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Estética II

Clementina Delgado – 4200067

Estética II
MESTRADO EM ARTES CÉNICAS – ÁREA DE FIGURINOS
Clementina Delgado – 4200067
Junho 2021

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Estética II
Clementina Delgado – 4200067

Introduçao

Este trabalho foi desenvolvido para a disciplina de Estética II, a partir da análise de alguns elementos
da obra do emblemático Psicanalista Jacques Lacan.

Um estudo apresentado no seu quarto seminário trata a relação com o objeto e a ausência deste.

Segundo a apresentação da sua teoria sobre o “Objeto a”, transcrevo a minha compreensão e faço
uma divagação para o meu universo conforme o que apurei sobre a defesa deste assunto.

O olhar da “história do olho”

Novela

Noção do objeto escópico em Lacan

Mostra-nos o olho e o olhar na sexualidade de dois adolescentes

Defende a teoria que:

Um e outro olhamos de onde não nos vemos e também o objeto nos olha, revira a imagem ao avesso

1966 – Refere Lacan “A história do olho” por Battaille

Lacan e Battaille, amigos, surrealistas e teólogos.

Somos psicanalistas, temos uma pulsão escópica.

Analisamos à volta de uma fantasia fundamental suportada pelo objeto a.

O a olha e é visto

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História do olho

Novela erótica, de publicação anónima. O primeiro livro sobre este assunto foi escrito por George
Bataille quando entrava na casa dos 30, atravessava um estado de crise, tinha uma vida desregrada
entre jogo, bordéis, bebidas e orgias, surge uma inquietação filosóficaprofunda.

Reflete sobre o olho / o olhar.

Escrito em circunstâncias existenciais, narrativa da descoberta da sexualidade. Narrador masculino,


anónimo e na primeira pessoa, provavelmente relatos em um diário.

Adolescente no encontro com outro adolescente:

Jovem Simone e a sua busca por uma sexualidade profunda ligada ao sangue, urina, lágrimas, grito,
carne, e, destruição da beleza humana.

Jovens de 16 anos, angústia por coisas do sexo. Marcela junta-se a eles, amiga de Simone (pura e
dedicada), enlouquece pelas experiencias dos jovens e é internada após um incidente e se esconde
num armário.

Autor e Simone entram numa fase apática à espera de Marcela. Resgatam-na e levam-na para casa.

Marcela reconhece o armário, desata aos berros. Eles deixam-na para se acalmar, mas quando
regressam, Marcela tinha-se enforcado dentro do armário.

O casal faz amor pela primeira vez e fogem de seguida para Espanha onde encontram um toureiro. Ao
apelo de Simone ele dá-lhes os testículos de um touro… e ela come um deles…

O trio viaja até Sevilha, visitam um padre e matam-no, enforcado e espancado.

Simone pede que lhe dêm os olhos do padre, o olho torna-se um objeto sexual

Olho = ovo= erotismo

A novela termina sem ter um fim no livro.

Bataille em “O EROTISMO”

“a aprovação da vida até na morte” não é definição mas uma fórmula.

A contaminação pelo olho

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Na “História do olho”, ver e ser visto são práticas usuais entre os dois adolescentes. O excesso desta
satisfação pulsional, distanciam o sujeito do desejo para o conduzir a um gozo mortífero. Bataille usa
os excessos do corpo e o apetite de ver…

“O olho é atraído pela promessa de um saber mais além do visível”.

O sujeito busca o jamais visto… e consola-se com uma fantasia que preenche a falta.

No lugar de uma janela colocamos um quadro, ao abrir os olhos vemos o quadro e não a janela aberta
e aí tomamos distância da realidade. A fantasia, o desejo de ver.

A fantasia torna-se o protótipo do quadro.

Freud fala da pulsão sexual que se utiliza no olhar = ecotofilia

Cegueira histérica= exemplo de perturbação psicogénica da visão na psicanálise é o sintoma resoluto


das falhas no recalque.

Recalque = mecanismo responsável por manter no inconsciente, grupos de ideias indesejáveis á


consciência.

È uma expressão de luta entre as pulsões sexuais e o Eu

Pulsões sexuais existem também na boca (o beijo), e nos olhos que admiram (focar com os olhos,
comer com os olhos, desnudar alguém)

Um exibicionista é também um “voyeur” (manifestação espontânea infantil que se perlonga)

O olho é uma zona erógena e parte do aparelho sexual.

Para Freud:

Olhos = pulsão escópica que torna o objeto belo e interessante

Pulsão escópica= constituinte de erros

Para Lacan:

Olho/Olhar

E somos olhados na existência do mundo:

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O sujeito vê de um único ponto, mas é olhado de todas as partes.

O olhar está do lado de fora (e o olho dentro do corpo)

Imagem anteparo- “é um dar-se- a- ver que pacifica, mas não deixa de apontar o que precisa esconder

Em Lacan, quando abordamos o tema “olho” encontramos o olhar como objeto da pulsão escópica.

Lacan citou o objeto a presente na pulsão.

A primeira lista de objetos foi desenvolvida por Freud, estão ligados ao corpo e ás zonas erógenas:

1- o seio
2- o excremento
3- o falo

Os objetos Lacanianos parecem mais bizarros, influenciados pela psicose clínica e o surrealismo
acrescenta a esta lista

4- a voz
5- o olhar

como objetos de pulsão e aponta para a possibilidade de acrescentar outros como a placenta que se
perde ao nascer.

Para explicar a relação e a razão entre os objetos com uma função lógica, Lacan inventa o objeto a
como sendo um ponto comum a qualquer objeto da série, um pedaço de carne do sujeito ou um
objeto separado escondido, e, inverte para entrar num mundo simbólico.

“Quando alguém está fascinado por algo, é justamente esse alguém (sujeito) que desaparece”.

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“Este é o ponto zero do olhar”

“fascinado, quando o objeto não é mais que o olhar que completa o outro, ele neutraliza também sua
falta.”

O olhar pode conduzir-nos à contemplação como um véu, por exemplo o olhar de uma mãe para o
seu bebé.

“o desejo ligado à imagem é função de um corte que sobrevêm no campo do olho”

O desejo está ligado a esta função de corte

“O que nos olha?” – pergunta Lacan

Por exemplo o branco do olho de um cego – a mancha

Logo o objeto a é aquilo que falta, não apreensível na imagem

“Se os olhos não estão aí para ver, estão para se satisfazer!”

Objeto a versus peça de roupa

Considerando a teoria de Lacan, ouso substituir o objeto a por uma peça de roupa.

Todavia, em vez de adentrar num mundo simbólico escolho o mundo material e faço a análise
segundo os mesmos parâmetros.

Será que a peça de roupa consegue ver mais que o meu próprio olhar? Consegue ter outros pontos
de vista? Será que consegue alcançar o que para mim é impercetível?

Vejamos, olho o objeto de todas as partes, primeiro do lado direito depois inverto-o do lado avesso,
mas olho-o sempre do mesmo ponto de vista.

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Figura 1 -peça de roupa do lado direito

Figura 2 Peça de roupa do lado avesso

Segundo Lacan, o olhar da peça de roupa torna-se uma pulsão escópica. A peça de roupa tem vários
pontos de vista para o sujeito que a observa (eu). Quando está pelo direito pode olhar para o meu
exterior, no entanto, quando está pelo avesso pode olhar o meu exterior e o meu interior.

Vejo o objeto, dou- o- a -ver e ao mesmo tempo o objeto vê o meu interior, o meu exterior, e dá-me
também a ver ao exterior fazendo com que o olhar dos outros, sobre mim como objeto, altere.

Sendo a peça de roupa um objeto de pulsão começo a desejá-la, contemplo-a, acabo também por
invadir a lista de Freud ao analisar zonas supostamente erógenas da peça de roupa, com forma
fálica.

Segundo Bataille na “História do olho”, ver e ser visto, leva a um excesso de satisfação pulsional
conduzindo o sujeito a um gozo mortífero.

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Figura 3 Peito da peça de roupa

Figura 4 Zona do ventre, lado direito

Figura 5 Zona do ventre lado avesso

O meu ponto de vista não altera é sempre o mesmo, tal como quando” uma mãe olha para o seu
bebe” o seu olhar tem um véu.

Após conceder a peça de roupa ao olhá-la deteto algumas interferências, tais como os tons as
texturas e as formas, por mais enaltecido que esteja o detalhe conseguirei eu percecioná-lo?

E, o olhar escópico do objeto quando me olha será livre de filtros?

No entanto “Quando alguém está fascinado por algo, é justamente esse alguém (sujeito) que
desaparece”.

“Este é o ponto zero do olhar”

Poderei considerar que a peça de roupa também se fascina pelo sujeito que o olha e nesse caso é a
peça de roupa que desaparece, passando eu a ser o fascínio como objeto e para ele a pulsão
escópica.

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Então mais uma vez concordo com Lacan, este objeto é o que me falta e eu sou o que falta à peça de
roupa.

“Se os olhos não estão aí para ver, estão para se satisfazer!”

A peça de roupa como objeto de pulsão

Existem peças de roupa classificadas como eróticas por serem usadas como objetos de pulsão, de
áreas erógenas ou pela sensação provocada pela estrutura e tato da matéria, mas, pensando bem
qualquer peça de roupa pode ser considerada erótica.

O objeto circunda a silhueta, a matéria têxtil envolve o corpo e roça as fibras que a compõe contra à
pele deslizando a cada movimento que o sujeito executa, provocando arrepios que não de medo nem
de frio, mas de fascínio.

Um gatilho de sensações de agrado ou desagrado, ora suave, ora macia, ora fresca, ora quente, ora
áspera, mas sempre enleadora.

Abre o campo da sedução e do mistério por camuflar ou dar a ver só partes do sujeito impulsionando
ilusões.

Objeto de desejo, de satisfação, quer seja por necessidade simbólica quer por real necessidade.

A peça de roupa também transcende a sua existência, é um objeto omnipresente. Ou seja, no caso de
um sujeito não conter o objeto, automaticamente pensamos nele.

Referências

https://www.youtube.com/watch?v=dLQlgggYGz4

http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/P.2358-3428.2018v22n44p141

Visitado em abril 2021

https://www.youtube.com/watch?v=EOnilKzZI3A&list=TLPQMTcwNjlwMjGISe7TQiHDpA&index=18

Visitado em 08-07-2021

Petri R., Katz I. (dezembro 2004), A transmissão da falta, a partir da leitura do seminário de Lacan:
POPSIC

Ríguini R., Ferrari I. (1º quadrimestre de 2018), O olhar da História do olho: notas sobre um objeto
lacaniano: Belo Horizonte, v. 22, n. 44, p. 129-140, SCRIPTA

Figuras 1, 2, 3, 4 e 5 registo fotográfico pessoal

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