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Curso

GEsTÃo
e LiDErANÇA
EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE 8
FAsCÍCuLo

Entendendo
o perfil do
“novo cliente”
CHrisTiAN AVEsQuE
sumário
Apresentação 115
1. Consumo e contexto 116
2. Tipos de consumo 118
3. Processo decisório de compra e funil de compra 119
4. Jornada phygital e atributos determinantes de compra 124
Referências 127
APrEsENTAÇÃo
O consumo faz parte do contexto his- ma que, para entendermos o consumo mo-
tórico relacionado aos aspectos sociais, derno, precisamos compreender como a Re-
culturais e econômicos da formação das volução Industrial modificou a urbanização e
sociedades ocidentais, sendo disseminado os estilos de vida das cidades e metrópoles
e exercido por todas as classes sociais, ad- europeias de então. Destaca-se que houve a
quirindo significados objetivos e subjetivos padronização do processo produtivo pelas
entre os consumidores. indústrias, possibilitando a diminuição de
A evolução histórica do consumo possibi- seus custos com a produção, o aumento dos
lita a compreensão das transformações que salários dos trabalhadores e a oferta de pro-
levaram as empresas a focar no consumidor dutos diversos e mais baratos, incentivando
como estratégia diante do mercado, hoje tão o consumo. Vamos ver como se deu essa
competitivo e inovador. Taschner (2010) afir- transformação até os dias atuais.

115
1
CoNsumo E CoNTEXTo

A
intensificação da moda influenciou Seguindo a cronologia da história do con-
o desenvolvimento de novos pro- sumo, já no século XX/XXI, Slater (2002) ates-
dutos e, consequentemente, agu- ta que os bens são vendidos em mercados
çou o desejo dos consumidores por cada vez maiores, tanto geográfica quanto
novidades de consumo. Nesse período, hou- demograficamente planejados – mercados
ve a expansão dos mercados e de produtos regionais, nacionais, globais –, cuja formação
e, consequentemente, o crescente acesso ao é possibilitada pela interconexão dos merca-
consumo pelas demais classes sociais, o sur- dos locais por meio de novas infraestruturas
gimento de novas necessidades de compra, de transporte e comunicação. Esse processo
novos padrões de publicidade, rápida obso- é acompanhado pelo desenvolvimento ma-
lescência dos produtos e a implementação ciço da infraestrutura de varejo (não apenas
de novas práticas comerciais. Um contexto lojas, mas também varejo múltiplo, enco-
tão diverso gera intensas mudanças sociais menda por reembolso postal, integração ver-
e de consumo que são intensificadas pelo tical até o ponto de venda).
surgimento das lojas de departamento e a Lipovetsky (2007) complementa que,
“magia” proporcionada pela ambientação com a crescente automatização e a padro-
do local de consumo, da disponibilização de nização do processo produtivo por meio da
informações sobre os produtos e processos racionalização do trabalho, o livre comér-
de compra e no desenvolvimento de técni- cio e o desenvolvimento de transportes,
cas segmentadas no sentido de atender di- comunicações e eficientes estratégias de
ferentes estilos de vida. Portanto, as lojas de marketing, houve um incentivo grandioso
departamento determinaram novas expe- ao consumo de massa diante da disponi-
riências de compra às pessoas por meio da bilização de uma grande diversidade de
atribuição de significados simbólicos aos produtos em nível global. Nesse maravilho-
bens de consumo, os quais eram expostos so mundo “moderno”, é relevante destacar
de maneira espetacular e podiam ser manu- que os indivíduos usam esses objetos, arte-
seados livremente pelos consumidores. fatos e utensílios para exprimirem seus lu-

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SAIBA
MAIS
A sociedade de consumo é estruturada nos
pilares do materialismo, do individualismo e
do acesso aos produtos e serviços indus-
trializados. Nela, os indivíduos precisam ser
consumidores antes de serem cidadãos. A
lógica é o ter para ser.

gares de pertencimento aos grupamentos A terceira classificação adota um viés


sociais de referência, e é nesse espaço vital determinista ou “darwinista” porque reduz
e dinâmico que são forjados os laços mais a atividade de consumo ao biologicamente
duradouros de convivência e adesão. Com necessário, naturalmente inscrito e univer-
base nisso, Slater (2002) afirma que esses salmente experimentado. Por fim, o viés uti-
objetos carregados de significados são in- litário relata que a atividade de consumo se
tencionalmente criados e formatados pelas relaciona ao jogo existente entre os custos
relações de adaptação e remodelação dos que o consumidor vai despender na aquisi-
valores praticados na vida social. ção dos produtos versus os benefícios de
Quando especificamos a palavra con- uso prometidos pelos seus fabricantes.
sumo, podemos compreendê-la a partir de Essa multiplicidade das percepções so-
4 grandes ideias ou movimentos teóricos. bre o consumo foi delineada dentro de um
A primeira possibilidade enfatiza a ativida- contexto social e econômico que pode ser
de de consumir como uma expressão de categorizado como sociedade de consumo.
gostos e desejos pessoais que se ligam aos Retondar (2007) admite-a como um siste-
elementos afetivos do consumo. Nessa li- ma social que estabeleceu uma série de va-
nha não se consome o produto em si, mas lores e atitudes culturais que alimenta um
sua imagem construída empresarialmente complexo sistema de geração de “necessi-
por intermédio dos publicitários ou mídia. É
dades” nos indivíduos. Tal sistema estabe-
nesse terreno que a publicidade e as demais
lece referências daquilo do que se deveria
ferramentas de comunicação de marketing
comprar com fins à produção de corpos e
operam, inserindo conceitos ou imagens
sujeitos diferenciados socialmente.
“fantasmagóricas” nos produtos e serviços
Salienta-se que, nesse tipo de estrutura-
ofertados ao mercado. A segunda reforça
ção da sociedade de consumo, a produção
uma visão apocalíptica da cultura industrial
contínua de ofertas e o volume sempre as-
contemporânea que incentivaria em dema-
cendente de bens oferecidos também são
sia o consumo de bens “supérfluos”, fato
gerador de inúmeras mazelas sociais. Essa necessários para manter a velocidade de
visão moralista dá mais ênfase ao mundo produção e circulação de bens, irrigando
do trabalho, prudência e controle onde os assim o mecanismo de geração de desejos
produtos devem ser consumidos por neces- denominada cultura de consumo. Sudjic
sidade concreta, reposição ou oportunidade (2010) afirma que os objetos são nossa ma-
econômica. Sendo assim, o ato de consumir neira de medir a passagem de nossas vidas.
está cercado de decisões puramente racio- São o que usamos para nos definir, para
nalizadas e, supostamente, equilibradas. sinalizar quem somos, e o que não somos.

EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 117


2 Fica a Dica
Veja o filme “Amor
por contrato” (2009).
Perceba como os

TiPos DE
bens e marcas
nos identificam
socialmente e revelam

CoNsumo
uma dinâmica de
medição social

D
pelas marcas que
consumimos.
e forma geral, o consumo faz parte
do cotidiano social e é livre den-
tro dos limites da lei, atribuindo
identidade aos consumidores por 1. Consumo funcional: o consumo di-
meio de bens dotados de significados sim- reciona-se à utilidade do bem a ser com-
bólicos e constituindo valores determinantes prado. O foco do consumidor recai sobre
das relações sociais e culturais, sendo o alvo os aspectos tangíveis do produto e seu
para a formulação de teorias. O conceito de desempenho efetivo ao ser utilizado. A
consumo também pode estar relacionado jornada de compra é estruturada pelos fa-
ao ciclo de consumo de um produto ou ser- tores econômicos e de custo-benefício. Ao
viço, incluindo sua obtenção, utilização, con- desenvolver essa tipologia de consumo, o
teúdo e descarte. Neste ciclo estão envolvi- cliente espera que seu dinheiro renda e que
das as características referentes ao direito do ele possa sempre ter mais benefícios ao
consumidor, além dos desejos e preferências menor custo possível. Em níveis psíquicos,
culturais e sociais relacionados ao consumo. a atividade de comprar se assemelha a
Além disso, o consumo também pode ser uma boa negociação racional e o consumi-
considerado como um aspecto moralmente dor busca sentir-se “esperto”.
negativo para a sociedade por proporcionar
um individualismo social, a compulsão em 2. Consumo emocional: o consumo se
consumir de forma excessiva e, consideran- baseia no afeto ou na identificação que o
do a especificação da palavra “consumo” em consumidor tem com a proposta da marca.
si, a destruição cultural dos bens e serviços A intangibilidade do bem ganha força na
resultante de sua utilização. decisão de compra, e o cliente passa a di-
Leia o Código de Defesa do Consumidor recionar o seu olhar para a simbologia da
e verifique como a legislação classifica o marca e duas referências de imagem. Exis-
consumidor. Procure analisar o conceito de te, pois, uma identificação do cliente com
publicidade e informação sobre o consumo. um conjunto de sentimentos que a marca
Podemos classificar as tipologias de representa e difunde, que refletem o estilo
consumo em 4 grandes categorias: de vida de quem a compra.

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3
Fica a Dica
Veja o site do Instituto
Capitalismo Consciente
e analise o relatório
brasileiro sobre as
empresas nacionais que
aderiram aos protocolos
de sustentabilidade
elaborado pela instituição:
https://www.ccbrasil.cc/
ProCEsso
3. Consumo social: o consumo é forte-
mente modelado pelos grupos sociais que
DECisÓrio
o consumidor contacta no seu dia a dia.
Os fatores de pertencimento a uma “tribo” DE ComPrA
são determinantes para guiar o processo
de busca e escolha de marcas e produtos E FuNiL DE
ComPrA
que são percebidos como “corretos” em
um determinado círculo social. O produto
assume um papel muito importante para o

M
cliente – este sinaliza a atividade de adqui-
rir um bem – e é condição essencial de aco- uito se fala sobre a forma como
lhimento e vivência em tais agrupamentos. os indivíduos adquirem seus
É clara a função social que uma marca tem: produtos e serviços nos merca-
servir como instrumento de identificação e dos das grandes cidades e nos
aspiração na vida cotidiana dos clientes. shopping centers espalhados pelo Brasil. De
um lado, existem aqueles que atribuem ao
4. Consumo consciente: o consumidor preço da mercadoria o fator determinante de
torna-se empoderado e começa a exigir comprar aquele bem. De outro lado, percebe-
uma postura mais ética e sustentável das se que o atendimento e o ambiente de ven-
empresas que compõem seu repertório de da é primordial para “fisgar” o consumidor.
escolhas. A responsabilidade socioambien- Diante desse quadro pouco esclarecedor,
tal das organizações é o principal atributo é imprescindível que se compreenda que o
de escolha na sua decisão de compra. comportamento do consumidor pode ser es-
O cliente espera que a empresa tenha tudado de forma sistemática e integrada.
políticas vinculadas à economia circular e Miniard (2000) enfatiza essa ideia de
que invista em propósitos e causas sociais “colocar o consumidor no microscópio” ao
que promovam os direitos humanos, a civi- relatar que, para vender seus produtos, os
lidade e o empreendedorismo sustentável. empresários começaram a perceber que
Logo, o consumo pode ter um viés mais deveriam produzir de acordo com os de-
focado no uso cotidiano dos produtos adquiri- sejos e as necessidades do consumidor,
dos, mas também pode evocar um investimen- orientando a produção para o mercado.
to psíquico e social de prazer ou aceitação. Para que a venda seja mais eficiente, é pre-

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ciso compreender quais seriam os benefí- suas escolhas para atributos intangíveis da decisões que o consumidor tem de tomar
cios esperados por determinado grupo de marca – conceitos e simbologias emanados para adquirir o produto ou serviço; emer-
consumidores. Para Kotler (2000), o com- da identidade proposta pela empresa; por- gem questionamentos sobre o que com-
portamento do consumidor é um processo tanto, busca um significado que vai além da prar e como pagar, dentre outros. É muito
que leva os indivíduos a selecionar, com- matéria-prima e da composição do produ- comum na área varejista a utilização do
prar, usar e descartar produtos ou serviços, to. Em suma, os utilitários realizam a com- modelo explicativo do processo de compra
com base nos seus sentimentos e ações pra como uma situação de “sacrifício”, e os descrito por Mowen e Minor (2003).
sob diversas influências. hedônicos encaram a jornada de compra Nesse processo, pode-se agrupar suas
Shimp (2002) relata que o comporta- como uma fonte de prazer (AVESQUE, 2002). etapas ou fases em três eixos principais, a
mento do consumidor, a partir da perspec- Giglio (2002) destaca que o comporta- saber: etapas de pré-compra ou prepara-
tiva experimental-hedonista, é dirigido por mento do consumidor é um reflexo direto ção para a compra, compra e pós-compra.
emoções, buscando prazer e experiências dos fenômenos sociais experienciados, A primeira fase, entendida pelos autores
sensoriais; já na perspectiva utilitária, é di- que contemplam um conjunto de padrões como reconhecimento da “necessidade”,
rigido por pesquisa intensa de benefícios ou regras biológicas, psicológicas e econô- discorre sobre o fator gerador da com-
de uso e custos menores. O consumidor micas, a fim de despertar o consumo. Em pra, em que se procura compreender se a
utilitário enfatiza só atributos tangíveis do resumo, viabilizar o estudo do comporta- base do consumo é de natureza utilitária,
produto, e sua direção de compra enca- mento do consumidor é compreender o hedônica ou híbrida. Essa última remete
minha uma pesquisa intensa e barganha processo decisório de compra (PDC). a concomitância simbólica da energia ini-
por menores preços ou oportunidades sa- Admite-se que o processo decisório de cial do consumo, quando o indivíduo se
zonais. O consumidor hedônico desloca compra é caracterizado por uma série de identifica com o bem que deseja consu-

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mir, e da ação concreta, neste caso, o ato na fase em que o consumidor se desfaz dos
da compra do bem desejado. restos do produto, redirecionando-o para
A segunda fase, entendida como “pro- cadeias inferiores ou gerando um reapro-
cesso de busca”, ocorre pela ativação mo- veitamento da matéria-prima.
tivada da memória e/ou de informações do Ao longo do processo de compra, o
ambiente, podendo ser interna ou externa. consumidor é influenciado diretamente
É interna quando existe a recuperação de por inúmeras variáveis que têm contornos
informações na memória ou varredura na mais individuais ou socioculturais. Solo-
mente do consumidor daquelas experiên- mon (2002) enfoca o estudo das influências
cias e objetos mais familiares e com menor individuais como sendo realizado sobre
risco percebido. Será externa quando se uma tríade de aprendizagem, motivação
refere à aquisição de informações do mer- e atitude. A aprendizagem se remete ao
cado ou grupos de contatos, com o intuito processo de recepção e seleção de infor-
de buscar melhor posicionamento em re- mações experienciadas pelo consumidor,
lação às ofertas apresentadas. Na etapa de podendo ser classificada como cognitiva
“avaliação das alternativas”, ocorre a esco- ou comportamental. O termo motivação si-
SAIBA lha intencional de determinados atributos naliza o conjunto de razões ou motivos que
MAIS e benefícios com a finalidade de atender à
necessidade inicial do processo.
provocam algum tipo de ação ou compor-
tamento, ligadas às urgências do cotidiano
Cerca de 1/3 da lucratividade das empresas A terceira fase, “aquisição do bem” ou ou aspirações futuras.
varejistas advém da compra por impulso. compra, é a efetivação do processo de tro- O conceito de atitude é trabalhado sob
Os clientes que levam produtos que não
planejaram comprar itens não planejados
ca entre os consumidores e as empresas. a perspectiva da quantidade de afeição e
são influenciados por: ambientação de loja, Destaca-se que a compra pode ser classi- crença que o consumidor deposita a favor
pontos extras e ofertas de ocasião. ficada em três diferentes tipos: totalmente de um objeto. Ou, quando se fala em in-
planejada – CTP, parcialmente planejada fluências individuais, devemos correlacio-
– CPP ou por impulso, ou não planejada – nar ações de motivação, percepção, apren-
CNP. As etapas do pós-compra referem-se à dizagem e atitude para compreender como
verificação que o consumidor realiza entre esses fatores atuam no processo decisório
o resultado do consumo do bem adquirido de compra, entendemos que cada pessoa
e as expectativas iniciais antes dele. Nessa tem necessidades biológicas e psicológicas
etapa, ocorre uma comparação entre os diferentes que atuam como motivadores
atributos e os benefícios esperados e os de consumo. Pode-se entender motivação
efetivamente obtidos após a compra e uso. como a razão para o comportamento, uma
O descarte ou despojamento constitui-se vez que é o motivo que se constrói a fim de

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satisfazer uma necessidade específica. As- ção do produto/serviço – funil de venda.
sim, motivação e necessidade são utiliza- O funil de conversão é composto por qua-
das como sinônimos. Mowen e Minor (2003) tro etapas distintas e não sequenciais; o
destacam que compreender o conceito de funil de vendas é composto por seis etapas.
cultura é buscar vivenciá-la nos mais varia-
dos formatos, aprendendo e transmitindo 1. O funil de conversão é a jornada de
ao longo de gerações. E por meio dela que uma pessoa desde o conhecimento da sua
se adquirem valores básicos, como hones- marca até a transformação em cliente. É
tidade, lealdade, companheirismo, percep- composto por quatro níveis:
ções, desejos e comportamentos que resul- a) Visitantes: O importante é começar
tam no consumo. Quando os estudos sobre o processo desenhando um funil ou uma
trocas e referências sociais se deslocam do pirâmide invertida. No topo, estão os visi-
macrocosmo para o microcosmo social, tantes. É o espaço onde há mais pessoas.
adentra-se na análise dos grupos sociais. Um visitante é alguém que buscou um
Sabe-se que a ação de comprar não é tão produto ou uma informação na internet e
simples e tampouco é descontextualizada. entrou na página principal da sua loja. Ou
Ao abordarmos a compra no ambiente alguém que viu seu anúncio patrocinado e
digital, o PDC é explicado melhor por uma clicou para ser redirecionado.
metodologia inovadora: o funil de com- b) Leads: Seguindo o afunilamento, em
pra. O universo de compra digital é com- um nível mais abaixo temos os leads. São
preendido melhor quando destacamos internautas que já demonstraram algum
que as atividades de captar, seduzir e ven- interesse pela sua loja e por seus produtos
der ao cybershopper tem características e começaram a ter algum tipo de engaja-
distintas daquelas que verificamos na jor- mento: pelo produto, conteúdo ou ofertas.
nada de compra em lojas físicas. O cliente Deixaram nesse processo alguma pista para
do mercado digital é um caçador de ofertas você segui-lo, como direct, e-mail, SMS etc.
e, ao mesmo tempo, adora ter benefícios c) Oportunidades: Neste momento seu
adicionais para escolher o fornecedor para lead provavelmente já está “logado” e co-
a categoria de compra desejada. locando produtos no carrinho de compras.
Assim, as empresas que investem nesse Não o perca de vista! Você deve oferecer be-
mercado precisam desenvolver estratégias nefícios exclusivos na primeira compra (des-
que gerem um primeiro nível de atração contos, frete grátis ou vouchers de compra).
– chamado aqui de funil de conversão – Também aproveite para mostrar a ele produ-
para depois efetivar o processo de aquisi- tos similares que podem causar interesse.

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d) Clientes: Ao finalizar a compra, você ce – desistência da compra –, porque a
o inseriu na sua base de clientes. Esse con- empresa não disponibiliza frete em tempo
sumidor passou de desconhecido a um ágil, formas de pagamento diferenciadas e
lead qualificado: é seu cliente. Você já tem processo de acompanhamento de pedidos.
diversos dados sobre ele. As possibilida- c) Cadastro: A chave aqui é facilitar o
des são muitas a partir daí. Seu trabalho só cadastramento e a captura dos dados fi-
começou. Agora, você precisa desenvolver nanceiros da compra. Procure simplificar e
mais estratégias para manter seu cliente e automatizar o preenchimento de dados de-
aumentar seu índice de recompra. mográficos. Sinalize ao consumidor que o
É fundamental agora compreender o processo está protegido de fraudes e furtos
passo a passo do cliente na compra, já de dados bancários.
que a conversão foi realizada e jornada de d) Dados de entrega: Deixe o preen-
compra foi efetivada pelo consumidor. chimento simplificado e certifique-se de
que o consumidor possa visualizar a data
2. O segundo funil do marketing digital, e o período que o produto será entregue,
o que especifica a conversão de vendas, fortalecendo a imagem de eficiência e
tem início com a entrada do webshopper compromisso.
na sua plataforma de vendas e finaliza com e) Pagamento: Ofereça múltiplas for-
o follow up da compra efetivada buscan- mas de pagamento ao consumidor para
do um canal de relacionamento constante que ele possa adequar ao orçamento e, so-
com o cliente. bretudo, ao hábito de pagamento habitual.
a) Plataformas de navegação: São f) Finalização e follow up: Fechamen-
a sua página principal, o perfil das mídias to do pedido e envio de protocolo de follow
sociais ou o blog de uma categoria em que up com a nota fiscal eletrônica enviada pelo
você é especialista. É preciso aqui trabalhar e-mail do consumidor. Uma tática interes-
fortemente o design e a usabilidade para sante é disponibilizar o acompanhamento
que sejam fáceis e agradáveis a navegação da entrega do produto em várias platafor-
e a busca do consumidor no seu sítio. A or- mas, incluindo o WhatsApp.
ganização por categorias, mecanismos de E nesta pandemia, mudou o proces-
busca, o refinamento e a qualidade imagé- so de compra dos consumidores? Como
tica de apresentação dos produtos são es- compreender essas mudanças? Como ficar
senciais para o sucesso da venda. atento para se adaptar a esta nova realida-
b) Carrinhos de produto: É nessa etapa de? Veremos esses pontos na nova jornada
que o consumidor terá freios de compra ou de consumo contemporânea: o Phygital!
realizará a compra. Procure evitar o boun-

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4
JorNADA PHYGiTAL E ATriBuTos
DETErmiNANTEs DE ComPrA

A
única certeza que podemos tirar Logo, a dualidade de escolha de canais de ocuparem bastante com o que entregam e
deste momento é que a jornada vendas acabou. Ou se insere no novo mo- prometem ao mercado. Ganha espaço na
de compra se tornou complexa e delo híbrido ou a organização perde efici- mente do consumidor aquelas empresas
híbrida. Os elementos de estimu- ência e produtividade. que conseguem vender um produto ou
lação e compra do consumidor estão pre- Mas quais foram os fenômenos que oca- serviço e entregam os benefícios descritos
sentes tanto no universo físico quanto no sionaram tantas mudanças abruptas? Por no ato da venda. O consumidor moderno,
universo digital. A esse movimento damos que o mercado pressiona as organizações por ter mais produtos substitutos nas cate-
o nome de phygital. em direção a essas necessidades adapta- gorias de compra da sua cesta, passa a ser
As operações varejistas e de serviços tivas tão profundas? Vejamos os principais intolerante com simulacros e informações
não podem mais operar em um único ca- pontos de tensão: falseadas ou mentirosas.
nal de vendas. Precisam, sim, desenvolver 1. Empoderamento do consumidor: 2. Tecnologia integrada de estoques
ações que contemplem a rapidez e a con- o consumidor contemporâneo tem mais e entrega: As empresas varejistas aban-
veniência do universo digital com a expe- acesso a informação e conhece as catego- donaram o conceito de estoque para lojas
riência e a atmosfera de venda das lojas rias de produtos que habitualmente con- físicas e lojas digitais. Um sistema de ca-
físicas. É urgente que estejam presentes some. Seu comportamento ativo de busca dastro e disponibilidade único com preços
na mente do consumidor durante 24 ho- sobre depoimentos e referências das em- alinhados são condições fundamentais
ras por dia para que sejam colocadas em presas e produtos que estejam no “radar” de sobrevivência. O consumidor não dife-
seu conjunto de consideração de compras. de compra força as organizações a se pre- rencia mais os canais físicos dos digitais.

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Ele busca uma tríade de benefícios que elaborando atrativos de experiência e reti- uma recompensa econômica pela sua pre-
concentra conforto, sortimento e rapidez. rada dos produtos na própria loja, aprovei- ferência de compra. A estruturação e a ope-
A chave da eficiência operacional passa tando essa ocasião para agradecimento de racionalização de retorno financeiro à “car-
necessariamente por um processo de se- preferência e encaminhando uma compra teira” do cliente são a estratégia da vez dos
paração de mercadorias e entrega íntegra, futura. grandes varejistas. Geram uma percepção
pedidos certos e sem avarias. 4. Sistema de pagamento remoto: O de ganhos financeiros nos clientes finais.
3. Conveniência total: As operações varejo moderno precisa oferecer sistemas de 6. Aplicativos customizáveis: Os sites e
varejistas precisam desenvolver platafor- pagamento remotos – cartão virtual, crédito blogs das organizações varejistas passaram
mas de vendas que sejam convenientes. parcelado pré-aprovado etc – para facilitar a a ser substituídos por aplicativos próprios.
Precisam estar presentes em todas as plata- aquisição dos produtos e serviços. O consu- Nessas plataformas corporativas, os clientes
formas digitais em que o consumidor nave- midor precisa de sistemas digitais e físicos de terão acesso a ofertas sob medida ao perfil e
ga habitualmente – mídias sociais, sites ou pagamento que reduzam ao máximo a “fric- aos locais preferidos de compra do shopper,
blogs. Além disso, as ofertas customizadas ção” ou “freios” de compra na hora do fecha- serviços exclusivos de delivery e retirada de
dão lugar aos banners gerais de descontos mento da compra. O objetivo aqui é impedir produtos, além de tutoriais e geração de
e promoções, criando uma comunicação a quebra do fluxo do desejo de compra. conteúdo de marca sobre o uso e cuidados
focada nas preferências e interesses do 5. Sistema de cashbacks e vouchers: com o consumo dos produtos. Essa comodi-
shopper. O ponto de venda deve flexibilizar É notória a busca do consumidor por pro- dade está em vários equipamentos digitais,
sua rotina diária – horários e atendimento – dutos e operações varejistas que oferecem smartphones ou notebooks.

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7. Hospitalidade e compromisso dos volver um check list de conformidade dos
colaboradores: As lojas físicas só terão ambientes externo e interno da loja para
uma vida próspera se conseguirem acolher garantir uma jornada de compra ao consu-
o consumidor de forma plena. A simpatia, o midor sem sobressaltos ou quebras de ex-
conhecimento técnico e a ambientação de pectativa. Sugerimos utilizar a metodologia
loja serão determinantes para que o clien- DOL para capacitar os gerentes comerciais
te se desloque para esses pontos físicos. O e de marketing das organizações.
entretenimento dentro das lojas e o leiau- 3. Assertividade: É indispensável que
te sinestésico são fundamentais para gerar as empresas invistam em processos eficien-
preferência de compra. tes de entrega de mercadorias. O consumi-
Não é um novo mundo. Essas variáveis dor não tolerará erros de pedidos, avarias e
já estavam postas como tendências de ope- atrasos superiores a cinco dias. O empode-
ração desde 2010. O que tem acontecido é ramento do cliente moderno fez com que
uma aceleração do impacto dessas variáveis a logística se tornasse o calcanhar de aqui-
nos negócios empresariais e, consequente- les dos varejistas modernos, sobretudo se
mente, a urgência em adaptar-se a elas. existirem vários substitutos na categoria de
produtos procurada.
As operações varejistas de sucesso atu- 4. Segurança de dados: A guarda e a
almente precisam focar seus esforços em segurança dos dados bancários e de hábi-
5 pilares de atuação, que se alinham dire- to de compra dos clientes é uma variável
tamente aos atributos determinantes de estratégica determinante na relação com
compra buscados pelo consumidor – no os clientes e suas compras futuras. O con-
ambiente físico ou digital. sumidor brasileiro se sente inseguro com
1. Conectividade: O varejo do futuro os sites e mecanismos de fechamento de
precisa estar 100% on-line e 100% organiza- compras disponibilizados via digital. En-
do no PDV. O consumidor contemporâneo foque criptografia e certificações digitais
aprendeu que pode exigir rapidez e infor- de segurança.
mação em tempo real. A operação precisa 5. PDX: Os pontos de vendas transfor-
sincronizar a oferta de produtos, atualiza- mam-se em pontos de experiência. Ativida-
ção de preços e períodos de funcionamento des de workshops, eventos, palestras e de-
vinculados ao hábito social do consumidor. monstrações de produtos serão essenciais
2. Hospitalidade: Trate seu ponto de para manter a atratividade da loja física,
venda como se fosse um teatro. Ele precisa somando-se a esses fatores a facilidade de
estar organizado, ambientado e confortável acesso, o estacionamento com segurança e
para receber os clientes. É preciso desen- a segurança em geral.

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Referências
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EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 127


2020
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CHrisTiAN AVEsQuE (autor)


Graduado em Psicologia Organizacional pela Universidade de Fortaleza (Unifor - 1997), tem mestrado em Administração de Empresas pela Unifor (2002).
É professor dos cursos de graduação da Unichristus e Faculdade CDL e dos MBAs e Especialização da FAP Jauzeiro, Unichristus, Unifor e Faculdade CDL. É
sócio-proprietário da RESULT Assessoria e Consultoria em Varejo e consultor ad hoc da BZK Consultoria Empresarial. É assessor de diretoria das empresas:
Record Máquinas e Equipamentos, GK Fashion, Take a Nap, Perfumaria Moreira, BWS, Mauy, Clínica Qorpo e Hospital Menino de Jesus. Publicou artigos
científicos ao longo do último triênio em eventos nacionais como o Comunicon da ESPM e o Colóquio de Moda da ABM e eventos internacionais como o
SIEP Consumo da PUC. Tem experiência na área de comportamento do consumidor, promoção de vendas e merchandising, consultoria em marketing e
comunicação mercadológica.

rAFAEL LimAVErDE (ilustrador)


Nascido em Belém/PA, naturalizado cearense, formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), é xilogravurista e ilustrador. Possui mais de
40 livros ilustrados em diversas editoras do país. É um dos organizadores do “Festival de Ilustração de Fortaleza”, evento que já está em sua quarta edição e
é realizado dentro da Bienal do Livro do Ceará.

Todos os direitos desta edição reservados à: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Diretora-Presidente: Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de
Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Analistas de Projetos: Aurelino Freitas,
Fundação Demócrito Rocha
Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira
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Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO GESTÃO E LIDERANÇA: EMPREENDER EM
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
TEMPOS DE CRISE Coordenador Técnico: Nazareno Albuquerque Coordenadora Executiva: Valéria Xavier Coordenadora de
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Conteúdo: Flávia Chagas Coordenadora Editorial e Revisão: Daniela Nogueira Projeto Gráfico: Andrea Araújo Editores de Arte:
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Andrea Araújo e Welton Travassos Designer Gráfico: Welton Travassos Ilustrador: Rafael Limaverde Coordenadora de Marketing:
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