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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

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AUTORES:
BALTAZAR RODRIGUES

Procurador do Estado do Rio de Janeiro - PGE/RJ. Sócio do escritório


Fontana, Maurell, Gaio e Rodrigues Advogados. Mestre em Direito
Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Ex-
Diretor Jurídico do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de
Janeiro (Rioprevidência - 2013/2014). Aprovado nos seguintes concursos:
PGE/RJ (15º lugar - 2010); Advogado do BNDES (65º lugar - 2009).

RODRIGO DUARTE

Advogado da União. Ex-Oficial de Justiça e Avaliador Federal no TRF da 2ª


Região; Ex-Técnico Administrativo do Ministério Público da União (MPU) e
Ex-Técnico de Atividade Judiciária no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
(TJRJ); Aprovado e nomeado no concurso de Analista Processual do
Ministério Público do Rio de Janeiro (MPE/RJ).

MIGUEL BLAJCHMAN (Organizador)

Advogado. Fundador do site Questões Discursivas. Ex-Analista de


Planejamento e Orçamento da Secretaria Municipal da Fazenda do Rio de
Janeiro (SMF/RJ). Aprovado nos seguintes concursos: Analista de Controle
Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ).
Analista e Técnico do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
(MPE/RJ) e Advogado da Dataprev.

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ÍNDICE

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

1. MAGISTRATURA ESTADUAL – TJSP – 2019 – VUNESP


2. PROCURADOR – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/GO – 2019 – IADES
3. PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR- 2017 – BANCA PRÓPRIA
4. DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC
5. ANALISTA JUDICIÁRIO - STF - CESPE - 2013
6. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2013 – UEG
7. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 - UFG
8. MAGISTRATURA – TJDFT – 2014 - CESPE
9. PROCURADOR DO ESTADO - PGE/SP - 2012 - FCC
10. PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - 2014 - CESPE
11. ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - 2016 - CESPE
12. PROCURADOR LEGISLATIVO –CAMPINA GRANDE DO SUL/PR – 2014 - FAPIFA
13. MAGISTRATURA FEDERAL – TRF5 – 2015 - CESPE
14. PROCURADOR AUTÁRQUICO - UNICAMP - 2018 – VUNESP
15. PROCURADOR DO ESTADO - PGE/RO - 2011 - FCC
16. PROCURADOR DO BANCO CENTRAL – AGU - CESPE - 2013
17. MAGISTRATURA ESTADUAL - TJMS - 2015 – VUNESP
18. PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2010
19. PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RR – 2017 – CESPE
20. MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2017 – BANCA PRÓPRIA
21. DELEGADO DE POLÍCIA – PCRJ – 2012 – FUNCAB
22. DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2018 – ACADEPOL
23. DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2008 – ACADEPOL
24. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2013 – UEG
25. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 - UFG
26. AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO - TCE/PA - 2012 - AOCP
27. AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO - TCE/MS - 2013 – BANCA PRÓPRIA
28. PROCURADOR DO ESTADO – PGE/MT – FCC - 2016
29. PROCURADOR – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/GO – 2019 – IADES
30. PROCURADOR MUNICIPAL - PGM-PAULÍNIA/SP - 2016 – FGV
31. TRIBUNAIS DE CONTAS – TCM/SP - 2015 – FGV
32. MAGISTRATURA ESTADUAL – TJPA – 2011 - CESPE
33. DELEGADO DE POLÍCIA – PCPR – 2013 – COPS UEL

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MAGISTRATURA ESTADUAL – TJSP – 2019 – VUNESP

Disserte sobre o tema: Controle judicial de constitucionalidade. 1. Origem. Conceito e


Importância. 2. Controle incidental ou difuso. Características. Efeitos. Reserva de
Plenário. 3. Controle concentrado ou principal. Características. Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Legitimidade e pertinência temática. Efeitos temporais e
modulação. Obs.: No desenvolvimento da dissertação, o candidato deverá levar em
consideração rigorosamente os itens e subitens, de acordo com a ordem proposta.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O controle de constitucionalidade é um dos temas mais importantes do direito


constitucional. Pode ser conceituado, basicamente, como a possibilidade de declaração
de invalidade de leis, tendo como parâmetro a Constituição.

Sua origem remonta ao caso Marbury vs Madison, onde a Suprema Corte


Americana declarou que um conflito entre uma norma ordinária e uma norma
constitucional seria resolvido com a prevalência desta última, tendo em vista a sua
superioridade normativa. Sua importância decorre do óbvio parâmetro que se
estabelece para avaliar a validade das normas editadas no ordenamento jurídico
pátrio.

Há classicamente duas modalidades de controle: o incidental e o concentrado.


O controle incidental (ou difuso) é exercido por todos os órgãos julgadores, sem a
necessidade de deslocamento de competência caso a questão da inconstitucionalidade
da norma seja suscitada no processo. Em geral, seu efeito é inter partes: ou seja, só é
aplicável àquele caso sob exame pelo juízo. No Brasil, o art. 97 da CRFB prevê a
aplicação da chamada reserva de Plenário: quando um órgão colegiado é chamado a
analisar a validade de uma norma, a sua inconstitucionalidade deve ser declarada por
maioria absoluta de seus membros.

Já o controle concentrado (ou principal) baseia-se na indicação de um órgão


julgador específico para a análise da constitucionalidade das leis, em geral um órgão
de cúpula. Seus efeitos, em geral, são erga omnes, se espraiando por todo o
ordenamento, a fim de conferir segurança jurídica à aplicação das leis.

No Brasil, seu principal instrumento é a ação direta de inconstitucionalidade, de


competência do STF. Sua legitimidade é restrita às autoridades ou instituições previstas
no art. 103 da CRFB, sendo que alguns deles, como os Governadores de Estado ou as
confederações sindicais, devem comprovar a pertinência da norma impugnada com
seus interesses institucionais (no primeiro caso, uma lei que impacte no ordenamento
ou nas finanças daquele Estado e, no segundo caso, uma lei que tenha sido editada
acerca do âmbito de atuação daquela entidade).

Finalmente, por a inconstitucionalidade ser um vício que afeta a norma em seu


plano de validade, ela acaba fulminando-a desde seu nascedouro. Contudo, em alguns
casos isso acaba gerando situações injustas, uma vez que a lei foi aplicada na prática.

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Assim, a legislação autoriza que o Supremo Tribunal Federal module esses efeitos,
sendo resguardada a segurança jurídica (art. 27 da Lei 9.868/99).

PROCURADOR – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/GO – 2019 – IADES

Leia, com atenção, as informações a seguir. Analise o caso de um cidadão que interpôs
ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) perante o Supremo Tribunal
Federal (STF), para discutir a inconstitucionalidade de determinada lei pré-
constitucional em face da Constituição de 1998. Na ação, foi formulado um pedido
para que, se não conhecida a ADPF, ela fosse recebida como ação direta de
inconstitucionalidade (ADI). O estado de Goiás e a Assembleia Legislativa de Goiás
foram intimados para se manifestarem. Com base nessas informações, redija um texto
dissertativo e (ou) descritivo respondendo ao questionamento “é correto afirmar que a
ADPF será julgada procedente?”. Aborde necessariamente, os tópicos a seguir: a)
Quem são os legitimados para ajuizar a ADPF? b) O que é o princípio da
subsidiariedade? c) Seria admitido, no caso narrado, o recebimento da ADPF como
ADI? d) No procedimento da ADPF, o relator poderia indeferir a inicial liminarmente, e
tal decisão é recorrível?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

1. A ADPF tem previsão no art. 102, § 1o da CF;

2. Os legitimados para ação direita são os mesmo da ADPF - Podem propor arguição de
descumprimento de preceito fundamental: I - os legitimados para a ação direta de
inconstitucionalidade (art. 2o, da Lei no 9.882/1999);

3. Os legitimados para ADI estão na Constituição Federal (CF), art. 103 e seus incisos;

4. O princípio da subsidiariedade significa que não cabe ADPF quando houver outro
meio eficaz para sanar a lesividade, por exemplo, quando couber ADI, ADC etc. Não
será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver
qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade (art. 4o, § 1o, da Lei no 9.882/1999);

5. À ADPF cabe direito pré-constitucional. Caberá também arguição de


descumprimento de preceito fundamental: I - quando for relevante o fundamento da
controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal,
incluídos os anteriores à Constituição (art. 1o, parágrafo único da Lei no 9.882/1999);

6. Não caberia o recebimento, porque não cabe ADI de lei pré-constitucional, nem o
legitimado está correto;

7. O STF não admite a fungibilidade da ADPF pela ADI quando se tratar de erro
grosseiro;

8. O relator pode indeferir liminarmente, pois o cidadão não é legitimado para o


ajuizamento da ADPF. A petição inicial será indeferida liminarmente pelo relator,

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quando não for o caso de arguição de descumprimento de preceito fundamental, faltar


algum dos requisitos prescritos nessa lei ou for inepta (art. 4o da Lei no 9.882/1999);

9. Liminar é no início do processo, sem ouvir as partes; e

10. Cabe recurso de agravo em cinco dias – art. 4, § 2o, da Lei no 9.882/1999.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PR- 2017 – BANCA PRÓPRIA

Conceitue o estado de coisas inconstitucional, identificando os requisitos para sua


configuração e eventual crítica a respeito do instituto.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Inspirado nas medidas estruturantes do Direito norte americano, o estado de


coisas inconstitucional é instituto desenvolvido na Suprema Corte da Colômbia, e sua
configuração demanda os seguintes requisitos: a) violação massiva e generalizada de
direitos fundamentais de número significativo de pessoas; b) prolongada omissão das
autoridades na adoção de providências natureza legislativas, administrativas ou
judiciais para implementação desses direitos; c) a causa dessa violação não seja
imputada a autoridade identificável, mas sim a causas estruturais; d) a existência de
problema social grave cuja solução demande providências de mais de uma instituição;
e) a violação não se situa apenas no plano normativo (não se trata de
inconstitucionalidade por omissão), mas sim em patamar fático; f) risco de colapso do
Judiciário em razão da multiplicação de demandas individuais.

O reconhecimento do estado de coisas inconstitucional, pela Suprema Corte,


estabelece diálogos institucionais, pois sua superação demanda atuação coordenada
de mais de um órgão.

Críticas são dirigidas ao instituto, pois pode ensejar ativismo judicial exagerado,
com déficit democrático e falta de legitimação, notadamente diante da imprecisão de
seus requisitos, o que conduz a possível falta de eficácia do instituto.

Ademais, no Brasil, o enfrentamento desse tipo de demanda tem sido feito em


sede de ações coletivas, então o STF deve empregar a técnica de maneira dosada.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCRS – 2018 – FUNDATEC

O Estado de Coisas Inconstitucional (ECI) é uma técnica decisória que visa enfrentar
situações de violações graves e sistemáticas dos direitos fundamentais cujas causas
sejam de natureza estrutural, isto é, decorram de falhas estruturais em políticas
públicas adotadas pelo Estado, exigindo uma atuação conjunta de diversas entidades
estatais. Sendo assim, responda: a) qual a origem do ECI?; b) qual a sua importância?;
e c) discorra sobre o emblemático caso em que o Direito Brasileiro adotou o ECI.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A ideia em torno do chamado Estado de Coisas Inconstitucional tem origem,


conforme aponta a doutrina, em decisões proferidas pela Corte Constitucional da
Colômbia, tendo por objeto o enfrentamento de casos em que se constataram
sistemáticas, contínuas e generalizadas violações a direitos fundamentais.

De forma pioneira, o reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional teria


ocorrido em 1997, quando a referida Corte deliberou acerca dos direitos
previdenciários de professores, cujo desrespeito teria alcançado níveis altíssimos por
parte do poder público, sendo repetidamente inobservados, o que motivou a
determinação judicial de que tal quadro de inconstitucionalidade fosse superado
(Sentencia de Unificación – SU 559, 06/11/1997).

A postura judiciária frente a casos em que se verifica o Estado de Coisas


Inconstitucional escora-se no denominado “Ativismo Judicial”, por meio do qual o
Poder Judiciário acaba determinando a adoção de providências que, tradicionalmente,
comporiam o campo discricionário e político dos demais Poderes. Isso gera, inclusive,
reflexos orçamentários, uma vez que a concretização de diversos direitos, notadamente
os de natureza social, pressupõe o destaque e a vinculação de verbas públicas
específicas.

Trata-se de movimento objeto de críticas, principalmente sob o enfoque da


divisão de poderes, pelos fundamentos acima referidos, mas que, por outro lado,
recebe elogios, suscitando-se que o Poder Judiciário, reconhecendo a força normativa
da Constituição, não poderia quedar-se inerte frente às - por vezes, deliberadas -
violações a direitos fundamentais, mormente quando dotadas de caráter sistemático,
permanente e generalizado.

No Brasil considera-se emblemático o caso em que se reconheceu o Estado de


Coisas Inconstitucional frente ao sistema carcerário nacional, em que, como é notório,
percebem-se permanentes e graves violações a direitos fundamentais, principalmente
no que tange às condições mínimas de saúde, higiene, e referente à superlotação.

Por ocasião do julgamento de medidas cautelares pugnadas na ADPF nº


347/DF, o STF identificou a configuração do Estado de Coisas Inconstitucional no
sistema prisional brasileiro, frente às severas e contínuas violações a direitos
fundamentais dos detentos, asseverando que as penas acabam sendo cumpridas em
descompasso com as disposições constitucionais, que, no Brasil, vedam as de caráter
cruel (art. 5º, XLVII, da CRFB). Consequentemente, o STF aduziu que seriam imperiosas
medidas de cunho legal, administrativo e orçamentário a fim de solucionar a crise
estrutural instalada no sistema carcerário, sob pena de perpetuar e agravar a situação
constitucionalmente inadmissível.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

ITEM 1 - Língua Portuguesa: Formalidade de introdução, desenvolvimento e conclusão;


clareza de argumentação; utilização da norma culta padrão (nota máxima 0,5). ITEM 2

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- Pois bem, o Estado de Coisas Inconstitucional tem origem nas decisões da Corte
Constitucional Colombiana (CCC) diante da constatação de violações generalizadas,
contínuas e sistemáticas de direitos fundamentais. Tem por finalidade a construção de
soluções estruturais voltadas à superação desse lamentável quadro de violação
massiva de direitos das populações vulneráveis em face das omissões do poder
público. A primeira decisão da Corte Constitucional Colombiana que reconheceu o ECI
foi proferida em 1997 (Sentencia de Unificación - SU 559, de 6/11/1997), numa
demanda promovida por diversos professores que tiveram seus direitos
previdenciários sistematicamente violados pelas autoridades públicas. Ao declarar,
diante da grave situação, o Estado de Coisas Inconstitucional, a Corte Colombiana
determinou às autoridades envolvidas a superação do quadro de
inconstitucionalidades em prazo razoável. É inegável que o reconhecimento do Estado
de Coisas Inconstitucional pressupõe uma atuação ativista do Tribunal (uma espécie de
Ativismo Judicial Estrutural), na medida em que as decisões judiciais vão
induvidosamente interferir nas funções executivas e legislativas, com repercussões,
sobretudo, orçamentárias (nota máxima 1,0). ITEM 3 – Sim. Na sessão plenária de 09
de setembro de 2015, o Supremo Tribunal Federal, ao deferir parcialmente o pedido
de medidas cautelares formulado na ADPF nº 347/DF, proposta em face da crise do
sistema carcerário brasileiro, reconheceu expressamente a existência do Estado de
Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro, ante as graves,
generalizadas e sistemáticas violações de direitos fundamentais da população
carcerária. Como é do conhecimento de todos, o sistema prisional brasileiro vive uma
grande crise. São observados inúmeros problemas, como a superlotação e a falta de
condições mínimas de saúde e de higiene. O STF, assim reconheceu que o sistema
penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional", com uma violação
generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade
aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas. A ausência de
medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma
verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da
perpetuação e do agravamento da situação. Nesse sentido: STF. Plenário. ADPF 347
MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798) (nota máxima 0,5).

ANALISTA JUDICIÁRIO - STF - CESPE - 2013

Redija um texto dissertativo a respeito dos possíveis momentos de realização do


controle de constitucionalidade pelo Poder Judiciário. Em seu texto, aborde,
necessariamente, os seguintes aspectos: 1- diferença entre o controle repressivo e o
controle preventivo de constitucionalidade; [valor: 8,00 pontos] 2- posicionamento do
STF quanto à possibilidade de utilização da via do mandado de segurança para a
realização de controle de constitucionalidade repressivo e preventivo; [valor: 10,50
pontos] 3- posicionamento do STF quanto à possibilidade de realização de controle
jurisdicional de constitucionalidade preventivo de projeto de lei por alegação de
inconstitucionalidade material. [valor: 10,0 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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Em síntese, pode-se dizer que o controle de constitucionalidade compreende um


mecanismo de proteção à ordem constitucional e de correção de atos e normas que
possam divergir materialmente da Lei Maior, ou que não tenham, durante o processo
de elaboração, respeitado as formalidades exigidas. Nesse sentido, o controle pode
adquirir feição preventiva ou repressiva, a depender do momento de sua aplicação.

Esse instituto jurídico possibilita ao Poder Judiciário zelar pela fiel observância
da Constituição Federal, ao permitir que se extirpe do ordenamento e do mundo fático
atos e normas que possam violar os preceitos magnos, bem como prevenindo que tais
normas anômalas venham a viger no ordenamento jurídico. Quanto ao momento em
que se realiza, o controle de constitucionalidade pode se dar nas seguintes formas:
preventiva ou repressiva, isto é, se ocorre antes ou depois que a norma, objeto de
análise, tenha entrado no ordenamento jurídico.

O controle de constitucionalidade preventivo (ou prévio) é aquele realizado


durante o processo legislativo, ou seja, inicia-se na própria elaboração do projeto de lei
e ocorre antes que o ato normativo ingresse no ordenamento jurídico. O objetivo do
controle preventivo é justamente evitar que um ato normativo atentatório à Lei Maior
ingresse no mundo jurídico e venha a produzir efeitos. Realizável pelos três poderes, o
controle preventivo é predominantemente verificado no âmbito da função legiferante
(executado pelas suas Comissões); no âmbito do Poder Executivo (o instrumento é o
veto jurídico); e, excepcionalmente, o Poder Judiciário realiza essa modalidade de
controle.

Já o controle de constitucionalidade repressivo (ou posterior) é aquele exercido


depois que a lei é promulgada e já está vigente. Tal controle, realizado via de regra
pelo Poder Judiciário, destina-se a verificar se a lei, durante a sua elaboração, observou
todo o trâmite processual constitucionalmente prescrito ou se é materialmente
compatível com a Lei Maior, isto é, se o seu conteúdo está adequado aos imperativos
constitucionais. Encontra-se na via de exceção ou por ação.

Uma questão peculiar diz respeito ao controle de constitucionalidade preventivo


realizado pelo Poder Judiciário, que se verifica apenas excepcionalmente. De acordo
com a jurisprudência consolidada do STF, é possível a utilização de mandado de
segurança com o fito de questionar a constitucionalidade formal de projeto de lei, dada
a inobservância do processo legislativo. De acordo com o STF, os parlamentares
possuem direito subjetivo (líquido e certo) à observância do processo legislativo hígido,
ou seja, conforme à Constituição, na formulação das leis e/ou atos normativos.

Desse modo, são eles os únicos legitimados a impetrar o mandamus com tal
finalidade, visto que não se pode configurar o controle de constitucionalidade abstrato
de projeto de lei, o que não é reconhecido em nosso ordenamento jurídico, mesmo que
terceiros aleguem sua condição de destinatários da lei.

Por outro lado, ainda de acordo com a jurisprudência dominante do STF, não se
faz possível a utilização do remédio constitucional supramencionado para questionar
preventivamente projeto de lei sob a alegação de inconstitucionalidade material, ainda

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que se verificasse afronta clara e direta à Constituição da República, denominada de


inconstitucionalidade chapada ou flagrante.

Segundo o STF, é inadmissível o controle preventivo da constitucionalidade


material das normas em curso de formação. Até porque, seria antecipar um juízo de
controle, abstratamente, engessando a atividade legiferante e pondo em risco a
natural discussão e embate de ideias que devem nortear a produção e o
aperfeiçoamento das normas.

Nesse mesmo sentido, no tocante à intervenção jurisdicional para realizar


controle de constitucionalidade preventivo de projeto de lei, sob a alegação de
inconstitucionalidade material, entende o STF que isso não se afigura possível,
tampouco aceitável no atual ordenamento jurídico. A prematura intervenção do
Judiciário em domínio jurídico e político de formação dos atos normativos em curso no
Parlamento, além de universalizar um sistema de controle preventivo não admitido
pela Constituição, subtrairia dos outros Poderes da República, sem justificação
plausível, a prerrogativa constitucional que possuem de debater e aperfeiçoar os
projetos, inclusive para sanar seus eventuais vícios de inconstitucionalidade.

Quanto mais evidente e grotesca possa ser a inconstitucionalidade material de


projetos de leis, menos ainda se deverá duvidar do exercício responsável do papel do
Legislativo de negar-lhe aprovação, e do Executivo de apor-lhe veto, se for o caso.
Partir da suposição contrária significaria menosprezar a seriedade e o senso de
responsabilidade desses dois Poderes do Estado. E se, eventualmente, um projeto assim
se transformar em lei, sempre haverá a possibilidade de provocar o controle repressivo
pelo Judiciário, para negar-lhe validade, retirando-a do ordenamento jurídico.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2013 – UEG

A violação de normas constitucionais pelo poder público pode ocorrer por omissão. A
Constituição Federal prevê instrumentos para garantir a própria supremacia, na
ocorrência desses casos. Esses instrumentos, apesar de aparentemente semelhantes,
possuem características distintas. A partir de uma análise comparativa desses
instrumentos, apresente-os, identificando as diferenças entre eles quanto ao objeto, à
legitimidade de partes e aos efeitos da decisão.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O descumprimento das normas constitucionais pelo poder público pode se dar


por omissão. Com isso, para assegurar a supremacia constitucional, o art. 5º, LXXI, da
CRFB previu a concessão de mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Trata-se de um instrumento de defesa de direitos subjetivos em face de omissão


do poder regulatório, na qualidade de controle difuso-concreto de constitucionalidade.
Para além desse instrumento, a CRFB instituiu, no art. 103, § 2°, um sistema de

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controle abstrato da omissão do ente legiferante, que ocorre por meio da Ação Direta
de Inconstitucionalidade por omissão.

Tanto o mandado de injunção quanto a ação direta de inconstitucionalidade


por omissão são cabíveis na omissão inconstitucional do Poder Público, que não atua
na conformidade da exigência da norma constitucional, cuja aplicabilidade depende da
vontade integradora de seus comandos.

No que diz respeito ao objeto, o mandado de injunção quer dar concretude ao


direito abstrato previsto na norma constitucional, enquanto a ação direta de
inconstitucionalidade por omissão visa dar ciência ao poder competente de sua inércia
para que tome as providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo,
que as faça em trinta dias.

Acerca da legitimidade ativa, o mandado de injunção pode ser impetrado por


qualquer pessoa física ou jurídica, titular de direito constitucionalmente assegurado
que tenha o seu exercício impedido por ausência de norma regulamentadora.

O mandado de injunção coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de classe ou
associação constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados, aplicando-se por analogia o disposto no art.
5°, LXX, da CRFB.

Enquanto a legitimidade ativa no mandado de injunção é aberta, a legitimidade


ativa para propor Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão é fechada e está
indicada no art. 103 da CRFB. Em relação aos efeitos da decisão no mandado de
injunção, há duas posições: a concretista e a não concretista.

A posição não concretista é a menos eficaz, pois apenas reconhece formalmente


a omissão, não garantindo a efetividade da norma. A posição concretista apresenta um
maior grau de efetividade da norma e divide-se em direta e intermediária. O efeito
concreto direto ocorre quando a decisão é aplicável apenas para o autor.

Já o efeito concreto intermediário ocorre quando o Judiciário fixa um prazo para


que o Legislativo elabore a norma que supra a omissão. Se o prazo não for respeitado,
o autor terá o seu direito assegurado. O STF adotou por muito tempo a posição não
concretista, a mais fraca para suprir as omissões. Mas mudou de entendimento e
passou a adotar a posição concretista.

Em alguns casos, adotou a posição concretista intermediária, ou seja, a fixação


de prazo para que a omissão fosse suprida pelo Legislativo. Como em diversas
situações a omissão permanecia, o STF entendeu por aplicar uma lei já existente até
que o Legislativo elabore a norma competente.

Podem ser citados dois exemplos disso: o direito de greve e a aposentadoria


especial para o servidor público. Enquanto não houver leis que regulamentem essas

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questões, o STF decidiu que as normas aplicáveis para os trabalhadores privados


devem incidir para os servidores.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 - UFG

A Constituição Federal de 1988 ampliou o rol de legitimados para a propositura das


ações de controle concentrado de constitucionalidade. Discorra sobre a natureza do
rol de legitimados perante o STF. Classifique-os conforme a pertinência temática e a
capacidade postulatória. Por fim, responda se o rol de legitimados perante o Tribunal
de Justiça local pode extrapolar ou ficar aquém da estrita simetria com o rol de
legitimados perante o STF.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É taxativo (numerus clausus) o rol de legitimados para a propositura das ações


de controle concentrado perante o STF. São seis os legitimados ditos universais ou
neutros pelo Supremo: Presidente da República, Mesas do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados, Procurador-Geral da República, Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil e partido político com representação no Congresso Nacional.

Os outros três precisam demonstrar que o interesse na representação está


alinhado com sua finalidade institucional. Por isso, são chamados legitimados especiais
ou interessados: Mesa de Assembleia Legislativa estadual ou da Câmara Legislativa
distrital, Governador de Estado ou do Distrito Federal e confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional.

O STF decidiu ainda que só os partidos políticos e as confederações sindicais ou


entidades de classe de âmbito nacional precisam contratar advogados, mediante a
outorga de procuração com poderes específicos para atacar determinada norma, que
também precisa estar expressa no mandato.

As demais autoridades mencionadas no rol do art. 103, incisos I a VII, como,


por exemplo, o Governador de Estado, possuem capacidade processual plena, o que
inclui a capacidade postulatória.

Por fim, o rol de legitimados pela Constituição Estadual para a propositura de


controle concentrado perante o Tribunal de Justiça local pode, sim, extrapolar ou ficar
aquém da estrita simetria com o rol de legitimados perante o STF, pois o que a
Constituição Federal veda é apenas a atribuição da legitimação para agir a um único
órgão (art. 125, § 2º).

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

É taxativo (numerus clausus) o rol de legitimados para a propositura das ações de


controle concentrado perante o STF. São seis os legitimados ditos universais ou
neutros pelo Supremo: Presidente da República, Mesas do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados, Procurador-Geral da República, Conselho Federal da Ordem dos

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Advogados do Brasil e partido político com representação no Congresso Nacional. Os


outros três precisam demonstrar que o interesse na representação está alinhado com
sua finalidade institucional. Por isso, são chamados legitimados especiais ou
interessados: Mesa de Assembleia Legislativa estadual ou da Câmara Legislativa
distrital, Governador de Estado ou do Distrito Federal e confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional. O STF decidiu ainda que só os partidos
políticos e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional
precisam contratar advogados, mediante a outorga de procuração com poderes
específicos para atacar determinada norma, que também precisa estar expressa no
mandato. As demais autoridades mencionadas no rol do art. 103, incisos I a VII, como,
por exemplo, o Governador de Estado, possuem capacidade processual plena, o que
inclui a capacidade postulatória. Por fim, o rol de legitimados pela Constituição
Estadual para a propositura de controle concentrado perante o Tribunal de Justiça
local pode, sim, extrapolar ou ficar aquém da estrita simetria com o rol de legitimados
perante o STF, pois o que a Constituição Federal veda é apenas a atribuição da
legitimação para agir a um único órgão (art. 125, § 2º).

MAGISTRATURA – TJDFT – 2014 - CESPE

Em relação ao tema do controle de constitucionalidade, responda justificadamente aos


seguintes quesitos: a- A quem compete julgar Ação Declaratória de
Inconstitucionalidade contra lei do Distrito Federal que viola a Constituição Federal?;
b- Qual a natureza jurídica do amicus curiae?; c- Qual a distinção entre o instituto da
interpretação conforme a Constituição e ação declaratória de inconstitucionalidade
sem redução de texto?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É importante notar que a competência para o controle concentrado de


constitucionalidade, no que tange a uma lei do Distrito Federal, será determinada pelo
seu conteúdo. Com efeito, sabe-se que aquele ente federativo apresenta competências
legislativas estaduais e municipais, conforme previsto no art. 32, § 1º, da CRFB.

Quando a lei distrital apresentar conteúdo afeto aos Estados, a impugnação de


sua constitucionalidade será de competência do STF, em virtude do disposto no art.
102, I, a, da CRFB. Por outro lado, quando a lei distrital apresentar conteúdo municipal,
sua constitucionalidade deverá ser questionada no Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios (TJDFT), vez que assim dispõe o art. 125, § 2º, da CRFB. Aliás, esse
entendimento encontra-se consagrado na Súmula 642, do STF.

O amicus curiae é uma figura processual importada do direito estrangeiro.


Inserida pela primeira vez em nosso ordenamento pela Lei nº 9.868/99, (o art. 7º, § 2º,
permite a manifestação de outros órgãos ou entidades). Com efeito, o amicus curiae
representa uma entidade estranha ao processo originário, mas que apresenta interesse
em seu desfecho ou notória especialização sobre o tema em debate.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Sua natureza jurídica sempre foi objeto de debate, pois não se encaixa
propriamente em nenhuma das definições clássicas. Não se trata de uma parte do
processo, vez que não dispõe de todos os ônus e benefícios que lhe usualmente
pertence. Por outro lado, há quem defenda que se trata de uma intervenção de
terceiros sui generis, o que parece ter sido acolhido pelo Novo Código de Processo Civil,
consoante a topografia de seu art. 138.

Por fim, a interpretação conforme a Constituição é uma técnica de


hermenêutica que permite ao julgador excluir determinadas hipóteses de
interpretação, que levariam à aplicação inconstitucional da norma. Por sua vez, a
declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto é verdadeira hipótese de
controle de constitucionalidade, pelo qual uma hipótese de aplicação é expressamente
rechaçada, sem qualquer alteração formal no texto da norma.

PROCURADOR DO ESTADO - PGE/SP - 2012 - FCC

Projeto de lei estadual de rigem parlamentar que criou um programa social, no Âmbito
da Administração Estadual, não foi vetado pelo anterior Governador do Estado e assim
se converteu em lei. Com base nessa premissa, responda de forma fundamentada: a.
Essa lei é constitucional? b. Pode o atual Governador do Estado propor Ação Direta de
Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal ou ha impedimento, nos
termos da Sumula 5 do Supremo Tribunal Federal? Obs.: A Súmula nº 5 do Supremo
Tribunal Federal assim está editada: "A sanção do projeto supra a falta de iniciativa do
Poder Executivo.”.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em regra, o Chefe do Poder Executivo Estadual apresenta legitimidade ampla


para ajuizar a ação direta de inconstitucionalidade, em virtude do disposto no art. 103,
V, da CRFB. Contudo, a doutrina e a jurisprudência já entendem, de longa data,
restringindo a sua legitimidade aos atos de seu Estado. Caso deseje impugnar um ato
de outro Ente, o Governador do Estado deverá apresentar razões que justifiquem seu
interesse. Se por um lado não há uma exigência de pertinência temática tão grande
quanto no caso das entidades de classe, por outro também não se tutela a impugnação
a atos normativos que não apresentam nenhum gravame para aquele Estado
específico.

Por outro lado, existia ainda entendimento de que atos com vício de iniciativa,
mas posteriormente sancionados, não poderiam ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade que alegasse o vício formal. O entendimento era tão sólido que
chegou a ser consolidado na mencionada Súmula nº 5 do STF.Não é despiciendo
lembrar que o processo legislativo é um conjunto de atos de autoridades destinadas a
produzir um ato normativo dotado, em regra, de generalidade e abstração, as leis.
Como expressão mais conhecida da soberania popular, as leis são elaboradas com base
no ideal democrático de participação, em harmonia com a independência que deve
nortear a relação entre os três poderes da República.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Assim, os arts. 61 e seguintes da CRFB determinam as etapas do processo


legislativo: a iniciativa, discussão, deliberação, sanção, promulgação e publicação. A
iniciativa de leis de interesse direto do Poder Executivo é privativa deste Poder (art. 61,
§1º, da CRFB), exatamente para preservar sua independência, garantindo a perfeita
atuação do sistema de freios e contrapesos, evitando que o Poder Legislativo abuse de
seu direito constitucionalmente legítimo em desfavor da Administração Pública.

Porém, mesmo diante de uma lei cuja iniciativa é privativa do Executivo, o Chefe
deste Poder ainda apresenta outro momento para frear sua inserção no mundo
jurídico: a sanção, prevista no art. 66, §1º, da CRFB, que prevê a possibilidade de veto
por razões jurídicas, dentre elas, logicamente, o vício de iniciativa. Dispondo de meios
para tentar obstar a produção de efeitos do ato normativo, entendia-se que a sanção
do projeto importava em aquiescência com seu conteúdo e a derrogação do vício
formal e, consequentemente, importando em abuso de direito e benefício em virtude
de sua própria torpeza o manejo da ação direta de inconstitucionalidade para arguir
esse mesmo vício. No entanto, houve uma guinada expressiva neste entendimento.

Atualmente, casos como a lei que cria de programa que interfira diretamente
na Administração Estadual, considerados como de iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo, podem ser arguidos pelo próprio a qualquer tempo, sem configurar
abuso de direito ou aquiescência.

Em primeiro lugar, entende-se que o vício de iniciativa não pode ser suprido
pela sanção, por estar ínsito na formação do ato, por existir desde o começo. Assim, a
sanção do projeto ou seu veto pelo Governador é irrelevante para que a nulidade do
ato seja arguida, notadamente pela necessidade de defesa da Constituição. Em
segundo lugar, o manejo da ação direta de inconstitucionalidade não é do Estado da
Federação, mas do próprio Governador, como figura política. Dessa maneira,
considera-se que sua propositura é um ato de disposição política, e não jurídica,
ficando a seu critério até mesmo impugnar ato por ele elabora, uma vez que seu juízo
de conveniência política pode assim requerer que o faça, especialmente por conta de
mudanças nas circunstâncias governamentais.

Assim, a fim de impugnar a lei mencionada no enunciado da questão, que é


inconstitucional por vício de iniciativa (art. 61, § 1º, II, alíneas “a”, “b” e “e”), é possível
que o Governador proponha ação direta de inconstitucionalidade, já que resta
superado o entendimento outrora consagrado na Súmula nº 5 do STF.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a


inconstitucionalidade da Lei 6.841/1996 do Estado de Mato Grosso. A norma
impugnada, de iniciativa parlamentar, dispõe sobre a indenização por morte e
invalidez permanente dos servidores públicos militares do referido Estado-membro.
Segundo alegado, a norma em comento ofenderia os artigos 2º; 61, § 1º, II, c e f; 63, II;
e 84, III, todos da CF, a ensejar sua inconstitucionalidade formal, porquanto se trataria
de matéria relativa a regime jurídico dos servidores militares, a implicar acréscimo de
despesa pública. O Colegiado, de início, afastou a preliminar de decadência da ação

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

direta, aplicável, no caso, o Verbete 360 da Súmula do STF (“Não há prazo de


decadência para a representação de inconstitucionalidade prevista no art. 8º,
parágrafo único, da Constituição Federal”). Também rejeitou argumento segundo o
qual teria havido a convalidação do ato impugnado em razão da sanção do
governador, haja vista o vício formal de iniciativa. Quanto ao mérito, a Corte destacou
que a locução “regime jurídico” abrangeria, entre outras regras, aquelas relativas aos
direitos e às vantagens de ordem pecuniária dos servidores públicos. Ademais, a lei
teria criado indenização a ser paga pelo Executivo. ADI 3920/MT, rel. Min. Marco
Aurélio, 5.2.2015. (ADI-3920)

Por ofensa à iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo para a propositura de leis
sobre o regime jurídico dos servidores públicos (CF, art. 61, § 1º II, c), o Tribunal,
julgando procedente a ação direta ajuizada pelo Governador do Estado do Rio de
Janeiro, declarou a inconstitucionalidade da Lei 1.786/91, do mesmo Estado, de
origem parlamentar ("Art.1º - Os servidores aposentados, por exceção, em razão de
exercício de atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas serão
considerados, para efeito de cálculo dos triênios incorporados aos seus proventos,
como se em atividade estivessem até o necessário para integralizar o percentual
máximo atribuível aos servidores em atividade. Parágrafo único - As disposições desta
lei são estendidas aos professores excetuados na aposentadoria por norma
constitucional, bem como a outras categorias funcionais em idêntica situação,
definidas em outras leis."). O Tribunal considerou ainda que a sanção tácita da lei não
supre o vício formal por falta de iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Precedentes
citados: Rp 890-GB (RTJ 69/625); ADInMC 1.070-MS (DJU de 15.995); ADInMC 1.963-PR
(DJU de 7.5.99). ADIn 700-RJ, rel. Min. Maurício Corrêa, 23.5.2001.(ADI-700)

PROCURADOR DO ESTADO - PGE/BA - 2014 - CESPE

De acordo com a jurisprudência do STF relativa ao processamento de ADIs federal e


estadual em face de uma mesma lei estadual e considerando que o parâmetro de
controle estadual seja de observância obrigatória, pelo princípio da simetria, analise,
de forma fundamentada, os seguintes aspectos: 1- possibilidade de processamento
simultâneo das ADIs federal e estadual em face da mesma norma estadual; [valor:
11,00 pontos] 2- possibilidade de processamento de ADI estadual superveniente,
impugnando a constitucionalidade da norma estadual, caso esta venha a ser declarada
inconstitucional pelo STF, ao julgar procedente ADI federal em decisão transitada em
julgado. [valor: 8,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, nos termos da jurisprudência do STF, verifica-se a


impossibilidade de processamento simultâneo das duas ADIs. Trata-se da situação
denomina simultaneus processus, na qual deverá ser suspenso o processamento da ADI
estadual até a conclusão do julgamento da ADI ajuizada perante o STF, já que a
decisão desse influenciará na persistência ou não da ADI local.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Em outras palavras, o ajuizamento simultâneo das ADIs é possível, mas seu


processamento simultâneo e consequente julgamento não, já que a ADI estadual
deverá ser suspensa até o julgamento final da ADI federal. Não se mostra, portanto,
possível que se continue o processamento da ADI estadual (com a colhida de
informações, pareceres, solicitações adicionais, relatório e voto), tendo em vista que
ela poderá perder seu objeto, a depender do desfecho da ADI em trâmite perante o
STF. Assim, suspende-se o trâmite/processamento da ADI estadual para se aguardar o
desfecho da federal.

Logo, é uma causa de suspensão prejudicial do processo de controle


concentrado de constitucionalidade, nos termos da jurisprudência do STF. Tal
conclusão só será atingida ao se considerar que o parâmetro de controle invocado
perante a Constituição Estadual é de reprodução obrigatória.

Em relação ao item 2, verifica-se a impossibilidade de processamento da ADI


estadual superveniente. Isso porque, uma vez tendo a norma sido declarada
inconstitucional pelo STF, em julgamento de ADI com trânsito em julgado, tal diploma
normativo restou extirpado do ordenamento jurídico. Dessa forma, não subsistirá
norma apta a ser apreciada em julgamento de ADI estadual superveniente. Nesses
casos, a ADI estadual não deverá ser proposta e, caso o seja, será considerada
prejudicada, por perda de objeto.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de liminar. Lei nº 9.332, de 27 de


dezembro de 1995, do Estado de São Paulo. - Rejeição das preliminares de
litispendência e de continência, porquanto, quando tramitam paralelamente duas
ações diretas de inconstitucionalidade, uma no Tribunal de Justiça local e outra no
Supremo Tribunal Federal, contra a mesma lei estadual impugnada em face de
princípios constitucionais estaduais que são reprodução de princípios da Constituição
Federal, suspende-se o curso da ação direta proposta perante o Tribunal estadual até o
julgamento final da ação direta proposta perante o Supremo Tribunal Federal,
conforme sustentou o relator da presente ação direta de inconstitucionalidade em voto
que proferiu, em pedido de vista, na Reclamação 425. - Ocorrência, no caso, de
relevância da fundamentação jurídica do autor, bem como de conveniência da
concessão da cautelar. Suspenso o curso da ação direta de inconstitucionalidade nº
31.819 proposta perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, defere-se o
pedido de liminar para suspender, ex nunc e até decisão final, a eficácia da Lei nº
9.332, de 27 de dezembro de 1995, do Estado de São Paulo. (ADI 1.423-MC/SP, Rel.
Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJU de 22/11/96

AJUIZAMENTO DE AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE TANTO PERANTE O


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (CF, ART. 102, I, “A”) QUANTO PERANTE TRIBUNAL DE
JUSTIÇA LOCAL (CF, ART. 125, § 2º). PROCESSOS DE FISCALIZAÇÃO CONCENTRADA NOS
QUAIS SE IMPUGNA O MESMO DIPLOMA NORMATIVO EMANADO DE ESTADO-
MEMBRO, NÃO OBSTANTE CONTESTADO, PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA, EM FACE
DE PRINCÍPIOS, QUE, INSCRITOS NA CARTA POLÍTICA LOCAL, REVELAM-SE

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

IMPREGNADOS DE PREDOMINANTE COEFICIENTE DE FEDERALIDADE (RTJ 147/404 –


RTJ 152/371-373). OCORRÊNCIA DE ‘SIMULTANEUS PROCESSUS’. HIPÓTESE DE
SUSPENSÃO PREJUDICIAL DO PROCESSO DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO
INSTAURADO PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. NECESSIDADE DE SE
AGUARDAR, EM TAL CASO, A CONCLUSÃO, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DO
JULGAMENTO DA AÇÃO DIRETA. DOUTRINA. PRECEDENTES (STF).” (ADI 4138, Rel. Min.
Celso de Mello, DJe 16.12.2009

Coexistência de jurisdições constitucionais estaduais e federal. Propositura simultânea


de ação direta de inconstitucionalidade contra lei estadual perante o STF e o Tribunal
de Justiça. Suspensão do processo no âmbito da Justiça estadual, até a deliberação
definitiva desta Corte. Precedentes. Declaração de inconstitucionalidade, por esta
Corte, de artigos da lei estadual. Arguição pertinente à mesma norma requerida
perante a Corte estadual. Perda de objeto”. (Pet 2.701-AgR, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar
Mendes, Plenário, DJ de 19.03.2004

ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - 2016 - CESPE

Determinado estado da Federação editou lei que torna o exercício da acupuntura uma
exclusividade dos médicos. Dada a existência de relevante controvérsia doutrinária
sobre a aplicação dessa lei, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ajuizou no Supremo
Tribunal Federal (STF) ação declaratória de constitucionalidade (ADC) pedindo que o
tribunal declare sua constitucionalidade. Com base na jurisprudência do STF e nas
normas constitucionais, redija um texto dissertativo acerca da viabilidade da ADC
apresentada. Em seu texto, aborde 1 - a finalidade da ADC e a presunção de
constitucionalidade das normas; [valor: 2,00 pontos] 2 - a legitimidade do CFM para
ajuizar ADC; [valor: 2,50 pontos] 3 - o objeto da ADC; [valor: 2,50 pontos] 4 - a
relevante controvérsia sobre a aplicação da norma objeto da referida ADC como
requisito para sua propositura. [valor: 2,50 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A ação declaratória de constitucionalidade foi regulada pela Lei nº 9.868/99,


tendo como objetivo a declaração de conformidade de uma lei ou ato normativo
federal autônomo (não regulamentar) com a CRFB. Nesse tipo de ação, é feita a análise
em abstrato da norma impugnada, sem avaliar sua aplicação a um caso concreto. A
legitimidade ativa para propor a ação está prevista no art. 103 da CRFB, que é bem
mais amplo do que o rol previsto na Lei nº 9.868/99.

Diversamente da ação direta de inconstitucionalidade, que pode ser manejada


contra lei ou ato normativo estadual e federal, a ação declaratória de
constitucionalidade tem por alvo apenas lei ou ato normativo federal. Acerca do
procedimento, a petição inicial indicará o dispositivo da lei ou do ato normativo
questionado e os fundamentos jurídicos do pedido, o pedido, com suas especificações,
e a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto
da ação declaratória, consoante o art. 14 da Lei nº 9.868/99.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Aduza-se que a controvérsia deve ser jurídica, com decisões judiciais


conflitantes, e não a mera cizânia doutrinária. Afinal, a inexistência de
pronunciamentos judiciais distintos faria com que a ADC se tornasse um instrumento
de consulta sobre a validade constitucional de determinada lei ou ato normativo
federal, o que desconfiguraria a natureza jurisdicional que qualifica a atividade
desenvolvida pelo STF.

No que se refere ao julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a


inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se em um ou em outro
sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros. Ademais, proclamada a
constitucionalidade, julgar-se-á improcedente eventual ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada. Isso ocorre porque a ADC é uma ADI de sinal trocado.

Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista


razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o STF, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou
decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado. Referido procedimento é chamado de modulação dos
efeitos jurídicos.

A doutrina e a jurisprudência apontam que a ADC busca transformar a


presunção relativa de constitucionalidade das normas em presunção absoluta. Apesar
de as normas possuírem uma presunção de constitucionalidade, essa presunção é
apenas relativa, o que pode levar ao constante questionamento de sua
constitucionalidade. Com isso, mostra-se viável o ajuizamento de ADC para confirmar
essa constitucionalidade relativa, transformando-a em absoluta.

Os legitimados para a ADC são os mesmos para propor a ação direta de


inconstitucionalidade: o Presidente da República, os governadores, a Mesa da Câmara
dos Deputados, a Mesa do Senado Federal, a Mesa de Assembleia/Câmara Legislativa;
o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, partido político com representação no Congresso Nacional e confederação
sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Em relação ao CFM, ele não se configura como uma entidade de classe, mas
uma entidade de fiscalização profissional. O rol do art. 103 da CRFB (legitimados para
ADI e ADC) é taxativo, de forma que a única entidade de fiscalização é o Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“O ajuizamento da ação declaratória de constitucionalidade, que faz instaurar


processo objetivo de controle normativo abstrato, supõe a existência de efetiva
controvérsia judicial em torno da legitimidade constitucional de determinada lei ou ato
normativo federal. Sem a observância desse pressuposto de admissibilidade, torna-se
inviável a instauração do processo de fiscalização normativa in abstracto, pois a
inexistência de pronunciamentos judiciais antagônicos culminaria por converter, a
ação declaratória de constitucionalidade, em um inadmissível instrumento de consulta

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

sobre a validade constitucional de determinada lei ou ato normativo federal,


descaracterizando, por completo, a própria natureza jurisdicional que qualifica a
atividade desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal. O Supremo Tribunal Federal
firmou orientação que exige a comprovação liminar, pelo autor da ação declaratória de
constitucionalidade, da ocorrência, 'em proporções relevantes', de dissídio judicial,
cuja existência -- precisamente em função do antagonismo interpretativo que dele
resulta -- faça instaurar, ante a elevada incidência de decisões que consagram teses
conflitantes, verdadeiro estado de insegurança jurídica, capaz de gerar um cenário de
perplexidade social e de provocar grave incerteza quanto à validade constitucional de
determinada lei ou ato normativo federal." (ADC 8-MC, rel. min. Celso de Mello,
julgamento em 13-10-1999, Plenário, DJ de 4-4-2003.) No mesmo sentido: ADC 1, rel.
min. Moreira Alves, julgamento em 1º-12-1993, Plenário, DJ de 16-6-1995.
“Aceita a idéia de que a ação declaratória configura uma ADI com sinal trocado, tendo
ambas caráter dúplice ou ambivalente, afigura-se difícil admitir que a decisão proferida
em sede de ação direta de inconstitucionalidade seria dotada de efeitos ou
conseqüências diversos daqueles reconhecidos para a ação declaratória de
constitucionalidade. Argumenta-se que, ao criar a ação declaratória de
constitucionalidade de lei federal, estabeleceu o constituinte que a decisão definitiva
de mérito nela proferida -- incluída aqui, pois, aquela que, julgando improcedente a
ação, proclamar a inconstitucionalidade da norma questionada -- 'produzirá eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário
e do Poder Executivo' (Art. 102, § 2º da Constituição Federal de 1988). Portanto,
sempre se me afigurou correta a posição de vozes autorizadas do Supremo Tribunal
Federal, como a de Sepúlveda Pertence, segundo a qual, 'quando cabível em tese a
ação declaratória de constitucionalidade, a mesma força vinculante haverá de ser
atribuída à decisão definitiva da ação direta de inconstitucionalidade." (Rcl 2.256, voto
do rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 11-9-2003, DJ de 30-4-2004.)
“LEGITIMIDADE - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONSELHOS -
AUTARQUIAS CORPORATIVISTAS. O rol do artigo 103 da Constituição Federal e
exaustivo quanto a legitimação para a propositura da ação direta de
inconstitucionalidade. Os denominados Conselhos, compreendidos no genero
"autarquia" e tidos como a consubstanciar a espécie corporativista não se enquadram
na previsão constitucional relativa as entidades de classe de âmbito nacional. Da Lei
Basica Federal exsurge a legitimação de Conselho único, ou seja, o Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil. Dai a ilegitimidade "ad causam" do Conselho Federal de
Farmacia e de todos os demais que tenham idêntica personalidade jurídica - de direito
público. (ADI 641 MC, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 11/12/1991, DJ 12-03-1993 PP-03557
EMENT VOL-01695-02 PP-00223)
GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

O candidato deverá abordar os seguintes aspectos: 1- A finalidade da ADC e a


presunção de constitucionalidade das normas - A ADC visa transformar a presunção
relativa de constitucionalidade das normas (juris tantum) em presunção absoluta (jure
et de jure). Apesar de as normas possuírem uma presunção de constitucionalidade,

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

essa presunção é apenas relativa, o que pode levar ao constante questionamento de


sua constitucionalidade. Com isso, mostra-se viável o ajuizamento de ADC para
confirmar essa constitucionalidade relativa, transformando-a em absoluta. Assim, caso
a ADC seja julgada procedente, a constitucionalidade da norma não poderá mais ser
questionada, seja pelos demais órgãos do Poder Judiciário, seja pela administração
pública (art. 102, § 2.º, da CF). 2- A legitimidade do CFM para ajuizar ADC - O CFM, por
não ser entidade de classe, mas uma entidade de fiscalização profissional, não é
legitimado para propor ADC, pois, conforme previsto no art. 103 da CF, o rol dos
legitimados para propor ADC é taxativo e não inclui esse tipo de entidade de
fiscalização. A única exceção, entre os conselhos de classe, é o Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil, em virtude de menção expressa na CF. Assim, não se
mostra viável a ADC apresentada, por ilegitimidade ativa ad causam. Nesse sentido:
ADI 641 MC, relator para Acórdão min. Marco Aurélio, DJ 12/03/1993; ADI 1997,
relator ministro Marco Aurélio, DJ 8/6/1999. 3 O objeto da ADC A ADC, nos termos do
art. 102, I, a, da CF, somente poderá ter por objeto lei ou ato normativo federal, não
sendo possível sua propositura com base em norma estadual. Por mais esse motivo,
não se mostra viável a ADC apresentada, já que norma estadual não pode ser objeto
desse tipo de ação. 4- A relevante controvérsia sobre a aplicação da norma objeto da
ADC como requisito para sua propositura É indispensável que haja controvérsia jurídica
relevante sobre a aplicação da norma para justificar a propositura da ADC, não
bastando a relevante controvérsia doutrinária. Trata-se de requisito indispensável para
o conhecimento da ação, com o fim de justificar eventual insegurança na aplicação da
norma. De acordo com o STF, “a inexistência de pronunciamentos judiciais antagônicos
culminaria por converter a ação declaratória de constitucionalidade em um
inadmissível instrumento de consulta sobre a validade constitucional de determinada
lei ou ato normativo federal, descaracterizando, por completo, a própria natureza
jurisdicional que qualifica a atividade desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal”
(ADC 8, relator ministro Celso de Mello, DJ 4/4/2003). Por tal razão, também não se
mostra viável a ADC apresentada.

PROCURADOR LEGISLATIVO –CAMPINA GRANDE DO SUL/PR – 2014 - FAPIFA

O Controle de Constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro pode ser


exercido por meio do Controle Difuso e por meio do Controle Concentrado de
Constitucionalidade. Por sua vez, o controle de constitucionalidade concentrado pode
ser exercido por meio da Ação de Inconstitucionalidade, da Ação de
Inconstitucionalidade por Omissão, Ação Declaratória de Constitucionalidade e pela
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Desta forma, quando uma lei
ou ato normativo municipal contrariar a Constituição Federal, haverá possibilidade de
controle concentrado por meio da Ação de Inconstitucionalidade junto ao Supremo
Tribunal Federal? E em se tratando de Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental, há possibilidade de interpô-lo junto ao Supremo Tribunal Federal,
quando uma lei ou ato normativo municipal contrariar a Constituição Federal?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

22
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Por falta de expressa previsão constitucional, seja no art. 102, I, a, seja no


artigo 125, §2º, inexistirá controle concentrado por Ação Direta de
Inconstitucionalidade de lei municipal frente à Constituição Federal.

O máximo que pode ser feito é o controle via sistema difuso, podendo a questão
ser levada ao Judiciário, por meio de recurso extraordinário, de forma incidental, ser
apreciada pelo STF e ter sua eficácia suspensa, pelo Senado Federal, nos exatos termos
do artigo 52, X, da CF.

Há, contudo, a possibilidade de ajuizamento da arguição de descumprimento


de preceito fundamental, previsto no artigo 102, §1º da CF, tendo por objeto lei
municipal confrontada perante a Constituição Federal, pois no artigo 1º, parágrafo
único, I, da Lei 9.882/99, lei esta que regulamenta a ADPF, cabe o ajuizamento de ADPF
quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo, federal, estadual, municipal.

MAGISTRATURA FEDERAL – TRF5 – 2015 - CESPE

Disserte sobre o tema controle de constitucionalidade, abordando, necessariamente,


os aspectos a seguir. 1- No que se refere ao controle preventivo de constitucionalidade
de lei federal pelo Judiciário, considere os seguintes pontos: controle concreto ou
abstrato; legitimados ativos e passivos; a(s) hipótese(s) de cabimento; meio(s)
viável(is) para a realização de tal controle; e os efeitos da decisão. 2- Com relação ao
controle abstrato de constitucionalidade de lei municipal, considere os seguintes
pontos: possibilidade e hipóteses de controle; normas-parâmetro; corte(s)
competente(s) para a realização de tal controle em cada hipótese; legitimados à
propositura da ação abstrata em cada hipótese; efeitos da decisão em cada hipótese.
3- Ainda no que tange ao controle abstrato de constitucionalidade de lei municipal,
considere o cabimento ou não de recurso extraordinário em face de acórdão do
tribunal local que declarar a inconstitucionalidade de lei municipal. [valor: 6,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A doutrina aponta que o controle de constitucionalidade pode ser preventivo


(atua antes da promulgação normativa) ou repressivo (atua posteriormente à
promulgação do ato normativo). O controle repressivo é muito associado ao Judiciário
pelo fato de ser uma atividade rotineiramente perpetrada por aludido Poder, havendo
muita divergência acerca da possibilidade de o Tribunal de Contas, com base na antiga
e criticada súmula 347 do STF, poder apreciar a constitucionalidade de normas.

O controle preventivo é feito, por exemplo, pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal, pelo chefe do Executivo Federal (ao vetar um artigo, por exemplo) e,
como aponta a jurisprudência do STF, em viés de extrema excepcionalidade pelo
Judiciário. Assim, de acordo com entendimento do STF, o controle jurisdicional prévio
ou preventivo de constitucionalidade sobre projeto de lei ainda em trâmite somente
pode ocorrer de modo incidental, na via de exceção ou defesa.

23
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Assim, é assente a jurisprudência do STF admitindo a impetração de Mandado


de Segurança por Parlamentar, no exercício do mandato, a fim de tutelar direito líquido
e certo à observância do devido processo legislativo constitucional. O que a
jurisprudência do STF tem admitido, como exceção, é a legitimidade do parlamentar - e
somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a finalidade de
coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional
incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo.

Nessas excepcionais situações, em que o vício de inconstitucionalidade está


diretamente relacionado a aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa, a
impetração de segurança é admissível porque busca corrigir vício já efetivamente
concretizado no próprio curso do processo de formação da norma, antes mesmo e
independentemente de sua final aprovação ou não.

Em relação ao controle abstrato de constitucionalidade de lei municipal, ela


poderá ocorrer pela via de ADI estadual (ou representação de inconstitucionalidade)
perante o TJ pertinente, bem como pela ADPF, mas no STF.

Importante salientar que o controle abstrato de constitucionalidade de normas


municipais terá, como parâmetro, a Constituição Estadual do respectivo Estado e,
como dito, será analisada pelo Tribunal de Justiça. Acerca dos legitimados, é preciso
verificar quem são eles, nos termos do art. 125, §2º, da CRFB, isto é, não pode ser
apenas um órgão legitimado para tal intento. Atinente aos efeitos da decisão, eles
serão erga omnes e ex tunc, mas pode haver modulação além de, obviamente, existir o
caráter de vinculatividade do comando judicial.

A possibilidade de ajuizamento de ADPF junto ao STF guarda previsão no art.


1º, parágrafo único, I, da Lei nº 9.882/99. Os legitimados são os mesmos da ADI e da
ADC, inclusive no que tange aos efeitos (pode haver modulação e a parametrização
envolve a norma constitucional).

Por fim, é viável a interposição de recurso extraordinário da decisão proferida


pelo Tribunal de Justiça quando do exercício do controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais. Porém, deve haver amoldamento às hipóteses
constitucionalmente elencadas. Frise-se que, via de regra, da decisão do Tribunal de
Justiça em controle abstrato de lei estadual ou municipal tendo a Constituição Estadual
como parâmetro não cabe recurso para o STF. Afinal, ele é o intérprete máximo de lei
(federal, estadual ou distrital de natureza estadual) perante a CRFB.

Mas, em cunho excepcional, a norma estadual parâmetro pode ser uma norma
de norma de observância obrigatória ou compulsória pelos Estados-Membros (norma
de reprodução obrigatória). Assim, se a lei estadual municipal macula a Constituição
Estadual, ela pode também, como pano de fundo, macular a própria CRFB. Tendo em
vista que o Tribunal de Justiça é incompetente para analisar referida violação, há a
possiblidade de se interpor o recurso extraordinário para que o STF profira sua análise.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Reclamação com fundamento na preservação da competência do Supremo Tribunal


Federal. Ação direta de inconstitucionalidade proposta perante Tribunal de Justiça na
qual se impugna Lei municipal sob a alegação de ofensa a dispositivos constitucionais
estaduais que reproduzem dispositivos constitucionais federais de observância
obrigatória pelos Estados. Eficácia jurídica desses dispositivos constitucionais
estaduais. Jurisdição constitucional dos Estados-membros. Admissão da propositura da
ação direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local, com
possibilidade de recurso extraordinário se a interpretação da norma constitucional
estadual, que reproduz a norma constitucional federal de observância obrigatória
pelos Estados, contrariar o sentido e o alcance desta” (Rcl 383, Rel. Min. Moreira Alves,
j. 11.06.1992, DJ de 21.05.1993).

PROCURADOR AUTÁRQUICO - UNICAMP - 2018 – VUNESP

Considere a seguinte situação hipotética: A Assembleia Legislativa do Estado X, visando


aumentar a arrecadação do ente federativo, instituiu por lei ordinária um novo
imposto a ser pago por todos os contribuintes de forma mensal. Mélvio, residente no
Estado X, efetuou o pagamento do imposto por 3 (três) meses, mas, por duvidar da
constitucionalidade da lei em questão, ajuizou uma ação declaratória de inexistência
de débito, cumulada com repetição de valores pagos, aduzindo, dentre outros
argumentos e de forma incidental, que a nova lei estadual é inconstitucional.
Distribuída a ação, o juiz da 1a Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital do
Estado X julgou improcedentes os pedidos iniciais por entender que a norma está em
plena consonância com a Constituição Federal. Irresignado com a sentença, Mélvio
interpôs recurso de apelação que foi distribuído à 4a Câmara de Direito Público do
respectivo Tribunal de Justiça do Estado. Ao julgar o recurso, a 4a Câmara do Tribunal
de Justiça acolheu os argumentos da apelação e, embora não tenha declarado
expressamente a inconstitucionalidade da lei, afastou a sua incidência. Considere
ainda que no momento do julgamento a matéria não havia sido analisada pelo órgão
especial ou pleno do Tribunal de Justiça, tampouco pelo Supremo Tribunal Federal. A
partir do caso e das informações apresentadas, responda ao seguinte: a) Discorra
sobre a Cláusula de Reserva de Plenário. b) No caso hipotético indicado, a 4a Câmara
de Direito Público do Tribunal de Justiça violou a Cláusula da Reserva de Plenário?
Justifique.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A cláusula de reserva de plenário é um mecanismo constitucional relativo ao


controle difuso de constitucionalidade brasileiro, insculpida no art. 97 da CRFB, a qual
determina que o julgamento da inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo do
Poder Público, quando realizada por um Tribunal, só será possível pelo voto da maioria
absoluta dos seus membros ou dos membros de seu órgão especial.

A 4ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado X violou a Cláusula da Reserva de


Plenário, pois, no exercício do controle difuso de constitucionalidade, nos termos
apregoados pelo art. 97 da CRFB, o julgamento da inconstitucionalidade de uma lei ou

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

ato normativo do Poder Público, quando realizada por um Tribunal, só será possível
pelo voto da maioria absoluta dos seus membros ou dos membros de seu órgão
especial. No caso hipotético apresentado, muito embora não tenha declarado
expressamente a inconstitucionalidade da norma, o órgão fracionário (4ª Câmara)
afastou a incidência da norma, e, conforme Súmula Vinculante nº 10, viola a cláusula
de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Por derradeiro, não há, no caso, as hipóteses de mitigação da cláusula de


reserva de plenário previstas pela jurisprudência do STF e reafirmada pelo artigo 949,
parágrafo único, do CPC/2015, quais sejam: 1) existência de pronunciamento do
plenário ou órgão especial do próprio Tribunal; ou 2) pronunciamento do plenário do
STF sobre a questão; e, o enunciado afirma expressamente que a matéria não foi
objeto de análise pelo plenário do TJ Estadual, tampouco pelo STF.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

INCONSTITUCIONALIDADE - INCIDENTE - DESLOCAMENTO DO PROCESSO PARA O


ÓRGÃO ESPECIAL OU PARA O PLENO - DESNECESSIDADE. Versando a controvérsia
sobre ato normativo já declarado inconstitucional pelo guardião maior da Carta
Política da Republica - o Supremo Tribunal Federal - descabe o deslocamento previsto
no artigo 97 do referido Diploma maior. O julgamento de plano pelo órgão fracionado
homenageia não só a racionalidade, como também implica interpretação teleológica
do artigo 97 em comento, evitando a burocratização dos atos judiciais no que nefasta
ao princípio da economia e da celeridade. A razão de ser do preceito está na
necessidade de evitar-se que órgãos fracionados apreciem, pela vez primeira, a pecha
de inconstitucionalidade arguida em relação a um certo ato normativo. (AI 168149
AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 26/06/1995, DJ
04-08-1995 PP-22520 EMENT VOL-01794-19 PP-03994)

PROCURADOR DO ESTADO - PGE/RO - 2011 - FCC

Uma câmara do Tribunal de Justiça considerou inconstitucional dispositivo de lei,


afastando a incidência da lei no caso, sem, entretanto, declarar expressamente a sua
inconstitucionalidade. Diga se a Câmara agiu em acordo ou desacordo com a medida.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Prevista no art. 97 da CRFB, a cláusula de reserva do plenário (também


chamada de “fullbench”) menciona que o julgamento da inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo do Poder Público, quando efetuada por tribunal, só será possível pelo
voto da maioria absoluta dos seus membros ou dos membros de seu órgão especial.
Saliente-se que isso não impede que os juízos singulares declarem a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo no controle difuso, bem como não se
aplica às turmas recursais dos juizados especiais, pois turma recursal não é tribunal.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Um entendimento importante por parte do STF é que a cláusula de reserva de


plenário é aplicável somente aos textos normativos erigidos sob a égide da atual
Constituição. As normas editadas quando da vigência das Constituições anteriores se
submetem somente ao juízo de recepção ou não pela atual ordem constitucional, o que
pode ser realizado por órgão fracionário dos Tribunais sem que se tenha por violado o
art. 97 da CRFB.

Diante disso, a câmara deveria ter submetido a questão ao Plenário do Tribunal


ou ao respectivo Órgão Especial e, depois, ficando reconhecida a inconstitucionalidade,
decidir o mérito do recurso de apelação, observando o que foi decidido pelo plenário ou
pelo órgão especial.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Súmula Vinculante nº 10 –Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a


decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência,
no todo ou em parte.

O art. 97 da Constituição, ao subordinar o reconhecimento da inconstitucionalidade de


preceito normativo a decisão nesse sentido da "maioria absoluta de seus membros ou
dos membros dos respectivos órgãos especiais", está se dirigindo aos tribunais
indicados no art. 92 e aos respectivos órgãos especiais de que trata o art. 93, XI. A
referência, portanto, não atinge juizados de pequenas causas (art. 24, X) e juizados
especiais (art. 98, I), os quais, pela configuração atribuída pelo legislador, não
funcionam, na esfera recursal, sob regime de plenário ou de órgão especial. [ARE
792.562 AgR, rel. min. Teori Zavascki, j. 18-3-2014, 2ª T, DJE de 2-4-2014.]

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EMPRÉSTIMO


COMPULSÓRIO. LEI 4.156/62. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. ARGUIÇÃO DE
AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DA DECISÃO. OFENSA REFLEXA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO
DA CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (ARTIGO 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL).
INOCORRÊNCIA. NORMA ERIGIDA SOB A ÉGIDE DA CONSTITUIÇÃO ANTERIOR.
RECEPÇÃO DA LEI POR ÓRGÃO FRACIONÁRIO. POSSIBILIDADE. 1. Os princípios da
legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, da motivação
das decisões judiciais, bem como os limites da coisa julgada, quando a verificação de
sua ofensa dependa do reexame prévio de normas infraconstitucionais, revelam
ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que, por si só, não desafia a
instância extraordinária. Precedentes 2. A cláusula de reserva de plenário (fullbench)
é aplicável somente aos textos normativos erigidos sob a égide da atual
Constituição. 3. As normas editadas quando da vigência das Constituições anteriores
se submetem somente ao juízo de recepção ou não pela atual ordem constitucional, o
que pode ser realizado por órgão fracionário dos Tribunais sem que se tenha por
violado o art. 97 da CF. Precedentes: AI- AgR 582.280, Segunda Turma, Rel. Min. Celso
de Mello, DJ 6.11.2006 e AI 831.166-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Dje de 29.4.2011. 3. Agravo regimental desprovido (AgIN 851.849 AgRg / RT 935).

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

PROCURADOR DO BANCO CENTRAL – AGU - CESPE - 2013

À luz da chamada cláusula de reserva de plenário, prevista no art. 97 da Constituição


Federal, bem como da legislação que rege o processo e julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade (ADI), da ação declaratória de constitucionalidade (ADC) e da
arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), responda, de forma
justificada, à seguinte indagação. Ao julgar o mérito de ADPF proposta em face de
controvérsia judicial relevante sobre a constitucionalidade de determinada lei, o
plenário do Supremo Tribunal Federal poderia declará-la inconstitucional por cinco
votos contra quatro, ausentes justificadamente dois ministros?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A chamada cláusula de reserva de plenário ou full bench está prevista no art. 97


da CRFB. Por essa ótica, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

A intenção disso é que para que os tribunais afastem determinada norma por
entendê-la inconstitucional, é necessário que a decisão seja proferida pela maioria
absoluta da composição do Tribunal ou de seu órgão especial. Isso, de acordo com a
doutrina, gera maior segurança e legitimidade nas discussões acerca da
constitucionalidade de uma norma. No caso do STF, a decisão por maioria absoluta
demanda a presença de pelo menos 2/3 dos Ministros, ou seja, 8 dos 11 Ministros.
Nota-se, portanto, que a declaração de inconstitucionalidade deve ser proferida pela
maioria absoluta (seis votos), mas desde que presente, ao menos, oito ministros.

Porém, de acordo com o STF, a cláusula de reserva de plenário (full bench) é


aplicável somente aos textos normativos erigidos sob a égide da atual CRFB, o que
invalida de qualquer maneira o quantitativo de ministros presentes ou não. Frise-se
que a ADPF não suscita o controle de constitucionalidade, de forma que se verifica o
controle de compatibilidade.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

“(...) A cláusula de reserva de plenário (full bench) é aplicável somente aos textos
normativos erigidos sob a égide da atual Constituição. 3. As normas editadas quando
da vigência das Constituições anteriores se submetem somente ao juízo de recepção
ou não pela atual ordem constitucional, o que pode ser realizado por órgão fracionário
dos Tribunais sem que se tenha por violado o art. 97 da CF. (...) (ARE 705316 AgR,
Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 12/03/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 16-04-2013 PUBLIC 17-04-2013)

MAGISTRATURA ESTADUAL - TJMS - 2015 – VUNESP

É possível a realização de controle de constitucionalidade no âmbito da ação civil


pública? Fundamente sua resposta de modo que aborde o seguinte: a) exercício do

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

controle de constitucionalidade mediante instrumentos que qualifiquem a questão


constitucional como questão prejudicial ou incidental; b) exercício do controle de
constitucionalidade mediante instrumentos que qualifiquem a questão constitucional
como questão principal; c) se a ação civil pública serve como instrumento de
constitucionalidade de caráter prejudicial/incidental e/ou principal; d) posicionamento
do Supremo Tribunal Federal acerca do controle de constitucionalidade na ação civil
pública.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O controle de constitucionalidade realizado de forma concreta ou incidental é


aquele em que a questão da constitucionalidade encontra-se na causa de pedir e não
no pedido, ou seja, em qualquer demanda em que se pretenda um bem da vida, a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo poderá ser alegada como questão
prejudicial, a ser resolvida antes do julgamento do mérito da demanda.

O controle de constitucionalidade realizado de forma abstrata é aquele em que


a questão da constitucionalidade encontra-se como questão central de mérito no
processo, demandando uma declaração que afirme ou negue o caráter constitucional
desse dispositivo. Nesse caso, o controle será realizado por ações específicas previstas
na Constituição Federal (Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão, Ação Declaratória de Constitucionalidade e
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), a serem julgadas pelo STF.

A ação civil pública não consta do rol referido no item b, portanto, somente
pode ser realizado o controle concreto ou incidental de constitucionalidade por meio
dela. Conforme entendimento do STF, é cabível a ação civil pública como instrumento
de controle difuso de constitucionalidade quando a alegação de inconstitucionalidade
integra a causa de pedir, e não o pedido estrito.

A inconstitucionalidade de determinado dispositivo legal pode ser alegada em


ação civil pública, desde que a título de causa de pedir, e não de pedido, pois nessa
hipótese o controle de constitucionalidade terá caráter incidental.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

(...) 3. CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. A não recepção do Decreto-Lei no


972/1969 pela Constituição de 1988 constitui a causa de pedir da ação civil pública e
não o seu pedido principal, o que está plenamente de acordo com a jurisprudência
desta Corte. A controvérsia constitucional, portanto, constitui apenas questão
prejudicial indispensável à solução do litígio, e não seu pedido único e principal.
Admissibilidade da utilização da ação civil pública como instrumento de fiscalização
incidental de constitucionalidade. Precedentes do STF. (RE 511961, Relator(a): Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17.06.2009, DJe-213 DIVULG 12.11.2009
PUBLIC 13.11.2009 EMENT VOL-02382-04 PP- 00692 RTJ VOL-00213- PP-00605).

PROCURADOR FEDERAL – AGU - CESPE - 2010

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Considerando as características do controle difuso de constitucionalidade e as


peculiaridades da ação civil pública no ordenamento jurídico nacional, redija um texto
dissertativo que responda à seguinte pergunta. De acordo com a doutrina dominante e
com o entendimento do STF, é viável o controle difuso de constitucionalidade em sede
de ação civil pública? Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes
aspectos: - efeito do controle difuso de constitucionalidade no sistema brasileiro; -
efeito da ação civil pública no ordenamento jurídico nacional; - viabilidade ou não do
controle difuso de constitucionalidade no âmbito da ação civil pública.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A ação civil pública é o instrumento que tem por objetivo a proteção de


interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, tendo sido criada para efetivar
a responsabilização por danos ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à
dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, ao patrimônio público e social, bem
como a bens e direitos que possuam valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

O STF tem reconhecido a legitimidade da utilização da ação civil pública como


instrumento idôneo de fiscalização incidental de constitucionalidade, pela via difusa, de
quaisquer leis ou atos do Poder Público. Importante aduzir que ainda que haja
contestação em face da CRFB, a controvérsia constitucional deve ser qualificada como
simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal.

Essa possibilidade é fundamental para, por exemplo, permitir o controle


incidental de constitucionalidade de leis municipais. Afinal, o sistema constitucional
brasileiro não permite o controle normativo abstrato de leis municipais quando
contestadas em face da Constituição Federal. A fiscalização de constitucionalidade das
leis e atos municipais, nos casos em que estes venham a ser questionados em face da
CRFB, somente se legitima em sede de controle incidental (método difuso).

É inquestionável que a utilização da ação civil pública como sucedâneo da ação


direta de inconstitucionalidade, além de traduzir situação configuradora de abuso do
poder de demandar, também caracterizará hipótese de usurpação da competência do
STF. Se, contudo, o ajuizamento da ação civil pública buscar não à apreciação da
validade constitucional de lei em tese, mas objetivar o julgamento de uma específica e
concreta relação jurídica, será lícito promover, incidenter tantum, o controle difuso de
constitucionalidade de qualquer ato emanado do Poder Público.

No que tange aos efeitos do controle difuso de constitucionalidade, também


chamado de controle pela via de exceção ou defesa, ou controle aberto, ele é realizado
por qualquer juízo ou tribunal do Poder Judiciário. No controle difuso, para as partes,
os efeitos serão inter partes e ex tunc. Porém, segundo a teoria da abstrativização do
controle difuso, no caso de o Plenário do STF decidir pela constitucionalidade ou não de
uma norma em controle difuso, essa decisão teria eficácia erga omnes e vinculante.
Logo, a disposição do art. 52, X, da CRFB serviria apenas como forma de publicizar a
decisão do STF.

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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Em 2014, o STF, julgando um caso concreto, entendeu que a decisão em


controle difuso produz, em regra, efeitos apenas inter partes e o papel do Senado é o
de aumentar essa eficácia. Porém, em 2017 houve decisões do próprio STF em sentido
contrário, isto é, dando eficácia vinculante em provimentos judiciais feitos em controle
difuso.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Reclamação constitucional - Ação Civil Pública – Lei nº 9.688/98 – Cargo de censor


federal - Normas de efeitos concretos – Declaração de inconstitucionalidade – Pleito
principal na Ação Civil Pública – Contorno de ação direta de inconstitucionalidade –
Usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal (...) 3. O pleito de
inconstitucionalidade deduzido pelo autor da ação civil pública atinge todo o escopo
que inspirou a edição da referida lei, traduzindo-se em pedido principal da demanda,
não se podendo falar, portanto, que se cuida de mero efeito incidental do que restou
então postulado. (...) (Rcl 1519, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2011, DJe-
029 DIVULG 09-02-2012 PUBLIC 10-02-2012 EMENT VOL-02644-01 PP-00032)

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/RR – 2017 – CESPE

O estado de Roraima editou lei com o objetivo de regulamentar a ocupação, por


sociedades empresárias, de espaços em logradouros públicos de determinada região,
concedendo prazo para a regularização e a ocupação. O Ministério Público do Estado
de Roraima (MP/RR), então, ajuizou ação civil pública contra o estado e várias
sociedades comerciais, com vistas a impedir e reprimir a ocupação de áreas públicas
da referida região. Em um dos vários pedidos, o MP/RR arguiu a inconstitucionalidade
da referida lei. A partir da situação hipotética apresentada e considerando o
entendimento dos tribunais superiores, redija, de forma fundamentada, um texto
dissertativo acerca do controle de constitucionalidade na ação civil pública em apreço.
Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1 a possibilidade de
ajuizamento de ação civil pública com fundamento em controle de
constitucionalidade; [valor: 1,00 ponto] 2 a legitimidade do MP/RR para propor a
referida ação; [valor: 0,40 ponto] 3 a competência jurisdicional para processar e julgar
essa espécie de ação quanto à manifestação sobre a constitucionalidade da lei. [valor:
0,50 ponto]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

1) É possível ajuizar ação civil pública para declarar a inconstitucionalidade de lei


estadual, desde que seja incidenter tantum, ou seja, por meio do controle difuso,
sendo este o entendimento do Supremo Tribunal Federal, conforme se extrai do
recurso extraordinário abaixo transcrito.

“Ementa: Recurso Extraordinário. Ação Civil Pública. Controle de Constitucionalidade.


Ocupação de logradouros públicos no Distrito Federal. Pedido de inconstitucionalidade

31
Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

incidenter tantum da Lei n.º 754/1994 do Distrito Federal (...) Ação Civil Pública
ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal com pedidos múltiplos, dentre
eles, o pedido de declaração de inconstitucionalidade incidenter tantum da Lei Distrital
n.º 754/1994, que disciplina a ocupação de logradouros públicos no Distrito Federal
(...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido que se pode
pleitear a inconstitucionalidade de determinado ato normativo na ação civil pública,
desde que incidenter tantum. Veda-se, no entanto, o uso da ação civil pública para
alcançar a declaração de inconstitucionalidade com efeito erga omnes (...)”. (RE
424.993/DF. Relator: min. Joaquim Barbosa. Julgamento: 12/9/2007. Tribunal Pleno).

2) O MP/RR tem legitimidade para propor a ação, por tratar-se de controle incidental
de constitucionalidade.

3) Todos os órgãos judiciais podem exercer o controle incidental de


constitucionalidade, ou seja, o juiz de primeiro grau e as demais instâncias recursais
competentes podem processar e julgar essa espécie de ação e se manifestar sobre a
constitucionalidade da lei.

MAGISTRATURA FEDERAL – TRF2 – 2017 – BANCA PRÓPRIA

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem ampliado a chamada “modulação


dos efeitos” da pronúncia de inconstitucionalidade da lei. Analise a compatibilidade de
tal prática para com o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, assim
como o momento adequado e a legitimidade para a sua provocação, bem como a sua
aplicabilidade às leis que instituem ou majoram tributos.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A temática da modulação está prevista no art. 27 da Lei nº 9.868/99 e no art.


11 da Lei nº 9.882/99. Ambos os dispositivos aludem ao fato de que, ao declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou
decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado.

O STF reiteradamente faz uso da modulação, ou seja, acaba por admitir sua
compatibilidade, situação que é seguida por boa parte da doutrina. Importante
ressaltar que a modulação pode ocorrer no controle abstrato e no controle concreto. O
novo CPC também faz previsão da modulação.

No que toca ao momento da modulação, ela pode ocorrer enquanto não


transitar em julgado o acórdão, sendo certo que a jurisprudência do STF reconhece,
quando a Corte não tenha apreciado a incidência ou não da modulação quando do
julgamento do mérito da questão constitucional, a possibilidade de a matéria ser
suscitada também via embargos de declaração.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Acerca da legitimidade, considerando a omissão legal em definir a legitimidade


especifica para a provocação da questão de modulação, ela poderá ser suscitada ex
officio tanto pelo Relator quanto por qualquer outro julgador (seja do STF, seja das
demais instancias), assim como pelos demais atores da relação processual, como o
Ministério Público, a AGU e eventuais amici curiae.

Por fim, considerando que as leis que instituem ou majoram tributos podem em
tese acarretar questões de insegurança jurídica ou de excepcional interesse social,
poderão elas, em tese, sofrer modulação. Essa modulação, todavia, deve ser
excepcionalíssima, na medida em que a conduta de permanente modulação de
inconstitucionalidade de leis que instituem tributos por mero argumento de "prejuízo
ao Erário" termina por incentivar a produção de leis inconstitucionais e premiar o
Estado por sua própria torpeza, gerando enriquecimento estatal às custas do sacrifício
de direitos fundamentais do contribuinte. Ademais, o juiz deve ser imparcial em suas
decisões, sem pender para mera preocupação com eventuais prejuízos de seus julgados
aos cofres públicos.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCRJ – 2012 – FUNCAB

“O controle de constitucionalidade configura-se, portanto, como garantia de


supremacia dos direitos e garantias fundamentais previstos na constituição que, além
de configurarem limites ao poder do Estado, são também uma parte da legitimação do
próprio Estado, determinando seus deveres e tornando possível o processo
democrático em um Estado de Direito”. a) O que se entende pela modulação temporal
dos efeitos no controle de constitucionalidade? b) Qual o posicionamento do STF sobre
a possibilidade de sua aplicação no âmbito do controle difuso?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O sistema de controle de constitucionalidade brasileiro aderiu ao modelo norte


americano, ou seja, a lei inconstitucional é nula desde o seu nascedouro, considerando-
se inapta à produção de efeitos jurídicos válidos. Assim, a declaração de
inconstitucionalidade produz efeitos retroativos (ex tunc), atingindo tudo o que foi
realizado com base no ato normativo tido como inconstitucional.

Porém, existem situações excepcionais nas quais o efeito retroativo pode gerar
grave lesão à segurança jurídica e ao interesse social. Com base nisso, a legislação
ordinária prevê que em determinadas situações a declaração de inconstitucionalidade
não gera efeito retroativo, podendo gerar efeito ex nunc desde o seu trânsito em
julgado ou a partir de uma data a ser fixada pelo STF (efeitos pro futuro).

Esse tipo de situação é chamada de modulação temporal dos efeitos no controle


de constitucionalidade. Com efeito, o art. 27 da Lei 9.869/99 dispõe que, estando
presentes, no caso concreto, razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
social, poderá o STF, através do voto de dois terços de seus membros, atribuir efeitos ex
nunc ou pro futuro à decisão declamatória de inconstitucionalidade.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Nesse caso, em razão de a decisão que declarou a inconstitucionalidade gerar


efeitos muito impactantes, o princípio da segurança jurídica se sobrepõe ao princípio
da Supremacia da Constituição.

No controle difuso, diversamente do controle concentrado, não existe previsão


legal para o uso da modulação temporal dos efeitos no controle de constitucionalidade.
Entretanto, o STF tem decidido no sentido de que é aplicável, por analogia, a
modulação dos efeitos também nos casos de controle difuso, desde que presentes os
pressupostos fixados no artigo 27 da Lei nº 9.869/99, muito embora exista uma grande
controvérsia doutrinária sobre o tema.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCMG – 2018 – ACADEPOL

Leia o texto abaixo e, em seguida, responda às perguntas:Trecho do Informativo 886


do STF (2017): ADI: amianto e efeito vinculante de declaração incidental de
inconstitucionalidade O Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, julgou
improcedentes pedidos formulados em ações diretas de inconstitucionalidade
ajuizadas contra a Lei nº 3.579/2001 do Estado do Rio de Janeiro. O referido diploma
legal proíbe a extração do asbesto/amianto em todo o território daquela unidade da
Federação e prevê a substituição progressiva da produção e da comercialização de
produtos que o contenham.” A Corte declarou, também por maioria e
incidentalmente, a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei Federal nº 9.055/1995, com
efeito vinculante e erga omnes. O dispositivo já havia sido declarado inconstitucional,
incidentalmente, no julgamento da ADI 3.937/SP (rel. orig. min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. min. Dias Toffoli, julgamento em 24.8.2017). (…) ADI 3.406/RJ, rel. Min. Rosa
Weber, julgamento em 29.11.2017. ADI 3.470/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgamento
em 29.11.2017. Pergunta-se: a) ESTABELEÇA UM PARALELO entre a Teoria da
Abstrativização do controle difuso de constitucionalidade e a Teoria da Transcendência
dos Motivos Determinantes, estabelecendo suas diferenças, se existirem, e
contextualizando sua resposta com os julgados referidos no Informativo 886 do STF. b)
As decisões do Supremo Tribunal Federal, referidas no Informativo 886 do STF,
declarando, incidentalmente, a inconstitucionalidade de dispositivo legal, com a
atribuição de efeitos vinculantes e erga omnes, indicam ter havido mutação
constitucional em relação ao disposto no inciso X do artigo 52 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988? EXPLIQUE sua resposta de forma
fundamentada.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

a) A teoria da transcendência dos motivos determinantes sustenta, em linhas gerais,


que a força vinculante das decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas no
controle concentrado de constitucionalidade não se limita apenas ao dispositivo da
decisão, mas também aos fundamentos daquela. No caso, a vinculação estaria na ratio
decidendi do julgado e não em argumento acessório dito de passagem (obter dictum),
sem vinculação com a conclusão do julgamento. Por outro lado, a teoria da

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

abstrativização do controle difuso de constitucionalidade sustenta que quando o


Supremo Tribunal Federal declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de
controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e "erga omnes" e o Supremo
Tribunal Federal deve apenas comunicar ao Senado a sua decisão apenas com o
objetivo de que a citada Casa Legislativa confira publicidade à decisão do Supremo
Tribunal Federal que, por si só, já será “erga omnes” e vinculante. Neste caso,
diferentemente da transcendência dos motivos determinantes, não se trata de
conferir efeito vinculante e “erga omnes” a determinada fundamentação (ratio
decidendi) utilizada pelo Supremo Tribunal Federal em controle concentrado, mas sim
de conferir ao dispositivo da decisão proferida em controle difuso os efeitos “erga
omnes” e vinculante. Contudo, um ponto que deve ser destacado é que no caso do
julgamento citado na questão, um dos argumentos utilizados pelo Supremo Tribunal
Federal para conferir efeito vinculante e erga omnes às suas decisões proferidas no
controle difuso foi o reconhecimento de que a jurisprudência da Corte tende a
reconhecer que as suas decisões devem reconhecer a inconstitucionalidade da própria
matéria que foi objeto do processo de controle, caminhando para uma inovação da
jurisprudência no sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato
normativo, mas a própria matéria que nele se contém.

b) Sim, quando do julgamento citado na questão, conforme noticiado no Informativo


nº 886 do Supremo Tribunal Federal, o Colegiado, por maioria de votos, a partir da
manifestação do ministro Gilmar Mendes, entendeu pela necessidade de, a fim de
evitar anomias e fragmentação da unidade, equalizar a decisão que se toma tanto em
sede de controle abstrato quanto em sede de controle incidental, conferindo a esta
última efeitos erga omnes e vinculante. Na oportunidade, em que pese tratar-se do
julgamento de uma ADI, o Supremo Tribunal Federal promoveu, no seu bojo, o
controle incidental de constitucionalidade do art. 2º da Lei Federal nº 9.055/1995, que
não fazia parte do pedido da ação de controle concentrado de constitucionalidade.
Conforme noticiado no Informativo nº 886, o Colegiado declarou a
inconstitucionalidade incidental do art. 2º da Lei Federal nº 9.055/1995 a partir da
manifestação do ministro Gilmar Mendes no sentido de que a abstrativização dos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade se sustenta na releitura do disposto no
art. 52, X, da CF, no sentido de que a Corte comunica ao Senado a decisão de
declaração de inconstitucionalidade, para que ele faça a publicação, intensifique a
publicidade. Ou seja, a abstrativização proposta está fundamentada na interpretação
judicial como instrumento juridicamente idôneo de mudança informal da Constituição
mediante exegese atualizadora, com as novas exigências, necessidades e
transformações resultantes dos processos sociais, econômicos e políticos que
caracterizam, em seus múltiplos e complexos aspectos, a sociedade contemporânea.
Por fim, registre-se que a questão ainda aguarda uma decisão definitiva do Plenário,
uma vez que a Ministra relatora, Rosa Weber, após o fim do julgamento, deferiu tutela
de urgência para suspender, em parte, os efeitos da decisão, apenas no ponto em que
se atribuiu eficácia erga omnes à declaração de inconstitucionalidade do art. 2º da Lei
nº 9.055/1995, até a publicação do acórdão e a fluência do prazo para oposição de
embargos de declaração que pretenda discutir a modulação temporal dos efeitos.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DELEGADO DE POLÍCIA – PCSP – 2008 – ACADEPOL

Em sede de controle de constitucionalidade, explique a teoria da transcendência dos


motivos determinantes.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

De acordo com a teoria da transcendência dos motivos determinantes, a ratio


decidendi, ou seja, os fundamentos determinantes da decisão teriam efeito vinculante
em relação aos demais casos. Esta seria a visão extensiva do efeito vinculante, pois
dispositivo e motivos criariam vinculações. A visão restrita aduz que apenas o
dispositivo seria vinculador, com base no art. 102, §2º, da CRFB.

Há doutrinadores, inclusive integrantes do STF, que possuem simpatia por essa


teoria. Contudo, a posição prevalente é no sentido de que ela não pode ser acolhida.
Estava ocorrendo o ajuizamento de uma série de reclamações perante o STF por conta
de situações muito parecidas que tiveram uma decisão em determinado sentido.
Diante disso, pessoas supostamente em situações semelhantes, com base nesse
fundamento, compareciam ao STF, pela via da reclamação, demandando o mesmo
tratamento.

Mas, como dito, acolheu-se a teoria restritiva, ou seja, apenas o dispositivo da


decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação)
não são vinculantes.

É necessária a existência de aderência estrita do objeto do ato reclamado ao


conteúdo das decisões paradigmáticas do STF para que seja admitido o manejo da
reclamatória constitucional. Embora possa haver similitude quanto à temática de
fundo, o uso da reclamação, como regra, não se amolda ao mecanismo da
transcendência dos motivos determinantes, de modo que não se promove a cassação
de decisões eventualmente confrontantes com o entendimento do STF por esta via
processual.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2013 – UEG

O art. 52, X, da Constituição Federal, dispõe que compete privativamente ao Senado


Federal suspender a execução no todo ou em parte de lei declarada inconstitucional
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. Assim, em que forma de controle
se exerce a atribuição de controle de constitucionalidade do Senado e qual o alcance
dos efeitos da decisão do STF neste caso? Tem o Senado discricionariedade no
cumprimento do disposto no art 52, X, da Constituição Federal, segundo entendimento
doutrinário e jurisprudencial?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Há dois entendimentos doutrinários e jurisprudenciais predominantes. Para o


primeiro deles, o controle de constitucionalidade no Brasil, nos termos do art. 52, X, da
CRFB, ocorre por declaração do Supremo Tribunal Federal, cabendo ao Senado proferir
juízo político a respeito da decisão no controle concreto para atribuir-lhe eficácia erga
omnes.

Importante frisar que o controle de constitucionalidade pela via direta é


exercido de forma concentrada pelo STF. Entende-se, segundo essa corrente, que a
prerrogativa conferida ao Senado está afeta ao controle concreto, ou seja, restringe-se
à via de exceção ou de defesa, em caso de arguição incidental da inconstitucionalidade
da lei em processos nos quais haja parte.

Nesse sentido, em algumas decisões, o STF reconheceu a liberdade do Senado,


proferindo o entendimento de que cabe o exame político da oportunidade e
conveniência da suspensão da execução da lei.

No entanto, há também entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido


contrário, isto é, de que a atribuição do Senado é para conferir mera publicidade à
decisão do STF, a quem compete determinar, no controle concreto, a eficácia erga
omnes. Quanto à produção de efeitos, tem-se entendido que somente depois da
manifestação do Senado é que o texto normativo perderia sua aptidão de criar direitos
e impor obrigações, isto é, efeitos ex nunc.

Por outro lado, para outros, os efeitos provêm da decisão do STF. Quanto à
retroatividade dos efeitos, ela prevalece para a corrente que defende a nulidade do
texto normativo inconstitucional.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Há dois entendimentos doutrinários e jurisprudenciais predominantes. Para o primeiro


deles, o controle de constitucionalidade no Brasil, nos termos do art. 52, X, da
Constituição Federal, se dá por declaração do Supremo Tribunal Federal, cabendo ao
Senado proferir juízo político a respeito da decisão no controle concreto, para atribuir-
lhe eficácia erga omnes. O controle de constitucionalidade pela via direta é exercido de
forma concentrada pelo Supremo Tribunal Federal. Entende-se, segundo essa
corrente, que a prerrogativa conferida ao Senado, pelo artigo 52, X, está afeta ao
controle concreto, ou seja, restringe-se à via de exceção ou de defesa, em caso de
arguição incidental da inconstitucionalidade da lei em caso concreto. Nesse sentido,
em algumas decisões, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a liberdade do Senado,
proferindo o entendimento de que cabe o exame político da oportunidade e
conveniência da suspensão da execução da lei, atribuindo-lhe efeitos erga omnes, a ser
realizado por aquela Casa. No entanto, há também entendimento doutrinário e
jurisprudencial no sentido contrário, de que a atribuição do Senado é para conferir
mera publicidade à decisão do Supremo Tribunal Federal, a quem compete
determinar, no controle concreto a eficácia erga omnes. Quanto à produção de
efeitos, tem-se entendido que somente depois da manifestação do Senado, portadora
da eficácia erga omnes, é que o texto normativo perderia sua aptidão de criar direitos

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

e impor obrigações. Ex nunc, portanto. Por outro lado, para outros, os efeitos provém
da decisão do Supremo Tribunal Federal. Quanto à retroatividade dos efeitos, ela
prevalece para a corrente que defende a nulidade do texto normativo inconstitucional.

DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2018 - UFG

Discorra sobre a leitura atual do STF quanto ao disposto no art. 52, inciso X, da
Constituição Federal de 1988

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Segundo o STF, houve mutação constitucional, e, por isso, o papel do Senado agora é
intensificar a publicidade da declaração incidental de inconstitucionalidade pelo
Supremo. Ou seja, cabe ao Senado apenas divulgar a decisão do STF, que, por si só, já
conta com eficácia vinculante e efeito contra todos (erga omnes). Assim, mesmo a
declaração incidental de inconstitucionalidade opera a preclusão consumativa da
matéria. [ADI 3.406 e ADI 3.470, rel. min. Rosa Weber, j. 29-11-2017, P, Informativo
886].

AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO - TCE/PA - 2012 - AOCP

Discorra sobre o tema: “Controle de Constitucionalidade Brasileiro” manifestando-se


sobre o exercício do controle de constitucionalidade pelo Tribunal de Contas.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O controle de constitucionalidade consiste no mecanismo pelo qual se verifica a


adequação dos atos normativos aos preceitos da CRFB, fundamento de validade para
todas as demais normas. Pelo controle de constitucionalidade concretiza-se o princípio
da supremacia da Constituição.

No Brasil, o controle de constitucionalidade ocorre nas formas concreta e


abstrata. O controle de constitucionalidade concreto é feito incidentalmente, na
análise de um caso. Já o controle abstrato envolve a análise da constitucionalidade em
abstrato de certa norma, isto é, sem ser em um caso específico.

Quanto à competência para exercê-lo, o controle de constitucionalidade pode


ser difuso (realizado por qualquer juiz ou tribunal) ou concentrado (realizado pelo
Supremo Tribunal Federal, tendo como parâmetro a Constituição Federal, ou pelos
Tribunais de Justiça, tendo como parâmetro as Constituições Estaduais dos respectivos
Estados). O controle judicial de constitucionalidade de leis e atos normativos é, em
regra, posterior, e realizado pelo Poder Judiciário.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

O ordenamento jurídico brasileiro prevê, porém, hipóteses de exercício de


controle de constitucionalidade por órgãos integrantes de outros poderes. Exemplo
disso é o controle de constitucionalidade exercido pelos Tribunais de Contas. Conforme
o art. 71 da CRFB, compete ao Tribunal de Contas da União auxiliar o Congresso
Nacional no controle externo, sendo que essa norma é de aplicabilidade similar em
relação aos TCEs e TCMs.

Com base nisso, o entendimento dominante no STF é o de que, no exercício do


controle externo de legalidade dos atos administrativos, o Tribunal de Contas poderá,
com fundamento na supremacia da Constituição, afastar a aplicação da lei que julgue
inconstitucional no caso em concreto. Nesse sentido, a Súmula nº 347 do STF consagra
essa possibilidade de controle concreto de constitucionalidade pelas Cortes de Contas.

Em que pese a sua remota edição, o verbete da súmula 347 do STF continua
vigente, mas vem sendo alvo de críticas. Mesmo entre ministros do próprio STF há os
que entendem pela incompatibilidade da súmula, editada na égide da Constituição de
1946, com o atual ordenamento jurídico.

Argumenta-se que o verbete em questão foi editado em 1963, em um contexto


constitucional totalmente diferente do atual, quando se admitia a recusa, por parte de
órgãos não jurisdicionais, à aplicação da lei considerada inconstitucional. A atual
Constituição, ao ampliar significativamente o rol de legitimados a provocar o STF no
processo de controle abstrato, teria restringido a amplitude do controle difuso de
constitucionalidade, o que leva à conclusão da necessidade de se reavaliar a
subsistência da Súmula 347 em face da nova ordem constitucional. Tal posição, porém,
segue minoritária no STF, mantendo-se vigente, atualmente, a Súmula nº 347.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

Espera-se que o candidato em sua resposta, manifeste-se sobre a pergunta exposta,


tratando especificamente sobre o controle de Constitucionalidade Brasileiro que
estabelece que a constitucionalidade de leis ou atos normativos vigentes é controlada
pelo Poder Judiciário (sistema jurisdicional de controle –difuso e concentrado).
Manifeste-se sobre a competência ao Tribunal de Contas para apreciar a
constitucionalidade de leis ou atos normativos do Poder Público, inclusive com amparo
na Súmula nº 347 do Supremo Tribunal Federal. E, ainda, desenvolva argumentação se
a ordem constitucional inaugurada com a Constituição de 1988 admite que o Tribunal
de Contas exerça o controle pela via difusa, afastando a aplicação de uma lei sob
fundamento de inconstitucionalidade. Ao final, mencione a preocupação dos Ministros
do STF, em especial o posicionamento do Ministro Gilmar Ferreira Mendes acerca da
necessidade de se reapreciar a subsistência da Súmula nº 347 em face da ordem
constitucional estabelecida pela Constituição de 1988. O candidato deve, também,
demonstrar coerência na exposição das ideias e temas, objetividade e atenção ao que
dispõe as normas gramaticais da língua portuguesa, bem como elementos extras,
demonstrando seu domínio do tema.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO - TCE/MS - 2013 – BANCA PRÓPRIA

Discorra sobre o controle externo realizado pelos Tribunais de Contas, abordando,


necessariamente a seguinte indagação: a) De acordo com a atual jurisprudência do
STF, é possível o Tribunal de Contas apreciar a constitucionalidade e/ou legalidade de
lei ou ato normativo?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Conforme determina o art. 71 da CRFB, compete ao Tribunal de Contas da


União auxiliar o Congresso Nacional no controle externo, sendo que essa norma é de
aplicabilidade similar em relação aos TCEs e TCMs. No exercício de suas atividades, os
Tribunais de Contas podem deixar de aplicar, no caso concreto, determinados atos
normativos que considerem inconstitucionais, o que caracteriza claro controle
incidental de constitucionalidade.

Trata-se de hipótese de controle de constitucionalidade posterior ou repressivo


não jurisdicional (exceção à regra geral de que o controle de constitucionalidade
repressivo que, no Brasil, é exercido pelo Poder Judiciário).

Nesse sentido, a Súmula nº 347 do STF dispõe que o Tribunal de Contas, no


exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do
Poder Público. Essa competência do Tribunal de Contas para realizar controle de
constitucionalidade até o momento se mantém, tendo em vista não ter sido dada por
superada a referida súmula.

Em que pese a sua remota edição, o verbete da súmula 347 do STF continua
vigente, mas vem sendo alvo de críticas. Mesmo entre ministros do próprio STF há os
que entendem pela incompatibilidade da súmula, editada na égide da Constituição de
1946, com o atual ordenamento jurídico.

Argumenta-se que o verbete em questão foi editado em 1963, em um contexto


constitucional totalmente diferente do atual, quando se admitia a recusa, por parte de
órgãos não jurisdicionais, à aplicação da lei considerada inconstitucional. A atual
Constituição, ao ampliar significativamente o rol de legitimados a provocar o STF no
processo de controle abstrato, teria restringido a amplitude do controle difuso de
constitucionalidade, o que leva à conclusão da necessidade de se reavaliar a
subsistência da Súmula 347 em face da nova ordem constitucional. Tal posição, porém,
segue minoritária no STF, mantendo-se vigente, atualmente, a Súmula nº 347.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

Súmula 347 do STF - O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode


apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.

“2. Descabe a atuação precária e efêmera afastando do cenário jurídico o que


assentado pelo Tribunal de Contas da União. A questão alusiva à possibilidade de este
último deixar de observar, ante a óptica da inconstitucionalidade, certo ato normativo

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

há de ser apreciada em definitivo pelo Colegiado, prevalecendo, até aqui, porque não
revogado, o Verbete nº 347 da Súmula do Supremo. De início, a atuação do Tribunal de
Contas se fez considerado o arcabouço normativo constitucional." (MS 31439 MC,
Relator Ministro Marco Aurélio, Decisão Monocrática, julgamento em 19.7.2012, DJe
de 7.8.2012)

"Assim, a declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da União, do


art. 67 da Lei n° 9.478/97, e do Decreto n° 2.745/98, obrigando a Petrobrás,
conseqüentemente, a cumprir as exigências da Lei n° 8.666/93, parece estar em
confronto com normas constitucionais, mormente as que traduzem o princípio da
legalidade, as que delimitam as competências do TCU (art. 71), assim como aquelas
que conformam o regime de exploração da atividade econômica do petróleo (art. 177).
Não me impressiona o teor da Súmula n° 347 desta Corte, (...). A referida regra
sumular foi aprovada na Sessão Plenária de 13.12.1963, num contexto constitucional
totalmente diferente do atual. Até o advento da Emenda Constitucional n° 16, de
1965, que introduziu em nosso sistema o controle abstrato de normas, admitia-se
como legítima a recusa, por parte de órgãos não-jurisdicionais, à aplicação da lei
considerada inconstitucional. No entanto, é preciso levar em conta que o texto
constitucional de 1988 introduziu uma mudança radical no nosso sistema de controle
de constitucionalidade. Em escritos doutrinários, tenho enfatizado que a ampla
legitimação conferida ao controle abstrato, com a inevitável possibilidade de se
submeter qualquer questão constitucional ao Supremo Tribunal Federal, operou uma
mudança substancial no modelo de controle de constitucionalidade até então vigente
no Brasil. Parece quase intuitivo que, ao ampliar, de forma significativa, o círculo de
entes e órgãos legitimados a provocar o Supremo Tribunal Federal, no processo de
controle abstrato de normas, acabou o constituinte por restringir, de maneira radical,
a amplitude do controle difuso de constitucionalidade. A amplitude do direito de
propositura faz com que até mesmo pleitos tipicamente individuais sejam submetidos
ao Supremo Tribunal Federal mediante ação direta de inconstitucionalidade. Assim, o
processo de controle abstrato de normas cumpre entre nós uma dupla função: atua
tanto como instrumento de defesa da ordem objetiva, quanto como instrumento de
defesa de posições subjetivas. Assim, a própria evolução do sistema de controle de
constitucionalidade no Brasil, verificada desde então, está a demonstrar a necessidade
de se reavaliar a subsistência da Súmula 347 em face da ordem constitucional
instaurada com a Constituição de 1988." (MS 25888 MC, Relator Ministro Gilmar
Mendes, julgamento em 22.3.2006, DJ de 29.3.2006)

PROCURADOR DO ESTADO – PGE/MT – FCC - 2016

ESTUDO DE CASO - Projeto de lei ordinária alterando a organização da carreira de


Procurador do Estado de Mato Grosso, de autoria de determinado Deputado Estadual,
é aprovado pela maioria simples dos membros da Assembleia Legislativa, presente a
maioria absoluta à sessão de votação. É, então, enviado ao Governador do Estado, que
dentro do prazo de quinze dias acaba por vetá-lo totalmente. O projeto retorna, assim,
à Assembleia Legislativa, que introduz pequena modificação no texto, sendo em

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

seguida o veto do Chefe do Poder Executivo Estadual rejeitado pela maioria absoluta
de seus membros, e a lei consequentemente promulgada e publicada pelo Presidente
da Assembleia Legislativa. Reputando irregular o processo de elaboração da norma
nessas condições, o Governador do Estado pretende questionar sua
constitucionalidade, em sede judicial. À luz da disciplina da matéria na Constituição da
República e na Constituição do Estado de Mato Grosso, responda fundamentadamente
às seguintes indagações acerca da situação hipotética acima apresentada: a. Sob quais
aspectos o processo de elaboração da norma em questão acima referida seria
inconstitucional? b. Estaria o Governador do Estado legitimado a questionar a
constitucionalidade da lei em sede judicial? Em caso negativo, por quê? Em caso
afirmativo, qual a medida cabível e o juízo competente? (Elabore sua resposta
definitiva em até 40 linhas)

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O processo de elaboração da norma em questão seria inconstitucional sob


quatro aspectos: vício de iniciativa: trata-se de projeto de lei de iniciativa privativa do
Governador do Estado; inadequação da via eleita: para organização da Procuradoria-
Geral do Estado de Mato Grosso é necessária lei complementar, cujo quorum de
aprovação é o da maioria absoluta dos membros da assembleia Legislativa;
procedimento de análise do veto (a Assembleia Legislativa não poderia introduzir
alteração no texto vetado) e promulgação da lei (após a rejeição do veto, o projeto
deveria ser enviado ao Governador do Estado para promulgação e somente se esta não
tivesse ocorrido no prazo de 48 horas é que caberia ao Presidente da Assembleia
Legislativa fazê-lo).

O Governador do Estado está legitimado a questionar a constitucionalidade da


Lei Ordinária em face da Constituição do Estado, por meio de Ação Direta de
Inconstitucionalidade, ajuizada perante o Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

PROCURADOR – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/GO – 2019 – IADES

Leia, com atenção, as informações a seguir. Analise o caso em que um partido político,
com representação da Câmara Legislativa, ajuizou ação direta de inconstitucionalidade
(ADI) em face de determinada lei estadual. O fundamento é a afronta de uma lei
estadual em face da Constituição do Estado que, por sua vez, reproduz dispositivo da
Constituição Federal. A ação foi julgada procedente e a lei foi declarada
inconstitucional com eficácia geral. Considerando o exposto, redija um texto
dissertativo e (ou) descritivo respondendo aos questionamentos “é cabível a referida
ação declaratória de inconstitucionalidade? É possível recorrer dessa decisão?”.
Aborde, necessariamente os tópicos a seguir. a) Explique se é cabível o controle de
constitucionalidade de lei estadual em face da Constituição do Estado, e qual o órgão
competente para o julgamento da ADI na justiça estadual. b) Indique, no que tange aos
legitimados para propor ação declaratória de inconstitucionalidade, se deve existir
simetria entre o modelo federal e o estadual. c) Indique se cabe recurso da decisão
que julgou procedente a ADI e a quem tal recurso deveria ser dirigido. d) Indique se a

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Procuradoria da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e a Procuradoria do Estado


de Goiás poderiam recorrer, mesmo sem ter legitimidade para a ADI. e) Indique se a
recorrente, no caso narrado, em cabendo o recurso, teria, como a fazenda pública,
prazo em dobro.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

1. Cabe ADI de lei estadual em face da Constituição do estado – cabe aos Estados a
instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da
legitimação para agir a um único (art. 125, § 2o, da CF).

2. Proposta a ação direta em face da Constituição Estadual, será competente o


Tribunal de Justiça, que é o guardião do direito constitucional estadual.

3. O controle, no caso, é concentrado, pois se trata de lei em tese.

4. Não há necessidade de simetria – previsão que não afronta a CF, já que é ausente o
dever de simetria para com o modelo federal, que impõe apenas a pluralidade de
legitimados para a propositura da ação (art. 125, § 2o, CF/1988). [ADI 119, rel. min.
Dias Toffoli, j. 19-2-2014, P, DJE de 28-3-2014.].

5. Cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento do recurso extraordinário,


porque se trata de questão constitucional (CF, art. 102, III, “a”).

6. Cabe recurso extraordinário, porque as normas constitucionais estaduais


reproduzem dispositivos da Constituição Federal.

7. Se não houvesse a reprodução, não caberia o recurso (Brasília, 27 de setembro de


2006. Ministro GILMAR MENDES Relator * decisão publicada no DJU de 10.10.2006).

8. O STF fixou entendimento de que a legitimidade recursal no controle concentrado é


paralela à legitimidade processual ativa. Caberia ao governador do estado, por
exemplo, assinar o recurso, e não o procurador. (RE 774057 AgR / SP – SÃO PAULO .
AG. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO.
Julgamento: 30/11/2018).

9. O prazo para interpor o recurso extraordinário é de 15 (quinze) dias – CPC, art.


1.003, § 5o: excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e
para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

10. Segundo entendimento do STF, não há prazo em dobro nos processos objetivos -
CPC, art. 183.

PROCURADOR MUNICIPAL - PGM-PAULÍNIA/SP - 2016 – FGV

O Prefeito do Município X, com o objetivo de promover o ecoturismo na região,


negocia há longa data com representantes do ramo hoteleiro a fixação de uma Área de

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Proteção Ambiental – APA e a edição de um Plano de Desenvolvimento Turístico. Anos


após o início das negociações, o Município X edita a Lei n. 123, que define a área da
APA e aprova o referido Plano de Desenvolvimento Turístico. Entretanto, esta Lei vem
a ser declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça, em controle concentrado de
constitucionalidade. Com isso, o presidente de uma grande rede de hotéis, ingressa
com Ação de Responsabilidade Civil em face do Município X, alegando: i)
responsabilidade por omissão legislativa do Município X, pela demora na aprovação da
Lei, frustrando sua legítima expectativa; e ii) responsabilidade civil pela declaração de
inconstitucionalidade da Lei n. 123, que lhe causou comprovados prejuízos
decorrentes do início das obras de construção de um hotel no Município X. Sobre o
caso, responda: A) Procede a responsabilidade por omissão legislativa no caso?
Justifique. B) Procede a responsabilidade em decorrência de declaração de
inconstitucionalidade da Lei n. 123? Justifique.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A responsabilidade civil do Estado é um tema polêmico, que sempre traz


diversos questionamentos. A regra geral está prevista no art. 37, § 6º, da CRFB,
segundo o qual os entes públicos (suas autarquias, fundações e prestadoras, ainda que
empresas privadas, de serviços públicos) serão responsáveis pelos danos que seus
agentes causarem a terceiros.

Boa parte da doutrina e jurisprudência pátrias defende a tese de que aquele


dispositivo prevê a responsabilidade objetiva do Estado. Ou seja: uma vez comprovado
o nexo de causalidade entre a conduta do agente (lícita ou ilícita) e o dano sofrido por
terceiro, o Estado terá a obrigação de indenizar, independentemente de qualquer
elucubração acerca de eventual dolo ou culpa do agente público.

Contudo, é importante ressaltar que a tese da responsabilidade objetiva não é


aplicada em todas as situações. Por regra, ela é muito bem aceita em condutas
comissivas de agentes estatais, bem como em atos negociais (contratos, por exemplo).
Por outro lado, o enunciado em comento trata de dois atos de império por excelência: a
elaboração de lei e a realização de controle de constitucionalidade pelo Judiciário.

Em primeiro lugar, um particular jamais pode entender que o Município é


responsável por um ato que depende da vontade soberana de dois Poderes: o
Executivo, que deveria enviar o projeto de lei, e o Legislativo, que aprovará o projeto
após discussões e deliberações de diversos membros. O processo legislativo não é ato
negocial, pois configura verdadeiro ato de império (tal como a declaração de guerra e o
exercício da diplomacia, ainda que comercial), sobre o qual não se pode responsabilizar
o ente público, sob pena de engessar toda e qualquer elaboração legislativa. O que se
admite, em casos bastante excepcionais, é a responsabilização por leis de efeitos
concretos, desde que os prejuízos e o nexo de causalidade sejam provados
inequivocamente pelo particular (o que não parece ser o caso em tela).

Ademais, a mera demora no processo legislativo não implica em omissão


legislativa nesse caso. A jurisprudência até reconhece, em remotas hipóteses, a
responsabilidade estatal, mas apenas se houver obrigação prevista

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

constitucionalmente para o envio (e não aprovação) do projeto de lei, desde que seja
essencial para a disciplina e/ou tutela de direitos. No enunciado em comento, nenhum
desses requisitos está presente, uma vez que existia mera expectativa do particular
que o agente público conseguisse (por meios políticos) a aprovação de projeto que lhe
seria favorável.

No que tange à declaração de inconstitucionalidade, igualmente se está diante


de um ato de império, neste caso do Poder Judiciário. As decisões judiciais, em regra,
não ensejam qualquer responsabilidade do Estado por se tratarem de atos apolíticos e
neutros, mas passíveis de impugnação inclusive por terceiros que demonstrem
interesse jurídico em sua reforma. Excepcionalmente admite-se a mitigação dessa
regra nas hipóteses de erro judiciário grave, em que haja a lesão a direitos humanos
(por exemplo, a privação da liberdade decretada em processo criminal).

Não se vislumbra, também, responsabilidade do Município na declaração da


inconstitucionalidade da lei. A aprovação de ato legislativo é uma conduta legítima de
qualquer esfera de governo, apresentando-se como clássico ato de império, não
passível de indenização. O que o particular poderia requerer, em remotíssima hipótese,
seria a responsabilização direta do agente público, em nome deste, mas devendo
provar o dolo específico em causar o vício que deu origem à inconstitucionalidade.

TRIBUNAIS DE CONTAS – TCM/SP - 2015 – FGV

Um grupo de vereadores, com forte apoio popular, encaminhou projeto de lei à


respectiva Casa Legislativa promovendo o aumento da remuneração de todos os
servidores públicos municipais. O projeto foi aprovado pela Câmara Municipal e
sancionado pelo Chefe do Poder Executivo em solenidade muito festiva, tornando-se,
portanto, lei. Pouco tempo depois, o Prefeito Municipal arrependeu-se de ter apoiado
a iniciativa e solicitou à Procuradoria do Município que analisasse a possibilidade de
não cumprir a lei. À luz do exposto, responda de forma fundamentada: a – A lei
apresenta algum vício de inconstitucionalidade? b – O Prefeito municipal pode deixar
de cumprir a lei?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em primeiro lugar, é necessário pontuar que a lei padece de grave vício formal
de inconstitucionalidade. Com efeito, algumas matérias previstas na Constituição
guardam a chamada reserva de iniciativa, com fundamento no princípio da separação
de poderes. Vale dizer: com o intuito de evitar desequilíbrios ou até mesmo ingerências
entre os diferentes poderes, o legislador constitucional entendeu por bem reservar a
iniciativa dessas matérias para o Chefe do Poder Executivo (regra que é aplicada aos
demais entes da Federação em virtude do princípio da simetria).

Note-se que justamente uma dessas matérias é a organização, o regime jurídico


ou a remuneração dos servidores públicos (consoante disposição do art. 61, § 1º, II, “c”,
da CRFB). E esse é o tema sobre o qual a lei tratada no enunciado versa, o que conduz

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inevitavelmente à inconstitucionalidade. Perceba-se que a mera sanção da lei com vício


de iniciativa pelo Chefe do Poder Executivo não supre a irregularidade, tal como
enunciado na Súmula 5 do Supremo Tribunal Federal (aplicada até hoje).

A princípio, o Prefeito não pode se furtar de cumprir a lei, pois uma norma geral
e abstrata é dotada de coercitividade, devendo ser de observância por todos,
indistintamente. No entanto, não se pode perder de vista que se está diante de um
Chefe de Poder, independente. Assim, o Prefeito tem o direito (talvez até o dever) de
orientar a Administração Pública acerca de uma possível inconstitucionalidade,
notoriamente sobre um tema que impacta diretamente nas contas públicas.

Portanto, vem sendo reconhecida a possibilidade de o Chefe do Executivo editar


um decreto em que determina a não aplicação de uma norma, desde que de maneira
fundamenta e seguida do manejo da ação cabível para a sua impugnação pela via
judicial (no caso, a representação de inconstitucionalidade, de competência do Tribunal
de Justiça).

MAGISTRATURA ESTADUAL – TJPA – 2011 - CESPE

Emenda constitucional de iniciativa da assembleia legislativa de determinada unidade


da Federação tratou das condições para ingresso e promoção no quadro de oficiais
combatentes dos militares no âmbito do estado-membro. O governador do estado,
então, ajuizou ação direta de inconstitucionalidade relativa a essa emenda junto ao
Supremo Tribunal Federal. Com base na situação hipotética acima, responda, de forma
fundamentada e de acordo com a jurisprudência da suprema corte, ao seguinte
questionamento: A emenda constitucional padece de vício de inconstitucionalidade
formal?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A emenda constitucional, por ser de iniciativa de integrante da respectiva


Assembleia Legislativa e por tratar de condições de ingresso e promoção no quadro de
oficiais combatentes militares do Estado, possui vício.

O vício é a inconstitucionalidade formal subjetiva, já que apresentada por


pessoa não legitimada para o processo legislativo. Com base no art. 61, § 1º, II, f, da
CRFB, aplicada por simetria aos Estados e com base no entendimento do STF, o projeto
deveria ter sido apresentado apenas pelo governador por ser matéria de competência
privativa.

A emenda apresentada pelo integrante da Assembleia Legislativa violou uma


competência privativa do Governador (Executivo), ou seja, também macula o princípio
da separação de poderes. Não é de hoje que vigora a teoria da separação dos poderes,
cujo escopo não é apenas o surgimento de governos autocráticos, mas também o de
racionalizar o funcionamento do Estado, fazendo-o atuar segundo um sistema de freios
e contrapesos. O regime presidencialista e um Estado federal como o nosso prevalece

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

não apenas no plano do governo da União, mas em todos os demais níveis político-
administrativos, incluindo, por óbvio, os estados e municípios

Por fim, saliente-se que, com base no entendimento do STF, o vício formal não é
superado pelo fato de a iniciativa legislativa ostentar hierarquia constitucional
estadual.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL QUE


DISPÕE SOBRE REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES MILITARES DO ESTADO DE
RONDÔNIA. PROJETO ORIGINADO NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. VÍCIO RECONHECIDO. VIOLAÇÃO À RESERVA DE
INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I - À luz do
princípio da simetria, a jurisprudência desta Suprema Corte é pacífica ao afirmar que,
no tocante ao regime jurídico dos servidores militares estaduais, a iniciativa de lei é
reservada ao Chefe do Poder Executivo local por força do artigo 61, § 1º, II, f, da
Constituição. II - O vício formal não é superado pelo fato de a iniciativa legislativa
ostentar hierarquia constitucional. III - Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade do artigo 148-A da Constituição do Estado de Rondônia e do
artigo 45 das Disposições Constitucionais Transitórias da Carta local, ambos acrescidos
por meio da Emenda Constitucional 56, de 30 de maio de 2007.
(ADI 3930, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em
16/09/2009, DJe-200 Divulg 22-10-2009 Public 23-10-2009 Ement Vol-02379-02 PP-
00310)

DELEGADO DE POLÍCIA – PCPR – 2013 – COPS UEL

Analise o caso de uma pessoa que tem um direito constitucional individual assegurado
na Constituição Federal por norma de eficácia plena, autoaplicável. Considere que esse
direito veio a sofrer restrições por norma infraconstitucional posterior à Constituição
Federal de 1988. Considere, então, o caso de uma lei que veio restringir o direito de
liberdade do cidadão e autorizar a prisão em afronta à Constituição Federal Brasileira.
Considere, também, que esse indivíduo deve observar essa lei, uma vez que ela possui
a presunção de constitucionalidade. Considere, além disso, que, estando esse
indivíduo sofrendo ou na iminência de sofrer violação de direito seu assegurado
constitucionalmente, ele pode se socorrer do Poder Judiciário para evitar a incidência
dessa norma violadora de seu direito. Diante da problemática apresentada e tendo em
vista o controle de constitucionalidade, considere os itens a seguir. a) Explique as
diferenças entre a ação judicial proposta pelo cidadão, permitindo-lhe o controle de
constitucionalidade, e o controle de constitucionalidade realizado pela instituição
denominada Ordem dos Advogados do Brasil, considerando que esta, no caso, não é
lesada. b) O órgão judicial competente para a ação será o mesmo para a ação que
envolve o cidadão e para a ação promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil?
Justifique sua resposta. c) O objeto principal das duas ações (do cidadão e da Ordem

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dos Advogados do Brasil) será o pedido de declaração de inconstitucionalidade da lei?


Se houver diferença entre as ações, nesse quesito, explique cada uma delas.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O controle de constitucionalidade a se realizar pelo próprio lesado se dará de


forma concreta (ou incidental, ou por via de defesa ou por via de exceção), ou seja, sua
pretensão será deduzida em juízo através de um processo constitucional subjetivo,
exercido com a finalidade principal de solucionar uma controvérsia envolvendo direitos
subjetivos. Será ainda difuso (ou aberto), já que pode ser exercido por qualquer órgão
do Poder Judiciário. Na hipótese em análise, o órgão competente para a ação do
cidadão será determinado em função da autoridade apontada como coatora, podendo
ser qualquer juiz ou tribunal (juiz natural).

Já o controle de constitucionalidade exercido pela Ordem dos Advogados do


Brasil se dará de forma abstrata (por via de ação, por via direta ou por via principal), o
qual será realizado em tese, independentemente da existência de um caso concreto
levado à apreciação do Poder Judiciário. Trata-se de um processo constitucional de
índole objetiva, sem partes formais, podendo ser instaurado sem a necessidade de um
interesse jurídico subjetivo. Será também concentrado (ou reservado), já que pode ser
exercido apenas por determinado órgão judicial. No caso em tela, a ação direta de
inconstitucionalidade intentada pela OAB deverá ser impetrada junto ao Supremo
Tribunal Federal, por força do art. 102, I, “a” c/c art. 103, VII, todos da CRFB.

Por fim, na ação manejada diretamente pelo lesado, o que se objetiva é a


proteção de direitos subjetivos. A análise da inconstitucionalidade ocorre na
fundamentação da decisão, de forma incidental (incidenter tantum), como questão
prejudicial de mérito. O órgão jurisdicional não a declara no dispositivo, tão somente a
reconhece para afastar sua aplicação no caso concreto. Vale dizer, o que se busca não
é a declaração de inconstitucionalidade em si, mas a prevenção ou reparação da lesão
a um direito concretamente violado.

Já na ação direta de inconstitucionalidade intentada pela OAB, a finalidade


precípua é a proteção da ordem constitucional objetiva, por intermédio da declaração
de inconstitucionalidade do dispositivo questionado.

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