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Nome: Caio Vitor Pereira Silva

Matrícula: 20151107927
A arte como refúgio mas também como um refazer: Medeia e a
guarda compartilhada
A lei da Alienação Parental é uma lei recente, criada no Brasil no ano de 2010, é
uma lei que utilizou como base a descoberta de Richard Gardner, um americano que
categorizou uma síndrome chamada de Síndrome da Alienação Parental. Esta síndrome
diz respeito a criança, que sofre abuso emocional de um de seus pais, que perante um
ambiente conturbado de separação, um de seus guardiões, descontente com o destino
que lhe foi imposto, utiliza a criança como depósito de suas frustrações, tendo como
resultado indireto, inconsciente ou não, estremecer a relação do seu filho com o seu
antigo parceiro. A criança ou o adolescente, ao trazer para si todos esses afetos
negativos, começa por agir conforme o que lhe foi contado, sendo assim, refém de um
guardião que o aliena, age com agressividade, sem pudor algum, com o outro cônjuge,
que pode se chamar de alienado. Posto isto, a síndrome diz respeito aos efeitos
emocionais e as condutas comportamentais que são desencadeadas na criança. Toda
essa dinâmica na qual existe a figura do alienador, e as figuras alienadas, se trata de um
ambiente de Alienação Parental.
Diante deste ambiente catastrófico onde não há ganhadores – todos saem
machucados seja lá em qual ordem for –, a lei brasileira da Alienação Parental é uma lei
que busca amenizar, principalmente, os danos sofridos pela criança, mas também é uma
lei que oferece amparo aos pais que estão em litígio, oferecendo a ambos, seja
psicoterapia individual ou em grupo, proposta de guarda compartilhada, etc. Mas em
casos mais graves, aplicação de multa, guarda assistida a um dos genitores, etc.
Este trabalho aqui apresentado tem como interesse apresentar brevemente o que
é a lei da Alienação Parental, apontar alguns pontos – dentre muitos – sobre a
problemática que ronda toda essa dinâmica, bem como os impactos direcionados a
figura da criança ou do adolescente. Um perpasse, também, em cima da tragédia grega
de Medeia, e por fim, a solução da guarda compartilhada, que segundo a literatura,
segue sendo o melhor método de resolução deste conflito, método esse tem como
enfoque o desenvolvimento mais eficaz possível da criança, dando devida importância
ao cuidado compartilhado dos guardiões, sobre a figura que merece mais atenção: a
criança.
A lei da Alienação Parental, como já citada, é uma lei recente, de ainda grande
necessidade de aprofundamento no campo científico. Mas no que concerne ao senso
comum, toda essa dinâmica, é algo ainda mais desconhecido pelo indivíduos, fazendo-
se apresentar assim, um contexto de abuso extremamente silencioso e de pouco embate
entre os personagens que compõem a cena. Deste modo, uma grande parcela da
sociedade não tem conhecimento que sofre/sofreu alienação de um de seus parentes,
resultando na afirmação, que essa dinâmica é algo que sempre esteve em nossa
sociedade, o que fatalmente deixou sequelas emocionais em várias gerações passadas e
nas atuais.
A arte sempre acompanhou a evolução humana, é – dentre muitas utilizações e
efeitos – uma forma do ser humano sublimar o seu sofrimento, ou segundo Aristóteles,
no que diz respeito a tragédia grega, é “uma representação imitadora de uma ação séria,
representada em linguagem elegante, empregando um estilo diferente, e que por meio da
compaixão e do horror provoca o desencadeamento libertador de tais afetos”.
Medeia, tragédia grega escrita por Eurípedes, nos deixa razões para se afirmar
que o ambiente de Alienação Parental, é algo histórico e que atesta que ainda é uma das
problemáticas evidenciadas no atual sistema hegemônico matrimonial de nossa
sociedade.
Medeia era uma princesa, filha do rei Eetes, e conhecedora perspicaz sobre a
utilização de ervas mágicas. Dentre muitos acontecimentos anteriores, ela se apaixona
por Jasão, e o ajuda a encontrar uma grande iguaria, escondida nas terras do seu pai,
pelo próprio rei, em troca de seu amor. Mesmo perante o não de seu pai, Medeia ajuda
Jasão, e foge com ele para um lugar distante de seu reino (aqui já mostra uma
singularidade desta união, Jasão não casa por amor, mas sim por interesse, já que sem a
ajuda de Medeia, ele não conseguiria encontrar o bem de que desejava). Prosseguindo a
trama, agora já em alto mar, Medeia é perseguido por seu irmão à mando de seu pai, e
na intenção de retardar o navio de seu pai que viria mais tarde à sua procura, ela mata
seu irmão, esquarteja e joga ao mar (Medeia até aqui abandona a pátria, seu pai, e tira a
vida do seu irmão, tudo para chegar ao seu objetivo).
A princesa agora, depois de deixar mais mortes pelo caminho, vai junto com
Jasão para Corinto, terras do rei Creonte. Já em Corinto, o rei Creonte decide casar sua
filha com Jasão, o que consequente deixou Medeia em grande fúria, pois efetivado o
casamento, o marido tinha a repudiado e traído. Entre crises depressivas, desespero e
um intenso ódio, a princesa – atuando de forma condizente com até então – planejou sua
vingança: seus filhos nascidos do casamento com Jasão tinham que morrer, Jasão tinha
que sofrer.
Essa síntese aqui relatada, dentre muitos recortes, e muitas interpretações, tomo
para análise as atitudes da princesa Medeia. A protagonista da tragédia, um sujeito que
perante todos os acontecimentos aqui relatado, tivera sempre a rejeição da lei
(desobedeceu o pai, matou o irmão, matou os filhos, etc.). Essas ações se comportam
como um grande traço da figura do alienador, pois são sujeitos que apresentam serem
transgressores, passam por cima da sentença do juiz, passam por cima do desejo da mãe,
até mesmo de seus filhos, e o sofrimento que era somente dele, acaba transbordando e
tomando outras pessoas ao seu redor.
Os filhos, na tragédia aqui resumida, que pouco tinham a ver com o que se
tornou da relação conjugal, acabam por serem também impactados com os afetos pouco
trabalhados entre os pais. No lugar onde deveria ser de guardiões, os pais, aparecem no
lugar de agressores. Numa guerra travada entre “dois grandes reinos”, os filhos se
transformam em um campo de batalha feroz, no qual pode apresentar sequelas difíceis
de serem resignificadas.
Em resposta a isso, surge a necessidade de uma aproximação dos entes, a maior
importância do bem-estar do filho, o advir da verdade de que embora não haja mais
nenhum compromisso matrimonial entre as figuras parentais, existe algo que restou, e
que fala muito sobre a relação de ambos: o filho. Tratar o filho como sujeito, indivíduo
social, possuidor de direitos, mas também, um indivíduo emocionalmente em formação,
com cuidados a serem tomados; não trata-lo como um objeto de poder, uma coisa da
qual se possui, e se pode manipular a bel-prazer, mas sim, trata-lo com carinho e com
respeito pois é de uma vida que se trata.
Aqui entra a guarda compartilhada como um cuidado de direito do filho; o filho
como objeto de cuidado do estado de direito. Um direito legítimo, segundo o Código
Civil brasileiro. O filho como destaque – merecido destaque –, e principal beneficiador
tanto da guarda compartilhada, como o da lei da Alienação Parental.

Referências Bibliográficas:
- APOSTOLO, Ivana Maria Carvalho. “Medeia”: Uma tragédia com feições de uma
Alienação Parental. In revista. NETO, Álvaro de Oliveira; et al. Alienação Parental e Família
Contemporânea: um estudo psicossocial. Recife: FBV /Devry, 2015. v.2.
- CALÇADA, Andrea. A Alienação Parental, sua identificação e as consequências para
crianças envolvidas: O que sente uma criança que vive a Alienação Parental. In revista.
NETO, Álvaro de Oliveira; et al. Alienação Parental e Família Contemporânea: um estudo
psicossocial. Recife: FBV /Devry, 2015. v.2.
- OLIVEIRA, Ana Lúcia Navarro de. A Alienação Parental e suas implicações no contexto
familiar. In revista. NETO, Álvaro de Oliveira; et al. Alienação Parental e Família
Contemporânea: um estudo psicossocial. Recife: FBV /Devry, 2015. v.2.

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