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Bibliografia.
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ISBN 978-65-81368-67-8
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ENCENAÇÃO EM CONTEXTOS
DIDÁTICOS: OLHARES E DESAFIOS
ATUAIS EM DIÁLOGOS COM
A LICENCIATURA EM ARTES
CÊNICAS UFGD
INTRODUÇÃO
A disciplina Encenação em Contextos Didáticos, componente cur-
ricular obrigatório à Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD), é ofertada, segundo projeto
político-pedagógico do curso (2017), no último ano de formação das
alunas e dos alunos em graduação. Pode-se arrogar, dentre várias aborda-
gens possíveis, que seu escopo permite atravessar experiências pensando
em uma encenação teatral inserida nos espaços escolares, destinada ao
público da infância e da juventude, em ambientes diversos – seja apre-
sentando em auditórios, palcos, ruas, pátios ou mesmo em salas de aula.
Também é possível propor performances e reflexões não necessariamente
vinculadas ao ensino formal. Da mesma forma, pensar em encenação e
em contextos didáticos suscita a relação de um processo teatral em si, no
que tange às aprendizagens necessárias de todo um coletivo de artistas
em uma montagem cênica. Todavia, em nossa condução, sentimos a
necessidade de ampliar olhares às possibilidades de articulação entre uma
obra teatral e seu espaço de apresentação em uma escola, pois sabemos
da importância de levar materiais artísticos às crianças e que o espaço
físico para a ação pode ser um desafio.
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Doutora em Artes Cênicas (UFBA). Professora Adjunta (UFGD).
CV: http://lattes.cnpq.br/
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Pós-doutorando em Artes Cênicas (UnB). Doutor em Teatro (UDESC). Professor
Adjunto (UFGD). CV: http://lattes.cnpq.br/
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DESAFIOS ANTERIORES
No primeiro semestre de 2019, o componente curricular Encena-
ção em Contextos Didáticos foi ofertado no sábado pela manhã37, com 34
alunos/as matriculados/as. Esta foi a última oferta da disciplina antes
da pandemia, e o olhar ao seu desenvolvimento nos serve como base
comparativa para a oferta do ano de 2020 – atravessada por contextos
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Ministrada por Marcos Machado Chaves.
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Ministrada pela professora Ariane Guerra Barros durante o Regime Acadêmico
Emergencial por Modalidades e Fases, seguindo aulas iniciadas pelo professor Marcos
Chaves no período presencial.
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O curso de Artes Cênicas da UFGD é noturno (de segunda a sexta-feira), com
adendo de possibilidades de oferta dos componentes curriculares aos sábados (pela
manhã ou tarde).
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histórias infantis, tais como uma princesa esperar um príncipe para ser
salva. Temáticas relevantes de ter reverberações, pois “há a urgência,
na atualidade, de não esquecermos tais dispositivos de conhecimento
[conectados a imaginários] quando desenvolvemos/aprimoramos enten-
dimento sobre nossas próprias vozes” (CHAVES; BARROS; SOUZA
JUNIOR, 2020, p. 61).
As alunas e os alunos se dividiram nos papéis de atrizes e atores,
assim como nas equipes de produção, direção e criação de elementos
cênicos. O professor-mediador buscou assessorar as equipes e propor-
cionar as orientações necessárias para a montagem e sua apresentação. A
turma entendeu que seria interessante ter a possibilidade de apresentar
em uma escola pública, para crianças da rede municipal de Dourados.
Organizamos pontes com o subprojeto Arte do PIBID/UFGD (Pro-
grama Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência da Universidade
Federal da Grande Dourados), encaminhamos a proposta e agendamos
a apresentação. Pontuamos que a obra seria exibida em um dia útil, em
turno de aula para as crianças, e por não ser o mesmo horário e dia da
semana da disciplina a turma se voluntariou para a apresentação. A
equipe de direção visitou a escola escolhida para conhecer seus espaços
físicos e eleger os locais onde apresentaríamos a peça teatral.
Os sábados seguiam com muitos ensaios e debates produtivos,
mas sofremos as dificuldades de mediar uma turma numerosa com ape-
nas um encontro semanal, frequentemente as faltas de algumas alunas
e de alguns alunos ralentavam a sequência da montagem teatral. Ao
chegar perto da data da apresentação, e com algumas cenas pontuais
pouco desenvolvidas, o grupo de discentes responsáveis pela direção, em
conjunto com o professor, optaram por sugerir o cancelamento desta
experiência com as espectadoras e os espectadores infantis, por entender
que entregar um espetáculo teatral frágil ou inacabado poderia preju-
dicar sua fruição ou não suprir sua expectativa/proposta – o que seria
injusto às crianças. Levantamos questões, tais como: se entendemos que
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Aqui entendendo um “nível mínimo pretendido” como uma série de organizações
da peça teatral que a configure como uma obra minimamente concluída pelas pessoas
envolvidas em sua produção, ou seja, com as cenas ou sequências estudadas, experi-
mentadas, “decoradas” ou aprimoradas, ensaiadas, com contribuições nos elementos
cênicos etc.
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Espetáculo para crianças “Fábulas em tempos ou o fabuloso La Fontaine” ()
do Grupo Farsa & Nossa Trupe, de Porto Alegre/RS. Obra que recebeu o Prêmio
Tibicuera de Melhor Espetáculo, Direção e Dramaturgia. Montagem a qual a autora
e o autor deste capítulo participaram como artistas.
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Parte do semestre letivo de . fora ofertado em no Regime Acadêmico
Emergencial por Modalidades e Fases (RAEMF), como o caso de Encenação em Con-
textos Didáticos. O RAEMF foi uma atualização do Regime Acadêmico Emergencial
(RAE) da UFGD.
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Os trabalhos podem ser visualizados através do link:
<https://youtu.be/eETqeamlE>.
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Por exemplo, a disciplina “Música e Cena II”, ofertada no RAE por Marcos Chaves,
iniciou com alunos e terminou com alunos matriculados (os outros solicitaram
cancelamento da matrícula por não conseguir acompanhar devido à modalidade), e,
destes, apenas finalizaram, alunas (uma delas indígena) não solicitaram cancelamento
e nunca participaram de nenhuma atividade, tampouco retornaram algum contato
por e-mail institucional – deflagrando dificuldades de comunicação ou problemas no
acesso à internet durante a pandemia.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em conta o fator agravante de uma pandemia mundial
nos anos de 2020 e 2021, entender como o modelo de ensino presencial
passou para o ambiente virtual no ensino das Artes Cênicas nos leva
a refletir sobre alguns aspectos que são inerentes ao ensino em arte, e
ensino de forma mais ampla.
Dentro das artes da cena o aspecto corporal é extremamente
aprofundado e a interação entre corpos é meio e fim de um espetáculo
teatral. O teatro é inclusive entendido como a arte de corpos presentes,
sendo a representação uma re (partícula que significa repetição) aliada
à presentação, o estar presente. Estar presente no campo virtual pode
ser burlado de inúmeras formas, pois, ao desligarmos a câmera, de certa
forma, nos ausentamos de nossa imagem, presença e mesmo atenção ao
que está sendo proposto do outro lado da tela. Sabemos que a conectivi-
dade aumenta a interação virtual, porém a tecnologia ao mesmo tempo
que nos auxilia nos tempos pandêmicos e nos coloca em interação remota,
também nos permite estar presentes sem estarmos ali.
À ausência de um espaço físico compartilhado, em que corpos
presentes interagem entre si, nos resta um compartilhamento de tela,
de janelas, de enquadramentos, em que a atenção é redobrada e forçada
para que não nos desviemos daquilo que precisa estar em foco. Mesmo
tendo esse foco bastante especificado: a tela de um telefone, tablet ou
computador, as distrações são inúmeras, seja pelo ambiente mais fami-
liar – nossa própria residência –, seja por outras telas, sons e sensações
invadindo o ambiente de sala de aula remoto.
A disciplina Encenação em Contextos Didáticos aplicada durante o
RAEMF, mesmo produzindo material para ser apresentado de forma
remota, também teve uma frustração que a disciplina presencial relatou:
enquanto na presencial a ausência das pessoas e as faltas de alunos/as
acarretou o cancelamento do espetáculo na sala de aula; na disciplina
remota não houve interação para que se criasse um espetáculo, mas
esforços individualizados que geraram uma obra, com diferentes níveis
de apresentações. Aplaudimos a dedicação, todavia nos entristecemos
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por não termos aquilo que o teatro clama: um convívio para uma criação
coletiva. A tecnologia nos auxilia e nos puxa o tapete; assistir a obras em
formato televisivo não é o mesmo que estar em uma obra, participando
de sua construção, compartilhando experiência no aqui-agora da apre-
sentação. De acordo com Luís Otávio Burnier: “A particularidade de a
arte de ator exigir a presença física do artista diante de seus espectadores
no momento em que acontece [...]” (2001, p. 18) já instaura essa presença
física que não pode ser substituída, mesmo que gravada, pois “O fato
de o ator estar vivo diante dos espectador, executar, sentir, viver e fazer
sua arte, introduz questões de difícil captação, referentes a um universo
subjetivo, de sentimentos, sensações, emoções [...]” (BURNIER, 2001,
p. 18). Sabemos que as atualizações nas últimas décadas na história do
teatro, com o avanço tecnológico e o repensar a relação real x virtual,
fornecem diversos caminhos para distintas percepções, apenas rever-
beramos Burnier por entender que os elementos conectados à presença
física são caros às artes da cena.
O teatro nos permite con-viver com o espetáculo, sendo ele próprio,
mesmo que ensaiado, feito no exato instante em que se a/re/presenta.
Uma obra gravada ou feita para uma tela está no campo do passado, já
foi criado, não pode ser alterado – salvo exceções e ponderações à relação
com o/a espectador/a. A isso perde-se muito em uma pandemia, em que
um teatro gravado é um filme, mesmo sendo feito ao vivo pelo artista.
Pode-se clamar (mesmo que a afirmação possa ser transformada por
diferentes contextos): o que faz do teatro uma arte única (distinta a cada
apresentação) é exatamente o espaço físico compartilhado, a interação de
corpos presentes, entendendo-se e criando e co-criando a obra ao mesmo
tempo. É possível alcançar algum grau de contato, algum diálogo com
esta relação nos desafios atuais que enfrentamos... Com quais impactos
na formação das alunas e dos alunos?
REFERÊNCIAS
BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas: Uni-
camp, .
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CHAVES, Marcos; BARROS, Ariane Guerra; SOUZA JUNIOR, José Manoel de.
Nos caminhos das intersecções cênicas entre voz e discurso: dispositivos de potência do
contar-se. Revista Voz e Cena, v. , n. , p. -, . Recuperado de https://periodicos.
unb.br/index.php/vozecena/article/view/
CHAVES, Marcos. Teatro para crianças: observações conceituais e atravessamentos
sonoros. O ensino e suas expressões: interdisciplinaridade, tecnologias, direitos humanos,
linguagens, artes, discursos e recursos / organizador Cleber Bianchessi. Curitiba-PR:
Editora Bagai, .
FONTAINE, La. Fábulas de La Fontaine.Tomos I, II e III. São Paulo: Gráfica e Editora
Edigraf Limitada, sem ano.
FONTAINE, La. As mais belas fábulas de La Fontaine – Ed. São Paulo: Paulinas, .
UFGD. Projeto político pedagógico do curso de graduação em Artes Cênicas – Licenciatura
e Bacharelado. Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, Mato
Grosso do Sul: . Acesso em: out. . Disponível em: <http://files.ufgd.edu.
br/arquivos/arquivos//COGRAD/PPC%ARTES%CENICAS%.pdf>.
UFGD. Resolução ad referendum CEPEC/UFGD n. , de de junho de .
Aprova a retomada das atividades letivas a partir de de agosto de , de forma
remota com o Regulamento do Regime Acadêmico Emergencial (RAE) e o Calendário
Acadêmico Emergencial (CAE), em caráter excepcional e temporário.
VALLI, Claudia. Seis peças infantis para adultos ou adultas para crianças. Rio de Janeiro:
Vieira & Lent, .
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