Disciplina: Diversidade, direitos e cidadania Profa: Madalena
Educação, cidadania e emancipação humana
A busca da realização pessoal, consequência da própria liberdade de todos, faria com que os indivíduos se chocassem, inevitavelmente, entre si, dando origem a toda sorte de conflitos. Embora não se falasse ainda em cidadania, a igualdade e a liberdade naturais eram a base para o seu desenvolvimento futuro. E ainda que não o fossem de fato, todos os homens já eram, potencialmente, cidadãos, ou seja, sujeitos de direitos e deveres. O que assistimos daí para diante, será o processo concreto, histórico, extremamente complexo, de entificação da cidadania, sempre vista como um instrumento não para erradicar, mas para equilibrar as desigualdades sociais. Contudo, a fundamentação dos direitos em uma pretensa natureza humana primária não é um consenso entre os pensadores liberais. A igualdade é, então, o resultado da ação dos próprios homens através de sua organização em comunidade politica. É, pois, a comunidade politica que atribui direitos aos indivíduos. E o primeiro desses direitos é exatamente o direito de ter direitos. De acordo com Lafer, “Isto significa pertencer, pelo vinculo da cidadania, a algum tipo de comunidade juridicamente organizada e viver numa estrutura onde se é julgado por ações e opiniões, por obra do princípio da legalidade”. Não importa muito se os homens nascem iguais ou diferentes. O ponto de partida é uma concepção de individuo como um ente ontologicamente anterior e fundante da sociedade, com todas as consequências que daí derivam. Ser cidadão é, pois, ser membro de uma comunidade jurídica e politicamente organizada, que tem como fiador o Estado, no interior da qual o individuo passa a ter determinados direitos e deveres. Os indivíduos são essencialmente regidos pelo interesse pessoal, o que faz com que as desigualdades sociais sejam uma consequência inevitável do processo social. Como se vê, para o autor, cidadania plena é exatamente sinônimo de emancipação humana, ideia que seria esposada pelo próprio marx. Desde modo, a construção da cidadania – um processo infinito – seria o processo de realização da autêntica liberdade humana. Atente-se para o fato de que os próprios direitos sociais, e mesmo os relativos a esfera da produção econômica, são direitos, quer dizer, algo que os indivíduos tem porque são membros da comunidade politica. O que, no entanto, para nós, define a natureza essencial da cidadania não é este fato, que certamente é muito importante para a compreensão da sua concretude, mas o fato de que ela tem sua origem no ato fundante da sociabilidade capitalista. Qual é, porém, a lógica da transformação do individuo em cidadão? Sabe-se que a cidadania teve a sua origem na passagem do feudalismo ao capitalismo e que sua trajetória concreta é o resultado de um complexo processo onde entram tanto a ação do Estado e da burguesia como as lutas da classe trabalhadora e de outros grupos sociais. O que, porém, nos interessa, aqui, não é esta trajetória concreta, mas a sua origem histórico-ontológica, ou seja, a sua natureza essencial como produto d um determinado solo social. E, ao nosso ver, esta se encontra exatamente naquele ato fundamental da sociabilidade capitalista, que é o ato de compra-e-venda de força de trabalho e que resulta na produção de mercadorias.
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