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A evolução do comportamento

Luis Bigotte de Almeida


Universidade Lusófona
Adaptação de apanhador de fruta a caçador

 Adaptação física
Posição vertical
Modificação das mãos e pés

 Transformação da personalidade
De competitiva a cooperativa

 Inteligência superior à dos carnívoros


rivais
Neotenia do cérebro

Processo evolutivo que mantém certas características


juvenis ou infantis e as prolonga na vida adulta

 Foi responsável pelo crescimento do cérebro dos primatas


superiores:
Cérebro do macaco – 70% do tamanho ao nascer
30% até aos 12 meses
Cérebro do homem – 23% do tamanho ao nascer
77% até cerca dos 23 anos
Neotenia da postura cefálica

 Postura no macaco – O eixo da


cabeça é perpendicular ao do corpo
porque antes de nascer ela roda
para trás

 Postura no homem – A cabeça


mantém-se na posição fetal
prolongando o eixo do corpo
A infantilização diferencial ou selectiva

 No homem houve um desfazamento no ritmo do


desenvolvimento de diversas aptidões

 Envolveu funções importantes para a sobrevivência no


meio ambiente (sistema defensivo)
Características por neotenia no Homem

 Cérebro desenvolvido
 Postura da cabeça
 Ausência de pêlo
 Pescoço longo e esguio
 Face achatada
 Dentes pequenos e tardios
 Ausência de arcadas supraciliares espessas
 Não oposição do 1º dedo do pé
O primata adaptado a caçador

 Anda e corre na posição erecta

 Tem as mãos livres para agarrar

 O cérebro é desenvolvido para pensar, planear e adaptar-


se às situações

 A infância é longa para maior aprendizagem e imitação


Áreas básicas do comportamento e aprendizagem

Alimentar, Social, Agressividade, Medo, Sexual


e de Reprodução, Defesa da Unidade Familiar

A aprendizagem não seria eficaz sem haver alterações


biológicas de regulação genética, porque senão o ensino
actuaria contra as tendências comportamentais naturais
De macaco a homem – Diferenças na motivação

 Primata frutívoro – Um único sistema de motivação e


recompensa, da procura da comida à ingestão

 Mamífero carnívoro – Dois ou mais sistemas de motivação e


recompensa, cada um com finalidade diferente:

Procura de comida (caçar e matar)


Ingestão (sistema de motivação retardado)

Eventuais sistemas intermédios e sucessivos (preparar)


Teoria da procura aquática de alimento antes
da fase caçadora do homem

Carece de comprovação, mas pode explicar:

 A agilidade na água, em contraste com os outros primatas

 A escassez de pêlos e a distribuição em ponta de seta na


região dorsal (outras razões associadas)

 A grande quantidade de gordura subcutânea

 A especial sensibilidade na palma da mão


Evolução da motivação no homem - I

 Passou de assassino cultural a assassino biológico

 Modificou o comportamento alimentar no horário


das refeições – passou a ter refeições intervaladas
e a armazenar alimentos em vez de petiscar a toda a
hora
 Melhorou a capacidade de comunicar e cooperar,
através da mímica facial e de expressões vocais
Evolução da motivação no homem - II

 Confinou-se a uma habitação fixa, com o necessário


aperfeiçoamento dos cuidados domésticos e do sentido de
orientação

 Passou a partilhar os alimentos com as fêmeas e as crias e


iniciou-se na paternidade (só o homem conhece o pai)
Evolução da motivação no homem - III

 O papel de cada sexo diferenciou-se, com a mulher em casa


e o homem a caçar em grupo, razão da unidade familiar

 Em defesa da união em pares, surgiu a paixão entre homem


e mulher e a fidelidade recíproca, rara nos outros primatas

 A cooperação no grupo de caça reforçou-se com a redução


das rivalidades sexuais entre os machos
A unidade familiar

Grande alteração no comportamento sócio-sexual dos


primatas superiores
Nunca atingiu a perfeição
Finalidade de:
 Procriar
 Criar e proteger os descendentes
 Instruir e treinar os descendentes

As mudanças culturais que se opõem às características biológicas encontram


forte resistência e têm de ser apoiadas em modificações genéticas
Mudanças básicas na evolução do homem - I

1. Exercício da caça (mais tarde o trabalho) para sobreviver


2. Posição bípede e uso de armas - para a caça
3. Cérebro mais desenvolvido - para suprir a inferioridade
física na caça
4. Infância mais longa - para desenvolver e treinar um cérebro
maior
Mudanças básicas na evolução do homem - II

5. Confinação a uma habitação fixa

6. União em pares, de homem e mulher

7. Dedicação da mulher à prole, enquanto o


homem caça

8. Cooperação dos homens entre si (na caça ou


trabalho)
O comportamento
na fase de crescimento

Luis Bigotte de Almeida


Universidade Lusófona
A grande imitação na infância

 Uma parte da actividade do homem adulto baseia-se no


que ele absorve do ambiente por imitação na infância

 O homem tem uma enorme necessidade de explorar, que


se opõe aos poderosos instintos e imitação, que
permanecem dissimulados

 Na sociedade seria ideal o equilíbrio entre a


curiosidade e a imitação
Alguns comportamentos
O embalar dos filhos

 80% das mães embalam o filho com o braço esquerdo porque o


som familiar do coração acalma o bebé

 Em 80% de 466 pinturas da Virgem o menino está à esquerda

 O embalar do berço segue habitualmente o ritmo do coração

 O adulto balança-se ritmicamente quando angustiado e a música


dos anos 60-70 foi o rock (embalar) ou beat (bater do coração)
Os estados emocionais básicos

Apesar do brilho verbal adquirido, há expressões instintivas:

 Sorriso (saudação humana à 5ª semana)


 Riso (3º- 4º mês, ao reconhecer os pais)
 Franzir das sobrancelhas
 Olhar fixo
 Expressão de pânico, de zangado ou de tristeza
 Choro (à nascença)
 Gemidos, grunhidos ou guinchos
O choro

 Tensão muscular
 Vermelhidão da face
 Lacrimejo
 Abertura da boca e retracção dos lábios
 Exagero da respiração com expirações intensas
 Vocalizações estridentes

Tem por causa tristeza, insegurança, dor física ou raiva


O riso

 Tensão muscular
 Abertura da boca e retracção dos lábios
 Exagero da respiração com expirações intensas

Quando atinge certa intensidade:

 Vermelhidão da face
 Lacrimejo
 Vocalizações menos estridentes, de tonalidade mais baixa, mais
curtas e sequenciais do que o choro

O riso e o sorriso evoluiram do choro


O sorriso

 Movimento de lábios
 Olhos ligeiramente fechados e brilhantes
 Acentuação das rugas por baixo e ao lado das fendas
palpebrais
 Acentuação dos sulcos naso-genianos
A agressividade

 Olhar feroz e fixo


 Lábios cerrados ou boca aberta
 Comissuras labiais lançadas para a frente
 Sobrancelhas franzidas
 Punhos cerrados

As birras e choros zangados exprimem agressividade (zanga ou raiva)


Processo de crescimento

 1ª fase – Introvertida - contacto com a mãe

 2ª fase – Extrovertida – contactos sociais

O isolamento social durante toda a infância


pode gerar o afastamento social na idade adulta
Comportamento exploratório humano

 Princípio da exploração–recompensa

Ex. 1. Uma criança de ano e meio gosta da bola


que mais saltita ao ser atirada com
pouca força

Ex. 2. Gosta do risco e do ruído que resultam do


bater com o bico do lápiz numa folha de
papel – é até uma forma de comunicação
Regras do comportamento exploratório humano

O comportamento exploratório do adulto prolonga as brincadeiras infantis

1. Tornar o desconhecido conhecido


2. Repetição rítmica do que é conhecido
3. Introduzir na repetição todas as nuances possíveis
4. Seleccionar e desenvolver as variações mais satisfatórias
5. Combinar as variações de todas a forma possível
6. Fazer tudo para ter a consciência do ambiente que o rodeia (o
animal actua para um fim e não como meio)
Estas regras aplicam-se tanto a uma criança que brinca, como a um pintor que cria uma obra de arte
Comportamento antiexploratório na infância

 Acompanha-se de acções estereotipadas (que reproduzem o


ritmo das pulsações cardíacas maternas ou do próprio):
Balanceio
Chuchar no dedo
Beliscadelas
Bater e rolar ritmicamente pequenos objectos
Tiques
Porque a repetição rítmica de um acto torna-o progressivamente familiar,
retirando-lhe qualquer conotação assustadora ou de perigosidade
Introdução à Genética do
Comportamento

Luis Bigotte de Almeida


Universidade Lusófona
A chave da existência e do comportamento

 Património genético e suas mutações

 Factores ambientais
A Vida
segundo a Sociobiologia

 Materializa-se nos corpos, informada e


preenchida de significado pelos genes

 A Sociobiologia tenta uma construção


científica da natureza humana

Conceito evolucionista do gene


Alguns Sociobiólogos importantes

 Richard Dawkins
 Edward Osborne Wilson
 Steven Pinker
 Richard Dawkins
 David Buss
 Jared Diamond
 Jay Phelan and Terry Burnham

Há mais de três décadas tentam estabelecer as bases genéticas do comportamento


O gene como um conspirador endógeno

 Encarcera a nossa identidade dentro de uma molécula

 Escraviza a individualidade ao gene

 O indivíduo é possuído por instintos ancestrais, de


origem genética, que tendem a comandar os seus actos

 O cérebro comporta-se por vezes como uma entidade


desobediente
O cérebro como um ente desobediente

 Manifestações de comportamento apetitivo exagerado,


que atinge a busca compulsiva de prazeres:

Ingestão incontrolada de alimentos


Dependência de drogas
Exposição irracional a perigos
Ambição desmedida
Conflitos entre sexos
Busca de beleza e juventude
Laços familiares e interpessoais ambivalentes
Algumas críticas ao conceito evolucionista
do gene - I

 É uma abordagem redutora e por vezes até caricatural do


comportamento humano

 Consideram-se qualidades antropomórficas nos genes


(genes bons, maus, criminosos, aditivos, etc.)

 Os sociobiólogos consideram que a evolução da natureza


humana se esgota no genoma e retiram o valor ao
processo de viver em sociedade
Algumas críticas ao conceito evolucionista
do gene - II

Ainda não há elementos suficientes que provem, sem


sombra de dúvida, o determinismo genético do
comportamento humano

Conclusão do relatório Genetics and Human Behaviour. The


Ethical Context do Nuffield Council on Bioethics (NCB 2002)
Aceitar os desenvolvimentos da genética
sem a dogmatizar

 A genética do comportamento deve situar-se nas suas


actuais e verdadeiras dimensões
 Não hipervalorizar as mutações de baixa penetrância,
os polimorfismos genéticos, as doenças hereditárias
multifactoriais ou a recombinação de genes próximos,
mas estar ciente de que podem ter importância

Ex.: Os casos de neoplasia da mama resultantes de polimorfismos genéticos ou


mutações de baixa penetrância associados à exposição ambiental são mais
frequentes do que os causados por mutações de grande penetrância
A genómica

 É a nova genética!

 Utiliza os métodos da genética molecular


 Aplica-se hoje no diagnóstico
 Pretende-se que venha a ser utilizada em prevenção
e terapêutica
A nova genética - Genómica - I

 Sequenciamento do ADN para identificação de genes no


homem e em agentes patogénicos

 Fabricação de enzimas, receptores, canais iónicos, etc.

 Desenvolvimento de sondas de ADN

 Rastreio de amostras de ADN em pessoas e famílias


com doenças hereditárias
A nova genética - Genómica - II

 Produção e comercialização de kits para pesquiza


genética por empresas de biotecnologia

 Potencial para a criação de medicamentos


personalizados e dirigidos especificamente a certos
genotipos

 Homotransplantes e xenotransplantes (de animais para


humanos)

 Terapias com células-tronco


ADN recombinante

Formação do ADN Recombinante

 As enzimas de restrição cortam secções do ADN em locais


onde encontram uma sequência de bases particular. A
enzima ligase anexa as secções soltas do ADN

 As enzimas de restrição foram descobertas nas bactérias


onde têm a função de seccionar genes virais

 Há 400 tipos de enzimas de restrição, cada um para sua


sequência de bases
Finalidade do uso do ADN recombinante
em biotecnologia

 Inserir genes nos cromossomas e induzir bactérias a fabricar


proteínas para uso médico

Exs.: Bactéria do intestino infectada com um gene de um sapo

Nos finais dos anos 80 sintetizou-se a hormona do


crescimento humana
A manipulação genética e as questões éticas

 1975
 1990

Duas conferências em que se discutiram os problemas


éticos decorrentes da manipulação genética
“Clonagem” de genes humanos

 Consiste em:
1. Isolar um fragmento de gene no genoma humano
2. Colocá-lo numa bactéria
3. Fazer milhões de cópias para o purificar
4. Ler a sequência das suas letras (bases ou nucleótidos)

Identificação do genoma no Centro Sanger do Wellcome Trust, Cambridge

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