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O Aprendiz em loja: Ver, Ouvir e Calar: Por que?

O tema deste trabalho faz lembrar um dos momentos mais marcantes da Iniciação, o
Juramento, quando o Neófito declara: “Eu (diz seu nome) juro e prometo, de minha livre
vontade, pela minha honra e minha fé, em presença do Supremo Arquiteto do Universo, que é
Deus, e perante esta assembleia de Maçons, solene e sinceramente, nunca revelar quaisquer
dos mistérios da Maçonaria, que me vão ser confiados, se não a um bom e legítimo Ir ∴, ou em
Loja regularmente constituída; nunca os escrever, gravar, traçar, imprimir ou empregar outros
meios pelos quais possa divulgá-los... Se violar este juramento, seja-me arrancada a língua, o
pescoço cortado e meu corpo enterrado nas areias do mar, onde o fluxo e refluxo das ondas
me mergulhem em perpétuo esquecimento, sendo declarado sacrílego para com Deus, e
desonrado para com os homens. Amém!”

Eis a grande questão imposta ao Iniciado, que acostumado no mundo profano a expressar
suas opiniões, a mudar de ideia de forma volátil, a agir impensadamente, com certeza haverá,
a partir da Iniciação, de se surpreender porque, como primeiro passo para o seu
desenvolvimento em busca do aprimoramento, deverá limitar-se a Ver, Ouvir e Calar.

É a lei iniciática do silêncio. Faz parte de normas que deverão ser fielmente observadas. O
sigilo, o segredo e o silêncio, existiram sempre inseparáveis nos antigos mistérios, como em
todos os sistemas de cultos. Achava Aristóteles, que as coisas mais difíceis de serem
realizadas eram: primeiro, guardar um segredo e segundo, manter o silêncio. Por isso, o
silêncio e os segredos foram exaltados em todas as escolas iniciáticas, como eterno dever do
homem.

Ao Aprendiz estão reservadas as tarefas de:


- Submissão consciente à hierarquia da Loja e da Ordem, a prática de uma disciplina racional,
trabalhar em conformidade com um critério, fazê-lo de forma síncrona com seus demais
irmãos.

- Estudar, meditar, investigar, perguntar e, acima de tudo, ser discreto e silencioso.

O silêncio imposto ao Aprendiz não é mais como no início para acostumá-lo a guardar
invioláveis os segredos da Maçonaria Operativa.

Hoje, a intenção é acostumá-lo a pensar como Maçom, ou seja, para que se esforce em
controlar e melhor ordenar seus pensamentos, a desenvolver seus atos e atividades sempre
com calma e reflexão, agir com justiça, moderação e imparcialidade, harmonizando a si e a seu
próximo.

À medida que vai se ambientando na Ordem, o Aprendiz se aperceberá que a verdade não
está nas palavras com que envolvemos nossos conceitos e as nossas ideias, mas reside na
essência das coisas e dos seres. Só o silêncio pode permitir-lhe ouvir a voz sutil das essências.

O Aprendiz deve ser levado a adquirir paulatinamente a autocrítica de suas capacidades para
que não caia nem na subestimação e nem na superestimação. Porque somente conhecendo
do que é capaz, qual é seu potencial, quais são suas limitações, quando conhece tudo isso,
pode então agir sem se desmedir, sem se lastimar nem se frustrar.

A calma que impõe a si mesmo faz calar suas impulsividades. Aprendendo a pensar e meditar
antes de falar, pode amadurecer uma decisão entes de pô-la em execução.

O Aprendiz deve ser um ser silencioso, acústico, que no silêncio e na meditação aprende a
manejar a interpretação do que o Templo, o Ritual e a Ação da Ordem lhe permitem de modo
expresso ou tácito, dentro dos Símbolos ou das Cerimônias.
Saber calar não é menos importante do que saber falar, e esta última arte não podemos
aprendê-la à perfeição antes de nos termos adestrado na primeira, retificando por meio do
Esquadro da reflexão todas as nossas expressões verbais instintivas.

Os trechos reproduzidos acima são uma rica contribuição ao tema deste trabalho, recolhidos
das obras de seus ilustres autores e ordenados de forma a relembrar aos IIr∴ esse tema tão
importante para a Ordem Maçônica e, para finalizar, vale ainda reproduzir alguns conselhos de
Henri Durville selecionados da obra de Nicola Aslan:

“Cala e permaneça calmo. Aprenderás assim a melhor conhecer os homens ao ouvir suas
conversas e ao estudar seus gestos, e lá, como em outra coisa, este novo conhecimento há de
trazer-te uma nova felicidade. Sentirás novas aplicações à Lei de Harmonia, e a serenidade do
teu espírito e a paz do teu coração hão de completar tua saúde física.

Segue o caminho do silêncio que é dos Sábios. A calma exterior que te aconselho terá como
resultado dar-te a calma interior e, nesta beatitude nova, poderás meditar, esperar a iluminação
do Espírito. A tua alma apaziguada conhece a calma absoluta depois da tormenta, escuta e
cala.
O teu silêncio impõe; a tua calma coloca-te acima das agitações dos outros homens. Os
efêmeros objetivos de sua louca atividade te aparecerão logo em toda a sua vaidade. Recolhe-
te; aprende a isolar-te dos “ruídos” exteriores. A harmonia das esferas superiores penetra-te.

Irás finalmente saborear a doçura infinita provindo do desapego. Entra, novo Iniciado, no
Templo aberto diante de ti. Compreenderás o significado da estátua da grande Ísis que medita,
um dedo sobre os lábios” ...

Bibliografia
Aslan, Nicola – Comentários ao Ritual de Aprendiz – Volume III – Editora Maçônica “A
Trolha” Ltda. - 1ª Edição – novembro 1995
Neves, Carvalho – Instruções para Loja de Aprendiz – Cadernos de Estudos
Maçônicos – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. – 2ª Edição
Oliveira, Walter Dias de – A Maçonaria e seus Conceitos – 1ª Edição – 1999
Apostila do VI Encontro Regional de Aprendizes e Companheiros – ERAC – Região
ABCD de 23/Novembro/1996.
Ritual – Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º
Grau – Aprendiz – 2001

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