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Os sacramentos envolvem palavras por três motivos: por uma analogia com o
mistério da encarnação: assim como o Verbo Divino se reveste da natureza humana; as
palavras, que significam aquilo que o sacramento produz, se revestem da matéria (1).
Depois, porque o homem é dotado de corpo e alma, a parte sensível serve para tocar o
corpo do homem a ser santificado; a palavra transmite o que o sacramento realiza e permite
que o homem se santifique quando tem a intenção de adesão àquele, condição SINE qua
non para ele receber o efeito do sacramento, que infalivelmente per se produz a graça (ex
opere operato) (2). Por fim, porque a palavra expressa conceito e é a perfeição da
inteligibilidade, torna mais fácil a adesão ao sacramento (por exemplo, diz-se "eu te batizo"
para significar a purificação espiritual) (3) (a. 6)
As palavras pelo que significam são a forma (como a alma) dos sacramentos e
exigem uma matéria determinada que é os sinais sensíveis. Corromper as palavras pode ou
não invalidar o sacramento. Se for proposital, o sacerdote não quer fazer o que faz a santa
Igreja e não há sacramento. Se não é intencional, mas ocorre uma mudança de sentido há
invalidade, embora não haja culpa imputável ao ministro, mas se o erro for só acidental (não
essencial, ou seja) o sacramento permanece válido (a. 7).
Na q. 61, pars III, se pergunta a necessidade dos sacramentos. "Pela instituição dos
sacramentos o homem é ensinado por meio do que é sensível, em conformidade com a sua
natureza; humilha-se, reconhecendo-se sujeito às coisas materiais, pois acha nelas um
auxílio; e também fica preservado de más ações pela prática salutar dos sacramentos" (Q.
61, a. 1). Por três motivos, pois as coisas separadas da matéria, como Deus (que não tem
matéria alguma na sua composição), o homem conhece a partir das coisas materiais
(efeitos), pois lhe é próprio conhecer universalmente partindo da realidade individualizada
na matéria, ou seja, partindo-se dos indivíduos concretos, materiais e singulares. Por isso, a
Providência confere os meios de salvação do homem pelos sacramentos. Segundo, para
que o homem perceba seu apego às coisas materiais e para sanar esse apego partindo de
sinais sensíveis por meio inclusive da humildade, pela qual o homem se reconhece
necessitado desses sinais sensíveis para se santificar; é como um antídoto que é fabricado
a partir do que envenena o homem. Terceiro, para que ele não se dirija às superstições,
consistentes ao culto aos demônios, ou a outras práticas pecaminosas.
Os sacramentos não são puramente materiais e sensíveis, mas por serem causa
eficiente, produzindo a graça que significam, têm algo de espiritual. A objeção de que só a
graça basta para salvar, sem necessidade dos sacramentos, se rebate dizendo que a
graça basta em si, mas Deus dá a graça aos homens segundo o modo de ser próprio do
homem. A Paixão de Cristo é por si suficiente, mas os sacramentos haurem sua força da
Paixão de Cristo, de modo que o batizado o é na morte e ressurreição do Senhor (Rm 6,
3-4) - Ad 1-3.
Definição de Sacramento (a. 3): sinais sensíveis de realidades invisíveis pelas quais o
homem se santifica. A santificação se dá pela fé no santificador que é Cristo, esta é a
virtude por cujo ato o homem adere e haure da Paixão de Cristo que deu vida eterna ao
homem, no AT essa fé no futuro salvador se dava por meio de sinais sensíveis. A Paixão de
Cristo é causa final dos sacramentos do AT (ad1) colocados em primeiro lugar na intenção
dos justos; por isso, não se pode negar que os homens justos do Antigos Testamento não
tenham sido salvos pelo antigo regime da Lei. Antes da lei de Moisés, os sacramentos não
foram expressos, mas nela, por conta do obnubilamento da razão do homem até aquele
momento, por consequência do pecado, não sendo suficientes os preceitos da lei natural
para que o homem , foi necessário que isso fosse feito para que, pela fé no futuro salvador,
fossem justificados (ad2). Houve uma continuidade de espécie e da realidade significada
entre os sacramentos do AT aos do NT: a Paixão de Cristo. O sacrifício de Melquisedec,
anterior à Lei Mosaica, mais se assemelhou à Eucaristia pela matéria (pão e vinho) (Ad3).
1
Curioso como antes do Advento de Cristo, o Anjo Gabriel já chama Maria de cheia de graça. Ela só
poderia sê-lo por uma graça especialíssima provinda de Deus.
2
Lembrar que a graça não é um corpo e, portanto, não ocupa um espaço dotado de extensão/qtd..
A graça está no sacramento desse modo, imperfeito e transiente como o movimento
(a. 4, ad1) por ele ser instrumento (a. 4), enquanto Deus é o agente principal de natureza
absolutamente completa e permanente. Há portanto no sacramento uma virtude
instrumental. Mas como alguém de natureza imaterial, Deus, pode gerar um efeito espiritual
no homem por algo sensível como um sacramento? Ora, é bem possível que algo sensível
produza um efeito espiritual, quando é movido por uma substância espiritual a produzir um
efeito espiritual. Analogamente isso se dá na linguagem, a palavra nada mais é que algo
sensível procedente de conceitos mentais capaz de produzir algo espiritual: transmitir
conhecimento imaterial e universal. Sua virtude é adquirida ademais da benção de Cristo e
da aplicação ao seu uso feita pelo ministro. Por isso, aqueles que acreditam que há uma
graça divina concomitante aos sacramentos, erroneamente não acredita que eles sejam
instrumentos de salvação, contrariando a Revelação.
3
Por isso se enfatizar a Missa ser o Santo Sacrifício de Cristo?
4
Como se fosse um crédito monetário.
4. ST III, q. 63 - sobre o caráter que alguns sacramentos conferem
Alguns sacramentos imprimem algum caráter na alma (q. 63)? Alguns sacramentos
marcam a alma com um sinal que distinguem-na das demais que não os receberam e
também marcam o cristão para atos conveniente à Igreja presente (a.1), dispondo-o ao
culto direta e proximamente (a. 4, ad1).
O caráter não é paixão pois é indelével; não é hábito, porque não é passível de ser
usado para o mal, mas é uma potência espiritual ordenada às coisas do rito cristão (a. 2). É
um sinal que marca alguém ordenando-o a determinado fim (a.1 e 3). O caráter é marca
que destina o cristão ao gozo da gloria (marca com um Thau a testa… - Ez 9) e receber e
comunicar aos outros o concernente ao culto divino. São participações do sacerdócio de
Cristo (a. 3). Com respeito à sua dupla finalidade: no presente, o cateter sacramental
distingue os fiéis que seguem o culto do rito cristão, dos infiéis cujos cultos são ilícitos. Com
base no fim futuro, os fiéis, pela graça e pela caridade são distintos dos réprobos (Ad3).
Se o caráter dispõe ao culto cristão, deve residir no intelecto, onde reside a fé (a. 4,
Ad 3). Como potência espiritual extrínseca, aperfeiçoa as potências da alma, mas o caráter
tem por sujeito a si próprio (a.4) sendo de procedência extrínseca (Ad2).
Nem todos os sacramentos, que são remédio para o pecado e dispõem os homens
ao culto divino, imprimem caráter. Por exemplo, a penitência que restitui o primeiro estado.
Mas não confere algo novo referente ao culto divino.
Como só de Deus vem a virtude do sacramento, Ele é seu instituidor (a. 2). A
finalidade dos ritos que circundam os sacramentos é provocar a devoção e a
reverência naqueles que os recebem (ad1).
Pelos sacramentos emanados de Cristo na cruz foi fabricada a Igreja. Seus ministros
devem guardar tais sacramentos5, não lhes sendo lícito fundar outra Igreja ou criar outros
sacramentos da fé, ou transmitir outra fé (Ad3).
Jesus Cristo enquanto homem tinha o poder de produzir o efeito interior dos
sacramentos? Sim enquanto instrumento, porque sua humanidade foi instrumento de sua
divindade. Meritoriamente, sua Paixão foi a causa da justificação do homem. Sendo Deus,
Jesus é autor dos sacramentos, mas sendo homem, tem um poder de excelência e de
ministério principal que é dotado de 4 coisas, distinguindo-o super eminentemente dos
demais ministros. Primeiro, porque o mérito e a virtude de sua Paixão, a qual se adere pela
fé no seu sangue, operam nos sacramentos. Segundo, porque em seu nome os
sacramentos são santificados. Terceiro, que é em virtude de sua excelência que os
sacramentos foram instituídos. Quarto, como é o efeito que depende da causa, poderia
gerar o efeito dos sacramentos sem nenhum sacramento externo (a. 3).
5
São João Paulo II, na Redemptoris Hominis diz: “E o Espírito Santo sugeriu-lhe que permanecesse
no Cenáculo, após a Ascensão do Senhor, também Ela, recolhida na oração e na expectativa,
juntamente com os Apóstolos, até ao dia do Pentecostes, quando devia visivelmente nascer a Igreja,
saindo da obscuridade” (22). Isso complementa a noção de fabricação da Igreja em Santo Tomás: se
por um lado esta é confeccionada na cruz, do lado ferido, torna-se visível em Pentecostes.
Cristo poderia comunicar seu poder de excelência aos ministros de modo que o próprio
mérito deles pudesse contribuir à eficácia dos sacramentos, eles próprios pudessem instituir
sacramentos, pelo nome deles os sacramentos fossem santificados, e só por seu império,
sem precisarem dos ritos, pudessem gerar os efeitos dos sacramentos (a.4). Todavia, não o
fez para evitar que pudessem no homem-criatura a sua esperança e não houvesse
sacramentos múltiplos e póstuma divisão na Igreja; por isso, quis evitar o inconveniente de
que houvesse múltiplas cabeças na Igreja (Ad 1-3). Porém, se houvesse muitos ministros
com o poder de excelência de Cristo, eles seriam secundários, e Cristo, o primeiro, pois
também é autor dos sacramentos (Ad3), seu fundador e fundamento6.
Poderiam os anjos ministrar os sacramentos? (Q.64, a. 7) Sim, pois Deus não ligou
exclusivamente a sua virtude divina aos sacramentos de modo que só Ele poderia
administra-los, mas não ligou também os sacramentos aos homens, como se lê em Hb 1
(todo sumo sacerdote é assunto do meio dos homens…), de modo que só os homens
poderiam administra-los. Por desígnio divino assim Ele o quis. No entanto, sabendo que os
sacramentos haurem sua eficácia da Paixão de Cristo e que este se fez pouco abaixo dos
anjos, cabe aos sacramentos, que convém aos homens por natureza, serem administrados
por homens, devido à natureza humana assumida por Cristo e submetida à Paixão. No
6
De modo análogo, o amor conjugal seria um amor de excelência incomunicável a muitos
companheiros para se evitar a divisão e a cisão da família ? (Ad3).
entanto, o que os ministros humanos fazem pelos sacramentos, fazem os anjos, cuja
natureza é superior, sem utilizar sinais sensíveis: purificam, iluminam, aperfeiçoam (ad1).
7
Dúvida: Essa teologia mudou hoje ? (A rem é conferida àqueles que se batizam em
igrejas heréticas conscientemente ou não?). Aliás, as comunidades cristãs separadas da
Igreja Católica são consideradas heréticas ?
que a culpa de uma má intenção do ministro não recai sobre Cristo, como não é culpável o
patrão que dá uma boa ordem que não é obedecida pelo empregado.
OBS: a religião é para nós e não para Deus, que já é absolutamente perfeito. Nós devemos
dar culto a Deus pois a alma espiritual só se aperfeiçoa se submetendo a algo superior,
como o corpo que é aperfeiçoado pela alma e o ar, que é aperfeiçoado pela luz solar,
permitindo-lhe ser aquecido, por exemplo. A religião, por servir ao homem, segue a maneira
que lhe é conatural conhecer, amar e servir a Deus, i.e., partindo das coisas sensíveis, pois
só conhece a Deus e as outras realidades espirituais partindo-se daquelas, em
conformidade com o fato de ser dotado de corpo e alma. De fato, Deus dispôs todas as
coisas com suavidade, e nada, criado por Ele, é inconveniente em si. Os atos internos de
religião são essenciais, mas seus atos segundos são exteriores, subordinados aos atos
interiores (q. 81, a. 7). Segundo Santo Tomás, a religião e a santidade diferem apenas
logicamente, mas não essencialmente (q. 81, a.8). Leva-se em conta que a etimologia de
"santo" vem de άγιος que significa fora da terra, ou de "sancta" referente às coisas firmes do
direito que devem ser obedecidas ou ainda do próprio ambiente religioso em referência ao
que é puro a partir da aspersão do sangue de uma vítima (Isidorus, Etymologia X). Só é
possível a união do homem com Deus a partir do distanciamento das coisas inferiores, a
partir da pureza (cf. Hb 12,14). Também se exige uma firmeza de colocar mentalmente
Deus como princípio e fim de tudo de modo imóvel, por isso diz S. Paulo certus sum quod
neque mors neque vita separabit me a Caritate Dei (Rm 8, 38-39). Por isso, é pela
santidade que o homem aplica a sua mente e seus atos a Deus, pode-se dizer que é o
hábito por meio do qual o homem omnia Christo instaurat.
Ad4 trata da não essencial necessidade da penitência para receber a Eucaristia. Mas
aquela deve ser obrigatória para se receber esta desde o IV de Latrão, se não me engano.
Necessidade para o fim pode ser aquela sem a qual o fim não é alcançado (1). Nesse
sentido o batismo o é, simples e absolutamente; a penitência, em caso de pecado mortal
após o batismo e a ordem para guiar outros à salvação, sendo necessária à Igreja (Prov
11,14).
De outro modo, é necessário a um fim como o mais conveniente (2). Desse modo a
Confirmação aperfeiçoa o Batismo; a Extrema Unção a Penitência e o Matrimônio conserva
a propagação dos membros.
Não contrair matrimônio ou ordem não impede a salvação, ou não receber a
confirmação. Não receber o batismo sem culpabilidade também não (q. 68, a.2)