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Sua memória pode ficar tão boa quanto a de um

campeão de memorização, garantem cientistas


13/03/201714h48
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Truques da mnemônica, como usar músicas, criar siglas, fazer associações são vistos com
desconfiança por muitos professores. Mas funcionam para fortalecer a memorização

É possível melhorar a memória de uma pessoa e torná-la tão boa quanto a de um campeão mundial de
memorização. Pelo menos é o que garantem cientistas holandeses, que garantem ainda existir um método
simples para isso.

Exames indicaram que os cérebros de pessoas com memória prodigiosa não têm nada de especial em termos
de anatomia, mas apresentam variações nas suas conexões.
Diante disso, os neurocientistas holandeses treinaram pessoas para que se tornassem tão boas quantos os
campeões mundiais de memorização.

Elas conseguiram se lembrar de longas listas de nomes rapidamente e apresentaram padrões de conexões
cerebrais similares aos dos "profissionais".

"Ter uma boa memória é algo que se pode aprender e para o qual se pode treinar", disse Martin Dresler, do
Centro Médico da Universidade de Radboud, na Holanda.

Dresler comandou uma investigação que escaneou cérebros de 23 vencedores do World Memory
Championships (o Campeonato Mundial de Memória, realizado anualmente desde 1991), uma competição
de esporte mental em que os concorrentes memorizam o máximo de informação possível em um
determinado período de tempo.

Os resultados foram publicados na conceituada revista científica Neuron, especilizada em neurociência.

A estratégia mnemônica

Se forem usadas técnicas de treinamento mnemônicas, "realmente será possível melhorar consideravelmente
a sua memória, inclusive se ela for muito ruim", afirma Dresler.

As técnicas mnemônicas baseiam-se em formas simples de memorização e partem do princípio de que a


mente humana tem mais facilidade de lembrar dados quando eles são associados a informação pessoal ou
espacial do que se organizados de forma aleatória ou sem significado aparente para o indivíduo.

Mas essas sequências têm que fazer algum sentido - ou serão igualmente difíceis de memorizar.

Entre as técnicas usadas está a do Palácio da Memória - também conhecida como método de loci, (lugar, em
latim) -, que era usada pelos grandes oradores da Antiguidade para fazer seus discursos de cabeça, sem
nenhum tipo de apoio.

O método do Palácio da Memória consiste em criar um lugar imaginário, que pode ser inspirado num lugar
familiar (como a própria casa da pessoa) ou totalmente fictício.
Valem lugares abertos ou fechados. O importante é conhecer bem o local e ter um número de detalhes
compatível com o de itens que se tem para decorar. Cada local será usado como um indicador visual para
armazenar informação.

O estudo

Ao estudar os cérebros dos campeões de memorização, os neurocientistas fizeram ressonâncias magnéticas e


mediram a atividade cerebral e as mudanças no fluxo sanguíneo.
Eles fizeram o mesmo com um grupo de voluntários da mesma idade e com coeficiente de inteligência
similar ao dos campeões.

Os pesquisadores compararam então as imagens dos cérebros dos prodígios da memorização com as dos
outros participantes do estudo.

Eles encontraram diferenças sutis nos padrões de conectividade várias regiões do cérebro. No entanto,
nenhuma região específica destacou-se.

"Aprendemos que as diferenças neurobiológicas entre os campeões mundiais de memorização e as outras


pessoas pareciam ser bem distribuídas e sutis", explicou Dresler.

Os cientistas treinaram outros participantes do estudo, que tinham uma capacidade de memorização
mediana, para verificar se conseguiam melhorar suas habilidades.

Alguns aprenderam as técnicas usadas pelos campeões, outros foram ensinados com métodos que não eram
mnemônicos e um terceiro grupo não recebeu nenhum treinamento.

Depois de seis semanas com 30 minutos de treinamento diário, todos os participantes passaram por novas
ressonâncias cerebrais.

O resultado foi que os pesquisadores viram um aumento notável na capacidade de memorização das pessoas
que usaram as técnicas dos campeões de memória.

"Elas realmente desenvolveram padrões cerebrais que nos lembraram aqueles vistos nos competidores",
disse Dresler.

"Esse padrão específico na conectividade do cérebro parece ser a base neurobiológica de um


desenvolvimento melhorado e superior da memória".

Técnica antiga

O neurocientista alemão Boris Nikolai Konrad, que detém dois títulos mundiais do Livro Guinness dos
Recordes, teve o próprio cérebro escaneado para a pesquisa e treinou os principiantes.

Konrad memoriza 201 nomes e rostos em apenas 15 minutos, assim como 21 nomes e datas de nascimento
em dois minutos.

Apesar disso, ele diz que não nasceu com uma habilidade excepcional.

"Quase fui reprovado na escola porque não conseguia lembrar o vocabulário nas aulas de inglês", disse à
BBC.

"Levei um tempo para descobrir o que me ajuda na hora de memorizar e particularmente conhecer estas
técnicas de memorização", acrescentou.
"A ideia de melhorar a memória realmente me encanta. Ainda não entendo por que não ensinamos isso mais
às crianças, aos adultos. Acho realmente útil."

O professor Michael Anderson, do departamento de Neurociência da Universidade de Cambridge, que não


participa da pesquisa, lembrou à BBC que os métodos para melhorar a memória são conhecidos desde os
tempos dos antigos gregos.

"Dresler e Konrad não apenas ilustraram elegantemente como esta técnica de memorização pode ser
ensinada e treinada, mas também deram um passo importante para identificar mudanças que ocorrem no
cérebro quando ela é adotada", destacou.

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