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A imersão orgânica no Templo de Consumo

RENATO NUNES BITTENCOURT*

Resumo
Neste artigo abordamos a relação funcional e afetiva que o sujeito de
consumo da sociedade administrada estabelece para com um dos mais
bem-sucedidos modelos comerciais da tecnocracia capitalista, o
Shopping Center, evidenciando uma espécie de simbiose entre o
humano e o material, circunstância que demonstra o efeito sedutor que
a estrutura assimiladora do Shopping Center, um genuíno templo de
consumo, exerce sobre a subjetividade pessoal do frequentador,
dando-lhe a sensação de conforto e segurança que não encontra no
mundo exterior. Contudo, por reconhecermos que a sociedade de
consumo se fundamenta na alienação da consciência do ser humano,
propomos a ressignificação do Shopping Center, de modo a torná-lo
um espaço social de politização.
Palavras-chave: Shopping Center; Consumo; Segurança;
Sociabilidade; Mercadoria.

*
RENATO NUNES BITTENCOURT é Doutor em Filosofia pelo PPGF-UFRJ; professor do
Curso de Especialização em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública - UERJ.

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Introdução crítica adquira maior intensidade, é
Um estudo sobre o modo de ser da imprescindível que façamos uma análise
sociedade de consumo no regime apurada dos fenômenos que perpassam
capitalista exige uma reflexão a configuração espacial do Shopping
multidisciplinar sobre um dos seus Center, assim como os seus elementos
territórios mais consagrados: o simbólicos que exercem tanta influência
Shopping Center, pois inúmeros a subjetividade dos seus frequentadores.
significados se revelam ao seu Mediante tais críticas, poder-se-ia talvez
desbravador, que necessariamente deve modificar não apenas a estrutura física
vivenciá-los na prática para desses centros comerciais integrados,
compreender o fascínio exercido pelos mas também a ideologia incrustrada que
templos de consumo sobre os mais chancela essa segregação social, de
diversos segmentos sociais. maneira a assim humanizar
efetivamente o espaço do Shopping
Ambivalente espaço de inclusão de Center e possivelmente torná-lo um
consumidores e exclusão da cidadania local de convergência política no qual
plena, o Shopping Center é digno de as pessoas romperiam as barreiras
críticas da parte de todo pesquisador econômicas impostas pelos preconceitos
comprometido com a dissolução da plutocráticos e assim lutariam
alienação política da sociedade em que solidariamente pelo estabelecimento de
vive, pois, conforme veremos ao longo uma organização social rigorosamente
do presente texto, esse espaço privado democrática.
de consumo se sustenta ideologicamente
pela degradação da esfera pública e sua
inerente realidade trágica de conflitos
irresolvíveis. Contudo, para que tal

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A fusão humana com o Templo de segmentos mercadológicos encadeados
Consumo conforme uma lógica estratégica
extremamente funcional. Muitos
O Shopping Center se consolidou no consumidores buscam conforto e
mapa da cidade, somando sua segurança quando se propõem a realizar
imponência arquitetônica aos prédios suas compras, e o Shopping Center
históricos, monumentos, estátuas, oferece esses dois atributos cruciais.
igrejas, apresentando-se ainda como a Conforme argumenta Robson José dos
contraparte técnica ao meio ambiente Santos,
natural e sua beleza intrínseca. Talvez
levando tal fator em consideração, A liberdade de escolha é limitada,
projetistas de shopping centers porém, pode-se avaliar que em um
agregaram em novas concepções desses Shopping Center há um cenário
centros de consumo árvores, jardins e preparado como se ruas fossem
mesmo simulações de rios ou praias para passeio, encontros e
descontração. O intuito desse
para que se atenue a ruptura entre a
cenário revela tendências de moda e
realidade nua e crua do mundo exterior
de informação, integrando o espaço
e o mundo fantástico do templo de ocupado na proposta que o público
consumo. Para Fernando Garrefa, frequentador escolhe para consumir
É a condição social do encontro e ou entreter-se, fazendo frente ao seu
do fluxo de pessoas que confere aos momento nostálgico de troca
shopping centers um papel central (SANTOS, 2010, p. 19).
na realização da sociedade de Na experimentação do Shopping
consumo. Essa condição
Center, nada da poeira, do calor, do frio,
hegemônica em relação ao
consumo, ao vinculá-lo a um dos contatos ásperos e dos ruídos
espaço construído, a um imóvel, cacofônicos das ruas, assim como essa
fortalece a posição do Shopping vivência sagrada das transações
Center como produto imobiliário, comerciais e da assepsia social
estimulando o setor a investir no proporciona o distanciamento de toda
desenvolvimento de uma fórmula manifestação de miséria, que se
lucrativa, que pudesse repetir-se encontra rigidamente afastada dos
continuamente (GARREFA, 2011, limites desses centros de consumo. Por
p. 58). outro lado, o projeto comercial-
A crítica ao sistema ideológico administrativo do Shopping Center se
materializado no Shopping Center não constitui como uma síntese da produção
significa uma negação absoluta desse de serviços da cidade, como se nesse
espaço privativo de consumo. Não grande centro comercial
podemos assim negar as diversas encontrássemos a miniatura funcional
vantagens que a presença do Shopping da vida metropolitana, simplificando
Center oferece não apenas para o local todas as complexidades e contradições
geográfico no qual se encontra da imanência social. Valquíria Padilha
instalado, mas também para os apresenta uma crítica contundente tal
habitantes do entorno, demais usuários e perspectiva:
servidores. O Shopping Center favorece Como um espaço privado que se
a conveniente articulação entre espaço e traveste de público para dar a ilusão
tempo, pois nesse grande complexo aos consumidores de que se trata de
comercial encontramos diversos uma “nova cidade”, mais bonita,
estabelecimentos dos mais diversos mais limpa e mais segura que a

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“cidade real”, que pertence ao perfeitamente o propósito do
mundo de fora, o Shopping Center estabelecimento terá sido
é tomado aqui como um importante alcançado. A perfeição ideal, se
complexo comercial que pretende esse fosse o objetivo, exigiria que
fabricar um “novo homem”, a fim cada pessoa estivesse realmente
de adaptá-lo à obsessão capitalista nessa condição durante cada
pelo lucro (PADILHA, 2006, p. momento do tempo. Sendo isso
23). impossível, a próxima coisa a se
desejar é que, em todo momento, ao
Não podemos negar a existência de ver razão para acreditar nisso e ao
relações humanas autênticas no âmago não ver a possibilidade contrária,
do Shopping Center, mas estas são, de ele deveria pensar que está nessa
maneira geral, mediadas pelo espírito condição (BENTHAM, 2000, p.
mercantil e pela velocidade da 17).
circulação dos corpos, pois ainda não se O Shopping Center é assim um refugo
criou um sistema hoteleiro dentro desse material do espírito iluminista e sua
espaço especial no qual se permitiria a busca por clareza: nada pode ser
fixação pessoal por períodos mais obscuro em suas vias de circulação, pois
duradouros. Seria interessante vermos estamos no Paraíso do Consumo, onde
um Shopping Center que oferecesse a toda vontade pode encontrar satisfação.
possibilidade de pernoite aos seus A segurança oferecida pela estrutura
frequentadores, que acordariam normativa do Shopping Center
docemente abençoados pelo sopro vital estabelece cada vez mais o desejo de se
do ar refrigerado desse aprazível perpetuar as experiências sensórias no
ambiente. seu interior, para que o consumidor-
A proliferação do Shopping Center usuário possa fruir do seu tempo livre e
pelos bairros da cidade é uma satisfazer os seus desejos sem sofrer
manifestação do projeto modernizador interferências desagradáveis de
da sociedade disciplinar e sua sôfrega terceiros. Para Beatriz Sarlo,
luta por assepsia social e vigilância dos As qualidades do Shopping são as
corpos, normatizados para que se de que necessita quem vive
tornem dóceis consumidores temeroso na cidade. Como se
submetidos aos reclames publicitários. ajustado a um projeto divino (a mão
Com efeito, não existe nenhum espaço invisível do mercado desenha com
da cidade que seja mais limpo e um onisciente buril de ferro), a
monitorado do que um Shopping regularidade, a ordem, a limpeza e a
Center; é mais fácil vermos pichações e repetição, que impedem o salto no
deteriorações em igrejas e prédios imprevisto, garantem que o
Shopping funcione sem nenhum
públicos do que nos contornos dos dos inconvenientes do urbano. Em
templos de consumo, protegidos como um momento em que a cidade é
santuários miraculosos. Ao apresentar a vista como fonte de males e em que
sua proposta de reforma das instituições se pede uma cidade disciplinada
normativas através da onipresença da que responda a esse imaginário do
visibilidade pelo Panóptico, Jeremy medo e a condições reais de
Bentham aponta que incerteza, o shopping oferece o que
se busca e, além do mais, de graça
Quanto mais constantemente as (SARLO, 2014, p. 15).
pessoas a serem inspecionadas
estiverem sob a vista das pessoas Os sujeitos mais pobres não são
que devam inspecioná-las, mais peremptoriamente excluídos da turba de

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consumidores dos templos de consumo, contingente humano que busca refúgio
mas preferencialmente devem ficar momentâneo nos perímetros do
pouco tempo nesses recintos sacros para Shopping Center. Jovens dos rincões
que tais presenças não maculem o cerne periféricos da cidade que se reúnem
do Shopping Center e, se possível, que visando estabelecer novos laços de
se vistam de maneira sóbria. Nessas sociabilidade e mesmo novas
condições, a chancela de cidadania ao experiências amorosas são bem-vindos
sujeito da civilização capitalista nos interiores dos templos de consumo,
somente é outorgada efetivamente desde que, todavia, abdiquem das suas
quando seu poder de consumo é práticas multitudinárias que
elevado, como se ele pudesse comprar amedrontam os cidadãos neurastênicos
sua dignidade social através do seu que fazem desse espaço fechado sua
poder financeiro. Bauman argumenta praça pública desprovida de verde, de
que árvores, do canto dos pássaros, da
própria vida natural. Consumir sim,
A vocação consumista se baseia,
realizar qualquer tipo de ação que viole
em última instância, nos
desempenhos individuais. Os
a monotonia do Shopping Center,
serviços oferecidos pelo mercado jamais. Para Dilma Mesquita,
que podem ser necessários para A estrutura panóptica tende, por seu
permitir que os desempenhos trabalho incessante e
individuais tenham curso com minuciosamente elaborado, a
fluidez também se destinam a ser a “minar” as resistências
preocupação do consumidor comportamentais em contrário.
individual: uma tarefa que deve ser Com a desculpa de estar criando um
empreendida individualmente e ambiente seguro, ideal, protegido
resolvida com a ajuda de das tensões do cotidiano deixadas
habilidades e padrões de ação de “lá fora”, acaba se tornando a
consumo individualmente obtidas grande ameaça a uma sociedade
(BAUMAN, 2008, p. 74). reduzida aos limites do previsível
O Shopping Center estabelece o regime (MESQUITA, 2002, p. 28).
da bela imagem, pois quem se apresenta O Shopping Center é o grande templo
de maneira conveniente ao gosto da de consumo ao qual peregrinam
Moda e da estética é benquisto e passa cotidianamente uma miríade de pessoas
despercebido pelos corredores do buscando uma série de efeitos
templo de consumo, independentemente prazerosos em suas vidas ordinárias. Se
de sua condição financeira real. Pessoas porventura a laicização, na
maltrapilhas, por sua vez, geram a Modernidade, se torna a regra na
desconfiança de todos. Eis a estupidez constituição dos Estados e a experiência
da sociedade orientada pelas aparências, religiosa adquire cada vez mais
pois os piores criminosos são aqueles elementos heteróclitos em sua
que usam terno e gravata e realizam constituição, a vivência sagrada do
suas ações indébitas nos gabinetes do sujeito se dilui no culto fetichista das
poder. mercadorias que abrilhantam as vitrines
Ainda não se iniciou o processo de das lojas do Shopping Center. Lucia
cobrança pela entrada nesses locais Santaella afirma que
sagrados do consumo, mas quem sabe Fascinado diante da miríade de
no porvir não se venha a fazer isso, estímulos, diante do espetáculo
talvez eliminando assim um grande volátil das luzes, das imagens, dos

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cenários e das coisas, nas grandes Imaginemos o grande mal-estar social
cidades, o olhar moderno aprendeu produzido pela implosão incidental de
a desejar o corpo enfeitiçado das um Shopping Center, autêntica
mercadorias que, sacralizadas pela manifestação estética de um gesto
publicidade, ficam expostas à
desprovido de qualquer finalidade
cobiça por trás dos vidros
reluzentes das vitrines
artística, ou ainda se assaltos, tiroteios e
(SANTAELLA, 2006, p. 116). sequestros fossem constantes nesses
espaços fetichistas de consumo. Não
As estratégias terroristas se equivocam tardará talvez para que o sangue do
ao realizar seus atentados nas vias frequentador se misture ao molho de
públicas. Se porventura pretendem tomate do sanduíche, tornando-se um
causar um efeito sem igual contra quem amálgama indistinto de substâncias. A
anseiam ofender, o Shopping Center é o utopia de segurança da vida moderna
local mais adequado para a efetivação corre o risco de se converter em uma
desses gestos extremos, pois para lá grande distopia. A incolumidade do
migrou a esfera pública na estrutura Shopping Center é assim a esquálida
social do capitalismo tardio. Se nos garantia moral de que nossa
condomínios habitam os grupamentos estruturação social, ainda que
sociais que desejam o afastamento da sustentada em bases frágeis, pode
plebe suja, nos templos de consumo perpetuar seu domínio sobre a massa
afluem grandes fluxos humanos unidos humana. Para Valquíria Padilha,
provisoriamente sob o mesmo teto,
Como explicar que, nesses centros
independentemente das suas
comerciais, as classes privilegiadas
hierarquizações econômicas, encontrem a segurança que não
ideológicas e sociais. Dilma Mesquita encontram mais nos espaços
argumenta que, públicos? Isso só é possível porque
essa segurança é privada. Assim,
Do lado oposto aos shoppings, o pode-se legitimar o impedimento da
lugar da “paz” e do discurso da entrada de pessoas consideradas
segurança, situa-se o espaço do indesejadas e ameaçadoras da
caos e da diferença, o espaço em ordem artificialmente estabelecida
“descontrole” das cidades (PADILHA, 2006, p. 29-30).
reservadas aos excluídos, quase
sempre são o palco de boa parte das Talvez o sistema de segurança do
ações dos personagens, andarilhos Shopping Center seja mais eficiente que
por excelência, à procura de suas o empregado em estádios de futebol e
identidades sociais (MESQUITA,
demais centros esportivos, assim como
2002, p. 65).
a própria fiscalização pública feita pelas
Atentados em ruas, escolas, hospitais, forças policiais, nem tão onipresentes
parques e metrôs são eventos assim. Somente no Shopping Center o
indubitavelmente chocantes, mas o foco cidadão-consumidor da sociedade
equivocado para tais intervenções administrada encontra sua plena
bárbaras, pois como o Shopping Center tranquilidade. Segundo Dilma Mesquita
é um dos frutos mais bem acabados da
Do divórcio entre a cidade e sua
tecnocracia capitalista, a violação lógica caótica estruturante, surge o
terrorista desse espaço sagrado de shopping. A cidade é o perigo, o
consumo significaria a própria inimigo em potencial que pode, a
constatação da falência desse sistema de qualquer momento, insurgir-se
dominação, sua morte ultrajante. contra os seus “donos”; o shopping

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´é a fratura do real que vem perambular por suas vias, livre de toda
suplantar o perigo, neutralizar as influência desagradável do mundo
ameaças e formatar culturas e exterior, é a satisfação maior dessa nova
costumes (MESQUITA, 2002, p. configuração social de sujeito. Massimo
73).
Canevacci salienta que
Não basta apenas que uma pessoa O Shopping Center, o
frequente assiduamente o Shopping hipermercado, é a somatória
Center e lá realize grande parte das suas máxima do pós-moderno, espaço
ações de consumo e seus contatos metropolitano “liberado” e
sociais, é também imprescindível que “protegido”, no qual todos modelos
ele queira viver lá, fazendo de sua se somam, se justapõem
presença nesse local especial o sincronicamente, onde se
epicentro da sua existência. Trata-se de experimenta e entra em contato
com a hierarquia dos olhares, entre
um retorno glorioso ao útero materno,
a fantasmagoria das mercadorias e
encontrando em sua permanência no dos narcisismos, espaço no qual o
recinto sagrado o bem-estar inexistente tempo é como que suspenso ou, por
na realidade exterior. No Shopping assim dizer, adiado (CANEVACCI,
Center o cidadão-consumidor encontra 2004, p. 152).
sua segurança mais consistente, pois o
ventre desse grande espaço comercial o A frequentação no Shopping Center
acolhe amorosamente, protegendo-o exerce um poderoso efeito relaxante nas
tanto do calor excessivo como das capacidades sensoriais do sujeito de
agruras do frio destemperado e das consumo: após sofregamente escapar do
tempestades. Ao adentrar no grande calor ardente do mundo exterior, essa
templo de consumo, o sujeito deveria pessoa, assim que adentra no espaço
ser recepcionado pelos lojistas com uma sagrado, recebe as boas-vindas desse
fanfarra de clarins. Bauman afirma que grande organismo comercial em forma
de corrente de ar condicionado,
Vigias eletrônicos, alarmes contra acontecimento gerador de prazer
roubo e estradas e saídas estreitas imediato. Caso análogo ocorre em dias
que se fecham sozinhas separam chuvosos, pois a secura do ambiente
essa utopia miniaturizada do resto climatizado do Shopping Center simula
do mundo, abandonado a sua a ação do homem que foge das ameaças
confusão aparentemente
das tempestades e que encontra a
inextirpável. Prodígios de harmonia
e perfeição são agora oferecidos ansiada segurança ao cruzar o umbral de
como entretenimento – para os seu lar.
passeios de domingo e o desfrute da
Nada é aleatório na estruturação do
família. Ninguém supõe que sejam
reais. A maioria, porém, concorda
Shopping Center: a disposição das suas
que melhoram a realidade lojas, a intensidade do ar condicionado
(BAUMAN, 1999, p. 239). em determinados andares, os jogos de
luzes em alguns setores; eis assim a
Uma vez que se entra no Shopping grande estratégia de sedução para atrais
Center, é difícil dele sair, independente os ávidos consumidores em busca das
de se consumir ou não. Por conseguinte, novidades. Apesar de controlar com
em algumas circunstâncias nem sempre maestria as sensações dos seus
o ato de comprar é primordial para frequentadores, os planejadores de um
quem aprecia visitações ao Shopping Shopping Center conferem a tal centro
Center, pois a possibilidade de de consumo uma organização

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extremamente tecnocrática e Consumir apresenta qualidades
racionalista, tal como uma fábrica ambíguas: alivia ansiedade, porque
administrada pelos princípios científicos o que se tem não pode ser tirado;
mais frios. Beatriz Sarlo pondera que mas exige que se consuma cada vez
mais, porque o consumo anterior
Só uma tipologia, a do Shopping logo perde a sua característica de
Center, resiste ao princípio satisfazer. Os consumidores
diabólico da desordem, exorcizado modernos podem identificar-se pela
pela perfeita adequação entre fórmula: eu sou = o que tenho e o
finalidade e disposição do espaço. que consumo (FROMM, 1997,
A circulação mercantil de objetos p.45).
encontrou uma estética sem
excedentes desviados [...] O
Shopping é ordenado porque Existe um elemento extático na
expulsa a própria ideia de desordem frequentação do Shopping Center,
e, assim, opõe-se à cidade, cujo escamoteado pela pressão fetichista por
espaço público, mesmo em seus consumo. As regras repressivas da
momentos e lugares de maior administração comercial desse espaço
ordenamento, não pode condenar de consumo impedem manifestações
instantaneamente o uso não ruidosas dos frequentadores, que devem
previsto. Em oposição à
apenas circular placidamente pelas
causalidade que rege o urbano,
mesmo o urbano mais planificado,
lojas, preferencialmente adquirindo a
o Shopping expulsa a casualidade e miríade de produtos ofertados pelos
junto com ela qualquer intervenção estabelecimentos, ou pelo menos agindo
fora de programa (SARLO, 2014, de maneira cordata conforme os
p. 5-6; p. 16). parâmetros burgueses de sociabilidade;
todavia, caberia que se concedesse
Nessas condições, toda contingência e espaço para o grito, para a alegria
todo acaso são eliminados da vivência efusiva que transcende o decoro
no templo de consumo, que se configura formalista e frio da etiqueta social. Por
assim como um verdadeiro centro que não correr desenfreadamente pelos
espiritual que agrega os devotos em interiores do Shopping Center, como a
torno da celebração do fetiche das efetivação de uma salutar prática
vitrines e dos produtos encantados ali esportiva? Uma explicação para tal
exibidos para adoração e aquisição. A proibição seja talvez pelo fato de que a
missa no Shopping Center é pessoa que corre não capta
permanente, assim como a possibilidade adequadamente os estímulos sensórios
de manducação do pão e da bebida que proporcionam maior adesão aos
sagrada. Perambular pelo Shopping atos de consumo. Dentre outras
Center é um exercício religioso que extravagâncias, causaria certamente um
nega, todavia, todo tipo de ascetismo impacto avassalador sobre a percepção
tradicional, pois o maior pecado dos frequentadores do Shopping Center
cometido pelo devoto do Shopping se porventura alguém realizasse uma
Center é o de não consumir. O performance nudista pelos corredores
dispêndio é o ato sagrado por excelência desse estabelecimento. Imaginemos
no espaço capitalista. Erich Fromm uma pessoa caminhando nua,
argumenta que tranquilamente, pelas vias do Shopping
Consumir é uma forma de ter, e Center, quebrando assim toda a lógica
talvez a mais importante da atual “civilizada” do pudor e do uso da
sociedade abastada industrial. vestimenta como mecanismo de

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escamoteamento das partes pudendas do neurastênico consumidor-soberano.
corpo. David Harvey afirma que
O segredo do sucesso comercial do
Assim como existe o hábito, entre os shopping estava na construção de
frequentadores de praias, de se aplaudir ambientes protegidos, seguros, bem
o pôr-do-sol, caberia também uma salva organizados, de fácil acesso e,
de palmas no ato de abertura de portas e sobretudo, agradáveis, relaxantes e
no encerramento das atividades diárias isentos de conflito. O mall foi
do Shopping Center. Seria ainda concebido como um mundo de
interessante a realização de um grande fantasia em que a mercadoria reina
suprema
abraço coletivo dos usuários em torno
dos limites sagrados do Shopping E, se os velhos sem-teto começaram
Center, de modo a se criar uma fusão a considerá-lo um lugar quente em
mística entre a carne do homem e o que se abrigar, os jovens viram nele
concreto. Se antes a busca humana pela um excelente local de convívio e os
experiência divina exigia a peregrinação agitadores começaram a distribuir
por lugares ermos, de modo que o nele seus panfletos, o aparato de
vigilância e controle (com câmeras
sujeito evidenciasse ao plano superior ocultas e funcionários da
seu valor espiritual e sua fortaleza de segurança) assegurava que nada de
ânimo, no mundo tecnocrático essa impróprio aconteceria (HARVEY,
iluminação mística se dá abertamente, a 2011, p. 220-221).
vista de todos. Tanta gente reunida
expressando a alegria de viver para os No Shopping Center, quando a mosca
signos do consumo é um fenômeno pousa na sopa do consumidor-cidadão
social que não pode passar ocorre um grande escândalo, pois isso
despercebido. Aliás, a tristeza não se viola a regra da pureza absoluta; tanto
coaduna com a vivência no Shopping pior, o insistente zumbido da abelha na
Center, tampouco as comoções sociais, consciência que tanto aflige o homem
os lutos nacionais, pois na sociedade de da rua pouco efeito exerce na
consumo o ser humano é obrigado a ser subjetividade do frequentador do templo
feliz. Nada da melancolia que, muitas de consumo, muitas vezes desprovido
vezes, estimula a solidão reflexiva. de vida interior, pois apenas a sedução
dos estímulos fortes o atiça.
Não basta apenas gozar pelo ato de O Shopping Center quebra cada vez
adquirir o produto desejado, é mais a distinção entre vida e morte.
necessário também que se possa bradar Imaginemos um bebê sendo partejado
a todos os pulmões a alegria de se estar na praça de alimentação desse
no Shopping Center e consumir suas magnífico centro comercial: essa
mercadorias. Porém, o silêncio imposto criança saiu do ventre materno e adentra
na circulação pessoal nesse espaço em um novo espaço de acolhimento
comercial cria uma beatífica visão de sagrado proporcionado pelo espírito
mundo sepulcral. O grande Reino das matriarcal do Shopping Center. As
Mercadorias exige a quietude dos crianças de outrora, que antes
gestos, não obstante estimular no brincavam em parques de terra batida,
consumidor a inquietude interior manipulavam lama sem apresentarem
mediante a apresentação de tantos indícios de náusea, praticavam esportes
estímulos fetichistas por compras. Nada ao ar livre, agora encontram na clausura
pode prejudicar a paz de espírito do confortável do Shopping Center o local

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ideal para a realização dos seus Uma das melhores provas de que o
passatempos; crianças já adestradas a princípio e a finalidade do consumo
um mundo asséptico e autocentrado. não é a fruição reside no fato de
Quisera que ao menos fosse possível esta se encontrar hoje forçada e
institucionalizada, não como direito
que um planejador inserisse um pouco
ou como prazer, mas como dever
da terra e da vegetação natural da cidade
do cidadão [...] O consumidor e o
nas vias de circulação do Shopping cidadão moderno não têm que se
Center. O ar das ruas, cada vez mais esquivar à coação de felicidade e de
insalubre em decorrência da poluição e prazer, que na nova ética constitui o
da degradação ambiental, é substituído equivalente da obrigação
pelo ar purificado que circula pelo tradicional de trabalho e de
firmamento do templo de consumo. O produção. O homem moderno passa
Shopping Center é assim um sujeito cada vez menos a vida na produção
bifronte, pois é tanto um personagem pelo trabalho e cada vez mais na
animado que cuida dos seus usuários produção e inovação contínua das
próprias necessidades e do bem-
como rebentos, como também um
estar (BAUDRILLARD, 2007, p.
grande bloco arquitetônico que expressa
80).
a rigidez fria da sociedade industrial.
Ricardo Ferreira Freitas considera que Curiosamente, não é raro vermos um
Shopping Center promover bailes
O Shopping Center reforça um carnavalescos, adornar seus corredores
estilo descontraído e “quase- com coelhinhos da páscoa e montar
alienado”, espaço da inação e, ao presépios natalinos, enfatizando o lado
mesmo tempo, espaço simbólico do efusivo e seráfico da vida cristã
excesso. O excesso, a abundância secularizada no templo de consumo.
de informações e de produtos,
Todavia, por qual motivo não se encena
provoca essa necessidade de lazer
da inação como resposta à fadiga do a Paixão de Cristo no átrio de um
discurso político e das propostas Shopping Center? Imaginemos o
lineares (FREITAS, 2011, p. 24). frequentador do templo de consumo se
deparar no pórtico da entrada com a
As atividades comerciais do Shopping sublime imagem do Cristo Crucificado.
Center estão, obviamente, plenamente Os mantenedores do Shopping Center,
integradas ao calendário litúrgico assim como os seus usuários alienados,
nacional. Dessa maneira, Carnaval, apenas querem vivenciar as
Páscoa e Natal se tornam efemérides experiências leves das tradições
inteligentemente exploradas pelos culturais, jamais sua radicalidade
estrategistas de vendas. Como a trágica.
sociedade de consumo subverteu todos
Se no passado pessoas proeminentes e
os valores sagrados em suas acepções
ricos beneméritos eram sepultados no
mais elevadas, pasteurizando-as em
solo sagrado das igrejas, no futuro da
meros artifícios que promovem os
sociedade de consumo talvez os grandes
processos comercialistas, estimulando
devotos do Capital venham a ser
assim a satisfação da sanha consumista
enterrados nas dependências de um
dos indivíduos, o elemento sagrado das
Shopping Center, eternizando os seus
nossas celebrações converteu-se em
nomes nesses espaços do grande culto
mera disposição fetichista, alienação de
fetichista das mercadorias. Bastará
toda experiência mística singular.
apenas que esse consumidor-cidadão
Baudrillard argumenta que
pague uma taxa aos administradores do

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templo de consumo. Apesar da aeroportos) quanto os próprios
absurdidade de tal situação, talvez não meios de transporte ou os grandes
estejamos tão distantes do momento em centros comerciais, ou ainda os
que tal procedimento venha a ocorrer. campos de trânsito prolongando
onde são alojados os refugiados do
Como a sociabilidade promovida pela
planeta (AUGÉ, 2010, p. 36).
participação coletiva no Shopping
Center associa todas as instâncias da Contudo, apesar de considerar
existência humana, tornando tal espaço pertinente a argumentação desse
o grande catalizador das ações do renomado autor, considero que o
sujeito de consumo, não seria de Shopping Center, assim como qualquer
estranhar se a morte fosse integrada outro espaço de circulação, pode ser
naturalmente aos perímetros sagrados apropriado autonomamente pelas
do templo de consumo. Contudo, é pessoas em prol de ações políticas
interdito ao frequentador o suicídio no multitudinárias, mediante a exibição de
interior do Shopping Center, pois quem diversas disposições afetivas, como
nele adentra é obrigado a ser feliz e em ironia, indignação, protestos,
hipótese alguma pode cogitar tal transformando-os ainda em pontos
procedimento. cruciais para os encontros interpessoais
As vozes reacionárias afirmam que o em suas mais diversas motivações. São
Shopping Center é um espaço de os sujeitos políticos que concedem
consumo alheio ao processo de sentidos aos locais, independentemente
politização dos sujeitos. Nada mais das atribuições originárias concedidas
estúpido e falseador das relações sociais por seus criadores. Mesmo a aceleração
que ocorrem em tais locais, pois o da circulação pessoal pelas vias do
próprio fato de se afirmar que a Shopping Center deve ser relativizada:
vivência social do Shopping Center é muitos frequentadores se demoram
pretensamente incompatível com as longamente contemplando as
questões políticas já denota uma mercadorias expostas nas vitrines sem
perspectiva de cunho político. O grande que pretendam adquirir tais bens,
problema ideológico do Shopping contrariando a sanha comercialista dos
Center é que este, tradicionalmente, se vendedores, ávidos pelo consumo
constitui economicamente como um desenfreado dos fregueses para que
mero espaço alienado de consumo, possam aumentar suas comissões.
desprovido de comprometimento com Permanece assim um traço da flânerie
as demandas políticas da sociedade, no âmago de muitas pessoas que, talvez
como se fosse um enorme espaço de inconscientemente, entravam os fluxos
lazer no qual todas as questões urgentes de circulação do dinheiro no seio da
da realidade externa são sociedade administrada.
provisoriamente ignoradas. Marc Augé No Shopping Center iniciam-se amores,
insere o Shopping Center na categoria no Shopping Center terminam-se
do “não lugar”, espaço caracterizado amores, nesse espaço comercial fazem-
pela ausência de alteridade interpessoal, se negócios, assim como ocorrem
no qual a ausência de substancialidade encontros coletivos de amigos que
nas relações pessoais é a tônica: desagradam aos esquálidos burgueses e
Os não lugares são tanto as espantam as mentecaptas dondocas da
instalações necessárias à circulação sociedade dos bem nascidos. Os
acelerada das pessoas bens (vias soberbos correm risco de indigestão
expressas, trevos rodoviários, assim que despontam nos pórticos do

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templo de consumo os membros da vida violência simbólica: trata-se da torção
periférica, que compartilham do mesmo de sua função original para uma
espaço social, mas que não possuem finalidade superior, culturalmente
pleno poder de compra. A estruturação significativa e elevada.
do Shopping Center tal como
usualmente aplicada, tão afastada da
imanência trágica da vida urbana Um Shopping Center que prima pela
exterior, promove a falsa sensação de qualidade cultural consta com livrarias,
distanciamento das crises sociais e dos cinemas e teatros. Contudo, não basta
seus inerentes problemas. No entanto, alocar livrarias cinemas e teatros nas
cada vez mais os efeitos da cisão social dependências do Shopping Center, pois
adentram no cerne do Shopping Center, esses bens culturais são pagos pelos
em uma tensão que não tardará a consumidores; não basta colocar música
estourar e atingir a sala de estar da elite ambiente no som interno nas suas vias
socialmente descompromissada com os de circulação, pois a própria natureza
problemas cruciais da população narcótica da vivência de consumo
desassistida. dissolve a percepção estética mais
apurada. Não basta também estabelecer
Uma maneira radical de se quebrar essa
polos de arrecadação de mantimentos
lógica da idiotia que impera usualmente
para distribuição aos flagelados por
no Shopping Center seria sua abertura
catástrofes e crianças doentes, em uma
para manifestações políticas, passeatas,
tentativa hipócrita de se transmitir a
protestos, comícios, debates, postos de
imagem pública de responsabilidade
vacinação, exposições culturais, núcleos
social da marca fetichista do Shopping
de ação social, saraus, concertos
Center; é necessário que se aceitem as
musicais, recitais de poesias,
intervenções cáusticas dos grupos
encenações dramáticas, cultos religiosos
sociais que lutam pelo reconhecimento
ecumênicos, dentre outras significativas
dos seus direitos espoliados pelo Estado
intervenções levando assim inteligência
Plutocrático, defensor dos interesses das
e poder de agregação social aos seus
elites rapinantes. O conformismo
recantos. Uma técnica conveniente de
burguês do frequentador comum do
quebra da lógica consumista do
Shopping Center é avesso a tais
Shopping Center reside no exercício da
iniciativas, pois nada pode incomodar
leitura regular em suas cafeterias e
sua contemplação das vitrines ou a
locais disponíveis para se sentar.
degustação do seu café. Pessoas
Imaginemos uma grande quantidade de
desvinculadas das contradições de nosso
pessoas aproveitando o conforto
tecido social sentem verdadeiro horror
sensório desse espaço fechado para o
de toda manifestação de pobreza, e não
exercício das atividades intelectuais.
raro destilam seus preconceitos raciais e
Com efeito, apesar de todas as pressões
sociais em seus comportamentos e
mercadológicas impostas pelo
comentários. A cândida mendacidade
fetichismo da publicidade e pelo assédio
do frequentador do Shopping Center
dos vendedores, assim como pelo
não encontra limites morais,
espírito de consumo que assedia os
manifestando assim suas domingadas
incautos frequentadores, os usuários
reacionárias contra toda manifestação
críticos das dependências de um
da grande diferença social, encarnada
Shopping Center necessariamente não
nas ditas classes subalternas. Conforme
exercem sobre esse espaço comercial
argumenta Fernando Garrefa,
uma relação de antagonismo, de

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De equipamento sustentável, em administrada. A natureza pode perecer e
sintonia com as necessidades a nossa selva de pedra entrar em
urbanas, os shopping centers colapso, mas a instituição do Shopping
tornaram-se grandes complexos Center talvez consiga se perpetuar ao
artificiais, que aspiram a substituir
longo dos séculos como o modelo
a cidade, criando novos lugares
“consumíveis” e transitórios, em
excelente de civilização. Eis o Inferno
desarmonia com o espaço urbano material, sem fogo nem enxofre.
preexistente, histórico [...] Um
shopping center deveria ser pensado
como parte da cidade, e não um Considerações finais
espaço de exclusão, mas, sim, um
núcleo que estabelecesse uma O Shopping Center é uma grande
sinergia positiva e duradoura com a produção semiótica. Cabe ao intérprete
comunidade onde se instala; e isso, da cultura, não importa por qual viés,
inclusive, para que, no longo prazo, analisá-lo. A presença de diversos
o lucro do empreendedor e dos centros comerciais nas diversas zonas
comerciantes se mantenha da cidade é um fato inelutável. Não
(GARREFA, 2011, p. 165). cabe a sua eliminação em nome de um
retorno ao modelo antigo de
Uma vez que as deliberações sociabilidade e de trocas comerciais;
governamentais acerca dos descaminhos cabe, isso sim, uma intervenção radical
da crise ambiental que cada vez mais no seu planejamento administrativo, de
assola o bem-estar planetário não modo que sua presença ostensiva no
avançam significativamente para ações espaço público seja conveniente
efetivas de mudança em nossa relação harmoniosa com o entorno, não apenas
predatória para com a natureza, talvez a revitalizando a economia local ao
vida humana na superfície da Terra se prestar serviços para os usuários ou
torne inviável para as gerações pósteras. ainda gerar empregos para diversos
Por conseguinte, a organização social da segmentos profissionais, mas acima de
cidade do futuro migrará para as tudo atuando como um fortalecedor das
redomas hiperbáricas do Shopping relações sociais da região. Para tanto, é
Center, o grande abrigo material que imprescindível que os muros simbólicos
protegerá seus usuários-habitantes da do Shopping Center sejam demolidos,
mazela do mundo desertificado, ainda que seus muros concretos
desprovido de qualquer esperança de permaneçam. Somente quando a
salvação. Quem sabe as nações tal como disposição segregacionista da sociedade
atualmente as conhecemos sejam plutocrática for destruída é que
extintas e substituídas por shopping poderemos formar uma nova
centers espalhados estrategicamente organização humana, regida pela
pelos diversos rincões do mundo, cooperação, pelo senso de comunhão
conectadas entre si por canais interpessoal, paulatinamente
subterrâneos e adotando como idioma emancipada de todo medo perante as
universal a língua do consumo, cujo incertezas da vida social. Quiçá as
poder semântico não encontra qualquer muralhas do Shopping Center
barreira cultural. Ao invés de grandes permanecerão apenas para proteger seus
organizações políticas internacionais, frequentadores dos incômodos do calor
veremos a consolidação de corporações e do frio, e não do grande outro social
empresariais que controlarão com mão que vive recalcado em sua miséria, a
de ferro a vida da sociedade espreita por lampejos de gozo e por dias

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melhores. Contudo, seria mais Ferreira e OLIVEIRA, Janete da Silva. Olhares
conveniente se as forças multitudinárias Urbanos: estudos sobre a metrópole
comunicacional. São Paulo: Summus, 2011, p.
engajadas em uma revolução social 11-27.
apontassem os canhões para essa
FROMM, Erich. Ter ou Ser? Trad. de
fortaleza inexpugnável, tal como uma
Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: LTC,
nova Queda da Bastilha que libertará os 1987.
oprimidos da dominação imposta pela
GARREFA, Fernando. Shopping Center: de
sociedade de consumo. centro de abastecimento a produto de
consumo. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo,
2011.
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espaços urbanos de consumo: o imaginário dos
shopping centers” In: FREITAS, Ricardo

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