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GEOGRAFIA

DA
POPULAÇÃO

Aline Carneiro Silverol


Fontes de informações
demográficas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Justificar historicamente a necessidade de informações.


 Descrever os diferentes órgãos formuladores de estimativas populacionais.
 Analisar a utilidade e possibilidade de uso das informações demográficas.

Introdução
Coletadas por meio de pesquisas censitárias ou por meio do registro civil,
entre outros mecanismos de coleta, as informações demográficas podem
demonstrar tanto um retrato de uma época quanto a dinâmica populacio-
nal de um determinado lugar no decorrer do tempo. Por sua importância
estratégica, desde a Antiguidade imperadores e governantes vêm coletando
dados populacionais como forma de controle do seu território. Afinal, a partir
das informações demográficas, é possível fornecer cifras factuais ao poder
público, permitindo planejar medidas e ações de melhorias dos mais diversos
indicadores.
Neste capítulo, você vai analisar a importância da obtenção de in-
formações censitárias para a tomada de decisão nas áreas de políticas
públicas e até mesmo em ações relacionadas a instituições privadas.

1 Necessidade de informações
As informações demográficas são de grande importância para um diagnóstico
mais detalhado das condições reais de uma sociedade. Por meio de dados
demográficos, é possível analisar a conjuntura atual e pretérita de um espaço
geográfico, o que permite avaliar e analisar elementos conjunturais que inter-
ferem na população, além de realizar estudos para o planejamento de políticas
públicas e programas socioeconômicos.
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Nesse sentido, a coleta de dados demográficos é essencial para estudos


relacionados à população, além de diagnósticos relacionados a aspectos econô-
micos e sociais, de forma que os dados se configuram em ferramentas para a
tomada de decisão, bem como para a análise de resultados de políticas adotadas.

O censo no mundo
A palavra censo origina-se do latim census, que designa um conjunto dos
dados estatísticos dos habitantes de uma cidade, província, estado ou na-
ção. O censo era realizado desde os tempos antigos, e tinha como objetivo
determinar o número de habitantes para controlar o alistamento militar e
também a quantidade de pessoas que deveriam pagar impostos. Há registros
de que censos eram realizados muito antes da era cristã, em impérios como
do Egito, Babilônia, China, Palestina e Roma, cujas contagens periódicas da
população contribuíam para estabelecer suas bases fiscais, de trabalhadores
ou de soldados (HAKKERT,1996).
O registro mais antigo de processo censitário remonta ao ano de 2238 a.C.,
no Império Chinês, quando o Imperador Yao realizou um censo da população
e das lavouras cultivadas. Contudo, somente os indivíduos relevantes para
a sociedade eram computados, como os proprietários, chefes de família ou
homens sujeitos ao alistamento militar. Outro registro censitário importante na
história ocorreu por volta de 1700 a.C., no tempo de Moisés, além dos censos
anuais realizados pelos egípcios no século XVI a.C. De modo similar, os gregos
e os romanos também realizaram coletas censitárias entre os séculos VIII e IV
a.C., em que buscavam informações sobre o número de habitantes. A partir
do número obtido no censo, tornou-se possível determinar a quantidade de
pessoas que poderiam ser recrutadas pelo exército e que estariam aptas para
o exercício dos direitos políticos. Além disso, também eram coletados dados
relativos às riquezas do povo para se estabelecer cálculos de pagamento de
impostos (HAKKERT, 1996).

Na Bíblia é narrado que José e a Virgem Maria saíram de Nazaré, na Galileia, para Belém,
na Judeia, para responder ao censo ordenado por César Augusto, pois naquela época
as pessoas tinham que ser entrevistadas no seu local de origem. Maria, na ocasião,
estava grávida de Jesus, e por isso ele nasceu em Belém.
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Dessa forma, até a Antiguidade os censos eram realizados com o objetivo


de conhecer cifras populacionais principalmente para o recrutamento para as
guerras, para determinar a quantidade de crianças e seus respectivos gêneros
e para cobranças de impostos. As pessoas que se negavam a participar podiam
ser condenadas à morte.
Na Idade Média, houve diversos recenseamentos na Europa, como na
Península Ibérica durante a dominação muçulmana, do século VII ao XV,
no reinado de Carlos Magno, entre 712 e 814 d.C., e também nas repúblicas
italianas nos séculos XII e XIII. Além disso, podemos citar o Domesday
Book, que foi um levantamento das propriedades rurais decretado pelo Rei
Guilherme I da Inglaterra em 1086, e também a contagem domiciliar do État
des Subsides na França, em 1328 (HAKKERT, 1996).
Também há relatos na história sobre levantamentos populacionais realizados
em Nuremberg, na Alemanha, em 1449 e na Sicília e em outras regiões na
Itália a partir de 1501, considerados os primeiros censos no sentido pleno da
palavra. Outras experiências pioneiras são os levantamentos populacionais de
Quebec, no Canadá, a partir de 1666, e de diversas outras colônias francesas
e inglesas na América do Norte, e ainda na Islândia, que realizou um levan-
tamento completo da sua população em 1703 (HAKKERT, 1996).
Contudo, o censo sueco de 1749 é considerado o primeiro levantamento
que satisfaz quase todos os critérios considerados essenciais para um recen-
seamento moderno. Em sua esteira, vieram também os censos da Noruega,
em 1760, e da Dinamarca, em 1769 (HAKKERT, 1996).
Os Estados Unidos foram o primeiro país a estabelecer uma rotina legal
para a organização decenal de censos populacionais, cuja periodicidade e
obrigatoriedade se basearam na Constituição, segundo a qual o levantamento
periódico da população nacional era necessário para reclassificar as unidades
de representação política para as eleições estaduais e da Câmara Federal. O
primeiro censo norte-americano foi realizado em 1790. Inglaterra e França
realizaram seus primeiros censos de maneira organizada em 1801. Na Amé-
rica Latina, os primeiros censos foram realizados após a independência das
colônias, começando pela Colômbia (1825), Chile (1843) e Uruguai (1852).
Hoje em dia, cada país possui seu sistema de coleta de informações de-
mográficas, realizada de acordo com parâmetros internacionais. Esses dados
são unificados e comparados pela divisão de estatística da Organização das
Nações Unidas (ONU). Esse órgão é responsável por compilar e disseminar
as estatísticas globais coletadas pelos censos, além de desenvolver padrões e
referenciais para as atividades estatísticas e de apoiar os países no fortaleci-
mento dos seus sistemas estatísticos.
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Histórico da coleta de dados demográficos no Brasil


A primeira lei brasileira que tratou de recomendar a realização de recensea-
mentos populacionais em âmbito nacional e em um intervalo de 10 anos foi a
Lei nº 1829, sancionada durante o Império, em 1870. Essa lei determinou ainda
que o governo deveria organizar os registros relacionados aos nascimentos,
casamentos e óbitos, criando, na capital, uma Diretoria Geral de Estatística
(OLIVEIRA; SIMÕES, 2005).
Antes da primeira lei determinando o recenseamento, os dados coletados
até então se limitavam a informações registradas de maneira pouco sistema-
tizada, nos registros civis, principalmente por meio do batismo, e em listas
nominativas com objetivos fiscais.

Apesar da lei específica para recenseamento ter sido aprovada somente em 1870, a
vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, estimulou a realização do primeiro
levantamento da população brasileira. Na época, foi contabilizado um total de 4
milhões de habitantes no país (OLIVEIRA; SIMÕES, 2005).

O registro civil tinha por objetivo registrar os nascimentos, casamentos e


óbitos que ocorriam no Império, mas era bem desorganizado, sem qualquer
sistemática. Em 1814 houve a primeira tentativa de organização dos registros,
mediante a implementação de mudanças em relação à obtenção dessas infor-
mações. Uma dessas mudanças foi a proibição do sepultamento de pessoas
sem a certidão de óbito expedida por um médico ou equivalente. Entretanto,
na época havia poucos profissionais habilitados de acordo com as exigências
e o país era predominantemente rural, com propriedades distantes entre si
e com meios de transporte limitados e lentos, o que tornou os efeitos dessa
mudança muito restritos.
Na década de 1860, quando as migrações internacionais ao Brasil tornaram-
-se mais intensas, novos decretos foram sancionados atribuindo a responsa-
bilidade de regulamentação do registro civil de casamentos e de óbitos ao
Estado. Esses registros que o Estado passou a realizar estavam relacionados
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aos indivíduos que não professavam a religião oficial do Império, que era a
católica e que realizava os registros vitais dos seus fiéis, ou seja, casamento,
batismo e sepultamento. Assim, até o Estado assumir o registro civil, todas
essas informações eram coletadas pela Igreja Católica.
A partir de 1870, quando os dados censitários passaram a ser coletados
pelo Estado, as estatísticas relacionadas à população da época passaram a ser
obtidas de maneira mais rápida e eficiente. Como as relações entre o Estado
e a Igreja nem sempre eram estáveis, as informações obtidas no registro civil
das igrejas eram repassadas com deficiência para o governo.
As informações coletadas até então, tanto pelo Estado quanto pela Igreja
Católica, tinham o objetivo de acompanhar o crescimento da população por
meio das taxas de natalidade (nascimentos) e taxas de mortalidade (óbitos e
sepultamentos), além da entrada de imigrantes no país.
A promulgação da Lei nº 1.829 em 1872 permitiu a realização do primeiro
censo nacional da população, sob responsabilidade da Diretoria Geral de
Estatística do Ministério de Negócios do Império. O primeiro censo foi rea-
lizado com o objetivo de estimar todos os habitantes do Império: nacionais,
estrangeiros, livres, escravos, presentes e ausentes. O censo de 1880 não foi
realizado por problemas políticos, enquanto os censos de 1890 e 1900 até
foram realizados, mas apresentaram muitos problemas com relação à cobertura
e à qualidade dos questionários. Os censos de 1910 e 1930 tampouco foram
realizados, mas o censo demográfico de 1920 foi feito com bastante detalhe,
mas teria superestimado a população da época em cerca de 10% (OLIVEIRA;
SIMÕES, 2005).
Mesmo com as falhas de periodicidade, os censos conduzidos até então
foram muito importantes, pois trouxeram informações como a quantificação
da população, sua composição (nacionais, estrangeiros, livres, escravos,
presentes e ausentes), a estrutura etária e a distribuição pelo território bra-
sileiro, que serviram para conhecer e compreender a dinâmica populacional
brasileira.
Com a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 1936, a partir da década de 1940 o censo demográfico passou a ser de
responsabilidade dessa instituição. Nesse período, além dos elementos que
já eram analisados, também foram acrescentados observações referentes a
fecundidade, mortalidade e migrações internas. O censo de 1940 representou
um grande passo na história das estatísticas populacionais nacionais, espe-
cialmente com relação à dinâmica demográfica.
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A nova etapa do censo demográfico na década de 1940 pode ser atribuída ao esforço
e conhecimento do demógrafo italiano emigrado para o Brasil Giorgio Mortara, con-
siderado um dos pioneiros do IBGE. Para saber mais sobre a sua história, consulte sua
breve biografia no site Memória IBGE. A referência completa para o material pode ser
encontrada na seção Leituras Recomendadas, ao fim deste capítulo.

Outro detalhe importante do censo de 1940 foi a preocupação em cumprir


com os padrões internacionais censitários da época, de modo que os dados
coletados no território brasileiro pudessem ser comparados com os de outras
nações. Como resultado, o Brasil participou, em 1946, do programa de censos
simultâneos proposto pelo Comitê do Censo das Américas (OLIVEIRA;
SIMÕES, 2005). Nesse sentido, tanto o censo de 1940 quanto o de 1950 foram
considerados os pioneiros na criação de questionários mais qualitativos, que
permitiram estudos demográficos mais abrangentes.
O acelerado crescimento da população brasileira observado da década de
1930 até 1960 elevou os custos com o recenseamento, em virtude do aumento do
número de pessoas a serem investigadas e analisadas. Para resolver o problema, o
IBGE criou um questionário básico a ser respondido pelo universo dos domicílios,
e um questionário mais amplo e detalhado para uma fração de 25% dos domicílios.
Os resultados obtidos no censo de 1960 não foram divulgados, em decorrência
da instabilidade política da época, com a implantação do Regime Militar, sendo
revelados parcialmente somente em 1978 (OLIVEIRA; SIMÕES, 2005).
O censo da década de 1970 é considerado o segundo marco divisório da
história dos censos brasileiros, devido à sua organização, à riqueza de deta-
lhes e à confiabilidade dos números. Nesse censo, foram investigados temas
como distribuição de renda, mercado de trabalho e educação. Os resultados
obtidos foram muito estudados e analisados tanto em escala nacional quanto
em comparações regionais, permitindo observar de maneira detalhada as
grandes desigualdades existentes entre as regiões do Brasil.
No censo da década de 1970 também foi identificado um grande cresci-
mento demográfico, sendo inclusive considerado uma explosão demográfica,
além dos dados relativos aos níveis de fecundidade. Também foi dada relativa
importância aos fluxos e às características dos movimentos migratórios, de
forma a entender e a relacionar os movimentos com os dados de distribuição
de renda, mercado de trabalho e educação.
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Os censos de 1980 e 1991 foram ampliados com relação à variedade de


questões, melhorando os detalhes da investigação dos censos anteriores, mesmo
com as dificuldades enfrentadas pelo censo de 1991, em decorrência da crise eco-
nômica de então. Nessa época, o planejamento das políticas públicas passaram a
considerar os dados obtidos pelo censo, refletindo-se nas demandas da sociedade
em temáticas como saúde, educação, mercado de trabalho, distribuição de renda,
desigualdades regionais e expectativa de vida (OLIVEIRA; SIMÕES, 2005).
A partir do censo dos anos 2000, novas questões foram inseridas nos ques-
tionários, e os resultados obtidos estimularam discussões com diversos setores
sociais, com grande participação da sociedade. Além disso, a preparação por
parte dos governos municipais e estaduais de uma malha cartográfica para
o trabalho dos recenseadores contribuiu para a ampliação da qualidade da
malha amostral, conferindo maior credibilidade às amostras. Dessa forma,
os dados obtidos têm ajudado a compreender a dinâmica demográfica brasi-
leira ao longo das décadas, de maneira que a cada decênio novas demandas
são observadas pelo poder público, ajudando a planejar o atendimento das
deficiências constatadas no censo.

2 Órgãos formuladores de estimativas


populacionais
Existem no Brasil e no mundo uma variedade de órgãos responsáveis por formular
estimativas populacionais, com o objetivo de contribuir, via análise e cruzamento
dos dados, com dados históricos e subsídios que possam orientar e definir as ações
relacionadas ao planejamento de governos municipais, estaduais e nacionais.

Entidades internacionais
Dentre as entidades internacionais, podemos destacar a União Internacional para
o Estudo Científico da População (IUSSP), a Divisão Populacional do Depar-
tamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, o United States Census
Bureau e o Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (Celade).
A IUSSP é uma entidade que promove diversos estudos científicos, em que
pesquisadores da temática populacional podem discutir os mais diversos temas
relacionados à demografia, como os indicadores de natalidade, mortalidade e
fecundidade, e suas relações com a economia, distribuição de renda, entre outros.
A Divisão Populacional do Departamento de Assuntos Econômicos
e Sociais da ONU é a entidade responsável pelo monitoramento e pela
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avaliação dos dados referentes à população de áreas em larga escala.


Nesse órgão, é possível encontrar dados estatísticos relacionados à pro-
jeção futura de crescimento da população mundial, taxas de migração
mundial, de fecundidade, de mortalidade, entre outras. Além disso, tam-
bém analisa o impacto dos dados demográficos na implementação de
políticas públicas que visem melhorar os indicadores de qualidade de
vida e o atendimento das necessidades básicas da população, reduzindo
as desigualdades sociais.
A United States Census Bureau é o órgão responsável pelo censo e
pelos estudos demográficos da população norte-americana. Essa entidade
disponibiliza uma série de indicadores, que podem ser utilizados para
comparação com os indicadores da América Latina e do Brasil. Serve
como a principal fonte de dados sobre o povo e a economia dos Estados
Unidos (Figura 1).

Figura 1. Propaganda do Censo de 2020 dos Estados Unidos para


sensibilização da população, como os dizeres “cada pessoa conta”.
Fonte: Wild 2 Free/Shutterstock.com.
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O Celade, que faz parte da Divisão de População da Comissão Econômica


para América Latina (Cepal), é uma entidade que analisa os dados demográfi-
cos da América Latina, como as taxas de imigração e emigração, as taxas de
natalidade e mortalidade e ainda a evolução da população afrodescendente e
indígena. A partir desses dados, são realizadas diversas projeções demográficas
com o objetivo de compreender a evolução dos indicadores, compará-los entre
os países da América Latina e observar se as políticas públicas têm contribuído
ou não para a melhoria dos indicadores.

Entidades nacionais
No Brasil, o primeiro órgão criado com o objetivo de coletar dados demo-
gráficos foi a Diretoria Geral de Estatística, em 1870, substituída em 1936,
com a criação do IBGE, que desde então representa a principal entidade de
coleta e tratamento de informações demográficas do país. Existem ainda
outras instituições, como a Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence),
a (Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) e o Instituto de
Pesquisas Econômicas (Ipea). Além dessas entidades, também há outras de
caráter regional e ainda ligadas a instituições de ensino superior, que muito
contribuem para os estudos populacionais e para a elaboração e interpretação
de tendências e comportamentos.
O IBGE foi criado em 1934 e é o principal provedor de dados e infor-
mações demográficas do Brasil, responsável por atender às demandas dos
diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos governamentais
nas esferas municipais, estaduais e federal. Além do censo demográfico, o
IBGE realiza a análise e a interpretação dos dados obtidos, de forma a obter
projeções demográficas e outras informações que possam ser utilizadas no
planejamento de políticas públicas.
Por sua vez, a Ence foi criada em 1953 com o objetivo de formar estatísticos
para trabalharem junto ao IBGE, atuando ainda na formação de profissionais
nas áreas de estatística e demografia. Além disso, também contribui com
pesquisas acadêmicas e publicações com análises das tendências gerais da
demografia.
A Abep foi criada em 1976 e é uma entidade que tem por objetivo reunir
estudiosos e pesquisadores das temáticas demográficas e populacionais. Além
disso, a associação também atua na elaboração de diversos estudos e análises
sobre os indicadores populacionais e suas tendências, além de comparativos
entre as regiões e estados do Brasil.
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Criado em 1964, o Ipea é um órgão público federal que visa fornecer suporte
técnico e institucional para auxiliar o governo na formulação e reformulação de
políticas públicas e também na elaboração de programas de desenvolvimento.
Com o passar dos anos, também passou a elaborar estudos, análises e pesqui-
sas nas áreas econômica e social brasileiras. Pela análise e interpretação de
dados demográficos, são formuladas ações relacionadas a políticas públicas
e programas de desenvolvimento visando ao equacionamento de problemas
relacionados à economia e às desigualdades sociais.

3 Utilidade e aplicação das informações


demográficas
As informações demográficas podem ser utilizadas tanto por formuladores
de políticas públicas quanto por pesquisadores e grupos de estudos que in-
vestigam o tema populacional. Os dados obtidos são usados para entender as
características da população em termos de faixa etária, gênero, distribuição
e localização no espaço, renda e mobilidade e como elas se comportam e se
modificam com o tempo.
Os dados demográficos captam em totalidade as características populacio-
nais e ajudam a identificar detalhes pouco comuns que existem em determi-
nados grupos sociais. Esses dados são muito importantes para a elaboração
de políticas públicas específicas, além de contribuir na análise da origem e
evolução das desigualdades sociais. Dessa forma, podemos dizer que os dados
demográficos, além de comporem um conjunto de números, taxas e índices,
também expressam a realidade do momento em que foram coletados, o que é
relevante para futuras comparações das ações implementadas para a melhoria
dos indicadores observados.
As fontes e as informações demográficas tornam-se mais próximas da reali-
dade de acordo com sua disponibilidade, regularidade e qualidade (HAKKERT,
1996). A disponibilidade refere-se à simples existência dos dados, que interfere
na escolha de um determinado objeto de pesquisa, já que só se estuda alguma
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coisa se os dados estiverem disponíveis. Dessa forma, quanto mais dados são
obtidos, mais disponíveis eles se tornam e, assim, ampliam a capacidade de
análise dos dados demográficos.
A regularidade consiste no limite temporal, o que possibilita a realização
de estudos comparativos entre diferentes regiões, mas com a mesma data ou
período de referência. Além disso, a regularidade permite a realização de
avaliações conjunturais mais amplas e o entendimento de tendências popula-
cionais, como evolução, regressão, permanência, entre outros.
A qualidade dos dados, por sua vez, diz respeito à sua abrangência ter-
ritorial e à sua coerência em relação à pergunta, já que os dados são uma
consequência direta da forma como foi obtido no processo de aplicação do
questionário.
Há também os aspectos relacionados à natureza do dado demográfico,
que pode ser classificado como um dado de estoque ou um dado de fluxo
(HAKKERT, 1996). O dado de estoque pode ser definido como uma infor-
mação estática da população em um determinado momento, como número
de habitantes, sua distribuição territorial e sua composição por faixa etária,
gênero, grau de escolaridade, raça, cor, rendimento mensal, etc. Os dados de
estoque são obtidos no censo demográfico.
Já o dado de fluxo diz respeito a características dinâmicas da população e
que interferem na dinâmica populacional, ou seja, que alteram o tamanho da
população, sua distribuição territorial e sua composição. Os dados de fluxo
referem-se, portanto, às taxas de natalidade, de mortalidade e às migrações, e
são obtidos por meio dos registros civis e de levantamentos especiais, como as
pesquisas de origem–destino e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(PNAD).

Tipos de informações e suas aplicações


O censo demográfico é um processo de pesquisa populacional total, composto
pelas etapas de pré-recenseamento, recenseamento propriamente dito e pós-
-recenseamento (Figura 2).
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Figura 2. As etapas do recenseamento.

O pré-recenseamento é a etapa em que o território a ser pesquisado é


mapeado e cartografado, o calendário censitário é programado e a equipe
censitária é formada. O recenseamento é a etapa em que a coleta é realizada.
Já o pós-recenseamento é a etapa em que acontece o processamento, a avalia-
ção, a análise e a divulgação de seus resultados, além de revisões e possíveis
correções dos resultados da aplicação dos questionários (HAKKERT, 1996).
As informações obtidas pelo censo consistem em dados estáticos da popu-
lação, ou seja, uma “fotografia” daquele momento em determinado território
e com uma determinada realidade. Dessa maneira, para que os dados sejam
válidos e passíveis de comparação, devem apresentar uma periodicidade defi-
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nida, referência e delimitação territorial e contagem universal dos indivíduos


do território com a mesma data de referência, para que haja uma enumeração
o mais fidedigna possível. Por essa razão, a preparação do censo demográfico
é complexa e exige muita atenção para que os dados sejam estatisticamente
válidos.
Os dados coletados pelo censo demográfico referem-se a informações como:
nome completo, idade, sexo, relação com o chefe do domicílio, estado civil,
ocupação laboral, condição econômica e educacional, condição de naturalidade
em relação ao município e à unidade da federação em que ocorre a entrevista,
entre outras questões (HAKKERT, 1996). Os elementos a serem avaliados nos
questionários variam em função do seu tipo. Assim, os questionários básicos
são aplicados ao universo da população, enquanto os questionários amostrais
mais completos são aplicados a uma amostra dessa população.
A seleção dos domicílios para responderem ao questionário amostral é
feita de modo aleatório, a partir do computador de mão que é portado pelo
recenseador (Figura 3). Os domicílios estão listados no computador, e à me-
dida que o recenseador avança na pesquisa, o sistema sorteia os domicílios,
de modo que eles sejam espalhados geograficamente, contemplando toda a
extensão do setor censitário.

Figura 3. Recenseador munido de seu computador portátil.


Fonte: Garcia (2019, documento on-line).
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O questionário completo, além de ser utilizado para aprofundar o conhecimento sobre


as caraterísticas sociais, econômicas e demográficas da população, também tem a
função de checar a qualidade das informações referentes ao universo, em uma espécie
de conferência desses resultados. Além disso, a fração amostral para a aplicação do
questionário completo é determinada de acordo com o tamanho da população do
município (HAKKERT, 1996).

Os resultados obtidos no censo permitem saber qual é o quantitativo po-


pulacional e inferir as características sociais, econômicas e demográficas
da população, contribuindo no planejamento e na determinação de políticas
públicas para os municípios, estados e a federação. Pela aplicação do censo, é
possível determinar as áreas mais vulneráveis e criar mecanismos de geração
de trabalho e renda, ou mesmo associar escolaridade e renda à concentração de
um determinado grupo social ou etnia, etc. Além disso, os resultados também
podem ser transformados em mapas temáticos, como aqueles que comparam
a densidade populacional ao longo do tempo, as diferenças de renda e esco-
laridade entre municípios, estados e regiões, dentre outros, e assim realizar
comparações temporais e cruzamento de dados.
No entanto, devemos observar que o censo, por se tratar de um processo
complexo, também está sujeito a erros e limitações que podem superestimar,
subestimar ou ainda classificar os resultados de forma equivocada. A superes-
timação pode ocorrer quando há uma falha na delimitação do território a ser
pesquisado e um indivíduo é entrevistado duas vezes. A subestimação ocorre
quando um determinado grupo não é computado pelo censo, como imigrantes
ilegais que evitam qualquer aproximação por parte do Estado. Já os resultados
que são classificados de maneira errônea podem ocorrer quando uma informação
fornecida por um entrevistado é inverídica, como as mães solteiras que omitem
a existência dos filhos, pessoas que arredondam a idade, entre outros.
Outra fonte de dados é o registro civil, que tem como objetivo acompanhar
as ocorrências de eventos que modificam o tamanho ou a composição da
população ao longo do tempo, ou seja, dados e eventos dinâmicos. A unidade
de enumeração do registro civil, portanto, é o evento demográfico, enquanto
a unidade de enumeração do censo é o indivíduo (HAKKERT, 1996).
O registro civil é responsável pelo registro dos nascidos vivos, divórcios,
separações judiciais, casamentos, óbitos e óbitos fetais. Por meio desse registro,
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é possível obter as estatísticas civis, que apresentam algumas características


fundamentais: são originadas de informações comunicadas e registradas em
cartórios de registro civil; são colhidas e sistematizadas ao longo de todo o ano;
e são divulgadas segundo o local de ocorrência e o local de registro do evento
(HAKKERT, 1996). Além das suas finalidades estatísticas, o registro civil
cumpre uma função legal, pois os eventos registrados modificam a situação das
pessoas perante leis que variam de país para país e têm uma maior especificidade
e durabilidade do que a legislação referente aos censos (MAGALHÃES, 2015).

No Brasil, o registro civil é fonte de dados para três sistemas de informações muito
importantes para o estudo da população e a formulação de políticas públicas: o Sistema
de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), cujos dados são originados da Declaração
de Nascido Vivo; o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), cujos dados são
originados da Declaração de Óbito; e o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), cujos
dados são originados da Autorização de Internação Hospitalar (MAGALHÃES, 2015).

Outro levantamento realizado no Brasil é a PNAD, um sistema de pes-


quisas que investiga diversas características gerais da população, como grau
instrucional, ocupação, rendimento e habitação, além de outras características
mais dinâmicas, como migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição
e outros temas que são incluídos no sistema de acordo com as necessidades
de informação para o país em um dado momento (MAGALHÃES, 2015).
A PNAD gera informações mais profundas e detalhadas sobre os temas
levantados e também a possibilidade de acompanhamento de variáveis sociais,
econômicas e demográficas entre um censo e outro. Embora a PNAD seja
realizada em todos os estados brasileiros, o nível municipal só está disponível
para as regiões metropolitanas.
De forma geral, as pesquisas realizadas têm como objetivo o levantamento
de dados em uma determinada escala temporal, visando a comparação e o
acompanhamento da evolução da dinâmica demográfica ao longo do tempo,
por meio de informações estáticas e dinâmicas. Essas informações, quando
coletadas, trazem à tona a realidade de uma porção do espaço geográfico,
indicando como essas informações se comportam com o tempo, e quais são
os elementos estáticos que promoveram essas alterações. Nesse sentido, o
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planejamento governamental tenta atuar nos parâmetros estáticos, de forma


que os resultados possam se refletir nos elementos dinâmicos.
Mediante a coleta de dados demográficos, podemos obter informações sobre a
quantidade de habitantes e as características demográficas gerais dos indivíduos,
como sexo e faixa etária, o que permite acompanhar a evolução e a composição da
população. Já os dados sobre educação possibilitam traçar o perfil educacional da
população e quantificar sua parcela em idade escolar, identificando a necessidade
de construção de unidades de ensino e os locais em que devem ser construídas.
Informações sobre trabalho, por sua vez, permitem conhecer a composição da
mão-de-obra um país, distinguindo as pessoas que procuram trabalho e as que estão
empregas, o tipo de emprego e o regime de trabalho. Dados sobre fecundidade,
por exemplo, têm como finalidade conhecer a história reprodutiva das mulheres e
fornecer os parâmetros demográficos que são utilizados nas projeções da população.
Assim, podemos perceber que as informações populacionais são essenciais para
a proposição de determinadas ações por parte do poder público, como projetos para
redução das desigualdades sociais e a oferta de educação, saúde e segurança. Com
os dados coletados por diferentes entidades e metodologias, pode-se obter um retrato
fiel da parcela da população que está sendo estudada, de forma a compreender
suas necessidades e seus problemas, e, a partir desses resultados, propor medidas
de melhorias a curto, médio e longo prazo. Além disso, a obtenção dos dados
permite comparar a situação do território brasileiro em relação a outras nações,
de modo que possamos identificar atrasos e buscar as soluções para equacionar as
desigualdades regionais, tanto em escala mundial quanto em escala regional e local.

GARCIA, A. Censo Demográfico 2020 terá menos perguntas e orçamento menor, anuncia
IBGE. Gazeta do Povo, 28 maio 2019. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.
br/republica/censo-demografico-2020-ibge/. Acesso em: 28 abr. 2020.
HAKKERT, R. Fontes de dados demográficos. Belo Horizonte: ABEP, 1996. (Textos didáticos,
3). Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/textos/article/
view/2987/2851. Acesso em: 28 abr. 2020.
MAGALHÃES, L. F. A. Fontes de dados demográficos e estudos de população em Santa
Catarina. Revista NECAT, v. 4, n. 7, p. 23–37, 2015.
OLIVEIRA, L. A. P.; SIMÕES, C. C. S. O IBGE e as pesquisas populacionais. Revista Brasileira
de Estudos da População, São Paulo, v. 22., n. 2, p. 291–302, jul./dez. 2005.
Fontes de informações demográficas 17

Leituras recomendadas
DAMIANI, A. População e geografia. São Paulo: Contexto, 1991.
DANTAS, E. M.; MORAIS, I. R.; FERNANDES, M. J. C. Geografia da população. 2. ed. Natal:
EDUFRN, 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Memória: Pioneiros do IBGE:
Giorgio Mortara. 2020. Disponível em: https://memoria.ibge.gov.br/sinteses-historicas/
pioneiros-do-ibge/giorgio-mortara. Acesso em: 28 abr. 2020.
RIOS NETO, E. L. G. A população nas políticas públicas: gênero, geração e raça. Brasília:
CNPD/UNFPA, 2006.
SANTOS, J.; LEVY, M. S.; SZMRECSANYI, T. (Org.). Dinâmica da população: teoria, métodos
e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980.
THUMERELLE, P. J. As populações do mundo. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

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