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suplemento do noVas da galiza

número 36 agosto 2011

GEOGRAFIA
Percorremos com Alonso Vidal as Salinas do Ulhó, lugar integrado na Rede Natura mas
vítima das desfeitas urbanísticas e da poluiçom, “mais um exemplo do empenho das
administraçons públicas polo cuidado do litoral”.

CRIAÇOM
Este mês colabora connosco Olalla Cociña, jornalista, poeta e blogger. Começou a
ganhar prémios de poesia bem nova, ainda que considere que escrever é antes um
passatempo e nom um trabalho. O seu primeiro livro de poemas é As Cervicais da
Memoria, que conseguiu um galardom da Associaçom Cultural 'O Facho'. Seguírom-
se muitos mais, impressos e digitais. Este mês, em Criaçom, falamos de poesia.

PERVERSONS CATÓDICAS
Acostumados como estamos à repetiçom de fórmulas e à contínua multiplicaçom do
idêntico que circula polas nossas TDTs, Iván García Ambruñeiras recomenda chegar-
se à exposiçom do CGAC Estades preparados para a televisom?, a qual é possível visi-
tar até 18 de setembro. A amostra ensina-nos através de um abafante espaço expo-
sitivo, cheio por todas as partes de ecráns que nom deixam de emitir, e de horas e
horas de seleçom de programas, que outra televisom é possível.

TEMPOS MODERNOS

As plantas que falam:


noroeste ibérico, o Iris boissieri, ou
Lírio do Monte ou do Jurês, está
catalogada como em perigo de
extinçom, conservando-se apentas

algumhas flores da Galiza na Serra do Jurês/Gerês, na Serra


de Santa Eufémia, no Courel e no
Monte Pindo. Também “meio rein-
tegracionista” é o codesso ou pior-
Carlos C. Varela no branco, o Cytisus albus ou C.
Lusitanicus, arbusto leguminoso. O

A
sociedade tradicional des- “reconstruçom nacional”, palavras usada na antigüidade para elaborar uso tradicional é para a queima nos
conhecia a divisom moder- que hoje soariam demasiado duras perfumes afrodisíacos e era masti- fornos de pam ou para adubos,
na entre sujeito e objeto, aos ouvidos subvencionados do gada polas cortesás, polo que as ves- pola sua riqueza em nitrogénio
pois habitava um mundo em que patriotismo rendível. tais romanas tinham completamen- própria das leguminosas. Ainda, na
todo estava interrelacionado, e no Umha rica tradiçom anima as te proibido o contacto com esta flor. atualidade já se emprega como
qual nada era alheio ao ser huma- plantas na cosmovisom labrega Nos Pirinéus, os mugalaris empre- ornamento pola sua floraçom.
no. Nom estranha entom que as como sujeitos morais, fornecendo gavam-na de amuleto para atraves- Um bom exemplo da densidade
plantas, recurso fundamental em ensinanças quanto ao bom e ao sar a raia. A variedade de nomes cultural que pode acumular umha
apoio do camponês, nom fossem só mau: os narcisos da beira do rio lem- com que se conhece esta bela flor no planta, hoje reduzidas a objetos para
“boas para comer”, senom também bram o sofrimento que a vaidade país dá conta da sua popularidade: uso humano –quando os tem–, é o da
–na expressom de Claude Lévi- provocou ao filho de Cefiso e bonetes, passarinhos, escorna- celidónia (Chelidonium maius), tam-
Strauss– “boas para pensar”, con- Liríope, convidando-nos, sem falta cabras, etc… Por vezes foi emprega- bém conhecida como erva da ando-
densando todo um sistema de valo- de mais racionalizaçom, a olhar da como remédio, polas suas pro- rinha, ceruda, erva leiteira, etc… O
res nos seus nomes, lendas, usos, menos para nós próprios e atender- priedades diuréticas e sudoríficas. seu nome deve-se a que aparece nos
etc. Bem indicador disto é o nome mos aos demais. O estramónio O génio camponês achava beleza tempos em que chegam estes pássa-
do livro “fundador” da etnobotáni- (Datura stramonium) tampouco fica no mundo que o rodeava. Olhava ros que limpárom a sangue de Jesus
ca: Plantas dos Deuses, escrito em na neutralidade moral, como se para umha parede de esquistos e via na cruz. Em grego Chelidonia signi-
colaboraçom de Richard Evans pode apreciar nos seus múltiplos umbigos de Vénus: os couselos fica também andorinha. Na Galiza
Schultes e Albert Hofmann. nomes populares: a figueira-do- (Umbilicus pendulinus), transforma- existe a crença de que o seu jugo
Na atualidade, o desmantelamen- demo, figueira-do-inferno, erva do dos em filhós pola imaginaçom amarelo era empregada polas ando-
to do mundo tradicional acarreta a demo… Esta solanácea é umha das infantil ao jogarem “às comidas”. rinhas para curar os olhos dos seus
Cytisus albus
perda de toda esta sabedoria etnobo- plantas que mais intoxicaçons causa Nom iam desencaminhados, já que pitinhos cegos; do mesmo jeito que
tánica, embora existam louváveis no mundo, por causa da sua elevada bestas (erva do asno) como recorda- é comestível, e tem muitos usos as maes humanas o empregam para
tentativas militantes de cuidar esta concentraçom de alcaloides, e… que va o Padre Sarmento na sua Viagem medicinais. Eládio Rodrigues curarem as verrugas das suas crian-
riqueza, merecedoras de recordo. melhor represantaçom do mal na à Galiza de 1745; matar os gorgu- Gonçales aponta no seu Dicionário ças. A explicaçom popular do líqui-
Em 1979 Xosé Ramón García publi- sociedade tradicional que o demo, lhos (erva do gorgulho), ou entrar que som bem boas para as queima- do amarelo rico em quelidonina, o
cava umha pioneira Pequena flora figura à qual fam referência os seus nos territórios das alucinaçons duras misturando o seu sumo com alcaloide que queima as verrugas, é
de Galicia, apostando na unidade da nomes? Mas já se sabe que Deus é (figueira tola). azeite, entre outros muitos usos. que se trata do sangue real da prin-
língua e o português como guia para bom mas o demo tampouco é mau, Umha flor comum na Galiza é a A Associaçom Monte Pindo cesa Celidónia, enfeitiçada desde há
a recuperaçom de nomes tradicio- e o reverso da medalha da maligna Aquilegia vulgaris, conhecida erva Parque Natural acaba de pedir séculos, e condenada eternamente
nais da nossa flora, e acometendo o planta é o seu enorme poder, por dos pitos. Empregada no escudo de ajuda para a defesa de umha plan- a curar verrugas de narizes das mes-
seu trabalho como umha tarefa de exemplo para curar as feridas das armas da casa francesa de Guisa, foi ta mui peculiar, endémica do mas bruxas que a encantárom.
GEOGRAFIA

UMHA ESCAPADA ATé AS SAlINAS DO UlHÓ


Há poucas semanas, a imprensa divulgava um estudo feito polo CSIC que punha de manifesto o alto grau de poluiçom
por metais do extremo interior da Ria de Vigo. A empresa de porcelana Pontesa foi despejando durante décadas
diretamente para o mar resíduos da sua produçom. Hoje os níveis de chumbo, cádmio e zinco nas águas som 10 ou 15
vezes superiores aos normais. Este é mais um exemplo do empenho das administraçons públicas polo cuidado do litoral.
Podemos agregar a desfeita urbanística da costa ou o ineficaz tratamento de resíduos e depuraçom de águas que em
lugares como Arcade se mostra com toda a sua crueza. E estamos a falar, por se os e as amigas leitoras nom soubessem,
de um lugar que fai parte da Rede Natura.

alonso Vidal

C
omo um cruel jogo de con- espetacular miradoiro informará-
trastes no uso do litoral, nos das caraterísticas da fauna e
muito perto desse lugar, flora do lugar e convidará-nos, por
também no extremo mais interior um caminho calcetado recente-
da Ria, podemos contemplar mente, a visitar as salinas. O cami-
ainda um dos recantos mais valio- nho rodeia todo o espaço da antiga
sos e atrativos do ponto de vista exploraçom. Merece a pena rodeá-
ecológico, etnográfico e paisagísti- la para contemplar de perto, se o
co. Em 2007 o Ministério do Meio mar estiver devalado, o lugar onde
Ambiente espanhol, licitou as desde a época do rei espanhol
obras de recuperaçom do espaço Felipe IV se recolhia o sal. Falamos
natural das antigas salinas e do ano 1637, quando começa a
marismas do Ulhó. Trata-se de exploraçom, segundo recolhe
mais de 3 km de costa na paróquia Emilio González López. A conces-
de Paredes, em Vila Boa. O inves- som seria dada mais tarde ao
timento foi de 1.4 milhons de Colégio dos Jesuítas de Ponte
euros, mas hoje podemos chegar- Vedra em 1694.
nos facilmente a este local, recu-
perado com certo bom gosto, para Riqueza patrimonial
desfrutar de um belo passeio por Se dermos a volta ao sendeiro
onde outrora e durante anos fora, podemos entrar polo oeste do
junto com a da Rabadeira, no muro perimetral, um enorme dique Dique das salinas visto do interior das mesmas. À esquerda, sobre o dique,
Lagares, umha das poucas explo- de mampostaria com aberturas e as ilhas Alvedosas e mais à direita, ao fundo, a Ilha de Sam Simom

raçons salinas da costa galega. comportas para regular a entrada


de água. Podemos caminhar sobre
Como chegar? ele, atravessando a parte exterior
Chegar ao lugar, conhecido desde o do recinto, observando as chegada
século XVI com o nome de vale de da água ao estanque. Fechadas as
Ulhó, é bem fácil se circulamos comportas, a água evaporava-se e
pola estrada de Ponte Vedra a Vigo; ficava o sal. Na parte final do nosso
antes de chegarmos a Arcade, na percurso por cima do muro, ainda
freguesia de Paredes, podemos
virar à direita para ir até o clube
nautico. Apenas um quilómetro
para alcançar a costa. Desde o
clube náutico, perto da gasolinei-
ra, podemos empreender o passeio
Hoje podemos
pola costa divisando à esquerda a chegar-nos com
desembocadura do Verdugo, o
porto e praia de Arcade e as naves facilidade a este
vazias da anteriormente referida local, recuperado
fábrica de Pontesa. Em frente a nós
apresentam-se-nos as ilhas com certo bom gosto,
Alvedosas, ao fundo a famosa ilha
de San Simom e ainda acolá, quase
para desfrutar de um
perdida no horizonte, a ponte de belo passeio por onde Dique restaurado. Na zona da esquerda do dique havia um moinho de marés
Rande. Se a maré estiver baixa
podemos ir quase caminhando até
outrora e durante observamos os restos de um antigo lugar mui próximo deste, foi poluí- de verao, podemos contemplar em
as ilhas gémeas das Alvedosas - anos fora, junto com moinho de marés datado do século do com chumbo industrial. E nom paz, acompanhados polo som
umha pertence a Souto Maior e XIX, um dos poucos da Galiza, e as se vive disso: a fábrica poluente constante das correntes a atraves-
outra a Vila Boa. Mas se prosse- a da Rabadeira, casas chamadas 'granjas das sali- está fechada há 15 anos. sar as portas da marisma, um belo
guirmos o ziguezague do carreiro no Lagares, umha nas' usadas polos empregados no Umha pessoa nom pode deixar pôr-do-sol que impregnará de
de firme irregular, a pé ou de bici- trabalho. Nos séculos passados de pensar nestes paradoxos grandes histórias de pedra antiga,
cleta, entre a ria, à esquerda, e um das poucas aproveitava-se limpamente o sal enquanto “caminha entre águas” de luzes cálidas e reflexos de água
monte de carvalhos, pinheiros e
salgueiros, à direita, chegaremos à
exploraçons salinas das águas e as forças das correntes
do fundo da ria como riqueza.
polo dique da salina. Aqui, sentado
num dos bancos de pedra, às últi-
salgada qualquer retina ou, no seu
defeito, sensor de cámara fotográ-
parte reabilitada . Um painel num da costa galega Vivia-se disso. No século XX, um mas horas de umha tarde qualquer fica. Para nom perder.
A FOTO
alícia pinheiro

Ao pé da igreja de São Fidel, em Carril, Adão e Eva baixam a


cabeça e tapam com vergonha os sexos, como querendo des-
culpar-se por não serem anjos. A feitura de um cruzeiro no
qual já reparou Castelao, que o debuxou no seu livro As cru-
zes de pedra na Galiza, ergue-se como uma bela labaçada à
liberdade e aos direitos das mulheres, simbolizadas nessa
antecessora tocada por perdida língua de uma serpe à qual
talvez houvesse que agradecer o despertar da consciência
feminista. Porque, se algo não queremos ser, é santas.

CRIAÇOM

No polo oposto das construçons faraónicas vazias de con- activo cultural do nosso país som os galegos e galegas, e gozarmos das nossas letras, num projecto em que todos e
tido e das homenagens florais descontextualizadas, está a com essa ideia inauguramos este espaço de criaçom. Com todas estades convidados a participar.
criaçom. No NOVAS DA GALIzA pensamos que o verdadeiro cada novo número achegamos um texto literário para Escreve para literaria@novasgz.com.

O
lalla Cociña tem recebido prémios de poesia desde bem nova. O seu primeiro livro de poemas é As Cervicais da Memoria (Edicións Fervenza, 2005), que conse-
guiu um galardom da Associaçom Cultural 'O Facho'. Seguírom-se muitos outros, impressos e digitais, sendo o último o Libro de Alicia (Espiral Maior, 2008). Este
mês chega-se às páginas do NOVAS DA GALIzA para nos falar de poesia.

algumha vez volverei


a falar-che da poesia por olalla Cociña

entrelaço que vai da galbana ao medo [sem mais de umha carta antiga mui improvável
do presságio ao arrepio a abóbada do palco da música jogando às escuridades
desordem balsámica de entre todos os restos
que nos sedava assim: as persianas baixas daquela pedes-me que dê um passo adiante: vem do instrumental deste grimório
e o velho cobertor pousado nos geonlhos convida-nos a passar o timbre secreto da catedral escolho a agulha do compás
queima o granito fervendo as tripas dos nenos amantes para alouminhar-che a modinho a pele mais pequena
toda a tarde por diante para des armar-nos que fam sua a natureza fachendosa da cidade nom quero mancar-te mentres falas e falas
e ao uníssono perguntam que hora é? da tua cidade que nunca conhecerei
as cousas hoje assemelham-se a si mesmas: quando chegamos? e che conto dos meus que nom che importam
nom perguntes onde vam simplesmente estám indo a apariçom do poema como ponher o abrigo
e já que nom as deixache ir daquela atuar e amossar-se é todo um
fai-nas fluir agora e que te cure versos aparecidos no chao sujo -a única vez que me acuitelárom foi tam de perto
a sua corrente dorsal desvela-nos a ánsia por decifrá-los que o sangue em vez de verter por fora
de vez em quando regressamos: e passam horas até o raivoso amencer que nos fai celigras anegou-me o coraçom
agora sim, queremos que entre de vez a claridade
poesia foi o grao da saraiva que chegou até acô assistir à manhá -namorar do assassino está à ordem do dia
mancando num sapato porque ainda tarda em chegar a intuiçom da rotura já se che passará
um poema foi descalçar-se e subir rua arriba
feridos de morte polo quarto crescente o espelho dum provador devolveu-me aquele recendo e saim dessa casa quando chovia a cachom
[silvestre sem paráguas sem rumo
dentro do teu peto colhes-me da mao a epiderme compartida jurando em vao nom volver. drama.
e desafiando este equilíbrio caracol perturbando a quietude dos lapiseiros
tangem as campás: só nós podemos escuitá-las as páginas do bloc de debuxo (sedar-nos assim: fechar as contras dizer a fame nom
sentados agora num banco da alameda mudos o material de debuxo todo que extraviamos dizê-la
ilustramos a penumbra: desolaçom de contemplar e un fólio queimado pola beira como a imitaçom naïf algumha vez falarei-che da poesia)
líNGUA NACIONAl

Cinco dias
Valentim r. Fagim

S
e pegamos num dicioná- qualidade de observador.
rio eletrónico de portu- Desfrutei, e muito, dos percursos
guês e pesquisamos as históricos, mesas redondas, tea-
palavras que som de origem cas- tro, ateliês, comeres e beberes
telhana, o número resultante mas, deve ter algo de vírico, o
situa-se por volta do milhar. A meu gozo maior nasceu da obser-
maioria dos verbetes entrárom vaçom e da conversa com os alu-
no período dos Filipes, esses 60 nos e as alunas.
anos em que o rei de Portugal e o A motivaçom de alguns deles
de Castela foi o mesmo, sendo era aprender a falar como o fai
precisos, 1580-1640. Foi um um português, tal qual. Outras,
espaço histórico em que o conta- polo contrário, perseguiam
to entre a sociedade portuguesa contrastar o seu galego com o nem sempre coincidia com a prá- acabavam imitando o falar dos termos comunicativos. Na imensa
e a castelhano foi intenso e tivo de Portugal e descobrir a tica. Havia pessoas que queriam amigos e amigas do Porto. maioria dos casos eram castelha-
um eco lingüístico. melhor forma de comunicar falar à portuguesa mas acabavam Ora, o mais interessante na nismos que passavam a substituir
Recentemente, começou o sem interferências mas sem por falar à galega (para alguns causa que nos ocupa é que todos por vozes genuínas com umha
aPorto 2011. Assistim a todas as alterar lá muito o seu sotaque. deles umha açom infreqüente), e eles fizeram descobertas relativa- facilidade imensa... e nom fôrom
atividades sócio-culturais em Seja qual fosse a intençom, esta havia os do segundo grupo, que mente ao que nom funcionava em 60 anos, apenas cinco dias.

CINEMA

Perversons catódicas segundo o próprio caminho do


pensamento que se expom.
Nalgum sentido, essa ênfase
num certo momento utópico fai
tem algo de arquivo, sensaçom
que se acrescenta com a dificul-
dade de abranger o exposto e
ainda de aceder a muitos desses
como fluxo contínuo, que se inter- mente. Mas também a televisom com que a exposiçom pareça tingi- fundos, que em muitos casos apa-
iván garcía ambruñeiras rompe nas célebres TV como lugar que em determinado da de umha certa nostalgia. recem precariamente conserva-
Interruptions (1971) de David Hall momento pudo tomar a palavra de Nostalgia de umhas margens para dos, como imagens arqueológi-

A
costumados à repetiçom de ou nos pequenos anúncios de filósofos ou artistas, como o caso a experimentaçom que já quase cas que aguardam ser resgata-
fórmulas e à contínua mul- Chris Burden, que funcionam de Deleuze, Bourdieu ou Foucalt. nom existem, mas que também é das. Mas esse inventário de for-
tiplicaçom do idêntico que como pequenos elementos de dis- Umha palavra que surpreendente- provocada por umha certa sensa- mas possíveis ainda nos interro-
circula polas nossas TDTs, chegar- tanciamento, de revelaçom do dis- mente nom aparece domesticada çom de fim de época, já que a ga. É o caso sobretodo da parte
se à exposiçom que nestes momen- positivo, como também o som as aos tempos fragmentados do pro- maioria destas práticas assumem final da exposiçom, no qual toma
tos há no CGAC é umha experiên- imagens de espetadores de Bill grama que se quer dinámico mas a centralidade da televisom, o seu corpo a ideia da televisom como
cia do mais interessante. Estades Viola, que jogam a dar a virar do no qual nom se di nunca nada, lugar preferente dentro do espaço espaço público, como lugar onde
preparados para a televisom? (20 contrário o que vemos habitual- senom que flui ao seu ritmo, mediático. Assim, a exposiçom refletir e debater ideias. Ou onde
maio-18 setembro) ensina-nos atra- analisar discursos e formas,
vés de um abafante espaço exposi- como o caso dos programas
tivo, cheio por todas as partes de exemplares de Farocki ou Kluge,
ecráns que nom deixam de emitir, e exemplos fulcrais de ensaio fíl-
de horas e horas de seleçom de pro- mico, ou o pioneiro e magnífico
gramas, que outra televisom é (foi) estudo da representaçom que fai
possível. E esta fijo-se em muitos John Berger em Ways of seeing
casos por gente que vinha de fora (1972), que questiona os nossos
(artistas, ativistas, filósofos), que se hábitos percetivos e a nossa ima-
infiltrárom num meio que em boa gem da arte. Mas também a
parte do século passado foi consi- forma em que Adam Curtis recu-
derado o inimigo. Um inimigo que pera toda a bateria de recursos
utilizar para desviá-lo desde o inte- das emissons contrainformativas
rior, mofar-se dele, pervertê-lo, ana- para combater a propaganda
lisá-lo ou diretamente destruí-lo, contemporánea.
como nessa famosa performance Estades preparados para a
dos Ant Farm em que o grande televisom? toca estes temas e
evento a gravar é a destruiçom total muitos outros e configura um
do objeto tele. espaço de pensamento, um lugar
É por isso que a exposiçom para visitar com calma e repeti-
dedica umha boa parte do seu per- das vezes, ainda que só seja para
curso a esse momento utópico dos gozar de vozes perdidas no
70 e princípios dos 80 onde o meio tempo ou polo assombro e diver-
parecia permeável. Desviaçons som que provocam as açons mais
através da crítica direta, mas tam- atrevidas dos artistas quando
bém pondo em questom os seus conseguírom temporariamente
elementos constituintes: a tele tomar o mando da tevê.

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