Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CHURRASCO” (*)
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
87
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
que consomem carnes (em geral brancas) poucas vezes por semana. Já o termo
onívoro, classifica aquele que consome qualquer alimento, inclusive as carnes. Os
motivos para a adoção da dieta vegetariana, em geral ficam nos âmbitos da saúde,
com benefícios e prevenção de doenças, da ética, em relação aos direitos dos
animais, religião, filosofia de vida, e ambiental, com o impacto negativo ao meio
ambiente, devastação de florestas, poluição, uso da água, emissão de CO2 e gás
metano2.
Segundo pesquisa realizada, 8% da população das principais capitais
brasileiras se declara vegetariana, ou seja, 15,2 milhões de pessoas, representando
um crescimento deste público nos últimos anos. No estado do Rio Grande do Sul, o
percentual de indivíduos vegetarianos foi o menor registrado entre as regiões
pesquisadas, representando 6% da população da sua capital, Porto Alegre³. A cultura
gaúcha, que tem como prato típico, o tradicional churrasco, pode justificar este
percentual, pois a pecuária é uma das principais e mais tradicionais atividades
produtivas do estado4. Mas o aumento do interesse em assuntos ligados ao
vegetarianismo, o número de acessos a sites veganos e membros associados e o
surgimento de novos serviços e estabelecimentos especializados, vem mostrando
indícios dessa tendência5. Feiras e campanhas também têm sido mais frequentes,
como a Segunda sem Carne, que tem o propósito do não consumo de carne uma vez
por semana, com o intuito de conscientizar sobre os impactos trazidos pelos produtos
de origem animal, para a sociedade, para a saúde humana e para o planeta 6.
Junto a essas mudanças, cresce também a preocupação com o estado
nutricional dos adeptos a este estilo de vida, devido a controvérsias em relação aos
riscos e benefícios da dieta vegetariana. Contudo, sendo bem planejada, esta é uma
dieta segura, promovendo o crescimento e desenvolvimento adequado em qualquer
fase da vida, desde a infância até terceira idade, incluindo o período da gestação7. Se
faz necessário uma atenção maior para o consumo de alguns nutrientes como o ferro,
zinco, cálcio e ômega 3 e vitamina B12, devendo ser preconizadas conforme as
recomendações das Dietary Reference Intakes8.Já no caso dos veganos, a vitamina
B12, que provém somente de alimentos de origem animal, pode ser obtida nos
alimentos enriquecidos ou suplementos, e a proteína pode ser garantida com o
consumo diário de alimentos do grupo das leguminosas, grãos, sementes e frutos
secos9,10. Além disso, a exclusão de carnes da alimentação pode reduzir o consumo
88
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
OS DESAFIOS DE SER VEGETARIANO NA “TERRA DO CHURRASCO”
MÉTODO E CASUÍSTICA
89
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
RESULTADOS
A pesquisa obteve 347 respostas, sendo 332 respostas validas (n = 332), pois
14 participantes eram menores de 18 anos e 01 participante não residia no estado do
RS. Do total das respostas válidas, 304 foram através do questionário virtual e 28 pelo
presencial. Participaram do estudo, indivíduos com idades entre 18 à 69 anos, sendo a
maioria do gênero feminino (84,6%) (Tab.1). Participaram moradores de diversas
cidades como Porto Alegre, Canoas, Alvorada, Sapucaia do Sul, Esteio, São Leopoldo,
Cachoeirinha, Novo Hamburgo, Gravataí, Viamão, Guaíba, Capão da Canoa,
Garibaldi, Pelotas, Charqueadas, Caxias do Sul, Tramandaí, Rio Grande, Cruzeiro do
Sul, Santa Cruz do Sul, Passo Fundo, Bagé, Ivoti, Camaquã, Chapecó, David
Canabarro e Jaguarão.
90
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
OS DESAFIOS DE SER VEGETARIANO NA “TERRA DO CHURRASCO”
91
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
Outras 5,8
0 5 10 15 20 25 30 35 40
% da amostra
92
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
OS DESAFIOS DE SER VEGETARIANO NA “TERRA DO CHURRASCO”
Tabela 2 – Dados da dieta vegetariana relatados pelos participantes. Porto Alegre, 2016.
Variáveis n=332
Dieta vegetariana é difícil de seguir n(%)
Não 242 (72,9)
Sim 90 (27,1)
Já teve orientação de um nutricionista ou algum n(%)
profissional da saúde
Não 173 (52,1)
Sim 159 (47,9)
Qual profissional n(%)
Nutricionista 135/159 (84,9)
Médicos 33/159 (20,8)
Outros 2/159 (1,3)
Você consome substitutos da carne (exemplo: carne de n(%)
soja, glúten)
Não 78 (23,6)
Sim 252 (76,4)
Utiliza suplemento alimentar n(%)
Não 226 (68,3)
Sim 105 (31,7)
Houve alteração de peso após se tornar vegetariano n(%)
Aumentou 53 (16,0)
Reduziu 94 (28,4)
Manteve 184 (55,6)
Notou melhora na saúde após tornar-se vegetariano n(%)
Não 76 (22,9)
Sim 256 (77,1)
Aspectos de melhora n(%)
Saúde 137/235 (58,3)
Qualidade de vida 150/235 (63,8)
Estética 33/235 (14,0)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2016.
90 79
80
70
% da amostra
60
50
40
30 19
20
4,8 2,9 1,9
10
0
VIT E SAIS SUP. ALIM. COMPLEM. ÓLEOS SUP. ALIM.
MINERAIS PROTEÍNA ALIM. CARBOID.
Suplementos alimentares (n=105)
93
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
DISCUSSÃO
94
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
OS DESAFIOS DE SER VEGETARIANO NA “TERRA DO CHURRASCO”
lugar, seguido da proteção a saúde e do meio ambiente 14. Esses achados corroboram
com as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira.
“A opção por vários tipos de alimentos de origem vegetal e pelo limitado
consumo de alimentos de origem animal implica indiretamente a opção por um sistema
alimentar socialmente mais justo e menos estressante para o ambiente físico, para os
animais e para a biodiversidade em geral17.”
A dieta ovolactovegetariana, opção adotada pela grande maioria dos
entrevistados, pode representar que esta é a mais frequente pela maior disponibilidade
de alimentos ou como sendo o primeiro estágio de vegetarianismo. Porém não existe
uma escala evolutiva dentro da dieta vegetariana, pois nem sempre o indivíduo adota
a dieta ovolactovegetariana com o objetivo de se tornar vegetariano estrito, nem vice-
versa9. A segunda mais citada foi a dieta vegana, que representa um compromisso
ético, não discriminando as espécies não humanas, manifestando e divulgando a
causa, além de boicotar o consumo de produtos que gerem morte ou maus tratos a
animais18.
O uso de suplementos alimentares representou uma preocupação com
possíveis carências nutricionais, sendo as vitaminas e sais minerais e os suplementos
proteicos, consumidos pela maioria do grupo estudado. Os alimentos enriquecidos e a
suplementação, em geral, se faz necessário nas dietas veganas, pois a Vitamina B12
(Cobalamina) é encontrada somente em alimentos de origem animal. Contudo, o
acompanhamento nutricional é recomendado em qualquer tipo de dieta, avaliando a
necessidade de suplementação2.
Em relação à percepção de melhora do estado de saúde com a dieta
vegetariana a grande maioria (77,1%) notou diferença positiva após tornar-se
vegetariano, sobretudo em relação à qualidade de vida, concordando com o estudo
realizado, que afirma que uma dieta vegetariana equilibrada, promove saúde e previne
inúmeras doenças crônicas responsáveis pela perda da qualidade de vida e pela
diminuição da expectativa de vida19.
Desta forma, com este estudo, foi possível concluir que o indivíduo vegetariano
enfrenta dificuldades relacionadas à vida social e cotidiana, devido à relevância
cultural do consumo de carnes, sendo uma escolha alimentar que implica em
adaptações tanto no âmbito interpessoal, quanto nos processos de aquisição de
alimentos, produtos e serviços. Porém os benefícios trazidos por este padrão alimentar
95
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
2. Slywitch E. Alimentação sem carne: um guia prático para montar a sua dieta
vegetariana com saúde. São Paulo: Editora Alaúde; 2015.
4. Feix RD, Leusin SJ. Painel do agronegócio no Rio Grande do Sul [Internet]. 2015
[Citado 10 Ago 2016]. Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/wp-
content/uploads/2015 /09/20150903painel-do-agronegocio-no-rs-2015.pdf
96
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
OS DESAFIOS DE SER VEGETARIANO NA “TERRA DO CHURRASCO”
6. Segunda sem carne. O que é a Campanha? [Internet]. 2011 [Citado 20 Set. 2016].
Disponível em: www.segundasemcarne.com.br/o-que-e-a-campanha/.
10. Craig WJ, Mangels AR. Position of the American Dietetic Association: Vegetarian
Diets. J Am Diet Assoc [Internet], 2009 [Citado 17 Ago. 2016]. Disponível em:
http://www.vrg.org/nutrition/2009_ADA_position_paper.pdf.
11. Cordeiro, Luiza Andressa. Slide Share - Saúde e Medicina [Internet]. 2013
Questionário sobre a percepção de bem-estar animal entre vegetarianos e não-
vegetarianos. [Citado 14 out 2015]. Disponível em:
https://pt.slideshare.net/cricabade/questionrio-24421487
12. Luciane Fischer, Marta, Cordeiro, Andressa Luiza, Falvo Librelato, Rafael. A
abstinência voluntária do consumo de carne pode ser compreendida como um
97
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.
Patrícia Guimarães Ferreira
Fernanda Miraglia
13. Slywitch E. Virei vegetariano e agora? São Paulo: Alaúde Editorial; 2010.
14. Rodrigues AR, Carvalho DR, Oliveira SR, Freitas RC, Sette RS. O vegetarianismo
como estilo de vida e postura de consumo: uma análise dos fatores influentes na
adoção de uma dieta vegetariana. VI Encontro Nac Estud do Consum II Encontro
Luso-Brasileiro Estud do Consum - Vida Sustentável práticas cotidianas Consum. Rio
de Janeiro, 2012 [Citado 09 Dez. 2016]. Disponível em:
http://www.estudosdoconsumo.com.br/artigosdoenec/ENEC2012-GT05-
Rodrigues_Carvalho_Oliveira_Freitas_ e_Sette-
O_vegetarianismo_como_estilo_de_vida.pdf.
16. Dyett PA, Sabaté J, Haddad E, Rajaram S, Shavlik D. Vegan lifestyle behaviors: An
exploration of congruence with health-related beliefs and assessed health indices.
Appetite [Internet]. 2013 [Citado 15 Out. 2016]. Disponível em:
http://www.sciencedirect.com/science /article/pii/S0195666313001281.
http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_ sociais
/article/viewFile/csu.2013.49.2.07/2589.
99
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2017; 2 (1): 86 – 99.