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A literatura s õbr e agricultura tradicional ou de sub- ao l a.dc dê s s e s seringais nativos encontra-se a cultura
sistência atingiu um grau de maturidade relativamen- da seringueira em bases inteiramente comerciais, den-
te alto na década de 60. Apesar disso, continua con- tro de uma tecnologia bastante avançada. E, assim, em
lusa a definição do conceito, a ponto de se perguntar, todo o território nacional, alternam-se, s vê z e s lado
à
hoje em dia, se realmente existe o que se convencio- a lado, áreas de agricultura comercial, com tecnolo-
nou chamar agricultura tradicional (ou de subsistên- gia a vanç adaç- e áreas de agricultura de subsistência,
cia), tal como apresentado nos livros e artigos de revis- onde pouco mais se conhece além do uso da e nx a da e
• ta que versam sObre assunto. do machado. Mesmo em Sã o Paulo, onde a tecnologia
A co nfu s ã.o começa nos tê r rno s subsistência e tra- agronômica mais tem avançado, pode notar-se que, na
dicional. Às vê z e s sae usados como sinônimos. Ou~s orla dos seus modernos Ia r anj a ia.u lg o doa s e canaviais, í
vê z e s , nã o , Schultz (7, 1964) conceitua agricultura tra- encontram-se agricultores cultivando milho e fe ij ão
dicional como o setor de urn país subdesenvolvido que com tecnologia que se equipara ~ das regiões mais a tr a-,
atingiu um equilíbrio a longo prazo com respeito ~ a- /( sadas no Brasil. (M. Ignês Schuh, 10, 1968).··
locação dos íatôres de pr-o duç ão (':l. di s pos i ção dos a- !:ste qua dr o é muito importante quando se pensa em
gricultores) e investimentos para aumentar o estoque planejar a polft íca agrícola do país, nã o sendo assim
dêstes fatôres. possível ater-nos ~s recomendações exclusivas de
Já Nakaj irna (5, 1969) procura definir agricultura de qua lque rrno dê l o de desenvolvimento da agricultura. A- I'
I
subs s tê nc ia relacionando a parte da pr oduç ão que é lém dê s te s fatos, deve-se co:mpreender que o Brasil
I í
l
ve r dade ir c "continuwn" é estabelecido. Num extremo, velmente, mais de 500/0 da nossa po pul a o habita o
ç ã
nada é vendido (tudo é consumido) e nada é comprado meio urbano. Modelos que relegam estas realidades
, (56 trabalho familiar e terra s ão usados na produção). (e a maioria o faz) nã o podem ser os mentores exclu-
No outro extremo, tõ da a pr oduç ão é vendida e todos sivos de nossa política agrícola. Ao discutir, a seguir,
os fatôres de produção sao comprados. Entre os dois as idéias de um eminente e co norn is ta , é importante
extremos situa-se o "continuum" referido. Dentro que o leitor nã.o se esqueça destas observações inici-
dêste a r gum ento, é possível postular um comporta- ais.
~
I mento diferente para a agricultura de subsistência.
I Por exemplo,
ca do de trabalho,
a drni ti ndo= s e a nã o existência
Nak aj irna constrói
de mer-
urn modêlo de e-
Idéias de T. 1\1.Schultz
I, quilíbrio subjetivo, onde o chefe da farnfl ia m ax irn iza
a função de utilidade sujeita a s restrições da função de
As idéias de Schultz a respeito
so da agricultura
das causas do atra-
e das pol i'ri c a s apropriadas para
pr o duç ão , t claro que s te tipo de comportamento
ê di- vencer a e s ta gna ção em que se encontra na maioria
fere do usualmente postulado para a agricultura dita dos pa fs e s s ub de s e nvol vi do s c- hoje, mundialmente
I comercial.
trições
Neste caso, a rnax irn z a ção é em dois es-
impostas
í
I'
\ cia na literatura de se rna nte r diferença co nc e i tua l financiamento de i ns urno s modernos.
entre agricultura tradicional e de subsistência. No pri- No que se refere ~ agricultura t r a di c iona.l, Schultz
meiro caso, atém-se à s idéias de Schultz. No segundo escreveu um livro (7,1964), que será a seguir breve-
I caso, nada de mais definitivo é ainda aceito. É provável mente resumido. Nesse livro, êle procura explicar o
! que, com o correr do tempo, estas duas i de ias comportamento da agricultura tradicional, cuja defi-
venham a fundir-se num conceito unificado.
II
I
çã
tor tradicional
A idéia básica que constitui
o para o seu monumental
não difere,
trabalho
e m comportamento
a moti-
é que o agricul-
econô -
I os pontos do referido "continuuzn". Na regi~o amazõ- mico, do agricultor comercial. Ambos pesam as al-
! nica a explo r a ão ex t r at i va dos seringais
ç nativos tem ternativas possíveis e e s oo l he rn a que oferece melho-
I tõda a característica de urna agricultura de subsistên- res perspectivas de retornos. Cons e qiie nte rne nte , am-
cia. Os únicos insumos usados s o maovde vob r a e os
ã bos ~a:o eficientes. Mas, como reconciliar a baixa pro-
"serviços" das árvores produtoras. Na:o há qualquer dutividade e a imensa pobreza das zonas de agricultu-
interêsse em melhorar o processo produtivo, ou mes- ra tradicional em co m pa r a ão com as regiões
ç de agri-
I mo em substituir as árvores que se danificaram em cultura c orn e r c i a l ? !:le c oriduz sua análise nessa dire-
con s c qliê nc i a da própria e xpl or a ão , O seringueiro
ç ç:Io. No final deriva urna p r o po s i a o famosa: a agri-
ç
I ;:>r~ticamellte consome tudo o que produz na sua ali- cultura tradicional é eficiente, rria s pobre. E, de fato,
l ----------------------~~
- .. --------------------------------------
~-
í
I por que eficiência e pobreza s ão incompatíveis? que a produtividade marginal do trabalho po s s:
I Vejamos,
I senvolvida.
primeiramente, como a teoria e s tã de-
A base para o seu conceito de agricultura
nula. Todavia, o equili'brio obtido por Na kaj irna I
supõe que esta produtividade rna r gina l seja pos
tradicional ~ que esta nã o cresce, ou seja, está es- Sua a ná lis e pode ser rno di fic a da para aco modar
Esta ausência de ineficiência implica, logo de inf- go, a pr-opo s ção E. não é verdadeira
í na pr e s e nr
cio, na impossibilidade de produtividade marginal nu- crescimento da popul ação,
la para o trabalho. Ou seja, nao existe desemprêgo Achamos, porém, que Da nde ka r , ao fazer esta
disfarçado na agricultura tradicional. Sõbr e êstes fa- tica, fugiu ~ essência das premissas~, !? e E., a
tos já tivemos oportunidade de comentar intensamen- riormente enunciadas. Como conciliar estas pr e:
te (Alves, 1, 1969). Entretanto, convém notar que se sas com um mundo onde a popula ção está c r e s ce:
esta con se qlíê nc ia é verdadeira, devemos ter: t parte da l6gica da análise do equilibrio e s ta c ior
a) Existir um mer·cado de trabalho relativamente a estabilizaç3.o da popul a çao. Entretanto, duas c
perfe:~~. cas po de r iarn ser feitas:
b) o tipo de org:\ni7.aç:to d;! :Igricultura lt-va 'h. ll1axi- ;1) [\;:\ ;1n:ili~;e de Schultz nn o se rno s t r a como s
: 11Iiz;IÇto e m dois est:'ígios, como ji V.i5tO. Na a us nc in
(xl É nece s sã r io admitir tecnologia
ê
produtividade média? Caso esta pr-e s s ã.o vença, en- Schuh {9, 1968}, considerando com alguns detalhes
tão a conseqUência s e r ã, como já vimos, uma produ- experiência brasileira.
tividade mar ginal do trabalho nula.
equilíbrio. Ou seja, as premissas~, ~ e ~ é que ne- renda nacional. Di s tr ibu.i ão de renda, através
ç
cessitam ser expl ic a da s , Por que a tecnologia se es - programas de reforma agrária e outros rn a i s , tem
tabilizou? Por que nao se alteraram as escalas de feitos duvidosos. b) ConseqUentemente, é o lado da
preferências? Mas, para tratar destas questões, pro- ferta que deve ser considerado como o promissor
f' :', v~velmente as in s t itu i'ç e s teriam õ que ser t ra z da sí
resultados mais rápidos e seguros.
para dentro do modêlo. Ao que parece, Schultz nao No lado da oferta o ponto ne vr ãl gic o é a constl1n
ernpr e s ta rnui ta i rnpo r tã nc i a ~s:nstituições corno res- da tecnologia no setor produtor de bens de ca pi tal
ponsáveis pela e s ta gna ão da agricultura.
ç produtor de fontes de renda permanente). Como na
i. ~. ~<umtrabalho mais recente (8, 1969), -Sc hul tz man- possível melhorar a produtividade da agricultura t
té m a hip6tese de poucas oportunidades de inv e s t i rn e n - dicional recombinando os fa tõ r e s de p r o du o {como
ç ã
rno s , a combinação prevalecente é a 6tima), s6 res- Muitas vê z e s o excessivo preço dos ins urrio s mode
ta uma opção: modificar a tecnologia. coris e qliên c ia do mal funcionamento do mercado d
Dentro da coric e itua ão geral de capital aceita por
ç tôres. No Brasil, uma das fontes de e nca r e c irne n
Schultz - inclui capital tangível e intangível (o .hornern) fatôres da produção costuma ser o crédito, que d
_ a tecnologia só pode vir cristalizada nalguma for:ma minava violentamente contra a agricultura. Com
nova de capital. Portanto, é necessário criar condi- lrtica atual do Govêrno federal, esta situação já rr
ções para que essas formas novas de capital apareçam rou bastante e tende a melhorar ainda mais. A ir
e a preços relativos baratos. Com relação a isto, há ta.ç ão da indústria de fertilizantes é outro bom «
duas possi1::ilidades: pIo.
a) Melhoramento das qualidades do homem. Educa- Em têrmos gerais, são estas as r e cornendaçõ.
ç:1o é a palavra mágica. Schultz demonstrou que os r a transformar a agricultura, decorrentes da a
investimentos no homem foram responsáveis por gran- de Schultz. Críticas têm sido levantadas por n:!
de parte do crescimento econômico dos Estados Uni- siderar devidamente o problema da posse da ter]
dos. Os exemplos da rápida recuperação do Japão e da seja, a exí e tê ncí a de latifúndios e minifúndios
Alemanha, com seu capital físico pr'a ti ca me nte des- políticas que tendem a re solver êsses problemas.
truído na 2~ Guerra Mundial, sã.o também dignos de dissemos, Schultz não crê muito na eficácia c
nota. políticas. Com isto não queremos dizer que é
O valor econômico da e du ca ão (Schultz, 6,1963),
ç as mesmas. Há situações em que concorda COIr
aliás reconhecido por Adarn Smith, é assim reintro- Mas, dentro do seu modo de ver, acha que as pol
duz ido na análise econômica como das variáveis mais acima referidas são muito mais poderosas. O re
importantes para explicar as diferenças de desenvolvi- do das mesmas acabará, indiretamente, modifi
mento econômico entre as nações de hoje. Esta é ou- as-instituições, sem que para isto seja necessá:
tra co ntr ibuí.ção notável de Schultz. abalo demasiadamente violento nas instituiçOee
-Investimentos em educação primária, democratiza- tí.ca s ,
ção do ensino (que tende, no Brasil, a discriminar
contra o meio rural), ensino superior e de p6s-gra-
dua ção, investimentos em instituições de pesquisas e
serviços de exte ns o constituem
ã políticas altamente LITERA TURA CITADA
priori tárias para umpaís que quer ver sua agricultura
transformada. 1. Alves, EliseuRoberto de Andrade. Desemprêgo I
b) Insumos (tangíveis) modernos. É preciso criar çado. Notas de aulas do Seminário de Economia Ag
novo s insumos e a preços baratos, sem o que a trans- Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da
formação da agricultura não será viável. Belo Horizonte, 1969.
Segundo Schultz, não há problemas de a do ão de no-
ç 2. Dandekar, V.M. Questions oí Economic Analysi
vas idéias por parte dos agricultores. Se nao aceitam the Consequences oí Population Growth, em Wha r tor
uma nova te c nol o gia , é porque seu preço ê alto em Clifton R. (edl,Subsistence Agriculture and-Economic
lopment.Aldine Publishing Company.Chicago, 1969(pá,
r e Iaç ão ao preço da pr-odução,
376).
No caso da agricultura, ocorre ainda que nem sem-
3. FriedInan, Milton. Price Theorya Provisiona
pre é viável a transferência de conhecimentos gerados Aldine Publishing Company. Chicago, 1962 (cap.13)
em países avançados. Estas novas técnicas de.vem ser 4. Georgescu - Roegen, Ni chola s , AnalyticalEcor
adaptadas. Muitas vê ae s outra tecnologia precisa ser Issues and Problems. Ha r var d UniversityPress. Can
criada. Outro problema é que a exploração agrícola é Mass., 1966 (págs. 359-397).
um todo. Modificar-se uma parte apenas quase sempre 5. Nakaj irna, Chihiro. Subsistence and Comercial
compromete a rentabilidade do empreendimento. Em Farms: Some Theoretical Models of Subjective Equili
linguagem mais acadêmica, costumamos dizer que os em Wharton Jr., ChiftonR. (ed),SubsistenteAgricultl
Economic Development. Aldine Publishing Company. C
insumos têm um comportamento complementar entre
1969 (págs. 165-185).
si. Por exemplo, híbridos brasileiros (milho) têm uma
6. Schultz, T. W. The Economic Value oí Educatic
capacidade genética de pr oduçao nao muito alta. Assim,
lumbia UniversityPress. New York, 1963. (Já traduz
nao faz sentido falar- se em adubações muito elevadas. ra o português).
Prov~velmente, a resposta a êsse tipo de adubação não 7. Transforming Traditional Agriculture. Ya
compensa econômicamente. sersity Press. New Haven, Con., 1964. (Já traduzid
Como conseqUência destas considerações decorre o português).
a necessidade de se fortalecer nos países em de s e n- 8. Economic Opportunities in the World oí A
vol vimento instituições de pesquisa capazes de enfren- ture. Uni"versity oí Chicago. Agricultural Economics
tar os problemas e, no final, desenvolver insumos nO?6609. 1966.
modernos a preços relativos compensadores. Portan- 9. Schuh, G. E. E!fects oí Some General Economic
to, políticas tendentes ao favorecimento da implanta- lopment Policies on Agricultural Development. An
Journal or Asricl~1tural Econornics, voI. 50, nO 5, ~
ç:to e expansão de instituições de pesquisas são alta-
de 1968{p:\gs. 12.~\-12.9,\)
mente r-ec orrie n drlve s , A par disso, tõ da s as políticas
10. Schuh,l\tari;l 19l\ês Angt>li.Adoç:\ode Novos F'a t
í