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Comércio Exterior

Prof. José Alfredo Pareja Gomes de La Torre


Prof. Anderson da Silva

2016
Copyright © UNIASSELVI 2016

Elaboração:
José Alfredo Pareja Gomes de La Torre
Anderson da Silva

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

382
L111c La Torre; José Alfredo Pareja Gomes de
Comércio Exterior / José Alfredo Pareja Gomes de La Torre: UNIASSELVI,
2016.

194 p. : il
ISBN 978-85-515-0025-5

1. Comércio exterior.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Seja bem-vindo ao caderno de estudos de Comércio Exterior.

Desde as civilizações antigas, o comércio internacional ajuda no


desenvolvimento socioeconômico das sociedades. A grande diferença é que
hoje esse comércio é muito mais dinâmico e interdependente entre países.
É difícil encontrar uma mercadoria que seja 100% de um só país, a maioria
das mercadorias produzidas aqui, no Brasil, e nos demais países, dificilmente
terão 100% de insumos nacionais.

A dinâmica econômica mundial demanda que os países estejam


inter-relacionados tanto comercialmente como financeiramente, fenômeno
conhecido como globalização. Devemos observar que nesse mundo
globalizado há uma constante troca comercial e financeira, fato que determina
a quase inexistência de limites comerciais entre os diversos territórios entre
países.

Nesse contexto, o comércio exterior brasileiro possui um papel de


destaque para que as empresas possam executar seus interesses comerciais
internacionais. E quem executa essas atividades de comércio exterior, tanto
no âmbito público como no privado? As atividades de comércio exterior
são executadas pelos profissionais competentes das organizações, tanto
dos órgãos públicos como das empresas que fazem parte ativa do comércio
exterior brasileiro, ou seja, você, futuro gestor. Assim, neste caderno de
estudos vamos lhe ajudar a gerar essas competências necessárias.

Para poder lhe ajudar nos seus estudos desta disciplina, este caderno
está dividido em três unidades.

Na Unidade 1, vamos estudar sobre o contexto histórico e atual


da importância do comércio internacional para o desenvolvimento
socioeconômico das nações. Vamos também abordar o tema da necessidade
de os países gerarem parceiros comerciais, financeiros e econômicos,
parcerias que são feitas por meio de blocos econômicos. E para finalizar a
unidade estaremos lendo sobre a importância dos organismos internacionais
no contexto do comércio mundial.

Na Unidade 2, vamos estudar sobre o contexto financeiro do comércio


internacional, pois para executar uma comercialização internacional é
necessário de um mercado cambial e fontes de financiamento. Também
estaremos estudando sobre quais são os principais órgãos do governo que
compõem a parte administrativa do comércio exterior brasileiro.

III
Na Unidade 3, vamos estudar sobre as condições técnicas do comércio
exterior brasileiro, apreendendo sobre como são classificadas as mercadorias
no padrão de comercialização internacional e como elas são codificadas por
meio da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Logo depois estaremos
lendo sobre as condições logísticas do comércio internacional, apreendendo
sobre os Incoterms. E por último, estaremos analisando como é feita a
precificação no comércio exterior.

Agora deixo você se concentrar nos seus estudos. Lembrando-o que


ao longo de sua caminhada você tem acesso ao material de apoio por meio da
trilha de aprendizagem, disponível no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem
(AVA).

Bons Estudos!

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda
mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza
materiais que possuem o código QR Code, que
é um código que permite que você acesse um
conteúdo interativo relacionado ao tema que
você está estudando. Para utilizar essa ferramenta,
acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor
de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa
facilidade para aprimorar seus estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL..................................................... 1

TÓPICO 1 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR


DOS PAÍSES....................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 EVOLUÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL............................................................................ 3
2.1 LIBERALISMO DO SÉCULO XIX.................................................................................................. 5
2.2 GRANDE DEPRESSÃO DE 1929.................................................................................................... 6
2.3 CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL APÓS A SEGUNDA
GUERRA MUNDIAL....................................................................................................................... 7
2.4 NOVO CENÁRIO MUNDIAL DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XXI................... 8
3 DIFERENÇA ENTRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR.............. 14
3.1 EXPORTAÇÕES................................................................................................................................ 15
3.2 DETERMINANTES PARA EXPORTAR........................................................................................ 17
3.3 AS IMPORTAÇÕES.......................................................................................................................... 18
3.4 DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕES................................................................................... 19
3.4.1 Recursos necessários à economia de um país...................................................................... 19
3.4.2 Interesse de uma empresa para importar............................................................................ 20
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 24

TÓPICO 2 – BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL............................................................... 27


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 27
2 CONCEITO DE BLOCO ECONÔMICO........................................................................................... 28
3 FASES NO DESENVOLVIMENTO DE BLOCOS ECONÔMICOS............................................ 29
3.1 PRIMEIRA ETAPA – ZONA DE LIVRE-COMÉRCIO................................................................ 29
3.2 FASE DE UNIÃO ADUANEIRA.................................................................................................... 30
3.3 FASE MERCADO COMUM............................................................................................................ 31
3.3.1 Mercosul.................................................................................................................................... 32
3.4 UNIÃO ECONÔMICA E POLÍTICA............................................................................................. 34
3.4.1 A União Europeia (EU)........................................................................................................... 34
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 37
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 38

TÓPICO 3 – ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO


INTERNACIONAL............................................................................................................ 39
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 39
2 FINALIDADE DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS.......................................................... 39
2.1 PRINCIPAIS ORGANISMOS INTERNACIONAIS..................................................................... 40
2.2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO (OMC)............................................................. 41
2.3 CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL (CCI).............................................................. 42
3 BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL....................................................................... 44
3.1 BARREIRAS TARIFÁRIAS.............................................................................................................. 47
3.1.1 Sobretaxa de alíquota de importação e antidumping........................................................ 48

VII
3.1.2 O dumping e antidumping.................................................................................................... 49
3.2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS................................................................................................... 50
3.2.1 Barreiras técnicas..................................................................................................................... 51
3.2.2 Subsídios................................................................................................................................... 54
3.2.3 Quotas de importação............................................................................................................. 55
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 56
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 59
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 60

UNIDADE 2 – ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL.................... 63

TÓPICO 1 – CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE


CAPITAIS INTERNACIONAIS..................................................................................... 65
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 65
2 OS PRINCIPAIS CENTROS FINANCEIROS INTERNACIONAIS E REGIONAIS............... 65
3 CAPITAIS ESTRANGEIROS.............................................................................................................. 67
4 MERCADO DE CÂMBIO.................................................................................................................... 70
4.1 PARTICIPANTES DO MERCADO................................................................................................. 72
4.2 MERCADO LIVRE E MERCADO CONTROLADO.................................................................... 73
5 INFLUÊNCIA ECONÔMICA NO COMÉRCIO EXTERIOR........................................................ 74
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 76
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 77

TÓPICO 2 – RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO........... 79


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 79
2 FONTES DE FINANCIAMENTO ÀS PRÁTICAS DO COMÉRCIO
EXTERIOR BRASILEIRO..................................................................................................................... 79
2.1 ACC..................................................................................................................................................... 80
2.2 ACE..................................................................................................................................................... 80
2.3 PROEX................................................................................................................................................ 81
2.4 FINAMEX.......................................................................................................................................... 81
2.5 EXPORT NOTE................................................................................................................................. 81
2.6 COMMERCIAL PAPERS................................................................................................................. 82
2.7 SUPPLIER’S CREDIT....................................................................................................................... 82
2.8 BUYERS CREDIT.............................................................................................................................. 82
2.9 CÂMBIO FUTURO........................................................................................................................... 83
2.10 FINAMIM........................................................................................................................................ 83
3 RELAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS..................................................................................... 83
4 POLÍTICAS DE COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO.............................................................. 85
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 88
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 92
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 93

TÓPICO 3 – ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO


EXTERIOR NO BRASIL................................................................................................... 95
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 95
2 ESTRUTURA GOVERNAMENTAL DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO.................. 95
2.1 CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR - CAMEX...................................................................... 95
2.2 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES – MRE OU “ITAMARATY”........................... 99
2.3 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E
COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC................................................................................................... 100
2.4 SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR – SECEX................................................................. 101

VIII
2.4.1 Departamento de Operações de Comércio Exterior – DECEX......................................... 101
2.4.2 Departamento de Negociações Internacionais – DEINT................................................... 102
2.4.3 Departamento de Defesa Comercial – DECOM.................................................................. 102
2.4.4 Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio
Exterior – DEPLA.................................................................................................................... 102
2.5 SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL - SRF............................................................................. 103
2.6 BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN.................................................................................. 104
2.7 MINISTÉRIO DA SAÚDE............................................................................................................... 104
2.8 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO................................. 105
3 REGIME ADUANEIRO BRASILEIRO.............................................................................................. 106
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 110
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 111

TÓPICO 4 – QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO


INTERNACIONAL........................................................................................................... 113
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 113
2 A GENERALIDADE DO COMÉRCIO EXTERIOR NAS CULTURAS....................................... 113
3 IMPACTOS CULTURAIS NAS RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE PAÍSES.......................... 116
3.1 O TEMPO........................................................................................................................................... 116
3.2 PROTOCOLO DE CUMPRIMENTO E CORDIALIDADE......................................................... 117
3.3 AS CORES E IMAGEM.................................................................................................................... 118
3.4 O IDIOMA......................................................................................................................................... 118
3.5 A RELIGIÃO...................................................................................................................................... 119
4 PAÍSES COM DISPOSIÇÕES PECULIARES.................................................................................. 119
4.1 CHINA............................................................................................................................................... 120
4.2 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA............................................................................................... 120
4.3 ARÁBIA.............................................................................................................................................. 121
4.4 JAPÃO................................................................................................................................................ 122
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 122
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 127
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 128

UNIDADE 3 – A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM)


E OS INCOTERMS........................................................................................................ 131

TÓPICO 1 – CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS................................. 133


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 133
2 A MERCEOLOGIA E O SISTEMA HARMONIZADO (SH)........................................................ 133
2.1 CODIFICAÇÃO DO SISTEMA HARMONIZADO (SH)............................................................ 135
3 A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM)........................................................... 136
3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CONFORME A NCM..................................................... 139
4 A TARIFA EXTERNA COMUM (TEC) E TRATAMENTOS ADMINISTRATIVOS................ 140
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 145
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 146

TÓPICO 2 – A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO


INTERNACIONAL............................................................................................................ 147
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 147
2 OBRIGAÇÕES NA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL................................................ 147
3 CLASSIFICAÇÃO E RESPONSABILIDADES DOS INCOTERMS........................................... 149
4 INTERNACIONALIZAÇÃO E NACIONALIZAÇÃO DAS MERCADORIAS........................ 156
4.1 DESPACHO ADUANEIRO............................................................................................................. 156

IX
4.1.1 O despacho aduaneiro de importação.................................................................................. 157
4.1.2 Despacho aduaneiro de exportação...................................................................................... 159
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 161
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 162

TÓPICO 3 – MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO


INTERNACIONAL............................................................................................................ 163
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 163
2 MODALIDADES DE PAGAMENTO................................................................................................ 163
2.1 MODALIDADE PAGAMENTO E RECEBIMENTO ANTECIPADO....................................... 165
2.2 REMESSA SEM SAQUE................................................................................................................... 166
2.3 COBRANÇA COM SAQUE............................................................................................................ 167
2.4 CRÉDITO DOCUMENTÁRIO........................................................................................................ 168
2.4.1 Opções de pagamento da carta de crédito (L/C)................................................................. 172
3 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA E INDIRETA................................................................................ 174
3.1 COMERCIALIZAÇÃO INDIRETA................................................................................................ 174
3.2 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA..................................................................................................... 177
4 PRECIFICAÇÃO.................................................................................................................................... 178
4.1 FORMAÇÃO DO PREÇO NA IMPORTAÇÃO........................................................................... 178
4.2 FORMAÇÃO DE PREÇO NA EXPORTAÇÃO............................................................................ 180
4.2.1 Valoração das exportações...................................................................................................... 182
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 186
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 190
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 191

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 192

X
UNIDADE 1

DINÂMICA COMERCIAL
INTERNACIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender a necessidade do comércio internacional entre países;

• diferenciar entre o que é o comércio internacional e o que é comércio


exterior;

• saber qual o cenário global de hoje e o motivo da formação de blocos


econômicos;

• identificar quais são os parceiros do Brasil no MERCOSUL;

• compreender o papel dos organismos internacionais na dinâmica do


comércio internacional;

• saber identificar o porquê dos países estabelecerem limites ao comércio


internacional por meio das barreiras comerciais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles você encontrará
atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO


EXTERIOR DOS PAÍSES

TÓPICO 2 – BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

TÓPICO 3 – ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO


COMÉRCIO INTERNACIONAL

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O
COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

1 INTRODUÇÃO
Para entender como funciona a dinâmica do comércio internacional
devemos saber que o comércio faz parte da economia de qualquer civilização atual
ou antiga. O ser humano comercializa bens e serviços entre irmãos, entre famílias,
entre vizinhos, entre cidades de um mesmo estado, entre estados do Brasil, entre
países vizinhos e entre países distantes.

Antigamente, civilizações distantes da Ásia e do mundo mediterrâneo


também realizavam comércio, e graças a esse comércio é que muitas inovações
foram aproveitadas para a evolução das civilizações, a tal ponto que, hoje,
praticamente somos uma só civilização moderna ao redor do mundo. Nesta
unidade, e especificamente neste tópico, iremos estudar sobre como o comércio
internacional faz parte de qualquer país do mundo, observando a importância das
exportações e importações na dinâmica econômica das nações.

2 EVOLUÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL


Antes de adentrar na história comercial da civilização devemos nos
perguntar: desde quando existe comércio internacional? É difícil colocar uma data
exata, mas há relatos históricos da necessidade de troca comercial entre civilizações
antigas há mais de 5.000 anos antes de Cristo (a.C.). Desde essa época praticava-se
o comércio entre povos diferentes, por exemplo, entre a China e o mundo antigo
existia o comércio por meio da famosa “rota da seda”.

Inclusive existem relatos arqueológicos de que essa rota já era utilizada desde
antes de 7.000 a.C. A seguir podemos observar a rota da seda e suas ramificações
para as diversas civilizações do mundo antigo por onde comercializavam
ativamente desde aquela época, ajudando assim, aos poucos, no desenvolvimento
socioeconômico daquela área.

3
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

FIGURA 1 – ROTA DA SEDA

FONTE: Disponível em: <http://es.paperblog.com/la-ruta-de-la-seda-2328256/>. Acesso em: 6


maio 2016.

No mundo antigo, um dos povos que era bem ativo no comércio exterior
eram os fenícios, o povo fenício foi um dos principais povos a contribuir para
o desenvolvimento do comércio exterior de 2.300 a 50 a.C. A civilização fenícia,
por meio do comércio internacional, contribuiu significativamente para o
desenvolvimento da economia e da ciência das civilizações da antiguidade que se
localizavam no entorno do Mar Mediterrâneo.

No progresso de suas atividades comerciais, os fenícios tiveram


expressivo destaque no desenvolvimento de embarcações que
pudessem lhes colocar em contato com as diversas civilizações do Mar
Mediterrâneo. O deslocamento pelo mar acabou firmando uma ampla
rede de rotas comerciais que garantia a circulação dos vários produtos
que despertavam o interesse da poderosa classe mercante mantenedora
desse tipo de atividade econômica (BRASIL ESCOLA, 2016).

Por meio de sua participação ativa, os fenícios viraram eixo fundamental


às necessidades de comércio entre os povos ao redor do mundo antigo ocidental,
ou seja, ao redor do Mar Mediterrâneo. Qual seria o futuro da civilização grega e
do Império Romano, base estrutural da civilização moderna atual, sem os fenícios?
Difícil de responder em poucas palavras, mas por meio da análise histórica do
comércio internacional do mundo antigo podemos observar que a troca comercial
entre nações é fundamental para suprir necessidades e ajudar ao desenvolvimento
econômico e cultural como um todo.

Assim como na antiguidade, hoje os países dependem do comércio


internacional, só que no mundo atual essa atividade é muito mais acirrada e

4
TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

essencial para a dinâmica econômica dos países. Aliás, hoje, sem o comércio
exterior, a economia de qualquer país do mundo simplesmente ficaria parada. De
fato, por meio do fenômeno conhecido como “globalização” é que os países geram
intercâmbios de bens e serviços de maneira contínua todos os dias do ano, por
meio de uma logística internacional que cada dia é mais dinâmica e interativa.

Tanto as empresas como os governos devem estar preparados para


as demandas de um mundo globalizado. As empresas precisam se manter
competitivas no que elas produzem e oferecem aos mercados internacionais, e os
governos precisam oferecer serviços e logística adequados para que as empresas
possam atuar da maneira mais produtiva nesse mercado internacional altamente
acirrado.

ATENCAO

Como foi que o comércio internacional chegou aos patamares de


interdependência global atual? Para responder isso teríamos que adentrar num processo de
estudo histórico desde a época dos fenícios, romanos, época mercantilista (século XVI até
século XVIII), Revolução Industrial e o liberalismo do século XIX, Grande Depressão de 1929, e
a época logo após a Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje. Esse estudo poderia levar,
facilmente, todo o tempo de nossa disciplina, assim, vamos focar nossa análise a partir do
liberalismo do século XIX até o fenômeno da globalização atual.

2.1 LIBERALISMO DO SÉCULO XIX


Podemos dizer que o mundo já teve uma globalização econômica prévia
à atual. Em finais do século XVIII e durante todo o século XIX aconteceu uma
série de descobrimentos tecnológicos e inovações que mudaram totalmente o
comportamento produtivo das empresas e do consumidor. A seguir veremos
alguns desses grandes descobrimentos tecnológicos, desdobrados em dois grandes
grupos:

• Descobrimentos nos processos produtivos. Invenções e inovações fundamentais


para a cadeia produtiva dessa época e de hoje:

o A locomotiva (1813), quase essencial para o transporte de mercadorias e


pessoas.
o Máquina de costura (1830), base da indústria têxtil de hoje.
o Máquina analítica (1835), a base inicial dos sistemas de informação.
o Código Morse e telégrafo (1835), início da transmissão de mensagens em
tempo real.
o Telefone (1876), essencial para a comunicação distante em tempo real.
o Motor de combustão interna (1858), o início de toda uma indústria que
transformou a maneira como mercadorias e pessoas são deslocadas.
o Turbina de vapor (1884), essencial para a geração de energia elétrica.
5
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

o Plástico (1862). Onde não há plástico? Aliás, hoje é um problema ambiental


de grande escala.

• Descobrimentos que ajudaram as necessidades dos consumidores. Além


do aumento expressivo da produtividade graças às invenções expostas
anteriormente, existem mais outras que transformaram o comportamento
do consumidor, tais como: Fotografia (1837-1839); Papel higiênico (1857);
Cinematógrafo (1895); Aspirador de pó; Pasteurização (1856); Caldo concentrado
(1873), marcas como Maggi e Knorr começaram a comercializar seus produtos
desde essa época.

Acabamos de observar somente algumas das grandes inovações e


descobrimentos do século XIX. Esses descobrimentos, e outros, transformaram o
mundo de maneira que a civilização nunca antes tinha experimentado. Fato que
trouxe um desenvolvimento econômico acelerado na maioria dos países atuais,
momento da história econômica conhecida como a época de industrialização.

O século XIX é a época do desenvolvimento industrial, comercial e


econômico galopante da economia mundial. Nunca antes se havia experimentado
tal fenômeno, o mundo como um todo não voltaria a ser o mesmo. Além de
impactos sociais, um dos efeitos desse grande desenvolvimento foi o excesso de
produtividade e o aumento constante de novos fornecedores vindos de dentro
e de fora dos territórios nacionais. Resultado disso? Uma explosão no comércio
internacional, mercadorias de consumo saindo para diversos países, assim como
insumos vindos de diversos países entravam na cadeia produtiva e de consumo,
gerando um período de comércio nunca antes visto na história da humanidade.

2.2 GRANDE DEPRESSÃO DE 1929


No início do século XX essa onda de aumento da produtividade e comércio
mundial continuou aumentando, aceleradamente, nos primeiros anos do século
passado. Cabe destacar que nos primeiros anos - e décadas - do século XX começou
a produção em massa da indústria automobilística. Com o lançamento do “Modelo
T” da Ford, Henry Ford iniciou a massificação na produção e comercialização de
automóveis. O “Modelo T” foi lançado no mercado no ano de 1908 e só acabou
sua comercialização em 1927, foram 19 anos de sucesso comercial! No que tange,
especificamente, ao comércio internacional, a inovação e o aprimoramento das
máquinas a vapor fizeram com que o transporte marítimo de mercadorias e pessoas
só viesse a aumentar, especialmente nas primeiras décadas do século XX.

Nesse cenário de explosão industrial e comercial, a economia mundial só


vinha crescendo ano após ano, em especial na nova grande economia da época, os
Estados Unidos. Resultado? A economia dos Estados Unidos e do mundo industrial
tinha se aquecido demais, os mercados comerciais e financeiros internacionais
só experimentavam resultados econômicos positivos, tudo era ótimo e feliz no

6
TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

mundo das empresas capitalistas. No entanto, os mercados financeiros, como um


todo, estavam à beira de um colapso.

Colapso que veio à tona com o estouro da Bolsa de Valores de Nova


York. Logo depois a crise se espalhou na economia real, refletindo em falências e
desemprego em grande escala, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo.
Assim foi o início da Grande Depressão, que ficou por vários anos causando
estragos estruturais na economia mundial.

Poderíamos analisar a Grande Depressão por diferentes aspectos, mas isso


quitaria espaço para os demais temas interessantes deste caderno. O que podemos
dizer da Grande Depressão é que nessa época o comércio internacional sofreu uma
grande contração, os países começaram a se fechar e os interesses próprios, aliás,
exacerbados, levaram para crises contínuas.

Aliás, foi nessa época que tiveram início os governos fascistas da Alemanha,
Itália e Espanha. E o resultado? Entre outros fatores históricos/socioeconômicos
– a Segunda Guerra Mundial. Época que todos nós conhecemos, que foi muito
negativa para o mundo, porém, época que também trouxe grandes aprendizados,
como veremos a seguir.

2.3 CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL APÓS A


SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, nada seria igual, uma
nova fase da história moderna estava começando. Duas grandes potências novas
ficaram como líderes do cenário mundial, os Estados Unidos e a União Soviética, a
primeira representava o capitalismo e o comércio livre entre as nações, a segunda
representava o socialismo extremo ou comunismo.

Esse conflito entre duas maneiras opostas de enxergar e fazer economia é


que gerou a conhecida “Guerra Fria”, briga ideológica e de armamento em grande
escala entre o mundo capitalista e o mundo socialista/comunista. Guerra Fria que
por grande sorte da humanidade nunca passou a se materializar em uma guerra
mundial, mas instalou-se como uma ameaça constante e perigosa, de grandes
repercussões mundiais, por várias décadas.

Por meio da liderança dos Estados Unidos é que a partir de 1945 se iniciou
um processo de reorganização internacional, e no que diz respeito ao comércio
internacional algumas mudanças importantes aconteceram. Nessa época, perante
a reconstrução das relações internacionais, os países precisavam reorganizar e
reestruturar o comércio internacional.

Assim, nesse ambiente de cooperação entre países foi que tiveram início
as negociações para a criação de órgãos internacionais de controle e ajuda ao

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UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

comércio internacional. Inclusive, estas negociações entre as nações iniciaram um


pouco antes de terminar a Segunda Guerra Mundial, em julho de 1944, em Bretton
Woods – EUA. Nessa data foi concluído e firmado o primeiro grande acordo, o
nascimento de três grandes organismos internacionais que visam ao controle
e incentivo comercial e financeiro entre as nações do mundo. Aliás, órgãos e
acordos internacionais ativos até os dias de hoje.

Os organismos internacionais definidos e normatizados por meio de acordos


internacionais em Bretton Woods foram: O Fundo Monetário Internacional
(FMI); o Banco Mundial; e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT).
A partir de 1993 as funções e acordos comerciais do GATT passaram ao comando
da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mais adiante iremos abordar com
maior detalhe as funções de cada um destes órgãos internacionais.

2.4 NOVO CENÁRIO MUNDIAL DAS PRIMEIRAS DÉCADAS


DO SÉCULO XXI
A partir da última década do século passado, quando as atividades do
GATT passaram a ser parte do recente órgão internacional para o comércio mundial
– Organização Mundial do Comércio (OMC) –, as inter-relações comerciais entre
os países só vêm aumentando. Até finais do século XX os mercados mundiais
estavam concentrados, principalmente, entre os países desenvolvidos, liderados
pelos EUA, Europa e o Japão, enquanto os países em desenvolvimento eram
maioritariamente fornecedores de commodities. Assim, as grandes tendências da
economia internacional ficavam em função da liderança dos países desenvolvidos.

NOTA

Commodity é um termo que vem do inglês e significa mercadorias sem valor


agregado, em sua maioria, matéria-prima, com grau padrão, ou uniforme, sem diferenciação,
que podem ser comercializadas na bolsa de valores, tais como: petróleo, minério de ferro,
grão de soja, milho, café etc.

Esse cenário praticamente estabelecido durante décadas estava prestes a


mudar e se materializar a partir do ano 2000. A mudança do cenário mundial possui
dois grandes elementos de análise econômica e histórica: o crescimento acelerado
das economias em desenvolvimento, e a grande crise internacional do ano 2008;
e o crescimento econômico acelerado das economias menos desenvolvidas a
partir de 1990.

Entre os países de economia menos desenvolvida vale a pena analisar,


especialmente, a China, seu Produto Interno Bruto (PIB) cresceu na média de

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TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

9% ao ano desde a década de 1980, época na qual esse país começou a abrir sua
economia ao mundo.

GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DO PIB E DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA DA CHINA DESDE


1980

FONTE: Disponível em: <http://www.perpe.es/2013/07/17/oc10813/>. Acesso em: 14 maio 2016.

Qual o resultado desse crescimento econômico galopante? Ao observar o


gráfico, a China passou de um PIB de menos de US$ 500 bilhões no ano de 1980
para mais de US$ 5 trilhões no ano 2010! De acordo com dados do Banco Mundial,
o PIB da China, no ano 2014, foi de US$ 10,4 trilhões. Esse crescimento econômico
único no globo tornou a China a segunda potência econômica do mundo, fato que
há duas décadas era inimaginável.

As outras economias subdesenvolvidas também tiveram crescimentos


econômicos relevantes, porém, bem menores que o da China. O Brasil também
passou de uma economia de pouco impacto no cenário mundial há duas décadas,
para ser hoje uma das maiores economias do mundo. Vamos dar uma olhada
no gráfico das maiores economias (excluindo a China) com nível médio de
desenvolvimento:

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UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

GRÁFICO 2 – CRESCIMENTO DO PIB DO BRASIL, ÍNDIA E RÚSSIA DESDE 1980

FONTE: Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD>. Acesso em: 14


maio 2016.

Do gráfico exposto podemos observar que:

• O Brasil passou de um PIB de US$ 235 bilhões, em 1980, para US$ 2.2 trilhões em
2012.
• A Índia passou de US$ 190 bilhões para US$ 1,9 trilhões em 2012.
• A Rússia passou de US$ 506 bilhões, em 1989, para US$ 2,1 trilhões em 2012.
Cabe observar que a Rússia só possui dados a partir de 1989, antes disso fazia
parte, como o Estado principal, da ex-União Soviética.

De todos esses dados expostos acima sobre a China, o Brasil, a Rússia e a


Índia, o que podemos observar? Basicamente, esses Estados passaram de ostentar
um papel secundário para um papel de liderança no cenário mundial a partir do
ano 2000. Assim como estes países de tamanhos continentais, também poderíamos
adicionar mais outros, mas de tamanhos menores, países tais como: México, Chile,
Colômbia, Peru, alguns países asiáticos, entre outros. Todos eles com crescimentos
econômicos relevantes.

Destes países menores, ao comparar com o Brasil, devemos dar uma olhada
especial para o Chile. País que atingiu um grau de desenvolvimento econômico
quase de primeiro mundo. O Chile teve um PIB de US$ 280 bilhões em 2012, mas
com uma população de só 17 milhões de pessoas, ou seja, em termos de riqueza
média, o país possui o melhor nível de desenvolvimento da América Latina.

Como um todo e com a liderança das maiores economias de desenvolvimento


médio (tais como a China e o Brasil), os países em vias de desenvolvimento passaram
a ter maior peso na economia mundial, portanto, maior impacto nas transações
comerciais globais. Isto é de grande importância no momento de analisar como o

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TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

cenário comercial atual está sendo articulado, especialmente a partir do ano 2008,
quando aconteceu a grande crise econômica dos países desenvolvidos.

A crise econômica mundial de 2008

Durante o segundo semestre de 2008 a bolha imobiliária dos Estados


Unidos estourou. Com exceção de poucos economistas e profissionais financeiros,
ninguém esperava o grande impacto negativo que isso teria no mercado financeiro
e de valores. Em setembro de 2008, um dos maiores bancos de investimento do
mundo foi à falência, a famosa instituição financeira Lehman Brothers. Este banco
esteve no mercado financeiro desde o ano 1850 até setembro de 2008, portanto
foram 158 anos de atividade bancária.

DICAS

Assista ao filme “A Grande Aposta”. Esse filme retrata como estourou a bolha
imobiliária e financeira e suas repercussões internacionais.

Imediatamente após a falência desta instituição, a Bolsa de Valores de Nova


York despencou e um efeito em cadeia se espalhou pela economia real dos Estados
Unidos e do mundo, situação bem semelhante à Grande Depressão de 1929.
Depois de setembro de 2008, uma série de bancos e multinacionais começaram a ir
à falência também, entre estas empresas, a General Motors.

A diferença é que na recente crise de 2008 o governo dos Estados Unidos


realizou uma operação de salvatagem financeira em grande escala para socorrer
diversas corporações financeiras e industriais. Hoje, ao contrário da Grande
Depressão, as economias modernas possuem ferramentas para amortizar esse tipo
de grandes crises econômicas.

NOTA

Talvez você esteja se perguntando, qual o significado da palavra salvatagem? A


palavra salvatagem significa executar um conjunto de medidas objetivando o resgate logo
após um desastre.

Apesar da grande salvatagem feita pelo governo dos EUA, assim como
pelos governos europeus para salvar suas economias, a crise espalhou-se pelo
mundo com grande força. Ainda hoje, economias europeias estão lutando com as
sequelas do terremoto econômico.
11
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

DICAS

Após ter ido à falência, a General Motors fez uma engenharia financeira e de
processos de produção, conseguindo pagar a bilionária salvatagem do governo dos EUA. Veja
na íntegra o artigo de opinião do jornal O Estado de São Paulo: <http://economia.estadao.
com.br/noticias/geral,gm-sera-terceira-maior-falencia-da-historia-dos-eua,380334>.

O interessante dessa grande crise – aliás, a pior desde 1929 – é que as


economias em desenvolvimento, como o Brasil, tiveram só um impacto menor,
ou seja, o grande motor da economia mundial já não estava somente nos EUA,
Europa e Japão. O desenvolvimento da crise de 2008 deixou claro esse recado.
No século passado, qualquer crise econômica do mundo desenvolvido deixava as
economias em desenvolvimento à beira de quebrar. O Brasil e os demais países
da América Latina são um exemplo disso, com várias salvatagens financeiras do
Fundo Monetário Internacional (FMI).

Um dos grandes motivos desse impacto menor da crise econômica de 2008


nos países como o Brasil foi o motor econômico da China, aliás, a maioria das
economias em desenvolvimento começou a crescer novamente a partir do ano
2010. A China, apesar da crise, continuou crescendo aceleradamente, entre 8% e
9% ao ano, e dado seu grande tamanho, a procura por commodities por parte deste
país só continuou aumentando. Resultado? Economias como o Brasil mantiveram
o aumento em suas exportações.

Eis um novo peso na economia mundial que no século XX não existia,


a liderança econômica de países em desenvolvimento. Hoje, já não é somente
o sucesso das economias desenvolvidas que mantém o motor econômico e
comercial do mundo, grande parte desse motor depende também dos países em
desenvolvimento, como a China, o Brasil, a Índia, o México, entre outros, fato que
o gráfico a seguir demonstra.

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TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

GRÁFICO 3 – PIB DE PAÍSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.imf.org/external/index.htm>. Acesso em: 14 maio 2016.

A partir do gráfico acima, podemos observar que em 1980 os países


desenvolvidos possuíam 60% da economia mundial, entretanto, os países em
desenvolvimento possuem cerca de 40%. Hoje, e desde o ano 2012, os países em
desenvolvimento possuem mais de 50% da economia global. Isto demanda uma
série de implicações de impacto internacional. O que acontece hoje no Brasil, e em
outros países, traz atenção imediata dos mercados internacionais. Antigamente o
que acontecia aqui tinha um impacto mínimo nos mercados globais.

Dos países em desenvolvimento, o que possui maior atenção mundial é


a China, o que acontece lá impacta imediatamente os quatro cantos do mundo,
literalmente. Eis uma das grandes preocupações a partir do ano 2015, pois a China
vem apresentando uma série de questionamentos muito sérios da real situação de
sua economia. A partir do ano 2014, a procura de commodities da China vem caindo,
consequentemente as economias exportadoras de commodities, como o Brasil, vêm
apontando uma série de problemas econômicos.

Acabamos de nos informar sobre como funciona a dinâmica do atual cenário


econômico. O divisor de águas é a crise de 2008, data na qual ficou marcada a real
importância e peso comercial na economia global dos países em desenvolvimento.
O foco de todo este breve histórico econômico mundial é de entender a importância,
como um todo, tanto dos mercados dos países desenvolvidos como dos países
em desenvolvimento. Antigamente, todos os países desejavam exportar para os

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UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Estados Unidos, Europa e Japão. Hoje, o foco é praticamente “o mundo”, com


especial atenção nas grandes potências econômicas, isto é, os EUA, a China, a
Europa e o Japão.

3 DIFERENÇA ENTRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E


COMÉRCIO EXTERIOR
No cenário atual de comércio interdependente, os países procuram
satisfazer tanto suas necessidades de produção como de consumo não somente por
meio de mercados nacionais, mas sim no mercado mundial, onde a comunidade
internacional atua ativamente nos mercados mundiais. Seguramente você ouve,
no seu cotidiano, as notícias que falam sobre comércio exterior e sobre comércio
internacional, mas já pensou qual é a diferença entre “comércio exterior” e
“comércio internacional”? Será que estas duas expressões possuem o mesmo
significado?

Essas duas expressões possuem um contexto de uso diferenciado. O


comércio internacional aborda todas as operações comerciais realizadas entre os
diversos países que fazem parte da comunidade comercial internacional. Desta
maneira, existe a possibilidade de fazer intercâmbio contínuo de mercadorias,
serviços e capitais financeiros entre os países ao redor do mundo.

Já o comércio exterior aborda todas as transações comerciais de um país,


em específico, com o resto do mundo, assim, esse país executa exportações e
importações de mercadorias e serviços. O comércio exterior de um país acontece em
função das necessidades específicas da dinâmica econômica desse país. O comércio
exterior brasileiro aborda uma série de necessidades de processos econômicos, cujo
objetivo é satisfazer as necessidades das empresas e dos consumidores do país.

No contexto do comércio internacional, a cada segundo acontecem milhares


de transações internacionais. Neste momento, um país pode estar exportando
uma mercadoria, enquanto outro país estará executando o processo de importação
dessa mercadoria, ou seja, para cada exportação haverá uma importação.

No contexto brasileiro é igual, todos os dias se executam milhares de


exportações e importações. Essas exportações e importações brasileiras são
interpretadas como a corrente de comércio exterior do Brasil, ou seja, todas as
exportações e importações durante um período de tempo determinado, que pode
durar meses, trimestres, semestres ou anos.

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TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

3.1 EXPORTAÇÕES
Qual o significado de exportar? Exportar significa oferecer produtos
e serviços no mercado internacional, ou seja, é o ato comercial de vender uma
mercadoria ou serviços para outro país, fora das fronteiras nacionais. Segundo
Vazquez (2009, p. 181):

A exportação é a atividade que proporciona a abertura do país para o


mundo. É uma forma de se confrontar com os demais parceiros e, principalmente,
frequentar a melhor escola de administração, já que, lidando com diferentes
países, o país exportador assimila técnicas e conceitos a que não teria acesso em
seu mercado interno.

Para quem e para onde exportar dependerá muito da vantagem competitiva


que possa ter um país em função dos outros países, ou seja, a capacidade produtiva
relativa à produtividade dos outros países.

Assim, quanto maior for a competitividade relativa de um país, maior será


a capacidade de exportação desse país. Em termos gerais, as nações desenvolvidas
possuem alta competitividade em produzir mercadorias e serviços de alto valor
agregado, enquanto que as nações com menor grau de desenvolvimento focam
sua estratégica na exportação de mercadorias com menor valor agregado, pois
estes países possuem alta competitividade na oferta desses produtos.

Apesar de o Brasil ser considerado uma economia de grau médio de


desenvolvimento, o país exporta alguns produtos com alto valor agregado também,
tal como aviões da Embraer, peças industriais, entre outros. Porém, na sua grande
maioria, as exportações do Brasil são de fato produtos de pouco valor agregado:
semimanufaturados, como óleo de soja; e matérias-primas, tais como grão de café,
grão de soja, minério de ferro, entre outros.

Assim, tanto os países desenvolvidos como aqueles com menor grau de


desenvolvimento exportam diversos tipos de produtos e serviços. Exportações que
dependerão do grau de competitividade (produtividade) relativa dos produtos a
serem exportados. Nesse sentido, os países podem exportar:

• Recursos naturais e commodities: tal como petróleo, minério de ferro e grão de


soja.

• Produtos semimanufaturados: tais como óleo de soja, farinha de mandioca, leite


em pó, entre outros.

• Produtos manufaturados: tais como veículos, computadores, entre outros.

• Bens de capital: equipamento e maquinaria, tais como fornos industriais,


tratores, equipamento pesado utilizado nos processos produtivos, entre outros.

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UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

• Direitos de propriedade intelectual: invenções e direitos de autor, ou seja,


regalias, tais como patentes de desenho industrial e de invenção. Também
podemos citar os direitos de autor, tais como da famosa escritora Joanne Ketlin
Rowling, autora dos livros de Harry Potter, direitos de autor que representam
milhões de dólares de exportação para o Reino Unido.

• Fatores tecnológicos e aplicativos: Office da Microsoft, ou aplicativo SAP,


sistema ERP para empresas. Geralmente, a exportação de fatores tecnológicos
está ligada às exportações de inovações.

No contexto do comércio internacional, os países exportam para suprir


as necessidades dos países importadores que atuam no comércio internacional.
Nesse sentido, o Brasil estabelece acordos comerciais internacionais para suprir as
necessidades de seus parceiros atuais e potenciais, por exemplo:

• A China precisa alimentar mais de 1 bilhão de pessoas, assim, procura soja, milho
e outros produtos do Brasil.

• A China e outros países precisam do minério de ferro produzido aqui no país.

• Vários países do mundo compram os aviões da Embraer.

Estes são alguns exemplos dos produtos que o Brasil exporta, mas quem
realmente faz a exportação acontecer são as empresas. O governo, por meio de
seus órgãos e infraestrutura pública, oferece serviços às necessidades de comércio
exterior das empresas, agindo como uma peça-chave nos processos administrativos
da exportação.

As exportações são parte essencial da estrutura econômica e comercial de


qualquer país, eis a importância de exportar. Através da execução das exportações
é que a economia nacional consegue acumular divisas (moeda estrangeira)
necessárias para poder bancar a compra de insumos, bens de capital (equipamento,
máquinas etc.), serviços e bens de consumo que não são produzidos no país.

A dinâmica da geração de divisas começa nas empresas exportadoras


que cobram em moeda estrangeira (principalmente em dólar). Essa moeda
estrangeira, por meio do mercado de câmbio, irá se converter em moeda nacional
– reais. O Banco Central do Brasil compra essas divisas, em troca entrega reais
aos exportadores, assim, o Banco Central acumula divisas necessárias para que os
importadores possam realizar suas atividades comerciais. Eis o elo entre a atividade
exportadora e a acumulação de divisas necessárias para importar mercadorias e
serviços necessários à atividade econômica.

16
TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

3.2 DETERMINANTES PARA EXPORTAR


Como foi exposto acima, as empresas são os agentes que fazem acontecer as
exportações. Quais os motivadores para que uma empresa fique incentivada para
realizar exportações? Os motivos e as particularidades das exportações podem ser
diversos, a seguir veremos alguns deles.

• Complementar a produção nacional. Uma empresa pode apresentar


capacidade produtiva ociosa, assim, a venda ao exterior vira uma possibilidade
para aproveitar ao máximo possível sua produtividade.

• Novos mercados. Uma empresa pode reparar que os mercados


internacionais estariam dispostos a pagar um melhor preço por seus produtos.
Logo, o incentivo de melhorar sua margem de lucro por meio de melhores preços
e volumes de venda é um grande motivador para exportar, além de ajudar a
diversificar mercados.

• Benefício financeiro. Levando em consideração qualquer das duas


situações expostas – complementar a produção nacional e novos mercados –,
a exportação em si traz grandes benefícios financeiros. As exportações estão
isentas de qualquer tipo de impostos, não faz sentido exportar impostos! Assim,
uma exportação não possui ICMS, IPI, entre outros tributos cobrados ao realizar
vendas no mercado nacional. Esta isenção de impostos faz que o exportador possa
melhorar a gestão de seu fluxo de caixa e aumentar sua capacidade de gerar lucro.

• Diferencial competitivo. Se uma empresa conseguir se inserir no


mercado internacional, a experiência comercial internacional irá trazer um
diferencial de competitividade (ou produtividade), pois a empresa exportadora
terá que se manter inovando e aprimorando processos para se manter nos mercados
internacionais. Além disso, a empresa exportadora ganha experiência em enxergar
e em compreender culturas, costumes, leis e regras comerciais diferentes das
nacionais. Isto automaticamente traz diferencial e inovação à gestão da empresa,
inclusive ajuda a melhorar as vendas do mercado nacional.

No entanto, nem toda empresa precisa ou está apta para exportar, muito
dependerá das particularidades do tipo de negócio, e de indústria, onde a empresa
está inserida. Assim, o motivo de exportar deve ser uma decisão de estratégia de
negócio em si. É uma questão de estratégia porque, para poder executar, com
sucesso, a exportação existe a necessidade de tempo de análise e consolidação
de mercados. Assim como demandará análise das particularidades dos hábitos,
costumes e leis dos consumidores desses mercados internacionais. Essa adequação
aos costumes e leis desses mercados internacionais exigirá adequações na produção,
na gestão e nas embalagens, entre outros assuntos.

Ao cumprir todo o exposto anteriormente, a empresa exportadora ficará


menos dependente do mercado interno, abrindo suas portas para diversos
mercados ao redor do mundo. Isto poderá diluir o risco de possíveis quedas de
vendas em vários mercados, diversificando o risco tanto nos mercados nacionais
17
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

como nos espalhados em diversos países. E do lado das importações, será que um
país consegue se virar só exportando, sem ter que importar? Seria muito difícil,
inclusive, muitos dos produtos que o Brasil exporta possuem insumos importados.

3.3 AS IMPORTAÇÕES
Para fazer acontecer uma exportação, muitas vezes é necessário importar
parte das matérias-primas e insumos dessa mercadoria a ser exportada. Por que
acontece isso? Em um mundo globalizado, os fornecedores de uma indústria são
de fato nacionais e internacionais. No contexto do comércio internacional, tudo
fica em função da competitividade relativa dos mercados, sejam estes nacionais ou
internacionais.

NOTA

Qual a diferença entre matéria-prima e insumo? A matéria-prima é extraída


diretamente da natureza, por exemplo: grão de trigo (matéria-prima) que vira farinha de trigo
(insumo); petróleo (matéria-prima) que pode virar polipropileno/termoplástico (insumo).

O comércio nacional de bens e serviços não seria viável sem a participação


das importações. Sem a participação de insumos, peças e equipamentos importados,
a empresa brasileira não poderia dar conta da fabricação de grande parte das
mercadorias de produção nacional. Isso acontece não só no Brasil, acontece em
todo país ao redor de mundo que esteja inserido nos mercados internacionais.

Do exposto acima, podemos dizer que as importações são realmente


necessárias para a economia de um país. Os países podem ter diversas necessidades
de importação, desde produtos básicos, bens de consumo, insumos, até maquinaria
com tecnologia de ponta.

As importações desempenham um papel vital na vida econômica de


qualquer país desenvolvido, subdesenvolvido ou em desenvolvimento,
pois nenhum país é totalmente autossuficiente. Todos os países
dependem, de alguma forma, do resto do mundo para suprir suas
necessidades. Quanto mais desenvolvido e industrializado, maior será
sua necessidade de relacionamento com outros países (SCHULZ, 2000,
p. 104).

Um país pode importar diversas mercadorias em função de suas


necessidades econômicas e “desejos” de sua população, mas qual o significado
de importar? Importar é a execução de adquirir um produto em outro país e
poder nacionalizá-lo (introduzi-lo legalmente) para que possa circular e/ou ser
comercializado ao longo do território nacional.

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TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

Como foi exposto anteriormente, é por meio das exportações que um país
acumula divisas (moeda estrangeria) para poder importar. Assim, podemos dizer
que tanto as exportações como as importações estão interligadas. Essa inter-relação
é administrada pelo comércio exterior de um país, e todo país tenta manter um
saldo positivo da Balança Comercial, ou seja, exportações menos importações. O
objetivo disso é manter um mínimo de reservas internacionais, isto é, manter uma
cesta de divisas (moeda estrangeira) para que o país possa garantir suas obrigações
comerciais e financeiras com a comunidade internacional.

Podemos dizer que importar além do realmente necessário para um país


não é um bom negócio. Sendo assim, é necessária uma excelente gestão do comércio
exterior para que um país possa manter sob controle esse balanço positivo entre
as exportações e importações. Quais os motivos, tanto para um país como para as
empresas, de realizarem importações?

3.4 DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕES


Quais os determinantes que fazem um país gastar divisas (recurso
monetário em moeda estrangeira) em bens e serviços vindos de fora? Existem
muitos determinantes, mas, de fato, um país não pode ficar isolado do mercado
internacional. Muitos tentaram diminuir drasticamente suas importações, para
assim economizar recursos. Resultado? Em curto prazo esses países talvez tenham
conseguido algum resultado positivo, mas a longo prazo não existe na história
econômica casos de sucesso nesse sentido.

Assim como foi na antiguidade, as sociedades precisam comercializar entre


elas para complementar suas economias. O comércio é um meio para compartilhar
experiências culturais e tecnológicas entre as diversas sociedades que fazem
parte do mundo. Hoje, esse comércio internacional é muito mais intenso que na
antiguidade. O maior determinante para importar é complementar os recursos
escassos, ou inexistentes, em uma economia, mas fundamentais para suprir
necessidades produtivas e de consumo.

3.4.1 Recursos necessários à economia de um país


Não existe país no mundo que seja autossuficiente, existem diversas
variáveis geográficas, solos, recursos naturais disponíveis, climas secos e/ou
úmidos, climas mais frios, outros mais quentes, e assim por diante. Essas variáveis
fazem com que os países não consigam todos os recursos de seu próprio território
para suas economias. Assim, a importação é fundamental para complementar os
recursos e bens de consumo que uma sociedade possa precisar.

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UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Se você reparar, toda mercadoria está composta por minerais essenciais


que graças ao poder de transformação da natureza, dos processos agrícolas,
dos processos industriais do mundo moderno, viram produtos para usarmos e
consumir. Esses elementos essenciais estão presentes tanto em alimentos simples
e processados, como em vestimentas, ferramentas, moradia, bens de capital, entre
outros.

Segundo o economista Glycon de Paiva (1963 apud PIFFER, 2013, p. 12):


“Dos 300 minerais normalmente necessários ao progresso e à sobrevivência de um
país, até agora nos faltam 250”. Ou seja, na média, um país, para poder manter
suas atividades econômicas, precisa importar 250 minerais fundamentais, e no
caso do Brasil não é diferente.

Dos minerais expostos pelo economista Glycon de Paiva, muitos são


importados na sua forma primária, como matéria-prima, petróleo, minério de ferro
e outros; outros são importados por meio do poder de transformação da natureza,
tais como grãos, leite, ovos, frutas; e outros são importados com processos de
transformação industrial e com valor agregado, produtos industrializados.

Assim, todo país, de uma maneira ou outra, consome na sua economia


esses minerais essenciais, extraindo-os dos recursos naturais de seu próprio solo
ou devendo importá-los. Uma das maiores economias do mundo – o Japão – possui
pouco recurso natural, importando a maior parte das matérias-primas e insumos
para sua indústria, porém, graças à sua capacidade competitiva e transformadora,
esse país é um dos maiores exportadores do mundo! Aliás, grande parte dessas
importações viram exportações com valor agregado.

DICAS

Você sabia que o Japão é um país pouco maior que o Estado de Rio Grande
do Sul, mas possui uma população de 130 milhões de pessoas e é a terceira economia
do mundo? Esse país, em função de seu território pequeno e grande população, importa
diversos produtos alimentares do Brasil. Entre esses, importa ovos frescos. Sabia que o
Brasil é o maior fornecedor de ovos frescos para esse país? Se ficou curioso, acompanhe
o seguinte artigo: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2016/04/crescem-
exportacoes-brasileiras-de-ovos-frescos-para-o-japao>.

3.4.2 Interesse de uma empresa para importar


Observamos que os países, como um todo, precisam importar para
complementar os recursos que não existem na economia nacional, mas que são
necessários à dinâmica econômica. Esta necessidade de importar acontece seja
para suprir recursos produtivos (matéria-prima, insumos, equipamento industrial
etc.) às indústrias, ou para suprir necessidades e “desejos” do consumidor. Ao
observarmos o contexto comercial, quem faz acontecer as importações em um país?
20
TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES

Igualmente às exportações, as empresas estabelecidas em um país fazem


acontecer as importações, mas qual será o motivo que incentiva as empresas a
importar? Embora existam muitos fatores, a maioria das empresas é incentivada
a importar pelo interesse de buscar maiores margens operativas, portanto, gerar
maior potencial de lucro nas suas atividades industriais e comerciais.

Em função de suas particularidades comerciais e de processos produtivos


e de fato a busca de melhorar esse potencial lucro é que a importação pode se
materializar. Essa busca de potencializar o lucro por meio da importação pode ser
analisada através de quatro grandes motivadores, expostos a seguir:

• Matéria-prima e insumos que não estão disponíveis no mercado nacional.


Nesta situação a importação vira indispensável, pois estes são materiais
essenciais aos processos produtivos da indústria nacional.

• Bens de capital que não são produzidos no país. Nesta situação a importação de
equipamento industrial ou diversos tipos de máquinas se torna indispensável.
Uma empresa, para se manter competitiva, precisa de bens de capital de alta
produtividade, caso contrário, corre o risco de ficar fora do mercado. Geralmente
este tipo de bens de capital importados oferece um know-how (tecnologia
industrial de última geração) que ainda a indústria nacional não consegue
desenvolver.

• Matéria-prima, insumos ou bens de capital importados que sejam mais baratos


que os nacionais. Por algum motivo, a indústria nacional que oferece estes
recursos não é competitiva, logo, a empresa interessada em se abastecer destes
insumos irá procurar os recursos com um preço mais barato (matéria-prima,
insumos ou bens de capital) no mercado interacional, por meio da importação.

• Mercadoria diferenciada para o consumidor. Muitas empresas possuem


mercados diferenciados, oferecendo produtos de qualidade superior para seus
clientes, tornando-se, nestas situações, a importação a alternativa única. No
contexto brasileiro podemos citar alguns exemplos:

o Produtos diferenciados. Desde um queijo gourmet francês, uma lavadora de


roupa de última geração, até um carro de luxo (Mercedes Benz, Masseratti,
Ferrari etc.).

o Insumos e bens de capital. Muitas das matérias-primas, insumos e bens de


capital (equipamento industrial) não são produzidos no Brasil, tornando-se
assim a importação uma necessidade.

o Bens de capital e tecnologia de última geração. Em um mundo competitivo,


as indústrias procuram constantemente aprimorar seus processos e economias
de escala. Assim, a importação permite ter acesso à tecnologia, know-how
(saber como fazer), e equipamento de última geração que ainda não esteja
disponível no mercado nacional.

21
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Assim como acabamos de estudar, podemos observar que um país importa


para suprir diversas necessidades essenciais para sua economia, inclusive,
podemos importar para suprir diversos desejos da população. Seja qual for o
motivo comercial, as empresas ficam motivadas em importar para aproveitar
oportunidades do mercado, e com isso visam melhorar suas chances de uma
melhor margem de lucro em suas atividades.

22
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, vimos que:

• As civilizações antigas começaram a comercializar entre elas desde antes de


7.000 anos a.C., observando-se aí a importância que teve o comércio na evolução
dessas civilizações até chegar à civilização moderna atual.

• A importância do liberalismo do século XIX no contexto do comércio


internacional. Nessa época houve uma série de descobrimentos tecnológicos e
inovações que fazem parte das atividades econômicas e comerciais de hoje.

• O impacto da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. O contexto de


como as crises mundiais destes dois eventos contribuíram para que os países
pudessem se organizar para desenvolver os organismos internacionais atuais
que supervisionam o comércio internacional.

• O impacto da grande recessão de 2008 e como isso mudou a estrutura comercial


atual, na qual hoje temos novos países importantes atuando na liderança do
comércio internacional.

• A diferença entre comércio internacional e comércio exterior, e como se deve


usar estes termos no contexto do comercial internacional.

• A necessidade que têm os países para atuar no comércio internacional,


analisando as necessidades de os países precisarem exportar, e o porquê de
também importar. Sem a exportação não há importação, é uma dinâmica
comercial de mão dupla.

23
AUTOATIVIDADE

1 Explique desde quando há dados da existência e rotas de comércio entre


as civilizações antigas, e qual a civilização que ajudou no desenvolvimento
comercial e econômico das grandes civilizações antigas do mundo do
Mediterrâneo.

2 Nos momentos prévios à Grande Depressão de 1929 o mundo estava


em um processo de globalização de décadas de crescimento econômico
e comercial global, o mundo capitalista estava no ápice de seu próprio
sucesso. A seguir, analise as sentenças e determine qual é correta sobre a
Grande Depressão de 1929.

a) ( ) Previamente à Grande Depressão os países vinham praticando anos de


políticas protecionistas, isto sob a liderança de países como os Estados Unidos,
o Reino Unido e a União Soviética. Esta condição, mais o fato do aquecimento
econômico dos países, induz ao desenvolvimento de uma grande bolha nas
grandes bolsas de valores, estourando assim a Grande Depressão.
b) ( ) Antes da Grande Depressão os países vinham experimentando
uma fartura econômica sem precedentes, porém, as economias dos países
desenvolvidos estavam aquecidas além de suas capacidades, principalmente
os Estados Unidos. Nessa situação, tanto o setor financeiro como as bolsas de
valores estavam à beira de um colapso, estourando a bolha em 1929 e começando
a Grande Depressão.

3 Com as grandes experiências negativas, tanto da Grande


Depressão como da Segunda Guerra Mundial, explique qual
era o ambiente após a Segunda Guerra Mundial, e quais órgãos
internacionais com repercussão no comércio internacional
nasceram nessa época.

4 Até finais do século passado, os mercados mundiais estavam concentrados


majoritariamente entre os países desenvolvidos, liderados pelos EUA, a
Europa e o Japão, já os países com menor grau de desenvolvimento tinham
pouca liderança no comércio internacional. Na virada do século essa situação
estava prestes a mudar. A partir do século XXI o comércio mundial não só
seria liderado pelos países mais desenvolvidos, mas também pelas novas
grandes economias, como a China. A seguir, determine a sentença correta.

a) ( ) Esse novo cenário do comércio mundial possui dois grandes momentos


referenciais: o crescimento acelerado das economias em desenvolvimento e a
grande crise internacional do ano 2008.
b) ( ) Esse novo cenário veio a se materializar graças ao sucesso de anos
de políticas protecionistas dos países menos desenvolvidos. Finalmente, o
resultado dessas políticas foi um drástico crescimento das economias da China,
da Rússia, do Brasil, do México, entre outras.
24
5 Muitas vezes falamos sobre comércio internacional e comércio exterior, mas
qual a diferença entre esses termos? Escolha as sentenças corretas.

I- O comércio internacional aborda todas as operações comerciais executadas


por um determinado país e o resto do mundo.
II- O comércio internacional aborda todas as operações comerciais executadas
no mundo entre os diversos países que atuam no comércio mundial.
III- O comércio exterior aborda todas as operações comerciais executadas por
um determinado país e o resto do mundo.
IV- O comércio exterior aborda todas as operações comerciais executadas no
mundo entre os diversos países que atuam no comércio mundial.

Agora, determine as sentenças corretas:


a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

6 Determine o porquê da necessidade de exportar para a economia de um país


e quem é o responsável por fazer acontecer a exportação.

7 Determine o porquê da necessidade de importar para a economia de um país


e quem é o responsável por fazer acontecer a importação.

25
26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

1 INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade, os países vêm tendo a necessidade de criar parcerias
comerciais em função de suas necessidades econômicas e comerciais. Na era
mercantilista, entre 1500 até finais do século XVIII, e a Revolução Industrial; no
século XIX esses interesses comerciais ficaram bem mais evidentes, inclusive, entre
outras coisas, foram grandes motivadores de guerras longas e contínuas dessa
época.

Perante as diversas necessidades socioeconômicas, os países precisam


negociar posições e assim levar a cabo seus interesses comerciais. Vários líderes
mundiais têm expressado a famosa frase: “As nações não têm amigos, as nações
têm interesses”. Entre estes grandes líderes podemos citar:

• Winston Churchill, primeiro-ministro britânico duas vezes. A primeira vez entre


1940 até 1945, basicamente durante quase toda a Segunda Guerra Mundial; e a
segunda vez durante 1951 até 1955.

• Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos por quatro vezes, sendo seu
último período até 1945 ao final da Segunda Guerra Mundial.

• Charles-Maurice de Talleyrand, famoso pensador e político ativo francês da


época da Revolução Francesa, como também foi parte importante da época
imperialista de Napoleão Bonaparte.

• Gilberto Amado, famoso escritor e político brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro


no ano de 1887 e faleceu em 1969, foi membro da Academia Brasileira de Letras.

• John Foster, político e diplomata dos Estados Unidos, como secretário de Estado
participou nas negociações para a elaboração de vários tratados internacionais,
entre os mais importantes, o acordo multilateral para formalizar o organismo
internacional de todas as nações, a Organização das Nações Unidas (ONU).

Como acabamos de observar, existem vários líderes mundiais de diferentes


épocas e nações que têm expressado a ideia de que os países, afinal de contas,
possuem interesses a serem negociados no cenário global, que, aliás, muitas vezes
têm levado a guerras desnecessárias. Depois da Segunda Guerra Mundial e em

27
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

decorrência da grande catástrofe que causou, os países, por meio da formalização


de acordos, começaram a institucionalizar esses “interesses” por meio de parcerias
comerciais e econômicas, objetivando, entre outras coisas, evitar guerras de grande
escala.

2 CONCEITO DE BLOCO ECONÔMICO


Hoje esses “interesses” são negociados por meio de acordos internacionais
e executados através de blocos ou grupos de países que compartilham interesses
comerciais e econômicos semelhantes. Esse compartilhamento de interesses, em
comum, é representado no cenário internacional como blocos econômicos, os
quais representam interesses de um grupo de países perante o resto do mundo.
Por exemplo, o bloco econômico do Mercosul negocia interesses comerciais de
seus países-membros perante a acirrada concorrência internacional dos produtos
que o bloco deseja vender nos mercados internacionais.

Os países, por meio de blocos econômicos, conseguem se posicionar melhor


no cenário mundial, atingindo melhores acordos comerciais e financeiros para o
desenvolvimento socioeconômico dos países-membros. Segundo Maia (2011, p.
347):

Os blocos econômicos foram criados com a finalidade de desenvolver


o comércio de determinada região. Com isso, criam maior poder de
compra nos países componentes, elevando o nível de vida de seu povo.
Como o mercado passa a ser disputado também por empresas de outros
países-membros do bloco econômico, cresce a concorrência, o que gera a
melhoria de qualidade e a redução de custos.

Como expressado pelo autor Maia (2011), os blocos econômicos ajudam,


como um todo, à dinâmica econômica de um país. Em termos conceituais, um
bloco econômico é estruturado por meio da “junção” de países que compartilham
interesses semelhantes, geralmente seus membros são países de uma mesma
região. Qual o objetivo principal de formalizar um bloco econômico? Como foco
principal, ao estruturar um bloco econômico, os países-membros podem fortalecer
o comércio entre eles, e atingir posicionamentos e interesses como um só grupo
perante a comunidade comercial e financeira internacional.

O princípio é que, se o comércio entre os países-membros se intensifica,


logo, isso gera uma maior produtividade, renda e desenvolvimento aos países-
membros. E com uma maior competitividade, integração comercial, financeira e
socioeconômica, os países-membros estarão em uma melhor posição de negociar
seus interesses perante os países não membros, ou seja, junto à comunidade
internacional de nações.

28
TÓPICO 2 | BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

3 FASES NO DESENVOLVIMENTO DE BLOCOS


ECONÔMICOS
Como é que os países conseguem possuir todo um acordo institucional
e se apresentar à comunidade internacional como “blocos econômicos”? Para
poder responder a essa questão temos que analisar as fases da formação de um
bloco econômico. A primeira etapa é a formação de uma Zona de Livre-comércio,
a segunda etapa é a União Aduaneira, a terceira etapa é o Mercado Comum, a
quarta etapa é a União Econômica, a quinta etapa é a União de Integração Total.
No entanto, nem todos os acordos possuem como finalidade atingir as últimas
etapas, União Econômica ou Integração Total, aliás, muitos acordos ficam nas
primeiras etapas, pois essa seria sua finalidade de existência.

3.1 PRIMEIRA ETAPA – ZONA DE LIVRE-COMÉRCIO


A primeira etapa é a formação de uma zona de livre-comércio entre os
países-membros. Em um acordo de livre-comércio, os países iniciam a redução de
impostos de importação das mercadorias comercializadas entre eles. Porém, no
contexto extrabloco, cada país pode estabelecer suas próprias alíquotas de imposto
de importação, ou seja, o comércio entre os países-membros é estabelecido por
alíquotas de importação reduzidas, mas no contexto da importação extrabloco
cada país pode decidir sua própria alíquota de importação.

Vamos supor que os países A, B e C fazem parte de uma zona de livre-


comércio. Agora, suponhamos que na zona de livre-comércio entre esses países a
comercialização de veículos terá zero por cento de alíquota de importação, como
podemos observar a seguir:

• O país A importará veículos de B e C com zero por cento de imposto de


importação, mas poderia importar veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota
de importação de 15%.

• O país B importará veículos de B e C com zero por cento de imposto de


importação, mas poderia importar veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota
de importação de 10%.

• O país C importará veículos de B e C com zero por cento de imposto de


importação, mas poderia importar veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota
de importação de 25%.

29
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Existem vários tratados de zonas de livre-comércio atuando ao redor do


mundo. Nesta situação, podemos citar a Zona de Livre-comércio do Pacífico, a
Zona de Livre-comércio de Norte América (NAFTA), a Zona de Livre-comércio
da África Austral, entre outros. Destes acordos de livre-comércio, vamos dar uma
olhada aos dois primeiros.

• Zona de Livre-comércio do Pacífico. Acordo multilateral de livre-


comércio que abrange os países da maior região do mundo ao redor do Oceano
Pacífico. Este acordo vem sendo liderado pelos Estados Unidos e o Japão, hoje
conta com 12 países, e segundo o artigo do jornal Globo News, publicado em 5 de
outubro de 2015: “O bloco de países reúne 40% do PIB mundial e tem 793 milhões
de consumidores”.

Os países que fazem parte deste grande acordo são: Estados Unidos,
Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru,
Cingapura, Vietnã.

• Zona de Livre-comércio da Norte América (NAFTA). Acordo de livre-


comércio iniciado em 1988 entre os três países que fazem parte da Norte América,
isto é: Canadá, Estados Unidos e México.

O NAFTA consolidou o intenso comércio regional no hemisfério norte


do Continente Americano, beneficiando grandemente à economia
mexicana, e aparece como resposta à formação da Comunidade
Europeia, ajudando a enfrentar a concorrência representada pela
economia japonesa e por este bloco econômico europeu.
O bloco econômico do NAFTA abriga uma população de 417,6 milhões
de habitantes, produzindo um PIB de US$ 11.405,2 trilhões, que gera
US$ 1.510,1 trilhão de exportações e US$ 1.837,1 trilhão de importações
(CAMEX, 2016).

3.2 FASE DE UNIÃO ADUANEIRA


A União Aduaneira vem a ser a segunda etapa do processo de integração
comercial e econômica entre países. Como já vimos antes, cada acordo comercial
possui seus objetivos, logo, não existem tempos definidos de quando os membros
de uma Zona de Livre-comércio passam para esta fase, aliás, em função da
finalidade do acordo comercial, muitos países ficam só na primeira fase.

Neste nível de integração comercial os países-membros buscam eliminar


totalmente as alíquotas de importação de todas as mercadorias a serem importadas
entre os países que fazem parte da União Aduaneira. Na questão do comércio
com países fora do bloco, os países-membros acordam estabelecer alíquotas
iguais para as importações vindas de fora dos países-membros do tratado. Nesse
sentido, busca-se estabelecer uma política tarifária em comum, única no bloco.

30
TÓPICO 2 | BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

Para colocar isto em contexto, vamos continuar com nosso caso hipotético exposto
anteriormente, mas agora considerando a União Aduaneira.

• O país A importará veículos de B e C com zero por cento de imposto


de importação, mas importa veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota de
importação de 15%, aliás, tarifa em comum com os outros países-membros.

• O país B importará veículos de B e C com zero por cento de imposto


de importação, mas importa veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota de
importação de 15%, aliás, tarifa em comum com os outros países-membros.

• O país C importará veículos de B e C com zero por cento de imposto


de importação, mas importa veículos dos países X, Y e Z com uma alíquota de
importação de 15%, aliás, tarifa em comum com os outros países-membros.

Resumindo, tanto os países A, B e C importam carros com uma alíquota


de 15% dos países X, Y e Z; e entre eles a alíquota será 0%. Aliás, é nesta fase que
precisamente os países-membros do Mercosul encontram-se, isto é: Argentina,
Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. No vocabulário do Mercosul, a tarifa em
comum estabelecida pelos países-membros é conhecida como Tarifa Externa
Comum (TEC), conforme iremos estudar mais adiante.

3.3 FASE MERCADO COMUM


Após ter consolidado entre os países-membros o livre-comércio, eliminado
as alíquotas de importação e combinado uma tarifa externa comum, a próxima fase
de unificação de um bloco é desenvolver o mercado comum. Devemos lembrar que
cada etapa para uma consolidação do bloco deve ser de comum acordo, levando em
consideração as finalidades de existir do acordo, caso contrário, o bloco comercial
entre países não irá superar a primeira ou a segunda fase, como é o caso da Zona
de Livre-comércio da Norte América (NAFTA), cujo objetivo é precisamente ficar
nesse nível.

Após a integração comercial das duas primeiras etapas, os países-membros


estão preparados para alinhar suas economias para um mercado comum, isto é, os
países-membros permitem o livre fluxo tanto de pessoas como de investimentos
entre suas fronteiras, ou seja, as pessoas podem trabalhar sem restrições em
qualquer dos países-membros, permitindo a integração da mão de obra e a livre
emigração ao longo das fronteiras. De igual maneira não existem mais restrições
ao fluxo de capitais, bens, serviços e fatores produtivos. “[...] o objetivo final a
ser alcançado é a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os
países-membros, através da eliminação de direitos alfandegários e de restrições
não tarifárias vigentes atualmente no comércio recíproco” (VASQUEZ, 2009, p.
319).

31
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Assim, o mercado comum é de fato um grande passo após a União


Aduaneira, pois permite sem restrições a livre circulação comercial, financeira e de
pessoas entre os países. Um dos principais objetivos do Mercosul é, precisamente,
atingir o nível de Mercado Comum, mas ainda continua no processo de ser
realmente um “Mercado Comum”, aliás, o Mercosul é:

[...] na atualidade, mais um processo do que um resultado: o próprio


título do documento diplomático que o lançou, o Tratado de Assunção,
assinado em 26 de março de 1991, indica que é um tratado “para a
constituição de um mercado comum” e não de um tratado do “Mercado
Comum do Sul” (VASQUEZ, 2009, p. 319).

Como expressa o autor Vásquez (2009), o Mercosul possui como grande


objetivo ser um “Mercado Comum”, mas ainda não é 100%. Processo que pode
demorar anos, talvez décadas, como foi o caso da União Europeia, que levou várias
décadas para os países europeus realmente se constituírem em um “Mercado
Comum” e então serem reconhecidos como “União Econômica”, mais um passo
na consolidação de um bloco de países.

3.3.1 Mercosul
O Mercosul está no processo de ser um “Mercado Comum”, sua constituição
formal foi feita no Tratado de Assunção do ano de 1991. Os sócios fundadores do
Mercosul são, por ordem alfabética: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Hoje,
o bloco conta com cinco países-membros e como países associados todos os países
que fazem parte de América do Sul, conforme podemos observar a seguir:

QUADRO 1 – PAÍSES-MEMBROS E ASSOCIADOS DO MERCOSUL

Países-membros: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.


• Países fundadores: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
• Países incorporados: A Venezuela foi incorporada ao bloco em 31 de julho de
2012.
Países associados: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.
• Bolívia e Chile desde o ano de 1996.
• Colômbia, Equador e Peru desde o ano de 2004.
• Guiana e Suriname desde o ano 2013.
FONTE: Disponível em: <http://www.mercosul.gov.br/saiba-mais-sobre-o-mercosul>. Acesso em:
3 jun. 2016.

32
TÓPICO 2 | BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

Hoje, os países-membros têm consolidado a fase de União Aduaneira,


estando em processo para se unificar como bloco de “Mercado Comum”. Como
União Aduaneira devemos ressaltar que o Mercosul possui a Tarifa Externa
Comum (TEC).

Por meio da TEC, os países-membros padronizaram as alíquotas de


importação de todas as mercadorias. Nesse sentido, os países do bloco mantêm
a mesma alíquota de importação para todas as mercadorias que estão sendo
comercializadas internacionalmente. Caso a importação aconteça entre países-
membros, haverá desconto de 100% da alíquota de importação, sempre e quando
o importador possuir o respectivo certificado de origem da mercadoria.

Vamos exemplificar o exposto: a TEC para importação de veículo sedan


é de 35%. Assim, se qualquer dos países-membros desejar importar este tipo de
veículo de países fora do extrabloco, o importador terá que pagar 35% de alíquota
de importação, vamos supor que seja importação vinda do Japão. Mas se um país-
membro desejar importar veículo sedan de um país do bloco, terá direito de 100%
de desconto, ou seja, 0% de alíquota, vamos supor que um importador argentino
está importando carros do Brasil, este importador possui direito a 0% de alíquota
de importação.

O importador de uma mercadoria vinda de outro país-membro do Mercosul


terá direito ao desconto de 100% sempre e quando tiver o Certificado de Origem,
conferindo que:

• A mercadoria possua no seu processo produtivo, pelo menos, 60% de


matéria-prima ou insumos dos países-membros.

• E/ou que os insumos vindos de terceiros países (extrabloco) tenham


um processo de transformação, conferindo uma nova mercadoria vinda desses
insumos.

Os requisitos para obter o Certificado de Origem, e assim gerar uma


alíquota de 0% entre países-membros, possuem como objetivo gerar valor nas
indústrias dos países do Mercosul.

O que irá acontecer se você é um importador brasileiro e está querendo


importar blusas de lã da Argentina e porventura não tiver o Certificado de Origem?
Nessa situação, terá que pagar a alíquota de importação para esse produto, ou seja,
a Tarifa Externa Comum (TEC) de 35% para blusas de lã. Você talvez esteja se
perguntando: mas quem emite o certificado de origem? No Brasil, podem emitir
certificados de origem as associações de indústrias e comerciais em todo o país.

33
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

DICAS

Segue endereço eletrônico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio


Exterior (MDIC): <http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl_1407525866.pdf>.

Em termos operativos, para o comércio exterior brasileiro as normas e regras


do Mercosul, tanto para exportar como para importar, são muito importantes.
Assim, vamos reservar grande parte da Unidade 3 para estudar sobre as questões
operativas do Mercosul e do comércio exterior brasileiro.

DICAS

Quer saber mais sobre o Mercosul? Acesse o site oficial, você poderá saber
com maior profundidade as diversas áreas de interesse comercial e socioeconômico do
MERCOSUL: <http://www.mercosul.gov.br/>.

3.4 UNIÃO ECONÔMICA E POLÍTICA


Para que um bloco comercial seja reconhecido como “Bloco Econômico
e Político” deve acontecer a união econômica entre os países-membros. Isto é,
os países unificam suas legislações e suas políticas econômicas e monetárias. O
que quer dizer, entre outras coisas, que as grandes execuções de gestão política
são feitas em comum, tais como: legislações trabalhistas, defesa de consumidor,
execução da política monetária, e, inclusive, a emissão de uma única moeda.

Neste nível de integração, os países-membros estabelecem uma capital


onde são definidas todas as gestões dos poderes Legislativo e Executivo do bloco.
Assim como é estabelecido um banco central único com uma única moeda. Nesta
situação, temos a União Econômica e Política Europeia, com características únicas,
conforme vamos estudar na continuação.

3.4.1 A União Europeia (EU)


A União Europeia possui como base a criação da Comunidade Europeia
do Carvão e do Aço em 1952. Este foi o primeiro passo para um longo processo de
integração comercial e de unificação econômica entre os países da Europa. Hoje, o
nome oficial do bloco é União Europeia (EU).

34
TÓPICO 2 | BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL

Nas suas primeiras décadas o bloco foi criado por seis países-membros,
isto é: Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo. Hoje,
a EU possui 28 membros ativos, sendo estes, por ordem alfabética: Alemanha,
Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia,
Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia,
Lituana, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino
Unido, República Checa, Romênia e Suécia.

Como podemos observar, são muitos países que fazem parte da EU. Destes,
os de maior importância, em função de seu peso econômico, são: Alemanha, França,
Reino Unido, Itália e Espanha. Entre eles, o Reino Unido merece uma atenção
especial, este membro está em processo de desligamento da União Europeia,
pois a partir de junho de 2016 entrou numa fase de separação, e em função da
complexidade do tema, possivelmente, para efetuar seu desligamento levará mais
de dois anos. No entanto, não é porque esses países retêm a maior economia da UE
que necessariamente tenham a melhor renda per capita e nível de desenvolvimento
de suas economias, ou seja, há países menores dentro da UE cuja população possui
um nível de riqueza individual igual ou maior que da Alemanha, como Holanda,
Dinamarca, Luxemburgo, entre outros.

Devemos observar que, desses países, nem todos têm adotado o euro como
moeda comum, aliás, 19 dos 28 países têm adotado o euro. Hoje, o euro é a segunda
moeda mais importante, logo após o dólar americano, sendo aceito para fins de
transações financeiras e comerciais ao redor do mundo. Em função dessa divisão,
entre países que utilizam o euro e países que não o utilizam, a UE divide-se em três
grandes sub-blocos:

• Países da zona do euro. Dezenove países que utilizam o euro como moeda
comum, sendo estes: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituana,
Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Portugal.

• Países que ainda estão por definir entrada na zona do euro. Sete países
que não têm adotado o euro, sendo estes: Croácia, Dinamarca, Estônia, Hungria,
Polônia, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia. A maioria destes países
está, ainda, analisando ou alinhando suas economias para poder ser parte da zona
do euro.

• Países que não adotaram o euro. Dois países não optaram por participar
da zona do euro, sendo estes: Dinamarca e Reino Unido. E como já falamos, a
partir de junho de 2016 o Reino Unido entrou numa fase de separação e saída do
bloco da UE.

A União Europeia (UE) como um todo tem mais de 500 milhões de pessoas,
23 línguas oficiais, sendo assim, aliás, o maior mercado do mundo em termos de
capacidade econômica para se exportar. A extensão territorial da UE é de 4.324.782
km², aliás, 50% menor que o Brasil, pensem o tamanho continental do Brasil, que
possui 8.515.767 km²!
35
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

DICAS

Quer saber mais sobre a UE? Acesse o site oficial, você poderá saber com maior
profundidade as diversas áreas de interesse comercial e socioeconômico da União Europeia,
segue o endereço: <http://europa.eu/index_pt.htm>.

36
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você estudou sobre:

• O desenvolvimento de blocos econômicos, cujo objetivo principal é que


países-membros possam fortalecer o comércio entre eles, e assim atingir
posicionamentos e interesses como um só grupo perante a comunidade
comercial e financeira internacional.

• A evolução dos blocos econômicos por etapas, sendo a primeira a formação


de uma Zona de Livre-comércio, a segunda a União Aduaneira, a terceira o
Mercado Comum, a quarta a União Econômica, e a quinta a União de Integração
Total. No entanto, nem todo bloco econômico possui o interesse de atingir a
etapa final.

• A Zona de Livre-comércio, que é um acordo de livre-comércio. Os países iniciam


a redução de impostos de importação das mercadorias comercializadas entre
eles. Porém, no contexto extrabloco, cada país pode estabelecer suas próprias
alíquotas de imposto de importação.

• Na União Aduaneira, os países-membros buscam eliminar totalmente as


alíquotas de importação de todas as mercadorias a serem importadas entre os
países que fazem parte da União Aduaneira. Porém, no contexto extrabloco,
os países-membros acordam estabelecer alíquotas iguais para as importações
vindas de fora dos países-membros do tratado.

• No Mercado Comum, os países-membros permitem o livre fluxo, tanto de


pessoas como de investimentos, entre suas fronteiras. As pessoas podem
trabalhar sem restrições em qualquer dos países-membros, de igual maneira não
existem mais restrições ao fluxo de capitais, bens, serviços e fatores produtivos.

• Na União Econômica e Política deve acontecer a união econômica entre os


países-membros, unificando suas legislações e suas políticas econômicas e
monetárias. Neste nível de integração, os países-membros estabelecem uma
capital onde são definidas todas as gestões dos poderes Legislativo e Executivo
do bloco.

37
AUTOATIVIDADE

1 No mundo atual, os países tendem a desenvolver parcerias e blocos


econômicos, visando melhorar as condições de vida de suas populações.
Explique, conceitualmente, como é estruturado um bloco econômico.

2 Determine quais as etapas evolutivas de um bloco econômico,


será que todo bloco econômico possui a meta de atingir a
integração total de seus países-membros? Explique o porquê
de sua resposta.

3 Das diferentes etapas de um bloco econômico, em que etapa é que se encontra


o Mercosul? Determine quais os membros do Mercosul e como é estabelecida
a tarifa dos países-membros.

4 Após a integração comercial das duas primeiras etapas, Zona de Livre-


comércio e União Aduaneira, os países-membros estão preparados para
alinhar suas economias para um Mercado Comum. Isto quer dizer que:

Conforme o exposto, determine qual a sentença correta.


I - Além de gerar um mercado comum dinâmico, os países-membros permitem
o livre fluxo, tanto de pessoas como de investimentos, entre suas fronteiras.
II - Os países-membros terão um mercado comum para todos os bens e serviços,
livre de fronteiras e controles de alfândega, mas haverá ainda controle ao fluxo
livre de pessoas e capitais.

5 Em uma UNIÃO ECONÔMICA E POLÍTICA os países unificam suas


legislações e suas políticas econômicas e monetárias, isto quer dizer que:

( ) As grandes execuções de gestão política são feitas em comum, tais como:


legislações trabalhistas, defesa do consumidor, execução da política monetária,
e, inclusive, a emissão de uma única moeda. Isto acontece sem que haja a
necessidade de ter um capital para tratar questões legislativas e executivas do
bloco.
( ) As grandes execuções de gestão política são feitas em comum, tais como:
legislações trabalhistas, defesa do consumidor, execução da política monetária,
e, inclusive, a emissão de uma única moeda. Devendo estabelecer uma capital,
na qual pode haver poder de decisão sobre questões legislativas e executivas de
interesses socioeconômicos do bloco.

6 Dos países da União Europeia (UE), será que todos adotaram o euro como
moeda única ou há países da UE que não fazem parte da zona do euro? Se há
países que não fazem parte, ou que ainda não fazem parte, da zona do euro,
determine quais são.

38
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS


AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Nos dois primeiros tópicos estudamos sobre o significado entre comércio
internacional e comércio exterior, assim como aprendemos sobre quais os grandes
blocos atuantes no comércio internacional. Nesse cenário, cabe perguntar: como
é regulamentado e normatizado o comércio internacional? Hoje, temos diversos
organismos internacionais que ajudam a dinamizar e normatizar o comércio entre
os países atuantes no cenário global.

Por meio destes organismos internacionais é que se procura nivelar o poder


de um país sobre outro, especialmente no que se refere aos interesses econômicos
de cada país, fato que é refletido nas diversas barreiras comerciais existentes entre
os países. Exemplo, os Estados Unidos possuem um poder comercial e econômico
maior que do Brasil, assim como o Brasil possui um poder comercial superior ao
da Colômbia. Desta maneira, objetivando nivelar esses poderes é que existe um
compromisso internacional de todos os países para que o comércio internacional
seja o mais justo possível entre as partes, apesar dos interesses individuais que
possam possuir os países.

2 FINALIDADE DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS


Conforme acabamos de observar, os países possuem interesses próprios
que procuram proteger, mas no contexto internacional existe a vontade de buscar
um meio de controle desses interesses para assim ter um comércio internacional
mais justo e um intercâmbio econômico/financeiro que ajude ao desenvolvimento
dos países. Esse é um dos objetivos dos organismos internacionais.

Os organismos internacionais nascem de acordos multilaterais entre


os países ativos no cenário global. Sendo que os organismos internacionais são
órgãos permanentes com constituição jurídica própria, isto faz suas decisões serem
respeitadas pelos países-membros desses organismos.

As organizações internacionais são “associações voluntárias de Estados


que podem ser definidas da seguinte forma: sociedade entre Estados, constituída
através de um tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns, através de
uma permanente cooperação entre seus membros” (STEINFUS, 2002, p. 27).

39
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

No contexto das organizações internacionais da economia moderna existe


um momento histórico da era contemporânea, um antes e um depois da Segunda
Guerra Mundial. Ao finalizar esta guerra mundial, no ano de 1945, o mundo iniciou
uma grande reorganização mundial com a ajuda do nascimento de uma série de
organismos internacionais que vamos estudar na continuação.

2.1 PRINCIPAIS ORGANISMOS INTERNACIONAIS


No referente ao comércio internacional, algumas mudanças importantes
aconteceram logo depois da Segunda Guerra Mundial. Com a maioria das
economias destruídas depois da guerra, e para evitar novos conflitos e impasses
de interesses entre os países, em julho de 1944 um grande acordo internacional
estava nascendo, em Bretton Woods - EUA.

Nas negociações de Bretton Woods foi assinado o acordo internacional


para a formação de três grandes instituições que possuem como objetivo, até
hoje, um comércio justo entre as nações, ajuda financeira internacional quando
um país precisar e ajuda financeira para o desenvolvimento socioeconômico das
nações. Os três órgãos internacionais criados na ocasião são: O Fundo Monetário
Internacional; o Banco Mundial; e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio
(GATT).

• Fundo Monetário Internacional (FMI). Este órgão internacional visa


manter a estabilidade das posições cambiais das moedas dos países e assistir
aos países com crises de liquidez externa. Os fundos disponíveis aos países em
problemas são executados por meio de condicionais rigorosos, objetivando
reorganizar suas economias. Até finais do ano 2000, o Brasil usou várias vezes
os recursos do FMI. Todos os países fazem parte do patrimônio do FMI. Quanto
maior a economia de um país, maior será sua participação e maior será também
seu poder de voto no diretório do FMI.

• Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)/


Banco Mundial. Hoje em dia o BIRD cumpre suas funções com o nome de Banco
Mundial. Este órgão, no seu início, tinha como principal objetivo a reconstrução
e o desenvolvimento econômico das nações impactadas pela Segunda Guerra
Mundial. Hoje, o Banco Mundial tem como objetivo ajudar o desenvolvimento
socioeconômico por meio de projetos específicos. Igualmente ao FMI, os acionistas
do Banco são os países, em função do tamanho de suas economias.

• Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). O GATT, mais que um


órgão internacional, é considerado uma série de acordos comerciais internacionais
que duraram por várias décadas. Hoje, o GATT não existe mais, pois no seu último
acordo foi transformado em órgão internacional. Na sua época, sua principal
missão era a redução gradativa das tarifas de importação entre os países. Cabe
destacar que no último acordo do GATT, aliás, a 8ª ronda do Uruguai que durou

40
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

desde o ano de 1986 até 1993, foi estabelecido o marco jurídico da Organização
Mundial do Comércio (OMC).

NOTA

Sabe qual a diferença entre multilateralismo e bilateralismo? Multilateralismo é


o termo aplicado nas negociações e acordos internacionais entre vários países. Enquanto
bilateralismo é o mesmo processo de negociação e de acordos, mas neste caso somente
entre dois países.

2.2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO (OMC)


No ano de 1994, um ano depois da última ronda do GATT, a OMC foi
oficializada pelo acordo constitutivo de Marrakesh, de 125 países. Com a
formalização da OMC, pela primeira vez o comércio internacional tinha um órgão
regulamentador que não só teria de se preocupar com as tarifas, mas teria que
regular outras atividades do comércio internacional atual, tais como comércio de
serviços, regulamentações e proteção de propriedade intelectual, tais como direitos
de marcas, patentes e de autor.

Após mais de duas décadas de existência, no ano 2016 a OMC tem 162
países-membros. Por meio da OMC os países de menor peso econômico possuem
tratamento igual às economias de países desenvolvidos, assim, possíveis abusos
e disputas comerciais podem ser monitorados entre os países. Para qualquer
processo de índole comercial os países possuem os mesmos direitos de comércio
internacional. Isto pode ajudar muito em situações de conflito de interesses entre
um país de porte menor com um de economia maior.

Assim, por meio da gestão da OMC, qualquer conflito comercial e de


direitos de propriedade intelectual entre países pode ser finalizado com arbitragem
da OMC. Esta arbitragem deverá ser aceita pelos países em disputa e deverá estar
alinhada aos princípios de livre-comércio e medidas compensatórias assinadas
entre os países-membros da OMC. Segundo Thorstensen (2002, p. 371):

O que se afirma é que, agora, a OMC ‘tem dentes’. Tal afirmação significa
que, agora, a OMC tem poder para impor as decisões dos painéis e
permitir que os membros que ganhem a controvérsia possam aplicar
retaliações aos membros que mantenham medidas incompatíveis com
as regras da OMC. Tal retaliação, por exemplo, pode ser efetuada
através do aumento de tarifas para os bens exportados pelo membro
infrator, em um valor equivalente ao das perdas incorridas.

Em grandes termos, a OMC possui como principal função supervisar


as corretas práticas de comércio entre países e blocos comerciais. Isto deve ser
feito respeitando os acordos, com os quais, aliás, os mesmos países-membros têm

41
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

se comprometido. Acordos delegados à gestão da OMC que possui, desde sua


criação, as seguintes atividades principais:

• A negociação da redução ou eliminação dos obstáculos ao comércio e acordos


sobre as normas pelas quais se rege o comércio internacional.

• A administração e a vigilância da aplicação das normas acordadas na OMC


que regulam:

o o comércio de mercadorias e serviços;


o os aspectos de direito de propriedade intelectual relacionados ao comércio.

• A vigilância e o exame das políticas comerciais dos seus membros, bem como
a consecução da transparência nos acordos regionais e bilaterais.

• A solução de controvérsias entre os membros sobre a interpretação e aplicação


dos acordos.

• O fortalecimento da capacidade dos funcionários públicos dos países em


desenvolvimento em assuntos relacionados com o comércio internacional.

• A prestação de assistência no processo de adesão dos países que ainda não são
membros da organização.

• A realização de estudos econômicos e a coleta e difusão de dados comerciais


em apoio às demais atividades principais da OMC.

A explicação e difusão ao público de informação sobre a OMC, sua


missão e suas atividades.

FONTE: Adaptado de <https://www.wto.org/spanish/thewto_s/whatis_s/what_we_do_s.htm>.


Acesso em: 17 jun. 2016.

2.3 CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL (CCI)


Os países que atuam ativamente no comércio internacional têm a OMC
como organismo que controla os direitos de um comércio justo entre países, ou
seja, a OMC atua no nível de acordos entre governos dos países.

Para questões comerciais, financeiras e logísticas mais específicas e pontuais


entre as empresas que atuam no mercado internacional, qual seria o organismo
que pode normatizar suas relações? Em questões operacionais e financeiras do
comércio e logística internacional, a Câmara de Comércio Internacional (CCI)
regula e normatiza este tipo de gestão. No que se refere às responsabilidades, ao
longo da cadeia logística, a CCI é responsável pela normatização dos Incoterms.

42
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Os Incoterms, no comércio internacional, definem e estabelecem tanto os


direitos como as responsabilidades entre o exportador e importador ao longo
da cadeia logística. Isto é, desde que a mercadoria está saindo do endereço do
exportador, no país de origem, até que seja entregue no endereço do importador,
no país de destino.

Conforme abordaremos na Unidade 3, existem vários Incoterms, sendo


que a modalidade de Incoterm a se estabelecer em um processo de exportação
será definida pelas partes da negociação comercial, isto é, entre o exportador e
importador. Para podermos entender um pouco sobre os Incoterms, vamos
observar um exemplo:

• Se for negociado entre as partes o Incoterm FOB (Free on Board – em


português quer dizer: mercadoria à disposição no navio), de quem será a
responsabilidade:

o Da internacionalização e entrega da mercadoria no porto no país de


origem? Segundo o Incoterm FOB, isto seria responsabilidade do exportador.
o Do transporte e seguro internacional da mercadoria? Segundo o Incoterm
FOB, isto seria de responsabilidade do importador.
o Do desembarque da mercadoria no porto de destino e a respectiva
nacionalização? Segundo o Incoterm FOB, isto seria de responsabilidade do
importador.

TUROS
ESTUDOS FU

Ficou curioso sobre os Incoterms? Mais adiante, na Unidade 3, iremos abordar


com mais profundidade sobre isso, contudo, a seguir disponibilizamos dois sites de interesse
sobre os Incoterms:
Portal da CCI em inglês: <http://www.iccwbo.org/>.
Portal Brasileiro de Comércio Exterior: <http://www.comexbrasil.gov.br/conteudo/ver/chave/
incoterms/menu/192>.

Além de normatizar as questões operativas/logísticas do comércio


internacional, a CCI defende abertamente a globalização da economia através de
seu apoio às empresas que atuam, e desejam atuar no comércio internacional. Esse
apoio é dado em questões comerciais, logísticas e financeiras.

A CCI também regula as operações de comércio exterior, sendo a


responsável pela edição da Brochura 500 ou UCP 500 e URC 522, que
trata de regras bancárias para regulamentação das operações relativas
a créditos documentários, como, por exemplo, operações de compra
e venda amparadas por Carta de Crédito e Cobranças Documentárias
(TREDESINI, 2011, p. 32).

43
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Como podemos observar, a CCI é uma peça-chave quando falamos sobre


condições financeiras, operativas e de logística na comercialização de mercadorias
ao redor do mundo. Através da CCI se pode normatizar as modalidades padrões,
tanto de logística e de pagamentos entre exportadores, trading companies, e
importadores de diferentes países. Assim como os Incoterms, as modalidades de
pagamento iremos estudar na Unidade 3 deste caderno.

TUROS
ESTUDOS FU

Ficou curioso sobre as modalidades de pagamento? Para se adiantar à Unidade


3 você pode ler sobre este tema no seguinte portal do Sistema Integrado de Comércio
Exterior (SISCOMEX): <http://www.siscomex.com.br/topic/2159-formas-pagamentos-na-
exportacao/>.

3 BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL


Como estudamos anteriormente, o comércio internacional entre países é
fundamental para as necessidades, tanto de insumos, de consumo e de investimento
para qualquer país do mundo. Lembre-se: nenhum país do mundo pode ser
autossuficiente. Seguindo esta lógica, os países deveriam negociar abertamente o
que precisam importar e exportar, comercializando e exportando bens e serviços
que realmente são competitivos.

Se um país analisar bem as regras do jogo do comércio internacional, e


puder definir estrategicamente seu potencial exportador e suas necessidades de
importação, logo, esse país deve fazer os seguintes questionamentos:

• Quais os setores em que ele é realmente competitivo (produtivo) para


exportar? Para assim aproveitar das grandes oportunidades desse mercado
internacional.

• Quais são suas necessidades de insumos, bens de consumo, investimentos


e tecnologia de ponta? Para assim aproveitar desse grande mercado internacional
para importar esses requerimentos de sua economia.

44
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Depois de um tempo, sua economia terá um desenvolvimento dinâmico,


com crescimentos acima da média mundial. Este foi o caminho feito por países
com histórias de sucesso econômico atual, tais como Chile, Coreia do Sul, Taiwan,
Singapura, Japão, entre outros; e principalmente dos Estados Unidos, que há
décadas lidera a economia e o comércio internacional. Será que todos os países
conseguem se abrir totalmente ao comércio internacional?

Muitos tentam segurar seus interesses socioeconômicos e de seguridade


nacional, e outros ponderam seus interesses versus os benefícios de se abrir. Aliás,
não existe uma economia totalmente aberta ao comércio internacional, como
também não existe uma economia totalmente fechada. O que existe é um leque de
possibilidades:

• Há países considerados abertos ao comércio internacional, permitindo e


incentivando suas empresas a negociarem abertamente no mercado internacional,
mas sempre de olho nos grandes interesses nacionais.

• Existem outros que são relativamente abertos ao comércio, deixando suas


empresas negociarem no mercado internacional, podendo, em certas situações,
impor barreiras para diminuir fluxos indesejados de mercadorias comercializadas
internacionalmente.

• Existem outros que são relativamente fechados ao comércio, deixando


suas empresas atuarem no mercado internacional, sempre e quando estejam
alinhadas aos grandes interesses nacionais. Poderíamos dizer que o Brasil está
nesta posição e quase na anterior (relativamente aberta). Nas últimas décadas, o
país vem se abrindo bastante ao comércio internacional.

• Há outros que são considerados economias fechadas, negociando no


comércio internacional o mínimo indispensável, este é o caso das economias
consideradas de um socialismo extremo que protegem ao máximo os interesses do
Estado e, através dele, a sua população. Podemos citar vários países: a ex-União
Soviética, hoje desintegrada em vários países, entre esses a Rússia e a Ucrânia, a
China há duas décadas, a Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, entre outros.

Como podemos observar, não há país 100% aberto ao comércio internacional


nem 100% fechado. Aliás, o sonho de um mundo totalmente globalizado seria que
todos os países fossem 100% abertos ao comércio internacional.

Ao longo dos anos, os países vêm utilizando as conhecidas barreiras


ao comércio internacional, visando proteger interesses nacionais, que, aliás,
muitas vezes tendem a se misturar com interesses particulares. Nas negociações
internacionais, os países procuram proteger as mercadorias produzidas nos seus
territórios, pois estes ajudam a gerar emprego e a proteger tanto seus agricultores
como setores industriais.

45
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Você pode estar se perguntando: quais são estas barreiras ao comércio?


Existem dois grandes grupos de barreiras: as barreiras tarifárias e as não tarifárias.
É nesta questão que a OMC desempenha um de seus papéis principais, isto é,
destravar impasses entre países. Quando um país, ou grupo de países, sente-se
prejudicado pelas barreiras impostas por outro país, logo, os países prejudicados
recorrem à intermediação da OMC.

Assim, a partir da análise da questão, que está travando o livre-comércio


entre as partes, a OMC emite seu parecer, e se houver necessidade, estabelece
penalidades que devem ser respeitadas pelo país que está se beneficiando pela
imposição de barreiras. Aqui poderemos citar vários exemplos, um deles foi o
parecer a favor da exportação de suco de laranja do Brasil para os Estados Unidos.
Neste caso, os Estados Unidos tinham colocado uma sobretarifa de imposto de
importação (antidumping) às importações de suco de laranja vindas do Brasil.

E
IMPORTANT

Histórico das diferenças entre países e pareceres da OMC. Acessando o portal


da OMC podemos ler e nos aprofundar sobre os diferentes pareceres da OMC em diversos
tempos relacionados ao comércio internacional. Portal: <https://www.wto.org/spanish/
tratop_s/dispu_s/dispu_s.htm>.

46
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

3.1 BARREIRAS TARIFÁRIAS


Como o nome diz, as barreiras tarifárias mexem diretamente com a alíquota
de importação imposta às diferentes mercadorias a serem importadas por um
país. Para se proteger, os países têm a ferramenta de poder aumentar a taxa de
alíquota de importação. Exemplo, se o Brasil se sentir ameaçado com excesso de
importações de roupa barata vinda de diferentes países, o país poderia aumentar
a alíquota de importação desse tipo de mercadoria. Vamos analisar isso em termos
simples e didáticos:

• A alíquota de importação para camisetas é de 10%. Logo, se a camiseta


está sendo importada por R$ 10,00, o imposto de importação será de R$ 1,00 
R$ 10,00 x 10% (alíquota). Logo, a camiseta terá um valor de R$ 11,00 mais outras
taxas e gastos de importação.

• Se o Brasil perceber que há excesso de importações de camisetas e que


isto está prejudicando o emprego e a indústria nacional, o país poderá aumentar
a alíquota para 25%. Logo, se a camiseta está sendo importada por R$ 10,00, o
imposto de importação será de R$ 2,50  R$ 10,00 x 25% (alíquota). Assim, a
camiseta terá um valor de R$ 12,50 mais outras taxas e gastos de importação.

A quem irá beneficiar esse aumento da alíquota? No curto prazo, poderá


beneficiar a geração de emprego, a indústria e a agricultura nacional, pois ao
aumentar a tarifa de importação haverá aumento no custo de importação da
mercadoria em questão e os produtos nacionais tornam-se relativamente mais
baratos. Eis um dos motivos de as tarifas de importação serem consideradas como
uma barreira tarifária.

Deste modo, ao ser mais custoso importar, o preço deste produto fica
mais caro, inviabilizando, ou diminuindo, a venda no mercado nacional, e, claro,
beneficiando os produtores nacionais. É por meio das tarifas de imposto de
importação que em muitas situações os países tendem a proteger sua agricultura
e indústria nacional.

Devemos nos perguntar: há limites para uma barreira tarifária? Antigamente


os países podiam impor qualquer nível de taxa nas tarifas, desde 0% até mais de
100%! Daí o controle, a partir da Segunda Guerra Mundial, em que os organismos
internacionais procuram impor limites às barreiras ao comércio internacional.
Hoje, a Organização Mundial de Comércio (OMC) limita a alíquota do imposto de
importação às mercadorias em até 35%, além disso, um país que esteja exportando
pode reclamar excesso de barreira tarifária.

47
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Uma alíquota de 35% é considerada bastante alta, muitas mercadorias


com uma tarifa assim viram inviáveis de serem importadas e poderem competir
no mercado nacional. Ao observarmos a maioria de tarifas TEC do Brasil, e dos
demais países do Mercosul, percebemos que oscilam entre 02% e 20%, são poucas
as mercadorias que possuem uma tarifa de 35%. E as que têm uma TEC de 35%
são visivelmente para proteger a indústria nacional, tal como a TEC para importar
malhas de algodão, que possui uma TEC de 35%.

3.1.1 Sobretaxa de alíquota de importação e


antidumping
Quando um país observa que é necessário se proteger do mercado
internacional, determinadas indústrias procuram aumentar as tarifas de
importação, conforme estudamos anteriormente. Para fazer isso, busca-se uma
proteção específica, e não generalizada, ou seja, a barreira poderá ser focada nas
importações vindas de um país ou bloco econômico em específico. Assim, dos
outros países não precisa aumentar a tarifa de importação. Como é feito isso?
Colocando uma sobretaxa ao imposto de importação de um tipo de mercadoria
vinda do país que está afetando a indústria nacional. Para exemplificar isto, vamos
supor a seguinte situação:

• A alíquota de importação para cadeados é de 16%, ou seja, essa seria a


tarifa geral para qualquer cadeado que for importado de qualquer país. Porém, o
país deseja impor uma sobretaxa aos cadeados vindos, especificamente, da China,
por se julgar ser um comércio desleal, pois as empresas desse país estão baixando
o preço da exportação do produto para assim ganhar mercado internacional.

Com esse argumento o Brasil poderia impor uma sobretaxa, de 5%


(supostamente) aos cadeados vindos da China, logo:

o Todo cadeado a ser importado da China terá uma alíquota de importação


final específica de 21%  16% + 5%.
o A tarifa geral do imposto de importação (II) se mantém em 16%, mas
haverá uma sobretaxa específica de 5% aos cadeados vindos da China, observe que
para os demais países mantêm-se em 16%.

Para justificar essa sobretaxa, o Brasil, ou qualquer país-membro da


OMC, levanta um argumento de justificativa diante do país que será prejudicado
(imposta essa sobretaxa) e, claro, perante a OMC. Esse mecanismo de sobretaxar a
tarifa de importação é feito, majoritariamente, por meio do conhecido antidumping,
ou sistema de justificativa de sobretaxa, aliás, ferramenta bastante utilizada pelos
países. Para que possamos entender o contexto do que é um antidumping, devemos
conhecer previamente o que é um dumping.

48
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

3.1.2 O dumping e antidumping


Muitas vezes, para poder ganhar participação de mercado internacional,
as empresas ficam tentadas em comercializar internacionalmente seus produtos
a um preço menor do que elas vendem no mercado nacional. Isso no vocabulário
de comércio exterior é conhecido como dumping, segundo o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Definição: Considera-se que há prática de dumping quando uma


empresa exporta para o Brasil um produto a preço (preço de exportação)
inferior àquele que pratica para o produto similar nas vendas para o
seu mercado interno (valor normal). Desta forma, a diferenciação de
preços já é por si só considerada como prática desleal de comércio.
DUMPING => PREÇO DE EXPORTAÇÃO < VALOR NORMAL
Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/
interna.php?area=5&menu=4351&refr=4323>. Acesso em: 16 jun. 2016
(grifos nosso).

Voltando ao exemplo do cadeado, exposto anteriormente, vamos supor


que no mercado nacional da China este produto seja comercializado por US$ 2,50,
mas as empresas exportadoras estão exportando-o para o Brasil por US$ 2,20. Esta
suposta prática desleal das empresas chinesas, se comprovada e mantida no tempo,
serve de argumento para um processo de dumping. O que ganha uma empresa
exportadora ao exportar seus produtos com um preço menor do que ela vende no
mercado nacional? Segundo a autora Tredesini (2011, p. 46):

As empresas lançam mão desta prática para conquistar o mercado


escolhido. Praticando preços muito competitivos, elas tiram os
concorrentes, os fabricantes nacionais, deste mercado. Quando o
mercado está dominado, não existe mais concorrência ou a concorrência
perdeu a maioria de sua participação do mercado, as empresas passam,
aos poucos, a praticar o preço real do produto.

Por meio da prática do dumping as empresas nacionais de um país podem se


sentir ameaçadas, e quando o impacto desta prática é forte, os produtores nacionais
expõem seu problema aos órgãos governamentais responsáveis pelo comércio
exterior. Logo, o governo analisa e se conseguir argumentar a prática de dumping
toma ações, por meio da medida protecionista conhecida como antidumping. E em
função desses possíveis dumpings, e sempre e quando possa se justificar, os países
estão permitidos pela OMC para executar medidas antidumping.

A medida antidumping consiste em aplicar, na maioria das vezes, uma


sobretaxa à tarifa de importação do produto que está apresentando dumping.
Assim, por meio do antidumping um país pode compensar o dumping para que a
indústria nacional possa concorrer contra as importações “baratas” vindas de um
país que está praticando dumping.

Devemos observar que, muitas vezes, são aplicadas medidas antidumping


para justificar proteção excessiva aos interesses de produtores nacionais. Muitos

49
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

países fazem isto, e o Brasil não é a exceção. Aqui no Brasil existem vários
antidumpings vigentes, entre eles para a importação de cadeados.

DICAS

Para saber mais sobre as medidas de antidumping aplicadas, no Brasil, para a


importação de cadeados, acesse o portal do MDIC: <http://www.desenvolvimento.gov.br/
sitio/interna/interna.php?area=5&menu=4027>.

NOTA

Os exportadores brasileiros sofrem medidas antidumping? A resposta é sim, e


muitas vezes é uma medida injusta, para tentar proteger a indústria nacional de outros países.
Exemplo disso foi a medida antidumping imposta pelos Estados Unidos aos exportadores
brasileiros de suco de laranja, isto foi feito, em grande parte, para proteger os produtores
de laranja da Flórida e da Califórnia. Este caso foi apresentado à OMC e o Brasil ganhou o
processo contra os Estados Unidos, conseguindo que os EUA levantassem a medida de
antidumping, assim os exportadores de suco de laranja do Brasil puderam vender nesse
mercado sem sofrer sobretaxas. Ficou curioso?
Para saber mais sobre o caso de arbitragem do suco de laranja entre os EUA e o Brasil, acesse
o seguinte artigo de opinião: <http://oglobo.globo.com/economia/brasil-eua-encerram-
disputa-na-omc-por-suco-de-laranja-7618140>.

3.2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS


Acabamos de ver como um país pode impor barreiras diretas ao comércio
internacional por meio de tarifas de importação. Além das tarifas, existem outros
meios para tentar barrar ou diminuir o fluxo de importação de determinadas
importações. No comércio exterior elas são conhecidas como barreiras não
tarifárias, ou seja, são barreiras que não impactam o custo direto da importação.
Estas barreiras são impostas por meio de condicionais de certificações de quotas,
de qualidade, de segurança ambiental, de segurança alimentar, de segurança à
saúde, entre outras.

Quando existem barreiras tarifárias, a empresa pode de alguma


forma tentar ser competitiva, baixando os seus custos ou sacrificando
a margem de ganho. Porém, as barreiras não tarifárias são realmente
impeditivas. Se a empresa não está com o produto de acordo com o
exigido pelo país, está fora desse mercado, mesmo tendo um preço
competitivo (TREDESINI, 2011, p. 46).

50
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

3.2.1 Barreiras técnicas


Por meio das barreiras técnicas os países buscam definir características
técnicas que as mercadorias importadas devem possuir para poder serem
importadas, para isso deve-se apresentar um certificado técnico a ser conferido
pelos órgãos anuentes do governo. Caso não existir o respectivo certificado, a
mercadoria não poderá entrar no país.

BARREIRAS TÉCNICAS AO COMÉRCIO

Após a criação do GATT, em 1947 e, posteriormente, da OMC, em 1995,


as tarifas e outras restrições quantitativas diminuíram de forma significativa.
No entanto, outras formas de protecionismo tornaram-se evidentes, como
regulamentações técnicas. Nesse sentido, diversos países têm muitos
regulamentos em vigor que estabelecem requisitos de qualidade, segurança,
composição, processo produtivo, embalagem, rotulagem etc. para os produtos
comercializados em seus territórios. Essas regulamentações nacionais podem
se consistir, muitas vezes, nas denominadas ‘barreiras técnicas ao comércio'. A
adoção e a implementação dessas medidas governamentais podem, contudo,
visar à proteção de objetivos legítimos, como saúde, segurança e meio ambiente.
Essas justificativas legítimas podem, muitas vezes, servir de explicação para a
imposição de exigências técnicas protecionistas.

FONTE: Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.


php?area=5&menu=733&refr=750>. Acesso em: 17 jun. 2016.

Conforme o conceito exposto acima, pelo MIDC, sob a condicional da


barreira técnica os governos buscam manter o controle técnico sobre produtos
importados. No entanto, muitas vezes isso é feito para proteger a indústria
nacional de produtos importados mais competitivos. Assim, por meio das barreiras
técnicas, os países exigem “certificações”, exemplo: certificações à importação de
carne bovina, certificado ecológico (ameaça ao meio ambiente), entre outros.

Uma situação de barreira não tarifária poderia ser, por exemplo, o Brasil
considerar que os brinquedos para crianças de até três anos vindos da China
podem ser prejudiciais à saúde das crianças. Logo, sob essa ameaça o Brasil
bloqueia as importações desse tipo de brinquedo vindo da China até que possa ser
demonstrado, por meio de um certificado, que eles não são prejudiciais à saúde
pública. Esta seria uma barreira não tarifária “sanitária”.

• Barreira Sanitária. Por meio desta barreira, os países buscam manter


sob controle ameaças de cunho sanitário. Além do exemplo dos brinquedos, todo
produto alimentar, remédios, entre outros, devem possuir certificado, conferindo
que o produto não é potencialmente prejudicial à saúde.

Se um país achar que existe ameaça, por parte de algum produto, contra
a saúde de sua população, esse país simplesmente pode proibir a importação

51
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

até conferir que não seja prejudicial. Exemplo disso, a União Europeia (UE) tem
proibido a importação de soja transgênica, assim, para que as empresas brasileiras
possam exportar para a UE elas precisam do certificado conferindo que a soja não
é transgênica.

• Barreira Qualidade. Para alguns produtos, especialmente alimentares,


os países podem exigir certificados que avaliem processos produtivos, visando
cumprir padrões de qualidade. Exemplo disso temos: Certificado Kosher,
demandado por Israel e pela comunidade judaica ao redor do mundo; Certificado
Halal, demandado pelos países muçulmanos que devem cumprir requisitos
estabelecidos no Corão; a maioria dos produtos alimentares a serem exportados
para o Japão demanda certificados de qualidade.

Nem sempre os certificados de qualidade visam só proteger a qualidade do


produto, mas sim procuram proteger determinadas indústrias nacionais. Assim,
em algumas situações, os padrões exigidos pelos certificados são quase impossíveis
de serem cumpridos, podendo inviabilizar a exportação e se convertendo mais
em uma barreira ao comércio internacional. Quando um certificado de qualidade
vira uma barreira, os governos buscam manter o controle técnico sobre os
produtos importados, com o objetivo de proteger a indústria nacional de produtos
importados mais competitivos.

• Barreira Ecológica. Hoje, muitos produtos comercializados


internacionalmente estão apresentando a necessidade de possuir certificados
ecológicos, para garantir que seus processos produtivos tenham o menor impacto
ambiental possível. Existem vários certificados desse tipo, conforme as exigências
de um país ou mercado. Um exemplo de exigências do mercado são os certificados
orgânicos.

52
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

FIGURA 2 - CERTIFICADOS ORGÂNICOS

FONTE: Disponível em: <http://www.agronacc.com/2013/08/certificado-de-organico.html>.


Acesso em: 19 jun. 2016.

Em algumas situações, sob o pretexto de proteção ambiental, os países


buscam proteger indústrias nacionais que possuem processos produtivos com
menor competitividade.

Acabamos de ler sobre algumas situações de certificados técnicos, sanitários,


ambientais, entre outros. Em resumo, todos estes certificados visam garantir que
os processos produtivos estejam conforme os padrões exigidos pelos mercados
dos países de destino da mercadoria a ser exportada. Porém, em muitas situações
os países poderiam utilizar, como pretexto, exigências além do necessário para
tentar barrar, ou pelo menos diminuir, o volume de importações de produtos
mais competitivos dos que os produzidos nacionalmente. É nestas situações que
os certificados técnicos podem virar meios para a geração de uma barreira não
tarifária.

53
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

E
IMPORTANT

Qual o significado de Certificado Kosher?


Certificado Kosher. Este certificado serve para verificar normas de qualidade e de processos
na produção de alimentos conforme as leis alimentares judaicas. O certificado não só serve
para as exportações para Israel, mas para todo país que possui comunidades judaicas, aliás,
espalhadas em países ao redor do mundo, entre estes o Brasil. A comunidade judaica é
grande e de poder aquisitivo alto, assim, muitas empresas brasileiras estão interessadas em
executar processos de exportação ou de importação, precisando deste certificado. Todavia,
consumidores que não pertencem ao judaísmo gostam de consumir produtos alimentares
com este certificado, em função da altíssima qualidade de tais produtos.

3.2.2 Subsídios
Quando o governo de um país oferece benefícios econômicos diretos, sem
exigir retorno dos processos produtivos da agricultura, da agroindústria ou da
indústria, logo estes podem ser considerados subsídios. Segundo o site do MIDC
(2016).

Significado de Subsídio
Definição: Entende-se como subsídio a concessão de um benefício, em
função das seguintes hipóteses:
o existência, no país exportador, de qualquer forma de sustentação
de renda ou de preços que, direta ou indiretamente, contribua para
aumentar exportações ou reduzir importações de qualquer produto; ou
o existência de contribuição financeira por um governo ou órgão
público, no interior do território do país exportador.

A seguir podemos observar alguns exemplos de subsídios:

• Quando o exportador receber algum tipo de renda direta do governo


para continuar produzindo. Por exemplo, um agricultor poderia receber uma
renda adicional por parte do governo se produzir um número mínimo de hectares
de milho, soja, entre outros.

• Quando o exportador puder comprar insumos-chave com preços baixos.


Exemplo, agricultores que produzirem produtos de exportação determinados
podem comprar insumos com preços especiais subsidiados pelo governo.

• Quando o exportador conseguir receber empréstimos das entidades


financeiras governamentais com juros baixos, inclusive com taxa 0%.

Existem países que, sob o pretexto de segurança alimentar de suas


populações, fornecem subsídios para grandes produtores agrícolas, como são
os casos conhecidos internacionalmente da soja e milho dos Estados Unidos e
da produção de leite da União Europeia, entre outros produtos agrícolas desses
países. “Os subsídios se tornam uma barreira na medida em que o agricultor
54
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

recebe este dinheiro do governo, aplica em seu negócio e acaba reduzindo os seus
custos” (TREDESINI, 2011, p. 49).

Em resumo, quando um produtor ou setor industrial receber dinheiro


“barato” por parte do governo para manter seus processos produtivos ativos,
pode gerar diversos tipos de subsídios. O Mercosul, com a liderança do Brasil e
da Argentina, tem mantido diversas ações para defender seus direitos perante
a OMC, pois é prática forte de muitos países desenvolvidos manter a produção
de soja, milho, trigo, leite, entre outros, com subsídios diretos aos agricultores,
deixando os preços desses produtos abaixo do preço real de mercado.

Ao ter excesso de oferta de commodities (ex.: soja ou milho) com subsídio


nos países desenvolvidos, logo, o preço de mercado internacional fica abaixo do
real, prejudicando aos agricultores do Brasil ou da Argentina, que possuem maior
competitividade na produção desses grãos.

3.2.3 Quotas de importação


Para controlar o volume de importação de certos produtos, os países podem
impor quotas ou volumes de importação. Exemplo, o Brasil permite um volume
limite de carros importados do México com taxa zero de importação; assim que
atingir esse limite, as importações desses carros deverão ter taxa de importação.
Isto permite graus de protecionismo às montadoras de veículos instaladas no
Brasil.

Nos exemplos citados, analisamos algumas das ferramentas disponíveis


que os países possuem com o objetivo de se proteger de ameaças de produtos
importados. Ameaças que nem sempre são prejudiciais às economias, mas sim
aos interesses particulares que bloqueiam o livre-comércio internacional. Observe
que, dependendo do grau de proteção da barreira, elas aumentam a necessidade
de atividades administrativas dos processos de exportação e importação, e em
algumas situações até podem bloquear uma importação realmente necessária.

Quando um país estiver ameaçado de excesso de volume de um produto


importado, poderia impor limite aos volumes de importação da mercadoria em
questão. Assim, estabelecem-se limites quantitativos ao que poderá ser importado,
podendo ser limites em função do número de peças, quilos, litros, toneladas etc.
Segundo a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ):

As quotas são simplesmente uma forma de restrição à quantidade de


produto importado, limitada a um número preestabelecido alocado
sob a base global ou específica. As quotas possuem um sistema de
administração e licenciamento próprio, que pode variar do leilão à
concessão discricionária.
As quotas de importação podem também ser combinadas às barreiras
tarifárias tradicionais, com tarifas que variam entre um valor mais baixo,
quando a quantidade importada ainda está abaixo da quota (tarifa

55
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

intraquota), para um mais alto, uma vez que a quota seja extrapolada
(tarifa extraquota) (ABIMAQ, 2016).

Os limites aos volumes a serem importados tornam-se uma barreira


quando o país exportador possui maior capacidade de exportação dos volumes
previamente estabelecidos pelo país importador. Isto podemos exemplificar por
meio do seguinte exemplo: A União Europeia (UE) impõe limites à quantidade de
banana a ser importada dos países latino-americanos. Isto é feito porque alguns
países da Europa mantêm interesses econômicos na produção de banana de seus
investimentos na produção dessa fruta no Caribe e na África, ajudando assim a
manter uma produção menos competitiva e reduzindo o acesso de países altamente
competitivos na oferta de banana no mercado mundial, tal como Equador e Costa
Rica ao mercado da UE. Quem sai prejudicado nesse caso? No caso da importação
da banana para a UE:

• O consumidor dos países-membros da UE, pois tem que consumir uma


banana com um preço maior ou qualidade inferior.

• O produtor de banana dos países latino-americanos, pois são obrigados


a vender uma menor quantidade à UE.

E quem sai beneficiado nesse caso? As empresas europeias que possuem


interesses e investimentos nessas lavouras de banana, produtores agrícolas
relativamente menos competitivos que suas ex-colônias e/ou territórios atuais, tal
como as Ilhas Canárias da Espanha, ou Açores de Portugal.

Antes de iniciarmos a Unidade 2, convido você a ler o artigo de opinião


publicado no jornal O Estado de São Paulo. Este artigo traz os interesses das nações
e os conflitos gerados no contexto internacional. Boa leitura!

LEITURA COMPLEMENTAR

OS INTERESSES DAS NAÇÕES E SEUS CONFLITOS

Roberto Fendt*, O Estado de S. Paulo, 4 maio 2014


Roberto Fendt é diretor executivo do Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (CEBRI).

No Iluminismo Escocês do século 18 acreditava-se que a busca dos interesses


individuais geraria necessária e inevitavelmente a cooperação social. Os ganhos
mútuos do comércio levariam à progressiva divisão do trabalho e ao aumento da
produtividade do trabalho humano. Os ganhos das trocas voluntárias superariam
a violência na vida privada e nas relações entre os países.

Um século depois, lord Palmerston, duas vezes primeiro-ministro britânico,


afirmava que “a Inglaterra não tem amigos eternos, a Inglaterra não tem inimigos
perpétuos. A Inglaterra tem somente eternos e perpétuos interesses”.
56
TÓPICO 3 | ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Esses interesses eternos e perpétuos de cada nação constituiriam um motor


de conflitos entre elas? Até que ponto os ganhos mútuos do comércio atenuariam
essa tendência aos conflitos?

Nas “décadas de ouro”, entre os anos de 1870 e 1913, prevaleceu a mais


ampla liberdade comercial e de fluxos de capital registrada na era moderna. Essa
liberdade coexistiu com a maior interdependência conhecida entre as nações.

Isso, no entanto, não impediu que ocorressem conflitos de grande escala,


como a Guerra Franco-Prussiana ou a Guerra Russo-Japonesa de 1904-1905.

A partir da 2ª Guerra Mundial construímos um sofisticado arcabouço


institucional que serviu de base para o espetacular crescimento do comércio e
do investimento transfronteiras e que serviu de motor para o crescimento das
economias que deles participaram.

Esse arcabouço se centra nas grandes instituições multilaterais que regem


o comércio, financiam ajustes nos balanços de pagamentos e tornam mais seguros
os investimentos entre os países.

Naturalmente, o arcabouço não está completo nem perfeito. Mas, sob os


auspícios da Organização Mundial do Comércio, diversos acordos bilaterais e
regionais dão substância às relações econômicas entre as nações que os subscrevem.

Esse é o caso do Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao


Comércio. O mesmo se dá com o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços e
o Acordo sobre Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, para ficar com somente alguns deles.

Os acordos regionais que incorporam essas disciplinas conferem segurança


à nova fase da divisão internacional do trabalho. Nela, a produção se distribui em
cadeias internacionais de valor em que as diversas partes de um produto final
ocorrem em diferentes países, em razão da competitividade de cada um deles.

A participação nas cadeias mundiais de valor será cada vez mais importante
para determinar se um país poderá ou não se beneficiar desse novo mundo, mais
interligado hoje que na segunda metade do século 19. Aqueles países que não
souberem ou puderem fazê-lo estarão limitados a exportar somente produtos de
menor valor agregado.

Há em muitas partes um sentimento de que a maior integração econômica


sofrerá com o aumento dos conflitos. Para muitos, a divergência entre maior
cooperação no campo econômico e o dissenso político aumentará. Como exemplo
citam o fato de que as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra a
Rússia lançarão o país em severa recessão, com claras implicações para a Europa e
a economia mundial como um todo.

57
UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL

Na década de 1930 o colapso do comércio mundial e a exacerbação do


nacionalismo levaram à prática generalizada do protecionismo comercial de cada
nação contra todas as demais. Esse retorno à autarquia econômica foi um dos
principais responsáveis pela depressão e miséria que levou à 2ª Guerra Mundial.

Devemos o marco institucional, que hoje temos, a esses eventos e ao


compromisso de que não repetiríamos os erros do passado. O crescimento
econômico que resultou da expansão do comércio e dos investimentos evitou que
um novo conflito de grandes proporções voltasse a ocorrer. Não há razões para
crer que os eternos e perpétuos interesses das nações não venham a prevalecer
sobre suas atuais divergências e conflitos, passageiros e transitórios.]

FONTE: Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,os-interesses-das-


nacoes-e-seus-conflitos-imp-,1161962>. Acesso em: 22 jul. 2016.

58
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou que:

• No contexto internacional existe a vontade de buscar meios de controle e


negociação dos interesses gerados pelos países, objetivando um comércio
internacional mais justo e um intercâmbio econômico/financeiro que ajude no
desenvolvimento dos países.

• Após a Segunda Guerra Mundial houve algumas mudanças fundamentais no


desenvolvimento das organizações internacionais. No que se refere ao comércio
internacional foram criados os seguintes organismos internacionais: o Fundo
Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT).

• A Organização Mundial de Comércio (OMC) foi oficializada em 1994, um ano


depois da última ronda do GATT. Com a formalização da OMC, pela primeira
vez o comércio tem um órgão internacional regulamentador.

• Existem dois grandes grupos de barreiras: as barreiras tarifárias e as não


tarifárias. É nesta questão das barreiras que a OMC desempenha seu papel para
destravar impasses entre países.

• As barreiras tarifárias mexem diretamente com a alíquota de importação


imposta às diferentes mercadorias a serem importadas por um país. Para se
proteger, os países têm a ferramenta de poder aumentar a taxa da alíquota de
importação.

• Além das barreiras tarifárias, existem outros meios para tentar barrar ou
diminuir o fluxo de importação de determinadas importações, estas são
conhecidas como barreiras não tarifárias, as quais são impostas por meio de
condicionais de certificações de quotas, de qualidade, de segurança ambiental,
de segurança alimentar, de segurança à saúde, entre outras.

59
AUTOATIVIDADE

1 Os países possuem interesses econômicos e sociais que procuram proteger,


para isso os organismos internacionais procuram gerar acordos entre os
países. Sobre os organismos internacionais, determine quais das seguintes
sentenças são verdadeiras e quais são falsas.

( ) Um dos principais objetivos dos organismos internacionais é negociar


interesses dos países e procurar gerar um comércio internacional mais justo
e um intercâmbio econômico/financeiro que ajude no desenvolvimento dos
países.

( ) Um dos principais objetivos dos organismos internacionais é criar grupos


de países afins, que possam impor seus interesses no contexto internacional e
assim fazer acordos comerciais no contexto internacional.

( ) Os organismos internacionais nascem de acordos entre grupos de países,


observando a necessidade de constituir rondas de negociação definidas
por estes organismos, negociações que deverão ser respeitadas pelos países
negociadores.

( ) Os organismos internacionais nascem de acordos multilaterais, observando


que eles são órgãos permanentes com constituição jurídica própria. Isto faz
suas decisões serem respeitadas pelos países-membros desses organismos.

Agora, escolha a alternativa correta:

a) ( )V–F–F–V
b) ( )F–V–V–F
c) ( ) V – F – V -F
d) ( )F–V–F-V

2 Após a Segunda Guerra Mundial houve algumas mudanças fundamentais


no desenvolvimento das organizações internacionais, no que tange ao
comércio internacional foram criados três organismos importantes. Descreva
quais são estes organismos e qual a finalidade deles.

3 No que tange às responsabilidades ao longo da cadeia logística, a Câmara


de Comércio Internacional (CCI) é responsável pela normatização dos
Incoterms. A seguir, determine qual a sentença correta.

( ) Os Incoterms, no comércio internacional, definem e estabelecem tanto os


direitos como as responsabilidades entre o exportador e importador ao longo
da cadeia logística.

60
( ) Os Incoterms, no comércio internacional, estabelecem finalidades
operativas e logísticas tanto para o exportador como para o importador, cabe
às partes definir as responsabilidades e assim desenvolver o Incoterm ideal à
operação internacional.

4 Para defender seus interesses comerciais, os países ficam tentados em utilizar


as barreiras comerciais. Explique quais são essas barreiras e qual a finalidade
de utilizá-las.

5 Dentro das práticas desleais ao comércio internacional existe


o dumping. Esta prática possui como objetivo ganhar espaço
nos mercados internacionais. A seguir, determine a sentença
correta.
( ) Para ganhar participação no mercado internacional, as empresas ficam
tentadas a exportar seus produtos a um preço menor do que elas vendem no
mercado nacional, essa prática é conhecida como dumping.

( ) Para ganhar participação no mercado internacional, as empresas ficam


tentadas a exportar além de suas capacidades comerciais, assim, procuram
baixar custos de produção, visando ganhar espaço nos mercados internacionais.

6 O subsídio é considerado uma prática desleal ao comércio internacional, por


meio dele o governo de um país oferece benefícios econômicos diretos, sem
exigir retorno dos processos produtivos da agricultura, da agroindústria ou da
indústria. Exponha exemplos de subsídios além dos indicados neste tópico.

61
62
UNIDADE 2

ESTRUTURA FINANCEIRA E
COMERCIAL INTERNACIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Nessa unidade vamos:

• compreender a estrutura financeira responsável pela movimentação dos


capitais gerados na área de comércio exterior;

• analisar os principais recursos monetários disponíveis para transações


comerciais para as organizações brasileiras que atuam na área de comércio
exterior;

• compreender a estrutura governamental brasileira responsável pelo


gerenciamento das atividades e políticas comerciais aplicadas ao mercado
internacional;

• compreender os impactos gerados pela cultura e costumes de cada


mercado que influenciam diretamente nas negociações comerciais entre
países.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos. Para um melhor aprofunda-
mento do conteúdo e fixação dos conhecimentos, ao final de cada tópico você
terá oportunidade de realizar as atividades propostas.

TÓPICO 1 – CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE


CAPITAIS INTERNACIONAIS

TÓPICO 2 – RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR


BRASILEIRO

TÓPICO 3 – ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO


EXTERIOR NO BRASIL

TÓPICO 4 – QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO


INTERNACIONAL

63
64
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO


DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1 foram apresentados os conceitos de economia internacional
e comércio exterior. Dentro deste tema foram tratados assuntos como: cenário
econômico internacional, blocos econômicos, organismos internacionais e barreiras
ao comércio internacional.

Nesta unidade vamos tratar sobre a estrutura financeira e o comércio


internacional. Inicialmente vamos estudar sobre os centros financeiros e a
movimentação de capitais internacionais.

Vamos começar?!

2 OS PRINCIPAIS CENTROS FINANCEIROS INTERNACIONAIS


E REGIONAIS
O que é um centro financeiro? Centro financeiro é um distrito urbano
situado nas principais cidades comerciais de um país. Os centros financeiros
são sinônimos de países que buscam investimentos, tanto de acionistas como de
estrangeiros, para alavancar suas economias, sejam esses investimentos de curto
ou longo prazo.

Conforme Maia (2010, p. 463), para que um centro financeiro se torne


importante é necessário que:

• Inspire confiança aos investidores.


• Tenha uma legislação conveniente, que permita liberdade cambial.
• O sistema bancário seja eficiente.
• Possua excelente sistema de telecomunicações.
• Tenha estabilidade política e econômica.
• Ofereça rentabilidade conveniente.
• Mantenha sigilo bancário.
• Tenha o mínimo de burocracia, o que reduz custos operacionais e
permite decisões rápidas.
• Disponha de facilidades administrativas (local conveniente para
instalações e mão de obra qualificada).

65
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

A decisão de investimento por parte dos investidores fica atrelada à


atratividade das taxas de juros e pelo risco-país em que estiverem os investimentos.
Neste caso, além dos requisitos apresentados anteriormente, um país disputa com
o outro os investimentos estrangeiros, regulando suas taxas de juros em função de
sua capacidade econômica para se tornar mais atrativo e, por consequência, captar
recursos para suas necessidades.

Os centros financeiros estão distribuídos por todos os continentes, e devido


à sua disposição geográfica atuam 24 horas por dia.

Os principais centros financeiros responsáveis por movimentar o grande


fluxo monetário de investimentos regionais e mundiais são:

• Ásia: Tóquio, Cingapura, Hong Kong, Shanghai.


• Europa: Frankfurt, Milão, Paris, Londres.
• América do Norte: Nova York, Chicago, San Francisco.
• América Latina: Cidade do México e São Paulo.

Destes centros financeiros, os que atuam com grande peso mundial são
Nova York, Londres, Frankfurt e Tóquio. Devido às suas localizações geográficas,
quando um está encerrando suas atividades, o outro está iniciando.

O Brasil possui dois centros financeiros respeitados pelos investidores do


país e da região, e que nos últimos anos vêm ganhando posições respeitadas no
ranking dos principais centros, estas cidades são: São Paulo e Rio de Janeiro.

Mesmo ganhando posições respeitadas perante os investidores, nosso país


ainda não possui todas as condições necessárias para ganhar o status de centro
financeiro mundial. Porém, para a América Latina, São Paulo é considerado um
grande centro financeiro regional.

Ainda falta para o Brasil um fortalecimento em suas áreas políticas,


econômicas, infraestrutura logística e de telecomunicações. Apesar disso, o
país é extremamente burocrático, e toda operação financeira internacional é
regulamentada pelo Banco Central do Brasil.

A regulamentação brasileira exige que todo investimento estrangeiro seja


convertido em reais, e não permite investimento na bolsa de valores em outra
moeda que não seja a local. Esta situação não ocorre nos grandes centros financeiros
mundiais, e nos considerados como paraísos fiscais.

UNI

Você sabe o que são paraísos fiscais?

66
TÓPICO 1 | CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

Paraísos fiscais são países que apresentam, além das características de um


centro financeiro, também as seguintes situações:

• Possuem isenção fiscal para todo tipo de operação financeira.

• Liberdade cambial, neste caso o investidor não precisa converter seu


valor depositado para a moeda vigente do país.

• Pouca interferência governamental, este ponto leva em consideração a


burocracia do país.

Em países classificados como paraísos fiscais, para abrir uma empresa


o empresário leva em torno de 24 horas, além disso, existem as condições que
podem ser importadas de outros países, por exemplo, mão de obra. O que não
ocorre da mesma forma com os demais países quando classificados apenas como
centros financeiros.

Atualmente, existem 53 países classificados como paraíso fiscal, sendo os


mais conhecidos: Bahamas, Ilhas Cayman, Suíça, Mônaco, Luxemburgo, Panamá,
entre outros.

3 CAPITAIS ESTRANGEIROS
Os capitais estrangeiros, atualmente, têm se tornado um dos principais
fatores propulsores financeiros para o desenvolvimento da economia ao redor
do mundo. Em função das condições conjunturais, seus efeitos na economia
das nações podem ser positivos ou negativos, a partir de uma série de fatores e
condições que vamos apresentar.

Para iniciarmos nosso estudo sobre capitais estrangeiros, vamos


compreender o entendimento perante a lei brasileira.

A Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962, define capital estrangeiro como


sendo bens, máquinas e equipamentos destinados à produção de bens ou serviços,
assim como os recursos financeiros ou monetários, provindos do exterior e
aplicados em atividades econômicas que pertençam a pessoas físicas ou jurídicas
domiciliadas ou com sede no exterior.

O investidor estrangeiro aplica seu capital no país buscando o máximo


possível de rentabilidade para seu investimento. Ponderando os níveis de riscos,
os recursos aplicados podem ser classificados em dois critérios:

• Compensatório: refere-se ao empréstimo adquirido pelo governo com


estrangeiros para ser aplicado conforme sua necessidade, em alguns casos este
valor é utilizado para cobrir o déficit na balança de pagamentos.

67
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

• Autônomo: este modelo funciona de maneira contrária ao compensatório,


pois neste caso o destino final é diretamente no mercado. O autônomo pode ser
aplicado na forma de empréstimos, direcionando o recurso diretamente nas
empresas, ou como capital de risco.

O capital de risco é aplicado diretamente em papéis financeiros e ativos das


empresas, este tipo de investimento é classificado como de curto ou longo prazo.
Capital de risco de curto prazo são investimentos direcionados a:

• Títulos de curto prazo: neste caso é considerado o tempo máximo de 12


meses, e geralmente servem para financiar as necessidades de liquidez e são de
grande risco para o país que capta, pois podem ser retirados a qualquer momento.

• Ações ou derivativos negociados na bolsa de valores: este tipo de


investimento possibilita ao investidor recuperar o capital investido a qualquer
momento que desejar, independentemente do prazo.

O capital de risco de longo prazo para os investidores estrangeiros é o tipo


de investimento que apresenta o maior risco de retorno, pois se caracteriza por
abertura de empresas ou aquisição de ações diretas. Neste modelo, o prazo para
retorno é de, no mínimo, 12 meses, e na grande maioria das vezes ele fica retido
no país de forma definitiva, pois é capitalizado no patrimônio das organizações.

Este é o tipo de investimento estrangeiro que apresenta o menor risco para


o país que está recebendo os recursos, pois estes investimentos não podem ser
retirados a qualquer momento pelos investidores. Suas principais características
são:

• Retorno de longo prazo.


• Necessidade de reinvestimento.
• Risco de lucro ou prejuízo.

No Brasil, os principais canais responsáveis pela entrada de capitais


estrangeiros estão citados no quadro a seguir:

68
TÓPICO 1 | CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

QUADRO 2 – PRINCIPAIS FORMAS DE ENTRADA DE CAPITAL ESTRANGEIRO NO BRASIL

Investimento em Conversão de Importação de Bens sem Mercado de Capitais


Moeda Créditos Externos Cobertura Cambial
Na subscrição Operação pela • Bens tangíveis, Investimento nos
de capital ou qual os créditos máquinas ou mercados financeiros
aquisição de passíveis de gerarem equipamentos, de e de capitais
participação em transferências para qualquer natureza, brasileiros, de renda
empresa brasileira o exterior, com base efetivamente ingressados fixa e variável,
existente, os nas normas vigentes, no Brasil sem dispêndio com a necessária
recursos deverão são utilizados pelo inicial de divisas, constituição de
ser enviados ao credor não residente destinados à produção representante
País por meio de para a aquisição ou à comercialização de no Brasil para a
estabelecimento ou integralização bens ou à prestação de operacionalização do
bancário de participação no serviços. investimento.
autorizado a capital social da
operar com empresa no País. • Não deve haver
câmbio similar nacional para
os bens usados, que
devem ser aplicados em
projetos que estimulem
o desenvolvimento
econômico do País.

FONTE: Disponível em: <http://www.apexbrasil.com.br/uploads/Ficha%20Legal%20-%20


Capital%20Estrangeiro%20-%20PORTUGU%C3%8AS%20(1).pdf>. Acesso em: 3 jun. 2016.

UNI

Existe alguma organização que auxilia os investidores externos na escolha de


onde investir?

Apesar de se tratar de um capital de risco, conforme tratamos anteriormente,


os investidores procuram aplicar seus capitais em mercados que forneçam
segurança e boa rentabilidade; em função do risco-país, é exigida uma maior
rentabilidade de retorno em função do tempo do investimento.

Para auxiliar nessas decisões existem organizações especializadas em


avaliar empresas, mercados e economias. Dentre as várias agências de Rating,
temos as mais conhecidas: Standard & Poor´s, Moody's Investor Services e a Fitch
Ratings.

Estas organizações são responsáveis por realizar estudos direcionados


às necessidades de seus clientes. A partir de suas pesquisas, elas atribuem notas
classificatórias para os países, ou empresas, considerando sua situação financeira
para minimizar o risco de não pagamento de suas dívidas dentro do prazo
acordado. No quadro a seguir apresentamos as notas de classificação de risco.

69
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

QUADRO 3 – NOTAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO

FONTE: Disponível em: <http://economiasemsegredos.com/risco-agencias-e-suas-


classificacoes/>. Acesso em: 8 jun. 2016.

Esta classificação permite uma análise por parte dos investidores para
auxiliar na decisão de investir ou não no país ou empresa.

DICAS

Acadêmico, você pode aprofundar seu conhecimento acessando o artigo


postado: Riscos, agências e suas classificações, do autor Denis Ferreira. Disponível no
endereço: <http://economiasemsegredos.com/risco-agencias-e-suas-classificacoes/>.

4 MERCADO DE CÂMBIO
Devido ao fato de não serem aceitas moedas estrangeiras em pagamento
das exportações, assim como a moeda nacional como pagamento das importações,
aqui no Brasil, e em qualquer país do mundo, constitui-se a base de um mercado
internacional muito dinâmico em que são compradas e vendidas as moedas dos
diversos países. Este mercado é denominado mercado de câmbio ou mercado de
divisas, que atua de maneira constante ao redor do mundo.

Para Vazquez (2009, p. 260), “o mercado de câmbio é o conjunto de operações


de câmbio, ajustadas entre operador e cliente ou entre operadores, podendo estar
situada dentro da mesma cidade ou país, ou entre cidades e países diferentes”.

O câmbio é uma operação financeira de compra e venda de valores em


moedas ou papéis que representam valores e posições em moedas de outros países,
estas operações são desempenhadas no mercado de câmbio.
70
TÓPICO 1 | CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

Existem cinco diferentes categorias de transações financeiras que são


realizadas pelo mercado de câmbio:

• Entre bancos e clientes dentro do país.


• Entre bancos no mesmo país.
• Entre bancos de diferentes países.
• Entre bancos e bancos centrais do mesmo país.
• Entre bancos centrais de países diferentes.

O mercado de câmbio é formado pelo banco central e pelos bancos


comerciais, exportadores e importadores, instituições financeiras não bancárias,
como administradoras de ativos e companhias seguradoras, e os bancos centrais.

O mercado possui subdivisões, sendo elas:

• Câmbio manual: trata-se da compra e venda de moeda estrangeira em


espécie, ou seja, é a troca física de moeda estrangeira pela nacional e vice-versa.
Esta modalidade é utilizada por turistas que visitam o país ou que vão visitar
outros países.

• Câmbio sacado: trata-se do grosso das operações cambiais realizadas pelos


estabelecimentos bancários. Estas operações são fechadas nos bancos autorizados
pelo banco central a operar com câmbio e que autorizam o débito de suas contas
junto a banqueiros no exterior.

• Câmbio paralelo: assim como o manual, atuam com a compra e venda da


moeda estrangeira, porém, neste modelo os operadores não são autorizados pelos
órgãos competentes. Este mercado é conhecido como mercado “negro”.

• Câmbio primário: são operações cambiais realizadas entre os bancos


e seus clientes não bancários. Neste modelo, o banco adquire as dívidas de um
exportador e as vende a um importador ou vice-versa.

• Câmbio interbancário: como o nome já define, são operações de troca de


câmbio realizadas entre bancos.

• Câmbio à vista: neste modelo, a partir do contrato firmado entre vendedor


e comprador, a entrega das divisas é imediata, tendo prazo máximo de dois dias
úteis para estarem disponíveis para saque.

• Câmbio futuro: neste modelo, a operação fechada no dia determina a


taxa cambial que será paga pelo comprador e vendedor a longo prazo, sem que
tenha impactos com a oscilação que a moeda nacional possa sofrer no futuro.

71
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

As negociações de compra e venda de moeda estrangeira são ofertadas


com base na taxa de câmbio. Taxa de câmbio é o preço pago, em moeda nacional,
de uma unidade expressa em moeda estrangeira. A taxa de câmbio define qual o
valor a ser pago por uma determinada quantia expressa em moeda estrangeira.

A taxa de câmbio mede o valor externo da moeda nacional, ela fornece uma
relação direta entre os preços domésticos das mercadorias e os fatores produtivos
e dos preços nos demais países, a formação do preço está ligada à lei de oferta e
procura. Para auxiliar no entendimento, vamos a um exemplo:

No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar americano.


Quando dizemos que a taxa de câmbio é 3,20 significa que U$ 1,00 custa R$ 3,20. A
taxa de câmbio reflete, assim, o custo de uma moeda em relação a outra.

Neste contexto, vamos supor que você precisa comprar US$ 20,00 e que a
taxa de câmbio está em R$ 3,20 por US$, logo, quantos reais você precisará para
compra desses dólares? Você precisará de R$ 64,00 em função da taxa de câmbio
do dia, neste caso, R$ 3,20, ou seja: US$ 20,00 x 3,20.

As cotações apresentam taxas diferentes para a compra e para a venda da


moeda, as quais são referenciadas do ponto de vista do agente autorizado a operar
no mercado de câmbio pelo Banco Central. Existem sete tipos de taxas cambiais:

• Taxa de Repasse e Taxa de Cobertura.


• Taxas Livres e Taxas Oficiais.
• Taxas Cruzadas “Cross-Rates”.
• Taxas Fixas e Taxas Flutuantes.

4.1 PARTICIPANTES DO MERCADO


O mercado pode ser dividido em dois grupos: compradores e vendedores,
que são os responsáveis por gerar a demanda pela troca das moedas.

Compradores são todos aqueles que necessitam adquirir a moeda


estrangeira para honrar com seu compromisso, neste caso, ele possui apenas a
moeda local para troca. São caracterizados compradores: importadores, agências de
turismo, turistas nacionais, investidores estrangeiros e devedores de empréstimos
no exterior.

Vendedores são aqueles que possuem moeda estrangeira em função


de suas atividades e precisam trocá-las para aplicar no mercado nacional. São
caracterizados como vendedores: exportadores, tomadores de empréstimo no
exterior, turistas procedentes do exterior, comerciantes de serviços, investidores
estrangeiros, bancos, casas de câmbio, companhias seguradoras, e os bancos
centrais.

72
TÓPICO 1 | CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

Para realizar a troca de câmbio é necessário ter uma autorização do Banco


Central, e neste caso são autorizados apenas bancos e casas de câmbio.

4.2 MERCADO LIVRE E MERCADO CONTROLADO


Após a Primeira Grande Guerra Mundial foram constituídos os fundamentos
para controle do mercado cambial. Um dos principais motivos para a criação, por
parte do poder público, foi o déficit crônico da balança de pagamentos.

O controle do mercado proporciona o equilíbrio da balança de pagamentos,


pois compreende várias medidas que influenciam no custo das importações, gastos
em viagens internacionais e redução de serviços estrangeiros.

Nesse sentido, se tivermos uma posição cambial relativamente desvalorizada,


poderia, em compensação, aumentar a lucratividade nas exportações! O mercado
de câmbio é classificado de duas formas: mercado livre e mercado controlado.

O mercado livre é caracterizado por praticamente não existir o controle por


parte do governo local, por meio do banco central, desta forma possibilitando o
livre-comércio de compra e venda de moedas estrangeiras. Neste modelo as taxas
de câmbio são fixadas livremente pelo mercado, além disso é possível manter
moedas estrangeiras depositadas no próprio país, assim como possuir contas em
outros países, e o turista pode pagar suas compras dentro do país que visita sem
precisar trocar sua moeda nacional.

No mercado controlado a situação é inversa, existe uma grande presença


do governo no mercado de câmbio, regulando, por meio do banco central, a
compra e venda das moedas estrangeiras no país, as taxas de câmbio neste modelo
são reguladas pelo governo, não é permitida a existência de contas em moedas
estrangeiras, assim como possuir contas no exterior sem a autorização do governo,
e o turista que viaja para o exterior pode levar apenas um limite estipulado de
moeda estrangeira.

Os dois extremos são prejudiciais às empresas e à economia dos países.


Nos dias atuais, a maior parte dos países gerencia seu mercado entre estes dois
modelos, regulando oscilações extremas quando necessário, assim como deixando
fluir as negociações na maioria das vezes.

Essa regulação é feita por meio da compra e venda de divisas, principalmente


em dólar, por parte do Banco Central.

73
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

UNI

Na sua opinião, analisando as características apresentadas de cada modelo, o


Brasil tem um mercado cambial controlado ou livre?

O Brasil possui um mercado de câmbio relativamente controlado (ou


relativamente livre), pois sob o mercado de câmbio brasileiro a moeda nacional
vai flutuando conforme as pressões do mercado, mas o Banco Central (Bacen) vai
controlando as oscilações extremas.

5 INFLUÊNCIA ECONÔMICA NO COMÉRCIO EXTERIOR


A situação econômica interna do país influencia diretamente na área de
comércio exterior. A exemplo da taxa de câmbio que influencia nas negociações
de exportação e importação, conforme ocorre a valorização ou desvalorização
da moeda interna perante as estrangeiras, o mercado interno pode ser inundado
por produtos importados ou sofrer uma redução da oferta de produtos nacionais,
motivados pela percepção das empresas brasileiras perante a lucratividade ao
exportar sua produção com a valorização da moeda estrangeira.

Além deste fator, também podem ocorrer impactos diretamente relacionados


à balança comercial, Produto Interno Bruto e o cenário político. Independentemente
do fator motivador, o comércio exterior contribui para o mercado interno e para
a economia do país, com o desenvolvimento econômico e redução da pobreza,
através de oportunidades comerciais e de investimentos direcionados ao aumento
da produtividade e do desenvolvimento do setor privado.

A partir da importação e exportação, conforme o foco econômico estipulado


pelas políticas econômicas traçadas pelo governo, existe um estímulo ao setor
oferecido por meio de incentivos fiscais e financiamentos para alguns setores
privados. Esses incentivos proporcionam um aumento na competitividade das
empresas privadas que, por consequência, aumenta a oferta de empregos para a
população.

Podemos analisar que com a população empregada existe uma demanda


pela aquisição de produtos e serviços internos, o que faz com que a economia fique
aquecida devido à movimentação financeira de compra e venda.

Para a economia do país a exportação é mais atrativa que a importação,


pois com as exportações existe uma entrada de recursos financeiros provindos do

74
TÓPICO 1 | CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS

exterior devido à venda das mercadorias pelas empresas; assim, quando existe
uma desvalorização da moeda nacional perante a estrangeira, a lucratividade em
um certo prazo pode até dobrar, conforme a taxa cambial. Com as importações a
situação é contrária, pois ao importar são enviados recursos financeiros ao exterior
para pagar pela mercadoria.

Esta é uma pequena percepção sobre a influência econômica que o comércio


exterior exerce sobre o país.

75
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, vimos que:

• Os centros financeiros são os responsáveis pela movimentação de capitais


estrangeiros em todo o mundo.

• Os investidores podem realizar investimentos 24 horas por dia, devido à


localização geográfica destes centros, que estão distribuídos em diversos
continentes, com fusos horários diferentes.

• Para captar recursos para suas economias, os países ofertam taxas atrativas no
mercado financeiro.

• A entrada de capital estrangeiro no país permite o desenvolvimento da


economia devido a muitos dos investimentos serem aplicados diretamente no
mercado interno.

• O capital estrangeiro é dividido em compensatório e autônomo.

• O capital estrangeiro autônomo é classificado ainda em capital de risco de curto


e longo prazo, sendo o mais interessante para o país o de longo prazo, devido
ao capital ser investido diretamente em empresas instaladas no país.

• Para auxiliar os investidores existem organizações especializadas em analisar


os mercados e classificar o grau de investimento conforme sua confiabilidade
econômica.

• O mercado de câmbio é o responsável por converter as moedas estrangeiras


para a nacional, ele é dividido em mercado livre e mercado controlado.

• Em suas atividades de câmbio temos os sistemas: manual, sacado, paralelo,


primário, interbancário, à vista e o futuro, todos utilizam as taxas de câmbio
para estipular o custo da moeda de troca.

• O Brasil possui o mercado controlado com taxas flutuantes reguladas pelo


Banco Central do Brasil.

76
AUTOATIVIDADE

1 O Brasil possui o real como moeda oficial do país, ela é utilizada para
pagamento de produtos e serviços comercializados internamente. Quando
uma empresa compra um produto de outro país, ela necessita trocar a
moeda nacional, pois o real não é aceito no mercado externo como moeda
de pagamento. Muitas empresas, quando atuam com importação, procuram
garantir taxas de câmbio mais baixas, em alguns casos elas negociam as
taxas antecipadamente com os bancos para que no momento de adquirir
a moeda estrangeira elas não tenham seu custo elevado pela oscilação da
moeda. Nesta visão, qual o tipo de câmbio que proporciona estabilidade no
futuro para as empresas? Justifique sua resposta.

2 O Brasil possui um mercado de câmbio controlado, pois todos os montantes


financeiros provindos do exterior precisam ser convertidos para a moeda
nacional. Diante desse cenário, explique a diferença entre Mercado de
Câmbio Controlado e Mercado de Câmbio Livre.

77
78
UNIDADE 2 TÓPICO 2

RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO


EXTERIOR BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
As empresas que necessitam de recursos financeiros para financiar suas
exportações ou importações podem contar, atualmente, com organizações privadas
e governamentais que oferecem linhas de crédito com taxas diferenciadas para
cada tipo de transação.

Normalmente estes recursos são ofertados por bancos privados ou


governamentais que atuam diretamente por meio do mercado de câmbio no país
e no exterior.

As linhas de crédito podem ser utilizadas para subsidiar tanto as


exportações como as importações de produtos acabados, commodities, aquisições
de equipamentos, entre outros.

Neste tópico vamos apresentar as principais linhas de crédito


disponibilizadas para as empresas brasileiras, seja pelas instituições privadas ou
pelas governamentais.

2 FONTES DE FINANCIAMENTO ÀS PRÁTICAS DO


COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO
As organizações bancárias privadas que atuam na área de câmbio oferecem
uma linha de financiamento para cada tipo de atividade que o importador ou
exportador necessitar, as taxas são atreladas a cada operação conforme a linha de
crédito adquirida pela empresa.

O governo também tem sua parte nesse mercado, porém, o foco maior é
para as exportações, pois a visão de crescimento dessa linha de comércio exterior
traz ganhos para a economia do país como um todo, gerando emprego e renda
para a população, assim como proporciona uma melhoria na produtividade das
organizações. Estas linhas de crédito são ofertadas por bancos governamentais
como BNDES e Banco do Brasil.

79
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

As empresas necessitam de mecanismos que facilitem sua realização e


permitam que o pagamento em moeda estrangeira seja feito a médio e longo prazo,
podendo ser realizados pagamentos de forma parcelada ou não.

TUROS
ESTUDOS FU

Veremos a seguir as principais modalidades de financiamento ofertadas para as


empresas brasileiras.

2.1 ACC
A sigla ACC significa Adiantamento sobre Contrato de Câmbio e é referente
ao adiantamento parcial ou integral do valor da venda em moeda nacional para
o exportador. Para esta linha de financiamento é necessário que o exportador já
tenha fechado o contrato de compra e venda e possua a previsão de embarque das
mercadorias e recebimento dos valores.

Muitos exportadores utilizam o ACC para produzir suas mercadorias, desta


forma eles não precisam retirar de seus caixas os recursos financeiros necessários
para produção dos materiais.

O Banco Central Brasileiro alterou o prazo de adiantamento, que antes era


de 180 dias, para 360 dias. Na prática, este tempo total é bem difícil de acontecer,
porém, quando ocorre ele é liberado, pois existe uma legislação que permite esta
operação.

2.2 ACE
ACE significa Adiantamento sobre Cambiais Entregues, nesta modalidade
o exportador solicita o financiamento após o embarque da mercadoria, para receber
o financiamento ele deve entregar todas as documentações exigidas pelo banco.

Em alguns casos, o exportador já pode ter requerido o financiamento via


ACC, neste caso apenas para acerto contábil o banco financiador transforma o
ACC em ACE.

O prazo máximo estipulado para esta modalidade é de 390 dias após o


embarque da mercadoria, e a liquidação da operação é feita após o pagamento
efetuado por parte do importador.

80
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

2.3 PROEX
PROEX é o Programa de Financiamento às Exportações de bens e serviços.
Sua finalidade é proporcionar aos exportadores brasileiros maior competitividade
na venda de seus produtos no mercado externo.

Os recursos desta modalidade de financiamento podem ser provindos do


Tesouro Nacional, ou de bancos brasileiros. O prazo máximo para pagamento é de
10 anos.

2.4 FINAMEX
O Finamex é uma modalidade de financiamento destinada à exportação
de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil e registradas no Finame.
Esta modalidade de financiamento só pode ser oferecida por agentes financeiros
autorizados pelo BNDES.

O Finamex é dividido em duas categorias:

• Pré-embarque: destinado à produção de máquinas e equipamentos a


serem exportados, o prazo máximo é de 30 meses.

• Pós-embarque: que financia a comercialização das máquinas e


equipamentos no exterior, mediante descontos de títulos ou cessão de direitos de
carta de crédito.

O prazo máximo é de 96 meses, considerando cada tipo de equipamento e


valor exportado.

2.5 EXPORT NOTE


Export note é a venda dos direitos sobre a moeda estrangeira referente às
exportações futuras de produtos e serviços em troca de receber a moeda local.

Esta é mais uma opção de financiamento para exportadores que precisam


captar recursos para capital de giro ou financiar sua produção. Esta modalidade
de financiamento é direcionada exclusivamente para exportadores, que repassam
os direitos sobre a moeda estrangeira para um investidor. O investidor pode ser
pessoa jurídica, importador ou não.

81
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

Suas principais características e vantagens, baseadas em um contrato de


exportação de mercadorias ou serviços firmados entre o exportador e o importador,
são:
• O exportador não necessita mais de linhas de crédito bancário de curto
prazo para financiar suas vendas externas.

• No caso do investidor, ele faz um hedge (proteção) de moeda estrangeira


de forma a proteger o patrimônio das oscilações cambiais.

A grande desvantagem desta modalidade é que para o export notes é


necessário que o exportador tenha um contrato de compra e venda, o que não
ocorre com outras modalidades, como ACC.

2.6 COMMERCIAL PAPERS


São operações de curto prazo ofertadas aos exportadores para captação de
recursos com o intuito de estancar problemas de caixa. Estes títulos são emitidos
com prazos de vencimento de até três anos que permite às empresas e aos bancos
obter os recursos desejados em curto espaço de tempo.

No caso do Brasil, o Banco Central leva até três semanas para aprovar a
emissão do título.

2.7 SUPPLIER’S CREDIT


É um financiamento concedido por um banco para o exportador como
crédito para venda a prazo de seus produtos ou serviços ao importador. Nesta
modalidade, o exportador fica responsável junto ao banco pelo pagamento cambial
de exportação, seja na qualidade de sacador como na de endossante.

2.8 BUYERS CREDIT


Este financiamento é direcionado ao importador, concedido por uma
instituição financeira mediante a firmação de contrato com o importador.

Nesta modalidade, apenas o importador e, quando necessário, seus


avalistas, ficam responsáveis pelo pagamento dos câmbios de exportação.

82
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

2.9 CÂMBIO FUTURO


Trata-se de uma contratação de operações de câmbio com a finalidade
de pagamento das importações/exportações com liquidações futuras da moeda
estrangeira com prazo superior a dois dias, a contar da data de contratação.
Esta modalidade é muito utilizada pelas empresas quando existe uma
oscilação da moeda estrangeira em relação à local que impacta diretamente nos
custos dos processos de importação ou exportação.

2.10 FINAMIM
Trata-se de uma modalidade de financiamento direcionada à importação
de máquinas e equipamentos. Para ter acesso a esta modalidade o importador
deve procurar uma das instituições financeiras credenciadas ao BNDES e solicitar
o enquadramento e o financiamento da operação.

Este tipo de financiamento para o importador é extremamente atraente,


pois oferece prazos e taxas competitivas mesmo em nível internacional.

3 RELAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS


O comércio exterior se caracteriza pela troca de bens e serviços
movimentados pelas fronteiras internacionais. Para alguns países ele representa
uma grande parcela do PIB, e o Brasil está incluso nestes casos.

O Brasil está entre as dez maiores economias mundiais no ranking do FMI,


sendo a maior economia da América Latina, e em extensão de terras ele ocupa a
quinta posição, ficando atrás apenas de países como Rússia, Canadá, China e EUA.

Com estas posições, ele é visto pelo mundo como um país de grandes
potenciais para negociações na área do comércio exterior. Com a globalização
dos mercados é estritamente indispensável que o país participe do mercado
internacional, formando acordos comerciais entre blocos econômicos e países.

Ao firmar um tratado ou acordo comercial, o país busca ampliar seu acesso


ao mercado externo, por meio de preferências para seus produtos considerando
sua capacidade real e potencial para a exportação.

Na Unidade 1 do caderno foi apresentado o conceito de blocos econômicos,


entretanto, além dos blocos econômicos temos os tratados e os acordos comerciais.

83
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

Um tratado comercial é geralmente muito amplo, complexo e engessado, e


normalmente apresenta uma longa duração de tempo. O acordo comercial é mais
simples e flexível, podendo ser alterado dependendo da necessidade das partes
envolvidas. Os acordos podem ser bilaterais ou multilaterais, a diferença entre
os dois modelos está na quantidade de países envolvidos nos acertos. O acordo
bilateral envolve apenas dois países, já no multilateral a quantidade é maior.

Os principais parceiros comerciais brasileiros são: União Europeia,


Mercosul, Estados Unidos da América e China. Ao longo dos anos o país tem
estreitado parcerias ao compor o Bloco do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul).

Os acordos comerciais variam conforme a estratégia econômica e


necessidade do país, viabilizando a abertura de mercado interno e externo com
seus parceiros.

No caso do BRICS, cada país representa para o bloco, e mundo, um polo


regional relevante de seu continente, seja pela economia, política ou mercado. Estes
países projetam seus interesses exercendo sua liderança no seu entorno estratégico.

O Brasil considera os seguintes países da América do Sul como parceiros:


Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,
Uruguai e Venezuela.

Conforme pudemos aprender na primeira unidade, o Mercosul é o acordo


comercial mais relevante para o Brasil, pois todos os acordos comerciais “bilaterais”
firmados pelo país são, na verdade, assinados pelo bloco e o outro país.

Entre os principais acordos de livre-comércio firmados entre o bloco


e outros países podemos destacar: Israel; Egito; Chile; Bolívia; México; Peru;
Colômbia, Equador e Venezuela; South African Customs Union (SACU) – que se
refere à “União Aduaneira da África Austral”; Índia.

Em 13 de abril de 1988, o Brasil, junto com outros países em desenvolvimento,


assinou um acordo constituindo o Sistema Global de Preferências Comerciais
entre países em desenvolvimento (SGPC), no âmbito da Conferência das Nações
Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O acordo foi firmado na
cidade de Belgrado, na Iugoslávia, entrando em vigor em 19 de abril de 1989, com
a assinatura em definitivo contendo 40 países.

O objetivo do acordo é promover intercâmbio e concessões comerciais entre


os membros do grupo, fortalecendo as relações comerciais entre a África, Ásia e
América Latina. Através do comércio exterior os membros do SGPC incrementam
suas participações na economia global. No Brasil o acordo entrou em vigor apenas
em maio de 1991.

84
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

Durante a segunda rodada da UNCTAD, em 21 de novembro de 1991, foi


aprovada a adesão do Mercosul como um bloco para negociação perante o SGPC.
Desta forma, o Brasil passou a operar via bloco Mercosul e não mais separado,
como ocorria antes.

A XI rodada da UNCTAD ocorreu na cidade de São Paulo, no Brasil, em


junho de 2004. Nesta data iniciou a terceira rodada das negociações do SGPC,
sendo concluída em dezembro de 2010, em reunião ministerial em Foz do Iguaçu.

Atualmente, os países-membros do SGPC estão em fase de ratificação e


implementação dos acordos firmados na rodada de São Paulo.

O Brasil é um país sul-americano que possui vantagens competitivas


significativas quando comparado a outros países do mesmo continente que
exportam os mesmos tipos de produtos.

O país figura para o mundo como exportador de produtos primários e


alimentícios, e importador de manufaturados de média e alta tecnologia, porém,
quando analisado o mercado regional, o país é fornecedor de manufatura de média
tecnologia para seus vizinhos e comprador de produtos primários e intensivos em
recursos naturais.

4 POLÍTICAS DE COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO


As políticas comerciais são constituídas por um conjunto de medidas e
ações formuladas para nortear as transações comerciais do país com o mundo. Estas
medidas são sancionadas pelo Governo Federal e gerenciadas pelos ministérios e
órgãos competentes.

A partir de suas políticas comerciais, o país define sua abertura de mercado,


podendo em períodos ser maior ou menor em sua integração econômica.

Conforme os acordos comerciais firmados, são desenvolvidos instrumentos


e ações aplicados na área do comércio exterior. Alguns destes instrumentos podem
ser:

• Tarifas.
• Cotas tarifárias.
• Medidas de defesa comercial.
• Subsídios à exportação.
• Barreiras não tarifárias.

85
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

Um acordo comercial entre países representa um compromisso firmado


para negociações, podendo ser iniciadas no presente ou no futuro. Dependendo do
acordo, ele tem prazo definido para entrar em vigor e para ser finalizado.

A economia do país está diretamente ligada à área de comércio exterior,


pois, conforme a política comercial aplicada para os parceiros, os resultados das
exportações e importações impactam diretamente na balança comercial.

Conforme Maia (2010, p. 68), “a balança comercial registra as exportações e


as importações. As exportações são contabilizadas como receitas e as importações
como despesas. Sua fórmula é simples: Saldo da Balança Comercial = Valor Total
Exportado – Valor Total Importado”.

Dentro deste cenário econômico, o resultado é definido por dois termos:

• Superávit: que significa que o país teve um resultado maior nas exportações
que nas importações. Neste termo, o país recebeu mais dinheiro com as vendas de
seus produtos no exterior que com as compras de produtos importados, ou seja,
ao final do período o saldo da balança comercial foi positivo. O superávit ainda é
dividido em dois tipos: nominal e primário.

• Déficit: para a balança comercial significa que o país importou mais que
exportou. Quando isto ocorre, existe uma evasão de valores devido à compra de
produtos importados. Para a balança comercial significa o saldo negativo.

ATENCAO

Os termos superávit e déficit são mais abrangentes quando estudados na


economia, porém, para entendermos como as políticas econômicas influenciam nos
resultados do país, apresentamos um pequeno resumo a seguir.

Nas últimas décadas o Brasil vem abrindo sua economia e implantando


reformas estruturais para estimular a área de comércio exterior em geral, assim
como os acessos a mercados preferenciais, como o Mercosul.

Diante destes esforços, podemos avaliar as políticas econômicas brasileiras


em dois momentos:

• O primeiro tem início na década de 80, com estímulos às importações visando a


industrialização e modernização de seu mercado.

• O segundo inicia na década de 90, com a desvalorização do real perante o dólar.

86
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

A partir desta situação econômica, o governo passou a incentivar as


exportações brasileiras através de medidas e incentivos fiscais direcionados à área.

As políticas comerciais brasileiras são resultantes de fatores internos e externos.

Os fatores externos são resultados de acordos multilaterais, regionais ou


sub-regionais em que o país está envolvido diretamente, assim como de países
parceiros que tenham implicações importantes sobre interesses econômicos em
acordos de que o Brasil não participa.

Quando se trata de fatores internos, eles podem estar condicionados à


proteção do mercado interno, da economia e de suas estruturas. Estes fatores estão
relacionados à deficiência competitiva das empresas, assim como a ineficiência
perante fatores externos, como falta de infraestrutura.

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem se esforçado para tornar o país
uma liderança política representativa da América do Sul perante o mundo. Seus
esforços para ocupar cargos em organizações mundiais, como ONU e OMC, têm
atraído a atenção de investidores estrangeiros para investimentos no mercado,
assim como parcerias em áreas como tecnologia, pesquisas, entre outras.

Atualmente, o país conta com uma série de mecanismos de incentivos


à atividade de exportação. Estes mecanismos podem ser classificados em três
categorias: Programas de financiamento às exportações, incentivos tributários e
ações de promoção de exportação.

O maior desafio destes mecanismos é neutralizar a carga tributária incidente


sobre os produtos nacionais, que prejudica a competitividade dos mesmos quando
comparados aos seus concorrentes no mercado global. Assim, os incentivos à área
de exportação vão desde benefícios tributários até regimes aduaneiros especiais.

Em nível tributário temos a não incidência de impostos sobre os produtos


indiretos, como o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação
de Serviços), PIS (Programa de Integração Social), COFINS (Contribuição para
Financiamento da Seguridade Social). Estes tributos são destinados apenas para a
etapa final da cadeia de produção, o que muitas vezes não impacta muito no valor
final do produto quando existe importação de matéria-prima, pois toda a cadeia
anterior à finalização já sofreu com a carga tributária.

Para combater estes custos e impostos, o Brasil possui mecanismos como


DRAWBACK, e regimes aduaneiros especiais que permitem a aquisição de insumos
importados e nacionais destinados ao manufaturamento de produtos direcionados
à exportação, sem o peso dos impostos.

87
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

O DRAWBACK é um mecanismo completo e abrangente que descreve


um benefício tributário em que a empresa pode recuperar o imposto devido pela
importação de alguns insumos destinados à exportação do produto acabado.

Além dele, temos os regimes aduaneiros especiais que possuem a função


de incentivar as exportações, como: RECOF – Regime Aduaneiro de Entreposto
Industrial sob Controle Informatizado, e ZPEs – Zonas de Processamento e
Exportação.

Além destes regimes, existem os programas de financiamento às exportações


que estudamos anteriormente neste tópico.

Apesar de ser um mal necessário, o país não possui políticas de incentivo


à importação para consumo no mercado interno. Este fator ocorre pelo fato de as
importações impactarem diretamente no resultado da balança comercial, assim
como demanda pela procura dos produtos produzidos pelas empresas nacionais
no mercado interno.

Para gerenciar todas estas situações o país possui órgãos como a Secex,
MDIC e outros, que estaremos estudando no próximo tópico.

LEITURA COMPLEMENTAR

DESAFIOS DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA EM RELAÇÃO À


COOPERAÇÃO SUL-SUL

Haroldo Ramanzini Júnior


Marcelo Passini Mariano

A crise política e econômica brasileira dificultou um papel de liderança


entre os países Sul-Sul. Por isso, o Brasil assumiu um perfil de menor intensidade,
mas não menos importante.

O significado das relações Sul-Sul é controverso e envolve a caracterização,


a cooperação ou a relação entre países que têm desafios sociais, políticos e
econômicos mais ou menos similares, relacionados ao desenvolvimento, além
de trajetórias históricas de passados coloniais e de exploração. Nos últimos anos,
alguns analistas observam a ampliação dos atores que seriam constitutivos do Sul,
surgindo noções como a de “Sul Global”.

Há debate a respeito da funcionalidade e alcance do Sul para a ação


internacional do Brasil. A expectativa representada pela superação da condição
de país não desenvolvido está na raiz dos argumentos que buscam sustentar uma
conduta externa orientada pela articulação política prioritária com os países do
Sul. 

88
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

O diagnóstico geral é que o sistema internacional está organizado de


forma a privilegiar as potências já constituídas, diminuindo as chances de uma
inserção internacional mais autônoma e com melhores oportunidades para o
desenvolvimento econômico nacional. Além disso, o papel que a cooperação Sul-
Sul assume na política exterior do Brasil depende do jogo político doméstico e
da interpretação governamental em relação às possibilidades presentes na arena
internacional.

As políticas voltadas para o incremento das relações com os países do


Sul fundamentam-se em argumentos que buscam sustentar uma perspectiva
de mudança de longo prazo, pois envolvem objetivos voltados a alcançar o
desenvolvimento e tornar as regras de funcionamento do sistema internacional
mais justas. No entanto, para que essas políticas se viabilizem é necessário atuar
no curto prazo, de modo a propiciar recompensas voltadas para atores domésticos
e, também, para os parceiros externos.

Assim, enquanto horizonte de possibilidades, as relações Sul-Sul


envolvem um discurso de mudança futura, ao mesmo tempo em que alimentam
expectativa de que estas mudanças já possam ser sentidas no curto prazo, criando
oportunidades de políticas de desenvolvimento econômico e social para os países
menos desenvolvidos beneficiários de recursos governamentais brasileiros,
assim como para os setores domésticos nacionais interessados em expandir seus
interesses além das fronteiras.

Durante o governo Lula da Silva o eixo Sul-Sul é privilegiado, sem


desconsiderar as relações com o Norte. Além dos elementos discursivos há,
também, uma dimensão relevante de pragmatismo na forma como a relação Sul-
Sul é visualizada, fruto de fragilidades estruturais do país. Como há interesse
em ampliar a capacidade de influência e diminuir a vulnerabilidade no âmbito
externo, é importante ter o apoio de outros países.

A construção de mecanismos de diálogo, cooperação e representação


diplomática busca edificar, fortalecer ou descentralizar formas de cooperação. Esses
espaços de interação mais intensa podem criar incentivos sociais que alimentem
a cooperação, influenciem os padrões de comportamento dos parceiros, além de
possibilitarem maior conhecimento recíproco sobre a realidade dos países.

A interpretação dos principais formuladores de política externa do governo


Lula é que trata-se de uma perspectiva de fortalecimento nacional, das empresas,
setores produtivos e estruturas estatais, de ampliação do papel do país no mundo,
que busca benefícios gerais para os países em desenvolvimento, mas também
fortalece a sua própria posição, a fim de melhorar sua capacidade de negociação
com os países desenvolvidos, qualificar-se como um exportador de capital,
tecnologia, serviços, práticas de políticas públicas, além de importante exportador
de commodities.

No governo Rousseff a linha de atuação anterior foi mantida no primeiro


mandato e, no segundo, continua sendo referência. Entretanto, enfrenta dificuldades
89
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

de operacionalização em função de dificuldade política e econômica interna e do


fortalecimento de atores domésticos e governamentais que (re)visualizam nos
mercados e nas relações com os países desenvolvidos o lócus central da ação
externa.

Nesse contexto, tanto com os países da África, quanto com o Oriente Médio,
o Brasil teve sua atuação modificada em direção a um perfil de menor intensidade.
As instituições multilaterais, do comércio internacional, de segurança coletiva,
mudanças climáticas, eixos relevantes da ação externa brasileira enfrentam
dificuldades para encaminhar os desafios e demandas presentes nas agendas, ao
passo que alguns espaços de articulação, como o G-20 financeiro, diminuíram sua
relevância, ao menos nos termos que tinham assumido no período imediatamente
posterior à crise financeira de 2008.

Na América do Sul, situações de eleições ou de turbulência política


doméstica em um quadro de retração das lideranças políticas regionais, dificuldades
econômicas e diminuição dos preços internacionais do petróleo, matérias-primas
e commodities em geral não fortalecem desenvolvimentos relativos ao que analistas
consideravam como “regionalismo pós-liberal”.

Por outro lado, fortalece-se a visualização do BRICS, como instância


relevante de inserção externa, embora arranjos como o IBAS, as Cúpulas América
do Sul–África (ASA) e as reuniões de Cúpula América do Sul-Países Árabes
(ASPA) percam espaço relativo, visível na perda de periodicidade e dinamismo
das reuniões. Há continuidade de políticas fundamentadas na ideia de autonomia
presentes, por exemplo, na reação às denúncias de espionagem da NSA, nas
posições em relação à intervenção internacional na Líbia e na Síria e o voto contrário
às sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU em 2011. De todo modo, o
tom geral parece de perspectiva mais reativa do que propriamente propositiva,
com exceções relevantes, como a ideia de “responsabilidade ao proteger”, lançada
em setembro de 2011.

Dois fatores ajudam a entender a tendência atual para configuração de


uma política externa mais reativa, com repercussão relevante para os assuntos
envolvendo a cooperação Sul-Sul: as características da condução presidencial e a
dificuldade das condições políticas e econômicas domésticas. Do ponto de vista
da Presidência parece haver menor disposição para envolver-se diretamente com
os assuntos internacionais, apesar da agenda intensa de viagens internacionais
das últimas semanas. Isso tem consequências para a atuação política esperada
de um país que busca maior influência internacional e diminui também a
atividade discursiva relacionada à manutenção e reconstrução contínua de uma
argumentação voltada para as relações Sul-Sul.

A menor prioridade para assuntos externos, se comparada principalmente


com o governo Lula da Silva, mas também com o governo Cardoso, tem
consequências políticas, institucionais e orçamentárias para o Ministério das

90
TÓPICO 2 | RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

Relações Exteriores, que parece não ter a delegação presidencial para avançar na
cooperação Sul-Sul. Com relação à conjuntura doméstica, os desdobramentos da
“Operação Lava Jato”, a implementação de uma política econômica mais ortodoxa
e uma composição ministerial que desagradou parte da base de apoio do governo
na sociedade encerram um quadro que não contribui para o fortalecimento das
relações Sul-Sul.

A situação tem reflexo direto para as ações brasileiras no âmbito Sul-Sul,


pois:

a) representam maior contração na disponibilidade de recursos públicos


para a manutenção dos acordos já estabelecidos;
b) dificulta a criação de novas frentes de atuação internacional;
c) aumenta a percepção externa de que o Brasil tem seu peso diminuído;
d) aumenta a pressão de setores domésticos contrários à cooperação Sul-
Sul.

O cenário fica mais complexo no sentido de coincidir com um momento


de arrefecimento da ação política e econômica dos países em desenvolvimento
na governança internacional, se comparado com determinadas expectativas e
acontecimentos da primeira década do século XXI, como foi o caso da atuação do
G-20 agrícola na Rodada Doha.

Parece se fortalecer no segundo mandato do governo Rousseff a ideia


de implementação de uma política externa de resultados focados no âmbito
comercial que tende a direcionar a política externa para ações em direção a países
comercialmente mais dinâmicos. Provavelmente nesse quadro a centralidade da
cooperação e das relações Sul-Sul tende a diminuir. Isso pode ter consequências
para o próprio peso relativo das exportações do país no conjunto das importações
dos países parceiros em desenvolvimento, para a capacidade de atuação brasileira
na discussão das grandes questões internacionais e para a ação no sentido de
contribuir para a construção de um sistema internacional multipolar.

Haroldo Ramanzini Júnior é professor da Universidade Federal de


Uberlândia (UFU) e integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/
GR-RI.

Marcelo Passini Mariano é professor da Universidade Estadual Paulista


(UNESP).

FONTE: Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/internacional/desafios-da-politica-


externa-brasileira-em-relacao-a-cooperacao-sul-sul-5416.html>. Acesso em: 10 maio 2016.

91
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, vimos que:

• As organizações que necessitam de recursos financeiros para o comércio exterior


podem contar com modalidades de financiamento e câmbio, disponibilizados
por bancos privados e governamentais que proporcionam taxas e prazos para
cada necessidade.

• As linhas de crédito são diferenciadas para o exportador e importador, sendo que


as empresas que atuam com exportações possuem uma linha de financiamento
maior que as importadoras.

• Entre as linhas para exportadores temos: ACC, ACE, PROEX, FINAMEX,


EXPORT NOTE e COMMERCIAL PAPER.

• Para as empresas importadoras temos: BUYERS CREDIT, FINAMIM e


SUPPLIER’S CREDIT.

• O Brasil é um país de grande relevância política e econômica para o mundo,


devido a isso ele é visto como um líder representativo de seu continente, o que
fortalece seu posicionamento perante acordos comerciais.

• Atualmente, os acordos de que o Brasil participa proporcionam vantagens


significativas para sua economia.

• As políticas econômicas brasileiras são direcionadas para fomentar as


exportações, pois esta área do comércio proporciona um saldo positivo para a
balança comercial.

• Com as exportações o país tem impacto positivo sob vários pontos na economia,
como a entrada de capital estrangeiro provindo de pagamentos dos produtos
comercializados para o mercado externo, e o aumento da oferta de empregos
devido à demanda de produtos para exportação; até mesmo as organizações
que não atuam no comércio exterior se beneficiam ao fornecer matéria-prima às
empresas exportadoras, gerando assim um fortalecimento econômico.

• Apesar de necessárias, as importações não são vistas com bons olhos para a
economia, pois a importação de produtos significa para os cofres a evasão de
divisas. Além disso, quando o país importa mais do que exporta, isto representa
um impacto direto no mercado interno, pois muitas organizações não possuem
recursos para competir com seus concorrentes no exterior.

92
AUTOATIVIDADE

1 Uma organização brasileira acaba de fechar um contrato de


venda de 50 mil camisas para serem exportadas para a Inglaterra.
Para confecção destas camisas ela precisa de um adiantamento
financeiro para aquisição de matéria-prima. Entre as modalidades
de financiamentos apresentadas, qual modelo disponibiliza até
360 dias para pagamento, e qual sua característica?

2 Associe as modalidades de financiamento às suas devidas definições:

I - Export Note
II - Commercial Papers
III - Supplier’s Credit
IV - Buyers Credit

( ) Trata-se da venda pelos exportadores dos direitos sobre a moeda estrangeira


decorrente de exportação futura de produtos e serviços.
( ) São operações de curto prazo, cuja finalidade é a obtenção de recursos para
resolver os problemas de caixa da empresa.
( ) Nesta modalidade, o financiamento é concedido por um banco ao
exportador, mediante desconto das cambiais representativas de vendas a prazo.
( ) Este financiamento é concedido diretamente para o importador estrangeiro.
Há um banco no exterior financiando a operação ao importador.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) ( ) I – II – III – IV.
b) ( ) IV – III – I – II.
c) ( ) III – I – IV – I.
d) ( ) II – IV – II – III.

3 Sobre o cenário econômico vivenciado atualmente, e com base nos estudos


realizados neste tópico sobre as relações comerciais brasileiras e as políticas de
comércio exterior do país, explique como a área de comércio exterior do Brasil
está contribuindo para o cenário econômico.

93
94
UNIDADE 2
TÓPICO 3

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO
COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos abordar a estrutura do comércio exterior brasileiro,
como está dividido e quais os principais organismos responsáveis por gerenciar e
desenvolver a área no país.

O Brasil, assim como os demais países do mundo, possui órgãos responsáveis


pelo gerenciamento de suas atividades em todas as áreas que contemplam a
administração pública de um país.

A estrutura governamental do comércio exterior brasileiro é constituída por


órgãos específicos para cada atividade. O gerenciamento destas atividades ocorre
por áreas de competências, como: políticas de comércio exterior, formalização da
nacionalização das importações e da exportação das mercadorias, fiscal, financeira,
logística e outras.

A estrutura hierárquica governamental permite que os setores responsáveis


por cada atividade possam gerenciar de forma eficaz os processos, assim,
protegendo e fomentando o crescimento e o desenvolvimento do mercado e da
economia.

Neste tópico, apresentaremos cada órgão governamental com suas


atividades e responsabilidades, os ministérios responsáveis pelo comércio
internacional e a Câmara de Comércio Exterior, e, por fim, os órgãos fiscalizadores
e anuentes.

2 ESTRUTURA GOVERNAMENTAL DO COMÉRCIO EXTERIOR


BRASILEIRO

2.1 CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR - CAMEX


A CAMEX foi criada em 1995, é um órgão interministerial ligado diretamente
ao conselho do governo da Presidência da República, em sua responsabilidade

95
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

está a formulação, decisão, orientação e implementação de políticas e atividades


relacionadas à área de comércio exterior de bens e serviços, e do turismo.

Ela é composta pelo Ministro de Estado e Desenvolvimento, Indústria


e Comércio Exterior, que atua como presidente da CAMEX, e pelos Ministros
de Estado Chefe da Casa Civil; Ministro das Relações Exteriores; Ministro da
Fazenda; Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento,
Orçamento e Gestão; e do Desenvolvimento Agrário.

O órgão de deliberação superior e final da CAMEX é o Conselho de


Ministros. Os outros órgãos que compõem a CAMEX são a Secretaria-Executiva
(SE), o Comitê Executivo de Gestão (GECEX), o Comitê de Financiamento e Garantia
às Exportações (COFIG) e o Conselho Consultivo do Setor Privado (CONEX).
A SE/CAMEX é o órgão permanente da CAMEX com competências próprias
previstas no Decreto nº 4.732/2003 e no Decreto nº 7.096/2010, com destaque para:

• a assistência direta ao presidente do Conselho de Ministros da CAMEX;

• a preparação das reuniões do Conselho de Ministros, do GECEX e do CONEX;

• o acompanhamento da implementação das deliberações e diretrizes fixadas pelo


Conselho de Ministros e pelo GECEX;

• o acompanhamento do trabalho do COFIG;

• a coordenação de grupos técnicos interministeriais;

• promover estudos, pareceres, reuniões e publicações sobre assuntos pertinentes


ao comércio exterior. 

FONTE: Disponível em: <http://www.camex.gov.br/conteudo/exibe/area/1/menu/77/CAMEX%20


-%20%C3%81reas%20de%20Atua%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 12 maio 2016.

Como um órgão interministerial, ela atua na articulação dos diferentes


órgãos e agências governamentais, focando em resultados para o país no âmbito do
comércio internacional, assim como nas defesas dos interesses do setor produtivo
nacional.

Dentre suas atividades, para fomentar o comércio exterior no país,


apresentamos as principais:

• definir diretrizes e procedimentos relativos à implementação da política de


comércio exterior;

• coordenar e orientar as ações dos órgãos que possuem competências na área


de comércio exterior;

96
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

• definir, no âmbito das atividades de exportação e importação, diretrizes e


orientações sobre normas e procedimentos, para os seguintes temas, observada
a reserva legal: a) racionalização e simplificação do sistema administrativo; b)
habilitação e credenciamento de empresas para a prática de comércio exterior;
c) nomenclatura de mercadoria; d) conceituação de exportação e importação;
e) classificação e padronização de produtos; f) marcação e rotulagem de
mercadorias; e g) regras de origem e procedência de mercadorias;

• estabelecer as diretrizes para as negociações de acordos e convênios relativos


ao comércio exterior, de natureza bilateral, regional ou multilateral;

• orientar a política aduaneira, observada a competência específica do


Ministério da Fazenda;

• formular diretrizes básicas da política tarifária na importação e exportação;

• estabelecer diretrizes e medidas dirigidas à simplificação e racionalização do


comércio exterior;

• estabelecer diretrizes e procedimentos para investigações relativas a práticas


desleais de comércio exterior;

• fixar diretrizes para a política de financiamento das exportações de bens e de


serviços, bem como para a cobertura dos riscos de operações a prazo, inclusive
as relativas ao seguro de crédito às exportações;

• fixar diretrizes e coordenar as políticas de promoção de mercadorias e de


serviços no exterior e de informação comercial;

• opinar sobre política de frete e transportes internacionais, portuários,


aeroportuários e de fronteiras, visando a sua adaptação aos objetivos da
política de comércio exterior e ao aprimoramento da concorrência;

• orientar políticas de incentivo à melhoria dos serviços portuários,


aeroportuários, de transporte e de turismo, com vistas ao incremento das
exportações e da prestação desses serviços a usuários oriundos do exterior;

• fixar as alíquotas do imposto de exportação, respeitadas as condições


estabelecidas em lei;

• fixar as alíquotas do imposto de importação, atendidas as condições e os


limites estabelecidos em lei;

• fixar e suspender salvaguardas, direitos antidumping e compensatórios,


provisórios ou definitivos;

97
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

• estender as medidas antidumping e compensatórias a terceiros países, bem


como a partes, peças e componentes dos produtos objeto de medidas vigentes;
• homologar compromissos de preços no âmbito dos processos de defesa
comercial;

• definir a utilização das receitas oriundas da cobrança dos direitos antidumping


e compensatórios, bem como sua extensão, e das receitas oriundas da cobrança
das salvaguardas; 

• alterar, na forma estabelecida nos atos decisórios do Mercado Comum do


Sul - Mercosul, a Nomenclatura Comum do Mercosul;

• adotar medidas para proteger os interesses comerciais brasileiros nas


relações comerciais com países que descumprirem acordos firmados bilateral,
regional ou multilateralmente, inclusive de retaliação;

• deliberar sobre as matérias submetidas pelos membros e órgãos integrantes.

FONTE: Disponível em: <http://www.camex.gov.br/conteudo/exibe/area/1/menu/67/A%20


CAMEX>. Acesso em: 12 maio 2016.

A CAMEX possibilita ao governo brasileiro administrar de maneira


centralizada as informações geradas pelas diversas secretarias ligadas ao órgão.
Possibilitando, desta forma, analisar as diversas situações e definir diretrizes
políticas que atendam às necessidades dos setores para competir no mercado
globalizado.

Desde sua criação o órgão tem tratado de assuntos como o aumento da


competitividade das empresas brasileiras no âmbito de modernização de suas
estruturas e na atuação no mercado externo, na redução de custos de produção
para produtos fabricados internamente direcionados às exportações, com também
em temas relacionados a subsídios para as exportações.

Conforme apresentamos anteriormente, a CAMEX é composta, além dos


ministérios, por secretarias, comitês e colegiados, que estaremos resumindo suas
atividades a seguir:

• GECEX – Comitê Executivo de Gestão, sua função é supervisionar e


gerenciar todas as barreiras e burocracias criadas para a área do comércio exterior
de bens e serviços.

• COFIG – Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, sua


responsabilidade é gerenciar os programas voltados a impulsionar as exportações,
como: Programa de Financiamento às Exportações “PROEX”, o Fundo de Garantia
à Exportação “FGE”, e o Fundo de Financiamento à Exportação “FFEX”.

98
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

• CONEX – Conselho Consultivo do Setor Privado, que atua no


suporte privado à CAMEX, de forma a apresentar estudos e propostas para o
aperfeiçoamento das políticas na área do comércio exterior.

DICAS

Acadêmico, você pode aprofundar seu conhecimento sobre a CAMEX acessando


o site do órgão no link: <http://www.camex.gov.br/>.

2.2 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES – MRE OU


“ITAMARATY”
O Ministério das Relações Exteriores “MRE” está instalado no Palácio do
Itamaraty, por este motivo também é conhecido pelo nome de Itamaraty.

O MRE é um órgão do Poder Executivo responsável pela política externa e


pelas relações internacionais brasileiras nos acordos e planos bilateral, multilateral
e regional. Por ser um órgão de grande importância para o país, ele está ligado
diretamente à Presidência da República (MDIC, 2016).

Dentro de suas atividades constam: defender os interesses do Brasil no


exterior; e fazer o marketing externo do país, buscando promover e divulgar as
oportunidades comerciais no estrangeiro por meio de consulados, embaixadas e
chancelarias.

Nos últimos anos o órgão tem fixado representantes em mais de 220 locais
espalhados pelo mundo, promovendo os interesses do país e prestando suporte aos
cidadãos brasileiros e empresas brasileiras no exterior. O Itamaraty é responsável
por manter e administrar as relações do Estado Brasileiro em cada um dos países
onde há representação diplomática, organizando feiras e eventos promocionais
com âmbito internacional, assim como as visitas de chefes de Estado e de governo
de outras nações no país, como também as visitas do Presidente e Vice-Presidente
da República a outras nações.

As promoções do órgão são realizadas por meio da Secretaria de


Comunicação Social – “SECOM”. A secretaria é responsável por receber e divulgar
as informações de oportunidades comerciais e de investimento para as empresas
brasileiras interessadas em atuar no mercado mundial, além disso ela também
realiza pesquisas de mercado para produtos brasileiros no exterior.

99
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

DICAS

Acadêmico, para aprofundar seus conhecimentos sobre o Itamaraty, sugerimos


acessar o site oficial do Ministério, disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/>.

2.3 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E


COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC
O MDIC é o ministério responsável pela execução das diretrizes políticas
de comércio, exercendo suas atividades através da Secretaria de Comércio Exterior
“SECEX”.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foi


criado pela Medida Provisória nº 1.911-8, de 29/07/1999 - DOU 30/07/1999,
tendo como área de competência os seguintes assuntos:

• política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços;


• propriedade intelectual e transferência de tecnologia;
• metrologia, normalização e qualidade industrial;
• políticas de comércio exterior;
• regulamentação e execução dos programas e atividades relativas ao comércio
exterior;
• aplicação dos mecanismos de defesa comercial;
• participação em negociações internacionais relativas ao comércio exterior.

FONTE: Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.


php?area=1&menu=1680>. Acesso em: 13 maio 2016.

Em sua missão estão a formulação e execução de políticas públicas


direcionadas à promoção da competitividade do comércio exterior brasileiro, para
tornar mais justa e rica em oportunidades para as empresas brasileiras e para a
vida da população.

Ligadas ao ministério, temos as seguintes entidades:

• Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA.


• Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI.
• Instituto de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO.
• Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.

Além destas entidades citadas, também possuem vínculos com o ministério


as instituições em âmbito privado sem fins lucrativos, que recebem recursos do
MDIC por meio de contrato firmado para realizar ações de interesse público, são
elas:
100
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

• Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI.


• Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimento – APEX-
Brasil.

DICAS

Para maiores informações sobre o ministério, você pode acessar o site oficial,
disponível em: <http://www.mdic.gov.br/>.

2.4 SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR – SECEX


A SECEX é subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, sua criação foi normatizada a partir da Medida Provisória nº 1.795, de
1º/jan./1999, substituindo o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo.

Órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior


que tem entre suas funções a condução das políticas de comércio exterior e
gestão do controle comercial. A SECEX normatiza, supervisiona, orienta,
planeja, controla e avalia as atividades de comércio exterior. Entre suas
atividades estão: participar das negociações dos acordos comerciais
internacionais do governo brasileiro, promover a cultura exportadora,
deferir atos concessórios de drawback, anuir operações de exportação
e importação, promover o exame de similaridade  para averiguação
de produção nacional, compilar a balança comercial,  promover a
defesa comercial do país, entre outras (SECRETARIA DE COMÉRCIO
EXTERIOR – SECEX, 2016).

Por ser um órgão constituído de poderes quase plenipotenciários, e sendo


subordinada ao MDIC, a secretaria se subdivide em quatro departamentos para
atender de forma eficiente as áreas de sua competência no comércio exterior. Na
sequência veremos quais são os departamentos.

2.4.1 Departamento de Operações de Comércio Exterior


– DECEX
Trata-se de um órgão responsável pela operacionalização das políticas
estipuladas pela SECEX. Suas funções são:

• Elaboração, acompanhamento e avaliação de estudos sobre a


comercialização de produtos e mercados estratégicos para o comércio exterior
brasileiro.
• Execução de programas governamentais para a área.
• Administração do sistema Integrado de Comércio Exterior.

101
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

• Licenciamento de mercadorias para importação e exportação.


• Regulamentação dos procedimentos operacionais ligados à atividade.

2.4.2 Departamento de Negociações Internacionais –


DEINT
Este departamento é responsável por administrar as negociações
internacionais em que o país participa. Suas principais atividades são:

• Fomentar e articular estudos e iniciativas visando fornecer informações


para servir como base para as negociações brasileiras com o exterior.
• Participar das rodadas de negociações de acordos do país com o mundo
considerando as extensões ou concessões e seus impactos para o país.

2.4.3 Departamento de Defesa Comercial – DECOM


O Departamento de Defesa Comercial atua no combate às atividades de
comércio desleal ligado a produtos e empresas brasileiras no comércio exterior. O
órgão é responsável por supervisionar todos os processos instaurados no exterior
contra as empresas brasileiras, fornecendo assistência e assessorias necessárias.
Suas atividades contemplam duas frentes:

• junto ao exportador brasileiro, na preparação das respostas aos


questionários e outras informações para sua defesa, bem como no
acompanhamento das visitas de verificação; e
• junto às autoridades investigadoras do país importador, em
colaboração com o Ministério das Relações Exteriores.
Em relação às empresas brasileiras afetadas, a SECEX/DECOM, além
de propiciar assistência técnica para a defesa de seus interesses,
procura conscientizar os empresários da importância de participarem
ativamente nas respostas aos questionários e enviando as informações
solicitadas pelo governo do país importador (MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR –
MDIC, 2016).

2.4.4 Departamento de Planejamento e Desenvolvimento


do Comércio Exterior – DEPLA
O DEPLA é responsável pelo acompanhamento das políticas e programas
de comércio exterior, e por formular propostas de planejamento para o
desenvolvimento da atividade na área, como: desenvolver estudos de mercado e
produtos estratégicos para promover as exportações.

102
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

A competência do DEPLA está delineada no art. 19 do Decreto 7.096/10,


a saber:

Art.  19  Ao Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do


Comércio Exterior (DEPLA) compete:

I – propor, assessorar e acompanhar o planejamento, a formulação e a


execução das políticas e programas de comércio exterior;
II  –  formular propostas de aperfeiçoamento da legislação em matéria
relacionada ao comércio exterior;
III – planejar, coordenar e implementar ações e programas visando ao
desenvolvimento do comércio exterior brasileiro e da cultura exportadora, em
articulação com órgãos e entidades de direito público ou privado, nacionais e
internacionais, bem como propor a celebração de convênios, acordos ou ajustes
semelhantes para a implementação dessas ações e programas;
IV – planejar e executar programas de capacitação em comércio exterior
com ênfase nas micro, pequenas e médias empresas;
V – elaborar e editar o material técnico para orientação da atividade de
comércio exterior;
VI  –  manter e coordenar a Rede Nacional de Agentes de Comércio
Exterior;
VII  –  participar e acompanhar, em fóruns e comitês nacionais e
internacionais, os assuntos relacionados com as estatísticas e o desenvolvimento
do comércio exterior;
VIII – coletar, analisar, sistematizar e disseminar dados e informações
estatísticas de comércio exterior, bem como elaborar e divulgar a balança
comercial brasileira;
IX – elaborar estudos, publicações e informações sobre produtos, setores
e mercados estratégicos para o comércio exterior brasileiro;
X – gerenciar sistemas de consultas, análise e divulgação de informações
de comércio exterior;
XI – manter, desenvolver e gerenciar o Sistema de Análise de Informações
de Comércio Exterior;
XII  –  coordenar e implementar a Rede de Centros de Informações de
Comércio Exterior; e
XIII  –  propor a articulação com entidades e organismos nacionais e
internacionais para a realização de treinamentos, estudos, eventos e outras
atividades voltadas para o desenvolvimento do comércio exterior.
FONTE: Enciclopédia Aduaneira. Disponível em: <http://enciclopediaaduaneira.com.br/secex-
haroldo-gueiros/>. Acesso em: 16 maio 2016.

2.5 SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL - SRF


A Secretaria da Receita Federal é um órgão específico, distinto, subordinado
ao Ministério da Fazenda, desenvolve funções necessárias para que o Estado possa
cumprir com seus objetivos. Sob sua responsabilidade está a administração de

103
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

tributos de competência da União, incluindo os previdenciários e os incidentes


sobre o comércio exterior. É também de sua responsabilidade auxiliar na formulação
de políticas tributárias, combate à pirataria, sonegação fiscal, contrabando,
descaminho, fraude comercial, além do tráfico de drogas, de animais e outros atos
considerados ilícitos no comércio.

Na área de comércio exterior ela está presente nas exportações e importações,


sendo responsável pela fiscalização aduaneira nos pontos alfandegados, como:
portos, aeroportos e pontos fronteiriços com países vizinhos.

Por meio de seus fiscais, ela exerce o controle da entrada e saída dos
produtos no país. Toda arrecadação coletada nos pontos alfandegados por meio
de tributações dos produtos importados é de sua responsabilidade. Junto com a
Secretaria de Comércio Exterior e o Banco Central do Brasil, ela exerce o maior
poder sobre o comércio exterior brasileiro.

2.6 BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN


O Banco Central do Brasil é o órgão executivo central do sistema financeiro
nacional ligado ao Ministério da Fazenda. Sob sua responsabilidade está a
condução das políticas: monetária, cambial, de crédito e das relações financeiros
com o exterior. Também da supervisão do Sistema Financeiro Nacional “SFN”, e
da administração do sistema de pagamentos e do meio circulante.

Devemos observar que toda entrada e saída de divisas (moeda estrangeira)


é feita por meio do mercado de câmbio e vai terminar alimentando, ou quitando, o
saldo das “Reservas Internacionais” no Bacen.

Quando analisamos, especificamente, as funções inerentes ao comércio


exterior, o Bacen é responsável por:

• Controlar as movimentações de capitais estrangeiros no país.


• Controlar os pagamentos das importações em moeda estrangeira.
• Acompanhar as empresas que atuam na área de exportação com
recebimento de recursos em moeda estrangeira.
• Autorizar instituições financeiras para operarem com câmbio, assim
como fiscalizar as mesmas.

2.7 MINISTÉRIO DA SAÚDE


O Ministério da Saúde é um órgão do Poder Executivo federal responsável
por organizar e elaborar planos e políticas públicas voltadas à saúde.

104
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

É função do ministério proporcionar condições para proteção e recuperação


da saúde populacional, buscando reduzir as enfermidades, controlar doenças e
epidemias, assim como atuar na vigilância à saúde.

No comércio exterior, o ministério atua como órgão regulador para as


empresas que atuam na importação ou exportação de remédios e produtos ligados
à saúde.

O processo de liberação das importações ou exportações é realizado


via sistema Siscomex. A partir do recebimento da solicitação via sistema, o
responsável pela aprovação no ministério analisa todas as documentações,
especificamente informações sobre as características da mercadoria enviada pela
empresa.

Dependendo do item a ser importado ou exportado, pode haver diferentes


órgãos envolvidos no processo que, ao final, influenciam na aprovação.

2.8 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E


ABASTECIMENTO
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é responsável
pela gestão de política pública de estímulo à agropecuária, agronegócio e pela
normatização dos serviços vinculados ao setor.

O Ministério da Agricultura busca integrar, sob sua gestão, os aspectos


mercadológico, tecnológico, científico, ambiental e organizacional do
setor produtivo e também dos setores de abastecimento, armazenagem
e transporte de safras, além da gestão da política econômica e financeira
para o agronegócio. Com a integração do desenvolvimento sustentável
e da competitividade, o Mapa visa à garantia da segurança alimentar
da população brasileira e à produção de excedentes para exportação,
fortalecendo o setor produtivo nacional e favorecendo a inserção do
Brasil no mercado internacional (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2016).

No comércio exterior, o ministério é o órgão responsável por certificar os


produtos agrícolas destinados à exportação ou importação.

A certificação é solicitada via sistema Siscomex, onde a empresa registra


o pedido, e ele é encaminhado automaticamente para o ministério. Ao receber o
requerimento é realizada uma análise das documentações e em caso de aprovação
é emitida uma certificação chamada de Certificado Fitossanitário.

105
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

3 REGIME ADUANEIRO BRASILEIRO


Para tratarmos sobre o regime aduaneiro brasileiro, inicialmente vamos
compreender o que é um regime aduaneiro.

Regime Aduaneiro é o tratamento tributário e administrativo aplicado a


mercadorias submetidas a controle aduaneiro, considerando as leis e regulamentos
estipulados pelos órgãos competentes conforme a natureza e objetivo de cada
operação.

O Regime Aduaneiro é dividido em dois tipos:

• Regime Aduaneiro Geral ou Comum: refere-se à importação de bens a título


definitivo, com o desembaraço das mercadorias uma vez pagos os devidos
impostos, estas ficam liberadas para consumo no país, após sua nacionalização.
Na exportação ele é caracterizado pela desnacionalização da mercadoria após o
desembaraço aduaneiro.

• Regimes Aduaneiros Especiais: são operações de importação ou exportação com


benefícios fiscais, como isenção de impostos, suspensão parcial ou integral dos
tributos incidentes. Estes tipos de regimes normalmente são concedidos para
atender determinadas finalidades ou setores.

O regime aduaneiro brasileiro foi estabelecido pela Lei nº 3.244, de 14/08/57,


tendo sua última alteração sob o Decreto nº 6.759, de 05/02/2009.

O comércio exterior brasileiro é dinâmico e apresenta algumas situações


que acabam necessitando de mecanismos especiais que permitam a entrada ou
saída das mercadorias do território aduaneiro. Diante disto, o governo criou dois
tipos de regimes para atender a essas necessidades, são eles: RAE e RAA.

O Regime Aduaneiro Especial “RAE” caracteriza os regimes criados para


atender aos processos de importação ou exportação que fogem à regra comum.
Neste regime são classificados os seguintes tipos:

• Trânsito Aduaneiro: neste regime, a mercadoria pode ser transportada de


um ponto ao outro sem ser tributados os impostos. Este regime é aplicado
apenas quando existe a necessidade de transferir a mercadoria de um ponto
alfandegado para outro. Para realizar este procedimento a empresa precisa
seguir as orientações descritas no Decreto-lei nº 37/1996, art. 71, alterado (Decreto
nº 1.223/1972).

• Admissão Temporária: permite a importação de bens que devem


permanecer no país durante determinado período, com suspensão
total ou parcial dos tributos, disposta no Livro IV, Título I, Capítulo III
e Seção I do Decreto nº 4.543/202 e Decreto-lei nº 37, de 1966, art. 75.

106
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

Drawback é a desoneração dos impostos de importação para materiais que


serão manufaturados e destinados à exportação, para ter acesso a este regime
o importador/exportador deve seguir as notas estipuladas pela Secex sob a
Portaria nº 23, de 14/07/2011.

• Entreposto Aduaneiro: permite que a mercadoria, na importação ou exportação,


fique armazenada em determinados armazéns sob controle fiscal, tendo a
suspensão dos tributos. Para ter acesso a este regime as mercadorias devem
seguir as condições estabelecidas na Instrução Normativa nº 241, de 06/11/2002.

• Entreposto Industrial sob informatizado “RECOF”: neste regime, a empresa


pode importar produtos manufaturados com ou sem cobertura cambial, e com
suspensão do pagamento de tributos, sob controle aduaneiro informatizado,
sendo que estes produtos deverão ser submetidos à operação de industrialização
e depois destinados à exportação. Para ter acesso a este regime a empresa deve
seguir as orientações estabelecidas pelo Decreto-lei nº 37, de 1996, art. 89, e
Decreto nº 4.543/2002, art. 372.

• Exportação Temporária: é o regime que permite a exportação de um produto


por tempo determinado e sua importação com a suspensão do pagamento de
impostos durante os dois processos. Este regime é muito utilizado por empresas
que participam de feiras internacionais e enquadradas no Decreto-lei nº 37, de
1966, art. 92, com a redação dada pelo Decreto nº 2.472, de 1988, art. 1º, e Decreto
nº 4.543, art. 385.

• Depósito Aduaneiro de Distribuição “DAD”: permite, por meio de termo de


responsabilidade, o entrepostamento de mercadorias estrangeiras importadas
sem cobertura cambial, a exportação para países terceiros e despacho para
consumo.

• Regime Aduaneiro Especial de importação de insumos destinados à


industrialização por encomenda “RECOM”: este regime permite a importação de
insumos industrializados por encomenda classificados nas posições 8701 a 8705
da NCM, sem cobertura cambial, como chassis, carrocerias, peças, componentes
e acessórios, com a suspensão do imposto sobre produtos industrializados.

• Regime Aduaneiro Especial exportação e importação de bens destinados às


atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás “REPETRO”:
este regime trata da importação e exportação de bens destinados às atividades
de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural, conforme definidas
na Lei nº 9.478, de 06/08/1997.

• Regime Aduaneiro Especial para importação de petróleo bruto e seus derivados,


para fins de exportação no mesmo estado em que foram importados “REPEX”:
é o regime utilizado para importação de petróleo bruto e seus derivados com
suspensão de pagamento dos impostos incidentes e posterior exportação no
mesmo estado em que foram importados.

107
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

• Regime de Despacho Aduaneiro Expresso (Linha Azul): trata-se de um regime


que permite a redução do tempo referente às liberações das mercadorias
de empresas que operam no comércio exterior mediante a racionalização da
movimentação das cargas, nas operações de importação, exportação e de trânsito
aduaneiro.

Os Regimes Aduaneiros Atípicos foram criados pelo governo visando


atender determinadas necessidades econômicas de polos regionais e setores
ligados ao comércio exterior. Este regime se caracteriza pela não incidência de
tributos aplicados ao comércio exterior, neste modelo podemos classificar:

• Loja Franca é o regime que permite que estabelecimentos comercializem


produtos nacionais e importados dentro das zonas primárias de portos,
aeroportos alfandegados a passageiros em viagem internacional sem tributar,
podendo receber em moeda nacional ou estrangeira.

• Depósito Especial Alfandegado “DEA” é um regime que permite a importação


de produtos sem cobertura cambial e com suspensão de tributos destinados a
atender às necessidades da área de transporte aéreo.

• Depósito Afiançado “DAF” é o que permite a estocagem, com suspensão de


pagamento de impostos, de materiais importados, sem cobertura cambial,
destinada à manutenção e reparo de embarcação ou aeronave pertencentes a
empresas autorizadas a operar no transporte comercial internacional e utilizadas
nestas atividades.

• Depósito Franco é o regime que permite a armazenagem de mercadorias em


recinto alfandegado para atender ao fluxo comercial de países no limite com
terceiros países.

• Depósito Alfandegado Certificado “DAC” permite considerar como exportadas


as mercadorias para efeitos fiscais, creditícios e cambiais, as mercadorias
nacionais depositadas em recinto alfandegado vendidas ao exterior e com
contrato de entrega no território nacional e a ordem do adquirente.

• Zona Franca de Manaus “ZFM” se trata de uma área de livre-comércio de


importação e exportação com incentivos fiscais especiais, estabelecidos com a
finalidade de criar na Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário
dotado de condições econômicas que permitam o desenvolvimento da região.

• Zonas de Processamento de Exportação “ZPE” foram criadas para reduzir


os desequilíbrios regionais, bem como fortalecer o balanço de pagamentos e
promover a difusão tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do
país.

• Áreas de Livre-comércio são áreas destinadas à importação e exportação sob


regime fiscal especial com a finalidade de promover o desenvolvimento de áreas

108
TÓPICO 3 | ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL

fronteiriças específicas da região Norte do país e de incrementar as relações


bilaterais do país com seus vizinhos.

Diante dos regimes apresentados, podemos concluir que, apesar das


mercadorias estarem em território brasileiro, quando aplicadas aos regimes, elas
podem circular livremente dentro do perímetro das zonas alfandegadas.

Para a Receita Federal, as zonas alfandegadas são espaços neutros de


controle aduaneiro, classificadas como zonas primária e secundária, onde são
realizados os desembaraços das mercadorias para liberação dos bens importados
ou exportados.

O Decreto nº 6.759, artigos 2º e 3º, diz que o território aduaneiro brasileiro


compreende todo o território nacional, sendo classificado em:

• Zona Primária que corresponde à:

o área terrestre ou aquática, contínua ou descontínua, nos portos alfandegados;


o área terrestre nos aeroportos alfandegados;
o área que compreende os pontos de fronteira alfandegados.

• Zona secundária que corresponde à parte restante do território aduaneiro, nela


incluídas as águas territoriais e o espaço aéreo.

Podemos concluir que a área alfandegada é todo espaço no qual há


movimentação das mercadorias provindas ou enviadas ao exterior que estejam sob
a fiscalização policial, tributária e sanitária. Embora todas as leis que regulamentam
a constituição de um país sejam aplicadas a toda a sua extensão territorial, nas
zonas aduaneiras esta situação tem suas particularidades diferenciadas.

DICAS

Acadêmico, você pode aprofundar seus conhecimentos sobre o regime aduaneiro


brasileiro no site da Receita Federal, no link: <http://portal.siscomex.gov.br/legislacao/orgaos/
secretaria-da-receita-federal-do-brasil-rfb>.

109
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, vimos que:

• A estrutura governamental do comércio exterior brasileiro não possui um órgão


específico destinado apenas a esta atividade.

• A gestão da atividade é dividida por áreas de competência, como política de


comércio exterior, fiscal, financeira, bilaterais de relações internacionais, entre
outros.

• Os órgãos gestores estão divididos conforme quadro a seguir:

QUADRO 4 – ORGANOGRAMA DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.berflow.com.br/pages_bra/berflow_comex_org.htm>.


Acesso em: 18 jun. 2016.

• O órgão mais importante da área de comércio exterior é a CAMEX, que está


ligada diretamente à Presidência da República.

• O regime aduaneiro brasileiro é dividido em comum e especial, cada um tem a


finalidade de regulamentar as movimentações das mercadorias nos processos
de importação e exportação.

110
AUTOATIVIDADE

1 A CAMEX é um órgão integrante do conselho de governo


da Presidência da República, sob sua responsabilidade está
a gestão das atividades relacionadas ao comércio exterior.
Conforme o conteúdo apresentado referente à responsabilidade
da CAMEX, classifique em V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas.

( ) Definir diretrizes e procedimentos relativos à implementação de políticas


relacionadas à área de comércio exterior.
( ) Gerenciar as atividades internas relacionadas à comercialização de
mercadorias nacionais e sua produção.
( ) Coordenar e orientar as ações dos órgãos que possuem competências na
área de comércio exterior.
( ) Fixar diretrizes para a política de financiamento das exportações de bens
e de serviços, bem como para a cobertura dos riscos de operações a prazo,
inclusive as relativas ao seguro de crédito às exportações.

A seguir, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) ( ) V – F – V – V
b) ( ) F – V – F – V
c) ( ) V – F – V – F
d) ( ) F – V – F – F

2 Sobre a função dos principais órgãos atuantes no comércio exterior, classifique


as sentenças em V para verdadeiras e F para as falsas.

( ) O MDIC é o ministério responsável pela execução das diretrizes políticas de


comércio, exercendo suas atividades através da Secretaria de Comércio Exterior
“SECEX”.
( ) O Itamaraty é um órgão do Poder Executivo responsável pela política
externa e pelas relações internacionais brasileiras nos acordos e planos bilateral,
multilateral e regional.
( ) A SRF é um órgão específico, distinto, subordinado ao Ministério da
Fazenda, desenvolve funções necessárias para que o Estado possa cumprir com
seus objetivos.
( ) O Ministério da Saúde é um órgão do Poder Executivo federal responsável
por organizar e elaborar planos e políticas públicas voltadas à saúde.

A seguir, assinale a alternativa correta:

a) ( )V–V–V–V
b) ( )F–V–F–V
c) ( )V–F–V–F
d) ( )F–F–F–F

111
3 O Regime Aduaneiro é o tratamento tributário e administrativo aplicado
a mercadorias submetidas ao controle aduaneiro, considerando as leis e
regulamentos estipulados pelos órgãos competentes conforme a natureza e
objetivo de cada operação. Existem dois tipos de regimes: geral ou comum
e especiais, explique qual a diferença entre os dois modelos.

112
UNIDADE 2
TÓPICO 4

QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO


COMÉRCIO INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, o comércio entre povos sempre
movimentou grande parte das economias das civilizações antigas e dos países do
mundo atual.

Atuar na área de comércio exterior pode ser um bom negócio para as


empresas que buscam uma alavancagem em seu faturamento e a independência
de mercado.

Em momentos de crise econômica interna, as organizações que atuam


com exportação não sofrem tanto impacto em seus faturamentos quanto aquelas
que atuam apenas no mercado interno. Porém, para atuar no mercado externo
é necessário considerar impactos como educação, cultura, política, religião,
entre outros. No comércio exterior podemos identificar diversas realidades que
influenciam direta ou indiretamente para o sucesso das negociações.

2 A GENERALIDADE DO COMÉRCIO EXTERIOR NAS CULTURAS


O comércio exterior exige das empresas planejamento, pois é necessário
entender a cultura do mercado em que se pretende atuar.

Existem inúmeros fatores que influenciam direta ou indiretamente na


comercialização de bens e serviços no comércio internacional. O mercado externo
possui características diferentes do mercado interno, a exemplo do mercado
brasileiro, que não possui restrição quanto a cores nas embalagens dos produtos.
Em alguns países estrangeiros o simples fato de uma embalagem estar com uma
cor que não é bem vista em suas crenças culturais pode influenciar na aceitação do
produto pelo mercado.

Neste contexto, podemos analisar que o mercado externo não permite


amadorismo por parte das empresas, e para isso as organizações podem contar com
órgãos governamentais e empresas privadas especializadas em gerar informações
que permitam analisar e conhecer as peculiaridades que o mercado externo possui.

No marketing doméstico, a estratégia é desenvolvida conforme as


informações sobre as necessidades e desejos dos consumidores

113
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

domésticos, as tendências setoriais, ambiente econômico, tecnológico


e político desse mercado. Nos negócios internacionais, as incertezas
são ainda maiores, pois além das já existentes no mercado doméstico,
se agregam as inerentes ao mercado externo em que se está operando.
Além das forças políticas, ambiente econômico e estrutura legal, deve-
se conhecer as diferenças culturais significativas. Diferenças inerentes
ao meio ambiente e à cultura da população, exemplificadas por
idioma, vestuário, moradia, comunicação, hábitos de consumo, estarão
presentes (LOPEZ; GAMA, 2007, p. 25).

Para Porter (2009, p. 37):

As empresas devem ser flexíveis para reagir com rapidez às mudanças


competitivas e de mercado. É importante que pratiquem de modo
constante o benchmark para atingir as melhores práticas. [...]. É
fundamental que fomentem umas poucas competências essenciais, na
corrida para permanecer à frente dos rivais.

Para atuar no mercado internacional a empresa não pode ter uma postura
radical, pois, desta forma, ao invés de colher resultados, ela poderia trazer prejuízos.

Na maioria das vezes, os produtos exportados necessitam de uma


adaptação para o mercado de destino, seja em sua embalagem, composição, forma
de promoção, distribuição, preço ou outros itens que estão ligados direta ou
indiretamente à cultura do mercado-alvo.

Empresas como IBM, Benetton, Nike, Nestlé, McDonald’s, Toyota e Coca-


Cola, antes de iniciarem a comercialização dos produtos no mercado-alvo, realizam
um estudo para conhecer a cultura e os costumes do local e estabelecer estratégias
que garantam o sucesso da comercialização. Outro exemplo é a empresa Knorr,
que possui todo um centro de pesquisa na sua casa matriz, na Alemanha, para
identificar costumes alimentares dos países onde a empresa possui mercados.

DICAS

Você sabe quando nasceu o empreendimento da empesa Knorr? No ano 1857!


Ficou curioso? Acesse o site da Deutsche Welle (DW) e confira: <http://www.dw.com/pt/um-
caldo-que-deu-volta-ao-mundo/a-1013113>.

Ao analisarmos o mercado interno, mesmo em um país como o Brasil, que


possui uma vasta extensão territorial, quando uma empresa comercializa seus
produtos apenas no país, dependendo da região onde atua, ela precisa adaptar
seu produto seguindo as necessidades daquele determinado mercado, pois dentro
de um mesmo país podem existir restrições quanto à cor, etiqueta, composição do
produto, leis regionais etc. Da mesma forma é com o mercado externo.

114
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Apesar de todo o impacto causado pela cultura na comercialização dos


produtos no mercado externo, podemos identificar três tipos de perfil de empresas:

• As que adaptam os produtos às necessidades do mercado.

• As que oferecem apenas um produto padronizado, forçando o mercado a se


adaptar ao seu produto.

• E as que fazem o meio-termo entre adaptar o produto e produzir e ofertar um


produto padronizado.

O sucesso de cada perfil está ligado à disposição do mercado em aceitar o


produto ofertado. Todo marketing internacional tem que estar focado nos aspectos
culturais dos diferentes povos que irão adquirir os produtos ou serviços que são
ofertados, assim como todo o seu design e as campanhas de propaganda. A cultura
também interfere nas negociações com os profissionais do comércio exterior que
levam consigo a influência cultural de seu país (KOTABE; HELSEN, 2000).

Costa e Santos (2011, p. 113) apresentam uma classificação dos mercados


de acordo com suas características específicas, sobretudo levando em consideração
os aspectos econômicos específicos e a capacidade de consumo da população.

Esta classificação define o mercado da seguinte forma:

• Mercado Primitivo: são os mercados onde a economia é movida basicamente


pela produção agrícola, com níveis básicos de industrialização. Nestes mercados
a renda per capita é baixa, sendo que a população ocupa grande parte de seu
tempo para o trabalho, devido ao fato de a grande maioria viver da agricultura.

• Mercado Subdesenvolvido: são países que possuem grandes riquezas naturais e


que exportam parte de seus recursos em volumes consideráveis, como in natura
ou commodities. Neste tipo de mercado existe a possibilidade de uma demanda
direcionada à importação de equipamentos, materiais de transportes e serviços
especializados para atender às necessidades de exportação destes recursos
naturais.

• Mercado Semi-industrializado: refere-se a países que possuem uma economia


pouco avançada, pois possuem indústrias de beneficiamento de algumas
matérias-primas destinadas à exportação.

• Mercado Industrializado: são mercados que têm uma economia do ponto de


vista industrial mais avançado que o semi-industrializado. Nesta classificação
são identificadas as primeiras indústrias direcionadas a suprir a necessidade de
componentes e insumos para a industrialização e beneficiamento de matérias-
primas, além de desenvolverem produtos e serviços que são ofertados ao
mercado interno. Neste modelo a população já possui uma capacidade de renda
para consumo.

115
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

• Mercados em Desenvolvimento: nesta classificação a evolução econômica do


mercado permite uma diversificação de ramos de atuação e, por consequência,
produtos, garantindo um retorno e uma renda mais elevada. Também é
identificado um aumento na oferta de empregos devido à expansão de mercado,
como também por ter empresas que já iniciam ou iniciaram sua comercialização
no mercado externo.

Não existe uma cartilha que as organizações ou profissionais da área de


comércio exterior possam seguir para facilitar suas negociações com o mercado
externo. Sendo assim, para atuar no mercado externo e ter sucesso é preciso analisar
todos os fatores que podem impactar direta ou indiretamente na negociação e na
comercialização do produto.

3 IMPACTOS CULTURAIS NAS RELAÇÕES COMERCIAIS


ENTRE PAÍSES
Com a globalização dos mercados, a relação comercial entre países tem
exigido dos governos e organizações privadas conhecimento sobre a cultura e
costumes de seus parceiros.

Quando isto não ocorre, o erro cometido pode representar uma falta
de respeito com a parte envolvida, ocasionando uma predisposição da parte e
prejudicando as relações comerciais.

Para os brasileiros, conhecer a cultura, os hábitos e o jeito de negociar dos


outros povos é de extrema importância, pois a característica brasileira é de um povo
comunicativo e muitas vezes despojado na maneira de ser e agir, e, dependendo
do país com quem se está negociando, isto não é visto com bons olhos.

Em contrapartida, a nosso favor temos a sensibilidade para as diferenças


culturais e uma maior capacidade de assimilar estas diferenças devido ao Brasil ser
formado por diversas etnias em suas raízes. Independentemente do país e cultura,
algumas questões devem ser consideradas, como veremos a seguir.

3.1 O TEMPO
O cumprimento de horários e prazos preestabelecidos é de extrema
importância, pois para algumas culturas os atrasos são considerados falta de
educação. E em uma negociação isto pode influenciar negativamente na imagem
que se busca demonstrar ao mercado. Em relação ao tempo que influencia nas
negociações, podemos citar:

116
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

• Fuso horário: muitos países têm diferença de horário e dia quando comparados
ao Brasil.

• Costumes: a maioria dos países hispano-americanos e a Espanha têm em sua


cultura o hábito de logo após o almoço os profissionais fazerem a famosa
“siesta”, que é o descanso entre uma hora e meia a duas horas. Nos países árabes
não se trabalha nas sextas-feiras, por questões religiosas. Em Israel o domingo
é o primeiro dia útil da semana, o sábado é o dia de descanso obrigatório para
eles, o famoso “Shabat”.

Como exemplo podemos citar o caso a seguir:

Berlusconi deixa Merkel esperando

Em 2009, o ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, atrasou o


início de uma reunião da OTAN por estar muito ocupado falando pelo telefone
celular. A chanceler alemã, Angela Merkel, uma das anfitriãs do evento, ficou
esperando pelo italiano por vários minutos no tapete vermelho em frente
ao prédio onde ocorreu a reunião. Câmeras de TV capturaram a expressão
perplexa da chanceler enquanto Berlusconi andava por perto, sempre falando
ao telefone. Depois de alguns minutos, Merkel desistiu de esperar e entrou no
prédio, dando início à reunião sem a presença do italiano.
FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/lista-dez-gafes-diplomaticas>.
Acesso em: 1º jun. 2016.

3.2 PROTOCOLO DE CUMPRIMENTO E CORDIALIDADE


Cada cultura possui seus protocolos e formalidades que devem ser
observados por quem pretende atuar no mercado externo.

Estar atento à forma correta de cumprimentar o cliente demonstra respeito


por sua cultura e prevenir situações de desrespeito, por ambas as partes.

Países orientais não possuem em sua cultura contato físico no cumprimento,


esta situação muda quando analisamos países árabes. Observe o exemplo:

Bush faz gesto ofensivo para australianos

Em 1992, durante uma visita a Canberra, na Austrália, o então presidente


George Bush insultou sem querer um grupo de habitantes ao fazer um gesto
de "V da Vitória" com os dedos. O presidente claramente não sabia, mas na
Austrália o gesto tem uma conotação similar ao de levantar o dedo médio em
países como os EUA e o Brasil. No mesmo dia, Bush concedeu um discurso onde
saudou esforços para melhorar o entendimento entre as culturas americana e
australiana.
FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/lista-dez-gafes-diplomaticas>.
Acesso em: 1º jun. 2016.

117
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

3.3 AS CORES E IMAGEM


Para atuar no mercado internacional é necessário ter cuidado com as cores
e imagem. Por sermos um país de cultura latina, todas as cores são aceitas com
naturalidade, assim como a imagem do produto.

No mercado internacional estes detalhes podem impactar diretamente na


aceitação dos produtos, uma cor ou imagem errada pode gerar grandes estragos na
negociação. Devido a isso, muitas empresas desenvolvem seus produtos seguindo
as especificações solicitadas por seus clientes.

A imagem de um sorriso de um bebê de bochechas fartas ajudou a


vender inúmeros frascos de comida para bebê da marca Gerber. Porém, quando
a Gerber comercializou seu produto para a África, manteve a imagem no frasco.
O que não sabia é que em muitos países africanos a imagem no frasco mostra
exatamente o que tem dentro dele. Sem ler o que estava escrito, a imagem não
foi bem aceita.
FONTE: Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/negocios/grandes-empresas/
noticia/3560254/erros-desastrosos-que-marcaram-campanhas-marketing-grandes-empresas>.
Acesso em: 2 jun. 2016.

3.4 O IDIOMA
A questão do idioma já deixou muitos chefes de Estado em situações
embaraçosas. No mercado internacional ficou estabelecida a utilização de dois
idiomas:

• Espanhol para ser utilizado entre os povos de colonização espanhola.


• Inglês para os demais países do mundo.

Isto não impede que os profissionais que atuam no comércio internacional


possam falar o idioma local da região com que pretendem negociar. Porém, a
questão do idioma deve ser considerada com muito cuidado, pois mesmo quando
existem países que utilizam o mesmo idioma, existem diferenças nos significados
das palavras.

Jimmy Carter sente "desejo carnal" pelos poloneses

Em 1977, o presidente americano Jimmy Carter visitou a Polônia, ainda


sob domínio comunista, e em um discurso público tentou exprimir como estava
contente de conhecer o país. Só que seu tradutor cometeu alguns equívocos e a
mensagem acabou sendo entendida de uma maneira bem diferente. Em inglês,
Carter havia dito para os poloneses "Eu vim para conhecer as suas opiniões e
entender suas expectativas em relação ao futuro". Mas o tradutor da comitiva
americana acabou afirmando para os poloneses que o presidente "desejava os
poloneses de maneira carnal", provocando espanto entre os presentes. Por fim,

118
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

quando o presidente disse que havia deixado os EUA para viajar, o tradutor
interpretou a frase como se Carter houvesse "abandonado" os EUA para sempre.

FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/lista-dez-gafes-diplomaticas>.


Acesso em: 2 jun. 2016.

3.5 A RELIGIÃO
A religião é um ponto que provoca grandes discussões a nível interno em
nosso país. Quando elevado ao mercado internacional, este tema eleva a tensão. Para
muitas culturas este tema influencia diretamente nas negociações internacionais,
assim, as empresas, junto com seus profissionais, devem respeitar e se adequar às
exigências de seus clientes.

O comércio internacional não exige mudanças dos envolvidos em suas


crenças, porém, o respeito e o conhecimento evitam impasses e potencializam o
sucesso das negociações.

As culturas diferem entre si, mesmo em países que utilizam a mesma língua,
como EUA, Austrália e Inglaterra, ou como México, Espanha e a Argentina. Existem
maiores semelhanças alimentares entre um brasileiro do Sul e um argentino, que
entre um peruano e um argentino.

Conhecer suas similaridades e suas diferenças proporciona uma vantagem


competitiva durante as rodadas de negócio. Empresas como McDonald’s usam a
similaridade cultural como um importante indicador para auxiliar na decisão de
qual país investir.

O mercado global exige das empresas profissionalismo no processo de


comercialização, seja nas rotinas de compra e venda, na prospecção de parcerias,
clientes, entre outros.

Com a globalização dos mercados e a abertura das economias internacionais,


existe uma vasta linha de oportunidades que as empresas e profissionais ligados
ao comércio exterior podem explorar. O sucesso na expansão de seus horizontes
vai depender do quanto eles estiverem preparados para atuar nesses mercados.

4 PAÍSES COM DISPOSIÇÕES PECULIARES


Conforme Kuazaqui (2007), de maneira geral, as sociedades podem ser
orientadas e analisadas sob diferentes aspectos, sendo os mais básicos ligados
à iniciativa do indivíduo. Preliminarmente, a análise pode ser efetuada a partir
de como as diferentes culturas encaram o relacionamento interpessoal em sua
sociedade.

119
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

A seguir, apresentaremos alguns países que possuem peculiaridades


diferentes que a do Brasil.

4.1 CHINA
Sua cultura é milenar, assim, os chineses possuem costumes diferentes dos
nossos no processo de negociação.

Os chineses são formais, não existe contato físico além de um aperto de


mão, que deve partir sempre do anfitrião. Em seus primeiros encontros comerciais
é de costume trocarem cartões de visitas, e neste caso é desrespeito pegar ou
entregar o cartão de visita com apenas uma das mãos.

As visitas comerciais devem ser previamente agendadas com certa


antecedência, além disto, também deve ser encaminhada uma programação sobre
as intenções das visitas.

O chinês priva pela construção de um relacionamento, desta maneira é


comum que entre as rodadas de negociações existam os convites para jantar e
almoço. Porém, nestes eventos não é tratado de negócios.

Outro ponto marcante de sua cultura é a paciência, as negociações podem


levar um certo tempo até que estejam concluídas. Eles privam pelos detalhes
durante as negociações e só concretizam os negócios quando todos os pontos
julgados importantes estão bem alinhados.

4.2 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Para os norte-americanos tempo é dinheiro, assim, é necessário seguir as
regras durante as negociações, atrasos de horários nas reuniões demonstram falta
de profissionalismo.

Os prazos devem ser seguidos e cumpridos, seja nas entregas de propostas


comerciais, de mercadorias ou respostas aos e-mails. O contato físico deve ser
evitado, sendo as apresentações feitas de acordo com a posição hierárquica.

Ao contrário dos chineses, os norte-americanos utilizam o horário de


breakfast para fechar negócios, também podem ocorrer várias reuniões no mesmo
dia, porém, todas as comunicações entre as partes devem ser claras e diretas, e as
respostas devem ser corretas.

120
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Para negociar com empresas norte-americanas é preciso um inglês, no


mínimo, intermediário, caso contrário, podem surgir conflitos de informações
devido a interpretações incorretas de palavras.

4.3 ARÁBIA
Na cultura árabe existe um provérbio que diz; “Se não se negocia de forma
rentável, não se negociará durante muito tempo”. Este provérbio é seguido por
muitos dos empresários dessa cultura.

Todas as negociações realizadas com empresas de países árabes devem


possuir contrapontos de ganhos para ambos os lados, caso contrário, dificilmente
elas chegam ao final.

A língua árabe é a força unificadora de todos os países da região, assim,


quando um profissional da área de comércio exterior sabe falar a língua deles,
isto gera pontos positivos nas negociações. Muitos empresários árabes possuem
fluência em dois ou mais idiomas utilizados pelos países ocidentais, como inglês,
francês e espanhol, o que pode facilitar nas negociações.

A cultura islâmica está enraizada nestes países e qualquer tipo de negociação


pode sofrer influências devido às suas crenças e costumes.

Esta situação pode ser vista em empresas brasileiras que exportam


frango para estes países. Conforme a crença islâmica, a carne de frango, para ser
consumida, deve seguir suas normas quanto ao abatimento do animal, posição do
frigorífico, crença do profissional envolvido com este processo.

As negociações sempre estão ligadas ao seu entorno, seja ele pelo deserto,
clima, meio social ou político. O tempo para os árabes é diferente do relógio, pois
mesmo tendo o entendimento de que “tempo é dinheiro”, eles desenvolvem as
negociações considerando cada ponto acordado, o que pode arrastar as negociações
por certo tempo.

Nas negociações ou acordos comerciais é preciso ter paciência, pois não


existe uma decisão rápida, mas quando ocorre isto pode render bons frutos no
futuro.

121
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

4.4 JAPÃO
O Japão possui em sua característica a cortesia, tecnologia e paciência. As
negociações com empresas e empresários do país podem ser um desafio, pois sua
cultura, costumes, estrutura e hábitos são diferentes de todos os países ocidentais.

Em geral, as relações comerciais japonesas são marcadas pelo tempo, seja


pelo período que envolve as negociações, até a tomada de decisão.

Mesmo quando a empresa possui um bom produto ou serviço a ofertar,


o processo de negociação até sua finalização não ocorre de forma rápida. As
negociações são realizadas por uma comitiva formada por vários profissionais
que são responsáveis pelas áreas que envolvem as negociações. Neste formato, a
decisão de “fechar ou não” a negociação nunca é tomada por apenas um indivíduo.

As negociações são feitas seguindo a hierarquia de responsabilidades


dentro da organização, onde cada responsável negocia a outra ponta do mesmo
nível hierárquico. Quando não existe uma hierarquia definida na outra parte,
os japoneses se sentem incomodados, e isto pode acabar influenciando nas
negociações.

Antes de iniciar uma negociação com este mercado é preciso conhecer seus
costumes, hábitos e sua cultura. Com base nestas informações, o profissional ou
empresa poderá preparar todas as informações necessárias para ter êxito em suas
negociações.

LEITURA COMPLEMENTAR

NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL:
ASPECTOS COMPORTAMENTAIS E CULTURAIS
Leila Rockert

A globalização criou novas exigências ao mercado de trabalho e está


impondo a todos a necessidade de buscar aperfeiçoamento pessoal e profissional.

Desta forma, cada vez mais os profissionais, e especialmente aqueles que


por força da posição têm que estar em contato ou negociar com outras culturas,
terão que construir um conhecimento sobre essas culturas e ampliar a forma de
comportamento quando inseridos nelas.

Importância da cultura como elemento da negociação

Gostaria, desde já, de convidar todos a ampliarmos o leque deste tema.


Até porque os aspectos culturais e comportamentais são aspectos que por vezes
parecem não tão importantes, parecem subjetivos, mas que interferem diretamente
no resultado da negociação.

122
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Em primeiro lugar:

Precisamos ter em mente o fato de que mesmo o indivíduo pertencendo a


uma mesma cultura, as representações e significações são diferentes. E quando se
trata de negociação, estamos falando de vários indivíduos sentados ao redor de
uma mesa e, consequentemente, uma pluralidade de representações e significações.

Isso já denota, por si só, a complexidade de um processo de negociação e


a necessidade de compreensão da importância do conhecimento da cultura neste
processo.

Em segundo lugar:

Também é importante ter em mente o fato de que, mesmo pertencendo a


uma mesma cultura, as empresas têm representações e significações diferentes.
Que elas também recebem uma carga cultural diferente, apesar de estarem dentro
da mesma nação ou, às vezes, dentro da mesma cidade. Cada empresa constrói
uma cultura que é própria, que é pessoal.

Se pegarmos no Brasil, por exemplo, uma cultura com raízes americanas


muito forte, verificamos que se criou uma forma de relação entre os empregados
e deles com o mercado que é diferente de outras empresas que nasceram
completamente nacionalizadas.

Podemos pensar, por exemplo, que existem culturas corporativas onde a


imagem do fundador é muito forte e determina o comportamento dos empregados
de tal maneira que essa cultura acaba se diferenciando do restante. Então, percebe-
se que a figura do fundador, a cultura do fundador é determinante na cultura
empresarial. Quem fundou, que diretrizes iniciais deu para o negócio, o que é
muitas vezes determinante de como essa empresa inclusive se relaciona com o
próprio mercado.

Quando isso fica claro na percepção do negociador, ele começa a ter


entendimento da complexidade na diversidade cultural.

Num processo de negociação, os negociadores levam todos esses elementos


para fora de seu país, isso se torna sua estrutura de apoio. As culturas envolvidas
estarão contribuindo com representações e significações de ambos os lados,
porque, independentemente do que esteja sendo negociado, há interação entre
pessoas, entre comportamentos empresariais.

Portanto, as representações e significações podem ser fatores que interferem


na interpretação de sucesso ou fracasso na negociação.

123
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

Isto pode ser exemplificado claramente no filme "Fábrica de Loucura",


quando um americano entra na sala de negociação e apresenta o produto: uma
fábrica que quer negociar e ao final da exposição tem a expectativa de ser crivado
por uma série de perguntas enquanto os japoneses permanecem calados. Sai da
sala de negociação e retorna ao seu país com a sensação de fracasso, para só mais
tarde descobrir que não foi este o resultado. Situações como esta ocorrem no
cotidiano das pessoas e com muita clareza nas situações de negócio.

Com o volume de negócios que vem crescendo de forma vertiginosa, entre


países que compõem os mercados globalizados, não é possível não se preocupar
com a importância de ter negociadores preparados para esta realidade.

O desenvolvimento da competência negocial

Desenvolver o perfil do negociador é algo que se faz premente em qualquer


empresa que pretenda permanecer atuante no mercado.

O mercado já não aceita mais profissionais que lancem mão de soluções


caseiras, posturas espertalhonas, conhecimentos restritos em relação ao seu papel.

O mercado exige que os profissionais que se sentam à mesa para negociar


com outras culturas, não importa se mesmo no Brasil ou em Cingapura, saibam que
as pessoas carregam consigo algumas estruturas de apoio, elementos nucleares da
cultura e da história pessoal, que vão juntos para a mesa de negociação.

Essa estrutura de apoio, na verdade, são os valores que o negociador


apreendeu ao longo da sua experiência pessoal e profissional e que ficam mais
fortes, mais acirrados no momento de negociação.

Se pensarmos, por exemplo, um negociador saindo do Brasil para negociar


na China ou no Japão, o grande apoio que ele tem, a grande retaguarda dele e a
conservação dos seus valores. Ele não pode chegar numa negociação e simplesmente
abrir mão de todos os valores e agir com novos valores. Ele possui alguns valores
dos quais não poderá abrir mão. São aqueles símbolos chamados nucleares, que
não sofrem transformações, não importa o grau de aculturação.

É nesse processo que também o outro negociador chega à mesa de


negociação carregando as mesmas estruturas de apoio, provenientes da sua cultura
e história pessoal para interagir durante as negociações. Porque esse é o esteio que
todo negociador tem, é o que consegue trazer junto.

Quando ele traz isso para a mesa de negociação num país completamente
diferente, numa cultura diferente, o que ele está fazendo? Ele está se apoiando
nesses elementos de cultura.

124
TÓPICO 4 | QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

A construção desse conhecimento fará uma enorme diferença no perfil do


negociador. Se ele for uma pessoa que tem uma percepção cultural ampla, dos
traços e valores de determinada cultura, seja porque interagiu com essas culturas
e introjetou a experiência, seja porque busca um entendimento da diversidade
cultural.

Essa amplitude, em relação à diversidade de culturas, permitirá ao


negociador interagir com maior flexibilidade em relação a outras culturas, entender
que respeitar a cultura do outro não significa submissão. Significa integração,
interação e interpelação das culturas de tal maneira que seja importante que os
dois lados sintam que tiveram sucesso na negociação, uma vez que estão em cena
não só os valores das pessoas, mas também das organizações. Então, podemos
dizer que esse profissional tem um perfil de negociador diferenciado.

A construção desse conhecimento fará uma enorme diferença no perfil do


negociador. Poderemos dizer que ele formou uma personalidade de negociador
quando desenvolveu uma amplitude de contato com a diversidade cultural e tiver
entendimento de que para se ter sucesso numa negociação é preciso respeitar a
cultura do outro e que isso não se traduz em submissão. Significa integração e
interação das culturas de tal maneira que os dois sintam que tiveram sucesso na
negociação, uma vez que está em jogo não só os valores das pessoas, mas também
os das organizações.

O que fazer para ampliar a competência negocial?

Um dos grandes desafios nesse processo de desenvolvimento do perfil do


negociador é minimizar a insistência por parte de alguns profissionais em querer
focar o processo de negociação no aprendizado somente das técnicas de negociação
e no engessamento ou ‘manualização’ de alguns comportamentos culturais, por
exemplo: no Japão entregue o cartão assim..., nos EUA não se atrase etc.

E com isso muito se perde na construção do conhecimento dos aspectos


culturais e comportamentais.

A produção desse conhecimento em sintonia com as técnicas, os estilos de


negociação e as etapas de preparação de uma negociação resultam na performance
do negociador e, consequentemente, na sua competência negocial.

Esperamos que os profissionais que estejam atentos aos cenários e à chamada


"Era da Competência" ampliem seu foco em relação à questão do desenvolvimento
da competência negocial. E que apesar de ser do cotidiano dentro da empresa, o
processo de negociação tem nuances e sutilezas muito importantes que devem
passar por um processo de planejamento antecipado, de tal maneira que a empresa
conte com verdadeiros negociadores que sejam capazes de levar os seus princípios,
valores e cultura empresarial para qualquer processo de negociação, tendo a
flexibilidade e a capacidade de estabelecer processo interativo onde obtenham o
sucesso.

125
UNIDADE 2 | ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL

Uma atitude interativa e de respeito, onde a cultura seja um aliado do


processo de negociação.

ROCKERT, Leila. Negociação internacional: Aspectos comportamentais e culturais. Disponível


em: <http://www.guiarh.com.br/p10.htm>. Acesso em: 8 jul. 2016.

126
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, vimos que:

• O mercado externo possui características diferentes que o interno, devido a esta


situação as organizações precisam compreender as características do mercado-
alvo para obterem sucesso em suas negociações.

• Existem disponíveis, para as organizações em comércio exterior, empresas


privadas e órgãos governamentais especializados em gerar informações
pertinentes ao mercado externo.

• O mercado é classificado em cinco mercados: primitivo, subdesenvolvido, semi-


industrializado, industrializado e desenvolvido. Cada classificação está ligada
ao grau de desenvolvimento do país.

• Apesar de cada mercado possuir uma característica diferente, independentemente


de sua variação, algumas questões devem ser consideradas, como tempo,
protocolos de cumprimento e cordialidade, cores e imagens, idioma e religião.

127
AUTOATIVIDADE

1 O comércio exterior é uma área que proporciona grandes


oportunidades de negócios para as organizações que se dispõem
a atuar na área. O sucesso das negociações está ligado diretamente
ao quanto as organizações estão preparadas para atuar no
mercado externo, pois atuar na área exige das organizações
conhecimento sobre o mercado-alvo. Atualmente, como as
organizações podem obter informações sobre os mercados?

2 O comércio exterior apresenta particularidades complexas que afetam


diretamente as negociações. Existe uma grande diferença na forma de
comercialização do mercado interno para o externo, porém esta atividade
passou a ser indispensável para muitas empresas, chegando a ser considerado
um fator de sobrevivência. Dos fatores a seguir, quais podem gerar impactos
no processo de comercialização internacional?

I - Distância geográfica.
II - Crenças e costumes.
III - Idioma.
IV - Demanda do mercado interno.

Assinale a alternativa correta.


a) ( ) Apenas os fatores I, II e III estão corretos.
b) ( ) Apenas os fatores II e IV estão corretos.
c) ( ) Apenas os fatores I e III estão corretos.
d) ( ) Todos os fatores estão corretos.

3 Em uma análise sobre as empresas que atuam na comercialização de


produtos é possível identificar os perfis das empresas. Esta análise se baseia
na disposição das organizações em adequar seus produtos para atender as
necessidades dos diversos mercados em que ela atua. Com base nos estudos
apresentados deste tópico, cite os três modelos:

4 O mercado global é classificado em cinco modelos, segundo Costa e Santos


(2011). Associe as sentenças, classificando suas definições conforme o
mercado.

I - Mercados Primitivos.
II - Mercados Subdesenvolvidos.
III - Mercados Semi-industrializados.
IV - Mercados Industrializados.
V - Mercados em Desenvolvimento.

128
( ) Neste modelo existe uma evolução econômica que permite uma
diversificação de ramos de atuação e, por consequência, produtos e serviços,
gerando renda e lucros mais elevados.

( ) Estes mercados possuem uma economia do ponto de vista industrial mais


avançada que o modelo anterior. Nesta classificação, podemos identificar as
primeiras indústrias direcionadas a suprir as necessidades de componentes e
insumos e beneficiamento de matéria-prima.

( ) Este mercado possui grandes riquezas naturais e exporta partes desses


recursos em volumes consideráveis, como in natura ou commodities.

( ) Nesta classificação os países possuem uma economia pouco avançada,


pois possuem indústria de beneficiamento de matérias-primas destinadas à
exportação.

( ) São mercados onde a economia é movida basicamente pela produção


agrícola, com níveis básicos de industrialização.

A seguir, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a) ( ) V – IV – II – III – I.
b) ( ) I – II – III – IV – V.
c) ( ) II – I – IV – V – III.
d) ( ) IV – III – I – II – V.

129
130
UNIDADE 3

A NOMENCLATURA
COMUM DO MERCOSUL
(NCM) E OS INCOTERMS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

• identificar como é feita a codificação internacional das mercadorias;

• saber identificar uma mercadoria por meio de seu código NCM;

• saber quais são os termos de responsabilidade na comercialização


internacional;

• entender como são feitos os processos tanto de internacionalização como


de nacionalização das mercadorias;

• conhecer quais os meios de pagamento da comercialização internacional;

• saber interpretar entre comercialização direta e indireta e os conceitos de


precificação internacional.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você
deverá fazer as autoatividades respectivas, pois irão lhe ajudar a fixar melhor
o conhecimento estudado.

TÓPICO 1 – CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

TÓPICO 2 – A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA


COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONALTÓPICO

TÓPICO 3 – MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO


INTERNACIONAL

131
132
UNIDADE 3
TÓPICO 1

CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS


MERCADORIAS

1 INTRODUÇÃO
Após estudarmos como é a dinâmica econômica, comercial e financeira
internacional e sua influência no comércio exterior brasileiro, estamos no
momento de adentrar na parte operacional da comercialização internacional de
bens e serviços. Iniciaremos os estudos da parte comercial analisando “como” é
determinada a codificação de todos os bens comercializados ao redor do mundo.

Os processos de exportação e importação ficariam muito complexos sem


uma codificação padrão internacional das mercadorias a serem comercializadas.
Imagine se cada país fizesse sua própria codificação, qual seria o resultado disso?
Seria difícil identificar as mercadorias, pois para cada mercadoria teríamos diversos
códigos a serem traduzidos e codificados aos sistemas nacionais de cada país.

Inclusive, ficaria complexo para países que possuem o mesmo idioma.


Como acontece com o espanhol, falado em quase todos os países da América
Latina, com exceção do Brasil, e mais outros poucos países do mundo.

“[...] Mesmo os países que usarem nomenclaturas terão listas totalmente


diferentes umas das outras, já que cada uma foi definida nacionalmente. Haveria
tantas nomenclaturas quantos fossem os países” (LUZ, 2012, p. 299).

Como podemos observar, seria bem mais complexa a comercialização


entre países se não houvesse um padrão internacional de nomenclaturas. Essa
padronização internacional é feita por meio do Sistema Harmonizado (SH),
conforme iremos estudar a seguir.

2 A MERCEOLOGIA E O SISTEMA HARMONIZADO (SH)


O Sistema Harmonizado (SH) possui como objetivo principal a classificação
e padronização da identificação de todas as mercadorias a serem comercializadas
internacionalmente, desde as mais simples, como o grão de soja, até as mais
complexas e de altíssimo valor agregado, como um medicamento de última
geração que possui diversos insumos na sua composição.

133
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

O que está por trás desta padronização? A resposta é simples: ao existir


muitos nomes e códigos diferentes para o mesmo produto nos diferentes países,
os produtos devem ser classificados de uma forma bem objetiva, facilitando
assim a organização e classificação das operações de comércio internacional. Essa
padronização é realizada pelo Sistema Harmonizado (SH) e definida por meio da
ciência da Merceologia como:

[...] uma lista de produtos do mercado interno e/ou externo, ordenados


segundo convenções internacionais, levando-se em consideração a
matéria constitutiva, emprego, aplicação e outros aspectos relacionados
ao produto. Possui como objetivo evitar problemas de desentendimento
de ordem técnica entre os países, tais como questões de impostos,
nomenclaturas e denominação aduaneira dos produtos (MALUF, 2000,
p. 101).

De acordo com o exposto, podemos dizer que a Merceologia analisa e


determina a codificação e nomenclatura tanto das características técnicas como
comerciais de uma mercadoria determinada. Em outras palavras, a Merceologia
realiza o estudo, determinação e classificação das mercadorias, levando em
consideração: a composição, características físicas e químicas, componentes, usos,
entre outros.

O objetivo é a plena identificação e classificação internacional das diversas


mercadorias produzidas e comercializadas ao redor do mundo. Assim, seguindo
a lógica da Merceologia, as mercadorias devem ser caracterizadas e codificadas,
e isso no contexto internacional é feito por meio da designação e codificação de
mercadorias, conhecido como o Sistema Harmonizado (SH).

Com a implementação do sistema, todos (exportadores, importadores e


outros intervenientes e interessados) puderam, a partir de uma mesma
lente, enxergar o enquadramento legal-aduaneiro ao qual estarão
sujeitos cada um dos produtos objeto de trocas no mercado internacional
(BARBOSA, 2004, p. 499).

Deste modo, todas as análises da Merceologia feitas em cada país do mundo


devem convergir com os padrões de classificação do Sistema Harmonizado (SH).
Em termos de processos de comercialização, o SH possui os seguintes elementos
relevantes:

• Estrutura a normatização, padronização e organização das nomenclaturas.


• Define os termos, as descrições e os códigos dos produtos comercializados no
mundo inteiro.
• Permite que as práticas realizadas entre os vários acordos aduaneiros vigentes
entre os países possam ser aplicadas com o auxílio das nomenclaturas. 

Levando em consideração os elementos expostos acima, o SH facilita a


execução dos processos comerciais entre as nações e blocos econômicos, tal como
uma negociação comercial entre o Mercosul e a União Europeia (EU).

134
TÓPICO 1 | CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

2.1 CODIFICAÇÃO DO SISTEMA HARMONIZADO (SH)


Até agora estudamos o conceito do SH, mas ainda não vimos como é
o sistema de codificação do SH. No site do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apresenta-se, objetivamente, a composição
e a codificação do SH, conforme podemos observar a seguir.

A designação de mercadorias e o Sistema Harmonizado (SH)

O Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias,


ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH), é um método internacional de
classificação de mercadorias baseado em uma estrutura de códigos e respectivas
descrições.

Este sistema foi criado para promover o desenvolvimento do comércio


internacional, assim como aprimorar a coleta, a comparação e a análise das
estatísticas, particularmente as do comércio exterior. Além disso, o SH facilita
as negociações comerciais internacionais, a elaboração das tarifas de fretes e
das estatísticas relativas aos diferentes meios de transporte de mercadorias e
de outras informações utilizadas pelos diversos intervenientes no comércio
internacional.

A composição dos códigos do SH, formada por seis dígitos, permite que
sejam atendidas as especificidades dos produtos, tais como origem, matéria
constitutiva e aplicação, em um ordenamento numérico lógico, crescente e de
acordo com o nível de sofisticação das mercadorias.

O Sistema Harmonizado (SH) abrange:

• Nomenclatura: compreende 21 seções, compostas por 96 capítulos,


além das Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição. Os capítulos, por sua
vez, são divididos em posições e subposições, atribuindo-se códigos numéricos
a cada um dos desdobramentos citados. Enquanto o Capítulo 77 foi reservado
para uma eventual utilização futura no SH, os Capítulos 98 e 99 foram reservados
para usos especiais pelas partes contratantes. O Brasil, por exemplo, utiliza o
Capítulo 99 para registrar operações especiais na exportação.

• Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado:


estabelecem as regras gerais de classificação das mercadorias na Nomenclatura.

• Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH): fornecem


esclarecimentos e interpretam o Sistema Harmonizado, estabelecendo,
detalhadamente, o alcance e conteúdo da Nomenclatura.

FONTE: Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.


php?area=5&menu=1090>. Acesso em: 3 ago. 2016.

135
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

Assim, fica exposto, pela lógica e a dinâmica do SH, que o Brasil, por
meio do Mercosul, aplica nas suas atividades comerciais a codificação do Sistema
Harmonizado (SH). Esta codificação leva em consideração seis dígitos para
a identificação respectiva das mercadorias, codificação que possui a seguinte
sequência numérica: “0000.00”, números que representam:

• O Capítulo, os dois primeiros números -00- Isto é, a descrição geral do


produto, exemplo: Capítulo 20  “Preparações de produtos hortícolas, de frutas
etc”.

• A Posição, o capítulo mais dois -0000- Isto é, as características de


produtos dentro do Capítulo geral. No caso do “Capítulo 20” podemos citar a
mercadoria com a posição “2007”, a qual aborda o seguinte grupo de mercadorias:
doces, geleias, marmeladas, purês e pastas de frutas, que foram produzidos com
ou sem açúcar ou outros edulcorantes.

• A Subposição, o terceiro grupo -0000.00-. Se observar, já na Subposição


o produto possui os seis dígitos do SH. Assim, a Subposição é um derivado da
posição, exemplo disto: a posição 2007.99 representa uma mercadoria específica
desse grupo, neste caso: “Geleias e marmeladas”.

Essa é a sequência lógica utilizada no SH e que toda mercadoria


comercializada internacionalmente deverá possuir. Deste modo, cada país ou
bloco econômico utiliza como base referencial o SH para determinar sua própria
nomenclatura. No caso do Brasil e demais países do Mercosul, será a Nomenclatura
Comum do Mercosul (NCM).

3 A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM)


Como acabamos de ver, a NCM possui sua base de codificação no SH.
Isto origina um vínculo direto de codificação numérica a ser gerado para cada
produto comercializado. No caso da NCM é utilizado o código SH mais dois
dígitos próprios da nomenclatura dos países do Mercosul, ou seja, a NCM utiliza
oito dígitos, possuindo a seguinte sequência numérica: “0000.00.00”. Destes oito
dígitos que compõem a NCM devemos observar que:

• Os seis primeiros são do Sistema Harmonizado.


• Os dois últimos – o sétimo e o oitavo dígito – correspondem aos
desdobramentos específicos atribuídos no âmbito do Mercosul.

Observe a seguinte sequência lógica de codificação NCM.

136
TÓPICO 1 | CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

FIGURA 3 – CODIFICAÇÃO DAS MERCADORIAS SOB A NCM

FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/ncm/>. Acesso em: 31 ago. 2016

Observe que na codificação exposta acima fica bem clara a estrutura da


numeração para qualquer produto a ser comercializado nos países-membros
do Mercosul. Na continuação iremos observar somente uma parte da tabela de
produtos codificados sob a NCM, tabela que sistematicamente mostra os capítulos
das mercadorias classificadas na NCM, aliás, capítulos com vínculo direto ao
sistema de codificação SH.

137
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

QUADRO 5 – CAPÍTULOS DA NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL – NCM

FONTE: Adaptado de <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.


php?area=5&menu=411>. Acesso em: 31 ago. 2016.

Os primeiros capítulos da tabela correspondem às mercadorias com


menor valor agregado, e à medida que vai aumentando o valor agregado de uma
mercadoria, maior será o capítulo. Os capítulos vão desde o 01 até o 99. Observe
que a mercadoria possui sua própria NCM, exemplo: qual será a NCM da cebola
em seu estado natural? A cebola possui a NCM nº 0712.20.00, ou seja:

138
TÓPICO 1 | CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

• Capítulo: dois primeiros dígitos do SH  07, produtos do reino vegetal,


hortícolas, plantas, raízes e tubérculos.
• Posição: quatro primeiros dígitos  0712, produtos hortícolas, plantas,
raízes e tubérculos secos, mesmo cortados em pedaços ou fatias, ou ainda triturados
ou em pó, mas sem qualquer outro preparo.
• Subposição: seis primeiros dígitos  0712.20, cebolas.
• Item e Subitem (NCM): sete e oito dígitos  0712.20.00.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CONFORME A NCM


Acabamos de ver que a cebola possui NCM nº 0712.20.00, mas como
procurar a NCM de um produto que ainda não sabemos sua respectiva codificação?
Vamos supor que desejamos importar chocolate belga em barra.

FIGURA 4 – CHOCOLATE EM BARRA

FONTE: Disponível em: <http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/


exibir.asp?noticia=chef-paulo-vitor-fala-sobre-o-universo-do-chocolate-e-suas-
variacoes&id=10492>. Acesso em: 1º set. 2016.

Para fazer isso devemos vincular o produto com sua função e sua natureza
técnica ou natureza de uso comercial. Hoje podemos fazer isso de várias maneiras,
e entre as ferramentas disponíveis temos à disposição o site de busca da Receita
Federal: <http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/PesquisarNCM.jsp>. No
site da Receita Federal há a facilidade de analisar diversos tipos de mercadorias
e condições administrativas da comercialização internacional. No exemplo do
chocolate em barra teremos:

139
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

QUADRO 6 – BUSCA NCM DE CHOCOLATE EM BARRA

FONTE: Adaptado de <http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/PesquisarNCM.jsp>. Acesso


em: 1º set. 2016.

Como podemos observar, a busca é simples e efetiva, e quando precisar


você poderá pesquisar a NCM de diversos produtos, dos mais simples aos mais
complexos, todos possuem uma codificação referencial de NCM. Contudo, antes
de escolher a NCM é recomendável conferir sua codificação, especialmente
com profissionais da área de comércio exterior. Algumas vezes, dependendo da
natureza e opções de valor agregado da mercadoria, pode existir mais de uma
opção, nestes casos é conveniente analisar os seguintes pontos antes de fazer a
escolha:

• Observar as taxas de importação das possíveis NCMs.


• Verificar possíveis medidas antidumping.
• Pesquisar se há possíveis acordos comerciais entre países ou blocos
econômicos, que possam permitir descontos sobre a taxa de importação.
• Verificar se há barreiras não tarifárias à NCM escolhida, as quais poderiam
atrapalhar o processo de comercialização internacional.

4 A TARIFA EXTERNA COMUM (TEC) E TRATAMENTOS


ADMINISTRATIVOS
Como podemos conferir o valor da taxa de importação de um produto
quando somente sabemos a NCM deste? Toda NCM possui atrelada uma tarifa
referencial da taxa de importação. Essa tarifa, no Brasil e demais países do Mercosul,
é conhecida como Tarifa Externa Comum (TEC). Deste modo, os códigos das
NCMs constituem a base da Tarifa Externa Comum (TEC), ou seja, para cada NCM
existe uma TEC. Assim, há um vínculo direto entre a Nomenclatura Comum do
Mercosul (NCM) com a TEC que define as taxas de importação incidentes sobre
cada um dos códigos NCM dos países do Mercosul.

140
TÓPICO 1 | CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

Devemos observar que a TEC é igual para todos os países do Mercosul,


e que a ela se aplicam as importações provenientes dos países-membros e não
membros do Mercosul. Isto quer dizer que toda importação que o Brasil executa
proveniente de um país-membro do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai) ou
de países fora do bloco terá sua respectiva Tarifa Externa Comum (TEC). Porém,
os países-membros do Mercosul possuem direito de desconto de 100% sobre a TEC
de um produto importado de outro país do Mercosul.

Vamos supor que uma empresa brasileira está importando da Argentina.


Apesar de o produto estar vindo da Argentina, a importação terá tarifa de
importação em função de sua TEC, porém, como a mercadoria está vindo de um
país-membro do Mercosul (neste caso, da Argentina), terá direito de desconto de
100% da TEC. No entanto, para ter direito a esse desconto, o importador deverá
apresentar o certificado de origem, atestando que a mercadoria é fabricada em
um dos países-membros, ou seja, a tarifa de importação, aqui no Brasil, será
exatamente a mesma para um produto vindo da Argentina, dos Estados Unidos ou
da França, ou de qualquer outro país, mas se a mercadoria é de um país-membro
do Mercosul, a mercadoria terá direito ao desconto de 100% da TEC, caso confirme
a fabricação Mercosul por meio do Certificado de Origem. Exemplificando:

• Se uma empresa da Argentina deseja importar queijo vindo da França, a


sua TEC será de 16%.

• Se uma empresa do Brasil deseja importar o mesmo produto vindo da


França, a sua TEC será de 16%.

• Se a empresa brasileira deseja importar queijo vindo do Uruguai, a TEC


será igual de 16%? A resposta é SIM! Mas ela terá direito de desconto de 100%
sobre essa TEC. Assim, a taxa efetiva de importação será de 0%, sempre e quando
apresentar Certificado de Origem.

Eis o porquê: a TEC é comum para todos os países-membros, pois é a “Tarifa


Externa Comum”, isto é, uma tarifa igual, e comum, para todos os países-membros
do Mercosul. Os valores da TEC para cada Nomenclatura Comum do Mercosul
podem ser verificados por meio da tabela TEC providenciada e atualizada pelo
MDIC.

141
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

NOTA

Se desejar saber detalhes sobre as taxas TEC ou se desejar saber o valor específico
de uma TEC, você pode acessar o site do MDIC, através do link: <www.mdic.gov.br/arquivos/
dwnl_1339698278.xlsx>.

Nessa tabela podemos analisar a NCM das mercadorias com sua respectiva
taxa TEC. No exemplo do queijo, exposto anteriormente, falamos que sua TEC era
de 16%. Essa taxa podemos conferir observando a Tabela TEC do grupo de produto
que pertencem ao Capítulo nº 4, correspondente aos seguintes produtos: Leite e
laticínios; ovos de aves; mel natural; produtos comestíveis de origem animal, não
especificados nem compreendidos em outros capítulos, conforme a parte de tabela
exposta a seguir:

142
TÓPICO 1 | CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS

TABELA 1 – PARTE DA TABELA TEC DO CAPÍTULO Nº 04

FONTE: Disponível em: <www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1339698278.xlsx>. Acesso em: 5 set.


2016.

Observamos somente o Capítulo nº 04 com a posição 06, isto é, 0406, grupo


de mercadorias que pertencem aos queijos e requeijões, os quais possuem uma
série de subposições adicionais, conforme podemos ver acima. Agora, imagine
quanta informação há para todas as NCMs registradas. É exatamente por isso que
sempre é necessário focar a busca em função das características e aplicações do
produto. Resumindo, podermos afirmar que a TEC:

• Baseia-se no Sistema Harmonizado e é organizada sua taxa de acordo com a


NCM.
• Aplica-se ao comércio de produtos entre países-membros do Mercosul e para o
comércio destes países com o resto do mundo.

143
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

• Estabelece tributos aduaneiros uniformes para o comércio dos países do


Mercosul.
• Padroniza o tratamento administrativo das mercadorias para todos os países,
isto em função das qualidades e características das mercadorias.

Assim, podemos dizer que a Tarifa Externa Comum (TEC) é a base


referencial para a cobrança do Imposto de Importação (II) aqui no Brasil e nos
demais países-membros do Mercosul. Isto quer dizer que no momento de
importar, a base referencial da taxa do Imposto de Importação será baseada na
TEC, e logo depois, considerando convênios entre países, irá se definir o Imposto
de Importação definitivo de uma determinada importação.

144
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A merceologia é a ciência que estuda as características tanto técnicas como de


composição das mercadoras, sendo que esta ciência é a base para definir os
códigos dos produtos sob o Sistema Harmonizado (SH).

• O Sistema Harmonizado (SH) é a base da codificação e classificação padronizada


das mercadorias a serem comercializadas internacionalmente.

• O vínculo entre a SH e a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) implica


que as mercadorias sob a NCM estão baseadas na SH.

• A busca da NCM de uma determinada mercadoria, utilizando ferramentas de


busca disponibilizadas pela Receita Federal.

• Para cada mercadoria codificada na NCM existe uma TEC.

• A análise da TEC é a aplicação de tarifas de importação a serem pagas no


momento de executar um processo de importação.

145
AUTOATIVIDADE

1 Sabemos que no comércio internacional comercializa-se


diversas mercadorias desde as mais simples até as mais
complexas. Para evitar confusões entre os países as mercadorias
possuem códigos padronizados. Defina para que serve cada
etapa:

a) Por que existe a padronização.


b) Qual o sistema de codificação internacional.
c) Qual sistema define a padronização das mercadorias.

2 Cada ano o mundo moderno inventa novos produtos, faz mercadorias com
insumos diferentes, entre outras inovações, isto é, constantemente estamos
refazendo as mercadorias necessárias para a sociedade moderna, estas
mercadorias são comercializadas no mundo todo. Para a padronização de
seus códigos existe a SH e o sistema da Merceologia. Defina qual o objetivo
da Merceologia.

3 A análise da Merceologia, feita em todos os países, converge com os


padrões das convenções internacionais por meio da classificação do Sistema
Harmonizado (SH). Diante do exposto, determine quais os elementos mais
relevantes do SH.

4 A codificação internacional das mercadorias SH considera


seis dígitos para a identificação respectiva das mercadorias,
sendo: “0000.00”. Assim, cada mercadoria terá seu código
específico, exemplo: o código SH 19.0531 representa um
grupo de mercadorias sobre o capítulo “19”. E se acrescentar
neste código mais dois dígitos teremos o código NCM 19.053100.Faça
uma pesquisa no site: <http://www4.rec eita.fazenda.gov.br/simulador/
PesquisarNCM.jsp?codigo=19053&codigoCapitulo=19&codigoPosicao=1905
&codigoSubPosicao1=19053> e classifique esse código NCM, especificando o
Capítulo, a Posição, e a Subposição, ou seja, especifique o tipo de mercadoria
que estamos tratando.

5 Seguindo a sequência da questão anterior, classifique o código NCM 19.021100,


especificando o Capítulo, a Posição, e a Subposição, ou seja, especifique que
tipo de mercadoria é. A mercadoria desse código é diferente? Por quê?

6 Uma vez identificado o código NCM de qualquer produto, podemos definir


qual será a tarifa de imposto a ser paga quando há a necessidade de importar
determinado produto. Como podemos identificar a tarifa de importação?

146
UNIDADE 3 TÓPICO 2
A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA
COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
No mercado nacional, para cada acordo de compra existem obrigações
tanto por parte do vendedor como por parte do comprador. Entre essas obrigações,
e dependendo dos termos do contrato de compra, haverá toda uma logística de
entrega da mercadoria até o local desejado pelo comprador. Exatamente igual
acontece no mercado internacional, mas a grande diferença é que os termos de
compra acordados entre o vendedor e o comprador estarão sujeitos a estritos
padrões internacionais de acordos comerciais e de condições de logística.

Neste tópico iremos estudar sobre as obrigações do vendedor (exportador),


as obrigações do comprador (importador). Após entender as obrigações dos
acordos comerciais, iremos estudar a logística negociada nesses acordos comerciais
entre as partes, isto é, entre o exportador e o importador. E, para finalizar,
estaremos abordando a questão de como é formalizada a internacionalização de
uma exportação, isto é, quando uma mercadoria está saindo do país; e como é
nacionalizada uma importação, isto é, quando uma mercadoria está entrando no
país.

2 OBRIGAÇÕES NA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL


Segundo as convenções internacionais, especificamente a Convenção de
Viena, existe todo um procedimento formal a ser seguido pelas partes interessadas
no momento de fazer uma comercialização internacional.

[...] A convenção dispõe que uma proposta, tendente à conclusão de


um contrato, dirigida a uma ou várias pessoas determinadas, constitui
uma proposta contratual se for suficientemente precisa e se indicar a
vontade de o seu autor se vincular em caso de aceitação. Uma proposta
é considerada suficientemente precisa quando designa as mercadorias e,
expressa ou implicitamente, fixa a quantidade e preço ou dá indicações
que permitam determiná-los (LUZ, 2012, p. 381).

Nesta citação, o autor fala sobre pessoas, neste caso, entende-se que pessoas
abrangem todo o universo de pessoas físicas e jurídicas, isto é, em termos básicos:
os contratos internacionais podem ser feitos entre uma empresa exportadora,
ou pessoa física exportadora; um intermediário, se houver; e uma empresa
importadora, ou pessoa física importadora.
147
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

DICAS

Você já ouviu sobre a Convenção de Viena sobre tratados internacionais? Nesta


convenção, realizada em Viena, Áustria, no ano de 1969, foram estabelecidos os direitos que
possuem os Estados e seus cidadãos nos acordos comerciais internacionais de mercadorias,
acordo internacional de que o Brasil faz parte. Caso queira saber mais sobre a Convenção de
Viena, sugerimos acessar aos seguintes sites:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm>;
<http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Conven%C3%A7%C3%A3o-
de-Viena-sobre-o-Direito-dos-Tratados-entre-Estados-e-Organiza%C3%A7%C3%B5es-
Internacionais-ou-entre-Organiza%C3%A7%C3%B5es-Internacionais.pdf>

Uma vez aceito o acordo comercial entre as partes, haverá todo um


procedimento formal de obrigações, tanto para o vendedor (exportador) como
para o comprador (importador). Segundo a Parte III da Convenção de Viena, o
vendedor e o comprador possuem as seguintes obrigações:

O vendedor obriga-se, nas condições previstas no contrato e na


Convenção de Viena, a entregar as mercadorias, a transferir a
propriedade sobre elas e, se for o caso, a remeter os documentos que se
lhes referem. A Convenção dispõe, por exemplo, onde deve ocorrer a
entrega da mercadoria, caso o local não tenha sido definido no contrato.
Caso não tenha sido indicado no contrato o prazo para a entrega do bem,
esta deve ocorrer em período razoável, após a conclusão do contrato.
O comprador obriga-se a pagar o preço e aceitar a entrega das
mercadorias conforme as condições previstas no contrato. No
entanto, se o momento ou o local de entrega não estiverem definidos,
a Convenção supre as lacunas, apontando momentos e locais para o
cumprimento das obrigações. O vendedor pode conceder ao comprador
prazo complementar ao previsto originalmente no contrato (LUZ, 2012,
p. 382-383, grifos do original).

Como podemos observar, existem acordos internacionais que incorporam


a formalização de negociações comerciais entre pessoas e/ou empresas ao redor
do mundo, permitindo que a comercialização internacional de mercadorias possa
ter bases legais para determinar direitos tanto do vendedor como do comprador
entre países. Também observamos que entre as obrigações das partes deve existir
definição de onde será entregue a mercadoria ao comprador.

Essa entrega pode acontecer tanto no país de origem (do exportador) como
no país de destino (do importador), dependerá do que for definido no acordo
comercial entre as partes. No entanto, para poder padronizar a formalização da
entrega e delinear obrigações de logística internacional entre as partes, existem as
condições de logística dos Incoterms, conforme estudaremos a seguir.

148
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

3 CLASSIFICAÇÃO E RESPONSABILIDADES DOS INCOTERMS


Os Incoterms são usados em toda transação de comércio internacional,
termo de uso que é a junção de três palavras do inglês: International Commercial
Terms, que no português quer dizer: Termos Internacionais de Comércio. Os
Incoterms foram normatizados no ano de 1936, pela Câmara de Comércio
Internacional (CCI), e desde esse ano vêm surgindo novas versões a cada 10 anos
em função das mudanças das práticas comerciais e de logística, sendo a última
modificação do ano 2010.

Existem 11 termos “Incoterms”. O que implica um termo “Incoterm”?


Podemos dizer que cada um dos 11 Incoterms vigentes indica os direitos e
responsabilidades tanto do vendedor como do comprador durante o processo
de comercialização internacional, definindo os direitos e deveres das partes até a
entrega da mercadoria, seja no país de origem ou no país de destino. Neste sentido:

[...] o termo FOB (Free on Board – Livre a Bordo) impõe que o vendedor
tem a responsabilidade de entregar a mercadoria a bordo do navio, mas
sem precisar pagar o frete internacional ou seguro do transporte, que
ficam sob a responsabilidade do comprador. Já pelas regras do termo
CIF (Cost, Insurance and Freight), o vendedor é responsável não só pela
entrega do bem a bordo do navio, mas também pelo pagamento do frete
e do seguro até o país de destino (LUZ, 2012, p. 384, grifos nosso).

Além dos Incoterms FOB e CIF existem mais nove! A escolha do Incoterm
dependerá dos termos negociados na transação internacional entre as partes, e da
modalidade de transporte internacional a se utilizar. Como um todo, os Incoterms
são facilitadores para os processos de exportação/importação, pois em vez de
detalhar inúmeras condições relativas às reponsabilidades e logística, as partes
atuantes no comércio internacional utilizam regras preestabelecidas conforme o
Incoterm escolhido na negociação. Dessa maneira, as regras e condições de um
Incoterm na transação comercial internacional passam automaticamente a ser
parte do contrato comercial acordado entre as partes. Agora observe que:

Os Incoterms definem regras somente em relação à contratação do frete


e do seguro, ao momento de entrega do bem ao comprador e aos custos
que devem ser suportados pelo comprador e pelo vendedor, inclusive
quanto aos direitos aduaneiros. As regras dos Incoterms não dizem
respeito aos preços pagáveis pelo comprador ao vendedor nem à forma
de pagamento. Também não se referem à transferência de propriedade
dos bens ou das consequências de eventuais descumprimentos do
contrato (LUZ, 2012, p. 384).

Como acabamos de estudar, o Incoterm escolhido entre as partes dependerá


do acordo final entre as partes. Desse modo, é em função desse acordo que
será escolhido o Incoterm. Uma vez que foi definido o Incoterm, haverá como
identificar e reconhecer as responsabilidades respectivas e quem vai arcar com os
gastos específicos ao longo da cadeia logística internacional. Responsabilidades
como:

149
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

• Quem executa o envio internacional no país de origem, o exportador ou


importador?
• Quem é responsável pelo frete internacional, o exportador ou importador?
• Quem paga os valores do frete internacional e seu respectivo seguro?
• Quem executa o desembaraço no país de destino?

Estas são algumas das responsabilidades a serem cumpridas por uma das
partes, e assim como estas, existem mais outras. Todas essas responsabilidades
ficam explícitas no Incoterm negociado. Com o Incoterm escolhido entre as partes,
tanto o exportador como o importador saberão quais serão suas obrigações e seus
direitos, bem como quais os custos a serem calculados para a formação do preço
das mercadorias.

A seguir, vamos observar cada um dos Incoterms, com o intuito de identificar


as responsabilidades respectivas ao longo do processo de comercialização, assim
como as opções de modalidades de transporte em função das necessidades
logísticas da comercialização internacional. Na questão da logística, a partir da
última versão dos Incoterms, do ano 2010, eles foram classificados como “Termos
para Qualquer Modal de Transporte” e “Termos para Transporte Marítimo ou
Hidroviário Interior”, conforme apresenta o quadro a seguir.

QUADRO 7 – MODALIDADES DE TRANSPORTE DOS INCOTERMS

Termos para Qualquer Modal de Transporte


SIGLAS Terminologia - Inglês Na Origem
EXW Ex Works Terminologia - Português
FCA Free Carrier Livre no Transportador
CPT Carriage Paid to Frete Pago até
CIP Carriage and Insurance Paid to Frete e Seguro pagos até
DAT Delivered at Terminal Entregue no Terminal
DAP Delivered at Place Entregue no Local
DDP Delivered Duty Paid Entregue com os Direitos Pagos
Termos para Transporte Marítimo ou Hidroviário Interior
FAS Free Alongside Ship Livre ao Lado do Navio
FOB Free on Board Livre a Bordo
CFR Cost and Freight Custo e Frete
CIF Cost, Insurance and Freight Custo, Seguro e Frete
FONTE: Adaptado de Luz (2012, p. 386)

No quadro exposto acima podemos ver as siglas e a terminologia de


cada um dos Incoterms conforme a última versão destes por parte da Câmara
de Comércio Internacional (CCI), além de podermos observar a modalidade de

150
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

transporte. A escolha de um Incoterm ou de outro dependerá precisamente da


modalidade de transporte a ser usada entre as partes, como dependerá também do
grau de responsabilidade das partes em função das negociações da comercialização
internacional a serem feitas.

Observaremos, no quadro a seguir, o detalhe de cada um dos Incoterms,


classificados conforme o grau de responsabilidade passada do vendedor (exportador)
para o comprador (importador), ou seja, a transmissão de responsabilidade do
vendedor ao exportador durante a cadeia logística internacional é que classifica o
tipo de Incoterm.

QUADRO 8 - INCOTERMS E RESPONSABILIDADES AO LONGO DA CADEIA LOGÍSTICA

INCOTERM EXW – EX WORKS (ESTABELECIDA A LOCALIZAÇÃO)


• O produto e a fatura devem estar à disposição do importador no estabelecimento
do exportador.
• Todas as despesas e quaisquer perdas e danos a partir da entrega da mercadoria,
inclusive o despacho da mercadoria para o exterior, são de responsabilidade do
importador.
• Quando solicitado, o exportador deverá prestar ao importador assistência na
obtenção de documentos para o despacho do produto.
• Esta modalidade pode ser utilizada para qualquer via de transporte, ou seja, é
um transporte multimodal.
EXW - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Não há, pois a mercadoria é entregue no estabelecimento do
Exportador
exportador.
• Frete nacional no país de origem.
• Desembaraço e gastos de embarque.
• Gastos de internacionalização.
Importador
• Frete e Seguro Internacional.
• Desembaraço, gastos e impostos de nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM FCA – Free Carrier (Livre o Transporte)
• O exportador entrega as mercadorias, desembaraçadas para exportação, à
custódia do transportador, no local indicado pelo importador, cessando aí todas
as responsabilidades do exportador.
• Essa condição pode ser utilizada em qualquer tipo de transporte, inclusive o
multimodal.
FCA - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
Exportador
• Gastos e desembaraço para exportação.
• Gastos de logística de embarque.
• Frete e Seguro Internacional.
Importador
• Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.

151
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

INCOTERM FAS – Free Along Ship (Livre ao longo do navio)


• As obrigações do exportador encerram-se ao colocar a mercadoria, já
desembaraçada para exportação, no cais, livre, junto ao costado do navio.
• A partir desse momento, o importador assume todos os riscos, devendo pagar
inclusive as despesas de colocação da mercadoria dentro do navio.
• O termo é utilizado para transporte marítimo ou hidroviário interior.
FAS - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
Exportador • Desembaraço e gastos para exportação.
• Gastos de logística até o cais.
• Gastos de logística de embarque do cais ao navio.
• Frete e Seguro Internacional.
Importador
• Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM FOB – Free on Board (livre no navio)
• O exportador deve entregar a mercadoria, desembaraçada, a bordo do navio
indicado pelo importador, no porto de embarque.
• Todas as despesas, até o momento em que o produto é colocado a bordo do
veículo transportador, são de responsabilidade do exportador.
• Ao importador cabem as despesas e os riscos de perda ou dano do produto, a
partir do momento em que este transpuser a amurada do navio.
• Esta modalidade é válida só para o transporte marítimo ou hidroviário interior.
FOB - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
Exportador • Desembaraço e gastos para exportação.
• Gastos de embarque no país de origem.
• Frete e Seguro Internacional por conta e risco do importador.
Importador • Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM CFR – Cost and Freight (Custo e Frete)
• O exportador deve entregar a mercadoria no porto de destino escolhido pelo
importador.
• As despesas de transporte ficam, portanto, a cargo do exportador.
• O risco de perda ou de dano dos bens, assim como quaisquer aumentos de
custos, é transferido do exportador para o importador: quando as mercadorias
forem entregues à custódia do transportador no porto de origem.
• Portanto, o importador deve arcar com as despesas de seguro e de desembarque
da mercadoria.
• O importador deve arcar com as despesas de seguro e de desembarque da
mercadoria.
• A utilização desse termo obriga o exportador a desembaraçar a mercadoria
para exportação.
• Aplica-se apenas no transporte marítimo ou hidroviário interior.

152
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

CFR - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional


• Frete até o local acordado no país de origem.
• Desembaraço e gastos para exportação.
Exportador
• Gastos de embarque no país de origem.
• Frete Internacional.
• Seguro Internacional.
Importador • Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM CIF - Cost, Insurance and Freight
• Modalidade equivalente ao CFR, com a diferença de que as despesas de seguro
ficam a cargo do exportador.
• O exportador deve entregar a mercadoria a bordo do navio, no porto de
embarque, com frete e seguro pagos.
• A responsabilidade do exportador cessa no momento em que o produto cruza
a amurada do navio no porto de destino.
• Esta modalidade só pode ser utilizada para transporte marítimo ou hidroviário
interior.
CIF - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
• Desembaraço e gastos para exportação.
Exportador • Gastos de embarque no país de origem.
• Frete Internacional e Seguro Internacional, por conta e risco do
exportador.
• Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
Importador
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM CPT – Carriage Paid to (Transporte pago para…)
• Assim como o CFR, esta condição estipula que o exportador deverá pagar as
despesas de embarque da mercadoria e seu frete internacional até o local de
destino designado.
• Dessa forma, o risco de perda ou de dano dos bens, assim como quaisquer
aumentos de custos, é transferido do exportador para o importador, quando as
mercadorias forem entregues à custódia do transportador.
• A diferença do CFR é que este Incoterm pode ser utilizado em qualquer meio
de transporte  Multimodal.
CPT - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
• Desembaraço e gastos para exportação.
Exportador
• Gastos de embarque no país de origem.
• Frete Internacional.
• Seguro Internacional
Importador • Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.

153
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

INCOTERM CIP – Carriage and Insurance Paid (Frete e Seguro Pago)


• Adota princípio semelhante ao CPT. O exportador, além de pagar as despesas
de embarque da mercadoria e do frete até o local de destino, também arca com as
despesas do seguro de transporte da mercadoria até o local de destino indicado.
• A diferença do CIF é que o CIP pode ser utilizado com qualquer modalidade de
transporte, inclusive multimodal.
CIP - Responsabilidade e Gastos na Logística Internacional
• Frete até o local acordado no país de origem.
• Desembaraço e gastos para exportação.
Exportador
• Gastos de embarque no país de origem.
• Frete Internacional e Seguro Internacional.
• Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
Importador
• Frete nacional no país de importador.
INCOTERM DDP – Delivered Duty Paid (Entrega e gastos de nacionalização
pagos)
• O exportador assume o compromisso de entregar a mercadoria, desembaraçada
para importação, no local designado pelo importador, pagando todas as despesas,
inclusive impostos e outros encargos de importação.
• O exportador é responsável também pelo frete interno do local de desembarque
até o local designado pelo importador.
• Este termo pode ser utilizado com qualquer modalidade de transporte.
• Trata-se do Incoterm que estabelece o maior grau de compromissos para o
exportador. Aplica-se muito nas compras internacionais pela internet, exemplo:
o Um tablet foi comprado através da internet. Logo, o exportador (intermediário)
deve fazer a entrega da mercadoria até o endereço do consumidor (importador),
e todos os custos e despesas (frete, seguro, impostos) estão inclusos no preço
pago pelo produto.
Gastos na Logística Internacional - DDP
• Frete até o local acordado no país de origem.
• Desembaraço e gastos para exportação.
• Gastos de embarque no país de origem.
Exportador
• Frete Internacional e Seguro Internacional.
• Desembaraço, gastos e impostos na nacionalização.
• Frete nacional no país de importador.
Importador • Não há, pois a mercadoria é entregue no endereço do importador.
FONTE: Adaptado de <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/Glossario/GLOIncotermsP.
pdf>. Acesso em: 15 mar. 2016.

Como acabamos de ver, cada Incoterm define claramente as


responsabilidades e quem deve arcar com os gastos, ao longo da cadeia logística
internacional. Com a definição do Incoterm pode-se planejar e determinar todos os
condicionamentos logísticos, desde o endereço do exportador, no país de origem,
até o endereço do importador, no país de destino. Esses condicionamentos serão
resumidos no Incoterm, o qual deverá estar, obrigatoriamente, descrito: na fatura
proforma, fatura comercial, no conhecimento de embarque e demais documentação

154
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

necessária no processo de exportação/importação. A figura a seguir demonstra o


grau de responsabilidade tanto do exportador como do importador.

FIGURA 5 – NÍVEIS DE RESPONSABILIDADE DOS INCOTERMS

FONTE: Disponível em: <http://www.sobreadministracao.com/incoterms-os-termos-de-troca-no-


comercio-exterior/>. Acesso em: 24 set. 2016.

NOTA

O Incoterm FOB é o mais utilizado como referencial de preços internacionais das


mercadorias. É comum nas negociações internacionais tratar de preços, seja previamente
entendido que é um preço FOB, e uma vez que são definidos os termos de responsabilidade
e logística é que o Incoterm pode mudar de FOB para CIF. Portanto, o FOB é um termo
referencial de negociação internacional, segundo Vazquez (2009, p. 59): “É a condição de
venda mais utilizada nas práticas de comércio internacional. FOB significa tão somente o
preço da mercadoria, sem o frete e seguro, com a indicação do porto de embarque”.

155
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

4 INTERNACIONALIZAÇÃO E NACIONALIZAÇÃO DAS


MERCADORIAS
Talvez você esteja se perguntando: o que quer dizer internacionalização
ou nacionalização das mercadorias? Vamos começar pela internacionalização.
No momento em que o exportador manda para fora do país as mercadorias, elas
devem passar por um processo de “internacionalização”. Isto é, a mercadoria a ser
exportada deverá ser desembaraçada para a saída do país, ou seja, essa mercadoria
fica oficialmente em uma localização, ou espaço, internacional, tais como: portos e/
ou aeroportos internacionais no território nacional. Nesses “espaços” geográficos
a mercadoria não está nem no território brasileiro nem de país algum, ela fica em
“trânsito internacional” aguardando ser transportada para o país de destino, ou
país do importador.

Para que uma mercadoria possa ser internacionalizada, o exportador


precisa formalizar a exportação por meio do Despacho Aduaneiro. No contexto da
importação, a nacionalização é o processo de chegada da mercadoria ao país de
destino. Nesse caso, essa mercadoria deverá passar por um processo de desembaraço
aduaneiro de importação. Isto é, a mercadoria deverá ser desembaraçada para que
possa transitar livremente no território nacional, ou seja, deverá ser nacionalizada.
Segundo Luz (2012, p. 127): “[...] toda mercadoria importada sofre o procedimento
de despacho aduaneiro, que consiste na verificação da regularidade fiscal da
importação. Há autores que consideram que a nacionalização de uma mercadoria
somente se efetiva após tal procedimento”.

Quando a mercadoria chegar ao porto de destino, deverá ficar em “trânsito


internacional”, aguardando ser nacionalizada. Se porventura houver problemas na
documentação, a mercadoria não poderá ingressar ao país e será devolvida ao país
de origem, ou simplesmente ficará “em abandono”, passando a ser propriedade da
Receita Federal, no caso do Brasil.

Acima falamos sobre espaços geográficos internacionais dentro do território


nacional, tais como aeroportos alfandegados, portos alfandegados e pontos de
fronteira alfandegados. Todos estes espaços geográficos são localizados nas zonas
primárias, conforme estudamos na Unidade 2 deste caderno.

4.1 DESPACHO ADUANEIRO


Em termos administrativos da formalização de uma exportação ou
importação, existe toda uma gestão perante os órgãos governamentais responsáveis
do comércio exterior. Essa gestão de formalização para fazer acontecer a
exportação, ou importação, fica em mãos do despachante aduaneiro, agente ativo
no comércio exterior que serve como “ponte de gestão” entre as empresas atuantes
no mercado internacional (exportadores, trading companies, importadores, agentes

156
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

de transporte internacional, entre outros) e os governos, tanto no país de origem


(país exportador) como no país de destino (país importador).

O Despachante Aduaneiro é uma peça administrativa chave nos processos


de comercialização internacional. Ele é o responsável pela execução administrativa
do despacho aduaneiro, termo usado para a execução tanto da internacionalização
(exportação) como para a nacionalização (importação) da mercadoria. O despacho
aduaneiro formaliza todo o processo de comercialização internacional perante as
exigências administrativas governamentais responsáveis.

Como podemos observar, o Despacho Aduaneiro é uma peça-chave tanto


na exportação como na importação. É fundamental compreender o processo
das atividades executadas do Despacho Aduaneiro, analisando as exigências
administrativas/governamentais e os requisitos de execução destes despachos.
A execução do Despacho Aduaneiro fica sob a responsabilidade direta do
despachante aduaneiro.

Em grandes termos, o despacho aduaneiro tem como objetivo analisar


e verificar a exatidão da documentação declarada no processo da exportação
ou de importação. Isso será feito conforme as particularidades do processo de
comercialização internacional. Todo despacho aduaneiro deverá ter os seguintes
elementos de análise:

• Mercadoria a ser exportada ou importada - por meio do Despacho


Aduaneiro verifica-se o código NCM da mercadoria e suas necessidades
administrativas perante os órgãos responsáveis pelo comércio exterior.

• Documentos apresentados - verifica-se se estes estão em concordância


com a legislação vigente, e se estão em concordância com o produto a se exportar
ou importar.

4.1.1 O despacho aduaneiro de importação


Estudamos que toda mercadoria a ser importada precisa passar por um
processo de nacionalização, ou seja, a importação deve passar por um processo
de desembaraço aduaneiro e conferência/cobrança de valores, documentação e
impostos por parte da Receita Federal. Para que isso aconteça é necessário que
o importador realize o Despacho Aduaneiro de Importação, por meio da gestão
do “despachante aduaneiro”. O artígo nº 542, do Regulamento Aduaneiro,
define o despacho aduaneiro da seguinte maneira: “Despacho de importação é o
procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo
importador em relação à mercadoria importada, aos documentos apresentados e à
legislação específica, com vistas ao seu desembaraço aduaneiro”.

O primeiro passo para a formalização da importação será a abertura, no


SISCOMEX, da Declaração de Importação (DI) conforme ao código NCM da
157
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

mercadoria e demais particularidades da importação, tais como quantidades,


preços unitários e totais, porto de embarque e desembarque, Incoterm, modalidade
de transporte, entre outros. Logo, a documentação será repassada ao Despachante
Aduaneiro para que possa executar o Despacho Aduaneiro de Importação.
Segundo Luz (2012, p. 63):

Cada importação terá de prestar informações à Receita Federal acerca


de sua mercadoria. Várias informações são inseridas na DI: a descrição
da mercadoria, o produtor, o exportador, a classificação fiscal, o valor
da mercadoria, o valor do frete, o valor do seguro, a quantidade, o peso
líquido, o número do conhecimento de carga, número da(s) fatura(s),
entre outras.

NOTA

Ao longo das unidades 2 e 3 você vem lendo sobre o SISCOMEX, mas o que
quer dizer? É o Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), ou seja, é o sistema de
gestão da informação dos órgãos do governo atuantes no comércio exterior do Brasil. Por
meio do SISCOMEX consolida-se a interface de dados dos seguintes órgãos do Governo
Federal:
• a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX);
• o Banco Central do Brasil;
• a Secretaria da Receita Federal.
O portal do SISCOMEX é bem dinâmico e informativo, acesse para saber mais: <http://www.
portalsiscomex.gov.br/>.

Ao realizar uma importação, a nacionalização da mercadoria deverá passar


pelas seguintes etapas de formalização feitas por meio do Despacho Aduaneiro de
Importação:

1. Registro da Declaração de Importação no Siscomex.


2. Parametrização da DI.
3. Instrução da Declaração/Recepção dos Documentos.
4. Distribuição para Conferência Aduaneira.
5. Conferência Aduaneira.
6. Desembaraço Aduaneiro (LUZ, 2012, p. 67).

158
TÓPICO 2 | A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

E
IMPORTANT

Você sabe o que significa a parametrização da DI? A parametrização da


importação estabelece o nível, ou canal, de conferência da carga e sua documentação
respectiva, existindo para isso quatro canais possíveis de conferência: verde, amarelo,
vermelho e cinza. As diretrizes destes canais vêm especificadas na Instrução Normativa IN
SRF nº 680/2006 art. 21:

Após o registro, a DI será submetida à análise fiscal e selecionada para um dos seguintes
canais de conferência aduaneira:
I - verde, pelo qual o sistema registrará o desembaraço automático da mercadoria,
dispensados o exame documental e a verificação da mercadoria;
II - amarelo, pelo qual será realizado o exame documental, e, não sendo constatada
irregularidade, efetuado o desembaraço aduaneiro, dispensada a verificação da mercadoria;
III - vermelho, pelo qual a mercadoria somente será desembaraçada após a realização do
exame documental e da verificação da mercadoria; e
IV - cinza, pelo qual serão realizados o exame documental, a verificação da mercadoria
e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, para verificar elementos
indiciários de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria, conforme
estabelecido em norma específica.

FONTE: Disponível em: <http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.


action?visao=anotado&idAto=15618>. Acesso em: 14 set. 2016.

4.1.2 Despacho aduaneiro de exportação


Assim como a importação, toda mercadoria a ser exportada precisa passar
por um processo, mas agora de internacionalização, ou seja, a mercadoria deverá
passar por um processo de desembaraço aduaneiro de exportação e conferência
da exatidão da documentação, começando pela Declaração de Exportação (DE)
cadastrada no SISCOMEX.

Para que isso aconteça é necessário que o exportador realize o Despacho


Aduaneiro de Exportação, por meio da gestão do “despachante aduaneiro” que
deverá fazer gestão das seguintes etapas da exportação:

1. Registro da Declaração de Exportação (DE).


2. Confirmação da Presença de Carga.
3. Recepção dos Documentos.
4. Parametrização.
5. Distribuição para Conferência Aduaneira
6. Conferência Aduaneira.
7. Desembaraço.
8. Trânsito Aduaneiro, se for o caso.
9. Registro dos Dados de Embarque ou da Transposição de Fronteira.
10. Averbação dos Dados de Embarque ou da Transposição de Fronteira
(LUZ, 2012, p. 67).

159
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

E
IMPORTANT

Você sabe o que significa a parametrização da exportação? A parametrização


de exportação estabelece o nível, ou canal, de conferência da carga e sua documentação
respectiva, existindo, para isso, três canais possíveis de conferência: verde, laranja e vermelho.
Segundo Luz (2012, p. 79): “O canal verde implica o desembaraço automático. O canal laranja
impõe somente o exame documental, enquanto o vermelho obriga o exame documental e
a verificação física da carga”.

Em termos de execução do despacho da exportação e para fins tanto


fiscais como cambiais, a exportação somente será considerada “realizada” quando
o embarque for averbado. Nesse sentido, o processo final da formalização do
Despacho Aduaneiro de Exportação será a averbação, isto é, a conferência e
fiscalização aduaneira do embarque por parte da Receita Federal.

160
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu sobre:

• Os acordos internacionais incorporam a formalização de negociações comerciais


entre pessoas e/ou empresas ao redor do mundo. Isto incorpora uma base legal
à comercialização internacional.

• O significado dos Incoterms, ou seja, os Termos Internacionais de Comércio


e sua implicação contratual baseada na CCI nas negociações de mercadorias
entre países.

• A classificação dos Incoterms no contexto da comercialização e logística


internacional, assim como o nível de responsabilidade das partes durante a
comercialização internacional. O Incoterm define responsabilidades específicas
tanto do exportador como do importador ao longo do processo de exportação/
importação.

• A formalização da exportação ou importação por meio do Despacho Aduaneiro,


e a necessidade de cumprir as exigências administrativas governamentais
responsáveis pelo comércio exterior brasileiro.

• O registro do Despacho Aduaneiro para cada importação, ou importação no


Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

161
AUTOATIVIDADE

1 Feito um acordo comercial entre um exportador e importador haverá todo


um procedimento formal de obrigações das partes. Segundo a Parte III
da convenção de Viena, quais as obrigações que possuem o vendedor e o
comprador?

2 No momento de iniciar uma comercialização internacional,


existem responsabilidade bem definidas tanto para exportador
como para o importador, essas reponsabilidades são negociadas
entre as partes e ficam bem estabelecidas por meio do Incoterm
escolhido. A seguir, determine as responsabilidades tanto do
exportado como do importador, levando em consideração os
seguintes Incoterms: Incoterm FAS; Incoterm FOB; Incoterm
CFR; Incoterm CIF; Incoterm CPT.

3 Quando as mercadorias são comercializadas internacionalmente elas passam


por um processo de identificação e de existência “formal” tanto no país de
origem (exportador) como no país de destino (importador). Defina como
podemos identificar o processo formal de saída de uma mercadoria no país
de origem.

4 Quando as mercadorias são comercializadas internacionalmente elas passam


por um processo de identificação e de existência “formal”. No caso de
importação, defina como podemos identificar o processo formal de entrada
de uma mercadoria no país de destino.

5 No momento do processo de exportação ou importação existe a necessidade


de formalizar a comercialização internacional, ou seja, existe toda uma gestão
perante os órgãos governamentais responsáveis do comércio exterior. Defina
qual o termo para esse processo formal.

6 No caso da exportação, qual o termo da formalização do processo


administrativo de internacionalização da mercadoria perante os órgãos
governamentais responsáveis do comércio exterior?

7 No caso da importação, qual o termo da formalização do processo


administrativo de nacionalização da mercadoria perante os órgãos
governamentais responsáveis do comércio exterior?

162
UNIDADE 3
TÓPICO 3

MODALIDADE DE PAGAMENTOS E
COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Assim como no comércio nacional, nos mercados internacionais existe
compra e venda de mercadoria antecipada, à vista e a prazo, e entre elas existe um
leque de possibilidades. Porém, existe uma grande diferença que devemos observar
ao apresentar transações internacionais: não existe uma mesma lei e uma mesma
moeda que possa normatizar essas transações, logo, o comércio internacional
apresenta condições com padrões internacionais de modalidades de pagamento
normatizadas pela International Chamber of Commerce (ICC).

ATENCAO

Lembra que na Unidade 1 estudamos sobre a ICC? Aqui no Brasil existe um


escritório da Câmara Internacional de Comércio para as necessidades de comércio exterior
do Brasil. No site da International Chamber of Commerce (ICC) você poderá encontrar
informações interessantes sobre a importância desta câmara para o comércio exterior do
Brasil. Segue o portal: <http://www.iccbrasil.org/>.

As modalidades de pagamento possuem a função de normatizar e


operacionalizar a cobrança do exterior para a execução de uma exportação. Isso do
lado do exportador, e no contexto do importador as modalidades de pagamento
servem para normatizar e operacionalizar o pagamento ao exterior para a respectiva
materialização da importação. Igualmente às transações comerciais nacionais, nas
operações internacionais o risco de comercialização sempre está presente, assim,
é fundamental, tanto para exportar como importar, conhecer quais são essas
modalidades de pagamentos atuantes no comércio internacional.

2 MODALIDADES DE PAGAMENTO
Para conseguir entender melhor as modalidades de pagamento, veremos
antes em que momento do processo de comercialização internacional a determinação
de uma modalidade, ou outra, é peça-chave. Quando o exportador conseguir enviar
a mercadoria ao país de destino, o importador poderá liberar a mercadoria da

163
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

alfândega, correto? No entanto, o importador, por meio do despachante aduaneiro,


somente poderá liberar a mercadoria no porto do destino se a documentação
da importação estiver completa e pronta para ser entregue na alfândega. E essa
documentação deverá expor claramente as condições de pagamento para que a
mercadoria possa ser liberada, ou nacionalizada. Resumindo, essas condições
poderão ter três grandes classificações:

• Tipos de modalidades de pagamento antecipada - nesta situação,


como a venda já foi cobrada, o exportador enviará diretamente ao importador a
documentação e assim ele poderá liberar da alfândega a mercadoria respectiva.

• Tipos de modalidades de pagamento à vista - quando o pagamento


estiver condicionado à chegada da mercadoria ao país de destino, o importador
deverá realizar o pagamento ao exportador uma vez confirmada essa chegada.
Logo, uma vez confirmado o pagamento respectivo, o banco comercial responsável
pela cobrança poderá entregar a documentação ao importador e assim poder
nacionalizar a mercadoria.

• Tipos de modalidades de pagamento a prazo - nesta situação haverá


uma série de possibilidades. Resumindo, o banco responsável pela entrega da
documentação só poderá entregá-la ao importador uma vez feita a análise das
garantias de cobrança e assim realizar a entrega da documentação ao importador.

QUADRO 9 – FASES DAS MODALIDADES DE PAGAMENTOS

MODALIDADES DE PAGAMENTOS

Antecipado À Vista A Prazo

EMBARQUE DESEMBARAÇO
FONTE: O autor

Caso a mercadoria já tenha sido enviada, o respaldo, ou segurança, de


pagamento do exportador estará na posse da documentação, pois, simplesmente,
sem essa documentação o importador não poderá liberar da alfândega a mercadoria.
Nesse sentido, quando a venda a prazo for a modalidade de pagamento, o serviço
do banco comercial responsável pela entrega da documentação é parceiro-chave
na cobrança da exportação.

164
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

ATENCAO

Envio da documentação. Será que os documentos da importação são enviados


por correio normal? Seria muito risco, logo, ele não é utilizado. Para o transporte entre países
existe o serviço dos couriers, por meio destes o transporte da documentação será seguro e
rápido, dando rapidez e confiabilidade às remessas. Devemos reparar que a documentação
deverá chegar antes da mercadoria, pois sem essa documentação original o importador
simplesmente não poderá nacionalizar a mercadoria.

Agora que já temos mais claro o conceito da importância das modalidades de


pagamento nas transações internacionais, iremos começar estudando as diferentes
opções de modalidades disponíveis para as empresas comercializarem no mercado
internacional. Devemos observar que para cada modalidade de pagamento haverá
uma diferente modalidade de contrato de câmbio, pois essas transações envolvem
moedas de diferentes países, conforme iremos estudar a seguir.

Essas três grandes fases das modalidades de pagamentos – antecipadas, à


vista e a prazo – aqui no Brasil são ordenadas em quatro grupos:

a) Pagamento Antecipado ou Remessa Antecipada (na importação) e


Recebimento Antecipado (na exportação).
b) Remessa sem saque.
c) Cobrança.
d) Crédito documentário, também conhecido como Carta de Crédito (LUZ, 2012,
p. 130).

2.1 MODALIDADE PAGAMENTO E RECEBIMENTO


ANTECIPADO
Nesta modalidade, para que a compra seja efetuada, faz-se necessário
emitir o pagamento antecipadamente; após a confirmação de recebimento do
pagamento é que o exportador começa o processo produtivo da ordem de compra.
Este processo também é conhecido como Remessa Antecipada.

Entende-se como pagamento ou recebimento antecipado de exportação


a aplicação de recursos em moeda estrangeira na liquidação do contrato
de câmbio cuja contratação tenha ocorrido antes do embarque da
mercadoria. Esta antecipação pode ser efetuada pelo importador ou
por qualquer pessoa jurídica no exterior, inclusive por instituições
financeiras (VIEIRA, 2010, p. 101).

Esta modalidade de pagamento representa um alto risco ao importador,


por este motivo é pouco usada. Ela é aplicada na maioria das vezes quando há
confiança no exportador, ou quando a ordem de compra envolve grandes volumes
e/ou valores de produção. Imagine a produção de equipamento industrial sob

165
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

pedido de alta tecnologia sem ter a garantia de pagamento? Para se garantir a


cobrança o exportador poderia escolher esta modalidade.

Quando falamos de Recebimento Antecipado das exportações brasileiras,


existem duas situações que devemos levar em consideração em relação aos recursos
monetários recebidos do exterior:

1) No caso de os bens não embarcarem para o exterior, o valor recebido


antecipadamente pode ser devolvido ao exterior ou, mediante anuência
prévia do pagador no exterior, transformado em investimento
estrangeiro direto ou empréstimo externo.
2) Caso a antecipação ocorra em mais do que 360 (trezentos e sessenta)
dias em relação à data prevista para o embarque, exige-se a obtenção de
um ROF (Registro de Operação Financeira) para controle deste crédito
externo pelo Banco Central (LUZ, 2012, p. 130).

Muitas vezes a Remessa Antecipada é executada em duas fases, o primeiro


pagamento será antecipado e o segundo prévio ao embarque, inclusive, o segundo
pagamento poderia ser negociado após o embarque. Podemos exemplificar na
seguinte suposição:

• Ordem de compra com antecipação de 30% do valor da compra e o saldo


de 70% prévio ao embarque. As porcentagens podem mudar, lembre-se: cada
transação comercial possui suas particularidades.

• Ordem de compra com antecipação de 30% do valor da compra, e o


saldo de 70% a ser pago em 60 dias após o embarque. Neste caso, a modalidade de
pagamento envolve cobrança documentária.

2.2 REMESSA SEM SAQUE


Quando for negociada uma remessa sem saque, o exportador envia a
documentação diretamente ao importador, sem a intermediação de um banco para
o envio desta. Logo, o pagamento será feito após o embarque da mercadoria. Nessa
condição de pagamento, o importador possui em mãos a documentação necessária
para a nacionalização da mercadoria sem necessariamente ter pago, portanto, a
remessa sem saque representa um altíssimo risco para o exportador.

Entende-se que esta modalidade de pagamento somente deve ser


utilizada quando o exportador tiver total e irrestrita confiança no
importador e no país deste, pois os documentos originais são remetidos
diretamente ao importador, possibilitando assim o desembaraço da
mercadoria na alfândega (VIEIRA, 2010, p. 103).

Sendo que não há respaldo de pagamento, quais os motivos para os


exportadores optarem por uma remessa sem saque? Basicamente pelos seguintes
motivos:

166
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

• Modalidade prática no momento de nacionalizar. A documentação


chega ao importador diretamente, sem ter que negociar por ela na intermediação
bancária, que envolve despesas adicionais.

• Por ser uma modalidade prática, costuma-se usá-la entre filiais e casas
matrizes, e entre importadores e exportadores que possuem confiança mútua.
Deste modo, as despesas bancárias são bem menores, se comparar com a carta de
crédito ou com saque.

• Por ser prática e direta, costuma-se usar no comércio internacional de


perecíveis. Nestas situações a mercadoria poderia estragar até a documentação
chegar pela via bancária. Logo, a aplicação dessa modalidade é quase imprescindível.

2.3 COBRANÇA COM SAQUE


Entre a remessa antecipada e remessa sem saque existe a cobrança com saque.
A cobrança com saque existe por meio de uma letra de câmbio. Este condicional de
letra de câmbio implica que o exportador deve encaminhar a documentação, por
meio do banco remitente (do país do exportador), o saque (uma letra de câmbio)
para o banco cobrador no país do importador (Collecting Bank). Logo, o Collecting
Bank disponibiliza a documentação para o desembaraço ao importador. Porém, a
documentação será entregue sempre e quando:

• Apresente-se pagamento total da mercadoria.


• Apresente-se compromisso de pagamento futuro formalizado em
documento bancário, conforme a negociação entre o exportador e o importador.
“Na cobrança a prazo, o importador somente poderá retirar junto ao Collecting Bank
os documentos originais para desembaraço da mercadoria na alfândega mediante
aceite do saque que lhe será apresentado para pagamento no vencimento” (VIEIRA,
2008, p. 105).

Esta modalidade de pagamento, embora exista formalidade na cobrança


quando houver venda a prazo, ainda representa risco para o exportador. Observe-
se que na cobrança documentária há uma obrigação legal de pagamento por
parte do importador. Porém, não há nenhuma obrigação de pagamento do Banco
Remitente (Banco do Importador), como existe quando se apresenta a situação de
uso de carta de crédito (l/c).

Caso o importador não efetue o pagamento ao exportador, ele terá que


arcar com os custos da ação judicial de cobrança no país do importador. Isso
implica dizer que o exportador terá que contratar empresas de cobrança lá no país
do importador, ou seja, na cobrança com saque, o banco no país do importador
atua meramente como intermediário de formalização de venda a prazo no país de
destino, isto é, como mandatário de cobrança, segundo ordens de cobrança por
parte do exportador.

167
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

Apesar do risco de cobrança, a Remessa com Saque a Prazo aplica-se


bastante no comércio internacional, pois as despesas bancárias são menores
se comparadas a uma Carta de Crédito. Os prazos de crédito utilizados nesta
modalidade oscilam entre 30 dias até 360 dias a partir da data do embarque no
país de origem.

Na cobrança com saque com pagamento à vista o risco diminui


consideravelmente para o exportador, pois neste caso o importador,
necessariamente, terá que fazer o pagamento respectivo ao banco remitente,
caso contrário, simplesmente estará impossibilitado de fazer a nacionalização da
mercadoria.

2.4 CRÉDITO DOCUMENTÁRIO


Das modalidades de pagamento, a que representa o menor risco, tanto
para o exportador como para o importador, é a Carta de Crédito, isto é, o crédito
documentário. No comércio internacional ela é conhecida como L/C, das siglas do
inglês Letter of Credit. Antes de iniciar nosso aprendizado sobre a L/C, devemos
saber por que motivo ela surgiu.

Levando em consideração as diversas leis e suas respectivas interpretações


formais entre as nações, os países atuantes ativamente no comércio internacional,
por meio da Câmara de Comércio Internacional (CCI), estabeleceram desde o ano
de 1933 as normas e padrões legais internacionais para padronizar a L/C e suas
respectivas modalidades.

Os conceitos e formalidades para abertura e liquidação do crédito


documentário no comércio internacional estão em um texto intitulado
UCP 600 (Uniform Customs and Practise for documentary Credits – Regras
e Usos Uniformes sobre Créditos Documentários), elaborado pela
Câmara de Comércio Internacional (CCI) e em vigor desde 1º de julho
de 2007 (LUZ, 2012, p. 135, grifos do original).

Segundo o exposto pelo autor Luz, a última atualização importante das


regras e usos uniformes da L/C foi no ano de 2007, por meio do texto desta última
atualização, a UCP 600. Aliás, a primeira versão da UCP foi feita no ano de 1933.
Antes dessa data os países tinham normas próprias para o comércio exterior entre
cada um deles, mas cada país tinha suas próprias interpretações da L/C. Deste
modo, as partes (o exportador e o importador) estavam obrigadas a conhecer as
normas relativas às L/C dos países envolvidos na comercialização, gerando uma
necessidade maior de interpretação das obrigações das partes em função das
particularidades das leis e normas dos países envolvidos.

168
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

ATENCAO

Eis a necessidade, entre outros motivos importantes, de padronizar


internacionalmente as normas e usos da L/C por meio da CCI.

Essa padronização internacional da L/C vem ajudando a dinâmica comercial


entre empresas que comercializam no mercado internacional. Porém, apesar disso
e da L/C ser a modalidade de pagamento mais segura para os envolvidos no
comércio internacional, é também a que possui a despesa bancária mais alta de
todas as modalidades. Ainda assim, esse custo bancário maior muitas vezes pode
ser compensado pela seguridade financeira e documentária da Carta de Crédito.
Diante desse fato, a L/C é muito utilizada, conforme veremos a seguir:

A L/C fornece uma série de garantias tanto de execução operativa/logística


como financeira, isso resulta em grande ajuda para o exportador e o importador.
A segurança da L/C é estabelecida nos seus termos de negociação, definidos pelas
partes envolvidas. Diante disso, a carta de crédito estabelece uma série de cláusulas
com as particularidades da negociação das partes que devem ser cumpridas,
particularidades tais como:

• Data de embarque - o exportador deverá cumprir com essa data, caso contrário
não poderá efetivar a L/C. E se não conseguir efetivá-lo, será impossível realizar
a cobrança dentro dos prazos estabelecidos na L/C.

• Quantidades, qualidade e detalhes da mercadoria. Se houver discrepâncias, o


exportador não poderá efetivar a L/C, logo, não poderá cobrá-la.

• Prazos de pagamento - o importador deverá cumprir com os prazos de pagamentos


negociados. Caso contrário, no momento de efetivar a L/C e executar os prazos de
cobrança, o banco do importador será obrigado a fazer o pagamento.

Conforme o exposto acima, podemos analisar que a cobrança da venda


do exportador está garantida, independentemente de o importador realizar o
pagamento ou não, pois o banco do importador possui a obrigação de efetivar
o pagamento, todavia, sempre e quando o exportador cumprir com todas as
condições da negociação exigidas pelo comprador (importador). Observe-se que:
“[...] a carta de crédito é um compromisso irrevogável que um banco assume de
pagar ao beneficiário se, e somente se, os termos e condições da carta de crédito
tiverem sido cumpridos” (LUZ, 2012, p. 137).

Um elemento importante a ser observado da L/C é saber identificar “quem”


são os envolvidos. Nas negociações de qualquer L/C devem existir os seguintes
agentes envolvidos:

169
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

• o importador, e/ou requerente;


• o banco do importador, e/ou banco emitente;
• o banco do exportador, e/ou banco avisador;
• o exportador, e/ou o beneficiário.

Note que estamos falando de exportador e/ou beneficiário, assim,


para cada um dos envolvidos na L/C. Isso acontece porque, por exemplo, não
necessariamente o banco emitente é o banco do importador, pois podem existir
vários agentes intermediários na negociação da L/C, desde uma trading company
e mais de um banco intermediário. Segundo Luz (2012, p. 141), as personagens
básicas envolvidas em uma L/C são as seguintes:

1) Requerente – Significa a parte sob cuja solicitação a carta de crédito


for emitida. Sob a UCP 500, era chamado Tomador.
2) Banco Emitente – É o banco que emite uma carta de crédito mediante
solicitação de um requerente ou em seu próprio nome. Pode pagar
diretamente ao Beneficiário ou pode escolher um banco (Banco
Designado) para fazê-lo.
3) Banco Avisador – É o banco que avisa o crédito mediante solicitação
do Banco Emitente. Nas suas funções não se inclui qualquer espécie de
pagamento ao beneficiário. Cabe a ele apenas repassar a carta de crédito
ao Beneficiário, informando-o se ficou satisfeito quanto à aparente
autenticidade do instrumento de crédito.
4) Beneficiário – Significa a parte em cujo favor o crédito for emitido.

170
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

FIGURA 6 – FLUXO DA MODALIDADE CARTA DE CRÉDITO (L/C)

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/einne2012/modalidades-de-pagamento-no-


comrcio-internacional-bb-2>. Acesso em: 21 set. 2016.

Por que o emitente poderia ser o importador? Porque é o interessado em


realizar a compra, ou seja, o importador ou seu intermediário comercial (trading
company), logo, será o interessado em emitir a L/C para satisfazer sua necessidade
de importar. Entretanto, o beneficiário da L/C é o interessado em efetivar e cobrar
a venda da exportação, o exportador ou seu intermediário (trading company). Um
dos motivos de que a L/C é a modalidade de pagamento mais cara, mas a mais
segura também, é em função do grande número de envolvidos e particularidades
operativas/financeiras, pelo menos quatro envolvidos.

A L/C gera uma série de obrigações específicas, tanto para o exportador


como para o importador. Mas, se houver discrepâncias no momento de executar o
processo de exportação? Aliás, às vezes há discrepâncias!

Quando houver discrepâncias, as partes podem fazer uma emenda na


Carta de Crédito (L/C), como também existe a possibilidade de a parte afetada
(seja o importador ou exportador) simplesmente aceitar formalmente a respectiva
discrepância, mas se houver a necessidade de realizar uma emenda, os envolvidos
– isto é, o exportador, o importador e os bancos – devem combinar para emendar
as condições negociadas na L/C.

171
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

Uma emenda clássica é o prazo de embarque, em função dos processos


produtivos e condições de logística, em algumas ocasiões o exportador fica
obrigado a adiar por mais alguns dias a data de embarque. Vamos supor que a data
de embarque era para o dia 15 de outubro de 2017, mas o exportador só poderá
embarcar a mercadoria no dia 22 de outubro. Logo, haverá a necessidade de se
fazer uma emenda à L/C modificando a data de embarque.

Outra emenda clássica é a quantidade de unidades a serem embarcadas em


um container. Por questões do volume em si do container, às vezes, o exportador
gera uma venda um pouquinho maior do que realmente cabe em um container,
logo, no momento de embarcar a quantidade negociada entre as partes, não cabe.
Solução? Gerar uma emenda mudando as quantidades a serem embarcadas, e,
claro, mudando também o valor final da fatura de exportação.

2.4.1 Opções de pagamento da carta de crédito (L/C)


Agora que já temos uma noção mais clara do que é uma L/C, e
consequentemente conhecemos melhor as condições operativas/financeiras desta
modalidade de pagamento, estamos no momento de aprender sobre as opções de
financiamento oferecidas sob esse mecanismo de pagamento internacional. Para
podermos definir uma opção de pagamento dentro da modalidade L/C, devemos
observar quais as necessidades de financiamento do importador, capacidade de
financiar capital de giro por parte do exportador, linhas de financiamento de L/C
disponíveis entre os bancos dos países envolvidos.

Assim, levando em consideração esses três elementos (necessidade


financeira do importador, capacidade de capital de giro – liquidez – do exportador,
linhas de financiamento entre os bancos dos países envolvidos), tanto os bancos
internacionais (que possuem acordos internacionais de financiamento de L/C) e as
condições padronizadas da International Chamber of Commerce (ICC), há à disposição
as seguintes formas de financiamento:

• L/C à vista. Esta modalidade de financiamento quer dizer liquidação


do valor da Carta de Crédito no momento em que o exportador apresentar
a documentação em ordem. Isto é, quando se efetivar a L/C no momento da
apresentação da documentação e entrega da mercadoria no ponto negociado entre
as partes sempre e quando não houver discrepância perante o Banco Negociador.
Isto quer dizer L/C efetivada e que a mercadoria já foi entregue sob o Incoterm e
condições negociadas entre as partes.

• Opção a Prazo: Esta modalidade de financiamento quer dizer liquidação


do valor da Carta de Crédito nos prazos negociados entre as partes. Devemos
observar que esse prazo começa a acontecer a partir da efetivação da L/C, no
momento da apresentação da documentação e entrega da mercadoria no ponto
negociado entre as partes, sempre e quando não houver discrepância perante o
Banco Negociador.
172
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

o A partir do momento em que a L/C se efetivar, os prazos estabelecidos


terão que ser cumpridos. Se o importador não realizar o pagamento, logo, o Banco
Emitente (do importador) terá a obrigação de realizar o pagamento respectivo.

NOTA

Existem mais outros tipos de Cartas de Crédito? Destas duas grandes formas de
financiamento, à vista e a prazo, nascem várias submodalidades de L/C, tais como: L/C de
crédito restrito, L/C de crédito transferível, L/C de crédito rotativo, entre outras. Caso queira
se aprofundar sobre o mundo das L/C, acesse o site oficial da ICC sobre as condições da
UCP 600 (última versão da L/C) aqui no Brasil: <http://www.iccbrasil.org/publicacoes/46/>.

O exportador, após entregar a mercadoria sob as condições estabelecidas


na L/C, terá que aguardar um prazo de aproximadamente cinco dias para que o
Banco Negociador e o Banco Emitente aceitem, respectivamente, a documentação,
portanto, “efetivar” a L/C. A partir desse momento de efetivação, a L/C vira papel
financeiro, ou “papel valor”, e se a L/C for “transferível” poderá ser negociada no
mercado financeiro. Segundo Vieira (2010, p. 122):

A publicação n° 600 da Câmara de Comércio Internacional no artigo 14,


Letra “b”, estabelece que os bancos intervenientes na operação terão,
cada um deles, um prazo de até cinco dias úteis bancários após a data
do recebimento dos documentos, para examiná-los e apontar, ou não,
possíveis discrepâncias.

Em termos práticos, no que implica esse prazo de cinco dias para o


exportador? Se o Banco Emitente não aceitar a documentação enviada pelo
exportador, logo, ele deverá informar isso antes desses cinco dias estabelecidos
ao Banco Negociador. Essa não aceitação da documentação deverá considerar a
notificação formal de todas as discrepâncias na documentação e deverá encaminhar
de volta a documentação para sua respectiva correção. A situação exposta até
pode parecer hipotética, porém, as discrepâncias acontecem sim, e a solução das
discrepâncias leva tempo. Fato que gera mais despesas, acrescentando o custo
logístico/financeiro, e gera mais pressa ainda para liquidar os valores do crédito
por parte do exportador.

É fundamental para os exportadores cumprir todas as particularidades


operativas/logísticas da L/C. No descuido dos detalhes é que os problemas
aparecem, e por mais que os processos de exportação sejam padronizados, sempre
haverá particularidades intrínsecas a cada exportação. Cada exportação possui
sua própria história com suas peculiaridades, e sempre na hora menos esperada
aparecem as dificuldades, as quais devem ser resolvidas o antes possível, visando
não atrapalhar as condições estabelecidas na L/C e, assim, o exportador finalmente
pode “efetivá-la” e “liquidá-la” nos prazos negociados entre as partes.

173
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

3 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA E INDIRETA


Acabamos de ver quais as modalidades de pagamentos disponíveis no
comércio internacional. Até agora não temos abordado uma questão importante
para iniciar todo o processo de comercialização. Isto é, como fazer acontecer a
comercialização internacional, será por meio de um canal de venda direta entre o
exportador e o importador, ou por meio de venda indireta?

No momento de exportar ou importar, as empresas se deparam com uma


questão importante de estratégia comercial: “como” comercializar a exportação ou
“como” executar comercialmente a importação? Este questionamento dependerá
bastante do tamanho da empresa e do custo/benefício do gasto administrativo
para a execução da comercialização internacional. Esta análise de custo/benefício
pode ser observada da seguinte maneira:

• Se uma empresa pequena está exportando, as despesas do departamento


de exportações seguramente serão mais caras que o gasto para realizar a
exportação por meio de uma trading company, ou seja, a empresa possui a opção
de terceirizar o serviço operativo, administrativo e de logística da exportação.
Assim, o benefício versus seu custo de contratar a trading company poderá superar
a despesa administrativa se exportar diretamente, eis a análise de custo/benefício.

• Se uma empresa de grande porte está ativa na exportação, provavelmente


as despesas para manter todo um departamento de exportações justificam seu
gasto, pois esse gasto irá se diluir em um grande volume de vendas ao exterior.
Comparativamente, o serviço de uma trading company, nestes casos, poderia ser
mais caro, eis a análise de custo/benefício.

Assim, podemos observar que a decisão de comercializar direta ou


indiretamente dependerá, em grande parte, do custo/benefício da decisão. A
decisão pode ser por uma questão econômica, como acabamos de observar acima,
como também poderia ser por uma questão de estratégia de comercialização em si,
diversificação do risco de cobrança, ou de logística.

3.1 COMERCIALIZAÇÃO INDIRETA


Na comercialização indireta existe um intermediário entre o exportador, ou
importador, e a empresa no exterior. O intermediário é conhecido como empresa
interveniente, que muitas das vezes será uma trading company.

174
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

QUADRO 10 - FLUXOGRAMA DA COMERCIALIZAÇÃO INDIRETA

SE EXPORTAR MERCADORIA, A CADEIA COMERCIAL SERIA:


Exportador no Brasil Interveniente no Brasil  Cliente no exterior (ou
importador).
SE IMPORTAR MERCADORIA, A CADEIA COMERCIAL SERIA:
Importador no Brasil Interveniente no Brasil  Fornecedor no exterior
(exportador)
FONTE: O autor

Podemos observar que a empresa interveniente está localizada no


Brasil, pois será a empresa responsável pela gestão administrativa e logística da
formalização da internacionalização da mercadoria, no caso da exportação; e da
nacionalização, no caso da importação. Diante disso:

• Quando exportar, a empresa exportadora estará faturando à empresa interveniente


aqui no Brasil, logo, a empresa interveniente estará internacionalizando a
mercadoria e vendendo novamente para o importador no exterior.

• Quando importar, a empresa nacional estará comprando a mercadoria já


nacionalizada à empresa interveniente aqui no Brasil. Empresa interveniente
que já fez o processo de nacionalização da mercadoria e já efetuou a compra com
o fornecedor/exportador no exterior.

Se uma empresa considerar a comercialização indireta, logo, ela irá procurar


empresas intermediárias e especializadas no comércio exterior. Estas empresas
conhecem todos os trâmites da atividade, o que traz uma série de vantagens para
os exportadores e/ou importadores pequenos e de porte médio. Uma empresa
interveniente pode ter as seguintes modalidades:

• Intermediária comercial. O objetivo deste tipo de empresa é só comercializar,


elas não produzem. Nesse sentido, estas empresas podem:

o Comprar mercadoria no mercado nacional de empresas que desejam exportar,


mas não possuem a capacidade administrativa para fazê-lo sozinhas. Logo, a
empresa comercializadora faz acontecer a exportação.

o Vendem mercadorias já no mercado nacional a empresas que estão precisando


mercadoria importada. Logo, a empresa comercializadora faz acontecer a
importação.

• A intermediária comercial pode ser de dois tipos: 1) Empresa comercial


exportadora/importadora; e 2) Trading company.

175
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

o Empresa comercial exportadora/importadora. Estas são empresas de


constituição limitada.

o Trading company. Estas são empresas de constituição acionária de sociedade


anônima. A trading company possui um leque de serviços adicionais aos
exportadores e importadores que utilizam seus serviços, serviços de benefícios
tributários inerentes ao comércio exterior e análise de linhas de créditos
internacionais, entre outros.

• Cooperativas ou consórcios de exportação. Esta figura de exportação é utilizada


especialmente quando pequenos exportadores se juntam para encaminhar a
exportação de uma determinada mercadoria. Neste sentido, a cooperativa, ou
consórcio, é uma pessoa jurídica (empresa) da qual todos os produtores são
sócios e juntam esforços para fazer acontecer a exportação. A seguir, vamos
exemplificar alguns casos deste tipo de exportadores:

o Consórcio de exportação de pequenos produtores de sapatos, os microempresários


podem juntar seus esforços e aproveitar as vantagens do mercado externo.

o Cooperativa de exportação de soja, os produtores de soja juntam-se para


aprimorar processos de comercialização e fazer acontecer a exportação. Um
exemplo disso são as exportações para a China desse grão e uma melhor
negociação das condições da exportação.

• Grande exportador. Os grandes exportadores podem fechar e complementar


ordens de pedido com produção de terceiros, virando exportador e empresa
interveniente.

DICAS

Para saber mais sobre as exportações de soja para a China, acesse: <http://www.
sescooprs.coop.br/comunicacao/noticias/1568-mercado-chines-pode-adquirir-soja-de-
cooperativas-brasileiras27>.

Existem vários canais para fazer acontecer uma comercialização


internacional, a decisão do canal de comercialização dependerá da decisão do
exportador, isto é, dependerá de sua estratégia comercial e do custo/benefício
da decisão. Contudo, vamos observar algumas das vantagens de realizar a
comercialização internacional de maneira indireta:

• O exportador ou importador está dispensado de se registrar na Receita


Federal, "Radar". Porém, a exportação: “[...] mesmo sendo feita para uma empresa
situada no Brasil, também é feita com todos os benefícios da exportação, ou seja, a

176
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

venda não é tributada. Ela não é tributada porque o destino final é a exportação”
(TREDESINI, 2011, p. 157).

• Muitas vezes os exportadores, ou importadores, comercializam volumes


menores, sobrando espaço nos containers. Nestes casos, a trading company oferece
diversas alternativas de consolidação de embarque, ou seja, o container será
compartilhado com outros exportadores.

• Ao terceirizar, a empresa não precisará de liquidez operativa (capital de


giro), necessária para questões administrativas e logísticas da exportação, focando
somente no produto. Além de economizar capital de giro, economiza também
tempo de gestão.

• Além de oferecer a administração da exportação, as tradings companies


possuem canais de linhas de créditos que visam incentivar as exportações.

• Por meio dos serviços de uma trading company, por mais pequena que seja
a empresa ou o volume de exportação, é viável fazer acontecer a exportação.

Existe uma série de benefícios para usar os serviços de uma empresa


interveniente, mas como em qualquer serviço comercial, estas empresas
intervenientes cobram pelos serviços prestados. A cobrança será feita por meio de
uma taxa sobre o valor FOB da exportação ou importação. Em função dessa taxa,
irá existir uma análise econômica do limite do custo/benefício para contratar os
serviços destas empresas especializadas em comércio exterior.

3.2 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA


Na maioria das vezes, para uma empresa de grande porte não justifica
a contratação de uma trading company que lhe ajude na comercialização de seus
produtos. Para este tipo de exportador será mais econômico ter seu próprio
departamento de exportações. Eis uma análise simples e rápida da relação custo/
benefício, neste caso de um serviço prestado por uma trading company.

Na comercialização direta existem duas partes: o exportador ou importador;


e a empresa no exterior. Quando uma empresa optar pela comercialização direta:

[...] ela terá sob sua responsabilidade todas as etapas de um processo


de venda ao exterior, tais como: habilitar a empresa na Receita Federal
para poder operar com exportações, ter conhecimento do mercado,
conhecer as condições financeiras do cliente e correr os possíveis riscos,
executar o contato com o cliente, produzir e embarcar as mercadorias e
ser responsável por todos os trâmites administrativos para exportar o
produto (TREDESINI, 2011, p. 155).

É pelos motivos citados pela autora acima, e mais outros, que empresas
de pequeno e médio porte optam pela comercialização indireta. Contudo, para as

177
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

empresas que realizam a exportação direta existem também grandes benefícios,


tais como: A empresa está ativa de maneira direta nos mercados internacionais,
conseguindo se relacionar, conhecer os clientes lá fora e saber quem são seus
concorrentes; está mais ligada às oscilações dos preços nos mercados internacionais
em que atua, ou seja, possui um melhor palpite do mercado internacional e isso,
muitas vezes, vira uma questão de estratégia empresarial e vantagem competitiva.

4 PRECIFICAÇÃO
No momento de comercializar entre países, devemos prestar especial
atenção ao quesito do custo total, isto é, custo da mercadoria mais todas as despesas
de logística e de internacionalização/nacionalização. Uma vez que identificamos
esse custo total, a empresa que está comercializando nos mercados internacionais
pode determinar um preço ideal para seus produtos, preço ideal que leva em
consideração tanto o custo total como a margem de lucro desejada. Este processo
de identificar o custo total mais o lucro desejado é conhecido como “precificação”.
Em outras palavras, devemos identificar o preço ideal que gere rentabilidade ao
processo.

4.1 FORMAÇÃO DO PREÇO NA IMPORTAÇÃO


Em função da complexidade da precificação no momento de realizar uma
importação, vamos abordar o tema com a formação do preço ideal da importação
comercial. Devemos observar que uma análise efetiva da precificação é um
reflexo do estudo da estrutura analítica dos processos logísticos e administrativos
recorrentes da importação em si. Essa análise estrutural deve levar em consideração
os seguintes elementos:

1. Análise da NCM, identificando a Taxa Externa Comum (TEC), e as


necessidades administrativas.

2. Análise da Ordem de Compra. Identificando o Incoterm, a embalagem,


o valor unitário e total da ordem de compra, assim como questões da logística.

3. Fatura Proforma. A partir desta é que o importador começa a negociar


com o Banco e formaliza a importação perante o SISCOMEX.

4. Análise dos impostos e despesas de importação. Identificando valores


de impostos e as despesas em si da importação, assim, deve-se fazer levantamento
de datas estimadas de pagamentos ao longo da importação, isto é, o fluxo de caixa
do processo.

178
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

5. Determinação do Valor de Importação. Identificando a projeção de valor


total, com impostos e despesas da importação, visando determinar o valor total e
unitário das mercadorias importadas.

É importante levar em consideração que da identificação do custo unitário


da mercadoria é que podemos determinar o preço ideal, ou seja, o custo unitário
total mais a rentabilidade desejada. Assim, por meio de uma boa análise da
estrutura dos elementos expostos acima é que acontece o processo de precificação.
E em termos da análise de custos da importação, temos que a importação possui a
seguinte estrutura de apuração de custos e despesas:

• Preço da mercadoria no país de origem. Valor base para o processo de


apuração do preço ideal.

• Incoterm. Com a definição do Incoterm o importador poderá identificar


por quais despesas e responsabilidade ele será responsável.

• Transporte. Na análise do frete devemos considerar:

a) Frete: desde o pré-embarque, transporte internacional, até o pós-


desembarque.

b) Modalidade de transporte, existe um único modal de transporte (ex.: só


marítimo), ou apresenta-se uma logística multimodal (ex.: terrestre e marítimo).

c) Condições do seguro do frete ao longo do deslocamento da mercadoria.

• Valor aduaneiro e taxas a serem pagas na alfândega. Este valor dependerá


da identificação do conhecimento de embarque e do valor da mercadoria no porto
de destino, se determinando:

a) Declaração de Importação (DI).


b) Valor do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante
(AFRMM). Sempre e quando o frete for marítimo.
c) Valor do Adicional de Tarifas Aeroportuárias (ATA). Sempre e quando
o frete for aéreo (tal como para mercadorias perecíveis).
d) Taxa de Capatazia. Taxa pela movimentação de cargas nas instalações
portuárias.
e) Taxa de Armazenagem.
f) Despesas bancárias.

• Honorário Despachante Aduaneiro. Toda nacionalização de importação


deve ser feita por meio de um despachante aduaneiro.

• ICMS. O Imposto sobre a circulação de mercadorias entre Estados deve


ser pago no momento da saída da mercadoria da alfândega.

179
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

• Transporte no território nacional. Podemos observar que são bastantes


despesas a serem consideradas, assim, é importante a programação sistemática
dos valores a serem pagos ao longo do processo de importação. De todos esses
custos, impostos e despesas, os de maior impacto na análise de precificação são os
seguintes:

• Valor Aduaneiro > Valor FOB + frete internacional + seguro.

• Imposto de Importação Valor aduaneiro vezes a taxa de imposto de


importação.

• IPI > Valor aduaneiro vezes a porcentagem do IPI.

• PIS > Valor aduaneiro vezes a porcentagem do PIS.

• COFINS > Valor aduaneiro vezes a porcentagem da COFINS.

Todas as alíquotas desses impostos devem ser pagas no momento do


registro de Declaração de Importação (DI). A seguir, podemos visualizar os
processos envolvidos na importação e sua precificação respectiva.

FIGURA 7 – FLUXO DE PROCESSOS ENVOLVIDOS NA IMPORTAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.lenivam.com.br/servicos/importacao>. Acesso em: 24 set.


2016.

4.2 FORMAÇÃO DE PREÇO NA EXPORTAÇÃO


Assim como na importação, a empresa que deseja exportar deve fazer uma
análise do processo de exportação e assim determinar preços de venda ao exterior.
Além do processo de exportação em si, o exportador deve ficar atento a uma
série de fontes de financiamento ao exportador e incentivos fiscais que o governo
proporciona às empresas exportadoras.

180
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

O exportador deve prestar especial atenção nesses incentivos fiscais, pois


os custos de produção possuem um excesso de tributos e gastos logísticos que
muitas vezes inviabiliza as chances de exportar. O objetivo destes incentivos, tanto
financeiros como fiscais, é reduzir os impactos negativos do excesso de tributos
da economia brasileira, especialmente quando considerarmos a micro e pequena
empresa que deseja exportar. “Embora o sistema fiscal na exportação permita
a isenção e a possibilidade de crédito da maioria dos impostos, as mercadorias
exportadas ainda têm embutida a carga tributária. Mesmo a obtenção de créditos
para alguns impostos é morosa” (SOUSA, 2010, p. 74).

O excesso de tributação nos custos de produção fica ainda mais pesado


quando considerar a micro e pequena empresa que deseja exportar, “[...] observa-
se, no dia a dia do mercado, que a determinação do preço de exportação da
mercadoria tem sido um dos problemas mais comuns enfrentados pelas empresas
exportadoras, principalmente as micro, pequenas e médias, pois nem sempre
conseguem atingir os resultados desejados” (VIEIRA, 2010, p. 187).

Assim como na importação, existe uma série de elementos a serem


considerados na exportação, mas a análise de precificação no momento de
exportação deve ficar sob a ótica dos mercados internacionais e dinâmica destes.

• Competidores potenciais, analisar quais os competidores potenciais no


mercado de destino e, principalmente, deve-se pesquisar quais os preços praticados
pelos concorrentes internacionais.

• Comportamento dos consumidores, qual o perfil do consumidor, e quais


os hábitos e capacidade econômica do consumidor no país de destino.

• Comissão de agente, quais as comissões dos agentes ao longo da cadeia


internacional de comercialização da mercadoria.

• Despesas de propaganda, quais as necessidades de marketing para


viabilizar a exportação.

• Custos de produção, quais os custos e embalagens na exportação.

• Esquemas de financiamento à exportação, quais as fontes de


financiamento que ajudam a viabilizar a exportação.

• Tratamento tributário aplicável à exportação, quais os incentivos para


diminuir o peso dos tributos na exportação.

• Despesas de exportação, quais as despesas necessárias para fazer


acontecer a exportação, aqui podemos citar a embalagem específica para o mercado
de destino, despesas portuárias e despachante, frete e seguro ao longo da cadeia
logística até a mercadoria ser entregue ao importador.

181
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

• Investimento, qual a necessidade de investimento para fazer acontecer a


exportação, incluindo novas tecnologias.

• Margem de lucro estimada, qual a rentabilidade desejada, considerando


o preço aceito no mercado internacional.

Muitas vezes, quando um exportador está interessado em exportar é


porque já possui experiência prévia tanto de produção como de comercialização
no mercado nacional. Com essa bagagem de conhecimento o exportador pode
determinar o preço de exportação, levantando uma análise da estrutura dos itens
que compõem o preço das mercadorias comercializadas no mercado interno e
observar quais itens devem ser excluídos e quais itens deverão ser acrescentados
na exportação. De acordo com Vieira (2010), os elementos do preço comercializado
no mercado nacional são:

• Custo de produção, insumos, mão de obra, processos e custos indiretos.


• Embalagem.
• Despesas administrativas.
• Despesas de comercialização e publicidade.
• Comissão de vendedor.
• Despesas financeiras.
• Margem de lucro.
• Impostos: ICMS. IPI. Cofins. PIS.
• Total = Preço de venda no mercado interno.

4.2.1 Valoração das exportações


Considerando todos os itens expostos acima, quem deseja exportar pode
apurar o preço da exportação. Dos itens expostos deve-se:

• Excluir todos os itens que fazem parte do preço do mercado interno, e


que não acontecem na exportação.

• Adicionar todos os itens que são apurados no preço da comercialização


internacional.

Segundo Vieira (2010), os fatores que fazem parte do preço comercializado


internacionalmente são:

a) Preço de comercialização nacional.


b) Excluir do preço nacional fatores da comercialização nacional, mas que
não acontecem na exportação.

• (-) Despesas de comercialização no mercado interno.


• Impostos nacionais: (-) ICMS. (-) IPI. (-) Cofins. (-) PIS.
• (-) Embalagem no mercado interno.
182
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

• (-) Publicidade no mercado interno.


• (-) Despesas financeiras no mercado interno.
c) Adicionar fatores de precificação que acontecem só na exportação.
• (+) Embalagem no mercado externo.
• (+) Comissão de agente (se houver).
• (+) Corretagem de câmbio (se houver).
• (+) Transporte de seguro internacional.
• (+) Despesas de comercialização no mercado externo.
• (+) Despesas com despachantes.
• (+) Despesas financeiras.

d) Total = preço do mercado externo. Preço de exportação = (a) – (b) + (c)

Acabamos de ver um marco geral dos itens a serem considerados, os itens


a serem excluídos e os itens a serem acrescentados, levando em consideração uma
estrutura de produção e comercialização para o mercado nacional que será acoplada
à exportação. Devemos observar que é somente um marco, cada exportação,
dependendo do produto e especificações técnicas, possui suas particularidades
únicas da empresa e, aliás, do momento da exportação. Como um todo, temos o
seguinte fluxograma a ser considerado na precificação da exportação.

FIGURA 8 – FLUXO DE PROCESSOS ENVOLVIDOS NA EXPORTAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.lenivam.com.br/servicos/exportacao>. Acesso em: 24 set.


2016.

Levando em consideração o que vimos, como podemos apurar o preço


de exportação? Para exemplificar, veremos um caso prático, supondo que iremos
exportar equipamento industrial que já vem se comercializando no mercado
nacional, ou seja, existe todo um histórico de custos e de precificação, mas nacional.

183
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

A exportação pode ser feita de maneira direta ou indireta. Se for direta, a


empresa exportadora realizará o processo de internacionalização. Se for indireta, o
exportador encaminha, por meio de uma fatura comercial, a mercadoria ainda no
território nacional para uma trading company, vamos supor.

O preço do equipamento, de produção nacional e comercializado nos


estados brasileiros, é de R$ 2.910,00. Nesse contexto, a seguir iremos analisar duas
situações: preço de exportação sem agente no exterior, e preço de exportação com
agente.

DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE EXPORTAÇÃO COM AGENTE NO


EXTERIOR

Como estudamos anteriormente, a exportação por meio de uma trading


company é utilizada maioritariamente para empresas de porte médio e pequeno,
evitando tempo em gestão e gastos de departamentos de comércio exterior que
não justificam para empresas que não geram grandes volumes de exportação, ou
se estão iniciando no mercado internacional. Segundo o autor Barbosa (2004, p.
216):

O método da exportação indireta, considerado o mais amplamente


utilizado, principalmente pela grande maioria das empresas que apenas
estão dando início às suas atividades de exportação, se caracteriza,
primordialmente, pelo fato de o fabricante/exportador poder transferir
todos os encargos, responsabilidades e funções inerentes ao processo de
venda internacional para os chamados intervenientes ou intermediários
com base doméstica, ou seja, sediados legalmente no país de origem da
empresa exportadora/fabricante.

Quando se considera a exportação um agente intermediário, tal como uma


trading company, o exportador deverá acrescentar na sua análise de precificação duas
despesas, comissão de deslocamento de carga e comissão do agente intermediário,
acrescentando assim duas taxas ao preço final:

• Porcentagem de serviço deslocamento, isto é, despesa de movimentação


da mercadoria até seu efetivo embarque. É comum considerar um acréscimo de
gasto de transporte em 2,50% sobre o valor FOB.

• Porcentagem de serviço do agente intermediário, ou empresa Interveniente


no Brasil. Assim, deverá ser acrescentado o valor de venda à comissão base do
agente, é comum uma comissão de 5% sobre o valor FOB.

Contudo, o gasto de realizar uma exportação indireta será de


aproximadamente 7,50% do valor FOB. Se o exportador realizar a exportação
de maneira direta, e se não tiver volume suficiente de exportação que justifique
economia de escala, provavelmente terá um custo bem maior que esse 7,50%.
Eis um dos grandes motivos, além do tempo da gestão, porque os exportadores
pequenos preferem executar a exportação de maneira indireta.

184
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

Devemos considerar que um grande exportador, provavelmente por


questões de altos volumes, terá um custo unitário de mercadoria vendida menor
que esse 7,50% gasto em deslocamento até o porto de embarque e gasto na gestão
da exportação. Inclusive, terá o controle e o contato direto com os mercados
internacionais. Nesse sentido, o exportador pequeno e médio deve considerar todos
estes elementos, isto é, o custo/benefício econômico e de estratégia no momento de
escolher por uma exportação direta ou indireta.

Nesta unidade focamos nossos estudos às questões operativas de fazer


acontecer o comércio exterior brasileiro, desde como são classificadas as mercadorias
por meio da NCM, níveis de responsabilidade das partes envolvidas, modalidades
de pagamento, até definições de precificação. E uma das partes mais interessantes
dos tópicos que você acabou de estudar são as modalidades de pagamento. Diante
disso, convidamos vocês a se aprofundarem nesse assunto lendo o artigo sobre as
alternativas atuais do Financiamento à Exportação e o Mercado Cambial.

185
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

LEITURA COMPLEMENTAR

FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO

Fernando Nogueira da Costa

Felipe Marques e Vinícius Pinheiro informam que, na “sopa de letrinhas”


das siglas de operações de financiamento à exportação, duas modalidades vêm
ganhando espaço às custas do Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). São
as Cédulas ou Notas de Crédito à Exportação (CCE e NCE), que têm base em reais.
Herança da ditadura militar e regulamentadas na década de 70, essas linhas foram
reabilitadas em 2012, quando o governo estabeleceu entraves para restringir a

186
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

entrada de dólares no Brasil e deixou mais caras as linhas de pré-pagamento. As


medidas foram suspensas no fim de 2012, mas esses dois instrumentos continuaram
a fazer parte do leque no exportador.

São operações que têm prazos um pouco maiores que os do ACC, mas que
também cumprem papel de capital de giro para os exportadores. Costumam ter
taxas um pouco maiores, mas como são linhas em que há mais flexibilidade que o
ACC na vinculação ao fluxo da exportação, têm atraído empresas.

A NCC e a NCE estão crescendo, justamente por ter maior flexibilidade


no fluxo. O prazo médio também é um pouco maior, ficando próximo de um ano.

Um termômetro do declínio do ACC e do Adiantamento de Cambiais


Entregues (ACE) é que o estoque dessas operações fechou 2013 com queda de
7,5%, em R$ 42,48 bilhões, segundo o BC. Já o saldo das operações que a autoridade
classifica como financiamento à exportação – que inclui as NCC, NCE e as “export
notes” – vem crescendo, mostrando a substituição do ACC. O estoque dessas
operações fechou 2013 em R$ 50,34 bilhões, com avanço de 36,5% no acumulado
de 12 meses. O prazo médio das concessões, de acordo com o BC, girou perto de
20 meses ao longo do ano passado.

“A perspectiva para as exportações é ruim para 2014, o que deve afetar as


operações de financiamento, em especial o ACC”, afirma José Augusto de Castro,
presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Na visão dele, o
volume de pré-pagamentos é mais resistente nesse cenário, uma vez que inclui
também operações entre matriz e filial externa, que ajudam a incrementar essa
linha.

As empresas brasileiras estão aumentando os prazos de suas operações


de financiamento à exportação. Com o temor da volatilidade típica do período
eleitoral no segundo semestre, os exportadores diminuíram a procura por crédito
de curto prazo (ACC e ACE), que foi por muito tempo a principal opção no
financiamento ao comércio exterior. Essas companhias têm preferido operações de
duração maior, como o pré-pagamento à exportação.

Dados do Banco Central (BC) mostram que o volume de câmbio contratado


para operações de pagamento antecipado (que incluem o pré-pagamento à
exportação) foi recorde em 2013, na série histórica que começa em 1995. Foram US$
62,6 bilhões contratados na linha, um avanço de 55,3% na comparação com o ano
anterior. 2014 começou forte para a modalidade, com US$ 6,3 bilhões contratados.
Na contramão, o volume de câmbio contratado para o adiantamento de contrato
de câmbio (ACC) recuou 19,6%, para US$ 38,3 bilhões.

“O ACC é uma operação de muito curto prazo. Em um momento de


volatilidade, os exportadores têm preferido tomar o pagamento antecipado”,
afirma Paulo Cesar Souza, executivo do global banking do HSBC. O nervosismo
com o período eleitoral contribuiu para acentuar esse movimento, afirma.

187
UNIDADE 3 | A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS

O crescimento das linhas de pré-pagamento à exportação ocorreu após o


fim das restrições impostas em 2012. Em meio ao temor de uma “guerra cambial”,
o governo lançou mão de uma série de medidas que travaram as operações. A mais
importante foi a ampliação para cinco anos do prazo mínimo de linhas de pré-
pagamento que ficavam isentas de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF). O ACC escapou dessa tributação, o que provocou uma corrida para
a modalidade. Antes de 2012 acabar, o governo voltou atrás e o prazo mínimo
para isenção do IOF caiu para um ano, liberando a demanda reprimida por
financiamentos de maior prazo.

A farta liquidez entre os bancos, na medida em que o apetite das empresas


por crédito diminuiu fortemente no último ano, também contribui para o aumento
de operações de prazo maior. “Os bancos estão com liquidez disponível para essas
operações, em especial em prazos mais longos”, diz o executivo do HSBC, que
conta que os prazos giram perto de três anos e podem chegar a cinco. Os tíquetes
também aumentaram, afirma.

O pré-pagamento é comumente usado por exportadores para trazer ao


país os dólares captados no exterior (via bônus ou contratação de empréstimo). Ao
fechar o pré-pagamento, o dinheiro entra no Brasil com isenção fiscal – sem IOF
em contratos de até cinco anos – e também sem incidência de Imposto de Renda
(IR) na saída do país para pagamento de juros. No começo deste ano, a Petrobras
fez uma captação de 3,8 bilhões. Em maio do ano passado captou US$ 11 bilhões,
que também engordaram a contratação de câmbio.

“É difícil separar no universo do pré-pagamento o que é simplesmente


internalização de recursos, ou operações dentro de um mesmo grupo, e o que é
um empréstimo propriamente”, afirma Adoniro Cestari, responsável pela área de
produtos corporativos do Citibank. Ainda assim, o executivo afirma que a procura
dos exportadores por linhas mais longas cresce. “O número de conversas com
empresas aumentou neste ano, mas os negócios ainda não estão fechados”, diz,
destacando a demanda do setor de agronegócio pelas linhas.

Com a piora dos mercados e a alta dos juros no país, o custo das linhas
externas hoje é considerado mais competitivo na comparação com os empréstimos
locais. Os recursos tomados via ACC também contam com a isenção de IOF.

A pedido do Valor, uma instituição financeira fez uma simulação de taxas


nas duas linhas. Para uma empresa com baixo risco de crédito – do grupo das
melhores do país – o custo do ACC fica na casa de 0,3% a 0,5% ao ano, sobre
a taxa de referência Libor. Como a demanda está baixa pela linha, as taxas têm
caído, afirma esse banqueiro. No caso do pré-pagamento de cinco anos, as taxas
para uma empresa semelhante ficam entre 1,5% a 1,8% ao ano, sobre a Libor, ou
seja, contratar o pré-pagamento é mais caro, mas o ACC precisa estar rigidamente
atrelado ao fluxo comercial da exportação, além de ter um prazo médio de sete
meses.

188
TÓPICO 3 | MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL

As linhas de pré-pagamento também são consideradas mais adequadas em


tempos de maior volatilidade no câmbio, segundo Miguel Albero, superintendente
de “trade finance” do Santander. “Com prazos mais longos, o exportador consegue
planejar melhor o financiamento”, diz.

Diante da oscilação esperada para os próximos meses, a tendência é que a


procura por linhas mais longas continue, mas a demanda por crédito, de um modo
geral, dependerá do desempenho das vendas externas, que por enquanto não dão
sinais de reação, apesar do câmbio mais favorável. “O dólar valorizado ajuda a
aumentar a rentabilidade para o exportador, mas a procura por financiamentos
está mais ligada à demanda internacional por commodities”, diz o executivo do
Santander.

FONTE: Disponível em: <https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2014/03/14/


financiamento-a-exportacao/>. Acesso em: 25 set. 2016.

189
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu sobre:

• As diferentes opções de modalidades de pagamentos disponíveis no momento


de realizar uma comercialização internacional.

• A classificação das modalidades de pagamentos em três grandes grupos:


Modalidade Antecipada, à vista e a prazo. Observando que entre estas três
classificações existe um leque de possibilidades de pagamentos.

• Os níveis de riscos, tanto para o exportador como para importador, no momento


de escolher uma determinada modalidade de pagamento.

• Os canais de comercialização internacional, resumindo estas em comercialização


direta e indireta.

• A escolha de uma comercialização direta ou indireta depende em grande parte


do tamanho e volume das exportações, ou importações, da análise do custo/
benefício e das estratégias comerciais inerentes às empresas.

• O preço de importação é um reflexo da estrutura de custos de todo os processos,


desde o embarque, nacionalização e destino final da mercadoria mais o valor do
lucro desejado na comercialização.

• A precificação da importação, que deve considerar os seguintes elementos do


processo de importação: preço FOB, Incoterm, transporte, valor aduaneiro,
NCM, impostos de importação, taxas na alfândega, Honorário Despachante
Aduaneiro, ICMS, Transporte Nacional e valor de lucro desejado.

• A precificação da exportação, que deve considerar os seguintes elementos:


Competidores potenciais, Comissão de agente, Despesas de propaganda, Custos
de produção, financiamento, Tratamento tributário, Despesas de exportação,
investimento, margem de lucro.

190
AUTOATIVIDADE

1 No momento da comercialização internacional deve estar claramente


definida a modalidade de pagamento para fins de gestão da documentação.
Exponha quais os três grandes grupos de modalidades de pagamento e como
é feita a entrega da documentação para o importador nestas modalidades de
pagamento.

2 Entre as diferentes modalidades de pagamentos temos as remessas sem e


com saque. Defina tanto a remessa sem saque como a com saque e estabeleça
a diferença ente elas.

3 A L/C fornece uma série de garantias tanto de execução operativa/logística


como financeira. Desse modo, a segurança da L/C é estabelecida nos seus
termos de negociação definidos pelas partes envolvidas. Esses termos são
expostos por meio das cláusulas de L/C. Exponha e explique os elementos
essenciais que devem conter essas cláusulas.

4 No comércio internacional existe a comercialização direta e indireta.


Diferencie esses dois tipos de comercialização.

5 Para uma correta precificação é importante definir o custo unitário da


mercadoria para assim podermos definir o preço ideal. Em termos da
análise de custos da importação deve-se considerar a apuração dos custos e
despesas da estrutura dos processos da importação. Exponha quais as partes
da importação que fazem parte desta estrutura de custos e saída de caixa da
empresa.

191
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