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Review

Serotonina Exerce Papel Importante na Dor em Coluna?


Uma Proposta de Estudo
Serotonin Plays an Important Role in Spine Pain? A Study Proposal
Rogério Aires1
João Marinello1
Renata Resende2

RESUMO
O objetivo deste trabalho é sugerir a dosagem de serotonina como um adjuvante no controle da dor pré e pós-operatória de
cirurgia de coluna.
Palavras-chave: Serotonina; Coluna; Dor; Depressão

ABSTRACT
The main purpose of this study is to determine the serotonin level as an adjuvant in pre- and post-operative pain management in
spine surgery.
Key words: Serotonin; Spine; Pain; Depression

no axônio, corpos celulares e dendritos13. Esta é transportada


Introdução em vesículas através do transportador de monoamina vesicular
(VMAT).
As cirurgias de coluna vêm crescendo em número nos últimos
anos em todos os países, sendo suas indicações as mais
diferentes possíveis. O limiar de dor em um paciente deve
ser considerado para se determinar uma insistência em um
tratamento clínico para reabilitação, melhora da analgesia e
reforço de musculatura paravertebral com o intuito de prorrogar
uma indicação cirúrgica ou se determinar uma indicação mais
precoce. Figura 1. Produção da serotonina

Vários estudos, tabelas e mecanismos têm sido propostos


Na síntese da serotonina, a primeira etapa é limitante, ou seja,
para se identificar a falência no tratamento clínico e indicação
a enzima triptofano hidrolase é quem determina a velocidade
cirúrgica e este trabalho tem o propósito de apontar a dosagem
da produção de 5HT. A neurotransmissão é desencadeada
de serotonina como um importante adjuvante para se adiar
pelo potencial de ação no neurônio pré-sináptico, que leva à
um procedimento cirúrgico ou mesmo controlar a dor pós-
conexão das vesículas com a membrana plasmática. Quando na
operatória.
fenda sináptica, a 5HT pode-se ligar ao auto-receptor de 5HT
(atuando diretamente na sua produção) ou ao transportador
de 5HT, sendo reconduzida ao citoplasma do neurônio pré-
Fisiologia da Serotonina sináptico tendo dois caminhos: ligando-se novamente ao
VMAT ou sofrendo degradação pelo sistema de monoamina
A serotonina (5-Hidroxitriptana ou 5HT) é produzida em várias oxidase (MAO-A) na mitocôndria. A base terapêutica da
partes do corpo humano, como o intestino e cérebro a partir manutenção da serotonina em níveis elevados, ocorre pelos
do aminoácido triptofano (Fig. 1) e armazenada nas vesículas seguintes mecanismos de ação (Tabela 1):

1
Neurocirurgião do Centro Neurocirúrgico do Crânio e da Coluna e do Hospital Bandeirantes, São Paulo, SP, Brasil
2
Neurologista do Centro Neurocirúrgico do Crânio e da Coluna e do Hospital Bandeirantes, São Paulo, SP, Brasil
Received Nov 20, 2015. Corrected May 8, 2016. Accepted May 20, 2016

Aires R, Marinello J, Resende R. - Serotonina Exerce Papel Importante na Dor em Coluna? Uma Proposta de Estudo J Bras Neurocirurg 26 (2): 131 - 133, 2015
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Discussão

A serotonina é um neurotransmissor responsável por alterações


no sono, transtornos de humor, percepção de dor13. Não
foi identificada na literatura a sua relação direta ou indireta
com o resultado do tratamento clínico ou cirúrgico de coluna
(PubMed), somente com a depressão.
Vários estudos demonstram múltiplos fatores como um mau
prognóstico em pós-operatório de cirurgia de coluna, tais como
condição social, comportamento biológico, condição médica
pregressa e psicossocial1,7,10.
Muitos autores9,11,16 demonstraram que pacientes com depressão
pré ou pós-operatória podem ter um prognóstico pós-operatório
Formas de Abordagem da Serotonina ruim. Este fato foi discordado por Ng et al.14 (2009) que não
evidenciou correlação entre a depressão e restrição física ou
álgica.
Abordagem pré-operatória: sugere-se a dosagem da
serotonina sérica em pacientes com dor na coluna vertebral, A relação médico-paciente e a falta de um diagnóstico correto
refratária ao tratamento clínico (medicamentoso e reabilitação), interferem diretamente no grau de satisfação e insatisfação
com exames de imagem normais ou considerados pelo médico do segundo6. Entretanto, na própria literatura há divergência
assistente como normais. Quando alterados, iniciar a dosagem sobre os critérios de seleção dos pacientes, nas abordagens e
máxima de inibidores da recaptação da serotonina ou inibidores interpretações dos dados clínicos relevantes5. Já foi sugerida
da recaptação da serotonina-norepinefrina. uma abordagem psicossocial prévia a um procedimento
cirúrgico na coluna, mas os resultados foram dúbios, sem
Abordagem pós-operatória: sugere-se a dosagem da
uma conclusão2. Sabe-se porém que 19,8% dos canadenses
serotonina sérica em pacientes com dor pós-operatória,
depressivos têm dor na coluna3.
refratária ao tratamento clínico (no mesmo formato pré-
operatório), com exames de imagem mostrando boa fixação, Fatores apoiam a serotonina como um importante hormônio
respeito à dinâmica de coluna vertebral, sem acidentes no neurotransmissor na percepção da dor que está no manejo
intra-operatório (que justifiquem a dor pós-operatória). Repetir medicamentoso da dor crônica (neuropática ou não),
o tratamento como na conduta pré-operatória. prevalecendo ainda os antidepressivos tricíclicos, inibidores da
recaptação da serotonina e serotoninérgicos na primeira linha
Mantém-se o tratamento por um período mínimo de 1 mês,
de tratamento dos quadros álgicos12.
pois as medicações têm um pico de ação 15 dias após o
início do tratamento, tanto no pré, quanto no pós operatório. Caso houvesse um marcador mais fidedigno da percepção
Repetir a dosagem de serotonina em 3 meses após o início da dor e depressão, talvez muitas cirurgias consideradas
do tratamento. Caso não ocorra melhora da dor, mesmo na desnecessárias poderiam ser evitadas. Estas cirurgias estudadas
vigência de tratamento adequado para o paciente, sugere-se a por Epstein et al.4 podem chegar a 17,2% e as dores, que eram
troca da medicação (de inibidores da recaptação da serotonina agudas e poderiam ser tratadas com medicações específicas,
para inibidores da recaptação da serotonina-norepinefrina ou tornam-se crônicas em até 80% dos pacientes, reduzindo a
vice-versa), associando a anti-inflamatórios hormonais ou qualidade de vida do paciente e aumentando as possibilidades
não hormonais. Repete-se a dosagem de serotonina a cada de descompensação de outras comorbidades8,15.
3 meses até o aumento da mesma e consequente melhora da
dor. Se necessário, no intercurso do tratamento, associar anti-
inflamatórios não hormonais ou analgésicos.

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factor of lumbar spinal stenosis: a systematic review. Spine J.


Conclusão 2014 1;14(5):837-846.
12. Moulin D, Boulanger A, Clark AJ, Clarke H, Dao T, Finley GA
et al. Pharmacological management of chronic neuropathic pain:
Os autores entendem que a depressão e a baixa de serotonina revised consensus statement from the Canadian Spine Society.
podem levar o paciente a uma maior susceptibilidade à dor; Pain Res Manag. 2014;19(6):328-335.
bem como ao aumento da dor, podendo levar à depressão e 13. Nadal-Vicens M, Chyung JH, Turner TJ. Farmacologia da
baixa da serotonina. neurotransmissão serotoninérgica e adrenérgica central.
14. GOLAN, David E. Princípios de farmacologia: a base
A dosagem de serotonina pode ser um adjuvante para se fisiopatológica da farmacoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro:
detectar um provável bom ou mau prognóstico em pacientes Guanabara Koogan, 2009.
pré ou pós-operatório de cirurgia de coluna. Um estudo clínico 15. Ng LCL, Tafazal S, Sell P. The effect of duration of symptoms
prospectivo com dosagens seriadas de serotonina durante on standard outcome measures in the surgical treatment of spinal
stenosis. Eur Spine J. 2007;16(2):199-206.
o tratamento clínico e pós-operatório poderia dirimir estas
dúvidas. 16. Pawl R. “When the pain won’t wane it’s mainly the brain”. Surg
Neurol Int. 2013;4(Suppl 5):S330-333.
17. Sinikallio S, Letho SM, Aalto T, Airaksinen O, Kröger H,
Viinamäki H. Depressive symptoms during rehabilitation period
predict poor outcome of lumbar spinal stenosis surgery: a two-
Referências year perspective. BMC Musculoskelet Disord. 2010;11:152.

1. Aalto TJ, Malmivaara A, Kovacs F, Herno A, Alen M, Salmi L et


al. Preoperative predictors for postoperative clinical outcome in
lumbar spine stenosis: systematic review. Spine (Phila P1976).
2006;31(18): e648-663.
Corresponding Author
2. Celestin J, Edwards RR, Jamison RN. Pretreatment psychosocial Rogério Aires
variables as predictors of outcomes following lumbar surgery
and spinal cord stimulation: a systematic review and literature
Centro Neurocirúrgico do Crânio e da Coluna
synthesis. Pain Med. 2009; 10(4):639-653. Rua Castro Alves, 457. Conjuntos 92/93
CEP 01532-001, Aclimação, São Paulo, SP, Brazil
3. Currie SR, Wang J. Chronic back pain and major depression in cranio.coluna@gmail.com
the general Canadian population. Pain. 2004;107(1-2):54-60.
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