabeça para Jimin em resposta.

— Preciso que você venha comigo, Jimin — disse mais baixinho. — O diretor quer falar com você.

Meu coração apertou no meu peito.

— O quê? Por quê? — eu perguntei, afobado, enquanto Jiminnie apenas se levantava para acompanhá-la.

— Já já eu volto, Gguk. Não se preocupe. — Jiminnie sorriu para mim, tentando me acalmar, mas minhas mãos já
estavam tremendo, ainda mais porque Sayuri não me respondeu.

Eu me senti sufocado. Quando eles começaram a se afastar, minha cabeça se encheu de um monte de questões e
suposições, que ficaram ainda mais gritantes quando Jimin sumiu da minha vista.

— Por quê? Por que levaram ele para a sala do diretor? — eu perguntei, para Jin.

— Não sei… talvez achem que foi ele que acionou o alarme…

Eu arregalei ainda mais olhos.

Queriam… culpar o Jimin?!

Eu apertei minhas mãos, ficando ainda mais exaltado quando Sayuri voltou sem o Jimin, parecendo um pouco tensa.
Meu Deus, eles querem culpar Jimin pelo o que eu fiz!

Eu não posso deixar isso acontecer!

— Jungkook? — Jin questionou, ao me ver levantando de repente, mas eu não pude o responder.Não naquela hora,
não naquela situação.

Eu simplesmente não pude.

Andando com velocidade em direção a Sayuri, apressado e ofegante, eu anunciei para ela:

— Fui eu que acionei o alarme!

Ela me fitou com os olhos arregalados. Outros funcionários que estavam perto me fitaram também, mas ela apenas
me encarou.
— Jungkook… — Seu tom era de repreensão. — Sei que você não é de brincadeirinhas. Por isso peço que não tente
levar a culpa por Jimin. Por favor... — disse ela, sem ao menos me ouvir.

Eu não disse que ninguém que me conhece acreditaria que eu era capaz de fazer isso? Era verdade, puxa!

— Senhorita Sayuri, é sério! Eu...

— O cartão do Jimin foi achado perto do alarme acionado. Já sabemos que foi ele — disse ela, me cortando. — Nem
pense em tentar.

— Tentar o quê? Dizer a verdade? — eu franzi o cenho, pegando meu walkman no bolso do meu casaco. — Olha! Eu
quebrei o vidro do alarme de incêndio com meu walkman. Ele está todo arranhado!

Sayuri não olhou para meu walkman, mas juntou as sobrancelhas, duvidosa, quando eu disse que useioutra coisa
para quebrar o vidro do alarme.

— Como assim? Por que você não usaria o martelo específico para quebrá-lo?

— Eu estava muito desesperado! Eu só apertei para tentar impedir algo ruim, e… aqui! Um vidrinho até entrou no meu
dedo — eu mostrei meu dedo anelar, que tinha um corte bem pequeno. — Por favor, Sayuri, fui eu… puxa, eu não estou
mentindo, só não quero que ele leve a culpa pelo o que eu fiz!

Sayuri olhou para mim cautelosamente ao ouvir meus relatos. Eu apertei meu walkman com os dedos, ansioso para
que ela me deixasse explicar. Céus, me deixe provar que fui eu… por favor, por favor...

Por favor.

— Tudo bem. Vou te levar até a sala do diretor.

Eu respirei, aliviado ao ouvir sua resposta. Ela falou brevemente com os outros funcionários e me pediu para segui-la
até a sala do Sr. Yoon-Soek.

Quando chegamos lá, Jimin estava de saída, com um semblante assustado e confuso. Quando me viu, sua confusão
pareceu triplicar de tamanho.

— Sayuri, preciso que chame Kim Hook também — o diretor disse, lento e desanimado, até que me notou. — O que
Jeongguk faz aqui? — ele apontou para mim, confuso.

— Jungkook acabou de me dizer que foi ele quem acionou o alarme.

Eu prendi a respiração. Senti o olhar de Jimin sobre meu rosto e, enquanto Sayuri explicava o que eu disse, para o
diretor, o olhei de volta.

Ele parecia estar me perguntando se era verdade.

E eu não pude mentir. Por isso fechei meus olhos ao confirmar com a cabeça, respondendo, mudo, que era verdade.

Eu fiz aquilo.

— Pode entrar, Jeongguk. — O diretor ditou, e eu entrei na sala dele.

— Ggukie… — pude ouvir a voz de Jimin, bem baixinha, mas o diretor já estava fechando a porta...eu não pude
respondê-lo.

Meu coração estava acelerado quando me sentei na cadeira, de frente para o diretor, mas eu fiz o que tinha que fazer.
Eu contei tudo para ele. Disse que estava andando quando vi Jimin prestes a ser agredido pelo Kim e que na hora do susto,
quebrei o alarme de incêndio com o meu walkman.

Expliquei detalhadamente todo o resto do ocorrido. O diretor ouviu tudo em silêncio e, no fim, quando eu estava
ofegante de tanto falar, ele somente respirou fundo. Já eu, fiquei tremendo na cadeira, extremamente nervoso e retraído
pelos olhares de frieza e decepção que ele estava me lançando.

Cruelmente, ele me disse:

— Eu nunca pensei que precisaria ligar para seus pais por um motivo ruim, Jeongguk. — Ele começou a discar os
números, infeliz. — Você nunca fez nada de errado nessa escola, mas acabou de conseguir ser expulso.

Foi quando percebi que ele havia aceitado que eu era culpado.

— Expulso… — Eu puxei a pelinha dos meus lábios. — Mas... do quê? — eu perguntei, pensando no clube de
música.

Ele não respondeu. Apenas falou no telefone com minha mãe — reconheci a voz dela daqui — e depois desligou,
respirando fundo, sem responder minha pergunta.

Ansioso, perguntei novamente:


— Diretor… eu fui expulso do quê?

Ele me olhou friamente.

— Da minha escola.

Foi demais para a minha cabeça atordoada e cheia.

Eu fiquei o fitando com os olhos arregalados e o coração tão barulhento que eu mal podia escutar os ruídos a minha
volta. As palavras ditas pelo Sr. Yoon-Soek ficaram se repetindo sem parar na minha cabeça, e foi tão intenso que eu só
percebi que minha mãe tinha chegado quando ela tocou meus ombros e perguntou se eu estava bem.

Depois disso, foi um pouco barulhento. Mamãe quis saber o que aconteceu e, quando o diretor contou o ocorrido com
todos os meus relatos, mamãe se exaltou e me defendeu. Eu ouvi ela falar que eu ganhei muitas medalhas de olimpíadas de
matemática para a escola, que estudo aqui desde que eu era criança, e que eu só estava assustado porque um amigo estava
sofrendo bullying — e eu não deveria ser expulso por isso.

— E por que não tinha ninguém no corredor para proteger o outro menino? Por que Jungkook teve que empurrá-lo
para longe?! — ela rebatia, brava, e eu comecei a ficar... triste.

Eu sabia que não era culpa minha não ter ninguém lá, mas estava me sentindo culpado porque… puxa, eu não queria
que minha mãe se irritasse.

Mas ela se irritou. Quando o diretor disse que o que fiz custou muito prejuízo, como um prédio inteiro com materiais
molhados e visitas desnecessárias da emergência, mamãe continuou pressionando a mesma tecla de que, se alguém
estivesse lá para proteger eu e meu amigo do valentão, nada disso teria acontecido.

Aquela discussão durou mais tempo do que eu pude contar. Depois de muito tempo perdido em devaneios e
arrependimentos, eu pude me encontrar ao escutar quando o diretor proferiu as seguintes palavras:

— Eu vou suspender Jeongguk das aulas por duas semanas, então.

Eu me mexi na cadeira.

— Não vou ser expulso? — perguntei, mas nem um dos dois me respondeu.

— Eu quero que ele vá ao acampamento também, Sr. Yoon-Soek — mamãe disse, me fazendo olhá-la, exaltado.

— Creio que não será possível.

— Será, sim. A autorização já foi feita e ele já tem um lugar no ônibus! — ela disse. — Ele vai! Porque tanto eu quanto
você sabemos que essa situação é culpa da administração da sua escola, e não do meu filho.

Ela parecia muito furiosa. Eu fiquei quieto, trêmulo, e nervoso com o que o diretor teria a dizer. Mas ele apenas
respirou fundo e balançou a cabeça, se levantando.

— Vou discutir com o conselho e te retorno na semana que vem.

— Pode deixar que eu venho pessoalmente falar com cada pessoa do conselho se considerarem não deixar Jungkook
participar disso — mamãe disse, puxando-me pela mão. — Boa tarde, Sr. Yoon-Soek.

E ela me puxou mais, até enfim, estarmos fora da sala dele.

— Mamãe, eu… — comecei, a fitando.

— Em casa vamos conversar, Jeongguk. — E como se não tivesse me defendido com unhas e dentes, mamãe me
cortou.

Foi quando eu percebi que Jimin e sua mãe também estavam ali. Eu tentei falar com ele, mas minha mãe não deixou.
Ela apenas cumprimentou Leonor brevemente, enquanto eu olhava nos olhos de Jimin, que parecia tão ansioso para falar
comigo quanto. Mas ele ficou. E eu fui embora.

Sendo arrastado pela minha mãe até o estacionamento, eu fiquei pensando sem parar em Jimin e no quanto eu
queria me explicar para ele... mas eu não pude.

Me afogando em ansiedade, eu entrei no veículo com minha mãe e assisti a escola desaparecer pela janela do carro
lentamente quando ela acelerou. E quando ela sumiu, a ficha finalmente caiu.

Eu, Jeon Jungkook, ficarei longe da escola por duas semanas.

Notas finais
Muito boa noite!

Primeiramente, um recadinho pra quem fez o ENEM: O seu máximo, é o seu melhor! Vai dar tudo certo pra você,
independente de como você foi nessa prova. Espero que tenha feito uma boa avaliação (apesar de ser sempre chato
quando o assunto é o ENEM ou avaliações no geral), e saiba que estou torcendo por você... espero que essa att possa ter
deixado você entretida e/ou feliz depois de toda a pressão pela qual você passou

Segundamente...AISSHKASBWKNSWKWKJW <- essa foi a minha reação ao escrever uma TRETA em EECR!

AAAAAAAA!

Genteeeee, sim, o Idiota Kim é um viadinho! Um verdadeiro clichê, né? Mas eu amei revelar pra vocês o porquê dele ser tão
fixado no nosso Jiminzinho (apaixonado de um jeito tóxico). Ele vai sumir da vista de vocês, leitores, por agora... mas
podem ter CERTEZA de que ele vai sofrer as consequências pelo o que fez com o Jimin (nessa situação)!

E... bem, eu queria explicar também o porquê de eu ter demorado tanto pra atualizar. Acho que a maioria de vocês que me
acompanha pelo Twitter, ou no grupo de leitores ou aqui mesmo no quadro do wattpad, sabe que eu fiquei sem computador
por um tempão. E sabe eu perdi o jeito quando o assunto é escrever pelo celular, então nem deu pra produzir um conteúdo
bom pra vocês... PORÉM! Graças a Deus, agora, eu tô com um pczinho~ espero poder atualizar bastante pra vocês até o
fim do ano muito obrigada pela paciência e compreensão! Vocês são como Rheya pra mim

Bom, agora eu realmente fico por aqui! Me digam o que acharam desses acontecimentos e dessa atualização ENORME!
Quero saber qual foi a parte favorita de vocês, se ficaram surpresos, tensos, irritados... enfim, me contem tudinho!!!

Beijinhosss~~

25. Ele é como as Estrelas

Notas do Autor
Oie! Boa leitura <333

JUNGKOOK

Minha mãe decidiu que seria melhor se eu não saísse ou usasse o telefone por uma semana.

E a culpa disso é toda minha.

Foi tudo muito rápido e confuso para minha cabeça, e eu estou sendo sincero quando digo que tenho culpa nisso. Até
porque não fiquei de castigo por causa do alarme de incêndio. Mamãe ia me deixar usar o telefone depois de um dia, mas eu
fiz besteira e… cá estou eu, no quarto, olhando pro teto e suspirando de tédio e sono.

Tudo começou quando cheguei em casa na sexta-feira, depois de ser suspenso da escola. Mamãe recebeu ligações
da mãe de Seokjin e conversou sobre o acontecimento com ela, mas não me deixou falar com o Jin… já Jimin, ligou para cá
no sábado de manhã, e falou diretamente com a minha mãe, já que eu não podia usar o telefone, e eu fiquei no fim da
escada ouvindo tudo com o coração na mão…

— Olá, Jimin. Sim, é a mãe do Jungkook, como você está? Eu estou bem também. Infelizmente, ele não pode falar no
momento. Sim, ele está bem, mas aprontou uma na escola e eu e meu marido achamos melhor ele pensar um pouco em
suas atitudes antes de falar e sair com os amigos — ela dizia para ele. — O que aconteceu? Bom… Jeongguk acionou o
alarme de incêndio da escola de vocês ontem e foi suspenso. Por quê? Olha, ele disse que foi para proteger uma pessoa de
se machucar nas mãos de um valentão. Eu sei que o motivo dele foi nobre, mas foi muito impulsivo e ele não é disso, por
isso eu acho que tem alguma coisa por trás de tudo isso. É. Mas ele não quer falar pra gente, então quero que ele pense um
pouco para não fazer de novo. Oh, querido… não tem por que sentir muito. Mas eu digo para ele. Eu entendo. Sim. Claro,
querido, assim que ele puder usar o telefone, eu peço para ele entrar em contato com você. Sim. Claro, bom fim de semana,
Jimin, até mais.

Assim que ouvi o telefone bater no gancho, terminei de descer a escada, me dando com mamãe na sala.

— Bom dia, filho. O Jimin ligou — ela disse, antes de tudo. —Ele disse que sente muito.

Foi aí que eu fiquei desesperado.

Nós tomamos café, sem meu pai, já que ele estava em uma conferência do trabalho, e eu estava prestes a ter um
piripaque. Eu fiquei tão, tão ansioso para falar com Jimin que de noite, depois da mamãe ir dormir, eu saí escondido do meu
quarto — já que o telefone não estava mais no meu quarto há um tempo — e fui até a sala de estar, para ligar para Jimin…

Mas, antes que eu conseguisse, eu ouvi um assobio e depois uma risada baixa. Quando olhei para trás, meu pai
estava ali, na porta, com a roupa e a maleta do trabalho em mãos…

Ele tinha chegado há pouco tempo. Eu me esqueci completamente que as conferências dele acabavam tarde da
noite...

— Filho, filho… — ele disse, suspirando um pouco e balançando a cabeça. — Você finalmente entrou na fase rebelde.

Depois disso, mamãe desceu para receber ele — puxa vida, ela não estava dormindo e eu não sabia — e, quando me
viu acordado, ficou brava. Aí quando meu pai disse que eu estava usando o telefone escondido, ela ficou mais brava ainda.

— Agora você vai ficar uma semana de castigo! — ela decidiu, me colocando no lugar onde eu estou agora.

Sozinho, no quarto, na terça-feira, de pijama o dia todo. 100% arrependido de tudo que fiz.

Meus pais perderam um pouco da confiança em mim depois do incidente do telefone. Eles não me falaram, mas
deixaram claro quando esconderam o telefone da sala de estar — e também começaram a trancar o próprio quarto durante o
dia e a noite — e isso me fez sentir culpado e envergonhado pelas minhas atitudes.

Eu sempre me senti mal fazendo coisas erradas. Tirar notas baixas e chatear meus pais me deixam com uma
sensação no peito tão pesada que, sempre que acontece, me inundo em lágrimas. Não é atoa que me acabei de chorar
quando meus pais gritaram e se irritaram com Juna por minha causa...

É que… dói muito. Algo dentro de mim sempre me fala que eu não tenho o direito de irritar ou chatear meus pais, por
isso me sinto extremamente mal agradecido quando acontece. E, sabe… meus pais nunca foram malvados comigo, eles
sempre me permitiram sentir. Mas todo esse sentimento é real demais pra mim, e a culpa imensa continua pesando meu
coração sempre que eles ficam bravos comigo.

Eu sinto que devo tanto, tanto à eles… isso quase me sufoca às vezes. Eu queria ser perfeito, mas acho que nunca
consegui. Sorte a minha que eles me amam mesmo assim...

Apesar de tudo, eu ainda sinto medo deles me deixarem… às vezes esse medo fica maior do que eu, então eu
sempre abraço eles porque, não importa o que esteja acontecendo, meus pais sempre me abraçam de volta.

Até quando eu aperto o alarme de incêndio da escola e uso o telefone escondido.

Mas… é assim. Até quando eu choro por ter feito algo errado, meus pais me abraçam e dizem que o certo a se fazer
não é lamentar, e sim pensar nos meus erros, então é isso que tenho tentado fazer: pensar nos meus erros.

Meus erros. Ah… eu realmente não consigo me arrepender de ter feito o que fiz — nas duas vezes.

E esse é o real problema. Porque eu não estou arrependido, mesmo me desculpando… e meus pais perceberam isso.
E por esse motivo, eu estou aqui, suspirando e pensando nos meus erros — que não são erros ao meu ver.

E como eu sei que não me arrependi? Bom… eu acionaria aquele alarme de novo. E se tivesse a chance, eu ligaria
para Jimin escondido também. Porque saber que ele “sente muito” me deixou tão quebradiço… não quero que ele sinta
muito, ele não fez nada de errado!

Puxa… eu queria poder falar com ele. Queria… queria dizer que eu sinto muito.

Eu só queria falar com Jimin.

JIMIN

“I love you, I love you, I love you

That's all I want to say

Until I find a way

I'll say the only words I know that you'll understand”

Eu estava me sentindo magoado.

E com muita, muita saudade de Jungkook.

Já era a terceira vez naquela semana que eu preferia escutar música ao invés de conversar com Yoongi, no ônibus.
Eu estava escutando a fita “Para ouvir apaixonado (versão dos Beatles)” do Taehyung.

Céus, as músicas me deixavam com muita mais saudade dele — embora eu não faça ideia do que as letras
significam, todas elas pareciam ser sobre Jungkookie e sua existência adorável.

Olho pela janela aos suspiros. Eu não consigo acreditar que Jungkook foi suspenso por duas semanas. Não acredito,
muito menos, na ideia de que ele foi suspenso por minha causa… não acredito que fiz isso com ele…

Fiz Jungkook ser suspenso. E me sinto o pior amor do mundo por isso…

Ainda me lembro de como seus olhinhos estavam brilhando, assustados, quando ele foi a diretoria confessar que
acionou o alarme. A princípio, pensei que ele estava fazendo isso para me proteger. Mas quando olhei para ele por mais
tempo, pude ver que era verdade. Ele tinha feito aquilo.

Jungkookie… por quê?

Fiquei pensando nisso sem parar. Na sexta-feira, depois de ser chamado na sala do diretor, precisei ouvi-lo dizer que
eu estava sendo convidado a me retirar da escola. Por causa do meu cartão, a escola supôs que eu tinha acionado o alarme
e, por isso, eu estava frito.

Eu até contei, palavra por palavra, como cheguei naquele corredor e como meu cartão caiu. Falei que o Idiota estava
fumando, que me viu espiando, que correu atrás de mim — ocultando a parte dele ter tentado me beijar — e foi quando ele
percebeu que eu estava fora da sala de aula e do meu prédio. Aí tive que admitir que estava matando aula, mas isso foi de
menos já que, mesmo com o meu relato, ele não acreditou em nada do que eu disse e resolveu me expulsar mesmo assim.

Ele até chegou a ligar para minha mãe para resolver a papelada, mas tudo foi por água abaixo quando Jungkook
apareceu e admitiu seu erro. Um tempo depois, sua mãe chegou e ouvimos uma discussão. Quando eles foram embora, o
diretor pediu desculpas pelo ocorrido e me deu uma ocorrência por matar aula.

Acabei vendo, também, o Idiota sendo chamado pelo diretor com um homem mais velho, que eu acho que é o pai dele
— eles são muito parecidos —, mas fui embora antes dos dois saírem de lá.

Minha mãe não ficou brava comigo por matar aula, mas me mandou “ficar esperto”.

— Nessa situações, sempre vão culpar você. Por você ser diferente, você é “óbvio” aos olhos dos outros — ela me
disse, enquanto íamos para o estacionamento da escola. — Para eles, você sempre vai estar fazendo coisas erradas, e
quando tiverem a chance de te culpar, acredite, eles vão fazer.

Eu engoli em seco. Mas depois, me senti mais aliviado quando ela deu um sorriso calmo, completando:

— Seu rebeldezinho… ‘tava matando aula, é? — E bagunçou meus cabelos.

Eu ri do jeitinho que ela falou aquilo, subindo na garupa da sua bicicleta para irmos para casa posteriormente. Pensei
um pouco sobre me culparem por eu ser diferente, mas não por muito tempo. Minha mente deixou isso de lado para pensar
em Jungkookie. Eu não sabia se ele tinha levado uma advertência, ou uma suspensão, e não conseguia parar de pensar
nele… principalmente pela expressão perdida presente em seu rosto quando foi embora do colégio.

No sábado, liguei para sua casa, mas quem atendeu foi sua mãe. Foi quando soube que ele foi suspenso “para
proteger um colega de sofrer nas mãos de um valentão”.

É claro que, na hora, me dei conta de que foi por mim...

— Diga à ele que eu sinto muito… — eu disse, para sua mãe, no telefone, sentindo meu coração apertar.

— Oh, querido… não tem por que sentir muito. Mas eu digo para ele.

Quando ela desligou, eu me lamentei pelo resto do final de semana. E assim, sigo até hoje, depois de quatro dias…
suspirando e me sentindo mal por Jungkook. Ele sempre foi um aluno exemplar, e agora, está suspenso por minha causa.

E eu continuo me achando o pior amor do mundo.

***

Depois da aula, liguei para a casa de Jungkook novamente.

— Alô, quem fala?

Dessa vez, era uma mulher. Mas não era a mãe de Jeongguk…

— Hum… alô. É o Jimin, amigo do Jungkook.

— Olá, Jimin, aqui é a empregada dos Senhores Jeon e infelizmente Jungkook não pode falar no telefone.

— Ah… — Soltei um muxoxo. — Tudo bem… obrigado. Até.

— Nada. Até.

Então, eu bufei, desligando o telefone e resmungando pelo resto do dia. Droga… eu só queria poder vê-lo.

Por que você teve que apertar aquele alarme, hein, Jungkookie?

***

Depois de ter as ligações recusadas, tentei focar minha saudade e ansiedade nas aulas da escola, fazendo anotações
para Jeongguk em cada uma delas.

Eu ainda não sei como vai funcionar para ele entregar os trabalhos que ele perdeu essa semana, mas, mesmo assim,
estou anotando tudo. Essas matérias acabam não sendo tão difíceis para mim, já que eu ainda me lembro de ter estudado
elas no passado com a minha avó, mas é a primeira vez que Jungkookie as vê. Por isso, estou anotando e explicando de
forma simples cada tópico, o que é meio difícil e me faz passar o intervalo inteiro dentro da sala de aula, mas eu aguento.

Por causa dessa minha nova tarefa, Yoongi começou a sair para lanchar com Seokjin, já que eu não estava disponível
— e sugeri que eles comessem juntos para não ficarem sozinhos. Já eu, comia algum biscoito na sala de aula mesmo,
sempre focado nos resumos...

Foi em um desses intervalos, mas especificamente no de hoje, quinta-feira, que Jeonghan se aproximou de mim
repentinamente.

— Ei, Jimin. O que você tanto faz aí? — ele perguntou, sentando-se na carteira em frente a minha, espiando meu
caderno.

— Ah… só umas anotações para o Jeongguk — eu disse, baixinho.

Eu não sou amigo do Jeonghan, mas nós nos falamos às vezes. Ele é muito confiável, afinal, é o representante da
nossa sala.

— Ah é… por causa da suspensão dele, né? — perguntou. Eu confirmei com a cabeça, amuado. — Legal. Vai levar
elas hoje?

Levá-las…

Hein?

Levantei a cabeça, o olhando.

— Levar o quê...? — perguntei, parando de escrever para fitá-lo com mais atenção.

Jeonghan balançou a cabeça, dizendo:

— Levar as anotações para o Jungkook — ele disse. — Acho que a Sayuri passa o endereço dele se for para isso.

Abri minha boca. O endereço dele… Ir… na casa dele…

Na casa do Jungkookie…

Minha mente se acendeu.

— Sério? Q-quer dizer… não precisa de uma autorização, nem nada? — perguntei, me sentindo ansioso.

— Ah… talvez ela queira saber, por mim, se você está encarregado dessa tarefa — ele disse, calmo, embora eu
esteja prestes a explodir. — Se você quiser, eu vou na sala dela com você depois da aula.

Bati na mesa por um impulso, extremamente feliz — o que fez Jeonghan se afastar um pouco.

— Sim, por favor! — exclamei, sorrindo até meus olhos se fecharem. Isso fez Jeonghan ele rir.

— Ah, ok! — O sinal tocou, e ele se levantou. — Até lá, então! — E acenou, indo para sua carteira.

— Até! — Acenei de volta, sorridente e animado.

***

A vida é uma piada!

Sayuri já tinha ido para casa quando nossas aulas terminaram e, desde então, estou mais mal humorado que o
normal.

Jeonghan se desculpou e disse que poderíamos falar com ela amanhã, e mesmo dizendo que estava “Tudo bem”,
continuou bravo com o universo por isso. Resmunguei o caminho inteiro de volta para casa, e até quando cheguei, fiquei mal-
humorado. Quando minha mãe chegou do trabalho, disse que eu estava azedo demais nos últimos dias. E, sim! Eu
realmente estava, caramba!

— É isso mesmo, até eu posso ficar bravo às vezes — eu disse,bravo.

Minha mãe riu, o que me deixou mais bravo ainda. Grr...

— Você deveria sair um pouco — ela disse, e só faltou sair fumaça dos meus ouvidos.

— Sair pra onde? — resmunguei, muito bravo.

— Tenha criatividade.

— Estou sem — resmunguei mais bravo.

Leonor ficou me olhando em silêncio. Depois, deu um longo suspiro, pensativa…

— Ah! Já sei — disse ela, depois de um tempo. — Por que você não leva a bicicleta do Jungkook para a casa dele? —
ela perguntou, então.
Eu arregalei os olhos.

Ai meu Deus. A bicicleta!

Ela tá aqui até hoje…

— Meu Deus… nos esquecemos dela — eu disse.

— Pois é. Ainda não escureceu, então eu posso ligar para a Sra. Jeon e perguntar se podemos ir até lá. Você vai na
dele, eu vou na minha e depois te trago de volta na garupa.

Meu coração, apertado, se aliviou um pouco e eu sorri com a ideia.Leonor, você é genial!

— Certo, vou trocar de roupa! — eu disse, mas na verdade, fui tomar banho para ficar bem cheiroso.

Depois de um tempo, quando voltei para a sala, minha mãe disse que a dona Jeon concordou e passou seu endereço.
Quando saímos de casa, eu pedalei com tanta pressa que minha mãe teve que chamar minha atenção várias vezes,
pedindo-me para desacelerar — o que era impossível porque, céus, eu iria ver o Jeonggukie! Finalmente!

Quando nós chegamos na rua e paramos, tentei retomar o fôlego e ajeitar meu cabelo. Mesmo sendocuriosíssimo,
mal pude reparar na casa ou na vizinhança de Jungkookie… eu só queria ver ele mesmo.

Minha mãe disse que ficaria me esperando na calçada e, dessa forma, eu fui, arrastando a bike de Jungkookie até
sua casa. Deixei-a escorada na varanda, subi os poucos degraus e toquei a campainha.

A porta se abriu depois de um tempo.

— Ah. Oi, Jimin! — Ela sorriu.

Não foi Jungkook que atendeu.

— Oi, Sra. Jeon… é, aqui está a bicicleta, onde eu ponho? — perguntei, sentindo-me ansioso. Minhas mãos estavam
até suando…

Por favor me deixe ver Jeongguk, por favor, por favorzinho...

— Ah, eu te levo nos fundos. Assim que o Jungkook terminar suas tarefas eu mando ele trancar ela lá direitinho… ele
estava usando a bicicleta do pai dele por todo esse tempo, acredita? Nunca tínhamos tempo para pegá-la — ela disse,
depois, acenando alto para minha mãe, lá na calçada, que acenou para ela também.

Nessa confusão de palavras e acenos, aproveitei e espiei dentro da casa de Jungkook. Vi o que parecia ser a sala,
uma cozinha americana e…

Jeongguk.

Jeongguk estava na cozinha, me olhando também, com uma expressãosurpresa.

Por um segundo, meu corpo quase saiu do lugar para abraçá-lo.

Nossas mães estavam conversando a distância, proferindo palavras que eu não ouvi, porque todo o meu ser estava
fixado em Jungkook com um pijama de inverno e o cabelo bagunçado, com uma expressão chocada no rosto por me ter na
porta de sua casa.

Aquela troca de olhares poderia durar para sempre, e seria perfeito, se não fosse pela Sra. Jeon fechando a porta
atrás de mim e tocando meu ombro sutilmente.

— Vamos lá, querido? — ela perguntou, um pouco confusa com a cara de bobão que estava plantada na minha cara.

Acho que ela não percebeu que eu estava olhando…

— Ah… sim — eu disse, com o coração palpitando por olhar nos olhos dele.

Nós deixamos a bicicleta na parte dos fundos em silêncio e voltamos bem rápido, mas dessa vez, não subimos as
escadinhas da sua varanda. Apenas paramos no gramado.

Logo ela se curvou para mim e minha mãe, numa reverência curta.

— Muito obrigada por trazerem a bicicleta do Jungkook! — ela disse, sorridente.

Mamãe apenas acenou de novo lá da calçada. Já eu, senti meu peito apertar mais ainda com a ideia de ir embora
sem vê-lo.

— Hum, eu posso… — comecei, mas não pude terminar.

A porta da frente foi aberta mais uma vez.

E por ela passou Jungkook — ainda de pijama — e um cachorro gigante que, quando me viu, veio correndo na minha
direção com a língua para fora.
Ai. Meu. Deus.

Eu vou morrer.

— Lippy! Não! — Jeongguk exclamou, vindo junto com ele ao que eu me via paralisado no meio do gramado. Aquele
cachorrão, ao ouvir meu amor, desacelerou os saltos a poucos passos de distância de mim. — Desculpa, Jiminnie! — Ggukie
disse, chegando perto e se abaixando para parar Lippy, no chão, com um abraço. — Puxa...

Foi tão rápido que eu não soube ao certo como reagir — até porque meu coração estava batendo rápido o suficiente
para eu não conseguir pensar em nada por medo.

— Filho! Lippy quase que derruba ele — a mãe dele disse, se aproximando um pouco, e quando percebi que ela ia
começar a dar uma bronca nele, me remexi todinho e disse:

— N-não! Sem problema, eu… e-eu estou acostumado — eu disse, olhando para Jeonggukie, que novamente já
olhava para mim.

Nós nos fitamos por poucos segundos, mas vê-lo bem ali, tão pertinho, me deixou tão feliz… me fez sorrir
abertamente e dizer, completamente alheio ao caos:

— Oi… — sussurrei, aproveitando que o focinho daquele cachorro enorme estava virado para o lado oposto ao meu
para me abaixar também, ficando quase pertinho do meu amorzinho.

— Oi… — ele sussurrou de volta, seu sorriso crescendo junto ao meu.

Suspirei melodiosamente, sentindo meus olhos brilharem por, enfim, poderem vê-lo de perto. Eu estava me
preparando para perguntar se estava tudo bem com ele, mas a mãe de Jeongguk interrompeu nosso encontro para dizer:

— Jeongguk, por que você não entra e conversa com o Jimin outro dia? Você sabe que está de castigo — ela disse,
calma. — E também está de pijama na frente da vizinhança toda... — acrescentou.

Essa última parte fez as bochechas de Jeongguk ficarem vermelhas e sua expressão foi genial. Eu ri baixinho, me
erguendo junto com ele, sem parar de olhar em seus olhos.

— Ah, é mesmo… puxa — ele murmurou, olhando para baixo e se deparando com suas próprias vestes. — Ahm…
sim, mãe. Desculpa. Tchau, Jimin… — ele disse, para mim, pressionando os lábios ao acenar.

Eu só queria… abraçá-lo.

— Tchau… — Eu acenei também, sentindo meu estômago embrulhar ao que ele seguia seu caminho de volta para
casa, estalando os dedos e fazendo aquele cachorro-titã ir junto com ele.

Depois de mais algumas palavras, eu e mamãe deixamos a casa dos Jeon. Mas eu não consegui parar de pensar nele
um segundo sequer. Não poder falar com Jungkook só me deixava ainda mais desesperado para isso e, céus… aquilo era
tortura...

Eu sentia tanta falta dele na escola… Jeonggukie...

— Poxa… — Soltei um muxoxo, na cama, depois de pensar muito nele.

Me virei para dormir e, mesmo triste, me vi determinado a conseguir encontrar Jeongguk no dia seguinte com a
desculpa das anotações. Porque era só isso que eu queria fazer…

Encontrar Jungkook.

JUNGKOOK

De noite, quando saí do meu quarto para beber água, pude ouvir meus pais falando de mim na sala de estar.

Foi tão repentino que eu tive que parar no começo da escada, me agachando para, em segredo, ouvi-los...

— Eu sei, eu sei, mas… ele nunca agiu assim. Você sabe— minha mãe dizia para meu pai. — Usar as coisas
escondido, ser suspenso e não parecer arrependido pelo o que fez… eu quero que ele pense de verdade. Que saiba que, da
próxima vez, tem que fazer diferente.

— Eu sei disso, meu bem, eu só estou dizendo que nós deveríamos deixá-lo um pouco… temos que lidar com isso e
aceitar o que o Jungkook está disposto a dividir com a gente por agora.

— Não sei...

— Amor. Pense bem… ele precisa ver seus amigos… isso pode ajudá-lo a pensar melhor no que fez. Nessa idade,
Jungkook vai dar mais ouvidos à eles do que à nós dois.

— Eu sei… eu sei! Mas me assusta. Tenho tanto medo que ele se machuque…— mamãe suspirou. — Nosso menino
é tão sensível. Eu só quero… que ele aprenda a se proteger em ocasiões como as que ele acabou de passar, mas da
maneira certa… não quero ver meu menino em apuros.
Engoli em seco, sentindo meu estômago gelar.Puxa… meus pais estavam tão preocupados assim?

Eu não tinha ideia...

— Eu sei, eu também não. Mas tenho certeza de que ele ouviu quando dizemos que a melhor opção era entrar em
uma das salas e chamar um professor para impedir o valentão.

— Será que ele ouviu mesmo? Será? — Suspirou.

— Tenho certeza de que sim… vai ficar tudo bem.

Fiquei um tempo sentado no corredor, ouvindo e processando tudo que eles disseram. Eu sou muito sensível… isso
era verdade. Mas… estou na fase de ouvir apenas meus amigos? Puxa, não acho que isso seja verdade...

Mas… puxa, saber como eles se sentem e entender que o castigo está deixando eles tão frustrados quanto eu, me
deu uma sensação consideravelmente boa. Uma sensação de que, agora que eu sei como eles se sentem, eu posso fazê-los
me perdoarem. Talvez eu possa demonstrar que aprendi minha lição… porque eu sempre vou escutar eles. São meus pais.
São meus pais de verdade… eu nunca vou deixar de ouvi-los.

Quando ouvi a movimentação deles lá embaixo, corri de volta para o meu quarto e me enfiei debaixo da coberta.
Tentei dormir a todo custo e fiz uma lista mental das coisas que faria ao amanhecer… Primeiro: faria alguma tarefa extra,
depois, tomaria café com eles cedo de manhã. Mamãe vai estar em casa à tarde e posso aproveitar para falar com ela nesse
horário…

É isso. Vou convencê-los de que, da próxima vez, vou pensar melhor.

Pela manhã, fiz tudo que tinha planejado. Desci as escadas, lavei e sequei a louça do dia anterior e tomei café com
meus pais. Como eram os últimos tempos do papai com a gente nos dias de semana, o levei até a porta e o dei um abraço
apertado.

— Bom trabalho, pai… — eu disse, me afastando.

— Tenha um bom dia, meu menino. — Ele sorriu e, então, foi para o seu carro.

Mais tarde, minha mãe também foi. A empregada chegou na mesma hora — ela normalmente vem aqui duas ou três
vezes por semana, mas agora que estou de castigo, ela vem todo dia — e começou a fazer seus afazeres.

Decidi ajudar ela a lavar e estender nossas roupas. Quando senti que o sol estava muito quente, peguei o Lippy e dei-
lhe um banho no quintal da parte de trás — e deixei ele ali para se secar. O tempo foi passando e, quando vi, era quase a
hora da mamãe chegar em casa.

Subi para tomar um banho e coloquei uma roupa decente — sem ser um pijama — e fiquei esperando ela na sala.
Assim que ela chegou, fui recebê-la com um abraço apertado.

— Bem-vinda de volta, mãe — eu disse, com uma sensação gostosa ao abraçá-la.

Depois de ouvir como ela se preocupava comigo, me sinto agradecido por tudo, até pelas broncas...

— Oi, querido! Trouxe Sushi pra gente — ela disse, se curvando brevemente para a Sra. Linn (nossa empregada), que
fez o mesmo e a ajudou com as sacolas. — O que fez hoje? — perguntou para mim.

— Dei banho no Lippy — eu disse, sorrindo, me sentando a mesa com ela.

— E também me ajudou muito com as tarefas de casa — disse a Sra. Linn, sorrindo.

— Humm. Fico feliz por isso — ela diz, acariciando e beijando minha cabeça. — Vamos comer! Sente-se também,
amada, coma com a gente — ela fala para a empregada.

O convite, no entanto, joga meus planos por águaabaixo.

Depois da Sra. Linn negar por educação e minha mãe insistir várias vezes, nossa empregada aceitou comer com a
gente, o que acabou me deixando de escanteio. Afinal, elas se dão super bem, logo ficaram conversando o almoço inteiro... E
eu? Eu apenas ouvi as fofocas em silêncio. Puxa vida...

Depois do almoço, mamãe foi tomar banho e a Sra. Linn foi terminar seus afazeres. Já eu, fiquei no meu quarto,
gravando minha sexta fita só essa semana (eu falo sério quando digo que estou entediado).

A única parte boa disso é a de que, dessa vez, eu fui muito criativo. Comecei a gravar a fita com as seguintes
músicas, na seguinte ordem…

1. Just the way you are, do Billy Joel;

2. If, do Bread;

3. My Prayer, do The Platters;


4. I need you, do America;

5. Norwegian Wood, dos Beatles;

6. Not Guilty, do George Harrison;

7. If I Fell, dos Beatles;

8. Emotions, da Brenda Lee.

Uma fita com as iniciais do apelido do Jimin, “Jiminnie”.

E eu só demorei duas horas para achar todas as músicas e começar a gravar! E só fiquei com sono agora…

Só... duas horas.

— Puxa… — eu murmurei, vendo todo meu trabalho. — Acho que estou ficando maluco mesmo…

Afinal... esse passatempo foi um dos melhores da minha semana. Eu amo gravar fitas e ter ideias para elas… foi tão
bom pensar em Jimin nessa. Eu quase senti sua presença enquanto escolhia as músicas, sempre pensando em como Jimin
reagiria à elas, e se chegaria a perceber, de primeira, que elas formam seu apelido. Puxa...

Quem sabe um dia eu não possa dá-la para ele, certo? Acho que ele pode gostar...

Comecei a imaginar seu sorriso feliz ao receber a fita e senti minhas bochechas arderem. Acabei sorrindo sozinho,
também, porque o sorriso do Jimin é muito contagiante, até mesmo quando ele só está presente em meus pensamentos…
Jiminnie é… tudo...

Deixei o álbum “A Hard Day’s Night” tocando no meu toca fitas, decidido a terminar a fita de noite, e me deitei na
cama. Não ter nada para fazer me deixa com muita preguiça, então… é. Decidi cochilar até a hora do jantar.

Minha mente estava suave e meu quarto fresquinho. Abracei meu próprio corpo, deitado de costas para a porta e,
sem muito esforço, me vi caindo em um sono profundo e gostoso...

Ouvi, por último, “And I love her” inundando meu quarto e simplesmente caí no sono.

JIMIN

A mãe de Jungkook pareceu extremamente confusa ao me ver ali.

— Jimin…? — ela franziu o cenho, muito provavelmente, não entendendo minha aparição repentina na porta de sua
casa.

E sim. Sim!

Eu estou, sim, na porta da casa dela, com minha pasta da escola embaixo do braço e uma sensação ansiosa no peito
que pede, por favorzinho, para ver Jeongguk.

— Boa tarde, Sra. Jeon… — eu disse, me curvando. — Me desculpa por aparecer do nada, é que… — Respirei fundo,
sentindo minhas bochechas arderem um pouco. — Eu fiquei encarregado de trazer as anotações da semana para o
Jungkookie. — Balancei a pasta. — Então… eu trouxe.

Por incrível que pareça, o meu relato é verdade — e não apenas uma desculpa desesperada para ver ele —, eu
realmente fiquei encarregado de vir aqui hoje. Eu e Jeonghan fomos juntos até a sala de Sayuri na hora do recreio e eu
(finalmente) consegui uma autorização para vir até a casa de Jungkook em “nome da escola” (com direito a assinatura e tudo
mais!). Quando cheguei em casa, tomei um banho rápido e vim correndo na bicicleta da Leonor para vê-lo.

Ver meu amor.

Abri a pasta em minha mão e tirei de lá a autorização assinada pela Srta. Sayuri, mostrando para a mãe de Jeongguk,
que leu-a rapidamente.

— Oh… certo, Jimin. Eu levo para ele — ela disse, sorrindo, aproximando suas mãos da minha pasta. — Muito
obrigada.

Senti minhas pálpebras tremerem. Ela vai levar para ele. Sendo assim, eu não vou vê-lo...

Meu coração acelerou em, em um impulso, pedi:

— Posso ver ele?

A mãe de Jungkook parou sua mão no ar. Depois, a afastou sutilmente.

— Ah, querido, Jungkook está de castigo — falou.


Pressionei meus lábios e franzi o cenho sutilmente porque, céus, eu não acredito que não vou conseguir mesmo ver
ele…

— Mas… é-é importante — eu falei, começando a me sentir envergonhado por insistir. — É que eu… eu queria muito
conversar com ele. — Olhei para ela, bem em seus olhos. — Eu posso? Vai ser rapidinho…

Ela fez uma expressão levemente hesitante. Então, suspirou fundo, dizendo mais uma vez:

— É que ele só sai do castigo na semana que vem, Jimin…

Em estado de negação, eu disse mais coisas:

— É que é uma coisa muito importante, eu… — Olhei para ela, percebendo que não estava a convencendo. — Eu sei
que ele não pode falar, mas… m-mas… — Abaixei a cabeça, me lembrando de quando nos falamos no telefone e ela me
contou o porquê Jeongguk foi suspenso. — Sra. Jeon, fui eu que fiz Jungkook acionar o alarme de incêndio.

Admiti. E quando voltei a fitar seu rosto, pude ver o quão confusa ela parecia.

— Como assim? — Franziu ainda mais o cenho, mudando sua postura, prestando mais atenção em mim.

Puxando o ar com força, eu expliquei tudo de uma vez:

— Eu estava matando aula quando o valentão da nossa escola me jogou contra um armário e começou a gritar
comigo. O pessoal chama ele de Kim e todo mundo tem medo dele lá no colégio… mas eu, não. — Suspirei. — Eu fiquei tão
bravo quando o Kim começou a me dizer coisas ruins que dei um tapa no rosto dele. Ele ia me bater depois disso, mas
Jeongguk impediu tudo acionando o alarme de incêndio… ele empurrou o Kim pra longe e me ajudou a fugir — eu falei, com
pesar.

— Então… então foi por isso que você estava na diretoria naquele dia também… — ela comentou, parecendo
pensativa.

— Sim… — Pisquei lentamente. — Eu queria… eu queria muito poder conversar com ele. Só um pouquinho… —
Olhei nos olhos dela. — Eu prometo que não vou demorar…

Parei de falar. A senhora Jeon ainda parecia um pouco curiosa com o meu relato, mas, quando olhou para mim,
apenas ficou em silêncio. Meu coração estava acelerado e meu corpo inteiro estava vibrando, cheio de expectativas...

Depois de muito pensar, ainda me olhando, a mãe de Jungkook disse:

— Pode entrar e subir. É a segunda porta a esquerda — ela deu um pequeno sorriso. — Jungkook está em seu
quarto, provavelmente cochilando. Você pode ficar até escurecer, combinado?

Ela deixou um espaço para eu passar. Fiquei surpreso. Quando me dei conta de que, sim, ela realmente havia
deixado eu visitar Jungkook, quase saltei no lugar.

Dei meu maior sorriso e, me curvando rapidamente, exclamei para a minha futura sogra:

— Muito obrigado, Sra. Jeon! — Então, me ergui. — Assim que escurecer eu vou embora, prometo! — disse, com
tanta animação que fiz ela rir um pouquinho.

— Certo, querido. Vai lá — ela disse, ainda risonha, enquanto eu passava para dentro como um foguete.

Um pouco perdido, fui direto para as escadas da casa, sentindo minhas bochechas arderem de amor. Não olhei para
nada a minha volta e apenas fui até a segunda porta a esquerda, ajeitando meus cabelos antes de bater nela.

Bati duas vezes, e esperei. Então, me lembrei…

Ele provavelmente está cochilando.

— Ah é… — Ri baixinho, colocando a mão na maçaneta e empurrando a porta com muito cuidado.

Quando tive a visão de seu quarto, constei que a Sra. Jeon estava certa. Jungkookie estava cochilando, encolhido em
sua cama, e uma música dos Beatles tocava no fundo.

Eu mal pude conter minha saudade ao ver seus cabelinhos bagunçados. Eu senti tanta falta do cabelinho dele (e dele
inteiro)…

— Jeonggukie… — sussurrei, risonho, me aproximando da cama. Toquei seu ombro sutilmente e, me debruçando
sobre o colchão, consegui ver seu rosto adormecido. — Awn. Ei, Jeonggukie… — Afaguei seu ombro com mais firmeza,
sentindo-o reagir ao lentamente se virar na cama.

Jungkook se deitou de barriga para cima. Ele pressionou os lábios levemente secos pelo cochilo e abriu os olhos
inchados de sono, me olhando suavemente, sem ter reação alguma.

— De novo... hm não… — ele murmurou, sonolento, fechando seus olhos de novo.

Por algum motivo, eu achei sua fala confusa extremamente engraçada e fofinha. Não pude me conter e subi em sua
cama, o abraçando com força, sem me importar com o fato dele estar dormindo.
— Kookie! — Eu ri perto do seu ouvido e, de repente, Jungkook deu uma tremidinha sob mim.Ele finalmente acordou.
— Acorda… sou eu...

Jungkook mexeu as mãos e, num reflexo, as colocou nas minhas costas.

— Ji… Jimin? — Sua voz saiu extremamente rouquinha e confusa, o que me fez ficar todo molinho de amor de novo.

— Sim… — Eu ri, me afastando e me sentando na cama para olhá-lo com carinho. Seus olhos, agora, estavam bem
abertos, mas continuavam inchadinhos. — Sua mãe deixou eu ficar até escurecer.

Vi as bochechas dele ficarem vermelhas e esperei ele falar alguma coisa… mas ele apenas pressionou seus lábios e
arregalou ainda mais os olhos.

Esperei mais alguns segundos, mas ele não disse nada, só ficou me olhando daquele jeito engraçado. Ri.

— O que é? Não gostou...? — indaguei, sentindo minhas bochechas esquentarem também.

Jungkook balançou a cabeça positivamente e, em um impulso, se ergueu na cama. Vi ele ficar de pé e se afastar de
mim, dizendo:

— G-gostei, puxa… — ele caminhou para o outro lado do quarto. Assim, vi que ali havia um banheiro. — Só… espera
um pouco aí!

Ele entrou no banheiro e se fechou lá dentro. Franzi o cenho e ri mais porque, céus, Jeongguk é muito fofinho!

Fiquei o esperando como ele pediu, sentado na cama. Logo ele saiu do banheiro, com o rosto levemente molhado e,
quando ele se aproximou, senti um cheirinho gostoso de sabonete e pasta de dente vindo dele. Hummm…

— Desculpa, é que eu estava dormindo, puxa… — ele disse, sorrindo um pouquinho trêmulo, me vendo sentado na
sua cama. Eu sorri e balancei a cabeça, mostrando que não tinha problema. — E-eu… hm, minha mãe deixou você ficar?

— Sim, mas só até escurecer — eu disse.

Jeongguk sorriu mais, mas, de repente, pareceu preocupado. Vi ele erguer as sobrancelhas e abrir bem os olhos ao
me fitar e exclamar:

— Não foi culpa sua!

Jeongguk ofegou. Suas palavras foram muito repentinas para eu conseguir entendê-lo…

— O quê? — perguntei, observando-o se aproximar mais e se sentar do meu lado.

Jeonggukie pegou minhas mãos com força e, determinado, começou a falar:

— Eu… puxa, eu estava querendo te falar isso desde semana passada. — Ofegou. — Jiminnie, eu apertei o alarme de
incêndio. Mas as consequências disso não foram culpa sua — ele disse. — A culpa não foi de ninguém, só do Kim… não
sinta muito por isso, Jiminnie, a culpa não foi sua…

Seus olhos carregavam um pesar tão grande que eu quase me emocionei. Eu o olhei com carinho e, aos suspiros,
comecei a dizer o que estava guardado dentro do meu coração:

— Jeonggukie… eu sei que a culpa é do Kim, mas… eu fiquei muito preocupado com você. O diretor quase me
expulsou quando pensou que havia sido eu! Eu fiquei tão triste quando fiquei sabendo que você tinha sido suspenso…
quando sua mãe me contou o porquê e eu percebi que foi por causa de mim, eu me senti tão culpado por manchar seu
histórico escolar… — Apertei suas mãos com mais força, quase sem fôlego ao dizer tudo que estava guardando em mim.

Jeongguk negou com a cabeça mais uma vez.

— Fui eu que manchei meu histórico escolar, Jimin — ele disse. Depois, abaixou a cabeça. — Mas… eu não me
arrependo. Porque foi por… por você. E eu me senti muito valente fazendo o que eu fiz… você não precisa se sentir culpado
porque nem eu mesmo me sinto, puxa… — murmurou, apertando ainda mais meus dedinhos. — Se isso acontecesse de
novo, eu apertaria o alarme de novo, sem hesitar… porque eu não me arrependo…

— Não… não se arrepende? — indaguei, incrédulo.

Jungkook negou com a cabeça.

— Não. — Ele sorriu. — Eu não me arrependo.

JUNGKOOK

Poder compartilhar o que eu estava sentindo com Jimin fez meu coração ficar leve como umanuvem.

Ele está olhando nos meus olhos, em silêncio, processando minhas palavras. Tê-lo aqui, no meu quarto, ainda está
surtindo efeito em mim. Minhas bochechas ardem e eu sinto um nervosinho bom em todo meu corpo porque, apesar de ter
pensado em como seria recebê-lo aqui várias vezes, eu não estava, de fato, preparado para isso.
Jiminnie. Jiminnie no meu quarto. Meu corpo inteiro está queimando de nervoso e minha mente se enche de
questionamentos… Será que ele percebeu a bagunça? Ou achou o quarto esquisito? Será que ele não gostou da sensação
do carpete em seus pés?

Minha cabeça viajava de uma suposição para outra. Eu só esperava que ele se sentisse minimamente confortável
estando aqui, comigo, no meu porto seguro…

Fiquei o fitando nos olhos, também, esperando ele dizer alguma coisa sobre minhas confissões. Mas, por um tempo,
ele não disse nada.

Jimin apenas… sorriu.

Ele abaixou o olhar rapidamente e, quando me olhou de volta, abriu um sorriso lindo.

— Jungkookie… — Riu baixinho. — Você é doidinho. Como assim não se arrepende? — perguntou, ainda aos
risinhos.

Acabei rindo também, principalmente quando Jiminnie soltou minhas mãos para levar uma das suas até a lateral do
meu rosto, tocando meus cabelos e minha orelha com carinho.

— Se eu fosse me arrepender… — comecei, mordendo meu lábio, tímido com o que eu estava prestes a dizer: —
Seria… seria por ficar tanto tempo longe de… d-de você.

Minhas bochechas queimaram. O sorriso de Jimin cresceu. Suas bochechas ficaram ainda mais rosas e ele parou de
me acarinhar para dar um tapinha no meu ombro — tão fraquinho que quase não senti.

— Ai, ai, Jungkookie… — murmurou, risonho, se levantando da cama de repente.

O olhei, ainda sentado no colchão, confuso por ele ter se levantando. Eu quase me levantei também, mas não o
fiz... principalmente por ele, no segundo seguinte, parar na minha frente e, em uma atitude inesperada, me abraçar com
bastante força — caindo na cama junto comigo — me deixando todo quentinho com seu corpo macio.

Quando me vi deitado na cama, com Jiminnie por cima de mim, me abraçando com força, enlacei suas costas de volta
e ri baixinho, sem me importar com mais nada.

— Jiminnie… — Sorri, rindo mais quando ele me apertou com muita força. Tipo, muita forçamesmo. — Ai ai ai, vai me
matar! — eu disse, com a voz engraçada.

— É o que eu pretendo! — ele retrucou, forçando uma voz assustadora.

Logo eu imaginei seus olhinhos arregalados e, sem me aguentar, ri mais.Ri pra valer. E no fim, nem sei se foi porque
eu estava achando engraçado… acho que é porque eu estou feliz.

Muito, muito feliz.

Jiminnie se afastou um pouco, voltando a se sentar do meu lado, me deixando ver seu rosto vermelho e seu sorriso
feliz. Isso me fez entreabrir os lábios, admirando-o por um segundo daqui de baixo — do colchão. Ele é tão bonito que sinto
que meus olhos estão brilhando apenas fitá-lo…

Jimin continua me olhando de volta, com um sorriso pequeno e bonito. Quando ele dá uma mordidinha nos lábios,
impedindo seu sorriso de crescer, sinto meu coração palpitar com força.

— Você… — ele começou. — Você é o garoto mais lindo no mundo inteiro…

Pressiono meus lábios, tentando segurar meu sorriso — mas, no fim, acabo deixando ele aparecer. Um sorriso bem
grande que deve ter me deixado cheio de marquinhas no rosto.

Com o estômago gelando de timidez e uma sensação incrível no peito de que eu posso fazerqualquer coisa, eu disse,
para Jimin, com convicção e sinceridade:

— Você… — Dei um suspiro. — V-você que… é… — Terminei, sentindo meu estômago ficar ainda mais frio de
ansiedade.

Jiminnie não respondeu. Ele apenas sorriu e voltou a se deitar sobre mim, me apertando de novo em seu abraço —
agora, com as mãos nas minhas costelinhas, o que me fez rir espontaneamente porque sinto muitas cócegas ali.

Ele riu comigo e, de repente, meu quarto tedioso estava coberto de risadas e suspiros. Eu e Jimin mal conversamos
na única oportunidade que tivemos de ficar juntos na semana. Somente ficamos nos apertando, suspirando e sorrindo um
para o outro em meu quarto. Nós até rolamos na cama e eu fiquei vermelho que só quando ele começou a dar um cheirinho
amoroso no meu pescoço, me chamando de cheiroso — e, consequentemente, quase me matando bem no meu quarto,
puxa! — o que me fez rir de nervoso e timidez.

Teve um momento em que, depois de me ver rebater mais um elogio seu com um“Você é que é” — eu estou ficando
cada vez melhor nisso! — Jiminnie disse:

— Quer saber? — Ergueu uma das sobrancelhas, dando um sorriso travesso. —Hoje eu bem que comi um pastel…

Inicialmente, eu não entendi. Mas quando Jimin se aproximou mais, eu me lembrei...


“— Sabe… teve uma vez que comi um pastel antes de vir pra aula, aí te vi, e você ficou com as orelhas
vermelhas. Então, pensei: eu quero morder as orelhas do Jungkook como se fossem pastel.”

— Você… — eu murmurei, sem acreditar quando ele sorrateiramente se enfiou no meu cangote, dando umamordida
repentina embaixo da minha orelha, me fazendo ficar todo vermelho. — V-você… você me mordeu! Puxa! — falei, incrédulo,
olhando em seus olhos quando ele se afastou aos risinhos.

— Sim, eu te mordi, puxa! — Ele me imitou, e parecia estar prestes a rir muito da minha cara.

Fiz um biquinho, tentado a me vingar.

Acabei o deixando surpreso ao me levantar, muito de repente, e agarrar seus ombros, o abraçando e…

— Ai! — Ele exclamou quando eu dei umamordidinha em seu ombro.

— Doeu? — eu perguntei, me afastando para olhar nos olhos dele.

Jimin estava mais vermelho que um tomatinho.

— Você quase arrancou um pedaço meu! — ele tocou seu ombro, onde mordi, com a mãozinha. Depois, sorriu muito.
— Mas eu adorei.

Pisquei um par de vezes. Quando Jimin e eu olhamos nos olhos um do outro, nossas risadas saíram pelas nossas
bocas quase que automaticamente. Céus, estávamos nos mordendo! E isso é tão estranho e engraçado!

Rimos até nossas barrigas doerem, e quando Jimin me abraçou de novo e nós voltamos a cair, abraçados, na cama,
rimos ainda mais. As nossas risadas duraram minutos e nós continuamos brincando e fazendo cócegas um no outro o tempo
todo...

Era o dia mais feliz daquela semana.

Depois de um tempo recheado de risos, me vi deitado, de barriga para cima, com Jimin abraçado ao meu pescoço —
e deitado de bruços. Estávamos respirando alto, com algumas lágrimas de riso no canto dos olhos e a pele quente…

Passando alguns minutos suspirando, Jiminnie afastou seus braços do meu enlaço, apoiando o cotovelo no colchão
e afastando os óculos tortos do seu rosto; me deixando vê-lo sem eles. Ele deitou a bochecha na palma da mão e eu olhei
para o lado, vendo seu rosto bem pertinho de mim.

— Sabe o que você é para mim? — ele perguntou, de repente, me deixando surpreso.

Eu balancei a cabeça, indagando:

— O quê?

Jimin tocou uma das minhas bochechas com sua mão, aproximando seus lábios da outra para dar um beijo lento e
macio, dizendo…

— Você é o meu amorzinho… — sussurrou, pressionando mais minha bochecha, dando mais um beijo lento na outra;
presenteando a maçã do meu rosto com o toque tão único dos seus lábios. — Eu gosto tanto de você...

Amorzinho...

Ele gosta de mim...

— Puxa… — sussurrei, suspirando de amor.

Meu pescoço, orelhas e rosto estavam ficando extremamente corados. Mas eu não me afastei por vergonha.Eu não
quis me afastar. Eu apenas fechei meus olhos com calma e suspirei baixinho, aproveitando a sensação da sua boca
rechonchuda dando-me beijos afetuosos e manhosos, deixando meu coração cada vez mais acelerado...

Os dedinhos dele começaram a afagar minha outra bochecha. Enquanto uma era beijada, outra era agraciada com o
carinho de seus dedos macios. Ao receber todo aquele amor em forma de toques, eu tive a certeza de que, na minha vida
passada, eu provavelmente fui um herói.

Só isso explica a forma como estou sendo presenteado bem agora…

Senti Jimin dar uma mordidinha fraca na minha bochecha e, além de ficar arrepiado, eu também ri baixinho. Abrindo
meus olhos, assisti Jiminnie se afastar um pouquinho do meu rosto e me paquerar de pertinho.

Mesmo que nossos rostos estivessem tão perto, eu… eu não me senti nervoso. Não me senti nervoso o suficiente
para me afastar, ou para quebrar nosso contato visual. De repente, era como se eu fosse capaz fazer qualquer coisa.
Inclusive de olhar para Jimin de pertinho sem ter receio algum dele se aproximar e… me beijar...
Meu coração acelerou com a possibilidade. Eu continuei olhando para ele com essa confiança repentina. Tão
repentina que Jiminnie demorou para percebê-la… e quando ele capturou-a em meus olhos, ficou extremamente surpreso.

— Você… — Jimin tocou meu peito com sua mão, sentindo meu coração batendoforte.

Eu, no entanto, não desviei o olhar. Isso fez as bochechas de Jimin ficarem vermelhas como o fogo.

Nós ficamos nos olhando, repentinamente quietos. Era a primeira vez que eu olhava nos olhos de Jimin por tanto
tempo e tão de perto… era perfeito…

Puxa, eu nunca tinha visto seus olhos brilharem assim… ele inteiro brilhava. Assim como um céu estrelado... como as
estrelas...

Puxa. Aquilo parecia um sonho. E poderia durar para sempre… puxa, por mim, seria eterno.Como eu amo seus
olhos. Apenas seus olhos…

Aquele sentimento estava ficando cada vez mais forte, e provavelmente cresceria mais caso passos na escada não
fossem ouvidos por mim.

Passos.

Percebi, em poucos segundos, que tinha alguém se aproximando do meu quarto bem naquele momento.

Jimin pareceu perceber o mesmo e seu primeiro reflexo foi se sentar na cama, afastando-se de mim. Seu ato me fez
“acordar”, e eu fiz o mesmo, me levantando, rápido o suficiente para não ser pego pelo meu pai, que havia, aparentemente,
acabado de chegar em casa.

Ele abriu a porta do quarto. Eu engoli em seco quando papai entrou no cômodo, me dando uma boa olhada antes de
dar uma boa olhada em Jimin também, que estava ajeitando o óculos no rosto extremamente vermelho.

Meu pai nos observou, cheio de suspense.

Depois, apenas disse:

— Oi! Você que é o Jimin? — Meu pai entrou no quarto, sem dar tempo para ele responder: — Tudo bem? Eu sou o
pai do Jungkook. — E ele apertou a mão de Jimin (praticamente chacoalhando ele).

— A-ah… sim, sou eu. Eu estou bem e o senhor? — Jimin respondeu-o, se levantando quando meu pai soltou sua
mão, se curvando sutilmente.

— Bem também! — E meu pai não saiu do quarto.

Jimin e eu ficamos em silêncio. Meu pai estava revezando seu olhar entre nós e o quarto, com um sorriso no rosto,
provavelmente querendo socializar.

Seria até legal da sua parte caso eu e Jimin não estivéssemos praticamente morrendo de nervoso e vergonha.

Depois de um tempo, Jimin teve a iniciativa de ir embora:

— Agora que eu vi que já escureceu… — Ele coçou sua nuca, olhando para a janela com um pouco de receio.
Também olhei, tremendamente surpreso por não ter percebido isso. — Hum, é melhor eu ir pra casa…

— Mas já? Pensei que ficaria para o jantar — meu pai disse.

— Não, o combinado foi só até escurecer… mas muito obrigado — Jimin se curvou mais uma vez.

— Eu te levo até a porta — eu disse, me aproximando dele.

— Certo… — Jimin deu um sorrisinho nervoso e eu também. — Até mais, Sr. Jeon — ele disse para o meu pai,
acenando timidamente.

— Até mais, Jimin. — Meu pai acenou também, amável, enquanto eu e Jimin saíamos do quarto.

Meu coração ainda estava batendo forte por causa de toda a adrenalina e sentimentos que nossa troca de olhares e
seus beijos me deram. Por isso, fiquei tontinho enquanto descia as escadas com Jimin perto de mim. Praticamente viajei, até
mesmo quando ele e minha mãe conversaram brevemente e se despediram na sala. Puxa...

Quando saímos pela porta da frente e eu a fechei atrás de mim, nós ficamos olhando um para o outro em completo
silêncio. Pensei que seria assim até ele ir embora, mas, de repente, Jiminnie riu.

Puxa, ele deu uma risadinha e, em seguida, falou:

— Eu quase morri quando seu pai entrou no quarto... — Deu um sorriso nervoso, me fazendo, imediatamente, sorrir
de nervoso também. — Mas ele é muito gentil… e parece divertido também.

Ri baixinho, confirmando com a cabeça.

— Sim, ele é… — Olhei para ele.


Jimin suspirou. O vi olhar em volta, a vizinhança, e as janelas da minha casa. Quando percebeu que não tinha
ninguém por perto, Jiminnie se aproximou e deixou um beijinho rápido, macio e amoroso, no cantinho da minha boca,
segurando meu braço ao fazer isso.

Seus óculos ficaram tortos por causa disso e minhas bochechas queimaram por ter sido tão de repente.

— Até… — Ele sorriu, com as bochechas vermelhas também e um sorriso enorme.

O vi se afastar, descendo os degraus da varanda e pegando sua bicicleta pelos guidões. Senti meu coração palpitar e
desci a escadinha correndo também, pisando descalço no gramado apenas para alcançá-lo.

Perto, eu enlacei seu pescoço, dando-lhe um abraço forte e breve.

— A-até! — Sorri trêmulo, me afastando.

Assim, Jiminnie sorriu. Quando subi na varanda novamente, acenando para ele, Jimin acenou para mim também e foi
embora em sua bicicleta. Fiquei observando até ele sair da minha vista, com um sentimento gostoso na barriga; de certa
forma, eu sinto que nós… nós estamos tão perto…

Tão perto de… nos beijar.

Agora eu finalmente sinto que posso fazer isso. E esse é o melhor sentimento do mundo.

Quando entrei em casa, fiquei extremamente determinado a conversar com meus pais e convencê-los de que aprendi
minha lição. Então, na hora do jantar, eu disse todos os meus sentimentos à eles mesa. Nós tivemos uma longa conversa
sobre impulsos e situações inesperadas e, depois de concordar com tudo que eles estavam dispostos a me ensinar, mamãe
e papai decidiram me tirar do castigo de uma vez por todas.

A primeira coisa que fiz no sábado de manhã fora ligar para Seokjin e convidá-lo para passar o fim de semana comigo
— eu estava morrendo de saudades! Nós estudamos juntos e fomos ao centro também, e ele me contou como estava sendo
ir a escola sem mim (sempre fazendo um tremendo drama).

Na semana que se seguiu, eu e Jin não nos vimos porque já estava na semana das provas — que eu faria depois,
quando voltasse para a escola. Conversei com Jimin por telefone na maioria das noites porque, de acordo com ele, Yoongi
estava passando os dias na sua casa para estudar e por isso ele não podia vir até mim.

— Pelo menos, o acampamento é esse fim de semana…— ele dizia, do outro lado da linha. —Vou poder matar toda
a minha saudade de você…

E minhas bochechas ardiam. Era assim em toda ligação…

E quando sexta-feira chegou, meu corpo ficou vibrando de animação. Arrumei minha mochila para o acampamento e
fui para o ponto de encontro (o colégio) com minha mãe.

Ao descer na escola para encontrar meus amigos no ônibus para o acampamento, tive o prazer de sentir meu coração
inundar em uma sensação diferente quando encontrei Jimin e ele sorriu lindamente para mim; e nesse sorriso, eu percebi que
eu estava pronto.

Eu iria, com toda coragem que existe dentro de mim: beijar Park Jimin naquele acampamento.

Notas finais
Espero que tenham gostado! Postei um crossoverzinho de EECR com MANTI! Se quiserem ler, aqui está o link:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/dois-universos-um-coracao-18039559

Até o próximo capítulo <3333

26. Ele é como um Beijo

Notas do Autor
Oi amores! Passando só pra agradecer pela leitura de vocês <3

AVISINHO: Micha é a amiga da Jieun, e não a menina que fez bullying com os Jikook. Quem fez bullying com eles, foi a
Minna!

Obrigada por beter, Elisa <3 boa leitura amores!!!

JUNGKOOK
Ao descer na escola para encontrar meus amigos no ônibus para o acampamento, tive o prazer de sentir meu coração
inundar com uma sensação diferente quando encontrei Jimin e ele sorriu lindamente para mim; e nesse sorriso, eu percebi
que eu estava pronto.

Eu iria, com toda coragem que existe dentro de mim, beijar Park Jimin naquele acampamento.

Quando me aproximei mais e fui visto, Seokjin agarrou meus ombros e exclamou antes mesmo de eu conseguir sorrir
de volta para Jimin:

— Você finalmente chegou!

Ele também acabou com meus planos de parecer arrumado e bonito, já que bagunçou meus cabelos com as mãos e
amassou toda a minha blusa com seu abraço desengonçado.

— Seokjin, sai! — Eu exclamei, me remexendo.

Jin riu da minha irritação, implicando mais comigo até se cansar de me chacoalhar — isso depois de eu bater nele — e
ir falar com Yoongi. Tentei ajeitar meu cabelo com as mãos de novo, mas quando vi, Jimin já estava bem na minha frente.

E eu estou todo descabelado e amassado.

— Bom dia… — ele disse e me sinto extremamente envergonhado porque Jiminnie está lindo.

Lindo mesmo.

Seus cabelos ruivos estão molhados e sua testa está a mostra — o que me fez queimar nas bochechas. Ele está com
uma blusa de mangas médias, largas, listrada entre azul e branco, sua mochila nas costas, a jardineira que ele usou quando
fomos a Praça Tulipa, e seu all star azul. Assim como o que estou usando agora.

Puxa…

— Bom… b-bom dia — eu respondi, sorrindo tímido.

— O seu cabelo… parece que ele cresceu muito — ele disse, chegando perto para acariciar minha cabeça.

Seu toque era calmo e carinhoso, o que me fez sorrir mais e me acalmar um pouco. Além de que eu me sentia mais
arrumado depois dele pentear cuidadosamente meu cabelo…

— Puxa… deve estar mesmo. Minha mãe quer muito que eu corte — eu falei, dando um suspiro quando ele afastou
suas mãos.

— Eu acho que seu cabelo fica bonito de qualquer jeito — ele disse, se aproximando e ficando do meu lado. —
Quando te conheci, ele era tão curtinho...

— Ah, é… cortei curto demais no começo do ano. Seokjin falava que parecia que eu tinha colocado uma tigela na
cabeça — eu disse, coçando minha nuca e rindo.

— Naqueles dias, eu já achava que você era o garoto mais lindo do mundo — ele disse, de repente. Arregalei meus
olhos e parei de rir, pego de surpresa. — Agora, eu tenho certeza.

Eu resfoleguei. Minha pele pegou fogo e eu entrei em parafuso, dizendo mais alto do que eu gostaria:

— Você!

Pra falar a verdade… eu meio que gritei. Algumas pessoas olharam e eu me dei conta de que, além de fazer uma
cena, eu mal consegui terminar a frase. Deveria ser “Você é que é”...

Eu estava indo tão bem em elogiar de voltar ultimamente. Parece que já fiquei ruim nisso… puxa vida. Jimin parecia
surpreso com meu grito, mas, segundos depois, ele riu até seus olhinhos se fecharem e cobriu o sorriso com a mão
gordinha… rindo de mim.

Puxa… ele fica bonito rindo assim.

Rindo de mim.

— Ei, vocês estão brigando? — Seokjin voltou a se aproximar, agora com Yoongi, que não falou comigo (que bom,
porque eu também não falei com ele).

— Não… — Jimin disse, ainda sorrindo.

— Não! — Eu falei… ou ia falar, mas acabei quase gritando de novo, sem conseguir controlar meus… meus
controles. Ah, sei lá, puxa, que confuso...

— Okay… — Jin riu de mim. — Vamos pro estacionamento? Os ônibus chegaram — Seokjin disse, feliz, voltando a
me abraçar pelo ombro.

— Chegaram? Como você sabe? — Perguntei, acompanhando ele.


— Anunciaram, tipo, agora — ele disse, me olhando torto. — Você não escutou?

É claro que eu não escutei, eu estava com Jimin…

— Ah, é... é mesmo. Eu escutei — eu disse, rindo sem graça. Seokjin riu comigo e, por fim, deu de ombros. Dessa
forma, continuamos caminhando em conjunto.

Jimin estava com Yoongi, conversando, logo atrás de nós, mas não me virei para olhar para ele, afinal, ele estava
com o Yoongi… seria estranho olhar para eles sem dizer nada, por isso apenas me distraí com as pessoas a nossa volta.

Todos pareciam muito animados com o acampamento. O lugar estava barulhento pela conversa em excesso e alguns
alunos se esbarravam no caminho, mas isso não parecia problema pra ninguém. Aquele dia estava sendo muito feliz para
todos…

E para mim também.

Conforme eu me acostumava com o ambiente, me familiarizando com os rostos e as vozes dos meus colegas de
turma, me vi ficando cada vez mais feliz por estar ali. Puxa, eu sentia falta do colégio… nem dava pra acreditar porque eu
nunca fico com saudades! Quando as aulas voltam depois das férias, eu odeio. Mas, por algum motivo, eu estou feliz de
poder estar aqui…

Talvez seja porque eu quase fui expulso, mas eu estou gostando muito de ver todo mundo depois de tanto tempo —
mesmo que não sejamos amigos, é empolgante.

Ao chegar no estacionamento, nos deparamos com dois ônibus grandes e diferentes esperando por nós. Sayuri e
outros dois agentes escolares estavam ali, mas apenas ela tinha um megafone na mão — além de uma prancheta.

Nós nos reunimos com o resto dos alunos e aguardamos. Depois que o estacionamento estava bem cheio, Sayuri
ergueu o megafone e ditou:

— Bom dia, queridos alunos! — Os alunos responderam em coro um bom dia (eu só gesticulei com a boca mesmo).
— Estou aqui para avisar onde cada aluno vai ficar! Vocês foram divididos aleatoriamente e a viagem vai durar em torno de
duas horas. Vamos fazer apenas uma parada. Agora, vamos dar dez minutinhos para vocês usarem o banheiro e, então,
vamos ditar seus lugares nos ônibus, entendido? — perguntou, e todos responderam em coro novamente.

Já eu, estava pensativo sobre os lugares. Fomos divididos aleatoriamente? Puxa… será que vou me sentar com um
estranho? Já sei que não vou conseguir dormir, muito menos me sentir confortável dentro do ônibus…

— Será que vão nos separar? — Seokjin perguntou para mim, me fazendo olhá-lo.

— Acho que sim… — eu disse porque, do jeito que sou azarado, vai ser difícil conseguir ficar do lado de quem eu
quero. Puxa… se eu pudesse sentar com Seokjin, ou Jimin… seria tão bom.

Me virei para trás, com a intenção de perguntar para Jimin o que ele achava do tempo de viagem — ou qualquer coisa
para puxar assunto e poder olhar para ele por mais tempo —, mas o que eu vi, me fez parar.

Jimin não estava virado para mim, muito pelo contrário. Ele estava olhando para o lado, conversando com Jieun, que
tinha uma coisa em suas mãos…

Mais especificamente: um pote.

Eu não consegui conter meus sentimentos quanto à isso e acabei fazendo uma careta amuada, com vontade de
chamar Jimin, ou interromper, mas não parecia certo. Logo, fiquei com vontade de sair de perto deles.

Mas isso não parecia certo, também. Puxa…

Engolindo em seco, empurrei esses sentimentos ruins goela abaixo e lidei com eles me virando para frente de novo —
vendo, por último, a expressão confusa de Yoongi para mim — e deixando de assistir aquela cena.

Os alunos começaram a se movimentar para o banheiro e o lugar ficou menos barulhento, o que acabou me
impedindo de lidar com os sentimentos ruins, porque pude escutá-los atrás de mim:

— É uma sobremesa que minha família sempre faz… tem creme de avelã, morangos, castanha… e-enfim! Eu quis
trazer um pouco para você, espero que goste, Jimin. — Eu pude ouvir Jieun dizer para ele. Para Jimin.

Meu coração começou a bater mais forte. Sobremesa? Sobremesa?!

— Nossa, eu realmente não esperava! — Ouvi a voz de Jimin, e ele parecia feliz. Feliz? Feliz?! — Obrigado, Jieun!
Parece ser muito saborosa, prometo que te devolvo o pote lavadinho assim que pararmos.

— Que isso! Não tem problema, você pode devolver quando quiser… — ela falou, e sua voz foi ficando baixinha, mas
eu ainda consegui escutá-la: — E-espero que a gente fique junto no ônibus.

O quê?

Juntos?!

— Seria muito divertido — ouvi Jimin respondê-la, simpático.


— É-é… bem, eu vou indo! Micha está me esperando, até mais tarde!

— Ah, sim. Tchau!

E então, a tortura acabou. Meu coração, no entanto, não se acalmou. A ideia de Jieun se sentar perto do Jimin me
deixou inquieto. Ainda mais quando ela passou na minha frente para, provavelmente, encontrar Micha… puxa, ela é tão
bonita…

Ainda me lembro da conversa que ela teve com Micha sobre estar apaixonada por Jimin… eu ouvi tudo e fiquei tão,
tão magoado, que posso recordar facilmente de suas palavras...

“Micha… Ele é apaixonado por livros, como eu. Temos tudo em comum. Queremos ser escritores e ele é muito
bonito…”

Jieun gosta de Jimin e tem tudo em comum com ele… e quer se sentar com ele.

E se ela se sentar com Jimin?

Mordisquei meu lábio, soltando um muxoxo. Puxa… eu me sinto um idiota por estar pensando nisso como se fosse a
pior coisa do mundo. Para falar a verdade, me sinto um idiota só por pensar nisso! Eu não deveria pensar nisso! Jimin disse
que gosta de mim, ele disse que eu sou o amorzinho dele, eu, não ela...

Mas por que isso não está entrando na minha cabeça agora?

— O que você acha de duas horas de viagem?

A voz do Jimin me tirou, repentinamente, dos meus devaneios.

Me virei para ele que, de uma hora para outra, estava do meu lado, me fazendo uma pergunta.

Fiquei tão perdido dentro dos meus pensamentos que não consegui responder de imediato. Eu apenas pisquei um par
de vezes e respirei fundo, balançando a cabeça.

— Ah… c-cansativo — eu disse, abaixando a cabeça, vendo o potinho na mãozinha dele.

Puxa vida…

A sobremesa parece gostosa mesmo

— Eu também acho — ele falou, se aproximando mais e dizendo baixinho: — Mas se formos juntos, vai ser perfeito…

Minhas bochechas arderam.

— É-é… — eu disse e, inevitavelmente, um sorriso cresceu na minha boca.

Olhei de esguelha para Jimin, com um sorriso tímido, e ele me olhou de volta e sorriu também. Eu estava pronto para
gaguejar algo desconexo quando Seokjin, do meu outro lado, exclamou:

— Vou no banheiro! Alguém pra me acompanhar?! — disse, bufando.

— O Yoongi acabou de ir pra lá — Jiminnie disse. Puxa, eu nem percebi que Yoongi tinha saído...

— Vou alcançar ele. — E Seokjin se retirou.

Alguns segundinhos depois, mesmo que vermelho, consegui levantar minha cabeça e olhar para Jimin. Ele já estava
olhando para mim e, puxa vida, isso sempre me deixa meio tonto...

— Agora que o Jin saiu, eu quero te contar uma coisa — Jimin disse, sorridente. — Eu pensei em te contar por
telefone, mas parecia mais especial te mostrar…

— O quê? — indaguei, prestando atenção nele.

Jimin deu mais um sorriso, tirando a mochila das costas. Ele mexeu nela e tirou de lá seu walkman amarelo, o
erguendo, e mostrando para mim. Demorei um tempo para perceber o que ele estava me mostrando, e quando percebi,
quase derreti inteiro ali mesmo.

Tinha um adesivo em formato de coração, com uma flecha atravessando-o, mas não era só isso… no meio do
coração, estava escrito com uma caneta permanente:

“J X J”

Meu coração acelerou.

— Jimin e Jungkook… — ele disse. — O colega de trabalho da mamãe, Siwon, me deu uma cartela cheia de adesivos
e um livro incrível. Aí eu estava assistindo novela, aquela das oito, e a Joan e o Nathan fizeram com as iniciais em uma
árvore, também… aí eu quis fazer parecido, porque acho tão romântico… — ele me contou, cuidadosamente.

Eu não consegui responder de prontidão. Meu corpo estava se enchendo daquele sentimento bom e amoroso de que
Jiminnie gosta tanto de mim quanto eu gosto dele. E, olhando quase emocionado para aquele adesivo romântico, eu me senti
em uma bolha… e nessa bolha, só havia eu, Jimin e esses sentimentos felizes.

Puxa, por um momento, eu me movi para abraçá-lo, extremamente feliz… mas então, me lembrei que a bolha só
estava presente na minha cabeça e por isso parei — e essa sequência de movimentos acabou sendo esquisita e engraçada
o suficiente para Jiminnie rir baixinho de mim.

— O que foi isso? — Ele indagou, com a voz risonha.

Eu senti meu rosto queimar, coçando a nuca ao dizer:

— Eu… eu ia abraçar você, mas me lembrei que estamos na frente de todo mundo — eu disse, ofegante.

— Me abraçar? — Sorriu. — Então você gostou? — Ele perguntou, carregando certa expectativa em sua voz.

Eu olhei para o adesivo mais uma vez e, tímido, balancei a cabeça, afirmando. Puxa. Se eu gostei? Eu amei… estava
me sentindo nas nuvens.

— Muito… puxa — sussurrei, levantando meus olhos para fitar o rosto bonito de Jimin. — É… é muito… é perfeito.

Jimin me olhou de volta e deu um sorriso tão, tão lindo. Ele pressionou os lábios, deixando as maçãs do seu rosto
cheinhas e me olhou cheio de carinho. Às vezes eu sinto que poderia viver nos olhos do Jiminnie...

Eu me sinto tão especial lá. Aos olhos dele...

— Quando você sorri assim… — Jiminnie começou a dizer e, agora, acabei de perceber que suas bochechas estão
ficando rubras. — Eu fico com muita vontade de beijar a sua boca… — disse, bem baixinho.

Eu arregalei os olhos. Meu coração voltou a acelerar freneticamente e meu estômago congelou porque eu não estava
preparado para ouvi-lo dizer isso… “Beijar a sua boca”... puxa.

A minha boca.

De todas as frases que Jiminnie já me disse sobre beijos, essa é com certeza a que eu mais gosto… e é a que mais
me deixou vermelho também.

Meus ombros ficaram tensos e logo tive a sensação de que meu peito estava pesando uma tonelada, mas…. eu
estava mais feliz do que nervoso. E isso era tão bom. Era bom me sentir tão feliz… eu adorava como Jiminnie tinha o poder
de me deixar feliz tão facilmente. Eu não me importo mais de ficar tímido perto dele porque, às vezes, é como se Jimin
vivesse na minha mente e soubesse exatamente o que eu sinto e o que eu gosto.

Puxa. Isso explicaria o porquê dele sempre dizer as coisas perfeitas...

Passando por cima da minha timidez, voltei meus olhos para Jiminnie, me surpreendendo por ele estar tão vermelho
quanto eu. Assim, além de sentir que ele vive na minha mente, eu senti também que Jimin e eu éramos a mesma pessoa.

Puxa… eu realmente sou ele, e ele sou eu.

A única coisa que consegui fazer, naquele momento, fora sorrir mais uma vez para ele e voltar a abaixar a cabeça,
cheio de sentimentos gostosos me rodeando. Acho que vou dormir pensando nessas palavras. Beijar a sua boca, beijar a sua
boca, beijar a sua boca...

— Vou cruzar os meus dedos para nos sentarmos juntos no ônibus — ele me disse depois de um tempo.

Então, Seokjin e Yoongi chegaram juntos antes de eu poder dizer que também cruzaria meus dedos para ficar com
ele.

Mas não deixei passar. Quando Sayuri começou a anunciar os lugares no ônibus, eu olhei para Jimin e,
discretamente, mostrei meus dedinhos cruzados, dizendo indiretamente que eu estava torcendo para ficar com ele no ônibus
também. Puxa, eu realmente estava…

Jimin sorriu ao perceber isso e, pacientemente, esperamos nossos nomes serem chamados. E quando eu pensei que
realmente tinha chance de me sentar com Jiminnie, Sayuri falou…

— Park Jimin na poltrona C, com Kim… — começou, parando por um segundo antes de terminar o nome do parceiro
de Jimin que claramente não sou eu.

Soltei um muxoxo, enquanto Jimin me olhava com um biquinho, como se estivesse tão decepcionado quanto eu.

Puxa… então, que eu consiga me sentar com Seokjin…

— Ah! E Kim Seokjin, na poltrona D do primeiro ônibus — Sayuri terminou.

— Vixi... — Seokjin resmungou, me olhando também.

Já eu, me desesperei. Jimin e Seokjin são uma dupla? Então, com quem eu vou me sentar?

— Até daqui a uma hora… — Jimin disse, com um sorrisinho fraco, já começando a caminhar na direção dos ônibus.
— Mas… — eu tentei, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Puxa vida...

Fitei Jimin, tentando demonstrar o quão magoado eu estava com a escolha das duplas apenas com o meu olhar. Ele
parou no lugar quando nossos olhos se encontraram e eu queria tanto, tanto, abraçar ele…

Puxa… assim até parece que eu nunca mais vou vê-lo...

— Tudo bem, Jungkook, não precisa fazer essa cara, são só duas horas sem mim! — Seokjin disse, de repente,
dando um tapa no meu ombro com um sorriso divertido. — Você aguenta, acredite em si mesmo — completou, fazendo meu
semblante chateado sumir.

Afinal, no segundo seguinte, olhei para ele com a minha maior cara de bunda existente. Seokjin se acha…

— Tchau, Seokjin. — Foi o que eu respondi, mal humorado.

Então, eu assisti ele e Jimin se afastarem — ficando bem humorado de novo quando Jiminnie sorriu para mim antes
de definitivamente ir para o ônibus.

Assisti eles subindo em silêncio e continuei em silêncio, como se estivesse sozinho. Apesar de Yoongi estar do meu
lado, eu não estava muito a fim de falar com ele — e nem ele comigo, porque também ficou em silêncio.

Quando começaram a anunciar as duplas do segundo ônibus, torci para me sentar com alguém minimamente
bonzinho, já que Minna está presente. Não quero me sentar com ela... ela é tão malvada. E está sendo uma das últimas a
ficar, junto de mim e Yoongi.

— Kim Minna na poltrona J e Kang Chanhee na poltrona K do segundo ônibus — Sayuri anunciou.

Soltei o ar pela boca, extremamente aliviado… então, percebi que Yoongi fez o mesmo, no mesmo segundo, o que
me fez lhe olhar momentaneamente.

Ele também olhou para mim, com o cenho franzido, mas não disse nada. Eu também não disse nada. Então, nós
apenas voltamos a olhar para a frente, em silêncio. Que estranho...

O lugar estava ficando cada vez mais vazio com a chamada de Sayuri e eu estava começando a ficar nervoso e
ansioso... até que meu nome foi chamado.

— Jeon Jungkook na poltrona E… — Prendi a respiração, me preparando psicologicamente para quem quer que fosse
a minha dupla. — E Lee Jieun na poltrona F do segundo ônibus.

Eu abri a boca.

O quê?

O quê?!

Abri bem meus olhos e procurei Jieun com o olhar, sem acreditar que o universo me pôs do lado dela depois do que
aconteceu hoje. Puxa, a Jieun? Por que a Jieun?

Fiquei um pouco receoso, mas, não demorei muito para me encaminhar para o segundo ônibus. Jieun já estava lá,
falando com Sayuri, com sua mochila azul bebê nas costas e os cabelos castanhos brilhando mais do que o próprio sol.

Puxa...

Me aproximei mais. Depois de confirmar a presença de Jieun, Sayuri olhou para mim, deu um meio sorriso e escreveu
algo em sua prancheta — muito provavelmente confirmando minha presença também.

— Muito bem, podem subir — ela disse, cuidadosa e com um sorriso.

Eu e Jieun confirmamos com um aceno. Então, subimos no ônibus juntos e nos dirigimos para nossos devidos
lugares. Minha poltrona era do lado da janela, assim como a do Jiminnie, então quando me sentei, pude vê-lo através do
vidro — mas ele estava distraído demais com Seokjin para perceber que eu estava o olhando. Puxa…

Me encostei mais na poltrona, suspirando baixinho. Não esperei o ônibus começar a andar para colocar o fone sobre
meus ouvidos. Como eu costumo ficar um pouco enjoado ao viajar, escolhi uma fita com músicas suaves — tinha Elvis, John
Lennon e algumas do Roy Orbison.

Quando dei play, a primeira música que chegou em meus ouvidos fora “Beautiful Dreamer”, do Roy Orbison.

Fechei meus olhos e suspirei. Essa música me faz pensar em Jimin…

“Eu fico com vontade de beijar a sua boca.”

Comecei a imaginar-me o beijando… na boca. Puxa… será que vamos ficar sozinhos no acampamento? Será que
vamos nos beijar? Como deve ser o seu beijo?

Eu nunca beijei na boca antes… mas, de alguma forma, só de pensar em beijá-lo, meu coração fica apertado de
ansiedade, porque parece tão bom… puxa vida, parece muito bom mesmo…
Sem conseguir me segurar, minha mente criou a imagem de Jimin me dando um beijo na boca. Um beijo doce e lento,
como os que ele deu nas minhas bochechas no meu quarto. Era suave e doce como algodão doce…

Minhas bochechas arderam e, envergonhado, tentei parar de ficar pensando nessas coisas. E assim que abri meus
olhos, percebi que o ônibus já estava cheio… Yoongi estava sentado na janela, bem na minha frente, e Sayuri estava
sentada do lado dele.

Senti algo no meu braço e olhei para o lado, percebendo Jieun me cutucando. Olhei para ela e tirei meu fone.

— Eu pensei que você estava dormindo — ela começou, falando baixinho. O ônibus começou a andar. — A Sayuri
deu um último aviso enquanto você estava de fone. Ela disse que, se ficarmos enjoados ou com muita vontade de ir no
banheiro, devemos falar com ela imediatamente… tá?

Eu pisquei um par de vezes, atento as suas palavras.

— Ah, sim… obrigado — falei, curvando minha cabeça em uma referência curta.

Foi legal da parte dela me contar...

— Não foi nada — ela sorriu, gentilmente curvando sua cabeça também. — Se precisar de remédio pra enjôo depois,
eu tenho, tá?

Balancei a cabeça, afirmando.

— Obrigado… — eu disse, com sinceridade.

Jieun sorriu e se virou para frente. Já eu, voltei a olhar para a janela, vendo, agora, tudo se movimentando lá fora.
Perdi totalmente o outro ônibus de vista…

Logo apenas coloquei o fone novamente e apreciei a paisagem.

Durante meia hora, a viagem ocorreu bem. Eu fiquei com um pouco de sono, e não estava enjoado, mas então…
aconteceu.

Minha fita embolou.

Foi tão de repente que eu me assustei. Tirei-a rapidamente do walkman e, consequentemente, olhei para baixo para
me concentrar. Eu queria arrumá-la imediatamente… até pensei em guardá-la toda embolada dentro da mochila, mas eu
gostava muito daquela fita, não queria que ela estragasse…

Por isso eu fui burro o suficiente para tentar ajustá-la ali, dentro de um ônibus em movimento.

Ajeitando o rolo dela, comecei a me sentir cada vez mais… mal. Meus olhos passaram a doer sempre que eu os
movimentava e fiquei cansado. Quando percebi que a fita estava, enfim, dentro da caixinha, levantei a cabeça… e fazendo
isso, eu senti.

Eu estava com uma baita de uma dor de cabeça.

Toquei minha testa com a palma da mão, sentindo-a latejar, dolorida. Meus olhos estavam cansados e, puxa, eu me
arrependi completamente por pensar que não ficaria mal por ajeitar a fita. Normalmente, fico com muita dor de cabeça
quando viajo. Principalmente quando fico muito tempo olhando para baixo, ou concentrado em algo — às vezes, fico com dor
de cabeça só de olhar para as coisas lá fora. Mas, puxa, ajeitar a fita era uma coisa tão rapidinha… eu pensei que não teria
nenhum problema.

Droga…

Tentei deitar mais minha nuca e fechei meus olhos. É muito difícil conseguir comer ou dormir quando estou com dor
de cabeça, mas tentei colocar em mente que seria só duas horas e que na parada eu poderia lavar o meu rosto com água
gelada.

Mesmo assim… a viagem passou a ficar cada vez pior para mim.

Na parada, minha cabeça estava doendo tanto que eu nem pensei em descer do ônibus. Apenas peguei minha
garrafa de água gelada e a encostei na minha testa, suspirando de dor e me virando ainda mais para o lado, tentando não
chamar muita atenção para mim.

Eu só queria chegar no acampamento logo.

JIMIN

Seokjin e eu fomos uns dos primeiros a descer do ônibus na parada.

Viajar tendo ele como dupla estava sendo mais divertido do que eu pensei ser possível. Seokjin não deixou nenhum
silêncio estranho prevalecer durante nossa viagem e me contou muitas coisas engraçadas — várias sobre Jeongguk, o que
me deixava bobo de amor. Era divertido conversar com ele sobre música, filmes, e tudo que acontece em nossas vidas. Foi
incrível, também, perceber que Jin, diferente de Yoongi e Jungkook, amava cinema mais do que música. Ele até chegou a
me indicar umas bandas, mas dava pra ver que ele gostava muito mais de cinema.

Jin me falou sobre vários filmes legais de comédia, romance, suspense, terror… para ele, todo gênero era bom!
Concordo com ele. Inclusive, o próximo filme assustador que vou ver com Yoongi será “Pague para Entrar, Reze para Sair”
porque Jin falou muito bem dele.

— Que fomeeeee — ele resmungou, descendo os degraus do ônibus. — Não sei você, mas, quando eu viajo, fico
com muita mais fome que o normal!

— Eu acho que sou assim também — eu disse, risonho. Então, olhei em volta. — Jin, você acha que o Jungkook
desceu do ônibus também?

— Acho que sim — ele disse, percebendo quando eu parei no lugar para olhar pro outro lado do estacionamento,
onde o ônibus de Jungkookie estava. — Você vai lá? Eu tô indo pra lanchonete.

Eu dei um meio sorriso, confirmando com a cabeça.

— Sim, depois te encontramos lá — eu disse.

Seokjin sorriu também e levantou o polegar, seguindo para a lanchonete — meio rápido até. Ele deve estar com muita
fome mesmo, heh…

Segui meu caminho para o ônibus do meu amor sozinho, então. Eu nem sabia ao certo o que eu iria fazer lá, mas,
depois do jeitinho que Jungkookie me olhou quando percebeu que não iríamos nos sentar juntos, eu me sinto na obrigação
de dar um abraço bem apertado nele. Poxa, eu estou quase desesperado para dar carinho pra ele agora…

Pensando nisso, me vi na porta de seu ônibus. Alguns alunos estavam descendo e indo para o banheiro, então
esperei. Jieun foi uma das últimas a descer e estava abrindo um pacotinho de biscoito quando me notou.

Sorri.

— Oi, Jieun — eu disse. — Você viu o Jungkook?

Ela deu um sorriso também, mas, quando eu falei “Jungkook”, ele fez uma expressão preocupada.

— Oi, Jimin… poxa, eu vi — ela deu um suspiro. — Inclusive, é por causa dele que estou comendo aqui fora. Estou
um pouco preocupada, mas não conheço ele muito bem e não sei como ajudá-lo ao certo…

Juntei as sobrancelhas, confuso.

— Ajudar ele? Não entendi… e por que você tá comendo aqui fora? — indaguei.

— É que o cheiro desse biscoito é um pouco doce e pode ser enjoativo pra ele… então preferi comer aqui fora. Eu
acho que ele tá passando mal… parece com dor, mas não disse nada pra Sayuri, então preferi não me meter — ela me
disse. — Ainda bem que você está aqui… diz pra ele que eu disse, de novo, que se ele quiser, eu tenho remédio para enjôo.

Preocupado, eu franzi o meu cenho. Ele está passando mal? Ah, Jeonggukie…

— Tudo bem, Jieun, eu vou falar com ele… — eu disse, já subindo no ônibus para encontrá-lo. Depois, voltei
rapidinho para dizer: — Obrigado…

Jieun sorriu e afirmou com a cabeça. Assim, voltei para dentro do ônibus com pressa.

Encontrei Jeonggukie em uma das primeiras fileiras, virado para o lado da janela, com seus olhinhos fechados e um
biquinho doloroso nos lábios. Sua mão estava pressionando uma garrafinha de água contra a testa e não pensei duas vezes
antes de me aproximar, sentar do seu lado, e perguntar bem baixinho:

— Você está bem, Jungkookie?

Ao ouvir minha voz, Jungkook abriu seus olhos, parecendo um pouco surpreso com a minha presença ao erguer a
cabeça do banco de supetão. Mas sua ação pareceu deixá-lo com mais dor ainda. Ele soltou um suspiro doloroso, voltando a
se encostar lentamente no acolchoado.

— Ahm… oi, Jiminnie — ele disse, com a voz fraquinha. — Hum… tô com uma dorzinha de cabeça, mas não é nada
demais…

Meu coração apertou. Eu sei que não é nada demais, mas, meus olhos bobos quase se encheram de água só por ele
estar com uma dorzinha de cabeça. Céus… a voz dele soou tão quebradiça.

Meu coração ama ele demais e não aguenta...

— Awn… poxa, não acredito — eu disse, me aproximando mais para segurar sua mão e apertar. — O que você faz
pra passa a dor de cabeça? Toma remédio?

— Eles não funcionam na maioria das vezes… então minha mãe acha melhor eu não tomar — ele disse, enquanto eu
olhava para a mãozinha dele. Apertei certo pontinho. — Ai… — ele murmurou.

— Desculpa… é pra aliviar um pouquinho — eu disse, concentrado em fazer um doin na mãozinha dele. — Assim não
é muito eficaz… seria melhor se você deitasse no meu colo e eu fizesse no seu couro cabeludo.

Jungkook ficou em silêncio. Quando olhei para ele, suas sobrancelhas estavam franzidas em confusão.

— Eu não entendi nada… puxa — ele murmurou, sem abrir os olhos. — Me desculpa ficar de olhos fechados, não é
por mal, é que dói mais quando eu abro… — ele disse.

Ah, meu amor...

— Eu sei disso, não se preocupe… — eu falei, sorrindo pequeno. — O que eu estava dizendo… é sobre doin. É tipo
quando você tá com uma dor e pressiona um ponto no seu corpo que alivia essa dor… normalmente, minha dor de cabeça
passa facilmente com isso, mas elas são muito fraquinhas. Por isso eu queria fazer no seu couro cabeludo, porque alivia
muito mais e te deixa mais relaxado… entendeu?

Ele ficou em silêncio.

— Err… — sussurrou. Jungkookie não entendeu.

— Doin é um cafuné, um cafuné terapêutico.

— Ah… tá — ele disse, parecendo menos confuso. Fofinho… — Mas eu não sei se vai passar assim, puxa…
normalmente, ela passa quando eu durmo… mas é muito difícil eu conseguir dormir com dor de cabeça. Da última vez, fiquei
quase duas horas deitado, acordado, para conseguir pegar no sono… mas meu sono fica muito leve também… não sei… —
ele me contou, sua voz ficando cada vez mais baixa e manhosa.

— Já tentou ficar debaixo do chuveiro quente? — indaguei.

— Não…

— Então… vamos fazer assim — eu disse, deixando de apertar sua mãozinha para acariciá-la. — Quando a gente
chegar nos chalés, você toma um banho quente e depois eu faço um doin no seu couro cabeludo. Te garanto, vai te deixar
bem calminho e você vai conseguir dormir…

Jungkookie ficou em silêncio. Eu continuei segurando sua mão com amor, dizendo aquelas coisas em alto e bom tom
porque, além de não ter ninguém dentro do ônibus naquele momento, eu também queria muito mostrar para Jungkook que
eu estava ali por ele…

Essa dor de cabeça vai passar, ou eu não me chamo Jimin! E se ele dormir durante a tarde, ainda pode, pelo menos,
ir para a fogueira de noite. Aposto que ele quer muito…

— Puxa… eu não queria te incomodar com isso — ele falou, parecendo um pouco magoado.

— Não vai, Ggukie… se você não melhorar, eu vou ficar muito preocupado e triste. Aí sim vai me incomodar. — Ri
baixinho quando o biquinho dele cresceu com as minhas palavras.

— Mas… é que eu não queria que fosse assim… queria que você só se divertisse… — confessou, amuado.

Eu dei um sorriso calmo, balançando a cabeça negativamente. Subi minha mão e fiz um carinho fraco e suave nos
seus cabelinhos bagunçados, dizendo:

— São as consequências de gostar de alguém...

As consequências de amar alguém.

E como eu amava Jeon Jungkook… se eu não amasse, não me importaria. Mas eu amo muito... fazer o quê?

Fiquei olhando para ele de pertinho e me senti imensamente feliz quando seu biquinho se transformou em um sorriso
simples e bonito. Suas bochechas coraram um pouco. Ele não precisou dizer nada… seu sorriso já dizia tudo.

Eu sabia que logo as pessoas voltariam para o ônibus, então, me aproximei calmamente para beijar lenta e
amorosamente sua bochecha macia. Quando me afastei, eu disse:

— Te vejo lá, está bem? — Afastei minhas mãos dele.

— Sim… — Ele entreabriu os olhos bonitos por alguns segundos, olhando com carinho para os meus. — Te adoro,
Jiminnie…

Meu coração palpitou. Seus olhinhos estão inchados e, céus, ele está tão bonito…

— Também te adoro. — Eu sorri, sem conseguir me segurar. Cheguei pertinho de novo e, segurando cuidadosamente
seu rosto com as minhas mãos, eu beijei sua testa. — Meu amorzinho… — E dei mais um beijinho, dando uma risadinha
quando ele abriu um sorriso grande, mais vermelho ainda. — Eu te vejo lá, tá bom?

Ele balançou a cabeça, confirmando.

— Tá bom…

E fechou seus olhos.


No caminho para a lanchonete, encontrei Yoongi e Seokjin e contei para eles sobre a dor de cabeça de Jungkook.
Seokjin lamentou muito antes de ir até o ônibus de Jungkook para vê-lo. Eu e Yoongi lanchamos juntos e, quando deu a hora,
voltamos para nossos respectivos ônibus. Assim, continuamos nossa viagem até o acampamento — que continuou cheia de
conversas sobre filmes e músicas com Seokjin, além das piadas e fatos engraçados sobre Jeonggukie.

Quando nosso ônibus começou a se aproximar, todo mundo se atentou às janelas com curiosidade, incluindo eu. Nós
passamos por um portão de madeira grande, com uma placa escrita “Jong Hong Férias e Acampamentos”. Tinha árvores nas
laterais, e então, entramos na área cheia de chalés de madeira. Eles eram lindos e pequenininhos, mas, em compensação,
haviam vários! Me pergunto em qual deles eu vou ficar…

Quando os ônibus começaram a parar, duas moças de chapéu e uniforme saíram de um dos chalés e se aproximaram
do ônibus. O agente escolar do nosso ônibus, Yunhe, foi o primeiro a se levantar e nos pediu silêncio para anunciar:

— Pessoal, nós vamos descer agora e nos apresentar para Jenny e Joana Jong, as atuais donas do “Jong Hong
Férias e Acampamentos” — ele disse. — Façam silêncio quando elas estiverem falando! Depois dos avisos principais, vamos
fazer uma tour pelos chalés e as áreas principais com elas.

— Sr. Yunhe, vamos ter um chalé só pra gente? — uma menina perguntou, animada com a ideia.

— Não, serão quatro pessoas em cada chalé!

— Vamos poder decidir dessa vez? — Outra pessoa perguntou.

— Sim. Mas apenas meninas com meninas, e meninos com meninos, como vocês com certeza já devem saber,
certo?

— Certo! — Os alunos responderam em coro. Me senti feliz por saber que poderia dormir no mesmo chalé que
Jungkook… com toda certeza vamos nos unir, eu, ele, Yoongi e Seokjin.

Ai. Eu e Jungkook juntinhos… talvez possamos dividir a pia enquanto escovamos os dentes. Não sei por que, mas
acho isso tão romântico…

— Então, vamos lá? — Sr. Yunhe indagou e depois de respondermos em uníssono, começamos a descer aos poucos
do ônibus.

Nós nos organizamos em silêncio com os alunos no outro ônibus e assim que vi Yoongi, me aproximei rapidamente
dele com Seokjin ao meu enlaço. Antes que fossemos atrás de Jungkook, ele apareceu, tão devagar e sutil que mal o
percebemos chegar. Meu coraçãozinho doeu quando ele falou comigo e com Seokjin com a voz baixinha e rouca —
contando, inclusive, que sua dor de cabeça estava um pouco pior. Suas expressões curtas e disfarçadas de dor só me
deixavam mais melancólico e ansioso… quero que isso passe logo, poxa. Quero que meu amor consiga curtir o
acampamento, nem que seja só um pouquinho…

Conversamos um pouco sobre a viagem e, graças aos céus, as duas moças não demoraram muito para falar com a
gente:

— Bem-vindos alunos da Ae-Cha! Esperamos que vocês tenham feito uma boa viagem e queremos que saibam que
estamos muito felizes com a presença de vocês aqui hoje! — A mais baixa disse. — Sou Jenny, e preciso que me escutem
com atenção agora, combinado?

— Combinado! — Todos os alunos responderam.

— Certo, muito bem. — Ela sorriu. — Primeiro, quero informá-los sobre as normas e regras da casa. Antes de
conhecermos a área, é de extrema importância que vocês entendam e respeitem o que vou lhes dizer agora — Jenny disse,
fazendo todos se silenciarem e prestarem bastante atenção nela. — Vocês vão acordar, todos os dias, às oito e meia da
manhã. Teremos alguns programas hoje, amanhã, e no domingo de manhã. Precisamos da presença de vocês durante
esses programas no horário que planejamos. Não toleramos atrasos. — Nós assentimos com a cabeça. — Colocamos um
folheto com as programações sobre a cama de cada um de vocês. Não é obrigatório participar de todos os programas, mas
vocês não poderão fazê-los depois. — Vendo a confusão estampada no rosto de alguns alunos, Jenny simplificou: — Ou
seja: se amanhã, às onze horas da manhã, formos fazer uma trilha e você não quiser participar, você também não poderá
fazer a trilha uma outra hora, entenderam?

— Sim! — Respondemos.

— Muito bem! — Sorriu. — Agora vamos as outras regras. Primeiro: vocês não podem sair do chalé depois das nove
horas da noite. E também não podem sair antes das oito e meia da manhã. O refeitório ficará aberto nos horários que nós
ordenamos para cada refeição: o café da manhã, o almoço, o lanche da tarde, e por fim o jantar. De nove às dez meia da
manhã, vocês estarão liberados para tomar café. De meio dia até uma e meia da tarde, vocês estarão liberados para o
almoço. De quatro às cinco e meia da tarde, terão o lanche da tarde. E de sete às oito e meia da noite, o jantar. Nós tocamos
o sino na hora de acordar e na hora do jantar! Vocês não poderão comer fora desses horários, então, tenham disciplina e
pontualidade — ela disse. — Se vocês forem vistos fora do chalé antes ou depois do horário, estarão sujeitos a advertências
ou suspensões pela parte do colégio de vocês. Então, disciplina! — Jenny estava um pouco mais séria, então ficamos em
silêncio. — O chalé das meninas ficam do lado esquerdo — ela apontou para a esquerda. — E dos meninos, do lado direito
— apontou para a direita. — Se meninos forem vistos no chalé das meninas, ou meninas vistas no chalé dos meninos… já
sabem. Advertência, ou suspensão. — Nós confirmamos com a cabeça. — Essas e as demais regras estão nos folhetos
sobre a cama de cada um de vocês. Portanto, quando forem para seus chalés, leiam esses folhetos com atenção. Muito
obrigada pela atenção!
Jenny fez uma breve reverência para nós e retribuímos ela. Apesar de estar com dor, Jungkook parecia estar
prestando bastante atenção nela e nas regras.

— Agora que Jenny já os explicou o básico, eu lhes direi o resto. — A moça mais alta deu um passo a frente. — Olá,
alunos do colégio Ae-Cha! Sou Joana e mostrarei o local para vocês! Muito prazer!

— Prazer, Joana! — Respondemos-a.

— Muito bem. — Ela sorriu. — Cada chalé alojará quatro alunos. Vocês podem decidir, entre vocês, com quem vão
ficar. Depois do pequeno passeio que fizermos pela área, daremos dez minutos para vocês decidirem isso. Depois de
registrarem com seus professores e agentes escolares quem serão seus colegas de quarto — ela apontou para as pessoas
da nossa escola. — A chave de cada chalé será entregue para vocês e vocês poderão descansar antes do almoço, que será
servido daqui a meia hora. De noite, como muito de vocês sabem, faremos uma fogueira! — ela disse. — O horário da
fogueira estará nos folhetos como os demais programas, como Jenny os informou. Hoje, vocês estarão liberados para a
piscina até às cinco horas da tarde. Já o lago, só amanhã. Nós vamos ficar por perto sempre! — Joana disse. — Agora que
está tudo explicado, vamos conhecer a área?

— Sim! — Nós respondemos, animados.

E assim, nós fomos.

Conhecemos os chalés, o refeitório e a piscina — eles ficavam bem próximos. Tivemos que fazer uma pequena trilha
para chegar até o lago de água cristalina. Tinha um salva-vidas tanto ali, quanto na piscina. Nós vimos o pomar e a horta,
além da pequena tirolesa (sério, tinha uma tirolesa!) que passava por cima do lago. Após vermos o local da fogueira, fomos
liberados para decidir nossos colegas de quarto — e visto como Jungkook estava com dor, Seokjin, Yoongi e eu fomos
compreensíveis e apressados na hora de pegar a chave do nosso chalé.

Apesar da minha preocupação com meu amorzinho, ao chegar no chalé, não pude evitar ficar surpreso com o quão
bonito ele era por dentro.

— Que bonito… — eu disse, entrando com a minha mochila nas costas (pegamos nossas bagagens logo depois de
pegarmos as chaves).

— Beliches! Eu fico em cima! — Seokjin disse, passando correndo até uma das beliches, jogando sua mochila sobre o
colchão.

— Eu também quero ficar em cima — Yoongi disse, passando por mim para jogar sua mochila sobre a outra beliche.

Eu e Jungkook nos entreolhamos, ainda perto da porta, e demos uma risadinha.

— Tá bom então… — eu disse, indo até a cama embaixo da de Yoongi, deixando minha mochila ali. Jungkookie fez o
mesmo, só que embaixo da cama de Seokjin e mais lentamente.

— O que vocês vão fazer agora? — Yoongi perguntou, com o folheto na mão.

— Eu quero ir almoçar, mas… — Seokjin disse, olhando para Jungkook, que havia se sentado em seu colchão. Sua
feição de dor estava um pouquinho mais suave, agora, mas ele ainda parecia incomodado. — Aposto que Jungkook não
quer… e não quero que ele fique sozinho aqui.

Jeongguk balançou a cabeça, negando as falas do melhor amigo.

— Pode ir… eu vou tomar um banho quente e tentar dormir — disse ele, olhando para Seokjin.

— Tem certeza? — Jin perguntou, hesitante.

Já Jeongguk, apenas assentiu.

— Sim… — Suspirou, desamarrando o cadarço do seu tênis.

— Eu vou almoçar também, mas preciso mijar antes — Yoongi disse, de repente, indo em direção ao banheiro do
quarto.

— Ok então — Jin disse, rindo um pouco. — E você, Jimin?

Dei um sorriso calmo e respondi:

— Vou cochilar um pouquinho.

Senti o olhar de Jungkookie sobre mim. Eu estava mentindo e ele sabia…

— Tá bom, então — ele disse. — Certeza que não quer que eu fique aqui? — perguntou para Jungkookie.

— Sim, Jin… eu vou tomar banho e dormir… não tem problema — meu amorzinho disse, coçando sua nuca.

No mesmo segundo, Yoongi saiu do banheiro.

— Então, somos só eu e você, Yoongi — Seokjin disse, colocando as mãos na cintura.


Yoon me fitou, confuso.

— Não vai comer, não? — perguntou-me.

— Não, vou cochilar um pouquinho — eu disse, sentando-me na minha cama. — Depois eu encontro vocês.

— Ah… tá bom — respondeu meu amigo, se aproximando de Seokjin.

— Até depois — Jin sorriu. — Qualquer coisa, me chama, tá? — ele falou para Jungkookie, que assentiu.

— Tá… — ele disse.

Então, eles apenas passaram pela porta, fecharam ela, e deixaram eu e Jeongguk sozinhos.

Assim que isso aconteceu, eu me levantei e fui até sua cama, me sentando do seu lado.

— Como tá a dor agora? — Perguntei, me aproximando o suficiente para nossos joelhos e ombros se tocarem.

— Tá um pouco pior… — disse ele, com a voz se tornando um pouco mais manhosa. — Jiminnie… você não quer
almoçar? Eu posso tentar dormir, não precisa ficar aqui… — murmurou, olhando para mim.

Dei um pequeno sorriso, negando calmamente com a cabeça.

— Estou sem fome, Ggukie — eu disse, o olhando com carinho.

— De verdade? — perguntou, fazendo um biquinho. — Não está dizendo isso só pra ficar aqui comigo, não, né…? —
Olhou fundo nos meus olhos.

— Não, eu não estou. — Sorri, porque eu não estava.

Em certas partes, não.

Afinal… eu não estou com fome. Só estou com vontade de comer e um pouquinho curioso sobre o sabor da comida
daqui, mas não me importo de comer mais tarde, não mesmo.

— Puxa… — ele suspirou, olhando para mim. — Tem certeza?

— Tenho, Kookie… — Me aproximei mais e, querendo passar segurança, abracei seu pescoço, com meus braços
sobre seus ombros e meu peito colado ao seu. Minha bochecha tocava sua orelha. — Eu quero ficar e cuidar de você com
carinho…

Acarinhei sua nuca com a pontinha dos dedos, tentando ser muito suave para não deixá-lo com mais dores ainda.
Demonstrando que eu tinha conseguido, Ggukie me abraçou de volta, enlaçando minha cintura com um dos seus braços.

Senti ele deitar sua cabeça na minha com confiança e manha, murmurando:

— Eu também quero… puxa… — Suspirou baixinho, fazendo minhas bochechas arderem por apenas um motivo:

Ele é muito bebê.

Sorrindo, fiz um pouco mais de carinho nos cabelinhos da sua nuca antes de me afastar cautelosamente, fazendo-o
me olhar.

— Vamos… vou te esperar aqui enquanto você toma um banho quentinho — eu disse, tirando minhas mãos de seus
ombros. — Coloque uma roupa bem confortável também, tá?

Jungkookie, meio lentinho, engoliu em seco e assentiu com a cabeça.

— Eu… molho o cabelo? — perguntou, meio perdido.

Sorri. Que fofinho…

— É melhor não… mas deixa a água bater no seu rosto e na sua nuca por bastante tempo, tá bem?

— Tá bem…

— Você trouxe uma toalha? A Joana disse que tem duas pra cada um nas cômodas.

— Hum, eu… vou pegar uma.

— Tá bem… vai com calma, tá? Eu te espero.

Já se levantando da cama, Jungkookie assentiu com a cabeça. Ele pegou sua mochila e, antes de se dirigir para o
banheiro, se inclinou e deu um beijo curto na minha bochecha.

Senti minha pele formigar, surpreendido, e o fitei enquanto ele dizia:

— Obrigado, Jiminnie… — Seus olhos fitaram o chão e, quando ele se virou, pude ver como a pontinha das suas
orelhas estavam vermelhas.
Jungkookie pegou uma toalha e entrou no banheiro. E eu fiquei com cara de bobo até ouvir o barulho do chuveiro ser
ligado, me desmanchando em um sorriso grande logo depois.

— Wow… — Suspirei, tocando minha própria bochecha. Eu nunca vou me acostumar com a sensação de Jungkookie
me beijando… mesmo que já tenha acontecido algumas vezes.

Sorrindo abobalhado, me levantei da cama e liguei o ventilador de teto do chalé, deixando o quarto mais fresco. Ajeitei
os travesseiros na minha cama e também tirei meus sapatos, pegando por último o livro que Siwon me deu para ler enquanto
esperava Jungkookie voltar.

O livro era incrível, assim como os adesivos, como eu havia pensado. Além de ser engraçado, legal, e um ótimo
cozinheiro, Siwon ainda me dá presentes! Eu adoro os amigos do trabalho da mamãe...

Me entreti, lendo com euforia por alguns minutos até ouvir o chuveiro sendo desligado dentro do banheiro. Já estava
chegando no capítulo seis quando a porta foi aberta, com o vapor saindo por ela e o cheiro doce do shampoo de Jeonggukie
também.

Parecia as portas do paraíso.

— E aí? — perguntei, deixando o livro de lado para me levantar.

Jungkook estava rubro e com os cabelos molhados, além de estar com uma calça xadrez folgada e uma blusa cinza
de mangas curtas mais folgada ainda.

Ele deu um longo suspiro.

— Foi o melhor banho quente do mundo…

Sorri, vendo-o se aproximar com lentidão de mim. Peguei sua mochila em sua mão, colocando-a sobre a sua cama e
ia rapidamente até a cômoda do chalé, pegando outra toalha branca.

— Lavou o cabelo, é? — Perguntei, rindo baixinho enquanto ele olhava para mim.

Como ele fica lindo vermelho.

— É… eu esqueci e quando vi já estava todo molhado… aí lavei… de novo… puxa...— ele disse, me fazendo rir
baixinho.

— Não tem problema. Você deita na toalha seca.

Jungkookie assentiu com a cabeça, parecendo mais lento do que o usual, apenas esperando eu dar algum comando.

Aw. Estou realmente cuidando do meu amorzinho…

— Vem cá, Kookie — eu disse, indo até ele e pegando na sua mão. — Deixa eu ver a umidade do seu cabelo…

Antes que ele respondesse, infiltrei meus dedinhos no seu couro cabeludo. Os ombros dele tremelicaram.

— Hmm... — ele deu um suspiro, fechando seus olhinhos. Foi quando percebi que ele estava sonolento.

— O banho quente te deixou melhor? — perguntei, percebendo que Jungkook secou muito bem seu cabelo, mesmo
que ele ainda esteja úmido.

— Sim… fiquei com muito sono e aliviou a dor — ele disse, suspirando de novo quando soltei seu cabelo. Que cheiro
bom. Será que ele trouxe o shampoo da sua casa? — Obrigado mesmo, Jiminnie…

— Não tem por que agradecer… — Sorri, voltando a segurar sua mão. — Vem. Vamos tentar fazer você apagar por
umas horas.

Puxei Jeonggukie para perto da minha cama e me sentei primeiro. Coloquei o travesseiro no meu colo, a toalha seca
por cima dele, e dei umas batidinhas na cama.

Mesmo que confuso inicialmente, Jeongguk se sentou no colchão e deitou, bem aos pouquinhos, na minha frente. Só
foi engraçadinho porque ele deitou de lado e não é assim que se deita pra fazer doin (pelo menos, não é assim com a minha
vó).

— Assim, Ggukie — eu disse, sorrindo enquanto segurava seus ombros para puxá-lo e fazê-lo deitar de barriga pra
cima.

Então, ele estava deitado. Jungkook suspirou um pouquinho enquanto eu puxava levemente seu cabelo, deixando
com que a pele da sua nuca tocasse diretamente a toalha branca. Depois de se mexer um pouco, ele sossegou, por fim,
aconchegado, com a cabeça sobre o travesseiro.

Seus olhos fechados e sua boca delicada entreaberta, acompanhada da sua derme vermelhinha no meu colo é,
definitivamente, a coisa mais esplêndida que eu já tive o prazer de ver em toda a minha vida.

— Você tá confortável? — perguntei, falando mais baixinho agora.


Jungkook pressionou os lábios.

— Só estou com vergonha de você estar me vendo assim… puxa… — ele disse, me fazendo sorrir.

— Não precisa abrir os olhos, então… mas saiba que você tem o rosto mais lindo do país… — eu disse, ainda
baixinho, vendo ele pressionar ainda mais seus lábios. Então, sorri mais. — Do mundo, eu quis dizer. E não precisa
responder. Só relaxa e tenta esvaziar sua mente…

Jungkookie, mesmo que levemente acanhado, engoliu em seco e balançou a cabeça muito discretamente, aceitando.
Logo eu infiltrei meus dedos em seus cabelos de novo e comecei a acariciar em movimentos circulares.

— Sua dor de cabeça está aonde? — sussurrei.

— Na minha testa… vem uma pontada forte nela e aí minha cabeça toda dói — ele disse, baixinho.

— Tá bem… — eu disse, tocando o centro da sua testa com meu dedo indicador e médio. — Se eu pressionar muito
forte, ou apertar muito forte, me diz…

— Tá…

Com carinho, fiz movimentos firmes e circulares no vão entre suas sobrancelhas. Só com a pontinha dos dedos,
testando sua reação, que não foi nenhuma além de um suspiro baixo e macio.

Fiquei um tempo ali antes de desviar ambas as minhas mãos para a lateral da sua testa, sobre o finalzinho de suas
sobrancelhas, pressionando os mesmos dedos ali. Massageei e ele deu mais um suspiro.

— Bom ou ruim? — Perguntei.

— Bom… — ele respondeu com um fiozinho de voz.

Sorri. Continuei ali por um bom tempo antes de correr meus dedos para seu couro cabeludo, agarrando um tanto dos
seus fios e puxando devagar.

— Minha avó fazia assim… — eu disse, puxando levemente seu cabelo. — O que fazia passar, em mim, eram esses
puxões de cabelo. Não sei se sou tão bom quanto ela, mas espero que você esteja melhorando… — eu disse, baixinho, me
dando conta de que estou falando demais. — Ah. Me desculpa, Kookie, o intuito é você dormir então vou ficar quietinho…

Jungkookie negou com a cabeça.

— Eu… g-gosto de ouvir você falando — ele disse, rouquinho.

Senti meu estômago gelar.

— Mas é pra você dormir… — falei, desviando uma das minhas mãos para sua bochecha, apertando levemente.

Jungkook sorriu.

— A sua voz me deixa mais calmo… — ele disse, e sua voz saiu tão, tão suave, que eu tive certeza de que ele já
estava bem sonolento.

Já eu, estava com o coração acelerado. Eu amo tanto ele…

— Então… eu vou ler uma coisa pra você — eu falei, tirando minhas mãos dele para me inclinar levemente e pegar,
na lateral da cama, minha mochila. — É um texto que eu fiz para a aula de leitura que se chama “É Tudo Sobre Amor”. —
Tirei o papel do meio das minhas coisas. — Quando estava no ônibus, percebi que tinha esquecido ele aqui. Gosto muito
dele. Você quer ouvir?

— Quero… — ele disse sem hesitar.

— Então… tudo bem. — Posicionei o papel ao lado da do seu rosto, voltando a tocar sua testa quando comecei a ler.

Aquele texto era longo e repetia muito a palavra “Amor”, mas Jungkook não parecia se importar enquanto me ouvia lê-
lo. Eu falava cada palavra lentamente e o tocava com mais carinho, atento ao momento em que sua mão relaxou no colchão
e sua respiração ficou cada vez mais suave e longa. Quando terminei o texto, esperei por alguma reação, mas Jungkookie
apenas continuou suspirando com os olhos bem fechados.

Ele cochilou.

E eu me senti incrível por conseguir ajudá-lo.

Continuei ali, o acariciando por alguns minutos por saber que seu sono estava levinho e só comecei a me mover para
sair do quarto quando ele abriu sua boca — sei que é meio doidinho, mas eu acho lindo quando Jungkookie dorme de boca
aberta. No nosso lugar ele dormiu assim também...

De fininho, fechei as cortinas do chalé e peguei meu chinelo na mochila. Calcei-o em meus pés e, antes de sair, olhei
para Jungkook uma última vez.

Movi meus lábios, sem fazer nenhum som ao sibilar:


— Eu amo você.

Toquei meus lábios com meus dedos e o enviei um beijo no ar lento e sincero. Saí e o deixei dormir.

JUNGKOOK

Quando abri meus olhos, tomei um susto ao perceber que não estava em meu quarto.

Não sei se foi porque eu dormi a tarde, ou porque cheguei de viagem e logo apaguei, mas eu estava meio confuso.
Por isso fiquei um tempo fitando a madeira da beliche de cima, recapitulando os acontecimentos, sentindo algo bom quando,
testando, eu mexi minha cabeça.

Não tinha mais dor. E apesar do sono leve, não acordei nenhuma vez, dormi bem, e dormi direito.

Puxa. É tudo graças ao Jimin…

Com vontade de encontrá-lo, me levantei apressadamente da cama, sorrindo aliviado por não estar mesmo com
nenhuma dor. Peguei minha mochila, corri para o banheiro, e me troquei. Coloquei minha blusa amarela larga de sempre e a
calça jeans que usei vindo para cá. Dobrei o tecido até o meio da minha canela, calcei os chinelos, e estava pronto. Escovei
os dentes, lavei o rosto e me olhei no espelho por alguns segundos.

Meu cabelo estava uma bagunça. Completamente bagunçado e amassado! Peguei uma escova e penteei ele (doeu
um pouco porque estava tudo embaraçado) e então meu cabelo estava muito liso, o que me deixou um pouco incomodado,
mas estava melhor do que antes e é isso que importa.

Sem tempo pra pensar no meu cabelo, saí do banheiro e em seguida do chalé — desligando o ventilador antes.

Já estava de noite. Tinha algumas pessoas nas varandas dos chalés, mas, em geral, estava bem vazio… isso me
deixou com um pouco de medo de, de repente, não conseguir encontrar meus amigos…

Mas… eu vi o Yoongi.

Eu só não sei dizer se isso é sinônimo de sorte ou não.

Ele estava sozinho e de costas para mim. Tentei ser discreto ao parar também e esperar, por alguns segundos, ele
começar a se mover — para que eu possa segui-lo. Ele demorou um pouco para fazer isso, então fiquei parado, o
observando. Quando Yoongi, repentinamente, saiu do lugar, eu apressei meus passos para segui-lo sem perdê-lo no meio
dos outros alunos que, aos poucos, surgiam na área em que estávamos. Yoongi estava caminhando normalmente a maior
parte do tempo, logo, eu não pensei que teria perigo de perdê-lo de vista.

Só que ele apressou sua caminhada. E foi tão do nada que eu me perdi dele, vendo por último, Yoongi virando a
direita, perto de alguns outros chalés.

Eu respirei fundo e andei apressadamente até o lugar o qual ele virou, mas não tinha nenhum sinal dele e nem de
ninguém. Fiquei olhando em volta, andando em círculos, até que…

— Por que você tá me seguindo?

Até que eu quase tive um ataque do coração.

Yoongi surgiu de repente, logo atrás de mim — parecia uma assombração, puxa! —, me fazendo tremer um pouco e,
por reflexo, me afastar totalmente dele, dando alguns pulos para o lado.

— Que susto, puxa! — Eu reclamei, colocando a mão sobre meu coração.

Yoongi estava de braços cruzados, me olhando com uma expressão desagradada que eu conhecia desde o dia que
discutimos sobre rock.

Ai meu Deus. Falar com ele sem Seokjin e Jimin por perto é uma coisa que eu não queria que acontecesse de forma
alguma.

— Eu perguntei por que você estava me seguindo — ele repetiu, me deixando encabulado. Como ele percebeu? —
Isso foi assustador pra caramba!

— Assustador pra caramba foi você aparecendo do nada! — eu devolvi, nem sei por quê. — Eu só queria saber onde
Jiminnie e Seokjin estavam e sabia que você ia encontrar eles!

— Eu poderia estar indo encontrar outra pessoa!

— Não podia, não!

— Por quê?! — Franziu o cenho.

— Porque você não tem nenhum outro amigo!

Yoongi ficou sem palavras por, pelo menos, três segundos.


Então, voltou a franzir o cenho e devolveu:

— Você também não tem!

Quem ficou sem palavras fora eu.

— É… É!

Puxa, o que é que eu estou dizendo?

— É! — E ele exclamou.

Depois, ficamos em silêncio. Ele apenas bufou e se virou, começando a caminhar para longe. Eu demorei alguns
segundos para me recuperar dessa discussão sem sentido, mas, quando vi que ele estava quase sumindo, apertei o passo e
voltei a segui-lo.

Yoongi olhou para trás algumas vezes, mas não fez nada além de me olhar de cara feia e continuar andando. Sério,
não tem o que deixe minha relação com ele mais constrangedora e esquisita do que já é…

Felizmente, não demorei muito para avistar Seokjin ao entrarmos em uma área diferente. Era o local que Joana nos
mostrou antes… onde haveria a fogueira.

Eu me esqueci, por um segundo, que teria uma essa noite. Puxa, se eu tivesse pensado melhor, não teria que fazer
essa cena com Yoongi.

— Jungkook! — Ouvi Seokjin e, o procurando com os olhos, o achei levantando o braço e acenando continuamente
para mim.

Ele estava sentado em um dos banquinhos em torno da fogueira, que ainda não estava acesa. Dei um sorriso e me
apressei para encontrá-lo. Quando estava próximo o suficiente, Jin deu espaço para eu me sentar do seu lado.

Olhando em volta, percebi que Jimin não estava em lugar algum.

Puxa...

— Você melhorou? — Ele perguntou, dando alguns tapinhas nas minhas costas.

— Sim… estou perfeitamente bem agora — respondi, sorrindo para ele.

— Ainda bem! Fiquei o dia todo pensando nisso… só fiquei mais aliviado quando Jimin disse que você estava
dormindo mesmo — ele disse.

Confirmei com a cabeça, ainda com Jimin e sua ausência em mente. Yoongi tinha sumido também — não que eu me
importe, mas é diferente.

Seokjin logo tratou de me distrair. Ele começou a falar da comida deliciosa da cantina e sobre o quão incrível era
poder comer o quanto quiser. Fiquei distraído com isso, e também com muita fome, já que não comi nada desde hoje de
manhã. Felizmente, de acordo com Seokjin, o jantar seria servido em breve. Vou comer um monte…

Depois de um tempo conversando sobre o cardápio, assisti, com Jin, as pessoas começando a se reunir nos
banquinhos de madeira em volta da fogueira. Mas antes que eu pensasse em guardar um lugar para o Jimin, um grupo de
meninos se sentou do meu lado, e é claro que fiquei com vergonha demais para pedir para eles saírem. Puxa…

Logo Joana chegou. A fogueira não demorou muito para ser acesa e todos ganhamos um espetinho com
marshmallows. Me distraí um pouco quando ela começou a contar uma história de terror e me inclinei com Seokjin para
assar meus marshmallows no fogo…

Foi quando voltei a me sentar que, repentinamente, vi Jimin.

Ele estava sentado do outro lado da fogueira, junto com Yoongi. Os dois pareciam ter acabado de chegar, já que
estavam sem seus espetinhos de marshmallow — que Jenny os entregou assim que percebeu-os.

E Jiminnie me viu logo depois. Eu senti uma sensação tão boa quando ele olhou para mim naquele momento… que
frio gostoso que esse me olhar me dá. Foi inevitável sorrir, quente por dentro assim que Jiminnie sorriu pra mim também. Foi
tão fofo quando ele apontou para sua própria cabeça, levantando o polegar logo depois, como se perguntasse se a minha dor
havia passado.

E eu não hesitei em balançar a cabeça, afirmando com bastante contentamento. E Jiminnie sorriu tão lindamente...
puxa, como um único sorriso pode me fazer sentir tão amado?

Amado. Jiminnie falou sobre as consequências de gostar de alguém…

Eu me sinto abençoado por poder ser uma das pessoas de quem ele gosta.

Passando os minutos, me vi entretido com as histórias de terror que Joana e os alunos contavam em torno da
fogueira. Seokjin queimou metade dos seus marshmallows, então dei alguns para ele e me deliciei com os que comi… ficava
uma delícia derretido, isso era certo.
Quando o sino tocou, Joana e Jenny agradeceram mais uma vez pela nossa presença e, alegres, nos desejaram um
delicioso jantar! Logo Seokjin e eu nos aproximamos de Jimin e Yoongi. Conversando sobre marshmallows e histórias de
terror, fomos direto para o refeitório.

Na fila, Jimin chegou pertinho de mim e tocou meu ombro sutilmente, sussurrando:

— Meu coração se enche de amor por você estar melhor agora, Ggukie…

Olhei para ele. Seu sorriso me fez sorrir também e suas palavras fizeram minhas bochechas queimarem. Puxa…

Sua existência enche meu coração de amor da mesma forma, Jiminnie...

Eu não disse isso em voz alta. Mas, de alguma forma, senti que Jimin podia saber que me sinto assim...

A noite fora completa com um jantar delicioso. Eu enchi minha bandeja de praticamente toda as opções de comida
que eles estavam servindo! Peguei uma fatia de pizza, macarrão de feijão, yakisoba, bolinho de arroz, kimchi, tempurá e
frango. Jiminnie ficou rindo da variedade de comidas no meu prato, e Seokjin disse que eu iria explodir, o que com certeza
pode acontecer. Mas eu realmente me encho de comida quando fico muito tempo sem comer… quando pulo uma refeição,
como o dobro na outra! É como eu funciono, puxa...

As cozinheiras passaram nos oferecendo suco e eu peguei um copo cheio do de uva. Comemos no meio do falatório,
e quase não conseguíamos nos ouvir, mas o ambiente era muito confortável e divertido! E a comida era deliciosa mesmo,
mesmo… eu comi tudo no meu prato e ainda fui buscar a sobremesa — que era pudim de chocolate.

Pelo resto da noite, até dar o horário de recolher, ficamos sentados perto da piscina atualmente fechada, comendo
pudim. Seokjin estava contando um monte de histórias idiotas para a gente — a fogueira definitivamente o inspirou —, nos
fazendo rir um monte. De certa forma, estar ali fez com que eu me sentisse incluído no mundo…

Era a melhor sensação existente.

Perto do horário de recolher, fomos para o chalé. Eu fiquei um pouco distante ao ver Jimin ser o último a entrar e,
consequentemente, fechar a porta. Puxa... a ficha de que eu vou dormir no mesmo quarto que ele finalmente caiu.

E isso é tão louco. Porque ele vai estar logo do outro lado do quarto. Por uma noite inteira. Puxa. Para mim, que às
vezes sente falta dele no meio da noite, esse é um acontecimento e tanto...

Afinal, Jiminnie estaria logo ali. A noite inteira…

Balancei a cabeça. Puxa, não posso fazer grande caso disso! Eu vou começar a pensar em um monte de motivos para
ficar ansioso e nervoso e isso não é legal... logo, tentei pôr em minha cabeça que ele iria se deitar e dormir, e eu também,
então seria comum — mesmo não sendo porque ele ainda estaria logo ali, do outro lado do quarto.

Decidindo a ordem das coisas, Yoongi foi o primeiro a tomar banho e o resto de nós se empenhou em arrumar as
camas e esvaziar nossas mochilas, colocando nossas coisas e roupas nas gavetas vazias da cômoda — cada um ficou com
uma gaveta. Jiminnie foi se banhar, e em seguida, foi a vez de Seokjin. Eu já tinha tomado banho mais cedo, então só
escovei meus dentes e coloquei meu pijama.

Todos nós nos deitamos e, então, percebemos que a luz ainda estava acesa. Ninguém queria se levantar, então nos
debruçamos nas camas e tiramos no zerinho ou um. Passou-se um tempo e o azarado fora Yoongi, que desceu da cama
resmungando, e voltou resmungando mais ainda.

— Boa noite, pessoal — Jiminnie disse, com a voz macia.

— Boa noite — eu respondi, sorrindo por ele estar tão pertinho de mim.

— Boa noite, caras! — Seokjin disse, feliz como sempre.

— Noite. — E Yoongi desejou, calmo e desanimado como sempre (também).

E assim, a noite começou a ter seu fim.

Ficamos em silêncio. Seokjin fez alguns barulhos para tentar nos assustar e causou boas risadas em Jimin, mas logo
parou e dormiu — pudemos notar quando sua respiração ficou mais alta. Já eu, comecei a lidar com um problema…

Eu estava sem sono.

Apesar de estar escuro, fresco e silencioso, eu não conseguia dormir. A fogueira e as risadas me fizeram gastar
bastante energia, mas eu não estava com um pingo de sono. Muito pelo contrário, puxa… me sinto agitado, com meus olhos
bem abertos e o coração acelerado. E o pior de tudo: aquela sensação de querer que amanheça logo não saía do meu peito.
Seria uma noite longa e entediante, pelo jeito...

De cabeça vazia, me virei para a parede e comecei a me lembrar de E.T.: O Extraterrestre, o filme. Logo pensei em
uma possível continuação para ele. De olhos fechados — para tentar ficar com sono mais rápido — inventei E.T.: O
Extraterrestre 2, onde o menino encontra outro E.T, igual ao seu amigo E.T, e então, descobre que esse E.T. é filho do seu
outro amigo E.T.

Minutos depois de imaginar todas as cenas desse possível filme, eu me dei conta de que a ideia era ridícula e muito
confusa, que só agradaria pessoas que são apegadas demais ao filme (como eu), e não aos críticos, o que levaria o diretor a
falência.

Abri um dos meus olhos e espiei o relógio.

Dez e trinta e cinco da noite.

Ótimo. Foram trinta e cinco minutos levando o diretor do meu filme favorito à falência dentro da minha cabeça… eu
realmente não sei lidar com a falta de sono.

Depois de mais alguns longos minutos torturantes, algo capturou a minha atenção. Um barulho repentino no quarto.

Para ser mais específico, foi um som baixinho que mais se parecia com um “Click”, do outro lado da minha cama…
me virei para espiar de imediato, abrindo meus olhos e erguendo as sobrancelhas, surpreso e curioso ao perceber que o
“Click” era de uma lanterna.

A lanterna do Jiminnie. Ele está embaixo do cobertor agora, e apesar do tecido ser escuro, dá pra ver que ali embaixo
está iluminado. Ele iluminou algo...

Suspiro baixinho. Então, Jimin também está sem sono? Puxa, que má sorte a nossa…

Decidido a não incomodar, eu apenas o observei. A lanterna se movia para a esquerda e a direita, pausadamente, e
eu podia ouvir o barulho das páginas sendo seguradas, uma por uma, Jiminnie estava lendo um livro. E por algum motivo,
isso me fez sorrir… Jimin quer ser um escritor e ele lê tanto, isso me dá uma sensação boa. Acho que sinto amor por quem
Jimin é e quem ele quer ser…

Amor…

Suspiro, me surpreendendo quando ele subitamente sai de baixo da coberta, me fazendo fechar os olhos com força.
Posso ouvir o barulho dos seus passos e da porta do banheiro se abrindo, e fechando. Quando Jimin volta, depois de um
tempo, eu espero pelo momento em que a cama dele vai fazer barulho… assim, posso voltar a abrir meus olhos. Mas esse
momento demora para chegar… e não chega.

O que chega são suas mãos em meu cobertor. Sinto minhas pálpebras tremerem pela surpresa porque eu
definitivamente não estava esperando por isso, puxa… meu coração até ficou acelerado. Ainda mais quando senti o cobertor
subir suavemente até meus ombros e o travesseiro receber batidinhas de suas mãos macias. Depois de alisar o edredom
uma última vez, espero pelo momento em que Jimin vai me fazer um carinho ou me dar um beijinho, mas isso não acontece.
Jimin não me toca. Ele só me deixa mais confortável e se afasta, voltando para a sua cama e me deixando na minha, com as
bochechas vermelhas e o coração derretendo no peito.

Assim que escuto o “Click”, volto a abrir os olhos. Ele está lendo de novo. E eu sinto ainda mais daquele amor no meu
peito…

Ele me cobriu, puxa. Não tinha ninguém para ver. Jiminnie apenas cuidou de mim…

Suspiro mais uma vez e volto a fechar meus olhos, completamente quente por dentro. Tenho certeza de que estava
sorrindo quando peguei no sono porque, naquela noite, senti que nunca ficaria sozinho no mundo.

JIMIN

Pela manhã, o barulho do sino assustou a todos nós.

Joana e Jenny não estavam brincando quando disseram que temos que acordar na hora certa. O som alto daquele
sino era a prova viva e certa disso, já que logo no primeiro soar, todos nós despertamos.

Apesar de ter ido dormir de bom humor, meu rosto inteiro franziu de descontentamento com o barulho daquele sino.
Além da claridade forte, tive que lidar também com o barulho de algo batendo fortemente e em seguida o som do muxoxo de
Jungkook do outro lado do quarto.

Jungkook…

Me sentei na cama. Cocei meus olhos, tentando enxergar a de Jungkook, mas estava ceguinho da vida. Quando
coloquei meu óculos, percebi Seokjin descendo de sua beliche, descabelado, perguntando com a voz rouca:

— Jungkook? Tudo bem?

— Ai… — Jungkook resmungou. — Levantei muito rápido e bati com a cabeça.

— Ya, você precisa ter mais cuidado! — Jin exclamou, se sentando do lado dele, alisando seus cabelos.

Espera. Aquele barulho alto era da cabeça do Jungkook batendo?

— Meu Deus... — murmurei, descobrindo meu corpo. — Tudo bem, Jeongguk?

Me aproximei da cama dele, tonto de sono, mas preocupado com meu amorzinho e seu jeitinho de bater a cabeça o
tempo todo também.
— Sim… — ele sussurrou, abaixando a cabeça.

De repente, Yoongi estalou seus ossos — vários, em seguida — em sua cama, e o barulho nos fez olhá-lo.

— Vou ir no banheiro primeiro — ele disse, com sua voz matinal super máscula.

— Tá bem... — eu disse, o observando atentamente.

Sem demora, ele desceu da cama, me deixando com dúvidas sobre seu possível humor.

Afinal, ontem de noite, Yoongi ficou mal humorado muito de repente. Foi logo depois que eu saí para ver se
Jeonggukie havia acordado. Estávamos reunidos em volta da fogueira, que ainda não havia sido acesa, e eu saí para vê-lo.
Só que, no caminho, acabei parando para falar com meus amigos da aula de leitura… e me atrasei um bocado! E quando
retomei meu caminho, não encontrei meu amorzinho no chalé. Por isso voltei para a fogueira.

No meio do caminho, me encontrei com Yoongi, que estava irritado. Ele não estava irritado antes, então fiquei
encucado...

No jantar, ele ficou meio distante. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa várias vezes e ele negou todas elas...
então não insisti. Eu ficaria feliz de ajudar meu melhor amigo com seus problemas, seja lá qual eles forem…

De qualquer forma, espero que ele esteja melhor hoje...

Depois que Yoon finalmente entrou no banheiro, olhei para Jeonggukie e Jin.

Dei um suspiro e sorri.

— Bom dia — eu disse.

— Bom dia — Jin respondeu, dando um sorriso fraco.

— Bom dia… — Jungkook respondeu, bem baixinho.

Depois disso, ficamos em silêncio. Me virei para minha beliche e comecei a arrumar minha cama. Quando terminei,
Yoongi saiu do banheiro e começou a arrumar a sua também. Falei brevemente com ele sobre a programação de hoje, que
era a mais recheada de todos os dias. Eu não poderia estar mais animado para fazer tudo!

Depois do café, vamos fazer uma trilha até o lago e a tirolesa. Lá, vamos descansar, entrar no lago e descer a tirolesa
— isso se quisermos, e é claro que eu quero!

Decidi colocar minha roupa de banho por baixo da minha roupa normal. A escola não permitiu que os meninos
ficassem sem camisa, então trouxemos blusas térmicas e bermudas — basicamente, vamos entrar de roupa. Yoongi parecia
mais animado depois de lavar o rosto e fazer suas necessidades, então, fiquei feliz, conversando com ele sobre a tirolesa
que ele também queria aproveitar.

Depois de todos os meninos irem no banheiro, eu fui me aprontar. Penteei o cabelo, lavei o rosto e escovei bem meus
dentes. Quando troquei de roupa, passei hidratante e perfume. Afinal, eu sou um garoto cheiroso!

Quando saí do banheiro, todos pareciam mais falantes e animados. Dessa forma, fomos tomar café da manhã,
falando da tirolesa e carregando nossas toalhas dentro da mochila, pendurada nas costas. Perguntei se Jungkookie planejava
entrar na água e ele disse que sim, então fiquei feliz com a ideia de nadar com ele.

Ai. De repente, pensei em Jungkook nadando. Ele fica tão lindinho de cabelo molhado… meu coração palpita só de
imaginar ele com o cabelinho molhado a tarde inteira…

Sorri. Chegamos no refeitório e, enquanto pegávamos nosso café da manhã, pensei em como o cabelo de Jungkook
ficou diferente hoje e ontem. Ficou… arrumado. Mais liso do que o normal e, apesar de amar seu cabelo bagunçado e cheio
de curvinhas, Jeonggukie fica um fofo desse jeito...

Acabo de lembrar que não falei isso pra ele. Por isso, antes de chegarmos a mesa, aproveitei que Yoongi e Jin
estavam conversando para me aproximar de Jungkookie, dizendo:

— Seu cabelo fica uma gracinha assim — sussurrei, só para ele ouvir, bem pertinho do seu ouvido.

Jeongguk se virou para mim, entreabrindo os lábios. Acho que ele foi pego desprevenido, já que suas bochechas
coraram assim que ele ouviu minhas palavras.

Fofinho…

— S-sério…? Eu acho esquisito quando ele fica muito arrumado — ele respondeu, desacelerando o passo para ficar
do meu lado.

— É sério! Eu acho lindo… — respondi, sorrindo mais porque Jeongguk é fofo e tão lindo. Eu amo tanto o jeitinho que
ele reage aos meus elogios...

Ggukie sorriu, balançando sua cabeça, como se agradecesse atrapalhadamente. Já eu, sorri mais, indo para a mesa
consigo em silêncio.
Nós nos sentamos juntos e comemos mantendo o mesmo assunto: a tirolesa e o resto do dia.

Ah, é. Eu nem acabei de contar sobre as coisas que vão acontecer hoje! Depois do almoço, Joana vai nos ensinar
sobre o pomar, a horta, o jardim, e os passos principais para eles serem saudáveis. Nenhum dos meninos estava interessado
nisso, mas eu estava, e muito! Meu sonho é ter todos um dia...

Depois, vai ter uma festa com lanches, música e piscina liberada e aquecida para todos os alunos. E vai ser de noite!
Tudo era muito divertido, mas eu estava mais interessado nos ensinamentos de Joana...

Assim que acabamos de comer, ficamos no refeitório de bobeira, ainda conversando. Eu estava distraído com o papo
bobo de Seokjin, mas, só até ver Jieun do outro lado do refeitório, acenando para mim.

Jieun.

Algo se acendeu na minha mente e, por isso, fiquei completamente envergonhado comigo mesmo.

O porquê?

Bem, eu me esqueci completamente de comer o doce que ela fez para mim! E esse foi um ato muito idiota da minha
parte...

Quando me dei conta, me senti muito mal.

Poxa… eu me sinto um péssimo amigo. Como eu pude esquecer? Eu disse que comeria ontem mesmo, disse que
entregaria o potinho na parada, e me esqueci… espero que ela não esteja chateada por eu não ter cumprido o que falei.

De qualquer forma, eu tentei não demonstrar isso e apenas sorri e acenei para ela. Jieun é muito legal, e eu odiaria
chateá-la por um motivo tão bobo quanto esse. Por isso, decidi deixar a sobremesa do refeitório de lado para voltar no quarto
e comer bem rapidinho o que Jieun preparou para, então, entregar o potinho pra ela.

Como a caminhada começaria em meia hora, me levantei com pressa e disse:

— Vou no chalé fazer uma coisa e já volto — anunciei, sorrindo.

— Ok — Jin disse, voltando a falar com Yoongi sobre um assunto que eu não sei mais qual é.

Yoon, inclusive, só balançou a cabeça para mim. Quando olhei para Jeongguk, percebi que ele estava com os olhos
distantes, mas incrivelmente amorosos. E suas bochechas ainda estavam cor de rosa…

Ai. Que injustiça… do nada a beleza dele triplica! Eu fico até tonto...

Esperei ele dizer alguma coisa, mas, Kookie apenas sorriu pequenininho e balançou sua cabeça.

— Tá bem — disse, fofo demais para o meu coração.

Suspirei. Sorri para ele e, mesmo balançado, peguei minha bandeja, deixando-a no lugar certo antes de sair do
refeitório.

Fui andando calmamente até o chalé, sentindo o sol na minha pele. Antes ele estava escondidinho, mas agora está
cada vez mais quente… é melhor eu passar o protetor e lembrar os meninos de passar também. Ainda mais o Jeonggukie.
Me lembro de quando fomos ao nosso lugar… ele esqueceu de passar protetor e o sol estava forte e quente. Por pouco ele
fica todo torradinho…

Dei um sorriso, pensando nele inevitavelmente. Dormir no mesmo quarto que Jeongguk fez meu coração palpitar
várias vezes ontem à noite, não posso negar. Não consegui me segurar e fiz grande caso desse acontecimento. Passei o
começo da noite inteira pensando nele, mas não podia me levantar e ir até sua cama para lhe encher de abraços e beijos —
até porque nossos amigos estavam lá e eu não queria incomodá-lo —, então me distraí com meu livro. Mas era impossível
não pensar nele mesmo assim… o fato de estar no mesmo quarto que Jeonggukie tirou minha mente dos acontecimentos
literários várias vezes. E eu fui bobo o suficiente para espiar Jeonggukie dormindo todas as vezes que levantei meu edredom.
É que ele fica tão bonitinho dormindo…

Além do mais, eu estava sentindo muita falta dele… e mesmo que estejamos juntos agora, eu sinto saudades. É
diferente quando estamos sozinhos… e desde que chegamos, estamos só com nossos amigos. Quando ficamos sozinhos,
ele estava passando mal. E isso não é ruim! Digo, o fato de estarmos sempre com nossos amigos. Só é diferente… e me faz
sentir saudades das palavras que trocamos a sós, dos toques e… de tudo.

Desde aquele dia perfeitamente romântico que tivemos em seu quarto, espero pela chance de poder ter um momento
tão amoroso quanto mais uma vez… um momento como aquele. Com olhares e palavras íntimas… tão íntimas quanto um
segredo. Que era o que o nosso amor era.

Um segredo. Um dos mais lindos e preciosos existentes...

Sempre que me lembro de como Jeongguk me olhou, momentos antes de seu pai entrar no quarto, meu coração
aperta e meu rosto fica vermelho. Foi a primeira vez que Jeonggukie olhou nos meus olhos por tanto tempo e, céus, ele
estava tão lindo… por um momento, eu até esqueci meu nome. Os olhos dele me hipnotizaram… e eu me perdi
completamente neles.
— Ah… — Sorri, bobo, amaciando minhas bochechas vermelhas.

Pois é. Quando cheguei no chalé, já estava todo vermelho por causa dele! Para falar a verdade, faz um tempo que eu
fico infinitamente vermelho por causa daquele momento doce e precioso...

Ai, ai. É tão bom estar apaixonado. E por algum motivo, isso fica cada vez melhor...

Me distraí tanto pensando em Jungkook que, por um momento, me esqueci completamente do que iria fazer no chalé.
Quando me lembrei, tive que parar mais uma vez para tentar me lembrar onde guardei o doce que a Jieun me deu… e eu
não lembrei.

Para ser sincero, pensei que ele estava na minha mochila, mas estava enganado. Esvaziei minha mochila ontem de
noite e deixei apenas o protetor e uma toalha nela. Então…

Espera.

Ai… não…

— Ah, não, não… — Bati na minha própria testa, extremamente triste comigo mesmo quando me lembrei de onde
estava o doce.

No ônibus.

Eu deixei o doce no ônibus.

Eu me esqueci completamente… e a sobremesa era gelada, o que quer dizer que ela não está mais boa. Eu
simplesmente esqueci, caramba, como eu sou péssimo...

— Ela se lembrou especialmente de mim e eu fiz isso… — resmunguei comigo mesmo, chateado.

Como vou me desculpar com ela por isso? É muito indelicado da minha parte… mesmo que tenha sido sem intenção,
eu deveria ser mais atento! Apenas espero que Jieun acredite quando eu disser que não foi proposital e que eu, com certeza,
valorizava muito o fato dela ter pensando em mim na hora de guardar um pouco daquele docinho que, com toda a certeza,
estava muito gostoso...

Mesmo que eu tenha esquecido dele...

Na boa. Eu sou o pior de todos...

Eu… eu realmente admiro esses pequenos atos. Eles demonstram muito carinho e muita amizade. Eu gosto de
receber, gosto de fazer, e fico feliz quando me valorizam. Me sinto o pior de todos por ter deixado, mesmo que sem querer,
isso de lado.

Triste comigo mesmo, acabei saindo do chalé novamente. Desci a varandinha de madeira com um único salto,
pensando em inúmeras maneiras de me desculpar. Acho que vou comprar alguma coisa para Jieun para demonstrar meu
arrependimento…

Jieun…

Levantei minha cabeça, dando início a minha caminhada até o refeitório, mas tendo meus pensamentos interrompidos
(de novo) ao ver ela vir na minha direção.

Jieun. Jieun vinha em minha direção. De novo!

Ai meu Deus...

— Jimin! Bom dia — ela se aproximou, e seu cabelo está preso em um rabo de cavalo bonito. Na verdade, ela está
bonita como sempre. — Eu fui até a sua mesa no refeitório e aí percebi que você não estava mais lá! Aí Micha viu você vindo
pra cá e eu vim atrás. Queria te fazer uma pergunta.

Uma pergunta… é sobre a sobremesa. Com certeza é sobre a sobremesa, céus, meu Deus… eu nem tive tempo de
comprar algo para me desculpar! Como vou demonstrar meu arrependimento desse jeito?

Meleca.

— É… eu… — murmurei, coçando minha nuca, olhando para baixo, extremamente envergonhado com minha atitude.

Eu realmente me sinto muito mal desvalorizando meus amigos.

— Você e seus amigos querem vir ao nosso chalé hoje a noite? — Ela perguntou, de repente.

Arregalei meus olhos. Não foi sobre a sobremesa, mas… o quê?

— Hã? — Franzi o cenho, levantando meus olhos até ela, porque definitivamente não esperava por essa.

Jieun estava um pouco vermelha nas bochechas, e coçou elas com o indicador ao explicar:

— É que… ontem Jeonghan e Mingyu foram para lá jogar cartas, por insistência da Micha, e ninguém viu nada. Pra
falar a verdade, foi muito divertido! Então… hoje ela falou pra eu te chamar… — Ela parou de falar, desviando o olhar. Então,
retomou o fôlego. — Q-quer dizer… eu pensei em chamar você. E seus amigos! É claro…

Senti meu estômago gelar. Porque, ao mesmo tempo que eu queria negar, eu não me sentia no direito de fazer isso. E
isso é estranho demais porque, poxa, é claro que eu estou no direito de negar! Mas… eu também não estou.

Porque não dei a importância necessária para Jieun e sua sobremesa. E isso foi muito rude da minha parte…

— Eu… — Perdido entre o certo e o errado, me rendi ao silêncio, pensativo.

Seria legal aceitar e agradá-la, mas era extremamente errado... porque aquilo era contra as regras do colégio e do
acampamento… e poxa, era Jieun ali. Ela era uma aluna exemplar e Jeonghan era o representante da nossa sala! Os
professores confiavam muito neles dois…

Meus pensamentos ficaram de cabeça para baixo por causa disso. Porque, de repente, eu estava entre magoar Jieun
duas vezes, e magoar meus professores, Joana, e Jenny — que haviam sido incríveis desde o começo! — e as duas coisas
eram ruins demais. Poxa vida, eu não podia fazer isso com os mais velhos… vai contra meus princípios. Além de que não
posso ser desonesto com Jieun. Já fui rude o bastante esquecendo o doce dela… se eu ficar mentindo e a agradando, estarei
tentando me safar e isso é pior do que qualquer coisa!

Não quero ser esse tipo de amigo. Quero ser verdadeiro, e por isso devo negar…

Decidido, retomei meu fôlego. Mas, quando entreabri meus lábios para falar, Micha apareceu praticamente gritando e
acenando pra gente.

Ela se aproximou, feliz da vida, nos interrompendo de imediato:

— Ah! Então, vocês estão aí! — Ela veio correndo, sorridente, fitando Jieun. — Pensei que você não ia achar o Jimin!
Então, falei com o Seokjin e ele concordou em ir! Ele disse que o Jungkook e você — ela apontou para mim, risonha. — iriam
com ele! O Yoongi negou de primeira, mas tudo bem.

Fechei meus lábios, sem palavras.

O quê?!

— Sério? Ah, então tudo bem — Jieun sorriu, e eu me vi sem jeito pela felicidade dela. Céus, e agora?! — Te vejo na
trilha e à noite então, Jimin!

— M-mas eu… — Engoli em seco.

— Até lá! — A voz de Micha sobressaiu a minha e, completamente encabulado com os últimos acontecimentos, não
fui capaz de fazer nada. Ainda mais quando elas deram os braços e passaram por mim, felizes da vida, me deixando ainda
mais sem graça em negar.

Vi elas se afastarem aos poucos e me senti mais encrencado do que nunca. Seokjin… como pôde aceitar infringir as
regras e magoar nossos professores dessa forma? E Jungkook… como assim?

— Nós com certeza não vamos fazer isso — murmurei, sozinho, caminhando de volta para o refeitório.

***

— Nós com certeza vamos fazer isso!

Seokjin havia dito aquilo enquanto passava protetor solar na nuca do Jungkookie. Havíamos acabado de fazer a trilha
e estávamos nos preparando para entrar no lago.

Por toda a caminhada, eu falei para ele que não deveríamos ir ao quarto das garotas — e por ela inteira, Seokjin disse
que nós deveríamos ir sim.

— Não, não vamos! É muito antiético depois da Joana e da Jenny nos proporcionarem dias com programações tão
legais — eu disse, me sentando no chão para tirar meus sapatos.

Na verdade, estávamos sobre as pedras perto do lago, que era mais lindo ainda de perto. O lago de água doce corria
muito suavemente e parecia raso o bastante para entrarmos sem nos preocupar. Do lado que estamos, tem algumas pedras
longas e secas, mais para frente a areia, e logo a água. Tinha uma espécie de “ponte” de areia no meio do lago, onde a água
era rasa o suficiente para chegarmos do outro lado sem nos molharmos por completo. Era atravessando essa ponte que se
chegava no local da tirolesa, o outro lado do lago. Lá não tinha pedras, apenas areia e uma escada de madeira larga que
levava os alunos até o ponto de partida da tirolesa. Era tudo bem planejado e, mesmo assim, extremamente natural…

Todo mundo estava se aprontando para ir para nadar e, por causa dessa pauta (chalé das garotas), estamos mais
lentos que o resto do pessoal — que já está até fazendo fila para ir na tirolesa.

— Joana e Jenny estão ganhando dinheiro pra fazer isso, Jimin — Yoongi disse e, céus, era pra ele estar do meu
lado!

— É verdade — Seokjin disse.

Já Jeongguk, parecia estar em outro planeta. Na verdade, ele está distante desde que isso (chalé das garotas)
aconteceu, apenas murmurando “É”, “Uhum”, “Sim”, para mim e para o Jin. Não dá pra saber de que lado ele está, porque ele
concorda tanto comigo quanto com ele.

— Mas… não importa! Eu gosto delas. É divertido estar aqui, não quero estragar tudo— eu resmunguei, tirando
minhas meias.

— Nada vai ser estragado! É extremamente legal fazer isso em acampamentos, é quase uma tradição fugir pra nadar
de madrugada, ou se reunir! É o que deixa tudo divertido — ele disse, parecendo saber muito bem sobre esse assunto. —
Sério, Jimin! Eu não te arrastaria pra isso se fosse dar errado, né? Até porque eu também vou! E o Jungkook também, pô,
ele é meu melhor amigo.

— Não sei, não… — murmurei, em negação.

Seokjin se sentou do meu lado, e eu observei atentamente seus movimentos. Até que ele começou a tirar seus
sapatos também.

— Vamos! Sério, você vai me agradecer depois por ter te convencido a ir! Vai ser bem mais legal do que você pensa
— ele disse, e então, Yoongi se sentou do meu outro lado.

— Eu concordo que você deveria ir — Yoon completou, o que me deixou mais encabulado ainda.

Tipo, sério… o Yoon? Ele nem quer ir!

— Yoon… — Suspirei, fitando-o. — Não sei por que você pensa assim. Não tem sentido nenhum ir em um negócio
desses!

— É claro que tem! — meu melhor amigo disse, tirando seu tênis de qualquer jeito. — Eu só não vou porque nadar me
deixa com muito sono e depois do jantar, eu vou apagar completamente. Mas eu sei que você vai curtir, tipo, muito, por isso
quero que você vá.

Encarei Yoongi, completamente incrédulo com suas palavras porque ele, definitivamente, não é assim. Ele tá
esquisito! E Seokjin parece estranho. Todos parecem estranhos e malucos com essa ideia…

Rendido a apenas uma pessoa, eu me levantei, descalço, me virando para Jeonggukie, que ainda estava de pé,
passando protetor em seu rosto.

— Ggukie, o que você acha? — perguntei.

Jeonggukie foi pego desprevenido. Ele tirou as mãos cheias de protetor solar do próprio rosto e engoliu em seco ao
me olhar, completamente travado e hesitante.

Seu rosto estava todo branco por causa do creme e, lento, ele perguntou:

— Sobre… sobre o quê? — Sua voz estava baixinha.

— Sobre essa maluquice de ir no chalé das garotas de madrugada! Você também vai, né? Mas por quê? Você acha
mesmo que é uma boa ideia? — perguntei tudo de uma vez, porque confio nele, muito, e também não entendo por que ele
topou fazer isso.

É tão, tão confuso, que eu estou considerando a ideia disso ser uma espécie de tabu para mim. Porque todo mundo
está levando isso como uma coisa completamente normal, e eu simplesmente não entendo. De certa forma, eu vejo isso com
muito nervoso e desaprovação, e aparentemente, só eu vejo desse jeito!

Na boa... eu estou enganado?

Olhando nos olhos de Jungkook, esperei encontrar respostas para essa pergunta. Eu estava enganado?

Ele olhou nos meus olhos também, mas não por muito tempo.

— E-eu… — ele suspirou, abaixando o olhar. — Eu… puxa… eu acho legal, quero. Ir. Quero ir.

Abri a boca, chocado.

— Viu?! Até o Jungkook quer ir e ele é o mais certinho de todos nós! — Seokjin disse, atrás de mim.

— Quê? Quer mesmo?! — eu perguntei de novo porque não estava acreditando. Ainda mais pela cara esquisita que
ele está fazendo.

— Quero! — Jungkook repetiu, mais esquisito ainda.

— Por quê?! — eu perguntei, inconformado.

— É tradição de acampamento! — ele passou por mim, sentando perto de Seokjin, desamarrando os cadarços do
sapato com pressa.

— Parem de gritar — Yoongi disse e, de fato, estávamos gritando.

Mas, a culpa não é minha, caramba… eu estou perplexo. Tinha certeza de que Jeonggukie me entenderia, mas ele
parece querer ir… de um jeito bem estranho, mas ainda quer!

Eu realmente me enganei? Esse é um tipo de tabu pra mim?

— Mas… — eu murmurei, balançado, olhando para eles. — É errado. Como pode ser tradição?

— É tradição justamente por ser errado — Yoongi disse, estalando os dedos pra mim.

— Não consigo entender… — murmurei, inconformado.

— Hoje de noite você vai entender, tá? Relaxa — Seokjin se levantou, sorrindo.

Fiz um biquinho, assistindo-o tirar sua camisa comum, ficando apenas com a de mergulho. Yoongi o fez também,
assim como com a bermuda, e eu continuei em silêncio, enquanto tirava, primeiramente, a minha bermuda comum, ficando
apenas com a de tomar banho.

Seokjin foi mergulhar na frente de todos nós. Já eu, fiquei mais quieto ainda. Pensei em todas as coisas erradas que
eu fiz que, na minha cabeça, não eram tão erradas. E a única coisa que consegui pensar fora em matar aula. Sim, é errado
também! Mas, não é como fugir durante à noite para o quarto das garotas!

Fugir… fugir, fugir...

Hum…

— Ah! — eu estalei os dedos no ar quando minha mente, de repente, acendeu. — Espera… então é como naquela vez
que fomos para o centro da cidade escondidos, certo?

Eu disse, assim, sem contexto algum.

Jungkookie e Yoongi, que estavam sentados na minha frente, me olharam ao mesmo tempo.

— O quê? — Yoon indagou.

Ah, é. Ele não sabe disso...

— É que eu estava pensando se já fiz algo de errado que, na minha cabeça, não era tão errado assim. Aí me lembrei
de quando fui escondido pro centro com o Jungkookie — eu disse, apontando para este.

Jungkook, no entanto, apenas se virou para frente de novo, voltando a sua tarefa de passar protetor solar nas canelas
— ele passou protetor antes de caminhar, e está passando de novo agora porque tem muito medo de se queimar…
pobrezinho.

Já Yoongi, não demonstrou reação alguma. Ele só voltou a olhar para frente.

— Ah, tá.

E disse isso também.

Pressionando os lábios, eu me senti aliviado por, enfim, entender aquela tradição. Era diferente, mas nem tanto…
talvez esteja tudo bem em ir, certo?

Olhei para meu amorzinho, pensando no fato dele querer ir. Jungkookie me mostrou as coisas mais legais do
mundo… eu adoro cada um delas. E ele está dizendo que é uma tradição, que quer participar...

Sorri. Certo, acho que agora entendi…

Me aproximei dele, e me agachei. Jungkook estava meio cabisbaixo, mas isso não me impediu de falar o que eu
queria para ele.

— Me desculpa se pareceu que eu duvidei de você — eu disse, olhando para ele com carinho. Jeonggukie me fitou
de volta, seus olhos carregando algo indecifrável por mim. — Eu confio em você e agora entendi… se você vai, com certeza
vai ser legal.

Sorri mais, tocando seu joelho com carinho, espelhando um pouquinho do protetor ali. E não pude ver mais o
semblante dele, já que ele abaixou a cabeça — provavelmente tímido — ao mesmo tempo que Yoongi disse:

— Vamos pra tirolesa. A fila já tá andando.

— Ah, é. Tá bom — eu disse, ficando de pé. — Você vem, Ggukie?

Jungkook balançou a cabeça, negando, voltando a espalhar o protetor em sua pele.

— Vou encontrar o Seokjin no lago depois... — murmurou, cabisbaixo.

Cabisbaixo. Eu não sabia se ele estava assim por, antes, eu não ter confiado nele, ou porque eu o toquei na frente de
Yoongi e ele ficou tímido, mas decidi não tentar forçar nada. Talvez ele queira ficar sozinho, ou só esteja com sono… afinal,
ele está distante desde que começamos a trilha. Pode ser só cansaço...
O dando espaço, eu confirmei com a cabeça. Tirei meu óculos, o deixei na minha mochila e disse:

— Tudo bem. Até depois! — Sorri de novo.

E, dessa forma, eu saí junto com Yoongi.

JUNGKOOK

Eu nunca estive tão perdido em toda a minha vida.

E eu, definitivamente, quero chorar por isso.

— Puxa… — Suspirei, triste e amuado.

Quero chorar de nervoso, tristeza, e não sei mais o quê. Só sei que eu quero muito chorar. Com todo o turbilhão de
sentimentos que surgiram dentro de mim desde hoje de manhã, eu não sei se vou ser capaz de suportar essa pressão por
muito mais tempo sem derramar um monte de lágrimas.

Essa pressão que estou sentindo desde que ela foi até nossa mesa dizer aquelas coisas.

Puxa vida… eu me sinto tão nervoso e incapaz. E o pior de tudo é estar mentindo para uma das pessoas que eu mais
gosto no mundo inteiro.

Jimin.

Eu estou mentindo para Jimin por ter me metido em uma furada. E tudo está acontecendo tão rápido que, puxa, por
pressão do Seokjin e do Yoongi, eu menti! Porque, puxa vida, eles não me deram nenhuma brecha para falar com Jimin a
sós! E puxa vida, tudo virou uma bola de neve gigante, e agora Jiminnie vai ao chalé das garotas e elas vão girar Jieun, e
Jieun vai apontar para Jimin e dizer “Salada Mista” e, puxa, eles vão se beijar na minha frente e eu… puxa, puxa, puxa, puxa!

Eu quero explodir! Eu não sei como isso foi acontecer, mas, quando Jiminnie saiu hoje de manhã para ir ao chalé,
Micha se aproximou da nossa mesa e tudo aconteceu rápido demais para eu conseguir impedir.

Rápido. Demais.

MAIS CEDO NO REFEITÓRIO,


QUANDO MICHA SE APROXIMOU…

— Ei, meninos! Bom dia. Eu quero pedir a ajuda de vocês.

Naquele momento, Yoongi e Seokjin estavam conversando sobre um assunto que eu já não lembro mais qual era,
mas pararam assim que perceberam que Micha estava falando conosco. Eu estava olhando para o nada, um pouco distante,
com a mente no elogio de Jimin… Jimin gostava do meu cabelo daquele jeitinho. E isso me deixou bem bobinho...

Mas... por ser Micha, eu acabei prestando atenção nela ali. Afinal, ela nunca falou com a gente. Era incomum…

— Ajuda? — Jin indagou, confuso.

— Sim! Eu quero unir duas pessoas e creio que vocês podem me ajudar. — Ela deu um sorriso ladino e com a palavra
“Unir”, cativou inteiramente a atenção de Seokjin, que se animou. — Vou contar o plano! O casal em questão é a Jieun e o
Jimin. A Jieun gosta muito do Jimin, e eu tenho certeza de que o Jimin gosta dela também! Mas eles nunca tem uma atitude,
então eu quero dar um empurrãozinho hoje à noite.

Naquele momento, eu já havia entrado em pânico.

— Quêee? Jimin e Jieun?! Eu nunca percebi! — Seokjin exclamou, completamente chocado.

Não percebeu porque não existe!

— Pois é! Eles são muito sutis — Micha disse, sorrindo e, puxa, ela estava completamente enganada. — Então, vocês
topam ajudar?

Não!

— Sim! — Jin concordou, alegre. — Eu amo dar uma de cupido!

Naquele momento, eu odiei o fato dele não saber sobre meus sentimentos.

— Eu também! — Micha ficou mais animada ainda. — Meu plano é completamente seguro! É que, assim, ontem de
noite o Mingyu e o Jeonghan foram pro nosso chalé jogar cartas e eu tive a brilhante ideia de convidar o Jimin e vocês hoje.
Assim, vamos ter pessoas o bastante pra jogar Salada Mista. E aí, na minha vez de balançar a Jieun, eu vou fazer ela parar
no Jimin! Vou avisar a ela assim que ela estiver apontando para ele e então eles se beijam! — Ela saltou de animação. —
Não é incrível?

É estúpido!

— É incrível! — Seokjin concordou. — Ok, conte comigo! Vou ajudar o Jimin a beijar a garota que ele gosta.

Ele nunca disse que gosta dela!

— Eu não quero ir, não — Yoongi disse. Então, olhou pra mim por alguns segundos. — Mas eu vou ajudar.

O quê?!

— Demais! — Micha sorriu, vermelha de empolgação. — E você?

Ela estava perguntou pra mim. Logo pra mim. Eu estava trêmulo e nervoso, e não queria que Jimin beijasse Jieun de
jeito nenhum. Eu queria impedir isso, queria muito, muito, muito impedir…

— Eu vou!

Tanto que eu concordei em ir, tendo certeza de que, até lá, conseguiria contar o plano todo para Jiminnie, fazendo-o
desistir de fazer aquelas coisas.

ATUALMENTE, QUANDO JUNGKOOK QUER CHORAR...

No entanto, eu não consegui ficar sozinho com ele e deu tudo errado.

Puxa… de alguma forma, Jimin resolveu consigo mesmo que ir ao chalé das meninas não era uma má ideia e aceitou.
Foi quando eu me vi sem saída. Me senti a pior pessoa do mundo também, porque, puxa... o Jiminnie se desculpou por não
confiar em mim. E eu estava mentindo. Ele não deveria confiar mesmo! Porque minhas mentiras eram tremendas, todas por
causa de Yoongi e Seokjin, me encarando, naquele momento, esperando-me ajudar eles com esse plano estúpido e bobo...

Eu me senti tão pressionado que não consegui negar nada… eu não queria que aqueles dois desconfiassem de
alguma coisa. Era estranho me sentir assim e fazer essas coisas por medo… mas, eu até que entendo.

Afinal… prometi a mim mesmo que guardaria esse amor só para mim, e compartilharia apenas com Jiminnie, porque
assim, nada e nem ninguém seria capaz de arruiná-lo. E eu sentia tanto medo desse sentimento ser arruinado… porque
gostava tanto dele. Era um dos meus sentimentos favoritos…

Mas… de alguma forma, eu já estava arruinando tudo. E agora eu não sei mais o que fazer…

Soltei um muxoxo, desanimado e magoado. Salada Mista. Eu nunca odiei tanto esse jogo quanto agora…

É estranho o fato d’eu saber exatamente como ele funciona quando não me lembro de, um dia, ter o jogado. Mas eu
sei que na Salada Mista, uma pessoa é escolhida para ficar lá na frente. Ela é vendada, e então, todos os outros participantes
ficam na frente dela, misturados. Também tem a pessoa que balança a pessoa vendada que pede, em certo momento, para
parar. Ela para de frente com um alguém aleatório. É quando ela tem que escolher uma fruta… então, ela faz o que a fruta
impõe com a pessoa que está à sua frente. Mas não vai ser aleatório hoje… porque Micha está armando tudo e vai fazer
Jieun parar na frente do Jimin.

Puxa… eu não me lembro direito quais são as frutas, mas quatro coisas podem acontecer: um aperto de mão, um
abraço, um beijo na bochecha e um beijo na boca. Salada mista é o beijo na boca… e quando Jieun parar com Jimin, vai
escolher salada mista e beijá-lo.

Puxa… isso é tão ruim. Tão ruim e chato! Eu odeio o sentimento que está tomando conta de mim agora, odeio sentir
meu coração pesar desse jeito… é horrível. É horrível ficar extremamente amargo ao pensar em Jimin beijando outra
pessoa… só a ideia dele beijar outra pessoa me deixa azedo. É horrível, principalmente, porque sinto que não devo me sentir
dessa forma. Sinto que é rude da minha parte, porque não sou em quem vai beijar Jieun. É Jimin que vai. Então, por que eu
tenho que me sentir mal por algo que ele vai fazer? Isso não me diz respeito. Eu sou um idiota por me sentir assim, desse
jeito estúpido...

Soltei um suspiro. Beijar. Será que ele realmente vai beijar ela…? Eu estou pensando como se ele fosse, com
certeza, beijar Jieun...

Puxa. Isso faz sentido? Esse beijo… não faz. Um beijo entre Jieun e Jimin não faz sentido para mim. Eu não quero
pensar nisso de jeito nenhum. De jeito nenhum, nenhum, nenhum… mas fico tão nervoso que quase posso ver acontecendo.
Puxa vida... o que é isso?

Que sentimento horrível é esse?

Eu fitei minhas pernas magricelas, amuado. Eu estava tão feliz hoje de manhã, tão animado para nadar. Se a escola
não tivesse feito essa regra para a vestimenta dos meninos, eu com certeza não entraria na água. Afinal, eu jamais ficaria
sem camisa na frente de todo mundo, e também não seria o único a entrar vestido no lago caso todos os meninos ficassem
sem camisa. Por isso, eu estava feliz. Porque, por todos estarem cobertos, eu não me sinto esquisito… me sinto apto para
nadar sem me sentir incomodado comigo mesmo. Ou, pelo menos, eu me sentia…

Afinal, agora, eu estou aqui. Sentado na pedra, completamente preso nesses sentimentos ruins e estranhos que eu,
definitivamente, não conheço. Muito menos sei lidar...

É estranho… é muito estranho.

Quanto mais eu penso na possibilidade de Jimin e Jieun se beijando, mais eu sinto que ela não tem sentido. Porque,
uma parte de mim, acredita que Jimin quer e vai beijar Jieun hoje à noite. Essa parte simplesmente ignora tudo que Jiminnie
me diz… tudinho mesmo, puxa… e é horrível. É quase como desconsiderar suas palavras e sua forma de ser sincero comigo.

Mas não é por querer. Eu sei… eu me lembro das coisas que ele me disse. Eu tenho que pensar nelas para afastar
esses pensamentos bobos…

Junto minhas mãos sobre meus joelhos, vendo Seokjin de longe. Ele está no lago, nadando feito um atleta, e deixo
minha mente trazer alguns sentimentos amáveis sobre Jimin lentamente…

Suspiro, me lembrando de quando nos falamos pelo telefone depois de quase nos beijarmos. Jiminnie me disse…
“Tem coisas que eu só sinto por você, e por causa de você”.

Só por mim…

“Eu gosto de você de um jeito que não gosto de mais ninguém, Ggukie.”

Minhas bochechas coraram.

“Eu só fico de chamego com você, só sinto vontade de ficar assim com você, na verdade… você sabe que eu gosto
muito de você…”

Minhas mãos suaram.

Jiminnie me disse essas coisas.

Dei um tapa nas minhas próprias bochechas quando me lembrei de todos os chocolates que ele me deu. De todos os
carinhos que ele me fez. E de como ele me elogia o tempo todo. Puxa… puxa vida, Jiminnie gosta de mim… e eu gosto
dele…

O fato de uma menina bonita querer beijá-lo não muda isso… certo?

Eu… eu tenho certeza de que não. Eu espero que não. Esses sentimentos horríveis estão errados. Eles só servem
para me deixar confuso…

Suspirando, muito mais leve, eu me levantei. Tirei minha camisa normal e minha bermuda, ficando com a minha roupa
de banho. Guardei as peças na mochila e a fechei cuidadosamente. Segurei-a em seguida e deixei-a perto da mochila do
Jimin.

Sorri. Jiminnie. Será que ele também tem que lidar com sentimentos assim...?

Puxa… espero um dia poder descobrir. Mas não agora. Agora, eu quero curtir o lago… depois, eu posso resolver todo
esse turbilhão de sentimentos.

Decidido a isso, me virei e encarei o lago. Procurei Seokjin com o olhar e o encontrei acenando alegremente para mim,
lá no meio da água.

— Jungkook, ya! — Ele gritou, todo molhado, me fazendo sorrir e correr animadamente para perto.

Entrei no lago, trêmulo porque a água estava gelada pra caramba! Jin brigou comigo por demorar tanto e começou a
jogar água no meu rosto. Eu, obviamente, joguei nele também! Isso causou uma guerra de água entre nós dois e logo
estávamos completamente encharcados e tontos, nos perseguindo pela água — e estapeando um ao outro também.

Por um tempo, depois da nossa guerra, eu fiquei boiando na água, paquerando o céu e me sentindo extremamente
sereno. Sabe… eu adoro nadar… faz muito tempo que não nado por vergonha, mas é uma das coisas que eu mais gosto de
fazer. Me dá uma sensação muito boa… fico calmo e feliz. Me esqueço de todas as coisas ruins…

Dei um sorriso, me afundando mais uma vez na água geladinha. Quando voltei a superfície, Seokjin havia sumido.
Procurei ele com o olhar por um tempo, mas só até sentir algo no meu tornozelo — me arrepiando de medo inicialmente,
mas, logo reconhecendo que o besta do Jin estava me segurando.

Pior. Ele não estava apenas me segurando. No segundo seguinte, Jin me puxou com força e me fez cair na água,
todo atrapalhado. Isso resultou em mais uma guerra de tapas e água entre nós.

Quando cansamos de brigar, apostamos corrida de um lado para o outro. Também ficamos apenas nadando. Aí
percebemos que a fila da tirolesa estava esvaziando… logo nos aproximamos para ir pra ela.

No caminho para lá, me deparei com Jiminnie e Yoongi, no raso. Jimin estava sem o óculos de grau e com o cabelo
todo molhado.

Puxa…
— Ei! Eu estava vendo vocês brigando daqui — ele disse, assim que nos aproximamos. — Vocês já foram na tirolesa?

— Estamos indo agora — Seokjin disse, sorridente.

Já eu, não disse nada. Principalmente quando Jimin puxou o cabelo para trás, fazendo meu peito palpitar fortemente e
minhas bochechas arderem.

Ele fica bonito de um jeito tão diferente assim… puxa…

— É incrível e muito engraçado! Teve uma menina que desceu gritando daqui até o final, a gente morreu de rir! —
Jiminnie deu uma risadinha, e até o jeito que ele ri parece diferente quando ele está assim… nossa, nossa, nossa.

Meu coração está acelerando por Jimin agora e ele não está fazendo nada. Estou rubro pelo simples fato dele estar
na minha frente, mostrando a testa, com o cabelo molhado e sem óculos...

Puxa… sua beleza realmente me deixa sem jeito...

— Agora eu tô ficando ansioso! Vamos de uma vez, Jungkook! — Seokjin disse, animado, me puxando pelo braço, e
estou tão derretido por Jimin que apenas me deixei ser arrastado.

— Depois venham pra cá! — Jimin gritou, acenando, sorrindo de lado.

Puxa. Que sorriso…

Seguimos nosso caminho para a fila. Tinha uma escada larga que nos levava para a parte mais alta, onde um moço
prendia os alunos para descer a tirolesa. Fomos para lá...

Chegando na escada, tive que ficar ouvindo Seokjin tagarelar um monte. Também assistimos as pessoas descerem
com bastante curiosidade… apesar de morrer de medo de muitas coisas, eu não senti medo com a altura ou a ideia de descer
a tirolesa. Muito pelo contrário: parecia divertido pra caramba!

Bom, isso para mim. Seokjin não parecia sentir o mesmo porque, apesar da animação inicial, seu medo ficava cada
vez mais visível conforme a fila andava.

— Será que alguém já caiu desse treco e morreu? — Ele perguntou, roendo as unhas. Dei risada.

— Se tivesse acontecido, nós com certeza não estaríamos aqui — falei.

— O que quer dizer com isso? — ele me fitou, arregalando os olhos.

Ok. Ele está mesmo com medo…

— Quero dizer que, se alguém tivesse morrido nisso — apontei para a tirolesa. — Nós não estaríamos aqui, usando.
Não iam deixar.

Ele me encarou. Então, voltou a roer as unhas.

— Faz sentido...

Seokjin se calou depois disso. Quando chegou a vez da pessoa em sua frente, as orelhas de Seokjin ficaram
vermelhas e ele se virou para mim, dando um sorriso torto ao dizer:

— Boa sorte! — ele piscou para mim.

Franzi o cenho, confuso com sua palavras repentinas, mas só até vê-lo sair da fila, afastando-se da tirolesa, descendo
os degraus com uma pressa sem-igual.

— E… ei! — chamei, ofendido porque, puxa, ele pelo menos poderia ficar aqui comigo!

Mas Seokjin, o pior melhor amigo do mundo, não deu bola para o meu chamado e continuou se afastando. Apertei os
punhos e fiz um bico, quase não acreditando na sua falta de sensibilidade comigo.

— Está pronto?

Olhei para frente. O moço que estava controlando a tirolesa estava falando comigo e, apesar de irritado, assenti com a
cabeça e me aproximei, subindo os últimos degraus até ele. E não me assustei, embora me sentisse um pouco
envergonhado porque, nessas situações, sinto que todo mundo está, de certa forma, colocando expectativas nas minhas
reações…

Depois de me arrumar com segurança, ele me explicou como a descida funcionaria e esperou eu assentir para
começar a contagem:

— Você vai descer no três. — Ele deu um sorriso, confiável. — Um...

E ele me soltou antes do três.

— Ah…!
E foi assim que eu desci metade da tirolesa gritando.

Na outra metade, eu abri bem meus olhos e me senti incrível. Porque aquilo era demais! Por eu estar todo molhado, o
vento me arrepiou e fez com que minha barriga ficasse mais fria ainda… e eu adorava esse frio! Era quase como adrenalina,
puxa, era a coisa mais divertida existente!

Diferente do que Seokjin pensava: cheguei no fim da descida em segurança. A moça no final me perguntou se estava
tudo ok e, completamente balançado e alegre, até interagi com ela:

— O moço me enganou lá em cima! — eu disse, mas não estava indignado, apenas sorrindo.

— Acho que ele enganou todos os alunos — a moça disse, sorrindo para mim também e me desprendendo.

Ri baixinho, me curvando em agradecimento para ela antes de correr para o lago, atravessando-o para encontrar
Jimin, Jin e Yoongi. Quando os encontrei, estavam rindo de mim e dos meus gritos (puxa vida!). Eu estava tão animado que
nem fiquei envergonhado, apenas ri junto e disse que foi incrível. Jiminnie disse que o moço enganou ele e Yoongi também,
e logo tratei de contar para eles que Seokjin havia arregado e me abandonado lá em cima.

— Ya, a culpa não foi minha! Eu pensei em algo assustador na hora e não consegui ir — ele retrucou para mim.

À esse ponto, estávamos todos sentados na parte rasa do lago; com nossas pernas embaixo da água e o tronco na
superfície. Eu estava entre Seokjin e Jimin, agarrando a areia ralinha com os dedos e soltando-a nos meus joelhos, sentindo-
a se dissolver enquanto falava com eles.

— No que você pensou? — Yoongi perguntou.

— Pensei na verdade! Quando perguntei se alguém já tinha morrido na tirolesa, Jeongguk disse que não porque “Se
tivesse acontecido, não estaríamos a usando” — disse ele, imitando minha voz. Mostrei a língua para ele, emburrado. — Aí,
meu raciocínio foi longe! Eu comecei a pensar na tirolesa, e depois pensei no lago e, bem… ninguém nunca morreu nesse
lago, né? Mas quem disse que ninguém nunca morreu em um lago? Tipo, podem ter morrido em uma tirolesa, em outro
lugar! Não foi aqui, mas ainda sim morreram em uma tirolesa! — Seus olhos estavam esbugalhados e sua voz cheia de
emoção. — Foi quando eu pulei fora! Sempre tem uma primeira vez. Não quero ser o primeiro a morrer nessa tirolesa!

— Então, você decidiu me abandonar lá mesmo sabendo que eu poderia morrer? — perguntei, arqueando uma das
sobrancelhas.

— Ya! Que coisa horrível de se dizer! Eu só fui embora porque você não dá bola pro meu raciocínio. Mas te desejei
sorte — Jin respondeu, apontando para mim.

Grande coisa.

— O importante é que deu tudo certo — Jiminnie disse, sorridente e pacífico.

— É isso aí — Jin confirmou. — Mas aí, vocês viram que a professora estava brigando com a Minna por estar de
bíquini?

— Mandou ela voltar pro chalé! Bem feito! — Yoongi completou, rindo, e Seokjin e ele entraram em uma conversa
sobre isso.

Já eu, fiquei mais relaxado do que nunca. Continuei pegando areia e jogando nos meus joelhos sob a água,
respirando serenamente porque o sol estava quente e a água gelada. É perfeito…

Pisquei meus olhos, surpreso quando senti dedinhos enrugados tocando sutilmente minha testa. Olhei para o lado e
era Jimin, sorrindo pequenininho enquanto tirava alguns fios molhados da frente dos meus olhos, agora, bem abertos por
causa de si…

Ele está tão perto. O bastante para minhas bochechas bobas começarem a arder e meu coração se encher de
sentimentos bons por Jiminnie estar ali, sorrindo, enquanto toca em mim… é um sentimento tão único que meus lábios
tremelicaram e se entreabiram pelo ar que eu puxei, me sentindo vibrante. Quando vi Jiminnie piscar os olhos lentamente e
suas bochechas ficarem mais rubras, eu não consegui me segurar… meu sorriso cresceu um monte.

Puxa, Jiminnie está com as bochechas vermelhas e os olhos transbordando carinho enquanto faz carinho em mim.
Isso me faz sentir tão especial…

Percebendo meu sorriso, Jimin finalmente olhou nos meus olhos. Foi simplesmente mágico como os seus sorriram de
repente e, da sua boca cheinha, saiu o som de um riso amável… e não era como se ele estivesse achando algo engraçado.
Era como se ele sorrisse em voz alta… era o melhor som do mundo…

Acabei rindo baixinho também, conforme ele voltava a se sentar normalmente do meu lado — antes ele estava
inclinado bem pertinho de mim. Suspirei e levei minha mão molhada até meu pescoço, ainda sorrindo enquanto passava os
dedos ali levemente, só para me distrair desse rubor nas bochechas…

Será que é maluquice ficarmos corados e risonhos porque estamos nos olhando de perto e trocando carinho? Puxa,
se for… eu acho que somos muito malucos.

Continuei coçando meu pescoço de nervosinho e olhando para frente por um tempo. Mas quando virei, voltando a
olhá-lo, Jiminnie já estava me olhando, com um sorriso pequeno de lado nos lábios e os olhos doces como sempre. Meu
coração bateu forte...

Ao abaixar minha mão, mergulhando-a na água, não fui capaz de agarrar um punhado de areia para jogar nos meus
joelhos. Porque Jimin foi mais rápido em correr seus dedos até os meus e, dentro da água, segurar minha mão.

Eu não disse nada. Nós não dissemos. Apenas entrelaçamos nossos dedos enrugados com carinho e continuamos a
conversa com nossos amigos como se nada estivesse acontecendo.

***

— Estou saindo para aprender sobre as plantinhas! — Jiminnie disse, já na porta do chalé. — Tchau, tchau!

— Até mais tarde, Jimin! — Seokjin disse.

— Até, Jiminnie — eu disse, sorrindo pequeno enquanto ele passava pela porta e, então, saía para aprender.

Depois do dia incrível que tivemos no lago, nós finalmente estamos descansando.

Sorri sozinho e me deitei na minha cama, me sentindo preguiçoso e feliz. Já estávamos de volta ao acampamento há
um tempo. Aproveitamos bastante o lago mais cedo e quando o horário do almoço chegou, tivemos que sair da água e voltar
caminhando e respondendo a chamada de Jenny e Joana. A trilha parecia mais longa na volta porque nadar nos deixou muito
cansados… mas, mesmo assim, foi muito divertido.

Ao chegar no refeitório, nós almoçamos com tanta preguiça que Jiminnie se enrolou com o horário. Por isso que,
quando chegamos ao chalé, ele se banhou rapidamente e saiu as pressas para o programa que teria com a Joana sobre
plantações — ou algo assim, eu não parei pra prestar muita atenção. Jiminnie estava extremamente animado, por isso saiu
as pressas.

Eu, já completamente seco — mas com as mesmas roupas de mais cedo — me vi sonolento na cama. Só vou tomar
banho depois do Yoongi e estou morrendo de preguiça, puxa… só queria poder dormir um pouco até a hora do lanche — eu
não tinha muito interesse na piscina aquecida com música, então provavelmente vou ficar dormindo no chalé enquanto todo
mundo está lá.

— Jungkook, não durma antes de tomar um banho — Seokjin disse, na cama sobre a minha. — Seu porquinho.

Dei um sorriso, rindo da sua fala.

— Eu vou tomar banho… porquinho é você — digo, e minha voz sai um pouco sonolenta.

Seokjin ri também, e desce da cama com um salto, me fazendo resmungar porque isso fez a beliche tremer.

— Quero ouvir música… você trouxe alguma fita com Duran Duran? Deixei as minhas em casa — ele disse, já indo
até a cômoda onde colocamos nossas coisas.

— Não sei, eu trouxe umas três diferentes… — eu disse. — Minhas coisas estão na terceira gaveta.

— Ok — ele disse, abrindo a gaveta de primeira. Voltei a fechar meus olhos, mas só até ele começar a falar de novo:
— Ya! Que fitas são essas? Só coisa antiga…

— Ai, deixa minhas fitas… — resmunguei, sonolento.

— Elton John? Brenda Lee? — ele começou a dizer. — Quê… você tá escutando Bee Gees? Você nem gostava!

Me sentei na cama, bufando e olhando para meu melhor amigo:

— Olha, as músicas nem são tão antigas! Eu tô ouvindo as fitas do meu pai. Não é nada demais — eu disse, coçando
meus olhos.

— Tá! Mas… Brenda Lee? — Ele fez uma careta. — As músicas dela são iguais a trilha sonora do filme da Branca de
Neve. Quando que você começou a gostar disso?

— Ah… sei lá… — eu disse, encabulado, porque comecei a ouvir essas músicas quando descobri que gostava de
Jimin. De um jeito romântico…

Para falar a verdade, foi um pouco depois disso que Jimin e as músicas da Brenda Lee começaram a ter ligação para
mim. Um dia, minha mãe estava escutando o vinil da música “Emotions” na sala de estar, e ela me fez pensar demais nos
momentos em que fiquei tímido na frente de Jimin… e eu gostei muito. Gostei de como a melodia me fazia pensar em
momentos específicos, como “If You Love Me” que trazia à tona os momentos em que Jimin olhou bem no fundo dos meus
olhos, ou “When I Fall In Love” que me fazia pensar em como é bom estar apaixonado. Puxa, o sentimento era tão bom que,
quando vi, estava passando todas as músicas dela para uma fita.

Eu gosto muito do jeito que a melodia me faz lembrar dele…

— Hum... — ele murmurou, enquanto Yoongi saía do banheiro. — Yoongi, você tem alguma fita com Duran Duran?

— Não — Yoongi disse, secando seu cabelo com a toalha. — Acho que o Jimin tem… ele já saiu?

— Já — Jin disse, fazendo um biquinho. — Ai, será que ele deixa eu ver se tem? Qual a gaveta dele?
— A primeira — Yoongi disse, enquanto eu me levantava para pegar minha toalha, pronto para me banhar. — Acho
que ele deixa, ele deixou eu pegar um par de meias ontem, ele empresta tudo pra todo mundo.

Mesmo assim, você deveria perguntar para ele antes.

— É mesmo, né? Deixa eu ver, então — Seokjin abriu a gaveta de Jimin e, um pouco incomodado, me mantive em
silêncio.

Eu realmente queria dizer para Seokjin não mexer nas coisas de Jimin... ele não estava ali para deixar e não era certo
só sair pegando. Mas Yoongi é melhor amigo dele e disse que tudo bem. Seria estranho se eu interferisse… puxa.

Enquanto Seokjin abria a gaveta dele, eu me abaixei para abrir a minha, pegando minhas roupas, distraído, mas só
até ouvir meu melhor amigo murmurar um longo, e definitivamente perigoso “Uaaau”...

Fiquei de pé, segurando minhas roupas com força enquanto Seokjin segurava o walkman amarelo de Jimin em suas
mãos, o olhando com uma expressão facial surpresa.

Antes que eu perguntasse o porquê do drama, ele exclamou, animado:

— “J x J”! — Seu sorriso cresceu. — Jimin e Jieun!

Arregalei meus olhos.

Ah, não, não, não…

— Quê? — Yoongi indagou, chegando perto de Seokjin para ver o adesivo que Jimin colou em seu walkman.

O nosso adesivo, puxa...

— Olha só! Cara, hoje ele vai ficar tão bobo por conseguir beijar ela! — Seokjin disse, risonho, enquanto eu me via
cada vez mais encabulado, porque eu quero, mas não consigo fazer… nada.

Parece que essa história dele e Jieun ficarem juntos está saindo de controle… e bem na minha frente, puxa. Está
virando uma bola de neve… cada vez maior, com mais mal entendidos...

Engolindo em seco, tentei protestar:

— Para de mexer nas coisa dele… você não ia pegar uma fita? — eu indaguei, tentando soar desinteressado.

— Sim, mas eu abri e me dei de cara com isso! Foi sem querer, tá? — ele disse, mas não parecia arrependido, e sim
muito animado.

— Então, ele gosta mesmo dela… — Yoongi murmurou, pressionando os olhos.

Não, ele não gosta.

— Gosta muito! — Seokjin disse, guardando o walkman de volta, até pegar as fitas de Jimin. As analisou. — Ah, aqui!
Ele tem “Save a Prayer”. Graças a Deus — disse, feliz, enfim, fechando a gaveta de Jimin, com a fita nas mãos.

O observei ir para sua cama e dei um suspiro frustrado. Pelo menos não estou tão chateado quanto mais cedo…
depois de trocar olhares com Jimin no lago, eu me senti menos inseguro com essa história dele beijar Jieun… eu mantive em
mente cada palavrinha amorosa que ele já me disse.

Mas, ainda assim… eu não queria que ele fosse ao chalé das meninas, muito menos que brincasse de Salada Mista.
Ah.

Percebi que ainda estava parado, perto da cômoda, então me apressei e fui direto para o banheiro. Tomei banho e,
infelizmente, continuei pensando nessa história chata de beijo até me vestir e voltar a me deitar na minha cama. Pensei tanto,
tanto que perdi o sono — diferente de Yoongi, que estava dormindo e roncando bem alto em sua beliche.

Quando ficou mais tarde, eu suspirei e fui até minha gaveta. Peguei meu walkman, a fita e os fones. Me deitei, e
comecei a ouvir minha fita... amorosa.

“R”.

Eu pensei em colocar o nome dela “Rheya” inicialmente, mas fiz uma seleção de músicas muito corrida para um nome
tão importante. Então, pensei em chamá-la de “Romance”, porque era uma fita com músicas românticas… mas Seokjin está
sempre fuçando minhas coisas, e eu não saberia como explicar sem me entregar. Então, ela virou só “R”.

Tinha oito músicas. Eu realmente gosto de todas elas, que eram:

R.

I Need You, do America.

Something, dos Beatles.


If You Love Me, da Brenda Lee.

Africa, do Toto.

Your Song, do Elton John.

Waiting for a Girl Like You, do Foreigner.

How Deep Is Your love, do Bee Gees.

Love Of My Life, do Queen.

É, com certeza, a seleção de músicas mais aleatória que eu já fiz. Eu só fui pegando as músicas que eu mais gostava
de várias fitas diferentes, fitas minhas, do meu pai, de Seokjin (tinha algumas lá em casa) e saiu isso… músicas românticas e
diferentes.

Fiquei com muita preguiça de pegar uma caneta para rebobinar, então, coloquei ela de qualquer jeito, continuando a
ouvir da onde parei da última vez. O finalzinho de If you love me…

Fechei meus olhos, pensando. Quando Africa começou a tocar, minha mente voou longe, dessa vez, para um lugar
bom… Jimin e eu. E não Jimin e Jieun…

A música era muito romântica e animada, então minha mente me fez lembrar de vários momentos bons. É inevitável
não fantasiar durante uma música romântica quando gosto tanto assim de alguém… logo, fiquei a canção inteira suspirando,
com o peito quente e a mente no dia em que eu e ele fomos ao nosso lugar. Foi tão bom abraçá-lo naquele dia, enquanto ele
me carregava na garupa… e foi tão bom quando ele me abraçou também, me deixando carregá-lo porque seu pé estava
machucado…

Puxa, se eu pensar bem… parece até que eu fui o príncipe dele naquele dia…

Minhas bochechas queimaram. Ser o príncipe de Jimin…

Puxa…

Os próximos minutos foram cheios disso, música romântica e pensamentos amorosos. Mas, quando escureceu lá fora
e o horário da piscina aquecida e a música chegou, Seokjin me arrancou da cama com um puxão só. Fui obrigado a me
vestir decentemente para ir até lá, puxa… Eu só queria ficar deitado ouvindo música e pensando em Jimin. Mas é claro que
Seokjin me arrastou com ele...

Surpreendentemente, ele acordou Yoongi também — não pensei que eles fossem tão íntimos assim — e tivemos que
esperar ele colocar uma roupa normal (ele estava de pijama) para sairmos. Foi um pouco estranho chegar lá e ver todo
mundo dançando… puxa, parecia uma festa dos filmes adolescentes e eu nunca fui em uma.

Sinceramente, eu não me sinto muito a vontade…

Jin, no entanto, se animou muito. Tinha uma mesa com salgadinhos e luzes coloridas pra todo lado, além da piscina
iluminada. Descobri que fui bobo esperando o horário do lanche porque, na verdade, o lanche não era no refeitório, e sim na
festa...

Jenny estava lá, junto com o salva-vidas, e tinha professores circulando na pista de dança, então ainda era uma festa
segura.

Arranjamos um lugar para sentar, mas Seokjin não ficou por muito tempo já que simplesmente decidiu sair pra dançar.
Fiquei chocado quando vi ele pulando no meio de todo mundo. É muito corajoso da parte do Jin dançar assim, porque ele
não conversa com ninguém além de mim e as pessoas do clube, mas mesmo assim está dançando pois é algo que ele quer
fazer… eu nunca conseguiria, puxa…

Logo, apenas eu e Yoongi ficamos sentados, sem falar nada. Estava tão chato que eu realmente considerei voltar
para o chalé e dormir até a hora do jantar...

Yoongi pareceu ter a mesma ideia porque, de repente, se levantou e foi embora sem dizer nada.

Sozinho, eu dei um suspiro, entediado. A música que estava tocando não fazia meu estilo e eu só queria dormir, mas
agora não tem como porque Yoongi foi pro chalé — se eu chegar lá e ele estiver acordado, vai ser muito constrangedor!

Então, sem conseguir pensar em mais nenhuma alternativa, eu me levantei e fui… caminhar.

Ou pensei que caminharia. Porque, enquanto estava passando na frente do refeitório, me deparei com Jimin. Ele
estava com Joana e mais alguns alunos, e eles pareciam ter acabado de voltar daquela atividade sobre plantinhas. Jiminnie
estava sorrindo, segurando um vasinho pequeno em suas mãos, e eu não pude evitar sorrir por sua causa... puxa, ele parece
tão feliz...

E é tão lindo.

Mas… meu sorriso acabou murchando quando Jieun também entrou em meu campo de visão. Ela estava com um
vasinho em suas mãos, assim como Jimin, o que me fez entender que eles haviam ido para aquela atividade juntos. Puxa…
minha mente parecia querer me levar para todos aqueles pensamentos bobos de novo, só por causa disso... mas Jiminnie
não deixou. Porque me notou, e assim que nossos olhares se encontraram, começou a tocar “Wham Bam Shang-A-Lang”...
uma música romântica. É quase coisa de outro mundo a forma que as músicas estão sempre nos rodeando…

Dei um sorriso, tímido, vendo Jimin sorrir para mim também. O vi falar brevemente com Jieun e outro menino antes de
se afastar de ambos, vindo em minha direção com passos apressados e alegres.

— Jungkookie! — ele chamou, feliz, chegando pertinho de mim enquanto cobria o vasinho com a outra mão. — Eu já
estava indo pro chalé te encontrar… — ele olhou em volta. — Vem aqui… quero te dar uma coisa.

Jimin virou de costas e, sem mais delongas, começou a caminhar em direção a lateral do refeitório. Pisquei um par de
vezes e, ainda meio encabulado com meus pensamentos, o segui. Fomos parar na parte de trás do refeitório, onde não tinha
ninguém.

Jimin parou no lugar, ainda de costas para mim... e eu parei também. Fiquei o fitando, um pouco nervoso porque…
puxa… estamos sozinhos aqui… isso quer dizer que…?

Puxa.

Meu rosto estava começando a esquentar de nervosismo e meu estômago a gelar de ansiedade… até que ele virou.
Jiminnie, com as bochechas vermelhas e um sorriso no rosto, se virou e ergueu aquele mesmo vasinho na minha direção.
Uma de suas suas mãos estavam cobrindo metade dele e, com meus olhos sobre ela, ele a afastou cuidadosamente, me
fazendo olhar e erguer as sobrancelhas e ficar... surpreso.

Era um vasinho de porcelana… e dentro dele, tinha três flores.

Mas não era qualquer flor... ali, tinham lindas violas.

Violas lilás.

— Joana nos deixou escolher um vasinho com as flores para levar pra casa — ele disse, com a voz macia. — Só tinha
um vasinho com violas. Quando vi elas, fiquei doidinho… corri pra pegar pra dar pra você.

Eu o ouvi atentamente. E, sinceramente… eu não sei direito o que aconteceu comigo. De repente, meu corpo inteiro
estava sendo tomado por uma sensação incrível e avassaladora, que me fez ter várias reações diferentes. Meu rosto
queimou. Meu coração bateu forte, e meus lábios começaram a tremelicar… e eu ainda dei um suspiro, longo e pesado.
Suspirei alto, me sentindo molinho e muito bobo. Puxa, parecia que tinham batido com alguma coisa na minha cabeça porque
eu estava tonto!

E era simplesmente incrível.

Tudo em mim estava vibrando, cheio desse sentimento bom, e quando subi meus olhos das violas e encontrei Jimin,
me observando com um sorriso doce, eu não consegui segurar e dei mais um suspiro… puxa. Puxa…

Ele pegou o vasinho com a viola por causa de mim… e estava me dando. Por quê? Ele gosta de flores e era uma
lembrança. Por que ele está me dando?

Puxa vida…

— Sério… — eu sussurrei, e minha voz saiu diferente. De fato, parece que bateram com algo na minha cabeça.

E era pra ser uma pergunta também. Mas saiu diferente e eu nem corrigi…

— Sim — ele respondeu, entendendo-me, sorrindo mais. — Ggukie… quando você vai se acostumar com meus
presentes, hein? Você sempre fica chocado...

Ele deu uma risadinha. Eu ri também, mexendo meus ombros, sentindo-me todo quente.

— Puxa… é… eu não sei… eu meio que não entendo... — eu disse, porque eu realmente não entendo.

Balançado, cobri meu rosto com minhas mãos. Eu realmente não acredito que ele me trouxe minhas flores favoritas.

Sabe… puxa. Flores. Flores. As violas lilás.

Ele… sabe?

Puxa…

— Muito bem, então eu vou te explicar… — Jiminnie disse e espiei seus movimentos entre meus dedos, ainda
cobrindo meu rosto com eles.

O vi dar dois passos pra trás e colocar o vasinho cuidadosamente no chão, voltando a mim com as mãos vazias.
Essas mãos seguraram as minhas e, como eu não tenho forças para nada agora, apenas deixei ele tirá-las do meu rosto.

Jimin sorriu e, erguendo a destra, começou a falar:

— Motivo número um: você é fofo. — Ele levantou o indicador. — Motivo número dois: você fica lindo quando tá cor
de rosa. — Ele levantou mais um dedo. — Motivo número três: eu gosto de te ver feliz. — E levantou mais um. — Motivo
número quatro: eu gosto muito, muito de você...

Senti minhas pernas ficarem mais moles e me encostei na parede atrás de mim, deixando minha cabeça pender para
o lado, como… como um besta…

Acho que é isso que eu estou agora… besta…

E é bom.

— Puxa… — sussurrei. Jimin riu.

— Motivo número cinco: você vai dizer “puxa” — continuou, me fazendo rir junto com ele. — Número seis: você vai
rir… — Minhas mãos tremeram e, com um impulso cheio de vontade, eu me aproximei dele. — Sete… vai me abraçar.

E eu o abracei.

Sorri, com meus braços sobre seus ombros, enlaçando seu pescoço enquanto ele abraçava minhas costas. Até
cambaleamos um pouco, rindo juntos, deixando tudo mais especial do que já era… puxa vida. Puxa vida…

Apoiei meu queixo em seu ombro, sentindo-o afundar seu rosto no meu. Nos apertamos mais no abraço, que era tão
macio, quentinho e amoroso que eu queria morar nele. Queria morar no abraço de Jimin…

E eu morei, por longos minutos. Jimin começou a fazer carinho nas minhas costas, e eu me senti tão bem que
queria… queria… eu não sei. Queria que durasse para sempre, ao mesmo tempo que queria gritar que ele me fazia sentir
incrível como eu jamais me senti antes, porque, puxa… eram muitas coisas acontecendo dentro de mim ao mesmo tempo…
era tudo muito forte, e muito bom…

Eu queria muito agradecer Jimin por existir. Mesmo que meio besta e tímido, eu levantei minha mão, infiltrando ela em
seus cabelos ruivos… meus dedos estavam meio trêmulos e travados, mas, mesmo assim, eu consegui fazer carinho nele…

Jimin deu um suspiro, como se quisesse que eu soubesse que ele gostou disso. Puxa…

— Gguk… — ele murmurou, me apertando mais. — Eu estava pensando e… sabe essa história de sair escondido
para o chalé das garotas? — ele começou, e, antes que eu pensasse em bobagens, terminou de falar: — Eu não sei se
quero mesmo. Porque, assim, se é pra fazer uma coisa errada, eu queria que fosse especial. E só com você.

Quando entendi o que suas palavras queriam dizer, minhas bochechas queimaram.

— S-sério? — perguntei, baixinho. Só comigo?

— Sério… — ele respondeu. — É que… quando a gente fez a trilha hoje, foi tão tranquilo e rápido… não seria
perigoso irmos sozinhos. Joana falou que o lago fica lindo de noite… — Jimin murmurou. — Eu queria ver com você… só nós
dois. Sabe, é estranho como eu sinto saudades de você, Jungkookie… porque estamos juntos, mas eu gosto tanto quando a
gente pode se abraçar assim… e quando eu posso te dizer o que eu sinto…

Fechei meus olhos, sentindo meu corpo inteiro se encher de um sentimento suave e gostoso. Suas palavras sempre
chegam direto em meu coração… puxa vida.

— Eu também, puxa… — eu disse, porque realmente gosto. Eu gosto muito.

— A gente podia ouvir música… e ver as estrelas…

Senti meu coração palpitar ainda mais, extremamente feliz com a ideia. Eu quero… quero muito…

— Eu quero… — eu disse, e nos afastamos suavemente do abraço. — Mas… o que vamos dizer pros meninos?

Jiminnie fez uma expressão pensativa, e ficamos em silêncio, pensando juntos. Até que ele deu a ideia:

— Eu posso dizer que fiquei cansado e que vou dormir — ele disse, sorrindo. — E você pode dizer que está com dor
de cabeça de novo.

Dei um sorriso. É perfeito!

— E como saímos depois? — perguntei, mas, logo minha mente se acendeu com uma alternativa. — Espera…
podemos esperar eles dormirem e sair. Ontem eu dormi bem tarde, e percebi que dá pra saber quando eles estão dormindo
porque a respiração deles mudam.

— Sim — ele franziu as sobrancelhas. — Foi dormir tarde? Eu também…

Fiquei vermelho, me lembrando de como fingi estar dormindo ontem. Mas não queria ser suspeito, então só assenti.

Jiminnie sorriu. Senti sua mão segurar a minha e, quase automaticamente, entrelaçamos nossos dedos. Puxa… é tão
certo entrelaçar meus dedos nos dele que, quando nossas mãos se tocam, simplesmente acontece.

De repente, ele deu uma risadinha. Quando me viu o olhando, curioso, ele disse:

— Acabei de perceber uma coisa.


— O quê?

Senti ele segurar minha outra mão também e, com carinho, a apertou.

— Nós sempre estamos fazendo loucuras de amor juntos… — Seu sorriso cresceu mais.

De amor...

Eu ri baixinho, sentindo minhas bochechas corarem porque, puxa vida… são de amor.

Suspirando, desci meus olhos para nossas mãos juntas. Sim, estamos… as aulas que matamos e o dia que fomos no
centro juntos… eu sempre me sinto tentado a fazer um monte de coisas novas com Jimin. Coisas que eu nunca me
imaginaria fazendo com alguém que acabei de conhecer, mas eu me sinto tão vivo e feliz que isso não importa...

Quando estamos juntos, é tudo tão louco. E são loucuras de amor. Eu gosto muito.

— Eu, eu… eu gosto… — eu disse, então, porque realmente gosto. Eu gosto muito…

— Eu também… — ele disse, e agora estamos falando baixinho.

Nós ficamos em silêncio pelos próximos segundos, apenas segurando nossas mãos — que eu ainda estava olhando.
Até que Jiminnie soltou-as e, antes que eu me afastasse, ele segurou meus pulsos… e levou minhas mãos até um pouco
acima de sua cintura.

Engoli em seco, o olhando sem entender, até ele enlaçar meu pescoço com suas mãos quentinhas e dizer:

— Eu amo muito essa música. Ouvi em uma das fitas do Tae — disse, de repente, me puxando um pouco. — Ela é
tão romântica… dança comigo?

Me vi perdido. Dançar? Eu não sei dançar… eu nunca mesmo dancei!

— E-eu meio que não sei dançar — eu disse, em voz alta, atrapalhado e envergonhado.

— Que isso, Kookie… todo mundo sabe dançar! — Quando percebeu que eu ainda estava perdido, Jiminnie se
aproximou mais e disse: — É só me abraçar e se mexer… — completou, rindo baixinho quando eu me aproximei e o abracei.
Quando comecei a me mexer de um jeito estranho, ele riu mais. — Não, espera aí. Não se mexe assim, Ggukie… assim… —
ele murmurou, mexendo seus pés e me levando junto.

Foi diferente, e eu fiquei com medo de pisar no pé dele, mas Jiminnie tinha um controle tão bom que… funcionou. E
de repente, estávamos nos abraçando e nos mexendo lentamente, dando passos serenos em conjunto.

E era… muito bom.

Eu nunca dancei antes. Já devo ter dançado de bobeira quando era mais novo, mas nunca dancei abraçando alguém
desse jeito e… puxa. É tão gostoso… de alguma forma, é extremamente íntimo e caloroso. Como abraçar com muita
intensidade...

— Dançar com você é melhor do que qualquer coisa, Jungkookie… — Jiminnie disse, apertando e fazendo carinho
nos cabelinhos da minha nuca.

Senti-me arrepiar, um pouco perdido nesse carinho ao dizer:

— Você… dança muito? — Perguntei, tímido, porque não queria ficar quieto… queria que ele soubesse que eu estava
escutando.

— Eu já dancei bastante. Quando você é o único primo em uma família só de primas, você acaba tendo que dançar
com todas elas — me contou, rindo baixinho. Ri junto com ele, imaginando como deveria ser. — Eu acabei sendo o príncipe
encantado...

Fechei meus olhos, sentindo minha mente voar com essas palavras. Príncipe encantado, príncipe encantado…

— Mas essa é a primeira vez que eu danço com alguém que eu gosto…

Jiminnie sussurrou, me pegando de surpresa.

Senti-me queimar mais uma vez. Ele disse que gosta de mim tantas vezes e, mesmo assim, minhas bochechas não
se acostumam. Eu continuo ficando vermelho toda santa vez…

Eu queria dizer para Jimin que também era a minha primeira vez, não só dançando, como também gostando tanto,
tanto assim de alguém. Porque eu gosto tanto dele…

“But then I fooled around and fell in love”

E eu acho que jamais vou deixar de gostar.

Tudo com Jimin é sobre amor e primeiras vezes… por mim, ele soube que eu nunca senti essas coisas antes.
Ninguém nunca me fez sentir envergonhado de um jeito tão prazeroso e engraçado. Eu quase não acredito que estou
vivendo um amor romântico, puxa... na minha cabeça, ninguém gostaria de viver um romance comigo porque eu sou sem
graça. E eu só aceitei esse pensamento… mas então, Jiminnie chega, sempre com esses olhos de quem quer me ver falar
cada vez mais, e essas mãos que querem me tocar cada vez mais e seus lábios, que… sempre me beijam da maneira mais
amável possível.

Só Jimin diz, com seu jeito tão amoroso, o quanto gosta de tantas coisas sobre mim.

Só Jimin tem… o meu…

O meu coração.

Senti algo dentro de mim embrulhar ao perceber isso. Eu gosto tanto dele, mas nunca tinha parado para pensar que
ele tem meu coração. Jiminnie o tem bem na palma da sua mão, puxa…

E o melhor disso tudo é que eu não sinto medo.

Como eu poderia sentir medo quando, sempre que Jimin me toca e me segura, ele é suave e delicado? Como eu
poderia sentir medo de estar em mãos tão amorosas e cuidadosas?

Eu não sinto medo com ele. E me sentir seguro é um presente…

— Eu gosto muito de você também… — eu disse, de repente, e nem senti essas palavras vindo. É como se meu
coração suplicasse-me para dizê-las...

Em resposta, Jiminnie infiltrou os dedos no meu cabelo, fazendo um cafuné enquanto dançávamos. E eu só consegui
sentir o cheiro bom de sua camiseta e agradecer ao universo por me deixar ficar ali, com ele…

Algumas outras músicas tocaram e continuamos trocando silêncio, carinho e contato. Quando o sinal do jantar tocou,
nos dando um susto, Jiminnie e eu nos afastamos.

Ao pegar o vasinho no chão e me entregar, Jimin me olhou, parecendo ansioso a dizer:

— Eu te a… — Ele parou. Seus olhos estavam diferentes e ele mordiscou os lábios. — Te adoro… muito. Muito…

Senti meu coração palpitar. Encostei o vasinho em meu peito esquerdo, com vontade de dizer que o adoro tanto que
meu coração é inteiramente seu, mas sem coragem ao apenas responder:

— Eu te adoro muito também…

E compartilhando amor e sentimentos, nós fomos jantar.

JIMIN

Faz exatamente trinta e cinco minutos que eu decidi que estou pronto para casar com Jeongguk.

É. Casar! Casar com ele. Simples assim… eu quero me casar com Jeon Jungkook!

O jantar já havia sido servido há algum tempo. Eu estava com os meninos, sentado do lado de fora do refeitório, com
minha barriga bem cheinha enquanto observava a piscina. Jin, Gguk e Yoon estão comendo a sobremesa — preferi não
comer hoje porque exagerei na quantidade de Bibimbap que coloquei no meu prato e agora não consigo comer mais nada,
heh — e eu estou olhando para o céu, imaginando minha primeira dança com Jungkook depois de nos tornarmos marido e
marido.

Na boa. Com que idade será que podemos nos casar? Eu vou fazer dezesseis em outubro... acho que ninguém nunca
se casou com dezesseis anos, mas eu adoraria ser o primeiro...

Olhei para o futuro Park Jungkook, que estava com a boca fininha cheia de corante de gelatina.Ah, como deve ser
lindo vê-lo de terninho... se casando comigo…

Aos suspiros, olhei para o céu mais uma vez, deixando meus pensamentos sobre isso crescerem e flutuarem. Eu sei
que pode parecer maluquice pensar em casamento tão cedo, mas sempre que Jeongguk me faz ter sentimentos tão intensos
como os que eu tive ao dançarmos, eu penso em pedir ele em casamento. Tipo, parece fazer tanto sentido casar! Porque
quero ficar o resto da minha vida com ele, poxa... e se isso é doido, não estou nem aí, eu sempre fui doidinho mesmo...

E não é como se eu fosse realmente pedi-lo em casamento. nem dizer que o amo do nada, como quase aconteceu
mais cedo. São só pensamentos e vontades! Vontades que vão ser aliviadas quando eu crescer, dizer no altar que o amo e o
aceito, e me casar com ele…

Porque eu vou casar com ele.

Eu vou me casar com Jeongguk, ou não me chamo Park Jimin (futuro Jeon Jimin),e…

— Jimin? — Yoongi me chamou, de repente. O fitei, tentando disfarçar meu sorriso.Ele me olhou estranho. — No que
você tá pensando? Tá fazendo uma cara bizarra…

Eu ri um pouco, balançando a cabeça em negação.


— Nada, nada não... — disse, voltando a olhar as estrelas. — Yoon... com quantos anos você acha que é aceitável
casar?

Yoongi raspou o potinho de gelatina, respondendo com convicção:

— Nunca.

Ah, esse meu amigo... sempre tão romântico…

— Eu acho que com vinte quatro é perfeito — Seokjin respondeu, de repente. Não percebi que ele estava escutando,
então me virei para fitá-lo, surpreso e atento. — É logo depois da faculdade! Não tem hora melhor pra casar.

Vinte e quatro. Pensei…

É só daqui a quase dez anos... aff…

— Dá pra casar depois do ensino médio, né? — eu perguntei pensando com paciência porque, sinceramente, eu me
casaria com Jungkook bem agora se eu pudesse.

Sim, casaria. E tá! Tá, tá, eu sou maluquinho! Mas fazer o quê se quero casar com ele, poxa…

— Minha mãe se casou com dezenove — Jungkookie disse, baixinho, me fazendo fitá-lo com surpresa. — Meu pai
tinha vinte... foi praticamente depois do ensino médio…

Senti minhas bochechas queimarem, o encarando cheio de amor. Kookie...é isso aí! Podemos nos casar quando
tivermos a mesma idade que seus pais…

— Parece perfeito... — eu disse, o fitando como se ele já fosse meu noivo.

Jungkook me fitou também, sem entender meu olhar derretido. Eu ri um pouquinho, fazendo-o dar um sorriso e voltar-
se à sua sobremesa logo depois — já eu, voltei a pensar em nosso casamento.

Segundos depois, Seokjin complementou o assunto nos contando da vez que teve certeza que queria se casar com
uma garota do seu curso, mas aí, ela deu um fora nele dois dias depois — e o resto da noite antes do horário de recolher fora
preenchido por todos nós lhe consolando pelo trágico acontecimento.

Perto da hora de recolher, nos levantamos e começamos a caminhar em direção ao chalé. Meu coração não podia
evitar bater forte de excitação e ansiedade por causa do que iria acontecer mais tarde… céus, eu vou ao lago com
Jungkookie! Só eu e ele... podemos levar um cobertor, ficar agarradinhos sob ele, olhando o céu e a água anoitecida… é tão
romântico. Eu mal posso esperar...

Além de que, na minha cabeça, aquele lago se tornaria, hoje, mais um dosnossos lugares. O faríamos ser nosso...

Assim que todos nós entramos, Jungkookie fechou a porta do chalé cuidadosamente. Nós trocamos um olhar
cúmplice e, depois de fazer uma feição pensativa — é quase como se ele estivesse organizando as coisas em sua mente —
Jeonggukie anunciou:

— Hm... tô com dor de cabeça — disse, muito...normalmente. E parece que ele mesmo percebeu que soou falso
porque, segundos depois, completou: — Aaai... ai... — e tocou sua testa.

Ok. Foi muito falso agora, mas Seokjin pareceu não perceber porque, no mesmo segundo, se virou e foi até ele.

— Sério? Do nada, assim? — tocou os ombros de Jungkookie.

— Aham... acho que foi a gelatina — disse, desviando o olhar a todo momento.

Céus, ele é um péssimo mentiroso…

— Poxa... pode usar o banheiro primeiro, então — Jin disse, e Jungkookie apenas assentiu, indo antes até a cômoda.
— Então, acho que vamos ser só você e eu hoje, Jimin. — Ele sorriu para mim e, por um segundo, me senti culpado.

Mas... eu realmente quero muito sair a sós com Jungkookie. Então, me recuperei e disse com convicção:

— Sabe, Jin... eu tô me sentindo bem cansado, acho que comi demais... estou sonolento — eu disse, disfarçando um
bocejo.

Jin franziu o cenho.

— Ah, qual é… a gente só vai sair daqui a uns quarenta minutos! Você pode descansar um pouco, aí nós vamos —
ele disse, e parecia realmente preocupado.

Ouvi a porta do banheiro ser fechada. Engolindo em seco, mantive a postura:

— Mas... eu tenho sono pesado, vou dormir muito porque realmente estou com muito sono. —Mentira. — Podemos
deixar pra outra oportunidade…

Jin negou com a cabeça.


— Vamos hoje… por favor. Eu quero muito e não vai ser a mesma coisa se eu for sozinho! Eu só falo com vocês lá na
escola e… — Ele pareceu se lembrar de uma coisa. Sua feição se tornou amuada de repente. — Desde que descobriram que
eu sou repetente, não consegui fazer muitas amizades... — suas palavras me acertaram em cheio. Ai meu Deus... — Se
formos hoje, vou poder conhecer mais pessoas! Oh, como preciso disso, Jimin! Você não te noção de como isso pesa no
meu dia-a-dia... — Sua voz estava cheia de emoção e ele estava falando como um personagem de novela. — Como posso
aparecer lá sozinho? Sem você, vou ficar desamparado... sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas realmente
pensei que estaria aqui por mim, Jimin... — E cobriu o rosto com suas mãos, dramaticamente.

E eu?

Bom… eu me senti devastado.

Minha mente embranqueceu após ouvir seu relato sincero e emocionante. Eu não sabia mais o que fazer além de o
encarar com os olhos brilhando e o coração doendo. Eu... eu não posso negar! Como eu poderia? Ele precisa de mim, como
amigo, eu... eu…

— Tudo bem, eu vou.

Eu aceitei.

Na verdade, eu nem pensei direito ao fazer isso. Mas aconteceu. Fiquei encabulado ao ouvi-lo e, quando percebi, já
tinha dito que sim — esquecendo-me, momentaneamente, de todo meu plano com Jungkook, que ainda estava no banheiro.

— Ah, Jimin! Eu sabia que podia contar com você! — Sua feição amuada sumiu magicamente e foi substituída por um
sorriso alegre. Ele me deu um abraço curto. — Você é demais! Uhul. Vou ouvir música.

E ele simplesmente saiu, subindo em sua cama. Eu fiquei parado, um pouco desamparado e confuso com os últimos
acontecimentos que foram meio que rápidos demais para a minha pobre cabecinha. Eu acho que quase não entendi o que
rolou, só sei que aceitei e babei todo meu plano com Jungkookie.

Meleca.

Quando meu amor saiu do banheiro, nós nos olhamos ao mesmo tempo. Dei um sorriso sem graça, me sentando na
cama ao que Yoongi descia da sua e ia para o banheiro. Quando Yoon fechou a porta e eu espiei Seokjin, com os fones de
ouvidos bem altos, dei um sussurro alto:

— Aceitei ir sem querer!

Jungkookie, que estava perto da cômoda, me olhou. Depois deu uma espiada em Seokjin e veio até mim
apressadamente, sentando-se do meu lado.

— Eu ouvi! Fiquei escutando da porta do banheiro! — ele disse, baixinho. — O que a gente faz agora?

Sem saber, balancei a cabeça. Jungkook suspirou baixinho.

— Eu não sei... — eu murmurei. — Eu posso ir e voltar cedo! Aí te chamo e saímos.

Jungkook não pareceu gostar disso e negou com a cabeça.

— Não, puxa, eu... eu quero ir também — disse-me, olhando em meus olhos. — Eu quero ir com você. No chalé das
meninas. Quero muito.

Juntei as sobrancelhas, um pouco curioso com essa sua atitude.

— Sério, Ggukie? — tombei a cabeça para o lado, tentando compreendê-lo.

Jungkookie assentiu freneticamente.

— Sim! — espiou Seokjin em sua cama. — Vou fingir que estou cochilando, e...e... e aí acordo sem dor! E vamos
juntos. Aí podemos sair depois…

Eu assenti com a cabeça, sorrindo por nossos planos não estarem destruídos. Assim que a porta do banheiro foi
destrancada e Yoongi passou por ela, Jungkookie se afastou de mim e foi direto para a sua cama, deitando-se nela — e
fazendo aqueles barulhos de dor falsos ao mesmo tempo, o que me fez rir baixinho.

Passando alguns minutos, eu apenas fingi não estar fazendo nada demais. Me deitei na minha cama, espiando
Jungkookie do outro lado do quarto, e então, aguardando o horário para que o nosso plano finalmente entre em ação.

Com o passar dos minutos (que mais pareciam horas!), Jin deixou suas músicas de lado e desceu da beliche, me
dizendo para ficar pronto antes de se dirigir ao banheiro. Já eu, apenas calcei meu chinelo, peguei um casaco e assim que
Jin saiu do banheiro, eu entrei para escovar meus dentes.

Completamente pronto, voltando ao quarto, me deparei com Jungkookie de pé, se espreguiçando falsamente
enquanto dizia:

— Sim, Jin. Passou mesmo… foi rapidinho… — murmurava, enquanto Seokjin o fitava com um olhar alegre.

— Ainda bem! Então, vamos logo! — Jin exclamou e, quando me viu fora do banheiro, sorriu mais. — Jimin! Jungkook
melhorou e vai também. Vamos só esperar ele se arrumar e sair.

Com um sorriso inocente, afirmei com a cabeça. Jungkookie passou por mim com omesmo tipo de sorriso e, depois
de ir no banheiro e também vestir um casaco, nós saímos juntos, rumo ao chalé das meninas. Yoongi apenas acenou para
nós de sua cama e nos desejou boa sorte — além de pedir para apagarmos a luz para ele.

Sendo assim… saímos.

Quando fechamos a porta do chalé, do lado de fora e na hora errada, todo meu corpo gelou de ansiedade emedo. A
sensação era muito intensa e assustadora, diferente de todas as outras vezes que fiz alguma coisa considerada errada. E
acho que Seokjin e Jungkook sentiram o mesmo medo porque, pelos primeiros cinco segundos, eles não se moveram e nem
disseram nada, petrificados, assim como eu...

Quem tomou uma atitude diante daquele medo fora Jin, que olhando em volta, fez um sinal com a mão, nos
chamando e se movendo. Ele desceu a varandinha do chalé, andando com cautela e sendo seguido por mim e Jungkook
logo depois.

Seokjin parecia saber exatamente o caminho que precisávamos fazer para chegar no chalé das meninas, por isso não
hesitamos em segui-lo sem questioná-lo. Troquei alguns olhares com meu amor durante a caminhada silenciosa e secreta,
porque ele parecia estar com tanto medo… bem mais do que eu. Por isso, toquei eu seu ombro, fazendo um carinho breve,
tentando demonstrar que estava tudo bem e que eu estava ali, juntinho dele...

Virando seu rosto para mim, os olhos de Jungkookie ficaram mais suaves ao encontrarem os meus. Me senti feliz com
isso, lhe mostrando um sorriso e ganhando um seu em troca. Logo nós mantemos nossos passos mais firmes e certos.

De repente, Seokjin parou, virou-se e subiu os degraus da varandinha do lado do chalé das meninas. Ele se inclinou
para perto de nós e sussurrou:

— Micha me falou na hora do jantar que era aqui — disse, apontando para uma das portas. — Façam silêncio na hora
de entrar…

Eu e Jungkook assentimos, sem dizer nenhuma palavra. Dessa forma, Jin bateu sutilmente na porta delas, se
afastando e esperando-as abrirem.

Não muitos segundos depois, o chalé foi aberto por Luna — uma das nossas colegas de turma. Ela sorriu para nós,
como se já soubesse que iríamos aparecer, e nos deu espaço para entrar... sem dizer nenhuma palavra, Luna nos chamou
com suas mãos e esperou todos nós estarmos do lado de dentro pra fechar a porta.

Bastaram dois segundos para todas as pessoas presentes se levantarem e começarem a nos cumprimentar com
euforia:

— Vocês realmente vieram! — Micha disse, alegre, se aproximando de nós.

— Sim! Missão cumprida — Jin disse, trocando um toque de mão com ela.

Não entendi sua fala, mas também dei um sorriso.

— Jimin! Pensei que você fosse mais certinho do que eu — Jeonghan disse, em um tom amigável que me fez rir.

— Bom, eu vim acompanhar o Jin! Não vou poder ficar muito tempo porque estou um pouco cansado… mas muito
obrigado por nos convidar, pessoal — eu disse.

— Nah, que isso! Estamos jogando cartas, vocês querem jogar também? — Luna perguntou.

— Claro que sim, certo, gente?! — Seokjin exclamou, segurando eu e Jungkook pelos ombros.

— Sim — eu disse, dando uma risadinha.

— É… — Jungkook murmurou, um pouco sem jeito.

E nós jogamos cartas, sentados em círculo no chão do chalé.

Conforme o tempo passava, fui percebendo tudo e todos a minha volta com mais calma e carinho. Mingyu e Jeonghan
eram os mais barulhentos no quarto e, sempre que riam alto demais, levavam tapas de Luna e Micha — que mandavam eles
calarem a boca. E o mais legal disso tudo era que eles riam ainda mais depois de serem estapeados (só que baixinho)!

Jieun e Adora estavam sentadas em uma das camas, apenas nos observando jogar. Percebi o olhar delas sobre mim
várias vezes e fiquei me sentindo um pouco tímido ao pensar na possibilidade de estar com o cabelo muito bagunçado ou
com o rosto sujo de alguma coisa — mas quando perguntei a Jungkookie e ele disse que não tinha nada de errado, eu relaxei
um pouquinho.

No entanto, continuei curioso quanto a elas…

Mas não é como se isso me fizesse sentir mal ou tímido, afinal, era muito divertido e alegre estar ali! Eu não era tão
próximo assim dos meus colegas de turma, e apesar de conversar constantemente com Micha, Jieun e Luna nas aulas de
leitura, eu não passava muito tempo com elas. Meu grupo de amigos era o clube de música e, vendo como era divertido
estar com essas pessoas também, me peguei imaginando como seria se todos se reunissem alguma vez.
Na minha cabeça, parece simplesmente incrível!

Depois de terminar mais algumas partidas de cartas com todos — e ganhar todas elas,heh —, dei uma espiada no
relógio pendurado na parede do quarto. Seokjin estava sentado com Mingyu e Jeonghan, se divertindo com eles e eu sentia
que minha missão já havia sido cumprida… E não é que eu não goste de estar aqui, mas eu ainda quero sair com
Jungkookie… muito mesmo. Tem que ser logo, porque não quero que ele acorde cansado amanhã de manhã…

Já que os meninos estavam fazendo barulho, distraídos o bastante, aproveitei para me aproximar de Jeonggukie e
sussurrar:

— Vamos embora?

Ele me olhou, confuso, e depois sussurrou de volta:

— Como vamos despistá-los?

— Eu vou primeiro, falando que quero ir embora… aí você vai depois, dizendo que a sua dor de cabeça voltou. Aí, se
o Jin vier com a gente, esperamos ele dormir… se ele ficar, nós apenas vamos — murmurei tudo bem baixinho, vendo Micha
bater, agora, em Seokjin também por suas risadas altas.

Jungkookie piscou um par de vezes e, parecendo entender cada detalhe, ele assentiu. Quando o som das risadas e
dos tapas suavizou, me levantei do chão cautelosamente, chamando a atenção de todos para mim, já que iam começar outra
partida.

Com toda a vontade de ficar com meu amorzinho dentro de mim, não medi minhas mentiras ao dizer:

— Já vou indo! Fiquei muito cansado, não aguento mais, vou dormir — eu disse, bocejando (falsamente).

Todos pareceram aceitar isso bem e começaram a se despedir de mim. Mas, quando fui me despedir de Micha, logo
depois de dar boa noite à Jieun, ela, repentinamente, disse:

— Vamos jogar Salada Mista!

A olhei, confuso.

Salada Mista?

— Isso, uma partida com o Jimin antes dele ir dormir! — Seokjin completou, se levantando do chão e, de repente,
todos estavam de pé também, gostando da ideia.

— Não, eu… eu quero muito dormir — eu disse, confuso ao que Micha se apressava para nos organizar em uma
fileira.

A fileira da Salada Mista.

Me lembrei brevemente das últimas vezes que joguei esse joguinho traiçoeiro, sempre lá na rua da casa da vovó… eu
tinha apenas meus onze anos. Era o jogo que mais fazia meus amigos rirem (risadas de vergonha e constrangimento, é
claro).

Já faz tanto tempo que não sei mais quais são as frutas… Salada Mista não foi um jogo muito memorável para mim,
porque vi apenas um beijo acontecer nele, que foi entre minha prima e o garoto que ela gostava — morri de ciúmes, poxa, é a
minha priminha, não quero que ela namore! — e depois deles, ninguém nunca mais foi corajoso o suficiente para pedir salada
mista.

Em geral, eu acho que o Jimin de onze anos achava divertido ficar apertando as mãos e abraçando todo mundo nesse
joguinho bobo… mas o Jimin de agora, apesar de ter uma boa lembrança em relação a brincadeira, não quer mesmo
participar.

Até porque eu não quero beijar ninguém aqui além de Jungkookie… e em meus planos com ele, tenho que ir embora
imediatamente.

Mas Micha parecia determinada a me fazer participar. Ela me colocou na fileira e Jungkookie também, lá na outra
ponta. Quando eu disse que não estava muito afim mais uma vez, sendo ignorado por ela novamente, Jieun decidiu interferir:

— Micha, não precisa insistir tanto… o Jimin está cansado — ela disse, parecendo confusa com a insistência alheia.

— É só que… eu não quero que ele fique de fora, poxa! — Micha exclamou, bicuda. — Jiminnie, vai ser coisinha de
cinco minutos! Só a primeira partida. Por que você não quer ficar? Se você ficar, eu não vou te pedir mais nada!

Me sentindo um estraga prazeres, me vi perdido entre ficar e ir embora. Porque pensei que Micha só estava de
bobeira, mas ela parece querer tanto que eu fique. Como se fosse muito importante para ela eu estar ali...

Poxa vida… cinco minutos.

Não vai ser muito, certo? E assim, pelo menos, Micha fica feliz e eu posso ir tranquilo.

Acho que posso ficar...


— Tá bem… só uma partida! — eu disse, voltando à fileira, onde só tinha os…

Meninos?

Vi as meninas do outro lado do quarto e elas estavam sorrindo, bem alegres. Apenas Jieun estava confusa, dividindo
seu olhar entre nós e suas amigas.

— Você é demais, Jiminnie! — ela disse, dando tapinhas em meus ombros. — Meninos na fileira, hum! Então, vamos
jogar, a cobaia será uma menina! A primeira a ser girada vai ser… deixe-me ver… — ela analisou suas amigas. — Ah. A
Jieun! É claro.

Jieun ergueu as sobrancelhas, a olhando com incredulidade.

— O quê?! — indagou.

— Então, gente, aqui vamos fazer assim: Pera é aperto de mão, uva é abraço, maçã é beijo no rosto e salada mista…
— Deu um sorriso grande, ignorando totalmente Jieun. — Beijo na boca!

No mesmo segundo que ela disse isso, os meninos fizeram um“Uhh”, muito maliciosos e risonhos... já eu, apenas
pedi aos céus para não ser o menino escolhido. Embora eu ache que Jieun não pediria salada mista, ainda não gostaria de
cair com ela. Sabe, eu a conheço! Ela é toda romântica e sonhadora… dá pra ver nos textos e redações que ela lê nas aulas
de leitura. Não acho que ela escolheria beijar alguém na brincadeira Salada Mista…

— Vamos vendar a Jieun! Meninos, silêncio — Micha disse, pegando uma máscara de dormir de panda na beliche de
cima, colocando-a no rosto de Jieun antes de sussurrar no ouvido dela.

Ficamos esperando e, um pouco encabulado, fitei Jungkookie do outro lado da fileira. Ele estava olhando para Jieun,
com uma expressão extremamente aflita, e as mãos mexendo sem parar… meu coração apertou um pouco porque ele não
estava assim antes. O que aconteceu?

No que Jungkook está pensando?

— Pronto, garotos! Se misturem.

Micha ordenou. E de repente, tudo estava acontecendo rápido demais. Nos misturamos e eu me desviei de Jeonghan
para chegar bem perto de Jungkook, parando ao seu lado para sussurrar:

— Ei, o que foi?

Micha anunciou que iria começar a girar Jieun, que estava vermelha e com os lábios franzidos, como se não estivesse
confortável. Jeongguk continuou em silêncio e eu fiquei atento à seus olhos, esperando-o dizer alguma coisa, mas…

— Para.

Jieun havia dito, bem baixinho, sendo parada por Micha, que estava com um sorriso largo nos lábios. Quando olhei
para frente, me deparei com Jieun apontando seu indicador para…

Para mim.

Eu era o menino escolhido.

— Ok, menino misterioso! Um passo a frente.

Micha pediu e eu nunca a vi tão animada e feliz assim antes. Eu não consegui fazer nada além de engolir em seco,
dando um passo a frente, espiando Jungkook de esguelha uma última vez antes de ficar próximo de Jieun.

Meu coração estava apertado. Não porque pensei que Jieun iria escolher salada mista, eu realmente acho que ela
não vai… e se escolher, eu não a beijarei. Não quando meu coração é inteiramente de Jungkookie. Mas meu amor estava
com uma feição aflita demais e meu coração apertado só conseguia pensar nisso. Eu não sabia o porquê, nem como ajudá-
lo, porque ele não me disse o que está acontecendo...

Eu só queria o fim da brincadeira para poder falar com ele logo...

— Certo, Jieun! — Micha sorriu. — Agora, é a hora da verdade… pêra, uva, maçã, ou salada mista? — disse a última
opção bem lentamente.

Fiquei em silêncio e, mais uma vez, espiei Jungkookie.

Quando nossos olhares se encontraram, ele pressionou os dedos nas palmas de suas mãos e balançou a cabeça
lentamente, em negação. “Não”.

Não o quê…?

Voltei a olhar pra frente. Jieun não estava mais tão vermelha quanto antes, mas também não parecianada feliz. Era a
hora dela escolher a fruta e estavam todos prestando atenção nela.

Todos a observaram quando, sem muita emoção, Jieun escolheu:


— Pêra. Eu quero pêra.

E no segundo seguinte, Jieun ergueu sua mão em minha direção. Pêra.

Aperto de mão…

Levantei minha mão também e apertei a sua. Quando as soltamos, Jieun tirou a máscara de dormir, e trocou um
sorriso simples comigo. Sorri também, um pouco confuso com o que estava acontecendo…

Até que ela olhou para Micha e disse:

— Não quero mais brincar — disse Jieun, se afastando, parecendo… chateada.

Por quê?

— M-mas… — Micha olhou para mim, parecendo envergonhada.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Não ao certo… mas também não sei se quero descobrir, porque, quando os
meninos começaram a conversar sobre o ocorrido e eu me virei e vi Jeonggukie, meus pensamentos foram direcionados a
somente ele.

Mas… eu já não fiquei tão nervoso quanto antes porque Jungkook não estava mais aflito. Ele parecia chateado. De
um jeito sereno e distante, mas ainda sim chateado.

Isso fez meu coração ficar mais apertado e eu não hesitei em me aproximar dele.

Antes que eu perguntasse mais uma vez se estava tudo bem, Jungkookie me olhou e sussurrou:

— Depois...

Sua voz soou curta e suave. Lhe fitei com curiosidade, mas tentando me conformar, decidi não questionar-lhe mais…
e talvez essa noite esteja ficando muito longa no chalé das meninas. Por isso, somente me virei e me despedi de todos,
deixando para pensar depois. Como Jungkookie disse… depois.

Agora precisamos sair.

Dessa vez, ninguém retrucou — embora Jin tenha reclamado um pouco — e eu saí porta afora sem problemas.
Caminhei silenciosamente até o meu chalé, entrando com calma para não acordar Yoongi. Depois de suspirar, um pouco
mexido pelos últimos acontecimentos, eu me sentei na minha cama e esperei por Jungkookie ansiosamente.

Alguns minutos depois, senti meu coração encher-se de alívio ao ver Jeon entrar pela porta — abrindo-a e fechando-a
com muito cuidado e silêncio —, sem Seokjin ao seu enlaço. Imediatamente me levantei da cama e, pela cortina sutilmente
aberta, pudemos nos ver à luz da lua…

Senti meu coração palpitar, ouvindo perfeitamente o ronco alto de Yoongi antes de me aproximar e o dar um abraço
bem apertado.

— Kookie… a carinha que você fez me deixou tão preocupado… — Eu desabafei porque só conseguia pensar nisso.
Principalmente porque ele não me disse nada depois. Senti seu corpo tenso. — O que aconteceu? Tudo bem? — perguntei,
fazendo carinho no centro de suas costas.

Jungkookie, que ainda não havia retribuído meu abraço, soltou um longo muxoxo. Quando suas mãos me abraçaram,
o senti mais leve.

— E-eu… — Jungkookie continuou. Então, suspirou. — Eu… eu pensei que você fosse beijar… — Ele apertou-me. —
Pensei que você fosse beijar a Jieun… puxa...

Me senti extremamente confuso ao ouvir suas palavras. Aquele semblante… era por isso? Por pensar que eu a
beijaria?

Isso não faz sentido… eu não beijaria ela, de jeito nenhum. Eu só amo Jungkook desse jeitinho…e eu só beijaria ele.

— Mas é claro que não… — eu disse, me afastando para olhar em seus olhos. — Eu já disse… gosto de você.Muito.
É só você quem eu quero beijar...

Eu disse, amável, querendo demonstrar sinceridade, carinho e compreensão com meu olhar. Apesar de ser confuso
tentar entender o porquê ele teve esses pensamentos, eu sabia o que era ciúme. Já tinha sentido, visto, e lido sobre. Às
vezes não tem sentido, mas… é normal…

Eu entendia ele, apesar de saber que esse sentimento não tem muito sentido. E mesmo que eu estivesse
demonstrando compreensão, Jungkookie continuou com aquele olhar envergonhado e distante.

— Me desculpa… — ele sussurrou. — Eu… e-eu odeio me sentir assim. É sempre tão ruim, puxa…

Eu neguei com a cabeça.

— Tudo bem… eu também já senti ciúmes. Eu sei como é e que não tem sentido… — acarinhei seus ombros, vendo
seus olhos ficarem sutilmente arregalados. — E também é inevitável…
Jungkookie finalmente olhou para mim de novo. Ele parecia ter se lembrado de alguma coisa muito importante.

— Ciúmes… — sussurrou, pensativo. — É claro que é isso…

Dei um sorriso, achando curioso esse seu jeitinho meio confuso e sem sentido de ser.

— O quê? — indaguei.

— É que eu não tinha parado pra pensar que era… ciúme — murmurou. — Eu pensei… não sei. Eu pensei muito.
Mas não tinha… pensado em ciúmes.

O olhei atentamente.

— E é ciúmes? — perguntei.

Jungkookie pressionou seus lábios e balançou a cabeça, confirmando.

— É… — sussurrou.

O fitei com mais lentidão e, por fim, o puxei para mais um abraço.

Porque eu, do jeitinho que sou, poderia muito bem brincar que ele está com ciuminho, e fazer gracinhas sobre isso
porque, poxa... eu não me importo dele sentir ciúmes! Eu vejo o ciúme como um sentimento bobo, que te deixa mais bobo
ainda. Ele é ruim, mas não é a pior coisa do mundo…

Mas parece diferente para Jungkook… o jeito que ele me contou, como se sentisse muito culpado, deixou isso claro.
Ele sente diferente e eu não quero banalizar isso.

— Tudo bem… não precisa se sentir mal. Tá tudo bem. — Acarinhei seu cabelinho, o apertando mais. Mudando de
assunto, pedi: — Agora, vamos ver as estrelas. Vou pegar meu cobertor e você pega seu Walkman…

Me afastei do abraço para ver seu rosto. Quando percebi que ele não estava mais tão pilhado quanto antes, dei um
sorriso.

— Obrigado, Jiminnie…

E sem mais sentimentos ruins, nós fomos fazer do lago o nosso lugar.

Depois de pegar nossas coisas, Jeongguk e eu saímos porta afora juntos. Fizemos todo o caminho até a trilha em
silêncio e, quando estávamos próximos dela, ouvimos um barulho no refeitório. Foi engraçado como nos apressamos e
saímos correndo para o começo da trilha da mesma forma e na mesma velocidade… pfft, realmente somos a mesma pessoa!

Assim que paramos lá, esperamos um momento e ficamos espiando para ver se tinha alguém de vigia. Mas ninguém
apareceu… então, respiramos aliviados e fizemos nosso caminho. Agora, começamos a trilha...

E é claro que no mesmo instante eu me aproximei de Jeonggukie para segurar sua mão com carinho. Ele me fitou por
um momento, sorrindo pequeno antes de entrelaçar seus dedos aos meus, andando de mãos dadas comigo.

— Qual é o nome da fita que você trouxe? — eu perguntei, olhando-lhe, sabendo que ele colocava nome em todas
suas fitas.

— Hmm… coloquei o nome de “R” — disse ele, me olhando de volta. Depois,suspirou. — Jiminnie… me desculpa
mesmo por… você sabe… — murmurou.

Meu sorriso murchou quando percebi que seus pensamentos ainda estavam lá, em seuciúme.

— Ei… Não pensa nisso, já disse que tudo bem… — falei, porque não quero que ele fique se desculpando pelo o que
não é culpa sua. — Kookie… não pensa nisso. Você fica triste… vou morrer se você ficar triste. Você triste deveria ser
considerado crime! — eu disse, sério.

— Crime? — riu baixinho, balançando a cabeça.

— Sim! Na delegacia do policial Jimin, esse é um dos crimes mais horrendos existentes. Daria cerca de 15 anos de
prisão. Isso se você tiver sorte! — eu brinquei, fazendo-o rir mais. Dei um sorriso. — Isso aí! Sorri bastante. Aí eu posso
pensar em uma redução de pena… — disse, apertando sua mão com força. Jungkookie riu mais baixinho.

— Bobo… — ele disse, balançando seus cabelos. — Qual seria o pior crime na sua delegacia, policial Jimin?

— Hummm... te fazer chorar é um dos mais pesados, eu diria — eu disse. — Mas o pior de todos, seria te agredir de
alguma forma.

— Puxa… o Jin ficaria preso por quanto tempo, então? — indagou, me fazendo rir.

— Certamente, o juiz, que também sou eu, consideraria os tapas de Seokjin como tapas de carinho. — Ele sorriu. —
Mas ele passaria algumas noites na delegacia por te negar chocolate e outras comidinhas… isso é certo.

Jungkookie riu mais, me dando um tapinha no braço que não doeu nadinha. Parecia até carinho...
— Bobo… — disse mais uma vez, e eu simplesmenteamo como ele me chama de bobo.

— Eu sou, sim...

Por você.

Nossos corações ficaram mais leves depois disso. Jeonggukie começou a me falar das músicas da sua fita e que
estava curioso pra saber se eu gostaria de Brenda Lee. E foi falando dela e de sua melodia antiga, que finalmente chegamos
no lago.

E como em todas as vezes que estamos juntos, estar ali era...mágico.

O céu estava brilhando de um jeito tão, tão lindo. Não tinha nada o cobrindo e, tudo que podíamos ver, eram as
estrelas; brilhantes, e em grande quantidade, espalhadas pelo azul do céu... O som suave do lago era relaxante e o vento
fraquinho balança as árvores com tanta sutileza que simplesmente parecia uma floresta encantada…

Me virei para o lado, vendo Jeonggukie observar tudo tão maravilhado quanto eu.

De certa forma, aqui é encantado só por ele estar aqui…

— É bonito… muito… — ele disse, olhando o céu. — Puxa…

Senti minhas bochechas queimarem quando uma frente fria bagunçou os cabelos de Jeongguk, o deixando mais lindo
do que qualquer outra vez que eu já tenha o visto. Wow...

Eu queria dizer isso para ele. Mas… preferi apenas observar e sentir dessa vez como é lindo meu primeiro amor…

— Tá tão frio… — ele disse, cobrindo suas orelhas.

— Awn… — Fiz carinho em sua cabeça, apaixonado. — Vem… vamos nos sentar e ficar quentinhos.

Jungkookie e eu nos aprontamos e sentamos juntos na pedra bem pertinho do lago. Ajeitamos o cobertor em torno
dos nossos ombros e ligamos a fita, deixando no volume mais alto sem conectar o fone em nossos ouvido. Ficamos ouvindo
o som baixinho vindo do fone…

Quando uma música nova começou a tocar, dei um sorriso e deitei minha cabeça no ombro de Jeonggukie.

— Agora sim… tá quentinho — sussurrei, sentindo-o deitar sua bochecha em meus cabelos, também, escutando o
doce soar da melodia da música. — Essa é a Brenda Lee, Ggukie?

— Sim... — ele disse. — Você acha estranho? É com certeza a música mais diferente que eu já te mostrei…

Dei uma risadinha, procurando seu braço embaixo do cobertor. O enlacei e também segurei sua mão, dizendo:

— A música mais diferente que você já me mostrou foi aquela dos Beatles… — eu disse, ouvindo-o rir por saber
exatamente do que estou falando. — “Eu sou o homem ovo!”... Gguk, aquela sim era doida!

— Era mesmo! — rimos juntos.

— Mas... Kookie… eu gostei. Dessa música, eu quis dizer — eu disse, ouvindo a melodia atentamente. — Me lembra
as músicas antigas que você já me mostrou… aquelas que são das fitas do seu pai. Mas é na voz dela… é muito boa…

— Você… — Riu soprado. — Parece que você se lembra de todas as músicas que eu te mostrei, Jiminnie…

Acarinhei seu braço, esfregando minha bochecha em seu ombro quentinho ao admitir:

— Eu me lembro de tudo sobre você... e tudo que você me fala — eu disse, sorrindo. — É difícil eu conseguir não
pensar em você, Jungkookie...

Ele ficou em silêncio por um tempinho. Então... deu um suspiro doce.

— Puxa… — Ah, esse “puxa”... — Eu… eu também… eu sempre penso nas coisas que você diz e faz. Fica na minha
mente por tanto, tanto tempo…

Senti minhas bochechas arderem levemente e meu coração se encher de amor.Ah, ele gosta de mim como eu gosto
dele, eu amo tanto, tanto isso…

Abusando um pouco do jeitinho que ele estava dizendo as coisas, perguntei:

— Qual foi a coisa mais memorável que eu fiz? Sabe, pra você…

Jungkookie deu um suspiro e a música trocou. Pensei que ele precisaria de um tempo para pensar, mas, de imediato,
ele respondeu:

— Quando você me chamou de muito lindo… na sala… — disse, e sua voz ficou baixinha. — Puxa, eu fiquei
doidinho… eu nem conseguia entender direito por que você tinha dito aquilo! — ele disse, me fazendo rir, gostando das
lembranças. — Pra mim, aquilo não teve nenhum sentido... mas foi bom...
Sorri com a última parte.

— Eu não brinco quando digo que você é muito lindo — eu disse, sorrindo. — Sabe, quando eu te conheci, você me
disse que o Jin era mais bonito que você… bem quando eu disse que vocês pareciam gêmeos. Naquela hora, eu só
conseguia pensar que você estava muito enganado, porque aos meus olhos, você era muito mais lindo… — eu disse,
sincero.

Jeonggukie riu, parecendo não saber o que dizer ao certo. A música trocou no mesmo segundo que ele me fez a
mesma pergunta:

— O que eu fiz que mais… o que mais te faz pensar em mim? — Sua voz saiu tímida, baixinha e lenta.Sua
curiosidade me fez sorrir.

— Humm… são tantas — eu disse, apaixonado. — Quando eu vi suas covinhas pela primeira vez…ah, isso me fez
pensar muito em você. Mais do que antes, porque eu até sonhei, uma vez, que estava cutucando elas de novo...

— O quê? Que doido! — ele riu, e nos afastamos um pouco para nos olhar.

— É, é verdade! Acho que foi ali que comecei a ficar doidinho por você… — eu disse, sorrindo. — Na verdade, foi bem
antes… eu nem sei quando.

Jungkookie sorriu, apertando minha mão. Pensei que ele fosse desviar o olhar, mas ele não o fez. Jeonggukie parecia
estar se sentindo cada vez mais confortável e isso enchia meu peito de alegria…

Ficamos sorrindo um para o outro, silenciosos, e pensativos. Até que Jeongguk contou:

— Sabe… o momento que eu percebi que você era uma das pessoas mais divertidas e legais que existem, foi quando
matamos aula no outro prédio… — ele disse, agora, olhando para o lago. O ouvi atentamente, ansioso para ouvir meu amor
falar de mim. — Quando jogamos cartas, e fizemos piadas… quando você começou a rir e chiar, eu ri tanto! Eu… eu até
pensei que era estranho achar alguém tão legal assim… puxa, você é tão legal e engraçado… — disse ele, talvez, sem
saber o quão arrepiado e amaciado eu estava ficando só de ouvi-lo falar sobre isso.

Na boa. Minhas bochechas estão doendo horrores de tanto que eu sorrio, e elas queimam como o fogo…Jungkookie
me acha legal. Ele está falando sobre mim, e eu me sinto tão lisonjeado e bem… seus elogios sempre me deixamtão bem e
feliz…

— Ggukie… nesse dia, eu me soltei todinho com você — falei, dando risada ao me lembrar de uma coisa. — Lembra
que eu deitei na mesa?! E fingi que estava morto, tudo porque você me venceu na adedanha!

Jungkook pareceu se lembrar disso e, de repente, riu bem alto, até sua voz ficar bem fininha. Isso me fez rir junto com
ele.

— Puxa! Isso me fez rir tanto! — ele disse, aos risos. — Eu me lembro direitinho! Você fez assim!

Jungkook saiu debaixo do cobertor e se deitou na pedra, colocando a mão sobre o peito. Quando olhei para seu rosto
e o vi com a linguinha pra fora, imitando-me da melhor forma possível, caí pra trás de tanto rir. Isso só o fez rir mais e, de
repente, estávamos deitados no chão, rindo muito.

Quando nossas barrigas começaram a doer, nossos risos foram ficando cada vez mais baixinhos. E ali, estirados no
chão, repentinamente vimos vagalumes surgirem.

Virei minha cabeça, espiando sua reação.

— Está com medo dos vagalumes? — perguntei, me lembrando do seu medo de insetos.

Jeongguk virou seu rosto para mim também, rubro de tanto rir. Seus olhos estavam doces e suaves quando ele negou
sutilmente com a cabeça.

— Acho que não ligo pra eles...

Senti como se seus olhos acertassem diretamente meu coração. Porque senti, mais uma vez, que nunca havia visto
Jungkook tão lindo quanto nesse momento… assim. Vermelho, descabelado, e deitado no chão… falando baixinho e cheio de
doçura.

Me senti mole. E não consegui parar de olhar para ele… nem por um segundo sequer. Cada traço seu… suas
sobrancelhas. Seu nariz, tão grandinho e bonito… suas bochechas rosas, seus olhos brilhantes…

Seus lábios… seus lábios…

A música trocou. E quando levantei meus olhos, encontrei Jungkookie olhando nos meus olhos e, como naquele dia,
em seu quarto, tudo em sua expressão parecia diferente. E isso me fez arrepiar…

Meu coração bateu alto em minha cabeça. Era como se meu corpo inteiro ficasse tenso de um jeito estranhamente
bom, como se pedisse para eu me aproximar, como se quisesse isso… tudo em mim quer chegar mais perto. Quer beijá-lo,
porque ele está olhando pra mim, e seus olhos ficam tão, tão mágicos a luz das estrelas… e Jungkook nunca esteve tão
bonito, tão extraordinariamente lindo, e o cheiro dos seus cabelos está me deixando tonto de tão, tão bom que é…
Meus lábios tremelicaram e meu peito ficou mais quente quando, sentindo tudo em mim vibrar, euergui sutilmente
meu corpo. Apoiando minha mão no chão rochoso, eu levantei meu tronco, me inclinando em sua direção, sem deixar de
olhar em seus olhos, sem deixar de ver seus olhos, escuros, brilhando, tal como céu… tão hipnotizantes e românticos. Tão…
tão…

— Ggukie… — eu disse, suspirando alto ao soltar seu nome.Ggukie, eu sinto que vou desmanchar bem agora,
porque você não está se afastando e ficando rosa, você está olhando para mim, e à esse ponto, pensei que era impossível te
amar mais do que eu já te amo… e eu te amo tanto, tanto agora.

Toquei seu rosto com minha mão. Abracei sua bochecha com minha palma, sentindo seu calor; lhedando meu calor.
Jungkookie piscou lentamente e entreabriu seus lábios, soltando uma lufada de ar sutil por eles, mas firme em continuar me
fitando. Sua pele estava queimando, tal como meu coração… tal como tudo em mim…

Nossos olhos não desviaram por um segundo sequer… e eu queria ficar ali eternamente, só lhe olhando, só sentindo
seus olhos conectando-se aos meus, se permitindo, me dando uma carga mágica de coragem, energia, e vontades… eu
quero te beijar, eu quero te beijar, eu quero muito te beijar…

Eu queria dizer isso. Queria dizer que quero beijá-lo.

Mas eu não disse.

Eu cheguei mais perto. Eu vi o momento exato em que os olhos de Jungkook se fecharam, com um pouco de força, e
uma pontada forte de paixão apertou meu coração como jamais antes quando eu fechei os meus e, sentindo meus lábios
ferverem, eu o beijei.

Eu o beijei.

O beijei.

E era como um sonho.

Quando nossos lábios se tocaram, Jeongguk tremeu e eu pude sentir, literalmente sentir, porque seu tremor passou
para mim e, de repente, eu estava tremendo também, sentindo a textura da sua boca, e sua respiração tocando a minha…
sentindo-o da forma mais íntima, da forma mais amorosa, e é como se eu não fosse aguentar tanto amor… era tanto que
minhas sobrancelhas estavam franzidas, e minha mão escorregando de sua bochecha para seus cabelos, apertando
carinhosamente seus fios que tanto mexiam comigo.

Eu estou o beijando.

Nós nos afastamos por um segundo. Quando abri meus olhos, encontrei os de Jeongguk arregalados, e seu corpo
estava se mexendo muito porque seu peito estava subindo e descendo muito rápido.

Eu quero o beijar mais.

Eu não consegui esperar. Eu o dei mais um beijo, breve, querendo sentir cada vez mais. E quando nos afastamos
dessa vez, Jeongguk não abriu os olhos. Pude ver seus lábios sendo umedecidos por sua língua e, quase automaticamente,
fiz o mesmo com os meus, e antes que eu o beijasse de novo, senti uma das mãos de Jungkook se erguerem e tocarem
meus cabelos da mesma forma que eu tocava os seus.

E eu me surpreendi de novo. Porque quando Jungkookie me puxou, com seus dedos trêmulos e tocou seus lábios nos
meus, foi diferente, porque eu senti o gosto da sua boca. E diferente de antes, nós dois fizemos um biquinho, e nosso beijo
soou alto. Isso pareceu nos pegar de surpresa ao mesmo tempo porque, eu apertei seu cabelo da mesma forma que ele
apertou o meu, e minhas sobrancelhas franziram ainda mais. Tão bom, tão… tão amoroso e bom…

— Jiminnie… — ele sussurrou, e eu o beijei mais uma vez, sentindo minha boca formigar. —Puxa, Jiminnie…

Minha mente se encheu de amor pelo soar da sua voz… tão,tão linda, saindo mais fininha que o normal, e tão
pertinho de mim, entrando diretamente na minha cabeça e me fazendo ficar tonto, tonto, de tanto amor…

"How deep is your love, how deep is your love?

I really need to learn"

— Eu acho que nunca mais vou conseguir parar de pensar em você… — eu disse, tocando meu nariz no seu, ouvindo
seu riso soar manhoso e baixo, como se ele já não tivesse mais forças.

E como se eu não aguentasse mais ficar sem, toquei sua boca com a minha mais uma vez. O beijei. O beijei. E o
beijei. Jungkook me beijou, me beijou, e me beijou. Como se não fôssemos parar de nos beijar nunca, nunca mais... E a
sensação de seus lábios doces nos meus era tão boa, tão mágica, que eu me sentia derreter… tudo sobre ele me fazia
derreter.

Seus toques, seus beijos, sua voz, seu cheiro… era tudo tão apaixonante. Jungkook era apaixonante… como um
beijo.

O nosso beijo.
E eu não queria parar de beijá-lo nunca mais.

Notas finais
Muito boa noite, RHEYERS!!!!

Espero que tenham gostado desse capítulo QUILOMÉTRICO!!! Eu fiz com muito carinho e esforço... ele é o maior de toda a
fic e foi pra encher bastante o bucho de vocês <3 queria tentar compensar o tempo que fiquei sem atualizar e enfim espero
que tenham gostado

Eu realmente não sei se vocês esperavam um beijo assim! Eu quis fazer ser BEMMM especial porque desde que tive o plot
de EECR, eu pensei no beijo na luz do luar, no lago, e nesse acampamento... o beijo foi o que mais planejei, então eu quis
fazer do jeitinho que pensei desde o começo! Espero que tenham achado bom

Queria me desculpar pela demora pra atualizar, mas eu estava sem computador e esse capítulo foi realmente MUITO difícil
de escrever, principalmente por causa do tamanho dele... me desculpem por dar um sumiço! Eu vou postar sempre na tl
quando for demorar pra não preocupar vocês eu também posto muito sobre minhas fifics no meu Twitter
(@/gatodacoraline) então vocês podem me acompanhar por lá também!

Muito obrigada por todos os votinhos e leituras gente! Significa o mundo pra mim, puxa... obrigada por lerem minha história,
obrigada por tudo tudinho mesmo <333 vocês são como Rheya pra mim, nunca se esqueçam disso.

Beijinhos e até a próxima!

27. Ele é como um Coelhinho

Notas do Autor
Oi meus amores <3 como vocês estão? Bem? Feliz páscoa <3

Boa leitura~

JUNGKOOK

Eu pensei que estava sonhando.

Um sonho mágico e amoroso. Um sonho longo, realístico e muito bom.

Os beijos de Jimin… em minha boca… realmente são como um sonho.

Puxa… eu sei que pode ser estranho falar algo como isso, mas é verdade. Sempre que Jimin chega mais perto e sua
respiração toca minha pele, meu estômago fica gelado, o que é estranho porque o resto do meu corpo parece estar
derretendo. E quando nossos lábios se tocam, eu me sinto tão, tão bem que é como se eu fosse a pessoa mais sortuda do
mundo. Acho que minha teoria de que fui um herói na vida passada está certa…

Afinal, não tem outra explicação para eu ser tão, tão sortudo assim nessa vida. Puxa...

Eu sou sortudo mesmo.

Ser beijado… é tão bom. É macio. É agradável… beijar é muito agradável. É doce e amoroso… eu gosto como Jimin
faz carinho no meu rosto enquanto me beija. Eu gosto de apertar o braço dele e de vez em quando subir meus dedos até seu
cabelo ruivo. Eu gosto de tudo… na verdade, eu acho que amo. Puxa, eu amo ser beijado por Jimin porque é exatamente
como eles dizem nos filmes e nas músicas de amor… acho que é até melhor...

Mesmo que meu rosto esteja ardendo como se eu estivesse dentro de um forno e eu esteja com os olhos fechados há
tempo demais, beijar é tão, tão bom. Sentir a franja de Jimin pinicar meu rosto e seu cheirinho bom me envolvendo enquanto
tocamos nossos lábios é como estar no paraíso. Um paraíso onde só tem nós dois…

Jungkook e Jimin, Jungkook e Jimin, Jungkook e Jimin...

Puxa. Eu não quero abrir meus olhos, não quero parar de sentir Jimin e seus beijos nunca, nunca mais…

Tudo ao nosso redor está silencioso. A fita já terminou faz tempo e a única coisa que escuto é o barulho da água, dos
grilos, e o som engraçadinho que nossos lábios fazem quando nos beijamos. Jimin suspira e fala meu nome pertinho da
minha boca algumas vezes, e isso me deixa tão arrepiado que… puxa. Os dedinhos do meu pé se contorcem por inteirinho.
É realmente como o paraíso.

— Jungkookie… — Sinto minhas bochechas queimarem mais quando ele sussurra meu nome mais uma vez.Puxa,
tão bom… — Sua cabeça não está doendo? — perguntou, baixinho.

Me senti confuso com sua pergunta, e ainda não tinha aberto meus olhos. Eu estava tão entorpecido que só consegui
franzir meu cenho, resmungando:

— Hã...? — murmurei, meio arrastado. Jimin deu uma risadinha e só por isso abri meus olhos, curioso, porque estou
lento e… não faço ideia do que ele está rindo ou falando.

Puxa… é quase como se eu estivesse em outra realidade, agora.

Com meus olhos abertos, encontrei Jiminnie um pouquinho longe, sorrindo pra mim. Seu rosto estava vermelho e ele
parecia tão... tão radiante. É como se fosse o Jiminnie de sempre, só que… muito mais alegre…

Puxa…

— É porque você está deitado na pedra… — ele disse, baixinho, se afastando de mim ao se sentar. — Aí pensei que
pudesse estar doendo… — ele disse, mas eu não consegui pensar nisso.

Minha mente só pensava no fato dele ter sentado e consequentemente se afastado. Puxa… ele não vai me beijar
mais? Será? Por quê?

— A-ah… — sussurrei, processando suas palavras muito lentamente. Minha mente não está funcionando direito,
puxa… — Hum… não muito… — eu disse, baixinho, me erguendo lentamente.

Me sentei também, com as pernas esticadas, exatamente como Jiminnie. Por um segundo, olhei para nossos pés
juntos, assim como percebi que meu pé direito estava sem o chinelo e eu simplesmente não sei quando foi que ele saiu…
puxa…

Eu realmente estou com a cabeça nas nuvens.

— Ggukie? — Jimin sussurrou, me chamando de repente.

Pisquei um par de vezes. Desviei meus olhos dos nossos pés, virando-me lentamente para o lado, olhando para ele.
Jiminnie. Jiminnie. Jiminnie...

Jimin estava muito perto. Ele tirou seus óculos há um tempo e vê-lo assim é o suficiente para eu ficar todo
balançado. Eu pensei que ele ia me beijar, então fechei meus olhos, apenas esperando...

O ouvi rir baixinho, e então, seus lábios tocaram os meus, em um beijo calmo e amoroso. Não consegui pensar no fato
dele ter rido baixinho antes, só… só consegui sentir como é bom quando ele me beija. É bom. Minha mente não para de
repetir isso… é bom, é bom, é bom…

Beijar é… muito… bom...

Puxa.

Jimin se afastou. Eu abri meus olhos, e continuei olhando para ele. Eu queria dizer alguma coisa, mas não consegui
dizer nada… só consegui ficar olhando, olhando, e olhando…

Jimin sorriu de novo, mesmo que eu não estivesse falando nada, só o encarando com o meu rosto todo vermelho. Ele
se aproximou, fechando seus olhos de um jeito muito fofo ao me dar mais um beijo na boca. Mais um, mais um, mais um...

Esse beijo fez aquele barulhinho engraçado e foi tão repentino e rápido que nem deu tempo de corresponder… só
fiquei ainda mais balançado e lento, olhando Jimin com cara de bobo quando ele se afastou, com um sorrisinho realmente
lindo demais em seu rosto. Puxa… e de pensar que é ele que está me beijando… Park Jimin… o garoto mais bonito de todo
o mundo…

Puxa vida...

— Você... gostou? — ele perguntou, sua voz soando mais doce quechocolate branco.

Olhei nos olhos dele. Gostei? Do quê?

— Do quê...? — indaguei, perdido demais naquelas sensações amorosas e entorpecedoras para entenderqualquer
coisa.

Jiminnie deu uma risadinha, me deixando ainda mais lento quando segurou meu rosto com ambas suas mãos,tão
macias e quentinhas, cobrindo minhas bochechas com suas palmas. Novamente, ele se aproximou e me deu um beijo, me
fazendo fechar os olhos quando ele estava bem pertinho. Foi tão rápido quanto o último...

Assim que Jiminnie se afastou, demorei alguns segundos para abrir meus olhos. Isso o fez rir baixinho e meu rosto
esquentar mais porque, puxa, eu realmente preciso de um tempo para processar seus beijos em minha boca…

É que… é de outro mundo… puxa...


— Entendeu? — Jimin perguntou de novo e eu,enfim, abri meus olhos.

Entendeu… entendeu…

— Hã…? — murmurei, completamente tonto. Entendi o quê?

Jimin riu ainda mais de mim, o que me deixou cada vez mais confuso, mas o fato dele estar sorrindo me deixou tão
feliz… tanto que eu acabo sorrindo também, vendo-o se remexer enquanto ri a beça. É lindo. É lindo quando ele ri assim,
puxa…

— Jungkookie, é tão engraçadinho quando você fica assim — ele disse, ainda aos risos. Dei uma risada desafinada e
sem graça, mas para ser sincero, não estou entendendo nada.

Puxa...

— Assim… como? — perguntei, o olhando, tímido.

Jimin sorriu mais, balançando seus ombros.

— Assim… como se estivesse em outro mundo! — ele disse, e não conseguia parar de sorrir um segundo sequer.
Puxa.

Eu também não consigo...

— Eu… eu acho que estou mesmo… — eu falei, abaixando meu olhar, fitando minha mão. Meus lábios estão
formigando por causa dos beijos…

Beijos… puxa…

— É que… eu queria saber… — Jimin “andou” com seus dedinhos para perto dos meus, me fazendo rir baixinho.
Parece que seu dedo indicador e médio são duas perninhas curtas. — Se você gostou… — Ele acariciou as costas da minha
mão com a pontinha das unhas e, então, cobriu parte da minha mão com a sua. — Dos beijos…

Eu queria saber se você gostou dos beijos.

Jimin disse.

Engoli em seco, me sentindo tímido com sua pergunta, porque… parece vergonhoso responder que sim! Eu nem sei
por que, mas parece… mesmo que eu tenha gostado. Gostado muito, muito mesmo...

Eu não consegui responder em voz alta. Só movi minha cabeça lentamente, confirmando dessa forma. E querendo
que Jimin tivesse certeza, virei minha mão e segurei a sua de volta. Assim que ele entrelaçou seus dedos aos meus, eu tive
certeza que ele tinha entendido que eu não só gostei dos beijos. Eu amei.

Amei com todo meu coração...

Essa foi a deixa para Jimin chegar pertinho e dar um monte de beijos em meus lábios.Beijos bons que me deixavam
tontinho. Beijos bons que me deixavam todo vermelho e arrepiado… Eu o beijei de volta todas as vezes, mesmo que
atrapalhado. Na verdade, eu não sabia se estava beijando do jeito certo, mas, puxa… parecia certo. Quando eu fazia um
biquinho e nossas bocas se tocavam, era gostoso e macio. Era um beijo. Um beijo tão quentinho que eu sentia que estava
derretendo. Principalmente quando Jimin deixou de me beijar na boca para distribuir vários beijos lentos e suaves nas minhas
bochechas antes de voltar a pressionar seus lábios nos meus, cheio de amor.

É como se Jimin estivesse me fazendo cafuné de um jeitinho diferente. De um jeitinho… mais carinhoso ainda...

Puxa. É como se eu por inteiro estivesse nas nuvens agora...

— Jungkookie… — Jimin murmurou, pertinho da minha boca. Meus olhos ainda estavam fechados. — Amanhã… o
ônibus sai cedinho. A gente deveria voltar e dormir…

Sua fala me fez abrir os olhos. Voltar? Mas já?

— Por quê…? — perguntei, meio amuado porque eu queria ficar mais.Queria ficar o máximo de tempo possível com
Jimin me beijando na boca, tocando meu rosto, e falando comigo desse jeitinho.

Desse jeitinho… amoroso…

— Porque eu não quero que você acorde cansado amanhã — sussurrou. Nossas mãos ainda estão entrelaçadas,
desde aquele momento que eu demonstrei que amo seus beijos. Amo, amo, amo… — Não faz essa carinha…

Pisquei um par de vezes, vendo Jiminnie se afastar um pouquinho. Estamos ambos sentados lado a lado, com as
pernas esticadas e as mãos entrelaçadas com carinho. Quando Jimin tirou seu rosto bonito de perto do meu, percebi que
tinha, inconscientemente, feito uma expressão magoada por ele dizer que temos que voltar.

Suspirei baixinho, desfazendo o biquinho em meus lábios. Puxa, eu realmente gostaria de ficar aqui o máximo de
tempo possível…

— D-desculpa… — sussurrei, coçando minha nuca com a mão que não estava em contato com a sua, me sentindo
bobo. — Puxa… você tem razão…

Jimin fez carinho nas costas da minha mão com seu polegar, se aproximou, e me deu um beijo no cantinho da boca,
indagando:

— Ei… o que foi? — murmurou baixinho, pertinho do meu rosto.Fechei meus olhos. — Por que você está
preocupado?

Senti minhas bochechas queimarem mais… talvez elas explodam em breve. Afinal, ouvir a pergunta de Jimin me
deixou tímido e pensativo. Pensativo sobre ele, nossos beijos, e em como nós conversamos sobre tudo essa noite…

Pensei em como nos abrimos um para o outro… na forma que nos tocamos… em como nos beijamos na boca. Pensei
em como ele não parou de me beijar uma única vez e em como eu não hesitei em corresponder, mesmo com todas as
minhas inseguranças. Apesar da timidez, querer estar com Jimin fazia meu corpo mover-se praticamente sozinho… eu não
conseguia sentir medo de beijá-lo, ou de deixá-lo me beijar. Porque era ele. Jimin.

Jimin… a esse ponto, é como se eu conhecesse Jimin desde que eu nasci, porque euconfio tanto, tanto nele…

Quando abri meus olhos, encontrando-o me fitando com curiosidade, senti meu coração bater de um jeito diferente e
minha mente se encher desse pensamento... minha confiança em Jimin.

Jiminnie. O garoto que eu conheci esse ano, está me beijando e olhando nos meus olhosbem agora. Jiminnie é… é…
é uma das pessoas em que eu mais confio. Para falar a verdade, acho que eu sempre confiei nele… mas por que será?
Puxa, eu sempre fui tão desconfiado, mas a partir do momento que conheci Jimin, me abri completamente… sem nem
perceber. Olhei para seus olhos, tão sinceros e amáveis, e… puxa. Seu jeito de olhar para as pessoas e de olhar para mim…
acho que isso me cativou. Com o passar dos dias, das conversas, e dos toques carinhosos, eu me senti seguro e confiei
nele...

De repente, fico pensando em todas as vezes que Jimin me abraçou, afagou meu cabelo e segurou minha mão… de
repente, pensei em como foi reconfortante; em como foi quente e agradável… sempre que estou com Jimin, sinto quenunca
vou ficar sozinho no mundo. Ele realmente tem meu coração. E eu não sinto medo. Com Jimin, eu nunca sinto medo, puxa...
me sinto tão próximo dele que é quase como se nossos corações batessem ao mesmo tempo, na mesma velocidade, na
mesma medida… e é diferente do resto do mundo. É algo só meu e de Jimin...

Percebi que, enquanto pensava em todas essas coisas, em cada detalhe sobre meus sentimentos, eu e ele, acabei
não respondendo sua pergunta. Afinal… por que eu estou preocupado? É porque eu quero beijar na boca? Ou porque quero
me sentir assim por mais tempo?

Pisquei um par de vezes quando Jimin murmurou um“Hm?” e me olhou como se quisesse entrar em minha mente.
Puxa… acabei me sentindo mais tímido por pensar em todas essas coisas. Será que Jiminnie acharia estranho? Será que
ele imagina que eu gosto tanto assim dele?

Será que ele se assustaria se soubesse que eu gosto tanto, tanto, tanto dele assim?

Puxa…

— Jungkook… — ele murmurou, sua voz doce e cuidadosa como sempre. — Hum… você está se sentindo mal? Foi
alguma coisa que eu fiz?

Pressionei meus lábios, negando com a cabeça. Minha barriga ficou geladinha por ele estar preocupado comigo, e me
virei para si, negando mais uma vez com a cabeça.

Eu estou pensativo porque gosto muito de você, e não é ruim. Porque é você. É de você que eu gosto. E isso nunca
vai ser ruim.

Sinto ele apertar minha mão. Então, desviando meu olhar, eu digo o que resume grande parte dos meus sentimentos:

— Não… é só que… — Dei um suspiro baixinho. — É que eu queria ficar mais tempo com você… — sussurrei.

Jiminnie não respondeu nada por alguns segundos. Até que chegou mais perto e deitou sua cabeça em meu ombro;
seus cabelos ruivos me fazendo sorrir.

É como se o laranja do seu cabelo fosse o suficiente para eu sorrir para todo o sempre.

— Sabe… — Jimin começou, bem baixinho, sem parar de acariciar minha mão com seus dedinhos. — Se você deixar,
eu vou ficar com você pra sempre...

Senti meu coração bater forte. Pra sempre?

Sempre...

Minha mente se encheu com suas palavras e da ideia de ficar consigo pra sempre.

Eu só consegui… sorrir. Eu sorri bem grande. As batidas do meu coração estavam fortes porque eu estava muito feliz.
Muito, muito feliz… e sorrindo muito, muito mesmo, puxa. Jimin levantou sua cabeça do meu ombro, olhando para mim e
minha feição sorridente e alegre. Não consegui disfarçar nem quando ele olhou descaradamente para meu rosto, analisando
minha reação e, por fim, dando uma risadinha amável.
— Você gostou da ideia? — ele perguntou, me fazendo coçar minha nuca mais uma vez.

Puxa...

Não consegui responder em voz alta como na maioria das vezes que Jimin é tão direto comigo. Mas apertei seus
dedos entre os meus e confirmei com a cabeça. Eu gosto muito. Gosto muito da ideia de ficar com você para sempre, puxa.

Eu não consigo nem me imaginar não querendo estar com você, Jimin...

Jimin me beijou os lábios logo depois de me ver concordar.Puxa.

— Vamos voltar… — ele sussurrou, sem parar de sorrir.

Balancei minha cabeça e fiz Jimin dar uma risadinha antes de se levantar, soltando minha mão no processo. E mesmo
que levemente amuado por ter que ir embora, não me magoei. Afinal... Jiminnie e eu vamos ficar juntos para sempre. E é
isso que importa...

Levantei logo depois dele, pegando o walkman enquanto ele dobrava e segurava o cobertor. Quando estávamos
prontos para ir embora, apenas paramos. Paramos para observar aquele lugar tão, tão bonito… O céu estrelado e a água que
soava tão calma pareciam de outro mundo. Tal como os beijos de Jimin…

Senti os dedos quentinhos de Jimin tocarem sutilmente minha mão e acabei desviando meus olhos do céu estrelado
para seu rosto bonito. Uma frente fria fez seus cabelos ruivos abandonarem vagamente seu semblante. Olhei dentro dos
belos olhos castanhos de Jimin e fiquei fascinado quando percebi que suas orbes brilhavam como as estrelas no céu. Tanto
quanto suas bochechas cheias de pintinhas, e seus cílios ruivos… suas sobrancelhas, seu nariz, sua boca… tudo, tudo, tudo.

Jimin é… como as estrelas.

Talvez ele seja uma. Só isso explicaria tamanho brilho.

— Puxa… — sussurrei, sem perceber. Acho que… só precisava falar isso.

Jimin me olhou com mais atenção, mas quando percebeu que soltei aquela palavra sem contexto nenhum, deu uma
risadinha. Acabei rindo também, me sentindo o garoto mais doidinho do mundo. Puxa...

Jimin deu a deixa para começarmos a caminhar de volta, colocando o óculos mais uma vez em seu rosto — inclusive
eu calcei meu outro chinelo —, apertando minha mão. Logo, comecei a andar com Jimin para longe daquele lugar mágico
que, embora eu provavelmente nunca mais frequente, jamais irei esquecer.

Jimin e eu ficamos em silêncio a maior parte da trilha, mas não foi nem um pouco ruim. Foi como se estivéssemos
conversando e rindo, porque nossos passos eram alegres e nossos sorrisos enormes. Acho que nos sentimos tão bem por
estarmos juntos que não precisamos dizer nada.

Perto dos chalés, Jimin parou subitamente. Pensei que ele ia checar se estava tudo vazio para seguirmos, mas ele
não o fez. Jimin se virou para mim, deu um sorriso felizinho e abraçou meu pescoço com seus braços macios e quentinhos.

Naquele momento, ele pareceu um pouco mais baixo que eu e, por algum motivo, isso fez as maçãs do meu rosto
corarem. Ainda mais quando ele se aproximou e beijou meus lábios mais uma vez. Puxa… é como se nunca mais fôssemos
parar de beijar na boca…

Não que isso seja ruim…

Fechei meus olhos e o beijei de volta, pressionando meus lábios nos seus, sentindo o óculos de Jimin tocar sutilmente
minha testa. Nosso beijo foi tão demorado que, quando nos afastamos, nossas bocas fizeram aquele barulhinho gozado que
eu tanto gosto. Puxa...

Jimin olhou para mim de pertinho, abraçado em mim, com o óculos meio torto em seu rosto. Isso me fez sorrir porque
ele ficou muito bonito assim, puxa...

— Agora sim… — ele disse, me soltando aos pouquinhos. —Agora podemos ir.

E nós fomos. Demos as mãos mais uma vez e atravessamos o acampamento cautelosamente, aliviados por não ter
ninguém de vigia. Será que isso de vigia era um blefe desde o começo para deixar os alunos com medo de fazerem algo
errado? Puxa, se sim, deu muito certo…

Jiminnie e eu chegamos em segurança em nosso chalé. Abrimos a porta bem lentamente, e quando nós entramos,
meu coração apertou ao notar que esquecemos de pensar em uma coisa antes de sair.

Seokjin.

Nós esquecemos de planejar uma desculpa para ele. Afinal, o que vamos falar para Seokjin quando ele perguntar
onde eu e Jimin tínhamos ido para não estarmos no quarto quando ele chegou?

Me senti nervoso com isso, e olhei imediatamente para a parte de cima da beliche, esperando encontrar Seokjin
dormindo, mas…

Ela estava vazia.


— Seokjin ainda não voltou… — Jimin sussurrou baixinho e Yoongi estava roncando a beça.

Dei um suspiro aliviado, confirmando com a cabeça. Jin ainda está no chalé das garotas… que alívio…

Então, realmente… deu tudo certo.

— Pelo menos a gente sabe que ele tá se divertindo — eu disse, baixinho. Jimin confirmou com a cabeça, e mesmo
que estivesse escuro, eu conseguia enxergá-lo por causa da luz do luar que vinha lá de fora.

— Gguk… vou trocar seu cobertor — Jimin disse, baixinho. — Sabe, porque ele ficou no chão… vou pegar outro na
cômoda pra você.

Antes que eu dissesse que não precisava, Jimin foi até a cômoda pegar outro cobertor para mim, me fazendo rir e
agradecer baixinho. Depois de o colocar sobre minha cama, Jiminnie ficou descalço e deixou seu chinelo no cantinho do
quarto. Aproveitei para fazer o mesmo, mas deixando os meus embaixo da minha cama, sentindo como meus pés estavam
empoeirados após fazer isso.

Fui na direção do banheiro e Jimin foi ao mesmo tempo. Quando percebeu-me, parou no lugar — e acabei parando
também.

— Você tá apertado? Eu só vou lavar os pés e escovar os dentes, pode ir primeiro se quiser… — ele disse baixinho,
me fazendo negar com a cabeça.

— Não, eu ia fazer o mesmo… — falei, baixo também. — Meus pés estão empoeirados…

Jimin balançou a cabeça, confirmando, e então ficamos em silêncio por alguns segundos. Pensei em dizer para ele ir
primeiro, mas suas palavras sobressaíram as minhas quando ele perguntou:

— Quer ir junto?

Pisquei um par de vezes. Junto? Tipo, lavar meus pés e escovar os dentes com Jiminnie?

Puxa. É um pouco engraçado pensar na ideia, mas não me parece estranha… para ser sincero, nada parece estranho
agora. Não com Jiminnie. É tudo muito confortável, convidativo e bom…

— É, acho que sim… — eu disse, dando um sorrisinho quando Jimin deu uma risadinha bonita. Sendo assim,
entramos juntos no banheiro.

Foi engraçado lavar meus pés com ele. Como estava muito frio, nós o lavamos no chuveiro, que tinha água
quentinha… Jimin inventou de me mostrar um jeito “diferente e genial” de lavar os pés e quase caiu no box. Jeito genial este
que se baseava em: jogar um pouco de shampoo no chão e esfregar o pé ali. Segurei um Jimin com as pernas bambas umas
três vezes por causa desse jeito genial e acabamos dando muita risada. Puxa, é impossível não ser divertido fazer qualquer
coisa com Jiminnie…

Depois de secarmos nossos pés, dividimos a pia para escovar os dentes. Por algum motivo Jimin pareceu muito feliz e
bobo ao fazer isso, porque ficava sorrindo com os olhos e me fitando pelo espelho sem parar. Suas bochechas até ficaram
vermelhas, e apesar de não entender ao certo por que ele gostou tanto, me senti muito feliz também… e de certa forma,
gostei muito.

Depois disso, Jiminnie saiu do banheiro para arrumar sua cama para dormir. Eu me troquei rapidinho, colocando meu
pijama dentro do banheiro — sozinho dessa vez, é claro! — e fui me deitar. Jiminnie fez o mesmo depois de mim, e por
algum motivo, não quis me deitar até ele sair do banheiro. Então, só o esperei sentado em minha cama…

Quando Jiminnie saiu, fiquei olhando para sua silhueta andando pelo chalé escuro. Ele, também, não hesitou em vir
até minha cama para se inclinar e me dar um abraço quentinho e confortável antes de dormir, sussurrando carinhosamente:

— Boa noite, Jungkookie…

E eu? Puxa… eu me senti muito bem por poder estar com Jiminnie logo antes de dormir. O tecido do seu pijama de
inverno é quentinho e confortável… para ser sincero, Jimin inteiro é quentinho e macio. Seus abraços são os melhores e mais
acolhedores do mundo, puxa…

Depois desse abraço apertado e cheio de sentimentos, Jiminnie se afastou sutilmente. Ele se ergueu, olhou para trás,
e fitou a cama de Yoongi. Curioso, acabei olhando também, percebendo que ele estava dormindo encolhidinho, virado para a
parede e roncando como sempre.

Jiminnie virou para mim de novo, e se inclinou. Senti meu pescoço arrepiar quando ele segurou minhas bochechas
com ambas suas mãos, vagarosamente; tocando minha pele com a pontinha dos dedos antes de cobri-la com a palma
quentinha de suas mãos. Senti as maçãs do meu rosto queimarem e fechei meus olhos quando ele se aproximou de mim,
erguendo meu rosto com cautela para me beijar. Puxa. A cada beijo, ele fica mais cuidadoso e romântico…

Assim que seus lábios tocam os meus, percebo também, que os beijos ficam cada vez melhores. Os lábios de Jimin
são grossos e macios como uma bala bem doce de goma… é tão doce quanto uma também, puxa…

Jimin me beijou. E depois de afastar seu rosto do meu, pisco meus olhos lentamente, me sentindo meio dormente.
Puxa. É automático… sempre que ele me beijar, vou me sentir dormente, tonto e entorpecido. Talvez esse seja o efeito dos
seus beijos… são surreais o suficiente para me deixar anestesiado…
— Boa noite… — eu disse, bem baixinho, mas sinceramente… eu não queria que ele se afastasse.

Jimin não se afastou de primeira, demonstrando que também não queria ficar longe. Ele ficou um tempo inclinado,
perto do meu rosto, até rir baixinho e enfim sair, dando meia volta para ir pra sua cama. Me deitei e me cobri, vendo-o fazer o
mesmo do outro lado do quarto, deitando e se cobrindo, em silêncio.

Os minutos se passaram com lentidão depois disso. Eu não consegui dormir de jeito nenhum, só ficava me virando e
revirando na cama. Meu coração não tinha entendido que era a hora de dormir e continuava batendo daquele jeitinho
diferente… aquele jeitinho que ele bate quando estou com Jimin e quando ele está me beijando, puxa…

Para ser sincero, me sinto todo diferente depois de hoje… por isso, não sinto sono.

Como na noite passada, me virei para o lado e espiei a cama de Jimin. Depois de tanto tempo, pensei que ele já tinha
dormido. Mas… não. Jiminnie estava se mexendo que nem eu, virando para um lado, se cobrindo, se descobrindo… como se
não conseguisse dormir. Exatamente como eu.

Dei um sorriso, rindo baixinho. Me sentindo meio balançado, sussurrei:

— Jimin…?

Jimin parou de se mover. Ele descobriu seu rosto, e olhou para minha cama, um pouco confuso.

— Jeongguk…? — chamou de volta, como se não tivesse certeza se eu o chamei de verdade.

Isso me fez rir baixinho. Puxa. Ele é fofo…

— Você não consegue dormir? — eu perguntei.

Jimin demorou um pouco para responder. Ele se virou completamente para mim, deitando seu corpo de lado e deu um
suspiro.

— Não… — sussurrou. E antes que eu respondesse que também não conseguia, Jiminnie completou: — Você não sai
da minha cabeça…

Senti meu rosto esquentar e meu coração acelerar, cheio daquela sensação gostosa que sinto quando escuto as
palavras amorosas de Jimin. Puxa. É tão, tão bom…

Me senti sem fala. Não sabia o que dizer, só que queria muito beijá-lo naquele momento… ou abraçá-lo.Ou os dois.
Puxa. Eu quero ficar com ele o tempo todo, puxa…

— Você também não consegue dormir? — ele perguntou, depois de eu ficar em silêncio por um tempão.

— Não… — eu respondi. Apertei a fronha do meu travesseiro e engoli em seco antes de dizer: — Pelo mesmo motivo
que v-você…

Senti meu rosto queimar mais, porque falar essas coisas me deixamuito envergonhado. É perfeito quando Jimin diz,
mas quando sou eu, parece tão esquisito! Puxa vida...

Continuei puxando e apertando a fronha do meu travesseiro, tentando descontar minha timidez ali. Até que Jimin
soltou um suspiro longo, e ouvi um barulho mais alto. Quando abri meus olhos, percebi-o se levantando da sua cama, e
acabei rindo baixinho quando ele se aproximou da minha em uma velocidade repentina incrível. Então levantou meu
cobertor, e me fez chegar para trás ao deitar na minha cama junto comigo, sem cerimônias, se escondendo sob a coberta
comigo. Acabei rindo mais quando ele riu também.

— Sempre que você falar essas coisas fofinhas, vou te encher de beijos,seu… — ele disse, apertando meu braço, e
seu jeitinho de falar meio bravo, meio amável, me fez sorrir grande. — Seu… seu bonitinho…

Sua fala me fez rir mais. Jimin e eu estamos dividindo o travesseiro, deitados de frente um para o outro, e soltando
risinhos amorosos… acho que é óbvio que não demorou nadinha para começarmos a nos beijar, certo? Puxa…

Jimin me puxou pelos ombros, e me abraçou desse jeito, deslizando suas mãos quentinhas até minha nuca. Quando
nossas bocas se tocaram, me senti aliviado e molengo. É incrível como esses beijos não perdem a graça, puxa… só ficam
cada vez melhores. Ainda mais quando seus lábios estão úmidos e os meus também… fica tão arrepiante, puxa…

Fiquei fazendo carinho no braço de Jimin, de olhos fechados, dando risada sempre que ele falava alguma gracinha
entre um beijo ou outro. Nossos pés ficaram se entrelaçando debaixo da coberta e eu tinha certeza que o cheiro bom de seus
cabelos ruivos iam ficar no meu travesseiro. Isso é perfeito…

Dei um sorriso grande quando Jiminnie disse uma coisa doce e fiquei completamente balançado quando ele tocou
meu rosto, dizendo:

— Você sorri como um coelhinho… — Sua voz soou manhosa e macia. — Você é tão lindo, Ggukie…

Fiquei todo vermelho, sorrindo mais. Jiminnie me chamou de coelhinho mais vezes e nunca pensei que fosse me
sentir tão bem sendo comparado com um. Puxa...

Por mais uma longa parte da noite, nós não paramos de nos beijar. Ficamos fazendo carinho, rindo, e falando o nome
um do outro baixinho, como se fosse um segredo. Debaixo daquele cobertor, dividimos beijos, risadas, e muito calor…
Em certo momento entre nossos beijos, Jimin sussurrou:

— Sabe, eu me lembrei de uma coisa… — ele disse, me fazendo fitá-lo com atenção. Estava muito escuro, mas eu
ainda conseguia vê-lo, mesmo que bem sutilmente… — Lembra da primeira vez que você foi lá em casa?

Pisquei lentamente, balançando minha cabeça. Puxa… como me esquecer? Aquela foi a primeira vez que Jiminnie
tocou minha mão...

— Sim… — eu falei.

— Lembra do que eu falei sobre o amor? — sussurrou, me fitando atentamente.

Jimin começou a tirar o cabelo do meu rosto enquanto eu pensava, procurando em minhas memórias todas as nossas
conversas naquele dia que tanto significou para mim. Amor…

Amor…

— Amor é tudo que nos faz sentir que é satisfatório estar vivo… — eu disse, me lembrandoexatamente do momento
que Jiminnie me disse isso.

Puxa… essas palavras ficaram em minha cabeça por um tempão. Lembro que, sempre que me sentia feliz, eu me
lembrava dele e pensava que estou sentindo amor. Jimin e suas palavras doces sempre são marcantes a ponto de eu jamais
esquecê-las, puxa…

Ao me ouvir, Jimin assentiu, e pude ver seu sorriso. Sorri também, sentindo meu rosto todo quente, ainda mais
quando Jimin deslizou seus dedinhos que estavam afagando e ajeitando meus cabelos para minha orelha, apertando e
massageando o lóbulo com carinho.

— Acho que te beijar é como o amor… — ele disse, então, me fazendoarrepiar.

Dei mais um sorriso trêmulo. Me lembrei do teorema Rheya, das palavras de Jimin, e pensei em amor… amor.Amor…

— Nós somos como o amor… — eu disse, olhandofundo em seus olhos.

Jimin me respondeu com um beijo na boca. E depois mais um. E mais um, e mais um, até ficarmos sonolentos o
bastante para nos despedirmos com um boa noite e nos separarmos, segurando nossas mãos até o último segundo.

Apesar de sentir saudade do seu corpo quentinho deitado junto do meu, consegui dormir bem depois disso. Antes de
pegar no sono, senti meu peito ficar quentinho com o amor. O amor dos nossos beijos…

O nosso amor.

***

Pela manhã, fui acordado pelo som da porta do chalé se batendo.

Não só eu, como Jimin e Yoongi acordaram com obarulhão. Todos nós nos sentamos em nossas cama e,
surpreendentemente, alguns segundos depois, o sino tocou lá fora, mostrando que já era a hora de acordar — e nos
acordando de uma vez, porque ele sempre assusta e isso faz nossos corações baterem bem forte.

Seokjin, inclusive, deu um meio grito de susto. Depois bateu o pé, como se estivesse bravo.

— Ya, esse sino sempre me assusta… — Jin resmungou. — Droga… já deu a hora de levantar? Que saco...

Jin..?

Mesmo que eu estivesse sonolento, ouvindo sua voz, consegui juntar algumas informações e lembranças em meu
cérebro sonolento. Me lembrei que Seokjin não estava no quarto quando peguei no sono ontem e que eu não o vi chegando.
Então, quando fitei a porta e o encontrei ali, de pé, acabei me lembrando de tudo... e acabei também por perceber, com o
tempo e o sono passando, que acordei com o barulho de Seokjin chegando.

Chegando… do chalé das garotas…

Mas… de manhã? Só agora?

— Jin…? — Ouvi a voz de Jimin sussurrar, rouca e confusa.

Seokjin ainda estava em pé, na frente da porta. Ele veio para o meio do quarto bufando.

— Eu… — ele disse, sentando na minha cama. Franzi o cenho. — Ah, que cama macia… — murmurou, bocejando e
se deitando no meu colchão, com metade do corpo pra pra fora da cama (ele estava meio sentado, meio deitado, na
verdade).

Pisquei um par de vezes, sem entender. Para ser sincero, acho que ninguém entendeu nada porque, por longos
segundos, ficamos apenas fitando Seokjin deitado, curiosos e confusos.

Quando percebeu que a atenção estava toda voltada para si, Seokjin abriu seus olhos. Ele nos encarou de volta e deu
um longo suspiro, dizendo:

— É, eu dormi no chalé das garotas… — ele disse, bufando mais. — Mas foi no chão e foi simplesmente horrível.
Fiquei acordando o tempo todo e agora tô todo dolorido e sonolento.

Ele… dormiu…

— O quê…? — eu murmurei, confuso. — Por que você fez isso?

Seokjin se sentou, como se minha pergunta o trouxesse sentimentos frustrantes demais, exclamando:

— Por causa daquela Jenny! — ele resmungou, franzindo seu cenho, mal humorado. — Ela começou a rondar bem na
hora que eu ia voltar! Jeonghan também ficou lá. A gente estava tão cansado que Micha mandou a gente dormir, só que não
tinha espaço, então dormimos em cima de um cobertor no chão. Foi horrível. Jeonghan ronca mais que o Yoongi!

— Eu não ronco… — Yoongi resmungou, sonolento.

— Ronca sim — Jimin disse, dando um sorrisinho de lado.

— Cala a boca — Yoongi rebateu. Jimin deu uma risadinha, como se estivesse acostumado com esse jeito do Yoongi.

— Mas… caramba, Jin. Você deve estar cheio de dores nas costas — Jimin disse, colocando os pés para fora da
cama.

— Sim… e cansado demais… nunca mais faço essas tradições de acampamento… — ele disse, voltando a se deitar.
— E agora eu nem posso dormir porque tenho que levantar e tomar café…

Coçando meus cabelos bagunçados, fitei meu melhor amigo, que parecia muito cansado, epensei um pouco.

Então, tive uma ideia.

— Por que você não dorme até a hora da gente arrumar as coisas para ir embora? — perguntei, prendendo a atenção
de Seokjin. — Posso pegar sanduíche e suco pra você… e você come aqui depois. Elas não proíbem a gente de sair do
refeitório com comida mesmo…

Jin fez um bico pensativo. Pensei que ele fosse resmungar, mas... ele só sorriu e se ergueu, sentando-se na minha
cama para dar um tapa no meu braço.

— Ya… isso sim que é um amigo — ele disse, dando um sorriso grande repentino. — Boa ideia, Jungkook!

Seokjin me deu um abraço, me enchendo de tapas nas costas no meio dele. Esses abraços são mais dolorosos do
que reconfortantes, mas eu não disse nada disso, só o abracei de volta.

— Tá, tá. Vai dormir, vai — eu disse, saindo da cama quando ele se afastou e se deitou, agora, por inteiro na cama.

— Sim, vou sim, muito obrigado…

E cansado demais para dizer qualquer outra coisa, Seokjin fechou seus olhos. Não demorou mais do que alguns
minutos para ele pegar no sono. Jimin comentou com uma risadinha que ele realmente dormiu rápido demais, e acabamos
rindo baixinho do jeito que Jin começou a roncar. É, ele estava cansado mesmo…

Fui tomar banho e me trocar primeiro que Yoon e Jimin. Hoje nós apenas vamos tomar café, arrumar nossas coisas e
nos despedirmos de Jenny e Joana antes de subir no ônibus e ir para casa. Admito que vou sentir muita saudades daqui…
foi legal do início ao fim, mesmo com todos os momentos de ciúmes e tensão que eu tive. A tirolesa, o lago e os beijos de
Jimin tornaram tudo especial demais.

Saí do banheiro pronto e arrumado, vendo Jimin entrar logo depois de mim. Enquanto organizava minhas coisas, senti
meu rosto queimar de vergonha ao me lembrar de tudo que eu disse e fiz ontem de madrugada, com Jiminnie. Puxa…
lembrei-me dos nossos beijos e senti minhas bochechas corarem. Lembrei dos abraços, das risadas, e como eu disse que
éramos como o amor… e que queria ficar com ele para sempre…

Puxa, puxa, puxa…

Eu realmente fico diferente quando está de madrugada.

Primeiro, na ligação que tivemos depois de quase nos beijarmos, em que eu disse que eu não odiaria se ele me
beijasse na boca. E agora, no lago e no quarto, em que dei tantos beijos e fiz inúmeras confissões… puxa. É realmente
curioso e diferente...

Jimin saiu do banheiro de banho tomado e arrumado para ir embora também. Yoongi foi depois dele e, quando ele
fechou a porta do banheiro, percebi que estava “sozinho” com Jiminnie no quarto. Afinal, Seokjin estava todo jogado na
minha cama, em um sono profundo (e barulhento) e Yoongi estava tomando banho. Logo, éramos só nós dois, puxa...

— Bom dia, Ggukie… — ele disse, vindo até a cômoda, onde estou separando e guardando minhas roupas.

O observei abrir sua gaveta e começar a fazer o mesmo. Jimin tinha escovado seu cabelo liso e ele parecia mais
brilhante do que nunca. Puxa, ele todo brilha…
— Bom dia… — eu disse, percebendo que não tinha falado com ele antes. Acho que Seokjin nos distraiu, e como fui o
primeiro a me arrumar, não tivemos tempo de nos falar... puxa...

Desviei o olhar de Jimin, que estava sorrindo lindamente para mim — isso faz meu coração acelerar, puxa. Eu não
queria ficar envergonhado, então procurei me distrair colocando mais algumas roupas na minha mochila, mas ainda me senti
tímido com sua presença. Puxa...

Minha cabeça ainda estava girando em torno dessa timidez quando me virei para pegar e guardar a sacola com a
minha roupa molhada do lago, me surpreendendo completamente com Jimin, que se inclinou, ficou pertinho e me deixou sem
palavras ao beijar meus lábios repentinamente.

Meu rosto queimou, e meus lábios formigaram quando Jimin se afastou, fazendo nosso beijo fazer aquele barulhinho
engraçado. Me virei para o lado, completamente surpreso consigo. Já Jimin estava sorrindo, com as bochechas vermelhas e
um olhar sapeca, como se não se arrependesse nadinha de ter me beijado do nada.

— Já era… agora que comecei a te beijar, não vou parar mais — ele disse para mim, dando mais uma risadinha antes
de se afastar para arrumar suas coisas. — Coelhinho lindo...

Suas palavras me fizeram ficar tímido e sorrir também, completamentebesta. Coelhinho? Puxa...

Terminei de arrumar minhas coisas com um sorriso bobo no rosto. Puxa, eu realmente gosto disso…

E espero que ele não pare com os beijos mesmo.

Quando Yoongi saiu do banheiro, Jiminnie e eu deixamos para arrumar o resto das nossas coisas depois — só
começamos para nos adiantar. Fomos juntos até o refeitório, e dessa vez, nenhuma menina apareceu para falar abobrinha.
Nós apenas comemos tranquilamente e embrulhamos o sanduíche de Seokjin, além de um pedaço de bolo, biscoitos
salgados e uma maçã. E mesmo com toda essa quantidade de comida, tenho certeza que no meio da viagem ele já vai estar
faminto. Seokjin é um comilão…

Depois de comermos, guardamos a comida de Seokjin em uma sacolinha e voltamos para o chalé para terminarmos
de arrumar nossas coisas. Os ônibus iam sair em uma hora, então acordei Seokjin logo quando cheguei — ele só acordou
mesmo quando eu disse que tinha bolo e biscoito para ele. Ele é mesmo um comilão…

Assim que fechei minha mochila, deixando apenas meus all-stars de cano alto, o vasinho com as violas — puxa… — e
um par de meias fora dela, me sentei na minha cama para calçar meus pés. Seokjin estava comendo sua maçã, e me
observando fazer isso, disse repentinamente:

— Ya, vou te dar um allstar novo de aniversário… esse aí tá acabado! — ele disse, me fazendo rir um pouco.

— Eu aceito — falei, amarrando o cadarço. Jin riu.

— Falando nisso... o que você vai fazer esse ano? Vamos na pizzaria que nem no ano passado? Ou você vai pedir
uma coisa cara ao invés da comemoração? — ele perguntou, curioso.

— Hum… eu estava pensando em pedir um videogame, mas é muito caro, então não sei se vai dar... — eu disse,
terminando de me calçar. — Mas para a falar a verdade, não tenho pensado muito nisso…

E isso é verdade. Eu vivo me esquecendo que está perto do meu aniversário, só me lembro porque minha mãe fica
me lembrando... puxa...

— Se você ganhar um videogame, vou me mudar pra sua casa! — ele disse, me fazendo rir. — Acho bom você não ir
para a escola... sério, eu juro que vou te dar ovada se você for!

— É claro que eu não vou… — eu disse, rindo porque no ano passado Seokjinrealmente quebrou um monte de ovos
na minha cabeça no meu aniversário.

Tudo isso porque ele acha que é inaceitável estudar no dia do seu aniversário. Jin é maluquinho...

— Ya, Jiminnie, você gosta de videogames? O Jungkook vai pedir um no aniversário dele — Jin disse, me fazendo
olhar para Jimin, que agora, estava sentado em sua cama.

— Não sei… só joguei alguns no fliperama, mas faz muito tempo — ele respondeu, pensativo. — Quando é seu
aniversário, Gguk?

Cocei minha nuca, meio sem graça ao dizer…

— Essa quinta… — Senti minhas bochechas queimarem.

Jimin arregalou os olhos.

— O quê? Você nem me disse! — ele falou, e soou completamente indignado.

— É que… — eu murmurei, mas a voz de Seokjin se sobressaiu:

— Ele nunca fala! No meu primeiro aniversário com ele, só fiquei sabendo porque a mãe dele me chamou pra comer
bolo — disse, reclamando de mim.
— É só que eu acho estranho chegar em alguém e dizer quando é meu aniversário — eu falei, fazendo um biquinho.

— Eu não acho não! É bem simples. Observe. — Meu melhor amigo ficou de pé, de frente para Jimin. — Oi, Jimin.
Meu aniversário é dia quatro de dezembro, tá?

Jimin logo entendeu o que Jin estava fazendo, e endireitou sua postura, respondendo:

— Oi, Seokjin. O meu é dia treze de outubro — Jimin disse, entrando na encenação.

— Legal, vou marcar no calendário e te dar um presente! — Jin deu um tapinha no ombro de Jimin, sorrindo e falando
de um jeito engraçado e espontâneo.

Aff. Esses dois podiam até fazer novela...

— Demais! Vou marcar o seu também, Jin! — Jimin disse, batendo no ombro de Seokjin de volta, com a mesma
empolgação.

Então, eles encerraram a cena. E me olharam.

— Viu? É muito fácil — Jin disse.

Fiz mais um biquinho.

— Puxa… — eu murmurei. — Então… meu aniversário é dia primeiro de setembro — falei, os olhando. — Tá bom
assim?

Os dois confirmaram com a cabeça ao mesmo tempo.

— Com certeza — Jimin disse, sorrindo. — Yoongi também não me disse o dia do aniversário dele, só descobri um
mês depois… — ele falou, e logo depois, Yoongi saiu do banheiro, com sua escova de dentes nas mãos.

Todos nós olhamos para ele por causa da fala de Jimin, o que o fez parar no meio do caminho e nos olhar de volta.

— O que foi? — ele perguntou, confuso.

Jimin cruzou os braços, indagando:

— Por que você não falou pra mim o dia do seu aniversário, hein? — Jimin disse, e Seokjin prestou atenção em sua
resposta, assim como eu.

Yoongi não precisou pensar muito para responder, enquanto guardava a escova de dentes em sua mochila:

— Porque eu acho estranho falar para as pessoas quando é meu aniversário.

Pisquei um par de vezes, surpreso. Ele…

— Você falou exatamente a mesma coisa que o Jungkook — Jin falou tudo que se passou pela minha cabeça.

Yoongi me olhou brevemente. Já eu, desviei o olhar.

— Isso só é óbvio… — Yoongi disse, voltando a arrumar suas coisas.

Então, nos ignoramos isso pelo resto do dia.

Paramos de falar de aniversários e terminamos nossos afazeres aos poucos. Seokjin foi se arrumar e eu acabei de
organizar minhas coisas. Jimin ajudou Yoongi a guardar suas roupas, já que ele não tinha arrumado antes, e eu ajudei
Seokjin quando ele saiu do banheiro. O sino tocou depois de um tempo, avisando que era a hora de ir até o local da fogueira
para a despedida com Joana e Jenny.

Com o vasinho com as violas nas mãos, a mochila nas costas, eu fui o último a sair do chalé. Enquanto fechava a
porta, me senti levemente amuado ao perceber que posso nunca mais voltar aqui. Puxa...

Suspirei. Tudo bem. Afinal, eu sempre vou poder me lembrar do amor que senti aqui.

E com esse pensamento em mente, eu fechei a porta e me despedi do chalé.

JIMIN

Enquanto esperava Joana e Jenny chegarem, fiquei pensando em qual presente vou dar para Jungkook.

Afinal… são tantas opções! Ainda estou com vontade de beliscar as bochechas de Jungkook por não ter me falado
que seu aniversário está tão perto. Poxa, e se passasse despercebido? Ele é realmente um bobo por não ter me dito…

Mas por agora, isso não importa. O que importa é que eu quero dar um presentebem amoroso para ele...

Mas afinal... o que deveria ser? Uma fita? Um buquê de flores? Um vinil? Poxa, eu posso dar tudo isso… e ainda
acrescentar um montão de chocolates. Posso colocar tudo em uma caixa com uma carta de amor e colocar dentro do
armário dele. Se bem que o vinil não vai caber. Então posso entregar em suas mãos… mas aí não vou poder embalar a caixa
com um papel de presente de corações.

Ah, eu realmente não consigo parar de planejar cada detalhe sobre esse presente…

Jin, Yoongi, Jungkook e eu estamos sentados em um dos banquinhos em volta da fogueira — agora, apagada —
ouvindo as palavras de Jenny e Joana, tal como o resto dos alunos. Para ser sincero, eu acho que ninguém está prestando
muita atenção nelas, já que metade do pessoal está com sono, e a outra metade está distraída. Como eu, que só consigo
pensar em Jungkook e no que quero lhe dar de presente… ai ai.

Eu estou sentado entre Jin e Yoongi, olhando para onada e pensando em tudo. Depois de imaginar os presentes,
pensei brevemente se teria a possibilidade d’eu beijar Jeonggukie antes de subirmos no ônibus. Eu acho que não, já que
aqui está muito cheio e não sei se vamos ter alguma brechinha… poxa.

Não vejo a hora de ir pra escola pra matar aula e encher ele de beijos.Na boa, isso vai ser incrível…

— Jimin?

Ergui as sobrancelhas, e o chamado de Seokjin me fez voltar para arealidade. Me virei para ele, que tinha acabado de
sussurrar meu nome, e indaguei:

— Oi? — perguntei, bem baixo também, me virando completamente para Seokjin, acabando por me deparar com sua
feição séria e preocupada.

Como Jin quase nunca está sério, acabei endireitando minha postura e prestandobem mais atenção nele e no que ele
tinha a dizer.

Até que, me surpreendendo e confundindo completamente, ele disse:

— Me desculpa por ontem… — Jin murmurou.Então, fitou suas próprias mãos em seu colo.

Pisquei um par de vezes, completamente confuso.Por ontem? O que ele fez ontem?

— Pelo o quê? — perguntei, curioso. Realmente não consigo pensar no que ele fez de errado ontem…

Mas Jin parecia saber exatamente o que era. Sua cabeça estava baixa e seus olhos permaneciam presos em suas
mãos, que agora, se mexiam com um pouco de nervosismo.

Jinnie deu um suspiro longo e começou a dizer, bem baixinho:

— Ontem… aquele discurso emocionante que eu fiz, dizendo queria ir para o chalé das garotas para me enturmar, e
que pesava no meu dia-a-dia não fazer amizades… — Ele suspirou. — Sabe, era... era tudo mentira. Eu sabia que ia te
convencer a ir assim porque você é legal, mas… não era verdade. Eu só fingi e não foi legal da minha parte fazer isso...

— Por que você mentiu? — perguntei, sem conseguir pensar em um motivo.

— Porque... eu quis que você jogasse Salada Mista e beijasse a Jieun, mas ela não quis, e sim, eu sei que você gosta
dela, mas parece que Micha estava errada sobre ela gostar de você também, já que ela não te beijou — ele deu um suspiro e
meu Deus. Eram informações demais e Seokjin fala realmente muito rápido.

Parei um pouco para digerir suas palavras rápidas e informativas. Jin havia mentido para mim porque queria me levar
pro chalé… mas ele só fez isso porque pensava que eu queria beijar Jieun…

Caramba… acabei me lembrando de quando Yoongi perguntou se eu gostava dela também, há muito tempo atrás. Por
que será que as pessoas pensam isso? Porque somos muito amigos? Ah, não tem nada a ver…

Fitei Seokjin, ainda pensativo. Bom… eu realmente fiquei devastado com seu relato e só fui por causa disso. Não foi
legal mentir, mas ele fez isso por achar que ir ao chalé me faria muito feliz, certo? Ele só queria que eu beijasse Jieun porque
pensou que eu gostava dela… logo, achou que eu ficaria feliz. Ele não fez por mal, ou com más intenções, então é claro que
eu não fiquei bravo.

— Tudo bem, Seokjinnie — eu disse, o chamando por um apelido. Jin ergueu seus olhos para mim. — Você só fez
isso porque pensou que eu gostava da Jieun, e porque pensou que eu ficaria muito feliz, não é?

— É… exatamente isso — ele disse, franzindo seu cenho.

— É, mas… eu não gosto da Jieun — falei, dando um sorriso sem graça. — Eu a vejo como amiga. Só amiga
mesmo… às vezes, até como uma irmã mais nova.

Seokjin pareceu perplexo com a informação. Ele cobriu a boca entreaberta de surpresa com suas mãos, e franziu
ainda mais o cenho.

— Mas… não pode ser! — ele disse. — Mas e seu walkman? Ele tinha um“J x J”! Não é de Jimin e Jieun?

Sua pergunta me fez arregalar os olhos. Ele viu o walkman?Ai meu Deus…

Um pouco encabulado e sentindo meu rosto começar a corar pela ideia dele ligar os pontinhos e perceber que estou
amando Jeonggukie, eu respondi a primeira coisa que veio na minha cabeça:
— Não! É de… Jimin e… — Mordisquei os lábios. — Ja... ne… — eu disse, semnem entender de onde isso saiu.

Mas quando Jin sorriu normalmente, percebi que tinha prestado. Ufa...

— Oh! Jane… — ele assentiu com a cabeça, parecendo finalmente entender. — Aquela bonita da novela das nove?

Ergui as sobrancelhas, sorrindo.

— Sim! Ela mesma. Gosto muito do personagem dela — eu falei, e Jin deu risada, assentindo com a cabeça.

— Agora eu entendi! Também gosto dela… nossa, faz sentido — ele disse, coçando a nuca. — Mas… tem certeza de
que não está chateado por eu ter mentido?

Balancei minha cabeça, negando com um sorrisinho no rosto. Toquei o ombro de Jin amigavelmente e disse:

— Se você tivesse feito tudo isso com más intenções, eu poderia até ficar chateado, mas… você só queria me ajudar
e me fazer sentir bem, certo? Porque pensou que eu e Jieun estávamos apaixonados e que seria a chance perfeita para
fazer a gente se beijar — eu disse, pensativo e leve. — Foi um engano… seria bobo se eu ficasse triste com você por ter se
enganado. Você não sabia e só queria que eu ficasse feliz. Tá tudo bem… — eu falei, acariciando seu ombro antes de
afastar minha mão dali. — Mas da próxima vez, você me pergunta, tá? Sabe, se eu gosto de alguém ou não…

Jin, parecendo um pouco balançado, assentiu com sua cabeça, dando um sorriso sem graça. Sorri também, ainda
mais quando ele deu um tapinha amigável no meu ombro, dizendo:

— Pode deixar… obrigado mesmo, Jiminnie — ele disse, me chamando pelo meu apelido também.

Isso só me fez sorrir mais. Sabe, acho que me sinto mais próximo de Seokjin agora. Eamo isso porque realmente
acho ele muito legal…

— Está tudo bem — falei, sorrindo.

— Ah, e… eu também peguei uma fita sua emprestada quando você estava fora — ele disse, tirando uma fita do
bolso. Quando me entregou, vi que era uma das fitas que Taehyung tinha me emprestado. — Yoongi disse que você não se
importava d'eu pegar sem pedir…

— Realmente, eu não me importo — eu disse, sincero, porque não me importo mesmo das pessoas pegarem minhas
coisas emprestado. Ainda mais quando são meus amigos. — Você gostou das músicas? Essa fita é do Tae!

— Sério? Eu amei as músicas! Preciso pedir algumas fitas emprestadas para ele — ele disse, me fazendo sorrir e,
então, entramos em uma conversa sobre as músicas da fita do Taehyung.

É realmente legal conversar com Seokjin. Espero que a gente possa conversar bastante como fizemos na viagem
para cá. Gosto muito dele...

De repente, Jenny e Joana encerraram sua despedida e todos os alunos as aplaudiram. Eu só percebi que elas tinham
acabado por causa dos aplausos e entrei na onda, aplaudindo também. Até que fomos liberados para fazer duas filas para
pegar o ônibus — depois de fazermos uma reverência para as duas, é claro.

Na fila do ônibus, o agente escolar avisou que dessa vez poderíamos escolher nossas duplas. Logo fizemos uma fila,
lado a lado. Eu fiz dupla com Yoongi, e Jungkook com Seokjin, como sempre fazemos no ônibus da escola. Eu até que
queria ficar com Jungkookie, mas não me chateei pelas duplas… muito pelo contrário! Fiquei feliz de poder voltar com
Yoongi.

Na fila para o segundo ônibus, avistei Jieun subindo com sua dupla que, surpreendentemente, não era Micha.
Estranhei porque elas sempre ficam juntas, mas dessas vez, Jieun estava com a Luna. Poxa, será que elas brigaram depois
de ontem? Eu espero que não…

Me lembrei que, até agora, não falei com Jieun sobre seu docinho que deixei estragar, e fiz uma nota mental de falar
com ela na escola o mais rápido possível. Tenho que me preparar para isso, inclusive…

Depois de um tempo em que respondemos chamadas e entregamos as chaves dos nossos chalés, Sayuri fez uma
contagem e nos mandou subir em duplas. Eu, Jeongguk, Yoongi e Seokjin conseguimos nos sentar na parte de trás do busão
— eu e Yoon nas poltronas da frente, e Jungkookie e Jin nas de trás — e ficamos conversando até o ônibus começar a
andar. Depois disso, Jeon disse que descansaria e ouviria música em silêncio — afinal, ele não quer ficar com dor de cabeça
de novo —, me mostrando um sorriso bonito antes de finalmente fechar seus belos olhinhos.

Só consegui sentir meu peito queimar de paixão. Esse sorriso... ah. Jungkook é como um coelhinho...

O mais fofinho e lindo de todos.

Seokjin pegou no sono rapidamente, deitando-se no ombro de Jeongguk para dormir. Eu e Yoongi ficamos
conversando por um tempo e, no meio do caminho, me lembrei do aniversário de Jeongguk e em como eu queria gravar uma
fita para ele. Uma bem romântica... mas eu não sabia como, nem quais músicas colocar. Então, perguntei para uma das
pessoas que mais entendem de fitas que eu conheço:

— Yoon… você sabe como gravar uma fita? — eu perguntei, fitei meu melhor amigo, que estava sentado na janela.
— Sim… quer gravar uma? — perguntou, me fitando.

— Sim! Você pode me ajudar? — indaguei, já me animando. — Quero gravar uma antes de quinta-feira… tem como?

— Tem — ele disse, parecendo animado. — Adoro gravar fitas. Você pode ir lá pra casa depois da escola e a gente
grava uma. Vou te ensinar tudo sobre isso. — Ele deu mais um sorriso, muito bonito como todos seus outros sorrisos.

Yoonie dificilmente demonstrava quando ficava animado com alguma coisa, então vê-lo assim encheu meu coração
de alegria.

— Tá bom! — eu disse, sorridente.

E enquanto o tempo passava, dentro daquele ônibus, pensei em cada detalhe do presente que eu iria dar para o
garoto que tanto amo. Quero que o aniversário dele seja especial, e tenho certeza de uma coisa...

Eu definitivamente vou fazer o melhor presente de aniversário para Jeon Jungkook.

Notas finais
Espero que tenham gostado, xuxus <3 feliz páscoa de novo!

Beijinhos e até a próxima <3

28. Ele é como Chocolate

Notas do Autor
Oiiiii! Não vou falar muito aqui, mas boa leitura amores!

<3

JUNGKOOK

Eu não pude beijar Jimin nos lábios depois que os ônibus do acampamento chegaram na escola.

Meus pais já estavam esperando por mim e Seokjin (que ia de carona com a gente) quando descemos do busão. Me
senti um pouco tímido por desejar, naquele momento, poder beijar Jiminnie pelo menos mais um pouquinho antes de voltar
para casa. Eu dormi o caminho todo do acampamento até a escola e não acordei nem na parada, perdendo assim, todas as
oportunidades de dar mais beijinhos nele. Puxa vida, que azar...

No fim, apenas pude me despedir de Jiminnie com um toque de mãos extremamente sem graça, e na frente de todo
mundo. Eu só me senti feliz porque nós também trocamos um olhar cheio de significados antes de nos separarmos, e isso
me deixou todo quentinho por dentro.

Puxa... eu até me pergunto: é estranho eu sentir meu coração palpitar e meu estômago ficar geladinho com seus
olhos, mesmo depois de beijá-lo nos lábios? Porque, puxa... eu sinto. Sinto que qualquer contato com Jiminnie é insuperável
porque todos mexem muito comigo. Deve ser porque eu gosto muito dele...

No carro, a caminho da casa de Seokjin, eu, ele e meus pais ficamos conversando sobre o acampamento. Eles me
perguntaram sobre o vasinho das violas lilás, e eu dei a mesma desculpa sobre elas que dei para Seokjin mais cedo:

— Eles estavam distribuindo, então eu peguei um dos vasinhos. — E essa era a minha mentirinha.

Acho que fui sortudo por pensar nessa mentira tão rápido quando Seokjin me questionou mais cedo, no ônibus. Ele
não desconfiou de nada, só me perguntou quando aconteceu e eu disse que foi durante a festa. Como ele estava dançando
no meio de todo mundo naquela hora, acreditou de primeira. Já minha mãe elogiou as violas, tranquilamente, e nós
mudamos de assunto logo depois.

Demos risada juntos quando contei sobre a tirolesa, e Seokjin fez questão de falar sua teoria sobre ela e possíveis
mortes. O pior é que meu pai achou que fazia muito sentido, e Jin ficou esfregando isso na minha cara... aff.

— Qual foi a parte favorita de vocês? — mamãe perguntou de repente, quando paramos no sinal.

Jin respondeu sem hesitar:

— A minha foi a festa! E a comida. E o lago — Jin disse, seguidamente, fazendo meus pais rirem pelo seu jeitinho
indeciso e animado.
Já eu, me senti tímido quando parei para pensar na minha parte favorita. Afinal... apenas Jimin me veio em
mente. Jiminnie e seus beijos. Jiminnie e eu dançando. O vasinho de violas lilás que ganhei do Jiminnie. Jiminnie me
chamando de coelhinho e entrelaçando seus pézinhos nos meus embaixo do cobertor...

Jiminnie, Jiminnie, Jiminnie...

Naquele momento, pensei que Jimin provavelmente havia me enfeitiçado com seus lábios macios e cheinhos. Ao
tocá-los nos meus, ele me tornou incapaz de pensar em qualquer coisa que não fosse ele, seus toques, sua voz, seu calor, e
seus cabelos ruivos... Eu realmente me sinto enfeitiçado agora... e o pior é que eu gosto, puxa...

— Filho? — minha mãe chamou, de repente. — E a sua?

Desviei meu olhar, perdido na paisagem lá fora, para ela. Meu rosto estava quente, e provavelmente estou todo
corado, mas tentei não pensar nisso ao perguntar:

— A minha...? — indaguei, avoado.

De fato, estou enfeitiçado...

— Sua parte favorita do acampamento, querido — mamãe disse, rindo baixinho do meu jeitinho distraído que ela já
conhece.

Puxa...

— Ah... — murmurei, abaixando meu olhar. Pensei um pouco sobre as outras coisas que não envolviam Jimin, e disse
a primeira que me veio em mente: — A tirolesa... foi bem legal.

— Nós podemos marcar um dia para ir em uma tirolesa por aqui — meu pai disse, e então, todos começaram a falar
especialmente disso. Já eu, o enfeitiçado, voltei a viajar por minhas próprias lembranças...

E que lembranças... ah.

Depois de muita conversa, nós finalmente chegamos na casa de Seokjin. Seus pais vieram nos cumprimentar e, como
sempre, nossas mães entraram em uma bate-papo infinito. Foi até engraçado ver meu pai e o pai do Jin em silêncio, apenas
assistindo elas tagarelarem sem parar. A conversa era tanta que eu até desci do carro para ficar com o Seokjin, apenas
aguardando...

Depois de um tempo tedioso, Jin se lembrou que queria me mostrar um vinil que ele tinha comprado na semana
passada, me convidando para entrar e ouvi-lo. Avisei meu pai que ia entrar rapidinho e que já voltava. Ele apenas acenou
com a cabeça, e nós fomos.

— É o álbum de estreia deles e, cara, você vai amar! Comprei porque estava na promoção, nem imaginava que o som
deles podia ser tão bom — Jin disse, enquanto subíamos as escadas para o segundo andar.

A casa de Jin era mais luxuosa e grande que a minha. A decoração era toda antiga e bonita, e os cômodos sempre
estavam impecavelmente limpos. Por mais que eu tenha vindo aqui várias vezes, não me canso de reparar nisso... ambientes
arrumados e bonitos me deixam feliz de alguma forma.

— Qual é o nome da banda? — perguntei quando chegamos no segundo andar. Tinha uma foto pendurada na parede
do corredor muito fofa do Seokjin com um terninho. Eu sempre noto esse retrato quando venho aqui.

Ele era uma criança fofinha...

— Tears for Fears. — Ele olhou para mim com um sorrisinho. — Vou te mostrar a minha música favorita desse álbum,
mas todas são incrivelmente boas! Você vai amar.

Dei um sorriso, afirmando com a cabeça ao que chegávamos na porta de seu quarto. Nós entramos, e depois disso,
Jin fechou a porta.

O quarto de Seokjin é outro lugar da casa que eu amo muito. Na porta, do lado de dentro, tem um pôster colado bem
grande do Michael Jackson que sempre me dá um susto quando eu durmo aqui. Jin realmente ama o Michael — assim como
eu amo o David Bowie — e a quantidade de discos e coisas que ele tem dele e dos Jackson 5 são uma prova clara disso.

Além do Michael, seu quarto está infestado de pôsteres das bandas e artistas que ele gosta, como: Soft Cell, Depeche
Mode, Pet Shop Boys, Wham!, New Order, e seus favoritos que, além do Michael, são o Prince e a banda Duran Duran.
Também tem vários pôsteres dos filmes que ele ama e fotos das atrizes que ele diz ser "perdidamente apaixonado" em sua
parede. Há uma prateleira com alguns gibis e bonecos que ele coleciona — eu admito que queria roubar todos — e em uma
das suas mesinhas de cabeceira, tem um globo terrestre de mesa lindo que seu pai trouxe do Japão. Tem uma vitrola no
cantinho do quarto, e o aparelho de música que ele usava para gravar fitas também.

O quarto de Jin define completamente a sua personalidade. Talvez seja por isso que eu gosto tanto dele...

— Vem, vem! — Jin chamou depois de pegar um vinil em sua mesinha de cabeceira, correndo até sua vitrola.

Me apressei e me sentei com ele no chão coberto por um carpete macio confortável. Jin tirou o disco da capa
cuidadosamente e o colocou na vitrola, posicionando a agulha na música que ele queria me mostrar logo em seguida.
Quando a melodia começou, pisquei um par de vezes e perguntei:

— Qual é o nome dessa música?

Jin me deu a capa do vinil, para eu eu pudesse analisá-lo, e disse:

— Pale Shelter.

Balancei minha cabeça, prestando atenção na música, na voz dos artistas e na melodia suave e gostosa. Aquela
canção parecia estranhamente intrigante para mim. Eu me sentia em um filme de suspense enquanto escutava ela, e apesar
de não entender o motivo, gostei muito.

A cada segundo que se passava, a música do Tears for Fears ficava melhor. Eu já me sentia todo balançado e curioso
para ouvir cada vez mais do som deles, e quando a música terminou, eu pedi:

— Coloca outra! — Eu sorri, lendo o nome das músicas. — Qual é a segunda melhor?

— Mad World — Jin disse, sorrindo feliz como sempre fica quando eu gosto das músicas que ele me mostra. — Eles
não são incríveis? — perguntou, posicionando a agulha no disco até a segunda melhor música começar.

— Muito... — eu disse, impressionado. É realmente incrível como o mundo é cheio de músicos talentosos que nós não
conhecemos. — Você vai me emprestar o vinil, né?

— Hoje não! Ainda não gravei nenhuma fita com as músicas deles — ele disse, e eu fiz um biquinho. — Vou gravar
duas! Aí te dou uma delas amanhã.

Meu biquinho se desfez e eu sorri. Puxa, Seokjin é o melhor!

— Tá bom!

Continuamos escutando música juntos, conversando sobre as vozes e os instrumentos que, de certa forma, pareciam
diferenciados das bandas que escutamos atualmente. Jin deixou o vinil tocando, sem escolher uma música, e todas
pareciam ótimas. Mal posso esperar para escutar o resto amanhã...

Jin e eu estávamos dando risada de uma coisa aleatória quando, de repente, ouvimos batidas na porta. Nós dois
olhamos para o Michael Jackson (o pôster), até que a porta foi aberta e quem apareceu foi...

Jisoo.

— Jinnie — ela chamou, dando um sorriso amável. — O pai mandou chamar o Jungkookie. Os pais dele já vão
embora.

Ou, para ser mais específico: Jisoo, a irmã gêmea de Seokjin, foi quem abriu a porta.

— Ok, Jisoo, nós já vamos descer — Jin disse, dando um sorriso calmo para ela.

— Ok. — Ela assentiu. — Olá, Jungkookie.

— Oi... — eu disse, baixinho, porque não sei ao certo como tratá-la. Mesmo que eu tenha a encontrado outras vezes,
não costumamos conversar...

Até porque sua relação com Jin é meio... complicada.

Afinal, Jisoo e Seokjin são irmãos gêmeos, mas são completamente diferentes — tanto exteriormente quanto
interiormente. Jin tem TDAH e Jisoo não. Jin repetiu quatro anos no ensino fundamental, e Jisoo é uma das garotas mais
inteligentes da nossa cidade. Ela é tão boa em ciências que, uma vez, saiu no jornal por causa de uma de suas experiências.
Ela é... diferente...

Assisti Jisoo fechar a porta, saindo do quarto, e pensei um pouco mais nela e... em Seokjin.

Essa é uma questão meio difícil para ele... tanto que é muito raro a Jisoo ser um assunto entre nós dois. Há muito
tempo atrás, quando Jin me contou sobre seu transtorno de déficit de atenção, ele também desabafou sobre como se sentia
quanto a Jisoo ser um prodígio e ele ser um "burro". Foi uma conversa melancólica, e agora, distante, mas eu ainda me
lembro bem dela. Seokjin me disse como Jisoo sempre é o assunto principal, e que às vezes, parece que ele nem existe em
sua família. Meu melhor amigo compartilhou seus pensamentos tristes comigo naquele dia, sobre como ele pensou que veio
com um cérebro estragado, e que queria ser como a Jisoo... por amar tanto dele, eu jamais me esqueci de suas palavras.

Puxa... me lembro de me sentir muito triste por ele pensar assim, porque ele é incrível, e sempre vai ser. Não há nada
de errado com Jin, e eu o disse isso várias vezes naquela época. Hoje em dia, nós não falamos muito sobre, e eu acho que é
melhor assim. Afinal, para mim, Jin é o prodígio de sua família apenas por existir e ser do jeitinho que ele é... ele é meu
melhor amigo, e é importante. E também é inteligente...

E apesar de ter esses pensamentos ruins, Jin nunca tratou a Jisoo mal. Ele apenas não a deixa se aproximar muito,
mas faz isso de um jeito muito sutil. Talvez essa seja mais uma das coisas que fazem com que eu e Jin sejamos tão
próximos: temos certas questões com nossas irmãs.

De qualquer forma, me sinto aliviado por ele estar em minha vida e por eu estar na dele. Sempre me sentirei assim,
puxa...
Alheio aos meus pensamentos, Jin tirou o disco da vitrola antes de se levantar do chão. Me levantei logo depois dele,
ganhando uns tapinhas seus em meu ombro. Descemos as escadas falando sobre a banda, e quando chegamos lá fora,
demos um abraço atrapalhado e horrível — como todos que o Seokjin dá em mim. Dessa forma, entrei no carro e me despedi
dele, com um sentimento feliz em meu peito.

Feliz por Kim Seokjin ser meu melhor amigo.

***

Colocar o vasinho com as violas lilás na minha escrivaninha foi a segunda coisa que fiz ao chegar em casa.

Lippy estava dormindo com a cabeça apoiada em meu pé porque sentiu muitas saudades de mim no fim de semana.
A primeira coisa que fiz ao chegar, inclusive, fora enchê-lo de abraços e carinho. Agora ele está pertinho de mim, aquecendo
meu pé enquanto eu olho fixamente para as belas flores lilás.

Puxa...

Estou sentado na cadeira da escrivaninha, descansando a bochecha em minha mão enquanto observo cada detalhe
daquele presente em silêncio. Puxa. Eu ganhei flores do Jimin e agora não consigo parar de olhar para elas...

Me lembrar do acampamento e em tudo que fiz com Jiminnie agora, que estou sozinho, me deixa tão... agitado.
Pensar nele, em suas palavras apaixonadas, em seus toques suaves e sua boca macia e gentil é demais para mim... com
Jiminnie na minha cabeça, eu não consigo controlar o rubor nas minhas bochechas e meu coração inquieto e apaixonado.
Desse jeito, fico morrendo de saudades, puxa...

Faz tão pouco tempo desde que estivemos juntos que eu me sinto meio louco por estar com saudades. Não consigo
parar de pensar no quanto eu quero estar com ele agora. Como no acampamento, quando dormimos no mesmo cômodo,
fizemos todas as nossas refeições juntos, e voltamos para o mesmo lugar no fim do dia... tudo isso por vários dias seguidos,
puxa. Foi tão, tão bom...

Agora que acabou, somente consigo pensar no quanto eu gostaria de ficar com Jiminnie desse jeitinho por mais
tempo... talvez por uma semana inteira. Ou um mês.

"Se você deixar, eu vou ficar com você pra sempre..."

Ou... para sempre.

Senti minhas bochechas corarem, lembrando-me da voz macia e galanteadora de Jimin proferindo essas palavras
para mim. Não posso evitar sorrir como um bobo, com meu coração batendo fortemente ao me lembrar que Jiminnie me
disse palavras tão apaixonadas, sinceras e bonitas. Quando ele diz que eu sou o único que ele quer beijar, me sinto a pessoa
mais sortuda do mundo... e quando ele me beija, então... ah... puxa...

De repente, estou sorrindo como um pateta, com meu rosto queimando e minhas bochechas doendo. Jiminnie nem
está aqui, mas só de pensar nele, eu fico feliz e amoroso... e é tão bom. É realmente bom estar apaixonado...

É bom até demais. Tanto que eu quero pegar minha bicicleta e ir até sua casa para ficarmos conversando no seu
quarto, nos beijando, e ouvindo um disco atrás do outro, sem parar. Quero que Jimin me abrace, como me abraçou na
beliche, e quero ficar assim por horas... apenas sentindo seu cheirinho bom, seu calor, suas mãos me fazendo carinho e seus
pés fazendo cosquinha nos meus... só quero estar com Jiminnie agora. Puxa, é até engraçado quando penso que ele
disse "Se você deixar, eu vou ficar com você pra sempre", porque é tão óbvio que eu deixaria. Puxa, eu quero tanto ficar com
ele pra sempre também... sempre mesmo, mesmo...

Sinto minhas mãos formigarem e meu estômago se perder num friozinho gostoso com o pensamento. Meu corpo
inteiro gosta quando penso em Jiminnie... eu me sinto todo dormente e feliz. O meu coração bate forte e arde num calor tão
bom; tudo parece tão leve e feliz. Estar apaixonado é muito feliz...

A saudade que sinto de Jiminnie é tão grande que quero ligar pra ele. Puxa. Será que ele já chegou em casa? Será
que é cedo demais para eu ligar? Ficamos juntos por tanto tempo, talvez ele não queira falar comigo agora...

"Eu acho que nunca mais vou conseguir parar de pensar em você..."

Mordisco meus lábios, com a sensação de que estou derretendo por dentro. Puxa, Jiminnie, você está pensando em
mim agora?

Está pensando em mim como eu estou pensando em você?

De repente, escuto minha mãe gritar meu nome do andar de baixo. Apesar de estar todo molinho de amor, não
demoro em me levantar da cadeira, aproveitando que Lippy tirou o focinho do meu pé para ir até a porta do meu quarto, a
abrindo.

— O quêee?! — eu grito de volta, porque é assim que nós nos comunicamos aqui em casa.

Mamãe demora poucos segundos para responder e, quando ela o faz, sinto que vou explodir de alegria.

— Jimin está no telefone! — ela grita, então, sem imaginar o quão feliz essas palavras podem me fazer sentir. — Vem
logo!
Não perco tempo. Desço as escadas apressadamente, e vou até a sala de estar praticamente saltitando de alegria.
Assim que eu chego nela, minha mãe me entrega o telefone, trocando um sorriso breve comigo antes de voltar para a
cozinha onde ela e o papai estão preparando almoço. Me sinto feliz por eles estarem ocupados cozinhando porque isso
significa que vou ter certa... privacidade, para falar com Jiminnie. Isso é ótimo porque, com todos esses sentimentos dentro
de mim, sinto que vou falar um monte de coisas melosas para Jiminnie agora. Puxa...

Me sento no chão, atrapalhadamente como sempre faço ao conversar com Jiminnie por telefone. Eu o coloco sobre
meu ouvido, e mordo ainda mais meus lábios ao ouvir sua respiração calminha do outro lado da linha.

Sinto saudades até da sua respiração, puxa... eu realmente sou um maluco.

— Oi, Jiminnie... — sussurrei, dando um sorriso porque até dizer seu nome está me deixando feliz agora. Puxa...

Escuto Jimin suspirar do outro lado da linha, e isso me traz lembranças. Meu coração palpita.

— Jungkookie... — Jiminnie sussurrou, me fazendo sorrir mais. — Hum... é cedo demais pra ligar?

Dei uma risadinha, porque Jiminnie parece um pouco tímido e isso é tão, tão fofo... ele pensou da mesma forma que
eu, e mesmo assim, ligou pra mim...

Me sinto aliviado e agradecido por ele ter feito isso...

— Não é... — eu disse. — Eu queria ligar, mas também pensei que era muito cedo... — Dei uma risadinha.

— Nós estamos sincronizados então, Gguk... — Jiminnie disse, rindo também. — Eu senti saudades assim que
cheguei em casa... fiquei pensando em você sem parar... aí eu não me aguentei... e liguei...

Meu coração amoleceu com suas doces palavras. Então... ele estava pensando em mim... assim como eu estava
pensando nele...

Puxa...

— Nós realmente estamos sincronizados, Jiminnie... — eu disse, baixinho.

Ouvi ele rir, e consegui imaginar perfeitamente seu sorriso. Isso me fez morder ainda mais meus lábios.

— Então quer dizer que você estava pensando em mim sem parar também?— perguntou, e como sempre, meu
coração quase pulou para fora do meu peito de tão forte que ele bateu.

Pisquei um par de vezes, e a esse ponto, me sinto todo arrepiado. Estou rubro de timidez e amor, e o nervosismo é
tanto que puxo o fio do telefone, o enrolando como se fosse um cachinho entre meus dedos para tentar descontar meus
sentimentos ali. Aah...

Jiminnie, Jiminnie, Jiminnie...

— S-sim... — eu disse, e minha voz soa tão quebradiça e tímida que eu coro mais. — Puxa...

Inevitavelmente, me lembro como Jiminnie disse que gosta quando eu falo "Puxa". Me lembro de quando ele me deu
as violas e disse o porquê ele me presenteia sempre... aquilo significou tanto para mim...

— Ai, Kookie... — ele murmurou, com a voz molinha. —Sua voz soa tão doce agora... está fazendo meu coração
bater mais rápido...

Puxa, puxa, puxa...

— Eu... — comecei, fechando meus olhos com força. — É que... e-eu estou feliz... — admiti.

Estou muito feliz... e é por estar apaixonado. Por ele, só por ele...

De repente, Jimin dá uma risadinha do outro lado. É um riso suave, doce, e rouquinho... me faz rir também.

— Jungkookie... eu estou preocupadíssimo com a gente — ele disse, ainda aos risos. — Sabe... como eu vou suportar
ir para a escola e ficar sem te beijar o tempo todo? É simplesmente impossível! Só de pensar, já me sinto tentado a te
chamar pra matar todas as aulas possíveis... só pra gente ficar se beijando...

A fala de Jimin me faz rir também, e eu enrolo o fio do telefone no meu dedo com ainda mais força. Dou uma
espiadinha para ter certeza de que meus pais não estão por perto e, quando confirmo que não, volto ao telefone.

— Eu... eu bem que queria... — eu disse, pensando nessa possibilidade. — Amanhã... a gente bem que podia matar a
aula avançada de história... — eu falei, mordendo meus lábios com mais força.

Jiminnie ficou em silêncio por um tempo, o que me fez ficar com um pouquinho de vergonha. Será que ele só estava
brincando ao falar sobre matarmos aula?

— A de história avançada e a de ciências também — Jimin disse, de repente. — Vamos matar as duas.

Ergui as sobrancelhas, surpreso. A aula de ciências era logo depois do recreio, e depois dela, a de história avançada.
Seria praticamente metade do dia na escola só com ele...
Puxa...

— S-sério? — perguntei, dando um sorriso trêmulo.

— Sim... você quer?

— Quero — respondi, sem pensar duas vezes.

— Então vamos.

— Vamos. — Senti meu rosto esquentar quando, de repente, meu pai apareceu na sala. Meu coração palpitou de
susto, mas logo se acalmou porque ele não parecia surpreso ou bravo, o que me fez acreditar que ele não tinha escutado
nada. Ufa... — Jiminnie... tenho que ir agora. Até amanhã.

— Até amanhã, Jungkookie... me encontra perto daquela escada, onde te dei os chocolates —ele sussurrou. Sorri
pequeno. — Eu te adoro — ele completou, baixinho.

Olhei para meu pai de relance e engoli em seco antes de dizer:

— Tá bom. Eu... eu também...

E nós desligamos.

Quando meu pai me viu colocando o telefone no gancho, se aproximou mais e disse:

— O jantar ficou pronto. — Deu um sorriso. — Vamos comer?

Me levantei do chão, sorri e assenti, com a minha cabeça nas nuvens por causa de Park Jimin.

JIMIN

O domingo pós-acampamento estava sendo maravilhoso.

Leonor foi me buscar na escola assim que cheguei e nós voltamos para casa de ônibus, rindo e conversando sobre
tudo que aconteceu no fim de semana. Lhe contei todas as partes legais do acampamento, principalmente sobre a aula de
plantinhas que tive e a tirolesa, já que essas foram as minha partes favoritas — tirando os beijos com o Jungkookie, é claro...

Foi divertido e ela riu um monte dos meus relatos. Quando nós chegamos em casa, Leonor me pediu para guardar
minhas coisas antes de ficar de bobeira — como faço todo domingo, heh — então, depois de tirar as roupas da minha
mochila e substituí-las pelo material da aula de amanhã, eu desci as escadas e fui até a sala, prontinho para não
fazer nada pelo resto do dia.

Isso antes, é claro, de eu começar a pensar em Jungkookie e em seus beijos apaixonantes... afinal, mente vazia é
oficina do Jungkook. E não, o ditado não é esse, mas para mim ele faz muito mais sentido assim. Ainda mais agora...

Leonor tinha acabado de subir para tomar banho naquela hora, e com minha mente cheia de Jungkookie, seus beijos
e jeitinho fofo de ser, eu acabei não me aguentando. Foi quando liguei para ele, para termos uma conversa breve, mas cheia
de planejamentos sobre carinho, aulas e... beijos.

Eu estava me sentindo tão quentinho e feliz quando desligamos que me joguei e me esparramei todo no sofá, com um
sorriso largo nos lábios e os olhos focados no teto da sala, apenas pensando sobre cada detalhe sobre ontem e hoje de
manhã, quando nos beijamos.

Por um momento, eu toquei meus próprios lábios, me perguntando se eles ficaram mais macios depois de serem
beijados tantas vezes. Seria doideira se eu dissesse que sinto que sim?

Ao ouvir os passos da minha mãe na escada, parei de acariciar minha própria boca — eu pareço doidinho quando
faço isso. Assim que ela chegou perto de mim, deu uma risada baixinha.

— Hmmm... — ela murmurou, passando por mim ao me ver deitado no sofá, com um sorriso bobo no rosto e as
bochechas vermelhas. — Você está radiante. O que aconteceu?

Sua pergunta me fez dar um longo suspiro amoroso; meu sorriso crescendo ainda mais em meus lábios recém
beijados. Radiante... estou radiante. É claro que estou radiante! Seria impossível não ficar radiante depois de ter uma
conversa com Jungkookie por telefone, com ele dizendo de um jeito tão bonitinho que está pensando em mim da mesma
forma que eu estou pensando nele.

Ai, ai... a vida é linda.

— Nada demais — eu disse, dobrando minhas pernas quando ela deu um tapinha nelas, procurando espaço no sofá.
Quando ela se sentou, dei mais um suspiro melodioso. — Só me lembrei de uma coisa engraçada... — menti, rindo baixinho.

Leonor me olhou por alguns segundos, desconfiada, e depois deu risada.

— Uma coisa engraçada, hein... — ela deu um tapinha no meu pé. — E o que seria essa coisa?
Sem parar de sorrir, eu disse a primeira mentira que me veio a cabeça:

— Jin caiu de um jeito engraçado no acampamento — eu disse, rindo. — Ele não se machucou, então foi engraçado...

Mamãe deu risada, fazendo um carinho breve no meu pé antes de dizer:

— Tenho certeza de que foi. — Ela se inclinou para pegar o controle da tevê na mesinha de centro. — A novela já vai
começar. Quer pedir pizza?

— É claro que sim. — Dei um sorriso animado, sem hesitar em aceitar. Afinal, quem é que nega uma pizza? — De que
sabor?

— Pode escolher — ela disse assim que levantei e me sentei no sofá. — Só porque fiquei com saudades de você no
fim de semana.

Senti minhas bochechas queimarem e sorri mais ainda, me aproximando para dar um abraço apertado nela. Leonor
riu e me abraçou de volta, me fazendo sentir muito amado.

— Vou pedir uma doce também! — falei, indo correndo até o telefone. Abri o caderninho que ficava ao lado dele, até
achar o número da pizzaria que normalmente pedimos.

— Ok, peça pelo menos metade dela de banana! — disse minha mãe, me fazendo rir e confirmar com a cabeça antes
de discar o número da pizzaria.

Depois de pedir, assisti a novela com Leonor e recebi nossa pizza. Nós comemos no sofá e conversamos mais sobre
o acampamento e o fim de semana. Inclusive, falei para ela o quanto eu amei o livro que o Siwon me deu — e eu amei
mesmo! Li no dia que cheguei, de madrugada, e não me arrependo nem um pouquinho.

Ela pareceu bem feliz com isso, e disse que passaria meus elogios ao livro para ele amanhã, no trabalho. Fiquei
animado para isso.

— E sabe quem voltou enquanto você estava fora? — Leonor perguntou, mais tarde.

No momento, estamos dividindo a louça. Eu lavo, e ela seca.

— Quem? — perguntei, sorrindo enquanto passava um copo limpo para ela.

— Aquele gatinho preto felpudinho — ela disse, sorrindo. — Ele e o Menino estavam na varanda, dividindo a caminha
que você fez.

Sorri, animado com a ideia de vê-lo de novo. O gatinho preto vive voltando, mas ainda fico extremamente animado
quando ele dá as caras. O Menino não é tão peludinho quanto ele, então eu amo quando ele vem... é tão gostoso fazer
carinho nele! O rabo dele é tão longo e peludo... parece até um espanador!

— A gente bem que podia colocar ele pra dentro... — eu disse, sorrindo sozinho. — Ele e o Menino se dão tão bem...

— Hmm... — ela murmurou, secando um prato. — É verdade... mas ele nunca tentou entrar. Já até chamei ele para
comer aqui dentro.

Ergui minhas sobrancelhas, surpreso.

— Chamou? — Sorri, feliz porque isso quer dizer que Leonor também quer adotar ele.

Por algum motivo, pensei que precisaria fazer várias coisas para convencê-la a deixar... logo meu coração ficou
quentinho por saber que ela também queria o pretinho pra gente. Isso é tão bom...

— Sim — ela disse, sorrindo. — Ele ficou parado na porta e não entrou. Acho que ele é tímido, mas uma hora ele
entra.

— Posso começar a chamar ele também? — perguntei, desligando a torneira assim que enxaguei o último copo.

Leonor sorriu e assentiu com a cabeça.

— Claro que sim — ela disse. — Acho que não tem muita diferença entre ter um gato e ter dois.

— Também acho! — eu disse, feliz por pensarmos igual.

Afinal, Menino é um gato super limpo! Ele sempre está com um cheirinho bom e nem usa a caixa de areia que
deixamos para ele. Ele sempre prefere ir lá fora, e a gente nem vê a sujeira... além de que ele é muito bonzinho poxa, nem
rouba comida. Aposto que o pretinho é assim também...

— Então a gente já tem que começar a pensar em um nome — ela disse, me dando o pano de prato para eu secar
minhas mãos. — Que tal Oliver?

— Assim ele parece um gato de madame! — eu disse, fazendo um biquinho sem querer. Mamãe riu. — Prefiro Feijão.

— Você é uma criança por acaso? — ela retrucou, imitando meu biquinho. Dei risada e mostrei a língua para ela,
malcriado.
Mamãe e eu continuamos falando vários nomes, brincando e provocando um ao outro até voltarmos para a sala para
ver mais uma novela. Perto das nove horas, tomamos um chá com mel, e assim que terminamos, mamãe foi dormir, pedindo
para eu não me deitar muito tarde. Eu estava tão cansado por ter acordado cedo que realmente não demorei muito para
tomar um banho e ir para a cama.

Quando deitei a cabeça no travesseiro, dei um suspiro preguiçoso e feliz porque amanhã tem aula e eu vou matá-
la com Jungkookie. Isso é demais...

Caí no sono com um sorriso no rosto e o coração quentinho, ansioso para dar mais beijos em Jeongguk.

***

Na escola, durante a primeira aula, Yoongi e eu conversamos sobre a fita que ele me ajudaria a gravar essa semana.

— Músicas... românticas? — ele perguntou, baixinho, já que o professor estava na sala.

Assenti com a cabeça, com um sorrisinho tímido no rosto.

— É que... minha prima está apaixonada — eu disse, mentindo sobre o real propósito daquela fita.

Afinal... eu não podia falar para o Yoongi que aquela fita era para o Jungkookie e em seguida pedir por músicas
românticas. Então, inventei que eu queria gravar uma fita para presentear minha prima que, por acaso, está apaixonada...

Yoon, por mais esperto que seja, não desconfiou de nadinha. Ele apenas assentiu com a cabeça e anotou isso em
seu caderno.

— Você acaba de pedir músicas de amor para um roqueiro que tem o álbum "Não é uma música de amor" como
favorito — disse ele. Ri baixinho, coçando minha nuca. — Mas tudo bem, vou achar umas. Tem muitas fitas da minha mãe
que são super toscas, e o Queen também faz músicas de amor... aí você pode dar uma olhada nelas — disse ele, me
fazendo assentir. — Mas você já tem alguma música em mente?

— Para falar a verdade, tenho sim... mas só duas e elas estão em fitas. Tem problema? — perguntei, vendo-o negar
de prontidão.

— Não tem, o meu gravador de fitas não funciona com vinil mesmo — ele disse, anotando mais coisas. — Você vai
querer uma fita de quantos minutos? Trinta? Sessenta?

— Hmm... — pensei um pouco. — Pode ser trinta.

— Ok. Trinta. — Ele anotou, e dei um sorriso feliz por vê-lo tão animado e empenhado a me ajudar a gravar uma fita.
Yoon é mesmo um ótimo amigo... — Cada lado da fita vai ter quinze minutos. A gente vai ter que passar em uma loja para
comprar uma nova, porque as que eu tenho já estão todas usadas e velhas... — ele disse, me fazendo parar pra pensar. —
Bom... até que dá pra regravar em cima delas, mas aí não vai ser tão especial.

Olhei para Yoongi e rapidamente neguei com a cabeça.

— Quero uma nova... — eu disse. Yoongi se virou e anotou isso. — Quando podemos gravar? — perguntei, animado.

— Pode ser... amanhã ou depois de amanhã — ele me disse. — Vou passar na loja hoje e ver o preço da fita pra
você. Aí te ligo e falo.

— Ok... — Sorri, vendo-o fechar o caderno. — Você é muito bom, Yoon. Podia até trabalhar com isso! — eu disse,
animado.

Yoongi deu um sorriso pequeno.

— Bem que eu queria... mas ninguém paga por algo assim — ele disse, dando de ombros com um sorrisinho. — Mas
enfim... eu vou ver as músicas que eu acho e te mostrar elas e as letras... aí você pode decidir, mas tenta escolher pelo
menos metade das músicas! Acho que em uma fita dessas cabe 7 ou 8 — ele disse, me fazendo erguer as sobrancelhas.

As letras...

Isso me deu uma ideia!

— Espera aí... as letras? Tipo, as traduções? Você sabe elas? — perguntei, segurando seu braço para sacudi-lo, já
animado com a ideia romântica que, repentinamente, tive.

Yoongi assentiu com a cabeça, franzindo o cenho com a minha animação, mas igualmente risonho com a forma a qual
eu balancei ele do nada.

— É, né... por que está tão feliz? — perguntou quando parei de balançá-lo como um doidinho.

Soltei seu braço pálido e macio, colocando minhas mãozinhas sobre a minha mesa, sem conseguir segurar meu
sorriso. Eu não sabia como dizer para Yoongi o porquê de eu estar feliz. Afinal... é porque, agora, posso expressar meu amor
por Jungkookie através das letras das músicas românticas que vou dedicar a ele... e assim, posso fazer uma carta recheada
de amor.

Dei um suspiro apaixonado, amando a ideia com todo meu coração; atraindo o olhar de Yoongi para mim. Para
disfarçar, dei de ombros, com minhas bochechas queimando por causa da paixão.

— Nada... é que eu estava querendo mostrar a letra pra ela também — eu falei, mordiscando meus lábios e desviando
meu olhar para minhas próprias mãos.

Ouvi Yoongi murmurar um "Hummm" longo, com sua voz que está ficando cada vez mais grossa (heh, ele está
crescendo).

— Tá bom então... vou escrever as letras pra você — ele me disse, abrindo o caderno mais uma vez para fazer essa
anotação. Então, o fechou de novo. — Ok, então vamos fazer isso.

— Se você me ligar depois das oito pra falar do preço da fita, já posso te dizer se posso ir amanhã ou na quarta — eu
falei, já que Leonor chega depois das oito.

Sei que ela vai me deixar ir pra casa do Yoongi de qualquer jeito, mas é sempre melhor pedir antes de confirmar, né...

— Está bem — ele disse, apoiando o cotovelo na mesa e a bochecha em sua mão. — Quais são as músicas que você
tem em mente?

Dei um sorriso.

— Tem uma que é indispensável... Us and Them, do Pink Floyd — eu disse, pensativo. — Mas quero pensar bem
antes de selecionar as outras, sabe?

Yoon assentiu.

— Sei... se você quiser, pode falar alguma coisa na gravação também — ele disse. Isso me surpreendeu. — Meu
gravador faz isso... é só deixar uns minutinhos sem música e falar.

— Wow... — eu suspirei, baixinho. — Você acha que ficaria legal?

— Acho que sim. Eu nunca gravei, mas meu gravador é bom, então deve ficar legal — disse ele. — Você pode deixar
uma mensagem pra sua prima...

Dei um pequeno sorriso, ainda mais empolgado com a ideia toda. Assim que chegar em casa, vou me sentar e
planejar cada detalhe sobre ela... e também vou comprar uma cartela de adesivos. E um envelope muito bonito. Talvez eu
possa escrever as minhas partes favoritas de cada uma das letras, e explicar por que elas me lembram ele. Também posso
aproveitar e me confessar um monte... e dizer algo bem fofo na gravação... algo que deixe as bochechas de Jungkookie
coradas...

A ideia me deixa tão animado que quase me esqueço de responder Yoongi, que está me olhando com uma careta
super engraçada — ele sempre faz essa careta quando começo a sorrir sozinho de repente. Mal sabe ele que estou
perdidamente apaixonado e, consequentemente, muito maluquinho...

— Está bem... eu quero deixar uma mensagem — eu disse.

— Ok... — ele disse, fazendo a última (de novo) anotação em seu caderno e ignorando meu jeitinho estranho. Para
ser bem sincero, acho que Yoongi já até se acostumou. — Vou preparar tudo...

— Obrigado, Yoonie... — eu disse carinhosamente, fazendo um carinho breve em seu ombro. Yoongi apenas assentiu
com a cabeça e olhou para o quadro cheio que nós ignoramos no primeiro tempo para falar da fita.

Já eu, direcionei meus olhos ao Jungkookie de hoje. Um Jungkookie que está me deixando muito bobinho e derretido
porque, céus... Dá pra acreditar que ele veio com uma touca preta fofinha cobrindo seus cabelos hoje?

Quando o vi no ônibus, quase saí flutuando de paixão, assim como nos desenhos animados. Ele está muito lindo
apenas com a franjinha saindo na parte da frente de seu rostinho e, na boa... é apaixonante. De verdade. Eu acho que ele já
usou touca outras vezes na escola quando não éramos tão próximos, mas parece que dessa vez ele se superou e ficou
trezentas vezes mais lindo do que já é... ainda mais vestindo esse moletom preto, que combina com a toquinha e seu tênis...

Mal posso esperar para poder falar o quão lindo ele está quando nós matarmos aula hoje...

Depois de divagar muito e olhar Jeonggukie de longe, dediquei os últimos minutos da aula para me concentrar em
copiar a matéria. Como o professor do horário seguinte nos deu atividades para fazer até o final da aula, eu precisei me
concentrar bastante, o que foi muito chato porque, depois de dar uns beijinhos no meu amorzinho, tudo que eu mais quero é
pensar nele sem parar.

Aff... como é difícil amar...

Depois de terminar o meu dever, gastei meus últimos minutos da aula pensando nas músicas que eu queria colocar
na fita. As primeiras que pensei, foram: Us and Them, do Pink Floyd (obviamente) e Baby It's you, dos Beatles... parece
simplesmente impossível essas músicas não serem sobre Jungkookie... logo, eu anotei elas em meu caderno.

A terceira música que eu pensei, fora a que dancei com ele no acampamento. Eu não sabia o nome, mas já tinha a
escutado em uma das fitas que Taehyung me emprestou há um tempinho. Como eu já devolvi todas, decidi ir atrás dele no
intervalo para perguntar sobre a música e, também, pedir algumas indicações. Taehyung escuta muitas músicas românticas,
e se por acaso ele souber as letras também, a fita do Jungkook vai ficar perfeita... eu mal posso esperar...
Quando o sinal para o intervalo tocou, avisei Yoongi que encontraria ele no refeitório mais tarde porque precisava
fazer uma coisa. Ele apenas assentiu com a cabeça, e eu saí da sala para ir atrás do Tae.

Ele não estava no refeitório, nem na cantina, então fui até o clube de música, já que ele e Hoseok costumam lanchar
lá às vezes. Para a minha sorte, acertei em cheio: os dois estavam lá, sentados em cima das mesa enquanto comiam
salgadinhos.

Quando entrei na sala, eles me olharam de imediato. E também, deram um grande sorriso.

— Minnie! — Tae exclamou, pulando da mesa para vir me abraçar daquele seu jeitinho carinhoso. Sorri o abracei de
volta. — Aff, eu bem ia te ligar hoje! A gente nem se falou desde que você voltou do acampamento, poxa... quero saber o que
você achou de tudo.

— A gente pode conversar sobre isso amanhã, aqui no clube... — eu disse, sorrindo e acenando para Hoseok, que
acenou para mim também. — Mas antes, preciso da sua ajuda com uma coisa... — eu disse, sorrindo. Taehyung pareceu
gostar da ideia, dando um sorriso retangular super fofinho. — Eu estou planejando gravar uma fita, e tem uma música que
estava em uma das suas que eu quero pôr nela... eu não me lembro o nome, mas acho que estava na "Para ouvir
apaixonado".

— A versão dos Beatles? — perguntou, colocando mais salgadinho na boca.

— Não, a outra — eu disse, pensando. — Ela tinha uma melodia assim... hmm... hum, nananan, na nam, na,
naammmm...

Cantarolei, e apesar de soar bem engraçado, Taehyung não deu risada. Muito pelo contrário! Ele levou super a sério e
prestou bastante atenção... até que me interrompeu com sua fala:

— Acho que você está falando de uma música do Elvin Bishop, mas não tenho certeza — disse ele, com um biquinho.
— Espera.

Taehyung deu meia volta e foi até a mesa. Ele bebeu um gole de refrigerante e voltou para perto de mim balançando
sua cabeça, começando a cantar sem mais delongas:

— I must have been through about a million girls... — Hoseokie parou de ler seu gibi para assisti-lo. Já eu, me
concentrei na forma que ele cantava... — I'd love them then I'd leave them alone...

Senti meu coração palpitar ao perceber que ele estava cantando exatamente a música que eu queria.

— É essa mesmo! — eu exclamei, feliz. Taehyung deu um grande sorriso. — Eu quero ela! E outras músicas de amor.
Você pode me emprestar sua fita de novo?

— Claro que sim, Minnie — ele disse, sorrindo e me puxando para mais um abraço. Ri baixinho e o abracei de volta.
— Amo quando você me pede as coisas, porque aí significa que estamos ficando ainda mais íntimos.

Ri de sua fala, o dando um tapinha no ombro antes de me afastar do seu abraço amigável e acolhedor.

— Que bom, porque eu sou pidão... — brinquei, o fazendo rir. — Ah, é... e eu também queria saber se você sabe a
tradução da letra das músicas. Eu queria ler algumas...

— Tem algumas que eu tenho anotado. O Hobi também faz bastante traduções — disse ele, apontando para
Hoseokie, que sorriu para nós. — Eu te trago amanhã! E da música que você quer também.

Dei um sorriso feliz e assenti com a cabeça, animado por estar tudo dando certo.

— Obrigado, Tae... — eu disse e, dessa vez, fui eu quem o puxei para um abraço. Taehyung ficou feliz, e em
momentos como esse, eu sinto muita vontade de passar um tempão pertinho dele.

Ele é muito legal mesmo...

Depois de trocar mais algumas palavras com ele e Hoseokie, saí da sala do clube e segui meu caminho para o
refeitório. Peguei minha comida, localizei a mesa onde Yoongi estava, e fui me sentar com ele logo depois, com a minha
cabeça na fita que vou gravar muito em breve para o meu amorzinho.

JUNGKOOK

Seokjin e eu nos sentamos nas mesinhas do pátio na hora do intervalo.

Nós compramos nossos lanches e decidimos ficar por lá, mesmo. Jin está me contando a história de um filme que ele
odiou e apesar d'eu estar bem aqui, na sua frente, não consigo prestar atenção em nenhuma de suas palavras.

Não quando daqui a alguns minutos, eu vou me encontrar com Jiminnie... puxa...

Estou pensando nesse fato sem parar, levando meus dedos até a minha touca para ajeitá-la de maneira nervosa o
tempo todo. Eu só estou com ela hoje porque meu cabelo está muito bagunçado... mas muito bagunçado mesmo. Não é
daquele jeito que Jimin diz que ser bonitinho... ele está fora de controle... é praticamente uma juba de leão. Fui dormir com
ele molhado e não deu tempo de escová-lo antes de pegar o ônibus. Eu acordei super atrasado por ter esquecido de trocar as
pilhas do meu despertador. Eu só saí correndo e deu nisso...

Foi uma manhã bem agitada... mas não tanto quanto meu coração está agora que estou prestes a ficar a sós com
Jiminnie.

— Mas aí, no fim, ela era a assassina — disse Seokjin. O olhei, e fingi que tinha escutado tudo que ele disse até
agora, fazendo uma feição surpresa. — Eu já tinha visto esse tipo de reviravolta antes, e é boa, até! Mas nem explicaram
como aconteceu, sabe? Ficou uma droga!

Balancei a cabeça, concordando com ele enquanto mordia o último pedaço do meu pastel. Puxa. Pastel me lembra o
Jimin...

— Será que isso se encaixa em um final aberto? — murmurei, alheio.

— Nah, ninguém quer um final aberto num filme de suspense... — ele resmungou, bicudo. — Fiquei pensando nisso
sem parar, mas foi de raiva mesmo!

Ri da careta que Seokjin fez, assentindo com a cabeça porque, no fim, isso é verdade.

— Concordo. Ninguém merece, puxa... — falei, bebendo meu refrigerante e olhando para as horas no relógio pregado
na parede.

Só falta dez minutos para o fim do intervalo... puxa...

— É... — disse ele, acabando de mastigar seu salgado. — Hm. Quer comprar uns doces?

Neguei com a cabeça.

— Agora não... tô cheio — eu disse, dando um suspiro ansioso.

— Ok, eu vou comprar — disse ele, se levantando, tomando o resto de seu refrigerante. Me levantei também e peguei
o lixo na mesa, reunindo tudo para jogar no lixo.

— A fila deve estar gigante — eu disse, pensativo. — Não vou esperar com você não.

Seokjin fez uma careta de dor falsa, colocando a mão no coração como se tivesse acabado de ser atingido bem ali.

— Ai... essa doeu... — ele disse, me fazendo revirar os olhos e rir um pouco.

— Nem vem! Você nunca espera comigo — eu disse, e é verdade. Seokjin sempre volta pra sala porque tem preguiça
de ficar em pé.

— Ai, tá, tá — ele disse, dando uns tapas nas minhas costas. — Depois a gente se vê então, seu rancoroso. E tchau!

Mostrei a língua pra ele, malcriado, dizendo:

— Tchau! — E saí andando para o lado oposto. Seokjin resmungou alguma coisa que eu não entendi, mas nem liguei.
Ele sempre resmunga mesmo...

Depois dessa despedida doidinha com meu melhor amigo, fui até a lixeira para jogar o lixo fora. E então, comecei a
fazer meu caminho até o banheiro. Eu trouxe minha pasta e escova de dentes comigo quando saí da sala para lanchar, só
pra não ter que voltar para pegar ela depois. Logo eu fui direto para o banheiro.

Escovei meus dentes na pia e o sinal tocou assim que terminei. Decidi entrar em uma das cabines para me esconder,
guardando a escova de dentes e a pasta em um dos bolsos grandes do meu casaco preto. Me sentei na tampa do vaso, e
fiquei encarando meus sapatos enquanto esperava o barulho lá fora diminuir para... então... o encontrar...

Minhas bochechas queimaram e eu dei um suspiro bem longo, ansioso demais. Até me funguei para ver se estava
cheirando a perfume, e felizmente, estava. Meu cabelo também estava cheiroso por eu ter lavado ontem de noite, então...
estava tudo certo...

Mas ainda sim, meu coração não parava de bater fortemente.

Puxa... Jiminnie e eu mal nos falamos hoje. Nós trocamos um olhar no ônibus e conversamos um pouquinho na
entrada, mas Seokjin e Yoongi estavam com a gente, então foi uma conversa em grupo muito breve...

Na sala de aula, Jimin parecia ocupado demais para olhar para mim. Ele estava fazendo todas as atividades
pacientemente e imerso em sua conversa com Yoongi, não me percebendo olhando-o nenhuma vez no primeiro tempo.
Depois disso, eu desisti de capturar seus olhos e apenas fiz meu dever... puxa... Eu até pensei que conseguiria vê-lo no
intervalo, mas Jimin foi o primeiro a sair da sala — e foi até sem o Yoongi! Seokjin perguntou se ele queria lanchar com a
gente, mas ele negou e disse que ia encontrar Jiminnie no refeitório depois...

Estar perto dele e ao mesmo tempo tão longe me deixa ainda mais ansioso para ficar consigo... é intenso...

Fiquei pensando sobre isso por tanto tempo que, quando percebi, já estava bem silencioso lá fora. Só assim, eu saí
da cabine, indo até o espelho para ver se estava tudo bem com meu rosto. E bem, eu estava normal... acho que isso basta...

Saí do banheiro depois de lavar minhas mãos, bem discretamente. Os corredores estavam vazios e eu não demorei
muito para fazer meu caminho calmo e silencioso até aquela escada. Fica perto do meu armário e eu sei bem como chegar
até ela sem ser notado...

Quando dobrei o corredor do colégio e, de longe, vi a escada, senti meu coração bater mais forte quando percebi que
Jiminnie já estava lá.

Puxa... ele está tão lindo hoje. Jimin está usando aquela blusa listrada laranja e azul, com uma calça jeans clarinha
dobrada na canela. Seus pés estão com aquele allstar azul que eu tanto gosto, e puxa... ele fica lindo assim...

Jiminnie, parado e encostado na lateral da escada com o walkman amarelo em sua mão, não me notou de imediato.
Isso me fez rir baixinho e apressar meus passos, praticamente saltitando para mais perto dele. Jiminnie estava olhando para
seu walkman e só levantou o olhar quando eu estava bem próximo. Poder ver seus lábios e olhos sorrindo com tanta
felicidade e carinho só para mim, me fez sorrir de volta no mesmo momento, inexplicavelmente feliz.

Puxa, como eu gosto dele...

— Ggukie... — Jimin sussurrou, dando alguns passos pra frente para, muito repentinamente, me abraçar.

Senti seus braços em torno dos meus ombros e fechei meus olhos, deixando meu sorriso crescer mais. Enlacei suas
costas e o abracei de volta.

— Oi... — eu murmurei, encostando a lateral do meu rosto no seu. Senti meu coração palpitar quando as lembranças
dos beijinhos na boca que tínhamos dado atravessou minha mente de repente.

Puxa. Estou abraçando Jiminnie depois de nos beijarmos um monte... parece tão diferente e, ao mesmo tempo, tão
igual...

— Eu comprei chocolate... — Jimin disse, me fazendo rir baixinho. Ele se afastou lentamente do nosso abraço e do
nada, olhou em volta.

Fui fazer o mesmo para ver se o corredor estava vazio, mas quando fui virar meu rosto, as mãos de
Jimin seguraram minhas bochechas. De repente, ele me puxou para perto e deu um beijinho estalado e rápido nos meus
lábios. Foi tão rápido e repentino que eu nem fechei os olhos!

Quando ele se afastou e viu minha feição chocada, acabou por rir baixinho. Já eu me virei com tudo, olhando em volta
de nós dois meio assustado, mas o corredor, felizmente, ainda estava vazio.

Quando olhei para Jiminnie novamente, com meus olhos arregalados, ele riu ainda mais.

— Jiminnie! — eu fiz um biquinho, com o coração acelerado. — Alguém poderia ter visto... puxa...

Meus olhos ainda estavam bem abertos, e Jimin parecia fixado neles. Quando pisquei um par de vezes, ainda
ofegante, Jimin parou de rir, mantendo o belo sorriso em seus lábios.

— Fofo... — ele murmurou, erguendo sua mão. Quando ele tocou embaixo do finalzinho da minha sobrancelha,
contornando meu olho cuidadosamente com a pontinha do seu indicador, minhas bochechas coraram. — Você é tão
zoiudinho... — sussurrou. — É tão fofinho...

Senti meu estômago ficar geladinho de felicidade. Puxa. Nunca pensei que ficaria tão feliz por ser chamado de
zoiudinho...

— Puxa... — murmurei, sem conseguir me segurar. Jiminnie sorriu com os olhos. — É que... você me deu um susto...
— falei, dando uma batidinha em seu ombro.

— Hehe... eu sei... — ele disse, segurando a minha mão que tinha acabado de lhe dar um tapinha. — Sabe, tô com
medo de algum professor ver a gente... então eu pensei em ficar embaixo da escada que nem naquele dia... mas só se você
quiser... — mordeu seus lábios que acabaram de me beijar.

Senti a animação arrepiar meu corpo e mordi meus lábios inconscientemente. Não precisei pensar muito antes de
assentir porque, puxa, é claro que eu quero... embaixo da escada podia ser o meu esconderijo com Jiminnie...

Ou, mais um dos nossos lugares.

Jimin sorriu e me puxou pela mão. Espiei o corredor deserto uma última vez antes de me estreitar todo para passar
pelas cadeiras e mesas quebradas que bloqueavam a escada. Fomos lá para o fundinho, exatamente onde ficamos da última
vez que viemos aqui... quando Jiminnie me chamou de filhotinho... e me deu um cheirinho...

Isso me fez sorrir com as lembranças. Meu rosto estava quente e meu coração estava batendo com bastante
intensidade, mas eu não estava constrangido ou nervoso como da última vez que vim aqui com ele... eu me sentia muito
mais confortável e ansioso, mas de um jeitinho bom...

Puxa... acho que aquele feitiço me deixou muito mais corajoso também...

Quando nossos pés estacionaram no lugar, Jiminnie deixou seu walkman sobre uma das mesas quebradas, e segurou
minha outra mão, ficando de frente para mim. Senti seus dedinhos apertarem os meus, e abaixei meu olhar para assistir
nossas mãos abraçadas. Jimin estava segurando ambas as minhas com as suas, apenas pela pontinha... só meus dedinhos
estavam sendo aquecidos pela sua palma calorosa e macia.
Seu polegar fazia um carinho suave sobre o nó dos meus dedos e isso me fez sorrir, virando e abrindo minhas mãos
suavemente, até elas estarem completamente entrelaçadas às suas. A sensação de unir minha mão à dele assim é tão boa,
puxa...

Nós ficamos em silêncio por um tempinho. Senti que Jiminnie estava olhando para meu rosto, mas não consegui olhar
para ele de volta. Apenas fitei nossas mãos, me sentindo tímido de repente... acho que é difícil não ficar tímido com ele
tão concentrado em meu rosto, puxa...

Jimin se encostou na parede atrás dele, me fazendo me aproximar mais dele por causa da movimentação. Senti
minhas bochechas ficarem quentes porque ele ficou mais baixinho que eu ao fazer isso, puxa...

Jiminnie deu uma risadinha.

— Então... — ele murmurou, e sua voz soava divertida e calma. — Ggukie... — chamou, melodiosamente. — Olha pra
mim?

Sua pergunta soou tão doce que eu senti meu coração falhar uma batida. Lentamente, levantei meus olhos, olhando
para Jimin e seu belo rosto.

Foi... peculiar... quando nossos olhares se encontraram. Porque não falamos nada por uma longa quantidade de
tempo. Pensei que fôssemos começar a rir de repente, mas por algum motivo, não foi bem assim... nós só... nos olhamos,
em silêncio...

Inicialmente, Jiminnie estava com um sorriso nos lábios, mas ele foi diminuindo com o tempo. Isso me deixou um
pouco intimidado porque Jimin fica lindo quando sorri, mas quando ele fica sério é tão, tão bonito também...
é diferente... puxa...

Viajei meus olhos por todos os detalhes bonitos do seu rosto naquele nosso silêncio intenso e íntimo. Assisti suas
sobrancelhas ruivas, seu nariz pequeno e gordinho, suas sardas e pintinhas... seus lábios cor de rosa...

Engoli em seco. Seus lábios são tão lindos... puxa vida... como é que eles podem ser tão lindos?

Jimin desprendeu suas mãos das minhas lentamente. Seus toques me deixam tão balançado que, quando a pontinha
de seus dedos tocaram a minha nuca, eu fechei meus olhos completamente. Puxa, ele vai me beijar, vai me beijar, vai me
beijar, puxa...

Permaneci com os olhos fechados, e senti a respiração de Jiminnie bem pertinho, mas ele não beijou meus lábios. Ele
beijou minha bochecha lentamente, e quando eu estava prestes a abrir meus olhos para fitá-lo, Jiminnie desviou seus lábios
para a minha boca, dando-me um beijo carinhoso e calmo.

Senti meu rosto queimar mais ainda. Como seus lábios podem ser tão macios? Como seu beijo pode ser tão quente e
acolhedor?

Me senti surpreendido. Quando Jiminnie se afastou sutilmente, abri meus olhos muito lentamente. Por ele estar tão
próximo, não hesitei em fechá-los de novo, me sentindo tão molinho que tombei minha cabeça para o lado. Isso fez Jiminnie
rir muito baixinho e segurar meu rosto com a mão que não estava em minha nuca, virando seu rosto bonito para me dar mais
um beijo lento. Dessa vez, consegui fazer um biquinho, e foi tão bom quanto a primeira vez que nos beijamos.... foi bom
como todas as outras... é bom... é muito bom, puxa...

Dessa vez, senti os óculos de Jimin tocando meu nariz sutilmente e isso deixou o beijo ainda melhor... puxa... é como
se o toque geladinho me lembrasse que estou beijando ele. Park Jiminnie. Faz com que os beijinhos se tornem ainda
mais nossos do que já são... e eu acho que isso nem faz sentido, mas eu gosto tanto, puxa...

Nosso beijo fez um barulhinho suave quando nos separamos, mas Jiminnie uniu nossos lábios novamente sem
demora, me deixando rubro de felicidade. Me senti todo arrepiado quando, além de me beijar, Jimin subiu a mãozinha pela
minha bochecha, passando os dedinhos pela lateral do meu rosto até chegar na minha orelha. Minhas bochechas coraram
quando ele fez aquele carinho bom que me dá um nervosinho tremendo... puxa...

Acho que vou desmaiar de satisfação...

De repente, meu coração estava batendo muito rápido. Todos os detalhes daqueles beijos simples, em que nossas
bocas apenas se tocavam por breves segundos, estavam me deixando extremante eufórico. E me fazendo gostar ainda mais
de Jimin. Eu sempre gostei tanto dele, mas eu gosto ainda mais agora... puxa... eu gosto muito de gostar de Jimin... ele é tão
doce... tão doce... como chocolate...

Talvez até mais que chocolate. De certa forma, eu até me sinto um chocolate quando estou com ele. Ou um sorvete.
Eu simplesmente sinto que estou derretendo. Me sinto maluquinho por pensar assim...

Jiminnie desgrudou nossos lábios lentamente. Demorei um tempo para abrir meus olhos, completamente tonto
porque, quando começamos a nos beijar, minha mente foi longe... como da última vez, eu fui para outra realidade.

E quando meus olhos perdidos e mansos encontraram os seus, Jiminnie riu baixinho.

— Você fica tão fofo quando fecha os olhinhos antes de eu te beijar... — ele disse, de repente. Seus dedinhos
desceram pela minha orelha, ombros, e braços. Até chegarem em minha mão. — Dá vontade de ficar te olhando por horas...

Sua fala fez meu coração chacoalhar. Eu fico fofo fechando meus olhinhos... Jiminnie disse que eu fico, então eu
fico...

— Puxa... — sussurrei, todo quentinho. Meu coração pedia para eu elogiá-lo também, então, eu disse a primeira coisa
que veio na minha cabeça: — Quando seu óculos toca meu nariz... eu gosto tanto...

Só depois de falar em voz alta, eu percebi como minhas palavras soaram extremamente aleatórias e sem
sentido. Minhas bochechas pinicaram de constrangimento.

— Pfft... — Jimin riu melodiosamente, seus olhos sorrindo lindamente. — Por que, Ggukie?

Engoli em seco, completamente quente. Puxa, puxa, puxa...

— Porque... assim eu fico lembrando o tempo todo que é você... — eu disse, atrapalhadamente. — E eu fico mais... m-
mais feliz... puxa...

Mordi meus lábios com força. Me senti super bobo, mas não estava com medo da reação de Jiminnie. Afinal, eu já
disse e fiz tantas coisas estranhas na frente dele... e Jiminnie sempre ri e gosta... é um alívio que ele gosta de mim mesmo
que eu seja super esquisito, puxa...

— Jeongguk... — Jimin chamou. — Eu amo tanto como você pensa... tem e não tem sentido... é tudo de bom...

Isso me fez rir baixinho, e Jiminnie se juntou ao meu riso. Rir com ele era tão gostoso e confortável que eu senti
vontade de abraçá-lo bem apertado. E assim, eu o fiz, me aproximando para passar meus braços por baixo dos seus,
enlaçando suas costas macias e escondendo meu rosto em seu ombro quente e acolhedor.

Dei um suspiro, amando como Jiminnie é quentinho e macio. Funguei o cheirinho bom da sua roupa, e me senti todo
feliz... o perfume de Jimin me deixa feliz...

Senti seus dedos nas minhas costas, apertando e afagando. Isso me fez tombar ainda mais minha cabeça em seu
ombro, deitando a bochecha em seu ombro manhosamente.... puxa... eu poderia ficar aqui pra sempre...

— Hihi... você é tão bebê, Jungkookie... — Jiminnie disse, risonho. Isso me fez fechar os olhos, sorrindo também. —
Eu amo como você se aninha no meu ombro... parece um filhotinho...

Ele ama como eu penso, ama como me aninho em seu ombro... ama, ama, ama...

— Hmmm... — murmurei palavras incompreensíveis. Jimin riu de mim.

— Só falta você ronronar... — Jimin sussurrou, e a forma como ele disse "ronronar" fez meu coração ficar quentinho.
Senti suas mãos subirem pelas minhas costas, até chegarem em minha nuca e, em seguida, em meu rosto.

Jiminnie segurou-o e eu estava tão dormente que apenas segui suas mãos quando ele me afastou bem pouquinho de
seu ombro. Com minhas bochechas entre suas mãos, Jiminnie abaixou seu rosto para me roubar um beijo na boca macio e
breve. Meus lábios formigaram e eu fiz um biquinho no outro beijinho que ele me deu. Que bom, puxa...

Me senti agraciado quando Jiminnie desviou seus lábios, beijando minhas bochechas, o cantinho do meu nariz, e até
meus olhos fechados, acarinhando toda minha pele com seus lábios amorosos. Tão bom, puxa...

— Meu amorzinho... — murmurou, sua voz soando manhosa e doce. Puxa. Puxa... — Até suas bochechas tem um
cheirinho bom... — Tocou a pontinha de seu nariz na maçã do meu rosto, fungando de levinho antes de deixar mais um
beijinho nela. Meus dedos tremelicaram e eu apertei suas costas, puxando sua camiseta de levinho com isso porque foi muito
gostoso. Puxa...

Senti que derreteria a qualquer momento.

— Puxa... — sussurrei, voltando a apertá-lo mais, escondendo meu rosto em seu ombro mais uma vez. Jimin deu um
suspiro amoroso. — Jiminnie... q-quando você diz essas coisas, eu não sei o que responder, puxa... — confessei, porque era
verdade. Eu só queria ficar coladinho nele ouvindo, ouvindo e ouvindo, porque é tão doce e bom...

Não me canso de dizer que é bom, puxa...

— Não tem problema... — ele disse, subindo os dedinhos pelo minha nuca, infiltrando-os por baixo da minha touca.
Meu couro cabeludo se arrepiou com o carinho. — Eu amo quando você só me abraça e me aperta... — Jimin murmurou. Ele
ama... — Posso tirar sua touca? — indagou, brincando com a pontinha dela.

Por estar tão imerso no carinho de Jiminnie, eu quase disse que sim. Mas então, me lembrei de como meu cabelo
estava embaraçado e alto, e balancei minha cabeça, negando suavemente.

— Tá uma bagunça... — sussurrei. — De verdade... eu dormi com ele molhado ontem e ele ficou muito cheio... —
Minha fala fez Jiminnie rir.

— Mas eu já vi seu cabelinho bagunçado — retrucou. Quando me afastei sutilmente do abraço, encontrando seu rosto
sorridente e olhos amorosos, quase cedi.

Quase... porque meu cabelo hoje tá parecendo uma juba de leão...

— Não do jeito que ele tá agora... tá super embaraçado — eu falei, sentindo meus ombros amolecerem quando
Jiminnie fez ainda mais cafuné no meu couro cabeludo. — Não deu tempo de pentear hoje de manhã... e se você for fazer
carinho nele, vai ficar com o dedo preso.

Jimin deu risada da minha fala, e eu ri também, me sentindo feliz e muito bobo.

— Sabe... — ele começou, baixinho. — Eu trouxe uma escova de cabelo uma vez pra cá e deixei no meu armário —
sussurrou, tirando a mão do meu cabelo, colocando ambas as suas em meu ombro. — Posso pentear seu cabelo? —
perguntou, com os olhos brilhando.

Senti minhas bochechas queimarem porque a ideia parecia muito, muito boa. Mas, puxa, se Jiminnie fizer isso, vai ver
a minha juba de leão...

— Mas... meu cabelo tá todo pro alto... — eu disse, baixinho. Jiminnie riu um pouco.

— Não tem problema, Ggukie... — ele disse, levando sua mão até minha franja que saía pela pontinha da touca. —
Deixa?

Sua voz saiu mais doce e amável do que antes. Isso fez meu coração palpitar e, quando encontrei seus olhos bonitos,
tão pidões e bonitos, eu não consegui negar.

— Deixo... — eu disse, me sentindo um molenga. Ele nem precisou insistir, puxa...

Acho que nunca vou conseguir negar nada a Jimin. Não quando ele olha nos meus olhos assim... não quando ele
sorri tão bonito quando eu deixo, puxa...

— Me espera aqui — disse ele, dando um beijinho estalado na minha bochecha. Dei um sorriso bobo. — Vou pegar a
escova rapidinho. Já volto!

E antes que eu respondesse qualquer coisa, Jiminnie saiu caminhando para longe, praticamente saltitando de tão
feliz. O segui com o olhar até ele passar pelas cadeiras e mesas quebradas, vendo-o dar risada sozinho enquanto o fazia. A
maneira que ele ficou alegre me deixou tão eufórico que eu nem liguei pro fato de que ele estava prestes a ver o meu
cabelo... ou melhor: o meu ninho de passarinho.

Afinal, mesmo com todas as minhas esquisitices, Jiminnie ainda gosta de mim. E sinto que, apesar de tudo, sempre
vai ser assim.

JIMIN

Eu praticamente corri até meu armário para abri-lo, pegar a minha escova de cabelo, e então, fechá-lo.

A escova estava em perfeitas condições, com o cheirinho do meu shampoo e alguns fios ruivos presos nela. Eu os
tirei com cuidado, jogando-os no lixo antes de fazer meu caminho de volta para a escada... ou será que eu deveria chamar
ela de céu?

Afinal, ficar embaixo dela com um Jungkookie cheio de denguice por vários minutos só poderia ser isso. O céu... ai
ai...

Meu coração estava acelerado e eu estava quase dançando enquanto andava. Ficar de chamego com Jungkookie
sempre me deixa feliz, mas dessa vez, estou absurdamente feliz. A maneira que ele deitou o rostinho quente em meu ombro
e ficou falando arrastado, cheio de manha, me fez ficar ainda mais apaixonado por ele. E estar apaixonado me deixa feliz.
Tive que me segurar muito para não sair falando que amo ele incontáveis vezes sempre que o beijava... e nossa. Beijar seus
lábios se tornou uma das minhas coisas favoritas nesse mundo...

Fala sério, eu o amo demais...

Não consegui parar de sorrir por um segundo sequer enquanto caminhava de volta para a escada e, quando entrei
debaixo dela, fiquei ainda mais sorridente. Principalmente quando encontrei Jungkookie com meus olhos. Coisa linda...

— Peguei — falei, balançando a escova na minha mão. Jeonggukie, que estava encostadinho na parede, se ergueu
sutilmente.

— Puxa... que rápido — ele disse, com um sorrisinho miúdo.

Dei risada, e quando fiquei pertinho dele, fiz um carinho em seu ombro.

— Eu fui bem rapidinho porque estou muito ansioso, hehe — eu disse, com um sorriso bem grande. Jeongguk sorriu
de volta. Lindo, lindo, lindo... — Vem, vamos nos sentar. — Puxei seu ombro.

Jungkook piscou um par de vezes.

— Aonde? — ele perguntou, confuso já que todas as cadeiras ali estavam quebradas.

— No chão — falei.

Ri baixinho, e comecei a me sentar no chão, puxando Jungkookie comigo pelo ombro, até ficarmos de joelhos.
Quando me joguei para trás, sentando sobre meus calcanhares, meu amorzinho fez o mesmo, mas se jogando
completamente, até estar sentado com suas perninhas cruzadas.
Dei um sorriso porque ele fica fofo demais assim...

— Agora tira a touca... — eu pedi, ansioso para ver seu cabelo todo pro alto porque, na minha imaginação, isso é
muito fofo...

Jungkookie, sentado de frente para mim, parou por um momento. Suas bochechas ficaram rubras e a visão era tão
amorosa que eu ri baixinho, completamente apaixonado pelo seu jeitinho fofo de ser.

— Puxa... acho que você vai dar risada — ele disse, levando os dedos hesitantes até a pontinha da touca.

— Prometo que não vou... — eu disse, mordendo meu lábio inferior ansiosamente.

— Não tem problema se você rir, puxa... — ele puxou a touca de uma vez, fazendo um biquinho e desviando o olhar.

E eu? Bem... eu dei um sorriso bem grande.

Os cabelinhos de Jungkook estavam realmente bagunçados. Acho que a touca deixou eles ainda mais embaraçados
e arrepiados, mas, caramba... ele ficava tão bonitinho com ele assim! Tão cheinho e embolado. Fica parecendo um...
um... um bebê...

Céus, como ele é fofo...

— Awn... — eu murmurei, sem me aguentar, vendo algumas pontinhas do seu cabelo fazendo curvinha. — Tá tão
fofinho... você é muito fofo, Ggukie... — eu disse, sorrindo largo, me inclinando para frente para alcançar sua franja.

Quando fui fazer carinho, seu cabelo embolou no meu indicador, exatamente como ele disse que aconteceria.

Jungkookie riu quando percebeu.

— Eu disse que você ia ficar preso... — ele disse, com um sorrisinho, bem menos tímido agora. Sorri com ele, rindo.

— Ficar preso com você para mim é vantagem — eu brinquei, fazendo Jungkookie rir mais. Amo tanto quando ele
ri... simplesmente amo ele demais. — Vem aqui... senta de costas pra mim. Vou começar a pentear.

Meu amor assentiu com a cabeça e começou a se virar. Eu estava sentado sobre meus calcanhares, mas os coloquei
no chão, e fiquei sentado com as pernas um pouco abertas. Com Jungkookie na minha frente e sua nuca em meu campo de
visão, peguei a escova de cabelo e comecei a afagar seus fios bagunçados e embolados.

— Se puxar, me fala, tá bom? — eu disse, prendendo um pouco de cabelo entre meus dedinhos, apertando-os ali
antes de pentear. Assim, eu não puxo seu couro cabeludo... — Eu vou ir fazendo assim, mas posso puxar sem querer...

— Tudo bem... — ele disse, tranquilo enquanto eu passeava minhas mãozinhas com a escova por seu cabelo,
penteando fiozinho por fiozinho com bastante cuidado e carinho.

Afinal, esse cabelinho significa o mundo para mim...

É a coisinha mais linda que existe.

Jungkookie, com o tempo, se inclinou ainda mais para trás, relaxando conforme eu desembaraçava suas madeixas.
Era tão fofo ver como elas ficavam mais escorridas quando eu as penteava... o cabelo de Jungkookie ia ficando mais
comprido e menos cheio, e estava tão cheiroso... por penteá-los, o cheirinho bom ficava cada vez mais evidente. É sem
dúvidas o paraíso...

Assim que penteei a parte de trás e as laterais completamente, toquei o ombro de Jungkookie até ele se jogar mais
para trás. Foi fofo demais quando ele simplesmente se deitou sobre mim; suas costas usando minha barriga de travesseiro e
sua nuca acolhida no canto da minha clavícula, bem perto do meu ombro. Fechei minhas pernas com carinho para acolhê-lo
ainda mais no meu colinho.

— Fofinho... — sussurrei, rindo baixinho enquanto escovava sua franja, por último. Ela não estava tão embaraçada,
então não precisei escová-la por muito tempo. Só acabei tirando as ondinhas na pontinha dela, assim como o resto do seu
cabelo.

Sem parar de pentear, dei uma espiadinha no rosto de Jeonggukie. Quando percebi que seus olhos estavam
fechados, quase desmaiei de amor. Ele é mesmo muito bebê...

Deixei a escova de lado por um tempo, colocando meus dedos entre seus fios, agora, lisos e macios. Fiz um carinho
gostoso em seu couro cabeludo e ouvi Jeongguk suspirar. Que amor...

— Eu terminei... — falei, percebendo que os cabelos de Jungkook estavam exatamente como no primeiro dia do
acampamento, de noite. Ele deve ter escovado eles aquele dia... — Eu puxei? — perguntei, sem parar de acariciar seus
cabelos com meus dedos, sentindo como eles estavam completamente desembaraçados agora.

— Hm? — ele murmurou, abrindo os olhos.

Ri baixinho.

— Puxei seu cabelo? — perguntei, sem parar de mexer neles porque, sério... são tão macios e cheirosos. É muito
gostoso fazer carinho...
— Não... — ele disse. Então, riu baixinho, dizendo aleatoriamente: — Jiminnie, você está usando meias diferentes...

Espiei meu allstar azul e minhas meias aparecendo, percebendo que, realmente, elas são diferentes. Uma é azul e
outra é branca...

— Ih... — murmurei, rindo baixinho junto com ele. — Sabe... essa é a intenção, Kookie. Eu estou super atualizado e
meias assim são tendência hoje em dia. Você, infelizmente, está fora de moda... — eu brinquei, fazendo Jeonggukie rir mais.

— Tem certeza disso, Jiminnie? — ele indagou. Franzi o cenho quando Jungkookie ergueu um de seus pés, puxando
o cano alto para baixo para me mostrar a cor da sua meia do pé esquerdo. Branca. — Woah! — exclamou ao puxar seu tênis
levemente e me mostrar a meia do seu pé direito logo em seguida:

Verde com estampa de sapinhos sorrindo.

Não aguentei a surpresa boa e comecei a rir um monte. Jungkookie riu também, e de repente, estávamos dando
risada das nossas meias. Das nossas meias, poxa! Acho que a paixão deixou a gente tão maluquinho que tudo que acontece
entre nós é engraçado demais...

E é muito, muito divertido também...

— Você me pegou de surpresa! — eu disse, sem parar de rir.

— Eu só comentei porque as minhas estão diferentes hoje também! — ele disse, risonho. — Você sempre vem com
meias diferentes mesmo... eu nem falo nada porque já me acostumei...

Fiz um biquinho, dando um tapinha em seu peito.

— Aff, é verdade... eu quase nunca encontro o outro par das minhas meias — falei, levando minha mão do seu peito
até seu pescoço. Apertei a gordurinha macia presente ali, fazendo Jungkookie rir um pouco. — Será que todo mundo percebe
e me julga? — questionei.

— Aposto que eu sou o único que olha pra sua meia — disse ele, tranquilamente. — Puxa. Isso soou meio estranho...

Ri baixinho, negando com a cabeça para apertar sua bochechinha.

— Não é estranho... é fofinho... — eu disse, sorrindo. — Eu gosto de olhar seu tênis... você sempre vem com um
allstar diferente...

— Eu gosto mais do preto e do vermelho... eu também gosto do azul... — ele comentou. — Só que gosto tanto que
quase não uso...

Ri baixinho.

— Por quê? — perguntei, fazendo carinho em sua bochecha agora.

— Pra ele ficar novinho pra sempre, puxa... — disse ele, baixinho. Fofo... — Sabe... eu gosto do seu tênis também...
— Jungkookie disse, esticando a perna suavemente até nossos pés estarem lado a lado. — Seu allstar azul combina com o
meu preto, de cano alto...

Dei um sorriso grande com a sua fala, fitando nossos pézinhos juntos. Eles combinam mesmo...

— Acho que nós dois combinamos... — falei, abraçando seu pescoço com meus braços, com muito carinho. — É por
isso que vamos ficar juntos pra sempre... — sussurrei, apoiando meu queixo em meu próprio braço e, consequentemente,
colando a lateral do meu rosto à sua.

Por estar tão pertinho, pude ouvir Jungkookie suspirando melodiosamente. Isso me fez sorrir.

— Puxa... — ele sussurrou, erguendo sua mão para segurar a minha com carinho.

Naquele segundo, senti saudades de Jeongguk antecipadamente. Senti saudades da sua forma de me corresponder,
do seu cabelinho bagunçado, e do seu allstar preto de cano alto...

Senti saudades do meu amorzinho e aproveitei ao máximo o resto do tempo que tínhamos juntos naquela segunda-
feira calorosa e cheia de muito amor.

***

— Sim, ela custa isso tudo... — Yoongi falou, do outro lado da linha. Fiquei chocado. — Eu até vi uma mais barata,
mas é de uma marca muito ruim! Já comprei antes, ela começa a embolar muito rápido... não vale a pena.

— Poxa... — eu murmurei, fazendo um biquinho. — Eu estava querendo comprar outras coisas pra ela também, mas
essa fita leva a minha mesada todinha. Que cara...

— É cara mesmo. Mas ela é uma das melhores — disse ele. — Aliás, você vai poder vir aqui em casa amanhã? —
perguntou.

— Na verdade, minha mãe disse que era melhor na quarta. Amanhã ela volta mais cedo e não tem como me buscar...
na quarta ela pode voltar de carona com a amiga dela — falei, pensativo. — É até melhor... vou ter mais tempo para escolher
as músicas.

— Não deu tempo de escolher nas aulas que você matou hoje, não? — Yoongi perguntou, curiosamente.

— Hum. Pior que não... — murmurei, me sentindo culpado por estar mentindo.

Afinal... quando me encontrei com Yoon no ônibus hoje, depois de sumir das últimas aulas, eu precisei mentir para
ele. Falei que tinha matado as aulas de ciências porque estava muito ansioso para planejar e escolher as músicas da fita. Eu
precisava inventar algo, e ele acreditou em tudo que eu disse, mas ainda me sinto meio culpado...

— Ah, sim... — disse ele, suspirando. — Ok, eu estou vendo algumas músicas românticas aqui. Na quarta você vem,
então.

— Sim... — eu disse, dando um sorriso. — Obrigado, Yoongi.

— De nada... — disse ele, preguiçosamente. — Agora eu vou comer. Tchau.

Ri baixinho de seu jeitinho de se despedir, balançando a cabeça e dizendo:

— Ok, ok... tchau — falei. — Boa noite.

Depois de desligar o telefone, fui até a cozinha e esperei Leonor acabar de fazer o jantar em silêncio. Fiquei me
lembrando dos momentos amorosos que tive com Jungkookie na escola, mais cedo, e rindo sozinho, atraindo o olhar da
minha mãe.

Ela deu uma risadinha.

— E aí? — ela perguntou, de repente. A olhei. — Tá todo serelepe por quê? Lembrou de alguma coisa engraçada de
novo? — Arqueou uma das sobrancelhas.

Ri baixinho, balançando minha cabeça positivamente. Mamãe apenas riu e voltou a cozinhar, sem nem perguntar o
que era. Logo, voltei a sonhar acordado sobre Jungkookie e seus cabelinhos... que saudade...

Quando a comida ficou pronta, minha mãe e eu comemos juntos no sofá, vendo novela, e assim que terminou, ela
subiu para se banhar e dormir, deixando a cozinha para eu arrumar. Fiquei meio bicudo, admito, mas arrumei tudo bem
quietinho...

Depois que terminei, lavei minhas mãos, escovei meus dentes e fui me deitar, ansioso para ver Jungkookie amanhã.
Não vamos poder matar aula de novo porque ele precisa fazer algumas das provas que perdeu quando foi suspenso, mas só
a ideia de vê-lo me deixa feliz.

Logo eu dormi com um sorriso no rosto.

No dia seguinte, na escola, as coisas ocorreram normalmente. Só cheguei a ver meu amorzinho no ônibus no início da
manhã, já que ele ficou em uma sala separada da nossa para fazer os testes e provas. Nós até conseguimos nos falar no
intervalo, mas Seokjinnie e Yoonie estavam juntos, então foi muito breve. Mesmo assim, valeu a pena...

Encontrei Taehyung no clube de música mais tarde e ele ficou envergonhado quando se deu conta de que esqueceu
de trazer a fita e as letras.

— Amanhã eu trago! Mas me lembra — ele disse, coçando a nuca. — Eu me esqueço de tudo... quando chegar em
casa, me liga e me lembra de colocar na mochila, tá? — pediu.

Ri baixinho, abanando a cabeça.

— Tá bem, Tae — eu disse, sorrindo.

— Mas só desliga o telefone quando eu confirmar que coloquei na mochila, ok? — disse ele. — Se bobear, eu desligo
o telefone e me esqueço! Então só desliga quando eu disser que coloquei!

E depois de me passar mais instruções sobre como não deixá-lo esquecer sobre a fita e as traduções, Taehyung,
Seokjin, Hoseok, Namsoon e eu fizemos nossas atividades do clube. Niuke tinha faltado e Jungkookie estava fazendo mais
provas... fiquei jogando baralho com o Hobi, e venci ele todas as vezes. Isso me fez sentir saudades do meu amorzinho...
mas ainda foi legal jogar com o Hoseokie. Ele até que era bem bom no baralho...

Quando cheguei em casa, corri até o telefone e liguei para Taehyung. Depois de lembrá-lo sobre a fita e me certificar
que ele guardou ela e as traduções em sua mochila, nós nos despedimos e desligamos. Sendo assim, aproveitei para dar
uma ajeitada na casa, e depois, separei tudo para ir na casa do Yoongi amanhã — inclusive o dinheiro da fita.

No dia seguinte, Jeonggukie ficou ocupado com as provas também. Ele nos contou, no intervalo, que escolheu terça,
quarta e sexta, daquela semana, para fazer todas as provas. Como quinta-feira era seu aniversário e domingo não dava
tempo dele estudar, ele optou por esses dias.

Fiquei feliz por ele estar tranquilo enquanto lanchava conosco. Isso significava que ele estava se saindo bem nas
provas... espero que dê tudo certo para meu amor sempre.

O resto da aula foi tediosa depois disso, e eu até dormi no último tempo. Fui acordado por Yoongi quando o horário de
ir embora deu, e saí junto com ele, me lembrando de última hora que tinha que pegar a fita e a folha com Taehyung.
Chegando no estacionamento, tive que correr até o ônibus do Tae para pegá-las antes dele sair. Foi uma cena
engraçada porque o motorista estava prestes a ir e me levar junto com eles, mas felizmente, consegui pegar a fita e as
traduções e descer a tempo! Mesmo assim, Hoseok e Taehyung ficaram rindo muito de mim... admito que, no fim, eu ri um
pouquinho também.

Depois disso, ainda tive que correr para o meu ônibus, mas foi a toa, porque o nosso motorista estava no
banheiro. Eu só me dou mal mesmo...

Yoongi deu risada de mim e de como eu estava sem fôlego e Seokjin me deu sua água gelada assim que me sentei.
Jungkookie ficou com os olhinhos curiosos sobre mim, e eu apenas disse para todos eles que tinha esquecido uma coisa
importante. Foi uma desculpa esfarrapada, mas pelo menos colou e eles não perguntaram mais nada...

A viagem de ônibus foi rápida e comum. Não era minha vez de ir na janela, mas mesmo assim,
fiquei espiando Jungkookie quando ele desceu. Quando Seokjin se foi, agradeci a ele pela água e me despedi dele também.
Logo, o ponto de Yoongi chegou e nós fomos descer...

Quando pisamos fora do ônibus, não fizemos o mesmo caminho de sempre, que nos levava para sua casa... muito
pelo contrário! Yoon e eu fomos para o lado oposto, prontos para comprar a minha fita novinha.

Em certo ponto da caminhada, meu melhor amigo disse:

— Vamos aproveitar e comprar batatas — ele falou, de repente. Ergui uma sobrancelha, confuso, e logo Yoon me
explicou: — Quero almoçar batata frita.

Ri baixinho de sua fala.

— Só batata frita? — perguntei.

— É. Com Ketchup. — Deu um sorriso. — Mas antes vamos comprar a fita. Você já decidiu qual mensagem quer
gravar pra ela? — perguntou, e eu assenti com a cabeça.

— Já sim. E vou terminar de selecionar as músicas hoje.

— Ok — ele disse, e ao virarmos uma esquina, chegamos em uma rua mais movimentada. Olhei em volta, curioso
com o ambiente novo. — Você vai usar alguma das minhas músicas?

Quando o sinal fechou, Yoonie e eu atravessamos a rua. E enquanto fazíamos isso, eu dei um sorriso e assenti.

— Sim! Eu confio muito no seu gosto musical, Yoonie — eu disse, olhando para meu melhor amigo com bastante
carinho.

Quando chegamos na calçada, Yoongi não respondeu minha fala. Ele apenas deu um sorriso fofinho e pequeno,
dando uma balançadinha com a cabeça sutil. Awn. Eu ainda penso na forma que ele não consegue demonstrar seus
sentimentos sem ser extremamente discreto...

E eu ainda demonstro o dobro por ele também.

Yoon e eu continuamos nosso caminho até a loja e chegamos nela rapidamente. Quando entramos, percebi que ela
era parecida com a loja de eletrônicos onde comprei meu walkman, mas muito mais organizada. Fiquei distraído olhando as
vitrolas e os walkmans enquanto Yoongi falava e pedia a fita ao balconista.

Logo o funcionário a entregou e, então, Yoongi veio até mim com a fita bonitinha em uma caixinha mais bonitinha
ainda, em suas mãos.

— Aqui — disse ele, me entregando. — Agora é só ir no caixa e pagar.

Balancei a cabeça, assentindo, e nós fomos até o caixa juntos.!Yoongi ficou olhando os chaveirinhos enquanto eu
pagava, e depois que a moça colocou a fita na sacolinha, nós saímos pela porta juntos.

— Vamos alugar um filme também? — perguntei para Yoongi quando passamos em frente a uma locadora. — A gente
pode assistir depois de gravar a fita, né?

— Sim... — ele disse, dando um sorriso travesso. — De terror, né?

Ri baixinho e nem pensei em negar. É engraçado e divertido ver filmes de terror com Yoongi porque ele fica rindo
horrores. Aí eu nem fico com medo!

— Claro que sim — eu disse, entrando na locadora logo depois dele.

Assim que uma das atendentes viu a gente entrando, começou a nos seguir pelo estabelecimento. Já até sei que é
porque ela tem medo da gente tentar espiar a sessão para adultos.

Até parece...

— Seokjin me indicou um filme quando fomos no acampamento! Acho que o nome é "Arrepio e o medo"... ou algo
assim... mas tinha uma palavra em inglês também — falei, seguindo-o até a sessão de filmes de terror, ignorando a
atendente.
É tão normal isso acontecer nas locadoras que é completamente normal para nós, adolescentes, simplesmente
ignorar.

— "Arrepio e medo"... hmmm... — Yoongi murmurou, olhando os filmes, ignorando a moça também (viu como é
normal?). Aproveitei e olhei também, procurando por aquelas palavras na estante. Depois de um tempinho, Yoongi ergueu
uma das fitas da sessão. — Seria esse?

Me aproximei dele e li o nome do filme. "Creepshow - Arrepio do Medo". É esse mesmo!

— Isso! — eu disse, rindo. — Nossa, eu confundi um pouco o nome, mas é esse mesmo. Jin disse que é assustador e
muito legal — falei, enquanto Yoongi virava a fita para ver a sinopse e as imagens do filme.

— Parece legal mesmo — disse ele. — Tá bom, vamos levar esse!

Depois de pagar pelo filme alugado, eu e Yoongi saímos da locadora. Passamos em um Hortifruti pra comprar as
batatas, e ainda fomos ao mercado comprar pipoca, refrigerante e macarrão instantâneo. Só então fomos para a casa de
Yoongi, cheios de compras nas mãos.

Quando chegamos e entramos em sua casa, colocamos tudo na cozinha, deixando apenas a fita do filme a fita k7 na
escada, junto com as nossas mochilas. Começamos a fazer nosso almoço — batata frita com ketchup — logo em seguida.

Ficamos descascando as batatas e depois as fatiamos. Elas ficaram tortas e feias, mas o que importa é que dá pra
comer!

Yoongi fritou elas e eu fiz uma limonada. Comemos arroz com batata e muito ketchup e, sim, estava muito gostoso!

Nos sentamos para comer juntos e, em certo ponto, me vi perguntando:

— O que você tá fazendo? — indaguei quando vi ele jogando um pouco de melado na batata.

— Eu tô deixando a batata frita mais chique — respondeu Yoongi, comendo a batata cheia de melado.

Fiz uma careta.

— Eca.

Yoongi apenas riu, continuando a fazer isso com suas próximas batatinhas. Esse meu melhor amigo é um nojento
mesmo...

Quando terminamos nosso almoço, Yoon e eu lavamos a louça juntos — ele lavando e eu secando. Ao terminarmos,
subimos para seu quarto cheios de preguiça, e eu queria muito tirar uma sonequinha pós-almoço... mas a fita era mais
importante. Afinal, o aniversário do Jungkookie ja é amanhã e eu não quero atrasar seu presentinho.

É importante, poxa...

Quando Yoongi entrou no quarto, se jogou com tudo em sua cama. Eu, vendo isso, não deixei ele dormir. Muito pelo
contrário! Fui até ele e segurei seus pulsos com força.

— Ei, ei... — chamei, o puxando para ficar de pé com bastante força. Ele resmungou, e já estava até de olhos
fechados. — Depois você dorme! Vamos fazer a fita.

— Ah, depois, depois... — ele tentou se soltar das minhas mãozinhas, mas eu fui mais rápido em puxá-lo mais.

Depois do que pareceu uma eternidade, Yoongi finalmente ficou de pé. Dei um sorriso e fiquei atrás dele, dando
batidinhas em suas costas, o empurrando até a escrivaninha.

— Depois você vai poder dormir bastante — eu falei, fazendo-o se sentar na cadeira da escrivaninha. — Vai, me fala!
Qual é o primeiro passo?

Yoongi demorou um pouco para responder, com uma carranca enorme por causa do sono. Ele parece um gatinho mal
humorado...

Depois de um tempo com o cenho franzido e uma careta de descontentamento enorme no rosto, Yoon se virou na sua
cadeira. Ele abriu uma das gavetas da sua mesa, e tirou um caderninho de lá. Folheou por um tempo, e depois me o
entregou, aberto.

— Nas próximas cinco páginas tem as traduções das músicas que eu peguei — ele disse, me passando. — E eu
passei as músicas pra uma fita ontem porque aí fica mais fácil na hora de gravar. Aí depois que você selecionar as que você
quer, é só a gente gravar e você fazer a mensagem — ele disse, e a cada palavra, proferida, Yoongi bufava.

Dei um sorriso pequeno quando ele me entregou a fita, que estava na mesma gaveta que o caderninho.

Pensei bem no primeiro passo que se consistia em: escutar as músicas, ler as letras, e decidir quais eu queria colocar
na fita. Como eu estava planejando escrever elas e dedicá-las ao Jeongguk, parei e me peguei pensando se eu poderia
simplesmente deixar Yoongi dormir um pouquinho enquanto fazia isso... afinal, eu ainda preciso ouvir as do Tae, também...
pode demorar...

No fim, eu senti que estava tudo certo. Posso fazer o rascunho da cartinha de uma vez e me adiantar, e Yoongi pode
dormir.

— Ok, eu vou fazer isso — eu disse, o puxando pelo braço para ele sair da cadeira. — Vou aproveitar para escrever a
cartinha que vai junto com a fita. Você pode dormir um pouco. — Dei dois tapinhas em seu ombro, sorrindo amigavelmente.

Yoongi, quando ouviu minha fala, deu um suspiro melodioso. É até engraçado a forma que a carranca sumiu de seu
rosto e ele apenas balançou a cabeça, indo até sua cama e se jogando lá — sem nem tirar os sapatos antes! — enfiando o
rosto em seu travesseiro.

Pfft... Yoon fica de bom humor sempre que está prestes a dormir... tomar café e tirar uma soneca são suas coisas
favoritas no mundo. É engraçadinho...

Fui até minha mochila e tirei meus fones e walkman de lá, o ligando e conectando corretamente antes de tirar a fita
que estava dentro dele, a substituindo pela que Yoongi me deu. Abri o caderno, e comecei a ler a letra das músicas que ele
escolheu enquanto as escutava nos fones.

A primeira que me chamou a atenção, de verdade, foi a terceira música a ser tocada. Ela era do Queen, com uma
melodia calminha, e me fez ficar bobinho principalmente pela letra.

Me lembrei totalmente dos dias em que fiquei suspenso e com saudades de Jungkookie.

Dei um suspiro, porque a música tinha uma história. Parecia ser sobre um homem que encontrava uma moça um dia,
e então, ficava torcendo para encontrá-la de novo em todos os outros. Na forma literal, não tinha muito a ver comigo e com
Jeonggukie, mas quando eu pensava no sentimento de querer tanto, tanto ver e passar mais tempo com alguém,
fazia tanto sentido. A forma que eu torci para poder vê-lo cada vez mais nas férias, quando fui suspenso, e quando ele foi
suspenso, foi assim... é uma saudade e esperança tão grande. Um tipo de esperança amorosa... que só é acalmada quando
nos vemos ou conversamos.

O jeitinho que o cantor disse, na letra, que queria que a sexta durasse por toda a eternidade, me lembrou das sextas
incríveis que já tive com Jungkookie...

Eu amei muito.

Eu não sei explicar, mas... decidi selecioná-la pela sensação que ela me deu. Logo, escrevi o porquê a coloquei na fita
em minha agenda, fazendo o rascunho da primeira parte da minha carta. Só quando acabei, voltei a ler as outras letras.

A próxima música que selecionei da fita do Yoongi era do Queen também. Lendo a letra, me lembrei tanto de
Jungkookie e eu... a música era sobre amor. Era animada e feliz, e me fazia pensar em todos os momentos que Jeonggukie e
eu demos risada juntos... era uma lembrança ótima e uma sensação melhor ainda. Não demorei nadinha para escrever um
monte sobre isso, já copiando a parte da letra que me fazia pensar nele na minha agenda.

Depois disso, peguei a folha de caderno que Taehyung me deu no bolsinho da minha mochila, a abrindo e lendo a
letra da música que eu pedi para ele. Dei risada porque, em algumas partes, ele desenhou umas carinhas confusas com
"Putz, não sei se é isso mesmo, mas acho que é, mas não sei, hein" me fazendo sorrir. Mesmo incerto, escrevi isso na
agenda, incluindo o que Tae disse sobre não saber se estava certinho, e ouvi sua fita para escolher algumas músicas.

No fim, escolhi três músicas da fita do Tae. Uma do Elton John, pela letra bonita, a que eu e Jungkookie dançamos
juntos, e uma antiga que minha mãe sempre ouvia.

Sendo assim, minha fita estava completa com sete belas músicas sobre amor.

Finalizei o rascunho da minha carta pouco tempo depois. Eu estou tão apaixonado por Jungkookie que as palavras
simplesmente apareceram no papel, como se esperassem ansiosamente para serem colocadas para fora em forma de
confissões bonitas. Esse pensamento me fez rir sozinho...

Ao terminar o rascunho da carta, fui atingido por uma dúvida boba: finalizar com "Amorosamente, Jimin" ou "Com
amor, Jimin"... demorei um pouco, mas consegui escolher uma.

Só que... ainda sim, parecia faltar alguma coisa ali, em meu nome. Será que era o sobrenome? Ou outra coisa...?

Senti meu rosto queimar quando me dei conta do que tanto queria colocar no fim da carta de Jeongguk. Quando me
lembrei do nosso beijo no domingo, e da forma que ele disse que estava com ciúmes, não hesitei em mordiscar meus lábios
e finalizar a carta com...

"Com amor,
Seu Jimin."

E daquela forma, senti que ela estava perfeita. Pronta para ser passada a limpo e entregue ao meu amor em seu
aniversário....

Terminando isso, olhei o relógio e percebi que já tinha dado cinquenta minutos desde que comecei a fazer tudo
sozinho. Logo me levantei e fui rapidamente até o banheiro, aproveitando para pegar um pouco de água no andar de baixo
antes de voltar e acordar Yoongi para terminarmos a fita.
Por incrível que pareça, quando ele acordou, não estava mal humorado, então nós apenas começamos a gravar a fita
que já tinhas as músicas na ordem para gravação.

Yoongi abriu seu armário e tirou seu gravador de lá, que se consistia em duas peças: uma menor e uma maior. Fiquei
o observando colocar as pilhas em ambos, e depois conectá-los com um fio, super em dúvida porque nunca vi ninguém
gravando uma fita k7 antes. Esses gravadores são bem carinhos...

— Esse gravador é bem antiguinho, mas ele é muito bom — disse ele, abrindo o aparelho maior para colocar a fita
nova que compramos. — A gente coloca a sua fita nova aqui no gravador. — Ele colocou, fechando logo depois. — E a fita
que tem a primeira música que você quer, aqui, no toca-fitas — colocou no aparelho menor. Era um toca fitas, mas muito
diferente do walkman. — Antes da gente apertar para gravar, temos que esperar a música que você quer chegar no toca fitas.
Mas como dessa vez é a primeira, nós só temos que...

E então, Yoongi deu play na fita em seu toca fitas, clicando em "record" no gravador logo em seguida. E então, as
duas fitas estavam rodando em sincronia. Achei lindo como o rolo delas giraram em sincronia...

— Wow... — murmurei, chegando mais perto.

— A gente tem que esperar a música acabar antes de colocar a próxima — ele disse, e alguns minutos depois,
murmurou: — Aqui. — Yoon me chamou, abanando sua mão. — Se quando a música que colocamos primeiro acabar e a
gente não pausar o gravador, você vai perder um tempão da sua fita e vai ter que rebobinar tudo. É bem chatinho quando
acontece, então, sempre que uma música acaba... — Ao que Yoongi falava, a primeira música chegou ao fim. O vi pausar o
gravador, fazendo o rolo da fita parar de girar. — Você tem que parar de gravar. E quando colocar a outra fita, tem que
apertar em "record" assim que a próxima música da sua mixtape começar.

Assenti com a cabeça, vendo Yoongi tirar sua fita com a música do Queen do toca fitas, colocando uma das minhas,
que eu especifiquei que tinha a música dos Beatles que eu queria. Depois de passar um tempo avançando a fita, ele parou
quando a música dos Beatles chegou. Então, voltou um pouquinho, e esperou ela começar para voltar a gravar em seu
gravador — fazendo as fitas rodarem em sincronia novamente.

Fiquei confuso, mas muito maravilhado também...

Pelo resto da gravação, Yoongi me explicou sobre seu toca fitas e aquele gravador de mesa, que era dos anos
setenta. Sua mãe tinha trago para ele depois de uma conferência na capital — nossa, que ricos! — e funcionava bem até
hoje. Adorei poder ouvir um pouco sobre isso...

Ficamos conversando sobre essa tecnologia enquanto Yoon gravava toda a minha fita. Em certo momento, me sentei
na beira da sua cama e apenas o assisti fazer tudo na escrivaninha. Quando a última música, que era do Pink Floyd, chegou,
Yoongi disse:

— Como essa é a última, você tem que gravar sua mensagem depois dela — disse ele, se virando para mim. — Vou
te ensinar como fazer, aí te deixo gravando aqui, ok? Tô doido pra descer e fazer um café.

Sorri feliz, e assenti com a cabeça, me aproximando da mesa. Quando a música do Pink Floyd terminou, Yoongi
pausou o gravador. Então, desconectou o fio dele que estava ligado ao toca-fitas, e começou a explicar:

— Agora você deve ter uns dois ou três minutos pra dizer alguma coisa. Você vai apertar o gravador quando se sentir
pronto para falar... — ele começou a dizer, apontando para o botão "record". — E quando terminar, aperta em parar. — Me
mostrou o botão de parar. — Mas pelo amor de Deus, não aperte nenhum outro botão ou você pode apagar a fita toda! E se
você fizer isso, eu vou te matar...

Dei uma risadinha, assentindo com a cabeça enquanto Yoongi se levantava da cadeira da escrivaninha, me dando
espaço pra me sentar. E quando eu fiz isso, recapitulei:

— Ok, então... aperto em gravar, falo, e aperto em parar — eu repeti, vendo Yoongi assentir. — Tá bom, acho que
entendi... mas, tenho que falar pertinho do gravador? Pra minha voz sair direitinho?

— É só você ficar aí onde você tá que ele já vai gravar bem — disse Yoongi, rindo baixinho. — Só não fica muito
tempo porque se não a fita vai te cortar e vai ficar horrível!

— Tá bem, tá bem... vou falar só um pouquinho — eu disse, bicudo, porque escrevi um textão para falar no fim da
gravação.

Pelo jeito, vou ter que encurtar minhas palavras...

— Qualquer coisa você me chama, então — ele disse, sorrindo. Levantei meu polegar para ele, sorrindo e assentindo
com a cabeça. — Você vai querer café também ou eu faço só pra mim?

— Pode fazer só pra você — respondi. — Obrigado, Yoonie.

Yoongi apenas assentiu com a cabeça e saiu do quarto. Esperei ouvir os passos dele descendo as escadas, e depois,
me levantei para dar uma espiadinha no corredor. Quando vi que Yoongi já não estava no andar de cima, fechei a porta do
quarto e me sentei rapidamente na cadeira perto da escrivaninha. Completamente pronto para começar a gravar a
mensagem super romântica que eu tinha preparado para Jungkookie...

Peguei minha agenda de novo e reli mais uma vez o que eu tinha escrito para ele. Testei minha voz, e quando me
senti pronto, cliquei no botão e comecei a gravar.
— Oi, Jungkookie... — eu sussurrei, primeiramente. Depois me senti tão bobo que dei uma risadinha. — É estranho
falar com você desse jeito, mas como a fita está no finalzinho, eu vou ser rápido e dizer tudo que eu sempre quero te dizer e
que, na maioria das vezes, eu te digo de qualquer jeito. Acho que essa mensagem final serve para reforçar todas essas
coisas que eu falo pra você... pra você nunca se esquecer delas... — murmurei, e então, comecei a falar tudo que eu queria
dizer ao Jungkookie.

Tentei ao máximo não enrolar muito, mas acho que o fiz de qualquer jeito. É provável que o universo esteja ao meu
lado quando o assunto é dar amor ao Jeongguk porque, assim que terminei de falar, a fita parou de girar. Eu nem precisei
apertar no botão para parar, porque ela simplesmente acabou... mas deu tempo de falar tudinho. Nem fui cortado, ufa...

Sorri sozinho, feliz com isso. Deixei a fita no gravador, e saí do quarto, em busca do Yoon:

— Yoongi! Já terminei! — eu disse, encontrando-o no ínicio da escada com uma caneca cheia de café. — E agora?
Como que tira?

— Vou tirar pra você — disse ele, e sua voz soava mais macia e amigável agora. Bendito seja o café...

Depois que chegamos no quarto, Yoongi tirou a fita e me entregou. Ele também pegou um papel sulfite cortadinho e
me entregou, e explicando como usar ele como a capinha da minha fita k7. Decidi fazer como Jungkookie fazia em suas
fitas... colocando o nome das músicas selecionadas, e dando um nome para a coletânea de músicas.

No fim, enquanto olhava para a fita em minhas mãos, decidi que o nome dela seria 01. Em homenagem a fita 13, que
apesar de não ter sido feita ou dedicada para mim, me fez sentir especial por ser chamada de treze, que é o dia em que eu
nasci. Vou aproveitar e adicionar isso na cartinha...

Guardei o papel e deixei para fazer isso em casa. Depois de deixar minhas coisas organizadas, Yoongi e eu
descemos as escadas e fomos ver o filme de terror na sala. Comemos pipoca, tomamos refrigerante e rimos horrores —
Yoongi ria do filme e, consequentemente, eu ria dele e de sua risada esganiçada. Apesar de ter uma voz grave e um
comportamento discreto, Yoongi ria de um jeito hilário... ele até gritava às vezes! Na minha opinião, isso só deixava ele ainda
mais legal.

Depois do filme, Yoongi e eu fomos jantar nosso macarrão instantâneo com mais limonada ainda. Estávamos
acabando de comer quando, lá pelas oito horas da noite, minha mãe chegou de carona com sua amiga do trabalho;
buzinando do lado de fora da casa do Yoon.

— Vou pegar minha mochila — eu disse, mas antes, bebi o caldinho do meu macarrão rapidamente.

Yoongi fez uma careta.

— Eca.

Eu revirei meus olhos. Ele come batata com melado e acha nojento eu beber o caldinho do macarrão instantâneo? É
um doidinho mesmo...

Fui até o andar de cima com pressa, pegando minha mochila já organizada e descendo as escadas. Yoongi estava na
cozinha terminando de beber sua limonada, e se levantou para me levar até a porta.

— Até amanhã — ele disse, tentando se despedir de mim com um aperto de mão, como sempre.

E, como sempre também, eu transformei esse aperto de mão em um abraço — e ele resmungou um monte por
isso... hehe.

— Até, Yoon! — eu disse, sorrindo e acenando antes de me afastar dele. Minha mãe gritou um "Oie!" para meu melhor
amigo lá do carro, e ele respondeu com um aceno. Só depois disso, nós fomos embora para casa...

Ao chegarmos na vizinhança, Leonor e sua amiga se despediram, e eu ganhei um beijinho dela antes de descer do
carro. Por incrível que pareça, já estava prestes a dar nove horas, então, eu apenas fui direto para o meu quarto tomar um
banho, pronto para terminar minha noite passando a carta de Jungkookie a limpo e finalizando sua fita.

Mamãe passou no meu quarto para perguntar se eu já tinha jantado, e quando eu disse que sim, ela me deu boa noite
e foi para seu quarto dormir. Logo eu fiquei até quase onze horas preparando o envelope amoroso e a fita de aniversário do
Jungkookie. Mal posso esperar para entregar para ele amanhã...

Extremamente animado para passar meu dia com Jungkookie amanhã, escovei os dentes e bebi um pouco de água
antes de ir para a cama. Fiquei escutando a fita que gravei hoje, e amei ela... estava perfeita! E quando ouvi minha própria
voz, me senti todo envergonhado e constrangido... como eu sou bobão...

Quando ela terminou, a guardei de volta em sua caixinha, deixando-a em cima da carta, que estava escondida dentro
da minha cômoda. Só então, voltei a me deitar, agora, para dormir, fantasiando sobre os diversos sorrisos que Jungkookie vai
me mostrar quando eu lhe entregar seu presente.

***

Pela manhã, quando desci as escadas para tomar café, minha mãe já estava saindo para trabalhar.

— Bom dia — ela disse, vindo até mim para dar um beijinho nos meus cabelos. Bocejei. — Até mais tarde, filho.
— Bom dia... até... — eu disse, com a voz rouca, vendo-a sorrir e ir até a porta para, enfim, ir trabalhar.

Quando fiquei sozinho, a primeira coisa que fiz fora ir até a geladeira, procurar um pouco de iogurte. Enquanto pegava
o restinho que tinha em uma das garrafas o telefone, lá na sala, começou a tocar.

Deixei a garrafa sobre o balcão, e corri para atendê-lo. Eu estava tão sonolento que nem cheguei a criar expectativas
sobre quem estava ligando tão cedo, então, quando atendi, foi uma surpresa maravilhosa quando...

— Oi, Jiminnie... — Jungkookie respondeu, depois do meu "Alô."

Senti meu coração palpitar, como se meu amor por ele tivesse me dado um choque e me despertado do sono.

— Ggukie... bom dia — eu disse, com a voz meio rouca. Então, me dei conta de que já era seu aniversário. — Feliz
aniversário!

Jeongguk deu uma risadinha do outro lado da linha.

— Obrigado... — ele murmurou, e parecia tímido. Isso me fez sorrir. —Eu... e-eu liguei porque queria perguntar uma
coisa... mas não quero que você responda que sim só porque é meu aniversário...

Ri baixinho, balançando a cabeça.

— Pode dizer. Prometo só responder sim se eu quiser — falei, apoiando minhas costas na parede ao lado da mesinha
do telefone.

Jungkookie demorou um pouquinho para perguntar o que tanto estava o deixando tímido. E quando ele disse, senti
como se meu coração fosse sair saltitando por aí de tanta empolgação e felicidade.

— Você quer matar aula aqui em casa hoje? — indagou. — Meus pais vão trabalhar o dia todo, e queriam que eu
fosse pra escola pra não passar o dia sozinho... mas aí... eu pensei um pouco... e quis te chamar... — Dei um grande sorriso.
— Tudo bem se não quiser, porque já matamos aula essa semana, eu só perguntei porque-

— Eu quero. — O cortei imediatamente. — Claro que quero! Eu vou amar, Ggukie... — Dei um sorriso bem grande.

Jungkookie deu um suspiro do outro lado, como se estivesse aliviado. Isso me fez rir.

— Puxa... — ele sussurrou. — Posso... posso ir te buscar? E te trazer na garupa?

— Sim, claro que sim — eu disse de novo, bobo que só. — Mas você pode esperar até nove horas? Eu ainda não me
troquei... — eu disse, vendo no relógio da sala que tinha acabado de dar oito horas.

— Sim, é claro, puxa... — ele disse. Meu amor, que agora tem 15 anos, disse... — Então... eu vou aí...

Sorri com seu jeitinho atrapalhado. É fofo como Jungkookie, de repente, fica tímido com as coisas... é um traço forte
da sua personalidade que eu amo tanto...

— Então, eu te espero aqui... — eu disse, mordiscando meus lábios. — Até mais tarde, Gguk. Eu te adoro.

Ouvi a respiração do meu amor do outro lado da linha, e suspirei junto com ele.

— Até daqui a pouco, Jiminnie... — disse ele, me deixando extasiado com o som da sua voz macia. —Eu também te
adoro.

Notas finais
Espero que tenham gostado, bebês <3 vou deixar vocês ouvirem a fita e reagirem junto com o Jungkookinho... espero que
gostem hihi <3

Beijinhos e até a próxima~~~

29. Ele é como um Livro físico de "Ele é Como Rheya"

Notas do Autor
OIIII GENTE!

Oi gente, tudo bem? Aqui quem fala é a Coly! Estou aqui para contar uma novidade incrível pra vocês: ELE É COMO
RHEYA VAI TER LIVRO FÍSICO!!!!

Sim, vai ter! Está confirmadíssimo e até tem uma data pra abrir a pré-venda. Vocês devem estar se perguntando como
vai ter livro físico de uma história que não está terminada... então, eu vou explicar. O livro vai trazer uma versão diferente de
Ele é Como Rheya. Uma edição especial, mas que apresenta a mesma história, personalidades, e acontecimentos que a
fanfic. Como vai funcionar? Lê aí que eu explico!

Antes de tudo, vamos as informações sobre o livro físico: O livro teria de 180 a 200 páginas, com orelha, capa com
laminação fosca (macia) e no tamanho de uma folha A5. As folhas seriam imprimidas em papel PÓLEN de 80g. A impressão
do livro teria bastante qualidade, como os livros que vocês normalmente compram em livrarias!

Conteúdo do livro: a edição especial não teria a história completa de “Ele é como Rheya” até porque é uma fanfic
MUITO grande. A minha ideia é trazer as cenas do acampamento, onde Jimin e Jungkook se beijam, mas de uma forma
diferenciada. Vou explicar como agora!

Como o capítulo “Ele é como um Beijo” e “Ele é como um Coelhinho” (capítulos que apresentam o acampamento) dão
muitas voltas, o livro físico reduziria essas voltas e apresentaria (detalhadamente) apenas as cenas JIKOOK, sem pular ou
excluir as outras cenas; elas apenas seriam diminuídas e resumidas. Sendo assim, essas voltas seriam substituídas por
outras cenas da história. E como isso seria? Eu explico. A todo momento, no livro físico, Jimin e Jungkook se lembrariam dos
momentos que eles tiveram juntos ao decorrer da fanfic. A cada parte do acampamento, eles contariam e se lembrariam de
várias coisas que passaram juntos (algumas vezes as lembranças serão resumidas, em outras, terão flashbacks e cenas
completas). O livro seria recheado das cenas Jikook de “Ele é como Rheya” que vocês tanto gostam! Em especial: com muito
chameguinho.

Seria uma forma diferente de apresentar e ler “Ele é como Rheya”. Uma edição especial para os leitores da história e
também para quem não leu ainda! Sim, todo mundo vai poder ler porque eu vou apresentar tudo do início, então quem não
leu a fanfic pode entender o livro!

Aliás, essa é a única forma de vocês terem o livro físico nessa versão (Jimin ruivinho, dois meninos e nesse universo).

Sobre o motivo de eu não poder ou fazer um livro físico com a história completa da fanfic: “Ele é como Rheya” até
agora tem 269 mil palavras, o que dá quase uma trilogia (e nem está finalizada!). Além de que eu tenho outro projeto em
mente (é a mesma base de “Ele é como Rheya” só que se passa no Brasil e tem protagonistas mulheres. É diferente da fanfic
e muitas coisas serão alteradas nessa versão, mesmo sendo semelhante). Logo essa edição especial seria a única forma de
ter um livro físico com dois meninos e sem nenhuma alteração na história presente na fanfic. Se quiserem acompanhar ou
obter mais informações sobre “Ela é como Rheya”, o projeto tem um Instagram: @likerheya. E esse projeto ainda vai
acontecer, mas vai demorar muuuito! Talvez saia só no meio ou fim do ano que vem.

Sobre o nome dos personagens: eu não vou mudar praticamente nada! Apenas o suficiente para o livro não ser ilegal.
Eu planejo colocar nomes coreanos que tenham “Ji” e “Guk” em Jimin e Jungkook, e assim, fazer eles terem o costume de
chamarem um ao outro apenas pelo apelido. Sendo assim, o livro inteiro seria com “Ji” e “Guk” e eu faria desse mesmo jeito
com todos os personagens da história (Jin, Yoongi, Taehyung, Hoseok e Namsoon).

Preço do livro e brindes: o livro com o frete e os brindes inclusos para TODO o Brasil, vai sair por R$ 50,00. Os
brindes seriam cards dos Jikook de “Ele é como Rheya” + um marca página da história, e talvez polaroids! Mas as polaroids
vão ser limitadas para as primeiras pessoas que comprarem. O preço é meio salgadinho, mas é porque uma publicação
independente é muito cara :( espero que entendam!

O nome do livro vai ser "Ele é como Rheya - Do R ao A", para diferenciar ele da fanfic, já que vou apresentar a história
de uma forma diferente! Lembrando que os acontecimentos não vão ser alterados, nem as personalidades e aparências!

Quer saber como comprar o livro? Eu explico! Vou deixar o link do formulário com mais informações nas notas finais, e
preenchendo ele com seus dados, eu entro em contato com vocês no dia que a pré-venda sair! Assim, vocês podem comprar
o livrinhoooo!

Sobre as atualizações da fanfic: vão demorar mais um pouquinho! Como eu vou estar preparando essa versão do livro
e lidando com outras coisas, não vou poder atualizar em julho. Espero que entendam porque é por um motivo muito
importante, e publicar um livro sempre foi o meu sonho. Obrigada a todo mundo que compreender isso!!! Prometo voltar com
uma att bem grande, até dupla! Hihi~

As outras dúvidas sobre o livro serão tiradas no formulário! Muito obrigada pessoal, vocês são como Rheya!

Notas finais
Formulário: https://forms.gle/1ST7MGP7R3LeHrn89

Se quiserem falar comigo ou perguntar mais sobre o livro, me chamem na DM do twitter! Meu @lá é gatodacoraline e vou
estar sempre postando novidades~ beijinhos e até a próxima!

PS: vou excluir esse capítulo de aviso daqui a alguns dias! Então qualquer coisa é só me encontrar no twitter!

Beijinhos e até mais <333


30. Ele é como um Presente

Notas do Autor
OIIIIIIIIIIIIIIIIII!

atenção, atenção... não é alucinação: eu realmente voltei (e com um capítulo grande, caras!)

não vou falar muito porque imagino que vocês estejam doidinhos pra ler, então nos vemos nas notas finais!!!

beijinhos, boa leitura e até lá!

JUNGKOOK

— Eu sei que você gosta de pessoas novas... — eu falo, seriamente. — Sei que você fica animado, e que às vezes a
animação é tanta que você não consegue se controlar… mas ele é diferente, sabe?

Lippy levanta as orelhas, atento à palavra “diferente”.

Puxa. Às vezes parece que ele realmente me entende...

— Jiminnie é… muito especial — eu falo, olhando em seus olhos. — Você não pode pular nele. Vai assustar ele
porque ele tem medo de cachorro. — Movo minhas mãos, tentando impor seriedade no meu pedido. — Se você for bonzinho
e calminho, ele vai parar de ter medo… você vai tentar, né?

Lippy olha para o outro lado, abaixando as orelhas. Eu quase nunca olho ou falo com o Lippy desse jeito. Ele sempre
acha que está levando bronca quando eu estou sério e eu não gosto, mas... hoje, é uma exceção.

É uma exceção porque eu quero muito que Jimin goste do ser mais especial da minha vida.

Quero que Jiminnie goste do Lippy.

— Puxa… eu vou confiar em você. — Faço carinho em suas costas. — Espero que você não pule nele…

Lippy não diz nada — obviamente —, mas abana o rabo quando eu pego o petisco que está do meu lado no sofá. Ele
é tão bonzinho que nem tenta roubar da minha mão... puxa, ele é o melhor cachorro do mundo mesmo.

— Te dou o resto depois que você se comportar direitinho com o Jiminnie aqui — eu falo, rindo baixinho quando ele
lambe meus dedos, todo serelepe. — Você vai se sair bem. — Faço mais carinho nele.

Estamos apenas eu e meu cachorro gigante na sala de casa, agora. A hora de buscar Jimin vai chegar em breve, e eu
não consigo fazer nada além de sorrir e esperar ansiosamente.

Hoje é o meu aniversário de quinze anos.

Pela manhã, meus pais me acordam com uma bandeja cheia de coisas gostosas para eu tomar café na cama. Foi
incrível… comemos juntos no meu quarto, conversamos e até ouvimos a rádio! Mamãe e papai tiveram que sair para
trabalhar mais cedo, mas não deixaram o início do meu aniversário ser em vão… inclusive, ambos me deram presentes
incríveis assim que terminamos de comer.

Meu pai me deu a sua antiga câmera polaroid: a Land Camera 1000. Ele tem essa câmera há quatro anos, e juntou
dinheiro por bastante tempo para poder comprá-la. Me lembro de vê-lo tirando fotos instantâneas de paisagens, pessoas, e
de ficar extremamente admirado e apaixonado porque, puxa… é tão incrível poder registrar um momento em uma foto e
guardá-lo para sempre. Meu pai me disse, naquela época, que quando eu tivesse idade o suficiente para saber o que eu
quero guardar pela eternidade em uma fotografia, ele me daria uma câmera. E hoje, ele finalmente me deu…

Eu fiquei muito surpreso pois meu pai não usava aquela câmera há mais de um ano. Ele a reformou por completo
apenas para me dar! Também me deu muito papel para tirar as fotos. Eu fiquei tão feliz e admirado que meus olhos
lacrimejaram, puxa... aniversários sempre me deixam sentimental. Quando meus pais me abraçam ao longo dessa data
especial, eles sempre dizem coisas bonitas no pé do meu ouvido; mostrando o quanto estão orgulhosos de mim e como me
amam.

Me faz muito bem mesmo, puxa...

A minha mãe, além de ter feito panquecas pela manhã, me deu um vinil incrível do Elton John! É uma coletânea com
dois discos, cheio das melhores músicas dele! Tem as minhas favoritas, como Rocket Man, Your Song, e Tiny Dancer… é tão
grande e bonito! Vem com as letras das músicas do lado de dentro e tem cheirinho de novo.

Eu fiquei tão feliz… a minha mãe não é muito fã dessa minha mania de me trancar no quarto para ouvir música e
gravar fitas o dia todo, mas mesmo assim, me deu um disco de aniversário. Eu não sei se eu sou bobo, ou se penso demais
nos pequenos detalhes, mas, eu realmente senti, com esse presente, que minha mãe me ama e me aceita do jeitinho que eu
sou. Isso significa muito, muito mesmo para mim…
Depois dos presentes e do café da manhã, eu me arrumei para a escola e me despedi deles na porta de casa. Já que
eles vão chegar tarde do trabalho hoje, me pediram para eu ir para o colégio para não passar o dia do meu aniversário
sozinho.

Mas é claro que eu preferi matar aula e passar o dia todo com o Jiminnie, aqui…

Além de que, se eu fosse para a escola, o Jin ia me encher de farinha e ovo — ele mesmo disse que o faria! — então
eu realmente fiz a escolha certa ficando em casa.

Estou tão, mas tão ansioso para poder buscar Jimin que não consigo tirar os meus olhos do relógio. Tenho que
chegar lá às nove horas… apenas às nove horas. Parece que o tempo não passa, puxa. Eu só quero carregá-lo na garupa e
sentir seus braços em torno da minha barriga de uma vez...

Eu também quero mostrar a minha nova câmera para ele. Quero escutar o meu novo disco com ele. E também quero
comer as panquecas que minha mãe me fez com ele… puxa, eu apenas quero compartilhar tudo de bom do dia de hoje com
o Jiminnie.

Ansioso, eu me levantei e fui até o meu quarto checar, mais uma vez, se ele está arrumado. Conferi cada cantinho,
incluindo o banheiro, a minha cama, e a minha escrivaninha. Depois, desci até a cozinha para ver o que eu posso cozinhar
para nós dois mais tarde. Vamos passar o dia todo juntos, então vamos precisar almoçar…

Quando deu oito e quarenta e cinco, eu me apressei, correndo para o banheiro para me olhar no espelho uma última
vez antes de respirar fundo, calçar os meus sapatos e sair de casa.

Peguei minha bicicleta nos fundos de casa, montei nela e sai pedalando pelas ruas da vizinhança para, enfim, buscar
Jimin.

Por todo caminho pela vizinhança, eu andei com o maior sorriso no rosto.Me sinto tão diferente desde a última vez
que eu e Jimin nos beijamos. Tudo está diferente pelo simples fato de eu conseguir olhar, tocar e não surtar enquanto ele me
beija...

E… essa sensação… a sensação de beijar... é tãogostosa. Ao mesmo tempo é tão estranha e louca… quer dizer: por
que sentir os lábios de outra pessoa tocando os meus é tão gratificante e me faz sentir tão, mas tão leve?

Puxa… apesar de eu ter me acostumado, eu não consigo não me perguntar isso pelo menos uma vez ao dia. Ao
mesmo tempo que não consigo parar de ansiar e pensar em ser beijado por ele de novo.

Como eu sou bobo...

Quando chego à rua de Jimin, minhas bochechas estão formigando e eu me sinto agitado ao perceber que elejá está
me esperando em sua varanda. Suas pernas permanecem cruzadas de um jeito bonito e estão cobertas por uma calça boca
de sino, jeans clara, que eu nunca o vi vestindo antes — diferente da sua blusa branca, com estampa de ursinho, que ele já
usou várias vezes na escola.

Seus braços estão vestidos com um suéter verde extremamente bonito. Combina tanto com ele que minhas
bochechas formigam mais. Puxa, Jimin é tão… bonito. A forma que ele olha para as suas mãos enquanto os seus óculos
caem sobre a curva tão — mas tão — delicada do seu nariz faz ele parecer incrivelmente… singular.

Na verdade, ele não parece. Ele é singular… é único.

Talvez seja por isso que beijar ele me faz sentir assim também...

Seus cabelos ruivos — que já estão ficando longos de novo — balançam conforme o vento o envolve e eu me sinto…
incrível. Puxa, me sinto incrível por ser o garoto que alguém como Jimin gosta…

Essa percepção cai sobre mim tão de repente que eu mal percebo que estou pedalando feito uma lesma, incapaz de
ignorar ou não pensar detalhadamente sobre cada detalhe sobre ele.

Jimin, é… irrefutavelmente… como Rheya…

E eu estou aliviado por ele estar distraído o suficiente com suas mãos — e que mãos… tão macias e quentinhas —
para me perceber pedalando feito um idiota enquanto olho fixamente para ele.

Puxa, é sério... eu realmente não sei como ele gosta de mim quando eu sou assim, todo esquisito...

Aos suspiros, eu subo com a bicicleta na calçada. Quando o pneu arrasta pelo chão, o som chama a atenção de Jimin,
que ergue o belo rosto e olha diretamente nos meus olhos.

Puxa.

No mesmo segundo, ele sorri e descruza as pernas, se virando calmamente para pegar sua mochila e se levantar,
sorrindo tão abertamente para mim que seus olhos se apertam e se fecham.

Ah… puxa…

— Você sempre chega na hora! — ele diz, assim que eu me aproximo. Sua voz soa tão suave e... feliz.

Me surpreendo quando ele não me deixa dizer ou fazer qualquer coisa ao se aproximar, abrindo os braços e me
acolhendo em um abraço carinhoso e repentino.

Como eu ainda estou sobre o banco da bicicleta, me atrapalho todo em retribuir. Seus braços estão em volta do meu
pescoço e ele é tão, tão acolhedor; e me puxa de uma forma tão intensa que meu rosto vai parar em seu ombro. O toque do
seu suéter é macio e suave, e seu perfume familiar cheira tão bem que eu sinto que posso derreter.

Puxa… por que tudo sobre Jiminnie me deixa tãoassim…?

— Feliz aniversário, Guk… — ele sussurra, soando tão doce que eu sinto meu rosto queimar aindamais. — Agora
temos a mesma idade! Mas só por um mês e treze dias… — ele fala, sorrindo quando se afasta minimamente do abraço,
olhando nos meus olhos com um grande sorriso no rosto.

Acabo rindo baixinho, abaixando a minha cabeça involuntariamente por ele estar tão perto, tão de repente…puxa,
ainda fico meio travado quando isso acontece...

— Obrigado…. Obrigado, Jiminnie — eu falo, engolindo em seco quando percebo que suas mãos ainda estão tocando
minha nuca. Puxa, essa sensação nervosa sob minha pele é tão boa… e ela não passa.

Tudo com ele é tão bom… minha mente não cansa de repetir isso.

— Eu estaria ficando louco se dissesse que você parece ainda mais bonito hoje? — ele diz, tão perto que eu
simplesmente não consigo fugir os meus olhos tímidos para qualquer lugar além do seu queixo e pescoço. — Na verdade…
parece que todo dia é assim… eu chego em casa depois da escola e fico pensando no quanto você é lindo, mas nunca me
acostumo… porque quando te vejo de novo no dia seguinte, você parece ainda mais lindo do que no dia anterior...

Meu Deus.

Puxa.

Ai, meu Deus.

— P-Por que você… — eu gaguejo, atrapalhado, podendo ver de relance um sorriso surgindo em seu rosto. Um
sorriso travesso. Puxa. — Por que você t-tá falando isso do nada…? — eu pergunto, tonto, porque por mais que Jimin sempre
me diga coisas bonitas, eu ainda não me acostumei.

Assim como não me acostumei, completamente, com os seus toques, sua aproximação e…tudo sobre ele.

É que ele parece demais. Sempre demais. Demais de um jeito bom, incrível, e eletrizante, mas que édemais para o
meu coração nervoso e o meu cérebro estranho aguentar corretamente…

— Porque você parece três vezes mais bonito hoje... — ele diz, rindo baixinho, e eu consigo até mesmo sentir o cheiro
da pasta de dente vindo dos seus lábios. Tão perto, puxa… — E porque é o seu aniversário, então tudo de bom que eu
pensar de você, vou te contar imediatamente. — Sua mão desce da minha nuca para o meu pescoço. Depois, para o meu
braço, onde sinto seus dedos macios acariciarem carinhosamente. — É uma promessa que fiz a mim mesmo mais cedo. —
Sorri.

E enquanto ele me faz carinho, sinto que vou derreter e virar uma grandegeleca no chão. Puxa. Puxa vida. Como eu
vou aguentar Jiminnie me falando coisas bonitas o dia todo?

Puxa, eu vou ficar sem dormir um montão de noites por causa das coisas que ele me dirá hoje...

— Você está muito cheiroso… — ele acrescenta, de repente, e quando eu finalmente tomo coragem para olhar em
seus olhos, percebo que os seus não estão focados nos meus. — Na bicicleta, eu… posso te carregar?

Ele olho em meus olhos. Sinto meu coração palpitar, porque suas bochechas estão rubras… provavelmente como as
minhas estão.

Eu sinto meu coração apertar, também, porque eu quero carregá-lo. Eu amei abraçar Jimin quando ele me levou na
garupa, mas amei mais ainda quando ele me abraçou e escondeu o rosto em minhas costas quando o levei...

Sempre que me lembro da sensação, fico com vontade de carregar ele novamente. Eu me senti tão… puxa, tão
incrível, e tão bem, que não hesito em responder, com toda a sinceridade em mim:

— Puxa, eu… eu queria muito te carregar… — falo, e minha voz soa toda trêmula. Parece que fico molenga até nisso
quando estou com ele, puxa... — Eu gostei muito de te carregar…

Jimin sorri novamente. Dessa vez, é um sorriso delicado e calmo, tão bonito e único quanto todos os outros que ele
me mostra.

E, diferente da última vez que pedi para carregá-lo, Jimin apenas acaricia meu braço mais uma vez antes de, com a
voz doce como mel, me responder:

— Tudo bem. — Suas bochechas estão ainda mais rosas e é tão… bonito. — Você me carrega, então...

Ele, enfim, se afasta. Jiminnie sorri para mim mais uma vez antes de dar a volta pela bicicleta, prender ambas as
alças da mochila nas costas, e subir na garupa.
Fico tão feliz de poder tê-lo assim tão facilmente que não tardo em começar a pedalar. Quando Jiminnie se endireita,
sorrio e sinto minha barriga gelar quando seus braços envolvem a minha cintura. Quando dou impulso e saio pela rua, Jimin
me segura mais firme e a sensação é tão boa que eu não consigo parar de sorrir…

Puxa… esses sentimentos... eu realmente não sei explicar. Por que será que eu me sinto seguro quando ele me
segura? E por que eu sinto que muitas coisas fazem sentindo quando ele está sendo carregado por mim? É como se…
muitas peças se encaixassem por causa disso. Por causa desse seu abraço, e dessa sua confiança em mim…

Esse sentimento parece tão complexo e tão simples ao mesmo tempo, puxa...que loucura…

— Guk, olha! — Jimin exclama, de repente, e quando olho para onde ele está apontando, acabo sorrindo. — Parece o
Menino! Meu Deus, é igualzinho!

Olhando para o outro lado da rua, vejo um gato que, realmente, é idêntico ao Menino! Ele está deitado no banquinho
do ponto de ônibus com uma cara de poucos amigos. É engraçado.

— É mesmo… — eu digo, quando passamos direto por ele. Depois, tenho umaideia.

Olho para os dois lados da rua e, então, a atravesso pedalando. Paro a bicicleta na frente do ponto, e apoio meu pé
na calçada para olhar mais o gato, sentindo Jimin prender os dedos na minha jaqueta com força.

— Paramos para eu falar com ele? — pergunta e eu balanço a cabeça e murmuro, afirmando. — Deixa eu ver…
Menino? Menino! Pspsps…

O gato levanta a cabeça para nós e, como se estivesse incomodado com a nossa presença, desce do banco e vai
embora, balançando o seu rabo de um lado para o outro.

E nós dois? Bem... nós rimos a beça da ignorância do gatinho.

— Acho que não era ele… — falo.

— Com certeza não. Menino é muito carente, aceita carinho de qualquer um — diz ele, ainda risonho. — Além de que
as bolinhas do Menino são bem menores do que a desse gato.

Sua frase me pega de surpresa.

Tipo, bem de surpresa mesmo!

É tanto que, a minha primeira reação é ficar extremamente quente nas bochechas.

Já a segunda, é rir bem alto.

Sério: muito alto mesmo! É tão alto que a moça que estava passando pela calçada me olha extremamente confusa.
Jimin ri do meu riso desengonçado, dando tapinhas na minha barriga de maneira carinhosa.

— Você… por que fica olhando para essas partes do seu gato?! — eu pergunto, ainda risonho, quando atravesso a
rua e volto a pedalar.

— Não é que eu olhe! Ele que é exibido, você sabe, ele já ficou todo aberto com você lá! — retruca, ainda aos risos.

— É verdade! — falo, e continuamos rindo por um tempo. Quando saímos da avenida, ficamos em silêncio e
aproveitamos a companhia um do outro em silêncio. É tão confortável e tão bom que eu sinto vontade de ficar assim para
todo o sempre.

“Se você deixar, eu vou ficar com você pra sempre…”

A lembrança faz meu coração palpitar e meus lábios, inevitavelmente, sorrirem.

Eu deixo… realmente deixo...

— Jungkookie, você passou da sua rua! — Jiminnie, de repente, exclama, me fazendo arregalar os olhos.

— Ai, meu Deus — eu falo, atrapalhado. Puxa, me perco em pensamentos sobreele até mesmo quando estou com
ele!

Dou meia volta e entro na rua de casa, tentando me recompor. Quando chegamos na calçada, eu paro a bicicleta e
nós descemos dela. Caminhamos pelo gramado em silêncio, e eu encosto a bike nos fundos da minha casa. Assim que solto
o guidão, olho para Jimin. Ele me olha também, e quando nossos olhares se encontram, acabamos sorrindo um para o outro
automaticamente.

— Vamos entrar — eu falo e, antes que eu caminhe na frente para entrar pelas portas dos fundos, Jiminnie se
aproxima e busca a minha mão com a sua.

Ela a segura, e a aperta, e eu faço o mesmo com a sua, já sentindo os efeitos que o seu toque me causa. Meu
coração bate descompassado, e minhas bochechas queimam... puxa, como é bom...

— Guk… o Lippy… ele tá aqui? — Jiminnie pergunta assim que passa pela porta.
— Sim — eu falo, fechando a porta assim que entro.

— Aonde? — Ele olha em volta, visivelmente preocupado.

— Lá em cima... — eu digo. — Mas não se preocupa… ele não vai te machucar, nem nada assim.

— Eu sei… mas… — Sua mão aperta a minha, firmemente. — Mas… mesmo assim…

Jimin para, soltando um longo suspiro. Eu me atento aos seus olhos, com calma e cautela. Posso sentir em sua
respiração que ele está sentindo medo....

Medo do Lippy.

Puxa…

— Jiminnie… o que mais te assusta no Lippy? — eu pergunto, cuidadosamente, tentando entender como fazê-lo
gostar do meu cachorro.

Que, inclusive, está no andar de cima, aproveitando que meus pais não estão em casa para dormir na cama deles.
Folgado...

— Bem… — Ele ajeita os seus óculos, suspirando. — Quando ele vem correndo… ou quando pula em cima… parece
que ele vai me derrubar e me morder todo… — Ele respira fundo. — Eu sei que não vai, mas…

— Parece que vai… eu sei — eu falo, demonstrando que ele não precisa explicar demais. Não para mim. — O Lippy é
muito bonzinho, mas também é muito agitado… — Eu suspiro. — Se eu chamar ele aqui embaixo, e acalmar ele… você tenta
conhecê-lo?

Jimin pisca um par de vezes, e olha para baixo, parecendo pensativo.

Eu sinto que ele quer fazer isso, mas, ao mesmo tempo, sente muito medo… e eu estou pronto para deixar a ideia de
lado caso ele não queria fazê-la. De verdade. Jamais quero fazer Jimin se sentir aflito e desconfortável… eu me odiaria se
isso acontecesse.

— Bem, eu… — Ele me olha. — Eu tento… mas não me culpe se eu sair correndo, tá?

Sorrio e rio baixinho da sua fala, balançando a cabeça. Puxa, eu nunca culparia você por nada, Jiminnie...

— Tá... — eu falo, sentindo seus dados macios acariciarem as costas da minha mão.Puxa… — Você pode ficar aqui
na cozinha… eu vou para a sala. Quando ele estiver calmo, eu te chamo, tá?

— Tá bem... — Ele sorri de novo, mas não se move.

Eu também não me movo. Acabamos de decidir o que iremos fazer nos próximos minutos, mas não saímos do lugar.
Apenas fitamos os olhos um do outro, com as mãos dadas e os pés paralisados.

Penso que vamos rir, ou comentar baixinho sobre como sempre ficamos quietos de repente quando estamos juntos,
mas... não.

O que acontece é completamente diferente. Jiminnie se move, mas não é para ir para a cozinha... e sim, para chegar
mais perto. A sua mão também solta a minha, e, também não é para ir para a cozinha… e sim, para tocar as minhas
bochechas.

Sua outra mão também vem, e de repente, Jimin está segurando meu rosto entre as palmas macias e quentinhas da
sua mão. Ele está olhando tão fixamente para o meu rosto, de tão perto, que eu me sinto cautelosamente observado. É como
se os olhos de Jimin analisassem cada detalhe meu agora… e apesar de eu não me sentir seguro com as minhas
particularidades, não consigo temer o que Jiminnie pensa de mim nesse momento.

Afinal… os olhos dele estão tão, mas tão amorosos...

Puxa, eu realmente consigo ver amor em seus olhos agora...mas como eu consigo? E por que eu consigo?

Isso de paixão é realmente uma loucura, puxa...

— Eu realmente acho que você é o garoto mais lindo do mundo, Guk... — ele fala, bem baixinho. É tão intenso que
minhas bochechas queimam sob suas mãos, e eu não consigo sustentar o seu olhar; ao mesmo tempo, não quero parar de
olhar para ele...

Então, meu olhar recai sobre a sua boca. Puxa. A sua boca é tão bonita…

E é tão macia…

Eu suspiro baixinho, e minhas mãos tremem de leve ao lado do meu corpo. Eu me sinto tão desestabilizado por ele
estar tão perto. Estou tão, mas tão desesperado por um beijo, que quando ele mexe os ombros, eu fecho os olhos
rapidamente. Fecho para esperar o seu beijo.

O beijo de Jimin…
O seu beijo amoroso…

O beijo que logo vem. Lento, e carinhoso, Jimin usa suas mãos para inclinar meu rosto para o lado, e encosta seus
lábios nos meus. É tão suave, e tão macio, que eu solto o ar pelo meu nariz, levando, inconscientemente, minhas mãos até
os seus braços, os segurando com força.

Puxa… como pode um beijo seu me deixar sem fôlego, assim? Eu pensava que depois do primeiro, eu iria me
acostumar… mas sempre parece melhor. Cada vez melhor. Como isso é possível?

Como Jimin consegue?

Puxa…

Eu dou alguns passos pra trás quando ele se separa e me beija novamente. É tão bom, e o cheiro do seu perfume é
tão gostoso que eu subo minhas mãos para seus ombros, e depois, sua nuca. O abraço levemente, e sinto um nervosinho
bom agitar a minha barriga quando ele acaricia a pontinha das minhas orelhas com os dedos, sem soltar minhas bochechas.

Eu acho que esse é o meu melhor aniversário…

Se bem que o meu aniversário de onze anos foi incrível…

Mas não sei se foi tão incrível quanto esse está sendo...

Por que será que o Lippy faz tanto barulho quando tá fungando?

Puxa vida… que perfume bom…

Deve ser por isso que o Lippy…

Eu abro os meus olhos.

Espera,

Lippy?

Me afasto do beijo de Jimin antes do esperado, fazendo nossos lábios estalarem, e arregalo meus olhos ao olhar para
baixo e ver.

O meu cachorro... ele... ele está aqui.

E está cheirando a calça do Jimin.

Meu Deus.

Quando é que foi que ele apareceu? Como é que eu não ouvi esse barulhento de unhas grandes descendo as
escadas?

Eu engulo em seco. Jimin ainda está segurando o meu rosto e, aparentemente, estava em outro mundo, exatamente
como eu, porque demorou pelo menos cinco segundos para olhar para baixo e encontrar o Lippy cheirando ele também.

E o que Jimin faz?

Jimin grita.

Um grito alto e fino, que acompanha o tremor do seu corpo e o salto que ele dá pra longe do meu cachorro, que abana
o rabo com a mexeção de Jiminnie.

O pobrezinho acha que Jimin está brincando com ele…

— J-Jungkook! — Jimin grita, andando para trás até se encostar na parede. Ele me puxa pelo braço, e me coloca na
frente do seu corpo, protegendo-se do Lippy dessa maneira. — Ele, e-ele tá aqui!

— Não se preocupa, ele tá calminho! — eu falo, e até estranho porque Lippy sempre fica agitado quando eu volto para
casa! Acho que ele já estava dormindo quando eu saí, então nem percebeu nada…

— M-mas, olha! — Ele fala se encolhendo mais, e me puxando ainda mais quando Lippy se esgueira todo pra
continuar cheirando ele. — Ele tá se preparando pra me morder, não é?!

Eu quase rio pelo seu pensamento bobo, mas sei que esse não é o momento para rir, então apenas nego.

— Não! É igual os gatinhos, ele tá te conhecendo…

Penso que isso vai acalmá-lo, mas o efeito é totalmente o contrário porque Jimin me aperta ainda mais.

Ai.

— Ele vai sentir o cheiro do Menino! — Ele encolhe as pernas e, sem querer, me dá uma joelhada na bunda.Ai. — Vai
querer me comer! Ele vai me morder, Jeongguk! Ainda mais porque ele sente o cheiro do meu medo!
— Jiminnie, eu prometo que ele não vai fazer isso! — eu falo, e tento me soltar dele para olhar em seus olhos e
acalmá-lo. Demora um pouco para eu conseguir porque ele realmente está me segurando forte, agora, puxa!

Quando consigo me separar dele, me movo para me abaixar e segurar o Lippy em um abraço de lado, que ele recebe
bem, como sempre, e acaba se afastando aos pouquinhos do Jiminnie — mas ainda mantém o olhar fixado nele.

— Olha… — eu mostro, e faço carinho no pescocinho do Lippy, que está abanando o rabo enquanto olha para Jimin.
— Ele está feliz de te conhecer! Não parou de abanar o rabinho desde que começou a te cheirar...

— Isso é porque ele sabe que eu tenho bastante gordura pra ele saborear!

— Não! Ele não quer te devorar, eu juro! — falo, sem tirar o sorriso do rosto. Vejo que estamos progredindo quando
Jimin para de olhar fixamente para Lippy para me fitar. — Normalmente ele vem correndo quando eu chego… às vezes ele
sentiu o cheiro do seu medo e decidiu vir devagarinho para não te assustar, sabia? — eu falo, tentando convencê-lo.

Jimin engole em seco, e suspira. Já eu, continuo:

— E o Lippy gosta de gatos… quando a minha irmã vem aqui, ele sempre pega as roupas dela na roupa suja pra ficar
deitando e rolando nelas por ter o cheiro do gato dela — eu falo, e é verdade.

— Por quê… — Jimin começa, desviando o seu olhar para Lippy novamente. Então, engole em seco mais uma vez. —
Por que ele tá me encarando assim?

— Porque ele quer carinho — falo, ainda acarinhando meu cachorro. — Oseu carinho… porque gosta de você...

Jimin continua puxando e soltando o ar com bastante força. Vejo suas mãos, grudadas na parede, tremerem ainda
mais.

Puxa vida...

— Quer que eu coloque ele lá em cima? — eu pergunto, olhando atentamente para ele.

Jimin demora um pouco para responder. Parece estar pensando cuidadosamente no que dizer...

— Não… — ele fala. — Não precisa…

— Tem certeza?

Jimin fecha os olhos brevemente.

— Sim...

Dou um pequeno sorriso, e acaricio a cabeça de Lippy. Estendo essa mesma mão para Jimin, e falo baixinho:

— Olha... se você fizer cafuné na cabeça dele e ele lamber os lábios, é porque gosta do seu carinho — eu falo. —
Quer tentar?

Jimin pisca um par de vezes e me olha intensamente.

— Você... você promete que ele não vai me morder? — ele começa a se aproximar, todo bambo.

— Eu prometo… — falo, observando-o chegar perto com um sorriso. Puxa... Jiminnie é muito corajoso. — Eu prometo
de verdade...

Com a minha promessa feita, Jimin se aproxima. Lippy até abaixa as orelhas quando vê a mão macia dele indo em
sua direção, e não para de abanar o rabinho.

Demora um pouco para Jimin tocar nele. Quando ele chega perto, acaba se afastando logo depois… mas depois de
algum tempo o momento que ele, enfim, toca Lippy, finalmente chega.

— E-eu faço carinho nele como se ele fosse o Menino? — pergunta, com a mão parada.

— Sim, ele vai gostar — eu falo, seguro.

Jimin assente e, com mais um suspiro, começa a afagar a cabeça do Lippy. Inicialmente, é hesitante e lento, mas
depois ele vai pegando o jeito…

E, é claro, Lippy fica lambendo os lábios, todo bobo com o carinho.

Já eu, estou todo bobo porque Jiminnie está menos tenso, agora. Ele até desfez a feição de choque, e quando Lippy
lambe seus dedos, ele acaba dando um sorriso.

Um lindo sorriso.

E é para o Lippy.

— A língua dele não é áspera que nem a do Menino — diz ele, se abaixando que nem eu, que afrouxo o abraço no
Lippy. — Ele também tem um cheiro diferente.
— Eu dei banho nele ontem — falo, sorrindo, me sentindoexcepcionalmente feliz. — Mas ele é tão fedido que
amanhã já vai estar cheirando a carniça.

Jimin ri da minha fala, e acho que Lippy se anima com o som da sua risada, porque acaba se aproximando ainda mais
dele. Nisso, ele ganha muito mais carinho de Jimin...

Ver os dois juntos faz o meu coração bater forte. É uma imagem tão bonita…

Eles são tão importantes para mim, puxa...

— Espera... — eu digo, ficando de pé. — Eu já volto!

— O quê? — ele pergunta, mas já estou longe, dando largos passos até a sala de estar para pegar a câmera que o
meu pai me deu.

Eu quero registrar isso.

Eu, finalmente, quero guardar um momento para todo o sempre.

Quando volto, Jiminnie está me olhando com curiosidade. Quando eu me abaixo e aponto a câmera pra ele, ele se
surpreende tanto que, quando bato a foto, seus olhos estão arregalados e sua boca entreaberta — e o Lippy está de costas,
com as orelhinhas abaixadas.

A foto polaroid desce pela câmera, e eu sorrio quando a pego e a remexo. Jiminnie engatinha até mim, e eu rio
baixinho quando mostro a foto para ele.

Ele ficou muito fofinho...

— Guk, eu fiquei muito feio! — ele exclama, e eu rio baixinho, negando com a cabeça. — Olha os meus óculos! Eles
sempre ficam tortos assim? — pergunta ele, ajeitando os óculos.

— Às vezes eles ficam retinhos... e a foto ficou muito bonita! — eu digo, ficando de pé. Jiminnie me acompanha. — Eu
vou guardar ela...

— Não, ficou feia! Tira outra! — ele reclama e parece tão desesperado para isso que se ajeita todo, colocando as
mãos abertas sob o seu queixo. — Tira assim!

Jimin sorri. Eu fico tão afetado ao vê-lo se arrumar, fazer pose, e sorrir para uma foto que fico uns cinco segundos
petrificado.

Puxa.

Quando ele coloca as mãos sobre o queixo assim... fica parecendo uma florzinha...

Puxa...

— Sério? — eu pergunto, levantando a câmera.

Jiminnie assente.

— Se eu ficar bonitinho, deixo você ficar com ela.

Se é assim eu vou ficar com essa e com a outra,eu penso, e sinto meu coração palpitar de um jeito gostoso. Levanto
a câmera, posiciono-a, e foco em seu rosto. Quando o vejo através da lente da câmera, volto a ficar todo balançado.

Puxa… Jimin é tão... lindo...

Ele poderia ser modelo se quisesse… de tão lindo que ele é… ia ficar muito rico…

Eu tiro a foto. Quando ela é impressa, Jimin se aproxima e assiste ela se revelar com o tempo.

Ele ficou lindo.

— Essa ficou boa — diz ele, sua voz soando pertinho do meu ouvido. — E eu não sabia que você tinha uma câmera!
Por que nunca me deu uma foto sua antes?

Demoro um pouco para parar de olhar fixamente para as duas fotos em minhas mãos, e quando o faço, percebo que
estou, muito provavelmente, todo vermelho. Afinal... o meu rosto está ardendo!

Puxa… eu ainda me surpreendo com a beleza dele... me surpreendo até demais...

— Eu não tinha… ganhei de aniversário hoje — eu falo, vendo-o voltar a acariciar o Lippy, que não sai do seu pé. — E
por que eu te daria uma foto minha? — pergunto, rindo baixinho da ideia.

— Para eu ver ela e ficar feliz,

Eu pisco um par de vezes. Por que ele…?


— Você… — Eu pisco um par de vezes. — Você… você realmente ficaria feliz olhando para mim? — pergunto, e essa
parece uma pergunta tão boba…

Ao mesmo tempo, me parece a maior loucura. Tipo... por que alguém ficaria feliz olhando para mim? Não tem sentido,
puxa…

— É claro que fico...— ele responde, virando-se para mim. — Tanto que você nem imagina... — Jimin diz, ao lado do
Lippy, me fitando intensamente.

Puxa… o nervosinho… em todo o meu corpo...

Eu não sei como reagir, mas acabo dando um sorriso e abaixando a cabeça.Puxa. Eu faço alguém feliz…

Eu faço ele feliz…

É realmente… incrível.

— Mas, e aí? — Ele se aproxima, ficando ao meu lado. — Você disse que ganhou ela de aniversário — ele aponta
para a câmera, dando um sorriso. — De quem você ganhou?

— Do… do meu pai — eu digo, ainda desnorteado com a informação recente. — Também ganhei um monte de
papel… para as fotos…

— Que legal! — Jimin espia a câmera sobre o meu ombro, e apesar de eu estar meio lento, mexo ela, mostrando-a
para ele. — Ela tem um arco-íris aqui… que linda… — Ele aponta.

— Sim… — falo, suspirando mais uma vez. — A gente pode tirar mais fotos lá em cima…

— Sim — Jimin diz. — E o que mais você quer fazer hoje? O dia é seu, então você tem que decidir...

O que eu quero fazer?

Puxa... eu quero ficar abraçado com você… daquele jeitinho que ficamos no beliche do acampamento, com os pés
entrelaçados embaixo do cobertor… e quero beijos seus também...

Eu só... quero ficar com você...

— Nós... podemos ouvir música lá em cima — eu sugiro, segurando minhas vontades bobas e amorosas dentro da
minha mente. — Ontem eu estava ouvindo uma estação de rádio nova. Toca músicas de outros países… principalmente
japonesas. Elas são as melhores.

— Legal! Então, vamos. — Ele sorri. Então, abraça o meu braço com o seu. — Primeiro eu posso tirar os meus
sapatos?

— Claro que pode... — eu digo, sorrindo. — Pode tirar lá no quarto.

— Tá bem — ele diz e se aproxima de repente para beijar minha bochecha.

Puxa… que bom...

Subimos as escadas lado a lado, e Lippy nos segue até metade dela — já que logo depois ele escuta algo lá fora e sai
correndo para latir na janela. Cachorro bobão…

Quando chegamos no meu cantinho, Jiminnie se afasta para sentar na minha cama e eu fecho a porta. Ele parece tão
confortável enquanto desamarra os sapatos que eu sinto meu coração palpitar ainda mais. Puxa… é incrível vê-lo tratar meu
quarto, que é meu porto-seguro, como se fosse o seu também...

É bom porque eu me sinto exatamente assim no seu.

É tudo bom demais…

— Você já comeu bolo de aniversário hoje? — ele pergunta, me seguindo com o olhar quando vou até o meu armário
para pegar o rádio.

— Ainda não… mas minha mãe colocou uma vela na panqueca — eu digo, me virando para procurar o aparelho. —
Acho que ela vai trazer depois do trabalho… ela sempre traz…

Eu pego o rádio. Ando distraidamente até a escrivaninha, deixo o aparelho sobre ela, e ligo na tomada. Enquanto
ajusto as antenas, Jiminnie fica em silêncio. Chego a estranhar pois ele sempre faz muitas perguntas, mas, depois de
conseguir ligar o rádio e encontrar a estação de músicas internacionais, entendo por que ele ficou tão quieto.

Pois, assim que eu me viro, vejo que Jiminnie está segurando um cupcake em suas mãos.

Ele tem cobertura de chocolate e está em uma forminha azul. Os confetes em cima são coloridos e Jiminnie sorri
abertamente enquanto o segura.

— Eu saí correndo para comprar hoje de manhã — ele diz, ficando de pé e dando a volta na cama para ficar pertinho
de mim. — É de chocolate com recheio de chocolate e cobertura de chocolate. E saiu hoje de manhã, então deve estar
bom...

Eu, novamente, sinto meu coração palpitar — puxa, daqui a pouco eu vou acabar morrendo do coração — e fico sem
reação por alguns segundos. Só até Jimin segurar minha mão e, abrindo-a, colocar o cupcake sobre ela.

Meus lábios sorriem involuntariamente.

Puxa vida…

Jiminnie... me comprou um cupcake...

Ele é tão doce...

— Esse é com certeza o meu sabor favorito… — eu falo, todo balançado. — Puxa. Obrigado, Jiminnie…

Ele dá um sorriso. Um sorriso tão radiante...

— Você merece… — ele diz, e quando uma música começa a tocar no rádio, ele volta a se sentar na minha cama. —
Eu vi um cupcake de coelhinho também. Tinha até o desenho de um em cima! Quase levei ele, mas era de baunilha e
creme…

— Esse aqui é perfeito... — eu falo, tirando parte da forminha do cupcake para me aproximar e mordê-lo. A cobertura
suja metade da minha boca. — Hum… e é bom também… — eu falo, atrapalhado, enquanto mastigo.

Eu mordo mais uma vez. Depois, outra. Na terceira mordida, já acabei com o cupcake, e é estranho olhar para Jimin e
ver ele me olhando amorosamente agora.

Afinal… eu como feito um bicho do mato! Não sei por que ele me olha assim até nesses momentos...

— É tão bonitinho te ver comendo — ele fala, e dá uma risadinha. — Você arregala os olhos quando vai morder… é
tão fofo…

Eu termino de mastigar e minhas bochechas já estão esquentando de novo. Puxa, eu não sei como ele achaisso
bonitinho…

Sem dizer mais nada, eu vou até o banheiro e jogo a forminha do cupcake lixo. Quando volto, Jiminnie está se
ajeitando na minha cama, deitado, com a cabeça sobre o travesseiro.

O cheiro do cabelo dele vai ficar na minha fronha...

Puxa.

Talvez esse se torne, de fato, o meu melhor aniversário.

JIMIN

O cheiro de Jeongguk está em todo lugar.

É simplesmente incrível.

Posso sentir o cheiro do seu perfume, do seu shampoo, e daquele cheiro que é só seu… o cheiro da sua casa, sabe?
É um cheiro aconchegante e único… e é tão gostoso de sentir que eu não posso evitar ficar sorrindo, todo besta e alegre.

Me virando na cama de Jeongguk, vejo-o sair do banheiro, me olhando com as bochechas vermelhas. É tão fofo e
doce… será que ele sabe que está com o rosto cor de rosa desde que me buscou em casa?

É a coisa mais linda do mundo, mesmo...

— Ei… vem aqui — eu chamo, dando batidinhas no espaço que ainda tem em sua cama. Então, me dou conta de
uma coisa. — Ai… eu nem sei se podia deitar na sua cama. Me desculpa por ser folgado...

Meu amorzinho nega com a cabeça e dá um sorrisinho ao se aproximar da cama. Quando ele se senta e começa a
tirar os próprios sapatos, de costas para mim, eu fico paquerando sua nuca, apaixonado pela forma que o seu cabelo faz
curvinhas nas pontinhas.

Ele é todo… tão…

Ah, meu amor…

— Não precisa se desculpar, Jiminnie… eu gosto quando você trata a minha casa como se fosse sua — ele diz,
tirando a jaqueta, e sua voz soa tão doce e suave. Ele parece tão calmo e feliz… — Puxa, essa música não é muito boa, mas
a próxima deve ser — ele fala, olhando para o rádio lá do outro lado do quarto.

Já eu, dou um sorrisinho quando o vejo tão perto. Não demoro nem mais um segundo para me levantar, abraçar os
seus ombros, e puxá-lo para ficar deitado comigo. É tão repentino que ele solta um “ah!” surpreso antes de ser levado por
mim.
Quando caímos na cama, acabamos dando risada. Meu braço está tocando parte do seu rosto e ele está tão cheiroso
quanto o seu quarto.

Ah… tão bom…

— Eu gostei da batida — eu falo, soltando-o levemente para ele se ajeitar ao meu lado. — Que idioma é esse?

— Não sei — ele fala. Agora, estamos dividindo o travesseiro. Ele está deitado com a barriga para cima e, eu, estou
deitado de lado, abraçando sua cintura com o meu braço. — Acho que é alemão.

— Parece mesmo — eu falo, mas para ser sincero, não tenho a mínima ideia se parece. — Será que a próxima vai ser
japonesa?

— Eu espero que sim… — diz ele. — Ontem eu escutei uma música tão boa, mas não consegui anotar o nome…
quero gravar ela e ver se alguém na loja de discos conhece.

— Como ela é? É animada?

— Sim! E a cantora… ela canta de um jeito tão bonito — ele fala, e começa a gesticular com as mãos. — Eu amo
quando os cantores “gritam” — Guk faz aspas com os dedos. — com a voz. E a voz dela treme, mas de um jeito bonito,
sabe? É muito bom de ouvir...

— Eu imagino… — eu falo, sorrindo pequeno. — Se essa música tocar de novo hoje, você dança ela comigo? —
pergunto, animado.

Jeongguk demora um pouco para responder, e eu observo-o enquanto isso. Ele pressiona os lábios macios e fininhos
e, faz lindas covinhas aparecerem em suas bochechas.

— Dançar ao som dela?

— Sim.

Ele dá um sorriso miudinho.

— Danço… — ele sussurra, virando o rosto para mim. — Apesar de que... eu não sei dançar…

Sorrio, olhando para os seus olhos. Subo minha mão até a sua bochecha.

— Sabe sim… — eu falo, baixinho, acarinhando sua pele macia. — Eu amo dançar com você…

Jeonggukie olha em meus olhos, tão lentamente que eu me sintofraco. Nos vermos assim, tão de pertinho, está
começando a se tornar um costume entre nós, mas eu ainda sinto o meu coração enfraquecer toda santa vez. Deve ser
porque os meus sentimentos estão ficando cada vez mais fortes, também…

Eu me aproximo e, sem hesitar, dou um beijo em sua boca. É calmo, lento, e faz Jungkookie levar sua mão até o meu
ombro. Praticamente não desgrudo meus lábios dos seus quando o beijo de novo, de novo, e de novo, acarinhando sua boca
com a minha, sentindo a textura dos seus lábios sobre os meus, e suspirando baixinho de tanta satisfação...

É tão bom... que parece que não vamos mais parar...

Sinceramente? Eu gostaria mesmo de não ter que parar...

— Você tá com gosto de chocolate… — eu sussurro, depois de lamber os meus próprios lábios e sentir o gostinho
de cupcake.

Jungkookie dá uma risadinha manhosa e trêmula. É o som mais bonito do mundo...

— É bom? — ele pergunta, e parece todo bobo e lento agora. Ele sempre fica assim quando nos beijamos demais…

É lindo. Ele sempre vai parar em outro mundo…

Espero estar presente nesse mundo...

— É demais… — eu falo, e dou mais uma risadinha. Esse seu jeitinho bobo sempre passa para mim… e eu fico todo
bobo também. É bom demais…

Querendo mais e mais dessa bobice apaixonada, me aproximo para dar mais beijos carinhosos em sua boca. A
maneira que Jeonggukie acaricia meu ombro timidamente com os seus dedos é tão preciosa que faz meu coração ficar todo
apertado porque, na boa… é tão fofo quando ele retribui o meu carinho. É tão bom sentir seu carinho por mim…

Desde que Jungkook e eu confessamos nossos sentimentos um para o outro, eu me sinto tão, mas tão extraordinário.
Incrivelmente extraordinário. Essa reciprocidade entre nós dois é tão importante para mim que, quando ele me beija de volta
e me faz carinho, meu coração simplesmente vai a loucura...

Como eu amo…

Estou prestes a beijá-lo mais uma vez quando Jeon se afasta de repente. Seus olhos se arregalam quando ele se
senta na cama e, antes que eu possa perguntar o que está acontecendo, Guk remexe as mãos e aponta para o rádio ao
dizer:

— É a música! — exclama, dando um grande sorriso. — É a música japonesa que eu ouvi outro dia!

Eu me sento na cama também, sorrindo quando a batida da canção passa a preencher o quarto e eu, desde já,
percebo que ela é incrível.

— Aumenta! — eu falo. Depois, sorrio de lado. — Vamos dançar!

E Jungkook, com um sorriso animado e as bochechas vermelhas, não nega o meu pedido.

Quando ele se levanta e corre até o rádio, aumentando o volume, eu vou logo atrás para abraçá-lo. Minhas mãos
tocam a sua barriga e eu não consigo segurar elas: acabo fazendo cócegas no meu amorzinho. A risada que Jeongguk solta
é tão fofinha e engraçada que eu começo a rir também antes de começarmos a, oficialmente, dançar!

Nossos passos são atrapalhados e divertidos porque não sabemos dançar músicas agitadas! Nós tropeçamos e nos
desequilibramos, e quando o refrão se repete várias vezes perto do final da música, nós seguramos as mãos um do outro e
começamos a girar!

Sério, nós rodamos, rodamos, e rodamos como duas crianças no meio do seu quarto! No que isso resulta? Isso
mesmo: sem querer, nós soltamos nossas mãos no meio da rodação e praticamente voamos para lados opostos, caindo com
tudo no chão do seu quarto.

Pfft! Ainda bem que o seu chão é de carpete porque, se não fosse, eu estaria todo ralado agora...

— Guk! — Eu mal paro e me recupero antes de me erguer e, ainda aos risos, engatinhar até o meu amorzinho. —
Tudo bem?

Jeongguk está no chão agora e, quando seu olhar encontra o meu, é automático:

Nós começamos a rir sem parar.

De verdade, rimos até nossas barrigas doerem! E é, simplesmente,tudo de bom...

— E terminamos a parte da manhã com o sucesso de Miki Matsubara, Stay With Me do Pocket Park!— o moço na
rádio diz, de repente, fazendo Jeongguk arregalar os olhos e se sentar no chão com tudo.

— Stay with me, stay with me, stay with me, do pocket park, pocket park, pocket park…— ele sussurra repetidamente
enquanto engatinha até sua escrivaninha, caçando uma caneta e um papel. — Stay with me… do pocket park… — ele
murmura, escrevendo no papel quando o encontra. — Isso! Agora eu tenho o nome da música e do álbum.

— Mandou bem, Guk — eu digo, me sentando no chão, e ainda estou meio ofegante por ter dançado tanto. Dou um
sorriso quando Jeongguk olha para mim. — Você tinha razão… a música é muito boa.

— Ela é, não é? — ele fala, voltando a se aproximar de mim. — Se eu encontrar o disco dela, vou gravar uma fita com
essa música pra você…

Nós sorrimos um para o outro. Apaixonado pelo seu jeitinho atencioso, eu volto a me aproximar dele e, quando
estamos pertinho, o envolvo em um abraço grande, e apertado.

— Obrigado… você é um amor...

E o meu amor me abraça de volta, tão apertado quanto.

Eu só consigo pensar: o aniversário, hoje, é do Jungkookie…

Mas eu nunca me senti tão sortudo e presenteado antes.

***

— É sério que eu não posso ajudar? — eu pergunto, espiando ele cortar os legumes na bancada.

Estamos no meio de sua cozinha. Lippy está dormindo embaixo da mesa e Jeongguk está de costas para mim,
preparando o nosso almoço, enquanto sigo ele de lá pra cá...

— É sério, Jiminnie — ele fala, dando um sorrisinho quando eu estalo a língua, inconformado.

— Mas é o seu aniversário! Eu que deveria estar cozinhando para você — eu falo, fazendo um biquinho. — Parece até
que eu sou o aniversariante...

Jeongguk dá uma risadinha, terminando de colocar os legumes na panela.

— É que… eu gosto de cozinhar para você — ele fala. Depois, coça sua nuca timidamente. — Eu realmente me sinto
feliz fazendo isso… então, ainda é como se eu estivesse sendo presenteado...

Eu solto um suspiro, completamente rendido.

— Você é tão fofo… — eu falo, bobo que só, e me aproximo dele. Colocando o rosto na frente do seu, roubo-lhe um
beijo na boca.

Jungkookie sorri, mas não diz mais nada. Apenas volta a preparar o nosso almoço, cheio de cuidado, e carinho, e eu
só consigo pensar no quanto eu quero me casar com ele…

Ai. Preciso me segurar, senão vou acabar pedindo ele em casamento do nada…

— O que você vai fazer pra gente? — pergunto, me sentando na cadeira da cozinha.

— Risoto de legumes e carne — ele fala. — Ah, e suco.

— Hummm… — Salivo só de pensar. — Parece muito bom… mas a sua mãe não vai sentir falta da carne?

— Na verdade, vai — ele fala. — Mas eu vou ser perdoado porque é o meu aniversário.

Dou uma risadinha da sua fala. Como ele é malandro…

— Espertinho — falo, sorrindo.

E Jungkook cozinha. Quando ele está prestes a acabar, o ajudo a colocar a mesa e a fazer o suco — pelo menos isso
ele deixou eu fazer! — e logo nós nos sentamos para comer, um de frente para o outro, e eu não consigo parar de pensar:
essa seria a nossa rotina se nós fôssemos casados.

Meu Deus... como eu queria que casar com quinze anos fosse permitido…

— Ficou bom? — ele pergunta, quando dou a terceira garfada.

— Bom é pouco…. hummm… — respondo, maravilhado com o sabor daquele risoto. — Eu nunca pensei que fosse
gostar tanto de risoto de legumes. E a carne… caramba! Você cozinha bem melhor que a minha mãe! Ela consegue deixar
qualquer carne dura feito pedra.

Guk ri alto da minha fala, cobrindo os lábios com a sua mão bonita. Suas bochechas ficam vermelhas de uma forma
tão linda que eu preciso parar de mastigar para dedicar 100% da minha atenção a ele.

— Obrigado… — Ele sorri. — E tadinha da sua mãe! — Ele volta a rir, e eu acabo rindo junto.

— Ah, ela sabe que cozinha mal! A gente nem gasta mais dinheiro com carne por isso.

Nós rimos mais. Jungkook acaba de mastigar antes de falar, com aquele jeitinho fofo e tímido quesó ele tem:

— Bom… se é assim, eu vou cozinhar carne para você sempre que estivermos juntos.

Eu sorrio, sentindo tudo em meu ser balançar por sua fala.

Assim fica difícil parar de pensar em casar com ele…

— Eu vou adorar, Guk...

Nós voltamos a comer. Depois de um tempo, mudamos de assunto e começamos a falar do que podemos fazer o
resto do dia. Ainda é uma hora da tarde, e eu posso ficar aqui até às cinco e meia, então temos bastante tempo ao longo do
dia para fazer o que quisermos — apesar de que eu acho incrível a ideia de apenas ficar agarradinho com Jeonggukie em
sua cama o dia todo.

É que é bom demais, sabe? Ai, ai...

— A minha mãe me deu um disco do Elton John — Jeongguk me conta, minutos depois, quando estamos lavando a
louça do almoço.

Eu, de imediato, reconheço o nome daquele artista.

Coloquei uma música dele na fita que gravei para o meu amor…

— Que legal! Você já escutou? — eu pergunto.

— Ainda não… mas a gente pode escutar na sala de estar — ele fala enquanto termina de secar os pratos. — Eu
conheço algumas músicas do Elton porque o meu pai é apaixonado por tudo que ele faz, mas eu nunca parei para conhecer
ele de verdade, sabe? Mas eu sei que as músicas são muito boas.

Eu dou um sorriso, me sentindo super esperto por ele não saber sobre o meu presente.

Na boa… eu estou doido para saber se ele vai gostar ou não. Acabei decidindo, hoje de manhã, que quero esconder o
presente dele no seu quarto e só contar para ele que está aqui quando eu for embora. Afinal, eu quero que ele veja tudo
sozinho (e também, eu provavelmente vou morrer de vergonha se ele escutar o que eu disse para ele no final da fita comigo
do seu lado).

Apesar de ser muito pra frente, eu ainda fico tímido com algumas coisas, tá?

— Se o seu pai gosta, deve ser muito bom — eu digo. — Foi ele que te ensinou a procurar músicas e artistas legais,
né?

— Sim… foi sim. — Ele sorri, parecendo se recordar de várias memórias. — Eu só sou viciado em música por causa
dele...

Dei um sorriso, sentindo meu coração esquentar pelos laços que meu amor tem com o seu pai.

Bem que eu gostaria de poder ter algo assim…

— Bom, eu sou grato à ele por isso, já que é por causa de você que eu sou viciado em música — eu falo, olhando-o
com carinho. — E pelo amor de Deus… esse vício é bom demais, né?

Jungkook dá risada e suas bochechas estão vermelhas quando ele assente várias vezes com a cabeça.

— É, até demais, puxa… — ele fala e nós voltamos a rir, sem nenhum motivo. Nosso riso se torna frouxo demais
quando estamos juntos…

Assim que deixamos a cozinha arrumada, caminhamos juntos até a sala de estar. Eu me sento no sofá e espero
Jungkook — que foi pegar o disco — enquanto observo tudo à minha volta. Na primeira vez que eu vim à sua casa, não pude
olhar com tanta atenção para os detalhes, mas agora eu vejo que ela é muito bonita. É moderna, cheirosa e limpa. É
realmente agradável...

É…

— Ai, meu Deus — eu clamo, sozinho, quando percebo que tem um monte de porta-retratos perto da televisão.

Ai, meu Deus!

Me sinto tão animado com a ideia de ver fotos antigas do Jungkook que me levanto do sofá com tudo, me
aproximando do móvel. Eu já sinto minha barriga se remexer com a primeira foto que eu vejo porque é ele. É Jungkook, bebê,
na praia, segurando uma boia gigante com os seus bracinhos miúdos, com a maior carinha de menino esforçado! Ele está
tão pequenininho e tão fofo que eu sinto que posso… sei lá! Morrer!

É fofo demais, meus Deus!

E quando penso que a fofura da primeira foto não pode ser superada, eu me deparo com uma forte concorrente: uma
foto do mini Jungkook sentado, todo chique, de terninho e tudo, enquanto segura um ursinho e sorri para a câmera, todo
simpático.

Eu. Vou. Morrer.

— Ai, meu Deus — ele fala, atrás de mim.

Eu me viro. Meu rosto está ardendo tanto por causa da fofura que eu devo estar todo vermelho!

— Você era ainda mais fofo… como pode? — pergunto, rindo feito um idiota. — Você e esse ursinho… é a coisa mais
linda que eu já vi na minha vida!

— Não é nada — ele nega, sorrindo, tímido que só. — A minha mãe fez um álbum inteiro só com fotos minhas
assim… aquele foi o pior dia da minha vida, puxa...

— Posso ser sincero? Valeu totalmente a pena… — digo, indo até ele. — Eu quero ver esse álbum.

— Vai ficar querendo — ele diz, rindo quando eu faço um biquinho e belisco sua barriga em resposta. Aff... — Eu
peguei o disco. Vem.

Jeonggukie pega minha mão e me puxa para sentar no sofá novamente. Eu fico tão besta pelo fato dele ter segurado
a minha mão que mal consigo sustentar minha — falsa — chateação por não poder ver o álbum de fotos. Eu apenas me
sento, suspiro, e espero ele colocar o disco para tocar, conformado e bobo por causa do toque da sua mão.

É, eu me rendo fácil demais...

Logo a sala é maravilhosamente preenchida pelo som gostoso do disco. Jungkook não demora para aumentar o
volume da vitrola e voltar para perto de mim, sentando-se ao meu lado no sofá confortável — ah, que coisa boa…

Ele está com a capa do vinil em suas mãos e, enquanto o observa, ele comenta baixinho:

— Eu achei esse disco muito bonito… — Sorri. — Foi a minha mãe que me deu. Eu fiquei bem surpreso, porque, você
sabe… ela sempre se incomodou com a quantidade de tempo que eu passo no quarto escutando música… — Ele me olha,
pensativo. — Foi uma grande surpresa ganhar um álbum dela...

— Hum… — eu murmuro, sorrindo também. — Talvez esse seja o jeito dela de dizer que, apesar de não gostar de
certos costumes seus, ela os apoia. — Jungkook faz um biquinho. — Apoia porque te faz feliz, sabe? É bem bonito da parte
dela…

Meu amor, pensativo e quietinho, arregala levemente os seus olhos com a minha última fala; como se ela tivesse
tocado o seu coração profundamente.
Logo, ele também sorri, e soa extremamente leve e confortável:

— Eu acho que você tem razão… — sussurra, e então, nós nos concentramos na música.

Durante a primeira, a segunda e a terceira faixa do disco, nós ficamos em silêncio e apenas aproveitamos a melodia e
a companhia um do outro.

No entanto, quando a quarta faixa chega, não consigo mais ficar em silêncio.

Afinal… é ela.

É a música que coloquei na fita que vou dar para ele!

— Eu conheço essa música — eu falo, sem conseguir me segurar. — O nome dela éDaniel... eu amo tanto…

Jungkookie, surpreso, olha para mim atentamente. Sem dizer mais nada, ele observa o disco de vinil em seu colo
antes de abri-lo, perguntando:

— Quer saber o que significa? Sabe, a letra… — Ele dá um sorrisinho.

Meu coração apaixonado não pode evitar: começa a bater fortemente em meu peito.

— É claro que eu quero — eu respondo, sorridente. É óbvio que quero saber o que significa. Eu sempre quero te ouvir
falar sobre música, meu amor...

Me aproximo dele no sofá, apoiando meu queixo em seu ombro para espiar o álbum aberto em seu colo quando, sem
demora, ele começa a traduzir para mim:

— “Eu sinto tanta falta dele… Daniel, meu irmão, você é mais velho que eu… você ainda sente a dor daquelas
cicatrizes que não vão se curar?” — Sua voz… me faz relaxar. —“Os seus olhos estão mortos, mas você vê mais do que eu.
Daniel, você é uma estrela no… no rosto do céu…” — Ele franze o cenho. — Puxa. Não sei se é “rosto” que ele fala nessa
parte…

Eu dou um sorriso, sem conseguir parar de olhá-lo fixamente. Sempre que Jeongguk começa a traduzir músicas, eu
fico completamente focado nele... parece tão importante saber, através dele, o significado das músicas… Eu gosto tanto do
fato das melodias carregarem uma história. Gosto mais ainda quando é ele que conta, tão sabiamente, essas histórias para
mim...

Só que… nesse momento — apesar de estar maravilhado pela letra da música — eu não estou olhando para
Jeongguk porque ele está a traduzindo para mim. Estou o olhando porque me sintodeslumbrado pela sua imagem. Não
consigo parar de pensar no quanto eu amo ele… no quanto o quero para sempre e, céus, no quanto ele é importante para
mim…

Caramba. Será que é normal eu me sentir assim? Meu sentimento... é tão grande...

— Essa música parece boa para dançar… — ele fala, tão de repente que me surpreende. — Sei lá... enfim. — E ele
começa coçar a nuca, todo desajeitado.

Ai.

Eu sinto meus pensamentos recentes se tornarem ainda mais fortes. Meu Deus, ele está me mandando uma indireta?
Ele quer dançar essa música comigo?

Caramba, por que ele tem que ser assim?!

Tão... tão ele?!

— Para dançar? — Sorrio, e meu rosto está ficando quente. — Tipo, comigo? — pergunto, me fazendo debesta.

Jeongguk pressiona os lábios, fazendo aquelas covinhas lindas aparecerem em suas bochechas. É tão, mas tão lindo
que eu não consigo me segurar: me aproximo e deixo um beijo sobre elas.

Como eu amo essas covinhas…

Como eu amo ele inteiro...

Meu beijo repentino faz meu amor soltar uma risadinha e finalmente olhar para mim. Timidamente, ele balança a
cabeça, assentindo.

— Puxa… sim… — respondo.

Eu te amo, eu te amo, te amo tanto, meu Deus…

— Dança comigo? — pergunto, sorrindo de lado.

— Sim… — ele responde imediatamente, e sua voz está soando todatrêmula.

Por Deus…
Ele é a pessoa mais perfeita do universo, é isso, ele simplesmente é…

Nós levantamos para dançar. Eu corro até a vitrola para voltar a música e, quando consigo colocá-la no começo,
caminho até Jeongguk e me sinto ainda mais balançado — será que é possível? — pelo fato dele ter colocado suas mãos
diretamente em meus ombros, me abraçando, como se já tivesse se acostumado a dançar comigo.

Ah…

Ah, meu Deus…

Te amo, meu Deus…

Seguro suas costas, acima do seu quadril, e me aproximo do meu amorzinho. Escondendo o meu rosto em seu ombro
quentinho e macio, e sinto que estou no céu.

Sinto que estou em casa.

— Puxa… eu amo como a música é triste, mas a melodia é calma e leve — ele fala baixinho. Sua voz soa tão pertinho
do meu ouvido que eu sinto que estou sonhando.

— Eu também amo… parece até uma música de amor — eu falo e esse foi literalmente o motivo de eu ter colocado a
faixa em sua fita. — Apesar dela ter um significado triste, eu me sinto feliz escutando… — O seguro com mais força.

— Eu também… — ele diz. — Também me sinto feliz.

Suspiro. Quero ficar ao seu lado para sempre, Guk...

E o segurando com mais força, eu me sinto a pessoa mais sortudo do mundo por poder dançar com o rapaz mais lindo
e mais precioso de todo esse mundo.

Me sinto sortudo por poder segurar, carinhosamente, Jeon Jungkook em meus braços neste momento.

JUNGKOOK

— Ei! Outra foto minha? — Jimin pergunta, rindo baixinho quando o flash atinge o seu rostomais uma vez.

E… sim.

Eu estou tirando um monte de fotos do Jiminnie.

— É que a paisagem ficou bonita, sabe…? Com a janela atrás e tal — eu murmuro, tentando arranjar uma desculpa
plausível para estar tirando tantas fotos suas nos últimos minutos.

Já faz um tempo desde que terminamos de ouvir o meu novo disco, lá na sala. Nós passamos um tempão
conversando sobre cada uma das músicas, aconchegados e de mãos dadas no sofá, e a conversa estava tão, mas tão boa,
que ficamos mais de uma hora lá... só jogando papo fora!

Agora, estamos em meu quarto novamente, escutando outra estação de rádio enquanto usamos a minha câmera.
Jiminnie foi o primeiro a tirar algumas fotos. Precisei ensinar a ele como fazer — e foi muito bom porque ficamos pertinho na
hora, puxa — e a primeira foto que ele tirou foi das nuvens, lá fora. A segunda, foi inesperadamente minha — e, infelizmente,
eu não pude ver como ficou, já que Jimin escondeu a foto dentro do bolso e disse que ela era só dele agora.

Aposto que fiquei com a maior cara de bobo...

Quando Jiminnie se cansou de tirar fotos, ele se sentou de frente para a minha escrivaninha e começou a ler as
minhas traduções — e está fazendo isso até agora. Já eu, continuo tirando fotos suas porque... puxa, ele fica lindo em todas
elas. Tão lindo que eu não consigo parar de fotografá-lo!

Para ser sincero, eu estou me sentindo muito inspirado... afinal, mais cedo, Jiminnie e eu nos beijamos na sala de
estar ao som de Your Song e, puxa, foi tão bom... tão bom que agora eu quero registrar cada momento desse dia, paranunca
me esquecer de como eu estou me sentindo agora.

— Guk! Já chega de fotos minhas! — ele exclama quando eu batomais uma foto.

Nela, dá para ver perfeitamente os seus ombros, o seu cabelinho ruivo bagunçado, e a sua nuca — que sei que é
quentinha e macia.

Ficou linda...

— Mas é meu aniversário… — eu murmuro, porque sei que isso vai impedi-lo de brigar comigo.

Sou o maior espertalhão…

— É, mas…! — Ele tenta retrucar. — Mas… mas você está gastando todo o papel que o seu pai te deu! Quantas fotos
minhas você já tirou? — ele pergunta.
E eu? Eu não consigo responder porque, puxa... eu perdi a conta depois da sexta foto...

— Não sei… mas ainda tenho bastante papel — eu falo, coçando a minha nuca com a mão que não está segurando a
câmera.

E... não. Eu não tenho tanto papel sobrando, mas, não me arrependo de estar gastando tanto tirando fotos
do Jiminnie...

— O que você vai fazer com todas essas fotos minhas? — ele pergunta, se levantando da minha escrivaninha. —
Aposto que vai acabar enjoando da minha cara com todas essas fotos…

Já eu, dou uma risadinha, negando firmemente com a cabeça. Se Jiminnie soubesse que, além de pensar nele o
tempo todo, eu também sonho, e o desenho quando estamos separados, nunca cogitaria que eu sou capaz de me enjoar
dele...

— Nada a ver… — eu sorrio, olhando para baixo. Sinto seu olhar sobre mim. — É só que... eu gosto de te ver através
da lente da câmera. Você fica muito bonito nas fotos que eu tiro, e… eu gosto de olhar…

Minhas bochechas queimam. E quando eu olho para Jimin, ele está com o rosto corado e um sorrisinho nos lábios.

Levanto a câmera, e tiro outra foto desse momento.

Como ele é bonito, puxa…

Dessa vez, Jimin não reclama. Ele apenas dá uma risadinha, junto comigo, e volta a se sentar na cadeira da
escrivaninha.

— Então, tudo bem... — ele fala, voltando a ler as traduções que estão no meu caderno. — Mas... será que podemos
tirar uma juntos? — ele pergunta, virando o rosto para mim. Eu ergo as sobrancelhas, surpreso. — Uma foto... a gente tira
duas. Uma para mim, e uma para você.

Eu pisco um par de vezes, um pouco receoso com a ideia.

— Puxa… eu não sei que cara devo fazer para a foto — eu falo. — Sempre fico parecendo um idiota… — eu digo,
fazendo Jimin rir e negar com a cabeça.

— Não fica nada! — Ele se levanta, ficando do meu lado. — Vamos, só uma foto… por favorzinho?

Ainda um pouco receoso, eu engulo em seco antes de entregar a câmera para Jimin porque — obviamente — não
consigo negar o seu pedido.

— Só uma… uma pra mim e uma pra você — eu falo, vendo-o sorrir e balançar a cabeça confirmando antes de ficar
do meu lado e levantar a câmera.

— Só uma. Eu prometo! — ele sussurra. — Um, dois, três, e… — A primeira foto é batida. Assim que é impressa,
Jimin a coloca sobre a escrivaninha antes de ficar do meu lado e posicionar a câmera novamente. — Um, dois, três, e…

E batemos outra foto.

Quando ela é impressa, Jiminnie me dá.

— Essa é a sua — ele fala, pegando a primeira que tirou, sacudindo. — E essa… é a minha…

Nós colocamos as fotos uma do lado da outra.

Depois, damos muita risada.

Saímos emburrados!

— Caramba, você ficou com a maior cara de bravo! — ele fala, rindo bastante. — É tão fofo…

— Eu pareço um idiota — eu falo, inconformado, mas sem parar de rir. — Você ficou metido!

— Fiquei mesmo! E você ficou lindo, tá? — Ele me dá um tapinha.

E, antes que eu reclame mais da minha cara de boboca na foto, Jiminnie se vira e fica na ponta dos pé para dar um
beijo estalado na minha bochecha.

— Obrigado por tirar uma foto comigo, meu bem…

Meu bem?

Puxa.

Puxa…

— De… d-de nada… — eu falo, me sentindo molenga.


Puxa…

— E, ei, você também parece bem mais alto do que eu na foto! — ele fala.

— É verdade… — murmuro, e ainda estou meio lento. — Mas… mas eu acho que posso passar você nos próximos
anos... eu cresci 2 centímetros esse ano.

— Sério?! — ele me pergunta, surpreso e assustado. — Não acredito! Eu não cresço desde o ano retrasado!

— Sério? Eu cresço mais a cada ano — falo, dando um sorriso de lado quando Jimin faz uma feição ainda mais
chocada.

— Droga… — Seus ombros murcham. — Você vai ficar mais alto do que eu…

Rio baixinho da sua frustração. É fofo…

— Talvez eu pare de crescer esse ano... — eu falo.

Jiminnie fez um biquinho.

— Aff... — resmunga.

E, sem dizer mais nada, ele deixa a câmera sobre a escrivaninha para se virar e...me abraçar.

E eu, sem pensar duas vezes, o abraço de volta.

— Se você crescer, o nosso abraço vai ficar diferente... — ele sussurra, com os braços em torno dos meus ombros e o
rosto escondido em meu pescoço. — Mas eu tenho certeza que vai continuar sendo o melhor abraço de todos...

Eu dou um sorriso, o apertando ainda mais em meus braços.

— Eu também... — murmuro, fechando meus olhos suavemente.

Permanecemos abraçados no meio do cômodo por longos minutos e, durante eles, eu sinto, no fundo do meu
coração, que o meu quarto nunca foi um porto tão seguro quanto está sendo agora que Jimin está nos meus braços e eu
estou nos dele...

Puxa, é... realmente... maravilhoso...

— Boa tarde, galera! Acaba de dar cinco horas!Vamos escutar a nossa coletânea de músicas românticas. Não saiam
do ar e fiquem ligados! — o moço da estação de rádio anuncia e faz meu coração apertar, porque, puxa...

Já são cinco horas! Preciso levar o Jimin para casa até às cinco e meia...

Puxa vida...

— O tempo passou tão rápido... — ele reclama, se afastando levemente de mim. — O que você quer fazer agora?

Ele pergunta.

E eu?

Bem... é claro que eu fico com vergonha porque, porque ainda quero ficar deitado, dando beijos nele...

— A gente... — eu começo, encabulado. — A gente pode... sei lá... ficar na cama, sem fazer nada... sei lá... — Eu
completo, encabulado, torcendo para Jiminnie não ter percebido, de primeira, que quero mesmo é ficar beijando ele...

Mas é óbvio que ele percebe porque, no mesmo momento, ele abre um sorriso ladino e pisca os olhos miudinhos na
minha direção.

— Sem fazer nada? — ele pergunta, sem parar de sorrir.

Ai, meu Deus... eu já até sei... ele está querendo me deixar nervoso...

— É-é... — gaguejo. Ai. — A gente pode ficar... fazendo nada... sei lá, a gente-

— Jungkookie — ele me chamou, interrompendo minha fala bagunçada. — Você quer me beijar nos últimos minutos
que temos juntos no seu aniversário?

Sim, puxa, sim, eu quero muito...

— Eu... — Tento responder, mas... nada sai.

Droga. Por que é tão difícil dizer o que eu quero?

Ainda tenho muito o que progredir nessa coisa de timidez...

— Vem. — Jimin segura minha mão. — Vamos aproveitar que chegou a hora das músicas românticas...
Ele me puxa para a cama, sentando-se e deitando-se nela — e, consequentemente, me levando junto por estar
segurando minha mão.

Puxa... eu realmente gosto quando Jiminnie toma as rédeas da situação — como, agora, ele fez. Eu me sinto tão
tímido e tão travado às vezes que mal consigo me mexer! Sei que tudo tudo bem eu ser assim — pelo menos está tudo bem
quando eu estou ao lado do Jiminnie —, mas eu queria... só uma vez... conseguir tomar alguma atitude...

Mesmo que seja só uma vez... eu quero demonstrar que eu também tenho vontade de tomar a iniciativa às vezes...

Apenas uma vez...

Por isso, quando Jiminnie se aconchega do meu lado, deitando de barriga para cima, eu tento reunir toda a coragem
dentro de mim, sem dar espaço para as minhas inseguranças e vergonhas quando, deitando-me de bruços, eu ergo meu
rosto e me aproximo rapidamente do de Jimin.

Eu o beijo.

Eu tomo a iniciativa de beijá-lo.

É rápido. É breve. E quando me afasto, Jiminnie abre os seus olhos lentamente, olhando nos meus com tanta
intensidade que eu sinto que meu coração descompassado vai derreter em meu peito.

— Jungkookie... — ele sussurra, sorrindo de leve antes de se aproximar e tocar seus lábios nos meus, me beijando
novamente.

E é tão... puxa, é tão bom.

Jimin segura meus cabelos com carinho e seu beijo é mais macio do que o que eu acabei de dá-lo. É tudo tão bom
que eu suspiro, feliz, me sentindo tão vivo e tão... bem. Puxa, como posso me sentir tão completo recebendo um beijo?

Por que será que eu faço tantas perguntas quando estou com Jiminnie?

Por que será que tudo é tão bom com ele?

Eu me sinto tão bem. Tão, tão bem, que quando Jiminnie volta a se afastar levemente do meu rosto, eu mal consigo
abrir os meus olhos porque estou sorrindo. Sorrindo para valer. Meus lábios se abrem em um sorriso sincero que mostra
como eu estou feliz por estar com ele; por sentir sua mão segurando a minha enquanto nos beijamos... por conseguir me
aproximar e beijar ele da forma que eu sempre quis... estou feliz por tantos motivos, e tantos deles tem a ver com Jiminnie
que eu simplesmente não consigo segurar esse sorriso grande que faz meus olhos praticamente se fecharem.

Jiminnie me encara de pertinho, e penso que ele vai sorrir para mim, mas... ele apenas me observa. Seus olhos
parecem tão intensos de repente. Intensos daquele jeitinho que só os seus olhos conseguem ficar. E apesar de eu sempre
ficar intimidado com esse seu olhar, dessa vez, eu não consigo parar de olhá-lo e... sorrir.

Simplesmente sorrir.

— Jungkook.

Jimin me chama, de repente.

— O quê?

Eu respondo, com a voz toda molenga.

As bochechas de Jimin ficam vermelhas, e eu sinto meu coração palpitar porque a forma que ele me olha agora me
faz sentir que ele está prestes a dizer coisas lindas.

Estou tão feliz por ele sempre me dizer coisas lindas...

Estou tão feliz por causa do amor que sinto por ele...

Jiminnie, Jiminnie, Jiminnie...

— Você quer se casar comigo?

Ji...

Espera.

Quê?

Espera.

— A... hã? — eu murmuro, surpreso, e minha barriga fica fria como o polo-norte. — O quê? O quê?

O que ele disse agora?

Puxa, o que foi que ele disse?


Eu ouvi errado?!

— Não, espera — ele balança a cabeça, e eu não consigo parar de olhar fixamente para ele, extremamente
desnorteado. — Espera. Eu quis dizer... — Ele pigarreia, acertando o tom ao, melodiosamente, perguntar: — Você quer se
casar comigo?

Espera?

Espera.

Puxa.

Puxa!

Espera!

— O quê?! — eu exclamo, sem querer. Depois, pisco os olhos com força. — Como... como assim?!

— Eu perguntei se você quer se casar comigo! — ele exclama de volta, sem parar de me olhar daquele jeito intenso, e
meu rosto está ardendo tanto que estou com medo de ficar roxo de vergonha.

Além de que minha barriga está ficando cada vez mais fria. Eu não entendi nada! Ele me pediu em casamento?!

Puxa, casamento?!

Como assim?!

— Jiminnie... — eu sussurro e me movo levemente para me sentar na cama. — A gente... a gente só tem quinze anos!

Eu mal posso acreditar! Ele me pediu em casamento. Puxa! Jimin acabou de me pedir! E o sentimento dentro do meu
peito é tão forte e tão absurdo que sinto que vou cair para trás e morrer.

É assim que as noivas se sentem?

Espera. Agora eu sou um noivo?

Ai, meu Deus do céu.

Puxa, meu Deus do céu...

— É, eu acho que não podemos mesmo... — ele fala. Depois, olha para mim e sorri. — Mas... fique sabendo que eu
queria. Muito.

Puxa. Fito o sorriso de Jimin, e meu coração, tão descompassado, passa a se acalmar... acho que se acalma porque
percebe que seu pedido não foi sério. Mas, eu ainda sinto minhas bochechas arderem por saber que ele quer.

Jiminnie quer se casar comigo...

Puxa... eu não sei o que casar significa. Quer dizer... no modo literal, eu sei, sim, mas... e no sentimental?
É grande coisa? Os únicos casados que conheço são os meus pais e os do Jin. É... bonito. Sei que se casaram por amor...

Pessoas casadas pretendem ficar juntas para sempre, não é? Talvez seja por isso que ele quer... porque quer mesmo
ficar comigo... puxa vida...

Afetado por tudo que acabou de acontecer, eu descanso a minha cabeça no travesseiro novamente, soltando um
longo suspiro. Jiminnie aproveita para se deitar, ao meu lado, e dividimos o travesseiro. Sinto seus olhos me observando, e
sua mão acaricia a minha com tanto, mas tanto carinho...

Eu me sinto bobo. Me sinto feliz... e agora, eu estou... pensativo.

— A gente não pode se casar — eu falo, em voz alta, sem querer. Simplesmente sai. — Mas... m-mas a gente pode...
— Eu arregalo os meus olhos quando percebo o que está vindo; o que estou prestes a falar para Jimin. — A gente... a gente
ainda p-pode...

A gente ainda pode namorar.

Podemos ser namorados.

Você pode ser o meu namorado.

Certo?

— O quê...? — Jiminnie pergunta e posso sentir a expectativa em sua voz.

Puxa. Puxa...

Eu fecho os meus olhos.

Por favor, Jeongguk, é só falar... é só dizer... aposto que Jiminnie vai ficar feliz... por favor, fala...
Eu engulo em seco.

Eu abro os meus olhos.

Jiminnie ainda está me olhando.

Puxa...

— N-nós podemos... — Meus lábios tremelicam. Eu fecho meus olhos novamente. — Nós podemos...

Namorar.

Namorar.

Namorar.

Namorar.

— N-namorar...

Namorar.

Namorar...

Eu disse.

Eu... falei.

Meu Deus.

Eu disse!

Solto todo o ar pelos meus lábios.

— Você... — A sua voz soa eufórica e inquieta. — Você acabou de me pedir em namoro?!

Eu...

Eu fiz isso?

Meu Deus, eu fiz isso?!

Puxa vida!

Por que ficou tão calor de repente?!

— E-eu, eu, eu... — Travei, sentindo meu rosto queimar cada vez mais. Acho que vou ter uma parada cardíaca. —
Eu... eu...

Jiminnie se ergue na cama, coloca uma das mãos em meu rosto, e cala os meus lábios nervosos com um beijo.

Um macio, calmo e incrível... beijo. Um beijo que me faz sentir que está tudo bem... que ele me entende, que sabe o
que sinto... e que sente o mesmo.

Puxa...

— Eu quero... — ele sussurra, tão pertinho que eu nem abro os olhos. Mas posso sentir o seu sorriso sobre os meus
lábios. — Eu quero ser seu namorado, meu amor...

E ele me beija. Depois de me chamar de amor, Jimin me beija tanto. Beija de novo, de novo, e de novo... até o horário
de ir embora chegar e eu ter que carregá-lo na garupa para casa e sentir, de novo, que não quero que esse dia acabe.

Não quero deixar Jiminnie em casa.

Não quero parar de olhar para ele e pensar no fato de que ele é meu namorado.

Namorado...

Puxa, puxa, puxa. Quero ficar com ele para sempre... quero que esse sentimento gostoso não acabe jamais...

No momento que paro a bicicleta na frente da sua casa, Jiminnie desce da garupa lentamente, tirando seus braços da
minha cintura, me fazendo sentir saudades suas antes mesmo dele ir embora.

Puxa.

— Feliz aniversário de novo, Guk — Jiminnie diz, se aproximando para me abraçar. Ainda estou sentado no banco da
bicicleta, então ele tem que ficar na ponta dos pés para isso. — E, ei... — Ele se afasta minimamente, apenas para tocar
minha orelha com os seus lábios. — Eu deixei o meu presente embaixo da sua cama. Abre quando estiver sozinho —
sussurra.
Sinto meu pescoço arrepiar e acabo dando uma risadinha nervosa. Puxa... um presente?

— Sério? Eu... eu nem vi...

— É que eu sou bem discreto — ele fala, e acabo rindo da sua fala.

— Puxa... não precisava, mas... — Eu suspiro. — Obrigado, Jiminnie...

Jiminnie sorri, e deixa um beijo rápido na minha bochecha.

— Você merece. Até amanhã, Guk... — ele sussurra. Então, faz carinho no meu cabelo, olhando nos meus olhos,
cheio de carinho ao me chamar: — Meu namorado...

Minhas bochechas queimam. Namorado...

Eu sou o seu namorado...

Puxa...

— A-até, Jiminnie... — eu falo, sorrindo mais quando ele aperta levemente meu couro cabeludo antes de sorrir,
balançar a cabeça, e se virar, caminhando para a sua casa.

Fico parado na calçada, esperando Jimin entrar em casa para pedalar de volta para a minha, mas... ao subir na
varanda, ele se vira para mim e simplesmente para no lugar.

Ele não entra em casa... apenas me observa atentamente.

Quando percebe que não pretendo ir embora, Jimin dá um grito:

— Por que você tá parado aí?!

— Estou esperando você entrar! — grito de volta.

— E eu estou esperando você ir embora! — ele exclama, rindo logo depois. Até daqui o seu sorriso é bonito... — Vai,
você primeiro!

— Não! Vai você! — Também dou risada, e quando vejo que ele pretende retrucar, eu relembro: — Ainda é meu
aniversário!

Então, Jimin trava. Ele faz um biquinho e olha para mim uma última vez antes de suspirar, assentir, dar meia volta, e
entrar em sua casa.

E, só assim, eu vou para a minha.

***

Para não levantar suspeitas, eu troco de roupa assim que estou em casa.

Meu pai é o primeiro a chegar do trabalho — o que é estranho porque ele sempre volta com a minha mãe nas quintas
— e, do nada, diz que tem que ir no mercado e que eu preciso ir com ele.

De cara, eu percebo: ele e a minha mãe estão tramando algo... e eles realmente não sabem como disfarçar...

Me fazendo de bobo, finjo que não sei de nada e vou ao mercado com ele. Compramos poucas coisas, e quando
terminamos, voltamos para casa de carro. Conversamos sobre a demo que acabou de tocar na rádio — é de uma banda
nova, chamada The Smiths — ser muito boa e promissora, e quando chegamos em casa, ele me pede para entrar primeiro
e... é claro: tem uma surpresa lá dentro para mim.

Essa surpresa é a minha mãe. Ela está na sala, segurando um bolo, e Jin está do lado dela. Do outro lado, está a
Hyuna, e assim que eles me notam, começam a cantar parabéns — junto do meu pai que aparece do nada atrás de mim!

Puxa vida... eles realmente são incríveis.

Depois de bater parabéns, assopro as velas e todos comemos bolo juntos. Hyuna me abraça e me olha com um
sorrisinho feliz quando eu dou um pedaço do bolo para ela — é tradição aqui em casa o aniversariante cortar e servir o bolo
— e Seokjin me dá um soco no ombro quando eu dou um pedaço pra ele. Depois, ele me abraça, e é super dolorido... mas
eu ainda gosto por se tratar do abraço do meu melhor amigo. É até engraçado porque, quando a minha mãe pergunta se foi
tudo bem na escola, é Seokjin que mente para me encobrir — e quando ela não está olhando, ele pisca um dos olhos para
mim.

Pfft... ele é o melhor amigo do mundo mesmo...

Quando terminamos de comer, Hyuna me abraça antes de ir para casa e meu pai diz que precisa levar o meu melhor
amigo para a sua antes das oito horas. Por isso, eu corro para mostrar todos os presentes que eu ganhei para ele — menos o
que Jiminnie me deu, é claro, porque nem mesmo eu o vi— antes de acompanhá-lo junto do meu pai.

Nós o deixamos no portão de sua casa. Sua mãe estava esperando ele e, quando ela me vê, dá gritinhos animados e
vem correndo para me dar um abraço de feliz aniversário! Me sinto todo envergonhado, principalmente quando ela chama o
pai do Jin e a Jisoo para me abraçarem também. Puxa, aniversários me deixam besta demais...

Mas... eu tenho que admitir: eu estou bem feliz por causa disso tudo. Realmente foi um dos meus melhores
aniversários, puxa...

Pelo resto do dia, eu e meus pais comemos e assistimos filmes na sala. De noite, antes de dormir, os dois vão até o
meu quarto para me abraçar e me beijar. Eles dizem que sabem que terei um ano incrível pela frente e que, a cada ano, eles
me amam mais e mais... isso me faz sentir tão seguro e tão feliz que eu quase choro.

Meus pais realmente são tudo para mim, puxa...

Depois que eles saem do meu quarto, eu ainda passo alguns minutos de olhos abertos, processando e aceitando
todas as palavras carinhosas e cheias de amor que recebi antes... sinto que vou ficar assim até pegar no sono.... até me
lembrar de algo extremamente importante:

O presente de Jimin.

Ainda está embaixo da minha cama...

— Puxa... — eu sussurro, dando um sorriso tímido quando vou atrás dele e o encontro.

É uma caixinha... está embrulhada com um papel de presente... a estampa é de corações.

É tão... fofo...

Dou um suspiro. Acendo o abajur e removo a embalagem com todo o cuidado do mundo, porque quero guardá-la e,
quando abro a caixa, me surpreendo ao ver diversas coisas diferentes dentro dela.

O primeiro item que me chama a atenção é uma fita. Na frente dela, está escrito "01" — acho que esse é o nome da
coletânea! — e atrás, Jimin escreveu algo que me balançou por inteiro.

"Para o meu amor de quinze anos".

Puxa...

— Nossa... — eu sussurro, rindo quando vejo o tanto de chocolate que tem na caixa! Além de uma carta com várias
páginas e algumas flores espalhadas.

Puxa, puxa, isso é tão... puxa...

Ansioso e agitado, vou correndo até a minha escrivaninha para pegar o meu walkman. Me sento na cama, coloco a
fita do Jiminnie para tocar, os fones no ouvido, e seguro sua carta em minhas mãos.

Em cima dela, está escrito: "Para o meu amor de quinze anos."

Eu não hesito em abrir, e começar a lê-la.

"Querido Jungkook,

Hoje é o seu aniversário de quinze anos. Meus parabéns!

Espero que esteja se sentindo bem, e que tenha se sentido especial no dia de hoje... você merece. Merece tudo de
bom e do melhor sempre! Você é um garoto incrível, doce, cheio de amor, conhecimento e carinho para dar para esse
mundo... você é a pessoa mais cativante que eu já conheci em toda a minha vida e eu quero que saiba que estou sempre
torcendo por você...

Quando descobri que o seu aniversário estava chegando, fiquei desesperado para preparar o seu presente a tempo!
Pensei bastante sobre como eu poderia mostrar que você é importante para mim, e foi quando decidi gravar essa fita... afinal,
foi uma fita que me aproximou de você, certo? E foi uma fita que me fez perceber que eu estou apaixonado por você... e foi
uma fita que me fez acreditar que almas gêmeas existem, porque eu realmente acredito que você é a minha.

Jungkook... só isso explicaria o que eu sinto quando estou com você.

Eu selecionei sete músicas, e cada uma delas me lembra você! O nome da coletânea é 01, em homenagem ao dia do
seu nascimento (e também à fita 13, porque você me deu ela e dia 13 também é o dia que nasci) e o seu subtítulo é "Para o
meu amor de quinze anos". Assim, quando você escutá-la daqui a alguns anos, se lembrará de como eu gostava de você...

Essas foram as músicas que eu selecionei. Comece a ouvi-las agora e eu vou contar o porquê de cada uma delas me
lembrarem você.

1. In Only Seven Days, do Queen

2. Baby It's You, dos Beatles


3. Can't Take My Eyes off you, do Frankie Valli

4. Crazy Little Thing Called Love, do Queen

5. Fooled Around and Felll In Love, do Elvin Bishop

6. Daniel, do Elton John

7. Us and Them, do Pink Floyd

A primeira música se chama "em apenas sete dias" (mas eu imagino que você já saiba! Você é tão inteligente...) e ela
me faz pensar em você por vários motivos diferentes. Apesar da letra não ter muito a ver com a nossa história, eu me
identifiquei bastante com o sentimento do cantor... ele fala sobre como se apaixonou em apenas sete dias e como ansiou, a
todo momento, ver a sua amada novamente. Me faz pensar no tanto que eu penso em você quando estamos separados... eu
sempre quero te ver de novo, passar mais tempo com você, e te ter ao meu lado. Espero que saiba que todas as vezes que
você se esforçou para me ver significaram o mundo para mim. Você significa o mundo para mim, Jungkook... eu realmente
quero ficar com você para sempre.

Esse é o trecho da música que me lembra você:

"Eu queria que sexta-feira durasse por toda a eternidade

Eu o abracei com força

Eu não conseguiria deixá-lo..."

Espero continuar matando muitas aulas de sexta-feira com você, meu amorzinho.

A segunda música, se chama "bebê, é você" e para mim, essa música é sua! Quando fomos à loja de discos pela
primeira vez, eu fiquei te olhando ao som dessa canção e quase derreti por inteiro. Eu nem sabia que gostava de você desse
jeito naquela época, mas mesmo assim, me derreti com o seu jeitinho. Te ver andando pra lá e pra cá na loja mexeu tanto
comigo... você é o garoto mais charmoso desse mundo, Jungkook. Cada pedaço seu me encanta e me atrai. Eu me lembro
de pensar que só a possibilidade de ser um príncipe explicaria como você consegue ser assim, tão lindo... tão único...

Esse é o trecho da música que me lembra você:

"Não é o modo como você sorri que tocou o meu coração

Não é o modo com que você me beija que acabou comigo...

O que eu posso fazer?

Não consigo evitar porque, bebê, é você"

Saiba que, Jungkook... é você.

A terceira música se chama "não consigo tirar os meus olhos de você" e, bem... acho que só o nome dela diz tudo!
Meu Deus, Jungkook, eu nunca consigo parar de te olhar! Estou sempre te namorando com os meus olhos... na sala de aula,
quando você está distraído, ou quando você está devorando alguma coisa no refeitório, ou apenas está distraído no ônibus...
eu só sei te olhar. Eu não sei parar de te olhar! Eu simplesmente não me canso porque você é tão lindo, e tão, mas tão
perfeito... eu amo cada expressão que você faz. Amo quando está bravo, quando está distraído, quando está feliz e,
principalmente, quando está tímido. Eu apenas amo demais...

Esse é o trecho da música que me lembra você:

"Você é lindo demais para ser real

Não consigo tirar meus olhos de você

Tocar você é como tocar o céu

Eu quero tanto te abraçar

Finalmente, o amor chegou

E agradeço a Deus por estar vivo

Você é lindo demais para ser real

Não consigo tirar meus olhos de você

Perdoe o jeito como eu te olho


Não existe nada mais para se comparar

A sua visão me deixa fraco

Não sobram palavras para falar

Mas se você se sente como eu me sinto

Por favor, me deixe saber que é real

Você é lindo demais para ser de verdade

Não consigo tirar meus olhos de você..."

Obrigado por me deixar saber, Jungkook, que tudo isso é real...

A quarta música se chama "coisinha doida chamada amor" e, nossa, me faz lembrar de cada coisinha que senti
quando comecei a gostar de você! Acho que essa parte da letra fala por si só:

"Essa coisa chamada amor

Eu simplesmente não consigo lidar com ela!

Essa coisa chamada amor

Eu tenho que superar ela

Eu não estou pronto... coisinha doida chamada amor"

Obrigado por me mostrar essa coisinha doida que se chama amor...

A quinta música... será que você se lembra dela? Nós dançamos ela no acampamento, quando eu te dei aquelas
violas. E você sabia que eu sempre penso em te dar flores? E chocolates? Eu nunca me esqueço das coisas que você gosta.
Estou sempre esquecendo de fórmulas de matemática e de fazer as tarefas de casa, mas nunca me esqueço
do que você me conta sobre você mesmo. Eu sempre quero te presentear... quero que você saiba que é importante para
mim. Uma vez, a minha avó me disse que presentes, mesmo que simples e sem valor, são a melhor forma de mostrar o amor
que sentimos por alguém... espero que saiba que eu sinto muito amor, Jungkook.

Eu não consegui achar nenhuma parte da letra da música que me lembre você porque ela é sobre um garoto
desapegado que fica com várias garotas e, do nada, se apaixona por uma, e você foi simplesmente único para mim. Mas a
melodia e a memória que construímos com essa música diz tudo...

Eu não consegui encontrar a tradução da sexta música, e nós nunca escutamos ela juntos, mas... quando a ouvi, me
lembrei de você. A melodia calma me fez pensar em você. Me fez pensar na forma que você fecha os olhos quando vou te
beijar, e no riso bobo que solta sempre que está tonto de amor... o som calminho dos instrumentos me trouxeram tantas
lembranças sobre os nossos beijos, nossos abraços, e a forma que as nossas mãos se tocam quando estamos sozinhos...
ela simplesmente me lembra você. A paz que sinto com essa melodia me lembra você... espero que você saiba que você é
assim que você me faz sentir. Em paz...

A sétima e última música, você conhece... se chama "nós e eles" e foi a primeira música que me fez pensar em você.
Me lembro de pensar que ela era extraordinária, única, e tocante, assim como você... eu sempre senti que "Us and Them"
era a sua música por vários motivos, mas enquanto relia a letra dela e a escutava mais uma vez, comecei a sentir que, além
de sua, essa música também é minha. Ela é nossa. Porque, apesar da letra não falar sobre, o nome diz tudo sobre a gente...
nós somos diferentes deles. Somos diferentes de todos à nossa volta e o que temos é tão especial, tão único, tão... nosso.

Eu amo tanto tudo que criamos juntos... eu amo tudo sobre nós dois, Jungkook. Espero que tudo que eu disse nessa
carta não deixe você esquecer, jamais, disso...

Eu amo tudo sobre você.

Eu amo você, Jungkook.

Por favor... nunca se esqueça disso.

Com todo amor,


Seu Jimin."

Ele...

Me ama...?

— Oi, Jungkookie... — De repente, o sussurro de Jimin preenche meus ouvidos e eu me surpreendo.Está vindo da
fita! — É estranho falar com você desse jeito, mas como a fita está no finalzinho, eu vou ser rápido e dizer tudo que eu
sempre quero te dizer e que, na maioria das vezes, eu te digo de qualquer jeito. Acho que essa mensagem final serve para
reforçar todas essas coisas que eu falo pra você... pra você nunca se esquecer delas... — Ele... ele gravou uma mensagem?
Puxa... — Eu realmente gosto de você. Eu quero que você seja feliz, e que sempre lembre como é especial e importante
para esse mundo. Quero que saiba que você é o tipo de pessoa que, quem conhece, nunca esquece... quero que saiba que
eu me divirto com você de uma forma que eu jamais me diverti com alguém antes... eu amo passar o tempo com você, e...
eu amo você — ele diz. Ele diz, de novo, e eu juro que perco todo o ar com as suas palavras. —Eu... eu sei que "amar" é
uma palavra forte e que pode fazer você se sentir receoso, mas espero que entenda que eu já sinto isso por você há muito
tempo e que não espero que você diga que me ama de volta. Eu só quero que você saiba. — Ele dá uma risadinha. Puxa...
— Sabe, eu te amo desde aquele dia que você me levou para casa na garupa porque eu machuquei o meu pé, e... desde
então, eu sinto esse amor crescer mais e mais. E é incrível. Jungkook, te amar é o sentimento mais bonito que eu já tive. Te
amar... é tudo.

Ele fica em silêncio por um tempinho. Minhas bochechas estão ardendo e eu preciso soltar a sua carta porque estou
prestes a apertá-la por conta de tudo que estou sentindo agora, ao saber que Jimin... Jimin me ama...

Ele realmente... disse que me ama...

— Feliz aniversário, meu amor. Obrigado por existir... obrigado por ser você. Eu te amo.

Notas finais
Essa é a câmera polaroid do Jungkook: https://www.dewitcameras.com/product/polaroid-land-camera-1000-one-step-red/?
lang=en

Link para a fita 01: https://open.spotify.com/playlist/6bY6fTukDg1oQ6zQfB1Vbx?si=0VL0KO49TKmTRVGg-dlDbw

Bom... espero que tenham gostado! Já fazia tanto tempo que eu não escrevia que, quando eu consegui concluir esse
capítulo, eu quase chorei de alívio :( Eu me desconectei tanto das minhas histórias nesses últimos meses que, por muitas
noites, senti medo de nunca conseguir me conectar à elas de novo. A minha vida mudou demais e isso me afastou do que
eu mais amo fazer... que é escrever.

No ano passado, em setembro, eu saí do meu estado, da casa dos meus pais, e comecei a morar sozinha em uma cidade
grande! Além disso, abri a editora Violeta e publiquei o livro de Ele é Como Rheya, o que acabou me deixando ainda mais
agitada e dispersa quanto a continuação das histórias... parece que ainda estou me adaptando a essa pessoa que eu me
tornei, e tô tentando, a cada dia, trazer as minhas histórias para essa minha nova vida. Eu espero conseguir...

Obrigada, de verdade, por terem me apoiado e me esperado. Vocês são os meus tesourinhos, e sou tão grata a vocês
que... sério, nem sei! Obrigada de verdade por tudo... espero poder continuar atualizando bastante pra vocês nesse ano!

Em comemoração a essa atualização, estarei sorteando 5 livrinhos de "Ele é Como Rheya - Do R ao A" lá no meu twitter
@gatodacoraline! Além disso, também coloquei um cupom de oito reais no site para quem quiser comprar o livrinho... o
cupom se chama: puxapuxapuxa e só tem 100 deles! Se quiserem comprar com descontinho, a hora é agora... e não se
esqueçam: vocês podem me pedir autógrafo! É só colocar na aba das "observações dos clientes", viu? E o site para a
compra é editoravioleta.com.br

Ademais, agradeço vocês mais uma vez... por tudo mesmo. Eu espero poder retribuir, pelo menos um pouquinho do amor
de vocês, escrevendo mais e mais histórias...

Obrigada! De verdade. Obrigada...

Beijinhos e até a próxima! <3

31. Ele é como o Amor da minha vida

Notas do Autor
Oi, oi! Boa leitura!

JIMIN

Muitas coisas podem acontecer em um mês e algumas semanas.

E com muitas coisas, eu quero dizer... muitas coisas, mesmo.

Na boa, eu nunca tive um mês tão agitado quanto o mês de setembro — e parte de outubro. Tiveram momentos bons,
momentos constrangedores, momentos românticos, e momentos incrivelmente engraçados. Foram tantos acontecimentos
em um espaço tão curto de tempo que, céus, quando as coisas se acalmaram, eu precisei de dez minutos apenas para
respirar, me acalmar e sentir que, agora, está tudo bem.

Já faz mais de um mês que eu disse a Jungkook que eu o amo. Tive essa ideia depois de ponderar sobre os meus
sentimentos, e no quanto eu queria que o meu amorzinho soubesse que eu o amo. Profunda, e sinceramente... o amo
com todo o meu ser.

Então, confessei meu amor por ele na carta e na fita que dei para ele de aniversário.

No dia seguinte, na escola, esperei ansiosamente a reação de Jungkook a tudo que eu disse. Admito que, em alguns
momentos, senti medo dele sentir-se receoso ou assustado com a intensidade dos meus sentimentos, mas Guk foi, como
sempre: um amor. Na hora do intervalo, ele me pediu para acompanhá-lo até o seu armário e, lá, me deu um abraço
apertado e cheio de carinho. Foi tão gostoso... e tão fofo também. Parecia que ele estava nervoso só de me abraçar por
conta do que eu disse na fita! Ele gaguejou o meu nome, e tentou a todo custo dizer alguma coisa, mas eu o interrompi de
imediato, reforçando que ele não precisava responder o meu "Eu te amo"... mais uma vez, falei que eu só queria que ele
soubesse como eu me sinto. Só isso.

Dessa forma, Jungkookie sorriu e ficou bem calminho. Nós nos paqueramos pelo resto do intervalo, rindo um para o
outro sempre que nossos olhares se encontravam no refeitório. Eu amo quando fazemos isso...

Na semana seguinte, Jeongguk já tinha acabado todas as suas provas — pendentes por causa da sua suspensão — e
essa foi a deixa para começarmos a matar um monte de aulas. Na maioria delas, nós ficávamos embaixo da escada,
esparramados no chão, nos beijando, ouvindo música e dando risada de qualquer pensamento bobo. Um dia, Jungkookie
levou a fita que eu dei para ele de presente, e riu a beça quando me viu surtar de vergonha ao ouvir a minha própria voz! Eu
fiquei muito vermelho e nervoso, mas o abraço que Jungkookie me deu quando eu me acalmei fez tudo valer a pena...

Acho que quando estamos apaixonados sentimos que tudo vale a pena, né? Foi assim que eu me senti sempre que
trocava olhares sugestivos com Jeongguk, combinando silenciosamente de matar aula. Nós não queríamos chamar a
atenção dos nossos amigos, então nos primeiros dias, tentamos matar apenas as aulas que nós não tínhamos com eles.
Mas, com o tempo, acabamos estendendo nossas escapadas. Tipo, estendendo pra valer...

— Guk... — Eu arregalei os meus olhos, na segunda sexta-feira de setembro, quando o sinal tocou e eu me dei conta:
— Nós não fomos a nenhuma aula hoje!

Jungkook, que naquele momento, tinha acabado de acordar de um cochilo, com a cabeça aconchegada no meu colo,
arregalou os seus olhos.

— Ai, meu Deus... é mesmo... — ele falou, e olhou para mim com os olhos mais doces e suaves do mundo.

Seus olhinhos de sono...

— Você está tão bonitinho agora, Guk... — eu falei, naquela hora. — Acho que ainda temos alguns minutos antes dos
ônibus começarem a sair...

— É... — ele disse. Depois, deu um sorriso. — Puxa... você fez cafuné em mim até eu cair no sono... — Sua voz
soava rouquinha e doce.

— É claro que fiz. — Eu sorri, e minhas bochechas estavam pinicando. Ele estava lindo demais naquele momento.

Jungkook e eu deixamos de lado o fato de que havíamos matado aula o dia inteiro. Ele fica tão molinho quando está
com sono que quando o beijo assim, ele vira um dengo que só... e é claro que eu não resisti naquele momento — eu nunca
resisto, céus.

E foi desse jeito que nós matamos praticamente todas as aulas da segunda semana de setembro. Yoongi vivia me
perguntando o que eu estava fazendo, e eu nunca sabia como responder a ele. Eu sempre falava que era um segredo nosso,
que Jungkookie me pediu para não contar para ninguém, e Yoon acreditava — emburrado e frustrado, mas ainda assim,
acreditava. Jungkook disse a mesma coisa para Seokjin. E dessa forma, nós seguimos com nossas mentirinhas que eram
compensadas pelos beijos macios, as músicas, as conversas, e as risadas que compartilhávamos embaixo da escada no
horário escolar.

É ... tudo isso compensava.

Até que, na segunda-feira da terceira semana de setembro, Jeongguk e eu demos de cara com um teste surpresa na
aula avançada de história.

Um teste surpresa com a matéria que perdemos na semana anterior, pois estávamos ocupados demais nos beijando
embaixo da escada.

— Eu fui muito mal... — Jungkookie disse para mim naquele dia, enquanto saíamos da sala.

— Eu também fui... — eu disse, meio sentido por causa do meu amor. Eu não me importo de tirar notas baixas, mas...
Jungkook sim. Ele sempre deixa isso bem evidente. — Me desculpa por ter te feito matar as aulas da semana passada... eu
queria poder te compensar de alguma forma...

Minha fala fez Jungkook negar com a cabeça, parando no corredor para me olhar atentamente.

— Não é culpa sua, puxa... a ideia de matar aula foi minha na maioria das vezes... — ele me disse. Então, suas
bochechas coraram e ele deu um sorriso trêmulo e repentino. — Mas... v-você pode me compensar...

Pela forma que o seu rosto foi completamente tomado pelo rubor, eu soube: Jeongguk estava prestes a ser romântico.

— Como? — Eu dei o maior sorriso, porque amo quando ele é romântico.

— Me... — Ele começou. Então, engoliu em seco, olhando em volta e, depois, para o chão. — Me... m-me beijando
antes... da gente ir pra casa...

E essa foi a deixa para eu puxar Jungkook para um canto isolado da escola. Entre dois armários, enchi o meu
namorado de beijinhos naquela segunda-feira. Me senti o garoto mais especial do mundo por fazê-lo sorrir pelo resto do dia
depois de ter tomado bomba em história.

Ai... ele me faz sentir muito amado... mesmo sem saber.

Nem um pouco diferente dele, eu sorri pelo resto daquele dia também. Eu amo tanto beijar o Jeongguk. Amo como
ele, todo nervoso, me pede para beijá-lo quando ele não tem coragem. E amo quando ele reúne forças para conseguir se
aproximar, me tocar, e me beijar... eu só o amo demais.

Já faz um mês que ele está fazendo isso, mas eu sempre me sinto extasiado; exatamente como fiquei no seu
aniversário, quando ele teve a atitude de me beijar pela primeira vez. Eu ainda fico todo bobo de lembrar...

E eu teria ficado bobo pelo resto daquela segunda-feira se não tivesse chegado em casa e encontrado Leonor na sala
mais cedo do que o normal, me encarando com certa impaciência e chateação.

— Jimin — ela me chamou, antes mesmo de eu poder cumprimentá-la. — Meu filho... você não cansa de se meter em
encrenca, não é?

Eu arregalei os meus olhos, receoso.

— O quê? — Eu pisquei um par de vezes.

— A escola acabou de me ligar — ela disse, dando um suspiro. — Por onde você andou na semana passada pra ter
matado tantas aulas?

É... eu me lasquei.

Levei, não apenas uma advertência do diretor, como também tive o meu cartão ilimitado tomado por ele — minha mãe
concordou que eu não estava merecendo ele. Descobri que o mesmo aconteceu com o Jungkookie — a advertência — e nós
conversamos sobre isso na hora do intervalo da quarta-feira, um dia depois de tudo.

— Meus pais ficaram surpresos, mas não ficaram chateados... pelo menos não como ficaram quando eu fui suspenso
— ele disse, para mim.

Demos a desculpa para os nossos amigos de que íamos comprar um lanche, mas, na verdade, fomos para o corredor
dos nossos armários para conversar. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda é o nosso principal ponto de encontro...

— Eles não te deixaram de castigo? — eu perguntei, preocupado.

— Não... nós conversamos por telefone ontem de noite porque o meu pai está na capital, e ele e a minha mãe
decidiram me liberar. Eles até falaram que estava tudo bem em dar um "perdido" às vezes, principalmente porque eu sou
muito esforçado. — Ele ri baixinho e eu também, extremamente aliviado. — Puxa... ficou tudo bem. Eu fiquei com tanto medo
de ficar de castigo. Mas eles só pediram pra eu não fazer isso de novo, mesmo...

Eu sorri, me encostando no armário para olhá-lo atentamente.

— Ainda bem, meu amor... — eu disse, e como sempre, Jungkook ficou todo vermelho por eu tê-lo chamado assim.

Foi quando ele olhou em volta e quase me fez desmaiar ao abrir a porta do seu armário só para esconder nós dois
atrás dela antes de se aproximar e dar um beijinho na minha bochecha.

Um rápido, trêmulo, e macio beijinho na bochecha.

Eu suspirei, e segurei meu namorado pela camiseta antes que ele se afastasse, quase derretendo de tanto amor
quando ele soltou um suspiro surpreso antes de eu puxá-lo para beijar brevemente a sua boca.

— Mais um... — eu disse, antes de dar mais um beijo nele. — Só porque não vamos mais matar aula... — eu
sussurrei, fazendo-o rir baixinho.

— É... — E me olhando de pertinho, Jungkookie mordeu o lábio inferior e sussurrou: — S-só porque não vamos mais
matar aula...

E ele me beijou.

No que isso resultou? Isso mesmo... fiquei o resto do dia com a maior cara de idiota.

Putz, namorar é bom demais...


Na quinta-feira, nós visitamos o clube de música e fomos recebidos por vaias dos nossos amigos.

— Matar aula tudo bem! Mas matar o clube de música? Imperdoável! — Tae gritou com nós dois, e apesar de tudo,
ele parecia estar fingindo uma chateação. Pfft.

— Desculpa, gente... — eu disse, vendo Tae vir todo bicudo para cima de mim. — É que a gente precisou trabalhar
em uma coisa... da aula de história, sabe? — eu menti, e Jungkook foi na onda, balançando a cabeça em afirmação.

Taehyung espremeu os olhos, nos analisando. Mas quando olhou para o meu rosto e viu minha expressão
arrependida, ele desistiu de vez de fingir que estava chateado.

— Tá, tudo bem... — ele disse, arqueando uma sobrancelha. — Mas não façam mais!

Nós assentimos. E então, Tae me abraçou — e logo, todos se abraçaram. Chegou a ser engraçado ver como o
Jungkookie recebia abraços dos outros... ele ficava todo travado! Quando eu o abraço, ele fica tão molinho e relaxado...

Ai. Não tem como eu não me sentir especial, assim...

No clube de música, nós ensaiamos para a apresentação que nos daria pontos e presença nas aulas — e nós
estávamos nos saindo super mal, mas ainda era divertido. Percebi que Jeongguk não cantava de verdade, só balançava a
boca, e quando ele percebeu que eu estava observando-o fazer isso, ele ficou todo vermelho. No entanto, quando eu lhe
mostrei um sorriso, ele acabou relaxando e sorrindo de volta.

Meu Deeeus. Eu amo ele... amo demais da conta...

Depois do clube de música, eu fui abordado na saída pelo Taehyung. Eu conversei bem pouco com ele depois que
voltamos do acampamento — principalmente porque fiquei sumido de tanto matar aula embaixo da escada com o meu
amorzinho —, então ele ficou abraçado comigo o tempo todo, alegando que estava com muitas saudades de mim.

Hihi... eu ainda adoro como o Tae gosta tanto de mim...

— Vem dormir na minha casa amanhã? — ele perguntou, sorridente. — A Niuke vai também! Mas não vai poder
dormir porque ela é menina.

— Oh... — eu disse, pensativo. — Vou pedir pra minha mãe! Mas acho que ela vai deixar. Eu te ligo hoje a noite assim
que tiver uma resposta.

— Tá bom! — Ele sorriu, e nós nos despedimos na saída.

No dia seguinte, eu realmente fui para a casa de Taehyung. Hoseok estava com a gente dessa vez, e nós ficamos
assistindo um monte de filmes na sala dele. A maioria era de romance — bem diferente do que estou acostumado a ver com
o Yoongi —, e foi por causa deles que eu tive que lidar com a pergunta mais constrangedora que eu já recebi em toda a
minha vida:

— Você e o Jungkook já se beijaram de língua, assim? — Taehyung perguntou, sussurrando no meu ouvido enquanto
apontava para a televisão, onde o casal principal dava um beijão.

Eu estava bebendo refrigerante naquele momento.

Eu cuspi tudo quando ouvi a sua pergunta.

— O-o quê?! — eu perguntei, de olhos arregalados, e Niuke e Hoseok olharam para nós dois, confusos com a minha
cuspida e tremor.

Mas, antes que eles pudessem perguntar qualquer coisa, Taehyung se levantou. Ignorando completamente a minha
baba de refri, ele me puxou pela mão para o corredor da sua casa, cheio de pressa e animação.

— Ei! O que aconteceu?! — Hobi nos chamou, confuso.

— Fiquem os dois aí! Preciso falar com o Jiminnie! — Tae gritou, antes mesmo da Niuke nos questionar.

Ele me puxou para dentro do seu quarto, fechou a porta, e me encarou. Com impaciência, ele fez um biquinho, franziu
o cenho e cruzou os braços ao falar:

— Por que você ainda não me contou que você e o Jungkook estão juntos? — ele perguntou, e parecia ofendido. —
Eu disse que você podia me contar!

— E-eu... — eu me tremi todo, sentindo meu rosto queimar pra caramba. Meu Deus, eu achei que ia desmaiar. — E-
eu... é... é-é que você já sabia...

Taehyung me olhou nos olhos e, depois, deu um suspiro. Se aproximando de mim, ele me deu um abraço, dizendo:

— Mas somos amigos... eu quero saber dos seus segredos! — ele disse, e se afastou sutilmente para olhar para o
meu rosto. O sorriso radiante e quadradinho que ele me mostrou me fez sentir menos nervoso... mas eu ainda estava
nervoso. — Você acha que não dá pra perceber? Você fica olhando pro Jungkook assim... — Ele fez uma expressão
apaixonada, colocando as mãos em suas bochechas enquanto sorria e piscava os olhos repetidas vezes. — E ele fica te
olhando assim... — Ele se balança, com a boca entreaberta e os olhos perdidos, imitando o que parece ser um Jeongguk
perdidinho e apaixonado. — Não sou bobo! Eu quero saber se ele é seu primeiro namorado. Na verdade, quero saber se
vocês são namorados. Vocês são, né? Desde quando? Como isso tudo aconteceu? Vai me contar, né?

E eu fui atacado por um monte de perguntas. Apesar de me sentir nervoso, consegui me abrir, lentamente, com
Taehyung...

A sensação foi estranha, e fiquei receoso e hesitante. Não sei o motivo, afinal... eu amo tanto pensar sobre o
Jungkook! Por que conversar sobre ele foi tão estranho? E me deixou com tanto medo?

Eu não sabia responder... mas, depois de ver as reações animadas de Taehyung a certos acontecimentos contados
por mim, eu fui me soltando e, no fim, eu fiquei completamente à vontade! Ver Taehyung reagindo com "Meu Deus, eu não
acredito que ele fez isso!"; "Jungkook é tão fofo!"; "Que inveja!" e "Meu Deus, vocês foram feitos um para o outro!" me deixou
tão feliz e animado!

Alguém saber tudo que eu sinto me fez sentir compreendido e acolhido...

— Mas... eu fiquei confuso com uma coisa — eu falei, depois de um tempo.

Estávamos deitados em sua cama. Minhas bochechas estavam vermelhas de tanto relembrar sobre a minha história
de amor com o Jeongguk.

— O quê? — Tae perguntou, curioso.

Eu pisquei um par de vezes.

— Você disse que eu e o Jungkook somos óbvios, mas... ninguém além de você percebeu — eu disse, pensativo. —
Por que será?

Tae se sentou na cama e me olhou com um sorriso ressentido ao dizer:

— Porque ninguém quer acreditar que isso está acontecendo entre dois garotos. — Ele suspira. — É que... se você
sorrir para uma garota e ela sorrir de volta, todos vão pensar que vocês estão namorando. — Ele franze o cenho. — Mas... se
você aparecer de mãos dadas com um garoto... — Ele balança a cabeça, negando. — As pessoas vão pensar que vocês
estão brincando, ou que são irmãos. Elas nem consideram a ideia de que dois garotos podem estar juntos. Arranjam tudo
quanto é desculpa para isso não estar acontecendo. Então... acabam deixando tudo passar...

Eu senti meu coração pesar com as suas palavras. De certa forma, senti que estava sendo arrastado para fora da
bolha de amor que me encontro desde que comecei a amar Jungkook. Talvez, esse tenha sido o motivo de eu ter me sentido
tão hesitante quando comecei a conversar com o Tae sobre isso. Eu não queria pensar no que as outras pessoas achavam
desse amor...

Eu só queria vivê-lo.

— O Jin... — eu murmurei. — Ele e o Yoongi sabiam que Jungkook e eu estávamos matando aulas juntos, mas nem
desconfiaram. Muito pelo contrário... os dois já chegaram a pensar que eu estava apaixonado pela Jieun, que é só minha
amiga.

— É... é assim mesmo — ele diz, e suspira. — Mas tudo bem. Eu vejo você e o Jungkook, Jimin. Vejo o amor de
vocês. E acho muito bonito.

Sua fala me faz sentir um pouco melhor. Eu sorri para ele, e ele sorriu para mim de volta, e naquele momento, senti
que Taehyung estava se tornando o meu melhor amigo.

— Obrigado por me ver, Tae.

Pelo resto do dia, nós assistimos mais filmes e comemos mais pipoca. Niuke ficou emburrada porque queria ter
participado da conversa — descobri que ela também sabia sobre eu e Jungkook. Hoseok estava dormindo no sofá, então não
participou do nosso papo, mas Tae me disse que ele também desconfiava.

Naquele dia, eu dormi com um sorriso no rosto, porque apesar de ter sido levemente puxado para fora da minha bolha
de amor, eu ainda me sentia seguro e feliz porque tinha dois amigos que me viam, me entendiam e me apoiavam. Ainda
bem...

Na quarta e última semana de setembro, mamãe começou a fazer uma contagem regressiva para o meu aniversário
de dezesseis anos. Yoongi, que dormiu na minha casa durante esse período, contou para Seokjin o dia do meu aniversário
— sim, ele já tinha se esquecido — e Seokjin contou para todos do clube de música. De repente, o meu aniversário virou
assunto e todos estavam planejando o que me dar de presente. Seokjin me ameaçou ao dizer que se eu fosse para a escola
no dia do meu aniversário, ele iria me encher de ovo e farinha! Ele também pediu desculpas antecipadas porque tinham
grandes chances dele esquecer do meu presente — e do meu aniversário! — mas eu disse que não tinha problema — e
também prometi não ir à escola no meu aniversário.

O dia treze de outubro caiu em uma quinta-feira, na véspera de um feriado municipal, então eu me preparei para
receber felicitações apenas na segunda-feira. Jungkookie, no entanto, me surpreendeu ao me ligar à meia noite... e, céus,
ele me disse palavras tão lindas! Eu fiquei todo balançado com a sua voz de sono me parabenizando. Sempre vou me
lembrar de que ele foi a primeira pessoa a me dar feliz aniversário de dezesseis anos.

Quando acordei no dia treze, minha mãe me trouxe café da manhã na cama e me encheu de abraços e beijos. Ela
tirou o dia de folga para ficar comigo e isso me deixou tão feliz! Pensei que não poderia ficar melhor, mas ao entrar na sala
de estar, eu fui surpreendido pelo nosso telefone tocando sem parar: Taehyung, Hobi, Seokjin, Niuke, Namsoon, e Jieun me
ligaram! E todos eles me deram parabéns — Hoseok e Taehyung até cantaram para mim! Eu morri de rir!

Eu fiquei todo bobo quando terminei de falar com eles, porque não estava esperando receber tantos parabéns. Foi o
meu primeiro aniversário tendo amigos, e foi novo demais para mim... eu amei muito.

Yoongi não me ligou, mas apareceu na minha casa durante à tarde. Ele veio de surpresa e matou aula só para ficar
comigo. Minha mãe quase deu uma bronca nele, mas ele disse que sua mãe tinha deixado ele faltar e ficou tudo bem.

O primeiro presente que ganhei de dezesseis anos foi o que o Yoon me deu: o disco "A Day at the Races" do Queen!
Ele nem reclamou quando eu o abracei em agradecimento. Foi tudo de bom... sou feliz demais por ter um melhor amigo que
se importa tanto comigo.

O meu aniversário estava sendo incrível, mas... quando anoiteceu, eu comecei a me sentir estranho. Minha mãe
convidou minhas primas e tias para comer pizza — era uma surpresa também! — e apesar de ficar feliz, eu senti um grande
aperto no meu peito quando vi todos reunidos. Demorei um pouco para entender o que eu estava sentindo e, quando a
minha tia citou a minha avó pela primeira vez na noite, eu entendi.

Aquele era o primeiro aniversário que eu passava sem a minha avó.

Eu estava com tantas saudades dela que... doeu.

Doeu muito.

Essa dor começou a crescer de uma forma tão avassaladora dentro de mim que precisei sair da sala de estar. Me
esforcei para não chamar a atenção quando subi as escadas e me tranquei dentro do banheiro do meu quarto, e tentei ao
máximo me acalmar, mas... no final, acabei sentindo meus lábios tremerem e meus olhos se encherem de lágrimas. Um
soluço escapou pelos meus lábios e eu comecei a chorar copiosamente, sentindo uma falta tão grande e tão repentina da
minha avó que não consegui segurar. Parecia que eu tinha voltado aos meus primeiros dias sem ela; a percepção de que a
minha avó não estaria presente nos meus próximos aniversários me devastou. Demorei tanto para voltar para a sala que,
depois de um tempo, pude ouvir batidas na porta do banheiro, acompanhadas da voz suave e cuidadosa da minha mãe:

— Filho? Está tudo bem? — ela perguntou, e quando solucei alto, sem querer, ela entendeu tudo. — Oh, Jimin...
abra a porta, filho. Por favor.

Eu a abri. E quando minha mãe encontrou meu rosto choroso, não hesitou em me puxar para um abraço. Eu não sei
como, mas, mamãe sabia que eu estava chorando por causa da minha avó. Ela me consolou, acariciou meus cabelos, e
disse que tudo iria ficar bem. Eu sabia que ia. Já estava tudo bem, de certa forma, mas o meu coração não entendia isso
porque sentia tanta falta da minha outra mãe. Da minha avó. Por isso eu chorei, chorei, e chorei... incapaz de lidar com
tamanha saudade, mas aceitando-a aos poucos.

Minha mãe chorou um pouco também, e quando nos acalmamos, ela sorriu e me deu um beijo na testa. Então, falou
que estava muito orgulhosa do homem que eu estava me tornando, e que tinha certeza de que a minha avó acharia o mesmo
que ela.

Isso me fez esboçar um pequeno sorriso e, com o tempo, consegui engolir o choro. Eu lavei o meu rosto, e voltei para
a minha festa de aniversário. Minha mãe falou para todos que tinha subido para me "distrair", assim eles poderiam acender
as velas do meu bolo de aniversário — mais uma surpresa! — e fiquei grato por ela ter mentido. Sabe, eu não me importo de
todos saberem que eu senti saudades da minha avó, mas eu não queria que o resto da noite se resumisse a isso. Então, eu
fiquei feliz com o desenrolar dos acontecimentos...

Perto da meia noite, todos estavam prontos para ir embora quando algo incrível e surpreendente aconteceu. Minha
prima, Jinji, estava saindo pela porta da frente quando ouvimos um miado alto seguido de um grito:

— Tem uma gata parindo aqui! — ela exclamou, chamando a atenção de todos na sala.

No momento em que minha família tentou correr para a porta, cheios de curiosidade, eu falei:

— Não! Vocês vão assustar ela! — Eu corri até a janela, afastando a cortina para poder ver a gata, me surpreendendo
quando percebi que... era ele.

Ou melhor... era ela. Era o Feijão!

O gato preto e gordo, que tem ficado na nossa varanda, estava deitado dentro da caminha — uma caixinha com um
cobertor — que eu e minha mãe fizemos para ele.

E ele estava... dando a luz!

— Ele é... — Minha mãe, quando chegou perto da janela, arregalou os olhos ao perceber. — Ele é ela!

— Ji, ela não tá lambendo o filhotinho — Jinji disse, preocupada. Ela ainda estava na porta, mas escondida. — Ela
não quer lamber o bebê, se ela não destampar o nariz dele, ele vai sufocar e morrer!

Minha prima, agitada com o fato, tentou se aproximar da gata, mas ela rugiu, o que a impediu de continuar.

— Ai, meu Deus, espera... eu... — Eu me atrapalhei, preocupado. — Eu... eu vou lavar as minhas mãos e tentar
ajudar!
Eu corri para o banheiro, higienizei minhas mãos, e peguei lenços, panos e toalhas limpas com a minha mãe. Quando
passei pela porta, a gata me olhou receosa, mas deixou eu me aproximar. Quando me sentei ao lado da sua caixa, a mamãe
gata me cheirou, e me deixou tocar o seu filhote.

Ela confiou em mim.

— Calma, eu vou cuidar do seu bebê... — eu sussurrei, trêmulo, enquanto segurava o pequeno filhote em minhas
mãos.

Ele estava molhado e envolto de uma película gosmenta que o impedia de respirar. Com a toalha, comecei a acariciá-
lo até a gosma descolar do seu pequeno corpinho. Gentilmente, passei a toalha pelo seu focinho, e senti o gatinho puxar o ar
aos poucos e começar a se mexer mais; vivo, saudável, e bem.

Senti que finalmente podia respirar depois disso...

— Olha... — eu sussurrei, feliz, vendo-o se balançar. — Ele está bem, ele está bem... — Eu sorri, colocando-o de volta
na caixa, perto da gata, que me olhava atentamente. — Ele está bem, minha menina, não se preocupe... ele está bem...

Quando o gatinho começou a mamar, a mamãe gata finalmente o lambeu, mastigando o seu cordão umbilical e
cuidando do seu bebê. Todos da minha família estavam observando o acontecimento pela janela, e eu não ousei me afastar
daquela gata pelo resto da noite. Minutos depois, mamãe fez todos saírem pela porta dos fundos em silêncio, e ficou
observando o resto do parto de longe junto do Yoon — que passaria a noite em minha casa.

Precisei ajudar a pretinha com cada um dos filhotes. Depois que eu passava o pano sobre seus corpinhos e os
ajudava a tomar seu primeiro fôlego, ela conseguia dar conta de lambê-los e fazer o resto do trabalho — ela só não os lambia
eles quando eles acabavam de sair. Ela parecia tão assustada no começo... esses devem ser seus primeiros filhotes...

— Está tudo bem... você é minha agora... — Acariciei seu pescoço, confortando-a com os olhos cheios de lágrimas.

Ela ronronou pelo resto do parto, o que quase me fez chorar. Eu estava tão emocionado, tão aliviado por ter ganhado
a confiança daquela gata, por ter feito ela se sentir bem comigo, por ter dado comida, água, e uma caminha onde ela se
sentiu segura para ter os seus bebês... me senti aliviado por ela ter me encontrado e por eu ter encontrado ela.

Agora, ela é a minha gatinha também... e vou cuidar dela com todo o carinho e amor que ela merece.

— Acho que esse foi o último... — eu disse, sonolento quando se passou mais de uma hora e a mamãe não pariu mais
nenhum bebê.

Ela deu à luz a quatro filhotes. Dois gatinhos pretos, uma gatinha tricolor, e um gatinho laranja.

Pfft.

— Acho que o Menino é pai... — eu falei, risonho, olhando para minha mãe e meu melhor amigo, que riram com a
minha constatação.

Esperamos mais um tempo para a gatinha se acalmar, e quando ela dormiu, peguei cuidadosamente a sua caminha.
Ela se agitou um pouco, mas consegui segurá-la e levá-la para dentro de casa. Menino estava dormindo no sofá quando
coloquei os filhotes e a mamãe no cômodo, mas não deixamos ele se aproximar deles. A pretinha parecia muito sensível com
os últimos acontecimentos e eu não queria estressá-la...

— Vem, você vai dormir comigo hoje — Leonor disse, pegando Menino no colo, que estava extremamente curioso
com o cheiro e as novas presenças.

— E eu vou ficar aqui na sala com você... — eu disse, me abaixando para fazer ainda mais carinho na mamãe gata
que, com o tempo, se acalmou o suficiente para se sentir segura do lado de dentro da nossa casa.

Naquela noite, eu fui dormir às quatro horas da manhã. Minhas roupas ficaram manchadas de sangue e gosma de
gato, mas eu não me arrependi nenhum pouco... ver os bebês cheios de vida me fez sentir feliz e realizado.

Acho que fiz um bom trabalho...

Com o tempo, a mamãe gata se acostumou a ficar dentro de casa. De manhã, na sexta-feira, ela explorou a casa e
cheirou tudo quanto é canto! Yoongi e eu ficamos olhando os filhotes de pertinho enquanto ela fazia isso.

— Será que a minha mãe me deixa pegar um? Ou dois? — ele murmurou, olhando os gatinhos dormindo.

— Tomara... temos que achar uma casinha pra eles — eu disse. — Quais você quer?

Yoon ficou pensativo por um tempo, mas logo apontou para os gatos pretinhos.

— Esses...

Eu sorri para ele, e nós passamos o dia inteiro paparicando e assistindo os gatinhos. O Menino voltou a andar pela
casa depois, e a gatinha não estranhou ele; afinal, eles sempre foram bons amigos! Mas Menino não abusou de sua boa
vontade, deixando ela e os filhotes de lado assim que cheirou e conheceu eles.

Passei o fim de semana inteiro babando pelos bebês e a minha pretinha. Na segunda-feira, fui para a escola com uma
dorzinha no coração: não queria deixar os meus filhotinhos para trás... enchi a minha pretinha de carinho e beijos antes de
sair, e fiquei pensando nela o tempo todo no ônibus — isso até Jeongguk me cumprimentar e eu começar a pensar nele sem
parar, também.

Na hora do intervalo, todos do clube de música se reuniram no refeitório para me dar presentes. Eu fiquei tão
envergonhado e tão agradecido... conversamos um monte, e acabei contando cada detalhe do parto da pretinha para eles.
Foi engraçado vê-los chocados, espantados, e depois encantados com o acontecimento. Eu realmente amo muito os meus
amigos...

Eu queria muito que Yoongi estivesse lá naquele momento, mas quando saímos da sala, ele me disse que precisava
fazer uma coisa e não apareceu no refeitório. Provavelmente decidiu não se aproximar quando viu que o pessoal do clube de
música estava comigo...

Isso me entristeceu um pouco. Eu gostaria que Yoongi fizesse as pazes com o Tae e se juntasse a nós, mas eu,
infelizmente, não posso interferir nisso. Então, apenas lamento muito...

Antes do sinal tocar, eu abri todos os meus presentes. Namsoon me deu canetas brilhantes e cheirosas — uma vez,
falei a ela que amava essas canetas! — e eu a abracei, extremamente grato pela sua atenção e carinho. Seokjin me deu uma
fita com várias músicas do The Cure, já que ficou sabendo — através de Jungkook — que eu gostava deles, e eu abracei e
agradeci ele por isso. Taehyung e Hoseok compraram o disco "A Hard Day's Night" dos Beatles para mim e demos um
abraço triplo! Niuke me deu uma cartela de adesivos incrível porque percebeu que eu adoro colar adesivos no meu walkman.
Fiquei todo balançado e feliz por isso e, é claro, a abracei também...

Jeongguk, um pouco tímido, me disse que deixou seu presente em casa e que iria me dar outro dia; o que, mais tarde,
eu descobri ser mentira. Na aula avançada de história, meu amorzinho me pediu para acompanhá-lo até seu armário porque
seus presentes estavam lá e ele não queria que tivesse alguém por perto na hora que eu os abrisse.

E, poxa... o seu presente foi o melhor de todos! Jungkookie me deu três fitas: na primeira, as iniciais das músicas
formavam o meu apelido "Jiminnie", na segunda ele gravou "Us and Them" repetidamente, em um grande loop, e a terceira
era uma fita sem nome, mas com um coração fofo desenhado na descrição dela.

— Quando a gente estava matando aula... você disse que seria legal se... — Ele engoliu em seco, e suas bochechas
ficaram rosas. Nós estávamos embaixo da escada agora, e só tínhamos cinco minutos antes dos ônibus começarem a sair.
— Se a gente tivesse uma fita para escutar enquanto... enquanto... e-enquanto nos beijamos, então eu... puxa, eu fiz uma...

Eu arregalei os olhos, e senti as minhas próprias bochechas rosarem.

— Você fez uma coletânea pra gente escutar enquanto nos beijamos? — eu perguntei, porque parecia bom demais
para ser verdade.

Jungkookie mordeu o lábio e assentiu, vermelho que só.

Ai, meu Deus...

Ele é tão... tão... tão...!

— Você é o melhor namorado do mundo — eu disse, sorridente, segurando as fitas contra o meu peito esquerdo. —
Obrigado, Guk...

Me aproximei e o beijei. O beijei muito, tanto que Jungkook precisou me pedir para esperar porque ainda tinham mais
presentes. Afinal, se ele não me impedisse, eu passaria o resto do tempo que tínhamos juntos o beijando como um bobão
apaixonado — o que eu, claramente, sou.

Além das fitas incríveis, Jungkookie me deu um potinho com bolo de laranja, docinhos enfeitados feitos por ele e o
disco "The Dark Side of the Moon" do Pink Floyd.

— Eu abri ele para deixar uma mensagem dentro... mas só lê quando chegar em casa... — ele disse, apontando para
o disco.

Eu sorri para o meu amorzinho. Eu sabia que a gente precisava correr para os ônibus, mas, tudo que eu pude fazer
naquele momento foi beijá-lo mais uma vez, maravilhado com todos os seus presentes.

— Obrigado, Guk... — eu disse, soltando meu disco para abraçá-lo. Estávamos sentados no chão. — Eu te amo... —
eu sussurrei, deixando um beijo em seu pescoço.

Aquela foi a primeira vez que eu disse que amava Jungkook depois do seu aniversário. Minha fala o fez rir baixinho,
daquele jeito bobo que ele sempre ri quando o digo coisas melosas, e nós nos beijamos mais uma vez antes de ir para o
estacionamento da escola e, em seguida, para as nossas casas.

Quando estava sozinho em meu quarto, abri o meu disco do Pink Floyd, e senti todo meu corpo amolecer quando li a
mensagem que Jungkookie deixou para mim:

"Para você sempre se lembrar do momento que começamos a ouvir músicas juntos. Foi ao som de Pink
Floyd que eu pensei, pela primeira vez, que você é extraordinário, e foi te conhecendo melhor, que eu percebi que
isso é verdade.

Que você sempre continue sendo alegre, porque a tristeza em você é completamente desconhecida. Você
é a minha pessoa favorita.
Com muito amor,
J.
13/10/1983."

Ao lado da assinatura, tinha um post-it colado com a seguinte mensagem:

"Puxa, eu também quero dizer que estou muito feliz por você ser meu namorado, e queria assinar com
meu nome, mas fiquei com medo de outra pessoa que não é você ver. Mas fique sabendo disso, Jiminnie...

Eu sei que você já percebeu, mas lembre-se de que eu quero ficar com você para sempre...

Queria estar com você agora...

Feliz aniversário.

Com muito amor,


Seu Jungkook."

Eu sorri como um bobo com as suas mensagens, e concluí que, de fato, aquele era o melhor presente que eu já havia
ganhado em toda a minha vida.

Mas... a parte da mensagem em que Jeongguk disse que estava com medo que alguém que não fosse eu lesse o seu
recado romântico mexeu comigo. Eu me senti melancólico, lembrando-me da conversa que tive com Taehyung sobre muitas
pessoas não nos verem, e senti um pouco de medo com o que isso pode significar. Senti medo pelo o que o meu amor por
Jeongguk pode significar para as pessoas que eu tanto amo e confio...

Mas, no fim, eu guardei o meu disco e escondi o meu post-it com carinho e amor, sem pensar demais. Afinal... não
importa o que aconteça, e não importa o que as pessoas vão pensar; nada nunca mudará o que eu e Jeongguk sentimos um
pelo outro.

Nada, jamais, mudará o fato de que Jeon Jungkook é o amor da minha vida.

E desde que eu possa amá-lo com todo o meu coração, eu não temerei maisnada.

Notas finais
Boa noite! Como vocês estão? Espero que estejam bem!

Aliás, deixa eu me expressar: HAHHAAAAAAAAA BTS NO GRAMMY CARAAIIII CHUPA QUE É DE UVAAAAAAAAAAAA

Ok. Agora, voltando......

Espero que tenham gostado da att! Encerrei a primeira fase da história aqui, e agora vamos ver nossos meninos crescendo
e passando por muitas mudanças! O vocês mais esperam ver nessa segunda e última fase de Ele é Como Rheya? Me
contem!

Ah, e eu queria deixar claro que eu pesquisei sobre o parto da Pretinha e como o Jimin poderia ajudá-la, usando minhas
próprias vivências também, mas tenho consciência de que o mais adequado naquele momento seria levar a gatinha paro o
veterinário! Por favor, façam isso se acontecer com a gatinha de vocês, e se vocês puderem, tá bom? Sempre procurem um
profissional!

Espero que tenham gostado da atualização! Logo vou marcar a próxima lá no meu Twitter @/gatodacoraline, e tô muito
animada por estar atualizando com a mesma frequência que antes espero que estejam felizes também...

Bom, eu fico por aqui! Se forem comentar sobre a att no Twitter, usem a tag #PuxaPuxaPuxa pra eu ver tudinho! E não
esqueça de me dizer o que achou da att

Beijinhos e até a próxima

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