Você está na página 1de 57

GEOTECNIA AMBIENTAL

RESUMO DA UNIDADE

A geotecnia ambiental é o ramo que estuda alternativas para que os impactos


causados pela ação humana não degradem ou, degradando, causem o mínimo de
prejuízos possíveis ao meio ambiente. Assim, um dos principais ramos estudados na
geotecnia ambiental é o dos resíduos sólidos urbanos. O descarte final dos resíduos
é uma das principais preocupações dos geotécnicos, tendo em vista os riscos de
contaminação que oferecem ao solo, às águas subterrâneas e ao ser humano. Os
geossintéticos se apresentam como alternativas tecnológicas e totalmente viáveis
para que os projetos se executem de forma segura, garantindo a eficácia para a qual
a obra é destinada e, principalmente, minimizando as chances de prejuízos ao meio
ambiente. Apresentam-se, também, como opções para a recuperação de áreas
degradas, ao viabilizar o reuso de uma área e a recuperação de locais considerados
inutilizáveis por meio de diversas alternativas.

Palavras-chave: Geotecnia ambiental. Aterro sanitário. Geossintéticos.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
SUMÁRIO
RESUMO DA UNIDADE ............................................................................................. 2
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................... 4
CAPÍTULO 1 - RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DEFINIÇÃO E
COMPORTAMENTO .................................................................................................. 6
1.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS - RSU ...................................................... 6
1.2 COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS RSU .............................................. 10
1.2.1 Chorume e Gases ........................................................................................ 12
1.3 ATERROS SANITÁRIOS ............................................................................. 14
CAPÍTULO 2 - GEOTECNIA AMBIENTAL GEOSSINTÉTICOS .............................. 22
2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E CONTAMINANTES ....................................... 22
2.1.1 Aquíferos ...................................................................................................... 22
2.1.2 Monitoramento Geoambiental ...................................................................... 26
2.1.3 Pressões Neutras e Percolados ................................................................... 28
2.1.4 Monitoramento Ambiental ............................................................................ 29
2.2 GEOSSINTÉTICOS ..................................................................................... 30
CAPÍTULO 3 - RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ................................ 38
3.1 A IMPORTÂNCIA GEOMORFOLÓGICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS ......................................................................................................... 39
3.1.1 Recuperação da Área Degradada ................................................................ 40
3.2 BIOENGENHARIA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........ 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
4

APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

A Geotecnia ambiental é uma das áreas que se preocupa em garantir o


funcionamento das grandes obras sem que degradem o meio ambiente.
O primeiro capítulo desta Unidade aborda os resíduos sólidos urbanos, suas
classificações e seu destino final. Ressalta-se a importância de se obedecer à
escala sugerida para o manuseio de resíduos, respeitando a ordem de prioridade de
não gerar, reduzir, reutilizar, reciclar, tratar resíduos e, por último, a disposição final
desses resíduos. Além disso, descrevem-se o processo de degradação dos resíduos
e a formação dos percolados. O aterro sanitário é a alternativa mais viável quando
se trata da disposição final dos resíduos, desde que todas as diretrizes sejam
seguidas conforme orientam os documentos normativos.
O segundo capítulo apresenta algumas preocupações mais incidentes na área
de geotecnia ambiental, como em relação às águas subterrâneas e ao transporte de
contaminantes dos resíduos que podem chegar até elas. A contaminação de solos e
águas subterrâneas gera preocupações devido à degradação do meio ambiente e do
risco oferecido à saúde humana. Para certificar-se de que essas ações não
aconteçam, é feito o monitoramento desses resíduos em âmbitos ambientais e
geotécnicos para acompanhar o funcionamento da estrutura, se estão em perfeitas
condições, e o comportamento dos resíduos. Além disso, os geossintéticos são
apresentados como componentes do aterro sanitário e aliados na recuperação de
áreas degradadas. É importante conhecer os geossintéticos desejados, visto que,
cada um apresenta uma classificação e função diferentes. Quando aplicados de
forma inadequada, não apresentam o resultado esperado.
O terceiro capítulo apresenta os conceitos envolvidos nas áreas degradadas,
desde a atividade que promove a degradação até os meios para recuperá-las. O
conhecimento da geomorfologia se mostra fundamental para uma perfeita
recuperação do ambiente. Além disso, para cada processo de recuperação tem-se
um método adequado. Por isso, é importante saber o tipo de área degradada
conforme a atividade executada, os principais processos de degradação que
causaram tal impacto para que as medidas corretivas adequadas possam ser
tomadas. Como alternativa de recuperação, são usadas as técnicas de

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
5

bioengenharia, que apresentam excelente desempenho na recuperação das áreas


degradadas.
Dessa forma, espera-se que o aluno adquira o mínimo de conhecimento
necessário para embasamento no ramo da geotecnia ambiental, aprofundando-se
em uma das áreas mais importantes da geotecnia.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
6

CAPÍTULO 1 - RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: DEFINIÇÃO E


COMPORTAMENTO

1.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS - RSU

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, na Norma Brasileira


NBR 10004, define os resíduos sólidos como:

Resíduos Sólidos são resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que


resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta
definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição,
bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o
seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam
para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor
tecnologia disponível (ABNT, 2004, p.1).

Ainda segundo a NBR 10004, os resíduos podem ser classificados da seguinte


maneira:
a) Resíduos Classe I – Perigosos: aqueles que representam periculosidade ou
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade.
b) Resíduos Classe II – Não Perigosos, sendo subdivididos em:
 Resíduos Classe II A – Não inertes: resíduos que não se enquadram nas
classificações de resíduos Classe I ou Classe II B nos termos da Norma.
Estes resíduos podem apresentar propriedades tais como
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
 Resíduos Classe II B – Inertes: quaisquer resíduos que, quando
amostrados de uma forma representativa, segundo a NBR 10007 (ABNT,
2004), e submetidos ao contato dinâmico e estático com água destilada
ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme a NBR 10006 (ABNT,
2004), não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de portabilidade da água,
excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
7

A figura abaixo representa uma síntese dos resíduos de acordo com sua
classe.

Figura 1 - Classificação dos Resíduos Sólidos

Fonte: Campos, 2017.

São muitos os tipos de resíduos sólidos, como os resíduos sólidos urbanos,


resíduos da construção civil, os industriais, os de serviços da área da saúde, rejeitos
de atividades de mineração, de portos e aereportos e os oriundos de atividades de
tratamento de água e esgoto.

IMPORTANTE
Os estéreis e os rejeitos são os principais resíduos gerados pela atividade de
mineração.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
8

Independentemente do tipo de resíduo, o ideal estabelecido pela Política


Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS é que a sua gestão obedeça a hierarquia
apresentada na imagem abaixo. O maior objetivo da PNRS é fazer com que o menor
número possível de resíduos seja destinado aos aterros sanitários. Assim, é
fundamental trabalhar na recuperação de todos esses materiais e reaproveitar o seu
potencial energético em maior escala.

Figura 2 - Ordem de Prioridade na Gestão dos Resíduos Sólidos

Não Gerar

Reduzir

Reutilizar

Reciclar

Tratar os
resíduos

Disposição
final

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2010.

A primeira etapa, “não gerar”, objetiva evitar a produção do lixo/resíduo. Na


etapa seguinte, “reduzir”, opta-se por reduzir a necessidade de matérias-primas. Já
a etapa “reutilizar” é fundamental para aproveitar, ao máximo, a vida útil dos
materiais originados pelo descarte. Na fase “reciclagem” há o reprocessamento dos
resíduos, e quando esses não podem ser reciclados, eles são tratados para
aproveitar seu potencial energético. Ademais, o que não puder obedecer às
orientações acima, deve ser disposto em aterros sanitários observando todas as
diretrizes para causar o mínimo de impacto ambiental.
Os fatores que ocasionam a geração de resíduos (seja pela ação humana ou
causa natural) são diversos e o volume de resíduos gerado vai depender das

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
9

características da atividade em ação. Destacam-se a baixa qualidade nos serviços


produzidos e os materiais utilizados; o aumento da população desordenada, já que
ocasiona aumento nas construções e consequente geração de resíduos; projetos
arquitetônicos mal elaborados, quando se trata de estruturas de concreto; desastres
naturais e desastres causados pelo homem.
A tabela abaixo apresenta um panorama da geração de resíduos nos anos de
2016 e 2017. Os números de 2017 foram calculados conforme dados estimados,
como população, por exemplo. Assim, deve ser levada em consideração uma
margem de erro na quantidade de resíduos gerados por dia por habitante, a
densidade desses resíduos e a população considerada em tal ano.

Figura 3 - Quantidade de RSU coletados no Brasil em 2016 e 2017.

Fonte: Abrelpe, 2017.

Com isso, foi possível gerar um gráfico ilustrativo com a participação das
regiões brasileiras na produção de RSU, sendo que a região Sudeste apresenta o
maior índice participativo.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
10

Figura 4 - Participação das Regiões do Brasil no Total de RSU Coletado

Fonte: Abrelpe, 2017.

Geralmente, os resíduos sólidos urbanos são compostos de madeiras, papéis,


plásticos, vidros, metais, resíduos alimentares e de jardinagem, entre outros. Dessa
forma, é importante que o comportamento completo desses materiais seja conhecido
ao terem sua disposição final em um aterro sanitário.
Os RSU podem apresentar diversas características em seus componentes,
como umidade, propriedade de compressão, degradabilidade, inflamabilidade,
corrosividade, secura, entre outros. Conforme a sua característica, é possível
classificar os resíduos sólidos como estáveis inertes, quando suas propriedades não
apresentam variação conforme o tempo, caso dos vidros, resíduos de construção,
metais etc. Podem ter seus componentes classificados, ainda, como altamente
deformáveis, quando possuem características que os permitem sofrer grandes
deformações e como degradáveis, resultado do processo de decomposição.

1.2 COMPORTAMENTO MECÂNICO DOS RSU

Conforme as características principais predominantes dos RSU, suas


características gerais tendem a apresentar comportamento semelhante a esses
componentes dominantes. Os materiais putrescíveis, por exemplo, possuem grande

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
11

influência na produção de chorume e de gás, nas pressões neutras desenvolvidas


no interior do aterro, no teor de umidade e nas resistências de cisalhamento e de
compressão dos RSU.
O teor de umidade é outro ponto que deve ser observado no RSU. A variação
da umidade influencia na velocidade com que os resíduos se degradam, como
também, no comportamento do peso específico dos resíduos, das pressões e dos
recalques. Todavia, é um parâmetro difícil de medir com precisão, visto que cada
componente pode apresentar teor de umidade diferente, o que faz com que o
maciço apresente umidade heterogênea. Além disso, é importante acompanhar o
peso específico para fins operacionais e de estabilidade estrutural em aterros
sanitários.
O peso específico é dado pela relação entre o peso e o volume na massa dos
resíduos e seu resultado varia conforme o tempo, ou seja, o peso específico do
resíduo apresenta variações desde a fase inicial de geração até seu descarte final
nos aterros sanitários, sendo o tempo também um fator influente no peso específico.
O teor do material, sua granulometria, seu grau de compactação e sua
degradabilidade são alguns dos diversos fatores que influem diretamente no valor do
peso específico. Ressalta-se aqui que quanto maior a presença de componentes
leves, como papel e plástico, ou quanto menor for a quantidade de matéria orgânica
no montante, menor será o valor do peso específico.
A degradação dos resíduos deve ser considerada ao avaliar o peso específico.
Conforme a matéria sólida é drenada, à medida que se transforma em gases e em
líquidos, o material sólido restante começa a apresentar características e
propriedades diferentes das originais.
À medida que a profundidade aumenta, aumenta-se também o peso específico,
apresentando uma relação proporcional. Isso se dá, especialmente por causa da
compressão do peso das camadas superiores.
Os ensaios realizados para determinação do peso específico in situ são feitos
por meio de poços escavados/valas, geralmente entre 2 e 4 metros de profundidade.
Em seguida, o material é pesado e é determinado o volume da vala.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
12

1.2.1 Chorume e Gases


A degradação dos RSU é dada por meio de processos químicos físicos e
biológicos, o que dá origem aos gases e aos líquidos lixiviados, também conhecidos
como chorume e percolados. O chorume é bem caracterizado pelo seu potencial
poluidor, pela geração e dinâmica de alteração; além disso, possui características de
cor escura, mau cheiro e alta Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO.
Os lixiviados são formados, de forma simples e resumida, pela água que entra
nos resíduos já aterrados por meio de fontes externas como:
 Teor de umidade dos RSU;
 Teor de umidade do componente utilizado para cobrir o aterro;
 Água penetrante na superfície do aterro, formada pela precipitação;
 Água penetrante na base do aterro: ocasionada pelo alto nível do lençol
freático aliado a um sistema ruim de impermeabilização ou falta dele;
 Circulação dos lixiviados;
 Água originada pela formação de biogás;
 Água em forma de vapor;
 Água evaporada;

Figura 5 - Esquema com possibilidades de Formação e de Contaminação pelos Lixiviados

Fonte: O Estado, 2014.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
13

Figura 6 - Esquema de um Aterro Sanitário com Proteção Ambiental e Contra a Formação


Máxima de Lixiviados

Fonte: O Estado, 2014.

Fatores como o tipo de solo e a fundação escolhida, composição e peso


específico da massa e altura do aterro também são influenciadores na geração de
lixiviados.
A biodegradação dos resíduos pode ocorrer em quatro fases. A fase aeróbica
(fase inicial) possui curta duração – entre horas e sete dias, já que os resíduos
recentes possuem alto teor de oxigênio livre. Dessa forma, o oxigênio e o nitrogênio
presentes são consumidos, ocasionando a geração de gás carbônico, água e calor.
Nessa fase, de 5% a 10% da matéria sólida é degradada. Após o consumo de todo o
oxigênio presente nessa fase, a biodegradação passa a ser anaeróbica.
Na fase anaeróbica, toda a matéria que foi decomposta gera líquidos com pH
inferior a 5, e altos valores de DBO – consumo de oxigênio por micro-organismos
presentes no metabolismo e Demanda Química de Oxigênio - DQO. Por isso, essa
fase também é denominada de anaeróbica ácida e seu processo leva de um a seis
meses de duração. Aqui, entre 15% e 20% da matéria sólida é degradada e há o
aumento de produção de CO2.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
14

A terceira fase é a biodegradação metanogênica acelerada, ou não


estabilizada, que comporta a produção de metano - CH4 e ácidos de forma
simultânea. Os ácidos são reduzidos e, junto com o H2, são transformados em
metano e gás carbônico. Nesse processo ocorre uma elevação do pH entre 6,8 e 8 e
uma redução na DBO e DQO. A sua duração é em torno de três meses e três anos.
Já na última fase, degradação metanogênica desacelerada ou estabilizada, a
geração de gases é reduzida. Nesse processo são gerados, em sua maioria, metano
e gás carbônico, além de um pequeno volume de nitrogênio e oxigênio. Assim,
nessa fase, que varia de 8 a 40 anos, a matéria sólida é decomposta entre 50% e
70%.

1.3 ATERROS SANITÁRIOS

A necessidade de mudança na relação entre a disposição final dos resíduos e


o meio ambiente fez com que os aterros sanitários fossem considerados a
alternativa mais viável como solução do problema com descarte dos RSU. Os
aterros sanitários são bem avaliados, no que tange à saúde pública e à
contaminação do solo, quando executados de forma correta e seguindo todas as
diretrizes normativas.
O objetivo dos aterros sanitários é acondicionar, da melhor forma, os resíduos
que não puderam ser aproveitados em nenhuma das fases antecedentes, mostrada
na pirâmide no início deste capítulo. A disposição desses resíduos ocasiona
diversas reações químicas que resultam em lixiviados e gases, como visto acima.
Todavia, quando operado e monitorado, todo esse efeito é controlado da melhor
forma possível.
O aterro sanitário engloba um sistema de operações com os resíduos dispostos
como: compactação de resíduos, cobertura, impermeabilização, drenagem,
tratamento de líquidos e gases, monitoramento geotécnico e ambiental, dentre
outros procedimentos.
O sistema de impermeabilização em aterros é realizado com o uso de
geomembranas escolhidas conforme a situação. Em pequenos municípios pode
haver aterros em formato de valas e/ou trincheiras sem o uso desses componentes.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
15

Esses aterros são permitidos nesses locais desde que sejam capazes de conter e
absorver a poluição ocasionada pelo volume pequeno de resíduos ali descartados.
Em todas as fases que vão possibilitar a construção do aterro, são diversos os
profissionais envolvidos. Seja no projeto, na execução ou na operação do aterro, há
envolvimento de engenheiros, químicos, biólogos, geólogos, geógrafos,
meteorologistas, entre outros profissionais, e é fundamental a presença de um
engenheiro geotécnico. Dentre suas atividades, nesse tipo de projeto, destacam-se:
 Verificar a estabilidade de taludes;
 Projeto de fundação;
 Projeto de escavação;
 Sistema de impermeabilização, e
 Estudo do comportamento dos resíduos em todas as suas propriedades.

IMPORTANTE
É fundamental que haja acompanhamento de um engenheiro civil durante a vida
útil de um aterro sanitário.

O projeto de um aterro sanitário deve ser executado para controlar a emissão


de contaminantes de forma a reduzir a poluição de águas superficiais e subterrâneas
e minimizar, ao máximo, possíveis impactos ambientais. Para isso, é essencial que
alguns critérios de projetos sejam adotados e bem projetados como:
 Sistema de drenagem das águas superficiais e dos lixiviados;
 Sistema de impermeabilização em todo o aterro (fundos e laterais);
 Sistema de tratamento dos lixiviados;
 Sistema de monitoramento ambiental e geotécnico;

Quando um aterro não apresenta as condições de segurança necessárias,


pode haver a migração de poluentes para fora do local de disposição final. Esse
processo pode aumentar chances de doenças em seres humanos, degradação de
áreas ambientais e alterações climáticas, na fauna e na flora local.
Esses poluentes são originados no processo de decomposição dos resíduos. O
lixiviado pode atingir e contaminar as águas subterrâneas, originando uma pluma de

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
16

contaminação. A água, agora contaminada, pode ser direcionada para poços de


águas de abastecimento e/ou irrigação, ciclos hidrológicos ou lagos e demais cursos
d'água. Nesse processo de decomposição dos resíduos há também a emissão de
gases que podem provocar a contaminação do ar por meio das partículas
transportadas pelo vento, por exemplo.
O fluxo do chorume e dos gases emitidos no processo não tem como ser
impedido, mas deve ser controlado e permitido em níveis e velocidades que não
sejam nocivas ao ser humano e ao ambiente.
Para proteção das águas subterrâneas, o caminho do percolado deve ser
direcionado corretamente e sua formação deve ser prevenida. Essa formação pode
ser minimizada com a diminuição da quantia de água presente nos resíduos por
meio da secagem prévia e pela eliminação de quaisquer líquidos livres que possam
penetrar no aterro, por meio de um sistema de impermeabilização, reduzindo as
áreas expostas e com sistemas de coletas de águas superficiais.
A migração do chorume, por sua vez, pode ser controlada com revestimento da
camada superficial em contato com os resíduos com material impermeável, assim
como em toda a área do aterro; e fazer a drenagem, coleta e tratamento desses
lixiviados. Abaixo estão algumas imagens que ilustram a seção de um aterro, assim
como seus sistemas para um perfeito funcionamento.

Figura 7 - Corte Esquemático - Aterro Sanitário

Fonte: Boscov, 2008.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
17

Figura 8 - Corte Esquemático - Aterro Sanitário

Fonte: Boscov, 2008.

Figura 9 - Seção Típica de um Aterro Sanitário

Fonte: Benvenuto, acesso em 2019.

Vale ressaltar que não há revestimentos que sejam 100% impermeáveis.


Todavia, o objetivo desses materiais impermeáveis é garantir que a concentração de
contaminantes nos aquíferos esteja dentro do limite aceitável para que não seja
nociva para a saúde humana.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
18

Figura 10 - Aplicação de Geomembrana em Aterros

Fonte: CREA, 2017.

Figura 11 - Aplicação de Geomembrana em Aterros

Fonte: CREA, 2017.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
19

IMPORTANTE
Diante do exposto, é evidente a necessidade de um sistema de drenagem eficaz
dos lixiviados, assim como o seu direcionamento para um sistema de coleta e
tratamento desses percolados.

Quanto às tensões e deformações no solo, não são aplicados critérios de


ruptura para os RSU como são aplicados nos solos. Com o tempo, as propriedades
dos RSU apresentam muitas variações. Pode-se destacar as variações das
características mecânicas, físicas e químicas, das deformações; já que os resíduos
endurecem com a deformação e não apresentam modo de ruptura definido,
resistência de compressão, entre outros. Dessa forma, os valores de tensões e
deformações podem ser obtidos com base em ensaios in situ, ensaios em
laboratórios e experiência profissional.
A segurança do aterro, por completo, depende do comportamento dos sistemas
de drenagem, que vão controlar os lixiviados e gases oriundos dos processos. A
drenagem no aterro pode apresentar perda de eficiência caso apareçam trincas,
declividades e descontinuidades. Nessa perspectiva, faz-se necessária a aplicação
de métodos de análises de riscos e probabilísticos para a segurança dos aterros e
seu perfeito funcionamento. Os métodos probabilísticos permitem analisar as
variáveis internas mais expressivas nos componentes envolvidos. Já a abordagem
de análise de risco permite a identificação de falhas ou de consequências de
possíveis falhas que podem virar danos potenciais seja no projeto, na execução, na
fase de operação ou pós-fechamento.
As falhas na construção de um aterro sanitário estão passíveis de ocorrer. No
projeto, por exemplo, podem ocorrer erros na declividade para a drenagem de
lixiviados, assim como nas dimensões ou características permeáveis das camadas
impermeáveis e drenantes.
Na fase de construção, os erros são passíveis na preparação da camada de
base de forma inadequada, no uso de materiais de má qualidade, nas trincas em
camadas impermeáveis e rupturas nos geossintéticos. Já na fase de operação, é
passível a ocorrência de danos na camada de impermeabilização, causados ou não
pelo contato dos percolados, rupturas nos sistemas de drenos, entrada excessiva de

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
20

águas superficiais, entre outros. E na fase do pós-fechamento, pode haver


problemas tanto nos sistemas de impermeabilização quanto nos sistemas de
drenagem causados por recalques.
Para um trabalho completo com as análises de riscos em aterros sanitários, é
preciso identificar as possíveis causas de colapso dos elementos de segurança
presentes, a probabilidade desses colapsos acontecerem e quais os efeitos
resultantes da ocorrência desse fato.
As consequências e gravidade das falhas identificadas vão variar conforme o
projeto, condições hidrogeológicas e característica dos RSU. A consequência final
mais preocupante é o escape do chorume e/ou dos gases.
Segundo Boscov (2008), para uma avaliação de impacto ambiental causado
pelos contaminantes em um aterro sanitário, é necessário englobar:

a análise da composição dos resíduos; a identificação dos produtos


secundários de reação e decomposição; a determinação das características
topográficas, geológicas, geotécnicas e hidrológicas do local; a estimativa
do transporte e o destino dos constituintes dos resíduos e dos produtos
secundários móveis; a estimativa do impacto no meio ambiente e na saúde
humana se os componentes móveis atingirem receptores críticos; e a
estimativa do tipo e intensidade de exposição da cadeia alimentar, saúde
humana e meio ambiente.

Para regulamentar o uso de aterros sanitários, há uma série de resoluções


normativas atuantes direta ou indiretamente, como o Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA. O Ministério da Saúde também estabelece diretrizes que vão
à proteção da saúde humana no que tange o consumo de água. Além disso, a
Associação Brasileira de Normas Técnicas possui algumas normas relacionadas aos
aterros sanitários de resíduos:
 NBR 8419: 1992 - Versão Corrigida 1996 – Apresentação de projetos de
aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos.
 NBR 10157 (1987) – Aterros de resíduos perigosos – Critérios para
projeto, construção e operação.
 NBR 13896 (1997) – Aterros de resíduos não perigosos – Critérios para
projeto, implantação e operação – Procedimento.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
21

 NBR 15112 (2004) – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos


volumosos – Áreas de transbordo e triagem – Diretrizes para projeto,
implantação e operação.
 NBR 15113 (2004) – Resíduos sólidos da construção civil e resíduos
inertes – Aterros – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 NBR 15114 (2004) – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de
Reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
22

CAPÍTULO 2 - GEOTECNIA AMBIENTAL GEOSSINTÉTICOS

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E CONTAMINANTES

A cada dia surgem novas necessidades para o uso de água em todo o mundo.
A crescente densidade demográfica, dentre outros fatores, contribui para a
deterioração do meio ambiente e para os recursos hídricos usados no planeta, os
quais vêm se tornando cada vez mais escassos.
As águas subterrâneas são mais protegidas quando comparadas às águas
superficiais. Todavia, essas podem ser contaminadas por meio de agentes
contaminantes presentes no solo, resultado da poluição causada pela ação
antrópica. Apesar de serem mais protegidas, quando contaminadas, dificilmente
voltam ao seu estado original diante de suas características.
Os agentes contaminantes das águas subterrâneas podem ser diversos, como
os materiais oriundos do esgoto, o uso de fertilizantes, rejeitos ou estéreis de
mineração, a disposição inadequada de resíduos etc, e suas consequências, no
ambiente, podem ser imediatas e/ou graves. Todavia, é importante ressaltar que o
processo de descontaminação dessas áreas, quando atingidas, se dá de forma
lenta, relembrando assim, a importância de se atentar às consequências da
contaminação.
Dessa forma, em aterros, é extremamente importante o uso de materiais
impermeáveis para minimizar o percurso de lixiviados de maneira que se forme uma
barreira entre os agentes contaminantes e o lençol freático.

2.1.1 Aquíferos
Os aquíferos são formações geológicas com permeabilidade e porosidade
capazes de armazenar água, podendo ser considerado um reservatório de água
subterrânea. Eles podem ser livres, também conhecidos como não confinados,
freáticos, artesianos ou confinados.
Os aquíferos livres possuem sua superfície superior submetida à pressão
atmosférica, ou seja, a água está em contato direto com a atmosfera. Essa

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
23

característica faz com que eles sejam facilmente explorados, recarregados e


contaminados.
Já o aquífero confinado ou artesiano possui delimitações, tanto em sua parte
superior quanto inferior, por formações geológicas com características
impermeáveis. A pressão nesses aquíferos é superior à atmosférica porque, devido
às delimitações, os poros ficam saturados gerando pressão superior na água.

SAIBA MAIS
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS – AQUÍFERO. Agência Nacional de Águas.
Disponível em: <https://www.ana.gov.br/videos/aguas-subterraneas-o-que-sao-
aquiferos>.

As recargas de um aquífero são o processo que alimenta essa área e podem


ser feitas por um processo artificial ou natural. A recarga natural vai depender do
processo de infiltração, escoamento e evaporação no qual estão envolvidos o
processo pluviométrico, o tipo do solo e a cobertura vegetal da superfície. Dessa
forma, cada aquífero possui uma velocidade de recarga, já que suas características
são particulares. Nesse pressuposto, é fundamental avaliar as condições de um
aquífero antes de explorá-lo.
Já na recarga artificial, a transferência de água é feita por meio da ação do
homem, seja por poços, inundações, alterações no meio natural, dentre outras
formas.
As figuras abaixo se relacionam com um aquífero. A primeira apresenta uma
seção transversal. Já a segunda, apresenta um aquitardo separando aquífero livre
de um aquífero confinado.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
24

Figura 12 - Aquífero Alter do Chão

Fonte: Biota do Futuro, 2015.

Figura 13 - Aquíferos no Brasil

Fonte: G1.com. Acesso em 2019.

O Aquífero Guarani, um dos maiores do mundo, fica situado entre os países


Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo que a maior parte está localizada no
Brasil.
A população em torno do Aquífero Guarani é estimada em 15 milhões de
habitantes. Um dos principais riscos do uso desse aquífero está na quantidade de
poços profundos construídos ao redor por organizações sem especializações, as
quais acabam agindo sem obedecer aos parâmetros normativos, aproveitando-se de
uma fiscalização ineficaz.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
25

Figura 14 - Seção Transversal de um Aquífero

Fonte: Boscov, 2008.

Figura 15 - Esquema de Aquífero

Fonte: Boscov, 2008.

SAIBA MAIS
Sistema Aquífero Guarani. Agência Nacional de Águas.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=embTw1Rq5DI>.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
26

2.1.2 Monitoramento Geoambiental


O rompimento de aterros sanitários pode ocorrer devido a falhas estruturais no
projeto ou na operação, feita de forma indevida. Dessa forma, é importante a
avaliação contínua de um aterro para garantir o controle de possíveis impactos
ambientais e promover o perfeito funcionamento da estrutura.
O monitoramento geoambiental objetiva fornecer dados para controle estrutural
– estabilidade e impacto ambiental do aterro, comportamento dos resíduos sólidos
dispostos e da matéria-prima usada para construção em todo aterro – para garantir
seu funcionamento.
O monitoramento também auxilia na caracterização do local para transformá-lo
em aterro ou para recuperar uma área degradada por meio de investigações e
ensaios em laboratório, de modo a diagnosticar a situação real da área.
O monitoramento geotécnico busca avaliar e controlar o deslocamento no
aterro. Como instrumentos para esse trabalho são utilizados marcos superficiais,
controle de níveis de lixiviados e de pressão, placas de recalque, medidores de
vazão, entre outros. Os dados obtidos com o monitoramento são feitos pelas
inspeções, que são definidas de acordo com a necessidade de cada projeto, e são
apresentados em forma de relatório. Esses resultados vão permitir adotar
parâmetros para garantir a integridade e vida útil do aterro.
As figuras abaixo exemplificam uma seção de monitoramento de aterro
sanitário e o exemplo de um marco superficial utilizado para a medição de recalques
superficiais. Os marcos são colocados na superfície, taludes e bermas do aterro
para avaliação contínua e prevenção de acidentes, como desmoronamento, por
exemplo.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
27

Figura 16 - Monitoramento Geotécnico em Aterro Sanitário

Fonte: Boscov, 2008.

Figura 17 - Medidor de Recalque Superficial - Marco

Fonte: Ministérios da Cidades, 2008.

O recalque é medido pela diferença dos valores apresentados na cota atual e


na cota inicial. Os marcos superficiais controlam tanto os deslocamentos verticais
quanto os horizontais. Normalmente, os deslocamentos horizontais são medidos
pelos inclinômetros.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
28

2.1.3 Pressões Neutras e Percolados


As pressões neutras no aterro sanitário são medidas com piezômetros e
medidores de nível d'água. Esses medidores são colocados no solo e possuem um
tubo perfurado (figura abaixo). No tubo, o espaço entre o furo e a parede é
preenchido com componentes drenantes ao longo do comprimento, deixando livre
apenas a extremidade com material impermeável para evitar relações com a
superfície. A água subterrânea passa pelo meio do material drenante, chegando
aos tubo pelos furos e, assim, estabiliza-se com o nível do lençol freático, já que a
leitura da cota da superfície da água, feita pela sua extremidade superior, coincide
com o nível da água subterrânea.

Já o piezômetro é inserido no solo até onde pretende-se medir a pressão


neutra, como mostrado na figura abaixo. No inferior do tubo, onde é medida a
pressão desejada, tem-se uma área que pode ser perfurada ou feita de material
cerâmico com revestimento de material drenante. Ao longo do comprimento do tubo,
entre o tubo e o furo, há preenchimento de material impermeável. Da mesma forma
que os medidores, a leitura é feita na extremidade superior do tubo.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
29

2.1.4 Monitoramento Ambiental


O monitoramento ambiental objetiva certificar a qualidade da água subterrânea,
superficial, o controle da poluição do ar e os índices pluviométricos. Para o controle
das águas subterrâneas é feito o controle das amostras de corpos d'água nos poços,
a montante e a jusante do aterro sanitário. No monitoramento ambiental também
podem ser feitos o controle de caracterização dos resíduos, a análise dos lixiviados
e dos propagadores de doenças.

Figura 18 - Reservatório de Percolado

Fonte: Tera Ambiental, 2013.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
30

Para o controle de águas superficiais, são considerados parâmetros de


alcalinidade, pH, oxigênio, nitrogênio, dureza, DBO, DQO, metais tóxicos, entre
outros. Para o controle do percolado são considerados praticamente os mesmos que
para o controle das águas superficiais. Normalmente, a caracterização do percolado
é realizada para determinar se os sistemas de tratamento aplicados realmente estão
apresentando eficiência.

2.2 GEOSSINTÉTICOS

Os geossintéticos são materiais produzidos por materiais poliméricos sintéticos


ou naturais. São amplamente utilizados nas áreas de engenharia civil, geotécnica e
ambiental, com aplicações em muros, estruturas de contenções, aterros sanitários,
reforço de fundações, dentre outras funções.
Os geossintéticos podem ser classificados dependendo dos materiais e do
processo de fabricação. A tabela abaixo apresenta uma classificação genérica dos
geossintéticos, realizada pela Sociedade Internacional de Geossintéticos.

Quadro 1 - Classificação dos Geossintéticos


Classificação Descrição Figura
São mantas contínuas de fibras ou filamentos,
tecidos, não tecidos, tricotados ou costurados.
As mantas são flexíveis e permeáveis.
Geotêxteis
Esses materiais são utilizados em aplicações de
separação, proteção, filtração, drenagem,
reforço e controle de erosões.

São materiais geossintéticos com forma de


Geogrelhas grelha. A principal aplicação das geogrelhas é
em reforço de solos.

São materiais com aparência semelhante à das


grelhas formados por duas séries de membros
extrudados paralelos, que se interceptam em
Georredes ângulo constante.
Possuem alta porosidade ao longo do plano,
sendo usada para conduzir elevadas vazões de
fluidos ou gases.
São mantas contínuas e flexíveis constituídas
de um ou mais materiais sintéticos.
Geomembranas Elas possuem baixíssima permeabilidade e são
usadas como barreiras para fluidos, gases ou
vapores.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
31

São geossintéticos formados pela associação


de dois ou mais tipos de geossintéticos como,
Geocompostos por exemplo: geotêxtil-georrede; geotêxtil-
geogrelha; georrede-geomembrana ou
geocomposto argiloso (GCL).

São geocompostos fabricados com uma


camada de bentonita geralmente incorporada
entre geotêxteis de topo e base ou ligadas à
uma geomembrana ou à uma única manta de
geotêxtil.
Geocompostos Os geotêxteis que compõem os GCLs
argilosos geralmente são costurados ou agulhados
(GCL’s) através do núcleo argiloso para aumentar a
resistência interna do produto ao cisalhamento.
Quando hidratados eles atuam efetivamente
como barreira para líquido ou gás e são
comumente usados em aterros sanitários em
conjunto com geomembranas.

São tubos poliméricos perfurados ou não


usados para drenagem de líquidos ou gases
(incluindo coleta de chorume ou gases em
Geotubos
aplicações de aterros sanitários). Em alguns
casos o tubo perfurado é envolvido por um filtro
geotêxtil.

São arranjos tridimensionais relativamente


espessos, constituídos por tiras poliméricas.
As tiras são soldadas para formar células
interconectadas que são preenchidas com solo
e, às vezes, concreto.
Geocélulas
Em alguns casos, faixas de 0,5 a 1m de largura
de geogrelhas podem ser ligadas por hastes
poliméricas verticais para se formar geocélulas
mais espessas, também denominadas
“geocolchão”.
São blocos ou placas produzidos por meio da
expansão de espuma de poliestireno para
formar uma estrutura de baixa densidade.
O geoexpandido é usado para isolamento
Geoexpandido
térmico, como um material leve em substituição
a aterros de solo ou como uma camada vertical
compressível para reduzir pressões de solo
sobre muros rígidos.
Fonte: Adaptado de International Geosynthetics Society – IGS. Acesso em 2019.

Os geossintéticos podem ser identificados pela sua função principal, se


destacando pelos seguintes desempenhos:

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
32

 Separação: quando dois solos apresentam ou são distribuídos por


partículas diferentes, o geossintético pode atuar como componente
separador entre as camadas de solos.
 Filtração: Para filtração, o geossintético atua como um filtro de areia. A
sua ação permite que a água passe por meio do solo enquanto
desempenha a função de reter as partículas sólidas.
 Drenagem: Nessa função, o geossintético atua como um componente de
dreno que conduz o fluido por meio de solos com permeabilidade baixa.
 Reforço: o geossintético, nesse caso, atua como reforço seja inserido
para reforçar totalmente o solo ou de modo parcial com uma associação
para melhorar a propriedade de resistência e deformação do maciço
natural.
 Contenção de gases e fluidos: atua como função impermeável impedindo
a passagem de gases e fluidos.
 Controle de processos erosivos: auxilia no controle dos processos
erosivos provocados pela ação de chuvas e pelo escoamento da água na
superfície.

A imagem abaixo exemplifica as funções e aplicações do geossintético atuando


em um aterro de resíduos sólidos.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
33

Figura 19 - Aplicações do Geossintético em Aterro de RSU.

Fonte: International Geosynthetics Society – IGS. Acesso em 2019.

O processo erosivo pode ser compreendido como um processo natural que se


dá diante do desgaste das superfícies rochosas provocado por fatores como água,
clima, vento, umidade, topografia, ação humana etc.
Dentro dos processos erosivos, os geossintéticos podem trabalhar em casos
de proteção dos taludes, sistemas de drenagem, recuperação de áreas degradadas,
proteção contra a formação de ravinas, além de atuar na contenção de quedas de
blocos rochosos, proteções costeiras etc.
Nos taludes, sua estabilidade pode ser garantida com a combinação de
geossintético e argamassa. A cobertura vegetal, como mostra a figura abaixo, pode
ajudar na proteção contra perdas de solo diante de ações da água e do vento. A
vegetação aliada às mantas de geossintéticos também protegem o talude de
processos erosivos.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
34

Figura 20 - Recuperação de Taludes

Fonte: International Geosynthetics Society – IGS. Acesso em 2019.

Os geossintéticos apresentam alta eficácia nos sistemas de drenagem e


filtração e custo competitivo quando comparado aos demais materiais, além de
serem vantajosos em questões ambientais. Os tipos geotêxteis, georredes e
geocompostos são os mais utilizados nos sistemas drenantes e de filtração, sendo
empregados em aterros, contenções e controles de erosão. Com o uso de drenos, é
possível o fluxo livre dos líquidos ou gases presentes na estrutura. Abaixo, há um
esquema apresentado pela IGS mostrando a aplicação dos geossintéticos, em que
os pontos marcados de amarelo representam a aplicação de um geossintético mais
adequado de acordo com o projeto.

Figura 21 - Aplicação de Geossintéticos em Sistemas de Drenagem

Fonte: International Geosynthetics Society – IGS. Acesso em 2019

Os geotêxteis precisam garantir que o fluxo d'água não seja impedido ao reter
os grãos de solo. A fórmula Os ≤ n*Ds estabelece essa relação, onde o 'Os'
representa a abertura de filtração do geotêxtil, 'n' é representado conforme critério
utilizado e Ds representa o diâmetro dos grãos do solo. Por exemplo, D80 indica um
diâmetro em que 80% dos grãos do solo são menores que tal diâmetro.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
35

Nas imagens abaixo, os geossintéticos foram usados como reforços


(geogrelhas) e como proteção frontal (geocomposto antierosivo) para o
desenvolvimento da vegetação ao longo do trecho. As alternativas foram escolhidas
como calhas ecológicas.

Figura 22 - Drenagem com uso de Geossintéticos

Fonte: Vertical Green do Brasil. Acesso em 2019.

Figura 23 - Drenagem com uso de Geossintéticos

Fonte: Vertical Green do Brasil. Acesso em 2019.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
36

Os geossintéticos também são utilizados nos tratamentos dos resíduos


líquidos, sendo mais comuns em lagoas de estabilização anaeróbias e aeróbias. Em
lagoas anaeróbias com coberturas, quando um líquido se mantém depositado na
lagoa por dias, um lodo anaeróbio se forma ao fundo da lagoa. Quando essa lagoa
não é coberta, a digestão anaeróbia ocorre na base, enquanto na superfície a
digestão predominante é a aeróbia.
A cobertura das lagoas, geralmente feita por uma geomembrana flutuante, influi
em três aspectos:
 Aumenta a digestão anaérobia – nesse caso não há entrada de oxigênio;
 Permite a capitação de gás, usado como alternativa para combustível;
 Promove a redução de odor do processo anaeróbio.

As lagoas aeróbias fazem uso de aeradores mecânicos de superfície para


ejetarem ar no resíduo líquido. Esse processo faz com que a matéria orgânica seja
consumida, liberando dióxido de carbono.

Há possibilidade do uso de lagoas anaeróbias e aeróbias combinadas. Nesse


tipo de combinação, os sistemas são capazes de utilizar os gases do processo de

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
37

decomposição como combustível no tratamento, dispensando, assim, a energia


utilizada para os processos de aeração do sistema.

INDICAÇÕES BIBILIOGRÁFICAS
Livro Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente. Ennio Marques Palmeira.
Editora Oficina de Textos. 2018.
Livro Muros e Taludes de Solo Reforçado. Maurício Ehrlich, Leonardo Becker.
Editora Oficina de Textos. 2018.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
38

CAPÍTULO 3 - RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

A importância da palavra 'recuperação' está aliada à termos como restauração


e reabilitação. A figura abaixo apresenta o esquema de um processo de uma área
degradada em quatro momentos.
Inicialmente, tem-se uma área pura que sofre o processo de degradação. A
degradação pode ser entendida como um conjunto de processos originados de
ações que provocaram danos ao meio ambiente e que reduziram a capacidade
produtiva e qualidade original dos recursos ambientais de tal área.
Após a degradação do ambiente, promove-se a recuperação da área atingida.
Nesse processo de recuperação são trabalhadas ações que reproduzem as
condições ambientais de modo mais semelhante possível às condições anteriores à
intervenção que ocasionou a degradação. De forma sucinta, objetiva-se devolver ao
ambiente as condições originais.

Figura 24 - Esquema Sobre Áreas Degradadas

Fonte: Adaptado de UNESP. Acesso em 2019.

Após a recuperação da área, dois caminhos podem ser tomados: o de


restauração ou o de reabilitação. No processo de restauração da área são

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
39

reproduzidas condições fidedignas ao local como eram antes de sofrerem as


alterações causadas pelo processo de intervenção.
Já o processo de reabilitação permite, mediante projeto prévio, a destinação da
área a uma nova forma de uso, levando em consideração a ocupação ao redor,
destinando a área para outra finalidade.

3.1 A IMPORTÂNCIA GEOMORFOLÓGICA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS


DEGRADADAS

A geomorfologia é compreendida como a ciência que estuda as formas de


relevo, os processos que deram origem a essas formas de relevo e os materiais
envolvidos. Assim, para fazer o diagnóstico completo das áreas degradadas, é
fundamental o conhecimento geomorfológico da área em questão.
A ação antrópica provoca impactos negativos tanto onsite quanto offsite na
degradação dos solos e a geomorfologia preocupa-se em estudar ambos os efeitos
para proporcionar a recuperação da área degradada de forma completa e
satisfatória.
Na figura a seguir, tem-se as redes de ravinas ocasionadas por cortes para a
construção de estradas. Essas ravinas também podem se formar por atividades de
material de empréstimos e podem evoluir para a formação de voçorocas.

Figura 25 - Redes de ravinas em talus

Fonte: Guerra, 2017.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
40

3.1.1 Recuperação da Área Degradada


O conhecimento da geomorfologia é importante porque o ideal é trabalhar
sempre com o prognóstico, com o uso de técnicas de geoprocessamento, por
exemplo. Todavia, já com a área degradada, é fundamental, além do conhecimento
teórico e prático, o conhecimento em pesquisas em laboratório e práticas em campo
para executar modelos de recuperação das áreas em estudo.
A seguir, o esquema e sua explicação abordam algumas técnicas para serem
aplicadas na recuperação dos maciços.

Esquema 1 - Métodos para Diagnóstico para Recuperação de Áreas Degradadas

1. Fraturas no
Material
Rochoso

2. Presença de
5. Forma das Matacões
Encosta

Recuparação
de Encostas

3. Contato
4. Textura abrupto entre
solo/rocha

Fonte: Adaptado de Guerra, 2017.

1. Nas fraturas estão os pontos de fraqueza do maciço. Nelas ocorrem o


percurso e a entrada de água, o que acelera o processo de intemperismo físico e
químico. Com isso, a encosta fica mais vulnerável ao processo de deslizamento.
2. A presença de matacões na matriz do solo indica descontinuidade entre os
matacões e o solo. Quando eles se desprendem da encosta podem acertar outro
matacão abaixo dele e causar acidentes, acertando casas e/ou outros
empreendimentos, causando um efeito dominó.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
41

3. A água entra com facilidade pelo solo raso e encontra o maciço rochoso.
Assim, ela não consegue se infiltrar e escoa em subsuperfície, gerando um plano de
cisalhamento no qual o material acaba por se romper com o deslizamento.
A imagem abaixo indica uma situação na rodovia BR 101 (Rio Santos) em que
o solo raso que havia em cima do maciço rochoso foi removido por um
deslizamento.

Figura 26 - Deslizamento na rodovia BR 101

Fonte: Jorge apud Guerra, 2017.

4. É importante identificar a textura dos solos tanto na erosão quanto em


movimentos de massa para caracterizá-lo.
5. A definição da forma é importante (côncavas, convexas ou retilíneas), pois
ela indica se as encostas, conforme a sua forma, podem aglutinar ou dispersar mais
águas.

A degradação dos solos pode se dar de vários tipos, assim como suas causas,
que são as mais variadas possíveis. Dentre alguns tipos mais comuns, a
degradação pode ocorrer pela desertificação, acidificação, salinização e erosão dos
solos.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
42

ATENÇÃO!
A erosão NÃO é sinônimo de degradação, e sim um tipo de degradação. É comum
a erosão ser abordada como sinônimo de degradação, mas essa abordagem é
errônea.

A erosão e os movimentos de massa podem apresentar semelhanças e até ser


entendidos como a mesma coisa, mas esses são processos geomorfológicos
distintos, com provocadores, afeições e características gerais diferentes.
A erosão dos solos ocorre em encostas com declividades apenas entre 2° e 3°
graus. Assim, ela não é comum ou um fenômeno característico de locais com fortes
declividades. Esse tipo de degradação é mais típico em áreas rurais, mas também
pode acontecer em áreas urbanas e é ocasionado por fatores que vão desde as
propriedades físicas e químicas dos solos, como a densidade aparente, porosidade
e pH do solo, estabilidade dos agregados, entre outros; até a erosividade das
chuvas; a forma, comprimento e declividade das encostas e a forma como solo é
utilizado.
Já os movimentos de massa são de origem gravitacional e dependem, em sua
maioria, da declividade das encostas como principal fator para seu acontecimento.
Esses movimentos são mais comuns em áreas urbanas e se tornam presentes com
declividades de encostas maiores que 20° graus, pelo contato abrupto, como
mencionado anteriormente, entre o solo e a rocha, pela presença de matacões nas
encostas, corte do depósito de tálus e situação precária das redes de esgoto e de
drenagens, como as galerias pluviais, por exemplo.
Abaixo há duas imagens de processos erosivos. A primeira é uma ravina
formada em área de convergência de fluxo. Não é uma área utilizada para
agricultura, mas, caso nenhuma ação seja tomada, com o passar do tempo ela
evolui para as voçorocas como apresentado na foto seguinte.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
43

Figura 27 - Ravina em Convergência de Fluxo. Sorriso, MT.

Fonte: Guerra, 2017.

Figura 28 - Voçoroca. Sorriso, MT.

Fonte: Guerra, 2017.

No quadro abaixo, tem-se algumas medidas de recuperação do meio conforme


o tipo de degradação da área.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
44

Quadro 2 - Recuperação de Área Degradada Conforme o Tipo.


Tipo de área Principais processos de
Principais Medidas
degradada conforme degradação, de acordo
Corretivas
atividade com o meio físico
- Escoamento das águas
superficiais; - Revegetação;

Mineração - Erosão por sulcos e - Captação e condução

Abandonada em ravinas; das águas superficiais;

Regiões Urbanas - Escorregamentos; - Estabilização de taludes

- Deposição de sedimentos e e blocos.


partículas.
- Prospecção do depósito;
- Interações físico-químicas - Remoção total ou
no solo (poluição do solo); parcial, transporte e
Depósito de
- Escoamento das águas disposição dos resíduos;
Resíduos Industriais
superficiais; - Tratamento "in situ" do
e Urbano
- Movimentação das águas solo;
de subsuperfície. - Descontaminação ou
remediação do solo.
- Captação e condução
Ocupação das águas superficiais;
- Escorregamentos;
Habitacional de - Estabilização da encosta
- Escoamento das águas em
Encostas em (com ou sem estruturas de
superfície.
Situações de Risco contenção);
- Revegetação.
- Controle do uso e
ocupação;
- Erosão por voçorocas; - Captação e condução
Voçorocas Urbanas
- Movimentação das águas das águas superficiais;
ou Rurais
de subsuperfície. - Drenagem das águas de
subsuperfície/fundo;
- Estabilização dos taludes

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
45

da voçoroca ou
aterramento.
- Controle da irrigação;
- Adensamento e
- Aragem profunda do
Ocupação Agrícola compactação do solo;
solo;
Irrigada - Acidificação do solo por
- Correção da acidez do
lixiviação.
solo.
- Controle da erosão a
- Deposição de sedimentos e montante;
Cursos e Corpos
partículas; - Dragagem dos
d´água Assoreados
- Enchentes e inundações. sedimentos;
- Obras hidráulicas.
Fonte: UNESP. Acesso em 2019.

SAIBA MAIS!
Algumas áreas bastante conhecidas foram construídas como áreas de reabilitação
como o Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo, que era uma antiga cava de
areia; o Parque das Pedreiras, em Curitiba - PR, que foi uma jazida de mineração
e o Parque Tangá, também em Curitiba - PR, onde havia um complexo de
pedreiras desativadas.

3.2 BIOENGENHARIA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Quando uma degradação ambiental é identificada, é fundamental a automação


de medidas para fazer com que a área volte ao seu estado original ou se aproxime,
ao máximo, do ambiente antes das intervenções. Essas medidas devem recuperar a
área proporcionando condições de equilíbrio e sustentabilidade de um sistema
natural.
A evolução dos procedimentos tecnológicos permite uma variação gigantesca
de técnicas para a recuperação de áreas degradadas. Uma das mais utilizadas tem
sido a bioengenharia, que apresenta sucesso em grande parte dos casos, quando
aplicada corretamente.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
46

A bioengenharia, de forma sucinta, pode ser definida como o conhecimento das


características biológicas da vegetação, assim como suas exigências e a
capacidade de proporcionar os nutrientes essenciais para manejo e correção
adequados do solo. Esse conhecimento é importante para a solução de problemas
técnicos de estabilização em margens e encostas e em grandes obras.
Todo esse processo também pode ser conhecido como engenharia biológica,
biotécnica ou construção verde. Essa técnica faz uso de elementos ativos biológicos
(vegetação, por exemplo) com o auxílio de elementos inertes (polímeros naturais,
madeira, concretos etc.). A junção desses elementos objetiva a estabilização das
raízes para proteção do solo e, como consequência, tem-se melhor drenagem,
retenção dos agregados e absorção de nutrientes.
As atividades econômicas ligadas ao meio ambiente, como exploração de
calcário e mineral, são grandes devastadoras das áreas em que são exploradas e
necessitam de obras de recuperação para não ocasionar danos ambientais maiores.
Essas atividades indicam a necessidade de inclusão de uma política nacional
para a ação de exploração mineral e a conservação do meio ambiente para que seja
considerado todo o processo de exploração, o que vai desde o processo inicial de
exploração, controle dos processos em desenvolvimento, a recuperação de áreas
degradadas até, por fim, quais processos deverão ser executados para que aquela
área tenha um novo uso após sofrer a exploração mineral e o fim da atividade
econômica. Nessa perspectiva, a bioengenharia, em determinadas situações, pode
ser a única alternativa economicamente viável capaz de atuar na recuperação das
áreas degradadas.
A bioengenharia pode ser dividida em quatro grupos principais, sendo a
proteção dos solos por meio da vegetação utilizada, podendo ser de fibra sintética
ou fibra vegetal; estabilização dos solos, por meio do uso de espécies de plantas
com enraizamento rápido; técnicas de construção combinadas, pela combinação de
plantas com concreto, aço, plástico para conter taludes instáveis e construções
complementares, que englobam a semeadura e atividade de plantio (SOUZA, 2018).
Para atividades mineradas, Soleira et al (2014) identificou a existência de
quatro técnicas de bioengenharia de solos no Brasil, as quais são discriminadas
abaixo:

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
47

 Grade viva conjugada à paliçada de madeira: é caracterizada pelo uso de


troncos de madeiras de eucalipto não tratadas dispostas na horizontal e
na vertical do talude formando uma grade preenchida com solo e plantio
de mudas da espécie arbustiva. Essa técnica proporciona a redução da
erosão e estabilização do solo na área tratada, o aumento da diversidade
biológica, favorecimento da regeneração natural, formação de habitats,
aumento de estoque de carbono, controle de erosão e recuperação da
beleza cênica. Possui melhor aplicabilidade em taludes íngremes e
eventualmente margens fluviais.
 Hidrossemeadura conjugada à biomanta: a caracterização da
hidrossemeadura se dá na instalação de biomanta e aplicação
mecanizada no solo de mistura com a presença de insumos e mix de
sementes, que formará a cobertura vegetal. Essa técnica permite, dentre
outros benefícios, a consolidação superficial do talude e sua a
estabilização, estabelecimento da cobertura vegetal, a melhoria das
condições físicas do solo e o aumento da diversidade biológica e é melhor
aplicada em taludes de corte e aterro, encostas, e em áreas com
voçorocas.
 Canaleta verde: as canaletas verdes são escavadas no solo,
compactadas, cobertas com biomantas e implantação de vegetação
herbácea. Utilizadas como obra complementar de transição para os
canais de concreto para captação e condução de águas pluviais. Além
disso, provocam melhoria das condições físicas do solo, aumento da
diversidade biológica, formação de habitats e controle de erosão. Muito
utilizadas em sistemas de drenagem de água superficial.
 Transposição de topsoil: caracterizada pela transposição da camada
superficial do solo (contendo o horizonte A e parte do horizonte B) e
plantio de espécies arbóreas. Permite boa cobertura superficial do solo,
significativa regeneração natural e melhoria do aspecto visual da área
degradada. Além disso, favorece a regeneração natural, há o aumento da
diversidade biológica no ecossistema e melhoria no fluxo de nutrientes. É

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
48

ideal para uso em áreas planas quando o objetivo é a restauração


ecológica.

Braun (2018) avaliou outras técnicas de bioengenharia que permitem excelente


desempenho na recuperação de áreas degradadas, as quais são apresentadas a
seguir.
 Enrocamento de Pedras (Rip Rap): técnica de engenharia que consiste no
uso de um ou mais níveis de pedras que são depositadas no decorrer das
margens do curso d’água como forma de conter a erosão. Essa técnica
também permite flexibilidade e as pedras têm a opção de se
movimentarem para níveis mais estáveis através da força exercida pelo
fluxo da água, gravidade ou pelas ações das ondas, sem afetar a
estabilidade do talude. Ademais, o solo pode exercer o trabalho de
preenchimento dos espaços vazios existentes entre as rochas. O
enrocamento de pedras objetiva, na prática, revestir os taludes com
rochas ou blocos artificiais, formando um maciço de rochas com o intuito
de conter aterros, taludes, margens de rios e encostas dos efeitos dos
processos erosivos.
 Enrocamento com vegetação: Esta técnica de bioengenharia consiste em
preencher os espaços e aberturas existentes entre as rochas do
enrocamento de pedras, citado anteriormente, com estacas vivas. O
enrocamento com vegetação proporciona uma imediata proteção dos
taludes que estão sofrendo com os processos erosivos ativos, visto que
controla o excesso de umidade presente e garante a estabilização
mecânica nas margens. As estacas vivas utilizadas nesse processo
devem possuir comprimento de 85 a 100 cm e diâmetros de 12 a 40 mm.
Essa prática é indicada para locais afetados por fluxos superficiais de
água e deslocamentos de massa do solo.
 Capim Vetiver: este capim possui boa adaptação em diferentes tipos de
clima, principalmente o tropical e subtropical, com grande facilidade na
remediação de áreas degradadas; dá bons resultados quando sua
aplicação é para controle dos processos erosivos, já que suas raízes e

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
49

fibras cilíndricas são capazes de atingir uma profundidade de 3 a 5 m de


alcance. Dessa forma, a planta proporciona uma elevada resistência a
períodos de seca e ao forte poder das enxurradas, fazendo com que
fiquem acopladas ao solo.
 Parede de Krainer: é uma técnica utilizada para estabilização e
reconstrução das margens fluviais expostas à erosão, em recursos
hídricos com média e alta velocidade, levando em consideração o
carregamento de sedimentos sólidos com média granulometria. Para isso,
são colocadas estacas de madeira piloto até a altura da água para conter
os processos erosivos.

A vegetação aplicada pela bioengenharia apresenta resultados eficientes para


controlar processos erosivos, por exemplo. As raízes das plantas utilizadas no
processo em associação com a biota do local presente nos solos proporcionam a
estabilização das camadas superficiais de até 1,5 m.
Além disso, os movimentos de massa também podem ser controlados ou
minimizados pela aplicação de técnicas da bioengenharia, movimentos esses
comuns em atividades de extração mineral. Não só em atividades de mineração,
mas em atividades que envolvam a engenharia civil como um todo, em especial a
construção de estradas e ferrovias, áreas de disposição final de resíduos, expansão
urbana, dentre outros, necessitam de projetos de recuperação para a área em
questão após terem sido usadas para essas atividades.
O geotêxtil é um material em forma de manta antierosiva disposta sobre o solo.
Ele pode ser confeccionado de diversos materiais como, por exemplo, folhas de
tronco de bananeira e folhas de palmáceas, ambas com características de
biodegradabilidade. Esses materiais contribuem para a técnica de conservação do
solo e são muito utilizados em projetos de engenharia.
As técnicas de bioengenharia são recomendadas por vários fatores, pois além
de atuar na recuperação das áreas degradadas, os materiais geotêxteis de fibras
vegetais atuam também como soluções ambientais, incluindo tecnologias para a
conservação dos solos, a diminuição do desmatamento, relação custo-benefício,
entre outros.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
50

Além disso, as medidas empregadas na bioengenharia atuam como uma


estabilização biotécnica, com o uso de plantas. Essas plantas, em determinados
casos, são colocadas no solo com configuração especial, conforme o objetivo
proposto. Essa técnica contribui para o reforço no solo, a barragem contra os
movimentos de massa, os concentradores de umidade e atuam como dispositivos de
drenagem.
É importante ressaltar que o uso das tecnologias deve ser realizado de forma
adequada, de acordo com cada caso específico, e seguindo as orientações técnicas
apropriadas para que, de fato, os geotêxteis cumpram a função desejada; caso
contrário, eles deixam de ser uma boa opção no caso em questão.
Nas fotos abaixo, tem-se exemplos da má aplicabilidade do geotêxtil na
recuperação de um talude. Na primeira figura, na parte inferior, abaixo das telas, é
possível observar que o solo continua sendo degradado e não houve efetiva
recuperação da encosta. Na figura seguinte foram colocadas as mantas, mas não foi
feito nenhum diagnóstico na área.

Figura 29 - Recuperação Inadequada de Talude

Fonte: Guerra, 2013.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
51

Figura 30 - Recuperação Inadequada em Trecho da Rodovia Rio-Santos

Fonte: Guerra, 2017.

Ao longo de estudos e aplicações do uso da bioengenharia, inúmeros


benefícios foram constatados, tais como:
 Redução da taxa de erosão e da temperatura do solo;
 Aumento da umidade do solo;
 Aumento e melhora do crescimento vegetal e quantidade de nutrientes;
 Proteção e estabilização de superfícies que apresentam instabilidade,
como voçorocas e sítios arqueológicos;
 Aumento da fauna endopedônica;
 Melhora da educação ambiental;
 Renda e emprego com a fabricação dos geotêxteis;
 Técnica ecologicamente correta.

As técnicas utilizadas na bioengenharia facilitam o desenvolvimento dos micro-


organismos e, assim, devolvem a vida aos solos que sofreram processos erosivos.
As imagens a seguir apresentam a aplicação e evolução da área com o uso de
geotêxtil de fibra de troco de bananeira.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
52

Figura 31 - Área de Encosta Degradada

Fonte: Guerra, 2013.

Figura 32 - Aplicação do Geotêxtil de Fibra de Tronco de Bananeira

Fonte: Guerra, 2013.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
53

Figura 33 - Trecho Anterior Após 1 mês de Aplicação da Fibra com Plantio de Gramínea e
Adubo Químico

Fonte: Guerra, 2013.

A seguir, são apresentas algumas vantagens do uso da técnica de


bioengenharia para recuperação de áreas degradadas.

Figura 34 - Vantagens da Bioengenharia

Fonte: Guerra, 2017.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
54

Em vista do exposto, a bioengenharia é uma técnica muito utilizada na


recuperação de áreas degradas, para contenção de processos erosivos,
movimentos de massas, entre outros processos de degradação. Todavia, é
importante fazer um diagnóstico adequado, assim como uma análise de viabilidade
econômica para saber qual combinação utilizar para que o resultado seja positivo e
satisfatório.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

A DETERMINAÇÃO DO PERFIL CLIMATOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE SANTO


ANTÔNIO DE PÁDUA-RJ E SUA APLICABILIDADE NA RECUPERAÇÃO DE
ÁREAS DEGRADADAS. Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ. 2017

PROPOSTADE PLANO DE RECUPERAÇÃO DE APP DEGRADADADO


IGARAPÉ PAU-CHEIROSO. 9º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos. 2018.

MODELOS ESTRUTURAIS DE BIOENGENHARIA DE SOLOS NA


REVEGETAÇÃO DE PILHAS DE ESTÉRIL EM MINERAÇÃO A CÉU ABERTO.
2017.

Meio Ambiente - Manejo e Recuperação de Áreas degradadas - AULA 01.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=35uz8zJ1zOE>.

UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE BIOENGENHARIA PARA RECUPERAÇÃO DE


FOCOS EROSIVOS EM ÁREAS DEGRADADAS POR EROSÃO HÍDRICA NO
DISTRITO DE AMADEU AMARAL, MUNICÍPIO DE MARÍLIA – SP. Disponível
em: <http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-
1.amazonaws.com/engineeringproceedings/eneeamb2016/adc-002-4958.pdf>.
2016.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
55

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 8419: 1992 - Versão


Corrigida 1996 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos
urbanos.

_____ NBR 13896 (1997) – Aterros de resíduos não perigosos – Critérios para
projeto, implantação e operação – Procedimento.

Abrelpe. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. 2017.

BENVENUTO, Clóvis. Aterro Sanitário (pequeno, médio e grande porte).


Seminário de Gestão de Resíduos Sólidos - da Coleta ao Destino Final. Acesso em
01 de out. 2019. Disponível em: <http://www.ablp.org.br>.

BOSCOV, Maria Eugênia Gimenez. Geotecnia Ambiental. Oficina de Textos.


Edição Digital 2014. São Paulo. 2008.

BRASIL. Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos, altera a Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Acesso em 29 de set. 2019. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.

BRAUN, M. G. Técnica de Bioengenharia de Solos Aplicada na Remediação de


Áreas Degradadas por Erosão Hídrica no Arroio Tamanduá em Marques de
Souza/RS. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade do Vale do
Taquari. 2018.

CAMPOS, H. C. N. et al. Diagnóstico Da Gestão Dos Resíduos Da Construção


Civil E Demolição Na Região Metropolitana Do Vale Do Aço, MG. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação). Coronel Fabriciano. 2017.

CREA - RO Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia. Uso de


Geossintéticos nas Engenharias por Eng. Thiago Castro. 2017. Acesso em 01
de out. 2019. Disponível em: <http://www.crearo.org.br/noticia.php?q=uso-de-
geossinteticos-nas-engenharias-por-eng.-thiago-castro*>.

G1.com. o portal de notícias da globo. Acesso em 12 de out. 2019. Disponível em: <
http://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/bom-dia-santarem/videos/v/aquifero-alter-do-
chao-e-a-maior-reserva-de-agua-descoberta-ate-o-momento/6599709/>.

GUERRA, A. J. T; JORGE, M. C. O. Processos Erosivos e Recuperação de Áreas


Degradadas. Oficina de Textos. 1 ed. 2013.

GUERRA, A. J. T. Geomorfologia na Recuperação de Áreas Degradadas. Oficina


de Textos. 2017.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
56

Geossintéticos - aplicações em aterros sanitários. Data de publicação: 14 de set.


2016. Acesso em 05 de out. 2019. Disponível em:
<https://www.sympla.com.br/geossinteticos-----aplicacoes-em-aterros-
sanitarios__84847#info>.

O Estado. Prefeitura De Santarém não Cumpre Prazo para Transformar Lixão


do Perema em Aterro Sanitário. 2014. Disponível em:
https://www.oestadonet.com.br/noticia/5324/prefeitura-de-santarem-nao-cumpre-
prazo-para-transformar-lixao-do-perema-em-aterro-sanitario/. Acesso em 26 de set.
2019.

Resíduos sólidos: projeto, operação e monitoramento de aterros sanitários:


guia do profissional em treinamento: nível 2. Ministério das Cidades. Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental (org.). 120 p. Belo Horizonte: ReCESA, 2008.

Tera Ambiental. Você sabe o que é chorume de lixo? Publicado em 18 de fev.


2013. Acesso em 15 de out. 2019. Disponível em:
<https://www.teraambiental.com.br>.

SOCIEDADE INTERNACIONAL DE GEOSSINTÉTICOS (International


Geosynthetics Society – IGS). Acesso em 02 de out. 2019. Disponível em:
<http://igsbrasil.org.br/os-geossinteticos>.

SOLERA, M. L. et al. Bioengenharia de solos: aplicabilidade na recuperação de


áreas mineradas e na oferta de serviços ambientais. Revista Brasileira de
Ciências Ambientais. 2014.

SOLERA, M. L. et al. Modelos estruturais de bioengenharia de solos na


Revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto. 2018.

SOUZA, A. A. S. de; BEZERRA, A. E. S. PROPOSIÇÃO DE TÉCNICAS


BIOENGENHARIA PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA PARA
EXTRAÇÃO DE SEIXO E AREIA NO MUNICÍPIO DE CAPITÃO POÇO – PA.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Federal Rural da
Amazônia, 2018.

UNESP. Módulo 5 - Estudos Ambientais - Recuperação de Áreas Degradadas.


Acesso em 12 de set. 2019. Disponível em:
<http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/estudos_ambientais/ea14.html>.

Vertical Green do Brasil. Tecnologias - Ecocalha. Acesso em 10 de out. de 2019.


Disponível em: <http://verticalgreen.com.br>.

ZUQUETTE, Lázaro Valentin. Geotecnia Ambiental. 1. ed. Elsevier Editora Ltda.


Rio de Janeiro 2015.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.

Você também pode gostar