Você está na página 1de 2

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/304784002

Poster 4 tipos de suicidio

Data · July 2016

CITATIONS READS

0 1,691

2 authors:

Eduardo Manuel Gonçalves Alexandre Pértega Gomes


Universidade do Algarve and Hospital of Faro, Portugal Hospital de Faro EPE
40 PUBLICATIONS   82 CITATIONS    11 PUBLICATIONS   2 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Neuroevolucionary approach to hallucinatory schizophrenia View project

All content following this page was uploaded by Alexandre Pértega Gomes on 04 July 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


OS 4 TIPOS DE SUICÍDIO EM DURKHEIM:
EGOÍSTA, ALTRUÍSTA, ANÓMICO E FATALISTA.
– REVISÃO DA LITERATURA –
Alexandre Pértega-Gomes1, Eduardo Gonçalves1
1Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar de Faro.
alexandre.pertega.gomes@gmail.com - eduar.goncalves@gmail.com

BACKGROUND O AUTOR E A OBRA


Camus inicia "O Mito de Sísifo" com a frase: existe apenas um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Da Émile Durkheim (15 de Abril, 1858 – 15 de Novembro, 1917) foi um filósofo, sociólogo e psicólogo
filosofia para a medicina, em particular na psiquiatria, o mesmo problema assume essa essência intrigante, não obstante os social francês. Frequentemente mencionado como o pai da Sociologia, muito do seu trabalho
esforços vários - da psicologia social à genética. A obra de Émile Durkheim "Le Suicide" pode ser vista como a pedra angular enfocou nos mecanismos de integração e coerência das sociedades modernas – contextualizado nas
do estudo sistemático do suicídio. Apesar da contestação de muitas das suas conceções, e do subsequente contributo mudanças dos moldes sociais tradicionais nomeadamente decorrentes da Industrialização, e
contínuo de inúmeros autores e escolas, a visão macrossocial do autor permanece justamente como uma referência. motivado por uma forte convicção na afirmação da Sociologia como ciência autónoma. Das suas
obras, destacam-se “Da Divisão do Trabalho Social” (1893), “Regras do Método Sociológico” (1895) e
“O Suicídio ” (1897), que se tornaria um clássico da Sociologia. Este trabalho é considerado notável
OBJETIVOS E MÉTODOS pelo método utilizado, que combina factos empíricos com teoria sociológica, e pelo esforço de
sistematização de um fenómeno tão complexo. Partindo da tese de que “os movimentos que o
Revisitar os 4 tipos fundamentais de suicídio em Durkheim: egoísta, altruísta, anómico e fatalista, através de leitura dirigida da
paciente realiza e que, à primeira vista, parecem só exprimir o seu temperamento pessoal, são, na
obra "Le suicide" de Émile Durkheim e textos subsidiários sobre a mesma, selecionados de acordo com a sua pertinência
realidade, a consequência e o prolongamento de um estado social que manifesta exteriormente”, e
temática e autoria; Refletir sobre a importância desta visão na psiquiatria e prática contemporânea.
que “para descobrir [a causa geradora] é preciso colocar-se acimas dos suicídios isolados e ver o que
lhes dá unidade”, faz uso da estatística para determinar a taxa social de suicídios, estabelecer
comparações entre grupos, e apresentar uma Teoria Macrossocial em virtude das variações
TEORIA MACROSSOCIAL DO SUICÍDIO encontradas, da qual extrai a Tipologia do Suicídio exposta no presente Poster.
Na perspetiva de Durkheim, o fenómeno do suicídio é estudado colocando a questão da conservação / dissolução social
no centro do seu referencial. Ao não encontrar "nenhum estado psicopático ou psicológico normal, variável racial, Suicídio Altruísta
cósmica, (...) que mantenha com o suicídio uma relação regular e incontestável", fundamenta que "existe para cada grupo
social uma tendência específica para o suicídio que nem a constituição organico-psíquica dos indivíduos, nem a natureza
+
do ambiente natural explicam, resultando disso, por eliminação, que essa tendência deva depender de causas sociais e
constituir por si mesma um fenómeno coletivo." A ideia central é a de que existe uma disposição social para o suicídio (le Suicídio Suicídio
REGULAÇÃO
courant social au suicide), isto é, uma tendência dos grupos sociais para o suicídio, isoladamente das suas manifestações Anómico - + Fatalista

INTEGRAÇÃO
individuais. O autor apresenta duas grandes dimensões para uma malha social: integração e regulação. Integração refere-
se às relações sociais que ligam o indivíduo ao grupo, e regulação aos preceitos morais e função normativa associada ao
grupo. O posicionamento do indivíduo num ou noutro extremo de um dos eixos predisporia ao suicídio, e deste modelo
resultam os 4 tipos de suicídio da sua teoria: Egoísta, Altruísta, Anómico e Fatalista.
-
Suicídio Egoísta

Exemplos
SUICÍDIO ALTRUÍSTA -- Pilotos kamikaze
-- Bombistas suicidas
Suicídio resultante de excesso de integração na sociedade, à custa de uma insuficiente individualidade. Durkheim refere
que neste tipo, o indivíduo não só tem o direito de se suicidar, como tem esse dever, podendo mesmo ser socialmente
punido se não o fizer. Neste contexto, o ego não é propriedade do indivíduo, mas encontra-se mesclado com um todo
social, e os objetivos da sua conduta são exteriores a si próprio. O suicida altruísta está dedicado a uma causa que o
ultrapassa, lhe é superior. O autor define os subtipos obrigatório, em que o suicídio é um dever social, o opcional, em que
Exemplos Paradigmáticos apesar de não ser obrigatório a sociedade lhe é favorável e a isso incita, e o agudo – mais discutível se é ou não
- Suicídio decorrente de crise financeira verdadeiramente altruísta.
- Suicídio decorrente de prosperidade financeira
- Suicídio decorrente da viuvez
- Suicídio decorrente do divórcio

SUICÍDIO ANÓMICO SUICÍDIO FATALISTA


Durkheim define como anómico todo o suicídio que sucede uma quebra na ordem social, ou seja, estados de
baixa regulação da sociedade. Em resumo, define como anomia a perda de relação entre o indivíduo e a
sociedade. Pode ocorrer no contexto de grandes alterações na distribuição de riqueza, isolamento Suicídio decorrente de excesso de regulação pela sociedade. Conceito que é explorado
geográfico, ou alienação cultural. No que respeita a alterações do status económico, quer uma posteriormente, por oposição ao estado de anomia. Resulta quando o indivíduo não vê possibilidade
desclassificação quer uma promoção, se profundos, têm impacto no modo como a sociedade rege o de futuro em virtude de viver num contexto de despotismo físico ou moral, em que as suas
indivíduo. Outros autores complementaram a definição, referindo a anomia enquanto incapacidade das aspirações são totalmente verificadas pela sociedade. O suicídio surge como única escapatória
ações individuais serem “institucionalizadas” num sistema social. Uma perspetiva mais recente afirma que a possível a um contexto normativo imposto e inapelável.
ação individual e a regulação social são complementares, e que a anomia surge da perda desta propriedade.
O autor especifica os subtipos anomia doméstica, anomia conjugal e anomia matrimonial.

Exemplos Paradigmáticos
- Suicídio de escravos
SUICÍDIO EGOÍSTA - Suicídio de minorias em ambiente totalitário

Suicídio decorrente da baixa integração na sociedade. Durkheim apresenta a noção de que nos primórdios da evolução
das sociedades, os objetivos e aspirações coletivos eram factos sociais que integravam as ações e pensamentos individuais
nos dos restantes membros da sociedade. Nestes períodos as taxas de suicídio diminuem. À medida que as sociedades
evoluem, o indivíduo move-se para além do foco social coletivo, o que Durkheim designa de “individualismo excessivo” ou
“egoísmo”, e que autores mais recentes designariam de “novo narcisismo”, “être pour soi”. O indivíduo depende menos do
grupo e mais de si próprio, e são os seus interesses a determinar as suas ações, havendo uma perda de significado das
ações para além da perspetiva individual. A predisposição ao suicídio surgiria quando o projeto individual, inerentemente
Exemplo paradigmático
- Suicídio do indivíduo deprimido frágil e não mais integrado num sistema social, se desintegra.

SIGNIFICADO ATUAL E CONCLUSÕES


CRÍTICAS E DISCUSSÃO Numa época em que se buscam avidamente as bases biológicas da psicopatologia, e que a mesma linha de pensamento
Nas várias revisões da obra, são elogiados o esforço metodológico desenvolvido por Durkheim no sentido de elaborar um biológico é aplicada ao estudo do suicídio - nomeadamente na busca de marcadores genéticos - o risco de partir de um
modelo que integrasse teoria e dados estatísticos, que vai além de uma sistematização de questões já colocadas, mas que paradigma macro reducionista, para um paradigma micro igualmente reducionista é elevado. A complexidade do fenómeno
reperspetiva de facto o tema. Uma grande crítica apontada é a de que não existe dialética na sua teoria - há um grande do suicídio assume a necessidade de uma visão ampla e multicêntrica, e assim também o deverá ser a abordagem no
interesse no impacto das macroestruturas sobre os fenómenos de nível micro, mas os efeitos retroativos são largamente sentido da prevenção. Revisitar obras como a de Durkheim, com todas as falhas e limitações que lhe são apontadas, é mais
ignorados. Vários autores questionam a validade das estatísticas utilizadas, nomeadamente por representarem uma falácia do que um exercício de leitura histórica; as ideias expostas contribuem para reforçar aspetos essenciais na prática, como o
ecológica -ie, produzem-se inferências causais sobre comportamentos individuais com base em dados agregados. Aponta-se papel protetor da integração social (implícito na abordagem da psiquiatria comunitária e programas de reabilitação), e a
ainda que na abordagem da relação do suicídio com a doença mental, Durkheim tenha recorrido a bibliografia de um modo influência relativa de variáveis sociodemográficas nas taxas de suicídio (patente nas escalas de estratificação do risco) - no
enviesado - embora outros críticos defendam que no trabalho do sociólogo havia mais "o desejo positivista de estudar as fundo, fornecendo dados para a fundamentação de um modelo biopsicossocial. Apresenta ainda o conceito de anomia
taxas, as regras e tipos do fenómeno social do que inquirir sobre a desconhecida intencionalidade individual". como sintoma de um estado patológico da sociedade, o que espelha a noção de um papel regulador, moral e solidário da
ordem coletiva – aspeto relevante num contexto atual em que os valores elevados são essencialmente individuais.
Almejando compreender algo tão complexo como o fenómeno suicidário, é importante estudar e lecionar os clássicos.
Referências Bibliográficas: Durkheim (1897) - Le Suicide. Ed. Alcan. Edição Portuguesa: O Suicídio, Ed. Presença, 1977. Leenaars, A.A., Altruistic suicide: a few reflections. Arch Suicide Res, 2004. 8(1): p. 1-7. Lester, D., Altruistic suicide: a look at some issues. Arch Suicide Res, 2004. 8(1): p. 37-42. Niculescu, A.B., et al., Understanding and
predicting suicidality using a combined genomic and clinical risk assessment approach. Mol Psychiatry, 2015. 20(11): p. 1266-85. Nunes, E.D., [Durkheim's Suicide: reassessment of a classic from 19th-century sociological literature]. Cad Saude Publica, 1998. 14(1): p. 7-34. Robertson, M., Books reconsidered: Emile Durkheim, Le Suicide.
Australas Psychiatry, 2006. 14(4): p. 365-8. Saraiva, C.B., Suicídio: de Durkheim a Schneidman, do determinismo social à dor psicológica individual. Psiquiatria Clínica, 2010. 31(3): p. 185 - 205. Stack, S., Durkheim's theory of fatalistic suicide: a cross-national approach. J Soc Psychol, 1979. 107(Second Half): p. 161-8. Stack, S., Emile
Durkheim and altruistic suicide. Arch Suicide Res, 2004. 8(1): p. 9-22. Travis, R., Halbwachs and Durkheim: a test of two theories of suicide. Br J Sociol, 1990. 41(2): p. 225-43
View publication stats

Você também pode gostar