Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DA
POPULAÇÃO
Introdução
Coletadas por meio de pesquisas censitárias ou por meio do registro civil,
entre outros mecanismos de coleta, as informações demográficas podem
demonstrar tanto um retrato de uma época quanto a dinâmica populacio-
nal de um determinado lugar no decorrer do tempo. Por sua importância
estratégica, desde a Antiguidade imperadores e governantes vêm coletando
dados populacionais como forma de controle do seu território. Afinal, a partir
das informações demográficas, é possível fornecer cifras factuais ao poder
público, permitindo planejar medidas e ações de melhorias dos mais diversos
indicadores.
Neste capítulo, você vai analisar a importância da obtenção de in-
formações censitárias para a tomada de decisão nas áreas de políticas
públicas e até mesmo em ações relacionadas a instituições privadas.
1 Necessidade de informações
As informações demográficas são de grande importância para um diagnóstico
mais detalhado das condições reais de uma sociedade. Por meio de dados
demográficos, é possível analisar a conjuntura atual e pretérita de um espaço
geográfico, o que permite avaliar e analisar elementos conjunturais que inter-
ferem na população, além de realizar estudos para o planejamento de políticas
públicas e programas socioeconômicos.
2 Fontes de informações demográficas
O censo no mundo
A palavra censo origina-se do latim census, que designa um conjunto dos
dados estatísticos dos habitantes de uma cidade, província, estado ou na-
ção. O censo era realizado desde os tempos antigos, e tinha como objetivo
determinar o número de habitantes para controlar o alistamento militar e
também a quantidade de pessoas que deveriam pagar impostos. Há registros
de que censos eram realizados muito antes da era cristã, em impérios como
do Egito, Babilônia, China, Palestina e Roma, cujas contagens periódicas da
população contribuíam para estabelecer suas bases fiscais, de trabalhadores
ou de soldados (HAKKERT,1996).
O registro mais antigo de processo censitário remonta ao ano de 2238 a.C.,
no Império Chinês, quando o Imperador Yao realizou um censo da população
e das lavouras cultivadas. Contudo, somente os indivíduos relevantes para
a sociedade eram computados, como os proprietários, chefes de família ou
homens sujeitos ao alistamento militar. Outro registro censitário importante na
história ocorreu por volta de 1700 a.C., no tempo de Moisés, além dos censos
anuais realizados pelos egípcios no século XVI a.C. De modo similar, os gregos
e os romanos também realizaram coletas censitárias entre os séculos VIII e IV
a.C., em que buscavam informações sobre o número de habitantes. A partir
do número obtido no censo, tornou-se possível determinar a quantidade de
pessoas que poderiam ser recrutadas pelo exército e que estariam aptas para
o exercício dos direitos políticos. Além disso, também eram coletados dados
relativos às riquezas do povo para se estabelecer cálculos de pagamento de
impostos (HAKKERT, 1996).
Na Bíblia é narrado que José e a Virgem Maria saíram de Nazaré, na Galileia, para Belém,
na Judeia, para responder ao censo ordenado por César Augusto, pois naquela época
as pessoas tinham que ser entrevistadas no seu local de origem. Maria, na ocasião,
estava grávida de Jesus, e por isso ele nasceu em Belém.
Fontes de informações demográficas 3
Apesar da lei específica para recenseamento ter sido aprovada somente em 1870, a
vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, estimulou a realização do primeiro
levantamento da população brasileira. Na época, foi contabilizado um total de 4
milhões de habitantes no país (OLIVEIRA; SIMÕES, 2005).
aos indivíduos que não professavam a religião oficial do Império, que era a
católica e que realizava os registros vitais dos seus fiéis, ou seja, casamento,
batismo e sepultamento. Assim, até o Estado assumir o registro civil, todas
essas informações eram coletadas pela Igreja Católica.
A partir de 1870, quando os dados censitários passaram a ser coletados
pelo Estado, as estatísticas relacionadas à população da época passaram a ser
obtidas de maneira mais rápida e eficiente. Como as relações entre o Estado
e a Igreja nem sempre eram estáveis, as informações obtidas no registro civil
das igrejas eram repassadas com deficiência para o governo.
As informações coletadas até então, tanto pelo Estado quanto pela Igreja
Católica, tinham o objetivo de acompanhar o crescimento da população por
meio das taxas de natalidade (nascimentos) e taxas de mortalidade (óbitos e
sepultamentos), além da entrada de imigrantes no país.
A promulgação da Lei nº 1.829 em 1872 permitiu a realização do primeiro
censo nacional da população, sob responsabilidade da Diretoria Geral de
Estatística do Ministério de Negócios do Império. O primeiro censo foi rea-
lizado com o objetivo de estimar todos os habitantes do Império: nacionais,
estrangeiros, livres, escravos, presentes e ausentes. O censo de 1880 não foi
realizado por problemas políticos, enquanto os censos de 1890 e 1900 até
foram realizados, mas apresentaram muitos problemas com relação à cobertura
e à qualidade dos questionários. Os censos de 1910 e 1930 tampouco foram
realizados, mas o censo demográfico de 1920 foi feito com bastante detalhe,
mas teria superestimado a população da época em cerca de 10% (OLIVEIRA;
SIMÕES, 2005).
Mesmo com as falhas de periodicidade, os censos conduzidos até então
foram muito importantes, pois trouxeram informações como a quantificação
da população, sua composição (nacionais, estrangeiros, livres, escravos,
presentes e ausentes), a estrutura etária e a distribuição pelo território bra-
sileiro, que serviram para conhecer e compreender a dinâmica populacional
brasileira.
Com a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 1936, a partir da década de 1940 o censo demográfico passou a ser de
responsabilidade dessa instituição. Nesse período, além dos elementos que
já eram analisados, também foram acrescentados observações referentes a
fecundidade, mortalidade e migrações internas. O censo de 1940 representou
um grande passo na história das estatísticas populacionais nacionais, espe-
cialmente com relação à dinâmica demográfica.
6 Fontes de informações demográficas
A nova etapa do censo demográfico na década de 1940 pode ser atribuída ao esforço
e conhecimento do demógrafo italiano emigrado para o Brasil Giorgio Mortara, con-
siderado um dos pioneiros do IBGE. Para saber mais sobre a sua história, consulte sua
breve biografia no site Memória IBGE. A referência completa para o material pode ser
encontrada na seção Leituras Recomendadas, ao fim deste capítulo.
Entidades internacionais
Dentre as entidades internacionais, podemos destacar a União Internacional para
o Estudo Científico da População (IUSSP), a Divisão Populacional do Depar-
tamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, o United States Census
Bureau e o Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (Celade).
A IUSSP é uma entidade que promove diversos estudos científicos, em que
pesquisadores da temática populacional podem discutir os mais diversos temas
relacionados à demografia, como os indicadores de natalidade, mortalidade e
fecundidade, e suas relações com a economia, distribuição de renda, entre outros.
A Divisão Populacional do Departamento de Assuntos Econômicos
e Sociais da ONU é a entidade responsável pelo monitoramento e pela
8 Fontes de informações demográficas
Entidades nacionais
No Brasil, o primeiro órgão criado com o objetivo de coletar dados demo-
gráficos foi a Diretoria Geral de Estatística, em 1870, substituída em 1936,
com a criação do IBGE, que desde então representa a principal entidade de
coleta e tratamento de informações demográficas do país. Existem ainda
outras instituições, como a Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence),
a (Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) e o Instituto de
Pesquisas Econômicas (Ipea). Além dessas entidades, também há outras de
caráter regional e ainda ligadas a instituições de ensino superior, que muito
contribuem para os estudos populacionais e para a elaboração e interpretação
de tendências e comportamentos.
O IBGE foi criado em 1934 e é o principal provedor de dados e infor-
mações demográficas do Brasil, responsável por atender às demandas dos
diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos governamentais
nas esferas municipais, estaduais e federal. Além do censo demográfico, o
IBGE realiza a análise e a interpretação dos dados obtidos, de forma a obter
projeções demográficas e outras informações que possam ser utilizadas no
planejamento de políticas públicas.
Por sua vez, a Ence foi criada em 1953 com o objetivo de formar estatísticos
para trabalharem junto ao IBGE, atuando ainda na formação de profissionais
nas áreas de estatística e demografia. Além disso, também contribui com
pesquisas acadêmicas e publicações com análises das tendências gerais da
demografia.
A Abep foi criada em 1976 e é uma entidade que tem por objetivo reunir
estudiosos e pesquisadores das temáticas demográficas e populacionais. Além
disso, a associação também atua na elaboração de diversos estudos e análises
sobre os indicadores populacionais e suas tendências, além de comparativos
entre as regiões e estados do Brasil.
10 Fontes de informações demográficas
Criado em 1964, o Ipea é um órgão público federal que visa fornecer suporte
técnico e institucional para auxiliar o governo na formulação e reformulação de
políticas públicas e também na elaboração de programas de desenvolvimento.
Com o passar dos anos, também passou a elaborar estudos, análises e pesqui-
sas nas áreas econômica e social brasileiras. Pela análise e interpretação de
dados demográficos, são formuladas ações relacionadas a políticas públicas
e programas de desenvolvimento visando ao equacionamento de problemas
relacionados à economia e às desigualdades sociais.
coisa se os dados estiverem disponíveis. Dessa forma, quanto mais dados são
obtidos, mais disponíveis eles se tornam e, assim, ampliam a capacidade de
análise dos dados demográficos.
A regularidade consiste no limite temporal, o que possibilita a realização
de estudos comparativos entre diferentes regiões, mas com a mesma data ou
período de referência. Além disso, a regularidade permite a realização de
avaliações conjunturais mais amplas e o entendimento de tendências popula-
cionais, como evolução, regressão, permanência, entre outros.
A qualidade dos dados, por sua vez, diz respeito à sua abrangência ter-
ritorial e à sua coerência em relação à pergunta, já que os dados são uma
consequência direta da forma como foi obtido no processo de aplicação do
questionário.
Há também os aspectos relacionados à natureza do dado demográfico,
que pode ser classificado como um dado de estoque ou um dado de fluxo
(HAKKERT, 1996). O dado de estoque pode ser definido como uma infor-
mação estática da população em um determinado momento, como número
de habitantes, sua distribuição territorial e sua composição por faixa etária,
gênero, grau de escolaridade, raça, cor, rendimento mensal, etc. Os dados de
estoque são obtidos no censo demográfico.
Já o dado de fluxo diz respeito a características dinâmicas da população e
que interferem na dinâmica populacional, ou seja, que alteram o tamanho da
população, sua distribuição territorial e sua composição. Os dados de fluxo
referem-se, portanto, às taxas de natalidade, de mortalidade e às migrações, e
são obtidos por meio dos registros civis e de levantamentos especiais, como as
pesquisas de origem–destino e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(PNAD).
No Brasil, o registro civil é fonte de dados para três sistemas de informações muito
importantes para o estudo da população e a formulação de políticas públicas: o Sistema
de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), cujos dados são originados da Declaração
de Nascido Vivo; o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), cujos dados são
originados da Declaração de Óbito; e o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), cujos
dados são originados da Autorização de Internação Hospitalar (MAGALHÃES, 2015).
GARCIA, A. Censo Demográfico 2020 terá menos perguntas e orçamento menor, anuncia
IBGE. Gazeta do Povo, 28 maio 2019. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.
br/republica/censo-demografico-2020-ibge/. Acesso em: 28 abr. 2020.
HAKKERT, R. Fontes de dados demográficos. Belo Horizonte: ABEP, 1996. (Textos didáticos,
3). Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/textos/article/
view/2987/2851. Acesso em: 28 abr. 2020.
MAGALHÃES, L. F. A. Fontes de dados demográficos e estudos de população em Santa
Catarina. Revista NECAT, v. 4, n. 7, p. 23–37, 2015.
OLIVEIRA, L. A. P.; SIMÕES, C. C. S. O IBGE e as pesquisas populacionais. Revista Brasileira
de Estudos da População, São Paulo, v. 22., n. 2, p. 291–302, jul./dez. 2005.
Fontes de informações demográficas 17
Leituras recomendadas
DAMIANI, A. População e geografia. São Paulo: Contexto, 1991.
DANTAS, E. M.; MORAIS, I. R.; FERNANDES, M. J. C. Geografia da população. 2. ed. Natal:
EDUFRN, 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Memória: Pioneiros do IBGE:
Giorgio Mortara. 2020. Disponível em: https://memoria.ibge.gov.br/sinteses-historicas/
pioneiros-do-ibge/giorgio-mortara. Acesso em: 28 abr. 2020.
RIOS NETO, E. L. G. A população nas políticas públicas: gênero, geração e raça. Brasília:
CNPD/UNFPA, 2006.
SANTOS, J.; LEVY, M. S.; SZMRECSANYI, T. (Org.). Dinâmica da população: teoria, métodos
e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980.
THUMERELLE, P. J. As populações do mundo. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.