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Índice
Capítulo 1: O Valor da Humanidade: Alfa...............................................................................................11
Capítulo 2: Eva-01, a Corrupção..............................................................................................................14
Capítulo 3: Confiada................................................................................................................................18
Capítulo 4: Uma Reunião Distante..........................................................................................................21
Capítulo 5: Um Mundo Esquecido...........................................................................................................29
Capítulo 6: O Valor da Humanidade: Beta...............................................................................................34
Capítulo 7: Falsidade...............................................................................................................................36
Capítulo 8: A Passagem Ilusória, Parte Um.............................................................................................40
Capítulo 9: Equipe de Recuperação, Acima do Planalto de Deccan........................................................42
Capítulo 10: A Passagem Ilusória, Parte Dois..........................................................................................43
Capítulo 16: O Retorno da Comandante..................................................................................................65
Capítulo 17: Compreendendo o Planeta...................................................................................................67
Capítulo 18: Voo Transcontinental...........................................................................................................70
Capítulo 19: O Continente da Noite Perpétua..........................................................................................74
Capítulo 20: Guardião Branco.................................................................................................................76
Capítulo 21: Um Convite para a Batalha Final........................................................................................78
Capítulo 22: O Mundo de Shinji..............................................................................................................80
Capítulo 23: Ao Pé da Grande Árvore.....................................................................................................85
Capítulo 24: As Pessoas Deixadas para Trás...........................................................................................99
Capítulo 25: Ajustando a Humanidade..................................................................................................106
Capítulo 26: Fora da Costa de Tóquio...................................................................................................110
Capítulo 27: Um Despertar da Ilha........................................................................................................114
Capítulo 28: Perdido no Caminho de Casa............................................................................................128
Capítulo 29: A Diferença Entre..............................................................................................................131
Capítulo 30: A Batalha na Ilha do Norte................................................................................................135
Capítulo 31: Uma Pessoa em Espírito....................................................................................................141
Capítulo 32: Os Espelhos Fechados.......................................................................................................145
Capítulo 33: Olhos abertos.....................................................................................................................154
Capítulo 34: Resolução e Execução.......................................................................................................156
Capítulo 35: Suas próprias razões..........................................................................................................161
Capítulo 36: Crianças Vadias.................................................................................................................166
Capítulo 37: Impasse..............................................................................................................................174
Capítulo 38: Amigo................................................................................................................................177
Capítulo 39: Gigantes, Humanos e Bestas.............................................................................................180
Capítulo 40: Os Lobos...........................................................................................................................181
Capítulo 41: A Torre de Babel................................................................................................................187
Capítulo 42: Executor Substituto...........................................................................................................189
Capítulo 43: Jogar a Mão que é Dada....................................................................................................198
Capítulo 44: Do Sonho da Borboleta.....................................................................................................201
Capítulo 45: Dentro da Pirâmide...........................................................................................................207
Capítulo 46: Poder Transferido..............................................................................................................214
Capítulo 47: Deixando Babel.................................................................................................................217
Capítulo 48: Zeruel................................................................................................................................218
Capítulo 49: Seus Próprios Caminhos para Casa...................................................................................228

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Capítulo 50: Partindo por um Sonho......................................................................................................232
Capítulo 51: Finalmente Casa................................................................................................................235
Capítulo 52: O Retorno do Vice-Comandante.......................................................................................240
Capítulo 53: Encontro ao Luar...............................................................................................................248
Postscript................................................................................................................................................257

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Capítulo 1:
O Valor da Humanidade: Alfa

A TERRA ESTREMECEU, e, pelo menos por enquanto, ficou imó vel novamente. Dentro do
veículo blindado que atuava como o centro de comando mó vel da Nerv Japã o, um tom alegre soou
e uma voz artificial anunciou:<<O terremoto anterior entre placas foi centrado vinte e cinco
quilô metros a leste deste local. A previsã o do terremoto foi atualizada. A partir das 11 horas,
horá rio local, a probabilidade de outro terremoto entre placas nas pró ximas 24 horas aumentou
para quarenta por cento.>>
Na estaçã o de comunicaçã o, a comandante Misato Katsuragi estava segurando uma
prateleira de metal para se equilibrar quando ouviu a voz de um homem – familiar, mas
inesperada – pelo fone de ouvido.
<<Comandante Katsuragi.>>
“Vice-comandante Fuyutsuki?” Ele nã o ocupava mais esse posto – ou qualquer posto, aliá s
–, mas os velhos há bitos sã o difíceis de morrer. “Por que você está no centro de comando?”
<<Estou aqui porque você nã o está .>>
Misato nã o sabia o que havia acontecido em Hakone apó s sua partida repentina. Ela tinha
uma boa ideia, no entanto, do que estava prestes a acontecer – uma bronca.

Em um vale nas montanhas do Atlas marroquino, cheio de formaçõ es rochosas bizarras e


grotescas, Misato Katsuragi havia se encontrado com a equipe de busca e recuperaçã o da Nerv
Japã o, que vinha de Hakone sob a liderança do vice-comandante interino Toji Suzuhara.
Misato entregou a rebelde quebrada, Rei Ayanami Quatre—que nã o ofereceu resistência
significativa - à equipe de inteligência de segurança para mantê-la segura... e secreta. Entã o, na
estaçã o de comunicaçã o, ela se reconectou a Hakone e Tokyo-3, a meio mundo de distâ ncia,
através da rede de aviõ es estratosféricos que haviam substituído os satélites lançados à deriva
pelo encolhimento da Terra.
Ela esperava falar com Maya Ibuki, chefe das divisõ es de ciência e engenharia, mas, em vez
disso, a pessoa que alcançou foi seu ex-superior, um oficial exigente que nã o estava disposto a
deixar passar a oportunidade de colocá -la no caminho.
Rei Quatre havia orquestrado o desaparecimento de Misato. Mas Misato nã o podia negar
que era pelo menos parcialmente culpada; quando o visor do presidente Kiel, com armadilhas,
substituiu a mente de Ryoji Kaji em uma instalaçã o escondida na ilha de Chipre, ela entrou em

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estado de choque e abandonou seus deveres. Agora ela se sentia como uma aluna desonesta
sendo repreendida por seu professor.
Ah, vamos lá, Misato silenciosamente agarrou. Ela tentou passar a mã o pelo cabelo, que ela
separou quando colocou o fone de ouvido, mas os fios estavam muito emaranhados com areia e
poeira para que seus dedos passassem suavemente. Quatre a sequestrou com o Eva-0.0 mutante e
a levou em uma viagem estranha, transportando-a quase instantaneamente, como canais de TV
na TV, do Japã o, para o leste do Mediterrâ neo e, finalmente, para o norte da Á frica. Cada
localidade apresentou-lhe cenas que desafiavam as explicaçõ es. Só agora ela era capaz de se
concentrar em seu pró prio estado físico.
Como o desaparecimento de Misato foi mantido em sigilo, quando a equipe de resgate
passou pela comandante no distante Marrocos, eles assumiram que ela estava aqui para realizar
uma inspeçã o sem aviso prévio ou para se incorporar à s tropas europeias sob uma identidade
falsa. Mas, por baixo do uniforme do exército europeu - “adquirido” no local -, ela ainda usava as
mesmas roupas de folga que usava no momento do sequestro do quartel-general da Nerv, vá rios
dias antes A saia justa e o cabelo despenteado claramente a marcavam fora do lugar entre os
profissionais agitados em roupas de trabalho e coletes blindados.
Eu nem quero saber como deve estar meu rosto agora.
Toji deu um tapinha no topo de sua cabeça e apontou para uma porta com uma placa que
dizia CHUVEIRO. Ele colocou um uniforme de trabalho pesado e um colete blindado na mesa
central, onde um mapa analó gico havia sido espalhado. Sem interromper a ligaçã o dela, ele
murmurou as palavras, Use essas. Ela acenou para ele em agradecimento.
Ele poderia pelo menos ter me avisado que o vice-comandante Fuyutsuki estava de volta.
Como se estivesse lendo sua mente, Toji parou de sair da sala e mostrou sua língua para
ela.
Na conexã o com Tokyo-3, Maya perguntou:<<Essa coisa é realmente Asuka e a Unidade
Dois?>>
“Para ser sincera, eu nã o sei. Mas é o que as crianças estã o dizendo”

O gigante vermelho parecia um Evangelion, com traços femininos rompendo a superfície


aqui e ali como um ídolo colossal, uma deusa. A semelhança com Asuka Soryu nã o era
imediatamente aparente para Misato, mas uma vez que foi apontada para ela, ela viu as
semelhanças. Ainda assim, ela precisaria de mais provas antes de aceitar, como Shinji Ikari e
Hikari Horaki alegaram, que essa criatura era uma fusã o do Eva-02 e Asuka.
Os outros agentes da Nerv Japã o em cena pareciam estar na mesma posiçã o que Misato.
Entre eles, apenas Toji pensou que o gigante vermelho era Asuka.

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“Acho que é algo que apenas as crianças entendem”, comentou Misato.
<<Eles têm dezessete anos de idade,>> Maya a lembrou. <<Se você continuar tratando-os
como crianças, só os deixará com raiva.>>
Misato coçou o cabelo duro e coberto de terra. “Bem, como mais eu devo tratá -los? Eles
tomam decisõ es com base na intuiçã o e nã o assumem absolutamente nenhuma responsabilidade
por suas açõ es.”
<<Suponho que essa seja a marca de um adulto – exigindo provas para que possamos
obter um entendimento compartilhado com outras pessoas.>>
“Nã o acho que essas crianças estejam procurando provas.”
Fuyutsuki interrompeu. <<Comandante Katsuragi, eu vou ser franco. Nã o importa se essa
má quina vermelha é a Unidade Dois, Asuka ou ambas - suas capacidades de combate estã o
perdidas. Mas agora enfrentamos um novo problema... a perda de nossa maior arma, o Super
Eva.>>

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Capítulo 2:
Eva-01, a Corrupção

MISATO vestiu o uniforme, vestiu o capacete e saiu para onde o Eva-01 estava agachado
no chã o para reparos de emergência. Enquanto ela circulava o gigante, ela torceu o nariz com o
cheiro de metal queimado, resina, ó leo… e carne em decomposiçã o. O Eva de Shinji nã o sofreu
uma mutaçã o tã o radical quanto o Eva-0.0 de Quatre, mas a presença estrangeira do QR Signum
havia descolorido porçõ es da armadura e musculatura do gigante.
As mudanças são apenas pequenas, pensou Misato, porque Shinji ainda está resistindo.
O EXW-038 Neyarl do Eva – um canhã o de energia experimental montado no ombro –
havia sido destruído. A equipe de recuperaçã o havia antecipado que a arma nã o sobreviveria ao
seu primeiro uso em campo, e as peças de reposiçã o necessá rias estavam prontas e aguardando
no aviã o de carga.
Mas entregar tudo isso seria sá bio?
“Sobre o armamento do Super Eva”, disse Misato. “Mantenha-o com espadas… ou armas
contundentes.”
“Isso é tudo?” Toji ficou incrédulo. “A equipe de reparo diz que podemos restaurar o FCS
assim que trocarmos a eletrô nica. Quando terminar, as armas de longo alcance deverã o funcionar
novamente, sem problemas.” Misato apertou os lá bios e balançou a cabeça. Os olhos de Toji se
arregalaram quando ele percebeu que ela reclassificou mentalmente o Super Eva como nã o
confiável.
Super Eva nã o se tornara apenas ineficaz; o gigante agora pode ser uma rede negativa. A
situaçã o poderia ser ainda pior do que Fuyutsuki havia indicado.
Para manter o Super Eva – e Shinji – vivos depois que a Lança de Longinus arrancou seu
coraçã o, Hikari tomou a decisã o unilateral em uma fraçã o de segundo de substituir o dispositivo
por um QR Signum – um objeto que carregava um link direto com o aparente comandante de seu
exército inimigo.
E o que aconteceu na outra vez em que um QR Signum foi implantado em um Eva da Nerv
Japã o? A Escama fez com que o Eva-0.0 de Ayanami Quatre ficasse em ó rbita – interrompendo a
psique de Quatre, dando-lhe autoconsciência e até mutando a forma física do Eva. Quatre atacou
seus aliados e fugiu. Ela e o Eva haviam se juntado ao inimigo.

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Por enquanto, Shinji e o Super Eva permaneceram em sã consciência, mas nã o havia
garantia de que eles continuariam assim. Enquanto Misato e Toji voltavam ao centro de comando
mó vel, a comandante nã o pô de deixar de se sentir desconfortável com o futuro.
Shinji falou pelo canal de comunicaçã o. << Super Eva ao Comando Mó vel. >> Antes de seu
coraçã o ter sido roubado, Shinji começou a ouvir e falar através de sua percepçã o compartilhada
dos sentidos do Super Eva; mas agora ele estava contando com um mó dulo de comunicaçã o
recém-substituído. << Inicie os testes de comunicaçã o e link de dados. >>
“Comando reconhece”, respondeu Toji. “Nó s vamos lidar com a transcepçã o dos padrõ es de
teste e os diagnó sticos do nosso lado…” Ele parou e olhou em volta, confuso. “Espera! O que
aconteceu com o que parece a Soryu?”
O gigante vermelho havia desaparecido.
<< Nã o parece que ela está disposta a ficar quieta por nó s >>, disse Shinji. << Ela correu
atrá s do Akashima – Ah, eles estã o de volta. >>
“Sim”, disse Toji, “ela nunca foi muito de esperar. O Akashima deve trazer duas unidades de
ombro do transporte. Eu quero que você os coloque. Vamos fazer com que você pareça adequado,
mesmo que seja apenas para mostrar. Quando voltarmos ao Japã o, podemos fazer algo sobre seu
olho, seus ossos quebrados e, bem, tudo mais.”
"Shinji", acrescentou Misato, “você sentiu alguma mudança – física ou mental - desde que o
QR Signum foi colocado em seu corpo?”
Em outras palavras, você ainda está do nosso lado?
Houve uma pequena pausa antes que ele respondesse. << Meu peito parece que está
pegando fogo, mas meus braços e pernas estã o frios e dormentes. É confuso. E eu realmente,
realmente nã o gosto. >>
“E como está o Super Eva? Me dê uma posiçã o.
<< O Eva nã o está com tanto poder quanto antes. Essa armadura de restriçã o parece
pesada. E é estranho, mas é como se o Eva estivesse provocando… emoçõ es negativas. É
inquietante. Sinto como se tivesse que manter minha guarda em volta agora. >>
Com as forças armadas de numerosas naçõ es presentes no vale, Misato nã o pô de fazer
nada que sugerisse que a Nerv Japã o corria o risco de perder o controle do Super Eva. Se a notícia
fosse divulgada, a ONU – que detinha autoridade sobre a Nerv, pelo menos no papel – certamente
seguraria Shinji e o Super Eva. Afinal, eles já haviam tentado uma vez com seu ataque fracassado a
Hokkaido apenas alguns dias antes.
Era imperativo que o Nerv Japã o continuasse a agir como se eles pudessem exercer
efetivamente seus Evangelions. Por esse motivo, em vez de enviar o Super Eva de volta ao Japã o
danificado e desarmado, a Nerv Japã o precisava fazer um show para reequipá -lo no local.

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Toji deu as ordens para os reparos cosméticos, apesar de se ressentir de procedimentos
tã o ridículos em meio a uma crise global.
Armar o Super Eva corria seus pró prios riscos, como Quatre mostrara, mas Misato nã o via
outra escolha a nã o ser andar na corda bamba.
Mas sem armas de longo alcance, mesmo que o Super Eva sucumbisse completamente à
influência de Armaros e se voltasse contra a humanidade, o colosso só poderia causar danos ao
alcance de seu golpe.

A substituiçã o dos mó dulos de ombro de Super Eva começou, mas o Akashima teve que
ajudar no levantamento de um dos braços do gigante.
<< Misato-san, >> Shinji transmitido de dentro do plugue.
“O que é isso?”
<< Me desculpe. >>
Bem, eu vou ficar, pensou Misato. “Eu também sou culpada por tudo isso. Quando
voltarmos, podemos ser mastigados juntos.”
Passos altos e intencionais e uma batida na porta do centro de comando anunciaram a
chegada de um homem com o físico de um soldado e o corte de cabelo correspondente.
“Tenente-coronel Kasuga?” Toji perguntou.
“Comandante Suzuhara”, respondeu o tenente-coronel da Resposta Rá pida Anti-Anjo da
JSSDF. “Todo o equipamento pesado está montado e no lugar. Meus engenheiros podem lidar com
a instalaçã o dos mó dulos de ombro.”
“Sim, eu ouvi”, disse Toji. “Sei que esse foi um pedido repentino, entã o aprecio o esforço.”
“Com o Super Eva logo voltando a andar, nã o precisamos mais do Akashima por enquanto.
As forças multinacionais solicitaram nossa assistência no descarte dos restos das criaturas
gigantes. Eu estava pensando em enviar Endo no Akashima para lidar com isso, se você nã o se
importa.”
“Eu nã o me importo. Mas fazê-lo? Se você preferir nã o ser encarregado desse tipo de
trabalho duro, ficaria feliz em inventar uma desculpa para você.”
Kasuga sorriu. “Você está de brincadeira? Eu nã o poderia pedir uma demonstraçã o melhor.
Depois de todo esse caos causado pelo seu lado e pelo Euro Eva, muita esperança está sendo
colocada no Akashima – uma má quina operada pelo toque humano.”

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O tenente-coronel notou Misato e levantou uma sobrancelha. “Eu nã o esperava que você se
juntasse a nó s. Aprecio um comandante que adota uma abordagem prá tica. Se você estiver
viajando em segredo, podemos guardar as apresentaçõ es formais para outro dia.”
Ele fez uma saudaçã o casual e saiu pela porta, deixando para trá s o riso enquanto
caminhava.
Misato ficou congelada por um momento. “Quem era aquele?”
Toji suspirou. “Eu acho que você poderia dizer que ele é amigo de Six.”

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Capítulo 3:
Confiada

<< WHOA!>>
O grito de Shinji soou pelo alto-falante externo do Eva.
Assustada com essa exclamaçã o, a tripulaçã o olhou para o céu. Toji se aproximou do
espelho de mã o ú nica do centro de comando mó vel – que, do lado de fora, era indistinguível dos
outros painéis blindados – para ver melhor.
O gigante vermelho tipo Asuka puxou o plugue de entrada de suas pró prias costas, abriu a
escotilha e sacudiu.
“O que?” Toji cuspiu. “Espera! Nã o faça isso!”
Para o alívio dos observadores, Asuka nã o saiu de repente de sua cabine. Mas nem tudo
eram boas notícias.
Quando o gigante girou a plugue, a escotilha aberta ofereceu um breve vislumbre do
assento vazio dentro.
Shinji suspirou. “Eu pensei que poderia ser o caso.”
Asuka havia perdido sua forma física e se fundido com seu Eva. Ela agora existia como
parte do gigante vermelho.
Aqueles que conheciam Asuka ficaram arrasados, mas o gigante continuou sacudindo o
plugue. Finalmente, ela pareceu desistir e seus ombros caíram. Ela estendeu o plugue para o
Super Eva e ficou imó vel.
“O que?” Shinji perguntou. Ela parecia esperar a reaçã o dele.
Toji gritou com ele. << Shinji! >>
O jovem vice-comandante havia retirado o fone de ouvido de comunicaçã o e estava
acenando para Shinji. Havia uma câ mera acoplada.

Shinji entrou no plugue de entrada da Asuka-Eva. Qualquer que fosse a transformaçã o pela
qual o Eva passara, o layout do plugue de entrada permaneceu inalterado desde que fazia parte
do Eva-02. Apenas as cores eram novas – todas as superfícies eram vermelhas. A câ mera que
Shinji havia emprestado de Toji transmitiu o vídeo para a sede da Nerv Japã o em Tó quio-3, onde
Maya estava assistindo.

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<< Você trouxe o sensor com você? Coloque-o ali, >> instruiu a cientista-chefe. << Você
disse que, a princípio, ela parecia um pedaço de lama? Gostaria de saber se tudo o que estamos
vendo aqui foi recriado da memó ria de Asuka. >>
“Da... memó ria da Asuka?” Shinji repetiu, confuso.
<< Em alguns lugares, a nova forma do Eva se assemelha a Asuka, e em outros, Eva-02. Mas
nã o o Eva-02 como era quando partiu pela ú ltima vez, equipado para viagens espaciais. O que eu
vi parece com o Eva-02 que estava em terra – como teria sido mais familiar para Asuka. >>
O interior do plugue de entrada estava ú mido, como se tivesse acabado de drenar o LCL
como parte do procedimento de saída padrã o. "Oh", disse Shinji, notando um livro agarrado à
superfície molhada da parede lateral. A capa azul do livro era visível no meio de todo o vermelho.
Quando Asuka embarcou em sua missã o de reconhecimento, na Lua, seus amigos lhe
deram tantos presentes quanto o espaço de armazenamento permitido para ajudar a evitar o
tédio e a saudade de casa na longa jornada. Shinji havia lhe dado este livro, uma coleçã o de
fotografias da vida marinha. Suas pá ginas foram revestidas em resina para leitura em uma
banheira.
Foi a tentativa de Shinji de ser atencioso – ele concluiu que um livro à prova d'á gua daria a
ela algo para ler no LCL – mas quando Asuka viu seu presente, ela ficou desapontada. Irritada, até.
“É isso tudo que ele me deu?”
Shinji folheou as pá ginas e aterrissou em uma pá gina dupla de golfinhos do Pacífico
pulando da á gua. O que ela deveria ter sentido ao ver isso, ele pensou, depois de ficar presa no
espaço? Ele pensou em Rei Ayanami, que havia morrido antes de chegar à lua. Oprimido pela dor
e arrependimento, ele continuou distraidamente folheando as pá ginas, mas na verdade nã o
estava mais olhando para elas.
<< Shinji-kun, pare aí mesmo! >> Maya disse. << Mostre-me isso. >>
“Desculpe”, disse Shinji. “Eu só estava…”
<< Você vê algo estranho nessas fotos? Eles acionaram o reconhecimento de texto do Magi-
2. >>
Shinji estava confuso. “Nã o, sã o apenas fotografias comuns”, disse ele, mas inclinou o livro
para uma luz melhor e olhou de soslaio para as pá ginas.
Foi quando ele percebeu que as imagens da vida marinha nã o eram nada comuns. Eles
eram compostos de símbolos minú sculos.
“O que é isso?” ele perguntou.
<< Seja o que for, nã o é uma escrita normal. >>

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Shinji voltou a virar as pá ginas, olhando atentamente desta vez. O mesmo acontecia com
todas as figuras – as belas á guas e as criaturas com formas curiosas eram todas formadas a partir
de pequenos símbolos.
O gigante vermelho – a aparente fusã o de Asuka e o Eva – queria dar isso a ele?

Shinji pulou na mã o estendida do Eva estacionado e Asuka-Eva retirou o plugue. Quando o


braço do gigante vermelho se levantou, suas fibras musculares emitiram um barulho alto. Sua
mã o empurrou o que Shinji supô s ser seu cabelo, e ela reinseriu o plugue. Nada em suas açõ es
indicava se ela sabia ou nã o que havia deixado o livro para Shinji.
Sua atençã o voltou-se para o Eva europeu, Heurtebise, ajoelhado a uma boa distâ ncia. Ela
começou a caminhar em sua direçã o.
“Hã ? O que?” Shinji gaguejou. “Asuka, pare! Há pessoas no chã o! Você vai pisar neles!”
O gigante vermelho parou e olhou por cima do ombro para ele. Entã o ela voltou a andar,
seguindo o caminho aberto por um grande veículo de transporte camuflado que acabara de
passar por seus pés. Por enquanto, pelo menos, parecia que ela decidiu evitar atropelar alguém.
Quando ela se aproximou do outro Eva, sua linguagem corporal evocou tã o fortemente a de uma
criança animada encontrando uma tartaruga na beira da á gua, que Shinji deixou escapar: “Asuka,
nã o cutuque Eva! Você vai se surpreender!”
O que estou dizendo? Shinji pensou. E por que ela está agindo como uma criança?
Mas ele só conseguia adivinhar o que estava passando pela mente dela. Ela ainda nã o tinha
falado uma ú nica palavra.

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Capítulo 4:
Uma Reunião Distante

UMA TÉ CNICA CHEGOU com um novo fone de ouvido para substituir o que Toji havia
dado a Shinji.
“Comandante Suzuhara”, disse ela, “redefini o sistema para suas credenciais de
comunicaçã o. Você tem uma transmissã o do tenente-coronel Clausewitz, o oficial da comissã o
direta da Sexta Unidade de Resposta Rá pida da Euro sob o comando de Hartmann.
“Eu estava esperando por isso”, disse Toji alegremente, mas depois ele abaixou a cabeça.
“Espere, como devemos nos entender?”
A técnica estava pronta com um cabo curto, que ela estendeu entre as mã os. “Seu tablet
pode traduzir automaticamente. Nã o se preocupe, também monitoraremos sua conversa no
centro de comando para detectar erros de traduçã o no software.”
“Você pensou em tudo. Obrigado.”
Observando à distâ ncia, Misato admirou como a organizaçã o havia se adaptado ao estilo
de liderança de Toji.
Clausewitz…Misato pensou. O chefe da Nerv Alemanha.
“Misato-san – quero dizer, comandante Katsuragi”, disse Toji, pegando-se. “Nã o posso
devolver o comando para você até voltarmos ao quartel-general.”
“Porque eu nã o deveria estar aqui. Compreendo.”
“E, er ...” Toji limpou a garganta sem jeito. “Você poderia me fazer um favor?”
Mais uma vez, Misato entendeu. Ela sabia por que ele estava tã o determinado a realizar
essa missã o por si mesmo.
“Você tem uma chance de encontrá -la?” ela perguntou.
Toji parou de se mexer e se levantou. “Sim, mas com uma condiçã o. Eu devo falar com ela
sozinho.”
"Entã o vá . Vou segurar o forte.
“Obrigado.”
Toji saltou do centro de comando mó vel e desceu a encosta rochosa vermelha.
“Vá até ela”, disse Misato alegremente enquanto olhava pela janela.

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No final da encosta, o SUV da equipe de segurança estava pronto e aguardando, junto com
uma escolta.

Nesse vale, cercada por montanhas vermelhas e repleta de soldados de vá rias naçõ es, a
equipe de recuperaçã o da Nerv Japã o cumpria suas tarefas de maneira profissional e ordenada.
Toji era um líder inexperiente, mas, em vez de desmoronar, a equipe da Nerv havia se reunido,
compensando as fraquezas um do outro. Mesmo quando recebiam pedidos mínimos, todos
estavam trabalhando duro.
A JSSDF até emprestou o uso de seu robô gigante, incluindo a equipe.
O vice-comandante Fuyutsuki está dando as ordens? Não, acho que não – se fosse, ele
provavelmente teria deixado Suzuhara-kun e viria. Seja qual for o caso, eu preciso voltar ao
trabalho.

O vice-comandante interino da Nerv Japã o, Toji Suzuhara, havia feito o pedido à equipe de
controle do Euro-II para uma reuniã o cara a cara com a piloto do Eva. Ele imaginou que se eles
recusassem, ele nã o estaria em pior situaçã o do que já estavam. Mas eles disseram que sim.
A unidade Euro-II parecia ocupar um lugar especial dentro das forças europeias. Eles nã o
se misturaram com os outros soldados e, em vez disso, reivindicaram uma parte das montanhas
vermelhas para si. Embora as forças armadas europeias fossem compostas principalmente por
unidades recrutadas provisoriamente de países-membros, a Sexta Unidade de Resposta Rá pida
era uma força permanente subordinada diretamente ao Comando das Forças Conjuntas
Europeias. Embora seus nú meros fossem pequenos, eles detinham autoridade quase absoluta
sobre o exército, a marinha e a força aérea – pois seu ú nico objetivo era enviar Heurtebise para a
batalha a qualquer momento.
O SUV de Toji passou pelo perímetro sem ser solicitado a parar, mas ele sabia que estava
sendo submetido a vá rios nú mero de exames eletrô nicos. Por ser uma reuniã o pessoal, nenhuma
grande recepçã o o esperava. O SUV foi direto para os pés do gigante branco ajoelhado.
Quando Toji saiu do carro, ele imediatamente notou o rifle de pó sitron do Eva, atualmente
em manutençã o. Este era um modelo diferente dos japoneses. O ciclotrã o gerador de partículas
nã o era um toro. Em vez disso, começava em um cone – muito parecido com o rifle longo do Eva-
00 Tipo F, a Espinha Dorsal de Anjo – antes de continuar no longo cano do acelerador, que se
curvava em forma de U. Essa forma, combinada com a cor dourada do revestimento resistente ao
campo eletromagnético da arma, resultou em uma aparência nã o muito diferente de um
instrumento de metal.
“Acho que isso é algo que um anjo carregaria”, observou Toji.

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Um reflexo se moveu pelo exterior brilhante da arma e uma pessoa familiar apareceu. Toji
caminhou em sua direçã o, enquanto seus guarda-costas ficaram para trá s. Na sua visã o periférica,
ele viu os guardas do Euro formarem um perímetro, mas isso era de se esperar. Afinal, eles
estavam protegendo um piloto de Eva.
“Entã o”, disse Toji, “eles ainda mantém você nos velhos plugsuits”.
Como se apenas percebesse o que estava vestindo, Hikari rapidamente moveu as mã os
para se cobrir.
“C-como podemos ignorar os conselhos de moda?” ela gaguejou. “E pare de me encarar.”
Seus braços se acomodaram em uma posiçã o cruzada e sua postura caiu.
Ela ainda é ela mesma, Toji pensou com alívio. Depois que Heurtebise enfrentou o Super
Eva em Hokkaido, Shinji relatou que Hikari estava agindo de forma estranha – como se estivesse
sob o controle de alguém.
“O que têm para você, Hikari? Você poderia voltar comigo para o Japã o. Eu posso fazer o
pedido.”
“Eu quero que você pegue isso.”
Ela entregou-lhe um tubo de alumínio. Ele abriu a tampa e pegou uma ampola de vidro.
Cristais brancos chocalharam por dentro.
“Esse é a Kodama”, disse ela. “Minha irmã .”
“O que?!” A mente de Toji correu. A família de Hikari havia sido levada para a Europa –
inclusive sua irmã mais velha. A lança de Longinus havia transformado as pessoas no norte da
Á frica, Europa e Rú ssia em pilares de sal.
Ela foi pega na luz da lança?
Toji conhecia Kodama. Ela tinha uma personalidade alegre. Ele até a chamou de “mana”.
“O que…?! Nã o…”
Nenhuma palavra poderia expressar seu choque.
Toji queria gritar, mas na frente dele estava a pessoa mais atingida pela perda, e ela estava
de alguma forma mantendo a calma. Ele precisava se controlar. Ele fechou os olhos e concentrou
seus pensamentos em seu braço artificial para que seu coraçã o acelerado nã o fizesse o membro
se contorcer. Entã o, devagar, com cuidado, ele devolveu a ampola ao tubo de alumínio e fechou a
tampa com força.
“Leve-a de volta para Hakone”, disse Hikari.
O que?

23
“Nã o, nã o, nã o, espere. Este nã o é o tipo de coisa que você pode passar para outra pessoa.
Você deveria ficar. Mantenha-a segura. E…”
Ele parou, sem palavras.
Ela deu um sorriso gentil. “Se você levar para mim, eu sei que poderei voltar para casa um
dia.”
O que significa que ela não vai voltar agora. É isso que ela está dizendo?
Ela havia se decidido. Agora ele entendia por que os europeus haviam concordado tã o
facilmente com essa reuniã o.
Hikari caminhou lentamente em direçã o a Heurtebise, e Toji a seguiu.
“Nozomi ainda está na Alemanha”, disse ela sem parar.
Essa era a irmã mais nova de Hikari.
Toji baixou a voz para um sussurro. “Eles estã o fazendo você dizer isso? É isso que está
acontecendo? Eu posso encontrar Nozomi e...”
Hikari balançou a cabeça suavemente. “É mais complicado que isso. Eu vim a entender
muitas coisas.”
Ela bateu no pé do Euro-II Heurtebise com a mã o. “Por enquanto, sou a ú nica pessoa que
pode andar dentro deste Eva.”
Isso parecia um problema da Europa. Toji nã o conseguia entender como ela podia ser tã o
descuidada com a situaçã o quando ela praticamente foi sequestrada.
“Você nã o precisa assumir essa responsabilidade”, disse ele.
Ela virou. “Eva-II Heurtebise também é a mã e da Asuka”, disse ela, como se estivesse
apresentando alguém muito importante.
"O que? Isso nã o é… Possível? Mas quem diz mais o que é possível? Toji procurou sua
lembrança dos relató rios da construçã o do Eva-02.
O ramo Nerv alemã o havia originalmente construído a Unidade Dois, e Maya e Hyuga
haviam teorizado que o Euro-II havia sido construído a partir de um organismo de produçã o
descartado.
“Os alemã es me disseram hoje de manhã – o nú cleo da Unidade Dois falhou em se ligar ao
corpo deste. Eles dizem que a alma dela está com Asuka na Unidade Dois, mas os traços ainda
podem persistir neste Eva.” Hikari suspirou e deu um sorriso irô nico. “Sinto que estou apenas
aprendendo tudo esta manhã .”

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Hikari apontou para o gigante vermelho. "Olha para ela."
“Crimson A1?” Toji perguntou. Este era o codinome provisó rio que a Nerv Japã o acabara
de atribuir à combinaçã o Asuka e Eva.
“Nã o a chame assim.” Hikari ainda estava sorrindo calorosamente, mas sua voz era firme.
“Você tem que continuar chamando ela de Asuka ou a essência dela desaparecerá . Se você nã o a
escolher conscientemente, ela nã o poderá voltar.
“Você está dizendo que isso nã o é a Soryu?”
“Asuka nã o é tã o grande, bobo”, disse Hikari com uma risadinha.
Toji nã o entendeu. Ela parecia sugerir que Asuka ainda estava a bordo do Eva, mas ele já
havia confirmado que nã o era esse o caso.
Vendo sua confusã o, Hikari explicou. “Ela nã o é Asuka. Quando ela voltou, ela foi misturada
com todos os tipos de criaturas diferentes. Nã o sei por que nem como. Mas em meio a essa
confusã o, a alma de sua mã e tentou protegê-la substituindo partes do Eva por partes que eram
Asuka.”
De vez em quando, um enorme estrondo ecoava pelas montanhas enquanto outro cadáver
gigante e deteriorado desmoronava no desfiladeiro abaixo.
No Vale dos Corpos Humanos, a combinaçã o de Asuka e Eva soltou os dados dos
organismos antigos, que haviam se derramado nas formaçõ es rochosas gigantes deixadas para
trá s apó s a batalha final dos Evangelions e criaram um zooló gico do tamanho de Eva – um festival
fugaz de vida que durou apenas uma ú nica noite. Agora essas formas de vida estavam voltando ao
pó .
Má quinas pesadas e veículos de monitoramento CBRN estavam percorrendo o desfiladeiro
e coletando amostras das criaturas colossais antes que desmoronassem.
Talvez eles pensassem que essas amostras os ajudariam a aprender mais sobre a Arca.
Afinal, os dados dos organismos foram armazenados na arca da lua antes de inundar Asuka e Eva-
02. Mas, afinal, esses eram apenas cadáveres de grandes dimensõ es.
Enquanto os soldados recuperavam os restos de seus camaradas devorados do aparelho
digestivo dos organismos, eles nã o podiam deixar de se perguntar por que essas criaturas haviam
aparecido com tanto fervor na noite anterior.
Outras equipes usaram radares de penetraçã o no solo e equipamentos de levantamento
sísmico para procurar a pró pria Arca. A humanidade se voltou para o folclore religioso na
esperança de salvaçã o. O que eles nã o sabiam era que Armaros havia levado a Arca para um novo
local. Aida Kensuke – que conseguiu escapar do vale sem ser detectado, mesmo depois que seu
braço se transformou em sal – nã o divulgou essa informaçã o.

25
As forças europeias chegaram primeiro, seguidas por uma coalizã o de militares do norte
da Á frica, e cada lado manteve o outro sob controle. A caçada frenética na noite anterior havia
dado lugar a uma busca mais equilibrada, mas apó s o terremoto, seus movimentos voltaram a se
apressar. Agora eles estavam se preparando para uma retirada total.
Centros de previsã o de terremotos na Europa, Á sia Ocidental e Norte da Á frica
concordaram – outro terremoto entre placas ocorreria em breve na regiã o.
O aviã o de controle de Heurtebise, um grande VTOL, estava estacionado no chã o rochoso
atrá s do gigante branco. Uma ú nica turbina primá ria estava em funcionamento há algum tempo –
a unidade de energia auxiliar do aviã o nã o deveria ter conseguido produzir eletricidade suficiente
para manter o controle do Eva –, mas agora o ruído do motor aumentou em tom. A tripulaçã o
provavelmente estava se preparando para acender as outras turbinas. Alguém apareceu da
aeronave de controle e chamou Hikari em alemã o.
“Ele disse que é hora de partir”, explicou ela a Toji.
Naquele exato momento, o tablet de Toji vibrou no bolso. Ele pegou o dispositivo e viu um
aviso de terremoto rolando pelo LCD.
“Você vai ficar bem na Europa?” ele perguntou.
“A Nerv Alemanha prometeu que nã o usará mais o Heurtebise usando o plugue falso. Mas
eles dizem que eu ainda tenho que me controlar parcialmente para impedir que a escama negra
tome conta de minha mente. ”
“Você pode confiar neles?”
“Vai ficar tudo bem. Se eles tentarem me controlar com essas drogas novamente,
Heurtebise nã o se moverá .
Toji assentiu. “Porque a mã e de Asuka entrará em greve. Vale a pena ter alguma influência
sobre a administraçã o, nã o é?” Ele ainda nã o conseguia aceitar a decisã o dela, mas se forçou a
sorrir por ela.
Hikari jogou os braços em volta dele.
Os guardas europeus ficaram tensos e ergueram suas armas, e o séquito de Toji respondeu
em espécie. Toji levantou os dois braços e lentamente olhou em volta, anunciando com sua
linguagem corporal que nã o havia – e nã o haveria – nenhum problema.
Hikari encostou a testa no peito dele e sussurrou. “Minhas memó rias finalmente voltaram
para mim esta manhã , de uma só vez.” Ela havia removido toda a emoçã o de sua voz, mas Toji
podia senti-la tremendo. “Centenas morreram na escuridã o da noite passada. Alguns por causa do
Eva sob meu controle.

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“Eu nã o vou te dizer que nã o há sentido em pensar sobre isso, mas quando um Eva está
envolvido, esse tipo de coisa simplesmente…” Toji lembrou-se de repente como ele havia dado um
soco em Shinji anos atrá s. O que diabos aconteceu comigo?
Ele ainda nunca pilotara um Eva em batalha, mas desde que começou a comandá -los,
aprendeu a realizar esse terrível cá lculo – vítimas versus resultados.
“E antes disso”, disse Hikari, “tentei derrubar Shinji.”
“Mas você estava sendo controlado através do plugue falso, nã o estava?” Toji perguntou.
“Ainda era eu fazendo isso. Por isso ainda nã o posso voltar. Nã o posso me perdoar, e nã o
posso perdoar as pessoas que me colocaram nessa situaçã o.” Ela olhou para ele, sorrindo com sua
preocupaçã o. “Por favor, me dê um tempo.”
Ela estava pedindo espaço para reconciliar suas novas memó rias, mas se ela fosse se
culpar pelo que ela passou, seria melhor em casa.
“Sabe, eu realmente acho isso-” Toji começou.
Mas ela o interrompeu. “Sinto muito por ser egoísta. Eu entendo sua perspectiva e odeio
fazer você suportar isso.”
Você é quem está carregando esse fardo sozinha! Toji pensou.
Mas ela falou com finalidade. Nã o havia sentido em discutir – e Toji nã o era tã o egoísta que
tentaria usar a força. Mas sua mente zumbiu de frustraçã o.
Hikari pressionou os lá bios contra os dele, depois soltou os braços e se afastou, seu sorriso
de despedida ainda demonstrando preocupaçã o.
Entã o ela se virou, seu macacã o amarelo ficando menor quando ela se afastou.
Um andaime suspenso desceu um engenheiro do plugue de entrada de Heurtebise. Hikari
trocou de lugar com ele, e o cadafalso a levantou de volta ao assento do piloto.

“Garota teimosa”, resmungou Toji.


Ele estava voltando para o SUV quando de repente ele gritou de surpresa.
Crimson A1 - a combinaçã o Asuka e Eva-02 – havia ficado evidentemente entediada ao
observar as má quinas pesadas do exército marroquino. Ela se aproximou sem que ele notasse e
estava agachada com o queixo nas mã os enquanto o encarava.
Ela estava olhando enquanto ele caminhava até o SUV.
Ela ainda estava olhando enquanto ele e sua comitiva subiam no veículo.

27
Pouco antes de fechar a porta, Toji se inclinou e acenou com os braços para ela. “Bem?!” ele
gritou com raiva. “O que é isso? Se você tem algo a dizer, diga!”
Asuka-Eva inclinou a cabeça – que, mesmo agachada, ainda estava bem alta. Por alguma
razã o, a visã o derreteu a frustraçã o de Toji.
“Sim Sim. Nada está dando certo. E estamos apenas começando.”
Atrá s dele, o Euro Eva branco abriu suas asas, os flutuadores de gravitons rugiram e o anjo
levantou-se no céu.

28
Capítulo 5:
Um Mundo Esquecido

VARIADOS ALARMES DOS VÁ RIOS EXÉ RCITOS soaram para evacuaçã o, dispositivos
inteligentes do pessoal da Nerv Japã o exibiam um alerta. Uma IA leu a mensagem em voz alta dos
alto-falantes em seu acampamento.
<< A seguir, é apresentada uma revisã o da previsã o de deformaçã o de placas nú mero vinte
e dois. A probabilidade de um terremoto de magnitude oito ocorrer entre 1500 e 1600, horá rio de
Greenwich agora é de setenta e cinco por cento. >>
Toji correu para o centro de comando mó vel no momento em que Misato estava
perguntando: “O que foi esse aviso?”
“Um terremoto!” Toji respondeu sem fô lego. “E pelo que parece, a probabilidade é alta.”
“De ser atingido por outro da mesma magnitude, você quer dizer?”
Ele balançou sua cabeça. “Segundo os cientistas, esse foi apenas o ato de abertura.”
Toji trocou o fone de ouvido para transmitir a todos os dispositivos da Nerv.
“Er… Todas as estaçõ es, por favor, continue os preparativos para evacuar. Partimos em
uma hora. Deixe para trá s as má quinas pesadas, juntamente as peças desmontadas da armadura
do Super Eva. E certifique-se de que todos sejam considerados.” Toji olhou para Misato, que ainda
parecia processar as notícias. “Um terremoto realmente grande está chegando.”
“Temos certeza disso?” ela perguntou.
“Deformaçõ es de placas criaram essas montanhas. Mas esse vai ser grave. Simulaçõ es
mostram que derrubará as montanhas ao redor do vale. Este lugar será enterrado além do
reconhecimento.
Misato olhou pela janela. “O Vale dos Corpos Humanos nã o existirá mais.”
Depois que Seele invadiu a mente de Kaji, ele disse que uma grande enchente redefiniria o
mundo.
Em certas circunstâ ncias, os pensamentos e açõ es da humanidade deixaram imagens
posteriores na pró xima iteraçã o. As formaçõ es rochosas no vale haviam sido deixadas pela
batalha final entre mais de cem Evangelions e estavam imbuídas de seu desespero pela
sobrevivência. Entã o veio uma nova entrada – os dados zooló gicos da Crimson A1. As rochas se
metamorfosearam… e morreram em um ú ltimo suspiro de liberdade.

29
Misato pensou no pró ximo mundo descrito por Armaros e Seele e disse: “Acho que este
vale encontrará paz”.

Em uma extensã o plana de terra, cerca de dez quilô metros a sudoeste do Vale dos Corpos
Humanos, a aeronave que a Nerv Japã o havia emprestado da ONU aguardava a chegada das
equipes de recuperaçã o, enquanto as aeronaves da frota mista europeia voavam no alto. As
equipes de recuperaçã o estavam quase uma hora atrasada agora. Eles foram atrasados pela
multidã o de exércitos africanos e europeus fazendo sua pró pria retirada apressada.
Ocupando a traseira, atrá s do trator off-road, rebocando o centro de comando mó vel e os
outros veículos militares, o Super Eva puxou a Crimson A1 pela mã o.
“Asuka”, disse Shinji, “o que há de tã o errado em seguir esse caminho?”
Por qualquer motivo, Asuka-Eva queria ir leste-nordeste, longe do ponto de encontro.
Em seu estado agitado, carregar a Crimson A1 no aviã o de carga parecia uma tarefa
assustadora, mas a equipe de recuperaçã o havia chegado ao norte da Á frica com um plugue de
parada de sinal, caso o Super Eva tivesse se mostrado impossível de controlar. Como plano de
backup, eles só precisavam encontrar a oportunidade certa para colocar Asuka para dormir.

Quando chegou a hora de decidir se o segundo aviã o de carga gigante transportaria o


Super Eva ou Akashima, Shinji insistiu que ele poderia voar para casa – e foi aí que ele teve um
problema.
Ele nã o conseguiu formar um Campo AT em volta das asas Vertex do Super Eva.
Ele nã o percebeu que havia algo errado até que fosse tarde demais. Antes, o gigante havia
atravessado o céu como se impulsionado por uma força tremenda. Desta vez, o Super Eva saltou
para o céu… e tombou à vista de todos. Shinji gritou de surpresa.
“Eu nã o estou voando!” ele disse, afirmando o ó bvio. Entã o, com a realizaçã o atrasada,
“nã o posso voar?”
A Crimson A1 contornou o Eva desmoronado e pulou das rochas. Seus dois longos cachos
de cabelo – ou eram asas? - se espalharam levemente, e Asuka-Eva começou a subir no céu.
“O que?” Shinji disse, assustado, quando ela agarrou o braço do Super Eva e o puxou com
ela.
Completamente desequilibrado, o Super Eva se agitou, mas Asuka-Eva habilmente se
moveu embaixo dele e começou a empurrá -lo por baixo. Ela segurou o outro braço dele – o
quebrado e balançado – e voltou a subir por cima dele novamente, ainda puxando.

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Shinji ficou pasmo demais para sentir qualquer dor.
Ele saiu de sua confusã o e tentou criar um Campo AT para que ele pudesse encontrar
algum tipo de valor.
Asuka-Eva voou ainda mais alto, mantendo um olho nele. Houve um rugido de
acompanhamento – ou melhor, um coro de vibraçõ es.
No terreno, a equipe científica ficou impressionada e Misato – que estava prestes a tentar
carregar a Crimson A1 no transporte – comentou: “Nã o entendo como os flutuadores
gravitacionais ainda estã o ativos em sua nova forma”.
Traços familiares das asas do Allegorica permaneciam nos cabelos de Asuka-Eva, mas
Misato assumira que a semelhança era meramente vestigial.
“Entã o,” Misato disse, “essas duas partes em forma de disco sã o os reatores N2 ... E ela está
usando-os para levantar algo ainda mais pesado do que ela?!”

Shinji procurou uma explicaçã o sobre por que ele nã o podia voar. É porque eu perdi muita
energia?
O Center Trigonus tinha sido o coraçã o do Super Eva, a embarcaçã o que dirigia a torrente
selvagem de energia que fluía para o Eva de dimensõ es mais altas. Suas asas movidas a Campo AT
dependiam dessa energia para voar, e agora o coraçã o havia sido roubado. Além disso, o Eva
estava em estado grave depois de ser agredido por Armaros. Shinji nã o sabia se isso estava
exacerbando o problema, mas certamente nã o ajudou.
Enquanto Asuka o puxava para cima e para frente, Shinji gerou impulso com seu Campo
AT, embora mínimo e intermitente. Mas esse esforço lhe ensinou algo sobre o QR Signum em seu
peito.
A escama de Armaros lhe enviava poder, mesmo quando suas trevas assaltaram sua
psique, mas quanto mais ele se afastava do chã o, mais fraco o poder se tornava.
Enquanto isso, os pensamentos intrusivos parecem ficar mais fortes!
Com os olhos do Super Eva esmagados, a tela virtual na frente de Shinji mostrava apenas
um campo de visã o limitado. E sem isso para distrair sua mente, ele nã o pô de deixar de pensar no
futuro incerto. Ele visualizou a escuridã o do QR Signum perseguindo-o, ameaçando engoli-lo
inteiro.
Mas entã o o brilho do corpo vermelho de Asuka-Eva dançou em sua visã o limitada, como
se quisesse afastar seus medos. Quase parecia que ela estava tentando ser brincalhona, talvez até
sorrindo.
Uma lembrança retornou a Shinji. O puxar em seus braços parecia familiar. Nostá lgico.

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Verão. O primeiro dia de natação do ano. Eu respiro fundo. Bato minhas pernas na água.
Entã o ele voltou ao presente com uma nova realizaçã o. Asuka está tentando me ensinar a
voar.
E entã o outra realizaçã o. Estamos indo em direção a Tokyo-3. É por isso que ela está me
puxando nessa direção. Shinji riu. Ela está voltando direto para onde ela pertence.

O Akashima foi carregado em um dos dois aviõ es de carga de transporte gigante, enquanto
o outro, que teria transportado a Crimson A1, nã o tinha carga. Os dois acenderam os foguetes e
decolaram, deixando enormes tremores de fumaça ao partirem do continente que havia sido o
berço da humanidade.
Quando a Crimson A1 puxou o Super Eva para cima sobre o Vale dos Corpos Humanos, a
aurora anô mala pintou estranhas trilhas cor de arco-íris no céu do norte. Nesse momento, um
forte terremoto atingiu a cordilheira abaixo. O chã o ficou pá lido e enevoado, como se a Terra
tossisse, mas Shinji estava muito concentrado em seu voo perigoso para perceber o que
aconteceu a seguir.
Tudo o que eles viram e tocaram lá embaixo se desfez em pó .

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33
Capítulo 6:
O Valor da Humanidade: Beta

PARA RECUPERAR O SUPER EVA a Nerv Japã o tinha enviado dois aviõ es de grande carga
,

da ONU suficiente para o transporte de um Evangelion cada e seis aeronaves adicionais. Mas a
Asuka-Eva vermelha estava puxando o Super Eva pelo céu, deixando um transporte de Eva vazio
que seguiu o par de gigantes, com seus holofotes iluminando-os. A sua ú nica outra escolta era um
ú nico Flanker N2, que havia descolado da comitiva..
O Flanker deveria ser o transporte de Toji, mas agora, o líder exausto estava dormindo no
aviã o de carga vazio, no piso da passagem fora da CIC, enquanto o Flanker nã o tripulado e
fortemente modificado acompanhava a nave mais lenta e maior.
Mesmo com a escassa assistência do Super Eva, Asuka-Eva estava sobrecarregada demais
para atingir a velocidade de cruzeiro dos aviõ es a jato. A outra aeronave, totalmente carregada de
equipamentos e funcioná rios, nã o teve escolha a nã o ser voar em frente. Caso contrá rio, eles
corriam o risco de ficar sem combustível. Shinji e os outros retardatá rios ainda estavam voando
para o leste, sobre o subcontinente indiano, quando a noite caiu.

A lança de Longinus continuou a se alongar enquanto circulava a Terra 20.000 quilô metros
acima da superfície. Sua linha extremamente fina e radiante apareceu no horizonte sudoeste e,
em seguida, traçou um arco maciço acima em sua jornada para o nordeste.
A comunidade científica previu que a força misteriosa que contrai a Terra alcançaria seu
pico quando a cabeça e a cauda da lança se encontrassem, formando um anel completo. Mas
mesmo que esse dia ainda nã o tivesse chegado, a crosta terrestre estava em constante
turbulência.
Até os céus haviam mudado dramaticamente. A Cortina Longinus, uma barreira que a
lança havia criado entre a Terra e a Lua, havia quebrado alguns dias antes, revelando uma visã o
aterradora – a lua havia inchado quase o dobro do seu tamanho.
No céu noturno, a perturbaçã o no campo elétrico da Terra fazia o horizonte curvo brilhar.
Ao sul, relâ mpagos brilhavam, e ao norte, a aurora lançou suas luzes assustadoras. Era uma bela
vista.

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Dentro da CIC, Misato estava no rá dio com Maya em Tokyo-3. Ela ficou de olho no monitor
mostrando a Crimson A1 e o Super Eva. A imagem estava desbotada, os assuntos estavam
iluminados pelos holofotes do aviã o.
“O QR Signum”, dizia Misato, “pertence a Armaros – nosso inimigo. Essas escamas negras
têm alimentado os cadáveres dos Evas de produçã o em massa. Entã o, por que eles continuam
fornecendo energia para Heurtebise e o Super Eva?”
<< Talvez Armaros realmente nã o nos considere um inimigo >>, disse Maya.
A realidade era que eles estavam lutando contra algo que operava em um nível totalmente
diferente da humanidade.
<< Aposto que seus processos de pensamento nã o sã o tã o complicados quanto
supomos.>>
“Sabe, acho que você pode estar certa sobre isso.”
O que um deus cuida das tribulações da humanidade?
Era manhã cedo no Japã o, e Maya claramente ficou acordada a noite toda. A cientista-chefe
nã o tinha intençã o de arrastar essa conversa, entã o ela foi direto ao coraçã o das apreensõ es de
Misato.
<< Comandante Katsuragi, você teme que, em troca de sua sobrevivência, o Super Eva
tenha sido contaminado e se tornará a vanguarda de Armaros, correto? >>
“Está certa.”
<< Quanto a saber se o Super Eva vai acabar como a Unidade Quatre… Nã o tenho tanta
certeza. A escama está dentro do espelho de ondas quâ nticas. O que eu continuo pensando é
sobre o coraçã o roubado e como é uma janela para as dimensõ es mais altas - ah… Espere. Outro
terremoto. Este pode ser um pouco mai - >>
A transmissã o foi interrompida.
Maya? Perguntou Misato.
Mas nã o apenas o canal de voz codificado desapareceu, todo o sinal de comunicaçã o foi
interrompido, incluindo os dados de navegaçã o e meteoroló gicos de Tokyo-3. O monitor no
estande da comunicaçã o afirmou que o contato nã o pô de ser encontrado e perguntou se Misato
queria repetir a transmissã o.

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Capítulo 7:
Falsidade

NEM TODAS AS AERONAVES DA EQUIPE DE RECUPERAÇÃ O estavam indo para o Japã o.


Um aviã o, com a divisã o de inteligência de segurança, saiu da formaçã o apó s a decolagem, sem
anunciar seu destino. Eles voltaram para onde haviam saído – norte da Á frica, pó s-terremoto –
para procurar Rei Ayanami Trois, que desapareceu por lá .
Somente Misato, Toji e alguns outros funcioná rios sabiam que ela se afastara sozinha logo
depois que Misato voltara. Mais tarde, Misato encontrou Rei Quatre, que estava em um estado
quase catatô nico. Por enquanto, a comandante estava fingindo que ela era Trois e a colocara na
á rea médica do aviã o de carga.
Por que Misato fez isso? A fim de trazer o Super Eva para casa.
Misato calculou que, se Shinji soubesse que Trois havia desaparecido, ele teria exigido
procurá -la até o amargo fim e teria se recusado a evacuar.
Mas, ao contrá rio de Shinji, Toji era responsável por todos sob seu comando. Ele estava, é
claro, preocupado com Rei Trois, mas as pessoas da equipe de resgate confiaram suas vidas a ele,
e ficou claro agora que ele fez a ligaçã o certa. Se ele tivesse continuado as operaçõ es de busca e
nã o tivesse ordenado a evacuaçã o, todos no chã o teriam sido enterrados sob as montanhas em
colapso.
Logo apó s a decolagem, o pessoal que partiu olhou para baixo para ver o grande terremoto
nivelar as montanhas e levantar nuvens gigantes de poeira. Enquanto a maioria deles soltou
suspiros de profundo alívio, Toji tremeu de pavor ao imaginar o que teria acontecido se ele agisse
de maneira diferente.

Conseguindo permanecer em voo, principalmente graças à Crimson A1, Shinji vislumbrou


uma figura através de uma janela do gigantesco aviã o de carga no alto.
"Ayanami?"
Ele ampliou sua visã o sem esforço consciente. O interior do aviã o estava escuro, mas a
visã o do Super Eva compensou automaticamente e aumentou sua fotossensibilidade. As feiçõ es
da garota se tornaram mais distintas. Shinji estava certo. Era Ayanami.
Sem saber que ela nã o era Trois, Shinji disse suavemente: “Ayanami... Trois, você se
ofereceu para vir comigo, e eu a coloquei no inferno.”

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Entã o ele engasgou.
Uma porta perto da janela explodiu em uma nuvem de fumaça. Os sistemas de segurança
do aviã o forçaram a abertura da escotilha, e a diferença de pressã o jogou o corpo de Ayanami no
céu, onde ela soprou como um pedaço de pano.

“Por que diabos... ?!”


Movendo-se rapidamente, Shinji iniciou a sequência de liberaçã o do plugue de entrada.
Ele ejetou parcialmente o plugue de entrada da Unidade Um e abriu a escotilha. O LCL nã o
teve tempo de drenar completamente e borrifou em uma névoa fina. A baixa temperatura
cristalizou instantaneamente o líquido, criando uma nuvem branca que seguia o Eva.
"CIC!" Shinji gritou em seu fone de ouvido. "Isto é uma emergência! Ayanami está —
Mas o vento de quase quinhentos quilô metros por hora engoliu sua voz.
Quando Ayanami caiu em sua direçã o, Shinji reformulou seu instável Campo AT na
tentativa de pegá -la e puxá -la para o plugue. Ele esqueceu de se concentrar em seu voo, e as mã os
do Super Eva escaparam das mã os de Asuka-Eva. Agora ele e o Super Eva, como Ayanami, estavam
em queda livre.
A atmosfera de baixa temperatura e baixa pressã o espremeu o ar dos pulmõ es de Shinji, e
ele começou a se sentir fraco. Mas, mesmo quando sua consciência desaparecia, ele conseguiu
pegar Ayanami pelo braço e puxá -la para o plugue. O par caiu no banco do piloto.
“Selar... selar a escotilha”, Shinji comandou os sistemas de Eva. “Iniciar sequência de
entrada.”
Desde que o Super Eva ganhou um coraçã o, Shinji nã o precisou passar pela sequência de
entrada. Ele e o Eva eram uma entidade. Mas os comandos herdados permaneceram no sistema e
o ambiente do plugue se estabilizou rapidamente com a ejeçã o de emergência. O plugue se
encheu de LCL - mais quente que o normal - e Shinji encheu seus pulmõ es, deixando escapar um
suspiro profundo.
Seus pulmõ es descongelaram – expandindo, contraindo e doendo como o inferno.
Essa foi por pouco, pensou Shinji.
Ele percebeu que ainda tinha os braços em volta de Ayanami. Ela estava vestida com
macacã o laranja e roupas de trabalho. Confuso, ele a sentou de joelhos.
“O que diabos você estava pensando, Trois ?!” Shinji gritou. “E se você acertasse alguma
coisa quando fosse sugada para fora do aviã o? E se você tivesse desmaiado com a mudança de

37
pressã o? Você tem alguma ideia de quantas maneiras diferentes você poderia ter sido morta com
esse golpe?”
Mas algo nã o estava certo com Ayanami – especificamente, seus movimentos.
Ela deu a impressã o de um boneco quebrado, os olhos vermelhos fixos em um ponto em
algum lugar distante.
Ah não. Ela deve ter batido com a cabeça.
“Ayanami! Respire o LCL. Respire fundo!”
Os olhos dela focaram nele. Super Eva ainda estava caindo em direçã o à superfície da
Terra. Ayanami flutuou, sem peso dentro do plugue. Atrá s dela, uma série de janelas de alerta
apareceu em rá pida sucessã o. O brilho vermelho acentuava o contorno do rosto dela.
Uma das janelas relatou um erro do sistema: PILOTO PENSAMENTO-PADRÃ O DE
REFERÊ NCIA INDISTINTO. O plugue de entrada estava captando os pensamentos de Ayanami.
Droga!
Na pressa, Shinji havia trazido alguém para dentro do Super Eva sem nenhum
equipamento de proteçã o ao pensamento. No antigo Eva-01, a presença adicional teria resultado
em uma menor capacidade de geraçã o de campo e prejudicado o reconhecimento de comandos,
mas com o Super Eva… bem, ninguém nunca havia tentado isso antes…
Ayanami, com os olhos ainda presos em Shinji, falou suavemente.
“Leve Ikari-kun – e leve-me – para algum lugar distante. O lugar mais distante.”

Shinji sentiu um nó no peito. Ele grunhiu de dor e agarrou a frente do seu traje.
Intuitivamente, ele sabia o porquê. O QR Signum implantado em seu outro peito – o peito
do Super Eva – respondeu ao chamado de Ayanami. As palavras da garota foram um
encantamento direcionado à escama negra de Armaros, a fonte do poder do Super Eva.
“Se Ikari-kun nã o libertará este mundo, e se eu nã o puder escapar… entã o pelo menos nos
leve até a extremidade da Terra!”
Shinji estava segurando seu peito com tanta força que seus dedos quase cavaram entre as
costelas. “Você é… Quatre ?!” ele percebeu. “Mas como?”
Super Eva continuou a cair em direçã o à Terra – um braço estendido e o outro atrá s frouxo.
Se o Eva fortemente blindado, de quatro mil toneladas, continuasse caindo sem controle, o
impacto do gigante crateraria a Terra. Mas o subcontinente indiano já estava deslizando para o
norte, empurrando violentamente o poderoso Himalaia e deslizando sob a placa da Eurá sia.
Qualquer marca que o Super Eva deixasse empalideceria em comparaçã o.

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O aviã o de transporte gigante estava em tumulto.
Um alarme estridente anunciou a liberaçã o da porta externa e despertou o pessoal de
folga em seus sacos de dormir, dos quais agora saíam. Os compartimentos primá rios mantinham
a pressã o operacional normal, mas os pilotos da ONU seguiram o protocolo e eliminaram
imediatamente a altitude. As asas do enorme aviã o empurraram através das nuvens, e tudo
dentro começou a chocalhar e tremer.
“Pare o alarme de baixa pressã o!” Misato gritou para o cockpit. “O Super Eva está bem?”
A porta expelida e quaisquer outros objetos que foram sugados poderiam ter batido nela.
Ela olhou para a câ mera externa, onde o Super Eva despencou em direçã o ao planalto de
Deccan - e entã o, como má gica, foi engolido pelo chã o.
“Ele se foi”, disse Misato. “Nenhuma emissã o detectada.”
Uma explicaçã o veio prontamente à mente.
De novo e de novo, eles lutaram contra inimigos com a capacidade do QR Signum de se
teletransportar para dentro e fora da batalha. O Super Eva foi contaminado, como a Unidade
Quatre, e se juntou ao inimigo?
Misato apertou o botã o no interfone ao lado de seu assento. "Á rea médica, Quatre está aí?"
Mas ela já sabia a resposta.

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Capítulo 8:
A Passagem Ilusória,
Parte Um

O TELETRANSPORTE DO QR SIGNUM nã o era instantâ nea. O viajante experimentou uma


passagem de tempo, ainda que breve, enquanto viajavam pelo domínio dos Victors.
Quando Misato experimentou pela primeira vez esse reino sobrenatural, ela comparou o
local à s raízes de uma floresta que atravessava a Terra – ou a uma montanha-russa torcendo e
girando no subsolo.
Mas o subespaço nã o tinha uma estrutura física clá ssica. O viajante nã o sentia nenhuma
aceleraçã o, e quaisquer galhos, exceto o que estava sendo viajado, eram invisíveis.

O Super Eva passou pelo tú nel e foi cuspida no ar.


Shinji esperava totalmente cair no chã o, de costas primeiro. Ele abaixou a cabeça e
tensionou os mú sculos das costas para se preparar, mas nã o houve impacto. Em vez disso, agora
estava de costas para o céu e ele fora expulso em uma trajetó ria ascendente.
Aparentemente, o viajante deixou o tú nel com a mesma velocidade em que entraram.
Ele olhou para baixo e viu uma extensa floresta branca de á rvores mortas, talvez destruída
por pragas ou pestilências.
A grande massa do Super Eva alcançou quase quinhentos metros antes de descer
novamente, e a paisagem retrocedente veio correndo em direçã o a eles.
O Super Eva cobriu o rosto com os dois braços e Shinji sentiu o estalo de galhos secos. No
ú ltimo momento antes do acidente, ele foi novamente engolido pelo chã o e se viu brevemente de
volta ao tú nel antes de aparecer perto de uma montanha coberta de geleiras. Ele caiu em um vale
e saltou pelo espaço novamente.
O Super Eva apareceu perto de planaltos e planícies, saltando de um lugar para o outro
sem rumo ou razã o.
“Onde isso está nos levando?” Shinji gritou.
O Super Eva foi jogado para fora em uma península enterrada sob as á guas do mar que
surgiram de um recente terremoto, ou talvez um tsunami. Uma caldeira subiu, como uma ilha, da
á gua. O anel de montanhas nã o era tã o alto quanto antes, mas ainda era alto o suficiente para

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proteger a cidade e o lago aninhado dentro das ondas gigantes que pressionavam por todos os
lados.
Dentro do tú nel seguinte, Shinji percebeu o que acabara de ver. “Isso foi Tokyo-3!”
Ele se sentiu sendo levado para mais longe.
“Quatre! Leve-me de volta para onde estávamos!”
Quatre nã o disse nada.
“Quatre!”
Shinji teve o suficiente.
Nã o era essa a pessoa que o matara? Seu cabelo arrepiou quando ele reviveu a memó ria de
seu corpo fervendo sob o canhã o a laser de raios gama da Unidade Quatre.
“Mecha-se!”" ele gritou.
Ele agarrou Quatre pela parte de trá s da gola dela e a empurrou para o lado o mais forte
que pô de. Ela nã o ofereceu nenhuma resistência, flutuando no fluxo do LCL, que estava se
movendo mais rá pido que o normal, a fim de fornecer oxigênio suficiente para dois.
Shinji ainda estava segurando sua gola, e o zíper de seu macacã o rasgou. A garota voou
para o lado, onde, escondida atrá s da tela holográ fica do plugue, colidiu com a parede lateral e se
recuperou. Mas Shinji nã o estava prestando atençã o nela. Ele estava olhando para frente.
Eu tenho que voltar lá!
“Leve-me de volta para onde estávamos!”
Com a mã o direita segurando a seçã o arrancada do uniforme dela, sua extremidade livre
flutuando no LCL, Shinji pegou o controle com a mã o esquerda e o empurrou para frente e para
trá s.
“Volte! Volte!”
Mas o pedido de Shinji ficou sem resposta, e o Super Eva correu adiante através da
passagem misteriosa.

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Capítulo 9:
Equipe de Recuperação,
Acima do Planalto de Deccan

O AVIÃ O DE CARGA entrou em um padrã o de exploraçã o no local onde o Super Eva havia
desaparecido.
Os pilotos colocaram os reatores N2 em modo de espera e direcionaram os sensores
complexos dos aviõ es abaixo, mas Misato sabia que eles nã o encontrariam nada.
O deslocamento do QR Signum nã o deicava vestígios detectáveis pelos métodos atuais.
Enquanto a comitiva debatia o que fazer a seguir, a gigante vermelha, Crimson A1 – que
andava no chã o onde o Super Eva havia desaparecido – pulou de repente no céu e retomou sua
rota anterior.
“Parece que Asuka percebeu que Shinji e a Unidade Um se foram”, disse Misato, “e que nã o
vã o voltar”.
Ela nã o tinha provas concretas, mas ninguém ofereceu um contra-argumento.
“Vamos também.”
Nã o havia mais nada a ser feito aqui.
A equipe espalhou a notícia de que as comunicaçõ es com o Tokyo-3 haviam sido perdidas
e todos estavam ansiosos para voltar. Agora que Asuka-Eva nã o estava mais presa a um parceiro
de voo, ela decolou a uma velocidade incrível. Da mesma forma, o aviã o de carga nã o tinha mais
motivos para voar devagar. Sua enorme variedade de abas semi-abaixadas voltou a alinhar-se
com as asas e ganhou altitude e velocidade.

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Capítulo 10:
A Passagem Ilusória,
Parte Dois

TUDO ESTAVA RECUANDO para longe.


Esse salto de deslocamento foi mais longo que os outros – tempo suficiente para a
impaciência e raiva de Shinji sumirem, deixando-o vazio.
Quando ele voltou a si, notou que a parte superior do corpo de Quatre estava exposta,
tendo derrubado seu uniforme rasgado. Sua bochecha direita estava vermelha e inchada no fluxo
da LCL.
Shinji olhou horrorizado para a mã o que ele usou para jogá -la de lado.
Apressadamente, ele a guiou de volta para ele, entã o saiu do assento do piloto e a sentou
em seu lugar.
“Ayanami”, disse Shinji. “Quatre...”
Ela olhou para frente em silêncio.
A culpa pesando sobre ele, Shinji colocou as roupas de Quatre de volta no lugar, mas nã o
importa quantas vezes ele tentasse, ele nã o conseguia fechar o zíper quebrado. Na tela, flashes de
luz mostravam as curvas graciosas do peito de Ayanami Quatre. Mas a visã o dela apenas aguçou
seu remorso.
“Droga”, ele murmurou. Seu rosto ardia de vergonha. “Se... se você nã o tivesse feito isso,
nada disso teria acontecido.”
Shinji se arrependeu do que tinha feito, mas nã o conseguiu se desculpar. Desistiu do zíper
e fechou a gola com um prendedor.
Suas bochechas vermelhas se moveram com pena quando ela disse fracamente: “Este... é o
futuro que você escolheu”.
“Você poderia, por favor, nã o colocar tudo como minha culpa?”
Só entã o, Shinji percebeu que nã o estavam sozinhos na passagem.
À frente do Super Eva, uma bola de rocha derretida com duzentos quilô metros de largura
voava através do tú nel na mesma velocidade rá pida.
A grande massa vermelha escura seguiu o caminho através do subespaço de baixa
gravidade e quase vá cuo.

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O céu, se poderia ser chamado de céu, era uma escuridã o vazia. Mas tudo na passagem
estava bem iluminado – desbotado, até – como se estivesse sob intensa luz solar. No momento
seguinte, Shinji perdeu de vista a rocha.
Passamos por uma saída? Para onde ela levou?
O tú nel continuou. Aparentemente, a saída deles ainda estava à frente.
Por um momento, Shinji se perguntou se o espaço dentro do tú nel estava se expandindo,
como quando ele lutou com os Victors dois e três, e que talvez ele nã o estivesse se movendo. Mas
o cená rio cada vez mais escasso ainda passava em grande velocidade. Parecia que o destino deles
realmente estava longe.

A pró xima coisa que Shinji soube foi que a rede arterial dominante e emaranhada de
tú neis radiculares estava atrá s deles. Ele sentiu que eles estavam agora em um ú nico tú nel de
mã o ú nica.
E esse tú nel estava se estreitando.

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Capítulo 11:
Equipe de Recuperação,
Acima do Sudeste Asiático

"ASUKA!" Misato gritou. Um raio laser modulado analó gico lançou sua voz na direçã o da
gigante vermelha. “Nã o siga por esse caminho! Vá para a direita – o lado em que você segura seus
pauzinhos!”
Com relutâ ncia visível, Crimson A1 alterou seu curso.
A gigante estava tentando seguir o caminho mais curto possível para casa, sem qualquer
consideraçã o pelas fronteiras nacionais. Cada vez que ela estava prestes a atravessar o espaço
aéreo soberano de algum país sem autorizaçã o, Misato tinha que pegar o microfone e redirecioná -
la.
Tokyo-3 permaneceu silenciosa no rá dio. Enquanto o gigantesco aviã o de carga
atravessava o sudeste da Á sia, eles receberam uma transmissã o, marcada com urgência, do grupo
que havia voado adiante.
Era uma fotografia aérea do que a princípio parecia ser uma ilha na costa de uma grande
massa de terra.
“Onde isso foi tirado?” Perguntou Misato.
Um murmú rio surgiu quando vá rias pessoas chegaram simultaneamente à mesma
realizaçã o.
“Espere um minuto”, disse Toji. “Onde estã o Odawara e Numazu?”
As duas cidades estavam na fronteira entre o Japã o continental e a península montanhosa
de Izu, diretamente ao sul de Hakone. Mas agora as cidades mais baixas estavam submersas e a
península havia se tornado uma ilha encalhada no mar.
Um alvoroço repentino encheu o CIC.
“Quieto!” Misato sibilou enquanto ouvia o resto da transmissã o no fone de ouvido. “Eles
estã o dizendo que todo o limite entre as placas tectô nicas caiu”.
No meio da multidã o, um tripulante gritou: “Mas isso é...”
Impossível, Misato terminou em sua cabeça.
Terremotos eram comuns na regiã o. A Península de Izu subiu no topo da Placa do Mar
Philipino, e a metade oriental da ilha principal do Japã o, Honshu, subiu no topo da Placa

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Americana do Norte. As duas placas se chocavam umas contra as outras, com o maior estresse
localizado ao norte de Tó quio-3.
Mas um mero terremoto nã o causou esse tipo de dano. As placas tectô nicas se deslocavam
sobre um manto muito mais grosso. Afundar as duas placas, como se o chã o tivesse sido
arrancado por baixo deles, normalmente nã o era concebível.
“Em outras palavras”, disse Toji, atordoado, “a fundaçã o foi retirada. É isso que isso
significa? O terreno sob nossa casa está sendo tirado de nó s?”
No fundo do planeta, a massa da Terra estava desaparecendo. Essa foi a causa direta de sua
constriçã o, e Toji testemunhou os efeitos cataclísmicos quando sobrevoou a Eurá sia Central para
esta missã o.
Os cientistas confirmaram primeiro a perda de material transferindo partículas de um
acelerador subterrâ neo. Desde entã o, vá rias instalaçõ es científicas foram equipadas com
sismó grafos para monitorar continuamente a situaçã o em escala global.
Mas de todas as perdas até o momento, este foi o mais pró ximo de casa.
“E Tokyo-3?” Toji perguntou.
Outra imagem mais pró xima chegou. Uma ilha surgiu da hidrovia recém-formada entre
Honshu e a antiga península de Izu.
Toji ofegou. “Esse é... o Monte Hakone?!”
Na parte norte da depressã o, no interior da ilha, havia um conjunto de edifícios brancos
dispostos em um padrã o geométrico e ordenado.
Era a sede de Tokyo-3 e da Nerv Japã o.
A equipe dentro da CIC olhou para a fotografia aérea com expressõ es congeladas. Eles nã o
sabiam se deveriam estar exaltados pela cidade ter sobrevivido ou horrorizada com a destruiçã o
ao seu redor.
O interior da caldeira parecia exatamente como Toji, Misato e os outros se lembravam, mas
seus arredores haviam afundado centenas de metros. Felizmente, a elevaçã o anteriormente alta
da caldeira a mantinha segura.
Como melhor pô de ser visto na fotografia em grandes altitudes, a cidade nã o sofreu
grandes danos. Mas nã o havia dú vida de que a á rea havia sido bastante abalada.
Por mais que a tripulaçã o desejasse poder voltar direto para sua casa, eles ainda estavam
longe. E mesmo quando eles chegaram, que ajuda eles poderiam oferecer?
Murmú rios nervosos surgiram da tripulaçã o tipicamente estoica.
“O terremoto encolheu o lago Ashi”, comentou Misato.

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“Ah, nã o exatamente”, respondeu Toji com uma pitada de vergonha. “Six fez isso quando ela
drenou a á gua.”
Pilotando Eva-00 Tipo-F, a pequena Rei Six havia confrontado a larva de Sandalphon
quando o Anjo se infiltrou no antigo Geofront. Ela atirou o perfurador de campo – também
conhecido como Espinha Dorsal de Anjo – através do leito do lago e inundou o domínio
subterrâ neo.
Misato ainda nã o tinha ouvido. Isso ocorreu enquanto ela estava com Rei Quatre.
“Apenas... o que diabos vocês estavam fazendo enquanto eu estava fora?”
Seu tom exasperado trouxe uma sensaçã o de normalidade de volta ao CIC, e a equipe
parecia um pouco menos em pâ nico e pá lida.
“Mesmo no ponto mais baixo, a cratera ainda fica setecentos metros acima do nível do
mar”, assegurou Toji, para si mesmo tanto quanto todos ao seu redor. “Vai demorar mais do que
uma pequena gota para acabar com a gente”
Nossas famílias estão lá, pensou Toji, e elas ficarão bem.
Mais de oitenta por cento das estruturas dentro da caldeira foram construídas para resistir
a terremotos, incluindo os bairros residenciais de Tokyo-3 - embora a intençã o original fosse
suportar ataques de muitos nã o convidados da cidade. O QG de Tó quio-3 e a Nerv também
possuíam uma rede elétrica independente - uma liçã o aprendida com o cerco que haviam
enfrentado três anos atrá s.
Relató rios adicionais informaram que os aeroportos da baía de Suruga e da baía de Sagami
haviam sido destruídos, seja por colapso da terra ou tsunami, e estavam completamente
inutilizáveis. O grupo avançado estava no processo de escolher um novo local de desembarque.
Este grupo incluiu o outro aviã o de carga de grandes dimensõ es, que continha o mecha
gigante do JSSDF, o Akashima.
O comandante do Akashima, tenente-coronel Kasuga, fez contato com a base em
Hamamatsu e foi informado de que, no pico do tsunami, as á guas da enchente submergiram o
local. Mas um abrigo perto da pista ainda estava funcionando. A pista de pouso pode ser
recuperada.
Depois de voar no meio do mundo, os pá ssaros de metal voltaram as asas para o novo
destino.

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Capítulo 12:
A Passagem Ilusória,
Terminus

O SALTO DE DESLOCAMENTO durou muito tempo e o silêncio se estendeu entre Shinji e


Rei Quatre.
Seus apelos os enviaram nessa jornada a um destino desconhecido, onde ninguém estaria
e ninguém viria.
Dentro do corredor radicular, Shinji tinha dificuldade em perceber o que estava ao seu
redor, mas ele podia sentir que a passagem estava se estreitando.
E assim por diante se estreitou, estendendo-se cada vez mais. Shinji nã o podia fazer nada
além de esperar para ser expulso para algum lugar desolado.
Justo quando ele estava pensando que a estrada devia chegar ao fim, a voz de Kaworu
chegou a ele sem ser solicitada.
Fico feliz que você não tenha saído de seu receptáculo humano... Embora talvez sua situação
atual não exija celebração.
Onde você está? Shinji perguntou.
Kaworu nã o estava realmente no tú nel, mas Shinji pensou que o sentia apontar para o QR
Signum em seu peito.
Você é o ator principal, disse Kaworu, deveria estar no centro das atenções. E ainda assim
você está aqui, embaixo do palco, onde os auxiliares correm.
“O que isso deveria significar?” Shinji exigiu. Em resposta, seus ouvidos começaram a tocar.
Ele percebeu que Kaworu estava rindo.
Era para ser apenas um interlúdio. Você superou minhas expectativas.
A voz de Kaworu começou a distorcer. O zumbido nos ouvidos de Shinji aumentou em tom
e intensidade.
"É … muito forte."
Shinji sentiu que começava a desmaiar.
No instante seguinte, ele era quase ele mesmo novamente.
Ele emergiu do tú nel.

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Para surpresa de Shinji, havia ar de onde ele saiu. Ele assumiu que estava sendo
transportado para algum lugar ainda mais distante que a lua – talvez para algum planeta remoto,
como Vênus ou Marte. Mas nã o, ele aparentemente ainda estava na Terra.
A á rea circundante estava seca e desolada – nã o muito diferente das montanhas do Atlas.
“Kaworu-kun?” Shinji perguntou, mas ele nã o sentiu mais sua presença. Seu amigo de
transmissã o remota sempre conversava em seus pró prios termos.
Uma vez que o zumbido nos ouvidos e a dor no peito diminuíram um pouco, Shinji drenou
o LCL do plugue.
O cabelo e o uniforme de trabalho de Quatre balançavam como plantas aquá ticas em um
aquá rio, mas, à medida que o fluido diminuía gradualmente, eles pressionavam contra a pele dela.
Nã o mais flutuante, seu corpo afundou profundamente no assento.
Enquanto Shinji estava ao lado dela, o peso voltou à s pernas. Ele levantou os calcanhares e
quebrou a adesã o deles ao chã o molhado.

Shinji ejetou o plugue. Quando ele estava prestes a abrir a escotilha, um alarme soou. Era o
sensor ambiental.
“Um aviso de doença descompressiva? Por que isso seria um problema?”
A tela indicava baixa pressã o do ar lá fora – a par da atmosfera no alto de uma montanha
alta.
Uma mudança repentina na pressã o pode ser perigosa, principalmente apó s o tempo gasto
no LCL. Em seguida, a IA anunciou outro perigo – alta radiaçã o – e uma recomendaçã o para evitar
a exposiçã o prolongada. No início, Shinji pensou que ele poderia ter sido transportado para um
antigo local de testes nucleares, um depó sito de resíduos nucleares ou algo parecido, mas de
acordo com o computador, a radiaçã o nã o correspondia a uma fonte feita pelo homem.
Aparentemente, esses eram raios có smicos vindos de cima.
Sem sair, Shinji abriu a escotilha e a luz do sol iluminou a câ mara – mas o ar estava frio. A
pressã o atmosférica era baixa, o céu um preto azulado. Estamos em um platô de alta altitude,
talvez?
Shinji nã o viu a lua inchada em nenhum lugar, mas ele nã o tinha uma visã o completa do
céu, nem sabia que direçã o ele olhava.
Mas algo mais era estranho.
"O Anel Longinus se foi."

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“Super Eva para Comando Mó vel.”
Shinji tentou estabelecer uma conexã o através do transmissor sem fio, mas nenhuma
resposta veio. Ele nã o conseguia pegar nenhuma guia pertencente à rede de aviõ es
estratosféricos. De fato, todos os sinais foram silenciosos.
Shinji desviou o olhar do exterior ofuscantemente brilhante e voltou para a relativa
escuridã o dentro do plugue.
“Quatre”, ele perguntou, “onde estamos?”
Sua resposta concisa veio das sombras. “Um lugar distante.”
“Distante como?” Shinji perguntou, irritado. “Diga-me onde estamos.”
“Em um lugar distante... nã o estamos? Onde é isso?”
“Estou lhe perguntando.”
Essa conversa nã o estava indo a lugar algum. Ele suspirou, sua respiraçã o ficando branda.
É como pegar um trem sem saber para onde está indo… e decidir ficar até a última parada.
Onde eu ouvi isso antes?
Ele estava pensando em quando chegou a Nerv.
Eu fugi, mas Tokyo-3 estava em grande parte bloqueada e não consegui chegar a lugar
nenhum. Eu pulei entre a cidade e o sopé. E foi quando eu conheci Kensuke.
Naquela época, Shinji nã o sabia como lidar com seu Eva e as pessoas ao seu redor. E agora,
Rei Quatre parecia lutar da mesma maneira, exceto que ela também estava lidando com um
dilú vio de emoçõ es desconhecidas e o trauma de ser algemada por Armaros.
No terminal lateral, Shinji entrou no comando para transmitir um sinal de socorro e
murmurou: “Entã o, isso significa que eu sou Kensuke hoje? Que bela mudança de eventos.”
Quatre lançou-lhe um olhar confuso.
Não sabe o que fazer, é? Shinji pensou. Bem, por que você nos trouxe aqui?

Shinji gemeu. “Por quê isso aconteceu?” Para Quatre, ele disse: “Entã o, estamos aqui. Em
algum lugar distante, como você queria. Você está satisfeita?”
“Satisfeita?” Quatre perguntou. “Eu nã o sei como é isso. Quando uma de mim foi dividido
em quatro, fiquei com medo. Eu conhecia o medo. O comandante Ikari se foi. Você nã o me
escolheu. Embora eu nã o tenha percebido isso até aprender a ter medo.”

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Ela estava sentada na cadeira do piloto – nã o por escolha, mas simplesmente porque foi
onde Shinji a colocou – mas o ar frio começou a congelar suas roupas molhadas, e ela se curvou
para frente, tremendo.
“Quero a instrumentalidade”, disse Quatre. “Você foi quem escolheu este mundo para nó s,
Ikari-kun – e sem você, talvez o nosso mundo nã o tenha que acabar. Talvez possamos tentar o
Projeto de Instrumentalidade Humana novamente.”
“Eu entendo agora”, disse Shinji. Ele colocou a mã o em seu peito, onde estava seu coraçã o
antes que ela o derretesse com o laser do Eva.
“Mas eu estava errada”, disse ela. “O gigante preto nã o vai mudar sua decisã o. O mundo
será reconstruído. Mas se eu pudesse te afastar o suficiente – fora do mundo, até… entã o talvez...”
Ela deixou o pensamento sumir e ele preencheu o resto. “Talvez possamos deixar o
apocalipse continuar sem nó s. É isso? E quem sabe, comigo fora de cena, ele pode mudar de ideia
afinal, certo?”
Ela enterrou a cabeça nos joelhos e assentiu.
“Ikari-kun... estou com frio.”
Shinji fechou a escotilha e deslizou o dedo pelo controle de temperatura para aumentar o
calor.

Super Eva atravessou a terra seca. Nã o havia nada verde. A terra subiu e desceu em ondas
marrons monó tonas através do platô aparentemente interminável. Ele nã o tinha GPS – os
satélites haviam se dispersado há muito tempo, devido à força gravitacional enfraquecida da
Terra. A topografia nã o correspondia a nada em seu banco de dados geoló gico e ninguém
respondeu à s suas transmissõ es. Shinji começou a fazer mediçõ es do â ngulo do sol para tentar
obter uma aproximaçã o aproximada de sua localizaçã o. Ele percebeu que algo estava errado.
Mesmo depois de vá rias horas, o sol brilhante nã o se moveu de seu zênite.
O planeta nã o estava girando.

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Capítulo 13:
A Terra Dormente

UMA VEZ QUE SHINJI COMEÇOU a suspeitar que algo estava errado com este lugar, o
mundo de dois tons de colinas do deserto e céu vazio começou a se assemelhar a um surrealista
pintura criada por uma mente desequilibrada.
Nada se mexeu. Isso, por si só , parecia errado. No mínimo, o sol deveria mudar no céu.
Shinji nã o sabia que tipo de perigo esperar, e o Super Eva procedeu com cautela.

Depois de algum tempo, o mó dulo de pesquisa do Super Eva quebrou o silêncio com um
alarme – uma série de bipes curtos que Shinji nunca ouvira antes.
Ou talvez ele tivesse ouvido.
“Espere... acho que ouvi esse alarme durante os testes de conexã o das espadas que recebi
no norte da Á frica”
As duas lâ minas tinham um novo design, com sensores experimentais pendurados em
cada extremidade – um no pomo e outro no final da bainha, perfazendo quatro no total. Ele havia
recebido apenas uma breve visã o geral dos dispositivos, mas cada sensor continha uma matriz de
espelhos de ondas quâ nticas reaproveitados para detecçã o.
Quando o alarme tocou, o automap do Super Eva se abriu para mostrar um alcance de
vinte quilô metros em torno de sua localizaçã o atual. Como ele nã o tinha dados topográ ficos
correspondentes, o mapa havia sido preenchido apenas com suas observaçõ es visuais diretas.
Tudo além do alcance da vista permaneceu em branco, e foi nesse espaço em branco que um
ícone piscou.
“Chegada prevista?” Shinji se perguntou em voz alta. “O que é isso?”
Quem ouviu o sinal de socorro do Super Eva e como eles estavam chegando?
Apreensivo, Shinji desligou o sinal. A princípio, o ícone de chegada ricocheteou em uma
á rea de três quilô metros de largura, mas logo começou a se concentrar em um ú nico ponto.
O alarme emitiu um ú ltimo tom longo e o ícone parou de piscar. Ficou vermelho só lido,
indicando um inimigo.
Ao lado do marcador, apareceu um ró tulo: EVA-0.0 MUTANTE (CONFIANÇA 62%).
“O que?!” Shinji cuspiu, falando com a tela. “C-como você sabe?”

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Até agora, o inimigo sempre foi capaz de derrubá -lo. Shinji queria saber o que havia
mudado, mas -
Eu posso pensar nisso mais tarde!
Shinji se preparou. A designaçã o se referia ao Eva-0.0 de Quatre, que havia sido
corrompido pelo QR Signum de Armaros. Disseram a Shinji que Kaji – agora um receptá culo para
Seele – havia sequestrado a Unidade Quatre.
Ele olhou para a ex-piloto do Eva, mas ela permaneceu em silêncio e sem expressã o. Ele
percebeu que nã o sabia nada do que ela havia passado.
Estranhamente, Shinji sentiu uma espécie de alívio ao ver um inimigo familiar marcado na
tela. Ele começou a se sentir louco, preso naquele lugar onde o tempo era enjaulado, onde o
terreno nunca variava e o sol nunca se movia.
Os atendentes de Armaros – os Transportadores de Anjos, o Eva-0.0 mutante e os Victors –
sempre chegavam sem aviso. Pela primeira vez, Shinji sabia que um estava chegando e poderia
escolher sua resposta. Ele optou por avançar em direçã o ao ponto de entrada do inimigo, na
esperança de encontrar algumas respostas sobre o local em que se encontrava.

Sem hesitar, Shinji reabasteceu o plugue com LCL e, na exibiçã o do mapa, ele cobriu o
caminho mais curto até o alvo que ainda fornecia cobertura e começou a andar.
Eu me pergunto se posso - ele concentrou seus pensamentos nas asas Vertex - pular!
Ele tentou voar baixo pelo chã o.
"Whoa", disse ele. Com o Super Eva indo adiante. Os dedos dos pés do gigante arranharam
o chã o e levantaram pedaços de areia. Dificilmente poderia ser chamado de voo, mas ele estava se
movendo muito mais rá pido do que podia correndo.
Seu peito formigava com o calor. Quanto mais pró ximo o instável QR Signum do chã o, mais
estável era - pelo menos em termos relativos.
“Eu devo ter tido um boa professora”, disse ele, pensando em Asuka-Eva puxando-o.
A gigante vermelha voou livremente, inocentemente.
A princípio, Shinji assumiu que ela havia regredido para algum tipo de estado mental na
primeira infâ ncia. Mas enquanto a observava, percebeu que nã o era o caso. Ela era simplesmente
livre para ser quem ela era por dentro.
Asuka era facilmente fascinada e facilmente surpreendida, mas ela odiava mostrar isso. E
assim ela manteve seu verdadeiro eu escondido, fingindo desinteresse e reagindo com cansaço e
escá rnio.

53
"É claro, eu nunca diria isso na cara dela", disse Shinji, “ou ela ficaria chateada.”
Ele se perguntou se Misato e Toji haviam conseguido convencê-la a continuar voando para
o Japã o.

54
Capítulo 14:
Uma Chance de Reunião no Final

COM SEU VÔ O DE APROXIMAÇÃ O, Shinji se aproximou rapidamente do ponto de chegada


previsto do Eva-0.0 mutante. Ele ficou a quatro quilô metros de distâ ncia, com uma montanha
para se esconder, e estendeu uma câ mera externa logo acima da linha do sul.

A câ mera girou de um lado para o outro e depois parou.


E ali estava, malformado e monstruoso, o mutante parecido com uma quimera.
O canhã o a laser de raios gama do gigante havia se fundido com o braço direito. O motor S 2
do Eva de produçã o em massa tinha sido cortado de seu proprietá rio e encravado no corpo
disforme do mutante. Tinha até asas negras roubadas de um Transportador de Anjo Tipo-3.
Foi isso que a influência do QR Signum fez na Unidade Quatre.
A engenheira-chefe e os sensores da cientista Ibuki haviam funcionado. Embora ela nã o
estivesse por perto para ouvir, ele nã o pô de deixar de elogiá -la. “Maya-san, você é um gênio.”
O gigante monstruoso nã o havia notado a presença de Shinji. Parecia procurar algo.
Movendo-se de um ponto a outro, o Eva-0.0 mutante examinou seus arredores.
“Droga, Toji, por que você nã o poderia ter me dado uma arma?”
Shinji segurou a alavanca de controle de sua posiçã o ao lado do assento do plugue, e sua
atençã o estava totalmente na visã o externa. Ele nã o percebeu quando a expressã o vaga de Quatre
mudou para uma de angú stia.
Quando ela começou a gritas: “Você... você!” Shinji finalmente olhou para ela.
“Quatre?”
“Por quê você está aqui?!” ela gritou.
O transmissor do Super Eva, que deveria responder aos comandos de voz de Shinji, reagiu
a Quatre e soltou seu grito com o có digo de transmissã o atribuído a ela antes de ser designada
inimiga.
O Eva-0.0 mutante virou-se.

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Shinji engasgou. Como ele mudou o Super Eva em uma posiçã o defensiva, ele olhou para
Quatre. “Você nos entregou!”
Mas ela o ignorou. Seus olhos estavam presos no Eva-0.0 mutante na tela.
E entã o ela gritou o mais alto que pô de.
“Trois! O eu que unifica!”
“O que?!” Shinji deixou escapar.
Super Eva percebeu seus pensamentos e deu um zoom com o olho nã o machucado.

Uma figura estava na frente do QR Signum saindo da armadura do Eva-0.0. O, o casaco


preto de Kaji pendia de seus ombros, batendo ao vento.
Quando ele falou, sua voz veio pelo alto-falante.
<< Fantoche do Gendo... Eu pensei que você estivesse quebrada. E quem é esse com você?
Filho de Gendo? Como você sabia que estávamos aqui? >>
Seele havia invadido a mente de Kaji, mas o homem ainda falava com o tom seco e
provocador de Kaji. Poderia ter sido agradável uma vez, mas agora serviu como um lembrete
doloroso para quem o conhecia.
Ouvir o que aconteceu com Kaji ainda nã o havia preparado Shinji para a realidade.
Abalado, ele disse: “Kaji ?!”
Ficando atrá s da montanha, Super Eva circulou em torno da frente do Receptá culo Kaji, e
Shinji viu outra pessoa dentro do casaco aberto de Kaji. Ela usava o mesmo minivestido preto que
Quatre havia tirado de Trois.
“Ayanami?” Shinji perguntou. “Trois, é você mesmo?”
Ela se mexeu fracamente, mas continuou olhando para frente.
Segurando-a por trá s, Kaji sorriu. << É aqui que eu digo: “Você nã o ouviu, Shinji-kun?” >>
“Agora que você é nosso inimigo, a maneira como você fala está realmente começando a
me irritar”, Shinji respondeu.
Mas por dentro, ele estava perturbado. Por que Trois estava aqui… e com o inimigo?

Seele havia manipulado Quatre e assumido o controle de seu Eva-0.0 mutante, mas uma
vez que ela entrou em um estado quase catatô nico no Vale dos Corpos Humanos, o Eva tinha
funcionado mal e caiu.

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Enquanto isso, Rei Ayanami Trois havia se separado de Misato e dos outros para atacar por
conta pró pria. O Receptá culo Kaji a encontrou e a capturou. Ela parecia um dispositivo de
controle totalmente funcional de Evangelion, e isso era tudo o que ele precisava, entã o ele
descartou sua colega quebrada, Quatre. Misato tinha procurado Trois, mas encontrou Quatre e
levou a garota para seus cuidados e proteçã o.
“Trois, você pode me ouvir?” Shinji perguntou. “O Eva é perigoso. Sua contaminaçã o se
espalhará para você também!”
Quando Trois respondeu, sua expressã o permaneceu plá cida, apesar de sua voz vacilar.
<< Eu nã o pude pará -lo, Ikari-kun. E eu também nã o poderia ser transformada em sal. Eu
sou uma marionete. Eu nã o sou capaz de me expressar. Mas se estou aqui, nã o preciso mais
pensar em nada. Entã o… me deixe em paz. >>
Shinji procurou em suas memó rias qualquer coisa que pudesse ajudá -lo a entender sua
resposta incompreensível.
"Ah ...!"
Ele lembrou. Quando confrontou Armaros, Trois ficou angustiada e tentou detê-lo, mas ele
recusou.
Ele tentou explicar. “Eu só estava-”
“Nã o seja ridícula!” Quatre interrompeu. “Você é a minha versã o que tem tudo! Por que
você está agindo como se fosse o fantoche?!”
Rei Ayanami Quatre, que tinha sido como uma marionete com as cordas cortadas, inclinou-
se para a frente, os olhos vermelhos cheios de fú ria, e olhou para a garota que parecia quase
exatamente como ela.
Sua explosã o fez com que os dedos de Shinji quase cavasse em seu peito ainda mais do que
antes, e ele grunhiu de dor.
Ela está ativando o QR Signum dentro de mim?
Uma apó s a outra, janelas de erro apareciam em sua tela holográ fica. Mas desta vez, a força
negra recuou contra suas tentativas de resistir. A contaminaçã o do QR Signum estava se
espalhando.
Mas Quatre nã o havia terminado.
“Quando o gigante negro passou por mim para entrar nos seus clones, você, o eu que
unifica, empurrou seus fardos para nó s.”
O feedback mental fez com que o controle pulasse e se contorcesse, e Shinji se esforçou
para segurá -lo no lugar.

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“Você deu a cada uma de nó s uma peça díspar e incompleta! Six se tornou o eu que é
infantil e egoísta. A Cinq era o eu quem solucionava os problemas, mas ela devolveu isso para
você quando morreu. E-”
“Quatre!” Shinji gritou. “Por favor pare!”
Ele podia sentir o corpo do Super Eva – seu corpo – se aproximando de algum tipo de
transformaçã o.
Mas Quatre nã o se acalmou.
“E você coloca no meu corpo o eu que se encolhe de medo!”
A fú ria dela levou as unhas de Shinji ao peito, e o sangue começou a vazar, dissipando-se
no LCL.
“Você tem tudo!” Quatre gritou.
Como se fosse uma sugestã o, o QR Signum começou a derramar a força negra no Super Eva
com intensidade ainda maior. Shinji pensou que ele poderia manter o poder bruto contido na
escuridã o, mas agora ameaçava correr desenfreado dentro do gigante que havia perdido o
coraçã o.

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Capítulo 15:
Simulação da Terra

UM FEIXE DE BRILHANTE de luz dourada atingiu a montanha á rida, vaporizando a areia


e a rocha. O chã o detonou, como se fosse feito de explosivos.
Shinji contou os segundos. “Dois, três, quatro, cinco...”
Mas quanto tempo, ele se perguntou, deixando a contagem parar até que o Eva-0.0 mutante
recarregasse seu canhão?
“Cinquenta e sete segundos”, disse Rei Ayanami Quatre. Afinal, tinha sido o Eva dela.
“Cinquenta e sete segundos”, Shinji repetiu. Entã o ele estremeceu. “Eu perdi a noçã o.”
“Quatorze, quinze, dezesseis...” Quatre preencheu.
O canhã o a laser de raios gama do Eva-0.0 mutante era a arma de longo alcance mais
poderosa feita pelo homem, e podia perfurar a cordilheira de uma montanha como se fosse ar.
Mas, apesar de todas as modificaçõ es nã o naturais, o Eva mutante ainda nã o conseguia enxergar
através de rochas só lidas. Os sistemas de direcionamento contavam com previsõ es baseadas nos
ú ltimos movimentos conhecidos do Super Eva. Contanto que ele pudesse encontrar cobertura,
Shinji teve a chance de fugir da explosã o.
“Cinquenta e cinco, cinquenta e seis... Agora!” Shinji gritou quando deslizou por outro
cume da montanha. Ele desceu a encosta do outro lado, levantando nuvens de areia. No instante
seguinte, a montanha se abriu à direita e uma tremenda onda de calor roçou a cabeça do Super
Eva. A viga atingiu e explodiu outra elevaçã o arenosa à sua esquerda.
“Saltar!” Quatre gritou. “Nó s nã o conhecemos o terreno.”
O tempo de recarga do canhã o poderia permitir que eles observassem seus arredores.
“Eu estava indo!” Shinji disse com o tom indignado de uma criança sendo importunada
para limpar seu quarto.
Preparando-se para o salto, Shinji plantou os pés do Super Eva firmemente no chã o,
enquanto Quatre começou a extrair energia do QR Signum – a uma taxa muito maior do que Shinji
ainda tinha sido capaz de acessar.
“O QR Signum está conectado a Armaros através da superfície do solo?”
“Sim”, disse Quatre. “Pelo menos acho que sim. Os portõ es da rede de tú neis também
parecem funcionar no chã o. Toda vez que meus pés saíam do chã o, eu podia sentir a fonte de
energia desaparecendo. Você sente isso também, nã o é?”

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Com mais experiência no uso do QR Signum, Quatre já havia conseguido o poder
necessá rio quando Shinji estava pronto para pular. Super Eva arremessou em direçã o ao céu na
nuvem de areia e fumaça que surgira desde o ú ltimo raio laser.
Shinji engasgou. O poder parecia diferente do que ele havia batido no coraçã o do Super
Eva. Era como uma droga.
Com uma tremenda energia, o Super Eva disparou através da nuvem de cogumelos, através
das faixas de nuvens de raios eletrificadas e no céu aberto acima. Pela primeira vez em muito
tempo, Shinji experimentou a emoçã o de voar.
Entã o ele olhou para baixo, com visã o completa de seus arredores. “O vale é inclinado!” ele
disse. "É assim que corre, e entã o…"

Mas a sentença de Shinji terminou aí. A beira do vale levava a… nada.


A terra terminou abruptamente em um céu azul-escuro que desapareceu na escuridã o
abaixo.
O que é este lugar? Shinji pensou. Nada consegue fazer sentido?
Exasperado, Shinji chamou o homem que estava tentando matá -lo. “O sol está parado. O
chã o está faltando. Kaji-san, você pode me dizer o que diabos está acontecendo aqui?! A lança de
Longinus nã o está em ó rbita e a lua inchada se foi!”
<< Nã o há lua aqui. >> Kaji respondeu. A interferência eletromagnética do ar ionizado fez
com que o sinal estalasse e fez seu tom excessivamente casual de alguma forma ainda mais
irritante do que antes. << A lua que estava aqui foi carregada há muito, muito tempo, em rota de
colisã o com a Terra, para fornecer material e energia para formar sua lua. >>
Shinji nã o conseguiu processar o que estava ouvindo. Sua mente se agitou quando ele
tentou descobrir.
“Hã ?” ele deixou escapar confusã o. “Onde estamos? Onde diabos é esse lugar…”
O Receptá culo Kaji continuou, nã o esperando Shinji alcançar. << Pelo que entendi, o
satélite natural nã o tinha massa suficiente por si só . Mas como esse lugar nã o era necessá rio apó s
o término do teste, o material para compensar a diferença foi arrancado dessa terra. É por isso
que parece. E sem lua, este lugar parou de girar. O lado em que estamos agora enfrenta
permanentemente o sol. Isso responde à s suas perguntas? Estamos bem agora? >>
Shinji olhou para Quatre, pró ximo a ele no fluente LCL. Ela franziu a testa e balançou a
cabeça. Pelo menos Shinji nã o estava sozinho em sua confusã o.
“Minha pergunta é”, respondeu Shinji, “onde fica este lugar na Terra e por que é assim?”

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<< Vamos lá , Shinji. Esta nã o é a Terra. >>
“O que?” Shinji ofegou, embora menos de surpresa do que de negaçã o. Esta nã o era a
resposta que ele queria ouvir.
Mas ele sabia que era uma possibilidade no momento em que olhou para cima e viu o céu
sem a presença agora familiar da lança de Longinus.
E, no entanto, ele ainda lutava contra a aceitaçã o.
“Mas há ar aqui. Há gravidade!”
<< Claro que existe. Afinal, este foi o campo de testes do Projeto Instrumentalidade. Nã o
seria uma simulaçã o muito boa da Terra sem ar e gravidade. >> O Receptá culo Kaji parou,
sentindo a confusã o de Shinji. << Ah, entendo. Você nã o sabia. Mas entã o, por que você está aqui
no Nú cleo da Maçã ?>>
“O Nú cleo da Maçã ?”
Super Eva começou a descer, e Shinji rapidamente avaliou o mapa topográ fico atualizado.
Ele estava procurando cobertura atrá s de outra cordilheira, quando…
Boom!
O canhã o a laser de raios gama do Eva-0.0 mutante explodiu as rochas quebradiças da
montanha e enviou uma chuva de areia para o Super Eva. Para manter uma taxa de transmissã o
alta o suficiente, o link de comunicaçã o recíproco usava uma frequência bastante alta, que teve o
infeliz efeito colateral de tornar a fonte de transmissã o facilmente detectável.
“Espera! Simulador? Nú cleo?” Shinji balançou a cabeça para reorientar seus pensamentos.
Ele poderia descobrir o resto mais tarde. Agora, ele tinha uma pergunta. “Se isso nã o é a Terra,
entã o onde está a Terra?!”
Enquanto Super Eva se movia por trá s da cobertura, o Eva-0.0 mutante virou-se
lentamente para ficar de frente para ele. De pé no topo da armadura torá cica do gigante, o
Receptá culo Kaji tirou a mã o direita das sombras do casaco – mantendo a outra mã o em volta de
Trois – e apontou para o céu em direçã o ao sol imó vel.
<< Para sempre escondido do outro lado do sol. Agora você está sobre um espelho da
Terra no lado oposto exato do sol da Terra que você chama de lar. Portanto, se você se deparar
com uma tomada elétrica, tenha cuidado com o modo… >>
Nem Shinji nem Quatre captaram a referência a um antigo filme de ficçã o científica.
O Receptá culo Kaji riu para si mesmo. << Bem-vindo ao Nú cleo da Maçã . Talvez você já
tenha ouvido falar disso com outro nome – o Jardim do Paraíso, o É den – onde a humanidade foi
criada e testada. >>

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“O que, como o mito?” Shinji deixou escapar.
<< Você sabe, eu apreciaria se você parasse de interromper e apenas escutasse. De
qualquer forma, este planeta e sua lua foram agrupados e lançados na Terra. Em outras palavras,
em ú ltima aná lise, a própria Terra é o que mordeu a maçã . Isso nã o é engraçado? >>
Todo traço de humor desapareceu do rosto do Receptá culo Kaji, e ele sussurrou no ouvido
de Trois: “Voe, fantoche de Ikari”.
Rei Ayanami Trois sacudiu, mas logo abriu imediatamente um portã o para a rede de
tú neis. Shinji ainda estava tentando descobrir o que estava acontecendo quando o Eva-0.0
mutante abandonou a luta e começou a afundar no chã o.
<< No seu caminho para cá >>, disse o Receptá culo de Kaji, << você provavelmente notou
que a conexã o com este lugar é fina e fraca. Vou dar uma ú ltima cutucada e depois separá -lo para
sempre. Você vai morrer aqui sem ter como voltar para casa. >>
Shinji se moveu rapidamente, mas já era tarde demais.
No momento em que o Super Eva saltou sobre a linha do cume, o Eva-0.0 mutante já havia
desaparecido.
“Quatre, siga-os!”
“Eu nã o posso! Nã o sei para onde eles foram. Se estivéssemos mais perto, eu poderia ter
sintonizado o mesmo fluxo, mas estamos longe demais.”
Super Eva aterrissou com um baque enviando uma nuvem de areia e poeira.
Shinji levantou o punho, mas nã o tinha para onde direcionar sua raiva. Em vez disso, ele
gritou. “Vamos apenas para casa. Depressa, enquanto ainda podemos!”
Com Rei Trois fora de vista, o temperamento de Rei Quatre diminuiu rapidamente. Mas
Quatre e Shinji estavam em um impasse frustrante desde o momento em que tropeçaram neste
mundo, e Shinji já podia sentir esse impasse retornando.
Ele sacudiu vigorosamente a cabeça para sair dela. Paciência, ele disse a si mesmo.
Acalme-se.
Agora que o alvo da raiva de Quatre se fora, o QR Signum estava facilitando seu ataque à
psique de Shinji. Mas se ele se permitir sucumbir ao medo e à raiva, ainda poderá ser engolido
pela escuridã o da escama negra.

Bem como o coraçã o do Super Eva havia sido roubado de seu peito, a lua havia sido
roubada deste planeta desconhecido.

63
De acordo com o consenso científico predominante, a lua da Terra havia sido formada a
partir dos escombros de uma colisã o com um corpo do tamanho de Marte. Embora a Lua tenha
sido companheira da Terra através dos tempos, a humanidade apenas recentemente começou a
entender o papel vital do satélite na regulaçã o do movimento celestial e da ecologia da Terra.
Nesse sentido, a lua era como um metrô nomo… ou até um coraçã o.
O antigo satélite deste planeta estranho foi o objeto que atingiu a Terra e criou a lua?
Independentemente disso, este planeta perdeu o coraçã o pulsante e ficou quieto. Entã o
Shinji percebeu, seu coraçã o foi roubado também.
Agora todo mundo tinha saído, e o lugar estava silencioso mais uma vez.

Shinji trouxe o Super Eva para a extremidade da terra que ele tinha visto de cima. O céu
azul-escuro escureceu em um rico tom preto-marinho no horizonte e continuou, abaixo da borda
do mundo, até um vazio preto e pontilhado de estrelas.
Se a Terra tivesse sido plana, como se acreditava, a borda do mundo seria assim. Era uma
saliência, e Shinji nã o podia ver o lado de baixo. Mas bem abaixo, uma esfera de nuvens havia se
reunido como se estivesse cercando alguma coisa. Os pés do Super Eva bateram algumas pedras
ao lado e caíram em direçã o à s nuvens.
Quando os pensamentos de Shinji se acalmaram, ele percebeu que algo nã o correspondia.
“Espere um minuto”, disse ele. “Se Seele queria nos deixar aqui para morrer neste planeta
abandonado… Por que ele se deu ao trabalho de nos contar?”

64
Capítulo 16:
O Retorno da Comandante

A BASE DA PENÍNSULA DE IZU afundara cerca de quatrocentos metros e agora era


engolida pelo mar.
A Caldeira Hakone, com a Nerv Japã o aninhado no interior, tornou-se uma ilha encalhada
no meio deste estreito. Quando o grande naufrá gio aconteceu, o chã o girou quinze graus no
sentido anti-horá rio, e qualquer coisa alinhada à s direçõ es cardeais se inclinou. Milagrosamente,
o chã o dentro da caldeira afundou em vez de se inclinar de um lado ou para o outro.
Depois de dois dias agonizantes em Hamamatsu tentando garantir um VTOL, Misato e os
outros finalmente chegaram em casa. Exaltado por ver que Maya estava bem, Misato comentou:
“Pelo menos o chã o nã o tombou. Foi uma boa sorte.”
“Boa sorte?” Maya balançou a cabeça. “Você deve estar brincando. O solo dentro da
caldeira mostrava quatro pontos graus a leste. Isso é muito grande! Estive trabalhando esse tempo
todo para redefinir a estrutura do acelerador de partículas. Você quer me perguntar quantas
portas nã o se abrem porque estã o desalinhadas?”
“Cuide do que puder”, disse Misato com um sorriso apaziguador. “Eu vou resolver a
situaçã o dos suprimentos.”
Apó s o choque inicial, o naufrá gio havia sido suave. Ainda havia muitos feridos, e os
mortos eram numerados em dois dígitos, mas a maior dificuldade que a Nerv Japã o enfrentou foi
a perda de estradas e ferrovias.
Hakone nã o tinha aeroportos e, é claro, nenhum porto marítimo. A preocupaçã o mais
premente era garantir novas rotas de suprimento para o imenso volume de materiais necessá rios
para a reconstruçã o.

Hyuga entrou correndo no centro de comando, usando um capacete e um sorriso alegre.


“Bem vinda de volta!”
Fuyutsuki foi o pró ximo a chegar ao convés do meio. “Você voltou.”
Misato inclinou a cabeça. “Vice-comandante Fuyutsuki. Obrigada por participar.” Ela se
virou para Hyuga. “Estou feliz que você esteja bem também. Entã o, você pode me dizer o que é
essa coisa no lago?”
“Ah. Acho que você já viu.”

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Um enorme objeto semelhante a um ovo apareceu das á guas baixas do lago Ashi. O objeto
era semitransparente, como vidro colorido, com um buraco solitá rio em sua superfície. O buraco
foi entupido por uma enxurrada de detritos e lodo quando o lago foi parcialmente drenado.
Andaimes montados apressadamente ao redor indicavam que, pelo menos, haviam tentando fazer
uma pesquisa.
“Nó s nã o temos ideia”, disse Hyuga. “Exceto... O diâ metro externo é exatamente do mesmo
tamanho da Esfera Cronostá tica no antigo Geofront.” Ele olhou para Maya.
“Isso é apenas conjectura”, continuou ela onde Hyuga parou, “mas se Armaros estava
dizendo a verdade, e este mundo se repetia para os propó sitos do Projeto Instrumentalidade, esse
objeto poderia ser o restante da embarcaçã o que carregava Lilith do mundo passado para o
nosso. Em outras palavras, pode ser a esfera cronostá tica anterior de Lilith.
“Entã o a esfera”, disse Misato, “tem uma concha? Como um ovo?”
“Nó s nã o sabemos. Nem sabemos se isso é um objeto físico ou uma distorçã o estabilizada
no espaço.”
“Antes de começarmos a construçã o do Tokyo-3”, acrescentou Fuyutsuki, “realizamos
imagens subterrâ neas – e subaquá ticas – da á rea circundante, inclusive do fundo do lago. Mas o
que quer que seja, nã o apareceu em nenhuma das nossas digitalizaçõ es naquela época.”
“O objeto é duro”, disse Maya. “Nã o podemos nem dizer se algo que fazemos com isso
causa impacto.”
“O governo japonês enviou uma equipe para realocar o objeto”, continuou Fuyutsuki, “mas
quando o chã o afundou, eles nã o sabiam o que fazer e se retiraram para Matsushiro. Eles foram
embora pouco antes de você voltar. Outra equipe estava pensando em reaproveitá -lo como um
abrigo improvisado, mas seu trabalho está em espera. Eles encontraram um objeto grande em
forma de arco entre o lodo interior, que nos entregaram como 'reembolso', mas… ”
Maya deu de ombros. “Mas nã o podemos fazer nada com isso. É lixo.”

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Capítulo 17:
Compreendendo o Planeta

S UPER EVA VOOU baixo ao longo da borda da falésia, mantendo o drop-off para a direita, até
que ele veio em cima de suas pró prias pegadas no lugar que ele tinha começado. O ciclo levou
dois dias e meio. Aparentemente, essa era toda a extensã o deste mundo.
Shinji pensou em um mapa do mundo pré-medieval que ele vira em um livro de histó ria.
“Acho que as pessoas que viviam antes da Era das Descobertas tinham ideias mais razoáveis sobre
o funcionamento do universo do que isso”.
Shinji parecia estar no topo de uma extensã o plana de terra á rida do tamanho de um
continente, com cerca de cinco mil quilô metros de largura.
“Eu me pergunto se há alguma maneira”, ele murmurou.
Ele nã o pô de deixar de imaginar o que estava sob a saliência do continente, vá rios
milhares de quilô metros abaixo.
“Sinto que posso sentir o cheiro de á gua. Você pode?”
Aparentemente, Quatre achou a observaçã o iló gica demais para valer uma resposta.
Mas, pelo menos, ela parecia cooperar por enquanto. Sem a ajuda dela, Shinji nã o teria
sido capaz de utilizar completamente o QR Signum, e ele nã o teria sido capaz de obter a
configuraçã o da terra sem que ela alimentasse o voo do Super Eva.
Só restavam dois dias de comida e á gua de emergência, mais ou menos. Mas Shinji
esperava que Rei Quatre fosse mais favorável a dar o salto de volta para casa quando sua
sobrevivência estivesse em risco.

Super Eva olhou mais uma vez sobre o impossível precipício. Muito, muito abaixo, estava a
massa nã o identificada, obscurecida pelas nuvens.
O parasita QR Signum aumentou as funçõ es do Super Eva e o Eva começou a reparar
automaticamente seus ferimentos. Shinji percebeu que podia ver mais uma vez com o olho
esquerdo do gigante. Com a visã o totalmente restaurada, ele apertou os olhos. Além das nuvens e
da massa escura, ele viu o contorno fraco, irregular e cor-de-rosa de outra coisa.
Ele percebeu que o continente flutuante, a massa escura abaixo dele e o contorno
vermelho distante estavam todos alinhados no mesmo eixo. De repente, lembrou-se de que Kaji
havia chamado esse lugar de “Nú cleo da Maça”.

67
“Um caroço de maçã ...”
Shinji imaginou um planeta em forma de haltere. Exceto… isso nã o parecia fisicamente
possível. Os asteroides poderiam possuir formas incomuns, mas este era um planeta, com massa
suficiente para experimentar 1g de gravidade superficial. Nessa escala, até as rochas mais fortes
se comportavam como líquido. O planeta se deformaria sob seu pró prio peso e se tornaria uma
esfera.
Mas, supondo que este planeta de alguma forma tenha a forma de uma maçã comida, então
o que eu estou olhando?
Se a á rea escura e coberta de nuvens sob o penhasco era o nú cleo restante, nã o consumido
e semeado, entã o o que Shinji estava vendo ainda mais além?
“O lado oposto do nú cleo”, disse Shinji. “Poderia haver outro continente por lá ?”
Outro continente, com arestas como pétalas de flores.
Se esse lado sempre foi iluminado pelo sol, o outro lado era um mundo de noite eterna?
“Quatre, você acha que poderíamos voar para o outro lado?”
“Qual seria o objetivo?” Rei Quatre respondeu, como se nã o pudesse se importar menos.
“Er...”
Shinji reconheceu que teria que se dar bem com Quatre por enquanto. Mandá -la por aí nã o
o levaria a lugar algum. Ele reuniu seus pensamentos e escolheu suas palavras com cuidado.
“Você queria me levar para o lugar mais distante, certo? Bem, o lugar mais distante pode
estar desse lado, nã o acha?”
Vamos, Shinji. Foi o melhor que você conseguiu?
A sugestã o foi tã o transparente que Shinji se arrependeu de tê-la dito imediatamente.
Mas Quatre respondeu: “Aquele lugar no meio, coberto de nuvens… Há um aumento na
gravidade lá . Nã o é uma atraçã o gravitacional que surge naturalmente da massa reunida, mas da
massa mantida no lugar por alguma outra força gravitacional.”
“O que isso significa para nó s?”
“Se a abordarmos, essa gravidade nos puxará mais forte que a superfície do outro lado do
planeta. E se formos puxados, talvez nã o consigamos sair. Se quisermos atravessar, precisamos
garantir que evitemos o centro.”
Pelo menos ela acha que podemos evitar, pensou Shinji.
“Entã o vamos voar”, disse ele.
“Você está falando sério?”

68
“Sim. Você me ajuda?”
Por um momento – breve demais para Shinji perceber – ela nã o sabia o que fazer.
Mas no final, ela disse: “Tudo bem”.
Desde o momento em que Rei Ayanami Quatre ganhou autoconsciência, ela estava dando
ou recebendo demandas. Foi a primeira vez – inclusive desde quando ela se consolidou com as
outras em Trois - que ela foi solicitada por ajuda.

Quatre mediu as distâ ncias com os sensores ó pticos do Super Eva, embora, mesmo com
todas as funcionalidades, eles deixassem um pouco a desejar. Os sensores de inclinaçã o de fluxo
quâ ntico - os mesmos sensores que previram a chegada do Eva-0.0 mutante - mediram a
distribuiçã o da gravidade excêntrica perto do nú cleo.
O centro coberto de nuvens ficava a pouco mais de 6.300 quilô metros de distâ ncia, e o
continente vermelho do lado oposto tinha aproximadamente a mesma distâ ncia novamente, num
total de cerca de 12.700 quilô metros - quase exatamente o mesmo que o diâ metro da Terra.
Tanto quanto os sensores de Super Eva podiam determinar, a forma do planeta
correspondia à descriçã o de Kaji - uma maçã comida até o centro.
Curiosamente, apesar de grande parte da maçã ter sido arrancada, a gravidade do planeta
e a ó rbita heliocêntrica coincidiam com a da Terra.
Enquanto Quatre calculava uma trajetó ria que os levaria à terra vermelha do outro lado,
sem cair no meio, ela murmurou: “Este continente é como um guarda-chuva de cinco mil
quilô metros de altura. Nã o entendo como isso nã o desmorona.
Entã o, ela acrescentou: “Vamos voar. E nó s voaremos de verdade. Mas nã o há dú vida sobre
isso. Alguma força estranha está agindo sobre todo este planeta.”

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Capítulo 18:
Voo Transcontinental

O VÔ O PARA O CONTINENTE OPOSTO acabou levando vá rias horas de intensa


concentraçã o.
Ao longo do caminho, assim que o Super Eva passou sobre o nú cleo, um espaço entre as
nuvens ofereceu um vislumbre da superfície sombria.
"É um oceano", disse Quatre. “Um oceano esférico.”
Supondo que o Super Eva nã o tivesse acesso contínuo ao poder do QR Signum tã o longe do
chã o, Shinji e Quatre haviam escolhido uma trajetó ria balística, incluindo um sobrevoo ao redor
do nú cleo do planeta para ajudar em sua descida.
“Nã o pode ser”, disse Shinji. “Espere, algo mudou! O que poderia provocar ondas grandes o
suficiente para vermos aqui em cima?”
“Normalmente, a gravidade extrema influencia os organismos a serem menores, mas quem
sabe o que é normal neste planeta. Acelere ao meu comando, Ikari-kun. Estamos prestes a atingir
o ponto mais baixo da nossa trajetó ria. Agora!”
O mais forte que pô de, Shinji empurrou contra a atmosfera superior do Nú cleo da Maçã
com o Campo AT das asas Vertex.
Ele rangeu os dentes. “O Eva… é tã o… pesado!” Mas ele deu o impulso que eles precisavam.
Depois de passarem pelo nú cleo, viram por que a massa terrestre oposta parecia
vermelha.
Foi a mesma razã o pela qual a lua da Terra apareceu vermelha durante um eclipse lunar. O
solo e a atmosfera na beira do sol do planeta, juntamente com as nuvens ao redor do nú cleo,
espalharam os comprimentos de onda mais azuis, deixando apenas a luz vermelha – como a do
pô r do sol – passar para a noite.
Enquanto eles navegavam pela borda do continente, Shinji disse: “Olha Quatre.”
Uma vasta floresta rodeava o lado noturno, com galhos de á rvores estendendo-se para
captar a luz crepitante.
Super Eva se reorientou do outro lado. Eles conseguiram atravessar. Alívio inundou Shinji,
e de repente ele sentiu como se nã o pudesse manter o voo por mais um momento.
O Eva colidiu com as á rvores, derrubando-as e espalhando galhos e folhas. Quando Super
Eva finalmente parou, e Shinji nã o precisou mais se concentrar no voo, ofegou por ar como se

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estivesse prendendo a respiraçã o por um dia inteiro. Ele caiu para frente, depois drenou o LCL do
plugue de entrada e abriu a escotilha.
O plugue deslizou das costas do Super Eva e o ar ú mido e espesso entrou na câ mara.
Sem esperar para realizar a aná lise atmosférica habitual, Shinji respirou fundo. Como todo
o ar aqui nã o caiu no nú cleo da maçã era outro mistério. Quando ele sentiu o cheiro relaxante da
floresta, ele sentiu sua exaustã o derreter.
“Quatre, vamos colocar os pés no chã o.”
A vista lá fora era peculiar. A terra e o céu do lado do sol estavam agora de cabeça para
baixo, e a luz do sol difusa surgia do lado do penhasco, banhando a noite em vermelho e
mostrando as á rvores.
Há algo familiar nessa luz da noite… Shinji pensou.

Saltando da palma do Super Eva, Shinji notou um padrã o geométrico de solavancos no


chã o – regular demais para ser natural. Ele seguiu o padrã o com os olhos. À sombra de uma
á rvore, a vegetaçã o rasgada diminuiu, revelando um pedaço longo e estreito de metal
enferrujado.
“Metal”, disse Shinji. “Trilhos de trem?”
Ele parecia ter encontrado uma linha ferroviá ria abandonada. Ele conseguia pensar em
apenas uma explicaçã o.
“Os restos da civilizaçã o.” Embora ao dizer isso, ele ficou menos certo.
Se ele aceitasse a histó ria de Kaji como verdade, o que quer que fosse neste planeta seria
antigo em uma linha do tempo astroló gica. De maneira alguma um pedaço de aço exposto poderia
permanecer em algo que se aproximasse de uma forma identificável.
Ele caminhou até o trilho vermelho enferrujado e tocou a mã o no metal.
Shinji ofegou quando o chã o começou a sacudir ritmicamente sob seus pés com um ka-
clack, ka-clack. Reflexivamente, ele pegou uma tira pendurada para se firmar.
Ele olhou em volta, confuso.
Ele estava de pé em um trem em movimento.
Ka-clack, ka-clack.

Um homem estava sentado no banco na frente de Shinji. O homem manteve a cabeça baixa,
mas seus ombros pareciam familiares.

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“Shinji”, disse o homem, “você vai continuar?”
A resposta de Shinji veio naturalmente. “Eu vou. Ainda nã o acabou.”
"À s vezes, se mover em uma nova direçã o significa que você nã o é capaz de parar."
"Isso é bom. A ú nica coisa que me incomoda é que nã o sinto que estou avançando.”
“Entendo.”
A luz quente do começo da noite entrou pelas janelas do trem enquanto Shinji
compartilhava uma conversa incomumente tranquila com o pai.
Ele estava começando a esquecer onde estivera antes deste trem. Ele soltou a alça para se
sentar ao lado de seu pai, quando -
Uma mã o agarrou seu braço por trá s, e a voz de Ayanami disse: "Ikari-kun!"
Ele virou-se assustado.
“Quatre?” Seus olhos se arregalaram e sua boca ficou boquiaberta. “Quê?!”
Ele nã o esperava ver Ayanami vestindo um uniforme do ensino médio. Ainda mais
surpreendente, ela nã o era a Ayanami com quem ele esteve apenas momentos antes. Ela era Cinq,
e Cinq estava morta.
Ele a reconheceu imediatamente. Ela era um pouco mais alta que as outras, e seus
maneirismos pareciam um pouco mais maduros. Quando ela olhava para alguém, sua expressã o
carregava um sentimento de urgência. Das quatro Ayanamis, ela era a ú nica capaz dessa
expressã o.
"Cinq?" Shinji disse.
Mas ela morreu tragicamente no espaço solitá rio entre a Terra e a lua. Espere, Trois está
sob o controle de Kaji-san?
Quando Cinq foi morta, suas memó rias atravessaram a vasta distâ ncia e inundaram a
Ayanami primá ria - Trois.
Mas quando Trois estava com Kaji, ela usava um vestido preto, nã o um uniforme escolar.
Além disso, ela nã o agiu sozinha assim. Ela parecia ter se cansado e desistido.
Então, essa é realmente Cinq?
Ela nã o deu tempo para ele lidar com sua confusã o. Antes que ele pudesse fazer outra
pergunta, ela apertou o braço dele com força.
“Você nã o pode ficar aqui! Talvez se seu corpo ainda estivesse no outro mundo, seria
diferente, mas você está aqui. Se você deixar esses pensamentos tomarem conta de você, nã o
poderá sair!”

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A carruagem do trem estava cheia do brilho quente do sol poente, e as rodas emitiam um
som rítmico enquanto passavam por entre as fendas. A cena parecia reconfortante e familiar, sem
sequer uma pitada de perigo. A mente de Shinji estava cheia de lembranças de dias melhores...
Cinq colocou mais força em seu aperto, e a dor tirou Shinji de seu devaneio.
"Veja!" ela disse. “É exatamente o que eu quero dizer. Tente se lembrar de onde você estava
antes aqui. Era um lugar diferente, nã o era?”
Ele abaixou a cabeça em pensamento. “Isso mesmo”, disse ele. “Eu estava com Quatre, na
extremidade de um continente em um planeta estranho. Eu encontrei um trilho de trem
enferrujado...”
Quando ele olhou para cima novamente, Cinq estava dando a ele um sorriso gentil e
maternal, os cantos dos olhos enrugando.
“Vamos nos encontrar novamente, Ikari-kun.”
"Cinq", ele disse, "você está ..."
A dú vida nublou brevemente sua expressã o. Mas entã o ela soltou o braço dele.
Ela virou a cabeça. “Eu nã o sei que forma isso tomará , mas… vamos nos encontrar
novamente.”
Ela olhou para ele, parecendo ter decidido algo.
Dirigindo sua voz em algum lugar além de Shinji, ela disse: “Quatre! O eu à mercê do medo!
Você está perto, nã o está ? Rapidamente, puxe-o de volta para você!”

Entã o o trem se foi. Com um pé à frente, Shinji estava pronto para percorrer os trilhos
enferrujados, enquanto Ayanami Quatre, de macacã o laranja, puxava a mã o por trá s, segurando-o
no lugar. Eles estavam na floresta do crepú sculo eterno.

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Capítulo 19:
O Continente da Noite Perpétua

NO ANEL DO CREPÚ SCULO do continente noturno, a flora assemelhava plantas


fotossintéticas normais, com á rvores reconhecíveis na forma e aparência, pelo menos até ao
ponto onde Shinji poderia ainda confortavelmente chamar de á rvores. Mas mais fundo no
continente, a histó ria mudou.
Lá , Shinji e Quatre encontraram uma floresta silenciosa, cheia de flora branca e vegetaçã o
rasteira - ou, mais provavelmente, algum tipo de fungo. O que quer que fossem, nã o precisavam
de muita luz para prosperar. Embora a floresta nã o estivesse completamente escura. Alguma
vegetaçã o emitia luz, redirecionando-a da borda da plataforma continental ou de alguma forma
criando-a. Ao redor deles, aglomerados de organismos fotossintéticos se aproximavam para
absorver a luz, que vinha em todas as cores diferentes e refletia nas plantas em um brilho suave.
Depois de quatro ataques excruciantes em seu paladar, Shinji encontrou uma fruta
comestível. Ele e Quatre comeram enquanto voavam com o Super Eva pelo continente noturno,
aglomerados coloridos de flora passando por baixo.
A vista lembrava a Shinji um mercado noturno.
"É como se alguém tivesse lançado um feitiço e apagado todas as pessoas de um festival",
ele disse suavemente.
Ele percebeu que Quatre estava olhando para ele e imediatamente ficou constrangido.
“Magia?” ela perguntou.
“Eu apenas quis dizer que a floresta parece festiva”, Shinji gaguejou, “mas ao mesmo
tempo, ainda. Isso é tudo.”
"Ah." Ayanami deu uma mordida crocante na fruta vermelha.
Mas para Shinji, a quietude da floresta parecia mais ausência do que ordem. Ele sentiu
uma presença desconhecida ao seu redor e suspeitou que houvesse mais do que trilhos de trem
enterrados sob essas florestas.

Eles encontraram uma á rvore gigante, bem acima da floresta circundante. Tinha quase
cinco vezes o tamanho do Eva.

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A á rvore tinha milhares e milhares de galhos - pelo menos, era assim que Shinji pensava
nos apêndices - que brilhavam como se fossem inú meras lanternas penduradas. Shinji estreitou
os olhos, sintonizou seus sentidos para comprimentos de onda fora do espectro visual, e observou
que a luz nã o estava sendo produzida pela pró pria á rvore, mas por flores em uma videira
rastejante que colonizara a á rvore estéril.
“No meu lar adotivo, vi uma á rvore brilhante como esta em um livro de figuras com arte
em papel cortado. Mas esta á rvore está morta. Eu me pergunto como era quando ainda estava
viva.”
“O livro de gravuras... Você...” Quatre parou.
“Eu ...?”
“Você gostou desse livro?”
Shinji procurou suas memó rias e depois balançou a cabeça. “Nã o me lembro muito bem. Só
que era assustador, mas bonito.”
“Assustador, mas bonito”, repetiu Quatre. “Assustador” foi a ú nica parte que ela entendeu.
Sua autoconsciência foi motivada pelo medo. Ela virou traidora e até matou Shinji uma vez.
Mas, inesperadamente, o emparelhamento da palavra “bonito” com “assustador” pareceu
repercutir nela. “Entã o, isso deve ser assustador, mas bonito também.”
Enquanto Super Eva circulava a majestosa á rvore - grande o suficiente para fazer as
sequó ias parecerem mudas em comparaçã o - o olhar de Quatre permaneceu paralisado na
espetacular constelaçã o tridimensional de suas luzes.
Entã o, um alarme anunciou uma presença hostil.
Shinji e Quatre se levantaram. O Super Eva caiu de altitude e silenciosamente se
aproximou do alvo.
Desta vez, eles nã o encontraram o Eva-0.0 mutante com Kaji e Trois, mas sim um
Transportador de Anjo, parado como se estivesse escondido no fundo da floresta branca de
fungos.

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Capítulo 20:
Guardião Branco

O GIGANTE BRANCO ficou perfeitamente parado entre as á rvores fú ngicas.


O Transportador de Anjo tinha asas e duas escamas de QR Signum - uma Tipo-3. Mas no
lugar do casulo típico, uma esfera negra flutuava dentro de sua caixa torá cica aberta.
Ocasionalmente, um padrã o de interferência branca brilhava na superfície da esfera.
"Leliel!" Shinji gritou.
Essa era uma forma menor e larval de um anjo que Shinji havia encontrado antes. A esfera
negra era apenas uma sombra. O verdadeiro corpo do anjo existia no espaço imaginá rio e podia
engolir qualquer coisa que caísse dentro dele.
De pé entre as á rvores gigantes, seus troncos como ruínas antigas, o Trasportador de Anjo
permaneceu completamente imó vel. Mesmo quando Shinji se aproximou, o Transportador nã o se
moveu.

Está morto? Shinji se perguntou.


As escamas QR Signum do Transportador estavam intactas, mas eram completamente
pretas e careciam de seu típico padrã o vermelho-escuro.
O anjo dentro - Leliel - engoliu Shinji e Eva-01 quando ele estava no colegial.
Mas este foi o primeiro encontro de Shinji com um Leliel larval. O Transportador de Anjo
que carregava o casulo de Leliel atacou Hakone enquanto Shinji estava morto - depois que ele foi
evaporado pelo laser de raios gama de Quatre e antes de ele renascer como Super Eva.
Apó s seu reavivamento, ele soube que Asuka, pilotando Eva-02, conseguiu empalar o
casulo com a Lança de Longinus - sem saber que a larva dentro era Leliel. O anjo larval engoliu a
lança em seu espaço imaginá rio e imediatamente desapareceu.

Shinji conhecia duas Lanças de Longinus.


A que atualmente circundava a Terra já havia estado na lua. A lança aterrissou ali depois
que Rei, no Eva-00, atirou a arma no Anjo Arael.
A outra havia sido escondida entre as armas usadas pelos Evangelions de produçã o em
massa na batalha na sede da Nerv. Durante as etapas finais do Projeto de Instrumentalidade, eles

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empalaram o Eva-02 com a arma para realizar o ritual de sacrifício. Depois que o Projeto de
Instrumentalidade falhou, a Nerv Japã o se apossou da lança. Essa foi a roubada por Leliel.
A ú ltima foi uma reproduçã o - uma có pia da original feita pela Seele.
Quando a Nerv ainda possuía a lança de Longinus, o comandante Gendo Ikari queria
colocar a lança em algum lugar fora do alcance da Seele, a fim de impedir que iniciassem o Projeto
de Instrumentalidade de acordo com seu pró prio plano. Ele conseguiu encalhar a lança na lua,
mas a Seele havia preparado uma duplicata.
“O que isto significa?” Shinji disse, pensando em voz alta.
Com toda a probabilidade, o gigante preto, Armaros, roubou propositalmente a Lança de
Longinus do Eva-02 - da humanidade. O Nú cleo da Maça nã o seria o local ideal para guardar a
arma fora do alcance da humanidade?
Seele / Kaji havia chegado a este planeta em busca de algo. Entã o ele ameaçou prender
Shinji e Quatre aqui, esperando que essa ameaça os obrigasse a tentar escapar.
“Kaji-san estava procurando por esse Transportador de Anjo”, disse Shinji. “Ele estava
procurando por Leliel. E Leliel segura a lança - a mesma có pia que Seele criou.”

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Capítulo 21:
Um Convite para a Batalha Final

CRIMSON A1 a síntese de Asuka / Eva, deixou a cidade, onde estavam em andamento


,

operaçõ es de recuperaçã o, para visitar a plantaçã o de melancia de Shinji, como havia se tornado
seu há bito. Ela saltou pelo campo, aterrissando ao lado do campo.
Ela se sentou no lado norte, para nã o bloquear a luz do sol, e notou três pequenos pontos
redondos tecendo através das melancias. Rei Six veio regar as plantas, e os três robô s Tipo-N a
acompanharam, junto com os dois golden retrievers, Azuchi e Momo. Mas Asuka / Eva deve ter
pensado que os robô s eram pragas prejudiciais. Ela arrancou um do chã o e jogou-a para longe
com um puxão alto que reverberou pela caldeira. E assim, com uma pequena ajuda da diminuiçã o
da velocidade de escape da Terra, o robô Tipo-N começou sua jornada pelo espaço.
"Nã ã ã o!" Six gritou quando ela correu para os pés de Asuka / Eva. Ela balançou os braços
furiosamente enquanto os cã es latiam em objeçã o. E assim, os outros dois robô s, atualmente com
medo, foram poupados do mesmo destino.

A seçã o mais reta da cordilheira externa da Caldeira Hakone ficava ao longo de sua borda
sul, do Monte Daikan ao Monte Shirogane. Antes de a caldeira ser arrendada à ONU, a á rea era
conhecida por suas rotas pitorescas de direçã o.
Mas agora, Six estava destruindo impiedosamente esses picos com o rifle do Eva-00 Tipo-F,
a Espinha Dorsal de Anjo.
Depois que seu canhã o de barion acelerado por Campo AT aplainou a terra, os engenheiros
da Nerv compactaram o solo com uma fita vibrató ria monomolecular e, quando isso nã o era
suficiente, eles usaram agentes de endurecimento do solo para remodelar o sedimento. Esse feito
de construçã o rá pida transformou a cordilheira em uma pista de quatro mil metros de
comprimento para o que estava sendo provisoriamente chamado de Aeroporto de Daikan.
Mas o novo aeroporto nã o havia terminado a tempo do retorno da comandante Misato
Katsuragi da conferência das Naçõ es Unidas. Em vez disso, sua pesada embarcaçã o VTOL pousou
no heliporto do QG da Nerv, que estava cheio de contêineres e paletes de suprimentos.
O vice-comandante Toji Suzuhara a encontrou enquanto ela planejava.

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“Bem-vinda de volta, comandante”, disse ele. “O Yamato virá de Hiroshima para ser
reformado com nosso reator N2 no final do mês. Vamos fornecer a eles o que estávamos
planejando usar para a usina nú mero 2. Está tudo bem?”
"É um presente generoso, mas com todos esticados por todos esses desastres, exercer
nosso poder como uma bengala só nos levará longe."
“Entã o”, disse Toji, abordando o tó pico principal, “como o Conselho de Segurança reagiu à
operaçã o do euro?”
“Eles aprovaram o plano. O conselho disse que eles ainda estavam restringindo locais para
o lançamento da ofensiva. E eles nos deram algum trabalho a fazer para nos preparar.”
“Isso significa que eles viram evidências suficientes de que a imitaçã o do batimento
cardíaco levará os Transportadores para onde queremos”.
Toji abriu a porta do depó sito, e Misato entrou, mantendo a mã o no boné de oficial para
que o vento nã o o soprasse.
Por outro lado, ela tirou a boné e disse: “Podemos atrair os subordinados de Armaros para
qualquer lugar que escolhermos, e teremos total liberdade para montar a emboscada como
queremos. Se colocarmos a isca, temos certeza de que eles virã o. Pelo menos, temos quase
certeza.”

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Capítulo 22:
O Mundo de Shinji

"EU ENCONTREI VOCÊ ", disse o Receptá culo Kaji.

Usando Ayanami Trois para pilotar o Eva-0.0 mutante, Seele pesquisou o continente
noturno por mais de meio mês antes de finalmente encontrar o Transportador de Anjo de Leliel.
Empoleirado no topo do ombro do Eva, ele segurou Trois na frente dele com um braço e ordenou
que ela se aproximasse do gigante branco. Mas entã o a cautela inata de Kaji - de Kaji, nã o de Seele
- enviou um aviso.
Ele avistou profundamente um lugar onde o Super Eva pisara na vegetaçã o, apesar das
tentativas de Shinji de esconder qualquer trilha.
O Eva disforme bateu as asas e gerou um campo de gravidade para parar rapidamente.
“Filho de Gendo”, disse o Receptá culo Kaji. “Você esteve aqui. Você descobriu?”
Coçando a barba, o Receptá culo Kaji olhou em volta.
Mas nã o havia sinal de que Shinji havia recuperado a lança. O anjo Leliel apenas engolia
objetos. Ele nunca deixa nada voltar. Qualquer tentativa de remover à força um objeto do espaço
imaginá rio certamente mataria o anjo… e borrifaria sangue por toda parte.
O Receptá culo também nã o sentiu o Super Eva em nenhum lugar da vizinhança.
“Fantoche”, ele perguntou, “você sabe o que o filho de Gendo está pensando?”
As bochechas de Trois estavam vermelhas de exaustã o. Ela estava pilotando o Eva quase
sem descanso e estava começando a ficar levemente febril.
“Eu nã o”, ela respondeu sem expressã o.
O Receptá culo Kaji estalou a língua. “Eu nã o sei por que me incomodo em falar com você.”
Kaji encontrou outro passos do Super Eva e tentou rastrear seus movimentos. Ele
terminou de ouvir Trois, mas ela continuou murmurando - talvez devido à febre.
“Nã o sei o que ele está pensando. Ele se distanciava de mim e eu...”
Eu me tornei mais como a mãe dele, ela pensou. Não sei se isso o repulsa, ou se ele está
esperando algo mais de mim. De qualquer maneira, ele não me vê como minha própria pessoa. Mas
o que isso importa? Não é como se eu pudesse contar isso a partir daqui.
“Ele deixou a á rea”, disse Kaji. “Talvez quatro ou cinco dias atrá s.” Ele encolheu os ombros.
“Tudo certo.”

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Com as preocupaçõ es de Kaji abafadas, Eva-0.0 aproximou-se do Transportador de Anjos.
O Eva carregou o canhã o laser de raios gama no braço direito.
“Faça!”
Trois respondeu imediatamente. O Eva-0.0 empurrou seu braço nã o-canhã o em Leliel, e o
Transportador se moveu.
De repente, a cor retornou à s escamas QR Signum aparentemente mortas do
Transportador e despertou. Essa deve ter sido a armadilha.
O Transportador estendeu o braço direito para agarrar o Eva-0.0 mutante. O Eva levantou
o braço do canhã o e atirou.
KRA-KOOM!
Por um instante, a floresta escura de fungos estava tã o clara quanto o meio-dia, e o laser de
raios gama obliterou uma das escamas do QR Signum do Transportador.
O Transportador do Anjo recuou, levando Leliel com ele, e o braço esquerdo do Eva-0.0
mutante deslizou para fora. Agarrado na mã o ensanguentada do Eva estava o eixo da lança.

A Lança de Longinus podia perfurar qualquer coisa e tinha sido a chave mestra para
desbloquear o Projeto de Instrumentalidade Humana.
"É isso", disse o Receptá culo Kaji. “Continue puxando!”
O longo eixo da lança continuou deslizando para fora do espaço dimensional imaginá rio.
“Você me ouviu, gigante preto? Você é apenas uma roda dentada de grandes dimensõ es,
sem noçã o do tempo, sem considerar nenhum elemento que falta no plano original, por mais ú til
que seja. Você tem alguma ideia de quanto trabalho dedicamos a fazer essa duplicata?”
Um som estridente sacudiu o ar. Foi o grito de morte de Leliel.
“Nó s terminamos aqui.”
Rei Ayanami Trois soltou um pequeno suspiro, seu rosto registrando surpresa.
Quando Leliel gritou, de dentro do Anjo apareceu uma mã o, apertada em torno da lança,
depois um braço de aparência forte e um ombro.
“Fantoche!” Kaji gritou. “Pare!”
Ele foi pego completamente de surpresa. Ele rapidamente percebeu o que estava
acontecendo e mudou-se para detê-lo, mas era tarde demais.
“Filho de Gendo!”

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Sangue explodiu de Leliel, e saiu um chifre curvo, depois uma viseira que se abriu para
revelar dois olhos brilhantes.
<< Trois! >> Shinji gritou. << Corte o link do feedback mental! >>
Super Eva saltou do anjo com a mã o esquerda ensanguentada segurando a lança. Em um
momento, seu braço direito foi pressionado pró ximo ao seu lado e, no seguinte, ele apontou uma
espada. A força da lâ mina em movimento rá pido enviou o sangue de Leliel em um arco.
O Eva-0.0 nem teve tempo de levantar seu escudo.
Em outro instante, a lâ mina quebraria o QR Signum no peito do Eva mutante.
Trois gritou quando o Receptá culo de Kaji agarrou seu braço direito e o moveu na frente
do peito. O Eva-0.0 mutante imitava o movimento, bloqueando a lâ mina do Super Eva com o
canhã o de laser de raios gama.
A espada cortou o canhã o em dois e o longo cano de convergência voou para longe.
Mas o canhã o virou a espada do Super Eva - Basara - de lado, e a lâ mina errou por pouco o
QR Signum, rasgando profundamente a armadura do peito do Eva mutante. Um pedaço de
estilhaço voador arranhou a bochecha de Kaji e cortou sua orelha.
Tudo isso aconteceu em momentos. No instante seguinte, o Super Eva havia se libertado
completamente da prisã o do espaço imaginá rio de Leliel. Seus pés bateram no chã o.
Usando seu impulso para a frente, o Super Eva bateu no Eva mutante e o mandou
cambaleando para trá s. O aperto do mutante afrouxou a lança, e o Super Eva pegou a arma e a
trocou com a espada na mã o dominante.
Ele continuou andando - nã o no Eva mutante, mas passando por ele, como um
arremessador de dardos correndo.
“Hora do plano B!” Shinji disse para Quatre. “Espero que você tenha acertado os cá lculos!”
“Nã o estrague tudo, Ikari-kun”, respondeu Quatre.
Super Eva correu para frente e levantou a lança no alto. Ele plantou um pé, inclinou a parte
superior do corpo para trá s e -
<< O que você está fazendo?! >> o Receptá culo de Kaji gritou.
Mas Shinji nã o estava ouvindo. “Vá !”
O Super Eva arremessou a lança com uma velocidade tremenda, e a arma assobiou no ar,
libertando-se facilmente da gravidade do Nú cleo da Maçã . Em um piscar de olhos, a lança de
Longinus desapareceu no céu estrelado.

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<< Filho do Gendo! O que você pensa que está fazendo? >>
“O que estou eu fazendo? Você é que está com uma refém”
Shinji havia decidido que, se falhasse em desativar o Eva-0.0 mutante, jogaria a Lança de
Longinus fora antes que Seele / Kaji tentasse usar Trois como alavanca para retirar a arma.
Foi a decisã o errada.
A Lança original de Longinus estava contraindo a Terra com efeito cataclísmico. Se a
humanidade poderia estar armada com sua duplicata, entã o por que se preocupar com o
sacrifício de uma pessoa?
“Você agiu da mesma maneira quando parou o Projeto de Instrumentalidade”, Quatre
murmurou. “Você só vê o mundo diretamente ao seu redor.”
Ela estava vestindo a roupa de Shinji. Os processos de emissã o atual podem suprimir as
taxas de sincronizaçã o em até 400%. Usá -la impediu que Quatre fosse desencarnada dentro de
Leliel devido a sincronizaçã o excessiva. Tendo se tornado um com seu Eva, Shinji supô s que nã o
poderia mais ser dissolvido, e trocou seu traje pelo uniforme de engenheiro de Quatre.
Se ele estivesse realmente comprometido em salvar a humanidade, ele teria recuperado a
lança no momento em que encontrara Leliel e depois obrigaria Quatre - por qualquer meio
necessá rio - a voltar à Terra.
Mas Shinji nã o tinha feito isso. Assim que ele soube que Trois viria, ele queria resgatá -la.
E esse foi o resultado.
Quatre suspirou. “Viu? Agora você nã o tem nada.”
“Eu nã o quero ouvir isso”, respondeu Shinji enquanto voltava Basara para a mã o direita e
pegava sua outra espada, Kesara, do pilã o do ombro direito.
“Kesara em modo de espera e…. checar.”
“Você sabe, Ikari-kun”, disse Quatre. “Todo esse tempo, eu pensei que você tinha cometido
um erro.”
A câ mara cilíndrica do pilã o se inclinou para a frente e se abriu com um baque alto, e Shinji
desembainhou a segunda espada.
“Espera”, disse ele. “Você tinha pensado?”
“Três anos atrá s, você criou este mundo defeituoso porque era o mundo que você queria.
Nã o foi por engano.”

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Capítulo 23:
Ao Pé da Grande Árvore

"MAS NÃ O DISSE QUE FOI que foi a escolha mais esperta", disse Quatre, parecendo
entender, se nã o aceitar, a decisã o de Shinji.
“Eu sei”, respondeu Shinji. “Quero dizer, acho que sei.”

Nas profundezas da floresta de fungos, no lado noturno do Nú cleo da Maçã , o Super Eva
estava diante de dois gigantes hostis com suas espadas gêmeas sacadas.
Um deles era o Eva-0.0 mutante, anteriormente de Quatre, agora controlado pelo
Receptá culo Kaji e seu refém, Trois. O outro era um Transportador de anjo tipo-3. O ombro do
transportador foi ferido e sua larva, Leliel, estava morta.
Mas o gigante branco ainda estava se movimentando.
“O Transportador derrubou um QR Signum”, disse Shinji. “Kaji-san fez isso? O
transportador nã o se danificou quando Leliel nos tragou.”
“Bem”, respondeu Quatre, “o que quer que tenha acontecido entre eles enquanto
estávamos lá dentro, esse Transportador está obedecendo a Seele agora.”
“Você pode contar?”
“Seele pode controlar as escamas QR Signum pelo toque e, através da escama, ele pode
influenciar o piloto. Foi assim que ele sequestrou meu Eva no Chipre.”

O Receptá culo Kaji chamou. << Você realmente acha que conseguiu me enganar? Você
enviou a lança para uma ó rbita que a trará de volta à Terra em questã o de meses. >>
Atrá s de Shinji no plugue de entrada, Quatre sussurrou. “Ele viu através de nó s… Mas, pelo
menos, ele nã o pode fazer nada sobre isso.”
Shinji permaneceu em silêncio, observando através de uma visã o ampliada na tela
holográ fica. O Receptá culo Kaji ainda segurava Trois em um braço. Ele levantou a outra mã o e
colocou o polegar e o dedo médio contra a artéria caró tida.
<< Você sabe o que acontece depois >>, ele disse. << Eu vou matar essa boneca. >>
Shinji deu um tiro na vertical, mas Quatre colocou a mã o em seu ombro. “Nã o entre em
pâ nico.”

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Ela abriu o canal de comunicaçã o para que suas pró ximas palavras fossem transmitidas.
“Ele nã o pode fazer isso, Shinji. Seele pode acessar o QR Signum e nada mais. Ele nã o pode
controlar esse Eva sem um piloto compatível, muito menos dar um pulo pelos tú neis. Se ele
pudesse, ele teria vindo sozinho.”
Seele riu. << Mas Shinji-kun, filho de Gendo, você realmente acha que a Terra pode dar ao
luxo de esperar a lança terminar sua longa jornada? >>
Essa era, de fato, a maior preocupaçã o de Shinji.
Shinji e Quatre estiveram neste planeta deformado por mais de meio mês. O Receptá culo
Kaji chamava esse planeta de Nú cleo da Maçã , mas ele também mencionara um segundo nome -
que ele havia usado como campo de teste para o Projeto de Instrumentalidade. É den. Embora
essa fosse uma terra estranha, deve ter sido um paraíso comparado à destruiçã o na Terra.
E quã o pior a situaçã o se tornou desde a ú ltima vez que Shinji esteve na Terra?
<< O que acontecerá com o seu planeta é simples >>, disse Kaji. << Quando a lua for grande
o suficiente, ela se aproximará da Terra e beberá a terra e os mares. >>
O que?! Shinji olhou para Quatre surpreso.
“Espere”, disse Shinji. "É esse o…"
Shinji lembrou-se de uma frase que Armaros havia falado através do elo mental das
Ayanamis.
<< Isso mesmo. O Grande Dilú vio. >>

“O Transportador está se movendo!” Quatre assobiou.


O Transportador de Anjo saltou sobre o Eva-0.0 mutante e veio correndo para cima do
Super Eva, empurrando seu cajado para a frente.
Se o que ele está dizendo é verdade, pensou Shinji, o que poderíamos fazer para impedir
isso?
Todos os três gigantes, incluindo o Super Eva, estavam consumindo energia de fontes
idênticas - as escamas QR Signum de Armaros. Era um fato que Shinji achou irô nico - e arrepiante.
Aqueles que receberam uma escama poderiam recorrer a um poder terrível. Em troca, eles
enfrentavam uma corrupçã o gradual, e de vez em quando eram obrigados a falar em nome de
Armaros. Além disso, eles eram livres para agir como aliados ou inimigos. Suas açõ es estavam sob
a preocupaçã o de um ser capaz de criar mundos.

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A ponta do cajado do Transportador do anjo formava duas pontas com bordas afiadas e
irregulares, e o ataque rá pido do transportador, fortalecido pelo escudo do gigante de Campo AT,
quase acertou o Super Eva.
Mas o Super Eva se esquivou de propó sito no ú ltimo minuto para montar um contra-
ataque com suas espadas.
“Mostre-me o que você pode fazer!” Shinji gritou.
Ele aparou a carga do inimigo com a espada da mã o esquerda e cortou com a direita.
A lâ mina se moveu mais rá pido que a velocidade do som, mas ainda assim nã o conseguiu
penetrar no escudo do Transportador de Anjo. No momento em que a espada fez contato, uma
força forte a repeliu.
Shinji grunhiu de surpresa quando o transportador passou por ele e aterrissou no chã o,
espalhando sujeira e derrubando um aglomerado de á rvores fú ngicas brancas e suaves. Shinji
pulou para trá s para conseguir algum espaço.
“Isso nã o deveria acontecer!”
Suas espadas gêmeas, Kesara e Basara, eram codinome “Penetradores de Campo”.
Mas mesmo quando balançavam com todo o poder do Super Eva, as lâ minas nã o haviam
cumprido seu nome.

Shinji olhou para suas espadas através da exibiçã o holográ fica. “Eles sã o muito curvas?”
Uma sub-janela se abriu e a voz de Maya falou através dos alto-falantes do assento.
<< Você desenhou as duas espadas, Shinji-kun. >>
"Maya-san ?!"
<< Esta é uma gravaçã o >>, disse Maya na sub-janela. << Nã o tenho tempo para preparar
um manual de campo para você, mas posso lhe dizer o bá sico. Se as espadas estã o funcionando,
isso é ó timo. Mas se eles nã o funcionarem, coloque-as de volta em suas bainhas imediatamente, e
o sistema tratará disso. >>
Isso foi muito bá sico.
Sem mais nada a fazer além de confiar nas instruçõ es de Maya, Shinji colocou as duas
espadas nos ombros.
“E agora?” Quatre perguntou.
Os olhos de Shinji se arregalaram quando ele percebeu que o Super Eva estava agora sem
armas.

87
<< Ah, mas tenha cuidado, >> acrescentou a voz de Maya. << As espadas precisarã o de 201
segundos para voltar a sintonizar. >>
“O quê?”
Nã o era hora de ficar desarmado por mais de três minutos.
Super Eva agarrou o punho das espadas, mas as bainhas haviam trancado as armas
firmemente dentro; elas nã o se mexiam. Outra nova janela se abriu no visor, desta vez mostrando
um cubo tridimensional junto com uma mensagem técnica demais dizendo que algo estava
acontecendo com o equipamento dele, mas que agora nã o ajudava muito.
Super Eva deixou a Á frica equipado com nada além de espadas e uma ú nica faca. Misato
nã o havia permitido que ele carregasse armas de longo alcance, por medo de que o QR Signum
pudesse fazer com que ele perdesse o controle enquanto sobrevoava algum estado soberano.
Com as espadas trancadas, tudo o que restava era a faca na perna direita. Ele estava
tentando retirar quando...
“Ikari-kun, à sua esquerda!” Quatre gritou.
Quando ele notou o ataque do Trasportador de Anjo era tarde demais. O gigante branco
estava voando em sua direçã o, baixo - e desta vez estava chegando com força total.
Shinji nã o conseguiu sair do caminho a tempo. Ele mal conseguiu trazer seu Campo AT
como escudo.
Mas ele grunhiu de dor quando o Super Eva pegou o equipamento de frente e foi jogado
para trá s, abrindo um caminho de destruiçã o pela floresta fú ngica.

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A princípio, Shinji pensou que as costas do Super Eva haviam se chocado com um pedaço
de terra, mas o objeto abaixo dele se partiu em lascas secas e fibrosas que se espalharam por toda
parte.
Uma raiz da árvore morta?
A á rvore gigante, que era muitas vezes mais alta que um Evangelion, oscilava levemente
com o impacto, e esporos luminescentes do fungo parasita caíam como neve dos galhos.
O Eva-0.0 mutante transmitiu a voz de Kaji.
<< Você gostaria de morrer ao pé da antiga Á rvore da Vida? Era uma das duas grandes
á rvores que representavam esse lugar, você sabe. Seria uma ó tima sepultura, você nã o acha? >>
Diferente do Transportador de Anjo, o Eva mutante nã o mostrou sinais de pressionar o
ataque.

O Receptá culo Kaji havia chegado a este planeta para encontrar a Lança duplicada de
Longinus, mas Shinji a lançou no espaço.
A arma estava viajando rá pido demais para perseguir diretamente, e a rede de tú neis
apenas conectava pontos em terra. Kaji nã o tinha como recuperar a lança agora.
Mas ele ainda poderia tentar forçar Shinji a desistir dos dados da trajetó ria.
Então, por que ele não está se mexendo?
“Cuidado”, disse Quatre. “O Eva-0.0 está consertando a ponta do canhã o a laser onde você
cortou o cano... para que ele possa ser disparado naquele comprimento.”
O canhã o laser de raios gama - quando trabalhava com força total - era a arma mais forte
disponível para qualquer Eva.
É por isso que ele está deixando a luta para o Trans´portador de Anjo.
Shinji fingiu nã o ter notado. “Duas grandes á rvores, você diz? Onde está a outra?”
<< Você nã o viu no centro do continente solar? Aquela quase desapareceu. Pode ter sido a
Á rvore do Conhecimento, mas morreu e caiu há muito, muito tempo. Tudo o que resta é um
pedaço de terra plana onde costumava estar o coto. >>
A Árvore do Conhecimento, o fruto do conhecimento… o fruto proibido?
Eu comeria qualquer coisa que me expulsasse deste paraíso.
Ambos os lados estavam tentando ganhar tempo.
“Vamos ver se consigo equilibrar o placar antes que você pule de volta na luta”, disse Shinji
para si mesmo.

90
O Transportador de Anjo foi o primeiro a se levantar. Mas a posiçã o do gigante branco nã o
era normal.
O ombro esquerdo do transportador já estava danificado. Quebrou quando me atacou?
Super Eva ficou de pé, com a faca na mã o. Mas o transportador manteve distâ ncia. Em vez
de atacar outro equipamento, o gigante apontou seu escudo de poder para o Super Eva e o
disparou como um punho invisível.
Shinji nã o teria visto o ataque se nã o fosse pela ondulaçã o brilhante se espalhando pelos
esporos de fungos.
Super Eva saltou para o lado e, no momento seguinte, a onda atingiu o local onde ele
estava parado. O chã o explodiu.
Shinji olhou de volta para o rosto de Quatre. Ela parecia febril, como se estivesse sob ainda
mais tensã o do que ele.
“Quatre, você está bem?”
“Fiz os cá lculos sobre o que acontecerá quando o Eva-0.0 reparar seu canhã o. Com as
capacidades de convergência e bombeamento a laser nesse comprimento de barril, devemos
estar a uma distâ ncia de trinta quilô metros. Ele nã o será capaz de nos atacar do horizonte. Mas a
curta distâ ncia, o laser ainda gastará um quarto de sua potência má xima. Isso é mais do que
suficiente para ser uma ameaça séria.”
Ela fez uma pausa. Seu peito subiu quando ela respirou fundo o LCL e lentamente a soltou
novamente.
“Este Eva pode atrair poder ilimitado”, disse ela, “mas toda vez que manobramos em
batalha, o QR Signum assume um pouco mais de controle.”
“Eu gostaria de poder dizer '‘nã o se esforce’'”, disse Shinji. “Mas nã o é assim tã o simples,
nã o é? Nó s precisamos desse poder.”

Ao observar as luzes da floresta, Super Eva se esquivou de vá rios punhos invisíveis do


Transportador de Anjos, mas eventualmente leu os movimentos de Shinji e apontou um ataque
diretamente no local onde ele estava prestes a pousar.
Abaixo dele, o chã o explodiu e uma gigantesca folha de rocha voou em direçã o ao Super
Eva. Mesmo com a faca progressiva funcionando com alta potência, a rocha parecia grande
demais para ser esmagada. Ele ainda nã o tinha sido capaz de controlar o escudo de força do QR
Signum, bem como o seu Campo AT, mas no ú ltimo momento, ele concentrou o poder do escudo
na faca e -
KA-CRACK!

91
A rocha se partiu em pequenos fragmentos. Shinji havia descoberto como usar o escudo
como arma, como o Transportador de Anjo estava fazendo.
“Você está pronto para isso?” Shinji perguntou.
Quatre assentiu. “Eu vou te apoiar.”
Os ombros do Super Eva formigavam com o calor desconhecido.
Na pró xima vez que o Transportador de Anjo disparou um projétil de escudo, Super Eva
rebateu com um dos seus - usando a mesma técnica que Shinji havia empregado anteriormente
para gerar seu Campo AT em um ponto remoto.
"Vá !" ele gritou.
Os dois projéteis dispararam pela floresta e colidiram de frente, mas o Transportador do
Anjo era mais forte, e golpeou o escudo de Shinji para o lado.
“Quatre?!”
“Estou perdendo poder!” ela disse. “Está escorregando pelos meus dedos.”
Os ombros do Super Eva estavam ficando mais quentes.
“As espadas!” Shinji percebeu. “O calor vem das unidades de ombro do Super Eva, de
dentro das bainhas de Kesara e Basara. Qual é o status?”
Os olhos de Quatre examinaram a janela do armamento. “Ele diz: '‘processo de moderaçã o
em andamento. Reorganizando a estrutura cristalina da lâ mina.”
O que quer que isso significasse, pelo menos nã o era uma mensagem de erro.
“Acho que essas espadas sã o feitas dos mesmos elementos de induçã o Campo AT que o
canhã o do Tipo F”, disse Quatre, “ou as asas do seu Eva.”
“O que isso significa?”
“O sistema pode ler os dados de quando as espadas nã o conseguiram penetrar no escudo
do inimigo e reconfigurar seu padrã o de campo no local”.
Super Eva estremeceu. Shinji sentiu que seu fluxo sanguíneo havia mudado. Ofegando, ele
agarrou seu peito. O QR Signum agora estava causando dor física.
“Veja?” Quatre disse. “O tipo de campo está mudando.”
VWWMMM.
“Espere, isso é estranho”, disse ela. “As espadas drenam muito poder, mas nã o preciso
direcionar o poder para elas. O QR Signum está espalhando sua energia no sistema de espadas
por conta pró pria. É como se…”

92
O som era como o estrondo da terra, as vibraçõ es como um terremoto de baixa amplitude.
O poder da escama negra inundou as espadas em ondas furiosas.
“Está muito quente!” Shinji gritou. “Algo está errado!”
"É como se a escama estivesse tentando possuir as espadas", disse Quatre.
Um golpe metá lico e alto soou nos ombros do Super Eva, e os dois pularam. Um toque
alegre seguiu, e uma nova mensagem apareceu no visor: REFORJAMENTO COMPLETO.
Os copos cilíndricos se abriram, oferecendo as duas espadas.
Borbulhando de impaciência, O Super Eva cruzou os braços na frente do rosto e agarrou os
dois punhos.
“O que?!” Shinji gritou.
“O que há de errado?” Quatre perguntou.
"O Super Eva nã o se mexeu do jeito que eu disse para ele."
Ele nã o tinha certeza, mas parecia que o Eva havia passado à frente de seus pensamentos
conscientes.
A voz de Maya falou novamente. << Arrefecer as lâ minas para unir a nova estrutura
cristalina. Se você está perto de um rio ou de um grande corpo de á gua - >>
Shinji nã o ouviu o resto. Super Eva sofreu outro golpe direto do escudo projetado do
transportador, mas continuou retirando Kesara e Basara enquanto tombava para trá s.
Super Eva deixou uma faixa de destruiçã o através da floresta de fungos, rolando do
impacto. Shinji mudou o controle sobre as espadas, virando os pommels na vertical e empurrando
as lâ minas em brasa no chã o.

A terra inchou quando o tremendo calor das espadas despejou nela, e a umidade
subterrâ nea da floresta vaporizou instantaneamente. O vapor explodiu para cima, enchendo o ar
com névoa branca.
Apesar de perder de vista o Super Eva, o Transportador de Anjo ergueu seu cajado e pulou
na densa nuvem em busca de sua pedreira.
“Filho de Gendo... o que você fez?” Kaji murmurou.
Um som estridente ecoou do vapor, entã o o cajado do transportador voou para fora da
nuvem e empalou-se no chã o em frente ao Eva-0.0 mutante.
O braço do transportador ainda estava segurando o eixo.
“Ele cortou o escudo?” Kaji se perguntou em voz alta.

93
O Transportador de Anjo foi ejetado da nuvem de vapor e colidiu com as á rvores.
Enquanto rolava, o gigante levantou seu toco encharcado de sangue e jogou um punho invisível
atrá s do outro na névoa.
Super Eva saltou da nuvem, atravessando a parede externa e deixando uma marca preta
em seu rastro. O Eva segurou as duas espadas cruzadas e focou a parte mais forte de seu escudo
no ponto em que as lâ minas se sobrepunham. Ele nã o tentou fugir dos ataques do transportador,
mas simplesmente deu de ombros. Ele fechou a distâ ncia e rompeu o escudo do transportador de
anjos.
Com um grito como metal cortando metal, as espadas cruzadas do Super Eva afundaram
no escudo do transportador, atingindo ambos os lados do pescoço. Super Eva abriu os braços.
Kesara e Basara se cruzaram dentro do pescoço do transportador e, quase como uma
reflexã o tardia, esmagaram a escama QR Signum restante no ombro direito.
As mã os do Super Eva estavam segurando as espadas, mas para Shinji, o poder
sobrenatural de seu pró prio QR Signum parecia alcançar braços negros para manejar as espadas
diretamente.
“As espadas”, Shinji ofegou, sem fô lego. “Eles se sintonizaram muito bem. O poder… eu nã o
posso...”
Ele nã o conseguiu controlar. Super Eva - ou melhor, as duas espadas - queriam cortar
qualquer coisa que se movesse, amiga ou inimiga.
Sem um momento de pausa, Super Eva saltou para atacar o Eva-0.0 mutante, como se nã o
houvesse mais nada que ele preferisse fazer.

O Eva-0.0 mutante pegou o cajado do transportador do anjo do chã o e segurou a arma na


frente de seu corpo. Mas a espada do Super Eva, Basara, bateu no cajado com uma chuva de
faíscas, raspando todo o seu comprimento e entrando no Campo AT do mutante.
O Penetrador de Campo estava em sintonia com o escudo de poder do Transportador de
Anjos, nã o com o campo do Eva mutante, e nã o podia atravessar facilmente. Mas o campo ainda
estalava e lascava quando a arma abriu caminho com uma fú ria assassina. A ponta da lâ mina
avançava inexoravelmente em direçã o ao QR Signum no peito do Eva mutante.
O Receptá culo Kaji estava em uma plataforma em frente ao QR Signum, segurando Trois.
Shinji gritou por entre os dentes quando forçou a lâ mina a parar no ú ltimo momento
possível.
Shinji respirava pesadamente, e a ponta da espada tremia - centímetros do rosto de Rei
Trois.

94
Trois permaneceu imó vel. Com uma expressã o resignada, ela falou.
<< Sim, Ikari-kun. Isso é o que você deveria ter feito em primeiro lugar. Se você tivesse,
entã o você e Quatre - o eu que perde a esperança diante do medo - teriam sido capazes de voltar
para casa, com a lança na mã o. >>
Sobre o que ela está falando? Enquanto Shinji se esforçava para segurar a espada, Quatre
respondeu por trá s.
“Ela está certa. Em vez de jogar fora a lança de Longinus, você deveria dirigi-la através de
Trois, o eu que unifica.”
<< Sim. Me mate agora e corrija seu caminho. Eu posso aceitar isso. Eu nã o sou nada. Eu
sou menos que nada. Eu sou um obstá culo. Eu quero que você faça. >>
“Ela está certa”, disse Quatre. “Se algo estiver no seu caminho, você o elimina. Meus outros
eus chegariam à mesma conclusã o.”
Os ombros de Shinji se ergueram quando ele lutou contra a espada. Se ele perdesse o foco,
a arma mataria Trois e Kaji em um instante.
"“Calem a boca”", ele resmungou. “Vocês duas!”
O campo AT na ponta da lâ mina retumbou. Como elas podem tão facilmente me dizer para
matar, quando estou lutando tanto para não? Como Trois pode me olhar como se isso fosse uma
coisa sensata a dizer? E quanto a Kaji-san?
O Receptá culo Kaji segurou Trois na frente dele enquanto ele ouvia a conversa com seu
mesmo sorriso maldito.
“Kaji-san”, disse Shinji, “solte Trois e o Eva. Ou fique com o Eva, se quiser. Apenas deixe
Trois ir. Por favor.”
<< Nã o é isso que as bonecas estã o dizendo. >> Kaji disse e riu. << Você nã o acha que
todos deveriam entrar na mesma linha? Suponho que poderíamos decidir por maioria de votos,
mas acho que nã o seria do jeito que você quer. >>
O Receptá culo Kaji olhou para o braço direito do Eva-0.0 mutante. A ponta do laser de
raios gama serrado estava quase reparada.
Trois falou. << É apenas uma questã o de tempo, Ikari-kun, antes de eu... me tornar sua
mã e. >>
Isso de novo não. As sobrancelhas de Shinji franziram. Rei Quatre já o havia emboscado
com esse assunto uma vez.

95
Trois continuou. << Quando isso acontece, nã o consigo imaginar ser capaz de afirmar que
sou uma pessoa diferente dela. Nã o quando nã o consigo ver quem sou. >>
Sobre o que ela está falando?
<< Eu nã o quero ser assim. Quando chegar a hora, acho que nã o existirei mais. >>
Suas palavras ofenderam Shinji. “Olha, eu direi isso o mais claramente possível. Nã o vejo
nenhuma de vocês como minha mã e. Tudo certo? Quando Quatre disse algo pela primeira vez,
admito, senti algo. Mas isso foi só porque...”
Trois o interrompeu. << O vestido que você me deu… Era a cor favorita dela. >>
“Me desculpe. Nã o pensei muito em como isso seria do seu ponto de vista.”
<< Você estava me dizendo para me tornar Yui Ikari. >>
“Isso nã o é verdade!” Shinji gritou.
Trois ficou em silêncio.
Shinji abaixou a cabeça e balançou para frente e para trá s no LCL. “Apenas me escute.
Asuka e todos os outros... Eles gostam de escolher presentes. Eu nunca sei o que escolher. Mesmo
pensar nisso faz minha cabeça doer! Tudo que eu queria era te dar uma coisa… nos dar a chance
de nos conectar. Você tem que ser tã o crítica?!”
Sempre que ele pensava demais em alguma coisa, outras pessoas sempre acabavam se
intrometendo. O Shinji de três anos atrá s - Shinji, de catorze anos - consideravam esse tipo de
interaçã o social uma intrusã o indesejada.
Ele fez muito progresso descartando esses sentimentos para revivê-los agora. Revisitá -los
o fez sentir ná useas... e raiva.
“Você acha que falta algo que a defina”, Shinji retrucou. “Bem, eu nã o sei o que é isso.
Talvez você realmente nã o tenha. Mas pare de supor que eu - ou qualquer outra pessoa - saiba o
que me define. Eu nã o!”
Ele estava apenas desabafando, mas suas palavras afundaram. A expressã o dela mudou.
“Você tem razã o, eu nã o sei o que é... E você também nã o sabe?”
Nublado de raiva demais para notar seu turno, Shinji gritou: “Isso mesmo! Eu nã o sei! Nã o
sei o que as outras pessoas estã o sentindo! Nã o sei o que estou perdendo!”
“É ... isso é verdade? Aquilo que eu nã o entendo. A parte que falta eu nã o posso ver. Nem
todo mundo pode ver isso em si?”
“Nã o! Como eles podem?!”
Simultaneamente, as duas Ayanamis disseram: “Ah ...”

96
“Fogo!” Kaji ordenou pelas costas de Trois. A garota estremeceu, e os mú sculos do braço
do Eva mutante gemeram. O canhã o de laser de raios gama encurtou na direçã o do Super Eva e
disparou.
No mesmo exato momento, o Super Eva bateu o ombro direito no Eva-0.0 mutante,
balançando Kesara para cima. O braço de canhã o cortado navegou pelo céu, borrifando sangue
atrá s dele, e o laser rugiu passando pelo Super Eva, atingindo a Á rvore da Vida.
Trois ofegou. Pela segunda vez, ela sentiu o braço do Eva ser cortado, como se fosse seu.
Ela estava entrando em choque, incapaz de gritar.
"Ayanami!" Shinji gritou para Trois. “Da pró xima vez que eu der uma coisa, vou encontrar
uma cor que combina com você. Eu juro!”
Atingido pela dor, Trois perdeu o foco. O Campo AT dela estava permitindo que ela e Kaji
permanecessem no lugar no Eva em movimento, mas agora esse campo enfraqueceu e a colisã o
do Super Eva inclinou a pequena plataforma sob os pés deles. Eles caíram precariamente perto da
borda.

O LCL dentro do plugue do Super Eva parou de fluir. Apó s um momento de confusã o, Shinji
percebeu que o plugue de entrada estava escorregando das costas do Super Eva. Ele se virou e viu
Quatre abrindo a escotilha.
Antes que ele pudesse perguntar o que ela estava fazendo, ela pressionou os lá bios nos
dele. O rugido do LCL ejetado desapareceu em um momentâ neo silêncio.
“Você também pode me ver como parte de Ayanami”, disse Quatre.
“O que você está fazendo, Quatre ?!” Shinji falou.
Ela saiu do assento e se levantou. Ela estava segurando o braço dela, o rosto contorcido de
dor.
“Estou sincronizada com Trois agora”, explicou ela. “Eu disse a mim, quero dizer a ela, o
caminho de volta para casa. E a trajetó ria da lança duplicada.
“O que você está dizendo?”
O Eva-0.0 mutante ficou parado, encostado no Super Eva.
Embora os dois Evas estivessem se tocando, eles ainda estavam vertiginosamente altos do
chã o. No entanto, Quatre saltou agilmente para a plataforma intitulada.
Ela se aproximou de Trois e disse: “O eu que unifica, a que está no controle - fecha meu
acesso à s memó rias da lança duplicada. Afaste meu conhecimento da trajetó ria da lança.”

97
“O que você pensa que está fazendo, boneca quebrada?” disse o Receptá culo Kaji,
agarrando-se à beira da plataforma.
Quatre ainda estava usando o plugsuit de Shinji. Usando os controles internos, ela instruiu
a unidade de telemetria médica a injetar um sedativo em seu braço, para que ela pudesse
absorver toda a dor causada pelo feedback.
Entã o, para Kaji, ela disse casualmente: “Seele, eu vou com você. Poderíamos matá -lo
agora, mas tenho alguns conhecidos que nã o querem que seu receptá culo morra.”
Trois estava lutando para se levantar. Ela olhou fracamente. “Por que você está fazendo
isso?”
“Este Eva-0.0 era meu em primeiro lugar, e eu quero de volta. Volte para casa em Tokyo-3
com Ikari-kun. Nã o podemos pô r um fim nisso com vocês dois presos aqui.”
“Um... fim...” Trois repetiu. “Se o pior acontecer, o eu que está satisfeita... quero dizer...
obrigada.”
“Chega de correr, o eu que nã o percebe que está realizada.”
As duas garotas chegaram a um acordo.
Super Eva finalmente se libertou da maldiçã o em suas espadas. Ele estendeu a mã o para
pegar cuidadosamente as duas Ayanamis, mas quando sua mã o se aproximou, Quatre empurrou a
agora Trois pela borda. Shinji rapidamente a pegou.
Ele agarrou Kesara, e a lâ mina caiu com a ponta no chã o.
Antes que a espada tivesse tempo de cair, o Eva mutante já estava afundando na rede de
tú neis. Shinji correu para a escotilha da entrada, inclinou-se e gritou: "Quatre!"
Ela se virou para olhá -lo, mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, o gigante
deformado, carregando Quatre e Kaji, foi engolido pelo chã o.

"Trois!" Shinji chamou da escotilha. “Você está bem?”


Ela nã o respondeu. Ela estava enrolada na mã o do Eva, com os braços em volta dos
pró prios ombros, olhando para o terreno onde o Eva-0.0 mutante havia desaparecido.
Preocupado, Shinji desceu até ela.
“Vamos para casa, Ayanami.” Ajoelhou-se e acrescentou: "Trois?"
Foi quando ele viu algo que nunca esperava ver.
Sua expressã o em branco havia se quebrado. Ela estava chorando.

98
Capítulo 24:
As Pessoas Deixadas para Trás

OBJETOS EM TODA PARTE na Terra já nã o estavam se movendo como deveriam.


As pessoas notaram pela primeira vez quando o nú mero de acidentes de trâ nsito começou
a disparar. As coisas cotidianas, dos carros à á gua da torneira, começaram a girar ou parar e
começar, de maneiras novas e imprevisíveis.
Incapazes de dispersar sua energia cinética, as ondas do oceano começaram a chegar mais
ao interior e mais longe do que se pensava ser possível. A causa foi a física simples. Entre a perda
de massa da Terra e sua circunferência cada vez menor, a gravidade enfraqueceu-se
notavelmente.
Como consequência, apesar da urgência que sentiam em seus coraçõ es, os humanos agora
eram forçados a desacelerar.

Na Caldeira de Hakone, agora encalhada geograficamente no estreito onde costumava


estar a península de Izu, os suprimentos começavam a chegar pelo aeroporto de Daikan,
construído à s pressas, e os esforços de reconstruçã o estavam finalmente tomando forma.
Super Eva e Shinji ainda estavam desaparecidos, mas eles sabiam que estavam vivos. Um
dia, cerca de meio mês antes, a pequena Rei Ayanami Six repentinamente soltou um gritinho,
como se alguém tivesse colocado uma ameixa em conserva na boca e ela fez um anú ncio surpresa.
“Ikari-kun está comendo uma fruta azeda com Quatre.”
O elo mental das Ayanamis só estava esporadicamente presente, devido a um mau
funcionamento ou à sua nova autoconsciência. Essa reconexã o momentâ nea deu a Six o
conhecimento de que Shinji e Quatre estavam juntos - mas nã o onde.
Ainda assim, mesmo sabendo que eles estavam lá fora em algum lugar, vivos, eram boas
notícias.
Talvez da pró xima vez Six possa localizar o par, e uma equipe de busca possa ser enviada.
Mas quando alguém perguntava a Six sobre Ayanami Trois, que o Departamento de
Inteligência de Segurança nã o havia encontrado apó s seu desaparecimento no norte da Á frica, a
garota sempre dizia que nã o ouvira nada.
E ela sempre acrescentou: “Acho que ela se fechou”.

99
Um local na Rú ssia foi escolhido para lançar a contraofensiva contra os inimigos da Terra,
e os militares do Euro liderariam o ataque. Mas a composiçã o exata da força multinacional ainda
estava no ar e, consequentemente, uma data ainda nã o havia sido escolhida.
A Crimson A1 - a síntese de Asuka / Eva - ainda nã o mostrava preocupaçã o com os
assuntos da sociedade. Ela circulou os céus sobre a sede da Nerv lentamente, como se estivesse
dando um mergulho preguiçoso.
“Como ela está fazendo um som tã o bom?” Maya Ibuki perguntou.
A cientista principal estava falando sobre o zumbido dos flutuadores gravitacionais em
cascata que deram o voo para Asuka / Eva.
Asuka voou para a lua, cortesia das asas angulares e mecâ nicas do Allegorica. Agora essas
asas tinha fundido com reatores N2 do Eva em uma forma muito mais compacta como parte dos
cabelos da gigante. O drone á spero e dissonante das asas do Allegorica fora substituído por um
belo refrã o que se harmonizava com o vento.
As asas deveriam ter perdido eficiência na transformaçã o, mas foram mais eficazes do que
nunca. Se este tivesse sido o produto de algum poder além da compreensã o humana, Maya talvez
nã o tivesse se incomodado, mas as asas foram criadas por meio da inovaçã o humana,
conhecimento tecnoló gico e cá lculos rigorosos. Para um truque barato, miniaturize as asas e
torne-as mais eficientes, do ponto de vista de um engenheiro -
“Inaceitável.” Maya revirou os ombros com um suspiro frustrado.
É assim mesmo, ela disse a si mesma.
Nos campos relacionados ao Eva, saber quando deixar ir era de vital importâ ncia.
Inú meras figuras distintas se esgotaram tentando decifrar um quebra-cabeça indecifrável.

Maya entrou na gaiola onde a equipe de engenharia estava dando os ajustes finais no
sistema Allegorica do Eva-00 Type-F. O trabalho fazia parte da preparaçã o da Nerv Japã o para seu
papel na contraofensiva, mas o desenvolvimento do sistema era do interesse deles de qualquer
maneira. Atualmente, a sede da Nerv nã o tinha outro Eva à sua disposiçã o.
A configuraçã o do Tipo F transformou parte da estrutura do corpo do Eva em uma
plataforma especializada em armas. Notavelmente, o Eva estava sem uma perna, o que restringia
seu movimento. As asas Allegorica compensariam isso.
A Nerv Japã o poderia ter recuperado remotamente o Eva-0.0 de Six da ó rbita, ou enviado
um piloto até ele, mas o Eva teria que ser reformado para uso em terra da mesma forma. Além
disso, Six foi atribuída ao Eva-00 Tipo-F de qualquer maneira.

100
Enquanto a Crimson A1 flutuava preguiçosamente acima, as asas do híbrido Asuka / Eva
inspiraram o design do Eva-00.

Asuka / Eva havia chegado em casa com nada além de um ú nico livro azul.
Shinji dera a Asuka o livro, uma coleçã o de fotografias da vida marinha, para ajudá -la a
passar o tempo em sua missã o de reconhecimento na Lua. Durante a síntese entre Asuka e seu
Eva, apenas o livro manteve sua forma original, embora um grande volume de dados tenha sido
escrito em suas pá ginas.
No centro de comando, Maya apresentou um relató rio sobre a aná lise do livro por sua
equipe, com a tela principal fornecendo ajuda visual.
“É claro”, dizia a cientista-chefe, “Asuka nã o escreveu esses dados manualmente. O livro
dissolveu-se no caó tico fluxo de informaçõ es e foi reconstruído, incorporando os dados em suas
pá ginas. Agora, o conteú do desses dados foi escrito no que só pode ser chamado de um novo
idioma, criado pelo subconsciente de Asuka. A pró pria linguagem muda à medida que avança, o
que dificulta a traduçã o.”
De tudo o que Misato, Fuyutsuki e Toji haviam aprendido com a jornada de Asuka -
incluindo que a expansã o da lua se devia a Armaros retirando matéria das profundezas da Terra e
depositando-a na lua - o livro era a parte que eles tinham mais dificuldade para entender.
“Os dados incluem, de forma compactada, as coisas que Asuka testemunhou em seu
destino final no outro lado da lua”, explicou Maya.
A imagem na tela principal mudou para uma reconstruçã o 3D das memó rias de Asuka e
dos dados do sensor do Eva-02. Uma enorme estrutura azul feita de muitos cubos estava
semienterrada na superfície lunar.
Misato tinha visto a mesma coisa na Á frica.
“A Arca?” ela perguntou.
“O que?!” Toji ofegou. “Essa é a arca?”
Gotas de luz se acumularam na superfície da estrutura, deslizaram até o solo lunar e
assumiram a forma de um pequeno anjo. Uma massa dos braços de Transportador de Anjo brotou
do chã o, agarrando-o.
“O que, essa é a principal base do inimigo?” Perguntou Misato.
Maya balançou a cabeça “Foi o que Asuka pensou. Se ao menos fosse. A estrutura nã o
contém apenas as informaçõ es dos Anjos. Armazenados dentro desses cubos estã o os dados de
tudo o que é necessá rio para começar o nosso mundo. Quando Asuka levou seu Eva para dentro,
ela foi absorvida por ela. ”

101
“Os dados para tudo?”Misato repetiu.
“O que você viu naquela noite na Á frica?” Perguntou Maya.
Misato lembrou daquela orgia de evoluçã o de uma noite.
No começo, um gigante confuso, nã o identificável como Asuka ou Eva, passara por Misato,
e entã o as colossais formaçõ es rochosas começaram a se transformar.
“Formas de vida de todo tipo surgiram da superfície”, disse Misato.
“Enquanto a consciência de Asuka foi engolida por esse enxame de informaçõ es”, disse
Maya, “ela escreveu uma ú ltima nota explicando a verdadeira natureza da Arca. Se é um fato ou
sua conjectura, nã o posso dizer. Mas foi o que ela deixou para nó s: 'A Arca contém os dados salvos
de toda a vida, para que cada tentativa do Projeto de Instrumentalidade ainda sem êxito possa ser
feita em dezenas de milhares de anos, em vez de centenas de milhõ es’.”
O gigante preto Armaros fez seu pronunciamento pelas vozes das Ayanamis, enquanto na
Europa muitas pessoas - nã o muitas, mas o suficiente - ouviram a voz de Armaros dentro de suas
cabeças e repetiram sua mensagem. Nomeadamente, uma grande inundaçã o limparia o palco
para que a pró xima cortina pudesse subir.
Uma interpretaçã o dessa mensagem foi a de que a Terra continuava perpetuamente em
direçã o ao cumprimento do Projeto de Instrumentalidade, como uma pilha de rochas que
tombam apenas para serem reconstruídas novamente, pedra por pedra. Mas a nota de Asuka
sugeria outra coisa.
“Bom Deus”, disse Fuyutsuki. “O caminho da evoluçã o nã o é natural para o nosso mundo
atual, mas uma reconstruçã o abreviada de algum passado distante. Por que, de repente, sinto que
tudo à nossa volta é uma pintura fosca em um set de filmagem? ”
“Por que há outra na lua?” Hyuga exigiu.
“E o que?” Aoba o seguiu. “Da pró xima vez, a lua será a Terra?”
Toji lembrou-se de outra coisa enquanto olhava o conteú do do livro. Em sua breve reuniã o
com Hikari, ela disse a ele: “Mas em meio a essa confusã o, a alma de sua mã e tentou protegê-la
substituindo partes do Eva por partes que eram Asuka”.
Então, ele pensou: Soryu não apenas passou pela cortina Longinus, mas tentou deixar um
registro de tudo o que via na lua.
“Maldita exibida.”
Ah merda, eu disse isso em voz alta.

102
Todos os adultos se voltaram para ele com expressõ es confusas, mas ele seguiu em frente.
“Vamos dizer que nã o podemos fazer nada sobre esse mundo inédito por enquanto. Que tal
separar Soryu e o Eva?”
A pergunta estava na mente de todos, mas todos tinham medo de perguntar.
Maya respirou fundo e balançou a cabeça. “Nã o parece bom. Até onde sabemos, ela ainda
carrega as informaçõ es para um nú mero significativo de organismos. Mesmo apenas do ponto de
vista de dados brutos, o Magi-2 ainda nã o foi capaz de separar todos eles.”
“Fiquei com a impressã o de que tudo havia deixado durante esse tumulto”, disse Misato.
“A maioria permaneceu adormecida e nunca veio à superfície, mas eles influenciaram sua
estrutura genética. O DNA dela é uma bagunça completa.”
“Existe algo que possamos fazer?” Perguntou Misato.
Maya pensou por um momento. “Vamos entrar em contato com a Nerv EUA. Eles estã o
trabalhando na modificaçã o genética de candidatos a piloto, a fim de criar pilotos que os
Evangelions considerem dignos”.
“Que tipo de modificaçõ es estamos falando?”
“Nã o conheço os detalhes, mas isso tem algo a ver com a simplificaçã o dos padrõ es de
pensamento compartilhados entre o Eva e seu piloto. Eles estã o unindo o DNA animal em ambos.”
“O comandante Ikari conhecia esse projeto”, interrompeu Fuyutsuki. “Em teoria, a
modificaçã o genética poderia reduzir drasticamente os requisitos do piloto. Mas também traz um
alto risco de produzir algo que nã o é mais humano. As características dos animais contribuintes
podem subir à superfície. Potencialmente, essas manifestaçõ es podem levar a um melhor
desempenho de combate, mas Seele nos proibiu de explorar as possibilidades. Eles alegaram que
nã o se podia contar com esse piloto para desbloquear o Projeto de Instrumentalidade.” Ele
franziu a testa. “Eu ouvi que a filial dos EUA se dispersou apó s o fracasso da Unidade Quatro”.
“Essa foi uma histó ria para acobertar.”, explicou Aoba. “Fora dos holofotes, eles continuam
vá rios projetos, usando fundos e recursos do governo federal. Eu nã o ficaria surpreso se as razõ es
que eles deram para o fracasso da Unidade Quatro também foi algo para acobertar. Se o pú blico
americano soubesse que a Nerv estava transformando DNA de animais em humanos, os grupos
religiosos nã o se calariam. Meu palpite é que Nerv aproveitou o acidente e aproveitou a
oportunidade para ir à clandestinidade.”
“Mas nã o estamos falando em colocar genes animais”, disse Misato, “estamos falando em
tirar Asuka.”
“Inverta o processo, você quer dizer.” Maya assentiu. “Uma noçã o atraente, nã o é? Bem,
qualquer que seja o processo, estaríamos começando a pesquisa do zero, para que pudéssemos
ver até onde eles chegaram. Enquanto estamos nisso, devemos pedir aos europeus que

103
compartilhem sua imitaçã o da tecnologia dos batimentos cardíacos. Nã o seria muito difícil
replicar por conta pró pria, mas por que enfrentar o problema se nã o precisamos?”
“Você faz parecer que estamos saindo para pegar pizza e ramen. Nã o tenho certeza de que
será assim tã o fá cil.”
“Perto da Arca, na lua, Asuka encontrou um caminhã o alemã o com espelho de ondas
quâ nticas que desapareceu da batalha em Hokkaido. Use isso como moeda de troca. ”
“Você está brincando.”

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Capítulo 25:
Ajustando a Humanidade

O AVIÃ O DE TRANSPORTE GIGANTE desembarcou no aeroporto Daikan de Hakone. Um


braço de guindaste removeu uma lona com marcaçõ es militares americanas da carga ú til do aviã o
de carga. O pessoal do aeroporto improvisado esperava ver um gigante humanoide amarrado na
posiçã o supina para o transporte. Mas eles viram algo diferente.
“Que diabo é isso?” alguém na multidã o perguntou.
O gigante parecia humanoide, mas estava de mã os e joelhos. Quando o plugue de entrada
foi inserido - em um â ngulo diferente do típico - e o gigante começou a se mover, a figura de
repente nã o parecia tã o humana.
Andando nos quatro membros, o gigante se sustentava com os movimentos distintos e
suaves de um quadrú pede. Seus movimentos fluíam das pernas dianteiras para o tronco e as
pernas traseiras sem nenhuma demarcaçã o clara. As pontas dos dedos das mã os e dos pés foram
estreitadas em pontas afiadas.
Um QR Signum forneceu seu poder proibido ao gigante.
“Esse é o Eva americano?” um membro da equipe de terra perguntou.
Aparentemente, os americanos foram atrá s do Heurtebise do Euro e obtiveram um QR
Signum pró prio. A fonte do corpo do Eva nã o era imediatamente evidente, exceto que nã o parecia
ser um dos Evangelions mortos de produçã o em massa que desapareceram apó s a batalha no QG
da Nerv três anos antes.
“Quais sã o suas armas?” perguntou outro. “Como é que essa coisa deve segurar uma arma
com as mã os no chã o?”

106
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De sua estaçã o no centro de comando, Aoba observava a chegada do Eva americano no
aeroporto de Daikan.
Ele chamou Fuyutsuki. “Esse Eva parece especializado em combate corpo a corpo. Você
acha que a ideia é confiar nas forças armadas para suprimir o fogo?”
“Estatisticamente falando, a maioria dos nossos conflitos é de corpo a corpo. Além disso,
haverá muito apoio à distâ ncia disponível.”
“Eles podem chamar Eva de tudo o que quiserem, mas nã o tenho certeza se consigo pensar
nisso como um.”
Fuyutsuki apertou sua língua. “Eu lembraria que você nã o deveria julgar com base nas
primeiras impressõ es. O comandante Ikari compartilhava da opiniã o da Seele de que uma Eva
sem sua forma humana perde sua razã o de existir.”
“Desempenhar um papel ditado por algum mito, você quer dizer? Isso é ridículo.” Aoba
balançou a cabeça e suspirou. “Acho que nã o posso mais dizer isso, vendo como estamos vivendo
eventos míticos. Inferno, três anos atrá s, assistimos a um diagrama gigante da Á rvore da Vida
aparecer do nada.”
Quando Maya pediu à Nerv EUA que compartilhasse seus dados sobre modificaçõ es
genéticas para criar pilotos Eva compatíveis, sob demanda, ninguém esperava que os americanos
oferecessem prova do sucesso do projeto na forma de uma visita direta.
A data da batalha final estava marcada. Uma semana antes da operaçã o, a Nerv EUA saiu
abruptamente de seu longo esconderijo e anunciou que agiria como forças de reserva. A caminho
da Rú ssia, o destacamento parou na Nerv Japã o para reabastecer e prestar homenagem.
A piloto do Eva miou.
O interesse de Six foi despertado. Ela olhou para a piloto, uma garota de cabelos castanhos
perto de sua pró pria altura.
Um homem em uniforme de oficial de engenharia apresentou o piloto. “Esta é Mari.”
Apesar de parecer ter a mesma idade de Six, a jovem era a piloto do Evangelion que os
americanos haviam alterado geneticamente em segredo.
“Ela parece uma garota normal para mim”, disse Hyuga. “Uma garota humana.”
Mas assim que ele terminou de falar, sua boca caiu. No topo de sua cabeça havia dois
inchaços que pareciam orelhas de gato que ele supô s serem algum tipo de cobertura cosmética
para o fone de ouvido da interface. Mas as orelhas de gato se contraíram.
“Er ... talvez nã o seja totalmente normal”, disse Hyuga.
O que inicialmente parecia fofo de repente pareceu esquisito.

108
Nã o que o Nerv Japã o tivesse o direito de criticar alguém por mexer no corpo humano. Mas
os humanos eram criaturas egocêntricas, capazes de grande hipocrisia.
Talvez lendo a reaçã o de Hyuga, o oficial ofereceu uma explicaçã o.
“Ela tem ouvidos humanos nos lados da cabeça. Nã o colocamos os outros lá de propó sito.
Para eliminar problemas com a conexã o mental entre Eva e o piloto, reforçamos os impulsos
animalescos do Evangelion. Ao longo de repetidos testes de sincronizaçã o, as características
físicas do animal começaram a se manifestar no piloto.”
A comandante Katsuragi agachou-se ao nível dos olhos de Mari. “Prazer em conhecê-la,
Mari. Como vai?”
“Eu estou bem”, disse a garota. “Assim como o resto do meu bando.”
O bando dela? Misato pensou. Ela quer dizer sua equipe?
O oficial de engenharia suspirou e balançou a cabeça. “Ela acha que os outros animais
vivem dentro dela como indivíduos.”
“Nã o dentro de mim”, ela corrigiu. “Eles estã o comigo.”
O policial parecia exasperado.“Claro que isso é um absurdo.”
Mas uma pessoa e um cachorro a levaram a sério.
“Que sorte!” Six disse com os olhos brilhando.
"Woof!" Azuchi latiu.

As asas muito compridas do aviã o de transporte gigante balançaram ao circular a pista, de


volta ao ponto em que pousara. Seus motores rugiram, ligando para decolar. Com o
reabastecimento da aeronave, o séquito do Eva dos EUA concluiu suas apresentaçõ es apressadas
e voltou a bordo. Sem demora, o aviã o decolou, apontando o nariz para a á rea de preparaçã o na
Rú ssia.
“Fuyutsuki, por que você acha que eles pararam aqui?” Perguntou Misato. “Eles poderiam
ter voado sobre o Oceano Á rtico sem reabastecer. Eles tiveram que se esforçar para chegar tã o
longe a oeste.”
“Eles podem estar sinalizando uma posiçã o positiva em relaçã o ao nosso pedido de
tecnologia, mas nã o posso ter certeza. De qualquer maneira, eles estã o trazendo o Eva para a luz,
entã o tenho certeza que eles querem causar uma boa impressã o. O que você cobrou pelo precioso
combustível de aviaçã o que eles levaram naquele aviã o de carga?”
“Vamos apenas dizer que é um mercado de vendedores.”

109
Capítulo 26:
Fora da Costa de Tóquio

INFELIZMENTE para ela Maya Ibuki nã o estava ali para testemunhar o Eva EUA. A
,

cientista-chefe estava no convés do navio de guerra Yamato, com Asuka / Eva voando no alto.
Depois de voltar para casa no final da Segunda Guerra Mundial, o navio de guerra super-grande
do século passado havia sofrido muitas melhorias, incluindo a troca de caldeiras a carvã o por
ó leo combustível pesado, mas depois foi ancorado e convertido em um museu em memó ria da
derrota do Japã o. Agora o navio de guerra havia sido modernizado, ganhando um reator N2 no
processo e estava de volta ao mar. O navio havia acabado de concluir seu teste no mar na Baía de
Kanto, onde nã o havia ondas assustadoras como no mar aberto.
Circulavam rumores de que o Yamato era destinado como um abrigo para cidadã os
selecionados.
A Nerv Japã o tinha sido incomumente generosa ao fornecer o reator N 2 ao governo
japonês. O cataclismo global estava quebrando cadeias de suprimentos de todos os tipos, e o
reator era uma das maneiras pelas quais a Nerv Japã o poderia arrastar o governo para a mesa de
negociaçõ es.
Falando consigo mesma, a cientista-chefe observou: “Mesmo com o reator, este navio ainda
está ...” Ela tentou se lembrar como Fuyutsuki o chamara. "Fudara-alguma-coisa."
Fuyutsuki chamou os planos do governo para o navio de uma “versã o do século XXI do
Fudaraku Tokai”, que era uma prá tica religiosa extrema em que os peregrinos se suicidavam
embarcando em um barco com destino ao paraíso. Mas Maya nã o sabia a referência.
O Yamato havia passado no teste no mar, mas Maya ainda tinha trabalho a fazer.
“Asuka, por favor, desça”, disse Maya.1
Asuka / Eva estava fazendo um jogo de desaparecer e aparecer das nuvens no céu antes da
tempestade. Ela estava carregando um arco gigante, sem corda - ou pelo menos, algo que parecia
um - e ainda o segurava enquanto aterrissava na extremidade da popa do convés, que estava
sendo usada atualmente para decolagem e pouso de helicó pteros e Aeronaves VTOL.
“Desculpe interromper o seu jogo”, disse Maya.
Infelizmente, a pesquisa para separar Asuka de volta à forma humana estava apenas
começando. Mas a síntese de Asuka / Eva estava respondendo ao seu pró prio nome e, através da
repetiçã o de alguns exercícios simples, ela estava aprendendo a se comunicar. Ela tinha uma

1 Nota de Tradução EVABR: No original está Ritsuko. Óbvio ser um erro já que Ritsuko está na Esfera Cronostática.

110
curiosidade viva e era surpreendentemente agradável, o que parecia diferente de seu eu anterior.
Mas talvez isso estivesse mais perto de sua verdadeira natureza do que alguém sabia.
Maya empurrou o punho para a frente como se estivesse segurando um arco. “Segure isso
com a mã o esquerda, assim.”
Asuka / Eva pensou por um momento e depois imitou a açã o. A ponta inferior do arco
bateu no convés de voo, e a gigante vermelha girou o tronco, puxando a perna traseira de volta
para a posiçã o de arqueiro.
O arco havia sido descoberto junto com a casca de ovo gigante e semitransparente que
surgira do fundo do lago Ashi. Maya estava tratando o objeto misterioso como uma arma do
tamanho de Evangelion. O arco nã o possuía barbante. Em vez disso, cada metade continha um
acelerador de partículas que se encontrava em um ponto focal compartilhado. Quando as
partículas colidiram em um â ngulo no meio, a energia resultante disparou para a frente como
uma flecha - ou, como Maya pensava, um estilingue de energia.
A construçã o do arco permaneceu totalmente desconhecida, mas Maya imaginou que, se
fosse uma arma do tamanho do Eva, ter um Eva empunhado poderia levar a novas descobertas.
“Entã o, o arco é um pouco maior que uma Eva”, comentou Maya. “Quase do tamanho de
Armaros.”

Maya Ibuki havia se dedicado a duas tarefas: recriar o canhã o guiado, Neyarl, que
executara além das expectativas e destruíra um Victor com partículas retiradas do coraçã o do
Super Eva, e identificar a partícula guiada que o executara.
O campo magnético resultante destruiu os registros de dados completos do Super Eva ou,
na melhor das hipó teses, os deixou temporariamente inacessíveis. Mas, no norte da Á frica, Maya
conseguiu recuperar uma informaçã o valiosa - quando o Super Eva disparou a arma, o tempo se
estendeu tanto que ele percebeu o comportamento de partículas elementares. “Sem nunca tocar o
inimigo, ou sofrer qualquer alteraçã o em si”, dissera Shinji, “o raio rasgou o Victor e fez seus
pró tons decaírem”.
Isso foi o suficiente para dar a Maya pelo menos parte de uma resposta - monopó los
magnéticos. Eram partículas que existiam apenas nos primeiros momentos do nascimento do
universo e, mesmo assim, apenas em nú meros extremamente pequenos.
Quer a humanidade gostasse ou nã o, Armaros havia demonstrado atos de poder divino.
Mas se tais partículas pudessem derrotar ele e seus retentores, esses gigantes temíveis nã o eram
fundamentalmente diferentes de quaisquer outras entidades nascidas apó s o início do universo.
Nã o havia razã o para a humanidade simplesmente abaixar a cabeça e aceitar a derrota.

111
Pergunte aos outros o que esse conhecimento mudou sobre a situaçã o atual e eles
provavelmente teriam dificuldade em responder, mas para uma estudiosa como Maya, tudo
mudou. Ali estava um inimigo que desafiava todas as mediçõ es e, talvez, finalmente, recebera um
conjunto de leis que poderiam colocá -lo em uma escala.
“Nã o se preocupe, Asuka”, disse Maya, olhando para o alto. “Nã o acho que esse arco faça
nada sem que muita energia seja despejada nele.”
Hikari Horaki foi a primeira a chamar Asuka pelo nome, para que pudesse recuperar sua
identidade, mas agora todos seguiam o exemplo.
“Hoje”, continuou Maya, olhando para o tablet, “antes de entregarmos completamente o
reator N2, quero aproveitar uma ú ltima oportunidade para usá -lo, juntamente com os dois
miniaturizados que você tem, e ver se podemos testar esse arco. Entã o, se você puder segurá -lo
até disparar, seria ó timo.”
Uma tempestade parecia estar se formando, mas por enquanto as ondas estavam calmas,
como tudo o resto.
Asuka olhou por cima do ombro.
A gigante vermelha congelou, como se tivesse ouvido uma voz que reconheceu.
"Asuka?" Maya disse. Ela olhou de volta para a tela e notou que Asuka / Eva estava olhando
para um ponto em algum lugar distante. “Qual é o problema?”
Maya bateu no tablet e abriu a tela de status de Asuka. Segundo os dados, a gigante nã o
estava particularmente alarmada. Ela estava apenas concentrando sua atençã o nessa direçã o.
BANG!
Maya gritou. Asuka / Eva deve ter soltado o arco, e a arma caiu no convés.
A graciosa gigante vermelha permaneceu completamente ereta, como se alguém a tivesse
chamado.
Suas asas Allegoricas subiram, como cabelos compridos presos pelo vento. Ela deu um
passo suave e depois começou a deslizar em direçã o ao litoral na direçã o que estava olhando.
"Asuka!" Maya falou em seu tablet. “Onde você vai? Tem alguma coisa aí?”
Na costa da Baía de Kanto estavam as ruínas da antiga metró pole abandonada apó s o
Segundo Impacto. De repente, gavinhas pretas, como raízes, irromperam dos escombros e
enrolaram em torno de Asuka.
"Asuka!" Maya gritou.
Asuka nã o resistiu quando os tentá culos a puxaram para o chã o. Ela se foi.

112
Os alarmes soaram por todo o navio de guerra, e os canhõ es automá ticos a curta distâ ncia
giraram, mas, a essa altura, estava tudo acabado. Ainda cercados pelos andaimes da equipe de
atualizaçã o, os canhõ es principais da bateria varreram seus canos pelo céu em nada.
Onde a síntese Asuka / Eva desapareceu, os escombros foram espalhados, deixando o solo
á rido exposto. Mas, além disso, nã o havia vestígios pelos quais alguma coisa tivesse passado.

113
Capítulo 27:
Um Despertar da Ilha

APÓ S O DESEMBARQUE EM EM ROGACHEVO uma base aérea militar russa no lado sul
,

de Novaya Zemlya, um arquipélago que dividia Barents e Kara Seas, um soldado euro resmungou:
“Que diabos é o lugar que eles estã o escolhendo para o batalha final?”
Os europeus, depois de discutir com a Rú ssia, haviam escolhido esse local para o confronto
final e estavam rapidamente preparando o local da emboscada.
O gigante negro Armaros, que trouxe calamidade para todas as partes do globo, junto com
seus subordinados, os Victors e os Transportadores de Anjos, foi atraído pelo batimento cardíaco
produzido pela janela do Super Eva para dimensõ es mais altas. Uma imitaçã o do batimento
cardíaco produziu o mesmo efeito. Mesmo agora, depois que a Lança de Longinus havia roubado
o coraçã o do Super Eva, o estrondo dessa imitaçã o ainda traria os inimigos da humanidade.
Com o Evangelion - Heurtebise - e suas forças de combate combinadas, a Europa e a Rú ssia
pretenderam forçar um confronto final nesta ilha remota.
Ambos os mares, a leste e oeste, contíguos ao Oceano Á rtico. E a essa alta latitude, a
atraçã o da lua gigantesca teve um efeito menor nas marés; portanto, os danos causados pelo fluxo
e refluxo da á gua foram mantidos relativamente baixos.
Inú meros navios de guerra cinzentos, constituindo a maior parte da marinha da Rú ssia,
estavam espalhados pela á gua até onde os olhos podiam ver. Seus canhõ es foram levantados e as
coberturas à prova d'á gua removidas, para testes completos de suas salvaguardas e controles.

As tropas terrestres foram equipadas com equipamento CBRN (roupas herméticas e


má scaras de gá s) para se proteger contra serem transformadas em pilares de sal - se esse
fenô meno pudesse realmente ser protegido.
Pelo menos o equipamento de proteçã o nã o seria desconfortavelmente quente no extremo
norte.
Mas mesmo que os soldados esquentassem demais para conforto, ninguém removeria o
equipamento por opçã o. No século anterior, Novaya Zemlya havia sido um local de testes
nucleares e, mesmo agora, a Rú ssia mantinha um estoque de armas N2. Eles testaram essas armas
com tanta força que a borda norte da ilha nã o foi apenas craterada, parecia o fundo de uma
panela gigante.

114
A reaçã o de N2 nã o produzia radiaçã o - pelo menos nã o oficialmente -, mas os testes
desenterraram o solo contaminado pelos testes nucleares do século anterior. Todos os presentes
ouviram rumores de solo radioativo se transformando em pó e se afastando pelo vento.
O grito furioso de um sargento ecoou dentro do aviã o de passageiros que trouxe o ú ltimo
lote de soldados, e eles saíram correndo do aviã o como se estivesse pegando fogo. Eles estavam
segurando o fluxo interminável de aeronaves na fila para pousar, reabastecer e decolar
novamente, vazios.
Do aeroporto, soldados e suprimentos foram transportados por caminhã o, helicó ptero e
aeronave VOTL para o campo de batalha - o local do teste bombardeado - que os locais haviam
chamado de Frigideira de Misha.
Uma aeronave estranha circulou o centro da bacia como uma folha irregular enquanto
tentava pousar. Era o Platypus-2 da Nerv Japã o, também conhecido como N2 Flanker.
O N2 Flanker foi o progenitor da tecnologia flutuadora graviton - a combinaçã o de reator N2
e matriz de diamante de fenda. O plano experimental foi um esforço conjunto entre a Nerv Japã o e
a JSSDF, com uma aeronave fabricada na Rú ssia servindo como plataforma de teste. Em certo
sentido, a aeronave estava voltando para casa, embora fosse difícil definir seu local de
nascimento. Segundo uma histó ria, a JSSDF havia empilhado um monte de boias gravitacionais
em uma aeronave russa usada que havia sido comprada para avaliaçã o tá tica e
subsequentemente engolida. Outro sugeriu que a unidade de teste do flutuador gravitacional
havia sido construída primeiro e posteriormente adaptada com nariz e asas, para que a frente e a
ré pudessem ser diferenciadas.
De qualquer forma, as asas do Allegorica no Eva-02 e Heurtebise foram versõ es
expandidas dos sistemas deste aviã o e foram criadas a partir dos dados acumulados. Mais tarde, o
Flanker foi equipado com uma arma que extraía energia do reator N2. A Nerv Japã o esperava que,
com sua capacidade de voar livremente a qualquer velocidade até Mach 2, o aviã o servisse como
suporte aéreo para os Evangelions. Mas uma vez que Hakone foi arrendada para a ONU, a Nerv
Japã o perdeu a cooperaçã o da JSSDF. Devido à confiabilidade geral do Flanker e à sua resistência
contra interferências eletromagnéticas, o aviã o estava servindo recentemente de transporte para
as frequentes viagens do vice-comandante em exercício Toji.
“Vamos ao trabalho”, disse Toji. Ele veio observar o local planejado da batalha. A ONU
solicitou a participaçã o da Nerv Japã o no evento principal.
Mas o Super Eva desapareceu e o Eva-02 se fundiu com o piloto e pode nã o seguir as
ordens. Enquanto isso, o piloto do ú ltimo Eva-0.0 orbital estava na fase final de testes do sistema
Allegorica do Eva-00 Type-F - mas os engenheiros faziam o que fosse necessá rio para estar
pronto a tempo da batalha.

115
A visita de Toji serviu principalmente como um sinal claro de que a Nerv Japã o nã o
pretendia ignorar o chamado de seus aliados. Ainda assim, ele obedientemente observou as
formaçõ es de batalha enquanto descia. Ele viu o aviã o de controle de Heurtebise, da Sexta
Unidade de Resposta Rá pida do Euro, pousando no chã o seco e á rido. Ele estava mudando de
rumo para poder colocar o N2 Flanker ao lado deles quando um aviso veio da guarniçã o pelo
rá dio.
<< Aviã o japonês, mantenha distâ ncia do Eva. >>
“Aw, meu. Eu esperava poder usar o banheiro.”
Toji nã o pretendia dar mais que uma olhada rá pida. A Nerv Japã o ainda tinha muitos
preparativos pela frente. Por enquanto, ele esperava que eles nã o levassem o Eva-02 alemã o
Heurtebise longe demais. Lá embaixo, o Eva branco puro de Hikari estava ajoelhado.

<< Ritter? >> a ponte do aviã o de comando chamou Hikari em seu conector de entrada.
Demorou um momento antes que ela se lembrasse de que Ritter - cavaleiro - era ela.
"Ah, sim!" ela respondeu apressadamente. "Kommandobrü cke?"
<< Nó s interrompemos você? Você estava no telefone com o seu namorado? >>
“Eu nunca faria isso de plantã o!”
Isso tinha sido uma piada. Todas as suas comunicaçõ es foram mantidas sob controle
estrito. Mas ela era uma defensora das regras de qualquer maneira.
<< Hikari, os caminhõ es espelho adicionais de ondas quâ nticas estã o aqui. Você acha que
poderia iniciar as calibraçõ es? >>
“Afirmativo”.
Inclinando-se para fora do cockpit de seu Flanker estacionado, Toji retirou o capacete e
acenou para chamar a atençã o de Hikari. O capacete caiu de seus dedos e rolou para longe. Ele
gritou de surpresa e depois saiu correndo do aviã o para persegui-lo.
“O que ele está fazendo?” Hikari riu enquanto observava a vista lateral parcialmente
ampliada do Eva.
Assim como prometeram a Nerv Alemanha e o Sexto Exército Euro, Hikari nã o estava mais
sendo hipnoticamente controlada.
Nesse ponto, ela - e seus direitos humanos - estavam sendo tratados com deferência. Sem
nenhum outro piloto compatível com o Eva sob seu comando, eles adaptaram uma nova
estratégia - usar sua amabilidade natural contra ela. Eles aprenderam que, desde que se

116
desculpassem pela descortesia anterior, e adotassem uma postura completamente honesta e
cooperativa com ela, ela nã o tinha como recusar. E sim, ela sabia o que estavam fazendo.
Sua irmã mais velha fora apanhada à luz de Lança de Longinus e transformada em um
pilar de sal, mas ainda tinha uma irmã mais nova na Alemanha. E enquanto a presença misteriosa
dentro do corpo do protó tipo abandonado do Eva-02 de Asuka poderia ter sido nada mais que
vestígio de uma consciência antiga, Hikari acreditava que era a mã e de Asuka. Ela nã o tinha
nenhuma evidência além de sua pró pria crença, mas nã o podia simplesmente deixar Heurtebise.
“Aqui é o Eva-02 Heurtebise solicitando autorizaçã o para inicializar minha matriz de
flutuadores gravitacionais e decolar.”
<< Aqui é o ATC da Base Aérea de Rogachevo. Mantenha-se afastada da á rea de preparaçã o
da aeronave. >>
<< De Kommandobrü cke para Hikari, você está autorizada a fazer seu voo de calibraçã o.
Tenha cuidado com a aeronave VTOL ao sul. >>
Os flutuadores gravitacionais de Heurtebise começaram a cantarolar e depois rugir, e o
gigante de três mil toneladas decolou do chã o.
O Eva subiu cerca de vinte metros, manteve a altitude ali e depois deslizou de lado para a
direita. Os espelhos de ondas quâ nticas, montados em grandes trailers blindados, giravam para
acompanhar os movimentos de Heurtebise.
“Medindo para rastrear desalinhamentos”, disse Hikari.
Na distante Hokkaido, os espelhos de ondas quâ nticas refletiram e concentraram as
distorçõ es espaciais criadas pelos flutuadores gravitacionais de Heurtebise em um ú nico ponto
no ar. Heurtebise usara o efeito para desequilibrar o Super Eva e enviar o gigante ao chã o. Desde
entã o, os militares do Euro haviam atualizado os caminhõ es e aumentado seu nú mero. Agora
havia dezesseis. Com tantos, os espelhos de ondas quâ nticas poderiam ampliar ainda mais os
batimentos cardíacos imitáveis. Mas isso nã o foi tudo. Os caminhõ es também poderiam criar
distorçõ es espaciais armadas de magnitude drasticamente mais alta. Mesmo enquanto a
humanidade continuava sofrendo sob o peso da bota de Armaros, eles nã o estavam apenas
atacando como um rato encurralado. Eles prepararam um contra-ataque sério.

Enquanto Heurtebise deslizava pelo ar, os espelhos de ondas quâ nticas giravam sobre os
dezesseis caminhõ es blindados. De vez em quando, as distorçõ es espaciais de Heurtebise
refletiam entre os espelhos e estouravam no ponto focal, enviando um rugido explosivo
reverberando pela bacia.
“Ah, eu odeio esse som”, disse Toji com uma careta. Ele pensou em como Super Eva havia
caído no chã o de novo e de novo. Shinji quase perdeu a cabeça.

117
Mas naquela época, a humanidade estava lutando entre si. Desta vez, eles lutariam juntos
contra um inimigo comum.
Ele ligou o canal de comunicaçã o. “Olá ? Aqui é Suzuhara. Vocês estã o vendo este vídeo?”
Dos alto-falantes do capacete, ele respondeu.
<< Woof! Woof woof! >>
<< Um gato! Orelhas de gato! >>
Aquele era Azuchi - o golden retriever - e a pequena Rei Ayanami Six.
"Hã ?" Toji respondeu.
"O que?" Aoba falou em seguida.
<< Aqui é a Nerv Japã o. A qualidade do som é ó tima. Estamos tendo um pouco de
dificuldade no vídeo - ele está sendo roteado através da rede estratosférica de aviõ es, e estamos
tendo algum ruído digital - mas será o suficiente. >>
“Onde está o Eva americano?”
<< Eles estã o a caminho de você. Misato deve estar de volta ao centro de comando a
qualquer momento e a chefe Ibuki deve estar assistindo seu fluxo do convés do Yamato. >> Houve
uma breve pausa. << Hum? Por que você está fora do seu aviã o? Seu traje e capacete devem
manter a poeira, mas nã o tenho certeza se o aconselharia. >>
"Oh, er", disse Toji, esfregando a parte de trá s do capacete, onde havia sido tingido no
outono. "Nã o é nada."
Ele trocou o monitor montado na cabeça de uma visã o direta para uma visã o ampliada,
auxiliada por câ meras extras montadas na lateral. Toji gostava de pensar nisso como sua visã o de
"ave de rapina". A nova imagem foi transmitida do capacete, para o Flanker, para a rede de aviõ es
estratosféricos e depois para a sede da Nerv Japã o.
Uma vala gigante havia sido cavada ao redor da borda da bacia. A ponta de uma espingarda
de calibre maciço apareceu da trincheira. A arma parecia ser uma espécie de artilharia mó vel.
"Hum?" Toji disse.
Ainda mais atrá s da arma mó vel, ele viu um refletor de convergência que reconheceu do
obus japonês.
Uma voz nã o veio do fone de ouvido de Toji, mas diretamente do lado dele. “Ei, vice-
comandante interino Suzuhara.”
Toji disse imediatamente. "Tenente-coronel Kasuga?"

118
Toji retornou a tela à vista normal e viu o homem grande parado ao seu lado, vestindo um
traje de combate CBRN com camuflagem de inverno.
Tudo o que Toji viu através da tela montada na cabeça estava sendo processado
automaticamente por algoritmos de computador, que analisavam a silhueta do homem e
estimavam a estrutura ó ssea e, em instantes, acrescentaram o nome “Kasuga” à tela. Mas Toji nã o
precisava ler a etiqueta de nome digital para saber. Esse homem nã o poderia ser outro senã o o
oficial comandante da Unidade de Ameaças em Grande Escala da JSSDF. Kasuga era corpulento
para começar. E com o seu corpo enfiado no interior, ele fez o equipamento de proteçã o parecer
uma armadura elétrica.
Os olhos afáveis do soldado sorriram por trá s dos ó culos. Kasuga tocou a mã o enluvada ao
lado da coberta do capacete em saudaçã o e depois se virou na direçã o que Toji estava olhando.
“Primeiro a Á frica, depois a Rú ssia. E aqui pensei que todos os kaiju se dirigissem ao Japã o.”
“Isso nunca foi uma regra”, disse Toji.
“Mas sempre fomos os que estã o na linha de frente. Você nã o sente que tiraram algo de
nó s?”
“Er... talvez”, disse Toji, sem compromisso.
“Vamos sair para o yakiniku algum dia, enquanto ainda resta carne para comer.”
Toji nã o se importava que Nerv Japã o nã o estivesse comandando a operaçã o, mas ele se
importava - muito - que Hikari estivesse sendo colocada na linha de frente. Ainda assim, ficou
aliviado ao ver que os europeus haviam trazido mais forças do que ele previra. Com dezesseis
caminhõ es inteiros de espelhos de ondas quâ nticas, talvez eles até pudessem fazer aquele colosso
preto comer terra.
Não tenha tanta certeza, ele se advertiu. Perigoso é perigoso.
Uma voz em seu capacete o trouxe de volta de seus pensamentos.
<< Aqui é Ibuki do Yamato na Baía de Kanto. É uma emergência! >>

Hikari percorreu a lista de verificaçã o da calibraçã o de caminhõ es espelho-quâ nticos.


Depois de terminar de testar o controle do campo gravitacional de vá rias dú zias de
padrõ es de ataque diferentes, ela fez uma batida suave com seus flutuadores gravitacionais. O
som combinava perfeitamente com o batimento cardíaco do Super Eva, apenas muito mais suave.
No dia da batalha, ela dirigia o ritmo com força total para convocar o inimigo.

119
No aviã o de controle do Heurtebise, a tripulaçã o ficou satisfeita com os resultados e se
sentiu segura. Entre eles estavam o tenente-coronel Clausewitz e o oficial que servia como seu
assistente principal.
“Acho que estaremos prontos a tempo para a pró xima semana”, disse o assistente.
“Eu também acho”, disse Clausewitz. “Hikari, pare o batimento cardíaco de teste. Cada
caminhã o, vá para uma nova posiçã o e prepare-se para uma segunda tentativa.”
<< Heurtebise reconhece. O batimento cardíaco está parado. >>
Ao mesmo tempo, todos no centro de comando relaxaram. Alguns se levantaram de suas
cadeiras, enquanto outros pegaram suas xícaras de café.
“Gostaria de obter mais dados sobre a interferência das ondas”, disse o assistente, “no caso
de as coisas ficarem um pouco confusas por aí. Temos mais caminhõ es para coordenar do que
antes.”
“Estou preocupado com o problema oposto também”, respondeu Clausewitz. “O que
acontecerá com a amplitude se caminhõ es-espelho forem destruídos mais do que nossas
estimativas—”
Uma voz em pâ nico veio pelo canal de comunicaçã o. << Kommandobrü cke, temos um
problema! O eco está saltando entre os Caminhõ es Cinco a Dezesseis. Nã o podemos parar! >>
Os soldados dentro do centro de comando ficaram tensos.
“Os novos caminhõ es”, observou Clausewitz. "Heurtebise?"
<< Nã o estou gerando as ondas. >> Hikari respondeu.
“O eco está saltando entre os caminhõ es sem ajuda?”
“A IA de Heurtebise pode ter confundido o comando de parar por uma alteraçã o no nível
de saída”, respondeu o assistente. “O sistema pode estar estabilizando automaticamente o eco. Os
novos modelos de caminhõ es nã o têm saída suficiente para gerar os batimentos cardíacos por
conta pró pria, mas cada um possui um dispositivo de igniçã o N2 capaz de produzir um pequeno
nú mero de gravitons para fazer pequenas correçõ es na onda.”
“Os caminhõ es cinco a dezesseis”, Clausewitz ordenou, “travem os espelhos no lugar e
desfoquem os reflexos. Isso dispersará a onda.”
Thrum.
A onda de teste havia amplificado. O batimento cardíaco estava alto o suficiente para ser
ouvido.
<< Aqui é o caminhã o seis! Nã o consigo inserir nenhum comando. Os controles foram
bloqueados! >>

120
THRUM.
O batimento cardíaco ficou ainda mais alto.
<< Aqui é o Caminhã o Oito! Nã o sã o apenas os espelhos. Eu nã o posso nem controlar o
veículo! A maldita coisa está dirigindo sozinha! >>
Os motoristas dos caminhõ es mais novos estavam todos gritando agora, porque relatavam
problemas de funcionamento. Seus veículos estavam se movendo por vontade pró pria. Algo mais
os estava controlando.
THRUM.
Os soldados começaram a se mexer.
Os doze caminhõ es espelho de ondas quâ nticas fora de controle começaram a apertar sua
formaçã o.
“Por que isso está acontecendo?” gritou Clausewitz.
O assistente bateu com a palma da mã o na cabeça. “Hoje de manhã , usamos o novo có digo
de dados da Nerv Japã o para atualizar os computadores dos caminhõ es com autonomia
aprimorada, para que eles possam continuar apoiando o Heurtebise em qualquer eventualidade.”
“Como assim, para alguma eventualidade?”
“Se os motoristas estivessem todos mortos.”
THRUM!
Agora, a IA emitia um alerta pelos alto-falantes. << Aviso: o batimento cardíaco de
imitaçã o atingiu o nível de decibéis do sinal de chamada. >>
“Droga! Vamos chamar a companhia!” Clausewitz pulou no microfone e gritou para Hikari.
“Heurtebise! Destrua os espelhos de ondas quâ nticas nos caminhõ es com defeito!”
<< Fazer o que?! >>
THRUM!
Os alarmes começaram a tocar em toda a Novaya Zemlya.
THRUM!
O batimento cardíaco falso foi o sinal para iniciar operaçõ es de combate. As IAs de
combate para todas as forças presentes - o exército do Euro, a marinha russa e a guarniçã o local -
anunciaram a fase inicial de combate… uma semana antes.
THRUM!

121
A ilha inteira era um ninho de vespas que acabara de ser cutucado. Os soldados,
engenheiros e cientistas haviam sido pegos desprevenidos, mas, apó s uma hesitaçã o de uma
fraçã o de segundo, saíram correndo para seus postos.
A primeira pergunta confusa - Isso é um exercício?! - chegou ao comando central do Sexto
Exército do Euro. Inú meros outros vieram depois. Em um instante, as chamadas saturaram a rede
de transmissã o de modulaçã o por voz e os pedidos de texto para confirmaçã o rolaram pela tela
do centro de comando como uma cascata. O comandante do Sexto Exército transmitiu
pessoalmente os pedidos ao plano de controle de Heurtebise, na forma de uma demanda forte por
uma explicaçã o imediata.
Hikari falou através dos alto-falantes externos de Heurtebise. << Cuidado! Vou te
levantar.>>
Ela pegou o caminhã o mais pró ximo e virou o veículo, afastando o eco da onda quâ ntica.
Antes que os outros caminhõ es pudessem se realinhar, a IA da Heurtebise lhes atribuía novas
tarefas, e os sistemas de orientaçã o dos caminhõ es mais uma vez permitiram a entrada manual de
seus motoristas humanos.
Os batimentos cardíacos, que trovejavam como dezenas de milhares de soldados
marchando em uníssono, evaporaram em um instante, deixando para trá s apenas o ruído de
alarmes e motores a jato.
O assistente soltou um suspiro de alívio. Entã o, a gravidade do falso começo afundou e seu
rosto ficou pá lido. Ele pegou o interruptor de transmissã o. "É melhor que eles saibam que foi um
erro e desliguem os alarmes."
Clausewitz fez um gesto para ele adiar. “Espere!”
“Mas eles nos disseram para responder imediatamente!”
“Espere dois minutos até termos certeza de que nã o invocamos acidentalmente o inimigo.
Nã o tire os olhos das leituras dos sensores!”
Todos os olhos foram para a tela.
“E se pararmos o alarme”, Clausewitz disse, “e assim que todos relaxam, o inimigo
aparece? Mesmo se iniciarmos o alarme novamente, todos estarã o fora de sintonia. Devemos
permanecer em pâ nico por enquanto. Deixe que eles fiquem com raiva de nó s até termos certeza
de que realmente foi um alarme falso.”
Todo mundo estava tenso. As solicitaçõ es para confirmar ou negar a ordem inicial se
transformaram em gritos enfurecidos e ameaças cruéis. Cada vez que uma nova transmissã o
entrava, os jovens soldados na estaçã o de comunicaçã o tremiam e olhavam para o comandante
com olhos suplicantes. Quando dois minutos se passaram e o tenente-coronel ordenou que tudo
fosse liberado, a equipe de controle já estava com o coraçã o pesado.

122
Enquanto o assistente relatava o alarme falso, seu ú nico pensamento era como todos
seriam responsabilizados.
Os alarmes silenciaram. O pessoal e os suprimentos da aeronave já haviam escapado. Os
ú nicos sons remanescentes foram o barulho dos motores dos caminhõ es, os flutuadores
gravitacionais do Eva e -
THRUM.
Clausewitz e seu assistente se entreolharam. "O que?" eles disseram em uníssono.
O batimento cardíaco estava fraco, mas os dois ouviram.
“Por que o batimento cardíaco falso ainda está acontecendo?” Clausewitz perguntou.
O tenente-coronel leu a janela de status dos dados de telemetria enviados por Heurtebise e
pelos caminhõ es, mas nã o viu nada incomum. "Hikari?" ele perguntou.
Dentro de uma pequena sub-janela na tela, ela estava balançando a cabeça. << Nã o sou eu,
e também nã o sã o os caminhõ es! >>
THRUM.
“Entã o, o que é?”

“Isso é... um eco?” um soldado perguntou. O som parecia vir de um lugar diferente do que
antes.
Todos que estavam se movendo congelaram e se viraram para ouvir. Os soldados que já
estavam em seus postos procuraram inquietos ao redor para encontrar a fonte dos batimentos
cardíacos.
THRUM!
“Isso nã o é um eco! Está ainda mais alto do que antes!”
Algo saltou do chã o.
"Torwä chter!" alguém gritou. “Repito, um Torwä chter está aqui!”
Torwä chter - alemã o para porteiro - era a designaçã o do Euro para o inimigo que a Nerv
Japã o ainda nã o havia atribuído um nome de có digo. Ele apareceu nos sistemas de detecçã o
japoneses como "Victor".
Convocaram o vassalo de Armaros. Mas essa nã o foi a maior surpresa.
De boca aberta, o mesmo soldado gritou: “O Torwä chter está fazendo o coraçã o bater?!”

123
Os flutuadores gravitacionais de Heurtebise ainda estavam alinhados. A matriz de
gravitaçã o ressoou com os batimentos cardíacos do Victor / Torwä chter e começou a bater com o
tempo. O som fez Hikari tremer de medo. Isso já havia acontecido com ela antes.
“Nã o, nã o é isso”, ela chorou. “Isso nã o!”

Dentro do aviã o de controle do Eva, Clausewitz disse: “O Torwä chter está provocando um
batimento cardíaco imitando? O que diabos está acontecendo?!”
<< Kommandobrü cke! >> Hikari gritou do alto-falante. << Nã o é uma imitaçã o. É o
original! >>
“O... o quê?”
Outra voz interrompeu. << Está se movendo! >>
O Torwä chter mantinha os braços cruzados na frente do peito. Depois, desdobrou-os para
revelar um objeto triangular com uma grande fenda no meio e â ncoras em cada ponto.
Era o Center Trigonus - o vaso que continha o coraçã o do Super Eva. Atrá s da fenda
brilhava uma luz brilhante e ardente que tremeluzia violentamente a tempo dos batimentos
cardíacos.

Nos alto-falantes no capacete de Toji, Maya Ibuki e o centro de controle Hakone estavam
coordenando a busca por Asuka, mas, à medida que o caos se desenrolava ao seu redor, ele nã o
estava em posiçã o de participar.
"Ah vamos lá !" ele gritou. Ele reconheceu o Center Trigonus imediatamente. “Coraçã o do
Super Eva ?! É isso que está causando os batimentos cardíacos? Hyuga? Maya-san? Vocês estã o
vendo isso?”
Ele correu para o N2 Flanker, mas correu para trá s para que sua câ mera do capacete
pudesse enviar o vídeo do Victor de volta para Hakone, mesmo que isso significasse alguns
tropeços ao longo do caminho.
Abalada, Maya exclamou: << Nã o acredito! Essa é a singularidade - a janela para
dimensõ es mais altas e para a energia que elas retêm. É o que estabilizamos em um batimento
cardíaco com os espelhos de ondas quâ nticas dentro do peito do Super Eva! >>

Ninguém falou no centro de comando em Hakone. Todos ficaram impressionados com o


feed da câ mera de Toji. Eles estavam ouvindo Maya também. Nã o era como se a cientista-chefe

124
tivesse levantado a voz, mas ela nã o estava falando em benefício deles. Ela estava falando sobre o
que estava vendo.
<< A Lança de Longinus roubou a singularidade do Super Eva e quebrou a concha que a
continha. Mas quando a singularidade nã o dividiu a Terra e nã o medimos nenhuma explosã o
incomum de energia proveniente da ó rbita da lança, presumi que ela tivesse explodido no espaço
que eles usam para viajar entre seus portõ es. >>
"Isso mesmo", respondeu Misato. “Uma vez que a singularidade foi arrancada de Shinji, ela
nã o deveria ter permanecido estável.”
Misato recordou o desastre no norte da Á frica. A Lança de Longinus estava orbitando a
Terra e se estendendo em direçã o a um anel completo quando a arma mudou repentinamente de
rumo - como uma cobra de aço de 28.000 quilô metros de comprimento - e perfurou a Terra,
através do Super Eva, levando o coraçã o embora.
Com raiva, bateu as mã os sobre a mesa em sua estaçã o. “Esse coraçã o pertence a Shinji-
kun!”
Ela nã o estava falando figurativamente. O pró prio corpo de carne e osso de Shinji nã o
possuía coraçã o. Em seu lugar, a imagem médica mostrava uma cavidade oca. Seu sangue circulou
da batida do coraçã o do Super Eva. Com esse coraçã o roubado, apenas a escama QR Signum de
Armaros o mantinha vivo.
“Enquanto a singularidade estava batendo dentro dos espelhos refletores, ela poderia ter
se estabilizado em um estado de coraçã o?” Hyuga perguntou.
<< Hum? Por sua pró pria escolha? >> Maya parecia pensar nisso.<< Como os organismos
primitivos escolhem a estabilidade como se possuíssem consciência? >>
“Seja qual for o caso”, Fuyutsuki interrompeu, olhando para Misato, “estamos onde
estamos.”
“Ele tem razã o.” A comandante assentiu. “Eu nã o acho que o Victor teria aparecido com
essa coisa no peito se o tornasse mais fá cil matar.”
O oposto era muito mais fá cil de imaginar.
“Maya, qual a sua opiniã o sobre o desaparecimento de Asuka?” Misato perguntou,
mudando de marcha.
<< Pode ter sido um dos portõ es de Armaros. Ela foi sugada para o chã o sem deixar rastro.
Nesse caso, procurá -la aqui seria um desperdício de esforços. >>
“Volte aqui imediatamente. Eu me sinto mal por Asuka, mas nã o há nada que possamos
fazer por ela no momento. Eu acredito nela. Essa menina tem a sorte do seu lado. Ela voltou da
lua, nã o foi?”

125
“Pró ximo assunto”, disse Misato, virando-se para Hyuga. “A Unidade Zero Allegorica está
pronta?”
“Eu diria que estamos em sessenta por cento lá”, respondeu ele.“Nenhum dos trabalhos
restantes é de missã o crítica”.
“A partir deste momento, a Unidade Zero Allegorica é designada ativa. Six, mexa-se!”
"Woof!" Six disse.
“Arme o Eva sem restriçõ es.”
“Woof! Entendi!"
Misato bateu palmas. “Tudo bem, pessoal. Mexam-se!”

THRUM!
Os batimentos cardíacos do inimigo assustaram Hikari e, ao mesmo tempo, ela teve que
suprimir o impulso pulsante do QR Signum de procurá -lo. Seu pró prio Eva também estava
produzindo um batimento cardíaco, mas o dele era uma mera imitaçã o, dominada pela coisa real.
No entanto, Hikari conseguiu pegar o rifle de pó sitron do chã o aos seus pés. O sistema de
controle de incêndio foi carregado e as opçõ es azuis do menu de treino foram substituídas por
onda de modos de fogo ao vivo em laranja. O reator do Eva acelerou e começou a carregar os
capacitores da arma.
“Ritter para Kommandobrü cke, solicitando permissã o para disparar!”
Hikari sentiu o suor escorrer de sua pele para o LCL circulante. Foi um sentimento
estranho.

126
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Capítulo 28:
Perdido no Caminho de Casa

ASSIM QUE SHINJI E TROIS percorreram através da escuridã o, Trois sussurrou: “Eu sinto
muito.”
Shinji olhou por cima do ombro para ela. Ela estava sentada no plugue, perto o suficiente
para que ele quase pudesse sentir a respiraçã o dela. No entanto, mesmo a essa distâ ncia, ele nã o
conseguia ler a expressã o dela.
“Você nã o precisa se desculpar. Vamos continuar tentando quantas vezes for preciso.”
O que mais ele poderia dizer?
Apó s tentativas servais, o Super Eva finalmente havia entrado na rede de tú neis. Mas agora
eles nã o conseguiam encontrar seu destino. Eles estavam perdidos na estrada.
Dentro da plugue do Super Eva, Shinji e Ayanami dividiram os papéis da mesma forma que
ele fez com Quatre. Shinji pilotava o Eva, enquanto Trois controlava o QR Signum que atuava como
sua usina.
Por que isso não está funcionando? Shinji se perguntou.
Quando Trois pilotou o Eva-0.0, ela perdeu de vista quem era. Ela viajou por esses tú neis
vá rias vezes, sem pensar, seguindo os comandos de Seele / Kaji. Mas agora que seus pensamentos
estavam claros, ela lutou. Ela encontrou um motivo para viver, e a escuridã o cada vez maior do QR
Signum a aterrorizava.
Incapaz de encontrar uma saída, Super Eva flutuou a uma velocidade tremenda através da
enorme rede de tú neis que ligava todas as vastas terras que o Projeto de Instrumentalidade havia
criado.
Seele / Kaji havia dito que o Nú cleo da Maçã , a lua e a Terra constituíam uma terra, nã o
importa a distâ ncia que os separasse, enquanto Kaworu chamava essa rede de tú neis de espaço
abaixo do palco, onde os auxiliares corriam de um lado para o outro. Super Eva nã o sentiu
nenhum movimento dentro desse espaço escuro, mas estava ciente dos inú meros caminhos que
corriam em rá pida sucessã o.
Por que não podemos sair para o espaço normal?
Shinji poderia pensar em duas razõ es possíveis.
Primeiro, Seele / Kaji poderia ter cumprido sua ameaça de cortá -los e estava de alguma
forma impedindo-os de abrir um portal de saída.

128
Mas durante a luta com os Victors nesses tú neis, Trois sentiu que qualquer um que
entrasse nesse espaço nã o poderia ser impedido de sair; caso contrá rio, os Victors teriam
prendido o Super Eva aqui. Além disso, por mais que Kaji se atrapalhasse em cortar a ú nica rota
para o Nú cleo da Maçã , Shinji podia sentir que o Super Eva havia retornado daquele longo e
solitá rio tú nel para a rede principal.
Provavelmente era uma ameaça vazia. Eu nem tenho certeza se Kaji-san tem o poder de
fazer uma coisa dessas.
A segunda possibilidade era que Trois nã o estivesse deixando o QR Signum mergulhar nela
tã o profundamente como Quatre e que ela nã o possuía controle total sobre as habilidades que a
escama poderia lhe conceder.
Mas não é como se eu pudesse sair e dizer: "Ei, Trois, deixe a escuridão consumir um pouco
mais".
Toda vez que Shinji extraía energia do QR Signum, ele podia sentir a escuridã o tentando
comê-lo. No momento, Trois estava assumindo a maior parte do fardo. Ela nã o reclamou, e Shinji
nã o conseguiu ler sua expressã o, mas ela devia estar sofrendo.
A saia de seu vestido de chiffon preto balançava no LCL.
Shinji nã o sabia o porquê, mas Trois usava o mesmo minivestido que Quatre havia tirado
do quarto. O vestido deve ter ficado no o Eva-0.0 mutante o tempo todo.
Quaisquer que fossem os detalhes, Trois nã o usava nenhum equipamento de proteçã o
mental enquanto acompanhava Shinji no Eva - que também era seu corpo. Mas ele nã o estava
experimentando nenhuma contaminaçã o cruzada de pensamento.
O que significava que a presença dela era mais fraca que a de Quatre, embora ambas
fossem Ayanamis.
Shinji pensou na promessa que ele deixou escapar no calor do momento. Vou encontrar a
cor da Trois. Mas... posso fazer isso? Eu não posso nem escolher a minha própria.

Shinji pensou que sentiu algo atravessar o caminho do Super Eva através do espaço
sobrenatural - algo muito familiar.
Algo vermelho.
"Asuka ?!" Shinji chamou reflexivamente, surpreendendo Rei Trois.
“A Crimson A1 está aqui nos tú neis?” Trois perguntou. “Mas Quatre pensou que Asuka
tinha voltado diretamente para Hakone da Á frica.”

129
“Ela voltou. Mas muito tempo se passou enquanto fizemos nosso pequeno tour pelo É den.
Eu nã o ficaria surpreso se algo acontecesse no lado da Terra. ”
Shinji poderia ter dito que poderia estar enganado sobre a presença de Asuka aqui, mas
tinha certeza de que estava certo.
Seus olhos olhavam para um ú nico ponto na tela virtual. Por trá s dele, Trois percebeu que
sua consciência estava saindo do plugue de entrada.
“Fique aqui”, disse Trois, parecendo estranhamente irritada.
“Por quê?” Shinji perguntou.
Mas Trois nã o sabia a resposta. “Nã o importa”, disse ela, e esse foi o fim.
Ela disse a si mesma que sua reaçã o emocional nã o tinha nada a ver com a situaçã o atual,
mas nã o era como se ela nunca tivesse se sentido assim antes. De fato, ela se sentiu da mesma
maneira quando perdeu o Gendo.
Tendo obtido um alvo, o Super Eva começou a perseguir a presença vermelha.
Nesse espaço misterioso, que nã o dava sensaçã o de velocidade ou distâ ncia, o Eva mudou
de rumo como um trem trocando de trilhos.

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Capítulo 29:
A Diferença Entre

NA SUA SALA DE RÁ DIO-CONTROLE dentro do aviã o de transporte gigante da ONU, a


pequena Mari levantou os olhos de repente. “Quem está aí?”
O ú nico som dentro do aviã o era o barulho de seus motores e o rugido do vento.
Já havia chegado a notícia de que a emboscada planejada do Euro em Novaya Zemlya havia
se transformado em um engajamento surpresa com o inimigo, e o aviã o de transporte havia
acelerado em alta velocidade. A maioria da tripulaçã o precisava de novos pedidos, e o pessoal
havia se amontoado na cafeteria - agora uma sala de guerra improvisada - para um briefing de
emergência em todas as estaçõ es. Em qualquer outro lugar, o aviã o estava deserto.
As luvas de Mari eram grandes demais - uma medida preventiva para impedir a garota de
se coçar impulsivamente com suas garras -, mas também dificultavam que ela se agarrasse a
qualquer coisa. Ainda assim, ela habilmente conseguiu colocar o copo de leite na mesa sem
derramar.
A piloto do Eva americano pulou da cadeira e saiu da sala branca.
Vá rios tubos intravenosos e cabos de dados seguiram atrá s dela e se conectaram a um
robô de quatro patas mais alto do que ela - cerca da altura média do peito de um adulto. O robô
ativou e a seguiu da sala. À medida que a má quina se movia, vá rias bolsas IV pendiam de baixo.
Os motores de andar do robô zumbiram, e o rugido do vento exterior fez o interior do
aviã o soar como um giná sio da escola durante uma chuva torrencial. No topo da cabeça de Mari,
as orelhas que nã o eram as dela se contraíram.
Aquelas orelhas de animais eram um sinal de que o DNA animal emendado estava
gradualmente dominando seu corpo. As garras eram outras. Cada vez que ela pilotava o Eva dos
EUA, as transformaçõ es progrediam um pouco mais. A equipe médica da Nerv nos EUA estava
preocupada com a possibilidade de uma cauda aparecer em seguida.

131
132
Como outros ramos da Nerv, a Nerv EUA lutou para encontrar pilotos compatíveis.
Mas eles seguiram um caminho diferente. Eles haviam pesquisado métodos para remover
qualquer palavra que os Evangelions tivessem para decidir se um piloto era compatível ou nã o. A
resposta que encontraram foi a des-evoluçã o - retornar os Evangelions a uma forma anterior,
antes que eles tivessem um elemento de consciência humana. Consequentemente, o Eva dos EUA,
que mal conseguia se lembrar de andar de pé, aceitou um piloto que havia sido submetido ao
mesmo tratamento. Como benefício colateral, o gigante havia adquirido uma agressividade
extremamente poderosa e explosiva.
Cada vez que a garota entrava em seu Eva, ela se arriscava a se tornar algo que nã o podia
mais ser chamado de humano. Os tubos e cabos serviram como uma tá bua de salvaçã o literal
conectando informaçõ es de seu cérebro à equipe médica. Mas ela nã o se importava
particularmente com o que se tornara.
Ao longo de vá rios anos, ela formou um vínculo com as muitas espécies animais que lhe
foram introduzidas. Eles faziam parte dela, e ela agora se considerava uma “matilha”.
Essa palavra, em particular, deixou as pessoas ao seu redor desconfortáveis. Ela já
começara a esquecer a sensibilidade e a linguagem humana. Será que um dia ela se tornaria uma
fera que só obedecia a seus instintos?
Em seu país de origem, os fundamentalistas religiosos que negavam a pró pria existência
da evoluçã o nã o eram mera minoria. A equipe da Nerv nos EUA era mais secular, mas até eles
achavam que, se ela continuasse regredindo, seriam exorcistas de que ela precisava, nã o
cientistas.
Os ouvidos de Mari a levaram diretamente à fonte que despertou sua curiosidade. “Quem
está aí?”
No porã o de carga de vinte graus abaixo do ponto de congelamento, Momo, o golden
retriever, tremia e choramingava em um espaço entre as redes de carga.
Esse cachorro havia se separado de sua irmã , Azuchi, no aeroporto de Hakone em Daikon e
embarcado no aviã o por acidente?
Puxando os cabos atrá s dela, Mari entrou na brecha e encostou o rosto no nariz de Momo.
Ela fungou.
A princípio, Momo ficou assustada com a sú bita aproximaçã o da garota - e com o robô que
pairava sobre seu ombro. Mas mesmo antes disso, o cachorro estava confuso. Essa menininha era
realmente humana? Se nã o, o que ela era?
Antes que o cachorro pudesse recuar, Mari lambeu Momo no nariz.
“Você tem um instinto de curioso, nã o é?” ela perguntou.

133
O sorriso assertivo da garota era inegável. Momo nã o pô de deixar de abanar o rabo. O
cachorro nã o tinha medo dessa garotinha... Tinha medo dos muitos pares de olhos que parecia
assistir.

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Capítulo 30:
A Batalha na Ilha do Norte

A FREQUÊ NCIA DE RÁ DIO COMBATE estava cheia de vozes gritantes.


A chegada antecipada imprevista do inimigo jogou o campo de batalha no caos. Caminhõ es
de carga e contêineres foram abandonados onde estavam, em vez de se retirarem da á rea de luta
ativa como deveriam ter sido, mas as pró prias tropas estavam em grande parte em posiçã o e
prontas.
A figura negra do Victor subiu acima do horizonte. Ainda estava a mais de dez quilô metros
de distâ ncia, mas seus batimentos cardíacos percorriam a distâ ncia alto e claro. As ondas
gravitacionais eram solitõ es, que nã o atenuavam como ondas sonoras normais. Mesmo que o som
nã o fosse particularmente intenso na fonte, o batimento cardíaco viajou longe.
Ele dominou a imitaçã o de Heurtebise.
THRUM!
Toji nunca esqueceu a primeira vez que o coraçã o começou a bater.
Um inimigo desconhecido e imparável avançava sobre o QG de Nerv, e Shinji e o Eva-01
estavam mortalmente feridos e morrendo em um hangar. Os cientistas e engenheiros estavam
realizando o que equivalia a um funeral elaborado, para permitir que o Eva e seu piloto
passassem em paz, em vez de uma reaçã o descontrolada que poderia muito bem levar um bom
pedaço do mundo com eles. Mas entã o veio o batimento cardíaco, cheio de vigor, anunciando seu
renascimento. Por nenhuma razã o tangível, todos os presentes estavam eletrificados - quase
delirando de emoçã o - enquanto acenavam com os braços e batiam no ritmo com o que quer que
fosse ú til.
Agora esse coraçã o batia no peito do inimigo. Foi uma humilhaçã o que rangeu os dentes.
THRUM!
No assento do Flanker N2 , Toji gritou: “Isso é um ultraje... um ultraje!”
Toji só veio aqui como um dos primeiros observadores e nã o sabia o que fazer agora que a
batalha havia começado. Apó s um momento de indecisã o, ele desceu da frigideira de Misha.
Diretamente na frente dele, ele viu o Heurtebise branco-puro pegar o rifle de pó sitron e mirar.
Cada batimento cardíaco reverberava através de seus flutuadores gravitacionais. Ele virou
o aviã o e seguiu para o norte. Como se estivesse esperando por esse momento, Hikari atirou.

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O rifle de pó sitron de Heurtebise brilhava ao sol como um instrumento de metal. Um
clarã o brilhante brotou da boca e momentos depois veio a onda de choque e o rugido.
Visível no horizonte, a 12 quilô metros de distâ ncia, o Victor bloqueou o projétil do
pó sitron com seu escudo de energia invisível, semelhante ao Campo AT. As antipartículas
atingiram o escudo quase na velocidade da luz e liberaram uma tremenda explosã o de energia
que se espalhou pela superfície do escudo, dissipando-se ou se transformando em vapor. Os
soldados da bacia viram um clarã o ofuscante, seguido de um estrondo alto.
O mesmo acontece com as batalhas entre gigantes. Para os sentidos humanos, os colossos
ficam para trá s da batida, e o resultado parece em câ mera lenta. Eles nã o sã o realmente lentos. A
mente humana pode entender facilmente que os aviõ es voavam rá pido, apesar de parecerem
lentos do chã o, mas por os gigantes terem uma forma humanoide, o subconsciente nã o pode
deixar de atribuir-lhes uma escala humana, criando assim um espaço entre a percepçã o e a
realidade. Os gigantes parecem se mover como se estivessem debaixo d'á gua. Essa desconexã o
entre sentidos e percepçã o pode ser chocante.
Mesmo quando o segundo tiro de Heurtebise fracassou no escudo do Torwä chter, o
tenente-coronel Clausewitz da Sexta Unidade de Resposta Rá pida da Euro nã o estava prestes a se
tornar pessimista. O plano nã o havia assumido nenhum outro resultado.
"É assim, Hikari!" ele gritou. “Continue atirando. Atraia esse bastardo para a armadilha!
Atenha-se ao plano.”
<< Sim, senhor! >> A voz dela falhou. O vapor do segundo tiro de seu rifle de pó sitron
causou interferência significativa no espectro de rá dio. Mas ela entendeu a mensagem e
prosseguiu como planejado.
A chegada antecipada do inimigo jogou as forças multinacionais em extrema confusã o,
mas elas se recuperaram surpreendentemente rá pido e se mobilizaram de maneira ordenada.
A primeira onda de tropas a chegar a Novaya Zemlya estava prestes a começar seu
segundo exercício. Eles estavam prontos. A retaguarda, que acabara de chegar, ainda estava perto
do aeroporto, no lado sul da ilha, e a reaçã o deles foi muito mais caó tica.
Embora os caminhõ es-espelho de ondas gravitacionais - o ponto principal de sua
estratégia - tenham funcionado mal e tenha convocado o inimigo uma semana antes do previsto,
Clausewitz comentou: “Todas as coisas consideradas, acho que podemos dizer que estamos
apresentando um desempenho admirável”.
Quando a Lança de Longinus começou a cercar a Terra, a arma lançou uma luz sobre uma
á rea do norte da Á frica, da Europa e da Rú ssia, e transformou 1,9 milhã o de pessoas em colunas
de sal em ruínas. Mas esse foi apenas o primeiro gosto do apocalipse. Os desastres que se
seguiram haviam reivindicado um pedá gio muito maior, mesmo na Europa.

136
Mas agora as forças do euro precisavam fazer com que os responsáveis pela destruiçã o
pagassem pelo que haviam feito - independentemente do custo.
Nã o se tratava apenas de uma questã o de orgulho nacional. Eles precisavam fazer algo
antes que a humanidade cedesse totalmente ao desespero.
THRUM!
O coraçã o roubado do preto Torwä chter continuava batendo enquanto o gigante se voltava
para Heurtebise e começava a avançar. Quando o Super Eva havia enfrentado esse inimigo pela
ú ltima vez, o Torwä chter empunhava um cajado ornamentado, mas dessa vez o gigante havia
aparecido de mã os vazias. O motivo logo seria aparente.
O Torwä chter alcançou as costas, agarrou a borda da placa traseira em forma de obsidiana
e arrancou uma lasca. No momento da separaçã o, a ponta do cabo fino se transformou em uma
arma grande e irregular.
“Isso é um martelo?” Perguntou o assistente-chefe de Clausewitz. “Um machado de gelo?
Esses â ngulos sã o estranhos, mas se for para ser algum tipo de arma contundente, nã o terá muito
alcance.”
“Ou talvez seja mais do que aparenta”, disse Clausewitz. “Vamos fazer o Torwä chter usar
essa arma para que possamos obter alguns dados. Equipe 3-Alpha-Leste do UAV, vocês têm algum
chamariz autô nomo pronto para atacar?”
Em instantes, tiros dispararam do chã o. Vá rios obuses mó veis nã o tripulados começaram a
disparar das trincheiras. Uma vez disparadas, seus projéteis de calibre de 150 mm descartaram
suas sabotagens para revelar uma lança longa e delgada e pontiaguda de urâ nio empobrecido. Os
projéteis atingiram o escudo do Torwä chter e foram imediatamente destruídos em fumaça e
detritos.
O Torwä chter respondeu com um amplo movimento do braço e um movimento do pulso. A
maçaneta da arma dobrou e o fuso de trinta metros de comprimento empurrava para frente.
Cortando o ar, emitia um som estranho e agudo que podia ser ouvido em todo o campo de
batalha.
"É um atlatl!" Clausewitz gritou. O eixo foi lançado para a frente, preso a empunhadura por
um cabo. “Um atirador de lança! Exceto que o atirador e o dardo estã o conectados por uma tipoia!
O gigante balançou o braço novamente.
Conectada ao cabo do estilingue, a trajetó ria parabó lica do fuso transitou em um grande
movimento circular. Outro balanço, e o projétil acelerou, girando e girando. De repente, um
enorme acidente sacudiu o ar.

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“Ele quebrou a barreira do som!” Clausewitz disse. A massa irregular criou nuvens em seu
rastro e depois as passou na pró xima revoluçã o.
O eixo atingiu a posiçã o dos obuses, e sua força cinética avassaladora - e a onda de choque
envolvente - esmagaram os veículos blindados e o solo abaixo deles. Mas o eixo nã o parou. Ele
simplesmente saltou para cima e continuou circulando em velocidade supersô nica.
Outras colocaçõ es de obuses nas proximidades começaram a disparar, unidas por foguetes
guiados lançando chamas.
“Quem mais começou a atirar? Pare eles! Se aquele gigante virar o curso...” Eles nã o seriam
capazes de atraí-lo para a armadilha.
Mas Clausewitz nã o precisava se preocupar. O gigante preto respondeu alongando o fio. De
uma só vez, a haste espalhou os obuses que se juntaram ao ataque como se fossem brinquedos.
Veículos blindados e pedaços de terra e pedra voaram para cima e começaram a cair em todas as
direçõ es.
A arma brutal circulava livremente a qualquer comprimento, com um diâ metro de 1,4
quilô metro.
O Torwä chter avançou. A haste girató ria fez o ar uivar e o chã o estremecer. Tanto o gigante
quanto sua arma se aproximaram do centro do campo de batalha. A onda de choque do eixo
escavou arcos no chã o, e poeira e detritos subiram como uma cortina. O Heurtebise no ar mal
podia ver o Torwä chter através da névoa.
Impressionante para ter certeza, mas, ainda assim, apenas força bruta.
“Nã o devemos nos preocupar muito com essa coisa”, disse o assistente.
Ninguém discordou. E, no entanto, havia algo absurdo em ter que temer uma arma tã o
primitiva, enquanto o escudo e as habilidades regenerativas do Torwä chter encolheram as armas
da humanidade, que possuíam alcance e poder de fogo muito maiores.
A Nerv Japã o alegou ter destruído o outro Torwä chter. Eles nã o tinham oferecido nenhuma
prova, mas anteriormente, o par sempre aparecia juntos, enquanto hoje apenas um havia
chegado. Isso significa que o relatório foi verdadeiro? Clausewitz pensou. Se sim, estou agradecido.
Especialmente porque essas duas placas juntas poderiam ter aberto uma porta para outro espaço -
uma fonte de reforços inimigos, ou nosso pior pesadelo... outro massacre de pilar de sal. Só ter que
enfrentar um é uma boa notícia, mas hoje está se comportando de maneira diferente. Aquele
maldito gigante rasgou um pedaço e fez uma arma com ele.
“Alguma coisa vale, hein?” Clausewitz disse e depois estalou a língua. “Que diabos é essa
placa, afinal?”

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Sejam fixadas a um Torwä chter ou a Armaros, as placas nunca se separam do chã o. Eles
combinavam com os movimentos de seus portadores, emergindo da terra ou submergindo nela,
conforme necessá rio.
A Nerv Japã o apresentou uma teoria esquisita. O maior dos gigantes, Armaros, tinha
anteriormente duas placas traseiras conectadas ao chã o. Depois que o Eva japonês destruiu um
Torwä chter, Armaros foi visto com apenas uma placa. E os Torwä chters poderiam usar a
superfície da Terra como um portã o de dobra. Conecte esses dois fatos e…
O assistente deve ter pensado a mesma coisa, porque, ao verificar duas vezes as janelas de
status de Heurtebise, ele disse: “Os japoneses afirmam que as placas nã o terminam do outro lado
do chã o. Se você seguisse a placa de Armaros, isso o levaria através da rede de tú neis até as costas
do Torwä chter. Eles fizeram questã o de esclarecer que isso é apenas conjectura, mas a evidência
circunstancial está lá .”
“Nossa estratégia continua a mesma”, Clausewitz disse secamente, “mas levarei isso em
consideraçã o. Por enquanto, minha maior preocupaçã o é que a arma esteja balançando. Vai ser
ainda mais problemá tico do que parece. Com um giro, esse eixo poderia tirar metade dos nossos
espelhos. Remova a opçã o da lista de formaçã o dos caminhõ es espelho de ondas gravitacionais
para cercar o alvo em círculos concêntricos. E vamos ver se podemos cortar aquele cabo com
algum tiro de longo alcance. Em três, dois, um…”
A IA concordou. << O Torwä chter está acelerando e agora está entrando na matriz de
espelhos. >>

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Capítulo 31:
Uma Pessoa em Espírito

NO ESPAÇO ESCURO da rede de tú neis, algo agarrou a mã o do Super Eva. Shinji ficou
assustado, mas sem medo. A mã o estava quente.
<< Shinji! Eu te encontrei! >>
A voz parecia vir de cima. Shinji reconheceu imediatamente.
"Asuka?!" ele perguntou.
Quando o Super Eva se virou para olhar por cima do ombro, ele esperava ver a gigante
vermelha, Crimson A1, a mistura de Asuka e o Eva-02. Entã o ele ficou surpreso quando viu o rosto
humano de Asuka. Lá no estranho corredor estava Asuka, do lado de fora do Eva, sem roupa,
exceto por inú meras formas vermelhas girando em torno dela, tã o rá pido que eram um borrã o,
como uma tú nica de calor e vento.
Shinji nã o entendeu o que estava acontecendo. Ele começou a considerar a possibilidade
real de estar alucinando.
Asuka correu em sua direçã o, embora ele nã o conseguisse entender onde ela estava em
relaçã o a ele ou o quã o grande ela era. Ele a pegou e sentiu os braços em volta dela - e ela em seu
peito. Se era seu pró prio peito ou o do Super Eva, ele nã o sabia. Parecia os dois.
“Trois… acho que talvez esteja tendo alucinaçõ es.”
“Nã o, esse é a segunda…” Criança, Trois estava prestes a dizer, mas ela começou de novo.
“Essa é a Asuka. Eu a vejo. Mas fisicamente, nã o consigo entender onde ou o que ela é.
Agora, ela era do tamanho de um homem, e alegremente enterrou o rosto no peito dele,
com as mã os nos ombros dele.
Espere, isso não está certo. Isto não é como ela.
<< Você foi quem chorou, me dizendo para nã o ir a lugar algum - mas entã o você me
deixou. Você tem algumas explicaçõ es a fazer! >>
Desde que o QR Signum substituiu seu coraçã o, o plugue de entrada parecia frio, nã o
importa o quã o quente ele colocasse o LCL. Mas agora ele sentia o calor se espalhando através
dele. Isso foi felicidade? Um sentimento de segurança?
Asuka notou Ayanami Trois sentado atrá s de Shinji.

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"Cinq!" Asuka disse. Mas essa Ayanami nã o estava mais neste mundo. “Cinq... você chegou
em casa na minha frente. Vejo você fundida em Trois. Ah, Cinq, sinto muito por ter deixado você.”
Mas, em vez de corrigir Asuka, Trois respondeu: "Está tudo bem."
Assustado, Shinji virou-se para Ayanami.
Ela realmente era Trois, e ainda assim sua expressã o gentil pertencia inconfundivelmente
a Cinq.
A memó ria de Cinq - ou era sua consciência? - falou pelos lá bios de Trois. “Só consigo me
ver nas conexõ es que tenho com os outros. Isso é o que me limita - mas também me dá uma
sensaçã o de valor.. Tomei a decisã o certa e me sinto realizada. Você nã o deve se sentir mal por
mim. E isso vale para você também, Trois. Consegui expressar quem sou.”
Shinji nã o percebeu que Trois estava chorando no LCL. As palavras de Cinq haviam
provido a salvaçã o de sua culpa pelo nascimento e morte de Cinq.
Trois foi quem propô s o plano de formar um vínculo mental com seus três clones para
criar uma rede orbital de interceptaçã o de Anjos. Por fim, a morte de Cinq fluiu dessa decisã o.
"Trois", disse Asuka, sorrindo. “Você parece bem nesse vestido.”
Quem era essa garota sincera e direta? Quem era essa pessoa que encontrou Cinq dentro
de Trois e que olhou diretamente para Shinji? Era isso que Asuka mantinha escondido sob seu
orgulho?
“Quem escolheu isso deve ter um bom olho”, disse Asuka.
Pelo menos ela ainda sabia se gabar. Shinji queria acreditar que isso era Asuka e nã o uma
ilusã o. Ela se separou do peito dele, mas manteve as duas mã os nos ombros dele enquanto subia
na frente do banco do piloto. As formas vermelhas continuavam girando em torno de seu corpo
como roupas. A saia - se é que se pode chamar assim - ondulava em torno de suas pernas.
“Shinji”, ela disse, “eu voei sozinha até a lua. Acho que voltei para casa com uma multidã o,
mas ainda assim, você nã o me acha incrível? Diga-me que sou incrível.”
Ela golpeou seus longos cílios para ele, mas soou como uma ordem.
A expressã o de Shinji ficou congelada em choque, mas agora mudou para uma de
confusã o.
Asuka voltara da lua para casa - mas seus dados se fundiram com os de seu Eva. Ele
pensou que nã o havia esperança de reconstituí-la sozinha.
No entanto, aqui estava ela, bem na frente dele. Sorridente. Essa é realmente ela?
Ele começou a pensar em tudo o que havia acontecido com eles e começou a se emocionar.
Não, não posso chorar agora.

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Ele sabia que ela zombaria dele por isso mais tarde.
"Sim, Asuka", ele conseguiu. "Você é incrível. Eu... eu tenho muito respeito por...”
Ela pressionou um dedo nos lá bios dele. “O respeito parece muito distante. Você pode ficar
com ele.”
Shinji nã o se importava mais com o porquê ou como ela estava aqui. A presença dela era
suficiente.
Ela chegou à lua sozinha, lutou contra um Transportador de Anjo em baixa gravidade,
descobriu a Arca da lua e chegou à Terra mesmo depois de perder o corpo.
Agora que ela tinha recuperado o seu auto, no corpo e na mente. Surpreendente.
O que um cara poderia dizer sobre isso?
"Asuka, você... você é uma maluca filha da-"
"Veja isso."
Provavelmente nã o isso.
Shinji nã o podia acreditar que eles estavam falando assim novamente - compartilhando
palavras, compartilhando desculpas...
Asuka repentinamente olhou para longe, como se alguém a tivesse chamado.
Ela ficou rígida e depois olhou para Shinji.
"Asuka?" Shinji perguntou.
O sorriso dela desapareceu. Seu olhar era penetrante, sua voz cautelosa. “Nã o foi você.
Entã o quem?"
O fluxo de LCL no plugue inverteu, como se soprado por uma rajada de vento.
“Você nã o me trouxe aqui, Shinji! Nã o foi você!”
Em um instante, ela se separou dele. Entã o ela estava do lado de fora do Super Eva mais
uma vez.
“O que?” Shinji perguntou. Ele sentiu como se tivesse sido empurrado para longe.
O turbilhã o de vento vermelho escondeu Asuka atrá s do véu, e o vó rtice cresceu mais e
mais, até ficar tã o grande quanto um Eva. Ele voou pelos tú neis.
Entã o Shinji e Trois ouviram o som, vindo da direçã o que Asuka havia seguido.
THRUM!
Ambos congelaram.

143
“Esse é o seu...” Trois sussurrou.
Shinji olhou para ela por cima do ombro. “Meu coraçã o? Como?!”

144
Capítulo 32:
Os Espelhos Fechados

THRUM!
O coraçã o roubado do Super Eva pulsava no centro do círculo de poeira e detritos agitados
pela varredura da haste. O atual proprietá rio do coraçã o, o Torwä chter, avançou em direçã o ao
som dos batimentos cardíacos imitadores de Heurtebise.
Os retentores de Armaros foram levados a roubar a fonte do batimento cardíaco? Ou a
imitaçã o dos batimentos cardíacos simplesmente os ofendeu?
Os olhos de Hikari dispararam entre o feed visual do Eva e o mapa com o diagrama de
implantaçã o. O ponto que indica a localizaçã o do Torwä chter cruzou uma linha de demarcaçã o no
mapa.
“O alvo entrou na matriz de espelhos!” Hikari gaguejou. “Heurtebise para
Kommandobrü cke - estou mudando o modo de flutuaçã o gravitacional.”
Os flutuadores gravitacionais pararam de fazer a imitaçã o do batimento cardíaco e se
prepararam para gerar distorçõ es gravitacionais. Perdendo o som do batimento cardíaco que
procurava, o Torwä chter diminuiu o avanço, como se nã o tivesse certeza, o que era exatamente o
que Hikari queria.
Do aviã o de controle, Clausewitz anunciou que a armadilha estava pronta.
<< Comboio de espelho, feche o círculo! Ritter, comece! >>
Os dezesseis caminhõ es blindados, com conjuntos trapezoidais de espelhos de ondas
quâ nticas montados em gimbals, atravessaram a terra á rida. O comboio ultrapassou Heurtebise e
começou a se espalhar.
Os flutuadores de Heurtebise zumbiram. A maioria da energia criada pelos gravitons
escapava de nossa dimensã o através de ondas gravitacionais. Mas, quando posicionados
corretamente, os espelhos das ondas gravitacionais poderiam refletir e focar essas ondas em um
ú nico ponto no espaço.
O Torwä chter continuou balançando a haste. Quando o gigante deu outro passo, o espaço
embaixo do pé torceu ligeiramente e voltou violentamente ao lugar.
Este era o limite da tecnologia N2 baseada nas ondas gravitacionais. Ao produzir gravitons
em maior quantidade, o efeito poderia ser usado para fazer Heurtebise e o N 2 Flanker voar, mas
esses eram alvos fixos nos quais os flutuadores poderiam ser aplicados em grande nú mero.

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Armas baseadas em gravidade que poderiam explodir ou mesmo derrubar um alvo distante
continuaram sendo o tema da ficçã o científica.
Mas a tecnologia gravitacional ainda tinha seus usos. A alteraçã o gravitacional poderia
passar pelo escudo do Torwä chter. O efeito nã o foi forte o suficiente para empurrá -lo, mas o
Torwä chter tropeçou na pequena distorçã o e cambaleou para frente.
Clausewitz a estimulou. << Novamente, Hikari! >>
“Sim senhor!”
Evangelions e Torwä chters eram capazes de permanecer no chã o. Em outras palavras, eles
eram objetos físicos afetados pela gravidade, e seus Campos AT e escudos de poder também nã o
podiam bloquear a força.
O Torwä chter tropeçou em outra distorçã o e avançou, mal recuperando o equilíbrio.
<< Cuidado! O Torwä chter prolongou o cabo! A haste vai acertar você na pró xima
revoluçã o! >>
Os olhos de Hikari se arregalaram. Ela olhou para a esquerda, onde o projétil preto corria
em sua direçã o.
Ela girou o rifle de pó sitron e conseguiu disparar no ú ltimo momento, mas errou. A haste
saltou e mudou de rumo, esmagando seu rifle. A arma foi instantaneamente destruída.
O impacto atravessou o ombro esquerdo de Heurtebise e abriu uma fenda profunda na
armadura do Eva.
“Eu nã o posso bloqueá -lo com meu escudo de poder?” Hikari perguntou. A surpresa
atingiu ainda mais do que a dor do feedback.

No aviã o de controle de Heurtebise, o assistente de Clausewitz disse: “Hein? A haste


passou direto pelo escudo de Heurtebise. Nã o estamos lidando apenas com força cinética aqui.”
“Ainda nã o acabou!” Clausewitz disse. “Os principais ó rgã os de Heurtebise sofreram
apenas danos mínimos.”
<< Heurtebise para Kommandobrü cke. Retorne os níveis de controle do plugue falso para
como estavam antes. Eu… nã o consigo extrair energia suficiente por conta pró pria. >>
O medo em sua voz assustou Clausewitz, mas agora que ele pensava nisso, era a primeira
vez que ela estava em uma batalha real, enquanto controlava totalmente suas faculdades.
“Fique calma. Eu sei que você pode fazer isso!”
<< Mas senhor! >>

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“Se isso fizer você se sentir melhor, prepararei o plugue falso para submersã o profunda.
Também estou trabalhando para conseguir um substituto para esse rifle.”
Ele prometeu libertar Hikari do controle do plugue falso, mas o plugue falso ainda estava
operando - apenas em um nível muito mais baixo. Desligar completamente o plugue falso
permitiria que o QR Signum se infiltrasse na psique do piloto, assim como a escama havia feito
com Rei Quatre, no Japã o. O plugue falso estava carregando esse fardo no lugar de Hikari.
Mas Hikari nã o conseguia extrair tanto poder da escama quanto antes - e nã o apenas
porque dera uma de suas duas escamas ao Super Eva do Japã o.
Voltando ao assunto em questão, Clausewitz lembrou a si mesmo.
“Batalhã o de obuses russos, vocês estã o prontos?”
No momento em que ele terminou de falar, sua tela piscou em branco brilhante.
A arma da bala atingiu o escudo do Torwä chter e criou nuvens de fumaça eletromagnéticas
em cascata, cor de arco-íris.
A transferência de energia cinética foi tã o fantá stica que o projétil nã o foi apenas
destruído, mas ionizado. O escudo do gigante preto era forte, mas o impacto fez o Torwä chter
recuar. No entanto, o gigante conseguiu ficar de pé. Ele contra-atacou imediatamente, esmagando
o eixo na lateral do obus bem escondido de quarenta toneladas. A ferrovia mó vel foi totalmente
destruída.
O tanque camuflado amassou como uma caixa de papelã o e a metralhadora de 350 metros
de comprimento caiu no chã o, como uma tira fina de papel lançada ao vento. Ele colidiu com um
caminhã o espelho de ondas quâ nticas. O sistema de IA dos caminhõ es recalculou a formaçã o para
compensar a perda e os veículos restantes que reuniram-se na nova formaçã o.
Embora as distorçõ es gravitacionais tivessem derrubado o Super Eva na primeira
tentativa, o Torwä chter havia tropeçado quase dez vezes agora e ainda estava parado. Mas era
fá cil calcular como estabilizar - ou desestabilizar - um bípede. Pesquisadores médicos e
roboticistas já realizavam esses cá lculos há muito tempo.
Heurtebise e os caminhõ es-espelho criaram outro ponto de distorçã o.
Dessa vez, a bolsa de ar estourou nas costas do Torwä chter e o gigante negro cambaleou
para frente. Os movimentos grandes e circulares da mã o do gigante vacilaram, e o cabo atirou a
haste para o céu, depois para baixo. O projétil afundou profundamente no chã o, desalojando um
pedaço de solo congelado maior que um Eva.
<< Hikari, >> Clausewitz disse, << você pode romper o escudo daquela coisa? >>
“Eu consigo fazer isso!” ela respondeu, sem saber se era verdade ou nã o. Mas ela, pelo
menos, tinha uma chance.

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Embora estivesse assustada, ela contou com a proteçã o de seu escudo ao impulsionar o
Eva para a frente. Heurtebise descartou o rifle quebrado e sacou a espada da perna. O Torwä chter
tentou se endireitar, e ela enviou outro eco gravitacional estourando na parte de trá s da perna. O
Torwä chter caiu sobre um joelho. Heurtebise enfiou a espada.
CLANG!
Na ponta da lâ mina, os escudos de poder dos dois gigantes se chocaram.
Hikari deu um grito de guerra e empurrou a espada para a frente com todas as suas forças.
Ela notou algo estranho. A ponta da sua espada tremia.
“Nã o… o escudo é?”
Hikari olhou além da luz tremeluzente dos escudos. Havia algo no peito do Torwä chter.
O coração está batendo mais rápido.
Uma batida rá pida BA-THUMP BA-THUMP BA-THUMP cobria um rugido semelhante a uma
cachoeira. Do coraçã o, luzes inquietas tremeluziam e fumaça fina subia. Hikari imediatamente
lembrou de uma panela grande que começara a transbordar.
O que está acontecendo com o coração?
Sob os dois gigantes, o chã o se abriu e a haste voou. Pega de surpresa, Hikari nã o
conseguiu sair do caminho a tempo. A haste atingiu Heurtebise e abriu sua armadura do
abdô men ao peito.
O ar se dispersou de seus pulmõ es, a cabeça balançando para trá s. Ela viu fragmentos
brancos de armadura quebrada se espalhando. Além deles, o Torwä chter empurrou a palma da
mã o esquerda em sua direçã o e o ar se distorceu.
FWUM!
O corpo gigante de Heurtebise foi jogado para trá s.
Uma parede invisível o atingiu. O Torwä chter atacou empurrando seu escudo de poder
contra ela.
Ah, eu não sabia que poderíamos fazer isso…
Toji estava a uma distâ ncia razoável, mas perto o suficiente para ver o que havia
acontecido com seus pró prios olhos. "Hikari!" ele gritou. Mas entã o Clausewitz falou sobre a
frequência compartilhada sem criptografia.
<< Pare, pare, pare! Estamos atirando do oeste. Heurtebise, nã o se mexa! >>
Agora veio a pergunta importante - o que aconteceu com o escudo de poder do Torwä chter
quando o gigante negro o estava usando como arma contra Heurtebise?

148
Na patrulha a oeste de Novaya Zemlya, a frota russa aguardava esse momento. O FCS de
toda a frota sincronizou as armas lasers dos navios em três camadas, cada um separado apenas
por um minú sculo atraso. O primeiro destruiu qualquer terreno obstrutivo. O segundo limpou o
ar e os detritos. O terceiro passou pelo ar denso e colidiu com o Torwä chter com força cinética
má xima.
Tudo o que era visível nas duas primeiras camadas eram os rastros de atmosfera
queimada deixada em seu rastro, mas os tiros do terceiro convergiram em um ú nico ponto e
floresceram em uma explosã o tremendamente brilhante que apagou todo o resto.
A onda de choque golpeou Heurtebise perto do chã o, prendendo o gigante ali enquanto
detritos e partículas de ar atingiam seu escudo.
Hikari pensou ter ouvido vozes gritando de admiraçã o por toda a ilha.
De fato, os soldados da artilharia observavam através de suas lunetas, os comandantes de
cada esquadrã o observavam pela tela principal e a tripulaçã o dos aviõ es de observaçã o observava
através das janelas de resina composta. Todos estavam balançando os braços e apertando os
punhos na vitó ria.
O campo de batalha estava cheio de detritos, branco, cinza e preto.
Mas, no centro de tudo, a nuvem de fumaça se dissipou para fora, como se algo a estivesse
afastando - e algo estava. O Torwä chter havia espalhado seu escudo.
O bastardo ainda estava vivo.
Mas a visã o do que emergiu da fumaça deixou os agressores sem palavras.
O braço esquerdo do Torwä chter havia sido arrancado e as duas pernas estavam faltando
das coxas para baixo. No entanto, o gigante nã o havia caído. Estendendo-se do chã o, a placa
traseira do Torwä chter elevou o gigante sem pernas à sua altura original.
"Espere", disse Clausewitz, pasmo. “Como ele ainda está se movendo?”
O Torwä chter ainda estava em movimento, embora devagar. Transportando o gigante de
um braço e sem pernas, a placa traseira empurrou os escombros enquanto deslizava pelo chã o
em direçã o a Heurtebise, que ainda estava deitado de costas. O gigante preto parecia um torso
amarrado na proa de um navio quebrado, como uma figura de proa.
O relató rio da Nerv Japã o teorizou que a placa traseira de Armaros estava conectada
através do hiperespaço à placa traseira do Victor. Nã o mais do que dez presentes na ilha haviam
visto o relató rio, mas naquele momento, cada um deles estava pensando no que lera.

Com um pwssh quase inaudível, o plugsuit de Hikari injetou sedativo em seu corpo.

149
Do plano de comando, Clausewitz gritou: << Hikari, você está bem?! >>
“S-sim... mas eu usei o sedativo, e...”
<< Nã o se preocupe. Apenas aguente firme. Aumentarei o controle do plugue falso. O QR
Signum se tornará mais ativo, o que deve acelerar a regeneraçã o do Heurtebise. Apenas vá com
calma. Nó s o pilotaremos daqui. >>
O plugue falso apenas começara a interagir e otimizar com os sistemas orgâ nicos
danificados do Eva. O corpo de Heurtebise ainda estava mole, mas o reator N 2 e os flutuadores
gravitacionais começaram a funcionar. O gigante cansado levantou-se do chã o e começou a se
mover... lentamente.
A dor no peito de Hikari começou a diminuir. Entre o sedativo e o sistema falso, sua
consciência estava ficando nebulosa. Mas ela precisava falar.
“Clausewitz, senhor... O coraçã o. O coraçã o do Torwä chter está batendo mais rá pido, e...”
<< O que é isso? >>
“Parece perigoso... embora... seja o representante da minha classe - o coraçã o do meu
amigo.”
O Torwä chter continuou a deslizar em sua direçã o.
Mas quando a haste começou a voar para além do seu alcance, o Torwä chter multilado
congelou, nã o mais empurrado pela placa traseira, como uma criança deixada para trá s.
Partículas brilhantes choveram como sangue das feridas abertas do Torwä chter. As
partículas vieram da mesma luz radiante que derramava das dimensõ es mais altas a cada batida
do coraçã o do Center Trigonus.
“Os batimentos cardíacos...” Hikari disse: "é..."
O som do batimento cardíaco fora abafado pela batalha, mas agora que o silêncio havia
caído novamente, os soldados euro e russos notaram o pulso acelerado do gigante negro.
BA-THUMP BA-THUMP BA-THUMP.
Quando o sangue cintilante jorrou das feridas do Torwä chter, a luz atrá s da fenda do
Center Trigonus tremeluziu ainda mais. Enxertada no peito do Torwä chter, a cobertura do peito
do Super Eva brilhava em vermelho com calor intenso, queimando a carne do gigante preto.
O coraçã o estava prestes a explodir, levando o gigante com ele? Isso poderia ser motivo de
comemoraçã o, se essa fosse a extensã o da destruiçã o.
Os soldados sentiram um alarme instintivo. Eles estavam em pé na frente de uma represa
prestes a explodir.

150
“Droga”, disse Toji do cockpit do N2 Flanker pairando. Ele bateu com o punho na perna
cibernética. “Eu acho que entendo agora.”
Os batimentos cardíacos do Super Eva inspiraram esperança na humanidade de continuar
lutando, mesmo quando confrontados por forças colossais que poderiam esmagá -los facilmente.
O batimento cardíaco significava a vontade de existir. Foi uma força que lutou, a qualquer custo,
para permanecer no palco do mundo, mesmo depois que a cortina caiu. Armaros temia esse
batimento cardíaco. Ele roubou o coraçã o em desespero.
“Ele teme o coraçã o, e por isso odeia. Ele quer que a humanidade o destrua!”
BA-THUMP BA-THUMP BA-THUMP.
“E como se isso nã o fosse ruim o suficiente, quando isso acontecer, pelo que Maya-san diz,
a explosã o destruirá toda a ilha - e além. Com todos esses soldados mortos, nossa vontade de
sobreviver enfraquecerá . Que maneira boa de nos ensinar uma liçã o, hein?”
Mas o que poderia ser feito? Se os soldados evacuassem e tentassem invocar o Martelo de
Aton, o Torwä chter poderia escapar, deixando a humanidade em melhor situaçã o do que quando
isso começou. Se desistir agora eles perderiam a oportunidade de destruir o Torwä chter.
No plano de controle, Clausewitz disse: “Nó s apenas temos que continuar lutando”.
Todo mundo estava pensando a mesma coisa.
O fluxo do sangue cintilante do Torwä chter diminuiu e foi quando os soldados perceberam
que havia um segundo gigante preto.
Pressionado com força contra a parte de trá s do Torwä chter apoiado, de modo que suas
duas formas correspondessem, o segundo gigante alcançou dois braços em torno da frente do
primeiro e segurou o coraçã o furioso. O batimento cardíaco se acalmou.
Entã o o segundo gigante saiu de trá s da silhueta do primeiro e revelou sua pró pria placa
traseira.
“Um alerta!” Clausewitz gaguejou. “Todas as forças, alerta! Um segundo Torwä chter
apareceu! Eu repito…”
Mas Toji foi o mais surpreso. “Isso é impossível! O outro... Shinji disse que havia derrotado
a outra metade!”
As forças do euro e da Rú ssia começaram a atirar à vontade. Em meio à fumaça crescente,
quase todos os tiros foram perdidos. A barragem caó tica obscureceu o novo Torwä chter de vista.
O gigante parecia ter usado seu escudo de força, mas a fumaça espessa, a interferência
eletromagnética e o calor bloquearam todos os sensores.
Tudo o que Toji viu foram as pontas das placas traseiras dos dois gigantes tocando juntas.

151
"Droga!" ele disse. Usando o protocolo de conselheiro militar, ele cortou a frequência de
rá dio de combate.
“Nerv Japã o a todas as forças. Isto é uma emergência! Todas as unidades pró ximas aos
Victors - er, os Torwä chters - se retiram imediatamente! ”
Mas o aviã o de controle do Euro nã o estava ouvindo nada disso.
<< Que idiota está gritando nessa frequência?! >>
A causa do pâ nico de Toji estava prestes a ficar clara para eles.

"Kommandobrü cke para Heurtebise", disse o assistente de Clausewitz. “Hikari, você pode
se levantar?”
As pernas brancas do gigante estavam instáveis, mas com a ajuda dos flutuadores
gravitacionais, Heurtebise se levantou. Sua armadura torá cica havia se regenerado, mas pouco.
O dano se estendeu aos ó rgã os internos do Eva, embora tudo o que deveria estar do lado
de dentro tivesse permanecido pelo menos assim. Tudo o que se podia fazer agora era pressionar
a armadura de contençã o e rezar para que as feridas cicatrizassem mais rá pido do que os
movimentos do Eva as rasgassem.
Dentro da janela de transmissã o, Hikari balançou a cabeça, como se estivesse sacudindo a
ú ltima dor do crâ nio.
<< Acho que... uma das balas da metralhadora... cortou minha asa. Os flutuadores nã o estã o
danificados, mas… >>
Clausewitz assistiu à exibiçã o vizinha. “Unidades da linha de frente, retirar!” Acabara de
ver as placas traseiras dos dois Torwä chters se separando. “Linhas de frente, retirar!”
“Isso é uma ordem?” o assistente perguntou.
“Dê o fora daqui! Deixe seu equipamento e corra!”
Ele chegou à mesma conclusã o que Toji.
“O portã o está se abrindo!”

As duas placas se separaram. Entre eles, visível através da fumaça, a porta se abriu como
uma cortina de escurecimento, desdobrando-se no ar.
Acima, Hikari assistia do Heurtebise.
O segundo Torwä chter terminou de abrir o portã o e depois saltou da nuvem.

152
Hikari ofegou.
Duas longas asas de rabo de cavalo tremulavam no ar. Uma silhueta apareceu, com curvas
dinâ micas que fluíam dentro e fora do peito aos pés. Era uma forma assertiva e feminina.
"Asuka?" Hikari disse. “O que você está fazendo aqui?”
Uma mancha preta se espalhou da placa do Victor preso à s suas costas, apagando grande
parte de sua cor vermelha.
“O-que-o que ?!” Toji cuspiu, também pego de surpresa.
Apenas alguns minutos atrá s, ele recebeu a notícia de que ela desapareceu na costa da
Baía de Kanto.
Apenas o que diabos está acontecendo aqui? ele se perguntou.
Mas ele nã o teve tempo para pensar sobre isso.
Uma multidã o de mã os brancas emergiu da escuridã o para se agarrar à s bordas do portã o.
Um momento depois, sete Trasportadores de Anjo Tipo 3 saíram do outro lado.

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Capítulo 33:
Olhos abertos

O CAMPO DE BATALHA estava caó tico. Os feeds de vídeo transmitidos ao aviã o de


transporte gigante da ONU começaram a se desligar e os que permaneceram forneceram pouca
informaçã o ú til. Mas a tripulaçã o dos EUA nã o precisava das câ meras - seu aviã o podia ver a á rea
operacional com suas pró prias lentes super teleobjetivas.
A tripulaçã o engasgou quando viu os dez gigantes - nove contra um.
Mesmo com o apoio do poder de fogo combinado dos militares, a luta era ridiculamente
desequilibrada.
Mari observou Asuka / Eva com muita atençã o.
“Aquela mulher… ela é sublime. Mesmo com todos os outros misturados, ela brilha, pura e
verdadeira.”
A garota estava vendo algo além da percepçã o humana.
Mas ela nã o tinha como mostrar isso aos outros, e eles ouviram suas palavras como apenas
mais uma expressã o sem sentido e perturbadora.
“Uma mulher?” um oficial disse. “Isso nã o é uma mulher. A Nerv Japã o chama de Crimson
A1. Uma piloto chamado Asuka misturou seus dados com seu Eva, e foi isso que saiu. Hum? Mari?”
Mari virou-se abruptamente e saiu correndo em direçã o ao convés de entrada, com seu
robô de bio-ajuste correndo atrá s.
“Asuka-chan é legal! Legal, legal, legal! ”
Mari encontrou sua razã o de existir - e um ideal para procurar.
“Eu quero ser você!”

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Capítulo 34:
Resolução e Execução

UMA FUMAÇA GROSSA E ESPESSA subiu da terra ardente da ilha á rtica devastado pela
batalha de Novaya Zemlya.
Uma janela para outro lugar estava aberta. Sete Transportadores de Anjos chegaram do
outro lado. Um grupo dominou o céu, asas brancas trovejando, enquanto um segundo grupo
pousou no chã o.
Dois Victors - ou Torwä chters, como os europeus os chamavam - haviam aberto o portã o. O
primeiro Victor carregava o coraçã o roubado de Shinji e fora gravemente ferido pelas forças do
Euro e da Rú ssia e pelo Euro Eva, Heurtebise. Mas o Eva também sofreu uma ferida profunda.
Quando o portã o foi aberto, vá rias unidades na linha de frente ficaram em silêncio pelo
rá dio.
Um vento morno e docemente perfumado soprou do outro lado.
Os soldados que se protegeram adequadamente com equipamentos QBRN enviaram
relató rios de pâ nico, enquanto observavam seus camaradas menos preparados se transformarem
em pilares de sal - alguns dos quais respeitosamente transmitiram sua pró pria desintegraçã o
durante seus ú ltimos segundos de vida.
O aviã o de controle de Heurtebise fechou todas as entradas de ar externas. Da estaçã o de
comunicaçã o, um operador de rá dio disse: “Entre em contato com todos os caminhõ es-espelho,
verifique se o seu equipamento pessoal é hermético, pressurize suas cabines e mude para a
recirculaçã o do ar interior!”
Apesar de estarem bastante abalados com esses eventos - ou talvez porque tenham sido
abalados -, os operadores cumpriram suas tarefas de acordo com o livro e divulgaram as
instruçõ es que haviam sido preparadas para essa eventualidade.
Bom, o tenente-coronel Clausewitz pensou enquanto observava sua tripulaçã o.
"Hikari", Clausewitz disse em seu fone de ouvido, “é melhor você se armar com a Dora
enquanto tiver um momento.” Ele fez uma pausa. "Hikari?"
Uma mensagem veio da sede das forças conjuntas por meio do centro de comando do
sexto exército. Eles haviam perdido contato com três unidades de artilharia perto dos
Torwä chters. Os comandantes conjuntos queriam saber se Heurtebise poderia ganhar algum
tempo para que os esforços de resgate fossem realizados.

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Clausewitz arrancou o fone de ouvido de seu assistente, que, para seu crédito, permaneceu
resoluto, apesar do caos.
Falando ao microfone, o tenente-coronel nã o disse nenhuma palavra. “Desculpe senhor.
Todos nessas unidades foram transformados em pilar de sal. ”
Vá rios membros da equipe de observaçã o também deixaram de transmitir sinais vitais.
A equipe estava instalando sensores no campo de batalha quando o tiroteio começou, e
eles se refugiaram sob o abrigo mais pró ximo. Um sensor pró ximo agora relatava a presença de
cloreto de só dio, igual à massa de vá rios corpos humanos. Uma linha dentada no grá fico capturou
o momento de suas mortes.
Clausewitz poderia pedir desculpas pelos mortos mais tarde.
Ele jogou o fone de volta para o assistente. “Algo está errado com Hikari.”
“Ela nã o está respondendo? Nã o estou vendo nenhuma leitura anormal - ou, pelo menos,
nã o mais do que você esperaria desses ferimentos. A regeneraçã o está indo bem, e...”
Antes que seu assistente pudesse terminar, Clausewitz ajustou o microfone em seu pró prio
fone de ouvido e falou alto e devagar.
“Ritter! Schaft! Hikari! Pegue a Dora! O canhã o de oitenta centímetros de armadura! Nã o
podemos trazê-lo para você - o canhã o pesa 550 toneladas e nã o temos nada que possa movê-lo
neste terreno! ”
Desta vez, Hikari respondeu, mas sua voz estava tremendo. << Sim, comandante.
Heurtebise... entendido. Eu vou… eu vou buscar a Dora. >>
“O que há de errado, Hikari?”
Uma pausa. Ela estava pensando em responder.
<< O segundo Torwä chter... Aquele que veio abrir o portã o. É ... Ela é minha amiga. E o Eva
embaixo dessa placa é a irmã de Heurtebise. >>
“Você está me dizendo que é Asuka Langley e o primeiro modelo de produçã o Evangelion,
Eva-02?!”
Um operador do comando central entrou na linha. << O esquadrã o UAV de observaçã o do
territó rio externo está sendo lançado. >>
Em intervalos cronometrados, pequenos drones de observaçã o começaram a decolar logo
depois do anel externo do campo de batalha. Eles eram cinza claro e pareciam aviõ es de combate
em miniatura.
“Você tem certeza que é ela, Hikari?” Clausewitz perguntou.

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<< Eu... >> ela começou fracamente. Mas entã o sua voz subiu em um grito alto e choroso.
<< Eu nã o a confundiria em lugar nenhum! >>
Assustados com o barulho, os funcioná rios das estaçõ es pró ximas olharam surpresos.

Atuando em paralelo com as principais operaçõ es de combate, o plano era pilotar o


esquadrã o de drones de escoteiros na janela aberta para determinar a localizaçã o do outro lado.
O portal já mostrara vislumbres de uma estrutura cú bica de vidro - a Arca. Esses relató rios foram
corroborados por espiõ es no chã o da caldeira de Hakone. Agora que Armaros havia mudado a
Arca das montanhas do Atlas no norte da Á frica, os europeus esperavam descobrir sua nova
localizaçã o.
Naquela época, a Nerv Japã o havia passado a palavra aos europeus de que a Arca nã o
oferecia salvaçã o, mas era um repositó rio de alta densidade para as informaçõ es de toda a vida,
para que o Projeto de Instrumentalidade pudesse ser reiniciado mais rapidamente apó s cada
tentativa falha. Mas os militares europeus procuravam a Arca na regiã o do Monte Ararat por
causa das conexõ es da regiã o com histó rias religiosas, e nã o estavam convencidos de que o que a
Nerv Japã o descobrira fosse, de fato, a mesma Arca que procuravam.
Os constituintes religiosos da Europa continham muitas pessoas que procuravam a Arca
em busca de salvaçã o.
Mas mesmo que a Nerv Japã o estivesse certa, Armaros havia movido especificamente a
Arca para manter sua localizaçã o oculta da humanidade. O que quer que Armaros fosse, ele era o
inimigo, e a Arca era importante para ele. Mais um motivo para procurá -la.
Ninguém sabia quantas vidas seriam perdidas no campo de batalha hoje.
Por causa disso, a humanidade precisava começar a se concentrar no pró ximo passo.

As forças terrestres lançaram um ataque para desviar a atençã o dos inimigos dos drones
de reconhecimento. Os Transportadores de Anjos haviam se espalhado, de costas para o portã o, e
o enxame de balas atingiu seus escudos de poder do tipo Campo AT e se desintegrou.
Pelo rá dio, Hikari murmurou: << É tudo tã o estranho. Heurtebise nã o está me pedindo
para resgatar Asuka. Asuka está agindo por vontade pró pria. Ela nã o está sendo obrigada. >>
“Hikari”, Clausewitz repetiu, “Pegue a Dora. E fique à distâ ncia. Precisamos que você
descubra quais larvas de anjo esses transportadores estã o escondendo!
Hikari normalmente nã o tinha problemas para se concentrar em suas tarefas, mas agora
que o plugue falso tinha tomado maior controle, sua consciência estava se fundindo no Eva. Ela

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estava ganhando sentidos novos e extraordiná rios e estava começando a agir de maneiras
anteriormente inconcebíveis.
“Você precisa manter a cabeça na luta, ou será morta. Há muitos deles!”
“Entendido”, ela disse, mas estava claramente mais preocupada com o fato de Asuka / Eva
ser a Torwä chter que abriu o portã o do que com os sete Transportadores de Anjos que se
aproximavam.

Os ataques de Heurtebise e as armas lasers navais russas haviam ferido fatalmente o


primeiro Torwä chter, reduzindo-o a torso, cabeça e um braço - o mesmo braço que balançava a
arma em forma de haste. O gigante havia se transformado em uma está tua grotesca, sustentada
apenas pela placa preta que crescia em suas costas, nã o contribuindo mais para a batalha, exceto
como um espantalho esfarrapado, enquanto o coraçã o de Super Eva se descontrolava. Mas o
segundo Torwä chter - Asuka / Eva - veio e acalmou o coraçã o. Em vez de se autodestruir, o
Torwä chter quebrado começou a reconstruir rapidamente os membros que faltavam.
Uma saraivada de muniçõ es guiadas navegou em direçã o ao Torwä chter ferido, mas
Asuka / Eva os neutralizou com seu Campo AT. Embora parcialmente oculta por relâ mpagos
explosivos e ondas de fumaça, a recuperaçã o do Torwä chter parecia progredir de maneira
diferente da maneira como Evas ou até Transportadores de Anjos se regeneraram. A armadura
negra do gigante estava remontando, como se guiada por mã os invisíveis, mas apenas a camada
externa do Torwä chter estava sendo reconstruída, nã o o corpo por baixo.
No plano de controle, os observadores das equipes científicas se entreolharam confusos.
“Onde fica o QR Signum do Torwä chter?” um perguntou.
Anteriormente, os Torwä chters haviam chegado, aberto um portã o e depois partiram
rapidamente. A localizaçã o da escama QR Signum - ou escamas - permaneceu desconhecida. A
suposiçã o de trabalho era que a escama do negro e vermelho deviam estar escondidas em algum
lugar internamente. Mas agora, o corpo de um porteiro havia sido rasgado à vista de todos, e nã o
havia sinal de QR Signum dentro.
As mentes dos físicos teó ricos residentes correram. Supondo que os Torwächters não
possuam nenhuma escama QR Signum, o que isso significa?
Em vez de estarem apenas ligados a Armaros, os Torwächters são suas sombras?
O chã o retumbou.
Os Transportadores de Anjos em terra plantaram seus pés com firmeza, e os que pairavam
no ar desceram alguns metros acima do solo. A par dos batimentos cardíacos do Torwä chter, eles
começaram a bater as pontas de seus cajados no chã o.

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Cada batida sacudiu a terra. Mesmo em meio à s explosõ es e tiros, o estrondo rítmico
anunciava os batimentos cardíacos - e sua presença - em toda parte.

Até agora, a batalha tinha sido uma bagunça para todos. Os dez gigantes pareciam se
mover sem ordem aparente, e os soldados dispararam seus canhõ es e lançadores de mísseis à
vontade. Mas quando os sete transportadores começaram a atingir a Terra em uníssono, os
exércitos de cada naçã o podiam sentir que algo ruim estava por vir, e sua barragem caó tica
diminuiu temporariamente.
Os exércitos mudaram de ataque para defesa, enquanto novas ordens foram filtradas de
seus comandantes.
Durante a trégua, os oficiais de comando conjuntos levaram um momento para atribuir a
cada Transportador de Anjo um nú mero de um a sete. Quaisquer forças aliadas com sensores
eletrô nicos e linha de visã o - das equipes de controle de incêndio estacionadas nos limites do
campo de batalha, aos navios de guerra e ao aviã o de controle de Heurtebise - compartilharam
suas informaçõ es com o resto das forças armadas e com cada transportador, além de seu nú mero,
apareceu em tempo real no mapa estratégico.
A estratégia fundamental empregada ao erradicar os inimigos da classe Anjo - aparecendo
sozinhos ou em grupos - era concentrar o má ximo de poder de fogo possível em um alvo de cada
vez. Nas simulaçõ es prá ticas, essa parecia ser a melhor abordagem. No entanto, em uma batalha
real, com tantos alvos, enquanto os militares avaliavam a eficá cia de um determinado ataque, os
outros porta-aviõ es talvez já estivessem revidando. Para permitir um melhor tempo de resposta,
as forças atacantes foram divididas em grupos que atacariam em uma ordem predeterminada.
Quando atribuído um alvo, os grupos se concentrariam nesse alvo, independentemente do que o
inimigo estivesse fazendo, enquanto os grupos sem um alvo ficariam livres para se defender
contra o que os estivesse atacando.
“Se você identificar um Transportador de Anjos carregando Zeruel em seu casulo, tome
conta desse transportador”, Clausewitz ordenou, “mesmo se você estiver sendo atacado por
outros transportadores.”
O anjo Zeruel foi capaz de disparar ataques de longo alcance em rá pida sucessã o. As forças
humanas confiaram em atacar seus inimigos de alcance superior, entã o um anjo que seguiu a
mesma tá tica representou a maior ameaça. Enquanto os militares nã o precisassem defender um
ponto específico, eles poderiam lutar contra os outros anjos em fuga.

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Capítulo 35:
Suas próprias razões

O PEDIDO DE INFORMAÇÕ ES inundou os canais de comunicaçã o da Nerv Japã o. Afinal,


foi o Eva-02 deles - agora a síntese Asuka / Eva - que apareceu como o segundo Torwä chter, que a
Nerv Japã o também já havia afirmado ter destruído. Foi necessá ria uma resposta cuidadosa.
Envie a mensagem errada, e a Nerv Japã o pode ser considerado um inimigo da humanidade.
Toji foi pressionado a responder aos interrogató rios de todas as naçõ es cujas forças
armadas estavam presentes em Novaya Zemlya, e a principal questã o recaiu sobre a comandante
Misato em Hakone. Essa pergunta é - se Asuka / Eva estava tomando açõ es hostis, ela deveria ser
considerada como inimiga e destruída? Como Misato era responsável por toda a organizaçã o, o
dever exigia que ela respondesse que sim.
Com isso em mente, ela perguntou a Toji: << Você pode levar Asuka para fora da zona de
batalha? >>
A pergunta, feita sem hesitaçã o, foi um alívio. Misato nã o estava simplesmente desistindo
de Asuka. Mas isso nã o mudou a situaçã o.
“Honestamente”, ele disse, “acho que será difícil”.
Toji examinou o campo de batalha através de sua tela montada na cabeça.
“Soryu se apegou ao Victor - quero dizer, ao Torwä chter - e nã o sei por quê.”
No caminho para Hakone, saindo da Baía de Kanto, mas ouvindo a ligaçã o, Maya ofereceu
seu palpite. << Pode ser por causa do coraçã o do Super Eva. Desde que voltou, Asuka teve
problemas para entender conceitos de nível superficial, como palavras e aparências físicas, mas
acho que ela está percebendo as coisas em um nível diferente. >>
“O que você quer dizer?” Toji perguntou.
<< Ela acha que o outro Torwä chter é o Shinji-kun. >>

Com a mã o de Heurtebise, Hikari puxou a lona de camuflagem do enorme canhã o deitado


de lado na trincheira e se inclinou para pegá -la.
Eu quero ser você.
“O que é que foi isso?”
Ela sentiu que alguém estava concentrando sua atençã o em Asuka e se virou para olhar.

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Um borrã o cinza desabou na terra. O chã o se despedaçou e pedaços de rocha voaram para
fora, a onda de choque espalhando a sujeira e os entulhos ao redor. O enorme objeto em queda
ricocheteou no escudo de um Transportador voando baixo, e ambos bateram no chã o.
Enquanto as penas brancas se espalhavam e tremulavam, uma figura gigante - algo entre
um humano e um animal de quatro patas - bateu suas garras contra o escudo do transportador,
enviando faíscas ao longo da superfície.
O Evangelion dos EUA, Wolfpack, havia entrado na batalha sem aviso prévio.
Mari ignorou os protestos de seus comandantes e expulsou seu Eva do aviã o de transporte
gigante da ONU. No momento, a tripulaçã o dos EUA provavelmente estava tendo um dia muito
ruim, pois trocaram apressadamente có digos de identificaçã o de amigo ou inimigo com as forças
do Euro e da Rú ssia.

Um objeto em forma de corrente voou do casulo do transportador de anjo e se lançou em


direçã o à cabeça do Eva americano. A corrente tinha o formato de uma dupla hélice. Tinha que ser
o anjo Armisael. O Eva dos EUA levantou a cabeça do caminho do primeiro ataque e parou o
segundo mordendo o anjo com mandíbulas presas, parando a dupla hélice da chicotada.
“Toro eliminador!” Mari gritou. “Preparar!”
Quatro estruturas cô nicas foram montadas nas costas do Eva dos EUA. Um começou a
girar, acelerando suavemente cada vez mais rá pido.
Os quatro cones continham cargas explosivas N2 super direcionadas. A rotaçã o de alta
velocidade de uma forma mais compacta causava uma reaçã o N2 ao longo do nú cleo e do anel
externo, o qual, em seguida, produzia uma reaçã o secundá ria no meio. O resultado foi um
explosivo N2 hiper-direcional, criado no interior do tambor do canhã o que disparou.
<< Mari! >> um oficial transmitido do aviã o de transporte gigante.<< Nã o desperdice
aqueles! Você só tem quatro. E você está muito perto! >>
"Bang", disse Mari.
Uma vez que o nú cleo do explosivo N2 tinha sido comprimido dentro da densidade de um
micro buraco negro, a carga iniciou a partir do canhã o e atingiu a blindagem de potência dura do
Transportador de Anjo como uma rocha atirada em uma piscina de á gua. Pequenas gotas do
escudo espirraram para fora e a carga de N2 afundou. A reaçã o do outro lado foi maciça. Uma
tremenda explosã o aniquilou completamente o QR Signum do transportador, o ombro e tudo, e
até abriu um buraco no escudo de um segundo Transportador atrá s dele.
Antes que o escudo do segundo porta-aviõ es pudesse fechar novamente, outra explosã o
soou. Este carregava o rugido clá ssico e estrondoso do fogo de canhã o, embora também fosse

162
terrivelmente alto. Agachado, Heurtebise havia disparado seu canhã o pelo quadril. A arma era
pesada demais para levantar mais alto.
O projétil de oitenta centímetros de calibre avançou, absurdamente grande mesmo depois
de descartar sua espingarda, passando pelo primeiro Transportador de Anjo e entrando no rasgo
aberto do segundo escudo.
A reaçã o resultante, no entanto, nã o foi uma explosã o de N2 como as outras, mas uma
explosã o de fase. Os soldados no chã o olharam com admiraçã o para os jatos de fogo em forma de
cruz.

Coberto pelas chamas e ainda segurando a dupla hélice do Anjo Armisael em sua boca, o
Eva dos EUA percebeu, em algum nível, que mesmo suas mandíbulas poderosas nã o podiam
fisicamente quebrar o Anjo em dois. Entã o, desistiu de tentar e, em vez disso, colocou a hélice em
torno da escama QR Signum restante do transportador, puxando o Anjo para o chã o. Forte demais
para o seu pró prio proveito, a hélice esmagou a escama. O Eva continuou puxando, arrastando o
Anjo para fora de seu casulo. A larva nã o podia sustentar sua vida por conta pró pria. Ele virou pó
antes mesmo de ter a chance de infectar o Eva.
O segundo Transportador de Anjo foi gravemente danificado, mas ainda se movia. Um
obus mó vel rugiu, dando o golpe fatal.
A tripulaçã o do aviã o de controle de Heurtebise aplaudiu.
“Surpreendente!” O assistente de Clausewitz disse. “Esses transportadores nã o tiveram
chance!”
“Foram apenas os dois primeiros”, respondeu o tenente-coronel. “Quanto ao imprudente
Eva com quatro pernas - é o americano? Por que eles chamam de Wolfpack se há apenas um?”
“E se nã o for mais do que um?”

Heurtebise havia apoiado imediatamente o Eva dos EUA na batalha porque a psique de
Hikari se espalhou pelo Euro Eva-02. Ela sentiu o foco peculiar do piloto americano em Asuka.
Inconscientemente, Hikari decodificou o sinal de controle do Eva americano e cortou suas
comunicaçõ es.
“Como assim, você quer ser Asuka?” ela perguntou. “Você está vindo um pouco intensa.
Parece que, se você nã o desacelerar, poderá comê-la.”
<< Oh, sério? >> respondeu o piloto dos EUA.
“Sua voz... você é uma garota?”

163
<< Comê-la, hein? Eu nã o tinha pensado nisso. Você deve ser inteligente. >>
“Ta brincando né?” Hikari disse.
Mas ela sentiu muitos pares de olhos de animal olhando para ela. Suas consciências se
sobrepuseram à s da garota.
Eles são... um bando?
Embora diferentes em escala e grau, a presença deles lembrava Hikari daquela noite no
norte da Á frica, quando Asuka havia se perdido dentro de um vasto mar de organismos.
“Você nã o pode estar aqui”, dizia Hikari, mas ela nã o queria dizer isso. Ela nem tinha
pensado nisso.
O que?
Alguém mais está assistindo. Alguém muito maior que essa garota.
Hikari sentiu como se um peso tremendo estivesse pressionando suas costas, obrigando-a
a pronunciar as palavras.
“Você nã o deve estar aqui.”
Assim que as palavras pararam, Hikari deixou escapar o mais rá pido que pô de:
“Kommandobrü cke! Tenente Coronel Clausewitz! Sinto uma presença estranha.”
<< O que é isso? >> Clausewitz perguntou.
“Eu acho que é outra mensagem.” Ela começou a respirar pesadamente. "Você que nã o
deveria ser... A forma humana nã o deve... A forma de... Dar a forma de... Degenerar nas formas
inferiores da vida... Seus pecados sã o pesados.”
<< Outra mensagem do gigante negro ?! Espere. >> Houve uma conversa abafada em
segundo plano. << Estamos monitorando a mensagem de assuntos responsivos em casa. Você nã o
precisa se preocupar. Deixe tudo com o plugue falso. >>
Na Nerv Japã o, as Ayanamis haviam falado anteriormente como a voz de Armaros. O
plugue falso nã o estava roubando a consciência de Hikari na medida em que os clones haviam
experimentado, mas os pensamentos poderosos de Armaros saíram por seus lá bios e palavras da
mesma forma.
“Retire-se... lobo vadio. A cançã o da instrumentalidade nã o pode ser tecida naqueles que
degeneraram em bestas. Saiba disso - sua alma carregará a cicatriz e nã o renascerá no pró ximo
mundo.”
Todos os Transportadores de Anjos restantes encaravam Wolfpack.

164
Os soldados interromperam seus ataques enquanto tentavam descobrir por que os
Transportadores de Anjos haviam parado. Mas entã o, no momento seguinte, os cinco gigantes
brancos se dirigiram para o Eva americano de uma vez.
Mari nã o se comoveu com a mensagem de Armaros. "E daí?" ela murmurou. “Quem se
importa com o amanhã . Eu vejo o que eu quero ser. E você é tudo o que fica entre eu e ela.”
Movendo-se nã o por cá lculo, mas por instinto, e nã o atendendo à s advertências de seu
plano de controle, ela lançou seu segundo Eliminador no alvo mais pró ximo.
“Isso é tudo que importa.”

165
Capítulo 36:
Crianças Vadias

A VOZ DE MISATO veio pelo fone de ouvido de Toji.


<< Toji - quero dizer, vice-comandante interino Suzuhara - tenho má s notícias. Nã o temos
mais um ETA para a Rei Six em Novaya Zemlya. >>
“Ninguém foi capaz de encontrar Momo, eu entendi?”
O tenente-coronel do JSSDF, Kasuga, havia deixado seus golden retrievers, Azuchi e Momo,
sob os cuidados da pequena Rei Six. Mas Momo desapareceu e, como resultado, o lançamento do
Eva-00 Allegorica Type-F foi adiado, apesar da pressa dos engenheiros em preparar a
configuraçã o do voo a tempo.
Um cachorro desaparecido dificilmente justificava nã o partir para a missã o, mas, embora
Six tivesse o conhecimento de uma menina de dezessete anos, seu corpo - e mais importante, a
estrutura de seu cérebro - era apenas a de oito anos. Suas prioridades eram diferentes das de
qualquer outra pessoa. Com o cachorro desaparecido, ela nã o conseguia se concentrar em nada. E
ficar bravo com ela ou gritar com ela nã o faria nenhum bem.
<< Nã o, nã o encontramos Momo. Felizmente, ela tomou a decisã o por si mesma. Ela
desistiu de procurar e a mandamos para uma rota de voo suborbital. >>
Então qual é o problema?
“Essa é uma trajetó ria parabó lica simples”, disse Toji. “O que quer que aconteça, o que sobe
tem que voltar. Certo?”
Hyuga respondeu. << Seus flutuadores gravitacionais continuaram acelerando depois que
ela alcançou a trajetó ria adequada. E com toda a interferência eletromagnética, nã o podemos
medir quanto tempo eles estã o assim. Na verdade, nã o podemos receber nenhum sinal de
retorno. Nã o sei se talvez o Eva dela tenha virado para o lado errado e o receptor… Ah, droga! É
outra mensagem de Armaros. Por que ele tinha que enviá -la agora? >>
“O que?”
Então, Six deve ter perdido a consciência.
Sempre que Armaros enviava suas mensagens, Six perdia a consciência e agia como seu
interlocutor. A ú ltima vez que Toji testemunhou isso foi quando o Super Eva voou pela primeira
vez. Seus olhos perderam o foco e ela nã o respondeu a nenhum estímulo, agindo como um

166
autô mato que só podia construir um discurso hesitante. Depois de algum tempo, ela recuperou a
consciência. Será que ela acordaria dessa vez?
“E o programa de piloto automá tico—” Toji começou, mas ele se interrompeu.
Já estaria disponível, é claro. Mas se o Eva fosse usar ou nã o - era outra questã o. Os
Evangelions eram armas altamente capazes, mas nem sempre as mais confiáveis no
procedimento a seguir.
Então, o que, ela vai se perder no espaço?!
“Nada pode dar certo?”
Sua frustraçã o e raiva enviaram sinais conflitantes à cibernética de Toji. Seu braço
esquerdo tremia e rangia.
Rei Quatre se tornou traidora, a irmã de Hikari - Kodama - se transformou em uma coluna
de sal, Rei Cinq morreu entre a Terra e a lua, e Shinji e Trois estavam desaparecidos. O chã o sob
Tó quio-3 havia afundado, encalhando a Caldeira de Hakone, e Asuka havia voltado para casa
completamente alterada... como inimiga. Rei Six seria a pró xima?
Houve uma perda apó s a outra.
Não pode mais acontecer nada de bom neste mundo?
Parecendo ler o humor de Toji, Misato tentou parecer otimista.
<< Ainda temos esperança. Nã o temos satélites utilizáveis em ó rbita e nossos sinais
omnidirecionais terrestres nã o podem ir além da perturbaçã o eletromagnética na atmosfera. Mas
faça com que a rede de aviõ es estratosféricos vire suas antenas para cima e transmitiremos sinais
para tentar ativar o estimulante de seu plugsuit e os sistemas de DEA. >>
Se a Terra e a lua não tivessem ficado tão malucas, não seria difícil descobrir o que diabos
está acontecendo em órbita. Mas eles estão, e é Misato-san que está apenas fazendo uma cara feliz
para mim.
Toji removeu a má scara facial do capacete e a tela montada na cabeça e deu um tapa forte
na bochecha.
Então, o quê, você vai fazer com que ela se preocupe com você agora? Ela não tem o
suficiente para não tomar conta de você? Você fica chateado porque tem dezessete anos e todo
mundo ainda fala com você como se você fosse criança? Bem, é por isso! Mesmo se você é apenas um
subcomandante em exercício, ainda faz parte da equipe de comando - o mesmo acontece com seu
trabalho, Toji!
<< Que barulho foi esse? Você bateu em um pá ssaro? >>
“Nã o foi nada.”

167
Isso mesmo, não é nada. Six não se deixaria matar tão facilmente.
Sem aviso, o nariz do Flanker e o revestimento do lado esquerdo da cabine foram rasgados
como um balã o de papel.
Oh droga!
Muniçõ es de alta velocidade raramente ricocheteiam. Quando atingiam o alvo em um
â ngulo raso, os projéteis velozes tendiam a girar para dentro. Mas à s vezes - desta vez –
aconteceu. Uma bala nã o se desintegrou ou ionizou ao entrar em contato com o escudo de um
transportador de anjos e ricocheteou na direçã o do aviã o de Toji. Mesmo depois que o campo de
gravidade do N2 Flanker minou a maioria do momento da bala, o projétil tinha se separado e
traspassado a fuselagem do Flanker.

A bala perdida da arma de laser havia danificado o nariz do Flanker N 2 e os flutuadores


volantes no lado da porta do cockpit. O aviã o inclinou-se e, incapaz de se recuperar, deu uma
volta.
"Toji!" Hikari gritou de Heurtebise. Ela sinalizou seu Flanker em sua tela e o acompanhava.
Ela notou a angú stia de seu aviã o imediatamente.
O Flanker continuou em espiral, mas Hikari nã o viu sinal de que Toji havia ejetado. Entã o o
aviã o desapareceu atrá s das nuvens de fumaça.
Hikari largou o canhã o.
O ar torceu em torno de Heurtebise quando o Eva agarrou a lança em forma de cruz à sua
frente, deslocando a arma do chã o. Hikari rugiu enquanto atacava o inimigo mais pró ximo.
Os caminhõ es-espelho de ondas quâ nticas nã o conseguiam acompanhá -la. A tripulaçã o em
seu aviã o de controle chamou-a freneticamente para fazê-la parar, mas ela ignorou seus
comandos.
O canhã o de 550 toneladas e oitenta centímetros de calibre atingiu a terra primeiro. O
impacto detonou a carga carregada, e o cartucho de oito toneladas voou do cano em um â ngulo
baixo.
O cartucho passou rapidamente pelo Heurtebise e atingiu o escudo de um Transportador
de Anjos, cuja larva Shamshel estava saindo de seu casulo com dois apêndices em forma de
tentá culo. O cartucho nã o conseguiu penetrar no escudo, mas fez o transportador voar para trá s.
Hikari viu uma pequena rachadura no escudo do Transportador de Anjos, e ela enfiou a
lança profundamente no casulo, saltou sobre o transportador e continuou correndo na nuvem de
fumaça.

168
O transportador nã o tinha morrido, mas o Eva dos EUA estava prestes a mudar isso.
Enquanto o transportador tentava se levantar, Wolfpack esmagou a cabeça do gigante com suas
poderosas pernas dianteiras e depois esmagou as duas escamas QR Signum. Os Transportadores
cercaram Wolfpack, mas quando Heurtebise derrubou um, o Eva dos EUA aproveitou a
oportunidade para se libertar.
Mari nã o entendeu por que Wolfpack de repente se tornou muito mais forte do que antes,
mas ela nã o se importava. Era justo, considerando que o outro lado tinha dois Torwä chters - um
dos quais era a síntese Asuka / Eva que Mari queria conhecer. Asuka / Eva incorporava a síntese
perfeita de inú meras criaturas, e Mari queria isso para si mesma - mesmo que isso significasse,
como Hikari havia dito, comê-la.
O Eva americano correu para a densa nuvem de fumaça depois de Heurtebise. Atrá s dela, o
Transportador de Anjo caído ainda se contorcia no chã o, mas os obus nas proximidades cuspiram
fogo, transformando o inimigo em pedaços de carne.
Mas atacando sozinhos dentro da nuvem, os dois Evas nã o teriam mais apoio dos canhõ es.
Heurtebise correu através da fumaça. As nuvens eram grossas demais para seus sensores
penetrarem. Pouco antes de sair do outro lado, um objeto em forma de lança perfurou suas asas
do lado direito na cintura. Ela continuou correndo. No alto, seu escudo repeliu um líquido
corrosivo e ela puxou o objeto em forma de lança do chã o por pura força.
O objeto acabou nã o sendo uma lança, mas uma perna longa que se estendia acima da
cabeça de Heurtebise, onde o larva de quatro patas do Anjo Matarael havia levantado de seu
pró prio transportador. Alcançando, Wolfpack pulou no Transportador de Anjos e o derrubou.
Um ataque intensamente brilhante e de longo alcance disparou através da fumaça e
atingiu o corpo de Matarael. Felizmente, o ataque errou por pouco Hikari e Mari - mas algo estava
lá fora, esperando por eles. Hikari reconheceu o ataque do Anjo a partir de um relató rio que ela
lera, e nã o ficou surpresa quando duas longas e finas fitas semelhantes a navalhas serpentearam e
cortaram os restos mortais de Matarael. Um transportador carregando a larva de Zeruel estava
em algum lugar dentro da fumaça suspensa.
Mas onde?

Toji sentiu um impacto, mas nã o fatal.


O aviã o dele milagrosamente tinha caído como um pouso suave? Ele nã o podia ver do lado
de fora para contar o que tinha acontecido.
Seus ferimentos se anunciavam lentamente.
O cockpit estava cercado por uma caixa de armadura à s vezes chamada de "banheira". Mas
a banheira estava dobrada e o metal pressionou Toji em seu assento, prendendo-o ali. A estrutura

169
retorcida esmagara completamente seu braço esquerdo cibernético. Se ele tivesse acionado
reflexivamente o assento de ejeçã o antes do acidente, ele poderia estar ainda pior.
“Ow, ow, ow ... Fico feliz que nã o foi meu braço direito, mas um braço artificial ainda pode
doer como o inferno.”
O dossel de policarbonato de cristal líquido estava torcido e sua superfície clara tinha
ficado completamente nublada e branca. Quando Toji tentou levantá -lo, dores agudas atingiram
seu peito e estô mago, e ele nã o conseguiu colocar força suficiente por trá s da açã o. O dossel nã o
se mexeu. Mas alguém do lado de fora deve ter ouvido ele fazendo barulho, porque o dossel se
abriu como a tampa de uma lata, e Toji pô de ver o lado de fora mais uma vez.
Cabelos longos e bonitos corriam acima dele. Entre a pressã o em seu corpo e a dor aguda,
os pensamentos de Toji estavam um pouco nebulosos. Os cabelos o lembraram de quando ele era
garoto, olhando para as birutas gigantes em forma de carpa no campo perto de sua escola
primá ria. As varas de bambu, mais grossas que as pró prias pernas, balançavam e rangiam, e
enquanto as bandeiras de carpa dançavam, seus olhos captaram lampejos de luz do sol entre eles.
“Ah, Soryu, você me pegou? Obrigado.”
Mantendo o aviã o nivelado, Asuka / Eva girou para frente e para trá s. Ela estava olhando
para ver onde estava quebrado?
“Ai. Ah, droga! Nã o se incomode. Este aviã o nã o voaria mesmo que você o jogasse. Entã o,
você quer me dizer por que está com o inimigo?”
Toji nã o sabia, mas ele pensou que Asuka / Eva estava olhando para ele com preocupaçã o.
“Você nã o sabia?”
Os sons de uma batalha cruel continuaram ao seu redor. Houve flashes de luzes, ondas de
choque, detritos caindo, mas tudo o que parecia distante agora. Em meio à turbulência, Asuka /
Eva permaneceu alta e graciosa.
Enquanto Toji respirava fundo, ele pensou ter entendido a natureza do comportamento
dela. Mesmo com a placa preta presa nas costas, ela nã o fazia parte da facçã o do inimigo, mas
permaneceu com suas pró prias percepçõ es e conhecimentos. Ela escolheu colocar a placa?
“Olha, Soryu”, disse Toji, “desde que você se tornou um dos peixes grandes, eu sei que tem
sido difícil para você ver as pequenas coisas. Mas mesmo que o coraçã o de Shinji esteja batendo
dentro do peito do Victor, isso nã o faz do Victor o Shinji.”
Toji ainda nã o estava seguro, mas por qualquer motivo, ele nã o se sentia mais tenso. Ele
podia sentir seu corpo implorando para desmaiar.
Acho que tudo o que estamos fazendo é incomodá-la sobre as pequenas coisas.
Provavelmente dificulta a escuta. Provavelmente…

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Heurtebise veio atacando do nada. Asuka / Eva pareceu assustada, mas ergueu o Campo
AT bem a tempo de desviar a lança.
"Asuka!" Hikari gritou de raiva. Ela viu Asuka / Eva segurando o N2 Flanker quebrado e
imediatamente voou em uma fú ria cega.
“Deixe Toji ir agora!” ela gritou.
Muito atrá s dela, os ataques de longo alcance de Zeruel continuaram a trovejar. Talvez Mari
estivesse tendo mais dificuldade em terminar com o Transportador Zeruel.
Asuka ficou na frente de Hikari. Além dela, no fundo das nuvens de fumaça, o coraçã o do
Super Eva estava batendo. O Torwä chter ainda estava lá fora, e Asuka estava protegendo-o. As
outras forças convencionais certamente estavam disparando contra o gigante ferido, mas, a julgar
pela constante batida do coraçã o, seus ataques nã o tiveram efeito. Talvez o Torwä chter tivesse se
reparado o suficiente para redistribuir seu escudo de poder.
Hikari olhou para sua boa amiga através dos olhos de Heurtebise.
Asuka / Eva se encolheu, oferecendo cautelosamente o aviã o quebrado.
“Deixe ele ir!” Hikari gritou novamente.
Assustado na finalizaçã o, Asuka / Eva gentilmente colocou o N2 Flanker no chã o. Entã o ela
disse: "Ah ..."
Foi a primeira vez que ela falou desde que assumiu essa forma.
“Ah”, ela implorou. “Ah ...”
Ah. A. O primeiro som nascido em todas as línguas - e a primeira inicial da garota
orgulhosa.
A, de Asuka.
“Fique longe de mim!” Hikari gritou.
Tendo sido rejeitada por sua amiga, Asuka se afastou na fumaça e desapareceu.
Hikari estava respirando pesadamente. Ela sabia que nã o estava sendo sensata.
Mas tudo em que ela conseguia pensar agora era em Toji. Ela simplesmente nã o tinha
nenhuma preocupaçã o de sobra para Asuka. E no momento em que Heurtebise atirou com sua
arma em Asuka / Eva, Hikari sentiu seu corpo ficar pesado. Ela ainda mal conseguia se mover.
Ela sentiu que a mã e de Asuka a estava acusando de intimidar a filha.
Heurtebise nasceu ao lado do Eva-02. Ou seja, as duas unidades foram criadas juntas, mas
apenas uma se tornou Eva-02. Heurtebise havia sido descartado. Embora ninguém acreditasse em

172
Hikari se ela tivesse dito isso, ela sentiu a alma da mã e de Asuka morando dentro de Heurtebise,
assim como morava dentro do Eva-02. No entanto, no caso de Heurtebise, o que Hikari sentiu
pode ter sido apenas um traço persistente.
Heurtebise estava se movendo novamente. O Eva se ajoelhou e levantou o N 2 Flanker.
Ah, isso é um alívio. Os sinais vitais de Toji ainda estão bem.
“Sinto muito, Heurtebise”, disse Hikari.
Ela traiu a confiança do Eva. A presença em Heurtebise nunca poderia emprestar a Hikari
sua força como antes.
“Sinto muito, Asuka.”

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Capítulo 37:
Impasse

"VEJO SE O COMANDO dará o aval para um reagrupamento", disse Clausewitz com uma
expressã o azeda.
Ele foi responsável por nã o gerenciar a Hikari. Mas atribuir culpa nã o mudaria nada agora.
A ú nica opçã o era interromper e reagrupar. Nenhum dos lados dessa luta poderia atualmente
manter uma linha de batalha.

Uma grande batalha imprevisível eclodiu dentro da bacia. Agora, no lado norte, veio uma
mudança, pequena a princípio.
Uma peça afiada e plana de metal, nã o muito diferente de uma lâ mina de espada, surgiu do
chã o e começou a deslizar, como o periscó pio de um submarino deslizando sobre a superfície do
oceano.
A lâ mina ficou mais alta, roçando um caminhã o blindado e atravessando uma barricada de
contêineres empilhados de dez metros. Continuou se movendo em direçã o ao centro do campo de
batalha sem saída.
Os soldados pró ximos nã o podiam fazer nada além de vigiar. A espada passou por eles.
Eles sentiram a vibraçã o da lâ mina em suas peles - um rosnado forte e inquietante - e eles sabiam,
instintivamente, para nã o a tocar.
Ao entrar no aviã o de controle, um oficial gritou: << Algum tipo de coisa afiada, com
aparência de lâ mina, apareceu no lado norte da frigideira e desliza pelo chã o em alta velocidade
em direçã o ao centro do campo de batalha. Você pode confirmar o que é? >>
Clausewitz nã o sabia. Mas um esquadrã o de aviõ es de observaçã o do Reino Unido,
perambulando além da borda norte da bacia, realizou uma varredura de todos os objetos naquele
lado do campo de batalha. Depois de filtrar os soldados, armas estacioná rias, veículos de combate
e veículos de transporte - e qualquer outra coisa que deu uma resposta da IFF ou foi registrada no
banco de dados - o campo de pontos foi reduzido a um ú nico desconhecido.
“O que é isso?” Clausewitz perguntou enquanto olhava para a câ mera.
Um braço?
Um braço, segurando uma espada no alto, apareceu do chã o.

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A mã o girou a espada, de modo que a ponta apontou diretamente para baixo e a esfaqueou
na terra com um golpe.
Os mú sculos do braço incharam e seu impulso para a frente parou. Usando a espada como
apoio para as mã os, o Super Eva se levantou do chã o e pulou no campo de batalha.
O gigante abriu a boca e soltou um rugido assustador, sacudindo o pró prio ar. Sua
mensagem foi clara para todos os presentes.
Devolva meu coração!
Depois de viajar para outro planeta e percorrer os corredores extradimensionais, os
batimentos cardíacos roubados de Super Eva o levaram até aqui, de volta para casa, em seu
planeta turbulento.
Mas assim que ele chegou, seu coraçã o estava saindo.
Abandonando os Transportadores de Anjos, o Torwä chters ferido acompanhado da
rejeitada Asuka / Eva estavam de volta aos tú neis. Shinji e Trois chegaram tarde demais.

“Onde estamos?” Shinji perguntou. “E o que diabos está acontecendo?”


Uma explosã o alta ecoou, o impacto ondulando em seu corpo. A cabeça dele girou.
Tendo emergido repentinamente em um campo de batalha em uma ilha na beira do
Oceano Á rtico, o Super Eva teve uma saraivada de fogo amigo. Ele brandiu suas espadas gêmeas,
Kesara e Basara, e Ayanami Trois, dentro com Shinji, colocou o escudo do Eva. Explosõ es
cegamente brilhantes cobriram imediatamente a superfície do escudo. Voltar à Terra em um local
desconhecido teria sido desorientador por si só , mas aparecer em meio a uma batalha maciça era
desconcertante. Para Shinji, a experiência foi muito parecida com vertigem.
Apó s cerca de trinta segundos, o fogo amigo parou temporariamente. Shinji estava
tentando recuperar o equilíbrio quando duas fitas semelhantes a navalhas dispararam em sua
direçã o através da fumaça. Nesse ú ltimo momento, ele ergueu as espadas para bloqueá -las.
Faíscas voaram. Ele conseguiu se proteger, mas a força do impacto empurrou a massa de mais de
quatro mil toneladas do Super Eva quase duzentos metros para trá s. Entã o as fitas de Zeruel se
foram, retraídas de volta para a nuvem de fumaça.
Um anjo?!
Shinji gritou para Rei Trois atrá s dele. “Existe um Transportador de Anjo aqui?”
Ele esperava que ela pudesse sentir o que estava lá fora, mas ela nã o respondeu.
Ele olhou por cima do ombro. Os olhos de Ayanami estavam sem foco. Ela estava lutando
contra algo tentando roubar sua consciência. Seus dedos cravaram no ombro de Shinji.

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"Trois?"
“Espere, estou recebendo algo. Uma mensagem... do dono do coraçã o? Nã o, do pró prio
coraçã o? Meu nome é…”
Trois recebeu a mensagem do Torwä chter no momento em que os gigantes desapareceram
no portã o.
“Meu nome... é Shinji.”

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Capítulo 38:
Amigo

TOJI DESPERTOU no que parecia ser uma sala de UTI muito bem equipada. Não, espera.
Eu reconheço esse layout. Este local é do mesmo tamanho que as unidades modulares padrão de
quartéis. Entre as cortinas ao lado, ele viu uma fileira de mesas cirú rgicas.
Um hospital de campanha.
Quando ele virou a cabeça para olhar em volta, viu letras cirílicas.
“Isso nã o pode ser bom.”
Ele tentou coçar a cabeça, mas a mã o esquerda estava estranhamente pesada.
O lençol caiu de seu braço e seus olhos se arregalaram. Sua respiraçã o ficou presa no peito.
O que viu nã o foi seu braço cibernético, mas um braço de carne e sangue terrivelmente pá lido
emaciado preso ao ombro.
“O que diabos é isso?!”
A voz de um homem respondeu do outro lado da cortina.
“Você nã o reconhece? Esse é o seu braço, Toji. Nó s o cultivamos para você há três anos,
mas desistimos de recolocá -lo depois do que aconteceu. Eles nã o tinham nenhuma cibernética de
reposiçã o aqui para você.
Através das cortinas veio...
"Kensuke", disse Toji.
“Nó s nã o recolocamos seus membros naquela época por causa de que 'quando o corpo de
Toji ficar inteiro novamente, o anjo Bardiel vai despertar e matar todos nó s'. Aposto que você
pensou que seu braço e perna ainda estavam em algum lugar no laborató rio de pesquisa médica
no QG, fornecendo dados muito valiosos sobre a eficá cia de conservantes. ”
“O que você está fazendo aqui?”
“De qualquer forma, é por isso que nã o recolocamos sua perna. Eu tenho esse bebê aqui.”
Kensuke deu um tapinha em um recipiente cilíndrico na mesa de cabeceira. O zumbido fraco de
um sistema de circulaçã o emanava de dentro “E só para esclarecer, eu nã o roubei seus membros
nem nada. Nó s apenas os pegamos de volta.” Ele limpou a garganta. “Nó s os enviamos para a Nerv
Alemanha como parte de um comércio. Temos detalhes sobre a tecnologia do equalizador
sincronizado e eles têm uma amostra viva da infecçã o por Anjo para estudar. A divisã o de

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tecnologia do departamento de inteligência de segurança faz esses tipos de acordos de bastidores
para o departamento de ciências desde antes de eu me juntar a eles.”
“Eu nunca ouvi falar disso.” Toji suspirou. “Eu nã o consigo mais imaginar nada sobre você.”
“Estou apenas fazendo o que é ló gico”, respondeu Kensuke.
“Como você mudou tanto? Você nã o costumava ser tã o… clandestino.”
Kensuke deu um sorriso irô nico e deu de ombros, como se estivesse esperando essa
reaçã o.
“É exatamente isso, Toji. Eu sou o ú nico que nunca pode mudar? Eu cansei de você e Ikari
irem adiante sem mim enquanto davam uma rizada cô mica. Se eu nã o conseguia seguir o mesmo
caminho que você e estava infeliz onde estava, por que nã o encontrar um caminho diferente? Isso
é tã o errado?” Kensuke balançou a cabeça “De qualquer forma, nã o me faça entrar agora. Eu
quase tinha esquecido o quã o ruim eu costumava me sentir.”
Kensuke pegou uma garrafa de á gua e torceu a tampa. “Eu admito, eu vou longe demais à s
vezes, mas vou fazer as coisas direito. Eu sei que realmente fiz algo ruim com a Hikari.”
A equipe de Kensuke, sem permissã o, entregou a família de Hikari à Alemanha. Toji tinha
todo o direito de ficar furioso. A versã o anterior dele teria dado um soco em Kensuke pelo menos
uma vez agora.
Em vez disso, Toji disse: “Seu braço direito... está funcionando?”
O braço de Kensuke havia sido transformado em sal perto da Arca no norte da Á frica. Seu
substituto foi uma versã o robó tica bá sica - do tipo tipicamente doado para países devastados pela
guerra. A tecnologia era limitada para que as instalaçõ es locais pudessem lidar com a instalaçã o e
o reparo.
"É definitivamente um nível abaixo do que você teve", respondeu Kensuke. “Você quase
saiu daqui com um desses, sabe.”
Kensuke saiu pelas cortinas. Ao sair, ele estendeu a mã o direita rigidamente em
movimento e formou os gestos de pedra, papel e tesoura. E entã o ele se foi.

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Capítulo 39:
Gigantes, Humanos e Bestas

A RETIRADA INESPERADA DOS VICTORS apenas tornou a batalha mais confusa.


Shinji tentou se afastar, mas assim que o Super Eva voou para o céu, as forças do Euro o
identificaram erroneamente como uma ameaça da classe Victor e o jogaram de volta ao chã o com
uma barragem explosiva.
"Gah!" Shinji gemeu dentro do plugue de entrada.
Trois ainda estava sentada atrá s dele no banco do motor. Ela explicou o que havia
descoberto.
“Consegui pegar um có digo de tempo em um transmissor de rá dio. O sinal é fraco, mas
estamos em algum lugar no horá rio de Moscou. Latitude alta. Perto do Oceano Á rtico.
Desde o momento em que chegou, Super Eva transmitia seu có digo de assinatura exclusivo
e registrado internacionalmente, que identificava o gigante como Eva-01 da Nerv Japã o. Mesmo
que o Super Eva nã o estivesse registrado nos bancos de dados da IFF desses exércitos, a IA
estratégica de cada país deveria ter descoberto quem ele era e o marcado como verde. Mas os
sistemas de computador também devem ter sido confundidos, e o fogo amigo diminuiu e fluiu.
Essa ú ltima salva foi particularmente intensa.

A maior razã o para a situaçã o de Shinji e Trois veio diretamente antes de sua chegada,
quando Asuka / Eva apareceu com uma placa preta nas costas e resgatou o primeiro Torwä chter
de destruiçã o certa. A confiança dos militares russos e europeus na Nerv Japã o havia
despencado, nã o que o par dentro de Super Eva tivesse alguma maneira de saber.
Atualmente, os soldados aliados consideravam o Super Eva outro dos subordinados do
gigante negro. Reconhecendo que ele estava em perigo - mas nã o o por que - Super Eva se
escondeu nos vapores grossos que cobriam o campo de batalha.
O chã o tinha sido craterado e queimado. Fumaça branca e cinza surgiu da terra fumegante
e nuvens negras e eletromagnéticas brilharam com um raio, impedindo todos os sensores de
verem algo dentro.
As nuvens provavelmente ofereceriam pouco abrigo ao Transportador de Anjos que o
atacara, mas, pelo menos, o bombardeio de seus companheiros humanos diminuiria. Suas armas
nã o eram tã o eficazes quanto as dos Anjos, mas ainda doíam como o inferno.

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Capítulo 40:
Os Lobos

"SINTO ANIMAIS ", disse Rei Trois. “Um bando de animais, correndo por aí.”

“Realmente? Onde?” Shinji expandiu a visã o de Super Eva muito além do espectro visual, e
a fumaça negra apareceu brilhante com o calor. Algo saltou. Nã o era um bando de animais, mas
um animal do tamanho de Eva.
“O-o que é essa coisa?!”
Shinji ergueu as espadas para se proteger, mas Kesara puxou o braço dele e balançou o
gigante que parecia uma fera.
“Quê?”
Rei Trois estava acessando a escama QR Signum, a fonte de energia atual do Super Eva.
Embora tocasse a escamas de Armaros apenas com a mente, sentiu as repulsivas mã os negras
estendendo-se fisicamente da escama e através do peito para agarrar as espadas com os dedos do
Super Eva.
O braço direito balançou Kesara descontroladamente. A lâ mina atingiu a fera acima do
ombro e seu escudo desviou o golpe.
A espada recuou e o Eva Besta saltou para o lado, torcendo o corpo para pousar com as
quatro pernas firmemente no chã o. Suas garras cavaram o solo destruído.
Shinji deu sua primeira boa olhada na criatura.
“Essa coisa tem um QR Signum! Poderia ser um novo tipo de Transportador de Anjo?

181
182
"Espere, Ikari-kun!" Trois disse. “A IA está combinando insígnias e marcaçõ es de có digo
com os padrõ es militares dos EUA. Você se lembra da mensagem de Armaros? Ele disse algo sobre
bestas.”
A canção da instrumentalidade não pode ser tecida naqueles que degeneraram em bestas.
Shinji e Trois ouviram a mensagem do gigante negro pouco antes de emergirem da rede de
tú neis.
“Você está me dizendo que é um Eva americano? E é alimentado por um QR Signum, como
Heurtebise? Ninguém disse nada sobre isso... ”
“Apenas espere”, disse Trois. “Veja o que faz a seguir.”
“Eu gostaria, mas... ah! As espadas estã o se balançando de novo! Shinji ligou o canal de
comunicaçã o.” Transmissã o. Aqui é a Nerv Japã o Eva-01 SE. ”
No visor secundá rio, uma janela laranja se abriu e dizia: ERRO DE TRANSMISSÃ O.
“Droga! Nã o consigo captar o sinal de controle para falar com quem está nessa coisa.
Talvez possamos tentar enviar uma mensagem nã o criptografada pela frequência de chamadas
civis. ”
“Nã o se preocupe”, disse Trois. “Existem mais de oito mil sinais lutando para passar no
momento. Toda frequência está saturada. ”
Trois estava mantendo sua dor para si mesma. Ela olhou para as costas de Shinji. Seus
mú sculos estavam tensos e seu corpo tremia enquanto tentava impedir que as espadas
atacassem.
“O Super Eva é o seu corpo”, disse ela. “Por que você nã o pode controlá -lo?”
“É como aquele velho jogo de festa... como se chama? Mã os amiga? Sinto como aquilo.”
Kesara e Basara estavam tentando atingir o mesmo animal que a voz havia denunciado.
Quando ele enfrentou o Eva-0.0 mutante no Nú cleo da Maçã , a mesma força invisível
moveu suas espadas - ou melhor, moveu os braços do Super Eva.
Segundo Maya, Shinji nã o era apenas um piloto de Eva agora. Super Eva existia em um
estado de incerteza, e o Eva e Shinji formaram uma entidade completa. Nã o parecia possível que
outro ser pudesse interpor sua vontade entre eles.
É quase como se houvesse outro eu.
Nos tú neis, Asuka havia dito a ele: “Você nã o me trouxe aqui, Shinji! Nã o foi você!”
E entã o Shinji seguiu os batimentos cardíacos do Super Eva e emergiu neste campo de
batalha, onde Trois transmitiu uma nova mensagem: “Meu nome é Shinji.”

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Um amplo buraco se abriu na fumaça e uma arma branca, semelhante a um bastã o, foi
lançada na direçã o do Eva americano. Graças ao ataque anterior do Super Eva, a Besta Eva já
estava em guarda e conseguiu rolar para o lado fora do caminho da arma. O cajado se empalou no
chã o, que explodiu, formando uma cratera larga o suficiente para que Super Eva tivesse que
recuar para manter o pé.
Shinji nem percebeu quando dois outros cajados se empalaram da mesma forma.
Um quarto veio balançando para a nova posiçã o da besta. O Eva EUA saltou para trá s, fora
do caminho - mas quando a fera tentou avançar novamente, bateu de frente em uma parede
invisível. Cores cintilantes, como a membrana de uma bolha de sabã o, rodopiavam na superfície
da parede.
O Super Eva e o Eva EUA estavam presos em um espaço de quatro paredes, com cada
cajado em um canto.
Shinji olhou para cima, procurando uma saída. As quatro paredes convergiram em um
ponto bem acima. Ele atingiu uma das paredes com sua espada, mas a arma ricocheteou com um
barulho alto.
“Eles prenderam a fera”, disse Shinji, “mas agora estamos presos aqui com ela!”
Uma voz veio de cima. << Nã o, foi feito para você também. >>
Fora da pirâ mide invisível, quatro pares de asas afastam a fumaça da batalha.
Shinji engasgou quando quatro Transportadores de Anjos aparecerem
Os gigantes brancos circularam a pirâ mide uma vez e, em seguida, cada um colocou a mã o
contra uma das quatro paredes. Os transportadores abriram caminho lentamente através da
barreira, que ondulava ao redor deles como a superfície de uma lagoa.
“Eles estã o nos aprisionaram aqui para poderem se juntar a nó s!”
Mas isso nã o foi tudo.
“Ikari, olhe!” Trois disse.
Dentro das barreiras, os braços dos transportadores - e depois seus corpos - eram duas
vezes, talvez até três vezes maiores do que tinham do outro lado. Como a luz refratando a á gua, os
corpos dos transportadores cresceram quando passaram pelas paredes.
“Ah qual é!” Shinji reclamou. Isso foi era absurdo.
Os transportadores cresceram quase tã o grandes quanto o pró prio Armaros. Uma vez
totalmente dentro, cada gigante superdimensionado estava de costas para uma das quatro
paredes, onde eles encaravam o Super Eva e a Besta Eva, que haviam se retirado para o meio.

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“Trois, seus QR Signums...”
As escamas dos transportadores de anjos cresceram proporcionalmente aos pró prios
transportadores, mas essa nã o foi a ú nica mudança. Antes, os padrõ es vermelho-escuro
brilhavam suavemente na superfície das placas de ressonâ ncia quâ ntica, mas agora esses padrõ es
eram brilhantes. Shinji podia dizer com um olhar que muito mais energia estava despejando
nessas escamas.
“Entendo”, disse Trois. “Talvez esse espaço permita que os QR Signums recebam um
excesso de energia de Armaros. Pode ser por isso que os transportadores ficaram tã o grandes.”
Shinji renovou o controle sobre as espadas - que ainda queriam se virar para o Eva EUA - e
as apontou para um dos Transportadores de Anjos.
Rachaduras de todas as formas e tamanhos se formaram na armadura dos
transportadores, e o sangue escorreu por eles.
"Cuidado", disse ele. “Parece que nem os transportadores de anjos podem conduzir grande
parte da energia de Armaros sem pagar um preço. E se forem como homens-bomba?”
A voz voltou.
"Humano... pelo crime de tomar forma nã o humana..."
Desta vez, as palavras nã o vinham dos lá bios de Trois, mas dos de Shinji. Ele
reflexivamente colocou a mã o sobre a boca.
“Eu nã o quis dizer isso!”
Armaros estava falando através dele como ele havia falado com as Ayanamis?
Outra voz falou dentro do plugue. Parecia uma garotinha. A voz era vibrante, suas palavras
claras.
<< Nã o se preocupe conosco. >>
“Quem é aquela?”
Ele ouvira a voz de Mari - impossivelmente - nã o através de um sinal de rá dio, mas como
se ela estivesse presente.
Bem, era difícil dizer o que era impossível neste espaço.
Era como se o interior da barreira conduzisse tudo melhor - nã o apenas a energia de
Armaros.

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Um sentimento terrível e opressivo tomou conta de Shinji quando os gigantes
Trasportadores de Anjos o encaravam de todos os lados. Eles projetaram uma mensagem que saiu
pelos lá bios de Shinji mais uma vez.
“Criança humana... Domine os animais selvagens da terra.”
Os olhos de Shinji se arregalaram. Ele sabia o que ia acontecer a seguir. Ele podia sentir
isso em seu corpo.
Percebendo que ele havia inadvertidamente entregue o papel de carrasco, ele protestou:
"Você está me dizendo para fazer isso ?!"
Os quatro Transportadores de Anjo levantaram as mã os como se pontuassem a mensagem
da voz.
“Você, na Eva americano!” Shinji gritou. “Mantenha-se longe de mim!”
E entã o o Super Eva estava atacando a fera.
Kesara e Basara se encheram de um poder selvagem, brilhando com antecipaçã o.
Enquanto o imenso e imparável poder fluía através de Trois, ela gritou: "Ikari-kun!"
Super Eva estava se mexendo, mas nã o por vontade de Shinji.
"Sou eu", disse ele, "mas nã o sou eu!"

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Capítulo 41:
A Torre de Babel

DEPOIS DE LEVAR Toji gravemente ferido à equipe médica em Rogachevo, no lado sul
da ilha, Hikari voou de volta para o campo de batalha. Ao se aproximar, ela viu uma torre
piramidal alta, de quatro lados, alcançando as nuvens que haviam se acumulado acima do campo
de batalha. As quatro paredes brilhavam como bolhas de sabã o e se encontravam em um ponto
no topo.
“O que é isso?”
Ela desceu abaixo das nuvens, onde uma batalha confusa se alastrou.
O inimigo havia feito aos aliados o favor de se reunir, mas as forças do euro e da Rú ssia nã o
estavam conseguindo implementar uma estratégia coesa. Os soldados foram dispersos e movidos
sem coordenaçã o.
O que aconteceu aqui?
Hikari puxou a tabela de tempo e o mapa de implantaçã o na tela secundá ria para tentar
obter uma leitura da situaçã o, mas o texto era ilegível e ininteligível, e o mapa mostrava apenas
uma mistura de formas.
Hikari se perguntou se alguns de seus sistemas estavam funcionando mal. Preparando-se
para ser mastigada por abandonar temporariamente o campo de batalha, ela se virou para o seu
aviã o de controle em busca de ajuda.
“Heurtebise para Kommandobrü cke, aqui é Hikari! Tenente-coronel Clausewitz, você está
aí?”
A voz familiar dele veio sobre o alto-falante, mas ela nã o conseguiu entender uma palavra
que ele disse. Confusa, ela testou todo tipo de codificaçã o de transmissã o através dos sentidos do
Eva. Ela pensou que talvez o sistema de suporte ao idioma da IA a bordo do Eva pudesse ter
falhado, mas esse nã o parecia ser o caso.
Ninguém na ilha podia falar um com o outro. O má ximo que eles podiam fazer era tentar
transmitir suas emoçõ es através do barulho.
“Ninguém entende a língua um do outro”, disse Hikari para si mesma.
A julgar pelo estado de sua tela, palavras escritas ou símbolos também nã o podiam
transmitir pensamentos. Ela tinha a sensaçã o de que mesmo um diagrama bá sico teria o mesmo

187
resultado confuso. Era como se todos tivessem esquecido qualquer conhecimento da linguagem,
de todas as formas, que haviam adquirido ao longo de suas vidas.
Ainda em voo, Heurtebise subitamente desequilibrou e Hikari rapidamente aumentou a
potência de seus reatores N2. Ela espalhou seus sentidos pelos sistemas do Eva, onde personagens
sem sentido inundavam a linha de comando, alterando continuamente as configuraçõ es.
“Está afetando o sistema de controle?”
A capacidade de comunicaçã o, seja por palavra, sinal de rá dio ou impulso elétrico, foi
drasticamente reduzida.
O exato oposto do que estava acontecendo dentro da torre estava acontecendo no mundo
exterior.

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Capítulo 42:
Executor Substituto

SHINJI NÃ O SABIA se a força convincente veio de Armaros ou do Victor que segurava seu
coraçã o.
Faça o julgamento.
Embora ele nã o quisesse, Shinji respondeu automaticamente ao comando, e o Super Eva
balançou suas espadas no Eva dos EUA.
A fera saltou para o lado, evitando o corte. Ao mesmo tempo, Shinji também havia forçado
as lâ minas a tentar nã o acertar o alvo, propositadamente. Esse movimento selvagem e antinatural
deixou o Super Eva desequilibrado, e ele caiu no chã o fumegante.
Os dois Evas repetiram essa dança vá rias vezes.
Esquivando-se de cada ataque, a fera circulou o interior da torre. Os nã o acertos do Super
Eva nã o foram devidos apenas a Shinji. O Eva dos EUA realmente era bom em fugir das espadas.
Mas à s vezes Shinji nã o conseguia desviar as lâ minas, e à s vezes a garota nã o era rá pida o
suficiente. Sempre que os dois aconteciam ao mesmo tempo, rajadas de ar atingiam o corpo do
Super Eva, impedindo seu ataque.
A garota do Eva americano sabe como usar seu Campo assim? Mas você precisa se
concentrar na projeção... não achei possível enviar mais de uma de uma vez.
Shinji sentiu seu corpo gemer. Esse balé desajeitado o estava desgastando ainda mais
rá pido do que um combate completo.
Sem fô lego, Shinji forçou as implacáveis espadas a permanecerem no lugar. Ele olhou para
o Eva dos EUA através da tela virtual. A besta-fera ou bando, parecia-lhe devolver o olhar, seus
olhos brilhando. Quando o Eva americano cavou suas garras no chã o, Shinji pensou ter sentido o
olhar de incontáveis olhos nele.
<< Você vai me matar? >> a garotinha perguntou. Pelo menos, ela parecia uma garotinha.
Mas sua voz era completamente calma, como se ela visse sua pró pria morte como algo abstrato.
Seus ombros subindo e descendo a cada respiraçã o pesada, Shinji se viu pensando sobre
essa garota no centro da consciência da matilha. Quem é ela?
<< Eu sou Mari. >>
Ela respondeu como se tivesse ouvido seus pensamentos, e sem nenhuma preocupaçã o
com o fato de que ele a estava atacando.

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“Nó s somos Shinji e Trois. Sinto muito, Mari.” Ele acrescentou: “Aguente firme”.
Apesar das palavras de Shinji, o Super Eva abaixou seu centro de gravidade e preparou
suas espadas gêmeas para o pró ximo ataque.
“Nã o sei explicar exatamente por que acho isso”, comentou Shinji, “mas tenho a sensaçã o
de que você tem mais ou menos a idade de Six.”
<< Six? Se você conhece Rei Ayanami Six, pode dizer a ela que eu estou com a Momo? >>
“Momo?”
Six fez um novo amigo? Muita coisa deve ter acontecido em Hakone enquanto eu estive fora.
Quando ele pensou no que havia acontecido no mundo sem ele, ele ficou com ciú mes de
tudo o que havia perdido. E o ciú me o fez se sentir pequeno. Ainda mais quando ele se comparou
à garota, que parecia confiante de que eles escapariam dessas paredes.
Ela não está nem um pouco abalada. Eu perdi a conta de quantas vezes eu bati nela, e ela
está completamente imperturbável.
Ele percebeu o porquê. Ela tem um objetivo.
Shinji soltou um suspiro profundo e firmou a respiraçã o. Se ele nã o queria ser controlado
assim, ele tinha apenas uma opçã o.
“Trois, poder direto para as asas.”
Lançando outro ataque, Super Eva correu em direçã o ao Eva dos EUA. Shinji concentrou
seu Campo AT nos elementos de desvio de campo das asas Vertex, e elas começaram a rugir.
“Mais!” Shinji gritou.
O campo continuou a convergir nas asas, até que seu rugido se tornou duro e discordante.
Naquele momento, Shinji saiu do chã o e voou sobre a fera. Não vou mais ser seu executor
substituto!
Cada Transportador de Anjo de grandes dimensõ es guardava um lado do espaço fechado,
enquanto os padrõ es de interferência ondulavam através da barreira atrá s deles. Shinji pegou um
transportador e voou direto em sua direçã o, de frente, o gigante branco aparecendo quase o
dobro da altura do Super Eva.
“Você tem um plano?” Trois perguntou, com medo.
“Na verdade nã o.” Shinji nã o olhou para trá s. Essa resposta deixaria alguém sem palavras,
sem falar com o taciturno Trois.
“O que?!” ela conseguiu ofegar.

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“Enquanto eu permanecer na defensiva, continuarei sendo controlado. Eu tenho que
tomar uma açã o antes que uma seja tomada por mim. De qualquer maneira, tudo se resume a
combatê-los.”
Nã o importa o tamanho dos inimigos, derrotá -los era a ú nica saída. Nã o houve recuo.
O colosso branco encontrou seu primeiro ataque estendendo a mã o como se dissesse:
“Pare”. Disparou um escudo de poder e golpeou as espadas do Super Eva, fazendo-o cair, de
cabeça para baixo.
Eles não são apenas enormes, são fortes também!
Shinji grunhiu de dor. Ayanami estava sentado no banco, enquanto ele estava ao lado,
segurando os manípulos de controle. Ele provou sangue. Ele deve ter mordido o lá bio.
Ainda em um salto mortal descontrolado, Super Eva enfiou a espada da mã o direita,
Kesara, no pilã o do ombro esquerdo. Assim que ele pousou, o Anjo dentro do casulo do
transportador disparou dois raios de luz, que ele desviou com o campo sobre a espada da mã o
esquerda, Basara. Um raio ricocheteante disparou um obus abandonado. O outro atingiu a parede
da torre, criando ondulaçõ es na membrana, mas nenhum dano duradouro.
Lutando contra a dor do impacto, Shinji lançou um olhar para a tela secundá ria. Kesara
examinou o campo de seu oponente e o pilã o estava preparando uma nova configuraçã o.
Sem fazer uma pausa, o Super Eva saltou para frente e mudou Basara para um aperto de
duas mã os. Avançar no colossal Transportador foi uma jogada arriscada, mas Shinji apostou que,
de perto, o transportador talvez nã o pudesse usar seu tamanho para obter o má ximo proveito.
A ideia nã o foi terrível, até que dois braços longos e delgados desceram do casulo do
transportador. Uma mã o abriu e disparou uma haste longa e brilhante, na tentativa de prender o
Super Eva.
“Sachiel de novo!”
Apó s a derrota, os Anjos poderiam ser reconstruídos a partir dos dados da Arca para
emergir novamente de outro casulo. Mesmo quando vencemos uma batalha, ainda perdemos. O
pensamento fez Shinji se sentir cansado.
A haste caiu entre as pernas do Super Eva, falhando em empalá -lo. Mas suas pernas se
enredaram e ele caiu. Shinji estremeceu, esperando ser empalado por uma segunda vara da outra
mã o do Anjo.
Ele ouviu um rugido e abriu os olhos para ver o Eva dos EUA saltando por cima. Mantendo
seu impulso adiante, a fera afundou suas presas no braço de Sachiel e torceu a articulaçã o do
cotovelo do Anjo para trá s, como se tentasse abrir uma perna de caranguejo. Com um ruído alto e
doentio, o braço larval do Anjo estalou. O Eva soltou-se, afastando-se com a mesma velocidade
que carregara.

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"Obrigado, uau!" Obrigado, Shinji estava prestes a dizer, quando um segundo grande
Transportador chegou voando.
A boca cheia de dentes de um peixe gigante do alto mar emergiu do casulo do
transportador, pingando gotas de chama semelhantes a magma. Onde as gotas pousavam, o chã o
derreteu em lava. Qualquer coisa queimou e afundou na rocha derretida.
"E Sandalphon." Shinji suspirou.
Super Eva voltou a ficar de pé e seguiu o Eva dos EUA apenas para colocar alguma
distâ ncia temporá ria entre ele e os transportadores.
O transportador de Sandalphon continuou a voar, cobrindo o chã o com lava.
Trois abriu o mapa de implantaçã o. “Esse é o transportador da parede sul. Os do norte e do
leste nã o se mexeram. Aquela garota deve ter atacado a do sul, como você fez.”
“E minha espada?”
“Ele será reconfigurada em mais… 110 segundos.”
Trois nã o conseguia mais esconder sua dor. Quase todo o poder que ela extraíra do QR
Signum estava sendo sugado por Kesara no pilã o do ombro esquerdo. Sua sede era ilimitada.
Trois teve que mergulhar profundamente no QR Signum, e a sombra de Armaros a
absorveu mais profundamente. Quando Kesara foi reformada, Shinji sentiu uma dor latejante e
ardente, como se alguém estivesse pressionando um ferro quente contra seu ombro.

Uma protuberâ ncia desceu pelo braço quebrado de Sachiel enquanto os tecidos internos
avançavam para o ferimento. Quando eles recuaram, a junta foi recolocada em seu devido lugar,
nova. O transportador de grandes dimensõ es virou-se e começou a disparar flashes de luz contra
o Besta Eva.
Correndo sobre quatro pernas, a fera tecia para a esquerda e para a direita, evitando
habilmente os raios do anjo. Um tiro estava a caminho de atacar o Eva, mas algo invisível bateu
contra o raio de luz, desviando-o.
Shinji observou o ar se distorcer enquanto formas invisíveis pareciam passar sobre o Eva
dos EUA.
“Eles sã o autô nomos?” Shinji perguntou. “Algo com livre arbítrio? O que…”
Mari respondeu com uma pergunta pró pria. << Você é um homem e um Eva, mas no final,
você ainda é apenas uma pessoa. Você nã o fica sozinho consigo mesmo? >>
Deve ter havido mais de vinte distorçõ es. Eles se moveram em uníssono, espaçados. Shinji
observou-os cercando-a.

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“Eles sã o como um bando de lobos”, observou ele, sem saber o nome do có digo do Eva
americano.
O Eva de aparência estranha e seu piloto sofreram modificaçõ es genéticas para incorporar
o DNA de vá rios animais. Mas isso nã o significava que a Nerv EUA soubesse que o Eva terminaria
assim. A fusã o da besta e Eva / piloto havia sido projetada para inibir suas percepçõ es de
individualidade, para que os pilotos compatíveis com Eva pudessem ser facilmente adquiridos.
A manifestaçã o dos animais de vento, que agora corriam pelo chã o ao redor do Eva, era
quase certamente o resultado da maneira como a energia fluía dentro desse espaço fechado.
Shinji tentou racionalizar o que via como projeçõ es remotas do Campo AT da garota, que
ela transformou em um bando de bestas. Ele achava difícil acreditar que cada um deles tivesse
sua pró pria consciência.
Enquanto Shinji seguia o curioso Eva e seu bando, Mari falou novamente. << E aquele
Torwä chter? Também se chamava Shinji. >>
“O que?”
A IA concordou. No visor secundá rio, a contagem regressiva da espada chegara a zero, e
uma nova mensagem apareceu: REFORGIMENTO COMPLETO. INICIAR ESFRIAMENTO.
Shinji colocou Basara na mã o esquerda. “Vamos fazer isso!”
A câ mara do pilã o do ombro se abriu, oferecendo a lâ mina em brasa.
Shinji se preparou, lembrando o que aconteceu da ú ltima vez.
Quando ele pegou a espada, Super Eva sacou a arma antes mesmo de perceber o que
estava acontecendo.
Minhas percepções estão atrasadas novamente!
Rei Trois estava tremendo. Ela cobriu a boca para nã o gritar.
A mã o negra estendeu a mã o do QR Signum e segurou a espada.
O que é essa coisa?
O vento quente chicoteava a espada de quarenta metros de comprimento. Super Eva virou
a arma de cabeça para baixo e a jogou no chã o congelado.
O tremendo reservató rio de calor despejou na terra, e a umidade subterrâ nea vaporizou e
inchou. O chã o explodiu ao redor do Super Eva ajoelhado, velando o gigante em vapor. Sachiel
disparou vá rios raios de luz nessa cortina branca, espalhando a base da coluna de vapor, mas o
Super Eva nã o estava mais lá . Ele voou para cima com o vapor crescente e agora estava pousando
no transportador, com a espada pronta.
Super Eva derrubou a lâ mina com todas as suas forças.

193
Kesara perfurou o escudo do transportador, mas nã o o tempo todo. Sua ponta estava
suspensa no ar, o escudo drasticamente mais forte do que antes.
"Maldito!" Shinji gritou.
Todo o peso blindado do Super Eva estava por trá s da lâ mina. Shinji girou suas asas Vertex,
colocando toda a força atrá s dela. Faíscas voando entre os campos, ele forçou a espada pelo resto
do caminho através do escudo do transportador e cortou lateralmente. Mal a lâ mina alcançou um
QR Signum, destruindo-o.
Mas quando duas laminas afiadas perfuraram o estô mago e a coxa direita do Super Eva,
Shinji percebeu que havia se comprometido demais com o ataque.
Enquanto se distraíra, Sachiel estendeu os braços para fora do casulo, abriu as palmas das
mã os e enfiou as lâ minas no Super Eva.
Super Eva nã o apenas estava estacioná rio, mas também havia acabado parcialmente o
poder de seu Campo AT na propulsã o de suas asas, enfraquecendo o campo. O anjo havia
aproveitado essa oportunidade.
Mas o transportador também parou de se mover.
Mari estava pronta. “Torus Eliminador, envolva-se!”
Três dos canhõ es montados na parte traseira de Wolfpack já haviam sido gastos, mas o
quarto cilindro preto começou a girar. A carga explosiva super-direcional de N 2 soltou um clarã o
ofuscante de luz ao longo de seu eixo rotacional e depois explodiu na câ mara oca. A carga
implodiu, cuspindo a reaçã o secundá ria de N2 a uma velocidade tã o alta que o projétil parecia um
feixe só lido a olho nu.
A carga secundá ria de N2 perdeu a maior parte de sua velocidade inicial ao penetrar na
blindagem espessa do transportador, mas a atravessou. A carga explodiu, quebrando o QR Signum
e queimando tudo atrá s do escudo - o Transportador de Anjo, Sachiel e tudo.
O transportador estava morto. Seu escudo se dissipou instantaneamente e a energia
restante da explosã o se espalhou para fora. A explosã o jogou o Super Eva para trá s. A viseira da
cabeça se fechou, protegendo os olhos do calor extremo, enquanto a armadura de contençã o
queimava. Antes de seu visor fechar, Shinji viu algo que o surpreendeu - nem mesmo a explosã o
foi suficiente para destruir completamente o torso do transportador.
Super Eva atingiu o chã o como se estivesse em câ mera lenta, sua massa tremendo a terra
enquanto saltava e rolava até parar.
Shinji gemeu de dor. O plugue de entrada - e o Super Eva - estavam de lado. A haste na coxa
do Eva havia sido deslocada na explosã o, mas quando o calor diminuiu o suficiente para que o
visor da cabeça se levantasse novamente, Shinji viu o Eva americano apertando as presas na haste
no estô mago do Super Eva. Com um puxã o agudo da cabeça, o animal puxou a lâ mina.

194
Shinji gritou de dor.
"Ikari!" Trois disse.

Uma desvantagem da fusã o com o Eva foi que a dor do feedback veio diretamente à sua
mente. Ele nã o conseguia se desconectar.
<< Levante-se! >> Mari disse. << Ainda restam três. >>
"Droga", Shinji gemeu. “Você é implacável.” Ele sorriu fracamente para minimizar a dor.
A fera parecia sentir algum perigo e saltou para longe. Rapidamente, Shinji rolou para o
lado.
O chã o sacudiu para cima e para baixo. Uma onda de pressã o o atingiu, seguida de calor.
Algo deve ter atingido o lugar onde ele estava deitado.
Shinji direcionou o poder para as asas Vertex, e o Super Eva raspou o chã o enquanto ele
subia desajeitadamente. Assim que ele colocou os pés embaixo, ele empurrou o ar. Agora, sua
visã o era meramente distorcida, e nã o completamente lateral.
O chã o explodiu em linha reta, lançando uma gigantesca parede de fumaça. Pedaços
quentes de rocha esmagaram o corpo do Super Eva. Os sentidos do Eva captaram algo que Shinji
interpretou como um cheiro - ozô nio e eletricidade polarizada.
“Também tem um Transportador Ramiel ?! Desde quando?”
Shinji estava ficando preocupado. Ele nã o sabia se o estô mago e a perna feridos se
regenerariam rá pido o suficiente para ele reagir.
Nã o havia maneira de contornar isso. Super Eva e Wolfpack foram claramente superados.
“Sinto muito”, disse Trois, lendo sua preocupaçã o. “Se eu fosse melhor em acessar o QR
Signum, nã o seria assim.”
“Nã o diga isso, Trois. A luta ainda nã o acabou.”
Pela primeira vez desde que estavam presos na torre, Shinji virou-se para olhá -la.
"Trois!" ele ofegou.
Balançando no LCL, a parte de trá s de seus cabelos azuis pá lidos havia se tornado preto
puro, como se estivesse envolvida na escuridã o. Sua pele de porcelana era de uma cor cinza
doentia e seus lá bios estavam manchados de sangue, como se ela os tivesse mordido mais de uma
vez. Seus ombros pesavam a cada respiraçã o.
A escuridão de Armaros a está devorando.

195
De repente, confrontado com o que ele havia feito com Trois, Shinji sentiu o sangue correr
em sua cabeça.
“Ahh! Por quê?” ele gritou em frustraçã o.
“Sinto muito, Ikari-kun, eu ...”
Os olhos de Trois estavam fixos em algum lugar distante.
Mas a raiva de Shinji foi direcionada a si mesmo. E ele nã o teve que pensar muito para
entender o porquê.
Ele deveria saber que, se deixasse o controle do QR Signum inteiramente para Trois, ela
faria tudo o que ele pedisse, sem se preocupar com seu pró prio bem-estar.
Ele queria dizer: Por que você não me disse que não aguentava mais? Mas ele resistiu ao
impulso.
Ele tocou as mã os nas bochechas de Trois.
Ela está com frio.
Sua temperatura era muito mais baixa que ao LCL. Depois de um momento, seus olhos
focaram em Shinji.
"Ikari-kun?"
O voo de Super Eva permaneceu estável, desde que ele nã o ficasse muito longe do chã o.
Ele deslizou o mais baixo que pô de ao evitar os ataques de Ramiel.
Ainda de frente para Trois, Shinji bateu nos ombros dela. “Trois, coloque seus braços em
volta do meu pescoço. Como um passeio à s cavalitas.
“Por quê?” Trois disse, parecendo intrigada. “Nã o poderei controlar o computador.”
“Nã o se preocupe com isso agora.”
“Mas estamos no meio de uma batalha. Eu nã o posso—”
“Está bem.”
O corpo de Trois estava gelado, mas quando ela se apoiou nas costas dele, seu peso e
batimentos cardíacos confirmaram sua existência. Foi o momento em que Shinji soube que o
contato físico humano - pele contra pele - carregava muito mais significado do que qualquer
conhecimento que ele havia aprendido ao longo dos anos.
Enquanto isso, a batalha estava indo terrivelmente.
Ele nunca pensou que teria tantos problemas lutando com Transportadores de Anjos
quando derrotou tantos antes. E ainda restavam três.

196
Mas ele nã o podia deixar terminar assim.

197
Capítulo 43:
Jogar a Mão que é Dada

"IKARI-KUN" disse Trois. “Você precisa reforçar a espada.”


,

Ele acabara de atacar o Transportador Sandalphon, mas seu escudo repeliu sua lâ mina. O
campo da arma ainda estava em sintonia com o Transportador de Sachiel. Mas recolocar a lâ mina
forçaria Trois a encarar a escuridã o mais uma vez.
Enquanto isso, Sandalphon transformara um terço do solo dentro do espaço fechado em
um mar de lava.
“Nã o há mais nada que possamos fazer?” Shinji murmurou.
“Qualquer coisa como…?”
“Temos o mesmo QR Signum do Super Eva, mas, diferentemente deles, nã o estamos
consumindo energia extra. Tivemos que trabalhar muito. Acho que nossa resposta está em outro
lugar.”
<< Shinji, Ramiel está prestes a disparar >>, disse Mari. << O que você está tentando dizer?
>>
Super Eva voou para o Transportador Sandalphon, entre ele e o Transportador Ramiel.
“Eu só quero dizer que precisamos começar a partir do que podemos fazer, nã o do que nã o
podemos. Olha, eu estou falando com você agora sem usar qualquer transmissor. Eu posso sentir
sua presença. E se pudéssemos de alguma forma... transmitir energia como podemos conversar?”
<< Agora! >> Mari interrompeu.
Um flash brilhante tornou a tela de Shinji completamente branca.
Shinji havia atraído o fogo de Ramiel e depois colocado o Transportador Sandalphon no
caminho da explosã o. As costas do Transportador Sandalphon brilhavam intensamente.
O feixe de partículas perfurou o forte escudo do transportador e através de sua parte
inferior do corpo, explodindo-o.
"Sim!" Shinji disse.
Mas as escamas QR Signum do transportador permaneceram intactas e, mesmo sem a
metade inferior do corpo, o gigante ainda podia voar. O Sandalphon larval havia caído de seu
casulo. Separado de seu transportador, o anjo deveria ter se desintegrado em pó - mas, em vez

198
disso, a larva parecida com um peixe estava nadando no mar de lava. A rocha derretida era de
alguma forma um ambiente favorável o suficiente para que o anjo tivesse sobrevivido.
O transportador virou-se para Shinji e começou a disparar suas paredes de escudo. Shinji
desceu para evitá -los, mas Sandalphon queimou suas pernas.
“Aceite! Acho que pioramos as coisas!”
Eles transformaram um inimigo em dois.
Mari disse, << Se você nã o levar isso a sério… >>
“Eu estou falando sério! Vamos descobrir como esse lugar funciona. Mas, por enquanto,
vamos tentar a mesma tá tica novamente.”
“Reconhecimento recíproco, decorrente de nossos pontos em comum...” Trois comentou
suavemente.
Os transportadores no oeste, sul e leste haviam se mudado, mas o transportador do norte
permaneceu imó vel. O anjo dentro de seu casulo era Zeruel.
Mari e Shinji viram o anjo atacar de dentro da fumaça durante a batalha caó tica. Shinji
rezou para que o anjo ficasse fora da luta.
Ramiel apontou para Wolfpack enquanto a besta Eva pulava de ilha em ilha entre a lava. O
trabalho de Mari era guiar o objetivo do anjo para o Super Eva, mas o Eva nã o conseguia voar, e a
lava se espalhou até o ponto em que ela corria um sério risco de afundar na rocha derretida.
<< Quero lhe perguntar uma coisa >>, disse Mari. << Você e o outro Shinji sã o iguais? >>
"Hã ?"
<< Quando o Torwä chter saiu, ele disse: “Meu nome é Shinji.” Nã o estava mentindo, e você
também nã o. Você é o mesmo Shinji? Um Shinji diferente? Além disso, Ramiel está prestes a
disparar. >>
Agora ele sabia do que ela estava falando. Trois havia recitado sua mensagem. Meu nome é
Shinji.
<< Agora! >>
Super Eva evitou por pouco o clarã o abrasador da luz.
"Um torwhatzer?"
<< Quando você apareceu, gritou: “Me devolva meu coraçã o!” Nã o foi? O Torwä chter veio
aqui com o seu coraçã o e saiu como você veio. >>
"Sim?!"
Eu sabia! Meu coração realmente estava aqui!

199
A cabeça de Shinji estava girando, e nã o por causa das manobras do Super Eva.
Algo está movendo meu coração?
Mas quem? Alegou ter o meu nome. E Mari havia dito. “Não estava mentindo.”
O que tudo isso significa? Eu sou Shinji, e o Shinji com meu coração também sou eu?
O brilho intenso do raio do anjo começou a machucar seus olhos, e ele os fechou
reflexivamente.
Se eu fosse meu coração, para onde iria?

200
Capítulo 44:
Do Sonho da Borboleta

QUANDO SHINJI ABRIU os olhos, ele estava correndo através da rede tú nel.
Quando voltei aqui?
Ele olhou por cima do ombro para perguntar a Trois, mas tudo o que viu foram sombras
passando por ele.
Os tú neis nã o recuaram para um ponto de fuga distante, mas se juntaram em algo como
um pano preto, que fluía de volta pelo corredor em direçã o a Shinji, para ser sugado pela ponta da
placa preta nas costas.
Shinji percebeu que nã o estava dentro do plugue de entrada.
Ele próprio estava voando pelos corredores - ou melhor, os corredores faziam parte dele.
Em pâ nico, ele olhou para seu corpo.
Era preto escuro. Sua superfície refletia as partículas brilhantes que ocasionalmente se
desviavam para o sistema de tú neis.
Ele sentiu a presença calorosa de alguém pró ximo a ele. "Trois?" ele disse, olhando por
cima.
Nã o era Trois.
“Asuka! O que você está fazendo?”
A síntese Asuka / Eva se moveu pelo corredor ao lado dele. Ela estava olhando para frente,
mas agora se virou para olhá -lo.
Ela também trazia uma placa preta, que sugava o corredor atrá s deles. Seus longos cabelos
ondulavam na escuridã o.
“Por que você parece um Victor?” ele perguntou.
Ela inclinou a cabeça interrogativamente. Os olhos dele seguiram a curva do pescoço dela
até o ombro, depois para o braço longo e esbelto e, finalmente, para a mã o, que ela segurava
carinhosamente sobre o peito.
THRUM!
"Ah", disse Shinji. A luz quente irradiava dele. “Aí está !”
A luz e o estrondo baixo se espalharam entre os dedos graciosos de Asuka.

201
Tanto calor...
O coraçã o bateu forte.
THRUM!
Alojada dentro do Center Trigonus gravemente rachado estava a janela para dimensõ es
mais altas que se abriram dentro do peito do Super Eva.
Quando motor S2 do Super Eva tinha danificado e deslizou para as dimensõ es superiores,
Shinji e a alma de sua mã e, Yui, abriram uma fenda dimensional para restaurar a conexã o do
motor. Ela entregou o corpo do Eva-01 ao filho e passou para o outro lado, enquanto Maya e a
equipe da Nerv haviam combinado seus esforços para controlar a torrente de energia que
inundava a fenda. Eles tiveram sucesso e o batimento cardíaco nasceu.
Shinji quase esqueceu o quã o quente, feroz e selvagem seu coraçã o era.
Ele abriu a mã o negra e tentou alcançar dentro do peito para agarrar o coraçã o. Mas bem
na beira do Center Trigonus, sua mã o congelou.
<< Nã o me toque. >>
“Quem é Você?”
<< Eu sou Shinji. Eu sou a pessoa que você está tentando agarrar. >>
A voz soou como a de Shinji.
<< Devolva meu corpo e meu prêmio. Sem ele… Sem ele, eu - >>

"Ikari-kun!" Trois gritou no ouvido de Shinji.


Shinji abriu os olhos. Ele estava dentro do plugue de entrada.
Super Eva estava caindo, prestes a colidir com o mar de lava. Combinando com a
velocidade do Super Eva, uma crista subiu da superfície flamejante e iminente. Algo está alí!
Shinji intencionalmente desequilibrou as asas Vertex e colocou o Super Eva em rotaçã o.
Ele empurrou Kesara para frente, assim como a lava estourou para cima, como se estivesse
bloqueando seu caminho.
Kesara entrou na lava crescente, na boca de Sandalphon até a cauda do anjo.
A larva dos Anjos se agitou, envolvendo suas longas barbatanas frontais ao redor do braço
do Super Eva e tentando separá -lo. Mas Shinji mal percebeu.
<< Encontrei meu coraçã o! >> ele disse, incapaz de conter sua excitaçã o.
“Você o que?” Trois respondeu.

202
A voz de Shinji nã o tinha saído de sua boca, mas do hydrospeaker da entrada. Trois
percebeu o que estava acontecendo. Shinji havia entrado no alto estado de sincronizaçã o que
mudou sua consciência para o corpo do Super Eva.
<< Reforce a espada com o padrã o de Sandalphon! >>
Ele queria usar o calor de Sandalphon para reforçar a lâ mina de Kesara e evitar que Trois
precisasse extrair energia do QR Signum.
Trois tocou o rosto de Shinji. Assim como da ú ltima vez, seu corpo se tornou
extraordinariamente rígido. Quando ele falou novamente do hidrospeaker, parecia que acabara de
voltar de uma viagem.
<< Há ... muita coisa acontecendo e é ruim. Um Victor tem meu coraçã o, e Asuka se
transformou no outro Victor - aquele que eu pensei que havíamos matado. Nã o entendo nada
disso! >>
Trois tentou conciliar o que Shinji estava dizendo com tudo o que haviam experimentado.
“Quando encontramos Asuka nos tú neis”, ela disse, “o coração a chamava. Entã o, o Victor
com seu coraçã o é aquele que se chama Shinji? ”
<< Eu acho que meu coraçã o está se chamando Shinji. Ele quer um corpo e uma arma. >>
“E é por isso que Super Eva está se movendo por conta pró pria, especialmente quando
você está segurando Kesara e Basara?”
<< Eu acho que sim. E entã o... >> Shinji parecia ter uma ideia. << Desta vez, vamos usar o
poder do meu coraçã o. >>
Algo empurrou o Super Eva com força por trá s. A força surgiu contra ele tã o
implacavelmente quanto uma cachoeira e impulsionou o Eva com mais de quatro mil toneladas
para a frente, espadas, Sandalphon e tudo.
Por um segundo, Trois nã o conseguiu respirar, e ela sentiu que seu corpo seria jogado para
trá s.
Ela poderia ter soltado Shinji e se entregado à parte de trá s do assento. Mas Trois nã o era
do tipo de ir contra o que ela tinha dito, entã o ela continuou pressionando a testa nas costas de
Shinji, só um pouco mais apertada do que antes.
Enquanto ela observava por cima do ombro de Shinji, Super Eva voou com uma velocidade
incrível. Algo distante em um momento estava diante de seus olhos no seguinte.
Embora sequestrado por Seele / Kaji e forçado a pilotar o Eva-0.0 mutante de Quatre, Trois
havia aprendido a extrair energia de uma escama de ressonâ ncia quâ ntica. Uma vez que ela
estava dentro do plugue do Super Eva com Shinji, onde ele lutava para fazer o mesmo, ela
assumiu essa responsabilidade.

203
Trois estava deprimida porque se sentia sem importâ ncia como indivíduo, e a confiança de
Shinji nela a dava felicidade, mesmo que isso significasse sujeitar-se à corrupçã o do QR Signum.
Mas agora, um tipo diferente de energia fluía para ela do coraçã o distante de Shinji, quente
e reconfortante, como um raio de sol. Mas também era implacável, e afastou o alcance frio do QR
Signum de seu corpo.
Shinji percebeu que, se o coraçã o estava exercendo controle sobre o Super Eva, ele ainda
estava conectado a ele de alguma maneira. Assim como os Transportadores de Anjos haviam
tirado o poder e ficaram grandes demais, ele estava tirando o poder do seu coraçã o roubado.
Shinji ficou parado como uma está tua enquanto ela se agarrava a suas costas. Ela deixou
um arrepio percorrer seu corpo. A parte de cima de seu vestido de chiffon preto, manchado com
areia do norte da Á frica, subia e descia enquanto respirava profundamente no LCL. A cor voltou à s
suas bochechas. Ela olhou para longe.
Ela se viu na junçã o da energia fluida e olhou através da rede.
"É verdade", disse ela. “Ikari-kun também está do outro lado.”
Algo sobre isso lhe pareceu engraçado, e ela riu.
Asuka está protegendo o coração de Ikari-kun. Bem, então eu serei o coração dele aqui.
O poder fluiu através dela e encheu o corpo do Eva-01. Super Eva voou pelo céu,
queimando uma trilha laranja atrá s dele.
<< Reforja completa! >> Shinji anunciou.
O Sandalphon larval ainda golpeava a espada na boca. De repente, chamas irromperam do
corpo do anjo. Começou a queimar e depois explodiu em pequenos fragmentos, deixando a mã o
direita de Super Eva e o Kesara em brasa para trá s.
De longe, Shinji-Coraçã o gritou: << Pronto! A arma! Dê isso para mim! >>
O Super Eva-Shinji gritou de volta. << Sim, esta é sua espada e minha espada. Agora, vamos
reuni-los! Dê-me a sua força! >>

"Ikari-kun", lembrou Trois, “você tem que temperar a lâ mina ou o impacto do pró ximo
ataque destruirá o arranjo molecular”.
<< Isso nã o importa se eu o matar de uma só vez. Isso ficará esburacado, entã o espere. >>
Super Eva fixou a mira no transportador voador Sandalphon, que havia perdido a metade
inferior do corpo devido ao feixe de partículas de Ramiel. Ele avançou, segurando a espada ainda
quente atrá s de si na mã o direita e atacou o transportador com o ombro esquerdo.

204
Seus escudos se chocaram, mas o Super Eva continuou empurrando para a frente até o
Transportador bater na parede lateral em um â ngulo raso. Ele ricocheteou na membrana e seu
corpo e girou. Shinji esperou até que ambas as escamas de QR Signum estivessem alinhadas, e
entã o ele balançou a espada.
A lâ mina, sintonizada com o mesmo padrã o de campo que o anjo que o transportador
carregara em seu casulo, atravessou o escudo supostamente grosso do gigante de grandes
dimensõ es como se nã o estivesse lá .
Quando o transportador de anjo percebeu que algo estava errado, a espada já havia
dividido um QR Signum ao meio e estava a caminho do rosto. A cabeça do gigante branco se abriu
como uma melancia e a espada passou para o segundo QR Signum, quebrando-o.
Kesara terminou seu trabalho, mas nã o teve tempo de desacelerar antes de atingir a
membrana da torre piramidal.
CLAAAAANG!
A espada nã o passara nem um milímetro através da barreira, mas o barulho estrondoso
trovejou pelo campo de batalha circundante.

205
206
Capítulo 45:
Dentro da Pirâmide

CLAAAAANG!
A ponta da espada do Super Eva atingiu a parede fina e transparente de bolhas de sabã o
por dentro.
O som reverberou por quilô metros em todas as direçõ es.
No campo de batalha, uma encenaçã o do mito de Babel estava ocorrendo.
A influência da torre cortou todas as formas de comunicaçã o - certamente todos os
idiomas, mas até diagramas, símbolos, sinais eletrô nicos e condutores de energia foram
arruinados. Sem poder encontrar um entendimento mú tuo significativo, as forças aliadas russas e
europeias estavam começando a entrar em pâ nico.
Mas naquele momento, quando o som da espada contra a barreira soou, todos reagiram
em uníssono. De repente, eles olharam para a torre erguendo-se acima das nuvens de batalha.
Alguns olhavam com medo, outros com curiosidade. Com a fumaça girando dentro dela, a
torre parecia um experimento gigante de nuvem em jarra, mas com figuras sombrias colossais
entrando em choque.

“Eu seguro sua mã o!”


<< Eu balanço sua espada! >>
De longe, muito longe, no peito de um Torwä chter voando através das passagens
transdimensionais, o Shinji do coraçã o respondeu ao Shinji do Super Eva na ilha á rtica de Novaya
Zemlya. Desta vez, o golpe para baixo da espada sincronizou-se com as percepçõ es de Shinji.
Quando ele destruiu o Anjo Sandalphon, que criava um mar de lava dentro da torre, a
ponta de Kesara alcançou uma velocidade vá rias vezes maior que a velocidade do som.
Um tremendo poder fluiu para ele de seu coraçã o distante, e a escama QR Signum
começou a arrotar fumaça negra, como se expressasse seu descontentamento. Na realidade, a
energia da escama, agora nã o reclamada pelo Super Eva, estava transbordando.
A escama enviou uma dor aguda no peito do Super Eva, mas naquele momento, a alegria
de Shinji dominou todos os outros sentimentos. Por fim, encontrou liberdade da escama negra de
Armaros. Super Eva disparou e o espírito de Shinji também.

207
O coraçã o roubado alegou que também era Shinji. Mas Maya havia dito que ele e o Super
Eva eram duas entidades distintas que existiam juntas em um estado compartilhado de incerteza.
Devo apenas pensar em mim como três agora?
Quaisquer que fossem os detalhes, pela primeira vez em muito tempo, Shinji mais uma vez
tinha toda a energia do Eva na ponta dos dedos.

Do alto, Shinji olhou para Wolfpack atravessando o chã o.


Super Eva foi dividido em três, enquanto Wolfpack era um grande nú mero de almas em um
ú nico corpo. Embora o par nã o tivesse como saber, eles vieram de origens muito diferentes,
apesar de suas semelhanças.
<< Agora, quem é o pró ximo? >>
Enquanto Shinji procurava outro alvo, sua voz nã o veio da boca, mas através do
hidrospeaker do plugue de entrada.
Ele ocupava um estado de superalta sincronizaçã o. Sob o macacã o laranja, seu corpo ficou
completamente rígido. Ele poderia muito bem fazer parte do plugue de entrada.
Mas ele ainda está quente, Rei Trois pensou enquanto ela segurava seus ombros. Enquanto
se preparava para as rá pidas mudanças na aceleraçã o, ela rapidamente examinou o ambiente ao
redor com os olhos apertados.
“Oito horas”, disse ela. “O Transportador Ramiel está se preparando para disparar
novamente.”

Um anel de luz se formou ao redor da cintura do Transportador Ramiel, mesmo com o


casulo, e de repente ficou mais brilhante.
“Está com energia total!” Trois2 disse.
Super Eva ergueu a espada e executou uma manobra irregular de saca-rolhas, exatamente
quando o transportador Ramiel disparou seu canhã o de partículas do lado direito do seu anel de
luz.
O Super Eva evitou por pouco a explosã o inicial, mas o feixe de luz persistiu por
aproximadamente 0,6 segundos, durante os quais Ramiel varreu o feixe apó s os movimentos do
Eva. Por um breve momento, o raio roçou a superfície do Campo AT de Shinji. O ar explodiu, como
se fosse uma poderosa explosã o, lançando o Super Eva para trá s.

2 No original está Quatre. Mas sabemos que quem está com Shinji é Trois. Acredito ser mais um erro na tradução original
da Seven Seas.

208
<< Ack! O que é esse anel de luz? Três anos atrá s, quando o anjo era um poliedro gigante,
nunca atacou assim! >>
Trois pensou por um minuto e depois disse, quase sussurrando: “Talvez o anjo precisasse
ser tã o grande...”
<< Como assim? >>
“Esse anel parece agir como um acelerador de um canhã o de feixe de partículas, e caberia
dentro do corpo de Anjo totalmente crescido. Quando a Dra. Akagi modelou o acelerador interno
de partículas de Ramiel, ela criou um toro desse tamanho.”
<< Os anjos nos casulos dos transportadores estã o presos como larvas. Talvez seus corpos
nã o possam crescer para acompanhar suas armas. Nesse caso… o que Sachiel estava usando como
substituto? >>
Shinji estava tentando descobrir a resposta quando, sem aviso, a voz de Mari falou dentro
do plug.
<< Shinji, você ataca diretamente de cima, e eu vou atacar por baixo. >>
<< Mari?! >>
Tudo era sempre tã o repentino com aquela garota. O Eva EUA saltou do chã o destruído e
fumegante em direçã o ao Transportador Ramiel voador.
Shinji seguiu o exemplo, acelerando em direçã o ao transportador. O ar queimou no rastro
de Super Eva quando ele balançou a espada.
Ele nã o veio diretamente do alto, mas do lado. Isso nã o importava, no entanto, como o
animal já havia chamado a atençã o do Transportador de Ramiel. O ataque de Shinji ainda deveria
ter pegado o inimigo de surpresa. No entanto, sem olhar, o transportador levantou seu escudo e
repeliu a espada de Shinji.
Super Eva foi jogado para trá s, enquanto o Wolfpack de Mari tentou afundar os dentes no
casulo por baixo. O Transportador conseguiu afastar sua preciosa carga, mas Shinji viu as garras
dianteiras da fera rasgarem cortes profundos pela coxa do gigante branco.
O ataque de Shinji nã o correu tã o bem quanto ele esperava, mas, pelo menos, sua espada
examinou os dados de campo do inimigo. Ele devolveu a arma à bainha e inicializou o processo de
reforja. Desta vez, o fardo nã o recairia sobre Trois. Ele poderia simplesmente tirar o poder de seu
coraçã o distante.
Espere um minuto... Como o americano atravessou o escudo do transportador?
<< O que está acontecendo aqui?! >> ele perguntou.

209
"É o anel em volta da cintura do transportador", disse Trois. “Ikari-kun, o transportador
está ancorando seu campo na forma de um toro. Aqui, olhe para as inclinaçõ es do fluxo quâ ntico.”
Ela cobriu os dados de mediçã o na parte superior da tela de exibiçã o externa. Inú meros
anéis formavam o contorno de um tubo que circundava a cintura do transportador.
<< Espere, entã o isso significa ... >>
Trois terminou por ele. “O campo do Transportador de Anjo está agindo como o acelerador
de partículas de Ramiel.”
<< E o campo está fixo nessa posiçã o? >>
O campo do transportador ainda servia como escudo protetor, mas quase certamente seria
mais fraco atacar diretamente acima e abaixo - através do buraco.
<< Mari, como você sabia? >>
Shinji sentiu a reaçã o confusa de Mari à sua pergunta.
<< Esses eram os ú nicos lugares que nã o cheiravam mal. >>
<< Ah. Ok. >> Shinji ficou decepcionado, em vez de impressionado.
A garota e seu Eva nã o pensavam logicamente da mesma maneira que ele e Trois. Pareciam
uma refutaçã o da cultura e tecnologia humanas.
E seus inimigos pareciam compartilhar um ó dio quase visceral pelo Eva que assumira a
forma de um animal de quatro patas. Mas por que?
Seja como for, Shinji tinha um novo plano de batalha.

Super Eva caiu de altitude e acelerou, deslizando sobre o solo abaixo do transportador
Ramiel voador.
O transportador mudou de direçã o para tentar impedir que o Super Eva chegasse à parte
inferior fraca e disparou outro feixe de partículas. Mas Super Eva evitou habilmente o raio. A
espada terminou de reforjar e, sem parar, ele cortou o chã o com a arma em brasa para temperar a
lâ mina.
Vapor irrompeu da terra.
Agora, diretamente abaixo do transportador, Shinji irrompeu na nuvem branca.
Mas algo estava voltando para ele - a ponta de uma broca espiralada e pontiaguda.
Ah droga! Eu esqueci essa parte!

210
Quando o Ramiel original se acampou em Tó quio-3, o Anjo havia usado o ó rgã o de
perfuraçã o para penetrar todo o caminho no Geofront. Em um nível subconsciente, Shinji havia
limpado a broca de seus pensamentos. Afinal, o ó rgã o era essencialmente um movedor de terra -
um equipamento de construçã o. Que utilidade isso teria em uma luta aérea?
Sua espada e a broca passaram um pelo outro como trens que passam, com tremores
trêmulos e faíscas ferozes.
Entã o, um peso caiu sobre os ombros do Super Eva e, no momento seguinte, algo o chutou
para trá s em direçã o ao mar de lava. Quando sua visã o girou, Shinji viu um borrã o gigantesco
como um tigre pulando sobre ele.
O Wolfpack de Mari usara Shinji como um trampolim no ar para pular no Transportador
Ramiel. A Besta Eva subiu na perna ferida e sangrando do transportador e passou as garras pelo
casulo na barriga.
<< Ei, o que você pensa que está fazendo?! >> Shinji protestou.
Mas ele ficou em silêncio enquanto observava seus movimentos á geis com reverência - e
depois preocupaçã o. Ela claramente chegou muito perto.
Wolfpack esmagou a larva de Ramiel em seu casulo, e o Anjo explodiu em cacos de cristal
semelhantes a espelhos. O anel de partículas aceleradas ao redor da cintura do transportador
começou a tremer. Mas embora o anjo estivesse morto, seu portador ainda estava vivo. O gigante
alcançou Wolfpack com os dois braços.
A Besta Eva cravou suas garras no peito do transportador e se atirou mais alto, deslizando
por baixo dos braços e afundando suas presas afiadas na escama QR Signum aumentada.
Shinji endireitou o Super Eva e passou o poder para suas asas Vertex para voltar à
ofensiva. O Transportador de Anjo estava a poucos momentos de pegar a besta.
<< Mari! Solte esse QR Signum e escape! >>
Mas suas mandíbulas permaneceram cerradas em torno da escama. Ela não está ouvindo
ou está presa?
Uma grande mã o branca segurou a Besta Eva. As placas de armadura cinza-ardó sia do Eva
racharam e amassaram. O pescoço da fera estalou alto.
<< Mari! >> Shinji gritou.
O Transportador de Anjo jogou o Eva EUA para longe.
Ao mesmo tempo, o brilhante anel de partículas aceleradas se soltou, voando do corpo do
transportador. Isso é porque Ramiel foi destruído? E isso significa que o campo do transportador
está inoperante?

211
Trois também viu a abertura. "Ikari!"
<< Droga! >> Shinji amaldiçoou enquanto voava direto para o Transportador de Anjo. O
gigante branco estendeu um braço para agarrá -lo, mas ele o golpeou com sua espada. No
seguimento, a lâ mina destruiu o QR Signum no ombro do transportador. O transportador parou e
começou a se desintegrar.
<< Huh? >> Shinji disse. << Mas esse foi apenas um QR Signum. >>
Mas entã o Trois estava gritando. "Doze horas! Ikari-kun, mexa-se!”
Shinji pulou do Transportador de Anjo que caía.
No momento seguinte, uma fita afiada, semelhante a uma navalha, perfurou o gigante
branco ensanguentado e dividiu seu tronco em dois. Se Shinji nã o tivesse saído do caminho, seu
estô mago também teria sido abatido.
<< Zeruel! >>

O transportador Zeruel estava parado, de costas para a barreira norte da torre, mas nã o
mais. Como se para dissipar qualquer dú vida de que o transportador se juntara à açã o, surgiram
flashes da fumaça de onde a fita passara e incontáveis explosõ es explodiram no campo AT do
Super Eva.
<< Whoa! >> Shinji disse.
Com a fumaça subindo de seu campo, o Super Eva mergulhou para baixo. Shinji nã o tinha
certeza de quanto cobertura o terreno lhe daria dentro da grande bacia, mas ele aceitaria
qualquer ajuda que pudesse obter. Ele voou baixo para o chã o. Enquanto isso, o cadáver do
transportador Ramiel caiu no mar de lava em meio a uma gigantesca coluna de fogo.
Por trá s do véu de gotículas de lava quente, Shinji viu uma luz.
<< Mas como?! >> ele ofegou.
As partículas aceleradas de Ramiel traçaram um anel trêmulo ao redor da Besta Eva dos
EUA, onde estava no chã o.
Wolfpack, instável, levantou-se.
Entre as trilhas flutuantes de fumaça cinza, Shinji teve vislumbres da besta forçando sua
cabeça. Suas mandíbulas seguravam o QR Signum do transportador Ramiel, ainda brilhando
intensamente. As partículas aceleradas circulavam a escama.
Mari havia arrancado o QR Signum quando o gigante a jogou para longe.
Mesmo apó s a morte do anjo larval, o QR Signum continuou a ú ltima tarefa que havia sido
designada.

212
<< O que você está fazendo? >> Shinji perguntou.
<< Você me mostrou que nã o tenho força suficiente assim.>>
As poderosas mandíbulas de Wolfpack esmagaram a placa de ressonâ ncia quâ ntica - nã o, a
fera a estava devorando. De repente, as muitas formas que estavam circulando a Besta Eva
convergiram, alimentando-se do QR Signum como um bando de caçadores compartilhando uma
matança. Quando um QR Signum era quebrado, ele normalmente se quebrava em uma névoa de
partículas de cristal, mas desta vez, o processo foi apressado pelo enxame faminto.
<< Espere >>, disse Shinji. << O que acontece quando se faz isso? Trois? >>
"Eu nã o sei", respondeu Trois.
Mas nã o havia tempo para pensar. A fita de Zeruel saiu disparada do nevoeiro. Voando
baixo, Shinji bloqueou o ataque com as duas espadas.

Em questã o de momentos, a matilha de lobos havia se alimentado do QR Signum de quase


o dobro do tamanho. Acompanhada por um estrondo alto, a escama reapareceu, completamente
intacta, sobre o peito da Besta Eva. O ar vacilou e os mú sculos do Eva incharam. Cada parte do Eva
cresceu.
<< Você é muito imprudente, Mari! >> Shinji disse.
<< Tudo o que eu quero é um lugar onde meu bando possa estar em paz. Mas para chegar
lá , eu preciso… >>
A ó rbita das partículas aceleradas mudou ao redor do pescoço de Wolfpack e, quando o
anel brilhante atravessou as câ maras explosivas vazias super-direcionais de N2 , o campo enviou
todos os quatro cilindros para longe.

213
Capítulo 46:
Poder Transferido

A TRANSFORMAÇÃ O DE WOLFPACK havia desviado a atençã o de Shinji de Zeruel.


Apesar da distraçã o, ele continuou a bloquear as afiadas fitas entrantes com as espadas. Mas
entã o, a fita fina e plana, tã o reta quanto uma chapa de aço, fez algo diferente. Dobrava como
papel.
Shinji mal teve tempo de pensar: ah, merda! Antes que a fita se enrolasse em sua mã o
direita.
A fita puxou de volta em direçã o ao transportador e arrastou o Super Eva de 120 metros
de altura e 4000 toneladas de peso como uma boneca de pano na fumaça.
Recuando o mais forte que pô de, Shinji levou o braço direito ao peito e arrancou a fita com
a espada na mã o esquerda.
Depois de três pancadas, a fita finalmente quebrou, mas a essa altura, ele já havia sido
carregado diretamente na frente do transportador Zeruel. Os braços brancos do gigante se
abriram e encheram a visã o de Shinji. Agarrou-o pela cabeça com uma mã o.
Sim, mas estou dentro do seu campo!
Sem um momento de hesitaçã o, Shinji cortou o braço do transportador com sua espada
direita, Kesara.
Mas a armadura do transportador se manteve firme. A espada quebrou em seu lugar.
O penetrador de campo SRM-61a - também conhecido como Kesara - era imparável
quando a lâ mina estava em sintonia com o campo de um inimigo, mas os reforços repetidos
enfraqueceram sua estrutura e reduziram drasticamente sua vida ú til.
Shinji observou a espada fragmentada cair.
Ele estava de pé ao lado do assento, curvando-se para segurar os manípulos de controle.
Trois se inclinou para frente contra suas costas.
Ela abaixou a cabeça e sussurrou.
<< Humano. É dever da humanidade governar os animais selvagens da terra. Aqueles que
nã o aderem ao que foi ordenado… que abandonam o comando… retornarã o à besta. >>
Foi a voz de novo? Outra mensagem de Armaros?

214
<< Trois? >> Shinji perguntou.
"Estou bem", disse ela depois de um momento.
Os dedos do Transportador do anjo cobriram os olhos do Super Eva, mas as câ meras em
outras partes de seu corpo reconstruíram sua visã o. Ele golpeou o pulso do transportador com
sua espada esquerda, Basara, mas o escudo do transportador estava levantado e a lâ mina nã o
conseguia cortar. Quando a mã o do transportador apertou a cabeça do Super Eva, sua armadura
soltou um rangido horrível e dores agudas atingiram seu crâ nio.
Seu Penetrador de Campo restante, SRM-61b - também conhecido como Basara - havia
escaneado o ataque de dados de campo do Transportador Zeruel, mas a cabeça de Shinji
certamente estalaria quando a espada pudesse ser reforjada.
<< Urk... Longe de mim - meu coraçã o - se isso continuar, você vai perder o corpo que
deseja! >>
O poder percorreu o corpo do Super Eva. Quando duas fitas foram disparadas do casulo de
Zeruel, Shinji as bloqueou com a espada na mã o esquerda e a faca que ele pegou com a direita.
Faíscas caíram em cascata quando as lâ minas afastaram as fitas do curso. Uma fita subiu,
descontrolada e cortou a mã o direita do transportador no pulso.
O transportador largou o Super Eva e depois avançou com a mã o esquerda para tentar
agarrá -lo novamente. O ombro direito do gigante branco se afastou, mas foi repentinamente
atingido por um raio de luz.
<< O quê? >> Shinji disse.
O QR Signum quebrou instantaneamente, seus fragmentos derretendo em gotículas
semelhantes a sangue. O transportador já estava se virando para pegar o Super Eva, mas a
explosã o empurrou seu corpo em uma rotaçã o completa, e o gigante caiu do céu.

Enquanto Wolfpack pulava de ilha em ilha através do mar de lava, o feroz Eva fera de
quatro patas instintivamente bateu no anel de luz em volta do pescoço e disparou o canhã o de
partículas de Ramiel.
A corrente elétrica induzida deixou um rastro persistente de pegadas branco-azuladas
atrá s da fera enquanto corria. O mesmo fenô meno nã o ocorreu com o Ramiel original, ou seu
Transportador de Anjo, porque eles dispararam o canhã o mais alto do chã o.
Shinji esperaria que o canhã o de partículas fosse um caso ú nico. Mari herdou o acelerador
de partículas criado pelo campo do QR Signum, mas nã o possuía o ó rgã o gerador de partículas
original do Anjo. E, no entanto, depois que ela disparou o canhã o, o anel manteve uma luz fraca,
que aumentou gradualmente de intensidade à medida que preparava o pró ximo tiro.

215
A trilha de relâ mpagos fazia a fera parecer ainda mais algo saído de um mito. Mas, em
contraste com a imagem assustadora da fera, a garotinha que a pilotou falou calmamente.
<< Eu nã o gostaria que você morresse antes de sairmos daqui >>
<< Nã o planejo isso >>, disse Shinji.
Ele poderia ter encontrado uma resposta melhor, mas sentiu algo de Mari que o havia
abalado. Ele sentiu que ela estava com dor intensa.
Um piloto e seu Eva compartilhavam uma conexã o profunda. Certamente, uma mudança
tã o radical em um Eva afetaria o piloto. Mas Mari estava agindo com calma - e Shinji viu isso como
motivo de preocupaçã o. Ele pensou nos animais que vira em documentá rios sobre a vida
selvagem - capturados por predadores, prestes a serem comidos, suas vidas em terrível perigo.
Eles nã o choravam. Eles apenas olhavam para longe.

216
Capítulo 47:
Deixando Babel

SEM PALAVRAS, ESCRITAS OU DIAGRAMAS nã o há ordens que poderiam ser enviadas ou


recebidas, e a cadeia de comando era inexistente. Do lado de fora das paredes cintilantes e
riscadas da torre, as forças russas e europeias aterrorizadas disparavam cegamente de suas
posiçõ es externas - e à s vezes umas contra as outras.
Seus inimigos, afinal, eram entidades além da compreensã o humana e nã o se
conformavam a nenhum tipo de racionalidade. Uma vez que os soldados começaram a questionar
quem realmente era o inimigo, nã o havia fim para suas dú vidas. A maioria de seus ataques nã o
sancionados foi contra a pró pria torre e teve efeito nulo - embora, para ser justo, se seus
comandantes ainda pudessem dar ordens, a torre certamente teria sido o alvo principal. Mas, sem
nenhuma maneira de avaliar os resultados de seu bombardeio, os soldados continuaram atirando.
Os obus maser JSSDF, que haviam sido despachados com a equipe de observaçã o, dispararam de
longo alcance ineficaz, continuamente queimando as paredes da torre.
Mas, com isso, muitos soldados começaram a perceber o que estava acontecendo com eles.
Eles nã o foram capazes de se comunicar, nã o porque haviam esquecido a linguagem, mas
porque suas palavras estavam sendo recebidas como ininteligíveis do outro lado.
Nã o apenas ninguém podia se entender, suas pró prias má quinas mal estavam
funcionando. Mas, mesmo sem qualquer via de comunicaçã o ou coordenaçã o, cada indivíduo
ainda acreditava em sua pró pria capacidade de tomar decisõ es e agir. E assim, cerca de meia hora
depois que a torre subiu, muitos soldados passaram a entender que toda a sua luta nã o estava
conseguindo nada.
Sem uma palavra, eles começaram a andar.
Eles nã o tinham permissã o para falar. Eles nã o foram autorizados a gesticular. Ninguém
olhou para mais ninguém. Eles apenas se afastaram silenciosamente. Provavelmente foi o que as
pessoas do mito fizeram.

217
Capítulo 48:
Zeruel

A MÃ O DECEPADA DO Transportador Zeruel ainda estava presa ao redor da cabeça do


Super Eva. A mã o endureceu e seu peso desequilibrou o Super Eva e fez o gigante cair mais uma
vez.
<< Vamos lá ! >> Shinji rosnou enquanto esmurrava a mã o congelada com a ponta da sua
faca progressiva.
A mã o quebrou como gesso. Super Eva arrancou os ú ltimos pedaços e olhou por cima do
ombro para onde o chã o derretido avançava.
"Ikari-kun!" Trois disse por medo. Mas Shinji separou o mar de magma com seu campo de
flutuaçã o e parou acima da superfície.
Desta vez, Shinji voou muito alto. Com o transportador Zeruel concentrando seus ataques
no Wolfpack, Shinji decidiu procurar uma abertura de cima.
Ele armazenou sua espada da mã o esquerda, Basara, no pilã o do ombro direito e iniciou o
processo de reforja para afinar a lâ mina no campo do transportador de Zeruel.

Colunas de fogo explodiram como gêiseres do chã o.


Quando o casulo de Zeruel brilhava, os ataques chegavam quase imediatamente. O mesmo
havia acontecido com o canhã o de partículas de Ramiel, mas com Ramiel, a acumulaçã o de poder
havia sido observada. Por nã o dar o mesmo aviso, Zeruel foi muito mais problemá tico, embora
Mari estivesse se esquivando habilmente das explosõ es de energia. O bando circulante de
distorçõ es do ar se alternou, espalhando sua formaçã o e reforçando-a novamente, levando Zeruel
a atacar nos momentos em que Mari era capaz de se esquivar. Depois de cada ataque, ela soltava
as partículas do acelerador e as atirava de volta no transportador, depois se cercava de seu bando
novamente - passando de defesa para ataque e para trá s.
A garota era indubitavelmente esperta, mas parecia ter um pouco de dificuldade para
controlar seu hardware roubado. Suas tentativas de disparar em rá pida sucessã o resultaram em
um feixe fora de foco, à s vezes disparando de vá rios lugares no ringue ao mesmo tempo. Mesmo
neste espaço fechado de energia abundante, o canhã o aparentemente precisava de um longo
tempo de recarga antes de funcionar com força total.
<< Shinji! >> O protesto de Mari ecoou dentro do plugue do Super Eva. << Nã o fique aí. Nã o
consigo atirar! >>

218
Agora que ela adquirira uma arma de raio, Shinji percebeu que se posicionar para atacar o
inimigo pelo lado oposto era a ideia errada.
Ele nã o tinha certeza se seu campo poderia suportar uma explosã o do feixe de partículas
dela com força total. Mas atacar de cima ainda oferecia uma vantagem. A energia cinética extra de
uma corrida de mergulho aumentaria seu ataque. Ele apenas tentava do lado do transportador, e
nã o diretamente atrá s.
O transportadoro Zeruel voou para cima. Ele ainda possuía um QR Signum, e o anjo em seu
casulo estava vivo e bem.
Para manter sua vantagem, Shinji também subiu mais alto - e entã o percebeu que havia
cometido um erro fatal. A torre era uma pirâ mide quadrilateral. Quanto mais alto Shinji voava,
menos espaço ele tinha para manobrar.
Super Eva inconscientemente se encurralou em um canto.
O Eva caiu à s pressas, mas a fita de Zeruel brilhou abaixo, cortando-o.
Na sua forma adulta, as duas fitas de Zeruel pendiam como braços dos ombros e pareciam
ter um comprimento má ximo. Mas no está gio larval, se havia um limite para o comprimento das
fitas, Shinji nã o tinha visto. Cortar a fita tinha deixado com uma ponta angular e afiada, mas nã o
fez nada para reduzir sua capacidade. E agora Zeruel estava tecendo os dois em uma rede de
treliça que se estendia de parede a parede, com o transportador no centro.
O anjo reconheceu que eu estava me encurralando!
A rede era irregular e movia-se livremente. Mari abriu um buraco, mas as fitas
rapidamente preencheram a abertura.
<< Quanto mais tempo na espada? >> Shinji perguntou a Trois, impaciente.
"Setenta segundos", ela respondeu.
Nã o era rá pido o suficiente. Ele teve que se preparar para lidar com a rede sem sua arma
principal.

Antes que Shinji tivesse tempo para pensar, o raio de luz de Zeruel atingiu o Super Eva. Seu
Campo AT conseguiu aguentar, mas ele ainda precisava ficar alerta. As pontas das fitas estavam
escondidas em algum lugar do complexo tecido da rede, e ele nã o sabia dizer em que direçã o eles
atacariam.
Algo atingiu o braço esquerdo do Super Eva, e Shinji grunhiu de dor. Ele olhou para baixo.
Uma fita cortara sua armadura.

219
Enquanto ele estava distraído, a segunda fita dividiu a bainha vazia de sua espada
quebrada diretamente através dos sensores quâ nticos de inclinaçã o de fluxo.
Agora ele teria ainda mais dificuldade em perceber a forma e a posiçã o do campo de seu
oponente.
Mantendo as mã os nos ombros de Shinji, Trois ficou de pé.
"Quatro horas!" ela gritou.
<< Hein? >> Shinji rolou o corpo para o lado e atacou com sua faca progressiva. A lâ mina
repeliu a ponta afiada de uma fita que chegava.
"Seis horas!"
Trois estava se saindo muito melhor ao decifrar os movimentos da rede de treliça.
Super Eva virou-se para onde ela indicou e bloqueou com sua faca enquanto ele deixava
sua espada terminar de reforjar.
Mas entã o, quando ele se esquivou de uma fita, outra veio de uma direçã o diferente,
abrindo um rasgo raso na armadura da perna.
“Ikari-kun, esta é uma batalha perdida - nove horas! Você deveria atacar o pró prio
transportador.
<< Mas como devo fazer isso? >>

220
221
“Tente manter suas manobras as mais pequenas possíveis. E fique fora do alcance dos
braços do transportador. Desvie das projeçõ es de campo e do feixe de luz e continue batendo e
correndo. Entã o, quando houver uma abertura na rede, passe por ela. ”
<< Ok! >> ele respondeu ansiosamente, mas nã o porque estivesse de bom humor.
O erro de Shinji o deixou encurralado e tirou o Super Eva de sua maior vantagem –
velocidade. Ele começou a entrar em pâ nico um pouco e, embora tivesse entendido as instruçõ es
de Trois, sua mente estava muito distraída para realmente se envolver com ela.
Uma grande abertura apareceu na rede logo abaixo dele. Shinji nã o deixou a oportunidade
passar.
<< Agora! >> ele gritou, enquanto Super Eva acelerava.
<< Esse caminho é uma armadilha! >> Mari gritou.
Shinji relutantemente diminuiu o mergulho. Mas o Transportador do Anjo projetou um
punho invisível, batendo nas costas dele e empurrando-o para baixo.
Mari disparou seu feixe de partículas, o mais concentrado possível. No momento em que
Shinji estava prestes a passar pela abertura, ele viu a ponta da fita deslizar para encontrá -lo do
outro lado, mas foi vaporizada pelo raio de Mari.
Ele diminuiu a velocidade até parar. Sua pressa o levou a tropeçar em uma armadilha
ó bvia, mas ela viu a emboscada vindo de baixo.
<< Você é ainda mais esperta do que eu pensava >>, disse Shinji.
Com a rede mais uma vez fechada abaixo dele, o Super Eva cruzou os braços e segurou a
faca com um aperto invertido enquanto voava em direçã o ao transportador.

Depois que Shinji começou a seguir a estratégia de Trois, ele entendeu por que ela a havia
proposto.
Ao atacar consistentemente fora do alcance do Transportador de Anjo, ele o forçou a usar
suas fitas na defensiva.
Na verdade, implementar a estratégia era mais fá cil dizer do que fazer. Para evitar os raios
de luz e as projeçõ es dos escudos de Zeruel, ele precisava continuar circulando, sem se aproximar
muito ou muito longe, enquanto atacava.
Seu alvo era o ú nico QR Signum restante do transportador. O alcance estava muito pró ximo
para a aceleraçã o do Super Eva ser ú til, e seu oponente havia anotado seu objetivo e ajustado seus
movimentos de acordo.

222
<< Me desculpe, >> Shinji se desculpou. << Concentrei-me demais na escama. O
transportador está mirando em mim. >>
“Tente ir pela espinha”, disse Trois. “Você provavelmente nã o vai matá -lo dessa maneira,
mas deve poder restringir seu movimento.”
Sua capacidade de aná lise o impressionou seriamente.
Ele nã o conseguia entender por que ela se criticava em comparaçã o com as outras
Ayanamis.

Zeruel nã o era apenas um adversá rio formidável, mas o anjo e Shinji também
compartilharam uma histó ria significativa.
Quando o Super Eva foi equipado com as asas Vertex, Zeruel estava entre os
Transportadores de Anjos invasores. Super Eva dominou o transportador e seu anjo larval, mas
nã o foi a primeira vez que seus caminhos se cruzaram. Três anos antes, Eva-01 teve berserk na
luta contra Zeruel, e o Eva tinha devorado a carne do Anjo, absorvendo a seu Motor S 2 em seu
pró prio corpo.
Na época, Shinji nã o sabia o que Eva estava fazendo. Ele gastou a ú ltima reserva interna de
energia da Unidade Um e ficou preso na escuridã o total de seu plugue de entrada. Desde entã o,
ele assistiu à s imagens gravadas do evento tantas vezes que poderia vomitar, mas ainda nã o
parecia real para ele. Encarar Zeruel novamente assim o deixava com um humor estranho.
Essa coisa me dá calafrios.
Uma seçã o da rede subiu na frente do Super Eva para cortá -lo, e Shinji virou ao redor com
o mínimo de movimento possível. Ele percebeu que outro ataque poderia estar escondido no lado
oposto, e ele estava pronto para isso.
Mas ele fora flanqueado.
Algo o atingiu de cima. O Transportador de Anjo virou de cabeça para baixo e fez algo que
os transportadores quase nunca fizeram - chutou Super Eva de fora de seu alcance, derrubando-o.
Shinji ficou mais impressionado do que qualquer coisa, embora esse nã o tenha sido o
melhor momento para admirar seu adversá rio. Ok, eu vou te dar esse. Você é realmente bom em ler
o que estou antecipando. Ou é só porque a Unidade Um levou uma parte de você para dentro?
O tempo parecia rastejar. Quando ele foi enviado para trá s, uma fita entrou correndo, e ele
a bloqueou com a faca.
Sua mã o esquerda estava pegando o punho de sua espada ainda nã o reforçada. A segunda
fita apareceu e cortou seu braço acima do cotovelo. Agarrando a nada agora, sua mã o e braço
foram arremessados para longe.

223
Nesse momento, o tempo voltou ao normal e um estrondo alto encheu o silêncio.
Sangue jorrou de seu braço e um grito saiu de seus lá bios.
Shinji gritou de dor insuportável. Seu grito deixou Trois com medo. No norte da Á frica, ele
gritou em desespero - como chamas haviam engolfado seu corpo - e entã o a rejeitou. Mas, apesar
das persistentes dú vidas dessa memó ria, ela se agarrava a ele ainda mais forte agora. Ela tomou a
decisã o de protegê-lo. Se isso significava que ela seria queimada, entã o desta vez, eles
queimariam juntos.
Quando ele sentiu o débil batimento cardíaco dela, Shinji conseguiu se afastar do pâ nico.
Ainda não cumpri minha promessa! Ele disse a si mesmo.
Ele gritou novamente, mas desta vez com propó sito e nã o desespero. Quando o ar saiu de
seus pulmõ es, ele concentrou suas forças e tentou pensar em um lugar calmo - pelo menos
relativamente falando. Mas sua pró xima açã o ocorreu sem pensamento consciente, e o pegou de
surpresa completa.
A fita ainda estava passando por ele. Sua mã o direita jogou a faca para fora, pegou a fita e a
parou em uma chuva de faíscas.
Se é assim que é...
<< Se é assim que é... >> ele repetiu em voz alta, como se cuspisse a dor de seu corpo, <<
entã o eu estou tomando você para mim. Só que desta vez, estou fazendo isso por vontade
pró pria>>
Ele pressionou a ponta da fita de Zeruel contra o punho da espada que ainda estava
reforjando no pilã o do ombro.
<< Pegue isso como seu braço! >> ele disse.
Seu coraçã o respondeu de longe.
<< Eu vou! >>
A espada puxou a fita. O apêndice fino e achatado do Anjo palpitava e inchava
grotescamente, até tomar o formato da mã o do Super Eva. Seus dedos agarraram o punho de
Basara com força.
A pró xima seçã o da fita se transformou no antebraço do Super Eva, e a pró xima se tornou
seu cotovelo.
<< Meu braço! >>
<< Sim! Seu braço e meu braço. >>

224
Ao contrá rio de três anos atrá s, a forma larval da Zeruel nã o tinha Motor S2 , mas isso nã o
significava que Shinji nã o poderia usar seus outros ó rgã os. E entã o, Shinji derrubou o muro entre
humano e o Anjo, juntando-os.
Trois mal podia acreditar no que estava vendo. "Incrível. Você está no modo furioso, mas
ainda está no controle.”
Mas entã o a fita puxou para trá s. Trois supô s que a extremidade transformada da fita se
ligaria novamente ao corpo do Super Eva, mas, em vez disso, Zeruel puxou o braço em sua
direçã o.
A bainha da espada se abriu com um tinido.
De todos os momentos possíveis, o Penetrador de Campo escolheu este para terminar a
reforma e a fita se retraiu com a espada na mã o do Super Eva.
“Ikari-kun, a espada!” Trois ofegou.
Zeruel havia roubado a arma de Shinji junto com seu braço.
A fita dobrou de volta no casulo. Zeruel segurou a espada em brasa diretamente na frente
do rosto - exatamente onde o pró ximo raio de luz sairia.
Trois olhou para Shinji como se perguntasse: O que você vai fazer?
<< Está tudo bem >>, ele disse. << Esse é o meu braço. Assista. >>
Por um instante, a mente de Trois girou.
E entã o o sentimento passou. Ela olhou para o mundo exterior no visor. A vista se
aproximara do rosto de Zeruel - momentos antes de se abrir.
Espere... Basara acabou de esfaquear o rosto do anjo?
Seus olhos foram da espada, para a mã o esquerda do Super Eva, para o antebraço, para o
cotovelo... que, reconectado ao braço do Super Eva, era novo.
Zeruel soltou um grito de morte alto e irritante. "Gyoaaaaaaaah!"
Super Eva colocou a mã o direita nas mã os de Basara e empurrou a lâ mina profundamente
no rosto de Zeruel. Ele torceu a espada em brasa para cima e para fora, brutalmente destruiu o
crâ nio de Zeruel no processo.
Entã o ele estava puxando a espada para cima com as duas mã os na caixa torá cica do
transportador, para cortar o braço do gigante de grandes dimensõ es no ombro.
O transportador nã o conseguiu compreender o que estava acontecendo. Tentou agarrar as
mã os de Shinji, mas o braço perdeu seu ponto de apoio e caiu no ar, o QR Signum caindo com ele.
Shinji movimentou a espada e quebrou a escama em um borrifo de líquido luminescente
semelhante a sangue. O líquido e a escama se espalharam em pequenos cristais e desapareceram.

225
O ar dentro da torre vibrou e as quatro paredes começaram a ondular como a superfície de
um lago. Como se fosse uma sugestã o, a explosã o de um enorme canhã o trovejou pelo campo de
batalha.
Heurtebise havia disparado o canhã o de Dora de oitenta centímetros na parede da torre. A
parede quebrou e a Torre de Babel derreteu como uma lasca de gelo em uma frigideira.
Pairando dentro da torre, o Super Eva se moveu para o lado e o transportador Zeruel caiu.
Os efeitos da torre desapareceram, e o gigante começou a se comprimir. Sangue jorrou de todas as
superfícies do corpo e, no final, o gigante havia se amontoado em um pedaço irreconhecível de
carne, colidindo com a terra fumegante.

<< Por favor, ligue-me novamente. >>


A voz de Shinji soou no plugue de entrada de longe.
Agora que a influência da torre havia desaparecido, o coraçã o de Shinji parecia ainda mais
distante do que antes. Mas tudo bem. Eles ainda estavam conectados. O fluxo de poder havia
diminuído, mas Shinji nã o sentiu o mesmo vazio que sentiu quando o coraçã o lhe foi roubado.
“Sobre Asuka... Um... Uma palavra de conselho. Nã o a deixe brava.”
Asuka - a síntese Asuka / Eva - provavelmente ainda estava voando ao lado de seu coraçã o.
O calor que Shinji sentiu nã o era apenas do Trigonus. O calor dela também estava lá .

No campo de batalha, alguns soldados ainda estavam atirando em pâ nico, mas a maioria
continuou seu êxodo silencioso. Com a torre desaparecida, a capacidade de comunicaçã o foi
retomada, mas apenas gradualmente. A normalidade nã o voltaria imediatamente.
As frequências de rá dio ofereciam apenas bobagens - os idiomas ainda nã o eram coerentes
novamente. Shinji tentou chegar até Hikari, mas ela nem olhou para ele. Heurtebise estava de
costas para ele, o Euro Eva apontando para fora do campo de batalha.
Shinji e Trois estavam tendo problemas para entender o que estava acontecendo ao seu
redor, agora que haviam emergido da torre. Mas, considerando tudo, a situaçã o era favorável.
Depois de invadir o meio de uma batalha caó tica, eles derrotaram os Transportadores de
Anjos - mas também deixaram o primeiro Victor escapar junto com Asuka / Eva, que chegou
como segundo Victor. Politicamente, as consequências seriam um desafio. Mas, se Super Eva
permanecer por tempo suficiente para que a confusã o se acalme, o conflito pode nã o ser apenas
político, mas um confronto físico violento.

226
Nã o vendo outra opçã o a nã o ser partir, Shinji voou através da fumaça espessa até um dos
cajados dos Transportadores de Anjos que formavam os cantos da pirâ mide. Ele pegou a arma e
voou de volta para o céu, onde o calor da batalha convocara nuvens de tempestade pesadas com
chuva... e o inconfundível aroma de ozô nio.
"Casa, entã o?" Shinji perguntou.
Seu corpo relaxou novamente. Ele olhou por cima do ombro para Trois, que ainda se
agarrava firmemente a ele, e ofereceu a ela um sorriso de dor. “Você poderia talvez afrouxar um
pouco? Você está meio que me estrangulando.”
“Meus braços adormeceram”, disse ela.“Eu nã o posso movê-los.”
Ele tinha certeza de que ela parecia arrependida.

227
Capítulo 49:
Seus Próprios Caminhos para Casa

MARI DECIDIU deixar o campo de batalha.


A luz do novo QR Signum de Wolfpack havia se acalmado, mas o corpo e a armadura do
Eva mantiveram seu aumento mesmo depois que a torre se foi, embora o efeito nã o tenha sido tã o
dramá tico para ela como nos Transportadores de Anjos.
O aviã o de transporte gigante da ONU circulava o campo de batalha à distâ ncia. O sistema
de telemetria do Wolfpack foi reconectado temporariamente e começou a enviar seus dados. A
equipe da Nerv nos EUA ficou espantada com as leituras de biotelemetria de Mari... e o vídeo do
piloto.
Dentro da torre, ela compartilhou algum tipo de conexã o mental com Shinji e Trois, e nã o
teve problemas para comunicar seus pensamentos. Mas agora ela nã o conseguia falar, apenas
latia como um cachorro. Seu robô de suporte estava com ela dentro do plugue de entrada, as
quatro pernas dobradas contra ele e transmitiu um alerta de que o corpo de Mari estava
rejeitando vá rios de seus medicamentos.
Para estabelecer alguma forma de comunicaçã o com Mari, a equipe da Nerv tentou
converter o sinal da plotadora de imagens de sua interface em palavras no visor de comunicaçã o,
mas os resultados ainda nã o eram muito claros.
Além dos novos poderes fornecidos pelo QR Signum de Wolfpack, as mudanças de Mari
nã o haviam sido previstas pela equipe médica, e a culpa pesava entre a equipe na sala de controle.
Indiferente a seus sentimentos, a "matilha" selvagem ignorou os comandos da tripulaçã o e seguiu
o terreno ao sul.
O Eva americano continha vá rias interrupçõ es remotas como segurança contra falhas, mas
quando a fera ficou furiosa, seus sistemas internos, semelhantes a ó rgã os, contornaram todas
elas. No entanto, mesmo que as forças armadas americanas pudessem de alguma forma fazer
Wolfpack parar, o Eva havia se tornado grande e pesado demais para que eles pudessem capturar.
Wolfpack correu até a costa sul de Novaya Zemlya e depois saltou para o mar de Barents.
Quando perguntada para onde ela estava indo, sua resposta apareceu na tela: Para Asuka.
Um golden retriever abriu caminho entre a multidã o e olhou para Mari na tela. A garota
aparentemente percebeu, porque acrescentou: Momo para Rei Ayanami Six e Azuchi.
Em outras palavras, ela queria que eles devolvessem o cachorro a Rei Six, na ilha de
Hakone. Mari nã o sabia que Six havia excedido a velocidade de fuga e estava desaparecida.

228
O Eva americano nadou para o sul com a cabeça acima da á gua. O aviã o de carga seguiu até
o Eva atravessar uma frente de tempestade onde nuvens grossas e eletromagnéticas se reuniam.
O aviã o foi forçado a se afastar e a fera desapareceu nas marés furiosas. Sem satélites, a Nerv EUA
havia perdido o Eva.

O Super Eva sobrevoou o Oceano Á rtico, onde a aurora boreal agora brilhava mesmo ao
meio-dia. Trois nã o achou que o uso da rede de tú neis seria seguro.
O coraçã o distante de Shinji estava enviando energia para o Eva, mesmo que em pequena
quantidade. Os efeitos do QR Signum diminuíram, o que pode ter dificultado a viagem pelos
corredores transdimensionais.
Embora a escuridã o de Armaros tivesse se retirado da escama, a metade de trá s do cabelo
de Trois continuava preta. Mas havia um brilho por trá s de sua expressã o vazia, e seu cabelo azul
pá lido passou suavemente para a cor mais escura à medida que flutuava no LCL.
Antes do Super Eva acelerar em seu voo suborbital de volta ao Japã o, Shinji e Trois
abriram a escotilha da entrada e enfiaram a cabeça no ar frio e desolado. A sensaçã o lembrou
Shinji de estar no lado deserto do Nú cleo da Maçã , o local do teste inicial do Projeto de
Instrumentalidade. A longa jornada de Shinji estava terminando. E um mais longo estava prestes
a começar.
A grotesca lua inchada começou a subir no leste.
O Anel Longinus havia se alongado no tempo desde que a lança perfurou a Terra e roubou
o coraçã o de Shinji. O espaço entre a cabeça e a cauda da lança estava diminuindo. Em pouco
tempo, eles se encontrariam e o anel estaria completo. As pessoas estavam dizendo que quando
isso acontecesse, a Terra terminaria.

Kensuke nã o apareceu novamente. O vice-comandante interino da Nerv Japã o, Toji


Suzuhara, havia sido ferido em Novaya Zemlya, e seu braço cibernético foi substituído por um que
havia sido recuperado a partir de seu pró prio tecido, anos atrá s. Ainda nã o conseguia andar, ele
estava voando para casa em Hakone em uma maca, com o tenente-coronel Kasuga e sua unidade
de vanguarda.
Enquanto a lua se expandiu, a Terra encolheu drasticamente, e deformaçõ es
frequentemente ocorreram em sua crosta. A geografia havia mudado em todo o mundo, mas a
transformaçã o fora especialmente drá stica na Caldeira de Hakone. A base da península de Izu
havia caído vá rias centenas de metros, e a caldeira tornou-se uma ilha em meio a uma reta recém-
formada entre a antiga península e o Japã o continental.

229
A Nerv Japã o continuou a procurar a pequena Rei Six, que se perdeu depois que o Eva
acelerou além da rota de voo suborbital pretendida. Desde que os cabos de comunicaçã o
submarinos se romperam e os satélites voaram, a humanidade agora contava com uma rede de
aviõ es estratosféricos para quase toda a comunicaçã o. A Nerv Japã o havia virado algumas de suas
antenas para cima, enquanto eles também negociavam com vá rios observató rios astronô micos
para ajudar a procurar o Eva-00 Allegorica Tipo-F de Six.
Nesse processo, eles perceberam um sinal fraco pertencente a alguns drones de
observaçã o sobreviventes de que os militares do Euro haviam voado pelo portã o dos Torwä chters
para ver de onde haviam saído. O sinal veio da lua.

Mas ainda mais mudanças estavam acontecendo na á rea abandonada sob Tó quio-3.
O nível da á gua do lago Ashi havia caído drasticamente e, agora, as á guas do lago fluíam
para o Geofront sob a sede da Nerv Japã o.
Os terrenos da antiga sede estavam fechados sob uma cú pula gigante de concreto tektita
duro. Lá , no Dogma Central, Lilith ficou adormecida. Imediatamente apó s o fracasso do Projeto de
Instrumentalidade Humana, Lilith se afastou do mundo em uma esfera gigante. Mais de 150
pessoas ficaram presas dentro deste espaço atemporal, incluindo o pai de Shinji, Gendo, a Dra.
Ritsuko Akagi, e uma dú zia de soldados das forças especiais do JSSDF que haviam assaltado a
antiga sede. Durante três anos, tudo parou dentro deste ovo preto.
Mas os anos nã o eram nada quando o tempo estava congelado. Em algum momento, todo
mundo tinha como certo que o ovo permaneceria lá para sempre.
Até que um dia se foi.

230
231
Capítulo 50:
Partindo por um Sonho

VOCÊ TEM CERTEZA que é pedaço de um trabalho. Kaworu deu um meio sorriso. Você se
lembra do que eu disse quando você conseguiu suas asas?
“Eu acho que era algo como... Se um humano tenta se tornar mais do que humano, seu
receptá culo nã o sobrevive.” Shinji disse.
Certo. Mesmo antes de seu coração ser roubado, você estava começando a se sentir fora de
sincronia com seu próprio corpo, não estava?
“Eu estava?”
Quando ele confrontou Armaros nas montanhas do Atlas e falhou em salvar Asuka, o Super
Eva chorou em desespero e explodiu em chamas. Seu corpo flamejante e seu corpo real haviam
desequilibrado um com o outro.
Seu corpo estava prestes a desmoronar. Mas pouco antes que isso acontecesse, um certo
alguém o dividiu em duas partes e permitiu que você encontrasse um tipo peculiar de estabilidade.
“Você quer dizer o que a lança de Longinus fez? Você faz parecer que roubar meu coraçã o
foi uma coisa boa.”
Em última análise, sim. Um erro de cálculo do gigante preto. Mas ele é apenas uma
ferramenta. Duvido que ele seja capaz de se arrepender.
“Seu conselho... como digo isso? Você vai direto à essência das coisas. É difícil para uma
pessoa comum como eu descobrir o que você está falando sobre... ei, o que é tã o engraçado?
Vamos lá, como você pode ser comum? Eu escolhi você. Kaworu riu. Quando as pessoas
tentam se aproximar de você, você as afasta. É assim que você preserva quem você é. Esse é o seu
caminho. Beleza em auto-suficiência.
“Você está tirando sarro de mim?”
Ao mesmo tempo, você também quer alguém que baqueie você sem parar. Eu poderia ter
feito isso, mas se tivesse, o mundo teria fechado naquele momento.
Após sua criação, o primeiro fracasso do homem veio porque ele acreditou nas palavras da
primeira pessoa feita a partir dele - a bela imitação, Eva3.
“Como assim, bela imitaçã o?”

3 Aqui no original está Eve, de Eva de Adão e Eva.

232
As falhas são repetidas. Olhe para você agora. Você entregou seu coração a um kitsunebi
vermelho.
“Quem, Asuka? Ou você está falando de mulheres, como, em geral? Nã o sei se você deve
chamar Asuka de uma bela imitaçã o. Se ela soubesse, nã o seria muito bom para você. Eu nã o
ficaria surpreso se ela gritasse com você a noite toda. Além disso, se você olhar para os nossos
cromossomos, sã o os homens que misturam mais um. Isso nos torna imitaçõ es. Pelo menos, foi o
que Maya-san me disse.”
E você entregou seu corpo a uma boneca de papel branco. Mesmo enquanto você sonha, a
personificação do seu poder voa pelo céu, porque ela está profundamente dentro de você.

"Ah, nã o..." Shinji murmurou. "Eu deveria estar-"


Um pouco antes, quando ele passou por Hokkaido, Shinji restabeleceu um sinal de
comunicaçã o com a Sede da Nerv. Depois disso, ele finalmente se sentiu capaz de relaxar e, em
algum momento, adormeceu.
Enquanto ele estava inconsciente, ele deve ter enterrado o rosto no colo de Rei Trois.
Quando ele abriu os olhos, a primeira coisa que viu foram as fitas entre os shorts de renda preta
da calcinha e a pele de porcelana das coxas.
"...voando", ele terminou.
“Estamos voando”, disse ela.
A mã o esquerda de Trois estava no controle. Sua mã o direita parecia acariciar gentilmente
o lado de sua cabeça, mas ela parou quando ele acordou. Ela pressionou levemente a palma da
mã o no ombro dele, como se dissesse que ele poderia voltar a dormir, se quisesse. Mas ele se
sentiu muito estranho posicionado assim.
“Quando você está dormindo”, explicou ela, “o Super Eva reage muito mais devagar. Você é
como um navio grande. Eu posso principalmente mantê-lo no curso, mas é isso.”
"Oh ..."
Ele foi surpreendido. Nã o só Super Eva não caíra do céu, como ele poderia esperar, mas
Trois tinha sido capaz de pilotá -lo.
Os controles do Eva - também chamados de controladores de imagem - nã o controlavam
nada. Em vez disso, o plugue de entrada transmitia os pensamentos do piloto diretamente para o
Eva como parte do sistema de feedback. Mas os pensamentos nã o eram perfeitos.
No reino da mente, um limite indistinto separava conceitos como sim e não e parar e ir. As
alavancas existiam para esclarecer essas fronteiras. A mente ordenava, e as alavancas enviavam o

233
có digo de verificaçã o. Os controles também ajudaram o piloto a ficar ciente de seus pró prios
pensamentos.
E agora Trois havia pilotado o Super Eva. Shinji pensou que o Eva nã o era capaz de se
mover enquanto ele dormia - e antes agora, ele nunca o fez. Isso mudou porque Trois controlou o
QR Signum no meu peito? O que mudará a seguir?

Desta vez, disse Kaworu, com a voz enfraquecida, a Eva não é imitação. Por isso ela foi
preparada. Mas as imitações rapidamente se dissolvem na coisa real...
“O que?” Shinji perguntou.
“Eu nã o disse nada”, respondeu uma bela imitaçã o. Pelo menos, de acordo com Kaworu.
Dentro do LCL, Rei Trois olhou para ele com seus brilhantes olhos vermelhos.

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Capítulo 51:
Finalmente Casa

O CEU ESTAVA LIMPO, mas a lua estava envolta.


Sua atmosfera havia engrossado o suficiente para ser observada a olho nu. Agora que a
ó rbita do satélite rochoso estava se aproximando, seu rosto marcado deveria aparecer ainda mais
detalhadamente, mas as montanhas e as crateras estavam borradas.
À medida que a lua se expandia e se escondia na atmosfera, sua á rea de superfície
começava a refletir mais luz. À noite, a Terra permanecia tã o brilhante quanto antes do pô r do sol.
O brilho da lua gigante apagou todas as estrelas no céu e ficou apenas preto, enquanto o
horizonte em todas as direçõ es brilhava levemente vermelho da luz da lua refletindo no chã o.
Lá embaixo, a diminuiçã o da gravidade da Terra havia enfraquecido, e os mares subiam a
colinas altas de crista branca e vales mergulhados.
A Caldeira de Hakone - agora uma ilha - ficava no topo das á guas furiosas.
“As luzes estã o acesas”, observou Shinji.
A caminho de casa, o Super Eva sobrevoara muitas cidades grandes que haviam
escurecido. Mas nã o Tokyo-3.
<< Eva-01, aqui é o centro de comando da Nerv Japã o. Nó s cuidaremos da liberaçã o do seu
voo, mas lembre-se de que um novo aeroporto foi construído perto da borda sul - Aeroporto
Mount Daikan, có digo-letra RJJN. >>
"Hyuga!" Shinji disse, emocionado ao ouvir uma voz familiar.
Mas a resposta de Hyuga foi estritamente profissional e ele falou com eficiência reduzida.
<< Bem-vindo de volta, Shinji-kun, Trois. Doca Super Eva na gaiola dois. As paredes de contençã o
ainda estã o em reparo, mas montamos duas á rvores de armamento. Você usará os braços para
segurar o Eva no lugar. A equipe da gaiola terá mais instruçõ es. Centro de comando >>
Tanta coisa para uma reunião chorosa.
Sob a luz da lua, Shinji encontrou facilmente o caminho através das instalaçõ es da Nerv no
Japã o.
As duas á rvores de armamento se elevavam do telhado aberto da gaiola do Evangelion,
lançando longas sombras sobre o concreto ao redor. Uma luz de aviso laranja encimava cada
á rvore. Mas Shinji também viu outras luzes. Duzentos metros abaixo do solo, visíveis através do

235
buraco no centro do complexo, luzes de trabalho e má quinas pesadas haviam convergido para a
cú pula do sarcó fago.
Parece que eles estão baixando algo lá em baixo.
Ele recebeu as instruçõ es para pousar e desceu entre as á rvores de armamento, que
trancaram rá pido e firmemente o Super Eva... e seu QR Signum brilhante. Os coldres de armas das
á rvores foram trocados por armas mecâ nicas - dezesseis no total - que mantinham o gigante no
lugar. As á rvores e o Eva submergiram no LCL da gaiola.
Esta era a casa de Shinji e do Super Eva, mas algo parecia errado.
Trois pareceu perceber sua inquietaçã o. "Ikari-kun?"
“Eu nã o sei. Talvez eu esteja envergonhado por ter estado longe por tanto tempo.” No canal
de comunicaçã o, ele disse: “Controle neutro. Pronto para ejeçã o do plugue. ”

Quando se aproximaram de Hakone, Shinji e Trois relataram suas aventuras em resumo, e


a sala de espera de piloto de Eva havia sido convertida em uma sala de inspeçã o médica antes da
chegada deles. Em lados opostos de uma ú nica cortina, a equipe médica despiu Shinji e Trois de
suas roupas e deu a cada um deles um exame padrã o. O processo nã o foi exatamente agradável,
mas também nã o foi surpreendente.
De qualquer forma, Shinji nã o tinha certeza se as precauçõ es foram longe o suficiente.
Eles não nos levaram a salas separadas, o que significa que não sentem necessidade de nos
interrogar separadamente. Isso significa que eles acreditam em nossa história surreal? Caramba, eu
não tenho certeza se acredito nisso.
Aqui estavam eles, em casa, depois de visitar um planeta alienígena, e ainda assim apenas
uma pequena equipe de cientistas veio encontrá -los, seus testes quase sempre superficiais.
“Entã o, o filho e a filha pró diga finalmente retornam.”
"Fuyutsuki-sensei", disse Shinji.
O velho soldado abriu a cortina antimicrobiana na porta e entrou na sala.
Alisando o vestido branco de paciente, Trois passou pela cortina de pano atrá s de Shinji e
sentou-se ao lado dele na mesa de exame. Juntos, eles olharam para Fuyutsuki.
“Desculpe por toda a confusã o”, disse ele. “Tenho certeza que você tem perguntas. Nó s nã o
poderíamos contar o que aconteceu no rá dio, entã o eu vou te informar.”
Shinji e Trois descobriram que Lilith e a esfera cronostá tica haviam desaparecido do
antigo Geofront e que Rei Six havia desaparecido.

236
Liderada pela cientista-chefe Ibuki, a maioria do pessoal da Nerv havia mergulhado no
subsolo da cú pula do sarcó fago, que ficava parcialmente submersa na á gua do lago. A equipe
procurava desesperadamente por qualquer coisa deixada para trá s depois que a esfera
cronostá tica desapareceu.
A esfera completamente negra e absorvente de luz - embora tecnicamente tivesse sido em
forma de ovo - havia deixado para trá s um espaço vazio cuidadosamente esculpido no Geofront.
Longe estava Lilith no centro, junto com o antigo quartel-general da Nerv e as mais de 150
pessoas que haviam sido apanhadas dentro do ovo atemporal. Nã o havia como dizer onde eles
estavam agora.
"Pai…?" Shinji disse.
Quanto a Rei Six, a garota desapareceu em ó rbita. Do solo à ionosfera, o campo elétrico da
Terra era uma bagunça absoluta, e qualquer tentativa de alcançá -la era recebida com um rugido
de está tica semelhante a uma cachoeira. Com nada mais a ser feito de Hakone, a Nerv Japã o
entregou a busca a agências espaciais externas.
Mas agora que Rei Trois havia retornado, Shinji esperava que o ú ltimo Eva-0.0 intacto
fosse logo chamado de volta da ó rbita.
O Eva-0.0 de Quatre havia se tornado nocivo e incorporado seu poderoso canhã o laser de
raios gama em seu corpo. A existência da arma tornou difícil lembrar que a série 0.0 havia sido
projetada, ú nica entre todos os Evangelions, com o reconhecimento como foco principal.
Embora a gravidade decrescente da Terra tenha espalhado a rede de satélites nas
profundezas do espaço, o ú ltimo Eva-0.0 ainda conseguiu permanecer em ó rbita. O Eva
simplesmente tinha uma reserva maior de propulsor para realizar as correçõ es orbitais
necessá rias para manter sua altitude. Mas seu combustível nã o era ilimitado. Independentemente
das necessidades imediatas da Nerv Japã o, Trois teria que recuperar o Eva para reabastecimento
e manutençã o.
Quando Trois chegou à mesma conclusã o, ela beliscou suavemente a barra inferior da
roupa de Shinji.

Oficiais de engenharia empurrando carrinhos cheios de equipamentos se acumulavam no


posto de segurança no saguã o do elevador do mó dulo de comando, enquanto outros funcioná rios
aumentaram o humor estressante enquanto tentavam passar pelas duas direçõ es.
O vice-comandante interino Fuyutsuki caminhou lentamente em direçã o ao banco de
elevadores. Shinji e Trois os seguiram. Eles se pressionaram contra a parede, cedendo à queles
com maior pressa e, finalmente, subiram ao centro de comando.

237
“Envie outra consulta à sede da Respota Rá pida da Euro em Bruxelas e à Nerv Alemanha
sobre a situaçã o em Novaya Zemlya”, dizia Misato, “para ver se eles sabem para onde Asuka -
Crimson A1, quero dizer – foi. E tente o Conselho de Segurança da ONU. ”
“Acho que nã o receberei nenhuma resposta da ONU ou dos europeus”, respondeu Aoba. “O
efeito Torre de Babel nã o se esgotou completamente e as coisas ainda estã o um pouco caó ticas
por lá .”
“Foi exatamente por isso que perguntei. Estabeleça um registro que continuamos tentando
entrar em contato com eles. Faça parecer que ainda estamos confusos por aqui também.”
Misato notou Shinji e Trois. Ela balançou a cabeça e bufou uma risada, como se dissesse:
Viu com o que eu tenho que lidar?
“Isso será ú til mais tarde, quando todos nó s civilizarmos novamente”, explicou ela. “Bem-
vindo em casa, vocês dois.”
Entre o rosto de Misato e a fileira de garrafas vazias de bebida energética, a exaustã o da
comandante era evidente. Os dois adolescentes em pé na frente dela eram pelo menos metade do
motivo pelo qual ela estava exausta. Por causa deles, Misato nã o tinha sido capaz de se encarregar
da situaçã o. Em vez disso, ela foi forçada a persegui-los e Asuka, limpando a bagunça dos
gigantes.
A crise havia posto em prá tica sua capacidade de questionar, em um momento em que sua
autoridade já havia se atrofiado devido à sua ausência impensada.
"Shinji Ikari", disse Misato, mudando para um tom mais severo, “piloto da Unidade Eva”.
Shinji enrijeceu suas costas.
“Você perdeu o controle da situaçã o?” Ela estava deixando suas pró prias falhas de lado,
mas como responsável, ela tinha que manter a disciplina.
“Mesmo que a Unidade Um seja fisicamente seu corpo, o Eva ainda pertence à Nerv Japã o.
Como tal, ele deve se submeter aos departamentos de ciência e engenharia para pesquisa e
manutençã o contínuas e deve obedecer a seus comandantes.”
Sua declaraçã o nã o teve peso real. Super Eva poderia operar indefinidamente. Contanto
que ele nã o sofresse ferimentos críticos ou gastasse toda sua muniçã o, ele nã o precisaria de
apoio.
As mesmas características que fizeram do Super Eva um ativo versá til e capaz também
colocaram um problema para a organizaçã o que ele representava, que nã o tinha meios de
controlá -lo, caso deixasse de voltar para casa. Com um Evangelion, as açõ es de um ú nico piloto
poderiam designar a Nerv Japã o como inimigo de todo o mundo. Esse tipo de poder precisava de
limites. Mesmo sem fugir ou desertar, os laços de confiança e dever podem enfraquecer.

238
Por essa mesma razã o, Misato sentiu que precisava impedir Shinji de saber sobre o
desaparecimento de Six até depois que ele aterrissasse em Hakone. Se ele tivesse descoberto
antes, ele poderia ter se virado e ido procurá -la.
“Independentemente de você estar certo ou errado, você tomou uma decisã o unilateral de
levar o gigante embora. Você percebe o tremendo poder - o poder maligno - que você exerceu? A
voz de Misato passou pelo centro de comando.
Shinji abaixou a cabeça e levantou a voz para que todos pudessem ouvi-lo também. “Peço
desculpas por pegar Trois e deixá -lo sem o Super Eva. Eu sinto Muito!” Ele entendeu que ela
pretendia lidar com o assunto inteiro com um aviso.
A Nerv Japã o tinha muitos deveres prementes, principalmente entre eles a busca pela
esfera cronostá tica de Lilith, Asuka / Eva, o Eva-00 Type-F Allegorica de Six e o Eva-00. Misato
nã o teve o luxo de condenar o ú nico Eva operacional e seu piloto a puniçã o a longo prazo.
Repreendendo-o em pú blico, ela esperava fazê-lo se sentir culpado. Mas também estava
preocupada que isso não o isolasse da humanidade.
Sob a pergunta dela, havia outra pergunta nã o feita - a pergunta final.
Você é um humano que se tornou um Eva. Você está preparado para continuar vivendo na
sociedade humana?
Quando ele olhou para o rosto cansado de Misato, Shinji lembrou a si mesmo que ela só
estava brava com ele porque era seu dever.
Ele levantou a cabeça novamente e olhou ao redor do centro de comando.
“Temos a designaçã o da OTAN!” um oficial gritou. “Torwä chter A1!”
Uma exibiçã o secundá ria mostrou o novo có digo de confirmaçã o para a síntese de Asuka /
Eva. Para surpresa de Shinji, ela foi designada uma ameaça hostil. Enquanto a equipe do centro de
comando corria com energia nervosa, apenas Shinji - e Trois - pareciam se mover em um ritmo
diferente.

239
Capítulo 52:
O Retorno do Vice-Comandante

O AVIÃ O GIGANTE DE TRANSPORTE JSSDF C-11 pousou no aeroporto de Mount Daikan


logo apó s o amanhecer.
A rampa de carga traseira abaixou, e os obus maser rolaram, junto com Toji em uma maca.
Seu braço pá lido descansava ao lado dele. Uma equipe médica veio encontrá -lo, mas de toda a
equipe principal, apenas Shinji e Trois haviam se juntado a eles na pista. O par tinha saído
parcialmente do tédio, mas principalmente porque eles nã o sabiam onde mais estar.
"Ei!" Toji gritou para eles sobre o barulho do motor a jato. “Vocês saíram juntos e voltaram
juntos! Eu ouço vá rias outras coisas acontecendo ao longo do caminho, mas tudo acaba bem,
certo?”
Ouvindo a voz de Toji, Shinji finalmente se sentiu à vontade. Estou de volta, ele pensou.
Claro, ele estava de volta há horas agora, mas era a primeira vez que se sentia em casa.
Toji notou imediatamente a nova cor do cabelo de Trois - o azul claro na frente desbotando
para um azul mais profundo no meio e depois preto nas costas.
"Ayahachi?" Toji disse. “Trois? O que há com o cabelo? Começando sua fase rebelde, nã o é?
Você vai a um show punk rock conosco?”
Toji chamou um soldado da JSSDF que acabara de descer da rampa de carga. “Você poderia
esperar um segundo?”
“Nã o, você vê, com Trois, é mais uma volta à fase negra”, Shinji tentou brincar.
Mas Toji ignorou isso. “Desculpe, Shinji, mas você poderia carregar isso?”
Shinji pegou uma maleta de metal da cintura do soldado camuflado. Estava pesado.
“O que é isso?” Shinji perguntou. “Todos esses medidores e luzes fazem com que pareça
algum tipo de bomba.”
“Nã o é bomba, seu idiota. Essa é a minha perna!”
“O que?!” O aperto de Shinji escorregou e uma das extremidades da maleta bateu no
asfalto.
Por um segundo, a luz indicadora do sistema circulató rio artificial ficou vermelha, mas
depois piscou novamente em verde.
“Seu idiota! Cuidado com isso!”

240
“Desculpe-me”.
Trois se ajoelhou e levantou a ponta da maleta.
Toji levantou uma sobrancelha. “Ah?”
“O que?” Shinji perguntou.
“Entã o, vocês dois estã o ficando bem íntimos, hein?”
“Nã o é desse jeito.”
“Olha”, disse Toji. “Seja o que for ou nã o, tudo bem para mim. Você, pelo menos, é capaz de
dizer o que quiser agora?”
“Totalmente...” Trois disse suavemente.
Shinji deixou cair a maleta novamente. Desta vez, o sistema circulató rio teve que reiniciar.

Misato estava gritando. “O que diabos eu devo fazer sobre um erro de mediçã o se estou
aprendendo sobre isso agora?!”
Entrando no convés central do centro de comando, Shinji e Toji se encolheram
reflexivamente, enquanto Trois olhou para o convés superior, onde os gritos de raiva de Misato
fluíram.
Toji insistiu em sair da maca. O que ele realmente queria era andar sozinho, mas os efeitos
do medicamento pó s-operató rio em sua perna artificial nã o eram claros. Por enquanto, Trois
estava empurrando-o em uma cadeira de rodas. Shinji seguiu atrá s deles, carregando a lata de
metal. Ele havia sido parado pela segurança três vezes e agora mantinha o tubo pesado
equilibrado sobre um ombro.
Aoba notou o trio parado perto do elevador. Ele girou a cadeira para encará -los,
disfarçadamente colocou dois dedos em um gesto de chifres de demô nio e murmurou as palavras
irritadas.
Toji assentiu, olhou para a tela de três camadas e anunciou: “Toji Suzuhara, reportando da
operaçã o euro-russa. Solicitando a dissoluçã o de minha missã o e a reintegraçã o de minhas
funçõ es como vice-comandante interino.”
A tensã o estalou no ar e todos os olhos se voltaram para os três adolescentes. Shinji se
encolheu. Vamos lá cara, o que você está fazendo? Agora todo mundo está olhando para nós.
Misato também estava olhando para eles. “Pedido concedido”, disse ela. “Bem vindo de
volta. Como estã o seus ferimentos?”

241
“Eles nã o vã o interferir nos meus deveres. Assim que o remédio acabar, eu poderei andar.
Eu acho que meu novo braço vai precisar de mais reabilitaçã o do que o ú ltimo. Só estava sendo
exercitado com estimulaçã o elétrica.
“Algum sinal do anjo Bardiel?”
“As mediçõ es de padrõ es mostram zeros até o sexto ponto decimal - até onde os técnicos
puderam obter com a filtragem de ruído. Mas no hospital de campanha, os médicos estavam em
cima de mim. Eles me mantinham sob vigilâ ncia constante. Tudo estava normal, exceto que o
processo de cicatrizaçã o pó s-cirurgia foi extraordinariamente rá pido.” Entã o, sem hesitar, ele
declarou a verdade inconveniente. “Ainda existe o risco de o anjo voltar a aparecer se meu corpo
inteiro for reconstituído.”
Toji havia perdido o braço e a perna esquerda na luta contra Bardiel três anos atrá s. Novos
membros haviam sido cultivados a partir de suas culturas celulares, entã o ele nã o precisava de
membros cibernéticos. Mas durante o procedimento de recolocaçã o, o Anjo Bardiel começou a se
re-manifestar dentro do corpo de Toji. A cirurgia foi cancelada.
Quando ele perdeu o braço cibernético em Novaya Zemlya, os cirurgiõ es do campo de
batalha o substituíram pelo braço pá lido e emaciado que havia sido cultivado para ele anos antes.
Por que eles tentaram a cirurgia dessa vez? Os funcioná rios da Nerv Alemanha em Novaya Zemlya
tinham provas de que o braço por si só estaria bem? Nã o, Toji sabia que nã o havia essa prova. Eles
só queriam ver o que acontecia. Se nada mais, era uma chance de observar a manifestaçã o de um
anjo. Mas o resultado foi estável.
Alguém provavelmente os havia preparado. Provavelmente, Kensuke havia solicitado à
Nerv Alemanha que realizasse a cirurgia com o pretexto de devolver os membros ao dono. Mas se
a perna do estojo no ombro de Shinji fosse recolocada...
“Esse maleta que Shinji-kun está carregando”, disse Misato. “Essa deve ser a perna. Vou
iniciar uma investigaçã o e descobrir como esses membros deixaram nossas instalaçõ es. Mas Toji,
é muito perigoso manter você e essa perna no mesmo local. Sei que você acabou de recuperar,
mas pode confiar em nó s para guardá -lo novamente para você?
Toji sorriu amplamente. “Claro.”
As sobrancelhas de Misato ergueram-se quase imperceptivelmente. Ah? ela pensou.
Quando ele se tornou tão resiliente?
Fuyutsuki se juntara a ela no convés superior. Quando ele olhou para Toji, os cantos da
boca se voltaram para cima, como se estivesse testemunhando algo peculiar.
Toji virou-se para Hyuga. “Coloque o Dr. Noguchi de Tsukuba na linha.”
Ele voltou-se para Misato e passou o polegar por cima do ombro com os erros de mediçã o
na tela principal.

242
“Você estava falando sobre fazer correçõ es nos sensores ao redor da esfera cronostá tica?
Vamos obter uma amostra de leitura de cada sensor e colocar alguns nú meros reais por trá s
disso. Podemos trabalhar a partir dos dados anteriores e encontrar a resposta. ”
Como faríamos isso? Misato estava prestes a dizer, mas Hyuga falou primeiro.
“Vice-comandante interino Suzuhara, tenho o Dr. Noguchi da Universidade de Tecnologia
de Tsukuba na linha três, com segurança de nível dois.”
“Levamos semanas para recalibrar nosso acelerador”, disse Toji, “entã o precisamos apenas
pedir ajuda”.
Ayanami empurrou a cadeira de rodas de Toji para uma estaçã o pró xima e pegou o
telefone.
“Dr. Noguchi, bom dia! Desculpe incomodá -lo tã o cedo. Preciso que você dispare uma
rajada de partículas de mediçã o do seu acelerador em direçã o ao solo sob Hakone. Você acha que
poderia fazer isso por nó s?”
O professor disse algo, ao qual Toji respondeu: “Oh. Uh-huh. Sim, podemos fazer algo sobre
isso. Sim. OK muito obrigado. Três horas. Obrigado novamente. Falo com você mais tarde.” Ele
colocou o telefone suavemente de volta no gancho. “Tudo certo. Todas as equipes que atualmente
inspecionam os sensores devem parar seu trabalho e se preparar para fazer outra leitura. Quero
os sensores dentro da cú pula do sarcó fago prontos para 1430.”
Assim que ele terminou, os técnicos em suas estaçõ es começaram a transmitir seus
pedidos aos vá rios departamentos.
“Shinji diz que os sensores quâ nticos de inclinaçã o de fluxo fazem um bom trabalho em
prever quando algo sairá do espaço extradimensional”, explicou Toji. “Temos cinco matrizes
posicionadas ao longo da borda. Vamos fazer um teste e ver se pegamos alguma coisa. ”
Misato, que havia sido deixado de fora até agora, pensou por um momento e depois disse:
“Essa é uma boa ideia. Deveríamos fazer o possível para reduzir o ruído de fundo quando as
partículas de teste chegarem. Desligaremos toda a transmissã o de energia nã o essencial para a
cidade por quinze minutos antes e depois. Sã o trinta minutos no total. Envie uma mensagem para
o governo da cidade.
“O que você está fazendo aí, Shinji?” Toji disse. “Você está saindo também. Você tem uma
hora para chegar a Tsukuba!”
Shinji nunca tinha visto um pombo ser atingido por um atirador, mas sua expressã o
provavelmente se assemelhava a uma.
“Hã ? Espere o que? Por quê?”

243
“Eles nã o têm energia suficiente para acionar o acelerador agora, entã o você será uma
usina humana. Certifique-se de que o Super Eva saia com um gerador elétrico com diferencial de
fase.”
Shinji nã o tinha pensado que o Super Eva seria usado tã o rapidamente novamente - nã o
com a nuvem de suspeita pairando sobre ele. E pelo olhar no rosto de Misato, a comandante
também nunca teria permitido. Toji olhou de um lado para o outro entre eles, como se
perguntasse: Está tudo bem?
No convés superior, Misato fez uma careta e fechou os olhos. Mas entã o ela os abriu
novamente, assentiu e riu ironicamente. "A caminho, entã o."
Enquanto Shinji estava saindo, Aoba disse: “O gerador nã o produz energia constante. Vem
em ondas. Pegue o regulador de tensã o constante de maior capacidade que você pode encontrar
na Gaiola Um. ”
"Entendido."
Shinji saiu correndo. Ele estava se sentindo fora de sincronia com o ritmo mais rá pido de
todos aqui, mas agora sua percepçã o do tempo acelerava para combinar com aqueles ao seu
redor.
Sua energia nervosa tinha uma direçã o. Os eventos mais uma vez entraram em movimento,
como sangue circulando pelo corpo.

"Eu exagerei", disse Toji. De sua cadeira de rodas no convés do meio, ele inclinou a cabeça
profundamente para Misato. "Eu sinto muito."
Ela estava planejando dizer algo sobre isso, mas ele a derrotou. Sua consideraçã o a
impressionou.
"Eu cuidarei de explicar a situaçã o para o JSSDF, no aeroporto e a cidade", disse ela.
“Precisamos garantir que todos estejam totalmente a bordo, caso precisemos manter a energia
por mais tempo. Atrasos podem acontecer. ”
Ela ficou. Estava na hora dos adultos começarem a trabalhar.
Sua expressã o ainda parecia cansada, mas o cansaço por trá s dela se foi.
Mesmo que ela tivesse sido tecnicamente tomada como refém pelo Eva mutante, ela
abandonou seus deveres como comandante por um tempo significativo. Ela precisou aceitar
Shinji de volta depois que ele fez o mesmo, ou entã o ela poderia ter enfrentado grandes críticas
daqueles ao seu redor.
Quando ela saiu da sala, os outros a seguiram com passos rá pidos.

244
A soluçã o de limpeza com sabã o enxaguou o corpo do Super Eva. Levaria mais tempo para
reparar os incontáveis arranhõ es e amassados da longa jornada do Eva, mas, pelo menos, todo o
sangue havia sido lavado.
Shinji estava assistindo o banho do Super Eva do outro lado de uma pequena janela
resistente a explosõ es. Ele foi para a sala de espera dos pilotos. As partiçõ es de sua inspeçã o
médica haviam sido retiradas, e um amplo laser de limpeza em forma de cortina varreu a sala
lentamente, queimando o ar e estimulando os efeitos antimicrobianos das paredes fotocatalíticas.
Shinji abriu a porta do armá rio de seu plugsuit. Atrá s dele, Rei Trois - que o seguia como
uma sombra - começou a tirar suas roupas.
"Whoa, whoa!" disse um Shinji perturbado.
Trois fez uma pausa.
"Eu peguei essa aqui", ele disse. "S-se você pudesse rebobinar tudo isso ..."
"Rebobinar?"
Para todos que nã o ouviram o toca-fitas digitais de seu pai, essa nã o era uma palavra que
tivesse algum significado.
"Desta vez", disse Shinji, "eu posso ir sozinho."
Quando o Super Eva estava à deriva, sem coraçã o, e o QR Signum como sua fonte de
energia, Trois administrara o fluxo da energia de Armaros. Mas agora, Shinji poderia receber
energia de seu coraçã o distante.
"Mas…"
Trois parecia um pouco descontente. Ou... preocupada?
<< Aqui é Suzuhara do centro de comando. Trois, você está aí? >> A voz de Toji soou de um
alto-falante no teto. << Estamos revendo os planos para tirar Eva-0.0 do gelo. Venha aqui em cima.
Poderíamos usar sua entrada. >>

A armadura externa do Super Eva nã o havia sido totalmente inspecionada quanto à fadiga
estrutural. Os ó rgã os internos do Eva se recuperaram durante a batalha. Mas seu novo braço - o
que foi retirado dos tecidos de Zeruel - precisaria ser minuciosamente inspecionado em algum
momento. A tripulaçã o da gaiola teve tempo suficiente para substituir a armadura de contençã o
ao redor do abdô men do Eva, onde a lança havia atravessado, e trocar os postes da bainha da
espada para os postes de especificaçã o padrã o.

245
A viseira do Super Eva levantou. Algo bateu em suas costas. Embora o Eva nã o precisasse
mais de uma fonte de energia externa, ele ainda possuía um plugue de cabo umbilical em caso de
emergência. O barulho deve ter sido a equipe de trabalho instalando o gerador de eletricidade de
contraste de fase em seu soquete. O mó dulo pendia de suas costas como as penas da cauda de um
pá ssaro.
“Meus sistemas estã o vendo o gerador de fases”, disse Shinji. “Teste de transmissã o de
energia... verifique. A saída é... Bem, nã o saberei até implantar o Campo AT.”
<< Prazer em vê-lo novamente, Shinji-kun, >> disse Maya. << Nã o esqueça suas armas. >>
“O que? Esta nã o é uma missã o de combate. Tem certeza de que devo sair armado?”
Fuyutsuki respondeu do centro de comando. << Tecnicamente falando, isso seria contrá rio
ao nosso tratado com o Japã o, mas o tempo para pensar nesse tipo de coisa já se foi. Você nunca
sabe quando e onde o inimigo aparecerá . Ou se o inimigo pode ser humano. >>
“Isso é terrível…”
<< Você pode nã o gostar, mas você deve derrotar qualquer hostil e voltar inteiro. Caso
contrá rio, estamos todos com problemas. >>
Maya ficou na cabine de controle diretamente na frente dos olhos do Super Eva. Ela
parecia pequena quando aproximou o microfone da boca. << Você nã o poderá usar o Powered 8.
Quando Super Eva repara seu corpo, o crescimento de tecidos quebra todos os circuitos elétricos
nã o utilizados. Isso significa que nã o há armas com alta potência até que reconstruamos as
conexõ es.>>
Super Eva pegou a faca prog e o KEG-46R Yamato Rebuild, um canhã o autô nomo com
muniçã o altamente explosiva. O cano já pertencera a um navio de guerra. Nas mã os do Eva, a
arma era mais como uma pistola.
A faca retira o poder da minha palma, então acho que deve estar tudo bem... provavelmente.
E que arma estranha é essa na parede?
“Maya-san”, ele perguntou, “isso é um arco? Um bumerangue?”
<< Bem, você pode jogá -lo e bater em alguma coisa. Mas nã o, é uma arma guiada? Baseado
em energia? Chama-se Azumaterasu. >>
"Você está me perguntando ou me dizendo?"
Primeiro Neyarl, depois Kesara e Basara... Onde ela estava inventando esses nomes?
<< Você viu o ovo de vidro no fundo do lago Ashi, certo? Encontramos isso lá em baixo. Eu
tenho tentado consertar. Se estou certa, é uma arma que funciona como Neyarl. >>
“Isso seria incrível.”

246
O canhã o guiado por Neyarl havia extraído partículas nã o descobertas das dimensõ es mais
altas através do coraçã o de Shinji. Maya pensou que as partículas eram monopó lios. Quando o
canhã o disparou, o cano nã o aguentou a energia e foi destruído. Mas as partículas atingiram um
Torwä chter e o desintegraram.
<< Nas mã os do Eva, a arma seria segurada como um arco enorme. A Crimson A1 - Asuka -
foi sequestrada pouco antes de testá -lo. Essas... coisas... surgiram do chã o - como raízes de
á rvores ou chicotes - e envolveram-na. >>
Isso parecia familiar para Shinji. Eu acho que vi algo assim recentemente...
“Esses chicotes... eles pareciam feixes de tiras planas torcidas firmemente? Como filme
preto? Ou fita, talvez?”
<< Como você sabia disso? >>
Lembrou-se de quando ele era seu coraçã o, voando pelos corredores transdimensionais
em um Torwä chter.
Quando ele passou pelo tubo escuro, as paredes se separaram como tiras de filme e se
juntaram em uma hélice atrá s dele, que foi sugada pela placa nas costas.
“Vou lhe contar quando voltar”, disse ele.
O Victor a raptou? Torwächter, acho que estamos chamando eles assim agora. Meu coração
a chamou do peito do Torwächter?
Um alarme de aviso soou, indicando que o campo de flutuaçã o do Eva-01 estava ativo. Com
o Super Eva pronto para partir, o grosso teto blindado se abriu e a quente luz do sol da manhã
entrou na gaiola.

247
Capítulo 53:
Encontro ao Luar

SUPER EVA sobrevoou a Baía de Kanto, onde Tó quio havia sido submersa apó s o
Segundo Impacto. Na costa norte, no Centro de Pesquisa do Acelerador de Alta Energia, ele
cumpriu seu dever como usina mó vel, e o acelerador de pró tons seguiu o cronograma. Os
espelhos dourados focalizavam e direcionavam o feixe de pró tons, que produzia píons que
percorriam 130 quilô metros de terra firme até a cú pula do sarcó fago no antigo Geofront, sob
Hakone - e em tanques de á gua purificada, onde os píons eram convertidos em neutrinos e
mú ons.
Agora que os cientistas da Nerv obtiveram uma amostra de partículas da linha de base, o
sistema de observaçã o realizou uma série de ajustes minuciosos e reinicializou. O computador
realizou correçõ es nos dados histó ricos e os registros resultantes indicaram que a Esfera
Cronostá tica havia desaparecido meio dia antes do grande colapso. Foi quando os sensores
detectaram pela primeira vez os mú ons provenientes da interaçã o dos raios solares na atmosfera
da Terra. Anteriormente, a esfera impedia a passagem de partículas de qualquer tipo.
Vendo a saída do Super Eva de Hakone, o tenente-coronel Kasuga do JSSDF teve uma ideia.
Ele instruiu as torres maser - projetadas para transmitir energia à retena do Eva-02 - para girar
suas antenas de microondas para o norte, onde as á guas do canal recém formado separavam
Hakone do Japã o continental. Na margem oposta, o Akashima carregava um obus maser JSSDF
equipado com uma retena de relé.
O reator N2 que alimentava a Nerv Japã o e Tokyo-3 tinha capacidade excedente de energia.
Kasuga queria testar se esse excesso de energia poderia ser compartilhado com á reas menos
estáveis no continente em tempos de emergência. E assim, quando Super Eva chegou em casa no
início da noite, ele viu o fraco brilho pú rpura dos raios de microondas focalizados acima da á gua.

Shinji caminhou pelo corredor carregando uma sacola com couve e farinha de trigo para o
okonomiyaki de Toji.
Shinji pegou os ingredientes em Tsukuba. Foi aí que começou tudo.
Campos de vegetais haviam sido plantados à s pressas por toda a caldeira e, a menos que o
tempo mudasse drasticamente, era esperada uma colheita considerável. A poucos passos de
distâ ncia, a antiga Península de Izu era historicamente conhecida por seus muitos pomares.
Mas havia uma diferença entre obter algo e ter um suprimento constante. Quando as
reservas de farinha acabaram, nã o havia como saber quando mais chegariam do lado de fora. O

248
mesmo acontecia com a carne - embora Trois dissesse que todos ficariam bem sem ela. Mas e os
peixes? Hakone estava cercado de á gua, mas as mudanças na crosta terrestre haviam causado o
esvaziamento dos pesqueiros. O peixe voltaria?
Essa linha de pensamento apenas levou ao medo. Se um desastre típico acontecesse aqui
ou em outro lugar, o resto do mundo poderia oferecer ajuda. Mas e quando o desastre for mais
generalizado? E se abrangesse todo o planeta?
Será a última vez que tenho chance de levar comida para uma festa?
Ao atravessar a sede da Nerv, ele encontrou Maya, que estava carregando uma garrafa de
ó leo vegetal. O ó leo parecia ser para o okonomiyaki, mas Shinji olhou para a garrafa em dú vida.
“Eu nã o fiz isso no laborató rio, se é isso que você está pensando”, disse Maya. “Eu nã o sou
uma cientista louca.”
“Mas eu cheiro flores...”
“Eu estava trabalhando debaixo d'á gua, entã o tomei um banho depois.”
Shinji mudou de assunto antes que a conversa fosse inadequada. “Trabalhar nos tanques
de á gua no velho Dogma, você quer dizer?”

“Nã o, nã o os tanques de teste”, disse Maya. “Eles estã o cheios de á gua purificada. Se
alguma coisa entrasse, a á gua nã o seria mais pura, seria? Eu estava do lado de fora da cú pula, no
Geofront - todo mundo está chamando de lago subterrâ neo agora. Á gua de drenagem. Espero que
tenha saído o cheiro. Será ? ” Ela cheirou a manga do jaleco.
“Nã o é como se fosse á gua de esgoto. Nã o pode ser tã o nojento ”, disse Shinji. “Você estava
procurando a esfera cronostá tica? A cú pula de contençã o ainda está intacta, certo? Entã o a esfera
deve ter passado pelos tú neis extradimensionais, ou algo parecido com eles...”
Quando uma grande parte da crosta terrestre desapareceu sob a base da Península de Izu
e a terra subitamente afundou, os sensores de terremoto da cú pula dispararam, ativando um
bloqueio automá tico de qualquer passagem, dentro ou fora.
Como o sarcó fago nã o sofreu nenhum dano grave, os esforços iniciais de reconstruçã o
foram concentrados em outros lugares. Só mais tarde uma equipe foi enviada para abrir caminho
de volta para dentro. Foi quando encontraram um espaço oco exatamente do mesmo tamanho e
formato da esfera.
Os esforços de hoje descobriram a hora do desaparecimento, mas nada mais.
A esfera havia desaparecido sem libertar todas as pessoas que Lilith havia preso dentro
dela há três anos, incluindo Gendo Ikari e Ritsuko Akagi. A política era agir como se os presos lá
dentro tivessem morrido, apenas para que os sobreviventes pudessem continuar com suas vidas.

249
Mas agora a esfera se foi. Como isso se sentiria com as pessoas cujos colegas, amigos e familiares
se foram?
“Você idolatrava Ritsuko, como cientista”, disse Shinji, ciente de que estava desprezando
quaisquer outros sentimentos que ela pudesse ter.
Maya soltou a manga e apontou para Shinji. “Idolatrava? Essa é uma palavra forte. Tenha
cuidado.”
“Ah, desculpe”, disse Shinji com um encolher de ombros se desculpando.
Mas entã o Maya disse algo que ele nã o esperava. “Nã o, o verdadeiro choque é o quã o
pouco me sinto agora que a esfera desapareceu e ela ainda se foi.” Claramente inquieta, ela passou
a mã o ansiosamente pelos cabelos. “Suponho que isso signifique que fiz as pazes com a minha
perda nos três anos desde que Lilith congelou o tempo. Mas e você, Shinji-kun? ”
Shinji deveria saber que isso estava por vir.
"Bem?" Maya disse. "O diretor Ikari, seu pai, também se foi."
Shinji nã o sabia o que dizer sobre isso, mesmo depois de todo esse tempo.

Seu pai o abandonou e o enganou... mas ele também precisava dele.


Se a esfera tivesse lançado seu feitiço, e Shinji pudesse ver seu pai novamente, ele esperava
que eles pudessem se dar bem.
Ele imaginou encontrar seu pai um dia. Ele até jogou o cená rio em sua mente. Shinji nã o
era avesso ao contato social como era antes. Ele era estranho, mas o pai também. Talvez desta vez,
eles poderiam ter sido algum tipo de família.
Mas quando ele pensou em quem ele costumava ser - alguém que só encontrava propó sito
em outras pessoas que precisavam dele - ele sentiu calafrios. Se ele encontrasse seu pai
novamente, ele voltaria a essa pessoa? Parte dele queria descobrir, mas outra parte queria adiar a
reuniã o para sempre.
Quando a esfera cronostá tica desapareceu, ele foi libertado de uma maldiçã o, em certo
sentido. Naquele momento, Shinji percebeu que estava se sentindo aliviado.
"Bem ..." ele disse. "Eu sinto o mesmo que você."
Ela torceu o nariz. "Isso é batota."

Toji tentou virar uma empada de okonomiyaki no prato quente, agora que um lado havia
terminado de cozinhar, mas ele nã o conseguia acompanhar os movimentos entre o braço direito e

250
o esquerdo recém-conectado. Foi um milagre que ele pudesse mover o braço. Ele soltou um grito
de pâ nico quando a empada caiu no prato quente e se dividiu no meio.
Ele balançou a cabeça tristemente. “Nã o há nada mais triste do que isso para alguém de
Kansai. Ayahachi, faça o resto, sim?”
Ele pegou as espá tulas gêmeas e pressionou os dedos contra a ponta do nariz de Trois.
Shinji estava cortando ingredientes adicionais. “Toji Suzuhara, a maior tragédia de Kansai."
Trois se aproximou de Shinji e começou a virar o okonomiyaki.
“Se a Six estivesse aqui”, acrescentou Shinji, “ela definitivamente desejaria fazer isso.”
“Da pró xima vez”, disse Trois sem desviar o olhar da placa quente.
O grupo entendeu seu otimismo. O elo do espelho mental entre as Ayanamis ainda era
disfuncional, mas Trois dissera, de uma maneira estranhamente indireta: “Ela ainda está viva. Eu
acho que ela está dormindo. Quando ela acordar, tenho certeza de que ela ligará para casa ou
procurará um caminho de volta.”
“Que tal levar esses okonomiyaki para todos que esperam a chamada dela?” Shinji
perguntou.

A festa da okonomiyaki começou como uma pequena reuniã o, mas quando as pessoas
convidaram outras pessoas para participar, ela se transformou em algo grande.
As cafeterias eram usadas no turno da noite, portanto nã o eram uma opçã o. A festa havia
começado clandestinamente na sala de reuniõ es, mas quando os foliõ es acionaram um alarme de
incêndio - e receberam uma chamada dos vigias - eles se mudaram para uma lanchonete, afinal.
Exceto entã o, a festa deles estava acima da capacidade da sala. O pró ximo passo foi levá -la para o
exterior.
Sob a aurora e a longa e fina linha do Anel Longinus, os foliõ es colocam coberturas de asa,
lonas, cadeiras e mesas desdobradas e lanternas penduradas em LED.
"Ei, Toji", disse Shinji. “Alguém trouxe um monte de á lcool. Tudo bem... Vice-comandante
interino?”
“Você é estú pido? Apenas finja que você nunca viu. Os adultos podem assumir a
responsabilidade por si mesmos.”
Misato abriu caminho entre as pessoas sobre as lonas. Ela tirou os sapatos e os segurava.
“Basta estar atento a todos que ainda estã o trabalhando lá dentro”, disse ela. “E sem á lcool para as
pessoas que estã o no pró ximo turno.” Entã o ela acrescentou: “Se importa se eu me juntar?”

251
"Er ... claro", disse Shinji. “Trois, você dividiria a patty ao meio e a colocaria em um prato
para ela?”
O plano original da festa havia sido abandonado há muito tempo. As pessoas estavam
grelhando e cozinhando todos os tipos de alimentos diferentes, e através da fumaça de dar á gua
na boca, alguém montou uma lona como tela de cinema e projetava fotos e videoclipes retirados
dos registros visuais do Super Eva, inclusive da batalha em Novaya Zemlya .
Segurando suas bebidas, as pessoas assistiram a tela. A multidã o se agitou com cada novo
clipe, mas suas reaçõ es à s imagens do Nú cleo da Maça - o local do primeiro teste do Projeto de
Instrumentalidade - foram muito mais moderadas do que Shinji esperava.
Toji se inclinou. “Lamento dizer isso, mas essas imagens estã o tã o além do comum que sã o
comuns como grá ficos de computador de baixo orçamento”.
Shinji balançou a cabeça. “Acho que nã o ficaria surpreso se é isso que a maioria das
pessoas aqui pensa. Mesmo vendo isso pessoalmente, nã o parecia real.”
Mas um grupo de foliõ es assistia com grande interesse - a equipe de ciências.
Entre eles, Maya sentou-se em uma almofada no chã o. Ela ainda estava trabalhando - seu
tablet em uma mã o, uma bebida na outra. Ela se levantou e, como uma reflexã o tardia, pegou sua
almofada - aparentemente nã o querendo que ninguém mais a usasse - abraçando-a ao seu lado
enquanto ela caminhava através da multidã o sentada em direçã o a Misato.
“Acho que Armaros chegou ao antigo Geofront antes do grande afundamento. Ou pelo
menos, algo tã o grande quanto ele.”
"O que?!" Misato quase cuspiu sua bebida - chá oolong. Ela estava resistindo à variedade
de bebidas alcoó licas.
A multidã o ficou em silêncio, o sangue drenado dos rostos de todos.
O maior de todos os gigantes - o culpado pela catá strofe global - estava bem debaixo de
seus pés sem que ninguém percebesse?!
Isso é uma piada? Misato pensou. “Mas nã o há nada nos registros dos sensores da cú pula.”
“Ele nã o entrou no sarcó fago. E você sabe quã o pouco monitoramos o Geofront desde que
o lago o inundou. Mas foi aí que encontramos as evidências. Fora da cú pula, onde está toda a
á gua.”
Ao lado de Misato, Fuyutsuki baixou a caneca de titâ nio dos lá bios. “Certo. Ainda estamos
assistindo tudo dentro da cú pula, mas a inundaçã o varreu nossa rede de sensores do lado de fora.
Entã o, como você encontrou alguma coisa lá fora? Mesmo se nã o fosse câ meras do lado de fora da
cú pula, tudo que eles veem é a superfície da á gua. O que faz você pensar que tivemos uma visita?”

252
“Enviei um robô subaquá tico para inspecionar as fundaçõ es quanto a danos. No quinto
nível subterrâ neo - agora no fundo do lago subterrâ neo - encontramos isso. ”
Ela jogou seu tablet em Misato.
A comandante sentou-se ereta e pegou-o, com cuidado para manter o dispositivo
perfeitamente nivelado. A bebida de Maya estava equilibrada em cima.
Depois que Misato pegou o tablet, Maya pegou seu copo. Havia alguma condensaçã o na
tela, mas era difícil decifrar a imagem para começar. Parecia imagens subaquá ticas.
A câ mera mostrou sedimentos que haviam sido transportados para a caverna subterrâ nea.
Ao longo da superfície do sedimento havia um longo recuo.
“O que estou vendo?” Perguntou Misato. A imagem nã o parecia muita coisa.
Ainda segurando o copo, Maya a usou para passar as outras imagens.
“O terremoto danificou os trilhos, mas encontramos vá rios. E se você conectá -los juntos... ”
Os trilhos formavam duas fileiras paralelas escalonadas.
“Pegadas!” Disse Misato. “Eles sã o de Armaros?”
“Uma linha ininterrupta corre ao longo de um lado da pista. Eu acho que a ú nica placa
traseira dele gravou no sedimento. A aná lise do andamento do visitante também mostra uma
correspondência provável com a altura dele. ”

Misato nã o podia acreditar que algo duas vezes maior que um Eva nã o tivesse sido
detectado tã o perto de casa.
“E as vibraçõ es?” ela perguntou. “Elas teriam aparecido em nossos sismó grafos.”
Mas entã o ela lembrou que o Eva-0.0 mutante que a sequestrara também havia se
infiltrado no subsolo sem deixar nenhuma evidência.
“As impressõ es sã o extraordinariamente longas”, disse Maya, “como se ele estivesse
deslizando. Nã o sei como, mas ele nã o estava colocando seu peso embaixo dele. E entã o ele foi
direto para a cú pula.”
“Direto para a cú pula...”
“Foi isso. Nã o há faixas que vã o embora.”
Misato olhou para Shinji. Todo mundo seguiu o exemplo.
Trois estava pegando a carne de seu okonomiyaki e largando-a no prato de Shinji. Ele
acumulou uma pequena pilha e estava mordiscando, mas quando todos os olhos caíram nele, ele
ficou nervoso e engoliu o resto de uma vez.

253
"Ele... ele caiu no chã o", disse Shinji, nervoso. "Como com o... o deslocamento."
Misato traçou as pegadas com o dedo. As duas ú ltimas impressõ es viraram para fora na
forma de um "V." aberto
“Pouco antes de ele desaparecer”, disse ela, “ele plantou os pés e olhou para a parede da
cú pula.”
Os participantes da festa pró ximos agacharam-se para ver melhor a tela, e os mais atrá s
ficaram na ponta dos pés ou em cadeiras dobráveis. A multidã o imaginou o gigante preto em pé
na frente da parede da cú pula com a á gua no peito e ficou barulhento novamente.
“Ele nã o precisava ver o que havia dentro”, disse Fuyutsuki. “O primeiro Transportador de
Anjos nã o rompeu a parede para dar uma olhada na esfera?”
“Entã o, por que o chefe deles veio nos visitar desta vez?” Perguntou Misato.
Trois murmurou alguma coisa.
“Nã o fale com a boca cheia”, disse Shinji.
Ela engoliu em seco. “Provavelmente vir buscá -la.”
Isto? Ela quer dizer Lilith, de dentro da esfera cronostática?
“Por que você pensa isso?” Perguntou Misato.
“Porque a esfera desapareceu.” Trois pareceu surpresoa com a pergunta. “Espere, eu sou
estranha por pensar isso?”
Se a esfera já havia desaparecido, por que Armaros se importaria com o espaço vazio?
“Entendi”, disse Toji. Depois disso, o solo saiu de baixo de nó s e tudo a vinte quilô metros
daqui afundou quatrocentos metros direto. O tenente-coronel Kasuga me disse uma vez que a
crosta desta á rea provavelmente estava estável porque tínhamos Lilith aqui. Entã o, depois que
Lilith foi embora, o desastre veio. Isso se encaixa com o que sabemos.”
“Espere,” Hyuga interrompeu. “Tudo o que nos diz é a ordem dos eventos. Nã o vamos tirar
outras conclusõ es.”
Misato pensou por um momento, batendo o dedo na tela do tablet.
“Ele tem razã o. Nã o temos evidências suficientes para dizer o que aconteceu. E mesmo se o
fizéssemos, a verdadeira questã o é: para onde foi a esfera de Lilith?”
Trois olhou para Shinji com frustraçã o - um sentimento que ela raramente mostrava.
“Talvez eu sou estranha...”, ela disse, implorando-lhe para falar.

254
Shinji sentiu que ele chegara à mesma conclusã o que ela. Provavelmente todo mundo
tinha. Eles simplesmente nã o queriam dizer isso porque parecia loucura. Shinji olhou Trois nos
olhos, criando coragem para falar.
“Devemos apenas sair e dizer isso?” ele perguntou.
As sobrancelhas de Misato se ergueram. “Shinji-kun?”
“Estamos todos agindo como se nã o soubéssemos apenas porque nã o temos uma
explicaçã o física para isso. A resposta é simples, mas estamos fingindo que é complexo.”
O que estou dizendo? Shinji se perguntou. Mas era tarde demais para parar agora.
“Se considerarmos tudo isso como uma espécie de histó ria de criaçã o confusa, sabemos o
que vem a seguir. Todo mundo sabe. Certo? Vocês estã o imaginando tudo. O palco para a pró xima
Terra...”
"Sengu", Fuyutsuki disse suavemente. A mudança de uma divindade para seu novo lar
através de um santuá rio temporá rio. “Um espírito grávida trovejou nos céus, e um arauto sem voz
moveu seu santuá rio. O destino final dela...”
"A lua", disse Misato. “A superfície da lua.”
Fazer uma cena nã o estava em seu personagem, mas Shinji havia chegado tã o longe. Ele
também pode seguir adiante. Ele se virou, apontando para o leste.
“Pronto”, ele disse.
A lua brilhante e dominadora começara a subir sobre Gora.
Toji apertou os olhos. “Entã o... comandante. Queremos impedir que nosso palco - a Terra -
seja limpo, nã o importa o que for necessá rio. Mas se Lilith já estiver lá em cima, teremos que
trazê-lo de volta. E se Lilith ainda estiver a caminho, teremos que bloqueá -lo. Certo?"
Misato bebeu o resto do chá e jogou sua xícara vazia em Toji. “E cadê as coisas mais
fortes?”
“Coisa certa. O que você quer?”
A festa ao luar assumiu uma briga quase desesperada, principalmente dos adultos,
ignorando as objeçõ es dos agentes de segurança que vieram correndo.
Alguns dos observadores disfarçados do JSSDF devem estar perto do QG, porque a notícia
da festa chegou à equipe do Akashima no aeroporto do outro lado da ilha. Armado com comida e
bebida, um bando de soldados camuflados e corpulentos logo se juntou, e a folia continuou sem
fim à vista.

255
256
Postscript

CERTO, e isso foi a Parte III de Neon Genesis Evangelion: ANIMA , serializado na Dengeki
Hobby Magazine de novembro de 2010 a agosto de 2011. Ele foi o tipo de terceira parte que faz
você dizer: “Ei, onde é que isto vai?”
O grande terremoto ocorreu durante esse período de serializaçã o de ANIMA, e criadores
de todos os tipos tiveram que levar em consideraçã o muitos sentimentos diferentes. Dependendo
do assunto, os scripts tiveram que ser reescritos. As execuçõ es teatrais foram adiadas. Com o
ANIMA, recebi o pedido para suavizar os elementos do desastre. Eu tinha construído uma
associaçã o em minha mente entre mitos e desastres naturais, e com o ANIMA eu estava
destruindo tã o incansavelmente a Terra que o pró prio título passou a significar cataclismo. Tomei
algumas medidas para desviar temporariamente o curso - ou seja, definir a histó ria em algum
lugar que nã o fosse a Terra e tornar a batalha uma personificaçã o do conflito interno do
personagem. Olhando para trá s agora, nã o sei se isso adicionou profundidade à histó ria ou se
apenas serviu como um desvio, mas ficarei emocionado se você vier comigo nos dois ú ltimos
volumes.

- Ikuto Yamashita,
Evangelion Mecha Designer

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