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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS I


Disciplina: Sociologia Jurídica (CIS001)
Docente: Mauricio Azevedo
Discente: Antonio Fernando Oliveira Costa
Resenha do Documentário Concerning Violence (Sobre a Violência) de 2014
Sobre o autor
Frantz Omar Fanon era martinicano e nasceu em 20 de julho 1925 tendo falecido em 6 de
dezembro de 1961. Foi um psiquiatra e filósofo político. As suas obras tornaram-se
influentes nos campos dos estudos pós-coloniais, da teoria crítica e do marxismo. Além
de intelectual, Fanon era um radical político, pan-africanista e humanista marxista
preocupado com a psicopatologia da colonização e as consequências humanas, sociais e
culturais da descolonização. Durante o seu trabalho como médico e psiquiatra, Fanon
apoiou a Guerra de Independência da Argélia em relação à França e foi membro da Frente
de Libertação Nacional da Argélia.
No Início do documentário é narrado como Frantz Fanon se percebeu negro e diferente
durante uma viaje que a família empreendeu à França, quando os outros meninos
surpresos apontavam e diziam: “olha ali um menino negro”. Tal fato é narrado em seu
livro “Pele Negra, Máscaras Brancas” rejeitado enquanto tese de dissertação e que depois
viria a constituir um importante acervo do pensamento descolonialista.
Fanon esclarece: “o responsável político está sempre chamando o povo ao combate.
Combate contra o colonialismo, combate contra a miséria e o subdesenvolvimento,
combate contra as tradições esterilizantes” e passa a defender o confronto fundamental
entre o colonialismo e o anticolonialismo, uma independência real dos países do Terceiro
Mundo permeada por uma ideologia muito violenta de forma similar ao processo da
revolução francesa. Mais do que pensar sobre a colonização, Fanon queria de fato fazer
algo sobre a colonização, tal fato se justificava pela perspectiva de miséria e exploração
imposta pela colonização europeia que se utilizava de extrema violência para conter
qualquer reivindicação social. “O colonialismo é violência no seu estado natural que só
sucumbirá diante de uma violência maior”.
Outro aspecto importante abordado é mostrar que “o bem-estar e progresso da Europa
foram construídos com o suor e o cadáver dos negros, índios e amarelos”.
Diferentemente do que ocorreu na Europa do pós-guerra quando a Alemanha foi obrigada
a pagar pesadas indenizações a vários países e, sobretudo, aos judeus, os povos
colonizados não receberam qualquer reparação, ainda que decorridos séculos de
escravidão e exploração dos seus recursos naturais.
Uma importante parte do filme trata sobre “ essa pobreza de espírito” quando afirma que
a sociedade nativa representa não apenas a ausência de valores, mas a negação dos
valores. Um casal de missionários na Tanzânia, então colônia da Alemanha, estava
construindo uma igreja e é questionado, por um repórter, sobre a possível construção de
um hospital ou de uma escola, ao que, respondem evasivamente: “ ainda não sabemos,
isso virá depois, de qualquer forma, mas primeiro, a igreja porque sentimos grande
necessidade dela. ” Obviamente a “necessidade” a que se referia este casal está
relacionada à imposição da cultura e dos valores eurocêntricos. Extrapolando o autor e
estabelecendo uma conexão com “ A Microfísica do Poder” e “A Ordem do Discurso”,
ambos de Foucault, a construção da igreja, promove o controle dos corpos, além de
implantar e fazer circular o discurso, dado que o discurso é poder. Para Fanon “ no
contexto colonial, o colono conclui o seu trabalho de dobrar o nativo quando este admite
em voz alta e de modo inteligível a supremacia dos valores brancos”.
“Um mundo dividido em dois” é outro importante tema abordado no documentário. As
cidades dos colonos são limpas e niveladas, sem buracos e pedras, há lixeiras e
iluminação, diferentemente da cidade dos colonizados que é um lugar de má reputação
habitado por pessoas de má reputação, na qual soldados e a polícia são os elementos
repressores. Pode-se facilmente um paralelo com a atuação da polícia nos bairros
“nobres” de Salvador, a exemplo dos bairros Graça, Pituba e Itaigara na qual a polícia é
cidadã, contrastando com a atuação opressora nos bairros periféricos.
O processo de descolonização de Angola, a partir da luta do MPLA, a Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a luta pela independência da Guiné Bissau
mostram que a descolonização é um processo histórico e violento que desorganiza o
mundo, porém não surge de um choque natural, nem de um entendimento amigável. Após
a libertação do jugo colonial, Fanon descreve que “a apoteose da independência se
transforma em maldição da independência”. Neste sentido, pode-se estabelecer um
paralelo aos dias atuais, com os problemas enfrentados pelos países do Terceiro Mundo
e as políticas ortodoxas impostas pelos países do primeiro mundo, através do FMI,
exigindo cortes de programas sociais que sacrificam as populações vilipendiadas e
aviltadas, perpetuando um ciclo vicioso de miséria e subdesenvolvimento.
Fanon analisa ainda que o país liberto do jugo colonial “ vê-se obrigado a continuar os
circuitos econômicos estabelecidos pelo regime colonial” e de forma perspicaz explica
que a base de suas exportações não se modifica. Em outras palavras o país continua sendo
um exportador de matéria primas, com baixo valor agregado e ao mesmo tempo
importador de produtos industrializados com alto valor agregado. Produz-se, dessa
forma, uma relação de troca injusta tendo como corolário, déficits na balança comercial
e a perpetuação do ciclo de dependência através da economia.
Ao final, o documentário “Sobre a Violência” conclui que o modelo colonialista negou
todos os conceitos de humanidade e produziu uma avalanche de assassinatos, daí a
importância de as nações colonizadas decidirem por não imitar a Europa que promoveu
o epistemicídio, o etnocentrismo e a destruição dos valores e conhecimentos nativos, pois
caso contrário, correrá o risco de repetir o caso de “ uma ex-colônia europeia (Os Estados
Unidos da América), que há 200 anos se libertou e se tornou um monstro. ”

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