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A SUA PRÓPRIA LÍNGUA BANTU E A SUA RELAÇÃO COM OUTRAS LÍNGUAS BANTU

Nome: Maria Luísa Ernesto

Objectivo: A tarefa consiste, com colegas da turma, em identificar as vossas línguas Bantu, darem exemplos de como falá-las, e deliberarem
sobre o que as vossas línguas significam para quem vocês são.

Tabela 1: Línguas moçambicanas e as suas variantes dialectos. Adaptado de Ngunga e Faquir (2011).

Língua

A língua é vista, por um lado, como um sistema de signos que correspondem a ideias distintas que se constituem como um sistema gramatical no
cérebro de cada indivíduo. Por outro, ela é vista como um produto social da linguagem, reunindo um conjunto de acordos aceites pela sociedade,
para permitir o exercício da fala pelos falantes.

POR QUE AS LÍNGUAS SÃO IMPORTANTES?

Num discurso sobre a importância das línguas para a sociedade, Kohïchiro Matsuura, Director Geral da UNESCO (1999 – 2009), referiu que as
línguas são essenciais para a identidade de grupos e indivíduos e para a sua coexistência pacífica. São um factor estratégico para o
desenvolvimento sustentável e para uma relação harmoniosa entre os contextos global e local.

Continuando, ele disse que as línguas asseguram uma educação culturalmente apropriada, que capacita os membros da comunidade a
organizarem as suas actividades de desenvolvimento e os ganhos que obtêm, além de gozarem de uma boa qualidade de vida. Os pais cuidam
melhor de si mesmos e de sua família quando sabem ler e escrever na sua língua materna e têm acesso à informação sobre saúde numa língua que
entendem melhor.
As comunidades etnolinguísticas são, por exemplo, muito vulneráveis à malária, cólera e outras doenças, em parte por falta de informações
essenciais na sua língua materna. A leitura de materiais sobre higiene, nutrição, prevenção e combate a doenças em línguas locais demonstrou ser
efectiva para melhorar a saúde das comunidades e aumentar a esperança de vida. A disponibilidade de informação culturalmente relevante desfaz
os conceitos errados e tabus normalmente associados a várias doenças.

As línguas são um factor determinante para o desenvolvimento sustentável, ajudando a aliviar a pobreza e a fome, a fazer o ensino básico, a
promover a igualdade de género e a autonomia das mulheres, a reduzir a mortalidade infantil, a melhorar a saúde materna, a combater o
HIV/SIDA, a malária e outras doenças.

Locais onde se falam


Língua Dialectos/variante Referência Província
Distrito/cidade/outros locais

Kimwani também
Não tem muita variação
1. Kimwani denominado de Cabo Delgado Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Ibo, Quirimbas e Pemba
dialectal
Kiwibu

Shindonde, Shimwaalu,
2.
Shiyanga, Shimwambe, Shimakonde Cabo Delgado Palma, Nangade, Mueda, Messalo, Mocímboa da Praia, Macomia e Meluco
Shimakonde
Shimakonde

Não tem muita variação Niassa e Cabo


3. Ciyaawo Ciyaawo Sem especificações.
dialectal Delgado

4. Emakhuwa, Enahara, Emakhuwa Nampula, Nampula - cidade, Mecubúri, Muecate, Meconta, Murrupula, Mogovolas,
Emakhuwa Esaaka, Esankaci (conhecido por Niassa, Ribáue, Lalaua, Malema, Mossuril, Ilha de Moçambique, Nacala-Porto,
Emarevoni, Elomwe, Wamphula) Zambézia e Cabo Nacala-a-Velha, Memba, Eráti, Nacarôa, Angoche, Moma, Mogincual,
Montepuez, Pebane, Metarica, Cuamba, Namuno, Mecanhelas, Maúa,
Emeetto, Exirima Delgado Mandimba, Marrupa, Nipepe, Balama, Meluco, Pemba, Macomia,
Ancuabe, Quissanga, Mocimboa da Praia, Meluco, Chiúre e Mecufi

Não tem muita variação


5. Ekoti Ekoti Nampula Angoche
dialectal

Não tem muita variação Nampula e


6. Elomwe Elomwe Malema, Murrupula, Ribáue, Gurué Gilé, Alto Molócue, Ile
dialectal Zambézia

Echuwabu, Ekarungu, Zambézia e Quelimane, Inhassunge, Milange, Mocuba, Morrumbala, Lugela, Mopeia,
7. Echuwabu Echuwabu
Marendje Sofala Maganja da Costa, Namacurra e Beira

Cinyanja Cicewa (ou Tete, Niassa e Tsangano, Moatize, Mecanhelas, Mandimba, Lago, Milange, Angónia,
8. Cinyanja Cinyanja
Cimang´anga) e Cingoni Zambézia Furancungo, Macanga, Zumbo

9.
Cinyungwe Cinyungwe Tete Moatize, Changara, Cahora Bassa e Marávia
Cinyungwe

Sena tonga, Sena bangwe, Cidade da Beira, Caia, Chemba, Cheringoma, Dondo, Gorongoza,
Sofala, Manica,
10. Cisena Sena phodzo, Sena gombe, Sena caia Maringwe, Marromeu, Muanza, Nhamatanda, Changara, Moatize,
Tete e Zambézia
Sena gorongozi Mutarara, Chinde, Inhassunge, Mocuba, Mopeia, Morrumbala e Nicoadala

Cimashanga, Cidanda, Sofala,


Machanga, Búzi, Machaze, Cibabava, Cidade da Beira, Gorongoza,
11. Cindau Cigova, Cidondo, Cibangwe, Cidondo Inhambane e
Mussorize, Chimoio e Govuro
Ciqwaka, Cinyai, Cindau Manica

12. Ciwute Sem muita variação dialectal Ciwute Manica Cidade de Chimoio
13.
Sem muita variação dialectal Cimanyika Manica Sussundenga, Mossurize, Barwe, Manica
Cimanyika

Gitonga, (Gikhoga),
Gitonga gya Cidade de Inhambane, Maxixe, Morrumbone, Jangamo e Distrito de
14. Gitonga Ginyambe, Gikhumbana, Inhambane
Khogani Inhambane
Girombe e Gisewi

Xikhambani, Xihlengwe, Inhambane,


Panda, Massinga, Morrumbene, Inhassoro, Inharrime, Homoíne, Mambone,
15. Citshwa Ximhandla, Xidzhonge ou Xidzivi Gaza. Manica,
Funhalouro, Vilanculo, Mambone
Xidonge, Xidzivi, Xirhonga Sofala

Cindonje, Cilenge, Citonga, Inhambane e Inharrime, Chidenguele, Chongoene, Zavala, Homoíne, Panda, Manjacaze,
16. Cicopi Cicopi
Cilambwe, Cikhambani Gaza Chibuto

Xihlanganu, Xidzonga, Maputo, Gaza, Namaacha, Moamba, Magude, Bilene, Massingir, Limpopo, Chibuto, Xai-
17.
Xin’walungu, Xibila, Xidzonga Inhambane e Xai, Guijá, Chicualacuala, Govuru, Panda, Morrumbene, Massinga,
Xichangana
Xihlengwe Sofala Vilankulo

18. Xinondrwana, Xilwandle, Marracuene, Maputo, Matola, Boone, Catembe, Matutuíne, Moamba-Sede,
Xinondrwana Maputo
Xirhonga Xizingili, Xihlanganu Namaacha e Manhiça

Fonte: Adaptado de Ngunga e Faquir (2011).

As vantagens da diversidade  linguística moçambicana.


A importância das variações reside no fato de que elas são elementos históricos, formadores de identidades e capazes de manter estruturas de
poder. A valorização dos diferentes vocábulos criados no território pode ser algo que identifique o individuo ou a que grupo social o mesmo
pertence, mas também pode tornar-se algo discriminatório. É necessário que haja a valorização das diferenças seja ela cultural ou social, pois
todos fazem parte da mesma sociedade

Conforme dados apurados a partir de Ngunga (2012, p. 3), podemos afirmar com certa segurança que a situação linguística nesse país é marcada
pela existência de uma grande diversidade de povos e línguas. Nesse sentido, assim como a maioria dos países africanos, pode-se considerar que
Moçambique é um país multilíngue, tendo em vista que coexiste com o português uma variedade de línguas nativas, todas pertencentes à família
linguística bantu. Em consonância com Ngunga, Rego (2012) caracteriza o país com um mosaico de povos, culturas, religiões, etnias e línguas,
resultado da convivência de vários povos autóctones (como khoi-khoi e san), oriundos da migração de povos bantu, persas (árabo-swahilis),
árabes, indianos, chineses, portugueses, ingleses, franceses, belgas, dentre outros. Ngunga considera ainda que as línguas bantu constituem o
principal substrato linguístico do país, visto que essas são as línguas maternas de mais de oitenta por cento de moçambicanos.

Uma das característica mais preciosas de Moçambique é a sua diversidade cultural que, por coincidência, acompanha também a sua diversidade
biológica. Takahashi (2006, p. 3) afirma que há uma significativa correlação entre as diversidades biológica e cultural, i.e., as áreas que têm
grande diversidade biológica também reúnem grande diversidade cultural, por exemplo, a Índia tem 309 línguas e possui 15.000 tipos de flores
nativas; a China tem 77 línguas e 30.000 tipos de flores nativas. A sociedade moçambicana é multilingue, pluri-étnica, multi-racial e socialmente
estratificada. Existem em Moçambique várias formas de organização social, cultural, política e religiosa; há várias crenças, línguas, costumes,
tradições e várias formas de educação1 . A principal característica do patrimônio cultural moçambicano é a sua diversidade. As manifestações e
expressões culturais são ricas e plurais, sobretudo as ligadas às camadas “populares”. A língua oficial em Moçambique é a língua portuguesa,
mas ela é uma língua minoritária que foi escolhida para oficial por razões políticas relacionadas com a unidade nacional e com o fato de não
haver à altura da Independência nenhuma língua que estivesse suficientemente “modernizada” para ser capaz de veicular a Ciência, a Tecnologia
e ser capaz de servir de língua franca em todo o território nacional.

Uma sociedade como a moçambicana, apesar de possuir várias etnias e línguas, já sofreu muitos processos de “contaminação” cultural e existem
inevitavelmente aspectos convergentes entre as várias culturas. É necessário verificar o que é comum entre elas e efetuar conjuntos de conteúdos
transculturais que seriam incorporados no currículo. Apesar de reconhecermos que a solução para o ensino na diversidade cultural passa pela
criação de um currículo comum, em Moçambique ainda estamos longe de alcançar esse ideal educativo. Por essa razão, sugerimos que o primeiro
passo a ser dado devia ser a formação de professores capazes de trabalhar na e com a diversidade cultural.

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