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Brazilian Journal of Development 13803

ISSN: 2525-8761

Estilos parentais e Práticas educativas: Formação para a Democracia

Parenting Styles and Educational Practices: Training for Democracy

DOI:10.34117/bjdv7n2-141

Recebimento dos originais: 08/01/2021


Aceitação para publicação: 08/02/2021

Mickaele Pabline Siqueira Dutra


Psicóloga pesquisadora e clínica
E-mail: mickaeledutra@outlook.com

RESUMO
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho interdisciplinar
realizado em conjunto com a equipe da Estratégia saúde da Família em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS), com um grupo de pais moradores em um bairro periférico da
cidade de Anápolis. O Objetivo do trabalho foi realizar uma ação educativa sobre os
estilos parentais que os pais podem exercer sobre os filhos, visando orienta-los para
condutas mais assertivas, bem como desmistificar sobre determinadas práticas que para
o senso comum são concebidas como eficazes para a formação de um “bom cidadão”.
Utilizou-se como método um folder contendo desenho de duas jarras que descreviam os
estilos parentais (democráticos, permissivos, autoritários e indiferentes) que César Coll
descreve em sua obra, ‘desenvolvimento psicológico e educação’. Foi solicitado aos pais
que pintassem a jarra a partir da percepção que tinham das características parentais que
exerciam sobre seus filhos. A metodologia utilizada foi escolhida de maneira cuidadosa,
a fim de contextualizar saberes científicos à realidade socioeconômica e cultural dos
participantes. A psicologia como disciplina pertencente às ciências humanas vem se
debruçando em entender quais são as influências da educação na formação do homem
enquanto ser psicológico e social. A família, como primeiro grupo que o sujeito irá
pertencer, ganha espaço para investigação, sendo ela reprodutora dos costumes sociais
que se estabelecem a partir do contexto político e econômico. O pressuposto teórico do
presente trabalho contará com contribuições de Pierre Bourdieu sociólogo Francês que
destacou em sua obra as relações entre família e sistema educacional e Serge Moscovici
com seu conceito de representações sociais. Perante o cenário político e econômico que
se apresenta, cabe questionar quais são as influências que esses fatores exercem sobre a
conduta dos pais em relação aos tipos educacionais que desempenham sobre seus filhos
e se as ações educativas contribuem para a reprodução das desigualdades sociais e/ou para
a formação de um ser humano possuidor de criticidade e autonomia para cumprir com seu
direito à democracia de maneira consciente. Os resultados demonstram que os pais
exercem majoritariamente um estilo parental autoritário sobre os filhos. Esses serão
analisados a luz de Bernard Charlot e Yves de La Taille, autores da área educacional.

Palavras-chave: Estilos parentais, práticas educativas, democracia.

ABSTRACT
The present work is an experience report about an interdisciplinary work carried out
together with the Family Health Strategy team in a Basic Health Unit (UBS), with a group
of parents living in a peripheral neighborhood of the city of Anápolis . The objective of

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the work was to carry out an educational action on the parenting styles that parents can
exercise on their children, aiming to guide them towards more assertive behaviors, as well
as demystifying certain practices that for common sense are conceived as effective for
the formation of children. a “good citizen”. A folder containing a design of two jars that
described the parenting styles (democratic, permissive, authoritarian and indifferent) that
César Coll describes in his work, 'psychological development and education', was used
as a method. Parents were asked to paint the jar from their perception of the parental
characteristics they exercised over their children. The methodology used was chosen
carefully, in order to contextualize scientific knowledge to the socioeconomic and cultural
reality of the participants. Psychology as a discipline belonging to the humanities has
been focusing on understanding what are the influences of education on the formation of
man as a psychological and social being. The family, as the first group that the subject
will belong to, gains space for investigation, as it reproduces the social customs that are
established from the political and economic context. The theoretical assumption of the
present work will have contributions from Pierre Bourdieu French sociologist who
highlighted in his work the relationships between family and educational system and
Serge Moscovici with his concept of social representations. In view of the political and
economic scenario that presents itself, it is worth questioning what are the influences that
these factors have on the parents' conduct in relation to the educational types they perform
on their children and whether the educational actions contribute to the reproduction of
social inequalities and / or for the formation of a human being with criticality and
autonomy to consciously fulfill his right to democracy. The results show that parents
mainly exercise an authoritarian parenting style over their children. These will be
analyzed in the light of Bernard Charlot and Yves de La Taille, authors in the educational
field.

Keywords: Parenting styles, educational practices, democracy.

1 INTRODUÇÃO
O surgimento da psicologia como disciplina pertencente à área educacional
estabeleceu-se em 1930 e foi nesse caráter que a psicologia como ciência se instala no
Brasil. Ligadas a interesses políticos e históricos, em 1960 os primeiros cursos de
psicologia aparecem, desenvolvendo pesquisas sobre teste de inteligência, psicometria e
demais experimentos clássicos de laboratório sobre aprendizagens (Goulart, 2012).
A Década de 60 foi marcada pela fase monopolista do capitalismo, provocando
mudanças no jeito de fazer mercado. Houve então, a racionalização da educação, no plano
pedagógico. A racionalização representou um conjunto de medidas que refletem os
poderes exercidos pelo estado e o sistema de controles do capitalismo. Tais mudanças
pontuam significativas mudanças nas relações familiares (Goulart, 2012, p.188).
Em 1973/1974, discursos mais democráticos começam a surgir, como, a liberdade
de imprensa e de manifestações populares. Desde então, começa-se questionar a
finalidade da educação, seus métodos e quais as consequências sociais e aos interessem

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de quem ela atende. A partir desses movimentos, questões ligadas ao desenvolvimento


do sujeito em conjunto com o contexto cultural e social que pertence, começam a ganhar
espaço para discussões e reflexões.
Portanto, a psicologia ao deparar-se com tais críticas, abre-se para receber
contribuições de outras áreas do conhecimento das ciências sociais, como, antropologia
e sociologia. Passa-se a pensar em um homem em interação com o meio em que se vive
e se desenvolve, não excluindo a subjetividade, mas entendendo dentro de um contexto
mais amplo de análise.
Pierre Bourdieu, sociólogo Francês que se debruçou para compreender a estrutura
do sistema educacional avalia que no seio de uma cultura há trocas simbólicas de
aprendizagem que vão gerar no sujeito uma organização do pensamento, no qual, se
desenvolverá padrão de comportamentos, códigos, condutas, fortalecendo um consenso
conservador que se estabelece como condição para comunicação (Bourdieu, 2001).
Posto isso, o autor amplia suas análises ressaltando que ao se desenvolver, o
sujeito assimilará por meio dos símbolos, a que grupo pertence e como deve se portar, ou
seja, a organização do eu se dará a parti das trocas que esse sujeito faz com o seu meio de
aprendizagem. Entretanto, fica a cargo não apenas da escola, como um sistema
educacional legítimo, mas da família a transmissão da cultura e sua lógica:

Analisar família enquanto estratégia não é defini-la meramente como


parentesco, domicílio ou coabitação. É conceituá-la como um grupo real, uma
forma de vida, na qual seus agentes são educados por laços de sentimentos,
obrigações, trocas, gostos parecidos, por sua vez, produtos de condições
sociais semelhantes (SILVEIRA, 2006, p. 181).

A autora ainda esclarece que habitus, adquiridos no meio da familiaridade é um


elemento unificador e tornam-se condicionados, à medida que são reforçados, por se
transformarem em crenças e valores que dão significado à vida e sentimento de pertença.
O autor denomina ‘Capital Cultural’ á coerência entre as escolhas de estratégias sociais
compartilhadas, familiarizadas que norteiam as condutas, escolhas e percepção da
realidade.
Moscovici, com seu conceito de representações sociais vai afirmar que a partir das
relações que os indivíduos estabelecem entre si e com seus grupos, surge a necessidade
de explicar os fenômenos sociais, em outras palavras acontecimentos do cotidiano.
Spadoni (2016) clarifica que dado conjunto social, estabelece conhecimentos,

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socialmente elaborados e compartilhados para que haja uma organização prática e


domínio do meio material, social e ideal.
A família, portanto, é o principal meio socializador, ela transmite aos seus
membros os valores e princípios que foram adquiridos por fatores externos, como,
contexto cultural. Entretanto é correto afirmar, que a família é um microssistema
reprodutor dos costumes sociais que se estabelecem a partir do contexto político e
econômico (Coll, Marchesi & Palacios, 2004).
Os processos educativos da família contam com um fator diferenciador de
transmissão de seus conhecimentos, a afetividade. As trocas afetivas que ocorrem no seio
familiar irão determinar a forma que os membros se percebem e como se portarão frente
às vivências sociais.
Deste modo, é indispensável entender os estilos parentais e suas implicações na
formação do sujeito. Cesar Coll descreve em sua obra, duas dimensões básicas de análises
dos estilos parentais: Afeto e comunicação, controle e exigências. A Partir de meticulosas
correlações dos fatores qualitativas e quantitativas, chega-se aos quatro estilos parentais,
democráticos, permissivos, autoritários e indiferentes.

Tabela 1

Fonte: PALACIOS (1999 apud Coll, Marchesi & Palacios, 2004, p. 193).

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O estilo de parentalidade autoritário caracteriza-se por alta aplicação de controle


e exigências e baixas quantidades de afeto e comunicação. O estilo parental permissivo é
o seu inverso, pois aplica-se altas quantidades de afeto e comunicação e baixas de
exigências e controle.
A parentalidade democrática aplica altas quantidades de afeto e comunicação,
igualmente de controle e exigências. Já a parentalidade indiferente, mantém baixas
quantidades de afeto e comunicação, como de controle e exigências.

2 MÉTODOS
A metodologia utilizada foi escolhida de maneira cuidadosa, a fim de
contextualizar saberes científicos à realidade socioeconômica e cultural dos participantes.
Prezou-se também por manter a identidade social e cultural dos participantes, assim como
facilitar a compreensão, para melhor rendimento da ação educativa realizada.

2.1 PARTICIPANTES
Desenvolveu-se um trabalho interdisciplinar em conjunto com a equipe da
Estratégia saúde da Família em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com um grupo de
20 pais moradores em um bairro periférico da cidade de Anápolis. Juntamente com
estudantes e professores de medicina, que desenvolviam um trabalho interventivo na
comunidade de acordo com a problemática da região.

2.2 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO


Inicialmente, introduziu-se o tema “relações interpessoais entre pais e filhos”, com
metodologia participativa, a fim de entender quais eram os saberes sobre educação e
estilos parentais que permeavam a comunidade.
Em seguida, utilizou-se como instrumento um folder contendo desenho de duas
jarras que descreviam os estilos parentais democráticos, permissivos, autoritários e
indiferentes que César Coll descreve em sua obra, ‘desenvolvimento psicológico e
educação’ (Coll; Marchesi; Palacios, 2004).
Há duas tipologias de estilo educativos familiares, ‘afeto e comunicação’ e
‘controle e exigências’. Em cada uma das jarras, haviam descrições das duas tipologias.
Na primeira jarra, afeto, amor, carinho e elogios, na segunda, exigências,
responsabilidades, limites e tarefas.

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Foi solicitado aos pais que pintassem a jarra a partir da percepção que tinham das
características parentais que exerciam sobre seus filhos, ou seja, o quanto destinavam de
afeto, carinho e elogios e quanto aplicavam limites, tarefas e responsabilidades. O autor
enfatiza que a análise dos estilos parentais, em suas dimensões, possuem diferenças, tanto
quantitativas, quanto qualitativas e que desta forma, deve-se analisar cautelosamente
essas combinações.

3 RESULTADOS
É importante ressaltar que as análises das influências educativas devem levar em
consideração um conjunto de influências bi e multidirecionais, não reduzindo-se a
análises diádicas, mas sim, sistêmicas e ecológicas. Porém, a tabela abaixo exemplificará
implicações dos estilos parentais na conduta de seus filhos.

Tabela 2

Fonte: Coll, Marchesi & Palacios (2004, p. 193).

Ao solicitar aos pais que pintassem as jarras, em seguida abriu-se espaço para que
cada um mostrasse sua pintura e dissesse como se percebiam após as reflexões. Os
números apresentados a seguir, foram resultados de uma avaliação que levou em
consideração a fala dos pais em concordância com a pintura:

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Tabela 3

Desta forma, predomina-se o estilo de pais autoritários, que aplicam em demasia


controles, exigências e punições e pouca demonstração de afeto e interesses pelas
necessidades da criança. La Taille (2009) avalia que, para que o processo de educação
faça sentido no universo na criança, é necessário que não se negligencie nos
procedimentos.
Para o autor, o procedimento refere-se à escolha das medidas a serem aplicadas
em determinada situação. Deve-se então, levar a criança a entender o processo pelo qual
se toma uma decisão e não apenas impor uma verdade sem que haja uma construção
lógica pelos próprios processos de organização de raciocínio dela em consonância com
sua capacidade intelectual.
Por embasarem-se em altos níveis de exigência e controle, o estilo parental
autoritário utiliza-se de práticas coercivas como, ameaças e castigos, para eliminar
condutas que não toleram nos filhos. Não estabelecem comunicação com os filhos, não
interessam se pelas necessidades dos filhos e expressam-se com manifestações de
afirmações de poder, pois as normas são impostas, sem que haja nenhuma explicação.
O desenvolvimento do juízo moral nas crianças caminham para dois destinos
finais: Heteronomia e Autonomia. La Taille (2009) aponta que os tempos atuais são
marcados por medo, insegurança e privação de liberdade, resultando cada vez mais em
medidas protetivas dos adultos para com as crianças. Deste modo, as crianças privam-se
da liberdade de brincar na rua e de interagir com outras crianças.
A Problematização está na consequência das excessivas medidas tutelares que os
adultos exercem sobre a criança. A autonomia é a busca de equilíbrio nas relações sociais,
na qual regras morais são livremente acordadas. Segundo o autor, o desenvolvimento

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dessa capacidade começa a se manifestar por volta de 9 anos de idade, nos


relacionamentos das crianças com seus pares.
Já na heteronomia, faz-se referência ao outro como figura de autoridade para
legitimar regras e princípios. Elege-se por tanto, um lugar de privilégio para a figura de
autoridade. Portanto, na heteronomia a referência é outrem com autoridade, enquanto na
autonomia é outrem como par:

[...] em outras situações que transcendem a participação do indivíduo na


elaboração das regras e dos princípios, a heteronomia pode permanecer
dominante e a legitimidade moral pode fazer referência, não tanto a figura
“pessoais” de autoridade (como no caso da criança pequena), mas a figuras
abstratas como Deus, a igreja, a sociedade, os costumes o Estado (La Taille,
2009, p. 237).

A família, como instituição privada, ganha força na transmissão de valores e


normas que conduzem comportamentos. Uma pesquisa realizada com 5 mil jovens do
ensino médio, revelam que os pais ganham a maior credibilidade na transmissão dos
valores. Questiona-se, portanto, se os pais exercem bem a capacidade de juízo moral e
habilidades de participação na vida civil e como transmitem esses valores aos seus filhos.
O estilo parental permissivo, foi o segundo maior, como visto na tabela 3. Pais
permissivos aplicam quantidades altas de afeto, carinho e atenção às necessidades da
criança. São pessoas afetivamente supridas, porém, com poucas habilidades em
resoluções de problemas em conflitos sociais. Viver em sociedade é entender que existe
uma troca entre as pessoas, e que a racionalidade em certos momentos, deverá sobrepor-
se aos apelos emocionais, essas são ferramentas intelectuais que os adultos devem levar
consigo.
Ao mesmo tempo em que os pais incentivam as crianças a desempenharem
diversas atividades extras, para gerar habilidades e competências especiais para o mundo
do trabalho e da competitividade, os mesmo pais buscam poupar essas crianças dos
embates com o mundo, protegendo das contradições e dos conflitos. Tornam-se imaturas
para o contato real com o mundo, gerando adultos incapacitados de reflexões, ponderação
e escolhas conscientes (La Taille, 2009).
Ambos os estilos parentais (autoritários e permissivos) possuem em comum a
excessiva tutela dos pais sobre os filhos, de um lado, impondo regras sem se ater para o
processo educativo de participação mutua das partes nas tomadas de decisões. Do outro
lado, a mesma falta de ponderação, em que as decisões da criança não são avaliadas e
racionalmente ajustadas.

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A democracia surgiu como uma forma de regime oposta ao autoritarismo, no qual


o povo é soberano nas tomas de decisões. No processo democrático, preza-se por abrir
espaços de discussões para que se chegue a um consenso. Conviver em um ambiente em
que as decisões absolutas vem por parte dos pais, como no caso do estilo autoritário, ou
onde os desejos da criança regem a rotina da casa, apenas inverte-se o lugar do poder, não
configurando-se portanto, democracia.
A parentalidade democrática pode despertar na criança a habilidade de
cooperação, já que cooperar diferente de coagir, não necessita de mediação de uma
autoridade. Deste modo, crianças que desenvolvem-se sobre os cuidados de pais
democráticos, conquista a autonomia moral, que é a capacidade de resolver conflitos, por
intermédio do processo de descentração, no qual, cada membro acolhe o ponto de vista
alheio, em uma relação horizontal.
Portanto, cabe salientar que os benefícios do estilo democrático produzem efeitos
interventivos de curto e longo prazo. Diminui-se a agressividade, consequentemente, a
violência, pois entende-se que o outro tem o mesmo nível de importância que atribuo a
mim mesmo, ou seja, não hierarquiza-se, mas mantem-se relações de igualdade. Ou seja,
não atribui responsabilidade das escolhas na mão de um outro como superior a mim, mas
assegura-se que é de todos a responsabilização de cooperação.
Charlot (2016), ao pensar sobre os processos educativos da escola e da família,
questiona-se, se a família por reproduzir os costumes sociais, e por assim dizer, viver em
sociedade corrupta, seria capaz de transmitir aos seus membros valores morais que
formaria a pessoa para exercer sua cidadania com sua potencial capacidade intelectual,
sem antes ser contaminada por viesses ideológicos que diminuem sua criticidade.
Os autores afirmam que há bons pais que são maus cidadãos. Dessarte existe no
ambiente privado do lar, contratos velados, regras que permeiam as condutas, que são
ineficazes param à convivência no ambiente público. Exercer a cidadania é cuidar do
espaço público. Há por tanto, cada vez mais, um cuidado com o que é familiar (espaço
privado) e um descuido com o que não me parece tão familiar (espaço público).
Dessa forma, a escola tem a responsabilidade, não apenas de formar o sujeito para
o mundo do trabalho, e sim, transmitir o sentido do conhecimento, para que não aprenda
apenas conhecimentos que sejam instrumentais para a mão de obra, mas que, desperte
interesse nos alunos para aprofundar-se na história da humanidade, ou seja, a escola deve
ser um meio educativo com finalidades culturais (Charlot, 2016).

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O desenvolvimento psicofisiológico da criança se da por meio de observações de


como as pessoas se comportam uma com as outras, como se comportam em relação a ela,
conseguem, mesmo de que forma restrita, entender os conflitos que assolam o mundo.
Deve-se, portanto, incentivar na criança o desejo de compreender os fenômenos do
passado, pois somos frutos desses acontecimentos.
Leva-las a entender que antes de um ser único, são frutos da humanidade e que
devem aspirar por valores que cuidem da coletividade e não apenas dos próprios
interesses individuais. E que em uma democracia, o povo deve buscar conscientizar-se de
sua história e encontrar sentido na busca do conhecimento como patrimônio construído
pela humanidade, para assim tomar as melhores decisões que beneficiem não só a si e
seus familiares, mas a coletividade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço familiar ganhou uma dimensão privada e em seu seio são compartilhados
valores que por vezes incentivam a individualidade, onde o “meu” deve ser cuidado e o
do outro, pode ser negligenciado.
Preza se, portanto, por uma cultura democrática, que valorize a ideia de que “tudo
é de todos” e que a essência seja, cuidar para que o bem comum seja preservado e que
haja valorização do conhecimento que se pauta na verdade, advinda de estudos, pesquisas
e reflexões condizentes com a realidade social.
A psicologia como um campo vasto de saberes teóricos e práticos, possui amplas
possibilidades para desenvolver ferramentas de intervenções para conscientização sobre
práticas educativas no meio familiar e nas instituições de ensino, portanto deve-se cuidar
para não apresentar discursos reprodutores de desigualdade.

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REFERÊNCIAS

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COLL, C., MARCHESI, Á., & PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e


educação: psicologia evolutiva. 2. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.

DE LA TAILLE, Y. Formação ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed


Editora, 2009.

GOULART, I. B. Psicologia da educaçäo: fundamentos teóricos e aplicações à prática


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SILVEIRA, I. T. Sociedade, educação e família. Revista HISTEDBR on-line,


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