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EDUCAÇÃO LITERÁRIA
PARTE A
Leia o texto.
De madrugada, muito antes de nascer o sol, e ainda bem, porque estas horas são sempre as mais frias,
levantam-se os trabalhadores de sua majestade, enregelados e famintos, felizmente os libertaram das cordas
os quadrilheiros, porque hoje entraremos em Mafra e causaria péssimo efeito o cortejo de maltrapilhos, atados
como escravos do Brasil ou récua de cavalgaduras. Quando de longe avistam os muros brancos da basílica,
5 não gritam, Jerusalém, Jerusalém, por isso é mentira o que disse aquele frade que pregou quando foi levada de
Pêro Pinheiro a pedra a Mafra, que todos estes homens são cruzados duma nova cruzada, que cruzados são
estes que tão pouco sabem da sua cruzadia. Fazem alto os quadrilheiros, para que desta eminência possam os
trazidos apreciar o amplo panorama no meio do qual vão viver, à direita o mar onde navegam as nossas naus,
senhoras do líquido elemento, em frente, para o Sul, está a famosíssima serra de Sintra […]e a vila, lá em baixo
na cova, é Mafra, que dizemos eruditos ser isso mesmo o que quer dizer, mas um dia se hão de retificar os
10 sentidos e naquele nome será lido, letra por letra, mortos, assados, fundidos, roubados, arrastados,[…] não
antecipemos, ainda há muito trabalho para acabar, por causa dele é que vocês vieram das longes terras onde
vivíeis […].
Para chegarem à obra, vindos donde vêm, têm de atravessar a vila, passam à sombra do palácio
do visconde, rasam a soleira dos Sete-Sóis […]. As janelas do palácio não se abrem para ver passar
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o cortejo dos miseráveis, só o cheiro que deitam, senhora biscondessa. Abriu-se, sim, o postigo da
casa dos Sete-Sóis e veio Blimunda olhar, não é nenhuma novidade, quantas levas já por aqui
passaram, mas, estando em casa, sempre vem ver, é uma maneira de receber quem chegou, e
quando à noite Baltasar regressa, ela diz, Por aqui passaram hoje mais de cem, perdoe-se a
imperfeição de quem não aprendeu a contar rigoroso, foram muitos, foram poucos, é como quando se
fala de anos, já passei dos trinta, e Baltasar diz, Ao todo ouvi dizer que chegaram quinhentos, Tantos,
20 espanta-se Blimunda, e nem um nem outro sabem exatamente quantos são quinhentos, sem falar
que o número é de todas as coisas que há no mundo a menos exata, diz-se quinhentos tijolos, diz-se
quinhentos homens, e a diferença que há entre tijolo e homem é a diferença que se julga não haver
entre quinhentos e quinhentos, quem isto não entender à primeira vez não merece que lho expliquem
segunda.
Juntam-se os homens que entraram hoje, dormem onde calhar, amanhã serão escolhidos. Como
25 os tijolos. Os que não prestarem, se foi de tijolos a carga, ficam por aí, acabarão por servir a obras de
menos calado, não faltará quem os aproveite, mas, se foram homens, mandam-nos embora, em hora
boa ou hora má, Não serves, volta para a tua terra, e eles vão, por caminhos que não conhecem,
perdem-se, fazem-se vadios, morrem na estrada, às vezes roubam, às vezes matam, às vezes
chegam.
30 José Saramago, Memorial do Convento, 53.ª ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, pp. 404-406.
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1. Identifique três críticas tecidas pelo narrador ao longo do primeiro parágrafo do excerto,
fundamentando a sua resposta com elementos textuais pertinentes.
3. Clarifique o sentido da expressão «diz-se quinhentos tijolos, diz-se quinhentos homens» (ll. 24-
25).
a) b) c)
1. pelo uso recorrente de construções 1. « De madrugada, muito antes de 1. « que todos estes homens são
anafóricas nascer o sol, e ainda bem, porque cruzados duma nova cruzada, que
2. pela transgressão das regras de estas horas são sempre as mais frias, cruzados são estes que tão pouco
reprodução do discurso direto levantam-se os trabalhadores de sua sabem da sua cruzadia » (ll. 6 a 8)
3. pela adequação das falas das majestade,» (ll. 1 e 2) 2. « Para chegarem à obra, vindos
personagens ao respetivo estatuto 2. « Para chegarem à obra, vindos donde vêm, têm de atravessar a vila,
social donde vêm, têm de atravessar a vila, passam à sombra do palácio do
passam à sombra do palácio do visconde, rasam a soleira dos Sete-
visconde, rasam a soleira dos Sete- Sóis (ll. 15 e 16)
Sóis » (ll. 15 e 16) 3. « Ao todo ouvi dizer que
3. «Juntam-se os homens que chegaram quinhentos, Tantos,
entraram hoje, dormem onde calhar, espanta-se Blimunda,» (ll. 22 e 23)
amanhã serão escolhidos.» (l. 28)
PARTE B
Leia o poema e as notas.
ESPARSA1
sua ao desconcerto2 do mundo
6. Refira a estratégia adotada pelo sujeito poético e a consequência da sua ação, fundamentando
a sua resposta com transcrições pertinentes.
PARTE C
1. Para além de José Saramago e de Camões, a temática da crítica social está presente nas
obras de outros autores estudados ao longo do ensino secundário.
Baseando-se em dois autores por si estudadas, escreva uma exposição na qual comprove
a afirmação acima transcrita.
GRUPO II
LEITURA | GRAMÁTICA
1. Na introdução deste seu breve discurso, Saramago anuncia que vai abordar o tema
(A) da atribuição deste prémio.
(B) da realização deste tipo de homenagem.
(C) da literatura portuguesa.
(D) dos direitos humanos.
2. Com a frase «Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante» (ll. 13-
14), Saramago pretende
(A) criticar a falta de compaixão quotidiana.
(B) criticar os aspetos negativos da ciência.
(C) destacar o progresso científico.
(D) destacar a tendência progressista do nosso tempo
3. Segundo Saramago, «Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor» (l. 24) se houver
(A) mais reivindicações dos direitos do cidadão.
(B) mais iniciativas desta natureza.
(C) maior exigência de todos no cumprimento dos deveres.
(D) maior intervenção do cidadão comum.
4. A presença da repetição no excerto «Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos,
reivindiquemos também o dever dos nossos deveres» (ll. 22-24) tem um valor
(A) construtivista, conformista e aponta para uma relação de igualdade.
(B) reivindicativo, reiterativo e aponta para uma relação de equidade.
(C) alarmista, crítico e aponta para uma relação de superioridade.
(D) conformista, introspetivo e aponta para uma relação de inferioridade.
7. A utilização do pronome «lhe» (l. 4) e da expressão «porque» (l. 15) contribuem para a coesão
(A) gramatical interfrásica, no primeiro caso, e gramatical referencial, no segundo caso.
(B) gramatical referencial, no primeiro caso, e gramatical interfrásica, no segundo caso.
(C) gramatical referencial, no primeiro caso, e gramatical frásica, no segundo caso.
(D) gramatical frásica, no primeiro caso, e lexical por reiteração, no segundo caso
GRUPO III
ESCRITA
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2022/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras –, há que atender ao seguinte:
um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
FIM
COTAÇÕES
GRUPO III
ESCRITA
3. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2022/).
4. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras –, há que atender ao seguinte:
um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
FIM
COTAÇÕES