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AO

CAIR DA
NOITE

Marden Rodrigo Bueno


Este livro é dedicado a todos àqueles que assim como
eu jogam o R.P.G e fazem dele mais que um jogo e
sim um estilo de vida, não é somente uma distração
e sim um momento precioso em que amigos de
verdade se reúnem e disfrutam da companhia uns
dos outros.
Sumário
1. Episódio: O INICIO
2. Episódio: A JORNADA
3. Episódio: CONTATOS
4. Episódio: PROVANDO SEU VALOR
5. Episódio: O ATAQUE
6. Episódio: INICIAÇÃO
7. Episódio: MOVIMENTO
8. Episódio: REDENÇÃO
9. Episódio: APOCALÍPSE
10. Episódio: ACERTO DE CONTAS
11. Episódio: POR QUE PERDOAR?
PREFÁCIO

Me lembro de quando me mudei para o bairro


Engenho de Serra na cidade de Formiga em Minas
Gerais, foi algo que me marcou muito porque eu tinha
chegado em um lugar novo e os medos e as expectativas
de como seria viver ali me assombravam, eu tinha dez
anos de idade e como qualquer criança eu gostava de
fazer amigos, juntamente com meu irmão mais velho
saíamos e nos divertíamos com estes novos amigos que
fizemos, resumindo, a adaptação foi rápida.
Certa vez me lembro de ver meu irmão
conversando com um rapaz bem estranho, cabelos
longos, roupas pretas, um visual bem gótico para a
época, o papo parecia interessante, algumas cartas
parecidas com baralho estavam no chão do passeio ao
lado da nossa casa, algum tempo mais depois fui saber
que estas cartas faziam parte de um jogo muito legal
chamado MAGIC, esse rapaz estranho era nosso
vizinho, seu nome é Junior e o resultado daquele
conversa entre ele e o meu irmão iria mudar nossas
vidas para sempre, a partir daquele dia descobrimos um
novo jogo chamado RPG, Rolim Play Game, o jogo era
muito legal, em pouco tempo nossos amigos também
estavam jogando e se divertindo sentados no passeio da
minha casa.
Este RPG que jogávamos no entanto, não era
como o jogo original, fizemos adaptações em seu estilo
e modo de jogar, pegamos elementos dos ADeD, DeD
e 3D e T e implementamos nosso estilo de jogo, mais
livre e que dava muito valor a interpretação no lugar das
mecânicas que envolvem todo jogo de tabuleiro e de
mesa habituais, o resultado foi excelente, conseguíamos
recriar as histórias e tudo funcionava como um teatro, o
mestre definia as tramas e os jogadores entregavam tudo
de si na construção e na interpretação dos personagens,
nossa turma era bem legal, confesso que joguei poucos
jogos, afinal, eu era muito novo e imaturo para um jogo
de tamanha complexidade, meu irmão Saulo era o
mestre juntamente com os jogadores, Everton ( oréia ),
Fabrício ( tulega ), Jorginho, Luís Carlos, entre outros
que não me recordo os nomes, aquela turma do
Engenho de Serra era muito legal.
No ano de 2001 eu e minha família nos
mudamos novamente, dessa vez para um bairro
chamado Cidade Nova, em nossas malas não foram
apenas os nossos pertences, seguiu junto com a gente o
RPG, eu já estava mais inteirado sobre o jogo e por isso
já conseguia mestrar as aventuras, logo quando
chegamos fizemos amigos, era assim por onde
passamos, porém, o RPG deu uma impulsionada em
nossas amizades e popularidade no bairro, dentro de
poucas semanas o RPG já tinha se espalhado, em cada
esquina podia-se ver uma roda de pessoas jogando e
dando vários “delírios coletivos ’’ enquanto seus pais
ficavam preocupados com o tal jogo do demônio que
havia se espalhado pelo lugar, as amizades foram se
intensificando e o RPG logicamente contribuiu muito
para isso, passados alguns meses, duas turmas se
solidificaram na prática do jogo e eram estas, a primeira
divisão, como assim era a chamada a elite dos jogadores
do bairro composta por, Saulo sendo o mestre, Everton
(punga) e seu irmão Emerson (dé), Emanuel (nel),
Stênio, Jorginho ( este fazia parte tanto da primeira
quanto da segunda divisão porque éramos amigos e
jogávamos vídeo game na casa dele), Filipe (chocô),
Erick, Fernando (F.F), se esqueci algum é porque não
me lembro mesmo, em contra partida, a segunda
divisão era formada por mim como mestre, Guilherme
(beiço), Wellington (etin), Fabrício (negão), Jorginho,
Guilherme (gordinho) e o Valdinei (dinei), durante
muito tempo fomos rivais e nós da segunda divisão
sonhávamos em jogar com a primeira divisão, foram
anos maravilhosos de jogatinas e muita amizade, porém
com o passar do tempo o RPG foi perdendo força e
quase foi extinto do bairro.
Com o passar dos ano, novos jogadores se
uniram a nós e as divisões foram extintas, agora existem
os jogadores de RPG, Robinho, João Paulo, Pedro
(subaco), Pedro (pedrex), José Pedro, Carlos Eduardo,
Rafael, Gustavo (gu) e entre outros, estes novos
jogadores ajudaram o jogo a continuar, e depois de 20
anos ainda estamos jogando como se fosse a primeira
vez.
Eu quis contar esta breve história de como o
RPG entrou em nossas vidas para que você leitor ao ler
este livro entenda que não se trata apenas de um jogo,
se trata de anos de amizade, companheirismo,
dificuldades, brigas, ou seja, uma mescla de sentimentos
estão por trás dessa obra, não uma obra no sentido de
ser um best seller, mais sim no sentido de que jogar
RPG para nós é uma obra de arte, é onde esquecemos
nossos problemas e mergulhamos em um universo
paralelo onde podemos ser quem quisermos, muitas
vezes nos escondemos de nossas duras realidades
dentro de uma aventura e neste universo poderíamos
fazer o impossível desde que nossa imaginação assim
quisesse.
Este livro narra um destes jogos de RPG
baseado no livro Vampiro a Máscara onde foram
participantes, eu como mestre, Guilherme (beiço),
Gustavo (gu), Robinho, Pedro (pedrex), José Pedro,
Carlos Eduardo e o João Paulo, uma campanha
maravilhosa recheada de tramas, mistérios e muita ação
em uma sociedade dominada pelos vampiros e seus
dilemas ao mesmo tempo que os humanos ao cair da
noite tramam seus planos para tomar o controle do
mundo, espero de coração que você leitor possa se
divertir com essa campanha escrita.
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Episódio: O INÍCIO

M
uito bem Sr Karma, estamos
esperando a duas horas pelo senhor
e finalmente nos deu o ar de sua
graça, esperamos que suas histórias sejam realmente tão
boas como disse, afinal de contas foi o senhor que
insistiu por esta entrevista. Me desculpem pelo atraso
senhores, o trânsito estava horrível e não sou muito
bom para andar á noite, mais já que estamos aqui vamos
nos sentar e começar o nosso bate papo, o que acham?
Naquele quarto com pouca iluminação em um
prédio no centro de Barcelona estava prestes a ser
revelada a verdade que a muito tempo estava escondida,
um senhor misterioso liga para o jornal da cidade e
pede para falar com Romeu, um repórter em início de
carreira faminto por boas histórias e um pouco de
sensacionalismo barato para publicar em um tabloide
Catalão.
A cadeira posicionada no canto esquerdo do
quarto e uma mesa no centro com um caderno e uma
caneta em cima dele mostrava o quanto Romeu havia
caprichado para aquele noite, um assistente também
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estava lá, afinal de contas não é fácil ganhar uns trocados
por algumas horas de serviço em Barcelona, finalmente
todos posicionados em seus devidos lugares e a
entrevista começa.
ROMEU- Muito bem sr Karma, não posso
deixar de mencionar que o seu nome é bem estranho
para mim, mais isso não interessa, então, como chegou
até Barcelona, quantos anos tem, onde mora?
Perguntas básicas de começo de entrevista.
KARMA- Meu caro, você vai entender o
porquê de me chamarem assim e não é sobre mim que
vim falar, garanto a você que minha história não é tão
interessante quanto a de algumas pessoas e seus feitos
em uma Barcelona até então desconhecida pelos
senhores, vocês não sabem, mas, não era para estarem
aqui agora, eram para estar mortos. A àquela altura
Romeu mal podia se conter de ansiedade para saber
afinal o que aquele velho misterioso queria contar, suas
pernas se mexiam freneticamente a medida que seu
olhar se encontrava com o olhar do senhor Karma.
A chuva começava a molhar a janela dando um
ar cada vez mais sombrio para aquela conversa, o som
dos trovões avisava que uma tempestade viria em breve
e que a entrevista já estava na hora de começar de fato.
KARMA- Vocês acham que conhecem
Barcelona e a sociedade em que vivem mais não
conhecem, não conhecem nem um pouco, existe uma
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Barcelona escondida habitada por criaturas noturnas
famintas por sangue e que controlam a sociedade ao seu
bel prazer, estou falando de vampiros. Romeu e seu
assistente soltam alguns risos debochados, ROMEU-
Você está louco ou o que? Espera que acreditemos
nesta besteira? O senhor nos faz vir até aqui para nos
contar isso, só pode estar de brincadeira, Raul vamos
embora não temos tempo pra isso.
Neste momento Karma se coloca a frente de
Romeu e olha fixamente em seus olhos, é o suficiente
para que o jovem sinta um calafrio na espinha e olhe de
volta nos olhos daquele homem e perceba algo
diferente, uma profunda solidão misturada com uma
dor interminável dentro de sua alma, depois dessa
estranha sensação ambos se sentam novamente e a
conversa continua ao som dos pingos de chuva tocando
a janela.
KARMA- Como havia dito, quero contar
sobre algumas pessoas e como elas interferiram nesta
sociedade alternativa que acabei de descrever, elas
merecem ser lembradas, a final, eram humanos que
perderam sua humanidade mais nunca deixaram seu
sentimento de pertencimento a este mundo, mesmo
pertencendo agora a um submundo obscuro onde
apenas a dor e o sofrimento permeiam as relações e
fazem os indivíduos mais fortes, pois bem, vou começar
contando sobre King Bradley. Romeu interrompe
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Karma e diz, aquele boxeador que foi morto durante
uma luta no Goldem Palacy em dois mil e dezesseis?
Este mesmo respondeu o velho, porém vocês sabem
apenas uma parte da história, vou contar o restante
agora pra vocês.
KARMA- Bradley sempre foi um lutador,
desde criança batia em seus amigos, já levava jeito pra
coisa, aos quinze anos foi descoberto por um treinador
que morava em El Raval, daí em diante foram apenas
vitórias, aos dezoito anos se profissionalizou e se tornou
um fenômeno no boxe mundial, seu ápice foi a luta
contra Floyd Mayweather em dois mil e quinze,
ninguém acreditou que ele venceria, mais não é que o
filho da puta calou a boca de todo mundo? Os risos
tomaram conta do quarto e o clima que antes estava
tenso começava a se acalmar e todos acabaram ficando
mais à vontade.
KARMA- Após aquela luta Bradley não tinha
mais nada a provar para mais ninguém, com isso,
começou a encher a cara, se afundou em drogas e em
prostitutas, para muitos o fim da sua carreira estava
próximo e tinham pessoas querendo tirar proveito
dessa situação, foi ai que um mafioso traficante de
Barcelona arranjou uma luta para Bradley e queria que
ele perdesse de propósito, pois dessa forma ele ganharia
o dinheiro das apostas sozinho afinal de contas todos
apostariam nele mesmo sendo um drogado derrotado
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em fim de carreira, Bradley aceitou porém seu orgulho
falou mais alto dentro do ringue, a luta estava prevista
para cinco assaltos de cinco minutos, no segundo assalto
o oponente de Bradley já estava irreconhecível devido
a surra que estava levando de um lutador decadente, a
plateia não acreditava que aquele lutador em fim de
carreira estava vencendo aquela luta, o mafioso então
decide colocar em prática seu plano para fazer com que
king perdesse a luta.
O relógio marcava nove horas da noite e
Romeu pede para Smith dar uma pausa em seu relato
e vai até a cozinha buscar uma garrafa de café para que
juntos pudessem toma-la e assim espantar o sono que
viria ao decorrer da madrugada, depois de uma xícara
de café a caneta e o papel entram novamente em ação
e Karma retoma seu relato.
KARMA- O terceiro assalto começa, Bradley
continua a espancar seu adversário sem piedade, quase
o nocautea com um cruzado de direita porém o infeliz
resiste bravamente se apoiando nas cordas, o tempo vai
passando e os golpes vão ficando cada vez mais
contundentes, é neste momento que o treinador
adversário pede tempo e leva seu lutador para o corner,
Bradley por sua vez se mantém em pé relutando em se
sentar no famoso banquinho em seu corner, até ai tudo
bem, porém, sua boca seca pede pela água nas mãos do
seu treinador que àquela altura já havia sido comprado
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pelo mafioso traficante de que falei anteriormente, o
gole é dado, Bradley mata a sua sede e também a sua
existência naquele exato momento, o veneno age
rápido, pupilas delatadas, uma dor imensa no peito, o
lutador que a poucos instantes atrás destruía seu
adversário está tomado por um princípio de infarto
dentro do ringue, os médicos são acionados, Bradley é
retirado e levado para a enfermaria do ginásio, poucos
minutos o separavam entre a vida e a morte, os
socorristas que o haviam levado também comprados
pelo mafioso traficante apenas o deixaram naquela
enfermaria imunda para que as únicas testemunhas de
sua morte fossem as baratas que lá estavam.
O fim parecia ser inevitável para nosso amigo
quando um outro homem entra naquela enfermaria e
morde seu pescoço de forma frenética, este homem era
Oscar Tabarez, dono da maior rede de prostituição de
Barcelona e membro da maior seita vampírica existente
chamada de Camarilla, falarei dela com mais detalhes
posteriormente, como eu estava dizendo o “abraço”,
assim é conhecido o ritual de passagem da humanidade
para o estado vampírico, foi finalizado com sucesso,
Bradley sente um êxtase jamais sentido anteriormente,
uma sensação indescritível, ao acordar se sente ótimo,
revigorado, como se estivesse nascido novamente e foi
justamente isso que aconteceu, um nascimento que não
era para a vida mais sim para a morte eterna, um estado
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imortal irreversível, a partir de agora os momentos
deixam de ser únicos e as relações passam a ter o gosto
amargo da perda iminente e da despedida enquanto o
vampiro neófito assiste atônito sem poder impedir a
partida do outro alguém e o pior, terá que “viver” para
ver este processo se repetir inúmeras vezes.
É claro que Bradley acordou cheio de
perguntas e logo começou a dispará-las em cima de
Oscar.
BRADLEY- O que está acontecendo? O que
fez comigo? Me sinto tão estranho e ao mesmo tempo
tão bem, quem é você, ou melhor o que é você afinal
de contas?
OSCAR- Meu jovem, eu sou a sua redenção,
eu sou a sua oportunidade, eu sou aquele que veio te
estender a mão e te salvar desta vida medíocre na qual
você estava afundado, meu nome é Oscar Tabarez, sou
um vampiro e a partir de agora você também é um de
nós, um amaldiçoado Cainita.
BRADLEY- Essas coisas não existem,
vampiros? Cara, olha pra mim, sou o melhor boxeador
do planeta e agora você está me dizendo que sou um
vampiro tipo crepúsculo?
OSCAR- Não tenha essa visão romantizada
dos vampiros meu caro, não brilhamos e não somos
bonzinhos, não nos apaixonamos e não nos
envolvemos, mantemos o equilíbrio, é o que fazemos e
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nada mais, somos imortais e o curso do mundo está nas
nossas mãos visto que, tudo irá passar e nós ficaremos
bem aqui onde estamos.
BRADLEY- Entendo, mais porque eu,
porque me transformou em um vampiro, porque não
me deixou morrer?
OSCAR- Vou explicar melhor para você, o
valor e seu potencial me chamaram a atenção, preciso
de um braço direito no qual eu posso confiar, alguém
forte e destemido que possa fazer o meu trabalho sujo
no submundo do crime e das drogas em Barcelona,
alguém que seja leal a mim, e você parece ser o cara
perfeito, olha, agora temos um ligação de pai e filho, eu
te criei e você deve sua lealdade a mim, vou te
apresentar este mundo, suas nuances, a malícia por trás
da sociedade vampírica e como sobreviver e em troca
você trabalhará para mim.
BRADLEY- Quer dizer que serei como um
cachorro na coleira fazendo o seu trabalho sujo? E
minhas relações, família, amigos?
OSCAR- Esqueça isso criança, agora eu sou
sua família, eu sou seu amigo, eu sou sua relação, a sua
existência começa hoje e agora, nada do que você viveu
importa, você não estará preso, tem escolhas a fazer e
uma não vida para viver, não vou te enjaular ou coisa do
tipo, a lealdade não se conquista pela força meu caro, e
sim pelo respeito e é assim que procederemos, e para
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começar vou te falar sobre a Camarilla, a seita que agora
você faz parte juntamente comigo, mais não falarei aqui,
vamos dar uma volta, olhar a cidade da perspectiva
vampírica.
Os dois saem do ginásio pela porta dos fundos
e entram na limusine de Oscar que os aguardara
estacionada ao lado de uma lixeira, o passeio começa,
Oscar retira uma garrafa de sangue e a oferece para
Bradley, o primeiro gole do néctar humano é
inesquecível, o melhor Wisky, o mais caro, não se
compara ao sabor do sangue humano descendo na
garganta de um vampiro, o passeio vai ganhando as ruas
de Barcelona, Bradley fica admirado ao ver o quanto a
noite é bonita, as luzes, as pessoas, os lugares, parece
que morando a tanto tempo em Barcelona ele nunca
tinha parado para contemplar a cidade de uma ótica
mais calma, era sempre em um ritmo frenético,
acelerado, nunca apreciando os detalhes e os contrastes
que a cidade apresentava, agora que o julgo imposto
pelo tempo não mais o afeta ele pode parar sem pressa
e se deliciar com cada detalhe que lhe é apresentado
nesta fatídica existência.
Depois de uma hora andando por Barcelona,
a limosine estaciona em frente à boate Terraza, de
propriedade de Oscar no bairro El Raval, os dois
ocupantes descem do veículo e entram no
estabelecimento, rapidamente as pessoas e vampiros
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olham para os dois sem entender quem era aquele cara
que caminhava ao lado de Oscar, o dono da boate,
caminhando em passos largos finalmente chegam na
melhor mesa do lugar, ao se sentarem Bradley percebe
que a mesa já estava preparada, dando a entender que
Oscar de algum jeito já sabia que Bradley viria e se
sentaria ali.
OSCAR- Muito bem, aqui estamos, fique à
vontade e peça o que quiser, como meu braço direito
você goza de quase todos os mesmos privilégios que eu,
e um deles é ter todos os funcionários aqui ao seu
serviço.
BRADLEY- Não sei como lhe dar com tudo
isso, está tudo muito estranho e ao mesmo tempo tudo
muito tentador, mais me fale o que é essa tal de
Camarilla?
OSCAR- Antes de você saber sobre a
Camarilla preciso de contar sobre a sociedade
vampírica como um todo, nós vampiros vivemos em
uma guerra, por poder, status, dominação ou puro
egocentrismo, chame da forma que quiser, essa guerra
é conhecida como JIHAD, as espécies lutam a
milênios, uma tentando sub julgar a outra.
BRADLEY- Mais essa guerra tem algum
sentido maior que não seja apenas matar uns aos outros
por poder?

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OSCAR- Para alguns sim, existe uma profecia
conhecida como GEHENA, uma noite apocalíptica em
que os místicos ANTEDILUVIANOS, ou seja, os
vampiros de segunda geração, provenientes
diretamente de CAIM, se erguerão de seus túmulos e
exterminarão toda a raça humana e instaurarão um
reinado próprio, nessa hora apenas os fortes
sobreviverão e serão poupados, por isso esta corrida
pelo poder.
BRADLEY- Então quer dizer que somos
descendentes de CAIM, o mesmo que está na bíblia?
OSCAR- É o que a história nos conta meu
amigo, e como eu ia dizendo, essa corrida pelo poder
exige que façamos alianças, formemos grupos, ou como
gostamos de chamar de SEITAS, e a CAMARILLA, é
uma destas seitas, e nós fazemos parte dela, e se você
quer sobreviver precisa saber tudo sobre ela, como nos
comportamos, o que acreditamos e pelo que lutamos,
nossa estrutura hierárquica é muito importante porque
é através dela que delimitamos nossos objetivos e como
vamos agir, afinal, quem está por cima é quem manda
de verdade.
BRADLEY- Cara, eu não fazia ideia de que
este submundo existia e do quanto ele é complexo,
sociedade, estrutura, regras, é como se tudo que eu
tivesse vivido fosse apenas um conto de fadas que me
fazia dormir nas noites quentes de inverno, me sinto
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enganado este tempo todo, quer dizer, que por trás dos
panos os rumos do nosso país ou até mesmo do mundo
está sendo na verdade direcionados pelos vampiros e
não pelos humanos como todos pensam, interessante.
Para Bradley era como uma venda caindo dos
olhos, correntes sendo soltas de seus punhos, agora ele
poderia enxergar com clareza o mundo a sua volta, e
finalmente participar de fato de tudo que estava
acontecendo.
OSCAR- existem muitas coisas que você ainda
não sabe e que vai descobrir ao longo dessa jornada
meu garoto, vamos lá, pegue esta caneta e este bloco de
notas e comece a anotar o que vou dizer sobre a
Camarilla, pronto?
Uma gota de suor cai do rosto de Bradley
sobre a mesa, a adrenalina toma conta de seu corpo e a
ansiedade para saber o que de fato é esta seita faz com
que seus dedos fiquem trêmulos, pode começar Oscar,
estou pronto.
OSCAR- Muito bem, vamos começar, a
Camarilla é uma organização vampírica que existe há
muito tempo, alguns dizem que ela surgiu no século
XVI em meio a santa inquisição católica como um meio
dos vampiros escaparem da perseguição dos
inquisidores, mais não dos inquisidores comuns que
procuravam por bruxas ou heresias teológicas, me refiro
a um grupo específico de caçadores de vampiros
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altamente treinados e preparados para enfrentar até os
mais fortes de nossa espécie, os anciões ditam as regras
na Camarilla, vampiros de quarta geração que detém
um conhecimento milenar e um poder alto demais para
serem confrontados, não vou me ater na seita em geral
porque você não precisa saber disso agora, por tanto,
vou me ater somente sobre a organização da Camarilla
dentro de Barcelona que é o contexto que você foi
inserido, alguma pergunta garoto?
BRADLEY- Ainda não, estou digerindo a
situação, tentando entender como essas coisas passam
despercebidas das pessoas comuns sendo que, tudo em
relação aos vampiros é dotado de alta complexidade,
parece que vou ter que me adaptar rápido dentro desta
tal de JIHAD, para que minha cabeça não role por
algum beco escuro da cidade.
OSCAR- Aprendeu rápido meu rapaz, ei,
garçom traga mais “vinho” estamos com sede.
Passados alguns minutos o garçom chega com
duas taças de “vinho’’ e um charuto, Oscar rapidamente
apanha o charuto, o acende e começa a tragar o mesmo,
Bradley bebe o doce líquido da taça e a coloca sobre a
mesa, sedento desta vez não por mais sangue e sim por
mais respostas, enquanto Oscar tragava o charuto
Bradley o observava, atentamente, buscando entender
o porque daquela escolha e ao mesmo tempo
desconfiando de que havia algo muito maior por trás
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daquele abraço, mais que por hora iria se contentar com
o que Oscar estava dizendo e ao mesmo tempo lhe
ensinando a cerca daquele novo mundo recém
adentrado por ele.
OSCAR- Caneta em punho? Volte a escrever,
a organização da Camarilla em Barcelona é a seguinte,
temos o príncipe, LEONEL, um Ventrue de quinta
geração muito poderoso e que comanda a seita com
muita inteligência e sabedoria, a baixo dele temos a
cúpula que de fato organiza a seita enquanto LEONEL
fica sentado em seu trono vendo tudo acontecer, esta
cúpula é composta por uma Harpia, seu nome é
BERNARDO D´CLARAVAL, um Toreador astuto e
sagaz, ele é responsável pelas relações interiores e
exteriores da seita, você jamais chegará ao príncipe sem
passar por ele primeiro, ele organiza as reuniões,
eventos e tudo que é ligado a cultura local e da
sociedade vampírica em geral dentro da seita,
responsável pela segurança e disciplina dos vampiros
membros está BALTAZAR, um Brujah muito forte
que é conhecido como o Xerife da seita, ele é
responsável por punir vampiros que cometem crimes
menores e atos de desobediência pela cidade,
resumindo, ande na linha ou ele vai atrás de você, e por
último temos o vampiro mais perigoso de todos que
citei e também o menos confiável, seu nome é
AYSLAN, um Assamita, os vampiros pertencentes a
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este clã são exímios assassinos, mercenários,
especializados em combate e na arte de matar, a função
que ele ocupa dentro da organização é a mais temida
por todos ,ele é um Justiçare, este vampiro é
responsável por matar aqueles que quebram a
MÁSCARA, um conjunto de regras que todos os
membros devem seguir e que vou te explicar mais a
frente, se você acha que BALTAZAR é temido é
porque você não viu esse cara, então por favor não pise
na bola por que se pisar, sua cabeça com certeza estará
na ponta da espada dele você entendeu?
BRADLEY- Olha cara, eu nunca tive medo de
ninguém e não é agora depois de morto que eu vou ter,
se eu tiver que enfrentar essa porra toda pra me manter
vivo eu enfrentarei, não importa quem eu tenha que
vencer, e já que eu estou falando, deixa eu te dizer uma
coisa, eu não gosto de receber ordens de ninguém nem
suas valeu?
OSCAR- Calma rapaz, como eu disse teremos
uma relação de pai e filho e não de patrão e empregado,
quero que você me respeite para que eu possa respeitar
você ok? Dessa forma você me serve e eu te sirvo, sem
discussões ou estresse de ambas as partes, como eu te
disse preciso de um companheiro e não de um
empregado.
Oscar e Bradley param de falar por um
instante e olham fixamente um para o outro como se
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estivessem estabelecendo uma conexão, aquele
momento naquele bar estava se tornando algo icônico e
ao mesmo tempo muito familiar ao passo que, parecia
que os dois se conheciam a muitos anos e isso fazia que
mesmo nos momentos mais nervosos da conversa as
coisas nunca saíssem do controle.
OSCAR- Bom, agora vou te passar a última
lição sobre a Camarilla em Barcelona e sem dúvida é a
mais importante, é a espinha dorsal da seita, o baluarte
que sustenta todo o ideário defendido por nós
membros, a MÁSCARA, isto é, nosso disfarce em
relação aos humanos, é isso que permite nosso êxito
como sociedade vampírica, o fato de não saberem da
nossa existência nos dá muita vantagem quando se trata
de agir nos bastidores de alguma situação, é essa
descrição que nos mantém vivos, coordenados e
atuantes em todas as esferas da sociedade, segurança
pública, política, projetos sociais, entre outras atividades
que nos permitem estar perto dos humanos e persuadi-
los a fazer o que queremos sem ao menos se darem
conta disso.
O cumprimento da MÁSCARA implica em
seis tradições que devem ser seguidas e obedecidas de
qualquer maneira, a cada tradição quebrada você
receberá punições vindas da cúpula da Camarilla,
dependendo do grau da infração eu poderei intervir e
livrar sua barra porém nem sempre poderei fazer isso.
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As seis tradições são:
A MÁSCARA- Não revelarás tua verdadeira
natureza àqueles que não sejam do sangue. Fazer isso é
renunciar aos teus direitos de sangue. Ao quebrar a
MÁSCARA, você automaticamente deixará de ser um
membro e perderá todos os seus direitos em relação a
Camarilla, de quebra, o príncipe vai convocar uma
CAÇADA DE SANGUE, lembra do AYSLAN o
Justiçare? Pois é, ele vai ser o encarregado de te caçar e
cortar sua cabeça.
O DOMÍNIO- Teu domínio é de tua inteira
responsabilidade. Todos os outros devem-te respeito
enquanto estiverem nele. Ninguém poderá desafiar tua
palavra enquanto estiver em seu domínio. Você deverá
escolher um lugar para se estabelecer Bradley, este local
será o seu domínio, você vai estabelecer uma área de
caça, porque precisará se alimentar, o que acontece no
seu domínio será de responsabilidade sua por tanto,
zele por ele.
A PRÓGENIE- Apenas com a permissão de
teu ancião gerarás outro de tua raça. Se criares outro
sem a permissão de teu ancião, tu e tua progênie serão
sacrificados. Nunca abrace alguém sem a permissão do
teu ancião Bradley, nunca, este é um dos crimes que
não poderei livrar você, saiba sempre disso garoto.
A RESPONSABILIDADE- Aqueles que
criares serão tuas próprias crianças, Até que tua
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progênie seja liberada, tu os comandará em todas as
coisas. Os pecados de teus filhos recairão sobre ti. Estou
inserido nesta tradição neste exato momento, afinal,
você é minha criança, as cagadas que você fizer recairão
sobre mim, eu sou teu responsável legal, se algum dia
você tiver sua prole lembre-se com carinho desta
tradição e eduque bem a sua criança.
BRADLEY- Sai fora, não quero ser
responsável por ninguém, não sei cuidar nem de mim
mesmo quem dirá cuidar de outra pessoa.
Risos tomam conta da conversa, a hora passa
depressa, o movimento no bar começa a aumentar e
pessoas de todas as partes de Barcelona começam a
chegar, prostitutas, viciados, traficantes, um misto de
pessoas e sentimentos tomam conta do lugar, alguns
estão ali por diversão, outros para esconder suas
frustrações e descontentamentos com o mundo, mais
não importa, afinal de contas, não a melhores ou piores
e sim um bando de desafortunados procurando um
rumo para as suas vidas miseráveis.
OSCAR- A quinta tradição é a
HOSPITALIDADE- Honrarás o domínio de teu
próximo. Quando chegares a uma cidade estrangeira, tu
te apresentarás perante aquele que a governa. Sem a
palavra de aceitação, tu és um nada.
A sexta e última é a DESTRUIÇÃO- Tu está
proibido de destruir outro de tua espécie. O direito de
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destruição pertence apenas ao ancião. Apenas os mais
antigos dentre vós convocarão a caçada de sangue. Ou
seja, nunca mate um outro vampiro da Camarilla sem a
autorização da cúpula governante, dito isto meu caro,
você já está de posse de todas as informações que
precisa acerca da sociedade secreta a qual pertencemos,
agora você deve seguir todas estas regras para não se
tornar um rebelde e ser morto por um Justiçare por ai.
BRADLEY- Cara, eu sou péssimo em seguir
ordens como eu havia dito, gosto mais de quebra-las,
mais vou fazer o possível para andar na linha, estou
entendendo as coisas agora de um outro modo, não
quero prejudicar o senhor, e quer saber? Estou
gostando disso tudo, nunca me senti tão “vivo’’ como
agora, parece que uma janela de possibilidades acaba de
se abrir diante dos meus olhos e ao longe posso ver
apenas o horizonte, distante, mais ao mesmo tempo
muito tentador.
OSCAR- Que bom que está entendendo tudo,
fico mais aliviado em saber que sua não vida está te
agradando, pois bem, por hoje é só isso, escolha um
refúgio perto da Camarilla e se estabeleça, delimite sua
área de caça e descanse um pouco, mais tarde vou te
telefonar para te dizer quais serão as suas funções como
meu guarda- costas.
A conversa termina, Bradley se levanta
calmamente e sai caminhando pela casa noturna, a
28
música alta parece trazer uma breve sensação de
humanidade uma vez que costumava curtir a noite nas
baladas de Barcelona, ao sair pela porta da frente do
estabelecimento se depara com seu motorista que já
está a postos aguardando o novo braço direito de Oscar.
Então para onde vamos? Pergunta o motorista. Quero
morar em EL Gotic responde Bradley, lá parece ser
legal, acho que vai ser bom para mim me estabelecer lá.
Sabia escolha meu senhor, entre no carro levarei o
senhor até um apartamento muito bem localizado neste
bairro onde há uma vasta área de caça, ou seja, recursos
para que o senhor possa sobreviver com tranquilidade.
Os dois entram no veículo e se deslocam para
El Gotic, alguns minutos mais tarde chegam no seu
destino, Bradley desembarca e o motorista se despede
acelerando alto pelas ruas estreitas deste bairro um
tanto quanto sombrio, Bradley sobe as escadas e chega
no apartamento indicado, adentra no mesmo, tudo ali
já estava esperando por ele, lentamente nosso jovem
vampiro caminha até a sacada do apartamento e se
debruçando sobre o para peito entra em um momento
de reflexão consigo mesmo.
O que eu fiz? No que me transformei? Não
sou mais humano, sou um vampiro trabalhando para
uma organização secreta, perdi tudo que eu tinha, meus
amigos, família, perspectiva de vida, estou acorrentado
a esta maldição para sempre.
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Um misto de raiva e ansiedade tomam conta
do jovem vampiro ,a ficha finalmente começava a cair,
um choro desesperado poderia ser ouvido pelas
pessoas que passavam pela rua, mais a àquela hora da
madrugada nenhuma alma viva se quer passava por ali
para compartilhar da dor do nosso amigo, uma solidão
começa a se apoderar de Bradley de uma forma que ele
nunca havia sentido antes, um vazio que nada e nem
ninguém poderia preencher, eis ai a primeira crise pós
vampiro, uma crise onde as perguntas surgem porém as
respostas parecem cada vez mais distantes. Preciso de
um banho, vou enxugar essas lágrimas e encarar a
realidade que me tornei, afinal sou um Brujah, um
vampiro e daqui em diante farei tudo para honrar este
nome.

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31
Episódio: A JORNADA

Q ue horas são? Acho que dormi demais,


que fome, o sol já se pôs e isso significa
que preciso trabalhar, onde está meu
terno? Minha gravata? Preciso estar bem aparentado
para meu primeiro trabalho como guarda- costas, mais
primeiro preciso me alimentar.
Devidamente trajado Bradley sai do
apartamento e começa a caminhar pelas ruas do bairro,
são sete horas da noite, o movimento de pessoas ainda
é tímido, sua primeira vítima precisa ser abatida com
descrição, afinal de contas ele não poderia colocar tudo
a perder no seu primeiro abate.
Deixe-me pensar, como vou matar alguém
sem chamar a atenção? Que tipo de pessoa morreria e
ninguém sentiria falta? Já sei, um mendigo, esta vai ser
minha primeira presa até que eu pegue o jeito, claro que
neste bairro com ruas estreitas que mais parecem
labirintos eu vou encontrar um morador de rua faminto
pedindo esmolas.
Não demorou muito e a presa já havia sido
avistada, um pobre morador de rua no alto de seus mais
ou menos sessenta anos de idade, sujo, jogado no canto
de um beco escuro a uns vinte metros do nosso caçador
em potencial, alguns gatos faziam a vigília do pobre
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homem que parecia estar ali apenas esperando o
momento em que a morte o levaria, e para a sua sorte
aquele momento tão aguardado havia chegado, ao se
aproximar, Bradley já olha o movimento, ninguém por
perto, parecia que tudo conspirava para aquele
assassinato, a besta interior que todo vampiro esconde
dentro de si é colocada para fora, segurado pelo
pescoço o pobre homem não esboça reação a ser
arrastado para dentro do beco, os gatos de dispersam
como se estivessem vendo um demônio voraz prestes a
dilacerar sua presa, a mordida é dada, o sangue quente
traz consigo a alma da pobre vítima ao passo que nosso
neófito se delicia com aquele banquete a luz do luar.
Que sensação maravilhosa, é como se eu
estivesse bebendo o melhor Wisky multiplicado por
mil, nunca imaginei que seria dessa forma, me sinto
forte, disposto, revigorado, agora sim posso fazer
qualquer coisa.
O telefone toca, mais que depressa Bradley
limpa a boca com um lenço e atende à ligação enquanto
caminha para fora do beco sem levantar suspeitas a
respeito do ato criminoso que acabara de cometer.
BRADLEY- Alô.
OSCAR- Sou eu, me encontre em La
Barceloneta daqui vinte minutos, tenho instruções pra
você.
BRADLEY- Sim senhor, estou indo pra lá.
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Sem saber o que lhe esperava nosso garoto
caminhava a passos largos em direção ao bairro costeiro
de Barcelona, a vista para o mar faz qualquer conversa
ficar interessante e prazerosa, o pôr do sol naquele lugar
é uma das coisas mais lindas que uma pessoa pode
presenciar, até mesmo um vampiro acaba sucumbindo
a tamanha beleza.
Depois de alguns minutos de caminhada o
restaurante El Marino é avistado e sentado em uma
mesa de frente para o mar está Oscar Tabarez,
fumando seu charuto como sempre, com um ar de
preocupação, o que lhe era peculiar, parecia que ele
nunca relaxava.
BRADLEY- Oscar, estou aqui o que quer?
OSCAR- Sente-se, preciso falar com você.
BRADLEY- Sou todo ouvidos.
OSCAR- Vejo que o terno que te mandei
serviu muito bem, gosto de pessoas bem alinhadas,
vestidas com estilo, nosso cartão de visita é a aparência,
temos que cuidar bem dela, afinal, somos o que
aparentamos ser.
BRADLEY- Não sou muito de usar roupas
sociais mas, estou gostando deste novo estilo.
OSCAR- Bom, vamos para o que interessa,
não tenho muito tempo, como você já sabe a Camarilla
age nas sombras, com descrição, porém a igreja sabe da
nossa existência.
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BRADLEY- Se sabem por que não fazem
nada a respeito?
OSCAR- Em todos os setores da sociedade
existem pessoas corruptas Bradley, e na igreja não é
diferente, o ser humano é ganancioso, e muitas vezes se
esconde atrás da religião como meio de camuflagem
para fazer coisas abomináveis, a Camarilla tem um
acordo com a igreja de Barcelona, ou melhor com
quem a comanda, o seu Bispo, Dom Murillo, certa vez
o vi em uma de minhas casas noturnas, disfarçado é
claro, e aquilo me chamou a atenção, não preciso dizer
o que ele foi fazer lá não é mesmo?
BRADLEY- Cara, não sabia que até os bispos
poderiam fazer essas coisas, afinal, eles fizeram voto de
castidade, não entendo muito de religião mas, acho que
essa informação está correta.
OSCAR- Sim, está. Porém este voto e nenhum
outro é respeitado por este Bispo maldito e é ai que nós
entramos, se a igreja não reporta ao Vaticano a
existência dos vampiros em Barcelona os inquisidores
não chegam até nós, diante disso firmamos um acordo
com Dom Murillo, fornecemos as garotas, drogas e
dinheiro em troca do seu silêncio.
BRADLEY- Entendo, uma propina.
OSCAR- Exato, e você será o responsável por
coletar o dinheiro em minhas casas noturnas espalhadas

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pela cidade e levar até o Bispo safado, coloque algumas
garotas dentro do carro e o pacote está pronto.
BRADLEY- Mais como eu chego até o Bispo?
Há alguma entrada mais discreta?
OSCAR- Você vai pela entrada lateral da
igreja, apenas os serviçais do templo passam por lá, se
alguém parar você diga que está levando doações para
os pobres, obviamente as garotas estarão vestidas de
freiras para não levantar nenhuma suspeita, esse é um
trabalho fácil, se fizer da maneira certa não tem como
dar errado.
BRADLEY- Certo, entendi o serviço.
OSCAR- E a propósito, você vai coletar
propina de casas noturnas rivais que me devem, por isso
não espere um buquê de rosas na entrada, se precisar
espancar alguns caras fique à vontade.
Um aperto de mão sela a conversa e os dois se
levantam da mesa a beira da praia, Oscar passa para
Bradley os endereços que ele precisará ir e as chaves de
um Mercedes que está estacionado do outro lado da
rua, nosso nobre Neófito está se adentrando ainda mais
no sub mundo vampírico, Oscar entra no seu carro com
seus capangas e sai tranquilamente pelas ruas de La
Barceloneta.
Bradley começa sua jornada, em alta
velocidade se desloca até seus objetivos ou melhor, suas
coletas, El Fort Planc, La Sagrada Família, La Sangrera,
36
Sant Andreu, em cada coleta realizada uma sensação de
dever cumprido, o respeito que Bradley estava
conquistando era diferente daquele dos ringues em que
outrora combatia seus adversários, agora é diferente, ele
sabe que pode matar, não há limites, ou leis, exceto a
máscara, o resto estava nas suas mãos, era uma sensação
de poder e controle jamais experimentada
anteriormente, próxima parada, Torre Baro, em
seguida, La Prosperidad e finalmente a última coleta da
noite, são quatro horas da manhã, o carro estaciona na
Boate Las Três Marias no bairro La Salut.
A noite está fria, Bradley desce do carro
vestindo sua jaqueta de couro no lugar do terno, em
passos largos adentra no recinto, observa que há poucas
pessoas no local devido o horário e rapidamente chega
até o balcão, o bar- man então faz a famosa pergunta:
O que vai quere meu chapa?
Bradley responde:
Quero ver seu chefe, vim pegar o pagamento
de Oscar Tabarez.
Nesse momento um cara que estava sentado
na outra ponta do balcão começa a rir de forma notória
e isso chama a atenção de Bradley.
BRADLEY- Achou alguma coisa engraçada
parceiro?
O homem responde:

37
Com certeza, acho graça em ver que o cafetão
do Oscar encontrou outro lacaio para colocar no lugar
do anterior.
BRADLEY- Lacaio? Você tem ideia de com
quem está falando seu monte de merda?
Sem pensar duas vezes Bradley arremessa
uma garrafa de cerveja que estava sobre o balcão em
direção do homem misterioso que rapidamente se
esquiva, num piscar de olhos os dois entram em um
combate corpo a corpo eletrizante, Bradley começa a
desferir socos potentes em direção a seu alvo que por
sua vez consegue bloqueá-los, as pessoas que estavam
próximas da confusão começam a correr, e um segundo
de distração do oponente é o suficiente para Bradley
acertar um cruzado de direita certeiro jogando seu
adversário sobre a mesa de sinuca, a essa altura nosso
Neófito já sabia que esse homem se tratava de um
vampiro devido a facilidade com que estava se
esquivando dos golpes desferidos contra ele.
Aproveitando que já estava sobre a mesa de
sinuca o agora vampiro recém descoberto empunha um
taco e em segundos desfere um golpe contra a cabeça
de Bradley que por sua vez coloca os dois braços sobre
a cabeça para se defender, o taco se espedaça ao se
deparar com a defesa bem executada, porém, ao fazer
este movimento a visão de Bradley foi ofuscada por
alguns segundos, uma dor muito grande toma conta de
38
seu abdômen , algo pontiagudo e afiado havia
adentrado em sua barriga, eram garras que haviam
crescido rapidamente nas mãos do vampiro que se
aproveitou do breve momento de falta de visibilidade
de Bradley para perfura-lo, o sangue jorrava pelo chão,
um golpe com o outro braço é desferido em direção a
cabeça do pupilo de Oscar pelo vampiro e novamente
levando o braço para se defender Bradley é atingido e
seu braço cortado pelas garras afiadas do vampiro, sem
forças para lutar ele cai no chão sangrando bastante,
parecia tudo perdido.
Vejo que você é mais fraco do que o seu
antecessor, não vou ter misericórdia de você assim
como não tive dele.
As garras do vampiro se levantam novamente
e descem rapidamente em direção ao pescoço de
Bradley, sem chances de defesa o que resta agora é
esperar a morte, porém, antes que o golpe final pudesse
ser concretizado um tiro de uma espingarda calibre
doze é ouvido e o vampiro que estava prestes a tirar a
vida de nosso neófito em ascensão é arremessado em
cima das mesas e cadeiras que estavam ao fundo do bar,
seu peito estava perfurado pelo projétil explosivo
atirado contra ele e agora o seu sangue que jorrava pelo
chão da casa noturna.
Que porra é essa Baltazar?
Quem chamou você aqui desgraçado?
39
BALTAZAR- Dê o fora daqui Eduardo, ou
vou descarregar essa espingarda no seu crânio.
EDUARDO- Você acha que o Ruan e o
Ramon vão gostar de saber disso?
BALTAZAR- Foda-se você e seus líderes de
merda, eu sou o xerife desta cidade e sou o responsável
por manter a ordem no território da Camarilla, esta
parte da cidade é nossa, você não achou que eu iria
deixar você matar um dos nossos dentro do nosso
território.
EDUARDO- Isso não vai ficar assim, você
tem sorte que estou sozinho, a LA BESTIA NEGRA
irá atrás de você seu Brujah de merda, e vamos atrás
desse capacho do Oscar também.
BALTAZAR- É justamente por estar sozinho
que vou deixar você ir embora, quero matar os três
porquinhos de uma vez, todos juntos, assim me
poupará o trabalho de caçá-los, agora some daqui antes
que eu mude de ideia e arranque seus miolos.
Ainda com muita dificuldade Eduardo se
levanta e vai andando vagarosamente até a porta de
saída até desparecer na escuridão da noite.
BALTAZAR- Ei cara você precisa de ajuda,
vem aqui vou levantar você.
Lentamente Baltazar senta Bradley em uma
das cadeiras que restaram inteiras e estanca seus
sangramentos.
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BALTAZAR- Você precisa de sangue para se
regenerar, ei, garçom, me traga uma bolsa de sangue, e
não finja não saber do que eu estou falando, sei que
você é um vampiro, este local é frequentado por
vampiros, então me traz essa merda logo.
A regeneração de um vampiro depende da
quantidade de sangue que ele tem no corpo, quanto
maior a quantidade de sangue perdido menor a
capacidade de regeneração, por isso é importante se
reidratar.
A cada gota bebida Bradley sente seu corpo
mais forte, seus ferimentos começam a cicatrizar, sua
visão fica melhor, e a tontura que antes sentia já não
existe mais.
BRADLEY- Então quer dizer que você é o
famoso xerife Baltazar?
BALTAZAR- Sim, sou eu, e a propósito, de
nada por salvar sua vida.
BRADLEY- Obrigado mesmo, eu teria
deixado de existir se você não tivesse aparecido, quem
era aquele cara? Por que ele queria me matar afinal de
contas?
BALTAZAR- O Oscar não teve tempo de te
ensinar as coisas garoto? Saber que você pertence a
Camarilla não resolve todos os seus problemas sabia?
Pelo contrário, você se torna alvo.
BRADLEY- Alvo de quem?
41
BALTAZAR- Não estamos sozinhos em
Barcelona, não somos os únicos vampiros e a Camarilla
não é a única Seita que reina nesta cidade, pelo
contrário, existe outra Seita não tão poderosa quanto a
nossa mais que está em ascensão, eles são conhecidos
como o SABÁ.
BRADLEY- Pensei que era só agente, achei
que estávamos no controle e que todos nos temiam.
BALTAZAR- Ei, você, já pode fechar a boate,
ninguém mais entra, quero conversar com este rapaz
sem ser interrompido, vá até os fundos e pegue a coleta
que ele veio buscar e deixe na porta de saída, levaremos
quando formos embora. Você foi transformado a
pouco tempo Bradley, aprenderá muita coisa ainda, e é
necessário que tenha pessoas para te ajudar e te dar as
informações corretas, Oscar te mandou aqui de
propósito, ele sabia que Eduardo estaria aqui, foi um
teste.
BRADLEY- E pelo visto não passei já que
quase fui morto.
BALTAZAR- Oscar não precisa saber do que
ouve aqui, é um segredo entre agente, você é experiente
quando o assunto é brigar com os punhos, porém você
precisa entender que vampiros possuem habilidades
específicas e que essas habilidades proporcionam
vantagens na batalha, Eduardo não iria te vencer se ele

42
não tivesse o recurso das garras da besta, a luta estava
dominada a seu favor pelo que vi.
BRADLEY- Eu sou um Brujah e possuo
habilidades específicas do meu clã, que são, Fortitude
ou seja, posso resistir a um ataque letal endurecendo
meu corpo, tenho também Rapidez, com isso posso
desferir um ataque com uma velocidade quase
imperceptível e presença que me permite intimidar o
oponente apenas com a minha chegada, e esse Eduardo
o que ele é?
BALTAZAR- Vejo que Oscar te falou sobre
nós visto que, eu também sou um Brujah, Eduardo é
um Gangrel, este clã é conhecido por sua empatia com
os animas e sua facilidade de despertar em si mesmo ou
nos outros sua besta interior, eles possuem uma
disciplina chamada Metamorfose que os permite
adquirir características de uma besta por isso as garras,
juntamente com mais dois vampiros, que são eles,
Diego e Daniel, respectivamente um Tremere e um
Ventrue compõe uma gangue criminosa a serviço do
SABÁ denominada de LA BESTIA NEGRA.
BRADLEY- Não sabia que esse tal de SABÁ
era tão articulado, me fale um pouco mais sobre esta
seita por favor.
BALTAZAR- Pois bem, sabemos pouco
sobre o SABÁ, mais o que sabemos já nos preocupa,
diz a lenda que esta seita foi foi criada pouco tempo
43
depois da Camarilla como forma de protesto contra a
mesma por não compactuar com os ideais visionários
de nossa seita a respeito do mundo e da sociedade
vampírica, enquanto vemos os humanos como seres
dotados de racionalidade e muito importantes no
xadrez das noites o SABÁ por sua vez, acha que eles
são seres desprezíveis, piores que animais e que
merecem ser mortos servindo de alimento pra uma
espécie superior, no caso, os vampiros, dessa forma,
não economizam na brutalidade e na crueldade no trato
com os humanos e com os vampiros que cruzam o seu
caminho.
BRADLEY- Eles também um refúgio?
Lugares onde costumam ficar e que eu não deveria ir?
BALTAZAR- Sim, há muitos anos atrás houve
um combate intenso entre nós e o SABÁ, muitos
vampiros e humanos morreram neste embate e por
causa disso decidimos fazer um acordo e dividir
Barcelona para que houvesse paz e respeito entre nós,
uma maneira de coexistirmos sem que nos matássemos,
a Camarilla ficou com o lado sul de Barcelona, o
complexo do Poblenou, El Besos e El Maresme
enquanto o SABÁ ficou com o norte, Las Tres Torres,
Sarria, Pedralbes e La Maternitat I Sant Ramon, todo o
centro da cidade é neutro, porém consideramos nosso
já que somos mais poderosos no momento, tome
cuidado onde anda para não ultrapassar as fronteiras e
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ser emboscado e morto pelo SABÁ em uma esquina ou
beco escuro de Barcelona.
BRADLEY- Você tem razão, vou me cuidar
mais, vejo que estou aprendendo rápido como as coisas
andam por aqui, com o tempo estarei pronto para
enfrentar qualquer um nessa cidade.
BALTAZAR- Vai com calma garoto! Lembre-
se que você é imortal e terá muito tempo para desafiar
quem você quiser, enquanto isso, estude, analise o
mundo a sua volta, conheça pessoas, faça contatos, não
fique totalmente dependente do Oscar ou da Camarilla,
sempre pense em um plano B se algo der errado, eu já
disse tudo que você precisava saber, são cinco horas da
manhã é melhor irmos embora antes que o sol que vai
nascer daqui a pouco nos deixe em cinzas, e garoto,
lembre-se, eu nunca estive aqui, eu nunca te falei essas
coisas, apenas pegue a coleta que veio buscar e vá
embora.
Com a sua espingarda em mãos, Baltazar se
levanta e caminha até a saída, com um andar imponente
e seus óculos escuros mesmo durante a noite ele não
deixa dúvidas de que é um vampiro muito poderoso e
que faz jus ao cargo de xerife da Camarilla.
Bradley também se levanta, sacode a poeira e
se dirige até a saída, o pacote com a coleta que viera
buscar estava ao lado da porta e rapidamente é pego por
ele, mais alguns passos e entra no carro e se dirige até a
45
sua residência para dormir e quando a noite chegar
iniciar mais uma jornada.

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47
Episódio: CONTATOS

E
i, sai da frente! Que merda de trânsito,
detesto sair pra fazer estas coletas entre
oito e nove da noite, os carros não
andam e está um calor do caralho hoje em Barcelona,
já estou levando essas propinas para o Bispo tem duas
semanas e até agora não vi a cara dele, como será que
ele deve ser?
Ao som de Linkin Park, uma banda de rock
dos anos dois mil, Bradley se dirige a catedral no bairro
La Sagrada Família para fazer a entrega desta noite para
o Bispo Dom Murillo, em meio aos carros e luzes da
cidade nosso agora vampiro mais experiente desfruta de
um novo olhar sobre a cidade e tudo que nela há,
parece que a conversa que teve com Baltazar o abriu a
mente e o inspirou a procurar contatos, é sempre bom
saber se existem outros vampiros em Barcelona e
principalmente vampiros que podem ser úteis em
alguma situação.
Nossa! Lembrei que tenho que buscar a
CARMEM, não sei o que essa prostituta tem que vale
tanto para aquele Bispo idiota, sempre ela, como é que
ele diz mesmo? Não aceito outra, tem que ser a
CARMEM e a noite inteira! Que se dane, são só vaginas
cara! Cheguei.
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BRADLEY- CARMEM, tudo bem com você?
Entra ai, seu príncipe encantado está te esperando.
CARMEM- Demorou Brad, seu carro está
sujo e ele não é meu príncipe encantado.
BRADLEY- Tudo bem, não está mais aqui
quem falou.
CARMEM—Mais já que estamos aqui, indo
para a catedral, e deve demorar uns vinte minutos até
chegarmos lá, porque não batemos um papo, já nos
conhecemos a um tempo e não sabemos nada um sobre
o outro, o que será que um cara bonito e musculoso
tem a esconder?
BRADLEY- Bom, não tenho nada a esconder,
fui uma personalidade pública durante muito tempo,
com isso tive minha privacidade invadida em vários
momentos, tudo que quiser saber sobre mim está nos
jornais ou melhor na internet.
CARMEM- Não é sobre o King Bradley
boxeador que quero saber e sim sobre o homem por
trás disso, por que deixou uma vida de fama para se
tornar um segurança de um cafetão em Barcelona?
BRADLEY- Digamos que eu estava cansado
daquilo tudo, era como se eu não existisse, as pessoas
queriam apenas meu dinheiro e como sou órfão de pai
e mãe desde muito cedo e não tenho irmãos aprendi a
ser sempre explorado por alguma pessoa, ou seja,

49
digamos que fui salvo daquela miserável vida pelo
Oscar.
CARMEM- E valeu a pena? Ser resgatado e
mudar de vida?
BRADLEY- Acho que valeu, não sei na
verdade, as vezes me pego pensando no que me tornei,
se me tornei uma pessoa melhor ou pior, sei lá, as vezes
tenho essas crises existências, se é que, não adianta nada
tê-las mesmo, visto que durarão eternamente.
CARMEM- Claro que vale a pena refletir
Brad, e você não terá essas crises para sempre, você vai
morrer um dia e ser liberto de tudo isso ou, você é
imortal?
Mal sabia CARMEM que essa sua ironia daria
lugar a certeza na cabeça de Bradley ao formular a
resposta para esta pergunta.
BRADLEY- Prontinho my lad, chegamos,
castelo encantado logo a frente e dentro dele seu
príncipe, deitado de forma sensual em sua cama de
quinze metros de comprimento com aquela cueca
samba canção que você adora.
CARMEM- Vá se ferrar Brad, peça pra me
pegarem as seis da manhã por favor.
BRADLEY- Tá falado princesa.
Após deixar CARMEM na catedral, Bradley
então começa a pensar em como conseguir contatos,
expandir seus horizontes além da Camarilla, afinal,
50
aquela cidade era grande demais para que não
houvessem outros vampiros que de alguma forma
poderiam oferecer alguma vantagem a ele neste
complicado jogo da JIHAD, já eram onze horas da
noite e todas as coletas haviam sido feitas ou seja, o resto
da noite agora era uma folga merecida.
BRADLEY- Com quem devo falar para obter
informações sobre outros vampiros? Quem na cidade
teria tamanho conhecimento a este respeito? Já sei,
como não pensei nisso antes? Vou falar com o
Bernardo, o Harpia da cidade com certeza pode me
ajudar nisso.
As onze e meia da noite Bradley parte para a
sede da Camarilla a fim de bater um papo amistoso com
Bernardo, o Harpia da seita, até então, o único membro
do alto escalão de Barcelona que havia tido um contato
direto com nosso vampiro foi o xerife Baltazar, o carro
anda a toda velocidade nas ruas estreitas de Barcelona
até chegar em El Plobenou, carro estacionado, terno
alinhado, cabelo penteado, a aparência era a única arma
que nosso postulante a grande vampiro dispunha para
convencer Bernardo a tomar um café com ele, mais
uma olhada no visual no espelho do elevador, o mesmo
se abre, decimo quinto andar, sede da Camarilla, mais
alguns passos à frente e lá estava a sala pertencente ao
diplomata da seita, três batidas na porta avisam da

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chegada de um visitante, alguns segundos depois a porta
se abre, ali estava ele Bernardo de Claravall em pessoa.
BRADLEY- Boa noite senhor tudo bem?
BERNARDO- Boa noite, em que posso te
ajudar?
BRADLEY- Bom, vou ser bem sincero e ir
direto ao assunto, quero conversar com alguém que
conheça a sociedade vampírica e seus membros como
um todo e pensei que você seria a pessoa perfeita para
isso.
BERNARDO- Você acertou, mais por que
este interesse nos membros?
BRADLEY- Digamos que preciso de alguns
contatos.
BERNARDO- A sim, entendo, por favor
entre e sente-se, vamos conversar um pouco, estou
muito ocupado mais acho que posso tirar um tempinho
pra você.
Uma sala muito decorada, vários jarros de
flores, um sofá enorme, pareciam que estavam em um
programa de tv, tipo um talk show, as obras de arte na
parede deixavam claro que realmente Bernardo era um
apreciador do belo, típico de um Toreador, o modo
com que ele se vestia também dizia muito sobre ele,
calça apertada, blusa colada, pulseiras e cordões de
ouro, parecia que o conceito de elegância para um
diplomata havia mudado, mais isso não importava, o
52
que realmente valeria alguma coisa era o que sairia da
sua boca e não como ele se vestia ou decorava sua sala.
BERNARDO- Uma taça de “vinho” para
iniciarmos nossa conversa?
BRADLEY- Obrigado, estava mesmo com
sede.
BERNARDO- Então Bradley, cria de Oscar,
o que deseja saber de mim?
BRADLEY- Como sabe meu nome e que sou
cria de Oscar?
BERNARDO- Não há absolutamente nada
que eu não saiba nesta cidade querido, tenho olhos e
ouvidos em todos os lugares, preciso estar sempre
atualizado, para que eu possa usar essas informações
para o bem da Camarilla quando necessário.
BRADLEY- Entendo, como sou um vampiro
de certa forma jovem, não possuo todo o conhecimento
a respeito dos membros que habitam nossa cidade,
preciso saber quem são os vampiros perigosos, a quem
posso me aliar, o meu trabalho exige isso visto que,
estou em permanente confronto com outros vampiros
devido a vida criminosa de Oscar.
BERNARDO- Visto que, ambos servimos a
Camarilla, vou te dar estas informações para que você
possa sobreviver, e ao mesmo tempo dar o seu melhor
pela seita, ok?

53
BRADLEY- Ficarei muito agradecido se você
puder me ajudar.
BERNARDO- Tudo tem um preço meu caro,
você ficará me devendo um favor, e vou cobrá-lo de
você quando eu achar mais adequado, pode ser?
BRADLEY- Pode ser.
BERNARDO- Pois bem, discutidos os
termos, vamos começar, a primeira coisa que você deve
saber é que a JIHAD se expandiu, não são apenas
vampiros que lutam nela e por ela, outros, como são
conhecidos entraram nesta guerra buscando seu
próprio interesse, e vou falar deles daqui a pouco, mais
antes vamos nos atentar a sociedade vampírica, temos a
Camarilla e o SABÁ dividindo o poder entre os
membros em Barcelona, porém, existem outros
vampiros que não estão em nenhuma das duas seitas,
são conhecidos como independentes, existem três deles
na cidade e que merecem destaque em nossa análise,
são eles, Xavier Silva e Lorenzo Rodriguez, ambos
Seguidores de Set, um clã muito perigoso e astuto, não
sabemos ao certo seus planos mais estamos de olho
neles, e o outro independente é Theodore Giovanni,
um vampiro do clã Giovanni, detentor da arte da
necromancia, ou seja, o contato com os mortos, este
vampiro nos interessa muito ao passo que, no futuro ele
pode nos beneficiar com seus talentos.

54
BRADLEY- Mais como eles podem
sobreviver no meio desta guerra sem escolher um lado?
BERNARDO- Theodore é muito rico, sua
família detém muito poder na Itália que é de onde ele
vem, aqui em Barcelona ele se estabeleceu comprando
ações de algumas empresas e principalmente do
Barcelona Futebol Clube, onde detém quarenta por
cento das ações do clube, com este prestígio e suas
habilidades específicas se torna perigoso uma investida
contra ele por parte de qualquer vampiro sem um
planejamento que se preze.
BRADLEY- Entendo, mas, ele seria um cara
que eu poderia me aproximar? Quer dizer, um aliado,
o que você acha?
BERNARDO- É muito difícil precisar suas
intenções, porém eu nunca achei que ele fosse um
inimigo em potencial, o vejo como um vampiro
tentando sobreviver porém, se for se aproximar dele,
mantenha seus olhos bem abertos e não vacile, ele
mantém uma aliança com Leonard um Mago.
BRADLEY- O que? Um mago? Cara isso não
existe, se é que a alguns meses atrás eu também não
acreditava em vampiros.
BERNARDO- Lembra quando me referi aos
“outros”? Qualquer um que não seja vampiro e lute na
JIHAD é denominado assim, Leonard faz parte deste
grupo, ele é um Mago muito poderoso que detém o
55
controle do Porto de Barcelona, este controle vem de
gerações em sua família, não sabemos muito sobre ele,
apenas que, ele vem de uma família de antigos piratas
que há muito tempo vieram para Barcelona e se
estabeleceram aqui, devido ao conhecimento que eles
tinham e alguns acordos escusos dos quais não tenho
conhecimento, conseguiram o controle do Porto, suas
habilidades são totalmente desconhecidas por qualquer
membro, ele sem dúvida alguma é o ser mais misterioso
e perigoso de Barcelona, evite encontrar com ele, a
menos que saiba muito bem o que está fazendo.
Neste momento Bradley se levanta e caminha
até a janela e se debruça na sacada do prédio, Bernardo
por sua vez também se levanta e se posiciona nas costas
de nosso herói, com a sua mão direita sobre o seu
ombro, ele continua a falar sobre os “outros”.
BERNARDO- Fora de Barcelona também se
escondem muitos perigos e o principal deles são os
Lupinos, durante séculos travamos uma batalha contra
eles, além de termos de nos preocupar com questões
domésticas ainda temos que nos atentar para esta
ameaça forasteira.
BRADLEY- Essa sociedade é muito mais
complexa que pensei, Magos, Lobisomens, achei que
eram apenas os vampiros que dominavam tudo, mais
acho que me enganei, pelo visto estamos a cima apenas
dos humanos na cadeia alimentar.
56
BERNARDO- Com certeza não somos tão
poderosos quanto pensávamos, pelo menos até os
ANTIDILUVIANOS serem acordados.
BRADLEY- Como assim? O que são estes
ANTIDILUVIANOS, Oscar me falou sobre eles de
forma superficial.
BERNARDO- Estes vampiros são chamados
assim devido a sua geração, são vampiros que viveram
antes do grande dilúvio bíblico, e que por conta deste
acontecimento se encontram em torpor em algum lugar
do mundo, esperando serem acordados e acabar com
tudo e com todos, e dessa forma apenas os vampiros
reinarão, este é o apocalipse vampírico que a JIHAD
tenta evitar, para alguns esta história é apenas uma
fábula, para outros uma verdade absoluta que implica
uma preparação constante dos vampiros para este
fatídico dia.
Todas aquelas revelações sem dúvida fizeram
Bradley pensar ainda mais no sentido de sua existência,
como ele sendo um vampiro tão limitado poderia fazer
alguma diferença em uma sociedade onde Magos
desconhecidos atuam sem serem descobertos e além do
SABÁ querer sua cabeça ele teria que se preocupar
com Lobisomens vorazes?
BRADLEY- Obrigado por essa conversa
Bernardo, você me esclareceu muita coisa, graças a você
me sinto mais preparado para enfrentar este mundo,
57
agora estou munido de informações preciosas, sendo
assim posso traçar um norte, uma direção,
independentemente do que a Camarilla me mande
fazer, sempre terei um segundo plano, algo que possa
garantir a minha sobrevivência caso alguma coisa dê
errado no meio disso tudo.
BERNARDO- Você está certo meu querido,
não deixe o sistema moldar você, faça suas próprias
escolhas, defina os seus objetivos, mas, nunca se
esqueça que a Camarilla vem em primeiro lugar.
Pensativo como sempre Bradley deixa o
apartamento, dentro do elevador se olha no espelho
alocado do seu lado direito procurando algum reflexo
de humanidade, tentativa inútil, o homem que um dia
viveu naquele corpo não mais existe, novamente uma
crise existencial afeta nosso vampiro, uma ansiedade
monstruosa toma conta de seu corpo, dificuldade de
respirar, parece que tudo que Bernardo o havia contado
tinha sido demais para aquela noite, ajoelhado no
elevador em movimento e se apoiando na lateral do
mesmo, uma tentativa de se levantar é frustrada devido
à enorme tontura que lhe abate, contando de um a três
e puxando o ar o mais forte que poderia naquele
momento finalmente ele consegue se levantar, o
elevador chega ao primeiro andar e a porta de abre, dois
homes entram para subir ao prédio enquanto Bradley
sai calmamente arrumando a gravata, parece que o
58
episódio claustrofóbico foi superado por assim dizer e
como de costume as coletas para Oscar continuam pela
cidade, porém ao entrar no carro e colocar a mão no
bolso do terno para retirar as chaves, um pedaço de
papel se encontra juntamente com as chaves do carro,
neste papel estava escrito CONTATOS:

Theodore Giovanni – número inexistente-


residência El Raval.
Oscar Tabarez – (48) 9578-9689
Bernardo Declaraval – (48) 9546-4536
Baltazar – (48) 9574-1245
Carmem – (48) 9523-7845
Dom Murillo – (48) 9214-7845
Filipe Passos- (48) 9574-1056
Miguel Orázio – (48) 9553-4578
Nikolas ( O feio ) – (48) 9530-9636
Ragnar- Lupino Branco- telefone inexistente,
reside nas montanhas ao norte de Barcelona.
BRADLEY- Bernardo seu safado, muito
obrigado, se tem alguém que posso confiar neste
mundo tenebroso é você, partiu coletas noturnas!

59
60
Episódio: PROVANDO SEU
VALOR

C
ala a boca e me dá esse dinheiro porra,
está cada vez mais difícil fazer estas
coletas, vocês acham que o Oscar vai
ajudar de graça? As coisas não funcionam assim, tudo
tem um preço, estou aqui a uma semana fazendo a
segurança dessa merda de casa noturna e agora querem
dar uma de espertinhos na hora do pagamento?
Não senhor, já vamos buscar o dinheiro, só um
momento.
Dias a frente de um trabalho exaustivo, brigas
atrás de brigas, fazer a segurança de uma casa noturna
onde vampiros são seus maiores frequentadores não é
nada fácil, e Bradley acabara de descobrir isso, sentado
no balcão tomando um “vinho”, nosso agora vampiro
mais experiente esperava ansioso pelo seu pagamento e
a propina destinada ao Oscar para dar o fora dali.
Está aqui senhor, a quantia exata, esperamos
ter o senhor aqui novamente semana que vem, sua
segurança foi de ótima qualidade.
Nem fudendo eu volto pra cá, um pessoal
esquisito, drogas e bagunça, da próxima vez que eu
voltar aqui tenha certeza que estarei tri louco, e em
busca de um divertimento hard core que busque
61
preencher essa minha vida vazia, no mais, até nunca, e
a propósito, vou levar uns cigarros e umas bebidas de
brinde, devido ao monte de asneiras que escutei aqui e
que não faziam parte do contrato.
Aquele carro nunca acelerou tão rapidamente
para fugir de uma situação, passados alguns minutos,
Bradley já estava estacionando em El Plobenou, a casa
noturna onde Oscar se encontrava já estava lotada e
nem era meia noite, depois de cumprimentar Orlando
o bar man Bradley se sentou do lado de Oscar com suas
encomendas e acendeu um cigarro, parecia exausto,
mais nada que lhe impedisse de curtir a noite.
OSCAR- Bom trabalho meu jovem, vejo que
depois de alguns meses você já pegou o jeito.
BRADLEY- Com certeza, depois que você
deixa de ter pena das pessoas tudo fica mais fácil,
quebrar braços e pernas já não se torna mais um peso
pra mim, pelo contrário, estou gostando disso.
Risadas tomam conta da mesa, finalmente
Oscar está vendo um resultado satisfatório em sua cria,
de fato o neófito cresceu, assumiu responsabilidades, é
dono de seus próprios atos e está pronto para assumir
as consequências que os mesmos podem implicar sobre
sua pessoa.
OSCAR- Muito bem, logo mais teremos que
ir até a sede da Camarilla, o Príncipe Leonel vai fazer
um comunicado, ele quer reunir os clãs, passar um
62
recado, não sei bem o que ele está tramando mas, temos
que estar presentes, afinal, não é todo dia que o
Príncipe resolve falar alguma coisa.
BRADLEY- Acho este tipo de reunião uma
chatice, existem telefones celulares pra isso, não temos
que ficar nos reunindo.
OSCAR- Apesar da tecnologia que possuímos
a CAMARILLA não pode abandonar suas tradições, o
confronto cara a cara não pode ser ignorado, o Príncipe
possui a capacidade de detectar as intenções de seus
membros analisando suas feições, sua linguagem
corporal, por isso ele faz tanta questão de todos estarem
presentes, e não vai ser tão ruim assim, somos poucos
membros em Barcelona, com isso essa reunião não
deve durar mais que duas horas.
BRADLEY- Assim espero, mais por outro
lado, vai ser a primeira vez que verei o príncipe
pessoalmente, quero ver se ele é isso tudo que falam
mesmo, ou é apenas mais uma marionete do sistema
vampírico.
OSCAR- Te garanto que não vai se
decepcionar ao conhecer Leonel, sem dúvida ele é um
dos melhores Príncipes que a Camarilla já teve, muito
respeitado, inteligente, e a cima de tudo pensa no bem
da seita antes de seus interesses pessoais, isso é algo
muito digno se tratando de um vampiro de alto escalão
que na maioria das vezes pensa apenas em sim mesmo.
63
CARMEM- Oi Brady, como vai você?
BRADLEY- Carmem, que prazer em vê-la my
cherry, estou ótimo e você como está?
OSCAR- Bom, vou deixar vocês conversarem,
Bradley não se esqueça de estar em nosso compromisso
daqui a uma hora, nossos sócios não gostam de esperar.
Oscar de levanta, pega seu casaco que estava
dependurado na cadeira e caminha em direção aos
fundos da casa noturna, sempre tranquilo, dois
seguranças o acompanham até a saída e entrando em
seu carro partem rumo a sede da Camarilla no coração
de El Plobenou.
CARMEM- Então, está muito atarefado estes
dias? Você deu uma sumida o que aconteceu?
BRADLEY- Muito trabalho, este foi o motivo,
nada demais, um homem como eu só pode se interessar
pelo trabalho mesmo, acho que não sou o tipo de cara
que se ocupa com pessoas interessantes, até mesmo
porque não sou interessante, ei Orlando, traga um
“vinho” pra mim por favor e troque esta música, está
muito depressiva para uma casa noturna.
Mais um trago no cigarro e a fumaça sobe pelo
ar se perdendo no ambiente, Carmem é muito bonita e
sensual, isto atrai as atenções de Bradley, porém os dois
nunca poderão ultrapassar a linha da amizade, afinal,
ele é um vampiro e ela uma humana, sendo assim, quais

64
seriam as chances dela de se tornar um café da manhã
durante uma, D.R?
CARMEM- Você é interessante Brady, só não
deixa as pessoas perceberem isso, você está tão fechado,
envolto com uma armadura que impede que as pessoas
vejam seus sentimentos, parece uma auto defesa, ou
medo de se machucar se abrindo para alguém.
BRADLEY- Você não entenderia princesa,
está muito além da sua compreensão, preciso ser este
cara forte, intransponível, o mundo que eu vivo me
obriga a ser assim, não tenho escolha, me abrir com
alguém não é uma opção viável no momento.
Um ato inesperado acontece, Carmem segura
a mão de Bradley e aperta firme ao mesmo tempo que
olha fixamente em seus olhos, uma conexão estranha é
estabelecida naquele momento, Bradley se vê
paralisado, nada podia se mexer, é como se Carmem
tivesse o colocado em um transe, mais como isso
poderia acontecer, uma humana manipular um
vampiro? Todos sabemos que é o contrário.
CARMEM- Sua mão é fria, me recuso a
acreditar que seu coração também seja gelado, me
recuso a acreditar que você não se importa, me recuso
a acreditar que não há sentimentos dentro de você
Brady, sinto uma proteção tão grande quando estou
com você, algo me diz que você é mais humano do que
muitas pessoas.
65
Bradley retira a mão de Carmem de cima da
sua, afastando a cadeira se levanta, bebe o último copo
de vinho e apaga o cigarro no cinzeiro sobre a mesa.
BRADLEY- Não há espaço para essas ilusões
no meu mundo, meu coração está trancado e nunca
mais vai se abrir porque a chave foi perdida, você é
incrível Carmem, mais não tem ideia do que eu sou,
estarei sempre ao seu lado porque vejo que você é legal,
e a propósito não entendo por que você está nesta vida,
neste submundo podre, onde pessoas comem umas
outras sem piedade, onde não há compaixão, mais isto
não é da minha conta, afinal, seremos sempre grandes
amigos.
Sem olhar para trás Bradley deixa o local e
parte para a sede da CAMARILLA, enquanto Carmem
permanece na mesa, visivelmente abatida e
decepcionada por ter exposto o que sentia e não ter sido
correspondida.
CARMEM- Você vai entender Brady, um dia
você vai entender.
A sede da CAMARILLA está em festa, afinal
o Príncipe vai falar, o alto escalão da seita está todo
reunido, uma oportunidade para conhecer de perto os
membros e um pouco de suas intenções, o auditório
está decorado, carmesim foi a cor escolhida, as cadeiras
organizadas de forma impecável, xerife, harpia e
justiçare a frente, os demais membros um pouco mais
66
pra trás, aos poucos todos vão chegando, Baltazar e
Bernardo chegam juntos e já se assentam em seus
postos, Ayslan chega logo em seguida, trajando seu
visual exótico, máscara cobrindo o rosto, um típico
ninja assassino, alguém que exala periculosidade por
onde passa, curiosamente ele é o único que não se
assenta, possivelmente porque um justiçare deve estar a
todo tempo a postos no caso de uma ameaça no local,
Oscar também toma seu assento, garçons passam pelos
membros servindo “ vinho” e alguns petiscos enquanto
o restante do pessoal chega.
BRADLEY- Que merda, tô atrasado, o Oscar
vai me matar.
Um carro estaciona ferozmente ao lado da
entrada e derruba um cone, as portas se abrem e
Bradley desce arrumando o terno e sem gravata.
BRADLEY- Droga, perdi a hora, como vou
dar esse nó na gravata agora? Que se dane, vou assim
mesmo.
A passos largos e desajeitados nosso amigo
adentra no auditório e sem querer acaba trombando
com Filipe Passos que deixa cair uma taça de vinho no
chão.
BRADLEY- Cara me desculpa, estou meio
atrasado, foi mal mesmo.
FILIPE- De boa Bradley, ficamos sabendo
que você não é muito bom com horários, mais fica
67
tranquilo temos mais uns dez minutos até o Príncipe
chegar, senta-se, vamos conversar um pouco já que
estamos em cadeiras vizinhas.
BRADLEY- Tudo bem, já estamos
devidamente acomodados, diga-me o que deseja
conversar comigo?
FILIPE- Você anda por toda a cidade, sabe de
muitas coisas e vê muitas coisas, ontem eu fui atacado
por CARNIÇAIS, me rasgaram o braço e minhas
roupas.
BRADLEY- Mais por que ter atacaram?
FILIPE- Antes do ocorrido, vi Ayslan
conversando com Nikolas no subterrâneo, não deu
para ouvir o que conversavam e passados alguns
minutos os dois deixaram o local, segui minha rotina
normalmente quando meu celular tocou, era Nikolas
pedindo por socorro, ele havia sido emboscado pelos
CARNIÇAIS, fato este compreensível visto que,
Leonard quer minha cabeça e apenas ele possui
CARNIÇAIS na cidade, rapidamente cheguei ao local
e me deparei com Nikolas ferido e sendo quase abatido,
parti pra cima dos CARNIÇAIS porém, como estavam
em maior número também fui atingido e neste
momento AYSLAN apareceu e cortou os
CARNIÇAIS ao meio salvando nossas vidas.
BRADLEY- Ainda bem que o Juatiçare
apareceu ou vocês estariam mortos não é mesmo?
68
FILIPE – É justamente isso que achei
estranho, por mais que Leonard quisesse me matar
acho pouco provável que ele mandasse CARNIÇAIS a
cidade pois sabemos que estes híbridos de animais e
vampiros servem apenas para fazer a segurança do
porto, e como eles sabiam exatamente onde Nikolas
estaria?
BRADLEY- Vendo por este lado, parece que
alguém tramou esta emboscada, é o que você acha? E
pera í, você acha que foi o Ayslan?
FILIPE – Fala baixo, não tenho provas de
nada, estou apenas especulando, achei as coincidências
forçadas demais só isso, Ayslan pode ter passado por
nós no momento do ataque e simplesmente nos
ajudado, porém algo está muito estranho na Camarilla,
estou com um mal pressentimento.
BRADLEY- Mais por que você está me
contando isso?
FILIPE – Gostaria que você fosse meus olhos
e ouvidos na cidade caso algo acontecer, o Príncipe
proibiu meus Nosferatus de andarem pela cidade,
Nikolas me disse que alguém colocou na cabeça do
Príncipe que meus espiões não são confiáveis e podem
ser facilmente comprados, por isso estou sozinho agora.
Alguma coisa dizia a Bradley que Filipe dizia a
verdade, porém seus instintos poderiam falhar, afinal,

69
vampiros manipulando vampiros é uma máxima em
nossa sociedade.
BRADLEY- Tudo bem, te manterei
informado caso eu saiba de alguma movimentação do
Leonard, ou de seus CARNIÇAIS, Ayslan é impossível
de se espionar visto que, ele é o ninja espião que mata
as pessoas, mais pode deixar, qualquer movimento
estranho que eu notar eu te aviso.
FILIPE – Muito obrigado, fico te devendo este
favor!
A luzes se apagam, todos estão reunidos,
Bernardo sobe no auditório e toma a palavra.
BERNARDO–Nobres membros pertencentes a
mais poderosa seita vampírica que pairou sobre a terra,
seita esta que nos deu a oportunidade e a dignidade
enquanto sociedade, nos deu respeito, nos deu
proteção e além de tudo nos deu esperança, de que um
dia seremos hegemônicos, uma unidade com todos os
vampiros, uma seita que nos faz sermos mais fortes,
mais unidos, uma seita que nos ensinou o significado de
irmandade, fraternidade e igualdade dos membros,
uma seita que não rejeita os seus, pelo contrário, os
acolhe e faz deles soldados, prontos para lutar nesta
guerra chamada JIHAD, e acima de tudo vencer, esta
seita se chama CAMARILLA.
Gritos eufóricos tomam conta do auditório,
misturados com aplausos, assobios, um sentimento que
70
beirava o nacionalismo humano tomava conta de todos,
uma união e pertencimento mútuos, ninguém estava de
fora, todos estavam juntos e naquele momento
pareciam invencíveis, era a primeira vez que Bradley
participava de um conselho desse nível, suas pernas
tremiam em baixo da cadeira enquanto admirava a
eloquência de Bernardo, não era atoa que ele tinha sido
escolhido para ser o HARPIA da seita, ele tinha o dom,
suas palavras não eram meras palavras, havia algo mais,
sentimentos e vontades saiam juntos com as palavras
que ele proferia, era algo magnífico.
BERNARDO – E agora, temos a honra de
receber, o nosso Príncipe, aquele que foi escolhido para
nos liderar nesta guerra e manter a seita unida, aquele
que carrega consigo o fardo de todos nós, aquele que é
responsável por manter a CAMARILLA sempre no
alto, acima de todos os opositores que sonham um dia
nos derrubar, porém sabemos, que isso não passará de
um sonho, uma utopia inalcançável, porque sempre
estaremos juntos debaixo da tutela de Leonel Dela
ventura, o PRÍNCIPE DA CAMARILLA.
As cortinas se abrem e finalmente ele surge,
todos ficam de pé e em meio as palmas Leonel é
ovacionado por todos que estão ali, ao entrar no
auditório sua presença domina todo o recinto, digno de
um vampiro de quinta geração, até mesmo os mais
velhos de seita como Baltazar e Bernardo se curvam em
71
reverência, devidamente posicionado em frente ao
microfone Leonel começa a discursar:
LEONEL – Vivemos tempos difíceis em
Barcelona, nossos inimigos nos espreitam, seus pés se
apressam para derramar nosso sangue, porém não
vamos nos dobrar a eles, não nos dobraremos a
ninguém.
O tom imponente da fala de Leonel contagia
todos que ali estão, convicto e ao mesmo tempo sereno
o Príncipe deixa claro que não há espaço para o medo
ou desconfiança.
LEONEL – Quando cheguei em Barcelona
há duzentos anos atrás, encontrei uma sociedade
vampírica jogada as traças, uns matando aos outros, não
havia disciplina, hierarquia, não haviam leis, ou melhor
havia apenas uma lei, a LEX TALLIONS, ou lei de
talião, olho por olho, dente por dente, não havia
civilidade, os vampiros que aqui estavam eram como
animais irracionais, e visto isso, a CAMARILLA
resolveu intervir, então fui incumbido da missão mais
importante da minha não vida, transformar animais em
homens, bestas em vampiros, e assim eu fiz, passaram
os anos, as coisas foram se encaixando, a hierarquia
começou a ser estabelecida de forma eficaz e enfim no
ano de mil oitocentos e noventa e oito a CAMARILLA
estava de fato formada, com as suas leis e tradições que
perduram até hoje, vários inimigos se levantaram contra
72
nós e com a mesma velocidade com que se levantaram
eles também caíram, hoje vivemos como uma
sociedade unida, convictos de que nós
restabeleceremos a ordem em Barcelona visto que, o
SABÁ está tentando perturbar o equilíbrio vigente,
mais eles não conseguirão, não enquanto estivermos
firmes, não enquanto estivermos protegendo uns aos
outros, não há dificuldade que nos abale, estamos
firmes em nossos ideais, hoje conto com um alto
escalão preparado para a guerra, BERNARDO,
BALTAZAR e AYSLAN são os líderes deste exército,
e faram tudo que puderem para leva-lo a vitória, e
enquanto a vocês membros, espero que deem tudo de
si, não poupem nem mesmo suas vidas nesta
empreitada pela hegemonia.
BRADLEY – Isto é ser um Príncipe? Motivar
a seita e passar a sensação de que são invencíveis? Acho
que não, consigo ver muito mais do que isso, consigo
ver um ideal, uma visão, a mensagem que Leonel está
transmitindo não é algo momentâneo, ele busca
impactar gerações visto que, a JIHAD está longe de
terminar, quanto peso este Príncipe deve suportar para
manter esta seita unida em torno deste ideal de
hegemonia vampírica, realmente é de admirar, quem
sabe um dia poderei ser um líder tão bom quanto ele.
Este pensamento veio como luz no fim do
túnel para Bradley, pois agora ele pode ter um objetivo,
73
almejar um posto mais alto dentro da seita, sonhar em
um dia estar na mesma posição em que o Príncipe se
encontra agora, isto é um alívio levando em conta o
quão monótona estava sua não vida.
LEONEL – Pois bem meus filhos, convoquei
este Conselho para reforçar nossa unidade e a nossa
força, quero que vocês olhem nos olhos uns dos outros
e vejam que do lado de vocês existem verdadeiros
irmãos, dispostos a se sacrificar se preciso for, se
ficarmos juntos seremos invencíveis, a Inquisição foi e
é o nosso maior inimigo, eles se levantarão contra nós,
estão nos espreitando, e para combatê-los precisamos
recrutar mais membros, o SABÁ também nos espreita,
esperando o momento certo de nos atacar, os
“OUTROS” compartilham desta mesma vontade de
nos destruir.
As feições de alguns membros começam a
mudar quando percebem que a CAMARILLA está no
epicentro da JIHAD, parece que todos estão contra a
seita, um abatimento recai sobre os menos experientes,
uma sensação de derrota antecipada visto que, seria
impossível derrotar todos os inimigos, INQUISIÇÃO,
SABÁ, os “OUTROS “, parecia que o discurso do
Príncipe era apenas para manter a moral mais que na
prática as coisas não correriam tão bem assim, detectada
esta angústia conjunta, o Príncipe mais uma vez
intervêm.
74
LEONEL – A todos vocês que acham a
missão difícil demais, que acham que não vamos
conseguir, que o fardo é muito pesado, eu tenho um
recado a vocês.
Caminhando lentamente para o meio dos
membros o Príncipe deixa a parte superior do auditório
e se dirige ao centro do salão, as cadeiras vão se abrindo
e os membros se levantando a medida que Leonel se
aproxima, uma aura de superioridade toma conta do
lugar, finalmente no centro, e com todos a sua volta,
agora sem o auxílio do microfone apenas a voz do
Príncipe poderia ser ouvida, não há mais sussurros, não
há mais conversas paralelas, gargantas ficam secas, e
respirações ofegantes, tudo isso na expectativa do que o
Príncipe iria dizer quando, em voz alta e tom forte as
palavras começam a ser proferidas:
ENQUANTO EU ESTIVER NO
PRINCIPADO, ENQUANTO ESTIVER UM
MEMBRO DE PÉ, ENQUANTO NOSSAS
MALDITAS EXISTÊNCIAS ESTIVEREM SOBRE
ESTA TERRA, NÓS NÃO NOS DOBRAREMOS,
NÃO IMPORTA QUANTOS SÃO OS INIMIGOS,
NÃO IMPORTA QUANTOS NÓS SOMOS, NÃO
IMPORTAM AS CIRCUNSTÂNCIAS,
SOBREVIVEREMOS, VAMOS NOS REERGUER
DAS CINZAS SE PRECISO FOR, LUTAREMOS
COM TUDO QUE TEMOS E COM TUDO QUE
75
SOMOS PORQUE É ISSO QUE NOS DEFINE
COMO CAMARILA.
A confiança é restaurada, se os corações destes
mortos vivos pudessem bater, com certeza estariam
acelerados, os punhos estão cerrados, prontos para o
combate, olhares firmes, parece que finamente se
deram conta do quanto esta seita é poderosa, e aquele
vampiro com aquele discurso parecia invencível.
LEONEL – EU ME DOU POR VOCÊS, E
COMO PROVA DISSO, E COMO PROVA DE
NOSSA UNIÃO DERRAMAREMOS NOSSO
SANGUE, AQUI E AGORA, RENOVAREMOS O
PACTO QUE OUTRORA NOSSOS ANCESTRAIS
FIZERAM E SELAREMOS A UNIDADE DA MAIS
PODEROSA SEITA NA FACE DA TERRA, A
CAMARILLA.
Todos se colocam em círculo, no centro ao
chão uma letra C esculpida no piso, com cerca de dez
centímetros de profundidde esperando ser completada
por alguma coisa, os punhos são estendidos todos em
cima do centro, AYSLAN vai passando com a espada e
cortando todos os punhos em sentido horário, por
último o punho do Príncipe é cortado e o sangue de
todos começa a ser derramado preenchendo o espaço
dentro daquela letra esculpida no chão, aquilo era um
símbolo de unidade, mostrava que todos são igualmente
importantes, afinal, neste momento a Camarilla possui
76
um único tipo de sangue, não há melhores ou piores e
sim membros, desta forma o conselho é encerrado, o
Príncipe volta para seus aposentos, em alguns minutos
o sangue escorre completamente e o chão volta a ficar
seco, pouco a pouco os membros vão deixando o local
e retornando cheios de coragem para encarar o mundo
lá fora.
OSCAR – Bradley vamos, temos uma missão
pra você.
BRADLEY – Pô, acabamos de passar um
conselho magnífico e você já quer me dar uma missão
agora, dá um tempinho ai.
OSCAR – Não temos tempo, é hora de você
provar o seu valor.
BRADLEY – O que? Como assim provar o
meu valor?
OSCAR – Você vai entender quando
chegarmos lá, sem mais conversa entre no carro.
BRADLEY – Tá bom, quando é assim lá vem
bomba.
Em alta velocidade mestre e pupilo seguem
para o bairro El Fort Pienc, um clima de tensão paira
dentro do veículo, um silêncio incomoda Bradley que
não aguenta a curiosidade e começa a fazer perguntas
para Oscar.
BRADLEY – Tá legal, me fala onde estamos
indo e o que vamos fazer.
77
OSCAR – Hoje você prova seu valor para a
Camarilla matando outro vampiro.
BRADLEY – Vou ter que lutar com ele, já sei,
vai ser tipo um torneio, um combate, o mais forte prova
que é o mais digno, já assiste muitos filmes assim, vai
ser moleza.
OSCAR – Não é nada disso, você não terá que
lutar, pelo contrário, fará o mínimo de esforço, um
dedo será o suficiente para disparar o gatilho e acertar a
cabeça do maldito.
BRADLEY – Mais quem é este vampiro e o
que ele fez para parar em uma situação assim?
OSCAR – Ele se chama Xavier Silva, é um
Seguidores de Set, um clã independente que a muitos
anos veio do Egito para Barcelona para se estabelecer,
ficamos sabendo que ele tramava com o SABÁ contra
nós, Baltazar conseguiu o capturar e agora estamos indo
tortura-lo em busca de informações e em seguida
executá-lo.
BRADLEY – Mais por que eu?
OSCAR – É uma forma de você ganhar o
respeito da cúpula, todos eles estarão lá, inclusive o
Príncipe, você terá alguns privilégios caso seja bem
sucedido como, poder estar em contato direto com o
Harpia e com o Xerife, ou seja, sua chegada ao Príncipe
se torna mais fácil com estes contatos.

78
O celular vibra, é uma mensagem, Carmem,
cuidadosamente o celular é retirado do bolso para que
Oscar não pudesse ver o teor da mensagem que dizia,
cuidado Brady, não confie em todos que estão a sua
volta, se cuida, beijos. Sem entender o que Carmem
quis dizer Bradley simplesmente guarda o aparelho.
OSCAR – Chegamos, vamos descer e entrar
depressa, não podemos ser vistos.
Aquele barracão velho parecia ter sido
escolhido a dedo, afastado, sujo, ninguém iria imaginar
que a alta cúpula da Camarilla estaria ali, ao entrar
mestre e pupilo se deparam com BALTAZAR,
AYSLAN, BERNARDO e LEONEL, sem contar com
um homem preso a correntes bastante machucado.
OSCAR – Senhor Príncipe, é um prazer trazer
a minha prole pra que seja provada em sua presença,
estamos aguardando suas ordens para fazer somente a
sua vontade.
BALTAZAR – Espere um pouco Oscar,
vamos ter uma última conversa com este lixo aqui, ele
não quer falar, está bancando o durão, mais vamos dar
um jeito nele.
BERNARDO – Já disse que detesto violência,
só estou aqui para relatar em ata esta seção de tortura e
execução da qual não compactuo.
BALTAZAR – Cala a boca B, você é muito
fresco, não é atoa que é um diplomata.
79
Mais uma seção de tortura começa, socos,
chutes, choques elétricos, cortes, o pobre vampiro está
à mercê de todos aqueles golpes sem nada poder fazer.
BALTAZAR – Vamos, nos conte qual a sua
relação com o SABÁ, o que você ganharia se aliando
com eles? Quais os planos deles? O que estão pretendo
fazer em Barcelona?
XAVIER – Não vou contar nada a vocês, algo
está para acontecer e vocês não poderão evitar, e
quando isso acontecer o SABÁ virá com tudo, eu sei
que eu não estarei aqui para presenciar a derrocada da
Camarilla, mais minha descendência estará.
LEONEL – O que? Existe outro Seguidores
de Set na cidade? Bernardo ordene buscas por este
meliante agora mesmo, encontre-o e traga para mim.
BERNARDO – Sim senhor, já vou ligar para
nosso lacaios.
Em meio a tosses e sangue escorrendo por
todas as partes de seu corpo Xavier continua sua
explanação.
XAVIER – É tarde demais, já está feito, o
SABÁ atacou no meio de vocês e nem se deram conta
disso, podem me matar não vou falar mais nada.
BALTAZAR – Como assim? Ninguém do
SABÁ conseguiria adentrar em nossas defesas, ele já
deve estar delirando, meu senhor peço permissão para
executá-lo, sinto que ele não nos será útil.
80
LEONEL – Permissão concedida, Oscar,
coloque sua prole a prova e vamos embora.
OSCAR – Bradley, pegue o revolver e dê um
tiro certeiro na cabeça deste maldito.
Era claro que aquela situação deixava Bradley
desconfortável afinal, ele estava acostumado a
nocautear adversários em lutas bem disputadas e
equilibradas e não a finalizar um cadáver que mal
conseguia se mexer, não era aquilo que o motivava, sua
mão trêmula pega o revolver calibre trinta e oito, puxa
o cão para trás e se prepara para dar o tiro, porém ao
olhar nos olhos daquele vampiro moribundo amarrado
em correntes uma sensação humana que a muito tempo
estava adormecida toma conta do seu ser, era pena, um
misto de compaixão e solidariedade por aquele
homem.
Vendo o que acontecia com Bradley, Oscar o
agarra pelo braço com força e fala ao seu ouvido.
OSCAR – O que está esperado? Faça isso
logo, este vampiro não merece compaixão, ele se aliou
ao inimigo contra nós, você se esqueceu do que o
Príncipe disse a uma hora atrás?
BRADLEY – Eu não posso Oscar, ele não
pode se defender, não é justo.
OSCAR – Não há justiça neste mundo
Bradley, faça essa merda logo ou nós dois
conheceremos o fio da navalha do Justiçare você será
81
enquadrado no crime de traição e como você é minha
prole me levará junto devido a tradição da progênie.
Vendo o desespero de seu mestre e pela
ligação que os dois tem, Bradley dispara um tiro
certeiro contra a cabeça de Xavier que por não ter
sangue o suficiente para uma eventual regeneração
acaba morrendo em alguns minutos, a arma é devolvida
a Baltazar e Bradley vai deixando o local, cabisbaixo,
parecia que o que tinha feito não era o correto,
apressadamente ele entra no carro enquanto aguarda
Oscar chegar.
Alguns minutos depois Oscar entra no carro,
com um ar aliviado e fumando um charuto pede para
que o motorista os leve para a casa noturna.
OSCAR – Parabéns meu filho, estou
orgulhoso de você, vamos, pegue um copo de “vinho”.
BARDLEY- Orgulhoso de mim? Pelo que?
Por matar um vampiro que já estava praticamente
morto? Corta essa Oscar.
OSCAR – Você não tem ideia do que fez, você
salvou nossas vidas e ao mesmo tempo mostrou que é
confiável, essa atitude conta muito dentro da seita, você
mostrou força, controle, e acima de tudo submissão.
Virando- se para Oscar Bradley olha nos seus
olhos e diz:
BRADLEY – Provei tudo isso que você disse
para a Camarilla, mais para mim mesmo eu provei
82
apenas que sou um covarde, que me aproveitei da
fragilidade de um vampiro moribundo e da covardia de
uma seita para cometer um crime, me sinto um lixo
Oscar, todas as lutas que venci foram suadas, foram
justas, o que eu fiz hoje Oscar, eu nunca mais farei,
nunca mais , e se por causa disso tivermos que morrer,
morreremos, pois prefiro morrer com honra do que
viver como um lixo e um capacho humano, estamos
entendidos?
Mostrando surpresa e ao mesmo tempo
admiração pela atitude de seu pupilo Oscar
simplesmente balança a cabeça concordando com os
termos de seu “filho”.
BRADLEY – E a propósito, pude constatar
que Xavier também tem um pupilo, quero me
encontrar com ele um dia e lutar com ele em memória
do seu mestre que morreu sem poder se defender,
quero uma luta justa com este descendente dos
Seguidores de Set, e provar que posso vencê-lo de
forma justa.
OSCAR – Tudo bem, você tem este direito,
mais por hora vamos voltar para a casa noturna e
descansar, tivemos uma noite exaustiva, temos que
recuperar o fôlego, e a propósito, muito obrigado.
A noite de Barcelona se torna mais densa a
cada dia, uma ameaça contra a Camarilla parece que se
levantou, planos começam a ser arquitetados de ambos
83
os lados, o SABÁ que parecia estar dormindo acordou
e está a fim de fazer uma bagunça na cidade, levando
em conta seus métodos vorazes e sem escrúpulos, tudo
leva a crer que finalmente a carnificina vai começar,
depois de um período de relativa paz, a retomada da
JIHAD parece inevitável, neste momento é bom andar
de olhos bem abertos, a confiança parece se tornar um
item raro neste conturbado cenário onde relações
precisam ser desfeitas e refeitas a todo momento, afinal,
o aliado de hoje pode se tornar seu inimigo amanhã, a
lua nunca pareceu tão cheia, será um presságio de que
os Lupinos também entraram nesta guerra? Difícil
responder estas perguntas, o tempo vai definir os rumos
desta história e seus desfechos, por enquanto Bradley
acabará sua noite na casa noturna tentando se divertir e
tentando assimilar tudo que viveu até agora.

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85
Episódio: O ATAQUE

A
noite está estranha, estou com um mal
pressentimento, antes de ir levar estas
coletas para Dom Murillo vou ligar
para a Carmem, acho que ela vai saber me tranquilizar
como sempre, com o seu jeito doce de falar, seu jeito
único de me entender, porém, não posso me envolver,
sou um vampiro e ela uma humana, que merda de
relação seria essa? Não acho que uma criatura como eu
seria capaz de se apaixonar por alguém, sendo assim,
vou me contentar apenas com a sua amizade.
Enquanto se dirigia para a Catedral, Bradley
pega o celular e faz uma ligação para Carmem, pela
primeira vez a necessidade de conversar com ela bateu
em seu peito.
CARMEM- Alô, Brady, como vão as coisas?
BRADLEY- Vou bem e você?
CARMEM- Tó ótima, mais então, que milagre
é este? Você nunca me liga.
BRADLEY- Não sei o que está acontecendo,
estou me sentindo estranho, um aperto no peito, uma
angústia, pra ser sincero eu não queria estar levando
essa coleta para Dom. Murillo hoje.

86
CARMEM- Calma Brady, deve ser apenas
uma sensação ruim, nada demais, caso você não saiba,
nós seres humanos costumamos ter dias ruins e este
parece ser o seu dia, mais tudo vai ficar bem amanhã de
manhã, você vai ver.
BRADLEY- Nunca te falei isso, mais, eu sinto
sua falta sabia? Acho que depois de tantas conversas
você finalmente me fez ver o quanto você é importante
pra mim.
CARMEM- Do que você tá falando Brady,
como assim?
BRADLEY- Espero que um dia você entenda
o porquê de eu ser tão frio com você, não te
corresponder da maneira que eu devia, por favor não
entenda mal estes comportamentos, existem coisas e
circunstâncias que fogem do meu controle e eu não ne
perdoaria se algo acontecesse a você por causa de mim.
Com certeza aquele desabafo todo tinha um
motivo, o tom de despedida daquela conversa deixava
claro o quanto Bradley estava incomodado com alguma
coisa, algo o dizia que ele não voltaria a ver a Carmem
tão cedo e ele não sabia explicar este pressentimento, o
que ele realmente queria era falar tudo que sentia antes
que fosse tarde demais.
CARMEM- Olha Brady, eu sei que seu
trabalho é perigoso, que você se esconde atrás de uma
casca protetora que te torna o cara mais durão do
87
mundo, agora lembre-se de uma coisa, apesar de você
receber dinheiro para espancar pessoas isto não faz de
você uma pessoa ruim, todos nós temos motivos para
fazer o que fazemos, e isto só diz respeito a nós
mesmos, o importante é nos reconhecermos toda vez
que nós olhamos no espelho e saber que fazemos o que
fazemos por que precisamos fazer, eu entendo que você
quer me proteger, mais por favor, proteja-se a si mesmo
primeiro, eu vou esperar o nosso momento mesmo que
demore muito, quero que você esteja preparado para o
que nós vamos viver, sem amarras, sem preocupação,
finalmente só nos dois.
Com certeza aquelas palavras entraram no
coração do vampiro de forma que fazia com que sua
voz não pudesse sair, literalmente ele ficou sem palavras
e perplexo com o que acabara de ouvir, se realmente
havia um sentimento escondido por aquela mulher,
com certeza ele acabara de despertar mais forte do que
nunca.
CARMEM- Brady, você tá í?
BRADLEY- Estou, não sei o que te dizer
como sempre, não sou muito bom com as palavras,
tudo que você me disse agora me fez me sentir muito
melhor, parece que você é sempre a luz que ilumina
meus dias mais escuros, é bom saber que posso contar
com você, que não estou sozinho e que acima de tudo

88
não estou me tornando um monstro pelas coisas que
faço, muito obrigado Carmem, por ser quem você é.
CARMEM- Não precisa me agradecer, estarei
sempre aqui se precisar, e Brady, nunca se esqueça que
você é o cara mais doce e gentil que eu já conheci.
BRADLEY- Não vou me esquecer, acabei de
chegar na Catedral, tenho que desligar, mais uma vez
obrigado, tchau querida.
O carro é estacionado nos fundos da Catedral,
com o pacote de dinheiro em mãos Bradley adentra no
recinto, o corredor é longo até os aposentos de Dom
Murillo, alguns padres cruzam seu caminho, a energia
dentro daquele lugar estava muito pesada e o suor
escorria do seu rosto, depois de alguns minutos e
algumas escadas a porta do quarto do Bispo estava a sua
frente, duas batidas são dadas na madeira maciça da
porta, depois de alguns segundos ela se abre.
DOM MURILLO- Bradley, que surpresa, não
esperava você hoje.
BRADLEY- Como assim, hoje é dia de trazer
seu pagamento.
DOM MURILLO- Eu havia mudado o dia de
sua visita, Oscar não te avisou? Mais já que está aqui por
favor entre, vamos beber alguma coisa.
Aquele convite parecia estranho demais, a
situação ali deveria ser rápida, entregar o pacote e sair e
não entrar e tomar uma bebida com aquele Bispo
89
safado, mais como a noite toda já estava muito estranha
Bradley decide entrar.
O dinheiro é colocado sobre uma pequena
mesa no canto do quarto e os dois se sentam nas
poltronas posicionadas uma a direita e a outra esquerda
do quarto, um detalhe que chama a atenção é que o
Bispo está com o celular na mão a todo momento como
se estivesse esperando uma ligação de alguém ou pronto
para fazer uma ligação caso necessário.
DOM MURILLO- Gosta de vinho Bradley?
BRADLEY- Olha aqui, eu nem sei por que
estou aqui, então para com esse papo furado e me diz
logo o que você quer para que eu possa sair deste lugar.
DOM MURILLO- Vejo que você é um
homem de poucas palavras meu caro, por isso vou
direto ao ponto, eu estou cansado de dinheiro e
prostitutas, esta vida está muito monótona, sem sentido,
parece que estou vegetando você me entende? Não
tenho um propósito definido, apenas ficar de bico
calado para que os inquisidores não descubram vocês e
ao mesmo tempo ganhar um pagamento para isso, não
quero mais este tipo de coisa garoto.
BRADLEY- O que mais você pode querer?
Tem dinheiro, mulheres, tranquilidade, está fora da
JIHAD, não tem sua cabeça a prêmio, você está em
uma posição confortável em todo este cenário, onde eu
queria estar pra falar a verdade.
90
DOM MURILLO- Você não entende não é
garoto? Um homem precisa ter ambições, e eu possuo
um poder muito grande nas minhas mãos, o poder da
informação, posso desmoronar a Camarilla a qualquer
momento apenas com uma ligação, mais para não fazê-
lo, quero mais do que já é me dado.
BRADLEY- Fala logo seu velho safado, o que
você quer?
DOM MURILLO- Quero poder! Você já
ouviu falar no livro de NOD?
BRADLEY- Que porra é essa?
DOM MURILLO- É um livro escrito por
NOD, um discípulo de CAIM, onde estão todos os
segredos dos treze clã vampíricos, o resto não posso te
dizer.
BRADLEY (pensando)-Caralho, que livro é
esse? Vou ligar para o Oscar, ele precisa saber disso.
BRADLEY- Espera um minuto, vou aqui fora
fazer uma ligação.
OSCAR- Alô, Bradley, o que quer? E onde
você está?
BRADLEY- Estou no Bispo, vim trazer a
coleta, a propósito, por que não me avisou que ele tinha
trocado o dia da entrega?
OSCAR- Desculpe garoto, acabei esquecendo,
fala logo o que quer, estou ocupado.

91
BRADLEY- O bispo está se revoltando, ele
não quer mais o dinheiro e as mulheres para ficar
calado, ele quer poder, e está me contado de um tal de
livro de NOD, ao que parece ele quer este livro, parece
que contém os segredos dos treze clãs.
OSCAR- E o que mais ele te falou?
BRADLEY- Só isso, disse que não vai me falar
mais nada, o que devo fazer?
OSCAR- Retire o máximo de informações
dele para mim, e se necessário use a força, me
mantenha informado, até mais tarde.
A porta novamente se abre, ao entrar, Bradley
se depara com o Bispo falando ao telefone, que
rapidamente é desligado ao perceber que
aparentemente não era mais seguro manter a ligação em
curso, estava claro que havia algo errado, ligações
secretas de ambos os lados indicavam que ações as
escondidas estavam sendo planejadas também de
ambos os lados, os dois se olham nos olhos, um clima
de tensão toma conta do quarto, Bradley arrasta as
cadeiras e deixa o centro do quarto livre, ele vai precisar
deste espaço, o tapete também é puxado afinal, daria
trabalho lavar o mesmo caso ele fosse manchado pelo
sangue do Bispo que está prestes a ser derramado, Dom
Murillo parece perceber o que está para acontecer,
movimentos típicos de um torturador preparando o
terreno acabaram de ser feitos, o suor escorre em seu
92
rosto, o medo se apossa de seu corpo que em meio a
esta tensão não consegue se mexer, desse modo não há
mais escolha, e o tempo está passando, Bradley se
aproxima rapidamente, dois socos são desferidos, um
no estômago e outro do lado esquerdo do rosto do
Bispo, o mesmo se ajoelha de dor sem poder dizer uma
palavra, segurado pelo pescoço e levantado de forma
agressiva seu corpo parece um brinquedo nas mãos
daquele vampiro.
BRADLEY- Se você não quer morrer me fala
logo que merda de livro é esse.
DOM MURILLO- Seu vampiro de merda,
você acha que me torturando você vai conseguir com
que eu fale alguma coisa?
BRADLEY- Acho!
A sessão de espancamento começa, socos e
chutes são desferidos, o sangue escorre pelo chão do
quarto, o Bispo não pode gritar visto que, seria muito
difícil explicar para a cúpula da igreja o que um vampiro
fazia em seu quarto ou melhor, como um vampiro teve
livre acesso a igreja.
BRADLEY- Você é resistente, mesmo com
alguns dentes quebrados você se mantém firme, te
admiro por isso, porém dadas as circunstancias terei
que mudar o meu método, vou sair dos socos e chutes
e vou passar para fraturas expostas, que tal começarmos

93
pelo seu braço? Vou quebra-lo em dois lugares e daí
vamos ver se o seu bom senso o fará falar.
Neste exato momento a porta é aberta, um
homem adentra no quarto, parece que ele tinha uma
cópia da chave pois a porta estava trancada, este homem
não é estranho, ele estava no Concílio da Camarilla, ou
seja, é um vampiro, Bradley o reconhece, ele é Miguel
Orázio, um Malkaviano pertencente ao clã.
MIGUEL- Vou fechar a porta, afinal, não
quero que ninguém escute e venha participar da nossa
festinha não é mesmo?
DOM MURILLO- Por que você demorou
tanto? Estou prestes a ter os braços e pernas quebrados
por este demônio.
MIGUEL- Bradley, solte o Bispo agora e
vamos embora, essa seção de tortura acaba aqui, não
importa o que você pretende extrair dele, este não é o
modo mais adequado de fazer as coisas.
BRADLEY- Não respondo a você, seu
Malkaviano de merda, agora que comecei vou até o fim
com isso, preciso saber o real motivo pelo qual este
Bispo safado está nos chantageando.
MIGUEL- Você não entende, ele pode
acionar a inquisição pelo que você fez a ele, teremos um
longo caminho de negociações para que isso não
aconteça, Alfred, o que você acha que devemos fazer?

94
Estou tentando conversar com este cara, mais ele não
quer ceder.
BRADLEY- Quem é Alfred, você tá louco?
Que se dane vou acabar logo com isso.
Rapidamente Bradley se move até o Bispo,
que por sua vez se afasta, com isso, Miguel consegue
interceptar Bradley e usa uma de suas mais temidas
habilidades, a voz da loucura, ao entrar em contato com
o seu oponente, o primeiro passo para o Malkaviano é
estabelecer um contato visual com sua vítima, isto
aconteceu com êxito até o presente momento visto que,
houve uma conversa entre os dois e ambos trocaram
olhares, no momento em que Bradley partiu para cima
do Bispo e foi interceptado o contato visual foi
concretizado, a dominação imposta pelo Malkaviano é
letal, Bradley já não está mais em si mesmo, parado e
em transe o Brujah se torna um alvo fácil.
BRADLEY- Onde estou? Parece Barcelona,
porém está toda devastada, como se tivesse ocorrido
um atentado o que levou a um cenário pós apocalíptico,
quem são esses caras? Parecem soldados biológicos,
toque de recolher, que merda de aviso é esse pregado
no poste?
Atenção, o Cardeal está chegando, quem
estiver nas ruas entrem para as suas casas.
BRADLEY- Vou me esconder atrás deste
carro velho, Cardeal, o que será isso?
95
De dentro da escuridão da noite, sai um
homem mais velho vestido com vestes da igreja
segurando um Lobisomem por uma corrente, algo
surreal, como pode um homem domesticar um
Lobisomem?
BRADLEY- Caralho, que porra é essa? Um
Lobisomem a serviço dos humanos, onde eu estou? O
que está acontecendo.
Um tiro é disparado no peito de Bradley, o
mesmo acorda do torpor induzido pelo Malkaviano,
este breve momento foi o suficiente para que o Bispo
fosse até seu armário e pegasse uma espingarda e
atirasse contra o peito do vampiro.
MIGUEL- O que você está fazendo Murillo,
ficou louco?
MURILLO- Você acha que eu ia deixar barato
o que ele fez comigo?
A besta interior do Brujah é despertada, em
questão de segundos o Bispo estava sendo dilacerado
pelas mãos de uma vampiro incontrolável, a sede de
sangue fazia com que cada golpe desferido contra
aquele humano fosse de uma brutalidade jamais vista
até aquele momento.
MIGUEL- Que droga Alfred, (amigo
imaginário do vampiro provocado por sua loucura) do
jeito que ele está ele pode nos matar também, como vou
pará-lo? Que merda que este bispo foi fazer, vou ter que
96
me arriscar porque do contrário vamos colocar todos os
plano da Camarilla a perder, não posso deixar que isso
aconteça.
Miguel segura Bradley pelas costas e o joga
contra a parede, rapidamente se aproxima e o pressiona
no guarda roupa, Bradley com um soco perfura a
barriga de Miguel que por sua vez segura seu braço
contra si mesmo para que ele pudesse ganhar tempo
para aplicar outra habilidade nele, o Assombro é
aplicado, esta habilidade permite que o Malkaviano
acione os sentimentos de sua vítima, fazendo com que
sejam potencializados ou diminuídos, neste caso a raiva
que Bradley está sentindo devido o despertar de sua
besta interior aos poucos é aplacada e sua consciência
lentamente vai voltando ao normal.
BRADLEY- O que eu fiz? Cadê o Bispo?
MIGUEL- O que você fez? Você fez a maior
merda da sua vida, acho que não existe mais um Bispo
e sim um cadáver mutilado jogado no canto da parede,
por que você não me ouviu quando te pedi para irmos
embora?
BRADLEY- O que vamos fazer?
MIGUEL- O que você vai fazer, essa merda
não é minha não, dê um jeito de sumir com este corpo,
limpe este lugar, e pense como consertar isso,
infelizmente vou ter que reportar este pequeno
incidente a cúpula e eles decidirão o que fazer com
97
você, enquanto isso sugiro que você fuja e se esconda,
acompanhe as coisas de longe e além do mais você deve
ter algum amigo que você possa confiar.
BRADLEY- Vou limpar esta bagunça e
procurar um lugar pra ficar.
MIGUEL- Eu e o Alfred estamos indo, boa
sorte, porque você vai precisar.
As coisas complicaram muito para o Bradley,
depois que ele desovou o corpo e limpou aquele lugar
uma angústia tomou conta do seu ser, uma ansiedade,
afinal, ele não sabia o que estava por vir, com certeza a
Camarilla não iria deixar essa situação como está, sua
cabeça estaria a prêmio a qualquer momento, o mais
seguro para ele era se refugiar nas montanhas até
conseguir pensar no que fazer, mais como se não
bastasse, as más notícias não paravam de chegar, seu
telefone toca e pela primeira vez ele sentiu medo de
atender, mais era inevitável, fugir não resolveria o seu
problema, e talvez aquele ligação serviria para alguma
coisa.
BRADLEY- Alô.
OSCAR- Bradley, escute com atenção, o
príncipe sofreu um atentado, foi cravada em seu peito
uma estaca de carvalho branco, esta estaca o coloca em
torpor por um tempo indeterminado, os líderes da seita
estão dizendo que o autor deste atentado é Filipe
Passos, pois foi encontrado um pedaço de sua roupa e
98
vestígios de seu sangue no corpo do príncipe,
BALTAZAR assumiu o principado provisoriamente e
convocou uma caçada de sangue a fim de eliminar
Filipe, o seu caso também foi julgado, e nós dois fomos
condenados visto que você é minha prole, eu vou ser
morto, mais antes disso quero te contar algo.
BRADLEY- Eles não podem matar você, eu
fiz a merda sozinho.
OSCAR- Cala essa boca e escute, existe uma
lenda chamada Golconda, esta lenda diz que a
Golconda é um estado em que o vampiro deixa de ser
um amaldiçoado e se transforma em um abençoado,
não sei como isso acontece, mais dizem que o vampiro
ganhas várias habilidades, e uma delas é poder sair
durante o dia.
BRADLEY- Onde eu encontro essa
Golconda? Com quem devo falar a respeito?
OSCAR- Não sei, você deve descobrir esta
parte sozinho, pense em um vampiro que pode ter este
conhecimento e vá atrás dele, mais lembre-se, ninguém
mais é confiável, a Camarilla desmoronou e o SABÁ
vai vir com tudo, eles vão se aproveitar da fragilidade
momentânea da seita e atacar.
BRADLEY- Você acredita que Filipe atacou
mesmo o Príncipe?
OSCAR- Eu não sei, mais com certeza teria
que ter sido alguém muito próximo a ele, alguém que
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ele confiasse, Leonel não iria ser pego de surpresa por
qualquer um, mais chega de conversa, vou me preparar
para o inevitável, e você, corra atrás desta lenda que é a
Golconda porque ela é tudo que você tem agora.
BRADLEY- Eu vou dar um jeito em tudo, eu
prometo, acho que sei como trazer o Bispo de volta, um
necromante poderia me ajudar, e eu sei onde encontra-
lo.
OSCAR- Faça como quiser, a partir de agora
você está sozinho.
O telefone é desligado, Bradley olhava para os
lados e não via esperança, parado de baixo do viaduto
no Bairro La Sagrada Família, aquela noite parecia a
mais sombria de todas, a lua iluminava a cidade como
um farol, os carros indo e voltando, poucas pessoas
andando nas ruas, o que lhe restou foi se sentar no meio
fio, tentando raciocinar, entender o que estava
acontecendo e achar uma solução, afinal, como ele
poderia apostar todas as suas fichas em uma lenda
urbana a respeito de uma benção vampírica, algo que
nunca foi provado, o mais sensato no momento seria
focar em como trazer o Bispo de volta, como traze-lo
dos mortos e faze-lo ocupar o cargo novamente? Boa
pergunta, e apenas um vampiro àquela altura poderia
responde-la.
Telefone quebrado, terno jogado no chão,
apenas um casaco o vestia, foi deste modo que nosso
100
amigo saiu caminhando pela cidade até a residência de
Theodore Geovane, o único que poderia ajuda-lo
naquele momento.
KARMA- A história começa ganhar maior
complexidade e novos personagens deverão aparecer,
preciso deixar um pouco de lado nosso amigo Bradley
e a confusão que ele se meteu para me dedicar a
mostrar a história de outros ângulos, afinal, precisamos
saber o que o SABÁ está planejando, Rhuan e Ramon
com certeza vão agir enquanto os membros da
Camarilla vão se dedicar a encontrar quem atacou o
Príncipe, Leonard também irá se movimentar, Filipe
seu arqui-inimigo está enfraquecido e ameaçado por
todos, uma ótima hora para tomar o controle de todo o
contra bando em Barcelona, e para isso ele vai precisar
se associar a Theodore Geovane, parece que os dois
tem muita coisa em comum em meio a toda esta guerra,
preciso de mais café, pelo visto estamos apenas
começando a desbravar este mundo obscuro por isso se
preparem a noite vai ser longa.

101
102
Episódio: INICIAÇÃO

E
xiste uma seita que não aceita a ordem
vigente, não segue padrões, vive uma
não vida baseada em seus próprios
princípios, a liberdade de seus membros a cima de
tudo, a carnificina nunca foi um empecilho para eles,
pelo contrário, é um modo de dizer a todos que fazem
de tudo pelo poder, matar ou morrer, uma constância
que parece dar muito prazer, estou me referindo ao
SABÁ, criado a partir da contra revolução vampírica no
século XVI, uma oposição a Camarilla, na verdade um
recado ao vampiros, como se dissessem, vocês não
precisam seguir ordens, não precisam seguir uma
máscara que os impede de serem quem vocês são,
somos superiores, uma raça dominante e não devemos
nos esconder.
Seguindo estes ideais visionários a seita
angariou muitos membros, uma liberdade tentadora em
um mundo onde os vampiros vivem nas sombras, em
Barcelona se estabeleceram no século XIX obtendo
muito sucesso, vários ex membros da Camarilla se
juntaram ao SABÁ, alguns buscando refúgio depois de
fazerem merda e serem caçados pelo Justiçare e outros
buscando apenas experimentar desta liberdade que esta
103
seita proporcionara, seus líderes Rhuan e Ramon
permaneceram articulando planos para atacar a
Camarilla e tomar o poder e parece que esta hora
chegou, nada melhor que atacar o adversário em um
momento de crise, mais para isso, era preciso
conquistar um novo membro, um vampiro que vinha
sendo observado por Ramon a algum tempo, um
Seguidores de Set que poderia ser muito útil, afinal, seu
mestre havia sido assassinado pela Camarilla e o SABÁ
tinha esta informação, um cão raivoso procurando por
vingança seria mais fácil de controlar, e assim o SABÁ
partiu para encontrar este novo membro em potencial,
mais antes disso, voltemos um pouco no tempo, quero
falar mais sobre Lorenzo Rodrigues e sua importância
neste jogo de xadrez.
Lorenzo veio do Egito muito pequeno, seus
pais morrerão quando ele tinha apenas dois anos, sendo
assim ele foi adotado por um casal inglês com que
permaneceu até seus doze anos, devido seus atos de
indisciplina e envolvimento com drogas foi abandonado
em Barcelona pelos seus pais adotivos durante um
passeio de férias, sem família e um lugar para morar foi
obrigado a se virar para viver, roubos, assaltos, ele tinha
que conseguir dinheiro de alguma forma, certo dia ele
se encantou com uma tatuagem de um amigo e o
perguntou onde ele tinha feito, este amigo o levou ao
estúdio em questão, o estúdio pertencia a Xavier Silva,
104
um Seguidores de Set que também havia vindo do Egito
e se estabelecido em Barcelona, comovido com a
história do garoto, Xavier o adotou e o abraçou, agora
Lorenzo era prole e Xavier seu senhor, uma amizade se
desenvolvia naquele momento, Lorenzo aprendeu a
tatuar e começou a administrar o estúdio, a partir
daquele momento as coisas mudaram para aquele
garoto, e a vida corria perfeitamente.
O estúdio e residência de Lorenzo e Xavier
ficava em Les Corts, lugar tranquilo, área residencial e
empresarial, lugar perfeito para uma atividade
empreendedora como um estúdio de tatuagem, tudo
corria bem naquela noite de segunda feira, um cliente
satisfeito acabava de sair ostentando sua nova tatuagem
pela rua, Lorenzo acabara de fazer uma verdadeira obra
de arte, sendo assim, se aproximou da janela e começou
a olhar o movimento da cidade, uma noite tranquila,
propícia para tomar uma cerveja, e assim ele fez, pegou
uma lata dentro do frigobar e acendeu um cigarro, eu
sei que vampiros não podem com álcool e tabaco
porém, em pequenas quantidades isso não causa dano
ao morto vivo.
LORENZO- Já são quatro horas da manhã e
Xavier não chegou, o que será que ele tá fazendo?
Passos são ouvidos subindo a escada e de
repente a porta se abre, Xavier acabara de adentrar no

105
estúdio, lentamente ele tira o casaco e o coloca sobre a
mesa e puxa uma cadeira e senta.
XAVIER- E ai meu chapa, posso tomar uma
cerveja com você?
LORENZO- É claro, vou pegar pra você.
LORENZO- Então, aonde esteve, você está
andando muito sumido ultimamente, aparece pouco no
estúdio, alguma coisa o perturba?
XAVIER- Como tenho total confiança em
você vou te contar o que está acontecendo, tenho
passado estes últimos dias observando um vampiro da
Camarilla, Filipe Passos, ele é um Nosferatu
contrabandista que Leonard quer muito eliminar.
LORENZO- Por que ele quer eliminá-lo?
XAVIER- Filipe representa uma ameaça para
os negócios escusos de Leonard, seus contrabandos, sua
venda de droga, tráfico de pessoas, uma vez que Filipe
também faz tudo isso a concorrência aumenta e
Leonard está tendo perdas consideráveis, como sou um
Seguidores de Set e posso me transformar em cobra
acabei me transformando em um espião perfeito para o
Leonard, sendo assim estou passando informações para
ele em troca de favores e dinheiro.
LORENZO- Isto é perigoso, tome cuidado, se
você for pego eles vão te matar.
XAVIER- Não se preocupe, Leonard me disse
que existe um infiltrado trabalhando dentro da
106
Camarilla, este infiltrado trabalha também para o
SABÁ, é um agente duplo, ele não vai deixar que nada
aconteça comigo caso eu seja pego.
LORENZO- Este infiltrado trabalha para o
SABÁ e não para o Leonard, ele não tem nenhum
interesse em te manter vivo.
XAVIER- É ai que temos a cartada meu caro,
estou passando a informações também para o SABÁ,
ou seja também sou um agente duplo, Leonard e o
SABÁ se beneficiam com a minha espionagem.
LORENZO- Você sabe o que está fazendo,
mais por favor não seja pego por eles, preciso de você,
eu não tenho ninguém, só tenho você, não sei como eu
ficaria caso te perdesse.
XAVIER- Não se preocupe, estou me
cuidando, porém, se algo acontecer comigo, abra o
cofre que está no terraço, tem uma coisa lá dentro para
você, mais lembre-se, abra apenas se algo acontecer
comigo, entendeu?
LORENZO- Entendi.
As cervejas acabaram e o papo também,
Xavier se levanta e sai novamente enquanto Lorenzo
termina de lavar seus instrumentos de trabalho, mais
uma noite vai terminando e a busca por poder e sangue
também.
Passados alguns meses e tudo toma seu fluxo
normal, Lorenzo percebe que Xavier está cada vez
107
demorando mais em suas missões, algo está errado, já
faz uma semana que ele não volta desta última
empreitada, ele nunca havia ficado tanto tempo assim
fora de casa, as noites estão ficando mais obscuras e
inquietas, o cheiro de sangue paira no ar, no fundo,
Lorenzo sabe que o SABÁ e a Camarilla estão se
articulando, porém, como ele é um independente, não
liga muito pra isso.
LORENZO- Não posso ficar parado aqui
dentro deste apartamento enquanto Xavier está perdido
por ai, e se a Camarilla o tiver pego? O que eu vou
fazer? Eu disse que o que ele estava fazendo era
arriscado demais.
Apressadamente Lorenzo veste sua jaqueta e
desce as escadas do prédio, fumando um cigarro sai
caminhando pela rua sem saber direito para onde ir, o
celular de Xavier está desligado, não é um bom sinal.
LORENZO- Onde ele deve estar? Não tenho
ideia, já sei, vou até o porto, com certeza Leonard vai
saber onde ele está.
Depois de alguns minutos e passando por
bairros como, Sants e La Marina de Port, Lorenzo
chega até o porto de Barcelona, o refúgio do Mago mais
poderoso de que se tem notícia, ao adentrar neste
complexo portuário Lorenzo se depara com altos
portões e centenas de containers e mais ao centro do
porto a área administrativa onde Leonard fica, em cima
108
dos containers carniçais estão de vigia e prontos para
atacar ao menor sinal de ameaça vindo de fora dos
portões, nosso amigo não tem escolha a final ele queria
descobrir onde seu mentor estava e por isso toca o
interfone em busca de informações.
LORENZO- Tem alguém ai? Leonard, quero
falar com você.
Uma voz sai do interfone dizendo, entre ele
está te aguardando.
O portão se abre e Lorenzo caminha em
passos largos em direção ao prédio administrativo no
centro do porto, lá chegando vai direto até a porta
principal, sem demora a porta é aberta e seus passos vão
em direção a Leonard que está sentado atrás de uma
mesa no centro da sala.
LEONARD- O que quer aqui garoto?
LORENZO- Eu sei que Xavier trabalha para
você e para o SABÁ ao mesmo tempo, ele sumiu, tem
uma semana que não volta pra casa, onde ele está?
LEONARD- Por que eu saberia? Só porque
ele trabalha pra mim? Não tenho satisfações para dar
para você garoto, é muita ousadia entrar em minha casa
e me interpelar dessa forma.
LORENZO- Você não faz ideia do quanto
Xavier é importante para mim, ele me deu tudo que eu
possuo de mais valioso, amizade, família, tenho que

109
encontra-lo custe o que custar, você me ajudando ou
não.
LEONARD- Xavier não trabalha mais para
mim, ele já me deu a informação que eu queria a
respeito de Filipe Passos, agora Xavier não passa de um
vampiro independente perambulando por ai, não tenho
ligações com ele neste momento.
LORENZO- E que informação tão valiosa é
esta a ponto de colocar a vida do meu mentor em risco,
posso saber?
LEONARD- Como você é uma carta fora do
baralho não faz mal eu te contar, Xavier descobriu que
Filipe está com o livro de NOD, para mim ele de nada
serve, mais nas mãos do vampiro certo ele pode ser
muito valioso.
LORENZO- Isto não me importa mesmo, vou
continuar minha procura por Xavier, obrigado por me
receber.
A noite adentro Lorenzo procura por Xavier
sem sucesso, passando por vários bairro de Barcelona,
hospitais, necrotérios, boates, tudo em vão, Xavier
parecia ter realmente desaparecido do mapa, o que lhe
restava era voltar para a casa e esperar, e assim ele faz,
desanimado Lorenzo sobe as escadas de seu
apartamento, abre a porta e entra, senta no sofá e tenta
afogar sua tristeza em uma garrafa de cerveja, mais algo

110
ali não estava normal, uma presença estranha estava
dentro daquele apartamento e ele sentiu isso.
LORENZO- Tem alguém ai? Apareça
maldito, sei que você está ai.
Das sombras começa a sair um homem,
tomando forma, Lorenzo assustado deixa a garrafa de
cerveja cair no chão sem acreditar no que estava vendo,
como uma sombra poderia dar forma a um homem?
RHUAN- Muito prazer criatura da noite, meu
nome é Rhuam, sou um dos líderes do SABÁ, estive a
sua procura.
LORENZO- Me procurando? O que você
quer de mim?
RHUAN- Venho te trazer más notícias garoto,
sem mentor foi assassinado!
LORENZO- O que? Você só pode estar
brincando, quem fez isso com ele e por que?
RHUAN- Acho que você sabia dos negócios
que seu mentor tratava com Leonard e com o SABÁ
não é mesmo? E ao mesmo tempo os riscos que ele
estava correndo, pois bem, ele foi pego pela Camarilla
e executado.
LORENZO- Eu não acredito, Xavier nunca
seria pego, ele é muito experiente e forte, não pode ser.
RHUAN- Graças ao nosso infiltrado na
Camarilla tive acesso ao vídeo da execução, você quer
assistir e ver com os seus próprios olhos?
111
O celular é colocado sobre a mesa de centro e
o vídeo é reproduzido, não havia dúvidas, aquele
homem sendo assassinado era Xavier Silva, o ódio e a
revolta tomaram conta de Lorenzo naquele momento,
um soco na mesa é desferido e lágrimas caem do rosto
do vampiro, desolado ele se ajoelha no chão, sem
esperanças, acabou, ele havia perdido sua única família,
seu lar não era mais o mesmo, sua vida acabara de
perder o sentido naquele momento.
RHUAN- Sei que é um duro golpe para você
mais nem tudo está perdido, posso te oferecer um novo
lar, e acima de tudo posso te oferecer vingança contra
aqueles que tiraram tudo de você.
Naquele momento nada mais importava,
porém aquela oferta pareceu muito tentadora ao passo
que, para aplacar sua ira Lorenzo deveria descarrega-la
no algoz de seu mentor, só assim ele poderia retomar a
sua paz interior.
LORENZO- Você quer que eu me junte ao
SABÁ?
RHUAN- Sim, venha conosco, vamos
derrubar a Camarilla de uma vez por todas, o primeiro
golpe já foi dado, o Príncipe deles foi apunhalado pelo
nosso infiltrado, a seita está em crise, sem líder,
desestruturada, aos poucos vão matar uns aos outros e
é ai que nós entramos.

112
LORENZO- Quem é esse cara que matou me
mestre?
RHUAN- Seu nome é Bradley, um cão de
caça da Camarilla que a esta altura está sendo caçado
pela morte do Bispo Dom Murillo e a quebra do
acordo entre a igreja e seita.
LORENZO- Quero matá-lo com minhas
próprias mãos, me proporcione isto e irei ao seu lado
para onde for.
RHUAN- Venha garoto, posso te
proporcionar muito mais do que isso, vamos até nossa
seita e iniciaremos você oficialmente no SABÁ, o que
me diz?
Um olhar penetrante e um balançar de cabeça
já deixava clara a decisão que Lorenzo havia tomado,
não tinha mais volta, a vingança havia tomado conta do
seu coração e apenas a morte de Bradley o satisfaria.
Os dois deixam o apartamento e se dirigem a
sede do SABÁ localizada no bairro Pedralbes, ao
chegarem se deparam com alguns vampiros já iniciados,
o lugar é sinistro, um casarão abandonado, sujo e
bagunçado, pelo menos por fora, de forma devagar os
dois entram no casarão pela grande porta da frente, por
dentro o casarão parece uma igreja católica, cheia de
candelabros, bancos bem posicionados e um púlpito a
frente, duas escadas levam aos andares de cima e
corredores levam para o interior da casa, alguns
113
vampiros vão chegando e se aglomerando, o salão
principal que há pouco estava vazio começava a encher
de mortos vivos, Rhuan sobe a tribuna e começa a
discursar.
RHUAN- Meus companheiros de seita, como
é bom vê-los aqui novamente, estamos reunidos para
uma ocasião muito especial, vamos iniciar nosso mais
novo desordeiro, Lorenzo Rodriguez, um Seguidores
de Set que nos será muito útil em nossa empreitada
rumo a liberdade, por favor tragam a oferenda de hoje.
Neste momento Ramom, o Tizmisce líder da
seita entra no salão com uma mulher totalmente nua, a
mesma se encontrava em pânico sem saber o que estava
acontecendo, ou melhor, no fundo ela sabia que iria
morrer e não seria uma morte rápida, outros dois
vampiros trazem uma mesa e juntos deitam a mulher
sobre ela amarrando seus braços e pernas com cordas
aos pés da mesa, o choro daquela mulher era agoniante
porém, para os membros do SABÁ o desespero que ela
apresentava era música para os seus ouvidos.
RHUAN- Muito bem, vamos dar início ao rito
de iniciação, para cada juramento que Lorenzo fizer
uma parte do corpo dessa linda donzela será arrancada.
Ao ouvir esta oratória aquela mulher chorava
copiosamente sobre a mesa, Lorenzo se mostrava
firme, não se deixava abalar pela situação pois para ele
nenhuma vida importava nem mesmo a dele.
114
RHUAN- Lorenzo, repita comigo o primeiro
juramento.
RHUAN – LORENZO – Jamais nos
dobraremos ao julgo daqueles que acham que podem
por alguma razão impor regras e limites sobre a ordem
vampírica seja de qualquer espécie.
Ao acabar de repetir o juramento Lorenzo
assiste um braço daquela mulher sendo decepado com
um golpe de machado pelo lacaio ali presente, o grito
de dor que saia da boca daquela jovem arrepiaria
qualquer ser humano que sente ao menos um pouco de
compaixão pelo outro, mais como eu disse, aqueles
seres que estavam ali naquele momento perderam este
sentimento faz tempo.
RHUAN- Vamos ao segundo juramento.
RHUAN- LORENZO- Jamais fuja de uma
luta, mesmo que ela pareça perdida jamais retroceda,
não há honra em fugir, melhor morrer lutando do que
viver com o peso de que foi derrotado em vida.
O braço restante daquela jovem acaba de ser
arrancado com outro golpe de machado, a perda
permanente de sangue faz com que ela desmaie.
RHUAN- Vamos para o terceiro juramento.
RHUAN- LORENZO- Jamais abandone um
companheiro de batalha, seu irmão daria a vida por
você e você daria sua vida por ele, se dois saíram juntos

115
pela noite sombria deste mundo, dois terão que
retornar antes do nascer maldito do sol.
A perna direita é decepada e a cena que já era
muito forte fica ainda pior, os vampiros que estão
assistindo tudo aquilo vibram a cada golpe desferido e
a cada gota de sangue que cai no chão do salão.
RHUAN- Vamos para o quarto juramento.
RHUAN- LORENZO- Jamais poupe uma
vida humana, não importa o motivo, os humanos são
impuros e merecem a morte como forma de punição
pelos seus atos irresponsáveis e mesquinhos dentro da
humanidade.
O machado desce outra vez, o sangue espirra
nos pés de Lorenzo e a perna esquerda daquela mulher
acaba de ser separada de seu corpo.
RHUAN- Agora o quinto e último juramento.
RHUAN-LORENZO- Jamais poupe a vida de
um membro da Camarilla, eles conseguem ser mais
desprezíveis do que os humanos, jamais se rebaixe a um
deles, jamais sigam suas ordens e a cima de tudo os
considerem como nossos maiores inimigos na face da
terra, para eliminá-los faremos de tudo.
Uma decapitação fecha com chave de ouro o
rito de iniciação, os vampiros agora bebem todos juntos
do sangue daquela jovem sacrificada inclusive Lorenzo,
como forma de selarem uma união entre todos eles, e
como se não bastasse praticam um canibalismo em
116
conjunto ao comerem todas as partes arrancadas, um
final digno de uma seita que não tem nenhuma
dignidade.
RHUAN- Vamos Lorenzo, tenho uma missão
pra você.
LORENZO- Acabei de entrar e já vai me dar
uma missão?
RHUAN- Claro, não podemos perder tempo.
RHUAN- Bom, nós sabemos através do nosso
informante que um Nosferatu da Camarilla chamado
Filipe Passos está de posse de um livro chamado o livro
de NOD, este livro contém todos os segredos dos treze
clãs, se nós conseguirmos pegá-lo poderemos elevar
nossas habilidades em um nível jamais visto antes,
porém, um combate não seria viável no momento,
Filipe está no centro da Camarilla, eles vão organizar
um conclave para julgá-lo, se ele for condenado, será
morto e o livro corre o risco de desaparecer.
LORENZO- E onde eu entro nisso?
RHUAN- Você vai usar sua habilidade de se
transformar em serpente e vai espalhar bombas no
subsolo da Camarilla, depois disso vamos chantageá-
los, ou nos dão o livro de NOD ou colocamos tudo
aquilo para baixo, não será vantajoso para eles ter que
reconstruir um território em meio à crise que vivem.

117
LORENZO- Muito esperto da sua parte, mais
como vou saber por onde entrar ou por onde sair ou
até mesmo me locomover dentro do subsolo deles?
RHUAN- Não se preocupe, nosso informante
me passou a planta baixa de todo território, você terá
algum tempo para estuda-la e depois agir em cima do
que você planejar, vá pra casa, passe na minha sala e
pegue as plantas, descanse e se prepare, vamos entrar
no coração deles.
LORENZO- Como quiser, farei o melhor.
Enquanto Lorenzo caminhava até sua casa
depois daquilo tudo, uma reflexão vinha em sua mente,
como vampiros poderiam alcançar um nível satisfatório
de felicidade se tudo que fazem é matar e proporcionar
sofrimento as pessoas? De alguma forma a maldade
impregnada no SABÁ não havia o contagiado, os
flashes que vinham em sua memória daquela mulher
sendo esquartejada, aquilo não foi certo pensava ele,
uma pessoa que nada fez para merecer tudo aquilo, e
por que não pude impedir? Ele mesmo se questionava
enquanto passava pelo parque e via alguns jovens
sentados conversando, o que virá depois que eu
concretizar minha vingança? Outro questionamento
que o perturbava naquele momento, qual o sentido
disso tudo? Enquanto Xavier estava vivo tudo parecia
fazer sentido, respeito, lealdade, fraternidade, tudo isso
era praticado no mais alto nível e de repente sumiu,
118
como uma fumaça que se dissipou ao vento, e agora,
como viver sem isso?
Finalmente seu lar, aquelas escadas pareciam
infinitas, ao tocar a maçaneta da porta para entrar no
apartamento um aperto toma conta de seu peito, era a
solidão, não era solidão como de costume, das outras
vezes ele sabia que Xavier voltaria, agora era diferente,
o que lhe restava era se deitar no sofá e olhar pela janela
a lua que estava linda, cheia, iluminando toda Barcelona
de um jeito todo especial, de repente, uma memória
veio à tona.
LORENZO- O cofre, Xavier disse para eu
abrir caso ele não voltasse, acho que agora é o momento
para isso.
Rapidamente e cheio de ansiedade Lorenzo
sobe até o terraço do prédio, escondido em meio a
alguns entulhos estava o cofre de que Xavier lhe falara,
todo enferrujado, não parecia nada seguro, ao se
aproximar uma energia emanava daquele cofre como se
algo muito valioso estivesse lá, o estranho é que o cofre
não tinha senha, como se o que estivesse ali dentro
estivesse esperando para ser encontrado a qualquer
momento e pela pessoa certa, Lorenzo abre o
compartimento e para sua surpresa o que estava lá
dentro era uma carta que dizia o seguinte:
Querido Lorenzo!

119
Se você está lendo esta carta é porque não
estou mais entre nós, o que significa que deve estar em
apuros, antes de mais nada quero dizer o quanto fui feliz
em ter adotado você, você me proporcionou ser pai
novamente, algo que eu havia perdido quando fui
transformado em vampiro, eu nunca te contei isso, eu
vi minha família ser morta por aqueles que me
transformaram, e eu não pude fazer nada, além de me
punirem com esta maldição também me puniram com
a solidão, daí você apareceu, todo sujo, sem perspectiva
de vida, jogado na rua, e pela primeira vez desde que
fui abraçado senti que eu poderia fazer algo bom para
alguém, meu único erro foi ter transformado você em
um monstro, mais fiz isso para você poder se defender
deste mundo, e se fosse transformado, pelo menos que
fosse por alguém que quisesse seu bem e não te
destruir, dito isso vamos ao que interessa, te ensinei
tudo sobre a JIHAD e os vampiros e uma coisa que
podemos notar é que a barganha e troca de favores
movem este mundo obscuro, por isso, estou deixando
pra você dentro deste cofre um mapa, com a localização
de um artefato que pra você vale absolutamente nada
porém no jogo em que estamos jogando vale muito, este
artefato veio do Egito dos nossos ancestrais e por algum
motivo se encontra nas montanhas de Barcelona,
consegui este mapa através de outro Seguidores de Set
há muitos anos atrás, eu havia salvado sua vida e ele me
120
deu como pagamento, desde então o guardei para dar a
uma pessoa que também tivesse salvado minha vida e
essa pessoa é você, o artefato se chama MÃE DA LUA,
ele da imortalidade para quem o usar, encontre-o e o
use para conseguir seus objetivos, seja sábio, existem
pessoas que dariam tudo por ele, um grande abraço e
tenho certeza que nós veremos um dia meu amigo.

Barcelona 17 de abril de 2015.

De seu amigo: Xavier Silva.

121
122
Episódio: MOVIMENTO

A
s coisas realmente não estavam
andando bem para a Camarilla,
Baltazar havia assumido o principado
de forma provisória e ordenara a caçada de sangue a fim
de eliminar Bradley, ao mesmo tempo convocou o
concílio para julgar o membro Filipe Passos acusado de
atacar o Príncipe Leonel, o local escolhido para a
reunião é o ELÍSIOS, localizado no Parc de Montjuic,
é proibido haver batalhas neste local, a sua função é
meramente diplomática, ou seja, quando acordos
precisam ser costurados entre membros ou até mesmo
por vampiros de seitas opostas eles se deslocam para
este local a fim de terem uma reunião tranquila, o
concílio estava marcado para as onze horas da noite,
ainda eram sete horas por tanto muita coisa ainda
poderia acontecer neste meio tempo.
MIGUEL- Filipe, atende esse telefone droga!
FILIPE- Alô, Miguel, o que você quer?
MIGUEL- Onde você está?
FILIPE- Estou me deslocando para o
ELÍSIOS, afinal, preciso me defender das acusações
injustas que estão me fazendo, sei que faltam quatro
horas para o início do concílio mas, gosto de chegar
cedo.
123
MIGUEL- É justamente sobre isso que quero
falar, acho que eu também posso te ajudar.
FILIPE- Como?
MIGUEL- Eu possuo uma disciplina que me
permite ter visões e deslumbres de coisas que já
aconteceram ou que vão acontecer, acredito que se eu
olhar nos olhos do agressor do Príncipe eu possa ver o
que ele viu e consequentemente descobrir quem
atacou.
FILIPE- Entendo, seria perfeito visto que,
todos os vampiros que estiveram próximos do Príncipe
naquela noite ou em qualquer outro momento estarão
reunidos, se eu conseguir que eles acatem esta proposta
poderemos pegar o agressor.
MIGUEL- Pois bem, vou me dirigir para o
ELÍSIOS também, estarei te esperando e juntos
colocaremos este plano em prática, então, até mais
tarde.
Enquanto as coisas se desenrolavam, as
escondidas
Frederic, um Gangrel muito habilidoso da
Camarilla usava seu rastreio para tentar encontrar pistas
do suposto agressor do Príncipe, na noite do atentado,
Frederic estava chegando na Camarilla quando viu um
vampiro pulando da janela do quarto de Leonel para o
prédio vizinho, rapidamente usando suas habilidades
empreendeu uma perseguição ao suspeito, a noite era
124
muito densa dificultando a visibilidade, porém durante
o trajeto percorrido pelos dois até que o suspeito
desaparecesse entre os prédios do bairro Las Três
Torres Frederic já tinha algumas informações valiosas
quanto a identidade do suspeito.
Um fato que se deve destacar sobre Frederic é
o de que ele possui uma ligação estreita com Ragnar, o
Lobisomem branco, a alguns anos atrás, Ragnar foi
ferido gravemente depois de uma batalha com alguns
vampiros pertencentes ao SABÁ, mais precisamente ele
lutou contra RHUAN e RAMON os dois líderes da
seita, a intenção do SABÁ na época era subjugar o
Lupino a fim de que ele servisse aos propósitos da seita,
uma intenção muito ousada, Ragnar quase matou os
dois e no final eles tiveram que recuar, Frederic que é
um vampiro caçador e que com frequência adentra na
floresta ao norte de Barcelona por coincidência
encontrou Ragnar caído e sangrando muito, era a
chance perfeita para matar o lendário Lupino Branco
porém, seria fácil demais, algo melhor poderia ser feito,
e dessa forma Frederic salvou a vida de Ragnar e cuidou
dele até que se recuperasse por completo, como forma
de gratidão, Ragnar ficou devendo um favor a Frederic
que poderia ser cobrado a qualquer momento, a relação
dos dois permanece em segredo visto que, a Camarilla
nunca veria com bons olhos uma relação de amizade
entre um vampiro e um Lobisomem.
125
De forma sorrateira, Frederic voltou ao quarto
do Príncipe na mesma noite do ocorrido, sem ninguém
para atrapalhar fez uma vistoria minuciosa no local, se
aproximou da janela para ver a rua, a rota de fuga, os
carros passavam de forma frenética pelo local, detalhes
que passariam despercebidos por outros vampiros não
passavam pelo olhar atento deste Gangrel, não havia
impressões digitais, nenhum rastro que delatasse o
suspeito, no fundo tudo muito estranho, Frederic
naquele momento já sabia quem tinha cometido o
crime porém, precisava analisar um último item para ter
certeza de sua suspeita, no dia seguinte se deslocou até
o gabinete do Príncipe interino Baltazar.
Trajando seu casaco de pele de urso e seu
habitual chapéu de caçador, Frederic entra na sala e vê
Baltazar sentado assinando alguns papéis que estavam
sobre a mesa, burocracia proveniente de uma seita
muito bem organizada por sinal.
BALTAZAR- Hora, hora, Frederic Dantê, o
que traz você até mim em tempos tão conturbados?
Entre e feche a porta por favor.
FREDERIC- Posso me sentar?
BALTAZAR- É claro, fique à vontade, em que
posso te ajudar.
FREDERIC- Vou ser bem direto, você sabe
que sou um vampiro que gosta de viver isolado na
floresta, quase não me envolvo nas questões da seita, e
126
particularmente eu prefiro assim, porém, não posso
ficar parada em meio a tudo que aconteceu, como você
também sabe sou o melhor rastreador que existe na
cidade e por um golpe do destino pertenço a Camarilla,
isto é, para a sorte de vocês, enfim, preciso do pedaço
de pano pertencente a roupa de Filipe Passos que foi
encontrado no local do atentado contra o Leonel.
BALTAZAR- Posso saber o que vai fazer com
ele?
FREDERIC- Não vou usar de remendo em
nenhum de meus casacos velhos eu prometo, mais
brincadeiras à parte, eu sei quem foi que atacou o
Príncipe, porém, preciso ter certeza antes de fazer uma
acusação tão grave, e este pedaço de pano vai me dar
esta certeza.
Simultaneamente a esta conversa, o telefone
de Leonard toca.
LEONARD- Alô.
INFILTRADO- Preciso que você me ajude
com uma coisa, estou prestes a ser descoberto e isso não
pode acontecer, você precisa impedir isto.
LEONARD- O SABÁ não pode te dar esta
assistência? Por que tem que ser eu?
INFILTRADO- Não seja sínico, você sabe
que eu rompi com o SABÁ, eles estavam me vendo
como uma ameaça, depois que eu fiz o trabalho sujo
que eles queriam decidiram me tirar da jogada com
127
medo de que no futuro eu me virasse contra eles, e
tenho certeza que você já sabia deste rompimento, o
fato é, se você quer mesmo derrubar a Camarilla você
precisa de mim agora, e se quer Filipe morto e o livro
de NOD em suas mãos é interessante para você que
Filipe seja condenado e eu não seja descoberto, estou
errado?
LEONARD- É claro que não, com as
informações que você tem eu poderia concluir meu
plano de tirar Filipe da jogada e pegar o livro, mesmo
que o concílio não o condene você poderia eliminá-lo
com facilidade, sendo assim vou ajudar você, me diga o
que está acontecendo.
INFILTRADO- Temos que ser rápidos, neste
momento Frederic está na sala do Baltazar conversando
com ele, instalei escutas em todo o prédio da Camarilla,
Frederic disse que sabe quem atacou o Príncipe e quer
o pedaço da camisa de Filipe que foi encontrado junto
ao corpo de Leonel para fazer uma última análise a fim
de provar sua tese.
LEONARD- Ele pode estar blefando não
acha?
INFILTRADO- Claro que não, você não
conhece Frederic, suas habilidades de rastreio são
conhecidas em toda a Camarilla, se ele diz que sabe é
porque realmente ele sabe, ele não mentiria em uma
situação dessas.
128
LEONARD- Pois bem, vamos eliminá-lo
então.
INFILTRADO- Eu não posso fazer isso, seria
muito suspeito da minha parte, além do mais isso daria
trabalho e seria difícil explicar ferimentos ou marcas de
batalha neste momento.
LEONARD- Não estou falando de você, vou
fazer uma ligação para um velho amigo, ele pode
providenciar o fim de Frederic, apenas aguarde.
O telefone é desligado, e nós, voltemos para a
conversa entre Frederic e Baltazar.
BALTAZAR- Tudo bem, lhe darei o pedaço
de pano, mais tenha cuidado com ele, traga-o de volta
para mim, preciso usá-lo no concílio que provavelmente
será marcado para julgar Filipe, e uma prova destas não
pode ficar ausente no inquérito.
FREDERIC- Não se preocupe, preciso de
apenas um dia para fazer a minha análise, você terá seu
pedaço de pano em breve.
Desta forma Frederic deixa o prédio da
Camarilla e se empenha em sua missão de descobrir ou
melhor, provar quem atacou o Príncipe.
Agora entra em cena um personagem muito
importante e que com certeza tem um papel crucial em
meio a esta trama, estou falando de Theodore
Geovanne, no conforto de sua mansão no bairro La
Sangrera ele assistia de camarote a todo o desenrolar da
129
trama vampírica corrente em Barcelona, a notícia de
que o Bispo havia sido morto chegara aos seus ouvidos,
e visando o bem coletivo, Theodore toma uma atitude,
coloca um de seus vampiros como o novo Bispo de
Barcelona, algo que a tempos era pensado pela
Camarilla mais nunca colocado em prática, era
importante a inquisição se manter afastada da cidade a
fim de que os vampiros não fosse incomodados, sua
relação com Leonard não era segredo para ninguém
visto que, Theodore precisava com frequência das
especiarias oferecidas pelo mago para os seus rituais
Necromânticos, e em uma dessas noites após o ataque
ao Príncipe da Camarilla seu telefone tocou.
THEODORE- Alô, quem fala?
LEONARD- Sou eu o mago.
THEODORE- Em que posso te ajudar nobre
gafanhoto?
LEONARD- Meu pedido é simples, preciso
que um vampiro da Camarilla seja morto, um Gangrel,
Frederic para ser mais específico.
THEODORE- Pelo visto algo o incomoda
bastante para tomar tal atitude, posso saber o que seria?
LEONARD- Frederic descobriu quem atacou
o Príncipe e por causa disso preciso silenciá-lo, meu
informante não pode ser descoberto, preciso dele ativo
na seita para concretizar meu plano de eliminar Filipe e
pegar o livro de NOD.
130
THEODORE- O que? O livro de NOD está
em poder da Camarilla?
LEONARD- Sim, Filipe o está possuindo em
segredo, por enquanto ninguém sabe disso ainda, dizem
que este livro guarda a chave de todos os treze clãs, se
eu me apossar dele terei tanto a Camarilla quanto o
SABÁ em minhas mãos.
THEODORE- Entendo, pode deixar,
conheço alguém que pode resolver seu problema, pode
ficar tranquilo apenas descanse e aguarde.
LEONARD- Fico no aguardo nobre
gafanhoto.
Faltam três horas para o concílio e Filipe
finalmente chega ao ELÍSIO, juntamente com Nikolas
seu senhor ele adentra no prédio e se dirige até a sala
de reuniões, no corredor acaba se deparando com
Bernardo, uma troca de olhares entre os dois foi o
bastante para entender que havia algo errado, um
bilhete é colocado entre os dedos de Filipe em um
movimento rápido, Nikolas percebe mais finge não ver,
antes de entrar na sala de reunião Filipe e Nikolas se
dirigem até a sacada do prédio, os outros integrantes
devem demorar a chegar, os dois terão tempo de
conversar, mais antes de iniciarem o diálogo o bilhete
deixado por Bernardo é aberto e o que está escrito é
assustador, “ALGUÉM ASSASINOU FREDERIC,
PELO VISTO ELE SABIA DEMAIS”.
131
FILIPE- Olha isso Nikolas, você pode
acreditar em uma coisa dessas? A gora tudo faz sentido,
a dois dias atrás recebi uma mensagem de Frederic que
ele dizia que queria me encontrar antes do concílio, que
tinha algo muito importante para me dizer.
NIKOLAS- Foi queima de arquivo, com
certeza Frederic sabia quem atacou o Príncipe e iria te
contar, mas como o agressor sabia que Frederic estava
de posse dessa informação?
Apressadamente Baltazar chega até os dois
vindo do corredor do prédio.
BALTAZAR- Vocês são pontuais, que bom
que já estão aqui.
FILIPE- Baltazar, tem algo que você precisa
saber.
BALTAZAR- Diga, o que seria?
FILIPE- Frederic foi assassinado.
BALTAZAR- O que? Isso não pode ser, faz
dois dias que não o vejo, mais como ele é um caçador
solitário não estranhei sua falta, como você soube disso?
NIKOLAS- Isto não importa Baltazar, o fato é
que Frederic sabia demais, e por isso foi morto, o que
ele poderia saber a ponto de fazer com que fosse
assassinado?
BALTAZAR- No dia seguinte ao ataque do
Príncipe ele esteve na minha sala e me pediu o tecido
rasgado pertencente a roupa de Filipe para fazer uma
132
análise, ele me disse que sabia quem havia atacado
Leonel.
FILIPE- Por isso ele foi morto!
NIKOLAS- Mais como o agressor sabia que
ele tinha conversado com você?
BALTAZAR- Eu acho que eu sei como,
venham comigo.
Rapidamente os três se deslocam até o
gabinete do Príncipe onde Baltazar por hora
desempenhara suas funções, ao chegarem Baltazar
começa a vasculhar a sala, usando toda a sua
experiência como xerife da Camarilla não demora
muito para que ele encontre duas escutas instaladas
estrategicamente debaixo da mesa, lugar perfeito para
captar todas as conversas que poderiam ter ali dentro.
BALTAZAR- Realmente quem atacou o
Príncipe está entre nós, teve acesso a esta sala e
implantou as escutas.
NIKOLAS- Só você tem acesso a esta sala.
BALTAZAR- O que está insinuando seu
Nosferatu de merda? Acha que eu mesmo implantei
estas escutas? Como eu me beneficiaria disso?
NIKOLAS- Simples, tirar o foco, pode ter
sido seu objetivo, como você era o único que sabia das
informações ditas por Frederic automaticamente seria o
principal suspeito, mas, todavia, entretanto, se você

133
instalasse as escutas teria um álibi para escapar da
acusação, jogando a suspeita pra cima de outra pessoa.
BALTAZAR- Como se atreve?
Os ânimos ficam exaltados, Baltazar parte pra
cima de Nikolas e Filipe tem que intervir, os dois são
contidos, qualquer um pode ser um suspeito neste
momento, o assassinato de Frederic acirrou ainda mais
os ânimos dentro da seita, porém a teoria de Nikolas
tinha fundamento, e dava pra ver que a imaginação de
todos estava a mil, a confiabilidade não era mais a
mesma, as paredes agora tinham ouvidos, sussurros
soavam como traição, depois do embate entre o xerife
e o líder dos Nosferatu ambos saem da sala e se dirigem
até a sala de reunião, se assentam em seus respectivos
lugares apenas aguardando o início do concílio, a hora
da verdade estava chegando, as máscaras estavam
prestes a serem derrubadas, faltava pouco para
descobrir quem era o traidor.
Mais antes do concílio começar devo contar
como Frederic foi morto afinal, ele foi o primeiro a
desvendar este mistério, que pena que não deu tempo
de contar a todos e abrir o jogo, sem dúvida a Camarilla
perdia seu maior estrategista,
Depois de pegar o pedaço da camisa usada por
Filipe encontrada ao lado de Leonel, Frederic foi até as
montanhas de Barcelona para se encontrar com
Ragnar, não demorou muito para que os dois se
134
encontrassem, a floresta estava calma, a lua cheia os
iluminava porém algo estava errado, Ragnar estava
sozinho, e este detalhe logo chamou a atenção de
Frederic.
FREDERIC- É impressão minha ou você está
sem a matilha?
RAGNAR- Não é impressão sua, eu os perdi,
os poucos que restavam.
FREDERIC- O que aconteceu, por que te
abandonaram?
RAGNAR- O mago os persuadiu, aquele
maldito encheu a cabeça deles de mentiras e os levou
para o seu lado, estou sozinho agora, parece que eles
não confiam mais em mim, desde a algum tempo eles
queriam guerra contra os vampiros, porém, eu os
convenci que isso seria uma má ideia, Leonard
prometeu esta guerra a eles, por isso foram para o lado
dele, mais eu tenho certeza que isso é algum plano, não
sei o motivo ainda, mais aquele mago maldito trama
algo.
FREDERIC- Sinto muito por sua perda, tenho
certeza que você vai os recuperar, mais eu não estou
aqui para ouvir suas lamentações, preciso cobrar aquele
favor que me deve.
RAGNAR- Pois bem, diga o que quer.
FREDERIC- Preciso que você identifique
todos os cheiros possíveis neste pedaço de pano, nada
135
supera o faro de um lobisomem, preciso saber quem
exatamente tocou neste tecido.
Ragnar pega o pedaço de tecido e começa a
farejar, depois de alguns minutos o parecer é dado.
RAGNAR- Existe o cheiro de três indivíduos
neste pedaço de pano.
Neste momento Frederic tira de sua mochila
um objeto, na verdade era um pedaço de estofado de
uma cadeira.
FREDERIC- Como eu havia imaginado, fora
Filipe, duas pessoas tiveram contato com este tecido,
uma eu sei quem é, Nikolas, era quem estava com ele
na hora que foram emboscados, esta terceira pessoa
que eu precisava confirmar, por favor cheire este
estofado e veja se é o mesmo cheiro encontrado no
pedaço de pano.
RAGNAR- Sim é o mesmo cheiro.
FREDERIC- Como eu suspeitava, o favor está
pago meu amigo, boa sorte na reconquista de sua
alcateia.
Deixando as montanhas Frederic se dirige até
sua casa onde permanece por uma semana, neste meio
tempo ele foi até Baltazar e devolveu o pedaço de pano
pertencente a Filipe, mesmo sabendo de tudo não disse
uma palavra a Baltazar ao ser questionado pelo mesmo
sobre o resultado de sua investigação, parecia que algo
o impedia de dizer toda a verdade naquele momento,
136
sentado em sua cadeira de balanço na varanda de sua
cabana de frente para o bosque Frederic começava a
juntar as peças e formular sua teoria, de posse de um
mini gravador ele começou a apresentar seus
argumentos.
FREDERIC- De acordo com o que presenciei
na noite do crime posso constatar que o fugitivo a quem
persegui possuía alta perícia furtiva, facilidade de se
locomover em meio aos prédios e conhecimento prévio
da rota de fuga usada, um conhecimento da superfície
que não posso atribuir a um Nosferatu que passa a
maior parte do tempo no esgoto, ao constatar a cena do
crime na noite do ocorrido percebi que não havia
marcas de arrombamento na porta do quarto do
Príncipe, ou seja o suspeito tinha acesso ao quarto,
apenas os membros da tríade governante tinham este
acesso, BALTAZAR, AYSLAN e BERNARDO, outro
ponto que me chama a atenção é o fato de que todas as
câmeras foram desligadas na noite do crime, novamente
os três tinham acesso a esta sala, porém ao observar
Leonel e seu ferimento constatei que o golpe dado em
seu peito não poderia ter sido desferido por um
vampiro qualquer, teria que haver uma precisão fora do
comum afinal, era o Príncipe que seria alvejado, um
erro se quer e o Príncipe acabaria com a raça do sujeito,
ou seja, um assassino profissional se encaixaria nestas
qualificações, a esta altura Filipe já está descartado, e um
137
vampiro em especial ronda minha mente e para
completar o argumento final, o cheiro deste vampiro se
encontra no pedaço de tecido pertencente a Filipe,
como isso é possível? Simples, este vampiro usa a
emboscada sofrida por Filipe e Nikolas que por sinal
ele mesmo armou em conjunto com Leonard visto que,
Leonard é o único que possui carniçais na cidade e em
um momento de distração de Filipe arranca um pedaço
de sua camisa e guarda para mais tarde levá-la para
incriminar o mesmo, visto que o pedaço de estofado
que levei para Ragnar farejar foi retirado de uma das
cadeiras da tríade governamental, não tenho dúvidas, o
agressor do Príncipe e traidor da Camarilla é Ayslan o
Justiçare, e agora que tenho esta fita gravado irei
apresenta-la a Filipe e aos outros membros e
desmascara-lo de uma vez por todas.
A chuva começa a cair e o vento a balançar as
árvores em volta da cabana, realmente Frederic tinha
feito um ótimo trabalho, fez a investigação corretamente
e juntou as peças, agora era finalizar o seu plano e para
isso devia ir até a sede da Camarilla, mais primeiro ligou
para Filipe.
FILIPE- Alô.
FREDERIC- Filipe, sou eu Frederic.
FILIPE- Oi Frederic, o que deseja?
FREDERIC- Preciso te encontrar dois dias
antes do concílio que vão fazer para te julgar.
138
FILIPE- O concílio está marcado para daqui
quatro dias.
FREDERIC- Ótimo, tenho algo para entregar
a você, é muito importante para todos nós, me encontre
na entrada do Elísios em dois dias as onze horas da
noite.
FILIPE- Combinado então, está tudo bem?
FREDERIC- Estou ótimo, não se preocupe,
apenas me encontre lá, até logo.
Depois de ligar para Filipe, Frederic volta para
dentro de sua cabana e começa a concertar suas armas,
a profissão de armeiro era algo que o encantava e nas
horas vagas se dedicava a restaurar ou consertar
qualquer tipo de armamento, sua longa experiência
como caçador o fazia preparado para quase todo o tipo
de combate, seja físico ou armado ele se saia muito
bem, e essa experiência seria colocada à prova em
pouco tempo, logo após consertar uma pistola ponto
quarenta Frederic se dirige até a janela da sala de sua
cabana e começa a observar a floresta a sua frente, algo
não está certo, tudo está quieto demais, devido ao seu
nível excelente de percepção nada foge aos seus olhos,
alguém estava o observando de dentro da floresta e este
alguém sabia que Frederic podia nota-lo, parecia
simplesmente uma guerra de imposição, um sabia da
presença do outro porém nada seria feito, não naquele
momento, não daquela forma, o momento era de
139
estudo de ambas as partes e como aquele não era o
momento certo para uma investida Frederic
simplesmente fecha as cortinas da janela e se volta para
dentro de sua cabana, agora protegido da visão do
observador ele investe em alguns equipamentos pois
sabe que a luta contra este indivíduo seja ele quem for
já começou, apenas não está oficialmente declarada.
No dia seguinte as coisas pareciam mais
calmas, porém o sono de Frederic é interrompido por
um telefonema, era por volta de seis horas da tarde, o
sol estava quase se pondo e Frederic iria se preparar
para mais uma noite de caça e sangue.
FREDERIC- Alô!
RAGNAR- Sou eu, Ragnar, preciso que você
me encontre em um lugar.
FREDERIC- O que está acontecendo? Por
que quer me ver?
RAGNAR- Tenho algo que vai te interessar
muito, me lembro que em uma de nossas conversas
você havia me dito que queria muito uma amostra do
meu sangue para um experimento hibrido lembra?
FREDERIC- Lembro, e você havia me dito
que não me daria, por que mudou de ideia?
RAGNAR- Agora que perdi minha matilha
preciso me fortalecer e acho que sua ideia me ajudaria
em meus propósitos, então pode me encontrar?

140
FREDERIC- Certo, onde quer que eu te
encontre?
RAGNAR- Me encontre no galpão
abandonado em Montbau daqui duas horas.
FREDERIC- Certo, estarei lá.
Aquela ligação o deixou pensativo porém a
sede e a ganância de conseguir fabricar um hibrido
fizeram com que Frederic fosse até aquele galpão
abandonado, claro que ele não foi despreparado, suas
facas estavam na cintura juntamente com suas duas
pistolas ponto quarenta devidamente carregadas,
munições reservas e mais alguns apetrechos, de posse
de tudo isso entrou em seu jipe e se deslocou até o local
combinado.
Depois de alguns minutos lá estava ele
estacionando o jipe do lado do galpão, descendo
devagar e sempre cauteloso Frederic caminha
lentamente para dentro do imóvel, ao chegar no meio
do galpão Frederic se depara com um homem envolto
de uma capa parado do outro lado.
FREDERIC- Quem é você e onde está
Ragnar?
GABRIEL- Meu nome é Gabriel, e Ragnar
está jogado em um apartamento no centro da cidade
com os dois braços e as duas pernas quebradas.

141
FREDERIC- Você só pode estar de
brincadeira, o lobisomem branco ser abatido assim?
Que piada.
GABRIEL- Realmente ele é um oponente
formidável, porém em sua forma humana ele não
apresenta muitas dificuldades em ser abatido, tive que
tortura-lo e obriga-lo a ligar pra você para que o atraísse
até aqui.
FREDERIC- Seu maldito o que é você e o que
você quer comigo?
GABRIEL- Fui contratado para matar você,
sendo assim sou um mercenário, não costumo revelar
minha identidade para as pessoas mais no seu caso vou
falar o que sou, devido você ser um oponente muito
raro, acho que merece isso antes de morrer.
Sou um inquisidor, trabalho pra a igreja e nas
horas vagas ofereço meus serviços como matador de
aluguel na deep web, o cara que me contratou pediu sua
cabeça e é isso que vou fazer.
FREDERIC- Você acha que vai me matar tão
fácil assim?
GABRIEL- Não, e é por isso que me preparei,
um assassino profissional nunca deve subestimar suas
presas, o respeito é o que nós mantem vivos meu caro
e você merece respeito, por isso te observei durante
duas semanas, levantei sua área social, te segui, vi com
quem você conversava, foi dessa forma que encontrei
142
seu amigo lobisomem, eu sabia que você é ardiloso por
isso bolei um plano, este galpão por exemplo, foi
projetado para esta luta, fiz algumas modificações nele
para que o ambiente estivesse totalmente ao meu favor
e assim se criasse uma arena que eu pudesse explorar.
Frederic pensava o seguinte.
Ele é realmente um profissional, fez todo um
plano, me sinto honrado por ter feito com que ele
gastasse tanto tempo em me combater, porém, estou
em total desvantagem aqui, não sei quais truques ele vai
usar mais não posso fugir disso, terei que enfrenta-lo
aqui mesmo, não tenho escolha, cai nesta armadilha
movido por minha ganância e agora estou disposto a
pagar o preço por isso.
GABRIEL- Pois bem, não tenho muito
tempo, vamos começar logo com isso.
A capa que o cobria é retirada, o homem é um
meio ciborg, braços e pernas robóticos, sua mão
esquerda possuía garras nas pontas de cada um dos
dedos, afiadas o bastante para rasgar uma armadura, seu
braço direito cibernético empunhava uma besta de alta
precisão e muito sofisticada carregada com duas
dezenas de flechas, o rosto de seu corpo era de um
humano normal, sem camisa e usando um chapéu de
cowboy, seus olhos brilhavam, vermelhos como fogo,
Frederic saca suas duas pistolas e fica em posição de
ataque, Gabriel por sua vez dispara um tiro para cima,
143
Frederic não é o alvo, a flecha se divide no ar em seis
outras flechas que caem no chão ao redor de Gabriel e
Frederic formando um círculo, as flechas fixadas ao
chão se abrem e de um compartimento dentro das
mesmas escorre um líquido azul de todas elas, estes
líquidos ao escorrerem se juntam e fecham o círculo no
qual os dois estão agora dentro.
FREDERIC- Que merda é essa?
GABRIEL- Um ritual de aprisionamento,
você está preso dentro deste círculo místico feito com
sangue de fadas, vamos lutar aqui dentro, o objetivo é
limitar sua área de deslocamento visto que vou
combater você de perto.
FREDERIC- preciso dar um jeito de quebrar
este círculo, como sei que eu não vou conseguir com
minhas próprias mãos terei que usar uns amigos para
isso.
Usando sua disciplina Animalismo Frederic
convoca centenas de ratos que se aproximam do círculo
e começam a roer o chão desesperadamente a fim de
apagar o rastro místico deixado pelo sangue das fadas
usado por Gabriel.
GABRIEL- Muito esperto da sua parte
vampiro, porém isso vai levar algum tempo, pretendo
acabar com você antes que seus ratos consigam te livrar
dessa.

144
Rapidamente Gabriel se desloca até Frederic,
o que não é muito difícil graças a proximidade entre eles
devido o círculo de aprisionamento, e desfere um
ataque com seu ante braço direito que se desprende do
seu braço e voa em direção a Frederic com uma incrível
velocidade, que por sua vez salta de forma acrobática e
mesmo estando no ar atira duas vezes contra o peito de
Gabriel que não tem como se esquivar e é cravejado de
balas, a luta começa a ficar interessante.
FREDERIC- Como ele resistiu a estes tiros?
Ele não é um humano? Percebo três frascos com algum
líquido acoplados em sua perna direita, o que será
aquilo?
Gabriel se apossa de um destes frascos e o
bebe rapidamente enquanto seus ferimentos começam
a se fechar, andando em direção a Frederic ele
empunha sua besta e desfere três tiros em sua direção,
em um espaço tão curto seria quase impossível se
esquivar porém, Frederic usa outra habilidade
surpreendente, é a metamorfose, esta habilidade em
seu nível máximo, que é o caso de Frederic, permite
que o vampiro se desmaterialize e se transforme em
fumaça, com isso as flechas passam por dentro de seu
corpo e ele se aproxima rapidamente do seu adversário,
é fatal, Frederic está muito perto e Gabriel vulnerável
depois de atacar, a um metro apenas de distância as
pistolas são descarregadas na cabeça e no peito de
145
Gabriel que se mantém imóvel enquanto as balas
simplesmente acertam seu corpo e caem no chão,
parece que uma parede de aço havia se formado em
torno de seu corpo o tornando intransponível.
Ao se materializar Frederic perde sua
vantagem e se torna vulnerável, outro agravante é que
ele está perto demais além de não esperar em um
milhão de anos que Gabriel se tornasse tão resistente ao
ponto de resistir aqueles ataques, dessa forma, ele é
atingido pelas garras afiadas do inquisidor que de fato o
dilaceraria porém, como uma luta deste nível é um jogo
de xadrez Frederic usa de outro recurso disponível do
seu clã que é a Fortitude, esta habilidade permite que o
vampiro absorva todo o dano que sofreria por um
ataque inimigo, seja contusão, explosão e neste caso
perfuração, a mão direita de Gabriel se choca contra o
peito do vampiro e neste momento ele prova do
próprio veneno, suas garras são destruídas pelo impacto
entre sua mão e a superfície enrijecida do Cainita,
diante desta surpresa Gabriel recua para a outra
extremidade do círculo.
GABRIEL- Maldito, não sabia que ele possuía
esta habilidade, Fortitude é uma habilidade que estudei
muito quando enfrentei os Brujah, não sabia que os
Gangrel possuíam esta disciplina, o bom disso tudo é
que pelo que eu sei os detentores desta habilidade

146
podem usá-la apenas uma vez durante uma luta, na
próxima ele não vai escapar.
FREDERIC- Interessante, depois que ele
bebeu aquele líquido se tornou extremamente
resistente, mais por que ele se afastou de mim se
naquele momento estava praticamente invencível?
Mesmo com o dano sofrido a sua mão direita ele ainda
estava em vantagem visto que, eu não poderia me
fortificar e estávamos perto o bastante para um segundo
ataque, não faz sentido, a menos que, exista um tempo
de efeito durável, pelo que pude observar nosso embate
durou cerca de um minuto, é isso, durante cerca de um
minuto ele fica invencível, durante este tempo preciso
recuar, não posso enfrenta-lo de frente, e pelo que eu
vejo tem apenas mais dois frascos, preciso destruir pelo
menos um para que eu tenha alguma chance.
GABRIEL- Pelo jeito que ele está me
observando já deve ter descoberto sobre meu soro A.R
e como funciona, não esperava menos de um vampiro
tão formidável e inteligente, com certeza é uma honra
para mim enfrenta-lo, levar sua cabeça será o ápice
disso tudo, tenho que tomar cuidado, minha mão está
danificada, as garras não me servem mais, porém a
corrente que liga meu ante braço com o braço pode ser
útil, dentro de algum tempo os ratos vão conseguir roer
todo o círculo, preciso me apressar.

147
FREDERIC- Preciso destruir aqueles soros, e
para isso tenho um plano.
A luta se reinicia e Frederic parte para cima de
Gabriel que rapidamente coloca sua besta em posição
de ataque apontada para o vampiro, neste momento o
amaldiçoado tira de dentro de seu casaco uma bomba
de fumaça e a explode contra o chão, a visão de ambos
está prejudicada, a fumaça é muito densa e faz com que
cada ataque seja sutilmente calculado, Frederic
continua sua investida como se sua visão estivesse
perfeita pois não era a visão seu sentido guia neste
momento e sim seu olfato ou seja, a fumaça não o
prejudicava enquanto Gabriel permanecia parado
como se soubesse o que estava fazendo a cada instante,
e isso ficou mais claro quando seus olhos brilharam.
FREDERIC- Um sensor de movimento, como
eu previa.
Um tiro de besta é disparado, Gabriel sabia
exatamente onde Frederic estava, a flecha atravessa seu
peito se espedaçando dentro do seu corpo e o
arremessa para trás, o estrago foi grande, porém sua
regeneração age rápido juntamente com corvos que
atenderam seu chamado a algum tempo atrás e acabam
de chegar entrando pelos buracos no teto do galpão e
se juntando em cima do seu ferimento fazendo uma
camada protetora que fazia com que a regeneração
fosse duas vezes mais rápida.
148
As feridas mal se fecharam e Frederic faz o
mesmo movimentos, saca uma granada de fumaça e a
joga contra o chão, a fumaça inunda o lugar novamente
e ele dispara em alta velocidade na direção de Gabriel.
GABRIEL- O que está fazendo? Pensei que
era um pouco mais inteligente, se bem que acho que
meu ataque afetou seus neurônios, mais tudo bem, se é
morrer que você quer te darei isso, dessa vez vai ser
fatal.
A flecha escolhida desta vez é uma explosiva,
capaz de destroçar o que tocar.
A besta é novamente posicionada, o gatilho
está prestes a ser disparado quando algo inesperado
acontece, Gabriel não consegue ver Frederic, apenas
fumaça está â frente de seus olhos.
GABRIEL- Maldito, onde ele está? Não
consigo vê-lo.
A fumaça vai se dispersando e dando lugar a
silhueta de Frederic do outro lado da arena segurando
os dois frascos de soro A.R que restavam com Gabriel.
FREDERIC- Quer que eu te explique como
eu consegui pegar os frascos sem ser notado?
GABRIEL- Não precisa, eu entendi tudo,
primeiro você queria me testar, saber se eu teria algum
mecanismo para te ver em meio a fumaça, por isso seu
primeiro ataque foi você mesmo em conjunto com a
fumaça, você quis que eu te atacasse para concluir sua
149
tese, ou seja, sim, eu tenho um sensor de movimento e
poderia identifica-lo facilmente em meio a neblina, a
flecha te acerta e agora sua tese está provada, mais como
burlar meu sensor e conseguir chegar até mim sem que
eu te detectasse? Simples, o seu segundo ataque não foi
você em conjunto com a fumaça, foi fumaça em
conjunto com a fumaça, dessa forma meu sensor não
pegaria você, e como eu sabia que a bomba tinha
produzido aquela neblina a minha frente eu a julguei
inofensiva enquanto você a usava para se camuflar e
chegar até a mim, concluindo seu plano e pegando
meus soros, parabéns!
FREDERIC- Nunca enfrentei alguém que me
fizesse pensar tanto, se eu sair vivo dessa com certeza
serei um oponente muito mais forte.
GABRIEL- Este é o problema, você não vai
sair dessa vivo, pensei que eu poderia vencer você sem
usar todos os meus recursos, mais agora sei que não
posso, darei tudo de mim e saiba que apenas uma vez
eu lutei dessa forma e faz muito tempo, sabe o que me
fez lutar dessa forma a muito tempo? O medo de
morrer, aquele oponente me passou esta sensação, e
você está me passando esta mesma sensação agora, por
isso vou lutar pra valer.
FREDERIC- Estou pronto, se meu destino for
morrer aqui pelas suas mãos, que assim seja!

150
O embate ganha um ar de respeito mútuo, algo
lindo de se ver, porém apenas um sairia vencedor,
Gabriel empunha a sua besta de uma forma diferente,
uma forma mais agressiva, a àquela altura seus soros
estavam destruídos por isso qualquer ataque que
sofresse poderia ser fatal, era de extrema importância
não deixar Frederic o atacar e para isso ele deveria
atacar primeiro.
GABRIEL- Existe um fator determinante em
combate que faz com que os vampiros estejam em total
desvantagem e eu não seria um mercenário se não
explorasse isso.
FREDERIC- Os ratos conseguiram, o círculo
de aprisionamento foi desfeito, posso sair.
GABRIEL- Não preciso mais do círculo, vou
ampliar minha arena usando sua desvantagem ao meu
favor.
Vários tiros de flechas são disparados em
vários lugares do galpão, são flechas explosivas, como
se trata de um galpão velho o fogo se alastrou
rapidamente, os dois combatentes estão presos em um
inferno ardente, o que para Gabriel não faz a mínima
diferença enquanto para Frederic o cenário é
desesperador graças ao ROTSCHRECK, o medo e o
desespero que o fogo causa em um vampiro devido sua
maldição, agora Frederic está lutando contra dois
inimigos muito poderosos, o desespero começa a tomar
151
conta da sua mente, indeciso entre escapar do fogo ou
escapar do Inquisidor, aquele vampiro tão inteligente e
astuto acabara de se tornar uma presa fácil nas garras de
um predador implacável.
FREDERIC- Nunca pensei que terminaria
assim, mais agora vou lutar com tudo, mesmo que eu
não vença vou deixar meu legado, Gabriel, vou pra cima
de você se prepare!
Furioso Frederic ignora o fogo e foca em seu
inimigo, sua besta interior aflorava naquele momento,
características animalescas apareciam uma atrás da
outra, uma calda longa, garras nas duas mãos, focinho
alongado e pelos por todo o corpo faziam dele uma
máquina de matar, as armas e facas foram jogadas no
chão, agora suas mãos são sua única arma, sua
velocidade aumentara bastante, com isso em pouco
segundos os dois combatentes já estavam frente a frente,
Gabriel não tinha tempo de dar os tiros, Frederic está
perto demais e desferindo golpes um atrás do outro
contra ele, um combate corpo a corpo é iniciado, a
besta que antes era usada para atacar agora é usada para
se defender dos ataques do animal que estava a sua
frente, Gabriel vai se afastando buscando um espaço
que lhe possibilitasse uma brecha para dar um tiro,
porém Frederic estava rápido demais, a única saída
seria trocar os danos sofridos calculando o resultado
dessa ação, dessa forma, Gabriel deixa seu braço direito
152
exposto para receber os golpes desferidos por Frederic,
neste lapso de tempo e espaço ele conseguiu posicionar
a besta de forma que o tiro fosse disparado arrancando
uma das pernas de Frederic e o arremessando para trás,
o braço direito de Gabriel não existe mais, foi
totalmente dilacerado pelas garras do vampiro, sem
perder tempo mais um tiro é disparado, dessa vez uma
flecha que ao se aproximar do inimigo se abre e o
aprisiona e uma rede metálica cortante, o que não
durou muito porque Frederic vendo que estava preso
se transformou em fumaça e escapou sem ferimentos
porém, devido ao fogo estar se aproximando a
metamorfose foi interrompida devido ao desiquilíbrio
causado por esta condição, era a chance que Gabriel
esperava, ao se materializar e ao mesmo tempo se
preocupar com o fogo Frederic se tornou vulnerável
novamente, três flechas foram atiradas, uma em cada
braço e outra na perna restante, o impacto foi tão forte
que as flechas o levaram para o chão e se fixaram
fazendo com que ele ficasse preso com o rosto virado
para Gabriel, antes que pudesse se transformar em
fumaça as flechas acopladas em seus membros se
abriram e entraram em rotação dilacerando sua carne e
fazendo com que seu sangue escorresse por todo o
local.
GABRIEL- Vou me lembrar de você Frederic,
como um vampiro que lutou até o fim, e me fez depois
153
de muito tempo sentir o medo da morte, obrigado por
me proporcionar isso.
Um último tiro é disparado na cabeça do
Cainita, é o fim, o fim de um vampiro que sozinho
descobriu um esquema de traição dentro da Camarilla,
o fim de um vampiro que conseguiu ser amigo de um
Lobisomem, um vampiro que enfrentou de igual para
igual um dos mais temidos Inquisidores da igreja
Católica em atividade, uma história que merece ser
lembrada, a fita que incriminava Ayslan nunca seria
entregue, a conspiração contra a seita teria que ser
descoberta de outra forma, não mais pela inteligência
de um Gangrel despretensioso que no fundo só queria
caçar e viver sozinho.
Gabriel fez o que havia sido contratado para
fazer, a cabeça de FREDERIC estava sendo levada para
Theodore Giovanni, afinal é isso que um mercenário
faz, porém o preço por este serviço pode ser alto
demais.
O clima está tenso, todos acabaram de chegar
na sala de reunião, as cadeiras estão posicionadas, o réu,
Filipe Passos se encontra no meio da mesa enquanto os
demais membros estão a sua volta, a sessão será
presidida por Baltazar o Príncipe interino que começa
apresentando o caso.
BALTAZAR- Senhores membros
pertencentes a maior e mais poderosa seita vampírica
154
existente na face da terra e denominada Camarilla, estão
aqui hoje reunidos para o julgamento do réu, Filipe
Passos, Nosferatu de parentela de Nikolas seu mestre,
o crime de que está sendo acusado é assassinato, uma
vez que nosso Príncipe está em um torpor ocasionado
por uma estaca de carvalho branco que covardemente
foi colocada em seu peito, diante das evidências
colhidas até o momento que são, um pedaço de uma
camisa pertencente a Filipe encontrada no local do
crime e vestígios de sangue também de Filipe no local,
achei por melhor decisão a convocação desta
assembleia para discutirmos o caso com os membros e
que juntos possamos chegar a um parecer, seja ele a
absolvição ou a condenação do réu, desta forma para
iniciarmos a sessão passo a palavra a Filipe, ele tem
como todos nós o direito a sua defesa.
FILIPE- Pois bem, obrigado por me
escutarem, vou tentar ser o mais didático possível em
minha explicação para que todos entendam bem a
situação, primeiramente quero dizer que não foi eu
quem atacou Leonel, acho que isto tudo foi armado,
estou sendo incriminado, e acho que tenho ideia de
quem foi.
BALTAZAR- Cuidado rapaz, qualquer tipo
de acusação feita a um membro terá que ser provada no
rigor da lei e caso isso não ocorro você será condenado
por calúnia e difamação.
155
FILIPE- Não farei ilações ou acusações contra
ninguém até termos uma prova não se preocupe, o que
quero dizer é que alguém tinha interesse em ver Leonel
fora de combate? Não, o interesse era me ver fora da
jogada, e o porquê disso sinceramente eu não sei.
BERNARDO- E como você explica sua roupa
junto ao Príncipe na noite do ataque?
FILIPE- Não conseguiria responder esta
pergunta sem acusar uma pessoa e como não tenho
provas não posso responder.
BERNARDO-Então quer dizer que você tem
a resposta porém ao dize-la estaria jogando a acusação
para outra pessoa?
FILIPE- Exatamente!
BERNARDO- Baltazar, assim como Filipe
está sendo acusado sem termos uma prova cabal, acho
justo outra pessoa, seja ela quem for, ser acusada da
mesma forma, lembrando que os dois acusados serão
resguardados pela presunção de inocência, ou seja,
inocentes até que se prove o contrário.
BALTAZAR- Acho justo, Filipe, explique
para nós como um pedaço da sua camisa foi parar no
quarto real.
Uma mensagem de texto é enviada para
Leonard pelo infiltrado de dentro da sala de reunião
com os dizeres, “você tem q acabar com esta reunião,

156
vou ser acusado, tenho álibis na manga porém as coisas
estão ficando perigosas “.
FILIPE- Foi um plano ardiloso mais
inteligente, forjar uma emboscada para mim e para
Nikolas, naquela noite, recebi um telefonema de meu
mestre me pedindo ajuda pois estava sendo atacado por
Carniçais em um beco, Nikolas poderá nos dar mais
detalhes posteriormente sobre este fato, em alta
velocidade me dirige até o local e ao chegar me deparei
com dois carniçais prestes a matar meu mestre, não
pensei duas vezes e intervi no combate, fui ferido neste
processo, e quando estávamos para ser mortos eu e meu
mestre, Ayslan chegou e nos salvou, minha teoria é de
que Ayslan se aproveitando do calor da batalha tenha
pegado um pedaço da minha roupa para atacar o
Príncipe e posteriormente me incriminar.
Um silêncio avassalador tomou conta da sala
naquele momento, um membro acusando um Justiçare,
o assassino de elite da Camarilla estava sendo colocado
contra a parede, algo inédito, agora restava ver como ele
reagiria a esta situação tão constrangedora para um
membro de tão alta patente.
BALTAZAR- Pois bem senhor Mesut Ayslan,
o senhor acabou de ser citado pelo réu, gostaria de se
defender de tal acusação feita contra sua pessoa?
AYSLAN- Claro que sim, naquela noite eu
tinha ido até o subterrâneo para tratar alguns assuntos
157
com Nikolas, e ele pode atestar isto, conversamos um
pouco, porém como se tratavam de assuntos mais sérios
pedi que o mesmo me encontrasse aqui mesmo no
Elísios para que pudéssemos conversar mais à vontade,
o mesmo concordou e eu sai dali para meus afazeres
rotineiros, fui até o Elísios no horário marcado e
percebi que Nikolas não estava lá como combinado,
sendo assim sai a procura-lo, e rapidamente o encontrei
juntamente com Filipe em um beco sendo atacados por
carniçais, eu os salvei e me despedi deles logo em
seguida, queria aproveitar e fazer uma pergunta ao
senhor Filipe, responda apenas sim ou não por favor.
FILIPE- Sim, pode perguntar.
AYSLAN- O senhor viu eu rasgando um
pedaço de sua camisa e o subtraindo logo em seguida?
Filipe pensou rapidamente, desgraçado, sabe
que nem se eu quisesse eu conseguiria ver um de seus
movimentos, como acha que eu conseguiria
acompanhar a velocidade de um Assamita Justiçare da
Camarilla?
FILIPE- Não senhor, não vi o fato relatado
por mim acontecer, o que eu disse foi uma ilação.
AYSLAN- Diante do que foi dito pelo pobre
rapaz volto a me sentar e me reservo ao direito de não
mais falar neste caso, meu papel é apenas punir caso
esta for a sentença dada ao réu, é para isso que sou pago.

158
BALTAZAR- Muito bem, depois desta
explicação nos resta perguntar, Nikolas o senhor
confirma tudo que foi dito por Mesut Ayslan?
NIKOLAS- Sim, eu confirmo.
BALTAZAR- Sendo assim as coisas pra você
não ficaram boas Filipe, ao menos que tenha uma carta
na manga sinto lhe informar que provavelmente você
será condenado rapaz.
NIKOLAS- Não, isso não pode ser, ele não
fez nada, isso é injusto.
AYSLAN- Não ouse duvidar da corte
Nosferatu, mais um ato desta natureza e vou puni-lo por
insubordinação.
MIGUEL- Calma pessoal, Filipe não tem uma
carta mais eu tenho, e peço para usá-la no processo.
BALTAZAR- Autorização concedida rapaz,
nos diga o que quer fazer.
MIGUEL- Nos Malkavian, temos uma
disciplina chamada Auspícios, com ela podemos
enxergar o que o outro viu, podemos ter relances do
passado ou do futuro, ou seja, posso atestar todos os
membros da mesa e com base no que eu verei
determinar quem atacou o Príncipe.
Outra mensagem é enviada, “maldito, acabe
com esta droga de reunião ou serei descoberto, o
Malkavian entrou na jogada “.

159
BALTAZAR- Mais como saberemos se o que
você estará dizendo é verdade, você poderia muito bem
favorecer Filipe em todo este processo apenas para
livrá-lo.
BERNARDO- Eu sei um jeito, nos
Toreadores também possuímos esta disciplina, eu
transmitirei tudo que Miguel estiver vendo, como sou
um agente neutro vocês podem confiar em mim, além
de respeitar até a morte o código de honra da Camailla
onde diz que não posso mentir ou ocultar fatos que
sejam diretamente ligados a seita, eu também quero
pegar este traidor mais do que todos que estão aqui.
BALTAZAR- Sendo assim podem se
posicionar.
MIGUEL- Pois bem, vou começar.
Todos os envolvidos se posicionam, antes de
tudo começar o telefone de Baltazar toca.
BALTAZAR- Alô.
THEODORE- Como vai você xerife, não foi
muito difícil encontrar seu telefone, sou Theodore
Geovane.
O telefone é colocado no viva voz sobre a
mesa para que não parecesse que o xerife tinha algo a
esconder.
BALTAZAR- O que você quer,
GIOVANNI?

160
THEODORE- Simples, quero que esta
reuniãozinha pare agora mesmo, não é interessante
para mim ter o traidor descoberto agora.
FILIPE- E por que não seria interessante pra
você e por que temos que te dar ouvidos?
THEODORE- Você é o primeiro que tem
que me dar ouvidos Nosferatu, a propósito você já
contou pra eles sobre o livro de NOD, que está em seu
poder a algum tempo?
BERNARDO- O livro de NOD, não é
possível, este livro está a séculos desaparecido, Filipe
isso é verdade?
FILIPE- Sim, é verdade, eu não contei a vocês
por que estava sendo ameaçado por este crime que não
cometi e por isso fiquei com medo de perde-lo, mais eu
pretendia apresenta-lo a seita depois que isso tudo
acabasse, mais o que o livro tem a ver com isso tudo
Giovanni?
THEODORE- Absolutamente tudo meu
querido, é por causa dele que vocês devem parar esta
reunião imediatamente, deixe-me explicar melhor, o
Príncipe de vocês está com uma estaca de carvalho
branco enfiada no peito e ninguém sabe como retirar
não é mesmo? Pois bem, eu sei como retirar e estarei
disposto a ajudar vocês caso o meu humilde pedido seja
atendido pelos senhores.

161
BALTAZAR- Você está blefando seu merda,
eu vou encontrar você e acredite as coisas não ficarão
boas para a sua pessoa.
THEODORE- Você não está em posição de
me ameaçar xerife, apenas um Giovanni pode ler o livro
de NOD, e consequentemente descobrir como retirar
a estaca e salvar seu regente, eu vou deixar nas mãos de
vocês, devem decidir o que é mais importante,
descobrir o traidor e saciar uma sede de vingança
momentânea ou, me procurar com o livro e deixa-lo
comigo para juntos salvarmos o seu Príncipe, escolham
rápido, quanto mais tempo à estaca ficar no peito do
nobre de vocês mais difícil será arranca-la depois, até
mais tarde!
FILIPE- Vocês não podem escutar esse cara,
ele está mentindo, estamos muito perto de pegar o
traidor, não podemos parar agora.
NIKOLAS- Filipe, a saúde do Príncipe é mais
importante que tudo no momento, não podemos
arriscar perde-lo.
BALTAZAR- Nikolas está certo, se temos
uma chance de salva-lo devemos agarra-la com as duas
mãos.
BERNARDO- Eu também concordo,
devemos adiar esta reunião e nos concentrar no livro, a
propósito, nos mostre o livro Filipe.

162
Filipe tira o livro de dentro de sua capa e o
mostra a todos.
FILIPE- Eu vou atrás de Theodore, este livro
não sairá das minhas mãos.
BALTAZAR- Justo, vá até o Giovanni e
descubra como salvar o Príncipe, eu como Príncipe
interino declaro esta reunião encerrada.
Todos se levantam e começam a sair da sala,
uma sensação de frustração e ao mesmo tempo de
esperança toma conta dos membros, porém agora,
todos já sabem que realmente há um traidor entre eles,
os olhos da seita devem ficar bem abertos, não há mais
confiabilidade entre os membros, exceto Filipe, Nikolas
e Miguel que parecem nutrir uma certa amizade, o
restante está seguindo os seus próprios instintos sob a
liderança de Baltazar, porém os problemas não acabam
por ai, o SABÁ prepara uma investida contra a
Camarilla, Lorenzo começa a colocar o seu plano de
destruir a sede da seita localizada no bairro El Pobleno
em prática, parece que agora as atenções terão que ser
focadas em resistir ao ataque do SABÁ e depois a busca
pela salvação do Príncipe através de Theodore
Geovanni.
Em quanto a reunião da Camarilla estava
acontecendo, Lorenzo estava se preparando para
adentrar no refúgio subterrâneo da seita, o evento que

163
será agora narrado aconteceu simultaneamente a esta
reunião.
LORENZO- Muito bem, estou no bueiro
mais próximo do bairro El Poblenou, é aqui que devo
entrar porém, antes disso preciso conferir se todos os
explosivos estão aqui.
A rua estava deserta, era perfeito, a entrada
para o subterrâneo devia ser exatamente naquele local,
mais para êxito nesta missão Lorenzo deveria usar uma
disciplina do clã Seguidores de Set chamada Serpentis,
essa habilidade permite que o vampiro se transforme
literalmente em uma serpente o que faz com que ele
possa se esgueirar pelos lugares mais difíceis e obscuros,
além de adotar todas as habilidades de uma serpente
como, uma capacidade de localização mais apurada e
maior velocidade de locomoção.
Finalmente transformado, Lorenzo adentra no
esgoto e começa sua investida no subsolo da Camarilla,
seguindo rigorosamente o plano elaborado por ele
mesmo, a cada local estratégico que passava um
explosivo era cuidadosamente colocado e devidamente
camuflado, dessa forma uma explosão faria um efeito
dominó acontecer em todo o subsolo, depois de
contemplar toda a entrada Lorenzo chega ao centro da
seita, uma câmara redonda que dava acesso a diversas
outras galerias através de túneis, era ali que o último

164
explosivo devia ser colocado, dando um fim a cadeia
montada desde o começo da operação.
O momento era realmente perfeito, toda a
Camarilla estava ocupada, a barra estava realmente
limpa porém, não era assim que as coisas realmente
estavam, um Nosferatu havia ficado no recinto, um
sentinela, Nikolas nunca deixaria o lugar totalmente
desprotegido, e eis que este neófito aparece no exato
momento em que Lorenzo terminara de armar o último
explosivo.
NOSFERATU- O que é isso? Quem é você?
LORENZO- Calma meu chapa, vou explicar
pra você o que está havendo.
Vagarosamente Lorenzo começa a descer do
teto o qual estava instalando o explosivo e a se
aproximar do jovem Nosferatu, naquele momento sua
presença ou ofuscação já não podiam fazer efeito sobre
o vampiro uma vez que sua posição já havia sido
delatada, o que restava a fazer era usar os níveis da
habilidade Serpentis para matar o Nosferatu e apagar
qualquer rastro de sua aparição naquele lugar.
Lorenzo parte para cima do Nosferatu se
transformando em serpente e aplicando um bote
certeiro, digno de uma serpente predadora voraz, a
mordida atinge a perna esquerda do Nosferatu que se
contorce de dor caído ao chão, antes mesmo de esboçar
um ataque Lorenzo o enrola completamente, o
165
estrangulamento estava completo, a força infligida pela
serpente era muito grande, era possível ouvir os ossos
do Nosferatu sendo quebrados enquanto era
lentamente sufocado, não havia chance de defesa ou
escape, a presa apenas aguardava a morte sem ter o que
fazer, passados alguns minutos o Nosferatu já estava “
morto “ e pronto para ser devorado, isso mesmo, um
diableire estava prestes a acontecer, afinal uma serpente
não pode abater sua presa e não come-la e é exatamente
isso que acontece naquele momento, depois de ter
devorado o vampiro Lorenzo precisa de uma hora para
digeri-lo, por isso se esconder e camuflar sua presença
usando a disciplina Ofuscação é a melhor opção afinal,
os explosivos já estavam todos devidamente armados e
agora era apenas esperar o momento certo para entrar
em contato com a Camarilla e anunciar o ocorrido.
Uma hora havia se passado, Lorenzo retornara
ao covil do SABÁ e se encontrara com Rhuan.
RHUAN- Então, conseguiu completar a
missão?
LORENZO- É claro que sim, os explosivos
estão devidamente colocados.
RHUAN- Muito bom, vamos entrar em
contato com a Camarilla e exigir o livro de NOD em
troca do controle que detona os explosivos.

166
Ao fim da reunião o xerife já se preparava para
deixar o Elísios em direção as ruas quando seu telefone
toca novamente.
BALTAZAR- Alô, quem fala?
RHUAN- Boa noite xerife, quem está falando
é Rhuan um dos líderes do SABÁ, você já deve ter
ouvido falar de mim não é mesmo?
BALTAZAR- Com certeza tive o desprazer de
ouvir sobre sua pessoa, o que você quer?
RHUAN- Vou ser bem direto, o subsolo da
sede da Camarilla está repleto de explosivos, ou seja,
aquilo tudo vai voar pelos ares a menos que vocês me
deem o que eu quero.
Rapidamente Baltazar faz um sinal para
Bernardo, Ayslan, Miguel, Nikolas e Filipe, parecia que
algo precisava da atenção deles.
BALTTAZAR- Prossiga seu monte de merda,
o que você quer?
RHUAN- Como sempre mal educado, digno
de um Brujah, pois bem, queremos o livro de NOD,
sabemos que ele está com vocês.
O telefone é colocado no viva voz e agora os
membros que ali estavam podiam ouvir a conversa.
BALLTAZAR- Você está louco, não
podemos te dar este livro, precisamos dele, e como vou
saber se você está mentindo pra mim?

167
RHUAN- É simples, posso te dar detalhes do
subsolo da Camarilla, afinal, eu preciso ter estado lá
para saber destes detalhes não é mesmo?
BERNARDO- Como este maldito entrou no
subsolo? Um líder do SABÁ nunca sai de sua toca, um
outro vampiro fez este serviço, porém este vampiro
deve ter uma tremenda habilidade furtiva.
NIKOLAS- Eu havia deixado meu melhor
sentinela guardando o subsolo e não consigo contato
com ele, provavelmente foi morto nesta ação do SABÁ,
Baltazar, ele não está mentindo, ouça o que ele tem a
dizer.
As coisas pioravam a cada momento para a
Camarilla, depois de terem saído de uma reunião tensa
envolvendo seus membros agora uma investida do
SABÁ, não havia tempo se quer para raciocinar,
Baltazar estava sendo testado a toda hora como
Príncipe interino e aquele momento precisava de uma
ação rápida.
BALTAZAR- Vamos te dar o livro, mais saiba
que eu vou atrás de você seu merda e beberei seu
sangue custe o que custar.
RHUAN- Acho que você não está em uma
posição que lhe permita fazer ameaças xerife, faça o
seguinte, leve o livro para mim amanhã as onze horas
da noite de baixo da ponte no bairro La Sangrera,

168
faremos a troca, darei a vocês o controle a localização
de todos os explosivos e acabamos com isso pode ser?
BALTAZAR- Combinado!
O telefone é desligado.
BERNARDO- Você está louco? Não
podemos dar o livro pra ele, como vamos salvar o
Príncipe sem o livro?
BALTAZAR- Não vamos dar o livro a eles seu
idiota, vamos confrontá-los, ao chegarmos no local
vamos matar todos eles e tomar este controle a força,
temos homens para isso, apenas eu e Ayslan
conseguiríamos acabar com todos eles.
FILIPE- Esta não é a melhor opção, pode ser
um desastre, um confronto não vai resolver as coisas.
BALTAZAR- Então o que você sugere gênio?
FILIPE- Tenho uma ideia, vamos dar um livro
falso pra eles.
NIKOLAS- Tem razão, como não pensamos
nisso antes?
BERNARDO- Eles podem descobrir essa
falsificação na hora da entrega e tudo ir por água a
baixo.
FILIPE- Pouco provável, eles não tem
conhecimento de como é o livro, isto é o nosso trunfo,
a desinformação deles a respeito do mesmo nos dá uma
enorme vantagem, porém, tenho certeza que

169
descobrirão a falsificação, mais a esta altura, tudo já
estará resolvido.
BALTAZAR- Bom plano rapaz!
NIKOLAS- Filipe e eu faremos a falsificação,
nos encontraremos as onze horas no local combinado,
o livro verdadeiro também irá conosco apenas por
precaução.
FILIPE- O livro verdadeiro irá comigo porque
eu não me desfaço dele em hipótese nenhuma.
MIGUEL- Bom, vou com vocês como apoio.
O plano estava pronto, como um jogo de
xadrez, cada ação deveria ser meticulosamente
calculada, o menor erro de alguma das partes poderia
colocar tudo a perder, agora é esperar o momento do
encontro chegar.
Enquanto isso em frente ao portão da casa de
Theodore Giovanni Bradley tocava a campainha
esperando ser recebido pelo necromante das trevas.
O portão é aberto, Bradley adentra na mansão
e se dirige a porta principal que é aberta pelo mordomo.
MORDOMO- Entre meu senhor e fique à
vontade, Theodore o aguarda em sua sala logo a direita.
BRADLEY- Muito obrigado!
Caminhando e analisando o ambiente, é assim
que King Bradley se dirige até Theodore.
THEODORE- Entre e feche a porta por
favor, a que devo a honra de sua visita renegado?
170
BRADLEY- Então você já sabe que estou
sendo caçado pela Camarilla?
THEODORE- Existem poucas coisas que eu
não saiba nesta cidade rapaz.
BRADLEY- Pois bem, então você deve saber
que matei o Bispo, e que por isso a uma grande chance
da inquisição vir até a cidade.
THEODORE- Sim, eu soube disso também,
mais até agora não sei em que posso ser útil pra você.
BRADLEY- Preciso que você o traga de volta,
o posto deve ser ocupado novamente para que
possamos evitar a chegada da inquisição.
THEODORE- Não se preocupe, já tomei
providências quanto a isto, afinal, não é bom para os
meus negócios a chegada da inquisição na cidade,
coloquei um de meus vampiros como o novo bispo,
como a igreja está corrompida e a falta fé aos padres que
lá estão fica fácil um vampiro assumir este posto,
porém, vejo que esta ação tomada da minha parte não
vai resolver os seus problemas, a Camarilla não vai
retirar a caçada de sangue da qual você é o alvo por
causa do que eu fiz não é mesmo?
BRADLEY- Você tem razão, por isso eu vim
atrás de outra coisa, na verdade me sinto envergonhado
por te perguntar sobre uma lenda urbana, algo que
ninguém sabe se realmente existe mais que se existir
pode salvar minha “vida”, estou falando da
171
GOLCONDA, por favor, se souber algo sobre ela me
diga, eu preciso saber!
THEODORE- Vejo sinceridade em seus
olhos, por isso vou lhe contar o que eu sei sobre esta
lenda, primeiro, não é uma lenda, é algo real, os mestres
da Golconda existem e vagam entre nós, porém, você
não os encontra e sim eles que encontram você, dizem
que ficam observando um vampiro que tem potencial
para a benção e que no momento certo ele é recrutado.
BRADLEY- Você está me dizendo que tenho
que sentar e esperar ser recrutado? A minha cabeça está
a prêmio, não posso fazer isso, eu preciso encontrar este
mestre da Golconda e pedir que me aceitem é a minha
única chance.
THEODORE- Tenha calma pequeno
gafanhoto, o mestre da Golconda pode estar mais perto
do que você imagina, se for abençoado é realmente o
seu destino, tenha certeza que ele encontrará você,
agora, peço que se retire, tenho algo muito importante
para fazer.
BRADLEY- Obrigado pela ajuda Giovanni,
espero vê-lo novamente um dia.
Bradley deixa a mansão de Theodore e se
dirige a floresta, os mestres da Golconda tendem a
habitar estes lugares, dessa forma a chance de ser
encontrado é maior.

172
Theodore sai da sua sala e se dirige até o salão
de rituais.
THEODORE- Benedicht, tudo está pronto?
BENEDICHT- Sim senhor, o ritual de
invocação está pronto, pode começar quando quiser.
THEODORE- Pois bem, portal do mundo
dos mortos se abra perante a mim, preciso ter a visão
além da mortalha e mais do que isso preciso trazer um
espírito de volta ao plano terrestre.
O salão é tomado por uma energia negra, as
luzes se apagam e apenas as velas continuam acessas, o
chão começa a trincar e posteriormente a se abrir, uma
fumaça toma conta do lugar, um cheiro forte é exalado
da fissura que agora está aberta no chão, uma voz que
vem de dentro da fissura diz, quem você quer trazer a
este plano?
THEODORE- Porteiro do inferno, libere
para este plano o espírito de NOD, preciso dele por um
dia.
PORTEIRO- Vou liberar com uma condição,
quero algo em troca.
THEODORE- Como de costume, meus
dedos estão acabando, vou retirar apenas mais um,
agora terei apenas dois dedos na mão esquerda, partes
do corpo dadas em trocas em rituais não podem ser
regeneradas, mais tudo bem, eu preciso conversar com

173
NOD, porteiro, fique com um de meus dedos como
forma de pagamento pelos seus serviços.
PORTEIRO- Pagamento aceito, NOD você
pode sair!
Neste momento o espírito de NOD sai de
dentro da fissura e fica frente a frente com Theodore, a
fissura é fechada e os dois se mantém um de frente para
o outro.
NOD- Por que me trouxe aqui vampiro?
THEODORE- Não tenho muito tempo meu
senhor, preciso ser direto, existe um vampiro que está
de posse do seu livro.
NOD- O que? Mais como?
THEODORE- É um vampiro mercador, ele
recebeu um carregamento de especiarias e o seu livro
estava no meio de vários outros itens, não sabemos
como ele foi parar lá.
NOD- Entendo, me lembro que eu o havia
enterrado no Egito a milhares de anos.
THEODORE- Uma das teorias que pensei
agora faz sentido, seu livro pode ter sido descoberto por
escavadores e arqueólogos e vendido no mercado
negro, Filipe, o vampiro o qual lhe falei é um mercador
famoso e um grande comprador deste mercado, sendo
assim através destes negócios escusos o livro pode ter
parado em suas mãos.

174
NOD- Sim, mais por que me trouxe, o que eu
tenho a ver com isso?
THEODORE- Preciso ler o livro, porém ele
está selado para o meu clã, preciso quebrar o selamento
e você pode fazê-lo por mim.
NOD- Por que acha que eu ajudaria você?
THEODORE- Simples, posso retirá-lo do
tormento eterno e te dar descanso.
NOD- Como poderia fazer isso?
THEODORE- Tenho contatos com um
mestre da Golconda, posso te dar a benção e te tirar
deste inferno em que você vive.
NOD- Parece bom, mais tenho outra
exigência.
THEODORE- Diga.
NOD- Sou um competidor nato e por isso
você terá que além de me proporcionar a benção da
Golconda terá também que me vencer em uma partida
de xadrez, o que me diz.
THEODORE- Será como roubar doce de
uma criança, vou buscar o tabuleiro, espere aqui.
O tabuleiro é posto sobre a mesa, porém o dia
estava quase raiando, dessa forma a partida terá que
começar quando a noite vier novamente, enquanto isso
Theodore entrará em torpor e aguardará este
momento.

175
O dia passa e a noite chega, Theodore começa
a partida de xadrez com NOD enquanto a Camarilla
parte para o local combinado para fazer o acordo
proposto pelo SABÁ, a velha ponte está abandonada,
um ótimo lugar para este tipo de negócio, Baltazar,
Miguel, Nikolas, Ayslan e Filipe chegam primeiro e
ficam do lado direito da ponte aguardando a chegada
do SABÁ.
Passados alguns minuto chegam um carro e
três motocicletas, era a La Bestia Negra composta por
Eduardo, Diego e Alejandro e mais à frente do carro
estacionado saem, Rhuan, Ramon e Lorenzo, o cerco
estava armado, os dois grupos se aproximam um do
outro vindo de lados opostos da ponte, em um certo
momento todos param de caminhar e apenas Baltazar,
Rhuan e Ramon continuam prosseguindo até
finalmente se encontrarem no centro da ponte.
BALTAZAR- Como vocês ousaram se
aproveitar de um momento de fraqueza da nossa seita
para nos atacar tão covardemente?
RAMON- Você sabe muito bem xerife que
não há pacto entre homens e lobos, nós não estamos
nem aí pra condição de vocês, atacaremos sempre que
houver chance, tenha certeza disso.
BALTAZAR- Como esperado de uma seita
tão desprezível, sem honra, sem respeito pelos irmãos
cainitas.
176
RHUAN- Não consideramos vocês nossos
irmãos, vocês são traidores que se aliaram aos humanos,
estão vivendo como lacaios, prisioneiros desta raça
inferior que merece ser exterminada, daremos uma
chance a vocês, se unam a nós e deixaremos vocês
viverem.
BALTAZAR- Quanto insolência, sabe que se
fosse da nossa vontade mataríamos todos vocês aqui e
agora não é mesmo?
RAMON- Venha e tente a sorte, vou adorar
beber o sangue.
Os ânimos ficam exaltados, os líderes de
ambas as seitas ficam em posição de ataque, a La Bestia
Negra também se posiciona, em contra partida Ayslan
salta de seu posto e cai do lado de Baltazar com a catana
já em mãos pronto para a luta, a situação parecia ter se
direcionado para um confronto inevitável quando Filipe
entra no meio deles.
FILIPE- Parem com isso, não viemos aqui
para uma luta desnecessária, Baltazar, a Camarilla não
pode entrar em uma guerra neste momento e Rhuan,
você sabe que poucos sobreviverão caso este confronto
aconteça aqui e agora não é mesmo? Por tanto vamos
fazer a troca que nos propusemos a fazer e seguir nossos
caminhos.
RAMON- Garoto sensato, cairia bem do
nosso lado!
177
RHUAN- Concordo com ele, nos dê o livro
de NOD e daremos o controle e o mapa a vocês.
BALTAZAR- Não somos idiotas, como
saberemos que este mapa não é falso e esta merda de
controle, funciona?
RAMON- Com certeza vocês tem lacaios no
subsolo da Camarilla, ligue para eles e passem uma de
nossas localizações, ele vai até lá e ver se o que estamos
dizendo é verdade, estaremos dando uma bomba de
bandeja para vocês, e outra coisa seu Brujah de merda,
se existe uma área da não vida que o SABÁ respeita é a
barganha, neste aspecto temos tanta honra quanto
vocês.
BALTAZAR- Não vou ligar pra ninguém, vou
confiar em vocês, Filipe pegue o livro e dê a eles.
Filipe caminha até Rhun e Ramon e ao chegar
até eles tira um livro de dentro do casaco e entrega para
os dois ao mesmo tempo, Ramon o pega e o parte ao
meio, metade fica com ele e metade fica com Rhuan,
Lorenzo observa aquela cena e se admira da lealdade
demonstrada pelos líderes do SABÁ para um com o
outro.
Rhuan tira de dentro do bolso de sua calça um
pequeno controle remoto e dá a Filipe juntamente com
um mapa com as localizações dos explosivos, Filipe
pega estes dois itens e se direciona até o carro
juntamente com Nikolas e Miguel, Baltazar e Ayslan se
178
deslocam para outro veículo e juntos a Camarilla deixa
o local, nenhuma palavra foi trocada pelos membros
dos dois grupos após o encerramento da negociação,
este gesto deixava claro que tudo que havia sido
conversado até aquele momento foi um ato de extrema
necessidade e que dificilmente se repetiria.
LORENZO- Agora que temos o livro vamos
embora, vamos analisa-lo e ver o que podemos
descobrir sobre ele.
RAMON- Concordo neófito, vamos embora,
não temos mais nada a fazer aqui.
Dessa forma, todos seguem para o covil do
SABÁ a fim de examinar a mais nova aquisição da seita.
Não muito longe dali na mansão de Theodore
a partida de xadrez se desenrolava, NOD um jogador
muito habilidoso e Theodore um estrategista nato,
ingredientes perfeitos para uma partida épica, algumas
peças já haviam sido tomadas por ambos porém NOD
se dispunha de uma pequena vantagem de uma torre, o
jogo estava no começo então uma torre não estava
fazendo grande diferença, para quem conhece o xadrez
sabe que as torres se desenvolvem melhor no final da
partida quando o campo está desfalcado e as retas estão
livres para o avanço das mesmas.
THEODORE- Me diga NOD, por que
escreveu aquele livro?

179
NOD- É uma longa história, mais posso
sintetizar pra você, eu fui um mago muito poderoso
contemporâneo de Cain, ficamos amigos depois que ele
me salvou de um ataque de uma fada negra chamado
KOEL , por causa deste episódio fiquei devendo um
favor a Cain e como magos não podem quebrar favores
eu tive que pagar, certa feita, Cain me pediu para que
eu escrevesse um livro sobre os treze clãs que a àquela
altura ele já tinha formado, me disse que este livro
guardaria todos os segredos destes clãs, ou seja, as
disciplinas de cada um deles, como você deve saber
elevar o nível de uma disciplina leva anos e chegar ao
nível máximo pode levar centenas de anos, porém com
o livro este tempo cairia drasticamente, a intenção de
Cain era de que os clãs estivessem preparados para
quando os antediluvianos acordassem e quisessem
destruir o mundo, de alguma forma Cain passou a
gostar da terra e da humanidade e não queria que tudo
isso acabasse, o livro seria uma espécie de arma contra
esta ameaça.
THEODORE- Mais por que Cain o escondeu
ao invés de dá-lo aos treze clãs?
NOD- Cain sabia que que se este livro
chegasse as mãos dos treze clãs antes do renascimento
dos antediluvianos uma guerra seria instaurada entre os
próprios clãs, a sede de poder tomaria conta de todos
eles e uns matariam os outros, e isso de fato já acontece
180
sem o livro estar com eles, afinal de contas vocês vivem
na JIHAD não é mesmo, uma guerra de vampiros
contra vampiros?
THEODORE- Você tem razão, o livro
serviria de divisor caso não houvesse um motivo
comum que unisse os vampiros em torno de uma causa,
e este motivo seria o aparecimento dos antediluvianos,
Cain queria que o livro fosse usado no momento certo
e para o objetivo certo.
NOD- Correto, o livro não trata apenas dos
vampiros, escrevi sobre outras raças existentes naquele
momento e que acredito existirem até hoje, se o livro
cair em mãos erradas pode ser o fim de um equilíbrio
que está a milhares de anos intacto, seria um desastre
para todas as raças.
A porta da frente é arrombada, o barulho pode
ser ouvido pelos jogadores de dentro da sala que eles
estão.
THEODORE- O que foi isso?
MORDOMO- O senhor não pode entrar aqui
desse jeito, por favor se retire agora.
GABRIEL- Saia da minha frente seu verme
antes que eu arranque seus olhos.
Gabriel entra na sala de jogos a qual estavam
Theodore e NOD, e joga a cabeça de Frederic sobre o
tabuleiro de xadrez o despedaçando pelo chão.

181
THEODORE- Gabriel você está louco? O
que está fazendo?
GABRIEL- Fiz o que você queria vampiro
agora quero meu pagamento.
NOD- Você não pode fazer isso rapaz!
GABRIEL- Que gracinha, um espírito de
estimação jogador de xadrez, vou dar um jeito nisso
também.
Gabriel tira de sua bolsa um livro e começa a
pronunciar um feitiço contido nele.
THEODORE- Pare com isso Gabriel!
GABRIEL- Não se mexa vampiro ou vai
sobrar pra você também.
O feitiço é conjurado e o espírito de NOD
começa a ser puxado para dentro do livro sem ter o que
fazer.
NOD- Não, eu não posso ir agora, preciso
ficar aqui!
GABRIEL- Bom, agora que já aprisionei este
espírito errante vou lavá-lo comigo, e quanto a você
Theodore quero o meu pagamento.
THEODORE- Diga o que você quer maldito.
GABRIEL- Quando você me contratou eu
havia lhe avisado que não seria barato você se lembra?
Pois bem, o meu preço é tudo que você tem, sua casa,
dinheiro, amigos, quero tudo, você sairá daqui apenas
com as roupas do corpo seu vampiro de merda.
182
THEODORE- Este preço é alto demais, por
que está fazendo isso?
GABRIEL- Frederic merece este preço, eu
matei um vampiro formidável, é o justo, no fundo eu
queria matar você também mas, eu estou aqui como
mercenário e não como inquisidor por isso eu não
posso faze-lo, mas para que você não saia ileso desse
nosso contrato vou te prejudicar onde dói mais, no seu
dinheiro, no seu status, a parti de agora você está falido
Theodore, tudo que você tem agora é meu.
THEODORE- Por hora você venceu
inquisidor, mais eu terei minha vingança custe o que
custar, isso não ficará assim eu juro.
GABRIEL- Já recebi ameaças de inimigos
muito mais fortes que você, agora pegue suas coisas e
suma daqui.
Com um ódio profundo em seu coração
Theodore pega alguns pertences e deixa a mansão, seu
paradeiro é desconhecido, não sabemos como este
necromante irá se reerguer e voltar a dominar o cenário
da JIHAD.
Adentrando ao covil do SABÁ descobrimos
um fato inusitado, na sala dos líderes se encontravam
Rhuan, Ramon e Lorenzo, as duas partes do livro de
NOD que havia sido dividido ao meio pelos dois líderes
são postas sobre a mesa para serem analisadas, porém,
esta tarefa só poderia ser realizada por um Giovanni ou
183
um Tremere sendo assim, um Tremere havia sido
chamado de Sevilla justamente para averiguar e ler o
livro.
O vampiro então se aproxima, pega o livro e
começa a analisa-lo, é um trabalho minucioso que deve
ser feito com todo cuidado afinal se tratava de um livro
de milhares de anos ou pelo menos era isso que todos
naquela sala estavam pensando até que, a notícia foi
dada.
GETRO- Meus senhores tenho algo para
dizer e vocês não vão gostar.
RHUAN- Diga, o que está acontecendo?
Getro tira algumas fotos do livro de NOD que
seu clã possui e começa a compará-las com o exemplar
a mesa.
GETRO- Meus senhores o livro é falso!
RAMON- Como assim, você deve estar
enganado!
RHUAN- Olha isso direito ou eu arranco a
sua cabeça aqui mesmo.
Lorenzo então toma a palavra.
LORENZO- Eu já esperava pior isso, eles não
iam se desfazer de algo tão valioso por uma fortaleza de
concreto e além do mais eles possuíam uma vantagem
que os permitiu fazer esta jogada.
RHUAN- Que vantagem era essa?

184
LORENZO- Nós não tínhamos o
conhecimento prévio do livro e nem do seu conteúdo,
se eles nos dessem uma revista do homem- aranha com
certeza nós acharíamos que seria o livro de NOD,
malditos.
Ramon desfere um soco contra a mesa, o ódio
estava estampado em seus olhos, a fúria e a vontade de
ir até a Camarilla e fazer justiça com as próprias mãos
estavam tão nítidas quanto a lua cheia que os iluminava
porém, naquele momento isso não era possível, apenas
gritos poderiam ser dados neste momento.
RAMON- MALDITOS, SEITA MALDITA,
MIL VEZES MALDITOS, EU JURO QUE VOU
MATAR TODOS VOCÊS E BEBEREI O SANGUE
DOS SEUS ANCIÃOS, VAMPIROS SEM HONRA
DO CARALHO!
LORENZO- Acho que podemos tirar alguma
vantagem desta situação.
RHUAN- Como?
LORENZO- Eu tenho um contato na polícia
de Barcelona e fui informado de que foi encontrado um
indivíduo quase morto em um apartamento em El
Raval, este contato sabe que sou um vampiro e me ajuda
no que eu precisar.
RAMON- E o que tem essa pessoa encontrada
quase morta que nos interessa?

185
LORENZO- Ele não é uma pessoa qualquer,
segundo meu contato ele é o Lupino Branco, Ragnar.
RAMON- O lendário Lupino Branco está
quase morto, mais que pode ter conseguido fazer isso?
LORENZO- Eu não sei, mais com certeza
Ragnar foi pego desprevenido, não existe possibilidade
de alguém lutar contra ele e ficar vivo para contar a
história.
RHUAN- Pois bem Lorenzo, qual o seu
plano?
LORENZO- Vou até Ragnar e convence-lo a
se aliar a nós, dessa forma estaremos um passo à frente
da Camarilla novamente.
RAMON- Mais como vai convence-lo? Este
lobisomem possui uma honra inquebrável.
LORENZO- Não esquenta com isso, tenho
meus métodos.
Parece que o SABÁ não está tão perdido
quanto parecia, graças a inteligência e astúcia de
Lorenzo a seita pode tomar rumos interessantes na
JIHAD, ter um Lupino lutando ao lado de vampiros
seria algo inédito, uma revolução, no cenário atual seria
uma cartada na manga digna de uma mestre, porém,
Lorenzo deve tomar cuidado para esta cartada não se
tornar um blefe.

186
187
Episódio: REDENÇÃO

E
sta floresta está densa, estou me
sentindo tão sozinho, não tenho mais
ninguém, minha seita quer me matar,
resumindo que merda de vida, ou melhor, que vida, já
tô morto nessa merda.
Enquanto a JIHAD se desenrolava em
Barcelona, Bradley caminhava sozinho pela floresta na
esperança de encontrar um mestre da Golconda que
pudesse lhe aceitar e te dar um novo direcionamento,
um novo sentido pois tudo parecia tão escuro, era
estranho para um vampiro temer o escuro porém não
era o escuro do ambiente que assustava nosso vampiro
e sim o escuro que o abatia por dentro, é muito triste
olhar para o futuro e ver apenas escuridão, não há
perspectivas, sentido, o que resta é apenas uma
existência vazia, era exatamente o que Bradley estava
sentindo naquele momento e apenas um mestre da
Golconda poderia livra-lo dessa prisão auto existencial.
A floresta sempre tão assustadora mais que
neste momento acolhia nosso vampiro como se fosse o
único lugar que o fazia se sentir seguro, a medida que
caminhava Bradley ia se distanciando da cidade de se
aproximando das montanhas.

188
BRADLEY- Que estranho, não vi nenhum
lobisomem ainda.
Neste momento um uivo é ouvido, a lua estava
cheia, algo estava para acontecer.
BRADLEY- Que droga, por que eu fui abrir a
merda da boca? Mais isso já era de se esperar, estou no
território deles.
Barulhos começam a ser ouvidos como se
houvessem pessoas estivessem cercando nosso
vampiro.
Bradley já experiente analisa e deduz a
situação.
BRADLEY- São lobisomens, estão me
espreitando, o modos operandi de uma alcateia é
exatamente este, espreitam a presa esperando o melhor
momento para atacar, mais não vou dar este gostinho a
eles, vou me direcionar até a aquela árvore mais grossa
e ficar de costas para ela, dessa forma quem vier terá
que vir pela frente, isso me dá pelo menos uma certa
vantagem visual, se eu posso ver eu posso socar, essa é
a jogada!
A previsão foi certeira, um lobisomem surge
em meio a clareira exatamente na frente de Bradley e
salta em cima do mesmo, sua boca e garras são armas
poderosas que podem ceifar a vida do vampiro, Bradley
por sua vez usando toda sua técnica de boxeador efetua
uma esquiva perfeita para a direita, dessa forma o
189
lobisomem se choca contra o tronco da arvore caindo
ao lado de outro arbustos, sem ter tempo para respirar
Bradley sofre um novo ataque, um segundo lobisomem
salta de cima de uma arvore em direção ao seu pescoço
porém dessa vez não houve hesitação, disciplina
potência acionada e um soco é desferido contra a
cabeça do lobisomem que toma o golpe antes mesmo
de chegar ao chão, seu maxilar é destroçado juntamente
com o lado direito do seu crânio, o lupino cai ao chão
totalmente fora de combate.
BRADLEY- Tenho apenas mais uma
potência, e pelo que eu estou vendo não são apenas
esses dois malditos que estão aqui, que seja, lutarei até
morrer se necessário mais garanto que levo o máximo
deles comigo.
O lobisomem que havia se chocado contra a
arvore se levanta e começa a rodear o vampiro, mais
dois lupinos chegam e assumem suas posições, sendo
assim, Bradley agora se encontra no meio de três
lobisomens, a emboscada está formada.
Os ataques começam, o primeiro lobisomem
desfere um ataque com suas garras na direção de
Bradley que por sua vez se esquiva e aproveita o
movimento para pegar um pedaço de madeira que
estava ao chão, o segundo lupino se atira na perna
esquerda do vampiro que toma a mordida de propósito,
fortitude ativada, o lupino quebra os dentes mordendo
190
na perna agora fortificada, com isso o pedaço de
madeira é destroçado na cabeça deste lobisomem que
vai ao chão quase inconsciente.
BRADLEY- Não posso lutar contra três de
uma vez preciso tirar mais um de combate e ficar apenas
com dois, acho que não tem mais amigos deles por ai
no momento.
O terceiro lupino desfere vários golpes com
suas garras em Bradley ao passo que esquivas bem
sucedidas são executadas por ele o que deixa o lupino
perto o bastante para um golpe certeiro visto que
existem brechas nos ataques do mesmo, era como se
eles estivessem no ringue, o vácuo deixado pelo golpe
das garras do lobisomem se transforma em uma avenida
por onde o soco poderia viajar.
O soco é desferido e é certeiro, mais um
inimigo fora de combate, a última fortitude havia sido
gasta, agora restam apenas dois porém os recursos
acabaram, os dois lupinos que restaram atacam de uma
só vez, uma esquiva se torna impossível, um braço e
uma perna são abocanhados simultaneamente e antes
que Bradley pudesse reagir estes membros são
arrancados levando nosso vampiro ao chão, é o fim.
Um clarão surge em meio a floresta, uma
mulher salta em direção aos lobisomens empunhando
191
uma lança brilhante e com um movimento giratório ela
os afasta, a luminosidade parece incomodá-los e os faz
recuar, eles somem em meio a densa floresta.
Com muita dificuldade de falar Bradley
pergunta.
BRADLEY- Mais quem é você?
Você me conhece Brad!
BRADLEY- O que? Carmem?
CARMEM- Sim sou eu mesma.
BRADLEY- O que é você?
CARMEM- Deixa eu te tirar daqui e depois
conversamos enquanto você se regenera.
Carmem pega Bradley nos braços e se desloca
para o alto da montanha.
A noite termina e um novo dia começa, agora
são sete horas da noite e não muito longe dali no centro
da cidade Lorenzo se encontra com o chefe de polícia
Athos Ramirez.
ATHOS- Como vai meu amigo?
LORENZO- Estou muito bem e você?
ATHOS- Estou ótimo, correndo atrás de
criaturas da noite como de costume, afinal não é fácil
saber de toda a verdade e ficar parado sendo um chefe
de polícia não é mesmo?
LORENZO- Entendo, quando decidi te
revelar tudo sabia que não ficaria parado, mais então, o
que tem pra mim?
192
ATHOS- Acho que esse cara vai te interessar,
encontramos ele quase morto dentro deste
apartamento, um vizinho ouviu uns barulhos e resolveu
nos chamar, achei que era uma pessoa normal porém,
percebi que ele estava se regenerando dos seus
ferimentos então puxei a ficha dele e descobri que ele é
Ragnar o lobisomem branco de que tanto falam.
LORENZO- Fez bem em ter me ligado, vou
conversar com ele e leva-lo comigo, tudo bem pra você?
ATHOS- Claro que sim, meus homens não
entenderão como ele se recuperou de seus ferimentos
tão rápido, acho que ele só me causaria problemas
então, fique à vontade.
LORENZO- Obrigado meu amigo, sabia que
poderia contar com você.
ATHOS- Claro que pode contar, pessoal,
vamos embora daqui, todos pra dentro das viaturas, se
cuida cara, até mais!
LORENZO- Pode deixar.
Todos se retiram do local ficando apenas
Lorenzo e Ragnar, a porta do apartamento é fechada
dando aos dois mais privacidade, a cena é lamentável,
móveis quebrados, muito sangue no chão, com certeza
uma sessão de tortura aconteceu naquele lugar.
LORENZO- Posso me sentar aqui e conversar
um pouco com você?

193
RAGNAR- Tanto faz, não sei nem o que você
tá fazendo aqui.
Lorenzo puxa uma cadeira e se senta ao lado
de Ragnar, o vento balançava a cortina de um lado para
o outro, apenas a luz da cozinha estava acessa deixando
a ambiente imerso em uma leve penumbra.
LORENZO- Meu nome é Lorenzo e estou
aqui para te ajudar, diga-me o que aconteceu.
RAGNAR- Me ajudar? O que você ganharia
com isso? Tenho certeza que você não é um bom
samaritano ou a madre Tereza de Calcutá.
LORENZO- Tem razão, eu faço parte de uma
seita chamada SABÁ, somos rivais da Camarilla em
uma guerra chamada JIHAD e no momento busco um
aliado.
RAGNAR- Você acha que eu lutaria ao lado
de um vampiro?
LORENZO- Porque pelo que vejo você está
sozinho, onde está sua alcateia?
RAGNAR- Minha alcateia foi tirada de mim
por um Mago maldito, ele persuadiu meus
companheiros a me abandonarem.
LORENZO- E por que você não foi atrás dele
e o matou, você não é forte o bastante para isso?
RAGNAR- Não posso vence-lo sozinho,
existem rumores de que ele possui uma técnica que

194
pode matar o que ele quiser pronunciando apenas uma
palavra e eu não sou imortal como vocês.
LORENZO- Entendo e acho que posso dar a
imortalidade a você.
RAGNAR- O que, como isto seria possível?
LORENZO- Estou indo atrás de um artefato
que permite a quem usá-lo se tornar imortal, ele se
chama MÃE DA LUA, é um artefato Egípcio passado
de geração em geração pelo meu clã e se eu conseguir
pegá-lo posso oferece-lo em troca da sua lealdade.
RAGNAR- Se isso for verdade vampiro,
poderei enfrentar Leonard e resgatar minha alcateia e
ao mesmo tempo me vingar do homem que quase me
matou neste apartamento.
LORENZO- Você não me disse o que houve
aqui.
RAGNAR- Um homem meio máquina veio
aqui e me espancou pata obter informações sobre
Frederic, um velho amigo, eu não tive escolha, contei
tudo o que eu sabia do contrário eu iria ser morto.
LORENZO- E quem é esse cara?
RAGNAR- Não sei, mais ele não era um
humano normal, ele era preparado demais, sabia o que
estava fazendo, era um profissional, mais isso são águas
passadas por enquanto, me traga este artefato e eu serei
seu aliado.

195
LORENZO- Combinado Lupino, virei em
seu encontro novamente.
Rapidamente Lorenzo se levanta e sai do
apartamento, e de posse do mapa que Xavier o tinha
deixado parte para o local marcado onde supostamente
estaria o artefato que pode te dar uma grande vantagem
nesta guerra.
Carmem e Bradley chegam até uma cabana na
parte oeste das montanhas, a cabana é pequena porém
quando os dois adentram no recinto percebem que por
dentro ela é enorme, algo completamente inexplicável,
o lugar é amplo contendo algumas camas, cadeiras,
mesas e vários jardins além de um tatame enorme para
treinamento, mais ao fundo um senhor sentado em
posição de lótus chama a atenção.
BRADLEY- Carmem eu estou bem me
coloque no chão por favor.
CARMEM- Calma Brad, você ainda não se
regenerou por completo, venha sente-se aqui.
BRADLEY- Eu quero saber o que está
acontecendo, como você me salvou, de onde surgiu,
que merda era aquela que você fez e como você fez
aquilo?
CARMEM- Eu pude fazer aquilo por que sou
um mestre da Golconda Brad.

196
BRADLEY- O que? Fala sério, você é só uma
humana prostituta, que papo é esse de mestre da
Golconda, você pirou mulher?
Carmem se aproxima e beija Bradley de uma
forma intensa e demorada, uma ação que parece ter
sido esperada a muito tempo para ser executada.
BRADLEY- Eu não consigo entender, você
anda sob a luz do dia, como você pode ser uma
vampira, e por que me beijou?
CARMEM- Andar sob a luz do dia é uma das
vantagens de se alcançar a Golconda e sobre o beijo, eu
sempre quis isso mais nunca era o momento, você se
lembra que umas vez nós conversamos e você havia me
dito que eu não poderia entender o que se passava com
os seus sentimentos?
BRADLEY- Sim, me lembro.
CARMEM- Pois bem, eu sempre te entendi, e
sempre soube que você era o vampiro e o homem ideal
para alcançar esta benção, nunca duvidei da sua
humanidade e da sua bondade, mesmo você se
tronando uma criatura da noite, por isso passei a te
monitorar a fim de confirmar minha tese e para minha
grata surpresa você ateneu todas as minhas expectativas.
BRADLEY- Nem em um milhão de anos eu
poderia desconfiar de você, a Golconda é a minha única
salvação.

197
Eu sei disso e por isso pedi para a Carmem
buscar você.
BRADLEY- Pera í, mais quem é você?
Meu nome é XIFÚ, sou aquele que vai te
testar e decidir se você poderá alcançar a Golconda.
O velho havia se levantado e se aproximado
dos dois sorrateiramente enquanto conversavam.
XIFÚ- Venha, não temos tempo a perder,
preciso treinar você rapidamente, pressinto um
acontecimento grandioso que está por vir e você
Carmem precisam estar preparados para quando
acontecer.
Enquanto Bradley se preparava para seu
treinamento em busca da Golconda, Lorenzo se
deslocava até o local indicado no mapa e depois de
algumas horas ele finalmente chega, o local é uma
caverna abandonada na região de Montbau, o lugar está
deserto, a noite escura como de costume e caverna
sendo iluminada apenas pela luz da lua.
LORENZO- Preciso entrar nesta caverna e
descobrir se este artefato está lá, essa é a minha única
chance de obter uma vantagem em cima do SABÁ e da
Camarilla ao mesmo tempo, terei um Lobisomem do
meu lado e isso fará toda a diferença no final.
Vagarosamente Lorenzo caminha até a
entrada da caverna, era estranho porém o medo o
dominava como nunca havia dominado antes, ao
198
mesmo tempo que a hesitação batia em sal porta a
vontade de entrar e descobrir o que há dentro deste
local também o motiva a continuar, e assim foi feito,
Lorenzo caminha para dentro da caverna, a medida que
ele vai entrando tochas na parede começam a se
acender e iluminar o caminho como se a caverna o
quisesse dentro dela, um chão bem limpo ao contrário
de ossadas de pessoas denunciava que ninguém tinha
pisado ali até o momento ou que o eventual morador
da caverna era muito bom de limpeza, o caminho vai
sendo percorrido até que chega ao seu final, uma
câmara redonda com uma estranha criatura sentada em
um trono ao centro dela, a criatura tinha dois chifres
metade homem e metade animal com pés de cabra.
Que bom que você veio, estava a muito tempo
esperando essa visita, seja muito bem vindo nobre
Setista.
LORENZO- Quem é você e por que estava
me esperando?
Eu sou o que os outros chamam de Fauno,
mais pode me chamar como quiser.
LORENZO- Uma criatura mitológica, já ouvi
falar de você, o que você faz neste lugar?
FAUNO- Sou o guardião da caverna e do
artefato que você procura.
LORENZO- Muito bem, eu vim aqui para
busca-lo, me conceda o arefato por favor.
199
FAUNO- Não é tão fácil assim Setista, você
precisa me provar que é digno de possuí-lo.
LORENZO- Que seja, e como faço isso?
FAUNO- Você terá que responder algumas
perguntas e percorrer alguns caminhos até encontrar o
artefato, está preparado?
LORENZO- Eu já nasci preparado!
Distante dali na cabana do mestre Xifú,
Bradley recebia as primeiras instruções acerca da
Golconda.
XIFÚ- Agora que você já tomou um banho e
vestiu o traje de monge aprendiz posso começar a te
explicar o que realmente é a Golconda.
BRADLEY- Sim mestre.
XIFÚ- Golconda é uma cidade em ruínas que
fica localizada na região central da índia, e foi lá que o
primeiro mestre surgiu a milhares de anos atrás, a
benção leva o nome da cidade do primeiro mestre, este
mestre pertencia a uma seita chamada INCONNUN,
uma seita que não participa da JHAD, o seu único
objetivo é desenvolver mestres da Golconda para
libertar aqueles vampiros que se arrependem
verdadeiramente de terem sido transformados, os
benefícios de se tornar um mestre da Golconda são
muitos entre eles, o vampiro eleva todas as suas
disciplinas ao nível máximo instantaneamente fazendo
com que a sua geração caia até a quarta isto é, uma
200
apenas a cima dos antediluvianos, andar na luz do dia
também é outra vantagem além de adquirir um vasto
conhecimento sobre criaturas que nem os vampiros
mais antigos entre nós sabem que existem.
BRADLEY- Muito interessante, mais como
que eu faço para chegar neste nível?
XIFÚ- Você passara por um treinamento
como dito anteriormente, você terá que fazer uma
escolha agora que definirá os rumo que você irá tomar
daqui pra frente.
Xifú estende as mãos abertas e em cada uma
delas aparece uma rosa com quatro pétalas, uma rosa
branca e uma vermelha.
XIFÚ- Escolha uma destas rosas, cada cor
simboliza uma trilha que você seguirá daqui pra frente,
nesta trilha você terá quatro provações que
correspondem ao número de pétalas de cada rosa, se
conseguir cumprir as quatro provações você se tornará
um mestre da Golconda.
Uma escolha deveria ser tomada naquele
momento e Bradley não tinha a menor ideia de como
iria escolher, foi quando uma lembrança tomou sua
mente e o levou para outro mundo, mesmo que por
poucos instantes, o ano era mil novecentos e noventa e
cinco, Bradley tinha seis anos, desde criança um
lutador, certa feita estava ele caminhando com a sua
mãe pelo shopping em Barcelona quando avistou uma
201
vitrine de um aloja de artigos esportivos e de luta, na
prateleira dois pares de luvas de boxe,
coincidentemente um par branco e o outro vermelho,
aquele garoto simplesmente ficou paralisado em frente
a prateleira e sua mãe sem entender o perguntou o que
estava acontecendo, ele não disse uma palavra,
simplesmente apontou para o par de luvas vermelhas,
era o bastante, sua mãe havia entendido o recado, o
garoto saiu da loja com o seu tão sonhado par de luvas
vermelhas, aquela seria a única lembrança que ele teria
de sua mãe assassinada uma semana depois pelo seu
pai.
Mais uma vez Bradley estava de frente a
aquelas luvas, e como daquela vez ele escolheu a luva
vermelha novamente.
XIFÚ- Muito bem, como você escolheu a rosa
vermelha lhe direi qual trilha irá seguir, será a trilha do
sangue composta por quatro provações, você está
pronto?
BRADLEY- Eu já nasci pronto!
XIFÚ- A primeira provação é o perdão, você
deve conseguir o perdão de alguém que você tenha
matado, essa pessoa deve te perdoar de forma sincera
para que a provação seja concluída.
BRADLEY- Ei, Carmem, como eu vou fazer
isso?
CARMEM- Ai é com você Brad.
202
BRADLEY- Mas Xifú, pera í, cadê ele, pra
onde ele foi?
BRADLEY- Acho que eu sei quem pode
trazer um espírito errante para que eu bata um papo,
Theodore novamente terá que me escutar.
CARMEM- A partir de agora você pode se
comunicar comigo pela mente, isto se chama telepatia,
todos os mestres da Golconda são ligados com seus
discípulos, sendo assim, pode me chamar quando
quiser.
BRADLEY- OK gata, vou até um velho amigo
e ver se ele pode me ajudar nesta provação.
Na caverna do Fauno as coisas não andam
muito diferentes para Lorenzo, ele também terá que
enfrentar alguns desafios para encontrar o artefato que
tanto deseja.
FAUNO- Pois bem Setita, você está vendo
aqueles três tuneis logo a frente?
LORENZO- Estou, mais isso não estava ai
quando eu cheguei!
FAUNO- Cada caminho está conectado a uma
pergunta, o túnel da esquerda está atrelado ao seu maior
desejo, o do meio ao seu maior medo e o da direita a
sua maior alegria, você deve escolher um dos caminhos
e entrar, lá dentro você passará por uma provação e se
for bem sucedido lhe darei uma pista de onde está o
artefato, entendido?
203
LORENZO- Sim, eu escolho o do meio, até
mais.
Lorenzo caminha em direção ao túnel central
e entra no mesmo, aos poucos de forma sobrenatural o
caminho vai tomando forma, em sua mente Lorenzo
houve o Fauno lhe fazer três perguntas.
FAUNO- Me diga, qual o seu maior medo, a
sua maior alegria e o seu maior desejo.
LORENZO- O meu maior medo é ser morto
antes de conseguir vingar a morte do meu mestre, a
minha maior alegria seria ter Xavier do meu lado
novamente e meu maior desejo é me tornar o mais
poderoso dentre os vampiros.
Depois de caminhar alguns minutos Lorenzo
chega até uma sala, tudo se formava naquele lugar do
nada, como uma dimensão paralela, nesta sala tinha
uma mesa e uma cadeira apenas, sobre a mesa uma
caixa pequena.
FAUNO- Nós sabemos que os seguidores de
set possuem uma habilidade única dentre os vampiros,
vocês podem arrancar o seu próprio coração e guarda-
lo fora do corpo e dessa forma garantirem sua
sobrevivência mesmo se seu corpo fosse evaporado, se
alguém encontrar seu coração e o puser em outro corpo
você renascerá possuindo essa pessoa, por outro lado,
se alguém encontrar seu coração e destruí-lo você
morrerá instantaneamente, diante disso é muito
204
importante que você guarde seu coração em um lugar
seguro para poder viver e concretizar sua vingança não
é mesmo?
LORENZO- Com certeza, porém ainda não
fiz este ritual.
FAUNO- Eu já sabia desta informação e
diante disso te proponho que o faça agora, guarde seu
coração nesta caixa e escolha onde ela deve ser
guardada, este é o primeiro teste, vou analisar sua opção
e julgar se o esconderijo é seguro o bastante, se for eu
te darei a primeira pista do enigma.
LORENZO- Pois bem, Fauno maldito, tenho
que pensar em um local seguro o bastante, onde
ninguém encontraria esta caixa, deixe-me pensar.
FAUNO- Acho esqueci de dizer que se você
não completar as provações e desvendar o enigma você
ficará aqui para sempre, sendo assim, você tem todo o
empo do mundo meu caro.
Depois de uma hora Bradley chega a mansão
de Theodore, rapidamente ele aperta a campainha e
depois de alguns segundos um homem vai até a porta e
a abre dando de cara com ele.
GABRIEL- O que quer aqui?
BRADLEY- Eu vim falar com Theodore, ele
está?
GABRIEL- Theodore não mora mais aqui.

205
BRADLEY- Mais como assim, pra onde ele
foi?
GABRIEL- Não tenho ideia garoto, agora
suma daqui antes que eu te esfole vivo!
BRADLEY- Tudo bem, não vim aqui atrás de
confusão.
A porta é fechada e Bradley fica sem saber o
que fazer, ao chegar até a rua se depara com pouco
movimento, a noite está calma por incrível que pareça.
Ei, você, o que quer com o meu mestre?
BRADLEY- Que voz é essa?
Um espírito surge na frente de Bradley.
BENEDICTH- Meu mestre foi embora, eu
fiquei para trás para resolver algumas coisas no mundo
dos mortos, sou Benedicth.
BRADLEY- Muito prazer espirito errante,
vamos para aquele parque abandonado que fica a um
quilômetro daqui, lá poderemos conversar e eu te
explico o que eu vim fazer aqui.
O parque estava em ruínas, era o local perfeito
para uma conversa entre um vampiro e um espírito, ao
chegarem eles procuraram o melhor lugar, o mais
afastado, onde não houvesse risco de serem pegos, uma
lagoa ao fundo era a única testemunha daquele fato
inusitado.
BRADLEY- Bom, agora que estamos aqui
posso te contar tudo, eu estou em um treinamento e
206
preciso da ajuda de Theodore para trazer um espírito
até este plano para que eu possa conversar com ele, ou
melhor, preciso pedir perdão a esta pessoa já falecida.
BENEDICTH- Interessante, acho que meu
mestre não poderá te ajudar no momento, pois ele está
em um lugar que não posso contar.
BRADLEY- Cara, eu preciso muito disso, é
muito importante pra mim,
BENEDICTH- Olha, eu posso te ajudar,
consigo trazer um outro espírito a este plano por vinte
minutos, você terá este tempo para convencê-lo do que
quer que seja.
BRADLEY- Seria ótimo, muito obrigado!
BENEDICTH- Não tem nada de muito
obrigado, isso tem um preço.
BRADLEY- Eu sabia que estava bom demais
pra ser verdade, diga o que quer.
BENEDICTH- Você viu aquele sujeito que
está na mansão do meu mestre?
BRADLEY- Vi, um cara desaforado, se eu não
tivesse nesse treinamento eu tinha arrancado os dois
olhos dele.
BENEDICTH- É exatamente isso que eu
quero, você vai me prometer que vai mata-lo, não
precisa ser agora, não estou estipulando tempo, apenas
me prometa que vai fazer e eu trago o espírito pra você,
o que me diz?
207
BRADLEY- Será um prazer meu camarada.
BENEDICTH- Ótimo, estamos combinados,
me diga quem você quer que eu traga.
BRADLEY- Preciso que você traga um cara
que eu matei a algum tempo, seu nome é Hector, vai
ser fácil encontra-lo no inferno afinal o cara era muito
mal.
BENEDICTH- afaste-se, vou fazer o ritual e
traze-lo até aqui.
Palavras começam a ser proferidas pelo
fantasma de Theodore, as nuvens começam a encobrir
a lua deixando o lugar o mais sombrio possível,
Benedicth pega sua bengala e começa a desenhar no
chão do parque, pelo visto um portal começava a ser
confeccionado, as águas da lagoa começam a se agitar e
um tremor abate o lugar, uma rachadura começa a abrir
lentamente em cima dos desenhos feitos no chão e uma
fumaça fedorenta começa a sair de dentro dela, em
alguns segundos uma pessoa começa a sair juntamente
com a fumaça, um homem sai de dentro da rachadura
e fica de pé em frente de Bradley e Benedicth.
BENEDICTH- Agora é com você Bradley,
você tem vinte minutos para conseguir o que deseja,
depois disso a fissura que está no chão vai sugar este
homem sem que ele nem você possam fazer alguma
coisa, eu estou indo embora, e não esqueça do nosso
trato, até mais.
208
HECTOR- O que eu estou fazendo aqui?
Pera í, Bradley?
BRADLEY- Sim Hector, sou eu, pedi que
trouxessem você de volta por que preciso de sua ajuda.
HECTOR- Vai se fuder cara, você me matou
esqueceu?
BRADLEY- Eu sei disso, nessas minhas
tarefas que cumpri para o Oscar eu precisei matar
pessoas e você foi uma delas, mais cá entre nós, você
também não era flor que se cheire, líder de gangue,
assassino, ou seja, mereceu que eu bebesse seu sangue.
HECTOR- Não importa o que eu era seu
desgraçado, eu nunca vou ajudar você.
BRADLEY- Claro que vai, ou você quer ficar
no inferno para sempre?
HECTOR- Tá bom, e como você, um
vampiro desgraçado, filho do diabo vai me tirar de lá?
BRADELY- Acredite, eu estou em um
treinamento justamente para deixar de ser este
amaldiçoado que você conheceu, vou alcançar um tipo
de benção que vai me tirar da condição a qual me
encontro hoje, e se você fizer o que eu te pedir você
será elevado junto comigo.
HECTOR- E o que você quer que eu faça?
Não posso fazer muitas coisas morto e no inferno!

209
BRADLEY- Olha, preciso que você me
perdoe, e com essa atitude se liberte desse inferno que
você se encontra.
HECTOR- Como você sabe que esta atitude
vai me salvar daqui?
BRADLEY- Eu andei lendo a Bíblia Sagrada.
HECTOR- Você, lendo a Bíblia? Que piada.
BRADLEY- Acredite se quiser, tenho lido e
aprendido muitas coisas, uma delas é que um dos
requisitos para que você seja perdoado por Deus é que
você perdoe a quem te fez mal, e isto faz sentido porque
como Deus poderia perdoar você se você não perdoa o
seu próximo.
Um silêncio tomou conta do lugar por alguns
instantes, parecia que as palavras de Bradley tinham
mexido com Hector, seu semblante ficou abatido,
aquela arrogância e auto confiança demonstradas no
começo da conversa tinha caído por terra, algo com
certeza tinha mexido com ele.
HECTOR- Vejo que você está falando a
verdade, realmente posso ver sinceridade em suas
palavras.
BRADLEY- Como você sabe que o que eu
estou falando é verdade?
HECTOR- Simples, eu lia a Bíblia
frequentemente, e pra falar a verdade não sei como fui
parar no lugar onde estou visto que eu tinha todo o
210
conhecimento da verdade, não sei o que Deus está
preparando pra mim mesmo eu estando naquele lugar.
BRADLEY- Eu estou muito arrependido do
que fiz com você Hector, na verdade estou arrependido
de ter me deixado transformar em um monstro, acho
que seria melhor se Oscar tivesse me deixado morrer
naquele noite, talvez eu estaria descansando em um
lugar bonito e tranquilo agora, só que agora já
aconteceu, não posso mudar meu passado, mais
acredite, eu posso mudar seu futuro, mesmo você
estando em um lugar de tormento, tenho certeza que
Deus está me usando para libertar você disso, para falar
a verdade não entendo como Deus pode usar um
demônio como eu, o que eu sei é que se Deus precisar
ele usará até o mal ao seu favor.
HECTOR- Nunca pensei que teria a chance
de ver alguém como você ser transformado por Deus,
mesmo que tudo der errado pra você, eu vejo que você
realmente está buscando uma transformação.
BRADLEY- Você poderia me perdoar?
HECTOR- Primeiro preciso ouvir a palavra
de Deus mais uma vez, ai sim eu poderei estarei apto a
perdoar você, preciso estar quebrantado, um processo
de humilhação para que eu possa te perdoar de forma
sincera.
BRADLEY- Muito bem, eu não tenho uma
Bíblia aqui, mais vou recitar uma passagem que guardei
211
comigo em meu coração e espero muito que com estas
palavras eu possa quebrantar seu coração a ponto de
você me perdoar sinceramente.
Os dois se sentam em uma banco do parque
de frente para a lagoa, as nuvens que cobriam o céu e
deixavam o ambiente sombrio não existem mais, o
reflexo da lua na água parecia uma imensa pintura viva,
por um momento o passado dos dois era apagado, eram
como se tivessem se conhecido naquele momento, os
ressentimentos e as mágoas de ambas as partes tinham
desaparecido e dado lugar a uma compaixão um pelo
outro, nesse momento Bradley começa a recitar a
seguinte passagem:

Confessei-te o meu pecado


e a minha maldade não encobri;
dizia eu: Confessarei ao SENHOR as
minhas transgressões;
e tu perdoaste a maldade do meu pecado.
( Selá)
Salmos 32,05

Com os olhos marejados de lágrimas Hector


abraça Bradley e diz baixinho ao seu ouvido.
212
HECTOR- Eu te perdoo, perdoo pelo mal
que me fez, por tudo que passou, tiro de mim agora esse
peso da angústia e te digo que esta dívida você não tem
mais comigo, de agora em diante você responderá por
outros pecados porém, pelo de ter me matado, da
minha parte você está absolvido!
Bradley não contém as lágrimas e os dois
juntos choram um sobre o ombro do outro, Hector
começa a se desmaterializar e se afastar de Bradley, uma
luz intensa desce entre os dois e um anjo aparece, com
uma espada na mão direita e um escudo na mão
esquerda, suas asas eram enormes, uma luminosidade
em volta do seu corpo dizia que aquele ser era angelical,
Hector fica do lado do anjo e neste momento a fissura
no chão se abre novamente e uma criatura demoníaca
sai de dentro dela, uma besta com cinco chifres,
quadrúpede com cabeça de dragão eu dizia.
DEMÔNIO- Esta alma é nossa, deve devolvê-
la, ela pertence ao inferno e deve voltar pra lá.
ANJO- Demônio, volte para as profundezas
do inferno, meu SENHOR mandou eu vir busca-lo e
assim eu farei.
O demônio parte para cima do anjo que por
sua vez se defende com o escudo e golpeia seu
oponente no pescoço com a espada, o demônio tenta
um contra-ataque porém a claridade emitida pela asas
do anjo o ofusca dando tempo para o ataque final por
213
parte do ser angelical, a cabeça do demônio é decepada
e seus restos são jogados de volta para dentro da fissura,
em seguida a mesma é fechada e o anjo com Hector nos
braços sai voando até desaparecerem ao serem sugados
por um feixe de luz brilhante.
Bradley fica em estado de êxtase com a cena
que acabara de presenciar, suas pernas tremiam e seu
rosto suava, então quer dizer que anjos e demônios
realmente existem, ele havia conseguido seu perdão e
completado seu primeiro desafio, o próximo passo
deveria ser dado Xifú já começava a instruí-lo.
XIFÚ- Aprendiz, procure um esconderijo e
durma, o dia já vai nascer e você ainda não pode andar
durante o dia, assim que a noite novamente chegar te
direi qual será a segunda provação.
O nosso aprendiz segue a instrução de seu
mestre e se dirige a uma estação de tratamento de água
abandonada e entra em torpor, apenas esperando a
noite cair novamente.
A dia passa e a noite chega, mais densa, mais
obscura, cheia de surpresas e desafios para nossos
aventureiros, Bradley continua seu treinamento em
busca da Golconda, a Camarilla está se reorganizando
enquanto o SABÁ aguarda Lorenzo voltar com o aliado
Lupino de que havia falado, e falando em Lorenzo
veremos como está a sua situação na caverna na
companhia do FAUNO.
214
Uma pergunta havia sido feita a ele, uma
resposta teria que ser dada pois não há tempo a perder.
LORENZO- Fauno maldito, já tenho a
resposta que você quer.
FAUNO- Diga, nobre aprendiz.
LORENZO- Tenho que esconder meu
coração em um lugar tão seguro ao ponto de ninguém
encontra-lo não é mesmo? Pois bem, visto que nós
vampiros temos o poder de regeneração eu pensei em
esconder o meu coração de uma forma diferente, o
dividirei em vários pedaços e o esconderei em lugares
diferentes, dessa forma seu eu tiver acesso a qualquer
um destes pedaços poderei regenerá-lo e reconstituir o
coração dentro do meu novo corpo, uma vez feita essa
regeneração os pontos que sobrarem vão se desfazer e
eu repetirei o processo com o meu novo coração.
FAUNO- Como esperado de você setita, uma
resposta surpreendente, parabéns você me convenceu,
lhe darei a primeira pista do enigma, a pista é esta: O
ARTEFATO TUDO VÊ!
LORENZO- Mais que merda de pista é essa?
Ajudou em absolutamente nada!
FAUNO- Tenha calma nobre aprendiz, você
tem mais dois caminhos para escolher.
Duas portas surgem na sala, Lorenzo volta a
ficar sozinho, uma voz em sua mente diz, agora é o
caminho da direita e o d direita, qual você vai escolher?
215
LORENZO- Escolho o da esquerda, vamos
ver o que vem dessa vez.
FAUNO- Muito bem, este caminho está ligado
ao desejo, você deve me responder qual o seu maior
desejo, assim que me responder pode abrir e entrar.
LORENZO- Essa é fácil, meu maior desejo é
me tornar o vampiro mais poderoso do mundo, não ser
subordinado do SABÁ ou da Camarilla, quero poder
fazer o que eu quiser, com quem eu quiser, não haveria
limites para mim.
A resposta foi dada e a porta é aberta, Lorenzo
se depara em uma velha estação ferroviária
abandonada, mais a frente um homem com uma capa
sobre o corpo está em frente a uma das plataformas,
sem ter muito o que fazer Loreno vi até este homem e
fica do seu lado.
LORENZO- Então, quem é você, e por que
está aqui?
Estou aqui para conversar com você.
Neste momento o homem descobre seu rosto
revelando sua identidade.
LORENZO- Rhuan, mais como assim, como
você veio parar aqui?
RHUAN- Eu soube de uma coisa ao seu
respeito, por isso vim até aqui te ajudar.
LORENZO- O que você soube?

216
RHUAN- Desde que te conheci e resolvi te
recrutar eu sabia que você era diferente, era especial,
você tem algo que todo líder procura ao se deparar com
um aprendiz em potencial, ganância, você respira
ganância e eu gosto disso.
LORENZO- Que papo é esse Rhuan, por que
está me dizendo essas coisas agora?
RHUAN- Porque só agora eu descobri que
juntos poderemos mudar a sociedade vampírica, juntos
podemos mudar os rumos do mundo, mais para isso
teremos que ser apenas nós dois você me entende?
LORENZO- Não, não entendo, seja mais
claro.
Rhuan começa a caminhar seguido por
Lorenzo, os dois descem a plataforma e começam a
caminhar nos trilhos do trem.
RHUAN- Está vendo estes trilhos, eles nos
levarão a um lugar, e com certeza este lugar está muito,
muito longe.
LORENZO- O que quer dizer com isso?
RHUAN- Quero dizer que se continuarmos
caminhando chegaremos ao nosso destino, porém,
quero que você pense o quanto vai demorar e quanto
recurso teremos que gastar nesta empreitada, por outro
lado, se voltarmos pra estação e esperarmos o trem que
com certeza irá passar, poderemos pegá-lo e chegar ao

217
nosso destino mais rápido e com um gasto mínimo de
recursos, você entende?
Em sua mente Lorenzo já tinha entendido
tudo, ele queria apenas deixar que as coisas se
tornassem mais claras.
LORENZO- Ainda não entendi.
RHUAN- Você sem mim caminha por estes
trilhos, chegará ao seu destino daqui um longo tempo e
exausto, comigo ao seu lado você chegará em menos
tempo e totalmente revigorado, eu sou o trem Lorenzo
e você deve embarcar nele, porém nesta estação existe
outro trem que você não deve embarcar, devemos
eliminá-lo, e este trem se chama Ramon, ele te levará
para a direção oposta, longe daquilo que você
realmente quer, que é ser o mais forte.
Lorenzo para de caminhar, olha para Rhuan
por alguns instantes e logo após esse olhar se virá de
costas para ele.
LORENZO- Sabe que sua didática foi muito
boa? A forma com que você associou os trilhos com os
caminhos, o trem com você mesmo, foi muito bom
mesmo, porém, sua farsa começou a cair quando você
disse que se voltarmos para estação de onde saímos
esperaríamos e pegaríamos um trem que passaria em
algum momento, meu caro, a estação está abandonada,
sendo assim é claro que nenhum trem irá passar por
aqui, foi uma afirmação falsa, e se o trem não existe e
218
você me disse que seria este trem, isso significa então
que você também não existe, o que você quis desde o
começo era me persuadir a trair e a matar o Ramon um
de meus líderes atuais, lhe digo uma coisa seu Fauno de
merda, minha sede de poder tem um limite o qual
nunca vou cruzar, e este limite é a traição, jamais trairei
aqueles que me ajudaram um dia, gratidão é algo que
eu prezo e guardo comigo e não estarei disposto a
perder, então me tira logo desse lugar e vamos para a
próxima provação.
O Fauno vem caminhado entre os trilhos em
direção a Lorenzo.
FAUNO- Parabéns nobre aprendiz, a sua sede
de poder não foi capaz de te cegar completamente e isto
te faz digno mais uma vez de portar o artefato, vamos
até a última porta, lhe apresentarei sua última e maior
provação, a propósito a segunda pista é, O
ARTEFATO TE CONDUZIRÁ.
XIFÚ- Está pronto Bradley?
BRADLEY- Acabei de acordar, estou pronto,
o que devo fazer agora?
Aquela estação de tratamento de água
abandona fedia a peixe morto, fome abatia nosso
guerreiro, sorte que antes de sair para as provações Xifú
o ensinou uma meditação para enganar a sede de
sangue e na pior das hipóteses um animal qualquer

219
satisfaria seus desejos, a noite já havia caído e depois de
fazer a meditação Bradley se dirige a cidade.
Em sua mente XIFÚ passava as instruções a
respeito da próxima tarefa a ser cumprida.
XIFÚ- Como você sabe os vampiros
escondem uma besta dentro de si e para se tornar um
mestre da Golconda você deve subjugar esta besta, ela
não pode dominar você, e o único modo de você
subjuga-la é tendo um confronto com ela.
BRADLEY- Mais como vou conseguir
confronta-la se ela está dentro de mim?
XIFÚ- Você precisará de ajuda para fazer este
confronto, de alguém que possa fazer com que esta
besta saia e você possa confrontá-la, você precisará de u
padre.
BRADLEY- O que, eu terei que ser
exorcizado?
XIFÚ- Sim, apenas um padre conseguirá fazer
aflorar esta besta através da fé, existem outras formas de
você colocar a besta pra fora porém, nestas outras
situações você perderá o controle e este não é o nosso
objetivo.
BRADLEY- Tudo bem irei até a Sagrada
Família e conseguir um padre que tope fazer est
loucura.
XIFÚ- Boa sorte jovem aprendiz!

220
Enquanto Bradley se dirige até a catedral da
Sagrada Família, Theodore chega até o seu último
refúgio depois de ser enxotado para fora de sua própria
casa, o covil de Leonard parecia ser o lugar perfeito para
abrigar um derrotado com estirpe.
Parado em frente ao portão Theodore prepara
em sua mente o que vai dizer ao mago do porto, uma
aliança será o objetivo deste encontro, nada melhor do
que procurar um pouco de apoio em meio a uma
situação tão complicada como essa, o portão é aberto,
Theodore adentra ao recinto e rapidamente se dirige
até quartel general de Leonardo no centro do lugar,
algumas batidas na porta são o suficiente para que a
mesma se abra e Theodore possa entrar e ficar cara a
cara com o temido mago do porto.
LEONARD- Então, a que devo a honra de
uma visita tão sublime?
THEODORE- Não tenho tempo para
brincadeiras Leonard, fui expulso da minha casa por
um maldito Inquisidor matador de aluguel.
LEONARD- Gabriel?
THEODORE- Como sabe o nome dele?
LEONARD- Ele e eu estivemos conversando
sobre algumas coisas em comum antes dele partir para
fazer o serviço no qual você o contratou.
THEODORE- Ele me pediu um preço alto
demais Leonard, não era justo!
221
LEONARD- O preço foi justo, ele matou o
cérebro da Camarilla, Frederic era um vampiro muito
valioso, mais não foi para chorar suas mágoas que você
veio aqui, ou foi?
THEODORE- Claro que não, vim lhe propor
uma aliança, um pacto entre nós, nos ajudaremos e nos
beneficiaremos disso.
LEONARD- Que tipo de benefício eu teria
me aliando com um perdedor como você?
THEODORE- Em primeiro lugar não sou um
perdedor, em segundo lugar sou o único Giovanni em
Barcelona e em terceiro lugar pense no que você
poderia ganhar tendo do seu lado um vampiro que tem
passe livre no mundo dos mortos e que pode trazer
quem você quiser para bater um papo na hora que
quiser.
LEONARD- Interessante, realmente você não
é de se jogar fora, você pode ser muito útil par mim,
fazemos assim então, fique e meus aposentos, desfrute
de tudo que eu tenho e em troca fará o que eu pedir a
você.
TEHODORE- Eu aceito, por hora vou me
rebaixar a esta condição mais te aviso que essa
intempérie irá passar e eu irei voltar a minha velha
condição da qual eu nunca deveria ter saído.

222
LEONARD- Que seja, não tô nem ai pra suas
baboseiras, escolha um quarto e fique à vontade o porto
agora também é seu.
Mesmo contrariando seu próprio ego,
Theodore sobe as escadas e vai para um dos quartos,
levando consigo em sua mente o desejo de se reerguer
das cinza e ele tinha um plano pra isso porém, agora
não era o momento de colocá-lo em prática.
Na caverna do Fauno as coisas pareciam estar
se encaminhando para um fim, Lorenzo estava perto da
última provação e de conseguir seu objetivo que era
pegar o artefato denominado de MÃE DA LUA,
depois de saírem da estação de trem ele e o Fauno
chegam até o centro da caverna novamente, apenas um
caminho restara, Lorenzo olha para o Fauno e
pergunta.
LORENZO- Então, o que vem agora?
FAUNO- Primeiro me responda, qual seria a
sua maior alegria?
LORENZO- A minha maior alegria com
certeza seria ter Xavier comigo novamente.
FAUNO- Pois bem adentre no caminho.
Lorenzo adentra no caminho que lhe restara e
com pouco passos dentro dele se depara com a porta
do seu apartamento, sem pensar duas vezes ele a abre e
entra, lá dentro se depara com Xavier sentado no sofá
tomando uma cerveja.
223
XAVIER- Lorenzo, quanto tempo, vem cá.
Xavier se levanta e abraça Lorenzo que por sua
vez responde ao abraço e sem poder se conter começa
a chorar de alegria por estar ao lado novamente de seu
mentor e amigo, os dois se sentam, Xavier pega uma
cerveja que estava sobre a mesa e oferece a Lorenzo que
a pega sem pestanejar.
XAVIER- E então, como estão as coisas?
LORENZO- Estão bem, entrei para uma seita,
conheci um Lobisomem e o convenci a lutar do meu
lado, está indo tudo muito bem.
XAVIER- Eu sabia que você não ia me
decepcionar filho.
LORENZO- Mais espera, você está morto, eu
vi o vídeo, você sendo assassinado.
XAVIER- Tem razão, estou morto, mais por
algum motivo eu pude voltar pra você, isso não é ótimo?
LORENZO- Com certeza, mais não consigo
acreditar que isso seja verdade, já tive outras visões antes
e além do mais sei que este Fauno maldito tenta me
manipular o tempo todo.
Xavier se aproxima de Lorenzo e toca sua
perna.
XAVIER- Não é uma visão, eu sou real, não
sei como mais eu voltei, só tem uma condição para que
eu fique, você precisa querer que eu fique, vamos nos

224
tornar os vampiros mais fortes e dominaremos tudo em
nossa volta, já pensou no quanto isso seria fantástico?
LORENZO- Isso era o que eu sempre quis,
estar com você ao seu lado como nos velhos tempos,
caçar, fazer tatuagens, sermos uma família novamente.
XAVIER- Então, eu preciso que você apenas
diga, eu quero que você fique, e eu ficarei com você
novamente.
Por um breve momento Lorenzo para e olha
para Xavier, depois olha para fora da janela, a vida que
está se seguindo lá fora o faz pensar, aquelas pessoas
não são vampiros, são seres humanos que vão viver e
morrer e isto faz deles muito especiais porque a
condição humana faz com que todos os momentos
sejam únicos, cada sensação, um vampiro não teria tal
privilégio, a imortalidade é uma maldição e não uma
dádiva como muitos pensam, imortalidade faz com que
alegrias se repitam é verdade, porém, os sofrimentos
também se tornam constantes, ver pessoas que amamos
indo embora enquanto nós ficamos aqui parece ser algo
cruel, por isso morrer parece ser uma dádiva e não a
imortalidade.
Lorenzo se dirige até Xavier e segura suas
mãos, com os olhos cheios de lágrimas ele começa
proferir as seguintes palavras.
LORENZO- Xavier quero que você saiba que
sou muito grato a você, e sei que se eu quiser o Fauno
225
trará você de volta, tudo que eu sei como homem e
como vampiro foi você que me ensinou, me
protegendo, me acolhendo, fazendo de mim o que sou
hoje, passamos por muitas dificuldades, fome, sede,
falta de grana, e mesmo assim estivemos juntos, eu não
tinha pai e nem mãe e você foi os dois para mim e eu
nunca vou esquecer disso.
XAVIER- O que você quer dizer meu filho?
LORENZO- Quero dizer que o maior
presente que você ganhou até hoje foi ter sido
assassinado.
XAVIER- O que, mais como assim?
Lorenzo solta as mãos de Xavier e começa a
caminhar em direção a porta ao mesmo tempo que
continua a falar.
LORENZO- Você não está entendendo,
houve uma libertação sobre você, o seu fardo
finalmente foi retirado de sobre suas costas, você acha
que não, mais eu sempre a sua cara de cansado, depois
de cada batalha, depois de cada sofrimento, o seu rosto
pedia um fim porém, a sua honra não permitia que você
desse um fim em tudo, quando a morte veio sobre você
através da Camarilla finalmente você pode descansar, se
desligar dessa maldição e trilhar um novo caminho no
mundo dos mortos, um lugar que tenho absoluta
certeza que te faz mais feliz do que essa terra imunda.

226
XAVIER- Sim meu filho agora eu entendo
onde você quer chegar.
LORENZO- Por mais que eu o ame e o queira
de volta, eu não posso jogar sobre seus ombros o fardo
que a morte retirou, não posso te devolver aquela
merda de vida que você tinha, não seria justo e nem
honesto, fazer isso iria contra o amor que sinto por
você, e eu não posso fazer isso, vai embora pai, continue
descansando onde quer que você esteja.
Sem olhar para trás Lorenzo passa pela porta
e sai do apartamento dando de cara com a caverna
novamente, o Fauno se encontra sentado em uma pedra
no centro da caverna, Lorenzo se aproxima do Fauno.
LORENZO- E então seu maldito, passei nessa
merda de provação?
FAUNO- Com certeza nobre aprendiz, vi em
você características que nunca pensei que veria em um
ser da noite, compaixão, amor, lealdade, isso faz de
você digno de receber o artefato e para isso lhe darei a
terceira pista do enigma que é O ARTEFATO
SEMPRE ESTEVE COM VOCÊ.
LORENZO- Chega de conversa fiada Fauno,
eu já sabia essa resposta desde a primeira pista porém,
como eu sabia que você não me daria este artefato antes
de completar as três provações eu fiz tudo que você
mandou, isso não fez com que as provações não tivesse
efeito sobre mim, pelo contrário, eu sabia que a
227
qualquer momento eu poderia perder aquilo que já
estava em minhas mãos se eu cedesse ao que você
propunha.
FAUNO- Então responda nobre aprendiz,
onde está o artefato?
LORENZO- O artefato está na minha frente e
conversando comigo, você é o artefato Fauno maldito!
FAUNO- Parabéns aprendiz, matou a charada
e se torna digno de possuí-lo.
O Fauno começa a se desmaterializar e a se
transformar em um colar que cai ao chão, Lorenzo
rapidamente o pega quando uma voz fala em sua mente,
não saia da caverna, fique dentro dela durante trinta dias
pois algo terrível irá acontecer.
Aquilo parecia sério e Lorenzo resolveu dar
ouvidos a essa voz, sendo assim ele entrou em um
estado de torpor forçado dentro da caverna até que algo
o pudesse acordar de seu sono.
No centro da cidade temos Bradley chegando
a catedral da Sagrada Família, de forma sorrateira ele
adentra nas instalações e se dirige ao local onde ficam
os padres recém ordenados, parece que será mais fácil
convencer um padre entusiasmado e com sede de fazer
o bem, sendo assim, rapidamente nosso vampiro chega
a sala dos padres.
A porta é aberta e Bradley entra, por ser tarde
da noite há pouca movimentação no local, apenas um
228
padre se encontra sentado lendo um livro que parece
ser a bíblia, Bradley senta ao seu lado e inicia uma
conversa.
BRADLEY- Boa noite padre, podemos
conversar?
PADRE ERIK- Como você entrou aqui? Esse
acesso é restrito.
BRADLEY- Não se preocupe, não estou aqui
para machucar o senhor, estou aqui para lhe pedir
ajuda.
PADRE ERIK- Ajuda com o que?
O padre fecha o livro e se vira na direção de
Bradley.
BRADLEY- Eu sou um vampiro padre e
preciso da sua ajuda.
PADRE ERIK- Olha é tarde da noite e eu não
tenho tempo para essas besteiras.
O padre se levanta da cadeira na qual estava
assentado, Bradley também se levanta e segura seu
braço, um olhar penetrante faz com que o padre se sinta
dominado, presença aplicada, por um momento o
padre fica parado sem poder se mexer, é uma sensação
única, Bradley aproveita o momento e mostra suas
presas ao pobre homem que parece não acreditar no
que está vendo.
A presença é retirada e o padre volta ao
normal, o choque foi tanto que o faz se sentar
229
novamente, o suor escorre de seu rosto deixando claro
que tudo aquilo que havia acontecido era real.
PADRE ERIK- Eu já tinha ouvido rumores,
mais eu nunca imaginei que realmente existissem
vampiros em Barcelona.
BRADLEY- Somos reais padre e estamos por
ai fazendo o mal para as pessoas em todas as esferas da
sociedade.
PADRE ERIK- Se você faz o mal para as
pessoas, como espera que eu te ajude rapaz?
BRADLEY- O senhor vai me ajudar porque
eu quero deixar de ser um vampiro padre, não quero
fazer mal para as pessoas, pelo contrário, quero poder
ajudar os mais fracos e necessitados, mais para isso
preciso alcançar um estado espiritual chamado de
Golconda, ele me tira a maldição vampírica e me coloca
uma benção, fazendo com que eu não seja mais essa
criatura da noite que mata pessoas e bebe sangue o
delas.
PADRE ERIK- E qual seria o meu papel nisso
tudo rapaz?
BRADLEY- Todo vampiro possui uma besta
interior, um demônio que o subjuga e o faz fazer coisas
horríveis, essa besta é dada junto com a maldição de
cain e para que eu possa alcançar a Golconda eu devo
assumir o controle dessa besta e é aí que o senhor entra.
PADRE ERIK- Prossiga.
230
BRADLEY- Eu preciso da sua ajuda para
assumir este controle, preciso que o senhor faça um
exorcismo e juntos possamos trancafiar essa besta de
uma vez por todas.
PADRE ERIK- Você sabe que isso é perigoso,
e se Deus não estiver ao nosso lado isso não vai dar
certo.
BRADLEY- Tenho total consciência disso.
PADRE ERIK- Realizar um exorcismo em um
vampiro, geralmente expulsamos demônios das
pessoas, expulsar o demônio do próprio demônio é
novidade pra mim, mais vamos tentar, meu papel é
ajudar as pessoas, mesmo que a pessoa ajudada mata e
bebe sangue de outras pessoas, vamos para um lugar
propício para este procedimento.
Padre Erik e Bradley se dirigem para o subsolo
da Catedral, um lugar escondido e tranquilo, apenas os
ratos e as baratas testemunhariam a seção de exorcismo
prestes a acontecer ali.
Depois de descerem algumas escadas os dois
chegam em uma sala subterrânea, sem demora eles
entram e fecham a porta, há apenas duas cadeiras e um
armário nesta sala, não há janelas, apenas uma pequena
saída de ar está localizada na parte superior da sala
dando pra rua de trás da igreja.
PADRE ERIK- Sente-se vampiro, vou me
preparar.
231
Bradley se senta na cadeira ao centro da sala e
o padre o amarra com uma corda retirada do armário
localizado no canto esquerdo da parede, de dentro
deste armário são retirados alguns utensílios como, água
benta, um crucifixo, um rosário e uma Bíblia Sagrada,
Padre Erik começa a proferir uma reza e a espalhar
água benta em volta de Bradley, o vampiro começa a
ficar tonto, a suar frio, como se aquilo realmente
estivesse o atingindo.
PADRE ERIK- Bradley, vampiro, criatura da
noite, filho do diabo, neste momento em nome do
nosso Senhor Jesus Cristo eu vou expulsar do seu corpo
essa besta que existe dentro de você de uma vez por
todas.
BRADLEY- Por favor faça isso o mais rápido
que puder, minha pele está queimando, e não estou
conseguindo respirar.
O crucifixo é colocado contra o peito do
vampiro, sua carne neste local começa a ser queimada
e uma fumaça começa a subir pelo ar, um vampiro só é
afetado por estas coisas se o padre ou pessoa que o
coloca nesta situação tiver uma fé verdadeira e sincera e
com certeza padre Erik tinha essa fé, Bradley começa a
se debater na cadeira, seu semblante muda de forma,
presas crescem em sua boca e seus olhos vermelhos
denunciam o aparecimento da besta, o padre começa
se assustar e isso não é um bom sinal.
232
BRADLEY- Não se assuste padre, estamos
quase conseguindo.
O medo está estampado na cara do padre que
por sua vez fecha os olhos e começa a rezar mais alto
ao mesmo tempo que coloca o rosário no pescoço do
vampiro, neste momento Bradley desmaia e o que vou
narrar agora aconteceu dentro do seu ser.
Bradley acorda em uma rua escura, ela parece
não ter começo e nem fim, suas duas extremidades
estão tomadas por uma imensa escuridão, de dentro
desta escuridão sai um homem e começa a caminhar
em direção a Bradley.
BRADLEY- O que é isso? Onde estou?
BLACK BRADLEY- Você está onde deveria
estar meu caro, frente a frente com você mesmo.
BRADLEY- Como isso é possível?
BLACK BRADLEY- Simples, aquele merda
daquele padre por meio de seu exorcismo nos colocou
frente a frente, e ai, me diz o que quer de mim?
BRADLEY- Quero que você sai do meu
corpo, quero ser purificado e não mais ser assolado por
você e por consequência nunca mais perder o controle.
BLACK BRADLEY- Isso não será possível
meu caro, eu faço parte da maldição, enquanto você for
um vampiro eu estarei aqui, infelizmente você aceitou
todo o pacote, não achou que se tornaria um imortal

233
cheio de poderes e que não iria ter uma desvantagem
não é mesmo?
BRADLEY- Você está certo, não vou
conseguir tirar você de dentro de mim, porém, vou
aprisioná-lo no mais fundo da minha alma em um lugar
que você jamais conseguirá sair, dessa forma não serei
afligido por você nunca mais.
BLACK BRADLEY- Maldito, você não pode
fazer isso, você não tem poder sobre a maldição.
BRADLEY- Tem razão, é por isso que o
padre Erik está aqui, ele vai me conduzir no caminho
que te levará a prisão.
BLACK BRADLEY- Eu não vou permitir
isso.
Black Bradley avança pra cima de nosso
vampiro desferindo vários socos em sua direção, a
velocidade do eu maligno de nosso herói é muito
grande, Bradley não consegue desviar e é atingido em
cheio pelos golpes.
BLACK BRADLEY- Acha que vou deixar
você me aprisionar seu verme, se você não me vencer
aqui dentro eu não serei aprisionado, por isso vou te
espancar até a morte.
Enquanto a batalha se desenrola no interior de
nosso herói, padre Erik luta para manter Bradley na
cadeira que por sua vez se debate e fica cada vez mais
enfurecido como se o seu lado negro estivesse
234
sobressaindo na batalha, dessa forma, o padre começa
a ser tomado pelo medo e a angustia de não ser capaz
pelo menos até aquele momento de expulsar a besta do
corpo do vampiro.
BRADLEY- Eu não entendo, por que estou
tão fraco, não consigo me esquivar dos golpes, ele me
jogou ao chão em questão de segundos, preciso me
levantar e contra atacar, é a única chance de vencer.
Seguindo seus pensamentos Bradley se levanta
e parte para cima do seu lado negro, os dois começam
a trocar socos, esquivas de ambos os lados porém, a
besta parece sempre estar mais rápido e com base nesta
vantagem nosso herói é novamente golpeado na barriga
por um chute cruzado e logo em seguida uma joelhada
é desferida em sua face visto que o mesmo se abaixou
devido ao chute desferido anteriormente, Bradley cai
novamente ao chão.
Padre Erik completamente assustado olha
para a pequena saída de ar no canto superior da parede
e vê uma pequena pomba branca o olhando pela grade
da abertura.
PADRE ERIK- É um sinal, Deus está comigo
e por isso eu posso expulsá-lo.
A confiança do sacerdote se eleva novamente,
suas orações saem de sua boca em um tom mais alto,
suas mãos que antes estavam trêmulas e sem firmeza
apertam o crucifixo contra o peito do vampiro com
235
tanta força que o mesmo entra cerca de cinco
centímetros para dentro do peito do nosso herói que
solta um grito apavorante diante dessa ação, o
exorcismo continua a todo vapor por parte do padre
agora muito mais confiante.
Bradley se levanta novamente e já se depara
com a besta cara a cara, não há chance pra pensar, a
besta retoma os ataques e nosso vampiro sem reação
começa a ser espancado violentamente sem chance de
defesa, socos e chutes são desferidos com tanta
violência que é possível ver os dentes de Bradley
voando a cada golpe.
Em meio a sessão de espancamento Bradley
começa a ouvir as orações de Erik, parece que aquelas
palavras começaram a dar um novo ânimo para nosso
herói, que segura o punho da besta naquilo que seria o
golpe final dado pelo inimigo.
BLACK BRADLEY- Como você conseguiu
segurar meu punho e conter meu ataque?
BRADLEY- Eu te disse desde o começo que
não estou sozinho, padre Erik está comigo, e suas
orações estão me dando força, agora você vai tirar essa
patas imundas de cima de mim seu maldito!
A medida que o padre orava uma peça de
armadura se materializava no corpo do nosso vampiro,
braceletes, ombreiras, um cinturão, armaduras que
protegiam as pernas e por fim um elmo se faz na cabeça
236
de Bradley, um verdadeiro guerreiro estava formado
graças a oração do padre, uma armadura celestial agora
o vestia e o proporcionava força e agilidade jamais
vistas.
BLACK BRADLEY- Mais que merda é essa?
Acha que com essa armadura de merda conseguirá me
vencer?
Os dois novamente entram em combate,
porém desta vez a besta não pode mais com nosso
vampiro, os golpes são desferidos por ambos porém
nosso herói consegue se esquivar de todos os ataques
inimigos ao passo que a besta é alvejada por uma chuva
de socos e chutes, pareciam que as palavras do padre e
os golpes de Bradley estavam conectados, a cada
palavra proferida um golpe era dado, por fim a besta
estava nocauteada ao chão.
BRADLEY- Agora, por ter te vencido besta
maldita, eu reivindico o direito de aprisionar você no
mais profundo abismo da minha consciência onde o
esquecimento vai se encarregar de te manter no vazio
por toda a eternidade, vá e não me atormente mais!
Grades começam a se formar ao redor da
besta a colocando em uma cela, essa cela começa a ser
arrastada para dentro da escuridão que já perdurava
naquele local, em poucos segundos a escuridão já havia
engolindo a besta e a mesma já não poderia mais tomar
o controle do nosso vampiro, a armadura celestial
237
começava a desaparecer e Bradley retoma a consciência
sentado na cadeira.
PADRE ERIK- Graças a Deus, você acordou,
acho que conseguimos.
BRADLEY- Sim padre, juntos conseguimos
trancafiar a besta e me libertar dessa maldição, eu quero
te agradecer do fundi do meu coração por ter me
ajudado, jamais esperaria que um sacerdote ajudaria
uma criatura caída como eu.
PADRE ERIK- Não tem que agradecer meu
filho, Deus nos ensinou a ajudar a todos que buscam o
verdadeiro arrependimento, eu sou apenas um servo
dele aqui na terra e busco fazer o bem
independentemente de quem seja a pessoa, vou
desamarrar você.
BRADLEY- Não sei o que dizer, me sinto
cada vez mais encorajado a conseguir a Golconda a fim
de me redimir de meus pecados e poder ajudar os mais
fracos.
Depois de toda essa peleja, Bradley sai da
igreja e se dirige para a cabana a fim de se encontrar
com o velho XIFÚ e saber qual será a próxima
provação que terá que passar.
Enquanto Lorenzo e Bradley buscavam seus
respectivos objetivos, a Camarilla buscava se
reorganizar, ainda mais agora que todos sabiam que
havia um traidor infiltrado no seio da seita, grupos
238
internos estavam sendo formados, Miguel, Nikolas e
Filipe formavam a primeira trindade enquanto
Bernardo, Baltazar e Ayslan compunham o segundo
grupo, Xerife, Harpia e Jutiçare juntos, os mais fortes
reunidos e se fortalecendo ao passo que, um Malkavian
e dois Nosferatus buscavam ascensão em meio a crise
estabelecida após a entrada do Príncipe em torpor,
depois da tensa negociação com o SABÁ os ânimos da
seita ficaram mais inflados, o livro de NOD continuava
com Filipe, o que era um bom sinal e um ao mesmo
tempo um trunfo na manga de um vampiro recém
acusado de assassinato.
No subterrâneo da cidade se encontravam
justamente os três, renegados de forma subliminar pelos
líderes, o que não era de tudo ruim tendo em vista que
poderiam agir mais livremente na guerra.
NIKOLAS- Aqui é o lugar mais seguro que
podemos ficar, ninguém entra aqui em baixo sem que
eu saiba.
MIGUEL- Interessante, um membro do
SABÁ havia entrado aqui e implantado bombas sem ao
menos você notar.
FILIPE- Aquele vampiro que fez isso tem um
modo muito específico de trabalhar, nem com nossos
melhores homens conseguiríamos detectá-lo.
MIGUEL- Então pessoal, estamos sozinhos,
sabemos que Baltazar, Bernardo ou Ayslan é o traidor,
239
por tanto, sugiro nos afastar deles por enquanto, o que
vocês acham?
NIKOLAS- Acho prudente esta atitude, eu
desconfio que Ayslan seja o traidor, tudo fez sentido
para mim, a emboscada, a chegada na hora certa,
porém, não posso provar.
FILIPE- Miguel pode provar e Ayslan sabia
disso, por isso ele fez contato com o seu mentor e pediu
para que ele parasse a reunião, se isso não acontecesse
ele seria desmascarado na frente de todos nós, mas isso
ainda não acabou vamos provar que ele é o traidor
através das habilidades de Miguel quando tivermos a
chance.
MIGUEL- Com certeza será um prazer
desmascará-lo, nunca gostei muito dele mesmo.
NIKOLAS- Vamos deixar esse assunto um
pouco de lado e focar no livro de NOD, precisamos dar
um jeito de encontrar alguém que pode lê-lo, e
precisamos fazer isso rápido, vocês tem alguma ideia?
FILIPE- O Giovanni que mora na cidade
pode fazer esta leitura, porém não vou procura-lo.
MIGUEL- Por que não vai?
FILIPE- Ele está envolvido com o Ayslan até
o tutano, com certeza ele não é confiável, eu pensei em
fazer outra coisa.
NIKOLAS – Que seria?

240
FILIPE- Vou a Madri, vou buscar um
Tremere para que ele possa ler o livro e assim
libertarmos o Príncipe do torpor.
MIGUEL- Isso é muito perigoso, você sairá da
nossa jurisdição, a Camarilla em Madri pode não
reconhecer você como digno de entrar em seus
domínios tendo em vista que chegou a notícia da sua
acusação até eles.
FILIPE- Não se preocupe, terei cuidado,
preciso apenas que vocês fiquem com o livro, se algo
acontecer comigo eu terei certeza de que o livro estará
a salvo com vocês, cada um vai ficar com uma parte e
me prometam que vocês vão protege-lo com as suas
vidas.
MIGUEL- Pode deixar, eu cuidarei bem da
parte que caberá a mim.
NIKOLAS- Acho que nem preciso dizer o
mesmo.
FILIPE- Pois bem, vou me preparar para a
viagem, partirei amanhã a noite.
Depois de terem conversado e chegado a um
denominador comum, os três se dividem, Miguel segue
pelo esgoto até a sede da Camarilla com o intuito de
pegar alguns documentos e analisa-los a fim de
descobrir algo sobre a estaca de carvalho branco que
está encravada no peito de Leonel, Filipe se dirige até
um hotel perto do aeroporto de Barcelona, dessa forma
241
poderá sair sem ser visto na calada da noite enquanto
Nikolas fica em sua sala subterrânea buscando um meio
de conseguir outra reunião com o conselho e desse
modo desmascarar Ayslan.
O dia amanhecia e todos os habitantes da noite
se retiravam para os seus covis em busca de se
esconderem do temido sol que acabara de dar as caras,
como as atividades diurnas não nos interessam vamos
direto para a noite seguinte, no porto Leonard tramava
alguma coisa e Theodore não podia deixar de perceber
uma estranha movimentação nas docas, dois iates
acabavam de atracar e deles desembarcavam cinco
homens, da janela de seu quarto Theodore os viu entrar
no porto e se direcionarem aos aposentos de Leonard,
um pouco depois os lacaios lobisomens que estavam
sendo influenciados pelo mago também entram no
recinto, seja lá o que tenha acontecido lá dentro durou
uma hora, os homens saíram novamente carregando
uma maleta e entraram nos iates e se dirigiram para o
alto mar, rapidamente Theodore se desloca até a sala
de Leonard, a porta estava aberta, dois funcionários do
porto retiram os corpos dos lacaios lobisomens de
dentro da sala dentro de sacos plásticos e os leva par
algum lugar longe dali, Theodore entra na sala e fecha
a porta, algumas seringas estavam ao chão juntamente
com panos cheios de sangue, um cenário bastante
intrigante.
242
THEODORE – Parece que tivemos uma
festinha por aqui.
LEONARD- Cala essa boca e senta logo ai, a
propósito, abra uma garrafa de vinho pra nós.
THEODORE- Pode me dizer por que
comemoramos?
LEONARDO- Porque estamos prestes de
testemunhar algo jamais visto pela humanidade, o
mundo como nós o conhecemos deixará de existir
dentro de pouco tempo.
THEODORE- Do que você está falando?
LEONARD- Não posso te dar detalhes
vampiro, mais uma coisa posso te dizer, a guerra de
vocês, a chamada JIHAD, me impressiona sabia?
Como pode vampiros lutarem contra vampiros? Eu
confesso que eu sempre um potencial enorme em sua
espécie, se vocês quisessem poderiam com certeza
dominar o mundo todo porém, apesar de serem mortos
vivos a ganância é algo que está tanto nos vivos quanto
nos mortos.
THEODORE- Neste ponto concordo com
você, acho que os cainitas se perderam em algum lugar
do caminho e precisam se reencontrar, a ganância
corrompeu seus corações e sede de poder ultrapassou
a sede de sangue.
LEONARD- E onde você acha que os
humanos como eu estão nisso tudo?
243
THEODORE- Sinceramente, acho que os
humanos já perderam as rédias da sua existência faz
tempo, no meu modo de ver, uma raça inferior usada
pelos vampiros da maneira que os convém.
LEONARD- Este é o erro de vocês vampiros,
sempre se achando superiores, o que é mais engraçado
é que vocês direcionaram sua atenção com tanto ímpeto
para o JIHAD que se esqueceram dos humanos, vocês
se esqueceram que antes de serem vampiros vocês eram
humanos, ou seja, vocês vieram de nós, sem nós vocês
não existiriam, pense um pouco, toda civilização que
construímos durante a história, os avanços tecnológicos,
as guerras, como uma raça que conseguiu tanta coisa
pode ser menosprezada por seres que estão mortos em
vida?
THEODORE- Vocês só conseguiram todas
essas coisas porque nós vampiros permitimos, e tudo
que vocês tem é nosso, nada é de vocês, a morte
alcançará todos os humanos enquanto os vampiros
ficarão bem aqui onde estamos agora, por cima dos
ossos de vocês.
O vinho é servido e a garrafa colocada sobre a
mesa, Leonard pega a taça e dá um gole, a sensação de
prazer demonstrada pelo mago ao beber o líquido
incomoda Theodore, afinal um vampiro não dispõe de
tal sensação, a veia do pescoço de Leonard pulsando
parece um convite indecente ao vampiro, seria um
244
ataque rápido, indolor, em poucos instantes Leonard
estaria morto, e seu corpo gelado seria jogado ao mar,
apesar da enorme de fazê-lo Theodore hesita, ele sabe
que precisará do mago se quiser sobreviver ao que virá.
LEONARD- Vocês deixaram a presa ganhar
força, e vão pagar caro por isso, deviam nos dado a
atenção necessária enquanto tiveram tempo, a luta de
vocês nunca foi contra vocês mesmos meu caro, e vocês
vão descobrir isso da pior maneira possível, eu garanto!
Leonard se levanta e sai da sala, seu paradeiro
é desconhecido, Theodore permanece sentado em
frente a garrafa de vinho tentando entender o que o
mago quis dizer com aquilo tudo, não muito longe dali
Miguel estava se esgueirando pelo esgoto até conseguir
chegar na sede da Camarilla, faltando
aproximadamente duzentos metros para chegar ele é
interceptado por um homem que aparece
misteriosamente das sombras, seus trajes são de um
ninja negro, uma espada nas costas e uma máscara
sobre seu rosto.
MIGUEL- Quem é você e o que quer aqui?
AYSLAN- Estive seguindo você até aqui
esperando uma oportunidade para te eliminar.
MIGUEL- Ayslan é você?
AYSLAN- Você é muito esperto Malkaviano,
o único capaz de me delatar visto que, Frederic está
morto.
245
MIGUEL- O que você sabe sobre a morte de
Frederic?
AYSLAN- Tanto quanto você, que ele foi
assassinato, e assim como você ele sabia demais.
Depois de receber sua última provação
Bradley se dirige até o centro da cidade.
BRADLEY- Praticar um diableire, mais que
porra é essa? Salvar uma pessoa das garras de um
vampiro é até compreensível, beber o sangue deste
vampiro é que eu não consigo entender, não vai ser
difícil encontrar um vampiro em busca de uma pressa
no centro da cidade.
Voltando ao subterrâneo Ayslan se aproxima
de Miguel e em um movimento extremamente rápido
desembanha sua espada e lhe desfere um golpe certeiro
cortando suas duas pernas, o Malkaviano cai ao chão
sem chance de se defender.
AYSLAN- Não devia ter cruzado meu
caminho seu vampiro de merda, silenciarei você aqui
mesmo, vou cortar seu corpo em pedaços tão pequenos
que as formigas poderão carrega-los pelo chão.
MIGUEL- Você acha que ficará empune?
Todos vão saber que você é um traidor de merda,
matarão você da pior maneira possível.
AYSLAN- Cala essa boca.

246
Outro golpe cortante é desferido, dessa vez o
braço esquerdo é decepado, o sangue jorrava pelo chão
e descia pelo esgoto fedido em direção ao rio da cidade.
MIGUEL- Maldito, nosferatus me ajudem.
AYSLAN- É inútil, matei todos os nosferatus
que estavam no esgoto, você acha que um assassino
profissional como eu não me certificaria de matar todas
as potenciais testemunhas que pudessem haver neste
local?
MIGUEL- Você é um lixo, mercenário, nunca
honrou a Camarilla, pelo contrário, se vendeu a quem
te pagar mais, de todos os vampiros você é o pior,
prefiro servir ao SABÁ do que trabalhar com você, eu
sempre quis dizer isso na sua cara olhando nos seus
olhos seu verme!
AYSLAN- Pois bem, já que você vai morrer
mesmo vou te dar esse gostinho.
Ayslan se aproxima de Miguel e o segura pelo
pescoço o erguendo até a altura da sua face, agora cara
a cara eles podem se olhar diretamente, olho no olho.
MIGUEL- Você é um lutador profissional, um
matador nato mais isso não faz de você invencível, pelo
contrário, sua alto confiança te levou a ruína, eu não
preciso de braços e pernas para matar você seu verme.
AYSLAN- Do que você está falando, acha que
pode me matar com essa sua voz insuportável?

247
MIGUEL- Já acabou, você está morto, eu
precisava apenas de um contato visual por dez segundos
e te induzi a isso, eu já estou dentro da sua mente, agora
posso fazer o que eu quiser.
Ayslan atira Miguel contra o chão.
MIGUEL- VOZ DA LOUCURA!
AYSLAN- O que está acontecendo? Estou
ficando louco, estou vendo coisas, quem são vocês?
ILUSÃO- Somos a morte, viemos te buscar
traidor.
AYSLAN- Saiam de perto de mim malditos,
minha cabeça está doendo demais, parece que vai
explodir, que dor insuportável, vou matar todos vocês.
Ayslan fica totalmente descontrolado
desferindo golpes no nada.
MIGUEL- Essa é uma das habilidade
supremas dos Malkavianos, através do contato visual
nós podemos despertar os mais variados sentimentos
no vampiro, raiva, medo, tristeza, dor e até despertar a
besta interior do mesmo em alguns casos, você vai ficar
louco até seu cérebro literalmente explodir, terá
alucinações durante este período que o deixará
vulnerável, eu poderia te matar agora se eu não estivesse
nessa situação lamentável.
Totalmente descontrolado, Ayslan sai do
esgoto pela tampa do bueiro, agora na rua ele avista uma
mulher andando com uma criança na calçada, lugar
248
errado na hora errada é o que parece, para ele aquelas
duas pessoas eram dois seres malignos que querem
tomar sua alma.
AYSLAN- Vocês dois, seres demoníacos, não
me levaram para o inferno, vou matar vocês antes.
De cima de uma casa Bradley se depara com
aquela situação.
BRADLEY- Que merda é essa? O ayslan está
completamente louco e vai matar aquela mulher e
aquela criança, tenho que impedi-lo.
Nosso vampiro pula na frente do Justiçare e o
intercepta, a mulher e a criança saem correndo.
AYSLAN- Não pode ser minha espada se
transformou em uma cobra.
A espada é jogada ao chão.
BRADLEY- O que será que aconteceu com
ele? Não importa devo impedi-lo agora.
Bradley parte para cima de Ayslan e começa a
desferir socos contra o mesmo que por sua vez se
esquiva de todos eles e saca um punhal.
AYSLAN- Mais uma criatura da noite
apareceu, vou abater você maldito.
O justiçare parte para cima do Brujah e
começa e esfaqueá-lo, Bradley não consegue
acompanhar a velocidade do Assamita, dessa forma ele
recebe vários cortes no peito e braços, mesmo
desorientado um Justiçare sempre será um Justiçare, o
249
guarda costas real, dono de uma perícia incrível mesmo
nessas condições.
BRADLEY- Não vou conseguir vence-lo em
um combate corpo a corpo de jeito nenhum, preciso
fazer alguma coisa ou ele vai me matar.
Um pensamento poderia fazer a diferença na
luta, Ayslan já estava colado em nosso vampiro, essa
fração de segundo foi o suficiente para que o Justiçare
se aproximasse e começasse a desferis mais golpes em
nosso vampiro, entre facadas, e chutes Bradley poderia
se esquivar de poucos golpes, a maioria o estava
acertando quando Ayslan solta o punhal e coloca as
mãos sobre a cabeça gritando de dor, um desespero
tomava conta do seu ser, essa era a chance que Bradley
precisava e com certeza não seria desperdiçada,
rapidamente ele apanha a espada que estava no chão e
com um golpe certeiro ele corta Ayslan ao meio com a
sua própria catana, ali era o fim de um dos maiores
Justiçares que a Camarilla já teve.
Sem entender muito o que aconteceu, Bradley
morde o pescoço de Ayslan e pratica o diableire, as
habilidades de luta do Assamita são transferidas
instantaneamente para o Brujah que agora detém todas
as perícias que o Justiçare tinha, sua habilidade de luta
e suas percepções, um belo upgrade para o nosso herói,
depois de se deliciar com o banquete Bradley se levanta
revigorado e se dirige rapidamente até a cabana do
250
velho Xifú, afinal de contas a última provação havia sido
cumprida, ou seja, já era hora de se apossar da tão
sonhada Golconda.
Finalmente consegui me regenerar, o Ayslan
era realmente um oponente formidável, que bom que
sua auto confiança me ajudou a sair vivo deste esgoto,
preciso encontrar o Nikolas e contar que Ayslan é o
traidor.
Ainda muito fraco Miguel caminha em meio
ao esgoto em busca de Nikolas, algo estava errado, um
mal pressentimento que apenas um Malkaviano teria
naquele momento, de repente uma forte dor de cabeça
começa, o vampiro vai ao chão aos gritos.
MIGUEL- Que merda é essa? Que dor!
Visões começam a passar na mente do
Malkaviano neste momento, pessoas gritando,
cadáveres ao chão, uma grande explosão acontece, sem
dúvida é algo horrível.
MIGUEL- Que visão é essa? O que isso quer
dizer?
A poeira abaixa, o mundo não é mais o
mesmo, Barcelona agora é uma cidade devastada em
um cenário pós apocalíptico, ruas desertas, mais a
frente surge um homem com vestes sacerdotais, ele
segurava uma corrente que prendia um lobisomem e os
dois patrulhavam as ruas e mais a cima a catedral se
destacava, na sua sacada um homem com um braço
251
robótico com garras monitorava toda a movimentação
e por fim a última visão, o rosto de Filipe, sorridente,
como se estivesse de despedindo.
MIGUEL- Agora eu entendo, haverá uma
catástrofe global, preciso avisar ao Nikolas e ao resto do
pessoal.
Rapidamente o Malkaviano pega seu celular
do bolso e liga para Filipe enquanto sai correndo até a
galeria principal onde Nikolas possivelmente se
encontra.
MIGUEL- Merda, atende Filipe, atende, ele já
deve estar dentro do avião, o que eu faço?
Longe dali nas montanhas de Barcelona,
Bradley chega até a cabana de XIFÚ seu mestre e
adentra na mesma, Carmem o abraça e o beija na boca
de modo apaixonado, dava pra ver que ambos estavam
curtindo muito a relação, depois dessa calorosa
recepção nosso vampiro se dirige até o interior da
cabana descendo uma escada muito grande, lá em baixo
XIFÚ se encontrava sentado ao redor de um poço com
uma água cristalina e algumas rochas que compunham
o cenário, Bradley se aproxima e se senta ao lado de
XIFÚ.
XIFÚ- Parabéns, você se mostrou digno de ser
um mestre da Golconda, cumpriu todas as provações
com êxito e com isso pode receber a benção.

252
BRADLEY- Eu não conseguiria se não fosse
por vocês me apoiando, me dando força e não me
deixando desistir nos momentos difíceis.
XIFÚ- Chega de conversa, o mundo vai passar
por uma mudança onde não haverá volta.
BRADLEY- Do que o senhor está falando?
XIFÚ- Você terá que ser forte para enfrentar
o que virá, e para isso ser um mestre da Golconda te
ajudará muito nesse caminho que está por vir, agora,
levante-se, tire suas roupas e entre neste poço, ai dentro
ficará o demônio que está em você e com isso surgirá
outro ser.
Bradley se levante e faz o que seu mestre lhe
ordenara, ao entrar no poço uma energia toma conta do
seu corpo de uma forma jamais vista antes, era como se
o seu espírito estivesse sendo retirado do seu corpo e
afogado naquele poço, finalmente totalmente submerso
ele sente um peso saindo de seu corpo e ao mesmo
tempo tudo ficando mais leve, é um processo rápido
porém muito profundo no que diz respeito ao ser do
nosso vampiro, depois de alguns minutos submerso
XIFÚ o chama de volta e ele começa a sair do poço, ao
sair totalmente do poço o seu semblante é outro, e a
água se encontrava negra como a mais densa escuridão.
XIFÚ- Você deixou nesta água toda a sua
sujeira, tudo que lhe atrapalhava de chegar a plenitude,
agora você é um mestre da Golconda, suas habilidades
253
estão no nível máximo, seu conhecimento foi elevado e
agora você terá informações que um vampiro normal
não teria, locais, raças, pessoas, tudo que está a baixo do
submundo agora você sabe que existe, isto te
possibilitará tomar decisões e elaborar planos que
outros não conseguiriam.
BRADLEY- Obrigado mestre, vou ser uma
pessoa melhor e usar minhas habilidades para ajudar os
mais fracos e nunca em meu próprio benefício, e mais
uma coisa, Bradley não existe mais, agora eu renasci
como RAFAEL, CURADO DE DEUS.
As coisas parecem que vão mudar, Lorenzo e
Bradley conseguiram seus objetivos, a mãe da Lua e a
Golconda, em contra partida Camarilla e SABÁ
buscam se articular em busca de seus propósitos,
Miguel busca guardar e desvendar o LIVRO DE NOD,
uma ferramenta muito poderosa que pode levar a quem
possuir a vitória, Leonard e Theodore vivem uma
relação de interdependência, o vampiro precisa de
proteção e o mago de alguém que o busque dos mortos
se assim for necessário, a noite está mais escura do que
nunca, e só os mais fortes e inteligentes conseguirão
sobreviver a esta nova etapa da Jihad.

254
255
Episódio: APOCALÍPSE

J á posso sair dessa caverna, ou devo


permanecer aqui por mais um tempo?
FAUNO- Você pode sair quando
quiser, o que tinha pra acontecer já aconteceu.
LORENZO- Como assim, o que aconteceu?
FAUNO- Pode sair e ver com os seus próprios
olhos.
A luz da lua começa a entrar pela porta da
caverna como se anunciasse uma nova era, o prenúncio
de algo tão tenebroso que fazia Lorenzo pensar duas
vezes em sair ou não da caverna, era inevitável, em
algum momento ele teria que enfrentar o ocorrido e se
articular em face da nova situação, agora com o artefato
da MÃE DA LUA ele poderia ter alguma esperança de
uma nova articulação envolvendo o Lobisomem e os
membros do SABÁ, se é que eles ainda existem.
Ao sair da caverna no alto da montanha ao
norte de Barcelona Lorenzo se depara com a seguinte
visão, uma cidade totalmente modificada, parecia que o
período medieval havia voltado em pleno século vinte e
um, como em meio a tanta tecnologia poderia haver um
tamanho retrocesso? Esta pergunta não poderia ser
respondida ficando parado ali naquele lugar, era preciso
desbravar esse novo cenário e é claro com toda cautela,
256
não sabemos o que mudou e nem a proporção das
mudanças por isso, é sempre aconselhável de agora em
diante olhar em volta antes de dar algum passo.
THEODORE- Você vai me explicar o porque
de me manter em um abrigo ante bombas subterrâneo
por um ano?
LEONARD- Finalmente chegou a hora de sair
vampiro.
THEODORE- O que aconteceu com você?
Por que está usando essa máscara?
Depois de um ano confinado no subsolo do
porto, Theodore pode novamente ver Leonard, porém
o mago não é o mesmo, sua aparência agora é outra,
muito mais forte e usando uma máscara com pequenos
cilindros de oxigênio acoplados a ela mostra que a sua
saúde também passou por alguma mudança não sendo
apenas seu corpo modificado, a luz da lua banha o
vampiro mais uma vez, vagarosamente Theodore sobe
as escadas que dão acesso a superfície e ao chegar perto
do mar se depara com uma visão assustadora de
Barcelona.
THEODORE- O que diabos aconteceu aqui?
Leonard se aproxima e coloca a mão no
ombro do vampiro.
LEONARD- Eu disse a você que os vampiros
iriam pagar por terem subestimados os humanos, este é

257
o resultado, o mundo agora não pertence mais a vocês,
agora ele é nosso e nós controlamos tudo.
THEODORE- Mais e você, o que aconteceu
com você mago?
LEONARD- Eles disseram que os humanos
não seriam afetados, triste engano, desde o começo eu
sabia que não podia confiar neles, digamos que eu estou
carregando as sequelas do que aconteceu em todo o
mundo, mais não se preocupe eu já tenho me mente
como me recuperar e viver eternamente.
THEODORE- Mais a final de contas, o que
aconteceu aqui? Me lembro de você me dizer para me
esconder no seu refúgio ante bombas que algo muito
grave aconteceria, depois disso você me deixou
confinado lá em baixo por um ano me alimentando e
me mantendo vivo, por que isso?
LEONARD- Venha, vamos tomar um vinho e
te conto tudo.
Os dois se dirigem até o interior do covil de
Leonard a fim de colocarem o papo em dia, afinal, se
passou um ano desde a última vez que eles se viram.
CARMEM- Rafael, acho que já podemos sair.
RAFAEL- Concordo, já está na hora de
colocarmos o nosso plano em ação, desde que XIFÚ
nos deixou eu estive pensando em quando nós
poderíamos sair e recrutar novos aliados para a nossa
seita.
258
CARMEM- Você tem certeza que é realmente
isso que você quer?
RAFAEL- Sim, a AURORA LUMEM será
uma seita onde os fracos terão sua vez ao mesmo tempo
que os fortes os protegeram das ameaças deste mundo
tenebroso, somente dessa forma poderemos equilibrar
a balança.
Rafael estava ajoelhado em frente ao túmulo
do velho XIFÚ, sua perda significou muito mais que a
perda de um mestre, mais sim, a perda de um amigo,
afinal, Rafael foi aperfeiçoado durante um ano até que
seu mestre partisse de uma forma misteriosa deixando
o próprio Rafael e Carmem encarregados de mudarem
os destinos de todos a sua volta.
Carmem se aproxima de Rafael e o abraça por
trás e dá um beijo em seu rosto.
CARMEM- Você sabe que eu sempre estarei
com você, não importa o que aconteça, sempre estarei
com você, nossos destinos foram selados pelo amor que
nos resgatou de nossas vidas malditas e isso basta.
Rafael se vira e olha nos olhos de Carmem.
RAFAEL- Eu nunca pensei que eu poderia se
capaz de amar uma pessoa, ainda mais depois que me
tornei um vampiro, esta realidade estava tão distante
para mim, porém com você tudo mudou, hoje eu vejo
que é possível vislumbrar um futuro onde eu posso ser
feliz ao seu lado, eu te amo!
259
Os dois se beijam.
A Camarilla estava desmantelada, Baltazar e
Bernardo haviam desparecido e Filipe estava morto,
pelo menos era isso que a visão que Miguel teve sugeria
naquele momento, Nikolas se encarregava de patrulhar
e fazer manutenções na rede de esgoto da cidade a fim
de que a mesma fosse intransponível afinal de contas o
corpo do príncipe havia sido levado para lá momentos
antes da grande catástrofe acontecer, neste momento
Miguel e Nikolas no salão principal do esgoto tentando
entender o que aconteceu e formulando um plano para
a subida a superfície, as bolsas de sangue acabaram e o
gado também havia morrido de fome, pelo visto todo
suprimento acumulado serviu para mantê-los
justamente por um ano longe da superfície.
MIGUEL- O que vamos fazer Nik, temos que
voltar a superfície, durante um ano ficamos aqui
confinados devido a alta radioatividade contida na
superfície, mais o que me chamou a atenção é o fato de
existirem humanos lá, por que apenas nós vampiros
somos afetados por esta radiação?
NIKOLAS- Eu não sei, o que presumi pelo
barulho que escutamos é que uma grande explosão
aconteceu e que algo derivado desta explosão afetou
grandemente os vampiros, não sei ainda a intensidade
disso tudo, mais espero descobrir.

260
Das sombras surge um homem, um mercador,
devidamente trajado e carregando bugigangas, um
viajante que estava de passagem por aquele local.
MIGUEL- O que quer aqui viajante?
VIAJANTE- Estou à procura de Miguel
Salvattore.
MIGUEL- Está falando com ele.
VIAJANTE- Tenho uma carta para você.
O viajante tira de dentro de sua mochila um
manuscrito enrolado com uma fita vermelha e o entrega
a Miguel, que por sua vez o pega e começa a analisa-lo.
VIAJANTE- Já fiz o que eu tinha combinado
com o senhor Bernardo, agora vou voltar, preciso fazer
mais algumas entregas e algumas vendas, do jeito que o
mundo está não podemos perder nenhuma
oportunidade de ganhar uns trocados não é mesmo?
NIKOLAS- O que você quis dizer com, o
mundo do jeito que está? Como estão as coisas lá fora?
VIAJANTE- O que eu posso te dizer é que o
mundo nunca esteve tão cruel, nós vampiros não temos
vez, hoje somos uma escória, rebaixados ao mais baixo
posto da sociedade, os humanos através da igreja
controlam tudo, os seres da noite, não só os vampiros,
lobisomens, fadas, enigmas e entre outros estão reclusos
em seus covis, tendo que sair apenas para sobreviver,
ou seja, não somos mais os caçadores meu rapaz, a
cadeia alimentar foi invertida e com isso te afirmo com
261
toda certeza que estamos na base da cadeia e não mais
no topo, eu vou nessa.
Miguel espera o viajante se retirar e abre a carta
que diz o seguinte:

Tóquio 20 de junho de 2023.

Ao senhor Miguel Salvattore, príncipe em


exercício da Camarilla.

Venho por meio desta carta esclarece-los


acerca dos acontecimentos que tomaram conta do
nosso planeta nestes dois anos, primeiramente, tenho
que relatar que os humanos nunca pararam de lutar, a
guerra deles era silenciosa e talvez por isso nem
vampiros e nem lobisomens se deram conta do perigo
que ambos estavam correndo, ainda mais, quando os
humanos detinham ao seu lado um mago tão poderoso
que é o caso de Leonard.
O governo Estatal humano em parceria com a
igreja elaboraram um plano para extinguir os vampiros
e os lobisomens da face da terra e assim deter o
monopólio do poder sobre esta superfície, para isso o
Vaticano fez contato com a organização norte
americana chamada GENÊSIS BIO QUÍMICA, esta
organização é especializada em confecções de armas
químicas e biológicas em larga escala, sendo assim, o
262
plano do Vaticano e do governo norte americano era o
de construir várias armas biológicas que seriam
disparadas simultaneamente de vários lugares do
planeta simulando um ataque terrorista coordenado,
para isso uma organização terrorista de faixada foi
colocada em cena, seu nome era MÃO NEGRA, dessa
forma ela assumiria a responsabilidade pelos atentados.
Agora que o problema de autoria dos ataques
estava resolvido, eles partiram para a confecção das
ogivas biológicas que seriam usadas, como eles iriam
conseguir exterminar vampiros e lobisomens ao mesmo
tempo? Um soro desenvolvido a partir do sangue
lupínico combinado com o sangue vampírico seria
capaz disso, o sangue dos lobisomens teria a função de
ressuscitar as células vampíricas nos vampiros fazendo
com que o terceiro elemento dos vírus, uma doença
criada em laboratório pudesse mata-los em pouco
minutos, em contra partida o sangue vampírico agia nos
lobisomens de forma contrária, ao serem atingidos pela
radiação provocada pelo explosão, os lupinos tinham
suas células degeneradas aos poucos, o processo era um
pouco mais lento do que o dos vampiros porém de igual
letalidade.
Os ataques aconteceram simultaneamente em
15 de janeiro de 2020, ás 19:00 horas, todas as capitais
do mundo foram atingidas e a partir delas a radiação se
espalhou para as cidades menores, foi um evento que
263
levou quarenta anos para ser planejado e concretizado,
as consequências do mesmo foram devastadoras,
cidades inteiras aniquiladas e reduzidas as cinzas, os
humanos também foram afetados, sessenta por cento
da população mundial foi abatida, o que pra nós
vampiros é um enorme problema visto que temos que
nos alimentar deles, para o governo e para o Vaticano a
redução da população mundial foi muito bem vindo
tendo em vista que assim o seu plano de dominação
ficou mais fácil de ser concretizado, afinal, menos
pessoas, menos resistência. A configuração do nosso
mundo ficou da seguinte forma a partir disso tudo, o
planeta ficou totalmente dominado pelo governo dos
Estados Unidos representado pelo Vaticano, igreja e
Estado mais uma vez unidos, isso não acontecia desde
o medievo, o mundo está dividido em Padroados
Régios, são quatro, Europa, América, África e Ásia,
cada Padroado é controlado por uma igreja e cada igreja
tem seu líder, no caso das cidades, todas também tem
sua igreja e seu líder, claro que em uma escala menor,
Barcelona por exemplo tem a igreja de santo agostinho
regida pelo Inquisidor Gabriel de Lorent, todas as
igrejas menores reportam diretamente ao Padroado de
seu continente e todos os quatro padroados reportam
ao papa no Vaticano.
Vou detalhar a estrutura da igreja de
Barcelona, afinal, vocês estão ai, como eu disse
264
anteriormente, ela é regida por Gabriel, um Inquisidor
do alto escalão da igreja, ele comanda tudo na cidade, a
baixo dele, temos o Cardeal, este homem meio monge
e guerreiro inspirado nos antigos Templários patrulha a
cidade juntamente com um lobisomem preso a uma
corrente em seu braço direito, todos os dias as cinco da
tarde uma sirene é tocada e todos devem entrar para as
suas casas, caso alguém fique na rua será pego pelo
Cardeal e levado a morte, o toque de recolher deve ser
respeitado, a baixo do Cardeal temos a guarnição, é
como se fosse a polícia local, eles ajudam nos
patrulhamentos e controlam as entradas e saídas da
cidade, além de resolverem conflitos entre os humanos,
tomem cuidado com eles, piedade não é o forte deles,
ainda mais contra vampiros.
Quanto a mim, estou em Tóquio, vim atrás
dos nossos irmãos Cataianos em busca de uma aliança
visto que, estamos desmantelados, a Camarilla não
existe mais, agora vocês estão sozinhos, sem recursos,
sem amigos, apenas com a inteligência de vocês e o livro
de NOD, o SABÁ também deixou de existir, os
vampiros que sobraram vivem refugiados com medo de
sair de suas tocas, deixo para vocês a missão de
reconstruir a seita e leva-la ao alto posto que ela sempre
ocupou, para isso existe um único banco na cidade
administrado por um humano muito influente
chamado Kaleb, ele pode fornecer empréstimos a vocês
265
além de armamentos, caso precisem, no entanto, não
deixem de pagar o que podem dever a ele,
inadimplência pode levar a morte neste atual cenário.
No mais, me despeço com um aperto no peito
em ter que deixá-los meus amigos, sei que precisam de
mim porém estou em uma missão para voltar com
reforços e juntos conseguirmos derrotar a igreja de uma
vez por todas, espero um dia poder escrever um livro
narrando toda essa história chamado “Ao cair da noite”.
Um grande abraço a vocês meus irmãos!

BERNARDO
D´CLARAVALL.

Ao acabar de ler a carta Miguel olha para


Nikolas com um olhar confuso, o mundo havia
mudado e agora o que restava era se readaptar a toda
essa situação da melhor maneira possível a fim de
sobreviver.
MIGUEL- O que faremos? Temos apenas o
esgoto e um príncipe em torpor que precisamos salvar.
NIKOLAS- Não nos resta muitas escolhas no
momento, a primeira coisa a se fazer é angariar

266
recursos, não podemos sobreviver sem termos meios
de subsistência.
MIGUEL- E como faremos isso?
NIKOLAS- Eu acho que sei de um lugar ao
norte de Barcelona que pode nos fornecer os recursos
de que precisamos.
MIGUEL- Do que você tá falando?
NIKOLAS- Estou falando da mina de
diamantes que era explorada por um grupo de Ravnos,
um clã independente devia ter meios de sobreviver,
afinal, este clã não era amparado nem por Camarilla e
nem pelo SABÁ, a alguns anos atrás ouvi rumores de
que os Ravnos liderados por Alberto o mais poderoso
de seu clã haviam encontrado uma mina de diamantes
abandonada a séculos e feito dela um verdadeiro
império, se for verdade o que Bernardo disse na carta,
a mina estará lá, os vampiros que a detinha por sua vez,
com certeza estarão mortos.
MIGUEL- Entendo, você quer ir até lá e
verificar isso.
NIKOLAS- Sim, se ela estiver lá, vamos nos
apossar dela e extrair os diamantes e trocá-los por
dinheiro com este tal de KALEB de quem Bernardo
falou na carta, como todo banqueiro ele deve gostar de
diamantes.
MIGUEL- Tudo bem, vá até lá e veja o que
descobre a fim de nos favorecer nesta guerra, enquanto
267
isso vou estabelecer uma rede de contato na cidade, vou
abraçar algumas pessoas e colocá-las para espionar tudo
para mim, preciso saber quem restou nesta cidade, seja
da Camarilla ou do SABÁ.
NIKOLAS- Não se esqueça de mandar
vasculharem no porto, Leonard com certeza está vivo e
pode estar por trás de muita coisa que aconteceu aqui.
Nikolas pega alguns equipamentos e se dirige
a parte florestal ao norte de Barcelona em busca da
mina de diamantes, Miguel por sua vez sai do esgoto
disfarçadamente e começa a colocar em prática o seu
plano de reunir uma pequena prole a fim de conseguir
informações relevantes sobre a sociedade atual de
Barcelona, um a um a prole vai sendo construída, com
muito cuidado é claro, patrulheiros estão por toda
parte, os abraços são dados em pontos estratégicos,
banheiros de bares, rodoviárias e becos, os alvos
principais são moradores de ruas, pessoas
marginalizadas que ninguém vai notar se sumirem
repentinamente do mapa, dentro de poucas horas uma
prole com sete malkavians estava formada, uma rede de
contatos e informações havia sido construída e Miguel
poderia vasculhar a cidade de uma maneira mais eficaz.
Enquanto Miguel e Nikolas buscavam
recursos, Lorenzo se aproximava de forma furtiva do
antigo território do SABÁ, tudo está muito mudado, os
prédios deram lugar a casas menores, um aspecto
268
medieval em pleno século vinte e um, parecia que o
mundo tinha regredido a idade das trevas, ao chegar no
covil da seita ele se depara apenas com o antigo casarão
usado pelo grupo para suas reuniões, a porta já está
aberta, parece um convite para entrar e ver o que tinha
acontecido, sem pensar duas vezes Lorenzo adentra no
local e começa a vasculhar o que sobrou daquilo tudo,
em meio a destroços ele encontra vários documentos,
fotos, algumas armas e muito lixo, as paredes pichadas
denunciavam que aquele lugar antes frequentado por
temidos vampiros agora se transformara em um abrigo
de mendigos e baderneiros.
LORENZO- Mais o que aconteceu aqui?
Como o mundo ficou dessa maneira?
Sem entender ao certo o que aconteceu,
Lorenzo continua a caminhar pela casa e chega até a
sala dos líderes, Ramon e Rhuan costumavam se reunir
ali e traçar planos visando a obtenção de poder e
território, mais uma vasculhada rápida e algo é
encontrado no chão do lado da cadeira que Ramon
ocupava, era o seu celular, parece que o aparelho havia
sobrevivido há aquilo tudo, apenas sua tela estava
danificada e logicamente sem carga na bateria.
LORENZO- Preciso ligar este celular, pode
ter alguma coisa nele que possa me ajudar a entender o
que aconteceu aqui.

269
A energia elétrica ainda funcionava, era um
bom sinal, porém não havia carregador.
LORENZO- Merda, como vou ligar este
celular? Já sei.
Como nosso amigo poderia esquecer que seu
celular estava consigo?
Lorenzo pega o seu celular que está com dois
por cento de carga e retira sua bateria e a coloca no
celular de Rhuan, depois de alguns segundos o celular
liga, a tela quebrada impede uma visão melhor do que
está na tela porém, dá para ver que a uma ligação
perdida e no contato estava escrito Leonard.
LORENZO- O que diabos o Rhuan queria
com o mago do porto? Acho que ele pode me dar
algumas respostas.
O celular descarrega por completo, Lorenzo o
coloca no bolso e segue sorrateiramente até o porto
para falar com o mago.
Algo que todos nós temos que saber é que
todo ato cometido por nós gera consequências, e o
próximo personagem que vou descrever para vocês é
fruto direto de uma ação cometida, algo que precisou
ser feito porém gerou resultados inesperados, era mais
ou menos meia noite e meia quando um vampiro
adentra na sagrada família para falar com o Patrono da
cidade no caso, Gabriel o Inquisidor, os guardas logo o
abordam e em questão de minutos estão todos mortos,
270
o poder de luta deste vampiro é incrível, o que o torna
uma ameaça, depois de passar pelo saguão ele chega até
a escadaria que leva até a sala do Patrono, Gabriel já
estava no alto da escada observando tudo o que estava
acontecendo.
GABRIEL- O que você acha que está fazendo
adentrando em meus domínios, matando meus guardas
e fazendo toda essa anarquia?
Vim até aqui porque quero me aliar a você,
busco vingança e acho que você pode me proporcionar
isso, matar seus guardas foi apenas uma pequena
demonstração de minhas habilidades.
GABRIEL- Diga-me seu nome e o motivo por
que quer se vingar e de quem você quer se vingar.
Meu nome é Abrahan.
ABRAHAN- Quero me vingar do vampiro
que tirou a vida do meu irmão, vim diretamente da
Turquia para cumprir este objetivo.
GABRIEL- Quem era seu irmão?
ABRAHAN- Meu irmão era o Justiçare de
uma seita chamada Camarilla.
GABRIEL- Você é irmão do Ayslan?
ABRAHAN- Sim, dele mesmo.
GABRIEL- Meu rapaz, sinto em te dizer que
todos os vampiros da cidade de Barcelona foram
exterminados, inclusive este a quem procura.

271
ABRAHAN- Você tem certeza disso? Eu acho
que esta informação não procede, tenho um contato, o
maior hacker do país, ele conseguiu estas imagens de
câmeras de segurança espalhadas pela cidade, elas
mostram King Bradley e uma mulher caminhando pela
cidade hoje mais cedo, veja você mesmo, está tudo aqui,
por este celular posso acompanhar qualquer um pela
cidade em tempo real.
GABRIEL- Como se atreve a hackear minha
cidade de baixo do meu nariz, você perdeu a noção do
perigo?
Abrahan se aproxima de Gabriel.
ABRAHAN- Nós, Assamitas, somos um clã
de vampiros assassinos mercenários que a séculos
servimos aos nossos próprios interesses, por isso não
fazemos parte destas seitas como SABÁ ou Camarilla,
nossa seita é o dinheiro, nossa lealdade está do lado de
quem pagar mais, porém, neste momento minha
lealdade estará do lado de quem contribuir para a
minha vingança, ou seja, você pode ter um mercenário
altamente treinado do seu lado servindo aos seus mais
tenebrosos propósitos sem pagar nada.
GABRIEL- Em troca do que você faria esses
serviços?
ABRAHAN- Me dê carta branca para andar
na cidade e matar Bradley, não me interrompa e nem

272
fique no meu caminho, fazendo isso você pode ter
certeza que estarei do seu lado em qualquer situação.
GABRIEL- Pois bem Assamita, farei o que me
pediu, mais esteja ciente que vou cobrar estes favores e
se não quiser ter sua cabeça exposta em uma bandeja
em praça pública é melhor cumprir a sua parte neste
acordo.
Virando as costas, Abrahan sai da igreja e
começa a sua caçada a Bradley pelas ruas de Barcelona.
Furtivamente pelas ruas de Barcelona Rafael e
Carmem vasculham todos os locais possíveis a fim de
desenharem um mapa mental da nova cidade,
juntamente com a Golconda Rafael teve uma visão de
tudo que aconteceu no mundo no que diz respeito as
explosões porém não sabendo as reais motivações dos
ataques, depois de algumas horas colhendo
informações com vampiros remanescentes eles
descobrem sobre a estrutura montada pela igreja na
cidade e de como esta instituição dá as cartas em todo
o continente.
CARMEM- Estamos aonde era o bairro EL
Raval, já conversamos com muitas pessoas e agora
sabemos o que aconteceu com o mundo, mais o que eu
não entendo é o porque disso tudo, apenas o poder e o
domínio?
RAFAEL- Eu nunca subestimei os humanos,
até mesmo porque fui um deles, a sede de poder deles
273
é algo insaciável, desde Hitler há Mussolini e tantos
outros, sacrificar vidas para eles faz parte do processo
de conquista, reduzir o mundo um cenário medieval,
tendo a igreja católica no centro novamente, isso já
aconteceu antes Carmem, o problema é que os
vampiros pensaram que os humanos estavam
derrotados e pagaram caro por isso.
CARMEM- Você acha que conseguiremos
mudar essa situação?
RAFAEL- Acho muito difícil, podemos tentar,
mais, dificilmente as coisas voltaram a ser como eram
antes.
CARMEM- Volte para o covil da Aurora, vou
fazer algumas investigações sobre a igreja e o poder que
ela exerce na cidade, pontos fortes e fracos, assim que
eu terminar levo um relatório pra você.
RAFAEL- Tome cuidado meu amor, não vá
se machucar!
CARMEM- Pode deixar, em breve voltarei pra
você.
Depois de se despedirem Carmem e Rafael se
separaram, o mestre da Golconda volta para o covil da
Aurora Lumem levando consigo cinco neófitos
enquanto Carmem se empenha em uma investigação
mais acurada no que diz respeito a igreja.
Sentados na cobertura em frente ao mar,
Leonard e Theodore tomam um vinho e continuam a
274
conversar sobre tudo que aconteceu e de como as coisas
vão funcionar daqui pra frente.
THEODORE- Quase não consigo acreditar
nas coisas que você disse, as coisas pareciam tão bem e
em um piscar de olhos tudo muda, estou pensando qual
será o meu papel nisso tudo.
LEONARD- O seu papel é muito simples,
ficar ao meu lado e dessa forma me trazer de volta
quando eu morrer, como já lhe expliquei, estou com
uma doença degenerativa e isso significa que morrerei
mais cedo ou mais tarde e será o seu papel me buscar
no mundo dos mortos e me recolocar em outro corpo.
THEODORE- Entendi, eu, sendo imortal
vou conseguir te trazer de volta a vida sempre e por
consequência você também será imortal juntamente
comigo, é um bom plano.
LEONARD- Justamente, e em troca de seus
serviços lhe darei abrigo, estrutura e proteção, afinal, na
atual situação em que se encontra este mundo, não é
bom um vampiro vagar pelas ruas desprotegido, o risco
de você ser apanhado e morto é muito grande.
THEODORE- Vendo as coisas por este lado
serei obrigado a concordar com você.
O mar estava revolto e o céu nublado, a cidade
exilava fumaça, um cenário fedido e que transmitia um
clima de tensão contínuo, parecia que uma guerra civil
poderia estourar a qualquer momento, humanos
275
oprimidos e insatisfeitos com a administração da igreja
que visava apenas se enriquecer enquanto a população
era mantida de baixo de um julgo opressor bem
violento, os vampiros por sua vez não tinham uma
liderança e por isso viviam escondidos sobrevivendo de
migalhas, de gotas em gotas de sangue a não vida deles
continuava, estava cada vez mais difícil se alimentar, a
situação não estava boa pra nenhum dos lados.
Um dos capangas de Leonard sobe a
cobertura e diz ao mago que tem um homem querendo
falar com ele, Leonard pede para seu lacaio conduzir
este homem até a cobertura para escutar o que o
mesmo tem a dizer.
Poucos minutos depois o homem chega e s
junta ao mago e ao vampiro.
LEONARD- Eu me lembro de você, Lorenzo
seu nome não é?
LORENZO- Isso mesmo mago, eu já estive
aqui uma vez.
LEONARD- E a que devo a honra de sua
visita?
LORENZO- Vim em busca de respostas,
quero saber o que aconteceu aqui e onde estão todos.
LEONARD- Todos que você conhecia estão
mortos, o mundo mudou meu caro, e até que ponto
você estará disposto a se adaptar a ele?

276
LORENZO- O cenário atual denota uma
catástrofe global, foi isso mesmo que aconteceu?
THEODORE- Exatamente meu caro, fomos
alvo de um ataque arquitetado pelos humanos e agora
somos os párias dessa sociedade caída.
LORENZO- Quem está no controle?
THEODORE- A igreja por meio de Gabriel o
Inquisidor.
LORENZO- Então temos que retomar o
poder e voltar as coisas como eram antes, neste atual
cenário estamos totalmente desfavorecidos.
LEONARD- Não é tão fácil, Gabriel é muito
poderoso e possui um exército de patrulheiros em seu
comando, não será fácil mata-lo.
LORENZO- Podemos formar uma tríade, o
que vocês acham?
THEODORE- Mais um para o bando? O que
você acha Leonard?
LEONARD- O que eu ganharia tendo você ao
meu lado setista?
LORENZO- Ganharia um aliado poderoso, e
além do mais eu tenho algo que pode interessar
Gabriel, ele é um humano não é? E como todo humano
é ganancioso e com certeza anseia viver para sempre e
eu posso dar isso a ele.
LEONARD- Do que você está falando?

277
LORENZO- Possuo um artefato capaz de
conceder a imortalidade a quem o possuir, ele é
chamado de mãe da lua.
THEODORE- Já ouvi falar deste artefato, ele
possui uma outra metade chamada de pai do sol, as
duas metades juntas podem fazer coisas inacreditáveis.
LEONARD- Este artefato é justamente o que
eu preciso Theodore, não vou precisar mais de você
para me ressuscitar.
THEODORE- Detesto te desapontar nobre
mago, este artefato concede a imortalidade apenas se o
humano que o possuir estiver em um bom estado de
saúde, este artefato não cura doenças, ele age a partir de
uma condição saudável, a partir do momento que o
humano saudável possuir o artefato nada mais o
atingirá, inclusive doenças, sem dúvida este não é o seu
caso que já se encontra em um corpo moribundo e
prestes a morrer, concluindo, eu ainda sou sua melhor
opção e contente-se com ela.
LEONARD- Entendi vampiro maldito, pois
bem, pode se juntar a nos setista, você ficará
encarregado de negociar com Gabriel, em troca deste
artefato vamos conseguir posições favoráveis para todos
nós, quem sabe até um reino onde poderemos
comandar tudo, sem interferência da igreja, fazermos
nossas próprias leis.

278
LORENZO- Vou me encarregar de
convencer este Inquisidor de que a imortalidade dele
será nossa ascensão de volta ao topo.
Depois de terem conversado Leonard vai para
os seus aposentos descansar, sua saúde debilitado não
o permite a fortes emoções por muito tempo,
Theodore por sua vez decide pesquisar um pouco na
biblioteca do mago a fim de encontrar algo que o
pudesse favorecer nessa guerra ou até mesmo encontrar
algo que pudesse colocá-lo em uma posição melhor em
relação a Leonard já que, o mago deixou claro que quer
viver à sombra de sua imortalidade e isso com certeza
não é uma boa ideia visto que, ter um mago te
mandando o tempo não é algo que um vampiro gostaria
de ter, Lorenzo por sua vez se desloca até a periferia de
Barcelona em busca de Ragnar, afinal, o velho
lobisomem com certeza deu um jeito de escapar disso
tudo.
O telefone de Miguel toca, o vampiro se
encontra no centro de Barcelona, vasculhando e
entendendo a configuração local.
MIGUEL- Alô.
NIKOLAS- Sou eu Nikolas.
MIGUEL- pois bem, o que descobriu?
NIKOLAS- Demos sorte, a mina está onde eu
havia lhe falado, porém, precisamos de equipamentos

279
para fazer a extração e o processo de lapidação dos
diamantes.
MIGUEL- E como faremos isso?
NIKOLAS- É ai que você entra, vá até o banco
da cidade e converse com o Kaleb, se ele nos emprestar
o dinheiro podemos comprar o maquinário e começar
em uma semana, conheço um cara no mercado negro
que pode conseguir os equipamentos bem
rapidamente, só temos que pagar o quanto ele vai pedir.
MIGUEL- Entendi, o dia já vai amanhecer,
vou me retirar e assim que a noite chegar irei até o
banco, aguarde notícias minhas.
NIKOLAS- Positivo, ficarei no aguardo!
Depois de fazer uma minuciosa investigação,
Lorenzo chega até um velho casarão ao leste da cidade,
muitas árvores o circundam mostrando que ali era o
lugar ideal para que um lobisomem solitário pudesse
passar o resto de seus dias, a porta caindo aos pedaços
não é um empecilho por isso ficou fácil para o vampiro
entrar, deitado em um sofá velho o velho Ragnar
repousava em meio a várias garrafas de whisky e
tequilas, diferentemente dos vampiros, os lobisomens
não enxergam com maus olhos a embriaguez
continuada, Lorenzo se aproxima e se senta ao seu
lado, a poeira se espalha pelo ar a medida que o
vampiro se sentava, definitivamente era o fundo do
poço.
280
RAGNAR- O que faz aqui vampiro? Pensei
que você havia morrido.
LORENZO- Sou osso duro de roer camarada.
RAGNAR- Percebe-se!
LORENZO- Eu te disse que lhe traria o
artefato você não lembra?
RAGNAR- Você conseguiu pega-lo?
LORENZO- Claro que sim, mais não vou
entrega-lo a você tão fácil assim.
RAGNAR- O que você quer que eu faça pra
você?
LORENZO- Estou esperando uma ligação,
aguarde e verá o que você precisa fazer por mim, não
será uma tarefa difícil, penso que você terá que matar
uma pessoa.
Ragnar se senta ao lado de Lorenzo e dá um
gole na garrafa.
RAGNAR- Me explique melhor.
LORENZO- Sabe quando alguém está sendo
oprimido por outro alguém e está esperando apenas
uma chance de matar seu opressor? É justamente essa
situação que eu detectei a algumas horas atrás, porém,
o oprimido não pode matar seu opressor com as
próprias mãos, então para isso ele espera um outro
elemento adentrar na situação para que este elemento
possa ajuda-lo e esse elemento sou eu, sei que este ser
oprimido é ardiloso e inteligente, por isso, tenho certeza
281
que ele encontrará algo que eu queira e com isso em
mãos vai me ligar a fim de barganhar e quando isso
acontecer eu aceitarei o que ele terá para me dar e em
troca você vai matar o opressor, eu sairei ganhando sem
ter feito absolutamente nada apenas usando o favor que
você me deve e a vontade de se libertar de um vampiro
oprimido.
RAGNAR- Por este artefato eu mato quem
precisar.
LORENZO- Pois bem, sentemos e esperemos
meu caro, a hora vai chegar, o dia já vai amanhecer, vou
dormir e assim que eu acordar receberei essa ligação,
cuide pra que ninguém me mate nesse meu tempo de
sono.
Sentado em cima de uma árvore, Rafael
observa Barcelona, a sensação da vazio é evidente,
parece não haver esperança para este mundo, a Aurora
Lumem seria algo que poderia reestabelecer o
equilíbrio, porém no atual cenário Rafael chega a
duvidar se esse caminho seria mesmo possível de traçar,
em meio aos seus pensamentos um chamado, é
Carmem, telepaticamente ela abre contato.
RAFAEL- Pode falar, estou ouvindo.
CARMEM- Rafael por favor me ajude, eles
me pegaram!
RAFAEL- O que? Onde você está?

282
CARMEM- Estou em uma igreja abandonada,
estou amarrada, o vampiro que me capturou me
torturou para que eu entrasse em contato com você, ele
quer acertar as contas com você de qualquer maneira.
RAFAEL- Quem pegou você?
CARMEM- Um vampiro muito habilidoso, eu
estava na Sagrada Família investigando, consegui
adentrar na capela principal e tive acesso a vários
documentos, estes documentos mostram como a igreja
chegou no poder, tive que enganar várias pessoas para
conseguir entrar, devido a nossa benção da Golconda
posso transitar como uma humana para todos os
lugares, o problema é que este vampiro conseguiu me
detectar, tentei escapar mais não consegui, minhas
habilidades de luta são limitadas, ele disse que se você
não vier amanhã há noite ele vai arrancar a minha
cabeça.
RAFAEL- Eu vou até ai e vou resgatar você de
qualquer maneira, eu juro!
CARMEM- Tenha cuidado meu amor, ele
está com sede de sangue.
RAFAEL- Não se preocupe, estarei
preparado.
Em alguns minutos o dia vai amanhecer,
Rafael precisa se preparar para esta missão de resgate,
para isso ele entra em meditação profunda até que a

283
noite caia novamente sobre todos e essa luta puder ser
travada.
A noite chega, e junto com ela os perigos de
um mundo em que se manter vivo é o que realmente
importa, onde humanos e vampiros disputam o poder
e não se importam de sacrificar vidas inocentes no meio
deste processo, se fortalecer é necessário e por isso
Miguel e Nikolas buscam reestabelecer a Camarilla e
com isso formar uma legião capaz de se rebelar e por
consequência tomar o poder das mãos da igreja,
Lorenzo e Ragnar unem forças em torno dos seus
próprios interesses enquanto Theodore busca meios de
acender ao poder e se livrar das amarras impostas por
Leonard, Rafael vive um dilema, como resgatar a sua
amada das mãos de um vampiro sanguinário sedento
por vingança, agora aas coisas começam a ficar mais
interessantes, depois de terem colocado todas as peças
no tabuleiro, chegou a hora de movimentá-las e quem
conseguir enxergar o melhor lance com certeza terá
uma vantagem neste jogo de xadrez da vida real.
Miguel chega no banco da cidade, ao entrar se
depara com uma estrutura muito bem montada, vários
funcionários e mesas espalhadas por todo lado, pelo
visto a questão financeira não foi afetada em todo o
processo de tomada de poder por parte da igreja,
caminhando lentamente ele se dirige a sala do gerente,
um segurança em frente a porta é um sinal de que ali
284
não era lugar para brincadeiras, a porta é aberta e o
nosso vampiro entra, sentado atrás de uma mesa cheia
de papéis está Kaleb, o banqueiro ordinário que
comanda o setor financeiro da cidade.
KALEB- Sente-se meu amigo, o que lhe traz
até aqui?
MIGUEL- Preciso de um empréstimo.
KALEB- Primeiramente, quem é você, e o
que você faz ada vida?
MIGUEL- Meu nome é Miguel Orázio, sou
um vampiro, mato pessoas, é isso que eu faço e quero
um empréstimo.
KALEB- Entendo, se você está tentando me
persuadir usando seu contato visual, esqueça, eu sou
cego! Neste ramo aprendi que os nossos olhos muitas
vezes servem apenas para nos enganar e nos fazer cair
em armadilhas.
MIGUEL- Preciso de quinhentos mil dólares,
é a moeda global agora não é mesmo?
KALEB- Sim, mais eu estou com uma dúvida,
se o que você faz é matar pessoas por isso a menos que
você seja um mercenário, matar pessoas não dá
dinheiro, sendo assim, como você pretende me pagar?
MIGUEL- Isso é algo que eu tenho que me
preocupar, deixa essa parte comigo, apenas me
empreste o dinheiro.

285
KALEB- Pois bem, por não ser uma quantia
muito alta, darei a você um mês, se não me pagar dentro
desse prazo aquele homem que está atrás da porta irá
caçar você e trazer sua cabeça para mim em um prato
entendeu?
MIGUEL- Entendido, onde tenho que
assinar?
KALEB- Calma campeão, não é tão fácil
assim, por se tratar de um vampiro, ou seja, um ser
imortal, eu preciso de uma garantia, algo que vá fazer
você voltar aqui novamente.
MIGUEL- Tudo bem, deixarei com você o
cadáver do príncipe da Camariila já ouviu falar?
KALEB- Claro, a seita vampírica que por
séculos dominou o mundo, você vai deixar o cadáver
de um príncipe aqui?
MIGUEL- Não só o cadáver, mais também
seus pertences íntimos, suas roupas, não pude deixar e
notar quando entrei aqui que existem inúmeras obras
de arte nas paredes, armas, entre outras antiguidades,
posso presumir que você além de banqueiro é um
colecionador.
KALEB- Muito bem observado vampiro, será
uma honra ter em meu inventário um príncipe da
Camarilla.
MIGUEL- Pois bem, vou busca-lo pra você,
onde eu assino?
286
Depois de ter assinado toda a papelada,
Miguel sai do banco e liga para Nikolas.
NIKOLAS- Alô.
MIGUEL- Consegui o empréstimo.
NIKOLAS- Que ótima notícia Miguel.
MIGUEL- Mais tem um problema.
NIKOLAS- Que problema?
MIGUEL- O banqueiro exigiu que eu desse
alguma garantia em troca do valor pedido, um penhor
por assim dizer, com isso eu não tive escolha, a única
coisa de valor que temos no momento é o príncipe
Leonel.
NIKOLAS- Miguel você está louco? Não
podemos dar o príncipe como garantia de nada, temos
que salvá-lo, você esqueceu disso?
MIGUEL- Olha Nik, não existe mais
Camarilla e o príncipe é um fardo que não podemos
mais carregar, eu tomei uma decisão, vou praticar o
diableire com o príncipe, vou tomar o seu lugar e juntos
poderemos retomar tudo que perdemos.
NIKOLAS- Eu não concordo com isso
Miguel.
MIGUEL- Não estou pedindo sua permissão,
estou te comunicando da minha decisão, são duas
coisas completamente diferentes.
NIKOLAS- Faça como quiser, não vou tentar
te impedir, apenas pense bem nisso tudo.
287
Miguel parte para o subterrâneo onde está
escondido o corpo do príncipe para concretizar seu
plano.
A busca de Theodore na biblioteca de
Leonard deu frutos, usando toda a sua perícia, o
vampiro encontrou um livro muito estranho, ao
examiná-lo Theodore encontrou pistas que o levou a
um outro livro em outra estante da biblioteca, neste
segundo livro um mapa desenhado a mão na sua última
página, o local descrito no mapa era familiar, uma
região do porto onde ninguém poderia ir, atrás das
docas, vigiada por guardas vinte e quatro horas, isso
despertou a curiosidade do vampiro que usando sua
necromancia invocou espíritos e os deram a missão de
possuir os guardas, uma vez possuídos, um dos guardas
entrou no local enquanto o outro permaneceu do lado
de fora, este primeiro guarda que entrou foi conduzido
por Theodore que olhava pelos seus olhos e pelos olhos
do espírito, em poucos minutos uma marcação no chão
foi encontrada, o guarda se abaixou e retirou o piso
falso, embaixo dele se encontrava uma caixa, o fantoche
de Theodore pegou a caixa e a levou para um iate
ancorado longe dali, lá Theodore já estava o esperando,
depois da caixa ser entregue o guarda foi morto pelo
vampiro e o seu corpo descartado no mar, a caixa é
aberta pelo vampiro.

288
THEODORE- Então você guardava isso seu
mago desgraçado!
Vamos acorda ai, seu telefone está tocando!
LORENZO- Que merda é essa? Isso é jeito
de me acordar?
RAGNAR- Seu telefone está tocando, atende
essa merda logo.
LORENZO- Alô.
THEODORE- Tenho algo pra você setista, e
você vai gostar muito.
LORENZO- Do que você está falando mestre
dos mortos?
THEODORE- Descobri o que Leonard
guardava com tanto afinco, assim como você ele detêm
um artefato, e não é qualquer artefato, é a o pai do sol,
a metade que falta do seu artefato.
LORENZO- O que? Como isso é possível?
THEODORE- Aquele miserável tem muitas
cartas na manga, não tenho muito tempo até ele
descobrir que foi roubado por isso preciso colocar meu
plano em prática agora.
LORENZO- E como eu me encaixo neste
plano?
THEODORE- Você vai matar Leonard e eu
tomarei o seu lugar ficando com tudo que o pertence,
em troca lhe darei a metade do artefato que lhe falta.

289
LORENZO- Me desculpe mais eu não posso
matar o mago, porém, posso encontrar quem pode.
THEODORE- Não quero saber quem vai
fazer o serviço, o que importa é o mago estar morto o
mais rápido possível e assim lhe darei o artefato.
LORENZO- Pode aguardar, será feito como
você quer, assim que Leonard estiver morto eu irei até
você pegar o artefato.
THEODORE – Como quiser setista, foi um
prazer fazer negócio com você.
O trato estava feito, a vida de Leonard pelo
artefato, uma boa jogada, Lorenzo eliminaria um
concorrente poderoso de qualquer maneira, quer fosse
o lupino, quer fosse o mago.
LORENZO- Então Ragnar, está preparado
para matar uma pessoa em troca do artefato?
RAGNAR- Eu não tenho medo da morte uma
vez que eu já estou morto por dentro a muito tempo,
diga-me quem devo matar e eu irei até ele.
LORENZO- Muito bem lupino, você deve
trazer a cabeça de Leonard, o mago do porto para mim
e em troca lhe darei o artefato que te levará a
imortalidade.
RAGNAR- Ele é muito poderoso mais acho
que posso derrota-lo, quando tudo acabar vou te ligar e
marcaremos o lugar exato para a troca.

290
LORENZO- Estarei esperando ansioso por
este momento, até lá vou até um lugar que eu preciso ir
faz tempo, até mais e boa sorte na sua caçada por que
com certeza você vai precisar.
Depois de terem alinhado os termos do
acordo, vampiro e lobisomem se deslocam em direções
opostas, um vai para o porto em busca de sua presa
enquanto o outro se dirige até a periferia da cidade em
busca de um laboratório clandestino, este laboratório
era famoso em Barcelona, Lorenzo tinha ouvido falar
dele enquanto vasculhava a cidade buscando entender
tudo o que estava acontecendo, os vampiros diziam que
era possível se aperfeiçoar fisicamente neste
laboratório, braços e pernas mecânicos além de um
super soro que o deixava invencível, ninguém sabia ao
certo até que ponto aquilo tudo era verdade, o mundo
havia mudado tanto que se houvesse um cientista
maluco trabalhando secretamente no mercado negro
não seria nenhum absurdo, e foi em busca disso que
Lorenzo se dirige até o lado oeste da cidade.
Não muito longe dali, Rafael termina sua
meditação e parte ao resgate de Carmem, ela leva
consigo apenas uma catana, um mestre da Golconda
gosta de evitar ao máximo o combate porém agora isso
não seria possível, suas habilidades estavam no nível
máximo, não seria fácil para o desafiante vence-lo e
Rafael sabia disso o que tornava sua vontade de matar o
291
vampiro que capturou sua amada algo muito mais
palpável, rapidamente ele se desloca até a única igreja
abandonada na cidade no momento, era a capela de são
Judas Tadeu localizada nas proximidades do El
Poblenou, a guarnição não era capaz de detectá-lo dado
o seu alto nível de furtividade, em alguns minutos Rafael
já se encontrava no teto da igreja, sempre muito
precavido analisa todo o cenário em volta do lugar, não
seria bom ser surpreendido assim que entrasse no local,
uma telha é retirada proporcionando uma pequena
abertura no telhado por onde Rafael consegue enxergar
Carmem ao centro da igreja e ao seu lado um homem
com uma capa preta segurando-a pelos cabelos,
Carmem está muito ferida e sangrando muito, não há
tempo a perder, sendo assim, Rafael quebra algumas
telhas e cai de pé a poucos metros dos dois, em um
rápido movimento ele empunha sua catana de forma
ameaçadora, o homem permanece parado com os
olhos fitos em nosso vampiro enquanto Carmem deixa
escapar um leve sorriso ao ver seu amado alo naquele
momento.
RAFAEL- Solte ela agora maldito!
ABRAHAN- Calma, a festinha ainda está só
começando, você não quer saber quem eu sou e por
que eu a capturei?

292
RAFAEL- Não me importo com quem você é,
isso não mudará o fato de que ao final desta batalha
você estará morto!
ABRAHAN- Convencido você ein! O que te
faz pensar que será tão fácil assim me matar?
RAFAEL- Rapaz, você mexeu com a única
coisa que você não deveria ter mexido em todo este
mundo, algo que nenhum homem consegue perdoar,
você colocou suas mãos imundas em cima de tudo que
eu mais amo nessa vida, essa ato é pra você uma
sentença de morte da qual será impossível escapar.
ABRAHAN- E você? Não se faça de coitado
seu verme, você também tirou o que eu mais amava,
minha única família, meu tudo, ele era meu amigo, meu
mentor, tudo que eu tinha e você tirou isso de mim.
Que tal experimentar essa dor e sentir o que eu senti?
RAFAEL- Não faça isso.
Rafael sabia que por causa da curta distância
que o homem estava de Carmem seria impossível
impedi-lo de matá-la por isso estava tentando atrasa-lo a
medida que caminhava em sua direção para encurtar
essa distância e poder agir de forma a poder salvá-la.
ABRAHAN- Meu nome é Abrahan, sou
irmão de Ayslan, aquele que você matou a sangue frio,
e esta, é a dor que eu senti por tê-lo perdido!
Um único golpe é desferido por Ayslan, é fatal,
a cabeça de Carmem cai rolando pelo chão da igreja e
293
seu corpo cai aos pés do vampiro, seu sangue banhava
o carpete empoeirado a medida que se aproximava dos
pés de Rafael, um grito de dor sai da boca do mestre da
Golconda.
RAFAEL- NÃO, SEU MALDITO, VOCÊ A
TIROU DE MIM, EU NUNCA VOU PERDOAR
VOCÊ, NEM SE NOS ENCOTRASSEMOS EM UM
MILHÃO DE VIDAS!
O choro de Rafael deixava claro que a benção
da Golconda havia sido alcançada, afinal, um vampiro
amar daquela maneira e chorar uma perda não era algo
atribuído a esta raça caída e sim ao mais nobre ser
humano vivente na face da terra.
Rafael parte em direção a Abrahan usando um
movimento muito rápido, um golpe é desferido usando
sua catana em direção a cabeça do Assamita que por sua
vez bloqueia usando um bracelete de metal acoplado
em seu braço, o fato de que Rafael precisa usar as duas
mãos para manusear a catana se torna uma desvantagem
ao passo que Abrahan possui duas hideen blades, uma
saindo de cada punho, ou seja, apesar de ter defendido
o golpe desferido por Rafael, uma de suas mãos está
livre para atacar, e assim ele o faz, um golpe também é
desferido por Abraham no abdômen do Brujah que é
perfurado, rapidamente Rafael se afasta, o sangue está
escorrendo e caindo ao chão mais isso não é suficiente
para parar nosso vampiro que volta ainda mais rápido
294
em direção ao Asssamita e começa a desferir golpes em
sua direção, Abrahan novamente defende e contra ataca
Rafael, mais uma vez ele é perfurado, os golpes
parecem tão óbvios que é quase impossível acreditar
que um mestre da Golconda estava em tal desvantagem.
ABRAHAN- (pensando) – Estou entendendo,
o meu plano funcionou, eu sabia que se eu lutasse com
ele de forma calma e serena de ambos os lados eu
perderia, por isso matei aquela mulher, isso o
desestabilizou de tal forma que ele não está
conseguindo raciocinar, está agindo meramente por
impulso e sede de vingança, dessa forma será questão
de tempo até eu arrancar sua cabeça.
O que Abrahan não contava é que Rafael se
tornava cada vez mais rápido ao passo que se enfurecia,
isso se deu devido as habilidades herdadas de Ayslan na
prática do diableire, o Assamita detém essa
característica, a troca de golpes continuava, Abrahan
pula e sobe na mesa que estava ao seu lado, nesse
momento a catana desce violentamente, uma esquiva é
executada e o golpe parte a mesa ao meio, uma
perseguição se inicia, o Assamita começa a se
movimentar em cima das madeiras que compõe o teto,
indo de um lado para o outro, Rafel está na sua cola, o
Assamita quebra o telhado e sobe em cima do mesmo,
Rafael sai logo em seguida como um raio, não há tempo
para se esquivar, Abrahan é acertado com uma
295
espadada que decepa seu braço, o movimento foi
rápido demais porém o Assamita identificou um
padrão, ao olhar mais atentamente ele conseguiu ver
seu irmão Ayslan lutando em cima daquele telhado, os
movimentos são idênticos e isso jogaria por terra a
vantagem que Rafael detinha por ser um metre da
Golconda, por mais que seus movimentos eram mais
rápidos eles se tornavam previsíveis uma vez que, foi
Ayslan que treinou Abrahan, a previsibilidade dos
movimentos compensava a alta velocidade advinda dos
mesmos, mesmo sem um braço Abrahan poderia ler
todos os movimentos antecipadamente o que o deixava
de certa forma confortável, Rafael não tinha percebido
isso, sua sede de vingança e ódio interior o estavam
cegando, mesmo sendo um mestre da Golconda que
possui um alto nível de concentração ele foi afetado
diretamente pela morte da Carmem, foi algo que nem
um mestre da Golconda estava preparado para
suportar.
A luta continua, Rafael como sempre parte
para cima de Abrahan de forma frenética e desesperada
sempre muito rápido, os golpes são desferidos porém
são facilmente bloqueados, o contra-ataque de Ayslan é
cirúrgico, usando sua habilidade Quietus o Assamita
pode se concentrar e estourar os vasos sanguíneos da
vítima fazendo com que ela se afogue em seu próprio
sangue, esta habilidade é conhecida como o chamado
296
de dagon, por ser uma habilidade que requer
concentração Abrahan não estava conseguindo efetuá-
la porém, agora que ele sabe o padrão de luta de seu
adversário ficou mais fácil fazer a conjuração da
habilidade em uma falha no ataque adversário ou seja,
como um contra-ataque visto que ele sabe que depois
do golpe desferido por Rafael viria uma pausa para a
recomposição da posição por parte do mestre da
Golconda, isso se dá pelo fato mencionado
anteriormente de que a catana precisa ser manuseada
pelas duas mãos o que dificulta uma série de ataques
rápidos em sequência.
Rafael cai ao chão, seus vasos sanguíneos
estouraram, o sangue começa asfixiá-lo aos poucos.
RAFAEL- (pensando) – Como ele pode estar
se esquivando dos meus ataques? Eu sou muito mais
rápido e mais forte do que ele, eu não consigo entender,
tem algo errado.
Neste momento Rafael tem uma visão, ele está
em cima de uma ponte que passa sobre um rio, um
cenário maravilhoso, Carmem está do outro lado, com
um vestido branco sendo balançado de um lado para o
outro com o vento, os dois vão caminhando em direção
um do outro, as folhas das árvores ao redor são
sopradas pelo vento e passam entre eles.
RAFAEL- Você está aqui, viva, como é bom te
ver meu amor!
297
CARMEM- É claro que eu voltaria para você
amor.
RAFAEL- Eu nunca mais vou perder você, eu
juro!
CARMEM- Você se lembra de quando nós
conhecemos? Você chegou todo durão no bar, foi até
engraçado, naquele momento eu vi que tinha algo
especial em você, eu sabia que tinha que me aproximar
e te conhecer, foi como se algo estivesse me falando que
você seria o homem da minha vida e eu não fui, confiei
no meu coração e isso foi a melhor decisão que eu já
tomei em toda a minha vida.
Antes de chegarem até um ao outro a ponte se
quebra e os dois ficam separados por alguns metros.
RAFAEL- Eu não entendo, eu não consigo
saltar até você, eu não posso viver sem você ao meu
lado, eu estava fadado a uma vida de merda e você me
resgatou, eu era um demônio caído que só sabia fazer o
mal, ferir as pessoas e você me mostrou que mesmo
sendo um vampiro eu poderia fazer a diferença de
forma positiva na vida das pessoas, e por isso me
mostrou a Golconda e a cima de tudo você me mostrou
que mesmo neste cenário de trevas que vivemos era
possível amar de verdade e hoje eu não consigo viver
mais sem essa sensação.
CARMEM- Vamos ficar juntos e construir
nossa história juntos mas, agora não é a hora, você não
298
pode atravessar essa ponte por que você ainda tem uma
missão deste lado que você está antes de passar para o
meu lado, uma missão que vai trazer nossas vidas de
volta.
RAFAEL- Do que você está falando?
CARMEM- Você precisa voltar lá e matar
aquele vampiro, mais para isso você deve se esvaziar da
raiva e do ódio e assumir o posto de mestre da
Golconda, concentrado e sereno, focado na batalha,
dessa forma você vai encontrar o caminho para vencê-
lo e depois disso você vai atrás do artefato mãe da lua
que em conjunto com o pai do sol nos levará de volta
ao passado e te permitirá destruir o responsável por nos
trazer até aqui, segundo o oráculo usado por Gabriel
não tem mais volta, o mundo nunca mais voltará a ser o
mesmo, nada que os vampiros façam trará o seu
reinado de volta por isso você deve voltar no tempo e
destruir Leonard, graças a ele tudo isso que estamos
vivendo hoje aconteceu, eu preciso ir, volte e nos
reconduza a um novo mundo meu amor!
RAFAEL- Carmem volte por favor, não vá
embora!
Lentamente Rafael vai recobrando a
consciência graças ao seu efeito regenerativo e começa
a se levantar.

299
ABRAHAN- Então você está de pé mesmo
depois do meu ataque, você é durão mesmo, mais vou
acabar com você agora mesmo!
Os dois voltam a trocar golpes, Abrahan
sempre está a um passo à frente porém agora Rafael
analisa e tenta encontrar um padrão de luta usado pelo
seu adversário, depois de alguns golpes trocados os dois
voltam a se afastar.
RAFAEL (pensando) – Entendi, ao usar a
catana e me movimentar como Ayslan se movimentava
Abrahan identificou o padrão de luta do seu irmão, por
isso ele previa meus golpes, com certeza eles treinaram
juntos ou seja, ele não está lutando comigo ele está
simplesmente treinando com o seu irmão, isso o deixa
em uma posição vantajosa na luta uma vez que quem o
está enfrentado não é um inimigo desconhecido e sim
alguém que ele conhece bem e por isso ele pode prever.
A lua cheia os ilumina em cima do telhado da
igreja, o vento é suave e o clima é ameno, os dois
oponentes se encaram e se estudam, é evidente que o
ódio que dominava Rafael não existe mais, seu olhar
agora é frio e calculista, seu semblante agora é outro.
ABRAHAN (pensando)- Ele mudou de
repente, não está aparentando estar nervoso ou
desesperado, pelo contrário, está calmo e pensativo,
maldito, o que será que ele está tramando?

300
RAFAEL- Ei Abrahan, você já lutou com um
boxeador antes? Está na hora de voltar às origens, não
preciso mais desta espada, meus punhos são as minhas
melhores armas, agora você vai enfrentar alguém que
nunca enfrentou antes.
ABRAHAN- (pensando)- Do que ele está
falando? Será que ele percebeu o meu plano?
RAFAEL- Chega de conversa, vou acabar com
você e partir para o meu objetivo e com isso encontrar
Carmem novamente.
O brujah sai correndo em cima do telhado na
direção do Assamita, os dois se encontram, Abrahan
continua sem um braço, sua regeneração não foi rápida
o bastante, Rafael começa a desferir socos em seu
oponente, Abrahan começa se esquivando os primeiros
ataques se movimentando para trás porém ele se depara
com o final do telhado, prestes a cair, Rafael o segura
pelo colarinho o impedindo de cair, com isso o puxa
para o seu lado e começa a desferir uma sequência
socos em seu rosto, cruzado de direita, esquerda,
Abrahan é incapaz de revidar, agora lhe dando com um
padrão desconhecido fica muito mais difícil lutar, ainda
mais com um braço apenas, os socos são intensificados,
região da barriga, cabeça, a luta já está definida, um
último gancho é desferido, Abrahan cai quebrando o
telhado e se encontrando com uma estaca de madeira

301
que havia no chão da igreja sendo perfurado ao meio,
Rafael salta de cima do telhado e cai ao lado do rapaz.
Com muita dificuldade, Abrahan começa a
proferir algumas palavras.
ABRAHAN- Eu só queria me vingar e mais
nada, mais não sabia que você seria tão forte.
Rafael se ajoelha ao lado do Assamita.
RAFAEL- Eu não sou tão forte assassino, o
que me salvou foi o amor que tenho por Carmem, ele
me mostrou o caminho da vitória, ele abriu os meus
olhos quando a escuridão me cegava, não tenho prazer
em matar você pelo contrário, eu tirei a vida do seu
irmão porque ele era um assassino traidor e naquele
momento ele iria matar inocentes, eu não sou um
assassino, eu busco vida e paz, não morte e guerra.
ABRAHAN- Agora eu entendo, obrigado por
me contar isso tudo, posso ir em paz para o outro
mundo acertar as contas com quem estiver lá.
O Assamita de desfalece cravado a estaca,
Rafael se levanta.
RAFAEL (pensando) – Agora tenho que
encontrar esse artefato, mãe da lua e pai do sol e
conseguir alguém que saiba usá-lo para podermos voltar
no tempo e quebrar essa linha cronológica que estamos
e voltar ao que era antes, vou pesquisar sobre este
artefato e descobrir onde posso encontra-lo.

302
Rafael se desloca até o sede da Aurora Lumem
para ler e pesquisar sobre o artefato e ao mesmo tempo
pensar em potenciais aliados para esta nova empreitada.
No covil da extinta Camarilla Miguel se
preparava para praticar um diableire em Leonel, o
príncipe e assim poder levar o seu corpo para Kaleb lhe
emprestar a quantia de que ele e Nikolas precisam para
comprar os equipamentos e colocar a mina de
diamantes para funcionar, é uma situação tensa, não
terá volta, Miguel se aproxima do corpo que está
preservado dentro de um caixão de cristal e olha
fixamente.
MIGUEL- Maldito príncipe, nos deixou
justamente no momento que mais precisamos de você,
não temos ninguém, estamos sem uma direção, sem
saber o que fazer e esperar disso tudo, não sei se essa
ideia dessa mina de diamantes vai dar certo e para falar
a verdade nem tenho boas perspectivas do futuro,
alguma coisa me diz que não importa o que façamos, o
mundo não voltará a ser como antes, a Camarilla não
existirá mais, estamos fadados a vagar pela escuridão da
noite nos escondendo e nos alimentando de restos, eu
não quero viver dessa forma por isso vou me alimentar
de você, pelo menos assim fico mais forte para
sobreviver a isso tudo, espero que me perdoe por este
ato, mais é a única saída.

303
Uma mordida na jugular é o suficiente para se
deliciar do doce néctar de uma príncipe de sexta
geração, naquele momento um filme passa na cabeça
do Malkaviano, sua sensitividade o faz ser capaz de
acessar as memórias do príncipe e captar todo o seu
conhecimento acumulado ao longo dos anos, uma
sabedoria milenar agora estava nas mãos de Miguel,
algo que poderia ajuda-los neste cenário de terror.
O corpo do príncipe é levado a Kaleb para que
o empréstimo seja consumado.
De volta ao covil da Aurora Lumem Rafael
busca alternativas e respostas acerca do artefato descrito
por Carmem, livros são lidos, pergaminhos e
finalmente uma resposta, um livro antigo diz que este é
um artefato Egípcio muito raro e que é inspirado em rá
o deus sol e em khonsu a deusa da lua, este artefato está
guardado com o clã os seguidores de set há milhares de
anos e sua finalidade pode ser variada, contendo um
grande poder, este artefato é capaz de operar
verdadeiras façanhas caso usado corretamente.
RAFAEL- Eu me lembro de um seguidor de
set, Lorenzo era seu nome e eu matei seu mentor a
alguns anos atrás, preciso encontra-lo, tenho certeza que
ele está de posse dessa artefato, preciso convence-lo a
usá-lo para voltarmos no tempo e quebrar esta linha
cronológica que estamos atualmente, somente dessa
forma poderemos voltar o mundo como era antes, mais
304
agora estou sozinho, Carmem se foi, preciso de aliados
e acho que sei onde encontra-los, se há um lugar onde
os vampiros se escondem em meio a uma tragédia
global é o subterrâneo, tenho certeza que existem
nosferatus vivos, remanescentes da Camarilla devem
estar escondidos na cidade, vou encontra-los e juntos
buscaremos este artefato.
Rapidamente Rafael se desloca até a antiga
sede da Camarilla na esperança de encontrar
remanescentes e formar uma aliança na busca pelo
artefato e consequentemente na busca por um mundo
melhor.
Nikolas volta para o esgoto a fim de esperar
Miguel para uma conversa, com certeza o Nosferatu
não viu com bons olhos a prática do diableire por parte
do Malkaviano, surge uma tensão entre os dois que
precisa ser resolvida, afinal, eles são os únicos
remanescentes da seita e estão trabalhando juntos para
se manterem vivos, uma divisão neste momento não
seria uma boa ideia para nenhum dos lados.
Passadas duas horas Miguel retorna e encontra
Nikolas sentado em sua cadeira tomando uma taça de
vinho, os dois se olham, Nikolas se levanta e caminha
até Miguel, os dois ficam frente a frente se encarando,
há um clima tenso no ar, os dois vampiros parecem não
se entender da forma que vinham se entendendo antes,
pode ter sido o ego de um ou de outro ou até mesmo o
305
desespero por poder que pode ter levado a relação dos
dois a chegar nesse ponto, a taça de vinho cai ao chão,
alguns ratos são testemunhas do que está prestes a
acontecer ali.
NIKOLAS- Por que você fez isso Miguel, por
que essa sede por poder?
MIGUEL- O que te faz pensar que me apossei
do príncipe por poder?
NIKOLAS- Você sabe que não podia ter feito
isso, o conselho nunca aprovaria tal ato da sua parte.
MIGUEL- Que conselho Nikolas, acorda, a
Camarilla não existe mais e você ainda se comporta
como um membro, abra os olhos, o mundo mudou, os
vampiros mudaram, não existem seitas, Camarilla,
SABÁ, essa guerrinha que todos batalhavam acabou
você não entende isso?
Miguel se afasta, encosta na parede e cruza os
braços, de cabeça baixa ele continua a falar.
MIGUEL- Não foi por poder Nik.
Nikolas vai até ele e o segura pelo colarinho.
NIKOLAS- Então por que você fez isso.
Miguel levanta a cabeça e olha nos olhos de
Nikolas.
MIGUEL- Sobrevivência, eu matei o príncipe
por sobrevivência porra! Não tem ninguém conosco,
não temos ajuda, estamos sozinhos você não percebe?
NIKOLAS- Temos um ao outro irmão!
306
MIGUEL- Justamente por isso fiz o que fiz,
como posso proteger você sendo fraco? Como posso
lutar essa batalha apenas com as armas que tenho?
Uma voz é ouvida vinda do túnel do esgoto.
Eu posso ajudar vocês, eu posso lutar ao lado
de vocês.
MIGUEL- Apareça, quem é você?
Rafael sai das sombras e se aproxima dos dois.
NIKOLAS- Espera i, eu conheço você,
Bradley, é você mesmo? Por onde andou cara?
RAFAEL- Não Nikolas, Bradley não existe
mais, meu nome agora é Rafael e sou um mestre da
Golconda.
MIGUEL- O que? Eu pensei que essa merda
era uma lenda, pelo menos você está realmente vestido
como um monge!
RAFAEL- Não é uma lenda Miguel, com
muita dificuldade e depois de muito treinamento eu
consegui alcançar a benção e agora posso lutar pelas
pessoas que não podem.
NIKOLAS- Pois bem, o que te trouxe até
aqui?
MIGUEL- Vamos sentem-se, vou contar tudo
a vocês!
A noite ia ser pequena para tantas histórias, a
muito tempo os três irmãos de Camarilla não se
falavam, agora era a hora perfeita de colocar o papo em
307
dia, era a chance que Rafael queria para expor os seus
pensamentos e seus planos em relação ao futuro e com
isso convence-los a o ajudarem nesta empreitada tão
arriscada, veremos se os laços de sangue falarão mais
alto do que o medo e o receio do que possa acontecer
no futuro.
O dia já vai amanhecer, depois de horas de
conversa parece que os três vampiros decidem unir
forças em busca do artefato Egípcio a fim de colocarem
o plano de voltar ao passado em prática, agora é hora
de entrar em um sono profundo até que a próxima
noite venha e assim os primeiros passos possam ser
dados.

308
309
Episódio: ACERTO DE
CONTAS

O
porto está deserto, todos os guardas
estão mortos, parece que Theodore
limpou o caminho para a chegada do
Lupino no território do mago, as ondas batem no cais
com tanta força que parece que vai arrancá-lo, a lua está
vermelha, um fenômeno que a muito tempo não
acontecia e que justamente hoje resolver dar o ar da de
sua graça.
LEONARD- Theodore o que aconteceu
aqui?
Ao chegar do lado de fora da área dos
containers o mago se depara com alguns corpos
mutilados, caminhando mais um pouco mais corpos de
guardas boiando a beira mar.
LEONARD- Mais que porra é essa? Será que
este vampiro desgraçado resolveu me trair logo agora?
Espera ai, o que minha área de segurança está fazendo
aberta? Os guardas não estão ali, não pode ser.
Em alta velocidade Leonard se dirige até atrás
das docas, ao chegar entra rapidamente no casebre que
ali estava e se depara com o piso falso arrombado, ao
olhar mais de perto percebe que a caixa que continha
seu artefato havia sumido.
310
LEONARD- Mais que droga, Theodore eu
vou te matar, e será bem devagar pode ter certeza disso!
Enfurecido Leonard se dirige até seu quartel
general no meio do porto, no caminho ele começa a se
deparar com os corpos de seus guardas decepados ao
chão juntamente com seus carniçais, não parecia ter
sido obra de um vampiro, os golpes foram muito
contundentes, membros arrancados, muita carnificina
para partir de um cainita, algo estava errado e com
certeza havia mais alguém naquele lugar.
Um uivado é ouvido, o som é capaz de
arrepiar até mesmo o mais experiente morador da
noite, o céu está limpo, a lua brilha de forma radiante
como um holofote natural prestes a iluminar um
combate épico, em cima de um dos containers uma
criatura aparece e olha para baixo em direção ao mago.
LEONARD- Que porra é essa?
O lupino salta e cai ao chão a poucos metros
do mago, suas garras estão manchadas com o sangue
daqueles que o tentaram impedir de chegar até ali.
LEONARD- Ragnar, então você resolveu vir
até aqui me desafiar, pelo visto perdeu totalmente a
noção do perigo!
RAGNAR- Não temo o perigo, seu mago de
merda, é hora de acertarmos as contas de uma vez por
todas, você finalmente vai pagar por ter me tirado a

311
alcateia e me jogado em um buraco emocional do qual
não consigo sair.
LEONARD- Você não foi o rei que eles
queriam, você sempre foi bondoso demais e isso se
tornou sua maior fraqueza, aprenda de uma Ragnar,
compaixão e bondade não são atributos valorizados no
mundo em que vivemos.
RAGNAR- Infelizmente aprendi isso da pior
maneira possível e agora vou descontar toda a minha
frustração em você, visto que não posso mais recuperar
o que me foi tirado.
LEONARD- Então venha Lupino, matarei
você e depois vou atrás de Theodore, aquele vampiro
traidor, ele não ficará impune.
O mago faz uma posição de mãos e uma
energia é emanada de seu corpo, o cenário é o seguinte,
uma fila de containers dos dois lados ou seja, para que
um dos dois lutadores siga em frente é necessário passar
um pelo outro, atrás do Lupino está o quartel do mago
e atrás do mago a saída do porto, o combate é inevitável.
O lupino corre em direção ao mago que por
sua vez se afasta rapidamente, outra posição de mãos e
uma magia é conjurada, um pântano começa se abrir na
frente de Ragnar não permitindo que ele siga em frente,
o lupino para e começa a analisar a situação, o cheiro é
horrível, mortos vivos começam a sair de dentro do

312
pântano, guerreiros com medievais com espadas e
escudos, pele, osso e armaduras.
LEONARD- Esta habilidade é o pântano dos
mortos vivos, agora você terá que batalhar com estes
mortos vivos infinitamente uma vez que, eles não
morrem e à medida que sã destruídos o pântano cospe
mais guerreiros, então peço que aprecie a brincadeira já
que, você vai se cansar e se tornará presa fácil para eles.
RAGNAR- Você acha que um monte de
mortos vivos serão capazes de me segurar, você não me
conhece mago.
A medida que os mortos vivos vão se
aproximando, o Lupino os destroça como palha, está
na cara que o mago quer ganhar tempo e não abater seu
adversário com essa técnica, Ragnar por sua vez
consegue se livrar dos mortos vivos e salta sobre os
containers em direção ao mago.
LEONARD- (pensando) – Estou muito
limitado devido a minha doença, consegui ganhar
algum tempo com os mortos vivos, tempo o suficiente
para conseguir reunir a minha energia vital, como eu
não esperava por um combate tive que fazer este
processo agora, finalmente posso distribuí-la em todas
as minhas habilidades, é hora de dar a esse lobisomem
o que ele merece.
Ragnar se aproxima e desfere um golpe com
as suas garras contra o mago, uma palavra é proferida.
313
LEONARD- Rá!
Um escudo de energia é materializado na
frente do mago fazendo com que o golpe desferido pelo
lupino se choque contra ele, neste momento Leonard
materializa uma espada curta em sua mão direita e abre
um buraco no escudo onde poderia passar seu braço, o
contra-ataque é realizado e um golpe desferido, o
abdome de Ragnar é perfurado, o Lupino se afasta e
seu sangue escorre sobre o container a qual está.
RAGNAR- Então você acha que com esse
arranhão conseguirá me parar?
Uma nova investida contra o mago é realizada,
Leonard conjura mais uma espada tendo agora duas
espadas curtas, uma em cada mão, as garras do Lupino
voltam a descer sobre o mago que as defende com as
suas espadas, os golpes vão ficando mais intensos e vão
se chocando, a força do Lupino é bem maior do que a
do mago que começa e se ver em desvantagem, a
pressão dos golpes de Ragnar é tão grande que os
bloqueios feitos pelo mago não se tornam tão eficientes,
uma luta corpo a corpo não é bem o que o mago queria.
O lupino é rápido e forte, o mago fraco, lento
e doente, era preciso usar magia para equilibrar as
coisas, Leonard continua a bloquear os ataques porém
uma de suas espadas é quebrada pelas garras do
Lupino, neste momento uma magia é conjurada na
ponta da espada que ainda continua inteira, é um clarão
314
de energia que tem como objetivo ofuscar o oponente,
os ataques por parte de Ragnar são cessados e o Lupino
instintivamente leva as mãos aos olhos, era tudo que o
mago precisava para balancear as coisas, uma nova
espada é conjurada e agora com dois golpes simultâneos
ele acerta os tendões do Lobisomem o obrigando a
ajoelhar, Ragnar percebendo a gravidade da situação
crava as suas garras na lataria do container e arranca um
pedaço da lataria improvisando um escudo, as duas
espadas furam a lataria ao invés de atravessar o crânio
do Lupino que por sua vez pega impulso com e se afasta
o mais longe possível.
LEONARD- O que você acha Ragnar, agora
você não será tão veloz não é mesmo?
RAGNAR- Mais uma vez você usou seus
truques baratos, detesto te informar mais os seus golpes
não foram tão precisos, ainda posso andar, não posso
me mover como antes mas, com certeza consigo pear
você.
LEONARD- Me tire uma dúvida, é verdade
que dizem que o Lupino branco é o único que não
possui regeneração durante a batalha? Pelo que eu ouvi
você só consegue se regenerar sob concentração, ou
seja, enquanto a luta não terminar você não pode se
regenerar.
RAGNAR- Está muito bem informado a meu
respeito seu merda, essa é a desvantagem de ser o rei
315
dos Lupinos, normalmente eu não preciso lutar, mais
não se preocupe comigo, tenho certeza que vou
conseguir me concentrar logo.
RAGNAR- (pensando) – O que eu tenho que
fazer é atacar, ele não vai conseguir resistir aos meus
ataques por muito mais tempo, ele está ofegante e
doente, esse é um ponto ao meu favor, devo pressiona-
lo até ele ceder.
Com dificuldade Ragnar de dirige até o mago,
seu desconforto ao pisar no chão é nítido e Leonard irá
usar isso na batalha.
LEONARD- (pensando) – Não posso deixar
ele ficar me golpeando dessa maneira, preciso
neutralizar um de seus braços e conseguir reduzir sua
força uma vez que, sua habilidade de locomoção já era,
vou pensar em algo, o pântano já foi desfeito, não
consigo mantê-lo e lutar ao mesmo tempo, vou pensar
em algo.
A fera não para, parece que a lua dá força para
que o lobo continue atacando mesmo ferido, sem
dúvida o rei dos lobisomens é formidável, o mago não
tem escolha, lutar ou lutar, um dos dois sairá morto
desse confronto, são dois titãns se enfrentando, o que
mais impressiona é o fato de que o Lupino não possuir
armas ou armaduras, sua arma é seu corpo, sem dúvida
o mais belo significado de honra que um guerreiro pode
ter.
316
A batalha continua, Ragnar volta a golpear o
mago que mais uma vez conjura o escudo místico, duas
aberturas no escudo permitem que o mago contra
ataque sem ser atingido semelhante a uma falange
romana, porém agora Ragnar está atento aos contra-
ataques e está conseguindo se esquivar, a medida que
os dois vão lutando eles começam a se aproximar da
beirada do container, o mago salta para cima de um
guindaste usado no porto para o carregamento de
navios, o lobisomem o persegue e os dois ficam em uma
plataforma estreita a uns quinze metros de altura,
Leonard é habilidoso fisicamente apesar da sua doença
o que permite que ele salte e faça algumas acrobacias.
LEONARD- Por que não resolvemos isso de
outra maneira Lupino?
RAGNAR- Não existe outra maneira para
mim, sua morte será o único final possível, não vou
negociar com um ser humano sem honra como você.
A fera salta sobre a plataforma e ataca
Leonard, o mago se dependura no cabo de aço do
guindaste e desliza até o chão, Ragnar cai logo em
seguida um pouco a sua frente.
O combate recomeça, os golpes do Lupino
são cada vez mais contundentes, o escudo místico não
pode ser mais conjurado, não há mais energia para ele,
o que resta é a tão temida batalha corpo a corpo que o
mago quer tanto evitar.
317
LEONARD- Tenho um plano.
O mago não aguenta mais bloquear os golpes
do Lupino e neste momento conjura mais uma vez a
claridade para ofuscar o Lupino, Ragnar fecha os olhos
porém diferentemente da primeira vez ele não leva as
mãos aos olhos e se mantém calmo.
RAGNAR- Isso não funcionará novamente
seu idiota, eu não posso ver mais posso sentir seu cheiro
e sei onde você está.
O lobisomem desfere um golpe em Leonard
porém acaba acertando a sua espada que estava fincada
no chão com o seu casaco sobre tudo, Ragnar abre os
olhos.
RAGNAR- O que é isso?
Leonard sai do lado de Ragnar e decepa seu
braço direito, o Lupino fica sem entender o ocorrido e
se afasta sem um dos braços.
LEONARD- Eu tinha apenas uma chance, eu
sabia que a claridade não afetaria você uma vez que meu
cheiro já havia sido memorizado, por isso usei a
claridade apenas para que você não enxergasse o que
eu iria fazer, rapidamente eu cravei minha espada no
chão e tirei o meu casaco o colocando sobre ela a
deixando na mesma posição que você havia me visto
antes de fechar os olhos e como eu esperava você
mordeu a isca, atacou o primeiro foco do meu cheiro,
justamente o espantalho que eu havia deixado cravado
318
no chão, você não havia percebido minha
movimentação por estar totalmente focado no ataque,
este foi seu erro, não analisou as possibilidades antes de
atacar.
RAGNAR- Maldito, eu não preciso dos dois
braços pra acabar com você seu verme, tenho algo para
você também e acho que você não vai gostar, você acha
que o único com algum truque na manga seu mago
safado? Te apresento a maldição da lua negra!
O lobo começa a uivar novamente, a lua brilha
em alta intensidade, como se oferecesse ao Lobisomem
uma energia extra, um alimento, algo que o revigorasse
totalmente.
RAGNAR- Tem algo que você não sabe sobre
mim mago, o rei dos lobisomens, o Lupino branco, é o
único que pode reivindicar a energia da lua para si,
sendo assim, ele tem direito a uma única regeneração,
dada pela própria lua, um presente da mãe dos
Lupinos.
Ragnar começa a se regenerar de forma
instantânea, seus tendões são revigorados assim como o
seu braço direito que acabara de ser decepado, eu vigor
restaurado como se nunca tivesse lutado, logo após este
processo, de forma misteriosa as nuvens começam a
encobrir a lua e o céu se torna negro, a luz da lua é
encoberta totalmente, agora a escuridão toma conta do
lugar como um todo.
319
LEONARD- Pensei que eu poderia vencer
você sem usar a minha técnica secreta, mais vejo que
não vou conseguir, você é realmente formidável
Lupino. (pensando) Depois que eu usar esta técnica
estarei esgotado, praticamente morto, vou precisar de
alguns dias para me recuperar, essa minha doença me
debilitou bastante, em condições normais eu já teria o
vencido no começo do combate, porém com essa
doença eu não posso dispor de todo meu poder, mais
tenho que arriscar.
O vento começa a soprar mais forte, o mar
começa a se agitar, as ondas batem com violência nas
docas, um desfecho está prestes acontecer, Lobisomem
e mago não tem mais tempo, a luta deveria ser decidida
naquele momento.
RAGNAR- Acabou pra você mago!
Um movimento rápido faz com que o Lupino
e desloque em direção do mago, Leonard não tem
defesa, antes que ele pudesse se mover as garras do
Lupino já o teriam cortado ao meio, mas, o mago não
precisaria mover-se para abater o Lobisomem, ou
melhor, apenas os seus lábios deveriam proferir uma
palavra e sentenciar Ragnar a morte.
LEONARD- QUEIMAR!
Instantaneamente o Lobisomem entra em
combustão de dentro para fora, uma técnica milenar
assustadora, o fogo o consome de forma voraz, sem
320
chance de defesa, o cheiro de sua pele queimando
tomava conta do lugar enquanto ele gritava desesperado
rolando pelo chão, era uma cena horrível e que de uma
vez por todas colocava Leonard com um ser
extremamente poderoso e que se estivesse no seu ápice
dificilmente seria vencido por alguém naquela cidade.
O mago cai ao chão desfalecido, era como se
o fogo que queimava Ragnar tivesse levando também
toda a sua vitalidade, apenas seus olhos e sua boca
podiam se mover naquele momento, foi quando um
homem se aproximou dele, se abaixou olhando em seus
olhos.
THEODORE- Como está todo poderoso
Leonard, mago do porto?
Com muita dificuldade Leonard começou a
falar.
LEONARD- Seu patife miserável, eu sabia
que você estava por trás disso tudo, como você pôde, te
dei abrigo e proteção.
THEODORE- Não, você não me deu abrigo
e proteção, você me deu correntes e me prendeu com
elas e agora eu estou aqui para me libertar, certa feita
conversamos sobre humanos e vampiros você se
lembra?
LEONARD- Como poderia esquecer?
THEODORE- Você me disse que nós
vampiros subestimamos vocês humanos, ledo engano
321
meu caro, alguns vampiros subestimaram os humanos,
o seu erro foi me incluir neste hall, eu nunca subestimo
ninguém e por isso sou tão bem sucedido em tudo que
faço, arquitetei esta luta entre você e Ragnar desde o
princípio e sabia que caso ela acontecesse você teria que
utilizar de sua técnica secreta e com isso eu teria total
vantagem sobre você uma vez que, seu corpo
moribundo já não pode aguentar tanto poder, e
adivinha, cá estou eu em meio a situação que eu previ.
LEONARD- Você é desprezível, sabia que
não conseguiria me vencer sozinho então articulou isso
tudo para me pegar neste estado em que me encontro
agora, você vai pagar nessa vida ou nas próximas que
você terá.
THEODORE- Sinto muito lhe dizer meu
caro que não nos encontraremos em nenhuma outra
vida porque diferentemente de você eu sou imortal.

Theodore pega uma das espadas que Leonard


usara em sua batalha e decapita o mago com um único
golpe, sua cabeça sai rolando pelo chão enquanto
Theodore se afunda em uma risada sinistra que pode
ser ouvida por todo o porto, os planos do vampiro
foram bem sucedidos, dois inimigos em potencial
foram abatidos de uma só vez, um Lobisomem
incontrolável que poderia se voltar contra ele a qualquer

322
momento e um mago astuto manipulador que não
poupava esforços para conseguir o que queria.
Finalmente Lorenzo chega a parte oeste da
cidade e consegue encontrar em um beco escuro e
fedorento com uma pequena porta, tudo indica que ali
seria o tal laboratório que os vampiros remanescentes
tanto falavam, um lugar onde as pessoas poderiam se
aperfeiçoar de diversas maneiras e conseguir
habilidades nunca antes vistas, o vampiro se aproxima
da porta e duas batidas na mesma são o suficiente para
que uma pequena janelinha se abra e alguém por trás
da porta observe Lorenzo em pé do lado de fora.
DOUTOR- O que você quer aqui vampiro?
LORENZO- Como sabe que sou um
vampiro?
DOUTOR- Nenhum humano conseguiria
chegar até aqui sem ser pego pela guarnição, vamos,
deixe de ladainha e diga o que quer?
LORENZO- Preciso entrar, é perigoso aqui
fora, não acho prudente conversarmos dessa maneira.
A porta se abre e o vampiro entra no recinto,
à primeira vista um laboratório muito bem equipado e
um cientista velho que tomava conta de tudo, a porta
rapidamente é fechada e trancada e os dois se sentam
para poderem conversar mais à vontade.
LORENZO- Muito maneiro seu laboratório,
o que você faz aqui?
323
LAZARO- Faço muitas coisas meu caro, ajudo
as pessoas a ficarem mais fortes e assim resistirem a este
mundo tão tenebroso, mais eu tenho certeza que você
não veio até aqui para me fazer uma entrevista não é
mesmo?
LORENZO- Não, claro que não.
LAZARO- Então desembucha e diga o que
quer.
LORENZO- Está vendo este artefato em
minha mão? Quero que você faça uma cópia perfeita
para mim, uma réplica que não seria identificada nem
pelo melhor olheiro da cidade, acha que pode fazer
isso?
LAZARO- Acho que posso, vou demorar
apenas algumas horas.
LORENZO- Quero outra coisa, preciso me
fortalecer porque sinto que a maior batalha da minha
vida está chegando, porém, um vampiro se fortalece ao
longo dos anos através de suas experiências, dessa
forma as suas habilidades vão subindo de nível
gradativamente.
LAZARO- O que você quer dizer com isso
vampiro?
LORENZO- Quero dizer que tenho que
desenvolver minhas habilidades e não tenho tempo pra
isso, desenvolva um método em que eu possa treinar a
minha mente e os meus conhecimentos acerca das
324
minhas disciplinas e com isso eu possa elevá-las ao mais
alto nível.
LAZARO- Eu posso fazer algo por você mais
é muito arriscado, a algum tempo eu desenvolvi um
sistema cerebral que permite ao indivíduo desenvolver
sua mente de forma incrível através de uma base de
dados onde estão armazenados todo o conhecimento
produzido pela humanidade ao longo dos anos, isso faz
com que a pessoa aprenda várias línguas, várias culturas
em um tempo relativamente pequeno se considerarmos
o tempo que ela gastaria para prender tudo isso em
condições normais, pelo que eu entendo de vocês
vampiros, é que vocês possuem disciplinas herdadas de
seus respectivos clãs passadas geneticamente e essas
disciplinas vão evoluindo ao longo do tempo a partir de
suas experiências como você bem disse.
LORENZO- Onde quer chegar?
LAZARO- As disciplinas estão em você e os
níveis delas estão trancados esperando o momento
certo para serem abertos, estou dizendo que posso
destrancar esses níveis para você, será perigoso pois eu
terei que acessar o seu subconsciente e simular
treinamentos e experiências em sua mente, ou seja, vou
coordenar uma série de eventos como se fossem sonhos
e nestes sonhos você estará aperfeiçoando suas
habilidades, a vantagem é que, como estamos na sua
mente posso sincronizar uma sequência de
325
treinamentos que vai destrancar seus níveis de disciplina
muito rapidamente, em suma, enquanto que no mundo
real você dependeria do acaso para que uma situação o
levasse a elevar sua habilidade, no mundo mental eu
colocarei essas situações de modo sincronizado e
esquematizado em seu caminho e quando você acordar
seu intelecto estará pronto e seu corpo apto a
desenvolver estas habilidades.
LORENZO- Formidável doutor, quando
começamos?
LAZARO- Calma rapaz, não será tão fácil
assim e além do mais tudo tem um preço.
LORENZO- Diga o que você quer.
LAZARO- Toda a minha inteligência e
sabedoria vão passar, o tempo irá me levar mais cedo
ou mais tarde, como sou um ser humano minha
existência está fadada ao fracasso e meu corpo voltará
para o pó que é de onde veio, pessoalmente eu acho
um desperdício uma mente tão brilhante como a minha
ser levada pelos ventos da humanidade e ser esquecida
ou jogada na sarjeta da história, por isso, quero a dádiva
que vocês vampiros tem, quero ser imortal como vocês
são.
LORENZO- Você não sabe o que está falando
velho, isso não é e nunca será uma dádiva, isso é uma
maldição, viver pelas eras em um sofrimento eterno
sem ter a chance de desfrutar de algo real, para nós
326
vampiros tudo não passa de uma ilusão, um devaneio,
nada é duradouro, não podemos criar vínculos porque
estes vínculos serão rompido pelo tempo, somos
mendigos entre eras e nada mais do que isso, você tem
certeza que quer se tornar o mesmo que nós?
LAZARO- Sim, sou o bastante para mim
mesmo, não preciso de ninguém, ao me olhar no
espelho me vejo completo, me sinto completo, e isso
para mim basta.
LORENZO- Como quiser, faça o que eu pedi
a você e quando eu acordar lhe darei um abraço e você
terá o que deseja.
LAZARO- Tudo bem, deite-se naquela cama,
vou preparar o equipamento, enquanto você treina em
sua mente farei sua réplica, creio que em um dia você
estará pronto, na próxima noite você deve acordar.
O cientista começa os preparativos para o
processo, máquinas são ligadas, protocolos preparados,
a esta altura vale tudo para se fortalecer, aos poucos as
coisas vão ficando mais claras e as pessoas vão
revelando quem realmente são, não dá para ficar
parado neste cenário, é hora de agir, mostrar as cartas e
assumir uma posição neste tabuleiro de xadrez,
enquanto Miguel, Rafael e Nikolas desenvolvem um
plano para pegar o artefato que está em posse de
Lorenzo, Theodore prepara seu retorno triunfal a esta
guerra, parece que a igreja está prestes a ser ameaçada
327
seja de um lado ou de outro, objetivos diferentes estão
prestes a se cruzar, uns querendo reestabelecer a ordem
e voltar o mundo ao que era e outros buscando poder
e se estabelecer neste mundo atual em que a igreja tem
todo o domínio, qual vertente sairá vencedora? Aqueles
que pensam nos outros em lugar de si mesmos ou
aqueles que pensam em si mesmos e subjugar os
outros?
A noite chega, Theodore está sentado em sua
cadeira na cobertura da casa que pertenceu a Leonard
localizada no meio do porto, o mar está mais calmo e
as ondas batem mansamente no cais.
THEODORE (pensando) – Preciso pegar o
artefato que está com Lorenzo, somente com a junção
dos dois artefatos eu conseguirei vencer Gabriel e tomar
o controle da cidade, mais como vou fazer isso?
Prometi entrega-lo o artefato pai do sol que está comigo,
mais se eu fizer isso meus planos vão por água a baixo.
O rebanho de Theodore acabara de chegar,
são cerca de vinte neófitos recrutados a partir de um
subordinado criado pelo Giovanni, todos estão em fila
na parte de baixo da casa, da sacada Theodore dá as
ordens que devem ser seguidas a partir de agora.
THEODORE- Atenção todos vocês, peguem
as armas que estão no porão e fiquem prontos, por
enquanto somos poucos e por isso quero que cada um
de vocês faça mais dez subordinados, façam isso na
328
calada da noite e tomem cuidado para não serem pegos,
e o mais importante, se sentirem que serão pegos vocês
devem tirar suas vidas, será mais honroso e menos
doloroso para vocês esse método, no mais, estão
dispensados.
O pequeno grupo se dispersa pela cidade a fim
de cumprir a missão dada pelo seu senhor.
THEODORE (pensando)- Já sei o que fazer,
não preciso matar Lorenzo, Gabriel pode matá-lo por
mim, assim como fiz com Leonard vou fazer com ele,
irei até o Inquisidor e o convencerei a abater o vampiro
e de quebra fico com o artefato que por enquanto
pertence a ele.
Mais uma vez o Giovanni não quer sujar suas
mãos com sangue, pelo contrário, prefere usar sua
inteligência e causar mais um combate para que assim
ele possa conseguir o seu objetivo, o vampiro coloca um
traje de gala e se dirige até a basílica de La Sagrada
Família a fim de se encontrar com Gabriel e começar a
colocar o seu plano em prática.
LAZARO- Lorenzo pode me ouvir?
Com muita dificuldade Lorenzo começa a
acordar, seu corpo está dormente e sua visão está turva.
LORENZO- O que você fez comigo? Não
consigo me mexer.
LAZARO- Calma, logo vai passar, é o efeito
dos tranquilizantes que tive que dar a você para induzir
329
sua mente a um coma profundo, não se preocupe,
daqui a alguns minutos você estará de pé.
LORENZO- Você conseguiu? Tudo isso
valeu a pena?
LAZARO- Não sei, me diz você.
Lorenzo se levanta, e começa a arrancar o seu
próprio coração, este é o último estágio da disciplina
Serpentis, com o seu coração em mãos ele desaparece
totalmente nas sombras e ao mesmo tempo encobre
toda a sala por um manto negro, este é o último nível
da disciplina ofuscação, o coração é colocado
novamente em seu local de origem e as sombras se
dissipam no local.
LORENZO- Você conseguiu velho, posso
acessar as minhas habilidades por completo, me sinto
mais forte e mais rápido mesmo sem ter testados estes
atributos, é como se eu soubesse inconscientemente
que evolui.
LAZARO- Antes que eu me esqueça, tenho
que te dizer que não consegui confeccionar a réplica do
artefato que me pediu, este artefato é único, é
impossível plagiá-lo de forma correta, eu sinto muito.
LORENZO- Não tem problema, não vou
precisar mais usá-lo para barganhar, agora posso
conseguir tudo o que eu quiser usando a minha força e
minhas habilidades, pode me dar, vou leva-lo comigo.

330
LAZARO- Não se esqueça do que me
prometeu, lembra?
LORENZO- Claro que sim, sou um vampiro
de palavra, se é ser um vampiro que você quer, assim
será feito.
O abraço é dado e o velho cientista começa a
experimentar da maldição de cain em si mesmo, agora
a morte não pode lhe abater e com isso seus estudos e
sabedoria ficarão guardados em si mesmo por toda a
eternidade.
LORENZO- lembre-se doutor, você não é
minha prole, não tenho qualquer responsabilidade
sobre o senhor, faça da sua vida o que você quiser, mais
nunca me exponha, não diga meu nome, eu nunca
existe pra você entendeu?
LAZARO- Pode deixar vampiro.
Lorenzo pega seu artefato e suas coisas e parte
para a casa onde anteriormente estava com Ragnar, pelo
caminho o vampiro começa a pensar em tudo que
acontecei até aquele momento e qual seria o próximo
passo a tomar, se encontrar com Ragnar e se aliar a ele
seria uma opção, porém, o lobisomem reivindicaria o
artefato uma vez teria cumprido sua parte no acordo e
matado o mago, ou seja, um confronto com Ragnar
seria uma possibilidade, se isso acontecer, estarei
preparado, pensava ele, a noite estava fria, algumas
pessoas jogadas ao chão imploravam por comida, se
331
jogavam aos pés do vampiro em busca de uma migalha
de pão, crianças de colo morrendo de fome nos braços
de suas mães, a cidade em ruínas, um povo destruído,
tudo isso chamou a atenção de Lorenzo que parou por
um instante em cima de uma ponte e começou a
observar tudo ao seu redor.
LORENZO (pensando)- O que este mundo se
transformou? Somente miséria, dor e sofrimento,
mesmo que eu alcance os meus objetivos e tome o
poder, será que eu conseguirei mudar essa triste
realidade?
Um momento reflexivo nunca antes vivido
pelo vampiro se fazia acontecer naquele momento,
como uma criatura da noite sem compaixão e que mata
pessoas poderia estar tendo um lapso de preocupação
e amor pela humanidade? Alguma coisa dizia que ser
um vampiro não era apenas matar pessoas, que mesmo
dentro desta existência simplória de apenas se alimentar
poderia haver algo mais e é justamente isso que
Lorenzo procura encontrar.
LORENZO (pensando) – Vou dar um sentido
a minha existência, custe o que custar.
Depois desse momento reflexivo, nosso
vampiro segue eu caminho.
Vamos logo com isso, quero este salão
impecável, esta basílica deve estar brilhante para a visita
do santo papa daqui a uma semana.
332
Descendo as escadas e averiguando os
trabalhos dos serviçais, Gabriel dá início a sua rotina
noturna pela basílica, como sempre muito meticuloso e
atento aos mínimos detalhes ele caminha sobre o tapete
vermelho da entrada do salão esbanjando sua
superioridade em relação aos demais mortais que alo
estavam.
A porta de entrada se abre e surge Theodore,
trajado como um verdadeiro lorde, empunhando sua
bengala ele vai entrando no recinto para o espanto de
Gabriel que fitando-lhe os olhos não acredita no que
está vendo, de um trapo humano a um lorde, como isso
deve acontecido, pensou ele.
GABRIEL- Deixe-nos a sós todos vocês.
Os serviçais se retiram do local restando
apenas os dois no centro do salão.
GABRIEL- Parece que a vida voltou a ser
generosa com você vampiro.
THEODORE- Digamos que os bons ventos
voltaram a soprar meus longos cabelos Inquisidor.
GABRIEL- Qual o motivo de sua
esplendorosa visita, visto que, da última vez que nos
encontramos eu havia o despejado de sua residência e
se apropriado de todos os seus bens.
THEODORE- Por favor não me faça lembrar
deste lamentável episódio, diferentemente daquela vez,

333
hoje eu não estou em uma posição de vulnerabilidade,
visto que não estou a te dever nada não é mesmo?
GABRIEL- Claro, sua dívida já foi paga.
THEODORE- Pois bem, deixando o passado
de lado, eu vim até aqui negociar.
GABRIEL- Mais um, vocês vampiros sabem
que este mundo nunca mais voltará ao controle de
vocês e por isso vem até mim mendigar favores a fim de
conseguirem uma melhor posição social e não venham
a sofrer em minhas mãos em um futuro não muito
distante?
THEODORE- Sabemos é claro que nossos
tempos de glória não mais voltarão, porém, não é por
isso que devemos ser inimigos, podemos coexistir
pacificamente sem que um agrida o outro, afinal, o
senhor precisará das regalias provenientes do porto de
Barcelona e visto que, este porto agora está sob o meu
controle, vejo com bons olhos uma boa relação entre
nós.
GABRIEL- Como assim, o que aconteceu
com Leonard?
THEODORE- Infelizmente ele faleceu
devido a complicações advindas de sua doença, pobre
amigo, sempre em ajudou bastante, fomos muito
amigos e a prova disso é que por espontânea vontade
ele me deixou todo o seu império construído no porto,
inclusive seus negócios.
334
Gabriel puxa duas cadeiras e ambos se sentam
de frente um pro outro, aquele salão enorme parecia
pequeno diante de tanta astúcia de ambos os lados.
GABRIEL- Então quer dizer que agora você é
o detentor do porto, interessante, deu a volta por cima
com a ajuda do destino e de sua inteligência eu
presumo, mais acho que não foi desse assunto que você
veio tratar, por tanto, diga logo o que quer.
THEODORE- De fato o senhor está certo,
venho tratar de um artefato muito poderoso e que pode
conceder a imortalidade para quem o conseguir,
chamado de mãe da lua, um artefato egípcio
pertencente ao cã seguidores de set e que pode lhe
pertencer caso queira.
Se havia alguma fraqueza no Inquisidor, com
certeza era a ganância, a sede de poder daquele homem
era insaciável, naquele momento logo passou em sua
mente um reinado perpétuo, indestrutível que nem o
tempo poderia derrubar, uma hegemonia que não
poderia não ser contestada nem pelo homem e nem
pelo tempo, aquilo soou como música em seus ouvidos
gananciosos.
GABRIEL- Diga-me como eu conseguirei este
artefato.
THEODORE- Eu posso traze-lo até o senhor,
porém, deve me prometer me recompensar em seu
futuro reinado, assim que conseguir o artefato, me
335
mantendo ao seu lado com um cargo de confiança onde
eu terei acesso irrestrito ao senhor, além de me ajudar
a conquistar o principado de Madri e lá fazer o meu
próprio reino.
GABRIEL- Como sempre muito ambicioso
Giovanni, farei o que você quer assim que eu estiver
com o artefato.
THEODORE- Antes de traze-lo até aqui
quero uma garantia de sua parte, não me leve a mal,
mais, confiança não é o nosso forte.
GABRIEL- Diga o que quer.
THEODORE- Me lembro que ao adentrar na
minha casa naquele fatídico dia, o senhor interrompeu
uma amistosa partida de xadrez entre eu e uma pessoa
muito especial para mim, NOD tinha sido trazido das
profundezas para me ajudar em uma coisas e até então
a sua missão não havia sido completada, por isso, o
quero de volta, fazendo assim vou ligar para o detentor
do artefato e traze-lo até aqui para que o senhor o mate
e assim pegue o artefato.
GABRIEL- Tudo bem, vou pegar aquele
espírito errante para você, só um momento.
O Inquisidor se levanta, vai até uma pequena
sala nos fundos da catedral e volta com uma caixa na
mão, se aproxima de Theodore e o entrega a caixa.
GABRIEL- O espírito está ai dentro, agora
traga o artefato até mim.
336
Depois de caminhar por uma hora, Lorenzo
chega a casa que estava sendo habitada por Ragnar na
esperança de encontra-lo, ao entrar, percebe que a casa
está do mesmo jeito que ambos haviam deixado quando
dali saíram pela última vez, as garrafas de wisk sobe a
mesa e o sofá desarrumado, muita sujeira no chão e
nenhum sinal do lobisomem, seu telefone começa a
vibrar em seu bolso, rapidamente ele o retira e o atende.
LORENZO- Alô.
THEODORE- Sou eu, o Giovanni.
LORENZO- Onde está o Ragnar?
THEODORE- Infelizmente ele faleceu, não
resistiu aos ferimentos causados pela luta com Leonard,
com certeza é uma lástima, ele poderia nos ser muito
útil.
LORENZO- Mais e quanto a Leonard, ele
está vivo?
THEODORE- Não, Ragnar o matou antes de
morrer, e é por isso que eu estou te ligando, preciso lhe
entregar a metade que falta do seu artefato, afinal, eu
sou um vampiro de palavra.
LORENZO- Muito bem, diga-me onde você
está e irei busca-lo.
THEODORE- Estarei no antigo Parc Guell,
venha o mais rápido que puder.
LORENZO- Pode deixar, estarei indo até
você.
337
O esgoto está frio, os ratos correm de um lado
para o outro em busca de um pedaço de alimento, a
pouca luminosidade deixa o ambiente mais sinistro,
Miguel, Nikolas e Rafael esperam ansiosos por um
informante Nosferatu que partiu em uma missão de
reconhecimento e em busca de informações do
paradeiro de Lorenzo, o seguidores de set que pode
estar com o artefato.
MIGUEL- É bobagem esperar, ele deve estar
morto a uma hora dessas jogado em uma viela qualquer
da cidade.
NIKOLAS- Você não conhece mesmo os
Nosferatu não é, não existe um clã que consiga se
camuflar e colher informações como nós, somos como
olhos em toda a parte, desde quando a catástrofe
aconteceu os Nosferatu começaram a se articular em
torno de uma rede de contatos baseada em informantes
que visavam a coleta e a atualização de informações
acerca deste novo mundo, e adivinha, êxito na missão,
graças a essa rede podemos descobrir os passos de
quem quisermos sem que o observado possa sequer
notar nossa presença.
Alguns segundos depois de Nikolas falar o
Nosferatu informante chega, trajando o seu sobre tudo
habitual ele se dirige em direção dos três e começa a
contar o que descobriu.

338
INFORMANTE- O vampiro que vocês
querem está localizado em uma casa abandonada do
outro lado da cidade, esta casa era habitada pelo
Lobisomem branco, Ragnar, porém o Lobisomem não
se encontrava no local, segundo uma fonte segura, o
último local em que o Lobisomem foi visto foi no porto,
quanto ao seguidores de set, outra fonte o viu segundo
para o antigo PARC GUELL, sabemos que lá é a área
de treinamento do Inquisidor.
RAFAEL- Não faz sentido, por que Lorenzo
vai se encontrar com o Inquisidor nesta altura do
campeonato?
INFORMANTE- Isso não é tudo, um terceiro
informante relatou que Theodore Giovanni foi visto
entrando na catedral de La Sagrada Família e depois de
algumas horas deixou o local acompanhado do
Inquisidor, tudo indica que ambos seguiram para o Parc
Guell também.
MIGUEL- Enquanto eu estava no torpor tive
uma visão, meu auspício me revelou que Theodore está
um posse de um objeto valioso, cheio de poder e
cercado de cobiça, muitos o querem e parece que
sangue vai ser derramado por ele, vi um homem sem
rosto que pode ser o seguidores de set lutando por ele
e depois acordei.
RAFAEL- Carmem havia me dito que o
artefato mãe da lua deveria ser usado em conjunto com
339
outro artefato chamado pai do sol, Theodore pode estar
de posse desse artefato.
MIGUEL- Mais de onde ele tirou este
artefato?
NIKOLAS- Eu acho que eu sei de onde, há
muitos anos atrás chegou na cidade um carregamento
valioso vindo do oriente, eu e Filipe o interceptamos
primeiro, pensamos que a carga seria nossa, não foi
bem assim, Leonard chegou com os seus capangas e
reivindicou a carga, nós nem lutamos.
RAFAEL- Por que não lutaram e venceram o
mago.
NIKOLAS- Não podíamos, Leonard detém
uma técnica milenar secreta capaz de destruir o
oponente em um piscar de olhos, dizem que ele
adquiriu esta técnica através da caixa de pandora, uma
caixa encontrada por seus ancestrais piratas a séculos
atrás e que vem passando de geração em geração em
sua família, a lenda diz que quem abrir a caixa passa a
possuir um fogo místico guardado dentro dela, com
base nisso não quisemos nos arriscar e deixamos
Leonard levar o carregamento.
RAFAEL- Mais o que te faz pensar que o
artefato pai do sol estava lá dentro?
NIKOLAS- Depois de alguns dias um
seguidores de set me procurou, era Xavier Silva, ele me
disse que estava esperando uma mercadoria de um
340
amigo vinda do Egito mais que esta mercadoria não
tinha chegado em suas mãos, ele me disse que era este
artefato, foi ai que liguei os pontos, Leonard não
arriscaria uma luta conosco por um simples
carregamento de armas ou suprimentos, com certeza
ele obteve uma informação privilegiada a cerca deste
carregamento através de informantes e descobriu que
este artefato estava no meio dele.
MIGUEL- Mais e Theodore, onde ele se
encaixa nesta história?
NIKOLAS- Theodore se encaixa
perfeitamente nessa história ao passo que, ele esteve
este tempo todo morando com Leonard no porto.
Antes que Nikolas terminasse de falar, o
informante recebe uma ligação, ele atende e depois de
alguns minutos ele desliga sem falar nada.
RAFAEL- O que foi, quem te ligou?
INFORMANTE- Vocês não vão acreditar,
Leonard e Ragnar estão mortos.
RAFAEL- O que, como isso seria possível?
INFORMANTE- Segundo minha fonte, o que
parece é que os dois lutaram até a morte, e com isso
Theodore está controlando todo o porto, meu
informante obteve essa informação de um dos lacaios
de Theodore, ele se passou por um aliado e este lacaio
o levou até o porto, lá, ele descobriu tudo.

341
MIGUEL- Maldito Theodore, com certeza ele
armou isso tudo depois de descobrir onde o artefato pai
do sol estava e agora ele tem além do artefato o controle
do porto.
NIKOLAS- Espera, agora tudo faz sentido!
RAFAEL- Sim, Theodore armou uma
emboscada para pegar Lorenzo e seu artefato
juntamente com o Inquisidor.
MIGUEL- O seguidores de set está indo para
uma armadilha, com certeza será morto, ele não tem
chance contra os dois.
NIKOLAS- Acho que não são apenas os dois
que estão esperando Lorenzo no Parc, com certeza
existem lacaios escondidos esperando o momento certo
de atacar, Gabriel é muito forte, mais é também
preguiçoso, se ele não puder sujar aas mãos será
melhor, por isso ele deve ter armado um cerco com a
ajuda de Theodore.
Neste momento Rafael dá um passo à frente e
com uma voz imponente diz as seguintes palavras.
RAFAEL- Não deixaremos que Lorenzo seja
morto, vamos até lá, resgatá-lo e pegar os artefatos.
MIGUEL- Como vamos fazer isso?
NIKOLAS- Temos que armar um plano, e eu
tenho uma ideia de como ele deve ser.
RAFAEL- Prossiga.

342
NIKOLAS- Seguiremos pelo esgoto sem
sermos vistos, á vários bueiros em baixo do Parc, eu
meus Nosferatus vamos nos encarregar de abater os
lacaios do Inquisidor que no caso presumo que serão
da guarnição, humanos com armas, nada mais, assim
que os abatermos daremos um sinal que será o estouro
de uma tampa de um bueiro no meio do Parc, neste
momento Rafael e Miguel entram em cena, Rafael
cuidará de Lorenzo e Miguel de Theodore.
MIGUEL- E o Inquisidor?
NIKOLAS- Não se preocupe, eu estarei
cuidando dele, não garanto de vence-lo, mais farei o
possível para atrasá-lo o máximo possível, Rafael, você
deve convencer Lorenzo a lutar do nosso lado e não
mata-lo.
RAFAEL- Digamos que consigamos pegar os
artefatos, como iremos usá-lo?
MIGUEL- Pensei a mesma coisa meu caro,
até um tempo atrás apenas um Giovanni poderia ler o
livro de NOD que estamos de posse, porém agora que
sou um vampiro de baixa geração eu consegui ler as
páginas, e por incrível que pareça tem um capítulo
dedicado exclusivamente a uso de artefatos mágicos de
todos os clãs, na seção seguidores de set ensina o
encantamento para usá-lo, tudo precisas ser rápido,
creio que no meio da batalha vamos conseguir voltar
você no tempo meu amigo.
343
NIKOLAS- Como pegaremos o artefato de
Theodore?
MIGUEL- Deixe isso comigo, minha intuição
me diz que ele estará com o artefato dentro de seu
casaco, ele é valioso demais para deixa-lo em algum
lugar e correr o risco de ser roubado.
NIKOLAS- Toma minha parte do livro de
NOD, você vai precisar dela, Filipe confiou o livro a nós
dois, mas agora, você deverá fazer o uso dele.
RAFAEL- Então tudo está definido, vamos
para o Parc Guell e acabar de uma vez por todas com
este reinado de terror imposto pela igreja e recuperar o
mundo que amamos, imperfeito é claro, porém agora,
teremos a chance de fazer tudo diferente.
Depois de tudo devidamente alinhado os três
partem pelo esgoto em direção ao Parc, agora não tem
mais volta, o fim está próximo para um dos lados,
Theodore como sempre manipulando a situação ao seu
favor enquanto Lorenzo busca um sentido para sí
mesmo dentro dos artefatos, como uma esperança para
algo novo, a tríade vampírica formada por Rafael,
Nikolas e Miguel parte para uma missão que visa muito
além de uma vitória imediata, dispostos a darem suas
vidas em prol de um mundo que se perdeu e precisa ser
encontrado novamente, para o bem da humanidade e
da raça vampírica, enfim chegou a hora do acerto de
contas.
344
345
Episódio: POR QUE
PERDOAR?

R
apidamente o esgoto vai sendo
invadindo, por uma questão de
logística a tríade, se é que posso chama-
los assim, chegará no subsolo do Parc Guell primeiro
do que Lorenzo, com isso a identificação das guarnições
no local será mais rápida, os bueiros servirão de
armadilhas ao passo que, serão usados para pegar os
soldados de surpresa, eles não verão os que os atingiu,
quando se derem conta da situação já estarão sendo
abatidos.
O celular de Nikolas, toca.
NIKOLAS- Alô!
INFORMANTE- Senhor, Theodore tem
cerca de vinte e cinco vampiros armados que pelo que
parece estarão se dirigindo para o Parc daqui a alguns
minutos.
NIKOLAS- Não podemos deixá-los chegar
até aqui, pegue todos os Nosferatus e intercepte esse
grupo, precisamos estar apenas os vampiros de alto
escalão aqui para a batalha.

346
INFORMANTE- Mais senhor, se os
Nosferatu vierem para cá quem ajudará o senhor no
abate da guarnição?
NIKOLAS- Não se preocupe meu amigo, sou
um militar veterano, já participei de inúmeras guerras e
sai vencedor de todas elas, quando fui abraçado meu
senhor me disse na ocasião que eu não seria apenas um
vampiro, eu seria na verdade uma arma imortal, disse
que vencer as batalhas traria sentido para aminha
existência e que seria nisso que eu devia me agarrar,
bom, aqui estou para mais uma batalha, no fim, acho
que esse é o meu destino, lutar e vencer, não se
preocupe comigo, detenha a gangue arruaceira de
Theodore e deixe o resto com a gente, vou matar toda
essa guarnição e quando Gabriel perceber eu já estarei
em seu encalço.
INFORMANTE- Sim senhor, cumpriremos a
missão que nos foi dada.
Miguel e Rafael chegam e tomam suas devidas
posições no alto de duas construções localizadas uma
em cada canto do lugar, assim que o sinal for dado por
Nikola eles entrarão em cena.
O Parc Guel era um enorme jardim com
peculiares elementos arquitetônicos realizados pelo
singular arquiteto Antonio Gaudí, inicialmente o local
seria um conjunto residencial de luxo, porém, com o
passar do tempo essa ideia foi sendo abandonada e em
347
seu lugar foi construído um Parc digno de contos de
fadas, o Parc foi inaugurado em mil novecentos e vinte
e dois e desde então passou a ser uma das principais
atrações da cidade de Barcelona, em mil novecentos e
oitenta e quatro este território foi tombado pela
UNESCO e declarado patrimônio da humanidade.
Com uma extensão de mais de dezessete
hectares, o parque possui uma arquitetura única,
colunas com aspecto de árvores, formas onduladas,
figuras de animais e entre outras peculiaridades, seu
acabamento é revestido de um grande mosaico feito de
cerâmica, todo o aspecto do parque possui um
simbolismo político e religioso naturais daquela época,
o artista aproveitou o desnível da montanha para
construir um caminho de elevação espiritual chamado
de caminho do calvário, situado na parte mais alta do
Parc, proporciona uma linda vista da cidade para quem
procura relaxar e refletir.
O ponto central do Parc é um enorme banco
de cento e dez metros em forma de uma serpente, no
centro do Parc está localizada a casa museu Gaudí,
residência do o arquiteto morou entre mil novecentos e
seis e mil novecentos e vinte e cinco, na entrada do Parc
existem duas mini construções medievais que lembram
muito os contos de fadas, dando um charme a mais no
lugar.

348
Toda essa descrição do Parc é de antes do
apocalipse, atualmente existem poucas coisas da
arquitetura original, a casa museu de Gaudí está em
ruínas juntamente com o banco de serpente, as duas
construções medievais da entrada estão no mesmo
estado, caindo aos pedaços, tudo está muito sujo,
entulhos e sujeira acumulados dão um ar de descaso e
abandono, marcas de tiros nas paredes indicam que o
lugar é usado como centro de treinamento para a
guarnição, além de ser também frequentemente usado
para execuções e desovas de corpos, é neste cenários
que nosso personagens se encontrarão e decidirão o
destino de suas vidas.
São meia noite e meio, a limousine do
Inquisidor para na entrada do Parc, Gabriel e
Theodore descem do veículo e caminham em direção
ao centro do lugar, uma enorme área descampada onde
estão as ruínas da casa de Gaudí e o banco da serpente.
GABRIEL- Será que o seguidores de set virá
Theodore?
THEODORE- Não se preocupe, logo ele
estará aqui.
De cima de uma das estruturas da entrada do
Parc, Rafael e Miguel observam tudo que está
acontecendo, ao longe é possível ver Lorenzo se
aproximando, parece que ele não desconfia da
armadilha tramada com o intuito de adquirirem seu
349
artefato, Gabriel e Theodore estão no centro do Parc,
Lorenzo fica a uma certa distância dos dois, parado e
olhando fixamente para eles sem esboçar qualquer
reação.
THEODORE- Finalmente você chegou meu
querido!
LORENZO- O que esse cara está fazendo
aqui? Pensei que o acordo era somente entre nós dois,
que merda é essa?
GABRIEL- Não há mais acordo meu jovem.
LORENZO- Do que essa cara tá falando
Theodore? Onde está o artefato que você me
prometeu?
THEODORE- Não tenho nenhum artefato,
isto foi só um plano para te atrair até aqui e concretizar
a minha vingança contra Leonard.
LORENZO- Deixa de falar merda, é claro que
você encontrou alguma coisa nos domínios do mago,
você não iria se arriscar por nada, ou melhor, já estou
sacando tudo aqui, me atraiu pra cá para vocês dois
juntos me matarem e pegarem o meu artefato, belo
plano mas, sinto informar eu vou matar os dois.
GABRIEL- Então vamos ver se você é isso
tudo mesmo.
O inquisidor parte para cima de Lorenzo, seu
ante braço se desacopla de seu braço e voa em direção
a cabeça do vampiro com o propósito de esmaga-la com
350
as suas garras, o olhar do vampiro é frio e calculista, em
um movimento rápido ele se esquiva do ataque, neste
momento um bueiro a poucos metros dali estoura e a
sua tampa voa pelos ares, é o sinal, Rafael e Miguel
pulam de cima da estrutura na qual estavam, Gabriel
olha assustado a movimentação enquanto Theodore
parecia esperar por aquilo.
THEODORE- Como esperado, Benedicth já
havia me avisado da presença de vocês.
MIGUEL- Seu maldito, vou arrancar a sua
cabeça e dar para os cães comerem.
Um olhar é o suficiente para acender uma
chama que a muito não ardia, a vingança adormecida
ganha força novamente, Lorenzo sentia seu peito arder
e suas mãos não podiam se conter ao se deparar com
aquele que assassinou seu mentor de forma fria e cruel,
a busca pelo artefato e tudo em volta acabara de perder
o sentido, a vingança se tornara o único objetivo
naquele momento.
LORENZO- Eu me lembro de você, assassino
maldito, eu sonhei com esse momento até agora, o dia
em que eu te encontraria e vingaria Xavier.
RAFAEL- Calma Lorenzo, isso é passado,
hoje sou um novo homem e quero consertar tudo, estou
aqui para te ajudar e não para lutar com você.
Lorenzo se movimenta de forma rápida e
golpeia Rafael no rosto que cai ao chão e antes que
351
pudesse se levantar o seguidores de set se transforma
em uma cobra de aproximadamente oito metros de
comprimento e abocanha sua perna direita, a serpente
rasteja rapidamente para dentro da casa de Gaudí com
Rafael em seu poder e em seguida o arremessa em uma
das paredes.
No centro da praça Miguel se vê sozinho
contra dois oponentes.
GABRIEL- Que droga Theodore, agora
temos que matar a todos para que eu consiga meu
artefato, sendo assim vou começar com esse vampiro
aqui.
A besta é armada e um tiro é disparado em
direção ao peito de Miguel que é alvejado e cai, neste
momento Nikolas surge em meio as sombras e golpeia
Gabriel usando sua disciplina potência, o golpe é tão
forte que o Inquisidor é arremessado em cima de alguns
destroços e entulhos que estavam ajuntados no local,
Miguel se levanta e começa a caminhar em direção a
Theodore.
MIGUEL- Agora somos só nos dois xará.
Nikolas faz um movimento com as mãos e
aponta para o céu enquanto corre em direção a Gabriel
que por sua vez acabar de se levantar e buscava assimilar
o dano causado pelo golpe sofrido, novamente os dois
estão frente a frente, Nikolas está empunhando duas
facas de guerra e com elas começa a golpear o
352
Inquisidor, a poeira vai subindo a medida que as
esquivas vão acontecendo, é muito difícil acertar
Gabriel, porém, a besta não pode ser novamente
empunhada, Nikolas busca golpear com tanta rapidez a
ponto do Inquisidor não ter tempo de empunhar sua
arma de longa distância.
Dentro da casa da Gaudí, Lorenzo se volta a
sua forma vampírica, Rafael se levanta com alguma
dificuldade e se coloca frente a frente com o vampiro,
os dois se olham, as ruínas daquele lugar testemunham
uma batalha que vale muito mais do que uma simples
vitória, uma carga de sentimentalismo cobre o lugar, era
como se os dois lutassem não por eles mas por outras
pessoas.
RAFAEL- Eu não quero lutar com você
Lorenzo.
LORENZO- Mais eu quero lutar com você,
não vou descansar enquanto não mata-lo.
Buscando saciar sua sede de vingança, o
seguidores de set investe novamente contra o Brujah
que por sua vez permanece parado, Lorenzo começa a
espanca-lo, Rafael não reage.
Theodore profere algumas palavras e invoca
uma horda de mortos vivos para atacarem Miguel, os
mortos vivos são rapidamente abatidos pelo vampiro
que usa uma pistola para acertar vários tiros nos
esqueletos, este era o tempo que Theodore precisava
353
para concretizar seu ritual de EX NIHILO, o chão se
abre dando lugar a um abismo que traga os dois
vampiros para baixo.
Gabriel usa seu braço mecanizado para conter
os ataques do Nosferatu e o contra ataca usando uma
ampola de água benta que estoura em seu peito, a dor
é intensa fazendo com que Nikolas perca
completamente a concentração e se afaste, Gabriel se
aproveita do ocorrido e pega Nikolas pelo pescoço
usando seu braço alongado, o vampiro está em maus
lençóis sendo enforcado pelo Inquisidor.
GABRIEL- Achou que poderia vir aqui, me
desafiar e sair vencedor?
NIKOLAS- A luta está apenas começando seu
merda!
O céu revela uma surpresa para Gabriel,
centenas de morcegos começam a pairar sobre ele.
GABRIEL- O que é isso?
NIKOLAS- Reforço!
Os morcegos descem em alta velocidade na
direção de Gabriel que solta Nikolas para tentar se
proteger, porém são muitos morcegos que quase ao
mesmo tempo mordem sua carne o fazendo gritar de
dor.
NIKOLAS- Vou deixar estes morcegos te
comerem vivo seu maldito!

354
A baixo de toda esta batalha, Theodore e
Miguel se encontram no mundo dos mortos, o lugar é
horrível, espíritos errantes vagando de um lado para o
outro, grandes vales e montanhas, cadáveres espalhados
pelo chão sendo comidos pelos vermes além de um
calor infernal.
THEODORE- Você está nos meus domínios
agora, usarei a magia da mão morta e pegarei os itens
mais poderosos do mundo dos mortos para que eu
consiga te selar aqui.
MIGUEL- Deixa eu ver se eu entendi direito,
estamos aqui no mundo dos mortos enquanto nossos
corpos adormecidos estão caídos no chão em meio as
batalhas?
THEODORE- Exatamente!
MIGUEL- E você não teme que seu corpo seja
destruído por um de meus companheiros e com isso
você ficasse preso neste mundo para sempre?
THEODORE- Meus movimentos são sempre
muito bem calculados meu caro, seus amigos estão
muito ocupados em suas batalhas, Nikolas está lutando
contra Gabriel e presumo que ele será derrotado em
breve, sendo assim, meu corpo ficará protegido pelo
inquisidor contra o provável vencedor da luta entre
Rafael e Lorenzo, ou seja, indiretamente e diretamente
estarei bem protegido enquanto estou aqui com você, e
a propósito, não pretendo demorar aqui.
355
Aquele lugar sombrio começava a despertar
um certo medo em Miguel, o Malkavian sabia que teria
que pensar rápido e bolar um plano para sair de lá e ao
mesmo tempo pegar o artefato que segundo ele estaria
em posse de Theodore.
MIGUEL- Eu sei quais são os seus objetivos
Giovanni, não pense que pode me enganar.
THEODORE- Do que está falando?
MIGUEL- Sei que o seu objetivo é poder,
tomar o controle de Barcelona e ser o novo rei desta
merda de lugar, e sei também que você vai matar todos
que entrarem em seu caminho, sua sede por poder não
tem limites.
THEODORE- De fato você está certo, depois
que eu me livrar de vocês, vou matar o Inquisidor e
roubar o seu posto, vocês se mataram em batalha e no
final vou pegar o último que restar nas piores condições
possíveis e aniquilá-lo, presumo que Gabriel vai sobrar
e vai sentir a dor das minhas presas no final, Miguel,
meu caro, eu estou usando todos vocês em meu plano,
como um jogo de xadrez, eu sou o rainha que vi
derrubar o rei adversário que pode ser qualquer um de
vocês, no entanto terei que sacrificar algumas peças e
estas peças são vocês.
MIGUEL- Um belo plano eu admito, porém,
lhe falta algo para que você alcance o máximo de poder
e assim poder dominar este mundo.
356
THEODORE- Tem razão, preciso do livro de
NOD para isso, e sei que vocês não vão me contar onde
ele está ou na melhor das hipóteses dá-lo a mim, por
isso, depois que vocês morrerem, vou trazer os seus
espíritos do mundo dos mortos e vou interroga-los e
dessa forma conseguirei a sua localização.
Miguel fica surpreendido com o poder de
planejamento demonstrado por Theodore, uma mente
brilhante que calculou cada passo que seria dado
levando em conta todas as variantes possíveis,
realmente este vampiro estava um passo à frente de
todos os outros e por isso que que seu plano tinha uma
grande chance de dar certo, era preciso surpreende-lo
para vencê-lo, pensar algo novo, uma surpresa, algo que
o Giovanni não poderia ter calculado.
Os morcegos continuam a comer a carne do
Inquisidor tendo Nikolas como um espectador de luxo,
o vampiro se delicia com a cena e ao mesmo tempo se
dirige em direção ao corpo de Theodore que está caído
desacordado no chão, porém, antes que pudesse chegar
ao corpo ele é atravessado por uma flecha disparada
pela besta de Gabriel, o dano não foi grande,
rapidamente a ferida começa a se regenerar e Nikolas
se volta novamente em direção de seu adversário, os
morcegos se dispersam, Gabriel usa seu braço
mecânico para criar uma espécie de hélice que corta os
morcegos em vários movimentos giratórios, a aparência
357
do Inquisidor é horrível, por se tratar de um ciborgue,
suas peças mecânicas estão expostas uma vez que não a
pele cobrindo seu corpo, seus ossos metálicos brilham
a luz da lua e seus olhos vermelhos ardendo como fogo
dizem para Nikolas que esta luta está longe de terminar.
NIKOLAS- Você é mesmo durão, vou
precisar me esforçar um pouco mais para te vencer, não
pensei que chegaria a este ponto, mais já que chegou,
vou lutar e dar o meu melhor, mesmo que isso custe
minha vida.
GABRIEL- Achou que já tinha me vencido
seu verme? Agora vou pegar pesado com você, desejará
nunca ter nascida a ficar no meu caminho.
A besta é armada, os tiros são disparados,
Nikolas usa sua velocidade e começa a se esquivar em
direção ao Inquisidor, que por sua vez se mantém
parado enquanto atira no vampiro, o espaço é
encurtado, estão perto demais, Nikolas tira novamente
suas duas facas de guerra e começa a golpear o
Inquisidor em alta velocidade que se mantém parado,
os golpes dados pelo vampiro não surtem efeito, era
como se o corpo do ciborgue não pudesse sofrer
nenhum dano.
NIKOLAS- Que porra é essa, ele não sofre
dano algum, ele não estava assim a alguns minutos atrás.
GABRIEL- Tenho pouco tempo para acabar
com você.
358
Um golpe é desferido por Gabriel contra o
peito de Nikolas que se esquiva e contra golpeia não o
adversário, mais sim a besta que ele segurava em sua
mão esquerda, a arma de longo alcance é despedaçada
e Nikolas se afasta ficando a alguns metros à frente do
Inquisidor.
NIKOLAS- Agora se você quiser me pegar vai
ter que vir até mim seu covarde desgraçado.
NIKOLAS (pensando)- Percebi que seus
olhos mudaram de cor, agora estão azuis, durante meus
ataques eles estavam vermelhos, indicando que algo
nele estava mudado, presumo que deva ser uma super
resistência momentânea, eu já ouvi falar de um soro que
permite este tipo de coisa, faz sentido, estou vendo
cacos de vidro no chão perto dele, deve ter tomado
enquanto os morcegos o atacaram.
GABRIEL- Não preciso da besta para vencer
você, se é trocar porrada que você quer, isso que você
terá!
Gabriel lança seu braço retrátil em direção ao
banco da serpente arrancando metade de sua estrutura
e arremessando na direção de Nikolas, o vampiro salta
para se esquivar e é surpreendido pelo Inquisidor que
surgiu de trás do bloco de pedra e o golpeia
violentamente em seu rosto fazendo com que o ele caia
ao chão, as garras de Gabriel seguram sua cabeça contra
o chão logo em seguida sem tempo de esquiva, a força
359
mecânica das garras é muito grande, a cabeça do
vampiro começa a ser esmagada, neste momento um
exército de ratos começa a subir no corpo do ciborgue,
pelo fato de não haver mais pele em seu corpo, os ratos
começam a roer tudo que encontram, inclusive seu
sistema elétrico, isto é, os fios que ligam suas
articulações, sem opção, Gabriel precisa soltar Nikolas
e golpear os ratos fazendo com que o vampiro tenha
tempo de se recompor e voltar para a batalha.
Enquanto a batalha se desenrola, as
negociações no mundo dos mortos continuam,
Theodore usa um feitiço chamado mão morta e conjura
um artefato de selamento de espírito em sua mão,
Miguel percebe que está ficando sem tempo e resolver
colocar seu plano em ação.
MIGUEL- Pois bem Theodore, pelo que eu
sei, você não pode voltar para o mundo dos vivos sem
antes ter me selado, pelo fato de que estamos nos dois
ligados a sua técnica não é isso.
THEODORE- Vejo que andou estudando
sobre as minhas disciplinas, você está certo, por isso vou
selar você aqui.
MIGUEL- Sendo assim, vou poupar seu
trabalho de procurar o livro de NOD e vou revelar a
você onde ele está, visto que, eu não vou poder sair
deste mundo devido o seu selamento contra mim,
porém, vou apenas lhe pedir uma coisa.
360
THEODORE- Se tem uma coisa que eu sou
é misericordioso, já que estou prestes a te prender aqui
para sempre vou atender seu pedido, diga-me o que
quer.
MIGUEL- Eu sei que você está com o artefato
pai do sol que era do mago, e que você deseja tomar a
mãe da lua de Lorenzo e unir os dois para que você
possa alcançar o máximo de poder, o livro de NOD está
no bolso esquerdo do meu casaco, e acredite, é
verdade.
THEODORE- Acredito em você, um livro
tão valioso como este só pode estar seguro na posse
daquele que o detém.
MIGUEL- Justamente, você vai me selar aqui,
voltar ao mundo dos vivos e pegá-lo, mas, agora que te
contei onde ele está, eu gostaria de saber ode está seu
artefato, estou curioso para saber quão inteligente você
é e aonde pode ter o escondido.
THEODORE- Vejo que você está
maravilhado com a minha astúcia e por isso vou te
contar onde está o artefato, somente para que você veja
o quanto a frente eu estou de vocês, o artefato também
está comigo, no meu casaco, assim como você eu não o
deixaria longe de mim de jeito nenhum.
MIGUEL (pensando)- Informação
confirmada, agora posso continuar.

361
THEODORE- Chega de conversa, preciso
agir, como eu te disse, prepare-se para ficar aqui pra
sempre vampiro.
As almas dos mortos começam a se aproximar
dos dois vampiros como se estivessem famintas
sedentas por vingança, Theodore coloca o artefato de
selamento no chão e começa a conjurar o feitiço, Migue
não tenta impedi-lo, apenas assiste atentamente o que
está ocorrendo, o artefato exala uma energia negra que
se materializa em correntes, as palavras proferidas por
Theodore parecem dar mais poder ao artefato que por
sua vez usa as correntes para prende Miguel que não
tenta impedir ou revidar, o vampiro fica acorrentado no
mundo dos mortos.
Depois de ter usado os ratos para ganhar
tempo, Nikolas se esconde nas sombras usando sua
disciplina ofuscação, Gabriel acabara de se livras dos
ratos voltando toda a sua atenção em capturar o
vampiro.
NIKOLAS (pensando) – Tenho apenas mais
um ataque usando a potência, não posso errar, preciso
acerta-lo de forma fatal ou na pior das hipóteses preciso
feri-lo de forma a deixar uma vantagem para os meus
companheiros, depois desse ataque não terei mais
como revidar, será o meu fim, mas me recuso a morrer
sem antes leva-lo comigo.

362
O inquisidor muda seu olhar novamente, o
vermelho cor de sangue toma o lugar do azul brilhante,
algo mudou, sua posição de luta também muda, é como
se ele esperasse um ataque surpresa que poderia vir de
qualquer um dos lados, seria inevitável, sendo assim,
era melhor se preparar para o impacto, Nikolas sai das
sombras e começa a caminhar calmamente em direção
de Gabriel.
GABRIEL- Vejo que decidiu facilitar as coisas
para mim, agora não preciso procurar você.
NIKOLAS- Quando eu servi nas forças
armadas aprendi que o mais importante não era vencer
uma batalha e sim vencer a guerra, que muitas vezes não
importava derrotar seu adversário uma vez que você
tinha companheiros que poderiam fazer isso, no
entanto, a missão de um soldado é preparar com
bravura o caminho da vitória para que seus
companheiros possam passar por ele depois, eu não
vou vencer você Gabriel, suas vantagens como ciborgue
o colocam a frente de mim nesta batalha e esta análise
eu já tinha feito desde quando começamos a lutar, você
permanecerá de pé para lutar, mais não terá suas armas
consigo.
O Nosferatu avança rapidamente para cima do
Inquisidor, o sorriso em seu rosto deixava claro que ele
tinha uma missão com aquele ataque e que mesmo que
custasse a sua vida ela seria cumprida.
363
GABRIEL- Então venha vampiro, vou fazer
você em pedaços!
Um ataque é desferido por ambos, porém,
Nikolas se deixa acertar pelas garras do Inquisidor que
perfuram seu peito e atravessa de um lado par o outro,
Gabriel tenta puxar seu braço retrátil novamente porém
Nikolas o segura com força com sua mão esquerda, a
distância entre os dois é de aproximadamente dez
metros, o Nosferatu usa a força que lhe resta para puxar
Gabriel para perto de si usando seu próprio braço
robótico, uma vez encurtada a distância, o vampiro
concentra toda a sua potência em seu punho direito e
desfere um soco na base do ombro esquerdo do
Inquisidor, seu braço robótico retrátil é arrancado de
seu corpo, com a mão esquerda Nikolas o arranca de
seu peito e cai ajoelhado no chão, Gabriel parece não
acreditar no que o Nosferatu havia feito, primeiro ele
destruiu sua besta, sua arma de ataque a longa distância
e agora se sacrificara para destruir seu braço robótico.
As almas dos mortos ficam ao redor de Miguel
enquanto Theodore termina de conjurar seu feitiço, as
correntes negras aprisionam o vampiro, parece
realmente o fim da linha para o Malkavian.
THEODORE- Aproveite bem sua estadia
neste maravilhoso lugar enquanto volto para o mundo
dos vivos e concretizo meu plano de dominação.

364
O Giovanni desaparece do mundo dos
mortos, seu espírito volta para o seu corpo que
rapidamente se levanta e sem ao menos olhar a situação
em que Gabriel se encontrava se dirige em direção ao
corpo de Miguel que estava também caído ao chão,
depois de uma breve vasculhada em seu casaco ele
encontra o livro de NOD, ao se levantar ele começa
foliar o livro, toda a sua atenção se prende à aquelas
páginas, realmente ele tinha conseguido, os segredos
dos trezes clãs finalmente estavam em seu poder e
juntamente com os artefatos o levaria ao topo, uma
enorme dor é sentida pelo Giovanni que deixa o livro
cair ao chão, um golpe havia sido desferido pelas suas
costas, uma lâmina o havia perfurado o coração naquele
momento.
THEODORE- Mais o que é isso?
Uma voz suave começava a sussurrar em seu
ouvido.
MIGUEL- Eu sempre estava a um passo à sua
frente, a sua ganância não permitiu que você enxergasse
realmente todas as variantes, em seu joguinho de xadrez
você se preocupou demais em atacar e se esqueceu de
se defender.
THEODORE- Mais como você conseguiu
sair do mundo dos mortos?
MIGUEL- A chave do sucesso é a informação,
e graças ao livro de NOD eu obtive todas as
365
informações sobre o seu clã e suas disciplinas, desde o
começo eu estava preparado para enfrentar você,
quando descemos ao mundo dos mortos eu procurei
obter confirmar a informação que eu já tinha em mente
que era a de que o artefato estava com você, mais um
detalhe me faltava, se eu saísse do submundo em busca
do seu artefato você também sairia e tentaria me
impedir correto?
THEODORE- O que, como você poderia sair
do mundo dos mortos sem que eu te tirasse de lá?
MIGUEL- É simples meu caro, informação,
se você conhecesse meu clã e minhas disciplinas,
saberia que possuo o nível mais alto da habilidade
Auspícios, essa habilidade me permite sair do meu
corpo e viajar por outros planos, inclusive no mundo
dos mortos, a diferença entre essa habilidade e sua
necromancia é que eu não posso interagir com os
espíritos, apenas visita-los, mais como eu te disse, eu
não queria sair antes de você.
THEODORE- Maldito seja você, seu merda!
MIGUEL- Se você me selasse eu poderia ficar
lá e você poderia sair antes de mim, por isso em
nenhum momento eu tentei impedir o seu selamento,
uma vez que, um selamento no mundo dos mortos não
funciona com quem tem o poder de viajar entre os
planos como eu, sua ganância e o seu egocentrismo
foram tão altos que você nem se atentou para este
366
detalhe, nem precisei ficar apavorado para ser mais
convincente, você estava a todo momento certo da
vitória e isso foi o meu trunfo contra você.
THEODORE- Não posso acreditar que
depois de tudo que consegui vou morrer assim, eu
cheguei tão perto.
MIGUEL- Você vai morrer nesta realidade,
porém você viverá novamente para reescrever sua
história de forma diferente, não posso te explicar agora,
apenas descanse.
O coração do Giovanni é partido ao meio,
Miguel retira o punhal das costas do vampiro ao mesmo
tempo que retira de seu bolso o artefato pai do sol e em
seguida pega também o livro de NOD que estava caído
ao chão, o corpo de Theodore cai sem vida ao solo, um
mar de sangue surge de baixo de seu corpo, as atenções
do Malkavian agora se volta para o que está
acontecendo entre Nikolas e Gabriel, a uns duzentos
metros ele vê o Nosferatu ao chão e um ciborgue sem
um dos braços parado ao lado de seu corpo, Miguel se
desloca rapidamente na direção dos dois e ao chegar
constata o óbito do seu querido amigo.
MIGUEL- Nik, não pode ser, o que esse
monstro fez com você?
As lágrimas escorrem do rosto de Miguel, a
raiva toma conta do seu ser, porém, o plano havia de
ser seguido, Rafael deveria conseguir a mãe da lua e
367
com isso conseguir voltar no tempo e concertar as
coisas.
Dentro da casa de Gaudí, Lorenzo continua a
espancar Rafael que não reage.
LORENZO- Por que você não reage? Acha
que com esse comportamento vai aplacar a minha ira?
RAFAEL- Eu sei que nada que eu faça vai
conseguir aplacar sua ira meu jovem, seu desejo de
vingança te dominou a tal ponto que é necessário que
você o descarregue de alguma forma, no entanto, digo
a você que me matar não vai trazer Xavier de volta, o
vazio que existe dentro do seu coração não será
preenchido com a minha morte.
LORENZO- Você não sabe o que eu passei, a
falta que ele me fez, quantas noites eu chorei por não
tê-lo comigo, ele era tudo que eu tinha, minha única
família e você tirou isso de mim sem ao menos se
importar com o fato de que poderia existir alguém que
o amasse.
Os socos desferidos por Lorenzo iam
perdendo a força ao passo que o seu choro se tornava
mais intenso, por ser um mestre da Golconda, Rafael
podia perceber o que realmente estava acontecendo, no
fundo, Lorenzo não queria mata-lo, queria apenas
mostrar para ele a dor que estava sentindo e o quanto
lamentava por não ter podido proteger seu mestre.

368
RAFAEL- Lorenzo, quando eu matei seu
mestre, eu senti um remorso como eu nunca havia
sentido, eu havia matado um homem indefeso, ele não
podia lutar e isso me corroeu por dentro, me lembro
que quando eu e meu mentor saímos daquele galpão eu
o disse que queria encontrar o discípulo daquele
homem e lutar com ele, de forma justa e que nunca
mais eu mataria alguém daquela forma covarde.
LORENZO- Pois bem, finalmente nos
encontramos, por que você não luta comigo?
RAFAEL- Porque não é aqui que lutamos, eu
também tive uma grande perda, a mulher que eu amava
também foi assassinada diante dos meus olhos sem que
eu pudesse fazer nada, eu senti na pele o que você
sentiu, porém, há uma esperança para mim e para você,
podemos ver estas pessoas que tanto amamos
novamente.
LORENZO- A única forma que temos de
reencontrá-las é nos juntando a elas no mundo dos
mortos.
RAFAEL- Não, existe uma outra forma, você
tem a chave para que eu consiga voltar ao passado e
mudar tudo que vivemos até agora, seu artefato mãe da
lua combinado com o pai do sol vai fazer com que eu
consiga viajar no tempo e conserte todos estes erros,
você terá Xavier de volta e eu terei Carmem.

369
LORENZO- Mesmo que você volte, como vai
impedir que Xavier seja assassinado?
RAFAEL- Eu não farei a terrível escolha que
fiz a anos atrás de lhe tirar a vida, quando eu voltar vou
garantir que eu saiba instruir vocês vampiros e a mim
acerca do que deve ser feito para que não cheguemos
novamente a este momento.
Aos poucos o seguidores de set vai se
acalmando e se convencendo de que se o que o Brujah
estava dizendo fosse verdade, era a única chance que
ele teria de ver seu mestre novamente, parecia que sua
vingança havia se tornado pequena diante da
possibilidade de viver novamente ao lado de Xavier,
matar Rafael realmente não iria trazer ninguém de volta
e apesar de querer muito fazer isso, Lorenzo usa sua
racionalidade e começa a pensar além da “caixa” em
que está naquele momento.
LORENZO- Como vou saber que você não
está mentindo para mim?
RAFAEL- Vou confidenciar uma coisa a você
que eu nunca disse a ninguém, eu nunca gostei de ter
amigos, sempre que eu me aproximava de alguém eu
sofria uma decepção, por isso aprendi a lutar boxe, já
que eu não teria amigos que me defendessem eu teria
que me defender por mim mesmo, com o tempo, a
fama e o dinheiro, minha teoria ganhou mais força, as
pessoas que agora se aproximavam de mim, faziam isso
370
pelo que eu tinha e pelo que eu poderia oferecer a elas
e não porque me amavam e queriam estar ao meu lado
e assim eu fui vivendo até me tornar um vampiro, é
estranho pensar que como humano eu nunca consegui
amar ninguém de verdade além da minha mãe e como
vampiro eu pude conseguir o amor de uma mulher,
algo que eu nunca sonhava em ter, como vampiro eu
consegui pessoas que lutam ao meu lado e que estão
dispostas a dar a vida por mim, me refiro a Nikolas e a
Miguel, ou seja, a humanidade me proporcionou
apenas coisas ruins e a maldição me deu coisas boas,
porém agora que me livrei da maldição consigo ver que
tanto a humanidade quanto a maldição me ensinaram e
me moldaram de forma que sou o que sou hoje, então,
Lorenzo, não se preocupe, não estou mentindo para
você, porque eu não quero te decepcionar como eu fui
decepcionado, com a sua ajuda voltarei ao passado e
teremos a nossa luta justa, movida pela competição de
ser o mais forte e não pela vingança.
Lorenzo olha nos olhos de Rafael e enxerga
sinceridade em suas palavras ao mesmo tempo que se
pergunta por que deveria perdoar aquele homem,
talvez seria porque nem de longe ele lembrava o
assassino frio que assassinou seu mestre, de fato era
outra pessoa, um iluminado, alguém que conseguiu
superar e transcender a existência vampírica de tal
forma que agora é capaz de entender o mais íntimo de
371
seu ser e o do ser do outro, a mão é estendida, Rafael a
segura e se levanta, seus ferimentos vão aos poucos se
regenerando, de dentro do bolso do seu casaco,
Lorenzo retira o artefato e o entrega a Rafael.
LORENZO- Vamos, seus amigos precisam de
nós.
A alguns metros dali, Miguel está frente a
frente com Gabriel, o Inquisidor ainda se encontra
pensativo, parece planejar, a presença de Miguel não o
incomoda, por outro lado, o vampiro sabe que não
pode lutar, afinal, ele é o único que sabe unir os dois
artefatos e conjurar o portal para que Rafael possa
entrar e voltar ao passado, se ele morrer tudo estará
perdido ao passo que os artefatos se tornarão inúteis.
Rafael e Lorenzo chegam até Miguel, os três se
olham, a sintonia entre eles é tremenda, eles sabem o
que deve ser feito, Rafael entrega o artefato para Miguel.
MIGUEL- Para unir os artefatos e conjurar o
portal preciso me concentrar e Rafael deve ficar dentro
de um raio de cinco metros a partir de mim, ou seja,
não poderemos lutar contra o Inquisidor caso ele tente
nos impedir.
LORENZO- Não se preocupem, eu darei
conta dele, concentrem-se em unir os artefatos e
conjurar o portal, não se preocupem comigo, mesmo
que eu morra aqui, viverei novamente na nova realidade
que Rafael vai nos proporcionar.
372
Miguel rapidamente corta seus pulsos e
começa a fazer um círculo em volta dele e de Rafael que
se posiciona em seu centro, o livro de NOD é jogado
também no meio do círculo aberto na página de
conjuração de portais através de artefatos provenientes
do clã seguidores de set.
RAFAEL- Miguel, acha que consegue fazer
isso?
MIGUEL- Eu não sei, vou fazer o que o livro
diz e torcer para dar certo.
A frente deles Gabriel parece diferente,
mesmo sem um dos braços e sua besta o Inquisidor
exala um ar de superioridade que pode ser sentido por
todos, parece que agora ele não tem escolha, se ele
quisesse salvar o seu império teria que matar os três
antes que o portal fosse aberto e Rafael pudesse entrar
dentro dele, os morcegos que Nikolas havia convocado
para o atacar tiraram dele os seus soros A.R e seus
artefatos contra vampiros, suas ampolas de água benta
foram quebradas, rosários e crucifixos dilacerados e
sem a sua besta como mencionado anteriormente para
atirar suas flechas de múltiplas funções tudo se tornara
mais difícil para o enviado da igreja, de repente um
helicóptero chega sobrevoando o local e começa a
pairar em cima do Inquisidor, uma comporta é aberta
no fundo do helicóptero e uma caixa do seu tamanho
cai ao chão, a mesma se abre e lá dentro estava uma
373
armadura que se abre e fica pronta para ser trajada,
Gabriel corre ao seu encontro e se aproxima da
armadura ao mesmo tempo que ela vestia seu corpo
como que por uma atração magnética, o braço perdido
é recompensado por um novo braço robótico e agora
parece a batalha pode começar novamente.
GABRIEL- Demorou, mais finalmente o
organização GÊNESIS enviou seu protótipo para que
eu pudesse lutar, esse traje estava sendo desenvolvido
para que eu pudesse lutar contra os outros reis dos
outros padroados régios que ousassem desafiar meu
poder, confesso que ainda é um protótipo, mais será de
grande ajuda neste momento.
LORENZO- Você acha mesmo que esse
monte de lata vai te proteger das minhas presas, verme
maldito?
A luta começa, Lorenzo se transforma em
serpente e começa a se mover de um lado para o outro
em direção ao Inquisidor, seus movimentos são rápidos
e o bote é armado com precisão, o ataque deve ser
certeiro de forma a ferir o inimigo, Gabriel por sua vez
fica em posição de batalha esperando o ataque que
realmente acontece, o bote é dado, a velocidade do
ataque é tamanha que chega a deslocar o ar, mas isso
não é o bastante para surpreender o inimigo, com a sua
mão direita Gabriel segura a serpente pela parte
debaixo de sua mandíbula, as presas ficam a
374
centímetros do rosto do Inquisidor que sente o bafo
quente do animal, o veneno que saia pelas presas
escorria pela mandíbula e caia ao chão, a serpente está
suspensa no ar enquanto é segurada por Gabriel, mas
isso não há deixa imobilizada por completo, sua calda
age rapidamente se enrolando no Inquisidor,
começando por sua perna esquerda, passando pelo seu
dorso e terminando em seu pescoço, um
estrangulamento está prestes a começar, agora o ataque
é duplo por parte da serpente, sua mandíbula luta com
força para romper o julgo do braço de Gabriel e chegar
até a face do mesmo, enquanto o resto de seu corpo
começa a estrangular seu oponente através de uma
pressão esmagadora, o Inquisidor se encontra em maus
lençóis neste momento da batalha.
Enquanto a luta acontece, Miguel tenta
desesperadamente fazer o encantamento para abrir o
portal, com isso, os dois artefatos são unidos, o poder
que exala dos dois é realmente enorme e quase
incontrolável, a única forma de conter este poder é
fazendo o encantamento, um vento forte toma conta do
lugar ao mesmo tempo raios de energia saem do
artefato que agora está unido jogado ao chão por
Miguel.
MIGUEL- Mais que droga, eu não estou
conseguindo ler a porra desse livro!

375
RAFAEL- Calma meu amigo, concentre-se,
você vai conseguir, tenha calma e tente seguir os passos
descritos no livro com precisão que tudo dará certo.
Neste momento Gabriel tem uma ideia para
escapar das garras de Lorenzo, seu traje é movido por
energia proveniente de um sistema em suas costas que
alimenta suas articulações através de cabos internos
fazendo com que ele tenha super força e super
velocidade, porém sua força está concentrada
automaticamente em segurar a mandíbula da serpente,
com isso ele teve a ideia de acionar seu gerador de
energia de forma manual através do seu braço esquerdo
que estava solto fazendo com que houvesse um super
aquecimento proposital do traje, dessa forma seu traje
liberaria mais energia do que ele poderia aguentar e
entraria em colapso se aquecendo instantaneamente,
claro que isso danificaria a armadura, porém, esta
medida duraria somente alguns segundos uma vez que,
a serpente não aguentaria o calor e o teria que soltar se
não quisesse se queimar inteira, e de fato ele acertou, o
traje começa a esquentar e Lorenzo não tem outra
escolha a não ser se soltar de seu inimigo e se afastar
alguns metros voltando a sua forma original.
LORENZO- Tenho que admitir que essa foi
por pouco, se você não tivesse dado os seus pulos eu
teria te engolindo inteiro e com certeza deitaria naquele

376
monte de entulho pra te digerir com tranquilidade
enquanto admiro a luza da lua.
GABRIEL- Seu vampirinho de quinta
categoria, acha que vai conseguir me vencer tão fácil
assim? Vou te dar uma surra que você nunca mais vai
esquecer.
Os dois voltam a se chocar, uma troca intensa
de socos acontece, o seguidores de set pode deixar o
seu corpo elástico e consegue se esquivar dos socos
desferidos contra ele com facilidade ao passo que
Gabriel aumenta a velocidade dos seus ataques com a
esperança de acerta-lo, Lorenzo se afasta e pega duas
barras de ferro que estavam jogadas no monte de
entulhos ao seu lado e parte para cima do seu inimigo,
as barras agem como bastões que descem com toda a
força contra o peito do Inquisidor.
GABRIEL- Isso só pode ser piada, querer me
bater com duas barras de ferro?
Os ataques são defendidos com seus próprio
punhos e as barras se partem ao meio, ficando nas mãos
de Lorenzo apenas dois pedaços pontiagudos que o
vampiro usa para enfiar no peito do Inquisidor em um
contra golpe muito bem sucedido, Lorenzo salta e com
a sola dos dois pés acaba de empurrar as barras para
dentro do peito do seu inimigo ao mesmo tempo que
pega impulso e vira um salto mortal para trás caindo em
posição de luta novamente.
377
Gabriel arranca as barras de ferro do seu peito,
aquilo deixava claro que a armadura não era
intransponível, por se tratar de um protótipo, muitas
coisas deveriam ser melhoradas, estava na cara que era
um verdadeiro quebra galho por parte do Inquisidor
que estava se virando como podia e Lorenzo percebeu
isso, era hora de atacar e terminar a luta para ajudar seus
companheiros, o vampiro se prepara para dar tudo de
si, Gabriel percebe que Lorenzo está confiante e que
virá com tudo, com base nisso ele aciona o restante de
energia que resta no traje para ficar mais rápido e mais
forte e dá a iniciativa, como um foguete ele dispara em
direção do vampiro, Lorenzo fica sem reação diante de
tamanha velocidade e é pego pelo pescoço e prensado
contra a parede das ruínas da casa de Gaudí, o impacto
é tão grande que a parede se quebra e o vampiro
ultrapassa para dentro da construção e por lá fica caído
ao chão, o Inquisidor continua sua investida
arremessando tudo que tem pela frente em Lorenzo,
entulhos, cadeiras, mesas, com o intuito de ofuscar sua
visão enquanto se defende destes objetos, de fato deu
certo, novamente Lorenzo é surpreendido assim que
acabava de se defender, um soco em seu rosto é
desferido e acerta em cheio, ele é arremessado para fora
novamente dessa vez quase inconsciente, seu pescoço
foi quebrado com o impacto, sua visão está turva, sua
regeneração começa a operar mais isso leva algum
378
tempo, tempo este que ele não tem neste momento,
Gabriel está mais rápido e mais forte e sabe que é por
pouco tempo, por isso é essencial que ele termine este
combate o mais rápido possível, e assim ele busca fazer,
se aproveitando da fragilidade momentânea do vampiro
ele o pega e começa a espanca-lo sem dar tempo que
ele possa se regenerar.
Por outro lado, as esperanças de Miguel
começam a acabar, ele não consegue ler o livro de
NOD, o artefato parece que vai entrar em combustão a
qualquer momento com tanto poder exalando dele, o
portal precisa ser aberto o quanto antes ou tudo estará
perdido, tudo leva a crer que o artefato não vai aguentar
e vai se despedaçar a qualquer momento, com lágrimas
nos olhos Miguel olha para Rafael.
MIGUEL- Me desculpe, eu não consigo, eu
tentei, mais eu não consigo, vou jogar tudo água a baixo.
RAFAEL- Calma velho amigo, não estamos
perdidos ainda, ainda temos um aliado.
MIGUEL- Do que você está falando? Não
resta mais ninguém além de nós.
BENEDICHT- Resta sim meu caro, meu
mestre foi morto mais ainda estou aqui e vou ajudar
vocês, vou trazer do mundo dos mortos alguém que
consegue ler este livro facilmente, porque foi ele quem
escreveu.

379
Uma fenda se abre no chão e o mundo dos
mortos é novamente avistado, as almas vagando e vários
abismos podem ser vistos, uma energia negra sai da
fenda querendo se apossar de tudo que toca.
BENEDICHT- Não tenho tempo, NOD saia
já daí e venha nos ajudar, eu te invoco diretamente dos
mortos e te prometo trocar a minha liberdade pela sua
caso você nos ajude, eu irei em seu lugar para o
submundo enquanto você ficará na terra e vai vagar por
ela novamente.
O espírito de NOD sai do mundo dos mortos
uma vez que ele havia sido libertado por Gabriel da
prisão em que estava, e se dirige na direção de Miguel.
NOD- Ajudarei você vampiro, não quero que
aquele Inquisidor maldito que me prendeu saia
vencedor dessa vez, vamos ler o encantamento juntos.
Neste momento Miguel e Rafael dão um
sorriso, a esperança havia voltado, Benedicht acabara
de entrar no mundo dos mortos e agora NOD estava
livre para auxilia-los na confecção do encantamento e
manuseio do artefato, juntos, ele e Miguel começam a
ler o encantamento e o poder do artefato começa a ser
canalizado para um ponto específico, neste ponto abre-
se uma fenda no espaço tempo, dentro desta fenda é
possível ver a outra realidade que se deseja voltar,
Barcelona de anos atrás antes da apocalipse pode ser
vista, Rafael olha atento e esperançoso porém Miguel
380
nota que seu semblante havia mudado, uma tristeza o
tinha abatido, os Malkavians podiam sentir a aura das
pessoas e seus sentimentos, Rafael estava
profundamente triste.
MIGUEL- Mais por que Rafael está triste, ele
está prestes a conseguir o que queria, nos dar um novo
futuro e se reencontrar com Carmem.
A poucos metros dali Gabriel vê o que está
acontecendo e decide impedi-los, ele joga o corpo
desfalecido de Lorenzo no chão e começa a caminhar
em direção ao portal, neste momento, Lorenzo o segura
pelo braço, Gabriel se vira e o olha nos olhos, Lorenzo
se levanta segurando o braço de Gabriel.
LORENZO- Ainda não acabamos parceiro,
tem um baile inteiro pra gente dançar!
GABRIEL- Desculpe donzela, mais pra você
o baile acabou e eu preciso terminar a minha noite.
O Inquisidor enfia o braço no peito de
Lorenzo buscando seu coração e fica surpreendido ao
encontrar seu peito vazio.
GABRIEL- Mais que merda é essa? Era pra
ter um coração aqui, eu deveria esmaga-lo e você
morreria, é assim que se mata um vampiro.
LORENZO- Tem razão meu caro, um
vampiro comum você mataria dessa forma, mais sinto
lhe dizer, EU NÃO SOU UM VAMPIRO COMUM.

381
Gabriel tenta retirar seu braço para se dirigir
em direção ao portal para impedir sua abertura mas
Lorenzo o segura forte, o Inquisidor começa a espanca-
lo porém o vampiro não o solta, dando o tempo
necessário para que Rafael entrasse na fenda, o Brujah
entra no portal e a fenda se fecha.

382
383
Episódio: RECOMEÇO

A
chuva havia parado, o senhor Smith
também havia parado de falar, Romeu
também havia parado de escrever,
uma sincronia perfeita, algo estava para acontecer e
parecia evidente tanto para Romeu o repórter, quanto
para Raul, seu assistente.
ROMEU- Algum problema senhor Smith? De
repente ficou calado.
KARMA- Se lembra que no começo da
entrevista você tinha achado meu nome estranho e eu
te disse que você entenderia o porquê de eu me chamar
assim?
ROMEU- Sim senhor, me lembro.
KARMA- Pois bem, eu passei a me chamar
assim devido as escolhas que fiz, o nome KARMA
significa causalidade, lei de causa e efeito ou ação
intencional, quando vim para esta realidade assumi as
consequências dos meu atos, das minhas ações e das
minhas escolhas, por isso achei por conveniente me
denominar assim.
ROMEU- Como assim, veio para esta
realidade, do que o senhor está falando?
KARMA- Na verdade eu sou Rafael, o
vampiro que voltou ao passado para consertar o futuro!
384
O susto é tão grande que Romeu cai da
cadeira, incrédulo, Ramon o ajuda a levantar e a se
recompor, Rafael se mantém sentado, calmo,
esperando o jovem entrevistador se recuperar do baque
da informação que acabara de receber.
ROMEU- Mais não pode ser, como você
conseguiu contar esta história de todos os pontos de
vista sendo apenas uma pessoa?
A chuva voltava a cair de mansinho
escorrendo pela janela, as luzes da cidade de Barcelona
iluminavam aquele quarto pouco iluminado, o tempo
havia passado e eles nem haviam se dado conta, afinal,
uma história memorável havia sido contada por aquele
senhor, um livro havia sido escrito diante dos seus
olhos, um manual a ser seguido contendo todos os
passos que deveriam ser dados daquela hora em diante
por todas as pessoas que passaram por aquela história,
algo valioso acabava de ser confeccionado, algo que
levava consigo os sentimentos de muitas pessoas em
seus escritos.
RAFAEL- Deixe-me contar algo que não falei
anteriormente e que não tinha necessidade de estar
neste livro que você acabou de escrever, antes de em
encontrar com Miguel e Nikolas no esgoto, eu havia ido
até a igreja da Sagrada Família onde se encontrava
Gabriel o Inquisidor, Carmem havia me dito na visão
que eu tive com ela durante a luta com Abrahan que
385
tudo que ela estava me ordenando a fazer vinha de um
oráculo que ela tinha consultado nos aposentos de
Gabriel, e por esta invasão ela havia sido presa por ele
e dada a Abrahan para servir de ferramenta contra mim,
com base nesta informação fui até os aposentos de
Gabriel e roubei o oráculo, devido a sua ganância pelo
plano proposto a ele por Theodore, ele nem percebeu
que o oráculo não estava mais lá.
ROMEU- Mais como você entrou sem ser
visto?
RAFAEL- Meu caro, eu não sou um vampiro
qualquer, sou um mestre da Golconda esqueceu?
Tenho a arte da furtividade elevada a níveis altíssimos.
A àquela altura Romeu se perguntava o
porque daquilo tudo, o que se passava na mente
daquele homem que na verdade era um vampiro, ele
sabia que não poderia demostrar medo ou pânico
porque poderia ser morto facilmente, por isso resolveu
continuar a conversa.
RAFAEL- Depois de ter roubado o oráculo o
consultei na floresta antes de ir para o esgoto, ele me
disse o que iria acontecer, que eu voltaria ao passado e
teria a chance de consertar tudo uma vez que, não era
garantido que as pessoas dessa realidade seguiriam os
meus conselhos, e ainda me deu uma péssima notícia,
eu voltaria mas não viveria o que eu queria viver, eu
mudaria o futuro não para mim e sim para os outros,
386
este seria o meu KARMA, através do oráculo eu pude
ver todas as linhas temporais de todos os personagens
envolvidos naquela realidade, foi dessa forma que pude
descrever a história de todos os pontos de vista.
ROMEU- Me explique melhor, não entendo.
RAFAEL- Já existe um Bradley nesta
realidade, eu não poderia simplesmente apaga-lo e
tomar o seu lugar, a minha missão aqui e guia-lo a não
cometer os mesmo erros que eu cometi e assim garantir
que o futuro arruinado de onde eu vim nunca chegue,
vou vê-lo ficar com a mulher que sempre amei, vou vê-
lo desfrutar de tudo que eu sempre sonhei e não
poderei compartilhar isso, simplesmente porque não
pertence a este mundo, serei um espectador e ao
mesmo tempo um guia, em suma, eu abri mão da
minha existência para que eles pudessem viver a deles.
Romeu entendeu o porquê da tristeza de
Rafael diante do portal, aquele não seria um reinicio
para ele e sim para os outros, uma atitude realmente
altruísta vinda de um vampiro abençoado, o medo deu
lugar a uma profunda admiração e respeito por aquele
homem, uma vez que, vampiro não seria o termo
correto para um sujeito tão humano como aquele.
ROMEU- Mais me responda, por que você
está velho e por que não escreveu o livro você mesmo,
por que precisou de mim?

387
RAFAEL- Nada na vida é de graça meu caro,
o artefato cobrou o seu preço, para viajar no tempo eu
tive que tocá-lo, sou indigno, apenas Lorenzo poderia
tacá-lo, Miguel quando os juntou também foi cobrado
naquele futuro em que eu estava, mas, como eu vim
para o passado não vi qual a consequência que recaiu
sobre ele e na verdade nem importa visto que, ele está
aqui e aquele futuro vai ser apagado com as ações que
tomaremos neste presente, em relação a mim, eu perdi
o movimento das mãos para sempre, por isso pedi essa
entrevista, eu precisa de alguém para escrever o meu
manual, e você aceitou, a respeito da minha velhice, este
foi outro preço que tive que pagar, como eu quebrei o
espaço tempo eu não tenho mais domínio sobre ele,
agora o tempo tem domínio sobre mim, passando por
cima da maldição ou da benção da Golconda, agora o
tempo é meu dono e vou partir quando ele determinar.
Romeu e Raul se levantam de suas cadeiras e
de pé começam a aplaudir Rafael, realmente aquela
história era digna de aplausos, como um homem que se
tornou vampiro e depois se tornou homem conseguiu
deixar seus desejos de lado e se colocou a serviço do
próximo abrindo mão de sua vida e seus prazeres
apenas para ver outras pessoas felizes em seu lugar, se
mais pessoas se comportassem dessa forma o mundo
seria melhor, se as pessoas se colocassem no lugar umas
das outras iriam sentir a dor alheia e se compadeceriam
388
uns dos outros como este vampiro fez, Rafael deixará
um legado, todo um futuro construído sobre suas costas
e todos que tiverem acesso a este livro saberão que ele
e seus companheiros foram heróis.
RAFAEL- Não vou matar vocês, se é isto que
estão pensando, eu não preciso fazer isso porque vocês
são homens bons e que com certeza mesmo sabendo
que existe este mundo sombrio paralelo irão tocar suas
vidas normalmente e vão se abster desse mundo,
esqueçam que vampiros existem e foquem em amar
suas famílias, valorizar suas amizades e viver cada
momento como se fosse o último, porque é isto que
torna a existência humana tão bonita, o fato de tudo se
perder em um piscar de olhos e cada momento ter um
valor único para quem o vive.
Romeu pega o livro escrito e coloca no bolso
do casaco de Rafael que se levanta olha para os dois e
dá um breve sorriso caminhando para a porta de saída.
RAFAEL- Tenho que ir, tenho um discípulo
que preciso encontrar, ele é durão, lutador e muito
teimoso mas tenho certeza que com o tempo e meus
ensinamentos ele ficará como eu e será capaz de mudar
o mundo a sua volta.
Lentamente aquele senhor deixava o hotel em
que a entrevista havia sido concedida e caminhava pelas
ruas de Barcelona em busca dele mesmo, em busca de
esperança e uma possibilidade de em meio a tantas
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trevas e escuridão fazer algo bom e para isso ele
realmente precisaria convencer muitas pessoas de que
por mais que não se descem conta, suas escolhas
influenciariam o futuro, seja de maneira positiva ou
negativa, o que importa é que nossos atos tem
consequências, nossas atitudes nunca são vazias e que
direta ou indiretamente estamos sempre afetando
outras pessoas, dessa vez o destino foi generoso em
conceder a humanidade uma segunda chance porém,
essa chance pode ser a última.

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