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Estética II
MESTRADO EM ARTES CÉNICAS – ÁREA DE FIGURINOS
Clementina Delgado – 4200067
Junho 2021
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Estética II
Clementina Delgado – 4200067
Introduçao
Este trabalho foi desenvolvido para a disciplina de Estética II, a partir da análise de alguns elementos
da obra do emblemático Psicanalista Jacques Lacan.
Um estudo apresentado no seu quarto seminário trata a relação com o objeto e a ausência deste.
Segundo a apresentação da sua teoria sobre o “Objeto a”, transcrevo a minha compreensão e faço
uma divagação para o meu universo conforme o que apurei sobre a defesa deste assunto.
Novela
Um e outro olhamos de onde não nos vemos e também o objeto nos olha, revira a imagem ao avesso
O a olha e é visto
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História do olho
Novela erótica, de publicação anónima. O primeiro livro sobre este assunto foi escrito por George
Bataille quando entrava na casa dos 30, atravessava um estado de crise, tinha uma vida desregrada
entre jogo, bordéis, bebidas e orgias, surge uma inquietação filosóficaprofunda.
Jovem Simone e a sua busca por uma sexualidade profunda ligada ao sangue, urina, lágrimas, grito,
carne, e, destruição da beleza humana.
Jovens de 16 anos, angústia por coisas do sexo. Marcela junta-se a eles, amiga de Simone (pura e
dedicada), enlouquece pelas experiencias dos jovens e é internada após um incidente e se esconde
num armário.
Autor e Simone entram numa fase apática à espera de Marcela. Resgatam-na e levam-na para casa.
Marcela reconhece o armário, desata aos berros. Eles deixam-na para se acalmar, mas quando
regressam, Marcela tinha-se enforcado dentro do armário.
O casal faz amor pela primeira vez e fogem de seguida para Espanha onde encontram um toureiro. Ao
apelo de Simone ele dá-lhes os testículos de um touro… e ela come um deles…
Simone pede que lhe dêm os olhos do padre, o olho torna-se um objeto sexual
Bataille em “O EROTISMO”
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Na “História do olho”, ver e ser visto são práticas usuais entre os dois adolescentes. O excesso desta
satisfação pulsional, distanciam o sujeito do desejo para o conduzir a um gozo mortífero. Bataille usa
os excessos do corpo e o apetite de ver…
O sujeito busca o jamais visto… e consola-se com uma fantasia que preenche a falta.
No lugar de uma janela colocamos um quadro, ao abrir os olhos vemos o quadro e não a janela aberta
e aí tomamos distância da realidade. A fantasia, o desejo de ver.
Pulsões sexuais existem também na boca (o beijo), e nos olhos que admiram (focar com os olhos,
comer com os olhos, desnudar alguém)
Para Freud:
Para Lacan:
Olho/Olhar
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Imagem anteparo- “é um dar-se- a- ver que pacifica, mas não deixa de apontar o que precisa esconder
Em Lacan, quando abordamos o tema “olho” encontramos o olhar como objeto da pulsão escópica.
A primeira lista de objetos foi desenvolvida por Freud, estão ligados ao corpo e ás zonas erógenas:
1- o seio
2- o excremento
3- o falo
Os objetos Lacanianos parecem mais bizarros, influenciados pela psicose clínica e o surrealismo
acrescenta a esta lista
4- a voz
5- o olhar
como objetos de pulsão e aponta para a possibilidade de acrescentar outros como a placenta que se
perde ao nascer.
Para explicar a relação e a razão entre os objetos com uma função lógica, Lacan inventa o objeto a
como sendo um ponto comum a qualquer objeto da série, um pedaço de carne do sujeito ou um
objeto separado escondido, e, inverte para entrar num mundo simbólico.
“Quando alguém está fascinado por algo, é justamente esse alguém (sujeito) que desaparece”.
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“fascinado, quando o objeto não é mais que o olhar que completa o outro, ele neutraliza também sua
falta.”
O olhar pode conduzir-nos à contemplação como um véu, por exemplo o olhar de uma mãe para o
seu bebé.
Considerando a teoria de Lacan, ouso substituir o objeto a por uma peça de roupa.
Todavia, em vez de adentrar num mundo simbólico escolho o mundo material e faço a análise
segundo os mesmos parâmetros.
Será que a peça de roupa consegue ver mais que o meu próprio olhar? Consegue ter outros pontos
de vista? Será que consegue alcançar o que para mim é impercetível?
Vejamos, olho o objeto de todas as partes, primeiro do lado direito depois inverto-o do lado avesso,
mas olho-o sempre do mesmo ponto de vista.
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Segundo Lacan, o olhar da peça de roupa torna-se uma pulsão escópica. A peça de roupa tem vários
pontos de vista para o sujeito que a observa (eu). Quando está pelo direito pode olhar para o meu
exterior, no entanto, quando está pelo avesso pode olhar o meu exterior e o meu interior.
Vejo o objeto, dou- o- a -ver e ao mesmo tempo o objeto vê o meu interior, o meu exterior, e dá-me
também a ver ao exterior fazendo com que o olhar dos outros, sobre mim como objeto, altere.
Sendo a peça de roupa um objeto de pulsão começo a desejá-la, contemplo-a, acabo também por
invadir a lista de Freud ao analisar zonas supostamente erógenas da peça de roupa, com forma
fálica.
Segundo Bataille na “História do olho”, ver e ser visto, leva a um excesso de satisfação pulsional
conduzindo o sujeito a um gozo mortífero.
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O meu ponto de vista não altera é sempre o mesmo, tal como quando” uma mãe olha para o seu
bebe” o seu olhar tem um véu.
Após conceder a peça de roupa ao olhá-la deteto algumas interferências, tais como os tons as
texturas e as formas, por mais enaltecido que esteja o detalhe conseguirei eu percecioná-lo?
No entanto “Quando alguém está fascinado por algo, é justamente esse alguém (sujeito) que
desaparece”.
Poderei considerar que a peça de roupa também se fascina pelo sujeito que o olha e nesse caso é a
peça de roupa que desaparece, passando eu a ser o fascínio como objeto e para ele a pulsão
escópica.
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Então mais uma vez concordo com Lacan, este objeto é o que me falta e eu sou o que falta à peça de
roupa.
Existem peças de roupa classificadas como eróticas por serem usadas como objetos de pulsão, de
áreas erógenas ou pela sensação provocada pela estrutura e tato da matéria, mas, pensando bem
qualquer peça de roupa pode ser considerada erótica.
O objeto circunda a silhueta, a matéria têxtil envolve o corpo e roça as fibras que a compõe contra à
pele deslizando a cada movimento que o sujeito executa, provocando arrepios que não de medo nem
de frio, mas de fascínio.
Um gatilho de sensações de agrado ou desagrado, ora suave, ora macia, ora fresca, ora quente, ora
áspera, mas sempre enleadora.
Abre o campo da sedução e do mistério por camuflar ou dar a ver só partes do sujeito impulsionando
ilusões.
Objeto de desejo, de satisfação, quer seja por necessidade simbólica quer por real necessidade.
A peça de roupa também transcende a sua existência, é um objeto omnipresente. Ou seja, no caso de
um sujeito não conter o objeto, automaticamente pensamos nele.
Referências
https://www.youtube.com/watch?v=dLQlgggYGz4
http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/P.2358-3428.2018v22n44p141
https://www.youtube.com/watch?v=EOnilKzZI3A&list=TLPQMTcwNjlwMjGISe7TQiHDpA&index=18
Visitado em 08-07-2021
Petri R., Katz I. (dezembro 2004), A transmissão da falta, a partir da leitura do seminário de Lacan:
POPSIC
Ríguini R., Ferrari I. (1º quadrimestre de 2018), O olhar da História do olho: notas sobre um objeto
lacaniano: Belo Horizonte, v. 22, n. 44, p. 129-140, SCRIPTA