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A religação imanente do pensamento holístico da Filosofia do


Futuro no combate ao reducionismo intelectual do eruditismo
especialista*
RENATO NUNES BITTENCOURT**

Resumo
O artigo aborda a ideia de religação dos saberes mediante a
compreensão da unidade epistemológica que fundamenta os discursos
científicos através da restauração do papel holístico da atividade
filosófica em suas diversas interfaces, fundamentando-se assim os
princípios axiológicos de uma consciência filosófica que legitime
como objeto de investigação todos os problemas da imanência
cotidiana.
Palavras-chave: Holismo; Multidisciplinaridade; Imanência;
Eruditismo.

                                                            
*
Este artigo é fruto dos estudos realizados na linha de pesquisa Estudos Contemporâneos em
Comunicação – Práticas discursivas e construção identitária na mídia desenvolvido na Faculdade CCAA.

**
RENATO NUNES BITTENCOURT é Doutor em Filosofia pelo PPGF-UFRJ/Professor do
Curso de Especialização em Pesquisa de Mercado e Opinião-UERJ/ Professor da Faculdade
CCAA/Professor da Faculdade Duque de Caxias-UNIESP.
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A Filosofia tem a tarefa de recordar à ciência sua obrigação de avançar até os limites
em que o homem se dá conta de que não é nada; e que, com suas próprias forças, parece
não poder prosseguir. Ela precisa ajuda-lo a lidar com o limite absoluto ou moral
(DUPAS, 2011, p. 106).

Introdução as ideias dos filósofos de outrora e da


atualidade exercem sobre o cenário
A atividade filosófica adentra na dita
social de debates nos seus mais diversos
Pós-Modernidade em uma situação
âmbitos. Contudo, o sucesso merecido
ambivalente: apesar de toda
que o discurso filosófico obtém nessa
desvalorização que o sistema
era atual conjuntura de crise de valores
tecnocrático do capitalismo tardio
se dá pela sua ousadia em sair do
impõe ao pensamento crítico em nome
encastelamento no qual insistiu em
da legitimação social de profissões
permanecer por tanto tempo, isolada da
ideologicamente imputadas como
reflexão sobre os problemas imanentes
rentáveis financeiramente que
que afligiam a sempre combalida ordem
garantirão a tão sonhada realização
civilizacional, e se esforçar em
pessoal dos seus exercitadores,
capitanear o restabelecimento da
encontramos indícios concretos de que
comunicação com os demais ramos do
o saber filosófico ainda é capaz de
conhecimento, em prol da formação de
agregar pessoas em busca de maior
um saber multidisciplinar, holístico.
reflexão existencial nas suas vidas, tal
como as publicações de divulgação
científica e os cursos livres
constantemente oferecidos para os
diletantes o comprovam, além
obviamente da própria repercussão que

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Princípios de uma religação imanente que conduza a condição humana ao


da Filosofia do Futuro estado de perfeição transcendente. Por
conseguinte, todo discurso passa a ser
Grande parte da tradição filosófica
regido pelo princípio da incerteza, pois
fundamentou suas orientações
tanto o sujeito como as coisas que ele
epistêmicas a partir de perspectivas
observa sofrem modificações em suas
metafísicas. A hegemonia do
propriedades, impossibilitando assim
pensamento filosófico se sustentou
qualquer conhecimento preciso da
acima de tudo pelo platonismo, pelo
realidade. Heráclito ratifica essa ideia
aristotelismo, pela teologia cristã e,
noutra sentença fundamental para a
mesmo no advento da Modernidade, a
compreensão trágica do pensamento
herança dos valores transcendentes
filosófico: “O Tempo é criança jogando,
continuou determinando os rumos da
brincando. Reinado de criança”
atividade filosófica.
(HERÁCLITO, Fragmento DK 52).
Desde os primórdios da antiga filosofia Com efeito, as mudanças ocorridas a
grega encontramos, no entanto, cada instante no grande seio da natureza
discursos fundamentados na experiência e sistemas dos mundos não representam
da imanência, orientação axiológica que qualquer reparação punitiva por uma
encontrará ressonância em diversos pretensa violação da ordem cósmica
autores ao longo das eras, conforme originária, mas sim um necessário
veremos nas linhas a seguir. Não processo de renovação de todas as
pretendemos fazer um rol de todo o coisas, sem um objetivo definido, tal
percurso da filosofia imanente, mas como uma brincadeira despreocupada
apenas selecionar alguns pensadores de criança. Esse é o Tempo Lúdico,
que metodologicamente auxiliarão na Tempo Criativo, Tempo Trágico que
fundamentação teórica do presente tanto amedronta a consciência
texto. Desse modo, talvez o nome de metafísica e o seu reconhecido anseio
Heráclito de Éfeso seja o representante por estabilidade ontológica.
por excelência desse modelo de
Fazendo um salto qualitativo para a
pensamento na época trágica dos
Modernidade, desponta a obra de
gregos, conforme podemos constatar em
Espinosa como manifestação da
suas sentenças filosóficas: “Em rio não
filosofia da imanência, fundamentada
se pode entrar duas vezes no mesmo,
na ideia de que existe uma única
nem substância mortal tocar duas vezes
substância, Deus ou Natureza, de onde
na mesma condição; mas pela
tudo aquilo que existe deriva como sua
intensidade e rapidez da mudança
expressão pelos atributos de
dispersa e de novo reúne”
pensamento e de extensão. Espinosa
(HERÁCLITO, Fragmento DK 91). O
nega a existência de todo Mal Radical,
filósofo coloca em questão a própria
desferindo assim um fortíssimo golpe
ideia de identidade, fundamental para a
na tradição metafísica e teológica que
consolidação do discurso metafísico. Se
pressupõe a existência de uma causa má
a identidade é um processo móvel,
no mundo como contraponto ao Plano
porventura existe o Ser como substância
Divino. Tudo aqui que existe expressa
fixa? Heráclito, nessa sentença, afirma
assim a essência divina em uma relação
que não, de modo que toda forma de
monista. Se porventura o Mal não
vida é um fluxo constante desprovido de
possui efetividade, todas as valorações
finalidade ou qualquer imputação moral
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morais necessariamente se tornam Não há nada em que o homem livre


relativas conforme as circunstâncias. pense menos que na morte, e sua
Dessa forma, Espinosa pondera: sabedoria não consiste na meditação
da morte, mas da vida; O homem
Só em poucas palavras direi aqui o livre, isto é, aquele que vive
que entendo por bem verdadeiro e, exclusivamente segundo o ditame da
igualmente, o que é o sumo bem. razão, não se conduz pelo medo da
Para que se compreenda isso morte; em vez disso, deseja seguir
corretamente, deve-se notar que diretamente o bem, isto é, deseja agir,
“bom” e “mau” só se dizem em viver, conservar seu ser com base na
sentido relativo, visto que, de busca da própria utilidade. Por isso,
diversos pontos de vista, uma mesma não há nada em que pense menos que
coisa pode ser dita boa ou má; assim na morte; sua sabedoria consiste, em
também com o “perfeito” e o vez disso, na meditação da vida
“imperfeito”. Efetivamente, coisa (ESPINOSA, 1992, p. 423-424).
alguma, considerada só em sua
natureza, pode ser dita perfeita ou Avançando para o período Oitocentista
imperfeita, principalmente depois encontramos ainda projetos filosóficos
que se chega a compreender que tudo de fundamentação da imanência. Como
o que acontece acontece segundo o objetivo visado consiste em
uma ordem eterna e segundo leis analisarmos as bases axiológicas do
imutáveis da natureza (ESPINOSA, filósofo do futuro comprometido com a
2004, p. 10 ). religação dos saberes, nada mais
Por conseguinte, podemos afirmar que conveniente do que abordarmos
os termos “bom” e “mau” nada indicam brevemente a obra do pensador que
de positivo se porventura considerados propôs a ruptura radical com a tradição
em si mesmos e devem assim ser teológica em nome de uma Filosofia do
interpretados sempre mediante a Futuro comprometida com a afirmação
flutuação das ocasiões e das percepções da condição humana em suas bases
humanas: “A música, tão agradável para sensíveis, Feuerbach:
os melancólicos, é má para aquele que A Filosofia do Futuro tem a tarefa de
se lamente e indiferente para os surdos” reconduzir a Filosofia do reino das
(ESPINOSA, 1992, p. 357-358). Para “almas penadas” para o reino das
Espinosa, a própria atividade filosófica almas encarnadas, das almas vivas;
se afasta radicalmente da consagrada de fazer descer da beatitude de um
definição de Platão, segundo o qual a pensamento divino e sem
Filosofia é uma espécie de meditação necessidades para a miséria humana.
sobre a morte que o homem sábio Para esse fim de nada mais precisa do
que um entendimento humano e de
desenvolve no seu processo de
uma linguagem humana
depuração da sensibilidade, em vista do (FEUERBACH, 1988, p. 38).
alcance da perfeição inteligível
(PLATÃO, Fédon, 82d – 83b). Tal Aproveitando a colocação precedente,
paradigma se perpetuaria no imaginário considero que a tarefa fundamental do
teológico cristão, herdeiro do ascetismo filósofo do futuro em sua expressão
platônico, desvitalizando assim a pós-moderna consiste em avaliar de que
imanência criadora da atividade maneira os antigos valores normativos
filosófica. Conforme argumenta foram solapados ou transfigurados pelo
Espinosa, advento das novas tecnologias e, por
conseguinte, o modo como a
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subjetividade humana se reconfigura a constataremos que todos eles


partir de então nessa ambivalência direcionaram seus enfoques
existencial, pois o celebrado progresso gnosiológicos para os mais diversos
material proporcionado pelo ramos do saber, sem que, todavia,
industrialismo não trouxe em seu bojo o criassem discursos estanques,
progresso cultural efetivo. O intelectual autocentrados; pelo contrário, tais
do futuro que vise lograr êxito em suas discursos se apresentavam como peças
atividades epistemológicas deve cada indissociáveis da construção das
vez mais adentrar na seara da interpretações sobre os problemas
multidisciplinaridade, promovendo abordados, independentemente se tais
assim a religação dos saberes em um pensadores propuseram a organização
grande corpo de ideias que encontram de um sistema ou não. Segundo Edgar
suas ressonâncias e funcionalidades na Morin,
produção do conhecimento. A A doença da teoria está no
epistemologia multidisciplinar exige doutrinarismo e no dogmatismo,
que o pesquisador conheça e se que fecham a teoria nela mesma e a
interesse rigorosamente pela conexão enrijecem. A patologia da razão é a
intrínseca entre diversos discursos, racionalização que encerra o real
diferenciando-se assim das propostas num sistema de ideias coerente,
interdisciplinares, nas quais apenas mas parcial e unilateral, e que não
existe uma esquálida associação técnica sabe que uma parte do real é
entre pesquisadores de disciplinas irracionalizável, nem que a
heterogêneas e inerentes saberes racionalidade tem por missão
dialogar com o irracionalizável
heteróclitos, sem que exista efetivo
(MORIN, 2011a, p. 15).
diálogo entre eles. Dessa maneira,
perpetua-se o vazio intelectual nesse Nenhum conhecimento pode ser alheio
departamento, pois os pesquisadores ao filósofo do futuro, e seu engajamento
apenas foram reunidos sob a égide de intelectual não deve se fundamentar
um dado programa para que possam pelo conforto do gabinete, protegido das
cumprir as determinações oficiais dos contingências da esfera pública.
órgãos do Ministério da Educação. Decorre daí a importância de conhecer
Nesse contexto, os projetos sociais de as aflições da vida social e de
desenvolvimento local chafurdam na desenvolver o senso impressionista de
ideologia tecnocrática quando não absorver a atmosfera dos locais por
concedem espaço para a contribuição onde circula, analisando filosoficamente
holística do filósofo, preterido pela os fenômenos culturais mais singelos,
precisão cirúrgica do perito criminal, do pois nada daquilo que existe é indigno
engenheiro de balística, pelo cultivador de ser problematizado filosoficamente.
de rãs e pelo oportunismo empresarial O pensador do futuro resgata assim o
de se transformar os habitantes de plano da imanência nas suas
favelas em processos de pacificação investigações cotidianas, fazendo de sua
forçada pelas tropas policiais em mão- própria vida o eixo diretor de novas
de-obra barata e razoavelmente pesquisas, quebrando assim a noção
qualificada aos ditames do Capital. aristotélica de que só existe ciência do
universal e que o particular não é digno
Se analisarmos as trajetórias dos
de conhecimento (ARISTÓTELES,
grandes pensadores de outrora,
Metafísica, 1003a).
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Cabe que os discursos epistêmicos se pode descurar qualquer possibilidade de


interconectem novamente, promovendo interação com os discursos da
assim a criação de um pensador livre da Sociologia, da Antropologia, da
alienação intelectual e das limitações História, da Política, da Teologia, da
epistemológicas do saber centralizado Educação, da Economia, do Direito, da
em um único modelo discursivo no qual Administração, da Geografia, da
o intelectual convencional deposita Medicina, da Enfermagem, da Biologia,
sofregamente toda a sua pujança mental. da Ecologia, da Psicologia, da
O filósofo do futuro deve estabelecer a Psicanálise, da Física, da Astronomia,
imanência do saber em sua máxima da Cosmologia, da Química, da
potência, tornando-se legislador e Gastronomia, da Nutrição, das Artes
intérprete de uma realidade contingente Plásticas, da Poesia, da Literatura, da
sempre produtora de signos, valores e Moda, da Comunicação, do Turismo, da
discursos que afetam imediatamente a Informática, da Linguística, do
vida concreta das pessoas. No cerne da Urbanismo, da Educação Física e dos
era iluminista Kant, em O Conflito das desportos, assim também ele não pode
Faculdades já havia estabelecido esse desvalorizar o papel das ruas, dos locais
papel de proeminência da atividade de sociabilização, dos eventos
filosófica, ainda que esta fosse imputada multitudinários, dos jogos e das festas,
como inferior pela estrutura burocrática como estímulo para as suas reflexões.
que chancelava a vida universitária. Afinal, torna-se vazio o discurso que
Para Kant, a faculdade de Filosofia é o não se enraíza no conhecimento da
lugar do pensamento crítico que se imanência social e nas suas expressões
exerce livre e autonomamente. Caberia simbólicas.
a essa faculdade, denominada Talvez o filósofo por excelência do
“faculdade inferior”, colocar à prova a porvir seja o que fundamente
verdade dos conhecimentos basicamente as suas pesquisas na
transmitidos pelas três ditas faculdades compreensão da efervescência social e
superiores, isto é, a Teologia, o Direito sua intensidade trágica em suas
e a Medicina. Como seu objetivo expressões mais ubíquas. Não há nada
imediato não era o de fornecer quadros de inferior no ato da Filosofia do Futuro
diretamente ligados à administração problematizar as questões da dita
estatal, a faculdade de Filosofia poder realidade prosaica em seu rol
ficar ao abrigo dos interesses do Estado. investigativo, pois, como a trajetória do
Contudo, na construção holística da pensamento filosófico atual se
Filosofia do Futuro a pecha de encaminha para a afirmação das
“inferior” não cabe mais ao pensamento contingências da imanência, todo
filosófico, pois é este que fundamenta fenômeno ou objeto são plenamente
todas as bases epistemológicas dos dignos da reflexão filosófica. As
demais saberes institucionalizados. questões clássicas da metafísica tais
O fato de diversos cursos universitários como o problema do Ser ou da
recorrerem ao conhecimento filosófico teleologia da existência não perdem
nas suas estruturas curriculares importância, apenas são
evidencia a importância do mesmo para reproblematizadas a partir de novas
a formação profissional desses perspectivas que englobem, sem
estudantes. Assim como o filósofo não dicotomias excludentes, a totalidade da

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vida expressada de modos tão distintos. aspirações sociais em questão. Segundo


Para Michel Maffesoli, Pierre Lévy,
Verifica-se um entrecruzamento das O uso socialmente mais rico da
existências que, além ou apesar das informática comunicacional
ideologias individualistas, exprime- consiste, sem dúvida, em fornecer
se com força, abalando aos grupos humanos os meios de
sensivelmente barreiras e reunir suas forças mentais para
obstáculos de diversa natureza que constituir coletivos inteligentes e
se lhe antepõem. De algum modo, dar vida a uma democracia em
há uma pulsão do ser/estar com, tempo real (LÉVY, 2003, p. 62).
empiricamente observável, que
jamais perde uma oportunidade de
No decorrer da Modernidade, o filósofo
se manifestar. Mesmo nos locais paulatinamente perdeu sua força
mais assépticos – lugares que a globalizante do conhecimento, mediante
tecnoestrutura contemporânea o processo de fragmentação dos saberes
engenhosamente criou, espaços em ramos epistemológicos cada vez
concebidos para o exercício da mais específicos. Essa etapa foi talvez
gregária solidão – não podemos necessária provisoriamente para o
deixar de observar uma amadurecimento das Ciências Humanas
reapropriação coletiva que, de e das Ciências Naturais, ainda que a
maneira efervescente ou de modo figura do filósofo tenha sido
discreto, aí produz sulcos
escamoteada pelos discursos das novas
profundos. As reuniões esportivas,
as manifestações musicais ou
competências epistêmicas, retirando-lhe
políticas, os ruídos e os rumores das toda autoridade discursiva. Após esse
ruas de nossas cidades, as ocasiões período de singularização
coletivas de toda espécie – tudo epistemológica, urge o retorno da
isso dá mais brilho e força a essa miríade de saberes ao centro de
preeminência do todo convergência proporcionado pela
(MAFFESOLI, 2010, p. 112-113). Filosofia. Para Edgar Morin,
O filósofo clássico do mundo antigo é o A Filosofia não é uma disciplina,
modelo do pensador multidisciplinar mas uma força de interrogação e de
que propomos para o conhecimento do reflexão dirigida não apenas aos
futuro. O amor ao saber se caracteriza conhecimentos e à condição
como uma busca incessante por humana, mas também aos grandes
objetivos talvez inalcançáveis, mas o problemas da vida. Nesse sentido, o
filósofo deveria estimular, em tudo,
que importa é a trajetória em direção ao
a aptidão crítica e a autocrítica,
conhecimento e não o pleno alcance do insubstituíveis fermentos da
mesmo. A atividade filosófica é lucidez, e exortar à compreensão
incompatível com a estagnação mental, humana, tarefa fundamental da
com o comodismo profissional cultura (MORIN, 2002, p. 54).
proporcionado pela cátedra, decorrendo
Conduto, a jactância sectária do
de tal situação uma repulsa pela
pesquisador-especialista fecha seus
filosofia acadêmica cristalizada em seu
ouvidos ao discurso filosófico. A
mundo fechado, endógeno, muitas vezes
tecnocracia do mundo moderno e seu
contrária ao progresso das ideias e
vertiginoso processo de progresso
caracterizando-se como uma disposição
material-industrial exigiram a rígida
conformista incapaz de dialogar com as
compartimentação dos discursos em
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segmentos específicos, produzindo proliferação fortuita das ciências,


assim a figura do pesquisador alienado que seria ela mesma o efeito do
da realidade, não obstante sua progresso das técnicas e da
proeminência no próprio ramo do saber. expansão do capitalismo. Ela
procede da erosão interna do
Edgar Morin afirma que
princípio de legitimação do saber.
Há inadequação cada vez mais Esta erosão opera no jogo
ampla, profunda e grave entre os especulativo, e é ela que, ao
saberes separados, fragmentados, afrouxar a trama enciclopédica na
compartimentados entre disciplinas qual cada ciência devia encontrar
e, por outro lado, realidades ou seu lugar, deixa-as se emanciparem
problemas cada vez mais (LYOTARD, 2002, p. 71).
polidisciplinares, transversais,
multidimensionais, globais, Uma vez que a consciência humana
planetários (MORIN, 2002, p. 13). inevitavelmente adentra nos paradigmas
da globalização cultural e dos processos
Após esse doloroso processo de instantâneos de trocas comunicacionais
separação, cabe agora que a mediadas pela Internet, o pensamento
comunicação multidisciplinar se holístico torna-se o fundamento para a
reestabeleça, em prol da formação plena orientação do pensamento crítico,
do intelecto humano. Por conseguinte, destituído dos preconceitos locais que
não há nenhuma absurdidade no fato de regem a consciência irrefletida do senso
o filósofo da imanência social comum. Segundo Edgar Morin,
problematizar em suas atividades de
pesquisa os elementos éticos, estéticos, Precisamos de um pensamento apto
a apreender a
lógicos e gnosiológicos presentes nos
multidimensionalidade das
atos de consumo, nos signos da Moda, realidades, a reconhecer o jogo das
nas festas, nos esportes, nas relações interações e retroações, a afrontar
amorosas, na sociabilidade urbana, na as complexidades mais do que
produção cultural, nos fenômenos ceder aos maniqueísmos
religiosos, nos discursos jornalísticos e ideológicos ou às mutilações
publicitários, na opinião pública, nos tecnocráticas – que só reconhecem
movimentos multitudinários, nas realidades arbitrariamente
atividades educacionais, na violência compartimentadas e são cegas ao
cotidiana, nos processos laborais, nas que não é quantificável. Precisamos
trocas comerciais, nas causas abandonar a falsa racionalidade
(MORIN, 2010, p. 112).
ambientais, dentre muitas outras
possibilidades investigativas. Tudo o Desse modo, convém a revalorização da
que se separou, de novo torna a se figura do polímata, tradicionalmente
religar na atividade filosófica do futuro. caracterizado como conhecedor de
Eis assim o delineamento de uma diversos saberes sem necessariamente
perspectiva de convergência intelectual, se aprofundar em nada. Tal
na qual nada é estranho ao saber estigmatização é injusta, pois
filosófico que se direciona em efetivamente ninguém pode se tornar o
perspectivas holísticas. Para Jean- especialista em todos os discursos, por
François Lyotard, conta das limitações cognitivas da
A “crise” do saber científico, cujos existência humana e de seu exíguo
sinais se multiplicam desde o fim tempo de vida. Conforme argumenta
do século XIX, não provém de uma Edgar Morin,
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A educação deve favorecer a conteúdos didáticos afins aos do curso


aptidão natural da mente em universitário em questão muitas vezes
formular e resolver problemas ele sofre resistência dos estudantes
essenciais e, de forma correlata, intelectualmente ineptos e embotados,
estimular o uso total da inteligência
ele se arrisca a vivenciar muito mais
geral. Este uso total pede o livre
exercício da curiosidade, a
dissabores se porventura persevera na
faculdade mais expandida e a mais arrogância de adequar a turma inteira
viva durante a infância e a aos seus caprichos intelectuais,
adolescência, que, em frequência, a geralmente sua pesquisa cristalizada
instrução extingue e que, ao repetida durante anos como um vade-
contrário, se trata de estimular ou, mécum inseparável. Esse procedimento
caso esteja adormecida, de é epistemologicamente reprovável, pois
despertar (MORIN, 2011b, p. 37). promove a alienação cultural dos seus
O pensador intelectualmente estudantes, assim como torna o seu
responsável conhece os seus limites próprio trabalho docente uma
gnosiológicos e desenvolve o senso formalidade técnica que não estimula a
crítico de apenas se pronunciar acerca reflexão inovadora. Para cada curso, um
daquilo que sabe razoavelmente, e se conjunto de questões filosóficas
porventura sua formação intelectual lhe pertinentes para a contribuição da
outorga a capacidade multidisciplinar de formação intelectual do estudante
integração epistemológica, qualquer universitário, sem que isso signifique a
objeção perante suas atividades de instrumentalização do saber filosófico.
pesquisa são descabidas. Essa Assim como nem mesmo talvez os
versatilidade intelectual é maiores estudiosos da Filosofia
imprescindível para o professor de conheçam todos os sistemas, teorias e
Filosofia que ministre suas aulas para conceitos estabelecidos pelos
cursos universitários distintos, pois um pensadores ao longo das eras, também
erro recorrente consiste na insistência os estudantes universitários aos quais é
de docentes de Filosofia que lecionam apresentada a disciplina de Filosofia nas
para turmas de graduações alheias suas grades curriculares não são
conteúdos genéricos, muitas vezes obrigados a conhecer todos os discursos
desvinculados da realidade cultural dos filosóficos existentes ou alheios às suas
estudantes e que não enriquecem expectativas profissionais. Cabe assim o
convenientemente suas formações bom senso ao professor de Filosofia de
profissionais. conhecer o projeto curricular do curso
no qual ele leciona sua disciplina, para
Os puristas alegam que o professor de que assim possa promover o
Filosofia é soberano na escolha das enriquecimento epistemológico do seu
temáticas a ser aplicadas para as turmas alunado. Conforme salienta Edgar
de outros cursos universitários, mas essa Morin,
incapacidade de dialogar com as
demandas epistemológicas dessas A Filosofia deve contribuir
eminentemente para o
carreiras apenas prejudica a imagem
desenvolvimento do espírito
social da Filosofia, imputada como problematizador. A Filosofia é,
enfadonha e irrelevante pelas acima de tudo, uma força de
mentalidades obtusas. Se mesmo interrogação e de reflexão, dirigida
quando o docente de Filosofia leciona para os grandes problemas do

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conhecimento e da condição por fim reage somente. O erudito


humana [...] Também o professor dedica sua inteira energia ao
de Filosofia, na condução do seu aprovar e reprovar, à crítica ao já
ensino, deveria estender seu poder pensado – ele próprio já não
de reflexão aos conhecimentos pensa... O instinto de autodefesa
científicos, bem como à literatura e embotou-se nele; de outro modo se
à poesia, alimentando-se ao mesmo protegeria dos livros. O erudito –
tempo de ciência e de literatura um décadent (NIETZSCHE, 2001,
(MORIN, 2002, p. 23). p. 47).
Um dos tipos intelectuais mais nefandos Podemos afirmar que o grande
para o progresso do conhecimento é o problema gnosiológico da erudição, tal
eruditista, isto é, o especialista máximo como apontado por Nietzsche, não
do mínimo, que não apenas desenvolve reside na mera quantidade de saber
o máximo de competência epistêmica acumulado na formação do pesquisador,
em um dado ramo do saber, como mas sim no fato de que esse lastro
também dedica grande parte de suas intelectual não promove nesse sujeito a
atividades de pesquisa na decifração de capacidade de desenvolver justamente o
um problema apresentado por um autor senso de criatividade mediante esse
de referência, seja um conceito mal conjunto de conteúdos intelectuais que
definido ou uma aporia. O eruditista é se encontram armazenados na sua
capaz de permanecer anos e anos mente. Uma vez que conforme minha
estudando um livro de um renomado concepção não há empecilhos
autor, tornando-se como que uma epistemológicos no ato de se
espécie de guardião do seu legado desenvolver a vastidão de erudição, mas
intelectual. Se porventura já é um grave sim a incapacidade pessoal de se utilizá-
sintoma de esterilidade intelectual la convenientemente em pesquisas
especializar-se por toda uma carreira no científicas, nas atividades investigativas
estudo do conjunto da obra de apenas e na própria vida pessoal, o termo
um autor, mais abominável ainda é “eruditista” se torna mais conveniente
especializar-se em apenas um livro, para definir a tipologia intelectual
perdendo-se assim a compreensão caracterizada pelo acúmulo de
global do pensamento do autor conteúdos cognitivos heteróclitos pela
estudado. Para se perpetuar nesse própria incapacidade do sujeito
dispositivo autocentrado, o eruditista organizá-los em prol de seu progresso
mantém-se sempre atualizado no estudo cultural. Dessa maneira, a atividade
dos comentadores do autor divinizado eruditista é muito mais informativa do
no altar de seu gabinete acadêmico. que cultural, ou seja, assimilação
Nietzsche tece críticas contundentes a passiva de conteúdos do que
tal tipo de intelectual: propriamente capacidade crítica de
O erudito que no fundo não faz formação pessoal. Edgar Morin, acerca
senão “revirar” livros – o filólogo dessa situação, aponta que
uns duzentos por dia, em cálculo Os grandes problemas humanos
modesto – acaba por perder desaparecem, em benefício dos
totalmente a faculdade de pensar problemas técnicos particulares. A
por si. Se não revira, não pensa. Ele incapacidade de organizar o saber
responde a um estímulo (- a um disperso e compartimentado conduz
pensamento lido), quando pensa – à atrofia da disposição mental

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natural de contextualizar e de intelectual revela nitidamente a


globalizar [...] A inteligência incapacidade de o tipo eruditista
parcelada, compartimentada, desenvolver a originalidade nas suas
mecanicista, disjuntiva e pesquisas, pois sempre a autoridade
reducionista rompe o complexo do
outorgada ao mestre-ídolo será o
mundo em fragmentos disjuntos,
fraciona os problemas, separa o que
parâmetro para seus estudos. Segundo
está unido, torna unidimensional o Bauman,
multidimensional. É uma O papel do expert ou especialista só
inteligência míope que acaba por pode surgir quando uma assimetria
ser normalmente cega (MORIN, permanente de poder busca moldar
2011b, p. 39; p. 40). ou modificar a conduta humana.
Esse papel sem dúvida foi outra
O sistema educacional tradicional se
conseqüência do importante
caracteriza por esse modelo meramente redescobrimento de poder social
acumulativo, enfatizando associado ao nascimento da era
ideologicamente a efetivação de moderna (BAUMAN, 2010, p. 74).
resultados pragmáticos, tais como a
aprovação no curso ou em algum A obra do autor de referência se
concurso, do que promovendo a assemelha assim a um documento
apropriação intrínseca dessas sagrado que deve ser fielmente
informações travestidas de conteúdos interpretado pelo acólito, em vista da
epistemológicos. O conhecimento preservação da pureza discursiva do
promove a ação crítica, a informação legado do “ídolo”, espólio sagrado
ocasiona a estagnação ou a ação acessível para apenas uma nobre casta
heterônoma, pois o sujeito não se de clérigos/intelectuais. Nesse
apropriou das bases conceituais que contexto, Edgar Morin afirma que
fundamental o discurso informativo. O saber tornou-se cada vez mais
Contra a obtusidade do erudista que não esotérico (acessível somente aos
pensa além dos livros e documentos especialistas) e anônimo
técnicos, talvez nada seja melhor do que (quantitativo e formalizado) o
a defesa do intelectual esclarecido, que conhecimento técnico está cada
desenvolve paulatinamente a igualmente reservado aos experts,
cuja competência em um campo
capacidade cognitiva de organizar as
restrito é acompanha de
suas ideias sem a interferência incompetência quanto este campo é
doutrinadora da burocracia acadêmica. perturbado por influências externas
Para Edgar Morin, “Uma cabeça bem- ou modificado por um novo
feita é uma cabeça apta a organizar os acontecimento (MORIN, 2002, p.
conhecimentos e, com isso, evitar sua 19).
acumulação estéril” (MORIN, 2002, p.
Pesquisadores que adquirem
24).
proeminência acadêmica nesse tipo de
O eruditista se relaciona com o autor de exegese comumente se tornam pastores
predileção como se este fosse o intelectuais que conduzem o rebanho de
suprassumo do saber, mantendo com o discípulos ao caminho da verdade do
mesmo uma relação de submissão autor, revelando as suas filigranas
intelectual, interpretando a realidade conceituais a cada reunião do grupo de
através da perspectiva do seu mestre- estudos. O enfoque nos mínimos
condutor. Essa relação de heteronomia detalhes se torna fundamental para o
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sucesso desse empreendimento para o exercício epistemológico que


epistemológico, como, por exemplo, a beneficie a esfera pública. Sobre esse
preocupação com sinais de pontuação problema, Schopenhauer proclamou a
característicos da obra do autor contundente colocação:
divinizado, ao invés de se enfatizar o Para ocultar a falta de pensamentos
poder de influência de suas ideias sobre verdadeiros, muitos constroem um
as mobilizações sociais da esfera imponente aparato de longas
pública. Contra esse reducionismo palavras compostas, intrincadas
grosseiro da força plástica do flores de retórica, períodos a perder
pensamento, a consciência da de vista, expressões novas e
complexidade desponta como uma inauditas que, no conjunto,
solução ao espírito decadente do resultam num jargão que soa o mais
intelectual alienado: difícil e o mais erudito possível.
Com tudo isso, porém, nada dizem;
A complexidade situa-se num ponto não se percebe nenhum
de partida para uma ação mais rica, pensamento, não se sente a
menos mutiladora. Acredito inteligência aumentar, mas tem-se
profundamente que quanto menos de suspirar (SCHOPENHAUER,
um pensamento for mutilador, 2001, p. 34-35).
menos ele mutilará os humanos. É
preciso lembrar-se dos estragos que Esses grupelhos de intelectuais de
os pontos de vista simplificadores gabinete representam de forma
têm feito, não apenas no mundo abominável as aspirações por
intelectual, mas na vida. Milhões de reconhecimento que os filósofos geniais
seres sofrem o resultado dos efeitos depositavam em seus pósteros
do pensamento fragmentado estudiosos, ansiando que estes
unidimensional (MORIN, 2011a, p. mantivessem vivo seu legado criador
83). através dos debates, das desconstruções,
Os intelectuais que se proclamam das críticas aos seus conceitos, e não
publicamente como autoridades do através da celebração dogmática dos
legado desses pensadores santificados seus enunciados. Esses pesquisadores
geralmente invalidam quaisquer são chancelados pelas agências de
interpretações heterodoxas das ideias de fomento em suas práticas endógenas,
tais autores, estreitando assim o campo tornando-se vampiros que sugam o
de possibilidades hermenêuticas que erário do contribuinte sem que nada
proporcionariam o enriquecimento do forneçam em troca para a sociedade e
debate acerca da obra do pensador em ainda ousam reclamar dos seus
questão, abrindo então novos horizontes pretensos baixos vencimentos,
para tais estudos. Essa casta intelectual condizente com sua medíocre
atua como a guardiã dos despojos dos produtividade.
pensadores, horrendamente profanados Quando o autor em questão é
por seus procedimentos indébitos. estrangeiro e redigiu suas obras em
Fazendo da obscuridade a sua proteção língua distinta da vernácula do
contra as genuínas críticas intelectuais, sacerdote acadêmico que se apropria
os mandarins acadêmicos se revelam indebitamente do espólio do autor
pesquisadores desprovidos de senso genial, ocorre uma situação também
comunicacional, pois sua inépcia absurda: a ojeriza que tais obras desses
discursiva é sintoma de sua inaptidão pensadores sejam traduzidas para o
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vernáculo, pois isso denota a em que as domingadas burocráticas se


vulgarização das ideias dos ídolos perpetuam comodamente sem maiores
celebrizados. A única possibilidade de resistências da parte das forças
se aceitar a tradução do texto sagrado intelectuais renovadoras.
para a língua profana dos seguidores se
dá quando os próprios membros do
grupo, devidamente chancelados pelo Considerações finais
sacerdote acadêmico, são os tradutores Mediante as linhas precedentes
dessas obras. Nesse contexto, qualquer abordamos os paradigmas de uma
outra tradução é imputada como revitalização da atividade filosófica em
ilegítima academicamente, pois somente nossa conjuntura cultural regida pela
o seleto grupo dos seguidores do autor- necessidade de integração profunda dos
mestre está pretensamente autorizado a saberes, em vista da formação de uma
realizar todo trabalho de interpretação e consciência crítica capaz de
tradução da palavra sagrada registrada compreender a dinâmica pluralista da
no papel. Obviamente que a situação vida e da relação humana com o mundo
mais conveniente no estudo de um autor em um viés orgânico integrado.
estrangeiro seria lê-lo em seu idioma Todavia, tal projeto não significa uma
original, para que o pesquisador pudesse submissão do conhecimento
conhecer as filigranas argumentativas multidisciplinar ao modelo sistemático
do autor, a construção sintática dos tradicional. Toda formulação
conceitos e as bases filológicas do texto. sistemática corre o risco de cristalizar a
Contudo, o fato de um criatividade do pensamento, gerando
leitor/pesquisador analisar e interpretar assim uma estagnação da força
os livros de um pensador estrangeiro no engendradora do pensador
vernáculo não retira de maneira alguma comprometido com a intervenção
a autenticidade das suas análises e social. O pensamento filosófico na Pós-
posteriores registros, a despeito do Modernidade, ainda que desacredite as
discurso conservador propagado pelos formulações universalistas próprias das
autodeclarados guardiões da verdade do ideologias clássicas, não se fia em um
autor. De nada adianta estudar a obra do viés isolado, autocentrado, mas sim
autor na língua original e não se como uma abertura discursiva que
desenvolver a capacidade crítica de religa os saberes em uma frutífera
compreensão e problematização desse disposição integrada que rompe o
documento. O sectarismo acadêmico é a estado de alienação da consciência em
causa básica de toda crise do relação ao grande devir do mundo. A
pensamento, pois a atividade de busca pelas convergências não dissolve
pesquisa se converte em uma mera a capacidade crítica do pesquisador,
defesa de posição dos ideais antes a reforça, por isso é
cristalizados pelas benesses burocráticas imprescindível uma formação
sem qualquer interlocução mais intelectual multidisciplinar, uma saída
substancial com outros grupos de contra a barbárie tecnocrática e sua
pesquisa ou mesmo com outros inerente dissolução das capacidades
discursos epistêmicos que apresentem criativas do ser humano em sua vida
naturais convergências. Esse é um dos administrada. Oxalá o intelectual
sinais mais bisonhos da educação forjado sob os preceitos do eruditismo
furtada no cenário acadêmico vigente, especialista esteja em vias de extinção,
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pois as suas atividades reacionárias 2000.


revelaram-se extremamente prejudiciais KANT, Immanuel. O Conflito das Faculdades.
para a renovação do pensamento e sua Trad. de Artur Morão. Lisboa: Edições 70,
força crítica de contestação ao mundo 1993.
tecnocrático, e de suas ideias LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma
esclerosadas pelo ar viciado do gabinete antropologia do ciberespaço. Trad. de Luiz
fechado muitas estultícias foram Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 2003.
pronunciadas desavergonhadamente e LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-
celebradas pelo rebanho de seguidores Moderna. Trad. de Ricardo Corrêa Barbosa.
acadêmicos como os grandes discursos Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
dos mestres, guias cegos que conduzem MAFFESOLI, Michel. Apocalipse: opinião
outros cegos. Para mudarmos a vida das pública e opinião publicada. Trad. de Andrei
Neto e Antoine Dollinger. Porto Alegre: Sulina,
pessoas através da educação é 2010.
imprescindível que os parâmetros
ideológicos do ensino furtado sejam MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar
a reforma, reformar o pensamento. Trad. de
destruídos em suas bases apodrecidas e Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
enegrecidas pela ausência da luz 2002.
vivificante da inteligência holística.
_______. Em busca dos fundamentos
perdidos – textos sobre o marxismo. Trad. de
Maria Lucia Rodrigues e Salma Tannus. Porto
Referências Alegre: Sulina, 2010.
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. de Marcelo _______. Introdução ao pensamento
Perine. São Paulo: Loyola, 2005. complexo. Trad. de Eliane Lisboa. Porto
BAUMAN, Zygmunt. Legisladores e Alegre: Sulina, 2011a.
Intérpretes: sobre modernidade, pós- _______. Os Sete Saberes necessários à
modernidade e intelectuais. Trad. de Renato Educação do Futuro. Trad. de Catarina
Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São
DUPAS, Gilberto. Ética e Poder na Sociedade Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2011b.
de Informação: de como a autonomia das NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: como
novas tecnologias obriga a rever o mito do alguém se torna o que é. Trad. de Paulo César
progresso. São Paulo: Ed. UNESP, 2011. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras,
ESPINOSA. Baruch. Ética. Trad. de Joaquim 2001.
de Carvalho, Joaquim de Ferreira Gomes e PLATÃO. Fédon. Trad. de Maria Tereza
António Simões. Lisboa: Relógio d’água, 1992. Schiappa de Azevedo. Brasília: Editora da UnB,
_________. Tratado da Reforma da 2000.
Inteligência. Trad. de Lívio Teixeira. São SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre a Filosofia
Paulo: Martins Fontes, 2004. Universitária. Trad. de Maria Lúcia Mello
FEUERBACH, Ludwig. Princípios da Oliveira Cacciola e Márcio Suzuki. São Paulo:
Filosofia do Futuro e outros escritos. Trad. de Martins Fontes, 2001.
Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988.
HERÁCLITO. “Fragmentos”. In: Vol. Pré- Recebido em 2014-08-25
Socráticos, Col. “Os Pensadores”. Trad. de José Publicado em 2014-09-12
Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural,

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