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DOI: 10.1590/1413-81232022276.

20872021 2241

Conceitos de construção de autonomia sob o paradigma

revisão review
psicossocial no campo do cuidado a usuários de substâncias
psicoativas

Concepts of construction of autonomy under the psychosocial


paradigm in the field of care for psychoactive substances users

Matheus Eduardo Rodrigues Martins (http://orcid.org/0000-0002-4761-9252) 1


Fatima Buchele Assis (http://orcid.org/0000-0002-4661-9031) 1
Carolina Carvalho Bolsoni (http://orcid.org/0000-0003-1246-0218) 1

Abstract The psychosocial paradigm in the field Resumo O paradigma psicossocial no campo
of drugs focuses on the suffering individual in re- das drogas traz foco ao sujeito em sofrimento na
lation to the social reality and values ​​the unique- relação com sua realidade social e valoriza a sin-
ness of users and professionals for the development gularidade de usuários e profissionais para o de-
of health care. A concept that bases these charac- senvolvimento da atenção em saúde. O conceito
teristics, and that comes from different theoreti- que embasa essas características, proveniente de
cal frameworks, is the construction of autonomy. diversos arcabouços teóricos, é o de construção de
However, there is no study in the literature that autonomia. Porém, não há na literatura estudo
summarizes it in its different meanings. This arti- que o sintetize em suas diferentes acepções. Este
cle aimed to systematize the concepts of autonomy artigo objetivou sistematizar os conceitos de cons-
construction under the psychosocial paradigm in trução de autonomia sob o paradigma psicossocial
the field of drugs. The methodology used was the no campo das drogas. A metodologia utilizada
integrative review. We searched, in the Psycin- foi a revisão integrativa. Pesquisou-se, nas bases
fo, PubMed, BVS and Web of Science databases, Psycinfo, PubMed, BVS e Web of Science, estudos
studies that analyzed the care process using the que analisaram o processo de cuidado utilizando a
construction of autonomy. These concepts, their construção de autonomia. Foram identificados es-
theoretical references and their foundations were ses conceitos e suas referências teóricas, e sistema-
identified and systematized. Among the 22 stud- tizados seus fundamentos. Entre os 22 estudos, há
ies, there are concepts based on six theories, such conceitos embasados em seis teorias, como a saúde
as collective health and harm reduction. It could coletiva e a redução de danos. Pôde-se considerar
be considered that the construction of autonomy que: a construção de autonomia é um processo que
is a process that mobilizes different actions, such mobiliza diferentes ações, como a corresponsabi-
as co-responsibility and territorial sociopolitical lização e a atuação sociopolítica territorial; pode
action; which can be systematized in three inter- ser sistematizada em três dimensões interrelacio-
1
Departamento de Saúde related dimensions; and which has different epis- nadas; e detém diferentes raízes epistemológicas,
Pública, Universidade temological roots, such as the psychiatry of dein- como a psiquiatria da desinstitucionalização.
Federal de Santa Catarina. stitutionalization. Palavras-chave Autonomia, Drogas, Serviços de
Centro de Ciências
da Saúde, Campus Key words Autonomy, Drugs, Mental health ser- saúde mental
Universitário, Trindade. vices
88040-900 Florianópolis
SC Brasil.
matheus.rodrigues@ufsc.br
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Martins MER et al.

Introdução tratual dos usuários, e que estes sejam correspon-


sáveis no processo terapêutico12-14. Amarante15,
Os serviços e ações direcionados ao cuidado em por exemplo, enfatiza que a principal maneira
saúde a pessoas que fazem uso abusivo de subs- de avaliar os serviços provenientes da reforma
tâncias psicoativas se consolidaram no início dos psiquiátrica deve ser o grau de autonomia cons-
anos 2000, sobretudo com a Política para Aten- truído entre usuários, profissionais e sociedade, e
ção Integral a Usuários de Álcool e Outras Dro- que deve sempre ocorrer um estranhamento das
gas1,2,3 – mesmo que continuassem disputando ações e dos locais de cuidado, para evitar que a
espaço com as políticas proibicionistas e puniti- transformação da lógica de cuidado não se tor-
vistas vigentes2,3. Até então, as políticas de Estado ne meramente uma reorganização tecnocrática e
relacionadas às drogas por muito tempo estive- institucional.
ram confinadas ao estreito e violento espaço das Entretanto, por mais que esse conceito, sob a
políticas policiais, carcerárias e/ou manicomiais égide de teorias diversas, seja fundamental e dete-
(políticas de segurança pública e justiça), sendo nha semelhanças em suas diferentes acepções, es-
que a abordagem aos usuários, quando ocorria, tas detêm conformações históricas e genealogias
era feita pela lógica de controle e punição2,3. distintas, e embasam ações diversas. Exemplos
Esse novo direcionamento das políticas re- provêm em grande parte da atenção psicossocial,
lativas às drogas fundamentado na Política para da promoção da saúde e dos preceitos da saúde
Atenção Integral¹ efetivou um conjunto de teo- coletiva. Tais como a humanização dos servi-
rias e práticas de cuidado que vinham sendo de- ços9,10,14, por meio da coconstrução de autonomia
senvolvidas em diferentes locais, como a atenção e cogestão14, compartilhamento de saberes popu-
psicossocial (CAPS/NAPS) e as estratégias de lares e técnicos13,14, potencialização de vínculos
redução de danos, alinhadas ao sistema públi- territoriais12,15, atuação dos ACS e equipes NASF15,
co desenvolvido sob o campo da saúde coletiva. e as estratégias de RD, como a distribuição de kits
Conjunto que passou a ser compreendido como de aplicação segura nas cenas de uso de drogas.
paradigma psicossocial, ou da saúde coletiva, no Não há, porém, estudo que congregue as di-
campo das drogas4,5. ferentes noções relativas à construção de auto-
Esse conjunto detém em comum, como im- nomia no campo do cuidado a usuários de subs-
portante pilar, a contraposição ao modelo bio- tâncias psicoativas. E o embate prático e político
médico-psiquiátrico e moral, que associado a com o paradigma da guerra às drogas tem sido
políticas econômico-liberais conforma a “Guerra intenso, o que pode fazer com que o desenvol-
às drogas”2,6. Este modelo foi muito criticado, nas vimento da construção de autonomia, ocorrido
últimas décadas do século XX, por apresentar-se nos anos de concretização do paradigma psicos-
ineficaz diante do perfil epidemiológico, das ne- social, possa ser perdido. Exemplo desse emba-
cessidades populacionais e na efetividade do pla- te é o esvaziamento da RD na política nacional
nejamento em saúde7,8. sobre drogas, por meio do decreto presidencial
Dessa forma, o novo paradigma baseado tan- nº 9.761/2019. Além de grandes investimentos
to em processos empíricos quanto no conceito públicos que vêm ocorrendo em comunidades
ampliado de saúde desenvolveu novas concep- terapêuticas, superando o financiamento de toda
ções no terreno coletivo do cuidado. Colocou em a Rede de Atenção Psicossocial RAPS16.
evidência as condições de produção e reprodução Dessa forma, o objetivo deste estudo é apre-
da vida das populações, os vínculos estabelecidos sentar os conceitos de construção de autonomia
sob essas condições e a singularidade dos sujei- que embasam a produção científica acerca do
tos9. Inaugura-se uma valorização das potencia- cuidado a usuários de drogas no Brasil, possibi-
lidades de usuários e profissionais, o que propor- litando produzir uma importante sistematização
cionou novas perspectivas de reflexão e ação10,11. conceitual, inclusive para embasar avaliações so-
Compreendeu-se que não só as ações institucio- bre mudanças em curso nas políticas de saúde
nais incidem sobre a saúde dos sujeitos e grupos, mental e drogas.
mas que as ações comunitárias podem e devem
incidir sobre a saúde e a construção das práticas
de cuidado. Conceito que unifica a importância Método
da subjetividade e do protagonismo dos sujeitos é
o de construção de autonomia12,13. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho
A construção de autonomia, em termos ge- qualitativo. Seguiu as etapas de realização de re-
rais, busca resgatar o valor social e o poder con- visões integrativas de literatura17,18.
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A revisão integrativa objetiva determinar o distinta do objetivo, 3) local de estudo não ser um
conhecimento científico já desenvolvido acerca serviço da RAPS, 4) não abordar ou possibilitar
de um assunto por meio da análise e síntese de análise da autonomia e 5) não deter dados primá-
uma gama de estudos sobre o mesmo conteú- rios.
do. No campo saúde, propicia a sistematização E foram selecionados estudos que: 1) abordas-
não apenas de práticas e protocolos, mas uma sem o conceito de autonomia nos serviços brasi-
compreensão crítica e conceitual, visto que pode leiros públicos de atenção a usuários de drogas e
integrar pesquisas de áreas e metodologias diver- 2) detivessem dados primários. Após a verificação
sas17,18. Ercole et al.18 afirmam que a variedade na dos critérios, restaram 19 artigos. Foi realizada a
amostra, em conjunção com a multiplicidade de leitura das referências desse conjunto e três ou-
finalidades, proporcionam “um quadro de concei- tros estudos que satisfazem os critérios de seleção
tos complexos, teorias ou problemas relativos ao foram adicionados. A seleção está sintetizada na
cuidado na saúde” (p. 9). Assim, ao se adotar tal Figura 1.
método, podem ser agregadas e analisadas com- Para os resultados aqui apresentados, segui-
preensões diversas relativas à construção de au- mos os passos para análise de dados qualitativos
tonomia no campo do cuidado a pessoas em uso desenvolvidos por Minayo19, que incluem: ordena-
abusivo de substâncias psicoativas. ção dos dados, classificação e análise final. A etapa
de ordenação corresponde ao mapeamento dos
Seleção e organização dados encontrados. A etapa de classificação visa
ao levantamento de informações relevantes acer-
No período de agosto a setembro de 2019 fo- ca dos dados, com base em questionamentos que
ram realizadas as buscas nas bases de dados Psy- se sustentam na fundamentação teórica, podendo
cinfo, PubMed, BVS e Web of Science. As buscas ser realizada a elaboração de categorias-síntese.
seguiram um protocolo adequado a cada base, Na etapa de análise final, busca-se articulações en-
conforme descritores ou palavras-chave encon- tre os dados e os referenciais teóricos, que devem
tradas em seus thesaurus/Decs. Assim, cada uma ser direcionadas para os objetivos da pesquisa.
delas foi acessada com os descritores a seguir, com
termos no singular e no plural. Processo de análise
Protocolo em português: (Serviço de saú-
de mental, Serviço de higiene mental, Centro de Após leitura exaustiva, foram ordenados os
atenção psicossocial, Centro de Tratamento de conceitos de construção de autonomia e suas
Abuso de Drogas, Caps, caps-ad, Consultório na referências. Eles estão apresentados no Quadro
rua, Unidade Básica de Saúde, Atenção Primária, 1. Após apresentação dos conceitos, estes são
Saúde da Família) AND (Usuário de drogas, de- explanados, buscando-se evidenciar seus fun-
pendente químico, drogadito, farmacodependen- damentos, seguindo sua teoria de base: atenção
te, drogas de abuso, drogas recreativas, drogas, psicossocial, promoção de saúde e saúde coletiva,
crack, cocaína, álcool) AND (Autonomia, autono- campo prático-teórico da RD, teoria das redes de
mia pessoal, empoderamento, cidadania, direitos suporte e teoria do cuidado.
do paciente, direitos civis). Posteriormente, foram destacadas categorias
Em inglês: (Mental Health Services, Mental que emergiram da explanação dos conceitos e
Hygiene Services, Drug Rehabilitation Centers, que sintetizam a construção de autonomia. Por
Drug Treatment Centers, Psychosocial Care Cen- exemplo: “resgate de poder contratual”, “corres-
ters, caps, Primary health care, Family health, ponsabilidade”, “desenvolvimento de vínculos
Street clinic, Street outreach office) AND (Drug de emprego ou geração de renda”, entre outros.
User, Drug Abuser, Addict, drug-dependent, sto- Essas categorias foram organizadas por meio de
ner, junkie, drugs, crack, cocaine, alcohol, street três dimensões, sendo apresentadas no ponto
drugs, drug abuse) AND (Personal autonomy, free “Síntese dos conceitos” e por meio da Figura 2.
will, self-determination, empowerment, freedom
of choice, Civil rights, client Rights, Interpersonal
control, autonomy, Patient’s rights). Resultados e discussão
Após a pesquisa nas bases com os protocolos
e a retirada dos estudos duplicados no progra- Inicialmente, apresentamos no Quadro 1 os 22
ma End-Note Web, foram aplicados os critérios estudos selecionados, junto aos conceitos de
de exclusão e inclusão. Foram cinco critérios de construção de autonomia, a teoria que os funda-
exclusão: 1) população não brasileira, 2) temática menta e a referência teórica.
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Martins MER et al.

BVS
PSYCINFO
PUBMED
WEBOFSCIENCE
1669

Duplicados
276
Não
duplicados
1377

Incluídos Excluídos
19 1359

População não brasileira


Estudos incluídos
(1233)
após leitura das
referências Temática distinta do
03 objetivo (79)
Local de estudo diverso da
RAPS (19)
Selecionados
22 Não possibilitam análise
da autonomia (20)
Não detém dados
primários (06)

Figura 1. Percurso de seleção.

Fonte: Autores.

A atenção psicossocial foi campo teórico para cotidiana dos usuários, na relação com as insti-
nove conceituações a respeito da construção de tuições de saúde e a sociedade. Expressam que a
autonomia. A estratégia de RD apareceu em seis. proposta dos novos serviços fora criar uma rede
A promoção de saúde fundamenta um conceito. de sociabilidade capaz de fazer emergir a instân-
Outros dois detêm influência da promoção da cia terapêutica. Logo, era necessário uma coleti-
saúde e da saúde coletiva. Esta última embasa vidade na qual houvesse “a circulação da fala e
outros dois conceitos. Outras duas teorias emba- da escuta, da experiência, do fazer concreto e da
saram outros dois conceitos, a teoria das redes de troca, do desvelamento dos sentidos, da elabora-
suporte e a teoria do cuidado em enfermagem. ção e tomada de decisão”21 (p. 285).
São explanados a seguir os fundamentos desses As autoras expressam, ainda, a importância
conceitos encontrados, conforme suas referên- de instâncias para além dos serviços, como as as-
cias. sociações de usuários. Um exemplo é a Associa-
Atenção psicossocial: entre as referências en- ção Franco Basaglia, criada por usuários e pro-
contradas sob o campo da atenção psicossocial fissionais do CAPS Luiz da Rocha. Sua finalidade
estão Kinoshita12, Costa-Rosa et al.20, Luzio et era “promover a autonomia e maior abrangência
L’abatte21, Yasui22, a Política Nacional de Atenção da clientela, incentivar a participação da família
Integral3, a Portaria 3088/1123 e o relatório Saúde e de outros segmentos sociais, viabilizar a gestão
Mental no SUS24. extraclínica da vida dos usuários (de forma a am-
Luzio e L’abbate21, ao descreverem as experi- pliar o poder contratual e as possibilidades de
ências das redes de Santos, São Paulo e Campinas, trocas afetivas e materiais)”21 (p. 285).
destacam o processo direcionado a transformar Essas noções foram aos poucos sendo conso-
a prática terapêutica nesses municípios, antes lidadas pelos órgãos públicos, como a prefeitura
centrada na concepção de doença ou distúrbio, e de São Paulo, que no programa de saúde mental, à
com vistas à promoção de autonomia. Definem a época, apresentava duas premissas: “o sofrimento
necessidade de uma terapêutica centrada na vida psíquico era parte integrante e indissociável do
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Quadro 1. Conceitos de construção de autonomia, campo teórico e referência de base.
Título Conceitos de CA Teoria base Referência do conceito
1 Strategies of care for adolescent users of Promoção de Atenção Portaria 3.088/12 e
crack undergoing treatment autonomia psicossocial Política Nac. (Brasil, 2003)
2 An exploration of relational autonomy Autonomia relacional Ética feminista McLeod e Sherwin (2000)
of people with substance use disorders e RD
3 Cuidado aos usuários de drogas: entre Construção/ampliação Redução de Sodeli (2010)
normatização e negação da autonomia de autonomia danos
4 Homeless crack cocaine users: Redes de suporte Redes de Lacerda (2010)
territories/territorialities in constitution (Support network) Suporte
of social support networks for health
5 Cuidado ao consumidor de drogas: Promoção de Atenção Lacerda e Rojas (2017) base
percepção enfermeiros Saúde da Família cidadania e autonomia psicossocial Luzio e L’abatte (2006)
6 O cotidiano de adolescentes em um Protagonismo e Redução de Santos, Soares e Campos
CAPSAD: realidades e desafios corresponsabilidade danos (2010)
7 Responsabilização e participação: como Construção de Redução de Pinto et al (2015) base em
superar o caráter tutelar no CAPSad? autonomia Danos IHR (2010)
8 Significados e sentidos atribuídos ao Promoção de Atenção Brasil, 2011. PT 3088
CAPSad pelos usuários: estudo de caso autonomia psicossocial Luzio et l’abatte (2006)
9 Experiências de adolescentes em uso de Promoção de Atenção Yasui (2011)
crack e seus familiares com a atenção autonomia e inclusão psicossocial
psicossocial e institucionalização social
10 Autonomia e reinserção social: Autonomia e Atenção Souza et al. (2016), Duailibi
percepção de familiares e profissionais reinserção social psicossocial (2012), base Kinoshita
que trabalham com RD (2001)
11 Harm reduction and tensions in trust Autonomia relacional Ética feminista McLeod e Sherwin (2000)
and distrust in a mental health service e autoconfiança e RD
12 O trabalho da equipe orientado pelas Construção de Promoção Jorge et al. (2011), base em
motivações dos usuários no CAPSad autonomia saúde/saúde Campos (2007)
coletiva
13 Biopolítica na assistência aos usuários de Produção/ampliação Saúde coletiva Merhy, 2002
álcool e outras drogas de autonomia
14 A percepção dos usuários a abordagem Aumento de liberdade RD Brasil, Política Nacional
de álcool e drogas na atenção primária e corresponsabilidade (PAIUAD) (2004)
15 Demandas de autocuidado em grupo Autocuidado com Teoria do Orem (2001)
terapêutico: educação em saúde com coparticipação cuidado
usuários de substâncias psicoativas
16 O CAPSad sob a percepção do usuário Aumento de Atenção Brasil. Saúde Mental no
autonomia e cidadania psicossocial SUS (2004)
17 Cuidado aos usuários de um CAPSad: Construção/ampliação Saúde coletiva Merhy (1994)
uma visão do sujeito coletivo de autonomia
18 Terapia comunitária como recurso Empoderamento Promoção Carvalho (2004)
de abordagem do abuso do álcool na saúde/saúde
atenção primária coletiva
19 Práticas Assistenciais no CAPSad Resgate de cidadania e Atenção Kinoshita (2001)
autonomia psicossocial
20 Reabilitação psicossocial dos usuários Resgate de autonomia Atenção Kinoshita (2001)
de álcool e outras drogas: concepção de psicossocial
profissionais de saúde
21 Modelo atenção integral à saúde para Resgate do poder de Atenção Costa-Rosa, Luzio e Yasui
tratamento de problemas decorrentes do contratualidade psicossocial (2003)
uso de álcool e outras drogas
22 Vínculos e redes sociais de indivíduos Empoderamento Promoção Andrade e Vaitsma (2002)
dependentes de substâncias psicoativas saúde base Labonte (1994), Israel
sob tratamento em CAPSad (1994)
Fonte: Autores.
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Martins MER et al.

Dimensão da singularidade Dimensão dos vínculos

Âmbito Constitutivo Âmbito Constitutivo


Âmbito de negação
- Tratamento em -
Âmbito de negação - Imposição das
liberdade Corresponsabilidade
- Enclausuramento atividades de
- Respeito as - Desenvolvimento
- Estigmação cuidado pelos
decisões de vínculos
- Objetificação profissionais
- Foco no familiares,
- Foco no - Abandono social,
histórico de vida, territoriais e redes de
diagnóstico/doença não promoção
ne existência- apoio
- Foco no combate Construção de de rede de apoio,
sofrimento - Conhecimento
às drogas autonomia vínculos familiares e
- Resgate de poder e participação do
territoriais
contratual território

Âmbito de negação
Âmbito Constitutivo
- Não garantia de
- Vínculos de
direito a trabalho e
emprego ou geração
educação
de renda
- Espaços de decisão
- Atuação política
política inacessíveis
e comunitária em
e ausência de
âmbitos decisórios
movimentos
da vida social
comunitários/sociais
- Formação
- Não promoção da
educacional e
arte e cultura
cultural/artística:
apropriação humana

Dimensão social e política

Figura 2. Síntese das dimensões da construção de autonomia.

Fonte: Autores.

sofrimento global dos indivíduos submetidos a disso, esses vínculos se desenvolvem sob condi-
desigualdades sociais” e a política de saúde men- ções sociais que garantem mais, ou menos, pos-
tal deveria romper “com o modelo hegemônico sibilidades de vida. Esse conjunto de concepções
centrado nas internações psiquiátricas e práticas encontra as principais raízes epistemológicas,
manicomiais”21 (p. 286). conforme Amarante15,25 e Nicácio e Campos26, na
De maneira muito semelhante, Costa-Rosa psiquiatria da desinstitucionalização. Essa raiz
et al.20 destacam termos como a valorização do epistemológica é apresentada a seguir27-30.
sujeito, a emancipação e o poder de contratuali- Para os autores desse movimento, o que de-
dade social. Assim, também se direciona à abor- marca o que é designado como loucura e descon-
dagem de Yasui22, que expressa que a Reforma trole é a relação conflituosa da sociedade com os
Psiquiátrica fora uma disputa política que visava indivíduos no desenvolvimento concreto de suas
uma transformação social, contrapondo ideias vidas27,29. Giovanni Jervis, autor do Manual crí-
de autonomia e solidariedade a controle e segre- tico de psiquiatria, expressa que o distúrbio é re-
gação. A Política Nacional3 também preconiza sultado “de uma condição existencial global. Essa
ações territoriais e a construção de redes de su- condição de vida é em geral dominada pelas con-
porte. Expressa que é dever do SUS proporcionar tradições materiais, antes de ser dominada pelas
a construção da corresponsabilidade e de uma contradições psicológicas. Pode-se reconhecer
perspectiva ampliada da clínica3 (p. 11). que existe uma série de fatores com uma impor-
A construção de autonomia na atenção psi- tância grande na determinação dos distúrbios
cossocial, portanto, concebe que os sujeitos de- mentais”27 (p. 132). Entre esses fatores, expressa
vem ser considerados detentores de valor social a miséria com suas dificuldades materiais e mo-
e poder de decisão; que esses se modificam com rais, a violência doméstica, a educação opressora,
a qualidade dos vínculos com a alteridade; além condições alienantes de trabalho etc.
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A esses indivíduos, a sociedade e suas institui- senvolve seu pensamento quando expressa que os
ções, na impossibilidade de readaptação à mes- técnicos de saúde devem se contrapor ao próprio
ma norma que acarreta adoecimento, resguarda poder. O autor vincula o termo “técnico” ao de
a estigmatização e exclusão – em vez de acolher a “funcionário do consenso”: os intelectuais legi-
existência em sofrimento e proporcionar a trans- timadores da violência institucional. Em contra-
formação coletiva dessa realidade. Isso ocorre so- posição, é necessário que os profissionais preo-
bretudo para aqueles que não possuem poder e cupados com a pessoa em sofrimento disputem
valor socioeconômico, com os quais poderiam se a hegemonia do poder onde esse acontece, no
contrapor ao estigma de descontrolados ou do- território junto aos sujeitos.
entes27,30. A construção de autonomia na teoria da
A psiquiatria da desinstitucionalização, por- atenção psicossocial, portanto, tem raiz em con-
tanto, baseia-se no resgate de uma vida autôno- cepções que enfatizam o combate à violência
ma, restituir o poder contratual do indivíduo institucional, que concebem a relação intrínseca
frente ao inevitável contrato com a sociedade29,30. entre autonomia e responsabilidade coletiva, e
Pois sob o diagnóstico de descontrole psicológi- desenvolvem essa construção no interior dos ser-
co, a ciência médica destitui o indivíduo de poder viços e tratamentos, mas também no âmbito da
sobre si, ficando sobre o crivo dos profissionais sociedade institucionalizada.
que executam o tratamento. Para aqueles em Redução de danos: entre os autores que abor-
processo de institucionalização mais profunda, daram a construção de autonomia na RD, en-
decorrente de uma vida de diagnósticos e inter- contramos McLeod e Sherwin32, Santos et al.33 e
nações, Basaglia30 expressa ser necessário, antes Sodeli34.
de tudo, resgatar a inconformidade: “Seria mais Na concepção apresentada por Santos et al.33,
importante que nos esforçássemos para desper- os usuários não devem ser vistos como dependen-
tar nele um sentimento de oposição ao poder que tes das drogas ou doentes e destituídos de racio-
até agora o determinou e institucionalizou, antes nalidade sobre seus atos. E as ações de RD devem
mesmo de construir em torno dele o espaço aco- se voltar para orientar os usuários acerca das con-
lhedor e humano do qual necessita”29 (p. 116). sequências do uso em relação ao seu contexto de
Assim, o resgate de poder perpassa uma di- vida, integrando condições de saúde, moradia,
mensão evidentemente relacional. Pois tão so- vínculos familiares e sociais. Assim, desenvolve o
mente com o reconhecimento enquanto pessoas protagonismo do usuário em relação ao seu pro-
(e não objetos) os indivíduos não encontram a cesso terapêutico33. A noção de RD se direciona
situação de liberdade; encontram na verdade um também para a transformação do contexto socio-
vazio28,29. Têm que realizar a reconstrução de vín- cultural a partir dos serviços de cuidado, visto que
culos, exercer na prática seu valor. Pois frente às o uso abusivo é encarado como consequência do
instituições sociais, aos papéis a serem desempe- impacto gerado pelas condições de existência33.
nhados, as decisões de uma pessoa podem afetar Sodeli34, com base na fenomenologia existen-
outras, bem como as decisões de grupos afetam o cial, direciona esses raciocínios para a construção
indivíduo. É necessário, na promoção de autono- de possibilidades de escolha. Expressa que o ser
mia, um tensionamento processual dessa relação humano se constitui enquanto detentor de uma
frente à realidade social: “a transformação insti- esfera de liberdade, pois sempre pode tomar de-
tucional deveria agir no contexto da relação que cisões. O uso de drogas é uma das possíveis for-
une os termos opostos dessa relação, para negar a mas de se aliviar angústias existenciais. Logo, o
oposição evidente. Isso significa que termos con- autor rejeita a compreensão proibicionista de
traditórios como escravidão e liberdade, depen- que o uso de drogas é sempre um comportamen-
dência e autonomia, não podem ser entendidos to desviante ou patologia. Pois se é uma escolha,
como um oposto ao outro”28 (p. 149). os indivíduos a princípio não se sentem mal com
Isto é, desenvolver relações autônomas exige isso. O autor expressa que é fato que o uso pode
responsabilidade para com o outro. Na desins- se tornar abusivo, mas não necessariamente. Des-
titucionalização, por exemplo, seja o usuário, o sa maneira, é necessário construir junto ao outro
profissional ou o familiar, é necessário buscar li- possibilidades de escolhas mais autênticas, no
dar com as tensões das relações, enfrentando o sentido da diminuição de vulnerabilidades. De-
retorno à autoridade/autoritarismo. fende-se a educação a respeito das drogas (pre-
O tensionamento entre os papéis no trata- venção primária), inclusive antes do uso34.
mento ainda perpassa a tomada de consciên- Dois estudos com base em McLeod e She-
cia27,31. Basaglia, baseado em Gramsci, assim de- rwin32 relacionam a perspectiva da RD de em-
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Martins MER et al.

poderamento dos usuários à perspectiva de au- ram Labonte41 e Israel et al.42. Os conceitos de
tonomia relacional da ética feminista. Esta leva Carvalho43 e Campos44 têm influência da saúde
em consideração as diversas determinações que coletiva e da promoção de saúde. E a produção
atuam sobre a vida de cada pessoa, o que implica de Merhy13,45 está compreendida sob o campo
a possibilidade ou não de praticar ações autô- teórico da saúde coletiva. Abordam-se ambos os
nomas. Isto é, detêm destaque as características campos teóricos nesse mesmo ponto, visto que
sociais, como opressões estruturais e identitárias esses se aproximaram na conformação do campo
que agem nas relações interpessoais, como ra- da saúde no Brasil7.
cismo e machismo. Só refletindo acerca dessas Onocko-Campos e Campos14, ao abordarem
determinações e havendo a construção de ações as necessidades de reformulação do campo da
que as contraponham é que poderia se falar em saúde trazidas pela compreensão ampliada do
autonomia. conceito de saúde, consideram que a construção
Outra abordagem nesse sentido é a da Inter- de autonomia deve ser central na política, na ges-
national Harm Reduction Association (IHRA)35 tão e no trabalho em saúde, sendo objetivo funda-
que expressa o protagonismo dos usuários numa mental de todo sistema.
dimensão comunitária. Ou seja, defende que o A principal destas mudanças refere-se à rede-
público das ações de RD deve fazer parte da ela- finição do “objeto” do trabalho em saúde, refere-se
boração dessas ações, discutir seus objetivos. E a pensar esse “objeto” como uma síntese entre pro-
não apenas os usuários de drogas, mas seus fa- blemas de saúde (riscos, vulnerabilidade e enfer-
miliares, além dos gestores das políticas. Logo, midade) sempre encarnados em sujeitos concretos.
apresenta uma concepção baseada na saúde pú- Esta valorização do “sujeito” e de sua singularidade
blica, sendo o não adoecimento e a manutenção altera radicalmente o campo de conhecimento e de
da vida objetivos claros. práticas da saúde coletiva e da clínica (p. 669)14.
A RD é frequentemente explicada36,37, como Seria fundamental que todo planejamento
base epistemológica, pela compreensão de saúde- do sistema e dos serviços de saúde buscasse uma
doença de Canguilhem, em Normal e patológico38. autonomia compartilhada, uma coconstrução de
Segundo Canguilhem, o ser humano dispõe da autonomia: “a coconstrução de capacidade de
capacidade de criar novas normas a partir das reflexão e de ação autônoma para os sujeitos en-
mudanças que enfrenta no decorrer da vida. Isso volvidos nesses processos, trabalhadores e usuá-
porque a vida é de natureza processual e variável. rios”14 (p. 669). Essa concepção de autonomia não
Nesse sentido, o autor se contrapõe à premissa corresponde a valores absolutos, mas relativos,
biomédica de que saúde é o contrário de doença correspondentes a cada realidade. Concebem-na
e que equivale a uma norma objetiva. Cada in- como a capacidade de os sujeitos ou o coletivo
divíduo está sempre produzindo sentidos de seu lidarem com sua rede de dependências. Isto é,
corpo-existência em relação ao meio com o qual capacidade de compreenderem e agirem sobre si
convive, justamente para executar seu modo de mesmos e sobre o contexto44. Logo, os sujeitos ne-
andar a vida. O patológico corresponderia à inér- cessitam de informação e de poder utilizá-la para
cia normativa, na medida em que, se essa norma- agir sobre o mundo. Portanto, a autonomia está
tividade ocorre, há processo de saúde. intimamente vinculada à capacidade de o sujeito
Essa concepção reverbera nas noções desen- enfrentar conflitos, realizar e organizar contratos
volvidas, por exemplo, por Marlatt39 e Lancetti40 e compromissos pessoais e coletivos14.
acerca da abstinência enquanto obrigatoriedade Merhy13 expressa que o processo de autono-
de tratamento. Marlatt expressa que a abstinên- mização corresponde a uma tecnologia do cuida-
cia não é um imperativo, e que qualquer ação de do/trabalho vivo em saúde e que é também uma
RD à saúde deve ser apoiada. Há uma flexibilida- tecnologia de produção de relações. Faz parte da
de, de acordo com a relativização do uso que cada categoria de tecnologias leves, necessariamente
pessoa deseja e suporta realizar a cada momento. relacionada ao acolhimento e ao vínculo. Expres-
Lancetti40 afirma que a RD é antagônica ao com- sa que o desenvolvimento dessas tecnologias se
bate às drogas, pois não é a droga que está em direciona para o aumento do grau de autonomia
questão, mas o sujeito. E enquanto ação de saúde no modo de andar a vida das pessoas, que, em
pública, a RD apresenta congruência com todo nível individual e coletivo, possibilita um maior
ato de cuidado que visa a defesa da vida39,40. controle dos riscos de adoecer ou agravar os pro-
Promoção de saúde e saúde coletiva: os auto- blemas de saúde. Esse processo, ao ser realizado
res que embasaram a construção de autonomia pelo profissional de saúde em vínculo com o usu-
sob o campo teórico da promoção da saúde fo- ário, por si só já acarreta tratamento terapêutico13.
2249

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A conceituação de empowerment da promo- tidiano em diversos âmbitos sociais “se traduzem
ção da saúde, com base em Labonte41 e Israel et em saúde” (p. 76), uma vez que os sujeitos e cole-
al.42, apresenta similaridades com as concepções tivos integrantes passam a deter maior autonomia
abordadas. Expressam que o empowerment pro- no modo de andar a vida. Isso ocorre em função
vém do processo de indivíduos agirem conjunta- de seus participantes compartilharem bens sim-
mente para decidirem sobre suas próprias vidas, bólicos e materiais. O compartilhamento desses
pensando de maneira crítica em relação à reali- bens alimenta os vínculos, faz com que os sujeitos
dade. Por exemplo: quando os próprios usuários influenciem e sejam influenciados, em uma dinâ-
dos serviços, organizados, podem influenciar nas mica de circulação e preocupação mútua.
várias dimensões de sua saúde, desde a mudança Logo, baseado na teoria da dádiva de Mauss,
de hábitos individuais e de comunidades até as explicita-se que não se trata simplesmente de dar
condições de organização dos serviços41,42. e receber para benefício próprio, baseando-se
Entretanto, Carvalho43 expressa que o termo numa visão utilitarista dos sujeitos e das redes. A
empowerment é utilizado por diversas linhas te- dádiva, ou dom, compreende um sistema de ação
óricas, nem sempre homogêneas. Ao abordar o social que envolve o movimento triplo de dar, re-
histórico da promoção da saúde, expressa que al- ceber e retribuir os bens simbólicos e materiais.
gumas das concepções se baseiam em uma noção A dimensão da autonomia, nas redes de apoio,
ideal de autonomia. Essa concepção compreende é construída de maneira dialética entre sujeitos
sujeitos que por si só podem tomar decisões au- e seus vínculos diversos. Em síntese, redes possi-
tônomas, sem deter conhecimento acerca das de- bilitam suporte e cidadania não apenas a pessoa
terminações que sobre ele incidem. Carvalho43 ar- ou coletivo que dá apoio e a quem recebe apoio,
gumenta que termos como risco e empowerment geram também um compartilhamento que cir-
estão vinculados às “políticas públicas saudáveis” cula, influenciando as relações micro e macro da
ou “políticas contemporâneas de prevenção”: vida social.
A autonomia possível é, quase sempre, uma au- Assim, é relevante expressar, com base em
tonomia regulada uma vez que os indivíduos tendem Amarante e Lancetti47, a potencialidade do forta-
a seguir regras e normas concebidas por expertos e lecimento dos vínculos com as redes de apoio no
pelos parâmetros construídos pelas Políticas Públi- contexto da atenção primária e nos demais níveis
cas Saudáveis. [...] muitas das narrativas de pro- de atenção em saúde. Porque o apoio social como
gresso que suportam as estratégias da Nova Saúde promotor da saúde possibilita a abertura para
Pública deixam intocadas as discussões sobre rela- análise do modelo de saúde-doença-cuidado, em
ções desiguais de poder na relação entre especialistas vez da análise baseada somente na saúde-doença.
e não-especialistas, populações dos países ricos “de- O apoio social possibilita considerar a saúde-do-
senvolvidos” e populações dos países pobres “em de- ença não como um estado biológico vivido pelos
senvolvimento”, homens e mulheres, heterossexuais sujeitos, mas um processo que modifica a saúde-
e homossexuais masculinos e lésbicas (p. 674)43. doença por meio da ação e consciência de todos
O termo empowerment carrega, portanto, o cará- os membros do coletivo social46.
ter ambíguo de algumas premissas da promoção Teoria do cuidado: na teoria geral do cuidado,
da saúde. Assim, pode acabar por limitar a cons- desenvolvida pela enfermeira Dorothea Orem, a
trução de autonomia. Ou seja, é uma concepção autonomização da pessoa ocorre quando ela atua
de empoderamento liberal, que pode fazer o Es- de forma consciente, isto é, intencional, além de
tado se ausentar das responsabilidades frente à atuar com ações efetivas para preservar a saúde
população43. O autor conclui que o termo “em- e o bem-estar48. Leva-se em conta que faz parte
powerment comunitário” seria mais indicado, da autonomização a adaptação e o aprendizado
pois traz a noção de disputa pelo controle de re- em novas situações fisiológicas, como gestação
cursos e a redistribuição de poder. e velhice, e em situações patológicas. A atenção
Dessa forma, a promoção da saúde concebe profissional adentra na autonomização dos sujei-
que o aumento da capacidade de analisar e atuar tos, visto que é comum o vínculo de apoio para
sobre seus próprios problemas não deve ser re- desenvolvimento do cuidado.
legado somente aos indivíduos e suas comunida- A respeito da relação dos indivíduos com o
des, esses devem ter participação efetiva na for- profissional de saúde, pode ser de três tipos: to-
mulação de políticas e distribuição de recursos, talmente compensatório (autocuidado não pode
exercendo poder socialmente. ser realizado pela pessoa); cuidado empreendido
Teoria das redes de suporte: Lacerda46 expressa com auxílio parcial; e cuidado em que há foco
que as redes de suporte que se conformam no co- no apoio e na educação para a adaptação. É im-
2250
Martins MER et al.

portante destacar que nas demandas terapêuticas sitivo para desenvolver autonomia como âmbito
não se leva em consideração apenas a dimensão construtivo, e o que é necessário ser superado
individual, mas em relação ao ambiente, à socie- como âmbito de negação. Esses elementos e suas
dade. Isto é, o cuidado é organizado de acordo dimensões são apresentados na Figura 2.
com as características das pessoas como mem- Também ficou evidente que a construção de
bros de grupos de determinado tempo e espaço49. autonomia depende de múltiplas ações em cada
Segundo Remor et al.49, o funcionamento do ho- dimensão, sendo essas três interrelacionadas. Na
mem está ligado ao seu ambiente e juntos for- da singularidade, os elementos que constituem
mam um todo funcional, um sistema. o processo dizem respeito a trazer à tona o ser
Logo, a teoria de Orem expressa que o estabe- humano em sofrimento, proporcionando resgate
lecimento do vínculo entre profissional e pessoa de sua condição de indivíduo detentor de valor
sob cuidados se estabelece para a superação do para si mesmo e para a alteridade. Isso possibi-
processo de adoecimento por meio de ações de lita superar práticas baseadas em concepções de
adaptação e autocuidado, além de considerar as- saúde que têm como objeto a doença, as drogas,
pectos socioambientais para a produção de auto- a inadaptabilidade individual, e culpabilizam os
nomia cotidiana, o que demonstra a relativização sujeitos pelo uso abusivo.
de ideais de saúde a serem alcançados – mani- Na dimensão dos vínculos, a construção de
festando certa superação em relação ao modelo autonomia não é apenas individual, depende da
biomédico. relação com a alteridade de forma corresponsá-
vel, para desenvolvimento do valor social. Essa
Síntese conceitual e discussão segunda dimensão busca desenvolver o aumento
do universo de dependências, noção trazida pela
A partir dos conceitos de construção de auto- psiquiatria da desinstitucionalização28 e presente
nomia apresentados e seus respectivos arcabou- em Kinoshita12 e Onocko-Campos e Campos14.
ços teóricos, fica evidente a interrelação entre as Isto é, ao ser dependente de vários vínculos, cria-
teorias que embasam o paradigma da saúde cole- se a possibilidade de satisfação de necessidades
tiva no campo do cuidado a pessoas em uso abu- diversas, não de uma única. Esse conjunto de de-
sivo de substâncias psicoativas. Entre as práticas pendências se expande ao participar não só do
e os fundamentos desse conjunto, destacam-se a CAPS ou da Unidade de Saúde, mas na família,
importância da participação social e a promoção no centro de convivência e demais redes territo-
coletiva das ações de cuidado, o que fundamen- riais.
ta, por exemplo, ações como oficinas e grupos de A terceira dimensão diz respeito à execução
promoção em saúde e serviços como os consul- e ao desenvolvimento de autonomia de manei-
tórios na rua. Além das noções de territorialida- ra social ampla, não só realizando o conjunto de
de e atenção integral. Sendo que esse conjunto trocas que a própria norma social já possibilita,
busca superar a vulnerabilidade e as iniquidades mas expandindo direitos para superação de con-
em saúde dessa população, tendo como plano de dições sociais por meio da garantia de trabalho,
fundo a compreensão de determinação social dos educação formal, melhoria do acesso em saúde,
processos de saúde e adoecimento. por exemplo. Busca também o poder de contra-
Levando em conta essa confluência de te- por e transformar essa norma de maneira políti-
orias, buscou-se sintetizar sua complexidade e ca, pelas reivindicações de associações de usuá-
pluralidade. Para isso, associamos as categorias rios e participação nos conselhos de saúde.
que emergiram da explanação teórica por meio O que a presente revisão aponta, portanto, é
de três dimensões: (1) dimensão da singularida- que a promoção de autonomia ocorre tanto por
de: resgate de autonomia no processo terapêuti- meio da negação de processos de exclusão quanto
co; (2) dimensão dos vínculos: construção cor- na construção de políticas efetivas de participa-
responsável de autonomia; e (3) dimensão social ção social. Isso ocorre em certa medida pela rede
e política: construção de autonomia em amplitu- de seguridade social, visto que a literatura ressal-
de coletiva. ta a importância dos CAPS-AD, das unidades de
Foi constatado, ainda, que essas categorias saúde e consultórios na rua, por exemplo, princi-
provêm de uma necessidade de superação de algo palmente quando se utilizam de tecnologias que
oposto ou ausente. A RD, por exemplo, é oposta à buscam a autonomia, como projetos terapêuticos
concepção biomédica que detém foco nas drogas singulares, oficinas de redução de danos, grupos
ao invés dos sujeitos, reiterando a necessidade da educativos e de promoção em saúde, e o próprio
abstinência. Assim, considerou-se o que é propo- acesso aos serviços50-52
2251

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Entretanto, o que a revisão também demarca Considerações finais
é que a autonomia não se realiza apenas no in-
terior dos serviços. Estes permeiam o território Foi possível evidenciar a pluralidade e complexi-
justamente para articulá-lo, descobrir e intensi- dade da construção de autonomia na confluência
ficar vínculos, assim como criar possibilidades dos arcabouços teórico-práticos que compõem
de redes de apoio, dispositivos de garantia de o campo psicossocial. Ela [ela quem?] provém
direitos, de lazer e cultura46,47. Pois o uso abusi- da fundamentação dessas escolas, perpassando
vo ocasiona perda de autonomia, seja por efei- a práxis do processo de cuidado e apontando
tos individuais diretos do uso abusivo, seja por para os objetivos desse conjunto: a autonomia
dificuldades nas relações sociais, como conflitos de sujeitos e grupos no processo de promoção de
familiares e laborais, além da invisibilidade por saúde durante a reprodução da vida individual e
parte do Estado, que intensifica essa situação de coletiva.
vulnerabilidade36,53. A sistematização, em três dimensões indisso-
Contudo, o conjunto de ações abordado tem ciáveis, ainda possibilitou destacar que tal con-
sido mitigado frente às políticas atuais. As últi- ceito se desenvolve junto ao paradigma da saúde
mas modificações na Política Nacional de Saúde coletiva, que também está em um processo em
Mental e Drogas, por meio do decreto presiden- curso. Aponta-se a necessidade, portanto, de se
cial nº 9.761/2019, por exemplo, define um esva- avançar com a rede de cuidados, valorizando os
ziamento da RD, ao mesmo tempo em que asse- serviços já desenvolvidos. É possível, inclusive,
vera a abstinência total. Ainda há grandes déficits que novas concepções teóricas e práticas de cui-
de financiamento da RAPS e grandes investi- dado se desenvolvam a partir do próprio desen-
mentos públicos em comunidades terapêuticas16. volvimento atual da RAPS e do sistema de saúde,
Logo, as dimensões da corresponsabilização, e por mais que haja barreiras e retrocessos a serem
principalmente da participação sociopolítica, en- superados.
frentam muitas dificuldades, tanto pela falta de Foi possível apresentar uma descrição abran-
relação entre os dispositivos da rede como pela gente de conceitos relativos à construção de auto-
dificuldade de os profissionais estarem no terri- nomia que vêm embasando as análises acerca dos
tório fortalecendo vínculos. serviços de cuidado no Brasil. Considera-se que
Essas limitações muitas vezes impossibilitam os conceitos e suas teorias de base representam
uma transformação prática da vida dos usuários, um conjunto coeso que potencializa o desenvol-
fazendo-os dependentes de CAPS, unidades de vimento de ações e serviços das políticas de saúde
saúde e das comunidades terapêuticas em expan- mental e drogas no país.
são, reoxigenando o processo conhecido como Fica evidente, por fim, que, para que seja
revolving-door, ou carreira de internamento54. posta em prática a diretriz da estratégia de cons-
Isto é, a não transformação das condições de re- trução de autonomia, é necessário maior inves-
produção da vida diária dos usuários no processo timento na RAPS, para de fato ocorrer o com-
de construção de autonomia faz que eles muitas bate à marginalização dos usuários que fazem
vezes retornem ao mesmo local de tratamento, uso abusivo de drogas. Para além dos CAPS e das
com as mesmas demandas. unidades de saúde, é necessário investir nos dis-
positivos que favoreçam a promoção da saúde,
com moradia de qualidade, emprego e educação,
para se contrapor aos impactos de uma sociedade
que adoece.

Colaboradores

MER Martins trabalhou na concepção e reda-


ção final de todo o artigo. FB Assis e CC Bolsoni
participaram da revisão final, com fundamental
contribuição teórico-científica.
2252
Martins MER et al.

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Artigo apresentado em 29/07/2021


Aprovado em 24/11/2021
Versão final apresentada em 26/11/2021

Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura


da Silva

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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