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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

DISCENTE: Deivid Dener Pereira Coelho Favato


FICHAMENTO
Tipo: Páginas: Assunto/tema: o artigo versa sobre a construção do conhecimento
artigo 16 (1-16) científico a partir das estruturas relacionais dos autores e construtores
desse conhecimento
Referência bibliográfica: ROSSONI, Luciano; MACHADO-DA-SILVA, Clovis L. A
Construção Social do Conhecimento em Campos Científicos: Análise Institucional
e a Configuração de Mundos Pequenos. In XXXI Encontro da ANPAD; Anais. – Rio
de Janeiro, set., 2007.
Resumo: o presente artigo examina como a construção do conhecimento científico no
campo da pesquisa em organizações e estratégia no Brasil está condicionada, ou
apresenta-se correlacionada, às relações pessoais entre os autores ou pares do
mencionado campo de pesquisa. A partir da avaliação de 2332 artigos sobre o tema
entre os anos de 1997 e 2005, os autores identificaram que o grau de relacionamento,
interdependência e a troca de experiências entre os autores no referido campo de
pesquisa condicionam a construção do conhecimento, a discussão de temas e o próprio
escopo da área em questão.
Citações/comentários:

“Realça (se) a importância de entender as relações entre pesquisadores para se


compreender a cognoscitividade (sic) dos autores de textos científicos. Assim, relações
entre autores e padrões estruturados de cognição constituem fenômenos interligados.”
(p. 1)
 ressalta-se aqui como a troca de informações entre os autores da área acaba
estabelecendo uma espécie de caminho epistemológico sobre o assunto.

“A estrutura de relacionamento do campo da pesquisa em organizações e estratégia no


Brasil condiciona a construção do conhecimento nesse campo científico.” (p. 1)

“[...] o campo científico, como qualquer campo social, é um sistema social que
apresenta ‘relações reproduzidas entre atores ou coletividades, organizadas como
praticas sociais regulares’ (GIDDENS, 1989, apud ROSSINI e MACHADO-DA-
SILVA, 2007)”. (p. 1)
 um "campo”, onde os atores reproduzem práticas sociais específicas daquele
lócus, com suas próprias regras, práticas e limites.

 A importância desse tipo de análise que os autores fazem em seu artigo reside
na possibilidade de compreender como é produzido o conhecimento no campo
de pesquisa em organizações e estratégia no Brasil, a partir da
retroalimentação de conteúdos, referências, conceitos e metodologias entre os
autores.

“A dinâmica de small worlds permite que atores isolados atuem reproduzindo as


propriedades estruturais presentes nas relações sociais, contradizendo a intuição de que
atores podem romper abruptamente com a estrutura social.” (p. 2)
 Talvez seja esse um dos principais argumentos do artigo, o de que as relações
sociais entre os autores delineiam uma estrutura epistemológica acerca de
determinado assunto, e ao mesmo tempo esta estrutura condiciona a prática e a
pesquisa dos autores, numa retroalimentação, que acaba por tornar mais difícil
a ruptura epistemológica de uma estrutura de conhecimento já consolidada.

“Entender a dinâmica local entre pesquisadores possibilita verificar como eles


constroem em nível micro o conhecimento científico.” (p. 3)

“[...] os mecanismos de afiliação entre pesquisadores em nível micro repercutem na


estruturação da rede global (nível macro).” (p. 3)
 As dinâmicas entre os autores acaba delimitando uma espécie de espaço ou
“campo” de discurso sobre determinado tema, impossibilitando, em algumas
ocasiões, a ruptura paradigmática do conhecimento já estabelecido e
chancelado pela comunidade científica.
 Essas dinâmicas, portanto, podem servir como indicadores do próprio
movimento do avanço do campo de pesquisa em questão. Grupos mais coesos,
com grande número de conexões entre si, tendem a circunscrever a pesquisa de
determinado assunto num modo mais hermético, com poucas possibilidades de
rupturas epistemológicas. Grupos mais esparsos, com desconexões, subgrupos,
ou “small words” como os autores trazem, com poucas conexões entre si,
tendem a produzir conjuntos de conhecimentos de modo mais fragmentário,
muitas vezes em cooperação com o núcleo estabelecido de pesquisa, mas
também em direções diferentes da consolidada.

“[...] Em suma, o campo da pesquisa em organizações e estratégia é um mundo


pequeno, pois, apesar de apresentar uma densidade crescentemente baixa, os autores
continuam altamente agrupados e, ao mesmo tempo, conectados a autores fora de seus
grupos por meio de um pequeno número de intermediários.” (p. 10)
 Após a aplicação da metodologia de agrupamentos em rede, conectividade e
formação de clusters, os autores verificaram que o campo de pesquisa no país,
não é amplo, com poucos grupos dedicados ao tema em questão. Mas ainda sim
apresenta características de agrupamento forte, o que gera uma certa coesão
entre os temas, assuntos e metodologias abordadas pelos autores,
concomitantemente à presença de outliers, fragmentações e heterogeneidades,
ou autores que estudaram conceitos, referências, autores, aplicaram
metodologias ou levantaram questões distintas da média global.

“A partir do reconhecimento de uma durabilidade dinâmica em campos organizacionais,


há maiores possibilidades que as relações que persistem no campo conduzam à
estabilidade de temáticas de pesquisa no decorrer do tempo, circunscrevendo-as em
grupos de menor tamanho. No caso da produção científica, a construção de parâmetros
de trabalho do que é ou não aceito como conhecimento é definido, em primeira
instância, dentro dos grupos de pesquisadores.” (p. 11)

“[...] Verificou-se que a formação em grupos e em clusters serviu como elemento de


homogeneização de temas e interesses de pesquisas.” (p. 12)

“Em termos gerais, verificamos que ocorreram mutuamente persistência e mudança no


campo de pesquisa em organizações e estratégia. Apesar de boa parte das temáticas
emergentes terem vindo de grupos inexistentes ou periféricos, não indica que eles
tenham surgido sem a cooperação dos grupos já instituídos, até porque as instituições de
ensino e pesquisa que formam os pesquisadores têm papel importante na construção do
conhecimento.” (p. 13-14)
 Ressalta-se aqui a importância dos centros formadores de conhecimento,
nomeadamente as universidades, como locais onde a estrutura de pesquisa, os
temas de interesse, as abordagens metodológicas e as referências teóricas e
bibliográficas são delineados. Assim, tais centros de pesquisas atuam como
bases de construção e reforço de toda a estrutura da pesquisa, incluindo aí o
direcionamento dos pesquisadores.

“[...] Os dados do estudo corroboraram o pressuposto de que a dinâmica de


relacionamento entre pesquisadores tanto influencia como é influenciada pelas práticas
institucionalizadas de pesquisa, bem como a dualidade entre estrutura de relações e
prática de pesquisa reflete-se na construção do conhecimento científico” (p. 14)

“Mediante a análise de conteúdo dos agrupamentos identificados no período, verificou-


se indícios de homogeneidade de temas dentro de cada agrupamento, o que reforça a
afirmativa de que a coesão dos autores influencia o conteúdo por esses desenvolvido
(Hanneman e Riddle, 2005; Moody, 2004 apud ROSSINI e MACHADO-DA-SILVA,
2007), sendo um facilitador de práticas isomórficas de pesquisa, o que facilita a
construção de regras e de normas (Scott, 2001 apud ROSSINI e MACHADO-DA-
SILVA, 2007), muitas dessas vinculadas não só aos grupos, mas a alguma organização
em especial, no caso, principalmente universidades.” (p. 14)

“[...] Diante de tais evidências, é improvável afirmar que ocorram mudanças radicais de
paradigmas nas ciências sociais, uma vez que são desenvolvidas principalmente a partir
dos esquemas teóricos precedentes.” (p. 14)
 Surge daí uma dinâmica de certa forma problemática no campo da produção
científica. Ao mesmo tempo em que se produz a chamada “verticalização”, ou
seja, o aprofundamento dos estudos sobre determinado tema, pelas razões
mostradas no decorrer desse artigo, a produção de conhecimento tende a ficar
“presa”, sendo difícil a possibilidade de uma ruptura paradigmática que possa
por em risco todo o castelo edificado em torno de determinado tema de
pesquisa.

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