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Cap. HANSENÍASE
INTRODUÇÃO
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Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele encerra funções
sem as quais o corpo humano não poderia sobreviver. Além de possuir Fig. 1: Bacilo de Hansen – microscopia eletrônica.
fundamental papel na interface social e na impressão que temos de
nossos próprios corpos, podemos pensá-la como a principal barreira
entre o nosso organismo, e o ambiente externo. Ambiente este repleto de
agentes agressores tais como infecções, traumas, radiações Ultravioleta
(UV), etc. Nesse módulo, começaremos tratando das principais doenças
infecciosas que acometem a pele (também as condições mais cobradas
nos concursos!!!). E, sem dúvidas, a hanseníase é o carro chefe entre
elas. Conhecida também como lepra, ou mal de Lázaro, a doença surgiu
na Índia e na China e acredita-se que tenha sido levada para o
Mediterrâneo pelas conquistas de Alexandre, o Grande, rei da
Macedônia. Mas o número de doentes na Europa aumentou na época
das Cruzadas, no final do século XI. Foi nesse período também o início
da perseguição aos “leprosos”, que duraria três séculos. Na França,
milhares de doentes foram queimados nas fogueiras. O doente recebia
um par de luvas e uma espécie de sino para anunciar sua chegada a
lugares públicos. Milhares de pessoas foram expulsas das comunidades,
ingressando nas colônias de leprosos ou mendigando na periferia das
cidades.
Pode-se dizer que a prevalência da doença vem diminuindo em todo o
mundo nos últimos anos. Entretanto, esse declínio desacelerou mais
recentemente. A taxa global de incidência da hanseníase também parece
estar diminuindo, ainda que lentamente e que, em muitas áreas,
permaneça estática ou mesmo em crescimento. No mundo, foram
reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 208.619 casos
novos da doença em 2018. Desses, 30.957 ocorreram na região das
Américas e 28.660 (92,6% do total das Américas) foram notificados no
Brasil. Do total de casos novos diagnosticados no país, 1.705 (5,9%)
ocorreram em menores de 15 anos. Quanto ao Grau de Incapacidade
Física (GIF), entre os 24.780 (86,5%) avaliados no diagnóstico, 2.109
(8,5%) apresentaram deformidades visíveis (GIF2). Diante desse
Fig. 5
Fig. 4
Fig. 6
A neurite normalmente se apresenta com um quadro agudo de dor
intensa e edema, sem que haja, a princípio, comprometimento funcional Ulnar - mão em garra e atrofia de interósseos.
do nervo. Contudo, a lesão se torna crônica e passa a evidenciar o dano, Mediano - mão do pregador.
identificado por anidrose e ressecamento cutâneo; alopecia; alteração Ulnar + mediano - mão simiesca ou garra completa.
sensitiva (na ordem em que é perdida: térmica, dolorosa e tátil) e Radial - queda do punho.
motora, cursando com dormência e perda da força muscular. Se não
Ramo trigeminal do facial - lagoftalmo.
tratado, o acometimento neural pode provocar incapacidades e
deformidades. Em alguns casos, as alterações de sensibilidade e Fibular comum - queda do pé.
motricidade podem aparecer sem os sintomas agudos de neurite (neurite Tibial posterior - mal perfurante plantar (FIGURA 8),
silenciosa). Outra forma é a forma neural pura, quando não se deformidade em garra de artelhos.
encontram lesões cutâneas, mas encontramos espessamento do tronco
nervoso e dano neural precoce e grave.
Fig. 8
Pernas – fibular e tibial: podem causar alterações nas pernas e nos pés.
Na pele, descrevem-se máculas, pápulas, nódulos e tubérculos
(FIGURAS 9A, 9B, 9C e 9D). A infiltração é difusa e mais acentuada
E as suas consequências estão descritas abaixo.
na face e nos membros. A pele torna-se luzidia, xerótica, com aspecto
apergaminhado e tonalidade semelhante ao cobre. Há rarefação dos
pelos nos membros, cílios e da cauda da sobrancelha (madarose –
Principais Síndromes de Nervo Periférico FIGURA 10).
Fig. 9A Fig. 9D*
Fig. 9B Fig. 10
Fig. 9C
O acometimento dos testículos pode levar à diminuição da produção de
testosterona, ocorrendo aumento do FSH e LH com queda da libido e
eventualmente ginecomastia. O acometimento da câmara anterior do
olho resulta em glaucoma e formação de catarata. A insensibilidade da
córnea pode levar ao trauma (triquíase) e infecção secundária. Na HV
avançada pode ocorrer perfuração do septo nasal e desabamento nasal.
Fig. 12B
De uma forma resumida, podemos dizer que a hanseníase
indeterminada é a forma inicial da doença, com o
aparecimento da típica lesão hipocrômica (única ou em
número pequeno), sem comprometimento de troncos
nervosos. Após um período variável de meses a anos, pode
evoluir para a cura ou para um dos extremos da doença.
■ HANSENÍASE REACIONAL
Reação tipo 1 (reversa): a reação do tipo 1 tende a surgir mais Reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico): observada nas formas
precocemente no tratamento, entre o 2º e o 6º mês, caracteristicamente multibacilares (virchowianas ou dimorfas), em geral, após seis meses de
na hanseníase dimorfa. É considerada reação mediada pela imunidade tratamento. O eritema nodoso hansênico é uma paniculite (inflamação
celular. Caracteriza-se pela exacer-bação das lesões preexistentes, que se da hipoderme) lobular (predomina nos lóbulos), acompanhado de
tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes, semelhante à erisipela; vasculite.
podem surgir novas lesões, embora pouco numerosas (FIGURAS 14A e
14B). Os sintomas sistêmicos variam (geralmente uma febre baixa).
É uma síndrome desencadeada por depósito de imunocomplexos nos
Surgem lesões novas à distância e as neurites mostram-se frequentes e
tecidos e vasos, mas a imunidade celular possui importância em etapas
graves, podendo ser a única manifestação clínica. Se não tratadas
iniciais do processo. Há aumento de citocinas séricas, como o fator de
precocemente, deixam sequelas... As neurites podem ser silenciosas, ou
necrose tumoral alfa e o interferon gama sem, contudo, haver mudança
seja, o dano funcional do nervo se instala sem quadro clínico de dor e
definitiva da condição imunológica do paciente. As manifestações
espessamento do nervo. Os nervos mais comprometidos são os ulnares e
clínicas incluem:
medianos nos membros superiores, fibular comum e tibial posterior nos
membros inferiores e facial e grande auricular no segmento cefálico.
● Febre e linfadenopatia;
● Uveíte;
● Orquite;
● Glomerulonefrite.
Fig. 14A
Fenômeno de Lucio: ocorre antes do tratamento em poucos pacientes
com hanseníase virchowiana, especialmente naqueles com a forma
“lepra bonita” ou lepra de Lucio. Lesões maculares equimóticas
(necróticas) que se ulceram podem ocorrer em pequeno número ou por
uma área extensa da pele (FIGURA 16), sendo observada mais
comumente em extremidades inferiores. No caso de lesões
generalizadas, o paciente pode comportar-se como um grande
queimado, e a infecção secundária das lesões por Pseudomonas
aeruginosa é uma complicação temida. A histopatologia demonstra
necrose isquêmica da epiderme e derme superficial, parasitismo intenso
de células endoteliais, proliferação de células endoteliais e formação de
trombos em grandes vasos das porções profundas da derme. O
tratamento consiste na poliquimioterapia, medidas de suporte,
antibioticoterapia e transfusões de troca. Os glicocorticoides e a
talidomida não são úteis. Ainda se discute se pode ou não ser
considerada uma reação.
Fig. 15A
Fig. 16
Fig. 15B
Fig. 17B
Fig. 18
SITUAÇÕES ESPECIAIS
■ HANSENÍASE E TUBERCULOSE
■ HANSENÍASE E GRAVIDEZ
4. Urticária - se a alergia for grave, enviar o doente ao hospital e tratar 1. Urina avermelhada (no dia da tomada supervisionada, durante
com prednisolona; algumas horas); lágrimas e outras secreções avermelhadas.
5. Erupção fixa - se a alergia for leve, tratar com anti-histamínicos; Não é efeito negativo e é devido à eliminação do medicamento
após uma semana, pode-se reiniciar a DDS com doses baixas: 1/8 de através da urina. Explicar previamente ao doente e continuar com o
comprimido (= 12,5 mg), observar o doente por um dia; tratamento.
6. Dermatite (raramente esfoliativa) - parar com a DDS por uma 2. Prurido e pele avermelhada, particularmente na face e couro
semana e reiniciar com 50 mg (= ½ comprimido), controlando o cabeludo, com lacrimejamento e eritema dos olhos. É um efeito
doente semanalmente; transitório e leve: não interromper o tratamento.
7. Metaemoglobinemia (o doente aparece com a pele ligeiramente 3. Perturbações no estômago (dor, náusea, às vezes vômito, raramente
azulada) - parar com a DDS por uma semana e reiniciar com 50 mg diarreia; anorexia).
(= ½ comprimido), controlando o doente semanalmente;
Se o incômodo for grave, referir o doente ao hospital para consulta
8. Anemia - pode ter outras causas, que devem ser procuradas médica.
(parasitoses intestinais, dieta inadequada, malária). Se for grave,
suspender a DDS, administrar sulfato ferroso e controlar a
Hemoglobina (Hb); TRATAMENTO DAS FORMAS REACIONAIS
Quando houver melhoria (Hb > 10), reiniciar DDS controlando
semanalmente a Hb. O diagnóstico correto e o tratamento adequado e precoce das reações
são de grande valor para a prevenção de incapacidades, principalmente
9. Agranulocitose (poucas células brancas). Frequentemente associada para evitar o dano neural. A busca de fatores desencadeantes deve ser
com úlceras da garganta e febre alta - suspender DDS e enviar o rotineira, especialmente para infecções intercorrentes. Deve-se manter a
doente ao hospital. A DDS não pode ser utilizada mais (o supervisor poliquimioterapia, se o doente ainda estiver em tratamento específico;
provavelmente pode avaliar a possibilidade de utilizar clofazimina); imobilizar o membro afetado com tala gessada, em caso de neurite
10. Hepatite (escleróticas e pele amarelas) - suspender a DDS (e a associada; monitorizar a função neural sensitiva e motora e programar e
rifampicina) e enviar ao hospital. realizar ações de prevenção de incapacidades. Neurites refratárias aos
corticoides poderão necessitar de tratamento cirúrgico.
■
CLOFAZIMINA (LAMPRENE®)
Para a reação do tipo 1 ou reversa, recomenda-se iniciar prednisona na
dose de 1-1,5 mg/kg/dia (excepcionalmente de 1,5-2 mg/kg/dia),
conforme avaliação clínica, reduzindo a dose, conforme resposta
terapêutica.
● Contraindicações à talidomida;
● Reações de tipo eritema polimorfo-símile e síndrome de Sweet-símile. No momento da alta, mesmo com tudo tendo sido feito
adequadamente, as lesões cutâneas nem sempre já terão desaparecido
Nos casos de reação crônica ou subintrante reação intermitente (surtos por completo. Ainda, a alteração da função neural pode persistir,
muito frequentes), que normalmente recrudescem tão logo a dose seja indefinidamente, se o dano neural ocorrer em mais de 1/3 do nervo. A
reduzida ou retirada, recomenda-se avaliar a coexistência de fatores baciloscopia pode necessitar de um tempo maior para negativar, uma
desencadeantes (parasitose intestinal, infecções concomitantes, cárie vez que o índice baciloscópico diminui em média 0,6 a 1,0 log/ano. E as
dentária, estresse emocional). Além disso, após excluir atividade de reações hansênicas podem ocorrer em até 30% dos casos! Ou seja, ao
doença (recidiva), utilizar a clofazimina, associada ao corticosteroide ou final do tratamento o paciente deve continuar sendo avaliado e é muito
talidomida (clofazimina em dose inicial de 300 mg/dia por 30 dias, 200 importante diferenciar um deficit residual ou estado reacional de um
mg/dia por mais 30 dias e 100 mg/dia por mais 30 dias). caso de recidiva (ver Tabela 5). No caso de estados reacionais, por
exemplo, a pessoa deverá receber tratamento específico, sem reiniciar,
Outra opção na reação tipo 2 é a pentoxifilina, após alimentação, na porém, o tratamento PQT/OMS. No caso de suspeita de recidiva, o
dose de 1.200 mg/dia, dividida em doses de 400 mg de 8 em 8 horas, paciente deverá ser encaminhado para um centro de referência para
associada ou não ao corticoide. Ela pode ser uma opção para os casos confirmação e reinício do tratamento.
em que a talidomida for contraindicada, como mulheres grávidas e sob
risco de engravidar; pode beneficiar os quadros com predomínio de
vasculites. Deve-se reduzir a dose conforme resposta terapêutica, após
pelo menos 30 dias, observando a regressão dos sinais e sintomas gerais
e dermatoneurológicos.
convivido em relações sociais (familiares ou não), de forma próxima efeito protetor da rifampicina em dose única ocorreu somente nos
e prolongada com o caso notificado. Os contatos sociais que incluem dois primeiros anos, sem efeitos adicionais após quatro e seis
Avaliação da Cicatriz
Conduta
Vacinal
1. Micoses superficiais;
2. Micoses cutâneas;
3. Micoses subcutâneas;
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O termo micoses superficiais inclui as doenças que não provocam uma
Fig. 2: Malassezia furfur.
resposta inflamatória histopatológica significativa no hospedeiro e está
representado pelas Ceratofitoses. Nelas, os fungos se proliferam na
camada córnea da pele ou sobre a haste livre dos pelos. As micoses
cutâneas, por sua vez, podem provocar mudanças patológicas no A doença é de ocorrência universal, predominando em locais de clima
hospedeiro, sendo representadas principalmente pelas dermatofitoses quente e úmido. Acomete adultos de ambos os sexos, após a puberdade,
(ou tíneas), quando os fungos (referidos como dermatófitos) são quando as glândulas sebáceas estão mais desenvolvidas. Acredita-se
tipicamente queratinofílicos, ou seja, adaptados a consumir queratina numa predisposição constitucional do indivíduo à infecção. Quase
para sua nutrição. Eles invadem a camada córnea, os pelos e as unhas, sempre as lesões são assintomáticas, caracterizadas por manchas ou
degradando-os e liberando antígenos que desencadeiam uma resposta máculas, múltiplas, confluentes (FIGURA 3), de cor variável conforme o
imunoinflamatória superficial. As ceratofitoses e as dermatofitoses são paciente (daí o nome “versicolor”). Podem ser hipocrômicas (em
exclusivas da pele queratinizada, poupando sempre as mucosas. A pacientes de pele pigmentada), eritematosas ou hipercrômicas
candidíase superficial é causada por leveduras do gênero Candida e pode acastanhadas (pacientes brancos), apresentando uma descamação fina
afetar tanto a pele quanto as mucosas. (furfurácea) ao se raspar a pele com a unha (sinal da unha ou de
Besnier) ou ao se esticar a pele (sinal de Zileri). Acomete
CERATOFITOSES caracteristicamente a face, o pescoço, o tronco superior e a porção
proximal dos membros superiores. O couro cabeludo costuma ser
afetado, embora a lesão seja geralmente imperceptível... A região pal-
PITIRÍASE VERSICOLOR moplantar e mucosa nunca são atingidas. A hipocromia da pitiríase
versicolor é explicada não só pela barreira física aos raios ultravioleta
Afecção cutânea causada pela Malassezia furfur, uma levedura do Sol, mas principalmente pela produção de ácidos dicarboxílicos
lipofílica, do filo dos basidiomicetos (embora sua taxonomia seja (ácido azelaico) pelo metabolismo do fungo, que inibe a tirosinase, que é
duvidosa...), encontrada como saprobiota da pele humana em mais de uma das enzimas responsáveis pela formação da melanina.
90% da população hígida, a qual antes recebia o nome de Pityrosporum
ovale ou orbiculare.
PIEDRA NEGRA
TÍNEA NEGRA
Fig. 5: Piedra negra (Piedraia hortae).
PIEDRA BRANCA
O agente etiológico é Trichosporum beigelii. A infecção do pelo é Pitiríase rubra pilar = de etiologia desconhecida, trata-se de uma
caracterizada por nódulos que variam do branco ao castanho claro, de doença crônica rara com hiperceratose palmoplantar e pápulas
consistência cremosa que podem ser removidas facilmente foliculares avermelhadas que se juntam para formar placas
mecanicamente. Acomete os pelos genitais, axilares, da barba e vermelho-alaranjadas e descamativas..
eventualmente do couro cabeludo. O diagnóstico diferencial é:
pediculose e tricomicose axilar. Tratamento: corte do cabelo associado a
imidazólico tópico ou sistêmico devido à alta taxa de recidiva. DERMATOFITOSES
Trichosporum beigelii também causa onicomicose (ver adiante).
b. Alfa-2-macroglobulina
no soro.
4. Fator genético.
5. Hábitos (higiene,
calçado, populações
fechadas).
TINEA CAPITIS
A palavra tinea (verme) foi utilizada pela primeira vez no século V por
Felix Caesius. Foi empregada no passado para designar as lesões
fúngicas do couro cabeludo, unhas e pele provocados por dermatófitos.
Os dermatologistas do passado, ao verificarem lesões cutâneas na pele,
com contorno geográfico, irregular e circinado, pensaram ser as micoses
de origem helmíntica, como se fossem vermes adultos sobre uma
superfície lisa. Até hoje é adotado este termo “ tinea”, como exemplos:
Tinea pedis (acomete pé), Tinea capitis (acomete couro cabeludo), Tinea
cruris (região inguinal), etc.
Trichophyton tonsurans.
Outros:
Trichophyton rubrum;
Microsporum audouinii.
TINEA CORPORIS
Fig. 8: Tinea capitis favosa.
Trichophyton rubrum;
No exame da luz de Wood, observa-se fluorescência verde-palha. O Microsporum canis.
exame micológico confirma o diagnóstico. O tratamento é idêntico ao
da tínea tonsurante.
Outros:
Trichophyton mentagrophytes;
TINEA BARBAE
Trichophyton verrucosum;
Trichophyton rubrum;
É a tínea da pele glabra (pele sem cabelo), conhecida como “impingem”.
Trichophyton mentagrophytes; Os três gêneros de dermatófitos podem causar a Tinea corporis! A
Microsporum gypseum. transmissão é inter-humana (contato direto, fômites, banhos públicos)
ou pelo contato com cães e gatos. Podem acometer qualquer tronco,
membros e face (tínea da face). Temos três formas clínicas: vesiculosa,
Existem três tipos clínicos:
anular e em placas. Tem caráter pruriginoso. Em sua forma mais
comum (FIGURA 10) trata-se de lesão eritematosa ou
1. Tipo inflamatório: idêntico ao quérion do couro cabeludo;
eritematopapular, de formato anular, descamativa, com bordos elevados
2. Tipo herpes circinado (FIGURA 9): lesões anulares circinadas eritematodescamativos ou vesiculosos, únicas ou múltiplas, e de
eritematopapuloescamosas, com vesículas nas bordas; tamanhos variáveis. As lesões podem coalescer dando o aspecto
circinado. O diagnóstico é confirmado pelo exame micológico direto.
3. Tipo sicose da barba: idêntico à foliculite bacteriana estafilocócica.
TINEA CRURIS (COCEIRA DE DHOBI)
Trichophyton rubrum;
Epidermophyton floccosum.
Outros:
Trichophyton mentagrophytes.
Trichophyton rubrum;
Causada pelo T. rubrum. Bem mais rara que a Tinea pedis. Acomete
sempre uma das mãos e geralmente vem associada ao
comprometimento ungueal (tínea ungueal). Há escamação dos sulcos da
palma das mãos (FIGURA 13). O tratamento deve ser feito com
antifúngicos sistêmicos (cetoconazol, terbinafina, itraconazol,
fluconazol) por seis semanas (semelhante à tínea ungueal)...
Trichophyton rubrum;
Epidermophyton floccosum.
TÍNEA INCÓGNITA
TÍNEA GRANULOMATOSA
Tratamento: tem de ser demorado e sempre utilizando antifúngicos
sistêmicos via oral associados à terapia tópica. Os cremes a 1% usados
Caracteriza-se por lesões eritematoescamosas, nódulos eritematosos
para tratar as demais tíneas são totalmente ineficazes, por não
com tendência à fistulização, tubérculos e até acometimento sistêmico
permitirem a penetração da lâmina ungueal... Um dos tópicos mais
com lesões ósseas, lesões tumorais e adenopatias.
efetivos tem sido a amorolfina 5% esmalte para unhas (Loceryl),
aplicado nas unhas afetadas 1x/semana até a melhora da lesão (alguns
meses). Pode ser usado sem terapia sistêmica para curar onicomicose DERMATOFÍTIDE (“IDE” DERMATOFÍTICA)
incipiente... Outros tópicos são: tioconazol 28% solução para unhas
(Tralen 28%), ciclopirox olamina 8% em esmalte (Loprox, Micolamina).
As “ides” são reações de hipersensibilidade que se manifestam em um
A terapia sistêmica é indicada quase sempre (excetuando-se os casos
local à distância da lesão original onde é demonstrado o agente
incipientes). Sua duração deve ser de seis semanas (tínea ungueal da
patogênico. Elas se devem à disseminação hematogênica de produtos
mão) e 3-4 meses (tínea ungueal do pé). Principais opções: terbinafina
antigênicos. Nas tubercúlides, por exemplo, o agente é o Mycobacterium
250 mg/dia, itraconazol 200 mg/dia. Essas drogas podem ser feitas sob a
tuberculosis... Nas dermatofítides, o agente é um dermatófito. A lesão
forma de “pulsoterapia”: terbinafina 250 mg 2x/dia durante uma
fúngica geralmente se localiza nos pés (Tinea pedis) ou no corpo (Tinea
semana e suspender três semanas, repetir este esquema por 3-4 vezes;
corporis), e as lesões da dermatofítide apresentam-se nas mãos, como
itraconazol 200 mg 2x/dia durante uma semana e suspender três
grupo de vesículas com base eritematosa, pruriginosas, na palma ou
semanas, repetir o esquema 3-4 vezes. A chance de cura da onicomicose
dorso das mãos (semelhante à desidrose), geralmente com
avançada com os antifúngicos citados é de 70-80%.
acometimento bilateral (FIGURA 16). Outros tipos de dermatofítide
são: máculas eritematosas esparsas no tronco (reação ao quérion) ou
TINEA IMBRICATA eritema nodoso nos membros inferiores. O teste intradérmico da
tricofitina costuma ser positivo. Por definição, o exame micológico não
demonstra o fungo na dermatofítide, mas o tratamento da lesão fúngica
Agentes etiológicos principais:
primária leva ao seu desaparecimento.
Trichophyton concentricum.
Etiopatogenia
1. Fatores intrínsecos:
● Extremos de idade;
● Endocrinopatias;
● Gravidez;
● Doenças imunológicas;
● Neutropenia.
2. Fatores extrínsecos:
● Uso de dentaduras;
2. Fatores menores:
Causada pelo fungo leveduriforme do gênero Candida, do qual existem
pelo menos 13 espécies capazes de infectar o ser humano. A espécie mais ● Umidade;
incriminada na candidíase cutâneo-mucosa é a Candida albicans (70- ● Traumatismo;
80%), mas podemos também encontrar C. tropicalis, C. parapsilosis e C.
guillermondii. As espécies de Candida pertencem ao filo dos
● Sudorese.
deuteromicetos (fungos imperfeitos) e se apresentam como leveduras,
pseudo-hifas (forma filamentosa constituída de brotamentos alongados
que não se soltam) e, dependendo da espécie, hifas verdadeiras
Formas Clínicas
(FIGURA 17).
1. Candidíase oral.
2. Queilite angular.
3. Candidíase genital.
4. Candidíase intertriginosa.
5. Candidíase folicular.
7. Candidíase ungueal.
QUEILITE ANGULAR
VULVOVAGINITE
CANDIDÍASE INTERTRIGINOSA
As lesões podem cursar com prurido e ardência. A lesão interdigital
(mão ou pé) é mais comum em indivíduos que mantêm a umidade entre
os dedos (“mão da lavadeira”).
CANDIDÍASE FOLICULAR
Pode ter início tardio sem história familiar e surgir como manifestação
secundária de neoplasias e timoma.
CANDIDÍASE UNGUEAL
Na maioria dos casos de candidíase, a terapia com antifúngicos tópicos
é suficiente. No caso da candidíase oral ou orofaríngea, utiliza-se
É uma infecção comum nos diabéticos, nos desnutridos, nas pessoas que nistatina suspensão oral 100.000 U/ml, 2x/dia, bochechar e engolir,
retiram a cutícula e nas pessoas que mantêm um contato contínuo com durante duas semanas. Na vulvovaginite e na balanopostite, utiliza-se
água. Há eritema e edema doloroso em torno da matriz ungueal como antifúngico tópico a nistatina creme vaginal. Como opção,
(paroníquia por Candida) FIGURA 23. podemos usar dose única de fluconazol 150-300 mg. Na candidíase
intertriginosa, candidíase das fraldas, na queilite angular, pode-se usar
antifúngicos imidazólicos (cetoconazol, isoconazol, tioconazol, etc.).
Nos casos extensos, recidivantes, refratários ou na candidíase ungueal
(paroníquia), dá-se preferência pela terapia sistêmica. O período de
tratamento varia conforme o local acometido (intertriginosa: 4 semanas;
ungueal da mão: 12 semanas; ungueal do pé: 24 semanas). O fluconazol
150 mg/semana é a droga de escolha, embora haja a opção do
itraconazol 100-200 mg/dia ou em “pulsoterapia”.
MICOSES SUBCUTÂNEAS
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Decorrem da inoculação de determinados fungos patogênicos que
normalmente são encontrados no solo e plantas. Estes agentes entram
pela via transepidérmica e são depositados na pele ou no tecido
subcutâneo. Com o tempo surge uma lesão papulosa/nodulosa que pode
absceder e ulcerar. A infecção pode progredir por contiguidade ou
através do sistema de drenagem linfática regional.
1. Esporotricose;
2. Cromomicose;
3. Feoifomicoses;
4. Lobomicose; Fig. 24
5. Micetoma.
ESPOROTRICOSE
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
As apresentações clínicas podem ser classificadas, segundo a forma de
penetração do fungo no organismo, em dois grandes grupos que se
Infecção causada pelo Sporothrix schenckii. É adquirida pela inoculação
subdividem (Tabela 4).
traumática desse agente que, normalmente, gera quadro localizado na
pele e tecido celular subcutâneo, mas que, ocasionalmente, pode invadir
o trato respiratório após aspiração do fungo, provocando quadro Tab. 4
sistêmico.
1. Esporotricose cutânea Cutâneo-linfática.
(ou subcutânea). Cutâneo-localizada (ou fixa).
Trata-se de um saprobo na natureza e pode ser encontrado no solo e em
diversos vegetais. Possui distribuição universal com exceção de áreas Cutâneo-disseminada.
localizadas ao norte e ao sul das latitudes 50, acima e abaixo do
equador, respectivamente. Pode afetar, além do homem, outros animais 2. Esporotricose Pulmonar.
como gatos, cachorros, ratos, cavalos e papagaios. No passado, tratava- extracutânea (ou Osteoarticular, etc.
se de uma afecção predominantemente de caráter profissional, sistêmica).
acometendo principalmente fazendeiros, jardineiros, feirantes e outros
profissionais que lidam com o solo e produtos de origem vegetal.
Atualmente, em virtude de um provável desequilíbrio ecológico ainda
não totalmente esclarecido, o número de casos de gatos com a doença
FORMA CUTÂNEO-LINFÁTICA
(FIGURA 24) vem aumentando vertiginosamente e esta epidemia se
reflete numa maior incidência de pessoas com esporotricose, adquirida É a forma mais comum de apresentação (70-80% dos casos). Ocorre um
pela mordedura ou arranhadura desses animais. Hoje já se sabe que nódulo no local de inoculação, seguido de disseminação linfática
existem genótipos di-ferentes do Sporothrix schenckii, isto é, existem deixando um “cordão” ascendente de nódulos ao longo dos vasos
cepas mais virulentas, dependendo da região onde é encontrado. Por linfáticos regionais (FIGURA 25). Pode haver ulceração nos nódulos
exemplo, as cepas do Rio de Janeiro são mais virulentas do que as cepas com eliminação de material purulento. Ocorre mais comumente nas
do mesmo fungo no Rio Grande do Sul. áreas expostas como membros superiores e inferiores (adultos) e face
(crianças).
Em pacientes imunossuprimidos, após a inoculação transcutânea,
ocorre disseminação hematogênica, levando a lesões nodulares e
gomosas disseminadas por toda a pele. É rara. Não deve ser confundida
com os casos em que ocorrem múltiplos postos de inoculação
transepidérmica, que levam à formação de diversas lesões, mas não por
disseminação hematogênica.
FORMA EXTRACUTÂNEA
Paracoccidioidomicose;
Leishmaniose;
Esporotricose;
Cromomicose;
Carcinoma espinocelular;
Tuberculose.
Fig. 26
FORMA CUTÂNEO-DISSEMINADA
Exame histopatológico: observa-se a formação de granuloma na derme.
Raramente observamos elementos fúngicos como os esporos com
formato de charuto ou arredondados. Pode ocorrer depósito de
anticorpos ao redor das estruturas fúngicas gerando o achado
histopatológico conhecido como corpúsculo asteroide. Quanto mais
antiga for a lesão, mais difícil será encontrar o fungo.
TRATAMENTO
CROMOMICOSE (CROMOBLASTOMICOSE)
Tab. 5
Intradermorreação com esporotriquina: não é utilizada com finalidades
diagnósticas. Sua negatividade apenas indica ausência de resposta
imune celular contra o fungo, não descartando a infecção.
Fonsecaea pedrosoi.
Phialophora verrucosa.
Rhinocladiella aquaspersa.
Cladosporium carrionii.
Fonsecaea compacta.
Cladophialophora ajeloi.
Fig. 29B
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA
Fig. 29A
Fig. 30
MICETOMA
1. Aumento de volume;
2. Presença de fístulas;
3. Eliminação de grãos.
Há diversos agentes etiológicos, podendo ser causado por fungos e Normalmente não é possível diagnosticar com certeza a natureza
actinomicetos, dando origem aos micetomas eumicóticos e fúngica ou bacteriana de um micetoma baseando-nos apenas pelos
actinomicóticos, respectivamente. O chamado grão nada mais é que achados do exame físico. Ambos cursam com infecção crônica,
uma concreção granular formada por colônias do agente etiológico. fibrosante e de longa duração. Inicialmente ocorrem edema e eritema
que evoluem com a formação de fístulas. A evolução é indolente,
geralmente com inflamação e dor desproporcionalmente menores que os
EPIDEMIOLOGIA
esperados pelo aspecto da lesão.
Tab. 6
Acremonium recifei.
Acremonium falciforme.
Madurella mycetomatis.
Madurella grisea.
Scedosporium apiospermum (Pseudallescheria boydii).
Aspergillus fumigatus.
Exophiala jeanselmei.
Fig. 32
Tab. 7
(eumicetomas)
TRATAMENTO
TRATAMENTO
ZIGOMICOSES
Fig. 34
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DIAGNÓSTICO
Mucormicose ou zigomicose sistêmica (gêneros Rhizopus, Absidia,
Mucor e Rhizomucor). Esses fungos são resistentes em níveis de pH Exame direto: do escarro, lavado broncoalveolar, raspados cutâneos,
baixos (acidez), níveis em que outros micro-organismos morrem. Assim aspirados dos seios, evidenciando hifas curtas, largas e com septação
eles proliferam causando doença em situações de acidose como na irregular.
cetoacidose diabética. É o caso da mucormicose rinocerebral, na qual
há invasão do nariz e seios paranasais, com lesões necróticas, Cultura: fungo de crescimento rápido, sendo evidenciado após 48-72h.
gangrenosas, liberando secreção enegrecida de odor fétido, podendo se
estender ao sistema nervoso central (FIGURA 34). Como fungo Exame histopatológico: podem ser vistos os elementos fúngicos e a
oportunista, ele causa doença em situações de disfunção do sistema invasão de grandes e pequenos vasos, levando à trombose e necrose.
imune como diabetes mellitus, aids, leucemia, linfoma, transplantados Pode ser observada uma bainha eosinofílica circundando os granulomas
renais, etc. É característica sua capacidade de invadir os vasos (fenômeno de Splendore-Hoeppli).
sanguíneos provocando trombose vascular e necrose tecidual.
TRATAMENTO
MICOSES PROFUNDAS
VIDEO_06_DER
PARACOCCIDIOIDOMICOSE (BLASTOMICOSE
SUL-AMERICANA, MICOSE DE LUTZ-
SPLENDORE-ALMEIDA)
Tab. 10
➤ Moderada;
Fig. 35
➤ Grave.
● Forma crônica (tipo adulto):
Fig. 36
Lesões cutâneo-mucosas: ocorrem mais tipicamente na
paracoccidioidomicose crônica (doença de adultos > 40 anos),
predominando as lesões gengivais e de toda a orofaringe. É
característico o aspecto de erosão com pontilhado hemorrágico
denominada estomatite moriforme de Aguiar Pupo (FIGURA 35). Com
o tempo, estas lesões tornam-se vegetantes levando a deformações nos DIAGNÓSTICO
lábios, laringe (com disfonia) e raramente traqueal (podendo indicar
traqueostomia). Há acometimento de linfonodos regionais. As lesões da É feito com o isolamento do fungo dos tecidos.
pele ocorrem por disseminação hematogênica do fungo, e a face é o
local mais acometido. O espectro de lesões cutâneas varia desde lesões Exame direto: obtido de pus e secreções; são vistas células de formas
papulosas, papuloeritematosas, papulopustulosas, vegetantes e arredondadas com membrana de duplo contorno, gemulação única ou
ulceradas, com ponteado hemorrágico moriforme característico múltipla.
(FIGURA 36). Como há disseminação hematogênica, é de se esperar
que as lesões de pele sejam acompanhadas de lesões pulmonares, Cultura: revela-se o dimorfismo – cultivo a 25ºC demonstra crescimento
linfonodomegalia e lesões de outros órgãos, mesmo que na forma filamentosa (micélios) e a colocação da mesma cultura a 37ºC
subclinicamente. Na orofaringe, as lesões fazem diagnóstico diferencial faz com que a colônia assuma aspecto leveduriforme.
com CEC, leishmaniose tegumentar, histoplasmose, sífilis e tuberculose.
Na pele, o diagnóstico diferencial se faz com esporotricose, leishmaniose
Exame histopatológico: nos tecidos ocorrem microabscessos de
cutânea ou tegumentar, hanseníase, tuberculose, sarcoidose,
neutrófilos e reação granulomatosa com parasitos no interior dos
histoplasmose, CEC, cromomicose, criptococose.
microabscessos e de células gigantes. O parasita apresenta
caracteristicamente o aspecto de criptoesporulação em roda de leme.
Testes imunológicos: IgG e IgM anti- P. brasiliensis detectados pelo teste Existem basicamente duas formas de histoplasmose: a pulmonar e a
de imunodifusão são úteis para o diagnóstico e medição da atividade da generalizada. Esta última se divide em aguda, subaguda e crônica. As
doença. O teste de fixação de complemento detecta esses anticorpos de manifestações cutâneas são a grande marca da histoplasmose
maneira mais quantitativa, logo serve para avaliar a resposta ao disseminada crônica, a única forma de histoplasmose disseminada que
tratamento, infelizmente faz reação cruzada com anticorpos anti- não tem relação com o HIV. As lesões específicas (de onde se pode
Histoplasma capsulatum. Também são usados imunofluorescência, isolar o agente) são variadas (polimórficas) como pápulas
contraimunoeletroforese e ELISA. (FIGURA 38), nódulos, úlceras (FIGURA 39), fístulas e vegetações. São
bem descritas as lesões molusco-infeccioso-símile (FIGURA 40) e
acneiforme.
CONTROLE DE CURA
● Cura radiológica.
● Estabilização do padrão das imagens cicatriciais radiológicas
pulmonares em duas telerradiografias registradas com intervalo de
três meses.
● Cura imunológica.
● Negativação ou estabilização dos títulos de imunodifusão dupla em
níveis sorológicos bai xos (<1:2) observadas em duas amostras de so
- ro coletadas com intervalo de seis meses, após o período de
tratamento recomendado para itraconazol ou sulfametoxazol +
trimetoprima.
TRATAMENTO
DIAGNÓSTICO
Fig. 40
Histopatologia: granuloma contendo leveduras no interior de células
mononucleares. Pode ajudar no diagnóstico da histoplasmose cutânea e
sistêmica.
Podem ser observados eritema nodoso (FIGURA 37) e eritema
polimorfo como reações de hipersensibilidade ao parasita, mesmo na
histoplasmose pulmonar.
TRATAMENTO
CRIPTOCOCOSE
TRATAMENTO
Por se tratarem de importantes diagnósticos diferenciais das infecções A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), conhecida
fúngicas subcutâneas e sistêmicas, que acabamos de ver, vamos abordar popularmente como “úlcera de Bauru” ou “ferida brava”, é uma doença
aqui duas condições muito importantes no nosso país: leishmaniose endêmica em diversos países latino-americanos. Cerca de 90% dos casos
tegumentar e a tuberculose cutânea. das Américas estão no Brasil, Peru e Bolívia. No período de 1993 a
2012, a LTA apresentou média anual de 26.965 casos autóctones
registrados e coeficiente de detecção médio de 15,7 casos/100.000
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR habitantes. Ao longo desse período, observou-se uma tendência no
crescimento da endemia, registrando-se os coeficientes mais elevados
VIDEO_07_DER nos anos de 1994 e 1995, quando atingiram níveis de 22,83 e 22,94
casos/100.000 habitantes, respectivamente. Ao se analisar a evolução da
LTA no Brasil, observa-se uma expansão geográfica, sendo que, no
AGENTE ETIOLÓGICO
início da década de 1980, foram registrados casos autóctones em 19
unidades federadas e, no ano de 2003, foi confirmada autoctonia em
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença causada
todas as unidades da federação. A região Norte vem contribuindo com
por protozoários do gênero Leishmania, transmitida ao homem pela
o maior número de casos, seguida das regiões Centro-Oeste e Nordeste
picada de mosquitos flebotomíneos (Ordem Diptera; Família
(18,8 casos/100.000 hab.).
Psychodidae; Subfamília Phlebotominae), conhecidos popularmente
como mosquito palha, tatuquira ou birigui. No Brasil, existem mais de
A Leishmania braziliensis predomina em todo o território nacional e a
duzentas 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão
L. guyanensis na região Norte. Outros agentes podem causar LTA, mas
e sete espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, sendo
respondem por um menor número de casos.
seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As três
principais espécies são:
O parasita é transmitido por um vetor: um inseto flebotomíneo,
conhecido como mosquito-palha, birigui ou tatuquira (FIGURA 2). No
● Leishmania (Leishmania) amazonensis;
Brasil, as principais espécies envolvidas com a transmissão da LTA
● Leishmania (Viannia) guyanensi; pertencem ao gênero Lutzomyia. Na Amazônia (floresta), a principal
● Leishmania (Viannia) braziliensis. espécie transmissora é Lutzomyia umbratilis. O flebotomíneo silvestre
faz seus ninhos em folhas mortas e úmidas, raízes do solo, tocas de
animais, fendas de rocha e cavernas. Em outras regiões, o vetor
O agente Leishmania é um protozoário que possui duas formas
geralmente pertence às espécies Lutzomyia whitmani (que habita matas e
evolutivas: (1) forma promastigota, com flagelo, núcleo, cinetoplasto e
proximidades das habitações) e Lutzomyia intermedia (encontrado em
blefaroplasto, que se desenvolve no tubo digestivo do mosquito vetor;
torno das habitações).
(2) forma amastigota, sem flagelo, com núcleo e cinetoplasto, que se
desenvolve no interior dos leucócitos mononucleares (monócitos e
macrófagos).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Lesão inicial: forma-se uma pápula eritematosa que logo vira uma lesão
Fig. 2 papulocrostosa, papulovesiculosa ou papulopustulosa (FIGURA 3).
Fig. 5
Fig. 7
DIAGNÓSTICO
LÚPUS VULGAR
É a forma crônica da TB cutânea, ocorrendo mais em adultos PPD Lesões papulares iniciais evoluem lentamente para placas verrucosas
reatores, como um tipo de TB pós-primária por disseminação de um excêntricas (FIGURA 10), podendo ocorrer atrofia central. Predominam
foco tuberculoso interno, por via linfática, hematogênica ou no dorso das mãos, dedos ou pés. Faz diagnóstico diferencial com o
contiguidade. As lesões se localizam preferencialmente na face, grupo PLECCT. O diagnóstico é confirmado pela histopatologia
acometendo a região malar (daí o nome “lúpus vulgar”), dorso do (hiperqueratose e hiperplasia epidérmica, com granulomas na derme) e
nariz, mento e pavilhão auricular, embora possa surgir nos membros e cultura. A baciloscopia da lesão geralmente é negativa.
no tronco (FIGURA 9). A lesão inicial é uma mácula, pápula ou nódulo
de cor vermelho acastanhada e consistência mole. Da coalescência de
lesões, surgem placas infiltradas, circulares, anulares, com atrofia central
e eventual ulceração, semelhantes ao lúpus discoide e à lesão sarcoídica.
Aí está a principal característica do lúpus vulgar: pela vitropressão,
obtém-se à inspeção uma cor amarelada tipo “geleia de maçã”.
Fig. 10
ESCROFULODERMA
Fig. 9
Fig. 11
TUBERCULOSE VERRUCOSA
3. A fitiríase;
O esquema terapêutico é baseado no esquema RIPE da mesma forma
que vimos para os pacientes com a forma pulmonar da doença. 4. A pulíase;
5. A tungíase; e
SAIBA MAIS Eritema nodoso. 6. A miíase.
É uma reação de hipersensibilidade do tipo vasculite da gordura
subcutânea (paniculite), formando-se nódulos dolorosos, com
ESCABIOSE
superfície eritematosa, com evolução autolimitada. Ocorre em 10%
dos casos de TB primária de qualquer órgão.
EPIDEMIOLOGIA E ETIOPATOGENIA
É causada pela fêmea fecundada do Sarcoptes scabiei, um pequeno Trata-se de uma afecção universalmente distribuída sendo observada em
ácaro que mede cerca de 0,3 mm (figura 1). São ectoparasitos que diversas partes do mundo. Acomete todas as raças, idades e classes
preci-sam do hospedeiro para a sua sobrevivência e reprodução. Ela sociais, embora predomine nos indivíduos adultos de baixa renda, que
penetra através da camada córnea (FIGURA 2), geralmente à noite e é moram em ambientes aglomerados e com pouca higiene. Já foram
capaz de depositar cerca de dois a três ovos por dia, durante o período relatados diversos surtos em hospitais, quartéis, creches e escolas.
de um a dois meses. O macho não invade o organismo, fecundando a Acredita-se que tanto a migração no interior da pele quanto a
fêmea ainda na superfície da pele. Sua transmissão normalmente ocorre hipersensibilidade do organismo ao ácaro e seus produtos metabólicos
pelo contato direto, inclusive o sexual, podendo também se dar, são determinantes na gênese da pruridermia, tão característica na
raramente, através de fômites (lençóis, toalhas, roupas, etc.) uma vez que escabiose.
o parasita morre após algumas horas fora da pele.
CICLO EVOLUTIVO
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Após um período de incubação que varia de 2 a 28 dias, na dependência
de se tratar ou não do primeiro contato com o ácaro, ou seja, de já haver
ou não o desenvolvimento de hipersensibilidade a esse agente, surge um
quadro de pruridermia intensa, notavelmente mais intensa à noite e ao
amanhecer. A lesão mais característica é o túnel (FIGURAS 4A e 4B),
de formato linear, sinuoso e coloração variável, medindo cerca de 5-15
mm e que possui, em uma das suas extremidades, uma pápula ou
vesícula chamada eminência acarina, local em que pode ser encontrado
o S. scabiei.
SARNA INCÓGNITA
ESCABIOSE NODULAR
DIAGNÓSTICO
CICLO EVOLUTIVO
O piolho
1. Permetrina
causa prurido
5%: deve
e dermatose
ser colocada
pelo do
efeito
pescoço
da hipersensibilidade
para baixo, É fundamental tratar todos os indivíduos que moram com o
cutânea às
exceto
substâncias
em crianças
liberadas
até dez
pelaanos
sua esaliva
imunodeficientes,
e fezes. Alémnas
disso, o paciente, bem como seu parceiro ou parceira (namorados,
parasita quais
é um espoliador
a aplicaçãosanguíneo,
deve incluir
podendo
o couro
contribuir
cabeludo.
para
Essa
anemia por exemplo). No dia seguinte ao primeiro tratamento, o
ferropriva,
deve
especialmente
ser feita à noite,
em crianças
após o pequenas
banho, permanecendo
que se alimentam
até amal. indivíduo já poderia voltar às atividades habituais. Não há
retirada pela manhã. É recomendada a aplicação por necessidade de fazer a imersão em água fervente das roupas e
duas a três noites seguidas e uma segunda após 5-7 dias. dos lençóis, bastando apenas lavá-los normalmente até
Não
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
deve ser aplicado em crianças menores de dois depois de dois dias de conclusão do tratamento. É
meses, em gestantes e durante o aleitamento. importante ressaltar que além de ineficaz, o uso de
O período de incubação vai de sete dias a três semanas. A pediculose do “sabonetes escabicidas” pode agravar o prurido. Após uma
2. Monossulfiram 25% em solução alcoólica (monossulfeto
couro cabeludo manifesta-se especialmente com prurido, o principal semana de tratamento, caso as lesões persistam, fica indicada
de tetraetiltiuram): diluir na proporção de uma parte do
incômodo desta ectoparasitose. Pode atrapalhar o sono e até mesmo o a sua repetição, de preferência com outro escabicida.
medicamento em duas a três de água para adultos e em
rendimento escolar de crianças. Podem ocorrer lesões eritematosas no
três a quatro partes de água para crianças. A aplicação
couro cabeludo e o paciente pode notar a presença das lêndeas
pode ser feita da mesma forma que a permetrina 5% com
(grânulos amarelo-esbranquiçados), distribuídas na base de seus PEDICULOSE
o cuidado adicional de alertar o paciente para não ingerir Fig. 11
cabelos. A coçadura pode causar escoriações, que podem culminar em
compostos alcoólicos pelo potencial de desenvolver o
piodermites secundárias.
efeito antabuse (efeito dissulfiram); AGENTE ETIOLÓGICO
3. Benzoato
A pediculose do de benzila
corpo 10-25%:
provoca lesõesapesar de bastante
papulour-ticariformes e
tradicional no tratamento da escabiose Dermatose causada pelo inseto do gênero Pediculus
purpúricas, com preferência pelo tronco, abdome(desde 1937) associadas
e nádegas, e do
baixo(dermatite
custo, vempruriginosa).
atualmente em desuso pelo potencial de (“piolho”) APRESENTAÇÃO
da ordem dos anopluro. CLÍNICA
Existem dois tipos de
a escoriações
eczematizar e agravar o prurido. É a substância ativa do pediculose: (1) do couro cabeludo, causada pelo Pediculus
bálsamo-do-peru. É utilizado de forma semelhante à (humanus) capitis (FIGURA 8); e (2) do corpo, causada pelo
O paciente apresenta intenso prurido nas áreas afetadas (virilha,
permetrina 5%; DIAGNÓSTICO Pediculus (humanus) corporis (FIGURA 9). São pequenos
genitália, etc.), com lesões papuloeritematosas. Lesões do tipo manchas
insetos hematófagos, medindo 3,0 mm (P. capitis) e 3,5 mm
4. Enxofre precipitado 5-10% em vaselina ou pasta d'água: azuladas podem aparecer pelo corpo (macula cerulea), por efeito
A maneira mais fácil (P. corporis), sem asas, com aparelho bucal picador-sugador
aplicado da émesma
o encontro
formadasque
lêndeas após o uso é,de para
os anteriores, um pente sistêmico de substâncias liberadas pelo parasita.
fino, embora a sua presença de
nãoescolha
necessariamente indique infestação e que apresentam na extremidade de suas patas uma forte
muitos, o tratamento para gestantes, lactantes
ativa (diagnóstico garra, como se fosse uma pinça que os mantêm fixos aos
e menores presuntivo).
de dois anos;O encontro dos adultos é mais difícil,
embora este seja o padrão-ouro para o diagnóstico. cabelos. DIAGNÓSTICO
5. Lindano (gama-hexa-cloro-benzeno ou gama-hexa-cloro-
ciclo-hexano) 1%: Já fora do mercado e utilizado de Achado do parasita na pele (geralmente com a cabeça parcialmente
TRATAMENTO
forma semelhante aos anteriores, constituía excelente introduzida no folículo piloso) e das lêndeas nos pelos.
opção terapêutica pela sua grande eficácia. Caiu em
Pode serdesuso pelosxampus
feito com relatosdedepermetrina
neurotoxicidade, sobretudo em
1% e deltametrina 0,02%.
crianças,
Ivermectina e pela
via oral doseassociação com
única (200 neoplasias
mcg/kg) do sistema
também é eficaz. As TRATAMENTO
nervoso
lêndeas devem sercentral nestacom
removidas faixapente
etária;fino, após passá-lo em vinagre
diluído
6. 1:1 em água morna.
Ivermectina: constitui a forma de tratamento sistêmico, Semelhante ao da pediculose (aplicar o xampu nas áreas
mg e respeitando oFITIRÍASE
peso do paciente na dose aproximada
de um comprimido pra cada 30 kg de peso (15-24 kg: 1/2 PULÍASE
comp., 25-35 kg: 1 comp., 36-50 kg: 1 ½ comp., 51-64 kg:
AGENTE
2 comp.,ETIOLÓGICO E CICLO
65-79 kg: 2 ½ comp., > 80 kg: EVOLUTIVO
3 comp.). Está
recomendada nas formas especiais da doença (crostosa, AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO EVOLUTIVO
HIV) dos
É o “piolho e para pacientes
pelos com dermatite
pubianos”, tópicaconhecido
popularmente (todas ascomo
“chato”, demais podem
devido ao causar
formato dermatite
achatado por irritante
do parasita. primário),
Denomina-se Phtirus Diversas doenças podem ser causadas direta ou indiretamente pelas
mas não11).
pubis (FIGURA como rotina
A sua para as formas
morfologia é um clássicas, a fim deda do
pouco diferente “pulgas”, insetos da ordem dos sifonápteros. Estes ectoparasitos podem
Pediculus,evitar resistência.
medindo Por nãoO atuar
1,5 mm (fêmea). sobre osé semelhante
ciclo evolutivo ovos, o ao causar lesões cutâneas alérgicas (pulíase), decorrentes de sua picada e
tratamento
da pediculose é repetido
capitis, após umaquesemana
com a diferença paraacometidos
os pelos que também podem servir de vetores para doenças infecciosas humanas,
possamos
geralmente eliminar os
são os pubianos ácaros após
e perianais a sua eclosão. os
e eventualmente Deve ser do
axilares, como a peste bubônica, causada pelo bastonete Gram-negativo Yersinia
evitada
tronco, coxas em crianças A
e sobrancelhas. com menos deé 15
transmissão kg, em
através pacientes
da relação sexual. pestis, tularemia e tifo murino.
com alteração da barreira hematoencefálica e no período
de amamentação.
Ainda existem pequenos focos de peste bubônica no Brasil, mais
comumente em localidades dos estados do Nordeste. A doença é
transmitida pela “pulga dos roedores” (Xenopsylla cheopis) e o
reservatório é representado pelos ratos e ratazanas.
Aqui nos interessa a espécie Pulex irritans (FIGURA 12), a “pulga do O estrófulo, ou prurigo infantil (prurigo = síndrome caracterizada por
homem”, agente da pulíase humana (picada de pulga), um tipo de pápulas bastante pruriginosas), é uma afecção de crianças pequenas,
estrófulo, dermatose causada por picadas de inseto (pulgas, mosquitos, especialmente entre 1-2 anos de vida, causada por picada de insetos
formigas). A pulga do cão (Ctenocephalides canis) e a do gato ( (principalmente pulgas e mosquitos). Uma forma semelhante pode
Ctenocephalides felis), embora participem de nosso ambiente com ocorrer nos adultos. São lesões urticariformes, papuloerite-matosas,
animais domésticos, são agentes menos comuns da pulíase humana. As encimadas por vesículas (seropápula de Tomasoli) ou pequenas crostas,
pulgas são insetos hematófagos pequenos, sem asas, medindo 1-3 mm, mais comuns em áreas expostas e em crianças atópicas. Escoriações e
com corpo achatado lateralmente, possuindo aparelho bucal picador- liquenificação podem ocorrer (líquen urticado). A evolução é por surtos
sugador e o último par de patas adaptado à execução de grandes saltos, autolimitados. O prurigo de Hebra é uma reação de hipersensibilidade
facilitando a passagem entre dois hospedeiros. que pode ser deflagrada por pulgas e mosquitos, ocorrendo em crianças
principalmente da raça negra. São pequenas pápulas mais palpáveis que
visíveis, acometendo a face extensora dos membros e o tronco. Outras
condições similares seriam o prurigo simples do adulto (também
desencadeado por hipersensibilidade a insetos, além de causas variadas
como exposição solar e gravidez) e o prurigo nodular, de etiologia
desconhecida.
TRATAMENTO
TUNGÍASE (BICHO-DE-PÉ)
Fig. 12
AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO EVOLUTIVO
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
MIÍASE (BERNE OU BICHEIRA)
Surge uma pápula amarelada (batata) pruriginosa e dolorosa com um
ponto escuro central, representando a porção posterior do parasito AGENTE ETIOLÓGICOE CICLO EVOLUTIVO
(FIGURA 14). Pode ser uma ou múltiplas lesões, cada uma com uma
fêmea grávida, acometendo a planta do pé ou as pregas interdigitais ou
A miíase (myie = mosca, ase = doença) é a infestação tecidual por larvas
bordas periungueais.
de mosca. As moscas são insetos dípteros (duas asas) que podem
veicular parasitos ou causar a miíase, a infestação por suas larvas, que
se especializaram em alimentar-se do tecido animal. Existem dois tipos
de miíase: (1) miíase primária (berne): as larvas são capazes de penetrar
a pele sã; (2) miíase secundária (bicheira): as larvas são depositadas em
feridas abertas ou em cavidades corporais (olhos, nariz, ouvido, ânus,
vulva) – FIGURA 15. A miíase secundária pode ser causada por larvas
que se alimentam apenas de tecido necrótico e são parasitas facultativos
dos animais (miíase facultativa) ou por larvas que se alimentam de
tecido viável, sendo parasitas obrigatórios dos animais (miíase
obrigatória).
Fig. 18
Fig. 15
Fig. 17
Fig. 19
No caso de C. hominivorax, C. macellaria e Lucilia sp., o ciclo é Consiste na enucleação da larva delicadamente com uma pinça, após
semelhante, porém não tem participação de insetos veiculadores: as atraí-la para o orifício de penetração por asfixia provocada. Pode-se
moscas adultas depositam seus ovos em grande quantidade nas feridas usar um esparadrapo ou um pedaço de toucinho, deixado por algumas
ou cavidades corporais, eclodindo den-tro de 24h, com as larvas horas (a larva gruda no esparadrapo ou penetra no toucinho). Uma
crescendo em 4-8 dias. As larvas podem alcançar 1,5 cm de tamanho e pequena incisão no local pode facilitar a saída da larva. Se o
são numerosas. Como vimos, larvas de C. hominivorax são parasitas procedimento não funcionar, ou ocasionar a morte do berne, mas sem a
obrigatórios e larvas de C. macellaria e Lucilia sp. são facultativos. sua retirada, a excisão cirúrgica está indicada.
TRATAMENTO DO BERNE
A transmissão do HSV-1 é por contato pessoal, próximo ou íntimo. Por
não resistir à secagem e à temperatura ambiente, a transmissão por
fômites ou aerossol é difícil. Os indivíduos portadores do HSV-1
transmitem o vírus pela saliva ou qualquer outra secreção infectada, ou
ainda pelo contato direto com as lesões. Cerca de 70% dos adultos com
mais de 40 anos são soropositivos para o HSV-1 e muitos o excretam de
forma intermitente na saliva ou secreções, mesmo quando
assintomáticos. As partículas virais (vírions) penetram facilmente as
mucosas e pequenas soluções de continuidade da pele (abrasões). Uma
vez adquirido, o HSV-1 penetra nas células da epiderme e derme,
multiplicando-se e atingindo terminações nervosas locais. A maioria
(cerca de 75% dos casos) não desenvolve sintomas e a infecção
permanece subclínica. A principal característica do vírus é a sua
persistência no organismo do hospedeiro: ele simplesmente não é
eliminado. Ao invés disso, caminha pelos axônios neurais e ganha os
corpos celulares dos neurônios do gânglio do trigêmio (gânglio de
Nasser), onde o seu genoma permanece em estado latente incorporado
Fig. 1*
no genoma celular. A qualquer momento, por mecanismos ainda não
conhecidos, o vírus pode voltar a se replicar nos neurônios do gânglio e
descer pelos nervos periféricos e terminações nervosas para novamente
atingir a pele e causar lesões. As manifestações clínicas são distintas e
estão relacionadas ao estado imunológico do paciente. Na
primoinfecção herpética, pela imaturidade do sistema imunológico
HERPES OROLABIAL (REATIVAÇÃO
específico contra o vírus, as manifestações clínicas, quando ocorrem, HERPÉTICA)
são floridas e mais prolongadas. Na reativação herpética, o quadro
clínico é mais brando, pelo uso da memória imunológica. Esta forma é mais comum em adultos. Pode ser desencadeada por
exposição ao sol, trauma, estresse emocional ou por uma infecção
respiratória febril. Iniciando-se com um pródromo de uma dor em
Embora o HSV-1 esteja mais relacionado à gengivoestomatite, ao
queimação ou ardência na região labial ou perilabial, cerca de 24h antes
herpes orolabial e ao herpes cutâneo, e o HSV-2 mais ao herpes genital,
do surgimento das lesões. Surgem vesículas agrupadas, com base
ambos os vírus podem causar qualquer das manifestações! O sexo oral é
eritematosa, acometendo uma pequena área orolabial unilateral (
geralmente o responsável pelo herpes oral por HSV-2 e pelo herpes
genital pelo HSV-1. FIGURAS 2A, 2B e 2C). Não há sinais e sintomas sistêmicos. A dor
melhora após as primeiras 24h e as lesões regridem após cinco dias. A
frequência de episódios recorrentes é extremamente variável. Um estudo
GENGIVOESTOMATITE HERPÉTICA mostrou que em 25% dos casos a recorrência era uma por mês, e em
(PRIMOINFECÇÃO) 20%, duas por ano (a maioria oscilava entre estes extremos).
Fig. 2
HERPES GENITAL
O quadro está mais bem descrito na apostila de Ginecologia de IST. O
período de incubação é de 3-14 dias e a duração dos sinais e sintomas é
em média de 12 dias para a primoinfecção e de 9 dias para a infecção
recorrente. No homem, as lesões ocorrem na glande e prepúcio, e na
mulher, nos grandes e pequenos lábios, clitóris e colo uterino. As lesões
são vesículas com base eritematosa, que evoluem para úlceras e crostas
sero-hemorrágicas (FIGURA 5). O quadro da primoinfecção é mais
proeminente e pode cursar com febre, adenopatia inguinal e queda do
estado geral. Disúria e secreção uretral no homem e corrimento aquoso
na mulher são relatados.
Fig. 5
Panarício herpético:
● Aciclovir VO 400 mg, 3x/dia, por 10 dias.
HERPES-ZÓSTER
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
HERPES-ZÓSTER EM IMUNODEPRIMIDOS
Fig. 10****
VERRUGA HUMANA
VERRUGA VULGAR
Fig. 13****
VERRUGAS PLANAS
São pápulas planas de 1-5 mm, ligeiramente salientes (liquenoides), de
cor levemente amarelada, sendo numerosas (FIGURA 14) e
predominando no dorso das mãos, no antebraço, pescoço e na face.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Fig. 16
CONDILOMA ACUMINADO(VERRUGA
GENITAL)
Fig. 17
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O diagnóstico é clínico, porém, nos casos duvidosos com lesões muito É uma dermatose pré-maligna originada por alguns subtipos de HPV
pequenas, a aceticoscopia permite a identificação: aplica-se ao local (16, 18, 31, 33, 35, etc.) com potencial oncogênico. Apresenta-se
ácido acético 3-5%, fazendo as lesões ficarem esbranquiçadas. O exame clinicamente como pápulas de coloração acastanhada, medindo 4-5
ginecológico de rotina pode fazer o diagnóstico utilizando-se a mm, localizados preferencialmente no pênis (FIGURA 19), vulva,
colposcopia e a anuscopia. A biópsia confirma os casos de diagnóstico região perianal ou períneo de adultos jovens, sexualmente ativos. O uso
clínico incerto. O tratamento é feito com a destruição local do prévio de podofilina é fator de risco...
condiloma. As opções podem ser classificadas naquelas realizadas pelo
médico e nas realizadas em casa pelo paciente. No primeiro grupo (pelo
médico), podemos utilizar a podofilina 25% 1x/semana até seis semanas
ou desaparecimento completo das lesões, ou o ácido tricloroacético
(TCA) 80-90%, repetindo-se após uma semana, ou crioterapia, ou
eletrocoagulação, ou laser ablativo CO2, interferon intralesional. No
segundo grupo (pelo paciente), as alternativas são: podofilox 0,05%
solução, usando-se o cotonete e aplicando-se 2x/dia por três dias,
descansando quatro dias e repetindo-se o ciclo por 4-6 semanas, ou
imiquimode 5% creme 3x/semana ao deitar por até 16 semanas. O
imiquimode tem mostrado uma taxa menor de recidiva, embora seja
bem mais caro. Vale ressaltar que a podofilina, o podofilox e o
imiquimode são contraindicados na gestante, cujo condiloma deve ser
tratado com TCA ou cirurgia. O acompanhamento é fundamental, para
diagnosticar e tratar as recidivas. Fig. 19: Papulose bowenoide.
Fig. 18""
PAPULOSE BOWENOIDE
Fig. 20""
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Urticária/angioedema. 20-25%
1. Não alérgicas:
2
Cap. ● Fototoxicidade (ex.: tetraciclina, dapsona, psoralenos);
FARMACODERMIAS
INTRODUÇÃO
a. A urticária não alérgica, provocada pela liberação histamínica
induzida por contrastes iodados, morfina, codeína, curare
VIDEO_10_DER
As farmacodermias são reações cutâneas aos diversos medicamentos (antracúrio, vecurônio, succinilcolina) e inibidores da ECA
utilizados na prática médica. Estima-se uma incidência entre 2 e 3% dos (FIGURA 1);
pacientes hospitalizados. Qualquer fármaco pode causar erupções b. A necrose cutânea pelo cumarínico, quadro grave decorrente de
cutâneas, embora os mais frequentemente implicados sejam as fenômeno tromboclusivo dos vasos cutâneos (FIGURA 2);
penicilinas (especialmente as aminopenicilinas), as sulfonamidas, os
c. A reação de Jarisch-Herxheimer. Esta última é observada
anticonvulsivantes aromáticos (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital),
classicamente após o uso da penicilina G benzatina para tratar a
os Anti-Inflamatórios Não Esteroidais (AINE) do grupo dos oxicams
sífilis. Ocorre após 4 a 12 horas da primeira injeção, manifestando-se
(piroxicam, tenoxicam, etc.) e butazonas (fenilbutazona), inibidores da
por febre moderada, mal-estar, cefaleia, mialgia, rubor facial,
ECA, hidralazina e alopurinol. Existem vários tipos de farmacodermia,
leucocitose, exacerbação das lesões preexistentes ou um novo rash
cada um apresentando o seu grupo de drogas mais comumente
eritematoso, durando até 24 horas. Ocorre em 50% dos casos na
envolvidas (ver adiante). É claro que existem medicamentos que estão
sífilis primária, em 90% dos casos na sífilis secundária e em 25% na
incluídos em mais de um tipo de erupção cutânea. Virtualmente,
sífilis latente.
qualquer quadro clínico pode ser mimetizado por fármacos. Algumas
formas são graves e potencialmente fatais, como a reação anafilática, a
Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e, principalmente, a Necrólise
Epidérmica Tóxica (NET). Excetuando-se a reação local a medicações
tópicas, exemplificada pela dermatite de contato, vamos destacar os
principais tipos de farmacodermia quanto à sua incidência relativa
(Tabela 1).
Betalactâmicos (penicilinas).
Sulfonamidas.
Eritromicina.
Gentamicina.
Anticonvulsivantes aromáticos.
Fig. 1
Fig. 2
Fig. 3
● Reação tipo II: citotoxidade mediada por anticorpos (IgG e IgM); URTICÁRIA E ANGIOEDEMA
● Reação tipo III: mediada por imunocomplexos. Exemplificada
pela vasculite cutânea e a doença do soro;
Drogas mais comuns
● Reação tipo IV: mediada pela imunidade celular (linfócitos T
helper). Exemplificada pela dermatite de contato.
O angioedema (edema angioneurótico) está presente em 50% dos casos Nos casos refratários, pode-se associar um antagonista-H2 (ranitidina,
ou pode vir de forma isolada. É caracterizado pelo edema mole dos cimetidina, famotidina). Os corticoides (prednisona 30 a 40 mg/dia) são
lábios, pálpebras, língua, de apresentação assimétrica e algumas vezes de valor limitado em urticária/angioedema agudos, embora possam ser
desfigurante (FIGURA 5). acrescentados nos casos mais graves. A adrenalina (epinefrina) IM na
dose 0,3 a 0,5 ml da solução 1:1.000 é indicada no tratamento da reação
anafilática (como principal droga!!).
Fig. 7
Sulfonamidas.
Penicilinas.
Quinolonas. Fig. 8
Cefalosporinas.
Anticonvulsivantes aromáticos.
Alopurinol.
AINE.
SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E
NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA
(SÍNDROME DE LYELL)
Fig. 9
Sulfonamidas.
Penicilinas.
Quinolonas.
Cefalosporinas.
Anticonvulsivantes aromáticos.
Alopurinol.
AINE.
■ SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON
ETIOLOGIA
Um estágio prodrômico de 1 a 14 dias é encontrado em metade dos
A relação com medicamentos é encontrada em mais de 50% com a SSJ e pacientes, caracterizando-se por febre, mal-estar, cefaleia, coriza, angina
em 80 a 95% com a NET. As drogas mais frequentemente suspeitas são (comprometimento orofaríngeo), mialgias, artralgias (síndrome gripal) e
a penicilina, os antibióticos penicilina, os antibióticos contendo sulfa, eventualmente vômitos e diarreia. Nesse momento, o paciente pode
os barbitúricos, os anticonvulsivantes, os analgésicos, os anti- fazer uso de analgésicos-antitérmicos que podem ser implicados
inflamatórios não esteroides e o alopurinol. Em alguns casos, ocorre inadvertidamente na causa da erupção.
juntamente com uma outra doença grave, complicando o diagnóstico.
As manifestações clínicas ocorrem com uma média de 14 dias após a
Quadro cutâneo: começa com uma erupção eritematosa maculopapular,
exposição, porém com ampla variação (1 a 45 dias). Após a reexposição,
por vezes morbiliforme, aparecendo no tronco e na face e progredindo
o período de latência é mais curto e as manifestações são mais graves. A
centrifugamente para as extremidades. Algumas lesões individuais são
SSJ pode ser causada por agentes infecciosos, destacando-se o
lesões em alvo atípicas, achatadas, com centro violáceo ou pigmentado e
Mycoplasma pneumoniae. Esta infecção está presente em 15% dos casos
halo eritematoso. São maiores que as do eritema multiforme minor. As
de SSJ e costuma ocorrer entre 5 e 20 anos de idade. Outros agentes
lesões são dolorosas e tendem à confluência, especialmente na face, no
podem estar relacionados, embora mais raramente.
pescoço e no tórax anterior, que podem apresentar um eritema difuso e
bolhas (FIGURAS 12 e 13), ocasionalmente hemorrágicas. A pele do
Existe um aumento importante da incidência de SSJ/NET em pacientes paciente exibe o sinal de Nikolsky positivo: descolamento da epiderme
portadores de HIV, especialmente os casos provocados pelas após tração manual. Este sinal é precoce e aparece antes de surgirem as
sulfonamidas. Há também uma relação genética com o HLA A29 e B12. áreas de desnudamento espontâneo. Dentro dos primeiros quatro a
cinco dias as lesões eritematosas aumentam em número e tamanho. As
FISIOPATOLOGIA E PATOLOGIA áreas de eritema confluente podem originar áreas desnudas
(FIGURA 14), desprendendo epiderme necrótica, com aspecto de
escaldadura. Por definição, na SSJ estas áreas somam no máximo 10%
A patogênese e a fisiopatologia são parcialmente conhecidas. Dependem
da pele total.
do poder citotóxico direto dos linfócitos T CD8 sobre os queratinócitos
da epiderme, modulados pelos linfócitos T CD4. Não há participação
importante dos anticorpos. Aparentemente, a droga, ou mais
comumente um metabólito da droga, é incorporado na membrana dos
queratinócitos, servindo de hapteno ao ligar-se no complexo de
histocompatibilidade classe I.
● Lesões mucosas: são universais e são fundamentais para a definição
clínica da síndrome. Costumam ser extensas e muito sintomáticas.
Duas ou mais membranas mucosas estão envolvidas, entre oral,
ocular e genital. Em 40% dos casos, as três estão comprometidas. Na
mucosa oral (estomatite), os lábios, cavidade bucal, palato e língua
podem apresentar lesões. O quadro começa com queimação labial e
oral, evoluindo com edema, eritema e bolhas que logo se rompem,
deixando erosões vermelho hemorrágicas, cobertas por
pseudomembranas branco acinzentadas e úlceras rasas aftosas. Os
lábios são recobertos por crostas hemorrágicas características da
síndrome (FIGURAS 15 e 16).
Fig. 12
Fig. 15
Fig. 13
Fig. 14
Fig. 17
Fig. 18
Embora alguns autores tenham sugerido a transferência rotineira dos
pacientes (especialmente aqueles com NET) para o centro de
queimados, esta conduta não é necessária para a maioria dos casos. As
fórmulas de reposição volêmica para o grande queimado também não
se aplicam à SSJ/NET, pois as lesões são diferentes: na queimadura, há
lesão dérmica importante e a lesão vascular com extravasamento de
fluidos para o interstício, é o principal mecanismo da perda fluida; na
SSJ/NET, a lesão dérmica é discreta e a perda hidroeletrolítica ocorre
basicamente pelo mecanismo transepidérmico (evaporação).
3. Asseio traqueobrônquico;
A SSJ e a NET, frequentemente, são acompanhadas de alterações O uso de antibioticoterapia sistêmica profilática não é preconizado.
laboratoriais inflamatórias e distúrbios hidroeletrolíticos. Estes são mais Entretanto, qualquer sinal focal ou sistêmico de infecção deve
comuns e mais graves na NET. Exemplos: leucocitose neutrofílica leve a imediatamente indicar coleta de material para cultura e início de
moderada, anemia leve, hipoalbuminemia, microalbuminúria, elevação antibióticos. Na fase inicial, predominam os Gram-positivos,
de transaminases, aumento do VHS e proteína C-reativa. Na especialmente o S. aureus; na fase tardia, devemos cobrir também P.
desidratação grave, pode haver azotemia pré-renal. O acometimento aeruginosa.
orgânico é raro na SSJ e comum na NET. Predominam lesões no
aparelho respiratório, no trato gastrointestinal e no fígado. São Tratamentos inovadores têm sido testados, como a imunoglobulina
descritos: dispneia, tosse, obstrução traqueal, desprendimento da intravenosa, plasmaferese, ciclosporina, ciclofosfamida, N-acetilcisteína
mucosa traqueobrônquica, expectoração de cálculos bronquiais, e fatores derivados de colônia (GCSF). Um estudo com a talidomida
infiltrado pulmonar, broncopneumonia e raramente SDRA. A sepse não mostrou benefício.A utilização de imunoglobulina não vem
pode contribuir para alguns desses achados. No trato gastrointestinal: encontrando respaldo nos últimos estudos. Por outro lado, evidências
diarreia, dor abdominal, hemorragia digestiva; no fígado, podemos ter mostram um possível papel para a ciclosporina como terapia adjuvante.
hepatite com icterícia e elevação proeminente das enzimas hepáticas.
PROGNÓSTICO
TRATAMENTO
Embora sejam doenças com potencial de graves complicações e até de
fatalidade (como já vimos), tanto a SSJ quanto a NET possuem curso
autolimitado, com as lesões começando a regredir após três a seis
semanas. As lesões cicatriciais costumam afetar as mucosas, com
especial importância para a ocular. Ao contrário do grande queimado,
não há necessidade de cirurgia plástica com enxerto cutâneo, pois a
resolução das lesões de pele costuma ocorrer sem sequelas.
Os fatores de mau prognóstico são: idade avançada, HIV positivo, Já foi devidamente descrito no bloco de Reumatologia. Para relembrar,
ingestão de múltiplos fármacos, lesão orgânica (especialmente renal), é causado principalmente pela hidralazina em doses acima de 200
desnudamento extenso. A causa mais comum de morte é a septicemia. mg/dia. Outras drogas frequentemente implicadas são: procainamida,
anticonvulsivantes aromáticos, isoniazida. O paciente desenvolve um
rash cutâneo lúpus-símile, com fotodermatose, rash malar, rash discoide,
OUTRAS FARMACODERMIAS erupção eritematosa maculopapular difusa, além de lesões orais, artrite,
serosite e alterações hematológicas (citopenias). Caracteristicamente
FOTODERMATOSES POR FÁRMACOS não há comprometimento renal e do sistema nervoso central. A doença
desaparece em algumas semanas com a suspensão da droga.
Fig. 20
PÊNFIGO E PENFIGOIDE FARMACOINDUZIDO
ERITRODERMIA EXFOLIATIVA
O penfigoide é uma bulose subepidérmica autoimune por destacamento
dermoepidérmico. As bolhas são tensas, diferentemente do pênfigo.
Este termo identifica um eritema descamativo difuso disseminado pelo
Pode ser autolimitado (farmacodermia típica) ou persistente (neste caso,
corpo, envolvendo mais de 50% da superfície cutânea. Pode ser causado
a droga somente foi o desencadeante da forma idiopática). A
por psoríase, eczema atópico, micose fungoide (síndrome de Sézary) e
histopatologia com imunofluorescência também é diagnóstica.
farmacodermia, esta última responsável por cerca de 10% dos casos. As
drogas mais envolvidas são: sais de ouro, arsenicais, mercuriais,
barbitúricos e penicilinas. PUSTULOSE EXANTEMATOSA GENERALIZADA
AGUDA (PEGA)
LÚPUS FARMACOINDUZIDO
É uma farmacodermia caracterizada pela formação de múltiplas
pústulas estéreis não foliculares com base eritematosa, pruriginosas ou
dolorosas, distribuídas de forma simétrica, predominantemente na face
e nas regiões intertriginosas (FIGURA 21). Febre moderada e
leucocitose neutrofílica são comuns.
Fig. 21
ERUPÇÃO LIQUENOIDE
Múltiplas pápulas inflamatórias e pústulas, distribuídas pela face, pelos Diversas drogas contêm iodo ou bromo em suas preparações. A
ombros (FIGURAS 22A e 22B) e pelo tórax superior, muito amiodarona e os contrastes radiológicos são os principais exemplos de
semelhantes à acne inflamatória (mas sem comedões típicos), podem preparados com iodo. Existem xaropes para tosse antigos que contêm
ocorrer após uso das seguintes drogas: corticosteroides, anabolizantes, iodeto de potássio. Diversas drogas contêm brometo, como o brometo
anticoncepcionais, barbitúricos, tioureias, lítio, tuberculostáticos, de ipatrópio ou tiotrópio (DPOC) e o brometo de priridostigmina
halógenos, como iodo, bromo e cloro, além de algumas medicações (miastenia gravis).
tópicas faciais. Desaparecem após a suspensão das drogas, mas, muitas
vezes, exigem tratamento da mesma forma como é feito para a acne. As lesões dependem de mecanismo de hipersensibilidade celular, com
atração de linfócitos, macrófagos e neutrófilos para o local
sensibilizado. No iododerma, ocorre erupção acneiforme, com pápulas e
pústulas em regiões seborreicas do corpo (face, tronco superior). Lesões
purpúricas, supurativas e ulceradas podem ocorrer.
3
Cap. DERMATITES ECZEMATOSAS
INTRODUÇÃO
VIDEO_11_DER
O termo eczema é derivado do grego ekzein e significa ebulição,
efervescência. Ele se refere a um conjunto de dermatoses inflamatórias
que compartilham o fato de apresentarem, no início do seu
desenvolvimento, a espongiose (edema intercelular da epiderme),
podendo evoluir com a formação de liquenificação. A dermatite
espongiótica é, muitas vezes, percebida ao exame físico como
vesiculação ou, até mesmo, bolhas (FIGURA 1). Daí a vesícula ser
considerada, por alguns autores, como a lesão elementar mais
característica desses quadros. Atualmente os termos eczema e dermatite
são tomados como sinônimos pela maioria dos textos.
ETIOLOGIA
■ FATORES GENÉTICOS:
Fig. 1: Comparação entre a pele normal e a espongiótica. Se ambos os pais forem atópicos, 81% das crianças desenvolvem
manifestações de atopia.
Muitos fatores podem ser implicados na sua gênese, e duas ou mais ■ FATORES FISIOLÓGICOS:
formas de eczema podem estar presentes simultaneamente. Independen-
temente do tipo, normalmente eles são o resultado da interação entre Psicofisiologia: tendência à hiperatividade;
fatores relativos ao organismo e elementos externos a ele (Quadro 1),
sendo, assim, divididos em dois grandes grupos. Prurido: autoperpetuador e agravado no período noturno, o que traz
grande desconforto aos pais, alterando o padrão do sono;
■ FATORES IMUNOLÓGICOS:
QUADRO CLÍNICO
DERMATITE ATÓPICA (ECZEMA ATÓPICO)
Além da história de atopia, as principais características são:
● Prurido intenso (máximo à noite, levando à inversão do sono);
● Liquenificação da pele.
DIAGNÓSTICO
3. Início das lesões de pele antes dos dois anos de idade (esse critério
somente é aplicado para pacientes com quatro anos ou mais);
Intolerância à lã
O pimecrolimus e o tacrolimus são conhecidos como
Acentuação perifolicular
imunomoduladores ou macrolídeos imunossupressores.
(ceratose folicular)
Alergia alimentar
Influência de fatores DERMATITE DE CONTATO
emocionais e ambientais
Dermografismo branco DERMATITE DE CONTATO POR IRRITANTE
(atrito na pele levando à PRIMÁRIO (DCIP)
vasoconstrição)
TRATAMENTO
Há formação então dos linfócitos de memória que permanecem no
gânglio regional e dos linfócitos efetores que ganham a corrente
sanguínea, levando à disseminação da sensibilidade de contato. Numa
segunda exposição ao antígeno, após completar a fase aferente, inicia-se
a fase elicitativa em que os linfócitos sensibilizados levarão ao
aparecimento da dermatite em 48 a 72 horas, pela liberação das
citocinas pró-inflamatórias.
Quadro 4
●
Dicromato de K+: couro, cimento (FIGURA 7).
Fig. 6
TRATAMENTO
■ LESÕES LOCALIZADAS:
● Corticoides em cremes;
Fig. 7
Fig. 10
DERMATITE DE ESTASE
● Emolientes, corticoides, ceratolíticos.
Fig. 11
Fig. 13
Fig. 12
TRATAMENTO:
● Xampu de enxofre, coaltar, ácido salicílico, zinco, sulfeto de selênio
ou antifúngico (azol);
ECZEMA ASTEATÓTICO
Fig. 16
4
Cap. DERMATITES
ERITEMATODESCAMATIVAS E
PAPULARES
PSORÍASE
VIDEO_12_DER
A psoríase é uma doença crônica hiperproliferativa inflamatória da pele,
relativamente comum, caracterizada pelo surgimento de pápulas
eritematoescamosas que confluem formando placas, de aspecto tão
característico que geralmente não causa problemas para o diagnóstico.
Em alguns casos, está associada a uma doença articular soronegativa, a
artrite psoriásica. A sua etiopatogenia é desconhecida, embora seja uma
doença imunomediada.
Por outro lado, a exposição solar parece ter efeito de melhora das lesões,
um benefício que pode ser explorado na terapia da doença...
PATOGENIA E PATOLOGIA
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
PSORÍASE UNGUEAL
PSORÍASE INVERTIDA
Fig. 8B***
DIAGNÓSTICO
TRATAMENTO
Como a psoríase é uma doença crônica, que pode durar muitos anos, é
importante avaliaro paciente de forma cuidadosa para fazer um bom
planejamento de tratamento. Esse planejamento irá depender não só do
tipo da psoríase como também da extensão da doença cutânea e
articular. Em caso de envolvimento articular, é importante trabalhar em
Fig. 10: Psoríase eritrodérmica.****
conjunto com o reumatologista.
TRATAMENTO TÓPICO
PSORÍASE GUTATA É usado para as formas localizadas (psoríase leve a moderada). Várias
são as opções: corticoides tópicos (ex.: betametasona 0,05%), coaltar
É uma forma benigna de início abrupto, com lesões arredondadas (alcatrão), em preparações 2-5% em vaselina ou óxido de zinco 20%,
pequenas (0,5-1,5 cm) esparsas, predominando no tronco superior e antralina (ditranol) 0,1-0,5% + ácido salicílico 1-2%, aplicado 1x/dia ou
1-3% em veículo aquoso, aplicar por 20-30min e retirar, 1x/dia (terapia
extremidades proximais (FIGURA 11). Frequentemente acomete
de contato curto), calcipotriol (análogo da vitamina D) a 0,005% 1x/dia,
crianças ou adultos jovens dias após uma estreptococcia do trato
tazaroteno (retinoide) em gel 0,1%. Existem tópicos para psoríase sob a
respiratório superior.
forma de creme, pomada e xampu. No tratamento facial, podemos
utilizar ainda tacrolimus ou pimecrolimus como alternativa ou para
poupar os corticoides.
FOTOTERAPIA
É quando há o surgimento de lesões bolhosas no curso do líquen plano, As lesões apresentam aspecto linear ou zosteriforme, frequentemente
em geral as bolhas são mais localizadas, e é fundamental fazer o representando o já mencionado fenômeno de Koebner a uma cicatriz
diagnóstico diferencial com líquen plano penfigoide, que é a traumática.
concomitância de duas patologias, o líquen plano com o penfigoide
bolhoso, e nestes casos, as bolhas são mais difusas.
LÍQUEN PLANO ANULAR
LÍQUEN PLANO ACTÍNICO Algumas lesões podem ter caráter anelar, com bordos elevados. Uma
área típica deste tipo de lesão é o pênis.
As lesões predominam nas áreas fotoexpostas, como na face
(FIGURA 26), pescoço e dorso das mãos. Podem ter caráter anular.
ERUPÇÃO LIQUENOIDE FARMACOINDUZIDA
DIAGNÓSTICO
Cada caso deve ser avaliado, dando ênfase para a intensidade dos
sintomas, à cosmese, sem perder de vista o fato de a doença ter uma LÍQUEN SIMPLES
tendência autolimitada. A decisão é feita em conjunto com o paciente.
O alívio do prurido pode ser conseguido com anti-histamínicos
É uma placa liquenificada (com acentuação dos sulcos, espessamento e
antagonistas-H1, como a hidroxizina 10-50 mg 6/6h e aplicando pasta
hiperpigmentação da pele), bastante pruriginosa (FIGURA 28), na qual
d’água ou mentol 20% às lesões. Os casos de doença cutânea localizada,
surge um ciclo vicioso de coçadura-liquenificação-mais prurido-mais
doença oral ou genital, podem ser tratados com aplicação de corticoide
coçadura. O processo de liquenificação é decorrente do trauma mecânico
tópico, como o valerato de betametasona, acetonido de fluocinolona e a
constante do ato de coçar. O estímulo inicial, quando presente, pode ser
triancinolona. A forma generalizada pode ser abordada com corticoide
uma picada de inseto ou irritantes relativos químicos ou físicos. O
sistêmico: prednisona 30-60 mg/dia por 4-6 semanas e desmame em mais
estado emocional é um fator importante na patogênese.
4-6 semanas. O uso dos derivados do ácido retinoico por via oral tem-se
mostrado benéfico. As opções são a isotretinoína, o etretinato e a
acitretina (efeito benéfico comprovado em recente estudo
randomizado). Fotoquimioterapia com PUVA costuma ter bons
resultados no líquen generalizado. Outras drogas com possível benefício
no líquen plano são a griseofulvina, a hidroxicloroquina, a ciclosporina
e a heparina de baixo peso molecular.
LÍQUEN NÍTIDO
5
Cap. DERMATOSES BOLHOSAS CRÔNICAS
(BULOSES)
INTRODUÇÃO
VIDEO_13_DER
São doenças não congênitas que cursam, fundamentalmente, com a
formação de bolhas decorrentes de reação autoimune. Entre elas,
algumas assumem maior importância clínica devido a sua prevalência, a
saber:
1. Pênfigo vulgar;
2. Pênfigo foliáceo;
3. Penfigoide bolhoso;
4. Dermatite herpetiforme.
PÊNFIGO VULGAR
O termo “pênfigo” deriva do grego pemphix, que significa bolha. Existe
uma ruptura da coesão entre os queratinócitos (acantólise), devido à
destruição das estruturas de adesão intercelular, denominadas
desmossomos. A doença é causada diretamente por autoanticorpos que
reagem contra epítopos desmossomais (desmogleína 3).
EPIDEMIOLOGIA
PATOGÊNESE E PATOLOGIA
seja, a desagregação dos queratinócitos. O histopatológico é mucosas, especialmente a mucosa oral. Esta é acometida em,
diagnóstico! Caracteriza-se pelo descolamento intraepidérmico logo virtualmente, todos os pacientes, sendo que, em 50% dos casos, pode
acima da camada basal (fenda suprabasal), destacando todo restante da anteceder as manifestações cutâneas por vários meses (a desmogleína 3
é muito encontrada no epitélio das mucosas). A lesão oral se apresenta
epiderme (FIGURA 1). A imunofluorescência direta da pele demonstra
com úlceras aftosas, evoluindo para erosões dolorosas e extensas,
acúmulo de IgG (+ C3) na superfície dos ceratinócitos (FIGURA 2),
acometendo a cavidade bucal (FIGURA 3). Muitas vezes, dificultam a
sendo este um achado característico.
alimentação do paciente. Eventualmente os lábios, a língua, a
orofaringe e outros sítios mucosos do corpo (ex.: genitália) podem ser
afetados.
Fig. 1
Fig. 3
A lesão cutânea típica do pênfigo vulgar é uma bolha flácida, que logo É suspeitado pela clínica, mas deve sempre ser confirmado pela biópsia.
sofre rotura, deixando uma erosão vermelho vivo, com aspecto de “bife Esta deve ser realizada numa bolha intacta para o histopatológico e na
sangrante” (FIGURA 4). Esta erosão apresenta um odor característico, pele aparentemente sã, para a imunofluorescência direta (acurácia de
descrito como “ninho de rato”. Ao examinar o paciente, o médico praticamente 100%). O sangue do paciente deve ser colhido para a
observa múltiplas e extensas erosões, marginadas por retalhos de bolhas pesquisa pela imunofluorescência indireta dos anticorpos
rotas, encontrando eventualmente algumas bolhas flácidas que ainda antidesmossomais, encontrados em 75% dos casos. O título destes
não romperam (FIGURA 5). A doença pode afetar qualquer parte do anticorpos pode ter associação com a atividade da doença apenas em
tegumento, predominando na cabeça, tórax e dobras axilares. alguns pacientes.
TRATAMENTO
PÊNFIGO FOLIÁCEO
EPIDEMIOLOGIA
PATOGÊNESE E PATOLOGIA
No pênfigo foliáceo, os autoanticorpos patogênicos são voltados
exclusivamente contra a desmogleína 1. Esta proteína é essencial para a
integridade dos desmossomas da camada granulosa da epiderme. São os
queratinócitos desta camada que sofrem acantólise (desagregação). O
histopatológico difere do pênfigo vulgar por ter a zona de clivagem
numa porção superficial da epiderme (FIGURA 6). O achado na
imunofluorescência direta da pele é semelhante ao do pênfigo vulgar.
Fig. 6
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Fig. 7
TRATAMENTO
Sem o tratamento, 40% dos pacientes com fogo selvagem morriam nos
primeiros dois anos. Na maioria dos casos restantes, a doença toma um
curso crônico, com exacerbações e remissões, com eventual fatalidade. A
letalidade total do PF era de 60%! Somente 10% dos casos, com forma
localizada, evoluíam bem, eventualmente com remissão espontânea...
Com o tratamento, o prognóstico do pênfigo foliáceo sofreu uma
dramática melhora. Baseia-se também no uso de corticosteroides
sistêmicos, neste caso em doses mais baixas do que no pênfigo vulgar,
em geral não ultrapassando 1 mg/kg/dia de prednisona. Os
imunossupressores muitas vezes não são necessários. Nos casos de PF
localizado, o tratamento com corticoides tópicos pode ser suficiente.
PENFIGOIDE BOLHOSO
Fig. 8
Fig. 9
DIAGNÓSTICO
Fig. 10
Fig. 11
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
DERMATITE HERPETIFORME
O diagnóstico baseia-se na clínica, histopatologia e imunofluorescência.
O tratamento é feito geralmente com corticosteroides sistêmicos, em Doença crônica extremamente pruriginosa na qual observamos bolhas e
doses moderadas (0,5-1 mg/kg/dia), embora haja estudos comprovando vesículas agrupadas de forma simétrica distribuídas sobre a face
uma eficácia semelhante com corticoides tópicos, mesmo nos casos extensora dos membros (FIGURA 12). Em alguns pacientes observamos
extensos. Tetraciclina + nicotinamida e dapsona podem proporcionar apenas pequenas lesões encimadas por crostas nos cotovelos e joelhos,
efeitos benéficos. acompanhado de prurido. Ao exame histopatológico, é uma dermatose
neutrofílica e a imunofluorescência da pele revela depósitos de IgA na
Há outras doenças integrantes do grupo das buloses que também junção dermoepidérmica. Virtualmente todos os casos estão associados
cursam com formação de bolhas subepidérmicas. Vale citar: à intolerância intestinal ao glúten (doença celíaca) que, nesses pacientes,
costuma cursar sem alterações do hábito intestinal.
Fig. 12
Tab. 1
Fotodermatoses
prazo
● Fotoenvelhecimento (rugas);
6
● Queimaduras (1º, 2º
Cap. grau); ● Melanose solar (lentigem solar);
ONCOLOGIA DERMATOLÓGICA
● Insolação.
● Elastose solar;
● Leucodermia gutata solar;
INTRODUÇÃO
● Xerodermia solar.
VIDEO_14_DER
A pele cumpre a função de barreira física, protegendo o ser humano do Algumas destas lesões cutâneas por exposição solar serão mostradas
meio ambiente. A proteção natural contra o sol inclui os pelos, nas FIGURAS 2 a 5, com uma pequena e concisa explicação em suas
melanina e células de defesa. Porém, toda essa proteção não é suficiente legendas. A ceratose actínica será comentada a seguir...
em longo prazo, sendo a exposição prolongada, por profissão ou beleza,
uma das principais causas de envelhecimento e o principal fator de risco
para o desenvolvimento de lesões pré-malignas e malignas. Podemos
classificar a pele de acordo com a sua sensibilidade e resposta à
exposição solar em seis fototipos segundo Fitzpatrick (Tabela 2).
FOTODERMATOSES
Fig. 1
CERATOSE ACTÍNICA
É a lesão pré-cancerígena epitelial mais comum em indivíduos de pele
clara. É também chamada de ceratose solar ou ceratose senil. Este
último é um termo inadequado, já que o desenvolvimento da lesão está
relacionado à exposição solar e não à idade em si.
DOENÇA DE BOWEN
CORNO CUTÂNEO
É uma designação morfológica para um nódulo hiperceratótico denso e São resultantes da exposição crônica ao arsênico. Antigamente se
cônico que se assemelha a um chifre de um animal (FIGURAS 8A e tratava diversas patologias com o arsênio, o arsenito de potássio oral
8B). É o resultado de uma aderência incomum de material ceratinizado. (solução de Fowler) para psoríase e trióxido arsênico (pílulas asiáticas)
Um grande número de desordens pode provocar essas lesões, porém na para asma são dois exemplos de exposição médica ao arsênico. As
maioria dos casos de corno cutâneo encontramos a ceratose actínica. ceratoses arsenicais se desenvolvem nas áreas de fricção e trauma,
Outras patologias que podem representar o corno cutâneo são: principalmente nas palmas e plantas, como pápula em forma de calo,
carcinoma espinocelular, verruga viral, ceratose seborreica, geralmente simétricas, amareladas, duras, pontudas, múltiplas, variando
ceratoacantomas, carcinoma renal metastático, carcinoma sebáceo, de 2 a 10 mm de diâmetro. Podem lembrar verrugas ou ceratodermia
sarcoma de Kaposi, angioceratoma, molusco contagioso, entre outros. palmoplantar. Outra forma clínica é o aparecimento de lesões
São mais encontrados na face e couro cabeludo, porém também podem eritematoescamosas (FIGURAS 9A e 9B), geralmente em áreas
ser encontrados nas mãos e pênis. Essas lesões podem variar de fotoprotegidas, mas podem surgir em áreas fotoexpostas. Esta segunda
tamanho, de poucos milímetros a vários centímetros. Elas podem ser apresentação clínica representa lesões de doença de Bowen, mas
brancas ou amareladas, retas, curvadas ou retorcidas. Uma biópsia também pode haver o aparecimento de carcinoma basocelular. Outro
tangencial incluindo a base não é só diagnóstico, mas muitas vezes estigma de arsenicismo crônico são mudanças pigmentares na pele, com
curativo. O curso e prognóstico dependem da desordem de base. placas hiperpigmentadas com áreas de despigmentação lembrando
“gotas de chuva”. Essas placas podem afetar os mamilos, axilas, virilhas
e ponto sobre pressão. Tende a poupar mucosa oral. Também pode
haver perfuração do septo nasal, alopecia difusa, neuropatia e
frequência aumentada de desenvolvimento de carcinoma pulmonar e
geniturinário após 30 anos, em média. O tratamento pode ser realizado
com cirurgia convencional, crioterapia, retinoides, dentre outros.
Fig. 8
CERATOSE ARSENICAL
Fig. 9
Deriva das células não queratinizadas que originam a camada basal da
CERATOSE TÉRMICA
epiderme. É o câncer mais comum em humanos, corresponde a 75% de
todos os tipos de câncer de pele e 25% de todos os tipos de câncer
São produzidas por estimulação crônica da radiação infravermelha,
diagnosticados nos EUA. É mais comum em idosos e no sexo masculino.
apreciadas na pele por uma sensação agradável de calor.
É raro no indivíduo negro. Os principais fatores de risco são: pele clara,
olhos claros, cabelo ruivo, efélides, exposição solar (atualmente muito
Eritema ab igne, um padrão pontilhado, reticulado de discutido), especialmente durante a infância e do tipo intermitente
hiperpigmentação é observado naqueles pacientes que aplicam causando queimadura; outros fatores: radiação terapêutica, exposição
almofadas de calor no corpo. As pessoas que habitualmente sentam ao arsênico, imunossupressão (transplantados), tabagismo (pequeno
perto da lareira para se aquecer tendem a desenvolver as lesões nas risco), nevo sebáceo de Jadassohn. É o menos agressivo dos tumores
pernas e coxas. Assim como os danos solares crônicos podem produzir malignos da pele, apresentando raramente metástase. A invasão local é o
ceratoses actínicas, os danos térmicos podem produzir suas próprias maior perigo, pela capacidade de invadir e destruir tecidos adjacentes,
sequelas (eritema ab igne). O tratamento preconizado é a cirurgia. inclusive ossos. É importante notar que o risco para desenvolver um
novo CBC varia de 35-50%. O CBC apresenta-se como pápula (ou
nódulo), perolado e com telangiectasias (FIGURA 11). O crescimento é
CERATOSE DE RADIAÇÃO CRÔNICA
progressivo, eventualmente podendo ulcerar. Localiza-se
preferencialmente nos dois terços superiores da face com 30% das lesões
Aparecem como ceratoses discretas, placas hiperceratósicas ou lesões
localizando-se no nariz. Quando atinge pálpebra, acomete mais o canto
exulceradas (FIGURA 10) após a exposição aos raios X. As ceratoses de medial da pálpebra inferior. Não ocorre nas palmas, plantas e mucosas.
radiação crônica podem se desenvolver após muitos anos de exposição As formas clínicas do CBC são:
crônica à radiação, como acontecia com dentistas, também com
pacientes de radioterapia e em pacientes vítimas de acidentes nucleares,
como ocorreu em Chernobyl, na Ucrânia. A terapia se resume em
cirurgia.
Fig. 10
● Plano-cicatricial;
Obs.: vale a pena chamar a atenção que o ceratoacantoma não é uma ● Esclerodermiforme (FIGURA 13);
lesão pré-maligna, nem maligna. É uma lesão benigna. Tem como
sinonímia o nome de molusco sebáceo. Apresenta sua origem no ● Pigmentado (FIGURA 14);
folículo pilossebáceo. Pode involuir espontaneamente. Acomete mais ● Superficial (FIGURA 15);
homens da raça branca e os locais mais acometidos são: parte central da
face e membro superior.
● Basoescamoso ou metatípico (apresenta áreas com CBC e CEC).
VIDEO_15_DER
Fig. 12 Fig. 14: Forma pigmentada: observar a marcação da margem
cirúrgica.
NEVOS
Fig. 20: Condiloma acuminado gigante de Buschke-Lowenstein (CEC
verrucoso).
Os nevos representam a neoplasia benigna cutânea mais comum. Pelo
menos um nevo é encontrado virtualmente em todas as pessoas.
Histologicamente, caracterizam-se por uma proliferação localizada de
melanócitos na pele, geralmente na junção dermoepidérmica (nevo
juncional), embora possa estar localizada na derme. Clinicamente são
manchas hipercrômicas, quase sempre de cor homogênea, acastanhada
ou enegrecida. Podem ser planos ou elevados. O nevo mais comum (que
todos têm pelo menos um...) é o nevo melanocítico (FIGURA 22).
Geralmente são múltiplos, pequenos (< 6 mm) e predominam nas
regiões fotoexpostas.
Os nevos congênitos aparecem ao nascimento e se desenvolvem em volta
dos apêndices cutâneos e infiltram o tecido subcutâneo. São placas
hiperpigmentadas pilosas, de variados tamanhos. Quando de pequenas
dimensões, não aumentam o risco de melanoma. Os nevos congênitos
gigantes, entretanto, são maiores que 20 cm e têm 4-20% de risco de
transformação maligna (FIGURA 24).
Fig. 22
Fig. 24
Uma grande profusão desses nevos indica risco para melanoma (acima de
50 nevos). É muito raro estes nevos se transformarem em melanoma,
porém são marcadores de risco indireto.
O nevo azul muito raramente pode malignizar, principalmente quando
Os nevos displásicos (FIGURA 23) caracterizam-se por um tamanho um estiver localizado na região sacral, e for maior que 1 cm.
pouco maior que os melanocíticos, pela variação de cor, geralmente
duas cores (variando do róseo ao acastanhado-enegrecido) e de bordas O nevo halo ou vitiligo perinévico ou nevo de Sutton, caracteriza-se
irregulares. Como o nome sugere, o histopatológico apresenta algumas pelo aparecimento de um halo hipocrômico em torno de um nevo
atipias. O risco de melanoma é baixo quando existem poucas lesões. O melanocítico. Eventualmente está presente no melanoma.
grande problema desses nevos é a confusão diagnóstica com melanoma
e, portanto, na maioria das vezes necessitam de biópsia confirmatória. O nevo de Spitz (melanoma da infância) é uma lesão melanocítica
Existe uma síndrome do nevo displásico familiar, que apresenta alto risco benigna com características clínicas e histopatológicas semelhantes às
de melanoma, especialmente em adolescentes e adultos jovens. É do melanoma, devendo ser lembrada no diagnóstico diferencial. Suas
definida pela presença de > 75-100 nevos, pelo menos um deles > 8 mm características principais incluem um padrão estelar (starburst), que é o
e pelo menos dois familiares com este fenótipo ou histórico de mais frequente, seguido do padrão globular e atípico. O diagnóstico
melanoma. deve ser confirmado por exame histopatológico (melanócitos grandes,
com ou sem atipia nuclear e citoplasma abundante, dispostos em
ninhos). Não existe consenso sobre a conduta, sendo comumente
indicada a retirada da lesão.
MELANOMA
VIDEO_16_DER
É o tumor maligno com origem nos melanócitos, que geralmente tem a
pele como local primário (embora possa acometer outros tecidos),
sendo considerado o mais agressivo dos tipos de câncer de pele devido
ao seu alto potencial para produzir metástases. Embora seja responsável
por apenas 4% das neoplasias malignas cutâneas, é o tipo mais agressivo
devido ao seu alto potencial para produzir metástases. Vem mostrando
aumento na incidência nos últimos anos, embora a mortalidade (ainda
elevada) tenha caído, particularmente nos jovens, em virtude da
Fig. 23 detecção mais precoce e de uma melhor terapêutica.
Este tumor é predominante em indivíduos de pele clara (98%), com A presença de nevos também deve ser destacada, ainda que a maioria
maior incidência em áreas equatoriais (sobretudo África do Sul e dos melanomas não tenha o nevo como lesão pré-neoplásica (apenas 1/4
Austrália), o que revela a importância da exposição solar. Ocorre dos casos apresentam correlação histológica). Indivíduos com nevos
geralmente em adultos jovens de 20-50 anos de idade. O melanoma melanocíticos apresentam maior risco; sobretudo os congênitos gigantes
localiza-se predominantemente no tronco, em homens, em contraste (> 20 cm). A síndrome do nevo displásico representa um fator de risco
com as pernas e o quadril, nas mulheres. para melanoma (dez vezes), geralmente mais precoces e menos espessos.
O risco também aumenta se o paciente apresenta mais que 50 nevos.
O risco de desenvolvimento do melanoma está associado a fatores
genéticos, ambientais e individuais. Entre os fatores, a exposição solar é Quanto ao fator genético, os mais importantes estão no locus CDKN2A
um dos grandes vilões. Um dado para auxiliar o paciente com os (relacionado a dois genes de supressão tumoral – p16 e p14ARF), no
cuidados com o sol é o índice ultravioleta. O Índice Ultravioleta (IUV) locus CSK4, na via RAS e no gene MITF. O xeroderma pigmentoso,
mede o nível de radiação solar na superfície da Terra. Quanto mais alto, doença autossômica recessiva caracterizada por deficiência no
maior o risco de danos à pele e de aparecimento de câncer. O índice UV mecanismo de reparo do DNA, apresenta risco até 2.000 vezes maior
é calculado com base em vários fatores, segue abaixo alguns exemplos: que a população normal. O albinismo também aumenta a chance de
desenvolvimento da neoplasia.
● A espessura da camada de ozônio sobre sua cidade (detectada com o
uso de satélites);
BAIXO <2
MODERADO 3a5
ALTO 6a7
Fig. 25: Lentigo maligno-melanoma.
MUITO ALTO 8 a 10
EXTREMO > 11
CLÍNICA E DIAGNÓSTICO
Cores diversas – maior ou igual a duas cores (preto, azul, Nível III: derme papilar > 2-4 mm
marrom, cinza, vermelho, branco) na mesma lesão;
Nível IV: derme reticular > 4 mm
Diâmetro maior que 6 mm;
Nível V: hipoderme
Evolução (qualquer alteração que tenha ocorrido na lesão – O índice de Breslow determina a espessura tumoral (dimensão vertical a
tamanho, formato, novos sintomas). partir do ponto mais profundo de invasão ao topo da camada granulosa
ou à célula mais superficial em caso de ulceração), usando uma ocular
micrométrica. Havia uma classificação de Breslow anterior que usava
como parâmetros: in situ, até 0,76 mm, de 0,76 a 1,5 mm, de 1,5 a 4 mm
e acima de 4 mm. Atualmente, estas medidas devem ser expressas na
DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO que mais se aproxima de 0,1 mm, e não de 0,01 mm. Assim, deveremos
utilizar apenas uma casa decimal, aproximando para mais quando acima
de 0,05 e para menos abaixo disto. Ex.: um melanoma com 0,75 mm
deve ser expresso no laudo anatomopatológico como 0,8 mm. Por outro
O diagnóstico diferencial deve ser feito com nevos, CBC pigmentado, lado, um melanoma com 0,94 mm será expresso como 0,9 mm. Quando
a biópsia é feita por punch ou shaving, em que a lesão é representada
granuloma piogênico, ceratose seborreica, melanoníquia estriada, parcialmente, deve-se medir a espessura segundo Breslow e informar
no relatório anatomopatológico que tem espessura de, pelo menos, a
trauma, etc. A dermatoscopia (“lente de aumento especial”) é uma maior espessura encontrada no espécime.
ferramenta útil na avaliação de lesões pigmentadas, tornando possível
identificar a origem celular da lesão; no entanto, o diagnóstico definitivo A principal forma de estadiamento do melanoma se dá pelo sistema
é histopatológico. A biópsia deve ser excisional com margens de 1-3 mm TNM (ver Tabela 4). Segundo dados norte-americanos para a
e coxim de gordura subdérmica, com exceção para tumores maiores ou sobrevida em cinco anos, teríamos: 96% para o estágio 0; 92,5% e 74,8%
em locais anatômicos nobres, nos quais realizaremos uma biópsia para estágios I e II; 49% nos casos de metástase linfonodal (estágio III);
incisional na área mais suspeita (área mais pigmentada ou mais e 17,9% para o estágio IV (metástases à distância). Entre os fatores
elevada). O melanoma possui dois tipos de crescimento: radial (cresce prognósticos desfavoráveis, poderiam ser incluídos: localização (cabeça,
para os lados, portanto tem melhor prognóstico) e vertical (cresce para pescoço e tronco), sexo masculino, idade acima de 60 anos, intensidade
baixo, tendo pior prognóstico, maior chance de enviar metástase, temos da infiltração linfocitária, regressão tumoral, tipo histológico, índice
como exemplo o melanoma nodular). Assim, é fundamental que a mitótico, microssatelitose, tipo celular predominante, marcadores
amostra de pele seja retirada até o tecido celular subcutâneo, já que a imuno-histoquímicos e citomorfometria nucleolar.
espessura vertical do tumor é o valor preditivo mais importante para o
prognóstico, tratamento e seguimento.
A maioria dos pacientes apresenta-se em estágios iniciais I e IIA no
momento do diagnóstico, quando a cirurgia é curativa em 70-90% dos
casos. A cirurgia é o tratamento mais efetivo, sendo que, de acordo com
o estadiamento, poderá ser acompanhada de algum procedimento
adjuvante, como linfadenectomia, quimioterapia, radioterapia ou
imunoterapia.
≤ 1,0 mm 1,0 cm
O que é a acne?
A lesão básica da acne, o comedão ou comedo, é uma elevação da pele
perifolicular devido a um acúmulo de sebo e queratinócitos no istmo do
folículo piloso, devido ao bloqueio do infundíbulo e ao aumento da
atividade da glândula sebácea. A formação do comedão dá início a um
processo inflamatório, que pode ser leve, moderado ou grave,
eventualmente deixando áreas de cicatriz após resolução espontânea. As
lesões da acne localizam-se nas áreas da pele seborreica, que possuem
glândulas sebáceas proeminentes, como a face, o tórax superior e a
porção proximal dos braços. Estas glândulas se desenvolvem na
7
puberdade, justificando a ocorrência predominante da acne em
Cap. MISCELÂNEA
adolescentes e adultos jovens.
PATOLOGIA E PATOGÊNESE
ACNE VULGAR
Fig. 4
Fig.7
Acne grau V (acne fulminans): uma forma bastante grave, mas bem rara
em nosso meio, caracterizando-se pela associação de acne grau III ou
IV com lesões eritematoulceradas, cuja biópsia revela vasculite, além de
febre, leucocitose e poliartralgia.
Como vimos, a evolução das formas mais graves de acne (graus III e
IV), na ausência de tratamento, é para a formação de cicatrizes
indeléveis do tipo múltiplas pequenas depressões, especialmente na face
(FIGURA 12). Manchas residuais (melanodermia) podem ocorrer,
principalmente nos indivíduos de pele escura.
TRATAMENTO Acne grau III e IV: a conduta diverge entre a literatura nacional e
americana. Uma droga revolucionária no tratamento da acne surgiu,
sendo usada desde o início da década de 80 do século passado. Trata-se
O tratamento da acne sofreu grandes mudanças nos últimos anos, com
de isotretinoína oral (Roacutan®), um derivado do ácido retinoico. É o
o melhor conhecimento de sua patogênese e fisiopatologia e pelo
ácido 13-cis-retinoico. Esta droga atua eletivamente na glândula
surgimento de novas drogas. Antigamente, a acne era tratada apenas
sebácea, reduzindo a sebogênese e normalizando a queratinização
com tópicos esfoliantes, como ácido salicílico, resorcina e enxofre.
folicular, sendo o único fármaco capaz de curar a acne. Apresenta uma
Atualmente, os tópicos antiacne são diferentes e mais eficazes, e a
taxa de cura de 80-90%. As demais terapias mantêm o controle da acne,
terapia sistêmica trouxe grande avanço no controle das formas graves.
mas não curam a doença, que pode recidivar em qualquer momento da
adolescência, caso sejam suspensas. Os antibióticos sistêmicos
Acne grau I: a terapia tópica é suficiente. A melhora costuma ocorrer
(tetraciclina, etc.) e a terapia hormonal com etinilestradiol (0,035 mg) +
dentro de quatro semanas. O uso de sabonetes a base de enxofre e ácido
ciproterona (2 mg) têm sido as ferramentas indicadas preferencialmente
salicílico ou os que contém triclosano são os mais utilizados. A
pela literatura estrangeira nas formas graves de acne. A isotretinoína é
preferência, dos tópicos, é pelos retinoides tópicos, como a tretinoína
reservada para os casos refratários após 3-6 meses.
0,05% gel, a isotretinoína 0,05% gel, e o adapaleno 0,1 ou 0,3%,
aplicados à noite, uma fina camada, após limpeza da pele, e retirados
A literatura nacional recomenda na acne grau III, IV ou V, o uso
pela manhã. A exposição solar deve ser evitada, pois os retinoides
precoce da isotretinoína, alegando a cura da doença. O grande
deixam a pele altamente sensível à fotoexposição. Para os pacientes que
problema deste medicamento é a sua formal contraindicação na
não podem ou não querem evitar a exposição solar, o ácido azelaico
gravidez ou em mulheres com possibilidade de engravidar (por ser
15% gel pode ser indicado, aplicado 1-2x/dia. Um tópico tradicional, o
teratogênico) e seus efeitos adversos. A prednisona 20 mg/dia, pelos seus
ácido salicílico 0,5-2%, seria uma droga de terceira linha, mas ainda
efeitos anti-inflamatórios potentes, pode ser associada nos casos mais
eficaz em muitos casos. A extração manual dos comedões só é necessária
graves de acne, para prevenir o flare-up (exacerbação da acne) sendo
nos poucos casos de refratariedade, como adjuvante aos tópicos
obrigatória na acne grau V.
antiacne. Deve ser feita com o auxílio de um extrator de comedão, após
desinfecção local (para evitar o risco de infecção bacteriana secundária).
A isotretinoína é usada na dose 0,5-1,5 mg/kg/dia. O período mínimo de É uma afecção dermatológica de causa desconhecida que tem algumas
tratamento é de cinco meses. Alguns pacientes podem necessitar de semelhanças com a acne, porém não apresenta nenhuma associação
terapia por mais tempo, chegando até dez meses. Mulheres com risco de fisiopatológica. Há um tempo achava-se que a doença tinha relação com
engravidar devem associar anticoncepcionais (etinilestradiol + a presença do ácaro Demodex folliculorum nos folículos, pois seu
ciproterona). Os principais efeitos adversos fora da gravidez são: secura parasitismo possui associação estatística com a rosácea. Trabalhos mais
labial e queilite (em quase todos os pacientes), eritema facial (40% dos recentes, entretanto, não conseguiram comprovar o papel patogênico
casos), prurido, mialgias, hipertensão intracraniana benigna (quando deste parasita. Há uma resposta vascular alterada, responsável por
associada à tetraciclina), hepatite, hipercolesterolemia, surtos eritematosos na face (flushing), inicialmente de curta duração,
hipertrigliceridemia, pioderma gangrenoso, pitiríase rósea de Gilbert, mas depois evoluindo com eritema persistente. E em muitos casos o
granuloma piogênico (FIGURA 13). Doenças sistêmicas, como flushing, parece se tornar algo curioso para o paciente, e os amigos, pois
nefropatia e hepatopatia contraindicam o uso do retinoico. como não sabem que é uma doença, encaram o fato como uma pessoa
tímida, envergonhada, onde qualquer fator emocional desencadeia o
flushing. É necessário atenção, pois já pode ser uma manifestação inicial
de rosácea (não esquecer que outras doenças também podem começar
com flushing, como é o caso da policitemia vera e da síndrome
carcinoide).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
DIAGNÓSTICO
Rosácea grau III (infiltrativa-nodular): placas eritemato-edemato-
infiltrativas (FIGURA 16), nódulos, hiperplasia sebácea e eventualmente
Geralmente é clínico. Na dúvida, pode-se indicar a biópsia. Esta revela
abscessos.
capilares dilatados na derme com infiltrado linfo-histiocitário
perivascular. Na forma papulopustulosa, há infiltrado neutrofílico
perifolicular e na forma infiltrativa, aumento das glândulas sebáceas e
infiltrado inflamatório crônico. Em 10% dos casos, encontra-se
granuloma.
TRATAMENTO
O paciente deve evitar todos os fatores desencadeantes possíveis. Compreende um grupo de lesões relativamente comum, que
Dependendo da literatura e do grau da rosácea, pode-se tratá-la com normalmente aparecem no primeiro ano de vida. De acordo com a
medicação tópica, sistêmica ou tópica + sistêmica. Entre os produtos Sociedade Internacional para o Estudo das Anomalias Vasculares,
tópicos, destacam-se os antimicrobianos em creme. As principais opções podemos classificar as lesões segundo a tabela a seguir.
são: metronidazol 0,75-1%, ácido azelaico 20%, peróxido de benzoíla 2,5-
10%. A tretinoína 0,05-1% é uma segunda opção para o tratamento
tópico. Para a terapia sistêmica, a droga de escolha é a tetraciclina,
Classificação das anomalias vasculares
começando-se com a dose 500 mg, 2x/dia, por 3-6 semanas, seguindo-se
500 mg/dia por 6-12 semanas. Outras alternativas são: minociclina 100
Tumores Malformações
mg/dia e eritromicina 250 mg 2x/dia. O tratamento sistêmico deve ser
mantido por um mínimo de seis semanas, fazendo-se a manutenção com
Hemangioma da infância Capilares
os tópicos. Para erradicar as telangiectasias, prefere-se a terapia com
laser.
Hemangioma congênito Venosas
A pele humana consiste num epitélio estratificado de origem Sensação: a pele e as mucosas são órgãos sensoriais orientando-nos em
ectodérmica em contato com uma derme de tecido conjuntivo de origem nosso contato com o ambiente, além de poderem produzir sensações
mesenquimal. A interface entre essas duas estruturas de origem percebidas como agradáveis ou incômodas;
embrionária tão distinta é a junção dermoepidérmica, tão irregular que
é repleta de projeções da epiderme para dentro da derme, os chamados Excreção: através das glândulas écrinas, a pele excreta água, eletrólitos,
cones interpapilares. Abaixo da derme existe o panículo adiposo HCO3, ureia, metais pesados, etc.;
também chamado de hipoderme ou tecido celular subcutâneo, rico em
gordura.
Endocrinometabólica: a pele é o sítio de conversão periférica e síntese de
muitas substâncias. Entre elas estão hormônios sexuais como estronas,
Grosseiramente, há dois tipos de pele: testosterona, di-hidrotestosterona e a vitamina D.
Melanócitos: são células de origem ectodérmica, migram da crista
EPIDERME
neural até atingirem a camada basal da epiderme. Sua principal função
é a síntese de grânulos (os melanossomas) ricos em uma macromolécula
chamada melanina cuja função é absorver a radiação UV. Através de
longos dendritos, cada melanócito “inocula” seus melanossomos num
grupo de aproximadamente 36 ceratinócitos. Esse conjunto melanócito-
ceratinócitos é denominado unidade epidermomelânica.
■ FIBROBLASTOS
Fig. 2: Hemidesmossomo.
■ HISTIÓCITOS, MACRÓFAGOS E CÉLULAS
DENDRÍTICAS DA DERME
■ MASTÓCITOS
O plexo vascular inferior é formado por vasos perfurantes advindos do Situa-se abaixo da derme reticular e é formada por lóbulos de
músculo subjacente. A malha vascular se estende pelo plano entre a adipócitos (células ricas em lipídios), delimitados por septos de tecido
derme e a hipoderme. Do plexo inferior partem, então, os vasos conjuntivo irrigados e inervados. Os vacúolos lipídicos contêm
comunicantes, que ascendem até o plano entre a derme papilar e a triglicerídios, colesterol, vitaminas e água. O panículo adiposo é quem
derme reticular e, ao longo desse plano, formam uma segunda malha dá a mobilidade da pele sobre a musculatura, também age como
vascular, o plexo vascular superior. Do plexo vascular superior ainda isolante térmico, depósito de calorias, amortecedor de traumas e
partem os capilares das papilas dérmicas. Para a termorregulação, recentemente se tem destacado pela sua função endócrina (ex.:
existem estruturas contráteis mioepiteliais localizadas em shunts conversão periférica de hormônios sexuais).
arteríolo-venulares, essas estruturas são os glômus.
OS ANEXOS CUTÂNEOS
Os vasos linfáticos têm a função de promover a drenagem de líquido,
proteínas e lipídios da derme. Além disso, eles têm grande importância
A estrutura pilossebácea é o principal anexo cutâneo. Ela é composta
imunológica, pois é através deles que a célula de Langerhans viaja da
pelo folículo piloso, glândula sebácea, glândula sudorípara apócrina e
epiderme até o linfonodo regional na iniciativa de montar uma resposta
músculo piloeretor.
imunológica contra um antígeno.
■ FOLÍCULO PILOSO
ESTRUTURAS FIBRILARES DA DERME
■ COLÁGENO
Os folículos pilosos são formados todos na vida embrionária a partir de Glândula sebácea. São glândulas exócrinas que possuem um ducto e
projeções epidérmicas em forma de clava. Um neonato tem uma porção acinar. O ducto desemboca no folículo piloso entre o
aproximadamente cinco milhões de folículos, e não nascerão mais infundíbulo e o istmo. Sua porção acinar é composta por células
folículos por toda a sua vida. Os folículos podem alterar bastante seu espumosas holócrinas (que descamam por inteiro liberando sua
aspecto sob a influência de hormônios androgênios. As células centrais secreção, o sebo). Tem a mesma origem embriológica do folículo piloso.
da projeção em clava, situadas bem próximo à hipoderme, dão origem O sebo é constituído por esqualeno, colesterol, ésteres do colesterol,
às células do bulbo piloso, de onde derivam a haste do folículo e as ésteres graxos e triglicerídios. Sua atividade é máxima durante a
estruturas adjacentes. puberdade, pois a sua regulação é feita inteiramente por hormônios
androgênios. Podem desembocar diretamente na superfície da pele. Na
O folículo maduro é composto de uma haste pilosa, duas bainhas (as mucosa oral, são vistas como grânulos de Fordyce.
bainhas foliculares interna e externa) e um bulbo germinativo. O
folículo piloso é dividido em três segmentos: Glândula sudorípara apócrina. Só se desenvolve nas regiões axilar,
genital e periareolar, a partir da estrutura embrionária do folículo
1. Infundíbulo: se estende desde a superfície até a inserção do ducto da piloso. Entram em atividade na puberdade por ação de hormônios
glândula sebácea; androgênios. Também responde a estímulos nervosos. É formada por
ducto, que desemboca acima do ducto da glândula sebácea no folículo
2. Istmo: compreende o segmento entre a inserção do ducto da
piloso, e porção acinar localizada próxima da hipoderme e composta
glândula sebácea até a inserção do músculo piloeretor;
por células cuboidais apócrinas (a porção apical de seu citoplasma é
3. Segmento inferior: esse segmento só existe durante a fase de destacado liberando assim sua secreção). Produz uma secreção oleosa e
crescimento do pelo (anágena) e vai da inserção do músculo inodora, que é comumente metabolizada pela flora bacteriana na axila e
piloeretor até a base do bulbo. região genital derivando odor forte.
A haste em crescimento é envolvida pelas várias camadas concêntricas Receptores de Ruffini Calor
do canal folicular. A camada mais externa, rica em glicogênio, é a
bainha externa do folículo. Essa bainha está em repouso e é contínua
Discos de Merkel Tato e pressão
com a epiderme. A bainha folicular interna é composta pela camada de
Henle, camada de Huxley e cutícula, e pode ser vista como uma
Receptores de Vater-Pacini Pressão
membrana gelatinosa envolvendo a haste quando um pelo é arrancado.
Ela protege e molda a haste em crescimento, mas se desfaz antes de
Receptores de Meissner Tato
atingir a inserção do ducto da glândula sebácea (o infundíbulo).
LESÕES ELEMENTARES
A. Modificação da cor;
B. Formações sólidas;
D. Alteração da espessura;
F. Lesões caducas;
Fig. 2: Máculas hipocrômicas de pitiríase versicolor localizadas no
G. Sequelas. braço.
● Transitório:
➤ Rubor;
Fig. 10: Nódulo: lesão mais palpável do que visível. Exemplo: eritema
nodoso.
Placa: lesão em forma de disco, por extensão ou coalescência de pápulas
ou nódulos. Superfície em platô (FIGURA 8).
Tumoração: lesão maior que 3 cm. Pode estar relacionada com doença
de depósito como no tofo gotoso (FIGURA 11).
Tubérculo: lesão de consistência dura, elevada com mais de 0,5 cm que Fig. 11: Tumoração no dorso de uma paciente jovem. Exemplo: lipoma.
Fig. 16: Bolha tensa e brilhante. Aspecto mais frequente nas buloses
com clivagem subepidérmica como no penfigoide bolhoso. Nos
pênfigos as bolhas são flácidas e mais efêmeras.
➤ Paracoccidioidomicose;
➤ Leishmaniose;
➤ Esporotricose;
➤ Cromomicose;
➤ Carcinoma espinocelular;
➤ Tuberculose.
Ceratose: espessamento da epiderme por aumento da camada córnea Esclerose: endurecimento da pele por proliferação do tecido colágeno
(FIGURA 19). ou do subcutâneo, tornando o pregueamento difícil (FIGURA 21).
LESÕES CADUCAS
● Laminares.
Crosta: ressecamento de exsudato. Pode ser:
Para auxiliar no raciocínio diagnóstico, podemos organizar as
● Serosa; lesões cutâneas em primárias (lesão cutânea inicial) e
● Purulenta/melicérica: cor de mel. Aspecto do impetigo; secundárias (decorrentes de manipulação ou infecção de
uma lesão primária), sendo as últimas representadas pelas
● Hemática.
sequelas, lesões caducas, solução de continuidade da pele e
alterações da espessura. Além do tipo de lesão, outros
Úlcera de decúbito: úlcera secundária à necrose. aspectos podem ser observados, como número (única ou
múltipla); configuração (anular, arciforme, circinadas,
discoides, linear), organização (localizada, generalizada) e
SEQUELAS
distribuição corporal (face, tronco, extremidades).