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PRINCIPAIS TEMAS EM
GINECOLOGIA &
OBSTETRÍCA
ÍNDICE
1. Ciclo Menstrual..........................................................................................................04
2. Hormônios..................................................................................................................10
3. Anticoncepção............................................................................................................12
4. Climatério...................................................................................................................19
5. Amenorréia................................................................................................................24
Conceitos, fisiologia, amenorréia primária, amenorréia secundária e etiologia da amenorréia:
hipogonadismo hipogonadotrófico, atraso constitucional da puberdade, hiperprolactinemia, Síndrome
de Sheehan, anovulação crônica, falência ovariana precoce e malformações uterovaginais
6. Sangramento Uterino Anormal................................................................................29
7. Sangramento Uterino Disfuncional.........................................................................33
8. Lesões Uterinas Estruturais.....................................................................................36
Adenomiose, Pólipo endometrial, Pólipo cervical, Leiomioma uterino,
9. Infertilidade...............................................................................................................42
Infertilidade feminina, infertilidade masculina, Indutores da ovulação e reprodução assistida.
10. Endometriose.............................................................................................................46
11. Síndrome Anovulatória Crônica Hiperandrogênica..............................................50
12. Úlcera Genital............................................................................................................53
Abordagem sindrômica, sífilis, cancro mole, herpes genital, donovanose, linfogranuloma venéreo.
13. Corrimento Vaginal: Cervicite e Vulvovaginite......................................................58
Abordagem sindrômica, vaginose bacteriana, candidíase vulvovaginal, tricomoníase, cervicites
14. Corrimento uretral....................................................................................................61
Abordagem sindrômica, uretrite gonocócica, uretrite não-gonocócica
15. Doença Inflamatória Pélvica....................................................................................63
16. Mama: doenças Benignas..........................................................................................65
Mastalgia, Adensamentos e cistos, descarga papilar, nódulos
17. Câncer de mama........................................................................................................70
18. Câncer de endométrio................................................................................................74
Câncer de endométrio, hiperplasia endometrial.
19. Tumor neoplásico de ovário......................................................................................78
20. Câncer de colo de útero..............................................................................................82
Câncer de colo de útero, HPV
21. Histerectomia..............................................................................................................88
22. Gravidez......................................................................................................................89
23. Gravidez: Modificações no organismo materno......................................................91
24. Gravidez: Diagnóstico................................................................................................94
25. Pré-natal......................................................................................................................97
26. Infecções Perinatais....................................................................................................103
27. Sangramentos da Primeira Metade..........................................................................109
28. Abortamento...............................................................................................................109
29. Prenhez ectópica.........................................................................................................113
30. Doença trofoblástica gestacional...............................................................................116
31. Sangramentos da Segunda Metade...........................................................................120
Descolamento prematuro de placenta, Placenta prévia, Inserção anômala de placenta, Rotura de vasa
prévia, rotura do seio marginal, rotura uterina.
32. Incompatibilidade Materno Fetal.............................................................................125
33. Amniorrexe Prematura..............................................................................................127
CICLO MENSTRUAL
O sistema hormonal feminino é regido por uma hierarquia: hormônio de liberação das gonadotrofinas (GnRH)
liberado pelo hipotálamo; hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), hormônios
sexuais da hipófise anterior secretados em resposta ao GnRH; estrogênio e progesterona, secretados pelo
ovário em resposta ao FSH e LH. Este é o eixo hipotálamo-hipófise-ovário (HHO).
Ciclo menstrual normal:
-Duração do ciclo menstrual: de 21 a 35 dias, com média de 28 dias.
-Duração do fluxo menstrual: varia de 2 a 7 dias. Por convenção, o primeiro dia da menstruação é considerado
o primeiro dia do ciclo menstrual.
-Perda sanguínea: 20 a 60 ml ou 20 a 80 ml (esses três dados numéricos anteriores variam entre fontes).
-Fases do ciclo ovariano: folicular, ovulatória (essa fase apenas em alguns livros-fonte) e lútea
-Fases do ciclo uterino: proliferativa, secretora e menstrual.
Ciclo ovariano:
-Fase folicular: consiste no período em que o folículo dominante é selecionado e se desenvolve sob a ação do
FSH até se tornar um folículo maduro. A duração dessa fase varia de 10-14 dias; é justamente essa variação
que determina a variação da duração do ciclo menstrual.
-Fase lútea: compreende o período da ovulação até o aparecimento da menstruação. A duração dessa fase é
normalmente fixa, durando 14 dias.
-Fase ovulatória: quando se considera essa fase, ela se estende do recomeço da meiose I após o pico do LH até a
rotura folicular, com a ovulação propriamente dita.
Eixo HHO:
Hipotálamo: desempenha um papel central na iniciação do ciclo menstrual. É uma estrutura neural situada na
base do cérebro, responsável pela liberação de neuro-hormônios, que são fatores liberadores de hormônios
hipofisários. São eles:
Hormônio de liberação das gonadotrofinas (GnRH): estimula a secreção de FSH e LH
Hormônio de liberação do hormônio do crescimento (GHRH): estimula a secreção de GH
Fator de liberação da corticotrofina (CRF): regula a secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)
Hormônio liberador da tireotrofina (TRH): regula a secreção do hormônio estimulador da tireóide (TSH)
O GnRH é secretado de forma pulsátil e contínua, necessária para uma função
adequada do restante do eixo. A fase folicular se caracteriza por pulsos
freqüentes de pequena amplitude de secreção do GnRH. Já na fase lútea há
um aumento progressivo do intervalo entre os pulsos, no entanto, a amplitude
é maior que na fase folicular. Essa redução na freqüência de pulso no final da
fase lútea é imprescindível para a diminuição da secreção de LH e aumento da
secreção de FSH. O GnRH tem meia-vida de 2 a 4 minutos.
Existem situações bem documentadas que levam a uma regulação incorreta do
eixo HHO e à amenorréia secundária. São exemplos: exercícios físicos, estresse, problemas emocionais, dietas
e demandas nutricionais.
Hipófise: localizada na sela túrcica, uma depressão óssea próxima ao hipotálamo. Se divide em duas partes:
-Adenohipófise (hipófise anterior): derivada do ectoderma epidérmico, não sendo composta de tecido neural.
Os hormônios produzidos pelo hipotálamo alcançam a adenohipófise pela circulação porta-hipofisária, não
existindo comunicação neural direta entre essas duas estruturas. É ela responsável pela secreção de FSH, LH,
TSH, ACTH, GH e prolactina.
-Neurohipófise (hipófise posterior): composta apenas por tecido neural, se constituindo como um
prolongamento do hipotálamo. Tem origem diferente da adenohipófise, sendo derivada do tecido
neuroectodérmico. Secreta dois hormônios: a ocitocina e a vasopressina (hormônio antidiuréitco – ADH).
Ovários: são as gônadas femininas responsáveis pela produção dos esteróides sexuais e pelo desenvolvimento
CICLO OVARIANO
Fase Folicular
É a primeira fase do ciclo ovariano. Nesta fase, ocorre uma sequência ordenada de eventos que culminam no
recrutamento de uma coorte de folículos para a seleção do folículo dominante. Aproximadamente 6-12 ou
mais folículos são recrutados a cada ciclo.
O folículo destinado à ovulação passa por vários estágios. O resultado final é, comumente, um único folículo
maduro viável. Este processo dura cerca de 10 a 14 dias.
-Folículo primordial: Cada oócito circundado por uma camada de células da granulosa é denominado folículo
primordial. É este o primeiro estágio do
desenvolvimento folicular. O oócito está
paralisado no estágio diplóteno da prófase
I meiótica. A fase inicial do crescimento
folicular é independente das
gonadotrofinas, ou seja, não depende de
regulação hormonal. O mecanismo
regulador parece estar no próprio ovário.
-Folículo primário: o folículo primordial
torna-se um folículo primário com a
multiplicação das células da granulosa. Há
rápida proliferação das células da
granulosa em mais de duas camadas e
surgimento de outra camada de células, por
fora das células da granulosa, chamada de
teca;
-Folículo secundário ou pré-antral: surge
quando os folículos primários ao invés de
sofrerem atresia (pois possuem padrão de
crescimento limitado) adquirem a
capacidade de responder a elevação dos
níveis de FSH, incentivando o seu
crescimento. A partir dessa fase o
crescimento do folículo passa a depender
das gonadotrofinas hipofisárias. O oócito
aumenta de tamanho e é recoberto por uma
membrana, a zona pelúcida, que o separa
das células da granulosa circundantes.
As células da teca externa formam a
cápsula do folículo, altamente
vascularizada. (Teoria das duas células,
CICLO UTERINO
O ciclo ovariano é acompanhado por alterações endometriais que tem o objetivo de preparar o endométrio
para a implantação. Essas alterações espelham a ação do estrogênio e da progesterona.
A camada cíclica do endométrio é denominada camada funcional, que se subdivide em camada esponjosa
(mais profunda) e camada compacta . Já a camada basal, que corresponde a um terço inferior do endométrio,
sofre poucas alterações durante o ciclo, sendo responsável pela regeneração do endométrio após a
menstruação.
Endométrio proliferativo
Ocorre logo após a menstruação. Caracteriza-se por crescimento mitótico progressivo da camada funcional,
em resposta a níveis circulantes de estrogênio. O endométrio, inicialmente fino (1mm) atinge cerca de 10mm
na fase pré-ovulatória. A modificação predominante nessa fase é a transformação das glândulas endometriais
inicialmente retas e curtas em estruturas mais longas e tortuosas.
Endométrio Secretor
Aproximadamente 48 a 72 horas após a ovulação a secreção de progesterona modifica histologicamente o
endométrio para a fase secretora. Esta caracteriza-se pela atuação da progesterona em contraposição à ação
a isquemia endometrial e perda do tecido. A produção de prostaglandinas que ocorre durante todo o ciclo se
intensifica; a PGF2alfa é um potente vasoconstrictor que intensifica os espasmos arteriolares, causa isquemia
adicional do endométrio e leva à ocorrência de contrações miometriais. O fluxo menstrual cessa como
resultado da vasoconstricção prolongada, do colapso tecidual, da estase vascular e da reparação induzida pela
ação estrogênica decorrente do início de novo ciclo.
ALTERAÇÕES MENSTRUAIS
Muco: o muco vaginal, produzido
pelas células glandulares da
endocérvice, sob o efeito do
estrogênio, torna-se mais fluido,
comparável à clara de ovo, e adquire a
capacidade da filância, tornando-se
elástico. Já sob ação da progesterona,
o muco torna-se espesso, turvo e
perde a elasticidade, de aspecto
viscoso.
Mamas: na fase proliferativa, os
níveis crescentes de estrogênio
causam um rápido desenvolvimento
do tecido epitelial. Na fase secretora,
os níveis crescentes de progesterona
promovem a dilatação dos ductos
mamários. No período pré-menstrual,
o aumento simultâneo de estrogênio e
progesterona resulta em aumento da
Fonte de Pesquisa:
MedCurso 2010 – Ginecologia volume 1
Atlas de Anatomia Humana – Prometheus
Fisiologia do Sistema Reprodutor feminino - Universidade do Minho.
HORMÔNIOS
A pituitária (hipófise) anterior das meninas, como a dos meninos, não secreta praticamente nenhum hormônio
gonadotrópico até à idade de 10 a 14 anos. Entretanto, por essa época, começa a secretar dois hormônios
gonadotrópicos. No inicio, secreta principalmente o hormônio foliculo-estimulante (FSH), que inicia a vida
sexual na menina em crescimento; mais tarde, secreta o hormônio luteinizante (LH), que auxilia no controle
do ciclo menstrual.
O Colesterol para formar qualquer hormônio na supra-
renal deve ser antes convertido em pregnenolona. Como
podemos constatar, a progesterona é o primeiro esteróide
sexual de importância a ser formado. Mais adiante vêm
os androgênios (dehidroepiandrosterona [DHEA],
androstenediona e testosterona), e só no final surgem os
estrogênios (estrona e estradiol). Estes se formam
diretamente a partir dos androgênios (sintetizados no
córtex adrenal e nas células da teca interna), através de
um processo bioquímico de aromatização. A
aromatização se dá tanto no folículo ovariano como no tecido adiposo.
ESTROGÊNIOS
Os estrogênios são formados a partir de andrógenos nas células foliculares, mediado pela enzima aromatase
p450. Também são formados pela aromatização da androstenediona na circulação (feita pela aromatase p450).
O estradiol é o principal estrogênio e biologicamente o mais ativo. O estradiol de origem ovariana constitui
90% do estradiol circulante.
Os estrogênios são muito potentes, pois uma vez que boa parte da androstenediona e da testosterona não chega
a ser convertida respectivamente em estrona e estradiol, esta altíssima potência dos estrogênios torna-se uma
necessidade biológica da mulher. Isto porque a natureza feminina tem que se proteger contra os riscos de uma
deficiente conversão de androgênios em estrogênios. Neste sentido, outro mecanismo de defesa que a mulher
possui reside na capacidade que o seu tecido adiposo apresenta de efetuar a conversão periférica da
androstenediona em estrona.
Relação com FSH e LH: os estrogênios fazem, à nível central, feedback (-) com o FSH; quando em níveis
constantes exercem feedback (-) com o LH, enquanto que um aumento abrupto de estrógenos exerce um
feedback (+) do LH (fato que ocorre pouco antes da ovulação).
Funções do Estrogênio:
-Proliferação celular: induz as células de muitos locais do organismo a proliferar. Por exemplo, na
musculatura lisa do útero, causa aumento da vagina e o desenvolvimento dos lábios que a circundam, faz o
púbis se cobrir de pêlos, os quadris se alargarem e o estreito pélvico assumir a forma ovóide, em vez de
afunilada como no homem; provoca o desenvolvimento das mamas e a proliferação dos seus elementos
glandulares, e, finalmente, leva o tecido adiposo a concentrar-se, na mulher, em áreas como os quadris e
coxas, dando-lhes o arredondamento típico do sexo.
-Ossos: também estimula o crescimento de todos os ossos logo após a puberdade, mas promove rápida
calcificação óssea, fazendo com que as epífises se fechem dentro de poucos anos, de forma que o crescimento,
então, pára. Por isso a mulher cresce mais rápido, porém menos do que o homem. Na menopausa, a
diminuição da ação do estrogênio desregula os osteoblastos, nesta situação os osteoclastos se sobressaem,
havendo uma remoção grande de cálcio dos ossos, levando a osteoporose.
-Mamas: causam (1) desenvolvimento dos tecidos do estroma das mamas, (2) crescimento do extenso sistema
canalicular e (3) deposição de gorduras nas mamas. No entanto, são a progesterona e a prolactina que
ocasionam o crescimento determinativo e a função dessas estruturas (produção de leite).
-Pele: fazem com que a pele adquira textura macia. Além disso, fazem com que a pele se torne mais
PROGESTERONA
Relação com o FSH e LH: quando em altas quantidades e de forma contínua, exerce feedback (-) para o FSH
e LH. Entretanto, a liberação aguda de progesterona aumenta as concentrações plasmáticas de LH nas 24-48
horas seguintes.
Funções da Progesterona: a progesterona tem pouco a ver com o desenvolvimento dos caracteres sexuais
femininos; está principalmente relacionada com a preparação do útero para a aceitação do embrião e à
preparação das mamas para a secreção láctea. Em geral, a progesterona aumenta o grau da atividade secretória
das glândulas mamárias e, também, das células que revestem a parede uterina, acentuando o espessamento do
endométrio e fazendo com que ele seja intensamente invadido por vasos sangüíneos. Determina, ainda, o
surgimento de numerosas glândulas produtoras de glicogênio. Finalmente, a progesterona inibe as contrações
do útero e impede a expulsão do embrião que está se implantando ou do feto em desenvolvimento.
PROLACTINA
Hormônio secretado pelo lactotrofo da hipófise anterior. Sua produção é pulsátil, regulada pelo controle
inibidor da dopamina secretada no hipotálamo.
Portanto, qualquer situação que diminua os
níveis de dopamina ou em distúrbios que
interrompam a circulação porta-hipofisária,
resultarão em aumento dos níveis de prolactina.
É um hormônio primariamente relacionado à
lactação. Clinicamente, níveis aumentados de
prolactina associam-se à anovulação, amenorréia e
galactorréia.
Embora o controle inibitório tônico da prolactina
prevaleça, muitos estímulos podem causar a sua
liberação, a saber: manipulação das mamas, drogas,
estresse, exercícios físicos e alguns alimentos.
Nenhum fator de liberação fisiologicamente
significativo foi ainda detectado em humanos.
OCITOCINA
Peptídio produzido principalmente pelo
hipotálamo. Sua secreção é deflagrada pela sucção,
através de um sinal emitido pela estimulação
mamária através de nervos torácicos até a medula
espinhal e daí para o hipotálamo.
Sua principal função é a estimulação de dois tipos
específicos de contração muscular: contração
muscular uterina durante o parto e contração dos
ductos lactíferos mamários que ocorrem durante o
reflexo de ejeção do leite.
ANTICONCEPÇÃO
A contracepção é, provavelmente, a principal preocupação da mulher na idade reprodutiva. No Brasil, o
Ministério da Saúde disponibiliza diversos métodos na atenção pública de saúde com este intuito. Cabe ao
profissional de saúde respeitar as particularidades de cada casal e assegurar que todas as mulheres tenham
acesso às informações que permitam escolher o método mais adequado para a sua realidade.
MÉTODOS COMPORTAMENTAIS
Resumem-se na observação dos sinais e sintomas que caracterizam as diversas fases do ciclo, com abstinência
sexual periódica. Devem ser abolidos na perimenopausa e próximo à menarca, devido a maior prevalência de
ciclos irregulares. O casal deve abster-se de sexo no período fértil, ou seja, por 3 dias antes da data presumida
da ovulação até 3 dias após, uma vez que o espermatozóide permanece viável no trato genital feminino por até
72 horas. A taxa de falha pode chegar a 20% no primeiro ano.
MÉTODOS DE BARREIRA
Possuem como mecanismo de ação a interposição de uma barreira mecânica ou química que impeça a
ascensão de espermatozóides da vagina para o útero. A utilização correta, ou de métodos associados,
aumentam a eficácia.
Preservativo masculino: envoltório de látex que deve ser colocado no pênis ereto antes do início do ato
sexual. O usuário deve ser orientado a retirar o pênis da vagina assim que ocorra a ejaculação, evitando que o
conteúdo saia do reservatório com a diminuição da ereção. Tem validade, no geral, de 5 anos. A única restrição
é a alergia ao látex. Tem IP variando de 2 a 15%, a depender do uso correto.
Vantagens: protege contra DSTs (inclusive HIV e HepB), não depende de acompanhamento médico e é de
fácil acesso. Não dá proteção total contra o HPV devido a contaminação pelo contato da pele não coberta.
Desvantagens: requer motivação, manipulação durante o ato sexual e pode romper-se.
Preservativo feminino: consiste em um tubo de 17cm de comprimento e 8cm de diâmetro, com uma
extremidade fechada e outra aberta e com dois anéis mais rígidos em cada extremidade. Pode ser inserido até 8
horas antes do ato sexual e não é necessário que seja retirado imediatamente após a relação. Pode ser
associado a lubrificantes espermicidas, o que aumenta a eficácia do método. IP varia de 5 a 21%.
Vantagens: protege contra DSTs, inserção e retirada fora do intercurso sexual e maior resistência.
Desvantagens: proteção parcial contra Herpes e HPV, custo mais elevado e o anel pode provocar desconforto.
Diafragma: dispositivo circular flexível coberto por uma membrana de silicone ou látex. Tem o inconveniente
de depender de consulta médica para avaliar o tamanho adequado do diafragma para a paciente e oferecer as
informações quanto a introdução e retirada. A associação com espermicida aumenta a eficácia. Pode ser
inserido até duas horas antes do intercurso sexual e sua remoção só poderá ser feita 6-8 horas após a relação,
para garantir maior tempo de exposição do espermatozóide ao espermicida. IP varia de 6 a 16%.
CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA
Deve-se ter em mente que a contracepção de emergência não protege contra a DST e não pode passar a ser um
método usual. Não há contraindicação para o método, por ser este ocasional. A única contraindicação absoluta
para a anticoncepção de emergência, pela OMS, é a gravidez confirmada. O IP é, em média, 2%. Quanto mais
próximo do ato sexual for utilizado, maior a efetividade, decrescendo com o tempo. Novas evidências
sugerem que existe efetividade com o uso até o 5° dia da relação sexual desprotegida, podendo, então, serem
utilizados.
Indicações: estupro, ruptura de preservativo, deslocamento de DIU e coito episódico não protegido.
Mecanismo de ação: varia conforme o momento do ciclo menstrual e com o método utilizado. Se utilizado na
primeira fase do ciclo menstrual, antes do pico do LH, irá alterar o desenvolvimento dos folículos, impedindo
a ovulação ou retardando-a por vários dias. Na segunda fase do ciclo, após a ovulação, o método atua
alterando o transporte de espermatozóides e do óvulo nas trompas: o mais importante é a modificação do
muco cervical, tornando-o espesso e hostil, impedindo ou dificultando a movimentação dos espermatozóides;
além disso, interfere na capacitação dos espermatozóides, processo fundamental na fecundação
-O mecanismo de ação deste tipo, sendo administrado antes ou após a ovulação, não envolve quaisquer efeitos após a
fecundação, não existindo evidências científicas que suportem um possível efeito abortivo deste método.
Efeitos colaterais: os efeitos mais importantes são as náuseas e vômitos, tonteiras, cefaléia, fadiga, mastalgia,
dor abdominal e irregularidade menstrual. Toda paciente deve ser alertada que não é esperado um sangramento
após o uso do método, podendo ocorrer, entretanto, o sangramento esperado para o fluxo menstrual ou este
pode ocorrer de forma adiantada ou retardada.
-Caso ocorram vômitos nas primeiras duas horas após a ingestão do comprimido, a dose deve ser repetida. Caso
persistam, pode-se optar pela utilização da via vaginal, com eficácia semelhante.
Tipos:
-Método de levonorgestrel: 0,75mg espaçados por 12 horas, ou em dose única de 1,5mg, que deve ser tomado
até 5 dias da relação, porém preferencialmente dentro de 72 horas desta. É mais efetivo, não apresenta as
contraindicações e efeitos colaterais típicos dos estrógenos e pode ser utilizado por mulheres em uso de
antirretrovirais, como em casos de violência sexual.
-Método de Yuzpe: também deve ser usado em até 5 dias do coito. É necessária a dose total de 0,2mg de etinil-
estradiol e 1mg de levonorgestrel, divididas em doses iguais a cada 12 horas.
Posologia: pílula com 0,05 de etinil-estradiol + 0,25mg de levonorgestrel -> 2 comprimidos a cada 12 horas;
pílula com 0,03mg de etinil-estradiol e 0,15mg de levonorgestrel -> 4 comprimidos a cada 12 horas.
-DIU de cobre: deve ser inserido em até 5 dias do coito. Contraindicado se estupro com alto risco de DST
CONTRACEPÇÃO HORMONAL
Os contraceptivos hormonais são constituídos de um estrogênio e uma progesterona sintéticos. Eventualmente,
um progestógeno isolado é utilizado.
Mecanismo de ação: os contraceptivos combinados promovem a anovulação pelo bloqueio do eixo HHO.
Suprimem o FSH e LH basais e diminuem a capacidade da hipófise de secretar gonadotrofinas em resposta ao
GnRH, além de possuírem efeito hipotalâmico. Com isso os folículos não amadurecem e não ocorre o pico do
LH no meio do ciclo necessário à ovulação. Já os contraceptivos orais apenas de progestogênios (minipílula)
promovem ciclos ovulatórios em até 40% dos casos e, eventualmente há maturação do folículo. Eles agem
atrofiando o endométrio e tornando o muco cervical mais espesso, alterando a motilidade tubária. A pílula
contendo apenas desogestrel 0,075mg (Cerazette®) é a mais efetiva em inibir a ovulação, com IP de 0,3-0,8.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Ginecologia volume 1.
CLIMATÉRIO
Climatério é o período fisiológico que se inicia desde os primeiros indícios de falha ovariana, mesmo que os
ciclos continuem regulares ou até ovulatórios e termina na senilidade (65 anos). Nem sempre é sintomático.
Definições:
-Perimenopausa: é o período que compreende os anos que precedem a menopausa e os doze meses que se
seguem à menopausa. Há a presença de distúrbios da duração do ciclo menstrual.
-Menopausa: definida como a última menstruação devido à falência ovariana. É um diagnóstico retrospectivo,
após passado um ano de ter ocorrido. A idade média de ocorrência da menopausa é aos 51 anos.
-Pós-menopausa: período que se inicia doze meses após a última menstruação e vai até os 65 anos de idade.
-Senilidade: período que se inicia a partir dos 65 anos de idade.
Perimenopausa: A irregularidade menstrual é a maior característica dessa fase. Isto se deve a um aumento
dos níveis de FSH, que ocorre na perimenopausa, determinando um recrutamento e amadurecimento folicular
mais precoces.
Lembrar que a duração da fase folicular (primeira fase) é o principal determinante da duração do ciclo menstrual.
Além disso, a diminuição do número de ovócitos próximo à menopausa, há diminuição dos níveis de inibina, produto
das células da granulosa, que exerce um importante feedback negativo sobre a secreção do FSH. Com a diminuição
deste estímulo, os níveis de FSH se elevam.
Apesar dos níveis de FSH elevados, quanto mais próximo à menopausa os folículos envelhecidos tornam-se
cada vez mais resistentes à estimulação deste hormônio, o que torna a fase folicular mais longa e os ciclos
menstruais irregulares. A ausência de menstruação se instala quando o número decrescente de folículos atinge
o número crítico de 1.000 folículos, o que representa o limite inferior necessário para manter os ciclos
menstruais. Já os níveis de estradiol começam a cair apenas cerca de 6 meses a um ano antes da parada
completa do desenvolvimento folicular, uma vez que são mantidos pelos altos níveis de FSH. Apesar do
aumento do número de ciclos anovulatórios, enquanto há produção de estrogênio, ovulação e formação do
corpo lúteo, com produção de progesterona, o feedback do LH é mantido e os seus níveis não se elevam até
instalada a menopausa.
-Manifestações: o sintoma mais importante desta fase é a irregularidade menstrual, ocorrendo em mais de 50%
das mulheres. Sangramento uterino anormal (SUA) nessa fase pode ocorrer, e só pode ser considerado
decorrente de alterações hormonais (há um tecido proliferativo resultante dos efeitos estrogênicos não
contrabalanceado pela ação da progesterona, pois há vários ciclos anovulatórios) após cuidadosa avaliação
para excluir patologias subjacentes, devendo o câncer de endométrio ser sempre lembrado. Depressão,
ansiedade e irritabilidade podem ocorrer e não parecem estar associadas às alterações hormonais, sendo
decorrente de distúrbios psicológicos, envolvendo a aceitação do envelhecimento e a parada da procriação.
O câncer de endométrio tem incidência de 10% em mulheres com SUA durante o climatério. Na sua investigação,
deve ser realizada uma análise histopatológica de amostra endometrial, obtida através de histerectomia, exame de
eleição para diagnóstico de lesões hiperplásicas, ou, na sua ausência, de curetagem uterina fracionada (CUF)
Após excluídas as etiologias malignas, devemos tratar o sangramento. Para isso, a primeira opção é a Terapia
Hormonal (TH), usualmente com ACO combinados de baixa doses. Como a dose de estrogênio é 4 vezes
maior que a usada na menopausa, essas pílulas devem ser substituídas pela TH clássica aos 50 anos. Outras
opções são o uso de acetato de medroxiprogesterona na segunda fase do ciclo mensalmente, que supre a
ausência de progesterona (pois os ciclos são geralmente anovulatórios) ou inserção de um DIU de
progesterona, responsável pela diminuição do sangramento vaginal e leva a amenorréia em 50% dos casos.
Menopausa: apesar do ovário ter esgotado sua população folicular e a mulher ter entrado na menopausa, o
ovário continua ativo e todo o perfil hormonal da mulher se altera. Como não há mais folículos, a produção de
estrogênio pelo ovário torna-se desprezível. O principal estrogênio da mulher deixa de ser o estradiol,
produzido pelos folículos, e passa a ser a estrona, produto da aromatização nos tecidos periféricos (muscular,
hepático, cerebral e, sobretudo, adiposo) dos androgênios produzidos pelas suparrenais e ovários,
principalmente da androstenediona. As alterações dos níveis estrogênicos são responsáveis pela maior parte da
PROPEDÊUTICA DO CLIMATÉRIO
Check-Up do climatério: por ser um período onde há aumento significativo de doenças crônicas, neoplásicas
e cardiovasculares, é essencial a avaliação rotineira da mulher, especialmente naquelas que farão uso de TH.
Deverão ser solicitados: lipidograma, glicemia, pesquisa de sangue oculto nas fezes (a partir dos 50 anos),
colpocitologia oncótica, mamografia, USG pélvica e DMO (em >65 anos ou com fatores de risco). Dosagem
de FSH, LH e estrogênio não deve ser rotineira. Avaliação dos hormônios tireoidianos só é necessária em
casos sintomáticos.
Orientações: intensificar precauções em relação ao sedentarismo, controle de PA e glicemia, tratamento de
dislipidemia e tireoidopatias, interrupção do tabagismo, tratamento de obesidade e investigar história familiar
de doenças crônicas e neoplasias.
Tratamento:
-Alterações vasomotoras: o tratamento inicial dos fogachos é a adoção de práticas que diminuem a
temperatura corporal, como exposição a ambientes arejados e uso de roupas leves. A prática de exercícios e a
interrupção do fumo também são efetivos. A TH reduz os sintomas dias após a sua instituição, mas deve ser
feita pelo menor tempo possível, de forma contínua; a maior dificuldade é a interrupção desta terapêutica, pois
frequentemente observa-se o retorno dos sintomas. A clonidina, um alfa-2 agonista central e periférico,
também pode ser utilizado, principalmente como primeira opção em hipertensas; na dose de 0,1-0,2mg/dia,
apresenta 80% de remissão dos sintomas. Outras opções são a paroxetina e a tibolona. Compostos à base de
fitoestrogênicos não apresentam evidência científica de eficácia no tratamento dos sintomas climatérios.
-Alterações atróficas: o tratamento com reposição estrogênica leva a uma melhora dramática dos sintomas em
cerca de um mês. Os lubrificantes vaginais, apesar de proporcionarem alívio dos sintomas, principalmente da
dispareunia, não promovem melhora no trofismo vaginal, podendo ser úteis nas pacientes com sintomas leves.
Quando outros fatores estão associados à deterioração sexual, tais como o envelhecimento, saída dos filhos de
casa, limitações físicas e não se sentir atraente, o acompanhamento psicológico é útil.
-Alterações de humor: a melhora dos sintomas vasomotores com a TH estrogênica influencia diretamente nas
alterações do humor.
-Osteoporose: os objetivos do tratamento visam a prevenção primária da osteoporose e a prevenção de fraturas
em pacientes com osteoporose já instalada. Estímulo à atividade física (30 minutos, 3x/semana, com
sobrecarga de peso), dieta (rica em cálcio) e interrupção do tabagismo são as principais medidas para
prevenção primária da osteoporose. Em relação aos medicamentos para prevenção e tratamento da
osteoporose, destacam-se:
-TH com estrogênios: inibem a reabsorção óssea, mas deve-se avaliar a relação custo-benefício, só devendo ser
indicada na impossibilidade de outras opções.
-Bifosfonatos: drogas de escolha para o tratamento da osteoporose. Reduzem a incidência de fraturas e comprovada-
mente aumentam a massa óssea do fêmur e da coluna vertebral. As principais medicações do grupo incluem:
alendronato (5mg/dia para prevenção, 10mg/dia para tratamento) e risedronato (5mg/dia). Podem ser administrados
semanalmente, multiplicando-se a dose por 7. Contra-indicados em renais agudos/crônicos e em grávidas.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010, Ginecologia volume 3.
AMENORRÉIA
A ausência de menstruação é um sintoma comum, que pode acometer até 5% das mulheres. Conceitos:
-Hipomenorréia: redução nos dias de duração do fluxo menstrual.
-Oligomenorréia: redução na freqüência das menstruações, ou seja, intervalos superiores a 35 dias.
-Espaniomenorréia: se refere aos intervalos menstruais superiores a 45 dias.
-Criptomenorréia: o sangramento não se exterioriza por alterações no trajeto de saída; ex. hímen imperfurado.
-Amenorréia: ausência de menarca ou de menstruação por, no mínimo, 3 ciclos consecutivos ou 6 meses.
-Atraso menstrual: ausência de menstruação por período inferior a 3 ciclos.
A amenorréia é considerada fisiológica na infância, na pós-menopausa, na gestação e no puerpério.
Classificação:
-Amenorréia primária: ausência de menstruação aos 14 anos de idade associada a falha no desenvolvimento
sexual (ausência de características sexuais secundárias) ou ausência de menstruação aos 16 anos mesmo que
com caracteres sexuais secundários presentes.
-Amenorréia secundária: ausência de menstruação por 6 meses ou pelo tempo equivalente a três ciclos
menstruais, uma vez a mulher no menacme.
Fisiologia:
-Ciclo menstrual: a menstruação é a eliminação cíclica do endométrio. O estímulo inicial para o
funcionamento hormonal feminino é o GnRh, um neuro-hormônio produzido pelo hipotálamo e secretado de
forma pulsátil; chega à hipófise pela circulação porta-hipofisária, onde estimula a secreção do FSH e LH.
Essas gonadotrofinas hipofisárias atuam nos folículos ovarianos, estimulando a produção de estrogênio e
progesterona, e o pico do LH desencadeia a ovulação. O estrogênio e a progesterona atuam no endométrio,
acarretando modificações do tipo proliferativo ou secretor, com o objetivo de prepará-lo para a implantação do
ovo. Caso não ocorra a gravidez, a secreção desses dois hormônios pelo corpo lúteo diminui, o que leva a
descamação do endométrio, originando o sangramento de privação hormonal, dito, menstruação. Vale salientar
que estímulos exógenos (meio ambiente), endógenos (órgãos e hormônios) e alterações psíquicas podem
intervir na regularidade do ciclo menstrual.
-Embriologia do aparelho reprodutivo: o desenvolvimento embriológico sexual normal consiste de três
processos sequenciais relacionados:
Estabelecimento do sexo cromossômico na fertilização: o organismo será masculino se XY e feminino se XX. Nos
dois primeiros meses de gestação os dois sexos se desenvolvem de maneira exatamente idêntica.
Determinação do sexo gonadal: se dá quando as gônadas até então indiferenciadas se desenvolvem em ovários ou
testículos, a partir de 8 semanas de gestação.
Desenvolvimento dos fenótipos sexuais: ocorre quando as estruturas precursoras sexuais indiferenciadas dão origem
às características masculinas ou femininas. Para que desenvolvam-se os órgãos masculinos, deve haver estímulo pela
testosterona produzida pelo testículo. Caso não ocorra estímulo pela testosterona, na ausência de testículos, o fenótipo
desenvolvido será feminino, mesmo na ausência dos ovários. Esse processo se completa por volta de 12 semanas no
sexo masculino e pouco mais tarde no sexo feminino.
AMENORRÉIA PRIMÁRIA
Os casos de amenorréia primária devem ser analisados de acordo
com a presença ou ausência dos caracteres sexuais secundários. O
exame físico minucioso pode demonstrar anormalidades no
desenvolvimento da genitália externa, virilização, hematocolpo e
estigmas de Turner. Diante da presença de sinais de determinada
patologia, não será difícil buscar o diagnóstico etiológico,
dispensando a realização de exames adicionais. Nos casos de
virilização é recomendável a avaliação das adrenais e ovários
através de dosagens hormonais, exames de imagem e cariótipos.
AMENORRÉIA SECUNDÁRIA
A propedêutica da amenorréia secundária envolve:
-Dosagem de TSH: tem o objetivo de detectar o
hipotireoidismo subclínico (TSH elevado, T4 normal),
encontrado em pequeno número de pacientes amenorréicas
e/ou com galactorréia. Para relembrar, o TRH além de
estimular a secreção do TSH, apresenta ação estimuladora
sobre a produção de prolactina, o que explica a necessidade
de dosagem do TSH nos casos de amenorréia.
-Dosagem de prolactina: a prolactina é um hormônio
sintetizado pela adeno-hipófise que possui as funções fisiológicas de indução e manutenção da lactação,
inibição da função reprodutiva e inibição do impulso sexual. É secretada de forma pulsátil e com grande
variação durante o dia a fase do ciclo folicular, o que exige que, caso haja um nível elevado, este deva ser
confirmado. A hiperprolactinemia promove amenorréia pela inibição da secreção pulsátil de GnRH e
galactorréia pelo estímulo ao tecido mamário.
-Teste da progesterona: avalia simultaneamente o status estrogênico e a patência do trato genital. Baseia-se na
administração de acetato de progesterona 10mg/dia durante 5 dias ou de progesterona micronizada oral 300mg
por dia durante 5 dias. 2 a 7 dias após o término do esquema devemos avaliar se:
-Ocorre sangramento: significa que o estrogênio endógeno ocasionou a proliferação endometrial normal e o trajeto de
saída está pérvio. Portanto, deduz-se que o endométrio foi preparado previamente pelo estrogênio, mas não houve o
efeito da progesterona, por ausência de corpo lúteo, e sua conseqüente queda que faria ocorrer a menstruação. Caso
necessário, prossegue-se a investigação da causa específica da anovulação. Vale salientar que a exposição do
endométrio sem a oposição da progesterona é fator de risco para câncer de endométrio, devendo ser oferecido
tratamento à mulher, que consiste em: acetato de medroxiprogesterona 10mg nos 10 a 12 últimos dias do ciclo ou
anticoncepcionais orais combinados de baixa dosagem.
-Ausência de sangramento: deve-se suspeitar de causas relacionadas à produção estrogênica deficiente, resposta
endometrial inadequada ou fator obstrutivo do trato de saída. Prossegue-se então a propedêutica com o próximo teste.
-Teste do estrogênio: baseia-se na administração de estrogênios conjugados 1,25mg/dia ou 2mg de estradiol
por via oral durante 21 dias, com associação do acetato de medroxiprogesterona 10mg nos últimos cinco dias.
A mimetização de um ciclo com estrogênio e progesterona exógenos visa examinar a resposta endometrial: a
ocorrência de sangramento (teste positivo) exclui obstrução do trato de saída (causas uterovaginais), enquanto
a falta de resposta ao ciclo artificial atesta anomalias do trato genital. Portanto, o teste negativo geralmente
está associado a causas de amenorréia primária.
-Dosagem de FSH: nas pacientes em que se evidencia sangramento após o teste do estrogênio devem ser
avaliadas quanto à presença de uma causa ovariana ou um distúrbio no eixo hipotálamo-hipofisáio. Para isso,
dosa-se o FSH, que fará uma distinção entre:
-Hipogonadismo hipergonadotrófico: dosagens elevadas de FSH (>20mUI/ml) indicam que há integridade do eixo,
não estando ocorrendo produção hormonal a nível ovariano. Ex: menopausa e falência ovariana precoce.
-Hipogonadismo hipogonadotrófico: dosagens baixas de FSH (<5mUI/ml), por sua vez, indicam que não há produção
hormonal a nível ovariano por ausência de estímulo central. Ex: pré-púbere, disfunções hipofisárias e hipotalâmicas.
A alteração dos níveis de gonadotrofinas justifica o rastreio de tumores do SNC, através de RNM e/ou TC.
AMENORRÉIAS HIPOFISÁRIAS
O hipopituitarismo representa a minoria das amenorréias secundárias. Tumores, infartos, lesões infiltrativas ou
granulomatosas, ablações cirúrgicas, radioterapia e hiperprolactinemia podem determinar essa entidade.
Hiperprolactinemia: A hiperprolactinemia, como citado, promove amenorréia pela inibição da secreção
pulsátil de GnRH e galactorréia pelo estímulo ao tecido mamário. Pode provocar ainda hipoestrogenismo e
osteoporose, caso não tratada. Esses efeitos podem ser contornados com o uso de agonistas da dopamina,
como a bromocriptina e a cabergolina, pois a dopamina é o principal fator inibidor da secreção de prolactina.
Sempre que os níveis de prolactina estão elevados, uma vez descartadas outras causas secundárias de
hiperprolactinemia, deve-se solicitar uma RNM da hipófise visando identificar um possível prolactinoma, o
AMENORRÉIAS GONADAIS
Anovulação crônica: engloba todas as situações onde há falhas repetidas da ovulação. É causada por uma
assincronia entre a secreção de gonadotrofinas e a produção de estrogênio, com alteração dos complexos
mecanismos de feedback do eixo HHO, que culmina no insucesso do processo de maturação folicular e da
ovulação. Não há hipogonadismo, pois a produção de estrogênio é normal. O tratamento da anovulação
consiste em: desejo de gravidez → indução da ovulação com citrato de clomifeno; desejo de anticoncepção →
anticoncepcionais combinados ou acetato de medroxiprogesterona, visando induzir a decidualização do
endométrio, impedindo a progressão para hiperplasia endometrial.
-Síndrome da Anovulação Crônica Hiperestrogênica Hiperandrogênica: sua fisiopatologia é controversa. Resulta em
irregularidade menstrual, hirsutismo, acne, obesidade central, resistência à insulina e infertilidade
Disgenesia gonadal: importante causa de amenorréia primária. Está, na maioria dos casos, associada a
alterações cromossômicas, em especial a síndrome de Turnner.
-Síndrome de Turnner: anormalidade cromossomial mais comum como causa de insuficiência gonadal e amenorréia.
Aproximadamente 40% das mulheres com amenorréia primária apresentam ovários em fita (disgenesia). Não há o
desenvolvimento adequado dos caracteres sexuais secundários. A genitália é feminina e pré-púbere; útero, trompas e
vagina estão presentes, porém infantilizados. Várias alterações e estigmas podem ser encontrados.
Falência ovariana precoce: definida como a falência ovariana antes dos 40 anos de idade. Pode ser idiopática
ou secundária a irradiação pélvica, quimioterapia, processos infecciosos autoimunes, cirurgias, tumores ou
resistência ovariana as gonadotrofinas (síndrome de Savage). Dependendo da época que se manifesta, pode
determinar amenorréia primária ou secundária. Se pré-púbere, a deficiência estrogênica causa o
hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. Se no menacme, aparecem sintomas climatéricos.
Deficiência de 5 alfa-redutase: essa enzima faz a conversão da testosterona na sua forma ativa, a
diidrotestosterona (DHT). As pacientes com esse distúrbio apresentam cariótipo XY, ou seja, apresentam
genitália externa feminina ou ambígua, pela não exposição fetal à DHT, e genitais internos masculinos
(testículos). Na puberdade, a elevação da produção de testosterona irá produzir alterações no timbre da voz,
ereção, libido masculino e desenvolvimento normal das mamas. Isso torna o manejo extremamente difícil, na
dependência do sexo de criação do indivíduo.
AMENORRÉIAS UTEROVAGINAIS
Para que o sangramento menstrual ocorra de forma cíclica e regular, além de um eixo em total integração com
o meio endógeno e exógeno, é necessária a resposta proliferativa do endométrio ao estímulo estrogênico, sua
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Ginecologia volume 1
Nas provas de residência geralmente são questionadas as causas de menorragia. Sendo assim, são elas:
Coagulopatias (as já citadas + anticoagulantes), lesões estruturais (leiomioma, adenomiose e pólipos), neoplasias
(adenocarcinoma endometrial, sarcoma uterino) e outras (endometrite, hipotireoidismo, DIU, hiperestrogenismo e
endometriose).
Fontes de Pesquisa:
Sangramento uterino anormal: aspectos atuais da propedêutica. UERJ, 2003.
Sangramento uterino anormal. PUC – RS Ginecologia de Williams
Fonte de Pesquisa:
Sangramento uterino anormal: aspectos atuais da propedêutica. UERJ, 2003.
Sangramento uterino anormal. PUC – RS
Ginecologia de Williams www.medicina.net
Fonte de Pesquisa:
MedCurso 2010 – Ginecologia volume 2.
INFERTILIDADE
A infertilidade acomete 7 a 15% dos casais em idade reprodutiva. Conceitos:
-Infertilidade: ausência de gestação após um ano de coito sem uso de métodos contraceptivos.
-Esterilidade: é a incapacidade permanente de procriação.
Classificação: a infertilidade pode ser: primária → ausência de gestação prévia; secundária → história de
gestação prévia, mesmo que o produto da gestação não seja um nascido vivo.
Etiologia: entre as causas de infertilidade, 35% delas estão associadas ao fator masculino e 65% ao fator
feminino. Quando considerado apenas o fator feminino, temos como causas: fator ovulatório (40%), fator
tuboperitoneal (40%), infertilidade sem causa aparente (10%) e causas variadas (10% - fator uterino, fator
cervical, dentre outras).
Propedêutica: o início da investigação do casal dependerá da idade da mulher: >35 anos → a investigação
deve ser inciada após seis meses de atividade sexual sem método anticoncepcional ou imediatamente; < 35
anos → a investigação deve ser iniciada após um ano de atividade sexual sem método anticoncepcional.
Anamnese: deve conter dados sobre freqüência de relações sexuais, história menstrual, paridade prévia,
antecedentes de DST ou cirurgias sobre órgãos pélvicos e hábitos (uso de drogas, atividade física...).
Outros fatores relevantes: fertilidade em outros relacionamentos, uso prévio de anticoncepcional, presença de
anomalias dos órgãos pélvicos, história médica e cirúrgica, medicamentos em uso, história de quimioterapia e/ou
radioterapia, exposições ambientais e ocupacionais, disfunção sexual, impotência masculina, dispareunia,
sinusiorragia, exames e tratamentos prévios para infertilidade e aspectos psicológicos.
Exame físico: é fundamental. Inclui aferição de peso, altura e pressão arterial e avaliação do biotipo,
distribuição de pêlos, galactorréia, palpação da tireóide e exame ginecológico completo.
Exames complementares: os exames complementares gerais consistem em: sorologias para toxoplasmose,
citomegalovírus, hepatite B, rubéola, herpes simples, HTLV e HIV. Os exames complementares específicos,
que fazem parte da propedêutica básica de investigação, divergem na literatura, mas, de forma geral,
consistem em: espermograma, dosagens hormonais (FSH e estradiol basais, prolactina, TSH, T4 livre e
progesterona da segunda fase do ciclo), USG transvaginal seriada e histerossalpingografia. A
videolaparoscopia (VLSC) e a vídeo-histeroscopia (VHSC) devem ser individualizadas e não fazem parte da
propedêutica inicial.
Suplementação: a suplementação de ácido fólico é indicada e deve ser prontamente inciada para redução do
risco de malformações do tubo neural.
INFERTILIDADE FEMININA
De início, vale salientar que a mudança ocorrida na vida da mulher nas últimas décadas, relacionada à
educação, trabalho e uso de métodos contraceptivos, resultou no atraso do desejo reprodutivo. O impacto
desse atraso é claro: a idade cronológica é um forte determinante do sucesso reprodutivo, já que é fator crucial
na reserva ovariana. A fertilidade na mulher atinge o seu máximo aos 25 anos e cai consideravelmente após os
35 anos. Esse declínio é decorrente da produção mais precoce do pico de estradiol necessário à ovulação, o
que prejudica o desenvolvimento folicular; essa alteração é causada pelo aumento do FSH em fases mais
precoces por menor produção de inibina pelas células da granulosa. Outro fator que contribui para a queda da
fertilidade é o maior índice de abortamentos de 1º trimestre, devido a uma maior incidência de anormalidades
nos oócitos mais velhos.
Fator ovulatório: os distúrbios da ovulação são responsáveis por 40% de todos os casos de infertilidade
feminina. Por isso, inicialmente, a ovulação deve ser documentada. Ciclos regulares e aqueles acompanhados
de sintomas pré-menstruais correlacionam-se fortemente com a presença de ovulação (95%). Os métodos de
diagnóstico da ovulação e das alterações da fase lútea, com exceção da USG seriada, baseiam-se na produção
de progesterona pelo corpo lúteo após a eclosão do folículo.
-Curva da temperatura basal: é o método mais fácil e barato de se documentar a ovulação. A paciente registra
INFERTILIDADE MASCULINA
A fertilidade masculina atinge um pico aos 35 anos de idade e diminui nitidamente a partir dos 45 anos. Com o
envelhecimento, há uma queda dos níveis de testosterona, fato que está associado a um decréscimo na
produção de espermatozóides e um aumento proporcional dos gametas anormais, mais sutil que aquele
apresentado pelas mulheres. Entretanto, aqui o fator idade é muito menor se comparado com a mulher.
Espermograma: faz parte da rotina básica de investigação do casal infértil. A história anterior de paternidade
não descarta esta avaliação. Consiste na avaliação de características objetivas – volume, liquefação, pH,
viscosidade, concentração, número total de espermatozóides, motilidade, morfologia e vitalidade – em uma
amostra de esperma com os valores de referência definidos pela OMS. O estudo da amostra deve ser realizado
em, no máximo, 1 hora após a coleta. Diante de um exame totalmente normal, não há a necessidade de
repetição; em contrapartida, caso seja encontrada alguma análise anormal, recomenda-se a repetição do
exame, de preferência com mais duas amostras em tempos diferentes. Caso ainda persistam alterações, está
indicada a dosagem hormonal de: FSH, LH e testosterona. Abstinência sexual de 2 a 3 dias, nem mais nem
menos, deverá ser respeitada antes da análise, para que não se altere a contagem ou vitalidade dos
espermatozóides. A coleta deve ser preferencialmente em laboratório, por meio de masturbação.
TRATAMENTO
O tratamento do casal é direcionado para a causa da infertilidade (ver tabela adiante).
Indução da ovulação:
-Citrato de clomifeno: é a droga de escolha nos casos de anovulação, iniciado na dose de 50mg/dia, por 5 dias,
a partir do 3º ou 4º dia do ciclo menstrual. O monitoramento do ciclo por USG-TV seriada é recomendada e
visa acompanhar o crescimento folicular e programar o coito.
ENDOMETRIOSE
A endometriose é a presença de tecido endometrial em localização extrauterina. Estes sítios ectópicos
localizam-se usualmente na pelve, embora possam ser encontrados em qualquer outro lugar do corpo. Apesar
de ser uma desordem comum, sua prevalência não é bem estabelecida. Estima-se que seja encontrada em 1%
das mulheres submetidas à cirurgia ginecológica, em 12 a 32% das mulheres no menacme submetidas à
videolaparoscopia (VLSC) por dor pélvica crônica, em 9 a 50% das mulheres submetidas à VLSC por
infertilidade e em 50% das adolescentes submetidas à VLSC para avaliação de dor pélvica.
Fatores de risco: a influência da idade, raça e status socioeconômico na prevalência da endometriose é
controversa. Entretanto, a endometriose é uma doença característica do menacme. Fatores de risco mais bem
estabelecidos são: história familiar de mãe acometida pela doença (fator genético associado a fatores
ambientais), ocorrência de gestação tardia ou nuliparidade, menarca precoce, ciclos menstruais curtos (<27
dias), presença de malformações uterinas, baixo IMC, raça branca e consumo exagerado de cafeína e álcool.
Etiologia: a etiologia não foi bem elucidada. Várias teorias buscam explicar a ocorrência da endometriose.
-Teoria da Implantação ou da Menstruação retrógrada ou do Refluxo menstrual: essa teoria propõe que, como
o sangue menstrual contém células endometriais viáveis, a regurgitação transtubária durante a menstruação
disseminaria essas células na cavidade peritoneal, que são capazes de se aderir e implantar. Entretanto, como a
menstruação retrógrada é um evento fisiológico em mais de 90% das mulheres saudáveis, outro fator deve
estar associado para que ocorra o desenvolvimento da doença.
-Teoria imunológica: propõe que a endometriose se desenvolve naquelas pacientes que apresentam alguma
alteração da imunidade humoral e celular, e que por isso as células endometriais escapariam de serem
eliminadas pelo sistema imune. A maior presença de leucócitos e macrófagos na cavidade peritoneal facilitaria
a implantação e desenvolvimento do endométrio ectópico, pela liberação de citocinas e fatores de crescimento.
-Teoria da metaplasia celômica: o epitélio celômico presente no peritônio é composto por células totipotentes.
Esta teoria baseia-se na capacidade deste epitélio sofrer metaplasia e originar células endometriais em locais
ectópicos. Observações na literatura sugerem que este seja o mecanismo responsável por alguns casos:
-Ocorrência de endometriose em meninas na pré-menarca e em mulheres que nunca menstruaram;
-Ocorrência de endometriose pleural ou pulmonar, já que as células endometriais não tem acesso ao tórax na ausência
de defeitos anatômicos (a pleura, assim como o peritônio, deriva do epitélio celômico totipotencial);
-Ocorrência de endometriose em locais incomuns, como nas extremidades (polegar, coxa e joelho);
-Ocorrência de raros casos de endometriose em homens que receberam altas doses de estrogênio na terapêutica do
câncer de próstata.
-Teoria da indução: corresponde a uma extensão da teoria na celômica, na qual acredita-se que há um fator
bioquímico endógeno capaz de induzir o desenvolvimento das células endometriais a partir das totipotentes.
-Teoria iatrogênica: evidências sugerem que o endométrio ectópico pode ser induzido de forma iatrogênica
por um transplante mecânico. Se baseia nos numerosos relatos de endometriose em cicatriz após
procedimentos ginecológicos, como cesariana, episiotomia, amniocentese e, até mesmo, VLSC.
-Disseminação linfática: essa teoria explica a rara presença de endometriose em sítios distantes da pelve. A
disseminação de células endometriais se daria por meio do sistema linfático.
Fisiopatologia: o desenvolvimento e o crescimento da endometriose é estrógeno-dependente. A aromatase,
enzima que converte os androgênios em estrogênios, é expressa de forma anormal no endométrio das
mulheres acometidas por endometriose. Os principais sítios de acometimento da endometriose são: ovários
(65%), ligamento uterossacros (2 a 60%), fundo-de-saco posterior (30-35%), folheto posterior do ligamento
largo (16-35%) e fundo-de-saco anterior (15-35%). Outros sítios menos comuns encontrados envolvem a
vagina, cérvice, septo retovaginal, ceco, íleo, canal inguinal, cicatrizes abdominais ou perineais, ureteres,
bexiga e umbigo. Casos excepcionais já foram descritos em mamas, fígado, vesícula biliar, extremidades,
vértebras, ossos, pulmão, diafragma e SNC, entre outros. Na microscopia da endometriose, observam-se
glândulas e estroma endometriais com ou sem macrófagos repletos de hemossiderina. Já macroscopicamente,
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Ginecologia volume 2
Ginecologia Ambulatorial Baseada em Evidências. IMIP, 2010.
ÚLCERA GENITAL
A etiologia da úlcera vulvar é extensa, evolvendo doenças infecciosas, neoplásicas e sistêmicas. Este capítulo
abrangerá as úlceras genitais decorrente de DST. As DST que cursam com úlcera apresentam risco 18,2 vezes
maior na transmissão do HIV.
ABORDAGEM SÍNDRÔMICA
Considerando que o diagnóstico clínico das úlceras genitais é,
por vezes, difícil de ser realizado, o Ministério da Saúde lançou
no seu Manual de Controle das Doenças Sexualmente
Transmissíveis – DST, de 2006, o fluxograma para a abordagem
sindrômica das úlceras genitais.
*Em caso de herpes, tratar sífilis se VDRL reagente. Se o quadro
não é sugestivo de herpes, tratar sífilis e cancro mole.
**Se forem lesões ulcerosas múltiplas e alta a soroprevalência de
herpes, deve-se tratar herpes juntamente com a sífilis e cancro mole.
Concomitantemente à instituição do tratamento, deve-se
aconselhar e oferecer à pacientes os testes anti-HIV, VDRL,
sorologia para Hepatite B e C, e vacinar contra a hepatite B.
Enfatizar a adesão ao tratamento, notificar, convocar o parceiro e
agendar retorno.
Tratamento:
-Herpes genital:
-1° episódio: Aciclovir 200mg VO 4/4 hrs por 7 dias OU 400mg VO 8/8 hrs por 7 dias.
-Recorrência: iniciar tratamento preferencialmente ao surgimento dos pródromos (aumento da sensibilidade, ardor,
dor, prurido). Aciclovir 400mg VO 8/8 hrs por 5 dias.
-Imunodeprimidos: nos casos de manifestações severas com lesões mais extensas, pensar na possibilidade de
coinfecção por HIV. Aciclovir 5-10mg/kg de peso EV 8/8 horas por 5 a 7 dias.
-Gestantes: tratar a infecção em qualquer trimestre da gestação.
-Sífilis primária e cancro mole: na ausência de lesões vesiculosas, recomenda-se o tratamento presuntivo
destas duas doenças, que são as causas mais freqüentes de úlcera genital.
-Lesão > 4 semanas: nesses casos, deve-se suspeitar de donovanose, linfogranuloma venéreo ou neoplasias.
Encaminhar o paciente ou, se possível, realizar biópsia para investigar. Simultaneamente, iniciar tratamento
para donovanose, por no mínimo 3 semanas ou até a cura clínica, com: Doxiciclina 100mg VO 12/12 OU
Eritromicina 500mg VO 6/6 OU Azitromicina 1g VO em dose única seguido por 500mg VO/dia.
SÍFILIS
Doença infecciosa sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência quando
não tratada. É causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria Gram-negativa de transmissão sexual ou vertical,
que pode produzir, respectivamente, as formas adquirida ou congênita da doença. O risco de infecção em um
intercurso sexual é 60% nas lesões de cancro duro e condiloma plano.
Transmissão: se dá por via sexual, através de soluções de continuidade, por via transplacentária e pela via
hematogênica (transfusão de sangue contaminado ou acidente de trabalho com material contaminado), esta
última cursando com o quadro da “sífilis decapitada”, isto é, sem a presença do cancro duro.
Etiopatogenia: Com um período de incubação de 10 a 90 dias (média de 21 dias), aparece a lesão primária da
sífilis, o o cancro duro, na região em que se deu a inoculação do T. pallidum. Após penetração e multiplicação
do treponema, há migração deste para a via linfática, gânglios satélites e corrente sangüínea, podendo se
instalar em diferentes órgãos e sistemas do corpo humano.
Classificação
-Sífilis adquirida: → recente (menos de um ano de evolução): primária, secundária e latente recente
→ tardia (mais de um ano de evolução): latente tardia e terciária
-Sífilis congênita: → recente: casos diagnosticados até dois anos de vida;
→ tardia: casos diagnosticados após os dois anos de vida
História natural e manifestações
-Sífilis Primária (cancro duro): Os principais locais de inoculação treponêmica e do protossifiloma são, no
homem, o sulco balano-prepucial e a glande do pênis; na mulher, colo uterino, vulva (muita atenção aos
pequenos e grandes lábios) e períneo. O cancro duro é uma lesão erosada ou ulcerada, geralmente única,
indolor, com bordos endurecidos, fundo liso, brilhante e secreção serosa escassa, repleto de treponemas vivos.
Acompanha-se de adenopatia regional indolor, móvel e não supurativa, que aparece
cerca de 10 dias após o surgimento da lesão. A lesão regride espontaneamente em 2 a 6
semanas, deixando, às vezes, uma cicatriz. Em 50% das mulheres e 30% dos homens
não ocorre a lesão primária. Por ser uma porta de entrada, a sífilis aumenta as chances
de contrair o HIV em duas a três vezes.
-Sífilis secundária: de 6 a 8 semanas do aparecimento do cancro duro e após sua cicatrização espontânea,
podem ocorrer lesões cutâneo-mucosas, não ulceradas, geralmente acompanhadas de micropoliadenopatia
generalizada e, ocasionalmente, de artralgias, febrícula, cefaléia e adinamia. Já existem anticorpos circulantes.
A principal manifestação desta fase da sífilis é cutânea. Regridem em 2 a 8 semanas
-Sifílides: pápulas eritemato-acastanhadas e não pruriginosas, sobretudo nas palmas das mãos e
plantas dos pés, que sugerem fortemente o diagnóstico do secundarismo.
-Alopecia aerata: é a queda de cabelo difusa, não cicatricial e que regride com o tratamento.
-Roséola: lesões papulares eritematosas, principalmente em tronco, podendo formar exantema morbiliforme
-Condiloma plano: é uma lesão altamente contagiosa que se caracteriza por pápulas de aspecto vegetante e úmido,
localizadas em zonas de dobras e atrito, como sulco interglúteo e região perineal.
-Placas mucosas: erosões planas, acinzentadas, recobertas por uma membrana úmida e halo eritematoso.
-Sífilis latente: A sífilis latente se estende desde o desaparecimento do secundarismo até a primeira
manifestação do terciarismo, caracterizando-se por testes sorológicos positivos para sífilis, mas sem achados
clínicos. Divide-se em precoce (recente) e tardia. Os pacientes nesta fase podem permanecer nela pelo resto da
vida, manifestarem sintomas do secundarismo ou evoluírem para a sífilis terciária.
-Sífilis terciária: surge 3 a 20 anos após a infecção. As principais apresentações são: lesões cutâneo-mucosas
(tubérculos ou gomas sifilíticas), neurológicas (tabes dorsalis, demência), cardiovasculares (aortite luética com
conseqüente aneurisma aórtico) e articulares (artropatia de Charcot). Não se observam treponemas nas lesões e
as reações sorológicas tem títulos baixos.
Diagnóstico:
-Pesquisa direta: só se aplica a lesões das fases primária e secundária. Exige colher material da lesão e observar
CANCRO MOLE
É uma afecção de transmissão exclusivamente sexual, provocada pelo Haemophilus ducreyi, um Gram-negativo.
História natural e manifestações: o tempo de incubação é de 1-14 dias, mas geralmente
é de 2-4 dias. O risco de transmissão em um intercurso sexual é de 80%. São lesões
dolorosas, o que difere do cancro duro da sífilis, e geralmente múltiplas devido à auto-
inoculação. A borda é irregular, apresentando contornos eritemato-edematosos e fundo
irregular recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido e muito friável.
No homem, as localizações mais freqüentes são no frênulo e sulco bálano-prepucial; na
mulher, na fúrcula e face interna dos pequenos e grandes lábios. Em 30-50% dos casos o
bacilo atinge os linfonodos inguino-crurais, causando linfadenite inguinal dolorosa, unilateral (bubão),
inicialmente manifesta por tumefação sólida e dolorosa, que evolui para liqüefação e fistulização em 50% dos
casos.
Diagnóstico: O diagnóstico laboratorial é feito utilizando-se a coloração pelo método de Gram em esfregaços de
secreção da base da úlcera ou do material obtido por aspiração do bubão. Observam-se bacilos Gram negativos
intracelulares. A cultura, método diagnóstico mais sensível, é de realização difícil. O PCR é o padrão-ouro,
embora ainda de custo elevado. A biópsia não é recomendada, pois não confirma a doença.
Recomendações: a melhora clínica e reavaliação deve ocorrer 7 dias após instituído o tratamento. O tratamento
dos parceiros é sempre indicado, devido ao estado de portador assintomático. É importante excluir a
possibilidade de sífilis associada, pelo método do campo escuro ou VDRL.
DONOVANOSE
Doença crônica progressiva que acomete preferencialmente pele e mucosas das regiões genitais, perianais e
inguinais. É freqüentemente associada à transmissão sexual, embora os mecanismos de transmissão não sejam
bem conhecidos, com contagiosidade baixa. Causada pelo Calymabacterium granulomatis, um Gram-negativo.
História natural e manifestações: O período de incubação varia de 8 dias a 12 semanas, mas a minoria das
lesões surge 30 dias após exposição sexual. O quadro clínico inicia-se com ulceração de borda plana ou
hipertrófica, bem delimitada, com fundo granuloso, de aspecto vermelho vivo e de sangramento fácil. A
ulceração evolui lenta e progressivamente, podendo se tornar vegetante. Se dissemina por contigüidade ou por
auto-inoculação em superfícies próximas (lesão em espelho). A infecção secundária pode produzir dor e
exsudação (presença de pus). Não há adenite, embora possam se formar pseudo-bubões (granulações
subcutâneas). Na mulher, a forma elefantiásica é observada quando há predomínio de fenômenos obstrutivos
linfáticos.
Diagnóstico: A identificação dos corpúsculos de Donovan no material de biópsia pode ser feita pelas colorações
de Wright, Giemsa ou Leishman.
Recomendações: o critério de cura e finalização do tratamento é o desaparecimento da lesão. Devido a baixa
infectividade, não é necessário tratar o parceiro. Além dos fármacos já citados, a adição de gentamicina (1mg/kg/
dia EV 8/8) deve ser considerada nos casos graves e em grávidas desde o início do tratamento.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Deve-se realizar anamnese incluindo os critérios de risco para a identificação das mulheres com maior
possibilidade de infecção cervical por gonococo e/ou clamídia. A presença de qualquer critério é suficiente
para indicar tratamento. Nestes casos, mesmo na ausência dos sinais clínicos para cervicite ao exame
ginecológico, a paciente será considerada como portadora assintomática e deve receber o tratamento. Na
presença ou ausência de critérios de risco ou de evidências de cervicite, deve-se prosseguir com a investigação
das causas de corrimento vaginal, pesquisando as principais vulvovaginites.
VULVOVAGINITES
Considera-se como vulvovaginite toda manifestação infamatória e/ou infecciosa do trato genital feminino
inferior, ou seja, vulva, vagina e epitélio escamoso do colo uterino (ectocérvice). As vulvovaginites se
manifestam por meio de corrimento vaginal, associado a um ou mais dos seguintes sintomas inespecíficos:
prurido vulvovaginal, dor ou ardor ao urinar e sensação de desconforto pélvico. Entretanto, muitas infecções
genitais podem ser completamente assintomáticas.
Secreção vaginal fisiológica: composta por muco cervical, células vaginais e cervicais esfoliadas, secreções das
glândulas de Bartholin, pequena quantidade de leucócitos e microorganismos da flora vaginal. Tem a cor branca ou
transparente, pH ácido (abaixo de 4,5), volume variável e sem odor. Geralmente localizada no fundo de saco posterior
Flora vaginal normal: a flora normal da vagina é polimicrobiana. O Lactobacillus spp é a espécie bacteriana
predominante, representando 90% das bactérias comensais da vagina em uma mulher sadia em idade reprodutiva.
Mecanismos de defesa: um dos principais mecanismos de defesa às bactérias que habitam o trato genital inferior é o
pH vaginal ácido, que se deve à ação dos lactobacilos, que metabolizam o glicogênio das células superficiais vaginais
em ácido lático. Vale lembrar que o acúmulo de glicogênio celular é estimulado pela ação do estrogênio: esse fato
explica o porque de uma secreção vaginal abundante em grávidas, que são ricas em estrogênio.
As vulvovaginites representam uma das principais causas de consulta ao ginecologista. As pacientes
geralmente se queixam de fluxo vaginal aumentado, prurido e irritação, que podem estar associados a odor
desagradável, a ardência e a intenso desconforto.
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL
É uma infecção da vulva e vagina, causada por um fungo comensal que habita a mucosa vaginal e a mucosa
digestiva, que cresce quando o meio torna-se favorável para o seu desenvolvimento. A relação sexual não é a
principal forma de transmissão visto que esses organismos podem fazer parte da flora endógena em até 50%
das mulheres assintomáticas. É a segunda causa mais comum de corrimento vaginal.
Etiologia: Cerca de 80 a 90% dos casos são devidos à Candida albicans e de 10 a 20% a outras espécies
chamadas não- albicans (C. tropicalis, C. glabrata, C. krusei, C. parapsilosis).
Fatores de Risco: diabetes mellitus descompensado, gravidez, uso de ACHO em altas doses, uso de
antibióticos, corticóides ou imunossupressores, infecção pelo HIV e higiene inadequada.
Manifestações: prurido vulvovaginal (principal sintoma e de intensidade variável); corrimento branco
grumoso e semelhante a leite coalhado; queimação vulvovaginal; disúria e/ou dispareunia; escoriações de
coçadura; vagina e colo recobertos por placas brancas ou branco-acinzentadas, aderidas à mucosa.
Diagnóstico laboratorial:
(1) teste do pH vaginal menor ou igual a 4,5;
(2) exame direto a fresco com KOH a 10% (solução adstringente) mostra com facilidade a presença de pseudo-hifas
na secreção vaginal (em cerca de 70% dos casos)
(3) bacterioscopia pelo gram: também mostra as pseudo-hifas coradas fortemente pelo gram.
O simples achado de cândida na citologia oncótica não justifica o tratamento.
TRICOMONÍASE
É uma infecção causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis (protozoário flagelado). Sua principal forma
de transmissão é a sexual, com risco por ato de 60 a 80%, constituindo-se uma DST. Na mulher pode acometer
vulva, vagina ou cérvice, causando uma cervicovulvovaginite. Os homens são, de forma geral, assintomáticos
(excepcionalmente causa corrimento uretral)
Manifestações: a principal queixa é o corrimento abundante, amarelo ou amarelo-esverdeado, mal cheiroso e
bolhoso. Há ainda prurido vaginal intenso, hiperemia e edema da vulva e vagina, disúria, polaciúria e dor
suprapúbica (sinais inflamatórios). A sintomatologia é intensa após a menstruação ou durante a gravidez,
condição na qual está associada a feto de baixo peso e à rotura prematura das membranas. Além disso,
apresenta um achado peculiar: colpite focal ou difusa, chamada de “Colo em framboesa”
Diagnóstico: o teste do pH vaginal mostra valores acima de 4,5. O exame microscópico direto evidencia o
parasita. Cabe salientar que a tricomoníase pode alterar resultado de citologia oncótica.
CERVICITES
Cervicite mucopurulenta ou endocervicite é a inflamação da mucosa endocervical (epitélio colunar do colo
uterino). A etiologia das cervicites está relacionada com Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis.
Manifestações: Embora a infecção seja assintomática em 70-80% dos casos, a mulher portadora de cervicite
poderá vir a ter sérias complicações se não for tratada. Uma cervicite prolongada, sem o tratamento adequado,
pode-se estender ao endométrio e às trompas, causando Doença Infamatória Pélvica (DIP). Alguns sintomas
genitais leves, como corrimento vaginal, dispareunia ou disúria, podem ocorrer na presença de cervicite
mucopurulenta. O colo uterino pode ficar edemaciado, sangrando facilmente ao toque da espátula. Pode ser
verificada a presença de mucopus no orifício externo do colo. Em gestantes:
-Infecção gonocócica: poderá estar associada a um maior risco de prematuridade, ruptura prematura de membrana,
perdas fetais, retardo de crescimento intra-uterino e febre puerperal. No recém-nascido, a principal manifestação
clínica é a conjuntivite, podendo haver septicemia, artrite, abcessos e couro cabeludo, pneumonia, meningite,
endocardite e estomatite.
-Infecção por clamídia: poderá estar relacionada a partos pré-
termo, amniorrexe prematura, endometrite puerperal, além de
conjuntivite e pneumonias do recém-nascido. O recém-nascido
de mãe com infecção da cérvice por clamídia corre alto risco de
adquirir a infecção durante a passagem pelo canal de parto.
Diagnóstico: a cultura para clamídia e gonococo é o exame
considerado padrão-ouro, porém pouco disponível na prática
médica.
*Em gestantes e < 18 anos, não utilizar ciprofloxacina e ofloxacina
CORRIMENTO URETRAL
Uretrites são processos infecciosos e inflamatórios da uretra, caracterizadas principalmente pela descarga de
material purulento ou mucopurulento. Entretanto, 70% das mulheres e 30% dos homens infectados por
clamídia, assim como 80% das mulheres e 10% dos homens infectados por gonococo podem não apresentar
sintomas. Como os agentes etiológicos são transmitidos via sexual, logo a uretrite se configura uma DST.
Agentes etiológicos: as bactérias de maior importância
clínica para uretrites são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia
trachomatis. Outras bactérias também estão associadas às
uretrites, principalmente na mulher, tais como Ureaplasma
urealyticum e Mycoplasma genitalium. À exceção do N.
Gonorrhoeae, as outras bactérias são de difícil isolamento;
portanto, dividiu-se as uretrites em duas classes: Uretrites
gonocócicas e uretrites não-gonocócicas.
Abordagem sindrômica: O diagnóstico da uretrite é baseado
na presença de corrimento uretral purulento ou
mucopurulento. Caso seja possível, deve-se realizar o exame
bacterioscópico do corrimento com coloração de Gram
(durante a consulta). Como não se pode descartar a
possibilidade de co-infecção pela clamídia, cujo diagnóstico
laboratorial exige técnicas raramente disponíveis, recomenda-
se, sempre, o tratamento concomitante para as duas infecções
(co-infecção presente em 10-30%). Se estiverem ausentes os
diplococos intracelulares, deve-se tratar o paciente apenas
para clamídia como indicado no quadro abaixo, visto que o
gonococo é identificado pela bacterioscopia em 95% dos
casos.
Em menores de 18 anos, está contraindicada a ofloxacina e o
ciprofloxacina. Não se deve ordenhar a uretra durante ou após o
tratamento.
Como é uma DST, o parceiro deve ser tratado.
Se no retorno, 7-10 dias após início do tratamento, ainda houver
corrimento e se o tratamento do paciente e do parceiro foi
adequado, deve-se oferecer o tratamento para os agentes menos
freqüentes, que consiste em: Eritromicina (estearato) 500mg VO
6/6 por 7 dias + Metronidazol 2g VO dose única.
Além dessas recomendações do MS 2006, o CDC 2006
recomenda a abstinência sexual até 7 dias de iniciado o
tratamento na paciente e no parceiro.
URETRITE GONOCÓCICA - Gonorréia
É a uretrite causada pela N. gonorrhoeae, o gonococo, um diplococo Gram-negativo. O período de incubação
é curto, de 2 a 5 dias, sendo o risco de transmissão de 50% por intercurso sexual.
Manifestações: no homem, a sintomatologia é aguda: o sintoma mais precoce é o prurido na fossa navicular,
que se estende para toda a uretra e, em 1-3 dias, surge a disúria e o corrimento. Sintomas gerais como febre e
astenia podem ocorrer. Na mulher, o quadro comumente se manifesta por uma cervicite, assintomática na
grande maioria dos casos. Entretanto, pode evoluir com as mesmas complicações de uma cervicite prolongada
sem tratamento adequado: pode-se estender ao endométrio e às trompas, causando Doença Infamatória Pélvica
(DIP) e infertilidade.
Fonte de Pesquisa:
Manual de Controle das DST's. Ministério da Saúde, 2006. Brasil
Medcurso 2010 – Ginecologia.
ADENSAMENTOS E CISTOS
Atualmente, utiliza-se o termo Alterações Funcionais Benignas da Mama (AFBM) para descrever: mastalgia
cíclica, adensamentos e cistos. Representam as alterações mais freqüentes da mama, principalmente na faixa
etária do menacme.
Manifestações a tríade clássica das AFBM é: mastalgia cíclica, espessamentos mamários e cistos. Pode
ocorrer ainda descarga papilar sero-esverdeada, multiductal e bilateral.
Exame físico:
-Mastalgia cíclica: descrita no tópico anterior;
-Adensamentos: corresponde a uma área de endurecimento localizado. Aparecem, ao exame, como
espessamentos mamários, acompanhados ou não de dor e nódulos. Em geral, não requer tratamento adicional.
Decorrem das variações hormonais cíclicas, desaparecendo no período pós-menstrual.
-Cistos: são a etapa involutiva do lóbulo mamário. São tumores de aparecimento
rápido, móveis, elásticos, indolores (na maioria) e mais freqüentes nas porções
centrais da mama. A imagem ultrassonográfica dos cistos é característica:
anecoica, margens bem definidas, redonda ou oval, com reforço acústico
posterior. O tratamento consiste em uma punção da lesão à nível ambulatorial
(PAAF). O tratamento cirúrgico só está indicado para a exclusão de neoplasias
(naqueles que apresentam massa residual pós-punção ou líquido sanguinolento) e
para os casos de cistos complexos.
DESCARGA PAPILAR
Corresponde à saída de secreção pela papila, sendo considerado por alguns autores descarga papilar apenas
quando ocorre fora do ciclo gravídico-puerperal e do período da lactação. Representa 7 a 10% das consultas
no ambulatório de mastologia, possuindo em 95% dos casos uma causa benigna.
Fisiológico x patológico: a bilateralidade e a secreção multiductal são fatores
preditores de benignidade. O derrame sanguinolento ou em água de rocha,
espontâneo e/ou uniductal possui mais valor preditivo para câncer. A associação
com nódulos ou massas aumenta em torno de 60% o risco de malignidade.
Etiologia: exitem várias doenças que podem se manifestar com descarga papilar,
sendo, 95% delas, benignas. Vale salientar que o derrame em homens está mais
associado ao câncer que na mulher.
-Papiloma intraductal: Principal causa de derrame papilar sanguinolento ou serossanguinolento. Pode gerar nódulo
subareolar palpável. Não é considerado tumor pré-maligno. Comumente o tratamento é a exérese do ducto atingido.
-Papilomatose juvenil: afecção rara que se caracteriza por nódulo palpável subareolar. O derrame nem sempre está
presente. Acomete adultos jovens, entre 20 e 40 anos. Como se trata de hiperplasia ductal ou lobular, há risco
aumentado para câncer, sendo necessário acompanhamento regular.
-Carcinoma: geralmente causa derrame papilar quando associado a um nódulo.
-Ectasia ductal: é a dilatação dos ductos com estase de secreção nos mesmos.
De etiologia desconhecida, seu principal fator de risco é a idade acima de 50
anos. Não exige tratamento a menos que a descarga seja importante ou
espontâneo; se necessário, realiza-se a exérese do sistema ductal terminal.
-AFBM: caracteriza-se por descarga multiductal, bilateral e sero-esverdeada.
-Adenoma de mamilo: tumor raro, benigno e de fácil diagnóstico. Causa um
nódulo palpável nas camadas superficiais do mamilo. Em geral está associado
a derrame papilar sanguinolento.
-Galactorréia: a sua principal causa é farmacológico, sobretudo por
psicotrópicos. Pode ser causada ainda por adenomas hipofisários (galactorréia,
amenorréia e infertilidade) ou de causa idiopática.
NÓDULOS
Lesões que podem ser delimitadas nas mamas em três dimensões (largura, comprimento e profundidade).
Difere dos adensamentos porque nestes a lesão só pode ser delimitada em largura e comprimento. Embora o
seu encontro seja assustador, cerca de 80% dos nódulos mamários são benignos.
Características: o principal aspecto ao caracterizar os nódulos mamários é fazer
sua distinção entre características de benignidade e de malignidade, que irão guiar
o raciocínio clínico. Estão elas descritas ao lado.
Etiologia: são várias as causas de tumores benignos na mama. As principais são:
-Fibroadenoma: é o tumor benigno mais prevalente da mama feminina. Predomina
entre os 20 e 35 anos. Sua manifestação mais comum é o tumor palpável
fibroelástico, móvel, indolor, de 2 a 3 cm de diâmetro, com rápido crescimento
inicial e posterior estabilização. O tratamento é conservador em menores de 25
anos e com características benignas. Entre os 25 e 35 anos a conduta é
individualizada e, após essa idade, sua exérese é indicada quando palpáveis, com
rápido crescimento, se história familiar de câncer de mama e se MMG ou USG
duvidosas.
-Papiloma intraductal: sua manifestação mais comum é a descarga papilar
uniductal serossanguínea ou sanguinolenta.
-Lipoma: proliferação benigna das células adiposas. Apresenta-se como um nódulo amolecido, bem
delimitado, que pode atingir grandes dimensões. O tratamento indicado pode ser conservador ou a exérese
cirúrgica, a depender da literatura.
-AFBM: a lesão elementar é o cisto, já descrito anteriormente.
-Hamartoma: se manifesta entre a 3ª e 4ª décadas de vida. Formado por uma quantidade variável de tecido
glandular, gordura e tecido conectivo. São clinicamente muito semelhante ao lipoma, diferenciados apenas
pela histologia. O tratamento consiste na retirada completa do tumor.
Diagnóstico: os parâmetros importantes que devem ser avaliados são: tempo de surgimento, aumento de
tamanho, biópsias ou aspirações prévias de cistos, presença de dor, relação da dor com o ciclo menstrual e a
idade da paciente.
Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF): é o primeiro passo na investigação dos nódulos mamários, pois
diferencia as lesões císticas das sólidas. Permite a obtenção de material para o exame citológico. Pode ser
guiada por USG ou MMG. Não existem contraindicações absolutas ao procedimento. Tem um índice de falso-
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Ginecologia.
CÂNCER DE MAMA
O câncer de mama é definido como a proliferação maligna das células epiteliais que margeiam os ductos ou
lóbulos. É o principal câncer feminino e representa a 4ª causa de mortalidade entre as mulheres. Sua
incidência vem aumentado nos últimos anos, embora a mortalidade, nos países desenvolvidos, tem diminuído
gradativamente.
Fatores de risco:
-Sexo: 99% dos casos ocorrem em mulheres -Idade: o risco é aumentado após os 40 anos. -Raça: branca.
-Antecedentes pessoais: a história prévia de câncer de mama associa-se a risco de 50% de desenvolver um
novo câncer. Além disso, outros tumores, principalmente endométrio, ovário ou cólon, e a história de
radioterapia para linfoma de Hodgkin também estão associados com maior risco para câncer de mama.
-Lesões histológicas: a hiperplasia ductal, principalmente a atípica, incrementa o risco para o câncer de mama.
Assim também ocorre com o carcinoma ductal e lobular in situ, considerados lesões precursoras do câncer.
-História familiar: o passado de câncer de mama em parentes de 1º grau (mãe, irmã ou filha) aumenta o risco
em 2,5 vezes.
-História menstrual: menopausa tardia (>55 anos) e menarca precoce (<11 anos)
-História obstétrica: nuliparidade e primiparidade tardia (acima dos 30-35 anos).
-Fatores nutricionais: dietas ricas em gordura, sobretudo na pós-menopausa, e o sedentarismo.
-Hábitos: o etilismo e o tabagismo como fatores de risco são um tema divergente na literatura. Segundo o
Ginecologia ambulatorial baseado em evidências (IMIP), a relação entre o álcool e o CA de mama está
relacionada à ingestão diária.
-Uso de ACHO: a relação com o câncer de mama permanece controversa.
-Terapia Hormonal: outro tema divergente, porém considera-se que o uso de TH por mais que 10 anos
aumenta o risco do câncer de mama.
-Densidade mamária: isoladamente, é o fator mais importante para a avaliação do risco de uma população. A
presença de mais de 75% da mama densa representa um aumento de 5 vezes o risco de desenvolver o câncer.
-Genética: o câncer de mama pode ser classificado como esporádico ou hereditário. Apenas 5-10% dos casos
são atribuídos à herança genética e à alta penetrância de oncogenes. As mutações que tem maior influência no
surgimento do câncer de mama são as mutações do BRCA1 e BRCA2
BRCA1: mutações nesse gene aumentam o risco para 56-80% do câncer de mama e para 15-60% do câncer de
ovário. O teste genético para pesquisar mutações nesse gene deve ser sempre realizado, se possível, quando houver:
(1) um ou mais casos de CA de mama na família em idade inferior a 50 anos ou CA de ovário em qualquer idade; (2)
parente com mutação genética conhecida; (3) caso de parente do sexo masculino com CA de mama; (4) casos
múltiplos de CA, CA de mama + CA de ovário e (5) CA de ovário não mucinoso e/ou CA de tuba uterina.
-Amamentação: até hoje não está clara sua relação com o câncer de mama, como provável efeito protetor.
Fisiopatologia: a primeira célula maligna surge no epitélio ductal suscetível, ativada por fatores genéticos ou
ambientais, tais como radiação ou agentes químicos. Nesse epitélio, ocorrerá uma proliferação anormal,
denominada de hiperplasia típica. Na maior parte dos casos, essa proliferação cessa nesse estágio, sem
maiores perigos. Entretanto, em determinadas situações, os gatilhos de iniciação tumoral alteram o protótipo
celular, ocorrendo, então, hiperplasia atípica. Essa lesão pode evoluir para os reais precursores dos
carcinomas invasores: os carcinomas intraductais ou intralobulares. Esses dois carcinomas, pelos mais
diferentes estímulos (angiogênicos, hormonais, enzimáticos), continuam sua proliferação celular, rompendo a
membrana basal ductal, e penetram no estroma mamário, evoluindo para o carcinoma invasivo. Caso invada o
sistema de circulação da mama, o carcinoma pode embolizar através dos vasos sanguíneos ou linfáticos,
principais vias de disseminação, estabelecendo metástases, principalmente, em ossos, assim como no pulmão,
cérebro e fígado, embora possam disseminar-se para qualquer órgão.
Manifestações: a queixa mais comum das pacientes corresponde à presença de tumor ou nódulo mamário. O
tumor maligno usualmente tem crescimento insidioso e localiza-se preferencialmente no quadrante superior
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 4
Ginecologia Ambulatorial Baseada em Evidências – IMIP.
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO
O adenocarcinoma de endométrio responde por cerca de 96% das neoplasias malignas do corpo uterino. No
Brasil, corresponde ao 2º câncer mais freqüente do trato genital feminino, com incidência de 6-8/100.000.
Classificação:
-Tipo 1: é o mais freqüente (75-85% dos casos), acomete mulheres na perimenopausa, com história de
exposição estrogênica sem a oposição da progesterona. Origina-se, habitualmente, de um endométrio
hiperplásico que evolui para adenocarcinoma. Apresenta melhor prognóstico, pois possuem maior grau de
diferenciação e são diagnosticados em idade mais precoce. A maioria é do tipo endometrioide.
-Tipo 2: origina-se a partir do epitélio atrófico, não possuindo relação com hiperestrogenismo e hiperplasia
endometrial. Tende a acometer mulheres mais velhas, magras e na pós-menopausa. É menos diferenciado e
menos sensível aos progestógenos. Tem pior prognóstico, relacionado com a tendência à invasão profunda do
miométrio e disseminação metastática.
Fatores de risco: os principais fatores de risco associam-se aos efeitos
proliferativos da exposição prolongada ao estrogênio, principalmente
quando contínua sem oposição progestogênica. O estímulo hormonal
acarreta alterações proliferativas no tecido endometrial, que podem
culminar em hiperplasia e precipitar transformação maligna.
-Idade: a idade média de diagnóstico é entre 50-60 anos. Daí conclui-se
que “o câncer de endométrio é o câncer das avós, e o câncer de colo é o
câncer das mães”.
-Classe socioeconômica: o câncer é mais comum naquelas de maior
nível socioeconômico. Supõe-se que a alimentação rica em gorduras
acarreta maior ganho de peso e maior índice de estrogenicidade.
-Síndrome de Lynch II: o câncer de endométrio é o câncer
extracolônico mais comum em pacientes portadores desta síndrome. É
uma doença autossômica dominante, caracterizada pela ocorrência de
câncer de cólon não polipóide hereditário, por volta dos 35-45 anos.
45% das mulheres das famílias acometidas por essa síndrome
desenvolvem o câncer de endométrio.
-Obesidade: IMC>30 é o fator de risco mais importante na gênese da
doença. O excesso de estrona, oriunda da aromatização periférica,
resume o mecanismo de ação que aumenta o risco do câncer nesta
condição clínica. Esse efeito é mais marcante e importante na pós-
menopausa, onde praticamente inexiste produção ovariana de estrógeno
-Passado de anovulação crônica: qualquer estado anovulatório é
considerado fator de risco, devido a ação estrogênica sem oposição pela progesterona do corpo lúteo.
-Menarca precoce, menopausa tardia (>52 anos) e nuliparidade: estes fatores aumentam o tempo de
exposição aos estrógenos. A nuliparidade aumenta 2 a 3 vezes o risco de desenvolver a doença.
-Terapia Hormonal com estrógenos: aumenta em 4 a 8 vezes o risco do câncer.
-Terapia com tamoxifeno: essa droga é um estrógeno fraco que age como antagonista na mama, porém no
endométrio seu efeito é estrogênico, aumentando o risco do câncer.
-Diabetes melito: as diabéticas apresentam menopausa mais tardia, além de que as diabéticas geralmente são
também obesas, fatos que explicam o aumento do risco do câncer.
-HAS: parece estar ligada à diabetes e à obesidade, e não como fator de risco direto do câncer de endométrio.
Fatores protetores: multiparidade, uso de ACHO combinados e uso de DIU com progesterona são
considerados fatores protetores porque impõem a contraposição com progesterona aos efeitos estrogênicos. O
tabagismo também diminui o risco do CA de endométrio devido ao seu efeito antiestrogênico.
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL
Se caracteriza por uma proliferação anormal de glândulas e estroma, com predominância do componente
glandular, o que determina aumento do volume endometrial, com alterações glandulares, arquiteturais e
citológicas. Seu surgimento resulta de um endométrio proliferativo persistente, devido à estimulação
estrogênica prolongada (endógena ou exógena), sem a habitual ação antagonista da progesterona. Sua
importância clínica se deve ao fato de que pode cursar com sangramento uterino anormal (SUA), pode estar
associada a tumores ovarianos produtores de estrógeno, podem derivar de estrogenioterapia isolada e podem
preceder ou mesmo coexistir com o câncer de endométrio.
Classificação: baseia-se na complexidade glandular (simples e complexa) e na atipia citológica:
-Hiperplasia simples (risco oncogênico: 1%) -Hiperplasia simples com atipia (risco oncogênico: 8%)
-Hiperplasia complexa(risco oncogênico: 3%) -Hiperplasia complexa com atipia (risco oncogênico: 29%)
Portanto, o risco de progressão para câncer está associado à presença e à intensidade da atipia citológica.
Manifestações: o principal sintoma da hiperplasia endometrial é o SUA. Nas pacientes assintomáticas, deve
ser suspeitada e investigada em mulheres anovuladoras crônicas, obesas, usuárias de TH ou de medicações
com ação estrogênica sobre o endométrio(tamoxifeno).
Diagnóstico: a USG pélvica transvaginal é um exame não invasivo e de fácil reprodução, que constitui-se de
grande valia na triagem de pacientes que deverão ser submetidas à biópsia de endométrio. A espessura (eco)
endometrial superior a 4-5mm tem uma alta sensibilidade (96%) para câncer de endométrio, porém uma baixa
especificidade (até 61%). A histeroscopia apresenta alta sensibilidade para patologia endometrial,
constituindo-se exame importante para orientar ou dirigir a biópsia, sendo muito superior à curetagem,
procedimento realizado às cegas. O exame histológico a partir da biópsia de endométrio é o padrão-ouro, por
revelar os diversos achados hiperplásicos com e sem atipias.
Tratamento: depende da idade, do desejo de engravidar, do tipo histológico e da presença de atipia citológica.
-Hiperplasia típica: o tratamento é conservador. Visa controlar o sangramento e evitar a progressão para o
câncer. A melhor opção é o emprego de progestógenos:
Acetato de medroxiprogesterona: 10 a 20mg/dia, 14 dias/mês por 6 meses ou contínuo por 3 meses;
Acetato de megestrol: 20 a 40mg/dia contínuos por 3 meses
Após o término do tratamento, deve ser realizada a vídeo-histeroscopia com biópsia do endométrio para
confirmar a regressão da hiperplasia.
-Hiperplasia atípica: o tratamento consiste, em qualquer idade, em histerectomia total com ou sem
ooforectomia (sempre com salpingectomia). Essa conduta é preferível, pois essa hiperplasia tende a persistir
com o tratamento clínico e apresenta alto potencial de malignização. Em pacientes jovens sem prole
constituída e naquelas sem condições cirúrgicas, pode-se optar pelo tratamento contínuo com progestógeno em
altas doses (acetato de medroxiprogesterona 100-200mg IM, seguidos de 100mg a cada 2 semanas por 30 dias
e 100mg/mês por 6 meses OU Mirena®). O grande problema é que é alta a taxa de recidiva após o tratamento,
quando então, novamente, está indicada formalmente a histerectomia.
Fonte de Pesquisa: Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 5. Ginecologia ambulatorial baseada em evidências – IMIP.
O câncer de ovário desfia a ginecologia e a oncologia, pois o diagnóstico precoce é difícil e a taxa de cura está
inalterada nos últimos anos, mesmo com o avanço da cirurgia e da quimioterapia. No Brasil, corresponde a 2%
de todos os cânceres, se constituindo como o oitavo câncer mais comum feminino. Apesar de representar
apenas 25% das malignidades do trato genital, é responsável pela maior taxa de mortalidade, uma vez que seu
diagnóstico é feito tardiamente, com 75% dos casos, ao diagnóstico, em estágio avançado.
Fatores de risco: apesar da identificação de fatores de risco, tema controverso na etiologia destes tumores,
ainda não foi definida uma população de risco para o seu desenvolvimento.
-História familiar de câncer ovariano: fator de risco mais importante para o desenvolvimento. A síndrome de câncer
de mama-ovário hereditária (BRCA 1 e 2) é a relação hereditária mais comum, respondendo por 85-95% de todos os
casos de câncer hereditário. A síndrome de Lynch II (câncer ovário-endométrio-cólon) também está associado.
-Idade avançada (ápice entre 60-65 anos) -Oligoparidade, Nuliparidade ou infertilidade
-Raça branca -Hiperestimulação ovariana (indutores da ovulação)
-Obesidade -Tabagismo -Endometriose
Fatores de proteção: estudos disponíveis na literatura sugerem que a malignidade ovariana surgiria através de
um processo de reparação anômalo na superfície ovariana durante a ruptura e reparo em cada ciclo ovulatório.
Portanto, fatores que promovem a inibição da função ovariana, atuariam como fatores protetores.
-Amamentação: inibição ovariana pela lactação -Ooforectomia profilática
-Laqueadura tubária -Paridade: ter no mínimo um filho reduz o risco para 0,3-
0,4
-Anticoncepcionais orais: único modo de quimioprevenção documentada
Manifestações: na maioria dos casos de câncer o curso é assintomático. Quando surgem sintomas, geralmente
são vagos e inespecíficos (irregularidade menstrual, constipação, dispareunia, dores pélvicas), e traduzem
DISSEMINAÇÃO
A propagação do câncer de ovário pode ocorrer por 4 tipos de disseminação:
-Transcelômica: é o modo mais comum, no qual a disseminação se dá por esfoliação das células do ovário,
havendo propagação das células malignas através do fluxo do líquido peritoneal.
-Continuidade ou extensão direta: o comprometimento capsular do tumor facilita a disseminação direta pela
vizinhança, ou seja, pelas trompas, útero, ovário contralateral e peritônio pélvico.
-Linfática: é comum, porém ocorre mais tardiamente.
-Hematogênica: é rara, e geralmente ocorre no final da doença, em estágios avançados.
Vale salientar que o sítio mais habitual de metástase à distância é o fígado, seguido do pulmão e cérebro.
RASTREAMENTO
A utilidade dos marcadores tumorais e da USG pélvica no rastreamento do câncer ovariano ainda não foi
estabelecida. Considerando os resultados falso-positivos para CA 125 e USG-TV, particularmente em
mulheres na pré-menopausa, não se estabeleceu nenhum rastreio direcionado a este tipo de câncer atualmente.
O Instituto Nacional do Câncer Americano estabeleceu, entretanto, um rastreio para aquelas pacientes de risco
(Síndrome de Lynch II) a partir dos 40 anos de idade, com exame pélvico, toque retal e dosagem de CA 125
semestralmente, associado a USG-TV com doppler anualmente; nas pacientes sem risco, recomenda-se que
após a menopausa realizem, anualmente, o exame pélvico e a USG-TV.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
É indicado em praticamente todos os casos de neoplasia maligna. O diagnóstico do câncer de ovário requer
uma laparotomia exploradora, mesmo que aparentemente este esteja restrito aos anexos, visando o
estadiamento da doença, necessário para o planejamento posterior.
A laparotomia mediana é a via de acesso indicada para as massas anexiais suspeitas. Segue-se com a coleta de líquido
ascítico e, na sua ausência, realiza-se lavado peritoneal. Deve ser avaliada toda a cavidade abdominal, seus órgãos,
espaços (lojas, cúpulas, fundo-de-saco) e linfonodos, com realização de biópsias peritoneais. Procede-se então a
ressecção dos implantes macroscópicos para o diagnóstico histopatológico por congelação.
Se confirmado o diagnóstico de malignidade, deve-se prosseguir com a cirurgia fundamental para câncer de
ovário: histerectomia tipo I + anexectomia bilateral (salpingoofarectomia) + omentectomia infracólica.
Quando o tumor não está restrito aos ovários, deve-se proceder a cirurgia de citorredução, com o objetivo de
deixar a menor quantidade de tumor residual, facilitando a ação da terapia adjuvante.
-Cirurgia Second-look: realizada em pacientes em que não há evidências de neoplasia (clínica, laboratorial ou
imagem) após tratamento cirúrgico e quimioterapia, para determinar a resposta ao tratamento.
-Cirurgia conservadora: a anexectomia unilateral pode ser realizada nas pacientes jovens que desejam engravidar,
contato que apresentam estádio IA grau 1 ou tumor borderline. Realiza-se reoperação posterior após atingida a prole.
-Quimioterapia (QT): preconizada em todos os casos de Grau 3, câncer de células claras, e do estádio IC em diante.
-Video-laparoscopia: não é uma abordagem cirúrgica indicada, estando reservada para casos específicos.
Conduta cirúrgica:
-Estádios IA e IB graus 1 e 2: Tratamento cirúrgico (cirurgia fundamental).
-Tumor borderline ou estádio IA grau 1 que desejem engravidar: cirurgia conservadora (anexectomia unilateral)
-Estádios IA e IB grau 3 e Estádio IC: Tratamento cirúrgico (cirurgia fundamental) + Terapia adjuvante (QT)
-Estádios II e III: Tratamento cirúrgico (cirurgia fundamental + citorredução) + Terapia adjuvante (QT)
-Estádio IV: Tratamento cirúrgico (cirurgia fundamental + citorredução) OU Poliquimioterapia exclusiva.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Ginecologia volume 4
Ginecologia Ambulatorial Baseada em Evidências – IMIP.
INTRODUÇÃO
O câncer do colo do útero é o segundo tumor mais comum entre as mulheres, excluindo-se os tumores não-
melanoma. Constitui-se um problema de saúde pública no Brasil, visto que uma porcentagem importante de
mulheres entre 35 e 49 anos nunca realizaram o exame citopatológico do colo do útero (Papanicolau). Dentre
todos os tipos de câncer, o câncer do colo uterino é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção
e cura, que chega perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. É uma doença evitável e de evolução
lenta, com longo período desde o desenvolvimento de lesões precursoras ao aparecimento do câncer.
Fatores de Risco: se relacionam aos processos que levam à formação de atipias celulares, funcionando como
agressores da região. A zona de transformação é a região mais suscetível à ação destes agentes.
-HPV: é o principal fator de risco na transformação de atipias na zona de transformação, responsável por 99%
dos casos de câncer de colo uterino. Age acelerando as mitoses celulares, o que aumenta as chances de ocorrer
atipia. Sua infecção é endêmica entre os indivíduos sexualmente ativos. Os principais subtipos associados ao
câncer são o 16 e 18.
-Início precoce da atividade sexual: importante fator de risco, quando a coitarca ocorre antes dos 16 anos.
-Número de parceiros sexuais: fator mais importante que o anterior, pois um maior número de parceiros
sexuais aumenta as chances de um parceiro ser portador de vírus de alto risco.
-Parceiro sexual: há risco 4-5 vezes maior de câncer de colo em mulheres que tiveram parceiro com câncer de
pênis. Além disso, parceiro com início precoce de atividade sexual e DST também aumentam as chances.
Mulher monogâmica, com ausência de fatores de risco, pode ainda estar sob risco de desenvolver câncer de colo,
devido ao comportamento sexual prévio ou atual do seu parceiro.
-Outras DST: a presença de outras DST (gonorréia, sífilis, herpes), aumenta as chances de câncer de colo.
-Uso de anticoncepcional hormonal oral (ACHO): não se sabe bem a etiopatogenia, mas acredita-se que a
relação com o câncer de colo uterino não se deve apenas aos efeitos da pílula, mas possivelmente também ao
comportamento sexual do grupo de mulheres usuárias.
-Tabagismo: importante fator na gênese do câncer de colo. Está diretamente relacionado com a carga tabágica
(tempo de consumo e n° de cigarros/dia). O mecanismo envolve o efeito carcinogênico direto da nicotina.
-Deficiência vitamínica: a vitamina A é importante fator na manutenção da integridade do epitélio escamoso.
A carência desta vitamina está associada a maior incidência de câncer de colo uterino.
-Imunidade: pacientes HIV positivas, lúpicas, diabéticas, transplantadas em uso de corticoterapia ou
quimioterapia e/ou radioterapia apresentam comprometimento da imunidade e estão sob maior risco de
desenvolver o câncer. Cabe salientar que a presença de carcinoma invasor de colo uterino em paciente HIV
positiva é neoplasia definidora de AIDS.
-Baixo nível socioeconômico: todos os fatores de risco são mais prevalentes em mulheres de nível socio-
CONDUTA DIAGNÓSTICA
O tripé do diagnóstico do câncer de colo de útero e de suas alterações precursoras consiste em: citologia +
colposcopia + histopatologia. A histopatologia, entretanto, é o padrão-ouro.
Rastreamento: o exame preconizado para rastreamento do câncer de colo de útero é a citologia oncótica,
conhecida popularmente como preventivo. O Ministério da Saúde preconiza que seja realizado em mulheres
de 25 a 60 anos de idade (algumas fontes preconizam iniciá-lo 3 anos após a primeira relação sexual), uma vez
por ano e, após dois exames anuais consecutivos normais, a cada três anos. É realizada através da coleta de
material concomitante pela espátula de Ayres e pela escova endocervical, que colherão material da ectocérvice
e da endocérvice, respectivamente. A época mais propícia para a coleta é o período periovulatório, pois o
sangue menstrual dificulta a leitura da lâmina.
-Orientações à paciente: não utilizar duchas vaginais e fazer abstinência sexual aproximadamente 48 horas
antes do exame, não utilizar cremes vaginais nos 7 dias que precedem o exame e não utilizar nenhuma espécie
de lubrificante no espéculo.
-Situações especiais:
Grávidas→ a coleta endocervical não é contraindicada, devendo-se aproveitar a oportunidade para a realização do
rastreamento, preferencialmente até o 7 ° mês de gestação;
Puérperas→ aguardar 6-8 semanas pós-parto para realizar, para que o colo uterino readquira suas condições normais;
Virgens→ não se deve realizar a citologia de rotina;
DST→ mulheres com DST devem ser submetidas à citologia mais frequentemente (anualmente), exceto em casos de
condiloma em genitália externa.
Atrofia genital → recomenda-se o uso de estrogênios tópicos previamente à coleta.
pós-Histerectomia → se total: coleta de esfregaço do fundo de saco vaginal; se subtotal: rotina normal.
-Outros achados: podem ainda ser achados da citologia a candidíase, trichomonas e herpes simples.
CLASSIFICAÇÃO DO CÂNCER
O Carcinoma epidermóide é o tipo histológico mais freqüente dos
tumores epiteliais do colo uterino, respondendo por mais de 80% dos
casos. 7-10% correspondem ao adenocarcinoma. Os outros tipos de
câncer estão apresentados na tabela ao lado.
ESTADIAMENTO DO CÂNCER
O estadiamento do câncer de colo uterino é clínico e envolve: exame
ginecológico (especular, toque vaginal e toque retal), colposcopia,
exame histopatológico e métodos de imagem.
Estádio O: carcinoma in situ, carcinoma intraepitelial
Estádio 1: carcinoma restrito ao colo uterino
-Ia: invasão do estroma até profundidade de 5 mm e extensão de 7mm
-Ia1: invasão até 3mm de profundidade e 7 mm de extensão;
-Ia2: invasão de 3-5mm de profundidade e 7 mm de extensão
-Ib: invasão > 5mm de profundidade e/ou >7mm de extensão ou
aqueles do estádio Ia que podem ser visualizados macroscopicamente.
-Ib1: o câncer pode ser visto, mas não ultrapassa 4cm;
-Ib2: o câncer pode ser visto e ultrapassa 4 cm.
Estádio 2: carcinoma estende-se além do colo, mas não há extensão à
parede pélvica nem ao terço inferior da vagina.
-IIa: ausência de comprometimento parametrial
-IIa1: câncer <4cm; -IIa2: câncer > 4cm
-IIb: acometimento parametrial
Estádio 3: carcinoma estende-se até a parede pélvica (ao toque retal não há espaço livre de câncer entre o
tumor e a parede pélvica) ou acomete o terço inferior da vagina.
-IIIa: extensão ao terço inferior da vagina, mas não à parede pélvica
-IIIb: extensão à parede pélvica ou hidronefrose ou rim não funcionante.
TRATAMENTO
Lesões intraepiteliais cervicais: é o tripé citologia-colposcopia-histologia que vai definir a localização das
lesões, seu grau histológico, sua extensão em profundidade e sua ocupação glandular e, em conseqüência,
definir o tratamento.
-Métodos físico-destrutivos: não permitem a análise histopatológica. São eles: crioterapia/criocauterização,
vaporização com laser, eletrocoagulação.
-Exéreses: permitem a retirada da lesão com a possibilidade de estudo histopatológico.
-Cirurgias de alta freqüência (CAF): utiliza-se um aparelho emissor de uma onda de freqüência de 2-4 MHZ. É
contraindicada, sendo indicada a conização clássica, se: citologia e/ou colposcopia sugerindo microinvasão, suspeita
de lesão glandular, JEC não visível e gravidez.
-Conização a frio: consiste na retirada de um tronco em forma de cone do colo uterino. É procedimento diagnóstico
que passa a ser terapêutico nos casos de carcinoma in situ.
Câncer de colo uterino: o tratamento assemelha-se ao de qualquer outro tipo de malignidade. As modalidades
terapêuticas incluem tratamento primário com cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou quimiorradioterapia.
-CA in situ: conização (nesse caso, diagnóstico e terapêutico);
-Estádio I
-Ia1: sem invasão linfática → conização ou histerectomia tipo I; com invasão linfática → traquelectomia com
linfadenectomia pélvica;
-Ia2: traquelectomia radical tipo II + linfadenectomia pélvica; histerectomia com linfadenectomia pélvica;
-Ib1: traquelectomia radical + linfadenectomia pélvica ou histerectomia tipo III + linfadenectomia pélvica
-Ib2: histerectomia tipo III + linfadenectomia pélvica e aórtica lateral OU quimioterapia primária
Estádio II
-IIa: histerectomia tipo III + linfadenectomia pélvica e aórtica lateral OU quimiorradioterapia primária
-IIb: quimiorradioterapia primária
Estádio III:
-IIIa e IIIb: quimiorradioterapia primária
Estádio IV:
-IVa: quimiorradioterapia primária ou exenteração
-IVb: quimioterapia primária + radioterapia adjuvante.
Obs: sempre que possível, deve-se realizar a histerectomia. Nos estádios em que há um tratamento alternativo
à histerectomia, este é dirigido a pacientes sem prole definida.
A traquelectomia é a extirpação cirúrgica do colo uterino com preservação do útero. A traquelectomia é uma cirurgia
conservadora da função reprodutiva
A Exenteração é uma cirurgia mais extensa utilizada para tratar a recidiva do câncer ou o estádio IVa. Nela, são
removidos os mesmos órgãos como numa histerectomia radical com dissecção de linfonodos pélvicos e, além disso,
dependendo do local onde o câncer se disseminou, podem ser removidos o reto, bexiga, vagina e parte do cólon.
Fatores prognósticos: o prognóstico depende basicamente do estádio clínico no momento do diagnóstico.
Tipo histológico, soropositivas, volume da doença, invasão linfonodal, idade da paciente, anemia e presença
de comorbidades são também fatores que influenciam na sobrevida.
Seguimento
-1° ano: exame ginecológico trimestralmente; citopatológico e colposcopia do fundo de saco vaginal; toque
vaginal e retal; USG abdominal e endovaginal aos 6 e 12 meses; radiografia de tórax aos 12 meses (estádios II
a IV) e hemograma na suspeita de anemia.
-2° ao 5° ano: consultas semestrais e condutas citadas acima rotineiramente;
-Após o 5° ano: consultas e exames anualmente.
Fontes de Pesquisa:
MedCurso 2010 e 2013 – Ginecologia, volume 5
Câncer de colo uterino: Tratamento. Projeto Diretrizes, 2011.
HISTERECTOMIA
Histerectomia tipo I ou Histerectomia simples ou Histerectomia extrafascial: tratamento apropriado para
pacientes com tumores, de qualquer etiologia, em estádios iniciais, nos quais não há invasão do espaço
vascular linfático.
Histerectomia tipo II ou Histerectomia radical modificada ou Piver II: é menos extensa que uma
histerectomia radical. Envolve a remoção de parte dos paramétrios e ligamentos uterossacros, terço superior
da vagina, linfadenectomia pélvica sistemática e linfadenectomia paraórtica seletiva.
Histerectomia tipo III ou Histerectomia radical ou Wertheim-Meigs: consiste na histerectomia com
remoção de todo o paramétrio acompanhada da dissecção de linfonodos pélvicos, juntamente com a retirada
da maior parte dos ligamentos uterossacros e cardinais e do terço superior da vagina. Caso haja desejo da
função hormonal, podem-se preservar os ovários.
Histerectomia radical estendida tipo IV: o tecido periuretral, a artéria vesical superior e até ¾ da vagina são
removidos.
Histerectomia radical estendida tipo V: são ressecadas partes do terço distal do ureter e da bexiga.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 5.
GRAVIDEZ
FECUNDAÇÃO
A fecundação é a fusão do oócito secundário com o espermatozóide, duas
células haplóides, que ocorre na ampola tubária gerando uma célula diplóide,
o zigoto.
Durante o ato sexual, cerca de 200 a 600 milhões de espermatozóides são
depositados na porção superior da vagina e sobre o colo uterino. Durante a
ascensão pelo canal cervical, útero e trompas, sofrem transformações
estruturais e bioquímicas para se tornarem capazes de fertilizar o oócito, a
chamada capacitação.
A primeira etapa é a liberação da hialuronidase do acrossoma do espermatozóide para assim penetrar na
camada mais externa do oócito secundário, a corona radiada. Após a entrada do espermatozóide, este libera
outras enzimas (reação acrossômica) e penetra na zona pelúcida e funde a sua membrana plasmática à
membrana do oócito. Simultaneamente à esta fusão, ocorrem modificações na zona pelúcida que impedem a
entrada de novos espermatozóides no oócito, ou seja, impedem a polispermia. A partir daí segue-se o término
da segunda divisão meiótica, originando o pró-núcleo feminino e o segundo corpo polar, que sofre extrusão
para o espaço perivitelínico. Concomitantemente o núcleo do espermatozóide aumenta de tamanho e constitui
o pró-núcleo masculino. Por fim, a membrana dos dois pró-núcleos se rompem, o material genético dos dois
gametas se fundem e forma-se uma nova célula, o zigoto.
SEGMENTAÇÃO
O estágio da segmentação ou clivagem inicia-se após a formação do zigoto. O zigoto passa por sucessivas
divisões durante seu trajeto pela trompa uterina em direção ao útero. Cada célula originada denomina-se
blastômero. Há um rápido aumento do número total de blastômeros, mas não da massa total do embrião, pois
este ainda está envolto pela zona pelúcida que restringe o processo de expansão. Com as mitoses sucessivas,
no 2° dia há 4 blastômeros, no 3° dia há oito blastômeros e no 4° dia há 16 a 32 blastômeros, que constituem
uma esfera maciça denominada mórula. No 5° dia ocorre a formação do blastocisto, que coincide com a
chegada do embrião à cavidade uterina.
Blastocisto: denomina-se blastocisto quando há a formação de um espaço repleto de líquido no interior do
embrião (blastocele), rechaçando as células centrais para a periferia. O trofoblasto define a delgada camada
NIDAÇÃO
A implantação do blastocisto no epitélio endometrial começa ao fim da primeira semana (6° dia após a
fecundação) e se completa ao final da segunda semana. Geralmente o blastocisto se posiciona no terço
superior e na face posterior do útero (fase de aposição), região de maior vascularização do endométrio. A
seguir há o contato direto do epitélio endometrial com o trofoblasto (fase de adesão), mediado pelas
integrinas, que conferem um estado de receptividade do endométrio à adesão pelo trofoblasto. Posteriormente
ocorre a fase de ruptura da barreira epitelial, fundamental para a progressão do blastocisto até o estroma
endometrial. Por fim, acontece a fase de invasão,
que define um processo proteolítico e imunológico
autolimitado. Assim, o trofoblasto penetra no
estroma, invade os vasos endometriais-miometriais e
substitui em parte as células endometriais.
Após a implantação do trofoblasto no endométrio ele
se prolifera e divide-se em duas camadas: o
citotrofoblasto – estrutura responsável por ancorar a
placenta à decídua e ao miométrio, e o
sinciciotrofoblasto – epitélio que recobre as
vilosidades placentárias, responsável por transporte
de gases, nutrientes, metabólitos e produção de
hormônios (estrogênios, progesterona,
glicocorticóides, hCG).
CUTÂNEAS
Alterações atróficas: as estrias gravídicas ou víbices são alterações atróficas que traduzem o estiramento da
fibras colágenas. Incidem mais frequentemente em áreas predispostas à diminuição da hidratação e ao
estiramento, tais como abdome, mamas, nádegas e coxas. Quando ocorrem na gestação costumam ser
avermelhadas e, após o parto, adquirem coloração branqueacenta.
Alterações vasculares: resultam de vasodilatação imposta pelo padrão hormonal da gestação, sobretudo pelo
aumento do estrogênio.
-Eritema palmar: se apresenta como uma vermelhidão difusa em toda a superfície palmar, com piora ao
avançar da gravidez. É encontrado em 70% das gestantes e tende a desaparecer após o parto.
-Telangiectasias ou Aranhas vasculares: diminutos vasos que se ramificam de um corpo central. Aparecem
principalmente na face, pescoço e superfície superior do tronco e braços. Surge em 60% das brancas.
Alterações pigmentares: o padrão hormonal da gestação, caracterizado por altos níveis de estrogênio e
progesterona, acarretam uma hipertrofia do lobo intermediário da hipófise, que resulta na liberação de alfa-
melatropina, que tem ação estimulante sobre os melanócitos. As alterações pigmentares aumentam com a
exposição solar e são decorrentes do estimulo aos melanócitos.
-Linha nigrans: pigmentação cor preto-acastanhada da linha média do abdome.
-Cloasma gravídico: manchas acastanhadas na face. Não é exclusiva da gestação.
OSTEOARTICULARES
Postura e marcha: o peso adicional da gravidez desestabiliza o equilíbrio materno ao colocar seu centro de
gravidade à frente. Para corrigir o eixo corporal, a gestante assume, involuntariamente, a atitude de lordose
lombar. Como resultado, pode ocorrer compressão radicular e lombalgia, queixa freqüente na gestação. Além
disso, como outra atitude compensatória, amplia a sua base de sustentação, adotando marcha típica anserina –
passos curtos e lentos, com base alargada.
Sistema articular: a embebição hormonal gravídica promove o relaxamento dos ligamentos do sistema
articular. Essa frouxidão acomete todas as articulações maternas, porém é mais acentuada nas articulações da
pelve, o que favorece, à exemplo, a abertura da sínfise púbica em até 12mm.
HEMODINÂMICAS
Coração: a síndrome hipercinética define o sistema cardiovascular da gestante. A freqüência cardíaca
materna aumenta em 10 a 15 bpm, aumento importante para a manutenção do débito cardíaco. Sopro sistólico
pode ocorrer, por diminuição da viscosidade sanguínea. Extrasístoles e desdobramentos da 1ª bulha são
comuns. O ECG não se altera. Com a evolução da gravidez, o diafragma se eleva e desloca o coração para
frente e para cima, o que torna o ápice cardíaco movido lateralmente. Este fato produz um aumento da silhueta
cardíaca observado na radiologia de tórax.
Débito cardíaco: com a diminuição da pressão arterial e da resistência vascular periférica associados ao
aumento do volume sanguíneo, do peso materno e do metabolismo basal, após 10-12 semanas de gestação o
débito cardíaco aumenta, atingindo ápice por volta da 20-24ª semana. O aumento é na ordem de 30 a 40%. Já
ao final da gestação, o débito cardíaco se eleva quando a paciente assume o decúbito lateral (por
descompressão da cava inferior), quando está no trabalho de parto (conseqüente às metrossístoles) e no
puerpério (pela drástica redução no volume uterino, o que equivale a uma auto-hemotransfusão).
Resistência vascular periférica e pressão arterial: a resistência vascular periférica diminui na gravidez, fato
provavelmente relacionado à circulação uteroplacentária e à ação da progesterona, prostaglandinas e
estrogênio sobre a parece vascular. A menor resistência vascular e, conseqüentemente, os menores níveis de
pressão arterial, são observados por volta da 20ª semana de gestação, por ocasião da 2ª onda de invasão
trofoblástica. A partir daí tendem a aumentar, porém mantendo-se sempre menor que os níveis pré-gravídicos.
O componente da PA que tende a mais alterar-se é a PAD (10-15mmHg); a PAS possui uma diminuição menos
acentuada (3-4mmHg), pois a queda da RVP é compensada pelo aumento do débito cardíaco.
Pressão venosa: o útero em crescimento comprime as veias pélvicas e a cava inferior, o que dificulta o
retorno venoso e aumenta em, aproximadamente, três vezes a pressão venosa nos membros inferiores. Como
conseqüência, as alterações mais referidas são: edema em MMII, varicosidades vulvares e hemorróidas,
principalmente nas idades gestacionais mais avançadas.
Hipotensão supina: a compressão da cava inferior quando a paciente permanece cerca de 5 minutos em
decúbito dorsal acarreta uma queda do débito cardíaco, que leva a um reflexo vasovagal, cursando com
bradicardia, hipotensão e lipotímia. O distúrbio é rapidamente corrigido quando a grávida assume o decúbito
lateral.
HEMATOLÓGICAS
Volume plasmático: o volume plasmático aumenta em torno de 40 a 50% a partir da 6ª semana de gestação,
com pico entre a 30 – 34ª semana. Esse aumento provoca hipervolemia, havendo diminuição da viscosidade
METABÓLICAS
Ganho ponderal: a gestante adquire, em média, 12,5kg em toda a gestação. Esse aumento ponderal decorre
ao aumento do útero e do seu conteúdo (feto, placenta, líquido amniótico), das mamas, do volume sanguíneo e
do líquido extravascular e às alterações metabólicas com o intuito de reserva de energia.
Metabolismo Hídrico: a retenção de água, principalmente decorrente do edema, é característico e se deve ao
aumento da pressão venosa vascular e diminuição da pressão coloidosmótica intersticial.
Metabolismo protéico: a concentração de albumina circulante sofre redução por hemodiluição.
Metabolismo dos carboidratos: a gestação é um estado potencialmente diabetogênico, que vai testar o
correto funcionamento do pâncreas. Esse fato guarda relação com o aumento dos hormônios contrainsulínicos
(hormônio lactogênio placentário, cortisol) que ocorre no segundo trimestre, causando resistência insulínica,
como garantia do aporte de glicose ao feto. Normalmente, a gestação caracteriza-se por hiperinsulinemia,
hipoglicemia de jejum e hiperglicemia pós-prandial.
RESPIRATÓRIAS
As alterações respiratórias estão mais pronunciadas em torno da 37ª semana de gestação. Surgem para
compensar a diminuição global do volume pulmonar ocasionado pela elevação do diafragma. A caixa torácica
aumenta seu diâmetro e os ângulos subcostais se alargam. Portanto, aumenta-se a PaO2 no sangue materno e
diminui-se a PaCO2, facilitando o transporte placentário de CO2 fetal para a circulação materna.
URINÁRIAS
Ocorre aumento de 50% da taxa de filtração glomerular após 6 semanas de gravidez. Como conseqüência, há a
perda de alguns nutrientes (aminoácidos e vitaminas lipossolúveis), redução da concentração sérica de uréia e
creatinina e ocorrência de glicosúria. Na bexiga, há diminuição do tônus vesical. Essas alterações levam a
ocorrência de glicosúria fisiológica, polaciúria e incontinência urinária e a um aumento na incidência de
infecção urinária.
GASTROINTESTINAIS
O útero durante o seu crescimento desloca o estômago e intestinos. O esvaziamento gástrico e o trânsito
intestinal se tornam mais lentos, cursando com constipação intestinal e aumento da incidência de
hemorróidas. Devido à diminuição do tônus do esfíncter esofágico inferior, ocorre pirose.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 1.
GRAVIDEZ: DIAGNÓSTICO
Segundo o livro Obstetrícia Básica, a gravidez só se inicia a partir do contato do ovo com o endométrio, ou
seja, a partir da nidação.
O diagnóstico precoce da gestação possui como vantagens a busca por assistência pré-natal em estágios
iniciais da gravidez e mudanças precoces nos hábitos de vida, que beneficiam a mãe e, principalmente, o feto.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Os livros Obstetrícia Básica e Obstetrícia Fundamental (Rezende) agrupam os sinais e sintomas da gravidez da
seguinte forma:
-Sintomas de presunção: 6 semanas → polaciúria e náuseas; 16-20 semanas → percepção materna dos
movimentos fetais.
-Sinais de presunção: 4 semanas → atraso menstrual; 5 semanas → congestão e mastalgia; 8 semanas →
tubérculos de Montgomery; 16 semanas → rede de Haller e 20 semanas → sinal de Hunter.
-Sinais de probabilidade: 6-8 semanas → sinais de Hegar, Piskacek e Nobile-Budin, alterações cervicais e
alterações da vulva e vagina.
-Sinais de certeza: 10-12 semanas → ausculta de BCF com o sonar; 14 semanas → sinal de Puzos e 18-20
semanas → percepção dos movimentos fetais, palpação de partes fetais e ausculta dos BCF com Pinnard.
Sintomas iniciais: são sintomas referidos ao início da gestação: náuseas, vômitos, sialorréia, aumento da
sensibilidade álgica mamária, polaciúria, nictúria, tonteiras, constipação intestinal, desejos alimentares,
perversão do apetite (pica), labilidade emocional, pirose e alterações visuais e auditivas.
-Náuseas: é o principal sintoma da gravidez inicial. Ocorre principalmente pela manhã e pode acompanhar-se
de episódios eméticos. De gênese desconhecida, acredita-se que seja resultado da adaptação materna ao hCG,
surgindo entre a 6ª e 14ª semana. O aparecimento após as 12 semanas impõe uma avaliação complementar
para outras causas.
Hiperêmese gravídica: síndrome caracterizada pela persistência de náuseas e vômitos que aparecem antes da 20ª
semana, associada à perda de peso (>5%), desidratação, distúrbio hidreletrolíticos e cetose na ausência de outras
causas. É rara, surgindo em 2 a cada mil gestantes. Pode associar-se com malformações (trissomia do 21 e hidropsia
fetal). Sua etiopatogenia é desconhecida, mas envolve fatores endócrinos (o pico da secreção de hCG coincide com a
exacerbação clínica da hiperêmese, há melhora com o avançar da gravidez pela queda do hCG e é mais freqüente e
intenso em situações de nível elevado do hCG, como gestação múltipla e doença trofoblástica gestacional),
imunológico e psicossomáticos. O diagnóstico é clínico a partir da anamnese e exame físico (sinais de desidratação e
desnutrição). Tratamento:em casos leves pode ser controlada com dieta (menor quantidade e maior frequência) e
antieméticos (dimenidrinato, escopolamina, metoclopramida, ondansetron); nas formas graves indica-se internação
hospitalar.
-Medidas gerais: controle de peso e diurese; jejum de 24-48 horas, evoluindo progressivamente a dieta após
estabilização; hidratação parenteral e evitar medicamentos a base de ferro.
-Medicamentos: a metoclopramida é a droga mais utilizada. A pirodixina é a droga mais segura. A clorpromazina é
utilizada nos casos refratários. Outras drogas: ondansetrona e dimenidrinato.
Metoclopramida (Plasil®): comprimido (10mg), solução injetável (5mg/ml), solução oral (5mg/5ml) e solução oral gotas
pediátrico (4mg/ml). Dose: 10mg 30 minutos antes das refeições até 4x/dia; crianças: 0,1-0,2mg/kg/dose até 4x/dia.
-Polaciúria: parece estar relacionada a um aumento na produção urinária total, iniciado a partir da 6° semana.
Além disso, o útero em crescimento pode comprimir a bexiga. Com a evolução da prenhez, o útero cresce no
2° trimestre em direção à cavidade abdominal e este sintoma desaparece. Nas últimas semanas usualmente
ocorre novo aumento da freqüência urinária em virtude da compressão vesical pelo pólo cefálico. Deve-se
suspeitar de cistite na presença de disúria, hematúria ou piúria.
-Constipação intestinal: relaciona-se a um aumento da progesterona que diminui a motilidade intestinal.
-Tonteiras: derivam de uma queda da resistência vascular periférica. Torna-se preocupante quando ocorre
concomitantemente a arritmias e convulsões.
CRONOLOGIA DA GRAVIDEZ
Idade gestacional
A data da última menstruação (DUM) é o parâmetro convencional para o cálculo da idade gestacional. Por
conseguinte, a idade da gestação corresponde ao tempo transcorrido entre o primeiro dia da última
menstruação e a data atual.
Em 20% dos casos há divergência entre a IG pela DUM e pelo USG. Nesses casos, se a IG pela DUM estiver
dentro do intervalo de confiança da estimativa ecográfica (±1 semana no 1° trimestre, ±2 semanas no 2°
trimestre e ±3 semanas no 3° trimestre), ela é aceita. Caso não esteja nesse intervalo, considera-se a
estimativa ecográfica.
Data provável do parto
É calculada pela regra de Nagele, que consiste na soma de 9 meses e 7 dias à DUM, ou nos meses posteriores
a março, na subtração de 3 meses e adição de 7 dias. Salienta-se que se durante a soma ultrapassa-se de 30-31
dias, o excedente será o dia e soma-se um mês (ex. DUM: 28/10/2012 → DPP: 04/08/2013).
Períodos da gestação
-Abortamento: processo espontâneo ou provocado pelo qual a cavidade uterina se esvazia de seu conteúdo
gestacional antes que a gravidez atinja 20-22 semanas ou que o concepto ultrapasse o peso de 500g.
-Aborto: é o produto do abortamento.
-Parto prematuro: aquele que ocorre antes da gestação completar 37 semanas e após ultrapassar 20-22
semanas
-Parto termo: toda gravidez que se encontra entre 37 semanas completas e 42 semanas incompletas.
-Gestação prolongada: gestação com duração maior que 42 semanas completas.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 1
PRÉ-NATAL
Conjunto de medidas e protocolos de conduta que tem por finalidade assegurar, na medida do possível, ao
término da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal.
Envolve: confirmar a gravidez, diagnosticar e tratar doenças maternas preexistentes, aconselhar a gestante e
familiares quanto aos eventos fisiológicos da gravidez, identificar e minimizar pequenos distúrbios da
gravidez e identificar e tratar precocemente intercorrências gestacionais.
Recomendações do Ministério da Saúde (2006):
O início do pré-natal deve ser o mais precoce possível, preferencialmente nos primeiros 120 dias de gestação.
Idealmente, a realização de consulta pré-concepcional possibilitaria reconhecer doenças ou agravos prévios
passíveis de tratamento, minimizando os riscos gestacionais.
Recomendam-se que sejam realizadas pelo menos seis consultas de pré-natal durante a gestação,as
distribuídas da seguinte forma: uma consulta no primeiro trimestre, duas no segundo e três consultas no
terceiro trimestre da gestação.
Em todas as consultas, o obstetra deverá seguir um protocolo mínimo da consulta, que consiste em: anamnese
e exame físico geral, medidas de peso e pressão arterial, indagação sobre a percepção dos movimentos fetais
(possível a partir da 18ª semana em multíparas e 20ª semana em primíparas), determinação da altura do fundo
de útero (AFU) e ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF).
Os exames complementares fundamentais durante a gestação e que devem ser solicitados rotineiramente são:
-ABO-Rh, Hb e Ht: na primeira consulta
-Glicemia de jejum, Urina tipo 1 e anti-HIV: na primeira consulta e outra próximo a 30ª semana de gestação
-VDRL: na primeira consulta e outro próximo a 30ª semana de gestação; deve ser repetido no momento do
parto ou em caso de abortamento.
-HbsAg: ao menos um exame próximo a 30ª semana de gestação
-Sorologia para toxoplasmose: na primeira consulta, se disponível.
Avaliação do risco gestacional: a triagem das gestantes com risco gestacional deve ser realizada em uma
unidade básica de saúde. Uma paciente que inicialmente foi classificada como baixo risco pode, a qualquer
momento, tornar-se de alto risco, e necessitar de acompanhamento em uma unidade especializada de saúde.
Entretanto, não obrigatoriamente uma gestante classificada como de alto risco deve ser encaminhada a um
serviço especializado, devendo ser referenciada aquelas com fatores clínicos mais relevantes (risco real) e/ou
fatores preveníveis que demandem intervenções mais complexas. A seguir, são apresentadas situações onde
deve ser considerado o encaminhamento, segundo o Ministério da Saúde:
-Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis: idade <15 anos ou >35 anos,
perigos ocupacionais (esforço excessivo, exposição a agentes químicos ou biológicos), situação familiar
insegura (principalmente adolescentes), baixa escolaridade, condições ambientais desfavoráveis, altura
<1,45m, peso <45 ou >75kg, dependência de drogas lícitas ou ilícitas.
-História reprodutiva anterior: morte perinatal explicada ou não, RN com restrição de crescimento ou pré-
termo ou malformado, abortamento habitual, esterilidade/infertilidade, nuliparidade ou multiparidade,
síndromes hemorrágicas, pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, macrossomia fetal, cirurgia uterina anterior.
-Comorbidades: cardiopatias, pneumopatias, nefropatias, endocrinopatias (especialmente DM), hemopatias,
HAS em uso de anti-hipertensivo, epilepsia, ITU, doenças infecciosas (hepatite, toxoplasmose, HIV, sífilis,
DSTs), doenças autoimunes (LES, colagenoses), ginecopatias (miomatose, malformação uterina, tumores).
-Doença obstétrica atual: alteração do crescimento uterino ou volume do líquido amniótico, trabalho de parto
prematuro, gravidez prolongada, ganho ponderal inadequado, pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, amniorrexe
prematura, hemorragias na gestação, isoimunização, óbito fetal.
Anamnese: a anamnese obstétrica é semelhante a qualquer anamnese da prática médica, devendo questionar a
paciente sobre o seu estado atual, antecedentes pessoais, antecedentes familiares, história fisiológica e seus
hábitos sociais. Contudo, alguns aspectos devem ser ressaltados:
VACINAÇÃO
Tétano: a vacina dT é recomendada a partir de 20 semanas para profilaxia do tétano neonatal e suas doses
devem ter intervalo de 60 dias (pelo menos 30 dias). Duas doses são suficientes para prevenção do tétano
neonatal, sendo que a última deve ser administrada até 20 dias antes da data provável do parto. Está indicado:
-Esquema incompleto → completar esquema vacinal; -Esquema completo há mais que 5 anos → 1 dose de reforço;
-Esquema completo há menos que 5 anos → não há necessidade de reforço vacinal.
MEDICAMENTOS
Sulfas: devem ser evitadas no final da gravidez, pois podem competir com a bilirrubina indireta pelos sítios de
ligação com a albumina, levando ao kernicterus neonatal. É ainda antagonista do ácido fólico, devendo ser
acompanhadas de suplementação quando indicadas.
Drogas tuberlostáticas: a estreptomicina é a única droga do esquema contra tuberculose documentadamente
prejudicial para o concepto, levando a surdez congênita.
Vancomicina e quinolonas: apesar dos seus efeitos no adulto, não existe comprovação de alterações fetais.
Antifúngicos: a anfotericina B, miconazol e nistatina podem ser utilizadas com segurança. Cetoconazol,
metronidazol e tinidazol podem ser utilizados a partir do 2° trimestre. O fluconazol não deve ser utilizado por
via oral durante a gestação.
Antirretrovirais: é limitada a experiência de seu uso. A ribavirina é comprovadamente teratogênica.
Anti-helmínticos: podem ser prescritos a partir do 2° trimestre.
IECA: Comprovadamente teratogênicos, levam a oligoidramnio, agenesia renal, hipoplasia pulmonar e morte.
Anti-hipertensivos: diuréticos podem levar a malformações no 1° trimestre. Betabloqueadores podem cursar
com CIUR, baixo peso ao nascer, bradicardia e policitemia. Entre os bloqueadores dos canais de cálcio, o
diltiazem é seguro, porém nifedipina e verapamil podem reduzir o fluxo placentário.
Anti-asmáticos: a grande maioria pode ser utilizada com segurança, incluindo adrenalina e glicocorticóides.
Anti-neoplásicos e imunossupressores: a grande maioria está associada a enorme quantidade de
malformações congênitas. São exemplos: ciclofosfamida, metotrexato e azatioprina. Contraindicadas.
AINE e Coxibs: em geral não são teratogênicos. Sua administração pode levar a gravidez prolongada,
disfunção renal irreversível no feto e oclusão precoce do ducto arterioso, devendo ser evitados.
Anticonvulsivantes: mulheres com epilepsia tem risco duas a três vezes maior de terem fetos malformados.
Entretanto, mais de 90% daquelas que utilizam anticonvulsivantes terão filhos normais. Deve-se preferir o uso
em monoterapia, doses fracionadas e menor dose possível que se consiga o controle anticonvulsivo. Não
existe uma droga de escolha a ser utilizada na gestação. O Valproato é contraindicado.
Antidepressivos: Os ISRS (fluoxetina e sertralina) são os mais seguros, se constituindo como os de escolha.
ADT associam-se a malformações em membros e o lítio a alterações cardíacas (anomalia de Ebstein).
Benzodiazepínicos: o diazepam é a droga mais estudada, tendo sido demonstrada associação com fenda labial
e palatina, CIUR e malformações nos membros. Pode causar ainda hipotonia e sonolência neonatal.
Antipsicóticos: estudos com haloperidol e clorpromazina sugerem que seu efeito teratogênico é mínimo.
Talidomida: notório teratógeno humano. Causa malformações nos membros geralmente bilaterais, anomalias
renais, cardíacas, torácicas e da face. A gravidez deve ser proibida até 2 anos após o uso da droga.
DROGAS
Etilismo: aumenta o risco de abortamento e pode determinar malformações congênitas em até 30% dos fetos.
Mesmo o etilismo leve pode ser prejudicial e deve ser evitado. Gestantes que consomem grandes quantidades
de álcool podem levar ao desenvolvimento, no concepto, da síndrome alcoólica fetal: retardo mental, déficit
de crescimento, alterações de comportamento e fácies típica (hirsutismo, fissuras palpebrais e microcefalia).
Defeitos cardíacos e cerebrais são também comuns.
DIREITOS DA GESTANTE
-Falta justificada mediante
declaração de comparecimento
para consultas e exames;
-Mediante atestado médico,
tem direito a mudança de
função no trabalho, caso esta
traga risco para si ou ao bebê;
-Estabilidade no emprego, não
podendo ser demitida a partir
da data da confirmação da
gestação até 5 meses de pós-
parto, exceto se por “justa
causa” (ex. roubo, homicídio);
-Licença-maternidade de 120
dias a partir do 8º mês;;
-Mediante atestado médio, o
período de repouso pode ser
prorrogado por 2 semanas
antes ou após os 120 dias;
-Salário-maternidade com
remuneração integral: se
empregadas, não exige-se
tempo mínimo de contribuição
mas, se autônomas, exige-se
ao menos 10 contribuições à
previdência para ter este
direito
-Dispensa do trabalho por dois
períodos de 30min para
amamentar, até os 6 meses;
-Licença-paternidade para o
pai por 5 dias a partir do parto;
-Considera-se parto o
nascimento a partir da 23ª
semana de gestação, inclusive
natimorto
INFECÇÕES PERINATAIS
SÍFILIS
Doença infecciosa sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência quando
não tratada. É causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria Gram-negativa de transmissão sexual ou vertical,
que pode produzir, respectivamente, as formas adquirida ou congênita da doença. No Brasil, a sífilis congênita
permanece como grave problema de saúde pública e sua incidência tece crescimento com a entrada da população
feminina na epidemia de HIV/AIDS. Por isso, a sífilis congênita é uma doença de notificação compulsória.
Classificação
-Sífilis adquirida: → recente (menos de um ano de evolução): primária, secundária e latente recente
→ tardia (mais de um ano de evolução): latente tardia e terciária
-Sífilis congênita: → recente: casos diagnosticados até dois anos de vida;
→ tardia: casos diagnosticados após os dois anos de vida
Manifestações:
-Sífilis adquirida: caracteriza-se pelo surgimento de cancro no local da inoculação (sífilis primária), inclusive
extragenital, indolor, com linfadenopatia local. Cerca de, em média, 8 semanas após o seu desaparecimento,
podem aparecer lesões de diferentes aspectos, principalmente máculas, caracterizando a sífilis secundária.
Ambas as formas podem desaparecer sem tratamento, entrando em fase de latência. A sífilis terciária, com
manifestações neurológicas decorrentes de longos anos de infecção sem tratamento, hoje é raramente descrita.
-Sífilis congênita: na sífilis recente a transmissão vertical é de 100%, devido aos altos títulos, e permanece em
torno de 70% nos casos tardios. Após a infecção fetal, a gestação pode evoluir com abortamento, natimorto,
parto prematuro ou óbito perinatal. Entretanto, cerca de 70% dos casos são assintomáticos, e os 30% restantes
podem apresentar hepatoesplenomegalia, lesões cutâneas variadas (geralmente bolhosas em palmas das mãos,
planta dos pés e ao redor da boca e do ânus), anemia, linfadenopatia, convulsões, entre outros.
Rastreio e Diagnóstico: o Ministério da Saúde preconiza a realização de, no mínimo, dois testes sorológicos
não treponêmicos (VDRL) durante a gestação: um na primeira consulta de pré-natal e o segundo em torno de
28 semanas de gestação. Além disso, recomenda o rastreio na admissão em maternidades para parto e
abortamento. É considerado positivo se > ¼, ou seja, de 1/8 em diante. Os testes sorológicos treponêmicos,
tais como o FTA-ABS, são utilizados para a exclusão de resultados falso-positivos, comumente quando há
baixos títulos por reação cruzada; uma vez positivos, tendem a não negativar mesmo após a cura da infecção
(cicatriz sorológica).
Tratamento: A penicilina é efetiva no tratamento da sífilis e na prevenção da sífilis congênita. O regime de
tratamento deve ser de acordo com a sífilis materna, inclusive no que tange aos casos de pacientes HIV-
positivas. Nos casos de alergia à penicilina (1%), o tratamento deve ser mantido após dessensibilização, pois a
penicilina é a única droga que trata o feto. Outra complicação que pode ocorrer em decorrência do tratamento
é a reação de Jarish-Herxheimer (mialgia, cefaléia e piora das lesões cutâneas, por liberação de grande número
de espiroquetas na corrente sanguínea), usualmente nas primeiras 24 horas após instituído o tratamento.
-Sífilis primária: Penicilina G benzatina 1.200.000UI IM em cada nádega, dose única.
-Sífilis secundária: Penicilina G benzatina 1.200.000UI IM em cada nádega, duas doses, intervalo de 1 semana.
-Sífilis terciária, latente tardia (>1ano) ou latente de tempo desconhecido: Penicilina G benzatina 1.200.000UI IM em
cada nádega, 3 doses, intervalo de 1 semana entre cada dose. Neurossíflis: Penicilina cristalina 14 dias IV
Critérios de tratamento inadequado na gestante:
-Todo tratamento feito com qualquer medicamento que não a penicilina;
-Tratamento incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina;
-Tratamento não adequado para a fase clínica da doença;
-Administração do tratamento com menos de 30 dias antes do parto;
-Elevação dos títulos após o tratamento, no seguimento;
-Parceiro(s) não tratado(s) ou tratado(s) inadequadamente ou sem documentação do tratamento.
RUBÉOLA
Doença exantemática aguda viral aguda, com alto poder de contágio, que pode acometer qualquer faixa etária,
mas ocorre principalmente em crianças. A transmissão se dá pela via respiratória; nos casos de rubéola
congênita, a transmissão é transplacentária, e ocorre com maior freqüência nos casos de primoinfecção
materna no início da gestação. A pessoa infectada transmite o vírus por aproximadamente 5-7 dias antes e 5-7
dias após o início do exantema.
Manifestações:
-Rubéola adquirida: o quadro clínico caracteriza-se por exantema maculopapular, róseo e puntiforme difuso,
com duração de 3 dias, e de distribuição cefalopodálica e de resolução espontânea. Principalmente em adultos
podem ocorrer, 5-10 dias antes do exantema, pródromos: febre, conjuntivite e linfadenopatia retroauricular,
entre outros. Cerca de 50% dos pacientes apresentam infecção subclínica. O tratamento é sintomático.
CITOMEGALOVÍRUS
A infecção pelo citomegalovírus (CMV, herpes vírus tipo 5) é uma das infecções congênitas mais comuns em
todo o mundo. 1% dos RN são infectados na vida intrauterina; do restante, 10% são infectados no primeiro
ano de vida e 33% até os 10 anos de idade. Sua transmissão se dá por fluidos corporais (leite materno, saliva,
secreções cervicovaginais, urina, fezes), pela via parenteral/tecidos transplantados e pela via transplacentária.
Manifestações: a grande maioria das infecções (90%), seja ela primoinfecção, reativação ou reinfecção, é
assintomática. Entretanto, a primoinfecção em pacientes imunossuprimidos e na infecção intrauterina antes da
16ª semana de gestação surge uma forma exuberante da doença. Depois do período neonatal, a mononucleose
por CMV é a manifestação mais freqüente da doença em indivíduos sadios.
-Infecção congênita: a doença ocorre em 5% dos fetos infectados. A forma grave decorre da transmissão
vertical no primeiro trimestre, e caracteriza-se por petéquias, icterícia e hepatoesplenomegalia, além de
microcefalia, com ou sem calcificações cerebrais, CIUR, prematuridade e outras alterações do SNC. Óbito
fetal pode ocorrer. Parte dos pacientes que sobrevivem desenvolvem seqüelas neurológicas, inclusive os
assintomáticos ao nascimento.
-Infecção perinatal: o contágio pode ocorrer no momento do parto ou no contato pós-natal com leite
infectado. A maioria dos RN permanece assintomática. Se há manifestações, assemelha-se à mononucleose.
Diagnóstico:
-Infecção materna: anticorpos IgM e IgG devem ser dosados. Entretanto, anticorpos IgM podem persistir por
anos na circulação, assim como podem ser produzidos durante reinfecção ou reativação, situações que não
caracterizam a primoinfecção materna. Portanto, nos casos de IgM (+), deve-se solicitar o teste de avidez de
IgG, que segue a mesma lógica do rastreio para toxoplasmose: baixa avidez → infecção recente; alta avidez
→ infecção passada.
-Infecção fetal: a realização de amniocentese para detectar, por PCR ou cultura viral, constitui-se no padrão-
ouro. Deve ser realizada, no mínimo, sete semanas após a infecção materna, para reduzir os casos de falso-
negativo. O diagnóstico pós-natal é sorológico e através da busca de complicações(exame físico, USG).
Diagnóstico diferencial: enquanto no CMV observa-se calcificações intracerebrais periventriculares, na
rubéola há cardiopatia congênita. Ambas apresentam lesões auditivas, microcefalia e retardo mental.
Tratamento: a globulina hiperimune para CMV em gestantes com primoinfecção é controversa.
VARICELA
Doença causada pelo vírus da varicela-zoster (herpes tipo 6), configurando a primoinfecção por esse vírus.
Nos casos de reativação, denomina-se herpes zoster. É uma doença endêmica, que atinge até 90% dos
contactantes suscetíveis. Mais de 90% dos casos ocorrem em menores que 15 anos e adultos jovens. A
transmissão se dá por gotículas respiratórias e pelo contato com as lesões cutâneas.
Manifestações: em crianças, adultos e gestantes, a primoinfecção inicia-se por pródromos (febre baixa,
anorexia), seguido de rash macular com progressão cefalopodálica, caracterizado pela rápida progressão de
mácula para pápula, desta para vesícula e desta para a crosta. O exantema é pruriginoso. Entretanto, na
gestação a varicela é mais grave, pois pode ocorrer envolvimento fetal: se infecção materna entre a 8ª-20ª
semana de gestação, pode resultar em embriopatia (microcefalia, microoftalmia e hipoplasia de membros); se
infecção materna entre 5 dias antes e 2 dias pós-parto resulta em varicela grave no neonato, por contágio sem
passagem de imunoglobulina.
Diagnóstico: o diagnóstico é clínico, baseado na apresentação típica do doença. Quando necessário, faz-se o
isolamento do vírus em cultura.
Tratamento: em gestantes no terceiro trimestre, é indicado o uso de aciclovir oral ou EV por 7 dias.
Tratamento sintomático (antitérmicos e analgésicos) e medidas para evitar infecção associada (compressas de
permanganato de potássio e antibióticos) podem ser realizados.
Profilaxia: indica-se a Ig Hiperimune Antivaricela-zoster em RN cujas mães tenham tido varicela 5 dias antes
até 2 dias pós-parto e em gestantes/imunocomprometidos sem história prévia de varicela que tenham
contactantes com a doença.
HEPATITES
As hepatites virais são causadas por vários agentes etiológicos com características epidemiológicas, quadro
clínico e exames laboratoriais semelhantes, mas cada uma delas guarda particularidades importantes. A
distribuição é universal.
Quadro clínico: O quadro clínico das hepatites apresenta muitas semelhanças, podendo, a sua grande maioria,
se mostrar assintomática ou apresentar-se de forma subclínica com sinais e sintomas inespecíficos e de curta
duração. As hepatites B e C são passíveis de cronificação, com quadros clínicos graves, apresentando cirrose e
câncer hepático ao longo dos anos. Apesar dos diferentes tempos de incubação, surgem pródromos (febre,
náusea, vômito, cefaléia, astenia), seguidos, em uma a duas semanas de icterícia, colúria e acolia fetal.
+ + Infecção aguda
-Hepatite B: a transmissão é por via parenteral, vertical e sexual, considerada uma DST. Caso a infecção
ocorra por transmissão vertical, o risco de cronificação dos RN é de cerca de 70 a 90% quando a gestante
apresenta infecção aguda, bem superior ao dos adultos infectados, que gira em torno de 5-10%. Portanto, o
rastreio no pré-natal através do HBsAg se faz imperativo para que medidas sejam tomadas para limitar a
infecção do concepto e do recém-nascido. A via de parto das gestantes infectadas é uma decisão obstétrica,
não sendo a cesariana uma opção para diminuição da transmissão neonatal. A amamentação não é
contraindicada e deve ser estimulada. Ao nascimento, o RN de mãe portadora de hepatite B crônica, com
HbeAg positivo, deve receber, nas primeiras 12 horas de vida, a imunoglobulina humana anti-hepatite B e a
vacina contra hepatite B.
Rastreio na gestante: o Ministério da Saúde recomenda que na rotina básica dos exames do pré-natal seja
solicitado, ao menos, o HBsAg próximo à 30ª semana para avaliar a necessidade de imunoglobulina para o
concepto ao nascimento. Se: Negativo → parar o acompanhamento. Positivo → solicitar HbeAg e Anti-HBe.
Quando o anti-HBs é solicitado, se for negativo, assim como o HbsAg, está indicada a vacinação materna.
Marcadores sorológicos:
HBsAg- 1º marcador presente, porém não diz se a infecção é aguda ou crônica;
HBeAg- presente na fase de replicação viral, sendo o paciente altamente infeccioso;
Anti-HBc IgM- infecção recente (presente até 32 semanas pós-infecção);
Anti-HBC IgG- indica contato prévio com o vírus;
Anti-HBe- indica o fim da fase replicativa;
Anti-HBs- confere imunidade ao HBV, presente após o desaparecimento do HBsAg, indicando cura e/ou imunidade
por vacina.
-Hepatite C: a transmissão se dá principalmente por via parenteral, sendo impossível identificar a via de
transmissão em grande parte dos infectados. Pessoas que receberam hemotransfusão antes do ano de 1993 são
pessoas incluídas no grupo de risco para serem portadoras desse vírus. A transmissão sexual é pouco freqüente
e a transmissão vertical é rara quando comparado à hepatite B. 70-90% das pessoas infectadas pelo HCV irão
desenvolver a forma crônica da doença, podendo cursar com cirrose e hepatocarcinoma, em um período de 20
anos. Nas pacientes gestantes e portadoras do HCV, o curso da doença não é alterado pela gestação, e vice-
versa. Não existem evidências ligando o HCV a malformações fetais. Não existe um tratamento específico
para a hepatite C, como também não há medidas profiláticas para evitar a transmissão vertical. A via de parto é
de decisão obstétrica e a amamentação deve ser estimulada.
Tratamento: o tratamento baseia-se em repouso relativo, boa alimentação, hidratação e sintomáticos para os
sintomas de fase aguda. Nenhuma das hepatites virais representa contraindicação ao aleitamento materno e
nenhuma é indicação de cesariana.
Fonte de Pesquisa:
Gestação de Alto Risco Baseada em Evidências – IMIP.
Manual de Controles das DST – Ministério da Saúde, 2006.
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 1.
ABORTAMENTO
Abortamento é a interrupção da gestação com feto pesando menos que 500g ou com idade gestacional inferior
a 20-22 semanas. O termo aborto refere-se ao produto eliminado durante o abortamento. Pode ser subclínico
(ocorre antes da próxima falha menstrual) ou clínico (ocorre após gravidez já diagnosticada). O abortamento
clínico incide em 15-20% das gestações, mas cerca de 25% das gravidezes evoluem com abortamento. Destas,
80% são interrompidas até a 12ª semana de gestação.
Classificação:
-Abortamento precoce: interrupção da gestação até a 12ª semana de idade gestacional;
-Abortamento tardio: interrupção da gestação após a 12ª semana de idade gestacional;
-Abortamento habitual: ocorrência de três ou mais episódios consecutivos de abortamento.
Etiologia:
-Anormalidades cromossômicas: são a causa mais comum, respondendo por 50-80% dos abortamentos, clínico
ou subclínico. As aneuploidias são a causa mais freqüente, sendo as trissomias (16, 22, 21...) os tipos de
aneuploidias mais encontrados. Decorrem da fertilização por gametas anormais, de fertilização anômala ou de
irregularidade na divisão embrionária. Mais comuns em mulheres em idade materna avançada.
-Desordens anatômicas: incompetência istmocervical, miomas (especialmente o submucoso), malformações
uterinas (útero unicorno, bicorno, didelfo ou septado), sinéquias uterinas (síndrome de Asherman) e distopias
uterinas.
-Doenças endócrinas: insuficiência lútea, hipotireoidismo, diabete melito insulino-dependente (especialmente
se ausente o controle glicêmico periconcepcional) e síndrome anovulatória crônica (abortamento em 20-40%).
Insuficiência lútea: definida pela produção insuficiente de progesterona pelo corpo lúteo, principal responsável pela
produção nas primeiras 6-7 semanas de gestação. O tratamento se baseia na suplementação exógena de progesterona.
-Distúrbios imunológicos: o principal distúrbio é a síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAAF), uma causa
autoimune de abortamento de repetição, presente em 15-20% das mulheres com abortamento habitual. Os
episódios de abortamento habitual ocorrem, com maior freqüência, durante o segundo trimestre.
-Infecções: as principais infecções que podem levar ao abortamento são: rubéola (quando adquirida próxima à
implantação ovular), parvovírus, citomegalovírus, listeria, herpes simples, hepatite B, HIV, ITU, infecções
ascendentes (vaginoses, clamídia e gonorréia), sífilis, toxoplasmose, malária, entre outras.
Fatores de risco: os principais fatores de risco para a ocorrência de abortamento são os seguintes:
-Idade materna avançada; -Uso de álcool ou cocaína; -Uso de gás anestésico;
-Uso excessivo de cafeína; -Tabagismo materno e/ou paterno; -Uso de DIU;
-Nova gestação nos primeiros 3 meses de puerpério; -Abortamento espontâneo prévio;
-Múltiplos abortamentos prévios provocados; -Radiação em altas doses;
-Medicações: misoprostol (Cytotec®), retinóides, metotrexato, AINEs (exceto acetaminofen).
Apresentação clínica e conduta: (as manifestações estão descrias na tabela a diante)
-Ameaça de abortamento: ocorre em 15-20% de todas as gestações. A probabilidade de evoluir para
abortamento espontâneo é de 50%, sendo de apenas 10% após visualização da atividade cardíaca fetal à USG.
-Diagnóstico: o exame ginecológico visa afastar causas de sangramento vaginal, tais como lesões, infecções
ou pólipos vaginais, especialmente após o coito. Os valores de beta-hCG quantitativo estão dentro da
normalidade (ao se visualizar o saco gestacional intrauterino, os valores são > 1.000mUI/ml); também é útil a
sua dosagem seriada, visto que, em uma gravidez normal, o valor sérico duplica a cada 3 dias. À USG não há
alterações significativas: o saco gestacional encontra-se íntegro e, caso já seja possível visualizar o embrião,
os batimentos cardiofetais estarão presentes.
Diagnóstico diferencial: a gravidez ectópica tem quadro clínico muito semelhante. Quando não se vê imagem de
gestação intrauterina à USG, deve-se recorrer a dosagem de beta-hCG e USG seriado para definir o diagnóstico.
-Conduta: deve-se indicar repouso relativo, abstinência sexual, prescrever antiespasmódicos (se necessário) e
dar apoio psicológico. A administração exógena de progesterona e o uso de imunoglobulina são controversos
PRENHEZ ECTÓPICA
É a implantação do blastocisto em qualquer local que não seja a superfície endometrial da cavidade uterina.
Pode ocorrer nas trompas, ovários, peritônio, cérvice, ligamento largo e, extremamente raros, fígado, baço,
diafragma e espaço retroperitoneal. Ocorre em torno de 1 a 2% de todas as gestações, principalmente nas
gestantes maiores que 30 anos e que já conceberam anteriormente (80-90% dos casos). Nos Estados Unidos,
representa a principal causa de morte materna no 1º trimestre de gestação.
Patogênese: sua patogênese está relacionada ao trânsito lentificado ou obstruído do ovo para o útero ou ainda
da antecipação da capacidade de implantação, que geralmente ocorre entre o 7º e 8º dia após a fecundação.
Fatores de risco: estima-se que em 50% dos casos, nenhum fator de risco é identificado.
-Alto risco: -Cirurgia prévia sobre a trompa -Exposição intraútero ao dietilestilbestrol(aumenta o risco em 9 vezes)
-Salpingites -Gestação ectópica prévia (risco de 9-15%)
-Endometriose -Alterações anatômicas da trompa (ex. divertículo, tumor)
-Uso de DIU (de cobre ou hormonal): a gravidez não é freqüente, mas quando ocorre, 1 em 30 será
ectópica. Portanto, o risco relativo de gravidez ectópica é maior, mais o risco absoluto não.
-Moderado risco: -Infecção pélvica prévia -Infertilidade tratada com indutores da ovulação
-Endometriose pélvica -Múltiplos parceiros sexuais
-Baixo risco: -Tabagismo -Cirurgias abdominais prévias (ex. apendicite)
-Fertilização in-vitro -Início de atividade sexual com menos de 18 anos de idade
PRENHEZ TUBÁRIA
É responsável por 95-98% dos casos de prenhez ectópica, sendo mais freqüente em região ampular, seguida de
região ístmica, ambos representando até 99% dos casos de prenhez tubária.
Fisiopatologia: nos casos de prenhez tubária, ocorre desenvolvimento embrionário inicial, com produção
hormonal semelhante a uma gravidez tópica e, portanto, com todos os seus sinais e sintomas. Os sintomas
inciais da gravidez tubária são inespecíficos, podendo o diagnóstico não ser dado neste momento. Com sua
evolução, pode se manifestar por rotura tubária, um quadro de abdome agudo.
Manifestações: os sintomas clássicos da gravidez ectópica são: dor abdominal, amenorréia e sangramento
vaginal. Essa tríade está presente em 50-60% dos casos e, no restante, ao menos um deles se manifesta. Esses
sintomas podem ocorrer nos casos de rotura tubária ou mesmo na sua ausência.
-Rotura tubária: ocorre em 30% dos casos, principalmente quando a gravidez se localiza na porção ístmica da
trompa. Geralmente a rotura é espontânea, mas o trauma associado ao coito ou ao exame bimanual pode ser o
responsável. A rotura se associa a abundante hemorragia intraperitonial, dor aguda e intensa na fossa ilíaca ou
hipogástrio e choque. Entretanto, sinal de irritação peritoneal (Sinal de Blumberg) pode ou não estar presente.
Dor no ombro (Sinal de Laffon), quando ocorre, se dá por irritação do nervo frênico. Equimose periumbilical
(Sinal de Cullen) pode surgir e, em 20% dos casos, uma massa abdominal é palpável no local da ruptura. O
sangramento genital se deve à interrupção de suporte hormonal ao endométrio após a rotura da tuba e se
caracteriza por ser escasso e escurecido, intermitente ou contínuo. O acúmulo de sangue no fundo de saco
pode gerar dor e abaulamento (Sinal de Proust) ao exame ginecológico. Sinais de descompensação
hemodinâmica podem surgir, sendo geralmente mais graves do que o sangramento exteriorizado.
-Quadro subagudo: representa 70% dos casos, geralmente por gravidez na porção ampular. Não ocorre ruptura
tubária, havendo separação parcial do trofoblasto e da placenta por distensão da trompa, o que ocasiona perda
sanguínea para a cavidade abdominal. Sinais de hemorragia intraperitonial estão presentes, porém em quadro
bem menos intenso que o da ruptura.
Diagnóstico: o diagnóstico deve ser considerado em toda mulher no menacme que apresente dor pélvica
aguda com atraso ou irregularidade menstrual. Os quadros de rotura tubária manifestam-se como abdome
agudo e geralmente o diagnóstico não apresenta dificuldade. Já os quadros subagudos necessitam de maior
investigação e diagnóstico diferencial com outras patologias. Nesses pacientes, como a história de atraso
menstrual está ausente em até 1/3 dos casos e, muitas vezes, o sangramento vaginal é associado ao período
MOLA HIDATIFORME
É a doença trofoblástica gestacional benigna. Acredita-se estar relacionada à ocorrência de degeneração das
vilosidades coriônicas associada à hiperplasia dos elementos trofoblásticos, enquanto uma outra teoria afirma
ocorrer neoplasia benigna do trofoblasto, que leva à degeneração das vilosidades coriônicas. Em 2/3 dos
abortamentos por ovo anembrionado, observa-se degeneração micromolar (edema das vilosidades com
potencial molar).
Patologia: macroscopicamente, observam-se vesículas com líquido claro, semelhante à cachos de uva ou
hidátides. A eliminação deste material vesicular é sinal patognomônico da doença. Já microscopicamente,
observa-se proliferação trofoblástica, degeneração hidrópica do estroma e déficit de vascularização.
Classificação:
-Mola completa: caracterizada pela eliminação de grandes vesículas e pela ausência de feto e/ou âmnio.
Decorre da degeneração hidrópica de todas as vilosidades coriais, devido à perda da vascularização vilosa.
Quanto à genética, a mola completa sempre é diplóide, com todos os cromossomos sendo de origem paterna.
-Homozigótica: cariótipo 46XX. O concepto resulta da fertilização de um óvulo cujo núcleo está ausente ou foi
inativado, por um espermatozóide com 23X cromossomos, que se duplica e dá origem a um embrião com
cromossomos totalmente paternos. Ocorre edema generalizado e hiperplasia grosseira do trofoblasto. Responde por
90% dos casos, há altos níveis de hCG e tem baixa probabilidade de malignidade.
-Heterozigótica: cariótipo 46XY ou 46XX. Decorre da fertilização de um óvulo por dois espermatozóides 23X e 23Y.
Há maior tendência a doença trofoblástica persistente. O risco de evolução para tumores agressivos é de 20%.
-Mola incompleta ou parcial: decorre, mais frequentemente, da triploidia (69XXY, 69XXX, 69XYY),
havendo origem biparental: dois genomas paternos e um materno. Em 10% dos casos há tetraploidia. Nesse
tipo, há duas populações distintas de vilosidades coriais, uma normal e outra com degeneração hidrópica. O
aspecto de “cachos de uva” geralmente não se apresenta. Tecido fetal está sempre presente, mesmo que não
visto macroscopicamente. Na maioria dos casos a gestação é inviável, com o feto apresentando estigmas de
triploidia, como malformações múltiplas e restrição do crescimento.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 3
ROTURA UTERINA
Consiste no rompimento parcial ou total do miométrio durante a gravidez ou trabalho de parto. Ocorre
frequentemente a extrusão do feto e de partes fetais. Possui grande impacto no futuro reprodutivo da mulher e
pode levar a morte materna e fetal, sendo uma das mais graves complicações gestacionais.
Fatores de risco: Os principais fatores de risco são a cesariana prévia , o parto obstruído (desproporção
cefalopélvica, apresentações anômalas e tumores prévios) e a indução de parto. Trauma uterino (armas brancas
ou de fogo, acidentes automobilísticos), malformação uterina, doença trofoblástica gestacional, manobra de
Kristeller e sobredistensão uterina (gemelaridade, polidrâmnio) são outras causas envolvidas.
Rotura uterina na gravidez: é rara, podendo ser espontânea ou relacionada a traumas. No início da gravidez
a rotura uterina resulta em quadro de abdome agudo grave. Cursa com dor intensa, hemorragia interna e
irritação peritoneal, podendo evoluir com choque hipovolêmico. A ocorrência na segunda metade da gestação
resulta em quadro mais brando, porém de igual gravidade. Ao exame são evidenciadas duas massas,
representando o feto e a massa uterina. BCF inaudíveis. O prognóstico fetal é o óbito e o materno é grave.
-Tratamento: a laparotomia exploratória deve ser imediata, tanto para confirmação do diagnóstico como para a
terapêutica e controle da hemorragia. Nas pacientes com prole constituída está indicada a histerectomia,
enquanto nas nulíparas tenta-se a rafia da lesão. Hemotransfusão e antibiótico profilático estão indicados.
Rotura uterina no parto: pode ser espontânea ou provocada (uso de ocitocina, manobras de versão externa,
Kristeller). O quadro clínico caracteriza-se por dois momentos bem distintos:
-Iminência de rotura uterina – Síndrome de Bandl-Frommel: a paciente se apresenta ansiosa e agitada, com
contrações uterinas vigorosas e excessivamente dolorosas. A distensão das fibras é tão importante que à
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Característica DPP PP Rotura de Vasa Rotura de seio Rotura Uterina
prévia marginal
Início Súbito Gravidade Após amniotomia Súbito e periparto Súbito
progressiva
Hemorragia Escura, única, Viva, rutilante, de Viva, única Viva, única Viva, única
oculta em 20% repetição
Origem Materna/fetal Materna Fetal Materna Materna
Sofrimento fetal Grave e precoce Ausente ou tardio Grave e precoce Ausente Grave e tardio
Hipertonia Sim Não Não Não Não
Dor Sim (hipertonia) Não Não Não Cessa
Amniotomia Diminui o risco de Diminui a Desencadeia o Não interfere Não interfere
CIVD hemorragia sangramento
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia.
IMCOMPATIBILIDADE MATERNO-FETAL
A eritroblastose fetal, também denominada Doença Hemolítica Perinatal, é uma doença decorrente da
produção de anticorpos maternos contra antígenos presentes no sangue fetal, devido a algum tipo de
incompatibilidade sanguínea materno-fetal. Sua incidência vem diminuindo com o passar dos anos,
principalmente após a instituição da profilaxia com imunoglobulina.
Etiopatogenia:
-Incompatibilidade ABO: é a forma mais freqüente de eritroblastose fetal, porém menos grave que a
incompatibilidade Rh.
A produção de anticorpos ocorrerá sempre que o sangue de um indivíduo entre em contato com hemácias que
possuam antígenos não encontrados em seus eritrócitos. Indivíduo do grupo A produzirá anticorpos anti-B e vice-
versa. Indivíduos do grupo AB não produzem anticorpos, podendo ser expostos a sangue A ou B (receptor universal).
Já indivíduos do grupo O produzem anticorpos anti-A e anti-B, no entanto, nenhum anticorpo é formado contra ele
(doador universal).
A situação mais freqüente é a mãe ser O, possuindo então anti-A e anti-B e o feto ser A ou B ou AB. A grande
maioria dos anticorpos é da classe IgM, felizmente, não atravessando a placenta, explicando a forma mais leve
da doença (anemia) no recém-nascido. Uma vez que tais anticorpos são naturais, não há profilaxia disponível
para este tipo de incompatibilidade. Cabe lembrar que ao contrário do observado na incompatibilidade Rh, não
existe a necessidade de exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB para o desenvolvimento de anticorpos,
pois estes já são naturalmente encontrados no organismo materno, provavelmente decorrente da exposição a
bactérias no decorrer da vida.
-Incompatibilidade Rh: dentre os antígenos do sistema Rh, o antígeno D é o mais comumente implicado nos
casos de aloimunização, sendo sua presença quem determina que o indivíduo é Rh positivo. A sensibilização
materna ocorre quando aproximadamente 1 ml de sangue fetal Rh positivo entra em contato com a circulação
materna sendo esta Rh negativo, levando a síntese de anticorpos anti-D IgM inicialmente e, depois, IgG. A
severidade da sensibilização piora a cada gravidez, logo o risco de anemia fetal aumenta progressivamente. A
incompatibilidade ABO leva a uma relativa proteção contra a sensibilização Rh, pois os anticorpos maternos
anti-A e anti-B destroem as hemácias fetais transmitidas para a mãe antes mesmo que haja a sensibilização.
Fisiopatologia: para que ocorra a doença é necessário que haja:
-Incompatibilidade sanguínea materno-fetal
-Aloimunização Rh materna: traduz o aparecimento de anticorpos anti-D na circulação de gestantes Rh
negativas em resposta aos antígenos D provenientes da circulação do feto Rh positivo. O contato do sangue
fetal com o materno ocorre a partir de hemorragias feto-maternas que podem ocorrer durante a gestação, como
nos casos de hemorragia do primeiro trimestre e, principalmente, durante o parto, especialmente o operatório.
Estima-se que a hemorragia feto-materna ocorra em 75% das gravidezes, sendo mais freqüente quanto mais
avançada a gestação. No primeiro contato, haverá produção de anticorpos IgM, que não atravessam a placenta.
No segundo contato, há a produção de anticorpos IgG, que atravessam a placenta. Em exposições
subsequentes, o processo tende a ser ainda mais acentuado, ou seja, o acometimento fetal em cada gestação
tende a ser mais grave que na anterior.
-Passagem de anticorpos maternos para o feto: uma vez produzidos, os anticorpos IgG podem atravessa a
placenta e, ao invadirem a circulação fetal, fixam-se às hemácias do concepto, com posterior hemólise e
instalação de eritropoiese extramedular no fígado. Esse processo é responsável pelo desenvolvimento da
anemia fetal, que pode ser leve, moderada ou grave, conforme a intensidade da hemólise.
-Consequências fetais: frente à anemia fetal, há hipóxia tecidual que leva ao aumento da contratilidade e do
débito cardíaco. Com o agravamento da anemia, pode ocorrer insuficiência cardíaca e falência miocárdica.
Além disso, devido a hematopoiese extramedular, pode haver desenvolvimento de hipertensão porta e
hipoproteinemia. Esses fatores são, em conjunto, responsáveis pelo quadro de hidropsia fetal, caracterizado
pelo extravasamento de líquido para o terceiro espaço, com formação de derrame pleural, pericárdico, ascite e
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 3.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 2.
PREMATURIDADE
Define-se parto pré-termo ou prematuro aquele ocorrido entre 20-22 semanas e 37 semanas incompletas. No
nosso meio, as taxas de prematuros situam-se em torno de 10% dos nascimentos.
Relembrando: o parto ocorrido antes de 20-22 semanas de gestação é considerado abortamento. Pequeno para a idade
gestacional (PIG) é o RN que nasce abaixo do percentil para a idade gestacional. RN de baixo peso ao nascer é todo
aquele que nasce com peso inferior a 2.500g, independente da idade gestacional.
Etiologia: estima-se que 45% dos casos de prematuridade sejam decorrentes de parto pré-termo com as
membranas íntegras, 30% decorram de rotura prematura das membranas ovulares (RPMO) e em 25% dos
casos o parto pré-termo é opção médica, como solução para complicações materno e/ou fetais. Entre as
causas, estão:
-Iatrogenia: cesariana eletiva com IG calculada erroneamente;
-Sobredistensão uterina: principalmente nos casos de gestação gemelar e polidrâmnio;
-Amniorrexe prematura: primária ou secundária a outros fatores;
-Gestação de alto risco: devido a alterações endócrinas e aumento da contratilidade;
-Malformações uterinas e Miomas: pois o útero suporta mal a distensão dada pelo feto;
-Incompetência istmo-cervical: causa de prematuridade, abortamento tardio e amniorrexe prematura;
-Infecções: infecção aguda (a hipertermia leva ao aumento da cinética uterina) ou corioamnionite. Os
microorganismos mais associados são: E. coli, estreptococo do grupo B, clamídia trachomatis, trichomonas,
bacterioides, Gardnerella e Neisseria gonorrhoeae.
Fatores de Risco: os fatores de risco para a prematuridade são semelhantes aos da RPMO. A história de parto
prematuro anterior é o fator de risco mais significativo para a ocorrência de novo evento. Dentre os outros
fatores de risco, destacam-se:
-Estresse: mulher solteira, baixo nível socioeconômico, ansiedade, depressão, cirurgia abdominal durante a gravidez;
-Fadiga ocupacional: postura em pé, uso de máquinas industriais, esgotamento físico, estresse mental;
-Distensão uterina excessiva: gestação múltipla, polidrâmnio, anomalia uterina ou miomatose;
-Fatores cervicais: história de aborto de 2º trimestre, história de cirurgia cervical, dilatação prematura do colo;
-Infecção: DST, infecção sistêmica, bacteriúria, pielonefrite, doença periodontal.
Fisiopatologia: o parto pré-termo é um evento multifatorial, no qual estão envolvidas a liberação de citocinas
inflamatórias (interleucinas, TNF), hormônios hipotalâmicos e adrenais (ocitocina, cortisol e hormônio
liberador da corticotropina), produção de estrógenos placentários, prostaglandinas e formação de trombina. A
liberação dessas substâncias parece ser resultado de um dos quatro processos patológicos: ativação prematura
do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal materno e fetal, inflamação/infecção, hemorragia decidual e distensão
uterina patológica.
Manifestações e diagnóstico: a atividade uterina segue um padrão de acordo com a idade gestacional: entre
28 a 32 semanas de gestação estão presentes as contrações de Braxton-Hicks, indolores, aproximadamente 2
por hora e, entre 33 e 36 semanas até 3 por hora. No trabalho de parto prematuro, a atividade uterina encontra-
se precocemente aumentada, sendo as contrações dolorosas, persistindo por no mínimo 1 hora, a despeito do
repouso materno ou analgesia. Podemos então classificar em:
-Ameaça de trabalho de parto prematuro: atividade uterina aumentada e apagamento parcial ou total do colo
com dilatação ausente ou discreta.
-Trabalho de parto prematuro franco: quatro contrações em 20 minutos (ou 8 em 1 hora), associada a
apagamento cervical maior ou igual a 80% e dilatação cervical maior que 2 cm.
Diagnóstico complementar: alguns exames complementares podem ser utilizados como preditores de
trabalho de parto. Entretanto, apresentam altas taxas de falso-positivo. Não são usados rotineiramente pois
além do alto custo, não há medidas efetivas para oferecer às pacientes com resultado alterado para que assim
fosse mudado o prognóstico da gestação.
-USG: avalia o comprimento do colo uterino. Em mulheres de alto risco de prematuridade, a distância menor
que 25mm entre o orifício cervical interno e externo, entre 18 e 24 semanas de gestação, parece ser preditor de
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 2.
PRÉ-ECLÂMPSIA
Diagnóstico: diagnosticada na presença de hipertensão (PA >140x90) e proteinúria (300mg ou mais de
proteína em urina de 24 horas). A hipertensão é o sinal clínico mais freqüente da síndrome. Um aumento de
30mmHg na sistólica e 15mmHg na diastólica em relação aos níveis pré-gravídicos já foi considerado
patológico, mas esse critério não deve mais ser utilizado devido a baixa sensibilidade; entretanto, tais
elevações merecem investigação. Em relação à proteinúria temos alguns exames para identificá-la:
ECLÂMPSIA
Caracteriza-se pela presença de convulsões tônico-clônicas em gestante ou puérpera com PE. Ocorrem em 2%
dos casos de PE grave. A causa exata de ainda é incerta, sendo implicado o vasoespasmo acompanhado de
isquemia, infarto local e edema, assim como encefalopatia hipertensiva. Após a convulsão sobrevém um
estado comatoso (pós-ictal), seguido de alterações respiratórias, taquicardia, hipertermia e acidose lática. Mais
raramente um coma profundo é ocasionado por hemorragia dos centros cerebrais, sendo o prognóstico
reservado. Bradicardia fetal pode ser observada durante a após a eclâmpsia e não requer parto de emergência;
a estabilização materna é suficiente para a recuperação fetal. Classificação:
SÍNDROME HELLP
Significa Hemolisis, Elevated Liver enzimes e Low Platelets. Pode DEFINIÇÕES
representar uma forma grave de PE ou se desenvolver na ausência de Hipertensão arterial: PAS >
hipertensão e proteinúria, o que ocorre em 15-20% dos casos. 140 e/ou PAD >90
-Hemólise: definida pela presença de anemia hemolítica microangiopática, sendo Proteinúria: >300mg em
a alteração mais importante da tríade. Diagnosticada pela presença de esquizócitos urina de 24 horas, sendo grave
quando >2g/24hrs ou se >2+
no esfregaço de sangue periférico, aumento de bilirrubina (>1,2mg/dl) às custas
Plaquetopenia: <100.000/
de indireta, DHL aumentada (>600UI/l) e diminuição da hemoglobina. mm³, sendo grave quando
-Elevação das enzimas hepáticas: AST > 70UI/l -Plaquetopenia: inferior a <50.000/mm³
100.000 Elevação das enzimas
Outros sintomas incluem: dor no quadrante superior direito ou epigástrica hepáticas: AST >70U/L e
(80% dos casos), piora do edema (50%), hipertensão (85%), proteinúria DHL > 600U/L
(87%), náuseas e vômitos (50%), cefaléia (40%), alterações visuais (15%) e Anemia microangiopática:
BT >1,2mg/dL e esquizócitos
icterícia (5%). A mortalidade é muito maior que na PE isolada, variando de 0 em sangue periférico.
a 24%, geralmente por rotura hepática, CIVD, edema pulmonar, trombose de
carótida e AVE.
PROGNÓSTICO
Na eclâmpsia, a mortalidade materna é de 10-15%, sendo a principal causa a hemorragia cerebral (60%),
seguida pelo edema agudo de pulmão. Na pré-eclâmpsia leve e grave a mortalidade materna é rara, a não ser
que evolua com síndrome HELLP. As possíveis complicações dos casos graves incluem: DPP, CIVD,
insuficiência renal aguda, hemorragia intracerebral, amaurose transitória, parada cardiorrespiratória,
pneumonia de aspiração, edema agudo de pulmão e hemorragia pós-parto. Em geral, os danos são reversíveis,
à exceção da hemorragia cerebral que pode levar a danos neurológicos irreversíveis.
A mortalidade perinatal está relacionada à menor idade gestacional e à gravidade da doença: 5-15% na pré-
eclâmpsia, 7-60% na síndrome HELLP e 30-35% na eclâmpsia.
O surgimento de PE na gravidez é fator de risco definido para HAS posterior, sendo aconselhado o
acompanhamento dos níveis pressóricos e mudanças nos hábitos de vida.
DOPPLERFLUXOMETRIA
Exame no qual, pelo estudo da artéria umbilical e cerebral média e do ducto venoso, fornece uma avaliação
confiável do bem estar fetal.
Em condições normais, o estudo da artéria umbilical do feto mostra um componente sistólico e um diastólico.
Este último, com o evoluir da gravidez, apresenta um aumento do seu fluxo. Quando este fenômeno não
ocorre ou quando acontece o contrário, ou seja, diástole zero ou diástole reversa, respectivamente, estamos
diante de situações patológicas provocadas pelo aumento da resistência dos vasos placentários, impedindo o
fluxo normal de sangue.
A avaliação da artéria cerebral média tem importância para identificar o fenômeno de centralização. Ele ocorre
devido à hipoxemia: nessa situação, ocorre perfusão preferencial para órgãos nobres (cérebro) em detrimento
de outros órgãos (rins, pele e intestino). Esse fenômeno é notado por uma diminuição da resistência devido à
Fonte de Pesquisa:
Projeto Diretrizes.
Medcurso 2010 – Obstetrícia.
DIABETES GESTACIONAL
O conceito de diabetes gestacional inclui toda intolerância à glicose, de qualquer intensidade, com início ou
detecção pela primeira vez na gravidez, com necessidade ou não de insulina. Constitui-se a complicação mais
comum do período gestacional, com incidência estimada entre 2,5 a 7,5% das gestações no Brasil. Mesmo
com o acompanhamento em serviços terciários, as suas complicações são graves e as malformações fetais são
desfechos freqüentes (6-10%). A diabetes pode ser autolimitada à gravidez, devendo haver nova avaliação
glicêmica 6-8 semanas após o parto.
Fatores de Risco: são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes gestacional:
-idade superior a 35 anos; -obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual; -baixa estatura (<
1,50m);
-deposição central excessiva de gordura corpórea; - história familiar de diabetes em parentes de 1° grau;
-crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual;
-antecedentes obstétricos de morte fetal ou neonatal, de macrossomia ou de diabetes gestacional.
Etiopatogenia: com a necessidade de transferência de glicose para o feto, o organismo gravídico utiliza-se de
meios para garantir este aporte glicêmico. Para isso, os hormônios característicos da gravidez, e que são
secretados de forma ascendente, antagonizam a ação da insulina, o que culmina com resistência à insulina e
hiperglicemia pós-prandial. Destacam-se como principais influências da gestação sobre o metabolismo
glicêmico:
-Alterações hormonais: o hormônio lactogênio placentário (hLP) é sintetizado pela placenta em teores
crescentes com a evolução da gestação, e exerce forte antagonismo à ação da insulina. Cortisol, estrogênio,
progesterona e prolactina também são sintetizados em quantidades ascendentes e são hiperglicemiantes.
-Alterações metabólicas:
-Resistência à ação periférica da insulina: pelo bloqueio exercido pelos hormônios anteriormente citados;
-Catabolismo acentuado: como o concepto requer glicose para a sua nutrição e crescimento, dependendo da
magnitude da queda de glicose materna, pode ocorrer hipoglicemia de jejum. Para evitá-la, o organismo aumenta a
gliconeogênese hepática e há maior e mais rápida mobilização de lipídios para fornecimento de energia;
-Anabolismo facilitado: durante o período da alimentação, ocorre elevação mais acentuada da glicemia materna, que
permite sua maior transferência placentária, e maior conversão de glicose em triglicerídeos para posterior utilização
como fonte de energia para o concepto.
Classificação: a classificação atual do diabetes tem como base o processo patogênico envolvido: Diabetes tipo
1 (destruição das células pancreáticas/deficiência absoluta de insulina), Diabetes tipo 2 (resistência à insulina/
deficiência relativa de insulina), Diabetes gestacional e outros tipos específicos de diabetes. A primeira
classificação do diabetes gestacional, desenvolvida por Priscila White (1949), está em desuso, sendo utilizada,
geralmente, apenas a nomenclatura A1- sem insulinoterapia e A2- com insulinoterapia
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 4
Consenso sobre diabetes – ADA, 2012.
GEMELARIDADE
A incidência anual da gestação gemelar é de aproximadamente 26 casos para 1.000 nascimentos, e de gestação
trigemelar é de 6 casos para 1.000. É responsável por 17% dos partos pré-termo e por 24% dos RN de baixo
peso.
Conceitos: a gestação múltipla é a presença de dois ou mais conceptos no útero materno e, posteriormente,
fora dele. Classifica-se em dupla ou gemelar, tripla (trigemelar), quádrupla e assim por diante. Cada produto
da gestação gemelar é um gêmeo.
-Zigotia: refere-se à origem dos gêmeos: se de um mesmo ovo ou de óvulos diferentes.
Monozigótica: resulta da fertilização de um óvulo por um único espermatozóide. Os gêmeos monozigóticos
correspondem a 1/3 dos gemelares. O genótipo dos gêmeos é o mesmo: o sexo é obrigatoriamente igual, como
também o grupo sanguíneo, fatores séricos, características físicas e tendências patológicas. Chamados de univitelinos
Dizigótica: resulta da fertilização de dois óvulos por espermatozóides diferentes. A placentação é obrigatoriamente
dicoriônica, enquanto que nos monozigóticos a placentação depende do momento em que ocorre a divisão após a
fecundação. Os gêmeos são chamados de bivitelinos ou gêmeos fraternos.
Outras possibilidades: um único óvulo pode ser fecundado por dois espermatozóides, com posterior divisão do
zigoto. Pode ocorrer ainda a superfecundação (fertilização de dois óvulos em coitos diferentes durante o mesmo ciclo
menstrual) e poliembrionia (formação de vários embriões a partir de um único zigoto).
-Corionia: diz respeito ao tipo de placentação, ou seja, ao número de placentas. Como já citado, os gêmeos
dizigóticos (DZ) são obrigatoriamente dicoriônicos, sempre com duas placentas. No entanto, elas podem estar
fusionadas, dando a impressão de uma só massa placentária. Já em relação aos monozigóticos (MZ), a
placentação depende do momento, em relação à fecundação, no qual ocorreu a divisão do zigoto:
Até 72 horas: Dicoriônica Diamniótica (30% dos MZ)
Entre 4º e 8º dia: por divisão do embrioblasto com o cório já formado torna-se Monocoriônica Diamniótica (30%)
Entre 8º e 12º dia: por divisão completa do disco embrionário, torna-se Monocoriônica Monoamniótica (1%)
Entre 13º e 15º dia: a separação do disco embrionário é imperfeita, acarretando gestação Monocoriônica
Monoamniótica de gemelaridade imperfeita. Como a separação é incompleta, os produtos finais são gêmeos siameses.
Fatores de risco: a freqüência de gêmeos idênticos (univitelinos) é estável (1:250) em todo o mundo, tida
como um evento ao acaso, não parecendo sofrer influência de raça, história familiar, idade materna e paridade.
Já os gêmeos dizigóticos sofrem influência desses fatores:
-Drogas indutoras da ovulação: gonadotrofinas ou citrato de clomifeno
-História familiar: apenas a história da mulher é relevante -Técnicas de fertilização assistida
-Fatores nutricionais: mulheres altas e com sobrepeso. -Raça: principalmente em negras
-Idade materna: a incidência aumenta progressivamente a. -Paridade: multiparidade
té os 37 anos, quando decai por decréscimo da produção hormonal
Diagnóstico da gemelaridade: na anamnese, buscar história familiar de gemelaridade, uso recente de indutor
da ovulação e questionar sobre sensação de útero maior que o esperado para a idade gestacional. Ao exame
físico, verificar se há aumento exagerado da circunferência abdominal e do fundo uterino, tentar individualizar
as partes de dois fetos e proceder a ausculta de batimentos de dois ou mais fetos.
-Exames complementares: a presença de
dosagem quantitativas de beta-hCG acima de
50.000mUI/ml levanta a suspeita de gestação
múltipla. Entretanto, com o advento do
emprego rotineiro da USG para datar a
gravidez e avaliar a vitalidade fetal,
diminuiu-se a incidência de gestação gemelar
não diagnosticada. Em geral, o diagnóstico é
pela USG-TV, que visualiza dois ou mais
sacos gestacionais (4-5 semanas), dois ou
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 4.
PARTO: INTRODUÇÃO
O parto é o estágio resolutivo da gestação. Consiste na expulsão do feto do útero através da via vaginal ou da
retirada do bebê pela via abdominal.
Definições:
-Quanto a idade gestacional:
< 36 semanas e 6 dias → parto prematuro ou pré-termo
entre 37 semanas a 41 semanas e 6 dias → parto a termo
> 42 semanas completas → parto pós-termo
-Quanto à gestante:
-Paridade: nulípara → nunca pariu; primípara → pariu ou vai parir pela primeira vez; multípara → já pariu
diversas vezes; não leva em conta o número de fetos nascidos vivos ou mortos, entretanto, descarta-se os
abortos (<22 semanas).
-Gesta: nuligesta → nunca engravidou; primigesta → primeira concepção da mulher é a atual; multigesta ou
plurigesta → presença de mais que uma gestação, independente da duração delas, do produto da concepção e
do número de conceptos em cada uma.
-Quanto ao parto:
-Espontâneo: quando se desencadeia e termina sem interferência X Induzido: se desencadeado por
medicamentos ou manobras;
-Distócico: se for perturbado por condições anômalas X Eutócico: se ocorre de forma fisiológica e normal;
-Operatório: caso seja efetuada alguma operação para concluir o parto, incluindo o uso de fórcipe.
-Quanto ao produto da concepção:
-Nascido vivo: expulsão ou retirada de um produto da concepção do corpo da mãe, independente da idade
gestacional, que apresente qualquer sinal de vida: respiração, batimentos cardíacos, pulsação do cordão
umbilical, movimentos efetivos, estando ou não cortado o cordão umbilical.
-Nascido morto/ Natimorto: morte de um produto da concepção antes da expulsão ou extração completa do
corpo da mãe. O óbito fetal é reconhecido pela ausência dos sinais descritos acima.
-Abortamento: morte de um produto da concepção antes que este atinja a vitabilidade, ou seja, antes da
gestação completar 20 a 22 semanas ou antes do concepto atingir um peso de 500g.
Início do trabalho de parto: nem sempre é fácil defini-lo, havendo divergência entre, praticamente, todos os
autores. Entretanto, de forma geral, é considerado iniciado o trabalho de parto no momento em que a paciente
entra na fase ativa do parto (dilatação de 3cm em primíparas e 4cm em multíparas).
Períodos do parto: os períodos clínicos do parto não devem ser confundidos com os tempos do mecanismo
do parto. O trabalho de parto ativo é divido em 3 períodos; alguns autores acrescentam o quarto período, que
vai da expulsão da placenta até uma hora após. Antes de iniciado o trabalho de parto, o útero sofre
modificações ao longo de várias semanas, período chamado de pré-parto ou premunitório.
-Período premunitório (pré-parto): não é propriamente uma fase clínica do parto. Inicia-se entre 30 e 36
semanas de gravidez, estendendo-se até o desencadeamento do trabalho de parto. Há a acomodação da
apresentação ao canal de parto. As gestantes começam a perceber as contrações uterinas (contrações de
Braxton-Hicks), que são indolores, incoordenadas e irregulares, com a função de preparar o canal de parto,
porém podem ser confundidas pela gestante com o início do trabalho de parto. Com a aproximação da data
provável do parto, há aumento da secreção cervical, tipicamente como muco com raios de sangue. A saída do
tampão mucoso endocervical é um sinal do parto, decorrente do apagamento do colo uterino. Culmina na fase
latente do TP.
Fase latente: fase em que as contrações uterinas tornam-se progressivamente mais intensas e regulares, na ausência
de dilatação progressiva e rápida do colo, que caracteriza o início do trabalho de parto. Dura de 14 a 20 horas.
Fase ativa: presença de 2 contrações uterinas eficientes (rítmicas, dolorosas, com duração >30s) em 10 minutos
associadas a dilatação de 3 cm em primíparas e 4 cm em multíparas.
-Dilatação: a primeira fase clínica inicia-se quando são atingidas contrações uterinas de freqüência,
ESTUDO DO PARTO
Sob o ponto de vista mecânico, são quatro os elementos básicos para o estudo do parto:
1- Trajeto: A bacia
2- Objeto: O feto
3- Motor: Contrações uterinas
4- Mecanismo: Conjunto de movimentos passivos desempenhados pelo feto para que possa nascer.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 2
INDUÇÃO DO PARTO
O parto é induzido quando iniciado artificialmente por meios farmacológicos ou mecânicos que produzem
metrossístoles suficientes para desencadear o trabalho de parto.
Indicações: gravidez prolongada, amniorrexe prematura com sinais de infecção ovular, síndromes
hipertensivas, malformação fetal incompatível com a vida, morte fetal.
Contraindicações: gestação múltipla, apresentação fetal anômala, útero com histerotomia prévia (cesariana –
não é contraindicação absoluta), placenta prévia, colo uterino imaturo, obstrução do canal de parto,
INIBIÇÃO DO PARTO
A tocólise é a intervenção farmacológica mais empregada para prevenção do parto prematuro. Vários
medicamentos possuem a capacidade de inibir a contração uterina (tocolíticos). Os mais empregados são (ver
mais no capítulo de RPMO): beta-adrenérgicos (salbutamol → evitar em cardiopatas, hipotireoidismo e
diabéticas), inibidores da síntese de prostaglandinas (indometacina → utilizar apenas antes de 32 semanas,
pelo risco de fechamento precoce do ducto arterioso) e bloqueadores dos canais de cálcio (nifedipina).
DISCINESIAS UTERINAS
São as distócias dinâmicas ou funcionais, decorrentes da contratilidade uterina anormal. A contratilidade
uterina torna-se ineficiente para dilatar o colo e atuar na progressão do parto. Por outro lado, a atividade
uterina pode ser exagerada, capaz de provocar o parto rápido e precipitado (parto disfuncional).
Discinesias quantitativas: a onda contrátil é generalizada e mantém o tríplice gradiente descendente. Apenas
seus valores estão alterados. Pode ocorrer: hipoatividade (hipossistolia → intensidade < 25mmHg;
bradissistolia → freqüência < 2 em 10minutos), hiperatividade (hipersistolia → intensidade >50mmHg;
taquissistolia → freqüência > 5 em 10 minutos), hipotonia (tono < 8mmHg) ou hipertonia (tono >12 mmHg).
-Hipotonia/hipoatividade: administração de ocitocina, prostaglandina (via vaginal ou intracervical) e amniotomia.
-Hipertonia/hiperatividade: decúbito lateral esquerdo (melhora a perfusão uterina por descompressão da cava
inferior), descontinuar o uso de uterotônicos, prescrição de meperidina (analgesia reduz a liberação de catecolaminas)
e uso de tocolíticos (nos casos de hipertonia por taquissistolia).
Discinesias qualitativas: encontramos ondas generalizadas com inversão do tríplice gradiente descendente ou
ondas localizadas, assincrônicas e incoordenadas (incoordenação uterina).
Tratamento: decúbito lateral esquerdo, infusão de ocitocina em doses fisiológicas, amniotomia, analgesia e sedação
(meperidina ou peridural). Caso não surtam efeito, indica-se fórcipe, se aplicável, ou cesariana.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 2.
APRESENTAÇÃO PÉLVICA
O parto pélvico tem altos índices de complicações quando comparado ao cefálico. Entretanto, a apresentação
pélvica não constitui indicação obrigatória de parto cesariano, mesmo em primíparas. A cesariana está
indicada em algumas situações associadas à apresentação pélvica; destacam-se: peso fetal <1,5kg (pois o feto
não dilata o suficiente a pelve materna) ou >4kg, cesariana anterior, amniorrexe prematura, malformação fetal
compatível com a vida, parada da progressão do parto, vício pélvico, gestação gemelar, obstetra inexperiente,
mau passado obstétrico (morte fetal ou seqüela), procidência de membros.
Para melhor análise do mecanismo de parto dessa apresentação, decompõe-se o feto em três segmentos:
cintura pélvica, cintura escapular e cabeça derradeira.
-Parto da cintura pélvica: A insinuação termina quando o diâmetro bitrocanteriano (maior diâmetro
perpendicular à linha de orientação) transpõe a área do estreito superior da bacia materna. Durante a descida
ocorre a rotação interna. O desprendimento é mais fácil na apresentação pélvica completa (pelvipodálica) que
na incompleta (pélvica simples); nesta última, os membros inferiores estendidos ao longo do corpo da feto
prejudicam a flexibilidade do tronco, conferindo a característica de bloco rígido. Em contrapartida, a
apresentação pelvipodálica dificulta a insinuação.
-Parto da cintura escapular: durante a insinuação o diâmetro biacromial, por compressão, reduz sua dimensão
e se insinua na bacia materna. No momento em que os ombros atingem o assoalho perineal, a cabeça está se
insinuando. A descida transcorre com a rotação interna das espáduas; a rotação das espáduas e a rotação da
cabeça ocorrem conjuntamente, tanto interna como externamente. No desprendimento, a espádua anterior é a
primeira a aflorar a vulva e, em seguida, sai a espádua posterior.
-Parto da cabela derradeira: o parto do pólo cefálico ocorre com maior dificuldade e de forma mais
trabalhosa na apresentação pélvica, quando comparada à apresentação cefálica.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 2.
ASSISTÊNCIA AO PARTO
Estuda as medidas e procedimentos que podem ou devem ser empreendidos durante o trabalho de parto (TP).
Muitas aspectos da assistência são controversos, acreditando-se, atualmente, que muitas medidas empregadas
rotineiramente são desnecessárias e, por vezes, danosas.
Primeiro período – Dilatação
As gestantes, instruídas durante o pré-natal, devem procurar assistência uma vez que acreditem ter iniciado o
trabalho de parto. Ocorrendo o diagnóstico de trabalho de parto, a parturiente deve ter internação hospitalar.
Prescrição inicial:
-Tricotomia: estudos de revisão sistemática não mostraram benefícios da sua realização. Entretanto, autores
recomendam que os pelos sejam aparados com tesoura apenas no trajeto da episiotomia, quando necessária;
-Hidratação venosa: é indispensável, pela necessidade de correção de anormalidades da contração, práticas
anestésicas e possibilidade de complicações do parto;
-Enteróclise: deve ser evitada, uma vez que estudos comprovam que não há redução de infecção materno-fetal;
-Dieta: evitar a dieta zero, assim como dieta com sólidos. Podem ser administrados 250 ml de líquidos a cada 2 horas,
por via oral, atentando para o risco de broncoaspiração em procedimentos anestésicos.
-Deambulação: o decúbito não é preconizado durante todo o TP, sendo permitido que a paciente ande pelo quarto e
adote a posição mais confortável. Vale ressaltar que o decúbito dorsal deve ser evitado pelo risco de hipotensão
supina (caso deitada, a gestante deve assumir decúbito lateral) e pela ocorrência de discinesias.
Toque vaginal: avalia a progressão do apagamento e da dilatação do colo uterino, a sua orientação (anterior,
médio ou posterior) e consistência. Avalia também a progressão da descida do feto (altura da apresentação) e
presença de assinclitismo. Possibilita identificar o estado da bolsa das águas (íntegra ou rota). Quanto ao
líquido amniótico, permite avaliar sua quantidade indiretamente, pelo volume formado pela bolsa das águas.
-Orientações: fazer assepsia adequada antes de proceder o toque, utilizar luvas estéreis, lavar as mãos e proceder o
toque com delicadeza. Evitar toques desnecessários, pois predispõem à infecção puerperal. Não há freqüência pré-
estabelecida, devendo-se individualizar os casos, embora preconiza-se, de forma genérica, a cada 1 a 2 horas.
Bem-estar fetal: é uma das avaliações mais importantes durante o período de dilatação. Geralmente é avaliado
pela ausculta dos BCF antes, durante e após, no mínimo, duas contrações, a cada 30 minutos em pacientes de
baixo risco e a cada 15 minutos nas pacientes de alto risco (SOGIMIG. Segundo o Rezende, a cada 15 minutos
independente do risco). A avaliação do líquido amniótico permite a observação da presença de mecônio, que
pode ser sinal de sofrimento fetal.
Bem-estar materno: consiste na avaliação freqüente dos sinais vitais maternos e de orientações e apoio. Não é
adequado instruir a paciente a “fazer força” neste período pois, além de totalmente desnecessário, pode levar à
exaustão.
Amniotomia: sua realização rotineira é questionável, pois aumenta o risco de compressão do cordão umbilical
e de infecção. Pode reduzir o tempo total do TP em até 1-2 horas se realizada quando a dilatação do colo é de
5 cm. Rezende defende a sua realização, enquanto outras evidências sugerem que seja apenas realizada em
casos de progressão anormal do TP.
Medicamentos: as drogas mais utilizadas são os analgésicos, a anestesia de condução e a ocitocina. A
analgesia peridural deve ser oferecida à parturiente sempre que possível, após a comprovação da adequada
evolução do TP (colo > 4cm, atividade uterina coordenada e apresentação fetal insinuada e adaptada à cervice)
Quando não está disponível, a alternativa são os opiáceos, com preferência pela meperidina.
Segundo período – Expulsão
Bem-estar fetal: devido as contrações uterinas mais freqüentes e intensas deste período, a avaliação constante
do bem-estar fetal é importante. Feita por ausculta dos BCF, neste período, de 5 em 5 minutos antes, durante e
após duas contrações uterinas. Eventualmente utiliza-se cardiotocografia, oximetria de pulso fetal e análise do
pH do sangue capilar fetal.
Posição ideal: as mais utilizadas são as de litotomia (decúbito dorsal, flexão parcial das coxas e joelhos em
abdução) e a de Laborie-Duncan (se diferencia apenas pela flexão exagerada das coxas sobre o abdome,
PARTOGRAMA
Representação gráfica da evolução do TP, cujo uso se tornou obrigatório em toda a maternidade a partir de
1994 (OMS).
Relembrando: O trabalho de parto divide-se em duas fases: latente e ativa. Na primeira, o útero já tem contrações
mais intensas e regulares, porém sem dilatação do colo suficiente para caracterizar a fase ativa do TP (3 cm em
primíparas e 4 em multíparas). A fase ativa de dilatação se divide em 3 fases: fase de aceleração (dilatação inicial,
cerca de 1 hora), fase de inclinação máxima (dilatação linear e rápida) e fase de desaceleração (dilatação em
velocidade constante); é nesta última que normalmente ocorre a descida da apresentação e é ela que precede o
período expulsivo.
Existem vários tipos diferentes de partograma, sendo o da página seguinte o mais utilizado. Nele, observamos
na parte superior um espaço para a marcação da dilatação do colo em cm, a altura e a variedade da
apresentação. Observamos também que foram traçadas duas linhas diagonais neste espaço: a da esquerda é a
'linha de alerta' e a da direita a 'linha de ação'. Logo abaixo, observamos local para registro da hora do exame,
BCF, contrações uterinas, estado da bolsa das águas, administração de medicamentos e procedimentos
efetuados durante o parto.
Montagem do partograma: As marcações são iniciadas na fase ativa do parto (2 ou 3 contrações eficientes
em 10 minutos com colo dilatado em 3 a 4 cm). Cada divisória vertical corresponde a uma hora. A dilatação
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia volume 2.
CESARIANA
O parto cesáreo ou operação cesariana é o ato cirúrgico que consiste na abertura da parede abdominal
(laparotomia) e da parede uterina (histerotomia) para a extração do concepto na cavidade uterina. É o
procedimento cirúrgico mais realizado na mulher no Brasil, com freqüência crescente desde 1960, atingindo
taxas superiores a 40% dos partos. Apesar da inexistência de estudos metodologicamente corretos para a
definição da taxa ideal de cesariana, considera-se que deva estar entre 15 e 25% do número total de partos.
Fatores predisponentes: o Ministério da Saúde vem lançando mão de medidas de natureza administrativa,
técnica e educacional com o objetivo de diminuir a alta incidência de cesariana. Estão implicados no aumento
da sua taxa de realização: redução da paridade (pela presença de condições mais comuns em primíparas que
indiquem a operação), aumento da idade das gestantes, monitorização fetal eletrônica, apresentação pélvica,
decréscimo na aplicação do fórcipe médio e fatores socioeconômicos e demográficos. Entretanto, apenas esses
fatores não justificam a alarmante taxa de cesarianas no Brasil.
Indicações: as indicações podem ser maternas, fetais ou para ambos. Em relação à real necessidade da
cirurgia, existem indicações absolutas e relativas. Quando é realizada sem que haja urgência, denomina-se
cesárea eletiva.
-Absolutas:
-Desproporção cefalopélvica -Cicatriz uterina corporal prévia -Placenta prévia total
-Situação transversa -Herpes genital ativo -DPP com feto viável
-Morte materna com feto vivo -Procidência de cordão ou membro fetal
-Obstrução do canal de parto por condilomatose vulvar extensa
-Relativas:
-Feto não reativo -Gestante HIV + (depende da carga viral) -Apresentação pélvica
-Gemelaridade -Colo desfavorável à indução do parto com passado de cesárea
-Psicopatia -Macrossomia em gestante diabética -Discinesia uterina
-Pré-eclâmpsia -Pós-maturidade -Oligoidramnio
-Doença hemolítica perinatal -Prematuridade extrema -Primiparidade idosa
-Mais do que uma indicação relativa.
As quatro indicações mais comuns de cesariana são: falha de progressão durante o trabalho de parto (30%),
histerotomia prévia (30% - usualmente relacionada a cesariana prévia), apresentação fetal anômala (10 %) e
sofrimento fetal (10%). Não existem contraindicações absolutas à cesariana.
Situações mais importantes:
-Placenta prévia total: é indicação absoluta de cesariana, esteja o feto vivo ou morto. A urgência dependerá da
intensidade do sangramento. Quando não há história de sangramento e a IG está acima de 36 semanas, persiste
a indicação absoluta de cesariana, que será realizada eletivamente.
-Descolamento prematuro de placenta (DPP):
Feto morto ou inviável → indicação relativa e materna, a depender do quadro materno (sangramento, coagulopatia)
Feto viável no trabalho de parto → indicação de urgência absoluta materno-fetal
Feto viável no período expulsivo → indicação relativa materno-fetal; se indicada, a urgência é absoluta
-Prolapso de cordão e sofrimento fetal agudo:
Feto inviável/morto → não é indicação de cesárea;
Feto viável → indicação absoluta;
Feto viável no período expulsivo → indicação relativa, porém se indicada a cesárea, a urgência é absoluta.
-Prematuridade: indicação controvertida. Mostra maior consistência nos casos de prematuridade extrema.
-Infecção: a cesariana nos casos de infecção intrauterina implica em uma maior exposição materna ao
processo infeccioso. Neste casos, geralmente dá-se preferência pelo parto via vaginal. Necessidade da cirurgia
depende da idade gestacional, da viabilidade e comprometimento fetal e do estágio do trabalho de parto.
-Distocia ou falha de progressão: devido à heterogeneidade desta condição clínica, os casos devem ser
individualizados. É difícil estabelecer uma regra de até quando se deve insistir no parto vaginal e qual é o
momento ideal para optar pelo parto operatório.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 2.
FÓRCIPE OBSTÉTRICO
Fórcipe é o instrumento destinado a apreender a cabeça fetal e extraí-la através do canal de parto. Existem
vários modelos com diferentes manejos, porém sua estrutura comum consiste em dois ramos cruzados, cada
um contendo: colher, pedículo, articulação e cabo. Cada colher possui três curvaturas: cefálica, pélvica e
perianal.
Tipos de fórcipe: os fórcipe mais utilizados são: clássicos → Tucker-McLane, Simpson e Elliot; Especiais →
Kielland, Barton e Piper. Os clássicos se prestam para a maior parte das aplicações, enquanto os especiais tem
indicações específicas.
-Simpson: é o fórcipe mais utilizado, em cerca de 90 % das aplicações. Serve praticamente para todas as
necessidades, exceto para a apresentação em variedade de posição transversa.
-Kielland: excelente instrumento para realizar rotações mais amplas da cabeça na pelve, semelhante ao fórcipe de
Simpson, porém é o instrumento de escolha em variedades de posição transversa.
-Barton: desenhado para casos de variedade de posição transversa quando a apresentação encontra-se alta na pelve.
-Piper: é um instrumento desenhado especialmente para a extração da cabeça derradeira.
Mecanismo de ação: o fórcipe é desenhado com a função de apreender a cabeça do feto (preensão ou
pegada), rodá-la se necessário (rotação) e extraí-la através da pelve materna (tração).
-Preensão: a única posição adequada para a pegada é a biparietomalomentoniana.
-Rotação: deve seguir a conformação do instrumento utilizado para não traumatizar a
vagina.
-Tração: deve ser simultânea às contrações uterinas e realizada sempre no eixo da
pelve materna, ou seja, deve-se lembrar que o canal de parto não é um cilindro, pois
apresenta uma curvatura dando-lhe o aspecto de “J”.
Classificação das operações com fórcipe: baseia-se na altura da apresentação na pelve. Segundo a
classificação mais atual (ACOG, 1988), classifica-se em:
-Desprendimento/de alívio: o couro cabeludo é visível no intróito vaginal sem separar os lábios. A sutura
sagital encontra-se no diâmetro ântero-posterior do estreito inferior.
-Baixo: a apresentação encontra-se no plano +2 de DeLee ou abaixo dele, mas não no assoalho pélvico.
-Médio: a cabeça do feto está acima do plano +2 de DeLee, porém encontra-se insinuada.
Diagnóstico clínico da insinuação da apresentação cefálica: quando ao toque vaginal percebe-se que o vértice (pólo
cefálico) encontra-se ao nível ou abaixo do nível das espinhas ciáticas (plano 0 de DeLee).
-Alta: a cabeça não está insinuada ou encontra-se no limite da insinuação. Nesta situação, atualmente o fórcipe
obstétrico está proscrito, pois apresenta mais riscos que a cirurgia cesariana.
Indicações:
-Alívio: constitui-se a principal indicação do fórcipe atualmente. Traduz os casos onde há dilatação total do
colo uterino e a cabeça fetal está baixa e rodada em occipito-púbica, no assoalho pélvico. Tem os objetivos de:
reduzir a perda sanguínea materna, reduzir o esforço e desconforto do período expulsivo e evitar a compressão
prolongada da cabeça fetal.
-Maternas:
-Falha na progressão do parto por discinesias uterinas (insuficiência das contrações);
-Sofrimento materno: parto longo que provoca exaustão materna com insuficiência da prensa abdominal;
-Comorbidades que contraindiquem o esforço físico materno do período expulsivo e que exibam risco cirúrgico alto,
tais como cardiopatias, pneumopatias (EAP, crise asmática) e neuropatias.
-Dificuldade ou impossibilidade de utilização da prensa abdominal: astenia, hérnias abdominais, anestesia condutiva;
-Fetais:
-Retenção da cabeça derradeira na apresentação pélvica;
-Sofrimento fetal agudo no período expulsivo
-Prematuridade: pois o fórcipe reduz a compressão prolongada sobre a delicada cabeça do feto prematuro
-Procidência irredutível de membros e de funículo quando a cabeça fetal está insinuada.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 6.
VÁCUO EXTRATOR
Baseia-se na retirada da cabeça fetal por meio de ventosas. Praticamente não é mais utilizado no Brasil, sendo
mais usado em países europeus, como Inglaterra.
Indicações: tem indicações semelhantes às do fórcipe. Entretanto, requer maior tempo para a extração fetal
que o fórcipe, não devendo ser preferencial em situações emergenciais. As principais indicações incluem:
período expulsivo prolongado, cardiopatia descompensada, doença pulmonar, alterações cerebrovasculares,
disfunções neuromusculares nas quais o esforço expulsivo seja impossível ou contraindicado e sofrimento
fetal.
Contraindicações: apresentação pélvica, apresentação de bregma, apresentação de face, prematuridade
(abaixo de 34 semanas, pois há maior risco de hemorragias intraventriculares), operador inexperiente,
impraticabilidade pela variedade de posição ou altura da apresentação fetal, incerteza da variedade de posição
e suspeita de desproporção cefalopélvica.
Condições de praticabilidade: Assemelham-se às condições de praticabilidade do fórcipe:
-Apresentação cefálica fletida -Variedade de posição conhecida -IG > 34 semanas
-Dilatação cervical total -Membranas rotas -Cateterismo vesical
-Cabeça fetal em +3 de DeLee -Proporcionalidade cefalopélvica -Operador experiente
-Possibilidade de realizar cesariana em caso de insucesso
Técnica de aplicação: inicialmente, revisar as condições de praticabilidade. Feito isso, verificar as conexões e
testar o vácuo no aparelho com luvas estéreis. Avalia-se, então, a variedade de posição fetal (pela palpação da
sutura sagital e fontanelas) e identifica-se a fontanela posterior. Procede-se a aplicação da campânula de maior
tamanho que se adapte bem, assegurando que não há nenhum tecido mole (cérvice ou vagina) dentro do bordo
da campânula. Com a bomba, cria-se um vácuo de pressão negativa. A partir daí, deve ser feita tração durante
o período das contrações, buscando o vetor força que mimetize a curvatura pélvica.
A ventosa, com diâmetro aproximado de 6cm, deve ser posicionada na sutura sagital, aproximadamente a 3cm ou 2
dedos do centro da fontanela anterior.
Fracasso da aplicação: o insucesso é considerado quando: o feto não for extraído 3 tentativas consecutivas; a
campânula desliza da cabeça fetal duas vezes apesar da tração feita corretamente; tentativas maiores que 30
minutos. Nestes casos, está indicada a cesariana.
Complicações: O hematoma subgaleal ou subaponeurótico é a maior complicação do vácuo-extrator e ocorre
quando o sangue acumula-se no espaço entre a gálea aponeurótica e o periósteo dos ossos do crânio. Também
são comuns o cefalohematoma e escoriações do couro cabeludo. Quando comparado ao fórcipe, a maioria dos
estudos não evidencia melhores resultados perinatais com o uso do vácuo-extrator, além de estar associado a
aumento do risco das complicações acima descritas.
Entretanto, o uso do fórcipe está associado a maiores
taxas de lesões maternas e lesões do nervo facial.
Desta forma, o uso do vácuo parece mais adequado
em gestantes com mais que 34 semanas nas quais a
probabilidade de sucesso seja muito elevada,
visando minimizar os riscos maternos, enquanto que,
na idade inferior a 34 semanas, o fórcipe é mais
adequado, pois o risco de complicações fetais é
significativo.
Fonte de Pesquisa:
Medcurso 2010 – Obstetrícia, volume 6.
PUERPÉRIO
Puerpério ou pós-parto é um período cronologicamente variável a depender da literatura. De forma geral, é o
período de 6 a 8 semanas que se inicia após o parto (vaginal ou cesáreo), ou seja, após a expulsão da placenta.
É uma fase ativa na qual acontecem fenômenos de natureza psíquica, hormonal e metabólica, marcada pela
involução dos órgãos reprodutivos e do organismo materno à situação pré-gravídica.
Fases: Puerpério imediato → 1° ao 10° dia; puerpério tardio → 10° ao 45° dia; puerpério remoto → após o
45° dia.
FISIOLÓGICO
Manifestações Involutivas e fisiológicas
-Útero: imediatamente após o secundamento, em virtude das contrações rigorosas e rítmicas, o útero inicia seu
processo de diminuição de volume, encontrando-se, neste momento, a nível de cicatriz umbilical. Diminui
cerca de 1cm por dia, tornando-se novamente intrapélvico com 15 dias e volta às dimensões pré-gravídicas
com 4 semanas. As contrações vigorosas no pós-parto respondem também pela hemostasia da ferida
placentária, pela compressão dos vasos sanguíneos. Ao útero contraído, de consistência firme, dá-se o nome de
globo de segurança de Pinard.
A involução uterina ocorre principalmente por uma diminuição no tamanho das fibras musculares à custa da
diminuição citoplasma, e não do seu número. Ocorre de forma mais rápida nas mulheres que amamentam, pois a
estimulação dos mamilos acarreta a produção de ocitocina pela neuro-hipófise; este hormônio promove a ejeção do
leite e desperta as contrações uterinas referidas pela paciente como cólicas: reflexo útero-mamário.
Devido as contrações uterinas, após cerca de uma semana o colo uterino não mais permite a exploração
digital. O orifício externo da mulher que já pariu jamais recupera a sua conformação original puntiforme,
assumindo um aspecto em fenda transversa.
A dequitadura da placenta e das membranas leva consigo apenas a camada esponjosa da decídua. A camada
superficial da decídua basal é enfraquecida e irregular, sofre necrose e é eliminada na forma de lóquios. A
regeneração do sítio de inserção placentária se conclui em três semanas do parto.
-Vagina: as pequenas lacerações cicatrizam rapidamente e, em 5 ou 6 dias, já não são visíveis. O epitélio da
vagina sofre um processo de atrófico de origem hormonal denominado crise vaginal pós-parto, processo que
acontece durante os primeiros 15 dias do pós-parto e pode causar desconforto local.
-Função ovulatória: retorna em, aproximadamente, 6 a 8 semanas, caso a paciente não amamente, apesar
desse período ser variável. Os ciclos menstruais na lactação costumam ser anovulatórios, mas a ovulação e a
gravidez podem ocorrer nesse período. Por esse motivo, não se deve esperar o reinício da menstruação para
iniciar a contracepção.
-Mamas: as mamas sofrem alterações proliferativas e secretórias durante toda a gestação. No momento do
parto, o colostro já está presente e a descida do leite (apojadura) ocorre entre o primeiro e terceiro dias após o
parto. A prolactina é o hormônio galactorréico mais importante. O adequado e freqüente esvaziamento das
mamas é indispensável para a manutenção da secreção láctea. Já para o esvaziamento mamário é fundamental
a ação contrátil mioepitelial da ocitocina.
-Trato urinário: a hipotonia e o relaxamento das paredes da bexiga e dos ureteres regridem em duas a oito
semanas, mas podem persistir por até 3 meses. A hipotonia da bexiga e ureteres contribuem para a ocorrência
de superdistensão, esvaziamento incompleto, resíduo urinário significativo e até de refluxo ureteral.
Conseqüentemente, é aumentado o risco de infecções e há diminuição do débito urinário.
-Alterações hemodinâmicas: o volume plasmático aumenta em cerca de 10% no pós-parto imediato, pela
descompressão aorto-cava e pela regressão do edema gravídico. Como conseqüência, o débito cardíaco
aumenta em cerca de 300ml no puerpério imediato. A pressão venosa nos membros inferiores retorna ao
normal, com amenização das varizes vulvares e dos membros inferiores e das hemorróidas.
-Alterações hematológicas: a série vermelha não apresenta modificações importantes, a menos que o parto
PATOLÓGICO
Define as complicações que se estendem do terceiro período após o parto (delivramento) até 6-8 semanas.
Hemorragia pós-parto: é uma das principais causas de mortalidade materna em todo o mundo. É definida e
diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (vertigem,
síncope) e/ou que resulta em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia e/ou oligúria). Perdas sanguíneas
acima de 500ml no parto vaginal e de 1.000ml no parto cesáreo são consideradas perdas excessivas.
Classificação: A hemorragia pode ser dividida em: primária/precoce/imediata → se acontece nas primeiras 24
horas pós-parto; secundária ou tardia → quando ocorre após as 24 horas até 6-8 semanas do parto.
Causas: as principais causas são lembradas pelo mnemônico dos 4T: Tônus (atonia uterina), Trauma
(laceração de trajeto), Tecido (retenção placentária ou de fragmentos) e Trombina (coagulopatia).
Complicações: as mais relevantes são: anemia, fadiga crônica, choque hipovolêmico, CIVD e insuficiência
renal, hepática e respiratória. A síndrome de Sheehan (necrose hipofisária isquêmica) é uma complicação
tardia da hemorragia obstétrica de qualquer etiologia; a hipóxia, em função do espasmo das artérias pituitárias
leva a necrose hipofisária, que envolve agalactia, amenorréia, atrofia genital, hipotireoidismo e insuficiência
adrenal.
-Atonia uterina: ocorre quando há perda na eficiência da manutenção da contração miometrial. Constitui a
principal causa de hemorragia e choque hipovolêmico após o secundamento. Se constitui uma das principais
causas de histerectomia pós-parto.
-Diagnóstico: o principal achado é sangramento genital que não necessariamente é volumoso, porém é
contínuo. Ao exame físico encontra-se útero acima da cicatriz umbilical, flácido e depressível.
-Tratamento: Geral → acesso venoso para infusão de 2.000 a 3.000ml de SF0,9%, SVD para controle do
débito urinário (manter superior a 30ml/h), reserva de hemoderivados e manobra de Hamilton (massagem do
fundo uterino com a mão esquerda associada ao toque vaginal com a mão direita, tendo elevar e realizar a
Fonte de Pesquisa:
MedCurso 2010 – Obstetrícia.