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HISTÓRIA ECONÓMICA E SOCIAL
Cap. I
Se algumas nações são ricas e outras pobres, porque não adoptam as pobres os métodos e
políticas que tornaram as outras ricas?
Na verdade essas tentativas foram feitas, mas, na maior parte dos casos, sem grande
sucesso:
1. Não há acordo generalizado sobre os métodos responsáveis pelos rendimentos
mais elevados das nações mais ricas.
2. Mesmo que esse acordo existisse, não é de forma alguma certo que os métodos
e políticas semelhantes produzam os mesmos resultados nas diferentes
circunstâncias geográficas, culturais e históricas das nações com parcos
recursos.
3. Embora tenham sido feitas muitas investigações sobre o problema, os
estudiosos e cientistas ainda não elaboraram uma teoria de desenvolvimento
económico que seja operacionalmente útil e aplicável na generalidade
A análise histórica pode focar, duma forma que as outras abordagens não podem, as
origens dos níveis de desenvolvimento desiguais que existem presentemente.
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Produto interno bruto (PIB) – é normalmente um valor intermédio entre o PNB e o
rendimento nacional.
Desenvolvimento económico – é o crescimento económico acompanhado por uma
mudança estrutural ou organizacional substanciais na economia. A mudança estrutural
ou organizacional pode ser a causa de crescimento, mas não necessariamente; por
vezes a sequência causal segue na direcção oposta, as 2 mudanças podem ser ainda o
produto comum de outras mudanças; dentro ou fora da economia.
Factores de produção:
- terra
- mão-de-obra
- capital
- dinâmica empresarial (opcional)
Uma classificação deste tipo considera a produção total num dado período de tempo e
a sua taxa de mudança através do tempo como funções da «mistura» de populações,
recursos, tecnologia e instituições sociais. Estes 4 factores não são variáveis únicas;
cada um é um aglomerado de variáveis.
Os recursos são a vasta «terra» dos ditames da economia clássica. O termo abarca não
apenas a quantidade de terra, a fertilidade do solo e os recursos naturais convencionais,
mas também o clima, a topografia, a disponibilidade de água e outras características do
ambiente natural, incluindo a localização.
Em séculos recentes, a inovação tecnológica tem sido a fonte mais dinâmica de mudança e
desenvolvimento económicos.
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O inter-relacionamento da população, recursos e tecnologia na economia é condicionado
por instituições sociais, incluindo valores e atitudes. Este conjunto de variáveis é por
vezes, também chamado contexto sociocultural ou matriz institucional da actividade
económica.
Instituições mais frequentemente relevantes:
- Estrutura social (nº, dimensão relativa, base económica e fluidez das classes
sociais).
- A natureza do Estado ou regime político.
- Propensões religiosas ou ideológicas dos grupos ou classes dominantes.
Produção e produtividade
Produção - é o processo pelo qual os factores de produção são combinados para produzir
os bens e serviços desejados pelas populações humanas. A produção pode ser medida em
unidades físicas ou em termos de valor (monetários).
Produto marginal – é a diferença entre o trabalho realizado por ex: entre um trabalhador
que produz 10 alqueires, ao juntar-se outro trabalhador produzem 25 alqueires, o produto
marginal é de 15 (25-10=15).
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Estrutura económica e mudança estrutural
Estrutura económica – (não confundir com estrutura social, embora ambas se relacionem)
trata as relações entre os vários sectores da economia, especialmente os 3 sectores
principais: primário, secundário e terciário.
O uso vulgar do termo logística aplica-se à organização de provisões para um grande grupo
de pessoas. Mas logística é também uma fórmula matemática. A curva logística que dela
deriva tem a forma dum S e é, por vezes, designada por curva em S:
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A curva tem 2 fases, uma de crescimento acelerado seguida por uma fase de
desaceleração; matematicamente, no seu limite a curva aproxima-se assimptoticamente
duma linha horizontal que é paralela à assimptota de origem.
Tem-se observado que as curvas logísticas podem igualmente descrever com algum rigor
muitos fenómenos sociais, especialmente o crescimento das populações humanas.
Y= f (P,R,T,X)
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A taxa de mudança ao longo do tempo é:
dy : dt = df :dt
Cap. II
A unidade da organização social era o bando, ou tribo, consistindo em cerca de meia dúzia
de famílias. Era essencialmente migratório, perseguindo a caça, mas limitava normalmente
as suas migrações a uma área geográfica restrita e podia regressar, a intervalos
periódicos, a um centro cerimonial como um bosque ou gruta sagrados.
O contacto entre bandos ou tribos era provavelmente raro, mas não tão raro que
evitasse a difusão de características sociais e técnicas, e talvez algum comércio de
troca primitivo, onde se incluiria a troca de mulheres.
A partir de restos de esqueletos, calcula-se que a duração média de vida era de não
mais de cerca de 20 anos.
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Estivessem ou não relacionadas com as mudanças climáticas, importantes mudanças
tecnológicas ocorreram também no quarto ou quinto milénio que se seguiu ao recuo
dos glaciares, especialmente no Próximo e Médio Oriente. As ferramentas de pedra (e
também objectos artísticos e religiosos) tornaram-se mais complexos e sofisticados.
Afiar e polir a pedra substitui os velhos métodos de raspar e lascar. Tinha chegado o
período do neolítico, ou Idade da Nova Pedra.
O período e localização exactos destas últimas realizações são ainda discutidos. Nem
sequer é certo que tenham ocorrido em conjunção uma com a outra embora pareça
provável que tal tenha acontecido, pelo menos quanto a alguns animais. O local mais
provável é algures denominado Crescente Fértil, a faixa de terra que se estende ao
longo do extremo oriental do Mediterrâneo, atravessando as colinas do norte da Síria e
do Iraque, descendo os vales do Tigre e do Eufrates até ao Golfo Pérsico.
Uma hipótese, é que a domesticação de plantas era trabalho de mulheres nas colinas
do norte do Iraque, ou Curdistão.
Por volta de 6.000 a. C., a agricultura organizada, que envolvia o cultivo de trigo e
cevada e a criação de carneiros, cabras, porcos estava bem enraizada em toda a região
que se estende desde o Irão Ocidental até ao Mediterrâneo e ao longo das terras altas
da Anatólia a ambos os lados do mar Egeu.
A Baixa Mesoptâmia- região entre os rios Tigre e Eufrates, mesmo a norte do golfo
Pérsico – região pouco promissora, tornou-se alicerce da primeira grande civilização
conhecida da História, a da Suméria, com grandes concentrações de pessoas, cidades
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agitadas, arquitectura monumental e uma profusão de tradições religiosas, artísticas e
literárias que influenciaram outras civilizações antigas durante milhares de anos.
As primeiras cidades, como Eridu, Ur, Uruk e Lagash, eram cidades-templo, isto é, a
organização económica e a religião centravam-se no templo da divindade padroeira local,
representada por uma hierarquia sacerdotal. Eram membros da hierarquia que dirigiam os
trabalhos de irrigação, drenagem e a agricultura em geral e que supervisionavam a
cobrança das receitas como tributo ou imposto.
Embora a escrita tivesse sido criada como resposta à necessidade de manter registos
administrativos, em breve passou a ter muitas outras utilizações: religiosas, literárias,
económicas.
Antes da ascensão das primeiras grandes civilizações urbanas, a estrutura social das
aldeias neolíticas de camponeses parece ter sido relativamente simples e uniforme. O
costume e tradição, interpretados por um conselho de anciãos, regiam as relações entre
os membros da comunidade.
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especializados, que provavelmente ascendiam a 90% da população total, viviam num
estado de servidão, senão de pura escravidão.
A terra pertencia ao templo (ou à sua divindade) e era administrada pelos
representantes da divindade, os sacerdotes.
As primeiras moedas eram aparentemente feitas de electro, uma liga natural de ouro e
prata que foi descoberta nos vales aluviais da Anatólia, mas devido à variabilidade
proporcional dos 2 metais em electro, os metais puros eram os preferidos.
Embora fossem cunhadas moedas de ouro e prata, a prata era mais abundante e mais
prática para o comércio. O papel dominante de Atenas no comércio e na cultura do séc. V
contribui também para a predominância da prata, pelo menos entre os Gregos; na verdade,
os 2 fenómenos estavam intimamente relacionados.
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A Idade de Ouro Ateniense foi tornada possível pela prata de Láurio.
O apogeu da civilização clássica, pelo menos nos seus aspectos económicos, ocorreu
durante o primeiro e segundo século da Era Cristã, sob o domínio de Roma.
Uma razão ainda mais fundamental para os limites, e derradeira falha, da economia
clássica transcende as causas imediatas do declínio de Roma: a falta de criatividade
tecnológica. Esta esterilidade tecnológica contrasta vivamente com o brilho cultural de
pelo menos alguns períodos da civilização antiga.
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Cap. III
Para enfrentarem as ameaças dos outros povos, os reis francos criaram um sistema de
relações militares e políticas, mais tarde chamado feudalismo, que moldaram ao
sistema económico em evolução.
Subjacente ao sistema feudal, mas com origens mais antigas e bastante diferentes,
estava a forma de organização económica e social chamada senhorialismo. O
senhorialismo começou a tomar forma no fim do Império Romano, quando os
latifundia (‘grandes quintas’) de nobres romanos foram transformados em
propriedades auto-suficientes e os agricultores forma vinculados ao solo por
legislação ou por pressões económicas e sociais mais directas e imediatas. As invasões
bárbaras modificaram o sistema, principalmente através da introdução de chefes
militares e de guerreiros nas classes governantes, e o senhorialismo recebeu o seu
cunho definitivo nos séc. VIII e IX, durante as invasões sarracenas, viquingues e
magiares, quando se tornava base económica do sistema feudal.
Modelo típico de senhorio era coisa que não existia. As variações geográficas e
cronológicas eram demasiado numerosas. Todavia, é útil criar um senhorio idealizado,
hipotético.
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- Arável
Eram normalmente propriedade comum, embora
- Pastagem ou prado
o senhor supervisionasse a sua utilização e
- Pinhal
mantivesse privilégios especiais nas florestas
- Floresta ou terra inculta
Sociedade rural
Havia distinções internas tanto no clero regular como no clero secular, baseadas no
estatuto social dos indivíduos que ingressavam na vida religiosa. Os filhos mais novos
das famílias nobres estavam frequentemente destinados, com ou sem formação
apropriada, a tornarem-se bispos ou abades.
Padrões de estabilidade
Forças de mudança
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A inovação mais importante da prática agrícola medieval foi a substituição duma
rotação trienal de culturas pela clássica rotação bienal da agricultura mediterrânica.
Estava intimamente associada a 2 outras inovações significativas, a introdução da
charrua de corte profundo e a utilização de cavalos como animais de tiro. Esta última
dependia de outras inovações nos arreios e aprestos dos cavalos.
O valor do estrume animal para fertilizar o solo era há muito conhecido, mas foram
levados a cabo esforços mais intensos para o recolher e conservar. A prática da
margagem (acrescentando greda ou cal ao solo) aumentou a fertilidade de certos tipos
de solos, como adição de turfa a outros.
A Europa expande-se
O facto de a agricultura ser sempre mais intensiva e produtiva nos arredores das
cidades que no campo sugere um papel importante para a procura urbana e para os
mercados.
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O comércio mais prestigiado e lucrativo foi, sem dúvida, o que estimulou o
reflorescimento comercial entre a Itália e o Levante.
Na segunda década do séc. XIV, tanto Veneza como Génova organizavam comboios
anuais regulares, as famosas esquadras de Flandres. Estas caravanas de mar alto
levavam mercadorias dos portos mediterrânicos directamente para o grande mercado
permanente de Bruges (e daí para a Antuérpia), assumindo, assim, algumas das
funções das feiras da Champanha.
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saques a descoberto aos melhores depositantes, assim criando novos meios de
pagamento.
Todo o negócio das feiras da Champanha era, na prática efectuado a crédito; no fim
duma feira, os lucros não concretizados eram transferidos para a feira seguinte, por
meio de cartas de feira, uma espécie de letra de câmbio. Embora as letras de câmbio
se tenham desenvolvido em relação com o comércio de mercadorias, eram por vezes
usadas como puros instrumentos financeiros, sem ligação directa às próprias
mercadorias.
Os cambistas – cuja tarefa era distinguir os valores dos diferentes tipos de moedas,
desempenhavam um papel muito importante nas feiras e nos burgos mercantis. Das
suas fileiras saíram muitos banqueiros. Só depois da segunda metade do séc. XIII é
que a Europa obteve, por fim, uma moeda realmente estável, o famoso florim de ouro
emitido pela primeira vez em Florença em 1252.
A maior e mais disseminada indústria era, sem dúvida, o fabrico de tecidos, embora a
indústria de construção, no seu todo, talvez estivesse num muito próximo segundo lugar.
Mais pequenas que as indústrias têxteis, mas estrategicamente mais importantes para o
desenvolvimento económico, as indústrias metalúrgicas e afins tiveram um progresso
notável em finais da Idade Média.
A maior abundância e preço mais reduzido do ferro foram, em parte, resultado duma
maior acessibilidade do minério de ferro e, principalmente de combustível (carvão
vegetal ), na Europa a norte dos Alpes. Melhorias na tecnologia, nomeadamente a
utilização da força da água para mover foles e grandes martinetes, foram, contudo
também elas importantes. Ao aproximar-se o princípio do séc. XIV, os primeiros
percursores do alto-forno moderno, que vieram substituir a chamada forja catalã,
fizeram a sua aparição. A organização de mineiros e trabalhadores metalúrgicos em
comunidades livres de artesãos, em contraste com os bandos de escravos dos tempos
romanos, facilitou, sem dúvida, a mudança tecnológica.
Outra indústria de grande utilidade prática que se expandiu apreciavelmente além das
dimensões clássicas foi a de curtumes e o trabalho em peles.
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É aos pensadores medievais, não aos filósofos clássicos, que devemos invenções tão
úteis como as lunetas e os relógios mecânicos.
A Peste Negra foi o episódio mais dramático na crise da economia medieval, mas não
foi de forma alguma a origem ou a causa dessa crise.
A Grande Fome de 1315-17 afectou todo o norte da Europa, dos Pirinéus à Rússia; na
Flandres, a região mais densamente povoada, a taxa de mortalidade saltou para dez vezes
mais que o seu valor normal. Há alguns indícios de deterioração climática do séc. XIV. Por
muito sérios que fossem estes problemas, não é provável que expliquem inteiramente a
estagnação e o declínio de toda a economia. Uma explicação mais geral é a sobrepopulação
face aos recursos e tecnologia disponíveis.
Na segunda metade do séc. XIV ocorreram revoltas, revoluções e guerras civis por
toda a Europa. Nem todas foram inspiradas por contenções de salários, mas estavam
todas relacionadas, duma forma ou doutra, com a mudança súbita das condições
económicas ocasionadas pela fome, peste e pela guerra.
Cap. IV
A Europa, especialmente a Europa Ocidental, foi a região do mundo que, desde o séc. XVI
até ao séc. XX, sofreu um crescimento e uma mudança mais dinâmicos. Foi em larga
medida, responsável pela criação da economia do mundo moderno, e a sua interacção com
outras regiões mundiais determina o modo e o momento da participação dessas regiões
nessa economia.
O mundo do Islão
O Islão, a mais recente das grandes religiões do mundo, teve origem na Arábia no séc.
VII d.C. O seu fundador, o profeta Maomé, tinha sido mercador antes de se tornar um
guia religioso e político. Por alturas da sua morte, em 632 d.C. tinha unido sob o seu
governo praticamente toda a península Arábica.
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Os Árabes originais eram, antes de mais, nómadas, embora alguns praticassem a
agricultura de oásis e tivessem alguns centros urbanos, como Meca. As terras que
conquistaram eram no seu todo, apenas ligeiramente menos áridas que a Arábia, mas
continham os dois berços da civilização, o vale do Tigre – Eufrates e o vale do Nilo.
O potencial agrícola deste território era muito limitado, mas a sua localização
conferia-lhe grandes possibilidades comerciais.
Como o próprio Maomé fora mercador, o Islão não considerava os negócios mercantis
actividades inferiores; pelo contrário, os mercadores eram encarados com honra e
estima.
Um dos princípios do Islão era a Jihad, ou guerra santa contra os pagãos. Justifica em
parte, o notável sucesso dos Muçulmanos em obter conversões, uma vez que aos
inimigos era dada a opção entre se converterem ou serem mortos. Em relação aos
Judeus e aos Cristãos, os Muçulmanos tinham uma política diferente. Como também
eles eram monoteístas, os Muçulmanos tributavam-nos mas toleravam-nos (talvez
outra razão para o sucesso das conversões conseguidas nessas comunidades).
Os Judeus, em particular, gozavam de grande liberdade no Islão.
Em resultado das suas conquistas no Império Romano Oriental, de língua grega, os Árabes
apoderaram-se de muitos ensinamentos da Grécia Clássica. Durante a Idade Média
Europeia, tornaram-se juntamente com os Chineses, os guias mundiais do pensamento
científico e filosófico. Muitos dos autores gregos antigos chegaram até nós apenas
através de traduções arábicas. A matemática moderna baseia-se no sistema arábico de
notação, e a álgebra foi uma invenção árabe.
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tivesses proibido oficialmente o comércio com os Muçulmanos, os mercadores
cristãos – especialmente os venezianos – prestaram pouca atenção a essa resolução.
O Império Otamano
Entre os povos que aceitaram o Islão como sua religião contavam-se uma série de
tribos nómadas turcas da Ásia Central. Atraídos para sul e oeste pela riqueza do
Califado Árabe, vieram primeiro como assaltantes e saqueadores, mas acabaram por
se instalar como conquistadores. Tamerlão conhecido pela sua ferocidade impiedosa,
conquistou a Pérsia em finais do séc. XIV. O império de Tamerlão foi de curta
duração, mas no princípio do séc. XVI, outro conquistador, Ismaíl, fundou a dinastia
dos Sefévidas, que governou a Pérsia até ao séc. XVIII.
Os mais bem sucedidos dos conquistadores turcos foram os Otomanos, cujas origens
remontam ao sultão Osman (1259-1326).
Este vasto império dominado pelos Turcos não constitui uma economia unificada ou
um mercado comum. Cada região do Império continuou as actividades económicas
que praticava antes da conquista, com pouca especialização regional. A agricultura era
a ocupação principal da grande maioria dos súbitos dos Sultões.
Ásia Oriental
A civilização da China, data dos primórdios do segundo milénio a.C.; tem um dos
desenvolvimentos mias fechados de qualquer civilização.
O berço original da civilização chinesa foi a faixa central do rio Amarelo, onde o fértil
solo de loess depositado pelos ventos da Ásia Central permitia um fácil cultivo.
A manufactura dos tecidos em seda teve origem na China, numa época muito remota.
A porcelana é igualmente uma invenção chinesa, como o são o papel e a impressão.
(Os chineses já utilizavam papel-moeda quando Carlos Magno cunhou os primeiros
dinheiros de prata). Em geral, os Chineses alcançaram um nível bastante elevado de
desenvolvimento científico e técnico muito antes do Ocidente.
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Apesar da sua precocidade tecnológica e científica , o desenvolvimento económico
não levou a uma era industrial. Os produtos eram destinados ao uso do governo, a
Corte Imperial, e ao restrito nº de aristocratas proprietários de terras.
No séc. XIII deu-se uma série de factos que afectaram profundamente não só a China
como praticamente toda a massa continental eurasiana, incluindo a Europa Ocidental.
Foi a irrupção dos Mongóis, sob o comando de Gengiscão, da sua pátria da Mongólia,
a norte da China. Em pouco mais de meio século, Gengis e os seus sucessores criaram
o maior império terrestre contínuo que o mundo jamais viu, estendendo-se desde o
Oceano Pacífico, a oriente, até à Polónia e à Hungria, no Ocidente. Embora o nome
deles seja quase sinónimo de rapinagem e violência, os Mongóis fizeram o que os
conquistadores bárbaros faziam normalmente: instalaram-se e adaptaram a civilização
dos seus hospedeiros conquistados.
Ásia Meridional
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Uma forma através da qual a religião colidiu com a economia foi o sistema de castas
dos Hindus. As castas foram em primeiro lugar determinadas pela ocupação, mas
originalmente parece ter havido também, um elemento étnico. No começo havia
apenas 4 varnas, ou ordens de casta:
1. os Brâmanes, ou a ordem sacerdotal
2. uma ordem de guerreiros e governantes
3. uma de agricultores, artesãos e comerciantes
4. e uma ordem inferior de criados.
Embora o sistema de castas não fosses tão rígido como por vezes é descrito, deve ter
sido uma barreira à mobilidade social e à distribuição eficaz dos recursos. Outro
elemento da religião hindu inimigo do crescimento económico foi a veneração do
gado – as «vacas sagradas» que deambulavam livremente pelo campo e não podima
ser mortas nem consumidas.
A maioria da população devotava o seu tempo e energia à agricultura, mas a Índia não
tinha falta de bons artesãos. Prova disso são as sofisticadas obras de arte, estatuária a
arquitectura monumental, todas elas ao nível do melhor da arte grega e romana. Porém,
estes artesãos trabalhavam para os ricos e poderosos; as massas não tinham poder de
compra e não existia uma classe média digna de nota. O pequeno comércio estava nas mãos
dos árabes.
África
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As Américas
Ao Ameríndios não tinham animais domesticados anão ser o cão e, nos Andes, o
lama, que podia ser utilizado como animal de carga mas não como animal de tiro. A
tecnologia agrícola era, a cultura da enxada. Os Ameríndios tinham poucos metais –
algum ouro aluvial usado para ornamentos, prata e cobre, mas não ferro. As suas
ferramentas eram feitas de madeira, osso, pedra e especialmente obsidiana, um vidro
vulcânico natural usado para cortar e esculpir. Apesar desta tecnologia aparentemente
primitiva, produziram algumas obras de arte sofisticadas, como seja arquitectura
ornamental.
A seguir aos Maias, várias outras culturas das terras altas do México alcançaram
níveis bastante avançados de desenvolvimento. É o caso dos Toltecas, dos
Chichimecas e dos Mixetecas. Por volta de meados do séc. XIV, os Aztecas, uma
tribo feroz e guerreira cuja cidade principal foi Tenochtitlán, onde se localiza
actualmente a Cidade do México, começaram a conquistar e a explorar os seus
vizinhos. Como os Aztecas praticavam sacrifícios humanos, escolhendo as vítimas
entre a população subjugada, não é surpreendente que os Espanhóis , sob o comando
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de Cortés, tenham encontrado aliados quando empreenderam a conquista de
Tenochtitlán, em 1519.
Quando a civilização maia estava no seu auge, os nativos ao longo da costa do Peru
praticavam uma agricultura de irrigação usando água dos Andes, uma técnica
desconhecida em todas as demais regiões das Américas. Evidentemente, a sua
população era grande, porque permitia o crescimento de densas populações urbanas
que comercializavam entre si.
Algum tempo depois de 12oo a. C., os Incas, uma tribo das terras altas, com a sua
capital em Cuzco, iniciaram uma conquista militar de toda a região montanhosa e
costeira desde o Equador, a norte, até ao Chile, a sul. Os Incas não tinham uma
linguagem escrita, mas conseguiam manter registos, e mesmo enviar mensagens a
grandes distâncias, por meio de cordas com nós. Impuseram aos seus súbditos um
formalismo estatal altamente centralizado, incluindo armazéns do Estado para
conservação e distribuição de cereais; mas os mercados privados coexistiram com o
sistema de distribuição governamental.
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Cap. V
Outra diferença importante foi uma mudança acentuada na localização dos principais
centros de actividade económica na Europa. No séc. XV, as cidades do norte de Itália
mantinham o comando dos assuntos económicos que tinham exercido por toda a Idade
Média. Porém, as descobertas portuguesas privaram-nos do monopólio do comércio
das especiarias.
O declínio da Itália foi provavelmente mais relativo que absoluto, devido ao grande
aumento de volume do comércio europeu. No entanto, nos meados do séc. XVII, a
Itália tinha mergulhado na rectaguarda da economia europeia, de onde não emergiu
completamente até ao séc. XX.
Espanha e Portugal viveram uma glória passageira, como os principais poderes económicos
da Europa. Lisboa substitui Veneza como grande entreposto do comércio de especiarias, e
os Habsburgos espanhóis, financiados em parte pelo ouro e prata do seu império
americano, tonaram-se os monarcas mais poderosos na Europa. Apesar de as duas nações
terem mantido os seus extensos impérios ultramarinos até aos séc. XIX e XX
respectivamente, estes já estavam em completo declínio, económica, política e
militarmente, em meados do séc. XVII.
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Na época das grandes descobertas, a Inglaterra estava precisamente a emergir de um
estatuto de região atrasada e produtora de matérias-primas para um país que começava a
industrializar-se.
A Guerra das Rosas dizimaram as fileiras da grande nobreza, mas deixaram a classe
média urbana e os camponeses quase incólumes. O declínio da grande nobreza intensificou
a importância da baixa aristocracia, a pequena nobreza. A nova dinastia dos Tudors, que
subiu ao trono em 14485, dependia profundamente do apoio da pequena nobreza.
O crescimento na população do séc. XVI, embora geral, não foi de modo algum uniforme.
Começando com densidades desiguais e crescendo a níveis diferentes, as populações das
diversas regiões da Europa variavam consideravelmente em densidade no fim do séc. XVI.
Uma consequência dessas migrações foi que a população urbana cresceu mais rapidamente
que a população total . Em alguns casos, um aumento da população urbana podes ser
encarado como um factor favorável de desenvolvimento económico, mas não foi
necessariamente o que aconteceu no séc. XVI.
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Exploração e descoberta
Os navios tornaram-se maiores, mais fáceis de manobrar, mais adequados ao mar alto, e
passaram a ter maior capacidade de carga e a poder efectuar viagens mais longas. A
bússola magnética, trazida da China pelos Árabes, reduziu significativamente a conjectura
própria da navegação. Progressos na cartografia permitiram a feitura de mapas e cartas
muito mais perfeitos.
Os Italianos tinham sido expoentes na arte da navegação, mas como eram muito
conservadores na concepção de navios, a primazia foi rapidamente assumida por aqueles
que navegavam em mar alto, especialmente os Flamengos, os Holandeses e os Portugueses.
Os Portugueses em especial, agarraram a iniciativa em todos os aspectos da arte do
marinheiro, concepção de navios, navegação e exploração. A visão e a energia de um
homem, o príncipe D. Henrique, cognominado o navegador, foram responsáveis em primeira
linha pelo grande progresso na descoberta e conhecimentos geográficos obtidos pelos
Europeus no séc. XV.
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2. Pêro da Covilhã seguiu pelo Mediterrâneo e por terra para o mar vermelho,
tendo feito o reconhecimento das margens ocidentais do oceano Índico desde
Moçambique, em África, até à costa do Malabar, na Índia.
Estava aberto o caminho para a próxima e maior viagem, a de Vasco da Gama, de 1497
a1499, em torno da África até Calecut na Índia. Devido a doenças, motins e tempestades,
Vasco da Gama perdeu dois dos seus quatro navios e quase dois terços da sua tripulação.
Não obstante, o carregamento de especiarias com que regressou foi o suficiente para
pagar muitas vezes o custo da sua viagem.
Vendo proventos tais, os Portugueses não perderam tempo a capitalizar a sua vantagem.
Numa dúzia de anos tinham rechaçado os Árabes do Oceano Índico e estabelecido
feitorias fortificadas de Moçambique e do golfo Pérsico às lendárias Ilhas das
Especiarias, ou Molucas. Em 1513, um dos seus navios atracou em Cantão, no sul da China,
e em meados do século tinham encetado relações comerciais e diplomáticas com o Japão.
Ao todo, Colombo fez 4 viagens aos mares ocidentais, e manteve até ao fim a crença de
que descobrira uma rota directa para a Ásia.
Tornou-se cada vez mais evidente que Colombo não só não tinha descoberto as Índias,
como também não havia nenhuma passagem fácil através do centro do Novo Continente.
Em 1519, Fernão Magalhães, um português que navegara no Oceano Índico, persuadiu o rei
de Espanha a deixá-lo conduzir uma expedição de 5 navios às Ilhas das Especiarias pelo
mar do Sul. Magalhães não pensava circum-navegar o globo, pois esperava encontrar a
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Ásia após alguns dias de viagem para lá do Panamá, dentro da órbita espanhola tal como
estava demarcada pelo Tratado de Tordesilhas. O seu principal problema, assim o
considerava, seria descobrir uma passagem através da América do Sul ou em torno dela.
Foi o que fez, e o estreito tempestuoso e traiçoeiro que descobriu ainda tem o seu nome.
O «mar pacífico» em que viria a entrar acarretou-lhe, longos meses de fome, doenças e
por fim a morte, dele próprio e da maior parte da sua tripulação. O que restou da sua
frota vagueou à deriva nas Índias Orientais durante vários meses. Por fim, um dos
tenentes de Magalhães, Sebastián de Elcano, conduziu o único navio sobrevivente e a sua
tripulação debilitada através do oceano Índico e de volta a Espanha volvidos 3 anos,
tornando-se o primeiro homem a completar a viagem por mar à volta da Terra.
A princípio o Império Espanhol parecia menos promissor, mas acabou por se revelar
ainda mais lucrativo que o português. Decepcionados coma busca de especiarias e
estimulados por alguns adornos roubados aos selvagens das ilhas das Caraíbas, os
Espanhóis voltaram-se rapidamente para uma procura de ouro e prata. Os seus
continuados esforços para encontrar uma passagem para a Índia cedo revelaram a
existência de civilizações ricas no continente do México e na região norte da América
do Sul. Entre 1519 e 1521, Hernán Cortés conquistou o Império Azteca, no México.
Francisco Pizarro conquistou o Império Inca, no Peru na década de 1530. em finais do
séc. XVI, os Espanhóis detinham um poder efectivo sobre todo o hemisfério, da
Florida e do sul da Califórnia, a norte, ao Chile e ao rio da Prata, a sul (exceptuando o
Brasil). A princípio limitaram-se a privar os nativos da sua riqueza móvel; quando
esta fonte rapidamente exauriu, introduziram os métodos europeus de extracção de
minério nas ricas minas de prata do México e dos Andes.
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Os Espanhóis, ao contrário dos Portugueses, optaram por colonizar e instalar-se nas
regiões que conquistaram. Levaram as técnicas, equipamentos e instituições europeus
(incluindo a sua religião), que impuseram pela força à população indígena. Os índios
pré-colombianos da América não tinham animais domesticados, a não ser cães e lamas. Os
Espanhóis introduziram os cavalos, o gado bovino, os burros, as cabras, os porcos e a
maioria das aves domesticadas.
Algumas outras características da civilização europeia que foram introduzidas na
América, como as armas de fogo, o álcool e as doenças europeias da varicela, do sarampo
e do tifo, espalharam-se rapidamente, e com um efeito letal.
Do ponto de vista económico, a expansão resultou num maior aumento dom volume e
variedade de bens transaccionados. No séc. XVI, as especiarias do Oriente e o ouro e a
prata do Ocidente representaram uma proporção assombrosa de importações do
mundo colonial.
29
As consequências atribuídas à revolução dos preços variam entre o empobrecimento do
campesinato e da nobreza e a «ascensão do capitalismo».
O que é indubitável é que a revolução dos preços, como qualquer inflação, redistribuiu
o rendimento e a riqueza, quer dos grupos individuais quer de grupos sociais.
A causa principal do declínio dos salários reais não foi um problema monetário; foi
antes, um resultado de inter-relações entre o comportamento demográfico e a
produtividade agrícola.
Tecnologia e produtividade agrícola
Espanha apresentava quase tanta variedade quanto Itália, com regiões costeiras férteis
a leste e a sul, cadeias montanhosa a norte noutras zonas e o aspecto mais
característico da geografia espanhola o grande planalto, ou meseta, que se estende ao
longo da parte central da Península Ibérica. A agricultura espanhola recebeu uma rica
herança dos seus antepassados muçulmanos. No mesmo ano em que conquistaram o
reino de Granada e em que Colombo descobriu a América, os monarcas decretaram a
expulsão de todos os judeus do reino. Com a queda de Granada, muitos súbditos
30
mouros também partiram. Aqueles que se converteram, os chamados «mouriscos»,
continuaram a ser a espinha dorsal e os impulsionadores da economia agrícola na
Espanha Meridional por mais um século, antes de, também serem expulsos em 1609.
Mas o sistema espanhol era invulgar, quer pela extensão das caminhadas das ovelhas
quer pela sua organização. Os donos dos rebanhos, organizados num grémio ou
associação comercial chamado Mesta, constituíam um poderoso grupo de influências
na Corte.
31
A região agrícola mais progressista da Europa foi a dos Países Baixos, especialmente
a norte, com o seu centro na província da Holanda. No fim do séc. XV, a agricultura
holandesa e flamenga era já mais produtiva que a média europeia, graças à
oportunidade dada pelo fornecimento às cidades vizinhas e aos trabalhadores da
indústria têxtil. Devido ao seu método de colonização na Idade Média, a população
rural holandesa também possuía maior liberdade que a de regiões anteriormente
feudalizadas. Durante os séc. XVI e XVII, a agricultura holandesa sofreu uma
transformação notável que merece a sua descrição como a primeira economia agrícola
«moderna». A modernização da agricultura estava intimamente associada à
igualmente notável manifestação da superioridade comercial holandesa; sem uma, a
outra não poderia ter ocorrido.
Na indústria, como na agricultura, não ocorreu nenhuma mudança brusca entre a Idade
Média e o início da Idade Moderna. Todavia, ao contrário de que aconteceu com a
agricultura, a inovação decorreu de forma mais ou menos contínua, embora a um
ritmo muito lento.
32
autoridades, que receavam o desemprego em resultado de inovações que dispensassem
mão-de-obra, e dos grémios monopolistas e companhias que receavam a concorrência.
A construção naval nos Países Baixos Holandeses passou por uma transformação
profunda. Graças à rápida expansão do comércio holandês, a frota mercantil holandesa
decuplicou em número e teve um aumento ainda maior na tonelagem entre o princípio
do séc. XVI e meados do séc. XVII. Nessa época, era, de longe, a maior da Europa, e
provavelmente maior que todas as outras juntas. Considerando a vida relativamente
curta dos navios de madeira, isto traduz-se numa grande procura da indústria naval,
uma procura à qual os construtores navais holandeses reagiram racionalizando os seus
estaleiros e introduzindo técnicas elementares de produção em massa. Utilizaram
serras mecânicas e guindastes accionados por moinhos de vento e mantinham
armazéns de peças sobressalentes. Devido à sua eficiência, forneciam não só a frota
do seu próprio país como também a dos seus rivais.
A inovação mais significativa dos Holandeses foi o fluyt (o fluyt holandês, um navio
relativamente grande e deselegante teve um enorme sucesso como transportador de
carga, substituindo as velhas carracas bifuncionais), ou «barco voador» como os
Ingleses lhe chamavam, uma carreira comercial especializada introduzida no final do
séc. XVI. Nalguns aspectos, o equivalente ao navio-tanque dos nossos tempos, foi
criado especialmente para cargas volumosas e de baixo valor, como cereais e madeira,
e navegava com tripulações mais reduzidas que os navios convencionais.
33
Na Idade Média, o ferro trabalhado era obtido de vários tipos de «forjas», nas quais o
minério de ferro era aquecido com carvão vegetal até se transformar numa massa
pastosa, ou «barra», que era depois alternadamente martelada e aquecida até as suas
impurezas serem retiradas. O processo era lento, dispendioso em combustível e
minério, e era produzido em pequenas porções. Nos séculos XIV e XV, a altura dos
fornos aumentou progressivamente e uma corrente de ar produzida por foles
accionados a água aumentava a temperatura da carga, e assim se desenvolveu o
alto-forno.
A Europa não era naturalmente rica em metais precisos, mas os minérios de metais
mais utilitários eram relativamente abundantes. Cobre, chumbo e zinco existiam em
várias partes da Europa e eram extraídos desde tempos pré-históricos. O estanho
estava mais localizado, estando praticamente confinado à Cornualha; mas também
esse metal fora um artigo de comércio muito antes da conquista romana da
Grã-Bretanha.
A Suécia era quase tão rica em cobre como em ferro, e, no séc. XVII, com capital e
assistência técnica holandeses, tornou-se o maior fornecedor europeu nos mercados
internacionais.
De todos os sectores da economia europeia, o comércio foi sem dúvida o mais dinâmico
entre os séc. XV e XVIII. Livros mais antigos, descrevem o séc. XVI como uma era de
«revolução comercial».
34
A invasão portuguesa do oceano Índico foi um rude golpe para os Venezianos e, em menor
grau, para outras cidades italianas. Em 1521, numa tentativa de recuperar o seu
monopólio, os Venezianos ofereceram-se para comprar a totalidade da importação
portuguesa, mas a proposta foi recusada.
O tipo de artigos envolvidos no comércio de distância mudou de certa forma nos séc.
XVI e XVII. No séc. XVI, uma grande proporção de volume de bens transaccionados
no comércio internacional, consistia em artigos tão importantes como cereais,
madeira, peixe, vinho, sal, metais, tecidos e matérias-primas têxteis. No final do séc.
XVII, metade das importações inglesas, em volume, consistia em madeira; mais de
metade das exportações, também em volume, compunha-se de hulha, embora as
exportações de tecidos fossem muito valiosas.
35
O primeiro Fugger conhecido na História era tecelão. Alguns dos seus descendentes
tornaram-se promotores (comerciantes-fabricantes) na indústria de lanifícios,
acabando por se envolver na venda por atacado de seda e especiarias com um
armazém em Veneza. No final do séc. XV estavam activamente empenhados em
financiar os Sacros Imperadores Romanos, conseguindo o domínio da produção das
minas de prata da distribuição de especiarias na Europa Central, pelas quais trocavam
a prata necessária para comprar as especiarias na Índia. Também aceitavam depósitos,
operavam intensamente com letras de câmbio estavam profundamente envolvidos no
financiamento aos monarcas de Espanha e de Portugal – um negócio que acabaria por
levar ao seu declínio. No séc. XVI, os Fugger eram destacados – Jacob II era
conhecido como um princípe entre os comerciantes.
Na segunda metade do séc. XVI, os Ingleses criaram várias companhias com alvarás
de comércio monopolista. Algumas dessas companhias adoptaram a forma
corporativa, mas outras transformaram-se em sociedades anónimas; isto é, reuniam
entradas em capital dos membros e colocavam-nas sob gestão comum- isto fazia-se
nos comércios a longa distância, nos quais os riscos e o capital exigido para financiar
uma única viagem excedia as quantias que um ou vários indivíduos estavam dispostos
a empregar ou investir. As Companhias da Moscóvia e do Levante foram a princípio
formadas numa base de capital anónimo, mas à medida que as relações comerciais se
desenvolveram e se tornaram mais estáveis, tornaram-se companhias corporativas. A
Companhia das Índias Orientais também adoptou a forma de sociedade anónima.
36
de papel comercial. A sua função principal que desempenhava bem, era a de
proporcionar à cidade e a todos os comerciantes holandeses e estrangeiros que ali
afluíam, meios de pagamento estáveis e fiáveis.
O comércio entre Espanha e as colónias era semelhante. O comércio com as colónias era
um monopólio da coroa de Castela. Na prática, o governo colocou-o sob a administração da
Casa de Contratación (Casa de Comércio), uma espécie de agremiação sedeada em Sevilha.
37
38
Cap. VI
Durante mais de um século após Smith ter publicado o seu histórico Inquérito sobre a
Natureza e as Causas da riqueza das Nações, em 1776, o conceito sistema mercantil
teve uma conotação pejorativa. Na última parte do séc. XIX, vários historiadores e
economistas alemães, nomeadamente Gustav von Schmoller, inverteram radicalmente
essa noção. Nas palavras de Schmoller, o mercantilismo, «no seu âmago» mais
profundo, não é senão construção do Estado – não construção do Estado num sentido
restrito, mas construção do Estado e construção duma economia nacional ao mesmo
tempo.
O nacionalismo dos primeiros Estados-nação apoiava-se numa classe, não na massa, a chave
para as diferenças nacionais na política económica deve procurar-se nas divergentes
composições e interesses das classes governantes.
A União dos Países Baixos, governada por e para os comerciantes ricos que dominavam as
principais cidades, seguiu uma política económica mais informada. Vivendo principalmente
do comércio, não podia dar-se ao luxo de ter as políticas restritivas e proteccionistas dos
seus vizinhos maiores. Estabeleceu-se o comércio livre interno, acolhendo os seus portos
e mercados, comerciantes de todas as nações. Por outro lado, no Império Holandês o
monopólio dos comerciantes holandeses era absoluto.
39
A Inglaterra encontrava-se algures no centro do espectro. A aristocracia fundiária
ligou-se pelo casamento a prósperas famílias de mercadores e a advogados e
funcionários relacionados com a actividade mercantil, e há muito que grandes
comerciantes tinham assumido um papel proeminente no governo e na política. Após
a Revolução de 1688-89, os seus representantes no Parlamento assumiram o poder
supremo do Estado. As leis e regulamento que fizeram em relação à economia
reflectiram um equilíbrio de interesses, beneficiando os interesses fundiários e
agrícolas da nação enquanto encorajavam as indústrias caseiras e apoiavam os
interesses da navegação e do comércio.
Os elementos comuns
No séc. XVI, a Espanha era a inveja e o flagelo das cabeças coroadas da Europa. Em
resultado de alianças dinásticas pelo casamento, o seu rei Carlos I (1516-56) herdou,
não apenas o reino de Espanha mas também os domínios dos Habsburgos na Europa
Central, os Países Baixos e o Franco Condado. Em 1519, Carlos tornou-se Sacro
Imperador Romano como Carlos V. Este formidável império político parecia
igualmente assentar em fortes bases económicas. Embora os recursos agrícolas de
Espanha não fossem os melhores, esta herdou o sofisticado sistema mourisco de
horticultura em Valência e Andaluzia e a lã dos seus carneiros era muito apreciada em
toda a Europa. Tinha também algumas indústrias florescentes, nomeadamente têxtil e
metalúrgica. Os domínio de Carlos nos Países Baixos tinham a agricultura mais
avançada e alguma das indústrias mais prósperas da Europa. Os domínios de
Habsburgos na Europa Central continham além de recursos agrícolas, importantes
depósitos minerais, incluindo ferro, chumbo, cobre, estanho e prata. Mais
aparatosamente, o ouro e a prata do Novo Mundo começaram, a fluir para Espanha em
grandes quantidades. Além disso o reino de Aragão trouxe consigo a Sardenha, a
Sicília e toda a Itália a sul de Roma, e o reino de Castela contribuiu com um império
recém-descoberto e ainda por conquistar na América.
40
Carlos V julgava ser a sua missão reunificar a Europa Cristã. Com esse objectivo,
combateu os Turcos no Mediterrâneo e na Hungria, guerreou os príncipes protestantes
rebeldes da Alemanha e hostilizou os reis da dinastia francesa dos Valois. Incapaz de
conseguir um sucesso permanente em qualquer uma destas frentes, homem cansado e
derrotado, abdicou do trono de Espanha em 1556.
Esperara passar para o seu filho Filipe os seus domínios intactos, mas o seu irmão
Fernando conseguiu apoderar-se das terras dos Habsburgos na Europa Central e do
título de Sacro Imperador Romano após a morte de Carlos em 1558.
Em oito ocasiões (em 1557, 1575, 1596, 1607, 1627, 1647, 1653 e 1680), os Habsburgos
espanhóis declararam falência régia. Cada uma resultou em pânico financeiro, verdadeira
bancarrota e liquidação de muitos banqueiros e outros investidores e ruptura das
transacções comerciais e financeiras correntes.
41
Do ponto de vista do estratega político, o monarca estava demasiado dependente das
receitas alfandegárias para abolir tarifas e taxas internas sobre o comércio entre as
várias componentes do Império. Mesmo após a união das coroas de Castela e Aragão,
os cidadãos duma eram tratados como estrangeiros na outra. Outras possessões dos
Habsburgos não se encontravam em melhor posição. Os comerciantes e industriais
dos Países Baixos deviam a sua penetração substancial nos mercados espanhóis à sua
competitividade superior, mais que a quaisquer privilégios especiais.
42
as regiões asiáticas vizinhas, incluindo a China; mas o único comércio com a Europa
permitido pelas autoridades espanholas era indirecto através do México e da própria
Espanha.
Portugal
Um dos feitos mais notáveis da era da expansão europeia foi o facto de Portugal, um
país pequeno e relativamente pobre, ter conseguido o domínio dum vasto império
marítimo na Ásia, na África e na América. Fora das poucas e pequenas cidades, a
economia era predominantemente de subsistência. Ao longo da costa marítima, as
ocupações não agrícolas eram a pesca e a secagem do peixe. O comércio com o
estrangeiro tinha pouco significado, mas estava a crescer.
Como conseguiu um país tão pequeno e atrasado o domínio do seu enorme império
tão rapidamente? Muitos factores estiveram envolvidos, nem todos susceptíveis duma
avaliação precisa. Um deles foi a sorte: na altura em que Portugal fez a sua incursão
no oceano Índico, as nações daquela área estavam invulgarmente fracas e divididas,
por motivos alheios aos acontecimentos na Europa. Outro factor menos acidental, mas
ainda assim fortuito, foi o conhecimento e a experiência acumulados do trabalho e
dedicação do príncipe D. Henrique. No entanto, existe outro factor mais especulativo,
mas de qualquer modo importante: o zelo, coragem e ganância dos homens que se
aventuraram pelos mares ao serviço do seu Deus e do seu rei e em busca de riquezas.
Com o entusiasmo das suas descobertas asiáticas e dos seus sucessos, os Portugueses
prestaram pouca atenção aos territórios que possuíam em África e na América. No
entanto, na década de 1530, a Coroa Portuguesa alarmou-se com as actividades dos
piratas franceses ao longo da costa do Brasil, e preocupou-se em assegurar colonos
portugueses para o Continente. O Rei fez cedências de terras a particulares, esperando
desta forma garantir colonos com pouca despesa para o país.
O monopólio legal da Coroa Portuguesa sobre o comércio das especiarias foi alvo de
referências jocosas ao «Rei Merceeiro» e ao «Potentado da Pimenta» mas a realidade
subjacente a esses termos era bem diferente da que se poderia suspeitar. Em primeiro
lugar, Portugal nunca assegurou um domínio eficaz das fontes de fornecimento das
especiarias. Inicialmente a sua entrada intempestiva no oceano Índico, prejudicou
severamente o transporte tradicional de especiarias por terra para o Mediterrâneo
Oriental, assim privando temporariamente, os Venezianos do seu lucrativo comércio
de distribuição; mas as rotas tradicionais acabaram por vir a ser restabelecidas, e, no
final do séc. XVI, tinham um volume de comércio maior que alguma vez antes –
maior ainda que o das frotas portuguesas. Para isto contribuíram 2 motivos principais:
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1. os Portugueses estavam pouco densamente disseminados. Com tão poucos
homens e navios, revelou-se impossível policiar a maior parte dos dois
oceanos.
2. a Coroa era obrigada a confiar, ou em funcionários oficiais para imposição do
seu monopólio, ou em adjudicatários que locavam uma parte do monopólio.
Em ambos os casos, verificou-se ineficácia e fraude. Os funcionários oficiais,
embora investidos de grandes poderes, não eram bem pagos e, frequentemente
complementavam, os seus magros salários aceitando subornos de
contrabandistas ou introduzindo-se eles mesmos em negócios ilícitos. Os
adjudicatários da Coroa, é claro tinham grandes estímulos à violação dos seus
contratos sempre que possível.
44
– isto é, funcionários dos príncipes territoriais que lutavam por autonomia política e
económica.
Pode extrair-se alguma noção do teor das políticas que advogavam do título de um dos
seus livros mais influentes «A Áustria acima de tudo, custe o que custar) de Philipp
W. Van Hornigk (1864). Na sua preocupação de fortalecer o Estado territorial,
defendiam medidas que, além de encherem os cofres do Estado, reduziriam a sua
dependência doutros estados e torná-lo-iam muito mais auto-suficiente em tempo de
guerra:
- restrições ao comércio externo;
- promoção da indústria nacional;
- resgate de solos improdutivos;
- medidas para empregar os «pobres desocupados» (que nalguns casos se
traduziam em trabalhos forçados), etc.
Mas mais importante para o sucesso do seu esforço foi a cuidadosa administração dos
próprios recursos do Estado. Através da centralização da sua administração, de
exigências de contabilidade rigorosa ao corpo de funcionários públicos de carreira que
tinham criado, duma meticulosa cobrança de impostos e da frugalidade nas despesas,
criaram um mecanismo estatal eficiente que constitui uma excepção na Europa do seu
tempo.
45
A sua única extravagância de monta era o exército, que por vezes absorvia mais de
metade do orçamento de Estado. Os reis prussianos usavam o exército em seu
proveito, não só militar e politicamente, mas também economicamente . devido à sua
temível reputação, conseguiam obter subsídios dos seus aliados, evitando, assim, a
necessidade de contrair empréstimos, processo este que arruinou os reinos da maior
parte dos outros monarcas absolutistas.
Por muito eficiente e poderoso que o Estado fosse, pelos padrões de época a economia
do país era apenas moderadamente próspera. A esmagadora maioria da população
produtiva ainda se dedicava à agricultura de baixo rendimento e a Prússia estava longe
de ser a grande potência industrial em que a Alemanha se viria a tornar no final do
séc. XIX.
Nos séc. XVI e XVII, a Polónia exportou grandes quantidades de cereais para o
Ocidente, principalmente para o mercado de Amesterdão, através de Danzigue; mas
como a produção agrícola do Ocidente aumentou no séc. XVIII, a procura do cereal
polaco decresceu, e o país retornou à agricultura de subsistência.
46
cortesãos a usar roupas ao estilo ocidental e a cortar a barba, viajou amplamente pelo
Ocidente, observando processos industriais bem como fortificações e procedimentos
militares. Concedeu subsídios e privilégios a artesãos e empresários ocidentais para se
estabelecerem na Rússia e aí praticarem as suas artes e comércio. Construiu a cidade
de São Petersburgo, a sua «janela sobre o Ocidente», em terra recentemente
conquistada à Suécia no topo do golfo da Finlândia, um braço do mar Báltico.
Um dos seus sucessores, Catarina, a Grande, foi responsável por duas inovações nas
finanças públicas, que tiveram efeitos perniciosos na economia:
1. Empréstimos externos;
2. Enormes emissões da moeda fiduciária (papel-moeda).
Entretanto as forças verdadeiramente produtivas da economia, os camponeses
labutavam com as suas técnicas tradicionais, conseguindo uma magra subsistência
para si próprios após as exacções dos seus senhores e Estado.
Nos séc. XVI e XVII, os Suecos desempenharam um papel de grande potência política
e militar que é surpreendente, atendendo à sua reduzida população. Este sucesso
deveu-se, em parte, à abundância de recursos naturais, especialmente cobre e ferro,
ambos essenciais para o poderio militar, e em parte à eficácia administrativa do seu
governo.
Os monarcas suecos cedo alcançaram um grau de poder absoluto no seu reino sem
rival em nenhuma outra parte da Europa. Além do mais, exerciam, em geral, o seu
poder com sensatez – exceptuando as suas temerárias aventuras militares, que
acabariam por levar à sua derrota e apagamento -, pelo menos na esfera económica.
Aboliram as portagens e tarifas internas que prejudicavam o comércio noutros países,
padronizaram pesos e medidas, instituíram um sistema fiscal uniforme e tomaram
outras medidas que favoreceram o crescimento do comércio e da indústria. Nem todas
as políticas foram igualmente favoráveis – por exemplo, a restrição ao comércio
externo a Estocolmo e a algumas outras poucas cidades portuárias -, mas globalmente
deram liberdade aos empresários nativos e imigrantes (especialmente holandeses e
valões, que introduziram técnicas e conhecimento especiais, além de capital) para
desenvolver os recursos suecos. No séc. XVIII, após o declínio do seu poder político,
os Suecos tornaram-se os principais fornecedores de ferro do mercado europeu.
A Itália foi excluída desta análise das políticas de nacionalismo económico porque,
durante a maior parte da Idade Moderna, foi vítima de grandes rivalidades de poder.
Colbertismo em França
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O exemplo arquetípico, do nacionalismo económico foi a França de Luís XIV. Luís
foi o símbolo – e o poder -, mas a responsabilidade pelo planeamento e execução da
sua vida pública couberam ao seu principal ministro durante mais de 20 anos
(1661-83), Jean Baptiste Colbert. A influência de Colbert foi tal, que os Franceses
forjaram o termo colbertisme – mais ou menos sinónimo de «mercantilismo».
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O homem, que ainda mais que Colbert, deve ser visto como o fundador da tradição
francesa do estadismo em assuntos económicos é o duque de Sully, o principal
ministro de Henrique IV (1589-1610).
Colbert também visou a criação dum grande império ultramarino. Os franceses tinham já,
na primeira metade do séc. XVII, estabelecido postos avançados no Canadá, nas Índias
Ocidentais e na Índia, mas preocupados com as lutas de poder na Europa, não lhes tinham
dado muita assistência. Colbert foi ao extremo oposto, sufocando as colónias com uma
avalanche de regras pormenorizadas e paternalistas. Criou também sociedades
monopolistas por acções para empreenderem o comércio com as Índias Orientais e
Ocidentais; mas, ao contrário dos modelos holandês e inglês, que resultaram da iniciativa
privada, com a colaboração dos governos, as companhias francesas eram, no fundo,
instituições nas quais particulares, incluindo membros da família real e da nobreza, tinham
sido induzidos ou coagidos a investir. Em poucos anos estavam moribundas.
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1. A estrutura do governo da República Holandesa era bastante diferente das
monarquias absolutistas da Europa Continental.
2. A economia holandesa dependia do comércio internacional em grau muito
maior que o de qualquer dos maiores vizinhos dos Países Baixos.
O jurista holandês Hugo de Groot (Grócio) escreveu o seu famoso tratado Mare
Liberum (Liberdade dos Mares), destinado a tornar-se uma das fundações do direito
internacional, como uma súmula para as negociações que conduziram às tréguas com
a Espanha em 1609.
50
O Instituto licenciava os navios para fiscalizar a quantidade e também impunha
rígidas verificações de qualidade para manter a reputação do arenque holandês.
As políticas económicas em Inglaterra (e, após a união dos parlamentos escocês e inglês
em 1707, na Grã-Bretanha) diferiam da dos Países Baixos e das monarquias continentais
absolutistas. Mas ao passo que o absolutismo real cresceu na maior parte dos países
continentais nos séc. XVI e XVII, em Inglaterra deu-se um desenvolvimento contrário,
que resultou na criação duma monarquia constitucional sob o domínio parlamentar depois
de 1688.
O sucesso do novo sistema financeiro não foi imediato; nos primeiros anos foi
devastado por uma série de crises, que culminaram na famosa Bolha do mar do Sul de
1720. Porém, nas décadas intermediárias do séc. XVIII, quando a Grã-Bretanha se
encontrava empenhada numa série de guerras europeias e coloniais com a França, o
seu governo conseguiu empréstimos por apenas uma fracção dos custos do seu rival.
A facilidade, baixo preço e estabilidade do crédito para as finanças públicas
repercutiram-se favoravelmente nos mercados de capitais privados, disponibilizando
fundos para o investimento na agricultura, no comércio e na indústria.
51
As Leis de Navegação, tinham como principal objectivo, reservar o comércio internacional
dum país à sua própria marinha mercante, não eram exclusivas de Inglaterra. No entanto,
em termos gerais, essas leis foram ineficazes por 2 motivos:
- Faltavam-lhes adequados mecanismos de aplicação
- Faltavam capacidade e estrutura competitiva às marinhas mercantes que
elas pretendiam beneficiar.
As Leis de Navegação tiveram ainda outro efeito, não pretendido: a perda duma
grande parte – e a parte economicamente mais progressista e próspera do «velho»
Império Britânico. Embora não fossem a única causa, nem sequer a mais importante,
da Revolução Americana, estavam no âmago do «velho sistema colonial» e, para a
maior parte dos Americanos, simbolizavam as desvantagens, reais e imaginadas da
dependência colonial. Desde os seus débeis começos no princípio do séc. XVII, as
colónias inglesas na América do Norte tinham crescido prodigiosamente.
52
53
Cap. VII
O Arsenal de Veneza, propriedade do Estado, que remontava à Idade Média, foi uma
das primeiras empresas industriais em larga escala da História.
54
No decurso desta transformação, designada como a «ascensão da indústria moderna»,
emergiram certas características que distinguem claramente a indústria «moderna» da
«pré-moderna», que são:
1. A ampla utilização de maquinaria accionada pela força mecânica.
2. A introdução de fontes de potência (ou energia) novas e inanimadas,
especialmente combustíveis fósseis,
3. O emprego generalizado de materiais que normalmente não existem na
natureza.
Um traço característico é a maior escala de iniciativa na maior parte das indústrias.
A expressão révolution industrielle foi utilizada pela primeira vez na década de 1820
por escritores franceses que, desejando realçar a importância da mecanização da
indústria francesa do algodão que então decorria na Normandia e no Norte, a
compararam à grande revolução política de 1789. ao contrário da crença generalizada,
Karl Marx não utilizou o termo no seu sentido convencional. O termo só ganhou
aceitação após a publicação, em 1884, de Lectures on the Industrial Revolution in
England, de Arnold Toynbee. Toynbee era um reformador social, não um estudioso;
mas o seu interesses principal resida no remediar do que ele cria ser a degradação
moral das classes trabalhadoras britânicas.
55
Apesar de se reconhecer que a produtividade aumentara em consequência da força
mecânica e de maquinaria, a maioria dos relatos salientava o recurso ao trabalho
infantil, a substituição das artes tradicionais por maquinaria e as condições insalubres
das novas cidades industriais. Durante a maior parte da sua história, para a maioria das
pessoas, o termo «revolução industrial» tem tido uma conotação pejorativa.
Apesar dos esforços, quer para aumentar quer para diminuir a extensão da
«revolução», a datação convencional teve a aprovação de um erudito como T.S.
Ashton, o mais famoso historiador económico da Inglaterra do séc. XVIII. Isto é
duplamente irónico, pois Ashton, ao contrário dos seus antecessores, via o resultado
daquele período como uma «proeza», e não uma catástrofe, e porque não tinha
particular apreço pelo termo. O próprio Ashton escreveu:
«As mudanças não foram meramente ‘industriais’, mas também sociais e intelectuais.
A palavra ‘revolução’ implica uma subitaneidade de mudança que não é, na verdade,
característica dos processos económicos. O sistema de relações humanas a que por
vezes se dá o nome de capitalismo teve as suas origens muito antes de 1760 e atingiu
o seu pleno desenvolvimento muito depois de 1830: há um perigo em negligenciar o
facto essencial da continuidade».
Como Ashton escreveu, as mudanças não foram meramente industriais, mas também
sociais e intelectuais. Na verdade, foram igualmente comerciais, financeiras, agrícolas,
e até políticas. Há motivos para acreditar que as mudanças intelectuais foram as mais
fundamentais, no sentido em que permitiram ou encorajaram as demais.
Um dos traços mais notáveis do avanço técnico no séc. XVIII e no princípio do séc.
XIX foi a grande proporção de inovações importantes efectuadas por engenhosos
latoeiros, mecânicos e engenheiros autodidactas (o termo «engenheiro» adquiriu o seu
sentido moderno no séc. XVIII) e outros autodidactas.
O modo por que a Inglaterra aumentou a sua produtividade agrícola deveu muito à
experimentação por tentativa com novas culturas e novas rotações de cultura.
Provavelmente, a inovação agrícola mais importante antes da agricultura científica
que foi introduzida no séc. XIX foi o desenvolvimento da chamada «alternância de
culturas», que implicava a alternância de campos cerealíferos com pastagens
temporárias. Isto teve a dupla vantagem de restaurar a fertilidade do solo através de
rotações melhoradas. Muitos proprietários e agricultores também ensaiaram a criação
selectiva de animais.
Uma condição importante tanto para as melhores rotações como para a criação
selectiva de animais domésticos foi a vedação e consolidação dos campos. No sistema
56
tradicional de campos abertos era difícil, se não impossível, obter o consenso entre os
muitos participantes na introdução de novas culturas ou rotações; e com os animais a
pastar em campos comuns, era igualmente difícil empreender uma criação selectiva.
Por volta do séc. XVI, Londres tinha já começado a funcionar como um «pólo de
crescimento» para a economia inglesa. As suas vantagens eram geográficas e políticas.
57
banco não situado em Londres), cujo crescimento foi extremamente rápido na segunda
metade do séc. XVIII.
Uma euforia semelhante inundou o país após a bem sucedida conclusão da Guerra da
Sucessão Espanhola e culminou na explosão financeira conhecida como Bolha do Mar
do Sul. O episódio deve o seu nome à Companhia do Mar do Sul, titulada em 1711
com um monopólio nominal do comércio com o Império Espanhol, embora o
verdadeiro motivo da sua criação tenha sido o de angariar dinheiro para o governo
prosseguir com a guerra.
Em resultado disso, a Inglaterra entrou na sua «revolução industrial» com uma barreira
jurídica contra as formas económicas (ou de responsabilidade limitada) de
organização comercial, condenando a maior parte das suas empresas industriais e
outras sociedades em nome colectivo ou a simples empresas em nome individual.
Tem-se debatido exaustivamente se esta restrição dificultou ou não a industrialização
inglesa; mas de qualquer forma não foi uma dificuldade fatal. A Lei da Bolha foi
revogada em 1825.
58
A rede britânica de canais e rios navegáveis foi extremamente eficiente naquela época,
mas não satisfaz a procura de transporte interno. Tradicionalmente, a manutenção das
estradas era da responsabilidade paroquiana, com recurso do trabalho forçado dos
habitantes locais. Não, surpreendemente, o estado das estradas assim mantidas era
deplorável. No começo da década de 1690, o Parlamento, através de resoluções, criou
concessões de portagem a que cometeu a construção e manutenção de troços de boas
estradas nas quais os utilizadores, quer viajassem em vagões, carruagens, a cavalo ou
a pé, eram cobradas taxas.
Tinham-se feito muitas tentativas para substituir o carvão vegetal por hulha no
alto-forno, as impurezas da hulha condenaram-nas ao malogro. Em 1709, Abraham
Darby, um industrial siderúrgico quacre de CoalBrookdale, no Shropshire, obteve
combustível de carvão duma forma muito semelhante por que outros siderúrgicos
produziam carvão vegetal a partir de madeira – isto é, aqueceu o carvão num
contentor fechado para lhe retirar as impurezas sob a forma de gás, deixando um
resíduo de coque, uma forma quase pura de carbono, que depois utilizou como
combustível no alto-forno para fazer ferro-guza.
A energia do vapor foi em primeiro lugar utilizada nas indústrias minerais. À medida
que a procura de carvão e de metais aumentou, intensificaram-se os esforços para
obter em minas cada vez mais profundas. Em 1698, Thomas Savery, um engenheiro
militar, conseguiu a patente, de uma bomba a vapor, a que chamou «O Amigo do
Mineiro». Algumas das bombas de Savery foram instaladas na primeira década do séc.
XVIII, sobretudo nas minas de estanho da Cornualha, mas o aparelho tinha vários
defeitos – entre os quais a tendência para explodir. Thomas Newcomen, um ferrageiro
e latoeiro familiarizado com os problemas das indústrias mineiras, decidiu remediar
esses defeitos através do método de tentativas, e, em 1712, conseguiu construir a sua
primeira bomba a vapor atmosférico para uma mina de carvão no condado de Stafford.
59
tempo e instalações para mais experiências. Em 1774, John Wilkinson, industrial de
fundição das redondezas, patenteou uma nova perfuradora para fazer canos para
canhões que também era adequada para cilindros de máquinas. No ano seguinte, Watt
conseguiu uma porrogação da sua patente por 25 anos, e a empresa de Boulton e Watt
iniciou a produção comercial de máquinas a vapor. Um dos seus primeiros clientes foi
John Wilkinson, que utilizou a máquina para accionar os foles do seu alto-forno.
A locomotiva a vapor foi o produto dum complexo processo evolutivo com muitos
antecedentes. Richard Trevithick (1771-1833), um engenheiro de minas da Cornualha,
merece crédito por ter construído a primeira locomotiva operacional, em 1801.
60
Trevithick utilizou um mecanismo de alta pressão (ao contrário de Watt) e concebeu a
sua locomotiva para se movimentar em estradas normais. Embora tecnicamente
operável, a locomotiva não foi um sucesso económico porque as estradas não
conseguiam suportar o seu peso.
Variação regional
O País de Gales, conquistado pelos Ingleses na Idade Média, tinha sido sempre tratado
como um parente pobre. Na última parte do séc. XVIII, as extensas regiões
carboníferas do sul do País de Gales forneceram as bases para uma grande indústria do
ferro, que, por volta de 1800, produzia cerca de um quarto do ferro britânico; mas foi
orientada para o comércio de exportação, e gerou muito poucas indústrias subsidiárias.
Os minérios eram fundidos sobretudo no sul do País de Gales, em torno de Swansea.
A maior parte do interior do país, montanhoso e infértil, manteve-se pobre e pastoril.
61
sistema tribal da organização social e económica manteve-se intacto. Menos de um
século depois, a Escócia estava com a Inglaterra na vanguarda das nações industriais
do mundo.
A inclusão da Escócia no Império Britânico após 1707 deu-lhe acesso aos mercados
ingleses, o que indubitavelmente contribuiu para a aceleração do ritmo da vida económica.
O sistema educativo do país, desde escolas paroquianas até às suas quatro universidades
(com Inglaterra apenas a ter duas), criou uma população invulgarmente letrada para a
época. De modo semelhante, o precoce sistema bancário escocês, completamente
diferente do inglês e praticamente livre da regulamentação governamental, permitiu aos
empreendedores escoceses um acesso relativamente fácil ao crédito e ao capital.
62
- A maior produção de tecido barato de algodão, contribuiu para padrões mais
elevados de limpeza.
O País de Gales e a Escócia eram muito menos densamente povoados que a Inglaterra.
No princípio do séc. XIX o condado mais densamente povoado fora da área
metropolitana de Londres era o Lancashire, seguido pela região ocidental do condado
de Iorque e por quatro condados incluindo as regiões carboníferas do Centro-Oeste.
63
64
Cap. VIII
População
Após a efectiva estagnação desde o começo ou meados do séc. XVII até meados do
séc. XVIII, a população da Europa começou novamente a crescer a partir de cerca de
1740. no séc. XIX, o crescimento populacional na Europa acelerou. O crescimento
populacional continuou no séc. XX, embora a taxa de crescimento na Europa tivesse
diminuído ligeiramente enquanto a do resto do mundo aumentava.
Tais taxas de crescimento, tanto na Europa como no mundo como um todo, não têm
precedentes. Além das flutuações a curto prazo (que podiam ser por vezes severas,
como durante a Peste Negra), a população mundial tinha duplicado aproximadamente
de 1000 em 1000 anos desde a invenção da agricultura até ao fim do séc. XVIII.
No séc. XIX, a população da Europa duplicou em menos de cem anos, e, no séc. XX,
essa taxa foi mesmo excedida para o mundo como um todo. Ás taxas actuais de
crescimento natural, a população mundial duplicará no prazo de 25 ou 30 anos.
Não há, assim uma correlação clara entre industrialização e crescimento populacional.
Devem equacionar-se outros factores causais. Antes das melhorias dos transportes que
permitiram a importação em larga escala de produtos alimentares do Ultramar no
último quartel do séc. XIX, um obstáculo de maior importância ao crescimento
populacional eram os próprios recursos agrícolas da Europa. A produção agrícola
aumentou imenso ao longo do século por dois motivos:
1. a quantidade de terra sob cultivo aumentou.
2. a produtividade agrícola (produção por trabalhador) aumentou por causa da
introdução de técnicas novas e mais científicas. Um melhor conhecimento da
química do solo e uma maior fertilização, a princípio natural, depois artificial,
aumentou o rendimento dos solos ordinários e possibilitou o cultivo de antigas
terras improdutivas. O preço mais baixo do ferro promoveu a utilização de
ferramentas e utensílios melhores e mais eficazes. A maquinaria agrícola,
como debulhadoras e ceifeiras mecânicas, estreou-se na segunda metade do
século.
65
metade da população britânica vivia em cidades com mais de 2000 habitantes, e por volta
de 1900 a proporção chegou aos três quartos.
A população dos países industriais, não só vivia em cidades, como preferia as cidades
maiores. Há muitas razões sociais e culturais para as pessoas quererem viver em cidades.
Historicamente, a principal limitação ao crescimento das cidades tem sido económica. Nas
sociedades pré-industriais, a maior parte da população, mesmo não agrícola, vivia em
zonas rurais. Era mais barato transportar para mercados distantes produtos industriais
acabados, como têxteis e ferro, que fornecer alimento e matérias-primas às
concentrações de trabalhadores. A introdução da energia a vapor e do sistema fabril, a
transição do carvão vegetal para o coque como combustível para a indústria do ferro e os
melhoramentos nos transportes e nas comunicações mudaram a situação. A ascensão do
sistema fabril exigia uma concentração da força de trabalho. Graças à importância do
carvão, alguns dos maiores centros industriais, cresceram em ou perto de, jazidas de
carvão – a Província Negra, em Inglaterra, a área do Ruhr, na Alemanha, a região em torno
de Lille, no norte de França e a região de Pittsburgh, na América do Norte. Estes
exemplos também sublinham a importância dos recursos no crescimento económico
moderno.
Recursos
A Europa Industrial não passou por qualquer aumento mágico na quantidade ou qualidade
dos recursos naturais, em comparação com a Europa Pré-Industrial, mas em resultado da
mudança tecnológica e da pressão da procura crescente, os recursos que eram
anteriormente desconhecidos ou que tinham pouco valor adquiriram, de súbito, uma
importância enorme, mesmo crítica.
Segundo Kuznets, uma grande parte da história económica – e mesmo a história política,
social e cultural – dos anos entre 1492 e 1776 pode ser explicada por referência a<o
progresso da exploração e descoberta, ao comércio marítimo, ao crescimento das
marinhas e a fenómenos afins.
66
O período da história tecnológica que vai desde o começo do séc. XVIII até
aproximadamente 1860 ou 1870 é melhor caracterizado como a era do artesão-inventor.
Inovação, quando a invenção é inserida num processo económico, é que assume significado
económico. Por exemplo, a invenção de James Watt do condensador separado para a
máquina a vapor de Newcomen, que patenteou em 1769, teve um papel insignificante na
economia até ele, em sociedade com Matew Boulton , ter começado a produzir e
comercializar máquinas a vapor em 1776.
Difusão, refere-se ao processo por que uma inovação se dissemina numa dada indústria,
entre indústrias e internacionalmente, para lá das fronteiras geográficas. A difusão não é
de forma alguma, um processo automático de replicar a inovação inicial; devido às
diferentes exigências de indústrias diferentes, a diferentes equilíbrios de factores em
ambientes diferentes e a diferenças culturais entre nações, pode deparar-se com
problemas semelhantes aos relacionados com a introdução duma inovação original.
Quando a patente básica de watt expirou, em 1800, menos de 500 máquinas estavam
operacionais na Grã-Bretanha, e apenas umas quantas dúzias no Continente. Por muito
fundamentais que os seus contributos tenham sido para a evolução da tecnologia do vapor,
as máquinas de Watt tinham muitas limitações como fontes industriais de energia. São
várias as razões para a sua limitada utilidade, entre as quais o imperfeito conhecimento
científico, a resistência insuficiente dos metais utilizados na sua construção e a falta de
ferramentas adequadas.
67
inventaram e aperfeiçoaram a turbina hidráulica, um dispositivo altamente eficaz na
conversão da força da queda da água em energia útil.
Os fenómenos eléctricos tinham sido observados em tempos recuados, mas até ao séc.
XVIII a electricidade tinha sido considerada como apenas uma curiosidade. Nos finais do
séc. XVIII, as pesquisas de Benjamin Franklin na América e dos italianos Luigi Galvani e
Alessandro Volta, que inventaram a pilha voltaica, ou bateria, promoveram-na do estatuto
de truque de palco a objecto de investigação laboratorial. Em 1807, Sir Humphry Davy
descobriu a electrólise. A fase seguinte no estudo da electricidade foi dominada por
Michael Faraday, aluno de Davy, pelo físico dinamarquês Hans Ørsted e pelo matemático
francês André Ampère. Em 1820, Ørsted observou que uma corrente eléctrica produz um
campo magnético à volta dos condutores, o que levou Ampère a formular uma relação
quantitativa entre electricidade e magnetismo. Entre 1820 e 1831, Faraday descobriu o
fenómeno da indução electromagnética e inventou um primeiro gerador accionado à mão.
Trabalhando com base nestas descobertas, Samuel Morse desenvolveu o telégrafo
eléctrico na América entre 1832 e 1844.
Em 1879, o mesmo ano em que Edison patenteou a sua lâmpada eléctrica, um alemão,
Werner von Siemens, inventou o carro eléctrico (ou simplesmente, eléctrico), com
consequências revolucionárias para o transporte de massas nas metrópoles superlotadas
da época.
Aço barato
A única grande inovação técnica na indústria do ferro na primeira metade do séc. XIX
foi o jacto de ar quente, patenteado pelo engenheiro escocês James B. Nielson em
1828. ao usar gases de desperdícios para pré-aquecer o ar utilizado no alto-forno, o
jacto de ar quente gerou uma combustão mais completa do combustível, diminuiu o
68
consumo de combustível e acelerou o processo de fundição. Foi rapidamente adoptado
para siderurgias da Escócia, do Continente, e mesmo nos Estados Unidos, mas mais
lentamente em Inglaterra e no País de Gales.
Transportes e comunicações
Até ao fim da Guerra Civil Americana, os navios a vapor que cruzavam os oceanos
transportavam principalmente correspondência, passageiros e carga ligeira e valiosa.
A verdadeira era do navio a vapor só chegou com o aperfeiçoamento da hélice (na
década de 1840), do motor composto (na década de 1850), dos cascos de aço (na
década de 1860) e da abertura do canal de Suez em 1869.
69
à invenção da litografia, em 1819, e o desenvolvimento da fotografia depois de 1827
possibilitaram a reprodução barata e a vasta disseminação de imagens visuais. A
Grã-Bretanha introduziu a franquia postal em 1840.
Em 1866, o americano Cyrus W. Field conseguiu colocar, com sucesso um cabo telegráfico
no Atlântico Norte, proporcionando uma comunicação quase instantânea entre a Europa e
a América do Norte. Seguiram-se-lhe outros cabos telegráficos submarinos. O telefone
patenteado por Alexander Bell em 1876, tornou as comunicações à distância ainda mais
pessoais, mas a sua principal utilização, no início, visou facilitar as comunicações locais.
O inventor e empresário italiano Gugliemo Marconi, baseando-se nas descobertas
científicas do inglês James Clerck Maxwell e do alemão Heinrich Hertz, inventou a
telegrafia sem cabos (ou rádio) em 1895.
O emprego da ciência
70
A estrutura institucional
Fundamentos jurídicos
71
A obra purgativa da revolução não deverá ser encarada como meros actos negativos de
demolição. Pelo contrário, esses actos representavam os primeiros passos essenciais
conducentes a uma política positiva, construtiva e bastante consistente.
Devido aos seus privilégios, cada anonyme tinha de ser expressamente autorizada pelo
Governo, que, na primeira metade do século, foi extremamente relutante em conceder
72
essas autorizações. Uma Commandite, podia ser criada através de simples registo
notarial, e rapidamente se tornou a forma preferida de empreendimento.
Só muito depois da sua morte – e depois de vários outros escritores, como o reverendo
T. R. Malthus e David Ricardo, terem contribuído para o corpo de literatura conhecido
como «economia política clássica» - é que as ideias de Smith começaram a ser
contempladas na legislação. Isto verificou-se em primeiro lugar no Reino Unido, nas
décadas de 1820 e 1830.
A maior proeza dos economistas clássicos foi a revogação das Corn Laws, o que
introduziu um longo período de comércio livre na Grã-Bretanha. Além do comércio
livre, os dogmas do liberalismo económico (como ficou conhecida a nova doutrina)
preconizavam uma redução do papel do Governo na economia. Em seu nome, o
sistema fiscal foi revisto e simplificado e as Leis de Associação, as Leis de
Navegação, as Leis de Usura e outros símbolos legislativos do Antigo Regime na vida
económica foram todos rejeitados.
73
Esta descrição idealizada do papel do Governo de acordo com os economistas
clássicos deu origem a um mito, que é o mito do Laissez-faire. O seu entendimento
popular era o de que os indivíduos, especialmente as pessoas que tinham negócios,
deviam ser libertadas de todas as restrições governamentais (excepto as leis criminais)
para desempenhar os seus interesses egoístas.
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perspectiva comum, diferentes e talvez irreconciliáveis com os valores e as
perspectivas das pessoas que se dedicam a outras actividades. O séc. XIX assistiu, por
vezes, a lutas amargas entre grupos rivais pelo reconhecimento e domínio social e
político.
Karl Marx profetizou, em meados do séc. XIX, que a polarização que pensava
observar nas então avançadas sociedades industriais continuaria até, por fim, restarem
apenas 2 classes, a classe governante de capitalistas (absorveria e substituiria a
aristocracia) e o proletariado industrial. Enquanto premonição esta profecia foi
falsificada pelos factos históricos. Em vez de polarizar 2 classes mutuamente
antagónicas, o aumento da industrialização aumentou significativamente a classe
média de trabalhadores de colarinho branco, de trabalhadores especializados e de
empresários individuais.
A maior parte das nações ocidentais passou por, pelo menos, 3 fases nas suas atitudes
oficiais em relação aos sindicatos:
1ª Fase – proibição ou supressão imediata, foi tipificada pela Lei Le Chapelier de
1791, em França, pelas Leis de Associação de 1799-1800, na Grã-Bretanha, e
por legislação semelhante noutros países.
2ª Fase – marcada na Grã-Bretanha pela revogação das Leis de Associação em
1824-25, os Governos concederam uma tolerância limitada aos sindicatos,
permitindo a sua formação, mas perseguindo-os frequentemente por
empenharem em acções públicas como as greves.
3ª Fase – não alcançada antes do séc. XX nalguns países, noutros não alcançado
de todo, reconheceu aos trabalhadores e trabalhadoras o direito legal de se
organizarem e empenharem em actividades colectivas.
75
Na Grã-Bretanha, na década de 1830, o movimento sindicalista envolveu-se num
movimento político mais alargado conhecido por cartismo, cujo objectivo era
conseguir o sufrágio e outros direitos políticos para ao que estavam privados deles.
O movimento laboral alemão data da década de 1860. Como o francês esteve também
associado desde o início a partidos políticos e a acção política, ao contrário do
movimento francês, foi mais centralizado e coeso. O movimento trabalhista alemão
tinha 3 divisões principais:
- Os Hirsch-Dunker, ou sindicatos liberais, que se dirigiam sobretudo a
trabalhadores especializados.
- Os sindicatos socialistas ou «livre», com muito mais membros.
- Os sindicatos católicos ou cristãos, fundados coma a benção do Papa por
oposição aos sindicatos socialistas «sem Deus». Em 1914, o movimento
sindicalista alemão tinha 3 milhões de membros, cinco sextos dos quais
pertencentes a sindicatos socialistas, o que fez dele o segundo maior da
Europa.
76
movimento sindical para melhorar as condições de vida e de trabalho dos seus
membros. Na Rússia e no resto da Europa Oriental, os sindicatos forma ilegais até ao
fim da I Guerra Mundial.
Educação e alfabetização
Antes do séc. XIX, quase não existiam instituições educativas com apoios públicos.
Os abastados contratavam tutores particulares para os seus filhos. As instituições
religiosas e de caridade e, nuns quantos casos, as escolas particulares que cobravam
uma propina providenciavam educação elementar a uma fracção de população,
principalmente nas cidades.
77
Os estudos secundários e superiores estavam em grande parte reservados aos filhos
(principalmente rapazes) das classes privilegiadas exceptuando os aspirantes a
membros do clero. Com poucas excepções (nomeadamente na Escócia e nos Países
Baixos), as universidades antigas há muito que tinham deixado de ser centros de
desenvolvimento do conhecimento; mergulhadas, num curriculum tradicional que
privilegiava os clássicos, formavam funcionários para a Igreja e para o Estado e
davam a aparência duma educação liberal aos filhos das classes dirigentes.
Relações internacionais
78
abraçado por membros das classes médias instruídas, mas também reflectia as
aspirações dos povos divididos da Itália e da Alemanha de verem as suas nações
unificadas e as aspirações das nacionalidades súbditas dos impérios austríaco, russo e
otomano.
79
80
Cap. IX
Grã-Bretanha
Em resultado da sua primazia na indústria e dos seu papel como potência marítima
esmagadoramente superior, alcançada durante as últimas guerras, emergia também
como a principal nação comercial, sendo responsável por um quarto ou um terço do
comércio internacional total – bem mais que o dobro do dos seus principais rivais. A
Grã-Bretanha manteve o seu domínio industrial e comercial durante a maior parte do
séc. XIX. Após 1870, mesmo quando a produção e o comércio totais continuavam a
aumentar, perdeu gradualmente a primazia para as outras nações que se
industrializavam rapidamente. Os Estados Unidos ultrapassaram-na em termos de
produção industrial total na década de 1880, e a Alemanha na primeira década do séc.
XX. Nas vésperas da I Guerra Mundial, era ainda a principal nação comercial, mas
então dominava apenas cerca de um sexto do comércio total e era seguida de perto
pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
81
da produtividade total dos factores (produção por unidade de todas as entradas) foi de
zero.
A explicação mais recente aponta para outra causa possível do declínio relativo da
Grã-Bretanha: o malogro empresarial. Não restam dúvidas de que a Grã-Bretanha
Vitoriana teve alguns empresários individuais dinâmicos e agressivos, William Lever
(da Lever Brothers, mais tarde Unilever) e Thomas Lipton (chá), entre outros,
tornaram-se nomes familiares. Por outro lado, há provas abundantes de que os
empresários do final da época vitoriana não exibiam em geral o dinamismo dos seus
antepassados, adoptaram o estilo de vida de cavalheiros ociosos e deixaram a
administração diária das suas empresas a gerentes contratados. A introdução tardia e
quase timorata de novas indústrias de alta tecnologia (ao tempo), como as dos
químicos orgânicos, da electricidade, da óptica e do alumínio, ainda que muitos dos
inventores fossem britânicos, é um sinal de letargia empresarial. Ainda mais
impressionante é a resposta tardia e parcial dos empresários britânicos à nova
tecnologia naquelas indústrias fundamentais de que eram, ou tinham sido
representantes máximos.
Desde o começo do séc. XIX, se não antes, apesar das suas importantes indústrias
exportadoras, que a Grã-Bretanha tinha uma balança «desfavorável», ou negativa, do
comércio de mercadorias. O défice era coberto pelos ganhos da marinha mercante e
pelo investimento externo o que permitiu o aumento quase contínuo deste último ao
longo do século.
Em resumo, deve dizer-se que, apesar de todas as vicissitudes, o rendimento real per
capita dos Britânicos aumentou sensivelmente duas vezes e meia entre 1850 e 1914,
que a distribuição de rendimento se tornou ligeiramente mais igual, que a proporção
da população na mais completa miséria diminuiu e que, em 1914, o britânico médio
desfrutava do padrão de vida mais elevado da Europa.
82
Estados Unidos
As enormes dimensões físicas dos Estados Unidos, com climas e recursos diferentes
permitiram um grau de especialização regional ainda maior que o que era possível em
qualquer país da Europa. Na época em que conquistou a sua independência quase 90%
da sua força laboral dedicava-se principalmente à agricultura e muita da restante ao
comércio, a nova nação em breve começou a diversificar-se. Em 1789, o ano em que a
Constituição entrou em vigor, Samuel Slater chegou de Inglaterra e, no ano seguinte,
em sociedade com comerciantes de Rhode Island, criou a primeira indústria fabril da
América. Pouco depois, em 1793, o descaroçador de algodão, inventado por Eli
Whitney, lançou o sul da América do Norte como principal fornecedor da
matéria-prima da maior indústria fabril do mundo.
Esta dicotomia levou a um dos primeiros grandes debates sobre política económica na
nova nação. Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Tesouro, queria patrocinar
as fábricas atravésde tarifas proteccionistas e outras medidas. Por outro lado, Thomas
Jefferson, o primeiro secretário de Estado e terceiro presidente, preferiu o
encorajamento da agricultura e do comércio como seu auxiliar. Os Jeffersonianos
venceram a luta política, mas os Hamiltonianos (depois da morte trágica e prematura
de Hamilton) viram as suas ideias triunfarem.
Outra vantagem da dimensão dos Estados Unidos foi o seu potencial para um grande
mercado interno praticamente livre de barreiras aduaneiras artificiais. Mas para realizar
esse potencial foi necessário criar uma vasta rede de transportes. No começo do século
XX, a escassa população estava espalhada ao longo da costa marítima do Atlântico; a
comunicação era mantida através de navegação costeira, complementada por umas quantas
83
carreiras postais. Os rios proporcionavam o único acesso prático ao Interior e esse
acesso estava extremamente limitado por quedas de água e rápidos. Para remediar esta
deficiência, os Estados e as municipalidades, em cooperação com interesses privados,
empenharam-se num extensivo programa de melhorias internas, o que na prática implicou a
construção de estradas com portagens e canais.
Uma razão de peso do decepcionante desempenho económico dos canais foi o advento
dum novo concorrente, o caminho-de-ferro. A era do caminho-de-ferro começou
quase simultaneamente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, embora nos estados
Unidos tenha por muitos anos dependido profundamente da tecnologia, equipamento e
capital britânicos. No entanto, os patrocinadores americanos, rapidamente perceberam
as potencialidades deste novo meio de transporte. Em 1840, a extensão de vias férreas
concluídas excedia, não apenas a da Grã-Bretanha, mas a de toda a Europa, e assim
durante a maior parte do século.
Bélgica
84
Seraing, perto de Liège, foram o primeiro aglomerado industrial em grande escala no
Continente.
Em 1835, um grupo rival de financeiros obteve autorização para criar outro banco
privado, o Banque de Belgique. Semelhante à Société Générale em todos os aspectos
importantes (embora substancialmente mais pequeno), o novo banco não perdeu
tempo a imitar o seu antecessor no sector da banca de investimentos. Como a Société
Générale, também o Banque de Belgique tinha uma ligação francesa por intermédio
do banco parisiense da Hottinguer et Cie.
França
A característica mais marcante do séc. XIX, no caso da França, foi a sua baixa taxa de
crescimento demográfico. A industrialização da Grã-Bretanha, da Bélgica e,
eventualmente, da América e da Alemanha baseou-se essencialmente em abundantes
reservas de carvão. A França, embora não estivesse completamente privada de carvão,
não possuía jazidas abundantes, e, de resto, o tipo de jazidas que possuía tornava a sua
exploração bastante dispendiosa. Estes factos tiveram implicações importantes para
outras indústrias relacionadas com a do carvão, como a do ferro e do aço. Em
tecnologia, a França não estava atrasada, cientistas, inventores e inovadores franceses
tomaram a dianteira em várias indústrias, incluindo a da energia hidroeléctrica, do
aço, do alumínio, dos automóveis e, no séc. XX, da aviação.
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Está agora bem determinado que o crescimento económico moderno em França teve
início no séc. XVIII. Para o século como um todo, as taxas de crescimento, quer da
produção total quer da produção per capita, foram sensivelmente as mesmas em
França e na Grã-Bretanha, talvez até um pouco mais elevada em França, embora a
França tivesses começado (e terminado) com um produção per capita mais baixa. Mas
o século acabou com a Grã-Bretanha num processo de «revolução industrial» (no
algodão), enquanto a França foi apanhada nas malhas duma grande sublevação
política, a Revolução Francesa. Nesse ponto reside uma importante diferença que
afectou os desempenhos relativos das duas economias durante a maior parte do séc.
XIX.
Após uma depressão bastante severa no pós-guerra, que afectou toda a Europa
Continental Ocidental e tocou mesmo a Grã-Bretanha, a economia francesa retomou o
seu crescimento com taxas ainda superiores às do séc. XVIII.
A recessão teve início em 1882 durou mais tempo e provavelmente custou mais à
França que qualquer outra do século XIX. No princípio assemelhou-se a muitas outras
86
recessões começando com um pânico financeiro, mas seguiram vários outros factores
que a agravaram e prolongaram: doenças catastróficas, que afectaram seriamente as
indústrias vinícolas e da seda durante duas décadas; avultadas perdas em
investimentos externos por incúria de governos negligentes e de caminhos-de-ferro
falidos; o regresso a nível mundial ao proteccionismo em geral e, em particular as
novas tarifas francesas; e uma amarga guerra comercial com a Itália desde 1887 até
1898. globalmente, o comércio esterno definhou e manteve praticamente estacionário
durante mais de 15 anos e, com a perda de mercados estrangeiros, a indústria interna
também estagnou. A acumulação de capital atingiu o seu ponto mais baixo na segunda
metade do século.
A prosperidade regressou, por fim, mesmo antes do final do século, com a extensão
dos campos de minério de Lorena e o advento de novas indústrias como as da
electricidade, do alumínio, do níquel e dos automóveis. A França desfrutou uma vez
mais de uma subida da taxa de crescimento.
De todas as grandes nações industriais a França era a que tinha a maior proporção de
mão-de-obra na agricultura – cerca de 40% em 1913. Este facto tem sido
frequentemente apontado como uma evidência primária do «retardamento» da
economia francesa, mas a interpretação correcta não é assim tão simples. Diversos
factores foram invocados para justificar a proporção relativamente elevada de
população que se dedicava à agricultura – incluindo as baixas taxas de crescimento
populacional e de urbanização!-, mas é menos frequentemente observado que, no
princípio do séc. XX, a frança era a única nação industrial da Europa auto-suficiente
em géneros alimentares, e tinha mesmo um excedente para exportação.
Com respeito à escala e estrutura dos empreendimentos, a França foi famosa (ou
notável) pela pequena dimensão das suas empresas, significativamente, estas empresas
concentravam-se na mineração, na metalurgia e nos têxteis, as mesmas indústrias nas
quais as empresas de grandes dimensões e com elevados investimentos de capitais
prevaleciam noutros países industrializados, com a excepção de existirem em maior
quantidade. Entre estes dois extremos havia um grande número de empresas de
pequena e média dimensão que empregava a grande maioria de assalariados. No
extremo mais baixo da escala, os que empregavam menos de 10 trabalhadores cada,
dedicavam-se às tradicionais indústrias artesanais, como o processamento de
alimentos, o vestuário e a carpintaria, enquanto as que tinham mais de 100
trabalhadores se dedicavam principalmente às indústrias modernas – química,
vidrararia, papel e borracha, bem como têxteis, mineração e metalurgia. Duas outras
características da dimensão relativamente pequena das empresas francesas não podiam
deixar de ser referidas:
- Elevado valor acrescentado (artigos de luxo)
- Dispersão geográfica.
Em parte a dispersão foi determinada pela natureza das fontes de energia disponíveis.
87
A energia hidráulica, por muito importante que tivesse sido para a industrialização
francesa, ajudou a impor um padrão: pequena dimensão das empresas, dispersão
geográfica e baixa urbanização. Estas características acabaram por ser partilhadas por
outros países com poucas reservas de carvão.
Alemanha
88
Um edicto de 1807 aboliu a servidão, autorizou a nobreza a dedicar-se a «ocupações
burguesas [comércio e indústria] sem derrogação do seu estatuto» e aboliu a distinção
entre propriedade nobre e não nobre, criando assim, efectivamente, o «comércio livre»
em terra. Edictos posteriores aboliram os grémios e eliminaram outras restrições à
actividade comercial e industrial, melhoraram e modernizaram a administração
central. Outras reformas deram à Alemanha o primeiro sistema educativo moderno.
Em geral, o Zollverein seguiu uma política comercial liberal (isto é, de tarifas baixas),
não por um princípio económico mas por a administração prussiana querer excluir a
proteccionista Áustria da participação na união.
89
Em 1864, Hofman regressou à Alemanha como distinto professor e consultor da nova
indústria da tinturaria. No período de alguns anos, a indústria valendo-se do pessoal e
recursos das universidades, impôs o seu domínio na Europa e no mundo. A indústria da
química orgânica foi também a primeira no mundo a estabelecer os seus próprios
laboratórios e pessoal de investigação. Ela introduziu, assim, muitos produtos novos e
dominou também a produção de fármacos.
90
91
Cap. X
Suíça
A Alemanha foi o último dos primeiros industrializados, a Suíça foi o primeiro dos
retardatários. Apesar de a Suíça já ter adquirido, na primeira metade do século ou
antes, alguns recursos importantes que desempenharam um papel relevante na sua
rápida industrialização após 1850 – nomeadamente um elevado nível de alfabetização
adulta -, a sua estrutura económica era ainda largamente pré-industrial. Só em 1850
conseguiu uma união aduaneira (ao contrário da Alemanha, que tinha um Zollverien
mas não um Governo Central), uma união monetária efectiva, um sistema postal
centralizado ou um padrão uniformizado de pesos e medidas.
Mais tradicional que a indústria do algodão, a indústria da seda acabou na verdade, por
dar uma maior contribuição ao crescimento económico suíço no séc. XIX, em termos de
92
emprego e de exportação, que a primeira também passou por um processo de
modernização tecnológica.
A indústria de lacticínios, muito famosa pelos seus queijos, converteram a sua produção
de um processo manual para um processo fabril, assim expandindo grandemente a
produção e a exportação. A indústria também desenvolveu a produção de leite condensado
(com base numa patente americana) e criou duas indústrias paralelas, a produção de
chocolate e de alimentos pré-confeccionados para bebé. Através das suas próprias
pesquisas também desenvolveram várias especialidades farmacêuticas, em termos globais,
era a segunda maior do mundo; embora atingisse apenas um quinto da produção alemã,
produzia tanto como o resto do mundo junto.
Pode parecer incongruente associar os Países Baixos aos países escandinavos numa
discussão sobre o padrão de industrialização; na verdade é bastante lógico. As
características comuns dos países escandinavos considerados conjuntamente são
culturais, não económicas. Em termos de estrutura económica, os Países Baixos têm mais
em comum com a Dinamarca que qualquer deles com a Noruega e a Suécia. O habitual
emparelhamento dos Países Baixos com a Bélgica revela que este foi um dos primeiros
países a ser industrializados, ao contrário daqueles; que a Bélgica tinha carvão e
desenvolveu uma indústria pesada, os Países Baixos não.
Em 1914, estes quatro países, juntamente com a Suíça, tinham alcançado padrões de vida
comparáveis aos dos primeiros países continentais industrializados. Devido ao seu começo
mais tardio e à sua carência de carvão, é importante compreender as fontes do seu
sucesso.
A densidade populacional variou muito. Os Países Baixos tinham uma das maiores
densidades da Europa, ao passo que a Noruega e a Suécia tinham a mais baixa, inferior
mesmo à da Rússia. A Dinamarca estava no meio, mas estava mais perto dos Países Baixos.
93
Considerando o capital humano como uma característica da população, podemos dizer que
todos estes quatro países estavam extremamente bem dotados. Tanto em 1850 como em
1914, os países escandinavos tiveram as taxas de alfabetização mais elevadas da Europa,
ou do mundo, e os Países Baixos estavam bastante acima da média europeia. Este facto foi
de valor inestimável na ajuda das economias nacionais a encontrar os seus nichos nas
correntes em expansão e em constante mutação da economia internacional.
Quanto a recursos naturais, a Suécia era o país mais dotado de abundantes depósitos de
minérios, tanto fosfóricos como não fosfóricos (e também minérios metálicos não
ferrosos, mas estes tinham menos importância), de vastas extensões de madeira virgem e
da energia hidráulica. A Noruega também possuía madeira, alguns minérios metálicos e um
enorme potencial hidroeléctrico. A energia hidráulica foi, na Suécia e na Noruega, um
factor significativo no seu desenvolvimento do início do séc. XIX, mas tornou-se
particularmente importante com o aproveitamento da energia hidroeléctrica depois de
1890. A Dinamarca e os Países Baixos estavam quase tão desprovidos de energia
hidráulica como de carvão. Tinham alguma energia eólica, que não era negligenciável, mas
que dificilmente podia servir de base a um grande desenvolvimento industrial.
Os Holandeses, com uma longa tradição de pesca e marinha mercante, mas mais
recentemente de algum modo moribundas, tiveram dificuldades em desenvolver bons
portos adequados a navios a vapor; acabaram por fazê-lo em Roterdão e em Amesterdão,
com resultados espectaculares para o comércio em trânsito para a Alemanha e para a
Europa Central e para o processamento de produtos alimentares e matérias-primas
ultramarinas (açúcar, tabaco, chocolate, cereais, e até petróleo).
94
separaram não muito pacificamente, para virem a formar a moderna Bélgica em 1830. em
1864, a Prússia e a Áustria apoderaram-se dos ducados dinamarqueses do Eslésvico e da
Hulsácia. Por outro lado, o século passou duma forma relativamente pacífica,
verificando-se uma democratização progressiva em todos os países. Eram razoavelmente
bem governados, sem corrupção notória nem projectos estatais grandiosos, embora em
todos eles o governo tivesse dado alguma ajuda às vias férreas e, na Suécia, como na
Bélgica, o Estado tivesse construído as linhas principais.
O factor chave do sucesso destes países (a par da elevada alfabetização), foi a sua
capacidade de adaptação à divisão internacional do trabalho determinado pelos primeiros
industrializadores e de demarcação das áreas de especialização em mercados
internacionais para que estavam particularmente ajustados. Isto significou
evidentemente, uma grande dependência do comércio internacional, que tinha flutuações
notórias; mas também significou elevados lucros para aqueles factores de produção
suficientemente venturosos para estarem bem situados em tempos de prosperidade.
Apesar destes países terem entrado em força no mercado mundial em meados do séc.
XIX, com a exportação de matérias-primas e bens de consumo ligeiramente refinados,
tinham todos desenvolvido indústrias altamente sofisticados no começo do séc. XX. A isto
chama-se «industrialização contra a corrente»; isto é um país que em tempos exportara
matérias-primas começa a processá-las e a exportá-las sob a forma de bens
semifabricados e acabados.
A electricidade foi uma grande benção para as economias dos quatro países. A Noruega e
a Suécia, com o seu vasto potencial hidroeléctrico, foram especialmente favorecidas; mas
mesmo a Dinamarca e os Países Baixos, que podiam importar carvão relativamente barato
da região carbonífera do nordeste da Grã-Bretanha, beneficiaram muito com a
electricidade gerada pelo vapor.
95
Em resumo, a experiência dos países escandinavos, como o da Suíça, mostra que foi
possível desenvolver indústrias sofisticadas e um elevado padrão de vida sem recursos
internos de carvão ou indústrias pesadas e que não há um modelo único para uma
industrialização de sucesso.
Império Austro-Húngaro
Pensava-se que a Revolução de 1848 marcava uma grande linha divisória na história tanto
económica como política do Império, mas essa noção tem, hoje, sido desacreditada.
Entre as últimas, a persistência da servidão legalizada até 1848 foi o mais anacrónico. Na
verdade, porém, a servidão foi um impedimento menos significativo do que poderia
pensar-se. As reformas de José II na década de 1780 permitiram aos camponeses deixar
as propriedades dos seus senhores sem penalizações e comerciar a suas colheitas como
quisessem. A principal consequência da abolição da servidão em 1848 foi a de permitir aos
camponeses a posse livre e sem encargos e a de substituir os impostos pagos ao estado
pelos que eram anteriormente pagos aos seus senhores feudais.
96
elevadas tarifas limitaram não apenas as importações mas também as exportações, porque
as indústrias protegidas, que o eram a custo elevado, eram incapazes de competir nos
mercados mundiais.
Razão de peso tanto para o lento crescimento como para a desigual difusão da indústria
moderna foram os níveis de educação e alfabetização, componentes da maior importância
do capital humano. Os níveis de alfabetização para a metade austríaca do Império eram
sensivelmente iguais aos de França e da Bélgica em meados do séc. XIX, estavam
desigualmente distribuídos. Dentro do Império como um todo, existia uma grande
correlação entre níveis de alfabetização e níveis de industrialização e de rendimento per
capita.
Na Boémia e na Silésia Austríaca, de algum modo mais bem dotadas de carvão que o resto
do Império, as indústrias metalúrgicas modernas desenvolveram-se da década de 1830 em
diante. Estas indústrias incluíam, não apenas a produção primária de ferro-gusa, como
também a refinação e o fabrico, a par de algumas fábricas de maquinaria e de
máquinas-ferramenta. Também se criaram algumas indústrias químicas pesadas.
97
Em resumo, a Monarquia Habsburga, que em termos industriais tinha estado ao mesmo ou
mesmo à frente dos desunidos Estados Alemães na primeira metade do séc. XIX, caiu
para muito atrás do crescimento industrial do Império Alemão Unificado após 1871. na
metade ocidental (austríaca) da Monarquia, a indústria continuou a crescer, regular e não
espectacularmente, ao passo que a da metade oriental (húngara) disparou depois de
aproximadamente 1867. No começo do séc. XX, a parte ocidental encontrava-se
sensivelmente ao mesmo nível de desenvolvimento da média da Europa Ocidental; a região
oriental, embora muito atrás da ocidental, estava, apesar de tudo, bem à frente do resto
da Europa Oriental.
Península Ibérica
No séc. XIX , as histórias económicas da Espanha e de Portugal são tão semelhantes que é
conveniente analisá-las como se de uma se tratasse. Ambas emergiram das Guerras
Napoleónicas com sistemas económicos primitivos, e mesmo arcaicos, e regimes políticos
reaccionários. Este último aspecto fomentou sublevações revolucionárias em ambos os
países em 1820, embora as revoluções acabassem por se frustar, conduziram a guerras
civis endémicas que interferiram com a actividade económica normal e impossibilitaram
qualquer política económica coerente. Finanças públicas deploráveis afligiram ambos os
países.
98
Portugal nem sequer tentou uma reforma agrária. Entretanto, o aumento da população de
ambos os países resultou no cultivo de mais cereais – o meio de subsistência – em solos
inferiores e em menos pastagens para o gado, provocando uma queda acrescida da
produtividade.
Portugal inaugurou em 1856 a sua primeira via-férrea, uma curta linha que partia de
Lisboa, e a história dos caminhos-de-ferro portugueses é ainda mais triste que a de
Espanha . construídas com capital estrangeiro (especialmente francês), as suas vias
férreas sofreram com a fraude e a corrupção, bem como com falências, e pouco fizeram
pelo desenvolvimento da economia.
A Espanha tinha algumas jazidas de carvão (Portugal nenhuma), mas não eram de boa
qualidade e estavam mal localizadas para fins de exploração industrial. Apesar disso, nas
duas últimas décadas do séc. XIX cresceu uma pequena indústria do ferro e do aço ao
99
longo da costa setentrional, nas proximidades de Bilbau. No séc. XX, a região tornou-se
uma das mais ricas e economicamente desenvolvidas da Espanha. Nada de semelhante se
verificou em Portugal.
Itália
A Sabóia que deu ao Reino, e mais tarde à Itália, a sua dinastia reinante, pertencia
cultural e economicamente à França. Génova, o centro comercial, mantivera-se uma
república independente durante vários séculos antes de Napoleão.
Um homem notável destacou-se no reino de Sardenha. Foi o Conde Camillo Benso di Cavour
– proprietário fundiário e agricultor progressista que também patrocinara um
caminho-de-ferro, um jornal e um banco e que, em 1850, se tornou ministro da Marinha,
do Comércio e da Agricultura na recentemente monarquia constitucional do seu pequeno
país. No ano seguinte acumulou pasta das Finanças, e em 1852 tornou-se
primeiro-ministro. Afirmou repetidamente que a ordem financeira e o progresso
económico eram as duas condições indispensáveis para Piemonte assumir, aos olhos da
Europa, a primazia da Península Itálica. Para alcançar estes objectivos, defendeu o auxílio
económico externo, incluindo o investimento de capitais estrangeiros. Entre 1850 e 1855,
as exportações aumentaram 50%, enquanto as importações quase triplicaram; os
investimentos franceses financiaram a conseguinte balança comercial altamente
deficitária.
Uma parte da dívida pública tinha sido contraída para saldar mal-sucedidas guerras de
1848 e 1849, e ainda mais para preparar a agora triunfante guerra de 1859, em que o
reino da Sardenha, com o auxílio militar e financeiro da França, derrotou o Império
Austríaco e preparou o caminho para o reino unificado da Itália, em 1861.
100
Com a maior parte da mão-de-obra empregada na agricultura de baixa produtividade, a
Itália tinha um longo caminho a percorrer sob as melhores circunstâncias. A unificação
mitigou um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento económico, a fragmentação do
mercado; mas sem a exploração das vantagens dos transportes e das comunicações, até
esta realização teria sido ilusória.
Nenhuma lei podia remediar a pobreza de recursos naturais, e apenas a legislação mais
sensata e a administração mais judiciosa podiam superar a escassez de capital.
Infelizmente para a Itália, os esforços de Cavour durante esses anos alucinantes levaram
à sua morte prematura apenas 3 meses depois da proclamação do Reino, assim privando o
país as sua sensata e inspirada chefia.
Perto do fim da década de 1890, após a guerra tarifária com a frança e com uma nova
injecção de capital estrangeiro, desta vez da Alemanha, a Itália vivenciou um pequeno
crescimento industrial que durou, com flutuações, até depois do início da I Guerra
Mundial. A Itália não era ainda uma nação industrial, mas tinha feito um começo tardio.
Sudeste da Europa
Não havia uma abundância de recursos naturais que aliviasse a pressão populacional.
Grande parte da terra era montanhosa e inadequada para cultivo, especialmente na Grécia
e, menos marcadamente, na Albânia, na Bulgária e na Sérvia. A Roménia estava mais bem
dotada de terra arável, mas, empregando-se técnicas primitivas de cultivo, não era ainda
especialmente produtiva. Existiam algumas pequenas jazidas de carvão muito dispersas, e
pequenas jazidas de metais não ferrosas, mas mal tinham começado a ser exploradas, pelo
capital estrangeiro, quando eclodiu a I Guerra Mundial. O recuso mineral mais importante
era o petróleo da Roménia. Várias empresas estrangeiras, sobretudo alemãs, começaram a
fazer perfurações na última década do séc. XIX.
De acordo com o seu carácter agrário, o comércio externo de todos estes países
consistia na exportação de produtos agrícolas e na importação de produtos fabricados,
principalmente bens de consumo. Os cereais, sobretudo o trigo, representavam cerca de
70% das exportações da Roménia e da Bulgária. A Sérvia, com menos terra arável,
101
exportava principalmente porcos vivos e, pouco antes da guerra, produtos suínos
processados, ameixas secas e frescas e a sua famosa aguardente de ameixa, a slivovica. A
Grécia, com ainda menos terra arável e não muito adequada ao cultivo de cereais,
exportava sobretudo uvas e passas de uvas, bem como algum vinho e aguardente.
Em contraste com a lenta difusão de tecnologia agrícola e industrial, a tecnologia
institucional de bancos e dívidas externas espalhou-se rapidamente. Em 1885, todos os
quatro Estados das Balcãs tinham criado bancos centrais com poderes exclusivos de
emissão de notas.
Em 1898, a Grécia chegou a um ponto tão grave de endividamento ao estrangeiro, que teve
de concordar com uma Comissão Financeira Internacional criada pelas grandes potências
para supervisionar as suas finanças. Por fim, todos os outros estados dos Balcãs, com
excepção da Roménia, tiveram de aceitar uma verificação estrangeira semelhante.
Grande parte dos empréstimos externos foi contraída para a construção de redes
ferroviárias, principalmente por conta do Estado.
Rússia Imperial
No princípio do séc. XX, o Império Russo era geralmente considerado uma das grandes
potências. O seu território e população, de longe maiores que os de qualquer outra nação
europeia, fazia merecer aquele estatuto. Também em termos económicos brutos a Rússia
se destacava: em produção industrial ocupava o quinto lugar mundial, depois dos Estados
Unidos, da Alemanha, da Grã-Bretanha e da França. Tinha grandes indústrias têxteis, e
especialmente de algodão e linho, e também indústrias pesadas: carvão, ferro-gusa e aço.
Era a segunda maior do mundo (depois dos Estados Unidos) em produção de petróleo, e
durante alguns anos, no fim do séc. XIX, esteve em primeiro lugar. Porém, estes valores
são enganadores enquanto indicadores do poderio económico da Rússia.
A Rússia continuava a ser uma nação predominantemente agrária, com mais de dois terços
da sua mão-de-obra ligados à agricultura e a produzir mais de metade do rendimento
nacional. A produtividade, especialmente na agricultura, era abissavelmente baixa,
embaraçada que estava por uma tecnologia primitiva e pela escassez de capital.
102
A indústria mais dinâmica e de crescimento mais rápido foi a dos têxteis de algodão,
principalmente na região de Moscovo, e as refinarias de açúcar de beterraba da Ucrânia
ocupavam um distante segundo lugar. São Petersburgo vangloriava-se de várias fábricas
de algodão grandes e modernas e também de algumas oficinas metalúrgicas e de
maquinaria, como também a Polónia Russa.
A Guerra da Crimeia revelou singelamente o atraso da indústria e da agricultura russas e
preparou, indirectamente, o caminho para uma série de reformas, a mais notável das quais
foi a «emancipação dos servos» em 1861. Simultaneamente, o governo encorajou um
programa de construção de vias-férreas com base em capital e tecnologia importadas e
reorganizou o sistema bancário para permitir a introdução de técnicas financeiras
ocidentais. Os sinais da eficácia das novas políticas tornaram-se evidentes em meados da
década de 1880 e no «grande arranque» de produção industrial na década de 1890.
A Donbas, nome por que a bacia é conhecida (sudeste da Ucrânia), possuía grandes jazidas
de carvão, mas estava muito longe dos principais centros populacionais. Nos arredores de
Krivoi Rog, descobriram-se jazidas muito ricas em minério de ferro, pelo mesmo motivo
não puderam ser economicamente exploradas. Na década de 1880, empresários franceses
persuadiram o Governo Czarista a construir uma via-férrea que ligasse as duas zonas e
instalaram altos-fornos em ambos os locais, criando assim a primeira união metalúrgica
«de extracção cruzada» do mundo. A produção de carvão e ferro-gusa subiu em flecha.
No meio século que antecedeu a I Grande Guerra, a economia russa passou por mudanças
substanciais no sentido de um sistema mais moderno e tecnologia, proficiente, mas
manteve-se bastante atrás das economias ocidentais mais avançadas, em particular da
alemã. A sua fraqueza económica agudizou-se durante a guerra, contribuindo para a
derrota russa e abrindo caminho às revoluções de 1917.
Japão
103
era surpreendentemente sofisticada, com mercados activos e um sistema de crédito. O
nível de alfabetização era substancialmente mais elevado que o dos países da Europa
Meridional e do Leste.
A fraqueza do xogunato dos Tokugawa face às usurpações ocidentais deu origem a motins
nacionalistas e a um movimento para repor o Imperador, que durante séculos tinha apenas
desempenhado funções cerimoniais, numa posição central da governação. Em 1867, subiu
ao trono um jovem imperador vigoroso e inteligente, Mutsu-hito; no ano seguinte, o
partido do Imperador forçou o Xógum a abdicar e levou o Imperador para Tóquio, a
capital de facto. Este acontecimento marcou o nascimento do Japão Moderno, é chamado
Restauração Meiji (Meiji significa «governo iluminado» e foi o nome escolhido por
Mutsu-hito para designar o seu reinado). A Era Meiji durou desde 1868 até à morte de
Mutsu-hito, em 1912.
Os problemas financeiros tinham sido uma das causas de descontentamento para com o
antigo regime dos Tokugawa, e o novo Governo Meiji herdou uma imensidão de papel
moeda inconvertível, que foi forçado a aumentar nos primeiros anos de transição. Em
1873 decretou um imposto sobre a terra calculado com base na produtividade potencial
da terra arável, sem atender à produção real. Isto teve um efeito duplamente benéfico:
por uma lado assegurou ao Governo uma receita segura ( à custa dos camponeses, é bom
não esquecer); em segundo lugar, garantiu que a terra seria utilizada da melhor forma,
todos os que fossem incapazes de maximizar os rendimentos perdê-la-iam ou seriam
forçados a vendê-las aos que o conseguiam.
O Japão tinha poucos recursos naturais . as duas indústrias têxteis tradicionais do Japão
baseadas em matérias-primas nacionais, a seda e o algodão, tiveram destinos muito
diferentes. Pouco depois da liberalização do comércio, a indústria do algodão foi
completamente aniquilada pelos produtos fabricados no Ocidente, especialmente na
104
Grã-Bretanha. A indústria da seda, por outro lado sobreviveu, e a sua parte mais próxima
do sector agrário, a produção do fio de seda em bruto a partir de casulos, até floresceu.
A outra grande exportação agrária era de chá, que nos primeiros anos da Era Meiji foi
tão importante como a seda; porém a sua importância relativa declinou gradualmente com
o crescimento da população e do rendimento nacionais.
Embora a iniciativa governamental tenha sido responsável pela introdução da maioria dos
elementos tecnológicos ocidentais, não foi intenção do Governo proibir a iniciativa
privada. Pelo contrário, uma das suas palavras de ordem era «desenvolver a indústria e
promover a iniciativa».
105
106
Cap. XI
A defesa de Adam Smith do comércio internacional livre proveio da sua análise dos
ganhos da especialização e divisão do trabalho quer entre nações quer entre os indivíduos.
David Ricardo, no seu Princípios de Economia Política (1819), supôs (incorrectamente) que
Portugal tinha uma vantagem absoluta na produção de tecidos e de vinho, quando
comparado com Inglaterra, mas que o custo relativo de produzir vinho era inferior;
nessas circunstâncias, demonstrou que Portugal teria toda a vantagem em especializar-se
na produção de vinhos e em comprar tecidos à Inglaterra. Este era o princípio da
vantagem comparativa, a base da teoria do moderno comércio internacional.
O pilar e o símbolo do sistema proteccionista do Reino Unido (que inclui a Irlanda a partir
de 1801) foram as chamadas Corn Laws, impostos sobre a importação de cereais
panificáveis. Após anteriores tentativas mal sucedidas para as revogar ou modificar,
Richard Cobden, um industrial de Manchéster, formou, em 1839, a Liga contra as Corn
107
Laws e montou uma forte e eficaz campanha para influenciar a opinião pública. Em 1841, o
governo dos Whigs, então no poder, propôs reduções nas tarifas de trigo e do açúcar,
quando estas medidas foram derrotadas, foram convocadas novas eleições gerais.
Peel introduziu uma proposta de lei para revogar as Corn Laws, que, com o apoio da
maioria dos Whigs foi aprovada em Janeiro de 1846, apesar da oposição interna da maior
parte do seu próprio partido. Na sequência da revogação das Corn Laws, o moderno
sistema político inglês – pelo menos até 1914 – começou a tomar forma.
Chevalier era amigo de Richard Cobden, famoso pela sua oposição às Corn Laws, e por
intermédio de Cobden persuadiu Gladstone, o ministro britânico das Finanças, das
vantagens dum tratado.
108
Característica importante do Tratado foi a inclusão duma cláusula de nação mais
favorecida. Isto significava se uma parte negociasse um tratado com um terceiro país, a
outra parte do tratado beneficiaria automaticamente de quaisquer tarifas mais baixas
concedidas ao terceiro país.
109
Os adeptos do comércio livre continuaram a ter uma influência política considerável, e, em
1882, novos tratados de comércio com sete países continentais mantiveram os princípios
básicos do Tratado de Cobden-Chevalier. A tarifa de 1881 não correspondeu às exigências
proteccionistas dos agrários.
Depois das eleições de 1889 (em França), uma maioria proteccionista regressou à Câmara
dos Deputados, e foi aprovada a infame tarifa Meline de 1892. A tarifa tem sido
caracterizada como extremamente proteccionista, mas um termo mais correcto seria
«proteccionismo refinado». Embora garantisse protecção a alguns sectores da agricultura
e mantivesses a protecção industrial da tarifa de 1881, também continha várias
características defendidas pelos adeptos do comércio livre.
Houve uma quantas persistências de comércio livre neste regresso ao proteccionismo das
quais a Grã-Bretanha foi a mais notável. Desenvolveram-se movimentos políticos para a
«política de reciprocidade» e para a «preferência do Império», não conseguiram qualquer
sucesso antes da I Guerra Mundial. Os Países Baixos especializaram-se no processamento
de exportações ultramarinas como o açúcar, o tabaco e o chocolate para reexportação
para a Alemanha e outros países continentais; mantiveram, assim, uma confortável posição
de comércio livre, como também a Bélgica, que estava profundamente dependente das
suas indústrias de exportação. A Dinamarca, uma nação predominantemente agrária,
parece ter sofrido com as importações em larga escala de cereais baratos; mas os
Dinamarqueses ajustaram-se muito rapidamente, trocando o cultivo de cereais pela
criação de gado e produtos leiteiros e de aves domésticas, importando cereais baratos
para ração. Assim, a Dinamarca também se manteve no bloco de comércio livre.
O padrão-ouro internacional
Ao longo da História, vários bens (por ex: terra, gado e trigo) serviram como padrões
monetários, mas o ouro e a prata foram sempre os padrões mais destacados. A função de
um padrão monetário é a de definir a unidade de valor num sistema monetário, a unidade
na qual todas as outras formas de dinheiro são convertíveis.
Depois das guerras, o Governo Britânico decidiu regressar a um padrão metálico, mas
escolheu o ouro, o padrão de facto do séc. XVIII, em detrimento da prata, embora a libra
tivesse continuado a chamar-se «esterlina». A moeda de conta (padrão de valor) era o
soberano de ouro, ou libra de ouro, definido como 113,0016 grãos de ouro fino (puro). De
acordo com os termos da lei parlamentar que criou o padrão ouro, houve que observar
três condições:
1. A Real Casa da Moeda foi obrigada a comprar e vender quantidades ilimitadas de
ouro a um preço fixo.
2. O Banco de Inglaterra – e, por extensão, todos os outros bancos – ficou obrigado,
sob solicitação, a resgatar por ouro as suas obrigações monetárias (notas
bancárias, depósitos)
3. Não se podiam impor quaisquer restrições à importação ou exportação de ouro.
110
Isto significa que o ouro serviu como derradeira base ou reserva de todas as
disponibilidades monetárias do país . a quantidade de ouro que o Banco de Inglaterra
guardava nos seus cofres determinava o montante de crédito que podiam conceder.
Durante os primeiros três quartos do séc. XIX, a maior parte dos restantes países tinha
padrões de pratas ou bimetálicos 8ouro e prata); alguns não tinham sequer um padrão
metálico.
Durante um curto período, nas décadas de 1860 e 1870, a França tentou criar uma
alternativa ao padrão-ouro internacional na forma da União Monetária latina.
Antes da Guerra Civil, os Estados Unidos estavam tecnicamente num padrão bimetálico,
aderiram ao padrão-ouro a partir de 1879, embora o Congresso não o tivesse adoptado
legalmente senão em 1900.
A Rússia tinha adoptado um padrão nominal de prata ao longo do séc. XIX, na década de
1890, o conde Whitte decidiu que o país deveria aderir ao padrão-ouro, o que fez em
1897. nesse mesmo ano, o Japão, criou uma reserva de ouro no Banco do Japão e adoptou
oficialmente o padrão-ouro. Assim, no princípio do séc. XX, praticamente todas as
importantes nações mercantis tinham adoptado o padrão-ouro internacional. Este sistema
resistiu menos de duas décadas.
Além do movimento mais livre de mercadorias simbolizado pela era do comércio livre,
também se verificou no séc. XIX um grande aumento no movimento internacional de
pessoas e capitais, os factores de produção além da terra.
O maior número de emigrantes saiu das Ilhas Britânicas; galeses, escoceses e irlandeses
instalaram-se no estrangeiro, principalmente nos Estados Unidos e nas colónias britânicas.
Emigrantes de língua alemã foram para os Estados Unidos e para a América Latina. Esta
também recebeu muitos novos cidadãos de Espanha e Portugal. O final do séc. XIX e os
princípios do séc. XX assistiram a uma grande migração da Itália e da Europa Oriental. Os
Italianos foram para os Estados Unidos, mas também para a América Latina,
especialmente para a Argentina. Emigrantes da Áustria-Hungria, da Polónia e da Rússia
dirigiram-se principalmente para os Estados Unidos.
Globalmente, esta vasta migração teve efeitos benéficos; aliviou as pressões populacionais
nos países fornecedores de emigrantes, assim diminuindo a tendência da descida dos
salários reais; e proporcionou aos países de muitos recursos e escassa mão-de-obra uma
oferta de trabalhadores motivados por salários mais altos que os que conseguiriam
auferir nos seus países de origem. Através de laços humanos e culturais, bem como
económicos, promoveu a integração da economia internacional.
111
Em geral, os recursos disponíveis para o investimento no estrangeiro (como também para
o investimento interno) resultaram dos enormes aumentos de riqueza e rendimento
gerados pela aplicação de novas tecnologias. Mas, ao contrário do investimento interno, o
investimento externo requer fontes especiais de fundos gerados pelo comércio e
pagamento externos.
Há duas categorias principais de fundos (ouro ou moeda estrangeira) que podem ser
usados para o investimento internacional:
· Os que provêm do saldo de exportações do comércio e mercadorias
· Os que provêm de exportações «invisíveis» como serviços de navegação, ganhos
da banca e seguros internacionais, remessas de emigrantes e juros e dividendos
de anteriores investimentos externos.
112
mercadorias, que providenciou o grosso dos recursos para o investimento no exterior até
à década de 1870. Depois disso , os ganhos dos investimentos anteriores, como acontecia
com a Grã-Bretanha, mais que financiaram novos investimentos.
A Alemanha apresenta o interessante caso duma nação que, ao longo do século, sofreu a
transição de devedora líquida para credora líquida. Desunida e pobre no princípio do
século, os Estados Alemães tinham poucas dívidas externas e ainda menos créditos no
estrangeiro. Nas décadas intermédias do século, as províncias ocidentais beneficiaram de
um influxo de capital francês, belga e britânico; este capital ajudou a desenvolver
indústrias poderosas e um forte excedente para exportação que providenciou os fundos
com que a Alemanha repatriou o capital estrangeiro e acumulou investimento no exterior.
O Governo Alemão, como o Francês, tentou por vezes socorrer-se do investimento privado
estrangeiro como arma de política externa; em 1887, vedou a bolsa de valores de Berlim
aos títulos russos e forçou mais tarde, o Deutsche Bank a empreender a construção da
linha férrea da Anatólia (chamada Berlim-Bagdade).
113
bancos comerciais russos e nas grandes empresas metalúrgicas da Bacia do Donetz, entre
outras. O que contraía mais empréstimo era o Governo Russo que utilizava o dinheiro não
só para construir vias-férreas mas também para financiar o seu exército e marinha.
Depois de 1917, os investidores perderam tudo.
A maior parte dos investimentos nos países escandinavos não só se pagou a si própria
como teve contribuições positivas no desenvolvimento das economias nas quais foi
efectuada. Os investimentos estrangeiros na Suécia, na Dinamarca e na Noruega foram,
numa base per capita, os maiores da Europa. As quantias emprestadas foram
sensatamente investidas, e, a par dos elevados níveis educacionais das populações desses
países, deve-lhes ser creditado o rápido desenvolvimento daquelas economias no final do
século XIX.
A maior parte da África tinha um clima opressivo para os Europeus e uma série de
doenças desconhecidas e frequentemente letais. Tinha poucos rios navegáveis o que
tornava o Interior extremamente inacessível. A efectiva ausência de Estados políticos
organizados à semelhança dos europeus e o baixo nível de desenvolvimento económico
tornaram-na pouco atractiva para os comerciantes e empresários europeus. No entanto,
apesar dessas características negativas, uma concatenação de acontecimentos levou
inexoravelmente ao envolvimento da Ásia e da África na crescente economia mundial
antes do fim do séc. XIX.
África
A Colónia do Cabo, no extremo sul de África, tinha sido colonizada pelos Holandeses em
meados do séc. XVII e era utilizada como posto de abastecimento pelos navios da
carreira da Índia em viagem de e para a Indonésia. Os Britânicos apoderaram-se do posto
durante as Guerras Napoleónicas, especialmente a abolição da escravatura em todo o
Império em 1834 e os esforços para garantir um tratamento mais humano dos nativos,
enfureceram os Bóeres ou Africânderes (descendentes dos colonizadores holandeses).
114
No princípio, tanto as colónias Bóeres como as britânicas eram essencialmente agrárias,
mas, em 1867, a descoberta de diamantes levou a uma grande invasão de caçadores de
tesouros provenientes de todo o mundo. Em 1886 descobriu-se ouro no Transval. Estes
factos alteraram completamente a base económica das colónias e intensificaram as
rivalidades políticas.
A África Central foi a última região do «Continente Negro» a ser aberta à penetração
europeia. A sua inacessibilidade, clima inóspito, flora e fauna exóticas foram responsáveis
pelo seu epíteto e formidável reputação. Antes do séc. XIX, as únicas reivindicações
europeias na região eram as de Portugal: Angola na Costa Ocidental e Moçambique na
Costa Oriental.
115
Ásia
A China evitou a cisão completa pelas grandes potências apenas devido à grande rivalidade
entre elas. Em vez duma divisão definitiva, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a
Rússia, os Estados Unidos e o Japão contentaram-se com a concessão, por tratados
especiais, de portos, de esferas de influência e arrendamentos a longo prazo no território
chinês.
O Império Chinês entrou num estado de decadência quase visível. Sucumbiu, em 1912, a
uma revolução conduzida pelo Dr. Sun Yat-sem, médico formado no Ocidente, cujo
programa era «nacionalismo, democracia e socialismo». As potências ocidentais não
tentaram interferir na revolução, nem tão pouco ficaram preocupadas. A nova República
da China permaneceu fraca e dividida com as suas esperanças de reforma e regeneração
adiadas por muito tempo.
A Coreia do séc. XOX era um reino semi-autónomo sob governação nominal da China,
embora os Japoneses há muito que tivessem aí pretensões. A acesa rivalidade entre a
China e o Japão pelo predomínio e a pobreza em geral do país desencorajaram os
diplomatas e comerciantes ocidentais. O Japão anexou formalmente a Coreia em 1910.
116
Franceses viram-se envolvidos em conflito com os nativos, o que os obrigou a estender a
sua protecção a regiões mais extensas que nunca. Na década de 1880 dispuseram a
Cochinchina, o Camboja, Aname e Tonquim na União da Indochina Francesa, a que
acrescentaram o Laus em 1893.
A Tailândia (ou Sião, como era designada pelos Europeus), entre a Birmânia a ocidente e a
Indochina Francesa a leste, teve a sorte de permanecer um reino independente. Embora
estivesse aberta à influência Ocidental devido a tratados desarmantes, como a maior
parte da Ásia, os seus governantes reagiram com gestos conciliatórios e ao mesmo tempo
tentaram aprender com o Ocidente a modernizar o seu reino.
Explicações do imperialismo
Faz-se por vezes uma distinção entre imperialismo e colonialismo. Assim, nem a Rússia
nem a Áustria-Hungria tinham colónias ultramarinas, mas ambas eram claramente impérios
no sentido de que governavam povos estrangeiros sem o seu consentimento.
As causas do imperialismo foram muitas e complexas. Não há uma única teoria que
explique todas as causas. De facto, o imperialismo tem sido chamado «imperialismo
económico», como se formas anteriores de imperialismo não tivessem conteúdo
económico. Uma dessas explicações diz o seguinte:
1. A concorrência no mundo capitalista torna-se mais intensa, resultando na
formação de grandes empresas e na eliminação de empresas pequenas.
2. Nas grandes empresas, o capital acumula-se mais rapidamente e, como o poder de
compra das massas é insuficiente para adquirir todos os produtos da indústria de
larga escala, a taxa de lucro decai.
3. À medida que o capital se acumula e a produção das indústrias capitalistas não é
escoada, os capitalistas recorrem ao imperialismo para obterem domínio político
sobre regiões nas quais podem investir o excedente de capital e vender os seus
produtos em excesso.
Em última análise, o imperialismo moderno, bem como político ou económico que é, deve
ser encarado como um fenómeno psicológico e cultural.
117
118
Cap. XII
Sectores estratégicos
Há três áreas que têm de ser analisadas com alguma profundidade para que o processo de
industrialização seja inteligível – agricultura, finanças e banca e o papel do Estado nos
assuntos económicos.
Agricultura
Uma das maiores mudanças estruturais ocorridas na economia do séc. XIX foi o declínio
da dimensão relativa do sector agrícola. Isso não implica, que a agricultura tivesse
deixado de ser importante; muito pelo contrário. O pré-requisito dum declínio na
dimensão relativa foi o aumento da produtividade agrícola, sendo a dimensão do declínio
da primeira proporcional ao aumento da última. Um aumento da produtividade agrícola
pode contribuir para o desenvolvimento económico global, de cinco formas possíveis:
1. O sector agrícola pode fornecer um excedente de população (mão-de-obra) que se
ocupa de actividades não agrícolas.
2. O sector agrícola pode fornecer produtos alimentares e matérias-primas para o
sustento da população não agrícola.
3. O sector agrícola pode servir como mercado para a produção das indústrias e
para o sector terciário.
4. Tanto através de investimento voluntário como de impostos, o sector agrícola
pode fornecer capital para investir em sectores não agrícolas.
5. Através das exportações agrícolas, o sector agrícola pode fornecer moeda
estrangeira que permita aos outros sectores obterem as entradas necessárias de
bens de capital ou de matérias-primas que não estão internamente disponíveis.
Não é necessário que o sector agrícola desempenhe todas estas cinco funções para uma
sociedade se desenvolver economicamente, mas é difícil imaginar uma situação na qual o
desenvolvimento possa verificar-se sem o apoio da agricultura em, pelo menos, duas ou
três delas. E, para que isso aconteça a produtividade tem de aumentar.
119
O movimento de vedação dos campos em Inglaterra, que resultou na criação de
explorações compactas e relativamente grandes no lugar do sistema de campos abertos,
pode ter-se por uma espécie de reforma agrária. A Revolução Francesa, que aboliu o
Antigo Regime e confirmou aos proprietário-camponeses autónomos franceses a posse das
suas pequenas quintas, foi um tipo diferente de reforma agrária. A Suécia e a Dinamarca
aboliram a servidão na última parte do séc. XVIII e instituíram procedimentos de
vedação dos campos que, em meados do séc. XIX, tinham dado origem a uma classe de
verdadeiros proprietários camponeses.
A Rússia Imperial distinguiu-se por passar por dois tipos muito distintos de reforma
agrária em duas gerações sucessivas. A emancipação dos servos, empreendida
relutantemente em 1861; os antigos servos, embora libertados dos seus senhores,
pertenciam agora compulsivamente à comuna camponesa, a mir, para dela saírem, tinham
de obter um passe especial, mas, mesmo que partissem, eram ainda obrigados a pagar a
sua parte de impostos e pagamentos liberatórios. A seguir à Revolução de 1905-6, o
Governo aboliu outros pagamentos liberatórios e decretou a chamada Reforma de
Stolypine (nome do ministro que a ideou), que previa a propriedade privada da terra e a
consolidação de parcelas em quintas compactas. Em resultado desta «aposta nos fortes»,
a produtividade da agricultura russa começou a ascender, mas todo o país foi, pouco
depois, submerso pela guerra e pela revolução.
Na Bélgica, nos Países Baixos e na Suíça, a agricultura há muito que estava orientada para
o mercado. A produtividade nestes três países situava-se entre as mais elevadas do
Continente.
120
Uma grande variedade caracterizou o desempenho da agricultura nos diversos Estados
alemães e, mais tarde, no novo Império Alemão.
A Finlândia, que era governada pelo czar da Rússia como grão-ducado, é por vezes incluída
nos países escandinavos. Porém, ao contrário deles, não sofreu qualquer mudança
estrutural substancial no séc. XIX. Continuou predominantemente agrária com uma
agricultura de baixa produtividade e baixas receitas médias. A sua maior exportação era
a madeira.
Espanha, Portugal, Itália, Grécia , não passaram por nenhuma reforma agrária significativa
no séc. XIX. Com bem mais de metade da população envolvida na agricultura, mesmo nos
primeiros anos do séc. XX, a produtividade e as receitas mantiveram-se entre as mais
baixas da Europa. Embora estes quatro países exportassem alguma fruta e vinho, para que
os seus climas eram adequados, todos eles se mantiveram em parte dependentes de
importações para as suas necessidades panificáveis.
Os Estados Unidos nem tiveram nem necessitaram duma reforma agrária ao estilo
europeu, mas beneficiaram dum extraordinário estímulo à economia agrícola na disposição
do domínio público. Desde o começo que o Governo seguiu uma política de vendas a
indivíduos particulares (e a algumas empresas) em propriedade aloidal - por outras
palavras, um mercado livre da terra.
121
Talvez em nenhum outro país a agricultura tenha desempenhado um papel tão vital no
processo da industrialização como no Japão. Através do imposto sobre a propriedade da
terra de 1873, a agricultura também financiou a maior parte das despesas orçamentais
(94% na década de 1870 e quase metade ainda em 1900) e, deste modo, indirectamente,
uma parte da formação de capital. Apesar da sua pobreza, os camponeses japoneses
constituíam o maior mercado para a indústria japonesa.
Finança e banca
Os sistemas bancários inglês e escocês foram distintos até à segunda metade do séc.
XIX, o sistema irlandês era também distinto, ao passo que o do País de Gales estava
agregado ao inglês.
De acordo com a Lei Bancária de 1844, o Banco de Inglaterra trocou o seu monopólio da
banca comercial por um monopólio de emissão de notas. Manteve-se primordialmente um
banco estatal (embora de propriedade privada), fornecendo serviços financeiros ao
Governo; no entanto, tornou-se também, cada vez mais, um banco dos banqueiros, e em
finais do século tinha conscientemente adoptado as funções dum banco central.
O sistema bancário francês, como o inglês, era dominado por um banco de inspiração
política que fazia a maior parte dos seus negócios com o Governo, o Banco de França.
Criado por Napoleão em 1800, rapidamente adquiriu um monopólio de emissão de notas e
outros privilégios especiais.
Antes de 1848, a França não tinha bancos comerciais nem bancos semelhantes aos bancos
ingleses de província. Era, com efeito, subbancária, pois os notários provinciais, que
desempenhavam algumas funções de corretagem, não podiam suprir o papel dos bancos em
falta.
A França tinha, na primeira metade do século XIX, outro tipo importante de instituição
financeira. Era a haut banque parisienne, banqueiros comerciais privados semelhantes aos
de Londres. As actividades principais destes bancos privados (referiam-se a si próprios
como de «negócios») eram, como em Londres, o financiamento do comércio internacional e
as transacções em moeda e ouro e prata estrangeiros, mas, a seguir às Guerras
Napoleónicas, começaram a colocar empréstimos e outros títulos públicos, como os das
empresas de canais e caminhos-de-ferro.
122
Os bancos franceses, quer ao privados quer os comerciais, também abriram o caminho à
promoção do investimento francês no estrangeiro. Globalmente, o sistema bancário
francês da primeira metade do século XIX, travado pelo conservadorismo governamental
e pelas políticas restritivas do Banco de França, não conseguiu explorar todo o seu
potencial na promoção do desenvolvimento da economia; na segunda metade do século foi
um pouco mais expansivo, mas menos que os sistemas da Bélgica e da Alemanha.
A Suíça que veio a revelar-se um centro financeiro mundial de primeira grandeza no séc.
XX, era muito menos importante antes de 1914. Genebra foi, na Renascença, um dos
centros financeiros chave da Europa e que os banqueiros privados suíços eram ainda
importantes no séc. XVIII. No entanto, as bases da ulterior proeminência suíça foram
lançadas no séc. XIX. Nas décadas de 1850, 1860 e 1870, inúmeros novos bancos foram
criados segundo o modelo do Crédit Mobilier francês, incluindo vários dos que mais tarde
se tornariam famosos.
Não se podia dizer que existisse um sistema bancário alemão na primeira metade do séc.
XIX. Os vários Estados soberanos, com os seus distintos sistemas monetários e de
cunhagem, impediram a emergência dum sistema financeiro unificado. A Prússia, a Saxónia
e a Baviera tinham bancos com o monopólio da emissão de notas (primeiro deles, o banco
da Baviera, fundado em 1835), mas eram rigorosamente fiscalizados pelos respectivos
governos e estavam sobretudo ao serviço das finanças públicas. Existiam inúmeros bancos
privados, especialmente em importantes centros comerciais, mas a sua principal
preocupação era o financiamento do comércio local e internacional ou, nalguns casos, a
colocação de fortunas pessoais. Da década de 1840 em diante, alguns deles começaram a
envolver-se nas finanças promocionais, fundando e participando no capital de novas
empresas industriais e, em especial, nas vias-férreas. Foi o prenúncio duma nova era na
banca alemã.
123
designação, foi meramente uma transformação do Banco Estatal Prussiano, mas os seus
recursos e poderes foram grandemente alargados. Detinha o monopólio da emissão de
notas e agia como banco central. Como tal, podia sustentar os Kreditbank em tempos
difíceis, e permitiu-lhes, assim, assumirem riscos maiores aos que assumiriam em
condições normais.
O desenvolvimento da banca alemã na segunda metade do séc. XIX foi uma das
consequências mais decisivas – na verdade, como alguns diriam, uma causa – do igualmente
rápido processo de industrialização. Talvez se tenha sobrevalorizado o papel dos bancos;
naturalmente, muitos outros elementos contribuíram para o sucesso da indústria alemã e,
por sua vez, esse mesmo sucesso contribuiu para o sucesso e prosperidade do sistema
bancário.
A Áustria (ou Monarquia Habsburga) adoptou o seu moderno sistema bancário ao mesmo
tempo que a Alemanha. O primeiro banco comercial moderno foi o Creditanstalt austríaco,
constituído em Dezembro de 1855. A sua fundação foi o resultado directo da rivalidade
dos irmãos Pereire e dos Rothschild. Os Pereire lançaram, por ele, uma oferta de compra,
ao mesmo tempo que conseguiam adquirir os Caminhos-de-ferro Estatais Austríacos para
o Crédit Mobilier, mas os Rothschild, que tinham sido os «judeus da corte» dos
Habsburgos desde o tempo de Napoleão, inviabilizaram o negócio. Mantém-se, hoje em
dia, após transformações profundas, uma das instituições financeiras mais poderosas da
Europa Central.
A Espanha tinha um banco emissor, o Banco de San Carlos (mais tarde designado Banco de
España), que datava de 1782, mas a sua principal preocupação eram as finanças públicas.
A importante cidade comercial e industrial de Barcelona tinha também um banco emissor
124
que remontava à década de 1840, mas não se envolveu em actividades promocionais. Em
1855, depois de uma mudança de governo ter instalado uma facção «moderada»,
persuadiram o ministro das Finanças a apresentar um projecto de lei nas Cortes
autorizando o Governo a dar alvarás a entidades bancárias do modelo do Crédit Mobilier.
No princípio do ano seguinte, instituíram a Sociedad General de Credito Mobiliario
Español.
A lei que autorizava o Credito Mobiliario Español permitiu ao Governo dar alvarás a
instituições semelhantes sem qualquer outro consentimento das Cortes. O pouco
desenvolvimento económico que a Espanha alcançou no séc. XIX foi, em grande medida, um
resultado das actividades destas instituições de inspiração francesa.
Pouco depois de obterem o alvará para o Credito Mobiliario Español, os Pereire acordaram
com o Governo Português uma instituição similar em Lisboa. A câmara alta do Parlamento
Português recusou-se a ratificar o acordo. Mais tarde nesse mesmo ano, outro
especulador financeiro francês, que tinha auxiliado o Governo na obtenção de um
empréstimo, conseguiu um alvará para um Crédit Mobilier português, mas foi de pouca
dura.
125
Os financeiros europeus também colaboraram com a sua experiência com os seus vizinhos
do Próximo e Médio Oriente. O primeiro banco comercial fundado na região (e o primeiro
banco britânico num país estrangeiro), o Banco do Egipto, começou a funcionar em 1855.
A Pérsia (actual Irão) tinha uma instituição semelhante, o Banco Imperial da Pérsia,
fundado por interesses britânicos em 1889. os investidores tinham pretendido usar o
banco para financiar a construção de caminhos-de-ferro, mas o Governo Russo, receoso
da penetração britânica no seu flanco sul, exerceu pressões diplomáticas sobre o Xá para
impedir a construção de vias-férreas. O banco, criado, assim, «por lapso» e gerido por
não-profissionais da área financeira, pouco contribuiu para o desenvolvimento económica
da Pérsia.
No séc. XIX, a banca teve, nos Estados Unidos, uma carreira diversificada. Nos primeiros
anos da república a luta entre os Hamiltonianos, que defendiam um forte protagonismo do
Governo Federal, e os Jeffersonianos, que preferiam deixar a política aos Estados
individuais, reflectiu-se na história da Banca.
Durante a guerra civil, e em parte como medida de finanças de guerra, o Congresso criou
o Sistema Bancário Nacional, que permitia aos bancos munidos de alvará federal competir
com bancos constituídos ao abrigo do alvará estadual. A concorrência era injusta porque o
Congresso também impunha um imposto discriminatório sobre as emissões de notas pelos
bancos estaduais, o que forçou muito deles a converterem-se em bancos nacionais.
126
Em resumo, a experiência dos estados Unidos, com um rápido crescimento económico e um
sistema bancário em mudança e de certa forma caótico, parece mostrar que, apesar de os
bancos serem necessários ao crescimento económico em sociedades industriais
complexas, já um sistema racional não o é.
O papel do Estado
A segunda grande categoria de formas por que o Governo participa na economia inclui
actividades promocionais que excluam as directamente produtivas. Entre elas se contam
tarifas, isenções fiscais, abatimento e subsídios, bem como medidas como a criação de
gabinetes de turismo ou imigração. Nem todas as actividades desta categoria são
necessariamente conducentes ao crescimento; por ex: uma tarifa proteccionista pode
perpetuar uma indústria ineficiente.
Por fim, os Governos podem tomar parte em actividades directamente produtivas. Estas
variam entre medidas benignas, como o oferecimento de estruturas educativas, e a
propriedade e domínios absolutos pelo Estado de todos os bens produtivos. Essa
participação governamental pode ser essencialmente empreendedora ou inovadora e,
consequentemente, favorável à iniciativa privada; ou pode competir com, ou suplantar a
iniciativa privada, como no caso da propriedade estatal de empresas de serviços públicos
ou de instalações telegráficas.
Antes do séc. XIX, os serviços postais privados coexistiam com serviços postais públicos
pesados e ineficientes, que eram mantidos mais com fins de censura, espionagem e
receitas que por utilidade pública. O moderno serviço postal teve início em 1840, quando
Sir Rowland Hill, correio-mor do Reino Unido, introduziu a franquia pré-paga e uniforme
de um péni. Em poucos anos, a maioria das nações ocidentais tinham adoptado sistemas
semelhantes. A mesma política foi mais tarde seguida, no decurso do século, após a
invenção do telefone. A maior parte dos países continentais seguiu o exemplo britânico,
127
mas nos estados Unidos tanto o telégrafo como o telefone foram deixados à iniciativa
privada.
Exemplo muito invulgar de empresa privada foi a Companhia das Índias Orientais. Embora
tivesse sido fundada no princípio do séc. XVII como empresa estritamente comercial, no
princípio do séc. XIX tinha-se tornado a governante da Índia, «um Estado dentro dum
Estado».
No ensino superior, a Inglaterra também ficava muito atrás do Continente e dos Estados
Unidos. Até serem instituídas bolsas de estudo estatais no séc. XX, Oxford e Cambridge
apenas estavam abertas aos filhos dos abastados, sobretudo aristocracia. Por contraste,
a Escócia, com uma população muito inferior, tinha quatro universidades antigas e
prósperas abertas a todos os candidatos qualificados.
Se, em retrospectiva, o séc. XIX parece ser um século em que o Governo foi menos
usurpador que em séculos anteriores, ou que o que se seguiu, isso não significa que o
Governo não tenha desempenhado papel algum.
128
129
Cap. XIII
Estimulada pelo ritmo acelerado da mudança tecnológica, ferida pelas duas guerras mais
destrutivas da História, a economia mundial do séc. XX assumiu dimensões novas e sem
precedentes. E onde estas dimensões foram mais evidentes foi no comportamento
populacional.
População
à população da Europa mais que duplicou no séc. XIX, mas a do mundo fora das áreas de
colonização europeia aumentou pouco mais de 20 %. No séc. XX, por outro lado, o
crescimento populacional na Europa desacelerou, enquanto o do resto do mundo acelerou a
taxas sem precedentes. A maior parte desse crescimento ocorreu desde a II Guerra
Mundial.
A causa do formidável aumento nos números foi o declínio das taxas brutas de
mortalidade, especialmente em países não ocidentais. As nações ocidentais sofreram uma
«transição demográfica» ( de um regime de elevadas taxas de natalidade e mortalidade
para um muito inferior) em finais do séc. XIX e princípio do séc. XX. Factor de maior
importância contributivo para o declínio da taxa de mortalidade global foi o declínio da
mortalidade infantil (com menos de 1 ano).
O processo de urbanização, tão marcado na Europa, no séc. XIX, continuou no séc. XX,
espalhando-se a outras regiões do mundo. Em nações industriais avançadas, as cidades são
normalmente centros de afluência, bem como de cultura, uma vez que a produtividade e os
rendimentos são geralmente mais elevados nas ocupações urbanas que nas ocupações
rurais. Todavia, isto não é necessariamente verdade nas nações do Terceiro Mundo.
Nelas, uma grande proporção dos habitantes urbanos consiste em migrantes
desempregados ou subempregados vindos dos campos e vivendo em miseráveis bairros de
lata na orla dos centros citadinos.
130
continuou, embora sob circunstâncias de algum modo diferentes. A maior parte da
migração do séc. XIX tinha sido motivada por pressões económicas internas e
oportunidades no estrangeiro. Estes factores mantiveram-se influentes no séc. XX, mas a
opressão política (ou a sua ameaça) na sequência das guerras e revoluções também
desempenhou um papel de relevo.
O tipo de migração internacional do séc. XIX atingiu o seu auge nos anos imediatamente
anteriores à I Guerra Mundial, principalmente para os Estados Unidos. A depressão dos
anos 30 reduziu drasticamente as oportunidades na América e a II Guerra Mundial
reduziu ainda mais a maré de imigração, muitos refugiados da devastação dos tempos de
guerra e das novas repressões políticas fizeram engrossar o número de imigrantes.
Vários países nomeadamente a França, a Suíça, a Bélgica, bem como a Alemanha Ocidental,
convidaram «trabalhadores hóspedes» de Portugal, da Espanha, da Itália, da Grécia, da
Jugoslávia, da Turquia e do Norte de África para complementarem a sua mão-de-obra
nativa. Na maior parte dos casos, estas migrações foram temporárias, ou assim se
pretendia que fossem, mas também levaram a alguma imigração permanente.
Recursos
O crescimento sem precedentes da população no séc. XX, bem como a fortuna crescente
de pelo menos uma parte do mundo, resultaram numa procura sem precedentes dos
recursos mundiais.
A economia mundial reagiu razoavelmente bem às exigências que se lhe fizeram. Deveu-se,
em grande parte, à interacção crescente da ciência e da tecnologia com a economia. Os
agrónomos descobriram novas formas de aumentar o rendimento das culturas, os
engenheiros descobriram novas utilizações para os recursos existentes e, na verdade,
criaram novos recursos a partir dos velhos na forma de produtos sintéticos.
No séc. XX, o carvão tem sido largamente, embora não completamente, substituído por
novas fontes de energia, especialmente o petróleo e o gás natural. Embora o petróleo
131
tenha começado a ser produzido comercialmente no séc. XIX, ele era então usado
sobretudo para iluminação, e só depois como lubrificante.
Tecnologia
Em épocas anteriores, a marca do sucesso das sociedades humanas foi a sua capacidade
para se adaptarem aos ambientes. No séc. XX, a marca do sucesso foi a sua capacidade
para manipular o ambiente e adaptá-lo às necessidades da sociedade. O meio fundamental
de manipulação e adaptação é a tecnologia – especificamente a tecnologia baseada na
ciência moderna. Importante causa do ritmo mais acelerado da mudança social no séc. XX,
é notória a aceleração do progresso científico e tecnológico.
132
regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas do mundo está patente em diferenças de níveis
educacionais, bem como em diferenças de rendimento.
A mera alfabetização, por muito importante que seja para a iniciação e manutenção do
desenvolvimento económico, não é suficiente para o mundo de alta tecnologia do final do
séc. XX. A capacidade dos indivíduos para participarem plena e efectivamente na nova
matriz científico-tecnológica da civilização quer como cientistas e técnicos, quer nas suas
super-estruturas comerciais e burocráticas, exige cada vez mais estudos avançados ao
nível liceal ou universitário e além destes. Essa é outra razão do fosso cada vez maior
entre nações ricas e pobres.
O aumento da produção de energia foi ainda mais notável. A maior parte do aumento
verificou-se em regiões de colonização europeia e sob formas ainda embrionárias no
princípio do século. A preponderância da América do Norte (principalmente, nos Estados
Unidos) e da Europa em todos os tipos de electricidade, tanto em 1950 como nos anos 80,
em contraste com as minúsculas quotas da África e da América do Sul.
O petróleo e o gás natural, que representavam no início do século, apenas uma diminuta
fracção da energia total, ultrapassaram o carvão como fonte de energia por volta de
1960, e nos anos 80 ascenderam a mais de 60% da produção mundial total.
Instituições
Modificada pela mudança tecnológica e por alterações no emprego dos recursos naturais,
pressionada pelo crescimento da população mundial e alternadamente prejudicada e
aliviada por mudanças políticas fora do âmbito da própria economia, a estrutura
institucional da economia mundial de finais do séc. XX diferiu grandemente do que fora no
princípio do século. Mudanças institucionais mais significativas:
- nas relações internacionais
- o papel do Governo
- natureza e dimensão das empresas
133
- o papel da educação.
Relações internacionais
A economia mundial de antes de 1914 foi dominada, literal e figuradamente, pela Europa
(especialmente a Ocidental) e pelos Estados Unidos. A I Guerra Mundial e as suas
concomitantes, as revoluções russas de 1917, trouxeram mudanças fundamentais a esta
estrutura. A Rússia Czarista desapareceu, sendo o seu lugar ocupado pela União Soviética,
com uma forma nova de organização económica. O Império Habsburgo, na Europa
Centro-Oriental, também desapareceu, substituído por vários Estados nacionais novos ou
alargados, economicamente empobrecidos e instáveis. A Alemanha perdeu o seu império
ultramarino, bem como uma parte substancial do seu próprio território e população. Os
restantes impérios europeus exploraram as suas colónias com um fervor nacionalista
crescente. O Japão, que antes da guerra tinha um pequeno império, alargou-o, e tornou-se
uma importante potência económica. A própria Europa sofreu um declínio da sua quota no
comércio e nas produções mundiais, principalmente para os Estados Unidos, para os
domínios britânicos e Japão. Por fim, as décadas de 1920 e 1930 testemunharam a
ascensão das ditaduras fascistas em Itália, na Alemanha e em várias outras nações
europeias, também elas com novas formas de organização económica.
O Japão devastado pelo bombardeamento americano, que incluiu as duas únicas bombas
atómicas, suportou quase cinco anos de ocupação por forças militares americanas,
praticamente todas as suas principais instituições (com a notável excepção da dinastia
imperial), emergindo como uma nação verdadeiramente democrática. A eclosão da Guerra
da Coreia, que coincidiu com a restauração da soberania japonesa, proporcionou um
poderoso estímulo económico para o Japão, que o aproveitou muito bem. Numas quantas
décadas, o Japão tornara-se a segunda maior economia do mundo.
A China, que tinha resistido mais ou menos bem às incursões ocidentais durante mais de
dois séculos, sofreu duas mudanças radicais – revoluções – no séc. XX, bem como décadas
de guerra civil e internacional. Em 1911, um grupo de jovens reformadores com ideias
ocidentais derrubou a venerável dinastia Ts’ing (Ch’ing) e tentou criar uma moderna
república democrática. Imediatamente após a II Guerra Mundial, o Partido Comunista
Chinês começou o seu ataque ao Governo, que acabaria por derrubar em 1949. Durante
alguns anos, os Comunistas chineses aliaram-se à União Soviética e tentaram modelar a
sua economia de acordo com a orientação soviética. Depois de romperem com a União
Sovi´tica em 1960, ensaiaram várias outras experiências sem sucesso. Pontualmente nos
naos 70, restabeleceriam relações diplomáticas e económicas com os Esatdos Unidos e
outras nações ocidentais, e começou uma nova era de desenvolvimento económico com uma
curiosa amálgama de iniciativa pública e privada.
134
Algumas instituições internacionais datam do séc. XIX – por exemplo, a Cruz Vermelha
Internacional, fundada em Genebra em 1864, e a União Postal Universal, criada em 1874 e
com sede em Berna, na Suíça -, mas o século XX tem sido prolífico na sua criação. Existem
literalmente centenas de organizações, a maioria das quais de pouco ou nenhum
significado económico, mas algumas afectam o desempenho da economia mundial de
formas relevantes.
A Sociedade das Nações, criada pelo tratado de Versalhes em 1919, foi ideada por
Woodrow Wilson para garantir a paz mundial e, deste modo, a prosperidade. A recusa do
Senado Norte-Americano em ratificar o tratado e dos estados Unidos em entrarem para
a Sociedade, a par da fraqueza da sua estrutura, condenou-a ao malogro.
O papel do Governo
Outra importante mudança institucional que afecta todas as nações no séc. XX é o papel
muito mais alargado do Governo na economia. O crescimento do Governo está em parte
relacionado com as necessidades financeiras das duas guerras mundiais e com outras
considerações de defesa nacional – mas apenas em parte.
Depois da II Guerra Mundial, a maioria dos países adoptou uma qualquer forma de
planeamento económico, embora não tão abrangente ou compulsivo como o da União
Soviética. Daí o rótulo de «economias mistas» que se tem aplicado às nações da Europa
Ocidental.
135
pagamentos de transferência. Por este motivo, tornaram-se conhecidos nalguns sectores
como «Estados-Providência».
As formas de empresa
Estas tendências no emprego da forma societária de organização tiveram o seu início nos
Estados Unidos na última parte do séc. XIX, mas difundiram-se rapidamente pela Europa
por todo o mundo no séc. XX. O motivo para tanto foi o de permitir às empresas
competirem com sucesso com outro fenómeno de origem norte-americana a empresa
multinacional. As empresas multinacionais não eram uma novidade absoluta, nem eram
exclusivamente norte-americanas – o bando dos Médicis, no séc. XV, sedeado em
Florença, tinha filiais noutros países -, mas eram relativamente raras até ao séc. XX.
Mão-de-obra sindicalizada
Desde meados da década de 1950, com o crescimento do sector terciário a das indústrias
de alta tecnologia, a associação sindical declinou, em termos de percentagem de
mão-de-obra.
136
137
Cap. XIV
Antes de 1914, a economia mundial tinha funcionado livre e, no seu todo eficientemente.
Apesar de algumas restrições sob a forma de tarifas proteccionistas, monopólios privados
e cartéis internacionais, o grosso da actividade económica, tanto interna como
internacional, foi regulada por mercados livres. Durante a guerra, os governos de todas as
nações beligerantes e os de algumas não beligerantes impuseram contenções directas dos
preços da produção e da fixação da mão-de-obra. Estas contenções estimularam
artificialmente alguns sectores da economia e, do mesmo modo, restringiram
artificialmente outros. Embora a maioria das contenções tivesse sido eliminada no final da
guerra, as relações anteriores à guerra não se restabeleceram nem rápida nem
facilmente.
Um problema ainda mais sério resultou da ruptura do comércio externo e das formas da
guerra económica a que os beligerantes – a Grã-Bretanha e a Alemanha, em particular
recorreram. Antes da guerra, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França e os Estados Unidos,
na qualidade de principais nações industriais e comerciais do mundo, eram igualmente,
entre si, os melhores clientes e principais fornecedores. As trocas comerciais entre a
Alemanha e as demais nações interromperam-se imediatamente, embora os Estados
Unidos, na sua fase neutral, tentassem manter relações . nisso foram impedidos pelas
acções retaliatórias tanto da Grã-Bretanha como da Alemanha.
138
mercante alemã, completamente paralisada durante a guerra, teve de ser cedida aos
Aliados em pagamento de reparações de guerra.
O esforço de guerra submarina dos Alemães infligiu pesados danos à marinha mercante
britânica, ao passo que os Estados Unidos, com um programa subsidiado de construção
naval em tempo de guerra, se tornaram, pela primeira vez desde a Guerra Civil, grandes
competidores no transporte marítimo internacional. Londres e outros centros financeiros
europeus perderam alguma da sua receita na banca, nos seguros e noutros serviços
financeiros e comerciais, que, durante a guerra, foram transferidos para Nova Iorque e
para outros países (Suíça, por exemplo).
A Paz de Paris, como ficou conhecido o acordo pós-guerra, em vez de tentar resolver os
graves problemas económicos causados pela guerra, acabou por exacerbá-los. Os
negociadores da paz não pretenderam que isso sucedesse; pura e simplesmente, não
conseguiam avaliar as realidades económicas.
139
O Tratado de Versalhes com a Alemanha, restituiu à França e autorizou a ocupação
francesa do Vale do Sarre, rico em carvão, durante 15 anos. Concedeu à recentemente
recriada Polónia a maior parte da Prússia Ocidental e uma parte da Silésia Superior, rica
em minérios. As suas colónias em África e no Pacífico já tinham sido ocupadas pelos
aliados (incluindo o Japão), que viram confirmadas as suas posses.
140
fortes pressões para um rápido regresso ao padrão-ouro, a fim de evitar uma acrescida
erosão, iniciada durante a guerra, da sua primazia financeira. Sob o sistema de antes da
guerra, a libra equivalia a 4,86 dólares, mas os Estados Unidos tinham permanecido no
padrão-ouro durante toda a guerra. A Grã-Bretanha tinha uma taxa de inflação superior
à dos Estados Unidos.
Em 1925, o ministro das Finanças Winston Churchill, que antes tinha trocado a sua
lealdade aos Liberais pelos Conservadores, resolveu fazer regressar a Grã-Bretanha ao
padrão-ouro à prioridade do anteguerra. Para manter a indústria britânica competitiva,
era necessária uma queda dos preços de aproximadamente 10 %, o que por sua vez exigiu
uma descida equivalente dos salários. O efeito global foi uma redistribuição do
rendimento à custa dos trabalhadores e a favor dos que viviam de rendimentos fixos.
Apesar dos problemas da Grã-Bretanha, a maior parte da Europa prosperou no final dos
anos 20. Durante cinco anos, de 1924 a 1929, parecia que a normalidade tinha de facto
regressado. A maioria dos países, particularmente os Estados Unidos, a Alemanha e a
França, viveu um período de prosperidade. Porém, a base dessa prosperidade era frágil e
dependia do continuado fluxo voluntário de fundos da América para a Alemanha.
Ao contrário da Europa, os Estados Unidos emergiram da guerra mais fortes que nunca.
Embora tenham vivido, a par da Europa, uma depressão aguda em 1920-21, a queda
revelar-se-ia breve, e durante quase uma década a sua economia crescente sofreu apenas
pequenas flutuações.
141
A derrocada do mercado bolsista não foi a causa da depressão – que tinha já começado,
tanto nos Estados Unidos como na Europa – mas foi um sinal evidente de que a depressão
se estava a instalar.
Uma característica maior das decisões de política económica de 1930-31 tinha sido a sua
aplicação unilateral: as decisões de suspender o padrão-ouro e de impor tarifas e
contingentes tinham sido tomadas por governos nacionais sem consulta ou acordo
internacional e sem considerarem as repercussões nem as reacções das partes afectadas.
Isto foi em grande parte responsável pela natureza anárquica da desordem que se seguiu .
Õ último grande esforço a fim de garantir a cooperação internacional para acabar com a
crise económica foi a Conferência Monetária Mundial de 1933. Oficialmente proposta pela
Sociedade das Nações em Maio de 1932 e adoptada por resolução na Conferência de
Lausana em Julho desse ano, a ordem de trabalhos da conferência previa acordos para
restaurar o padrão-ouro, reduzir as pautas aduaneiras e os contingentes de importação e
incrementar outras formas de cooperação internacional. O papel dos estados Unidos,
então envolvidos numa eleição presidencial, numa tal conferência foi universalmente tido
por essencial.
Roosevelt foi investido no auge da depressão; um dos seus primeiros actos oficiais foi a
decretação de 8 dias de «feriado bancário», para dar ao sistema bancário tempo para se
reorganizar, e a maior parte das medidas dos famosos «cem dias» envolveu acções de
emergência para fortalecimento da economia interna.
142
sistema monetário, os mercados de títulos, o trabalho, a segurança social, a saúde, a
habitação, os transportes, as comunicações, os recursos naturais – na verdade, com todos
os aspectos da economia e da sociedade americanas.
O acto legislativo mais característico de todo o período talvez tenha sido a Lei da
Reconstrução Industrial Nacional. Instituiu uma Administração de Reconstrução Nacional
(ARN) para supervisionar a preparação, por representantes da própria indústria, de
«códigos de concorrência leal» para cada indústria. Era um sistema de planeamento
económico privado («autogoverno industrial») com supervisão governamental, para
proteger o interesse público e garantir o direito de os trabalhadores se organizarem e
reivindicarem colectivamente.
Nenhuma nação ocidental sofreu mais coma a guerra que a França. A maioria dos
combates na Frente Ocidental tinha ocorrido na sua região mais rica. Mais aterradora foi
a perda de vidas, por isso não é surpreendente que a França exigisse à Alemanha que
pagasse pela guerra.
Contando com as reparações alemãs para pagar os custos, o Governo Francês iniciou
imediatamente um programa alargado de reconstrução física nas regiões danificadas pela
guerra que teve o efeito incidental de estimular a economia para novos máximos de
produção. O franco desvalorizou-se mais nos primeiros sete anos da paz que durante a
guerra. Percebendo que os alemães não podiam ser obrigados a pagar, um gabinete de
coligação constituído por seis antigos primeiro-ministros estabilizou o franco em 1926 a
cerca de um quinto do seu valor de antes da guerra, recorrendo a drásticas opções
económicas e a firmes aumentos nos impostos. Esta solução foi mais satisfatória que
qualquer outra das soluções extremas adoptadas pela Grã-Bretanha e pela Alemanha, mas
ignorou quer a classe dos que viviam de rendimentos fixos, que perdeu cerca de quatro
quintos do seu poder de compra com a inflação quer as classes operárias, que suportaram
a maior parte do fardo da agravação fiscal. Assim, como na Alemanha, a inflação
contribuiu para o crescimento do extremismo tanto à direita como à esquerda.
Como acontecera noutros países, a depressão deu origem a protestos sociais e a uma nova
onda de organização extremistas. O governo da Frente Popular nacionalizou o Banco de
França e os caminhos-de-ferro e aplicou uma série de medidas de reforma laboral, como
sejam o máximo de 40 horas de trabalho por semana, a arbitragem necessária de litígios
laborais e férias pagas aos trabalhadores da Indústria.
No problema mais vasto da recuperação económica, a frente Popular não teve mais
sucesso que os Governos anteriores, franceses e estrangeiros, tinham tido, e cindiu-se em
1938, quando os assuntos externos dominavam cada vez mais o universo político.
143
consolidou o seu poder com métodos totalitários. Para acomodar os fundamentos do seu
regime, Mussolini contratou o filósofo Giovanni Gentile para prover a uma racionalização
do Fascismo, que foi então publicitada como a própria filosofia de Mussolini.
O Fascismo:
- Glorificava o uso da força
- Tinha a guerra pela mais nobre das actividades humanas
- Denunciava o liberalismo, a democracia, o socialismo e o individualismo
- Tratava o bem-estar material com desdém
- Considerava as desigualdades humanas não apenas inevitáveis como desejáveis.
Acima, de tudo deificava o Estado como a encarnação suprema do espírito humano.
Mais bem sucedida que a Itália no combate à depressão, a Alemanha Nazi, foi a primeira
grande nação industrial a alcançar a recuperação total. Desenvolveu o primeiro sistema
moderno de auto-estradas e fortaleceu e expandiu grandemente as suas indústrias, o que
lhe conferiu uma vantagem decisiva sobre os seus inimigos nos primeiros anos da II
Guerra Mundial.
Um dos principais objectivos económicos dos Nazis foi o de tornar a economia alemã
auto-suficiente em caso de guerra. Não esqueceram os efeitos devastadores do bloqueio
aliado durante a I Guerra Mundial e quiseram ficar imunes a esse tipo de dificuldades no
futuro. A política de auto-suficiência também determinada a natureza das relações
comerciais alemãs com outras nações.
144
sangrenta e destrutiva que terminou com o derrube da república em 1939 e a instituição
dum regime autárquico nalguns aspectos semelhante aos da Itália Fascista e da Alemanha
Nazi, mas sem a tecnologia avançada desta última.
A Rússia Imperial entrou na I Guerra Mundial na expectativa de uma rápida vitória sobre
os Impérios Centrais. Essa ilusão depressa se desvaneceu e, à medida que a guerra se
arrastava, os tradicionais flagelos russos, a ineficiência e a corrupção, cobraram os seus
créditos. No começo de 1917, a economia estava destruída. No início de Março, greves e
motins eclodiram em Petrogrado ( o novo nome de Petersburgo). No 12 de Março, aos
chefes dos grevistas e dos soldados juntaram-se-lhe representantes de vários partidos
socialistas num soviete (conselho) de Delegados dos Trabalhadores e dos Soldados. No
mesmo dia, uma comissão da Duma (parlamento) decidiu formar um governo provisório e,
em 15 de Março, conseguiu a abdicação do Czar. Assim terminou o longo reinado dos
Romanov, numa revolução curta, quase sem chefes e praticamente sem derramamento de
sangue.
Lenine, o chefe da facção bolchevique dos partidos socialistas russos, que tinha passado a
maior parte da sua vida adulta no exílio, regressou a Petrogrado com a conivência do
Governo Alemão, que esperava que ele contribuísse para a agitação social e para o caos
político. Lenine assumiu rapidamente o seu domínio no Soviete de Petrogrado e levou a
cabo uma incansável campanha contra o Governo Provisório.
145
da economia permaneceram na posse e sob o domínio do Estado. A NEP também incluía um
vigoroso programa de electrificação, a criação de escolas técnicas para engenheiros e
gestores industriais e a criação duma organização mais sistemática dos sectores estatais
da economia. Apesar de algumas dificuldades acrescidas com os camponeses, a produção
aumentou tanto na indústria como na agricultura, e, por volta de 1926 a 1927, os níveis de
produção do anteguerra tinham sido substancialmente recuperados.
Em 1928, o domínio de Estaline sobre o parido e sobre o país era praticamente total. Em
1929, assim que passou a dominar firmemente o aparelho do partido e dos orgãos do
Estado, lançou o primeiro dos planos quinquenais. A este acontecimento chama-se, por
vezes «a segunda revolução bolchevique».
Em 1933, o Governo inaugurou o II Plano Quinquenal, no qual se deveria dar ênfase aos
bens de consumo. Apesar de grandes aumentos na produção industrial, o país manteve-se
essencialmente agrário. Uma particularidade notável do II Plano Quinquenal deu-se em
1936-37 – a Grande Purga. Milhares de pessoas, desde trabalhadores não qualificados até
importantes chefes partidários e militares, foram levados a julgamento (ou executados
sem julgamento) por alegados crimes que iam da sabotagem à espionagem e à traição.
Naturalmente, isto teve um efeito significativo na produção.
O III Plano Quinquenal, lançado em 1938, foi interrompido pela invasão alemã de 1941, e a
União Soviética recaiu em algo semelhante ao Comunismo de Guerra.
146
Todos os combatentes recorreram à guerra económica, uma expressão nova para uma
velha política. No fim da guerra, o cenário económico era, na Europa, extremamente
desolador. Em 1945, a produção industrial e agrícola foi de metade, ou menos, da que
tinha sido em 1938. Além dos prejuízos materiais e da perda de vidas humanas, milhões de
pessoas tinham sido desenraízadas e afastadas das suas famílias e outros milhões ainda
enfrentavam a perspectiva da fome. Para piorar as coisas, o quadro institucional da
economia tinha sido profundamente danificado. A reconstrução não iria ser tarefa fácil.
147
148
Cap. XV
O auxílio chegou por dois canais principais, sobretudo com origem na América:
- À medida que as forças aliadas avançavam pela Europa Ocidental no Inverno e
Primavera de 1944-45, distribuíram rações de emergência e medicamentos à
população civil em risco, tanto à inimiga como à libertada.
- O outro canal foi a Administração das Nações Unidas para Auxílio e reconstrução
(ANUAR). Os Estados Unidos suportaram mais de dois terços dos custos, outros
membros das Nações Unidas o restante.
Depois de 1947, o trabalho da ANUAR foi continuado pela Organização Internacional dos
Refugiados, pela Organização Mundial de Saúde e por outras agências especializadas das
Nações Unidas, bem como agências nacionais voluntárias e oficiais.
Em contraste com s Europa, os Estados Unidos emergiram da guerra mais fortes que
nunca. O mesmo se passou, em menor grau, com o Canadá e as demais nações da
Commonwealth e vários países da América Latina. Poupados aos prejuízos directos da
guerra, as suas indústrias e agricultura beneficiaram de grande procura em tempo de
guerra, o que permitiu a utilização total da sua capacidade, modernização tecnológica e
expansão.
Apesar das dificuldades que a inflação trouxe a quem vivia de rendimentos fixos, ela
manteve as indústrias a trabalhar e permitiu aos estados Unidos alargarem a necessária
ajuda económica à reconstrução da Europa e doutras regiões devastadas pela guerra e
flageladas pela pobreza.
Uma tarefas mais urgentes que esperavam os povos europeus depois das suas
necessidades de sobrevivência foi a da restauração da lei, da ordem e da administração
pública normais.
149
Em 1944, numa conferência internacional na estância de Bretton Woods, no
Newhampshire, na qual os delegados americanos e britânicos tiveram os principais papéis,
foram lançadas as bases de duas grandes instituições:
- O Fundo Monetário Internacioal (FMI) seria responsável pela gestão da estrutura
de taxas de câmbio entre as várias moedas mundiais e também pelo financiamento
de desequilíbrios a curto prazo das balanças de pagamento.
- O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), também
conhecido como Banco Mundial, concederia empréstimos a longo prazo para a
reconstrução das economias devastadas das nações mais pobres do mundo. Estas
duas instituições não se tornariam operacionais antes de 1946 e, por vários
motivos, não foram completamente eficazes durante vários anos; mas pelo menos
tinha-se tomado uma iniciativa no sentido de reconstruiu a economia mundial.
150
desnazificação, incluindo o julgamento de dirigentes nazis como criminosos de guerra. Na
verdade, apenas o último objectivo foi cumprido tal como se tinha pretendido
inicialmente.
Assim como o Zollerein serviu como percursor do Império Alemão, a unificação económica
das zonas ocidentais de ocupação delineou a futura República Federal da Alemanha.
A União Soviética, que não tinha sido consultada sobre a reforma monetária e que
considerava uma infracção ao acordo de Postdam (o que de facto era), retaliou fechando
todas as ligações rodoviárias e ferroviárias entre as zonas ocidentais de ocupação e
Berlim Ocidental.
Uma das mais importantes dessas novas instituições foi a União Europeia de Pagamento
(UEP). Este engenhoso dispositivo permitiu um comércio multilateral livre dentro da OECE
O termo «milagre económico» foi aplicado pela primeira vez ao notável arranque do
crescimento da Alemanha Ocidental após a reforma monetária de 1948. foi então notado
que várias nações nomeadamente a Itália e o Japão, tinham taxas de crescimento tão ou
mais altas que a alemã.
151
A ajuda americana desempenhou um papel crucial no início da recuperação. Daí em diante,
os Europeus mantiveram-na com elevados níveis de poupança e investimento.
As economias europeias tinham estagnado durante toda uma geração. Além de terem
perdido o seu incremento potencial de crescimento, apenas dispunham de equipamento
obsoleto e estavam muito atrás dos Estados Unidos em progresso tecnológico. Assim, a
modernização tecnológica acompanhou o chamado milagre económico, para o que foi
importante factor contributivo.
Por fim, e a longo prazo, há que ter em grande conta a riqueza europeia de capital humano.
As suas elevadas taxas de alfabetização e instituições educativas especializadas, dos
jardins de infância às escolas profissionais, universidades e institutos de investigação,
forneciam o pessoal especializado e os peritos que faziam a nova tecnologia funcionar com
eficiência.
De todas as nações que entraram na guerra, a União Soviética foi a que, em sentido
absoluto mais prejuízos sofreu. Segundo estimativas oficias, 30% da riqueza do período
que antecedeu a guerra tinha sido destruída.
Apesar dos sofrimentos do seu povo, a União Soviética emergiu como uma das duas
superpotências do mundo do pós-guerra. Embora fosse pobre numa base per capita, os
seus vastos territórios e população permitiram-lhe desempenhar esse papel. Para
recuperar a economia devastada e arremessar a produção a novos níveis, o Governo lançou
o IV Plano Quinquenal em 1946. Como já os planos anteriores tinham feito, favoreceu a
indústria pesada e os armamentos, dando especial atenção à energia atómica. O novo plano
também recorreu extensivamente às indemnizações físicas e à tributação dos antigos
países do Eixo e novos satélites da URSS.
Estaline, instituiu uma série de mudanças em altos cargos do Governo e da economia nos
anos imediatamente a seguir à guerra. Uma revisão constitucional em 1946 substituiu o
Conselho de Ministros, no qual Estaline assumiu a posição de presidente, ou
primeiro-ministro.
152
«cumprimento» dum plano quinquenal e a inauguração doutro, embora altos funcionários se
queixassem da ineficiência generalizada e de um terço das empresas industriais não
terem atingido as suas metas de produção.
A agricultura soviética manteve-se num estado de crise quase sem remédio durante o
período pós-guerra, apesar dos esforços maciços do Governo para aumentar a
produtividade. O sistema de exploração colectiva não oferecia incentivos suficientes aos
camponeses.
Embora não pertencesse ao Bloco Soviético, a República Popular da China esteve por
pouco tempo aliada à União Soviética. Objectivo fundamental da chefia comunista chinesa
era a reestruturação da sociedade e a correcção dos processos de análise, do
comportamento e da cultura. Os vestígios da estrutura «feudal» e «burguesa» de classes
foram eliminados pelos expedientes simples da expropriação e da execução judicial.
A União Soviética tinha desde o início oferecido assistência económica, técnica e militar à
RPC (República Popular da China), mas os Chineses recusaram-se aceitar os ditames
soviéticos. Em 1960, a URSS cortou toda a ajuda e retirou todos os seus conselheiros e
assistentes técnicos. Apesar da retirada dos técnicos e do auxílio soviéticos, a China
alcançou o seu maior triunfo tecnológico em 1964, com a explosão duma bomba atómica.
A economia da descolonização
153
Índia, Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh.
Os quatro países têm populações extremamente densas, poucos e pobres recursos
naturais e baixos níveis de alfabetização. Estão também sujeitos a perturbações raciais e
religiosas e a governos instáveis, frequentemente ditatoriais. A maior parte da
mão-de-obra dedica-se em todos eles, à agricultura de baixa produtividade. Todos estes
países são extremamente pobres.
O mapa político de África no final da II Guerra Mundial pouco diferiu do dos anos do
entreguerras. As potências imperiais do passado subjugavam ainda quase todo o
Continente.
O Sudão com uma vasta área mas poucos recursos e uma população na sua maioria
analfabeta, tem sido incapaz de fazer funcionar quer uma democracia quer uma economia
e tem sido governado por uma série de regimes militares. A sua independência foi
declarada a 1 de Janeiro de 1956.
154
externos. A Argélia passou a exportar muito do seu gás natural líquido para os Estados
Unidos.
Em 1957, o estado do Gana emergiu como a primeira nação negra na comunidade Britânica,
tornando-se membro das Nações Unidas, seguido da Nigéria em 1960 e outros antigos
domínios britânicos seguiram o mesmo exemplo.
Paradoxalmente, as primeiras colónias britânicas em África a conseguirem a
independência total encontravam-se entre as menos avançadas económica e politicamente.
Porque eram essencialmente povoadas por africanos negros, não houve problemas de
minorias brancas.
Embora o colonialismo estivesse a morrer, se é que não estava já morto, deixou um legado
deplorável. Com poucas excepções, largamente confinadas a áreas de colonização
europeia, as novas nações eram desesperadamente pobres. Em três quartos de um século
de colonialismo, as nações da Europa tinham extraído fortunas imensas em minérios e
outros produtos mas partilhado pouco da sua riqueza com os Africano. Só tardiamente
algumas potências coloniais tinham feito qualquer esforço para instruírem os seus
súbditos ou os preparem para uma autonomia responsável.
A maioria dos governos das novas nações foi flagelada pela ineficiência e pela corrupção.
Mesmo quando as suas intenções eram benignas, poucos dispunham dos recursos,
especialmente de capital humano, para as levarem a bom termo.
As Organizações Supranacionais exigem que os seus membros cedam pelo menos uma
parte da sua soberania e podem compelir na extensão dos seus mandatos.
Tanto a Sociedade das Nações como as Nações Unidas são exemplo de organizações
internacionais.
155
guerras intra-europeias menos prováveis, se não impossíveis. Devido à ideia
profundamente enraizada de soberania nacional, a maior parte das propostas práticas de
uma organização supranacional tem encarado a unificação económica como preliminar de
uma unificação política.
Pouco depois de a Comunidade ter iniciado a sua obra, as mesmas nações ensaiaram um
novo passo de gigante no sentido da integração, com um tratado de uma Comunidade
Europeia de Defesa.
156
157
Cap. XVI
De finais dos anos 30 até finais dos anos 40, a economia japonesa tinha estado isolada do
resto do mundo, e o Japão podia adoptar muitas inovações tecnológicas a um custo
mínimo. Mais importante foi o alto nível de capital humano do Japão, que lhe permitiu
aproveitar a tecnologia superior. Depois de o Japão ter compensado o seu atraso
tecnológico, tornou-se pioneiro na introdução de nova tecnologia, especialmente na
electrónica e na robótica. Para isto, pôde contar não só com as suas reservas de capital
humano mas também com os elevados níveis de poupança e investimento do povo japonês.
Outro factor significativo é a sofisticação da gestão japonesa, que compreendeu o
elevado retorno da investigação e desenvolvimento industriais. Poderíamos citar o espírito
ou mentalidade do povo japonês – colectivista (num sentido geral), cooperante e dado ao
jogo em equipa. Isto é evidente tanto nas atitudes dos empregadores para com os
empregados (e vice-versa) como na política governamental.
No fim do séc. XIX e na primeira metade do séc. XX, os países da América Latina tinham
tido uma participação activa na divisão internacional do trabalho, com base na sua
vantagem comparativa em produtos primários. Mesmo em meados do séc. XX, alguns deles
os países do cone meridional (Argentina, Uruguai e Chile), gozavam rendimentos per capita
comparáveis aos da Europa Ocidental. A partir daí, na despropositada suposição de que
eram de certa forma cidadãos mundiais de segunda classe, dada a sua especialização em
produtos primários, várias nações da América Latina aderiram a programas de
«industrialização de substituição das importações», tentando produzir para si mesmos os
produtos fabricados que anteriormente importavam. Estes programas goraram-se por
vários motivos:
1. os mercados internos eram demasiados pequenos
2. havia uma falta de cooperação internacional na região
3. ao contrário do Japão, faltava à região capital humano para empregar com
eficiência a nova tecnologia.
As condições económicas em África tornaram-se com o avanço do séc. XX para o seu fim,
ainda mais deploráveis que as da América Latina. Às novas nações que emergiram com o
fim do colonialismo europeu faltavam recursos, naturais e, em particular humanos, para
fazerem face às complexidades duma economia moderna. As circunstâncias políticas
entravaram, de igual modo, esforços de desenvolvimento económico.
158
Outra região do mundo que adquiriu uma grande importância económica na última parte do
séc. XX foi o sudoeste da Ásia ou Médio Oriente. A razão desta crescente importância
económica pode resumir-se sucintamente numa só palavra: petróleo.
O petróleo foi descoberto no Irão (então chamado Pérsia) na primeira década do séc. XX
e, subsequentemente, em vários Estados árabes das margens do Golfo Pérsico – Iraque,
Arábia Saudita, Kwait e emiratos mais pequenos.
Uma mescla de motivos políticos e económicos subjaz à revolta das massas nessas terras
de antigo domínio dos Comunistas. Tivessem esses regimes sido capazes de cumprir as
promessas de condições materiais melhoradas e de um alto nível de vida, e o povo teria
provavelmente aceite a privação de liberdade; mas não foram. Pelo contrário, as
circunstâncias materiais, incluindo as condições de vida e de trabalho das gentes,
detioraram-se claramente, em contraste com as facilidades e a abundância dos seus
vizinhos ocidentais.
159
Gorbachov defendia, aparentemente, um regresso a algo como a Nova Política Económica
de Lenine, na qual o Estado manteria o domínio dos «sectores vitais» da economia mas
permitiria uma iniciativa limitada nos restantes.
Em Agosto de 1991, nas vésperas dum novo tratado entre a união Soviética e algumas das
suas repúblicas constituintes que conferiria muito mais poder a estas últimas, um pequeno
grupo da linha dura do Partido Comunista tentou um golpe de Estado. Os condutores do
golpe, colocaram Gorbachov, então em férias na Crimeia, sob prisão domiciliária,
suspenderam a liberdade de imprensa e declararam lei marcial. Porém, o povo russo,
especialmente os cidadãos de Moscovo e de Leninegrado, recusaram-se a serem
intimidados. Sob a chefia de Ieltsin e com o apoio de algumas unidades militares que
vieram em seu auxílio, desafiaram abertamente os condutores do golpe, que rapidamente
perderam a coragem e fugiram, vindo a ser presos.
Três dias depois, um Gorbachov triunfante regressou a Moscovo, mas a Moscovo para
onde voltou não era a mesma que deixara. As relações de poder tinham-se alterado
drasticamente. A maior parte das repúblicas constituintes declarou a sua independência
do Governo Central. Gorbachov demitiu-se da Presidência no dia 25 de Dezembro, e a
união Soviética deixou de existir.
Após mais de 30 anos de existência, a comunidade Europeia ainda não tinha realizado os
sonhos e visões dos proponentes mais ardentes da unidade europeia, uns estados unidos
da Europa. Apesar da remoção de barreiras aduaneiras internas não tinha conseguido
abolir todas as restrições ao comércio intra-europeu nem abolir as fronteiras aduaneiras
internas. A união monetária estava longe da conclusão e as crises orçamentais eram um
problema perene. A admissão dos países mediterrânicos menos desenvolvidos, Grécia,
Espanha e Portugal, introduziu uma série de novos problemas, em particular na esfera
agrícola.
O objectivo final da união política evoluiu por uma luta entre dois grandes grupos
partidários:
- À Comissão Europeia, com sede em Bruxelas e as hostes eurocratas; juntou-se o
Parlamento Europeu na procura de medidas cada vez maiores de unidade e dum
papel mais relevante para o Parlamento.
- Os governos estavam representados no Conselho de Ministros, também conhecido
como Conselho Europeu, que detinha o poder final em todos os assuntos não
cobertos pelos tratados que instituíram a Comunidade.
160
caminho-de-ferro sob o Canal da Mancha. A sua conclusão foi agendada para 1993, pouco
depois da entrada em vigor do Acto Único Europeu.
Outro desenvolvimento favorável, também agendado para 1993, foi a criação dum Espaço
Económico Europeu (EEE) através da fusão da Comunidade Europeia com a Associação
Europeia de Comércio Livre.
Em 1991, a Comunidade decidiu criar o seu próprio banco central em 1994, a que se
seguiria uma moeda única em 1999.
Limites ao Crescimento?
Em 1972, previa-se que os limites ao crescimento neste planeta serão atingidos algures
dentro dos próximos cem anos. Invocaram-se cinco grandes tendências de preocupação
global:
1. industrialização acelerada
2. rápido crescimento populacional
3. subnutrição generalizada
4. diminuição dos recursos não renováveis
5. ambiente em deterioração
Durante mais ou menos os últimos cem anos, as nações abastadas sofreram uma transição
demográfica de um regime de elevadas taxas de natalidade e de mortalidade para um
muito menor, com consequente redução da taxa de crescimento populacional. A
expectativa é de que, à medida que as outras nações mais pobres aumentam o seu nível de
bem-estar material, também estas reduzem as taxas de natalidade e, consequentemente,
as taxas de crescimento populacional.
161
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Índice
Cap. I: Introdução: história económica e desenvolvimento económico 1
............................... 1
- Crescimento, desenvolvimento e progresso 2
.................................................................. 3
- Determinantes do desenvolvimento económico 3
............................................................ 4
- Produção e produtividade
.................................................................................................. 5
- Estrutura económica e mudança estrutural 5
.................................................................. 7
- A logística do crescimento económico 8
............................................................................ 8
163
- Ásia Meridional 42
.................................................................................................................... 44
- África 45
...........................................................................................................................
.......... 47
- As Américas 47
..........................................................................................................................48
49
Cap. V: A segunda logística europeia 51
............................................................................................. 53
- População e níveis de vida 55
..................................................................................................
- Exploração e descoberta 57
................................................................................................... 57
- A expansão ultramarina e a sua repercussão na Europa 58
............................................ 58
- A revolução dos preços 59
...................................................................................................... 60
- Tecnologia e produtividade agrícola 61
............................................................................... 62
- Tecnologia e produtividade industriais 62
.......................................................................... 63
- Comércio, rotas comerciais e organização comercial 64
................................................. 66
68
Cap. VI: Nacionalismo e Imperialismo Económico 70
......................................................................
- Mercantilismo: um termo incorrecto 71
.............................................................................. 71
- Os elementos comuns 72
......................................................................................................... 74
- Espanha e América espanhola 75
.......................................................................................... 77
- Portugal
........................................................................................................................... 81
...... 81
- Europa Central , Oriental e Setentrional 82
...................................................................... 85
- Colbertismo em França 87
...................................................................................................... 87
- O desenvolvimento prodigioso dos Países Baixos 89
........................................................ 90
- «Colbertismo Parlamentar» na Grã-Bretanha 91
.............................................................. 92
164
- A «Revolução Industrial»: um termo incorrecto 98
......................................................... 99
- Pré-requisitos e concomitantes da industrialização
...................................................
- Tecnologia e inovação industriais
....................................................................................
- Variação regional
.................................................................................................................
- Aspectos sociais do começo de industrialização
.........................................................
165
.........
- França
...........................................................................................................................
.........
- Alemanha
...........................................................................................................................
....
166
Cap. XII: Sectores estratégicos ............................................................................................... 116
- Agricultura ........................................................................................................................
117
- Finança e banca ...............................................................................................................
118
- O papel do Estado 119
........................................................................................................... 120
121
Cap. XIII: Visão de conjunto da economia mundial no Século XX 122
..................................... 122
- População
....................................................................................................................... 123
.... 123
- Recursos 124
....................................................................................................................... 126
..... 127
- Tecnologia 130
....................................................................................................................... 131
..
- Instituições 133
...................................................................................................................... 133
· Relações internacionais 134
.................................................................................. 136
· O papel do governo 137
........................................................................................... 139
· As formas de empresa
..................................................................................... 141
· Mão-de-obra sindicalizada 142
.............................................................................. 143
144
Cap. XIV: Desintegração económica internacional .................................................................
- As consequências económicas da I Guerra Mundial ................................................
- Consequências económicas da paz ...............................................................................
- A Grande Depressão, 1929-33 .....................................................................................
- Tentativas rivais de reconstrução ..............................................................................
- As revoluções russas e a União Soviética .................................................................
- Aspectos económicos da II Guerra Mundial ............................................................
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168