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ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA

LATINO AMERICANA

RIO DE JANEIRO - SETEMBRO/OUTUBRO DE 2022

NÃO SOU INDIO SOU GUARANI


& A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO
PARATY - RJ - ARAPONGA
Reinaldo Potiguara e Cacique Augustinho da Silva

C O presente Trabalho: “Não sou índio, Sou Guarani”, foi idealizado após entrevista com o Pajé/Caci-
que (acende fogo) de nome ( branco ) Augustinho da Silva (99), que na oportunidade da participação
da Assembléia Ordinária do CEDIND/Conselho Estadual dos Direitos Indígenas RJ, em Paraty, (27/06/19)
nos concedeu gentilmente uma entrevista, onde teceu comentários falando da natureza viva e do universo
cosmológico/guarani; A relação com os parentes indígenas guaranis; A dificuldade da Livre Circulação do
Povo Guarani e animais como a “onça” no território de Juruá. O texto também faz uma reflexão de mun-
dos opostos: O de Nhanderú, que não delimita cerca e permite a livre circulação de homens e animais no
universo de Juruá. E do território de Juruá com suas cercas e arames farpados, para impedir a livre circu-
lação de homens e animais, nesta vastidão de terras e florestas. E os que ousam pular a cerca sem aviso
prévio, serem mortos sumariamente inclusive com apoio estatal. Recente, com a eleição do Presidente Jair
Bolsonaro: Os “Proprietários de Terra e Grileiros”, tem intensificado o desmatamento em terras indígenas
e contribuindo para o desequilíbrio ecológico. A fala do presidente, tem dado ressonância, uma espécie de
salvo conduto e livre arbítrio, para matar e exterminar todos os seres vivos: ai incluindo homens e animais
da floresta. Nesse trabalho trazemos também: A narrativa do Pajé/Cacique Miguel Karai Tataxi (119) A sua
luta pela paz e convivência pacifica com Juruá em uma “Terra Sem Lei”. Além de um resumo dos principais
problemas nas aldeias guaranis do Estado do Rio de Janeiro. A reflexão do Lançamento do Protocolo de
Consulta Prévia Tekoa Itaxi Mirim, no Centro Cultural de Paraty, com a presença dos guaranis e autoridades
públicas, onde foi elaborado o Protocolo de Consulta Prévia, a ser respeitado por Juruá e representantes da
administração pública. E por último: Um Resumo Conclusivo da militância no CEDIND (Conselho Estadual
dos Direitos Indígenas); A participação nas Assembléias Ordinárias e/ou Extraordinárias realizadas tanto
no contexto urbano na Cidade do Rio de Janeiro, bem como: nas Aldeias em reuniões descentralizadas.
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

APRESENTAÇÃO

A saga guarani na luta


pela sobrevivência,
ante ao extermínio e ge-
nocídio de tribos hostis,
intempéries, e busca
pela “Terra Sem Males”
no território brasileiro.
Fizeram os guaranis
migrarem, caminhar
pelas florestas ou em
viagens pelo mar, em
busca de terra boa para
viver em paz, diante das
ameaças de Juruá. Se-
gundo Historiadores:

“vidoAmales
crença na terra sem
teria sobrevi-
à conquista do co-
lonizador português e à
cristianização, que obje-
tivava a doutrinação e o
esquecimento dos seus
valores culturais”. A pe-
sar da colonização e a
perda de ente queridos
por doenças, assassina-
tos, guerras tribais. Os ENTREVISTA COM O PAJÉ /CACIQUE (ACENDE
guaranis ainda mantêm
intacta a sua língua, o
seu saber cosmológico, FOGO) AUGUSTINHO DA SILVA EM SUA ALDEIA EM
“entre grupos de guara-
nis remanescentes” até
os dias atuais. E isso só
ARAPONGA - PARATY/RJ - PATRIMÔNIO.
foi possível graças à luta
incessante e ao fato de
que as comunidades in-
dígenas são sociedades
O que percebemos
hoje em pleno
século XXI, é que o
diram de usar o seu
idioma “tupi-guarani”
por imposição do
de mídia. As comu-
nidades: Rocinha,
Jacarezinho, Maré e
tileza das suas pala-
vras, em reafirmar a
identidade guarani;
naturalmente contra o projeto de domesti- Marques de Pom- Alemão, concentram A dificuldade da coe-
estado, aí incluindo: a cação para transfor- bal, em 1757. Ontem o maior número de xistência pacifica no
igreja, o governo e esta- má-los em mão de como hoje o projeto indígenas autodecla- universo de Juruá da
do. Com relação a aspec- obra barata: ontem governamental de rados na cidade. Ou comuna guarani. Me
to acima descrito, Pierre para coroa portu- civilizar os corpos seja: cerca de três fez refletir, que ser
de Clastres vai dizer: guesa, e hoje para negros e indígenas mil indígenas resi- guarani: antecede
os proprietários de persiste nos nossos dentes na favela da a presença do colo-
terras, não mudou dias. Civilizar é obri- Maré se declararam nizador português.
nos dias atuais. Mas gar os índios a sub- indígenas. Sabemos E que seu modo de
"E isso só foi possível a pesar desse qua- meterem a Lei do Es- que Juruá estrategi- vida simples, sua
dro desanimador, as tado; Tomar os seus camente desqualifi- reza, idioma e cos-
graças à luta incessante comunidades afro- territórios; Submetê- cou os descendentes mosensação estão
indígenas resistem e los a trabalhos aná- afro-indígenas para à frente do nosso
e ao fato de que as estão vivas tanto nos logos a escravidão; que desconhecendo tempo e da sua épo-
quilombos, aldea- E, assimilá-lo para a sua identidade, raiz ca. A luta pela de-
comunidades indígenas mentos e centros ur- tomar suas terras histórica, não pos- marcação de terra
são sociedades banos. O projeto de despojando da suas sam lutar por seus continua presente
ontem era dizimar, aldeias. Restou aos direitos. O etnocídio nos dias atuais, sem,
naturalmente contra o assimilar, mantê-lo afro-ameríndios re- que floresceu ontem contudo, a nação
como mão de obra sistirem nas favelas nesses 521 anos da brasileira acenar po-
estado, aí incluindo: barata para a burgue- das grandes cidades, invasão portuguesa, sitivamente um pleito
sia emergente. Mas quilombos, e/ou em persiste em nossos legitima das comuni-
a igreja, o governo e apesar do quadro algumas aldeias de- dias. Ontem e hoje, dades andinas gua-
estado" desanimador, os po- marcadas ou não. A os indígenas, os rani. A pensar pela
vos da floresta conti- sobrevivência com- guaranis resistem às representação po-
nuam lutando todos prometida por es- investidas de Juruá, pular no parlamento
os dias em contrapo- cassez de alimentos, mantendo as suas brasileiro, os povos
sição ao discurso de despojamentos, faz tradições e crenças, negros e indígenas
[é...] “Não há rei na tribo,
mais um chefe que não
um chefe de Estado.
integração e domes-
ticação. E a resistên-
cia vem dos quilom-
os afro-indígenas mi-
grarem das aldeias
e quilombos, para a
em contraposição ao
deus cristão. Para
sobreviver no mundo
são sub-represen-
tados e alijados do
processo de decisão.
Que isso significa? Sim- bos, aldeamentos, periferia das grandes de Juruá, os guara- Para impedir a ma-
plesmente que o chefe contexto urbano, se cidades, dando lugar nis mantém o idioma nutenção da floresta
não dispõe de autorida- contrapondo a Ju- aos “quilombos” nos bilíngüe: guarani e em pé, face a ganân-
de alguma, alguma, de ruá. Com relação a centros urbanos e/ou português. Pois, todo cia por lucros, cria-
qualquer poder de coer- comuna guarani. A nas “Aldeias” como cidadão guarani, tem ram o “Marco Tem-
ção, de nenhum meio busca ainda hoje é é o caso da “Aldeia nome guarani. Ao en- poral”, onde alegam
de dar ordem. O chefe pela valorização do Maracanã” e “Aldeia trevistar o Pajé/Ca- que para ter direito
não é o comandante, seu modo de vida; O Vertical” no Conjun- cique (acende fogo) a agricultura familiar,
as pessoas da tribo não respeito ao outro, ao to Zequeti, Estácio, Augustinho da Silva terra, e floresta em
têm nenhum dever de ser e a natureza. Os Centro do Rio. Se- em sua Aldeia em pé, tinham que estar
obedecer. O espaço de guaranis resistem e gundo o último sen- Araponga. O mesmo no território antes da
chefia não é lugar de resistiram à centrali- so (2010) IBGE, em fez questão de di- CRFB/88; Uma abe-
poder, e a figura (muito zação da coroa por- levantamento feito e zer: “Não Sou Índio, rração.
mal designada) do che- tuguesa, que impe- divulgado na gran- Sou Guarani”. A su-
fe selvagem não prefi-
gura em nada a de um
futuro deposta. Não é "A luta pela demarcação de terra continua presente nos dias
certamente da chefia atuais; só que agora tem o Marco Temporal, inventado pelo
que se pode deduzir
o pode estatal em ge- (JURUÁ) homem branco".
ral”. (Clastres, pag.199,
1979)
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

“TEKOÁGUYRAITAPUPYGUA (pronunciado/GuãraitapúPã'guá) - ALDEIA ARAPONGA PARATY

A Assembléia Geral Ordinária do CEDIND, foi rea-


lizada na Aldeia Araponga, em 31 de maio/2019,
na Aldeia “TekoáGuyraitapuPygua (pronunciado/
GuãraitapúPã'guá/). A aldeia é conhecida pelos não-
indígenas como Aldeia Araponga. A aldeia está locali-
zada em comunidade indígena guarani no município de
Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, em unidade de
conservação ambiental no Distrito de Patrimônio. Vi-
vem no alto da serra em meio à Mata Atlântica, de onde
podem avistar o mar, atravessar e encontrar a “Terra
Sem Males”. “Na busca incessante desse paraíso, que
segundo a tradição pode ser alcançado em vida, eles
precisam cumprir e respeitar um conjunto de regras e
conduta divina que lhes são transmitidas pelos xamãs.
São elas que norteiam as relações que mantém com a
natureza, com todos os seres humanos e com os es-
píritos. É o modo de ser e viver guarani, o nandereko.
“Um bom lugar para viver, de acordo com o seu nande-
reko, é próximo ao mar, mas distante dele”.

ASSEMBLEIA ORDINÁRIA DO CEDIND ARAPONGA 31/05/19


A brindo oficialmente dan-
do boas-vindas a todos
os presentes, o Pajé/Caci-
vou oitocentos quilos de
cimento. Já tem um trator
disponibilizado pela prefei-
Indígenas possam inte-
ragir com escola? Kaipó
disse que uma das ques-
ho aprendido muito com os
mais velhos da aldeia, e é
isso que nos dar força para
que Augustinho (99), disse tura de Paraty, para melho- tões que impossibilita os continuar. Alguns brancos
que não estava na pleni- rar a estrada para facilitar o jovens indígenas na es- até procuram saber sobre
tude da sua saúde, pois deslocamento para chegar cola de Juruá, é a discri- nossa cultura e eu explico
a uma semana não vem a Aldeia. Outro ponto que minação sofrida pelos jo- a eles. Mas mesmo assim,
se sentindo muito bem, destaco é relativo ao des- vens, além da pratica de nos criticam e isso a gen-
porém, com a vinda dos locamento dos jovens para bullings; ameaças físicas te percebe no olhar. Acho
conselheiros, está bas- a cidade. Pois, sempre falo e a língua falada. “Isso tem que faltam os pais dos
tante otimista e contente para os jovens preservar feito os jovens se afastem alunos um conhecimento
com a presença de todos os nossos valores culturais da escola tradicional. Com maior sobre os povos indí-
os integrantes do CEDIND a onde quer que for, pois relação aos problemas genas”, sintetizou. Com a
e Guaranis de Paraty. “A quem tem Nhanderú no co- de Saúde, contou: “Com palavra, o professor Arge-
quase quarenta anos nes- ração, consegue transitar e o desmonte do “SESAI” a miro, disse que a situação
se território, nunca Juruá (o ir sem problema” concluiu. saúde indígena está com- da educação indígena ain-
branco) veio aqui conver- Em seguida, o Cacique/ prometida na qualidade do da está muito precária por
sar com a Aldeia. Nem os guarani Domingos Venite, atendimento. “A chegada falta de quórum e da par-
nossos parentes vem aqui deu boas vindas a todos: do presidente Bolsonaro, ticipação do governo nas
nos visitar. Mas graças a “Quero me desculpar por dificultou mais ainda”, co- reuniões do Conselho Es-
Nhanderú, estamos aqui não estar tão ativo em par- mentou. Com a palavra o tadual Indígena do Estado
para conversar com os pa- ticipação, pois o trabalho Conselheiro Nino Vera, re- do RJ. “O ano letivo nosso
rentes para discutir e resol- vem me consumido, mas sumiu, dizendo que apesar começa em maio, por que
ver os problemas. Por isso agora quero estar mais dos muitos assuntos para não tem professores. Eles
estou contente com a pre- com vocês. Antigamente tratar na reunião, várias não contratam professo-
sença de Juruá para dis- agente andava pela mata conquistas estão a cam- res indígenas. O Conselho
cutir pontos importantes, para chegar a um destino; inho. E aproveitou para indígena tem uma partici-
na saúde; educação; sa- acendia uma fogueira, pois fazer um desabafo sobre pação paritária e tem que
neamento e outros. Vamos não tinha cerca. Hoje se a a situação da Escola indí- ter consenso para resolver
trabalhar e discutir os pro- gente andar por ai pode- gena de Araponga: “A es- os assuntos. Falta capa-
blemas da terra”, concla- mos nos deparar com o Ju- cola-extensão de Arapon- citação aos professores
mou. Em seguida foi apre- ruá e gerar um problema, ga, não tem nada: não tem sobre o saber indígena. E
sentado o vice Cacique pois, está tudo cercado. professor/ material didá- por mais que a gente se
Nino Werai', presidente do Mas ainda assim, apesar tico ou recurso para a es- esforce, depende de or-
CEDIND, em contexto Al- das diferenças políticas e cola funcionar”, informou. çamento, de dotação or-
deados. Nino parabenizou culturais. Tem brancos que Aproveitando a presença çamentária para formação
a todos os presentes, rela- ainda se preocupa com os de Alexandro, represen- de professores. As escolas
tando as principais deman- guaranis. Cada povo indí- tante da Juventude indíge- indígenas na região estão
das a seu ver: “O objetivo gena tem seu modo de ser, na e Argemiro, presidente abandonadas... e o profes-
principal da presença de mas o pai é um só Nhan- do Conselho de Educação sor branco, não tem con-
todos, aqui em Araponga, derú” resumiu. Em seguida Indígena e pediu para que hecimento da nossa rea-
é conhecer os problemas foi dada a palavra ao Kaipó/ os mesmos comentassem lidade. A meu ver, para a
de perto e ver a nossa rea- pataxó, que fez conside- dos desafios e os principais escola funcionar: ela tem
lidade, principalmente no rações a respeito da saúde problemas enfrentados na que ter uma pedagogia que
acesso pela estrada que indígena. Segundo Kaipó: educação. Com a pala- fale da cosmologia e iden-
liga a aldeia. Além disso: O presidente da Repúbli- vra, Alexandre, contou que tidade do povo guarani,”
temos o problema da ilumi- ca, Jair Bolsonaro vem se a grande dificuldade dos desabafou. Com a palavra
nação elétrica precária em posicionado contra os indí- jovens era a repetência, Marize Guarani, Consel-
Araponga; Os problemas genas e a (SESAI), órgão pois estudavam e não pas- heira e Coordenadora do
do atendimento de saúde responsável por coordenar savam de ano. “Foi muito CEDIND da Comissão de
e de educação, pois, es- e executar as políticas pú- difícil a continuidade no Educação Indígena, per-
tamos sem médicos, sem blicas voltada para a saú- ambiente escolar, pois, os guntou a Argemiro por que
a contratação de profes- de indígena. Com relação obstáculos, preconceitos não contratam professores
sores, e não dispomos de à educação: “Estamos são muito grande. Conse- indígenas, já que existem
material pedagógico, para tendo dificuldade devido à gui terminar o fundamental vários indígenas com for-
o funcionamento da esco- falta investimento e apoio e o básico com muitas di- mação superior, inclusive
la. São muitos assuntos a diversidade indígena. Te- ficuldades. Fui para Uba- na Universidade Federal
para tratar, porém, algu- mos problemas com mães tuba que tem uma escola Rural do Rio de Janeiro.
mas conquistas estão a que não consegue levar de ensino médio regular, Argemiro resumindo, disse
caminho como: Já pode- as crianças para a esco- que são mais sensíveis que até o presente nada
mos observar a melhoria la tradicional, por que não aos indígenas. Minha meta de concreto existe com
da estrada para chegar em tem com quem deixar as e fazer o ENEM e curso relação à contratação de
Araponga. As coisas estão crianças. E a escola, não de cinema para divulgar o professores: “Os brancos
acontecendo, mesmo que está adaptada para rece- nosso saber, a nossa cul- não falam nada, não dizem
imperceptível, A prefeitura ber mães com crianças na tura. Dessa forma penso nada” resmungou.
de Paraty, acenou positiva- escola” ressaltou. Nesse em compreender as nos-
mente no apoio a melho- momento perguntei o que sas dificuldades na área
ria na estrada, e já reser- está faltando para que os de saúde e educação. Ten-
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

"O Conselho indígena tem uma participação paritária e tem que ter
consenso para resolver os assuntos. Falta capacitação aos professores
sobre o saber indígena. E por mais que a gente se esforce, depende de
orçamento, de dotação orçamentária para formação de professores".

O PAJÉ CACIQUE (ACENDE FOGO) AUGUSTINHO DA SILVA


A inda no desenrolar da reunião em
andamento, aproveitei a oportu-
nidade para conversar com o Pajé/
“conta acende fogo”: Tinha muita
plantação de aipim, batata doce, fei-
jão, milho e animais como galinhas,
“cigarro de branco”. Às mocinhas só
é permitido o uso de saias compri-
das. E nada de colorir o cabelo ou
Cacique (acende fogo) de nome porco e outros: “Não sabíamos o usar piercing, avisa o cacique Au-
(branco) Augustinho da Silva, que que fazer com aquela quantidade de gustinho. (O Globo,2104, Alencar e
gentilmente nos prestigiou conce- coisas”, acrescentou: “Até que um Lima).
dendo uma entrevista, em ano que
se comemora o centenário do seu
nascimento. Muito gentil e sorri-
belo dia veio um pessoal, onze ao
todo visitando a aldeia, dizendo que
vieram de Brasília da FUNAI para fa-
A pesar de atônito e transtornado
com a fala de Juruá, o diálogo
continuou, o que permitiu Augustin-
dente, confidenciou que seu nome lar com o cacique. Foi ai que chamei ho conversar com os guaranis a res-
de batismo, foi dado por seus pais, eles sentarmos e conversarmos em peito do posicionamento de Juruá.
e que seu nome em Guarani, tem círculo, para que eles externassem “Então foi ai que a comunidade se
como referência: “acender uma fo- o que queriam. Foi na ocasião que reuniu e me elegeu cacique para re-
gueira, acender o fogo”. Ao longo um dos presentes, representante da presentar a aldeia. E a partir desse
de sua existência morou em vários FUNAI, perguntou quem era o caci- primeiro contato, com os esclareci-
lugares, até a permanência em Ara- que da Aldeia, pois desejavam falar mentos prestados aos representan-
ponga onde se encontra a mais de com ele. “Aqui não tem cacique, res- tes da FUNAI estabeleceu-se um
meio século. Segundo Agostinho, a pondi”, com espanto de todos. Neste dialogo. A pesar de terem ido embo-
sua migração foi longa, a começar momento o branco que fazia as inda- ra, dizendo que voltariam para Brasí-
com os indígenas Kaingang no Rio gações, sentenciou: “Então, vocês lia como aconteceu. Na volta alguns
Grande do Sul, passando por São vão ter que ir embora”, pois Juruá vai meses depois, em novo diálogo com
Paulo e Santa Catarina em comuni- matar todos vocês aqui” concluíram o representante da FUNAI. O mesmo
dades guaranis, até o Paraguai. De- em tom ameaçador. Ainda sobre a que fizera a pergunta sobre quem
pois dessa longa peregrinação, veio Aldeia Araponga: era cacique Perguntou-me sobre Ju-
para o Rio de Janeiro com 26 anos. E ruá que ficava no portão da Aldeia,
com a morte dos pais, resolveu ir mo-
rar em Araponga. Mas o que motivou
mesmo, segundo seus relatos, foi à
S omente em 1972, com a abertura
da Rodovia Rio-Santos, eles fo-
ram “descobertos” pelos fluminenses
bem na entrada, se eu queria tira-lo,
já que tinha ordens para delimitar a
aldeia. “Respondi dizendo que não”,
violência e o alcoolismo que ocorre e o restante do Brasil. Até então, não retruquei. “Deixa ele lá, ele não nos
nas grandes cidades, sobre influên- havia oficialmente índios no Rio des- incomoda, pois eu não quero brigar
cia do Juruá, pois a bebida desunia de 1888, e os guaranis não faziam com Juruá. Reflexivo disse para ele:
e trazia briga entre as famílias gua- parte dos grupos que tinham habita- “Eu não Sou índio, Eu sou Guarani”,
ranis, ressaltou: “Isso me fez ir para do o estado. — Os guaranis têm o justificou. Com relação às neces-
Bracuí e depois para Araponga onde hábito de migrar, o que tem um fun- sidades da Aldeia como alimentos
estou até hoje”. Daí em diante, con- do religioso. Vão em busca da cha- e remédio, Augustinho falou: “Aqui
ta: “Foi uma longa jornada de lutas mada terra sem males, que é a terra tem muito milho, batata doce, cana,
para permanecer no novo território. A que eles, por muito tempo, acredita- aipim, o que plantar nasce. Fazemos
começar, pela morte do antigo caci- ram existir em algum lugar no leste a bebida de mandioca para o nosso
que de Araponga que veio a falecer”. do Brasil. O Serviço de Proteção ao consumo. É muito difícil comprar as
No início, não houve preocupação Índio, depois Funai, não reconhecia coisas lá fora, pois, temos que tra-
quanto a ausência do Cacique. Mas a existência de tribos no estado de zer de longe os alimentos com bolsa
com a morte do branco dono do si- 1888 a 1972 — explica Bessa, res- de sessenta quilos até a entrada na
tio onde trabalhavam alguns Gua- ponsável pela estimativa sobre o aldeia, por isso os nossos alimentos
ranis, a coisa se complicou, gerou total de índios no estado, que flutua são daqui”, ponderou.
alguns problemas para a comunida-
de. Havia um casal de Guaranis que
trabalhava no sitio de Juruá. E com
devido às características dos guara-
nis. A aldeia Araponga é comandada
com rigor por seu tutor. Se uma índia
C ontinuando disse: “A única coisa
que vendemos fora da Aldeia é
o nosso artesanato, pois os turistas
a morte do proprietário da terra as- se apaixonar por um homem branco, vêm até aqui perto da cachoeira em
sassinado por Juruá: “Os indígenas ou vice-versa, o casal deve deixar a nossa aldeia e aproveitamos e ven-
guaranis não sabia o que fazer” no comunidade. Por lá é proibido jogar demos os nossos produtos artesa-
sitio de Juruá. Pois o sítio do Juruá, carta, ingerir bebida alcoólica, fumar nais”.
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

"JURUÁ TEM O DEUS DELE QUE É UM SÓ, E NÓS O NOSSO QUE É


NHANDERÚO; QUE FEZ A ÁGUA, O FOGO E A LUA..."
C om relação à cosmologia e Deus
Guarani, conta: “Juruá tem o
deus dele que é um só, e nós o nos-
defender de suas atitudes negativas, tem que manter o foco, dessa forma
não deixando sucumbi nas dificulda- Nhanderú olha para você”, adian-
des. (Fonte: Museu do Índio Funai). tou. Com relação à compreensão
so que é Nhanderú; Que fez a água, do branco ao direito de existência
o fogo e a lua... Juruá sabe, indaga?
E continua: “Eu as vezes sou o pajé
por que trabalho com Nhanderú. Nós
Q uestionado com relação à vio- do povo guarani, (acende fogo) co-
lência cotidiana no município de menta: “O branco tem outro idioma
Paraty e Angra dos Reis, próximos e Juruá tem o papel da terra. E os
temos a nossa Casa de Reza onde da Aldeia, responde: “Vários de nós Guarani não tem nada, pois, Nhan-
todos da Aldeia participam. Quando índios Guaranis, estamos deixando derú não deixou nada”. Mas, inde-
são dezoito horas, todos aqui tem de fazer nossas rezas por influên- pendentemente disso, diz: “Quando
que estar pronto, de banho tomado, cia do branco. E Nhanderú olha pra tem festa do milho, vem muita gente
limpos, para participar”. Em seguida você e ver que você está indo para o aqui”. A última, disse: “teve mais de
diz: “Os que estão dentro participam forro, dançar e beber. Então, Nhan- cento e oitenta Guaranis que se es-
da dança, cânticos e reza. A principal derú deixa você e não olha mais” co- palharam por aqui, em todo lugar”. E
dança é do Xondaro e a dança do menta. Com relação às influências aproveitou para me perguntar: “Você
Pajé. Na dança do Pajé, as crianças de Juruá, aos filhos Guaranis, disse: mora onde?” Bom, eu mora na co-
não podem participar. Já na dança “Estando o indivíduo sobre o efeito munidade do Timbau na Maré. Lá
dos guerreiros, as meninas podem do álcool, com embriagues, o mes- não é como aqui sem cerca. Tudo é
participar”, relatou. Sobre as Danças mo comete violência; mata; e depois cercado, cada um tem um pedaço de
guarani Mbya: já sóbrio, não sabe o que aconte- cerca em seu território, e mora muita
A s danças Mbya não são especi-
ficas a determinadas cerimônias,
mas comuns a todas, sendo costume
ceu devido a embriagues. Mas isso gente. Umas três mil, dez mil mora-
acontece por falta de conexão, por dias, com um montão de gente es-
estar com pensamento ruim sobre palhado. E para sair para trabalhar,
dos Mbya, inclusive crianças e ido- a influência de Juruá”, E continua: os moradores acordam cedo, pois
sos, reunir-se para dançar ao pôr do “E ai, só vem coisa ruim, por que tudo é muito longe. E quando che-
sol oca/pátio, antes de entrar na opy/ Nhanderú deixa você é isso que está ga a casa depois de um longo dia
casa de reza. O xondaro é realizado acontecendo com os guaranis”. Com de trabalho, esquece de rezar para
como uma preparação, um aqueci- relação às cercas dos territórios das Nhanderú. Nesse instante o acende
mento para o segundo momento, o casas de Juruá, que vimos nas ci- fogo reflexivo, olhando perplexo com
poraél/cantos, rezas dentro da opy. dades e vizinhanças, acrescenta: caos que são as cidades, comentou:
Inseri-sejeroki/dança fora da opy, “Nhanderú não gosta de cerca, não “É, as vezes quando não estou bem,
sendo percebido pelos Mbya como adianta cercar tudo em volta com falo para a comunidade que não vai
um gênero de música/dança. Apre- arames, pois, Nhanderú é dono de ter reza. Não é todo dia semana que
senta semelhança com artes mar- tudo”. Com relação a estar sempre estamos na casa de reza”, ponde-
ciais e com capoeira, com a seguin- atento e conectado com Nhanderú, rou. Foi ai que aproveitei para per-
te distinção: é só para defesa. É um responde com convicção: “Quan- guntar, se todos os que vêm para a
treinamento técnica corporal, onde do você vai fazer uma oração, você aldeia participam dos festejos dentro
os integrantes aprendem a se defen- tem que está focado, não pode se da casa, o mesmo emendou dizen-
der de possíveis agressões animais, deixar desvencilhar por que alguém do que sim: “Sim, todos participam,
no mato e também na aldeia. Visa, está falando alto, pois isso atrapal- todos se acomodam dentro da casa
o fortalecimento do corpo e do es- ha. Então, você não pode deixar isso de reza.
pírito, cada praticante aprende a se acontecer, ser interrompido. Você

A festa começa às 19h00 e vai até


as 3h00, da manhã. Acabou a
solenidade, vão todos dormir espal-
questionei? “Não, ela ataca os ca-
chorros da Aldeia, pois, os cachorros
sabem quando ela vem. Ai agente
dos? Será que ficaram com medo da
onça, questionei? ? Em sinal de con-
cordância balançou a cabeça afir-
hados pela Aldeia, pois o povo fica os coloca pra dentro de casa”. Então mativamente dizendo sim. Mas uma
muito alegre com os festejos ao lado vocês já sabem que é a onça? “Sim, vez perguntei: O que vocês fizeram?
da fogueira” disse em tom de ale- sabemos”. E continua: “Olha, lá em Augustino disse que perguntou a
gria. Com relação à infraestrutura Bracuí, recente, faltou três cachorros comunidade quem sabia fazer uma
do local e das condições de vida da na Aldeia, e ninguém sabiam o que armadilha, tinha alguma experiência
Aldeia, respondeu: “Falta melhorar acontecido com o sumiço dos ca- na caça da onça. Foi quando disse-
a estrada que dar acesso a Aldeia, chorros. Foi ai que o cacique, indig- ram que o mais velho da aldeia, tin-
além da energia elétrica que não nado mandou todo mundo se armar, ha experiência em fazer armadilha
tem, para melhorar os deslocamen- para ver o que aconteceu. E arma- e assim foi feito. Com a armadilha
tos”. Perguntei se tem cobra ou ani- dos, para surpresa de todos que es- pronta, conta: “Conseguiram pegar
mais a noite que se deslocam pela peram de tocaia, com flechas, foice, a onça depois de muitos dias”. In-
Aldeia, o mesmo confirmou dizendo: facão e espingarda. A onça apare- daguei sobre a possibilidade de vir
“Tem cobra sim, tem onça que pas- ceu no meio do nada, atacou e ma- um “forasteiro na aldeia de surpre-
sa por aqui à noite. Agente escuta: tou o cachorro que montava guarda, sa”, de forma inesperada, qual seria
Aão, Aão, Aão. Ela vem para comer” saindo em disparada”. Perguntei: a reação da comunidade, o mesmo
salientou. Ela ataca os moradores, mas não fizeram nada mesmo arma- respondeu:
6

NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

“Não deixamos a criança chorar, pois ela pode alertar o inimigo, a onça”, retrucou.

“vaiAiservar
o cacique vai ob-
o que Juruá
fazer. Ficamos na
tocaia, aguardando
os acontecimentos
até o dia clarear. De-
pois de estudar e ob-
servar... agente sabe
o que fazer”, con-
ta. Continua: “Não
deixamos a criança
chorar, pois ela pode
alertar o inimigo, a
onça”, retrucou. “Ai o
pajé fala: Não deixa
a criança chorar para
não alertar a onça”.
Perguntei: Então tem
que cuidar da criança
pra ela cessar de cho- costumes da Aldeia, começaram fumar o vai para casa dela, nas de calça compri-
rar, certo? Mas, por e o mesmo acrescen- Petyngua; A pajé em de Juruá e não vol- da, blusa comprida...
que a criança chora tou: “Os jovens de momento de Cura, ta”, reclama. “Olha, mudou muito”, confi-
indaguei? “A criança hoje não são como limpou o território aqui as meninas não denciou. O Pajé filho
chora por que está antigamente. Não com sua espirituali- podem vestir calça do fogo completou:
doente, com raiva da pensam em cuidar dade elevada. “Tive de homem, só vesti- “Como é que você vai
mãe e por isso ela da mãe e do pai. São oito, mas quatro mo- do. Mas se ela for à ficar com práticas de
chora. Ai a gente fala autônomos para deci- rreram e só restam cidade ela pode ir do Juruá dentro da casa
pra mãe cuidar, rezar, dir as coisas. Quando quatros. Eu tenho jeito que quiser, mos- de reza... não pode”,
para não chorar” es- pensam em sair da vinte netos. Mas, fora trando tudo, menos murmurou. Aprovei-
clarece. Por exemplo: aldeia, vão embora o Nino, os outros es- na Aldeia”, ponde- tou para lembrar-se
“Você recebe uma sem escutar os pais”. tão fora da Aldeia, rou. Nesse instante da irmã: “Eu tenho
notícia ruim para ir re- Questionei se não morando em territó- do diálogo, apareceu sete irmãs, mas não
solver um problema. seria influência dos rio do Juruá. Tenho seu filho o Nino, vice sei onde elas es-
Ai você diz: e agora: celulares, o modo de uma irmã e familiares Cacique, de bermu- tão. Por que ela não
Como vou resolver ser de Juruá? Mas que estão morando da, em deslocamento senta aqui na minha
isso nessa noite escu- uma vez balançou a em Niterói, na Mata para plenária. “Olha frente para conver-
ra, nesta escuridão? cabeça em sinal de Verde Bonita”. Dando ele pelado”, risos. sar sobre as coisas?
Bom, ai aconteceu concordância. Per- seqüência ao dialogo Também no mesmo questionou. “Quando
um acidente e você guntei sobre a escola acrescentou: “Está instante apareceu tem dinheiro vai to-
sai às tantas da noi- na aldeia com a fal- vendo aquela meni- sua companheira, mar cerveja, ir pro fo-
te. E, de repente você ta de professores o na de 12 anos, minha Marciana. E apro- rró e esquece de tudo
tem aquele medo de mesmo respondeu? neta. Antigamente o veitei para perguntar da família, e não vem
ir... algo diz para você “A escola está sem pai pegava pela mão sobre usar saia e ca- aqui”, reclamou. Per-
não ir... e você não professores, sem e apresentava ao pa- lça cumprida, como guntei se elas esta-
vai” retrucou. Indago apoio do governo. rente para casar. Cla- descrita por August- vam proibidas de vir
se não é o sexto sen- Olha, meu filho Nino ro, primeiro os pais inho. Ela respondeu: a aldeia. Ele baixou
tido falando? Concor- tem quatro filhos e conversavam com os “Nhanderú mandou a cabeça resmun-
dou e acrescentou: ele não quer os filhos pais para um acordo. vestir assim e não do gando: “Não, não...
“Bom, é bom não ir, estudando na escola E depois que o filho jeito de Juruá. Ho- Hoje eu tenho uma
pois, pode aconte- de Juruá. Meu filho constrói a casa, eles mem também tem irmã que casou com
cer algo com essa quando estava lá, ob- vão morar juntos e que vestir calça com- Juruá e está aqui em
pessoa”, advertiu. Ai, servou que os filhos um cuida do outro”. prida” disse. Emen- casa... está casada a
perguntei: por que as dos brancos só que- E questionei se se- dando disse Augus- vinte anos, e não es-
pessoas procuram rem farra, namorar e ria bom hoje em dia? tinho: “Também não queceu da mãe. Hoje
a cura com o pajé e ele não quer essa in- “Eu achava bom, pode ter cabelo com- ela veio ajudar a mãe
por quê? “É para fluência para seus fil- pois, o jovem não sai prido, só a menina”, em alguma coisa...
resolver algum pro- hos” lamentou. Sobre da comunidade por emendou o cacique. na cozinha fazendo
blema de saúde, uma sua família, perguntei que tem que cuidar Continuando: “Meu alguma coisa”, mur-
cura espiritual, algo quantos filhos, tem? da menina na Aldeia. pai falava para minha murou. E o que vocês
assim”, comentou. guida, passou-se a Porém, os jovens irmã. Se você usar vão fazer depois que
Com relação ao êxo- Celebração de Inau- estão muito desobe- calça, você vai virar nós do CEDIND, for
do dos jovens para guração da Casa de dientes, você fala homem, e minha irmã embora:
as grandes cidades, Reza, com cânticos mais ele não te es- com medo não usava.
perguntei o motivo do de louvor a Nhande- cuta. Se o rapaz en- Em outras aldeias,
desinteresse pelos ru Ete; Os Xondaros contra uma moça ele você ver várias meni-
7

NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

Graças a Nhanderú vocês estão aqui discutindo os problemas, ajudando os


trabalhadores, discutindo quais são os problemas e como resolver.

“Nhanderú”.
Vamos nos reunir e fazer uma
contemplação, vamos agradecer
E o que o cacique achou
Aldeia, na casa de reza”, reclamou.
Falando da sua relação com a ances-
tralidade (acende fogo) comentou:
Queda do Céu, disse: “O Xapiri, o en-
cantado da floresta quando está com
raiva ele vem com uma espada cor-
do CEDIND? “Muito bom. Graças a “Quando eu tinha treze anos o pai tando tudo com uma faca. Ele pode
Nhanderú vocês estão aqui discutin- da minha mãe morreu. E disseram se transformar em uma praga, um
do os problemas, ajudando os tra- para eu ficar como guardião da casa terremoto, uma chuva intensa que
balhadores, discutindo quais são os de reza como um “Xondaro”. Ai com destrói tudo, cortando tudo que vem
problemas e como resolver. E isso é uma varinha na porta da casa, com e ver pela frente. Nesse momento o
tudo é por causa de Nhanderú. Nós movimentos circulares passava a va- pajé/cacique observou com cuida-
Já fizemos três reuniões aqui, e vou rinha antes das pessoas entrarem na do as palavras e mais uma vez e ba-
participar mais, fazer contato”, con- casa” salientou. E ninguém chegava lançou a cabeça, refletiu e perplexo,
fidenciou. Finalizando o diálogo com para entrar... Questionei? “E quan- disse: “Eu faço isso para que a pes-
o pajé (acende de fogo). Perguntei do chegava a hora dos convidados soa não entre com aquele peso, com
sobre a escola Guarani aqui na Al- entrarem...todos em fila... entravam as energias negativas” adiantou. Ai
deia Araponga que não conta com de um a um”, confidenciou. “Eu dizia retruquei? Isso para as coisas negati-
professor para ensinar as crianças, para a pessoa: agora abriu para você vas ficam fora da casa de reza? “Sim
dentro da cosmologia Guarani para entrar. E logo em seguida peço para é isso”, confirmou. E quando entram
se contrapor os ensinamentos Juruá: outra pessoa entrar... E mais uma o que fazem? “Dão boa noite para o
“O branco fala muito do pensamen- vez, eu levanto a vara em círculo ao pajé todos juntos. Nos conversamos
to do Juruá. E isso influencia nossos lado da pessoa... ela levanta as duas sobre o que aconteceu no outro dia,
jovens que pensa em ter uma profis- mãos... ai eu deixo entrar. Perguntei os problemas, as dificuldades com
são... em estudar as coisas do bran- se era para afastar os maus espíritos. Juruá”, concluiu.
co e pensa: vou ser motorista... ser E ilustrei falando de Davi Kopenawa,
polícia... e esquece o que vai fazer na Líder Yanomami que no seu Livro a

Reinaldo Potiguara e Cacique Miguel Karai


Protocolo de Consulta Prévia Tekoa Itaxi Mirin – Guarani Mbay
“dezenove
No dia 27 de jun-
ho de dois mil de
na Casa
de Cultura de Para-
ty, foi feito o Lança-
mento do Protocolo
de Consulta Prévia
Teko Itaxi Mirim, com
a presença de várias
lideranças indíge-
nas guaranis; Além
do Coral Nhemon-
gueta Mirim Guarani;
As instituições: ICM-
BIO; FUNAI, NIDES/
UFRJ, CEDIND (Con-
selho Estadual dos
Direitos Indígenas
do Estado do Rio de
Janeiro; Radio Yan-
dê; Aldeia Maracanã;
AULA/Associação
Universitária Latino
Americana; Grumim; território; biodiversi- tros problemas de pois, Juruá não res- ta prévia, disse nas
Aldeia Mata Verde; dade; saneamento; tontura, a sua mente peita o índio... Fa- considerações do
Aldeia Araponga; Al- educação dentro de estava boa. “Sofro zem o que querem se expediente, no pro-
deia Rio Pequeno; uma ambiente reci- tonturas e estou mui- consultar o cacique. tocolo, CACIQUE
Conselho Municipal procidade. O local da to fraco das pernas. Dizem que índio é MIGUEL KARAI TA-
de Turismo de Paraty; realização do evento Não consigo me des- vagabundo. É o que TAXÎ BENITE:
Secretaria Municipal na Casa de Cultura locar muito, pois não falam de nós é muito
de Assistência Social
e Saúde do Estado
do Rio de Janeiro,
de Paraty foi suges-
tão do pajé/cacique:
Miguel Karai Tataxi,
agüento. Mas ape-
sar do sofrimento do
meu corpo. Ele é sa-
errado. Outra coisa:
não temos apoio de
ninguém. Nós tra-
N ÓS QUREMOS É
MANTER NOSSA
CULTURA! ”A nossa
além de diversas li- que participou ativa- dio, eu não sinto nen- balhamos para nos cultura Guarany Mbya,
deranças indígenas. mente de sua confe- huma dor, isso não manter, comer e be- vejo as crianças soltas,
O grande aconteci- cção. A abertura da dói... é a idade. Ju- ber sem ajuda do go- sem roupas, sem pentear
mento ficou por conta solenidade ficou por ruá me deu o nome verno. Nosso gover- os cabelos, esse é nosso
da presença do pajé/ conta do Bruno ICM- de Miguel Benites no fala mal do índio e sistema Guarany. Não
cacique: Miguel Ka- bio, que agradeceu que no nosso idioma diz coisa sem saber podemos trocar nosso
rai Tataxi, (119) lide- o apoio da comis- é Karai Tataxi, Tenho que somos pobres. sistema. Assim falaram
rança guarani Mbya, são organizadora e 119 anos... É difícil O governo deve pen- minha mãe e minha avó.
para o Lançamento apoiadores, na ela- alcançar essa ida- sar, conhecer o nos- Eu ia entendendo. Nós
do Protocolo de Con- boração do protocolo de, pois depende de so povo para depois queremos é manter o
sulta Prévia Tekoa de consulta previa. muita coisa. Tenho poder falar do índio. nosso sistema. Eu já es-
Itaxi Mirim. Onde es- Em seguida passou quatro filhos homens Então eu agradeço tou velho com 119, anos.
tabelece regras de a palavra ao Pajé/ e quatro mulheres to- os esforços de vocês Eu trabalhava muito
conduta com Juruá Cacique Miguel Ka- dos casados. Então na realização deste desde os 12 anos com os
e a administração rai Tataxi, acompan- agradeço muito as trabalho tão impor- Juruá. Fui crescendo até
entre os entes fede- hado de quatro dos pessoas que estão tante. Vamos nos ficar homem. Até gosto
rados. Segundo os seus filhos na aber- trabalhando na temá- apoiar; vamos nos de trabalhar, gosto da
idealizadores: Com o tura da Mesa. Com a tica do índio; E que ajudar e fazer algu- lavoura. Aprendi no ser-
protocolo, é possível palavra o Pajé/Caci- seja um trabalho cer- ma coisa. Essas são viço pesado com Juruá”.
estabelecer regras que Miguel Karai Ta- to, direito respeitoso minhas “palavras”, (Fonte: PROTOCOLO
possíveis de consulta taxi, disse que ape- da causa indígena. concluiu agradecido. DE CONSLUTA PRÉVIA
a comunidade gua- sar de sua fraqueza Fico muito contente Sobre a participação TEKOA ITAXI MIRIM -
rani com respeito ao dada a velhice e ou- com esse trabalho... popular e consul- Guarani Mbya).
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

Lançamento de Protocolo Consulta Prévia TEKOA ITAXI MIRIM - Guarani Mbya.

A pós pequena apresentação dos


irmãos presentes à mesa, que fi-
zeram a saudações a todos em gua-
Sandro Rogério Xucuru – ETNO/
SOLTEC-NIDES, para falarem da
elaboração do protocolo. Dada a
às instituições parceiras, o protoco-
lo é uma realidade, pois, permite as
aldeias não precisar de Juruá. E ten-
rani. Foi dada a palavra o seu filho palavra a Rosangela da FUNAI, a do os parentes aqui nesse lançamen-
Pedro Mirim Benite, Karai Miiride, mesma salientou a luta em defe- to que foi produto de muita escuta,
da Aldeia Paraty Mirim da Aldeia sa dos povos da floresta há muitos muita luta nos engrandece”, concluiu
Itaxi, para resumir em português: anos. “Faz quarenta anos que estou sendo muito aplaudido. Com a pala-
as dificuldades, nos preparativos do na FUNAI. E desde início da minha vra dada a Lilian Leticia Hangae, a
Lançamento De Protocolo Consulta militância, percebo a dificuldade do mesma disse que estava emociona-
Prévia TEKOA ITAXI MIRIM - Gua- povo guarani em ter um território da em participar do Lançamento do
rani Mbya. “Nos indígenas a pesar próprio. E vejo esse Protocolo como Protocolo na Casa de Cultura em Pa-
das dificuldades, não vamos deixar uma oportunidade de estabelecer-se raty, pois para ela é motivo de orgul-
de fazer a coisa por causa de Juruá. regra. As pessoas entram nas aldeias ho: “Faz dezesseis anos que participo
As mulheres indígenas e os jovens para fazer pesquisa e não dão satis- da luta dos povos indígenas e muitas
foram os principais organizadores e fação das suas pesquisas na Aldeia. vezes, eu não tinha o que dizer. Mas
incentivadores para que nós não de- O protocolo vai estabelecer limites hoje as comunidades tradicionais
sistíssemos, apesar de contar com e amadurecimento da comunidade. têm o seu protocolo. Não basta fazer
poucos recursos para elaboração. Seu Miguel e a juventude são nossos uma pequena reunião com algumas
Espero que a partir desse lançamen- incentivadores. E partindo da comu- lideranças indígenas e dizer que hou-
to, vamos poder cobrar na pratica nidade nos incentiva ainda mais a lu- ve consulta. A comunidade indígena
das autoridades o comprometimen- tar e acreditar, obrigado”, concluiu. tem que ser ouvida e respeitada com
to com o protocolo. Vimos sofren- Com a palavra Sandro Xucuru, disse todos os integrantes das aldeias, mul-
do muito dentro da Aldeia, pois não que vem dialogando com o povo gua- heres, crianças e jovens. Esse docu-
somos consultado por ninguém em rani a muito tempo. “Não é tão co- mento é importante para dizer como
assuntos que nos diz respeito, como mum conviver com tantos conflitos e a comunidade deve ser comunicada.
por exemplo: A falta d'agua, alimen- interesses, e tanta coisa acontecendo A estrada que leva a aldeia tem que
tos, caça e outros coisas provocados no país, como: a realização do Acam- ser consultada, tem que tem um pro-
por descaso de Juruá. Com o proto- pamento Terra Livre. Eu percebi que cedimento. E tem que haver reuniões
colo vamos estabelecer parâmetros e as Aldeias daqui de Paraty não par- de amadurecimento não uma coisa
acordos de interesse da comunidade ticipava da articulação nacional do apressada. O nosso conselho fez um
guarani”, concluiu. Dando seqüên- movimento indígena. Foi então que plano de manejo e as comunidades
cia ao evento. Bruno da organização comecei a chamar a atenção das lide- indígenas participaram ativamen-
ICMbio, aproveitou para ratificar ranças locais para os acontecimentos te. Agora não estamos passando por
as palavras de Pedro, acrescentan- que ocorre em Brasília, para que se fi- uma situação de grandes empreendi-
do que foram muitas as dificulda- zessem representados nas reuniões.E mentos, mas temos que estar atento.
des. “Graças à atuação de diversas no momento que eles começam a O desafio agora é fazer valer um pro-
lideranças e voluntários, de forma participar da (APA) aqui em Paraty, cedimento para que seja cumprido.
respeitosa, nasceu o protocolo”. E eles começaram a se organizar, par- Agora os guaranis vão poder falar e
aproveitou a ocasião para chamar a ticipar formar uma nova consciência dizer, vai ser assim e pronto”, sinteti-
Rosangela Maria Nunes da FUNAI, militante. Esse protocolo levou um zou sendo também muita aplaudida.
Lilian Leticia Hangae, Chefe da APA tempo para assimilação, levou dois
de Cariruaçu/ICMbio e o professor anos para a realização. Mas graças
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

Análise conclusiva

A Escolha do Tema: “Não Sou Ín-


dio Sou Guarani & A Luta Natu-
ral Contra o Estado” do povo guara-
que Miguel Karai Tataxi (119) o mais
antigo representante vivo guarani,
(falecido em 21 aos 121 anos). Para
estado: (Clastres 1979), vai dizer em
A Sociedade Contra o Estado (in-
vestigações de Antropologia Políti-
ni Mbya. É resultado da entrevista buscar a contraposição ao modo de ca), na convivência com os guaranis:
com o Pajé/Cacique (acende fogo) de vida guarani, a luta por direitos7 e re- “Que a sociedade indígena é natural-
nome (branco) Augustinho da Silva conhecimento político e revolucio- mente contra o estado”.
da Aldeia Araponga (99) que na oca- nário. Nada melhor do que espelhar-
sião da reunião descentralizadas do
CEDIND, no Distrito de Patrimônio
na Aldeia Araponga nos concedeu,
se, consultando a comunidade para
deliberar. E isso difere muito do rei-
no de Juruá, que tem dificuldades
[tem,...]os tempos,
“Se é verdade que ao longo de todos
desde que os homens exis-
existiram também rebanhos huma-
e inspirou o tema. Outros estímulos de compartilhar o saber e o bem vi- nos (confraria sexuais, comunidade, tribos,
vieram também após a participação ver dos povos da floresta. Diferente igrejas, estados) e sempre um grande nú-
do lançamento do Protocolo de Con- o que pensa o branco: “Cacique não mero de homes obedecendo a um pequeno
sulta Prévia Tekoa Itaxi Mirim, com manda nada.” Para nós, esse olhar número de chefes; se, por conseguinte: a
a participação da comunidade Gua- é distorcido não condiz com a con- obediência e o que melhor e durante mais
rani em Angra dos Reis/Paraty. O temporaneidade, a realidade facta tempo foi exercido e cultivado entre os ho-
Protocolo de Consulta Taxi Mirim do povo guarani. Ouvir antes a co- mens. Estamos no direito de presumir que,
Mbay, estabeleceu por parte das au- munidade; compartilhar idéias e por princípio, cada um de nós possui a ne-
toridades. A consulta prévia a qual- ideais em consenso é uma práxis dos cessidade inata de obedecer, como uma
quer intervenção na Comunidade guaranis. A maneira de pensar e agir espécie de consciência formal que ordena:
Guarani. Segundo os idealizadores, de Juruá, não é a mesma da comu- Tu faras isto, sem discutir; tu abster-te-ás
o Protocolo foi construído de modo na guarani. Na aldeia o cacique não daquilo, sem discutir; resumindo é de um
participativo, democrático, inclusive manda em nada sem o consenso do ‘tu farás’ que se trata”.
com as observações do Pajé/Caci- grupo. Em se tratando de poder de

Luta permanente a busca da “Terra Sem Males” e no protagonismo do seus


agentes ; Condutores, sujeitos da sua própria história.

A narrativa da luta
dos Guaranis
Mbay, apontam para
Reinaldo Potiguara e Cacique Miguel Karai

uma luta permanen-


te a busca da “Terra
Sem Males” e no pro-
tagonismo do seus
agentes; Condutores,
sujeitos da sua pró-
pria história. E essa
construção não se li-
mita a escrever para
os indígenas e Juruá
a visão da cosmolo-
gia guarani. Mas, ex-
plicar que a educação
tradicional indígena
é um fenômeno so-
cial em que os mais
velhos transmitem
seus conhecimentos
às gerações mais
novas pelos conhe-
cimentos adquiridos
pela ancestralidade. discurso recorrente vas, que impactem a drogas, o seu modo territórios ocupados
Esse conhecimento do governo é inte- auto-gestão” ao seu de ser a algumas co- ameríndios. Ontem
oral vão passando grá-lo ao meio, des- meio ambiente”. Se- munidades guaranis. como hoje, a falta de
de pai para filho neto, considerando a sua gundo Miguel Karai E segundo ele: “isso respeito aos negros,
bisneto e tataraneto, identidade enquan- Benite: "O povo gua- trouxe violência, indígenas e ao meio
garantindo a sobre- to nação guarani. rani respeita Juruá, morte e divisão dos ambiente continuam.
vivência de idioma E para sobreviver a mas o mesmo não guaranis”. E para Juruá não mede es-
próprio e saber gua- essa intempérie, as ocorre com os Gua- romper com a lógica forços para destruir
rani. Na casa de reza agressões de Juruá, ranis, porque Juruá de Juruá, foi proibi- tudo em favor do lu-
guarani, a comuna os guaranis buscam não respeita nada". do o uso de bebidas cro de alguns. No Li-
participa da cura do autonomia de suas Pierre Castres vai di- e outras drogas, em vro a Queda do Céu,
espírito com cânticos, terras, através do zer que esse modo Araponga. Ao longo nas palavras de um
danças; arte de lutar plantio, colheita e de ser guarani, de dos 521 anos de ocu- xamã yanomami.
e viver em louvor a venda de seus pro- respeito e interação pação portuguesa Davi Kopenawa nos
Nhanderú. Por meio dutos de artesanato, com a natureza, faz nos territórios indíge- fez perceber que
do convívio comuni- e a produção de seu o povo guarani: "Ser nas e quilombolas. A o universo é mui-
tário; repartição de próprio alimento. A naturalmente contra lógica de Juruá não to mais do que um
tarefas; plantio de criação do Protoco- o estado”. E isso se mudou com o passar corpo celeste perdi-
sementes para col- lo de intenção Te- deve por que o gua- dos anos. O discur- do no espaço. Aliás,
heita do alimento. koa Itaxi Mirim, es- rani, não valoriza a so de integração dos Kopenawa nos faz
Embora, a luta pelo tabelece garantias individualidade do afro-ameríndios a compreender que
reconhecimento da mínimas, um pacto sujeito em ter tudo" realidade brasileira, na floresta tudo tem
soberania do povo de respeito mútuo a detrimento de to- continua presente no vida e que devemos
guarani continue até entre nações que de- dos. A preocupação dias atuais. Vimos respeitar a floresta.
os dias atuais. O go- vem ser respeitado de Juruá por lucros, agora o presidente No Livro escrito por
verno brasileiro conti- por Juruá, quando sem a preocupação do Brasil Jair Bolso- Bruce Albert para Ju-
nua com a sua políti- menciona: “O povo com o meio onde naro, parafrasear o ruá: o personagem
ca de desvalorização guarani tem o direi- vive, não é a mesma discurso "que somos “Xapiri”, o encantado
da identidade étnica to de serem consul- na comunidade gua- todos brasileiros". da floresta mandou
guarani, com sua tados toda vez que rani. Segundo o caci- Mas sabe-se que dizer que o “Céu Vai
pratica genocida e do o governo for tomar que Augustinho: Ju- é só uma frase de Cair Sobre Nossas
etnocídio cultural. O medidas legislati- ruá trouxe o álcool, efeito, para tomar os Cabeças”.
NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

E m pleno século XXI, temos assis-


tido por parte do representante
da nação brasileira: “Que índio não
car tanto, por parte dos indígenas
no Contexto Urbano e Aldeamentos,
são: Que o CEDIND, seja um órgão
ruá. Jamais vamos entrar em terra
de Juruá sem pedir licença em sua
terra, pois respeitamos Juruá". Fi-
serve para nada e tem muito terra”. Deliberativo sobre território e ques- nalizando: O lugar da fala indígena,
O discurso ódio; a grilagem de terras tões indígenas no Estado do Rio de ameríndio na sociedade contempo-
indígenas e a destruição da natureza Janeiro; Que antigo “Museu do Ín- ranea, faz com que nós militantes
continuam. Além, da transmissão de dio” ainda em ocupação, tenha como indígenas, busquemos o resgate das
doenças e epidemias as comunidades destino: Um Centro de Referencia nosssa línguas; oralidade; educação
indígenas. Chegou a ora da juventu- Indígena/Universidade Indígena, e/ou cosmologia em contraposição
de indígena, os quilombolas ocupar nem que seja debaixo da arvore; Que a Juruá. Muito temos que aprender
os espaços que são seu de direito. E as escolas indígenas, privilegiem o com as nações indígenas, principal-
isso começa na ocupação nos bancos idioma de suas etnias, sem o prejuí- mente com a preservação da nature-
escolares nas universidades públicas. zo de conhecer o idioma de Juruá; za e respeito a fauna e os animais.
Em momento que se fala em livre Que o protocolo de Consulta Prévia Pois, na natureza tudo tem vida, tem
comercio entre a Europa e MERCO- Tekoa Itaxi Mirim, onde estabelece um sentido. Chegou a ora da juven-
SUL. Devemos dizer aos organismos o método de consulta a comunidade, tude indígena ocupar os espaços que
internacionais como a ONU e OIT, seja respeitado; Que seja um instru- são de direito nas universidades pú-
que os produtos vendidos pelo agro- mento a ser apoiada e implantada blicas, serviço publico, imprensa, e/
negócio aos estrangeiros e aos bra- em outras aldeias; Que a SEEDUC, ou construído, contrapondo, reafir-
sileiros, são de áreas desmatas em desburocratize a metodologia esco- mando o saber dos ancestrais, contra
territórios indígenas e quilombolas. lar, contratando professores indíge- o etnocídio branco. Alguns acadêmi-
Contudo: não pretendemos esgotar nas nas escolas de extensão, privile- cos indígenas vai dizer: “A arma do
este trabalho com esse resumo, pois giando o saber indígenas; ratifique o índio está em escrever na cascara da
ainda teremos muitas visitas às co- pleito de eleger os diretores de esco- árvore para o branco”. Mas, penso?
munidades para dirimir e ajudar na las indígenas. Devemos ter a humil- não precisa, pois, basta ver nas pin-
solução dos problemas ambientais, dade de ouvir o saber guarani, pois turas rupestres, corporais, sua ma-
sociais, políticos e econômicos. Uma como disse o Pajé/Cacique Miguel neira não depredatoria e indentitá-
das questões que devemos reivindi- Karai Tataxi: “Nos respeitamos Ju- rias na defesa da natureza.

Certificação de participação em Congressos

Caro Reinaldo de Jesus Cunha, o Resumo XI-APS-48046 -


"Não Sou Índio, Sou Guarani" foi aceito. Melhores cumprimen-
tos, Equipe de gestão XI Congresso Português de Sociologia

Imagem, fotografias e texto: Reinaldo de Jesus Cunha (Reinaldo Potiguara) - reinaldopotiguara@gmail.com - Presidente da AULA (Associação Universitária Latino Americana) - www.aula.org.br
Diagramação: Leonardo Lopes - leonardo@asfunrio.org.br
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NÃO SOU ÍNDIO SOU GUARANI & A LUTA NATURAL CONTRA O ESTADO

Este trabalho tem apoio de ALACORO / CASF

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