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O LIVRO DE SÃO CIPRIANO E SUA CIRCULARIDADE ENTRE

BRASIL E PORTUGAL

Inês Teixeira Barreto

Mestranda

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Meu objetivo é apresentar os hibridismos culturais criados a partir da


circularidades do imaginário mágico entre Portugal e Brasil, mostrando como tradições
e crenças portuguesas foram absorvidas pelas feitiçaria e religiosidades brasileiras, onde
encontraram terreno para sua sobrevivência até a Contemporaneidade. Entre esses
elementos estão as práticas envolvendo São Cipriano e O Livro de S. Cipriano, um
manual de magia com orações e feitiços, popular na Umbanda e na Quimbanda.

O livro é um grimório que, segundo a definição de Owen Davies em Grimoires:


a History of Magic Books, é um livro de conjurações e feitiços com instruções para
produzir amuletos, invocar espíritos, anjos e demônios, encontrar tesouros escondidos,
adivinhar o futuro e produzir remédios e feitiços.

Tanto no Brasil quanto em Portugal, a feitiçaria possui forte substrato católico, o


que mostra que ela absorveu essa influência ao invés de resistir. É nesse processo de
relação com o catolicismo que estou mais interessada. A partir dos encontros entre
catolicismo, religiões africanas, ameríndias e até mesmo do judaísmo e do islã, nascem
os hibridismos entre culturas religiosas diferentes, que dialogam e formam um novo
elemento. Aqui uso a definição de hibridismo cultural de Nestor Canclini: “processos
socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma
separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”.

Muitos dos mitos e práticas relacionados a São Cipriano, que circulam em


Portugal desde, pelo menos, o século XVI, circulam também pelo imaginário mágico
brasileiro. Aqui não há somente influência dos livros, mas também das tradições orais
que chegaram com os colonos portugueses e foram ganhando terreno entre os negros
escravizados já no período colonial. Sofrendo modificações ao longo dos séculos XVIII
e XIX, a devoção a São Cipriano chega na Umbanda e na Quimbanda do século XX.
Pretendo contextualizar a figura de São Cipriano em Portugal, sua chegada no
Brasil e mostrar os vestígios da permanência dessas práticas na feitiçaria brasileira entre
o final do século XIX e o começo do século XX. Para tanto, uso como fonte o próprio
Livro de S. Cipriano e trabalhos de folcloristas e etnógrafos portugueses, como José
Leite de Vasconcelos e Teófilo Braga. No Brasil, tenho como fontes as músicas rituais
das religiões brasileiras e obras de intelectuais que se dedicaram a pesquisar o tema,
como Câmara Cascudo e Nina Rodrigues.

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