Como estamos

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nos cuidando?
Na correria do dia a dia, a saúde pede um olhar atento para como nos
alimentamos e nos relacionamos com o nosso corpo

Alimentação e informação
Qual é a qualidade do
que você consome?

Sobreviver nas cidades

Edição O cenário urbano e o protagonismo das

03
doenças causadas pelo ser humano

Carreira: Engenharia de Alimentos

A profissão que busca entender as
necessidades alimentícias do consumidor
Abr–2017

E x p e d i e n t e
Direção geral
Nicolau Arbex Sarkis
Gerência editorial
João Carlos Puglisi
Coord. de projetos editoriais
Marília L. dos Santos G. Ribeiro
Viviane Rodrigues Nepomuceno
Coord. de produção editorial
Lívia Scherrer dos Santos
Edição / Texto
Anaiza Castellani Selingardi
Bruno Freitas
Cláudio Leyria
Érica Mitico Bettoni Hayashibara
Thaís Inocêncio
Projeto gráfico
Willyam Gonçalves
Revisão
Carla Vieira Cardoso Egídio
Kemi Tanisho
Diagramação
Willyam Gonçalves
Licenciamento
Jade Cristina Bernardino
Nesta edição
ENTRELINHAS
7 ALIMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
Qual é a qualidade do que você consome?
CONTEXTO
9 SOBREVIVER NAS CIDADES
O cenário urbano e o protagonismo das doenças causadas pelo ser
humano
ENTREVISTA
13 CARREIRA: ENGENHARIA DE ALIMENTOS
A profissão que busca entender as necessidades alimentícias do consumidor
Editorial
Como estamos nos cuidando?
M
ens sana in corpore sano. A expressão em latim, que pode ser tra-
duzida como “mente sã em corpo são”, foi criada pelo poeta romano
Juvenal, por volta de 509 a.C., para aconselhar as pessoas sobre
o que deve ser sempre pedido em uma oração. Atualmente, no entanto, a
frase costuma ser empregada para ressaltar a importância do equilíbrio entre
o emocional e o físico para o bem-estar integral do indivíduo. Mas estamos
mesmo preocupados com a nossa saúde?
Em geral, só lembramos de dar atenção a ela quando algum desequilíbrio
se manifesta, seja um desconforto, uma dor ou mesmo uma doença. E esse
comportamento é, sobretudo, um reflexo do ritmo de vida atual – agitado,
incansável, intenso. Assim, tornamo-nos vítimas das chamadas “doenças
da modernidade”, que vão desde distúrbios emocionais, como estresse,
ansiedade e depressão, até problemas decorrentes da má alimentação e da
poluição a que somos submetidos todos os dias. Dessa forma, enquanto
a situação não se agrava, seguimos acreditando que o organismo vai se
reajustar a tudo isso automaticamente. Ilusão!
O corpo humano é um sistema complexo que merece e deve ser tratado
como o foco do nosso cuidado diário. As engrenagens dessa máquina humana
são tão integradas que, quando uma pequena peça se solta, o resultado pode
ser desastroso. No entanto, o organismo se manifesta ininterruptamente e
nos dá importantes sinais de como anda o seu funcionamento e de quais são
as suas necessidades; cabe a nós assegurar a manutenção e a qualidade dos
nossos próprios equipamentos.
O Leia Agora deste mês é um alerta sobre a necessidade de voltarmos
a nossa atenção para o modo como estamos cuidando do nosso corpo e da
nossa mente, os quais, em harmonia, nos garantem disposição e longevidade.
Após um panorama dos principais acontecimentos do mês, entenderemos a
influência do cenário urbano na saúde da população, refletiremos sobre a
carência de informação de credibilidade sobre os alimentos que consumimos,
conheceremos detalhes da carreira de Engenharia de Alimentos e seremos
convidados a pensar sobre os limites da preocupação com a estética em
detrimento de uma vida saudável.
Boa leitura!
Equipe Leia Agora
2
// NOTÍCIAS EM FOCO Transição da Previdência valerá a
partir dos 30 anos de idade
O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur
Maia (PPS-BA), antecipou que todos os trabalhadores
a partir de 30 anos serão enquadrados na regra de
transição — que prevê idades mínimas, mais um
pedágio (adicional sobre o tempo de contribuição que
falta para se aposentar). Segundo o relator, o pedágio
poderá ficar em 30%. Os trabalhadores com menos de
30 anos terão que cumprir idade mínima de 65 anos.
Pela proposta inicial, seriam enquadrados na regra
de transição somente homens a partir dos 50 anos e
mulheres a partir dos 45 anos.
11 abr. 2017 – O Globo
Vale lembrar!
Temer admite reforma para apenas 20 anos, se
idade mínima for 65 anos
Leia em: <www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/04/1874558-
temer-admite-reforma-para-apenas-20-anos-se-dade-minima-
for-65-anos.shtml>.
Mulheres defendem idade mínima
diferente da dos homens na
aposentadoria
A equiparação da idade mínima de aposentadoria
de 65 anos para homens e mulheres, proposta pelo
governo na reforma da Previdência em tramitação
no Congresso, foi tema de debate na Comissão de
Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara. Mulheres
de diferentes instituições defenderam a manutenção
da diferença de cinco anos entre as idades mínimas
de aposentadoria e no tempo de contribuição vigente
no regime atual como forma de compensação da
desigualdade de gênero.
9 abr. 2017 – Agência Brasil
Enem 2017 terá taxa mais cara;
inscrições começam no dia 8
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai ficar
mais caro para quem não conseguir isenção. Em 2017,
a taxa para se inscrever nas provas subiu de R$ 68 para
R$ 82. O novo valor representa um aumento de 20,5%.
Entre 2000 e 2014, a taxa manteve-se em R$ 35.
10 abr. 2017 – G1
Vale lembrar!
Espelhos da redação do Enem 2016 saem nesta
terça-feira, diz Inep
Brasil Leia em: <http://g1.globo.com/educacao/enem/2016/noticia/
espelhos-da-redacao-do-enem-2016-saem-nesta-terca-feira-
Educação diz-inep.ghtml>.
Internacional
Saúde
Ciência
Cultura
Milhares de pessoas tomam as
ruas de Caracas contra o chavismo
A oposição retornou às ruas pela terceira vez em uma
semana e protagonizou uma manifestação que resultou
em enfrentamentos entre policiais e manifestantes. Os
agentes usaram bombas de gás lacrimogêneo para
evitar que o protesto chegasse à sede da Defensoria
do Povo. A insistência da oposição em permanecer
nas ruas tem como objetivo acabar com o apoio
interno que o regime do presidente Nicolás Maduro
ainda possui.
8 abr. 2017 – El País
G7 decide não impor sanções à
Rússia por apoiar Síria
Os ministros das Relações Exteriores do G7
não chegaram a um acordo sobre a aplicação
de novas sanções contra a Rússia e a Síria.
Reunidos na cidade de Lucca, os chanceleres
se limitaram a declarar hoje (11) que a saída do
ditador Bashar al-Assad do poder é fundamental
para uma resolução política da guerra síria,
mas não adotaram punições pelo uso de armas
químicas em ataques contra civis.
11 abr. 2017 – Ansa
“Peneira” de grafeno transforma
água do mar em potável
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de
Manchester, no Reino Unido, criou uma “peneira”
de grafeno que consegue remover o sal da água do
mar. A invenção tem o potencial de ajudar milhões de
pessoas sem acesso direto a água potável. O grafeno
é uma das formas cristalinas do carbono, como o
diamante e o grafite, e pode ser altamente eficiente na
filtragem do sal.
3 abr. 2017 – BBC
Livro relata violência contra
indígenas durante a ditadura
Uma investigação da história de centenas de indígenas
mortos durante a ditadura militar no Brasil, de 1964 a
1985, foi transformada em livro pelo jornalista Rubens
Valente, que durante um ano entrevistou 80 pessoas,
entre índios, sertanistas, missionários e indigenistas,
para construir o relato. O livro Os fuzis e as flechas
traz à tona registros inéditos de erros e omissões que
levaram a tragédias sanitárias durante a construção
de grandes obras do período militar, como a Rodovia
Transamazônica.
9 abr. 2017 – Agência Brasil
3
// NOTÍCIAS EM FOCO Obesidade atinge 1 em cada
5 brasileiros
A obesidade atinge um em cada cinco brasileiros,
apontam dados divulgados nesta segunda-feira (17)
pelo Ministério da Saúde. Em dez anos, a população
obesa no país passou de 11,8% em 2006 para 18,9%
em 2016, informou o ministério. O excesso de peso
também cresceu 26,3% no mesmo período.
17 abr. 2017 – G1
Atentados matam pelo menos
36 pessoas em igrejas do Egito
Pelo menos 36 pessoas morreram e 74 ficaram feridas
após explosões ocorridas dentro de duas igrejas
coptas (vertente do cristianismo) no Egito. Os fiéis
foram atingidos no momento em que participavam de
uma missa em comemoração ao Domingo de Ramos,
celebração que marca o início da Semana Santa. A
primeira explosão foi registrada em Tanta, a cerca de
100 quilômetros do Cairo, capital do país. Duas horas
depois, a segunda bomba explodiu em Alexandria, no
norte do Egito.
9 abr. 2017 – Agência Brasil
Missão da ONU no Haiti terminará
no próximo dia 15 de outubro
A Missão de Estabilização da ONU no Haiti,
Minustah, será encerrada no dia 15 de outubro. A
decisão foi tomada pelo Conselho de Segurança
nesta quinta-feira. A embaixadora dos Estados
Unidos, Nikki Haley, anunciou o resultado da
votação: todos os 15 países-membros aprovaram
a resolução. O componente militar da Minustah
sairá do país de forma gradual durante os
próximos seis meses. A Minustah é comandada
por um general brasileiro, e o embaixador do
Brasil na ONU, Mauro Vieira, participou da
reunião do Conselho de Segurança.
13 abr. 2017 – Agência ONU
Cientistas dizem ter achado
atmosfera ao redor de planeta
semelhante à Terra
Cientistas dizem ter detectado pela primeira vez uma
atmosfera ao redor de um planeta parecido com a Terra.
O planeta GJ 1132b, que tem 1,4 vezes o tamanho da
Terra e fica a 39 anos-luz de distância, é encoberto por
uma espessa camada gasosa de água, metano ou uma
mistura de ambas as substâncias.
7 abr. 2017 – BBC

A “Delação do Fim do Mundo”

A lista de investigados pela Operação Lava Jato, divulgada dia 11 pelo ministro do Supremo

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Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin, tem políticos com foro privilegiado que serão investigados
sob a jurisdição do STF e políticos investigados em primeira instância.

Compõem a lista:
• 3 ex-presidentes;
• 8 ministros;
• 12 governadores; Saiba mais:
• 24 senadores;
• 39 deputados federais; • 15 partidos são contemplados na lista
de investigados;
• 1 ministro do Tribunal de Contas
da União; • O atual presidente, Michel Temer,
Brasil
• 23 pessoas que não possuem também foi citado na delação, mas não
foi incluído na lista de investigados
Educação foro, mas estão relacionadas a
porque possui “imunidade temporária”
fatos que envolvem políticos com por ser presidente da República.
Internacional
mandato.
Saúde

Ciência
Fonte: Exame/Abril
Cultura
Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 17 abr. 2017.

4
 Mass evacuation in Syria postponed after
blast kills 80 kids

The evacuation of more than 3,000 Syrians that was scheduled to take place Sunday from four areas as part of a
population transfer has been postponed a day after a deadly blast that killed more than 120 people.
Rami Abdurrahman, who heads the Britain-based Syrian Observatory for Human Rights, said Saturday's blast —
which hit an area where thousands of pro-government evacuees had been waiting for hours — killed 126. He said the
dead included 109 people from Foua and Kfarya, among them 80 children and 13 women.
17 abr. 2017 – Las Vegas Sun

Las Vegas Sun

LAS VEGAS

Clarín
BUENOS AIRES

Cerca de 1.500 economistas dicen a Trump

que inmigrantes ayudan a la economía
Cerca de 1.500 economistas, enviaron hoy una carta al presidente Donald Trump y a líderes del Congreso en
la que resaltan el aporte de los inmigrantes.
La missiva destaca que la “inmigración es una de las ventajas competitivas más importantes de Estados
Unidos en la economía global”.

12 abr. 2017 – Clarín

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 17 abr. 2017.

5
 Tânia Rêgo/Agência Brasil

Alunos nas rampas de acesso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A Universidade retoma suas atividades
acadêmicas a partir de hoje (10), após quase 4 meses de paralisação. As aulas são correspondentes ainda ao segundo
semestre de 2016. O reitor Ruy Garcia Marques explicou: “voltamos por respeito aos alunos e à sociedade. Na realidade
teríamos que retornar no dia 17 de janeiro, porém, a situação estava impraticável. Todos os campi se encontravam sujos, sem
manutenção e outros fatores. Porém, nesses três meses de negociação muita coisa evoluiu.”
10 abr. 2017 – Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
6
 ENTRELINHAS
Alimentação e informação:
qual a qualidade do que você consome?
O escândalo da indústria da carne trouxe à tona diversas discussões e conflitos de interesse
entre o que é mostrado e o que é omitido

TEXTO 01 02TEXTO
A ortorexia nervosa caracteriza-se por comportamen- Carne Fraca: porque a grande mídia não se
to obsessivamente saudável, no qual os indivíduos têm importa com a sua comida
fixação por alimentos classificados como saudáveis; dedi-
A operação da PF parece ter deixado o país em
cam-se mais de 3 horas por dia para a dieta (planejamento,
estado de choque ao tocar exatamente no assunto carne,
aquisição, preparo e consumo); excluem da alimentação
item consumido indiscriminadamente, variando apenas de
corantes, conservantes, pesticidas, ingredientes genetica-
acordo com a situação socioeconômica de cada família.
mente modificados, gorduras, sal e açúcar, pois são vistos
No entanto, a situação revelou algo que vai além do
como alimentos prejudiciais à saúde. [...]
esquema de propinas e fraudes. O nível de informação de
O fato de praticarem uma dieta restritiva pode levar
brasileiras e brasileiros sobre a comida que chega à mesa
esses indivíduos ao desenvolvimento de carências
é irrisório.
nutricionais [...]. As restrições iniciam-se com o objetivo de
E isso se agrava em um panorama mais amplo, pois
melhorar a saúde, tratar uma enfermidade ou perder massa
também é pouco o acesso à informação sobre a dinâmica
corporal, mas a dieta passa a ocupar lugar central na vida.
do agronegócio – ou seja, a produção da pecuária e
Estudos sugerem que estudantes e profissionais
agricultura em escala industrial – por parte da população a
da área da saúde são mais vulneráveis a desenvolverem
partir dos veículos de mídia tradicionais.
comportamento ortoréxico. Nutricionistas e estudantes de
E essa violação no direito à informação e à comunicação
Nutrição, além de terem preocupação muitas vezes
tem muito mais a ver com o escândalo dos frigoríficos do
excessiva com o peso e a imagem corporal, são
que com as escolhas individuais de comer ou não carne.
“cobrados” a terem uma alimentação adequada. Aqueles
O agronegócio movimenta mais de 20% do Produto
que não seguem o padrão saudável comumente são
Interno Bruto (PIB) do país e recebe vultosas quantias de
criticados pelos colegas e pela sociedade. Assim, o
investimento do governo brasileiro.
“comer corretamente” não está associado apenas com Camila Nobrega. Carta Capital, 21 mar. 2017. Disponível em:
<www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/carne-fraca-porque-a-grande-
a promoção de saúde e prevenção de doenças, mas
midia-nao-se-importa-com-a-sua-comida>. Acesso em: 17 abr. 2017.
também com um comportamento socialmente aceitável.
Quetsia J. O. V. de Souza; Alexandra M. Rodrigues.
“Comportamento de risco para ortorexia nervosa em
estudantes de Nutrição”. SciELO. Disponível em: <www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-
20852014000300200&lang=pt>. Acesso em: 17 abr. 2017.

7
 ENTRELINHAS
ANÁLISE

N
o dia 17 de março, teve início a Operação uma tão nociva quanto a outra. Para comprovar seu ponto
Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal de vista, usa ainda dados relativos ao agronegócio, já
para investigar grandes empresas acusadas que as possibilidades alimentícias de toda a nação estão
de vender carne adulterada e até mesmo estragada. subordinadas às conveniências e decisões desse setor.
Ofuscando a problemática da reforma previdenciária, Ambos os textos, apesar de pertencerem a diferentes
o caso ganhou enorme destaque na mídia nacional e gêneros e explorarem desdobramentos distintos que
repercutiu também fora do país, em locais para onde o podemos ter de um assunto em pauta, podem nos transmitir
Brasil exporta carne, levantando diversas discussões. uma mensagem semelhante: despertar o olhar crítico sobre
Vieram à tona desde o questionamento sobre como toda a informação a que temos acesso. Que tal exercitar
anda a qualidade da alimentação do brasileiro até esse olhar? Para isso, sugerimos que escreva seu próprio
a maneira pela qual a informação é apresentada à texto dissertativo a respeito da Operação Carne Fraca,
população. dando um enfoque diferente dos apresentados e buscando
Assim, seguiremos dois rumos em nossa análise dessa identificar um desdobramento do caso ainda não explorado
situação, partindo de dois textos de gêneros diferentes que pela grande mídia. Bom treino!
abordam desdobramentos distintos de uma mesma questão. Editorial
O primeiro, e talvez mais óbvio dos questionamentos, diz
respeito à má alimentação da população. A comprovação
de que a carne consumida no país não é de qualidade
reacendeu a discussão acerca de comer ou não comer
carne, assunto que, por sua vez, nos leva a reflexões sobre a
saúde do brasileiro e a influência do que comemos no bom
funcionamento do nosso organismo.
Nesse sentido, já se tornou de conhecimento geral
a informação de que é necessário e importante ter uma
alimentação balanceada. Entretanto, o texto 1, um estudo
acadêmico, alerta para o fato de que, em muitos casos,
a busca por uma alimentação saudável atinge níveis
desproporcionais, quebrando o paradigma de que essa
preocupação sempre será benéfica. O artigo evidencia que
a obsessão por ingerir apenas alimentos considerados (vale
ressaltar essa palavra) saudáveis faz com que muitas pessoas
se privem de nutrientes importantes; e esse problema vai
além da simples discussão do vegetarianismo e do orgânico.
É importante manter um olhar crítico sobre essas questões,
percebendo a influência da mídia e das diferentes opiniões
sobre o que lemos e assistimos.
© Arnel Manalang | Dreamstime.com

Já no texto 2, um artigo de opinião, temos uma

análise bastante crítica a respeito da intencionalidade
por trás da ênfase dada às notícias que consumimos. A
autora do texto defende que o escândalo da carne, mais
do que revelar esquemas de propina e fraudes (assuntos
comumente tratados na mídia), evidenciou a carência de
informação de qualidade que é ofertada à população. Ela
eleva o patamar da discussão até o ponto em que considera
a má alimentação um resultado da má informação, sendo

8
O cenário urbano
e as doenças
causadas pelo
ser humano
Poluição e alimentos produzidos e armazenados de forma inadequada fazem
do cidadão urbano um exímio sobrevivente; mas isso nunca vai mudar?
POR SERGIO TRENTINI
V
amos acordar.
Café, carro, congestionamento. Depois,
trabalho. Tensão tacanha tabelada em tratados
e temperança temerária. Então, finalmente,
a hora do intervalo. Abençoado momento no qual os
alimentos processados se somam ao tempo limitado
e resultam invariavelmente em mastigação apressada e
insuficiente – assim como o intervalo em si. O retorno às
atividades traz o peso no olho de quem acordou cedo
demais, pois 1) foi dormir muito tarde, afinal, as horas
de lazer precisam ser aproveitadas e 2) quinze minutos
a mais de demora no período dos primeiros raios de sol
faz muita diferença no trânsito, que fica cada vez mais
intenso, aumentando progressivamente o tempo que se
leva para alcançar o destino.
Contrariando qualquer desejo seu de recostar a
cabeça na mesa e dormir sob as luzes fluorescentes
está a voz alta de um colega que conta sobre como foi
assaltado pela quinta vez no ano (e vocês estão apenas
no quarto mês), porém, dessa vez, ele era mais experiente
que o bandido em matéria de assalto. “O cara se tremia
todo com a arma na mão”, ele diz, “Nunca tive tanto medo
de tomar um tiro”, continua ele, aumentando o tom. No
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entanto, você já não está mais ouvindo. Tudo soa
etéreo e durante dois longos minutos suas pálpebras
cerram-se. Sua cabeça está escorada no punho fechado
e, nesse momento, provavelmente o melhor do seu dia,
você sonha com uma praia calma. As ondas quebram
uma após a outra e o barulho do oceano acalma seu
espírito. Ou, então, você caminha por entre inúmeras
árvores. Jacarandás, castanheiras, carvalhos, ipês e
tantas outras que você desconhece, mas admira a cor
verde. Ela, uma cor tão ausente em sua vida, acalma-lhe.
Isso dura pouco. Logo tudo é tomado de novo pela luz
branca do escritório. Seu superior chega atrás de você e
cutuca seu ombro, de leve, mas com força suficiente para
quebrar um pedaço da sua alma.
Vamos acordar?
Os trechos expostos acima não são parte de
uma realidade subjacente à ficção, apesar do aspecto
dramatizado e lúdico impelido ao cotidiano da personagem.
O cenário se assemelha em algum nível ao claustrofóbico
mundo tirânico exposto por George Orwell em 1984.
No livro, o governo exerce uma força inexaurível sobre
os cidadãos. Talvez estejamos vivendo sob um domínio
parecido. Aqui, entretanto, não estamos falando de
9
formas de governo, mas de amarras que norteiam nossas
decisões e afetam nossa saúde. No entanto, essa força
motriz pode passar despercebida. Talvez por estarmos
tratando tudo meramente como cenário onde exercemos
nosso protagonismo humano. Claro, estamos falando
das cidades. Essa forma de organização social que o ser
humano escolheu para viver e causadora de muitos dos
problemas da contemporaneidade. Precisamos acordar e
dedicar mais atenção aos centros urbanos.
Porque as cidades, além de nunca dormirem, são
cheias de vida.
Poluição e saúde
As pessoas vão para as metrópoles atrás de emprego,
cultura e serviços básicos. No entanto, o número de
pessoas em constante deslocamento ultrapassou às
pressas a capacidade dos governos de fornecerem
planejamento urbano de qualidade. Por isso, as ruas
estão dispostas e foram pensadas para os carros; assim,
as pessoas que se deslocam a pé ou de bicicleta acabam
sendo reprimidas por essa lógica. Não há espaço para
elas. Agora, imagine que a população mundial vai dobrar
até 2050. E, hoje, segundo a OMS, o número de mortes
anuais por conta da poluição chega à casa dos 7 milhões.
O alto índice de mortes assevera a importância
de prestarmos atenção à lista de doenças causadas
pela vida urbana, do estresse emocional à doença
pulmonar obstrutiva crônica. A exposição à poluição
do ar prolongada nas cidades eleva o risco de câncer
de pulmão e de morte por doenças cardiovasculares
e respiratórias. Ao colocar tudo em uma escala lógica,
podemos dizer que as doenças são resultado de
décadas de planejamento urbano voltado aos veículos
privados de abastecimento por combustíveis fósseis. Em
Pequim, capital da China, por exemplo, para deixar o céu
em sua cor azul original, é necessária uma intervenção
do governo. Lá, devido à intensa poluição de carros
e fábricas, o céu é tomado por uma cor acinzentada.
Portanto, quando existem feriados nacionais em que são
organizados eventos para a população, o governo proíbe
a circulação de carros e o funcionamento de indústrias
em determinadas áreas da cidade; assim, dissipam a
névoa de poluição. O resultado é que as pessoas vão
para as ruas e fotografam o céu azul à exaustão, como
se fosse uma famosa obra de arte.
Fora o aspecto visual que a poluição causa, a
saúde dos habitantes dos centros urbanos é prejudicada
sobremaneira. Afinal, a máxima quantidade que o
corpo humano suporta de partículas de poluição,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de
25 microgramas por metro cúbico. Para continuar com
o exemplo da capital chinesa: em alguns momentos do
ano passado, o número de partículas atingiu a marca de
256 microgramas por metro cúbico. Estar acima do limite
recomendado pela OMS não é exclusividade da China, o
Brasil ocupa uma posição intermediária no que se refere
à poluição do ar, sendo menos poluído que países como
Rússia, China, Índia e África do Sul.
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10
O estresse urbano
Não é apenas na saúde física que o cenário Ao mesmo tempo, a produção de hortas locais
que escolhemos para viver nos afeta. Doenças e de alimentos orgânicos se prolifera. As pessoas
psicológicas como estresse e depressão também aos poucos começam a perceber a importância de
se proliferam por conta da intensidade com a qual a dar mais atenção à própria alimentação. No entanto,
cidade se manifesta em nossas vidas. Um estudo que tudo faz parte de um sistema maior, pois comer
exemplifica bem a relação entre o ambiente urbano as coisas certas – alimentos orgânicos de hortas
e o impacto na saúde mental das pessoas foi feito urbanas, por exemplo – melhora aspectos da saúde,
por pesquisadores italianos e publicado na Revista sim; contudo, uma boa salada orgânica não vai
Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública. impedir que respiremos a poluição em quantidades
A pesquisa analisou as variações na prescrição de catastróficas de gás carbônico emitido por aquela fila
antidepressivos em relação às dimensões específicas de carros andando vagarosamente pelas principais
do ambiente construído, levando em consideração avenidas da cidade.
elementos como densidade urbana, uso misto do

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solo, áreas verdes, serviços públicos, acessibilidade
por meio de transportes públicos.
O resultado aponta que melhorias em
características específicas do ambiente urbano,
principalmente menor densidade urbana e maior
acessibilidade ao transporte público, atenuam o
uso de antidepressivos. Sendo assim, pesquisas
como essa revelam a importância de levar em conta
elementos da saúde mental no planejamento urbano.
Espaços de lazer e parques com áreas verdes, por
exemplo, mostram enorme potencial para promover
o relaxamento e a fuga de que precisamos para
manter nossa espiritualidade em nível razoável.

Você tem fome de quê?

“Influenciadas pelos avanços tecnológicos
na indústria de alimentos e na agricultura e pela
globalização da economia, as práticas alimentares
contemporâneas têm sido objeto de preocupação
das ciências da saúde desde que os estudos
epidemiológicos passaram a sinalizar estreita relação
entre a dieta – afluente – e algumas doenças crônicas
associadas à alimentação”. 1
Devido aos fatores econômicos e à necessidade
de atender toda a população urbana, os alimentos,
fonte principal de vida e saúde, acabam sendo
tratados de maneira imprópria para o consumo
humano. Carnes armazenadas sob temperaturas
inadequadas (Operação Carne Fraca), leite batizado
com água e elementos nocivos à saúde (Operação
Leite Compensado), hábitos de alimentação (dietas
extremamente calóricas, cheias de açúcares e
gorduras, e sem aporte nutricional suficiente) que
levam à obesidade e ao sobrepeso e um poderoso
mercado de agrotóxicos e fertilizantes utilizados na
produção agrícola são, infelizmente, realidade em
nossos dias.

1
GARCIA, Rosa. “Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações sobre as mudanças na alimentação urbana”. Revista de Nutrição. Campinas, out./dez., 2003.

11
 Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Sendo assim, é preciso tratar a cidade como um
Química

TOQUE DO
organismo vivo e único, no qual o alinhamento de
todas as partes deve coincidir para o bem comum.
Não chegaremos a nenhuma mudança efetiva se
não alinharmos a participação da sociedade com
as políticas públicas e a saúde mental e física com
o planejamento urbano; além de fazer com que os
ESPECIALISTA
POR ANA LUIZA ARÊAS MATOS ALVES
protagonistas entendam que o cenário escolhido é
substancial para a própria existência. Desequilíbrio nutricional

Não é o ser humano que faz mal à cidade, tam-
pouco a cidade que pretende prejudicar o ser humano.
Somos nós quem fazemos mal para nós mesmos.
Somos nós, humanos, portanto, que precisamos
acordar para a forma como esse sistema funciona e
dialoga imediatamente com a nossa saúde.
Sergio Trentini é escritor, jornalista formado pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS) e autor
do livro Ridículo Manifesto de Insatisfação Social.
É um admirador dos aspectos sociológicos e
antropológicos do meio urbano, em seus mais
variados vieses. Nesse sentido, publicou mais
de 150 textos no blog TheCityFix Brasil – Cidades
Sustentáveis.
Arquivo pessoal/
Sergio Trentini
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estabelece
competências e habilidades norteadoras do estudo
dos conteúdos exigidos para o Ensino Médio.
Por meio do texto “O cenário urbano e as doenças
causadas pelo ser humano”, foram trabalhadas
as seguintes competência e habilidade da área de
Ciências Humanas e suas Tecnologias:
C6 – Compreender a sociedade e a natureza,
reconhecendo suas interações no espaço em
diferentes contextos históricos e geográficos.
H27 – Analisar de maneira crítica as interações
da sociedade com o meio físico, levando em
consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
Bem como as seguintes competência e habilidade da
área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias:
C1 – Compreender as ciências naturais e as
tecnologias a elas associadas como construções
humanas, percebendo seus papéis nos processos de
HA produção e no desenvolvimento econômico e social da
BILI humanidade.
H4 – Avaliar propostas de intervenção no ambiente,
DA considerando a qualidade da vida humana ou medidas
de conservação, recuperação ou utilização sustentável
DES da biodiversidade.
A
alimentação tem como função principal a ingestão de
nutrientes e deve ser capaz de suprir as necessidades
diárias de proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas e
minerais, essenciais para o bom funcionamento do organismo.
Porém, o que se observa em grande parte dos países é a
tendência ao consumo desequilibrado de nutrientes e excesso
de calorias. Dados no Ministério da Saúde indicam que um
em cada dois adultos e uma em cada três crianças no Brasil
sofrem com o excesso de peso. Esse é um terreno fértil para
o surgimento de doenças do coração, hipertensão, diabetes e
outros problemas de saúde.
Mudanças alimentares decorrentes do estilo de vida atual,
principalmente nas grandes cidades, incluem a substituição dos
alimentos in natura ou minimamente processados por processados
e ultraprocessados. Diversos produtos disponíveis nas prateleiras
dos supermercados prometem preparação rápida ou consumo
imediato, como macarrões instantâneos, salgadinhos, bolachas,
bolos, refrigerantes, entre outros. Esses produtos apresentam
desequilíbrio nutricional, uma vez que podem ser carregados de
açúcares, sódio e gorduras, mas carentes de vitaminas e outras
substâncias essenciais.
Além dos impactos na saúde da população, o consumo excessivo
de ultraprocessados tem efeitos negativos no meio ambiente.
Comumente, esses alimentos são vendidos em embalagens com
as mais variadas composições: plásticos, papelões, alumínio, isopor,
vidros etc. Quando não destinadas à reciclagem, essas embalagens
contribuem para a superlotação de aterros sanitários e lixões a céu
aberto, levando diversos anos para se decompor. Para entender
esse efeito, basta pensar em um lanche composto de um pacote
de salgadinho e um refrigerante. Agora, multiplique a quantidade de
lixo gerada pelos milhares de habitantes que têm esse hábito. Ao
fim de um ano, são toneladas de lixo que se acumulam na natureza.
Na contramão dessa tendência, os alimentos orgânicos
e de base agroecológica ganham destaque. Esse tipo de
agricultura busca ir além do cultivo sem o uso de agrotóxicos e
fertilizantes químicos, englobando também o uso consciente dos
recursos naturais. O consumo desses alimentos contribui para o
fortalecimento da agricultura familiar, do pequeno empreendedor
rural e da sustentabilidade. Mais do que uma questão de saúde,
a alimentação consciente faz parte do cuidado com o planeta em
que vivemos.

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 E N T R E V I S TA | Alyne Yamabe

Arquivo pessoa/
Alyne Yamabe
CARREIRA:
Engenharia de Alimentos
Alyne Yamabe é engenheira de

alimentos com graduação-sanduíche

pela Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp) e pela University

of Alberta, do Canadá. Atua no

segmento de ingredientes para a

indústria de alimentos, trabalhando

diretamente com vendas técnicas.

© Verbaska | Dreamstime.com

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Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses de
quem pensa em cursar Engenharia de Alimentos? O
que é estudado no curso superior?
A primeira coisa que não podemos esquecer é que se
trata de um curso de Engenharia, ou seja, nos primeiros
?
anos, o aluno vai passar por todas as matérias básicas
dessa área, como Cálculo, Física e Programação. Também
devemos considerar que a manipulação de alimentos
envolve muitos aspectos químicos, bioquímicos e
microbiológicos, portanto muitos desses conceitos devem
ser aprofundados para que, finalmente, possamos olhar
para processos e tecnologias de produção de maneira
integral. Nessa fase, estudamos a cadeia produtiva de
todos os tipos de alimento, que começa na matéria-prima,
seja ela de origem vegetal ou animal, passa por tecnologias
de transformação, como os processos de fermentação e
esterilização, e termina na própria interação do produto
industrializado com seu consumidor final.
Equipe LA: Quais são as áreas de atuação e as
principais possibilidades de especialização para
quem opta por essa carreira?
Assim como toda carreira relacionada à Engenharia, as
possibilidades de atuação são muito amplas. Contudo,
falando especificamente sobre o campo de alimentos, as
áreas mais tradicionais – e técnicas – estão relacionadas
ao Desenvolvimento de Novos Produtos, Qualidade e
Produção. A partir daí, elas se estendem para áreas como
Logística, Marketing, Compras e Vendas.
Equipe LA: Quais são as diferenças entre os cursos de
Nutrição e Engenharia de Alimentos?
Os dois cursos estão relacionados à alimentação,
mas eles têm enfoques completamente diferentes.
Enquanto o engenheiro de alimentos trabalha com o
alimento em si, preocupando-se com sua composição
e, principalmente, com seus processos de produção e
industrialização, o foco do profissional de Nutrição é o
corpo humano e sua interação não só com os alimentos,
mas, sobretudo, com a alimentação. Vale ressaltar que
essas áreas são complementares e dependem uma
da outra para que possamos ter no mercado produtos
cada vez mais convenientes, nutritivos, balanceados e
adequados a cada tipo de consumidor.
Equipe LA: Como ingressar no mercado de trabalho?
O curso exige que o estudante faça estágios?
A indústria de alimentos no Brasil é muito grande e bastante
diversificada. Temos uma forte presença de multinacionais e,
ao mesmo tempo, um número considerável de pequenas e
médias empresas produtoras e distribuidoras de alimentos,
espalhadas tanto por segmento quanto por região. Hoje em
dia, a maioria delas oferece programas de estágio, trainee e
jovens profissionais. Assim, o estágio não só é obrigatório,
mas também é a oportunidade que o estudante tem de
entrar no mercado antes mesmo de se formar.
Equipe LA: Há, também, muitas pessoas que optam
por alimentos industrializados devido à sua rotina
agitada. De que forma isso interfere no mercado de
trabalho? Há uma demanda maior pelo profissional de
Engenharia de Alimentos?
Comer é uma das necessidades mais básicas do ser
humano, e, ainda que seja em diferentes graus de
intensidade, nos dias de hoje, dependemos do alimento
industrializado – seja ele o prato pronto congelado ou o
famoso leite longa vida. Dessa maneira, não é difícil concluir
que a demanda por esse profissional tende a aumentar,
naturalmente, com o crescimento populacional. Quando
acrescentamos os novos estilos de vida e o próprio perfil
das novas gerações a essa equação, fica ainda mais claro
que o campo de atuação do engenheiro de alimentos está
em constante crescimento e evolução.
Equipe LA: De acordo com uma investigação da Polícia
Federal, que culminou na recente Operação Carne
Fraca, a carne produzida e comercializada no Brasil tem
chegado ao consumidor com a composição adulterada
e até com o prazo de validade vencido. Nesse sentido,
qual é o papel desse profissional na garantia do valor
nutricional e da qualidade dos alimentos?
Ao atuarmos nas áreas de Controle de Qualidade, somos
diretamente responsáveis por garantir que os produtos
sejam seguros e adequados ao consumo e que cumpram
com as chamadas Boas Práticas de Fabricação, além
das legislações e regulamentações vigentes. Por sua vez,
os profissionais responsáveis pela fiscalização (sejam
eles engenheiros de alimentos, veterinários, zootecnistas
etc.) também têm um papel fundamental em assegurar
o cumprimento desses padrões. Vale mencionar que,
por falta de conhecimento técnico específico, muitas
informações foram divulgadas de maneira irresponsável,
gerando insegurança e confusão junto aos consumidores.
Também cabe ao profissional da área, nesse momento,
esclarecer ao consumidor todas as dúvidas que possam
surgir sobre o processamento de alimentos, fomentando a
discussão e trazendo ainda mais transparência à relação
entre a indústria e seus consumidores.
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Equipe LA: Como o desenvolvimento de novas
tecnologias afeta o dia a dia do profissional dessa
área? O que são tecnologias limpas e como elas são
utilizadas nesse campo de atuação?
Muitos profissionais da área trabalham diretamente com o
desenvolvimento de novos produtos e novos processos,
e a tecnologia está muito presente no segmento, desde
o nível molecular até o industrial. Vemos, cada vez mais,
a multidisciplinaridade que as novas tecnologias trazem:
por exemplo, o uso de impressão 3D para a produção de
alimentos em larga escala. Quanto às tecnologias limpas,
acredito que elas já se tornaram um pilar da indústria
de alimentos, que deve sempre buscar otimizar o uso
de recursos como água e energia, além de minimizar o
desperdício e gerenciar corretamente o descarte de resíduos.
Equipe LA: Motivadas por uma preocupação com a
saúde e até com o processo de produção dos alimentos
industrializados, muitas pessoas têm buscado mais
produtos naturais e orgânicos. Como isso pode afetar
o trabalho do engenheiro de alimentos?
Equipe LA: Quais os desafios e as perspectivas
do mercado de trabalho para os profissionais de
Engenharia de Alimentos daqui para a frente?
O principal desafio do engenheiro de alimentos (e da indústria
como um todo) é atender às demandas de consumidores
cada dia mais exigentes, em um cenário de mudanças
constantes. Um produto alimentício pode levar anos do
conceito ao lançamento, portanto é preciso entender as
tendências hoje e traduzi-las em desenvolvimentos para
o futuro. Do ponto de vista do mercado de trabalho,
com tudo o que foi mencionado, fica fácil perceber que é
uma área ampla e de muitas possibilidades, tanto para o
presente quanto para o futuro.
“Um produto alimentício pode
levar anos do conceito ao
lançamento, portanto é preciso
entender as tendências hoje e
traduzi-las em desenvolvimentos
para o futuro.”

© Monika Wisniewska | Dreamstime.com

O profissional dessa área produz alimentos para toda a
população, desde os orgânicos (e outras categorias de
alto valor agregado) até os econômicos, que possibilitam
a muitas pessoas o consumo de determinados macro e
micronutrientes. O fato de que mais consumidores têm
tido esse tipo de preocupação e buscado produtos mais
naturais não diminui a necessidade ou a importância da
indústria (e engenheiros) de alimentos, cujo papel e desafio
passa a ser desenvolver tecnologias que permitam a
produção de alimentos com cada vez mais qualidade,
rastreabilidade e transparência.

Equipe LA: O aumento da consciência ambiental dos

consumidores tem levantado uma preocupação, por
exemplo, com o aproveitamento integral dos alimentos
e resíduos. Diante disso, como o profissional de
Engenharia de Alimentos pode aliar sustentabilidade e
produção industrial?
Em muitos aspectos, a produção industrial de alimentos
possibilita o uso integral do alimento e de seus resíduos.
Uma fruta considerada esteticamente inadequada para o
varejo pode ser facilmente processada para a produção
de sucos, enquanto novas tecnologias para o uso de
resíduos, como fibras e biomassa, vêm surgindo em uma
taxa cada dia maior.

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 PA R Ê N T E S E

O culto ao corpo

© Dmitry Kuznetsov | Dreamstime.com

Po r B r u n o Fe r r e i r a d e Fr e i t a s
O conceito de belo teve sua origem na Grécia Antiga, onde a capacidade intelectual e física dos indivíduos
era associada a ter um corpo perfeito. Naquela época, a beleza do pensamento, a procura por conhecimento e
a perfeição física eram vistas como complementares, o que pode ser traduzido na frase “mens sana in corpore
sano” – mente saudável em corpo são.
Para os gregos, a busca pela estética e pela intelectualidade era uma maneira de homenagear os deuses. Assim,
o termo “deus grego”, utilizado nos dias de hoje como referência ao culto da beleza, remete-se a esse período. Anos mais
tarde, já em meados do século XVIII, o corpo perfeito passou a ser relacionado a uma maior produtividade do homem;
e, no século XXI, com o crescimento da mídia e da indústria da beleza, a busca pela perfeição começou a ganhar novos
contornos, nos quais o belo passa a se sobrepor à inteligência. Assim, podemos nos questionar: qual é o limite da vaidade?
Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (Isaps) apontam que o Brasil é o segundo país no
ranking mundial de procedimentos estéticos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O estudo indica que, em 2015, foram
realizadas mais de 1 milhão e 200 mil cirurgias no país, sendo que a lipoaspiração e o implante de silicone, respectivamente,
ocupam o topo da lista. Entretanto, nessa corrida da vaidade, os brasileiros não lotam apenas as clínicas de estética:
segundo uma pesquisa realizada pelo Internacional Health, Racquet & Sportclub Assosciation – IHRSA Global Report 2015, o
Brasil também é o segundo colocado em número de academias instaladas no país.
Atualmente, a imposição pelo corpo perfeito sofre influência da indústria de consumo – moda e cosméticos – e da mídia
– comerciais de TV, filmes e novelas –, que reforçam a todo instante a beleza aliada ao físico. Nesse contexto, homens e
mulheres se tornam cada vez mais vaidosos e acabam, muitas vezes, cometendo excessos prejudiciais nos cuidados com
o corpo. É nesse ponto que a busca pela perfeição entra em conflito com a questão da saúde, já que, quando os indivíduos
não se enquadram nos chamados “padrões de beleza” e procuram por diversas maneiras para alcançá-los, surge um
problema social, pelo qual todos nós somos responsáveis.
A obsessão pela ditadura da beleza é também uma das principais causas de doenças ligadas à imagem que o
indivíduo tem do próprio corpo, geralmente ocasionadas por fatores psicológicos, como a anorexia nervosa, a bulimia e
a vigorexia – que podem ser diagnosticadas e mais bem esclarecidas por profissionais de saúde especializados. Nessas
situações, por conta de uma busca exacerbada pela adequação da imagem, esses transtornos colocam em risco a
própria saúde e o bem-estar do indivíduo.
Sendo assim, é preciso respeitar certos limites, até porque, muitas vezes, o que se quer é algo inatingível, que coloca
em risco o equilíbrio do organismo, banalizando e expondo o ser humano como um objeto-essência. Porém, é necessário,
sim, cuidar da alimentação, da saúde, do corpo e da mente para que tenhamos uma vida longa e saudável, sempre
prezando para que o autoconhecimento e a consciência guiem os cuidados com o corpo físico e emocional.

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 Mosaico •

METRÓPOLE
A G E N D A •

Cultural Experiência Paulistana

Até 18 de setembro
ONDE: São Paulo (SP).
A Pinacoteca do Estado oferece a exposição
Metrópole, que traz obras de vários artistas
paulistanos manifestando peculiaridades sobre
a aventura de viver na maior cidade da América
© Duncan Noakes | Dreamstime.com

Latina. São 80 trabalhos de 33 artistas, incluindo

O EFEITO DA CARNE
O documentário Cowspiracy – O segredo da
sustentabilidade, dos jovens cineastas Kip Andersen e
Keegan Kuhn, traz uma tese aterrorizante: os índices
de poluição na Terra (e, consequentemente, do
efeito estufa) cairiam drasticamente se a população
deixasse de consumir carne. Segundo estudos
realizados por órgãos do mundo todo e reunidos
nesse filme, a produção agropecuária destrói
o planeta para que a carne chegue às mesas
das pessoas. Pela ótica dos autores, a grande
produção de grãos em bilhões de m2 para
alimentar os animais, a altíssima quantidade
de água que eles consomem e a poluição em
larga escala gerada nesse processo têm impacto
muito maior que os danos causados por todas
as chaminés industriais e veículos no mundo
todo. O documentário também questiona entidades
ambientais famosas que não denunciam esse tema.
pinturas, fotografias, vídeos e instalações.
INFO: <pinacoteca.org.br>.
HISTÓRIA
Galeria de valores
Até 31 de dezembro
ONDE: Rio de Janeiro (RJ).
O dinheiro sempre foi um coadjuvante importante
nas relações entre as pessoas, principalmente nos
meios urbanos, onde o monetário sempre falou
alto. O Centro Cultural Banco do Brasil traz uma
coleção de cédulas e moedas que circularam no
país desde o período colonial e abre um panorama
sobre a economia brasileira.
INFO: <culturabancodobrasil.com.br>.
SAÚDE
Clube do Pedal
Até 1 de dezembro
ONDE: São Carlos (SP).
O Sesc São Carlos promove toda quarta-feira, das
19h às 21h30, um passeio noturno de bicicleta por
vias da cidade. O programa é gratuito. O ponto
de encontro é na frente do Sesc. Os participantes
devem ter, além de sua bike, equipamento básico
de segurança e água. O percurso, considerado
leve, é de 25 km.
INFO: <www.sescsp.org.br>.

TRANSGÊNICOS

GMO OMG. Direção: Jeremy Seifert.
EUA, Compeller Pictures, 2013.
O documentário busca informações sobre o
que são GMO (organismos geneticamente
modificados), que estão presentes em
quase todos os alimentos comercializados
no planeta, e qual o impacto deles na
saúde das pessoas. Os GMO vieram para
ficar, e a grande maioria das pessoas não
sabe disso.
VEIGA, José Eli (Org.). Transgênicos
– Sementes da discórdia. São Paulo:
Senac, 2006.
O livro traz visões diferentes sobre os
alimentos transgênicos. Estão compiladas
teses de especialistas que defendem as
técnicas, críticas de um ativista que aponta
os riscos à saúde e comentários de um
sociólogo que analisa os efeitos das duas
visões na sociedade. Ao final, o leitor é quem
desenvolve sua própria visão sobre o tema.
A Engenharia em nossos alimentos
Palestra da geneticista botânica Pamela
Ronald sobre a produção de alimentos
geneticamente modificados. Segundo
Pamela, as modificações genéticas já existem
há séculos e não haveria motivos para as
novas tecnologias não serem aceitas. Para
ela, há muito preconceito imperando sobre o
assunto e a atividade já salvou muitos países
de morrer de fome.
Acesse: <www.ted.com/talks/pamela_ronald_the_case_
for_engineering_our_food>.

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