Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo:
Wide Sargasso Sea, romance de Jean Rhys, nasceu para dar vida à personagem
esquecida do romance Jane Eyre de Charlotte Brontë. Como uma forma de expor
corretamente os fatos apresentados no primeiro romance, Rhys reconstroi a história da
protagonista, desde sua infância até a vida adulta, onde já está louca e presa no sótão.
Abstract:
Wide Sargasso Sea, a novel by Jean Rhys, was born to give life to the character
forgotten the novel Jane Eyre by Charlotte Brontë. As a way to correctly state the facts
presented in the first novel, Rhys reconstructs the story of the protagonist, from his
childhood to adulthood, where it is already crazy and stuck in the attic.
Introdução:
Jean Rhys nasceu em Dominica, no Caribe, em 1890. A filha de um médico galês e
mãe branca, incorporou o pluralismo racial dos valores das Índias Ocidentais. Rhys foi
ainda influenciada pelos empregados negros que a criaram e apresentaram-na a língua,
costumes e crenças religiosas dos caribenhos nativos. Aos dezesseis anos, Rhys deixou
sua casa em Dominica e se mudou para a Inglaterra, quando leu pela primeira vez Jane
Eyre de Charlotte Brontë. Em 1920 Rhys viajou na Europa, onde ela começou a
questionar os códigos e as tradições do ambiente urbano dominado por homens.
Atormentada pela pobreza, doenças e alcoolismo, ela sentiu em primeira mão o pedágio
físico e psicológico de ser uma única mulher em uma cultura patriarcal, tema que ela
*
Acadêmicos de Letras Inglês da Universidade Estadual do Paraná – campus Fecea – Apucarana, Paraná.
explora em grande parte da sua escrita.
Após um longo silêncio Rhys ressurgiu em 1966 com um romance chamado Wide
Sargasso Sea, virou a história de Brontë da "louca no sótão" em um romance de longa-
metragem mas, Wide Sargasso Sea acontece quase trinta anos mais tarde que Jane
Eyre. Rhys fez isso afim de tirar proveito de um momento fundamental na história da
Jamaica, a abolição da escravatura em 1834.
Wide Sargasso Sea conta a história de Antoinette Cosway (Bertha) que mora com
a mãe Annete e o irmão Pierre no Coulibri, propriedade de sua família perto de Spanish
Town, Jamaica. Com a aprovação da Lei de Emancipação e a morte de seu pai, a família
vai a ruína, além disso, eles estão condenados ao ostracismo por ambas as comunidades
negras e brancas na ilha, com tudo isso Annete vai se afundando em uma depressão.
Algum tempo depois ela casa-se com Mr. Mason, um fazendeiro rico. Este casamento, no
entanto, só parece agravar as tensões raciais em sua vizinhança.
Após um incêndio, o irmão de Antoinette morre devido a exposição à fumaça,
enquanto Antoinette é enviada para viver com sua tia Cora em Spanish Town e descobre
que sua mãe teve um colapso mental, permanecendo sob os cuidados de um casal.
Quando Antoinette completa dezessete anos Mr. Mason arranja o casamento dela
com Sr Rochester, mas durante a lua de mel ele recebe uma carta que o deixa pertubado.
Com a ajuda de Christophine, Antoinette coloca uma droga na bebida do marido após
uma briga e Sr. Rochester chama - lá de Bertha ele bebe o vinho com a droga, a partir daí
gera-se uma confusão e Sr. Rochester prende Antoinette no sótão. Certo dia ela sonha
que escapa de seu quarto e causa um incêndio.
Neste trabalho, apresentaremos uma análise do romance de Jean Rhys.
Primeiramente a análise gramatical, identificando o narrador e os principais personagens,
seguindo para a análise interpretativa da trama de Rhys. Outro ponto a ser destacado
neste trabalho é o diálogo do romance com outras artes, como cinema e outras obras
literárias.
Assim como Jane Eyre, Wide Sargasso Sea utiliza-se de aspectos góticos e cheios
de simbolismo no decorrer da trama. Há três temas que se interligam no romance: a
escravidão, a complexidade de identidade pessoal e a loucura.
Por serem franceses e ex-donos de escravos, a família Cosway não se enquadrava
na população jamaicana que eram constituídos de escravos e negros. Isto gerou em
Antoinette um complexo de identidade, ela não se sentia segura, não conseguia se
encontrar naquele lugar. “Antoinette vive entre duas culturas, mas não pertence a lugar
algum” (Monteiro, 2010, p.5). Quando ela se casa, seu marido busca nela características
femininas que ela não possui. Seu passado conturbado a leva à loucura, assim como sua
mãe e seu irmão. Rhys apresenta a loucura associada às condições de vida em que
estavam sujeitos e/ou a uma consequência genética.
Antoinette tem sonhos no decorrer da trama que simbolizam as situações em que
ela passou na vida e que ainda vão passar, são como presságios ou premonições, é um
divisor de fazes da vida da personagem. “Os sonhos ocupam o espaço entre os eventos
públicos e os privados, que se configuram verdadeiros no final dramático do romance”
(Monteiro, 2010, p.11). No primeiro sonho ela é perseguida na floresta. Aqui ela acredita
que suas vidas irão ter uma grande mudança. Enquanto no segundo sonho, na floresta
novamente, embora desta vez ela persiga um homem sem rosto ao invés de fugir dele.
Este homem a guia por um jardim mas ela resiste e chora. Quando ela acorda do sonho,
está tremendo de medo e diz para a freira que sonhou sobre o inferno. Ela estava
pensando sobre o funeral de sua mãe que havia acontecido a um ano atrás com
pensamento misturados com seu pesadelo.
Outros símbolos apresentados são importantes para entender o romance. Jean
Rhys descreve a terra caribenha com grande intensidade de cores e calor, uma
abundância tropical. Estas cores remetem à alegria pois era o lugar onde Antoniette era
feliz. Já Thornfield Hall, a casa da Inglaterra, é retratada como uma casa escura e gélida,
pois aqui Antoinette era trancafiada no sótão, era um lugar infeliz e sombrio. Antoinette
associa também o jardim onde passava a maior parte do tempo quando era criança, ao
Jardim do Éden, um lugar lindo onde ela poderia encontrar paz.
O fogo é visto como um sinal de destruição e danos. Na primeira parte do romance,
Antoinette descreve o fogo queimando sua casa, o que faz sua família fugir, ápice da
loucura de sua mãe. Na segunda parte, Rochester descreve seu quarto pegando fogo e
no final do romance Antoniette coloca fogo na casa inteira e “ao destruir-se, liberta o
marido para casar-se com a preceptora órfã, Jane Eyre” (Monteiro, 2010, p.5). Este foi o
ápice de sua loucura, onde ela acaba com a casa em que era aprisionada. A cor vermelha
das chamas a faz lembrar do calor da Jamaica. “O céu estava vermelho e a minha vida
estava aí” (Rhys, 1977, p.155).
A primeira adaptação de Wide Sargasso Sea para o cinema foi em 1993, dirigido
por John Duigan e produzido pela Fine Line Features. A classificação indicativa foi para
maiores de 17 anos devido ao seu conteúdo sexual. Os personagens principais,
Antoinette Cosway e Edward Rochester foram representados pelos atores Karina
Lombard e Nathaniel Parker.
Em 2006, Wide Sargasso Sea foi novamente adaptado, desta vez para a televisão
britânica. A adaptação foi escrita pelo dramaturgo Stephen Greenhorn, produzido por
Elwen Rowlands e dirigido por Brendan Maher. Ele estrelou Rebecca Hall como Antoinette
Cosway e Rafe Spall como Edward Rochester.
O maior destaque da obra de Jean Rhys é que ela é um prequel 1 à obra de
Charlotte Brontë, Jane Eyre. Em Wide Sargasso Sea, a personagem Bertha, a louca do
sótão do romance Jane Eyre, ganha vida. Rhys conta sua história desde a infância de
Bertha até chegar ao sótão em que ficava presa na trama de Jane Eyre.
Em uma entrevista dada em 1979, Jean Rhys explica que em sua infância leu Jane
Eyre e sentiu-se afetada pela forma como as mulheres foram retratadas nesta obra,
inspirando-a a escrever de forma mais completa a história de Bertha. Mais do que um
diálogo entre as duas obras, Rhys tentou questionar e expor de um outro ponto de vista a
situação da “louca do sótão”. O romance de Charlotte Brontë associa a loucura da mulher
com seu lugar de origem, como se uma coisa explicasse a outra. A intenção de Jean Rhys
foi corrigir essa percepção passada por Brontë, mostrando uma nova visão aos
Caribenhos e sua cultura. Jean Rhys restaura a bondade de Bertha de diversas maneiras,
questionando a natureza de sua loucura, escrevendo sua vida condicionada a isolamento,
senso frágil de personalidade e identidade cultural. Rhys restaura também seu nome
1
Prequel: um filme, livro ou o jogo que se desenvolve a história de um filme anterior, etc.,
dizendo-lhe o que aconteceu antes dos eventos do primeiro filme, etc .:
verdadeiro (Antoinette) e sua conexão com a família. “A loucura de Bertha,
descontextualizada e criminalizada em Jane Eyre, toma outras formas, adquire novos
contornos no romance de Rhys” (Marques, 2010, p.224).
Conclusão:
Este trabalho consiste no estudo do romance Wide Sargasso Sea baseado no texto
e não numa leitura suportada por relações de intertextualidade com o romance Jane Eyre.
A leitura que fizemos sublinha os elementos de resistência e de subversão contidos na
obra. Mostramos que este romance é um texto de resistência do literário inglês, do género
do romance de aventura, do discurso colonial e da norma linguística. Como também
mostramos, as opções temáticas da autora levaram alguns críticos a inscrever este
romance numa estética diferente. Neste romance, o outro ganha voz. O texto não
apresenta um lugar deserto pronto a ser habitado, ou um espaço a conquistar. Estes
lugares já são habitados por uma comunidade negra com uma matriz cultural própria. Não
são espaços para heróis, mas, sim, para uma pessoa na qual podemos nos espelhar.
Esta heroína apresenta o seu ponto de vista na narração da sua própria história. É ela
quem vai superar uma nova história, de modo a recuperar a sua identidade.
Referências
MONTEIRO, Maria Conceição Monteiro. Wide Sargasso Sea: uma relação de poder e
desejo. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.
Sites consultados:
www.crossref-it.info.com.br
www.sparknotes.com.br