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XXXIII

EXAME

ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
ATUALIZADO COM: INCLUI:
• Lei nº 13.869/2019 (Nova Lei de
Abuso de Autoridade) • Quadros de ATENÇÃO
APOSTILA
INTEGRADA • Lei nº 13.845/2019 (Direito à
COM O APP! Educação) • Tabelas Comparativas
• Lei nº 13.824/2019 (Reeleição
Conselheiro Tutelar) • Esquemas Didáticos

• Referências a temas cobrados


em provas anteriores

OABNAMEDIDA.COM.BR
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1.1.  CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.2.  DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR X DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS
2.1.  DIREITO À VIDA E À SAÚDE
2.2.  DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE
2.3.  DIREITO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA
2.3.1  FAMÍLIA NATURAL
2.3.2  FAMÍLIA SUBSTITUTA
2.3.2.1  GUARDA
2.3.2.2  TUTELA
2.3.2.3  ADOÇÃO
2.4.  DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER
2.5.  DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO AO TRABALHO

3. PREVENÇÃO
3.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS
3.2.  PREVENÇÃO ESPECIAL

4. POLÍTICA DE ATENDIMENTO
5. MEDIDAS DE PROTEÇÃO
5.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS
5.2.  MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

6. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL


6.1.  MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
6.2.  DIREITOS INDIVIDUAIS E GARANTIAS PROCESSUAIS
6.3.  PROCEDIMENTO PARA A APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL

7. CONSELHO TUTELAR
8. TUTELA JURISDICIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
8.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS
8.2.  VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
8.3.  PROCEDIMENTOS
8.3.1  PERDA E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR
8.3.2  COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA
8.4.  RECURSOS
8.5.  MINISTÉRIO PÚBLICO

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Alteração Legislativa Atenção Exemplo
8.6.  ADVOGADO
8.7.  PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS

9. CRIMES PREVISTOS NO ECA


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

10. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

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1. INTRODUÇÃO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.1.  CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE

De acordo com o estabelecido no art. 2° do ECA, considera-se criança a pessoa de até 12 (doze)
anos incompletos e adolescente a pessoa entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto
às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

É importante destacar que as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário referem-
se à criança como a pessoa com menos 18 anos de idade. No entanto, considera-se importante
a distinção entre criança e adolescente explicitada pelo ECA, uma vez que permite uma tutela
diferenciada entre as pessoas com idades diferentes.

Digno de nota, ainda, que o ECA é aplicável excepcionalmente às pessoas entre 18 (dezoito)
e 21 (vinte e um) anos de idade, quando o adolescente pratica ato infracional ficando sujeito à
medida socioeducativa e posteriormente completa 18 anos. Nesse caso específico, o ECA deverá ser
aplicado até o adolescente completar 21 anos de idade, quando ocorrerá sua liberação compulsória.

1.2.  DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR X DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) representou a ruptura da doutrina da


situação irregular, principal fundamento do código de menores de 1979, e consolidou a doutrina
da proteção integral, conforme expressamente previsto em seu art. 1°.

Vejamos abaixo as principais diferenças entre as doutrinas da situação irregular e da


proteção integral.

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DOUTRINA DA SITUAÇÃO DOUTRINA DA PROTEÇÃO
IRREGULAR INTEGRAL
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Principal fundamento do Código de Principal fundamento do Estatuto


Menores de 1979, que foi revogado pelo ECA. da Criança e do Adolescente (art. 1°).

Criança e o adolescente deixam de ser


Cultura assistencialista, preocupada objeto de direito e passam a assumir a
basicamente com a situação da criança e do condição de sujeitos de direito, que necessitam
adolescente encontrados em “situação irregular”. de proteção especial porque são pessoas
em peculiar condição de desenvolvimento.

O Código de Menores considerava “situação


irregular” quando o menor de 18 anos
fosse encontrado nas seguintes situações:

I) privado de condições essenciais à sua


subsistência, saúde e instrução obrigatória,
A condição da criança e do adolescente como
ainda que eventualmente, em razão de: a) falta,
sujeito de direito, diferentemente da doutrina da
ação ou omissão dos pais ou responsável;
situação irregular, não depende da existência
b) manifesta impossibilidade dos pais ou
de situação de risco ou de infringência à
responsável para provê-las; II) vítima de maus
lei, sendo aplicada pelo simples fato de se
tratos ou castigos imoderados impostos pelos
reconhecer que as crianças e adolescentes são
pais ou responsável; III - em perigo moral,
pessoas em desenvolvimento que merecem
devido a: a) encontrar-se, de modo habitual,
atenção especial do ordenamento jurídico.
em ambiente contrário aos bons costumes; b)
exploração em atividade contrária aos bons
costumes; IV - privado de representação ou
assistência legal, pela falta eventual dos pais
ou responsável; V - Com desvio de conduta,
em virtude de grave inadaptação familiar
ou comunitária; VI - autor de infração penal.

1.3.  PRINCIPAIS DISPOSITIVOS SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição Federal de 1988 possui diversos dispositivos importantes sobre os direitos da


criança e do adolescente. Abaixo destacamos aqueles mais importantes para a prova da OAB/FGV.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

XV - proteção à infância e à juventude.

A competência para legislar sobre a proteção aos direitos da criança e do adolescente,


portanto, é concorrente entre a União (estabelece normal geral), Estados (normas específicas) e
Distrito Federal.

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Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

A proteção à infância, por se tratar de direito social, exige uma postura ativa por parte do Estado,
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

principalmente por meio de adoção de políticas públicas em prol das crianças e adolescentes.

Art. 7º

(...)

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de


qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
de quatorze anos.

Em razão da condição peculiar de desenvolvimento da pessoa menor de 18 anos de idade, para


que o trabalho não lhe seja prejudicial, a Constituição Federal veda expressamente o trabalho
noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.

TRABALHO DA CRIANÇA (ATÉ 12 TRABALHO DO ADOLESCENTE


ANOS) (DE 12 A 18 ANOS)

Vedado o trabalho noturno, perigoso ou


insalubre para menores de 18 (dezoito) anos.
Expressamente vedado pela
Constituição Federal de 1988
Vedado qualquer trabalho a menores de
16 (dezesseis) anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de 14 (quatorze) anos.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente


e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O direito à absoluta prioridade deve ser observado pela família, pela sociedade e pelo Estado,
refletindo a necessidade de proteção especial das crianças e dos adolescentes em razão da sua
condição peculiar de desenvolvimento. O art. 4º do ECA, por sua vez, dispõe que as ações que
integram a garantia de prioridade são: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c)
preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada
de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Com a alteração do art. 227 da CF/88, promovida pela EC n.65/10, o jovem também é destinatário
da absoluta prioridade. De acordo com o Estatuto da Juventude (Lei n. 12.852/2013), são
consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos.
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Art. 228 CF/88. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às
normas da legislação especial.

A inimputabilidade dos menores de 18 anos se baseia unicamente no critério biológico, de


modo que crianças e adolescentes são considerados inimputáveis ainda que tenham discernimento
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

sobre as consequências da prática do crime.

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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.1.  DIREITO À VIDA E À SAÚDE

Segundo disposto no art. 7° do ECA, a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida
e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

O Estado, portanto, deve assumir papel ativo na efetivação do direito à vida e à saúde das
crianças e adolescentes, proporcionando-lhes nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
destacando-se abaixo as principais regras previstas no ECA:

• É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde


da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal1
e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde (art. 8º, caput, do ECA).

• Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no


último trimestre da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto,
garantido o direito de opção da mulher (§ 2º do art. 8º do ECA). Assim, a ideia que é a
gestante possa contar com o médico que lhe atendeu nos últimos meses de gestação
também na hora do parto.

• Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no


período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências
do estado puerperal, bem como para as gestantes e mães que manifestem interesse
em entregar seus filhos para adoção, ou ainda para aquelas mães e gestantes que se
encontrem em situação de privação de liberdade (§ 4º e § 5º do art. 8º do ECA).

• A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante


o período do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato (§ 6º do art. 8º do ECA).

• Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e


particulares, são obrigados a: I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
de prontuários individuais, pelo prazo de 18 (dezoito) anos; II - identificar o recém-
nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa
competente; III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de
anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação
aos pais; IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as
intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V - manter alojamento
conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe e VI - acompanhar
a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica

1 Referente ao período um pouco antes e um pouco depois do parto.


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adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo
técnico já existente (art. 10 do ECA, com o inciso VI, acrescentado pela Lei n. 13.436/17).

• Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais,


de terapia intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de


internação de criança ou adolescente (art. 12 do ECA).

• As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para


adoção serão obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da
Infância e da Juventude (§ 1º do art. 13 do ECA).

• O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e


odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a
população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos
(art. 14, caput, do ECA).

• É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades


sanitárias (§ 1º do art. 14 do ECA).

• Destaca-se ainda que o descumprimento das obrigações previstas no art. 10 do ECA


pode caracterizar a prática dos crimes previstos nos artigos 228 e 229 do ECA:

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção


à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável,
por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
do parto e do desenvolvimento do neonato:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à


saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

2.2.  DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE

Para garantir o saudável desenvolvimento da criança e do adolescente, o art. 15 do ECA lhes


garante o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas.

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De acordo com o art. 16 do ECA, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir,
vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II
- opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V -
participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma
da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Já o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da


criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais (art. 17 do ECA).

A preservação da dignidade, por sua vez, exige que a criança e adolescente estejam a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor (art. 18 do
ECA), sendo vedado o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, por qualquer pessoa encarregada de
cuidar, tratar ou educar a criança ou adolescente (art. 18-A do ECA).

TRATAMENTO CRUEL OU
CASTIGO FÍSICO DEGRADANTE

Ação de natureza disciplinar ou punitiva Conduta ou forma cruel


aplicada com o uso da força física sobre de tratamento em relação
a criança ou o adolescente que resulte à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou
em: a) sofrimento físico; ou b) lesão; b) ameace gravemente; ou c) ridicularize

A pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes (pais, integrantes da família


ampliada, responsáveis, agentes públicos executores de medidas socioeducativas, etc.) que
utilizar castigo físico ou tratamento cruel ou degradante estará sujeita, sem prejuízo de outras
sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas pelo Conselho Tutelar de acordo com
a gravidade do caso: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; III - encaminhamento a cursos ou
programas de orientação; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; V -
advertência.(art. 18-B do ECA).

2.3.  DIREITO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Não mais persiste em nosso ordenamento jurídico qualquer distinção entre filhos concebidos
na constância ou fora do casamento. Ao contrário, conforme disposto no art. 20 do ECA, os filhos,
havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê 3 (três) tipos de entidade familiar: família natural,
família extensa e família substituta.

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FAMÍLIA EXTENSA
FAMÍLIA NATURAL FAMÍLIA SUBSTITUTA
(ART. 25, PARÁGRAFO
(ART. 25 DO ECA) (ART. 28 DO ECA)
ÚNICO, DO ECA)
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Estende-se além da
unidade do casal, sendo
São os pais
formada por parentes
biológicos ou Formada nos casos de
próximos com os quais a
qualquer deles e guarda, tutela ou adoção.
criança ou adolescente
seus descendentes.
convive e mantem vínculo
de afinidade e afetividade.

Como regra geral, as crianças e adolescentes devem ser criados e educados no seio de sua
família natural e, apenas excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.

Os pais/responsáveis exercem o poder familiar, considerado um conjunto de direitos e deveres


relativamente à pessoa e aos bens dos filhos menores não emancipados (art. 21 do ECA).

O poder familiar engloba os deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores, bem
como o dever de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Ressalta-se, ainda, que a mãe
e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no
cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de
suas crenças e culturas (art. 22 do ECA).

No caso de descumprimento injustificado dos deveres acima citados, bem como nas hipóteses
previstas na legislação civil, poderá haver a perda ou suspensão do poder familiar, sempre por
meio de decisão judicial, garantindo-se o contraditório.

De acordo com o art. 1.637 do CC, se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos
deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente,
ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e
seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

Além disso, conforme parágrafo único do mesmo artigo, suspende-se igualmente o exercício
do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja
pena exceda a dois anos de prisão.

A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente
titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente. (art. 23, § 2º, ECA).

O art. 1.638 do CC, por sua vez, estabelece como causas de perda do poder familiar: I - castigar
imoderadamente o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos
bons costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo 1.637, ou seja, abuso
de autoridade reiterado, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos.
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De acordo com o art. 23 do ECA, a falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo
suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. Da mesma forma, com as alterações
do ECA promovidas pela Lei n. 13.257/2016 (Marco Legal da 1ª Infância), a existência de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes, por si só, não é causa de suspensão do poder familiar.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Ressalta-se, ainda, que a Lei n. 13.715/2018 alterou o § 2º do art. 23 do ECA, passando a


dispor que a condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar,
exceto na hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem
igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente.

Havendo decisão judicial determinando o afastamento da entidade familiar, a criança ou


adolescente será encaminhado para programa de acolhimento familiar ou institucional.

O Acolhimento familiar deve ter preferência em relação ao institucional. O acolhimento


institucional não pode se prolongar por mais de 18 meses, salvo comprovada necessidade que
atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária (§ 2º
do art. 19 do ECA). Esse prazo de 18 meses não é aplicado ao acolhimento familiar.

Além disso, toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento
familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo
a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional
ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou
colocação em família substituta (§ 1º do art. 19 do ECA).

Destaca-se, ainda, que a Lei n. 13.509/2017 acrescentou os §§ 5º e 6º ao art. 19 do ECA,


estipulando que a adolescente que for mãe e estiver em acolhimento institucional terá o direito de
convivência integral com seu filho e apoio de equipe especializada.

2.3.1.  FAMÍLIA NATURAL

Conforme mencionado anteriormente, família natural é a comunidade formada pelos pais


biológicos ou qualquer deles e seus descendentes, não se confundido com a família extensa ou
ampliada, considerada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do
casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
vínculos de afinidade e afetividade (art. 25 do ECA).

Não mais existe em nosso ordenamento jurídico qualquer discriminação entre filhos concebidos
dentro ou fora do casamento, de modo que os filhos havidos fora do casamento poderão ser
reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por
testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da
filiação. Além disso, esse reconhecimento poderá ser antes do nascimento do filho ou após o seu

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falecimento, se deixar descendentes (art. 26 do ECA).

Ressalta-se, ainda, que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,


indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
qualquer restrição, observado o segredo de Justiça (art. 27 do ECA).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.3.2.  FAMÍLIA SUBSTITUTA

Família substituta é aquela que substitui a entidade familiar biológica em determinados casos
específicos, podendo ser por meio de um dos seguintes institutos: guarda, tutela ou adoção.

Como a regra geral é a preservação dos laços da criança e do adolescente com a família
natural, a colocação em família substituta é medida excepcional e exige a observância de diversas
regras previstas no ECA:

• Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por


equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de
compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
considerada. Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu
consentimento, colhido em audiência (§ 1º e § 2º do art. 28).

• Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família
substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação
que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em
qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais (§ 4º do art. 28).

• A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de


sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente
com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia
do direito à convivência familiar (§ 5º do art. 28).

• A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou


adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem
autorização judicial (art. 30).

• A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional,


somente admissível na modalidade de adoção (art. 31).

Além dos requisitos acima citados, interessante destacar que, tratando-se de criança ou
adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é obrigatório:
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e
tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos
fundamentais reconhecidos pelo ECA e pela Constituição Federal; II - que a colocação familiar
ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; III - a
intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no
caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional
ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.
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Desse modo, tratando-se de colocação em família substituta de criança ou adolescente indígena,
exige-se um procedimento diferenciado, com a participação do órgão federal responsável pela
política indigenista (FUNAI) e de antropólogo TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

Vejamos agora cada uma das modalidades da família substituta.


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.3.2.1.  GUARDA

A guarda é modalidade que objetiva regularizar a situação de fato da criança ou adolescente,


sendo concedida de forma provisória e transferindo ao seu detentor o dever de prestar assistência
material, moral e educacional, além do que confere à criança ou adolescente a condição de
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido
o Ministério Público (art. 35 do ECA).

Embora a guarda não suspenda nem destitua o poder familiar, não impedindo, como regra
geral, o direito de visitas ou o dever de prestar alimentos, o guardião poderá se opor a terceiros,
inclusive aos pais biológicos.

A guarda, portanto, não rompe com o dever de prestar alimentos nem impede que os pais
visitem a criança ou o adolescente, mesmo porque a guarda pode ter sido concedida apenas
até que a família natural consiga se reestruturar. Entretanto, em duas situações haverá a perda
do direito de visita dos pais: 1) Guarda incidental em processo de adoção; 2) Por expressa
determinação judicial nesse sentido.

Como regra geral, a guarda é concedida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de


tutela e adoção, desde que não se trate de adoção por estrangeiros. Entretanto, também poderá ser
deferida em processo autônomo, para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos
pais ou responsável, concedendo-se o direito de representação para a prática de atos determinados.

2.3.2.2.  TUTELA

A tutela é conferida a pessoa até 18 anos incompletos, pressupõe a perda ou suspensão do


poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda (art. 36 do ECA)

O direito de nomear tutor incumbe aos pais, em conjunto, sendo que a nomeação deve constar
de testamento ou de qualquer outro documento autêntico.

Na falta de tutor nomeado pelos pais, dispõe o art. 1.731 do CC que incumbe a tutela aos
parentes consanguíneos do menor, nesta ordem: I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais
próximo ao mais remoto; II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos
mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; sendo que, em qualquer dos
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casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor.

2.3.2.3.  ADOÇÃO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A adoção é considerada medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas


quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou
extensa (§ 1º do art. 39 do ECA).

Por se tratar de medida excepcional, a Lei n. 13.509/2017 acrescentou o art. 19-A ao ECA,
consignando que a mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou
logo após o nascimento, deverá ser encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude para que
seja ouvida por uma equipe interprofissional, que apresentará relatório à autoridade judiciária,
considerando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal. De posse do relatório,
a autoridade judiciária poderá determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua
expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência social para atendimento especializado.

Se a mãe indicar quem é o pai da criança, a prioridade é tentar que o genitor assuma a guarda
da criança. Caso isso não seja possível, deve-se tentar ainda acolher a criança em sua “família
extensa” (parentes próximos com os quais a criança ou adolescente possuem vínculos de afinidade
e afetividade). A tentativa de colocação da criança ou adolescente na família extensa deverá durar,
no máximo, 90 dias, prorrogável por igual período.

Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro representante da


família extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar
a extinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de
quem estiver habilitado a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de acolhimento
familiar ou institucional.

Quem receber a guarda da criança terá o prazo de 15 dias para propor a ação de adoção,
contado do dia seguinte à data do término do estágio de convivência.

A Lei nº 13.509/2017 acrescentou o § 10 ao art. 47 do ECA, estipulando que o prazo máximo


para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez
por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.

Como se trata de medida irrevogável, os laços advindos da adoção são eternos, ou seja,
não são rompidos nem com a morte dos pais adotivos. Em outras palavras, a morte dos pais
adotantes não reestabelece o poder familiar dos pais biológicos, conforme previsto art. 49 do
ECA TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

A adoção representa um vínculo de filiação por meio de decisão judicial, atribuindo a condição
de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de
qualquer vínculo com os pais e parentes biológicos, incluindo o registro civil originário, que será
alterado para fazer constar o nome dos pais adotivos, sendo que nenhuma observação sobre a
origem do ato de adoção poderá constar nas certidões do registro.

15
Embora não possa constar nenhuma observação sobre a origem do ato de adoção, o adotado
tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. O
acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito)
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica TEMA


COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV

Registra-se, ainda, que a adoção pode ser unilateral ou bilateral.

Na adoção bilateral rompem-se os vínculos familiares tanto do pai quanto da mãe,


enquanto que na adoção unilateral o rompimento do vínculo ocorre em relação a apenas
um dos genitores, como no caso da adoção pleiteada pelo padrasto ou madrasta em relação
ao filho do seu cônjuge ou companheiro, devendo, neste caso, ser verificado o interesse do
adotando. TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

Vejamos abaixo as principais regras trazidas pelo ECA sobre a adoção:

• O adotando deve contar com, no máximo, 18 (dezoito) anos à data do pedido,


salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes, conforme art. 40 do ECA
TEMA COBRADO NO II EXAME DA OBA/FGV. A adoção de pessoas maiores de
18 anos não é regida pelo ECA e sim pelo Código Civil.

• Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil


(art. 42, caput), mas o adotante deve ser, pelo menos, 16 (dezesseis) anos mais velho
do que o adotando (§ 3º do art. 42).

Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando (§ 1º do art. 42). Nesses casos,
poderá ser deferida a tutela TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.

• A adoção exige estágio de convivência prévio com a criança ou adolescente, pelo


prazo máximo de 90 dias, prorrogável por igual prazo por decisão da autoridade
judiciária, podendo ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal
do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
constituição do vínculo (art. 46 do ECA, alterado pela Lei n. 13.509/2017).

A Lei n. 13.509/2017 alterou o art. 46, caput, do ECA, que passou a prever que o prazo máximo do
estágio de convivência será de 90 dias, prorrogável por igual prazo por decisão da autoridade
judiciária (antes o ECA não tratava do prazo máximo de convivência em adoção nacional,
cabendo ao juiz fixa-lo). Além disso, alterou o § 3º, dispondo que, tratando-se de hipótese de
adoção internacional, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo,
45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante decisão
fundamentada da autoridade judiciária (antes o ECA previa que o prazo máximo seria de 30 dias).

16
• O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional, que
apresentará relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida
(§ 4º do art. 46 do ECA, acrescentado pela Lei n. 13.509/2017). Além disso, o estágio
de convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente na comarca
de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe,
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de residência da


criança (§ 5º do art. 46 do ECA, acrescentado pela Lei n. 13.509/2017).

• A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando,


salvo nos casos em que os pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder
familiar (art. 45, caput e § 1º do ECA). TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV

• Em se tratando de adotado maior de 12 anos de idade, será também necessário


o seu consentimento (§ 2º do art. 45 do ECA). Sendo o adotado menor de 12 anos,
recomenda-se sempre que possível sua oitiva e sua opinião será devidamente
considerada (§ 1º do art. 28 do ECA).

• Para adoção conjunta, é indispensável, como regra geral, que os adotantes sejam
casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da
família (§ 2º do art. 42 do ECA).

• No entanto, os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros


podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de
visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do
período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade
e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade
da concessão, conforme § 4º do art. 42 do ECA. TEMA COBRADO NO V EXAME DA
OAB/FGV.

• O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro
civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. A sentença conferirá
ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
modificação do prenome (art. 47 do ECA). A natureza da sentença é constitutiva, uma
vez que gera para as partes um vínculo jurídico antes inexistente.

A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, salvo
na hipótese do adotante vier a falecer após inequívoca manifestação de vontade no curso do
procedimento, caso em que terá força retroativa à data do óbito (art. 47, §7º, do ECA). Essa regra
é muito importante para o direito sucessório, permitindo o direito à herança do adotado no caso
do adotante morrer antes do trânsito em julgado TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

É importante consignar, ainda, que que cabe à autoridade judiciária manter, em cada comarca
ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro
de pessoas interessadas na adoção.

O deferimento da inscrição dos interessados dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos
do Juizado, ouvido o Ministério Público, sendo que haverá cadastros distintos para pessoas ou
casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes
17
nacionais habilitados.

A Lei nº 13.509/2017 acrescentou o § 15 ao art. 50 do ECA, estabelecendo que será assegurada


prioridade no cadastro a pessoas interessadas em adotar criança ou adolescente com deficiência,
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos.

Além do cadastro judicial acima citado, prevê o § 5º do art. 50 do ECA que serão criados e im-
plementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.

Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente,
sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em
programa de acolhimento familiar

Digno de nota, também, que somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato
domiciliado no Brasil não cadastrado previamente, nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 do
ECA, a saber:

I - se tratar de pedido de adoção unilateral (realizada por um dos cônjuges ou


companheiros em relação ao filho do outro);

II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos
de afinidade e afetividade (Atenção: irmãos e ascendentes não podem adotar);

III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3
(três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a
fixação de laços de afinidade e afetividade.

Outro tema muito importante para a prova da OAB diz respeito à adoção internacional, sobre a
qual destacamos as seguintes regras:

• Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o


estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta
e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante decisão
fundamentada da autoridade judiciária, conforme § 3º do art. 46 do ECA, alterado pela
Lei n. 13.509/2017) TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

• O estágio de convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente


na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de
residência da criança (§ 5º do art. 43 do ECA, acrescentado pela Lei nº 13.509/2017)

• A adoção internacional somente será deferida se, após consulta ao cadastro de


pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da
Juventude na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional, não for
encontrado interessado com residência permanente no Brasil, conforme § 10 do art.
50 do ECA TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV.

18
• Na adoção internacional, além da prioridade de casal brasileiro, residente no
brasil, também terão preferência os brasileiros residentes no exterior, conforme
art. 51, §2º, do ECA.

• A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

do ECA, com as adaptações previstas no art. 52, dentre as quais destacamos as


seguintes: o pedido de habilitação à adoção deve ser feito perante a Autoridade Central
do país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada a residência habitual
do interessado, para que esta envie um relatório para a Autoridade Central Estadual
e para a Autoridade Central Federal Brasileira, a fim de que obtenham o laudo de
habilitação à adoção internacional TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

• De posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido


de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a
criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.

• Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não


será permitida a saída do adotando do território nacional. Com o trânsito em julgado
da decisão, a autoridade judiciária determinará a expedição de alvará com autorização
de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, as
características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital
do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e
certidão de trânsito em julgado.

2.4.  DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA AO ESPORTE E AO LAZER

O direito à educação, à cultura e ao esporte da criança e do adolescente vem regulamentado


nos arts. 53 ao 59 do ECA, sendo que, para a prova da OAB, destacamos abaixo as regras que
consideramos mais importantes:

• Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na


rede regular de ensino (art. 55 do ECA).

• É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais (parágrafo único do art. 53 do ECA).

• A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento


de sua pessoa, assegurando-se-lhes, entre outros direitos, acesso à escola pública e
gratuita próxima de sua residência. Além disso, com a alteração promovida pela Lei n.
13.845/2019, devem ser garantidas vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. (art. 53 do ECA).

• É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental,


obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III -
atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino; IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de
zero a cinco anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
19
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno
regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no
ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 54 do ECA)
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo, sendo que o não oferecimento
do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
autoridade competente (§ 1º e § 2º do art. 54)

• De acordo com o art. 56 do ECA, os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental


comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II
- reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

2.5.  DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO AO TRABALHO

Conforme estudado anteriormente, em razão da condição peculiar de desenvolvimento da


pessoa menor de 18 anos de idade, para que o trabalho não lhe seja prejudicial, a Constituição
Federal veda expressamente o trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e
de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos (art. 7 º, XXXIII, da CF/88).

Desse modo, após a leitura do ECA com base no texto da Constituição Federal, conclui-se o
seguinte: a) o trabalho de adolescente menor de 14 anos de idade é vedado em qualquer situação,
b) o trabalho de adolescente entre 14 e 16 anos de idade é permitido apenas na condição de
aprendiz, e c) o adolescente com 16 anos ou mais pode trabalhar normalmente, salvo se o
trabalho for noturno, perigoso ou insalubre, hipótese em que o labor será permitido somente
após o adolescente completar 18 (dezoito) anos de idade. TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA
OAB/FGV.

A aprendizagem, portanto, representa a formação técnico-profissional do adolescente a partir


dos 14 anos de idade. É importante registrar, ainda, que a formação técnico-profissional obedecerá
aos seguintes princípios: I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; II -
atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III - horário especial para o exercício
das atividades (art. 63 do ECA).

Desse modo, atividades que não garantem o desenvolvimento do adolescente, como aquelas
repetitivas e sem aprendizado efetivo (corte da cana, carga e descarga de caminhões, limpeza em
geral, ensacamento de mercadorias) são incompatíveis com a aprendizagem e não podem ser
exigidas do adolescente em formação TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV.

20
3

3. PREVENÇÃO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

3.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

Dispõe o art. 70 do ECA que é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente.

A Lei n. 13.010/14, conhecida como Lei do Menino Bernardo, acrescentou os artigos 70-A
e 70-B ao ECA, que estabelecem, em síntese, a necessidade de atuação articulada entre União,
Estados, Distrito Federal e os Municípios na elaboração de políticas públicas e na execução de
ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir
formas não violentas de educação de crianças e de adolescentes, bem como a obrigação das
entidades, públicas e privadas, que atuem nas áreas de informação, cultura, lazer, esportes,
diversões, entre outras, contarem, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e
comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados contra crianças e
adolescentes.

Além dessa proteção geral acima tratada, o ECA prevê, ainda, medidas de proteção especial,
conforme doravante exposto.

3.2.  PREVENÇÃO ESPECIAL

O ECA estabelece regras de proteção especial relacionadas aos seguintes temas: a) informação,
cultura, lazer, esportes, diversões e Espetáculos; b) produtos e serviços e c) autorização para viajar.

Em relação à informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espetáculos, a maior


preocupação do ECA é vedar a publicação de conteúdo impróprio para crianças e adolescentes,
estabelecendo, entre outras regras, que:

• Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar


visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre
a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação
(parágrafo único do art. 74 do ECA).

• As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos


locais de apresentação ou exibição de espetáculos quando acompanhadas dos pais ou
responsável (parágrafo único do art. 75 do ECA).

• As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para


o público infantojuvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua
classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição (art. 76 do ECA).

21
• As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e
adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência
de seu conteúdo. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens
pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca (art. 78 do ECA).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

• As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter


ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,
armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da
família (art. 79 do ECA).

• Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar,


sinuca ou congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem
apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada e
a permanência de crianças e adolescentes no local. (art. 80 do ECA).

Já em relação aos produtos e serviços, o art. 81 do ECA estabelece que é proibida a venda à
criança ou ao adolescente de: I - armas, munições e explosivos; II - bebidas alcoólicas; III - produtos
cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização
indevida; IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial
sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; V - revistas e
publicações a que alude o art. 78 (conteúdo impróprio); VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

Além disso, o art. 82 do ECA proíbe a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel,
pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou
responsável TEMA COBRADO NOS EXAMES VIII E IX DA OAB/FGV.

Finalmente, em relação ao tema autorização para viajar, o ECA estabelece que:

• Viagem nacional ( art. 83 do ECA, alterado pela Lei n. 13.812/2019): nenhuma


criança ou adolescente menor de 16 anos de idade poderá viajar para fora da
comarca onde reside, desacompanhada de ao menos um dos pais ou responsável,
sem expressa autorização judicial, salvo nos seguintes casos: a) quando se
tratar de comarca contígua à da residência da criança ou adolescente, se na
mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana
TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB/FGV e b) a criança ou adolescente
estiver acompanhado: I) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau
(irmãos, tios e sobrinhos), comprovado documentalmente o parentesco ou II)
de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

• Viagem para o Exterior: quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é


dispensável, se a criança ou adolescente: I - estiver acompanhado de ambos os pais
ou responsável; II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente
pelo outro através de documento com firma reconhecida (art. 84 do ECA). TEMA
COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV. Importante destacar que a Lei n. 13.726/2018
passou a dispor que não haverá necessidade de firma reconhecida para viagem do
menor se os pais estiverem presentes no embarque.

Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido


em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou
domiciliado no exterior. 22
VIAGEM NACIONAL
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

ADOLESCENTE com 16 anos Criança e Adolescente menor


ou mais: Não precisa de 16 anos: Precisa de autorização
autorização judicial, válida por dois anos.

EXCEÇÕES (não precisam


de autorização):

Quando se tratar de comarca contígua à criança estiver acompanhada:


da residência da criança, se na mesma 1) de ascendente ou colateral maior,
unidade da Federação, ou incluída na até o terceiro grau, comprovado
mesma região metropolitana documentalmente o parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente
autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

VIAGEM AO EXTERIOR

REGRA GERAL: CRIANÇA E ADOLESCENTE


PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL OU
DO PAI E DA MÃE COM FIRMA RECONHECIDA
(SALVO SE OS PAIS ESTIVEREM NO
EMBARQUE).

EXCEÇÕES:

Na companhia de um dos pais,


autorizado expressamente pelo
Estiver acompanhado de ambos outro através de documento com
os pais ou responsável firma reconhecida, salvo se os
pais estiverem presentes
no embraque.

Registra-se, por fim, que o descumprimento das normas de prevenção previstas no ECA configura
,na maioria das vezes, a prática de infração administrativa, conforme será posteriormente analisado.

23
4

4. POLÍTICA DE ATENDIMENTO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente deve ser feita através de um
conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.

Entre as diretrizes da política de atendimento, destacam-se a municipalização do atendimento,


bem como a criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do
adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federais,
estaduais e municipais.

Conselho Nacional dos


Direitos da Criança e do
Adolescente

Conselhos Estaduais dos


Direitos da Criança e do
Adolescente

Conselhos Municipais
dos Direitos da Criança e
do Adolescente

A função de membro do conselho nacional ou dos conselhos estaduais e municipais dos


direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será
remunerada (art. 89 do ECA).

As Entidades de atendimento também desempenham um papel importante na política de


atendimento, sendo responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo
planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças
e adolescentes, em regime de: I - orientação e apoio sociofamiliar; II - apoio socioeducativo em
meio aberto; III - colocação familiar; IV - acolhimento institucional; V - prestação de serviços à
comunidade; VI - liberdade assistida; VII - semiliberdade; e VIII - internação.

Além disso, é muito importante registrar que as entidades de acolhimento devem, nos
termos do art. 92 do ECA, estimular adotar os seguintes princípios: I - preservação dos vínculos
24
familiares e promoção da reintegração familiar ( TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV);
II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família
natural ou extensa; III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; IV - desenvolvimento
de atividades em regime de coeducação; V - não desmembramento de grupos de irmãos; VI - evitar,
sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

VII - participação na vida da comunidade local; VIII - preparação gradativa para o desligamento;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado


ao guardião, para todos os efeitos de direito (§ 1º do art. 92 do ECA). Além disso, salvo determinação
em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de
acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos
de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes
(§ 4º do art. 92 do ECA). TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV.

Digno de nota, ainda, que, de acordo com o art. 91 do ECA, as entidades não-governamentais
somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da
respectiva localidade.

O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação.

Para que a entidade receba o registro e tenha sua renovação, deverá observar os seguintes
requisitos: a) estar regulamente constituída, com pessoas idôneas em seus quadros, b) oferecer
instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e
c) apresentar plano de trabalho compatível com os princípios do ECA.

As entidades governamentais e não-governamentais serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo


Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares (art. 95 do ECA).

25
5

5. MEDIDAS DE PROTEÇÃO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

5.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos


reconhecidos no ECA forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta
(conduta da própria criança ou adolescente, como no caso de uso de drogas e da prática de atos
infracionais).

As medidas de proteção podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como


substituídas a qualquer tempo, e são elencadas, de forma meramente exemplificativa, no art. 101
do ECA, a saber TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e


promoção da família, da criança e do adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar


ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a


alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

Importante lembrar que o acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas


provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não
sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

É muito importante registrar, ainda, que a inclusão da criança ou adolescente em programas


de acolhimento familiar (pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar) deve
ter preferência em relação ao acolhimento institucional (abrigo, casa-lar ou casa de passagem),
observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida.

O prazo máximo de permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento


26
institucional é de 18 meses, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada (§ 2º do art. 9º do ECA, alterado pela Lei n. 13.509 /2017).

A Lei n. 13.509/2017 alterou o prazo máximo de permanência da criança ou adolescente em


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

programa de acolhimento institucional de 2 anos para 18 meses. Além disso, acrescentou os §§


5º e 6º ao art. 19 do ECA, estipulando que a adolescente que for mãe e estiver em acolhimento
institucional terá o direito de convivência integral com seu filho e apoio de equipe especializada.

O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais próximo à residência dos
pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identifica-
da a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente
acolhido (§ 7º do art. 101 do ECA).

Além disso, as crianças e adolescentes, como regra geral, somente poderão ser encaminhados
às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por
meio de uma guia de acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente
constará, dentre outros: I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu
responsável, se conhecidos; II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos
de referência; III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar (§ 3º do art. 101 do ECA).

De acordo com o art. 93 do ECA, as entidades que mantenham programa de acolhimento


institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes
sem prévia determinação da autoridade competente, ou seja, sem a expedição de guia de
acolhimento, fazendo comunicação do fato em até 24 horas ao Juiz da Infância e da Juventude,
sob pena de responsabilidade. TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV

Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo


programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento,
visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em con-
trário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação
em família substituta.

Ressalta-se, ainda, que as medidas que implicam afastamento da criança ou do adolescente


do convívio familiar (acolhimento familiar e colocação em família substituta) são de competência
exclusiva do Juízo da Infância e da Juventude, e importarão na deflagração, a pedido do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Já as demais medidas de proteção podem ser aplicadas pelo Conselho Tutelar.

27
A Lei nº 13.509/2017 acrescentou o art. 19-B ao ECA, dispondo que a criança e adolescente
que estiverem em programa de acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
programa de apadrinhamento. O apadrinhamento consiste, basicamente, em permitir que a
criança e o adolescente mantenham vínculos externos, fora do acolhimento institucional ou
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

familiar, com os denominados “padrinhos”, pessoas físicas ou jurídicas, que se disponibilizam


a dar amor e carinho a essas crianças e adolescentes, levando-os para passear, comemorar
datas especiais, visitar suas casas, etc. O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado
será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou
adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva.
TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB/FGV.

5.2.  MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Quando a criança ou adolescente estiver em situação de risco em razão de conduta de seus pais
ou responsável, o ECA prevê, em seu art. 129, medidas especiais que devem ser aplicadas, a saber:

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio


e promoção da família;

II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a


alcoólatras e toxicômanos;

III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e


aproveitamento escolar;

VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

VII - advertência;

VIII - perda da guarda;

IX - destituição da tutela;

X - suspensão ou destituição do poder familiar.

Salienta-se que, de acordo com o art. 130 do ECA, verificada a hipótese de maus-tratos, opressão
ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como
medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. Nessa situação, da medida cautelar
constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente
dependentes do agressor TEMA COBRADO NOS EXAMES XXV E XXVII DA OAB/FGV.

28
6

6. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

6.1.  MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Conforme previsto no art. 228 da CF/88, os menores de 18 anos de idade são penalmente
inimputáveis, ou seja, não praticam crime nem contravenção penal e sim atos infracionais,
conforme art. 103 do ECA.

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

Entretanto, a consequência de um ato infracional praticado pela criança não é a mesma de um


ato infracional praticado pelo adolescente. Isso porque a criança que pratica ato infracional estará
sujeita às medidas de proteção previstas no art. 101 do ECA, enquanto que o adolescente que
pratica ato infracional estará sujeito às medidas socioeducativas.

É muito importante registrar que apenas o Juiz poderá aplicar medidas socioeducativas, as
quais, de acordo com o art. 112 do ECA, podem ser:

MEDIDAS PRINCIPAIS OBSERVAÇÕES


SOCIOEDUCATIVAS

ADVERTÊNCIA Reprimenda verbal aplicada pelo juiz em casos menos graves


(ART. 115)

Aplicada apenas se o ato infracional possuir reflexos patrimoniais


(furto, roubo, estelionato, dano, etc.) e se o adolescente tiver condição
OBRIGAÇÃO DE financeira de reparar o dano. Nesse caso, o juiz poderá determinar
REPARAR O DANO que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do
(ART. 116) dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima TEMA
COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV. Havendo manifesta
impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.

Consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral


PRESTAÇÃO DE junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
estabelecimentos congêneres, bem como em programas
SERVIÇOS À comunitários ou governamentais. Tem prazo máximo de 6
COMUNIDADE meses, devendo o adolescente cumprir até 8 horas semanais,
(ART. 117) em dias que não prejudiquem o seu estudo/trabalho,
podendo ser em sábados, domingos, feriados ou dias úteis.

O ECA prevê o prazo mínimo de 6 (seis) meses. Consiste na


nomeação de um orientador que vai acompanhar o adolescente
LIBERDADE na sua vida estudantil/profissional, devendo fazer relatório
ASSISTIDA para o juiz acompanhar. Terminado o prazo mínimo de 6
meses, o juiz pode revogar, prorrogar ou converter em outra
medida ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. 29
Pode ser aplicada em duas situações: a) como progressão
da internação ou b) aplicação direta, quando o caso
não for grave suficiente para justificar a internação.

INSERÇÃO EM
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

REGIME DE A inserção em regime de semiliberdade segue as mesmas


SEMILIBERDADE regras da internação, mas serão obrigatórias atividades externas,
independentemente de ordem judicial. São obrigatórias a
escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que
possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

A mais grave de todas as medidas. Deve observar dois princípios:


1) Brevidade – não tem prazo previamente determinado, mas tem
prazo máximo de 3 anos e a cada 6 meses deve ser reavaliada,
além do que, quando o adolescente completar a idade de 21
anos ocorrerá a liberação compulsória TEMA COBRADO
NOS EXAMES VI E X DA OAB/FGV; 2) Excepcionalidade – a
internação é medida excepcional, devendo ser a última medida a
ser aplicada. Será admitida em apenas três hipóteses: a) prática
de ato infracional com violência ou grave ameaça a pessoa, como
roubo, estupro, etc. TEMA COBRADO XVII NO EXAME DA
OAB/FGV; b) reiteração de atos infracionais graves (vários
furtos, por exemplo); c) descumprimento de medida anteriormente
imposta, mas, neste último caso, o prazo máximo de internação é
de 3 meses TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV.
INTERNAÇÃO EM
ESTABELECIMENTO
EDUCACIONAL O adolescente internado tem direito (art. 124 do ECA), entre
outros, a peticionar diretamente a qualquer autoridade;
corresponder-se com seus familiares e amigos; receber visitas,
ao menos, semanalmente; permanecer internado na mesma
localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou
responsável; realizar atividades culturais, esportivas e de lazer,
ter acesso aos meios de comunicação social; e receber assistência
religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje.

Na internação, é vedada a incomunicabilidade do adolescente,


mas o juiz poderá suspender temporariamente a visita,
inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e
fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente
TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OBA/FGV.

MEDIDAS DE
PROTEÇÃO O juiz pode aplicar as medidas de proteção se entender necessário.
PREVISTAS NO ART.
101, I A VI DO ECA

30
As medidas socioeducativas, portanto, não se confundem com as medidas de proteção:

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Podem ser aplicadas a crianças ou


adolescentes
Aplicadas apenas ao adolescente infrator

Previstas no art. 101 do ECA


Previstas no art. 112 do ECA

Podem ser aplicadas pelo juiz ou pelo


Podem ser aplicadas apenas pelo Juiz Conselho Tutelar, salvo os casos de acolhimento
familiar e colocação em família substituta,
que são de competência exclusiva do juiz.

6.2.  DIREITOS INDIVIDUAIS E GARANTIAS PROCESSUAIS

O ECA prevê diversos direitos individuais e garantias processuais para que o adolescente seja
privado de sua liberdade.

DIREITOS INDIVIDUAIS GARANTIAS PROCESSUAIS

Art. 106. Nenhum adolescente será privado Art. 110. Nenhum adolescente será privado
de sua liberdade senão em flagrante de ato de sua liberdade sem o devido processo legal.
infracional ou por ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente. Art. 111. São asseguradas ao adolescente,
entre outras, as seguintes garantias:
Parágrafo único. O adolescente tem direito
à identificação dos responsáveis pela sua I - pleno e formal conhecimento da atribuição
apreensão, devendo ser informado acerca de de ato infracional, mediante citação ou meio
seus direitos. equivalente;

Art. 107. A apreensão de qualquer II - igualdade na relação processual, podendo


adolescente e o local onde se encontra confrontar-se com vítimas e testemunhas e
recolhido serão incontinenti comunicados à produzir todas as provas necessárias à sua
autoridade judiciária competente e à família do defesa;
apreendido ou à pessoa por ele indicada.
III - defesa técnica por advogado;
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde
IV - assistência judiciária gratuita e integral
logo e sob pena de responsabilidade, a
aos necessitados, na forma da lei;
possibilidade de liberação imediata.
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela
Art. 108. A internação, antes da sentença,
autoridade competente;
pode ser determinada pelo prazo máximo de
quarenta e cinco dias. VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
responsável em qualquer fase do procedimento.
Parágrafo único. A decisão deverá ser
fundamentada e basear-se em indícios suficientes
de autoria e materialidade, demonstrada a
necessidade imperiosa da medida.
Art. 109. O adolescente civilmente identificado
não será submetido a identificação compulsória
pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais,
salvo para efeito de confrontação, havendo
dúvida fundada. 31
Em relação ao art. 108 do ECA, importante mencionar que, conforme será estudado no próximo
tópico, quando o adolescente é apreendido (em flagrante de ato infracional ou por ordem da
autoridade judiciária) deve-se verificar a possibilidade sua liberação imediata. Não sendo possível
sua liberação, o adolescente permanece internado durante o processo de apuração do ato
infracional, mas o prazo máximo dessa internação provisória é de 45 dias (arts. 108 e 183 do ECA).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Esse prazo é improrrogável e, se for ultrapassado sem que o processo tenha chegado ao
fim, o adolescente deve ser posto imediatamente em liberdade. Caso não seja liberado, haverá
constrangimento ilegal, sanável por habeas corpus.

6.3.  PROCEDIMENTO PARA A APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL

O adolescente pode ser apreendido em duas situações diferentes: por ordem judicial ou em
razão de flagrante de ato infracional.

No caso de apreensão em virtude de ordem judicial, esta deve ser fundamentada e basear-
se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
medida (parágrafo único do art. 108 do ECA), devendo o adolescente ser, desde logo, encaminhado
à autoridade judiciária.

Já no caso de flagrante de ato infracional, o adolescente apreendido será, desde logo,


encaminhado à autoridade policial competente, que adotará as providências de acordo com o tipo
de ato infracional cometido (art. 172 do ECA). TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

Se o ato infracional for cometido com violência ou grave ameaça, será necessário lavrar
auto de apreensão, com a oitiva de testemunhas e do adolescente, apreensão dos produtos e
instrumentos da infração e requisição de exames e perícias (art. 173, incisos I, II e III). Entretanto,
se o ato infracional for praticado sem violência ou grave ameaça, a lavratura de auto de apreensão
pode ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciado (parágrafo único do art. 173).

Após, o adolescente deve ser encaminhado ao Ministério Público, sendo que o encaminhamento
pode ocorrer de três formas:

• Pelos próprios pais ou representante: não se tratando de ato infracional grave e com
repercussão social, se comparecer qualquer dos pais ou responsável, o adolescente
será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e
responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato (art. 174).

Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou


responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias
civil e militar (parágrafo único do art. 179 do ECA).

32
• Pela autoridade policial: quando se tratar de ato infracional grave e com
repercussão social a autoridade policial pode encaminhar o adolescente diretamente
ao Ministério Público.

• Pela entidade de atendimento: sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação


ao representante do Ministério Público no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.

O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias
à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de
responsabilidade (art. 178 do ECA).

Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista


do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo
cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas
(art. 179, caput, do ECA).

Após a formação do seu convencimento, o representante do Ministério Público, poderá adotar


uma das seguintes medidas:

• Promover o arquivamento dos autos: quando ficar comprovado que o adolescente


não é o autor do ato infracional ou quando este sequer ocorreu. O juiz poderá homologar
o arquivamento ou, se discordar, poderá remeter os autos ao Procurador-Geral de
Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará
outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento
ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar (§ 2º
do art.181).

• Conceder a Remissão: atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao


contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor
participação no ato infracional, poderá ocorrer o perdão ao adolescente, acarretando
a exclusão do processo. A remissão pode ser concedida também pela autoridade
judiciária, após iniciado o procedimento, hipótese em que importará na suspensão
ou extinção do processo (art. 126 do ECA). Caso o juiz não concorde com a remissão
concedida pelo Ministério Público, aplica-se também a regra do § 2º do art.181

A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade,


nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer
das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação (art.
127 do ECA). Além disso, a remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá
ser aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença (art. 188 do ECA).

33
• Representar à autoridade judiciária para a aplicação de medida socioeducativa: o
representante do Ministério Público oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida socioeducativa que
se afigurar a mais adequada. A representação será oferecida por petição, que conterá
o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela
autoridade judiciária.

Oferecida a representação, se o juiz entender adequada a remissão, ouvirá o representante do


Ministério Público, proferindo decisão (§ 1º do art. 186). Caso não seja dada a remissão pelo juiz,
o advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de
apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas (§ 3º do art. 186).

Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa


prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao
representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para
cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão
(§ 4º do art. 186).

Na sentença, o juiz poderá: a) não aplicar qualquer medida socioeducativa nos casos de estar
provada a inexistência do fato; não haver prova da existência do fato; não constituir o fato ato
infracional ou não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional (art. 189); b)
aplicar medida socioeducativa (art. 112).

34
7

7. CONSELHO TUTELAR
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Conforme previsto no art. 131 do ECA, o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e
do adolescente previstos no ECA.

Deve haver, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar em cada Município e (ou em cada Região
Administrativa do Distrito Federal) sendo, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida a recondução, mediante novo processo
de escolha (art. 132 do ECA), sendo que, para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão
exigidos os seguintes requisitos: I - reconhecida idoneidade moral; II - idade superior a vinte e um
anos e III - residir no município (art. 133 do ECA).

A Lei nº 13.824/2019 alterou o art.132 do ECA para dispor que os conselheiros tutelares poderão
ser reconduzidos ao cargo de forma ilimitada.

O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante e


estabelecerá presunção de idoneidade moral (art. 135 do ECA), devendo o processo de
escolha dos membros do Conselho Tutelar ser estabelecido em lei municipal e realizado
sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, sob
fiscalização do Ministério Público (art. 139 do ECA).

Muito importante destacar que são impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher,
ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e
sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. Além disso, estende-se o impedimento do conselheiro
em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça
da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital (art. 140 do ECA).
TEMA COBRADO NO XXXII EXAME DA OAB/FGV

A lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e horário de funcionamento do Conselho
Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais são assegurados os
seguintes direitos: I - cobertura previdenciária; II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas
de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; III - licença-maternidade; IV - licença-
paternidade e V - gratificação natalina (art. 134 do ECA).

Digno de nota, ainda, que as atribuições do Conselho Tutelar estão previstas no art. 136 do ECA,
destacando-se as seguintes:

• Atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 (situação


de risco) e 105 (criança que pratica ato infracional), aplicando as medidas previstas
no art. 101, I a VII, do ECA (o Conselho Tutelar não pode determinar a colocação em
família substituta e o acolhimento familiar). TEMA COBRADO NO XXXII EXAME DA
OAB
35
• Atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no
art. 129, I a VII. O Conselho Tutelar não pode aplicar as medidas de perda da guarda,
destituição da tutela e suspensão ou destituição do poder familiar;

• Promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e


segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento
injustificado de suas deliberações.

• Requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente


quando necessário;

• Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para


planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

• Representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão


do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
adolescente junto à família natural.

Destaca-se que, se no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário


o afastamento do convívio familiar, comunicará imediatamente o fato ao Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para
a orientação, o apoio e a promoção social da família.

As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido
de quem tenha legítimo interesse (art. 130). Portanto, as decisões do Conselho Tutelar não podem
ser revistas pelo Ministério Público, ou por qualquer outro órgão que não seja o Poder Judiciário.

36
8

8. TUTELA JURISDICIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

8.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

De acordo com o art. 141 do ECA, é garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.

A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor
público ou advogado nomeado, sendo que as ações judiciais da competência da Justiça da Infância
e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Os menores de 16 (dezesseis) anos serão representados e os maiores de dezesseis e


menores de 18 (dezoito) anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da
legislação civil ou processual.

A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses
destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou
assistência legal ainda que eventual TEMA COBRADO NOS EXAMES V E XIX DA OAB/FGV.

De acordo com o art. 143 do ECA, é vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato
infracional. Além disso, qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou
adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência
e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

8.2.  VARAS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Dispõe o art. 145 do ECA que os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas
especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer
sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o
atendimento, inclusive em plantões.

O art. 147 do ECA traz importantes regras sobre a competência territorial da Vara da Infância e
Juventude, disciplinando que a competência territorial será determinada:

• Pelo domicílio dos pais ou responsável;

• Pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

• Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou


omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção TEMA
37
COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV.

O caput do art. 148 do ECA, por sua vez, elenca as hipóteses de competência material da Vara
da Infância e da Juventude, independentemente da existência de situação de risco, estabelecendo
sua competência para:
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de


ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos


afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;

V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,


aplicando as medidas cabíveis;

VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de


proteção à criança ou adolescente;

VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

Já o parágrafo único do art. 148 do ECA estabelece as hipóteses em que a Vara da Infância
e Juventude possui competência nos casos em que a criança ou adolescente são encontrados
em situação de risco (art. 98 do ECA), dispondo que ela será competente para: a) conhecer de
pedidos de guarda e tutela; b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou
modificação da tutela ou guarda; c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício
do poder familiar; e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; f)
designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros
procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; g)
conhecer de ações de alimentos; h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos
registros de nascimento e óbito.

Por fim, o art. 149 do ECA estabelece que compete à autoridade judiciária autorizar mediante
alvará ou disciplinar por meio de portaria a entrada e permanência de criança ou adolescente em
determinados locais, desacompanhados de pais ou responsável, bem como sua participação em
espetáculos públicos e concursos de beleza. Vejamos:

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar,


mediante alvará:

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou


responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;

c) boate ou congêneres;

38
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre
outros fatores:

a) os princípios desta Lei;

b) as peculiaridades locais;

c) a existência de instalações adequadas;

d) o tipo de frequência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e


adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas,


caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral.

Registra-se, ainda, que contra as decisões proferidas com base no art. 149 (portaria e alvará)
cabe apelação (art. 199 do ECA).

8.3.  PROCEDIMENTOS

O ECA regulamenta alguns procedimentos especiais, aplicando-se subsidiariamente as normas


do Código de Processo Civil.

Abaixo analisaremos os principais procedimentos do ECA, com exceção do procedimento de


apuração dos atos infracionais, que já foi estudado no capítulo 7.

8.3.1.  PERDA E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

Conforme previsto no art. 1.638 do CC, perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:

I - castigar imoderadamente o filho;

II - deixar o filho em abandono;

III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

39
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.

Importante destacar que o inciso V do art. 1.638 do CC foi acrescentado recentemente pela
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Lei n. 13.509/2017.

De acordo com o art. 155 do ECA, o procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar
poderá ter início por provocação do Ministério Público (como na hipótese em que a criança sofreu
abuso dos pais e está abrigada em entidade) ou de quem tenha legítimo interesse, a exemplo do
particular que pretende pleitear a tutela ou a adoção TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/
FGV.

Quando o procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo Ministério Público, não
haverá necessidade de nomeação de curador especial em favor da criança ou adolescente (§ 4º
do art. 162 do ECA, acrescentado pela Lei n. 13.509/2017).

A ação deve ser proposta observando-se os requisitos do art. 156 do ECA, sendo que, se for
ajuizada por particular, o Ministério Público deve atuar como fiscal do ordenamento jurídico.

Conforme já estudado, a tutela exige a decretação da perda ou suspensão do poder familiar


(art. 36, parágrafo único, do ECA), enquanto a adoção pressupõe a perda do poder familiar
(art. 41 do ECA).

Ao receber a petição inicial o juiz determinará a citação do requerido para resposta em 10


(dez dias), mas, havendo motivo grave, o juiz poderá, ouvido o Ministério Público, decretar a
suspensão do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa,
ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade
(art. 157 do ECA).

Entende-se por motivo grave as situações de risco causadas pelos pais, como, por exemplo,
violência ou abuso contra criança/adolescente. A falta ou a carência de recursos materiais não
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar, conforme art. 23 do
ECA TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

Não sendo contestado o pedido, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério
Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo em igual prazo (art. 161 do
ECA). Mesmo sem a apresentação de contestação, o juiz deve determinar a realização de estudo
social ou perícia por equipe interprofíssional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de testemunhas
que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar.

40
Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designará, desde logo, audiência de instrução e
julgamento e poderá, a requerimento de qualquer das partes, do Ministério Público, ou de ofício,
determinar a realização de estudo social ou, se possível, de perícia por equipe interprofissional.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as testemunhas,


colhendo-se oralmente o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-
se sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público, pelo tempo de vinte minutos
cada um, prorrogável por mais dez. A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade
judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo máximo de cinco dias.

O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias e a sentença
que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de
nascimento da criança ou do adolescente (art. 163 do ECA).

Ressalta-se, ainda, que o procedimento de perda ou suspensão do poder familiar, assim como
todas as ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de
custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé, conforme art. 141, § 2º, do ECA
TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

8.3.2.  COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA

Conforme já estudado, existem três modalidades de família substituta: a) Guarda; b) Tutela e c) Adoção.

O procedimento da guarda e da tutela será de competência da Vara da Infância e da Juventude


apenas se existir situação de risco, enquanto que, na adoção, embora a competência seja, como
regra geral, da Vara da infância e da juventude, tratando-se de adoção de adultos, a competência
será da Vara de Família.

Além disso, a colocação em família substituta poderá ocorrer sob a modalidade de jurisdição
voluntária ou contenciosa.

Jurisdição Voluntária (art. 166 do ECA): não existe propriamente uma lide e ocorre quando:
a) houver concordância dos pais; b) os pais forem desconhecidos e c) já ocorreu a destituição do
poder familiar. Nestes casos, o pedido de colocação em família substituta poderá ser formulado
diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a
assistência de advogado.

O consentimento dos titulares do poder familiar será válido apenas se precedido de orientações
e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude
e colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público,
garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança
ou do adolescente na família natural ou extensa. O consentimento prestado por escrito não
terá validade se não for ratificado na audiência, além do que ele pode ser retratável até a
data da publicação da sentença constitutiva da adoção e somente terá valor se for dado após o
nascimento da criança. 41
Jurisdição contenciosa – Existe uma lide e a petição inicial deve ser assinada por advogado.
Além disso, nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder familiar
constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, aplica-
se subsidiariamente o procedimento de suspensão ou perda do poder familiar, com todas as
consequências que já foram vistas.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Importante lembrar, ainda, que, na adoção Internacional, existe uma fase prévia que tramita
perante as autoridades centrais, sendo que haverá a expedição de um laudo de habilitação que
será requisito da petição inicial do processo judicial de adoção.

Já na adoção nacional, os adotantes devem providenciar sua habilitação no cadastro de adoção


existente na Vara da Infância e Juventude. O prévio cadastramento não será necessário nos casos
de adoção: a) unilateral b) por parentes c) por quem tem a guarda legal.

8.4.  SISTEMA RECURSAL

A sistemática recursal prevista nos artigos 198 e 199 do ECA adota como regra geral as regras
do Código de Processo Civil TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.

Há, entretanto, algumas adaptações:

• Os recursos serão interpostos independentemente de preparo;

• Em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério


Público e para a defesa será sempre de 10 (dez) dias;

• Os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;

• Antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação,


ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;

• Mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o


instrumento à superior instância dentro de vinte e quatro horas, independentemente
de novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de
pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias,
contados da intimação.

O art. 199-A do ECA estabelece que a sentença que deferir a adoção produz efeito desde
logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo
se se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil
reparação ao adotando.

O art. 199-B, da mesma forma, dispõe que sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores
do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.

Importante destacar ainda que os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de


poder familiar, em face da relevância das questões, serão processados com prioridade absoluta,
42
devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação,
oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer
urgente do Ministério Público. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão, sendo que o Ministério Público
será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresentar
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

oralmente seu parecer (arts. 199-C e 199-D).

8.5.  MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público, instituição responsável pela defesa de interesses sociais e individuais


indisponíveis, deve atuar como requerente ou como fiscal do ordenamento jurídico em todos
os processos que envolvam interesse de crianças e adolescentes, devendo ter vista dos autos
depois das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos
cabíveis (art. 202 do ECA).

Tem-se, portanto, que a intervenção do Ministério Público é obrigatória em todos os processos


de competência da Justiça da Infância e Juventude, sendo que o rol de atribuições previstos no art.
201 do ECA é meramente exemplificativo.

A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente e a falta de sua
intervenção acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento
de qualquer interessado.

Destaca-se, ainda, que um dos principais mecanismos de atuação do Ministério Público para
garantir os direitos previstos no ECA é o ajuizamento de ação civil pública, utilizada para tratar de
interesses difusos, coletivos e também individuais indisponíveis.

Além disso, digno de nota que o membro do Ministério Púbico terá prazo em dobro para se
manifestar nos autos, conforme previsto no art. 180 do CPC/2015.

8.6.  ADVOGADO

Dispõe o art. 133 da CF/88 que o “o advogado é indispensável à administração da justiça”. No plano
infraconstitucional, o ECA prevê que a criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer
pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide terão o direito de ser assistidos por advogado,
sendo garantida ainda a assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.

O Advogado será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado
o segredo de justiça.

O art. 207 do ECA, por sua vez, garante que nenhum adolescente a quem se atribua a prática
de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor. Se o adolescente
não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir
outro de sua preferência. TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV.

A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o


juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. Será dispensada a
outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado
43
por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.

8.7.  PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS E


COLETIVOS
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Estabelece o art. 208 do ECA que haverá responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados
à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular de: I - ensino
obrigatório; II - de atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência; III – de
atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; IV - de ensino
noturno regular, adequado às condições do educando; V - de programas suplementares de oferta
de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e
à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem; VII - de
acesso às ações e serviços de saúde; VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes
privados de liberdade. IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção
social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e
adolescentes; X - de programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas e
aplicação de medidas de proteção.

Não obstante o art. 212 do ECA estabeleça que são admissíveis todos os tipos de ação para
a defesa dos interesses previstos no estatuto, sem dúvida alguma, para a defesa dos interesses
transindividuais, a ação mais importante é a ação civil pública.

Possuem legitimidade concorrentemente para o ajuizamento de ação que visa a proteção


de interesse transindividuais o Ministério Público; todos os entes federados e as associações
legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos pelo ECA, dispensada a autorização da assembleia, se
houver prévia autorização estatutária.

No processo que envolver os interesses tratados neste tópico, aplicam-se subsidiariamente


as regras da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), de modo que, apesar de não prevista
expressamente no ECA, entendemos que a defensoria pública também possui legitimidade para
ingressar com ação civil pública (art. 5, II, da LEI n. 7.347/95).

Registra-se, ainda, que, além de interesses difusos e coletivos, a ação civil pública movida
pelo Ministério Público pode tratar também de interesses individuais indisponíveis da criança
ou adolescente (art. 127 da CF/88 c/c art. 201, V e 208, VII, do ECA), objetivando impor ao Poder
Público obrigações de fazer e não fazer para garantir os direitos previstos no ECA.

A título de exemplo, se uma criança precisa de um tratamento médico e um hospital público


se recusa a prestá-lo, o membro do Ministério Público poderá ingressar com ação civil pública
para garantir o direito à saúde (que é indisponível) da criança prejudicada, obrigando o hospital a
realizar o tratamento TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

44
9

9. CRIMES PRATICADOS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O ECA destina alguns artigos para prever crimes específicos, por ação ou omissão, cujo bem
jurídico tutelado os direitos das crianças e dos adolescentes

Apesar da previsão de fatos típicos específicos no ECA, a regras gerais sobre crime e as regras
processuais serão aplicadas subsidiariamente com base no código penal e no código de processo penal.

Além disso, levando-se em consideração a natureza do bem jurídico tutelado, todos os crimes
previstos no ECA são de ação penal pública incondicionada, ou seja, cabe ao Ministério Público a
propositura da ação penal, independentemente da representação da vítima.

Abaixo transcrevemos com destaques os crimes previstos no ECA:

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção


à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável,
por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
do parto e do desenvolvimento do neonato.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à


saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento.

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação
de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de


adolescente privado de liberdade.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho


Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei.

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em
virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto.

45
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa.

A mera promessa de entrega do filho ou pupilo a terceiro já configura o fato típico previsto no
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

art. 238 do ECA TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente
para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer
modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no
caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: I – no exercício


de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II – prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou III – prevalecendo-se de relações de
parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador,
preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade
sobre ela, ou com seu consentimento.

De acordo com o art. 241-E do ECA, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”
compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente
para fins primordialmente sexuais.

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar


por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático,
fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – assegura os meios ou serviços para o


armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias,
cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.

§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste artigo são puníveis quando o


responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar
o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
46
criança ou adolescente TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta
Lei, quando a comunicação for feita por: I – agente público no exercício de suas funções; II –
membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais,
o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste
parágrafo; III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou
serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito


ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia,
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual. TEMA COBRADO NO XXX
EXAME DA OAB/FGV.

Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou
divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material pornográfico.

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação,
criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – facilita ou induz o acesso à
criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com
ela praticar ato libidinoso; II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o
fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

47
A Lei n. 13.441/2017 acrescentou o art. 190-A ao ECA, prevendo a possibilidade de infiltração
policial na internet com o fim de investigar os crimes dos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-
C e 241-D no ECA e dos arts. 154-A (invasão de dispositivo informático), 217-A (estupro de
vulnerável), 218 (corrupção de menores), 218-A (Satisfação de lascívia mediante presença de
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

criança ou adolescente) e 218-B (Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração


sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável) do CP.

A infiltração deve ser precedida de autorização judicial, podendo ocorrer mediante


requerimento do MP ou representação do delegado de polícia, mas não será deferida se a
prova puder ser obtida por outros meios. A infiltração não poderá exceder o prazo de 90
(noventa) dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda a 720
(setecentos e vinte) dias. Além disso, não comete crime o policial que oculta a sua identidade
durante a infiltração para apurar a existência dos crimes acima citados.

As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável


pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. Concluída a investigação, todos os atos
eletrônicos praticados durante a operação deverão ser registrados, gravados, armazenados
e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado. Os
atos eletrônicos registrados serão reunidos em autos apartados e apensados ao processo
criminal juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da identidade do
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes envolvidos.

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo.

Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de
qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica.

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de
utilização indevida.

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual.

Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados
na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
unidade da Federação.

§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local


em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no
caput deste artigo.

§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de


funcionamento do estabelecimento.

48
Entendemos que o art. 244-A do ECA foi tacitamente revogado pelo art. 218-B do Código
Penal, introduzido pela Lei 12.015/2009, que, além de abranger a redação do art. 244-A do ECA,
prevendo como crime a exploração da prostituição de pessoas menores de dezoito anos, pune
também quem pratica a conjunção carnal ou outro ato libidinoso com adolescente menor de 18
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação de exploração sexual. Lembramos ainda que
a conjunção carnal ou prática de outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos de idade
configura o crime de estupro de vulnerável, conforme art. 217- A do CP.

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la TEMA COBRADO NO XXII
EXAME DA OAB/FGV.

§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
da internet TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

Importante destacar que a Nova Lei de Abuso de Autoridade acrescentou o art. 227-A ao ECA,
estabelcendo que:

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92


do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os
crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de
autoridade, são condicionados à ocorrência de reincidência.

Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso,


independerá da pena aplicada na reincidência.

Os crimes de abuso de autoridade previstos no ECA são aqueles tratados em seus artigos 231,
232, 234 e 235.

A prática desses crimes acarreta o efeito extrapenal do art. 92, I, do CP, qual seja, a perda do
cargo, função pública e mandato eletivo.

O art. 227-A do ECA, acrescido pela Lei nº 13.869/2019, passou a dispor que a ocorrência
desse efeito extrapenal fica condicionada à reincidência, independentemente da pena aplicada ao
reincidente.

Antes da Lei nº 13.869/2019, a aplicação do efeito extrapenal exigia apenas condenação


à pena privativa de liberdade igual ou superior a 1 ano. Agora, exige-se que haja reincidência,
independentemente da pena aplicada ao reincidente.

49
10

10. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O ECA prevê, ainda, uma série de infrações administrativas que, quando praticadas, o infrator
ficará sujeito ao pagamento de multa.

Transcrevemos abaixo as principais infrações administrativas.

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção


à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
de maus-tratos contra criança ou adolescente.

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso


de reincidência.

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio
de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional.

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso


de reincidência.

§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou


adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito
ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta
ou indiretamente.

§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão,


além da pena prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a
apreensão da publicação.

O § 2º previa a possibilidade de suspensão da programação da emissora até por dois dias,


bem como da publicação do periódico até por dois números, mas essas penalidades foram
consideradas inconstitucionais pelo STF (ADIN 869-2).

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar


ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou
Conselho Tutelar.

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso


de reincidência.

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável,


ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel
ou congênere.
50
Pena – multa.

§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária


poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o


estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada.

Para se permitir a hospedagem de criança ou adolescente desacompanhada dos pais é


necessária a autorização escrita dos pais ou responsável ou da autoridade judiciária, mesmo
que a criança esteja acompanhada de outra pessoa maior de 18 anos de idade, como namorado
(a), amigo, tio, etc. TEMA COBRADO NOS EXAMES VIII, IX E XIV da OAB/FGV.

Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do
disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei (viagem para fora da comarca e para o exterior)

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso


de reincidência.

Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em


lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no
certificado de classificação:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso


de reincidência.

Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos,


sem indicar os limites de idade a que não se recomendem.

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência,


aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do


autorizado ou sem aviso de sua classificação:

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência


a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora
por até dois dias.

Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão
competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá


determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
quinze dias.

Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em


desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade


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judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 (revistas e publicações com
material impróprio devem ser lacradas) e 79 (as publicações destinadas ao público
infanto-juvenil não poderão fazer referência a bebidas alcoólicas, tabaco, armas e
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

munições) desta Lei.

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de


reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação.

Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde


de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que
tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção.
TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do art. 81 (Venda a criança


ou adolescente de bebida alcoólica.

Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais

Medida Administrativa - interdição do estabelecimento comercial até o recolhimento da


multa aplicada.

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BIBLIOGRAFIA

• CURY, Munir (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários


jurídicos e sociais. 12ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

• ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e Adolescente - Doutrina e Jurisprudência.


19ª. ed. São Paulo: Juspodium, 2018.

• LEPORE, Paulo Eduardo, CUNHA, Rogério Sanches; ROSSATO, Luciano Alves.


Estatuto da Criança e do Adolescente – Comentado artigo por artigo. 9ª.ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

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