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COLÉGIO PEDRO II propriedades agrícolas deixaram suas atividades de

GEOGRAFIA – PROFESSOR LEANDRO ALMEIDA subsistência e deram início a uma operação comercial, na
MATERIAL DE APOIO – AULA 3 qual os agricultores consomem cada vez menos o que
produzem. O moderno agricultor é um especialista,
ESPAÇO RURAL – MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA confinado às operações de cultivo e criação. Por outro lado,
as funções de armazenar, processar e distribuir alimento e
1. A modernização agrícola e as transformações no campo fibra vão se transferindo, em larga escala, para
organizações além da fazenda.
Com as revoluções industriais, o espaço rural se Essas organizações transformaram-se em
tornou cada vez mais integrado – e subordinado ao espaço operações altamente especializadas. Criou-se um novo
urbano. Atualmente é difícil distinguir com precisão exata arranjo de funções que são necessárias antes mesmo de a
os limites que separam o que é urbano daquilo que é rural. produção agrícola ser iniciada: a produção de insumos
Além disso, a modernização tecnológica e o aumento na agrícolas e fatores de produção, incluindo máquinas e
circulação de informações entre o campo e a cidade fez implementos, tratores, combustíveis, fertilizantes,
com que a própria vida no campo sofresse modificações suplementos para ração, vacinas e medicamentos,
significativas. Portanto, o rural e o urbano não devem ser sementes melhoradas, inseticidas, herbicidas, fungicidas e
mais pensados como recortes territoriais isolados, como muitos itens mais, além de serviços bancários, técnicos de
tradicionalmente o fora, mas como espaços pesquisa e informação. Ou seja, os complexos
interdependentes e complementares. Sendo assim, agroindustriais são característicos do agronegócio, e
entender a relação campo-cidade é essencial, pois tanto o incluem atividades do setor primário (agropecuária),
rural quanto o urbano não podem ser entendidos secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços).
separadamente, já que a velha dicotomia de que o urbano Portanto, um complexo agroindustrial é a junção
é significado de moderno e o rural significado de arcaico de todas as fases da agricultura e sua produção, onde há
não faz mais sentido na atualidade. uma integração das indústrias de insumo e de
No Brasil dos dias de hoje, a zona rural, agora processamento – controladas, quase que totalmente, pelas
subordinada aos interesses urbanos, orienta sua produção grandes empresas. A estrutura da produção, bem como o
para a satisfação direta ou indireta da cidade, que investe tipo de trabalho a ser utilizado depende do produto
no campo maciçamente, reproduzindo ainda mais essa cultivado. Como exemplo, no caso da uva, do fumo e do
situação de dependência. Logo, são características do mate, o trabalho é familiar e a produção é, assim,
espaço rural brasileiro na atualidade: terceirizada; já na cana-de-açúcar, laranja e cacau são
• Produção de itens para a exportação; necessárias grandes extensões de terra, então a indústria
• Produção de matérias-primas para o setor industrial; produz e compra o restante de grandes fornecedores, e o
• Produção de alimentos para o grande contingente trabalho é assalariado; e no caso da soja há um alto nível
populacional das cidades. de mecanização em todas as etapas da produção, o que
requer o uso de trabalhadores assalariados com alto grau
Em suma, a industrialização e modernização de de qualificação, capazes de operar as máquinas utilizadas.
nossa economia subordinaram o campo à cidade. Mais Atualmente os complexos agroindustriais
ainda, modificaram a orientação da produção rural, brasileiros desempenham uma significativa importância na
mantendo a estrutura fundiária arcaica e transformando o economia do país, se consideradas todas as instituições
campo em um mercado de consumo de itens como que desenvolvem atividades no processo de produção,
máquinas e tecnologia, cujo capital se reverte em lucro elaboração e distribuição dos produtos da agricultura e
para as cidades. pecuária – envolvendo desde a produção e fornecimento
de recursos, até que o produto final chegue nas mãos dos
2. Formação dos complexos agroindustriais consumidores. Entre as instituições que constituem os CAIs
estão, além daquelas diretamente envolvidas no processo,
A definição de complexo agroindustrial (CAI) pode as de apoio indireto à realização das atividades na tomada
ser feita considerando-o como “conjunto de todas as de decisões – como o governo e suas políticas e o sistema
operações que englobam a produção e distribuição dos financeiro e de crédito. Sendo assim, observa-se que
insumos rurais, as operações em nível de exploração rural; atualmente existe uma inserção máxima do capitalismo no
e o armazenamento, processamento e distribuição dos espaço agrícola, marcando transformações nas relações
produtos agrícolas e de seus subprodutos”. Muitas entre o meio agrícola e o meio rural.
3. A especulação fundiária 4. As novas relações de trabalho no campo

O novo modelo econômico do campo tem duas O novo modelo também gerou mudança na
formas de investimento: a produção, por meio da criação organização do trabalho agrícola. Dessa forma, passaram a
dos complexos agroindustriais (explicado anteriormente), existir duas categorias principais: o trabalho familiar e o
e a especulação fundiária. assalariado. O assalariado pode ser permanente ou
O investimento em terras especulativas acontece temporário. O permanente geralmente tem carteira
por meio da compra de imensas terras no país, mantidas assinada e uma maior especialização – como os operadores
como reserva de valor. Ocorre da seguinte forma: os de colheitadeiras. Já os temporários são aqueles aliciados
empresários compram uma terra e esperam o local se por empreiteiros (gatos) e recebem por produção. Estes
valorizar bastante para que possam vender mais caro do estão sujeitos a péssimas condições de trabalho, exposição
que compraram. Com essas terras em mãos, os direta a agrotóxicos e excesso de horas de trabalho – como
investidores também podem lucrar por meio do crédito os cortadores de cana.
rural. Para isso, primeiro eles podem burlar os técnicos do O trabalho familiar, por sua vez, está subdivido em
governo, de modo a fingir que a terra seja produtiva e quatro diferentes tipologias: integrados, especializados,
ganhar o “rótulo” de empresa rural. Isso pode ser feito sitiantes e subsistentes. Os integrados são um conjunto de
através de uma propina dada ao técnico, ou até mesmo pequenos produtores que vendem sua produção para as
enganá-lo, como ocorre em muitos casos: o fazendeiro empresas de processamento, tem acesso à tecnologia,
agenda a vistoria com o técnico – que geralmente não fazem uso dela e plantam somente um único tipo de
dispõe de recursos financeiros para vistoriar toda a área – produto, que varia de acordo com o mercado. Os
e lhe fornece o transporte, tendo tempo assim de deslocar especializados também usam tecnologia e cultivam um
o gado para as áreas onde o técnico irá vistoriar, e fingir único produto, diferenciando-se dos integrados pelo fato
que está produzindo; depois, vão até o banco e pedem o de não terem um contrato estabelecido com uma empresa.
crédito, que vem a juros baixos; por fim, ele reinveste o Já os sitiantes, ao contrário de integrados e especializados,
dinheiro do crédito em outro banco, numa aplicação mais não têm acesso à tecnologia, e por isso precisam plantar
rentável, obtendo assim o seu lucro. Além disso, o diferentes culturas – para não danificar o solo. Por fim, os
empresário que tem a terra em seu poder ainda pode subsistentes são pequenos produtores sem tecnologia, que
explorar os recursos naturais dela, como a madeira. plantam multiculturas em consumo próprio, ou seja, uma
Pela lei, essas terras especulativas (improdutivas) agricultura de subsistência.
poderiam entrar na reforma agrária, e isso mostra a O panorama rural das cidades onde o modelo
existência de senão uma manipulação, no mínimo uma agroindustrial se implantou também mudou
conivência quanto à classificação das propriedades em drasticamente. As pequenas e médias cidades do interior
favorecimento desses empresários, causando assim a que têm suas economias baseadas no agronegócio
revolta dos sem-terra que lutam pela distribuição de terras. apresentam alta qualidade de vida e muitas oportunidades
Nos últimos 30 anos 600 mil famílias foram assentadas em de emprego qualificado - há demanda por operadores de
uma área de 30 milhões de hectares no total, com um custo máquinas, mecânicos e técnicos agrícolas. Junto com a
de 24 milhões de reais, e na maioria dos assentamentos as agroindústria chegam shoppings, bancos, lojas de grifes,
famílias ainda estão no estágio de agricultura de universidades e centros de excelência. Há desenvolvimento
subsistência. A demora dessas famílias em desenvolver sua do segmento rural, aumento da produtividade e do valor
produção se dá, principalmente, devido à dificuldade na agregado da produção. Isso chamou a atenção de um novo
obtenção do crédito rural. Este não é dado normalmente tipo de migrante, atraído pela qualidade de vida.
aos pequenos produtores, visto que eles não possuem Entretanto, para que essas cidades se tornassem
garantias para o pagamento do empréstimo. Além disso, é um polo atrativo para este migrante, a antiga população
necessário apresentar um projeto de implantação de local muitas vezes acabou sofrendo e tendo que se adaptar
tecnologia na produção, utilizando todos os produtos ao novo padrão recém-implantado, ou até mesmo expulsa,
modernos fornecidos pela indústria – esse é o modo e as regiões da Amazônia, Vale do Jequitinhonha e
encontrado pelo Estado para levar efetivamente a Nordeste denotam claramente esses efeitos práticos.
tecnologia ao campo. A região Amazônica, apesar de não ser a única,
historicamente sempre foi uma área marcada pela
escravidão, passando por vários estágios até chegar ao
atual, o da exploração pelo agronegócio. Antes dos anos 70
a região era uma grande exportadora de borracha. Por necessitavam de mão-de-obra temporária e barata, que
conta da descoberta do látex, a região precisou de uma não estava disponível no local. Os fazendeiros então,
grande demanda de trabalhadores, e o governo incentivou designavam empreiteiros, os chamados gatos, para
o envio de mão-de-obra para lá. Estes eram, em geral, recrutar trabalhadores. Estes calculam quantos
provenientes do Nordeste, que fugiam de mais uma das trabalhadores serão necessários e vai a busca dos peões. O
secas periódicas locais, e ao chegar na Amazônia eram gato é o responsável por obter também o equipamento
distribuídos em seringas, que apesar de estarem em terras que será utilizado, os mantimentos e objetos para a
públicas tinham dono – por meio da grilagem. Os cantina, além de contratar capatazes, pistoleiros, o
seringueiros eram, assim, obrigados a vender sua produção cantineiro, o cozinheiro, o enfermeiro, o caminhoneiro e o
ao dono do seringal, pelo preço por ele estipulado. policial que finge não ver o pau-de-arara que passa pela
Nos anos 70, porém, os projetos de integração do governo barreira policial abarrotado de peões. Existem dois tipos de
federal, com o objetivo de desenvolver a região, peões: os moradores e os do trecho.
provocaram drásticas transformações no local. Surgia aí Os peões moradores são os da região; têm um lugar
uma estrutura de trabalho que engloba grileiros, gatos, para morar e possuem família. Eles formam grupos de
peões e empresários. Dentro do contexto dos seringueiros, trabalho com parentes e amigos e geralmente pegam
ficou famosa internacionalmente a luta de Chico Mendes, serviços com o mesmo gato. Os peões do trecho – também
em prol da criação de reservas extrativistas livres e contra chamados de peões rodados -, por sua vez, são
a transformação da floresta em pastagens. Ele foi praticamente marginais. Estão na rua há tempo e muitos
assassinado, mas sua luta deu resultados. Foram criadas não têm documentos; são, em geral, analfabetos, não
reservas que provocaram uma alteração na estrutura da percebem que estão sendo lesados e têm dificuldade para
extração do látex. entender o destino do dinheiro. Há preconceito com eles:
Hoje existem duas categorias: os seringueiros libertos e os a maioria das pessoas os considera bêbados, mulherengos
cativos. Os libertos trabalham nas reservas extrativistas, se e brigões. Grande parte deles vem de estados como o
organizam em cooperativas e vendem a produção a quem Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia. São aventureiros que
quiserem; já os cativos vivem num regime de semi- deixaram sua família para trás e provavelmente nunca mais
escravidão, são obrigados a trabalhar num regime de meia voltarão a vê-la. Alojam-se em pensões que são ligadas aos
com os donos, dividindo a produção com ele e tem uma gatos, pois é lá que eles vão buscar os peões.
cota mínima por ano, além de terem de pagar um “aluguel” A região do Vale do Jequitinhonha ocupa cerca de 85 mil
em espécie pela terra e não poderem plantar qualquer km² e possui uma população de aproximadamente 400 mil
coisa sem receber um aval para isso, tendo que comprar pessoas. Havia exploração de minérios na área, dotada de
suprimentos na cantina do seringal, aumentando assim diamante e ouro. Com a decadência da mineração, foram
suas dívidas. E tudo isso sob os olhares de pistoleiros se formando grandes fazendas; a agricultura de
armados para garantir o cumprimento das ordens e subsistência e a caça também faziam parte das atividades
impedir fugas. O mecanismo do isolamento e da dívida locais.
funciona muito bem. Nas partes baixas da região – nas várzeas – os
O aumento da crise se deu em 1970, quando o camponeses viviam e faziam uma agricultura de
governo militar decidiu resolver dois problemas subsistência; nos chapadões, ou seja, nas partes altas, eles
simultaneamente: o excedente populacional do Sul soltavam o gado e cultivavam madeira. O chapadão não
provocado pela mecanização do campo e da seca do tinha cerca, e logo não havia propriedade privada. A terra
Nordeste e também povoar a áreas desabitadas da era distribuída entre os moradores de acordo com as suas
Amazônia, vista como uma porta de entrada para os necessidades de subsistência, ou seja, a demarcação de
vizinhos, aumentando assim a segurança nacional. terras era “apalavrada”: se uma família era maior que a
O governo incentivava projetos de colonização e outra, logo tinha direito a uma porção maior das terras.
também a implantação de grandes fazendas para a criação Eles dependiam totalmente das áreas do chapadão, pois
de gado. Isso gerou grandes conflitos entre os empresários, além de criarem o gado, era lá onde eles caçavam, colhiam
índios locais, seringueiros, posseiros, entre outros, porque frutas e ervas medicinais. Isso possibilitava também a
os fazendeiros recém-chegados ocuparam as áreas onde manutenção da floresta nativa, protegendo assim a área de
antes estavam os posseiros (pessoas que moravam em problemas de erosão e escassez de água.
terras públicas) através do trabalho dos grileiros (pessoas Porém, assim como na Amazônia, no início dos
que legalizam as terras por meio de documentos falsos). O anos 70, chegaram ao Vale empresários que implantaram
ramo da pecuária era muito disputado, e essas fazendas grandes projetos de agricultura e pecuária para
exportação. Esse projeto tinha novamente o Estado como predominante) produzido com o proprietário, além de
agente indutor, pois foi o governo federal que deu dividir também a sua produção de subsistência (laranja,
incentivos fiscais, que no caso do Jequitinhonha visavam milho, etc), apesar de às vezes os proprietários exigirem
levar a “modernidade e sabedoria” até essa área apenas o algodão. Os grandes proprietários dão uma casa
considerada atrasada tecnologicamente, com uma cultura ao trabalhador e à sua família, cujo tamanho varia de
pobre e com atividade produtiva ultrapassada. acordo com o tamanho da família (é dada preferência às
Os moradores, analfabetos e sem escritura, famílias que têm mais filhos, porque assim eles poderão
tiveram que vender suas terras a preços mínimos para os labutar junto com os pais).
grileiros, que legalizaram as propriedades para os Os trabalhadores desse regime têm de comprar
empresários. O chapadão foi então ocupado por eucaliptos produtos no chamado barracão, se endividam, e acabam
(matéria-prima da celulose, que faz o papel, e necessária entrando numa escravidão por dívida (que pode ser
para a produção de carvão), pela pecuária e por culturas de contraída também por antecipações feitas com o
café. A plantação de eucaliptos, entretanto, causou o proprietário, que nunca poderão ser pagas, pois a
agravamento da seca, já que a árvore tem raízes muito produção nunca é suficiente e o trabalhador não pode
profundas, que atingem e “sugam” a água dos lençóis pedir empréstimo ao banco, porque os juros são altíssimos
freáticos, modificando o curso e secando os rios. e ele não consegue um avalista, uma vez que o proprietário
Essas mudanças na configuração espacial do Vale nunca aceita ser). O proprietário ainda consegue se sair
do Jequitinhonha dificultaram muito a sobrevivência dos como bondoso, pois dá prazos para o trabalhador e a
antigos moradores do local. Esses pequenos camponeses e chance de pagar a dívida com a própria produção – o que
suas famílias, expulsos do chapadão, perderam sua fonte nunca acontece – e muitas vezes isso gera um curral
de recursos alimentares, dinheiro e ervas medicinais. eleitoral.
Tiveram assim que explorar muito suas terras várzeas, Os trabalhadores recebem as terras de menor
porém não tinham recurso para isso. Agora tinham de produtividade, pois as melhores ficam com o proprietário
comprar remédios nas farmácias, comida nos mercados, (que tem como principais atividades a plantação de
porém não tinham para isso uma fonte de renda suficiente. algodão a criação de gado e a agricultura de subsistência),
A principal saída por eles encontrada foi tornar-se bóias- o que dificulta a obtenção de uma boa colheita. Além disso,
frias. eles não podem reformar a casa que recebem – que chega
Os bóias-frias são trabalhadores assalariados rurais em condições precárias – pois futuramente isso lhes daria
que foram expulsos de suas terras e já não estão mais chance de exigir direitos sobre a propriedade. Quando
vinculados a ela; recebem por contrato, geralmente em chega a hora de vender a produção, os trabalhadores
diárias. Essa categoria surgiu nos anos 70 em decorrência também sofrem, pois o veredito sobre a qualidade do
da situação criada pelas novas formas de organização algodão colhido é do produtor, que também mente na hora
econômica no campo, quando chegam as grandes da pesagem do produto.
empresas e expulsam os agricultores de suas terras. Alguns Entretanto, com a chegada do novo modelo agropecuário,
bóias-frias permanecem no campo e outros migram, como a situação piorou para os proprietários. Com isso a parceria
é o caso das migrações para São Paulo. Os que optam por já não era interessante para eles, que agora queriam criar
migrar acabam por viverem à margem da sociedade e são gado, e para isso, convenceram os trabalhadores a irem
constituintes fundamentais de problemas urbanos como a para a cidade buscar uma vida melhor. Porém, o que os
criminalidade e a prostituição infantil. esperava era o inchaço urbano, o desemprego, prostituição
Outras formas de obter renda foram encontradas e todos os outros problemas existentes e também
por esses trabalhadores que ainda possuem suas terras decorrentes da nova ordem do campo brasileiro.
várzeas e estão vinculados à ela. Quando conseguem
produzir algum excedente, este é vendido em feiras. Alguns 5. Resumo
camponeses foram trabalhar em outra propriedade; esses
trabalhadores são chamados de macaqueiros. Outro tipo Como consequência da modernização agrícola e do
de trabalho realizado por moradores que ainda possuem a aumento da concentração fundiária, ocorreu um grande
terra é o artesanato. Esse artesanato é um produto de alta fluxo migratório em três direções principais: muitos foram
qualidade vendido a um alto preço. para as cidades, fazendo o chamado êxodo rural; houve
Na região Nordeste, por sua vez, o sistema também os que foram para o Paraguai (Brasiguaios), país
predominante era o das parcerias e meias, onde os vizinho de férteis e abundantes terras disponíveis; e outros
trabalhadores têm de dividir todo o algodão (produto tantos foram para o Centro-Oeste em busca de terras
baratas e não ocupadas, provocando uma expansão da
fronteira agrícola brasileira. Tal expansão da agricultura
para o Centro-Oeste fez com que a região se transformasse
num grande espaço de produção de soja transgênica e
outros grãos, em virtude do relevo plano e dos solos
profundos ali existentes, vantajosos para o uso de
máquinas agrícolas. Tais solos, originalmente muito ácidos,
foram corrigidos através do uso de calcário, num processo
conhecido como calagem. Porém, é importante citar que
para a expansão do cultivo tem havido um forte
desmatamento do bioma local, o Cerrado, e à medida que
as áreas ocupadas se expandem, o desmatamento cresce
em direção à Amazônia, formando o que se conhece como
Arco do Desmatamento na parte sul e oriental do bioma
amazônico.
Outra consequência da Revolução Verde está
ligada ao aumento do número de agricultores que
deixaram de praticar apenas a atividade primária e
passaram a integrar também o setor terciário, como forma
de complementar sua renda. A criação de hotéis-fazenda,
atividades de camping e ecoturismo demonstra essa nova
tendência de terciarização do campo e de pluriatividade
dos habitantes do espaço rural, o que inclusive dificulta
delimitar a fronteira exata do que é urbano e o que é rural,
pois as atividades de um agora também estão presentes no
outro. Portanto, o espaço rural hoje é cada vez mais
dinâmico e integrado ao espaço urbano, bem como
também é caracterizado pela integração entre atividades
de todos os setores da economia. Logo, pode-se afirmar
que o campo tem sido palco para o surgimento de novas
ruralidades, um termo que se estabeleceu no meio
acadêmico para explicar as novas características do mundo
rural. Ou seja, é preciso entender que a configuração do
espaço rural atualmente é marcada por novos usos, novos
atores, novas atividades econômicas e novos serviços
prestados, incluindo aí os serviços ambientais. Fazem parte
também das novas ruralidades as novas relações de
trabalho e as questões fundiárias.
Hoje, é no Centro-Sul do país que se concentra a
produção agrícola mais moderna, de caráter intensivo, e
que é voltada predominantemente para exportação. Essa
atividade é altamente mecanizada, e tem na soja, na carne
e no suco de laranja os seus principais produtos. São
verdadeiros Complexos Agroindustriais (CAIs), onde há
forte integração da agropecuária e da indústria, sendo
responsáveis pela maior parte dos lucros do agronegócio
brasileiro. Já na região Norte, a produção é
predominantemente extensiva, com terras mal utilizadas e
baixa produtividade.

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