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Virgínia Ferreira *
Toda a acção de pesquisa se traduz no acto de pergunta! Isto é válido para todo o
questionamento científico. Por isso todas as regráôTiê6?lõtrõlicas têm como objecti-
vo exclusivo o de esclarecer o modo de obtenção de respostas.
Tudo se resume a saber fazer perguntas e a identificar os elementos constituintes
da resposta. E isto não é nada pouco, contrariamente ao que possa parecer à primeira
vista. Em primeiro lugar, obriga ao controlo da inteligibilidade da pergunta em toda a
sua extensáo e multiplicidade de dimensões e, em segundo lugar, exige a fixação de
critérios para distinguir o que é ruído do que é sinal de resposta à pergunta formu-
lada. Assim, a" aÍÍe de bem perguntar" reside na capacidade de controlar as implica-
ções dos enunciados das perguntas e das condições por estas criadas, no seio das
quais emergem os enunciados classificados de respostas.
O inquérito, tal como as restantes, é uma técnica de perguntar que teve a sua géne-
(*) Quero expressar o meu reconhecimenio a Boaventura de Sousa Santos, Carlos Fortuna, Clara
Gonçalves, José Reis, Maria Manuel L. Marques e Pedro Hespanha, pelos seus comentários a uma pri-
meira versão do texto.
166 VIRGÍNIA FERREIRA
(1) Veja-se STEPHEN ACKROYD e JOHN A. HUGHES, Data Collectíon in Cora, l,ondres e
- tau
Nova lorque, Longman, 1981, cap. 3; GERARD LECLERC, L'observation de I'l1on1ntc histoí-
re des en4uêtes sociales, Paris, Seuil, 1979,Parte, II. Os censos da população só se tomam periódicos
nos começos do século XIX, nos grandes paÍses da Europa Ocidental e nos EUA. No entanto, a preo-
cupação de recertsear as populações com fins de controlo militar e fiscal recua atÉ ao tempo dos antigos
impérios (Augustus Caesar, por exemplo, foi um dos imperadores a ordenar um r@enseamento). Mas
só no princípio do século XVIII encontramos práticas de recenseamento jápróximas dos procedimentos
modemos. ROLAND PRESSAT fala-nos dos recenseamentos feitos na Islândia em 1703 e aa Suécia
em L749, in PALIL CIÁVAL et aL., Population et Dérnographie, PaÍis, Librairie Larousse, L976, p.
69.
Quanto aos inquériüos sociais, o primeiro foi levado a cabo em l.ondres por Charles Booth em
1889, tendo depois a técnica sido afinada por Arthur Bowley, que intoduziu as técoicas de amostra-
gem, e por Seebohn Rowntree, que recorreu pela primeira vez a inquiridores.
Os inquéritos de atitudes e opinião começaram a ser utilizados, por volta de 1910, enquanto insku- \
meütos de prospecção de mercado e só depois, em 1924, foi feita a primeira sondagem pré-eleitoral.
Em 1936, a eleição de Roosevelt, não prevista pela Literary Digest Pool, ficou a assinalar o primeiro
grande falhanço da história das sondagens.
O INQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO 167
(2) Cf. ALVARO PIRÉS, "La méthode qualitative en Amérique du Nord: un débat manqué (1918-
-1960)", Sociologie et Sociétés, vol. XIV, I, pp. 15-29. O autor situa o ponto de viragem para os mé-
todos quantitativos na tese de douüoramento de Samuel Stouffer, Num trabalho intitulado "An experi-
mental comparison of statistical and case hislory methods of atitude research", Stouffer dava como de-
monstrado que uma investigação quantitativa e outra qualitativa sobre o mesmo objecto produziam os
mesmos resultados. Desta conclusâo foi dado relevo às vantagens do método quantitativo, uma vez que
se aplicava mais fácil e rapidamente. Stouffer viria a desenvolver uma extensa obra no campo da socio-
.cgia quantitativ4 tendo sido um dos responsáveis pela monumental obra The Antcrican Soldier
.9.í9), tomada, durante muiüo tempo, referência obrigatória na pesquisa empírica sociológica.
(3) Cf. ACKROYD e HUGHES, op. cit..
(4) Pode fazer-se uma ideia mais rigorosa desta afirmaçâo se se tiver em conta que 907o dos textos
:-:l:cados pela American Sociological Review epelo Arnericanlournal of Sociology, durante os anos
-: .965 e 1966, baseados empesquisa empírica, utilizavam inquéritos ou enEevistas (ou ambos) (cf.
iCKROYD e HUGHES, op. cit.).
168 VIRGÍNIA FERREIRA
à captação dos aspectos contabilizáveis dos fenómenos. Nestes termos, torna-se di-
fícil contrapor as capacidades de outras técnicas que se afastam de tal lógica, ainda
que a sua operacionalização mobilize recursos financeiros menos vultosos. Frequente-
mente, os cientistas acabam por propor ou aceitar realizar inquéritos com o objectivo
de aplicar parte dos fundos angariados noutras pesquisas dificilmente subvencioná-
veis, que náo raramenüe sáo as mais rclevantes do -ponto de üsta teórico (5). Assim,
dada a necessidade de mobilizar recursos humanos e financeiros que excedem, em
regra, as disponibilidades dos cientistas, o uso sociológico do inquérito por questio-
niírio restringe-se frequentemente à análise secundária de dados recolhidos com ou-
tros objectivos que não os decorrentes da teoria social. Esta utilização, por seu turno,
I t. acaÍÍeta dificuldades de vária ordem, primordialmente as que se ligam à impossibili-
dade de conhecer as práticas de recolha de dados, às quais estes devem estar forçosa-
mente referenciados (6).
Delimitados deste modo os usos sociológicos do inquérito, o presente texto de-
tém-se no inquérito por questionáLio e amostragem, quando associado auma qualquer
problematizaçãoteóricaE@sondagensdeopiniãoeosinqué-
ritos estadstico-administrativos. Além disso, apenas serão considerados os inquéritos
de administraçáo indirecta, ou seja, aqueles em que oj.nguiUdpf_y-e1alggg@e§_.d§gla-
_{g9gg!_" medida que estas lhe vão sendo prestadas pelo inquirido. Daí que muitas das
observações que se seguem sejam igualmente pertinentes para o caso da entrevista es-
truturada.
2. PRrNCÍPrOS DO rNQUÉRrTO
Estes princípios, como dissemos, são inerentes à lógica própria do inquérito por
questioúrio e por amostragem. As_reqpoqtas__qb -
rio são tratadas como artefactos equivalentes. Isto é uma exigência da operaçáo de
agregafro dãquããs*reffira alcançar aÍase de caracterização
de vastos grupos sociais. Esta agregagão só se torna possível quando se postula um
único e determinado protótipo de inquirido. Este define-se, em primeiro lugar, por
uma competência linguística e uma capacidade de estruturação dos problemas análo-
gas, ou pelo menos próximas, das implicadas no protocolo de observaçáo e, em se-
gundo lugar, poruma autodeterminação racional que o torna consciente das razões do
seu comportamento e dos fundamentos das suas opiniões e, ainda, por uma hones-
tidade e uma vontade de cooperaçáo suficientes para evitar mentir ao inquiridor. De
facto, 4gglleglloggg.strq!áqofnrplica postularuma sociedade de_lggSlsrlgg9§@-
Írqgnte ú
qplgglrger aq 4Lfgp$qrS qs_lqUqêgEas sociais. Na verdade, sendo o questioruário ge-
ralmente constituído quase só por pgfgg4q§.&Éadas, a esmagadora maioria das res-
postas vai cingir-se às hipóteses previstas e são raros os casos em que as pessoas in-
dicaráo "outras" hipóteses, afinal residuais na opinião de quem elaborou o questioná-
rio. DC acordo com estudos recentes, sáo precisamente os grupos sociais mais distan-
tes dos investigadores aqueles cujas respostas se
junto das hipóteses previstas. Mais, esses estudos mostram ãêIg[afmõõ que offi-
mero de categorias em que se agrupam as Íespostas é muito mais amplo no caso de re-
(7) Cf. AARON V. CICOUREI. Method and Measwement in Sociology, Nova lorque, The Free
Press, 1964, cap. IV e DEREK PHILLIPS, Abandoning Metltod Sociological Studies in Methodo-
Iogy, S, Francisco, Jossey-Bass, 1973., cap.3. -
170 VIRGÍNIA FERREIRA (
(8) Cf. HOWARD SCHUMAN e STANLEY PRESSER, Qncstioru and An*tters in Attbude Sur-
vers Eryeritrcnts on Qrcstions Form, Wording and Cota, Orlando, Academic Press, 1981, pp.
-
79-112, Na experiência realizada por estes autores a Ínesma pergunta é formulada de duas forrnas, tendo
existido a preocupação de manter o contexto e a amostra. Verificou-se que as 9 (8 + "outra") hipóteses
de resposta prcvistas na pergunta fechada compreendiam 96,8% da amostra, enquanto úa versão aberta
as mesmas categorias só abarcavam 59Vo da amosta e o total de categorias tinha passado a 19 (op. cit.,
pp. 81-82). Analisadas enhetanto as características das pessoas cujas respostas cairiam fora do campo
de hipóteses previstas na pergunta fechad4 os autores concluiram que se tralava sobretudo de responden-
tes do sexo feminino (p. 91) e de menor grau de instrução (p. 110). Ou seja, precisamente aqueles cu-
jas características sócio-culturais mais se afastavam das dos produüores de ciência social.
(9) Cf. PIERRE BOURDIEU et al, I* Métier de Sociologue, Paris, Mouton/Bordas, 1968, pp.
59-85. Para uma crítica concreta à ausência de relativismo cultural em interpretações de resultados for-
necidos pelo inquérito, veja-se JEAN-PIERRE COT e JEAN-PIERRE MOUNIER, Para utn Sociolo-
gia Política, Lisbo4 Bertand, 1976, cap. XI; ainda PIERRE BOURDIEU, "L'Opinion Publique nbxis-
te pas", lzs Temps Modemes, 3l8, L973, pp. 1292-130/..
(10) Bastará que atentemos às objecioes suscitadas pela sociologia reflexiva de ALVIN GOLJL-
DNER, Tlv Coming Crisis of Western Sociology, Nova Iorque, Basic Books, 1970.
o r N QU ÉRrro P oR gu E srro NÁRro 171
(11) Cf. YANNICK LEMEI. "[.e sociologue des pratiques du quotidien entre I'approche ethnogra-
phique et l'enquête statisüque", Economie a Statistiquc,168, 1984, pp. 5-ll.
172 VIRGLNIA FERREIRA
OI
(12) Em Portugal, JOSÉ MADUREIRA PINTO tem sido o cientista social que mais tem veicula-
do esta preocupação. Veja-se, por exemplo, o seu trabalho "Questões de Metodologia Sociológica I, II
e lll, Cadenros fu Ciêrcias Sociais, 1,2 e 3, respectivamente em Junho de 1984, Dezembro de 1984 e
Juúo de 1985.
(13) DEREK PHILUPS, op. cit., p. 78.
(14) Para uma reflexão do confibuto das sociologias compreênsivas, veja-se, por exemplo, AN-
THOi{Y GIDDENS, Novas regras do método sociológico, Rio de Janeiro,Z,aha, 1978; RICHARD J.
BERNSTEIN, The Restructwing of Social and Political Theory, Filadelfi4 University of Pennsylva-
nia Press, 1978; BENETTA JULES-ROSETTE, "L: sociologie compéhensive aux Etats-Unis: Paradi-
gmes et perspectles", Cahicrs Intenationaux de Sociologie, vol. D(XVIII, 1985, pp. 9l-101.
o rN QUÉ,RLTO POR QUESTTONÁRrO 173
3. O PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
A. Perguntar o quê?
Uma dessas resoluções é a de que vamos fazer um inquérito. Por isso, já assumi-
mos que aquilo que nos pode ser dito num contexto marcadamente artificial, como o
é a situação de inquérito, é teoricamente pertinente em relação ao problema que moti-
va a pesquisa. Na verdade, as respostas a um inquérito não encerram a "Realidade",
que náo existe, aliás, mas a descrição e avaliaçâo de uma certa realidade, determina-
das pelo contexto de interacção entre inquiridor e inquirido e referenciadas ao con-
juntô de representações e catégorizações que presidem a essa interacção.É,portanto,
necessário: saber quais as informações que "não são obtidas" ou qual o sentido em
que sobre elas se farão sentir os efeitos naturalmente desencadeados pelos processos
psico-sociais desse contexto de interacção; dominar a linguagem utilizada pelo ques-
tionário e pelos inquiridos; e, principalmente, controlar em absoluto os sistemas de
categoização na base dos quais se fecham as perguntas quer tal se faça antes ou
depois de obtidas as respostâs.
Nestes tennos, uma pergunta eficiente, bem como aliásum contextode interacçáo
bem sucedido, deve proporcionar o máximo possível de clarificação das categorias
abcionadas pelo inquirido, de modo a que estas possam ser contrastadas com as de
outros e com as do próprio inquiridor/investigador. Daí que a problematização das
(15) Nao queri4 de modo algunl dar a ideia de que partilho uma concepção etapista do processo de
investigação. Penso, ao contrário, que o desenho da pesquisa surge de imediato como um todo, no qual
as hipóteses de equaçâo de um problema a submeter ao teste empírico são solidárias da técnica de cons-
truçáo dos dados que as hão-de (in)validar. Qualquer investigação é um vaivém constante entre estes
actos do qual váo resultando sucessivas reconstruções. E assim que, por exemplo, náo fará sentido falar
da elaboração do questionário e perder de vista a codificacão, ou do plano de amostragem sem ler em
conta o plano de apuramento final de resultados. Cf. PIERRE BOURDIEU et at, op. cit-, pp.88-101.
(16) Concretamente, essas resolüções são relativas a:
Definição do problema e do objecto de análise;
- Explicitaçáo das hipóteses a invesügar;
- Decisão sobre os contextos eskuturais pertinentes para a análise do objecto;
- Ponderaçâo das potencialidades e ümitaçôes de cada técnica de investigação para produzir
-
a informação pretendida, tendo em conta os meios logísticos disponíveis.
174 VIRGÍNIA FERREIRA o I§l
(17) Para se operacionalizar a problemática teórica que configura a inyestigação, procede-se à selec-
ção/consftução de variáveis nas quais os conceitos são "traduzidos". Cada pergunta corresponderá, por-
tanto, a um indicador dos retidos para detectar a prcsença e medir a intensidade das variáveis a que o
objecto de análise foi operacionalmente reduzido. Este é um passo central no desenho da pesquisa que
implica o salto teoteador da superaçáo do hialo entre teoria e análise empírica. Para uma problemati-
zação, conduzidarigorosaepertinentemente, da exigênciaedapossibilidade de taduzirconceitos emva-
riáveis operacionalizadas e do carácter indirecto da medida, vé;a-se o trabalho de JOSÉ MADUREIRA
PINTO, já citado, "Questões de Metodologia Sociológica". Sobre o processo de construção de va-
riáveis de Lazarsfeld, cf. RAYMOND BOUDON e PAUL LAZARSFELD, Metodologia de las Cien-
cias Srciales, Barcelona, l,ai4 1973, vol. I, pp. 35-46 [ed. orig. 1965] e MARINÚS PIRES DE LI-
MA, O Inqwito Sociológico: Problerus dc metodologia, Lisboa, GIS, 1973, pp. 45-54. Para uma
análise círica desse processo, cf. JoÃo FERREIRA DE ALMEIDA e JOSÉ MADUREIRA PINTO,
A Investigação nas Ciências Sociais, Lisbo4 Presença e Martins Fontes, 1976, pp. l3l-149; CAR-
LOS MOYA, Teoria Sociológica, Madrid, Taurus, 1982 (2!. ed.), pp. 208-226 e, aind4 RENATE
MAYNTZ et ú, InÍroducción a los Métdos de la Sociologia Enpírba, Madrid, ÁJianzq 1980, pp. 13-
-32!ed' orig. alemá, 19691.
(18) A sofisticação com que por vezes esse papel de inquirido treinado é desempeúado e o modo
como tal treino é a Éplica ao "cientista social enquanto estereótipo vivo que reproduz um horizonte de
expectativas" são evidenciados por BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS no seu trabalho "Science
and Politics: Doing Research in Rio's Squatter Settlements", in ROBIN LLJKHAM (ed.), Law and So-
cial hquiry: Case Studies of Research, Uppsala e Nova Iorque, Scandinavian Institute of Americao
Studies e Intemational Center for Law in DevelopmenÇ 1981, pp. 261-289. Gostaria de chamar a
ateução para a importância de que se revesüe a reflexão feita nesse trabalho. A verdade é que grande parte
do enriquecimeulo metodológico legado pelas duasÍltimas décadas ficou também a dever-se a kabalhos
que como est€ conferem estatuto de objecto tórico ao auto-questionamento do cientista na sua relação
com os sujeitos sociais, objecto do questionamento cientÍfico, e com as próprias rotinas das práticas de
investigação, e advertem par_a a necessidade do uso transgressivo e profano das regras metodológicas.
o rNSaÉRrro PoR QUESTTONÁ,RrO NA CONSTRUÇÃO DOS DADOS 175
terizagião que cada um daú de si estiá indiscutivelmente do lado "oficial"_da sua visibi-
lidade social. A uma pergunta aberta sobre qualquer rlas srras características-as pes-
soas responderão na base de um qualquer sistema dg categorizaçãe incqrperado. tal
como se incorporam as tipificações sociais e os esquemas de percepção estnrturado-
res de sentido, indispensáveis à comunicação social e que se cristalizam nas púticas
de expressão. Geralmente, o sistema de categorização incorporado tende a coÍrespon-
der a um dos utilizados na sociedade pelas instâncias de objectivação e classificaçáo
dos sujeitos biologia, escola, empÍego, administração, direito civil e canónico.
-
Esta profunda imbricação remete-nos para a necessidade de apertado controlo das
categoriàs práticas accionadas nas respostas e, antes de mais, das categorias socioló-
gicas e sua relevância teórica (1e). Assim, devemos prevenir o automatismo e a inércia
intelectualque nos levam a retomarreconentemente as mesmas variáveis independen-
tes, sem que seja assumido de forma explícita o sentido em que as outras variáveis de-
pendem delas. Este automatismo funda-se na ilusáo de acumulaçáo e comparação de
dados apenas justificada pela volumosa informação disponível sobre essas variáveis e
que é juitamente produzida pelas agências de contabiliáade social. É esta ilusáo e não
o poder explicativo recoúecido a essas variáveis que esuí na base da sua persistente
inclusão nos questionários. Sempre que esta inclusão se faz desprevenidamente, está-
-se a transpor para a investigação a sociologia espontânea ancorada à maneira como a
sociedade classifica os sujeitos sociais e explica os seus comportamentos. Lutar con-
tra esta transposiçáo passa por, no momento de elaborar a codificação que deve
aliás ser sempre pÉ-codificação -
referenciar o sentido teórico de cada respostâ, de
-
modo a explicitar o modo como esta se relaciona com as hipóteses (20).
Vejamos o que se passa em concreto com as variáveis independentes, relativamen-
te às quais esse automatismo paÍece mais acentuado.
As variáveis independentes recebem comummente uma das seguintes designa-
ções: clássicas, sócio-demográficas, sócio-económicas ou objectivas. Pretende-se
através delas captar caracteústicas pessoais (como sexo, idade, raça, local de residên-
cia, naturalidade, escolaridade, estado civil, profissão, rendimento, filiação partidária
e religiosa, etc.) ou elementos de identificaçáo de pessoas ligadas ao inquirido (cate-
goria social ou residência dos pais, instrução e profissão dos filhos) ou ainda do
meio em que este vive(u) ou trabalha(ou), etc..
Porque são ditas objectivas é-se levado a pensar, por um lado, que são de fácil
resposta e, por outro lado, que são de imediata cawgoização, bastando pois adoptar,
sem mais, as categorias administrativas, jurídicas, práticas ou outras. E por isso que
são daquelas perguntas que custam menos a fechar, que suscitam menos hesitações
na interpretação e que, consequentemente, promovem uma maior reificação das res-
(19) Tal como nos adverte AARON CICOUREL, Method and Measwement in Sociology, op. cit"
cap. IV.
(20) Cf. CICOUREI. op. cit., p. 109, e ainda BENJAMIN MATAI,ON, "la Psychologie et
l'Explication des Faits Sociaux. I Problêmes Epistémologiqtes", L'Année Socíologiqw,31, 1981,
pp. 125-185. -
I
176 VIRGÍNIA FERREIRA OL
ma
quéritos sociológicos. Até porque é muito mais pertinente, teoricamente, uma varjâvel
como a categoria sócio-profissional. Trata-se de um índice agregado que, depen-
úó- dendo do quadro teórico e analítico que preside a cada investigação, pode integrar
r ti- vários indicadores, sendo que a profissão e as suas condições de exercício sáo os
ve- mais importantes. Dada a centralidade da categoria sócio-profissional nos esquemas
nte analíticos preponderantes na sociologia, vale a pena determo-nos um pouco mais
ia- detalhadamente sobre as dificuldades que a sua operacionalização suscita.
nar A pergunta relativa à profissão é quase sempre aberta. Geralmente, as respostas
em não descrevem um trabalho, mas limitam-se a dar-lhe um nome empregada de es-
di- -
critório, chefe de equipa numa empresa industrial, economista, notário, escultor, tipó-
L.d-
grafo, etc.. Portanto, quando se trata de codificar as profissões, o codificador/investi-
vi- gador não está perante trabalhos reais mas perante respostas referenciadas a categori-
zações incorporadas e pelas quais as pessoas estão habituadas a ser ideritificadas.
Uê'
Ora, o que é que podemos observar no pequeno número de exemplos apontados? Al-
do gumas designaçóes remetem-nos para cargoc (notário), outros para certificados es-
bre
colares (economista), outros para o dorn de uma arte (escultor), outros para uma arte
xÍo
aprendida (tipografo), outros para designações genéricas de empregos (empregada de
in-
escritório) e outros aindaparapostoshierarquicos (chefe de equipa). O codificador/in-
m-
vestigador depara-se corn urna sariedade de designaçóes que tanto podem ser nomes
Íe-
de ofícios ou de empregos, como de níveis de qualificação ou títulos de formaçáo,
da
que devem ser traduzidas numa nomenclatura em princípio organizada com base num
as
único critério, capaz de expressar categorias com certa homogeneidade sócio-profis-
úi-
5l6n2l (24).
,r!. A dificuldade começa precisamente na pretensão de definir categorias sócio-pro-
fissionais em função de um critério únicà. É que, parafraseando Boaue.rtu.á de
b- Sousa Santos, a estruturação geológica da realidade remete-nos indelevelmente para
[s vários estratos de categorizaçóes, nem sempre bem concatenados, que relevam de ob-
si-
BA
jectivos e condições sociais diferentes (ã). Daqui a indispensável complexidade das
çÀ categorias e perfis sociológicos com que devemos operar. Assim, a plJrncipal razáo
ET para a falta de univocidade na designaçáo das profissões deve-se ao desfasamento
dos sistemas de categorização relativamente às transformaçóes dos processos de tra-
G
F' (24) Veja-se o excelente tatamento dado à articulação das várias instâncias na construção das iden-
D.
tidades sócio-profissionais por LAURENT THEVENOT no pontro II de "Un Emploi a quel tire; l' iden-
i. üÉ professionnelle dans les questionnaires statistiques", Archives et Dxurneüs,38, INSEE, 1981,
D.
pp. 9-39. Gostari4 aliás, de chamar a atenção para o conjunto de lextos publicados neste volume, pois
constitui um contributo importante para a reflexão sobre o registo estatÍstico das categorias sócio-pro-
t-
fissionais e que capitaliza os resultados do intenso debate verificado em França, durante os anos seten-
I ,a. É possível encontrar expressões desse debate em outras publicaçoes como ConsommaÍion e Econo-
mie et Statistique. Como resultado desse debate surgiu uma nova nomenclatura de cujo processo de
É
construção nos dão conta ALAIN DESROSIERES et al, em "L'Identité sociale dans le tavail stâtisti-
que La nouvelle nomenclature des professions et catégories professionneles", Ecoramie et Statisti-
-
que, 152, 1983, pp. 55-81.
(25) BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, "O Estado e a Sociedade na Semi-Periferia do Siste-
;:ra lvíundial: O Caso Português'], Arúlíse Social 87-88-89, pp. 869-901.
178 VIRGÍNIA FERREIRA oA
balho, aos quais estáo directamente referenciados. Como estes processos se imbri-
cam uns nos outros e coexistem entre si, dado que a transformaçáo afecta de forma
desigual os vários sectores de actividade, encontramos os sistemas de categoizaçáo
de igual modo imbricados..De'facto, o processo de trabalho industrial taylorista não
eliminou totâlmente o artesanal, assim como não atingiu uniformemente todos os sec-
tores de actividade. Da mesma maneira também o prcsente processo de automatização
náo eliminará por completo o modelo taylorista nem incidirá em todos os sectores eco-
nómicos coma mesma expressão. E assim que, num corte transversal da realidade, é
possível encontrardesignações profissionais tributárias de lógicas diferentes consoan-
te os modelos de trabalho em que se inspirem (26).
Apesar de imbricados náo significa que não haja predomínio de um sobre os res-
tantes. Há-o efectivamente porparte do processo industrial e do sistema de categorias
nele inspirado. Só assim se compreende que, por exemplo, as taxas mais elevadas de
não-resposta à questáo da qualificação profissional e as maiores flunraçóes na forma
como a mesma pessoa designa a sua profissão em diferentes momentos ocorram
justamente nos sectores de actividades artesanais exercidas em pequenas unidades de
produção, onde as grelhas de classificação são mal conhecidas, ou nos sectores onde
a introduçáo de máquinas diminuiu a intervenção do operário (27).
Também a relação mantida com a profissão influencia as designações usadas.
Quanto mais distanciada foressa relação mais ambígua, imprecisaeva9aserá a for-
ma escolhida paÍa designar a profissão. Esse distanciamento, por seu turno, será
tantÕ maior quanto mais a relação se afastar da tipicamente capitalista e do operário-
-tipo - assalariado indus.trial, masculino, maior de l8 anos. E neste quadro que se
compreende não só o facto de os trabalhadores independentes apresentarem uma taxa
média de não-resposta às questões sobre categoria sócio-profissional superior à dos
assalariados, e dentro destes serem os empregados e as mulheres quem mais frequen-
temente recusa respondeç mas também o carácter vago das declaraçóes sobre a profis-
sáo dosjovens operários que exercem de forma instável actividades indiferenciadas
e, ainda, a inexactidão das declarações das mulheres que se apresentam como "em-
pregada na fábrica" quando são operárias, ou como "domésticas" quando trabalham
em unidades familiares de produção (28).
(26) Cf . ALAIN CHENU, "La Classe Ouwiêre en Mouvement; Repàres Statistiques", La Peraée,
233, 1983, pp.22-36.
(27) THEVENOT, op. cir.. O autor formula estas conclusóes a partir da análise das não-respostas
à pergunta sobre qualificação dos operários no recenseamento de 1975 em França e quanto às flutuações
nas designações da profissão, através da reinquirição, num pequeno intervalo de tempo, de 17600 pes-
soas activas, cuja situação plofissional nâo se tinha alterado desde a data do recgrseamento. Veja-se
ainda, do mesmo autor, "L'Economie du Codage Social", Critiques dc l'Ecorwkb Politique,23-24, E
1983, pp. 188-222 e, especificamente sobre a questão da qualificação nas empresas no espaço rural e
no urbano, FRANÇOIS EYMARD-DLIVERNAY, "Qualification, Poste, Salaire; étude sur I'industrie
horlogêre", Archives et Doctunetús,38, 1981, pp.82-104.
(28) Veja-se THEVENOT, op. cit., e ainda MARYSE HUET, "[,es catégories statistiques utili-
sées pour classer les épouses et enfants d'agriculteurs; des principes à I'usage effectif', Archives et Do-
cunlcnts, 38, 1981, pp. 4l-82.
R.{ o rNgaÉRrro PoR guESTroNÁRro 179
dicionais das mulheres, como é o caso, por exemplo, dos cuidados dispensados às
crianças com menos de um ano de idade, ou que a declaração verse sobre a profissão
da própria mulher. Neste caso, por exemplo, elas dizem-se "padeira" ou "trabalha-
dora na terra" e eles corrigem para "doméstica" ou "ajudante". As correcções dos
homens, mais do que reveladoras da situação profissional das mulheres, são indica-
doras da natureza das relaçóes entre homens e mulheres e da adesão aos estereótipos
sociais do duplo papel da mulher como esposa e mãe (adesão que se verifica, aliás,
nas próprias mulheres, como é evidente).
A natureza das tarefas desempenhadas pelas mulheres na empresa familiar tam-
bém é importante para a determinação das respostas. Quanto mais elas fazem traba-
thos diferentes ou complementares dos dos homens, mais facilmente estes trabalhos
serão corlsiderados uma extensão das actividades domésticas e, daí, as designaçóes
de "doméstica" ou "ajudante" €l). Por esse motivo, também não é suficiente recorrer
ao critério do número de horas semanais de actividade paÍa definir a situação profis-
sional das mulheres (15 horas, no caso do INE).
em concretizar certos aspectos à categoria só-
têm a com o
mas com :r
e como :t
outras so-
desempenhadas e o sector e ramo de actividade. No ca-
será necessário acrescentar algumas perguntas que aju-
dem a especificar as condições de exercício profissional, como o recurso a ajudantes,
familiares ou não, regularidade de venda ou compra de força de trabalho, investimen-
tos, tipo e quantidade de produtos colocados no mercado, número de clientes, ho-
rário de trabalho, etc.. Tendo em vista as actividades camponesas deve-se incluir
ainda perguntas sobre áreas cultivadas, forma de exploração da terra, aluguer de má-
quinas, trocâ de trabalho, inputs industriais, etc..
Chegados aqui, não se resistirá a julgar excessivo o número de perguntas. São
.perguntas a que a generalidade das pessoas, particularmente as que mais fogem às si-
tuações padronizadas, não gosta de responder. Por isso é grande a tentaçáo de as eli-
minar. Não são raras as vezes em que os investigadores cedem a essa tentação, lamen-
tando mais tarde tê-lo feito, face a Íespostas vagas e imprecisas que só com muita
"força de vontade" podem ser enquadradas numa das categorias. Entáo a reacçáo ten-
de a ser a de incluir essas respostas nas categorias intermédias. De modo a "náo for-
çar muito". Imaginemo-nos depois a correlacionar os fenómenos com uma estrutura
em que essas categorias foram artificialmente empoladas (32). Esm é, precisamente,
uma das grandes limitaçoes ao uso sociológico do inquérito. A extensão que este aün-
s giria se cada um dos aspectos conceptuais envolvidos nas hipóteses fosse traduzido
em perguntas afectaria irremediavelmente a sua exequibilidade, por razóes de ordem
l logística, financeira e prâttca. De ordem prâtica também porque se tem que contar
com outra face da moeda. Qualquer inquérito demasiado extenso e desde que a en-
: trevista ultrapasse os 45/60 minutos, pode ser classificado como - tal provoca a
S
renitência e o enfado dos inquiridos, reacções que podemos facilmente- entender se
pensarmos na intromissão que o inquérito representa no seu dia-a-dia. De todas as
maneiras não se pode falarem terÍnos absolutos da duração do inquérito. Tudo depen-
de dos temas,,do tipo de perguntas e, fundamentalmente, como o percebera o publi-
cista Joseph-Ethienne Jouy hájá quase dois séculos, de quem sáo os inquiridos. São
conhecidas as dificuldades dos investigadores em "porem a falar" as pessoas su-
perocupadas do mundo dos negócios ou aquelas cujas funçóes profissionais passam
por "fazer falar os outros". E o caso dos advogados, juízes, assistentes sociais, mé-
dicos e... investigadores (policiais ou sociais). Em'consequência destas limitações,
acaba-se por optar pela redução do número de perguntas, com claro prejuízo para a re-
levância teórica dos resultados.
1 Estas observa$es sáo importantes para a elaboração do questionário, mas são-
-no, sobretudo, para a contextualizaçáo dos resultados, imprescindível para fundar
S
teórica e empiricamente a interpretação. A justificação para a extensão rlas observa-
çóes feitas ultrapassa em muito a importância reconhecida às questóes relacionadas
com as categorias sócio-profissionais. Com efeito, estas funcionaram como pretexto
para referir uma série de situações correntes na aplicação do questionário e abordar a
questão da utilização sobreposta e descontrolada de diversos sistemas de categorias
das características ditas "objectivas". Efectivamente, para qualquer aspecto das práti-
cas sociais que se considere é muito amplo o espectro de categorizaçóes existente e
muito variadas as suas fontes de inspiraçáo €3),
B. Perguntar como?
;: !-14 e NICOLAS HERPIN, "Comment les gens qualifient-ils les tenues vestimentaires?".
-. -i €: Sratistique, 168, 1984, pp.3744.
VIRGÍNIA FERREIRA o
182
tação das respostas. Se forem conhecidas as tendências de certo grupo social para rea- d
girde determinada forma às perguntas abertas, por exemplo, poder-se-á tentar contra- d
riá-las fechando essas perguntas. Mas se o inquérito for também dirigido a outro gru- C
po social, com tendências contrárias, não será possível contomar igual e simultanea- I
mente ambas as tendências. Esta dificuldade constitui, aliás, mais uma limitaçáo ao q
uso sociológico do inquérito porquestionário e amostragem aleatória aplicado indife-
renciadamente a vários grupos sociais. Se se souber que a amostra contém grupos I
que reagem de maneira diferente à mesma pergunta, a operação de agregação das res- q
postas não pode ser feita desprevenidamente e estar-se-á pouco confiante parafazet Í
análises comparati vas entre as Íespostas dadas pelos diferentes grupos. Deste modo t
rito é muito mais eficaz se for a um só grupo. No t
caso de o objectivo ser a comparação inter-grupos, as no (
podem significar alteraçáo na inteligibilidade das perguntas e, deste modo, retirar le-
gitimidade formal à comparação. Contudo, essa alteraçáo pode não diminuir a legi-
timidade teórica da comparação, tudo depende da possibilidade de anular essas alte-
raçóes através de equivalências teóricas estabelecidas sob o comando de um sistema
integrador de referênci as.
A primeira hesitação que surge no momento de traduzir questões em perguntas é
r estas devem ser fechadas ou abertas. As fechadas condicionam mais as res-
postas de certos grupos, no da imposição da problemá-
tica. Em contrapartida, facilitam enorrnemente a anotação no acüo de inquirire o apu-
ramento dos resultados. Já o proporcionarem maior comparabilidade dos dados, van-
tagem que lhe é geralmente atribuída, pode serobjecto de alguma dúvida, face ao que
(34) Veja-se, por exemplo, FRANÇOIS DE SINGLY, "La gestion sociale des silences", Corxorn-
maÍion, 4, 1982; NICOLE TABARD, "Refus et approbation systématiques dans les enquêtes par son-
dage", Consonunation,4, 1975, pp. 59-76.
(35) Por exemplo, SCHUMAN e PRESSER, obra já citada, e NICOLAS J. MOIENAAR, "Non-
Experimental Research on the effects of the wording of questions in survey interviews", Quality and
Quantity, 16, 1982, PP. 69-90.
A o rN QUÉRrro PoR SUESTTONÁRÚO 183
le já se disse acerca do modo diferente como os grupos sociais podem reagir à mesma
pergunta.
)- Dado o elevado número de inquéritos exigido pela representatividade estadstica,
is as vantagens das perguntas fechadas acabam por vingar e as desvantagens por ser mi-
o nimizadas. Para minoraros seus efeitos
., verá ser construída a da análise de a uma
I. ta aberta um ou um e
i_
a as ãVãnÇãdãSter-ad"-u-Írason€spon-dência
a @namentosmaiscorrentesepoderãoenquadraramaioriados
inquiridos. Embora, especialmente nas questões relativas a atitudes e opiniões, não
possa existir nunca a pretensão de exaustividade.
A sujeição às regras do jogo propostas é uma práticacomum e são raras as vezes
)- em que são assinaladas hipóteses não previstas. Mesmo que náo se trate de uma atiru-
t- de expressa de sujeição, pode simplesmente emergir um certo comodismo, pois não
t-
deixa de ser mais fácil tomar posição sobre enunciados do que fazer o esforço da
t- enunciação. Ou então dar-se um efeito de atracção pela resposta que parece socialmen-
I- te mais desejável ou atraente aos olhos do respondente, simplesmente porque pensa
o que "fica ou soa bem".
Os mesmos efeitos podem, aliás, determinar as respostas a perguntas abenas. Às
§ vezes responde-se aquilo que se afigura mais simples de enunciar, de acordo com o
)- que se pensa que deve ou pode ser respondido. Esta renúncia a expor a própria posi-
)r
ção pode sobrevir à percepção de que esta é "muito complicada". Tal sensação advém
o geralmente do facto de se julgar a própria posição pouco comum. Estaremos, assim,
o perante mais uma das razões pelas quais se afirma que o inquérito por questionário
o captaa reprodução, mas não a transgressão, da "normalidade" social. Apesarda reco-
)- mendação de fechar as perguntas a partir da análise de respostas a perguntas abertas
i- em pré-inquérito serconstantemente feita nos manuais, são raras as investigações em
:- que é seguida. Umas vezes por alegada falta de tempo ou de meios, outras, talvez as
a mais frequentes, porque os investigadores náo lêem os manuais, como desconfia Gal-
tung, ou porque, como alvitra Cicourel, as pÍEocupaçôes de rigor so surgem com a
necessidade de interpretar os resultados.
A inclusão das alternativas "náo sei" e "não tenho opinião" é outra das questóês
suscitadasporalgunseStudosex@,sabendocomoesSaS
alternativas podem funcionar como refúgio em certas perguntas, evitam incluí-las e
OS são aconselhados no sentido de só as aceitarem depois de alguma in-
o
nas em que as aparecem em média, mais de 22Vo das respos-
tas. Na opiniáo dos autores, se se quiser uma opinião fundamentada sobre um pro-
blema em particulaq deve-se recoÍÍer a uma perguntâ filtro que contenha as hipóteses
"náo sei" e "não tenho opinião". Se, no entanto, se pretender antes detectar valores,
ideologias e atitudes, então poder-se-á eliminar a questão filtro e incluir essas hipote-
ses nas próprias questões. Relativamente às posições intermédias, do tipo "-nem con-
cordo, nem discordo", os mesmos autores são de opinião que deveriam passar a ser
184 VIRGÍNIA FERREIRA ol.
Cada pergunta contém viírios sentidos semânticos, suscita graus de interesse dife-
renciados e pode resultar em alguma confusáo ou, mesmo, em algumas não-res-
postas. A ocorrência e intensidade destas contingências serão tanto mais acentuadas
quanto mais heterogénea for a populaçáo que constitui a amostra.
CS
C. Perguntar a quem?
q.t
Depois de uma elaboraçáo incorrecta do problema da pesquisa e uma formulaçáo
náo pertinente ou capciosa do questionário poderá suceder-lhe um erro de amostra- IÍi
I gem A defini da amostra deverá ser feita em estreita ligação com os objectivos teó-
ricos. O mals grave, e o mals raro, perguntas não sabe as respos-
-
ü
à
Er
(36) Cf. SCHUMAN e PRESSER, op. cit., caps. 4 e 6.
(37) C. F. CANNELL e R.L. KAHN, Tle dyrwmics of intervbwing, Nova Iorque, John Wiley,
1957, cit. em CICOUREI' op. cit..
(38) Op. cit.,p.12.
o rNQUÉRrro PoR guESTroNÃRro 185
tas ou cujas respostas não nos interessam. Menos raro, poÉm, é o erro que resulta
da escolha da técnica de amostragem menos adequada para "encontrar" a população a
inquirir. Neste sentido, a amostragem totalmente aleatória e simples écada vez menos
usada em inquéritos sociológicos pois fomece uma visão muito atomística e fragmen-
tát',a da população abrangida. Assim, tem-se vindo a intensificar o recurso à amostra-
gem po! áreas. Em primeiro lugar, porque exlge um ume
ções contexruais básicas sobre as populaçóes das áreas. Estas são definidas a priori e
de acordo com critérios teóricos e informaçóes gerais. Para o universo rural basta a
relação de lugares do INE, por freguesias, enquanto que para o urbano será necessá-
rio um bom mapa da cidade e, se possível, os índices de ocupação de cada quartei-
rão. O concelho ou a freguesia podem funcionar como unidades primárias de amostra-
gem (3e).
Por outro lado, esta técnica permite a ualizaçáo de diferentes métodos de selecção
em diferentes fases do processo de amostragem. Pode começar-se por uma amostra
teoricamente qualificada, definindo uma área,depois uma amostra proporcionalmente
estratificada em função do volume populacional ou de qualquercaracterística da popu-
lação de cada aglomerado em que a área foi dividida (concelho ou freglesia) e, final-
mente, a selecção probabilística ou sistemática das unidades a inquirir. E fundamental-
mente por esse motivo que, para além de reduzir os custos, este processo de amostra-
gem pode oferecer-nos uma amostra mais homogénea, do ponto de vista da perti-
nência teóica,uma yez que os elementos que a compóem sáo escolhidos por grupos
e não individu2lrnsnE (40).
(39) Uma questão completamente diferente será a delimitação dos espagos rurais e urbanos. Os cri-
térios adoptados podem ou não coincidir com os utilizados pela administração para a classificação dos
aglomerados em cidades, vilas e aldeias ou das freguesias em urbanas e rurais. Os critérios sociológicos
devem derivar da pertinência teórica atribuída a qualquer característcia evidenciada pelos aglomerados.
Essa propriedade tanto pode ser o volume da população como a localização no aglomerado de cerüos
equipamentos colectivos ou, ainda, o facto da população se dedicar predominantemente a certas activi-
dades.
(40) Veja-se o processo de constituição da amostra por áreas no inquérito aos padrões de aleitamen-
to maúemo no diskito de Coimbra, in World Health Organization, Hospital Pediátrico e Faculdade de
Economia, "Breast-Feeding Survey Preliminary Report", W.H.O., no prelo.
-
186 VIRGÍNIA FERREIRA OI:
que a populaçáo daquele universo não tenha sido enviesadamente seleccionada por
via da acção de um qualquer factor ou critério. Mesmo no caso de uma amostia estra-
tificada, apenas se definem proporçóes das subamostras, garantindo-se todavia que
estas sejam casuisticamente constituídas. Portanto, a aleatoriedade é a base de suporte
de toda alógicade inferência estatística que se vai aplicar aos dados apurados. Além
disto, a rqpresentatividade estatística da amostra está também relacionada com o plano
de exploraçáo dos dados , definido pelo investigador.-A_alrostra deve ser suficiente-
tt
ii tir a análise multivariada com a dé@s
que se deseje. , coITe-se o SE que
tos, face à não representati vidade do escasso número de casos apurados. Por esta
razão se referiu, logo no início, que o plano de exploração e de análise dos dados
deve ser definido em paralelo à determinaçáo da amostra e ao desenho do plano de
amostragem.
Para o segundo daqueles pontos de vista (a interpretação sociológica), uma amos-
VA se contiverelementos qu@dadês e as
nuances socrals AS
ineficientes. Todos lemos Kuhn e sabemos que é na procura de soluçóes para estas
"anomalias" que se forjam as revoluçóes científicas. Porém, falta-nos a confiança na
técnica de inquérito por questionário para enfrentar tal desafio. Esta falta de confiança
prende-se, ao que julgo, com o facto de esta técnica ser daquelas em que o inves-
tigador mais delega funções.
Definida a amostra, o inquérito ensaia os primeiros passos fora da alçada do in-
vestigador, por assim dizer. Chegou a vez de testar o questionário e os inquiridos,
tanto na sua capacidade de rnquirir como na de encontrar coÍrectamente as pessoas
que, de acordo com a amostragem, devem ser inquiridas. A partir daqui o investi-
gador delega funções e até responsabilidades de controlo (supervisor). Mesmo que,
do ponto de vista teórico, a pesquisa tenha sido coÍrectamente perfilada até este mo-
mento, será a partir de agora que se vão multiplicar as fontes de incorrecções, seja na
recolha, seja no tratamento dos dados.
t
I
)
4.INTERACÇÃO INQ urRrD o R/TNQIjERITO/INQUTRID O
t
I
Nesta fase, as recomendaçóes dos manuais recaem sobre o rigor exigido relativa-
mente aos critérios de recrutamento de inquiridores e sobre o grau da sua preparação
para obterem boas entrevistasjunto das pessoas certas, de acordo com os objectivos
da pesquisa e as exigências do plano de amostragem.
Vejamos, por exemplo, tudo o que é aconselhado para o trabalho de campo no
texto de A. Campbell e Katona:
dagem aos inquiridos até às diversas siruaçóes-problema que podem ocorrer durante
a entrevista (razóes da escolha do entrevistado, formas de convencer os renitentes a
responder, modos de superar as falhas de memória, as respostas "não sei" ou as re-
cusas de respostas a perguntas concretas); de os instruir com técnicas de anotação e,
finalmente, de os supervisar.
Todos estes aspectos são importantes no treino dos inquiridores, mas não restam
l! dúvidas que todos os manuais sublinham a imprescindibilidade de estes possuirem
boas capacidades de entrevistador. Quanto a saber quais sáo essas capacidades, as
opinióes oscilam, por um lado, entre a neutralidade e a impessoalidade como aliadas
privilegiadas de uma atitude prôfissional (L. Festinger, por exemplo) e, por outro 1a-
do, a capacidade de estabelecer uma boa relação com o entrevistado (H. Hyman, W.
Goode e P. Hatt). Ou seja, devem ser pessoas de trato fácil e treinadas no diagnós-
tico e na superação de todo o tipo de tensóes. Capazes de conquistar o entrevistado,
mas também de manter a distanciaçáo técnica e competente relativamente a este.
Poder- se- á as si m di zer q ue na re l ação de entre vilta Íegg:t tggg_É gli gr-q_o. gq 9!!Ig
-
yisja{gy qu_e_conquiste a cag_pggglg. ig_ent_r9y_ist49_9.que, durante o decorrer da-
quela, evite o envolvimen g_qbslry À sUggq!ão-e à ln_duçãg de
respostas e a contrariar os fenómenos psico-sociais (identificaçáo, manipulaçáo e
outros) deseircadeadó§ pela siiüação'de iÀquirição.
O pressuposto de todos os manuais, e é isso que interessa realçar, é que o entre-
vistadorcompetente e bem treinado, munido de um questionário correctamente elabo-
rado e preparado para evitar os múltiplos mecanismos psicológicos da distorção, é ca-
paz de obter a informação desejada, apesar dos obstáculos suscitados pelo facto de a
entrevista ser um processo de interacçáo social (42).
A longevidade deste pressuposto é tanto mais de estranhar quanto, desde os anos
quarenta, têm vindo a ser feitos trabalhos que nos fornecem elementos que levam a
pensar não haver maneira de tomear aqueles obstáculos, pois eles referem-se a aspec-
tos inerentes a qualquer situação de interacção social. A verdade porém é que os resul-
tados daqueles trabalhos acabaram por figurar nos manuais da técnica de inquérito a
tín-rlo de mera advertência e geralmente relamdos com estatuto anedótico. Foi na dé-
cada de sessenta que aqueles problemas passaram a ser objecto de investigaçáo pró-
pria, sem carácter ad hoc, e os seus resultados começaram, já nos anos setenta, a ser
seriamente incorporados no sabef sociológico acerca da pesquisa empírica.
Ao longo do texto, tem-se vindo a configurar a ideia de que não há questionários
perfeitos. Vimos como pequenas alteraçóes na ordem das perguntas e na sua formula-
çáo afectam significativamente as respostas dadas. Assim, foi possível problematizar
os critérios dessa suposta perfeição em si mesmos. Mas perfeição relativamente a
quê? A capacidade de produzir um relato fidedigno da realidade que se pretende co-
nhecer? Mas nós não podemos coúecer "a Realidade" ! Em contrapartida, temos re-
presentafres da realdade. De duas realidades, melhor dizendo. Uma respeita à reali-
(42) A título de mero exemplo, cf. WILLIAM GOODE e PAUL HATT, Mérodos em Pesquisa So-
cial, S:ero Paulo, Comp. Ed. Nacional, 1968, pp. 237-268,21 eÁ.,Íed. orig., Nova Iorque, 19521.
o rN gu ÉRrr o P oR 8u E srIO NÁRIO 189
dade que queremos configurar com as respostas que obtivemos e sobre as quais
temos hipóteses e pistas que procurámos seguir e armadilhas com que tentámos cap-
turá-las. A outra refere-se à realidade resultante da própria situação da entrevista que
é geradora de sentidos muito ambivalentes e relativamente aos quais não possuimos
elementos suficientes paÍa a sua denotação (a não ser que a pesquisa se transforÍne
em algo incomportável, como seja uma análise de caso para cada respondente). Esta
falta de controlo das representações accionadas durante a entrevista acaba inelutavel-
mente por afectar a fiabilidade com que podemos encarar a realidade resultante das
respostas obtidas nesse quadro.
Em suma, confrontamo-nos com a necessidade de fazer mediar a nossa leitura
das respostas pela representação que o inquirido constrói da situação. O problema re-
side no facto de náo termos acesso directo às linhas gerais dessa representação e ficar-
mos limitados a conjecturálas. Neste sentido, considero que falarda perfeiçáo de um
questionário implica hipostasiar uma situaçáo de entrevista. Será no prolongamento
desta linha de raciocínio que se chega à rejeição da expressão enviesamento das res-
postas, geralmente usada nos manuais para designar o efeito de desvio entre a res-
posta dada e aquela que corresponderia "à verdadeira situaçáo, ao real comporta-
mento e à efectiva opinião" do inquirido. O recurso a essa expressáo é revelador da
adesão a uma versão intimista e substantiva "da verdade dos inquiridos". Como se
existissem, de um lado, as declarações prestadas no quadro da entrevista e, do outro,
os actos e os pensamentos as reais manifestações daquilo que os inquiridos são
verdadeiramente. -
O conceito de representaçáo social e, mais especificamente, de função adaptativa
da representação, propostos por Moscovici, podem ser de grande utilidade na contes-
taçáo do substancialismo. Segundo o autor, a função adaptativa da representação,
mas por simples desejo de resolver rápida e eficientemente a srtuação em que se viu
envolvido. Nestes casos, resolverefi cazeefrcientemente a situação traduz-se em pres-
tar a informação que lhe é solicitada o melhor possível, medido em termos dos seus
próprios objectivos e das suas projecçôes da actividade científica. Isto implica a
apreensão dos objectivos do inquiridor e a definição de uma estratégia adequada. Ou
(43) SERGE MOSCOVICI, Ia Psychanalyse son inuge et son publíc, Paris, PUF, L976, 2c
ed p. 48. -
190 VIRGÍNIA FENNNMI, o r-\
sej a, figurar qual a imagem que melhor lhe serve e tentar transmiti-la de um modo coe-
rente e de molde a escusar-se aos juízos negativos do entrevistador.
Em face desta análise torna-se incongruente continuar a falar de enviesamento ou
distorção das respostas. Aquilo que uma pessoa declara numa entrevista é o conteúdo
da imagem que pretende sua naquele contexto e tanto quanto é capaz de configurar.
Assim, a verdade é sempre pragmática e referenciada a um contexto de interacçáo.
il Sendo outro o contexto situacional, será outra a informação produzida (44)'
Galtung coloca a questão em termos ligeiramente diferentes. Para ele a coffespon-
dência entre atitudes e comportamentos, pensamento e verbalização e entre acção e
verbalização pode sermera questão de ordem moral, cultural e individualmente situa-
da. O guiáo de observação que hoje acompanha frequentemente o questionário, e que
deve ser preenchido pelo inquiridor durante ou no final da entrevista, representa uma
tentativa de complementar a informação dada pelo inquirido e de a corroborar ou não.
E considerado particularmente importante para verificar a correcção dos rendimentos
e níveis de consumo declarados ou para contextualizar de uma forma mais abrangente
o universo inquirido ou a situação de entrevista. No fundo, é uma tentativa de com-
promisso entre a técnica de inquérito e a observação participante, que acaba por susci-
tar alguns problemas. Suponhamos que os dados da observação contrariam as decla-
rações verbais do inquirido. O que é que se deve fazer? Decide-se que este mentiu
com a prática ou com apaTavra? E se essa discrepância for apenas fruto dos critérios
de categorização da observação? Que confiança podem merecer, aos olhos do investi-
gador, as categorizaçóes feitas pelo inquiridor? Finalmente, qual o dado que vai ser
reificado no computador? Tudo leva a crer que será a informaçáo dada pelo in-
quiridor. Galrung sugere que se privilegie as declaraçóes do inquirido. Na sua opi-
nião, o que interessa é o facto de este ter sentido a necessidade de responder de certo
66d6 (as). O importante é pois a compreensão da força simbólica atribuída pelo inqui-
rido à situação social representada nas suas respostas. Isto não significa que o guiáo
de observação seja inútil. Pelo contrário, doutro modo não conseguiríamos detectar
as discrepâncias. Quanto mais diversificadas forem as técnicas, mais finos serão os
dados obtidos e todos representam diferentes dimensóes das práticas sociais e todos
têm a sua validade própria. Nestes tennos, as respostas ao inquérito não devem ser
(44) Além disso, a representação do objectivo do inquérito e a do inquiridor estão intimamente arti-
culadas com o papel a que o inquérito apela, e as respostas dependerão também da representação desse
papel. Não será indiferente inquirir a mesma pessoa enquanto pai ou mãe, profissional, munícipe, ci-
dadã(o), ou trabalhador(a) na empresà X. Com efeito, se adoptarmos o conceito de papel com a actuali-
zação proposta por ERVING GOFFMAN, de acordo com a qu41 o papel, para além de um conjunto de
comportamentos normativizados, é também uma ocasião para cada pessoa se exprimir, teremos várias
identidades para papéis diversos. A própria ideia de que a identidade pessoal e social náo tem um estatu-
to ontológico, mas se revela a cada instante na sua plasticidade às relações sociais, constitui um dos
contributos importantes do autor para a compreensâo dos fçnómenos da interacção social. Veja-se, do
auior, principalmenteThe Presentation of Self in Everyday Life,Nova Iorque, Anchor Book, 1959.
(45) Cf. JOHAN GALTUNG, Teoria y Método de la Investigación Social, Buenos Aires, Eudeba,
1973, t. 1, caps. V e VI [ed. orig., Nova Iorque, 1966].
-J
o rNOUÉRrro poR euEsTroxÁnto 191
(46) Uma especificidade deste tipo de inquériüc reside na dificuldade em fazer funcionar certas estra-
tégias de ordenaçâo de perguntas. Dá-se o caso de o inquirido poder, uma vez perante o questionário,
192 VIRGÍNIA FERREIRA o L\Qt
I _it
o rNQaÉRrro PoR QUESTTONÁRÚO 193
(49) DANIEL BERTAUX tem vindo a desenvolver esforços que caminham neste sentido, procu-
rando integrar atécnica de inquérito com a abordagem biográfica. Na sua perspectiva a dificuldade
maior vem precisamente da inexistência de técnicas de análise adequadas aos dados longitudinais, uma
vez que as desenvolvidas até aqui se destinavam a analisar dados produzidos por cortes transversais na
população. Este tipo de corte, que tem dominado a prática sociológica do inquérito, reflecte um certo
estado mas não um processo. É conveniente nâo confundir a técnica de painel introduzida por ta-
zarsfeld com os inquéritos longitudinais. Enquanto através da primeira é possíiel avaliar variações em
estados separados no tempo, os segundos permitem reconstituir um processo em função de um estado
do tempo presente. Veja-se, do autor, Histoires deVie- Ou Récits de Pruiques? Méthodologie de l'ap-
proche bbgraphique en Sociologie, Paris, Centre d'Efude des Mouvements Sociaux, 1976, mimeogra-
fado.
_.t
A o rNQUÉRrro PoR SUESTIONÁRIO 195
n-
ORTENTAÇÃO nrnlrocRÁFrca
a-
l-
ls Seria eúdentemente impensável fazer do presente texto um manual sobre inquérito. Por
variadíssimas razóes, dentre as quais não serádespiciendaaquedecorre daexisênciade umle-
?Í
que razoável de manuais que podem ser usados de forma complementar. Nenhum deles é
i- perfeito ou coÍresponde na essência ao que cada um dos possíveis utilizadores exigiri4 mas
cada um pode ser de consulta mais proveitosa quanto a certos aspectos. Nesse sentido é difí-
r- cil encontrff o Manual de Inquérito, mas é possível usar com proveito alguns dos existen-
ro tes. Pelo menos de um ponto de vista estritamente pessoal, que é sempre o que prevalece em
,: assunüos relativos a roteiros bibliográficos.
Se me fosse sugerido que elegesse o melhor manual talvez apontasse a obra de RODOL-
a- PIIE GHIGLIONE e BENJAMIN MATALON, Les Enquêtes Sociologiques et
Pratique, Paris, Armand Colin, 1978, 301 páginas. -Théoies
Là
Trata-se de um trabalho marcadamenrc reflexivo que, apesar disso, não perde nunca de
!.u vista os aspectos práticos. O capítulo 2 contém uma boa abordagem das questões relativas à
a- amostragem; o cap. 3 coloca pertinentemente as implicaçóes da interacção entre inquiridos e
as inquiridores e o cap. 4 em indicações de grande utilidade na constnrção do questionário.
.te Há no entanto que Íe,correr a ouüas obras:
]S MADELEINE GRAWTIZ, Méthodes des Sciences Sociales, Paris, Dalloz, 19'15,2
s- -
volumes. Existe uma edição em Espanha, também em 2 volumes, publicada pela Editorial
)S Hispano Europea de Barcelon4 com o título Métodos y Técnicas de las Ciencias Sociales.
E uma obra especialmente útil no planeamento do inquérito (Cap. 11 do 20 Vol.), na for-
mulação de perguntas e na análise dos problemas suscitadas pelo trabalho de campo (Cap.
14-Secção I também do 2a Vol.).
u- CLALIDE JAVEAU, L'Enquête par Questionnaire Manuel à l'Usage du
de - -
Practicien, Bruxelas, Éditions de lUniversiÉ de Bruxelles, 1978, 157 páginas.
D'I
Contém indicaçóes práticas quanto à economia do questionário (Secção C), do confiolo
na
do rabalho de campo e do apurameno dos dados (Secção D).
to
JOHN GALTUNG, Teoia y Método de la Investigacián Social, Buenos Aires, Edio-
a- -
rial Univenitária de Buenos Aires, 1966, 2 volumes (5t ed. 1978). Um tano formalista
m
lo
-
mas com uma perspectiva interessante e pouco simplista de cerúos procedimentos práticos.
p' Tem boas abordagans dos problemas com que nos defrontamos na recolha de informação
a- (Caps. V e VI do 10 Vol.) e dos testes estatísticos para análise de resultados (Caps. IV e V
do 20 Vol.).